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PROPOSTA DE UM ESPAÇO PARA RECUPERAÇÃO DE ANIMAIS MARINHOS (ERAM) EM TORRES-RS Helen C. M. Borges Maciel 1 Resumo O município de Torres RS, localizado no litoral norte do Rio Grande do Sul, possui 17km de extensão de praias e uma fauna marinha bastante diversificada. Durante todo o ano é bastante comum à presença de animais marinhos nas faixas de areia das praias de Torres, enquanto alguns animais apenas descansam na areia, outros encalham necessitando de ajuda para poder retornar ao seu habitat. Os motivos para o encalhe são variados, indo desde inflamações nos olhos até mesmo a ingestão de plásticos. Os animais debilitados necessitam de atendimento, porém no município não há uma estrutura qualificada para atender animais encalhados. Outro problema é a falta de informação e de conhecimento da população em relação aos cuidados com estes animais. O presente estudo é uma proposta para a criação de um espaço para recuperação de animais marinhos que visa à proteção da fauna marinha e a conscientização ambiental da comunidade local e dos turistas. PALAVRAS-CHAVE: Vertebrados Marinhos. Encalhe. Reabilitação Animal. Introdução No município de Torres, Litoral Norte do Rio Grande do Sul e divisa com Santa Catarina, pode-se observar uma fauna de vertebrados marinhos e/ou costeiros bastante diversificada, incluindo Mamíferos (Otaria flavescens; Otaria byronia; Arctocephalus australis; Pontoporia blainville; Eubalaena australis; Tursiops truncatus e Sotalia fluviatilis), Répteis (Chelonia mydas e Caretta caretta), e Aves (Spheniscus magellanicus; Larus dominicanus; Charidrius collaris; Himantopus melanurus; Rhynchops nigra intercedens; Fregatta aquilla; Fragata Fregata magnificens; e Arenaria interpres. 1 Bióloga. Acadêmica do curso de Especialização em Planejamento e Gestão Ambiental com ênfase em Licenciamento Ambiental - Ulbra Torres. E-mail: [email protected].

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PROPOSTA DE UM ESPAÇO PARA RECUPERAÇÃO DE ANIMAIS MARINHOS

(ERAM) EM TORRES-RS

Helen C. M. Borges Maciel1

Resumo

O município de Torres – RS, localizado no litoral norte do Rio Grande do Sul, possui 17km de extensão de praias e uma fauna marinha bastante diversificada. Durante todo o ano é bastante comum à presença de animais marinhos nas faixas de areia das praias de Torres, enquanto alguns animais apenas descansam na areia, outros encalham necessitando de ajuda para poder retornar ao seu habitat. Os motivos para o encalhe são variados, indo desde inflamações nos olhos até mesmo a ingestão de plásticos. Os animais debilitados necessitam de atendimento, porém no município não há uma estrutura qualificada para atender animais encalhados. Outro problema é a falta de informação e de conhecimento da população em relação aos cuidados com estes animais. O presente estudo é uma proposta para a criação de um espaço para recuperação de animais marinhos que visa à proteção da fauna marinha e a conscientização ambiental da comunidade local e dos turistas.

PALAVRAS-CHAVE: Vertebrados Marinhos. Encalhe. Reabilitação Animal.

Introdução

No município de Torres, Litoral Norte do Rio Grande do Sul e divisa com

Santa Catarina, pode-se observar uma fauna de vertebrados marinhos e/ou

costeiros bastante diversificada, incluindo Mamíferos (Otaria flavescens; Otaria

byronia; Arctocephalus australis; Pontoporia blainville; Eubalaena australis; Tursiops

truncatus e Sotalia fluviatilis), Répteis (Chelonia mydas e Caretta caretta), e Aves

(Spheniscus magellanicus; Larus dominicanus; Charidrius collaris; Himantopus

melanurus; Rhynchops nigra intercedens; Fregatta aquilla; Fragata Fregata

magnificens; e Arenaria interpres.

1Bióloga. Acadêmica do curso de Especialização em Planejamento e Gestão Ambiental com ênfase em

Licenciamento Ambiental - Ulbra Torres. E-mail: [email protected].

Devido a sua grande diversidade de fauna marinha e a extensão de suas

praias, não é incomum encontrar um animal encalhado nas praias de Torres e

região. De acordo com o Instituto Baleia Jubarte, (2007 p. 10).

Um animal encalhado é também um risco para a saúde pública. A curiosidade da população em relação às baleias e golfinhos encalhados faz com que muitas pessoas tenham contato com animais vivos ou carcaças em decomposição. Muitas doenças destes animais constituem-se em zoonoses, ou seja, doenças que podem ser transmitidas naturalmente entre os animais e o homem. Por este motivo, é importante que o atendimento aos animais encalhados seja feito por profissionais qualificados.

Dentre os animais encontrados nas praias, muitos necessitam de cuidados.

Os motivos são variados, entre eles, cansaço, inflamação na pele, nos olhos,

subnutrição, manchas de óleo, ferimentos causados por anzóis e animais

emaranhados em rede, porém em Torres não há um local especializado para que

esses animais sejam encaminhados para o devido tratamento, reabilitação e soltura,

nem mesmo uma equipe treinada e qualificada para atender um possível encalhe.

A falta de um local em Torres e municípios vizinhos para receber e reabilitar

animais marinhos faz com que os espécimes encontrados nas praias tenham que

ser levados até o Centro de Reabilitação de Animais Marinhos/CERAM no município

de Imbé - RS distante a cerca de 86 km, sendo este o único local em todo o Litoral

Norte e Médio do Estado do Rio Grande do sul, o qual algumas vezes sofre com o

problema de superlotação. Além disso, a grande maioria da população e

frequentadores das praias não possui o mínimo de conhecimento sobre os cuidados

que se deve ter em relação aos animais que encalham nas praias e via de regra

acabam piorando a situação do animal (figura 1).

Objetivos

- Propor um espaço para recuperação de cetáceos, pinípedes, aves

marinhas e répteis marinhos no município de Torres – RS.

- Identificar a diversidade de vertebrados marinhos que encalham nas praias

de Torres – RS.

- Propor educação ambiental no município de Torres – RS voltada à fauna

marinha e ao ambiente costeiro.

Método

A presente pesquisa foi realizada através de saídas de campo, realizadas

uma vez por semana em dias e horários alternados, durante os meses de maio de

2011 a novembro de 2011, tendo como inicio da saída à praia dos Molhes e

finalizando na praia Paraíso, um total de 17 km de praia, (figura 2). Foram avaliados

ainda os relatórios de ocorrências do Batalhão Ambiental da Brigada Militar (BABM)

do município de Torres – RS.

As espécies encontradas foram identificadas in loco, foi realizado o registro

fotográfico de cada espécime bem como quando possível realizada a classificação

em filhote, juvenil ou adulto e a causa do encalhe.

A elaboração da proposta da criação do ERAM e do projeto de educação

ambiental, se deu através de pesquisa bibliográfica e contato com espaços similares

e pesquisadores da área, onde se buscou identificar as necessidades para a

implantação do ERAM.

Encalhes

Durante o inverno é bastante comum encontrar animais marinhos,

encalhados na faixa de areia das praias de Torres, como lobos e leões, tartarugas

marinhas e pingüins.

Com menos freqüência, são os encalhes de cetáceos, porém em Balneário

Arroio Teixeira, pertencente a Capão da Canoa, localizado a 46 km de Torres, em

agosto de 2010, uma baleia Jubarte (Megaptera novaeangliae) de 12 metros e 25

toneladas encalhou viva. Com a ajuda de um rebocador da Petrobras e de uma

equipe de resgate preparada, foi realizado o resgate do animal, no dia seguinte o

mesmo espécime voltou a encalhar e acabou não resistindo. E mais recentemente,

em Setembro de 2011, um filhote de Baleia Franca (Eubalaena australis) encalhou

morto na Praia Paraíso em Torres.

De acordo com Geraci e Lounsbury (1993, p. 35):

Geralmente as possíveis causas de encalhes de mamíferos são: condições metereológicas, fuga de predadores, toxinas naturais, distúrbios geomagnéticos em animais mais experientes e erros de navegação, perseguição a presas, aproximação da praia, enfermidades debilitantes, vínculo social dos animais que vivem em grupos, injúrias causadas pelo homem (ferimentos causados pelas embarcações, arpões, redes de pesca, dinamites e poluição) e animais jovens que se perdem nas rotas migratórias.

Segundo Jefferson et al. (1993, p. 320) “o encalhe é dito como todo evento

no qual um animal vem até a área de areia da praia, manguezais ou sobre rochas

e/ou recifes de coral, vivo ou morto, e não apresenta condições de voltar à água do

mar”. Durante os meses de pesquisa, foram registradas cinco diferentes espécies

de animais encalhados nas praias de Torres, Pinguim-de-Magalhães, Lobo Marinho,

Leão Marinho, Tartaruga Marinha e Baleia Franca Austral.

Pinguin-de-magalhães (Spheniscus magellanicus): De acordo com Sick 1997

apud Silveira (2010, p. 63).

São aves tipicamente oceânicas, os pinguins constituem mais de 90% da biomassa da avifauna da zona subantártica (ao sul de 35°S) e antártica (Círculo Polar Antártico, em aproximadamente 66°S), distribuindo-se em 18 espécies, 7 delas na América do Sul. De todas as aves, os pinguins são os mais especializados em mergulho e, embora variem consideravelmente em tamanho, todos os Spheniscidae possuem o formato e estrutura do corpo semelhante, altamente especializados e adaptados à vida marinha. Tais adaptações se devem a um conjunto de alterações morfológicas bem distintas dos outros grupos de aves: o corpo é fusiforme; as asas atrofiadas desempenham a função de barbatanas; as penas são impermeabilizadas pela secreção de óleos; cauda muito curta, em vários representantes quase rudimentar.

Das sete espécies encontradas na América do Sul, o Pinguim-de-Magalhães

é a mais abundante (YORIO, 2001 apud SILVEIRA 2010, p. 65).

De acordo com Sick, 1997 apud Silveira (2010, p. 63): “Os indivíduos adultos

atingem cerca de 65 cm e chegam a pesar até 4,5Kg. Os adultos possuem duas

faixas negras através do peito anterior, pouco visível quando bóiam na superfície do

mar”.

A dieta desta espécie de acordo com Silveira (2010 p.64), “é baseada em

pescado, cefalópodes e crustáceos”.

O encalhe desta espécie é bastante comum, principalmente o encalhe de

exemplares mais jovens que ainda não possuem experiência com as longas viagens

migratórias, outro causador de encalhe é a petrolização.

Entre os pinípedes, as espécies mais frequentemente registradas, que

utilizam o litoral sul do Brasil para descanso e alimentação, são Otaria flavescens e

Arctocephalus australis. As demais ocorrem de forma esporádica, sendo que as

duas maiores concentrações de O. flavescens no litoral brasileiro estão no Rio

Grande do Sul: o Refúgio de Vida Silvestre do Molhe Leste da Lagoa dos Patos e o

Refúgio da Vida Silvestre da Ilha dos Lobos, em frente a Torres (ROSAS et al.,

1994; IBAMA, 2001, p. 102).

A maior ameaça às populações de O. flavescens é o molestamento e a

morte intencional devido à interação com a pesca. Cerca de 30% dos animais

encontrados mortos no litoral do Rio Grande do Sul apresentaram evidências de

interação com atividades pesqueiras (ROSAS et al., 1994, p. 55).

Também é comum a ocorrência de espécimes que se encontram debilitados,

desidratados e/ou enfermos, provavelmente devido ao comprometimento clínico

prévio de indivíduos que percorrem longas distâncias durante a migração.

(REMANE, 2005, p. 67).

Na maioria das vezes, o animal está apenas descansando na praia, e é

necessário determinar se existe a necessidade de remover o indivíduo para um

centro de reabilitação. “Além da presença óbvia de ferimentos ou fraturas, alguns

indicadores da condição física e comportamental do animal devem ser avaliados.

(REMANE, 2005, p. 69)”.

Entre as tartarugas, existem registros de encalhes de cinco espécies de

Tartarugas-Marinhas ao longo de toda a costa brasileira (SALES et al., 2003;

KOTAS et al., 2004; OLIVEIRA et al., 2005, p. 43), Tartaruga-Cabeçuda (Caretta-

caretta), tartaruga-verde (Chelonia mydas), a tartaruga-de-pente (Eretmochelys

imbricata), a Tartaruga-Oliva (Lepdochelys olivacea) e a Tartaruga-de-Couro

(Dermochelys coriácea), (TRIGO, 2004, p. 12).

De acordo com Oliveira et al. (2005, p. 50):

[...] as principais causas dos encalhes de tartarugas-marinhas são doenças, captura acidental em rede de pesca e ingestão de resíduos resultantes da poluição oriunda do uso indiscriminado de produtos químicos nas indústrias e na agricultura, lixo urbano e derramamento de óleo. A maioria dos animais encalha já morta, mas também se acham animais vivos, porém debilitados.

Entre os cetáceos, a baleia franca austral (Ebalaena australis) (Desmoilins,

1822): Está entre as maiores espécies de cetáceos existentes. Os indivíduos adultos

podem atingir entre 13,5m a 18m de comprimento e pesar aproximadamente 55

toneladas (IWC, 1986 apud HEINZELMANN, 2002 p. 38).

A baleia franca austral foi à primeira espécie de baleia caçada

comercialmente, com um “status” populacional mundial anterior a exploração

calculada entre 100 000 e 300 000 animais, sofrendo intensa exploração nos

séculos XVII, XVII e XIX e primeiras décadas do século XX (LICHTER, 1992 apud

HEINZELMANN, 2002, p. 38).

O interesse principal na caça da baleia franca era a quantidade de gordura

que ela possui no corpo e também as barbatanas, o óleo retirado da baleia era

utilizado para a construção civil, e as barbatanas eram utilizadas para a confecção

de adorno, como espartilhos (GROCH, 2005, p. 20).

A Baleia Franca Austral possui características únicas que nos permitem

reconhecê-las facilmente. A principal delas é a ausência da nadadeira dorsal,

característica exclusiva entre as baleias que habitam o Hemisfério Sul, e a ausência

das pregas ventrais, características das outras espécies de grandes baleias.

[...] o borrifo tem o formato em V, devido aos dois orifícios respiratórios que nas francas são bastante separados, [...] outra característica marcante são as calosidades da epiderme infestadas por colônias de ciamídeos diminutos crustáceos comumente conhecidos como piolho-de-baleia, os quais

conferem às calosidades uma coloração branca ou amarelada, facilmente percebida a distância (GROCH, 2005, p. 22).

De acordo com o Remane (2005, p. 29, 33).

Faltam estudos no Brasil sobre as causas de mortalidade das baleias. Muitas vezes, o avançado estado de decomposição, a demora para chegar ao local do encalhe, a ação antrópica e mesmo o tamanho do animal dificultam, ou até inviabilizam a realização de necropsia e a determinação da causa mortis [...] A provável causa do óbito são emalhe, colisão com embarcação, natural ou desconhecida [...] são raras as ocasiões em que um grande cetáceo sobrevive a um encalhe. O peso de seu próprio corpo comprime os pulmões, dificultando a respiração e a circulação do sangue. Também é grande a chance de ocorrer hipertemia.

Sobre a criação de um espaço para recuperação de animais marinhos (ERAM) em

Torres-RS

A proposta do ERAM seguirá a Instrução Normativa IBAMA 169 de 20 de

Fevereiro de 2008 que tem como objetivo:

Art. 1º: Instituir e normatizar as categorias de uso e manejo da fauna

silvestre em cativeiro em território brasileiro, visando atender às finalidades

socioculturais, de pesquisa científica, de conservação, de exposição, de

manutenção, de criação, de reprodução, de comercialização, de abate e de

beneficiamento de produtos e subprodutos, constantes do Cadastro Técnico Federal

(CTF) de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos

Naturais.

A proposta do ERAM necessitará das autorizações emitidas pela

SISFAUNA. São elas: (AP) autorização prévia, (AI) autorização de implantação e

(AM) autorização de manejo.

O ERAM tem como proposta a proteção e reabilitação da fauna marinha e a

educação ambiental com os moradores e turistas de Torres – RS. Esse trabalho

será realizado através de palestras em escolas e na sede do ERAM (figuras 3, 4, 5,

6), visitação monitorada na sede com explicações sobre a fauna marinha local e das

espécies que estão no processo de reabilitação, além de oferecer material com

conteúdo explicativo de como proceder ao encontrar um animal na orla.

Algumas das instalações poderão dispor de paredes com visores,

possibilitando aos visitantes a observação de procedimentos. Os trabalhos que não

puderem ser expostos poderão ser apresentados em painéis de comunicação visual.

(BRANCO, 2003, p. 07).

Para a exposição dos animais ao público, será necessária a devida

autorização do Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. A

parte interna onde serão realizados os procedimentos de reabilitação dos animais, a

visitação é proibida.

O ERAM funcionará de segunda a sábado, das 09h às 12h pela manhã, e à

tarde das 14h às 18h. Terá um plantão 24h pelo celular, e uma equipe técnica

composta por 3 biólogos, 2 veterinários, 2 administradores e estagiários voluntários,

devidamente uniformizados (figura 7).

Os recursos necessários para a implantação do ERAM, serão divididos em

instalações, que incluem área técnica, administrativa, área hospitalar, internação,

tanques de água, gaiolas e pias, orçado aproximadamente em R$350.000,00.

Equipamentos, materiais e serviços, que são os equipamentos de escritório,

hospitalares, de laboratório, de radiologia, eletrônicos, equipamentos de som e

imagem, equipamento de informática, veículos, materiais de manejo, materiais de

segurança, bens de consumo e contratação de serviços, orçado aproximadamente

em R$350.000,00. Total do projeto: R$700.000,00.

O custo anual de manutenção do ERAM, foi estimado em R$50.000,00

tendo como despesa mensal pessoal aproximadamente R$22.924,00 + impostos

trabalhistas.

Viabilização de custos

Atualmente, as ações voltadas à resolução dos problemas ambientais

encontram apoio em parcerias que podem ser firmadas por convênios e termos de

cooperação, tanto na esfera governamental como na iniciativa privada, a nível

nacional e internacional (BRANCO, 2003).

Universidades e centros de pesquisas podem auxiliar com laboratórios,

pesquisadores e estudantes na realização de pesquisas de interesse mútuo;

enquanto o ERAM poderá fornecer material biológico e oferecer cursos e

treinamento a título de estágio.

Os recursos poderão ser buscados através dos Fundos de investimentos

governamentais e do próprio município.

Organismos nacionais e internacionais que dispõem de recursos para serem

aplicados na área de fauna, interessam-se por firmar convênios com instituições de

credibilidade e que apresentem resultados concretos e que venham ao encontro de

suas expectativas. O apoio também poderá ser obtido junto à iniciativa privada que

possua interesse em associar o nome da empresa a trabalhos voltados à área

ambiental (BRANCO, 2003, p. 09).

Resultados

Durante os seis de pesquisa, juntamente com o relatório de ocorrência do

Batalhão Ambiental da Brigada Militar (BABM) de Maio de 2011 a novembro de

2011, foram registrados 15 encalhes de animais marinhos, 67% representado pelos

mamíferos, 27% aves e 6% répteis.

Entre os mamíferos, 8 espécimes eram lobos marinhos (Arctocephalus

australis), sendo que 3 estavam descansando (figura 8, 9 e 10), 3 foram

encaminhados ao CECLIMAR (figura 11) e 2 estavam mortos (figura 12). Um

espécime de filhote baleia franca austral (Eubalaena australis) encontrado morto na

praia paraíso (figura 13) e um leão marinho (Otaria flavescens) também encontrado

morto na praia paraíso (figura 14).

Entre as aves, foram encontrados 3 pingüins-de-magalhães (Spheniscus

magellanicus) mortos (figura 15) e 1 pingüins-de-magalhães (Spheniscus

magellanicus) vivo que foi encaminhado ao CECLIMAR.

Entre os répteis foi encontrado apenas um exemplar, que se tratava da

Chelonia mydas (figura 16) popularmente conhecida como Tartaruga-verde,

espécime foi encontrado encalhado bastante debilitado e acabou não resistindo, a

causa provável do seu óbito foi à ingestão de plástico, pois no conteúdo gástrico do

espécime foi encontrada embalagens plásticas da Alemanha, Brasil e Argentina.

A Chelonia Mydas está presente em diversas listas de animais ameaçados

de extinção.

Foi possível constatar que os animais que encalharam não possuíam

manchas de óleo pelo corpo e aparentemente não possuíam lesões causadas por

acidente com redes de pesca e não apresentavam lesões no casco. Na maior parte

dos casos, os animais eram juvenis.

Entre os animais que encalharam sem vida nas praias, foi possível constatar

que a maioria estava subnutrida, pois apresentavam o corpo bastante magro, entre

os animais que encalharam vivos, a maioria necessitou de atendimento e foram

encaminhados ao CERAM.

Considerações finais

Através das saídas de campo, com o relatório de ocorrências de encalhes do

Batalhão Ambiental da Brigada Militar (BABM) juntamente com a falta de

conhecimento dos moradores, agregado a falta de investimentos da administração

local direcionada à parte costeira, foi possível constatar a necessidade da

construção de um espaço que atenderá a demanda de animais marinhos que

encalham na costa de Torres e região.

Com a criação do Espaço para Recuperação de Animais Marinhos ERAM,

não só a fauna marinha será beneficiada, mas toda a sociedade, através da

educação e conscientização ambiental que será promovida no município

proporcionando mais informações de toda a diversidade marinha local e ambiente

costeiro. Além disso, os animais recolhidos para recuperação trarão informações

diversas sobre a sua biologia e meio ambiente, contribuindo para a parte de

pesquisa.

Referências

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Centro de Manejo de Animais Silvestres pela Esfera não Governamental. São Paulo,

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ANEXOS

Figura 1. Moradores de uma praia tentando remover um lobo marinho da praia. Foto jornal do Mar.

Figura 2. Extensão das praias do município de Torres - RS

Figura 3: Proposta de Planta Baixa do ERAM

Figura 4. Perspectiva lateral do ERAM.

Figura 5. Perspectiva frontal do ERAM.

Figura 6. Perspectiva aérea do ERAM.

Figura 7. Modelo de uniforme dos ERAM. Croquis Luana Ladislau.

Figura 8. Lobo marinho encontrado na praia da Cal. Foto arquivo pessoal

Figura 9. Lobo marinho encontrado na praia da Cal.

Figura 10. Lobo marinho encontrado pelo BABM. Foto BABM.

Figura 11. Lobo marinho encontrado pelo BABM recolhido e encaminhado ao CECLIMAR. Foto BABM.

Figura 12. Lobo marinho encontrado morto na praia Paraíso. Foto arquivo pessoal

Figura 13. Filhote de baleia franca austral encontrado na praia paraíso. Foto BABM.

Figura 14. Leão marinho encontrado na praia Paraíso. Foto arquivo pessoal.

Figura 15. Pinguim-de-Magalhães encontrado na praia da Itapeva. Foto Arquivo pessoal.

Figura 16. Tartaruga-verde encontrada na praia da Itapeva. Foto BABM.