proposta de prÁtica de ensino em ... os objetivos específicos são: desenvolver ações práticas...

16
1 PROPOSTA DE PRÁTICA DE ENSINO EM HIDROGEOLOGIA: EXEMPLO DO AQUÍFERO GUARANI NO MUNICÍPIO DE ARARAQUARA,SP. Autores: Celso Aluísio Graminha (a*), Simone Cristina de Oliveira (b), Mírian Freire Tavares (c), Gabriel Bergamaschi (d) (a) Unidade de Hidrologia, Hidrogeologia e Geotecnia (UHHG), Departamento Autônomo de Água e Esgotos (DAAE), Rua Domingos Barbieri n. 100, Fonte Luminosa, Araraquara, São Paulo, Brasil. [email protected]. (b) Gerência de Mobilização e Educação Ambiental(GEMA), Departamento Autônomo de Água e Esgotos (DAAE), Rua Domingos Barbieri n. 100, Fonte Luminosa, Araraquara, São Paulo, Brasil. [email protected]. (c),(d) Unidade de Mobilização e Formação Educacional(UFM), Departamento Autônomo de Água e. Esgotos (DAAE), Rua Domingos Barbieri n. 100, Fonte Luminosa, Araraquara, São Paulo, Brasil. [email protected]. (*) Autor para a correspondência: 016 3324 9587. Palavras-chave: atividades práticas, ensino, águas subterrânea Keyword: teaching experiences; groundwater Guarani Aquifer; Araraquara city Título abreviado: Educação Ambiental e Hidrogeologia Abstract It is increasing responsibility of companies and public or private institutions to work with social and environmental responsibility as part of its activities. In this direction, the Water and Wastewater Department of Araraquara (DAAE) has been developed actions and environmental management programs in water supply activities, sewage collection and its treatment and solid household waste. Environmental education contributes information and awareness about natural resources conservation and its rational use and, in this way, DAAE provides actions on environmental education at the Education Center and Environmental Sanitation (CESAMA) through conferences, guided visits and workshops aimed to primary and medium students levels both from public and private scholarship. In this paper it is proposed a practice thematic workshop about environmental education and groundwater use (tubular wells) whose resource is currently 50% of water matrix used in the city. This workshop includes three activities as follow: a) slide show approaches the topics: Where does come from our water? Groundwater: origin and classification; Groundwater distribution in the city; Potential of groundwater contamination. b) Laboratory practices with management, description and identification of rock samples from region that formed the aquifer (natural underground water reservoir formed by porous rock); c) evaluation questionnaire implementation of activities through participation of students in groups. Results obtained in questionnaires applied indicated that initial students’ knowledge was null about use and importance of groundwater as water fountain in the city. Answers

Upload: lenga

Post on 14-May-2018

217 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

1

PROPOSTA DE PRÁTICA DE ENSINO EM HIDROGEOLOGIA: EXE MPLO DO AQUÍFERO GUARANI NO MUNICÍPIO DE ARARAQUARA,SP.

Autores: Celso Aluísio Graminha (a*), Simone Cristina de Oliveira (b), Mírian Freire

Tavares (c), Gabriel Bergamaschi (d)

(a) Unidade de Hidrologia, Hidrogeologia e Geotecnia (UHHG), Departamento Autônomo de Água e Esgotos (DAAE), Rua Domingos Barbieri n. 100, Fonte Luminosa, Araraquara, São Paulo, Brasil. [email protected]. (b) Gerência de Mobilização e Educação Ambiental(GEMA), Departamento Autônomo de Água e Esgotos (DAAE), Rua Domingos Barbieri n. 100, Fonte Luminosa, Araraquara, São Paulo, Brasil. [email protected]. (c),(d) Unidade de Mobilização e Formação Educacional(UFM), Departamento Autônomo de Água e. Esgotos (DAAE), Rua Domingos Barbieri n. 100, Fonte Luminosa, Araraquara, São Paulo, Brasil. [email protected]. (*) Autor para a correspondência: 016 3324 9587.

Palavras-chave: atividades práticas, ensino, águas subterrânea

Keyword: teaching experiences; groundwater Guarani Aquifer; Araraquara city Título abreviado: Educação Ambiental e Hidrogeologia

Abstract

It is increasing responsibility of companies and public or private institutions to work with social and environmental responsibility as part of its activities. In this direction, the Water and Wastewater Department of Araraquara (DAAE) has been developed actions and environmental management programs in water supply activities, sewage collection and its treatment and solid household waste. Environmental education contributes information and awareness about natural resources conservation and its rational use and, in this way, DAAE provides actions on environmental education at the Education Center and Environmental Sanitation (CESAMA) through conferences, guided visits and workshops aimed to primary and medium students levels both from public and private scholarship. In this paper it is proposed a practice thematic workshop about environmental education and groundwater use (tubular wells) whose resource is currently 50% of water matrix used in the city. This workshop includes three activities as follow: a) slide show approaches the topics: Where does come from our water? Groundwater: origin and classification; Groundwater distribution in the city; Potential of groundwater contamination. b) Laboratory practices with management, description and identification of rock samples from region that formed the aquifer (natural underground water reservoir formed by porous rock); c) evaluation questionnaire implementation of activities through participation of students in groups. Results obtained in questionnaires applied indicated that initial students’ knowledge was null about use and importance of groundwater as water fountain in the city. Answers

2

indicated rates above 60% hit demonstrating that concepts addressed were satisfactorily assimilated by students. Resumo

É crescente a responsabilidade das empresas e instituições públicas ou privadas para atuarem com responsabilidade social e ambiental no âmbito de suas atividades. Neste sentido o Departamento Autônomo de Águas e Esgotos de Araraquara (DAAE), tem assumido atribuições de desenvolver ações e programas de gestão ambiental nas atividades de fornecimento de águas, coleta e tratamento de esgotos e resíduos sólidos domiciliares. A educação ambiental contribui com informação e conscientização sobre a conservação e uso racional dos recursos naturais e, neste sentido o DAAE tem desenvolvido ações de educação ambiental junto ao Centro de Educação e Saneamento Ambiental (CESAMA) através de palestras, visitas monitoradas e oficinas voltadas ao público estudantil do ensino básico (fundamental e médio) do ensino público e particular. No presente trabalho apresenta-se proposta prática de oficina temática de educação ambiental e uso das águas subterrâneas (poços tubulares) e cujo recurso hídrico representa atualmente 50% da matriz hídrica utilizada no município. A prática proposta envolve a realização de três atividades complementares sendo a)palestra audiovisual com abordagem dos temas: De onde vem nossa água?; As águas subterrâneas: origem e classificação; Distribuição da água subterrânea no município; Riscos de contaminação das águas subterrâneas. b) prática de laboratório com manuseio, descrição e identificação de amostras de rochas da região formadoras ao aquífero (reservatório natural de água subterrânea formado por rochas porosas); c) aplicação de questionário de avaliação das atividades através da participação dos alunos em grupo. Os resultados obtidos nos questionários aplicados indicaram que o conhecimento inicial dos alunos era nulo em relação ao uso e importância das águas subterrâneas como manancial hídrico no município. As respostas indicaram índices acima de 60% de acerto demonstrando que os conceitos abordados foram satisfatoriamente assimilados pelos alunos.

Introdução

O Departamento Autônomo de Água e Esgotos de Araraquara-SP (DAAE), é uma

autarquia municipal responsável pelo abastecimento público, bem como a coleta, o

tratamento e a disposição dos efluentes líquidos e resíduos sólidos do município de

Araraquara. Fundada em 1969, esta autarquia possuía até final de 2003 apenas as

atribuições fundamentais voltadas a operacionalização do saneamento básico no

município. Contudo, com a crescente demanda da sociedade por informação ambiental,

novas atribuições têm sido incorporadas pelas empresas que operam serviços de

3

saneamento, através de ações de gestão e comunicação do público-usuário por meio de

múltiplos canais de comunicação e mídia.

Neste sentido, o DAAE, através da Gerência de Mobilização e Educação Ambiental

(GEMA) tem desenvolvido ações e procedimentos voltados à mobilização e

conscientização da sociedade (usuário-fim) e também de capacitação interna dos

funcionários da autarquia em relação aos temas ambientais relacionados às atividades

técnicas e operacionais da autarquia.

O presente trabalho tem por objetivo apresentar uma proposta de prática de ensino

voltada à informação e educação da problemática que envolve o uso das águas

subterrâneas no município, considerando os conhecimentos básicos e essenciais

relacionados a este tema, qual seja, noções sobre geologia, ciclo da água na natureza,

riscos ambientais e de contaminação do uso das águas subterrâneas.

Desta forma considerando a abrangência de público atendido e até mesmo pela

dificuldade do tema águas subterrâneas no cotidiano, elaborou-se uma proposta de

atividade de prática de ensino adotando-se como linha central o desenvolvimento de

materiais e atividades didáticas que possam ser aplicadas nas ações educativas do

DAAE.

Para elaboração desta proposta, foram consideradas as seguintes aspectos:

− necessidade de elaborar material didático que possibilite ampla utilização para toda

a amplitude do público atendido pelo DAAE (estudantes do ensino fundamental e

básico das redes pública e privada, público universitário);

− priorizar linguagem visual/gráfica como recurso de comunicação;

− uniformizar os elementos de comunicação na diferentes mídias utilizadas;

− desenvolver materiais e recursos específicos para águas subterrâneas;

4

Com base nas premissas apresentadas, estabeleceu-se os principais tópicos de

abordagem na elaboração da prática, relacionando-se os conceitos fundamentais sobre a

origem, a distribuição (quantitativa e qualitativa) da água, a importância e os usos

múltiplos da água em uma sociedade, e os riscos envolvidos no uso das águas

subterrâneas pelas atividades humanas.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN´s), a sensibilização ambiental no

ensino fundamental ao médio deve desenvolver ações que promovam a justificativa das

atitudes e os valores “para não serem dogmas vazios de significados” e com a finalidade

de tornar possível a compreensão das implicações ambientais dessas ações (BRASIL,

1998a).

Para isso, o educador pode usar vários recursos facilitadores, como atribuir curiosidade

sobre o tema, transpô-lo do senso comum para o conhecimento científico, debatê-lo em

grupo, abordando os problemas decorrentes de sua ausência em diferentes escalas: local,

nacional e global.

O tema “águas subterrâneas” foi desenvolvido a partir dos conhecimentos básicos sobre

ciclo da água, natureza e composição das rochas (geologia), formas de uso e captação de

água e os riscos ambientais envolvidos no uso das águas subterrâneas.

Por fim considerou-se a necessidade de avaliar a eficiência dos recursos didáticos e das

práticas utilizadas através da aplicação de um “teste” que é aplicado ao público no final

da atividade. A figura 7 ilustra a folha de teste desenvolvida para aplicação a todo o

público-alvo participante da atividade.

Como objetivo geral procurou-se desenvolver um conjunto de atividades que permitam

informar o público sobre os usos e a importância das águas subterrâneas no

abastecimento público do município

5

Os objetivos específicos são:

desenvolver ações práticas e didáticas focadas na educação ambiental sobre a

importância, uso e conservação das águas subterrâneas no município de Araraquara;

avaliar o nível de compreensão e assimilação dos conceitos abordados nas atividades

práticas com o público-alvo;

Metodologia

O Aquífero Guarani em Araraquara, SP

O município de Araraquara, situado no Planalto Ocidental, apresenta relevo de colinas

amplas, pouco ondulado, com topos aplainados e altitude média de 646m acima do nível

do mar. O substrato geológico é formado por rochas da Bacia do Paraná: arenitos do

Grupo Bauru nas áreas mais elevadas, basaltos da Formação Serra Geral nas escarpas e

arenitos da Formação Botucatu/Pirambóia nas cotas topográficas mais baixas.

Em termos de recursos hídricos, o município de Araraquara situa-se no divisor de duas

grandes bacias hidrográficas. 65% do território pertence à Bacia do Tietê – Jacaré

(UGHRI-13 ao sul) ; e 35% pertencem à Bacia do Mogi-Guaçu (UGRHI-9, ao norte).

Os dois principais cursos d’água que atravessam a área urbana de Araraquara são o

ribeirão do Ouro, que deságua no rio Chibarro e o ribeirão das Cruzes, ambos afluentes

do rio Jacaré-Guaçu, Bacia do Tietê – Jacaré.

Os recursos hídricos subterrâneos (poços tubulares) em Araraquara atualmente

representam cerca de 55% do volume total produzido para abastecimento público do

município, além da intensa utilização por usuários particulares. Nos últimos 10 anos o

número de poços tubulares no município aumentou em cerca de 64% no município

sendo explorados todos os mananciais subterrâneos disponíveis, ou seja, os aquíferos

Bauru, Serra Geral e Guarani. Estes dados apresentados na Tabela 1 demonstram a

6

crescente importância das águas subterrâneas na matriz de distribuição e consumo do

município e que em verdade reflete a tendência de aumento do uso de água subterrânea

em todo o estado de São Paulo(Cetesb, 2009).

A figura 1, apresenta os poços tubulares existentes no município evidenciando a

concentração de poços nas áreas mais urbanizadas e populosas do município. Esta

tendência de instalação de poços reflete de um lado a maior demanda centralizada e de

outro a situação ambiental de degradação (áreas de risco à contaminação).

Tabela 1: Informações construtivas e de produção dos poços tubulares de exploração de água subterrânea para uso público no município de Araraquara, SP. Fonte: DAAE, 2009 .

EW NS construção desativação recuperação (m 3 /h) (h/d) (m 3 /d) inicial 2008

1 Santana I 790,20 7586,40 601,50 Air Lift 1.974 2.001 300 56,00 2 Santa Lúcia I 791,10 7585,20 600,00 Air Lift 1.976 1.983 198 70,00 3 Standard I 793,90 7586,60 625,00 Air Lift 1.978 1.986 319 80,80 4 Paiva 792,90 7584,70 625,85 Air Lift 1.980 1.993 350 98,38 5 Ouro 797,21 7586,25 654,80 Hidroaço 1.982 2.004 248 32,00 6 Santa Lúcia II 791,20 7585,25 600,00 Hidroaço 1.983 326 178 19 3.382 70,50 113,50 7 São Paulo 796,25 7588,90 643,00 CPRM 1.985 1.995 358 109,21 121,00 8 Paiol 788,60 7587,75 533,60 Politi 1.985 2.006 329 150 - - 66,39 96,70 9 Standard II 793,82 7586,65 625,00 Contep / Itaí 1.990 2.004 2.005 380 175 11 1.925 96,16 131,00 10 Selm i Dei 794,70 7593,95 660,00 Contep 1.992 402 202 6 1.212 140,74 165,20 11 Gram ado 794,60 7588,20 665,00 Constro li 1.992 2.002 409 145 20 2.900 139,68 164,00 12 Pinhe irinho 796,93 7590,38 697,34 Contep 1.992 2.008 375 94 24 2.256 168,77 182,80 13 Iguatem i 795,70 7582,57 722,00 CPRM 1.994 2.005 286 209 11 2.299 71,90 77,50 14 Fonte 792,65 7589,70 690,00 Contep 1.995 2.008 422 246 20 4.920 178,30 200,50 15 Rodovia 798,36 7588,62 660,00 CPA 1.998 2.008 392 160 - - 141,45 189,00 16 Aldo Lupo 797,82 7583,18 730,00 Corner NE 1.998 360 338 14 4.732 64,79 74,60 17 Flora 792,30 7594,85 660,00 CPA 1.999 442 306 17 5.202 157,01 173,50 18 Santana II 790,01 7587,55 610,00 Geoplan 2.002 377 264 14 3.696 91,40 101,00 19 Santa Marta A 794,66 7584,74 694,00 Uniper 2.005 309 126 20 2.520 76,62 76,62 20 Santa Marta B 794,66 7584,74 694,00 Constro li 2.007 309 129 0 0 76,62 76,62 21 Iguatem i B 795,70 7582,60 722,00 pro jetado 241 22 Laran jeiras 786,09 7588,25 617,00 em construção 320 23 Ouro II-A 797,21 7586,25 654,80 em construção 200 24 Ouro II-B 797,21 7586,25 654,80 em construção 200 25 Pinhe irinho II 796,93 7590,38 697,34 pro jetado 350

total 35.044

prof . útil (m)

produção prof . Nivel Estático ( m ) nº do poço nome

coordenadas UTM (km) cota (m) empresa perfuradora

data

7

Figura 1: Distribuição dos poços tubulares de exploração de água subterrânea para uso público (pontos em azul) e particulares (pontos em vermelho) no município de Araraquara, SP. Fonte: DAAE, 2009. Fundamentação teórica da atividade proposta

Os aspectos teóricos e educacionais considerados na elaboração das atividades práticas

foram desenvolvidos conforme os princípios propostos por Horta (1999) que considera

que as atividades de educação patrimonial e ambiental devem promover a aquisição do

conhecimento através da utilização dos recursos didáticos e materiais disponíveis no

entorno onde estão sendo realizadas as atividades.

Segundo Horta, 1999 “o material elaborado deve provocar a percepção, a análise e a

comparação que permitirá ao aluno uma maior compreensão do que está sendo

proposto e observado, enfatizando-se os seguintes tópicos:”

� Definição dos objetivos que se pretende explorar;

� Linguagem adequada ao nível da faixa etária;

8

� As indagações objetivas de fácil compreensão;

� A diagramação clara e agradável, com espaço suficiente para preenchimentos e

complementações.

É importante ressaltar que no processo de aprendizagem a utilização de diferentes

recursos didáticos tem por finalidade aprender os processos apresentados. Como afirma

Morin (2006) compreender significa intelectualmente apreender em conjunto,

comprehendere, abraçar junto (o texto e seu contexto, as partes e o todo, o múltiplo e o

uno).

A compreensão intelectual passa pela inteligibilidade através da explicação. Explicar é

considerar o que é preciso conhecer como objetivo e, aplicar-lhe todos os meios

objetivos de conhecimento disponível. Considerando estas premissas teóricas foram

desenvolvidas as seguintes atividades:

a) montagem de painéis ilustrados;

b) montagem de uma apresentação teórica em meio digital (audiovisual em power

point);

c) montagem de caixas para coleção de amostras de rochas e minerais representativos da

região, especialmente de rochas areníticas (Botucatu) e basaltos (Serra Geral) (Figura

3);

d) montagem de fichas-gabarito das amostras para acompanhamento na atividade

prática (Figura 4);

Na atividade teórica (item b) foram desenvolvidos quatro temas teóricos de suporte ao

conhecimento e informação sobre águas subterrâneas.

� Tema I: De onde vem nossa água?

Este tema foi tratado na apresentação teórica onde são apresentadas as diferentes fontes

9

de origem de água (superficiais, subterrâneas, etc.), o ciclo hidrológico e os usos

principais do recurso (industrial, agrícola, etc).

� Tema II: As águas subterrâneas: origem e classificação

Este tema é tratado tanto na apresentação teórica com apresentação do conceito de

conceitos de aquífero, formas de armazenamento e propagação da água no subsolo

(zona saturada e zona não saturada).

Os conceitos de geologia essenciais foram abordados por meio de uma atividade prática

onde os alunos manuseiam amostras das principais rochas que ocorrem na região

destacando-se as principais propriedades importantes no conceito de armazenamento e

transmissão de água.

As figuras 2 abaixo ilustra os locais onde foram obtidas as amostras de rochas utilizadas

na montagem das caixas e a Figura 3 o procedimento de preparação e montagem do

material para montagem das caixas montadas para realização da atividade prática e

ilustradas na Figura 4.

� Tema III: Distribuição da água subterrânea no município

Descreve-se a distribuição dos poços tubulares no município, bem como informações

sobre técnicas de perfuração de poços, destacando-se alguns aspectos práticos das

operações relacionadas a atividade de construção de poços e exploração de águas

subterrâneas.

� Tema IV: Riscos de contaminação das águas subterrâneas

Destaca-se as principais atividades que representam riscos de contaminação do solo e

das águas subterrâneas indicando locais no município que apresentam atividades

potencialmente impactantes destacando-se para ações de proteção do manancial

subterrâneo nas áreas de maior vulnerabilidade no município (setores sudeste, leste e

nordeste).

10

Figura 2: Aspecto geral dos locais na região onde são extraídos os principais tipos de rochas representativas da região. À esquerda Pedreira São Bento (desativada) em arenito Botucatu. À direita, Pedreira ativa (empresa Leão Engenharia) de basalto.

Figura 3: Seleção e Preparação no laboratório do CESAMA das amostras coletadas dos principais tipos rochosos ocorrentes na região. À esq. Coleção das amostras coletadas. À dir. Lavagem manual das amostras para posterior adequação do tamanho e identificação da amostra.

Figura 4: Fotografia das caixas de amostras montadas para realização da prática em laboratório. À direita: amostras identificadas por números nas posições de 1 a 6. À esquerda.: Detalhe das caixas com identificação numérica em cada amostra sendo: 01: basalto maciço; 02: basalto com cristal; 3: basalto vesicular com preenchimento; 4: arenito poroso; 5: arenito estratificado; 6: arenito silicificado. Figura 5: Ilustração da ficha de identificação das amostras coletadas na região e utilizadas para formação dos conceitos de geociências.

11

Figura 6: Exemplos cotidianos de utilização de rochas de arenitos e basaltos sendo à esquerda blocos tipo petit pavê utilizados no calçamento público e à direita blocos de basaltos utilizados nas fachadas de edificações.

Complementarmente à discussão sobre o uso e distribuição das rochas da região

procurou-se aproximar esta temática ao contexto local e cotidiano dos alunos, uma vez

que temas ligados a geologia e água subterrânea são em geral pouco desenvolvidos na

grade curricular dos cursos regulares. Com isso foram tomados exemplos de pontos e

locais onde ocorrem as rochas arenitos e basaltos como indicado na figura 6.

Após o desenvolvimento da atividade teórica e prática, é aplicado um questionário

ilustrado com a finalidade de verificação dos conceitos abordados e de servir para o

educador como um parâmetro de monitoramento e revisão conceitual da prática

aplicada. A figura 7 abaixo ilustra uma folha do teste aplicado após a realização da

prática.

12

Figura 7: Ilustração de uma página de avaliação dos principais conceitos teóricos e práticos desenvolvidos durante as práticas de ensino com os grupos estudantis. Implantação da Proposta

O programa foi implementado em junho de 2009 no Centro de Educação e Saneamento

Ambiental “Chico Mendes” (CESAMA) em Araraquara, SP. O CESAMA é um espaço

mantido pelo DAAE que tem capacidade para acomodar 40 jovens, sendo constituído

por um laboratório, com as devidas instalações para funcionamento, e um centro de

atividades didáticas (aulas, palestras). No centro de atividades do CESAMA, os

estudantes participam da palestra teórica onde são utilizados recursos audiovisuais

(projeção de slides e vídeo sobre o Aquífero Guarani).

Após a apresentação e nivelamento do conhecimento do grupo , os estudantes

participam de uma atividade prática no laboratório sendo a turma dividida em grupos de

em média 4 a 5 alunos, que recebem as caixas kit contendo as amostras e as fichas de

identificação apresentadas na figura 5. Ainda na atividade prática foram utilizadas lupas

monoculares visando desenvolver a observação em detalhe e caracterização do material.

Nesta atividade, os conceitos teóricos já anteriormente nivelados são retomados

observando-se que neste momento os alunos se manifestam e participam com maior

intensidade do que na aula teórica. Por fim é aplicada a ficha de avaliação também

desenvolvida em grupo, sendo o tempo total da prática de ensino foi de 2h30min.

Resultados e Discussão

O projeto foi desenvolvido com estudantes de 9a. série do ensino fundamental público

de Araraquara, onde na primeira atividade (apresentação audiovisual) o educador deve

realizar um nivelamento do grau de informação dos estudantes em relação ao tema

apresentado. Como na hipótese inicial, as águas subterrâneas são praticamente

13

desconhecidas do público estudantil e constatou-se também a total desinformação

acerca da percepção do uso da água subterrânea como fonte de abastecimento de água

no município. A maioria dos estudantes reconhece apenas os rios como único manancial

de abastecimento na cidade.

Segundo a WWF, 2006, “aprender como a água chega e sai de nossas casas é

importante para ampliar as discussões de Educação Ambiental”. Além das observações

do educador, a ficha de avaliação foi um importante meio para analisar os pontos

positivos e negativos da prática aplicada, para assim, se adequar e aprimorar a proposta

das atividades desenvolvidas.

Do total das avaliações aplicadas, 75% responderam corretamente as questões sobre

ciclo da água onde, segundo Sugahara et al. 2001, “a construção do conhecimento a

partir da concepção prévia dos alunos, no caso por meio de recursos didáticos

acessórios e complementares (recursos visuais+aula prática) tornam a aprendizagem

mais significativa e efetiva”. Ainda segundo Brandão (2003) “numa comunidade

aprendente, mutuamente, todos os participantes possuem algo a ensinar e algo a

aprender, e em que todo o conhecimento trazido “de fora” dialoga e se integra nesse

saber-partilha de senso comum.”

A segunda questão (Figura 4) sobre o funcionamento de um poço tubular, cerca de 85%

responderam corretamente, o que segundo a avaliação dos instrutores, o uso do recurso

visual sobre o conceito de aquífero e construção de poços permitiram uma rápida na

assimilação deste assunto para o grupo. Segundo os PCN’s (Brasil, 1998b) as imagens

audiovisuais podem permitir uma aprendizagem mais contextualizada e significativa.

A terceira questão objetivou avaliar o aprendizado do aluno em relação aos conceitos de

geologia, que foram trabalhados na atividade prática de laboratório onde foram

14

manipuladas amostras de rochas representativas da região e diretamente associadas ao

aquífero Guarani. Pelas respostas avaliadas, 60% foram capazes de diferenciar e

descrever corretamente os tipos rochosos principais (basalto e arenito). A aula prática

foi muito relevante na atividade prática como um todo pois nitidamente despertou forte

interesse pelos alunos durante a manipulação das amostras.

De acordo com os PCN’s (1998b), “os recursos didáticos desempenham um papel

importante no processo de ensino e aprendizagem”, mas o professor deve reconhecer as

possibilidades e os limites que cada um deles apresenta. A última questão objetivou

avaliar a capacidade de correlação e integração entre os temas tratados, obtendo-se 78%

de respostas corretas, o que denota que os objetivos de avaliação da capacidade de

análise integrada das informações foram atingidos.

Conclusões

A implementação da prática proposta possibilitou em primeiro lugar identificar a forte

demanda por educação ambiental em relação ao uso e a importância das águas

subterrâneas como fonte de água voltada ao abastecimento público no município de

Araraquara.

O uso de recursos didáticos múltiplos (audiovisual, prática laboratorial, avaliação

teórica) resultaram em grande efetividade em termos de compreensão e assimilação de

conceitos técnicos e científicos relacionados a origem, exploração e importância das

águas subterrâneas.

Também foi possível constatar que praticamente inexistem na literatura relatos e

procedimentos de experiências didáticas e práticas de ensino desenvolvidas

especificamente para conscientização e educação ambiental em ralação a importância

dos recursos hídricos subterrâneos.

15

O tema das águas subterrâneas tem merecido importância crescente no campo da

educação ambiental uma vez que os recursos hídricos dependem de ações educativas

continuas de modo a garantir o uso amplo e universal dos recursos hídricos por toda a

sociedade.

Referências Bibliográficas

Brandão, C. R. 2003. A pergunta a várias mãos: a experiência da partilha através da pesquisa na educação. Editora Cortez, São Paulo. 2003 BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ciências Naturais/Secretaria de Educação Fundamental. Brasília:1998a. MEC/SEF. 138 p. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: introdução aos parâmetros curriculares nacionais/Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: 1998b. MEC/SEF. 174 p. CETESB – Cia Tecnologia de Saneamento Ambiental; DAEE – Depto. Águas e Energia Elétrica; IG – Instituo Geológico; SMA – Secr. Estadual de Meio Ambiente. As águas subterrâneas do estado de São Paulo: características e proteção. Apostila de curso. Não publicado. 2009. Horta, M. Del. P.; Grunberg, E.; Monteiro, A Q. 1999. Guia básico de educação patrimonial. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Museu Imperial, Ministério da Cultura, Brasília, 68p. Morin, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo:Editora Cortez;Brasília, DF: UNESCO, 2006. Silvia, R. B. G. Águas Subterrâneas: um valioso recurso que requer proteção. São Paulo, DAEE, 2003. São Paulo. 28p. Sugahara, N. N. G.; Compiani, M.; Newerla, V. Idéias Prévias: Um Ponto de Partida no Ensino do Ciclo Hidrológico em Aulas de Ciências. Ciências & Ensino, Campinas, n. 10, p. 3-8, Jun. 2001. Zarpelon, J. T. G.; Grisotti, M. A importância da Educação Ambiental no Aquífero Guarani. Anais da 58 Reunião Anual da SBPC. Florianópolis, SC. Julho, 2006. WWF-BRASIL. Cadernos de Educação Ambiental Água para Vida, Água para Todos:

16

Livro das Águas / VIEIRA, A. R. (Ed.); COSTA, L. (Coord.); BARRÊTO, S. R. (Coord.). Brasília: WWF-Brasil, 2006. 72p.