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Ministério Público

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Page 1: Prop Regio c
Page 2: Prop Regio c

2

São Paulo, maio de 2013.

Prezado(a) Colega de Ministério Público,

Cumprimentando-o, informo, ao

prezado (a) Colega, que já está disponível no portal do

Ministério Público do Estado de São Paulo, a proposta de

nova organização espacial das Promotorias de Justiça, para

ser conhecida, avaliada e apreciada por todos os Membros

da Instituição – www.mp.sp.gov.br – CONEPI em sua

versão completa. A versão compacta segue anexa.

No último dia 17 de maio de 2013, o

Núcleo de Políticas Públicas, órgão vinculado ao Gabinete

do Procurador-Geral de Justiça, no cumprimento de suas

atribuições definidas no art. 2º do Ato Normativo nº

733/2012, apresentou ao Conselho de Estudos e Políticas

Institucionais - CONEPI, uma proposta de nova

organização espacial do Ministério Público, objetivando

garantir a efetividade da atuação institucional em áreas

afetas à tutela de interesses difusos e coletivos e a

implementação de políticas públicas.

O projeto inicial sugere a criação de

Promotorias de Justiça Regionais para a atuação em

diversas áreas (Saúde, Educação, Meio Ambiente); de

Promotorias de Justiça Metropolitanas de Meio Ambiente

e Urbanismo, além de duas promotorias com temáticas

singulares e com recortes territoriais diferenciados, quais

sejam a Promotoria de Justiça Estadual Agrária e da

Segurança Alimentar e Nutricional e a Promotoria de

Page 3: Prop Regio c

3

Justiça do Desenvolvimento Sustentável do Vale do

Ribeira.

Cuida-se de proposta que procura

desenhar uma nova arquitetura dos órgãos de execução de

primeira instância, atualizando-os para a dinâmica de uma

sociedade que se apresenta hoje, transcorridos quase vinte

e cinco anos da promulgação da Constituição da

República, muito mais complexa e conflituosa.

Frise-se que se trata de proposta

inovadora, que não objetiva, de modo algum, romper por

completo com o modelo de estrutura atual, mas, sim, criar

uma nova base de organização espacial, que conviva com

o primeiro modelo e seja apta a responder aos novos

conflitos que ultrapassam os limites territoriais da

Comarca e se traduzem em problemas globais e inter-

relacionados a reclamar atuação abrangente,

multidisciplinar e regional do Ministério Público.

Impossível fazer frente às demandas

sociais próprias da atualidade e do futuro conservando-se a

arquitetura forjada há décadas e que privilegia a criação de

órgãos de execução a partir do modo de estruturação do

Judiciário, em regra, segundo o território ou a matéria.

O intento do legislador, de criação de

órgãos colegiados na primeira instância (Promotorias de

Justiça), não é suficiente para a garantia de atuações

integradas e da concretização da indispensável unidade do

Ministério Público. O modelo que se materializou

denuncia a incapacidade da Instituição para fazer frente a

todas as demandas e, no mais das vezes, expõe o membro

do Ministério Público a uma atuação incapaz de reverter,

Page 4: Prop Regio c

4

em muitas matérias e áreas, as mazelas que assombram

ainda a sociedade brasileira e paulista.

Não é razoável supor que, na primeira

instância, em Promotorias de Justiça muitas vezes de

atribuições cumulativas, será o Ministério Público capaz

de reunir condições efetivas de atuação plena em todas as

áreas e, notadamente, de desenvolver política de atuação

local atenta às peculiaridades do município e da região.

A reversão desse quadro exige tomada

de decisões e coragem para examinar o passado e, assim,

prognosticar um futuro diverso e melhor. Que o

planejamento estratégico para as próximas etapas seja

fundado na visão crítica do que temos e do que

ambicionamos, sem confortar apenas expectativas pessoais

e sem alimentar o preconceito ou o desconhecimento

técnico.

A discussão política nos impõe, agora,

que estejamos dispostos a nos colocar nas perspectivas da

Instituição como um todo, examinando o tema da

organização espacial dos órgãos de execução a partir do

interesse geral, institucional, apropriando-se do momento

histórico para revelar o que de fato ambicionamos para a

Instituição.

A reorganização espacial dos órgãos de

execução não autoriza a visão crítica do modo

contemporâneo de atuação ministerial e não coloca em

xeque a eficiência das Promotorias locais ou dos

instrumentos de atuação previstos em lei e que já foram

aplicados nas últimas décadas. A Instituição tem evoluído

positivamente no emprego dos instrumentos legais de

atuação, mas eles já se mostram insuficientes.

Page 5: Prop Regio c

5

Os ideais próprios da república e da

democracia, que todos defendemos, obrigam que sejam

constituídos e alimentados ambientes de representação e de

participação política e que sejam rechaçadas as práticas

individuais de constituição de soluções que atendam

interesses pessoais exclusivamente.

Criamos o Núcleo de Políticas Públicas

como modo de alimentar o debate crítico interno e externo

e, sobretudo, para que sempre tenhamos estratégias de

atuação institucional condizente com a agenda social e

com a considerável demanda que vem recebendo cada

Promotor de Justiça no Estado; criamos o Conselho de

Estudos e Políticas Institucionais (CONEPI) para o

compartilhamento na tomada de decisões pela

Procuradoria-Geral de Justiça dessas propostas que visam

repensar o modelo de Ministério Público paulista e

estamos apresentando, seguidamente, propostas para o

debate e obtenção de novos resultados práticos.

A proposta não é infensa a críticas; não

é fruto de predileções pessoais, mas é representativa do

compromisso de gerir seriamente os interesses da

Instituição, que não é exclusivo de alguns, mas que deve

ser solenemente assumido por todos.

Apresentamos, assim, o presente projeto

(http://www.mp.sp.gov.br/portal/page/portal/CONEPI) que

foi concebido e deve ser submetido à apreciação crítica de

todos os membros da Instituição, a partir de um diálogo

franco e democrático, que permita uma construção

coletiva. Dos debates, sairá o anteprojeto a ser apreciado e

deliberado pela representação da segunda instância, o Eg.

Órgão Especial do Colégio de Procuradores de Justiça.

Page 6: Prop Regio c

6

Assim, solicito que envie sua

contribuição nos próximos 45 (quarenta e cinco) dias para

o endereço eletrônico [email protected] ou por meio

de ofício à Procuradoria-Geral de Justiça, para que ela seja

devidamente apreciada e discutida.

Fraternalmente,

MÁRCIO FERNANDO ELIAS ROSA

Procurador-Geral de Justiça

Page 7: Prop Regio c

7

EM nº 1/2013 – NPP

São Paulo, 17 de maio de 2013.

SENHOR PROCURADOR-GERAL

DE JUSTIÇA,

PREZADOS MEMBROS DO

CONSELHO DE ESTUDOS E

POLÍTICAS INSTITUCIONAIS,

O Núcleo de Políticas Públicas (NPP) apresenta à

consideração do Conselho de Estudos e Políticas

Institucionais (CONEPI) proposta de uma nova organização espacial do Ministério Público objetivando

garantir a efetividade da atuação institucional em áreas

relacionadas à tutela dos interesses transindividuais e à

fiscalização e acompanhamento de políticas públicas

voltadas à implementação dos direitos sociais.

I – NOVA ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DO

MINISTÉRIO PÚBLICO: A DEMANDA POR

REGIONALIZAÇÃO

Na primeira etapa do processo de

elaboração do Plano Geral de Atuação 2013 (PGA 2013), a

coordenação do NPP promoveu, nos meses de maio a

novembro de 2012, reuniões com Promotores de Justiça

em todas as regiões do Estado, consultando-os sobre

problemas relacionados à implementação das políticas

públicas afetas às áreas de atuação do Ministério Público,

Page 8: Prop Regio c

8

bem como para levantar indicações de prioridades a serem

incluídas no PGA.

Nessas reuniões, os colegas também

abordaram temas institucionais, o que levou a

Coordenação do NPP a criar, no relatório das visitas, uma

rubrica sobre Desenvolvimento Institucional. Ressalte-se

que, dos catorze temas gerais que representaram o

conjunto das preocupações dos Promotores de Justiça, as

questões relacionadas ao Desenvolvimento Institucional

apareceram em 24 das 25 reuniões, razão pela qual esse

tema foi classificado em 2º lugar, só perdendo, em

demonstração de interesse, para o tema Saúde, superando

os demais (tabela 1).

Tabela 1 - Classificação dos temas indicados pelos membros do

Ministério Público durante o processo de elaboração do Plano Geral de

Atuação 2013

Classificação Tema

Número de

reuniões com

potencial de

aparecimento

do tema

Número de

reuniões com

tema indicado

Porcentagem

1º Saúde 16 16 100,0 %

2º Desenvolvimento

Institucional 25 24 96,0 %

3º Segurança Pública 14 10 71,4 %

4º Educação 16 11 68,8 %

5º Infância e

Juventude

17 9 52,9 %

Page 9: Prop Regio c

9

6º Participação e

Controle Social

19 10 52,6 %

7º Assistência Social 18 9 50,0 %

8º Meio Ambiente 16 8 50,0 %

9º Urbanismo 16 8 50,0 %

10º Pessoa com

Deficiência 15 6 40,0 %

11º Patrimônio

Público e Social 15 5 33,3 %

12º Consumidor 15 4 26,7 %

13º Direitos Humanos 15 4 26,7 %

14º Idoso 15 3 20,0 %

Com base nas indicações e propostas

relacionadas ao tema Desenvolvimento Institucional, o

NPP procedeu à classificação pelos subtemas de maior

interesse. O subtema regionalização apareceu como o mais

indicado, seguido por sete subtemas a ele diretamente

relacionados: especialização, apoio técnico, atuação

integrada, estrutura do Ministério Público, Plano Geral de Atuação, reorganização das Promotorias de Justiça e

aperfeiçoamento funcional dos Promotores de Justiça (tabela 2).

Page 10: Prop Regio c

10

Tabela 2 - Distribuição da porcentagem de reuniões onde os subtemas

relativos ao Desenvolvimento Institucional foram apontados por membros

do Ministério Público e a indicação em reuniões com a Comunidade

Científica, Sociedade Civil e Técnicos do Ministério Público

DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL

Subtemas Indicados Ministério

Público

Comunidade

Científica

Sociedade

Civil

Técnicos

MP

Regionalização 12 % X

Especialização 11 % X

Apoio Técnico 10 %

Atuação Integrada 9 % X

Estrutura MP 9 %

Plano Geral de Atuação 7 %

Reorganização das PJs 7 %

Aperfeiçoamento

Funcional PJs

6 % X X X

Atuação

Interinstitucional

3 % X X X

PJ Criminal 3 %

Princípio da

Obrigatoriedade

3 %

Unificação de

Entendimento

3 % X

Indicadores de

Produtividade

2 %

Page 11: Prop Regio c

11

Priorização 2 %

Processo Legislativo -

atuação do MP

2 %

Racionalização no cível 2 %

SIS - aperfeiçoamento 2 %

Áreas Regionais -

ampliação

2 %

Atendimento ao Público 1 %

Atualização dos Atos

Normativos

1 %

CAO - apoio à

implementação PGA

1 %

Conferência - garantir

participação

1 %

Integração

Intrainstitucional

1 %

Produção de Material de

Apoio

1 %

Segunda Instância 1 %

Aperfeiçoamento

profissional ATPsAPs

X

Acessibilidade X

Atuação Proativa X

Plano Profissional

ATPs

X

Racionalização dos

Trabalhos Técnicos

X

Territorialidade X

Page 12: Prop Regio c

12

Em 2006, o Ministério da Justiça, com

o apoio do Conselho Nacional dos Procuradores-Gerais de

Justiça (CNPG) e da Associação Nacional dos Membros

do Ministério Público (CONAMP), produziu o documento

denominado Diagnóstico Ministério Público dos Estados.

Nesse documento, demonstrou-se a demanda dos membros

dos Ministérios Públicos Estaduais pela implantação de

Promotorias de Justiça Regionais: dos Promotores de

Justiça consultados, 82,7% mostraram-se favoráveis; dos

Procuradores de Justiça, 71,5%.

No âmbito do conjunto de reformas

necessárias à atualização institucional do Ministério

Público, a regionalização aparece como a principal

demanda dos órgãos de execução da primeira instância do

Ministério Público de São Paulo, corroborando, no âmbito

estadual, o resultado da citada pesquisa nacional.

II – NOVA ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DO

MINISTÉRIO PÚBLICO: UMA IMPOSIÇÃO DA

REALIDADE

A realidade aponta para a necessidade

do estabelecimento de nova organização do Ministério

Público no espaço. Atualmente, a base de atuação do

Ministério Público tem escala única, a comarca, que se

mostra insuficiente para garantir a efetividade

institucional, mormente nas áreas relacionadas à tutela dos

interesses coletivos e difusos.

A partir da análise da forma como se

desenvolvem os trabalhos do Ministério Público no âmbito

Page 13: Prop Regio c

13

das comarcas, analistas elencam uma série de problemas,1

dos quais podemos destacar os seguintes:

cumulatividade e generalismo – em regra, as

atribuições do Promotor de Justiça nas

comarcas são cumulativas, o que o obriga a

intervir em processos, procedimentos e

inquéritos de todas as áreas de atuação, a

participar de um grande número de

audiências judiciais, a atender ao público

para todos os tipos de questões;

circunstâncias essas que impedem (i) a

organização racional do tempo para a

dedicação devida a cada tipo de assunto e (ii)

a especialização e a busca do conhecimento

minimamente necessário sobre as matérias de

maior complexidade;

isolacionismo e fragmentação institucional –

em regra, a atuação do Promotor de Justiça é

pautada pela atuação isolada, nos estreitos

limites da comarca, independentemente da

dimensão do problema que lhe é posto;

circunstância que (i) impede a visão das

questões em sua totalidade, (ii) estimula o

individualismo/voluntarismo de diminuta

1 Antônio Herman V. BENJAMIN, Um novo modelo para o

Ministério Público na proteção do meio ambiente, p. 7-12. Márcio

Soares BERCLAZ e Millen Castro Medeiros de MOURA, Para

onde caminha o Ministério Público? Um novo paradigma:

racionalizar, regionalizar e reestruturar par assumir a identidade

constitucional, p. 154-161. Marcelo Pedroso GOULART, Elementos

para uma teoria geral do Ministério Público, p. 159-163.

Page 14: Prop Regio c

14

eficácia e (iii) transforma cada agente numa

espécie de “instituição autônoma”;

demandismo – as características acima

apontadas incentivam a transferência das

soluções para o Poder Judiciário mediante o

ajuizamento açodado de ações – forma mais

rápida de liberação dos casos pelos

Promotores de Justiça, ante a pressão do

grande volume de trabalho e dos sistemas

internos de controle meramente quantitativo

–, reduzindo o papel de agente político ao de

mero agente processual.

Na tutela coletiva, a atuação

cumulativa, não especializada, isolada e fragmentada,

inerente à organização por comarcas, conspira contra a

eficiência e a eficácia do trabalho realizado pelo Ministério

Público, quebrando a expectativa positiva que a sociedade

deposita na Instituição. É preciso promover a

reorganização espacial do Ministério Público mediante o

estabelecimento de unidades de atuação, em escala

regional, que garantam o seu bom desempenho.

III – A REGIONALIZAÇÃO COMO EIXO

NORTEADOR DA ATUALIZAÇÃO

INSTITUCIONAL

Como visto até aqui, a forma de

estruturação dos Ministérios Públicos estaduais:

Page 15: Prop Regio c

15

não se alterou no tempo, uma vez que ainda

obedece ao surrado e superado modelo pré-

1988;

não se coaduna com o perfil institucional

estabelecido pela Constituição;

é causa da crescente perda de efetividade.

Somente a partir da definição da nova

organização espacial da Instituição (regionalização), é

possível pensar de forma consistente e consequente os

demais passos da reforma institucional, como a

especialização e o aperfeiçoamento funcional dos

Promotores de Justiça, a real implementação dos Planos e

Programas de Atuação, as novas configurações de atuação

integrada, a reorganização das Promotorias de Justiça

locais (das comarcas) e a descentralização dos centros de

apoio técnico.

Portanto, a reestruturação do

Ministério Público, pelo estabelecimento de uma nova

organização espacial, é medida indispensável e inadiável e

constitui-se, hoje, no principal eixo norteador da

atualização institucional para a próxima década.

IV – A FORMA DA REGIONALIZAÇÃO

Regionalizar significa organizar por

regiões. A discussão racional e coerente desse tema

Page 16: Prop Regio c

16

pressupõe a definição do que é região para os fins

propugnados pela Instituição. Nesse sentido, define-se

região como a unidade espacial que garante a efetividade

da atuação do Ministério Público na luta pela universalização do acesso aos direitos da cidadania e pela

construção da sociedade livre, justa e solidária.2

Não é o caso de desconsiderar-se,

totalmente, o espaço tradicional da comarca que, para

determinados tipos de atuação, continua garantindo

efetividade e não precisa ser alterado – até porque, nesses

casos, mostra-se o mais adequado –, como, por exemplo,

no combate aos crimes de baixo potencial ofensivo; nas

causas que têm por objeto o direito de família; na tutela

dos interesses individuais indisponíveis de crianças,

adolescentes e idosos; nas questões ambientais e

urbanísticas de interesse estritamente local. No entanto, a

manutenção da escala única de organização espacial está

em descompasso com o desenvolvimento e os desafios

institucionais.

Em muitos casos, é preciso ampliar a

base espacial de atuação. Assim, no combate ao crime

organizado e, em regra, na tutela dos interesses coletivos e

difusos. Na perspectiva da ampliação, pode-se falar em

macro e mesorregionalização. Noutros, é preciso reduzi-

la, como, por exemplo, nas chamadas Promotorias de

Justiça Comunitárias, cuja atuação se dá nas periferias

urbanas, em áreas de segregação compulsória das

populações excluídas. Aqui se fala em

microrregionalização. Ou seja, existem inúmeras

2 Marcelo Pedroso GOULART, Elementos para uma teoria geral do

Ministério Público, p. 162.

Page 17: Prop Regio c

17

possibilidades de arranjos espaciais que possibilitam o

ganho de efetividade do Ministério Público.

Frise-se, também, que a ampliação da

base espacial (macro e mesorregionalização) ajusta-se à

necessidade de especialização temática e aperfeiçoamento

funcional dos órgãos de execução, a garantir maior eficácia

no enfrentamento das principais questões sociais

(educação, saúde, segurança alimentar e nutricional,

moradia, terra, meio ambiente).

A redução da base espacial

(microrregionalização) justifica-se para o atendimento das

questões gerais da cidadania de população identificada

como vulnerável em uma determinada localidade. Nesse

caso, o ganho de efetividade se dá pela atuação do

chamado Promotor de Justiça generalista.

1. Critérios norteadores da regionalização

A forma como o Ministério Público se

organiza no espaço determina a qualidade do seu

desempenho. Portanto, a organização espacial tem caráter

estratégico e precisa ser estabelecida de acordo com

critérios de divisão adequados, que permitam, em cada

unidade de atuação, o cumprimento eficiente e eficaz da

missão institucional.

Os critérios são múltiplos, variáveis e

não necessariamente cumulativos. No campo da tutela

coletiva, que, em regra, pede a definição de base ampliada

(para além dos limites da comarca e do município), os

Page 18: Prop Regio c

18

critérios de divisão podem ser assim classificados

exemplificativamente:

físico-ambiental – determinações e

influências do meio natural (bacia

hidrográfica; ecossistema);

político-administrativo exógeno – forma

como os Poderes Públicos se organizam

espacialmente para a implementação de

políticas públicas sociais (divisão

administrativa-chave, ou seja, a unidade

administrativa a partir da qual se implementa

a política pública em determinada região);

socioeconômico – índices socioeconômicos e

de desenvolvimento humano;

socioespacial – deslocamento e localização

dos agentes no espaço (distribuição espacial

do crime organizado; espaços de segregação

compulsória das populações socialmente

excluídas; mobilidade dos conflitos agrários);

tópico-temáticos – temas pontuais relevantes

(violação de direitos fundamentais no sistema

prisional e nas unidades de internação de

adolescentes);

complexidade temática – temas que exigem

conhecimento transdisciplinar (saúde,

educação, meio ambiente, conflitos agrários,

população de rua, tortura);

Page 19: Prop Regio c

19

complexidade espacial – reunião de temas

complexos imbricados em um mesmo espaço

(regiões metropolitanas, aglomerações

urbanas, polos econômicos regionais).

2. O modelo da regionalização

Pode-se afirmar categoricamente que a

atualização institucional tem como eixo norteador a

regionalização. Portanto, é preciso priorizar a sua

implantação, (i) afastando-se as alternativas que não se

ajustam ao perfil constitucional do Ministério Público e (ii)

definindo-se o modelo que melhor atenda à finalidade da

reorganização espacial.

Seguindo esse caminho, verifica-se, de

pronto, que os Grupos de Atuação Especial não servem

de modelo para a regionalização. Segundo a previsão legal

(LOEMP, art. 47, V, d), esses Grupos devem ser criados a

partir de proposta das Promotorias de Justiça para

consecução pontual de objetivos e metas dos Planos e

Programas de Atuação. Em razão dessa especificidade, os

Grupos têm caráter provisório, ou seja, (i) atuam por

tempo determinado; (ii) não integram a estrutura

permanente da Instituição; (iii) os seus membros são

designados pelo Procurador-Geral de Justiça.

O funcionamento dos Grupos por

largo tempo e, por isso, em desacordo com a previsão

legal, acarreta uma série de problemas, dos quais podemos

destacar os seguintes:

Page 20: Prop Regio c

20

afastamento do Promotor de Justiça

designado do seu cargo de origem, com o

inevitável prejuízo para os trabalhos da

Promotoria de Justiça onde atua como titular,

mormente no que diz respeito à qualidade e à

continuidade dos serviços (o efeito vazio de

titularidade);

incremento de situações de tensão entre os

membros do Grupo e os Promotores de

Justiça locais (naturais) em razão da

sobreposição de atribuições, a prejudicar a

eficiência e a eficácia institucional;

enfraquecimento do princípio da

independência funcional pelo caráter precário

da designação para o exercício das funções;

instituição, por via transversa, de um modelo

de Ministério Público hierarquizado e

centralizado, ao arrepio da Constituição da

República.

A Rede de Atuação Integrada é uma

forma de agir baseada na colaboração de Promotores de

Justiça locais (sediados em comarcas), que unem esforços

e se auxiliam no enfrentamento de questões específicas,

eleitas, por esse coletivo, como prioritárias em

determinado tempo e espaço. A adesão do Promotor de

Justiça é voluntária e, portanto, a sua entrada e o seu

desligamento dependem de um ato unilateral de vontade

pessoal. Nesse modelo, não há como firmar-se uma base

de atuação permanente e espacialmente contínua. Em

Page 21: Prop Regio c

21

razão dessas características, a Rede é instável na sua

composição, na sua base física e na sua estrutura:

a instabilidade compositiva causa, não raras

vezes, a descontinuidade da prestação dos

serviços ministeriais em determinadas

comarcas em razão do desligamento do

Promotor de Justiça, seja por não entender

conveniente a sua permanência na rede, seja

em razão de movimentação na carreira

(promoções e remoções). Quebra-se, desse

modo, a expectativa do público-alvo daquela

localidade em relação à continuidade e

sucesso de trabalho já iniciado e não

concluído, com a consequente perda de

credibilidade da atuação do Ministério

Público. Viola-se, também, o princípio da

continuidade do serviço público;

a instabilidade espacial leva ao surgimento

de vazios de atuação ministerial em u’a

mesma região, pois a adesão à atuação em

rede, em regra, não é unânime. Quebra-se,

desse modo, o princípio da equidade

socioespacial, pelo desenvolvimento desigual

das políticas públicas nos diversos

municípios;

a instabilidade estrutural decorre de seu

caráter contingente. Como a Rede, pelas suas

características, não pode ser caracterizada

como órgão de administração, também não

pode dispor de serviços auxiliares próprios. O

apoio logístico depende da política central da

Page 22: Prop Regio c

22

Procuradoria-Geral de Justiça, que pode

apoiar ou não a atuação integrada em

determinado momento e/ou região. Assim, a

eficiência e a eficácia da atuação integrada

dependem não só da disposição dos

Promotores de Justiça que integram a Rede,

como também e sobretudo da conjuntura

política interna.

Além do mais, a Rede de Atuação

Integrada, como sucedâneo da regionalização, reforça a

manutenção de um modelo de organização espacial

inadequado para o enfrentamento das questões

relacionadas ao crime organizado e, em regra, à tutela

coletiva e à fiscalização, indução e controle das políticas

públicas sociais. Ou seja, a sua adoção, a pretexto de

regionalização, maquila uma estrutura anacrônica,3

contribuindo para o adiamento das providências

necessárias à solução dos problemas estruturais do

Ministério Público.

A Rede de Atuação Integrada deve ser

utilizada, como estratégia do agir institucional somente nas

hipóteses para as quais se mostra apta. Assim:

quando da necessidade de atuação integrada

em funções institucionais que não comportam

3 No modelo da Rede de Atuação Integrada, mantém-se a estrutura

de comarcas e, portanto, problemas a ela inerentes, como a

cumulatividade e o generalismo. Reforça, em outro patamar, a

fragmentação institucional. Não permite a necessária e real

especialização e aperfeiçoamento funcional do Promotor de Justiça

agente político.

Page 23: Prop Regio c

23

a regionalização (exemplo: no trato da

violência doméstica, a cooperação entre os

Promotores de Justiça Criminais locais e os

Promotores de Justiça responsáveis pelas

políticas públicas de proteção e defesa da

mulher, da criança, do idoso);

no enfrentamento de questões em relação às

quais a experiência ainda não demonstrou,

com segurança, a necessidade da criação de

Promotorias de Justiça Regionais (atuação

integrada em rede como ensaio para futura

regionalização).

A regionalização pressupõe a criação

de unidades de atuação permanente que não se

compatibilizam com os modelos do Grupo de Atuação

Especial e das Redes de Atuação Integrada.

Na configuração jurídico-

constitucional do Ministério Público, as unidades de

atuação permanente de primeira instância denominam-se

Promotorias de Justiça e são definidas por lei como órgãos

de administração, com um ou mais cargos de Promotor de

Justiça e serviços auxiliares necessários ao desempenho

das funções que lhe forem atribuídas (LONMP, art. 23,

caput. LOEMP, art. 46, caput). Em obediência ao princípio

constitucional do promotor natural (CR, art. 5º, inc. LIII),

as atribuições das Promotorias de Justiça devem ser

predefinidas em lei ou ato normativo.

Nesse sentido, a regionalização deve

ser implantada:

Page 24: Prop Regio c

24

a partir do estabelecimento de unidades

espaciais que garantam a efetividade

institucional;

em consonância com o perfil constitucional

do Ministério Público brasileiro, qual seja, o

de uma instituição não hierarquizada,

informada, entre outros, pelos princípios do

promotor natural e da independência

funcional.4

Mais do que isso, a regionalização,

como eixo norteador da atualização institucional, não

significa apenas o rompimento com a escala única da

comarca, mas implica, sobretudo, mudança de paradigma.

A adoção de escalas múltiplas de organização espacial é

um dos elementos que compõem a nova concepção de

Promotoria de Justiça. A reprodução da atual forma de

atuação em uma base espacial ampliada ou reduzida

contribuiria muito pouco para ganhos de efetividade

institucional. Os rearranjos espaciais, necessários e

indispensáveis, servem como novas estruturas (novas

formas) para um novo fazer institucional (novo conteúdo

prático), que exige conhecimento transdisciplinar,

articulação política, planejamento, proatividade e

resolutividade.

4 Isso implica a pré-constituição legal abstrata e objetiva dessas

novas Promotorias de Justiça e a prefixação de suas atribuições.

Page 25: Prop Regio c

25

PROMOTORIA

TRADICIONAL Promotor

de Justiça Agente

Processual

PROMOTORIA

REGIONAL Promotor de

Justiça Agente Político

Irreflexiva Reflexiva

Reativa Proativa

Demandista Resolutiva

A nova concepção de Promotoria de

Justiça engloba:

a reorganização espacial;

a especialização e o aperfeiçoamento

funcional como pressupostos necessários ao

exercício pleno das funções;

articulação política;

eleição democrática de prioridades e atuação

orientada por Planos e Programas;

resolutividade (busca de soluções diretas e

judicialização como último recurso);

novas formas de atuação integrada;

apoio técnico descentralizado.

Page 26: Prop Regio c

26

A Promotoria de Justiça Regional

fortalece a capacidade de resposta do Ministério Público às

demandas sociais (ganhos de efetividade) e assegura a

equidade socioespacial (garantia de acesso e qualidade dos

serviços para todas as populações de uma determinada

região).

Isso decorre da estabilidade

compositiva/funcional, espacial e estrutural e do estado de

imperturbabilidade que apenas o modelo de Promotoria de

Justiça garante.

Ao reunir menor número de

Promotores de Justiça para cada área específica de atuação,

com especialização real, a regionalização facilita o

estabelecimento de consensos internos, materializando a

unidade institucional e, consequentemente, os ganhos de

efetividade.

V – A OPORTUNIDADE DA REGIONALIZAÇÃO

Passados vinte e cinco anos da

instauração da nova ordem constitucional, nossa

Instituição não consegue ter desempenho que atenda às

necessidades que lhe são postas, no cotidiano, pela

sociedade. Isso se deve, também e sobretudo, a problemas

estruturais relacionados à forma de organização espacial.

É o caso, no Estado de São Paulo, da

atuação limitada e pouco eficaz do Ministério Público na

área de educação, considerada como essencial nos

processos de desenvolvimento includente, sustentável e

sustentado.

Os dados são reveladores.

Page 27: Prop Regio c

27

Tabela 3 – Média de inquéritos civis instaurados por Área

Regional sobre o tema Educação nos anos de 2011 e 2012.

Fonte: SIS Difusos

Média dos Inquéritos Civis instaurados por Área Regional

2011-2012

Assunto: Educação

ENTRÂNCIA ARs ICs em

2011

Média 2011

por ARs

ICs em

2012

Média 2012

por ARs

FINAL 13 130 10 126 9,69

INTERMEDIÁRIA 14 78 5,57 64 4,90

INICIAL 14 70 5,00 70 5

278 20,57 260 100,00

Tabela 4 – Números de inquéritos civis instaurados por

entrância sobre o tema Educação nos anos de 2011 e 2012.

Fonte: SIS Difusos

Inquéritos Civis instaurados por Entrância – 2011-2012

Assunto: Educação

ENTRÂNCIA PJs PJs % ICs 2011 2011% ICs 2012 2012%

FINAL 38 12,06 130 46,76 126 48,46

INTERMEDIÁRIA 70 22,22 78 28,06 64 24,62

INICIAL 207 65,72 70 25,18 70 26,92

315 100,00 278 100,00 260 100,00

Page 28: Prop Regio c

28

Essa crise de efetividade nos aproxima

de uma perigosa situação de perda de confiabilidade e

legitimidade sociais. O momento histórico pelo qual

passamos é o momento oportuno para a tomada de

medidas de atualização institucional. Nossas lideranças

políticas e nossos gestores, aos quais nunca faltou senso de

urgência, não podem se furtar a promover as reformas

institucionais que ora se impõem.

Como exaustivamente exposto acima,

a regionalização, como nova forma de organização

espacial, é, ao mesmo tempo, a base e o eixo norteador

dessas reformas. Por ela deve começar a atualização

institucional.

VI – A PROPOSTA DE REGIONALIZAÇÃO:

TEMAS PRIORITÁRIOS

A proposta foi elaborada a partir de

consultas e estudos realizados pelos membros da

Coordenação do NPP. Concluiu-se, a partir desses estudos

e consultas, que:

1. o processo de regionalização, no Ministério

Público de São Paulo, deve iniciar-se

imediatamente;

2. a regionalização deve seguir o modelo

preconizado nos itens anteriores dessa

Exposição de Motivos;

3. a regionalização deve abranger, nesse

primeiro momento, as seguintes áreas:

Page 29: Prop Regio c

29

a. saúde;

b. educação;

c. meio ambiente;

d. meio ambiente e urbanismo,

cumulativamente, nas regiões

metropolitanas;

e. conflitos agrários e regularização fundiária;

f. segurança alimentar e nutricional;

g. tutela dos direitos fundamentais das

comunidades tradicionais (quilombolas,

caiçaras e ribeirinhos).

Norteada pelo objetivo estratégico

institucional, a escolha dessas áreas leva em consideração

aquilo que é mais urgente e indispensável na atuação do

Ministério Público.

Vejamos.

Saúde pública. As políticas que visam

melhorar a saúde das pessoas têm grande amplitude,

abarcando o acesso aos serviços de saúde, a alimentação

adequada (segurança alimentar e nutricional) e o

saneamento básico.

Destaquem-se, nesse passo, as ações e

os serviços de saúde que constituem o Sistema Único de

Page 30: Prop Regio c

30

Saúde (SUS). Esse sistema orienta-se por diretrizes de

descentralização e regionalização e materializa-se em

Redes de Serviços de Saúde sob responsabilidade dos

Municípios, dos Estados e da União. Os três entes

federativos devem atuar de forma integrada e

complementar (federalismo cooperativo) para garantir a

resolutividade dos serviços nos níveis de atenção primária,

secundária e terciária. Assim, a política pública de saúde:

implementa-se a partir de regiões sanitárias,

onde se organizam as redes regionais de

atenção à saúde;

funda-se em relações complementares de

cooperação e trocas acordadas entre gestores

municipais e estaduais, garantida a

participação e o controle sociais.

No Estado de São Paulo, a

regionalização, como forma de atuação solidária e

cooperativa das três esferas de governo na implementação

das políticas de saúde, ainda não se consolidou. As ações e

serviços estão fragmentados e não se articulam; como

também não se articulam as instâncias gestoras. Disso

resultam a baixa efetividade da política pública e a

sonegação do direito fundamental à saúde, sobretudo às

populações de baixa renda.

Para a superação desse quadro, é

preciso:

Page 31: Prop Regio c

31

fortalecer regionalmente a capacidade de

resposta do sistema às necessidades de saúde

da população;

assegurar a equidade socioespacial.

Embora necessária e urgente, a

intervenção do Ministério Público no campo das políticas

públicas de saúde é pouco significativa e o impacto social

de sua atuação, na perspectiva macro-política, pode ser

considerado irrelevante. Isso se deve principalmente:

à não priorização desse tema, que continua a

ser tratado institucionalmente como ramo

secundário de uma mal definida área de

direitos humanos;

à não especialização dos Promotores de

Justiça, que, em regra, cumulam atribuições;

à atuação fragmentada e isolada a partir das

comarcas.

Portanto, para o Ministério Público, o

ganho de efetividade no seu desempenho como indutor e

fiscal das políticas públicas de saúde e como defensor do

direito difuso à saúde dar-se-á com:

a criação de unidades permanentes de

atuação regionalizada (Promotorias de Justiça

Regionais de Saúde reflexivas, proativas e

resolutivas);

Page 32: Prop Regio c

32

a especialização e o aperfeiçoamento

funcional do Promotor de Justiça Regional

como forma de torná-lo verdadeiro agente

político (o interlocutor qualificado para

enfrentar o tema saúde nas instâncias sociais

e administrativas).

Educação. A sociedade democrática –

livre, justa e solidária – não pode prescindir de políticas

educacionais que formem indivíduos-cidadãos aptos a

participar dos processos político, econômico e cultural, ou

seja, com capacidade de pensar, refletir, situar-se no

mundo, fazer escolhas conscientes, trabalhar, produzir e

partilhar de forma equitativa os frutos da produção, dirigir

e/ou controlar quem dirige. Enfim, uma educação que,

como determina a Constituição da República, tenha por

finalidade o pleno desenvolvimento da pessoa, o preparo

para o exercício da cidadania e a qualificação para o

trabalho (art. 205).

A educação nacional organiza-se em

regime de colaboração entre os diversos entes federativos (União, Estados, Distrito Federal e

Municípios) e materializa-se nas redes escolares que

compõem cada sistema de ensino em seus diferentes

níveis. Esse regime de colaboração, que caracteriza o

federalismo cooperativo, deve garantir a efetividade dos

serviços educacionais prestados.

No que diz respeito ao ensino

fundamental, a relação de colaboração entre Estados e

Municípios é intensa, dada a oferta

concorrente/complementar dos serviços e da distribuição

proporcional das responsabilidades. As políticas irradiam-

se e implementam-se a partir de diretrizes regionais, de

Page 33: Prop Regio c

33

acordo com a população a ser atendida e dos recursos

financeiros disponíveis em cada uma dessas esferas do

Poder Público.

No Estado de São Paulo, o regime de

colaboração, como forma de atuação solidária e

cooperativa das três esferas de governo na implementação

das políticas de educação, ainda não se consolidou. A

relação entre os entes federativos é tensa, em razão de

disputas partidárias envolvendo os Governos Estadual e

Federal, como também em razão dos impactos negativos –

ainda não superados – do traumático processo de

municipalização do ensino fundamental conduzido

unilateralmente pelo Governo do Estado em meados da

década de 1990. A dissintonia entre os entes federativos é

um dos fatores que contribui para a baixa efetividade da

política pública e para a oferta irregular do ensino, que se

manifesta pelas violações frequentes ao direito à educação,

tanto no que diz respeito ao déficit de vagas, quanto à

qualidade dos serviços prestados.

Para a superação desse quadro, é

preciso:

fortalecer regionalmente a capacidade de

resposta dos sistemas de ensino às demandas

sociais, quantitativas e qualitativas, por

educação;

assegurar a equidade socioespacial.

Embora necessária e urgente, a

intervenção do Ministério Público no campo das políticas

públicas de educação é pouco significativa e o impacto

Page 34: Prop Regio c

34

social de sua atuação, na perspectiva macro-política, pode

ser considerado irrelevante. Isso se deve principalmente:

à não priorização desse tema, que continua a

ser tratado institucionalmente como ramo

secundário das Promotorias de Justiça da

Infância e Juventude (atuação irreflexiva e

meramente reativa);

à não especialização dos Promotores de

Justiça, que, em regra, cumulam atribuições

(despreparo técnico para o enfrentamento do

tema);

à atuação fragmentada e isolada a partir das

comarcas (baixa resolutividade).

Portanto, para o Ministério Público, o

ganho de efetividade no seu desempenho como indutor e

fiscal das políticas públicas de educação e como defensor

do direito difuso à educação dar-se-á com:

a criação de unidades permanentes de

atuação regionalizada (Promotorias de Justiça

Regionais de Educação reflexivas, proativas

e resolutivas);

a especialização e o aperfeiçoamento

funcional do Promotor de Justiça Regional

como forma de torná-lo verdadeiro agente

político (o interlocutor qualificado para

enfrentar o tema educação nas instâncias

sociais e administrativas).

Page 35: Prop Regio c

35

Meio Ambiente. O desenvolvimento,

assim como projetado na Constituição da República, exige

a compatibilização do crescimento econômico com (i) o

atendimento às necessidades humanas básicas (saúde,

alimentação saudável, educação, moradia, trabalho etc.) e

com (ii) a sadia qualidade de vida, que pressupõe a

preservação do meio ambiente e o uso equilibrado dos

recursos naturais (a atender às necessidades das presentes e

das futuras gerações). A proteção ambiental integra e

subordina o desenvolvimento e as políticas definidas para

a sua implementação.

Os padrões de produção e consumo da

sociedade contemporânea inviabilizam o desenvolvimento

sustentável, a exigir a atuação permanente de todos os

sujeitos políticos incumbidos da defesa ambiental. Desde a

edição da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, em

1981, o Ministério Público assumiu a responsabilidade de

partilhar essa tarefa, dispondo, para tal, de instrumentos

administrativos e processuais eficazes. E assim tem feito.

Pode-se afirmar que, nessas últimas três décadas, a atuação

do Ministério Público foi decisiva na garantia da

efetividade das normas ambientais no Brasil e na

elaboração da doutrina do Direito Ambiental. Também foi

nessa área que se iniciou o debate sobre a necessidade de

regionalização da atuação do Ministério Público como

forma de promoção dos ganhos de efetividade.

Desde a segunda metade da década de

1990, os Ministérios Públicos ensaiam modelos de

regionalização, preponderando, hoje, o modelo de Grupo e

Núcleos de Atuação Especial.

Page 36: Prop Regio c

36

No Estado de São Paulo, evoluímos de

uma experiência conhecida como “Promotoria Regional do

Meio Ambiente” para a experiência do GAEMA, Grupo de

Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente.

O primeiro modelo inaugurou uma

forma de atuação integrada de base regional, determinada

por critério físico-ambiental (a bacia hidrográfica), mas

não se constituiu, apesar do nome, em Promotoria de

Justiça (unidade de atuação permanente). Funcionou por

meio de simples designações de Promotores de Justiça

para auxiliarem, em determinados assuntos ambientais, os

colegas titulares das comarcas de uma determinada região.

Com o GAEMA, institucionalizou-se e

racionalizou-se a experiência anterior, disciplinando-se os

procedimentos e a forma de escolha do Promotor de

Justiça com atuação regionalizada. Representou um

avanço, mas ainda insuficiente para a definição de uma

forma definitiva de regionalização.

Como visto acima, a regionalização

implica a criação de unidades de atuação permanente e o

modelo do Grupo de Atuação Especial não é a forma

adequada para isso. Nesse processo evolutivo, é hora de

definir-se o modelo, que, como também já apontado nesta

Exposição de Motivos, deve ser o de Promotoria de Justiça

Regional.

As bases de implantação das

Promotorias de Justiça Regionais do Meio Ambiente estão

dadas, bastando a transformação dos Núcleos Regionais do

GAEMA e da Rede de Proteção do Meio Ambiente em

Promotorias Regionais. Dessa forma, ajusta-se a estrutura

Page 37: Prop Regio c

37

à finalidade da regionalização, garantindo-se ganhos de

efetividade.

Regiões Metropolitanas. A região

metropolitana define-se juridicamente como o

agrupamento de municípios limítrofes, instituído por lei,

que tem por fim integrar a organização, o planejamento e a

execução de funções públicas de interesse comum (CR,

art. 25, § 3º). Essa definição contempla, por um lado, a

base espacial da região metropolitana (o agrupamento de

municípios limítrofes) e, por outro, a finalidade de sua

instituição (garantir a governança pública regional).

A definição não explicita, mas lhe é

subjacente, a complexa dinâmica socioespacial que

constitui a região metropolitana, marcada, entre outras,

pelas seguintes características:

alta densidade demográfica;

intenso processo de urbanização;

conurbação;

intenso fluxo de pessoas, bens e serviços.

As políticas públicas de cunho

estritamente municipal não dão conta de solucionar os

problemas sociais, urbanísticos e ambientais gerados no

âmbito dessa complexa realidade.5 É necessária a

5 Problemas tipicamente metropolitanos relacionados com

saneamento básico (disposição de resíduos sólidos,

tratamento de esgoto, quantidade e qualidade da água para

Page 38: Prop Regio c

38

instituição de novas formas de planejamento e gestão e de

novos instrumentos de políticas públicas, de caráter

supramunicipal, que atendam às exigências dessa escala de

urbanização.

A garantia da governança pública

metropolitana não se restringe ao âmbito dos

implementadores diretos das políticas públicas, mas

também alcança aqueles aos quais incumbem a sua

indução, fiscalização e controle. Portanto, não escapa das

instituições que compõem o sistema de Administração de

Justiça. Ora, se o município é uma unidade espacial

imprópria para o planejamento e implementação das

políticas públicas metropolitanas, a comarca, como escala

única que limita espacialmente a atuação do operador do

direito, também se mostra inadequada para a indução,

fiscalização e controle dessas políticas.

A temática metropolitana exige a

reorganização das instâncias de deliberação, de

implementação, de fiscalização e de controle das políticas

públicas. No Estado de São Paulo, as quatro Regiões

Metropolitanas já instituídas (São Paulo, Campinas,

Baixada Santista e Vale do Paraíba) dispõem, cada uma

delas, de um Conselho de Desenvolvimento, de caráter

normativo e deliberativo, e um Conselho Consultivo, que

passarão a integrar entidades autárquicas responsáveis pela

organização, planejamento e execução das funções

públicas de interesse comum. No plano administrativo,

consumo humano, macrodrenagem), moradia, ocupações de

área de risco, falta de infraestrutura urbana e social, impactos

provocados pelos grandes projetos estruturantes, transporte

público, malha viária, proteção ambiental.

Page 39: Prop Regio c

39

essa reorganização, embora já contemplada em lei, ainda

não se efetivou. As políticas públicas metropolitanas ainda

não foram gestadas a partir do novo espaço.

Consequentemente, os grandes problemas metropolitanos

ainda não foram enfrentados de uma forma racional,

eficiente e eficaz.

Para a superação desse quadro, é

preciso fazer com que as instâncias metropolitanas

comecem a funcionar, para que se fortaleça regionalmente

a capacidade de resposta do sistema às demandas sociais e

para que se assegure a equidade socioespacial.

Embora necessária e urgente, a

intervenção do Ministério Público no campo das políticas

públicas metropolitanas é inexistente. Portanto, para a

nossa Instituição, a efetividade no seu desempenho como

indutor e fiscal das políticas públicas metropolitanas dar-

se-á com:

a criação de unidades permanentes de

atuação regionalizada (Promotorias de

Justiça Metropolitanas reflexivas, proativas e

resolutivas);

a especialização e o aperfeiçoamento

funcional do Promotor de Justiça

Metropolitano como forma de torná-lo

verdadeiro agente político (o interlocutor

qualificado para enfrentar os temas

metropolitanos nas instâncias sociais e

administrativas).

Page 40: Prop Regio c

40

Conflitos Agrários e Segurança Alimentar e Nutricional. O Brasil apresenta uma

estrutura agrária hiperconcentrada (gráficos 1 e tabela 5),

que se mantém no tempo. Isso se deve à omissão dos

Poderes Públicos em implementar a política agrícola e

agrária estabelecida, como macrodiretriz estratégica, no

art. 184, caput, da Constituição da República.

Gráfico 1 – Dados sobre a concentração da propriedade da

terra no Brasil, CENSO 2006 – Fonte: Cadastro INCRA

(Igor Fellipe Santos RCRA)

CONCENTRAÇÃO DA PROPRIEDADE DA TERRA

NO BRASIL

Imóveis rurais commenos de 10ha

Imóveis rurais commais de 1000ha

47

1 2,7

43

Imóveis %

Área %

Page 41: Prop Regio c

41

Tabela 5 – Índice de Gini – Indicador de concentração

fundiária (quanto mais próximo de 1, maior da concentração

da estrutura fundiária)

CONCENTRAÇÃO FUNDIÁRIA NO BRASIL

CENSO Agropecuário

1985 0,857

1996 0,856

2006 0,854

A concentração fundiária é um dos

principais fatores de inibição de nosso desenvolvimento,

pois compõe o quadro de um padrão de produção agrícola

social e ambientalmente insustentável. Está

indissociavelmente ligada aos sistemas monoculturais,

que: (i) exigem o uso intensivo de adubação química, de

agrotóxicos e da mecanização pesada; (ii) expulsam as

famílias do campo, provocando o êxodo rural e o inchaço

das periferias urbanas (e como consequência, o

favelamento, a insuficiência dos serviços públicos para o

atendimento dessa população urbana excedente, o avanço

do trabalho informal e precário, a violência na cidade e no

campo); (iii) conspiram contra a segurança e a soberania

alimentar, pois voltados à exportação de grãos e de carne e

à produção de combustíveis para veículos automotores.

A solução dos conflitos por terra e a

consequente pacificação do campo no Brasil passam

necessariamente pela mudança da estrutura fundiária, que

Page 42: Prop Regio c

42

por seu turno deve ser tratada, de forma concomitante, na

sua dupla vertente:

1ª) melhor distribuição da posse e da propriedade da

terra, com a implantação de assentamentos da

reforma agrária nas áreas hoje ocupadas pelos

grandes imóveis rurais que não cumprem a função

social;

2ª) o fortalecimento da agricultura familiar

produtora de alimentos saudáveis.

Os conflitos por terra têm presença

marcante no cenário nacional e se expressam como um dos

principais indicadores negativos para o país no quadro

global dos direitos humanos. O Estado de São Paulo

destaca-se nesse cenário, classificando-se, ano após ano,

no rol dos primeiros colocados em número de conflitos

(tabelas 6, 7 e 8).

Embora São Paulo tenha caído da 4ª

para a 6ª colocação na classificação nacional, essa queda

se deveu ao aumento do número de casos nos Estados de

Pernambuco e Rondônia e não à queda da conflituosidade

em território paulista. Aqui, os números permaneceram em

um mesmo patamar: 63 casos em 2010; 68, em 2011; 66,

em 2012 (tabelas 6, 7 e 8).

Page 43: Prop Regio c

43

Tabela 6 – Dados referentes aos conflitos de terra no Brasil,

por Estados. Fonte: CPT – Comissão Pastoral da Terra

CONFLITOS DE TERRA NO BRASIL - 2010

1º Maranhão 170 13º Mato Grosso do Sul 18

2º Pará 125

14º Goiás 17

3º Bahia 72

15º Paraíba 16

4º São Paulo 63

16º Piauí 13

5º Minas Gerais 54

17º Ceará 10

6º Amapá 49

18º Rio Grande do Sul 8

7º Pernambuco 46

19º Espírito Santo 6

8º Alagoas 33

20º

Acre

Sergipe 5

9º Amazonas

Paraná 29

21º

Rio Grande do Norte

Roraima

Santa Catarina

4 10º Rondônia 27

11º Mato Grosso 24

12º Tocantins 19

22º Rio de Janeiro 3

Page 44: Prop Regio c

44

Tabela 7 – Dados referentes aos conflitos de terra no Brasil,

por Estados. Fonte: CPT – Comissão Pastoral da Terra

CONFLITOS DE TERRA NO BRASIL - 2011

1º Maranhão 224 13º Acre 29

2º Pará 125

14º Rio Grande do Sul 25

3º Bahia 98

15º Ceará

Paraíba 16

4º São Paulo 68

16º Tocantins 15

5º Pernambuco 60

17º Santa Catarina 8

6º Rondônia 55

18º Rio de Janeiro 7

7º Amapá 50

19º Goiás 6

8º Alagoas 47

20º

Paraná

Distrito Federal

Sergipe

4

9º Minas Gerais 46

21º Espírito Santo 2 10º Amazonas 33

11º Mato Grosso do Sul 32

12º

Mato Grosso

Piauí 30

22º Rio Grande do Norte 1

Page 45: Prop Regio c

45

Tabela 8 – Dados referentes aos conflitos de terra no Brasil,

por Estados. Fonte: CPT – Comissão Pastoral da Terra

CONFLITOS DE TERRA NO BRASIL - 2012

1º Maranhão 161 14º Piauí 24

2º Bahia 122

15º Rio Grande do Sul 21

3º Pernambuco 105

16º Goiás 19

4º Pará 89

17º Tocantins 14

5º Rondônia 70

18º Paraíba

Rio de Janeiro 13

6º São Paulo 66

7º Mato Grosso do Sul 58

19º Sergipe 12

8º Amapá 55

20º Distrito Federal

Paraná 11

9º Alagoas 43

10º Minas Gerais 42

21º Rio Grande do Norte 6

11º Acre 40

22º Espírito Santo 5

12º Amazonas 34

23º Ceará 4

13º Mato Grosso 26

24º Santa Catarina 3

Page 46: Prop Regio c

46

Em relação aos índices de

concentração da estrutura fundiária no Brasil, o Estado de

São Paulo também se encontra em situação desfavorável.

Entre 25 Estados, situa-se em 15º lugar (tabela 9) e com

tendência de ascensão. Como apurado no Censo

Agropecuário de 2006, ficou em 2º lugar entre os Estados

que tiveram maior aumento da concentração fundiária no

decênio 1996/2006 (tabela 10).

Tabela 9 – Dados referentes à concentração fundiária no

Brasil, por Estados. Fonte: IBGE Censo agropecuário 2006

1º Alagoas 0,871

13º Sergipe 0,821

2º Mato Grosso 0,865

14º Distrito Federal 0,818

3º Maranhão 0,864

15º São Paulo 0,804

4º Ceará 0,861

16º Rio de Janeiro 0,798

5º Mato Grosso do Sul 0,856

17º Minas Gerais 0,795

6º Piauí 0,855

18º Tocantins 0,792

7º Amapá 0,852

19º Goiás 0,776

8º Bahia 0,840

20º Rio Grande do Sul 0,773

9º Roraima 0,837

21º Paraná 0,770

10º Pernambuco 0,825

22º Espírito Santo 0,734

11º Rio Grande do Norte 0,824

23º Rondônia 0,717

12º Pará/Paraíba 0,822

24º Acre 0,716

Page 47: Prop Regio c

47

Tabela 10 – Dados referentes ao aumento da concentração

fundiária nos Estados brasileiros no decênio 1996/2006.

Fonte: IBGE Censo Agropecuário 2006

Maior aumento da concentração fundiária (1996-2006)

TO 9,1%

SP 6,1%

MS 4,1%

A violação dos direitos fundamentais

das famílias assentadas e acampadas está presente nos

espaços reformados e de conflitos. São Paulo não escapa

dessa realidade. Os assentamentos não dispõem, em regra,

da infraestrutura necessária à produção e à vida digna das

famílias, bem como carecem de regularização ambiental. A

falta de apoio técnico e a demora no financiamento

impedem o desenvolvimento da agricultura familiar nos

assentamentos. As famílias acabam arrendando suas terras

ao agronegócio, inviabilizando o cumprimento das

finalidades precípuas da reforma agrária, quais sejam, a

produção de alimentos e a promoção da segurança

alimentar e nutricional. A violação de direitos

fundamentais atinge, em nosso Estado, população

numericamente significativa (tabela 11).

Page 48: Prop Regio c

48

Tabela 11 – Dados referentes aos conflitos de terra no Brasil,

por Estados. Fonte: CPT – Comissão Pastoral da Terra. Fonte:

INCRA

FAMÍLIAS BENEFICIÁRIAS DA REFORMA

AGRÁRIA EM SÃO PAULO

Unidades

Número de

famílias

População

estimada

Acampamentos 153 6.178 24.712

Assentamentos 252 16.391 65.564

TOTAL 405 22.569 90.276

Nessa área, o Ministério Público de

São Paulo nunca desenvolveu trabalho em nível

institucional,6 embora disponha de atribuições que, uma

vez exercidas, podem contribuir para a reversão desse

quadro conflituoso e de violação permanente de direitos

fundamentais individuais, coletivos e difusos. Essa atuação

não se restringe à obrigatória intervenção, como custos legis, nas ações que envolvam litígios coletivos pela posse

da terra rural (CPC, art. 82, inc. III), mas também para

garantir: (i) os direitos fundamentais de assentados e

acampados (direito ao respeito, à dignidade, à saúde, à

educação, de acesso à terra e à moradia etc.); (ii) a

infraestrutura para o funcionamento dos assentamentos

6 Outros Estados saíram à frente e instalaram Promotorias de Justiça

Agrárias, como, por exemplo, Minas Gerais, Pernambuco e Acre.

Page 49: Prop Regio c

49

(água, luz, escola etc.); (iii) a regularização ambiental dos

assentamentos; (iv) a implementação da produção familiar

de alimentos voltada à segurança alimentar e nutricional;

(v) a implementação dos planos de desenvolvimento

sustentável dos assentamentos.

Não se pode perder de vista, também,

que a questão fundiária é base das violações de direitos das

comunidades tradicionais de quilombolas, caiçaras e

ribeirinhos, a ensejar, também, a atuação do Ministério

Público.

Pelos dados e razões aqui levantados,

não há dúvida da pertinência de um novo tratamento, pelo

Ministério Público de São Paulo, às questões agrárias.

Trata-se de uma temática complexa, que exige

especialização e formação específica do membro do

Ministério Público.7 Ademais, os conflitos por terra têm

um caráter migrante, ou seja, deslocam-se no espaço, ora

emergindo em uma região, ora em outra, a demandar a

criação de Promotoria de Justiça de base estadual, como

ocorreu nas exitosas experiências dos Ministérios Públicos

de Minas Gerais, Pernambuco e Acre.

7 É imprescindível o conhecimento transdisciplinar, que, para além

do jurídico, contemple a questão agrária e agrícola dos pontos de

vista histórico (formação da sociedade brasileira), sociológico

(relações sociais subjacentes aos conflitos e às formas de

organização da posse e da propriedade da terra), ambiental (a

agrossustentabilidade) e cultural (os aspectos simbólicos que

permeiam a vida das comunidades tradicionais e do homem do

campo). Além disso, o Promotor de Justiça Agrário deve estar

capacitado para a mediação de conflitos coletivos.

Page 50: Prop Regio c

50

Portanto, para a nossa Instituição, a

efetividade no seu desempenho como indutor e fiscal das

políticas públicas agrícolas e agrárias dar-se-á com:

a criação de unidade permanente de

atuação de base estadual (Promotoria de

Justiça Estadual reflexiva, proativa e

resolutiva);

a especialização e o aperfeiçoamento

funcional do Promotor de Justiça Agrário

como forma de torná-lo verdadeiro agente

político (o interlocutor qualificado para

enfrentar os temas agrários nas instâncias

sociais e administrativas).

Vale do Ribeira. O Vale do Ribeira é

uma região dotada de invejável patrimônio ambiental.

Possui o maior remanescente contínuo de Mata Atlântica e

a maior concentração de cavernas calcárias do mundo. A

ocupação da região pelos colonizadores data do início do

século XVI, iniciando-se logo após o descobrimento.

Mantém, nas cidades litorâneas (Cananéia e Iguape),

valioso conjunto arquitetônico colonial. A região concentra

comunidades tradicionais de quilombolas e caiçaras e parte

significativa do seu território é constituída por Unidades de

Conservação de Proteção Integral.

O potencial de conflitos fundiários e

de especulação com terras é alto. Grande parte do território

é constituída de terras devolutas, não reivindicadas pelo

Estado, com posses centenárias ali estabelecidas. A

Page 51: Prop Regio c

51

regularização fundiária é medida que se impõe com

urgência na região.

Fisicamente, o Vale do Ribeira possui

extensa planície litorânea, apartada do restante do Estado.

Esse isolamento espacial decorre do avanço da Serra do

Mar, a partir de Peruíbe, no sentido do interior do

continente. Essa característica geográfica dificulta o acesso

à região, carente, também, de malha viária que garanta a

adequada comunicação.

Com baixa densidade demográfica

(15,7 habitantes por km²), os vinte e um municípios da

região somam somente 317.235 habitantes. Considerada

região-problema, apresenta Índice de Desenvolvimento

Humano baixo (média regional = 0,726). Seis municípios

apresentam IDH semelhante ao dos Estados mais atrasados

do Brasil: Barra do Chapéu, 0,642; Barra do Turvo, 0,662;

Iporanga, 0,692; Itaóca, 0,650; Itirapuã Paulista, 0,645 e

Ribeira, 0,677.8 A região carece de serviços públicos de

qualidade e de profissionais especializados, sobretudo nos

serviços públicos de saúde, assistência social e educação.

A economia do Vale do Ribeira é

baseada, desde a década de 1950, na monocultura da

banana. Os bananeiros não acompanharam a evolução

tecnológica no campo e mantiveram formas atrasadas de

produção, o que hoje dificulta a sua inserção no mercado.

Além disso, não há mais espaço para a ampliação da

agricultura, visto que as terras com aptidão agrícola já

foram ocupadas.

8 Alagoas, 0,633; Maranhão, 0,647; Piauí, 0,673; Paraíba, 0,678;

Sergipe, 0,687.

Page 52: Prop Regio c

52

Atrasado e pobre, mas com grande

potencial na exploração de atividades vinculadas à

pesquisa e ao ecoturismo, o Vale do Ribeira necessita

desenvolver-se para melhorar as condições de vida de seus

habitantes e para preservar o seu patrimônio ambiental e

cultural. Essa equação apresenta-se como grande desafio.

O Ministério Público, como agente da transformação

social, não pode deixar de enfrentá-lo com a visão da

totalidade dos problemas que, nas circunstâncias como se

manifestam na região, naturalmente se imbricam. Ressalte-

se que, nessa linha, o Plano Geral de Atuação 2013

contemplou capítulo especial para o Vale do Ribeira,

estabelecendo objetivos, metas e ações voltadas para o

desenvolvimento regional.

Portanto, para a nossa Instituição, a

efetividade no seu desempenho como indutor e fiscal das

políticas de desenvolvimento do Vale do Ribeira dar-se-á

com aa criação de unidade permanente de atuação

regional (Promotoria de Justiça Regional multidisciplinar,

reflexiva, proativa e resolutiva).

VII – A PROPOSTA DE REGIONALIZAÇÃO:

PROMOTORIAS DE JUSTIÇA PROJETADAS

Os fundamentos para a criação das

Promotorias de Justiça Regionais foram expostos no item

VI desta Exposição de Motivos e podem ser sintetizados

no binômio relevância temática e necessidade

permanente de atuação regionalizada.

Levando em consideração esses

fundamentos e os temas prioritários acima elencados, a

Page 53: Prop Regio c

53

Coordenação do NPP recomenda a criação de Promotorias

de Justiça Regionais de Saúde, de Educação, do Meio

Ambiente, Promotorias de Justiça Metropolitanas;

Promotoria de Justiça para o Desenvolvimento sustentado

do Vale do Ribeira e Promotoria de Justiça agrária e de

Segurança alimentar e Nutricional de base Estadual.

1. PROMOTORIAS DE JUSTIÇA REGIONAIS

DE SAÚDE

a) Critério de definição da unidade espacial

de atuação

Ao definir a unidade espacial de

atuação na área da saúde, a Coordenação do NPP levou em

consideração o critério político-administrativo exógeno,

ou seja, a forma como os Poderes Públicos se organizam

espacialmente para a implementação das políticas públicas.

Os limites da Promotoria de Justiça

Regional de Saúde devem coincidir com os limites de uma

ou mais Departamentos Regionais de Saúde, sem

fragmentá-las. Para os Promotores de Justiça Regionais, a

adoção desse critério: permite a visão de conjunto do

desenvolvimento da política de saúde na região; facilita o

diagnóstico dos problemas e a eleição de prioridades,

objetivos e metas de atuação; favorece ganhos de

efetividade (de eficiência e eficácia).

Além do mais, a atuação

regionalizada e especializada do Promotor de Justiça

Regional possibilita a interlocução competente e produtiva

com as autoridades de saúde.

Page 54: Prop Regio c

54

b) Número de Promotorias de Justiça

Com base no critério adotado para a

definição da unidade espacial de atuação, a Coordenação

do NPP projetou dezenove (19) Promotorias de Justiça

Regionais de Saúde (PJR-Saúde ABC; PJR-Saúde

Araçatuba; PJR-Saúde Bauru; PJR-Saúde Botucatu; PJR-

Saúde Campinas; PJR-Saúde Franca; PJR-Saúde Franco da

Rocha; PJR-Saúde Guarulhos; PJR-Saúde Marília; PJR-

Saúde Osasco; PJR-Saúde Piracicaba; PJR-Saúde

Presidente Prudente; PJR-Saúde Ribeirão Preto; PJR-

Saúde Santos; PJR-Saúde São João da Boa Vista; PJR-

Saúde São José do Rio Preto; PJ-Saúde de São Paulo

(Capital); PJR-Saúde Sorocaba; PJR-Saúde Taubaté.

c) Atribuições

A partir das consultas relaizadas pelo

NPP, estabeleceu-se que caberia à Promotoria de Justiça

Regional de Saúde: a tutela dos interesses coletivos e

difusos na área da saúde e o acompanhamento e

fiscalização do desenvolvimento das políticas públicas de

saúde.

As atribuições relativas à tutela dos

direitos individuais indisponíveis permaneceriam com as

Promotorias de Justiça das comarcas (locais).

2. PROMOTORIAS DE JUSTIÇA REGIONAIS

DE EDUCAÇÃO

a) Critério de definição da unidade espacial

de atuação

Page 55: Prop Regio c

55

A Coordenação do NPP levou em

consideração o critério político-administrativo exógeno

para definir a unidade espacial de atuação.

Esse critério foi adotado porque, como

na saúde, as políticas públicas de educação organizam-se

em regime de colaboração entre os entes federativos. No

Estado de São Paulo, a Diretoria Ensino, instância

regional, é a unidade administrativa-chave a partir da qual

se irradiam as diretrizes que se materializam nas redes

escolares que compõem cada sistema de ensino.

Os limites da Promotoria de Justiça

Regional de Educação devem coincidir com os limites de

uma ou mais Diretorias de Ensino, sem fragmentá-las

(mapa 2 - apêndice 3). Para os Promotores de Justiça

Regionais, a adoção desse critério: permite a visão de

conjunto do desenvolvimento da política de educação na

região; facilita o diagnóstico dos problemas e a eleição de

prioridades, objetivos e metas de atuação; qualifica a

interlocução Ministério Público/autoridades de ensino;

favorece ganhos de efetividade.

b) Número de Promotorias de Justiça

Levando em conta o critério político-

administrativo exógeno para a definição das unidades

espaciais de atuação, a Coordenação do NPP projetou vinte

(20) Promotorias de Justiça Regionais de Educação: PJR-

Educação ABC; PJR-Educação Araçatuba; PJR- Educação

Arararaquara; PJR- Educação Bauru; PJR- Educação

Campinas; PJR- Educação Fernandópolis; PJR- Educação

Franca; PJ-Educação Guarulhos; PJR-Educação Marília;

PJR-Educação Mogi das Cruzes; PJR-Educação Osasco;

PJR-Educação Piracicaba; PJR-Educação Presidente

Page 56: Prop Regio c

56

Prudente; PJR-Educação Ribeirão Preto; PJR-Educação

Santos; PJR-Educação São João da Boa Vista; PJR-

Educação São José do Rio Preto; PJ-Educação São Paulo

(Capital); PJR-Educação Sorocaba; PJR-Educação

Taubaté.

c) Atribuições

Ao definir as atribuições da

Promotoria de Justiça Regional de Educação, a

Coordenação do Núcleo de Políticas Públicas levou em

consideração os debates realizados com colegas em

diversas regiões do Estado e na Capital. Consensualmente,

estabeleceu-se que caberia à Promotoria de Justiça

Regional de Educação: a tutela dos interesses coletivos e

difusos na área da educação e o acompanhamento e

fiscalização do desenvolvimento das políticas públicas de

educação.

As atribuições relativas à tutela dos

direitos individuais indisponíveis permaneceriam com as

Promotorias de Justiça das comarcas (locais).

3. PROMOTORIAS DE JUSTIÇA REGIONAIS

DO MEIO AMBIENTE

a) Critério de definição da unidade espacial

de atuação

Para a definição da unidade espacial

de atuação nessa área, adotou-se o critério físico-

ambiental. Esse critério norteia a organização das

agências ambientais e, no âmbito dos Ministérios Públicos

Page 57: Prop Regio c

57

estaduais, foi adotado com sucesso nas experiências de

regionalização já implantadas, pois, comprovadamente,

garante ganhos de efetividade.

Por esse razão, adotou-se, na proposta

ora apresentada, o modelo de estruturação dos atuais

núcleos do GAEMA, com pequenos ajustes necessários à

compatibilização das Promotorias de Justiça Regionais do

Meio Ambiente com as Promotorias de Justiça

Metropolitanas de São Paulo, de Campinas e do Vale do

Paraíba.

b) Número de Promotorias de Justiça

Levando em conta o critério físico-

ambiental, a Coordenação do NPP projetou dezessete (17)

Promotorias de Justiça Regionais do Meio Ambiente,

delimitadas por bacias hidrográficas: PJR- Meio Ambiente

Aguapeí Peixe; PJR- Meio Ambiente Alto Paranapanema;

PJR- Meio Ambiente Atibaia-Bragança Paulista; PJR-

Meio Ambiente Baixo Pardo-Grande; PJR- Meio

Ambiente Baixo Tietê; PJR- Meio Ambiente Litoral Norte;

PJR- Meio Ambiente Médio Paranapanema; PJR- Meio

Ambiente Mogi Guaçu; PJR- Meio Ambiente Pardo; PJR-

Meio Ambiente Piracicaba; PJR- Meio Ambiente Pontal

do Paranapanema; PJR- Meio Ambiente São José dos

Dourados; PJR- Meio Ambiente Sapucaí-Grande; PJR-

Meio Ambiente Tietê-Batalha; PJR- Meio Ambiente Tietê-

Jacaré; PJR- Meio Ambiente Turvo-Sorocaba; PJR- Meio

Ambiente Turvo-Grande.

c) Atribuições

As atribuições das Promotorias de

Justiça Regionais do Meio Ambiente, a princípio,

Page 58: Prop Regio c

58

deveriam contemplar as matérias arroladas no Ato

Normativo PGJ nº 758/2013 como metas gerais e regionais

dos Núcleos do GAEMA e da Rede de Atuação Protetiva

do Meio Ambiente.

4. PROMOTORIAS DE JUSTIÇA

METROPOLITANAS DE MEIO AMBIENTE E

URBANISMO

a) Critério de definição da unidade espacial

e do campo de abrangência

Para a definição da unidade espacial

de atuação nessa área, adotou-se o critério complexidade

espacial. Restringiu-se o campo de abrangência temática

às matérias relacionadas ao meio ambiente e urbanismo.

A proposta prevê quatro Promotorias

de Justiça Metropolitanas, coincidentes, em seu número, às

Regiões Metropolitanas já criadas (São Paulo, Campinas,

Baixada Santista e Vale do Paraíba).

Quanto à extensão territorial, essa

coincidência ocorre somente entre a Promotoria de Justiça

Metropolitana da Baixada Santista e a respectiva Região

Metropolitana.

A Promotoria de Justiça Metropolitana

de São Paulo não contempla os municípios de Santa Isabel

e Guararema (integrantes da respectiva Região

Metropolitana), pois, como demonstrado pelos Assistentes

Técnicos do CAO Cível e Tutela Coletiva, apresentam

dinâmicas socioambientais típicas do Vale do Paraíba. Por

isso, em nossa divisão, passaram a compor a Promotoria de

Justiça Metropolitana do Vale do Paraíba.

Page 59: Prop Regio c

59

Para a delimitação da Promotoria do

Vale do Paraíba, excluiu-se o Litoral Norte, cujos

municípios, pela previsão legal, integram essa Região

Metropolitana. Tal medida foi tomada após consulta feita

aos colegas atuantes naquela região e aos Assistentes

Técnicos do CAO Cível e Tutela Coletiva. Todos

afirmaram, categoricamente, que as dinâmicas

socioambientais do Vale do Paraíba e do Litoral Norte são

distintas e a junção desses espaços territoriais numa única

unidade conspiraria contra a efetividade institucional.

Foram incluídos os municípios de Santa Isabel e

Guararema, pelas razões acima referidas.

Em relação à Promotoria de Justiça

Metropolitana de Campinas, houve unanimidade, também,

sobre a necessidade do tratamento unitário dos temas

urbanísticos que ocorrem na Região Metropolitana de

Campinas e na Aglomeração Urbana de Jundiaí. Em face

dessa unívoca manifestação, a Coordenação do NPP

projetou a Promotoria de Justiça Metropolitana de

Campinas sobre os territórios dessas duas regiões.

b) Atribuições

Durante o processo de elaboração

desta proposta, instigantes polêmicas marcaram as

discussões sobre as atribuições das Promotorias

Metropolitanas. Foi o único assunto em que não houve

consenso, com a apresentação de diversas sugestões. Opta-

se aqui por elencar os temas mais citados e sobre os quais

não pairam dúvidas sobre sua pertinência. São eles:

políticas de saneamento básico (coleta e tratamento de

esgoto, coleta e destinação final de resíduos sólidos,

abastecimento de água; macrodrenagem); transporte

público; obras de infraestrutura e de empreendimentos de

Page 60: Prop Regio c

60

influência supramunicipal; poluição atmosférica veicular e

de polos industriais; unidades de conservação e

remanescentes de ecossistemas naturais.

Dadas as especificidades regionais,

houve sugestão dos colegas do Vale do Paraíba para

inclusão dos temas mineração e patrimônio cultural, e dos

colegas da Baixada Santista para a inclusão dos temas

porto e patrimônio cultural.

1. PROMOTORIA DE JUSTIÇA ESTADUAL

AGRÁRIA E DA SEGURANÇA ALIMENTAR E

NUTRICIONAL

a) Critério de definição da unidade espacial

A definição da unidade espacial de

atuação nas questões agrárias passa por quase toda a

constelação de critérios: socioespacial, socioeconômico,

tópico-temático e complexidade espacial e temática.

Porém, o caráter migrante dos conflitos no campo acaba

por dar preponderância ao critério socioespacial e a

determinar a base estadual de atuação do Ministério

Público.

Para os Promotores de Justiça, a

adoção desses critérios: permite a visão de conjunto dos

problemas agrários, necessária ao enfrentamento

consequente do tema; facilita o diagnóstico dos problemas

e a eleição de prioridades, objetivos e metas de atuação;

favorece ganhos de efetividade (de eficiência e eficácia).

Page 61: Prop Regio c

61

Além do mais, a atuação

estadualizada e especializada do Promotor de Justiça

Agrário possibilita a interlocução competente e produtiva

com os gestores públicos e com os movimentos sociais.

Diante desse quadro complexo, a

Coordenação do NPP optou por uma Promotoria de Justiça

única, de base estadual, sediada na Capital.

b) Atribuições

Ao definir as atribuições da

Promotoria de Justiça Estadual Agrária e de Segurança

Alimentar e Nutricional, a Coordenação do NPP projeta

algo que vá além da intervenção em ações possessórias e

que possibilita ao Ministério Público atuação de maior

amplitude, compatível com o tema: intervenção, como

custos legis, nas ações que envolvam litígios coletivos pela

posse da terra rural; tutela dos direitos fundamentais de

assentados e acampados; regularização ambiental dos

assentamentos; regularização fundiária; promoção do

desenvolvimento sustentável dos assentamentos; indução e

fiscalização do desenvolvimento das políticas públicas de

segurança alimentar e nutricional e de apoio à agricultora

familiar; tutela dos direitos fundamentais dos povos

tradicionais (quilombolas, caiçaras e ribeirinhos).

No Vale de Ribeira, essas atribuições

serão exercidas com exclusividade pela Promotoria de

Justiça do Desenvolvimento Sustentável criada

especialmente para aquela região, como se vê a seguir.

6. PROMOTORIA DE JUSTIÇA DO

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO

VALE DO RIBEIRA

Page 62: Prop Regio c

62

a) Critério de definição da unidade espacial

Os critérios socioeconômico, político-

administrativo exógeno, físico-ambiental e

complexidade espacial e temática nortearam a definição

da unidade espacial de atuação destinada à Promotoria de

Justiça do Desenvolvimento Sustentável do Vale do

Ribeira.

Os baixos índices de desenvolvimento

dos municípios que compõem essa região apontaram para

a necessidade de uma Promotoria especial, de base

ampliada, que, reunindo temas adequados à promoção do

desenvolvimento, possibilitasse, para o Ministério Público,

uma visão holística dos problemas e ganhos de efetividade.

A baixa densidade demográfica

também afastou a possibilidade de criação de mais de uma

Promotoria especializada.

Nas áreas da saúde, da educação e da

assistência social, a atuação da Promotoria de Justiça ora

projetada estende-se até os limites das Diretorias Regionais

de Saúde, de Educação e de Assistência e

Desenvolvimento Social. Nas áreas ambiental, fundiária e

cultural, suplanta esses limites, pois o seu campo de

atuação é determinado pelo critério físico-ambiental da

bacia hidrográfica.

Diante desse quadro complexo, a

Coordenação do NPP optou por uma Promotoria de Justiça

única, regional e multidisciplinar, sediada em Registro.

b) Atribuições

Page 63: Prop Regio c

63

Com esse caráter, definiu-se para essa

Promotoria as seguintes atribuições: educação; saúde;

políticas de assistência social; meio ambiente; conflitos

agrários e regularização fundiária; tutela dos direitos

fundamentais dos povos tradicionais e dos acampados e

assentados da reforma agrária.

7. NÚCLEOS REGIONAIS E

METROPOLITANOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS

Além das Promotorias de Justiça

Regionais, propõe-se a criação dos Núcleos Regionais de

Políticas Públicas (sediados em Araçatuba, Bauru, Franca,

Marília, Piracicaba, Presidente Prudente, Registro,

Ribeirão Preto, São José do Rio Preto e Sorocaba) e dos

Núcleos Metropolitanos de Políticas Públicas (sediados em

São Paulo, Campinas, Santos e Taubaté).

Esses Núcleos serviriam como espaço

de integração e interação entre os Promotores Regionais e

os Promotores das comarcas (locais) para, em reuniões

periódicas e obrigatórias, tratarem dos assuntos de

interesse comum, como, por exemplo, elaboração de

diagnósticos e implementação do Plano Geral e dos

Programas de Atuação Integrada. Os Núcleos também

serviriam para o desenvolvimento de políticas

institucionais intersetoriais a partir da interação dos

Promotores Regionais das diferentes áreas.

Page 64: Prop Regio c

64

VIII – CONSIDERAÇÕES GERAIS

1. Número de cargos

Três critérios nortearam a definição do

número de cargos das Promotorias de Justiça Regionais:

extensão territorial, densidade demográfica e experiência

de atuação regionalizada na área ambiental.

A atuação regionalizada demanda

constantes deslocamentos dos Promotores de Justiça aos

municípios que compõem a sua unidade espacial de

atuação. A extensão territorial é um dos fatores

determinantes do grau de dificuldade do trabalho a ser

realizado.

A densidade demográfica determina o

maior ou menor número de serviços e de equipamentos

necessários ao atendimento da demanda regional, razão

pela qual também é um indicador para a avaliação do grau

de dificuldade.

Em São Paulo, o Ministério Público

experimenta, por quase duas décadas, atuação

regionalizada na área ambiental. Embora a demanda nessa

área não coincida com a das demais, essa experiência

também pode servir de baliza para a definição do número

de cargos por Promotoria Regional.

Levando em conta esses critérios, a

Coordenação do NPP recomenda, como regra geral, a

destinação de, no mínimo, dois cargos para cada

Promotoria de Justiça Regional.

Page 65: Prop Regio c

65

Recomenda, também, que, em cada

Promotoria de Justiça Regional e Metropolitana, haja a

previsão de cargos de entrância final (Promotores de

Justiça Titular) e de entrância intermediária (Promotores

de Justiça Auxiliares), possibilitando a perspectiva de

carreira nas áreas especializadas. Essa medida estimula a

especialização e a busca de aperfeiçoamento funcional

desde os primórdios da carreira.

Frise-se que essa previsão não leva à

hierarquização no interior da Promotoria de Justiça. Como

órgão colegiado, as decisões, no seu âmbito, são tomadas

por todos os seus membros em pé de igualdade,

independentemente da natureza do cargo (para cada

membro, um voto).

2. Sistema de definição da base territorial

de atuação e das atribuições

As Promotorias de Justiça Regionais e

Metropolitanas deverão ser criadas por lei, com a previsão

genérica dos respectivos temas. Caberá ao Órgão Especial

do Colégio de Procuradores de Justiça definir, por Ato

Normativo, a base de atuação territorial de cada uma delas

e as atribuições específicas, a partir de proposta da

Procuradoria-Geral de Justiça e de consulta ao CONEPI e

às Promotorias de Justiça interessadas.

A proposta e a deliberação devem

nortear-se por critérios objetivos que garantam ganhos de

efetividade institucional.

Dessa maneira, preserva-se a

capacidade de adaptação das Promotorias de Justiça às

novas realidades espaciais e às novas temáticas.

Page 66: Prop Regio c

66

3. Prazo de implantação

A Coordenação do NPP estima, como

razoável, o prazo de até dez anos para a implantação de

todas as Promotorias de Justiça Regionais e

Metropolitanas. Iniciando-se a implantação imediatamente

após a aprovação da lei criadora, nas regiões críticas do

Estado (Vale do Ribeira, Pontal do Paranapanema, Vale do

Paraíba e Sorocaba) e nas regiões onde já há demanda

imediata das Promotorias de Justiça para a sua

implantação.

A implantação pressupõe, obviamente,

a criação de estrutura burocrática, técnica e material

compatível com os trabalhos que serão realizados nessas

Promotorias de Justiça, ou seja, que lhes garanta eficiência

e eficácia.

Posto isso, os membros da

Coordenação do NPP esperam ter atendido à expectativa

de Vossas Excelências e contribuído, com a apresentação

desta proposta, para o processo de atualização

institucional.

Atenciosamente,

MARCELO PEDROSO GOULART - Promotor de

Justiça Coordenador (NPP)

PATRÍCIA SALLES SEGURO - Promotora de Justiça

Assessora (NPP)

EDILENE RODRIGUES DE CASTRO - Assistente

Técnica (NPP)

Page 67: Prop Regio c

67

RAFAEL CUNHA PINHEIRO POÇO - Assistente

Técnico (NPP)

FLÁVIA SIMÃO AIEX - Oficial de Promotoria (NPP)

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