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" t í . ' , ." .~. -- MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE RONDÔNIA PROMOTORIA DE JUSTIÇA ooJ .2003 . 00 Slrg ~ g ~, J~~ ExmO.Sr. Dr. Juiz de Direito da Vara da Fazenda Pública de PVHlRO. FÓRUM CíVEL CARTÓRIO OISTRI~UIDOR Rec,ebi[\:~~ó_/_!?~/05 .q tt,..----:-~ -- a~ : :; <, ::,': ,-, tÇl'/' ,': ," fi - __ .~ ••• ;.I. ~ ••.• ll\"'~d S 1\ - . o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE RONDÔNIA, por intermédio do Promotor de Justiça que esta subscreve, com atribuição de defesa do consumidor e saúde, legitimado e com fundamento na Constituição Federal (arts. 1°, ines. II e lU; 3°, ines. I, lU e IV; 5°, caput, e § 1°; 6°; 23, inc. 11;37, capllt, e § 6°; 127, caput; 129, ines. II e lU; 196/198 e 227, caput, e §§ 1° e 7°); no Estatuto da Criança e do Adolescente (LF nO8.069/90 - arts. 3°; 4°; 5°; 7°; 11, caput, e § 2°; 20'1, ines. V e VIU); no Código de Defesa do Consumidor (LF nO8.078/90 - arts. 22e 81/100); na Lei da Ação Civil Pública (LF nO7.347/85 - arts. 1°, inc. IV, 5°, caput, e § 1°; 19e 21; n Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (LF nO8.625/93 - arts. 1°, caput; 2?, inc. IV, alínea "a" e 27, incs. 1 e lI; na Lei do SUS (LF nO8.080/90 - arts. 2°, § 1°; 4°; 5°, inc. lU; 6°, inc. I, letra "d"; 7°, incs. I, lI, IV e XII; 8° e 17, incs. U, lU, IV e IX), vem ajuizar a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA observando-se o procedimento comum ordinário, em face do' ESTADO DE RONDÔNIA (FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DE RONDÔNIA), pessoajurídic de direito público interno, que deverá ser citado na pessoa do Excelentíssimo Sr. Procurador Geral do Estado, em seu Gabinete, situádo na Avenida dos Imigrantes nO 3.503., bairro Costa e Silva, nesta c~cl_e: pel,?s mo~vos de fato e de direito a segui descntos. /' '. /'_- / /, / /",// / /''4 _/l~ /,. / /, Y' <. i

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.~.-- MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE RONDÔNIA

PROMOTORIA DE JUSTIÇA

ooJ .2003 . 00 Slrg ~ g ~,J~~

ExmO.Sr. Dr. Juiz de Direito da Vara da Fazenda Pública de PVHlRO.

FÓRUM CíVEL

CARTÓRIO OISTRI~UIDOR

Rec,ebi[\:~~ó_/_!?~/05. q tt,..----:-~ --

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o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE RONDÔNIA,por intermédio do Promotor de Justiça que esta subscreve, com atribuição de defesa doconsumidor e saúde, legitimado e com fundamento na Constituição Federal (arts. 1°,ines. II e lU; 3°, ines. I, lU e IV; 5°, caput, e § 1°; 6°; 23, inc. 11;37, capllt, e § 6°; 127,caput; 129, ines. II e lU; 196/198 e 227, caput, e §§ 1° e 7°); no Estatuto da Criança edo Adolescente (LF nO8.069/90 - arts. 3°; 4°; 5°; 7°; 11, caput, e § 2°; 20'1, ines. V eVIU); no Código de Defesa do Consumidor (LF nO8.078/90 - arts. 22e 81/100); na Leida Ação Civil Pública (LF nO7.347/85 - arts. 1°, inc. IV, 5°, caput, e § 1°; 19 e 21; nLei Orgânica Nacional do Ministério Público (LF nO8.625/93 - arts. 1°, caput; 2?, inc.IV, alínea "a" e 27, incs. 1e lI; na Lei do SUS (LF nO8.080/90 - arts. 2°, § 1°; 4°; 5°,inc. lU; 6°, inc. I, letra "d"; 7°, incs. I, lI, IV e XII; 8° e 17, incs. U, lU, IV e IX), vemajuizar a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

observando-se o procedimento comum ordinário, em face do' ESTADO DERONDÔNIA (FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DE RONDÔNIA), pessoajurídicde direito público interno, que deverá ser citado na pessoa do Excelentíssimo Sr.Procurador Geral do Estado, em seu Gabinete, situádo na Avenida dos Imigrantes nO

3.503., bairro Costa e Silva, nesta c~cl_e: pel,?s mo~vos de fato e de direito a seguidescntos. /' '. /'_-

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~ --MINISTÉRIO PÚBLICODO ESTADODE RONDÔNIAPROMOTORIA DE JUSTIÇA

I - DA LEGITIl\HDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO

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A Constituição Federal, em seu art. 129, lI, determina aoMinistério Público zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços derelevância pública aos direitos assegurados na Constituição Federal, promovendo asmedidas necessárias à sua garantia.

A Carta Magna conceituou em seu art. 197 que "são derelevância pública as ações e serviços de saúde". Essa conceituação teve como móvelpossibilitar a atuação do Ministério Público frente aos Poderes Públicos, em prol dasociedade.

A Constituição do Estado de Rondônia, igualmente, em seu art.97, e Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, em seu art. 25, inc. IV, alínea "a",cometem ao Ministério Público legitimidade para o ajuizamento da ação civil públicapara a defesa, em juízo, dos interesses difusos e coletivos indisponíveis.

Ressalte-se que a conclusão da Organização Pan-americana daSaúde ~ do Escritório Regional da Organização Mundial da Saúde, enumerada na SérieDireito e Saúde nO1 - Brasília, 1994, afirmou que "O conceito de ações e serviços derelevância pública, adotado pelo art. 197 do atual texto constitucional, normapreceptiva, deve ser entendido desde a verificação de que a Constituição de 1988adotou como um dos fundamentos da República a dignidade da pessoa humana.Aplicado às ações e aos serviços de saúde, o conceito implica o poder de controle, pelasociedade e pelo Estado, visando zelar pela sua efetiva prestação e por sua qualidade.Ao qualificar as ações e serviços de saúde como de relevância pública, proclamou aConstituição Federal sua essencialidade. Por "relevância pública" deve-se entender queo interesse primário do Estado, nas ações e serviços de saúde, envolve suaessencialidade para a coletividade, ou seja, sua relevância social. Ademais, enquantodireito de todos e dever do Estado, as ações e serviços de saúde devem ser por eleprivilegiados. A correta interpretação do Art. 196 do texto constituciona1 implica oentendimento de ações e serviços de saúde como conjunto de medidas dirigi das aoenfrentarnento das doenças e suas seqüelas, através da atenção médica preventiva ecurativa, bem como de seus determinantes e condicionantes de ordem econômica esocial. Tem o Mini.••,tério Público a função institucional de zelar pelos serviços derelevância pública, dentre os quais as ações e sen,iços de saúde, adotando as medidasnecessárias para sua efetiva prestação, inclusive em face de omi.vsào do PoderPúblico".

O Ministério Público tem o dever irrenunciável e impostergáveIde defesa da cidadania, cabendo-lhe exigir dos Poderes Públicos e dos que agem ematividade essenciais o efetivo respeito aos direitos constitucionais e legalmenteassegurados na prestação dos serviços relevantes e essenciais.

Dessa forma, está o t'1~ério /PjlblifO legitimado parapropositura da presente ação civil pública./ //~/.

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lI-DOS FATOS

Em 27 de novembro de 2002 o Ministério Público foi procuradopelas ABRAM - Associação Brasileira de Assistência à Mucoviscidose (FibroseCística) e AAMUR - Associação Assistencial à Mucoviscidose de Rondônia,noticiando a falta de atendimento aos portadores dessa terrível doença, usuários doSistema Único de Saúde - SUS, neste Estado de Rondônia, o que se demonstrouabsolutamente verdadeiro.

Primeiramente, vale esclarecer de que doença estamos tratando.

Veja-se' algumas defiI\ições, formuladas por profissionaiscapacitados:

11.1- FIBROSE CÍSTICA - DEFINIÇÃO E SINTOMAS

"A Fibrose Cística (Mucoviscidose) é uma doença genética letal...A doença é grave em razão de ser generalizada, o curso clínico é crônico e oóbito ocorre mais cedo ou mais tarde, na dependência da gravidade doquadro e do tratamento oferecido ..." (Prof. Nelson Rosário, do setor deciências da saúde da Universidade Federal do Paraná).

"A Fibrose Cística é uma doença crônica, sistêmica, conseqüênciade um defeito da síntese de uma proteína denominada CFTR, cuja função écontrolar o transporte de ions ao nível da membrana celular. É uma doençagenética e até o momento não tem cura ..." (Carlos Antônio Riedi, Pediatra).

"Mucoviscidose (ou Fibrose Cística) é uma doença de origemgenética que acomete o aparelho respiratório, digestivo e glandular (glândulassudoríparas e glândulas de órgãos reprodutores) levando a pneumonias derepetição, diarréia crônica e desnutrição ..., levando a complicações'sérias ondeo resultado final é a morte ..." (Dr. Paulo C. Kussek, PneumologiaPediátrica).

"A Fibrose Cística é um distúrbio congênito do metabolismo queocasiona desnutrição proteico-calórica severa e afeta seriamente as glândulasexócrinas. Os órgãos que costumam ser mais afetados são: (I) pulmões,apresentando pneumonias recidivantes, fibrose e insuficiência pulmonarprogressiva; (2) pâncreas, cujas enzimas costumam estar diminuídas oucompletamente ausentes, resultando em má absorção de proteínas e gorduras;(3) glândulas sudoriparas, cujas secreções contém clareto de sódio em excesso.

A Fibrose Cística afeta principalmente os pulmões e o tubodigestivo ... A maioria dos pacientes postadores de FC, compreendidos os quenão sofrem de insuficiência pancreática, desenvohem carência de ácidosgraxos essenciais (AGE). A dficiênc· e ãcidos gr o essenciais (AGE) podefazer parte da causa da esteatorr" a J rdur h s zes), e da má absorção,

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distúrbios freqüentes apresentados por pacientes que sofrem de deficiência deAGE ...

Os pacientes com FC perdem quantidades excessivas de sódio ecloreto no suor e podem apresentar intermação (aumento da temperaturcorporal pela incapacidade do organismo em manter a temperatura corporalnormal) ou baixa de sódio ...

Na Fibrose Cística a produção de enzimas pelo pâncreas éinsuficiente para promover uma adequada digestão dos alimentos, ocorrendo mádigestão de carboidratos, proteínas e gorduras. Essa má digestão provoca doresabdominais com distensão abdominal, flatulência, fezes gordurosas e muito malcheirosas ..." (Celiane Gonçalves, Nutricionista Especialista em NutriçãoClínica e Imunologia pela UFPR).

"A Fibrose Cística é uma doença hereditária autossômicarecessiva, identificada por pneumopatia crônica, insuficiência pancreáticaexócrina e elevada concentração de eletrólitos no suor, em decorrência dahiperviscosidade dos líquidos produzidos pelas glândulas mucosas. Trata-se deuma doença irreversÍvel cuja evolução não permitia, até alguns anos atrás,que os pacientes sobrevivessem até a adolescência. Nas últimas décadas apesquisa desta doença progrediu de maneira muito importante, levando àinstituição de melhores regimes terapêuticos e aumentando a sobrevidamédia destes pacientes até 31 anos. Fisiopatologicamente, esta doença secaracteriza por um envolvimento generalizado das glândulas exócrinas, cujosdutos são obstruídos por secreções viscosas, levando a doença pulmonarcrônica, insuficiência pancreática e cirrose biliar focal. No trato respiratório, omuco viscoso leva inicialmente a uma bronquiolite, predispondo a infecções,inicialmente por hemophilus influenza e Staphylococcus aureus e, após, porPseudomonas aeruginosa. A inflamação crônica causa remodelamento das viasaéreas e bronquiectasias, surgindo a colonização bacteriana crônica,especialmente por P. aeruginosa (colônias mucóides e não-mucóides), levandoa um ciclo vicioso de inflamação "infecção" perda funcional progressiva"(Dr. Paulo de Tarso Roth Dalcin, Médico pneumologista da PóeumologiaSanitária, SSMA do RS, responsável pelo Grupo de Adolescentes e Adultoscom Fibrose Cística do Hospital das Clínicas de Porto Alegre; Professoradjunto do Departamento de Medicina Interna da Universidade Federal doRS).

"Fibrose Cística (FC) também conhecida como fibrose cística dopâncreas ou mucoviscidose, devido ao aspecto espesso e viscoso das secreções.

Doença genética que ocorre em indivíduos que são homozigotosou duplo heterozigotos para mutações do gene que codifica a proteínaresponsável pelo transporte de cloro através dos epitélios celulares, conhecidacomo CFRT.

Manifesta-se nos primeiros meses, através de infecçõesrecorrentes e perda de peso, mas geralmente só é diagnosticada cl inicarnenteapós no primeiro ano de vida.

A FC compromete é caracterizada por

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apresentar diversos transtornos clínicos, tais como doença pulmonar obstrutivacrônica e má absorção intestinal, devido à insuficiência pancreática exócrina. Asintomatologia da fibrose CÍstica decorre principalmente da excessivaviscosidade das secreções. A FC afeta principalmente os pulmões e o pâncreas.O alojamento de secreções espessas no pulmão obstrui a passagem de ar eretém bactérias, facilitando, assim, a ocorrência de infecções respiratórias. Emrelação ao pâncreas, essas secreções obstruem a liberação das enzimaspancreáticas e prejudicam o processo digestivo. A ausência de ductos finos,como os vasos deferentes, é responsável pela infertilidade, que ocorre em 95%dos homens afetados pela doença, Ocasionalmente, as mulheres se tornaminférteis devido a um denso tampão de muco, capaz de obstruir a entrada do

. espermatozóide no útero. A expectativa de vida dos pacientes com FC tem~ melhorado de~ido a um diagnóstico mais precoce e à imediata instituição do

tratamento."

II.2 - FIBROSE CÍSTICA - TRATAMENTO

Ver-se-á, a seguir, como e feito o tratamento da doença,atualmente.

"Apesar de ainda não haver cura para a Fibrose Cística, umtratamento multi-profissional em centros especializados tem permitido aosportadores, uma sobrevida média de mais de 30 anos, com qualidade de vida eprodutividade, uma vea que não há lesão cerebral. Para isso, no entanto, éimprescindível que todas etapas do tratamento sejam adequadamentecumpridas: a) terapia de reposição enzimática com enzimas pancreáticas diárias;b) vitaminas lipossolúveis - reposição diária; c) suporte nutricional comsuplementos nutricionais de acordo com o estado nutricional do paciente; d)antibióticos para uso via oral endovenosa e inalatória em ciclos de 4 semanas; e)vacinas especiais anti-influenza e pneumocócica; t) medicação de usosintomático e broncodilatadores para crises intercorrentes" (Dr. A. FernandoRibeiro, Coordenador do Grupo de Assistência à Fibrose 'Cística doAmbulatório de Pediatria da FCMlUNICAMP).

" ...A doença é grave em razão de ser generalizada, o curso clínicoé crônico e o óbito ocorre mais cedo ou mais tarde, na dependência da gravidadedo quadro e do tratamento oferecido. Por isso, há necessidade de disponibilizaraos doentes os seguintes medicamentos: Ultrase Mt 4; Ultrase Mt 12; Ultrase Mt18; Ultrase Mt 20; Ciprofloxacina 500 mg.; Gentamicina 40 rng.; Gentamicin80 mg.; Amicacina 100 mg. - solução injetável; Amicacina 500 mg. ~ soluçãoinjetável; Sulfametoxazol 200 mg. + trimetoprima 40 mg. susp.; Sulfametoxazol400 mg. + trimetoprima 80 mg. comp.; Eritromicina 500 mg. comp.;Eritromicina 250 mg. comp.; Clavulin; Amoxacilina; N-acetil Cisteina; Colistin;Fortaz; Voncomicina; Tobi; Azitromicina 500 mg.; Cefalexina; Cloranfenicol;Ursacol; Omeprazol; Prepulsid; Dornase Alfa 1 O mg/ml.; Soro fisiológico 10ml.; Broncodilatador; Adeks (líqui ; Adeks r' J s); Vitamina K (injetável);

Vitaminas do complexo B (dráge , Pro~' ; Tr' ~iceri);C~seical; Ensure Plus.~,//, /,' %7

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(líquico); Ensure pÓ; Pediasure (líquido); Pediasure pó; Pulmocare; Sustain;Nutri Drink; Scandi Shake; Hiper Diet" (Prof. Nélson Rosário - Setor deCiências da Saúde da Universidade Federal do Paraná).

" ...Para o tratamento de pacientes com Fibrose Cística énecessário uma equipe multidisciplinar envolvendo médicos, psicólogos,fisioterapeutas, nutricionistas entre outros. O tratamento medicamentosoenvolve:

Uso de antibióticos como (aminoglicosideos, cefalosporinasantipseudomonas, quinolonas, sulfas, amoxicilina-clavulanato,eritromicina, azitromicina, claritromicina, cloranfenicol, vancomicina, etc);Uso de antibióticos inalatórios (Colistin, Tobramicina-TOBI, amicacina egentamicina; ..•.. .-Uso de enzimas pancreáticas (lipase, tripsina, quimotripsina) - Ultrase Mt12-18e20;Uso de suporte nutricional adequado (ingestão calórica de 120 a 150% doRDA);Uso de complementos alimentares (TCM e fórmulas alimentares: Caseical,Pediasure, Ensure, Scandi Shake, Hyper diet, Nutri Drink, etc);Uso de complementos vitamínicos, principalmente vitaminas A, D, E, K(Adeks), vitaminas hidrossulível (B, C) e oligoelementos (Ferro, Zinco,~; IUso de nutricão enteral e parenteral (que se efetua por via difrrente da viadigestiva);Uso de corticóides inalatórios (Pulmicort 200, Beclosol 250);Uso de broncodilatadores inalatórios de ação rápida (Aerolin);Uso de mucolíticos (DNAase) - Pulmozyne;Uso de vacinas para influenza e pneumococcos;Uso de oxigênio domiciliar;Uso de drogas específicas, de acordo com as complicações decorrentes dadoença como: refluxo gastroesofágico (Prepulsid, Antak, Omeprazol),hipertensão pulmonar (vasodilatadores), doença hepatobiliar (Ursacol), etc.

O dito popular do folclore europeu citado por Welsh e Smith"Inftliz da criança que quando beijada na testa apresenta gosto salgado. Elaestá fadada a morrer logo" não é mais realidade nos dias de hoje, desde queesses pacientes possam beneficiar-se dos recurso que a Medicina e outrasespecialidades Ihes oferecem" (Dr. Carlos Antônio Riedi - Pediatra).

"...0 paciente necessita de VárIOS medicamentos comoantibióticos de amplo espectro, enzimas pancreáticas, suplementos nutricionais,e multivitamínicos, antibióticos inalatórios específicos como a tobramicina,colistin, enzimas recombinantes (Pulmozyme), além do que necessita deoxigênio domiciliar. Todo esse tratamento é muito caro, sendo impossível aospais conseguirem tratar adequadamente seus filhos" (Dr. Paulo C. Kussek-Pneumologia Pediátrica). /-'>1

" ...O tratamento sintomas. Para as

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infecções respiratórias, são dados antibióticos constantemente. Além disso, éimportante fazer bastante inalação para ajudar a remover as secreções espessas eprevenir as infecções. Também podem ser dados mucolíticos, que são drogasque ajudam a remover o catarro. Outra técnica bastante importante é atapotagem, que consiste em "batidas" nas costas das crianças, bem comodrenagem postural para promover a eliminação das secreções. Em relação aointestino, é importante dar as vitaminas A, D, E e K para evitar conseqüênciasno corpo, bem como cálcio. Também são dadas enzimas pancreáticas antes dasrefeições para que o intestino absorva ao máximo os nutrientes, diminuindo adiarréia" (DI"". Kátia schesquini - Gastroenterologia Pediátrica - HBRondônia)

"...0 tratamento atual é dirigido' à doença pu1monar, comadministração de antibióticos, segundo princípios já expostos, à doençapancreática e às deficiências nutricionais. Dietas: É fundamental desmistificar arestrição de gorduras. A dieta deve ser hipercalórica, hiperprotéica e com teornormal de gordura, considerando as necessidades da faixa etária para umcrescimento e desenvolvimento normais... Os pacientes com FC têmnecessidades calóricas elevadas, pelo próprio metabolismo, trabalhorespiratório, infecção bacteriana e má absorção. Em geral, deve-se ofertar 20% a50% de calorias além das necessidades para a faixa etária, observando-se oganho ponderal e crescimento do paciente ... Nos pacientes PC é recomendávelo dobro do normal de ingestão protéica e 35% da energia ingerida deve serderivada de gorduras. A má nutrição tem repercussões objetivas noagravamento da doença pulmonar e, por isso, muitas vezes há indicações deterapêutica de suporte mais agressiva, como sondas gástricas ou enterais emesmo gastrotomia. Terapia de Insuficiência Pancreática: É baseada nareposição oral de preparados enzimáticos pancreáticos. Atualmente, sãodisponíveis preparados com alta potência enzimática, protegidos dadesnaturação ácida no estômago pelo revestimento entérico das microesferas ...É importante que as enzimas sejam totalmente administradas imediatamenteantes ou divididas antes e durante as refeições, para que haja contat6 físico como alimento ... Deficiências Vitamínicas e Minerais: Os pacientes devem recebercomplementos vitamínicos com o dobro do corretamente recomendado, isto é,vitamina A (8000 VI), vitamina O (800 VI) e vitamina E (100 VI a 200 VI)diários. Vitamina K é administrada durante antibioticoterapia prolongada e nadoença hepática com cirrose e hipertensão portal, geralmente na dose de 5 mgduas vezes na semana. O sódio também deve ser acrescentado durante períodosde calor, febre e exercícios físicos, em cerca de 1 g ao dia nos lactentes, 2 a 3 gnos pré-escolares e 4 g acima destas faixas etárias... Deve-se pesquisaratentamente a presença de anemia e repor zinco nas crianças com má nutriçãoprotéica, na forma de acetado (45 mg) ou sulfato (75 mg) e zinco, o queproporciona 15 mg de zinco elementar ao dia. Terapêutica InalatóriaBRONCODILATADORES: b2 adrenérgicos .... Brometo de ipratropium.Mucolíticos ... Drogas Moduladoras do Transporte lônico: ... indicado na

prevenção do declínio da função pulm~ ... O...NA~e ana Rec.ombinante:... DNAse é uma enzima que cinde a éadci de-pN diminuindo a viscosidade/ . '

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do muco e facilitando a expectotação. A administração de 2,5 mg de DNAse,via inalatória, uma vez ao dia promove melhora estatisticamente significativa noVEF 1 e CVF, diminuição da sensação de dispnéia (dificuldade para respirar) emaior disposição fisica. A necessidade de antibióticos e hospitalizações tambémforam reduzidas, nos estudos clínicos conduzidos com esta droga ..." (Dr- NeivaDamaceno e Dr. Bernardo Kiertsman - Profs. Do Departamento dePediatria/Pneumologia Infantil da Faculdade de Ciências Médicas da SantaCasa de São Paulo)

" ...Como sugerido, os pacientes devem ser acompanhados etratados de forma persistente em centros especializados para que tenhamurna qualidade de vida adequada, além da sobrevi da" (Departamento deGenética d~ Instituto de Beociência da Universidade Estadual Paulista ­UNESP).

II.3 - POLÍTICA DE ATENDIMENTO À FC EM OUTROS ESTADOS

RIO GRANDE DO SUL: A Secretaria de Estado da Saúde doRio Grande do Sul fornece aos pacientes portadores de mucoviscidose, EnzimaPancreática, Dornaseol, Adex (ADEKs), Ultrase MT-R, Ursacol, Oligosac, Nutridrink,Divivox, etc. Anota-se que naquele Estado o atendimento integral ocorreu graças aoajuizamento, pelo Ministério Público Estadual, de Ação Civil Pública visandocondenação do Estado a fornecer, permanentemente, medicação relativa ao ProgramaEspecial de Atendimento às Crianças Portadoras da Doença Fibrose Cística, julgadprocedente em primeira e Segunda instâncias, conforme acórdão anexo (does. 87/88).

SANT A CAT ARlNA: O Governo daquele Estado celebrouCOMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA com o Ministério Público

local, por meio do qual implantou no Estado o "teste do pezinho" com vistas aodiagnóstico precoce da Fibrose Cística, sendo certo que um hospital situado na Capitaldo Estado possui serviço especializado para atendimento às crianças diagnosticadas(does. 70/72).

PARANÁ: A Secretaria de Estado da Saúde do Paraná repassaos 140 portadores da doença cadastradas os seguintes medicamentos: a) Antibióticos:Amicacina 500 mg., Amicacina 100 mg., Amicacina 50 mg., AmoxicilinaClaculonato de Potássio 200 mg., Cefaclor 250 mg:, Cefalexina 2,5%, Ceftazidima 19.,Ciprofloxacina 500 mg., Cloranfenicol 250 mg., Colimicina 100 mg., Eritromicina 250mg., Eritromicina sol. oral, Gentamicina 40 mg., Gentamicina 80 mg., SulfametoxTrimetoprima comp., Sulfametox + Trimetoprima sol. Oral e Vancomicina 500 mg; b)Para inalação Clareto de Sódio 0,9%, Feneterol 0,5% e Tobramicina específica paresta utilização; c) Dornase Alfa I mg. e Enzimas Pancreáticas; d) Medicamentos dGastroenterologia: Ácido Ursodesoxicólico 150 mg., Cisaprida, Omeprazol 10 mg. eRanitidina; e) Suplementos Nutricionais: Módulos de Proteínas, Módulos dTriglicerídeos de Cadeia Média, Dietas PÓ, Dietas Líquid)ls e suplementos vitamÍnico

como ADEKs drágeas, ADEKs líquido ~tomen i a 10 mg., Vitaminas doComplexo B, Polivitaminas sol. E Vitam)nySai~. '. 'ner is.

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as complicações

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Tais medicamentos, segundo a Secretaria de Estado da Saúde doParaná são distribuídos para todo o Estado através das Regionais de Saúde parpacientes comprovadamente portadores da doença.

Convém ressaltar, também, que tal política de atendimentointegral somente foi implantada após intervenção do Ministério Público Estadual local,que obteve acordo com o Governo Estadual em Inquérito Civil Público instaurado comesse objetivo (does. 73/86).

Resalte-se que no Paraná, conforme informação dada pel"Associação de Assistência à Mucoviscidose do Paraná" ao Centro de Medicamentosdaqtlele Estado, ap~nas um portador de Fib~se Cística faleceu naquele Estadoapós a disponibilização da medicação completa (por força do acordo celebrado),aos 33 anos de idade, c devido ao diagnóstico tardio da doença (essa informação foidada verbalmente a este Promotor pela presidenta da AAMUR).

lIA - ATENDIl\lENTO DISPONIBILIZADO NO ESTADO DE RONDÔNIA

A Associação Assistencial à Mucoviscidose de Rondônia ­AAMUR solicitou à Secretaria Estadual de Saúde deste Estado, em 22.11.2002, ofornecimentos aos cerca de 14 portadores da doença no Estado, em nível ambulatorial,sem interrupção, dos seguintes medicamentos/produtos. (docs. 15/18)

1) ENZIMAS DIGESTIVAS: Complexo Enximático, destinado a suprir a deficiêncide enzimas digestivas, (lipases) concentrações 4, 12, 18 - uso contínuo;

2) DORNASE ALFA: Mucoalítico - (DNAase) medicamento destinado à diluição doMuco Pulmonar e aumento da capacidade respiratória - uso contínuo;

3) COMPLEMENTOS VITAMÍNICOS: A, D, E, K (Adeks) VitaminasHidrosolúveis (B, E) e Oligolementos (Ferro, Zinco, etc) medicamento destinadocomplementar as deficiências vitamínicas causadas pela má absorção - usocontínuo;

4) COMPLEMENTOS NUTRICIONAIS: (TCM e formulários alimentaresCaseical, Pediasure (pó, líquido), Ensure (pó, líquido), Scandi, Hyper diet, NutriDrink, etc). Necessários devido à má absorção dos alimentos, mesmo com o uso dasenzimas digestivas - uso contínuo;

5) ANTIBiÓTICOS: (Aminoglicosídeos, Amoxacilina, Amoxicilina § Clavulanato,Cefalosporina Antipseudomonas, Quinolonas, Sulfas, Eritromicina, Azitromicina,Claritromicina, Clorafenicol, Vancomimicina, etc). Utilizados no combate àsinfecções bacterianas - uso alternado;

6) ANTIBiÓTICOS INALATÓRIOS: (Colistin, Tobramicina-Tobi, Amicaina eGentamicina). Utilizados posteriormente ao tratamento venoso, tratamentoambulatorial - uso alternado;

7) BRONCODILATADORES: InaIatórios de ação rápica (Aerolín). Indicados aospacientes com deficiência respiratória - uso contínuo;

8) VACINAS: (nfluen~a e Pneumococos ~:~erna~q; ,9) DROGAS ESPECIFICAS: Para Ul~~, rd! J

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decorrentes da doença como: refluxo gastroesofágio (Prepulsid, Antak, Omeprazol),hipertensão pulmonar (Vasodi latadores), Doença Hepatobiliar (Ursacol),Corticoides, etc.

Solicitou ainda, a ABRAM, em referido documento, que o Estadodisponibilizasse o teste do pezinho para diagnóstico da doença (Fibrose Cística), nostermos da Portaria nO822, do MS, de 06.6.2001.

Como a Secretaria não cuidou de atender o pedido, em 27.11.2002a ABRAM procurou o MINISTÉRIO PÚBLICO (does. 01103), ensejando a instauraçãodo procedimento administrativo em anexo (feito nO2002001060000700).

Em audiência que se realizou na sala de audiências da Promotoride Defesa da Saúde, em 18.03.2002, onde presentes se achavam o Dr. Milton LuizMoreira, Coordenador -Geral da Saúde da SESAU, a D~ Ângela Maria de MedeirosSantos, Gerente de Medicamentos da SESAU, a D~ Kátia Regina Pena Schesquini,Médica, a Senhora Nildete Maria de Arruda Galão, Presidenta da AssociaçãoAssistêncial à Mucoviscidose de Rondônia, o Dr. Raimundo Reis de Azevedo,Advogado da Associação, o Sr. Coordenador-Geral da Saúde se comprometeu a levarao Sr. Secretário de Estado da Saúde as reivindicações da Associação e tentarconvencê-Io (já que justas as reivindicações) a subscrever termo de ajustamento deconduta que lhe foi entregue, em cujas cláusulas estava a obrigação de fornecer taismedicamentos. (cfr. does. 67/69 - termo de ajustamento)

Em 03.06.2003 o Sr. Secretário Estadual da Saúde devolveu o

termo de ajustamento referido sem, contudo, assiná-Io, o que faz deduzir que ele nãoestá de acordo com o fornecimento dos medicamentos aos doentes de Fibrose Cística.

E a prova cabal da não distribuição e/ou distribuição insuficientede tais medicamentos é o doe. 27, da Policlínica Osvaldo Cruz, onde está consignado oseguinte: "Declaramos, para os devidos fins, que não dispomos de medicamentospara fibrose CÍstica nesta unidade".

11.5 - RESUMO DAS DEFICIÊNCIAS DO ATENDIMENTO NESTE ESTADO

De tudo quanto foi exposto, assim podem ser resumidas asdeficiências de atendimento, pelo SUS/EST ADO, aos portadores de Fibrose Císticaneste Estado:

1) os medicamentos que oferece, em ambulatório, não são encontrados regularmente;2) não disponibiliza todos os medicamentos/produtos necessários ao tratamento, ou

por serem (alguns) importados, ou por não padronizados pela SES;3) não disponibiliza o teste do pezinho para o diagnóstico precoce da doença;

Quanto aos medicamentos/produtos importados, vale destacar que

a SES alegou informalmente a AAMUR que t...· m.ediC~l1)e....· bs não são oferecidos aos

doentes de FC porque "não padronizados Q Ministéf da Saúde". Ocorre que o) ."

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Ministério da Saúde, através da Resolução RDC nO 86, de 21.9.2000, autoriza aimportação desses medicamentos, significando dizer que eles estão padronizados, sim.

Assim, perfeitamento possível a aquisição e distribuição de taismedicamentos/produtos.

111- DO DIREITO

Relevante a transcrição das normas jurídicas que tratam do direitodo cidadão, inclusive do portador de Fibrose Cística , à saúde, para que se tenha exatacompreensão da efetiva proteção que lhe dá o ordenamento jurídico de nosso País,possibilitando-lhe, individual ou coletivamente, o exercício desse direito públicosubjetivo em face do Estado .

Embora essa doença, em tempos não remotos, fosse um problematípico das crianças e adolescentes (pois seus portadores quase nunca ultrapassavam aadolescência), hoje em dia ela não pode mais assim ser tratada, pois, com os avançosda Medicina e o acesso dos doentes ao tratamento integral, portadores da FC vêmalcançando, aos poucos, a idade adulta, razão pela qual o problema passou a ser desaúde pública e não exclusivamente de saúde da criança e do adolescente. Aliás, nãoteria sentido garantir a sobrevivência dessas pessoas até a adolescência, e, obtida avitória da vida, com a entrada delas na idade adulta, deixa-Ias à margem da DecisãoJudicial que ora se busca.

É verdade, todavia, que a imensa malOna de seus portadores,ainda vivos, está na infância ou adolescência, tomando aplicáveis todos as normas quelhes garantem proteção prioritária, como adiante se verá.

111.1- LEGISLAÇÃO APLICÁVEL

CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Art. 1°, ines. II e 1I1: " A República Federativa do Brasil, formada pela umaoindissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em EstadoDemocrático de Direito e tem como fundamentos ...1I - a cidadania; lU - a dignidadeda pessoa humana."

Art. 3°: "Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: 1 ­construir uma sociedade livre, justa e solidária; ... 111- erradicar a pobreza emarginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV ~ promover o bem detodos, sem preconceitos de origem de raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formade discriminação. "

Art. 5°, caput: "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,garantido-se aos brasileiros e aos estrangeiros resid6lie no P<ú~ a inviolabilidade do

direito à vida, à liberdade, à igualdade, à seg ~ à pr riedade, nos termos/.0//' --I

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seguintes:"

§ I : "As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicaçãoimediata."

Art. 6 0: "São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazersegurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aosdesamparados, na forma desta Constituição."

Ali. 23, inciso II : "É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federale dos Municípios: ...II - cuidar da saúde e assistência pública ..."

Art. 37, caput: ''A administração pública di1-etae indireta de qualquer dos Poderes daUnião, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios delegalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência..."

Art. 196: "A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticassociais e econômicos que visem à redução do risco de dodnça e de outros agravos e aoacesso universal igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção erecuperação".

Art. 197: "São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao PoderPúblico dispor nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle,devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, porpessoa fisica ou jurídica de direito privado."

Art. 198: "As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada ehierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintesdiretrizes: I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II­atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dosserviços assistencias; ..."

Art. 227: "É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e aoadolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, àeducação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdadee à convivência familiar e comunitária, além de colocá-Ios à salvo de toda forma denegligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão."

~ 1°: "O Estado promoverà programas de assistência integral à saúde da criança e doadolescente .... "

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Art. 3°: "A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentesà pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trat esta Lei, assegurando~

lhes por lei ou por outros meios, todas as ~~~dades e cili ades, a fim de lhestàcultar o desenvolvimento fisico, mental, ~ ir'.. e s ial'/em ydições dei, /:& ~ l~)

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liberdade e de dignidade."

Art.4°: "É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Públicoassegurar, com absoluta prioridade, e efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde,à alimentação, à educação, ao esporte, ao Jazer, à profissionalização, à cultura, ,dignidade ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.Parágrafo único: A garantia de prioridade compreende:a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstancia;b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;c) precedência na formulação e na execução das políticas sociais públicas ;d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção

à infância e à juventude."

Art. 5°: '"Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma denegligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido naforma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais."

An. 7°: "A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante aefetivação de políticas sociais pública que permitam o nascimento e o desenvolvimentosadio e harmonioso, em condições dignas de existência."

Art. 11: "É assegurado atendimento médico à criança e ao adolescente, através doSistema Único de Saúde, garantido o acesso universal e igualitário às ações e serviçospara promoção, proteção e recuperação da saúde.

§ 2°: Incumbe ao Poder Público fornecer gratuitamente àqueles que necessitarem osmedicamentos, pró teses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação oureabilitação."

LEI N° 8.080/90

Art. 2°: "A saúde é um direito fundamental do seu humano, devendo o Estado prover ascondições indispensáveis ao seu pleno exerCÍcio.

§ 1°: "O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução depolíticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outrosagravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal eigualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação."

Art. 4°: "O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituiçõespúblicas federais, estaduais e municipais, da Administração Direta e Indireta e dasfundações mantidas pelo Poder Público, constitui o Sistema Único de Saúde - SUS."

Art. 5°: "São .objetivos do Sistema Único de Saúde - SlJS: ... 1II - a assistência àspessoas por intermédio de ações de promoção, proteção~cuperação a saúde, com arealização integrada das ações assistenciais e das ativo ~d pr~ nti s."~ y ,

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Art. 6°: " Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de SaúdeSUS: I - a execução de ações: d) de assistência terapêutica integl'al, inclusivefarmacêutica,"

Art. 7°: " As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ouconveniados que integram o Sistema Único de Saúde - SUS, são desenvolvidos deacordo com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal, obedecendoainda aos seguintes princípios:I- universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência;II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo dasações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cadacaso em todos os níveis de complexidade do sistema;IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquerespécie;XII - capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência."

Art. 8°: "As ações e serviços de saúde, executados pelo Sistema Único de Saúde - SUS,seja diretamente ou mediante participação complementar da iniciativa privada, serãoorganizados de forma regionalizada e hierarquizada em níveis de complexidadecrescente."

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Art. 17: "À direção estadual do Sistema Único de Saúde - SUS compete:II- acompanhar, controlar e avaliar as redes hierarquizadas do Sistema Único de Saúde- SUS;lU - prestar apoio técnico e financeiro aos Municípios e executar supletivamente açõese serviços de saúde;IV - coordenar e, em caráter complementar, executar ações e serviços: ...c) dealimentação e nutrição;IX - identificar estabelecimentos hospitalares de referência e gerir sistemaspúblicos de alta complexidade, de referência estadual e regional."

CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Art. 22: " Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, conceSSlOnanas,permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigadosfornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos,Parágrafo único: Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigaçõesreferidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compeli das a cumpri-Ias e a reparar osdanos causados, na forma prevista neste Código."

IV- CONFRONTO ENTRE OS FATOS E A LEGISLAÇÃO

Depreende-se, do que consta nesta inicial, que a Fibrose Císticadoença incurável, com incidência de um (1) c o para cada 2.500 pessoas branca

nascidas vivas, havendo cerca de 16 port or...e...s.. ~m ss Estado, principalmentcrianças e adolescentes, já que a doença I . a es e o nascimento, matando/ I.

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doente antes da idade adulta se o tratamento não obedecer à prescrição médica.

Essas pessoas têm tido grande sofrimento, pois não conseguem teracesso à medicação necessária e acabam morrendo prematuramente, aos poucos,subnutridas e sufocadas, antes da idade adulta. São criança e adolescentes quase anãs ecom deformidades (v. recortes de jornais anexos - does. 28/37), cujo destino, pela faltdo tratamento correto, é a morte lenta, sofrida e, principalmente, prematura.

Todavia, tal destino ocorre não mais por uma fatalidade, maspela omissão do Governo Estadual. Omissão claramente ilegal, que desrespeita odireito público subjetivo que esses doentes têm de receberem toda a medicação de quenecessitam, de receberem todos os remédios e suplementos nutricionais que a Medicina• , ..1# '

Ja aprovou para seu tratamento.

A legislação antes transcrita traz em suas linhas várias regras quepodem assim ser resumidas:

A primeira delas é que tais doentes, enquanto pessoas humanas,detentoras do direito fundamental à vida e à saúde, enquanto pacientes do SUS, têmdireito ao tratamento integral. E tratamento integral, para os pacientes portadores deFibrose Cística, envolve uma gama diferenciada de medicamentos, além decomplementos vitamÍnicos e nutricionais.

As normas definidoras desse direito constitucional têm aplicaçãoimediata, não se tratando de meras regras programáticas. A respeito, vide ROMS11183/PR (doe. 89/90).

Outras regras da CE. deixam claro que é responsabilidade dEstado gerIr sistemas públicos de alta complexida Ora, conforme se vê nestinvestigação, o Estado não disponibiliza aos doe es je Fibrose CÍstica o

medicamentos/produtos e equipamentos necess' I ..J:!'g / to e ne~antém u

O Governo Estadual não está obedecendo à lei, muito menossendo eficaz, quando não disponibiliza o necessário a esses doentes, violandmanifestamente o disposto no art. 37 (legalidade) da CF. é seu dever assegurar .criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à viddigna, ao desenvolvimento fisico, moral e social, o que somente é póssÍvel, aosportadores de FC atendidos pelo Sistema Único de Saúde, se receberem, gratuitamente,o tratamento medicamentoso integral, o que não vem ocorrendo até o presentmomento por culpa exclusiva do Estado.

Também se pode afirmar que é diretriz do SUS, neste Estado,eqüidade como meio para o tratamento desigual de casos desiguais. Se os portadores deFibrose Cística, para viverem pormais tempo, rnantendoqualidade de vida satisfatória,exigem medicamentos e produtos específicos, tal tratamento está plenamente garantidpela Lei, que garante o respeito às necessidades de todos os seguimentos da população(art. 234 e seguintes, da Constituição Rondoniense).

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centro/local especializado para cuidar desses pacientes, com profissionais capacitadosmédicos, enfermeiros, fisioterapeutas, etc.

É sua obrigação, portando, criar e equipar no mlmmo ulocal/centro para atendimento dos doentes de Fibrose Cística com todos oequipamentos, medicação/produtos e profissionais que eles precisam, em quantidadequalidade que Ihes garanta atendimento integral, permanente, respeitandprioritariamente o direito à vida e à saúde dessas crianças e adolescentes, sob pena dresponsabilização objetiva do Estado de Rondônia enquanto pessoa jurídica de direitopúblico.

Não adianta garantir a esses doentes um tratamento limitado,insuficiente, que abreviárá sua morte, pÔísessa postúra omissa desolfedece a diretriz d"resolutividade". Meio-tratamento não é tratamento integral, pois não resolveproblema dos portadores de Fibrose Cística e, pior, antecipa sua morte.

Outras conclusões jurídicas importantes:

a) - a situação ilegal descrita nesta inicial não pode sejustificada sob o argumento da discricionariedade administrativa. Este princípio, criadpara garantir a agilidade exigida na administração da coisa pública, com vistas ainteresse público, não pode servir de justificativa para a omissão ilegal violadora da Leie dos princípios da Administração Pública, previstos no artigo 37 da CF. Não tempessoa jurídica de direito público estadual º poder de decidir, em última análise, sobreonde ~ como negará ao cidadão direitos públicos subjetivos fundamentais, conformestabelecido nas Constituições Federal ~ do Estado de Rondônia.

b) - não se pode concluir, quando se sabe que alguns Estadosbrasileiros fornecem o tratamento integral, enquanto outros não, que estamos tratandode matéria sujeita à discricionariedade administrativa. Esse poder não pode servir comfundamento para decidir sobre a vida ou morte de doentes atendidos pelo SUS,principalmente quando são crianças ou adolescentes. É preciso atentar pará a seguinteconclusão, única possível diante da Lei: nos Estados onde se dá o atendimento integral,a Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Lei do SUS estãosendo cumpridos. Onde não se presta o atendimento integral, descumpre-se, pura esimplesmente, a Lei.

c) assim, não exorbita o Poder Judiciário quando,provocado pelo Ministério .público, interfere na Administração Pública paradefender direitos dos cidadãos expressos na Legislação, contra omissão do PodePúblico ensejadora de situação manifestamente ilegal. Fere o ordenamento jurídicopermitir-se, com fundamento em critérios de oportunidade e conveniência, queestabelecimentos públicos de saúde não disponham dos medicamentos/produtos queseus doentes (de Fibrose Cística) necessitam, máxime quando tal omissão gera maio

número de intemações hospitalares, com prej..u_ío7ZOaos cOfre-S'~ú Iicos (é muito maicaro ao Poder Público tratar o doente intemado(do qu~e~ua. rópria casa) e à saúdedessas pessoas. / /'l / . /'

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d) - não se está, aqui, estabelecendo prioridade na atuaçãda administração pública, colocando-se na posição do Poder Executivo EstadualA fixação de prioridades de governo ~ amplamente acobertada pela Lei, desd~ na sua execução, não se deixe direitos fundamentais ~ indisponíveis adesamparo da atuação Estatal. Mesmo na área dos direitos sociais, como a saúdepode-se estabelecer prioridades, no exercício da discricionariedade. Todavia, suefetivação não pode ensejar situações ilegais, porque a criança e o adolescente tênprioridade prevista em Lei quanto ao atendimento de saúde e o respeito à Leidever fundamental de qualquer esfera de governo.

e) - não há que se falar em IÍmites orçamenitlrios ou eobservância da Lei de Responsabilidade Fiscal, como desculpas para a manutenção dsituação ilegal narrada nesta iniciaL A sociedade, a população, o cidadão têm direitoaqui extraídos do ordenamento jurídico em vigor, identificados em normas jurídicauto-aplicáveis. Submetê-l os ao saldo do "caixa" do Poder Público, de qualquer esferasignificaria, na verdade, negá-Ios. Note-se que a legislação supratranscrita não sujeitadireito do cidadão portador de Fibrose Cística, em nenhuma passagem, ao "saldbat'lcário" da Administração. O Legislador, sábio, percebeu que, assim não fosse, taidireitos seriam sempre negados sob a desculpa da falta de dinheiro, o que jamaipoderia ser posto em dúvida, pois a ninguém é dado conhecer o movimento financeirde qualquer pessoa jurídica de direito público interno. Por outro lado, antes d"Responsabilidade Fiscal" há a "Responsabilidade Social", muito mais importantequer nos direitos hierarquicamente superiores que amparam, quer naconseqüências legais àqueles que a desrespeitam.

E não se pode ignorar que nenhum administrador úblicseria alcançado pelas penalidades previstas !!1!"Lei de Responsabilidade Fiscal'se demonstrar estar agindo em defesa da vida, no cumprimento da Lei ~ dDecisão Judicial.

Sobre a questão, em casos semelhantes, já se manifestaram oTribunais:

"O Judiciário não desconhece o rigorismo da Constituição avedar a realização de despesas pelos órgãos públicos além daquelas em quhá previsão orçamentária; este Poder, todavia, sempre consciente de suimportância como integrante de um dos Poderes do Estado, compacificador dos conflitos sociais e defensor da Justiça e do bem comum, teagido com maior justeza optando pela defesa do bem maioveementemente defendido pela Constituição - A VIDA - interpretandolei de acordo com as necessidades sociais imediatas que ela se propõesatisfazer" (Ap. Cível nO 98.006204-7, Santa Catar ina, ReI. Nilton MacedMachado, j 08.9.98).

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" ...Sendo a saúde direito e dever do Estado (CF, arte 196, CEarte 153), torna-se o cidadão credor desse beneficio, ainda que não hajserviço oficial ou particular no País para o tratamento reclamado.existência de previsão orçamentária própria é irrelevante, não servindo tapretexto como escusa, uma vez que o executivo pode socorrer-se de créditoadicionais. A vida, dom maior, não tem preço, mesmo para uma sociedadque perdeu o sentido da solidariedade, num mundo marcado pelo egoísmohedonista e insensível. Contudo, o reconhecimento do di~ito à sumanutenção (..•) não tem balizamento caritativo, posto que carrega em smesmo, o selo da legitimidade constitucional e está ancorado em legislaçãobediente àquele comando". (TJSP, Des. XaYÍer Vieira, Agr. de Inst. n96.012721-6)

"A respeito, cabe ver que a Portaria n° 21, de 21.3.95, dMinistério da Saúde, já recomendava a utilização da combinação de novomedicamentos com o então conhecido AZT, de modo que, somentatribuível à incúria da administração não ter ela já licitado, - inclusive coprevisão orçamentária - de modo a permitir, de modo continuado,fornecimento de tais medicamentos aos dele necessitados, em quantidadadequadas. Portanto, não socorre a agravante o arg~mento de necessidad

de licitação prévia ou previsão orçament' 'a, muit~m,enos cabe-Ihe coloca

em dúvida a eficácia dos remédios e .q...u.~t~,o, ~.ósJIÍ(]ülis, aliás, são semprreceitados pelos médicos". (Agr. ~ ~~6J( ga c,nn. Dir. Público d//~;f/~/~

"Com relação à prevlsao orçamentária para o custeio domedicamentos específicos, basta relembrar que já há, no orçamento dEstado, dotação apropriada; da mesma forma não pode o apelantpretender eximir-se de suas responsabilidades sob a alegação de quenfrenta sérios problemas financeiros, em face da escassez de recursos,que soa falso ~ face dos gastos publicitários que se vê ~ meios dcomunicação, apregoando obras ~ realizações governamentais (ou)". Citando Ministro CELSO DE MELLO em caso também relativo à saúde: "singularidade do caso (...), a imprescindibilidade da medida cautelaconcedida pelo Poder Judiciário do Estado de Santa Catarina (...) eimpostergabilidade do cumprimento do dever político constitucional que s'impte ao Poder Público, em todas as dimensões da organização federativade assegurar a todos a proteção à saúde (CF, arte 6°, C.C. arte 227, parágraf,11°) constituem fatores que, associados a um imperativo de solidariedad'humana, desautorizam o deferimento do pedido ora formulado pelo Estad,de Santa Catarina (ou). Entre proteger ª inviolabilidade do direito ª vida'que se qualifica como direito, subjetivo inalienável assegurado pela ró riConstituição da República (art. 5°. caput), ou fazer prevalecer. contra essprerrogativa fundamental, !!.!!! interesse financeiro ~ secundário do Estadoentendo = uma ~ configurado esse dilema = que razões de ordem éticojurídica impõem ªº julgador !!.!!!!! só ~ possível opção: Q res eitindeclinável à vidade". (grifei)

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TJS, ReI. José Santana)

"...Não é por falta de aporte financeiro que o Estado poderá seximir de seu dever. A saúde reclama prestação sanitária tão-somente. Sarle(J 998), a re.\peito da negação das prestações sanitárias com base na ausênciorçamentária estatal, refere que: 'em relação aos habituais argumentos dausência de recursos e da incompetência dos órgãos judiciários pardecidirem sobre a alocação e destinação de recursos públicos, não noparece que esta solução possa prevalecer, ainda mais nas hipóteses em questá em jogo a preservação da vida humana' (p. 298). Ora, ª hipótese dnão-existência de previsão orçamentária não pode ser alegada pelo Estado, atporque não se pode antever com eficácia as necessidades da população, oainda, de outra banda, não se pode tavorecer ª omissão do ente res onsávelpremiando-o por sua negligência e/ou inércia. Ao se referir ao Sistema Únicde Saúde e à sistemática sanitária brasileira instalada pela CF/88, CláudiBarros Silva (1995) se posiciona expressamente quanto à impossibilidade dcondicionantes para o exercício do direito à saúde: 'Como conseqüência dsistema, o acesso à assistência, à saúde, passou a ser universal e igualitárionão havendo, por ser direito subjetivo do cidadão, qualquer colÍdicionantao exercício. O papel do Estado é garantir a satisfação desse direito públicsubjetivo' (p. 100). O Supremo Tribunal Federal ~ STF, em acórdão nos autodo Agravo Regimental em Agravo de Instrumento n° 238.328-0 (.Julgado e16./1.99), no voto do Relator Ministro Marco Aurélio, quando provocado a spronunciar sobre a matéria, afirmou que a fàlta de dispositivo legal paracusteio e distribuição de remédios para A1DS não impede que fiqucomprovada a responmbi/idade do Hstado, pois 'decreto visando-a não poder:reduzir. em si, () direito assegurado em lei'. E, esclareça-se desde já, com basno art. 23 da ChfX8, que o cidadão pode demandar contra qualquer entefederado.\" na husca da proteção de saúde: ~SAÚDE PÚBLICAFORNECIMENTO GRATUITO DE MEDICAMENTOS POENTIDADE PÚBLICA MUNICIPAL PARTICIPANTE DO SUS

CONCESS:\O DE TUTERLA ANTECIPADA EM P~EITO ORDINÁRIO

DIREITO A VIDA. DEVER COMUM_ I;>Ó~.Jl.T ...f:~'fE ERADOS. ARTSt 96 E t 98 DA CONSTITUIÇ F»J) ÉRA L P~ECEDENTE

//;. 7- cr

Por fim, vale transcrever parte da obra de Germano Schwart(Direito à Saúd'e - Efetivação e1n uma Pers~pectiva Sistêmic~ p. 80/81, Ed. Livraria dAdvogado):

Como se percebe, mostra-se irrelevante eventual falta de prévidotação orçamentária prevendo o atendimento integral dos doentes de PC, ou seja,cumprimento da Lei. Consoante enfatiza com lucidez, João Angélico (ContabilidadPública, Ed. Atlhas, p. 35), "durante a execução orçamentária, o Poder Executivo podsolicitar ao Legislativo, e este conceder, novos créditos orçamentários. Eles serãadicionados aos créditos que integram o orçamento em vigor. Por essa razãodenominam-se créditos adicionais. Os créditos adicionais aumentam a despesa públicdo exercício, já fixada no orçamento ".

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--MINISTÉRIO PÚBLICODO ESTADODE RONDÔNIAPROMOTORIA DE JUSTIÇA

PRETORIANOS. AUSÊNCIA DE PREVISÃO ORÇAMENTÁRIA QUNÃO PODE PENALIZAR O CIDADÃO. AGRAVO NÃO PROVIDODECISÃO CONFIRMADA. As entidades federativas têm o dever acuidado da saúde e da assistência pública, da proteção e garantia dapessoas portadoras de deficiência de saúde, a teor do disposto no art. 23 dConstituição Federal. Assim, não se pode prestar à fuga dresponsabilidade a mera argiiição de violação ao princípio do orçamentodas normas de realização de despesa pública, quando verificado queEstado, na condição de instituição de tributo especial dirigidosuplementar verbas da saúde, não o faz com competência devida'. (AgrInstr. BO1999.002.12096,93 Câm. Cível, TJRJ, ReI. Des. Marcus Tullius Alvesj. em 02.5.2000)".

V-DO PEDIDO

Diante de todo o exposto, o MINISTÉRIO. PÚBLICRONDONIENSE requer a citação do ESTADO DE RONDÔNIA, na pessoa dExcelentíssimo Procurador-Geral do Estado, no seu Gabinete, situado na Avenida doImigrantes nO 3.503, bairro Costa e Silva, nesta cidade, para, querendo, contestar nprazo legal a presente ação, sob pena de suportar os efeitos da revelia (CPC, art. 319),qual deverá, ao final, ser julgada inteiramente procedente, para condenar o ESTADDE RONDÔNIA:

1) à obrigação de fazer, no prazo de 30 dias, consistente na disponibilizaçãpermanente, sem interrupção, para uso e distribuição ambulatorial, aos acienteportadores de Fibrose Cística atendidos pelo Sistema Único de Saúde - SUScadastrados, atual e futuramente, em local a ser identificado pelo réu (no mesmprazo/30 dias), na exata conformidade com a prescrição médica de cada um dodoentes, dos seguintes medicamentos e produtos (sem prejuízo de outros quemedicina reconheça e que o Ministério da Saúde autorize o registro e uso):

PROGRAMA ALTO CUSTO Dornase Alfa 1mg/mI ampola 2,5' mlEnzimas Pancreáticas (4.000, 12.000, 18.000e 20.000 VI de Lipase

ANTIBJOTJCOS Amicacina 100 mg. sol. lnj.Amicacina 500 mg. sol. Inj.Amoxacilina 50 mg/ml frasco 80 mlAmoxacilina + clavulanato de Potássio 200

mglfrascoAzitromicinaCefac\or 250 mg/frasco 80mlCefalexina 2,5% frasco 60 mlCeftazidina 1g/frasco ampolaCiprojloxacina 500 mg comp.

~/ranfenicol 2)0 1 comp.__ ~~__- C lim';r'106 m sol. "o·

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--MINISTÉRIO PÚBLICODO ESTADODE RONDÔNIAPROMOTORIA DE JUSTIÇA

Eritromicina 250 mg comp.Eritromicina sol. Oral 2,5% frascoGentamicina 40 mg sol. lnj.Gentamicina 80 mg sol. Inj.Sulfametoxazol + trimetoprima comp.Sulfametoxazol + trimeoprima sol. OralTobramicina inalatórioVancomicina 500 m Ifrasco am .

SUPLEMENTOSVITAMÍNICOS

- ADEKs drágeasADEKs líquidoPolivitamina sol. Oral

Fitomenadiona 10 mg amp. (vitamina K)Vitaminas do complexo B drágeasVitaminas e sais

INALAÇÃO:

SUPLEMENTOSNUTRICIONAIS

OUTROS

- Cloreto de sódio 0,9% frasco 10 mlFenoterol 0,5% frasco 20 mlBroncodilatadores inalatórios de ação rápida(aerolin)

- Módulos de proteínasMódulos de TCM

Dietas - póDietas - líquidas

- Acido ursodesoxicólico ISO mg comp.Cisaprida solBromoprida sol. OralOmeprazol 10 mg comp.Ranitidina sol

Vacinas influenza e pneumococosVasodilatadores

Oxigênio para uso domiciliarInsulina

E ui os para nutrição parenteral

2) sob pena de, nos termos do art. I I da LF nO7.347/95, pagamento de multa no vaiode R$ 1.000,00 (mil reais) por dia de atraso no fornecimento, para cada doente, dqualquer dos medicamentos 1 produtos supra-elencados, quantia que deverá serevertida para o fundo de reconstituição dos interesses metaindividuais lesadoscriado pelo art. 13 daquela Lei; ... /I

3) seja criado um centro de referê ·~~o i ~or ao Hospital de Base, com estrutur

de equipamentos e pessoal té 'CÚ(9Íé'GOS, nfermeiros,)isioterapeutas, etc) par//:1 //~ ~

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE RONDÔNIAPROMOTORIA DE JUSTIÇA

atendimento dos doentes, com capacidade, inclusive, para o teste de triageneonatal (ou do pezinho) - sugere· a médica Kátia Schesquini, especialista etratamento e cuidados com doentes de Fibrose Cística, para atender e ficardisposição desse centro de referência (docs. 91/92) .

VI - DO PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

o atendimento de saúde, por guardar estreita relação commanutenção da vida humana, é sempre relevante e urgente. Diante da urgêncireclamada pela espécie, requer-se a concessão liminar da antecipação dos efeitos dtutela pretendida, nos termos do disposto nos arts. 273, inc. I, e 461 do CPC e art. 84§ 3°, do Có<1igode Defesa do Consumidor. . .

o acolhimento liminar dos efeitos da tutela urge e imperporquanto o provimento da pretensão, somente ao final, poderá ser inócuo parprevenir os danos à saúde dos portadores de Fibrose Cística, ou m~smo para evitarmorte de alguns deles. Esses doentes, na imensa maioria crianças e adolescentes, hmuito vê piorando seu estado, ou morrendo, devido à omissão do Poder PúblicEstadual, que lhes nega, sob argumentos ilegais, o atendimento integral e prioritárioque fazem jus por força de Lei.

Relevante é o fundamento da lide, pois pretende-se, em últimanálise, a manutenção da vida de 16 pessoas (aproximadamente) neste Estadopresentes, estão, por tudo quanto já foi dito, ojUmus bonijuris e o periculum in mora.

Não se cogita, por outro lado, de "perigo de irreversibilidade dprovimento antecipado", pois obtidos os medicamentos e produtos aqui mencionadosdisponibilizados aos portadores de Fibrose Cística, os mesmos indiscutivelmente serãusados, mais cedo ou mais tarde, porque são medicamentos / produtos de uso contínuou alternado, mas acima de tudo, de uso indispensável. Assim, deferida a antecipaçãde sua disponibilização, não há o menor risco desses medicamentos' não sereutilizados, já que a sobrevi da desses doentes depende diretamente deles.

Todavia, é perfeitamente justificado o receio de ineficácia dprovimento final, caso a Administração não seja obrigada, desde já, a tomar aprovidências que ensejarão a observância da ordem Judicial no prazo estabelecido. Esta razão da necessidade da concessão liminar dos efeitos da tutela pleiteada. Há riscovida e à saúde dos portadores de Fibrose Cística deste Estado, tàcilmente evitável sePoder Público Estadual for compelido a atuar desde agora, com tempo razoável paralcançar o resultado consubstanciado no pedido desta Ação Civil Pública.

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--MINISTÉRIO PÚBLICODO ESTADODE RONDÔNIAPROMOTORIA DE JUSTIÇA

testemunhas e peritos, caso se faça necessário.

Dá-se à causa do valor de R$ 1.000,00 (mil reais).

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