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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE FIRMINÓPOLIS EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE FIRMINÓPOLIS/GO. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por seu Promotor de Justiça que adiante subscreve, com supedâneo no artigo 129, III, da Constituição Federal, artigo 1º, incisos II e IV, combinado com o artigo 5º, inciso I , ambos da Lei n. 7.347/85, e artigo 64, inciso VII, da Constituição do Estado de Goiás, bem como Lei n. 8.429/92, vem perante Vossa Excelência propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA , C/C OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER, C/C PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA IN LIMINE em desfavor de ENOC DAVID TAVARES, brasileiro, casado, Vereador, nascido aos 12/01/1971, natural de Turvânia/GO, portador da CI n. 2714063 – SSP/GO, inscrito no CPF n. 588.371.591-53, filho de João David Ferreira e de Dimaria Tavares Ferreira, residente e domiciliado na Rodovia GO-164, n. 1.000, Setor Bela Vista, Firminópolis/GO; SILVADIR CÂNDIDO DA MATA, conhecido por “Lalico”, brasileiro, solteiro, Vereador, nascido aos 11/12/1969, natural de Aurilândia/GO, portador do RG n. 1954112 SSP/GO, inscrito no CPF sob n. 441.141.841-04, filho de Euripedes Batista da Mata e Joana Cândida da Mata, residente na Avenida Rui Barbosa, n. 1.744, centro, nesta cidade; RANGEL RICARDO DE SOUZA OLIVEIRA, conhecido por “Bob”, brasileiro, solteiro, Vereador, nascido aos 24/06/1988, natural de Córrego do Ouro/GO, portador do RG 5156456 SPTC/GO, inscrito no CPF sob n. 022.954.711-76, filho de Cleonicy Helena Jacinta de Oliveira e Edson José de Souza, residente na Rua João Teixeira Alves, n. 229, centro, nesta cidade; WELITON AGAPITO DOS SANTOS, brasileiro, Vereador, nascido aos 29/12/1969, natural de Firminópolis/GO, portador do RG n. 2931711 SSP/GO, inscrito no CPF sob n. 532.536.631-91, filho de Maria Martins Ribeiro Rua 02, n. 40 – Setor da Justiça – Firminópolis/GO-Fone: (64) 3681-1439. CEP: 76105 – 000 – [email protected] 1

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE FIRMINÓPOLIS

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE FIRMINÓPOLIS/GO.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por seuPromotor de Justiça que adiante subscreve, com supedâneo no artigo 129, III, daConstituição Federal, artigo 1º, incisos II e IV, combinado com o artigo 5º, inciso I ,ambos da Lei n. 7.347/85, e artigo 64, inciso VII, da Constituição do Estado deGoiás, bem como Lei n. 8.429/92, vem perante Vossa Excelência propor

AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA , C/COBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER, C/C PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA

TUTELA IN LIMINE

em desfavor de

ENOC DAVID TAVARES, brasileiro, casado, Vereador, nascido aos12/01/1971, natural de Turvânia/GO, portador da CI n. 2714063 – SSP/GO,inscrito no CPF n. 588.371.591-53, filho de João David Ferreira e de DimariaTavares Ferreira, residente e domiciliado na Rodovia GO-164, n. 1.000,Setor Bela Vista, Firminópolis/GO;

SILVADIR CÂNDIDO DA MATA, conhecido por “Lalico”, brasileiro,solteiro, Vereador, nascido aos 11/12/1969, natural de Aurilândia/GO,portador do RG n. 1954112 SSP/GO, inscrito no CPF sob n. 441.141.841-04,filho de Euripedes Batista da Mata e Joana Cândida da Mata, residente naAvenida Rui Barbosa, n. 1.744, centro, nesta cidade;

RANGEL RICARDO DE SOUZA OLIVEIRA, conhecido por “Bob”,brasileiro, solteiro, Vereador, nascido aos 24/06/1988, natural de Córregodo Ouro/GO, portador do RG 5156456 SPTC/GO, inscrito no CPF sob n.022.954.711-76, filho de Cleonicy Helena Jacinta de Oliveira e Edson Joséde Souza, residente na Rua João Teixeira Alves, n. 229, centro, nestacidade;

WELITON AGAPITO DOS SANTOS, brasileiro, Vereador, nascido aos29/12/1969, natural de Firminópolis/GO, portador do RG n. 2931711 SSP/GO,inscrito no CPF sob n. 532.536.631-91, filho de Maria Martins Ribeiro

Rua 02, n. 40 – Setor da Justiça – Firminópolis/GO-Fone: (64) 3681-1439. CEP: 76105 – 000 – [email protected] 1

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Santos e Mauro Agapito dos Santos, residente na Rua Joaquim Vicente deSouza, n. 185, centro, nesta cidade;

LUCIANO BRAZ DE ARAÚJO, conhecido por “Pirú”, brasileiro,casado, Vereador, nascido aos 14/01/1982, natural de Firminópolis/GO,portador do RG n. 4047259 DGPC/GO, inscrito no CPF sob n. 949.307.911-20, filho de Maria Augusta Divani e Dario Braz de Araújo, residente na Av.Antônio Borges Campos, Quadra 5, Lote 1, n. 225, Vila Araújo, nestacidade;

ISAMAR RODRIGUES DA COSTA, brasileiro, convivente,comerciante, nascido aos 30/07/1963, natural de Firminópolis/GO, filho deAntônio Rodrigues da Costa e Leny Ferreira da Costa, portador do RG n.1409966 SSP/GO, inscrito no CPF sob n. 292.400.181-15, residente na GO-060, n. 657, Vila Araújo (Isamar Centro Automotivo), nesta cidade;

JOSÉ CAETANO GONÇALVES NETO, brasileiro, convivente, nascidoaos 14/08/1996, natural de Goiânia/GO, portador do RG N. 5523957SPTC/GO, inscrito no CPF sob n. 705.973.131-80, filho de Rogério de SouzaFerreira e Sônia de Fátima Caetano, residente na Rua Turmalina, Lote 01,Quadra 02, Conjunto Topázio, nesta cidade (fls. 12/13).

pelas motivações fáticas e jurídicas adiante expostas.

DOS FATOS

Por meio do Inquérito Policial n. 201800476986, apurou-se que,durante os meses de julho/2017, final do mês de setembro/2017, outubro/2017,novembro/2017 e dezembro/2017, ENOC DAVID TAVARES, na condição dePresidente da Câmara Municipal, agindo de forma dolosa e liderando o grupocomposto por SILVADIR CÂNDIDO DA MATA, conhecido por “Lalico”, RANGELRICARDO DE SOUZA OLIVEIRA, conhecido por “Bob”, WELITON AGAPITODOS SANTOS, LUCIANO BRAZ DE ARAÚJO, conhecido por “Pirú”, e ISAMARRODRIGUES DA COSTA, apropriaram-se de valores de que tinha a posse em razãodo cargo, bem como desviaram recursos públicos em proveito próprio e alheio,causando prejuízos ao erário. Ainda, ENOC DAVID TAVARES foi omisso em relaçãoa dados referentes a documento público, inserindo declaração falsa, por meio daqual cometeu fraude em planilhas de controle de gastos de combustíveis doLegislativo Municipal, bem como dispensou a exigibilidade de licitação para aaquisição de combustível para a Câmara Municipal.

Apurou-se que os vereadores SILVADIR CÂNDIDO DA MATA,conhecido por “Lalico”, RANGEL RICARDO DE SOUZA OLIVEIRA, conhecidopor “Bob”, WELITON AGAPITO DOS SANTOS e LUCIANO BRAZ DE ARAÚJO,conhecido por “Pirú”, apropriaram-se de valores, em razão do cargo que ocupam,desviando-os em proveito próprio, quando utilizaram combustível custeado pela

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Câmara Municipal em seus veículos particulares, com o consentimento expresso doentão Presidente daquela Casa de Leis, ENOC DAVID TAVARES, líder do esquemacriminoso.

ISAMAR RODRIGUES DA COSTA, proprietário da empresadenominada Isamar Centro Automotivo, sediada nesta cidade, mediante ajustecom Enoc David Tavares, praticaram atos de improbidade administrativa, eapropriaram-se de valores, bem como desviaram recursos públicos em proveitopróprio e alheio, provocando prejuízos aos cofres públicos, consistente na emissãodas Notas Fiscais acostadas às fls. 138, 141 e 145, as quais não retratam arealidade, e assim o foram para beneficiar o então Presidente da Câmara Municipal,Enoc David Tavares, tendo sido omitido em documento particular, declarações quedele deveriam constar, bem como foi inserido dados falsos nos mesmos, tudoobjetivando o desvio de recursos públicos.

JOSÉ CAETANO GONÇALVES NETO, motorista da Câmara Municipalno ano de 2017, por diversas vezes em finais de semana, utilizou-se do veículooficial da Câmara Municipal, abastecendo-o às custas do Legislativo Municipal, parao fim de transportar jogadores de futebol do time Firminópolis Esporte Clube paraoutras cidades, conforme afirma nas suas declarações às fls. 169/171. Afirmou JoséCaetano Gonçalves Neto que para o deslocamento do veículo da CâmaraMunicipal nos finais de semana, a fim de transportar os jogadores, ele próprio dirigiao automóvel, afirmando que também era jogador do time e utilizou-se do veículooficial e do combustível pago com recursos financeiro da Câmara Municipal, emprejuízo dos cofres públicos.

Conforme apurado, ocorreram abastecimentos de veículos particularesdos vereadores Silvadir Cândido da Mata, Rangel Ricardo de Souza Oliveira,Weliton Agapito dos Santos e Luciano Braz de Araújo, à custa da CâmaraMunicipal de Firminópolis, sob o consentimento de Enoc David Tavares, entãoPresidente do Legislativo Municipal, no período compreendido de janeiro adezembro/2017, sendo o mesmo ordenador de despesas do referido órgão.Constam dos balancetes mensais da Câmara Municipal gastos com combustíveisadquiridos junto à empresa Posto Mendes Ltda, apresentando os seguintes dados,sendo referidas despesas empenhadas e liquidadas, demonstrando, dessa forma, adilapidação do patrimônio público. Vejamos.

MÊS REFERÊNCIA DATA VALOR DA DESPESAJANEIRO Não há consumo

FEVEREIRO 22/02/2017 R$ 1.270,00

MARÇO Não há consumo

ABRIL 19/04/2017 R$ 4.422,00

MAIO 23/05/2017 R$ 3.183,00

JUNHO 23/05/2017 R$ 2.725,00

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JULHO 19/07/2017 R$ 2.193,00

AGOSTO 21/08/2017 R$ 2.793,00

SETEMBRO 21/09/2017 R$ 1.896,00

OUTUBRO 25/10/2017 R$ 1.905,00

NOVEMBRO 22/11/2017 R$ 2.582,00

DEZEMBRO 22/12/2017 R$ 2.188,00

TOTAL R$ 25.157,00

Segundo apurado, a Câmara Municipal de Firminópolis possui umveículo oficial, sendo o automóvel VW Gol 1.0, cor branca, ano/modelo 2006/2007, placade identificação NGL-5238, verificando-se que o mesmo está com a documentação elicenciamento atrasados desde 2007, existindo em relação a este várias multas detrânsito, o que impede que o mesmo seja utilizado. Além do mais, consta quereferido veículo está estragado, ou seja, não possui condições de uso, e, assim,Enoc David Tavares permitiu que os vereadores Silvadir Cândido da Mata,Rangel Ricardo de Souza Oliveira, Weliton Agapito dos Santos e Luciano Brazde Araújo abastecessem seus veículos particulares com combustível custeado pelaCâmara Municipal, bem como determinou a realização da manutenção do veículopertencente ao Legislativo Municipal junto à empresa Isamar Centro Automotivo,de propriedade de Isamar Rodrigues da Costa, extraindo-se que foram emitidassupostas notas fiscais que não retratam a verdade quanto a peças, serviços e outrosprodutos utilizados. Consta, também serviços de balanceamento fornecidos pelaempresa Renova Suspensão e Alinhamento, mesmo o veículo se encontrando semcondições de trafegabilidade, verificando-se as seguintes informações:

EMPRESA ISAMAR AUTO PEÇAS MÊS REFERÊNCIA DATA VALOR DA DESPESA

ABRIL 19/04/2017 R$ 1.490,00

JULHO 19/07/2017 R$ 750,00

SETEMBRO 21/09/2017 R$ 770,00

OUTUBRO 20/10/2017 R$ 677,50

TOTAL R$ 3.687,50

EMPRESA RENOVA ALINHAMENTO E BALANCEAMENTO MÊS REFERÊNCIA DATA VALOR DA DESPESA

ABRIL 26/04/2017 R$ 632,00

26/04/2017 R$ 210,00

TOTAL R$ 842,00

Todos os vereadores ouvidos durante as investigações afirmaram quenunca se utilizaram do veículo oficial da Câmara Municipal, com exceção de EnocDavid Tavares, extraindo-se que, mesmo o veículo estando sem utilização, ocorreu

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a aquisição e consumo de combustíveis pelo então Presidente da Casa de Leis, bemcomo gastos com a manutenção do automóvel, o qual desviou o produto em proveitopróprio e alheio. Liderando o esquema de fraudes e apropriação de dinheiro público,Enoc David Tavares beneficiou os vereadores Silvadir Cândido da Mata, RangelRicardo de Souza Oliveira, Weliton Agapito dos Santos e Luciano Braz deAraújo, os quais utilizaram o combustível pago com os recursos financeiros daCâmara Municipal nos seus veículos particulares com o consentimento do entãoPresidente daquela Casa de Leis. Ademais, foram efetuados gastos com amanutenção do veículo no período informado, quando este não apresentavacondições de uso.

Silvadir Cândido da Mata, vereador que se beneficiou com oabastecimento de combustível no seu veículo particular, sendo o pagamentoefetuado com dinheiro dos cofres públicos, nas suas declarações perante aAutoridade Policial (fls. 08/09), afirmou que o veículo da Câmara Municipal estáparado em razão de se encontrar com a bateria descarregada, bem como com adocumentação irregular, tendo usado o referido automóvel por duas vezes para sedirigir à cidade de Goiânia/GO, a serviço do Legislativo Municipal, isso nos meses denovembro/2017 e dezembro/2017. Outrossim, por estar o veículo oficial semcondições de transitar, abasteceu seu veículo particular no Posto Mendes na contada Câmara Municipal de Firminópolis, sob a ordem de Enoc David Tavares,alegando que tal fato ocorreu objetivando viagens com destino à AssembleiaLegislativa do Estado de Goiás, bem assim ao gabinete do Deputado Federal LucasVirgílio.

Rangel Ricardo de Souza Oliveira, outro beneficiado com o esquemade desvio de dinheiro público durante a gestão de Enoc David Tavares, abasteceuseu veículo particular junto ao Posto Mendes, por conta da Câmara Municipal,mediante permissão do então Presidente, tendo empreendido viagens paraGoiânia/GO (fls. 198/199), afirmando que o veículo oficial pertencente ao LegislativoMunicipal se encontrava com a documentação irregular, por isso não pôde serusado, narrando que os abastecimentos foram nos valores de R$ 60,00 (sessentareais), ou R$ 80,00 (oitenta reais), do combustível etanol, por duas ou três vezes.Rangel Ricardo de Souza Oliveira afirmou, ainda, que em todas as vezes queabasteceu seu veículo particular às custas da Câmara Municipal, o foi para serviçosde interesse do cargo, assegurando que os vereadores Silvadir Cândido da Mata eLuciano Braz de Araújo abasteceram seus veículos particulares na conta daCâmara Municipal, a fim de empreenderem viagem em busca de doações debrinquedos para serem distribuídos no dia das crianças, tudo sob o consentimentode Enoc David Tavares .

Weliton Agapito dos Santos, vereador que se apropriou de valoresatravés de abastecimento do seu veículo particular na conta da Câmara Municipal,por meio da armação montada por Enoc David Tavares, quando ouvindo naDelegacia de Polícia (fls. 202/203), afirmou que o veículo oficial pertencente à

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Câmara Municipal está parado na garagem do referido órgão público, semcondições de uso há pelos menos 05 (cinco) meses. Narra o denunciado que o focodo seu trabalho é auxiliar pessoas em tratamento de saúde, encaminhando-as paratratamento em Goiânia. Weliton Agapito dos Santos aduziu que transporta ospacientes em seu veículo particular, e que no período de janeiro a junho de 2017,solicitou a Enoc David Tavares, então Presidente da Câmara Municipal, ajuda como pagamento de combustível para levar pessoas para a Capital do Estado, o que foiprontamente autorizado o abastecimento por conta da Câmara Municipal. Afirmou odenunciado que fazia em média duas viagens semanais, abastecendo seu veículoparticular, à custa da Casa de Leis, no valor de R$ 100,00 (cem reais), docombustível etanol, perfazendo R$ 200,00 (duzentos reais) por semana, totalizandoaproximadamente R$ 800,00 (oitocentos reais) mensais, informando que EnocDavid Tavares, no mês de julho/2017, comunicou a todos os Vereadores que estavacom problemas com “questão do uso de combustível, pois o Promotor lhe teriaacionado sobre os fatos”, ocasião em que Weliton Agapito dos Santos não maissolicitou combustível ao então Presidente da Câmara Municipal. Ainda, WelitonAgapito dos Santos narrou que no ano de 2017 nunca utilizou-se do veículo oficialpertencente a Câmara Municipal.

Luciano Braz de Araújo, réu que se beneficiou das fraudesorquestradas por Enoc David Tavares para o fim de desviar dinheiro público, porsua vez, afirmou que o veículo pertencente à Câmara Municipal está com adocumentação irregular, e por isso nunca o utilizou, conforme declarações à fl. 224.Narrou o denunciado que empreendeu 03 (três) viagens a Goiânia, sob o argumentode estar a serviço do cargo, sendo que solicitou ao Presidente da Câmara Municipal,Enoc David Tavares autorização para abastecer seu veículo particular na conta doLegislativo Municipal, o que foi consentido, informando que os abastecimentos foramem torno de R$ 100,00 (cem reais), e R$ 120,00 (cento e vinte reais), ocorridos nasdatas de 10/04/2017, 23/05/2017 e 27/06/2017. Informa o denunciado Luciano Brazde Araújo que tomou conhecimento de que Enoc David Tavares estaria comproblemas com a aquisição irregular de combustível, de forma que conversou comseus colegas Silvadir Cândido da Mata e Rangel Ricardo de Souza Oliveira e osorientou a não mais solicitarem ao então Presidente da Casa de Leis o custeio decombustível para os seus veículos particulares por parte da Câmara Municipal.Segundo Luciano Braz de Araújo , o veículo da Câmara Municipal se encontraparado desde o mês de julho/2017.

Luciano Braz de Araújo, participante da associação criminosaorquestrada por Enoc David Tavares para o fim de desviar dinheiro público, por suavez, afirmou que o veículo pertencente à Câmara Municipal está com adocumentação irregular, e por isso nunca o utilizou, conforme declarações à fl. 224.Narrou o denunciado que empreendeu 03 (três) viagens a Goiânia, sob o argumentode estar a serviço do cargo, sendo que solicitou ao Presidente da Câmara Municipal,Enoc David Tavares autorização para abastecer seu veículo particular na conta do

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Legislativo Municipal, o que foi consentido, informando que os abastecimentos foramem torno de R$ 100,00 (cem reais), e R$ 120,00 (cento e vinte reais), ocorridos nasdatas de 10/04/2017, 23/05/2017 e 27/06/2017. Informa o denunciado Luciano Brazde Araújo que tomou conhecimento de que Enoc David Tavares estaria comproblemas com a aquisição irregular de combustível, de forma que conversou comseus colegas Silvadir Cândido da Mata e Rangel Ricardo de Souza Oliveira e osorientou a não mais solicitarem ao então Presidente da Casa de Leis o custeio decombustível para os seus veículos particulares por parte da Câmara Municipal.Segundo Luciano Braz de Araújo, o veículo da Câmara Municipal se encontraparado desde o mês de julho/2017.

Isamar Rodrigues da Costa, proprietário da empresa Isamar CentroAutomotivo, sediada nesta cidade, que realiza serviços de mecânica para veículosautomotores para a Câmara Municipal de Firminópolis, em conluio com Enoc DavidTavares, emitiu as Notas Fiscais acostadas às fls. 138, 141 e 145, nas quaisconstam omissão de dados, bem como inseriram declaração falsa, com o fim debeneficiar o então Presidente do Legislativo Municipal, tendo o próprio IsamarRodrigues da Costa afirmado às fls. 319/322, que os referidos documentos foramemitidos de próprio punho pelo mesmo, todavia, não retratam a verdade. Constamdos autos que o veículo pertencente à Câmara Municipal foi levado à empresa pelomotorista à época, José Caetano Gonçalves Neto, objetivando manutenção, sobautorização de Enoc David Tavares, extraindo-se que Isamar Rodrigues da Costasequer soube informar em quais datas o referido veículo foi levado para conserto.Afirmou Isamar Rodrigues da Costa que o veículo passou por consertos no iníciodo mês de julho/2017 e meados do mês de setembro/2017, omitindo os meses deagosto/2017, bem como outubro/2017 (mês em que o veículo da Câmara Municipalse encontrava sem uso, por falta de condições de trafegabilidade), demonstrando,dessa forma, que a manutenção não se destinou ao veículo do Legislativo Municipal.

Apontou Isamar Rodrigues da Costa que “tem o costume de realizar oconserto dos veículos para a Câmara Municipal e para a Prefeitura Municipal deFirminópolis, sendo que vai emitindo ‘requisições’, ou seja, documentos não fiscais, ondeinforma data, serviços, peças e gastos que a empresa tem para realização do conserto ereparos do veículo”. Ainda, declarou Isamar Rodrigues da Costa que “no final doconserto do veículo, existem várias ‘requisições’, onde o declarante coloca serviçosrealizados em outras empresas, tais como: serviço de torneadora, mão de obra, serviçode guincho, mototáxi, todas custeadas previamente pela empresa do declarante”.Ademais, narrou Isamar Rodrigues da Costa que das mencionadas “requisições”,constam peças adquiridas em outras empresas com a finalidade de serem usadasno veículo oficial, e que as mesmas foram custeadas pelo denunciado

Nas suas declarações, Isamar Rodrigues da Costa afirmou que “vaicolocando todas essas informações nos ditos documentos ‘requisições’”,fazendo juntar ao presente caderno investigativo documentos não fiscais (recibos,

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notas, etc), como sendo de serviços prestados à Câmara Municipal, à época sob agestão de Enoc David Tavares, reafirmando que a data da emissão das notasfiscais, bem como os produtos nelas lançados, não retratam a realidade, sendo queos mesmos também não são os que realmente foram utilizados no conserto doveículo da Câmara Municipal. Isamar Rodrigues da Costa declarou que entregou aEnoc David Tavares “as requisições” relativas aos consertos do veículo oficial. Emrelação à Nota Fiscal n. 5972 (fl. 145), no valor de R$ 677,50 (seiscentos e setenta esete reais e cinquenta centavos), Isamar Rodrigues da Costa afirmou que a dataconstante da mesma não se refere à data de aquisição das peças, mas sim, ao diaem que recebeu a primeira parcela pelo conserto do veículo, isso no mês desetembro/2017, asseverando que os produtos ali mencionados também não são osmesmos utilizados no conserto do veículo, estando relacionados na nota fiscal“apenas pro forma”, não conseguindo comprovar documentalmente os gastosrealizados para a manutenção do automóvel pertencente à Câmara Municipal,frisando, mais uma vez, os serviços efetuados por terceiros. Ademais, IsamarRodrigues da Costa informou que os documentos emitidos “por terceiros” pelosserviços prestados ao veículo oficial não são considerados notas fiscais (serviçode mototáxi para buscar peças em outras cidades, serviços de guincho e serviços detorno, etc), não servindo referidos documentos para comprovar gastos junto aosbalancetes da Câmara Municipal.

Recebidas as investigações, o Ministério Público, a fim de comprovar oesquema montado por Enoc David Tavares e Isamar Rodrigues da Costa, osquais desviaram dinheiro público para atender fins particulares, manifestou-se à fl.315, a fim de que os autos fossem baixados à Delegacia de Polícia, objetivando aoitiva de Isamar Rodrigues da Costa, e, indagado, afirmou que, em relação àstrocas de óleo para motor e filtro de óleo, constantes das notas fiscais emitidas, nãocorrespondem à realidade do conserto do veículo da Câmara Municipal, sendo queforam trocadas apenas uma vez, bem como que as demais foram lançadas nasnotas fiscais para comprovar gastos com outros serviços. Respondendo aoquestionamento acerca da nota fiscal emitida no mês de outubro/2017, afirmou quea data não corresponde à realidade para conserto ou aquisição de peças, sendoemitida para viabilizar o pagamento dos serviços, tendo o veículo oficial passado pormanutenção no mês de setembro/2017. Mais uma vez, Isamar Rodrigues da Costaafirmou que os produtos constantes nas notas fiscais não condizem com aquelesque realmente foram utilizados no conserto do carro pertencente à CâmaraMunicipal, demonstrando a sua participação no desvio de dinheiro público. Quantoao produto denominado óleo de filtro LX 960 , informou que “acredita” que sejapróprio para veículos de “linha leve”, ou seja, não é específico para máquinasagrícolas, Kombi ou caminhonete.

Em relação ao uso do veículo pertencente à Câmara Municipal deFirminópolis para fins particulares, José Caetano Gonçalves Neto, motorista daCâmara Municipal no ano de 2017, que, admitido pelo Município de Firminópolis em

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função comissionada, foi, a pedido de Enoc David Tavares, direcionado à CâmaraMunicipal, extrai-se que, nessa condição, o réu, aproveitando-se da funçãodesempenhada de motorista do Legislativo Municipal, por diversas vezes em finaisde semana, utilizou-se do veículo oficial da Câmara Municipal, abastecendo-o àscustas do Legislativo Municipal, para o fim de transportar jogadores de futebol dotime Firminópolis Esporte Clube para outras cidades, conforme afirma nas suasdeclarações às fls. 169/171. Narra José Caetano Gonçalves Neto que para odeslocamento do veículo da Câmara Municipal nos finais de semana, a fim detransportar os jogadores, ele próprio dirigia o automóvel, afirmando que também erajogador do time e utilizou-se do veículo oficial e do combustível pago com recursosfinanceiro da Câmara Municipal. Ou seja, José Caetano Gonçalves Neto fez docarro oficial pertencente à Câmara Municipal como se seu fosse, usando-o paraatender seus interesses particulares, tudo custeado com dinheiro dos cofrespúblicos.

Denota-se do conjunto probatório existente nos autos, período em queo veículo da Câmara Municipal ficou sem uso. Aliás, ao que tudo indica, referidoautomóvel ainda encontra-se parado na garagem da Câmara Municipal, em razão dafalta de condições de trafegabilidade. Mesmo parado o veículo do LegislativoMunicipal, constam das investigações a aquisição de combustíveis junto ao PostoMendes pela Câmara Municipal, nos meses julho/2017, final do mês desetembro/2017, outubro,2017, novembro/2017 e dezembro/2017, todavia, referidocombustível não foi utilizado no veículo oficial pertencente ao Legislativo Municipal,sendo usado para abastecer veículos particulares dos Vereadores Silvadir Cândidoda Mata, Rangel Ricardo de Souza Oliveira, Weliton Agapito dos Santos eLuciano Braz de Araújo, com a permissão de Enoc David Tavares, o qual era oordenador das despesas da Câmara Municipal em 2017, e autorizou os pedidos deabastecimento dos veículos particulares dos vereadores na conta da CâmaraMunicipal junto ao Posto Mendes Ltda, situado nesta cidade.

Os Conselheiros Tutelares (fls. 32/33, 35/36, 44/45, 47/48 e 55/56), osquais laboram na sede do Conselho Tutelar deste município, situada ao lado doprédio da Câmara Municipal, afirmaram que o veículo pertencente àquele órgão,durante toda a semana, encontra-se estacionado, ou seja, sem uso, inclusiveinformando o Conselheiro Tutelar Alpim Pereira Gomes Neto que o referidoautomóvel está parado na garagem do Legislativo Municipal desde o mês desetembro/2017, estando o mesmo com os pneus vazios, bem como está no localcom os vidros abertos, servido para moradia de animais. Inclusive, é importantedestacar que o veículo pertencente ao Conselho Tutelar desta cidade é estacionadona mesma garagem em que se encontra o automóvel pertencente à CâmaraMunicipal, ficando estacionado sempre atrás daquele, haja vista que o mesmo não éusado há vários meses.

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Conforme Notas Fiscais abaixo discriminadas (fls. 69, 71, 72, 74 e 75),verifica-se o consumo de combustível pela Câmara Municipal, mesmo encontrando-se o veículo oficial sem uso:

NOTA FISCAL DATA EMPRESA VALOR

000.003.414 19/07/2017 AUTO POSTO MENDES LTDA R$ 2.193,00

000.003.493 20/09/2017 AUTO POSTO MENDES LTDA R$ 1.896,00

000.003.537 20/10/2017 AUTO POSTO MENDES LTDA R$ 1.905,00

000.003.576 20/11/2017 AUTO POSTO MENDES LTDA R$ 2.582,00

000.003.624 20/12/2017 AUTO POSTO MENDES LTDA R$ 2.188,00

TOTAL R$ 10.764,00

Outro dado que corrobora o uso de abastecimento em nome daCâmara Municipal, mesmo encontrando-se o veículo oficial sem condições de uso,haja vista estar a sua documentação toda irregular, inclusive com pendências demultas de trânsito, bem como estragado, trata-se da relação de quilometragem deveículo no período de 1º/06/2017 a 30/06/2017, bem assim Relatório de Controle deVeículos, de 1º/07/2017 a 31/07/2017 (período de recesso legislativo, conformedeclarações do motorista da Câmara Municipal, Sr. José Caetano Gonçalves Netoàs fls. 169/171, afirmando que não usou o carro do Legislativo Municipal, e quedeixou o veículo e as chaves nas dependências do prédio daquele órgão), o qual seencontra acostado às fls. 111/112. Informou o atual Presidente da Câmara Municipalde Firminópolis, Sr. Ivan Pereira da Silva, que a Casa de Leis ficou de recesso noperíodo de 19/12/2016 a 31/01/2017, 1º/07/2017 a 31/07/2017, e 15/12/2017 a31/01/2017 (fls. 157/159), tendo sido, inclusive dispensados os servidores efetivosno intervalo mencionado.

Depreende-se, outrossim, que mesmo estando o veículo pertencente àCâmara Municipal impossibilitado de ser usado, o mesmo ficou à disposição daSecretaria Municipal de Saúde no intervalo de 09/08/2017 a 15/09/2017 (fls. 286 e194/195), sendo o combustível utilizado no automóvel custeado pela CâmaraMunicipal.

Confirmando o grave desmando para com o bem público, observa-sedos autos que o veículo do Legislativo Municipal foi usado, em finais de semana,para transportar jogadores de futebol para outros municípios, consoante declaraçõesdo motorista da Câmara Municipal às fls. 169/171, o réu José C aetano GonçalvesNeto, oportunidade em que afirmou que ele próprio também é jogador de futebol,sendo que o mesmo era quem dirigia o automóvel, e que o mesmo era abastecidoàs expensas da Câmara Municipal. Indagado acerca da possível solicitação doveículo da Casa de Leis pela Secretaria Municipal de Esportes, o Sr. Sinval PereiraGomes, Diretor de Esportes (fl. 285), afirmou não ter conhecimento sobre a

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utilização do mesmo pela referida Secretaria, aduzindo que quando necessitam deveículos para o transporte de jogadores, são necessários automóveis maiores, comoônibus ou van. Dessa forma, extrai-se a apropriação de combustível custeado peloPoder Legislativo Municipal, durante a Presidência de Enoc David Tavares, o qual,em esquema engendrado com Silvadir Cândido da Mata, Rangel Ricardo deSouza Oliveira, Weliton Agapito dos Santos e Luciano Braz de Araújo,apropriaram-se de dinheiro dos cofres públicos da Câmara Municipal.

Compulsando os autos, denota-se que a ficha técnica para veículoscom a mesma característica do pertencente à Câmara Municipal, apresentaautonomia de consumo na cidade: gasolina – 13,8 km/l, e etanol – 9,8 km/l; estrada:gasolina – 18,5 km/l, e etanol – 12,2 km/l (fls. 174/179).

O Laudo de Exame de Perícia Criminal – Vistoria em Veículo (fls.181/190), apresenta a seguinte conclusão, demonstrando que o automóvel daCâmara Municipal não possuía condições de trafegar:

• Sujidades representadas predominantemente por impregnação porpoeira na lataria, nos vidros e nos pneumáticos, e por teias dearanhas nos pneumáticos;

• Quilometragem total do veículo correspondente a 282.411 km;

• Porta-luvas exposto sobre o assoalho anterior direito, impregnadopor poeira, contendo documentações diversas e Certificado deRegistro e Licenciamento do Veículo – CRLV correspondente aoexercício do ano de 2007;

• Presença de materiais dispersos sobre o assoalho do porta-malas,tais como cobertores, travesseiro, sacola e, dentro da mesma, chavede roda e placas de licenciamento do veículo;

• Terminais de bateria desconectados;

• Pneumático sobressalente e anterior direito emurchecido;

• Pneumáticos com sulcos em profundidade, sendo que o anterior eposterior direitos apresentavam-se mais desgastados quandocomparados aos pneumáticos do lado esquerdo do veículo;

• Tampa do tanque de combustível danificada.

Portanto, concluiu a perícia que o automóvel pertencente à CâmaraMunicipal apresentava-se em estado de conservação considerado ruim, bem como apresença de impregnação por poeira, inclusive no lado externo do teto, teias dearanha, pneumáticos direito anterior e sobressalente emurchecidos e terminais dabateria desconectados, juntamente com as tentativas frustradas de ligar paramovimentar o veículo, são compatíveis com a ausência de deslocamento por umperíodo de tempo. Ainda, o licenciamento presente no interior do veículocorresponde ao ano de 2007 e, conforme pesquisada realizada no sitewww.ssp.go.gov.br/mportal, trata-se do último. Realizada busca no site

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www.detran.go.gov.br verificou-se que o veículo apresenta débitos relacionados aolicenciamento desde o ano de 2013. Observou-se, também que existem 21 (vinte eum) débitos relacionados a infrações, totalizando R$ 3.341,28 (três mil, trezentos equarenta e um reais e vinte e oito centavos), com datas de autuação iniciando-se noano de 2007 e finalizando-se no ano de 2009. Nos quesitos, constou que foi possívelverificar-se que o veículo não se encontrava em condições de trafegabilidade.

Evidenciou-se, portanto, em relação ao esquema montado por EnocDavid Tavares, que o combustível custeado pela Câmara Municipal nos meses dejulho/2017, parte do mês de setembro/2017, outubro/2017, novembro/2017 edezembro/2017 não foi utilizado no veículo do Legislativo Municipal ou a serviço doPoder Público, tendo Enoc David Tavares, Silvadir Cândido da Mata, RangelRicardo de Souza Oliveira, Weliton Agapito dos Santos e Luciano Braz deAraújo se apropriado dos valores em proveito próprio, pois Enoc David Tavares erao ordenador de despesas à época, e assim, beneficiou os réus/vereadores, os quaisse apropriaram do dinheiro público para fins particulares. Enoc David Tavarespermitiu que os vereadores acima mencionados abastecessem por conta da CâmaraMunicipal seus veículos particulares, totalizando um prejuízo aos cofres públicos nomontante de R$ 10.764,00 (dez mil, setecentos e sessenta e quatro reais).

Enoc David Tavares, para conseguir transmitir as contas da CâmaraMunicipal de Firminópolis ao Tribunal de Contas do Município – TCM, exigiu doContador responsável pelos serviços do órgão, que fossem elaboradas planilhas dedeslocamento do veículo constando informações divergentes da realidade(documentos encartados às fls. 111/122). O próprio Contador da Câmara Municipal(fls. 218/219), afirmou que constatou que não existia o controle da aquisição decombustíveis, sem o que era impossível fechar os balancetes. Então, o Contadorrepassou a Enoc David Tavares uma planilha a ser preenchida pelo motorista daCâmara Municipal, com a finalidade de exercer o controle sobre os abastecimentos,não tendo recebido o referido documento contendo os dados solicitados. Ao procurarEnoc David Tavares, este afirmou que não havia efetuado o controle deabastecimentos do veículo oficial, e determinou verbalmente ao Contador que“resolvesse o problema”, ou seja, que preenchesse por conta própria as planilhas,denotando-se do relatório de controle de veículo (fls. 119/122), referentes aosperíodos de 01/11/2017 a 30/11/2017, e 01/12/2017 a 30/12/2017, constando dasmesmas que foram utilizadas datas de saída e chegada coincidentes para os mesesde novembro/2017 e dezembro/2017, com mesmos horários de saída e chegada,denotando-se que, mesmo sendo períodos diferentes, as datas e horários em que oveículo da Câmara Municipal foi utilizado são os mesmos, mudando-se apenasalguns destinos. Ou seja, na mesma data (para meses diversos), constam horáriosde saída e chegada idênticos, com alguns destinos diferentes, bem comoquilometragem também diferentes, extraindo-se que é impossível que um mesmoveículo se desloque nas mesmas datas e horários para destinos diversos, o que

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comprova que as planilhas foram “fabricadas” no intuito de comprovar o uso doveículo oficial.

Portanto, Enoc David Tavares, juntamente com os réus SilvadirCândido da Mata, Rangel Ricardo de Souza Oliveira, Weliton Agapito dosSantos, Luciano Braz de Araújo e Isamar Rodrigues da Costa, consoante asinvestigações empreendidas, se apropriaram de dinheiro dos cofres públicos, emproveito próprio e alheio. De igual modo, o requerido José Caetano GonçalvesNeto, motorista da Câmara Municipal, que utilizou o veículo oficial, abastecido àscustas do Legislativo Municipal, para atender interesses particulares.

Ademais, extrai-se dos autos (fls. 111/222), planilhas que informamviagens a Brasília/DF, constando que a viagem perdurou por 2 (dois) dias, saindo emum dia e retornando apenas no dia seguinte, configurando mais uma fraude, umavez que o motorista da Câmara Municipal afirmou que quando ia àquela cidadesempre retornava no mesmo dia, não sendo necessário pernoitar (fl. 220),denotando-se que os documentos carreados aos autos comprovam que foramcriados exclusivamente para alterar a verdade dos fatos, na tentativa de beneficiar oentão Presidente da Câmara Municipal, Enoc David Tavares.

Na planilha à fl. 122 (apurada no período de 1º/12/2017 a 30/12/2017),consta a quilometragem do veículo pertencente à Câmara Municipal, totalizando146.436 quilômetros rodados (30/11/2017), ao passo que, no Laudo de Exame dePerícia Criminal – Vistoria em Veículo (fls. 181/190), apurou-se a quilometragemde 282.411 quilômetros rodados (09/02/2018), extraindo-se que, no intervalo deaproximadamente 02 (dois meses), o veículo oficial do Legislativo Municipalteria percorrido 136.195 km.

Consta, também, na planilha de fl. 111, que o veículo da CâmaraMunicipal foi conduzido pelos vereadores Roberto Celestino Caetano e Ivan Pereirada Silva, em viagens realizadas no mês de junho/2017, ao que estes negaram autilização do referido automóvel (fls. 38/39 e 165/167), inclusive tendo o vereadorRoberto Celestino Caetano informado que não é habilitado para conduzir veículosautomotores de passeio, possuindo CNH categoria “A”, a qual lhe permite conduzirapenas motocicletas. Assim, Enoc David Tavares montou as planilhas de forma afraudar a utilização de combustíveis pela Câmara Municipal, não correspondente osdocumentos apresentados à verdade dos fatos, com o intuito de se apropriar deverbas da Câmara Municipal.

Isamar Rodrigues da Costa, de igual forma, falsificou as notas fiscaisacostadas às fls. 138, 141 e 145, nas quais constam informações inverídicas, o qualinseriu nas mesmas declarações falsas, com o fim de desviar dinheiro dos cofrespúblicos e beneficiar Enoc David Tavares. O próprio Isamar Rodrigues da Costaafirmou que as notas fiscais foram emitidas por ele, e que não retratam a verdade.Inclusive, relatou que tem o costume de realizar o conserto do veículo da CâmaraMunicipal, sendo que emite “requisições”, ou seja, “documentos não fiscais”, fazendo

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constar das mesmas, inclusive “serviços realizados em outras empresas, tais como:serviço de torneadora, mão de obra, serviço de guincho, mototáxi”. Também, IsamarRodrigues da Costa afirmou que “vai colocando todas essas informações nos ditosdocumentos ‘requisições’”, como sendo de serviços prestados à Câmara Municipal,à época sob a gestão de Enoc David Tavares, reafirmando que a data da emissãodas notas fiscais, bem como os produtos nelas lançados, não retratam a realidade,sendo que os mesmos também não são os que realmente foram utilizados noconserto do veículo da Câmara Municipal.

Por fim, baixado os autos à Autoridade Policial para oitiva de IsamarRodrigues da Costa, afirmou que, em relação às trocas de óleo para motor e filtrode óleo, constantes das notas fiscais emitidas, não correspondem à realidade doconserto do veículo da Câmara Municipal, sendo que foram trocadas apenas umavez, bem como que as demais foram lançadas nas notas fiscais para comprovargastos com outros serviços. Respondendo ao questionamento acerca da nota fiscalemitida no mês de outubro/2017, afirmou que a data não corresponde à realidadepara conserto ou aquisição de peças, sendo emitida para viabilizar o pagamento dosserviços, tendo o veículo oficial passado por manutenção no mês de setembro/2017.Mais uma vez, Isamar Rodrigues da Costa afirmou que os produtos constantes nasnotas fiscais não condizem com aqueles que realmente foram utilizados no consertodo carro pertencente à Câmara Municipal, demonstrando a sua participação noesquema para dilapidar os cofres públicos.

A fraude à licitação (Lei de Licitações n. 8.666/93), está caracterizada,consoante provam os documentos anexados aos autos. Enoc David Tavaresdispensou licitação fora das hipóteses previstas na Lei n. 8.666/93, relativas àaquisição de combustíveis pela Câmara Municipal, verificando-se que durante o anode 2017 houve gasto na importância de 25.157,00 (vinte e cinco mil, cento ecinquenta e sete reais), valor superior ao discriminado na Lei para a dispensa doprocesso licitatório, conforme documentos às fls. 77/110.

As investigações apontaram que o valor foi fracionado, caracterizandofraude à licitação para aquisição de combustíveis pelo Legislativo Municipal,inferindo-se que a Lei n. 8.666/93 menciona que o valor permitido para a dispensada licitação é de R$ 8.000,00 (oito mil reais). Compulsando os autos, extrai-se queEnoc David Tavares, então Presidente da Câmara Municipal e ordenador dedespesas, fracionou as compras de combustíveis, de forma a demonstrar que foramrealizados contratos individuais, ou seja, um contrato por mês, como forma de burlara exigência da licitação.

De tudo o que foi exposto, é inconteste que os requeridos Enoc DavidTavares, Silvadir Cândido da Mata, Rangel Ricardo de Souza Oliveira, WelitonAgapito dos Santos, Luciano Braz de Araújo, Isamar Rodrigues da Costa, eJosé Caetano Gonçalves Neto, com o objetivo de atender interesses particulares,dilapidaram o patrimônio público, apropriando-se e beneficiando-se de dinheiro da

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Câmara Municipal com objetivos unicamente particulares, configurando a condutados réus atitude reprovável, não demonstrando qualquer atenção ao interessepúblico. Aliás, para os requeridos, 5 (cinco) deles vereadores, outro, motorista daCâmara Municipal, ocupantes, portanto, de funções públicas, o atingimento dosinteresses particulares vem em primeiro lugar. Ou seja, o uso de verba pública parafins particulares demonstrou que os réus primam em prestigiar determinada pessoa,em detrimento do interesse público, caracterizando o ato ímprobo. Tão grave quanto,foi a dispensa de licitação para a contratação de combustíveis para a CâmaraMunicipal, na gestão do então Chefe do Legislativo Municipal, Enoc David Tavares.O detentor de função pública deve realizar suas condutas sempre zelando pelosinteresses da sociedade. Isamar Rodrigues da Costa, empresário com atividadenesta cidade de Firminópolis, e também aqui residente, deveria ser o primeiro azelar pelo emprego correto do dinheiro público, pois referidas verbas devem serutilizadas em benefício do povo, e não para prestigiar determinadas pessoas. Nãofoi o que aconteceu. Juntamente com Enoc David Tavares, participou do esquemamontado para desviar dinheiro da Câmara Municipal.

Por fim, em se constatando grave violação aos princípiosconstitucionais, especialmente o previsto no artigo 37 da Constituição Federal, ecotejando os fatos acima expostos, impõe-se sejam os agentes públicos e oparticular acionados na improbidade administrativa, bem como nas Obrigaçõesde Não Fazer, nas condições adiante demonstradas.

Relatados os fatos ensejadores da ação, seguem as razões jurídicas.

DAS CONDIÇÕES DA AÇÃO

DA LEGITIMIDADE DAS PARTES

A legitimidade do Ministério Público para promover ação civil públicaem defesa de interesses coletivos é indeclinável, nos exatos termos dos dispositivoslocalizados nos artigos 127 e 129, inciso III, da Constituição Federal. Por via deconsequência, dentre esses interesses coletivos, é fácil de se perceber os prejuízossofridos pela comunidade firminopolina quando ocorrem desvios de dinheiro doscofres públicos.

Assim, ao Ministério Público, como guardião da defesa da ordemjurídica e dos interesses indisponíveis da sociedade, compete, portanto, zelar pelafiel observância da Constituição e das leis, defendendo os interesses meta-individuais, sendo o detentor de legitimidade para referida defesa, diante dos atosímprobos praticados pelos réus Enoc David Tavares, Silvadir Cândido da Mata,Rangel Ricardo de Souza Oliveira, Weliton Agapito dos Santos, Luciano Brazde Araújo, Isamar Rodrigues da Costa, e José Caetano Gonçalves Neto.

Em acréscimo, o artigo 25, IV, “a”, da Lei n. 8.625/93 (LONMP),incumbe ao Ministério Público:

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Art. 25. (...)

IV – promover o inquérito civil e a ação civil pública, na forma da lei:

a) para a proteção, prevenção e reparação dos danos causados aomeio ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valorartístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, e a outrosinteresses difusos, coletivos e individuais indisponíveis ehomogêneos;

(...).

Não bastasse, a legislação infraconstitucional atinente à matéria,especificamente por intermédio do artigo 5º, da Lei 7.347/85, e artigo 46, VI, da LeiComplementar n. 25/98, reforça e regulamenta o dispositivo constitucional, tornandoinquestionável a legitimidade ativa ad causam do órgão Ministerial para a presenteação.

Destarte, é ponto pacífico a legitimidade ativa do Ministério Públicopara propor esta ação civil pública por ato de improbidade administrativa.

Sobre o tema, colaciono o julgado abaixo:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA PORIMPROBIDADE ADMINISTRATIVA - LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIOPÚBLICO - INÉPCIA DA INICIAL - INOCORRÊNCIA - PREJUÍZOCAUSADO AO ERÁRIO MUNICIPAL - AGENTES POLÍTICOS -SENTENÇA CONFIRMADA. Constitui ato de improbidadeadministrativa que atenta contra os princípios da administraçãopública qualquer ação ou omissão que viole os deveres dehonestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade. O MinistérioPúblico tem legitimidade para propor ação civil pública em defesado patrimônio público, visando o ressarcimento de possível danoao erário. Restando comprovado que as notas de empenho foramefetivamente pagas e que as mercadorias nunca foram entregues,verifica-se que houve a conduta dolosa, sendo visível o dano aoerário, devendo ser efetuado o ressarcimento aos cofres públicos.Se a conduta do agente destoa da previsão legal a que estáadstrito, caracterizar-se-á a ilicitude da conduta e advirá anecessidade de sua responsabilização. Se presente a condutaímproba, observados os princípios da proporcionalidade e darazoabilidade, devem ser mantidas as sanções impostas.

A C Ó R D Ã O: Vistos etc., acorda, em Turma, a 1ª CÂMARA CÍVEL doTribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade daata dos julgamentos em negaram provimento aos recursos.

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(APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0543.07.000385-9/002 - COMARCA DERESPLENDOR - Data da Publicação: 08/05/2014). (Original semgrifos).

Relativamente ao polo passivo da presente ação, temos que também éocupado por partes legítimas.

O dolo dos requeridos está demonstrado por meio das suas condutas,eis que contrariamente ao previsto legalmente e ignorando totalmente os princípiosregentes da Administração Pública, utilizaram-se de bens públicos em proveitopróprio, importando em atos de enriquecimento ilícito, atos que causaram prejuízoao Erário, bem como aqueles que atentam contra os princípios da AdministraçãoPública. Os réus Enoc David Tavares, Silvadir Cândido da Mata, Rangel Ricardode Souza Oliveira, Weliton Agapito dos Santos, Luciano Braz de Araújo, IsamarRodrigues da Costa, e José Caetano Gonçalves Neto, conforme comprovado,desviaram recursos financeiros da Câmara Municipal no próprio interesse. EnocDavid Tavares, além de se beneficiar de dinheiro da Câmara Municipal, beneficiouos réus Silvadir Cândido da Mata, Rangel Ricardo de Souza Oliveira, WelitonAgapito dos Santos, Luciano Braz de Araújo, permitindo que os mesmosabastecessem seus veículos particulares às custas da Câmara Municipal. Ainda,montou fraudulentamente as planilhas de controle de abastecimento do veículo doLegislativo Municipal, na tentativa de comprovar que o automóvel foi usado, o quenão é verdade, haja vista que estava sem condições de trafegabilidade, sem uso.Juntamente com Isamar Rodrigues da Costa criou um esquema de manutenção doveículo oficial, sendo que, os documentos apresentados pelos réus demonstram quenão correspondem à realidade, sendo fabricados para o desvio de dinheiro doscofres públicos. Não bastassem tais desmandos com a coisa pública, Enoc DavidTavares dispensou a licitação para aquisição de combustíveis para a CâmaraMunicipal durante o ano de 2017. José Caetano Gonçalves Neto, por sua vez,utilizou-se do veículo oficial, abastecido com dinheiro público, para empreenderviagens meramente particulares, a fim de participar de jogos de futebol em outrosmunicípios.

Ante o exposto, é tranquila a constatação de que os réuslegitimamente figuram no polo passivo da presente demanda, ante as suas condutasímprobas praticadas, em prejuízo do erário.

Hely Lopes Meirelles, assim expressou em sua obra DireitoAdministrativo Brasileiro sobre a Legalidade:

“A legalidade, como princípio de administração (CF. art.37, caput ),significa que o administrador público está, em toda sua atividadefuncional, sujeito aos mandamentos da Lei e às exigências do bemcomum, e deles não pode afastar ou desviar, sob pena de praticarato inválido e expor-se a responsabilidade disciplinar, civil e

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criminal, conforme o caso. A eficácia de toda atividadeadministrativa está condicionada ao atendimento da Lei. Naadministração Pública não há liberdade nem vontade pessoal.Enquanto na administração particular é lícito fazer tudo que a leinão proíbe, na Administração Pública só é permitido fazer o que alei autoriza” (Direito Administrativo Brasileiro, Editora Revista dosTribunais, São Paulo, 18.ª edição, 1993, p. 82). (Original semgrifos).

Afinal, em se verificando que os requeridos utilizaram-se de bempúblico para fins particulares, falsificaram documentos com o fim de apropriarem-sede dinheiro da Câmara Municipal, bem como ocorreu dispensa de licitação fora daprevisão normativa, incorreram na prática de atos ímprobos, e, portanto, devem sercondenados nos termos da Lei n. 8.429/92, bem como nas Obrigações de NãoFazer, consistente em não mais, seja no cargo de Presidente do LegislativoMunicipal, seja como vereador, ceder/autorizar ou usar veículos pertencentes àCâmara Municipal para beneficiar determinadas pessoas, para uso pessoal, oumesmo permitir o abastecimento de veículos particulares dos vereadores, impondo-se um rígido controle no uso do veículo do Legislativo Municipal.

Em se verificando tais irregularidades, incidiram os réus nos atos deimprobidade administrativa, nos termos da Lei n. 8.429/92.

Deste modo, em sendo incontroverso que os réus praticaram atos queafrontam a Constituição Federal, posto que suas condutas caraterizaram violaçãoaos princípios da Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade,Eficiência, Economicidade e Razoabilidade, bem como o completo desprezo aoprevisto no artigo 37 da Constituição Federal:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dosPoderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dosMunicípios obedecerá aos princípios de legalidade,impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,ao seguinte:

A questão em tela é o exemplo mais claro do abuso praticado emdesfavor do contribuinte e de todos os cidadãos, notadamente daqueles quediariamente tem de enfrentar longos percursos a pé e de bicicleta, ou outrosmeios de transporte, sem qualquer regalia ou mordomia semelhante.

A Professora Maria Sylvia Zarella di Pietro tece considerações queguardam estreita relação com as ilicitudes aqui impugnadas. A sua lição sobre otema merece destaque:

"Não é preciso penetrar na intenção do agente, porque do próprioobjeto resulta a imoralidade. Isto ocorre quando o conteúdo de

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determinado ato contrariar o senso comum de honestidade,retidão, equilíbrio, justiça, respeito à dignidade do ser humano, àboa fé, ao trabalho, à ética das instituições. A moralidade exigeproporcionalidade entre os meios e os fins a atingir, entre ossacrifícios impostos à coletividade e os benefícios por elaauferidos; entre as vantagens usufruídas pelas autoridadespúblicas e os encargos impostos à maioria dos cidadãos.

Por isso mesmo, a imoralidade salta aos olhos quando aAdministração Pública é pródiga em despesas legais, poréminúteis, como propaganda e mordomia, quando a populaçãoprecisa de assistência médica, alimentação, moradia, segurança,educação, isso sem falar no mínimo indispensável à existênciadigna.

Não é preciso, para invalidar despesas deste tipo, entrar na difícilanálise dos fins que inspiraram a autoridade; o ato em si, o seuobjeto, o seu conteúdo contraria a ética da instituição, afronta anorma de conduta aceita como legítima pela coletividadeadministrativa." (Original sem grifos).

Logo, não resta dúvida quanto ao preenchimento do requisito dalegitimidade passiva ad causam, diante da caracterização do dolo por parte dos réus,os quais praticaram improbidade administrativa, desviando o dinheiro público parasatisfazer interesses particulares.

DA CONFIGURAÇÃO DOS ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA/ OFENSA AOSPRINCÍPIOS DA LEGALIDADE, IMPESSOLALIDADE, MORALIDADE, EFICIÊNCIA,PUBLICIDADE, ECONOMICIDADE E RAZOABILIDADE

A Constituição Federal, no artigo 37, preceitua:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dosPoderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dosMunicípios obedecerá aos princípios de legalidade,impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, aoseguinte:

De outra banda, a Lei n. 8.429/92 cuidou de especificar três categoriasde atos de improbidade administrativa, quais sejam, os que importamenriquecimento ilícito, os que causam prejuízo ao erário e aqueles que atentamcontra os princípios da Administração Pública.

Sobre as categorias de atos ímprobos, dispõem os artigos 9, 10 e 11, doreferido Diploma Legal:

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Dos Atos de Improbidade Administrativa que ImportamEnriquecimento Ilícito

Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa importandoenriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagempatrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato,função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art.1° desta lei, e notadamente:

I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel,ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indireta, a títulode comissão, percentagem, gratificação ou presente de quemtenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido ouamparado por ação ou omissão decorrente das atribuições doagente público;

II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitara aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou acontratação de serviços pelas entidades referidas no art. 1° porpreço superior ao valor de mercado;

III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitara alienação, permuta ou locação de bem público ou o fornecimentode serviço por ente estatal por preço inferior ao valor de mercado;

IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas,equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedadeou à disposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1°desta lei, bem como o trabalho de servidores públicos,empregados ou terceiros contratados por essas entidades;

V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ouindireta, para tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar, delenocínio, de narcotráfico, de contrabando, de usura ou dequalquer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de talvantagem;

VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ouindireta, para fazer declaração falsa sobre medição ou avaliaçãoem obras públicas ou qualquer outro serviço, ou sobre quantidade,peso, medida, qualidade ou característica de mercadorias ou bensfornecidos a qualquer das entidades mencionadas no art. 1º destalei;

VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato,

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cargo, emprego ou função pública, bens de qualquer natureza cujovalor seja desproporcional à evolução do patrimônio ou à renda doagente público;

VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade deconsultoria ou assessoramento para pessoa física ou jurídica quetenha interesse suscetível de ser atingido ou amparado por açãoou omissão decorrente das atribuições do agente público, durantea atividade;

IX - perceber vantagem econômica para intermediar a liberação ouaplicação de verba pública de qualquer natureza;

X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ouindiretamente, para omitir ato de ofício, providência ou declaraçãoa que esteja obrigado;

XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens,rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial dasentidades mencionadas no art. 1° desta lei;

XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valoresintegrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas noart. 1° desta lei.

Dos Atos de Improbidade Administrativa que Causam Prejuízo aoErário

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causalesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, queenseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamentoou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas noart. 1º desta lei, e notadamente:

I - facilitar ou concorrer por qualquer forma para a incorporaçãoao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de bens,rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial dasentidades mencionadas no art. 1º desta lei;

II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privadautilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervopatrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem aobservância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveisà espécie;

III - doar à pessoa física ou jurídica bem como ao entedespersonalizado, ainda que de fins educativos ou assistências,

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bens, rendas, verbas ou valores do patrimônio de qualquer dasentidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem observância dasformalidades legais e regulamentares aplicáveis à espécie;

IV - permitir ou facilitar a alienação, permuta ou locação de bemintegrante do patrimônio de qualquer das entidades referidas noart. 1º desta lei, ou ainda a prestação de serviço por parte delas, porpreço inferior ao de mercado;

V - permitir ou facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem ouserviço por preço superior ao de mercado;

VI - realizar operação financeira sem observância das normas legaise regulamentares ou aceitar garantia insuficiente ou inidônea;

VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a observânciadas formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;

VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processoseletivo para celebração de parcerias com entidades sem finslucrativos, ou dispensá-los indevidamente; (Redação dada pela Leinº 13.019, de 2014);

IX - ordenar ou permitir a realização de despesas não autorizadasem lei ou regulamento;

X - agir negligentemente na arrecadação de tributo ou renda, bemcomo no que diz respeito à conservação do patrimônio público;

XI - liberar verba pública sem a estrita observância das normaspertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicaçãoirregular;

XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueçailicitamente;

XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular,veículos, máquinas, equipamentos ou material de qualquernatureza, de propriedade ou à disposição de qualquer dasentidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalhode servidor público, empregados ou terceiros contratados poressas entidades.

XIV – celebrar contrato ou outro instrumento que tenha por objetoa prestação de serviços públicos por meio da gestão associada semobservar as formalidades previstas na lei; (Incluído pela Lei nº11.107, de 2005)

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XV – celebrar contrato de rateio de consórcio público semsuficiente e prévia dotação orçamentária, ou sem observar asformalidades previstas na lei. (Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005)

XVI - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para aincorporação, ao patrimônio particular de pessoa física ou jurídica,de bens, rendas, verbas ou valores públicos transferidos pelaadministração pública a entidades privadas mediante celebraçãode parcerias, sem a observância das formalidades legais ouregulamentares aplicáveis à espécie;(Incluído pela Lei nº 13.019, de2014)

XVII - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídicaprivada utilize bens, rendas, verbas ou valores públicostransferidos pela administração pública a entidade privadamediante celebração de parcerias, sem a observância dasformalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;(Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014)

XVIII - celebrar parcerias da administração pública com entidadesprivadas sem a observância das formalidades legais ouregulamentares aplicáveis à espécie; (Incluído pela Lei nº 13.019, de2014)

XIX - agir negligentemente na celebração, fiscalização e análise dasprestações de contas de parcerias firmadas pela administraçãopública com entidades privadas; (Incluído pela Lei nº 13.019, de2014)

XX - liberar recursos de parcerias firmadas pela administraçãopública com entidades privadas sem a estrita observância dasnormas pertinentes ou influir de qualquer forma para a suaaplicação irregular. (Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014)

XXI - liberar recursos de parcerias firmadas pela administraçãopública com entidades privadas sem a estrita observância dasnormas pertinentes ou influir de qualquer forma para a suaaplicação irregular.(Incluído pela Lei nº 13.019, de 2014).

Dos Atos de Improbidade Administrativa que Atentam Contra osPrincípios da Administração Pública

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atentacontra os princípios da administração pública qualquer ação ou

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omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade,legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:

I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento oudiverso daquele previsto, na regra de competência;

II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;

III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão dasatribuições e que deva permanecer em segredo;

IV - negar publicidade aos atos oficiais;

V - frustrar a licitude de concurso público;

VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo;

VII - revelar ou permitir que chegue ao conhecimento de terceiro,antes da respectiva divulgação oficial, teor de medida política oueconômica capaz de afetar o preço de mercadoria, bem ou serviço.

VIII - descumprir as normas relativas à celebração, fiscalização eaprovação de contas de parcerias firmadas pela administraçãopública com entidades privadas. (Redação dada pela Lei nº 13.019,de 2014)

IX - deixar de cumprir a exigência de requisitos de acessibilidadeprevistos na legislação. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)

Quanto às sanções cabíveis ao caso, a Lei n. 8.429/92, assim dispõe:

Das Penas

Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis eadministrativas previstas na legislação específica, está oresponsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintescominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente,de acordo com a gravidade do fato:

I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidosilicitamente ao patrimônio, ressarcimento integral do dano,quando houver, perda da função pública, suspensão dos direitospolíticos de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até trêsvezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratarcom o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais oucreditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio depessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dezanos;

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II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perdados bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, seconcorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensãodos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multacivil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratarcom o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais oucreditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio depessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cincoanos;

III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, sehouver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticosde três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes ovalor da remuneração percebida pelo agente e proibição decontratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivosfiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que porintermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, peloprazo de três anos.

Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta lei o juizlevará em conta a extensão do dano causado, assim como oproveito patrimonial obtido pelo agente.

Ao contrário dos particulares, os quais podem fazer tudo que a lei nãoproíbe, a Administração só pode fazer o que a lei antecipadamente autorize. Donde,administrar é prover aos interesses públicos, assim caracterizados em lei, fazendo-ona conformidade dos meios e formas nela estabelecidos ou particularizadossegundo suas disposições.

A confirmação da malversação do bem público ocorre através dorobusto conjunto probatório existente nos autos, em que restou comprovados osatos ímprobos praticados pelos réus, anteriormente discriminados. Destaque-se quea dilapidação do patrimônio público foi praticada em conluio entre Enoc DavidTavares, Silvadir Cândido da Mata, Rangel Ricardo de Souza Oliveira, WelitonAgapito dos Santos, Luciano Braz de Araújo, Isamar Rodrigues da Costa, eJosé Caetano Gonçalves Neto. Todos se beneficiaram do esquema, auferindovantagens financeiras em prejuízo dos cofres públicos.

De acordo com Fredie Didier, os direitos difusos são aquelespertencentes a uma coletividade, de natureza indivisível (só podem serconsiderados como um todo), e cujos titulares sejam pessoas indeterminadas(impossibilidade de determinação dos sujeitos), ligadas por circunstâncias de fato.

Temos nesta Ação, a violação aos princípios basilares daAdministração Pública, verificando-se o desvio de recursos financeiros da Câmara

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Municipal, apropriando-se os réus de dinheiro do erário. Enoc David Tavares crioudocumentos na tentativa de comprovar os gastos com combustíveis em relação aoveículo oficial. Pior é a constatação de que, mesmo o automóvel pertencente aoLegislativo Municipal estar parado, sem condições de uso, ocorreu gastos com omesmo, seja com abastecimentos, seja com sua manutenção. Ainda, Enoc DavidTavares autorizou os vereadores Silvadir Cândido da Mata, Rangel Ricardo deSouza Oliveira, Weliton Agapito dos Santos, Luciano Braz de Araújo aabastecerem seus veículos particulares na conta da Câmara Municipal junto aoPosto Mendes, situado nesta cidade. Não satisfeito, juntamente com IsamarRodrigues da Costa, montou uma forma de justificar a manutenção do veículo daCâmara Municipal, haja vista que, o próprio Isamar Rodrigues da Costa afirmouque o veículo passou por consertos no início do mês de julho/2017 e meados domês de setembro/2017, omitindo os meses de agosto/2017, bem como outubro/2017(mês em que o veículo da Câmara Municipal se encontrava sem uso, por falta decondições de trafegabilidade), demonstrando, dessa forma, que a manutenção nãose destinou ao veículo do Legislativo Municipal. Também, Isamar Rodrigues daCosta disse que “tem o costume de realizar o conserto dos veículos para a CâmaraMunicipal e para a Prefeitura Municipal de Firminópolis, sendo que vai emitindo‘requisições’, ou seja, documentos não fiscais, onde informa data, serviços, peças egastos que a empresa tem para realização do conserto e reparos do veículo”. Ainda,declarou Isamar Rodrigues da Costa que “no final do conserto do veículo, existemvárias ‘requisições’, onde o declarante coloca serviços realizados em outras empresas,tais como: serviço de torneadora, mão de obra, serviço de guincho, mototáxi, todascusteadas previamente pela empresa do declarante”. Ao que tudo indica, parece nãoter fim o esquema montado por Enoc David Tavares, haja vista que, IsamarRodrigues da Costa afirmou que a data constante dos documentos mesma não sereferem à data de aquisição das peças, mas sim, ao dia em que recebeu a primeiraparcela pelo conserto do veículo, isso no mês de setembro/2017, asseverando queos produtos ali mencionados também não são os mesmos utilizados no conserto doveículo, estando relacionados na nota fiscal “apenas pro forma”, não conseguindocomprovar documentalmente os gastos realizados para a manutenção do automóvelpertencente à Câmara Municipal, frisando, mais uma vez, os serviços efetuados porterceiros. Ademais, Isamar Rodrigues da Costa informou que os documentosemitidos “por terceiros” pelos serviços prestados ao veículo oficial não sãoconsiderados notas fiscais (serviço de mototáxi para buscar peças em outrascidades, serviços de guincho e serviços de torno, etc), não servindo referidosdocumentos para comprovar gastos junto aos balancetes da Câmara Municipal.

Comprovando que não havia o mínimo de controle no uso do veículoda Câmara Municipal, José Caetano Gonçalves Neto, motorista do LegislativoMunicipal, no ano de 2017, admitido pelo Município de Firminópolis em funçãocomissionada, foi, a pedido de Enoc David Tavares, direcionado à CâmaraMunicipal, e nessa condição, o réu, aproveitando-se da função desempenhada de

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motorista do Legislativo Municipal, por diversas vezes em finais de semana, utilizou-se do veículo oficial da Câmara Municipal, abastecendo-o às custas do LegislativoMunicipal, para o fim de transportar jogadores de futebol do time FirminópolisEsporte Clube para outras cidades, conforme afirma nas suas declarações às fls.169/171. José Caetano Gonçalves Neto narrou que para o deslocamento doveículo da Câmara Municipal nos finais de semana, a fim de transportar osjogadores, ele próprio dirigia o automóvel, afirmando que também era jogador dotime e utilizou-se do veículo oficial e do combustível pago com recursos financeiroda Câmara Municipal.

Sobre bem administrar, vejamos a lição de Mário Pazzaglini Filho:

Administrar é um exercício institucional e não pessoal. A condutaAdministrativa deve ser objetiva, imune ao intersubjetivismo eaos liames de índole pessoal, dos quais são exemplos onepotismo, o favorecimento, o clientelismo e a utilização damáquina administrativa como promoção pessoal. Pautada na lei, aconduta administrativa deve ser geral e abstrata, jamaisfocalizada em pessoas ou grupos. Sua finalidade é a realização dobem comum, síntese tradutora dos objetivos fundamentais doEstado Brasileiro. (…)

Também é a impessoalidade afetada pelo princípio republicanoque impõe ao Administrador o dever de, como mero gestor da respublica , não fazer seu ou de alguns, aquilo que é de todos. Aprevalência do interesse social sobre eventuais anelos individuaisou grupais reclama uma conduta administrativa impessoal(Improbidade Administrativa, 2.ª ed. , São Paulo, Atlas, 1997, p.50/51). (Original sem grifos).

Portanto, possível a presente Ação Civil Pública objetivando coibir osatos ilegais, tal qual o objeto desta Ação, condenando-se os réus pela prática dosatos ímprobos previstos na Lei n. 8.429/92.

DO DIREITO/INTERESSE PROCESSUAL

É cediço que o interesse processual, enquanto condição da ação,traduz-se no binômio necessidade-utilidade.

A Constituição Federal, no artigo 37, prevê: “Art. 37. A administraçãopública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do DistritoFederal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:”.

Os requeridos Enoc David Tavares, Silvadir Cândido da Mata,

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Rangel Ricardo de Souza Oliveira, Weliton Agapito dos Santos, Luciano Brazde Araújo, Isamar Rodrigues da Costa, e José Caetano Gonçalves Netolaboraram com flagrante desvio de finalidade, pois não visaram à satisfação dointeresse público, mas sim atender indevidamente interesses exclusivamenteparticulares, desviando-se deliberadamente da finalidade pública e do objetivo da lei.

Marcelo Figueiredo1 ensina que:

“infringe a norma todo agente que obtenha, receba, perceba,direta ou indiretamente, um ‘interesse’ que afronte o padrãojurídico da probidade administrativa, tal como encartada naConstituição da Federal e nas leis... A conduta e a previsão legalnão se prendem exclusivamente ao ‘econômico’... Pretendeu-senão esgotar o rol de situações tidas como pertinentes ao conceitode ‘vantagens indevidas’. Em cada caso concreto, além dasdisposições específicas dos incisos do artigo. 9º, deverá o aplicadore intérprete da lei dar-lhe concreção.” (Original sem grifos).

De origem latina, principium significa origem, começo. Em sentidojurídico, são as normas elementares que alicerçam um corpo orgânico, umaestrutura jurídica. É o conjunto de preceitos que serve de parâmetro a toda operaçãojurídica. Compreendem, pois, os fundamentos da Ciência Jurídica, onde se firmaramas normas do direito que traçam as noções em que se estrutura o próprio Direito.Necessariamente, os princípios não precisam ser expressos

Diógenes Gasparini, in Direito Administrativo, 2ª edição, EditoraSaraiva, escreve que "A Constituição Federal, no art. 37, preceitua que a AdministraçãoPública, tanto a direta como a indireta, ou fundacional de qualquer dos Poderes da União,dos Estados-Membros, do Distrito Federal e dos Municípios, obedecerá aos princípios dalegalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade. Mas certamente não só a esses,como ensina Toshio Mukai (Administração Pública na Constituição de 1.988, Saraiva,1.989, p. 48).”

O dever de honestidade surge para o agente em decorrência doprincípio da moralidade, imposto à Administração Pública (art. 37, CF).

Em verdade, todos estes deveres são desdobramentos de um devermaior que se chama “dever de fidelidade”. O dever de fidelidade é o mais importantedos deveres dos funcionários públicos, pois compreende todos os demais, eantecede ao próprio exercício do cargo, nasce no momento em que o servidor prestacompromisso. Já alguém lhe chamou dever de sentimento, porque corresponde auma atitude de consciência, informada de todas as ações e omissões pelas quais sedesempenha o cargo. Pela fidelidade, o funcionário adere aos interesses superioresdo Estado e jamais se coloca em antagonismo com os fins e com o prestígio da

1 in ob. cit. pp. 37 e 38.

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Administração. Não será um cumpridor mecânico de Obrigações, mas um serlivremente vinculado ao serviço, a empregar nele toda diligência, boa vontade eenergia.

A Lei Federal n. 8.429/92, que, dentre outras matérias, estabelece asinfrações contra a probidade administrativa e relaciona as respectivas sanções aserem aplicadas quando de sua prática por qualquer agente público que delas sebeneficie. Inclusive em seu artigo 4º, acha-se renovada a ordem constitucional retro:

“Art. 4° - Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia sãoobrigados a velar pela estrita observância dos princípios delegalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade no trato dosassuntos que lhe são afetos.”

Para os fins desta lei, considera-se agente público todo aquele queexerce, ainda que transitoriamente, com ou sem remuneração, por eleição,nomeação, designação ou qualquer outro vínculo, mandato, cargo, emprego oufunção em qualquer entidade pública ou mesmo privada (artigo 2º).

Por outro lado, as disposições da Lei n. 8.429/92 são aplicáveis, noque couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra paraa prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ouindireta (artigo 3º).

Art. 3° As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber,àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorrapara a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sobqualquer forma direta ou indireta.

De todo o exposto, não há que negar que os requeridos Enoc DavidTavares, Silvadir Cândido da Mata, Rangel Ricardo de Souza Oliveira, WelitonAgapito dos Santos, Luciano Braz de Araújo, Isamar Rodrigues da Costa, eJosé Caetano Gonçalves Neto feriram de morte os deveres de honestidade,legalidade e lealdade para com a Administração Pública, merecendo os atosímprobos cometidos total repulsa, revelando o interesse processual, a fim de coibirque tais práticas se repitam no âmbito do Legislativo Municipal.

O pedido formulado na presente ação é juridicamente possível,porquanto o ordenamento jurídico pátrio, especificamente a Constituição Federal(artigo 37), contém, em abstrato, previsão expressa das providências judiciaisrequeridas.

DA INDEVIDA DISPENSA DA LICITAÇÃO PARA AQUISIÇÃO DE COMBUSTÍVEL PARA ACÂMARA MUNICIPAL DURANTE O ANO DE 2017

A fraude à licitação (Lei de Licitações n. 8.666/93), está caracterizada,

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consoante provam os documentos anexados aos autos. Enoc David Tavaresdispensou licitação fora das hipóteses previstas na Lei n. 8.666/93, relativas àaquisição de combustíveis pela Câmara Municipal, verificando-se que durante o anode 2017 houve gasto na importância de 25.157,00 (vinte e cinco mil, cento ecinquenta e sete reais), valor superior ao discriminado na Lei para a dispensa doprocesso licitatório, conforme documentos às fls. 77/110.

As investigações apontaram que o valor foi fracionado, caracterizandofraude à licitação para aquisição de combustíveis pelo Legislativo Municipal,inferindo-se que a Lei n. 8.666/93 menciona que o valor permitido para a dispensada licitação é de R$ 8.000,00 (oito mil reais). Compulsando os autos, extrai-se queEnoc David Tavares, então Presidente da Câmara Municipal e ordenador dedespesas, fracionou as compras de combustíveis, de forma a demonstrar que foramrealizados contratos individuais, ou seja, um contrato por mês, como forma de burlara exigência da licitação.

Constam dos balancetes mensais da Câmara Municipal gastos comcombustíveis adquiridos junto à empresa Posto Mendes Ltda, apresentando osseguintes dados, sendo referidas despesas empenhadas e liquidadas,demonstrando, dessa forma, que não ocorreu processo licitatório para contrataçãode empresa para o fornecimento de combustíveis para o Legislativo Municipal para oano de 2017. Vejamos.

MÊS REFERÊNCIA DATA VALOR DA DESPESAJANEIRO Não há consumo

FEVEREIRO 22/02/2017 R$ 1.270,00

MARÇO Não há consumo

ABRIL 19/04/2017 R$ 4.422,00

MAIO 23/05/2017 R$ 3.183,00

JUNHO 23/05/2017 R$ 2.725,00

JULHO 19/07/2017 R$ 2.193,00

AGOSTO 21/08/2017 R$ 2.793,00

SETEMBRO 21/09/2017 R$ 1.896,00

OUTUBRO 25/10/2017 R$ 1.905,00

NOVEMBRO 22/11/2017 R$ 2.582,00

DEZEMBRO 22/12/2017 R$ 2.188,00

TOTAL R$ 25.157,00

A Lei n. 8.666/93, prevê:

Art. 3o A licitação destina-se a garantir a observância do princípioconstitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa

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para a administração e a promoção do desenvolvimento nacionalsustentável e será processada e julgada em estrita conformidadecom os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, damoralidade, da igualdade, da publicidade, da probidadeadministrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, dojulgamento objetivo e dos que lhes são correlatos.

§1 o É vedado aos agentes públicos:

I - admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos de convocação,cláusulas ou condições que comprometam, restrinjam ou frustremo seu caráter competitivo, inclusive nos casos de sociedadescooperativas, e estabeleçam preferências ou distinções em razãoda naturalidade, da sede ou domicílio dos licitantes ou de qualqueroutra circunstância impertinente ou irrelevante para o específico

objeto do contrato, ressalvado o disposto nos §§ 5o a 12 deste artigo

e no art. 3 º da Lei n o 8.248, de 23 de outubro de 1991; (Redaçãodada pela Lei nº 12.349, de 2010)

II - estabelecer tratamento diferenciado de natureza comercial,legal, trabalhista, previdenciária ou qualquer outra, entre empresasbrasileiras e estrangeiras, inclusive no que se refere a moeda,modalidade e local de pagamentos, mesmo quando envolvidosfinanciamentos de agências internacionais, ressalvado o disposto

no parágrafo seguinte e no art. 3 º da Lei n o 8.248, de 23 de outubrode 1991. (Original sem grifos).

Assim, a dispensa de licitação por Enoc David Tavares, entãoPresidente da Câmara Municipal no ano de 2017, configurou ato que atenta contra aAdministração Pública, princípio esse exigente em qualquer caso de violação aosdeveres de honestidade, imparcialidade e legalidade.

Dispõe a Lei n. 8.666/03:

Art. 23. As modalidades de licitação a que se referem os incisos I aIII do artigo anterior serão determinadas em função dos seguinteslimites, tendo em vista o valor estimado da contratação:

I - para obras e serviços de engenharia:

a) convite - até R$ 150.000,00 (cento e cinqüenta mil reais);

b) tomada de preços - até R$ 1.500.000,00 (um milhão equinhentos mil reais);

c) concorrência: acima de R$ 1.500.000,00 (um milhão e

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quinhentos mil reais);

II - para compras e serviços não referidos no inciso anterior:

a) convite - até R$ 80.000,00 (oitenta mil reais);

b) tomada de preços - até R$ 650.000,00 (seiscentos e cinqüentamil reais);

c) concorrência - acima de R$ 650.000,00 (seiscentos e cinqüentamil reais).

(…).

§ 3o A concorrência é a modalidade de licitação cabível, qualquerque seja o valor de seu objeto, tanto na compra ou alienação debens imóveis, ressalvado o disposto no art. 19, como nasconcessões de direito real de uso e nas licitações internacionais,admitindo-se neste último caso, observados os limites deste artigo,a tomada de preços, quando o órgão ou entidade dispuser decadastro internacional de fornecedores ou o convite, quando nãohouver fornecedor do bem ou serviço no País.

(…).

Art. 24. É dispensável a licitação:

I - para obras e serviços de engenharia de valor até 10% (dez porcento) do limite previsto na alínea "a", do inciso I do artigoanterior, desde que não se refiram a parcelas de uma mesma obraou serviço ou ainda para obras e serviços da mesma natureza e nomesmo local que possam ser realizadas conjunta econcomitantemente;

II - para outros serviços e compras de valor até 10% (dez por cento)do limite previsto na alínea "a", do inciso II do artigo anterior epara alienações, nos casos previstos nesta Lei, desde que não serefiram a parcelas de um mesmo serviço, compra ou alienação demaior vulto que possa ser realizada de uma só vez;

(…).;

VII - quando as propostas apresentadas consignarem preçosmanifestamente superiores aos praticados no mercado nacional,ou forem incompatíveis com os fixados pelos órgãos oficiaiscompetentes, casos em que, observado o parágrafo único do art.48 desta Lei e, persistindo a situação, será admitida a adjudicaçãodireta dos bens ou serviços, por valor não superior ao constante do

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registro de preços, ou dos serviços;

(…);

Sobre a dispensa da licitação, Celso Antônio Bandeira de Mello(MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo, São Paulo:Malheiros, 2009), afirma que o artigo 24 da Lei n. 8.666/93 arrola casos que seenquadram nesta modalidade, determinando em seu inciso II que para outrosserviços e compra de valor até R$ 8.000,00 (oito mil reais), a licitação é dispensável.

Em virtude disto, é permitido à Administração Pública realizar acontratação direta, mediante a modalidade de “licitação dispensável”. Isto porque éreservada à Administração a discricionariedade para decidir, em face dascircunstâncias do caso concreto, se dispensa ou não o certame. Até mesmo empresença da hipótese em que a dispensa é autorizada, a Administração Públicapode preferir proceder à licitação, se tal atender superiormente ao interesse público.

No presente caso, houve a aquisição e pagamento de gastos comcombustíveis pela Câmara Municipal de Firminópolis no ano de 2017, sob aPresidência de Enoc David Tavares no valor de R$ 25.157,00 (vinte e cinco mil,cento e cinquenta e sete reais), sem que houvesse a licitação para a contratação dareferida compra.

Estabelece a Constituição Federal, em seu Artigo 37, XXI, que aspessoas jurídicas de direito público estão submetidas ao regime de licitação,necessário para uma melhor contratação e execução dos serviços públicos:

“Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dosPoderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dosMunicípios obedecerá aos princípios de legalidade,impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, aoseguinte:

[…]

XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras,serviços, compras e alienações serão contratados medianteprocesso de licitação pública que assegure igualdade de condiçõesa todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçamobrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas daproposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá asexigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis àgarantia do cumprimento das obrigações.“ (Original sem grifos).

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Verifica-se, dessa forma, que o texto constitucional exige que todas ascontratações deverão ser realizadas mediante prévio processo licitatório, o qualconstitui requisito essencial à validade dos contratos.

No que se refere à licitação dispensável, há previsão, nos váriosincisos do Artigo 24 da Lei de licitações e contratos, de diversas hipóteses em que,apesar do procedimento licitatório poder ser realizado, achou por bem o legisladornão torná-lo obrigatório, desde que esteja expressamente justificado peloAdministrador os motivos da dispensa (observância do princípio da motivação).

Dos fatos, conforme minuciosamente narrados acima, extrai-se que éIMPOSSÍVEL concluir que houve uma situação emergencial que impossibilitou arealização de uma licitação para contratação do fornecimento de combustível pelaCâmara Municipal, pelo período de um ano. Ademais, consoante exaustivamentedemonstrado, existe um período em que o veículo da Câmara Municipal não foiusado, por absoluta falta de condições e uso, o que nos leva a crer que ocombustível adquirido e pago com dinheiro dos cofres públicos foi apropriadoindevidamente. O que também está comprovado, quando se extrai que Enoc DavidTavares autorizou o uso de combustíveis nos veículos particulares dos vereadoresSilvadir Cândido da Mata, Rangel Ricardo de Souza Oliveira, Weliton Agapitodos Santos, Luciano Braz de Araújo, pagos com dinheiro do Legislativo Municipal.

Ainda, Enoc David Tavares foi totalmente omisso, e permitiu que JoséCaetano Gonçalves Neto, motorista da Câmara Municipal, utilizasse o veículooficial como bem quisesse, como se fosse propriedade particular sua. Usou eabasteceu o veículo do Legislativo Municipal para atender interesses particulares, àscustas dos cofres públicos.

É evidente a violação ao texto constitucional e à Lei nº 8.666/93. Domesmo modo, é visível que Enoc David Tavares apresentou uma condutaincompatível com as diretrizes e princípios que devem reger a atuação de umAdministrador Público. E é por essa conduta, com fulcro na Constituição Federal, ecom suporte na necessidade de combater esses agentes públicos que cometematos não condizentes com a moralidade, adveio a Lei nº 8.429/92 estabelecendosanções aos agentes públicos que se enriqueçam ilicitamente (Art. 9º), causemprejuízo ao erário (Art. 10) ou violem os princípios administrativos constitucionais(Art. 11).

DOS PREJUÍZOS CAUSADOS AOS COFRES PÚBLICOS

Enoc David Tavares, Silvadir Cândito da Mata, Rangel Ricardo deSouza Oliveira, Weliton Agapito dos Santos, Luciano Braz de Araújo, IsamarRodrigues da Costa e José Caetano Gonçalves Neto causaram prejuízos aoscofres públicos.

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Em relação a Enoc David Tavares, Silvadir Cândito da Mata, RangelRicardo de Souza Oliveira, Weliton Agapito dos Santos, Luciano Braz deAraújo, Isamar Rodrigues da Costa e José Caetano Gonçalves Neto, chega-seao montante de R$ 40.450,50 (quarenta mil, quatrocentos e cinquenta reais ecinquenta centavos), valor esse apurado como prejuízos causados aos cofrespúblicos, consistente na dispensa de licitação, manutenção do veículo da CâmaraMunicipal junto à empresa Isamar Centro Automotivo, alinhamento ebalanceamento do veículo oficial (quando, na verdade, o mesmo se encontrava semcondições de uso), bem como o período em que o referido veículo não possuíacondições de trafegabilidade, e mesmo assim constam abastecimentos, e, ainda, apermissão para que vereadores abastecessem seus veículos particulares às custasda Câmara Municipal. Também, está aí incluído o prejuízo causado pelo usoindevido do veículo do Legislativo Municipal por José Caetano Gonçalves Neto.

Todos os réus são, solidariamente, responsáveis pelos prejuízoscausados aos cofres públicos. Silvadir Cândito da Mata, Rangel Ricardo deSouza Oliveira, Weliton Agapito dos Santos e Luciano Braz de Araújo, comovereadores, têm o dever de fiscalizar as contas do Legislativo Municipal. Aocontrário, beneficiarem-se dos cofres públicos, causando prejuízos à população.Abasteceram seus veículos particulares na conta da Câmara Municipal, com o fimprecípuo de atender interesses particulares.

Isamar Rodrigues da Costa, juntamente com Enoc David Tavares,propiciaram prejuízos ao erário, a partir do momento em que aceitou participar doesquema de manutenção/reparos do veículo da Câmara Municipal, sendo que paraisso, os documentos emitidos para pagamento dos serviços não retratam a verdade.A comprovação dos fatos encontram-se detalhada anteriomente, demonstrando adilapidação do patrimônio público. Por isso, deve ressarcir os cofres públicos.

Igualmente, José Caetano Gonçalves Neto, que usou o veículo daCâmara Municipal para fins particulares, abastecendo-o por conta do LegislativoMunicipal. Com o veículo, viajou para outras cidades, transportando jogadores defutebol para participarem de jogos. Ele próprio dirigia o veículo, afirmou que tambémé jogador de futebol, portanto, tinha interesse em locupletar-se do veículo às custasdo erário.

A respeito, oportuna é a lição de Maria Sylvia Zanella Di Pietro ( in‘Direito Administrativo’, 15ª ed., 2003, pág. 687/688):

“...As sanções podem ser aplicadas mesmo que não ocorradano ao patrimônio econômico. É exatamente o que ocorreou pode ocorrer com os atos de improbidade previstos noartigo 11, por atentado aos princípios da AdministraçãoPública. A autoridade pode, por exemplo, praticar atovisando o fim proibido em lei ou diverso daquele previsto na

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regra de competência (inciso I do art. 11); esse ato pode nãoresultar em qualquer prejuízo para o patrimônio público,mas ainda assim constituir ato de improbidade, porque fereo patrimônio moral da instituição, que abrange as idéias dehonestidade, boa-fé, lealdade, imparcialidade (...)

“Entendemos que se pretendeu afirmar que a lei pune nãosomente o dano material à administração, mas tambémqualquer sorte de lesão ou violação à moralidadeadministrativa, havendo ou não prejuízo no sentidoeconômico (...)”.

A Lei n. 8.429/92 cuidou de especificar três categorias de atos deimprobidade administrativa, quais sejam, os que importam enriquecimento ilícito, osque causam prejuízo ao erário e aqueles que atentam contra os princípios daAdministração Pública, previstos nos artigos 9, 10 e 11 da mencionada norma.

Assim, devem os réus Enoc David Tavares, Silvadir Cândito daMata, Rangel Ricardo de Souza Oliveira, Weliton Agapito dos Santos, LucianoBraz de Araújo, Isamar Rodrigues da Costa e José Caetano Gonçalves Netoressarcirem os cofres públicos, de forma solidária, ante os prejuízos causados, noimporte de R$ 40.450,50 (quarenta mil, quatrocentos e cinquenta reais ecinquenta centavos), e ainda, que sejam os réus condenados ao pagamento deuma indenização pelo prejuízo causado ao patrimônio moral da sociedadefirminopolina, em valores a serem definidos por Vossa Excelência.

AFASTAMENTO DO CARGO DE VEREADOR - ENOC DAVID TAVARES

Depreende-se dos autos que os denunciados se uniram para a práticade atos de improbidade administrativa, com o fim específico de se apropriarem deverbas pertencentes aos cofres públicos. Ademais, há fundado receio de que apermanência de Enoc David Tavares no cargo de vereador ensejará a continuidadeda dilapidação do patrimônio público.

Saliente-se que Enoc David Tavares responde a diversas Ações CivisPúblicas, bem como Ações Penais, todas em trâmite nesta Comarca, comprovandoa reiteração de práticas lesivas à Administração Pública. Aliás, Enoc David Tavarestem usado o cargo de vereador, bem como da condição de Presidente da CâmaraMunicipal (em anos anteriores), para beneficiar-se do dinheiro público, apropriando-se em proveito próprio, e, ainda, desviando recursos do erário para beneficiarterceiros, não se podendo permitir que o réu continue a gerar prejuízos àcomunidade firminopolina.

As Informações de Antecedentes Criminais de Enoc David Tavaresem anexo, demonstram a prática reiterada de crimes e atos de improbidade

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administrativa pelo mesmo, e, por isso, deve ser afastado do cargo de vereador, afim de preservar o patrimônio público. Cita-se:

• 1) Autos n. 5213733.47.2016.08.09.0043 – artigo 319, doCódigo Penal;

• 2) Autos n. 201602491288 – Ação Penal – artigos 288 e 312, c/c71, todos do Código Penal (crimes no âmbito da Câmara Municipal)

• 3) Autos n. 201701492967 – Ação Penal, artigo 168, inciso III,do Código Penal (crimes praticados durante a presidência doSindicato dos Produtores Rurais de Firminópolis/Turvânia);

• 4) Autos n. 201701729339 – Sequestro Criminal – Requerente:Ministério Público do Estado de Goiás;

• 5) Autos n. 201702295839 – Ação Penal, artigo 312, c/c artigo71, ambos do Código Penal (crimes praticados em face doSindicato dos Produtores Rurais de Firminópolis/Turvânia);

• 6) Autos n. 201601348180 – Ação Civil Pública por Ato deImprobidade Administrativa (não realização de procedimentolicitatório para a contratação dos serviços de contabilidade pelaCâmara Municipal de Firminópolis);

• 7) Autos n. 201601444359 – Ação Civil Pública (concessão degratificações aos servidores da Câmara Municipal, em desobediênciaà Constituição Federal, causando prejuízos aos cofres públicos);

• 8) Autos n. 201601454702 - Ação Civil Pública por Ato deImprobidade Administrativa (aprovação da Resolução n.001/CMF/2012, permitindo que servidor da Câmara Municipalrecebesse vencimentos, para os quais não fazia jus);

• 9) Autos n. 201601719625 - Ação Civil Pública por Ato deImprobidade Administrativa (prestação de serviços contábeis àCâmara Municipal);

• 10) Autos n. 201602912658 - Ação Civil Pública por Ato deImprobidade Administrativa (suspensão dos efeitos da Lei n.1.446/CMF/16, por contrariar a Constituição Federal e oCalendário das Eleições Municipais/2016).

Urge reafirmar que Enoc David Tavares, no cargo de vereador, utiliza-se de várias práticas lesivas à coletividade, tais como associação criminosa,peculato, falsidade ideológica, fraude em licitação e atos de improbidadeadministrativa, tudo no interesse próprio, bem assim para beneficiar terceiros,sobressaindo-se que deve ser imediatamente afastado das suas funções junto àCâmara Municipal, a fim de se evitar a continuidade de prejuízos à coletividade.

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Sobre o afastamento do cargo, colaciono julgado do egrégio TJGO:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DEIMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. LIMINAR CONCEDIDA PELAMAGISTRADA A QUO. DECRETO DE AFASTAMENTO DO PREFEITODO RESPECTIVO CARGO E INDISPONIBILIDADE DOS BENS.LEGALIDADE DA ORDEM. I- Mostra-se correta a decisão judicialque determina, in limine, o afastamento do réu do respectivocargo público, para fins de apuração da suposta conduta ímproba,bem como a indisponibilidade de seus bens, quando satisfeitos osrequisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora. Aplicaçãodos artigos 7º, parágrafo único, e 20, parágrafo único, ambos daLei nº 8.429/92. II- O bloqueio de valores, correspondente àintegralidade do dano ao erário, é medida que se impõe, haja vistaa solidariedade dos réus nesta fase inicial do processo. Precedentedo Superior Tribunal de Justiça. III- Considerando o exaurimento doperíodo já transcorrido de afastamento da autoridade pública desuas atividades, o pedido de reintegração ao respectivo cargotorna-se prejudicado (artigo 195, parágrafo único, do RegimentoInterno do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás). IV- Agravo deinstrumento julgado prejudicado, quanto ao retorno do agravanteao cargo público. Impulso conhecido apenas com relação àpretensão de tornar disponíveis os bens e negado provimentonesta parte. Decisão agravada mantida. V- RECURSO CONHECIDOPARCIALMENTE E, NESTA PARTE, DESPROVIDO. (TJGO, AGRAVODE INSTRUMENTO 101559-18.2016.8.09.0000, Rel. DES. FAUSTOMOREIRA DINIZ, 6ª CAMARA CIVEL, julgado em 13/12/2016, DJe 2185de 10/01/2017). (Original sem grifos).

Do exposto, necessário se faz o afastamento do réu Enoc DavidTavares, das suas funções junto ao Legislativo Municipal.

DA TUTELA DE URGÊNCIA (CONCESSÃO DA LIMINAR)

O novo Código de Processo Civil (Lei n. 13.105/2015), prevê noartigo 300:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houverelementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo dedano ou o risco ao resultado útil do processo.

Por se tratar de uma medida de natureza cautelar, devem-seevidenciar presentes o fumus boni iuris e o periculum in mora para sua concessão. In

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casu, resta patente a plausibilidade do direito arremessado na presente ação, ante aperfeita aplicação dos dispositivos contidos na Lei n. 7.347/85 às condutas dosrequeridos.

Conforme disposto no artigo 12 da Lei n. 7.347/85, é cabível aconcessão de medida liminar, com ou sem justificação prévia, nos próprios autos daação civil pública, sem a necessidade de se ajuizar ação cautelar (neste sentido,veja-se RJTJSP 113/312), no sentido de que “sendo relevante o fundamento dademanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juizconceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado o réu”2.

No que se refere à imprescindibilidade da medida, calha gizar que osatos praticados pelos réus são graves, comportando em atendimento de interessesparticulares em detrimento de interesse público, pois locupletaram-se de dinheiropúblico para os seus próprios interesses.

Utilizar-se de bens públicos no próprio interesse, bem como dispensarlicitação para aquisição de combustível para a Câmara Municipal, configuram atosgraves, que lesam toda a sociedade firminopolina, devendo ocorrer o ressarcimentointegral do dano causado pelos requeridos.

Importante frisar que, mesmo respondendo a várias ações deimprobidade e ações penais nesta Comarca, Enoc David Tavares não demonstraque pretende cessar a prática de atos lesivos ao patrimônio público.

Os requeridos agiram em proveito próprio, locupletando-se de benspúblicos para atender aos seus próprios interesses. Os prejuízos causados pelosrequeridos aos cofres públicos devem ser reavidos.

Assim, imperiosa a concessão de liminar, determinando-se:

1) Decretar a imediata indisponibilidade dos bens dos réus Enoc DavidTavares, Silvadir Cândito da Mata, Rangel Ricardo de Souza Oliveira,Weliton Agapito dos Santos, Luciano Braz de Araújo, Isamar Rodrigues daCosta e José Caetano Gonçalves Neto até o limite do pagamento dosprejuízos e das multas civis, no montante de R$ 40.450,50 (quarenta mil,quatrocentos e cinquenta reais e cinquenta centavos);

2) Determinar a Obrigação de Não Fazer, consistente em oficiar à CâmaraMunicipal, por meio do seu Presidente, proibindo-o, bem como os futurosgestores do Legislativo Municipal, de autorizar o abastecimento de veículosparticulares, notadamente de vereadores, às custas dos cofres públicos;

3) Determinar ao Presidente da Câmara Municipal, doravante, adotar rígidocontrole de abastecimento e guarda do veículo oficial;

2 Artigo 84, § 3º

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4) Requer, ainda, o Ministério Público seja determinado o afastamento doréu Enoc David Tavares do cargo de vereador, até o findar do processo, coma prolação da sentença condenatória.

Conforme se denota dos autos, a prática dos atos ímprobos estáconfirmada, condutas essas lesivas à Administração Pública, revelando-se a medidanecessária porque, ao final das investigações, ficou evidente o desvio de verbaspúblicas para atender interesses particulares por parte dos réus Enoc DavidTavares, Silvadir Cândito da Mata, Rangel Ricardo de Souza Oliveira, WelitonAgapito dos Santos, Luciano Braz de Araújo, Isamar Rodrigues da Costa eJosé Caetano Gonçalves Neto.

DOS PEDIDOS

Por todo o exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO requer:

a) A concessão inaudita altera parte da LIMINAR pleiteada, confirmando-adefinitivamente;

b) seja a presente inicial recebida, autuada e processada, com os documentos que aacompanham, na forma e rito preconizados no artigo 17, da Lei n. 8.429/92;

c) Requer, ainda, o Ministério Público seja determinado o afastamento do réu EnocDavid Tavares do cargo de vereador, até o findar do processo, com a prolação dasentença condenatória;

d) A citação dos réus Enoc David Tavares, Silvadir Cândito da Mata, RangelRicardo de Souza Oliveira, Weliton Agapito dos Santos, Luciano Braz deAraújo, Isamar Rodrigues da Costa e José Caetano Gonçalves Neto, junto aosendereços citados, para, querendo, contestarem a presente ação, sob pena derevelia;

e) A citação do Município de Firminópolis, na pessoa do Prefeito, para querendo,integrar a lide;

f) sejam os pedidos julgados procedentes em todos os seus aspectos para condenaros requeridos:

1) Enoc David Tavares nos artigos 9º (XII); 10 (I, II, VIII, IX, XI, XII, XIII, XVI, XVII);11 (I, VI), da Lei n. 8.429/92, aplicando-se as penas do artigo 12 da mesma lei;

2) Silvadir Cândito da Mata, Rangel Ricardo de Souza Oliveira, Weliton Agapitodos Santos, Luciano Braz de Araújo, Isamar Rodrigues da Costa e JoséCaetano Gonçalves Neto nos artigos 9º (I, XI, XII); 10 (I, II, XIII, XVI); 11 (I, VIII);

g) a condenação solidária dos réus ao ressarcimento dos prejuízos causados aoscofres públicos, no valor de R$ 40.450,50 (quarenta mil, quatrocentos e cinquentareais e cinquenta centavos);

Rua 02, n. 40 – Setor da Justiça – Firminópolis/GO-Fone: (64) 3681-1439. CEP: 76105 – 000 – [email protected] 40

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h) ainda, que sejam os réus condenados ao pagamento de uma indenização peloprejuízo causado ao patrimônio moral da sociedade firminopolina, em valores aserem definidos por Vossa Excelência;

i) seja determinado ao atual Presidente da Câmara Municipal, o preenchimentoobrigatório de diário de uso do veículo oficial (numeração do chassi), mês e ano,endereço do local de guarda do veículo, marcação do horímetro ou hodômetro doúltimo dia do mês, indicação, por data de utilização, do resumo das atividadesexecutadas, horas trabalhadas/quilômetros percorridos, localidade atendida, nome ematrícula do operador e relato de ocorrências; Apresentação dos relatórios anuaisde utilização do bem; Estabelecimento de estruturas e rotinas administrativasdestinadas a fiscalizar o cumprimento do uso do veículo oficial, sob pena deresponsabilidade pelas ilegalidades que vierem a ocorrer; Divulgação mensal dorelatório de uso do veículo oficial no Portal da Transparência da Câmara Municipal;

j) seja determinada ao Presidente da Câmara Municipal a realização de processolicitatório para contratação de serviços de abastecimento do veículo oficial;

k) sejam os réus condenados, também, ao pagamento das custas e emolumentosprocessuais, como ônus da sucumbência;

l) A condenação dos réus, ainda, no ônus da sucumbência, nos termos da legislaçãoprocessual civil vigente;

m) Protesta por provar o alegado por intermédio de todos os meios de provaadmitidos pelo direito, notadamente a prova testemunhal, pericial e documental.

Dá-se à causa o valor de R$ 40.450,50 (quarenta mil, quatrocentos ecinquenta reais e cinquenta centavos).

GABINETE DA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE FIRMINÓPOLIS, aos seis dias do mês de junho de 2018.

RICARDO LEMOS GUERRA PROMOTOR DE JUSTIÇA

Rua 02, n. 40 – Setor da Justiça – Firminópolis/GO-Fone: (64) 3681-1439. CEP: 76105 – 000 – [email protected] 41