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EXCELENTISSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE
CASCAVEL – PR.
MASSA FALIDA DO GRUPO DIPLOMATA, devidamente representada por sua Administradora
Judicial, CAPITAL ADMINISTRADORA JUDICIAL LTDA., pessoa jurídica especializada (na forma
do artigo 21 “caput” da LREF), com sede em São Paulo, situada na Rua Silvia nº. 110 – Sala 52ª
– Bela Vista, Administradora Judicial da Recuperação Judicial convolada em Falência do “Grupo
Diplomata”, devidamente nomeada e compromissada, representada por seu responsável
técnico Dr. Luis Cláudio Montoro Mendes, que a presente subscreve, vem, respeitosamente,
perante Vossa Excelência, propor a presente:
AÇÃO REVOCATÓRIA
em face de BANCO INDUSTRIAL E COMERCIAL S.A., CNPJ/MF 07.450.604/0001-89, com sede
na Av. Paulista, 1048, 11º andar, São Paulo – SP e Sr. JACOB ALFREDO STOFFELS KAEFER,
brasileiro, deputado federal e administrador de sociedades, CPF 241.063.059-68, RG.
1.163.824/PR, com endereço na Rua Belo Horizonte, 1435, Cascavel/PR, com base nos artigos
282 e 283 do Código de Processo Civil, bem como nos artigos 129 da Lei de Falências e
Recuperação Judicial, pelas razões de fato e direito a seguir expostas:
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13/04/2015: JUNTADA DE PETIÇÃO DE INICIAL. Arq: Petição Inicial
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1. DOS FATOS
O denominado “Grupo Diplomata”, do qual integra a empresa Diplomata S/A Industrial e
Comercial, teve sua Recuperação Judicial convolada em Falência, mediante sentença proferida
por este D. Juízo nos autos sob nº 0024946-35.2012.8.16.0021, na data de 01/12/2014. Na
ocasião, deve-se destacar que se fixou o termo legal em 23.01.2009, (inicio do período
suspeito).
A presente ação revocatória tem por objeto a dação em pagamento do imóvel registrado em
matrícula 27306 do Registro de Imóveis 3º Ofício de Cascavel, Estado do Paraná, realizada pelo
Sr. Jacob Alfredo Stoffels Kaefer, sócio-diretor de inúmeras empresas do grupo Diplomata, em
favor do Banco Industrial e Comercial S.A, dentro do termo legal da falência, devendo,
portanto, ser declaro ineficaz, pois incorre em patente fraude contra credores.
Ainda, vale salientar que a referida transação foi realizada pelo contador das Falidas, sendo
que existem nos autos de falência inúmeros indícios de dilapidação patrimonial, restando
temerária a presente dação em pagamento.
Os fatos delineados nesta síntese fática são suficientes para elucidar que a transação em
comento foi feita em conluio contra credores.
Os ora Falidos deixaram de lado toda preocupação com a finalidade do processo de
Recuperação Judicial, proposto pouco mais que um ano após a data da transação – tempo em
que no mínimo tinham conhecimento da futura propositura do pleito recuperacional – e se
desfizeram do valioso ativo que poderia ser utilizado para pagamento dos credores de forma
paritária.
Portanto, evidencia-se que o ajuste em discussão, nos moldes em que foi proposto e
homologado judicialmente, acarreta, prima facie, sua ineficácia perante a massa falida,
sobretudo, porque se consumou durante o período suspeito.
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Sendo assim, invoca-se a Tutela Jurisdicional, no intuito de anular o ato, bem como obstar
quaisquer repercussões nos âmbitos jurídico e social, devendo o bem retornar ao status quo
ante, sob pena de ofensa ao princípio da pars conditio creditorum.
2. DA JUSTIÇA GRATUITA
Conforme restou consignado, o caso é movimentado por uma massa falida através de seu
Administrador Judicial.
Como é sabido, a massa falida da Diplomata encontra-se em situação de extrema fragilidade,
haja vista que o passivo conhecido até a presente data é extremamente relevante e bem maior
que os ativos encontrados e qualquer importe retirado dos ativos da massa, resultará em
prejuízo aos interesses dos credores.
Essas razões são suficientes para demonstrar a necessidade de isenção das despesas judiciais
abrangidas pelo art. 3º da lei 1060 do ano de 1950, em favor da coletividade de credores que
restará atingida por quaisquer valores que sejam dispendidos. Nesse sentido, demonstrando a
possibilidade da concessão da justiça gratuita ante a demonstração de precariedade da massa
falida, segue entendimento do Tribunal de Justiça de Minas Gerais:
JUSTIÇA GRATUITA. EMPRESA. EXCEPCIONALIDADE. MASSA FALIDA. SUCUMBÊNCIA. Prosseguindo o julgamento, a Turma, por maioria, decidiu que, na condição de demandante ou demandada, a massa falida sujeita-se ao princípio da sucumbência, cabendo a concessão da justiça gratuita, provada a precariedade da empresa. Outrossim, o estado de miséria jurídica da empresa não se presume pela simples quebra. Precedentes citados: EREsp 388.045-RS, DJ
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22/9/2003, e AgRg no Ag 525.953-MG. DJ 1º/3/2004. REsp 833.353-MG, Rel. originário Min. Francisco Falcão, Rel. para acórdão Min. Luiz Fux, julgado em 17/5/2007.
Desta forma, comprovada a situação precária do Grupo, deve-se mencionar a necessidade da
concessão dos benefícios da Justiça Gratuita, uma vez que qualquer valor retirado da massa,
resultará em prejuízo aos credores.
3. DO DIREITO
3.1. DA OPERAÇÃO REALIZADA EM PATENTE DISSONANCIA COM A INTELIGENCIA DO
ART. 129 DA LEI 11.101-2005.
O Sr. Jacob Alfredo Stoffels Kaefer é sócio e controlador de inúmeras empresas pertencentes a
Massa Falida Diplomata, cuja falência foi decretada na data de 01 de dezembro de 2014.
Em simples análise do acordo pactuado, resta claro que o ativo era de extrema importância
para que o grupo Diplomata conseguisse honrar com as obrigações assumidas perante os
credores, na Recuperação Judicial proposta, cerca de um ano após o fato em questão. A
massa conta com um passivo extremamente voluptuoso e um desfalque de cerca de R$
32.000.000,00 (trinta e dois milhões de reais) em seu orçamento é de extrema importância.
É importante destacar que, em que pese o bem pertencer à pessoa física do Sr. Alfredo kaefer,
este foi abrangido pelos efeitos da desconsideração da personalidade jurídica de suas
empresas na sentença de quebra do grupo Diplomata.
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Ainda, o patrimônio foi dado em pagamento para saldar a dívida de sua empresa, fato que
demonstra de forma cabal a inexistência de barreiras patrimoniais entre sua pessoa física e as
pessoas jurídicas de sua propriedade.
Ato contínuo, é importante destacar que um pedido de Recuperação Judicial envolve grande
estratégia processual, de forma que não se faz plausível e aceitável qualquer alegação por
parte dos falidos, bem como dos adquirentes, que a dação em pagamento foi feita sem o
conhecimento da crise financeira que, diga-se de passagem, que já se arrastava por longo
período anterior.
A recuperação judicial, convolada em falência do grupo Diplomata apresentou inúmeros
indícios de fraude contra credores, remontadas por confusão e dilapidação patrimonial sendo
que o feito ora proposto visa extirpar do mundo jurídico relações que ferem princípios
patrimoniais e da falência.
Verifica-se que a transferência do bem feita à Instituição Bancária é um caso latente de fraude
contra credores. Trata-se de um defeito social que nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves:
não conduzem a um descompasso entre o íntimo querer do agente e a sua declaração. A vontade manifestada corresponde exatamente ao seu desejo. Mas é exteriorizada com a intenção de prejudicar terceiros ou de fraudar a lei.
1
O imóvel dado em pagamento seria apto a garantir parte da insolvência do grupo Diplomata
que atinge a casa dos milhões de reais.
1 Direito Civil – Parte Geral, vol. I, São Paulo, Ed. Saraiva, 1997, p. 98
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Difícil visualizar quais as reais intenções desta operação, bem como resta evidente a
inobservância do princípio da boa-fé nas relações contratuais, uma vez que a crise financeira
do grupo era fato notório, e a Instituição Bancária favorecida tinha o dever de verificar os
registros em cartório a fim de evitar o pacto de um negócio jurídico contrário às disposições
legais.
Desta forma, restam expostos os elementos para caracterização da fraude: eventos damni e
consilium fraudis.
Nesse escopo, deve-se mencionar as palavras do respeitável Doutrinador Ecio Perin Junior:
Para que os atos praticados pelo falido sejam considerados ineficazes perante a massa, devem assim ser declarados pelo juiz. O ato fraudulento, como já dissemos, requer a concorrência de dois elementos: um objetivo, o eventus damni, consistente no resultado danoso, e um subjetivo, ou seja, concilium fraudis, que é a consciência de estar causando dano. O resultado danoso da fraude contra credores é sempre consequente à diminuição do patrimônio com que o devedor se torna insolvente ou piora a situação de insolvência em que já se encontrava. A ação própria para a declaração judicial é a ação revocatória, regulada pelos arts. 132 a 139 da LFRE. É imprescindível a propositura da mencionada ação para que seja possível a declaração de ineficácia do ato. (Curso de Direito Falimentar e Recuperação de Empresas. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 307)
Ora, o dano é claro no sentido de a transação aumentou o passivo das falidas. O conluio
fraudulento pode ser verificado desde a negociação da transação com ciência inequívoca dos
favorecidos pela dação da situação financeira envolvendo o Sr. Kaefer.
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A fraude contra credores é classificada como vício social vez que o devedor, objetivando
inadimplir com a obrigação assumida perante seu credor, firma contrato com terceiro
alienando vens que garantiriam sua solvência.
Entretanto, a lei brasileira resguarda artigos que foram feitos para barrar este tipo de situação.
A Constituição Federal arrola em seu artigo 5º, XXIII o principio da função social da
propriedade. Trata-se de uma relação funcional entre sujeito e objeto de forma que o
proprietário terá o direito de usar, gozar e dispor de seu bem, contudo sem prejudicar a
outrem, fato que não se verifica no presente feito em que a transação foi feita à margem do
prejuízo de inúmeros credores.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [omissis] XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
O latente prejuízo aos credores, resta comprovado por uma simples análise da lista de
credores apresentada pelo Grupo Diplomata, quando do protocolo do pedido de Recuperação
Judicial (que foi esquecida na hora da alienação em debate) e se observa no presente
momento refletida no edital do art. 99 da Lei 11.101-2005.
Não obstante a exposição feita até o presente momento, o art. 166, VI do Código Civil é
categórico ao descrever as formas de invalidade do negócio jurídico, sendo que dentre elas
verifica-se a fraude:
Art. 166. CC. É nulo o negócio jurídico quando: [omissis] VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa;
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A lei imperativa é a Lei nº 11.101-2005, LFRJ que viabiliza o recebimento por parte dos
credores da Falida, de seus créditos. Ora, a dação obviamente fraudou a lei, haja vista que foi
realizada pelo Sr. Jacob Alfredo Stoffels Kaefer às margens de uma grande crise econômica, a
uma empresa (BIC BANCO) de grande porte que estava ciente da situação financeira da
alienante.
Repisando, novamente, neste ponto, a venda foi feitadentro do termo legal da falência.
Nesse sentido, deve-se mencionar o que preceitua o artigo 129 da Lei que rege o instituto da
Falência e Recuperação de empresas:
Art. 129. São ineficazes em relação à massa falida, tenha ou não o contratante conhecimento do estado de crise econômico-financeira do devedor, seja ou não intenção deste fraudar credores: [omissis] VI – a venda ou transferência de estabelecimento feita sem o consentimento expresso ou o pagamento de todos os credores, a esse tempo existentes, não tendo restado ao devedor bens suficientes para solver o seu passivo, salvo se, no prazo de 30 (trinta) dias, não houver oposição dos credores, após serem devidamente notificados, judicialmente ou pelo oficial do registro de títulos e documentos;
Não há, portanto, outra medida a ser tomada senão a revogação do negócio jurídico em
apreço, de forma que o patrimônio dilapidado seja trazido de volta a seu antigo proprietário e
posteriormente à massa falida, em vista da desconsideração da personalidade jurídica,
atendendo aos princípios constantes no art. 47 da LFRJ.
Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica.
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Aliás, deve-se frisar que foram inúmeros os meios de comunicação que à época noticiaram a
crise econômica que assolava o grupo Diplomata, comandado pelos Srs. Jacob Alfredo Stoffels
Kaefer e sua esposa Clarice Roman, grupo este que pouco mais de um ano depois requereu
sua recuperação judicial!
Assim, não há outro entendimento senão o de violação ao processo falimentar, restando
devidamente caracterizada a previsão do art. 129 da Lei 11.101-2005, já transcrito nesta peça.
Desta feita, de rigor e com urgência deve o negócio jurídico (alienação de ativos) pactuado
entre as partes ser desfeito em reverencia a princípios norteadores que descansam nas linhas
da Carta Magna, ato contínuo à Lei específica (em respeito a universalidade de credores) e ao
Código Civil Brasileiro.2
4. DO PEDIDO
Levando em consideração as razões de fato e de direito explanadas, requer se digne Vossa
Excelência:
a) Determinar a citação das partes para tomarem ciência do presente feito e, querendo,
apresentarem contestação de forma tempestiva, esclarecendo os fatos soerguidos por esta
longa manus com a apresentação das provas que entender cabíveis, sob pena de revelia.
b) Concessão da justiça gratuita pleiteada, por se tratar de atuação da Administradora Judicial
em favor dos interesses de uma massa falida já onerada pelo passivo elevado.
2 Art. 130. Da LFRJ. São revogáveis os atos praticados com a intenção de prejudicar credores,
provando-se o conluio fraudulento entre o devedor e o terceiro que com ele contratar e o efetivo prejuízo sofrido pela massa falida.
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c) Intimação do Ilustre Membro do Ministério Público para que atue no presente feito, levando
em consideração a existência de interesse coletivo e eventual ocorrência do quanto previsto
no art. 168 da LFRJ.
d) Seja mantida a indisponibilidade do imóvel objeto do Registro de Matrícula n. 27.306
decretada nos autos do processo de Falência do grupo Diplomata.
e) Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos. Ato contínuo
requer, desde já, a intimação de todas as partes envolvidas no feito para que prestem
depoimento pessoal perante o D. Juízo.
f) Tudo isso para que ao fim seja o presente feito seja Julgado PROCEDENTE, desfazendo o
negócio jurídico suscitado ao longo desta peça, concernente a dação em pagamento do imóvel
feita pelo Sr. Jacob Alfredo Stoffles Kaefer ao Banco Industrial e Comercial S.A., sendo ele
devolvido a seu antigo proprietário e ato contínuo, arrecadado em favor da massa falida do
grupo Diplomata.
g) A condenação das partes contrárias em sucumbência com o pagamento das custas e
honorários advocatícios no importe de 20% do valor da causa.
5. DO VALOR DA CAUSA
Dá-se ao presente feito o valor de R$ 32.000.000,00 (trinta e dois milhões de reais).
Termos em que, pede deferimento.
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13/04/2015: JUNTADA DE PETIÇÃO DE INICIAL. Arq: Petição Inicial
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Tel.: (11) 3882-0538 www.viacapital.com.br
De São Paulo para Cascavel, 31 de março de 2015.
Capital Administradora Judicial
Luis Claudio Montoro Mendes
OAB SP 150.485
Zilio Advogados Associados
Edemar Antônio Zilio Junior
OAB PR 14.162
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13/04/2015: JUNTADA DE PETIÇÃO DE INICIAL. Arq: Petição Inicial