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29 PROJETOS DE APRENDIZAGEM - UMA EXPERIÊNCIA MEDIADA POR AMBIENTES TELEMÁTICOS Léa da Cruz Fagundes, Rosane Aragón de Nevado, Marcus Vinicius Basso e Juliano Bitencourt Laboratório de Estudos Cognitivos - LEC/UFRGS [email protected] [email protected] [email protected] [email protected] Crediné Silva de Menezes Departamento de Informática – UFES [email protected] Valéria Cristina P. C. Monteiro Mestrado em Informática – UFES [email protected] Resumo: Visando oferecer uma alternativa que facilite a utilização da pedagogia de “Projetos de Aprendizagem”, concebeu-se o ambiente telemático AMADIS. As primeiras testagens do Amadis ocorreram no âmbito do Programa ECSIC - Escola, Conectividade e Sociedade da Informação e do Conhecimento, um programa realizado pela UFRGS e a Prefeitura de Porto Alegre, para elaborar, aplicar e testar modelos de metodologias, recursos pedagógicos e recursos informáticos para a educação, introduzindo inovações na Escola. Abstract: Aiming at providing a better support for “Learning Projects” pedagogy, the telematics environment AMADIS was conceived. An ini- tial set of tests were carried out within the scope of “ESCIC” (School, Connectivity and the Information and Knowledge Society), a program developed by UFRGS (Federal University of Rio Grande do Sul, in Bra- zil) and the Porto Alegre city council, to elaborate, apply and test mod- els of methodologies, pedagogical resources and informatics for educa- tion, bringing innovation to Schools. 1. INTRODUÇÃO A aprendizagem segundo a Epistemologia Genética (Piaget, 1929-1979) depende de um processo construtivo que ocorre através de construções e reconstruções dos sistemas de significação e dos sistemas lógicos de cada individuo. Para que o individuo faça suas (re)construções é fundamental que ele possa interagir com os objetos (natureza, mundo físico, cultura, artes, ciências, linguagens...), com outros sujeitos (sociedade, instituições...) e agora com as tecnologias. A interação mantém a vida e o desenvolvimento. O grande desafio é como implantar na escola uma prática que favoreça o desenvolvimento e, por conseqüência, facilite a aprendizagem. O construcionismo de Papert (Papert, 1994) discípulo de Piaget, sugere que uma boa estratégia para isso é o individuo construir artefatos. O desenvolvimento de Projetos de Aprendizagem é uma pedagogia que explora os princípios do construtivismo e dá suporte ao construcionismo - nela, o estudante constrói conhecimento a partir da exploração de uma questão de investigação. A Pedagogia de Projetos de Aprendizagem, criada pelo LEC, cuja experiência piloto foi realizada pelo Projeto Amora (CAp/UFRGS), em 1995-96, está sendo adotada em escolas públicas do país desde 1997, a partir de capacitações de professores realizadas pelo projeto PROINFO, um programa de inserção das tecnologias da informação e da comunicação desenvolvido pela Secretaria de Educação a Distância do MEC em parceria com Estados e Municípios. O projeto atingiu 6 milhões de alunos, 4629 escolas, 262 NTEs, 2169 multiplicadores, 137911 professores capacitados e 54 mil computadores instalados nas escolas. Essa pedagogia, reconhecida como inovadora, apresenta resultados significativos quanto ao desenvolvimento

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Revista Brasileira de Informática na EducaçãoVolume 14 - Número 1 - Janeiro a Abril de 2006

Projetos de Aprendizagem - Uma experiênciamediada por ambientes telemáticos

PROJETOS DE APRENDIZAGEM -UMA EXPERIÊNCIA MEDIADA POR

AMBIENTES TELEMÁTICOS

Léa da Cruz Fagundes,Rosane Aragón de Nevado,Marcus Vinicius Basso eJuliano BitencourtLaboratório de Estudos Cognitivos -LEC/[email protected]@edu.ufrgs.br

[email protected]@edu.ufrgs.br

Crediné Silva de MenezesDepartamento de Informática – [email protected]

Valéria Cristina P. C. MonteiroMestrado em Informática – [email protected]

Resumo: Visando oferecer uma alternativa que facilite a utilização da

pedagogia de “Projetos de Aprendizagem”, concebeu-se o ambiente

telemático AMADIS. As primeiras testagens do Amadis ocorreram no

âmbito do Programa ECSIC - Escola, Conectividade e Sociedade da

Informação e do Conhecimento, um programa realizado pela UFRGS e

a Prefeitura de Porto Alegre, para elaborar, aplicar e testar modelos de

metodologias, recursos pedagógicos e recursos informáticos para a

educação, introduzindo inovações na Escola.

Abstract: Aiming at providing a better support for “Learning Projects”

pedagogy, the telematics environment AMADIS was conceived. An ini-

tial set of tests were carried out within the scope of “ESCIC” (School,

Connectivity and the Information and Knowledge Society), a program

developed by UFRGS (Federal University of Rio Grande do Sul, in Bra-

zil) and the Porto Alegre city council, to elaborate, apply and test mod-

els of methodologies, pedagogical resources and informatics for educa-

tion, bringing innovation to Schools.

1. INTRODUÇÃO

A aprendizagem segundo a Epistemologia Genética(Piaget, 1929-1979) depende de um processo construtivo queocorre através de construções e reconstruções dos sistemasde significação e dos sistemas lógicos de cada individuo. Paraque o individuo faça suas (re)construções é fundamental queele possa interagir com os objetos (natureza, mundo físico,cultura, artes, ciências, linguagens...), com outros sujeitos(sociedade, instituições...) e agora com as tecnologias. Ainteração mantém a vida e o desenvolvimento.

O grande desafio é como implantar na escola umaprática que favoreça o desenvolvimento e, por conseqüência,facilite a aprendizagem. O construcionismo de Papert (Papert,1994) discípulo de Piaget, sugere que uma boa estratégia paraisso é o individuo construir artefatos. O desenvolvimento deProjetos de Aprendizagem é uma pedagogia que explora os

princípios do construtivismo e dá suporte ao construcionismo- nela, o estudante constrói conhecimento a partir da exploraçãode uma questão de investigação.

A Pedagogia de Projetos de Aprendizagem, criadapelo LEC, cuja experiência piloto foi realizada pelo ProjetoAmora (CAp/UFRGS), em 1995-96, está sendo adotada emescolas públicas do país desde 1997, a partir decapacitações de professores realizadas pelo projetoPROINFO, um programa de inserção das tecnologias dainformação e da comunicação desenvolvido pela Secretariade Educação a Distância do MEC em parceria com Estadose Municípios. O projeto atingiu 6 milhões de alunos, 4629escolas, 262 NTEs, 2169 multiplicadores, 137911 professorescapacitados e 54 mil computadores instalados nas escolas.Essa pedagogia, reconhecida como inovadora, apresentaresultados significativos quanto ao desenvolvimento

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cognitivo e melhoria da aprendizagem, especialmente naconstrução de conceitos científicos;

Para implantação de uma Pedagogia é fundamentalque se disponha de ambientes apropriados. A estruturaconceitual e física da escola atual limita naturalmente nossaspossibilidades de reformular concepções, o que pode serperfeitamente superado utilizando ambientes virtuais, ondeessas limitações espaço-temporais são ultrapassadas.

Fazer um projeto de aprendizagem significa desenvolveratividades de investigação sobre uma questão que nos“incomoda”, desperta nossa atenção, excita nossa curiosidade.Isso pode se realizar de maneira individual ou em pequenosgrupos de trabalho. O resultado material é uma coleção articuladade documentos produzidos através de levantamentos, debates,reflexões, sínteses, etc, utilizando diferentes linguagens derepresentação. Para que essas atividades possam seracompanhadas (e compartilhadas) por outros grupos, porprofessores, pesquisadores, etc, é fundamental a existência demecanismos tecnológicos apropriados.

Os cursos convencionais tanto impõem quantodependem de uma estrutura física, pedagógica e gerencialcompartimentalizada e hierárquica. O espaço precisa sersubdividido em ambientes circunscritos a turmas de alunosque devem realizar nos mesmos espaços as mesmasatividades. O tempo é subdividido em períodos seqüenciaisnuma grade de horários que impede a interdisciplinaridade,e onde a espinha dorsal é a exploração de “conteúdosprogramáticos” disciplinares. Estes ambientes oferecemsuporte à disponibilização de conteúdos, ao esclarecimentode dúvidas sobre esses conteúdos (conversas síncronas eassíncronas), à disponibilização de exercícios, à recepçãode soluções e à publicação das avaliações (Santoro et alli,1998). Em outras palavras, esses ambientes apresentam umaestrutura rígida, uma lógica convencional de funcionamentode um curso que sustentam uma concepção equivocada daaprendizagem dos seres humanos que é diferente daaprendizagem das máquinas e da dos animais.

Estamos interessados em ambientes que ofereçamsuporte à realização de atividades que privilegiem odesenvolvimento de habilidades e competências. Ambientesque possibilitem aos sujeitos viverem em um mundo que,segundo os novos paradigmas das ciências,, é povoado porincertezas (Nevado, 2004). O uso de ambientes convencionaispara apoiar a pedagogia de projetos apresenta dificuldadespara os alunos e uma sobrecarga para os professores,principalmente pela dificuldade de acompanhamento dessesprojetos. Visando oferecer uma alternativa que facilite a práticade projetos de aprendizagem com o apoio de ambientes virtuais,concebeu-se o AMADIS, um ambiente para suporte àPedagogia de Projetos.

Há cinco anos, a Secretaria Municipal de Educaçãode Porto Alegre (RS), vem instalando Linux o que permitiu,em 2003, uma parceria entre essa Secretaria, a LEC/UFRGSe o BNDES, na realização do Projeto “Escola, Conectividadee Sociedade da Informação”, tendo oportunizado a 6000alunos e 400 professores de 25 escolas, o uso intensivo de

sistemas de SL como ferramenta na construção doconhecimento. Neste projeto, alunos e professores doensino básico da rede pública de Porto Alegre-RSdesenvolveram projetos de aprendizagem usando comosuporte telemático o ambiente AMADIS. O trabalho serviu,entre outras coisas, para consolidar a prática de Projetosde Aprendizagem em ambientes virtuais e para validar oambiente utilizado. Um dos resultados foi a identificaçãode novas funcionalidades para o AMADIS, que estãosendo incorporadas em uma nova implementação dosistema, realizada com o suporte financeiro da FINEP.

Este artigo discute uma experiência como projetos deaprendizagem no contexto do projeto ECSIC e apresenta oambiente AMADIS. Na seção 2 é feita uma contextualização,com uma apresentação simplificada da pedagogia deprojetos. A seção 3 apresenta uma discussão sobre osrecursos necessários para realização da pedagogia emambientes virtuais. Na seção 4 apresentamos uma descriçãogeral do ambiente utilizado. Na seção 5 é feita uma discussãosobre o Projeto ECSIC e a metodologia de avaliação adotada.A seção 6 discute a necessidade de recursos específicos datecnologia da informação e da comunicação para apoiarProjetos de Aprendizagem. Finalmente a seção 7 apresentareflexões sobre os ambientes virtuais e suas aplicações (eimplicações) no processo de aprendizagem.

2. PROJETO DE APRENDIZAGEM - A METODOLOGIA

O desenvolvimento de um projeto de aprendizagemconsiste na busca por informações que esclareçam asindagações de um sujeito sobre a sua realidade. Essasindagações se manifestam por inquietações advindas desuas vivências e necessidades em conhecer e explicar omundo. O objetivo é o desenvolvimento de um processode aprendizagem que alcance a construção de novosconhecimentos, em que o aprendiz possa sistematizarinformações ampliando sua rede de significações, possareestruturar o raciocínio lógico sobre os novos significadosenquanto elabora sínteses de respostas descritivas eexplicativas para sua curiosidade. Enquanto o projeto sedesenvolve, os estudantes constroem uma rede deconhecimentos em torno da questão investigada (Fagundeset alli, 1999). O primeiro passo é selecionar uma curiosidade,que para fins didáticos, denomina-se de “Questão deInvestigação”. A seguir é feito um inventário dosconhecimentos (sistemas nocionais, ou conceituais dosaprendizes) sobre a questão. Esse conhecimento pode serclassificado em dúvidas e certezas. As certezas para asquais não se conheça os fundamentos que a sustentemsão denominadas de provisórias. As dúvidas são sempretemporárias.

O processo de investigação consiste noesclarecimento das dúvidas e na validação das certezas. Otrabalho com projetos se desenvolve segundo um planode interação intensiva. No plano, os itens do inventáriosão agrupados em unidades de investigação, segundo suasafinidades, é previsto um tempo para sua realização, são

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definidos recursos e escolhida uma metodologia. Oesclarecimento/validação de um item requer: coleta deinformação, análise, debates e por fim a elaboração de umasíntese descritiva e/ou explicativa. No decorrer dainvestigação, surgem novas dúvidas e novas certezas; com

isso o inventário é modificado e o planejamento,conseqüentemente, refeito. Em torno de um projeto searticula uma rede de cooperação, formada por autores,outros estudantes – construtores de outros projetos,professores com diferentes papéis e eventuaiscolaboradores externos – Figura 1.

Figura 1: Rede de cooperação que dá sustentação ao desenvolvimento de projetos de aprendizagem

2.1 OS PAPÉIS DOS DOCENTES E OS CONTEXTOS DE APRENDIZAGEM

Na proposta de Projetos de Aprendizagem o papeldo professor é orientado pelas diferentes funções que venhaa assumir na interação com os estudantes (Fagundes etalli, 1999). Ele poderá ser um articulador entre objetivos,interesses e estilos de aprender dos alunos. Assim, a elecaberá a função de organizar o contexto de aprendizagemno que diz respeito às possíveis áreas de interesse enecessidades de professores e alunos devolvendo-ospresencialmente ou via mecanismos de interação ecomunicação digitais; coordenar a reflexão que envolve aprática docente e discente organizando o planejamentoconjunto de novas ações e analisando continuamente osresultados de modo a oportunizar a reorganização docontexto de aprendizagem; fortalecer as trocas quefavoreçam a integração entre os conceitos trabalhados porprofessores e alunos a partir das ações disciplinares ouinterdisciplinares. A esse professor também poderá caber opapel de orientador de projetos, no qual ele estimula e auxiliana viabilização de busca e organização de informações,frente às indagações do grupo de alunos. Ele questiona,apresenta desafios, argumenta e provoca a contra-argumentação dos aprendizes, provocando a atividade de

pensar criticamente para refazer suas buscas e as atuaisconstruções. Como orientador, o professor também seráresponsável por estabelecer os contatos com osespecialistas das diferentes áreas do conhecimento, sempreque um projeto assim demandar, de maneira que osconceitos sejam aprofundados. Na função de especialista,ao professor caberá atuar como organizador de situaçõesde aprofundamento, na sua área de conhecimento e nasinterfaces com as demais, considerando os interessessurgidos a partir de projetos e necessidades dos alunos. Apartir do que está sendo exposto, fica claro que um mesmoprofessor poderá acumular mais de uma função, de acordocom as responsabilidades que venha a assumir nodesenvolvimento dos projetos. (Magdalena et alli, 2000).

2.2 QUE APRENDIZAGENS PODEM OCORRER?Os conceitos e os sistemas conceituais dos aprendizes

que sejam ativados na formulação de problemas sobre ocontexto de seu ambiente de vida – nas questões deinvestigação – passam a orientar suas buscas de informaçõesem outros múltiplos e variados contextos. Esta é umacondição indispensável para tornar-se cidadão, para viver econviver numa sociedade conectada. Já o esclarecimento

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das dúvidas usando as ferramentas de trocas do ambientedigital, de coleta de dados, de atividades experimentais, nosdiferentes espaços de registro, de análise dos resultadosalcançados, podem tornar efetivas operações que levem areconstruções de seus sistemas conceituais. Novasredefinições das certezas, pela reflexão compartilhada noambiente virtual, pela validação das descobertas, serãoresponsáveis pelas reconstruções dos novos conceitos, dosprincípios e pela redefinição das leis que regulam as relaçõesconceituais. Este rico processo de diferenciação entreconhecimentos, a princípio indiferenciados nas informaçõesrecolhidas, torna possível uma integração interdisciplinar quepode ser formalizada quando os diferentes códigos derepresentação desses conhecimentos passam a ser usadosem hiperdocumentos, com melhor lógica e mais criatividade,para elaborar as sínteses nas conclusões dos projetos. Todo

esse processo construtivo pode ser posto em ação orientadopor valores como interesse, curiosidade, desejo de aprender,de participar, de cooperar. Em um projeto de aprendizagemos estudantes intercalam momentos de exploração, realizandoexperimentos contextualizados no mundo físico (Figura 2),com momentos de reflexão. Os momentos de debates ereflexões viabilizam as trocas onde os estudantes confrontamsuas certezas e compartilham suas dúvidas (Figura 3). Nestecaso a grande contribuição de um ambiente como o AMADISé tornar possível o registro, o armazenamento e a amplaconsulta à toda a produção de cada aluno e dos pequenosgrupos tanto aos professores como aos colegas. As trocaspodem ser intensivas e extensivas. A avaliação pode sercontinuada e construtiva. Os erros são aceitos para garantira liberdade de expressão das reflexões e para servir desuporte às reconstruções.

Figura 2: Experimentos contextualizados no mundo físico.

Figura 3: Trocas onde se redefinem as certezas

3. PROJETO DE APRENDIZAGEM - NECESSIDADES DE

FERRAMENTAS

Todas as micro-atividades de um projeto usam eproduzem informações que necessitam ser interligadas,

em forma de rede, para que os seus desenvolvedorespossam a qualquer instante navegar por ele, revendo liçõesaprendidas, revisando decisões tomadas, reaproveitandoinformações, etc. Cada tipo de atividade gera documentosusando variadas linguagens tais como, textos, imagens,

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vídeos, tabelas, mapas de conceitos, gráficos, animações,apresentações, jogos, etc.. Esses documentos não podemsimplesmente ficar isolados em repositórios, eles precisam estararticulados e disponibilizados em múltiplas formas de navegação.Cada conversa do grupo, cada questionamento de um colegaexterno, cada esclarecimento/indagação/comentário de umdocente, precisa estar conectado com os itens de trabalho. Àmedida que o projeto avança, vão se criando documentos, vãose tomando decisões e tudo isso vai criando um ambientecomplexo, difícil de trabalhar, o que se agrava na seqüência dasvárias sessões de trabalho da equipe. Além disso, um mesmoestudante, ao longo de suas atividades escolares, participaráde vários projetos, compondo diferentes equipes. Cada trabalhopor ele desenvolvido terá lhe trazido lições particulares que elecom certeza gostará de resgatar quando estiver em novasatividades. Essas conclusões precisam ser anotadas e articuladaspara facilitar futuros usos.

Os docentes, nas suas funções de apoio, necessitam deferramentas que facilitem a navegação e acompanhamento dosdiferentes projetos. Além de acompanhar equipes ele também

acompanha cada individuo, é necessário fazer registro deobservações, registrar as diferentes dificuldades encontradaspor estudantes na compreensão de um conceito, no uso de umsoftware, nas abordagens que ele utilizou e no desfecho decada caso.

Estudantes, professores e visitantes em geral,navegando por diferentes projetos podem formular questões/observações e comentários para os desenvolvedores. Aomesmo tempo esses observadores podem se interessar emfazer anotações particulares em seus próprios livros deanotações. Ao longo do processo de uso dessa pedagogiavai se criando um grande banco de projetos rico em conteúdos,em experiências, em tecnologias utilizadas, em tomadas dedecisão, em meta-aprendizagens que servirão como fonte depesquisa para o desenvolvimento de novos projetos, para otrabalho com formação de novos professores, para a elaboraçãode novos planos de ação institucionais etc. A rede decomunicação e produção de documentos necessários aodesenvolvimento e acompanhamento de um projeto deaprendizagem é ilustrada na figura 4.

Figura 4: rede comunicação e produção de documentos necessários ao desenvolvimento e acompanhamento de um projeto de aprendizagem

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Para que isso ocorra de forma efetiva, essesprojetos e suas partes constituintes não podem ficarsimplesmente depositados formando um granderepositório, o que requer a concepção e. disponibilizaçãode ferramentas que facilitem a organização.

4. O AMADIS - UMA VISÃO GERAL

Na sua implementação corrente, o AMADIS é umsistema que dá suporte a quatro tipos de atividadespedagógicas: Desenvolvimento de Projetos deAprendizagem, Oficinas Tecnológicas, SemináriosTemáticos e formação de Grupos de Interesse (Nevadoet alli, 2001). Com respeito a Projetos, o sistema permitea catalogação de novos projetos, o gerenciamento dosdocumentos de um projeto e ao mesmo tempo dá suporteà navegação nesses projetos. Para a realização deOficinas Temáticas o sistema dá suporte à publicação detutoriais, à proposição de atividades práticas, àapresentação de resultados e ao esclarecimento de

dúvidas. A realização de seminários temáticos provêfacilidades para a publicação de documentos dereferencia (sugestão do professor e dos alunos), aodebate, à publicação de sínteses e à avaliação doseminário. Para facilitar o trabalho dos docentes, provê-se a organização de grupos de interesse. Nestes, umgrupo de especialistas em biologia, por exemplo, podesocializar materiais didáticos, estabelecer um debatesobre o trabalho em andamento e planejar novasatividades. Da mesma forma, uma equipe pedagógicapode utilizar o ambiente para compartilhar as experiências,as dificuldades e deliberar sobre ações futuras. Comotodo ambiente para comunidades virtuais, o sistema provêas ferramentas básicas de comunicação (mural, e-mail,chat, fórum etc) viabilizando assim as interações entreos diferentes atores do processo. Além disso, sãofornecidas ferramentas de apoio à organização dotrabalho individual. A figura 5 apresenta a estruturaconceitual do Ambiente Amadis utilizando mapasconceituais.

Figura 5: estrutura conceitual do Amadis

A figura 6 apresenta as principais interfaces dosistema conectando o webfólio do estudante com outros

elementos do ambiente onde se destaca a página do projetode aprendizagem.

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Figura 6: estrutura conceitual do Amadis

4.1 ESPAÇO INDIVIDUAL DE TRABALHO

Cada membro da comunidade de aprendizagem participade uma ou mais atividades, podendo exercer diferentes papéisem cada uma delas. Independente disso ele precisa de umespaço particular que lhe dê acesso às diferentes atividades

(relação de envolvimentos) onde possa fazer o registro públicode suas experiências (diário de bordo), onde possa visualizarseus compromissos e anotar novos (agenda), onde possaorganizar documentos particulares (pasta pessoal), ondepossa fazer suas anotações pessoais (bloco de notas) e onde

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possa estabelecer comunicação com outros membros dacomunidade (e-mail, mensagem instantânea). Esses sãorecursos para apoiar, facilitar e potencializar uma práticapedagógica que expressa a função do professor como umverdadeiro pesquisador, que orienta a aprendizagem para aconstrução de conhecimentos e ao mesmo tempo oferecenovos conhecimentos à comunidade docente.

4.2 PROJETOS DE APRENDIZAGEM

Cada projeto de aprendizagem é realizado por umaequipe de estudantes, com a colaboração de docentes,desempenhando diferentes tarefas (especialista, articulador,orientador etc). Um projeto é sempre uma atividade de naturezamultidisciplinar e, portanto cada uma de suas partes podeexplorar conteúdos de diferentes áreas do conhecimento. Ummesmo projeto, portanto pode estar associado a diferentescategorias de conhecimento. É importante que se possaregistrar a associação de um projeto com diferentes categorias,indicando o ponto específico do projeto onde ocorre aassociação. Para os desenvolvedores o sistema disponibilizaferramentas para registro de observações do andamento doprojeto, publicação de novas produções, aporte de novasinformações coletadas e suporte aos debates da equipe e destacom os docentes e com visitantes. A publicação de novasproduções é que permite ao visitante o acesso aodesenvolvimento do projeto e a sua interação com osdesenvolvedores. Do ponto de vista do visitante, além doacesso às informações gerais sobre o projeto, ele pode navegarpela parte pública do projeto, interagir com os desenvolvedores

de um projeto específico e fazer anotações públicas sobre assuas experiências com o ambiente, com um projeto específicoe até mesmo sobre as relações entre vários projetos.

4.3 ARQUITETURA DO AMBIENTE

A figura 6 apresenta a estrutura lógica do AMADIS,cujos grandes componentes lógicos se descreve a seguir.

O ambiente está organizado em seis grandescomponentes de interação com usuários. O Webfólio é o portaldo usuário, onde são apresentadas todas as suas relaçõescom o ambiente. Em Projetos, o usuário interage com umprojeto específico, podendo editá-lo, debater com outrosparticipantes etc. Em Comunidades o usuário dispõe deferramentas para conhecer os diversos grupos que habitam oambiente. Em Cursos dispõe-se de um ambiente para criaçãode grupos hierarquizados de pessoas, documentos eferramentas. Em Pessoas, dispõe-se de ferramentas paralocalizar os indivíduos e a partir daí estabelecer interações. EmAdministração, estão as ferramentas específicas para gerênciade cada instalação do ambiente.

As ferramentas do sistema estão agrupadas emFerramentas de Comunicação, Ferramentas de Notificação,Ferramentas de Autoria e Publicação, Ferramentas deVisualização e Ferramentas de Suporte à Integração.

A lógica do sistema se assenta sobre as Classes deNegócios e de Fundação da Interface. A organização internados dados do sistema é realizada por um framework (CM->Devel). (figura 7)

Figura 7: arquitetura do sistema

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5. RESULTADOS PARCIAIS DA TESTAGEM DO AMADIS

NO PROJETO ECSICAs primeiras testagens do ambiente Amadis

ocorreram no âmbito do Programa ECSIC- Escola,Conectividade e Sociedade da Informação e doConhecimento. Este Programa, realizado em 2003/2004,constituiu-se numa parceria entre a UFRGS e a Prefeiturade Porto Alegre, com o apoio financeiro do BNDES, paraelaborar, aplicar e testar modelos de metodologias, recursospedagógicos e recursos informáticos para a educação,introduzindo inovações na Escola. O ambiente AMADISserviu de apoio ao desenvolvimento de experiênciaspotencializadoras da inclusão digital e das aprendizagensnas mais diversas áreas do conhecimento (ciências naturaise sociais, matemática, tecnologia, língua, artes), realizadassob a forma de Projetos de Aprendizagem, em 25 escolas darede municipal de ensino, envolvendo 600 professores e5000 alunos de classes de ensino básico. Para avaliaçãodas inovações propostas pelo projeto ECSIC assim comoda adequação do AMADIS como apoio às essas inovações,foram eleitas quatro categorias, posteriormentedesdobradas em indicadores:

1. Conectividade, considerada como apropriaçãodos recursos interativos do ambiente e expressaspelo uso desses recursos na realização dosprojetos;

2. Inovações nas práticas pedagógicas com o usoda tecnologia, expressas pela incorporação depráticas de Projetos de aprendizagem;

3. Sustentabilidade das inovações, compreendidacomo possibilidade de continuidade de uso doAmadis e do trabalho com Projetos após afinalização do Programa ECSIC e

4. Recursos para apoio ampliado do trabalho comprojetos de aprendizagem.

Os dados estão sendo analisados mediante o usode tratamento estatístico baseado no software C.H.I.C(Classification Hierárquique, Implicative et Cohérsive ),desenvolvido por Régis Grás, no Institut de RechercheMathématique de Rennes (IRMAR) na França (Almouloud,1992), considerando-se as categorias mencionadas acima.Os resultados parciais (considerando a diversidade equantidade de dados, a análise só deverá estar concluídano final de 2006) do uso do Amadis para apoio aos Projetosde aprendizagem, mostraram que o ambiente favoreceu aintrodução e/ou a consolidação de práticas construtivistas,apoiando o desenvolvimento de Projetos deAprendizagem, em todos os níveis de ensino, conformeapontam os estudos realizados sobre os processos eprodutos registrados no ambiente e nas observaçõesrealizadas in loco nas escolas. No entanto, foram tambémidentificadas limitações em relação aos recursosdisponíveis para o desenvolvimento dos Projetos,principalmente relacionados a : (i) recursos de recuperaçãode informações que permitam um acompanhamento mais

efetivo do processo de aprendizagem dos alunos,considerando a expressiva quantidade de páginasproduzidas, bem como de comunicações entre os autorese orientadores de projetos; (ii) recursos para odesenvolvimento de projetos cooperativos e (iii)construção cooperativa de mapas conceituais.

6. AMADIS - NOVAS FUNCIONALIDADES

Além de uma organização diferenciada dos espaços,conforme discutimos anteriormente, o trabalho comprojetos de aprendizagem cooperativos requer outrosrecursos específicos. Essas necessidades são motivadasprincipalmente pela natureza produtiva do processo, ondeo estudante abandona o papel de mero consumidor deinformação e, conseqüentemente, da mudança de atitudedo professor com respeito à avaliação do processo deaprendizagem de cada individuo e do coletivo.

6.1 SUPORTE À ORGANIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO

A leitura de documentos é central em processos deaprendizagem. A leitura de documentos digitais, por serrealizada em um outro suporte, apresenta diferençasimportantes no nosso modo de trabalhar. Ao lermos, fazemosanotações, relacionamos a informação atual com outrasencontradas anteriormente produzimos sínteses. Osinstrumentos básicos de navegação na WEB nãoproporcionam o apoio apropriado à essas, o que nos levouà concepção de uma nova ferramenta para facilitar aorganização da informação (Goulart 2001). A idéia central éoferecer uma ferramenta que possa ser utilizada durante aleitura de textos, armazenados em um espaço individual oucoletivo do ambiente virtual. A ferramenta realiza algumasatividades básicas, tais como construção semiautomáticade um vocabulário e indexação automática dos textos combase no vocabulário. Além disso, o usuário, ao estar lendoo texto, pode fazer anotações diretamente no textoconsiderado. As anotações podem ser livres ouclassificadas. As anotações livres consistem de pequenostextos associados a trechos do documento. Para asanotações classificadas os estudantes podem criarcategorias. Essas categorias podem inclusive serorganizadas em hierarquias. Este percurso geraimplicitamente um documento, que podemos comparar àuma catalogação de leitura. Um mesmo documento podeser lido e anotado por diferentes pessoas, isso pode gerarum documento que consolida as observações de um grupo.Por outro lado, o conjunto de leitura, produz um documentoque facilita a análise e a construção de síntese sobre umdeterminado item sob investigação. A aplicação destaferramenta é bastante geral, entretanto destacamos nocontexto do ambiente proposto, três grandes utilizações:no apoio ao desenvolvimento de projetos, no apoio àrealização de seminários temáticos e no apoio à avaliaçãoda aprendizagem. Uma atividade importante nodesenvolvimento de um projeto é a coleta de informação.Esta atividade pode ser realizada através da consulta alivros, da busca em documentos digitais etc. Em particular,

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Léa da Cruz Fagundes, Rosane Aragón de Nevado,Marcus Vinicius Basso, Juliano Bitencourt,

Crediné Silva de Menezes e Valéria Cristina P. C. MonteiroProjetos de Aprendizagem - Uma experiênciamediada por ambientes telemáticos

o apoio à organização das informações encontradas nosdocumentos digitais, é de fundamental importância para otrabalho com projetos. Após selecionar informações nainternet, os documentos ficam armazenados no ambiente detrabalho individual ou do grupo para posterior análise. Aatividade de avaliação no desenvolvimento de projetos deaprendizagem é um trabalho árduo. O professor precisapercorrer cada projeto e, nessa caminhada, fazer váriasanotações. Essas anotações devem se relacionar com outrasanotações anteriores e, em geral, são anotaçõescategorizadas. Da mesma forma que se procede ao ler umtexto, o professor pode proceder ao ler a página de um projeto.Basta marcar o texto, escolher uma categoria (ou criar umanova) e associar um comentário. Ao final do seu percurso oprofessor terá uma síntese da sua navegação. Isto se aplicaainda de uma maneira mais geral, à avaliação individual,quando o professor navega pelas diferentes produções deum estudante e precisa fazer suas observações.

6.2 SUPORTE AO DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS COOPERATIVOS

O trabalho com projetos de aprendizagem, realizadode forma cooperativa, acrescenta uma nova dimensão aodesenvolvimento, a interação sujeito-sujeito, onde seviabilizam as grandes trocas. Quando realizado emambientes virtuais, abre-se a oportunidade para que asatividades se realizem à distância e de forma assíncrona,até mesmo com participantes que nunca se encontrarampresencialmente. Além das ferramentas básicas decomunicação, faz-se necessário uma ferramenta cooperativapara construir o projeto. Vamos definir aqui que o documentode um projeto é um site na internet. Portanto definimos umeditor de sites cooperativos, que apresente ascaracterísticas a seguir descritas. Uma função importante éa gerência das várias páginas e links do projeto, facilitandoo desenvolvimento do mesmo site por diferentescomponentes do grupo. Essa gerência deve tratar inclusivedo controle de acesso e do controle de versões de umprojeto. Deseja-se que os sites de projetos sejaminterativos. Para tal, duas ferramentas são centrais: uminstrumento de coleta de dados (questionário) e umaferramenta de discussão customizável. A ferramenta dediscussão permitirá que o desenvolvedor configure paradiferentes situações (comentários, debates, avaliação comdireito a réplica, etc.).

6.3 CONSTRUÇÃO COOPERATIVA DE MAPAS CONCEITUAIS

Tem sido desenvolvido entre nós, na equipe do LEC,uma pesquisa sobre os recursos do CMapTools (Dutra, I.,Cañas, A. e Fagundes,L. 2004) e, ao mesmo tempo, construídoum novo referencial teórico baseado na Psicologia Genéticaem substituição ao proposto por Novak a partir de Ausubel.A construção de mapas conceituais no contexto de Projetosde Aprendizagem tem se mostrado bastante proveitosa noapoio tanto a auto-avaliação quanto à avaliação formativa.Nesse sentido estamos desenvolvendo um editor de mapasconceituais que facilite o trabalho à distância, que sejaintegrado aos demais recursos do ambiente virtual e que,principalmente, produza documentos adequados para o

percurso dos professores, em suas atividades deacompanhamento e avaliação. O editor de mapasconsiderado já possui um protótipo em operação, mas nãointegrado ao ambiente (Ribeiro-Filho, 2003).

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização de ferramentas convencionais paraimplantação de novas práticas pedagógicas, pode ser umaboa estratégia para evitar que se tenha que esperar aconstrução completa de uma nova. Até mesmo porque aoimplantarmos uma nova prática, na verdade fazemos umareconstrução que por certo não estaria contemplada emuma ferramenta concebida a priori. Os ambientes virtuaisde aprendizagem (AVA), em geral são concebidos para darsuporte às ações não presenciais da escola clássica oupara virtualizar a escola clássica. O trabalho com projetosde aprendizagem propõe uma nova escola, onde os papéis,os tempos, os espaços e as práticas são outras. É portantofácil de se entender por que os ambientes virtuaisdisponíveis não contemplam adequadamente a novaproposta. Neste sentido, já utilizamos vários ambientes,seja para o trabalho na formação de professores seja nasatividades com estudantes em geral (ensino fundamental esuperior). O ambiente AMADIS aqui apresentado foiconcebido a partir dessas experiências, retratando portantouma proposta que surge do uso de ferramentas gerais, apartir de apropriações particulares, na busca por identificarinstrumentos que facilitem o trabalho dos estudantes e dosprofessores. Tem-se hoje uma versão implementada em PHP,dando suporte a variados projetos educacionais e deinclusão social. Das reflexões sobre os projetos realizadose em andamento foi concebida uma nova versão que estásendo desenvolvida desde agosto de 2004 com apoiofinanceiro da FINEP. A nova versão está sendodesenvolvida dentro da filosofia do software livre e estarádisponível para uso a partir do término do projeto, previstopara junho de 2006.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Projetos de Aprendizagem - Uma experiênciamediada por ambientes telemáticos

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