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PROJETO REGIONAL SISTEMAS INTEGRADOS DE TRATAMENTO E USOS DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS NA AMÉRICA LATINA: REALIDADE E POTENCIAL Convênio : IDRC – OPS/HEP/CEPIS 2000 - 2002 ESTUDO DE CASO CONJUNTO RENASCER FORTALEZA, ESTADO DO CEARÁ Situação: CT-SR com tratamento e sem reúso Elaborado por: Francisco César Rodrigues Pimentel Contador, Especialista em Gerência e Controladoria, Consultor Independente em Meio Ambiente, Resíduos Sólidos e Desenvolvimento Institucional Irma Margarita Morales-Torres College of Social and Behavioral Sciences - Latin American Area Center- Universty of Arizona Júlio César da Costa e Silva, Ms Eng.Químico e Ms. Saneamento Ambiental/ABES-CE / CEFET-CE Antonio Olívio Silveira Britto Júnior Eng Agrônomo e de Segurança, Mestrado em Saneamento Ambiental ABES/CEFET Raimundo Bemvindo Gomes, Ms Eng.Alimentos, Mestre em Engenharia Sanitária e Ambiental/CEFET-CE Brasil, junio de 2001

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PROJETO REGIONALSISTEMAS INTEGRADOS DE TRATAMENTO E USOS DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS

NA AMÉRICA LATINA: REALIDADE E POTENCIAL

Convênio : IDRC – OPS/HEP/CEPIS2000 - 2002

ESTUDO DE CASO

CONJUNTO RENASCER FORTALEZA, ESTADO DO CEARÁ

Situação: CT-SR com tratamento e sem reúso

Elaborado por:Francisco César Rodrigues PimentelContador, Especialista em Gerência e Controladoria, ConsultorIndependente em Meio Ambiente, Resíduos Sólidos e DesenvolvimentoInstitucionalIrma Margarita Morales-TorresCollege of Social and Behavioral Sciences - Latin American Area Center-Universty of ArizonaJúlio César da Costa e Silva, MsEng.Químico e Ms. Saneamento Ambiental/ABES-CE / CEFET-CEAntonio Olívio Silveira Britto JúniorEng Agrônomo e de Segurança, Mestrado em Saneamento AmbientalABES/CEFETRaimundo Bemvindo Gomes, MsEng.Alimentos, Mestre em Engenharia Sanitária e Ambiental/CEFET-CE

Brasil, junio de 2001

ÍNDICE

Página

1. Resumo ...................................................................................................................... 1

2. Antecedentes e justificativas ...................................................................................... 22.1 Situação das águas residuárias em nível nacional : cobertura e disposição ............... 2

2.1.1 Introdução ......................................................................................................... 22.1.2 Dados gerais do Brasil por região geográfica ................................................... 32.1.3 Evolução do saneamento básico no Brasil – período 1980 1996 ..................... 4

2.2 Situação das águas residuárias em nível local – coberturas e disposição .................. 72.2.1 Cenário das coberturas e disposição no estado do Ceará ................................. 72.2.2 Centário do tratamento das águas residuárias por sistemas de lagoas de

estabilização na região metropolitana de Fortaleza .......................................... 92.3 A importância do estudo de projeto piloto: sistema integrado.................................... 11

3. Objetivos .................................................................................................................... 133.1 Objetivos gerais .......................................................................................................... 133.2 Objetivos específicos ................................................................................................. 13

4. Descrição geral da área de estudo .............................................................................. 134.1 Nome da cidade .......................................................................................................... 134.2 Localização geográfica ............................................................................................... 144.3 Características geológicas e climáticas ...................................................................... 144.4 Características da bacia .............................................................................................. 154.5 População ................................................................................................................... 174.6 Atividades econômicas ............................................................................................... 184.7 Atividades agrícolas da bacia ..................................................................................... 184.8 Saneamento:abastecimento de água e esgotamento sanitário .................................... 19

4.8.1 Abastecimento de água ..................................................................................... 194.8.2. Esgotamento sanitário ....................................................................................... 19

5. Descrição do sistema de tratamento de águas residuárias tomado como estudode caso – situação atual (sem projeto) ........................................................................ 20

5.1 Introdução .................................................................................................................. 205.2 Características da planta de tratamento ...................................................................... 215.3 Descripção sucinta das lagoas ...................................................................................... 215.4 Visão fotográfica ........................................................................................................ 225.5 Características operacionais, físicas, químicas e microbiológicas da água

residuária bruta e efluente final .................................................................................. 245.6 Disposição final dos efluentes: descarga a ambientes aquáticos e reúso ................... 255.7 Operação e manutenção ............................................................................................. 25

Página

6. Avaliação econômica: custos implantação, operação e manutenção do sistema deesgotamento sanitário do Conjunto Renascer – planta atual ..................................... 25

6.1 Custos de investimentos e operação (projetados) ...................................................... 256.2 Análises econômico-financeiro: fluxo de fundos e rentabilidade da planta ............... 27

7. Impactos ambientais do manejo das águas residuárias e da atividade agrícola ......... 277.1 Impactos positivos com a implementação do projeto ................................................ 277.2 Impactos negativos existentes no ambiente e na comunidade ................................... 287.3 Medidas implementadas para a mitigação dos impactos negativos existentes .......... 28

8. Marco legal ................................................................................................................. 29

9. Aspectos socioculturais .............................................................................................. 319.1 Aspectos gerais da população-alvo do projeto ........................................................... 319.2 Aspectos sobre a propriedade e uso da terra .............................................................. 319.3 Aspectos culturais relacionados com o uso de águas residuárias .............................. 329.4 Aspectos de organização ............................................................................................ 329.5 Relações interinstitucionais ........................................................................................ 33

10. Proposta de implementação de um sistema integrado de tratamento e uso de águasresiduárias .................................................................................................................. 34

10.1 Avaliação do sistema de tratamento existente: infraestrutura e processo ................ 3410.1.1 Critérios de projeto ........................................................................................... 3510.1.2 Aspectos da qualidade para efluente final ........................................................ 35

10.2 Determinação de pontos fortes e limitação do sistema atual ................................... 3610.3 Estrutura do sistema integrado proposto: plano de cultivo e exigências de

tratamento ............................................................................................................... 3710.4 Reabilitação, melhoramento e/ou ampliação da planta de tratamento ..................... 38

10.4.1 Recuperação da planta – limpeza e construção ................................................ 3810.4.2 Cronograma físico-financeiro – recuperação da planta de tratamento ............. 3910.4.3 Manutenção e operação do sistema .................................................................. 4010.4.4 Fontes de recursos – investimentos e operação ................................................ 41

10.5 Implementação da unidade agrícola ........................................................................ 4110.6 Cronograma geral de implementação do projeto ..................................................... 4210.7 Inversões, custos, receitas esperadas e fluxo de fundos .......................................... 4210.8 Análise econômica e financeira: financiamento, fluxo de caixa e rentabilidade ..... 4610.9 Novos impactos ambientais ..................................................................................... 4710.10 Proposta para gestão do sistema integrado ............................................................ 4810.11 Proposta para melhorar o marco legal e institucional ........................................... 49

11. Conclusões e recomendações ..................................................................................... 4911.1 Conclusões gerais .................................................................................................... 4911.2 Recomendações por área ......................................................................................... 50

11.2.1 Aspectos legais e institucionais ........................................................................ 50

Página

11.2.2 Aspectos econômico-financeiros ...................................................................... 5011.2.3 Aspectos de saúde pública ................................................................................ 5011.2.4 Aspectos ambientais ......................................................................................... 5111.2.5 Aspectos sociais ................................................................................................ 52

12. Bibliografia ................................................................................................................ 53

Quadros

1. Dados gerais do Brasil por região geográfica em 31/12/1996 ................................... 32. Evolução da cobertura de esgotos no Brasil (1980-1996) ......................................... 43. a Cobertura dos sistemas de esgotamento sanitário por região geográficas em

31/12/96 ................................................................................................................. 5b Cobertura dos sistemas de esgotamento sanitário por região geográficas em

31/12/96 ................................................................................................................ 64. Percentagem de demanda atendida por faixa de renda .............................................. 75. Moradores em domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio,

segundo os tipos de esgotamento sanitário no estado do Ceará – 1977-1998 ........... 86. Moradores em domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio,

segundo os tipos de esgotamento sanitário – região metropolitana de Fortaleza –Ceará – 1977-1998 ..................................................................................................... 8

7. Características físicas e operacionais de ETE’s de lagoas de estabilização da regiãometropolitana de Fortaleza – RMF, estado do Ceará – Brasil, (fev/99) .................... 9

8. Qualidade de amostras de águas superficiais empregadas na agricultura urbanada RMF ....................................................................................................................... 11

9. Cobertura do abastecimento de água de Fortaleza – CE ............................................ 1910. Cobertura do esgotamento sanitário e tratamento de águas residuárias de

Fortaleza – CE ............................................................................................................ 2011. Características de projetos do sistema de lagoas do Conjunto Renascer ................... 2212. Características operacionais, físicas, químicas e qualidade sanitária da água

residuária bruta e efluente final do sistema de tratamento do Conjunto Renascer .... 2413. Percentuais de remoção no sistema de tratamento de águas residuárias do Conjunto

Renascer ..................................................................................................................... 2514. Dados gerais e custos de investimentos do sistema de tratamento do Conjunto

Renascer – Fortaleza – CE ......................................................................................... 2615. Dados gerais e custos de operação e manutenção do sistema de tratamento do

Conjunto Renascer – Fortaleza – CE ......................................................................... 2616. Parâmetros do projeto das lagoas facultativas e de maturação do Conjunto

Renascer – Fortaleza – CE ......................................................................................... 3417. Resumo dos investimentos realizados no Conjunto Renascer – infraestrutura de

esgotamento ................................................................................................................ 3518. Parâmetros de projeto para otimização do sistema integrado .................................... 37

Página

19. Características das lagoas de estabilização do novo sistema integrado detratamento e reúso ...................................................................................................... 37

20. Plano de cultivo .......................................................................................................... 3821. Cronograma de implementação do projeto agrícola .................................................. 3822. Investimentos para recuperação da planta .................................................................. 3923. Cronograma físico financeiro – atividades de recuperação da planta ........................ 3924. Custos de manutenção e operação do sistema ............................................................ 4025. Cronograma de implementação do projeto Conjunto Renascer ................................. 4226. Estudos e investimentos – produção agrícola ............................................................ 4327. Custos indiretos – produção agrícola ......................................................................... 4328. Custos de produção agrícola - banana ....................................................................... 4329. Custos de produção agrícola – arroz .......................................................................... 4430. Custos de produção agrícola – cana-de-açúcar .......................................................... 4431. Custos de produção agrícola – consolidado ............................................................... 4532. Receitas previas – globais .......................................................................................... 4533. Programa de inversões – globais ................................................................................ 4534. Fluxos de caixa – consolidado ................................................................................... 4635. Indicadores de rentabilidade ...................................................................................... 46

Figuras

1. Localização geográfica da cidade de Fortaleza .......................................................... 142. Localização do Conjunto Renascer e da ETE ............................................................ 163. Visão panorâmica da área do projeto ......................................................................... 174. Esquema da planta de tratamento de águas residuárias domésticas do Conjunto

Renascer ..................................................................................................................... 215. Entrada da área da planta ........................................................................................... 236. Tratamento preliminar (grade, caixa de areia e calha parshall ................................... 237. Lagoa facultativa, no ponto de alimentação ............................................................... 238. Lagoa facultativa, outra visão .................................................................................... 239. Lagoa de Maturação 2 ................................................................................................ 23

1

1. Resumo

Com uma área de 312,4 km2, o município de Fortaleza (3º 43’ 02” latitude sul e 38º 32’35” longitude oeste), capital do Estado do Ceará, apresenta elevado índice de crescimentopopulacional (atualmente 2.138.234 habitantes – IBGE Censo 2000), caracterizado pelaaceleração desordenada do processo de urbanização. Localiza-se na Região Nordeste do Brasil a2.285Km de Brasília, a Capital Federal. Seu clima predominante é quente e estável de elevadastemperaturas e reduzidas amplitudes, com média anual 26º C. Suas atividades econômicasconcentram-se nos setores industrial, agropecuário e de serviços, com destaque para o setor deserviços que contribui com 72,97% do PIB municipal, em especial o turismo.

De acordo com a Companhia de Água e Esgoto do Ceará - CAGECE, a cobertura deesgotamento e tratamento de esgotos sanitários é da ordem de 45,6%, incluindo a disposiçãooceânica por intermédio da ETE do Sistema de Esgotamento Sanitário de Fortaleza – SANEAR,via emissário submarino e os sistemas de lagoas de estabilização, constituídos de lagoasfacultativas primárias e lagoas em série. Na Região Metropolitana, a cobertura chega a apenas15% da população total e restringe-se aos sistemas de lagoas de estabilização, totalizando 18sistemas, dos quais apenas um, o Sistema Integrado do distrito Industrial da cidade deMaracanaú, trata esgotos mistos (domésticos e industriais), os demais, tratam apenas águasresiduárias domésticas.

Dentre as 17 ETE’s do tipo lagoas de estabilização, que tratam águas residuáriasexclusivamente domésticas, localizadas na Região Metropolitana de Fortaleza, foi selecionadacomo estudo de caso a ETE do Conjunto Habitacional Renascer. O sistema está situado no bairroDias Macedo, a 10 Km do centro de Fortaleza, em um conjunto habitacional composto de 470unidades residenciais, ocupadas por uma comunidade de baixa renda (0-2 salários mínimos) eformação precária em relação aos hábitos de proteção sanitária. A comunidade está organizadana forma de uma Associação de Moradores que, mesmo sem apoio institucional, mantém agestão de seu próprio sistema de esgotamento e tratamento de esgoto.

A água residuária gerada pela população do conjunto (estimada em 2.350 habitantes) étipicamente doméstica, cujo esgotamento é feito através de rede coletora do tipo condominial,com vazão média diária para tratamento de 5,88 L/s. Inclui tratamento preliminar (gradeamento ecaixa de areia), e um conjunto de lagoas de estabilização em série, constituído de uma lagoafacultativa primária e três lagoas de maturação.

A referida comunidade pratica, informalmente, o reúso dos efluentes tratados, mantendopequenas hortas e plantação de forrageiras nas vizinhanças da ETE. A boa aceitabilidade socialdesta prática e a existência de áreas residuais no entorno da ETE são fatores positivos quesuscitam o desenvolvimento de ações planejadas com vistas à implantação de um programaformal de aproveitamento dos efluentes tratados na irrigação e aqüicultura, com investimentosrelativamente baixos, adequando-os aos usos propostos, já que os resultados do tratamentopraticado na situação vigente são promissores.

A implantação do Projeto Reúso no Conjunto Renascer, baseado na concepção de umsistema integrado de tratamento e reúso das águas residuárias, onde o sistema em operação

2

funcionará como piloto, constituir-se-á em modelo referencial a ser estendido aos demaissistemas no âmbito municipal e estadual. O projeto prevê a recuperação do sistema atual,abrangendo os aspectos institucionais, legais, técnico-operacionais (vazões para irrigação eaquicultura), ambientais, sociais e econômicos. Ademais, todo o esforço a ser implementadodeve considerar a geração de benefícios para a comunidade como parâmetro prioritário. Permiteainda a expansão de escala em outros sistemas de maiores capacidades, como por exemplo, oSistema Integrado do Distrito Industrial da cidade de Maracanaú - SIDI, que tem vazão da ordemde 23.000 m3/dia.

2. Antecedentes e justificativas

2.1 Situação das águas residuárias em nível nacional: coberturas e disposição

2.1.1 Introdução

O modelo institucional e financeiro do saneamento brasileiro vem passando por um longoprocesso evolutivo, procurandose adaptar às oscilações políticas, econômico-finaceiras eempresariais do país.

Os grandes desafios, principalmente os associados à expansão urbana das últimasdécadas, ao crescente processo de poluição dos recursos hídricos, à precariedade do aportefinanceiro, à inconsistência das políticas governamentais e às dificuldades de ordenaçãoinstitucional, se constituem nos elementos fundamentais que retardam o equacionamento dosproblemas de saneamento ambiental do Brasil.

Por esta razão, o setor de saneamento ambiental brasileiro passa por um processo dediscussão e debates com vistas à implantação de uma política nacional de saneamento que tenhacomo objetivo principal a universalização dos serviços de abastecimento de água, coleta,tratamento e destino final das águas residuárias domésticas e dos resíduos sólidos. Tal premissapressupõe o atendimento da demanda, o cumprimento dos padrões de qualidade e o atendimentoaos direitos dos consumidores.

O fato da lentidão do desenvolvimento das políticas de saneamento básico no Brasil temgerado um panorama crítico no setor, cuja alteração suscita ampla reformulação nas políticaspúblicas de saneamento, modernizando o setor para a retomada das inversões no âmbito de umcontexto totalmente novo.

Em 1989, o XV Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, promovidopela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES, ante a necessidadepremente de ordenar a prestação de serviços públicos de saneamento básico, teve como temacentral a discussão de uma nova política nacional e a reinstitucionalização do setor, estimulandodiversas ações, projetos de lei e programas, em nível federal, que vêm sendo implementados edesenvolvidos, visando a reorganização e modernização deste seguimento.

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Esses esforços, em especial os desenvolvidos através do Projeto de Modernização doSetor Saneamento – PMSS, iniciado em 1992, e que envolve estudos aplicados para areestruturação do setor e investimentos e modernização das companhias Estaduais deSaneamento – CESB’s, já começaram a dar resultados, no sentido de formular estruturas degestão adaptadas às sensibilidades regionais e compatíveis com as características dos municípios.Este instrumento, associado ao que estabelece diretrizes gerais para o exercício do poderconcedente e para a prestação de serviços públicos de saneamento básico, em tramitação noCongresso Nacional, revela um potencial para estabelecer e implementar uma política de gestãocoerente com as necessidades do saneamento ambiental brasileiro.

2.1.2 Dados gerais do Brasil por região geográfica

De acordo com os dados na contagem populacional em 1996 realizada pelo InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, a população brasileira constava de 158,28 milhõesde habitantes, dos quais 78,99% distribuída em áreas urbanas e 21,01% em áreas rurais. As áreasurbanas concentravam-se em 10.131 localidades, sendo que 5.216 são sedes municipais e 4.915distritos.

No quadro 1 estão listados os dados demográficos gerais brasileiros por região geográficaem 31/12/1996.

Na região Sudeste está concentrada 47,70% da população urbana do país, enquanto quena região Nordeste concentra-se a maior população rural (48,61%).

Apesar das grandes extensões territoriais, as regiões Norte com 45,30% e Centro-Oestecom 18,87% abrangendo 64,16% da área terrestre nacional, abrigam as menores populaçõesurbanas e rurais, nos percentuais, de 6,19% e 4,26%, respectivamente.

Quadro 1. Dados gerais do Brasil por região geográfica em 31/12/96

Detalhamento dos itens1 – Área total (Terrestre) ........................................................(Km2)2 – População total (Censo de 1991) ..................................... (1000 hab)3 – População total projetada ................................................ (1000 hab)4 – População projetada ........................................................ (1000 hab)5 – População rural projetada ................................................ (1000 hab)6 – Total de sedes municipais7 – Distritos (*)

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RegiõesNorte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul Brasil

Número % Número % Número % Número % Número % Número1 3 870 185 45,30 1 557 430 18,23 1 612 077 18,87 927 286 10,85 577 214 6,76 8 544 3052 10 264 6,99 42 346 28,92 9 412 6,41 62 444 42,55 22 187 15,12 146 7433 11 921 7,53 45 736 28,90 10 483 6,62 66 878 42,25 23 262 14,70 158 2804 7 744 6,19 29 574 23,65 9 065 7,25 59 641 47,70 19 001 15,20 125 0255 4 175 12,56 16 159 48,61 1 417 4,26 7 235 21,76 4 259 12,81 33 2456 424 8,13 1 645 31,54 446 8,55 1,638 31,40 1 063 20,38 5 2167 216 4,39 1 845 37,54 213 4,33 1 461 29,73 1 180 24,01 4 915

Fonte: Catálogo Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental - ABES, 1998(*) exceção: primeiro distrito – sedes municipais

2.1.3 Evolução do saneamento básico no Brasil – período 1980 a 1996

O Quadro 2 evidencia a evolução da cobertura de esgotos sanitários no Brasil, ano a ano,mostrando o número de localidades urbanas existentes, representadas pelas sedes e distritosmunicipais e a existência ou não de sistemas de esgotamento sanitário.

A cobertura de atendimento dos sistemas de esgotamento sanitário atinge apenas 30,88%da população total, o que representa somente 39,09% da população urbana.

Dos 1.755 sistemas existentes, 91,17% atendem as sedes municipais e apenas 8,83% aosdistritos.

Os quadros 3a e 3b apresentam uma síntese do panorama de cobertura dos sistemas deesgotamento sanitário por região geográfica.

Quadro 2. Evolução da cobertura de esgotos no Brasil (1980 – 1996)

Localidades Sedes comsistema

Distritoscom sistema

TotaisAños

Sedes Distritos Esgotos Esgotos Localidades Esgotos1980 3.974 4.117 1.017 - 8.091 1.0171981 4.022 4.152 1.066 - 8.174 1.0661982 4.015 4.330 1.090 - 8.345 1.0901983 4.102 4.268 1.114 50 8.370 1.1641984 4.105 4.305 1.141 88 8.410 1.2291985 4.117 4.695 1.188 97 8.812 1.2851986 4.179 4.635 1.192 108 8.814 1.3001987 4.186 4.630 1.203 173 8.816 1.3761988 4.297 4.601 1.232 190 8.898 1.4221989 4.417 4.604 1.264 211 9.021 1.4751990 4.491 4.654 1.268 216 9.145 1.4841991 4.656 4.655 1.308 218 9.311 1.5261992 4.754 4.875 1.314 231 9.629 1.5451993 4.926 4.979 1.393 182 9.905 1.5751994 4.943 4.982 1.458 147 9.925 1.6051995 4.949 4.986 1.486 155 9.935 1.6411996 5.216 4.915 1.600 155 10.131 1.755

Fonte: Catálogo Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental - ABES, 1998

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Quadro 3a – Cobertura dos sistemas de esgotamento sanitário por região geográficaem 31/12/96

RegiõesNorte Nordeste Centro-OesteDiscriminação

Número % Número % Número %1. Localidades com sistemas 1.1 Sedes municipais 12 0,75 97 6,06 47 2,94 1.2 Distritos 0 0,00 4 2,58 1 0,65 1.3 Total (1.1 + 1.2) 12 0,68 101 5,75 48 2,742. Responsáveis pela operação 2.1 Empresa – (direta ou indireta) 12 1,51 88 11,07 42 5,28 2.2 Outros 0 0,00 13 1,35 6 0,63 2.2.1 Prefeituras municipais 0 0,00 2 0,23 6 0,70 2.2.2 Entidades diversas 0 0,00 11 11,22 0 0,00 2.3 Total (2.1 + 2.2) 12 0,68 101 5,75 48 2,743. Sedes municipais com sistemas 3.1 Empresa 12 1,74 84 12,19 41 5,95 3.2 Outros 0 0,00 13 1,43 6 0,66 3.3 Total (3.1 + 3.2) 12 0,75 97 6,06 47 2,944. Número de economías 4.1 Empresa 69 202 0,70 1 038 872 10,48 1 021 483 10,31 4.2 Outros 0 0,00 66 909 1,44 6 464 0,14 4.3 Total (4.1 + 4.2) 69 202 0,48 1 105 781 7,59 1 027 947 7,065 População atendida 5.1 Empresa 269 122 0,83 3 828 672 11,79 3 190 678 9,82 5.2 Outros 0 0,00 305 635 1,86 25 338 0,15 5.3 Total (5.1 + 5.2) 269 122 0,55 4 134 307 8,46 3 216 016 6,586. Sedes municipais sem sistemas 6.1 Total 287 8,22 1 548 44,34 399 11,43 6.2 Com obras de implantação 0 0,00 2 3,45 17 29,31 6.3 Com projetos concluídos 0 0,00 19 73,08 2 7,69 6.4 Com projetos em andamento 0 0,00 38 54,29 22 31,43 6.5 Outras 287 8,60 1 489 44,62 358 10,737. Sedes municipais atendidas (%) 5,56 ... 5,26 ... 22,07 ...8. População total atendida (%) 2,26 ... 9,04 ... 30,68 ...9. População urb. total atend. (%) 3,48 ... 13,98 ... 35,48 ...10. População atendida / economia 10.1 Empresa 3,89 3,69 3,12 10.2 Outros 0,00 4,57 3,92 10.3 Média 3,89 3,74 3,13

Fonte: Catálogo Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental - ABES, 1998

6

Quadro 3b. Cobertura dos sistemas de esgotamento sanitário por região geográfica

RegiõesSudeste Sul

BrasilDiscriminação

Número % Número % Número %1. Localidades com sistemas 1.1 Sedes municipais 1 219 76,19 225 14,06 1.600 91,17 1.2 Distritos 146 94,19 4 2,58 155 8,83 1.3 Total (1.1 + 1.2) 1 365 77,78 229 13,05 1 755 100,002. Responsáveis pela operação 2.1 Empresa – (direta ouindireta)

494 62,14 159 20,00 795 45,30

2.2 Outros 871 90,73 70 7,29 960 54,70 2.2.1 Prefeituras municipais 806 93,50 48 5,57 862 49,12 2.2.2 Entidades diversas 65 66,33 22 22,45 98 5,58 2.3 Total (2.1 + 2.2) 1 365 77,78 229 13,05 1 755 100,003. Sedes municipais com sistemas 3.1 Empresa 397 57,62 155 22,50 689 43,06 3.2 Outros 822 90,23 70 7,68 911 56,94 3.3 Total (3.1 + 3.2) 1 219 76,19 225 14,06 1 600 100,004. Número de economias 4.1 Empresa 6 875 988 69,39 903 253 9,12 9 908 798 68,04 4.2 Outros 4 073 944 87,54 506 401 10,88 4 653 718 31,96 4.3 Total (4.1 + 4.2) 10 949 932 75,19 1 409 654 9,68 14 562 516 100,005. População atendida 5.1 Empresa 22 397 723 68,94 2 800 266 8,62 32 486 461 66,46 5.2 Outros 14 626 063 89,23 1 435 000 8,75 16 392 036 33,54 5.3 Total (5.1 + 5.2) 37 023 786 75,75 4 235 266 8,66 48 878 497 100,006. Sedes municipais sem sistemas6.1 Total 419 12,00 838 24,00 3 491 100,00 6.2 Com obras de implantação 12 20,69 27 46,55 58 1,66 6.3 Com projetos concluídos 5 19,23 0 0,00 26 0,74 6.4 Com projetos em andamento 10 14,29 0 0,00 70 2,01 6.5 Outras 392 11,75 811 24,30 3 337 95,597. Sedes municipais atendidas (%) 83,44 ... 19,07 ... 30,67 ...8. População total atendida (%) 55,36 ... 18,21 ... 30,88 ...9. População urb. total atend. (%) 62,08 ... 22,29 ... 39,09 ...10. População atendida / economia 10.1 Empresa 3,26 3,26 3,10 3,28 10.2 Outros 3,59 3,59 2,83 3,52 10.3 Média 3,38 3,38 3,00 3,36

Fonte: Catálogo Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental - ABES, 1998

7

Observa-se a partir do Quadro III que, no âmbito regional, a região sudeste apresenta amaior cobertura, com atendimento a 55,36% da população total e 62,08% da população urbana,de modo que 74,42% das sedes municipais dispõem de sistemas. Ainda em nível regional, osmenores índices de cobertura são encontrados na região Norte com atendimento a 2,26% dapopulação total, 3,48% da população urbana e 2,83% das sedes municipais.

Além dessa baixa cobertura a iniqüidade na oferta dos serviços é marcante. Como sepercebe, as regiões Sul e Sudeste do país são, marcadamente, mais beneficiadas em relação àsregiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Os dados atestam, também, que as maiores carênciassituam-se nas faixas de renda mais baixas (Quadro 4).

Ainda que extremamente preocupantes, esses dados não refletem a realidade dos serviçosefetivamente prestados, uma vez que não levam em conta o elevado nível de deterioração dossistemas de abastecimento de água e coleta de esgoto, o reconhecimento e o respeito aos direitosdos usuários e a generalizada desconsideração à preservação e à conservação dos recursoshídricos usados como mananciais.

Estimativas efetuadas pelo Departamento de Saneamento da Secretaria Urbana doMinistério do Planejamento e Orçamento demonstram que serão necessários, até o ano 2010,investimentos superiores a 40 bilhões de reais, ou seja, mais de dois bilhões de reais por anonesse período, para proporcionar apenas à população urbana do Brasil atendimento emabastecimento de água e saneamento. (Ministério do Planejamento e Orçamento do BRASIL,1977).

Quadro 4. Percentagem de demanda atendida por faixa de renda

Faixa de renda Abastecimento deágua (%) Coleta de esgoto (%)

0 a 2 salários mínimos 68 41Mais de 10 salários mínimos 99 81

Fonte: IBGE, 1991

2.2 Situação das águas residuárias em nivel local – coberturas e disposição

2.2.1 Cenário das coberturas e disposição no estado do Ceará

A Companhia de Água e Esgoto do Ceará - CAGECE, criada em 1971, é o órgãoresponsável pela maioria das atividades de saneamento no Estado do Ceará.

O atendimento de esgotamento sanitário no Estado alcançava, em 1996, apenas 12 das184 sedes municipais. Eram beneficiados somente 783.979 habitantes, correspondendo a cercade 11,37% da população total estimada: 6.891.000 habitantes. (IBGE, 1996).

No que concerne à Fortaleza, a capital do Estado, o sistema de esgotamento sanitárioatende a 45,6% da população total do Município, cujo tratamento e disposição ocorrem através

8

da ETE do SANEAR – Sistema de Esgotamento Sanitário de Fortaleza, com capacidade paratratar 4,8 m3/s, reduzindo a carga poluidora dos esgotos (retirada de resíduos sólidos, tratamentobioquímico da matéria orgânica e oxigenação) antes da disposição final, através do emissáriosubmarino e das lagoas de estabilização.

Quadro 5. Moradores em domicílios particulares permanentes, por situação do domicílio,segundo os tipos de esgotamento sanitário no estado do Ceará – 1997 –1998

Moradores em domicílios particulares permanentes1997 1998Formas de

esgotamentoTotal Urbana Rural Total Urbana Rural

TOTAL 6.887.991 4.570.676 2.317.224 6.986.292 4.704.525 2.281.767Com esgotamentosanitário 4.553.885 3.930.604 623.281 4.839.281 4.175.745 663.536

Rede coletora 593.215 592.597 618 841.539 841.539 -Fossa séptica 1.274.413 1.215.978 58.435 1.268.943 1.205.340 63.603Outro 2.686.257 2.122.029 564.228 2.727.471 2.127.538 599.933Sem declaração - - - 1.328 1.328 -

Sem EsgotamentoSanitário 2.334.106 640.163 1.693.943 2.147.011 528.780 1.618.231

Sem Declaração - - - - - -

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (1997 – 1998)

Os Quadros 5 e 6 mostram a situação dos domicílios segundo os tipos de esgotamentosanitário no Estado do Ceará e na RMF, respectivamente, no período de 1997 a 1998.

Quadro 6. Domicílios e moradores em domicílios particulares permanentes, por situação dedomicílio, segundo os tipos de esgotamento sanitário – região metropolitana de Fortaleza –

Ceará – 1997 – 1998

Domicílios particularespermanentes

Moradores em domicíliosparticulares permanentesFormas de

esgotamento1997 1998 1997 1998

TOTAL 686.781 652.806 2.631.760 2.685.838Com esgotamentosanitário 588.428 613.166 2.435.881 2.526.876

Rede coletora 129.007 164.957 505.138 671.021Fossa séptica 180.014 156.500 738.843 620.220Outro 279.407 291.503 1.191.900 1.234811Sem declaração - 206 - 824

Sem EsgotamentoSanitário 48.353 39.640 195.879 158.962

Sem Declaração - - - -

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (1997 – 1998)

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2.2.2 Cenário do tratamento das águas residuárias por sistemas de lagoas de estabilização naregião metropolitana de Fortaleza.

Além da cobertura efetivada pelo SANEAR, cujo atendimento fica restrito à cidade deFortaleza, a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) conta com dezessete estações detratamento de esgotos – ETEs, do tipo lagoas de estabilização, sendo nove deles configuradoscomo lagoas facultativas primárias e oito como lagoas em série. Com exceção do SistemaIntegrado do Distrito Industrial de Maracanaú – SIDI, que trata as águas residuárias do maiorparque industrial do Estado e de mais sete conjuntos habitacionais, todos os demais tratamesgotos de origem exclusivamente domiciliar.

Estas ETEs estão localizadas em áreas da periferia, de população de baixa renda,condições sanitárias precárias, via de regra ocupadas de forma irregular e não servidas pelosistema de disposição oceânica dos esgotos sanitários. Atende a aproximadamente 15% dapopulação total, correspondente a cerca de 350.000 habitantes.

Com exceção do Sistema do Conjunto Renascer, tomado como estudo de caso nopresente projeto, que é operado pela comunidade do referido conjunto habitacional, as demaissão operadas pela CAGECE.

O quadro 7 mostra o cenário dos dezessete sistemas de lagoas de estabilização da RMF,incluindo características físicas e operacionais.

Quadro 7. Características físicas e operacionais de ETE’s e lagoas de estabilização daregião metropolitana de Fortaleza – RMF, estado do Ceará – Brasil – Fev/89(*)

Parâmetros:

1. VLagoa (m3)

2. POP. DE PROJETO (hab.)

3. Vaf(de projeto) (m3 /dia)

4. Vaf (real) (m3/dia)

5. TDH(dias)

6. CONTRIB. per capita(L/dia)

7. CARGA DBO (KgDBO/ha.dia)

8. EXISTÊNCIA DE ÁREA RESIDUAL

9. OCORRÊNCIA DE REÚSO INFORMAL

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Tipo Sistema 1 2 3 4 5 6 7 8 9Nova Metrópole 168 400 17 976 2 801,9 1 944,0 86,6 108,1 106 Sim NãoPlanalto Caucaia 31 840 7 600 650,4 864,0 36,9 113,7 44 Sim SimComunidade Lagamar 51 000 13 519 2 539,3 2 025,0 25,2 149,8 230 Não SimSão Francisco 29 000 5 922 786,2 257,9 112,4 43,5 58 Sim NãoConjunto Esperança 91 460 14 500 2 332,8 1 102,0 82,9 76,0 139 sim NãoJoão Paulo II 22 100 5 500 1 067,0 428,0 51,6 77,8 111 Sim NãoConjunto Ceará 189 000 51 700 8 035,2 4 095,2 46,2 79,2 147 Sim NãoConjunto Araturi 99 021 25 500 3 823,2 2 026,0 48,9 79,4 137 Sim NãoConjunto Jereissati III 25 920 6 670 1 318,5 318,5 81,4 47,8 67 Sim SimSIDI 1 277 605 42 200 22 727 28,0 9 443 Sim NãoSão Cristovão 53 680 20 563 2 886,6 1 560,5 34,4 75,88 130 Sim SimConjunto Palmeiras 71 400 26 250 3 149,3 2 159,7 33,1 82,27 174 Sim SimTupã Mirim 19 110 5 800 820,8 434,8 44,0 74,97 146 Não NãoParque Fluminense 18 657 4 700 734,4 423,4 44,1 90,08 121 Não NãoConjunto Guadalajara 7 053 2 020 242,8 151,7 46,5 75,10 105 Sim SimConjunto Renascer 12 437 2 500 277,3 188,3 66,04 80,12 79 Sim SimConjunto Tabapuá 13 176 3 000 691,2 240,0 54,9 80,00 74 Sim Sim

Fonte: SEMACE – Pesquisa Direta apud Araújo (2000)

(*), tratam esgotos tipicamente domiciliar (Fevereiro /99) e o SIDI, que trata também águas residuáriasprovenientes do Distrito Industrial

Como se observa, na RMF os problemas relativos aos sistemas de lagoas de estabilizaçãoenvolvem mais aspectos sócio-econômicos do que técnico-gerenciais, o que se justifica pela mádistribuição de renda no Estado, gerando desemprego, falta de moradia, que torna as áreasresiduais de entorno das lagoas lugares atrativos para ocupação, sendo bastante comuns osassentamentos de favelas em áreas muito próximas às ETEs.

Conforme constatação in loco, a população estabelecida no entorno de, pelo menos, novedas estações de tratamento por lagoas, pode ser estimada em quase 8.500 habitantes.Paradoxalmente, a maior parte desta população não dispõe de infraestrutura de saneamentobásico.

Mantido o atual quadro, o cenário futuro aponta para um crescimento da populaçãomarginal das ETEs que, invariavelmente, tem origem rural e não possui qualificação profissional.Tal ocorrência decorre dos longos períodos de estiagem que assolam o interior do Estado,acentuando, a cada dia o êxodo rural.

O reúso não planejado dos efluentes das lagoas já ocorre em pelo menos nove dossistemas da RMF, tendo sido verificado as práticas de piscicultura informal de Tilápia-do-Nilo(Orechromis niloticus) que são criadas diretamente nas lagoas, bem como a irrigação de cultivos

Facu

ltativ

as P

rim

ária

sEm

Sér

ie

11

frutícolas: maracujá (Passiflora macrocarpa), coco (Cocos nucifera), hortícolas: alface (Lactucasativa), coentro (Coriandrum sativum) e cebolinha (Allium fistulosum) e forrageiras.

De um modo geral, o uso de efluentes tratados em lagoas de estabilização com mais detrês células em série, traz maior certeza em relação à qualidade do que as águas de algunsrecursos hídricos superficiais da região utilizados para balneabilidade, pesca e irrigação pelascamadas mais pobres da população, visto que maioria deles está impactada pela poluição difusa,originada, principalmente, do lançamento de esgotos não tratados e disposição inadequada deresíduos sólidos. No tocante a eventuais impactos na saúde, inexistem informações passíveis deavaliação no presente momento.

É fato notório que os efluentes de lagoas podem conter ainda microrganismospatogênicos como bactérias, cistos de protozoários, ovos de helmintos e vírus. No entanto,considerando que o tempo de detenção hidráulica das ETEs estudadas é de mais de 20 dias, orisco de contaminação é mínimo, principalmente pela eficiência de remoção de coliformes fecaise ovos de helmintos. Assim sendo, considera-se que a qualidade da água de alguns corposhídricos da RMF, pode ser equivalente à do efluente final dos sistemas em série de lagoas deestabilização. O quadro 8 apresenta alguns parâmetros de qualidade de águas superficiaisutilizadas na agricultura urbana da RMF, analisadas no período de estiagem (setembro adezembro de 1998.

Quadro 8. Qualidade de Amostras de Águas Superficiais Empregadas na AgriculturaUrbana da RMF (*)

Corpo hídrico DBO(mg/L)

Amônia(mg N/L)

Fósforo total(mg P/L)

Coliformesfecais

(nmp/1000mL)Rio Maranguapinho 22 1,50 7,10 4,9 E + 2Riacho Maceió 16 10,90 1,10 2,4 E + 4Rio Cocó 8 4,10 1,96 1,6 E + 4Lagoa do Papicu 6 2,26 1,36 4,8 E + 3Lagoa do Opaia 6 2,37 0,75 4,1 E + 4Lagoa da Parangaba 4 0,70 0,79 3,1 E + 4

Fonte: SEMACE , 1998, apud Araújo (2000)

(*) Analisadas no período de estiagem (setembro – dezembro / 98)

2.3 Importância do estudo de projeto piloto: sistema integrado

Segundo BEZERRA(1997), em termos gerais as seguintes razões viabilizam a adoção doreuso de efluentes no Estado do Ceará:

a. existência de áreas disponíveis a custos relativamente baixos, propícia a implantação desistemas de lagoas de estabilização, cuja qualidade do efluente final pode ser aplicado àirrigação irrestrita;

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b. a minimização dos impactos de lançamento de efluentes nos corpos receptores;c. suprimento de água e nutrientes para a atividade agrícola, evitando ou minimizando o

desperdício de água de abastecimento humano;d. utilização das águas residuárias como forma de compensação do baixo nível de

precipitação pluviométrica;e. criação de possibilidade real de aumento da disponibilidade de água potável para o

desenvolvimento de regiões com disponibilidade hídrica limitada, uma vez que podeatender a determinadas demandas que são, via de regra, supridas com água aplicável aoabastecimento público.

O reúso das águas residuárias tratadas pode ser realizado de forma direta ou indireta – naagricultura através da irrigação, na aqüicultura, no reflorestamento e na recarga de mananciaissubterrâneos, com vistas a deter a penetração da água do mar em lençóis freáticosexcessivamente explorados.

Pesquisas desenvolvidas pela Organização Pan Americana da Saúde – OPS(1996)demonstram a grande eficiência do tratamento de esgotos domésticos através de sistemas delagoas de estabilização na remoção de ovos de helmintos, cistos de protozoários, vírus ebactérias.

Esses efluentes podem, em princípio, ser utilizados em qualquer atividade agrícola,incluindo horticultura, culturas agroindustriais, aqüicultura e reflorestamento, em função de suaqualidade microbiológica. Esta prática tem possibilitado aos países em desenvolvimento, nãoapenas a manutenção dos níveis adequados de saúde pública, mas também a preservação dosrecursos hídricos, a geração de emprego e renda, a produção de alimentos e o aumento dafronteira agrícola em regiões com baixa disponibilidade hídrica.

O inventário de práticas populares e de projetos realizados pelo CEARAH PERIFERIA(1992), Organização Não-Governamental atuante no RMF, verificou que, apesar do crescimentode Fortaleza, ainda existem espaços para a produção agrícola e que, diversos projetos deurbanização do setor público podem destinar áreas para as atividades agro-urbanas.O cenário das lagoas de estabilização indica que a grande maioria possui algum tipo de árearesidual próxima que pode ser aproveitada.

Alguns dos sistemas de lagoas de estabilização já implantados na RMF, em especialaqueles configurados em série, oferecem estrutura satisfatória para efetivação desses estudos nosemi-árido nordestino, podendo funcionar como sistemas pilotos em função de suas baixasvazões (entre 150 e 4 100 m3/dia) e de suas áreas residuais, com investimentos relativamentebaixos e relação custo/benefício satisfatórios, como é o caso do sistema do Conjunto Renascer. Aampliação de escala pode ser levada a efeito através do SIDI, cuja vazão elevada (superior a23.000 m3/dia) e qualidade compatível para o reúso.

Do exposto, conclui-se que a implantação de sistemas integrados em nível regionalconstitui segmento estratégico para o desenvolvimento econômico, social e de preservação dosrecursos naturais. Porém, exige estudos mais aprofundados de sua viabilidade nos múltiplosaspectos (institucional, legal, social, econômico, ambiental técnico-operacional, saúde pública),

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com a finalidade de avaliar seu desempenho, considerando-se as carências e potencialidadeslocais.

3. Objetivos

3.1 Objetivos gerais

- Avaliar a performance de um sistema de tratamento de águas residuárias domésticas porlagoas de estabilização implantado no âmbito comunitário, tendo como perspectiva a suaotimização e reúso agrícola e/ou aquícola, baseado na concepção de um sistemaintegrado;

- Aplicar os resultados obtidos no estudo como subsídios para outros sistemas implantadosno Estado do Ceará, com ênfase na Região Metropolitana de Fortaleza - RMF.

3.2 Objetivos Específicos

− Avaliar a ETE do Conjunto Renascer em seus aspectos operacionais e de eficiência,visando a sua recuperação;

− Estabelecer um programa de controle de eficiência de forma a atender aos padrõesexigidos para reúso diversificado de seus efluentes na agricultura e/ou piscicultura deforma segura quanto aos aspectos sanitário e de fertilização;

− Desenvolver um plano de cultivo com aproveitamento da área residual que permita usar,de forma integral, as vazões parciais, compatibilizando a qualidade do efluente com asexigências das culturas;

− Promover ações de educação ambiental e sanitária através de um programa formal dereúso seguro dos efluentes do sistema;

− Apoiar o processo de efetiva participação social da comunidade na gestão do Projeto;

− Propor alternativas de modelos institucionais adequados à manutenção da relação setorpúblico-comunidade capazes de subsistir às influências políticas;

− Subsidiar a construção de parâmetros para o setor de reúso de águas residuárias; e

− Gerar emprego e renda como oportunidade da melhoria da qualidade de vida dascomunidades envolvidas

4. Descrição geral da área de estudo

4.1 Nome da cidade : Fortaleza

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4.2 Localização geográfica:

De acordo com o mapa da Figura 1, a cidade de Fortaleza, capital do Estado do Ceará,localiza-se na Região Nordeste do Brasil a 2.285 km de Brasília, a Capital Federal, apresentandoas seguintes coordenadas geográficas: 3º 43’ 02” latitude sul e 38º 32’ 35” longitude oeste.

4.3 Características geológicas e climáticas

Com uma área de 312,4 km2, o município de Fortaleza estende-se no sentido leste-oestesobre um tabuleiro e uma planície litorânea, constituída das seguintes unidades morfológicas:formas erosivas dos inselbergs, e superfícies pediplanares (Períodos Pré-Cambriano e Terciário);grupo Barreiras sob forma de dessecação (fase intermediária entre os Períodos Terciário eQuaternário); depósitos de praias e dunas fixas, semi-fixas e móveis; depósitos aluvionaresflúvio-marinhos, fluviais e lacustres, além de paleodunas (Período Quaternário). Apresenta umrelevo com altitude de 16m acima do nível do mar, com pequenos desvios altimétricos.

Seu clima é bastante homogêneo e as variações climáticas registradas são diretamenteassociadas ao regime pluviométrico e decorrem, fundamentalmente, da proximidade do litoral,onde os índices pluviométricos são mais elevados e as temperaturas mais estáveis. Predomina o

Fig. 1 - Localização geográfica da cidade de Fortaleza

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quente e estável de elevadas temperaturas e reduzidas amplitudes, correspondente ao tipoclimático Aw’ de Köppen, caracterizado por microclima de faixa costeira de clima tropicalchuvoso, quente e úmido, com estação chuvosa concentrada no outono. Apresenta média anualde temperatura de 26º C, proporcionando pequenas amplitudes térmicas anuais e diárias que nãoexcedem 2º C.

As taxas de evaporação são bastante elevadas, refletindo as altas temperaturas, intensainsolação e influência dominante dos ventos alísios sazonais que chegam a atingir, em média, 4,2m/s e dos sistemas de brisas que atuam diariamente, condicionando fortemente o clima.

O regime pluviométrico anual é caracterizado pela heterogeneidade temporal,verificando-se uma concentração de precipitação no primeiro semestre do ano e uma fortevariação inter-anual. Geralmente a estação chuvosa se prolonga até junho, chegando a atingir90% da precipitação anual. O trimestre mais chuvoso é o de fevereiro/abril ou o de março/maio,respondendo por 65,0 a 70,0% da precipitação anual. A estiagem concentra-se no segundosemestre e a pluviosidade média é superior a 300 mm.

A análise da distribuição inter-anual da precipitação revela uma média acima de 1400mm, porém com anos de longa estiagem, quando o índice de precipitação se reduz a menos de1/4 ou 1/5 da média anual, com uma freqüência estimada de 10 a 20% sobre períodos longos.Por outro lado, os anos de pluviometria elevada não são muito raros, ocasionando enchentes quegeram sérios problemas nas áreas urbanizadas das duas principais bacias: sistemaCeará/Maranguape e Cocó/ Coaçu.

Devido a influência marítima e às altas taxas de evaporação, o município possui elevadoíndice de umidade relativa, variando de 73,0 a 82,5%, cuja oscilação depende do regimepluviométrico.

4.4 Características da bacia

As águas superficiais do município de Fortaleza encontram-se distribuídas em três baciashidrográficas:

- Bacia da Vertente Marítima – de pequeno porte, formada por riachos e algumas lagoase restrita à zona costeira.

- Sistema Ceará/Maranguape – formado pelo rio Ceará que se desenvolve no sentidosudoeste-norte ao longo de 52,5 km e de seu afluente, o rio Maranguapinho que se une a ele noseu extremo de jusante (próximo à foz), comportando-se como uma bacia independente, e poroutros cursos d’água de caráter intermitente de menor importância.

- Sistema Cocó/Coaçu – formado pelo rio Cocó que se desenvolve no sentido sul-norte,ao longo de 43,5 km, formando, em direção à foz uma curva acentuada de sudeste para leste.Recebe o rio Coaçu bem próximo ao litoral, configurando-se, de forma semelhante ao sistemaCeará/Maranguape, como bacias independentes. Todos os cursos d’água da bacia sãointermitentes, com exceção dos rios Cocó e Coaçu que se tornam semi-perenes próximo ao

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litoral. Ocorrem ainda em seu baixo e médio cursos a presença de lagoas perenes e intermitentes.O rio Cocó sofre influência das marés, que adentram em seu leito por aproximadamente 13 km,formando um estuário alongado e estreito, composto por 210 ha de manguezais.

A bacia hidrográfica, na qual se insere o sistema tomado como objeto de estudo é a baciado SISTEMA COCÓ/COAÇU, no trecho que abrange a cidade de Fortaleza.

O rio Cocó tem a cobertura vegetal de sua nascente, na Serra de Pacatuba, relativamentepreservada sendo predominante espécies de porte arbóreo.

Após adentrar o território da cidade de Fortaleza, o rio Cocó tem sua mata ciliarsubstituída por áreas urbanizadas, restando pequenas manchas esparsas bastante degradadas.A mata ciliar do rio Coaçu, por sua vez, apresenta ao longo do seu traçado o predomínio devegetação arbórea. Constata-se ainda áreas significativas de vegetação arbustiva, principalmentena sua margem direita. As áreas preservadas são observadas apenas na região de alto curso,próximo à sua nascente.

As faixas de proteção da Lagoa da Precabura, composta por vegetação de porte arbustivoapresenta-se substituída em vários pontos por cultivos agrícolas e áreas antropizadas,predominando sítios e chácaras.

No trecho compreendido entre a Lagoa da Precabura e os manguezais do Cocó, a mataciliar apresenta-se extremamente degradada substituída, na maior parte, por áreas fortementeinfluenciadas pela ação antrópica.

A bacia do rio Cocó apresenta várias unidades de conservação:

- Parque ecológico do Cocó – instituído pelo Decreto-Lei no 20.253 de 05/09/89,representativo do ecossistema de mangue.

FORTALEZA

Tabuleiro e Planície

AÇUDEUIRAPURU

RIACHOS

CONJUNTORENASCERLAGOAS

BAIRRO DIASMACEDO

N

RIO COCÓ

Fig. 2 – Localização do Conjunto Renascer e da ETE

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- Parque ecológico da Lagoa da Precabura – instituído pelo Decreto-Lei no 21.349 de03/03/91 representativo do ecossistema lacustre.

- Reserva Particular do Patrimônio Nacional (RPPN) da Sapiranga – instituída pelaPortaria no 31 da SEMACE de 03/02/97.

- Área de Preservação Ambiental da Serra da Aratanha – nos limites das bacias doCocó, Ceará e Pacoti, representativa do ecossistema de matas úmidas.A Figura 3 apresenta uma visão panorâmica da área do Projeto. Ao lado da ETE, situa-se oConjunto Habitacional Renascer.

4.5 População

De acordo com o IBGE, em 1996 a cidade de Fortaleza apresentava uma população totalde 1.965.513 habitantes (28,89% da população do Estado), totalmente concentrada na áreaurbana, atingindo uma densidade demográfica de 6.263,59 hab/km2 e taxa de crescimento anualde 2,13. Esta população correspondia a 65,3% da população total da Região Metropolitana,formada por nove municípios (Aquirás, Caucaia, Eusébio, Fortaleza, Guaiuba, Itaitinga,Maracanaú, Maranguape e Pacatuba), distribuindo-se nas três bacias que cortam o município:48,4% na bacia do sistema Ceará/Maranguape (951.308 hab., densidade demográfica de 1.715,1hab/km2), 19,6% na bacia da Vertente Marítima (395.241 hab, densidade demográfica de 882,9hab/km2) e 32,0% na bacia do Sistema Cocó/Coaçu (628.968 hab, e densidade demográfica de1.506,0 hab/km2), resultando em taxas de urbanização extremamente elevadas: 98,9%, 96,5% e99,1%, respectivamente.

Nas últimas décadas a ocupação dos espaços urbanos de Fortaleza tem-se acentuado, comconseqüente concentração da população no entorno da capital e das cidades de médio porte daRegião Metropolitana, caracterizando um processo de crescimento urbano desordenado,

Fig. 3 Visão Panorâmica da Área doProjeto

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atribuído em grande parte, ao êxodo rural imposto pelas constantes secas que assolam o interiordo Estado. Tal fato tem acelerado a taxa de crescimento da capital, destacando-a entre as novemaiores capitais brasileiras como aquela que mais cresceu na década de 80, com taxa decrescimento anual aproximada de 2,7%, gerando grande aumento do número de grupospopulacionais marginalizados.

Com base nos estudos do Instituto de Planejamento do Estado do Ceará – IPLANCE, em1998 a população de Fortaleza foi estimada em 2.048.047 hab. Conforme os dados parciais doIBGE referente ao Censo 2000, esta população já chega a 2.138.234 habitantes.

4.6 Atividades econômicas

As atividades econômicas de Fortaleza concentram-se nos setores industrial, agropecuárioe de serviços, com destaque para o setor de serviços, em especial o turismo, que contribuem com72,97% do PIB municipal.

No setor agropecuário, a agricultura contribui com 23,7% da produção, destacando-se asculturas de bananas, cana-de-açúcar, castanha de caju, coco da baia, mandioca, manga, milho,feijão, arroz e pedúnculo de caju. Na pecuária, o destaque é para a produção avícola, ocorrendoainda criação de bovinos, suínos, ovinos e caprinos perfazendo um percentual de 76,3%.

A pesca marinha é significativa, entretanto a pesca interior é inexpressiva.

No setor industrial, destacam-se as indústrias de transformação, entre elas vestuários,calçados, artefatos de tecidos, couros e peles, produtos alimentares, minerais não metálicos,mobiliário, metalúrgica, têxtil e editorial e gráfica. Constata-se, ainda, indústrias associadas àconstrução civil e extrativa mineral.

O comércio varejista tem grande expressão, destacando-se produtos de gêneroalimentícios, vestuários, calçados e derivados, material de construção, veículos, peças eacessórios, aparelhos eletro-eletrônicos e eletromecânicos, entre outros.

No setor de serviços, constata-se estabelecimentos voltados para saneamento, limpezaurbana e construção, além de transportes, manutenção e conservação, gerência e administração e,com grande destaque, o turismo, em função da posição estratégica da cidade em relação aosdestinos turísticos internacionais, combinada à extensa faixa de praias, regiões serranas, ricoartesanato, comércio bem desenvolvido e as manifestações da cultura popular e políticas públicasde investimentos em infraestrutura favoráveis ao Setor (aeroportos, rodovias, saneamentobásico). Sua infraestrutura envolve hospedagem, passeios e compras no comércio local, tendorecebido em 97 um contingente de 970 mil turistas.

4.7 Atividades agrícolas da bacia

Os terrenos apresentam-se cobertos, predominantemente, por uma vegetação de caatingaarbustiva densa, sendo bastante comum a presença de macegas e capoeiras, em substituição àvegetação de maior porte, erradicada. As atividades agrícolas são bastante reduzidas elocalizadas, apresentando um predomínio de cultivos de subsistência (milho, feijão e mandioca)

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e capineiras, em função da baixa disponibilidade de água, conseqüência da irregularidade daschuvas, aliado à baixa disponibilidade de recursos hídricos subterrâneos.

A falta de reposição de nutrientes aos solos nas áreas de pequena produção, as quais sãoexploradas até a exaustão, faz com que cada vez mais se incorpore novas áreas que sofrerão omesmo desgaste. Este tipo de atividade agrícola chamada agricultura intinerante é responsávelpelo intenso desmatamento provocado na região.

A prática da agricultura de vazantes ao longo dos mananciais hídricos é bastantedifundida na região, provocando intensa degradação em suas matas ciliares que vão sendosubstituídas por cultivos agrícolas. A irrigação é pouco difundida e associa-se a trechos de riosperenizados ou a áreas de entorno de reservatórios. Além disso, essa prática esta associada atécnicas pouco eficientes e com elevado consumo de água, restringindo-se à aspersão por canhãohidráulico e método gravitários.

São encontradas seguintes classes de solos: podozólico vermelho-amarelo distrófico,planossolo solódico, solonetz solodizado, solonchak, aluvião eutrófico e areias quatzosasdistróficas que apresentam potencial para culturas cíclicas, fruticultura diversificada, pastagens,horticultura, cacinocultura e preservação da fauna e da flora.

4.8 Saneamento: abastecimento de água e esgotamento sanitário

A CAGECE, vinculada à Secretaria de Infra-estrutura Urbana do Governo do Estado doCeará é o órgão responsável pelas ações de saneamento básico em termos de abastecimento deágua e de sistema de esgotamento e tratamento das águas residuárias domésticas.

4.8.1 Abastecimento de água

O abastecimento de água é realizado quase que exclusivamente a partir de mananciais desuperfície, através de transposição de bacias, que formam o sistema de fonte hídrica chamado“Gavião”, cujo tipo de tratamento na ETA é o convencional.

No quadro abaixo estão relacionadas às características do sistema de abastecimento deágua de Fortaleza no tocante à cobertura.

Quadro 9 – Cobertura do abastecimento de água de Fortaleza-CE

Populaçãourbana (hab.)

Coberturareal(%)

Economiasativas (unid.)

Vol. produzido(m3) Ano 1999

Rede dedistrib. (m)

2.094.008 79,22 497.658 13.535.018 3.526.532

Fonte: CAGECE/ FNS, 1999

4.8.2 Esgotamento sanitário

A maior deficiência do setor de saneamento básico tanto no Estado do Ceará, como emFortaleza, se registra em nível de atendimento público do sistema de esgotamento sanitário. De

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acordo com a CAGECE, em 1999, Fortaleza apresentava as seguintes características de sistemasde esgotamento sanitário existentes (Quadro 10), correspondendo a uma cobertura da ordem de45,6% da população total.

Quadro 10. Cobertura do esgotamento sanitário e tratamento de águas residuáriasde Fortaleza-CE

Populaçãoatendida (hab.)

Economiasativas (unid.)

Tipo detratamento

Volumecoletado (m3)

934.458 230.816 ETE e Lagoas deEstabilização 4.607.683

Fonte: CAGECE – Boletim Informativo, 1999

5. Descrição do sistema de tratamento de águas residuárias tomado como estudo decaso – situação atual (sem projeto)

5.1 Introdução

O Conjunto Habitacional Renascer, localizado no bairro Dias Macedo em Fortaleza,compreende 470 unidades com uma população total de projeto de 2 350 habitantes.

O sistema de esgotamento sanitário é formado basicamente de uma rede coletora tipocondominial assentada pelo fundo dos lotes e outra nos passeios dos quarteirões com umaprofundidade variando de 0,50 m a 1,40 m, que conduz o esgoto à estação de tratamento.

A ETE, formada por um sistema de lagoas de estabilização, construída em 1992 pelaPrefeitura Municipal de Fortaleza, é operada sob responsabilidade da própria comunidade atravésda Associação de Moradores.

Esta unidade foi escolhida entre as demais como objeto de estudo pelo fato de ter aparticipação direta da comunidade, contemplar a situação CT-SR e encontrar-se totalmenteintegrada ao cenário daquele conjunto habitacional. Acrescente-se a isso a maior disponibilidadede dados.

Considerando-se que a média habitante/domicílio é de 4,5, a renda per capita, foi avaliadaem US$ 0,96/dia (taxa de conversão: US$ 1,00 = R$ 2,30), significando US$ 4,32/dia/família.Conforme avaliação do Banco Mundial (World Bank, 1998), este índice é considerado umindicador de pobreza.

No que se refere aos aspectos sociais, observou-se, com base nos dados levantadosatravés de visita e aplicação de questionário, que:

a. Existe um bom índice de aceitabilidade por parte da população quando indagada sobre apossibilidade de implantação de um programa formal de reúso;

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b. Existe uma compreensão, mesmo que intuitiva da população, sobre a finalidade dosistema, o destino final das águas residuárias e a necessidade de orientação técnica paraoperação do sistema;

c. A Associação dos Moradores tem uma história que se iniciou com o processo deconstrução do conjunto, feito em regime de mutirão, que configura um nível razoável deorganização comunitária;

d. O conjunto Renascer foi entregue aos moradores com recursos de infra-estrutura deescola, água e esgotamento sanitário e acessos;

e. Existe uma consciência de demandas por projetos sociais nas áreas de coleta de lixo,posto de saúde, segurança, creche, apoio psicológico;

f. Há disposição da liderança da Associação em trabalhar o Projeto.

5.2 Características da planta de tratamento

Os esgotos tratados na ETE do Conjunto Renascer são tipicamente domésticos. Conformemostra a Fig. 4, a unidade é composta por tratamento preliminar, com gradeamento e caixa deretenção de areia e tratamento biológico formado por um sistema de quatro lagoas deestabilização em série com a seguinte configuração: uma lagoa facultativa e três lagoas dematuração (M1, M2, M3)

5.3 Descrição sucinta das lagoas

A primeira etapa do tratamento realiza-se através de uma Lagoa Facultativa Primária, deforma retangular, ocupando uma área de 4.188 m2, calculada em função da taxa de aplicaçãosuperficial e do tempo de detenção. Esta lagoa tem 125 m de comprimento por 35,5m de larguraimplicando numa relação L/B de 3,5. A profundidade média é de 1,5 metros, com tempo dedetenção da ordem de 23,76 dias.

Fig. 4 - Esquema da Planta de Tratamento de Águas

FPM2

M3

M1

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A segunda etapa é formada por três lagoas de maturação sendo que cada uma ocupa umaárea de 1.300 m2. Estas lagoas foram projetadas com comprimento médio de 51 m, largura médiade 25,50 m e uma profundidade de 1,5 m que estabelece para cada uma um tempo de detenção de6,92 dias. O sistema apresenta, no efluente final, um valor médio de coliformes fecais(NMP/100mL) da ordem de 5,1E+01, correspondendo a uma remoção de 99,99995%.

O quadros 11 apresenta as principais características de projeto para o sistema descrito.

Quadro 11. Características de projetos do sistema de lagoas do Conjunto Renascer

Lagoas facultativaCaracterística Valores

Forma..............................................

retangularÁrea a ½ altura da lâmina 4.188m2

Comprimento médio 125 mLargura média 33,5mVolume 6 700 m3

Tempo de detenção hidráulica 23,76 diasLagoas de maturação

Característica ValoresForma retangularÁrea a ½ altura da 1 300,00 m2

Comprimento 51,00 mLargura 23,50 mVolume 1 951 m3

Tempo de detenção 6,92 dias

Fonte: GONDIM, 1991, citado por ARAÚJO, 2000.

5.4 Visão fotográfica

As Figuras de 5 a 9, a seguir, oferecem uma visão do Sistema atual:

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Fig. 5 Entrada da áreada Planta

Fig. 7 Lagoa Facultativa, noponto de alimentação

Fig. 6 TratamentoPreliminar (grade,caixa de areia e calhaParshall

Fig. 8 Lagoa Facultativa,outra visão

Fig. 9 Lagoa de Maturação2

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5.5 Características operacionais, físicas, químicas e microbiológicas da água residuáriabruta e efluente final

O Quadro 12, por sua vez, apresenta as características físicas, químicas e a qualidadesanitária do sistema considerado.

Quadro 12. Características operacionais, físicas, químicas e qualidade sanitária da águaresiduária bruta e efluente final do sistema de tratamento do conjunto renascer

Água residuária brutaCaracterísticas operacionais

Volume total(m3)

Populaçãode projeto

(hab.)

Vazãoafluente(m3/dia)

Vazãoafluente real

(m3/dia)

TDHdias

Contribuição per capita

12437 2500 277,3 188,3 66,04 80,12Características físicas químicas e microbiológicas

PH SS(mg/L)

DBO(mg/L)

DQO(mg/L)

CFNMP/100

mL

Helmintos(Ovos/L)

7,05 323 490 724 2,4E + 07 788Efluente final

Características físicas e químicas

Parâmetro Valormédio

Parâmetro Valormédio

Parâmetro Valor médio

Temperatura(ºC)

29,4 SS (mg/L) 143 PTotal(mg/L)

5,1

CE (µS/cm) 2000 DBO5(mg/L)

51,9 Na+

(mg/L)2,75

PH 9,11 Cloretos(mg/L)

509,3 K+ (mg/L) 40,0

RAS 8,09 N-NO3−

(mg/L)0,3 Ca++

(mg/L)27,4

OD (mg/L) 7,8 N-NH3(mg/L)

2,4 Mg++

(mg/L)41,2

Qualidade sanitáriaParâmetro Valor médio Parâmetro Valor médio

Coliformes fecais(NMP/100mL)

5,1E + 1 Helmintos(Ovos/100mL)

0

Fonte: Araújo, 2000

Como pode ser observado no Quadro 13, o sistema opera com uma boa eficiência deremoção de matéria orgânica, nitrogênio e patógenos.

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Quadro 13. Percentuais de remoção no sistema de tratamento de águas residuárias doConjunto Renascer

( % ) RemoçãoDBO DQO SS NH3 Coliformes fecais Helmintos89,41 82,89 55,72 90,48 99,99995 100

Fonte: Araújo, 2000

5.6 Disposição final dos efluentes: descarga a ambientes aquáticos e reúso

O lançamento do efluente final do tratamento é feito numa área residual alagada doconjunto habitacional de onde escoa para um riacho, tributário do açude Uirapuru, cuja baciahidrográfica é o sistema COCÓ/ÇOAÇU, onde se observa o cultivo de forrageiras. Ao longo dasmargens do riacho observa-se pequenas hortas, caracterizando o reúso informal.

Nas duas últimas lagoas da série (M2 e M3), constata-se ainda a criação de tilápia-do-Nilo (Orechromis niloticus), cuja produção é consumida pelos moradores do conjunto e dacircunvizinhança.

5.7 Operação e manutenção

A operação do sistema é feita pela Associação, utilizando pessoas da própria comunidade,sem qualquer vínculo empregatício e também sem conhecimento técnico e/ou treinamento sobreo sistema.

Em termos de manutenção, desde o início da operação, em 1992, a planta não recebeuqualquer tipo de serviço nesse segmento.

Os recursos recolhidos da comunidade, que varia entre R$40,00 e R$70,00/mês(US$17,00 e US$30,00) são transferidos para o pessoal que faz a vigilância e operação dosistema.

6. Avaliação econômica: custos implantação, operação e manutenção do sistema deesgotamento sanitário do conjunto renascer – planta atual

6.1 Custos de investimentos e operação (Projetados)

O quadro 14 apresenta os custos de investimentos em US$ e em R$ (taxa de conversão:US$ 1,00 = R$ 2,30) do sistema estudado, tomando como base o projeto inicial (1991).

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Quadro 14 – Dados gerais e custos de investimento do sistema de tratamento do ConjuntoRenascer – Fortaleza-CE

Dados geraisDescrição Unidades Valor

População Inicial Nº de habitantes 2.350População Final Nº de habitantes 4.448Precipitação mm/ano 1.380Evaporação mm/ano 1.634Área das Lagoas hectares 0,62Déficit Hídrico – DQ 1.000 m3/ano 1,57Vazão de Tratamento Inicial – QTI 1.000 m3/ano 83,25Vazão de Tratamento Final – QTF 1.000 m3/ano 157,58Vazão per capita diária média l/hab.dia 97,06Vazão per capita anual média m3/hab.dia

Custos

Descrição Unidades Valor(R$)

Valor(US$)

Custo anual de Investimento R$ / 1.000m3 275,18 119,65Custo Unitário Exclusivo de Trat.(inicial)

R$ / 1.000m3 3.310,00 1.439,13

Custo Unitário Exclusivo de Trat. (final) R$ / 1.000m3 1.746,30 759,26Custo Unitário Médio Exclusivo de Trat. R$ / 1.000m3 249,74 108,90

Fonte: Adaptado de Araújo, 2000

Os custos de operação e manutenção em US$ e em R$ (taxa de conversão: US$1,00 = R$ 2,30) são apresentados no Quadro 15.

Quadro 15. Dados gerais e custos de operação e manutenção do sistema de tratamento doConjunto Renascer - Fortaleza-CE

Dados geraisDescrição Unidades Valor

População Inicial Nº de habitantes 2.350População Final Nº de habitantes 4.448Precipitação mm/ano 1.380Evaporação mm/ano 1.634Área das Lagoas hectares 1,17Déficit Hídrico – DQ 1.000 m3/ano 2,97Vazão de Tratamento Inicial – QTI 1.000 m3/ano 83,26Vazão de Tratamento Final – QTF 1.000 m3/ano 157,59Vazão per capita diária média l/hab.dia 97,06Vazão per capita anual média m3/hab.dia 35,43

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Quadro 15. Dados gerais e custos de operação e manutenção do sistema de tratamento doConjunto Renascer - Fortaleza-CE (cont.)

Custos

Descrição Unidades Valor(R$)

Valor(US$)

Custo de Operação (Pop. Inicial) R$/ano 3.819,30 1.660,44Custo de Manutenção (Pop. Inicial) R$/ano 572,90 249,00Custo Anual Total (Pop. Inicial) R$/ano 4.392,20 1.909,65Custo Unitário Exclusivo de Tratamento(Inicial).

R$ / 1.000m3 52,75 22,94

Custo Unitário Exclusivo de Tratamento(Médio)

R$ / 1.000m3 36,47 15,85

Custo Unitário Exclusivo de Tratamento(Final)

R$ / 1.000m3 27,87 12,12

Fonte: Adaptado de Araújo, 2000

6.2 Análises econômico e financeiro: fluxo de fundos e rentabilidade da planta

Do ponto de vista econômico e financeiro, considerando a atual situação da Planta, osdados para avaliação estão restritos ao valor residual do investimentos inicial com 10 anos deoperação e o fluxos de receitas e despesas variando entre US$17,00 e US$30,00/mês.

7. Impactos ambientais do manejo das águas residuárias e da atividade agrícola

7.1 Impactos positivos com a implementação do projeto

A implementação do projeto de um sistema integrado de tratamento com a finalidade dereúso dos efluentes tratados poderá gerar os seguintes impactos positivos.

− Redução do risco de doenças provocadas pela prática do reúso informal desenvolvidopela comunidade;

− Maior controle na qualidade dos efluentes tratados, minimizando sua ação poluidoracomo conseqüência de sua descarga no meio ambiente;

− Implantação de um programa de agricultura urbana sustentável que poderá geraralimentos para comunidade complementando a renda familiar; e

− Melhoramento das condições de fertilidade do solo através do aporte de nutrientes ematéria orgânica presentes na composição do efluente final.

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7.2 Impactos negativos existentes no ambiente e na comunidade

Os principais impactos negativos que poderão ser gerados são os seguintes:

− Riscos de salinização do solo, diminuindo sua permeabilidade;

− Riscos à saúde pública através da contaminação microbiológica, e possível toxicidade ebioacumulação de alguns constituintes do efluente final;

− Possibilidade de proliferação de mosquitos e emissão de odores indesejáveis no meioambiente por operação inadequada na planta de tratamento;

− Redução da diversidade de espécie da fauna e da flora;

− Contaminação dos solos, ar, água por agrotóxicos e fertilizantes;

− Contaminação do agricultor devido à utilização de agrotóxicos.

7.3 Medidas implementadas para a mitigação dos impactos negativos existentes

As principais medidas que poderão minimizar os impactos negativos são:

− Avaliação das condições do solo das áreas a serem irrigadas para o estudo da suaadaptabilidade ao efluente, visando o controle de salinização e permeabilidade e melhoriaprogressiva da qualidade do efluente;

− Controle da qualidade sanitária dos efluentes tratados em conformidade com os padrõesnacionais (Resolução No 20 do CONAMA de 18/06/86) e internacionais(Recomendações da OMS);

− Estabelecimento de um programa de educação sanitária para os trabalhadores envolvidosno manejo direto e para a comunidade beneficiada pelo programa;

− Programa de orientação técnica na área de saneamento no âmbito da Associação deMoradores para tornar eficiente a gestão do sistema de tratamento;

− A escolha de culturas adequadas ao ecossistema da área;

− Utilização de práticas de cultivo de acordo com as características naturais do lugar;

− Utilização de rotação de culturas, de variedades geneticamente resistentes, de controlebiológico e integrado de pragas, evitando ao máximo a utilização de agrotóxicos e aconseqüente contaminação das águas, dos solos, ou seja, dos ecossistemas da área evizinhos;

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− Utilização de métodos de controle biológico e/ou integrado para controle de pagas,reduzindo o uso e a conseqüente ação danosa dos agrotóxicos;

− Utilização adequada dos agrotóxicos, segundo os preceitos do receituário agronômico eflorestal, com as dosagens e recomendações técnicas pertinentes;

− Utilização correta dos agrotóxicos e dos equipamentos de proteção individual –EPI.

8. Marco legal

Embora não exista, no Brasil, nenhuma legislação relativa ao reúso e nenhuma mençãotenha sido feita sobre o tema na nova Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei 9.433 de08/12/1997), já se dispõe de uma primeira demonstração de vontade política, direcionada para ainstitucionalização do reúso.

A “Conferência Interparlamentar sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, realizada emBrasília , em dezembro de1992 recomendou, no item “Conservação e gestão de Recursos para oDesenvolvimento” (Parágrafo 64/B) que “esforços sejam feitos, em nível nacional, parainstitucionalizar a reciclagem e reúso, sempre que possível, promovendo o tratamento edisposição adequados dos esgotos, de maneira a não poluir o meio ambiente”.

Como marco legal, no qual se faz alguma referência sobre os padrões de qualidade daágua conforme seus usos preponderantes tem-se a Resolução nº 20 de 18 de junho de 1986 doConselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, órgão consultivo e deliberativo do SistemaNacional do Meio Ambiente. – SISNAMA.

A referida resolução estabeleceu nove classes, sendo cinco para as águas doces(salinidade 0,5% 0), duas para águas salobres (salinidade entre 0,5 e 30 (por mil) e duas paraáguas salinas (salinidade 30 por mil).

Embora a resolução estabeleça parâmetros apenas o enquadramento de mananciais, combase nos seus usos preponderantes, o que é de grande importância para os programas de controlede poluição, faz referência aos requintes de qualidade para usos específicos, entre eles a irrigaçãoe aquicultura oferecendo alguns subsídios que podem ser utilizados como diretrizes paraelaboração de uma legislação específica para reúso de águas residuárias.

Como termo de referência para pesquisa sobre reúso, tem-se adotado os padrõesestabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS, 1989) em relação aos aspectosmicrobiológicos, quando do uso na agricultura e aqüicultura.

Os poderes públicos estaduais e municipais, em que pesem avanços substanciais emtermos de gerenciamento das águas, não dispõem de normas sobre o aproveitamento das águasresiduárias. O governo brasileiro, através do Projeto de Lei 4.147/2001, propõe que a AgênciaNacional de Águas, responsável pela fiscalização da política de recursos hídricos no país,também assuma a responsabilidade pelo saneamento.

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O Estado do Ceará implantou, através da Lei No 11.996, a sua Política Estadual deRecursos Hídricos, que visa proporcionar os meios para que a água, recursos essencial aodesenvolvimento sócio econômico, seja usada de forma racional e justa pelo conjunto dasociedade, em todo território do Ceará, tendo como objetivos principais:

a. Compatibilizar ação humana, em qualquer de suas manifestações, com a dinâmica dociclo hidrológico no Estado do Ceará, de forma a assegurar as condições para odesenvolvimento econômico e social, com melhoria da qualidade de vida e em equilíbriocom o meio ambiente;

b. Assegurar que a água, recurso natural essencial à vida, ao desenvolvimento econômico eao bem estar social possam ser controlada e utilizada, em padrões de qualidade equantidade satisfatórios, por seus usuários atuais e pelas gerações futuras, em todo oterritório do Estado do Ceará; e

c. Planejar e gerenciar, de forma integrada, descentralizada e participativa, o uso múltiplo,controle, conservação, proteção e preservação dos recursos hídricos.

Para implementação do modelo de gerenciamento dos recursos hídricos integrado,descentralizado e participativo sem a dissociação dos aspectos qualitativos e quantitativos,considerando as fases aéreas, superficial e subterrâneas do ciclo hidrológico, previsto na leiestadual de recursos hídricos, foi criada a Companhia de Gestão de Recursos Hídricos do Estadodo Ceará – COGERH.

O Estado do Ceará tem como projeto relevante, que indiretamente, impactará o uso dosrecursos naturais, o zoneamento ecológico e econômico do Estado, que tem como objetivo olevantamento de variáveis físicas e bióticas e, ainda, econômicas, sociais, para dotar asinstituições e o Governo Estadual de instrumento técnico capaz de orientar a espacialização deplanos e projetos para ordenamento territorial, tendo como base os conceitos de desenvolvimentosustentável.

Nos segmentos de água e esgotamento sanitário, cabe destacar, inicialmente, a seguintelegislação no âmbito Federal:

− Lei 4.771, de 15/09/65 – Institui o Código Florestal

− Lei 9.433, de 08.01.97 – Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos

− Decreto-Lei 24.643, de 10.07.34 – Institui o Código das Águas

− Decreto-Lei 852, de 11.11.38 – Mantém com modificações o Decreto-Lei 24.643 (Códigodas Águas)

− Resolução CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente 001, de 23.01.86 – Tratado uso e implementação da Avaliação de Impactos Ambientais;

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− Resolução CONAMA 004, de 18.09.85 – Trata das Reservas Ecológicas;

− Resolução CONAMA 020, de 18.06.86 – Estabelece a classificação das águas doces,salobras e salinas, segundo seu uso preponderante

− Resolução CONAMA 005, de 15.06.88 – Dispõe sobre o licenciamento de obras desaneamento;

− Resolução CONAMA 237, DE 19.12.97 – Trata do licenciamento ambiental deempreendimentos.

9. Aspectos socioculturais

9.1 Aspectos gerais da população-alvo do projeto

O Conjunto Habitacional Renascer surgiu ano de 1992, a partir de uma ação do PoderPúblico Municipal de retirar ocupantes de uma área pública, tendo em vista a construção de umavia estruturante de acesso na cidade de Fortaleza.

O perfil socioeconômico da população representa um indicador de pobreza, com rendaper capita, para uma média de 4,5 habitantes/domicílio, de US$ 0,96. Observa-se ainda baixosíndices de ocupação e escolaridade da população.

As doenças mais comuns identificadas no seio da comunidade são, na ordem defreqüência, gripe (81%), verminoses e doenças respiratórias (15%) e doenças de pele (12%).

Trata-se, portanto, de comunidade carente de renda, educação e de oportunidades deocupação.

9.2 Aspectos sobre a propriedade e uso da terra

A terra onde está implantada a planta de tratamento é de propriedade da PrefeituraMunicipal de Fortaleza – PMF. A exploração da área foi transferida para a Associação emcaráter informal. Além disso, trata-se de uma área de proteção permanente, com restrições deuso.

Atualmente, o trabalho da Associação, em termos de uso da terra, limita-se à utilização daplanta de tratamento do esgoto.

Sobre esse aspecto, deverão ser encaminhadas articulações com a Prefeitura Municipal nosentido de transferir formalmente o direito de propriedade para a Associação ou mesmoassegurar o seu uso através de comodato por um longo período de tempo, sem ônus para osmoradores do Conjunto Renascer.

32

9.3 Aspectos culturais relacionados com o uso de águas residuárias

Nos primeiros anos de início do conjunto, a comunidade desenvolvia atividades de reusonos seguimentos de psicultura, horticultura e pequenas plantações de milho e feijão. Havia,inclusive, um compromisso informal do Poder Público de proporcionar o desenvolvimento dascondições adequadas ao aproveitamento das águas residuárias, o que não aconteceu. Portanto, acomunidade já tem uma história de aceitabilidade da idéia de reuso. A comunidade reconhece,por outro lado, que a segurança e eficiência do sistema está vinculada à orientação eacompanhamento técnico por intermédio dos órgãos públicos competentes.

No tocante ao sistema de tratamento, seus benefícios diretos para a saúde pública, oreconhecimento desses benefícios ainda é parcial, fato esse que reflete na falta de pagamento dacontribuição mensal cobrada pela Associação.

9.4 Aspectos de organização

A população envolvida está organizada na forma de uma Associação de Moradores cujafinalidade principal é a defesa dos interesses da comunidade. De acordo com o Estatuto (CapítuloIV), constitui finalidade da sociedade:

a. Organizar os moradores do bairro com vistas à defesa de seus interesses e reivindicarjuntos aos poderes públicos, a execução das medidas que lhes assegure a satisfação desuas necessidades fundamentais de modo a garantir uma melhor qualidade de vida;

b. Promover atividades que visem divulgar informações úteis sobre saúde, educação,habitação, urbanismo, segurança pública, lazer e todos os outros aspectos da vida dapopulação, através de palestras, atividades artísticas, culturais, esportivas e recreativas,com o fim de preparar os moradores a alcançar os seus objetivos comuns;

c. Promover a pesquisa dos reais problemas do bairro e elaborar plano de urbanização eserviços que melhor convenham aos interesses da população;

d. Promover a integração de recursos com instituições congêneres para a resolução deproblemas diversos;

e. Desenvolver e fortalecer junto aos moradores os princípios de amizade, união esolidaridade humana;

f. Estimular a troca de experiência e a realização de ações comuns entre os moradores dacomunidade com os habitantes de outros bairros.

A Associação está devidamente organizada junto aos órgãos governamentais, segundoinformações da Diretoria, e apresenta a seguinte estrutura organizacional:

Artigo 5o do Estatuto: São órgãos deliberativos e executivos da Sociedade ComunitáriaHabitacional: I – Conselho Comunitário; II – Assembléia Geral e III – Conselho Fiscal.

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Artigo 6 do Estatuto: O Conselho Comunitário será composto por 5 membros, sendo umPresidente, um Vice-Presidente, um 1o Secretário, um 2o Secretário e um Tesoureiro.

As reuniões do Conselho comunitário são realizadas uma vez por mês e,extraordinariamente sempre que matérias urgentes assim exigirem, e convocadas por maioriasimples de seus membros.

Estão em fase de mandato 12 pessoas, que ocupam profissões de zeladoria, motorista,técnico em serviço de telefonia, radialista, militar, costureira, agente reciclador, operador demáquina téxtil, agente de saúde e de prendas do lar.

Não obstante as limitações da Associação, já foram desenvolvidos projetos comunitáriosnas áreas de reforço escolar, emissão de carteira (documentação pessoal), doação de sangue,festa de criança e festa para os anciãos. Além disso, são feitas reinvindicações ao Poder PúblicoMunicipal para melhoria da infraestrutura social do conjunto.

A Associação carece de um trabalho de maior conscientização junto à comunidade emrelação a sua missão e a importância de efetiva participação de toda a população do conjunto.Atualmente, das 470 familias apenas 50 estão filiadas à Associação.

9.5 Relações interinstitucionais

Excetuando as relações com o Poder Público Municipal, a Associação não temdesenvolvido outras parcerias. Porém, o Conselho tem o maior interesse em participarefetivamente de projetos que venham proporcionar melhoria nas condições de vida da populaçãolocal, inclusive contribuindo com mão-de-obra.

Em contato com o Conselho da Associação, notou-se a necessidade da busca de um apoioaos seus membros, tendo em vista ações de mobilização e consultoria no desenvolvimento deprojetos e parcerias.

Na segunda fase do Projeto serão estreitadas e buscadas parcerias com os seguintesórgãos/instituições:

Em nível internacional:

− Centro Internacional de Investigaciones para el Desarrollo del Canadá – IDRC− OPS/CEPIS− Universidade do Arizona

Em nível Nacional (Federal/Estadual e Municipal)

− Associação Brasileira de Engenharia Sanitária - Seção Ceará – ABES-CE− Banco do Nordeste do Brasil S.A.− Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará- CEFET-CE− Companhia de Águas e Esgotos do Estado do Ceará - CAGECE

34

− Prefeitura Municipal de Fortaleza – PMF, através das secretarias de DesenvolvimentoEconômico – SDE e Desenvolvimento Territorial e Meio Ambiente (SMDT)

− Sociedade Comunitária Habitacional Dias Macedo (Associação dos Moradores)− Universidade Federal do Ceará – UFC

10. Proposta de implementação de um sistema integrado de tratamento e uso de águasresiduárias

10.1 Avaliação do sistema de tratamento existente: infraestrutura e processo

O sistema de lagoas foi projetado tendo por base parâmetros de projeto normalmenteadotados no Brasil. No Quadro 16 são apresentados os principais parâmetros de projeto da ETEdo Conjunto Renascer considerando critérios próprios apropriados para regiões de clima quente,em cuja situação se enquadra a Região Nordeste do Brasil.

Quadro 16. Parâmetros de projeto das lagoas facultativa e de Maturação do ConjuntoRenascer – Fortaleza-CE

Lagoa facultativa

Parâmetros ConjuntoRenascer

Critérios deprojeto

Taxa de aplicação Superficial – Ls -(Kg/ha.d) 303 240 a 350

Tempo de detenção hidráulica - TDH(dias)

23,76 15 a 45

Profundidade – H ( m) 1,6 1,5 a 3,0Lagoas de maturação

PARÂMETROS CONJUNTORENASCER

CRITÉRIOSDE PROJETO

Tempo de detenção hidráulica - TDH(dias)

6,92 Variável

Profundidade – H (m) 1,50 0,8 a 1,5

Fonte: Araújo, 2000

Foram considerados, ainda, as condições climáticas específicas da faixa da RMF:

− Temperatura média – 26 a 27 ºC (max.: 31-32 ºC);− Taxa anual de insolação – 2.650 a 3.000 horas/ano;− Taxa diária de insolação: 6-9 h/dia

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10.1.1 Critérios de projeto:

Nas lagoas facultativas primárias os parâmetros de projeto de maior importância são ataxa de aplicação superficial e o tempo de detenção. Neste projeto, os referidos parâmetros estãoem conformidade com aqueles usualmente adotados no Brasil.

Nas Lagoas de Maturação, a necessidade de elevadas eficiências de remoção decoliformes fecais requer que o regime hidráulico seja configurado, em células em série. Nestesentido, o parâmetro de maior influência é o tempo de detenção hidráulico. Os valores adotadossão compatíveis com aqueles adotados no Brasil. A CAGECE adota usualmente um TDH de 7dias e profundidade variando entre 1,0 a 1,5 m.

Foram realizados, em 1991, os investimentos constantes do Quadro 17, a seguir:

Quadro 17. Resumo dos investimentos realizados no Conjunto Renascer – infra-estruturade esgotamento sanitário

Apesar de apresentar boa estrutura construtiva, a ETE do Conjunto Renascer não tem sidomantida e monitorizada adequadamente, necessitando de um plano de recuperação para operarconforme os padrões tecnicamente aceitos.

10.1.2 Aspectos da qualidade para o efluente final

O sistema de tratamento do Conjunto Renascer insere-se no âmbito comunitário comoparte integrante do cenário do conjunto habitacional, compondo um ambiente de convivênciatranqüila. A proximidade das residências em relação à ETE e a pequena extensão da redecoletora contribuem para evitar os problemas de emissão de odores característicos de esgotossépticos, mesmo que sua operação não se desenvolva da forma mais adequada.

Unidades do Sistema Em Cr$1,00 Em US$1,00Ligação Predial 1.540.778 1.833 Rede Condominial 6.832.986 8.131 Rede Coletora Pública - Passeios 4.717.254 5.613 ETE 30.863.946 36.725 Locação e Urbanização 1.363.390 1.622 Caixa de Areia 715.693 852 Dispositivo de Entrada 245.168 292 Lagoa de Estabilização 26.932.254 32.047 Dispostivos de Passagens 1.124.929 1.339 Dispositivo de Saída 482.512 574 Totais 43.954.964 52.302 Dólar nov/91(29/11) 840,40

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No tocante às características químicas e microbiológicas do efluente final, (Quadro 12) osresultados obtidos confirmam remoção eficiente da ordem de 99,99995% para coliformes fecaise de 88,9% para DBO5.

Quanto aos valores médios da razão de adsorção de sódio – RAS e da condutividadeelétrica, estes configuram uma salinidade elevada no efluente final, de modo que a sua utilizaçãotorna-se mais restrita aos solos de textura grosseira ou ricos em matéria orgânica e com boapermeabilidade, constituindo-se num fator limitante.

A eficiência do tratamento torna-se mais patente ao comparar-se a qualidade do efluentefinal com os padrões estabelecidos pelo CONAMA (Resolução Nº 20 de 18/06/86) para oscorpos receptores, de modo que os valores de coliformes fecais obtidos coincidem com osestabelecidos para os corpos receptores de classe II (1000 coliformes fecais/100ml), cujos usospreponderantes são o abastecimento doméstico após tratamento convencional, proteção decomunidades aquáticas, recreação de contato primário, irrigação de hortaliças e plantas frutíferase aquicultura natural ou intensiva. Esses resultados atendem também às recomendações da OMSpara irrigação irrestrita (WHO,1998), que estabelece valores de coliformes fecais ≤ 1.000 /100mle menos que 1 ovo de helminto por litro.

10.2 Determinação de pontos fortes e limitações do sistema atual

A avaliação do sistema tomado como objeto de estudo permite identificar os seguintespontos fortes e limitações do sistema:

a. Pontos Fortes:

− A existência da Associação dos Moradores;− Localização e tamanho do Projeto, para fins de desenvolvimento do Piloto;− Disponibilidade da diretoria da Associação no efetivo engajamento do Projeto;− A qualidade do efluente final;− Boa aceitação da comunidade tanto em relação ao tratamento quanto à implantação de um

programa formal de reúso;− A exploração do sistema pela Associação;− Ser uma população carente de emprego e renda.

b. Limitações:

− A manutenção inadequada do sistema;− Salinidade elevada no efluente final;− Ausência de monitoramento sistemático que permita um controle mais substancial;− Falta de um convênio formal com o poder competente para explorar a atividade de

operação do sistema;− Falta de treinamento da Associação nos aspectos de saneamento básico, meio ambiente,

saneamento básico e gerência de projetos;− Localização da planta em área de preservação permanente;

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− Elevado nível de inadimplência do pagamento da taxa de uso da planta pelos moradores,atualmente estipulada em R$1,00/mês;

− Não servir como referência para aplicação em outras áreas do Estado.

10.3 Estrutura do sistema integrado proposto: plano de cultivos e exigências detratamento

Os parâmetros de otimização do sistema integrado de tratamento e uso das águasresiduárias do Conjunto Renascer foram obtidas por meio da utilização do software Reusoaplicando-se os dados gerais de entrada apresentados no Quadro 18 abaixo:

Quadro 18. Parâmetros de projeto para otimização do sistema integrado

Parâmetros ValoresVazão bruta (l/s) 5,88Temperatura Mínima da Água (oC) 24DBO5 no (mg/l) 450Coliformes fecais no bruto(NMP/100 ml)

5.00E + 07

Evaporação (cm/dia) 0,45Área total disponível 4Custo do terreno (USD$/ha) 9.999,00Área complementar 73

Para o plano de cultivo foram propostos espécimes vegetais adaptados às condições locaise cujos cultivos fossem compatíveis com a qualidade dos efluentes obtidos através das vazõesparciais. As culturas escolhidas foram: cana-de-açúcar para o efluente da lagoa facultativa(primária) e arroz e banana para o efluente da última lagoa de maturação.

A partir do processamento destes dados foram obtidas as novas características para aslagoas e para formulação do plano de cultivo apresentadas nos Quadros 19 a 21, abaixo:

Quadro 19. Características das lagoas de estabilização do novo sistema integrado detratamento e reuso

Parâmetros Primária Secundária TerciáriaNúmero de lagoasProfundidade médiaRelação L/A das lagoasCarga Orgânica (kg/DBO/ha/dia)Área de tratamentoLargura (m)Comprimento (m)Efluente (l/s)

11,603,53040,75461615,49

31,502,0-

0,392651

4,60

000-000

4,20

38

Quadro 19. Características das lagoas de estabilização do novo sistema integrado detratamento e reuso (cont.)

Parâmetros Primária Secundária TerciáriaTempo de detenção real (dias)Taxa de mortalidade de CT (l/dia)Fator de dispersãoFator adimensionalColimetria do efluente(NMP/100ml)

11,20,72930,09762,0496

2,04E+05

6,50,85090,14902,1411

3,84E+03

01,0529

01,00

3,84E+03

Quadro 20. Plano de cultivo

Vazão (l/s)Efluente Tipo Código Nome Área(ha) Por ha Total

Primária 08 Cana deaçúcar1 3,00 ha 0,57 1,71

06 Arroz2 1,0 ha 1,7 1,7Secundária

temporáriotemporáriotemporário Banana1 2,0 ha 0,57 1,04

1 A área de plantio será dividida em quadro partes iguais, plantadas semanalmente2 Será plantado duas vezes ao ano.

Quadro 21. Cronograma de implementação do projeto agrícola

MesesDescrição1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Levantamento pedológicoLevantamento topográficoLimpeza da áreaPreparação da áreaPlantioAquisição de equipamentos e materiais

10.4 Reabilitação, melhoramento e/ou ampliação da planta de tratamento

10.4.1 Recuperação da planta – limpeza e construção

A capacidade da planta atende satisfatoriamente as necessidades do Conjunto Renascer.Entretanto, considerando que o sistema já opera há 9 anos, constatou-se, através de visita técnica,a necessidade de realização de investimentos para a sua recuperação, os quais estão descritos noQuadro 22, a seguir:

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Quadro 22. Investimentos na recuperação da planta – limpeza e construção

Atividades:

1. Limpeza do espelho da lagoa – retirada de plantas2. Capinação ao longo dos taludes

3. Dragagem 4. Construção de nova cerca de proteção em torno das lagoas

5. Melhoramento do tratamento preliminar5.1 Troca da grande de ferro5.2 Troca da tubulação de descarga do esgoto bruto da lagoa facultativa5.3 Redimensionamento e construção de uma nova caixa de areia

6. Construção de uma pequena casa de apoio7. Construção de um pequeno laboratório para medidas de campo8. Aparelhos necessários: medidor de pH, condutivímetro, oxímetro e turbidímetro.

Fixo– AnoAtividadesEm R$ 1,00 Em US$ 1,00

1 5 000 2.1742 500 2173 10 000 4.3484 20 000 8.6965 4 000 1.7396 30 000 13.0437 10 000 4.3488 6 000 2.609

TOTAL 85.500 37.174

10.4.2 Cronograma físico-financeiro – recuperação da planta de tratamento

O Quadro 23 contém o cronograma físico das atividades necessárias à recuperação daPlanta de Tratamento:

Quadro 23. Cronograma físico-financeiro – atividades recuperação da plantavalores em US$1,00

SemanasAtividades

1 2 3 4 5 6 7 8Totais

1 2.174 2.1742 109 108 2173 1.449 1.449 1.450 4.348

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Quadro 23. Cronograma físico-financeiro – atividades recuperação da plantavalores em US$1,00 (cont.)

SemanasAtividades

1 2 3 4 5 6 7 8Totais

4 2.898 2.898 2.900 8.6965 869 870 1.7396 3.260 3.260 3.260 3.263 13.0437 1.449 1.449 1.450 4.348

8 2.609 2.609TOTAIS 3.150 5.687 4.709 7.608 7.610 4.349 1.450 2.609 37.174

10.4.3 Manutenção e operação do sistema

No Quadro 24, a seguir, estão detalhados os custos de manutenção e operação do sistema:

Quadro 24. Custos de manutenção e operação do sistema

Atividades:

1. Equipamentos – roçadeira, pá, enxada, tesoura2. Recursos Humanos: operador, responsável técnico e 2 vigias3. Treinamento4. Monitoramento da Qualidade da Água5. Arborização do local, inclusive manutenção6. Outros (material de limpeza, farmácia, praguicida e material de proteção)

Custos fixosAtividades Mensal Anual -

R$ 1,00Anual –US$ 1,00

Detalhamento

1 250 3.000 1.3042 360

1.440720

4.32017.2808.640

1.8787.5133.757

OperadorResponsável

Técnico2 Vigias

3 150 1.800 7834 289 3.468 1.5085 100 1.200 5226 50 600 261

TOTAL 3.359 40.308 17.525

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10.4.4 Fontes de recursos - investimentos e operação

Paralelamente a atividade de recuperação da planta, deve ser desenvolvido trabalho deconscientização da comunidade acerca do pagamento da taxa mensal do esgotamento sanitário,inclusive elevando-a para R$2,30/mês (US$1,00). A geração de uma receita mensal deR$1.081,00/mês (US$470,00) embora não seja suficiente à cobertura dos custos mensais, teriaum efeito importante em termos de maior participação da comunidade.

Os recursos necessários aos investimentos e cobertura dos demais custos de operaçãodeverão ser viabilizados junto à Prefeitura Municipal de Fortaleza ou outra fonte pública derecursos, como subsídio, tendo em vista o baixo nível de renda da população local e ascaracterísticas especiais do Projeto.

10.5 Implementação da unidade de produção agrícola

Aproveitando o potencial agrícola da comunidade, que advém de áreas sertanejas, é quese vislumbra a possibilidade do reaproveitamento da água com atividades ligadas ao meio aosegmento agrícola.

O plano de cultivo está voltado para a obtenção de renda semanal, que contribua nageração de empregos diretos e indiretos, através da obtenção de uma produção agrícola e terácomo mercado-alvo a população da cidade de Fortaleza, inclusive a própria comunidade doConjunto Renascer.

Como resultado da atividade agrícola, além dos produtos advindos dos cultivos, serãogerados subprodutos com valor econômico, tais como a palha de arroz e restos culturais dabananeira com aplicações no artesanato, na produção de adubo orgânico e também naalimentação animal.

Considerando-se a obtenção de uma produção semanal, os cultivos de banana e cana-de-açúcar serão implementados em área dividida em quadros partes iguais, de modo que o primeiroplantio será feito na primeira semana, seguindo-se a seqüência nas semanas posteriores.

Em relação ao cultivo de bananas, optou-se pela variedade prata em função de suaexcelente aceitabilidade no mercado de Fortaleza, boa produtividade e preço compatível com aestrutura de custos. Utilizar-se-á mudas do tipo chifrão, devido a sua produção rápida,possibilitando a primeira colheita em menos de um ano.

O cultivo da cana-de-açúcar será projetado com vistas ao consumo “in natura”, na formade caldo de cana, que tem demanda garantida na cidade. Considerando-se esta peculiaridade, faz-se necessário um controle microbiológico do produto final. Esses cuidados, entretanto, geramcustos adicionais, porém perfeitamente absorvidos pelo preço do produto final (R$150,00/ton),valor bastante atrativo, considerando-se que o preço máximo alcançado para aplicação industrialda cana é da ordem de R$30,00/ton.

42

A cultura do arroz se adequa às condições ambientais da localidade, com a estimativa deprodução de 8,5 toneladas por hectare de arroz em casca, além da disponibilidade da palha comosubproduto.

10.6 Cronograma geral de implementação do projeto

O Quadro 25 contempla uma avaliação inicial para implementação do Projeto, levandoem conta as informações disponíveis até o presente momento.

Quadro 25. Cronograma de implementação do projeto Conjunto Renascer

Meses do anoDescrição de atividades

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 121.Estudos de Pré-inversão1.1.Revisão de Informações1.2.Estudos Topográficos e pedológicos1.3.Plano de Controle Ambiental – PCA(*)1.4.Configuração Final do SistemaIntegrado2.Tramitação e Fontes de Recursos2.1.Trâmite e aprovação do Projeto2.2.Definição de Aspectos Institucionais2.3.Gestão e Aprovação de Fontes e Recursos3.Implementação Física do Projeto3.1.Recuperação da Planta de Tratamento3.1.Limpeza da Área de cultivo3.2.Preparação da Área de cultivo3.4.Aquisição de Equipamentos e Materiais3.5.Definição da Área Administrativa4.Organização e Início de Operação4.1.Organização da Unidade Técnica e da Assoc.4.2.Capacitação de Pessoal(*)4.3.Implementação de Sist.Controle/Avaliação3.3.Plantio

(*) Custos não incluídos nessa primeira fase

10.7 Inversões, custos, receitas esperadas e fluxo de fundos

Seguem os Quadros de 26 a 34, com comentários quando pertinentes:

43

Quadro 26. Estudos e investimentos – produção agrícola

− Os valores são estimativas iniciais que serão validadas na próxima etapa.

Quadro 27. Custos indiretos – produção agrícola

Quadro 27. Custos indiretos – produção agrícola

− O critério de rateio foi o volume de vendas de cada produto.

Quadro 28. Custos de produção agrícola – banana

− Em função da proximidade do mercado consumidor (comunidade e outros consumidoresna cidade de Fortaleza, admite-se, em função da significativa redução do custo de transporte,facilidades para colocação do produto.

Em R$ Em US$I-Estudos Desc. Unid. PU 16.800 7.304Levantamento Pedológico verba/ha 6 1.500,00 9.000 3.913Levantamento Topográfico verba/ha 6 1.300,00 7.800 3.391

II - Investimentos 16.000 6.957Infra-estrufura de irrigação verb/ha 6 2.500,00 15.000 6.522Balança unid 1 1.000,00 1.000 435Cerca de toda a área do Projeto m 1.400 4,00 5.600 2.435

TOTAIS 54.400 14.261Dólar de conversão: 2.30

Em R$1,00 Em US$1,00Itens QuantP.U Mensal Anual P.U Mensal Anual

Pulverizador 2 90 - 180 39 - 78Carrinho de mão 2 90 - 180 39 - 78Ferramentas verba 0 150,00 150 - 65 65Supervisor 1 180 180,00 2.160 78 78 939Assistência Técnica 180 180,00 2.160 78 78 939Encargos 250 250,00 3.000 109 109 1.304

Totais 7.830,00 3.404

(*) Dólar de conversão - US$2,30

CULTURA BANANAEm US$

Itens/anos 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 TOTALPreparo do terreno 188 - - - - - - - 188 - - 376Tratos Culturais - 1.565 1.565 1.565 1.565 1.565 1.565 1.565 1.565 1.565 1.565 15.652Plantio 1.739 - - - - - - - 1.739 - - 3.478Colheita 35 104 174 174 174 174 174 35 104 174 1.322Gastos Diretos 1.927 1.600 1.670 1.739 1.739 1.739 1.739 1.739 1.600 1.670 1.739 16.974Invest.Alocado 275 275 275 275 275 275 275 642 642 642 3.852Gastos Indiretos - 285 733 1.069 1.069 1.069 1.069 1.069 285 733 1.069 8.450Custo Total 2.161 2.678 3.083 3.083 3.083 3.083 3.083 2.528 3.045 3.450 29.276

44

Quadro 28. Custos de produção agrícola – banana (cont.)

Quadro 29. Custos de produção agrícola – arroz

− Os custos são para o arroz com casca.

Quadro 30. Custos de produção agrícola – cana-de-açúcar

CULTURA ARROZEm US$

Itens/Anos 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 TOTALPreparo do terreno 188 188 188 188 188 188 188 188 188 188 1.878Tratos Culturais 683 683 683 683 683 683 683 683 683 683 1.572Plantio 148 148 148 148 148 148 148 148 148 148 1.478Colheita 136 136 136 136 136 136 136 136 136 136 1.355Gastos Diretos 1.155 1.155 1.155 1.155 1.155 1.155 1.155 1.155 1.155 1.155 6.283Gastos Indiretos 550 471 412 412 412 412 412 550 471 412 10.689Custo Total 1.704 1.625 1.566 1.566 1.566 1.566 1.566 1.704 1.625 1.566 16.058Produção (Ton/2 ciclos/ano) 17 17 17 17 17 17 17 17 17 17Custo da produção/ha 1.704 1.625 1.566 1.566 1.566 1.566 1.566 1.704 1.625 1.566 16.058Custo produção/Ton 67,91 67,91 67,91 67,91 67,91 67,91 67,91 67,91 67,91 67,91Custo por hectare 577,26 577,26 577,26 577,26 577,26 577,26 577,26 577,26 577,26 577,26Quant hectare/ciclo 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1Preço Dólar 2,3

CULTURA CANA-DE-AÇÚCAREmUS$1,00

Itens/Anos 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 TotalPreparo do terreno 282 0 0 - - - 282 - - - 563Tratos Culturais 243 633 633 633 633 243 33 633 633 633 5.551Plantio 1.713 - - - - - 1.713 - - - - 3.427Colheita - 514 514 514 514 514 514 514 514 514 514 5.136Irrigação - 870 870 870 870 870 870 870 870 870 870 8.696Gastos Diretos - 1.626 2.016 2.016 2.016 2.016 1.626 2.016 2.016 2.016 2.016 19.383Invest.Alocado 399 399 399 399 399 399 399 399 399 399 3.990Gastos Indiretos - 2.569 2.200 1.924 1.924 1.924 1.924 1.924 2.569 2.200 1.924 21.081Custo Total - 4.594 4.615 4.339 4.339 4.339 3.949 4.339 4.984 4.615 4.339 44.454Investimentos 1.995 - - - - - 1.995 - - - - 3.990Produção (Ton/ano) 60 60 60 60 60 60 60 60 60 60 600Quant hectare 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3Custo da produção/ha - 1.688 1.695 1.603 1.603 1.603 1.473 1.603 1.818 1.695 1.603 16.387Custo produção/Ton - 84 85 80 80 80 74 80 91 85 80 82Taxa do dólar 2,3

Investimentos 1.927 - - - - - - - 1.927 - -Produção (Ton/ano) 10 30 50 50 50 50 50 10 30 50Custo da produção/ha 800 835 870 870 870 870 870 800 835 870Custo produção/Ton 160 56 35 35 35 35 35 160 56 35Quant hectare 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2

Cotação do Dólar 2,30

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Quadro 31. Custos de produção agrícola – consolidados

− Custos das três culturas, alocando os investimentos iniciais nos períodos subsequentes.

Quadro 32. Receitas previstas – globais

− Prevê-se que toda a produção da cana será colocada no mercado da região metropolitanade Fortaleza, como insumo na produção de caldo de cana, vendido “in natura”.

Cotação do Dólar = 2,30/R$1,00

Quadro 33. Programa de inversões – globais

Quadro 34. Fluxo de Fundos – Consolidado

Em US$1,00Descrição/Ano 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

1. Inversões Fixas 62,6611.1 Estudos1.2 Recuperação Planta de Tratamento1.3 Infra-estrutura Agrícola1.4 Cultivo Agrícola (*)

7,30437,17414,2613,992

2. Capital de Trabalho 11,3802.1 Planta de Tratamento (**)2.2 Planta Agrícola (***)

2,9218,459

Inversões Totais 74,041

(*) Custos no ano “0”(**) 2 meses de custos fixos(***) Correspondente aos custos da planta agrícola do 1º ano

ITENS/ANO 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 TOTALCustos Banana 2.161 2.678 3.083 3.083 3.083 3.083 3.083 2.528 3.045 3.450 29.278Custos de Cana 4.594 4.615 4.339 4.339 4.339 3.949 4.339 4.984 4.615 4.340 44.454Custos Arroz 1.704 1.625 1.566 1.566 1.566 1.566 1.566 1.704 1.625 1.566 16.058Custos Totais 8.459 8.919 8.989 8.989 8.989 8.599 8.989 9.216 9.286 9.357 89.790

Em US$1,00ITENS/ANO 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 TOTAL

Receitas Banana 1.304 3.913 6.522 6.522 6.522 6.522 6.522 1.304 3.913 6.522 49.565Receitas Cana 11.739 11.739 11.739 11.739 11.739 11.739 11.739 11.739 11.739 11.739 117.391Receitas Arroz 2.513 2.513 2.513 2.513 2.513 2.513 2.513 2.513 2.513 2.513 25.130Receita Bruta Total/ano 15.557 18.165 20.774 20.774 20.774 20.774 20.774 15.557 18.165 20.774 192.087

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Quadro 34 – Fluxo de caixa - consolidado

10.7

10.8 Análise econômica e financiera: financiamento, fluxos de fundos e rentabilidade

− Quadro 35 apresenta os indicadores básicos de avaliação do Projeto.

Quadro 35. Indicadores de rentabilidade

VPL(VAN), em US$1,00 14.322TIR (%) 12,47Benefício/Custo 1,21Taxa de Desconto (%) 8,0

No presente momento são pertinentes as seguintes observações, ligadas direta ouindiretamente a questão da avaliação econômica e financeira:

a. Os números disponíveis de investimentos e despesas ainda são agregados e, na segundafase do Projeto, deverão sofrer ajustes no detalhamento dos orçamentos;

ITENS/ANO 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 1.Ingressos - 33.082 35.690 38.299 38.299 38.299 38.299 38.299 33.082 35.690 54.8221.1.Planta de Tratamento - 17.525 17.525 17.525 7.525 17.525 17.525 7.525 17.525 17.525 17.5251.1.1.Tarifa da Comunidade - 12.972 12.972 12.972 12.972 12.972 12.972 12.972 12.972 12.972 12.9721.1.2.Subsídios (1) - 4.553 4.553 4.553 4.553 4.553 4.553 4.553 4.553 4.553 4.5531.2.Planta Agrícola - 15.557 18.165 20.774 20.774 20.774 20.774 20.774 15.557 18.165 20.7741.3.Valores Recuperáveis - - - - - - - - - - 16.523,01.3.1.Instalações - - - - - - - - - - 5.1431.3.2.Capital de Trabalho - - - - - - - - - - 11.3802.Saídas 73.367 14.604 25.770 25.839 25.839 25.839 25.848 26.238 26.741 26.811 26.8822.1.Inversões 73.367 - - - - - - - - - 02.2.Custos Operacionais - 14.604 25.770 25.839 25.839 25.839 25.848 26.238 26.741 26.811 26.8822.2.1.Planta de Tratamento (2) - 14.604 17.525 17.525 17.525 17.525 17.525 17.525 17.525 17.525 17.5252.2.2.Planta Agrícola (3) - - 8.245 8.314 8.314 8.314 8.323 8.713 9.216 9.286 9.3573.Fluxo Econômico (1-2) (73.367) 18.478 9.920 12.460 12.460 12.460 12.451 12.061 6.340 8.879 27.9404.Finaciamento 73.367 - - - - - - - - - -4.1.Capital Social (4) 73.367 - - - - - - - - - -4.2.Juros - - - - - - - - - - -5.Fluxo Financeiro 0 18.478 9.920 12.460 12.460 12.460 12.451 12.061 6.340 8.879 27.940

(1) A ser obtido junto à Prefeitura Municipal ou outro órgão Público(2) 2 meses de custos do 1.Ano incluídos no Capital de Trabalho(3) 1.Ano incluso como Capital de Trabalho(4) Em função das características do Projeto, admite-se a alocação de recursos inicial por terceiros como capital para a comunidade.

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b. O aporte de recursos não retornáveis ao Projeto deverá ser analisado pelos prováveisparceiros, levando em conta as condições sociais e econômicas dos beneficiários diretos(população local) e também por se tratar de um Piloto no setor. Caso se confirme essahipótese, a análise do Projeto deverá considerar outras variáveis, inclusive asexternalidades positivas nas áreas sociais, meio ambiente e institucionais;

c. Estudos complementares na segunda etapa poderão indicar a incorporação de novasatividades, como por exemplo a piscicultura, as quais poderão oferecer novasperspectivas em termos de rentabilidade.

10.9 Novos impactos ambientais

Espera-se que a implementação do Projeto no Conjunto Renascer, relativamente ao reusode águas residuárias, gere os seguintes impactos:

Positivos:

a. Aproveitamento das águas residuárias tratadas atualmente sem uso e com descarga nabacia do Rio Cocó, otimizando os recursos naturais disponíveis no Município;

b. Embora não se disponha de informações, admite-se que ocorrerá redução no risco desaúde das comunidades que acessam as águas à jusante do ponto de descarga da estaçãode tratamento, mesmo que indiretamente, para consumo de peixes e produção dehortaliças;

c. Melhoria substancial da imagem da área do projeto, que está contígua a outra áreadesignada para o desenvolvimento de projetos sociais, por iniciativa privada;

d. Melhoria da qualidade do solo;

e. Incorporação de novos projetos, particularmente de compostagem dos resíduosdomiciliárias e do lodo das lagoas e incorporação dos produtos obtidos (adubo orgânico)na melhoria da qualidade do solo e venda dos materiais recicláveis;

f. Maior conscientização da população local e bairros vizinhos, acerca de impactosambientais e educação ambiental;

g. Disponibilidade de produtos alimentícios produzidos na própria comunidade, a preçosmais acessíveis, com menos custos de transporte e insumos;

h. Definição de referências técnicas e de gestão para a implantação de novos projetos dereuso.

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Negativos:

a. Na fase de implantação – preparação de áreas de cultivo, haverá movimentos demáquinas e poderá causar algum tipo de desequilíbrio na área;

b. Na fase de operação, em função da inserção de novo tipo de cultura na área, poderãoacontecer desequilíbrios, como surgimento de ratos, pragas (insetos, doenças relacionadasàs plantas).

10.10 Proposta para gestão do sistema integrado

Considerando as características da Associação, da comunidade do Conjunto HabitacionalRenascer e do quadro geral de reuso de águas residuárias nos âmbitos dos governos federal,estadual e municipal e, principalmente, a natureza do Projeto, que se propõe a funcionar comopiloto na Região, delineia-se, em caráter preliminar a seguinte proposta de gestão do SistemaIntegrado:

1. Instituição Proprietária do Projeto:− Associação dos Moradores

2. Executora− Unidade Técnica, a ser criada com a finalidade específica de conceber e implantar

o Projeto e, posteriormente, ser transformada em uma gerência técnicafuncionando sob o comando da Associação de moradores, que poderia serorganizada do ponto de vista legal como uma cooperativa. A participação dosparceiros, inclusive para assegurar a continuidade do Projeto, poderia serimplementada através de um conselho consultivo. A indicação dos componentesdessa Unidade Técnica seria feita a partir de critérios técnicos e de gestão a seremdefinidos pelos parceiros de comum acordo.

3. Apoiadores Tecnológicos− Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – Seção Ceará –

ABES-CE− Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará – CEFET-CE− Centro Pan-Americano de Engenharia Sanitária e Ciências Ambientais –

CEPIS/OPS;− Organização Pan-Americana de Saúde

4. Prováveis Apoiadores Financeiros− Centro Internacional de Investigação para o Desenvolvimento do Canadá - IDRC− Banco do Nordeste do Brasil− Prefeitura Municipal de Fortaleza – PMF− Governo do Estado do Ceará

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10.11 Proposta para melhorar o marco legal e institucional

Como se trata de um projeto piloto, a idéia básica é que todo o conjunto de informaçõeslevantado venha a constituir elementos importantes para subsidiar a geração de normas/legislaçãosobre a matéria de reúso, bem como o desenvolvimento de outros projetos, particularmente nosestados nordestinos. Espera-se, a partir das parcerias a serem desenvolvidas e do avanço doprojeto o seguinte:

− Elaboração de proposta de normas sobre reúso, a ser encaminhada às esferas de governofederal, estadual e municipal;

− Convênios de cooperação técnica entre estados brasileiros;− Convênios de cooperação entre instituições nacionais e estrangeiras;− Programas de financiamentos às pesquisas no setor de reúso;− Definição de modelos de gestão de beneficiem as populações de baixa renda; e− Definição de parâmetros técnicos que assegurem a qualidade de vidas das populações

beneficiadas direto ou indiretamente.

11. Conclusões e recomendações

11.1 Conclusões gerais

A avaliação da situação saneamento no Brasil e no Estado do Ceará em geral e da cidadede Fortaleza, em particular, ao tomarmos a ETE do Conjunto Renascer como área mais restritade estudo, nos permite tirar algumas conclusões acerca da importância do desenvolvimento deprojetos integrados de tratamento e reuso das águas residuárias numa região carente de recursoshídricos e de salubridade precária, tal como se apresenta nossa Região Nordeste brasileira.

Considerando-se que já existe um número considerável de sistemas de tratamentos deáguas residuárias do tipo lagoas de estabilização implantados na região e a comprovadaeficiência deste modelo de tratamento, quando adequadamente gerenciado, expresso pelaqualidade dos seus efluentes finais, o que os tornam adequados aos múltiplos usos; justifica osinvestimentos que venham a ser aplicados para implantação de sistemas integrados de tratamentoe reuso permitindo o desenvolvimento de modelos otimizados para aplicações mais amplas. Comeste intuito é que tomamos o sistema do conjunto Renascer como estudo de caso onde osefluentes tratados, com os devidos ajustes podem representar um grande potencial de reúso,permitindo o aproveitamento racional das áreas residuais e envolvendo a comunidade.

O fato de o sistema já se encontrar perfeitamente inserido no cenário do conjuntohabitacional e a credibilidade depositada pela comunidade torna mais fácil o desenvolvimento doprojeto e os resultados positivos daí advindos.

Desta forma, as práticas informais e inseguras da agricultura urbana e os lançamentosdespropositados que acarretam a degradação dos ambientes aquáticos e a veiculação de doençaspassa a ter uma nova dimensão, onde os conhecimentos científicos passam a ter aplicação maisdireta na melhoria da qualidade de vida das populações, propiciando uma convivência harmônica

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entre o homem e o meio ambiente, além de restituir às comunidades, em especial, aquelasmarginalizadas a dignidade a que têm direito.

11.2 Recomendações por área

11.2.1 Aspectos legal e institucional

A formação de uma competência em nível local é fundamental para o sucesso do Projeto.Portanto, as parcerias deverão ser direcionadas no sentido de preparar efetivamente acomunidade para operar uma Unidade Executora e, no futuro, gerir o Projeto.

Do ponto de vista legal, considerando o atual estágio da temática no país e no Estado, adivulgação dos resultados que forem obtidos deverá ser ampla, envolvendo áreas políticas etécnicas, organizações não-governamentais, associações e demais instituições ligados ao setor.

11.2.2 Aspectos econômicos e financeiros

Na fase seguinte do Projeto, deverão ser ampliadas as avaliações em termos depotencialidades da área escolhida, ou até a incorporação de novas áreas, para a inclusão deatividades como piscicultura, aproveitamento do lodo na atividade agrícola e, ainda, odesenvolvimento de um projeto de reciclagem e compostagem, utilizando-se o material orgânicona melhoria da terra e, consequentemente, integrando melhor o Projeto e ampliando a suasustentabilidade econômica-financeira.

A formação de um capital social para a comunidade é fator decisivo para que o projetoocorra. As articulações entre parceiros deverão considerar que os benefícios desse Projeto sãobem mais amplos, favorecendo, no futuro, todo o setor de gerenciamento de águas.

11.2.3 Aspectos de saúde pública

Considerando a importância dos impactos no setor de saúde pública, recomenda-se queseja feita uma análise dos parâmetros para águas residuárias utilizada na agricultura,confrontando os resultados com aqueles obtidos em experiências bem sucedidas. Neste contextoinclui-se a experiência do estado do Arizona, nos Estados Unidos.

As considerações sobre proteção da saúde impõem tratamento das águas residuaispara eliminação dos organismos patogênicos, independentemente de que estas águas sejam ounão para o reúso. Outras medidas de maior complexidade estabelecem restrições para águasresiduárias quando estas são reutilizadas para irrigação de cultivos ou existe população exposta aelas. Estes parâmetros previnem a transmissão de enfermidades decorrentes de veiculação hídricae otimizam a reciclagem das águas residuárias. A revisão de medidas tomadas para a prevençãode contaminação microbiológica através de águas residuais constitui, portanto, uma dasprincipais tarefas a realizar dentro das atividades incluídas no Projeto.

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É importante mencionar que o exame microbiológico rigoroso destas implicaprocedimentos de alto custo. Este fato constitui um obstáculo maior para a implementação econstante monitoramento de plantas de tratamento em muitos países do mundo.

O fator monetário é decisivo na implementação de controle microbiológico de qualidadede água, e por esta razão, é que as enfermidades relacionadas a presença de matéria fecal sãomuito comuns nos países em desenvolvimento. As águas residuárias contém uma concentraçãomuito elevada de microorganismos patogênicos (bactérias, vírus, protozoários e helmintos) e,portanto, seu uso pode resultar em um risco para a saúde pública.

Os parâmetros adequados para o controle microbiológico de matéria fecal e águasresiduárias para reúso podem ser estabelecidos e, dessa maneira, se atua também em termos deproteção à saúde. Estes parâmetros asseguram que com a devida precaução, os riscos para asaúde relacionados a águas de reúso na agricultura sejam mínimos.

Cabe destacar a importância de se elaborar uma análise comparativa entre as políticas dequalidade de águas no Ceará e em outros estados ou países que tenham em comum:

a. A escassez de água para irrigação e demanda urbana, o que faz com que o reúso de águasresiduárias seja uma medida relevante atual e para o futuro; e

b. Que utilizem os nutrientes das águas residuárias para o incremento da produção agrícola.

A vantagem que se pode obter através dessa comparação é viabilizar a participação doProjeto desenvolvido no Estado do Ceará a uma discussão mais ampla em nível internacional.Uma análise dessa natureza pode evidenciar as necessidades do Ceará em termos de dinâmicassociais que permitam ou obstacularizem a negociação e implementação de parâmetros maisrestritivos sobre qualidade de água a curto ou longo prazos.

11.2.4 Aspectos ambientais

Deverão ser avaliadas todas as implicações junto às autoridades competentes – estaduaise municipais, relativamente à localização da área do terreno atualmente utilizada situa-se dentrode uma área de proteção permanente, com restrições de uso.

Em função de se tratar de uma comunidade com características bem específicas, desde asua origem (1991), é interessante avaliar a possibilidade de desenvolvimento de ações e projetosvoltados para a conscientização ambiental, de forma a se obter uma efetiva integração dessacomunidade no Projeto e nas questões ambientais na área.

Cabe avaliar, ainda, a possibilidade de, a partir de pequenas ações, transformar a área doProjeto ou parte dela em um espaço (Ponto Verde) para programas de educação ambiental para acomunidade e populações circunzinhas.

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11.2.5 Aspectos sociais

A questão da participação social em projeto, via de regra, estão contemplados quando sepensa ações que, direto ou indiretamente, possam beneficiar as comunidades, principalmentequando se trata de pessoas de baixo poder aquisitivo e baixa escolaridade. Todavia, na práticatemos poucos exemplos que sirvam de referência. A idéia desse Projeto é priorizar em cada etapaa participação e integração da comunidade nas etapas de concepção, implantação, operação emonitoramento do Projeto.

Na ótica social devem ser articuladas as parcerias com o Poder Público Municipal,particularmente no tocante a posse da terra.

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12. Bibilografia

Livros

1. ARAUJO, L.F.P.(2000). Reuso com Lagoas de Estabilização – Potencialidade no Ceará.SEMACE. Fortaleza – CE.

2. BANCO DO NORDESTE. (1999). Manual de Impactos Ambientais – OrientaçõesBásicas sobre Aspectos Ambientais de Atividades Produtivas. Fortaleza – CE.

3. CONTADOR, C.R.(2000). Projetos Sociais – Avaliação e Prática. Editora Atlas. SãoPaulo-SP.

4. LEON, S.G & Moscoso Cavallini, J, Costo de Tratamiento y uso de aguas residuales,OPS, (1996)

5. MOTA, S(Organizador)(2000). Reúso de Águas – A experiência da UniversidadeFederal do Ceará. Centro de Tecnologia, Departamento de Engenharia Hidráulica eAmbiental. Universidade Federal do Ceará. Fortaleza - CE.

6. MENDONÇA, S.R.(1987) Tópicos Avançados em Sistemas de Esgotos Sanitários.Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental - ABES. Rio de Janeiro.

7. MENDONÇA, S.R.(1990) Lagoas de Estabilização e Aeradas Mecânicamente: NovosConceitos. João Pessoa - PB.

8. MOTA, S. (1995). Preservação e Conservação de Recursos Hídricos. AssociaçãoBrasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES. Rio de Janeiro - RJ.

9. SPERLING, M.V.(2000). Princípios do Tratamento Biológico de Águas Residuárias.Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG/DESA. Belo Horizonte – MG.

Teses

1. BEZERRA, F.C.L(1997). Reúso de Águas Residuárias em irrigação: Uma Alternativapara o Estado do Ceará. Dissertação de Mestrado. Curso de Pós-Graduçao em EngenhariaCivil da Universidade Federal do Ceará, Fortaleza – CE.

2. CARVALHO, M.E (1997). Avaliação do Desempenho das Lagoas de Estabilização doSistema Integrado do Distrito Industrial (SIDI) de Maracanaú-Ce, Tratando ÁguaResiduária Composta (doméstica e industrial). Dissertação de Mestrado. Curso de Pós-Gradução em Engenharia Civil da Universidade Federal do Ceará, Fortaleza – CE.

3. NOGUEIRA, V.L.M. (1999). Caracterização do Sistema de Lagoas de Estabilização daEstação de Esgotos do Parque Fluminense, em Fortaleza, Ceará. Dissertação deMestrado. Curso de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal doCeará, Fortaleza – CE.

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Sites:

www.semace.ce.gov.br/Projetos_espciais/zoneamentoecolecon.htmwww.cogerh.com.br/nivell2.asp

Outras Fontes:

CEPIS/OPAS/IDRC (2000). Sistema Integrado de Tratamiento y uso de Aguas ResidualesDomésticas de Sullana, Perú – Modelo Referencial