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12 Jornal do Comércio - Porto Alegre Segunda-feira, 29 de abril de 2013 JC Empresas & Negócios RESPONSABILIDADE SOCIAL Eduardo Bertuol Rosin Poucas pessoas podem come- çar uma nova fase na vida e en- caminhar a entrada no mercado de trabalho. Orlei da Costa é de- ficiente visual desde os nove anos de idade. Hoje, com 42 anos, sur- giu essa oportunidade. No início de abril, ele foi um dos 44 alunos selecionados pela Alliance One e o Serviço Nacional de Aprendiza- gem Industrial (Senai) para o cur- so de aprendizagem para pessoas com deficiência do Projeto Incluir, na cidade de Venâncio Aires, no Vale do Rio Pardo. O curso tem duração de 800 horas, dividi- das em 400 teóricas no Senai e 400 horas práticas na empresa. Ocorrem treinamentos na parte administrativa e industrial. Além disso, os alunos recebem a opor- tunidade de aprender e adquirem a carteira de trabalho assinada com todos os direitos. Morador da cidade de Bom Retiro do Sul, Costa buscava tra- balho desde os anos 1990 quando foi demitido da empresa em que servia em Lajeado. Hoje, ele sai de casa, de segunda à sexta, e per- corre um trajeto aproximadamen- te de 60 quilomêtros - mais de uma hora de viagem - para chegar até o Senai de Venâncio Aires e manter o sonho de ser contratado. Por causa da deficiência, Costa sempre teve dificuldades de con- seguir emprego. “Realizei diver- sas entrevistas em empresas atrás de uma vaga de trabalho, não sei se era por preconceito ou outro motivo, mas não obtive sucesso”, revela. “Este curso é uma grande oportunidade para mim”, aposta. Costa conta que, no ano de 2011, ingressou na faculdade de Direito na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e espera poder juntar a aprendizagem no Senai com os estudos para que assim as portas do mercado de trabalho possam se abrir. “Acredito que associando a faculdade com o curso terei mais oportunidade de ingressar em alguma empresa”, destaca o estudante. Elisabete Rosane Siqueira Ro- lim, funcionária da Alliance One há três anos, tem duas filhas no curso, Daiane Siqueira Rolim e Fa- biane Siqueira Rolim, ambas com deficiência mental. A mãe revela que a aprendizagem nas aulas é uma realização na vida da famí- lia. “Elas aguardam ansiosas a hora de poder trabalhar, o curso trouxe expectativa e felicidade na vida delas”, destaca. Elisabete se emociona ao falar sobre as dificul- dades que ela e as filhas encon- traram na vida. “O preconceito é muito grande, mas eu sempre bo- tei a cara a bater. Essa oportuni- dade é muito importante porque elas sempre tiveram vontade de trabalhar e mostrar que são iguais a todos”, afirma. Antes de entrar no curso, Fabiane frequentava a Associação Pais e Amigos Ex- cepcionais (Apae), mas precisou sair ao completar 25 anos, idade limite para seguir no local. Desta forma, ela não tinha mais ativida- des para fazer e começou a ficar apenas em casa. A cada dia que passa, as filhas de Elisabete mos- tram vontade de crescer e vencer os obstáculos da vida. “Elas mos- traram que querem ir à luta, e eu sou muito grata ao apoio que o pessoal está dando para incluir, transparecendo que de alguma forma somos todos iguais.” A gerente de operações do Senai, Rafaela Allgayer Pereira Laimer, ressaltou que o curso é um importante desafio para a aprendizagem de todos, tanto dos professores como também dos alunos. “O Senai possui um tra- balho com jovens aprendizes que é parecido, mas este é especial e exige uma atuação diferenciada”, declarou a gerente. Rafaela avalia que todos es- tão preparados para atender às expectativas e que a meta é in- cluir os alunos no mercado. “É uma oportunidade única para es- sas pessoas. Nós sabemos o quan- to eles querem trabalhar e terão todo o apoio necessário durante as aulas.” Rafaela enfatizou que espera que outras empresas tam- bém tenham esta visão de inclu- são social. “Gostaríamos que fos- se apenas o início de uma ideia e que as demais empresas compre- endam a importância do trabalho com pessoas deficientes.” A ge- rente ressalta que é importante as empresas cumprirem a lei federal que dá assistência aos deficientes para serem contratados. Segundo o artigo 93 da Lei Federal nº 8.213/91, pessoas com deficiência possuem uma cota de inclusão no mercado de trabalho que é obrigatória para todas as empresas que contam com mais de 100 empregados. Parceria inclui deficientes no mercado Projeto realizado por Senai e Alliance One traz benefícios para aprendizes da região do Vale do Rio Pardo Curso proporciona aulas de educação profissional na cidade de Venâncio Aires SANDRO VIANA/DIVULGAÇÃO/JC Trabalho é inédito para o setor fumageiro do Estado Lançado em 2009, o Projeto Incluir tem o objetivo de promo- ver a integração, a aprendizagem e a cooperação entre os colabora- dores. Funcionários da empresa foram qualificados com o curso de libras e também foram realiza- das adaptações no ambiente para melhor receber esta mão de obra. O gerente de recursos hu- manos da Alliance One, Vilson Peiter, analisa positivamente a parceria. “É uma iniciativa inédi- ta na região, que trará benefícios espetaculares.” Peiter frisa que a iniciativa é importante para in- cluir essas pessoas, com treina- mento e qualificação, no mercado de trabalho. No período de seleção, o setor de recursos humanos das empre- sas realizou um trabalho básico na busca e convencimento de pessoas com deficiência para par- ticipar do treinamento. Os alunos assinaram o contrato de trabalho com a empresa que vai garantir o pagamento de salário como aprendizes. Todos os candidatos possuem alguma deficiência, seja intelectual, física, auditiva ou vi- sual, têm mais de 14 anos e são alfabetizados. Alunos assinaram contratos com a empresa, que vai garanr salário como aprendizes SANDRO VIANA/DIVULGAÇÃO/JC ANUNCIE NO JC. LIGUE . 3213.1333

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Page 1: Projeto incluir

12 Jornal do Comércio - Porto AlegreSegunda-feira, 29 de abril de 2013 JCEmpresas & Negócios

RESPONSABILIDADE SOCIAL

Eduardo Bertuol Rosin

Poucas pessoas podem come-çar uma nova fase na vida e en-caminhar a entrada no mercado de trabalho. Orlei da Costa é de-ficiente visual desde os nove anos de idade. Hoje, com 42 anos, sur-giu essa oportunidade. No início de abril, ele foi um dos 44 alunos selecionados pela Alliance One e o Serviço Nacional de Aprendiza-gem Industrial (Senai) para o cur-so de aprendizagem para pessoas com deficiência do Projeto Incluir, na cidade de Venâncio Aires, no Vale do Rio Pardo. O curso tem duração de 800 horas, dividi-das em 400 teóricas no Senai e 400 horas práticas na empresa. Ocorrem treinamentos na parte administrativa e industrial. Além disso, os alunos recebem a opor-tunidade de aprender e adquirem a carteira de trabalho assinada com todos os direitos.

Morador da cidade de Bom Retiro do Sul, Costa buscava tra-balho desde os anos 1990 quando foi demitido da empresa em que servia em Lajeado. Hoje, ele sai de casa, de segunda à sexta, e per-corre um trajeto aproximadamen-te de 60 quilomêtros - mais de uma hora de viagem - para chegar

até o Senai de Venâncio Aires e manter o sonho de ser contratado. Por causa da deficiência, Costa sempre teve dificuldades de con-seguir emprego. “Realizei diver-sas entrevistas em empresas atrás de uma vaga de trabalho, não sei se era por preconceito ou outro motivo, mas não obtive sucesso”, revela. “Este curso é uma grande oportunidade para mim”, aposta.

Costa conta que, no ano de 2011, ingressou na faculdade de Direito na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e espera poder juntar a aprendizagem no Senai com os estudos para que assim as portas do mercado de trabalho possam se abrir. “Acredito que associando a faculdade com o curso terei mais oportunidade de

ingressar em alguma empresa”, destaca o estudante.

Elisabete Rosane Siqueira Ro-lim, funcionária da Alliance One há três anos, tem duas filhas no curso, Daiane Siqueira Rolim e Fa-biane Siqueira Rolim, ambas com deficiência mental. A mãe revela que a aprendizagem nas aulas é uma realização na vida da famí-lia. “Elas aguardam ansiosas a hora de poder trabalhar, o curso trouxe expectativa e felicidade na vida delas”, destaca. Elisabete se emociona ao falar sobre as dificul-dades que ela e as filhas encon-traram na vida. “O preconceito é muito grande, mas eu sempre bo-tei a cara a bater. Essa oportuni-dade é muito importante porque elas sempre tiveram vontade de

trabalhar e mostrar que são iguais a todos”, afirma. Antes de entrar no curso, Fabiane frequentava a Associação Pais e Amigos Ex-cepcionais (Apae), mas precisou sair ao completar 25 anos, idade limite para seguir no local. Desta forma, ela não tinha mais ativida-des para fazer e começou a ficar apenas em casa. A cada dia que passa, as filhas de Elisabete mos-tram vontade de crescer e vencer os obstáculos da vida. “Elas mos-traram que querem ir à luta, e eu sou muito grata ao apoio que o pessoal está dando para incluir, transparecendo que de alguma forma somos todos iguais.”

A gerente de operações do Senai, Rafaela Allgayer Pereira Laimer, ressaltou que o curso é

um importante desafio para a aprendizagem de todos, tanto dos professores como também dos alunos. “O Senai possui um tra-balho com jovens aprendizes que é parecido, mas este é especial e exige uma atuação diferenciada”, declarou a gerente.

Rafaela avalia que todos es-tão preparados para atender às expectativas e que a meta é in-cluir os alunos no mercado. “É uma oportunidade única para es-sas pessoas. Nós sabemos o quan-to eles querem trabalhar e terão todo o apoio necessário durante as aulas.” Rafaela enfatizou que espera que outras empresas tam-bém tenham esta visão de inclu-são social. “Gostaríamos que fos-se apenas o início de uma ideia e que as demais empresas compre-endam a importância do trabalho com pessoas deficientes.” A ge-rente ressalta que é importante as empresas cumprirem a lei federal que dá assistência aos deficientes para serem contratados.

Segundo o artigo 93 da Lei Federal nº 8.213/91, pessoas com deficiência possuem uma cota de inclusão no mercado de trabalho que é obrigatória para todas as empresas que contam com mais de 100 empregados.

Parceria inclui deficientes no mercadoProjeto realizado por Senai e Alliance One traz benefícios para aprendizes da região do Vale do Rio Pardo

Curso proporciona aulas de educação profissional na cidade de Venâncio Aires

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Trabalho é inédito para o setor fumageiro do EstadoLançado em 2009, o Projeto

Incluir tem o objetivo de promo-ver a integração, a aprendizagem e a cooperação entre os colabora-dores. Funcionários da empresa foram qualificados com o curso de libras e também foram realiza-das adaptações no ambiente para melhor receber esta mão de obra.

O gerente de recursos hu-manos da Alliance One, Vilson

Peiter, analisa positivamente a parceria. “É uma iniciativa inédi-ta na região, que trará benefícios espetaculares.” Peiter frisa que a iniciativa é importante para in-cluir essas pessoas, com treina-mento e qualificação, no mercado de trabalho.

No período de seleção, o setor de recursos humanos das empre-sas realizou um trabalho básico

na busca e convencimento de pessoas com deficiência para par-ticipar do treinamento. Os alunos assinaram o contrato de trabalho com a empresa que vai garantir o pagamento de salário como aprendizes. Todos os candidatos possuem alguma deficiência, seja intelectual, física, auditiva ou vi-sual, têm mais de 14 anos e são alfabetizados.

Alunos assinaram contratos com a empresa, que vai garantir salário como aprendizes

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