projeto

SP / SP: a cidade e o tempo○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

CARLOS FADON VICENTE

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…“o dois que é três“…

Caracterização

O eixo principal de SP/SP (1997) situa-se na consideração da cidade como umaenvoltória — semente e cápsula — formada e reformada ao longo do tempo porseus habitantes e, reciprocamente, conformando suas idas e vindas. Numa alusãoaos antigos panoramas, é oferecido ao visitante um percurso “entre-imagens”, emque uma coleção de lugares incógnitos sugere uma reflexão em aberto sobre a vidaurbana — um embate entre o seu repertório cultural e a figuração das aparências.

Concebida como uma instalação1, esta obra pode ser definida como um espaçode observação sobre a paisagem urbana paulistana e sua representação — configu-rado por duas lâminas curvas com as concavidades dispostas face a face — espe-lhando as imagens originadas no ensaio fotográfico SP/SP [30 nov 97]. Com essecotejo, SP/SP reafirma, estética e ideologicamente, a condição da imagem fotográ-fica como uma “trans-realidade”, tomando-se o prefixo ‘trans’ literalmente como‘através de’ e ‘posição-movimento para além de’.

A questão subjacente é a da conceituação/elaboração de estruturas, ou me-lhor, da representação/narratividade, aliás, central às investigações levadas a efeitoem diferentes obras baseadas em fotografia, imagem digital, telecomunicações ehipermídia2.

1. O primeiro trabalho feito para uma determinada situação e local foi Places + Vectors, “Master ofFine Arts Thesis Show”, The School of the Art Insitute of Chicago, 1990.

2. Por exemplo, Noturnos (1987- ), Cahiers (1988-89), Places (1989-90), Medium (1991- ), NaturezaMorta – ao Vivo / Still Life – Alive (1988), Conjunto Oito (1994), Telage (1994), LAPIS/X (1999- ).

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Este ensaio fotográfico foi idealizado como uma jornada pelas ruas da cidadede São Paulo e foi produzido em 30 de novembro de 1997. É formado por duasimagens, aqui denominadas “A” e “B”. São elas as cópias-contato de dois filmesem preto e branco no formato 120 / 6x6 cm — cada imagem é constituida pelosdoze quadros mantidos na sequência linear original3. Em sua concepção foi esta-belecida a priori uma correspondência entre pares de imagens (quadros): a cadaimagem realizada num filme, em seguida no outro filme, uma outra imagem seriafeita no contra-plano. Ponto de partida, o primeiro quadro traz um fragmento dapaisagem urbana: o recorte de um cartaz de rua (outdoor), um rosto femininofaceando o observador-passante. Em seu desenvolvimento, o encadeamento deelementos e circunstâncias estabeleceram uma estrutura temporal, em que as tex-turas da cidade-imagem colaboraram na ligação entre as imagens. A geração dasimagens envolveu, em particular, a conjugação do construido e do encontrado,posicionando a fotografia como um processo subordinado ao binômio causalida-de-acausalidade — no âmbito da noção de Fotografia como um sistema de elabo-ração de realidades4.

Descrição Física

O dimensionamento de SP/SP é tal que a visão das imagens é balizada pelatensão todo/parte, em que a escala da obra é compatível com a estatura de umapessoa adulta. Ela compreende duas placas curvas, dispostas horizontalmente eafastadas entre si, flutuando suspensas no espaço com a parte côncava voltadauma para a outra. As faces externas são lisas e têm o acabamento em preto fos-co; as faces internas trazem contrapostas reproduções fotográficas ampliadas dasimagens de SP/SP [30 nov 97], com “A” colocada à esquerda e “B” à direita se-gundo o sentido preferencial de acesso. A iluminação é difusa e concentra-se novolume gerado pelas placas, enquanto que o entorno permanece na penumbra,estabelecendo assim o contorno da instalação. O tipo de película utilizada (com

3. Dados técnicos de SP/SP [30 nov 97]: – fotografia e processamento do filme: Carlos Fadon Vicente(câmera Hasselblad, filme Konica Infrared 750, revelador D-76); – cópias-contato: Positivo Fotolab,São Paulo (papel Ilford Multigrade, revelador Dektol); – digitalização do filme para uso eletrônico egráfico: Photoimagem 5, São Paulo.

4. Para uma extensa discussão da Fotografia como processo de construção de realidades vide KOSSOY,Boris. Realidades e Ficções na Trama Fotográfica. São Paulo: Ateliê Editorial, 1999.

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sensibilidade estendida ao infravermelho), os sucessivos procedimentos fotográ-ficos em base química (cópia-contato do filme, reprodução da cópia-contato,ampliação da reprodução), além da própria oscilação das lâminas, contribuem parauma certa imprecisão das imgens e buscam provocar um estranhamento em suarecepção.

Conexões

O princípio do fluxo dos opostos5 que rege a formulação de SP/SP [30 nov 97]transfere-se para SP/SP e manifesta-se tanto construtivamente como conceitual-mente. Seu desenho em planta remete ao formato do olho e da lente, permitindo-se a metáfora da obra como visão, correlacionando a cidade e o tempo, refeita in-dividualmente a cada travessia. A aplicação do conceito de ensaio fotográfico aofilme, ou seja, a imagem (filme) como um conjunto articulado de quadros tem pre-sença marcante em trabalhos anteriores, e.g., em TVe (1975), zzzt! (1978), OutdoorMulher (1979- ), Passo Doble (1990), Trincas (1980-94), xy (1995), a.k.a. (1995),em linha (1996)6

Apresentação Inicial

O trabalho foi dirigido em primeira instância a uma mostra conjunta, “Crôni-cas Urbanas”, organizada por Eduardo Castanho para o Instituto Itaú Cultural em1998, por ocasião do 444 º aniversário da cidade de São Paulo, e proposto parafuncionar nesse contexto como um portal de entrada. Participaram desta exposi-ção: Antonio Saggese, Carlos Fadon Vicente, Eduardo Castanho, Gal Oppido e JucaMartins7. Nessa ocasião foram utilizadas duas placas de fórmica preta, curvadascomo um setor de superfície cilíndrica com 60° e 42 x 252 cm cada, distando 80 cm

5. São exemplos característicos os entrelaçamentos yin / yang no pensamento oriental e positivo /negativo na fotografia.

6. Definição de ensaio fotgráfico: um conjunto articulado de imagens tal que o todo prevalece sobreas imagens individuais. Essa articulação pode assumir e combinar diferentes graus de complexidade,desde a seqüência linear até a hipermídia.

7. Após sua exibição no Instituto Itaú Cultural em São Paulo, “Crônicas Urbanas” teve durante 1998a seguinte itinerância: Itaú Cultural Campinas, Galeria Itaú Cultural Penápolis, Galeria Itaú Cul-tural Brasília, Itaú Cultural Belo Horizonte; em 1999 foi aprsentada no Pátio do Colégio, SãoPaulo. O exemplar de SP/SP produzido para essa exposição encontra-se no acervo do InstitutoItaú Cultural.

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8. Dados técnicos de SP/SP: – reprodução das cópias-contato SP/SP [30 nov 97] em filme plano pretoe branco: Fernando Chaves (câmera Linhof, filme Kodak Technical Pan); – processamento do filme eampliação de referência: Positivo Fotolab, São Paulo (revelador D-76; papel Kodak Ektacolor, pro-cesso RA-4); – ampliação e colagem: Laboratório ProColor, São Paulo (papel Kodak Ektacolor, pro-cesso RA-4); – montagem da obra in loco: Instituto Itaú Cultural, São Paulo.

nas bordas e suspensas por de fios de aço a 160 cm do piso (altura da linha decentro). As reproduções de SP/SP [30 nov 97] foram ampliadas fotograficamente(magnificadas três vezes) sem emenda sobre papel com superfície mate8.

Carlos Fadon Vicente é engenheiro e artista plástico pela USP,

mestre pela School of the Art Institute of Chicago. Concentra sua

experiência criadora na fotografia, computação gráfica e telecomu-

nicações. Sua obra é parte de coleções no Brasil (Masp, Pirelli) e no

exterior (EUA, Alemanha, Espanha, Portugal).