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PROJETO E CONSTRUÇÃO DE UM ANEMÔMETRO TÉRMICO COM

SENSOR TERMISTOR

Eduardo Guerreiro Zilves

Projeto de Graduação apresentado ao Curso

de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientador: Juliana Braga Rodrigues Loureiro

Rio de Janeiro

Agosto de 2019

Zilves, Eduardo Guerreiro

Projeto e Construção de um Anemômetro Térmico com

Sensor Termistor/Eduardo Guerreiro Zilves. Rio de

Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2019.

XIV, 69 p.: il.; 29, 7cm.

Orientador: Juliana Braga Rodrigues Loureiro

Projeto de Graduação UFRJ/ Escola Politécnica/

Curso de Engenharia Mecânica, 2019.

Referências Bibliográcas: p. 61 62.

1. Instrumentação. 2. Anemometria. 3. Termistor.

I. Loureiro, Juliana Braga Rodrigues. II. Universidade

Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de

Engenharia Mecânica. III. Título.

iii

Aos meus pais e minha irmã

iv

Agradecimentos

Gostaria de agradecer a algumas das inúmeras pessoas que contribuíram em minha

jornada até aqui.

Agradeço primeiramente aos meus pais, Rodnei e Eveline, que sempre apoiaram

meus estudos e me ajudaram em necessidades que surgiram. Agradeço também à

minha irmã Raquel pelo convívio ao longo desses anos.

Agradeço aos colegas de curso pela amizade ao longo das situações vividas na

graduação, em especial a Bruno, Eduardo, Raphael, Rafael, Caio, Lucas, Pedro,

Alexandre, Rodrigo, e tantos outros que não me recordo agora mas que foram de

crucial apoio nos bons e maus momentos da graduação. Agradeço aos professores

do Departamento de Engenharia Mecânica, da Escola Politécnica, aos servidores

técnico-administrativos.

Agradeço à minha orientadora Juliana pelo apoio durante a produção deste tra-

balho. Agradeço também a André e Wellington, mas principalmente a Laert pela

ajuda em dúvidas que surgiram ao longo deste trabalho.

Agradeço aos colegas de estágio Rodolpho, Cecília, Roberto, Guilherme, Alexan-

dre, Axel, Aleck, Bruno e Cíntia pelos ensinamentos na esfera prossional.

Agradeço à banca de defesa Prof. Juliana, Prof. Átila e Prof. José Luiz, que

se dispuseram de tempo para este trabalho, e também aos que assistiram à defesa.

Espero que este trabalho possa ser de utilidade para desenvolvimento de projetos

futuros.

Agradeço a todos os que não me recordo no momento em que escrevo este texto,

mas que contribuíram para que eu chegasse até aqui.

Por último, agradeço a você, leitor, por se dispor a ler este trabalho. Espero que

ele seja útil para sua jornada.

v

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como

parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Mecânico.

PROJETO E CONSTRUÇÃO DE UM ANEMÔMETRO TÉRMICO COM

SENSOR TERMISTOR

Eduardo Guerreiro Zilves

Agosto/2019

Orientador: Juliana Braga Rodrigues Loureiro

Curso: Engenharia Mecânica

A medição de velocidade no ar, seja de pers de escoamento ou de fenômenos

ondulatórios, é utilizada para ns acadêmicos ou industriais para estudar o compor-

tamento do perl de velocidades ao redor de um corpo imerso no uido. A caracte-

rização do escoamento pode ser usado para determinar também propriedades como

arrasto ou campos de pressão na superfície do objeto.

A anemometria térmica se baseia no equilíbrio entre trocas térmicas de efeito

Joule e dissipação por convecção. As relações estabelecidas pela literatura permitem

correlacionar uma tensão de alimentação com a velocidade do escoamento que se

deseja medir.

Este trabalho propõe-se a construir um instrumento de medição de sensor termis-

tor capaz de medir pers de velocidades em um escoamento e também obter resposta

em frequência de fenômenos ondulatórios. Os resultados são posteriormente com-

parados com valores esperados e a bibliograa a m de conrmar que o sensor é

possível e resulta em medições capazes de obter valores experimentais.

vi

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulllment

of the requirements for the degree of Engineer.

THESIS TITLE

Eduardo Guerreiro Zilves

August/2019

Advisor: Juliana Braga Rodrigues Loureiro

Course: Mechanical Engineering

The measurement of air velocity, either for ow proles or oscilatory patterns, is

used for academic or industrial reasons to study the behavior of ow around a body

immmersed in a uid. This characterization of ow can be used to also determine

other properties such as drag or pressure elds over the surface of the body.

Thermal anemometry is based in the balance between heat transfer from Joule

eect and dissipation by convection. The known relations established by literature

allow us to correlate a voltage input to the velocity of the ow to be measured.

This work proposes to build a measurement instrument using a thermistor sensor

capable of measuring velocity proles in a ow, and also to obtain frequency response

to ondulatory phenomena. The results are later compared to expected values and to

the literature so as to conrm that the sensor is capable of performing experimental

measurements.

vii

Sumário

Lista de Figuras xi

Lista de Tabelas xiv

1 Introdução 1

1.1 Motivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

1.2 Objetivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

1.3 Organização do trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

2 Fundamentos teóricos 3

2.1 Denições gerais de Mecânica dos uidos . . . . . . . . . . . . . . . . 3

2.2 Anemometria térmica a Fio Quente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

2.3 Funcionamento de um Termistor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

2.3.1 Equação de Steinhart-Hart . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

2.4 Ponte de Wheatstone . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

2.4.1 Ponte em Temperatura Constante . . . . . . . . . . . . . . . . 7

2.5 Calibração estática e dinâmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

2.5.1 Lei de King para Anemômetros Térmicos . . . . . . . . . . . . 8

2.6 Linearidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

2.7 Incertezas de medição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

2.8 Frequência de emissão de vórtices em um corpo cilíndrico . . . . . . . 10

3 Revisão Bibliográca 12

3.1 Anemometria a Fio Quente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

3.2 Modos de operação do anemômetro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

3.3 Bibliograa técnica para anemometria . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

3.4 Anemometria com Sensor Termistor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

3.5 Obtenção de parâmetros ótimos por análise gráca . . . . . . . . . . 22

4 Descrição do Instrumento 23

4.1 Caracterização do Termistor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

4.1.1 Curva Temperatura-Resistência . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

viii

4.1.2 Escolha do ponto de operação . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

4.2 O Instrumento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

4.2.1 Ponte de Wheatstone do instrumento . . . . . . . . . . . . . . 26

4.2.2 Malha de controle do instrumento . . . . . . . . . . . . . . . . 28

4.2.3 Fonte de alimentação do circuito . . . . . . . . . . . . . . . . 30

4.2.4 Métodos para redução de ruído no sinal . . . . . . . . . . . . . 30

4.3 Escolha dos parâmetros do instrumento . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

4.3.1 Escolha dos parâmetros dinâmicos . . . . . . . . . . . . . . . . 31

4.3.2 Inuência dos parâmetros dinâmicos . . . . . . . . . . . . . . 32

4.4 Procedimentos de calibração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

4.4.1 Calibração estática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

4.4.2 Calibração dinâmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

4.5 Análise de incertezas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

5 Resultados 38

5.1 Calibração Estática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

5.1.1 Obtenção da velocidade do túnel de vento . . . . . . . . . . . 39

5.1.2 Relação de calibração pela Lei de King . . . . . . . . . . . . . 40

5.1.3 Comparação entre resistências da ponte . . . . . . . . . . . . . 41

5.2 Calibração Dinâmica Resposta ao Degrau . . . . . . . . . . . . . . 42

5.2.1 Teste de resposta ao degrau . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

5.2.2 Comparação gráca da resposta ao degrau . . . . . . . . . . . 44

5.2.3 Parâmetros padrão otimizados . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

5.3 Calibração em Frequência Resposta à Senoide . . . . . . . . . . . . 46

5.4 Medição do perl de velocidades à Jusante do Cilindro . . . . . . . . 47

5.4.1 Caso 1: Distância 50 mm, velocidade 0.12 m/s . . . . . . . . . 48

5.4.2 Caso 2: Distância 50 mm, velocidade 0.81 m/s . . . . . . . . . 48

5.4.3 Caso 3: Distância 100 mm, velocidade 0.12 m/s . . . . . . . . 50

5.4.4 Caso 4: Distância 100 mm, velocidade 0.81 m/s . . . . . . . . 50

5.5 Comparação do perl à jusante em gráco na forma adimensional . . 51

5.6 Identicação da Frequência de Emissão de Vórtices . . . . . . . . . . 52

5.7 Perl de Intensidade Turbulenta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

6 Conclusões 59

6.1 Análise Crítica e Sugestões para trabalhos futuros . . . . . . . . . . . 60

Referências Bibliográcas 61

A Diagrama do circuito 63

B Código da Análise Fourier para Frequência de Emissão de Vórtices 65

ix

C Código da Análise de Intensidade Turbulenta 68

x

Lista de Figuras

2.1 Desenho esquemático da ponta de um anemômetro a o quente em

operação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

2.2 Desenho representativo de uma Ponte de Wheatstone. . . . . . . . . . 6

2.3 Esquema representativo de uma ponte de um anemômetro a o quente,

em malha fechada, operando em modo de temperatura constante. . . 7

2.4 Padrão de emissão de vórtices atrás de um corpo cilíndrico . . . . . . 11

3.1 Lei de King gráca, com percurso de temperatura constante. (Adap-

tado de [8]) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

3.2 Malha de controle de anemômetro CTA proposto. (Reprodução de [8]) 14

3.3 Variação da resposta do polo no plano complexo, de acordo com pa-

râmetros do instrumento. (Adaptado de [8]) . . . . . . . . . . . . . . 15

3.4 Malha de controle básica para anemometria. (Reprodução [9]) . . . . 16

3.5 Posicionamento do anemômetro HWA num escoamento unidimensio-

nal. (Adaptado de [9]) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

3.6 Comparação entre os dois casos de termistor estudados por Moore,

em Suporte (A) e Tubo (B). (Adaptado de [14]) . . . . . . . . . . . . 20

3.7 Circuito de malha de controle usado no trabalho de MOORE com

perturbação de onda quadrada. (Reprodução de [14]) . . . . . . . . . 21

3.8 Ajuste ótimo da resposta ao degrau para um anemômetro. (Adaptado

de [14]) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

4.1 Sensor termistor utilizado nas medições, com régua milimetrada. . . . 23

4.2 Comparação da curva de resistência por temperatura do termistor

Omega 44004 entre dados do fabricante e experimentais. . . . . . . . 24

4.3 Jato de Ar Quente utilizado nas medições para calibração térmica. . . 25

4.4 Circuito nal utilizado no instrumento. . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

4.5 Diagrama da ponte de Wheatstone do anemômetro a termistor. . . . 26

4.6 Ponte de Wheatstone com as resistências escolhidas. . . . . . . . . . . 27

4.7 Malha de controle utilizada no instrumento. . . . . . . . . . . . . . . 28

4.8 Malha de controle com os valores otimizados. . . . . . . . . . . . . . . 29

xi

4.9 Diagrama da fonte de alimentação utilizada no instrumento. . . . . . 30

4.10 Osciloscópio padrão utilizado nas medições de calibração. . . . . . . . 33

4.11 Disposição do sensor termistor no escoamento para calibração e to-

mada de medições. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

4.12 Ponteira do posicionador com sensor termistor acoplado. . . . . . . . 34

4.13 Aplicação de perturbação na ponte de Wheatstone para o teste degrau. 36

5.1 Túnel de vento utilizado nas medições experimentais. . . . . . . . . . 38

5.2 Traseira do túnel de vento utilizado nas medições experimentais. . . . 39

5.3 Relação entre a velocidade do escoamento medida e a frequência do

inversor no túnel de vento utilizado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

5.4 Tomada de medida da calibração estática do anemômetro a termistor

quente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

5.5 Resposta ao degrau da condição mais otimizada. . . . . . . . . . . . . 44

5.6 Comparação gráca da resposta ao degrau para algumas situações

notáveis. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

5.7 Magnitude de resposta de saída em função da frequência de oscilação

aplicada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

5.8 Cilindro circular utilizado nas medições experimentais. . . . . . . . . 48

5.9 Perl de medição de velocidade à jusante do cilindro, distante 50 mm

com U∞ = 0.12 m/s, com zona de recirculação e valores não denidos

pela lei de King inversa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

5.10 Perl de medição de velocidade à jusante do cilindro, distante 50 mm

com U∞ = 0.81 m/s, e região de mudança de valores signicativos de

incerteza na borda da esteira. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

5.11 Perl de medição de velocidade à jusante do cilindro, distante 100 mm

com U∞ = 0.12 m/s. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

5.12 Perl de medição de velocidade à jusante do cilindro, distante 100 mm

com U∞ = 0.81 m/s, com mudança dos valores signicativos de incer-

teza, apenas ilustrativo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

5.13 Comparação entre perl esperado pela literatura e encontrado por

medição, com U∞ = 0.20 m/s e meia-esteira de tamanho 30 mm. . . . 52

5.14 Perl de velocidade encontrado para escoamento ao redor do cilindro,

com x/d variável com Re = 40. (Reprodução [20]) . . . . . . . . . . . 53

5.15 Distribuição de utuações de velocidade u′rms por velocidade média

Umed. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

5.16 Distribuição de intensidade turbulenta IT por velocidade média Umed. 58

A.1 Diagrama completo do circuito nal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

xii

B.1 Gráco de saída de medição do teste #26 no domínio do tempo. . . . 66

B.2 Gráco de saída de medição do teste #26 no domínio da frequência,

com destaque para frequências características esperadas. . . . . . . . 67

C.1 Perl de velocidade para o caso de Umed = 10.79 m/s. . . . . . . . . . 69

xiii

Lista de Tabelas

2.1 Propriedades do ar relevantes a 300 K (ou 27 C). [1] . . . . . . . . . 3

3.1 Passo a passo de medição em anemometria, segundo JØRGENSEN

[15]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

4.1 Constantes de Steinhart-Hart do termistor Omega 44004 fornecidas

pelo fabricante. [19] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

5.1 Coecientes do ajuste de velocidade e frequência no túnel de vento. . 40

5.2 Voltagem de saída do instrumento como função da velocidade, para

R1 = 47 Ω e R1 = 96 Ω. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

5.3 Comparação de tempo de resposta em diferentes combinações de pa-

râmetros. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

5.4 Comparação de tempo de resposta em diferentes combinações de va-

lores de ltro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

5.5 Parâmetros associados às respostas da Figura 5.6. . . . . . . . . . . . 46

5.6 Tabela de parâmetros-padrão usados no instrumento. . . . . . . . . . 46

5.7 Tabela comparativa dos parâmetros usados na medição de perl à

jusante do cilindro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

5.8 Dados dos testes de frequência de emissão de vórtices . . . . . . . . . 54

5.9 Resultados dos testes de frequência de emissão de vórtices . . . . . . 55

5.10 Tabela de velocidade média Umed, utuação u′rms e intensidade tur-

bulenta IT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

xiv

Capítulo 1

Introdução

1.1 Motivação

Sistemas de medição de ar (anemômetros) são utilizados em pesquisa para estudar

o escoamento ao redor de corpos e comparar com métodos de resolução numérica

(CFD - Dinâmica dos Fluidos Computacional). Os anemômetros também podem

ser usados na área acadêmica para ensino de mecânica dos uidos e de instrumen-

tação. Já na indústria, podem ser usados como sensores de vazão em exaustores ou

tubulações.

A motivação deste trabalho será obter uma maneira de se medir velocidades

de escoamento do ar, de forma a reproduzir resultados da literatura e comparar

com valores esperados. Desejamos também encontrar um modo de medição prático,

conável, de baixo custo e boa resolução.

Além disso, buscamos validar para vericar se tal método é possível e viável de

ser utilizado.

1.2 Objetivo

O objetivo deste trabalho é projetar um anemômetro térmico com um sensor estru-

turalmente mais robusto do que o anemômetro a o-quente, com maior resistência

e durabilidade, porém ainda assim com boa resposta dinâmica. Este sensor deve

ser capaz de medir pers de velocidade média e utuações turbulentas com boa

resolução espacial e temporal.

Para tal, será usado um sensor do tipo termistor, de forma esférica, com bom

coeciente de troca térmica no ar. O sensor possui tamanho reduzido o suciente

para ter uma resposta rápida, porém ainda é rígido o suciente para não romper ou

quebrar durante o uso.

O sensor será ligado a uma malha de controle que garante que sua temperatura

1

de operação seja constante. Essa malha de controle é similar à malha encontrada

em diversos projetos de anemômetros de temperatura constante.

Em primeiro lugar desejamos vericar se é possível construir um instrumento

com o sensor desejado, em seguida desejamos descobrir se é possível obter medi-

ções conáveis com o sensor. Logo após, o objetivo passa a ser a comparação dos

resultados com a literatura para vericar a conabilidade de medição, e nalmente

chegaremos a uma conclusão sobre o uso deste tipo de sensor.

O projeto foi desenvolvido no Laboratório de Mecânica da Turbulência do Núcleo

Interdisciplinar de Dinâmica dos Fluidos (NIDF), do Instituto Alberto Luiz Coimbra

de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE), na Universidade Federal do

Rio de Janeiro (UFRJ)

1.3 Organização do trabalho

A estruturação textual e divisão em capítulos do trabalho apresenta-se a seguir. O

atual capítulo (Capítulo 1), introduz brevemente o trabalho, descrevendo motiva-

ção e objetivos do projeto proposto. O Capítulo 2 introduz conceitos de mecânica

dos uidos, instrumentação, e sinais necessários para compreensão do trabalho. O

Capítulo 3 complementa o capítulo anterior e apresenta trabalhos anteriores sobre

anemometria, com alguns resultados encontrados pela literatura e metodologia pro-

posta.

O Capítulo 4 apresenta a descrição do trabalho realizado, com caracterização

do instrumento proposto baseado na metodologia apresentada nos capítulos anteri-

ores, como escolha de parâmetros, denição da calibração e incerteza. O Capítulo 5

apresenta os resultados encontrados das medições desejadas, com caracterização -

nal da calibração, resposta do instrumento estática e dinâmica, comparações para

otimização dos resultados, medição de pers de velocidade, comparação com a litera-

tura, medição de frequências de emissão de vórtice esperadas, e perl de intensidade

turbulenta. Informações adicionais encontram-se no Anexo A, no Anexo B e no

Anexo C.

O trabalho é nalizado com o Capítulo 6 que sumariza os avanços encontrados

neste trabalho, junto de críticas e sugestões de melhorias.

2

Capítulo 2

Fundamentos teóricos

O presente capítulo apresenta a base teórica necessária para a compreensão geral do

funcionamento do projeto.

2.1 Denições gerais de Mecânica dos uidos

Esta subseção descreve brevemente alguns conceitos já fundamentados que devem

ser abordados antes da leitura dos capítulos seguintes, a começar por denições

básicas.

Primeiramente, vamos denir o número de Reynolds Re como sendo a razão

entre as forças inerciais e viscosas de um uido [1]. A Equação 2.1 apresenta essa

relação adimensional.

Re =ρ · U∞ · d

µ=U∞ · dν

(2.1)

Os parâmetros ρ e µ são a massa especíca e a viscosidade dinâmica do uido

respectivamente, e podem ser simplicados pela viscosidade cinemática ν. Esses

valores variam muito com a temperatura e são conhecidos para o uido em questão,

que neste trabalho é o ar.

Os parâmetros restantes são a velocidade média do escoamento U∞ e uma di-

mensão característica d, que dependem do cenário estudado.

As propriedades do ar relevantes para este trabalho estão na Tabela 2.1.

Tabela 2.1: Propriedades do ar relevantes a 300 K (ou 27 C). [1]

Símbolo Valorρ 1.1614 kg/m3

µ 184.6× 10−7 N · s/m2

ν 15.89× 10−6 m2/s

3

2.2 Anemometria térmica a Fio Quente

Um dos principais métodos de medição experimental de velocidade utilizados em

escoamentos é a anemometria por o quente, ou HWA (Hot-Wire Anemometry, do

inglês) conforme dito em FIGLIOLA e BEASLEY [2] e em [3].

O princípio de funcionamento do HWA é baseado na troca térmica por convecção

de um o resistivo aquecido com o ambiente ao redor. A troca térmica é dependente

direta da velocidade do meio, de tal forma que uma velocidade de escoamento maior

possibilita maior troca de calor entre o o quente e o meio.

Um desenho ilustrativo do o-quente encontra-se na Figura 2.1. Nele podemos

ver uma representação básica da ponta de um anemômetro do tipo o-quente, sob

operação em um meio cuja velocidade do escoamento é U∞. O o-quente está preso

entre duas hastes condutoras que permitem o aquecimento por passagem de corrente

elétrica.

Figura 2.1: Desenho esquemático da ponta de um anemômetro a o quente emoperação.

A troca térmica entre o o-quente e o meio ocorre a partir de convecção entre o

lamento aquecido e o escoamento. Esse fenômeno físico pode ser descrito por leis

que modelam a troca térmica por convecção no o-quente, como a Lei de King, que

será vista neste trabalho. Mais informações sobre a anemometria a o quente serão

discutidas no Capítulo 3.

2.3 Funcionamento de um Termistor

Um termistor é um resistor que possui sua resistência variável com a temperatura,

conforme MALVINO [4]. Dentre eles, existem duas classicações quanto ao funcio-

namento:

• Termistores NTC (Negative Temperature Coecient, em inglês, coeciente de

temperatura negativo)

• Termistores PTC (Positive Temperature Coecient, em inglês, coeciente de

temperatura positivo)

4

Os termistores NTC apresentam resistência decrescente com o aumento da tempera-

tura, enquanto os termistores PTC possuem resistência mais alta com temperaturas

mais elevadas.

O funcionamento de um Termistor obedece a uma equação não linear geralmente

expressa pela forma da Equação 2.2 conforme FIGLIOLA e BEASLEY [2]:

R(T ) = R0 exp

(1

T− 1

T0

)](2.2)

R(T ) é a resistência do termistor, variável com a temperatura T , em escala

absoluta. Os valores de R0 e T0 são respectivamente uma resistência e temperatura

de referência associadas do termistor em um ponto inicial, enquanto β é o coeciente

do termistor.

2.3.1 Equação de Steinhart-Hart

A Equação 2.2 descreve a resistência de um elemento termistor como função da tem-

peratura. Porém, quando se necessita da temperatura como função da resistência,

como é o caso da anemometria térmica, uma outra formulação pode ser conveniente.

Essa é a equação de Steinhart-Hart conforme [2], dada pela Equação 2.3:

1

T= A+ B ln(R) + C ln3(R) (2.3)

onde A, B e C são constantes de cada termistor.

É possível inverter essa equação para encontrar a Equação 2.4

R = exp(

3√β − α− 3

√β + α

)(2.4)

onde α e β auxiliares são denidos por:

α =1

2C

(A− 1

T

)

β =

√√√√( B

3C

)3

+ α2

e a temperatura T é dada em escala absoluta.

2.4 Ponte de Wheatstone

Um dos métodos mais amplamente utilizados para se comparar resistências ou ca-

pacitâncias em um circuito divisor de tensão é baseado no princípio da Ponte de

5

Wheatstone, que pode ser visto em MALVINO [4], BENTLEY [5] e ALCIATORE

e HISTAND [6]. Esse circuito é ilustrado na Figura 2.2

Figura 2.2: Desenho representativo de uma Ponte de Wheatstone.

Nesse circuito, quatro resistores, R1, R2, R3 e R4, estão dispostos conforme o

desenho e submetidos a um potencial elétrico V aplicado na entrada da ponte. A

saída da ponte está conectada a um referencial de potencial zero, e os pontos A e B

estão submetidos a potenciais elétricos consequentes do arranjo da malha.

Das equações do circuito divisor de tensão, segue que o potencial elétrico VA no

ponto A pode ser encontrado pela Equação 2.5,

VA = VR4

R3 +R4

(2.5)

enquanto o potencial elétrico VB no ponto B pode ser encontrado pela Equação 2.6.

VB = VR2

R1 +R2

(2.6)

Logo, a diferença de potencial entre os pontos A e B da malha VAB pode ser

encontrada por:

VAB = V

(R4

R3 +R4

− R2

R1 +R2

)(2.7)

No caso especial em que VAB = 0, ou seja os pontos A e B possuem o mesmo

6

potencial, devemos ter

V

(R4

R3 +R4

− R2

R1 +R2

)= 0

R4

R3 +R4

=R2

R1 +R2

R1R4 +R2R4 = R2R3 +R2R4

R1R4 = R2R3 (2.8)

ou seja, a equação 2.8 enuncia que os produtos das resistências opostas devem ser

iguais no caso em que VAB = 0.

A partir da Equação 2.7 e da Equação 2.8, podemos tirar algumas conclusões

do conjunto de resistores, como por exemplo descobrir o valor de uma resistência

desconhecida na malha. Esse é um dos princípios para descobrir, ou controlar, o

valor de resistência de um anemômetro com sensor do tipo termistor ou o-quente.

2.4.1 Ponte em Temperatura Constante

Dentre os possíveis modos de operação para um anemômetro de o-quente, como

veremos no Capítulo 3, podemos citar os modos de voltagem constante, corrente

constante e temperatura constante. O modo mais utilizado em medições e mais

estável é o Anemômetro de Temperatura Constante ou CTA (Constant Temperature

Anemometer) . Um desenho ilustrativo de seu funcionamento está na Figura 2.3

Figura 2.3: Esquema representativo de uma ponte de um anemômetro a o quente,em malha fechada, operando em modo de temperatura constante.

O sistema é alimentado por uma voltagem proporcional à diferença entre os

braços da ponte de Wheatstone, somada à uma voltagem oset introduzida na

realimentação de malha fechada. Dessa forma, a resistência desconhecida pode ser

7

obtida indiretamente através da alimentação da entrada da ponte. O Capítulo 3

apresentará o aprofundamento neste tema.

Este circuito é dito de malha fechada, isto é, a saída da diferença da ponte é

usada como alimentação para o próprio circuito. Com isso a resposta é mais rápida

e se ajusta automaticamente sem necessidade de ajuste humano para equilibrar o

braço da ponte. Sobre essa resposta em malha aberta e fechada recomenda-se a

leitura de BENTLEY [5] e ALCIATORE e HISTAND [6].

As referências principais sobre anemometria a o quente, uso do sensor termistor,

e ponte em temperatura constante serão apresentadas no Capítulo 3.

2.5 Calibração estática e dinâmica

Um anemômetro, como qualquer outro instrumento de comparação, deve ser cali-

brado. A metodologia de calibração está apresentada no Capítulo 3, e sua aplicação

está no Capítulo 4 e resultados serão discutidos no Capítulo 5. Uma das relações

principais de calibração em anemometria térmica é a Lei de King, descrita a seguir.

2.5.1 Lei de King para Anemômetros Térmicos

Uma das leis fundamentais para modelagem de troca de calor na anemometria tér-

mica é a lei de potências (Power Law) ou lei de King conforme estabelecido em

[7]. Ela estabelece uma relação de calibração entre troca térmica por velocidade de

escoamento e potência dissipada num anemômetro a o quente. No nosso caso, a

potência dissipada está relacionada com o quadrado de uma voltagem E aplicada

no o quente. A Equação 2.9 enuncia a lei de King para uma voltagem E e uma

velocidade de escoamento U∞, e sua inversa na Equação 2.10.

E2 = A+B · U∞n (2.9)

U∞ =

(E2 − AB

)1/n

(2.10)

Essa lei é de fundamental importância para a anemometria térmica em geral, pois

estabelece implicitamente as relações de troca térmica por convecção e de potência

dissipada. Os parâmetros A, B e n são obtidos a partir de calibrações experimentais

do o quente. Mais informações sobre a calibração podem ser vistas no Capítulo 3,

sua aplicação está no Capítulo 4, e resultados serão apresentados no Capítulo 5.

8

2.6 Linearidade

A relação do termistor da Equação 2.2 indica que o funcionamento do termistor

é não-linear [2], logo podemos esperar que essa não-linearidade esteja presente em

um circuito que depende de seu funcionamento. A ponte de Wheatstone também

é não-linear. Além disso, a lei de King da Equação 2.9 também é não-linear [2].

Com isso, nosso sistema de medição proposto é não-linear, porém para efeito de

simplicação essas não-linearidades serão simplicadas e o sistema será assumido

como tendo comportamento de segunda ordem, com amortecimento e oscilação,

conforme a Equação 2.11. Substanciação sobre esta simplicação pode ser vista em

PERRY [8] e BRUUN [9].

mx+ cx+ kx = F (t) (2.11)

Esse sistema possui uma constante de tempo τ, uma frequência natural de os-

cliação ωn, e uma razão de amortecimento do sistema ζ. O funcionamento de um

sistema de segunda ordem pode ser visto com detalhes em FIGLIOLA e BEASLEY

[2], [3], BENTLEY [5] e ALCIATORE e HISTAND [6].

Esses parâmetros τ, ωn e ζ relacionam-se com a velocidade de resposta do sis-

tema, e sua escolha está intimamente ligada com os parâmetros ajustados do ins-

trumento. A relação entre essas variáveis será explorada com mais detalhes no

Capítulo 4.

Um sistema de segunda ordem apresenta uma frequência de corte ωC em função

das frequências de excitação F (t) [2], [5]. ωC ocorre onde há redução de 50 %, ou

−3 dB na energia transmitida pelo sistema, ou quando a razão entre o quadrado

das amplitudes na frequência de corte A(ωC) e de referência A0 é de 1/2 como na

Equação 2.12. (A(ωC)

A0

)2

=1

2(2.12)

É comum para medir o comportamento ou decaimento para as frequências usar

a função Magnitude, ou Magnitude de Resposta M(ω), que pode ser vista na Equa-

ção 2.13. Os argumentos de M(ω) podem ser em unidades Hz ou rad/s, desde que

haja consistência de escolha.

M(ω) =

(A(ω)

A0

)2

(2.13)

9

2.7 Incertezas de medição

Conforme INMETRO [10] e [11], as incertezas podem ser de medição, denidas por

estatísticas de várias medições, ou sistemáticas, determinadas pela incerteza de de-

terminado instrumento. As incertezas deste trabalho foram consideradas tomando-se

como base o ISO - Guia Universal de Medição [10] e o ISO - Vocabulário Interna-

cional de Metrologia [11].

As incertezas de medição de uma variável q podem ser avaliadas pela média q

e desvio padrão da amostra s2(q), pelas Equações 2.14a e 2.14b. A incerteza da

variável σ(q) é dada pelo estimador da Equação 2.14c em que n é o número de

amostragens.

q =1

n

n∑k=1

qk (2.14a)

s2(qk) =1

n− 1

n∑j=1

(qj − q)2 (2.14b)

σ2(q) =s2(qk)

n(2.14c)

As incertezas sistemáticas são fornecidas pelo instrumento e se relacionam geral-

mente com o menor valor da escala de medição e a incerteza combinada se dá pela

soma quadrática dos dois tipos de incertezas. Para a propagação de incertezas em

fórmulas, a Equação 2.15 fornece a expressão necessária para o cálculo. A incerteza

propagada de uma função σ(F ) é tomada pelo somatório da derivada parcial de cada

variável multiplicada por sua incerteza.

(σ(F (q1, q2, . . . , qn))

)2=

n∑i=1

(∂F (q1, q2, . . . )

∂qi

)2

·(σ(qi)

)2(2.15)

A equação 2.15 é vital para este trabalho pois fornece a expressão para a propa-

gação de incerteza nas fórmulas.

2.8 Frequência de emissão de vórtices em um corpo

cilíndrico

Todo corpo rombudo, em nosso caso cilíndrico, apresenta um padrão de emissão de

vórtices à jusante de um escoamento. Esse fenômeno pode ser visto em FOX et al.

[1], em KUNDU e COHEN [12] e principalmente em SCHLICHTING [13]. Esse

padrão de emissão de vórtices é uma das características da esteira de Von-Karman,

e possui frequência determinada pelas características geométricas da situação. A

10

Figura 2.4 apresenta o padrão de ondas gerado na esteira de um corpo cilíndrico

para a faixa de valores de Reynolds entre 102 < Re < 105. As coordenadas x, y e z

são tomadas em relação ao centro do cilindro.

Figura 2.4: Padrão de emissão de vórtices atrás de um corpo cilíndrico

A frequência de emissão de vórtices fv se relaciona com o número de Strouhal

St [13] e depende do número de Reynolds Re do escoamento, mas para grande faixa

de valores entre 102 < Re < 107, St se mantém em torno de St ≈ 0.22.

Para uma determinada velocidade de escoamento média U∞ e uma dimensão

característica d, a relação entre o número de Strouhal e a frequência de emissão de

vórtices fv é dada pela Equação 2.16.

St =fv · dU∞

(2.16)

A frequência esperada, então, pode ser calculada pela Equação 2.17.

fv =St · U∞

d(2.17)

11

Capítulo 3

Revisão Bibliográca

Este capítulo apresenta brevemente uma revisão bibliográca sobre o tema abordado

neste trabalho.

3.1 Anemometria a Fio Quente

PERRY [8] apresenta os princípios de anemometria com o quente, aplicado tanto a

escoamentos turbulentos quanto laminares. Do funcionamento, temos um lamento

que aquece por efeito Joule e cuja interação com o escoamento pode ser monito-

rado pela eletrônica. Entre os dois principais métodos de operação temos a corrente

constante e a temperatura constante (CTA), sendo que o método de corrente cons-

tante não será abordado aqui. PERRY [8] dene o anemômetro como um transdutor

térmico, não linear, cujo maior desao é obter a melhor sensibilidade de medição

na maior faixa de operação possível. PERRY [8] dene que num anemômetro a o

quente, o lamento é a parte mais crucial do transdutor, com variedade de disponi-

bilidade, desde prata com núcleo de platina até tungstênio.

Dentre as aplicações do anemômetro a o quente podemos listar [9] o escoamento

em gases devido à tamanho pequeno e calibração bem-denida. Anemômetros o-

quente de 5µm são comuns. Para temperaturas abaixo de 150 C os os de tungstê-

nio são mais utilizados, enquanto que para temperaturas de 150 C a 700 C os os

de platina são mais comuns pois são mais resistentes à oxidação.

PERRY [8] considera o o como innitamente longo, e usa leis empíricas de

convecção para apresentar uma denição de modelagem. Ele também considera que

o o quente tem resistividade variante conforme e Equação 3.1, em que RW e R0

são as resistências do o em operação e inicial respectivamente, e TW e T0 são as

temperaturas de operação e inicial, enquanto C é uma constante.

RW = R0

(1 + C0(TW − T0) + C1(TW − T0)2 + . . .

)(3.1)

12

PERRY [8] também faz o balanço térmico para o o quente e chega na Equa-

ção 3.2, que pode ser simplicada para Equação 3.3, onde I é a corrente que passa

pelo o quente, Rg depende da variação da resistência com a temperatura, e A e B

são constantes.

I2RW = (RW −Rg)(X + Y√U) (3.2)

I2 = A+B√U (3.3)

A Equação 3.3 é a lei de King quando notamos que I2 é proporcional à potência

dissipada no o, e esta é proporcional a E2 da Equação 2.9, sendo a única diferença

ajustada o índice da raiz da velocidade U . A Figura 3.1 apresenta um gráco

do comportamento da lei de King, e a situação de burnout é o limite quando a

temperatura de operação é muito alta e não há troca térmica suciente.

I2

I2 = X + Y U0.5(Burnout)

U0.5

-x/y 0

I2 = A + B U0.5

Figura 3.1: Lei de King gráca, com percurso de temperatura constante. (Adaptadode [8])

PERRY [8] continua seu trabalho enunciando equações de sistema de controle

do lamento para deduzir as equações governantes às perturbações de voltagem e′,

velocidade u′, corrente i′, e temperatura T ′.

Dentre as principais vantagens do anemômetro de temperatura constante CTA,

podemos citar [8] a compensação da inércia térmica do lamento conforme o ponto

de operação varia, ou seja, a calibração em onda quadrada é a mesma para várias

velocidades. Além disso, o sistema é usado em ponto de operação próximo da

calibração estática, sobressaindo-se sobre sistemas de corrente constante. A malha

de controle proposta por PERRY [8] está na Figura 3.2, e é composta de uma ponte

de Wheatstone, e uma alimentação via um amplicador, um somador de tensão, e um

transistor de potência. Esta malha será abordada com mais detalhes no Capítulo 4

13

Figura 3.2: Malha de controle de anemômetro CTA proposto. (Reprodução de [8])

I1 =KEqi(Rb −Rc)

(Ra +Rw)(Rb +Rc) +KRo

(3.4)

I21 =

(X + Y

√U) Rw −Rg

Rw

(3.5)

A Equação 3.4 e 3.5 são as equações governantes do sistema da Figura 3.2, onde

I1 é a corrente induzida, K é o ganho do sistema, Eqi é a tensão somada, Rw é a

resistência do sensor no ponto de operação e os Ri são as resistências da ponte, Ro

é um fator de desbalanceio da ponte, e Rg é a resistência durante a operação.

PERRY [8] calcula a relação entre os nós da malha da Figura 3.2 para encontrar a

relação entre a saída E0, a corrente induzida I1 e a resistência do sensor para mostrar

que o ganho Eq1 adicionado precisa ser positivo para ser estável. Além disso, ganhos

altos estão ligados a frequências de resposta alta. PERRY [8] encontra a variação

da resposta dos polos do sensor de acordo com a variação de parâmetros comuns do

instrumento. A Figura 3.3 apresenta a variação da resposta no plano complexo de

acordo com os parâmetros de resistência R, velocidade U , indutância Lb da ponte,

ganho K dos amplicadores, e ganho de soma Eqi na malha. PERRY [8] estuda o

comportamento da resposta do anemômetro, que também será visto no Capítulo 4.

As equações de função de transferência não serão apresentadas aqui mas podem ser

lidas em [8].

Como podemos ver, um aumento na velocidade pode levar a instabilidades na

medição, enquanto a tensão somada Eqi retarda a resposta do sensor. Aumentar o

valor de R, Lb e o ganho K aceleram a resposta do sensor.

Conforme será visto no Capítulo 4, a calibração dinâmica ideal proposta por

PERRY [8] e também como será vista no trabalho de MOORE [14] apresenta um

amortecimento próximo de ζ = 0.6. A análise para situações não-lineares não faz

parte do escopo deste trabalho. Sobre a calibração, PERRY [8] apresenta o modelo

da lei de King com expoente n variável que será usado no Capítulo 4.

Sobre o trabalho de BRUUN [9], pode-se lembrar que anemometria a o quente

14

σ

jωAumentar R

Aumen

tar U

Aumentar Lb

Aumentar Eqi

Aumentar K

Polo conjugado

Insta

bilid

ade

Figura 3.3: Variação da resposta do polo no plano complexo, de acordo com parâ-metros do instrumento. (Adaptado de [8])

ainda é um dos métodos principais de pesquisa para estudo de turbulência nos ga-

ses, pois apresentam baixo custo em relação a métodos de laser, boa medição em

altas frequências de resposta, tamanho menor e melhor resolução com possibilidade

de medição espacial e de velocidade tridimensional e vorticidade. Além disso possi-

bilitam medição de temperatura simultânea, possibilidade de medição em sistemas

bifásicos, boa acurácia e baixo ruído, variedade de seleção de ponteiras (probes) de

medição, e análise analógica do sinal.

BRUUN [9] também comenta a análise teórica por trás da mecânica dos uidos,

apresentando modelos de turbulência de zero, uma e duas equações. Essa modelagem

não será abordada aqui.

BRUUN [9] apresenta que as propriedades de troca térmica do anemômetro de-

pendem de fatores do uido como densidade, viscosidade, condutividade térmica,

calor especíco, e do escoamento como velocidade, temperatura, e pressão. BRUUN

[9] ainda apresenta a dedução da Lei de King [7] usando os números de Nusselt (Nu),

Reynolds (Re), Prandtl (Pr), Grashof (Gr) e Mach (M). Ele continua com o balanço

térmico para um o innito, e posteriormente nito.

A razão de sobreaquecimento (RW/Ra) [9] é a razão entre as resistências quente

RW e fria Ra do anemômetro. Essa resistência é aumentada no caso do o quente

aumentando-se a temperatura de operação. Valores mais altos implicam sensibili-

dade maior para a velocidade do instrumento, e isso ocorre porque a troca térmica

é maior para valores altos de temperatura. Para tal, devemos levar em conta as

resistências dos os, hastes e cabos de conexão do sensor. Atenta-se que para este

trabalho a resistência do termistor pode diminuir com a temperatura, porém a tem-

peratura de operação deve ser similarmente alta.

15

3.2 Modos de operação do anemômetro

Um anemômetro a o quente pode ser operado principalmente em dois modos, sendo

eles Corrente Constante e Temperatura Constante [9]. O modo corrente constante

permite que a temperatura do anemômetro varie durante a operação, enquanto o

modo de temperatura constante mantém a resistência e temperatura virtualmente

constante, enquanto varia a corrente. Ambos os métodos podem ser usados, porém

neste trabalho somente o modo de temperatura constante será abordado, pois a

inércia térmica é ajustada automaticamente.

Esse modo de operação é obtido utilizando uma malha de retroalimentação no

circuito da ponte para se obter variações rápidas na corrente de aquecimento para

compensar mudanças instantâneas na velocidade do escoamento [9]. Essas malhas de

compensação foram consolidadas com os amplicadores de instrumentação a partir

da década de 1960. Um exemplo de malha de controle com ponte de Wheatstone

e alimentação encontra-se na Figura 3.4. Um o quente RW é posto numa ponte

e a diferença e2 − e1 passa por um amplicador, a qual é depois é somada de uma

voltagem e entregada na ponte como uma corrente i.

Figura 3.4: Malha de controle básica para anemometria. (Reprodução [9])

Dentre os métodos de controle para adaptar a resposta podemos citar [9] a vol-

tagem de oset somada, o ganho G do amplicador, a razão da ponte, ltros passa-

baixa, dentre outros que serão vistos no Capítulo 4.

Para a resposta em frequência, BRUUN [9] chega ao mesmo resultado que MO-

ORE [14] vai chegar em seu trabalho para descobrir os parâmetros ótimos como

veremos na Seção 3.5.

BRUUN [9] enuncia a lei de King exatamente como foi enunciada no Capítulo 2,

usando um expoente variável n para a velocidade da Equação 2.9. Em seu trabalho

ele lista como principais passos para medição a escolha e especicação do anemô-

metro, seleção da equação de calibração e ajuste, medição dos parâmetros em valor

médio e instantâneo, análise dos dados e análise da incerteza. Todos esses passos

serão cobertos neste trabalho a partir do Capítulo 4.

16

O transdutor anemômetro deve ser escolhido com base na disponibilidade e fun-

cionalidade do meio a ser medido, o tipo de anemômetro HWA mais utilizado é

de temperatura constante CTA devido à boa resposta em frequência. A razão de

sobreaquecimento deve ser alta para medição em velocidade [9], exceto no caso em

medições em líquidos onde deve permanecer baixa para evitar formação de bolhas

como veremos na Seção 3.4. Existem sensores [9] capazes de medição simultânea em

mais de um eixo, mas eles não serão cobertos neste trabalho.

A equação de calibração escolhida por BRUUN [9] é função somente da veloci-

dade, e a lei de King apresenta bons resultados, apesar de existirem outras relações

mais complexas com acurácias variadas. A calibração deve determinar os valores

dos coecientes da equação de relação escolhida, geralmente feita com o anemôme-

tro estacionário ou em escoamento conhecido e a turbulência deve ser baixa para

evitar introduzir erros.

Para a análise dos dados, é sugerido [9] usar um sistema que possua ltro passa-

baixa e condicionador de sinal, capaz de multiplicar e deslocar a voltagem medida

para o intervalo do instrumento de aquisição digital. Isso é útil em sistemas de

medição em computador ou até mesmo quando usar osciloscópios digitais. A vol-

tagem deve estar na faixa de leitura, a resolução digital deve ser boa o suciente

para garantir a leitura correta do sinal, e a taxa de aquisição deve ser no mínimo

duas vezes a frequência mais alta a ser medida. Escolhidos os parâmetros, é possível

fazer a medição das velocidades através da voltagem e da inversão da lei de King.

Os últimos passos são a apresentação de dados, que deve ilustrar o comportamento

desejado como perl de velocidade, podendo ser em valores médios ou em análise

instantânea de turbulência, e a análise de incerteza para validar a magnitude de

precisão do instrumento, que deve levar em conta as incertezas de medição e as

equações usadas. Essas análises serão apresentadas no Capítulo 5.

Para medições de componentes unidimensionais, o posicionamento do anemôme-

tro segue a Figura 3.5. O ângulo de ataque ajustado incorretamente no sensor pode

gerar uma variação de 15 a 20% na medição [9].

U = UMED + u'

xy

z

Figura 3.5: Posicionamento do anemômetro HWA num escoamento unidimensional.(Adaptado de [9])

No caso unidimensional, a calibração do anemômetro é uma relação somente

entre voltagem e velocidade medida, de acordo com as equações de relação determi-

nadas [9]. A calibração deve ser feita sempre que se desejar medir um escoamento,

17

por variações na temperatura ou parâmetros. Deve-se colocar o instrumento em um

escoamento conhecido de baixa turbulência e medir a voltagem de saída, o posiciona-

mento deve ser perpendicular conforme a Figura 3.5. Por exemplo, pode-se colocar

um instrumento Pitot para medir a velocidade ao lado do anemômetro, ou alguma

outra forma de medição conável, assumindo-se que o escoamento é uniforme nesse

intervalo. O objetivo [9] é conseguir um conjunto de pontos para correlacionar na lei

de correlação escolhida. Se não for possível realizar a calibração no local da medição,

deve-se atentar para introdução de incertezas.

É possível usar um método de mínimos quadrados para encontrar os coecien-

tes das equações de calibração. Dentre as possíveis leis de correlação [9] temos as

leis de potência, como a lei de King na Equação 3.6, leis de potência estendidas da

Equação 3.7, leis universais em que a razão (E2−E20)1/(E

2−E20)2 para dois anemô-

metros deve permanecer constante da Equação 3.8, leis de Spline de forma cúbica, e

leis polinomiais da Equação 3.9. Os resultados das leis de potência apresentam erro

dentro da faixa de 0.15%, e são as melhores de acordo com BRUUN [9], portanto

são as escolhidas para este trabalho. Apesar das equações Spline apresentarem erro

menor, seu uso é mais complicado que a lei de potência.

E2 = A+BUn (3.6)

E2 = A+BUn + CU (3.7)

E2 − E20 = CF (U) (3.8)

U = A+BE + CE2 +DE3 + . . . (3.9)

3.3 Bibliograa técnica para anemometria

Dentre a literatura técnica, uma boa leitura de textos sobre o assunto tem como fonte

a DANTEC em [15], fabricante de anemômetros a o quente, pois sua bibliograa

cobre o uso e operação destes instrumentos. JØRGENSEN [15] apresenta os mesmos

conceitos vistos em PERRY [8] e BRUUN [9], com ênfase para aplicação nal.

A ponteira (probe) de medição deve ser escolhida conforme a aplicação, e a

faixa útil de medição de acordo com o datasheet do equipamento deve ser ampla

o suciente para a medição desejada. JØRGENSEN [15] apresenta um passo a

passo para as operações de medição com anemometria. A lista de operações está na

Tabela 3.1 e será coberta no Capítulo 4.

É importante que as conexões do instrumento não entrem em contato com partes

metálicas, pois podem gerar fenômenos de fuga de corrente [15] que impossibilitam a

leitura, o probe só pode ser montado ou desmontado com o equipamento desligado,

18

Tabela 3.1: Passo a passo de medição em anemometria, segundo JØRGENSEN [15].

1. Set-Up

1a. Ajustar sobreaquecimento1b. Medir temperatura ambiente1c. Se necessário, medir resposta ao degrau1d. Escolher ltro passa-baixa

2. Calibração2a. Determinar ajuste de coecientes2b. Determinar relação de inversão

3. Denir experimento3a. Conrmar parâmetros3b. Preparar movimento do probe3c. Denir taxa de aquisição (Sampling Rate)

4. Realizar medição4a. Vericar se leituras estão na faixa esperada4b. Mover o probe e realizar medições

5. Analisar resultado 5a. Converter dados e apresentar

cabos devem ter o menor comprimento possível e contatos devem ser isolados

Segundo JØRGENSEN [15], a razão de ponte deve ser no máximo de 20 vezes, e

o resistor em série com o probe em torno de 20 Ω. Para leituras de melhor precisão,

recomenda-se razão de ponte ainda menor. A razão de sobreaquecimento segue os

mesmos cuidados de PERRY [8] e BRUUN [9]. O teste de onda quadrada proposto

por JØRGENSEN [15] será visto na 3.5.

Para a calibração, JØRGENSEN [15] também segue a bibliograa anterior e

dene que seja feita próximo a um tubo de Pitot, mas atenta que variações na

temperatura devem ser registradas e corrigidas posteriormente. O ajuste escolhido

por JØRGENSEN [15] é a lei de potência de King da Equação 2.9, o mesmo pro-

posto para este trabalho. JØRGENSEN [15] também apresenta procedimentos para

aquisição e tratamento de dados, dentre eles a velocidade média e a intensidade

turbulenta IT = u′RMS/UMED. Esses tratamentos serão usados para caracterizar o

escoamento medido no Capítulo 5.

Ao rodar um experimento, a Tabela 3.1 pode nos auxiliar com o passo a passo.

A temperatura é uma das principais causas de erros de medição, pois uma variação

de 1 C pode causar variação de 2% na medição [15]. JØRGENSEN [15] apresenta

uma leitura fundamental mais aprofundada para todo projeto de anemometria a o

quente e derivados. O funcionamento do anemômetro CTA, por exemplo, é explicado

pela diferença induzida na ponte e compensação do circuito.

3.4 Anemometria com Sensor Termistor

Dos principais trabalhos na literatura sobre anemometria com termistor, um dos

que mais se destaca como similar ao proposto aqui é o de MOORE [14]. Seu tra-

balho desenvolveu um instrumento de medição de velocidade de uidos usando os

19

princípios de ponte à temperatura constante (CTA) e anemometria térmica.

Dentre seus avanços podemos citar a compensação para temperatura de líquidos

na anemometria, que é uma das principais diculdades da troca térmica devido ao

alto calor especíco dos líquidos comparados ao ar. Outro avanço é o uso de uma

equação de calibração generalizada, relacionando o número de Reynolds e Nusselt

com compensação de temperatura [14]. Esta relação, porém, não será abordada

aqui.

Dentre as conclusões de MOORE [14], é possível construir sensores que sejam

calibrados na faixa de 0.01 a 0.6 m/s, com resolução espacial da faixa de 3 mm e

escala temporal de 1.2 ms. O custo é barato e o sensor é de fácil substituição devido

a disponibilidade imediata do termistor. Ele usou um sensor Thermometrics GM102

conforme KATZ e SHAUGHNESSY [16] e LABARBERA e VOGEL [17].

MOORE [14] escolheu usar a equação de três termos de Steinhart-Hart da Equa-

ção 2.3 para analisar o seu termistor.

Outro ponto de estudo é a comparação da resposta entre dois tipos de termistor,

em suporte e em tubo, mostrados na Figura 3.6. Os sensores do tipo Suporte

apresentam melhor troca de calor e sensibilidade direcional, enquanto os sensores

do tipo tubo rígido são mais fáceis de construir e apresentam bons resultados em

medições de escoamento unidimensional.

Termistor

Tubo rígidoSuporte

Hastes

A B

Figura 3.6: Comparação entre os dois casos de termistor estudados por Moore, emSuporte (A) e Tubo (B). (Adaptado de [14])

O isolamento elétrico na água também foi melhor obtido com revestimento de po-

límero. MOORE [14] também estudou o comportamento da resposta do instrumento

para várias entradas de parâmetros de controle, que serão vistos no Capítulo 4.

Um problema encontrado por MOORE [14] é a formação de bolhas caso a di-

ferença de temperatura entre o uido (água) e o termistor ultrapasse 25C. Essa

diferença é maior que o o quente na água (20C) devido ao melhor revestimento

do termistor. Mesmo assim, para evitar inuência das bolhas na leitura de dados,

20

é essencial operar em faixas de temperatura próximas da água e usar o mecanismo

de compensação de temperatura.

Com relação à malha de controle para resposta do termistor, MOORE [14] de-

senvolveu um trabalho que será muito similar ao abordado aqui. Ambos os trabalhos

apresentam introdução de uma voltagem oset na malha de controle e um amplica-

dor operacional de ganho de sensibilidade. O aprofundamento da inuência desses

parâmetros será discutido no Capítulo 4. O desenho esquemático do circuito de

MOORE [14] está na Figura 3.7.

Figura 3.7: Circuito de malha de controle usado no trabalho de MOORE com per-turbação de onda quadrada. (Reprodução de [14])

MOORE [14] escolheu que a ponte de Wheatstone deve uir corrente para uma

voltagem −V de um transistor e não para o terra comum, diferente deste trabalho.

Isso se deve pois os líquidos requerem maior tensão para que a troca térmica seja

suciente devido ao maior calor especíco dos líquidos convencionais, como a água,

em relação ao ar. Além disso, existe uma compensação de temperatura na malha,

visto que MOORE [14] desenvolveu seu projeto para líquidos.

MOORE [14] também analisou o efeito do sampling na aquisição de dados. Seu

trabalho comenta que para uma frequência de análise de 10 kHz, precisamos de uma

captura de no mínimo 20 000 s−1. Esse tópico voltará a ser abordado no Capítulo 4

e no Capítulo 5.

A calibração de MOORE [14] é feita em tomada de dados de forma estática,

com velocidade conhecida, e dinâmica, através de um impulso de perturbação de

onda quadrada no sistema. A Figura 3.7 mostra um esquema para introdução de

uma perturbação de onda quadrada no circuito da ponte. O mesmo será feito neste

trabalho. A resposta ao degrau é similar a apresentada no Capítulo 5.

A natureza semicondutora do termistor é uma fonte de ruído [14] e a malha de

controle de temperatura constante é um fator para aumentar esse ruído. Também é

21

visto que circuitos com resposta mais rápida tendem a ter ruído, que pode ser mini-

mizado com um ltro do tipo passa-baixa. Isso também foi analisado por BRUUN

[9]

Os resultados de MOORE [14] para a calibração se mostraram consistentes e sua

curva de calibração foi encontrada por ajuste dos dados comparando-se um modelo

de Lei de King generalizada com curvas logarítmicas.

3.5 Obtenção de parâmetros ótimos por análise grá-

ca

Conforme MOORE [14], BRUUN [9] e ainda JØRGENSEN [15], os ajustes para

se obter a melhor resposta ao degrau podem ser encontrados gracamente ao se

introduzir uma perturbação do tipo degrau no sensor. A Figura 3.8 apresenta uma

resposta típica ao degrau de um sistema de segunda ordem.

Tempo

Leit

ura

do S

enso

r

h 0.97h

0.15h

Figura 3.8: Ajuste ótimo da resposta ao degrau para um anemômetro. (Adaptadode [14])

MOORE [14] encontrou por meio de FREYMUTH [18] que na situação ótima a

relação entre a altura do primeiro vale deve ser em torno de 15% do primeiro pico.

Para esta situação, a frequência de corte do sensor é dada por fc = 1/tX , em que

tX é a distância entre o degrau e o primeiro vale. MOORE [14] continua dizendo

que a maioria dos anemômetros CTA são ajustados dessa forma. Erros de regime

permanente do circuito são tratados pelo próprio processo de calibração. Ganhos

maiores no amplicador da malha também proporcionam velocidade mais rápida

para o sensor.

22

Capítulo 4

Descrição do Instrumento

Neste capítulo será apresentado o instrumento projetado com base nos fundamentos

teóricos do Capítulo 2 e na revisão bibliográca apresentada no Capítulo 3.

4.1 Caracterização do Termistor

O termistor usado no projeto foi o Thermistor Omega Precision 44004 [19], com

resistência de 2252 Ω a 25 C, com variação de ± 0.2 C. Sua temperatura máxima

de operação é de 150 C. O fabricante informa uma constante de tempo de troca

térmica igual a 1 s no óleo e 10 s no ar, e uma constante de dissipação térmica igual

a 8 mW/C no óleo e 1 mW/C em ar parado. A foto do sensor termistor está na

Figura 4.1.

Figura 4.1: Sensor termistor utilizado nas medições, com régua milimetrada.

As constantes de Steinhart-Hart das Equações 2.3 e 2.4 dadas pelo fabricante

[19] referentes ao termistor são apresentadas a seguir na Tabela 4.1. Lembrando que

na equação deve ser usada a temperatura em unidades absolutas.

23

Tabela 4.1: Constantes de Steinhart-Hart do termistor Omega 44004 fornecidas pelofabricante. [19]

Constante Valor

A 1.468× 10−3

B 2.383× 10−4

C 1.007× 10−7

4.1.1 Curva Temperatura-Resistência

Foi realizada a validação experimental da curva temperatura-resistência do termis-

tor. Para tal, o experimento foi feito em um jato de ar quente, com velocidade de

aproximadamente 8 m/s. Os resultados encontrados estão na Figura 4.2. A foto do

jato de ar quente está na Figura 4.3.

Figura 4.2: Comparação da curva de resistência por temperatura do termistorOmega 44004 entre dados do fabricante e experimentais.

Podemos ver que o gráco da Figura 4.2 valida os dados do fabricante e a seguir

podemos escolher um ponto de operação do termistor no instrumento.

4.1.2 Escolha do ponto de operação

Conforme vimos no Capítulo 3, devemos escolher uma temperatura alta o suciente

para que o sensor seja o mais sensível possível durante o uso. Quanto maior a tempe-

ratura de operação, maior a sensibilidade do instrumento [9], porém, temperaturas

altas demais necessitam de alta potência da fonte, do circuito, e podem degradar o

termistor ao longo do tempo. Além disso, se o leitor desejar usar o termistor em

24

Figura 4.3: Jato de Ar Quente utilizado nas medições para calibração térmica.

outros meios, deve car atento para não haver a formação de bolhas devido à alta

temperatura [14].

O ponto de operação do circuito foi escolhido como sendo de 90 C (363 K), ou

seja, possuindo resistência de 206 Ω± 1 Ω no ponto de operação. É alta o suciente

para grande sensibilidade, abaixo da temperatura máxima recomendada pelo fabri-

cante (150 C), e está abaixo de 100 C para um manuseio seguro. Esse valor é o

escolhido no projeto e será levado em consideração nas próximas seções e capítulos.

Vale lembrar que esse ponto de operação será usado em medições no ar.

4.2 O Instrumento

O circuito proposto para o projeto é um anemômetro de temperatura constante

(CTA), utilizando um termistor aquecido como sensor, e alimentado por uma malha

de controle que forneça condições de operação e de respostas adequadas.

O circuito é composto de três partes, brevemente descritas a seguir:

• Ponte de Wheatstone do sensor, onde está conectado o termistor e a parte

principal de medição;

• Malha de controle de realimentação, que fornece a lógica de funcionamento e

ajuste para manter as condições desejadas;

• Fonte de alimentação, para fornecer a energia limpa para o funcionamento dos

componentes e de potência mínima necessária para o instrumento.

As seções a seguir descrevem cada uma das partes da composição do instrumento,

com esquemas de circuito. Um esquema completo nal, com todos os valores já

escolhidos como ótimos, está no Apêndice A, na Figura A.1. A foto do circuito nal

utilizado no instrumento está na Figura 4.4.

25

Figura 4.4: Circuito nal utilizado no instrumento.

4.2.1 Ponte de Wheatstone do instrumento

A ponte de Wheatstone do sensor é a parte responsável pela medição da velocidade

do escoamento [9]. A Figura 4.5 mostra uma ponte de Wheatstone com valores

genéricos de resistências. A resistência RT é o termistor, enquanto que Rpot é um

potenciômetro ajustável, e Vout é a saída da malha de controle que é realimentada

para a ponte.

Figura 4.5: Diagrama da ponte de Wheatstone do anemômetro a termistor.

A voltagem alimentada à ponte passa por uma chave que permite ligar ou desligar

o sensor quando não se desejar fazer medições no momento. Em seguida a corrente

segue para a ponte.

O braço da ponte do termistor RT , à direita na Figura 4.5, é composto de um

resistor R1 de potência e o próprio termistor. O braço oposto ao termistor, à es-

querda na gura, é composto de um resistor R4 escolhido com base nos outros e

um potenciômetro ajustável Rpot. Esse potenciômetro permite variar a tempera-

tura de operação da resistência RT de forma a obter o valor desejado escolhido na

26

subseção 4.1.2.

Os pontos A e B da Figura 4.5 são conectados à malha de controle do instru-

mento, que será apresentada a seguir na subseção 4.2.2. A corrente então, após

passar pela ponte do instrumento, segue para um terra comum.

Como dito, os valores das resistências devem ser escolhidos com base no ponto

de operação. Esse ponto, escolhido na subseção 4.1.2, é de 90 C (363 K), com

resistência de 206 Ω. Conforme os fundamentos da seção 2.4, as resistências foram

escolhidas e estão na Figura 4.6.

Figura 4.6: Ponte de Wheatstone com as resistências escolhidas.

A entrada da ponte de Wheatstone do instrumento também tem uma chave

seletora para interromper a corrente, quando se desejar parar as medições, usando

um resistor de 10 kΩ.

Considerações adicionais sobre a ponte, otimização e sensibilidade

Conforme vimos no Capítulo 3 em [9] e [15], a razão entre os braços da ponte

deve permanecer entre ×1 vez e ×20 vezes. Razões de ponte maiores que essa

introduzem ruído e dicultam a leitura, porém razões muito baixas requerem alta

potência da fonte de alimentação e reduzem a eciência do instrumento. Então,

a razão escolhida foi de ×10 vezes, para isso, como a resistência de operação é de

206 Ω, o potenciômetro é ajustado para 2060 Ω.

Seguindo o que foi visto [15], a resistência no braço da ponte do termistor deve

ser o mais baixo possível para que a potência fornecida seja otimizada no termis-

tor, mas não deve ser baixa demais para não impactar a sensibilidade da medição.

A resistência escolhida foi um resistor de potência de 47 Ω. Pela Equação 2.8, a

resistência do braço do potenciômetro é de 470 Ω, que está mostrado na Figura 4.6.

A razão entre as resistências no braço da ponte do termistor está sujeita a uma

relação de sensibilidade versus mensurabilidade, ou seja, a condição da ponte não

está na máxima sensibilidade, mas possui boa mensurabilidade. A máxima sensi-

27

bilidade ocorre quando R1/RT está próximo de 1. Uma sensibilidade muito alta

pode levar à saturação na medição e impossibilidade de leitura, por isso, essa razão

encontra-se diferente de 1. Para uma variedade de anemômetros a o quente [8] [9],

essa razão pode ser da ordem de 10, enquanto que para o sensor proposto a razão

escolhida é de 1/5. Isso se dá pelas condições de potência elétrica de alimentação

do instrumento e condição de saturação nos testes, além do fato da resistência do

termistor ser bem maior que o o quente.

Na situação de maior sensibilidade, a faixa de valores medida na saída do instru-

mento está em torno de 9 a 12V , e há um problema de saturação dos componentes

do circuito, porém funciona bem para baixas velocidades. Na média sensibilidade,

a faixa de valores de saída é em torno de 8 a 11V , uma boa faixa de medição e que

não satura, porém é menos sensível para baixas velocidades.

4.2.2 Malha de controle do instrumento

O controle utilizado no instrumento é exposto nesta subseção. Conforme proposto

anteriormente no Capítulo 3 em [9] e [14], a malha de controle busca manter a

operação do sensor em temperatura constante. Para isso, compara os valores de

ambos os braços da ponte de Wheatstone do sensor e fornece uma alimentação

adequada para corrigir qualquer variação de forma rápida.

A Figura 4.7 apresenta a malha de controle utilizada no instrumento. Os pontos

A e B de entrada da malha são conectados à ponte de Wheatstone apresentada na

subseção 4.2.1, e possuem voltagens associadas VA e VB respectivamente.

Figura 4.7: Malha de controle utilizada no instrumento.

A malha funciona da seguinte forma: as voltagens VA e VB são comparadas e

passam por um ltro diferencial composto por um par de resistoresRf e um capacitor

cerâmico Cf , com o objetivo de remover utuações de frequências muito altas, vistas

28

como ruído. Em seguida o sinal passa por um amplicador instrumentação para

sofrer um ganho de amplitude, dado de acordo com o resistor RG escolhido [15]. O

amplicador de instrumentação utilizado é o INA111, e a equação de ganho de sinal

G em função da resistência está dada na Equação 4.1.

G = 1 +5× 104

RG

(4.1)

Após o sinal sair do amplicador com um ganho G, ele segue para um Circuito

Integrado (CI) somador para fornecer uma voltagem oset Voff , necessária para o

funcionamento do instrumento. O circuito somador escolhido foi o INA105.

O sinal então segue para um amplicador operacional e um transistor de potên-

cia. O amplicador OP27A fornece um ganho de duas vezes no sinal e o transistor

BDX53C fornece a corrente necessária para o funcionamento do circuito. O transis-

tor é alimentado por uma voltagem de +18V no coletor, e as resistências escolhidas

na Figura 4.7 propiciam a polarização do conjunto amplicador-transistor. O tran-

sistor BDX53C deve ser montado com aletas resfriadoras, pois durante o uso há

grande geração de calor.

A voltagem do emissor do transistor BDX53C, Vout, é o sinal de saída que deve

ser medido do instrumento e também ser fornecido de volta à entrada da ponte de

Wheatstone [14] [15].

O ltro antes do amplicador de instrumentação não deve ser desacoplado do

terra por meio de capacitores, pois nos testes isso mostrou introduzir muito ruído.

Somente com a montagem do ltro diferencial foi possível fazê-lo funcionar.

A montagem nal com os valores de RG, Voff e os parâmetros do ltro está na

Figura 4.8.

Figura 4.8: Malha de controle com os valores otimizados.

29

4.2.3 Fonte de alimentação do circuito

A alimentação do circuito é responsável por fornecer energia elétrica de corrente

contínua livre de oscilações [4]. Para tal, conta-se com uma ponte de diodos para

reticar o sinal, um par de capacitores eletrolíticos de alta capacitância para remover

utuações de sinal, no caso de 2200 nF, e um conjunto de dois circuitos integrados

de reticação de sinal para +18V e −18V , para remover qualquer utuação de

sinal na saída da fonte de alimentação. Os circuitos integrados de reticação usados

foram o LM7818 para as voltagens positivas e o LM7918 para as negativas. O

esquema da alimentação do circuito encontra-se a seguir na Figura 4.9. Os CIs

reticadores devem ser montados com aletas de resfriamento, pois durante o uso há

grande geração de calor.

Figura 4.9: Diagrama da fonte de alimentação utilizada no instrumento.

4.2.4 Métodos para redução de ruído no sinal

Em algumas situações de medição, há a possibilidade de ruído na saída do instru-

mento medida pelo osciloscópio ou placa de aquisição. Nesta subseção são abordados

alguns problemas de ruído comuns e suas possíveis soluções ou mitigações conforme

visto em PERRY [8], BRUUN [9] e JØRGENSEN [15].

A razão de ponte, conforme dito na Subseção 4.2.1, deve permanecer baixa pois

a escolha de valores altos introduzem ruído [15]. O circuito integrado INA111 da

Subseção 4.2.2 é extremamente sensível e pode ser facilmente danicado, seja por

contato eletrostático, oxidação ou uso incorreto fora das conformidades do datasheet

do CI. No caso de uma medição ruidosa, verique substituir o INA111 por um outro

que esteja funcionando para identicar a fonte do ruído.

No túnel de vento, quando há velocidade alta, a saída elétrica do instrumento

vibra com frequência de 15 kHz e todos os seus harmônicos. Isso se deve à interfe-

rência eletromagnética do inversor de frequências do ventilador do túnel de vento, e

também é presente na medição com jato. Pode ser reduzido por meio de isolamento

eletromagnético do circuito, cabeamento adequado, amortecedores dinâmicos ou l-

30

tragem do sinal [9]. Atente pois a ltragem do sinal pode gerar atrasos de fase na

medição.

Neste trabalho, o cabeamento foi suciente para reduzir esse problema. A cone-

xão entre o termistor e o circuito deve sempre ser feita por cabos coaxiais ou por

par de cabos trançados (twisted pair). Os conectores podem ser aparafusados ou

do tipo BNC, e deve-se ter cuidado extra em qualquer solda para que não haja mal

contato gerador de ruído.

Verique sempre a existência de ground loops, ou correntes de terra. São uma

fonte comum de ruído que surge quando pontos diferentes de um terra comum não

estão conectados à mesma voltagem. Isso induz a formação de correntes parasitas

no circuito que comprometem as medições.

Deve-se sempre buscar uma fonte de alimentação de tomada com baixo ruído

e pouca interferência de equipamentos próximos. Verique também o estado dos

reticadores de tensão LM7818 e LM7918, pois o ruido de reticação (ripple) pode

ser uma das causas de ruído de medição. Se tal ruído apresentar frequências de

60 Hz alternada e harmônicos (ou 50 Hz onde a distribuição de eletricidade se apli-

car), verique a fonte reticadora, substitua os CIs LM7818 e LM7918 por outros

que estejam funcionando para tentar resolver o problema. Se possível, utilize uma

tomada isolada de motores elétricos e outros equipamentos que geram ruido na rede.

Quando isso não for possível, utilize baterias como fonte de alimentação. Três ba-

terias de 9V podem ser sucientes, duas para a banda de voltagem positiva e uma

para a negativa.

4.3 Escolha dos parâmetros do instrumento

Conforme o Capítulo 3, devemos seguir alguns procedimentos para melhor determi-

nar os parâmetros do instrumento de forma que seja adequado às condições desejadas

[8], [9]. O primeiro parâmetro já foi escolhido na subseção 4.1.2, que é a tempera-

tura de operação do sensor. Além disso os parâmetros da ponte de Wheatstone, que

determinam a resposta estática, foram também escolhidos na subseção 4.2.1.

Restam encontrar os parâmetros dinâmicos do instrumento, dentre os principais

podemos citar ganho G do amplicador de instrumentação, voltagem oset Voff no

somador e o ltro diferencial antes do amplicador de instrumentação, caracterizado

por Rf e Cf .

4.3.1 Escolha dos parâmetros dinâmicos

Para escolher os parâmetros dinâmicos do circuito podemos tomar duas possibilida-

des. A primeira é analítica e envolveria analisar os parâmetros de função de transfe-

31

rência do circuito, ou usar equações de estado, dependendo do número de variáveis

importantes. Para isso deveríamos considerar as constantes de tempo de todos os

componentes do circuito, incluindo amplicadores, ltros, e o próprio termistor. Pos-

teriormente seria feia uma análise root-locus para avaliar o comportamento. Este

método não será utilizado.

A segunda forma é seguir a metodologia do Capítulo 3, Seção 3.5, e analisar a

resposta gráca do circuito à calibração experimental para determinar o comporta-

mento do conjunto [14], [15]. Como há muitos componentes atuando simultanea-

mente, essa forma é mais simples e rápida. Para isso, faremos calibrações e respostas

a sinais de perturbações do sistema.

Os principais parâmetros que devem ser escolhidos são o ganho G do ampli-

cador, ou resistência RG de ganho, a voltagem Voff de oset somada na malha de

controle, e os parâmetros Rf e Cf do ltro diferencial pré-amplicação.

4.3.2 Inuência dos parâmetros dinâmicos

Conforme será mostrado no Capítulo 5, os resultados dinâmicos dependem dos três

parâmetros mencionados na Subseção 4.3.1, ganho G ou resistência RG, a voltagem

Voff , e os parâmetros Rf e Cf do ltro. Ao longo do desenvolvimento deste trabalho,

as inuências dos parâmetros na resposta foram encontradas e são brevemente men-

cionados a seguir. O comportamento desses parâmetros foi corretamente previsto

por PERRY [8] na Figura 3.3.

A variação de G, ou RG, afeta diretamente a frequência natural de oscilação

do sistema ωn. Conforme o valor de RG cresce, e o ganho G diminui, a frequência

natural de oscilação é reduzida. Isso implica que valores menores de RG, e maiores

de G, levam a um sistema com resposta mais rápida.

A variação de Voff afeta diretamente a razão de amortecimento do sistema ζ.

Conforme o valor de Voff cresce, a razão de amortecimento aumenta. Isso implica

que sistemas com Voff alto possuem baixa oscilação, enquanto sistemas com Voff

baixo possuem oscilação elevada.

Os parâmetros do ltro também geram atraso na resposta do instrumento. Esse

atraso de fase se dá principalmente em altas frequências, pois o ltro é do tipo

passa-baixa (low-pass) [4]. Devemos reduzir a constante de tempo do ltro τf e

aumentar a frequência de corte fc para acelerar a resposta do ltro. A Equação 4.2

e a Equação 4.3 mostram as relações citadas para o ltro diferencial.

τf = Rf · 2Cf (4.2)

fc =1

2π · τf(4.3)

32

O aumento de fc acelera a resposta do circuito e reduz o atraso de fase nas altas

frequências, então varia-se o ltro para obter o ponto de mais rápida resposta que

ainda seja estável.

Um ponto importante que foi notado é que a variação dos parâmetros de resposta

dinâmica não afeta a resposta estática permanente do sistema, isto é, em funciona-

mento normal do instrumento, a resposta estática depende somente dos parâmetros

da ponte. A variação do ganho, oset ou ltro afeta somente a resposta transitória

do instrumento.

4.4 Procedimentos de calibração

A calibração do sensor, conforme o Capítulo 3, se dá em duas grandes fases impor-

tantes, sendo a segunda dividida em mais duas:

• Calibração estática;

• Calibração dinâmica;

Resposta ao degrau

Resposta à senoide

As motivações das calibrações são discutidas nas subseções a seguir, e os resultados

obtidos nas calibrações serão apresentados no Capítulo 5. Todas as calibrações,

exceto a calibração térmica no jato descrita na Subseção 4.1.1, são feitas em túnel

de vento. O osciloscópio utilizado nas medições está na Figura 4.10.

Figura 4.10: Osciloscópio padrão utilizado nas medições de calibração.

4.4.1 Calibração estática

O objetivo da calibração estática é formar uma correlação entre voltagem na saída

do sensor e velocidade a ser descoberta. Como a relação temperatura-resistência

33

do termistor é bijetiva, uma bijeção entre velocidade do escoamento e voltagem de

saída é possível e pode ser equacionada.

A calibração estática do sensor se dá da seguinte forma [8] [9]: o sensor é exposto

a uma velocidade conhecida U∞ e a partir da medição de saída de voltagem do sensor,

é obtida uma relação entre velocidade medida e voltagem de saída. A calibração foi

feita num túnel de vento de seção retangular de dimensões 300 mm por 330 mm, e a

disposição está mostrada na Figura 4.11.

Figura 4.11: Disposição do sensor termistor no escoamento para calibração e tomadade medições.

O sensor é preso por uma haste ligada a um posicionador, que pode ter sua altura

variada. Essa disposição foi usada também para a calibração dinâmica e tomada de

medições do Capítulo 5. Uma foto do posicionador está na Figura 4.12

Figura 4.12: Ponteira do posicionador com sensor termistor acoplado.

Com o uso do túnel de vento com velocidade variável, ajusta-se a velocidade

do escoamento de ar dentro da seção do túnel e mede-se a voltagem de saída do

instrumento. Essa associação entre velocidade do escoamento e voltagem de saída

do instrumento é então calibrada baseando-se na Lei de King para anemometria tér-

34

mica da Equação 2.9. A correlação polinomial não foi escolhida pois iria apresentar

oscilações fora do domínio de calibração.

4.4.2 Calibração dinâmica

O objetivo da calibração dinâmica é medir o tempo de resposta de adaptação do

sensor a variações do campo de velocidade do escoamento. Para realizar a calibração

dinâmica, seguimos os procedimentos da Seção 3.5 e introduzimos uma perturbação

no sensor no braço da ponte oposto ao termistor. Os principais parâmetros a serem

determinados nessa seção são o ganho G pelo resistor RG, a voltagem somada Voff ,

e os parâmetros do ltro Rf e Cf .

A instrução que deve ser seguida para a calibração dinâmica e obtenção dos

parâmetros segue abaixo:

• Determinar ganho G e oset Voff para velocidade máxima de medição, que é

o caso mais instável [14];

• Vericar o valor de τ de resposta de acordo com o overshoot e undershoot

medido [14] [15];

• Vericar valores escolhidos para outros casos de velocidades e suas estabilida-

des associadas;

• Escolher o melhor conjunto de parâmetros.

Para a calibração, deve-se achar a melhor conguração de todos os parâmetros

que garantam a resposta mais rápida no sensor para a condição mais instável de

medição, ou seja, em altas velocidades. Tal condição é dada no túnel de vento a

10 m/s. Logo após, podemos identicar os parâmetros do circuito τ, ζ e ωn.

A calibração obedeceu ao critério denido na Seção 3.5, em que o ponto mais

otimizado de operação deve respeitar ao critério que o undershoot deve valer 15 %

do overshoot.

Resposta ao degrau

Na calibração ao degrau desejamos descobrir qual o tempo de adaptação do sensor

a variações instantâneas de parâmetros, ou seja, queremos medir a constante de

tempo do sensor τ.

A constante de tempo τ pode ser encontrada introduzindo-se uma perturbação no

sistema do tipo degrau e medindo o comportamento de resposta de saída do sistema

[15]. Podemos ajustar os parâmetros do circuito para obter o melhor comportamento

desejado, isto é, aquele que responde bem a uma faixa de velocidades desejada e que

possua a resposta mais rápida para medições transientes.

35

A calibração é feita introduzindo-se uma perturbação no braço da ponte de Whe-

atstone oposto ao sensor termistor, e medindo-se a resposta temporal de adaptação

da voltagem de saída de volta ao patamar original. Essa resposta da voltagem de

saída é analisada com o uso de um osciloscópio de rápida amostragem. A Figura 4.13

mostra como é introduzida a perturbação na ponte do instrumento.

Figura 4.13: Aplicação de perturbação na ponte de Wheatstone para o teste degrau.

Um gerador de funções é conectado no braço da ponte do potenciômetro, e a

amplitude da onda está em torno de 50 mV. Entre a ponte e o gerador de funções,

há uma resistência de 940 kΩ. A oscilação introduzida, apesar de baixa, pode ser

medida e usada para caracterizar o instrumento.

Foi escolhido aplicar no braço da ponte oposto ao termistor por motivos de esta-

bilidade, isto é, os parâmetros de realimentação variam menos e o sistema se mostra

mais estável durante a calibração. A aplicação da perturbação no braço da ponte

do termistor não surte efeito no sistema. Se, ao invés disso, aplicasse-se uma per-

turbação na malha de controle da ponte via um somador, o sistema apresentaria

instabilidade devido a diferença entre a voltagem oset e a voltagem da pertur-

bação momentaneamente negativa, que pode levar o sistema a uma instabilidade

permanente, corrigível somente com o desligamento e religamento do instrumento.

Resposta à senoide

No teste de resposta à senoide, ou teste de resposta à frequência, o objetivo é

descobrir como a frequência do sinal pode interferir na amplitude de medição, ou

seja, queremos medir a faixa de atuação do sensor conforme decaimentos em altas

36

frequências, isto é, a frequência de corte do sensor ωC , além das frequências naturais

de oscilação do instrumento.

A calibração à senoide é feita obtendo-se a razão entre a amplitude de saída para

cada frequência e a amplitude medida de referência, nesse caso tomada como uma

condição estática padrão.

O processo de resposta à senoide é similar ao degrau, com uma função seno no

lugar da onda quadrada. O esquema de ligação continua sendo o da Figura 4.13,

porém com onda senoide no lugar da onda quadrada.

A função avaliada na resposta a frequência é a magnitude de respostaM(ω), que

pode ser vista na Equação 2.13.

4.5 Análise de incertezas

A metodologia de propagação de incertezas foi apresentada na Seção 2.7. Dando

continuidade à fórmula de propagação de incertezas, encontramos a incerteza de ca-

libração do instrumento. O procedimento de incertezas deste trabalho seguiu o Guia

Universal de Medição ISO-GUM [10] e o Vocabulário Internacional de Metrologia

ISO-VIM [11].

Relembrando, da Seção 2.7, a Equação 2.15 apresenta a fórmula de propagação

de incertezas:

(σ(F (q1, q2, . . . , qn))

)2=

n∑i=1

(∂F (q1, q2, . . . )

∂qi

)2

·(σ(qi)

)2(2.15, rev)

Para a Equação 2.10 de ajuste da lei de King inversa, usando a fórmula da

Equação 2.15, temos então a seguinte expressão para a incerteza da velocidade na

calibração estática na Equação 4.4.

U∞ =

(E2 − AB

)1/n

(2.10, rev)

σ(U∞) =2E

B · n·(E2 − AB

) 1n−1

· σ(E) (4.4)

A fórmula de propagação de incertezas da Equação 2.15 será aplicada também a

todos os cálculos no trabalho que envolvam medições experimentais com incerteza.

37

Capítulo 5

Resultados

Os resultados experimentais do sensor são expostos neste capítulo. Dentre os testes

realizados podemos citar calibração estática, calibração dinâmica por teste degrau,

calibração dinâmica por resposta à frequência, medição de perl de velocidades

atrás de um corpo cilíndrico, comparação do perl de velocidade com resultados

da literatura, identicação da frequência de emissão de vórtices atrás de um corpo

cilíndrico, e medição do perl de intensidade turbulenta de um escoamento. Os

testes foram feitos num túnel de vento de seção retangular de dimensões 300 mm

por 330 mm no Laboratório de Mecânica da Turbulência, do NIDF-UFRJ mostrado

na Figura 5.1 e Figura 5.2. O cilindro usado nos experimentos possui diâmetro de

22.3 mm.

Figura 5.1: Túnel de vento utilizado nas medições experimentais.

5.1 Calibração Estática

O sensor é muito sensível para baixas velocidades e o objetivo nesta seção é calibrar

a medição de velocidade estática do instrumento.

38

Figura 5.2: Traseira do túnel de vento utilizado nas medições experimentais.

5.1.1 Obtenção da velocidade do túnel de vento

Para analisar o comportamento do túnel de vento, mediu-se a frequência do inversor

e a velocidade do ar na seção transversal do túnel de vento. Os resultados dessa

correlação estão na Figura 5.3. A temperatura do local foi controlada em 21 C.

Figura 5.3: Relação entre a velocidade do escoamento medida e a frequência doinversor no túnel de vento utilizado.

A correlação entre velocidade e frequência segue um perl linear para velocidades

maiores que 1 m/s, e polinomial para velocidades inferiores. A Equação 5.1, cujos

coecientes estão na Tabela 5.1, foi ajustada em quinto grau para melhor acomodar

os dois casos.

39

U∞ = a0 + a1f + a2f2 + a3f

3 + a4f4 + a5f

5 (5.1)

Tabela 5.1: Coecientes do ajuste de velocidade e frequência no túnel de vento.

Coeciente Valora0 2.698× 10−2

a1 −6.218× 10−2

a2 1.876× 10−2

a3 −5.421× 10−4

a4 7.411× 10−6

a5 −3.905× 10−8

5.1.2 Relação de calibração pela Lei de King

Conhecendo-se a velocidade, podemos medir a voltagem de saída para cada veloci-

dade de escoamento e ajustar uma curva que melhor satisfaça os pontos [15]. Para

formular uma relação, usaremos a Lei de King enunciada na Equação 2.9, relem-

brando:

E2 = A+B · U∞n (2.9, rev)

Para encontrar a equação de calibração estática do anemômetro a termistor, foi

realizada a medição da voltagem de saída para várias velocidades. Os resultados

da calibração estática estão expostos no gráco da Figura 5.4, a temperatura do

local foi mantida em 21 C. O teste foi feito em túnel de vento em seção livre e sem

obstáculos.

O ajuste da curva foi feito baseado no modelo proposto pela lei de King. A equa-

ção governante do instrumento com os coecientes está mostrada na Equação 5.2,

em que E2 = Vout2 é o quadrado da voltagem medida no instrumento aplicada

na equação da lei de King, isto é, a voltagem de saída do instrumento, e U∞ é a

velocidade do escoamento.

E2 = 75.5682 + 19.2743 · U∞0.551037 (5.2)

A Equação 5.2 é a primeira caracterização do instrumento aqui apresentada e

com ela podemos fazer medições estáticas de velocidade. A relação inversa da lei de

King está na Equação 5.3, e com ela podemos obter a velocidade U∞ em função do

potencial E medido.

U∞ = 4.6566× 10−3 (E2 − 75.5682)1.81476 (5.3)

40

Figura 5.4: Tomada de medida da calibração estática do anemômetro a termistorquente.

Essas relações foram encontradas com o auxílio da função NonLinearModelFit

do software Wolfram Mathematica.

5.1.3 Comparação entre resistências da ponte

Para escolher os valores das resistências, foram realizados testes para medir a sen-

sibilidade e situações de saturação elétrica na situação desejada, com RT = 206 Ω.

Primeiro com R1 = 47 Ω, e a seguir com R1 = 96 Ω, vemos a variação estática da

voltagem de saída de medição do instrumento. Os testes foram feitos a 26 C e os

valores se encontram na Tabela 5.2.

Podemos ver que no caso com R1 = 96 Ω a sensibilidade do instrumento é muito

maior, ou seja, a variação da saída entre intervalos de velocidade é maior do que no

caso com R1 = 47 Ω. Porém, o caso mais sensível implica na saturação dentro da

faixa de velocidade em que se deseja medir, ou seja, o caso mais sensível não é o

mais apropriado para a construção do instrumento, e além disso a faixa de medição

do caso R1 = 47 Ω é maior. Portanto, o valor escolhido de R1 é 47 Ω.

41

Tabela 5.2: Voltagem de saída do instrumento como função da velocidade, paraR1 = 47 Ω e R1 = 96 Ω.

Velocidade [m/s] Voltagem [V]

R1 = 47 Ω

Ar parado 8.400.81 11.235.46 13.0110.17 13.85

R1 = 96 Ω

Ar parado 9.600.81 13.115.46 15.3510.17 16.27 (saturado)

5.2 Calibração Dinâmica Resposta ao Degrau

Nesta seção, escolhemos e justicamos os valores de G e Voff além de Rf e Cf ,

baseados nas análises propostas da Seção 3.5.

5.2.1 Teste de resposta ao degrau

As medições para calibração em resposta ao degrau foram feitas no túnel de vento

com velocidade de U∞ = 9.5 m/s. A temperatura do ambiente foi registrada entre

26.3 C e 26.5 C. e voltagem pico-a-pico da onda quadrada de 1.2 V.

A Tabela 5.3 mostra a comparação de diferentes valores de tempo de resposta τ

para combinações de RG com seus Voff ajustados para a resposta otimizada. O ltro

utilizado teve parâmetros Rf = 1 Ω e Cf = 10 nF. O osciloscópio usado estava em

modo de acoplamento AC, com média de quatro amostragens por medição. Os casos

de aquecimento e resfriamento são análogos, porém no resfriamento a onda quadrada

está em queda e a forma da onda é rebatida simetricamente no eixo horizontal.

Para a situação proposta, a combinação de RG = 22 Ω e Voff = 8.5 V se mostrou

a melhor otimizada para o instrumento. É a combinação que garante a resposta

mais rápida e permanece estável na faixa de medições desejada. O ganho máximo

que pode ser submetido ao sistema antes da instabilidade é de G = 2274 vezes,

conforme dado pela fórmula 4.1.

Podemos ver que quanto maior o ganho G em decorrência da redução de RG,

maior o valor de Voff requerido para equilibrar o sistema no ponto de operação

necessário. Isso também foi previsto por PERRY [8] na Figura 3.3.

Os casos com RG < 22 Ω se mostraram instáveis na condição escolhida de esco-

amento com velocidade de U∞ = 9.5 m/s, pois requerem altos valores de Voff para

amortecer a resposta. Esses parâmetros poderiam ser escolhidos caso se desejasse

calibrar em velocidades inferiores, o que resultaria numa resposta ainda mais rápida.

Porém, pelo método de calibração proposto, calibramos para a situação mais instá-

42

Tabela 5.3: Comparação de tempo de resposta em diferentes combinações de parâ-metros.

RG G Voff Caso τ

560 Ω 90 Não-linear

100 Ω 5011.858 V Aquecimento 630µs1.947 V Resfriamento 710µs

56 Ω 8942.907 V Aquecimento 600µs3.087 V Resfriamento 700µs

47 Ω 10653.597 V Aquecimento 580µs3.713 V Resfriamento 670µs

33 Ω 15164.685 V Aquecimento 570µs4.858 V Resfriamento 670µs

22 Ω 22748.540 V Aquecimento 560µs8.560 V Resfriamento 650µs

15 Ω 3344 Instável

10 Ω 5001 Instável5.6 Ω 8930 Instável

vel, isto é, a de maior velocidade. Valores de ganho muito baixo não se comportam

semelhante a sistemas com comportamento linear, além de serem muito lentos.

Para escolher os parâmetros do ltro, foram feitas comparações entre diferentes

combinações usando os parâmetros otimizados de RG e Voff . Uma comparação está

na Tabela 5.4.

Tabela 5.4: Comparação de tempo de resposta em diferentes combinações de valoresde ltro.

Rf Cf fc RG G Voff Caso τ

56 Ω 100 nF 14.210 kHz56 Ω 894

3.357 V Aquecimento 720µs3.616 V Resfriamento 800µs

22 Ω 22748.300 V Aquecimento 620µs8.620 V Resfriamento 700µs

1 Ω 10 nF 7.957 MHz56 Ω 894

2.907 V Aquecimento 600µs3.087 V Resfriamento 700µs

22 Ω 22748.540 V Aquecimento 560µs8.560 V Resfriamento 650µs

1 Ω 1.5 nF 53.051 MHz Instável

A conclusão que se chega é que o conjunto de ltro Rf = 1 Ω e Cf = 10 nF é a

mais apropriada, pois possui menor tempo de resposta antes de se tornar instável.

Conjuntos com frequência de corte fc mais baixas tendem a ser mais lentas, enquanto

que conjuntos com fc mais altos são instáveis, como por exemplo o último caso da

43

Tabela 5.4. O ltro deve ter o menor valor de τf possível, logo deve-se usar os

menores valores de Rf e Cf .

Juntando informações das duas tabelas, a combinação de ltros com Rf = 1 Ω

e Cf = 10 nF com RG = 5.6 Ω se mostrou instável para todos os valores de Voff . A

combinação de ltros com Rf = 1 Ω e Cf = 10 nF com RG = 56 Ω requer Voff = 1.6V

em ar parado. A combinação de ltros com Rf = 1 Ω e Cf = 100 nF com RG = 56 Ω

apresenta uma resposta mais lenta que o caso anterior. A combinação de ltros com

Rf = 1 Ω e Cf = 100 nF com RG = 560 Ω apresenta resposta ainda mais lenta.

A condição melhor otimizada para a resposta encontra-se em destaque a seguir

na Figura 5.5. Os parâmetros listados para esta condição estão na Subseção 5.2.3.

Figura 5.5: Resposta ao degrau da condição mais otimizada.

5.2.2 Comparação gráca da resposta ao degrau

A comparação gráca entre os resultados medidos encontra-se a seguir na Figura 5.6.

A temperatura medida foi de 26 C e a velocidade U∞ = 9.5 m/s.

Os resultados da Figura 5.6 são ilustrativos para cada um dos casos de resposta.

Esses resultados também foram encontrados por MOORE [14]. A Tabela 5.5 fornece

os parâmetros utilizados em cada um dos casos das Figuras 5.5 e 5.6.

44

(a) Superamortecido (b) Amortecimento crítico

(c) Condição ótima (d) Subamortecido

(e) Instabilidade (f) Saturação

Figura 5.6: Comparação gráca da resposta ao degrau para algumas situações no-táveis.

45

Tabela 5.5: Parâmetros associados às respostas da Figura 5.6.

Figura Caso RG Voff

5.6a Superamortecido 56 Ω 9.680 V5.6b Amortecimento crítico 56 Ω 4.580 V5.6c Condição ótima 56 Ω 3.616 V5.6d Subamortecido 56 Ω 2.361 V5.6e Instabilidade 56 Ω 1.976 V5.6f Saturação 22 Ω 10.30 V5.5 Otimizado 22 Ω 8.560 V

Podemos ver que tanto a condição da Figura 5.5 quanto da Figura 5.6c são

estáveis e desejadas para a situação de interesse, porém, pela Tabela 5.3 o valor de

maior ganho G, menor RG, é mais rápido.

5.2.3 Parâmetros padrão otimizados

Os parâmetros-padrão denidos pela calibração estão mostrados na Tabela 5.6.

Essas congurações ajustam o sistema para operação com constante de tempo

τ < 1 ms, em torno de τ ' 600µs.

Tabela 5.6: Tabela de parâmetros-padrão usados no instrumento.

Parâmetro ValorRpot 2 060 ΩR1 47 ΩRG 22 ΩVoff 8.56 VCf 10 nFRf 1 Ω

Os parâmetros da Tabela 5.6 são aqueles que fornecem a condição ótima para

medição no túnel de vento. A conguração alternativa da Tabela 5.3 com RG = 56 Ω

também é possível, pois requer menor Voff , mas neste trabalho não será usada por

ser mais lenta. A conguração recomendada continuou sendo aquela submetida à

velocidade de 9.5 m/s.

5.3 Calibração em Frequência Resposta à Senoide

O teste de resposta à frequência foi feito também e está apresentado a seguir. As

condições foram temperatura de 26 C e velocidade de escoamento 0.5 m/s, a vol-

tagem pico a pico da perturbação senoide aplicada foi de 400 mV, e os parâmetros

do circuito utilizados são os da Tabela 5.6. Os resultados do teste de resposta em

frequência se encontram a seguir na Figura 5.7.

46

Figura 5.7: Magnitude de resposta de saída em função da frequência de oscilaçãoaplicada.

Podemos ver que o sistema é subamortecido e que há um grande pico próximo

a 1 000 Hz que está no entorno da frequência de oscilação natural do sensor. Além

disso, o ponto onde M(f) = 1/2 está em torno de 20 000 Hz, que é a frequência de

corte do sensor.

5.4 Medição do perl de velocidades à Jusante do

Cilindro

Nesta seção, estão apresentados os dados de medição de perl de velocidade atrás do

cilindro mencionado no início do capítulo. O cilindro possui diâmetro de 22.3 mm,

e comprimento igual à seção do túnel de vento. A posição tomada de medições foi

variada ao longo de um perl vertical à jusante do cilindro em z, com distância

horizontal entre o perl e o centro do cilindro x mantida em cada caso. A foto do

cilindro circular utilizado nas medições está na Figura 5.8.

Foram feitas medições em quatro casos diferentes, com condições e parâmetros

de cada caso informado na Tabela 5.7, variando-se velocidade de escoamento U∞ e

distância horizontal x entre o centro do cilindro e o perl medido. Os resultados

para cada caso estão nas subseções seguintes.

47

Figura 5.8: Cilindro circular utilizado nas medições experimentais.

Tabela 5.7: Tabela comparativa dos parâmetros usados na medição de perl à ju-sante do cilindro.

Distância horizontal x VelocidadeCaso 1 50 mm 0.12 m/sCaso 2 50 mm 0.81 m/sCaso 3 100 mm 0.12 m/sCaso 4 100 mm 0.81 m/s

5.4.1 Caso 1: Distância 50 mm, velocidade 0.12 m/s

Os resultados medidos estão na Figura 5.9. A velocidade de escoamento média

apresenta um aumento conforme se aproxima do centro, até que apresenta uma

queda brusca ao se aproximar do cilindro, chegando a zero. As velocidades entre

−20 mm e 20 mm não são denidas como números reais pela lei de King inversa da

Equação 2.10. Essa anomalia pode ser explicada por uma zona de recirculação atrás

do cilindro, que diculta a dissipação de calor gerado pelo termistor. Nesse caso, a

dissipação é menor que no caso de convecção natural, e a Equação 2.10 não fornece

um número real nem nos apresenta um valor denido.

5.4.2 Caso 2: Distância 50 mm, velocidade 0.81 m/s

Os resultados medidos estão na Figura 5.10. A velocidade de escoamento apresenta

aumento conforme se aproxima do centro do cilindro, até sofrer queda ao se aproxi-

mar da região da esteira. As velocidades da esteira, nesse caso, não se anulam por

estar fora de zona de recirculação. A incerteza das medidas ao se aproximar da re-

gião da esteira aumenta devido à resolução do osciloscópio. Medidas com voltagem

de 10.0 V e acima possuem uma ordem de grandeza acima na incerteza de medição.

48

-80 -40 0 40 80

Posição vertical [mm]

-0,05

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

Vel

ocid

ade

calib

rada

[m/s

]

Figura 5.9: Perl de medição de velocidade à jusante do cilindro, distante 50 mmcom U∞ = 0.12 m/s, com zona de recirculação e valores não denidos pela lei deKing inversa.

Figura 5.10: Perl de medição de velocidade à jusante do cilindro, distante 50 mmcom U∞ = 0.81 m/s, e região de mudança de valores signicativos de incerteza naborda da esteira.

49

5.4.3 Caso 3: Distância 100 mm, velocidade 0.12 m/s

Os resultados das medições estão na Figura 5.11. Esse é a melhor medição dentre

todos os quatro casos. Podemos ver nitidamente o mesmo comportamento da for-

mação da esteira e queda de velocidade no centro, com aumento próximo das bordas

da esteira. Este resultado voltará a ser discutido da seção 5.5.

Figura 5.11: Perl de medição de velocidade à jusante do cilindro, distante 100 mmcom U∞ = 0.12 m/s.

5.4.4 Caso 4: Distância 100 mm, velocidade 0.81 m/s

Os resultados das medições estão na Figura 5.12.

Podemos notar que devido à alta velocidade, a faixa de incerteza cresce muito,

devido à incerteza associada ao osciloscópio usado nas medições quando se aumenta

uma ordem de grandeza. Este resultado está aqui apresentado apenas de forma ilus-

trativa, pois sua natureza não permite tomar nenhuma conclusão sobre a medição.

Mesmo assim, podemos ver o mesmo comportamento de aumento da velocidade ao

se aproximar da borda da esteira, e queda próximo ao centro do escoamento.

50

Figura 5.12: Perl de medição de velocidade à jusante do cilindro, distante 100 mmcom U∞ = 0.81 m/s, com mudança dos valores signicativos de incerteza, apenasilustrativo.

5.5 Comparação do perl à jusante em gráco na

forma adimensional

A seguir foi feita a comparação com a literatura [13] relacionando o perl de velo-

cidade do escoamento com a altura, em gráco adimensional. Para tal, usaremos o

resultado do escoamento do caso 3 na subseção 5.4.3, que foi o melhor resultado.

Para a velocidade denimos a diferença u1 como sendo u1(z) = U∞ − U(z) e

nossa variável adimensional será u1/u1MAX , onde u1MAX é o máximo dos valores da

diferença u1. Para a coordenada do perl usaremos z/zR, onde zR é a meia-largura

da esteira turbulenta.

O valor de U∞ medido, tomado pelas bordas da medição, é em torno de 0.20m/s,

enquanto que o valor de zR pode ser ajustado gracamente para se encontrar a meia-

largura da esteira. O melhor ajuste se dá em torno de 30mm, logo esse é o valor da

meia-esteira. O resultado está na Figura 5.13

Como podemos ver, no meio da esteira o perl se comporta muito bem para

a distribuição de velocidade. Nas regiões da borda podemos ver uma queda mais

acentuada de u1, e valores negativos após. Isso se deve ao fato das paredes do

túnel de vento causarem interferência no resultado por não estarem a uma distância

muito grande, devido à aceleração do escoamento no entorno do obstáculo [1] [13].

51

Figura 5.13: Comparação entre perl esperado pela literatura e encontrado pormedição, com U∞ = 0.20 m/s e meia-esteira de tamanho 30 mm.

Os valores negativos de u1 se devem à velocidade mais elevada devido ao bloqueio

gerarem uma diferença negativa.

NISHIOKA e SATO [20] encontraram resultados similares para o escoamento

ao redor do cilindro, para Re = 40, na Figura 5.14. Nossos resultados estão para

x/d = 4.5 e Re = 100, próximos dos valores encontrados, e podemos ver que o

fenômeno é idêntico.

5.6 Identicação da Frequência de Emissão de Vór-

tices

O objetivo é medir a frequência de emissão de vórtices atrás de um cilindro utili-

zando os conceitos da Seção 2.8 e Equação 2.17. Os resultados encontrados estão a

seguir. Para se comparar os valores medidos com os esperados, analisou-se o desvio

com 100%, 50% e 200% da frequência esperada, para tentar encontrar oscilações

decorrentes de apenas metade do plano, ou harmônicos superiores de vibração de

dois vórtices em sequência. A análise foi feita no software Wolfram Mathematica e o

código com um exemplo se encontra no Anexo B. Um ponto adicional é que a Sample

Rate (SR) ou taxa de amostragem, como foi visto no Capítulo 3 em [15] e [14], deve

ser sempre maior que o dobro da frequência a ser medida, para não ocorrer o efeito

de Aliasing no sinal, ou perda de sinal devido à proximidade das frequências. SR

52

Figura 5.14: Perl de velocidade encontrado para escoamento ao redor do cilindro,com x/d variável com Re = 40. (Reprodução [20])

também não pode ser alto demais com risco de não captar as frequências baixas.

A Tabela 5.8 apresenta os dados dos testes de frequência de emissão de vórtices, e

a Tabela 5.9 apresenta o desvio encontrado de cada teste com relação às frequências

a 100% do valor esperado f100%, a 50% do valor esperado f50% e a 200% do valor

esperado f200%.

Conforme podemos ver pelas tabelas 5.8 e 5.9, os melhores resultados encontrados

para a emissão são nos casos de Sampling Rate de 100 Hz devido ao Aliasing nas

frequências menores. O método para análise para encontrar as frequências está

descrito no Anexo B.

A maioria dos valores encontrados está dentro de uma faixa de ±10% dos valores

esperados. Os erros podem ser explicados por Aliasing, variações de medição por

escala do osciloscópio, taxa de aquisição (Sampling Rate), ou velocidade do escoa-

mento. Os valores de velocidade muito baixos possuem diculdade de serem medidos

devido à convecção natural do ar predominar na situação.

53

Tabela 5.8: Dados dos testes de frequência de emissão de vórtices

Med. SR [Hz] Re U∞ [m/s] (x, z) [mm] fv Esperado [Hz] Obs1 50 170 0.12 (50, -19) 1.202 50 170 0.12 (50, -19) 1.203 50 574 0.40 (50, -19) 4.044 50 574 0.40 (50, -19) 4.045 50 1135 0.80 (50, -19) 7.986 50 1135 0.80 (50, -19) 7.987 50 1135 0.80 (50, -15) 7.988 50 1135 0.80 (50, -15) 7.989 50 1135 0.80 (50, -15) 7.9810 50 1135 0.80 (100, 1) 7.9811 50 1135 0.80 (100, 1) 7.9812 50 7666 5.46 (100, 1) 53.8913 100 7666 5.46 (100, -1) 53.8914 50 7666 5.46 (100, -15) 53.8915 50 170 0.12 (100, -13) 1.2016 50 170 0.12 (100, -13) 1.2017 50 1135 0.80 (100, -13) 7.9818 50 N/A N/A (100, -22) N/A Muito baixo19 100 N/A N/A (100, -22) N/A Muito baixo20 100 170 0.12 (100, -5) 1.2021 100 170 0.12 (100, 3) 1.2022 100 574 0.40 (100, -8) 4.0423 100 574 0.40 (100, 3) 4.0424 50 1135 0.80 (100, -7) 7.9825 100 1135 0.80 (100, -7) 7.9826 100 1135 0.80 (100, -7) 7.9827 100 2569 1.83 (100, 4) 18.0628 100 2569 1.83 (50, 0) 18.0629 100 2569 1.83 (50, 0) 18.0630 100 4226 3.01 (50, 0) 29.7031 100 4226 3.01 (50, 0) 29.7032 100 5951 4.24 (50, 0) 41.8333 100 5951 4.24 (50, 0) 41.8334 100 7666 5.46 (50, 0) 53.8935 100 7666 5.46 (50, -9) 53.8936 100 10995 7.83 (50, -9) 77.2937 100 10995 7.83 (50, 2) 77.2938 250 14274 10.17 (50, -4) 100.3439 250 14274 10.17 (50, -4) 100.3440 1× 104 14274 10.17 (50, -4) 100.3441 1× 105 14274 10.17 (50, -4) 100.3442 5× 104 14274 10.17 (50, -4) 100.34

54

Tabela 5.9: Resultados dos testes de frequência de emissão de vórtices

Med. SR [Hz] Re fv Esp [Hz] Desvio f100% Desvio f50% Desvio f200%

1 50 170 1.20 −5.98% −15.13% +11.49%2 50 170 1.20 −9.30% −1.50% −54.65%3 50 574 4.04 −21.57% −6.97% +22.46%4 50 574 4.04 +20.73% +6.38% −7.09%5 50 1135 7.98 −0.67% +0.70% −24.34%6 50 1135 7.98 −10.32% −16.08% −37.06%7 50 1135 7.98 −1.30% +3.45% +26.12%8 50 1135 7.98 +6.46% −6.31% +26.25%9 50 1135 7.98 −1.55% −4.80% −36.93%10 50 1135 7.98 −1.55% +3.95% −37.75%11 50 1135 7.98 −7.06% −8.71% −53.53%12 50 7666 53.89 −54.44% −8.89% −77.19%13 100 7666 53.89 −15.94% −2.14% −57.97%14 50 7666 53.89 −54.39% −8.78% −77.19%15 50 170 1.20 −56.73% −13.46% +1.50%16 50 170 1.20 −4.31% +6.49% +12.32%17 50 1135 7.98 −3.05% −0.80% −11.19%18 50 N/A N/A −141.79% −183.57% −120.89%19 100 N/A N/A −131.34% −162.68% −115.67%20 100 170 1.20 +2.33% +36.45% +10.65%21 100 170 1.20 +21.47% +4.83% +1.09%22 100 574 4.04 +14.05% +7.86% −14.64%23 100 574 4.04 −15.88% −12.41% −1.77%24 50 1135 7.98 +0.82% +5.71% −6.87%25 100 1135 7.98 −0.67% +3.20% +4.08%26 100 1135 7.98 −7.06% +6.46% −18.58%27 100 2569 18.06 −4.84% −12.98% +4.31%28 100 2569 18.06 +0.41% +18.67% +2.70%29 100 2569 18.06 −3.07% +10.26% +2.90%30 100 4226 29.70 +6.56% +10.60% −20.98%31 100 4226 29.70 −7.33% −18.87% −37.32%32 100 5951 41.83 −4.77% +5.21% −43.73%33 100 5951 41.83 −8.86% +6.12% −43.88%34 100 7666 53.89 −20.54% +0.30% −60.27%35 100 7666 53.89 −20.54% −10.78% −32.44%36 100 10995 77.29 −36.63% −8.55% −68.31%37 100 10995 77.29 −39.25% −2.81% −69.62%38 250 14274 100.34 −0.47% −0.48% −40.11%39 250 14274 100.34 −0.63% +0.77% −40.35%40 1× 104 14274 100.34 +17.23% +14.68% −14.61%41 1× 105 14274 100.34 +42.55% +185.10% +18.79%42 5× 104 14274 100.34 +16.85% −51.20% +18.79%

55

5.7 Perl de Intensidade Turbulenta

Para a análise de perl de intensidade turbulenta, levou-se em conta séries de me-

dições de velocidade em túnel aberto e alguns em caso de emissão de vórtices. O

percentual de intensidade turbulenta IT pode ser encontrado pelas relações a seguir

[9] [13].

Ui = [U1, U2, . . . UN ] (5.4)

Umed =1

N∑i=1

Ui (5.5)

u′rms =

√√√√ 1

N − 1

N∑i=1

(Umed − Ui)2 (5.6)

IT =u′rms

Umed

× 100% (5.7)

Seja uma série Ui de dados de velocidade, composta de N medidas U1, U2, . . . UN

da Equação 5.4, a velocidade média Umed é encontrada pela Equação 5.5. Para o

cálculo das utuações u′, levamos em conta o valor RMS, ou root mean square. A

utuação média u′rms se dá pela Equação 5.6. A intensidade turbulenta IT é a razão

entre a utuação média e a velocidade média, dada pela Equação 5.7.

As análises de perl de intensidade turbulenta encontram-se abaixo. A Ta-

bela 5.10 mostra a variação da utuação e da intensidade turbulenta conforme a

velocidade média varia. As Figuras 5.15 e 5.16 apresentam, respectivamente, essas

distribuições de utuação de velocidade e de intensidade turbulenta para os vários

valores de velocidade média.

Podemos notar que no escoamento livre há um aumento da utuação u′rms até em

torno de Umed próximo de 5 m/s, a partir do qual há uma estabilização da utuação

em u′rms ≈ 0.26 m/s até um leve aumento em 14 m/s. Para o escoamento em vórtice,

a utuação u′ sempre aumenta continuamente até sofrer uma redução em 16 m/s.

O escoamento em vórtice, como esperado, apresenta utuações muito mais elevadas

que o escoamento livre sem cilindro, e também os valores de Umed são maiores para

um mesma velocidade de escoamento incidente U∞ devido aos próprios vórtices.

Para a distribuição de intensidade turbulenta IT , o comportamento oposto é

observado. A intensidade turbulenta começa em valores altos, reduzindo e se esta-

bilizando em torno de 2.5% em altas velocidades para escoamento livre, enquanto

no escoamento em vórtices reduz para 5% continuamente sem estabilizar. Os va-

lores altos de IT para baixos Umed são devidos ao baixo denominador na fórmula

da Equação 5.7 de IT . A variação na condição de vórtice também se explica pela

redução da variação em ondas e formação de um perl de esteira menos oscilante.

56

Tabela 5.10: Tabela de velocidade média Umed, utuação u′rms e intensidade turbu-lenta IT .

Medição Umed [m/s] u′rms [m/s] IT [%]

Escoamentolivre

1 0.101402 0.0410724 40.50442 0.733977 0.110500 15.05503 1.86264 0.166969 8.964124 3.29551 0.223864 6.792995 4.52047 0.249691 5.523586 5.89166 0.285255 4.841677 7.31143 0.291162 3.982288 8.40015 0.290701 3.460669 9.60308 0.254377 2.6489110 10.7981 0.262021 2.4265511 11.9499 0.258903 2.4665812 13.2480 0.352512 2.66088

Escoamentoem

vórtice 13 1.51268 0.228786 15.1245

14 1.59687 0.259273 16.236315 3.77917 0.396825 10.500316 5.85023 0.559549 9.5645817 8.84618 0.675896 7.6405318 13.0159 0.774638 5.9514519 16.4620 0.674552 4.09764

Figura 5.15: Distribuição de utuações de velocidade u′rms por velocidade médiaUmed.

57

Figura 5.16: Distribuição de intensidade turbulenta IT por velocidade média Umed.

58

Capítulo 6

Conclusões

Conforme vimos no Capítulo 1, a ideia proposta neste trabalho foi vericar a possi-

bilidade de se construir um instrumento de medição de velocidade, ou anemômetro,

utilizando o sensor do tipo termistor, e comparar com resultados esperados. Res-

pondendo às propostas do Capítulo 1, é possível construir um instrumento capaz de

medir velocidade utilizando o sensor termistor, vericamos que é possível medir e

repetir as medições com o sensor de forma conável. Os resultados foram compara-

dos com valores esperados e com a literatura e estiveram de acordo entre si e por

último chegamos a conclusão que o sensor é viável e pode ser usado para medição

de velocidades. Essa proposta foi executada com sucesso ao longo deste trabalho e

portanto faremos uma recapitulação do que foi conquistado com este trabalho.

Vimos no Capítulo 2 a teoria básica por trás da instrumentação e conceitos que

foram abordados ao longo do texto. Essa introdução ao assunto fundamenta as bases

para a análise do instrumento e prepara o leitor para o Capítulo 3, que contém um

aprofundamento maior sobre o tema.

A metodologia explorada no Capítulo 3 apresentou trabalhos anteriores de uso na

anemometria, com destaque para o trabalho de PERRY [8] e BRUUN [9] no campo

da anemometria a o quente, que contribuíram signicativamente para o avanço

na área. O trabalho de MOORE [14] também foi de fundamental compreensão e

entendimento para a formulação deste trabalho, pois é um dos principais trabalhos

de medição de velocidade utilizando o sensor do tipo termistor. A metodologia de

JØRGENSEN [15] (DANTEC ) também foi importante para estabelecer as bases de

escolha de parâmetros e método de medição.

No Capítulo 4 vimos a construção e descrição do instrumento, desde a esco-

lha da ponte do instrumento, componentes utilizados no equipamento, escolha de

parâmetros e análise do comportamento esperado. Caracterizamos o termistor uti-

lizado, comentamos métodos de otimização e redução de ruído e estabelecemos as

calibrações e incertezas que serão utilizadas.

O Capítulo 5 apresentou os resultados encontrados para o instrumento. Rela-

59

cionamos a calibração de velocidades com a saída do instrumento em voltagem e

otimizamos a resposta para a faixa de medição utilizada. Otimizamos também os

parâmetros de resposta dinâmica de acordo com a metodologia do Capítulo 3, obti-

vemos a resposta em frequências, medimos e comparamos o perl de velocidade atrás

do cilindro, identicamos a frequência de emissão de vórtices da esteira e medimos

o perl de intensidade turbulenta.

O presente Capítulo 6 sumariza e reúne o que foi avançado com este trabalho,

além de apresentar diculdades e sugestões.

6.1 Análise Crítica e Sugestões para trabalhos fu-

turos

Dentre as principais limitações e diculdades do trabalho podemos listar a baixa

quantidade de literatura no quesito de sensores híbridos de anemometria a termis-

tor, que surge como uma grande oportunidade para avanços nesta área. Outra

diculdade é o comportamento ruidoso do sinal, que deve sempre ser levado em

consideração ao se tomar medições. O leitor deve se atentar para que esses ruídos

de medição sejam tratados de forma boa

Uma modicação sugerida para trabalhos futuros seria a implementação de um

ajustador de RG e Voff para ajuste de medições conforme a necessidade sem requerer

a substituição dos componentes do circuito. Isso pode ser útil quando se desejar

variar muito a faixa de medição para medições mais sensíveis.

Além disso, um modelo portátil em uma caixa para transportar o instrumento

também seria de grande uso pois permitiria o transporte do instrumento de forma

mais fácil e também reduziria o tempo de Setup de medição. Outra modicação

proposta seria a criação de uma interface para aquisição de dados em um compu-

tador, usando uma placa de aquisição e algum software de captura de dados. Com

isso, é possível obter medições mais conáveis ainda e o uso também pode se tornar

mais fácil para usuários mais leigos do instrumento.

60

Referências Bibliográcas

[1] FOX, R. W., MCDONALD, A. T., PRITCHARD, P. Introduction to uid me-

chanics. 5th. 5 ed. New York, N.Y., New York: John Wiley & Sons, Inc,

2010.

[2] FIGLIOLA, R. S., BEASLEY, D. E. Teoria e Projeto para Medições Mecânicas.

4 ed. Rio de Janeiro, LTCLivros Técnicos e Cientícos, 2007. (Tradução

e revisão técnica: Geraldo Augusto Campolina França, Ricardo Nicolau

Nassar Koury, Marcos Pinotti Barbosa).

[3] FIGLIOLA, R. S., BEASLEY, D. Theory and design for mechanical measure-

ments. 5 ed. New York, John Wiley & Sons, 2011.

[4] MALVINO, A. P. Eletrônica: Vol. 1. 4 ed. São Paulo, Makron Books/Pearson,

1997. (Tradução: Romeu Abdo).

[5] BENTLEY, J. P. Principles of Measurement Systems. 4 ed. Harlow, England,

U.K., Pearson Education, 2005.

[6] ALCIATORE, D. G., HISTAND, M. Introduction to Mechatronics and Measu-

rement Systems. 4 ed. New York, N.Y., Mc Graw Hill, 2012.

[7] KING, L. V. XII. On the convection of heat from small cylinders in a stream of

uid: Determination of the convection constants of small platinum wires

with applications to hot-wire anemometry, Philosophical transactions of

the royal society of London. series A, containing papers of a mathematical

or physical character, v. 214, n. 509-522, pp. 373432, 1914.

[8] PERRY, A. E. Hot-Wire Anemometry. 1 ed. New York, N.Y., Oxford University

Press, 1982.

[9] BRUUN, H. H. Hot-Wire Anemometry: Principles and Signal Analysis. 1 ed.

New York, N.Y., Oxford University Press, 1995.

[10] INMETRO, INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, QUALIDADE E

TECNOLOGIA. Avaliação de dados de medição: Guia para a expres-

61

são de incerteza de medição (GUM 2008). 1 ed. Duque de Caxias, R.J.,

INMETRO Rio de Janeiro, 2012.

[11] INMETRO, INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, QUALIDADE E

TECNOLOGIA. Vocabulário Internacional de Metrologia: Conceitos

Fundamentais e Gerais e Termos Associados (VIM 2012). 1 ed. Duque

de Caxias, R.J., INMETRO Rio de Janeiro, 2012.

[12] KUNDU, P. K., COHEN, I. Fluid Mechanics. 2 ed. San Diego, C.A., Academic

Press, 2002.

[13] SCHLICHTING, H. Boundary Layer Theory. 7 ed. New York, N.Y., McGraw

Hill, 1979.

[14] MOORE, J. A Thermistor Based Sensor for Flow Measurement in Water. MSc

thesis, Dublin City University, Dublin, Ireland, 2003.

[15] JØRGENSEN, F. E. How to measure turbulence with hot-wire anemometers:

a practical guide. 2001.

[16] KATZ, I. M., SHAUGHNESSY, E. Digital temperature compensation of a

thermistor owmeter, Journal of Physics E: Scientic Instruments, v. 20,

n. 5, pp. 561, 1987.

[17] LABARBERA, M., VOGEL, S. An inexpensive thermistor owmeter for aqua-

tic biology 1, Limnology and Oceanography, v. 21, n. 5, pp. 750756, 1976.

[18] FREYMUTH, P. Frequency response and electronic testing for constant-

temperature hot-wire anemometers, Journal of Physics E: Scientic Ins-

truments, v. 10, n. 7, pp. 705, 1977.

[19] OMEGA ENGINEERING. Thermistor Elements. 2018, (Acesso em

04/09/2018). Disponível em: <https://www.omega.com/prodinfo/

thermistor.html>.

[20] NISHIOKA, M., SATO, H. Measurements of velocity distributions in the

wake of a circular cylinder at low Reynolds numbers, Journal of Fluid

Mechanics, v. 65, n. 1, pp. 97112, 1974.

62

Apêndice A

Diagrama do circuito

O diagrama completo do circuito encontra-se a seguir na Figura A.1. Os parâmetros

utilizados para a versão nal do circuito foram os especicados no Capítulo 4 como

os parâmetros ótimos para o funcionamento.

63

Figura A.1: Diagrama completo do circuito nal.

64

Apêndice B

Código da Análise Fourier para

Frequência de Emissão de Vórtices

O código para análise das frequências de emissão de vórtices fv encontra-se a se-

guir, junto com um gráco de exemplo para um caso. O algoritmo está escrito na

linguagem doWolfram Mathematica, e foi executado na versão 11.1.1.0 do programa.

O código consiste de um gerador de strings para acessar os nomes dos arquivos

na pasta, e um algoritmo para calcular a distribuição Fourier de sinais. No exemplo

abaixo, calculamos para o índice do teste número #26 (F0008CH1.CSV).

SetDirectory[NotebookDirectory[]];

filenames = Join[

Table["F" <> IntegerString[i, 10, 4] <> "CH1.CSV", i, 54, 70],

Table["F" <> IntegerString[i, 10, 4] <> "CH1.CSV", i, 00, 24]

];

Do[

file = filenames[[i]];

dados =

Transpose[Transpose[Import[file, "CSV"]][[4 ;; 5, 11 ;; -391]]];

dados[[All, 2]] = dados[[All, 2]] - Mean[dados[[All, 2]]];

grafico =

ListPlot[dados, Joined -> True, PlotRange -> All,

FrameLabel -> "t", "V", Frame -> True, PlotLabel -> file];

grafico // Print;

tdata = dados[[All, 2]];

deltat = dados[[2, 1]] - dados[[1, 1]];

nn = Length@tdata;

sr = 1 / deltat;

65

fftt = Fourier[tdata, FourierParameters -> 1, -1];

ffff = Table[(n - 1) sr/nn, n, (-nn + 4)/2, (nn + 2)/2];

fftt1 = RotateRight[fftt, (nn - 2)/2];

graficofft =

ListLinePlot[Transpose[ffff, Abs[fftt1]^2],

PlotRange -> 0, Min[sr/2, 1000], 0, 50, Frame -> True,

FrameLabel -> "Frequency/Hz", "Absolute Value",

PlotLabel ->

file <> " sr=" <> ToString[sr] <> "s^(-1)", ImageSize -> Full];

graficofft // Print;,

i, 26, 26

];

A seguir, estão os grácos de output da medição, no domínio do tempo e da

frequência, Figura B.1 e Figura B.2 respectivamente. As frequências são obtidas

através da função Get Coordinates... do Wolfram Mathematica.

Figura B.1: Gráco de saída de medição do teste #26 no domínio do tempo.

O gráco da Figura B.1 apresenta um comportamento ondulatório variante no

tempo, com oscilações de voltagem em torno de um zero mediano. Para o gráco

da Figura B.2 no domínio da frequência, podemos ver sinais esperados em torno de

7.5 Hz, 4.0 Hz e 13.0 Hz, que são respectivamente 100%, 50% e 200% da frequência

66

Figura B.2: Gráco de saída de medição do teste #26 no domínio da frequência,com destaque para frequências características esperadas.

esperada. As frequências de grande intensidade são decorrentes de ruídos e estão

presentes em todas as medições, portanto são ignoradas.

67

Apêndice C

Código da Análise de Intensidade

Turbulenta

A seguir encontra-se o código para análise de intensidade turbulenta. Os valores de

voltagem foram convertidos para velocidade através da fórmula de King inversa da

Equação 5.3. Para o exemplo abaixo, consideramos o caso em que Umed = 10.79 m/s.

Os valores após o código são a quantidade de pontos, 2100, a velocidade média Umed,

10.79 m/s, a utuação de velocidade RMS u′RMS, 0.26 m/s, e a intensidade turbulenta

média IT , em porcentagem, 2.42655%. O gráco do perl de velocidade ao longo

da tomada do tempo encontra-se na Figura C.1

SetDirectory[NotebookDirectory[]];

filenames = Join[

Table["F" <> IntegerString[i, 10, 4] <> "CH1.CSV", i, 01, 12],

"med26vort.CSV", "med29vort.CSV", "med30vort.CSV",

"med33vort.CSV", "med35vort.CSV", "med36vort.CSV", "med38vort.CSV"

];

Do[

file = filenames[[i]];

dados =

Transpose[Transpose[Import[file, "CSV"]][[4 ;; 5, 11 ;; -391]]];

dados[[All, 2]] =

0.004656632777963196` (-75.5682` +

dados[[All,

2]]^2)^1.81476017036968479748850246432816711449`15.\

954589770191005;

grafico =

ListPlot[dados, Joined -> True, PlotRange -> All,

68

Figura C.1: Perl de velocidade para o caso de Umed = 10.79 m/s.

FrameLabel -> "t", "V", Frame -> True, PlotLabel -> file];

grafico // Print;

ui = dados[[All, 2]];

nn = Length@ui; Print@nn;

umed = (1/nn) Sum[ui[[k]], k, 1, Length[ui]]; Print@umed;

urms = Sqrt[(1/(nn - 1)) Sum[(umed - ui[[k]])^2, k, 1,

Length[ui]]]; Print@urms;

it = urms/umed; Print@it

, i, 10, 10];

>> 2100

>> 10.7981

>> 0.262021

>> 0.0242655

69