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UNIVERSID UNIDADE PROJETO CULT JARDIM DO SERID DADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO N E ACADEMICA ESPECIALIZADA EM MÚ ESCOLA DE MÚSICA JANILSON BATISTA DA SILVA TURA SERTANEJA NAS CIDADES DÓ E CAICÓ: UMA EXPERIÊNCIA DO 8º ANO DO COLÉGIO CEI NATAL/RN 2012 NORTE ÚSICA S DE ACARÍ, A COM ALUNOS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTEUNIDADE ACADEMICA ESPECIALIZADA EM MÚSICA

PROJETO CULTURA SERTANEJA NAS CIDADES DE ACARÍ, JARDIM DO SERIDÓ E CAICÓ: UMA EXPERIÊNCIA COM ALUNO S

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTEUNIDADE ACADEMICA ESPECIALIZADA EM MÚSICA

ESCOLA DE MÚSICA

JANILSON BATISTA DA SILVA

PROJETO CULTURA SERTANEJA NAS CIDADES DE ACARÍ, JARDIM DO SERIDÓ E CAICÓ: UMA EXPERIÊNCIA COM ALUNO S

DO 8º ANO DO COLÉGIO CEI

NATAL/RN 2012

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE UNIDADE ACADEMICA ESPECIALIZADA EM MÚSICA

PROJETO CULTURA SERTANEJA NAS CIDADES DE ACARÍ, JARDIM DO SERIDÓ E CAICÓ: UMA EXPERIÊNCIA COM ALUNO S

JANILSON BATISTA DA SILVA

PROJETO CULTURA SERTANEJA NAS CIDADES DE ACARÍ, JARDIM DO SERIDÓ E CAICÓ: UMA EXPERIÊNCIA COM ALUNO S

DO 8º ANO DO COLÉGIO CEI

Monografia apresentada ao Curso de Música Licenciatura da Universidade Federal do rio Grande do Norte/UFRN – como requisito para obtenção do título de licenciado em música.

ORIENTADORA: Profa. Ms. Catarina Shin Lima de Souza

NATAL/RN 2012

RESUMO

Esta monografia descreve considerações, reflexões e relatos de experiências musicais com alunos do 8º ano do Ensino Fundamental II do Colégio CEI - CENTRO DE EDUCAÇÃO INTEGRADA, na cidade de Natal – RN a partir do Projeto Cultura Sertaneja, desenvolvido por este colégio anualmente, buscando compreender como se dá o processo de ensino-aprendizagem em música na perspectiva da interdisciplinaridade e da pedagogia de projeto. Palavras-Chave : Educação Musical; Música Sertaneja; Pedagogia de Projeto; Interdisciplinaridade.

ABSTRACT

This monograph describes considerations, reflections and stories of musical experiences with students in 8th grade of elementary school II of College CEI–Centro de EducaçãoIntegrada (Center for Integrated Education) in the city of Natal - RN from the Sertaneja Culture Project developed by this school year, trying to understand how is the process of teaching and learning music in an interdisciplinary perspective and pedagogy project. Keywords : Music Education; Music – Sertaneja; Project Pedagogy; Interdisciplinarity.

JANILSON BATISTA DA SILVA

PROJETO CULTURA SERTANEJA NAS CIDADES DE ACARÍ, JARDIM DO SERIDÓ E CAICÓ: UMA EXPERIÊNCIA COM ALUNO S

DO 8º ANO DO COLÉGIO CEI

Monografia apresentada ao Curso de Música Licenciatura da Universidade Federal do rio Grande do Norte/UFRN como requisito para obtenção do título de licenciado em música.

Aprovado em: ____/____/_____

BANCA EXAMINADORA

____________________________________ Profª. Ms. Catarina Shin Lima de Souza

Orientadora Universidade Federal do Rio Grande do Norte

__________________________________ Prof.Ms. TicianoMarciel D’Amore

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_________________________________ Prof. João Paulo de Araújo

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

LISTA DE FIGURAS

Figuras 1 e 2: Ensaio da Filarmônica Felinto Lúcio Dantas Acari/RN ...................... 30

Figuras 3 e 4: Participação dos alunos do CEI regendo a FilamônicaFelinto

Dantas .................................................................................................. 32

Figuras5 e 6: Ensaio da Ensaio da Imandade dos Negros do Rosário –

Jadim do Seridó/RN ............................................................................. 33

Figuras7 e 8: Dança do Espontão pela Imandade dos Negros do Rosário ............... 33

Figuras 9 e 10: Rádio Rural de Caicó/RN ................................................................ 34

Figuras 11 e 12: Cantadores de Viola da Rádio Rural de Caicó/RN ........................ 34

Figura 13: Desafiando os alunos .............................................................................. 35

Figuras 14 e 15: Cantadores de Viola da Rádio Rural de Caicó/RN ......................... 35

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 7

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DE PESQUISA ......... .......................... 9

2.1TIPO DE PESQUISA ............................................................................................. 9

2.2PÚBLICO ALVO DA PESQUISA ......................................................................... 10

2.3COLETA DE DADOS .......................................................................................... 10

2.3.1 Relatos de Experiência ..................... ............................................................ 10

2.3.2 Fotografia dos Alunos ....................... ............................................................ 10

2.3.3 Filmagem dos Alunos ........................ ........................................................... 11

2.3.4 Análise de Conteúdos ....................... ............................................................ 11

3 EDUCAÇÃO MUSICAL, INTERDISCIPLINARIDADE EA PEDADOG IA

POR PROJETOS ................................................................................................ 12

3.1PEDAGOGIA POR PROJETOS .......................................................................... 13

3.2A PEDAGOGIA POR PROJETOS E A INTERDISCIPLINARIDADE ................... 14

4 O COLÉGIO CEI ................................................................................................ 16

4.1TRABALHO PEDAGÓGICO DO CEI .................................................................. 16

4.2O ENSINO DE ARTE NO CEI ............................................................................. 18

4.3O ENSINO DE MÚSICA NO 8º ANO ................................................................... 18

4.4ATIVIDADES OPCIONAIS COM MÚSICA .......................................................... 20

4.5TRABALHANDO COM PROJETOS .................................................................... 21

5 PROJETO CULTURA SERTANEJA ....................... .......................................... 23

5.1INTRODUÇÃO AO PROJETO ............................................................................ 23

5.2AMPLIANDO OS CONHECIMENTOS SOBRE MÚSICA .................................... 24

5.3ABORDANDO O TEMA “MÚSICA” ...................................................................... 25

5.4 SEGUNDA FASE DO PROJETO: A VIAGEM .................................................... 29

5.5TERCEIRA FASE DO PROJETO: CONCLUSÃO E AVALIAÇÃO ...................... 36

5.5.1 Impressões dos Alunos ...................... .......................................................... 37

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................. ........................................................ 38

REFRÊNCIAS ........................................................................................................... 39

7

1 INTRODUÇÃO

No ensino de música para alunos do 8º ano do Ensino Fundamental, um dos

maiores desafios para o educador musical, é o de lidar com uma clientela já bem

decidida quanto aos seus gostos musicais, pois nela, a mídia tem reservado um

pacote de atrações em que alguns tipos de música-consumo são despejados

diariamente pelos meios de comunicação televisiva, rádio e virtual.

As aulas seguem dentro de uma linha de democratização de saberes

musicais, inicialmente partindo do que os alunos trazem, e que os mesmos dialogam

com outros saberes de origens em diversas culturas. Segundo Geraldi (2004) os

saberes prévios dos alunos são a sua herança cultural, ou seja, um conjunto de

conhecimentos e de saberes. Os dois, conteúdos e saberes prévios em música dos

alunos se formam pelas práticas sociais, e contribuem para orientar os

pensamentos, intervir e influenciar as nossas atitudes no cotidiano de nossas vidas.

O saber é fruto dessas práticas sociais e o conhecimento são os resultados da

organização sistemática, racional dessas práticas na atividade cientifica.

Buscando ampliar os conhecimentos sobre “música tradicional”, a escola CEI

– Centro de Educação Integrada – criao Projeto Cultura Sertaneja, um projeto

interdisciplinar que envolve além de arte outras disciplinas: Geografia, História,

Língua Portuguesa e Formação Ético-Social.

Neste sentido, Barbosa (2008) afirma que a interdisciplinaridade surge como

uma exigência contemporânea de resgatar a compreensão do fenômeno humano

pelo inter-relacionamento dos conhecimentos. E na educação musical, Fonterrada

(2008) considera que poderia ser o espaço de inserção da arte na vida do ser

humano, proporcionando-lhe alcançar outros aspectos em si mesmo, ampliando e

aprofundando os seus modos de relação interpessoal, com o outro e com o mundo,

e que este deveria ser a função e a própria proposta no ensino de arte.

O Projeto tem como ponto culminante a viagem de estudos a alguns

municípios da região do Seridó norteriograndense, que acontece geralmente no

segundo trimestre de cada ano. Na viagem os alunos são incentivados a

contextualizarem e constatarem as informações estudadas e discutidas em sala de

aula sobre os aspectos geográficos, políticos, históricos, arquitetônicos e culturais

dessa importante região do estado do Rio Grande do Norte.

8

Dessa forma, essa pesquisa abordou os aspectos culturais e artísticos

representados pela Filarmônica Felinto Dantas/Acari, a música de instrumentos

melódicos e de percussão da Irmandade de N. S. do Rosário/Jardim do Seridó e a

Cantoria de Viola do programa de “Violeiros do Seridó” da Rádio Rural – Caicó.

Essa monografia traz algumas reflexões de um professor de música sobre a

importância e significado cultural que se fazem necessários à educação musical de

alunos do 8º ano, sobre origens e tradições de um povo.

O presente trabalho obedecerá a seguinte ordem: introdução tratando da

problemática e dos objetivos da pesquisa; procedimentos metodológicos de

pesquisa usados à consecução dos dados (capítulo 1); educação musical e a

proposta pedagógica por projetos (capítulo 2); o CEI – Centro de Educação

Integrada (capítulo 3); o projeto cultura sertaneja (capítulo 4); considerações finais.

Portanto, as informações contidas neste trabalho pretende mostrar o trabalho

de educação musical a partir de práticas pedagógicas vivenciadas em sala de aula e

estudos em viagens de campo, de uma escola regular da rede particular de ensino

na cidade de Natal/RN, e que as mesmas sejam uma base e fonte para futuras

pesquisas a respeito dos temas abordados nesta pesquisa.

9

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DE PESQUISA

A pesquisa foi desenvolvida com a participação de professores das disciplinas

de geografia e história, orientadores, coordenadores pedagógicos e os alunos do 8º

ano do CEI – Centro de Educação Integrada em Natal/RN. O objetivo geral da

pesquisa foi de oportunizar experiências artístico-culturais com alunos do 8º ano

através de vivências e interações com manifestações tradicionais dos municípios de

Acari, Jardim do Seridó e Caicó, todos localizados na região do Seridó do Rio

Grande do Norte, através do Projeto interdisciplinar “Cultura Sertaneja”, promovido

pelo CEI. Assim, de acordo com as práticas pedagógicas mencionadas,

destacamos os seguintes objetivos específicos:

• Contextualizar o ensino de música com práticas educacionais em acordo

com a proposta do colégio CEI;

• Verificar o desenvolvimento de alunos nas fases que compreendem o

Projeto Cultura Sertaneja (aulas expositivas e viagem de estudos);

• Remeter considerações e reflexões sobre os resultados pedagógicos e

metodológicos obtidos junto ao ensino de música, através do Projeto

Cultura Sertaneja.

2.1 TIPO DE PESQUISA

A pesquisa realizada é classificada como qualitativa, ou seja, a mesma estuda

o ambiente natural de ensino de música como principal fonte direta de dados, seu

caráter descritivo e a relevante preocupação por parte do investigador quanto ao

juízo de valor dado pelas pessoas às coisas e à sua vida, e o pesquisador como

instrumento fundamental (GODOY, 1995a, p. 62).

10

2.2 PÚBLICO ALVO DA PESQUISA

A pesquisa envolveu alunos do 8º ano do Ensino Fundamental, professores e

coordenadores do CEI e músicos integrantes da Filarmônica Felinto Lúcio Dantas do

município de Acari, a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário que tem sua sede

em Jardim do Seridó e os cantadores de viola do programa de rádio “Violeiros do

Seridó” da rádio Rural em Caicó.

2.3 COLETA DE DADOS

Para a realização da pesquisa foram utilizados dados a partir de registros dos

próprios alunos apresentados durante as aulas tais como relatos de experiência,

fotografias e filmagens:

2.3.1 Relatos de Experiência

Foram exigidos dos alunos, como forma de atividade avaliativa, textos-

resumos da experiência vivenciada durante a viagem de estudos, e sua

apresentação em sala de aula através de slides, contendo textos, fotos e vídeos das

visitas às manifestações culturais visitadas.

2.3.2 Fotografia dos Alunos

Cada aluno ficou responsável pelo registro fotográfico de momentos de

apreciação nas apresentações e palestras feitas pelos grupos artísticos visitados.

Este material foi devidamente organizado cronologicamente para ser juntado ao

material textual produzido pelo aluno, com o fim de apresentar em sala de aula.

11

2.3.3 Filmagem dos Alunos

Este recurso usado pelo aluno serviu para visualizar de forma mais concreta

as características de cada manifestação cultural servindo de contextualização com

os conteúdos trabalhados em sala de aula. ´

2.3.4 Análise de Conteúdos

A partir do material apresentado pelos alunos, utilizou-se a ferramenta de

análise de conteúdo.

Segundo Araújo (1998, 175), na primeira leitura trata-se do olhar investigativo

do pesquisador em relação aos dados coletados. Dessa forma, a leitura neutra é

totalmente descartável, já que a mesma é de caráter interpretativo. Entretanto, sabe-

se que esta análise de conteúdos consiste de uma metodologia de pesquisa em

descrição sistemática de textos, interpretações de documentos de diversas classes

(Moraes, 1999).

A primeira fase da pesquisa foi realizada através de atividades avaliativas em

relação aos conteúdos programáticos trabalhados em sala de aula, que antecede

aos conteúdos vivenciados em campo, in loco. Estas avaliações são diagnósticas

que por si revelam o grau de entendimento dos temas em música trabalhados em

sala de aula e aproximação do aluno quanto ao grau de interesse, a fim de

podermos trabalhar com prevenção e atenção às respostas cognitivas do material

artístico vivenciado pelos alunos.

A segunda fase da pesquisa também se deu em sala de aula quando cada

manifestação cultural que compõe o roteiro da viagem foi discutida, pois, a partir das

primeiras impressões e reações dos alunos é que seriam definidos os próximos

procedimentos didático-pedagógicos de cada ação, a fim de que realmente se

alcançasse os objetivos propostos em planejamentos anteriores. Essa fase da

análise de conteúdo ainda possui caráter diagnóstico e que se somaria aos

resultados posteriormente alcançados.

A terceira e última fase se caracterizou pela apuração final de todos os dados

e sua confrontação teórica com as interpretações e alusões feitas pela parte de

referência bibliográfica aos temas propostos.

12

3 EDUCAÇÃO MUSICAL, INTERDISICPLINARIDADE E A PEDAG OGIA POR

PROJETOS

Segundo Fonterrada (2008), a referência de valorização a música e a

educação musical inicia-se com a Grécia. Para os gregos, a música influenciava no

humor e no espírito de seus cidadãos. A função da música era atribuída à adoração

aos deuses e tornava alguns gregos cretenses mais flexíveis quanto ao

cumprimento às leis.

A importância da música era evidente em duas áreas especificas, na filosofia

e na área intelectual. Para Platão, a música estabelecia estreitas analogias entre os

movimentos da alma e as progressões musicais. Na parte intelectual o papel da

música é pedagógico, por ser ela a responsável pela ética e a estética, que cuida da

construção moral e do caráter da nação (FONTERRADA, 2008).

Neste capítulo não iremos historiar a trajetória da educação musical no passar

dos tempos, mas as grandes transformações sociais e históricas que a mesma tem

proporcionado.

Temas como educação musical, ensino de música, arte de ensinar música,

música na escola, tem sido o palco para discussões e reflexões para os educadores

musicais. Pesquisadores continuam em busca de respostas à competência social da

educação musical, a importância da música dentro do processo de cognição das

crianças, a educação musical que traz rendimentos escolares e aumenta a

capacidade de concentração dos alunos, ou seja, a importância da música para

desenvolvimento cognitivo, psicomotor, emocional e social, são objetos de estudos

de psicólogos, antropólogos, sociólogos, filósofos, educadores e músicos (BASTIAN,

2009).

No inicio do século XX surgem novas abordagens e propostas em educação

musical, chamadas também de “métodos ativos” em educação musical.

No Brasil mais precisamente nas décadas de 1950 e 1960 algumas dessas

abordagens são introduzidas nos grandes centros e escolas de música.

Segundo Fonterrada (2008), a educação musical no Brasil poderia ser

dividida em dois momentos na historia do ensino musical: a primeira fase se constitui

de cinco grandes educadores. O primeiro seria Dalcroze, o segundo Edgar Willems,

o terceiro Kodaly, o quarto Carl Orff e o quinto Shinichi Suzuki. Na segunda fase

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outros nomes de educadores musicais se destacam: o primeiro é George Self, o

segundo é John Paynter, o terceiro é Boris Porena e por último Murray Schafer.

Estes educadores são considerados importantes e que correspondem às

expectativas em educação musical nesse presente século e, através de suas

abordagens e propostas, influenciam o ensino de música nas escolas especializadas

de música e nas escolas de ensino regular.

No Brasil, a Abem (Associação Brasileira de Educação Musical), fundada em

1990, é a grande responsável pela pesquisa em educação musical, promovendo

encontros anuais e publicações de anais, revistas e livros.

O trabalho que é realizado no CEI em relação à música muito se aproxima à

abordagem de educação musical proposta por Murray Schafer, seja em sala de aula

ou em estudos de campo, devido à sua proposta interdisciplinar de ensaio musical.

Sua abordagem em música atua em três focos distintos: o primeiro em descobrir o

potencial criativo de seus alunos, o segundo está em perceber os sons do ambiente

(paisagem sonora do mundo) e por último trabalhar de forma harmoniosa com outras

linguagens de arte. Aproveitamos essa última idéia e seguimos fazendo parcerias

com outras disciplinas da grade curricular, em especial as que participam da viagem

de estudos.

3.1 PEDAGOGIA POR PROJETOS

Segundo Campos (2003), o termo projeto é mencionado pela primeira vez em

Massachusetts (USA) a partir de 1908. A primeira vez em que o nome projeto é

citado didaticamente foi em 1900 e 1901 através de artigos escritos por C. R.

Richard. Em 1908, o Conselho Estadual de Saúde de Massachusets usa a palavra

projeto para caracterizar as atividades práticas de regar uma planta, criar um animal

doméstico, colher frutas, realizados fora do ambiente escolar.

Segundo Amaral (2008), a abordagem pedagógica de projetos é divulgada no

Brasil no período do movimento chamado de “Escola Nova”, encabeçado por Anísio

Teixeira e Lourenço Filho.

14

A aplicação da metodologia de projetos é uma ferramenta importante de apoio

didático no processo de ensino-aprendizagem de todas as disciplinas de uma grade

curricular, principalmente no que diz respeito ao seu aspecto interdisciplinar.

Para conceituar o trabalho didático com projetos poderíamos iniciar com uma

simples pergunta: “O que são projetos?” Projetos são estratégias de trabalho com o

fim de garantir uma aprendizagem significativa na hora de sua execução e/ou em

situações diversas. Algumas de suas principais características são: processos de

aprendizagens promovidos por uma situação problema, o que leva ao pensamento

analítico, interpretativo e o critico; interação momentânea entre o aprendiz e o objeto

de conhecimento, em um contexto de sentido e significado; sentido de cooperação

mútua entre os professores e alunos na tarefa de pesquisadores.

3.2 A PEDAGOGIA POR PROJETOS E A INTERDISCIPLINARIDADE

Como bem coloca Oliveira (s.d.), na pedagogia por projetos pode não haver

conteúdos prontos e limitados, pois na maioria das ocasiões o limite dos conteúdos

será até onde os alunos conseguem ir e enquanto eles se sentirem motivados a

trabalhá-los.

A proposta do trabalho por projetos não se define apenas pelas diversas disciplinas que participam da proposta, mas pelas ligações, relações e os novos caminhos incorporados a ela, pois a interdisciplinaridade não é somente sentar junto, é preciso que haja também um produto comum para expressar algo além das fronteiras disciplinares de forma a se completar, construindo um conhecimento amplo a ser estudado no projeto atual.

Assim, para que os projetos obtenha o sucesso almejado, é necessário que

exista uma relação entre os interesses e à vida dos alunos, que o professor seja a

mola mestra na mediação dos processos que envolvem a aprendizagem e a

aplicação de várias metodologias e estratégias pedagógicas na busca de resoluções

de problemas.

De acordo com Leite (1996, p. 33), a Pedagogia de Projetos “permite aos

alunos analisar os problemas, as situações e os acontecimentos dentro de um

contexto e em sua globalidade, utilizando, para isso, os conhecimentos presentes

nas disciplinas e sua experiência sociocultural.”

15

Alguns aspectos negativos também fazem parte do fazer educativo pela

pedagogia por projetos, e que necessitam ser observados em caráter preventivo

para não comprometer os resultados com esta prática didática: primeiro, o aspecto

espaço curto de tempo; a prática didática pode se tornar vazia de interesse

pedagógico; atividades vazias de relação com os interesses dos alunos; falta de

meios; falta de empenho dos envolvidos (CAMPOS, 2003).

A problematização, o desenvolvimento e a síntese são as três grandes fases

que englobam todos os processos de aprendizagem na pedagogia de projetos. A

primeira se caracteriza por ser o inicio do projeto, a segunda cuida da sequencia

natural da problematização e a ultima finaliza o projeto com as considerações finais

do projeto.

Assim, o trabalho didático por projetos só será bem sucedido se for

importante e cheios de sentidos e significados às partes envolvidas no mesmo.

Segundo Japiassú (1995), a interdisciplinaridade ocorre quando há a

intercomunicação entre as disciplinas, e que a mesma resulte numa modificação

entre elas, o que constituirá um método interdisciplinar.

Através da observação atenta da prática individual e grupal de seus alunos na

resolução de problemas e ao considerar esse saber fazer do aluno em seu

planejamento, o professor tem uma importante ferramenta na formação de sujeitos

autônomos, capazes de agir, pensar e produzir novos saberes.

De acordo com Bomtempo (1997), a pedagogia de projetos pode ser aplicada

a todas as disciplinas do programa escolar e as vantagens superam em muito as

desvantagens anteriormente apontadas. Diante do exposto, podemos dizer que a

música é um terreno fértil para o trabalho com a pedagogia de projetos.

16

4 O COLÉGIO CEI

O colégio CEI foi fundado em 1972 com o nome original de IIAA – Instituto

Infantil de Alfabetização e Artes, com turmas iniciais na pré-escola. Em 1982 foi

implantado o primeiro grau, e em 1988 com a construção do novo prédio é fundado

o CEI – Centro de Educação Integrada dando continuidade às séries iniciais da

Educação Infantil ao Ensino Médio. No ano de 1995 o IIAA ganha um novo espaço e

uma nova razão social se tornando filial do CEI, e no mesmo ano são fundados o

CEI unidade 2 e unidade 3.

No ano de 2009, a empresa sofre uma cisão, e o CEI passa a funcionar

exclusivamente na Av. Romualdo Galvão, Nascimento de Castro e Prudente de

Morais, com quatro prédios e um espaço esportivo, dirigida pela única sócia a

professora Maria Lúcia Andrade de Azevedo.

4.1 TRABALHO PEDAGÓGICO DO CEI

O trabalho pedagógico do Centro de Educação Integrada (CEI) é apoiado

numa base que articula o ensino à dimensão cultural, desde a sua fundação. Nesta

ação pedagógica do CEI foi criado o lema “Educando para o pensar”, que é o

princípio que norteia todos os fazeres com relação ao ensino-aprendizagem desde a

Educação Infantil ao Ensino Médio. Outros princípios que fundamentam o trabalho

do CEI são “ofazer democrático e a construção do conhecimento”.

O pensar envolve duas ações de reflexão, a questionadora e a construtiva.

Neste processo, o CEI pauta-se em formulações preconizadas por teóricos como

Piaget, Vygotsky e Morin (2009), proporcionando o encaminhamento para o

desenvolvimento mais complexo do pensamento investigativo e a reelaboração de

conteúdos sistematizados e contextualizados, que conduzem à apropriação do

conhecimento científico. Busca-se com esses princípios uma maior autonomia

intelectual de seus alunos, fazendo com que o pensarseja articulado através de uma

dinâmica de contextualização e interdisciplinaridade. Assim, objetiva-se que os

alunos desenvolvam suas habilidades de reflexão dentro de um processo de

17

construção e desconstrução do conhecimento, passando a criar seus próprios

conceitos.

Os conteúdosde cada disciplina se inter-relacionam com as demais áreas do

conhecimento, o que reforça ainda mais a forma de pensamento do CEI, tornando

imprescindível o diálogo constante entre os diferentes saberes. Este diálogo busca

encontrar as partes no todo e da mesma forma o todo nas partes, ou seja, a análise

e síntese, que favorece ao aluno que ele desenvolva habilidades de agir

problematizando a realidade, levando-o a um conflito cognitivo (Piaget, 1972).1

Através desses diálogos interdisciplinares, o aluno se põe numa constante

condição de equilibração, ou seja, uma nova estrutura cognitiva que encontra

equilíbrio nos conflitos de um estágio anteriormente já experimentado.

Este procedimento pedagógico auxilia a construção de conceitos,

procedimentos e atitudes em qualquer disciplina. Segundo Garret (1988), este

procedimento só terá êxito se for garantido ao aluno o exercício constante da

criatividade, ferramenta importante e fundamental para a resolução de problemas.

Refletindo sobre esta filosofia, vemos que a missão do CEI é com a formação

integral do aluno, compromisso este que esteve presente desde sua fundação como

Instituto Infantil de Alfabetização e Artes em 1982, e mantida após a mudança para

Centro de Educação Integrada a partir de 1986.

Sua postura político-pedagógica considera o ser humano como um todo,

percebendo e desenvolvendo no plano escolar as várias potencialidades cognitivas,

motoras, sociais, culturais, afetivas, éticas, estéticas, políticas entre outras que se

juntam e atuam na formação total do ser humano.

1 O conflito cognitivo origina-se na teoria piagetiana de equilibração, onde o sujeito constrói seus esquemas de conhecimento, ou seja, nesse processo, se dá inicialmente a assimilação do fenômeno que é analisado à luz dos saberes prévios. Havendo dificuldades na assimilação, surge então a situação de desequilíbrio nas estruturas lógico-conceituais do sujeito, e que para que seja lhe devolvido o equilíbrio, o mesmo deve submeter-se a uma nova assimilação, que provocarão várias construções compensatórias de assimilação-acomodação das estruturas anteriores de pensamento. A inquietação fruto do desequilíbrio nas estruturas cognitivas é na verdade um estado de conflito no sujeito, interpretado por Piaget como sendo desequilíbrio.

18

4.2 O ENSINO DE ARTE NO CEI

O CEI reconhece a cultura como a multiplicidade dos modos de viver da

humanidade, e privilegia o diálogo constante entre os saberes formais e informais,

eruditos e populares. O aluno é conduzido ao contato cada vez mais próximo com as

manifestações culturais de diferentes civilizações, regiões e todos os espaços

sociais.

O ensino de Arte no CEI proporciona ao alunado o envolvimento com

diferentes linguagens artísticas (teatro, dança, música e artes visuais), e sempre

mesclando a teoria e prática. Segundo Barbosa (2008), os conteúdos, dentro de um

amplo repertório de possibilidades e estratégias, se afinam com os procedimentos

da abordagem triangular de ensino da arte, que reúne e inter-relaciona o estudo da

história da Arte à leitura crítica e estética das obras de arte e à produção artística.

A Abordagem Triangular do Ensino de Arte apresentada por Ana Mae

Barbosa foi desenvolvida e testada no Museu de Arte Contemporânea da USP,

quando a mesma dirigiu de 1987 a 1993. A proposta reconhece que a construção do

conhecimento de arte acontece a partir do cruzamento entre a experimentação,

codificação e informação, ou melhor, apreciação, contextualização e o fazer criativo

de arte. Esta abordagem contém tendências pedagógicas como a construtivista,

interacionalista, dialogal, multiculturalista e é pós-moderna, pois a mesma articula a

arte como expressão e como cultura na sala de aula (BARBOSA, 2008).

4.3 O ENSINO DE MÚSICA NO 8º ANO

No ensino e aprendizagem em música nos oitavos anos do Ensino

Fundamental II, a apreciação musical através de concertos didáticos tem se tornado

uma de suas principais estratégias com vistas a alcançar os objetivos da disciplina.

Estes concertos são projetos musicais que refletem um pressuposto pedagógico que

está dentro da proposta de ensino e aprendizagem de arte do colégio CEI, e que se

fundamenta na Abordagem Triangular de Ensino de Arte que foi orientada e

difundida por Ana Mae Barbosa (1986). Barbosa e Rizzi (1999, p. 337) defendem

19

que a construção do conhecimento em arte acontece quando do cruzamento entre a

experimentação, codificação e informação.

Essa ação pedagógica visa apreciações de vozes de cantores de música

popular, erudita, de grupos vocais formados por corais mistos, infantis e de vozes

iguais, e em outro momento, bandas de música pop, forró, e também da música

instrumental representada por bandas de música e orquestras sinfônicas, para que

os alunos percebam e façam distinções e classificações dos instrumentos em cada

composição instrumental, tanto os de orquestras como os de instrumentos de

bandas de música.

Cada concerto didático nasce em sala de aula, ou seja, os alunos são

desafiados a refletirem sobre os gêneros musicais como a música sacra, a música

popular, a música regional, a música instrumental e seus principais compositores

que fazem parte da história da música, sejam eles nacionais ou internacionais, e do

antigo ao contemporâneo.

Um exemplo dessa prática de ensino acontece no período que antecede a

semana santa, um evento religioso cristão de alcance mundial.

Na oportunidade, os alunos refletem e discutem sobre a importância histórica

da música sacra e seu caráter funcional, presentes em datas especiais como estas,

e que faz parte do cotidiano religioso das pessoas. O principal evento cultural do

gênero já promovido no CEI foi o Recital de Música Sacra, que acontece na Semana

Santa. Já foram realizadas ao todo quatro edições, e nesse período contou com a

participação de diversos grupos importantes, que trabalham especificamente com a

música sacra e a música erudita em Natal.

A cada ano o evento tomou mais significado e afirmou de forma mais

contundente a importância desse recurso didático-pedagógico, ou seja, a educação

musical através da apreciação de diversos gêneros de música vocal e instrumental.

Ao todo quatro recitais de música erudita, onde os alunos e o publico em geral

apreciaram representativos compositores como Vivaldi, Bach e Pergolesi.

Nas mostras de música popular, foi oportunizado aos alunos a apreciação da

cantora Potiguar Glorinha Oliveira, através de uma conversa interativa com os

alunos e interpretações de canções que marcaram a sua trajetória artística, e

ressalvas a inúmeras atuações como atriz de radionovela.

Segundo Barbosa (2008), estas intervenções pedagógicas servem para

demonstrar o aspecto construtivista, interacionista, dialogal, multiculturalista e pós-

20

moderna da Abordagem Triangular de Ensino de Arte, articulando expressões e

cultura a partir da vivencia em sala de aula. A apreciação é o começo de

praticamente toda a educação musical, é aprendendo a ouvir e a escutar que o

aluno tem experiência e vivência os processos do fazer musical ativo em música

(composição, interpretação e improvisação), o que torna o acesso mais pratico e

rápido para o seu desenvolvimento musical.

O aprendizado musical não se dá à formação do aluno como um músico, mas

que o mesmo possa encontrar condições pedagógicas e didáticas favoráveis à

construção de conhecimentos sobre música em geral.

4.4 ATIVIDADES OPCIONAIS COM MÚSICA

Desde a sua fundação, o CEI oferece aos alunos do 2º. ao 4º. anos atividades

musicais de coral infantil e para alunos do 5º ao 9º anos, coral infanto-juvenil e

prática de música em conjunto através da Banda CEI (guitarra, baixo elétrico,

teclado, bateria e voz). Com isso, o CEI busca complementar o desenvolvimento do

aluno nas mais diversas áreas do conhecimento. Percebemos que esta ação visa

desenvolver e aprimorar o aluno nas diversas áreas parceiras do conhecimento,

representado nas disciplinas obrigatórias do currículo regular da escola. Estas

atividades musicais estão em consonância com disposto nos Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCNs) em relação aos temas transversais. Segundo os

PCNs (BRASIL, 1997, p. 64), os temas transversais

Não constituem novas áreas, mas antes um conjunto de temas que aparecem transversalizados nas áreas definidas, isto é, permeando a concepção, os objetivos, os conteúdos e as orientações didáticas de cada área, no decorrer de toda a escolaridade obrigatória. A transversalidade pressupõe um tratamento integrado das áreas e um compromisso das relações interpessoais e sociais escolares com as questões que estão envolvidas nos temas, afim de que haja uma coerência entre os valores experimentados na vivência que a escola propicia aos alunos e o contato intelectual com tais valores.

O canto coral infantil é considerado como uma das várias propostas de

educação musical da escola. Segundo Rao (apud FONTERRADA, 2008, p. 201), as

crianças têm potencialidades para executar música com excelência, graças a sua

21

voz e seus sentimentos que, de tão profundos, torna possível o desafio do fazer

artístico proposto pelo condutor. Essa abordagem é um princípio defendido por

ZoltanKodály e Suzuki, que busca atingir objetivos educacionais que atrai e satisfaz

alunos e pais, e a partir daí desenvolver as crianças artisticamente, cabendo ao

professor transcender o educativo a fim de se chegar à excelência artística.

O trabalho no canto coral infantil e infanto-juvenil é desenvolvido por uma

equipe formada por um regente/professor de canto e uma professora pianista na

função de co-repetidora. O condutor e professor de canto é o responsável pela

aplicação da técnica vocal voltada exclusivamente para o repertório a ser

trabalhado, o que facilita o aprendizado das peças de música, e em especial dos

trechos mais difíceis contidos na mesma, dando mais autonomia à parte vocal da

criança, e consequentemente mais apoio ao alcance dos fins expressivos

específicos de cada peça de música.

Os grupos corais e a banda CEI se apresentam nos eventos institucionais

(carnaval, semana literária, semana da páscoa, dia das mães e dos pais e outros

eventos), que são promovidos pelas vivências pedagógicas em sala de aula.

4.5 TRABALHANDO COM PROJETOS

O trabalho realizado com Projetos no CEI tem como finalidade dar significado

à aprendizagem. Ela se inicia a partir de uma situação-problema onde englobe não

somente uma disciplina em especial, mas que possa trazer para si o envolvimento

integral de outras disciplinas, promovendo dessa forma, uma aprendizagem de

caráter interdisciplinar, favorecendo todos os conteúdos trabalhados

simultaneamente pelas disciplinas envolvidas no Projeto.

Segundo Dewey (1985), a pedagogia por projetos passa de início pelo

interesse e o esforço do aluno. Ele interage com iniciativa e intencionalidade,

respondendo com disposição e vontade aos objetivos que o professor claramente

propõe.

A questão inicial que fundamenta e justifica essa linha pedagógica adotada

pelo CEI é: “por que trabalhar com Projetos?”

22

Após ampla discussão e debate entre a equipe pedagógica e Direção,

chegou-se a conclusão de que trabalhar por meio de projetos interdisciplinares

permite:

• Formar cidadãos conscientes do seu papel social.

• A elaboração de atividades contextualizadas.

• Aproximar o ambiente social do cotidiano escolar.

• Formar alunos investigadores.

• Maior estímulo à curiosidade e o desejo de saber mais.

• A reflexão sobre o cotidiano da vida em sociedade.

• A valorização do trabalho e a participação dos alunos na busca de novos

conhecimentos.

• A aprendizagem pelo saber fazer e o como fazer.

• Integrar a equipe docente.

Sendo assim, passarei a detalhar mais especificamente o projeto Cultura

Sertaneja no próximo capítulo.

23

5 PROJETO CULTURA SERTANEJA

O Projeto Cultura Sertaneja, é um evento pedagógico interdisciplinar de

ensino-aprendizagem, que envolve as disciplinas de História, Geografia e Música, e

que é realizado através de viagens de estudos ao Seridó Norteriograndense, com as

turmas do 8º ano de Ensino Fundamental II.

O Projeto engloba três fases distintas: 1) planejamento por parte dos

professores das disciplinas acima listadas e aulas preparatórias para a viagem; 2) a

viagem aos municípios de Acari, Jardim do Seridó e Caicó; 3) avaliação. Tais fases

serão descritas a seguir.

5.1 INTRODUÇÃO AO PROJETO

A primeira fase do projeto se dá na semana pedagógica com todos os

professores no início do ano letivo.

Nesta semana, o roteiro da viagem é traçado a partir dos conteúdos que

serão trabalhados em sala de aula. Na disciplina de Geografia os alunos irão

explorar na viagem a visualização dos aspectos físicos (relevos; bacias

hidrográficas), ambientais (desmatamento; vegetações), sociais (renda per capta;

classe social), econômicos (oferta de trabalho; comércio) e culturais. Na disciplina de

História os alunos manterão contato com os costumes do povo seridoense

(alimentação; festas religiosas e etc.). Na disciplina de Arte, os alunos irão conhecer

a música seridoense através das bandas de música, da cantoria de viola e da

percussão afro-brasileira como gêneros musicais que identificam e personificam a

cultura nordestina do Seridó. Esses conteúdos trabalhados antes da viagem geram

boas expectativas e curiosidades nos alunos e que servem de incentivo e

encorajamento, a fim de que a maioria dos alunos escolha por viajar, já que a

mesma não é obrigatória dentro do currículo das disciplinas envolvidas no projeto.

Ainda em relação a essa primeira fase do projeto, relataremos nossa

experiência de sala de aula do que é trabalhado especificamente no conteúdo de

música.

24

5.2 AMPLIANDO OS CONHECIMENTOS SOBRE MÚSICA

O ponto alto das expectativas quanto ao ensino e aprendizagem em música

no 8º ano é o Projeto Cultura Sertaneja, que tem como objetivo apreciar e estudar a

música do Seridó norteriograndense. Nesse Projeto, a música se relaciona com as

outras áreas do conhecimento de forma integrada principalmente com as disciplinas

de Geografia e História.

Em cada início de ano letivo, os alunos são desafiados a refletirem sobre os

seus conceitos musicais, a fim de que descubram e busquem novas possibilidades

de investigação em música, resultando numa boa disposição mental de interesse

sobre o assunto e experimentem a música de forma integral e global, ou seja, a

música como representante da cultura dos povos.

Na mídia, com relação à música, encontramos de certa forma, um grande

oponente ao ensino e aprendizagem em música, pois é nas preferências musicais

dos alunos que eles acreditam ter encontrado todas as respostas para avaliar todo

tipo de expressão musical, atribuindo juízo de valores musicais, até certo ponto

carregados de preconceitos, originários de tais pressupostos midiáticos. Nesse

momento, como educador musical, sãotravadas batalhas até certo ponto de forças e

potências desiguais, para encontrar formas de dialogar dentro das razões e dos

pontos de vista dos alunos com relação aos méritos dado por eles à música, quanto

ao seu valor estético e musical. No entanto, são esses desafios que influenciam

positivamente as discussões e a certeza de que as mesmas influenciarão

naturalmente no fluxo natural das abordagens sobre música em sala de aula.

Segundo Schafer (1991), a música deveria falar por si mesma e não por

associações. Não é o que comumente acontece, daí a importância do docente como

educador musical, refletir bastante sobre a sua prática pedagógica em sala de aula

para poder amenizar esta realidade, e colocar os nossos alunos dentro de uma

postura reflexiva e crítica, desprovida de preconceitos, para alavancar o processo de

construção do conhecimento em música. Segundo Penna (2010) a música possui

significações aonde ela for produzida, pois ela é essencialmente humana, ou seja, é

uma atitude cultural. Nesse sentido, buscamos levar o aluno a entender que sua

impressão sobre música não deveria partir de seu gosto musical, e sim do valor

humano que as produções em música possuem.

25

5.3 ABORDANDO O TEMA “MÚSICA”

No meu primeiro contato com os alunos, eu me apresento como o professor

regular de música, e em seguida fazemos breves comentários sobre a disciplina, no

que diz respeito aos objetivos, as metas e metodologias a serem desenvolvidas,

como também as avaliações e atividades de práticas de música, aplicadas

individualmente e em grupo.

Em seguida, inicio uma discussão sobre música, através da seguinte

pergunta: O que é música? Este questionamento e a sua respectiva problematização

ao tema música, tem sido uma ferramenta pedagógica relevante ao aprender e o

desaprender, reaprender e ao empreender (SOUZA, 2009). Segundo Penna (2010),

este questionamento levantado em forma de situação problema, parece não se

apresentar então, como um possível problema a se resolver, por tratar-se de um

tema aparentemente fácil e óbvio, ou seja, quais as dificuldades que teríamos em

responder sobre o que é música? No entanto, as respostas que surgem em sala de

aula, são as mais diversas, do tipo: “Música é emoção!” “Música é expressar algo!”

“Música é um ritmo!” “Música é melodia!” Eu, me reportando à experiência de

Schafer no seu livro “O Ouvido Pensante”, observo semelhanças nas respostas dos

meus alunos e dos alunos de Schafer à questão apresentada. Cada resposta é

carregada de grande importância para mim como educador, pois a partir delas é que

irei lidar com seus saberes prévios e suas preferências musicais, o que deverá

nortear os direcionamentos didático-pedagógicos ao ensino e aprendizagem de

música nos momentos subsequentes. Nesse momento específico, é possível

perceber que ali, se estabelece uma situação satisfatória para uma boa e longa

discussão sobre o que é música.

As discussões e reflexões sobre as respostas de cada aluno vão

naturalmente evoluindo e paralelamente mostrando-se nelas as preferências

musicais dos mesmos, o que torna a aula cada vez mais interessante. Sabemos que

a música está presente na nossa vida, e isto é um fato social e cultural abrangente,

todos de uma forma têm contato com a música de sua preferência. Segundo Green

(1987), a música é considerada uma comunicação sensorial, simbólica e afetiva, e

que trabalhar com estas questões é um dos caminhos que nos leva a aprendizagem

de novos conceitos sobre ela, além de valorizar o conhecimento prévio do aluno,

26

inibe o preconceito cultural em relação às escolhas musicais dos outros, e passam a

respeitá-las e considerar a sua importância dentro do processo de ensino e

aprendizagem.

O destaque para as preferências musicais dos alunos nos liga

indiscutivelmente a influência da mídia, principalmente em nossos dias atuais. O

professor que não atenta para esta realidade, terá dificuldades em sintonizar-se com

o perfil musical dos alunos. Quando tratamos deste assunto em sala de aula nos

primeiros momentos de conversação, estamos conhecendo e adentrando no

cotidiano musical dos alunos, e a partir de então, eles dialogam mais abertamente

sobre os seus pontos de vistas, em relação ao que é e o que não é importante, o

que tem e o que não tem significado para eles, no que diz respeito a seus conceitos

sobre música, em detrimento do que eles diariamente escutam ou deixam de

escutar.

Um aspecto importante e relevante a ser destacado é que na maior parte do

tempo gasto pelos alunos, nessa faixa etária que corresponde ao 8º ano do Ensino

Fundamental, é dedicado à música. Segundo Valdívia e Bettivia (1999, p. 64), a

família e os pais, são substituídos pela mídia e pelos companheiros da mesma idade

como fontes de influência, pois juntos, os adolescentes têm a sensação de estarem

conectados a um número significativo de amigos, unidos por interesses e valores

comuns. Esta realidade é comprovadamente importante, e que mereceria a atenção

de nós educadores. Para se ter uma idéia, a título de exemplo, o canal de televisão

MTV foi pensado e construído por considerar que o consumo de música pelos

adolescentes era bastante lucrativo, o que a tornaria e tornou, numa das TVs mais

competitivas presentes na mídia.

Quando em sala de aula é investigado sobre as rádios e os programas de

televisão que os alunos geralmente assistem, eu pude perceber as músicas que eles

escutam no dia a dia são as do Axé baiano (Ivete Sangalo, Chiclete com Banana,

Claudia Leite), Forró (Calcinha Preta, Garota Safada, Graphite), Música Sertaneja

(Luan Santana), as do Pop Music (Amy Winehouse, Katy Perry, David Guetta, Bruno

Mars, Britney Spears), dos programas e séries da televisão como a Disney, Disney

xd, Cartoon Network, Boomerang, entre outros.

Este tipo de consumo é considerado por muitos como um tipo de imposição

que a mídia exerce sobre as pessoas, através de “boas” e “sempre atrativas”

programações de rádio televisão, e por outro lado, todas as outras músicas de

27

intérpretes que porventura estejam fora dessa realidade, ou seja, as músicas da

mídia de massa, elas são sumariamente descartadas e taxadas de chatas,

ultrapassadas, entre outros inúmeros adjetivos.

Como tirar proveito dessa situação? Muitos passos precisarão ser dados

nesta perspectiva, e um deles que acredito ser o mais importante, é o de demonstrar

continuamente respeito e interesse à cultura musical dos alunos.

Em outro momento da discussão eu busco através do convencimento,

despertar a curiosidade e a predisposição dos alunos em quererem escutar e

assistirem outros programas de outras rádios e televisões. Para tornar a situação

mais comprometedora, estabelecemos um acordo com os alunos em sala de aula

em caráter de atividade, valendo uma determinada pontuação, a fim de que eles

escutem e assistam a programas de rádio e televisão que sugiro, e que me tragam

para o encontro seguinte, um comentário por escrito sobre a impressão que eles

tinham e que agora têm sobre outros tipos de música e programações que os

mesmos não estão habituados a assistirem ou ouvirem. Na aula seguinte para a

minha surpresa, a maioria dos alunos trazem os seus comentários, interessantes e

importantes, que darão suporte suficiente às futuras abordagens em música,

enriquecendo todos os esboços das aulas seguintes e favorecendo o

desenvolvimento de um planejamento didático mais estratégico.

Nesta primeira fase de minha investigação o objetivo maior é poder entrar no

mundo musical dos alunos, e, em nenhum momento da discussão, e de nenhuma

forma se opor ao que eles verdadeiramente gostam em música. Em seguida, vamos

afunilando os discursos para que possamos construir juntos na essência do que é

música.

A segunda pergunta que faço aos alunos é qual a matéria prima do músico?

Os alunos ficam um pouco perplexos diante da pergunta, e sem demora eles

perguntam. Como assim professor? Daí, eu faço outra pergunta: qual a matéria

prima do pintor? Eles respondem de uma vez causando um momentâneo tumulto,

mas dá para perceber que as respostas não são ao todo comuns entre eles. Uns

defendem a hipótese de ser o pincel, mas já faço de imediato outra pergunta. O

pintor se quiser ele pode pintar com os dedos? Todos concordam que sim. Depois

de várias tentativas, eles começam a concluir que na verdade o pintor pode pintar o

seu quadro, a sua tela, de diversas maneiras, com dedos, com pés, com pincel, e

tantos outros objetos que ele queira trabalhar, mas sem a tinta, jamais conseguirá

28

pintar qualquer coisa. Quando os alunos se convencem que a tinta é a matéria prima

do pintor parece ficar mais fácil descobrir qual será a matéria prima do músico. Os

alunos respondem que são alguns instrumentos como violão, guitarra, a voz, o que

os parabenizo e aproveito para perguntar o que os mesmos produzem ao serem

tocados, e eles respondem o que eu realmente gostaria que eles respondessem:

“som”. Depois desse desdobramento eu pergunto novamente: “Qual é a matéria

prima do músico?” Todos respondem unânimes que é o “som”. Outro aspecto que

junto com o som define o que seja matéria prima do músico, e que talvez, seja o

mais difícil de perceberem, é o silêncio, que é o que na música é dado o nome de

pausa. Para demonstrar a importância do som e do silencio, nós mostramos em

áudio situações que ocorre nas peças de música, defendendo a tese de que tanto o

som como o silêncio tem o mesmo grau de importância, ou seja, dependendo do

momento da música, o silêncio pode possuir mais ou menos relevância do que o

som e vice-versa.

Os alunos a partir daí, estão certos de que, assim como o pintor manipula

com uma ou várias tintas para concluir a sua obra de arte, o músico manipula com

sons e o silencio para desenvolver a sua arte e compor a sua peça de música. Para

concluir esta parte sobre a matéria prima do músico e avançar com mais

profundidade sobre a definição de música, eu faço outra pergunta. O canto dos

pássaros, dos golfinhos, das baleias são sons musicais? Estes animais fazem

música? Muitos alunos respondem que sim. Em seguida, questiono a eles se os

pássaros têm a noção dos sons que eles emitem, e eles concordam naturalmente

que não, pois são animais irracionais. Outra pergunta é feita em seguida: “se eu

como músico gravo o som de um ou mais pássaros, e uso como mais um elemento

à minha composição, este som é música”? Todos respondem que sim. Os alunos

percebem que existiu uma intencionalidade através de uma arte e/ou habilidade do

músico em combinar vários sons e dentre eles está o canto de um ou mais

pássaros. Segundo Maura Penna (2010), a arte de modo geral e a música estão

compreendidas então, como sendo uma atividade essencialmente humana, através

da qual o homem constrói significações na relação com o mundo. Os alunos

entendem que independente do tipo de som que exista, ele pode ser transformado

em som musical, dependendo apenas da criatividade humana em selecionar e

combinar os sons, e organizá-los em formas musicais repletas de significações. Os

sons e o silêncio são as matérias primas de manipulação do músico, sejam de

29

instrumentos convencionais como o violão, o piano, ou não convencionais como

utensílios variados como latas, canos de PVC e outros objetos.

A seguir, tentamos fazer com que os alunos percebam que o fazer artístico é

variado, e varia e se diferencia de acordo com os momentos históricos e os espaços

geográficos, de cada povo e/ou cada etnia (PENNA, 2010). Cada grupo tem uma

maneira particular de articular e combinar os sons. Uma pergunta se faz necessária

nesse momento. “A cultura influencia a construção de uma peça de música”?

Buscando a compreensão desta situação, eu me reporto à cultura musical do Brasil,

e percebo a grande diversidade de tipos de produções musicais que são produzidas

e apreciadas de Norte ao Sul e de Leste ao Oeste. O forró no Nordeste, a música

sertaneja do Sul e Sudeste, o pagode, o funk, o samba no Rio de Janeiro, a música

brega no estado do Pará, o frevo, o maracatu no estado de Pernambuco.

Concluindo, nossos alunos percebem que a música é uma linguagem de arte que

manipula o som e o silencio, diferenciando-se de cultura para cultura, mesmo que

pertença a uma mesma sociedade, no caso, a brasileira (PENNA, 2010). Maura

Penna (2010) define música como sendo “uma linguagem artística, culturalmente

construída, que tem como material básico o som e o silêncio”.

5.4 SEGUNDA FASE DO PROJETO: A VIAGEM

A primeira visita é a sede da Filarmônica Felinto Lúcio Dantas em Acari/RN,

uma das que integram o contexto cultural de bandas da região Seridó; a segunda da

visita é a Centenária Irmandade dos Pretos de Nossa Senhora do Rosário em

Jardim do Seridó; e a última visita é aos cantadores de viola, os repentistas, do

Programa Violeiros do Seridó, da Rádio Rural AM em Caicó.

A Filarmônica Felinto Lúcio Dantas em Acarí, tem como objetivo aproximar os

acarienses desta cultura seridoense, uma das significativas expressões da música

em nosso estado, presente em 100% (cem por cento) dos municípios do Seridó

norteriograndense.

Fundada em 05 dezembro de 1987, a Associação Cultural Maestro Felinto

Lucio Dantas é a responsável por manter a Filarmônica Felinto Dantas, através de

doações mensais de seus quase 100 (cem) sócios, que nesses 25 anos de

30

existência, é orgulho da cidade com suas atuações em trabalhos sociais, projetos

culturais que visam educar e formar alunos de origem carente na comunidade,

afastando-as das armadilhas das drogas e da violência infanto-juvenil,

proporcionando qualidade e perspectivas reais de uma vida futura melhor. A

instituição funciona como escola de música, nos três turnos, manhã, tarde e noite a

Rua Cipriano Pereira, 02, Acarí/RN.

A instituição leva o nome de Felinto Dantas, um dos ícones da música

tradicional das bandas de música do Estado, como forma de reconhecimento ao

legado musical deixado por ele, tanto na música instrumental de banda de música e

na música vocal-sacra, que repercute até hoje na região seridoense, em espaços

interestadual, nacional e internacional.

Figuras 1 e 2: Ensaio da Filarmônica Felinto Lúcio Dantas – Acari/RN

Os alunos do CEI podem constatar através da apreciação musical da

Filarmônica Felinto Dantas, o quanto essa cultura representa para os nordestinos

potiguares, ou seja, através de visita “in loco”, é que eles refletem e discutem a sua

importância histórica e cultural, desse que é considerado como sendo o maior

movimento musical em nosso estado, as bandas de música. Poderíamos de início

falar do repertório que faz parte da literatura musical de banda de música, como

dobrados, valsas, polcas, marchas, hinos patrióticos, composições sacras e

litúrgicas, interpretadas geralmente em festas às Santas Padroeiras da cidade,

musicas fúnebres, ou seja, um número significativo de estilos musicais que os

alunos geralmente não têm conhecimento, ou seja, algo novo que é descoberto por

eles nas visitas e apresentações da banda de música.

Ao chegarmos a Acari, os alunos são orientados a observarem com um olhar

sem preconceitos de forma a valorizar a cultura local de banda de música, na

31

pessoa de seus componentes, que tem a música como sua significativa realização.

Para atender as expectativas dos alunos, os mesmos são recepcionados pelo toque

da banda, uma forma de agradecimento e homenagem aos visitantes. Aos poucos,

os alunos vão adentrando ao espaço da Associação onde funciona a Escola de

Música ao som da banda de música. Com o maestro Neto de Pinta, entre cada

música interpretada os alunos vão conhecendo como se dá a formação instrumental

da banda, ou seja, são mostradas aos alunos as famílias de instrumentos que

compõem a banda de música, como a família de instrumentos de sopro das

madeiras (clarinetes; saxofones) e metais (trompetes; tubas; trombones de varas) e

a família de instrumentos de percussão. Para cada família de instrumentos o

Maestro explica como os sons são produzidos e cada instrumentista demonstra com

o seu próprio instrumento.

A aula caracteriza-se como concerto didático, onde são explicadas

particularidades sobre os instrumentos da banda, bem como o seu repertório

específico, ou melhor, uma parte tradicional da literatura musical de banda de

música. Os alunos, aos poucos vão conhecendo estilos como dobrados, valsas,

polcas, marchas, hinos patrióticos, composições sacras e litúrgicas - interpretadas

geralmente em festas às Santas Padroeiras da cidade, músicas fúnebres -, bem

como outras peças de músicas contemporâneas que são familiares aos alunos como

peças de música do forró atual, funk entre outras, que servem para chamar a

atenção e atrair a platéia para o gosto musical, em geral, das bandas de música.

Aspectos relacionados à formação de músicos instrumentistas e futuros

regentes, maestros de bandas, são também discutidos com os alunos, ou seja, uma

aprendizagem que segue a tradição do ensino por familiares e parentes e o modelo

autodidata de aprender música. Essa cultura influencia e educa musicalmente as

crianças, jovens e adultos que se interessam por banda de música.

32

Figuras 3 e 4: Participação dos alunos do CEI regendo a Filarmônica Felinto Dantas.

A segunda visita feita durante a nossa viagem cultural ao Seridó, é a

Irmandade dos Negros do Rosário de Jardim do Seridó. Lá encontramos a

percussão afro-brasileira dos pretos de Nossa Senhora do Rosário, uma tradição

que completa mais de um século de existência, e que tenta com muita dificuldade

manter as suas origens culturais.

A música dos negros do rosário é interpretada através de bombos, caixas,

surdos e som melódico do pífaro. Outra característica importante é sua dança

chamada de “Dança do Espontão”, uma dança que simboliza o negro escravo

lutando as suas batalhas em prol de sua liberdade.

Por trás de todo esse contexto musical, os alunos percebem através de

estudos e da palestra proferida no local, que a história das irmandades tem sua

origem no período pré-colonial e colonial.

As irmandades do rosário surgem na África antes da nossa colonização,

quando os portugueses escravizam os negros, e os mesmos começam a ser

catequizados pela Igreja Católica, através dos Padres Jesuítas, desrespeitandoe

desconsiderando a cultura religiosa dos pretos.

Em seguida esses negros trazidos ao Brasil, e são impedidos de cultuarem

aos seus deuses, pois a sua prática religiosa com a sua música e dança, assustam

os senhores de engenho, donatários dos escravos, achando que suas expressões

religiosas são bruxarias e feitiçarias. Por outro lado, os negros não desistem e

resolvem adotar a Nossa Senhora do Rosário para ser a transposição, a sua deusa

Iemanjá e mãe Diana. Com a “devoção” à santa do Rosário assumida diante dos

Senhores de Engenho, é então permitido aos negros a realização de seus cultos

religiosos. Dentro do culto, os negros escravos realizam as suas festas políticas de

coroação de seus reis e rainhas, as mesmas que eram feitas em sua terra natal.

33

Essas manifestações percorrem os quatro cantos do território brasileiro,

chegando a Jardim de Seridó em meados do século XIX, logo após a abolição da

escravatura, tendo o reconhecimento da comunidade e também de forma oficial pela

Assembleia Legislativa da época em Natal/RN. A Festa de Nossa Senhora do

Rosário acontece nos dois últimos dias de dezembro e no primeiro dia de janeiro. Os

negros festejam a Santa Padroeira do Rosário, a padroeira dos pretos em Jardim do

Seridó. Na festa há procissões, missas, e festa da coroação do reisado negro. Todos

os momentos simbolizam a tradição dos antigos pretos escravos.

Figuras 5 e 6: Ensaio da Irmandade dos Negros do Rosário – Jardim do Seridó/RN.

Em um dos momentos da visita os alunos são convidados a dançarem a

“Dança do Espontão” junto com os negros do rosário. Os professores também se

juntam aos negros para dançarem. Aos poucos, os alunos vão se envolvendo e, um

a um, se juntam aos demais dançando as evoluções rítmicas da percussão e ao som

do pífaro, numa grande festa e brincadeira cultural.

Figuras 7 e 8: Dança do Espontão pela Irmandade dos Negros do Rosário

Um importante legado é deixado para os alunos, que além dos

conhecimentos apreendidos nos momentos de apreciação musical, a Irmandade dos

34

Pretos de Nossa Senhora do Rosário é parte de nossa história, o que fica de certa

forma mais valorizada e guardada na nossa memória depois dessa aproximação, e

que a mesma continuará sendo divulgada e reverenciada por eles sempre que for

lembrada.

A terceira e última visita é feita ao programa Violeiros do Seridó da Rádio

Rural em Caicó. Lá os alunos se encontram com o radialista diretor do programa o

professor de geografia Djalma Mota filho do fundador, já falecido, o cantador Chico

Mota.

Figuras 9 e 10: Rádio Rural de Caicó/RN

Mesmo que o assunto “Cantoria de Viola”, seja apresentado aos alunos em

sala de aula através de vídeos e discussões sobre o tema, nada se compara com a

constatação “in loco”, feita pelos próprios cantadores repentistas cantando e

improvisando na “velocidade do pensamento”, despertando o gosto e o interesse

dos alunos em conhecer mais importante e significativa cultura nordestina, em

especial nos estados da Paraíba, Pernambuco e do Rio Grande do Norte.

Figuras 11 e 12: Cantadores de Viola da Rádio Rural de Caicó/RN.

35

No começo da palestra, o professor Djalma Mota desafia os alunos a criarem

um novo conceito sobre o Repente dos Cantadores de Viola, ou seja, os alunos são

convidados a abandonar as idéias pré-concebidas do repente como sendo chato,

cansativo, que dá sono e, assim, passar a ser uma nova opção de lazer, de

entretenimento e de apreciação musical que eles passarão a admitir ouvir e gostar.

Os alunos aceitam o desafio, e logo são envolvidos com os repentes dos cantadores

exaltando a presença de todos eles nas dependências da Rádio Rural para

conhecerem essa tão relevante e importante cultura nordestina.

Figura 13: Desafiando os alunos

Aos poucos os alunos vão interagindo com o palestrante e com os

cantadores, ouvindo as formas poéticas improvisadas, feitas na hora, numa

variedade de temas desenvolvidos pelos próprios cantadores e outros temas

escolhidos pelos alunos, contribuindo com a apreciação musical.

Figuras 14 e 15: Cantadores de Viola da Rádio Rural de Caicó/RN

Os alunos, ao final, reconhecem a importância dessa cultura, por cantadores,

em sua maioria simples, às vezes analfabetos e semianalfabetos, mas que

36

herdaram uma habilidade ou um “dom” – como eles preferem chamar -, e outros

tipos de cantadores recentes como intelectuais e profissionais liberais.

Os alunos são vencidos pelo professor no desafio feito inicialmente, e acabam

concordando que a cantoria de viola é uma cultura cheia de significados. Passam a

conhecê-la mais profundamente desde sua origem no sul da França, pelos

menestréis, poetas ambulantes da literatura de cordel, que se torna brasileira na

região serrana do Teixeira na Paraíba, e proliferando-se até Pernambuco interior do

rio Grande do Norte nas fronteiras com a Paraíba. Ficam conhecendo o primeiro

representante da cantoria de viola do Rio Grande do Norte foi Fabião das

Queimadas, negro escravo da cidade de Santa Cruz, que comprou a sua carta de

alforria interpretando versos de improviso ao som de sua rabeca.

5.5 TERCEIRA FASE DO PROJETO: CONCLUSÃO E AVALIAÇÃO

Na fase que compreende á conclusão dos trabalhos com o Projeto Cultura

Sertaneja, os alunos se dedicam à organização sistemática dos registros feitos em

campo das apreciações dos concertos didáticos, apresentações musicais, palestras

e das visitações aos locais das instituições visitadas. Os registros se diversificam em

dados coletados, fotografias e vídeos, e após sua organização e conclusão se

transformaram em trabalhos que deverão ser apresentados em sala de aula a todos

os alunos, aqueles que viajaram e os que não viajaram, se transformando de uma

simples apresentação em aula expositiva repleta de informações e conteúdos sobre

música. O material exposto pelos alunos contém uma produção textual, em forma de

relato de experiência dos alunos, descrição dos grupos artísticos visitados e os

anexos com fotos e vídeos das apresentações.

Dentre as muitas impressões e registros de alunos, selecionamos alguns a

título de demonstração da importância de um projeto como esse para suas vidas e

para o amadurecimento em relação ao conhecimento cultural e musical.

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5.5.1 Impressões dos Alunos

Filarmônica Felinto Dantas/Acari

“A banda toca todos os tipos de músicas, do frevo ao rock. A banda não é uma

coisa tão simples, pois requer estudos, disciplina e muito esforço. Além de o som

não ser “ruim”, importa observar a diferença de tamanho, estilo e tons”.

“Achei muito interessante a banda, pois ela toca ritmos diferentes, e não aqueles

sons de músicas clássicas tediosas”.

Festa de N. S. do Rosário/Jardim do Seridó

“A cultura dos negros é muito interessante, e as danças são muito festivas e eles

acreditam muito em sua religião e até seguem a tradição de N. S. do Rosário”.

“Gostei, mas achei que estava muito bagunçado”.

Roberto (nome fictício)

“Acho que a cultura e a cor da pele principal característica dos africanos, já se

perderam.”

Violeiros do Seridó/cantoria de viola-Rádio Rural/C aicó

“O poeta tem que ter uma vocação (dom), ele aprende a tocar com o interesse e a

vontade”.

“Ninguém ensina a ninguém a ser poeta, é necessário ter o dom, e também é

preciso gostar e ter interesse”.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Concluindo, tenho na minha concepção que a culminância do ano letivo à

disciplina de música no 8º ano, pedagogicamente falando, se dá na viagem desse

Projeto de Cultura Sertaneja onde se verifica que todos os conceitos sobre música

são possíveis de trabalhar dentro dessa expectativa. Com base nessa metodologia

diversificada e aberta, os conhecimentos musicais são democratizados a partir do

que o aluno contextualiza nas visitas os conhecimentos prévios em música e os

apresentados em sala de aula.

Os alunos e suas considerações são as mais importantes que registramos

para selar como imprescindível esse tipo de incursão ao universo cultural do Seridó

através da música das bandas de música (Filarmônica Felinto Dantas/Acarí), a

percussão afro-brasileira (Festa de Nossa Senhora do Rosário/Jardim do Seridó) e a

cantoria de viola (Violeiros do Seridó/Rádio Rural-Caicó).

Assim, acreditamos que é entendendo o universo histórico-cultural dos

alunos, que conseguiremos criar estratégias melhores e mais eficientes –

pedagogicamente falando. No aluno está o interesse próprio por música, e é através

dele que iniciaremos a trajetória docente em sala de aula, onde a motivação é o

maior ingrediente. Segundo Geraldi (2004), viajar na história do sujeito é buscar

saberes que perdemos e não somente justificar o que já sabemos, e dessa forma

nos leva a uma melhor compreensão de saberes novos, e nos inquietarmos por

conhecer o que até então não nos interessa. Estudar música é interrogar sobre o

que foi vivido, afirmar a nossa vivência e a sua relação com as vivências de outros.

Neste universo encontramos a nossa herança cultural, o produto de nossas práticas

sociais onde estão os nossos saberes, e quando organizamos de forma sistemática

e racional, transformamos em conhecimento cientifico.

A música é uma ciência, a ciência dos sentidos e significados, interpretados

por sons e silêncios, dentro da experiência humana de vida.

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REFERÊNCIAS

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ANEXOS

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OutrasFotos

1- Momentos de descontração no ônibus.

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2 Visita a Mina Brejuí em Currais Novos (geografia)

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Visita a Igreja em Caicó/RN (história)

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