programas de transferÊncia de renda na amÉrica latina ... · latin america. the poverty is ......

59
PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA: contextualização, a pobreza em foco e os significados e controvérsias do potencial das condicionalidades para formação de capital humano e capital social Maria Ozanira da Silva e Silva 1 Valéria Ferreira Santos de Almada Lima 2 Maria Laura Vecinday Garrido 3 Silvia Gabriela Fernández Soto 4 RESUMO: A CEPAL (2009) identificou a implementação de Programas de Transferência de Renda (PTR) em 17 países da América Latina, alcançando 22 milhões de famílias, 100 milhões de pessoas, 12% da população, sendo aplicado, em média, 0,25 do PIB dos respectivos países. Para Ceccbini; Madariaga (2011), os PTR alcançaram 19 países na América Latina e Caribe, crescendo de 5,7%, em 2000, para 19,3%, em 2010. Survey desenvolvido em 2012 e 2013 por pesquisadores do Brasil, Argentina e Uruguai, identificou 18 países desenvolvendo PTR na América Latina e Caribe. Portanto, nas últimas duas décadas vem se ampliando a proteção social não contributiva na América Latina e Caribe enquanto estratégia para enfrentar a crescente pobreza decorrente do ajustamento estrutural da economia, sob a inspiração da ideologia neoliberal. Entre essas estratégias, encontram-se os Programas de Transferência de Renda Condicionada (PTRC), por vezes organizados, inspirados e financiados por organizações multilaterais, com destaque ao Banco Mundial. São estratégias para enfrentar o desemprego, trabalhos precários e elevação da pobreza. A Mesa Coordenada propõe a abordar a proteção social na América Latina, com destaque à contextualização e desenvolvimento dos PTRC em implementação no Continente, destacando a pobreza enquanto categoria teórica de fundamentação e enquanto foco de intervenção desses programas. Visa também considerar as condicionalidades enquanto qualificadores voltados para formação de capital humano e capital social com vistas ao enfrentamento da pobreza intergeracional da população atendida. Esses programas serão contextualizados no âmbito do surgimento e desenvolvimento da proteção social na América Latina e na realidade socioeconômica e política que determinou seu surgimento e desenvolvimento. 1 Doutora. Universidade Federal do Maranhão (UFMA). E-mail: [email protected] 2 Doutora. Universidade Federal do Maranhão (UFMA). E-mail: [email protected] 3 Doctora. Docente e investigadora del Departamento de Trabajo Social de la Facultad de Ciencias Sociales, Universidad de la República, Uruguay. E mail: [email protected] 4 UNCPBA.CONICET E-mail:[email protected]

Upload: dangthuan

Post on 09-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA:

contextualização, a pobreza em foco e os significados e controvérsias do potencial das

condicionalidades para formação de capital humano e capital social

Maria Ozanira da Silva e Silva1 Valéria Ferreira Santos de Almada Lima2

Maria Laura Vecinday Garrido3 Silvia Gabriela Fernández Soto4

RESUMO: A CEPAL (2009) identificou a implementação de Programas de Transferência de

Renda (PTR) em 17 países da América Latina, alcançando 22 milhões de famílias, 100

milhões de pessoas, 12% da população, sendo aplicado, em média, 0,25 do PIB dos

respectivos países. Para Ceccbini; Madariaga (2011), os PTR alcançaram 19 países na

América Latina e Caribe, crescendo de 5,7%, em 2000, para 19,3%, em 2010. Survey

desenvolvido em 2012 e 2013 por pesquisadores do Brasil, Argentina e Uruguai, identificou

18 países desenvolvendo PTR na América Latina e Caribe. Portanto, nas últimas duas

décadas vem se ampliando a proteção social não contributiva na América Latina e Caribe

enquanto estratégia para enfrentar a crescente pobreza decorrente do ajustamento

estrutural da economia, sob a inspiração da ideologia neoliberal. Entre essas estratégias,

encontram-se os Programas de Transferência de Renda Condicionada (PTRC), por vezes

organizados, inspirados e financiados por organizações multilaterais, com destaque ao

Banco Mundial. São estratégias para enfrentar o desemprego, trabalhos precários e

elevação da pobreza. A Mesa Coordenada propõe a abordar a proteção social na América

Latina, com destaque à contextualização e desenvolvimento dos PTRC em implementação

no Continente, destacando a pobreza enquanto categoria teórica de fundamentação e

enquanto foco de intervenção desses programas. Visa também considerar as

condicionalidades enquanto qualificadores voltados para formação de capital humano e

capital social com vistas ao enfrentamento da pobreza intergeracional da população

atendida. Esses programas serão contextualizados no âmbito do surgimento e

desenvolvimento da proteção social na América Latina e na realidade socioeconômica e

política que determinou seu surgimento e desenvolvimento.

1 Doutora. Universidade Federal do Maranhão (UFMA). E-mail: [email protected]

2 Doutora. Universidade Federal do Maranhão (UFMA). E-mail: [email protected]

3Doctora. Docente e investigadora del Departamento de Trabajo Social de la Facultad de Ciencias

Sociales, Universidad de la República, Uruguay. E mail: [email protected] 4 UNCPBA.CONICET E-mail:[email protected]

Page 2: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

A POBREZA ENQUANTO CATEGORIA TEÓRICA DE FUNDAMENTAÇÃO E FOCO DE

INTERVENÇÃO DOS PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA

LATINA5

Maria Ozanira da Silva e Silva6

RESUMO: O artigo, referenciado em estudo exploratório, bibliográfico e documental, tem como foco de discussão a pobreza enquanto categoria teórica determinante na formulação e implementação dos Programas de Transferência de Renda Condicionada (PTRC) na América Latina. A pobreza é apresentada e problematizada tendo como principal determinação a estrutura social, sendo também considerado seu caráter multidimensional. Segue destacando conteúdos e significados que a categoria pobreza, representa no contexto desses programas para fundamentar concepções e orientar sua implementação. É destacada a atribuição de conteúdos individualizantes e discriminatórios à população beneficiária e sua responsabilização pela superação da pobreza intergeracional na qual está imersa. Palavras-chaves: Programas de transferência de renda, pobreza, américa Latina. ABSTRACT: The article, based on a survey, bibliographic and documental research, has as subject a discuss about poverty as main theoretical category in the formulation and implementation of the Conditional Income Transfer Programs in Latin America. The poverty is presented and problematized considering the social structure as its main determination. It is followed by a presentation of contends and significations of the focused theoretical category in the context of those programs. It are accentuated the individualistic and discriminatory contends directed to beneficiary population and to charge them to surpass the intergenerational poverty in which is living. Keywords: Income transfer programs, poverty, Latin America.

5 Esse artigo, apresentado na VII Jornada Internacional de Políticas Públicas (JOINPP), São Luís, 25 a 28 de agosto de 2015, contém resultados parciais de estudos desenvolvidos com o apoio da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), entidades do Governo brasileiro, voltadas para a formação dos recursos humanos e a pesquisa.

6 Doutora.Professora do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da Universidade Federal

do Maranhão (UFMA).E-mail: [email protected]

Page 3: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

3 1 INTRODUÇÃO

O presente texto tem como referência central o entendimento de que a América

Latina é uma região continental que apresenta traços da “[...] longa história que a

condiciona: colonização, lutas pela independência, modos de produção, formas de

dependência, planos de desenvolvimento, tipos de Estado, políticas sociais etc.”

(WANDERLEY, 2011, p. 56). Essa referência coloca a necessidade de cuidados para evitar

à formulação de hipóteses e generalizações devendo considerar a diversidade de espaços,

tempos e forças sociais em cada Estado-Nação (WANDERLEY, 2011).

O pressuposto é que a América Latina é, ao mesmo tempo, una e diversa, por

poder-se identificar características homogêneas e heterogêneas que decorrem de

diferenciações de fatores territoriais, étnicos, demográficos, ao mesmo tempo em que

apresenta traço unificador representado pela elevada desigualdade e pela pobreza de

grande contingente de sua população, em decorrência das relações de exploração

econômica e dominação política. Isto é, torna-se necessário que cada país da América

Latina seja considerado uma formação social específica.

É no âmbito dessa realidade, una e diversa, que nos anos 1990 surgem e se

ampliam Programas de Transferência de Renda Condicionada (PTRC) que vêm integrando

os Sistemas de Proteção Social da grande maioria dos países da América Latina.

Os PTRC vêm sendo denominados de “Rede de Proteção Social”, composta por

um conjunto de intervenções compensatórias de natureza focalizada na pobreza e na

extrema pobreza. Essas intervenções constituem o principal mecanismo para combater a

denominada pobreza intergeracional no Continente. Portanto, a população beneficiária é

proveniente de famílias qualificadas como pobres e extremamente pobres, selecionadas

mediante complexos e sofisticados sistemas de identificação, seleção e acompanhamento,

com largo emprego de modernas tecnologias da informação, conduzindo a uma ampla

tecnificação do campo assistencial. Assim, sob a justificativa de objetividade, o público alvo

é submetido a diversificados testes de meios próprios das políticas sociais focalizadas. São

famílias e pessoas que recebem transferência monetária sob a condição de cumprirem

certos requisitos (condicionalidades) para desenvolver certas qualificações e melhorar seu

nível educacional, de saúde e nutricional. Para isso, os PTRC da América Latina propõem-

se a oferecer proteção social aos ciclos iniciais da vida, mediante a oferta de valores

variados de transferência monetária, ao mesmo tempo que se propõem a oferecer

atendimento à saúde e a incluir crianças e adolescentes no sistema escolar, com o objetivo

Page 4: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

4 de elevar seus níveis de escolaridade. Programas de alguns países incluem também

pessoas idosas, pessoas com deficiências e adultos pobres em idade de trabalho (SILVA,

2014).

Por conseguinte, os PTRC são programas que materializam a dimensão não

contributiva da proteção social na América Latina, situando-se no campo assistencial, cujo

foco é o enfrentamento à pobreza, o que requer compreendê-los não só nos seus

significados explícitos e implícitos e nas contradições reveladoras de limites e

potencialidades (SILVA, 2014).

O corte de análise do presente texto é voltado para a compreensão e

problematização da pobreza enquanto categoria teórica central de fundamentação dos

PTRC na América Latina e enquanto foco de intervenção e proteção assistencial dos

segmentos da população que vivenciam a pobreza estrutural e geracional. Nesse aspecto, a

pobreza é apresentada e problemetizada considerando a concepção construída pela autora,

e pela indicação de conteúdos e significados da categoria pobreza, conforme identificado

em vários estudos sobre a realidade dos PTRC na América Latina e, especificamente, no

Brasil (SILVA; YAZBEK; GIOVANNI, 2012; SILVA, 2013; 2014; SILVA; YAZBEK: COUTO,

2015).

2 OS PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA CONDICIONADA NA AMÉRICA

LATINA

Os PTRC da América Latina apresentam diversos qualificadores que

representam elementos comuns que os transforma na estratégia prevalente de proteção

social adotada a partir de 1990 para enfrentar sequelas dos processos de ajuste econômico

representadas pela elevação dos índices de pobreza, de indigência e de diferentes

modalidades de trabalhos precarizados, instáveis e de baixos salarios. Entre esses

qualificadores, destacam-se: focalização na pobreza e na extrema pobreza; famílias como

os principais beneficiários dos programas; adoção de condicionalidades, com destaque à

saúde e à educação, tendo como pressuposto a elevação do capital humano e do capital

social em relação às novas gerações e às formas de organização societária. Além do

benefício monetário transferido para satisfação de necessidades imediatas, a maioria dos

PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, consideradas oferta

de oportunidades para ultrapassagem da pobreza intergeracional (SILVA, 2015). Todavia,

esses programas não constituem um modelo único de proteção social. São adaptados às

Page 5: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

5 realidades sociopolíticas e institucionais de cada país, atribuindo-lhes perfis próprios. Entre

as especificificidades identificadas têm-se diversos níveis de cobertura da população e

orçamentos diferenciados de recursos que são transferidos aos pobres. Aquí tem-se uma

situação contraditória: são os países que apresentam o menor nível de desenvolvimento

humano, consequentemente com uma população constituída por um contingente

relativamente maior de pobres, que apresentam menos possibilidades de investir nesses

programas. Em consequência, têm menor cobertura e efeitos mais modestos, de modo que

as transferências monetárias, que já se situam num patamar de sobrevivencia minimalista,

pouco têm conseguido contribuir para que grande parte das famílias consigam ultrapassar

as linhas de pobreza de seus países. O mais que têm alcançado é superar níveis de

indigência, limitando-se à mera funcionalidade do atendimento de necessidades básicas de

sobrevivência das famílias beneficiárias (SILVA, 2014).

Os PTRC são programas apresentados como incentivo da demanda e da oferta

de serviços sociais, com registro de significativo crescimento em número de programas e

em cobertura da população beneficiária na primeira década do século XXI, ocorrendo

significativa ampliação de recursos a eles destinados. Em 2010, já eram implementados em

18 países, voltando-se largamente para a inclusão da população pobre, constituindo-se na

principal política do campo assistencial. Portanto, são programas não contributivos,

direcionados para o enfrentamento da pobreza e da extrema pobreza na agenda pública dos

países da Região (COMISSÃO ECONÔMICA PARA AMÉRICA LATINA E O CARIBE,

2012). Segundo dados também da CEPAL, considerado a população total de 19 países da

América Latina e Caribe onde esses programas eram implementado, a cobertura dos PTRC,

cresceu de 5,7%, em 2000, para 19,3%, em 2010. Em termos de inversão do PIB, foi

registrado um incremento de 0,19%, em 2000, para 0,40%, em 2010. (CECCHINI;

MADARIAGA, 2011). Esses dados revelam o destaque desses programas no Continente

como forma de proteção social dos extremamente pobres, embora os recursos a eles

destinados não venham acompanhando a ampliação da cobertura da população.

Mais recentemente, uma equipe de pesquisadores de universidades brasileiras,

do Uruguai e da Argentina7 desenvolveram em 2011/2012 um levantamento sobre os PTRC

em implementação na América Latina e Caribe, tendo como principais fontes de

7 Trata-se do Projeto: Programas de Transferência de Renda Condicionada na América Latina: estudo comparado - Bolsa Família (Brasil), Nuevo Régimen de Asignaciones Familiares (AFAM-PE) (Uruguay) y Asignación Universal por Hijo para la Protección Social (Argentina), financiado pela CAPES (Edital CGCI no. 072/2010) e pelo CNPq (Edital Universal – CNPq no. 14/2011), contando com pesquisadores das seguintes instituições: PPGPP/UFMA/Brasil; PPGPP/PUC-SP/Brasil; PPGPP/PUC-RS/Brasil; Programa de Doctorado en Ciencias Sociales de la FCS/Udelar/Uruguay e Mestrado en Ciencias Sociales de la FCH/UNICEN da Argentina.

Page 6: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

6 informações os sites e documentos dos respectivos programas. Esse levantamento permitiu

a elaboração do quadro, cujo critério de exposição é o ano de criação de cada programa.

Quadro - Programas de transferência de renda condicionada em implementação na

América Latina e Caribe, 20128

País Nome do Programa Ano de criação

Honduras Programa de Asignación Familiar (PRAF), “Bonos 10.000” Programa Presidencial Salud, Educación y Nutrición criado em 2010

1990

Equador Bono de Desarrollo Humano 1998

Colômbia Programa Famílias en Acción 2000

Jamaica Programme of Advancement through Health and Education (PATH) 2001

México Oportunidades9 2002

Chile Chile Solidário 2002

Brasil Bolsa Família 2003

Peru Red Juntos (Programa Nacional de Apoyo Directo a los más pobres) 2005

Paraguai Programa Abrazo, Programa Tekoporã e Programa Ñopytyvô 2005

República Dominicana

Programa Solidaridad 2005

Panamá Red de Oportunidades 2006

Costa Rica Avancemos 2006

Trindad e Tabago

Target Conditional Cash Transfer (TCCTP) 2007

Uruguai Programa Nuevo Régimen de Asignaciones Familiares (AFAM-PE) 2008

Bolívia Programa Bono Madre – Niño “Juana Azurduy” 2009

El Salvador Red Solidaridad Programa Comunidades Solidarias Rurales Programa Comunidades Solidarias Urbanas

2009

Argentina Programa Asignación Universal por Hijo para Protección Social (AUF)

2009

8 O quadro acima apresenta PTRC distribuídos em 18 países da América Latina e Caribe, em implementação em 2012. Todavia, é importante considerar que alguns desses programas são formados de mais de um componente, às vezes, considerados programas independentes. Não consta da lista de países a Nicarágua que manteve o RPS, implementado de 2000 a 2006. Também o programa da Guatemala mais conhecido foi o MIFAPRO, implementado de 2008 a 2011, substituído em 2012 pelo Mi Bono Seguro. Ademais, a relação de programas é restrita a programas que mantêm condicionalidades para sua implementação, deixando de incluir alguns programas importantes, mesmo que de transferência de renda, como o BPC do Brasil, direcionado a idosos a pessoas com deficiências. Dada a complexidade, em razão de criação, desativação e programas às vezes com diferentes componentes, possivelmente, não foi possível, nesse estudo exploratório, terem sido incorporados todos os aspectos presentes nesses programas.

9 Em 2002, o Programa Oportunidades foi a designação substituta do Programa de Educación, Salud y Alimentación (PROGRESO) instituído em 1997 em substituição ao Programa Nacional de Solidaridad (PRONASOL) 1989-1994. Os três programas foram direcionados para a população pobre e indigente no contexto da notoriedade e inclusão da pobreza na agenda governamental, a partir da década dos anos 1980.

Page 7: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

7

Guatemala Mi Bono Seguro 2112 Fonte: SILVA, Maria Ozanira da Silva e. Caracterização e Problematização dos Programas de Transferência de

Renda Condicionada (PTRC) na América Latina e Caribe. In: SILVA, Maria Ozanira da Silva e. Programas de Transferência de Renda na América Latina e Caribe. São Paulo: Cortez, 2014. p. 85-

232.

Em termos contextuais, os PTRC são assumidos enquanto resposta a um

conjunto de transformações experimentadas pelo sistema capitalista em âmbito mundial e

em especial no Continente latino-americano, com destaque às transformações no padrão de

regulação econômica e social do Capitalismo, cuja centralidade é focada na garantia de

condições de flexibilidade das formas de reorganização capitalista para enfrentamento dos

efeitos perversos da globalização, da busca da eficiência e de competitividade da economia.

Essa realidade da conjuntura mundial recente tem impactado diretamente no padrão

dominante de Política Social, adotando políticas residuais e focalizados em substituição a

políticas universalistas. Nesse redimensionamento do padrão de políticas sociais, os PTRC

são assumidos como a principal estratégia de enfrentamento à pobreza e às desigualdades

sociais na América Latina. Estas são mudanças, inspiradas no Consenso de Washington e

impostas pelos Organismos Financeiros Internacionais, com vistas a favorecer a inserção

das economias da Região à nova ordem mundial globalizada (SILVA, 2014). Assim, os

PTRC passaram a constituir as denominadas Redes de Proteção Social, cujo foco de

intervenções compensatórias e focalizadas é as famílias em situação de pobreza e extrema

pobreza intergeracional. Nesse contexto, os pobres são selecionados mediante complexos

testes de meios para sua identificação e separação dos não pobres. A partir do ingresso nos

programas, os beneficiários passam a ser submetidos a processos de acompanhamento e

controle, com emprego de modernas tecnologias da informação. Esse nova forma de gestão

dos programas sociais tem submetido o campo assistencial a um amplo processo de

tecnificação, considerado pelos idealizadores e gestores dos programas forma de garantir

objetividade e eficiência para separar os pobres dos não pobres. Por conseguinte, os

beneficiários são submetidos ao controle de suas vidas e de seus ambientes, além da

exigência do cumprimento de condicionalidades, sob a justificativa de elevação dos níveis

de escolaridade, principalmente de crianças e jovens e o nível de saúde e nutricional das

famílias.

Como vêm sendo elaborados e implementados os PTRC na América Latina,

de acordo com o estudo referenciado, vem sendo possível a identificação de categorias

teóricas de fundamentação na elaboração dos programas e com rebatimentos diretos nas

estratégias de gestão e implementação. Entre essas categorias, merecessem destaque:

pobreza, focalização, capital humano e capital social que se apresentam devidamente

Page 8: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

8 articuladas (SILVA, 2015). Entre essas categorias, destaco a pobreza enquanto categoria

fundante e modeladora das demais categorias, conforme apresentação e problematização a

seguir.

3 POBREZA: foco da intervenção dos programas de transferência de renda

A pobreza, enquanto categoria teórica apresenta concepções diferenciadas

conforme a corrente teórica que a inspira. No censo comum e no ideário dominante, a

concepção de pobreza é expressa pela presença de um atributo negativo, ou seja, significa

carência ou ausência de alguma coisa, principalmente da renda, sendo restrita a uma

concepção monetarista. A tendência dos estudos mais recentes é ampliar a concepção de

pobreza para uma perspectiva multidimensional. Passa, então, a ser concebida como um

fenômeno dinâmico e heterogêneo. Nesse aspecto, abrange elementos quantitativos e

qualitativos, significando acúmulo de deficiências socioeconômicas e culturais, com

inclusão, para além da renda, de deficiências de saúde, educação, moradia, desemprego,

direitos econômicos e sociais, igualdade entre os sexos, liberdade e participação política.

Tem-se, portanto, a inclusão de um conjunto de situações abrangentes, de caráter múltiplo e

cumulativo, referindo-se, por conseguinte, a aspectos materiais e subjetivos, a dimensões

políticas e sociais (CODES, 2008).

Para Euzeby (1991), a pobreza é uma situação intensiva, extensiva e duradoura

de não ter, não saber e de não poder. É também um problema político, por decorrer de

escolha de estratégias, quer por deficiência de recursos ou de possibilidades (MILANO,

1988).

No presente texto, a concepção de pobreza é percebida na sua historicidade,

portanto é relativa e tem como sua principal determinação a forma como a sociedade se

organiza para produzir e distribuir o produto do trabalho, ou seja sua determinação maior é

de natureza estrutural. Assim, a concepção de pobreza não pode ser considerada estável,

no tempo nem no espaço. Não se pode, também falar de uma definição científica, objetiva e

universal, por ser um fenômeno ou situação construída historicamente, reproduzindo-se com

marcas das especificidades históricas de cada formação social. Ou seja, embora seja um

fenômeno percebido numa perspectiva multidimensional, tem como determinação primeira a

dimensão estrutural, que considera os fatores externos geradores da pobreza. Fatores que

se colocam sobre o ambiente dos pobres, sem que individualmente, possam deles se livrar,

Page 9: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

9 sendo o comportamento do pobre consequência e não a causa da pobreza (SILVA, 2014).

Essa é uma concepção de pobreza orientada pelo pressuposto de que a exploração é uma

dimensão constitutiva do sistema de produção capitalista, decorrente da separação do

trabalhador dos meios de produção, da concentração da propriedade nas mãos de poucos

(os capitalistas). Esse é um sistema gerador de mais valia, que permite a apropriação do

excedente do trabalho pelos capitalistas, proprietários dos meios de produção, base da

exploração social. Por conseguinte,

[...] O entendimento é de que o sistema de produção capitalista, centrado na expropriação e na exploração para garantir a mais valia, e a repartição injusta e desigual da renda nacional entre as classes sociais são responsáveis pela instituição de um processo excludente, gerador e reprodutor da pobreza, entendida enquanto fenômeno estrutural, complexo, de natureza multidimensional, relativo, não podendo ser considerado como mera insuficiência de renda; é também desigualdade na distribuição da riqueza socialmente produzida; é não acesso a serviços básicos; à informação; ao trabalho e a uma renda digna; é não participação social e política. (SILVA, 2010, p. 157).

No âmbito do presente texto, atribui-se à concepção de pobreza formulada por

Sen (1978; 1988; 1992; 2000) uma discussão mais ampliada por ser este o principal autor

que vem inspirando e fundamentando a concepção de pobreza que orienta as propostas e a

implementação dos PTRC na América Latina. Para este autor, a pobreza é concebida na

sua multifuncionalidade, constituindo-se num fenômeno social complexo, decorrente de

privações de necessidades materiais, de bem estar e de negações de oportunidades de

acesso a padrões aceitáveis socialmente. Essa concepção pode ser identificada nos

critérios de elegibilidade das famílias e pessoas, nos objetivos dos programas, na fixação

das condicionalidades e na oferta de benefícios não monetários e ações complementares

(SILVA; YAZBEK; COUTO, 2015).

Os estudos que tenho realizado sobre os PTRC na América Latina permitem

verificar que os PTRC implementados no Continente se referenciam na concepção de

multifuncionalidade da pobreza, identificado tanto no discurso oficial como na

implementação dos programas. Todavia, a dimensão estrutural da pobreza é

desconsiderado, o que termina instituindo um processo de individualização e de

responsabilização dos pobres por sua situação de pobreza e pela sua superação (SILVA,

2014). Em decorrência, a intervenção, mediada pela transferência monetária às famílias

pobres e extremamente pobres e pela oferta de ações complementares, é reduzida ao que

se pode considerar a mitigação da pobreza, mediante ações focalizadas e meramente

compensatórias. Assim, considero que a insuficiência da concepção de pobreza adotada,

mesmo considerando uma perspectiva multidimensional, ao desconsiderar sua

determinação estrutural, termina por restringir a intervenção desenvolvida por esses

Page 10: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

10 programas a melhorias imediatas das condições de vida dos pobres, visto, segundo a

concepção de pobreza formulada por Sen como criação de oportunidades para gerar

capacidades, transferindo aos próprios pobres a responsabilidade pela superação da

pobreza intergeracional a que são submetidos.

O exposto sugere, que, ao considerar a pobreza numa perspectiva de privação

de necessidades materiais e de bem estar e de negação de oportunidades, os PTRC da

América Latina se colocam enquanto mecanismos capazes de criar as oportunidades e de

satisfazer as necessidades negadas, mediante transferências monetárias e a oferta de

serviços de educação, proteção básica à saúde e por um conjunto amplo de ações

complementares disponibilizados por alguns programas, o que tenho denominado de

benefícios não monetários. Por conseguinte, o entendimento, fundamentado na concepção

de pobreza formulada por Sen é que a superação de privações, pela concessão de uma

transferência monetária, e da criação de oportunidades, estas mediante a disponibilização

de ações complementares de serviços de educação, saúde e outras ações, são

mecanismos que habilitam os indivíduos a romper com o ciclo vicioso da pobreza

intergeracional, principal objetivo dos PTRC (SILVA, 2014).

As condicionalidades, componente fundamental dos PTRC na América Latina,

majoritariamente fixadas no campo da educação: matrícula e frequência de crianças e

adolescentes no sistema escolar e na saúde: frequência a atendimento básico e vacinação

de crianças e adolescentes e realização de pré-natal, no caso de mulheres grávidas, são

diretamente relacionadas com a concepção de pobreza, conforme formulações de Sen. Isto

porque é o estabelecimento de condicionalidades no campo da educação, saúde, nutrição,

capacitação profissional, etc. que representam as oportunidades para superação da

pobreza., cabendo ao estado disponibilizar os serviços e os beneficiários utilizá-los. A ideia

é a capacitação dos indivíduos para alcançar a tal inclusão e emancipação para superação

da pobreza intergeracional. Nesse processo não é considerado qualquer intervenção sobre

as determinações estruturais geradoras e mantenedoras da pobreza e de sua reprodução

(SILVA; YAZBEK; COUTO, 2015).

Nesses termos, a pobreza intergeracional é naturalizada e vista como uma condição inerente às sociedades humanas. Decorre de déficit de liberdade e de oportunidades, só sendo reduzida de modo sustentável mediante inversão na criação de condições de oportunidades para aumentar os recursos dos pobres, de modo a desenvolver suas capacidades para inserção no mercado de trabalho, única forma de integração social. Essa é Missão dos PTRC em implementação em diversos países da América Latina e Caribe com apoio e recomendação dos Organismos Multilaterais de Desenvolvimento, com destaque ao Banco Mundial e ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (SILVA, 2015, p. 7).

Page 11: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

11 As análises desenvolvidas permitem considerar que o enfrentamento à pobreza,

à inclusão social e à ultrapassagem da vulnerabilidade das famílias beneficiárias, propostos

nos objetivos dos PTRC em implementação na América Latina, reduz-se ao atendimento de

situações de indigência, muito pouco favorecedoras da pretendida superação da pobre

intergeracional, que é, sobretudo, de natureza estrutural. O público beneficiário é

transformado em indivíduos consumidores marginais, inseridos no mercado informal de

trabalho, situados em nível de sobrevivência, sem que a organização da sociedade

capitalista seja alterada nos seus mecanismos de produção e distribuição da riqueza

socialmente produzida. Ou seja, a dimensão estrutural, principal determinante da pobreza,

não é considerada (SILVA, 2014).

Se a dimensão estrutural da pobreza não é considerada, o indivíduo passa a ser o responsável pelo seu estado de pobreza, havendo fértil espaço para a ideologia da responsabilização e da estigmatização. Mais que isso, o que passa a importar não é superar ou erradicar a exploração e, consequentemente, a pobreza, mas mitigar situações extremas, com melhorias imediatas nas condições de vida do pobre que é transformado num consumidor marginal, com consequente redução do seu potencial de sujeito perigoso à estabilidade da ordem social. (SILVA; COUTO; YAZBEK 2015, p. 19).

Em síntese, os PTRC em desenvolvimento na América Latina tem os seus

fundamentos teóricos e suas orientações interventivas fundamentados num conceito de

pobreza focado no indivíduo, tendo suas capacidades desenvolvidas numa relação com as

estruturas de oportunidades disponibilizadas, quer pelo Estado, quer pela sociedade.

Orientam-se por uma concepção multidimensional da pobreza, originada no Enfoque do

Desenvolvimento Humano, construído pelo Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD), cuja referência maior é o enfoque de capacidades formulado por

Sen, sendo as oportunidades capazes de criar possibilidades que garantam a liberdade para

que os indivíduos, por si, possam superar sua situação de pobreza (SILVA, 2015).

4 CONCLUSÃO

Pelas análises desenvolvidas, conclui-se que os PTRC em implementação na

América Latina são fundamentados numa concepção de pobreza multidimensional que é

identificada no discurso oficial, na gestão, na formulação dos objetivos, nos critérios de

inserção, na fixação de condicionalidades e de beneficios não monetários, materializados

pela disponibilização de ações complementares disponibilizdas aos integrantes das famílias

beneficiárias. A multifuncionalidade identificada na concepção de pobreza que fundamenta

Page 12: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

12 os PTRC é expressa por um conjunto de deficiências, carências, ausências, sendo a

deficiência de renda considerada o determinante principal, o que qualifica a pobreza, em

última análise, numa perspectiva economicista e individualista do pobre (SILVA, 2014).

Conforme demonstrado, o autor de maior influência na construção da base de

fundamentação dos PTRC é Amartya Sen, que nas suas formulações sobre pobreza, a

considera resultante da falta de oportunidades para inserção no mercado de trabalho e de

liberdade para usufruir das condições de bem estar, situando, nessa formulação, os PTRC

como posibilidades concretas de superação da pobreza, por transferir renda e por

disponibilizar oportunidades, gerando, portanto, liberdade para o bem estar.

Na base teórica dos PTRC não foi identificada qualquer indicação à dimensão

estrutural da pobreza, sendo desconsideradas as condições geradoras da pobreza na

sociedade capitalista, produto da forma como se organiza para produzir e distribuir a riqueza

gerada socialmente, mediante um processo de geração de mais valia fundado na

exploração dos detentores do trabalho pelos que monopolizam os meios de produção. Ao

desconsiderar as determinações estruturais da pobreza, esta é reduzida a um atributo

negativo dos individuos e de suas famílias, estigmatizados e responsabilizados pelo seu

estado de pobreza, ficando a superação da pobreza intergeracional, sob a responsabilidade

dos indivíduos. O resultado desse processo não é a superação da pobreza, limitando seu

alcance na redução de situações de indigência, com melhorias imediatas nas condições de

vida do pobre, que tem seu potencial de sujeito perigoso minimizado, ao transformar-se num

consumidor marginal para que a estabilidade da ordem social seja garantida, em certo nível.

As análises desenvolvidas situam os PTRC na América Latina enquanto

resposta eficiente do Estado Motivador, Estado Incentivador, Estado Promotor que se volta

para mitigação das necessidades imediatas dos pobres, mediante uma transferência

monetária mínima para complementar a sobrevivência dos pobres. Igualmente, as

oportunidades para desenvolvimento de capacidades, à médio e longo prazo, são criadas

pela oferta de serviços de educação, saúde, nutrição e outros. Por conseguinte, as

condicionalidades no campo da educação e da saúde, representam estratégias

dinamizadoras do capital social dos pobres. São as oportunidades que devem ser ofertadas

pelo Estado e devidamente aproveitadas e maximizadas pelos beneficiários dos PTRC, para

que se instrumentalizem e se capacitem para superação da pobreza intergeracional. Por

conseguinte, a pobreza é desenraizada das estruturas, é individualizada, naturalizada e

transformada em responsabilidade dos indivíduos e de suas famílias, ocultando as

determinações estruturais geradoras da pobreza e, consequentemente, da riqueza (SILVA;

YAZBEK; COUTO, 2015).

Page 13: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

13

REFERÊNCIAS

CECCHINI, Simone; MADARIAGA, Aldo. Programas de Transferência Condicionadas: balance de la experiência reciente em América Latina y el Caribe. Santiago: Naciones Unidas, 2011. (Cuadernos de la CEPAL, 95). CODES, Luíza Machado de. A trajetória do pensamento científico sobre a pobreza: em direção a uma visão complexa. Texto para Discussão, Niterói, n. 1332, 2008. COMISSÃO ECONÔMICA PARA AMÉRICA LATINA E O CARIBE. Panorama Social de América Latina 2012: documento informativo. Santiago de Chile, 2012. EUZEBY, Chantal. Le revenu minimum garanti. Paris: La Decouvert, 1991. MILANO, Serge. La pauvreté absolute. Paris: Hachete, 1988. SEN, Amartya. Desenvolvimento com liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. ______. Hunger and entithements: research for action. Filand: World Institute for Development Economics Research: United Nation University, 1988. ______. Sobre conceptos y medidas de pobreza. Comércio Exterior, México, v. 42, n. 4, p. 310-322, abr. 1992. ______. Three notes on the concept of poverty, income distribution and employment programme. Working Paper, Genebra, n. 65, 1978. SILVA, Maria Ozanira da Silva e (Coord.) (Coord.). O Bolsa Família no enfrentamento à pobreza no Maranhão e Piauí. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2013. ______. Caracterização e Problematização dos Programas de Transferência de Renda Condicionada (PTRC) na América Latina e Caribe. In: ______. Programas de Transferência de Renda na América Latina e Caribe. São Paulo: Cortez, 2014. p. 85-232. ______. Pobreza, desigualdade e política públicas: caracterizando e problematizando a realidade brasileira. Revista Katálysis, Florianópolis, v. 13, n. 2, p. 155-163, jul./dez. 2010. _____. Aportes teóricos de fundamentação dos programas de transferência de renda na américa latina e caribe: pobreza, focalização, capital humano e capital social. In: CONGRESS OF THE LATIN AMERICAN STUDIES ASSOCIATION, 33., 2015, San Juan. Programa final... San Juan: LASA, 2015. Disponível em:<http://lasa-4.lasa.pitt.edu/auth/prot/congress-papers/lasa2015/>. Acesso em: 9 jun. 2015. ______; YAZBEK, Maria Carmelita; COUTO, Berenice Rojas. A pobreza enquanto categoria teórica e sua expressão no desenho e na implementação dos PTRC Bolsa Família (BF Brasil); Nuevo Régimen Asignaciones Familiares (AFAM-PE Uruguay) e Asignación por Hijo para la Protección Social (AUH Argentina). São Luís: GAEPP, 2015. Mimeo.

Page 14: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

14 ______; ______; GIOVANNI, Geraldo Di. A política social brasileira no século XXI: a prevalência dos programas de transferência de renda. 6. ed. rev. e ampl. São Paulo: Cortez, 2012. WANDERLEY, Luíz Eduardo. A questão social no contexto da globalização. In: ______, Mariangela Belfiore; BÓGUS, Lúcia; YAZBEK, Maria Carmelita (Orgs.). Desigualdade e questão social. São Paulo: EDUC, 2011.

Page 15: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

O CONTEXTO SOCIO-HISTÓRICO DA EMERGÊNCIA E DESENVOLVIMENTO DOS

PTRC NA AMÉRICA LATINA E CARIBE1

Valéria Ferreira Santos de Almada Lima2

RESUMO: Este artigo resulta do Projeto de Pesquisa intitulado Programas de Transferência de Renda Condicionada na América Latina: estudo comparado - Bolsa Família (Brasil), Nuevo Régimen de Asignaciones Familiares – AFAM-PE (Uruguai) e Asignación Universal por Hijo (Argentina), financiado pela Capes e CNPq. Objetiva analisar o contexto socio-histórico que ensejou a emergência e o desenvolvimento dos PTRC, como estratégia privilegiada de enfrentamento à pobreza na atualidade. Aborda, para tanto, as transformações experimentadas pelo sistema capitalista mundial a partir do final da década de 1960, com foco nas mudanças no padrão de regulação econômica e social do capitalismo, inspiradas na ideologia neoliberal. Em seguida, discute os rebatimentos e as especificidades de tais mudanças na região da América Latina e Caribe, com vistas a identificar os principais determinantes da inclusão de tais programas nos Sistemas de Proteção Social da grande maioria dos países latino-americanos a partir dos anos 1990. Palavras-chave: Contexto socio-histórico, Programas de Transferência de Renda Condicionada, América Latina e Caribe. ABSTRACT: This article results of the research project entitled Conditional Cash transfer Programs in Latin America a comparative study between Bolsa Família (Brazil), Nuevo Régimen of allocations Family - AFAM-PE (Uruguay) and Asignación Universal por Hijo (Argentina), supported by Capes and CNPq. It aims to analyze the socio-historical context that gave rise to the emergence and development of the PTRC, as a privileged strategy to confront poverty today. Addresses, therefore, the changes experienced by the world capitalist system since the end of the 1960s, focusing on changes in the pattern of economic and social regulation of capitalism, inspired by neoliberal ideology. Then, this article discusses the repercussions and the specifics of such changes in the Latin American and Caribbean region, in order to identify the main determinants of the inclusion of such programs in the system of social protection of most Latin American countries since 1990s. Keywords: Socio - historical Context, Conditional Cash Transfer Programs, Latin America and the Caribbean.

1 Esse artigo, apresentado na VII Jornada Internacional de Políticas Públicas (JOINPP), São Luís, 25 a 28 de agosto de 2015, contém resultados parciais de estudos desenvolvidos com o apoio da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), entidades do Governo brasileiro, voltadas para a formação dos recursos humanos e a pesquisa.

2 Doutora. Professora do Departamento de Economia e do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas (PPGPP) da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).E-mail: [email protected]

Page 16: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

16

1 INTRODUÇÃO

O presente texto se constitui em um dos produtos resultantes de um Estudo

Exploratório acerca dos Programas de Transferência de Renda Condicionada em

desenvolvimento na região da América Latina e Caribe, o qual, por seu turno se situa no

âmbito de um Projeto de Pesquisa financiado pela CAPES e pelo CNPq, intitulado

Programas de Transferência de Renda Condicionada na América Latina: estudo

comparado - Bolsa Família (Brasil), Nuevo Régimen de Asignaciones Familiares – AFAM-PE

(Uruguai) e Asignación Universal por Hijo (Argentina).

Isso posto, a reflexão aqui desenvolvida tem como objetivo central analisar o

contexto socio-histórico que ensejou a emergência e o desenvolvimento dos PTRC, como

estratégia privilegiada de enfrentamento à pobreza na atualidade. Assim sendo, em primeiro

lugar, aborda as transformações experimentadas pelo sistema capitalista mundial a partir do

final da década de 1960, em resposta a mais uma crise estrutural do capital destacando

especialmente as mudanças no padrão de regulação econômica e social do capitalismo,

inspiradas na ideologia neoliberal. Em seguida, discute os rebatimentos e as especificidades

de tais mudanças na região da América Latina e Caribe, consubstanciadas no ajuste

estrutural e desencadeadas a partir do Consenso de Washington, com vistas a identificar os

principais determinantes da inclusão de tais programas nos Sistemas de Proteção Social da

grande maioria dos países latino-americanos a partir dos anos 1990.

2 REESTRUTURAÇÃO CAPITALISTA E MUDANÇAS NO PADRÂO DE REGULAÇÃO

A partir do final da década de 1960, a economia capitalista mundial

experimentou uma inflexão cujos sintomas mais evidentes foram a desaceleração da taxa

de crescimento do produto industrial, a retração do valor do comércio internacional e uma

concomitante e extraordinária expansão financeira. Esta última, na visão de Arrigh (1996),

embora não tenha representado uma novidade no desenvolvimento do capitalismo,

sobretudo em momentos de acirramento da concorrência, assumiu uma dimensão e uma

sofisticação técnica sem precedentes na história desse sistema de produção, pondo em

xeque a própria autonomia dos Estados Nacionais no que tange à gestão da moeda e da

força de trabalho, além de repercutir negativamente sobre o mercado de trabalho.

Page 17: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

17

Tais manifestações expressaram mais uma crise estrutural do capital,

ocasionada pela queda da taxa de lucro, em um contexto de acirramento da concorrência

intercapitalista em âmbito mundial e de esgotamento do paradigma produtivo e tecnológico

taylorista-fordista para fazer face às exigências de elevação da produtividade e de

adequação aos novos padrões de competitividade.

Nesse contexto e em resposta à crise, assistiu-se a um conjunto de

transformações que extrapolaram a base produtiva e atingiram as demais esferas da

sociedade, dando conformação a um processo de reestruturação capitalista em escala

global. Com efeito, em substituição ao regime fordista de acumulação, ganhou espaço um

regime de acumulação flexível, cujas implicações foram muito além da introdução de

inovações tecnológicas e organizacionais nas unidades básicas que compõem a estrutura

do sistema capitalista, afetando o padrão dominante de regulação econômica e social e a

própria forma de organização do Estado. Tudo isso favorecido por um contexto político

marcado pelo fim da Guerra Fria e ascensão ao poder de partidos e governos

conservadores nos países capitalistas centrais, abrindo espaço para a disseminação e

aplicação do pensamento neoliberal (LIMA, 2002).

Particularmente no que tange ao padrão de regulação econômica e social,

enquanto no Welfare State Keynesiano, que deu sustentação ao regime fordista de

acumulação, o objetivo central era a geração de emprego em economias nacionais

relativamente fechadas, na nova forma assumida pelo Estado, denominada por Jessop

(1991) de Workfare State Shumpteriano, o foco se deslocou para a promoção da inovação

dos produtos, dos processos de organização e dos mercados, com vistas à competitividade

estrutural de economias abertas, a partir de mecanismos de intervenção econômica que

priorizam o lado da oferta e não mais o da demanda, como no Welfare State Keynesiano.

Tal mudança de orientação se traduziu, no plano econômico, em primeiro lugar,

em uma série de medidas que enfatizaram a estabilização monetária e o equilíbrio

orçamentário, em detrimento da geração de emprego, traduzidas, dentre outras, na

privatização de empresas estatais e na redução dos gastos públicos, sobretudo na área

social. Em segundo lugar, mas não menos importante, sobressaiu o reforço à

competitividade e à inserção da economia nacional na nova ordem mundial globalizada, por

meio de medidas tais como: a desregulamentação dos mercados, a redução e a

flexibilização dos custos trabalhistas, dentre outras (LIMA, 2002).

Por outro lado, no plano social, o novo padrão de regulação estatal substituiu as

políticas de integração de cunho universalista e distributivo pelas chamadas políticas de

Page 18: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

18

inserção, de caráter residual, focalizadas nos segmentos sociais mais vulneráveis. Segundo

Castel (1998), as primeiras, tendo como objetivo a homogeneização da sociedade a partir

do centro, compreendiam ações voltadas para a ampliação do acesso aos serviços públicos,

a redução das desigualdades, o desenvolvimento das proteções e a consolidação da

condição salarial. Já as segundas visam a reduzir o déficit de integração dos segmentos

mais vulneráveis, pautando-se na lógica da discriminação positiva, cujo horizonte é a

promoção da igualdade de oportunidades tão cara à tradição liberal (LIMA, 2008).

Dentre as políticas de inserção merecem aqui destaque os Programas de

Transferência de Renda Condicionada também denominados de Programas de Renda

Mínima, os quais, no contexto europeu, se desenvolveram em três momentos, conforme

destaca Stein (2009) baseada em uma periodização estabelecida por Ayala (2000): em um

primeiro momento emergiram as experiências pioneiras no bojo da fase expansiva do

modelo de acumulação europeu, como parte do processo de expansão dos Estados de

Bem-Estar modernos, em países como Dinamarca, Áustria, Suécia, dentre outros. Em um

segundo momento, as experiências assumiram um caráter emergencial para fazer face à

eclosão da crise econômica. O terceiro momento, iniciado em meados dos anos 1980, foi

marcado pela evolução dos Programas de Renda Mínima para as chamadas Rendas

Mínimas de Inserção (RMI), as quais associaram a garantia de renda ao apoio público para

facilitar a inserção dos beneficiários no mercado de trabalho.

3 A REGIÃO DA AMÉRICA LATINA E CARIBE SOB O IMPACTO DO AJUSTE

ESTRUTURAL DOS ANOS 1990

Centrando o foco da análise especificamente na região da América Latina e

Caribe, objeto da presente reflexão, a crise mundial iniciada em fins dos anos 1960, as

grandes transformações societárias ocorridas ao longo dos anos 1970 e seguintes, no

contexto do processo de globalização dos mercados e mundialização do capital, a crise da

dívida externa e a presença de vigorosos desequilíbrios macroeconômicos na região, na

década de 1980, impuseram, sob a regência dos países centrais e de agências multilaterais,

a adoção de novas medidas de gestão da política econômica por parte dos países

periféricos.

Page 19: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

19

Foi nessa perspectiva que o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco

Interamericano de Desenvolvimento (BIRD) reordenaram suas funções e iniciaram uma

nova postura junto aos países do antigo Terceiro Mundo, como instituições balizadoras da

gestão e da coordenação das novas políticas econômicas mundiais. Consolidou-se e

generalizou-se uma nova estratégia econômica para a periferia capitalista e para todos os

que deixaram de ser países em desenvolvimento para se transformarem em mercados

emergentes (FIORI, 1998).

Em vista disso, o ajuste estrutural teve como uma de suas características

centrais: legar maior importância ao papel dos mecanismos de mercado e por consequência

do setor privado; redefinir o papel do Estado na sua ação interventora; e, integrar os países

periféricos, nesse caso, os da América Latina na economia mundial.

As reformas contidas nos planos de ajuste estrutural marcaram a implantação de

um novo modelo de desenvolvimento econômico efetivado pelos governos da América

Latina, sobretudo nos anos 1990. Assim, “[...] chegava à periferia capitalista endividada e

em particular à América Latina uma versão adaptada das idéias liberal-conservadoras.”

(FIORI, 1998, p. 121-122).

As orientações de políticas econômicas visando e projetando o ajuste para a

América Latina encontram-se bem definidas no documento denominado Consenso de

Washington3, o qual foi respaldado por organismos internacionais e pelos países centrais,

controladores da globalização. Nesse documento, consta a série de reformas que as

economias estatizadas da América Latina deveriam aplicar para atrair novamente os capitais

privados depois da arrasadora crise da dívida dos anos 1980, a década perdida como ficou

registrada na literatura.

O Consenso tinha como intento, através de uma proposta de política econômica,

desencadear as necessárias mudanças, através de: (a) um pacote de reformas estruturais,

comportando a liberalização da conta corrente do balanço de pagamentos e de sua conta de

capitais, a desregulamentação dos controles de preços na economia (particularmente,

salários, taxas de juros e taxa de câmbio) e a privatização de áreas importantes da atividade

produtiva; e (b) de políticas macroeconômicas de estabilização, com o objetivo de superar a

3 Entende-se que o Consenso de Washington “[...] condensava e traduzia as idéias neoliberais, já hegemônicas nos países centrais, na forma de um pacote terapêutico para a ‘crise econômica’ da periferia capitalista” (FIORI, 1998). O Consenso concretizou-se com aprovação e respaldo do Tesouro dos EUA e de instituições com reconhecimento público quanto a seu vínculo com o capital hegemônico internacional (FMI, BM, BIRD e OMC).

Page 20: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

20

crise da dívida externa, eliminando os desequilíbrios econômicos, com alto déficit e alta

inflação (WILLIAMSON; KUCZYNSKI, 2004).

Em síntese, o conjunto de políticas implantado na região, ao longo dos anos

1990 pode, concisamente, ser dividido em três ordens de proposições. A primeira era

relativa às políticas macroeconômicas, com recomendação de uma intensa austeridade

fiscal e disciplina monetária, articulada a um programa de corte nos gastos públicos, além

de reformas administrativas, previdenciárias e fiscais. A segunda, atinente a políticas

microeconômicas, colocava a necessidade de desonerar o capital, na perspectiva de que,

assim, aumentaria sua competitividade em um mercado internacional aberto e desregulado.

Para isso, era imprescindível que as empresas dos países periféricos entrassem no jogo

global, sendo obrigatório expô-las à competição internacional aberta, o que demandava

suprimir políticas de proteção e subsídio. O entendimento era de que isso seria constituído

“[...] com a diminuição dos encargos sociais e a racionalização das intervenções nos

sistemas de crédito público e fiscal.” (FIORI, 1998, p. 85). A terceira mencionava a

necessidade de mudança radical no modelo de industrialização pautado na substituição de

importações, adotado pela maioria dos países da região desde meados dos anos 1950, o

que permitiria a retomada dos investimentos e do crescimento econômico.

A reestruturação inspirada no pensamento neoliberal teve importantes

conseqüências na região da América Latina e Caribe. Sempre considerando as

especificidades de cada país, não resta dúvida que os processos de privatização, ajuste

fiscal, flexibilização da relação capital-trabalho, abertura dos mercados e deterioração dos

recursos naturais e energéticos bem como dos serviços públicos provocaram impactos

significativos nos diferentes países da região, resumidos em uma crescente massa da

população em condições de pobreza e na precarização do trabalho.

Com efeito, a América Latina fechava o século XX com quase a metade da sua

população em situação de pobreza, e sendo considerada uma das regiões mais desiguais

do mundo: em 1999, 43,4% da população latino-americana se encontrava em situação de

pobreza. Até inícios dos anos 2000 os momentos de crescimento econômico não só não

implicaram progressos substantivos na redução da pobreza e da desigualdade como

incidiram para o agravamento dos índices da extrema pobreza (COMISSÃO ECONÔMICA

PARA AMÉRICA LATINA E O CARIBE, 2012).

De fato, durante a década de 1990, as políticas de ajuste neoliberal na América

Latina, superpostas à herança social acumulada histórica e estruturalmente, recrudesceram

o quadro de crise social da região, com o aumento considerável das taxas de desemprego.

Page 21: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

21

Entre 1990 e 2002 a taxa média do desemprego na América Latina tinha aumentado de

4,5% para 11,1%. Com exceção do Chile, todos os países do Cone Sul ultrapassaram a

taxa média de desemprego latino-americano em 2002. Paralelamente, segundo o Relatório

da Organização Internacional do Trabalho, oito de cada dez postos de trabalho, criados nos

anos 1990, correspondiam a ocupações de baixa qualidade no setor informal. Assim, ao

histórico problema do desemprego estrutural na América Latina, somou-se, na década de

1990, o aumento da precariedade e fragilidade das relações de trabalho (COMISSÃO

ECONÔMICA PARA AMÉRICA LATINA E O CARIBE /OIT, 2011).

As mudanças no mercado de trabalho tiveram conseqüências profundas na

proteção social. Isto porque, dadas as características dos Estados Sociais latinoamericanos,

o trabalho remunerado e, em particular, o acesso ao emprego formal é o vínculo por

excelência para o acesso à proteção social em matéria de seguridade social e, em menor

medida, também em matéria de saúde.

A propósito, particularmente no que tange aos sistemas de proteção social

latinoamericanos, as propostas e tendências centrais de orientação neoliberal impuseram

uma modificação das políticas de proteção social em direção a uma perspectiva residual-

liberal. Assim sendo, os sistemas de proteção social até então centralizados, setorializados,

com aspiração de universalidade e administrados estatalmente, configurados no marco do

modelo de substituição de importações, foram desestruturados e reformados por modelos

de políticas sociais descentralizados, integrais, focalizados e com a ampliação de processos

de privatização. Estes modelos de perspectiva liberal se apoiam na idéia de que é o

mercado, através do crescimento económico e a teoría do derrame, quem cumprirá o papel

fundamental de incorporação social. Este esquema se centra em intervir na pobreza e nos

pobres, desarmando as relações inerentes ao modelo institucional de proteção social que

institucionalizava garantias e direitos aos segmentos de trabalhadores organizados e

formalizados. Desta forma, expressa uma das facetas da reação contra a organização da

classe trabalhadora, que sofreu múltiplos embates através de processos de reestruturação

produtiva, repressão política e crises econômicas nas últimas duas décadas do século XX.

Na primeira década do século XXI, verificaram-se na América Latina - com suas

heterogeneidades e complexidades - algumas inflexões em relação às décadas finais do

século XX. Em um contexto de crescimento económico e de mudanças no campo político de

diversos países da região, se registraram melhorias em alguns indicadores sociais,

centralmente na pobreza, na indigência e nas taxas de desemprego.

Page 22: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

22

Pela primeira vez em 20 anos, a partir de 2003, é possível apontar um processo

de redução sistemática da pobreza e da indigência. Não só porque se alcançou, em 2012,

uma redução de 15 e 7.2 pontos percentuais, respectivamente, em relação aos percentuais

de 1999, mas também porque foi uma tendência observada em grande parte dos países da

região. Entre 2002 e 2008 a redução da pobreza e da indigência tinha-se manifestado em

praticamente todos os países (COMISSÃO ECONÔMICA PARA AMÉRICA LATINA E O

CARIBE, 2012). Paralelamente, embora a América Latina continue sendo uma das regiões

mais desiguais do mundo, após os anos 2002 a região vivenciou uma queda substancial nos

índices de concentração de renda. Contrariamente ao aumento das desigualdades de renda

dos anos 1990 até início dos 2000, a partir de 2002, o coeficiente de Gini, na região e em

quase todos os países, vivenciou uma queda sistemática. Enquanto 11 de 18 países

estudados tiveram aumento do coeficiente Gini durante o período de 1990 a 2002, de 2002

a 2008 a tendência foi a sua diminuição, com exceção da Guatemala e República

Dominicana. Note-se, inclusive, que a melhora distributiva se manteve mesmo após as

crises econômicas internacionais, de 2008. Dos 18 países estudados somente na República

Dominicana, Paraguai e Equador a desigualdade teve um leve aumento, durante os anos de

2008 e 2010 (COMISSÃO ECONÔMICA PARA AMÉRICA LATINA E O CARIBE, 2011).

Entretanto, a América Latina, quando comparada a outras regiões do mundo,

continua sendo uma das mais desiguais. Todas as regiões, excetuando a África subsaariana

apresentam um coeficiente de Gini inferior ao latino-americano. Isto, porque apesar da

queda das disparidades de renda, a desigualdade permanece como marca estrutural na

região: a renda média do quintil mais rico é 18,3 vezes maior que a do quintil mais pobre

(COMISSÃO ECONÔMICA PARA AMÉRICA LATINA E O CARIBE, 2012).

A melhoria dos indicadores de pobreza e desigualdade respondem, em parte ao

crescimento econômico que teve como efeito positivo a geração de novos postos de

trabalho. De fato, fases de crescimento do PIB similares na década anterior, não só não

diminuíram como aumentaram as taxas de desemprego. O período entre 2003 e 2010

representa a primeira vez em duas décadas em que o desemprego diminuiu na América

Latina e que os salários mínimos nacionais aumentaram. Quando se compara os períodos

de 1991 a 1997 e de 2003 a 2010 é possível perceber uma tendência relativamente similar

em termos de crescimento econômico (representada pelo PIB) e comportamentos inversos

em termos da taxa de desemprego e da ocupação. Enquanto nos anos 1990 o desemprego

aumentou e a taxa bruta de ocupação diminuiu, nos anos 2000, com o mesmo nível de

crescimento, o desemprego diminuiu e a taxa de ocupação aumentou. Em termos de

Page 23: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

23

salários, a década de 2000 permitiu recuperar a perda do salário real acontecida nos anos

1990 e um aumento significativo dos salários mínimos nacionais.

Apesar do relativo aumento do emprego formal de trabalhadores assalariados

que passaram de 65,2% em 1990 para 69% em 2010 e da queda relativa do percentual de

trabalhadores nos setores de baixa produtividade e informalidade, que diminuiu de 48,1%

em 1990 para 42,7% em 2009, o setor de baixa produtividade continua sendo determinante

na estrutura produtiva latino-americana, associado geralmente ao emprego de trabalhadores

menos qualificados, com precária vinculação aos sistemas de previdência e baixos

rendimentos.

Paralelamente a essas mudanças, sob a regência de setores de esquerda que

ascenderam ao poder em vários países da região na década de 2000, se observaram

críticas às orientações das reformas neoliberais. Nesse contexto, passaram a coexistir dois

enfoques gerais sobre política social: um relacionado com a competitividade sistêmica, em

que conceitos como o de capital humano e o de transmissão intergeracional da pobreza

ganham relevancia; outro vinculado ao enfoque de direitos e garantías de cidadania e

sustentado nos pactos e tratados internacionais assumidos pelos Estados. Estes enfoques

não são excludentes entre si, ainda que o segundo tenha alcançado maior visibilidade nos

anos recentes (CECCHINI; MARTÍNEZ, 2011). Em termos de modelo de desenvolvimento,

há um debate controvertido na literatura sobre a emergência de um novo padrão

denominado de neodesenvolvimentismo.

Tal debate nasce mais precisamente no início do século XXI, em um contexto

em que os países da América Latina, grande parte deles sob o comando de governos

progressistas, oriundos de partidos de esquerda, vivenciavam uma inflexão marcada pela

associação entre a retomada do crescimento econômico, favorecida por um contexto

internacional favorável, e a melhoria dos indicadores sociais, sobretudo aqueles

relacionados ao mercado de trabalho, à pobreza e à desigualdade.

Há que se reconhecer que todas essas mudanças expressas na melhoria dos

indicadores sociais resultaram da retomada do crescimento econômico, acompanhada de

políticas distributivas que possibilitaram a incorporação de parcela significativa da população

latino-americana a novos padrões de consumo, promovendo, assim, a expansão e

dinamização dos mercados internos. Dentre estas políticas, destacam-se os programas de

transferência de renda e a valorização dos salários mínimos nacionais.

Mas essa importante e não desprezível inflexão experimentada pela maioria dos

países latino-americanos seria suficiente para se vislumbrar a ruptura com o neoliberalismo

Page 24: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

24

e a emergência de um novo-desenvolvimentismo? Arrisca-se aqui a afirmar que não. Isto

porque não mudou o sentido geral que orienta o padrão de regulação econômica e social do

capitalismo no atual contexto de mundialização do capital, de financeirização da economia e

de predomínio de um regime de acumulação flexível. Trata-se de assegurar as condições de

flexibilidade necessárias ao atual processo de reorganização capitalista e compensar os

efeitos perversos da globalização dos mercados e da busca de eficiência e de

competitividade a qualquer preço (LIMA, 2008).

Pode-se depreender, portanto, que esse padrão de regulação em voga nos

países capitalistas centrais a partir da virada dos anos 1970 para os 80 e apropriado pela

periferia latino-americana, sobretudo, nos anos 1990 permanece intacto em sua essência

quando comparado com a agenda proposta pelos ideólogos do novo-desenvolvimentismo,

com algumas mudanças secundárias. Dentre estas se podem destacar: uma maior

intervenção do Estado na economia, no sentido de corrigir as falhas do mercado, o que não

significa necessariamente ruptura com os fundamentos centrais do neoliberalismo, já que,

como ressalta Polanyi (1980), o liberalismo econômico e o intervencionismo estatal não são

mutuamente excludentes; medidas de cunho distributivo e de ampliação do crédito ao

consumo das famílias, com vistas à ampliação e dinamização do mercado interno, o que

não se traduz em superação do caráter essencialmente residual e compensatório do padrão

vigente de proteção social e nem em mudança na forma de repartição do fundo público,

destinado prioritariamente para à remuneração das frações rentistas do capital.

Em realidade, é importante indicar que é a partir desse cenário que se prolifera

na região a implantação de Programas de Transferência de Renda Condicionada (PTRC),

cujo objetivo, nos discursos dos Chefes de Estado e de seus executivos e formuladores de

políticas sociais, é o de erradicação da pobreza. No entanto, por detrás desse discurso é

plenamente possível a percepção de que esses Programas são resultantes de imposições

dadas por restrições de natureza interna e externa. As internas estão no alinhamento do

gasto público estatal em razão da redefinição do papel do Estado e da governança

macroeconômica exigida pelo ajuste estrutural, e, as externas estão materializadas nos

compromissos firmados pelos Chefes de Estado tanto na I Cúpula das Américas, da

Organização dos Estados Americanos (OEA), realizada no ano de 1994 em Miami, quanto

nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM)4 para a região, estabelecidos em

setembro de 2000, sendo o principal a erradicação da pobreza.

4 Os ODM foram fixados para o período 1990-2015. Ao todo são oito objetivos, abrangendo desde a erradicação da pobreza e preocupações como ensino, saúde e igualdade de gênero até aspectos

Page 25: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

25

4 CONCLUSÃO

A partir da reflexão desenvolvida neste texto, pode-se concluir que os PTRC,

incorporados, a partir da década de 1990, aos Sistemas de Proteção Social da grande

maioria dos países que integram a região da América Latina e Caribe, como estratégia

privilegiada de enfrentamento à pobreza e às desigualdades sociais, resultam de um

conjunto de transformações experimentadas pelo sistema capitalista em âmbito mundial e

em especial no continente latino-americano.

Dentre estas transformações, destaca-se a mudança no sentido geral que

orienta o padrão vigente de regulação econômica e social do capitalismo, cujo foco deixa de

incidir na garantia do pleno emprego em economias nacionais parcialmente protegidas,

passando a se centrar na garantia das condições de flexibilidade necessárias ao atual

processo de reorganização capitalista e na compensação dos efeitos perversos da

globalização e da busca de eficiência e de competitividade a qualquer custo. O rebatimento

de tal mudança em termos do padrão dominante de Política Social é a substituição ou pelo

menos a secundarização das políticas de cunho universalista em favor das políticas de

caráter residual, focalizadas em populações e regiões mais vulneráveis.

A manifestação concreta dessas transformações no âmbito da região da América

Latina e Caribe foi a implementação, sobretudo a partir da década de 1990, de um conjunto

de reformas estruturais, inspiradas no Consenso de Washington e impostas pelos

Organismos Financeiros Internacionais, com vistas a favorecer a inserção das economias da

região à nova ordem mundial globalizada.

As consequências desse ajuste estrutural foram deletérias do ponto de vista dos

indicadores de mercado de trabalho, pobreza e desigualdade, sobrepondo-se a uma

realidade já historicamente marcada pela heterogeneidade estrutural, pela forte

segmentação do mercado de trabalho e pelo predomínio de Sistemas de Proteção Social

que não lograram a universalização de importantes direitos sociais, posto que tinham no

trabalho remunerado e, em particular, no acesso ao emprego formal o requisito essencial

para o direito à proteção social em matéria de seguridade e também, em certos casos, em

matéria de saúde. De fato, apesar de melhorias não desprezíveis experimentadas pelos

indicadores sociais da região a partir da primeira metade dos anos 2000, a pobreza e a

relacionados ao meio ambiente e ao estabelecimento de uma aliança mundial para o desenvolvimento. O alcance está associado à execução de 18 metas, divididas em 48 indicadores (COMISSÃO ECONÔMICA PARA AMÉRICA LATINA E O CARIBE, 2005).

Page 26: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

26

desigualdade ainda persistem como marcas histórico-estruturais da região, a qual figura até

hoje como uma das mais desiguais do mundo.

Foi, portanto, em um contexto de recrudescimento e de persistência da pobreza

e das desigualdades sociais e de mudanças do padrão de regulação econômica e social que

emergiram os PTRC, os quais foram incluídos na agenda dos governos eleitos entre as

décadas de 1990 e 2000, muitos destes de tendências progressistas, como principal

estratégia para fazerem cumprir os compromissos assumidos relativos aos Objetivos de

Desenvolvimento do Milênio, dentre os quais se destaca a erradicação da pobreza.

Entretanto, convém aqui ressaltar que, diante das novas condições de

acumulação do capitalismo globalizado e do padrão vigente de regulação, a característica

mais marcante e perturbadora da atualidade é o desemprego. Ademais, considerando-se

especialmente o novo padrão de regulação econômica e social do capitalismo, inspirado na

ideologia neoliberal, vale lembrar a afirmação de Gentili (1998) segundo o qual

A garantia do emprego como direito social (e sua defesa como requisito para as bases de uma economia e uma vida política estável) desmanchou-se diante da nova promessa de empregabilidade como capacidade individual para desfrutar as limitadas possibilidades de inserção que o mercado oferece. (GENTILI, 1998, p. 89).

Inspirada na Teoria do Capital Humano5, revista e atualizada, sobretudo a partir

da segunda metade dos anos 1980, a promessa da empregabilidade, de caráter

essencialmente privado, recupera a concepção individualista da Teoria do Capital Humano

em sua versão original. Entretanto, ela elimina o nexo que tal teoria estabelecia entre o

desenvolvimento do capital humano individual e o capital humano social, já que o tão

propalado incremento das capacidades individuais aumenta tão somente as condições de

empregabilidade, estando a efetiva inserção no mercado de trabalho condicionada ao êxito

ou fracasso de cada um (LIMA, 2008).

Portanto, dada a condição inimpregável de grande parte da população à qual se

destinam os Programas de Transferência de Renda Condicionada, assim como as demais

políticas de inserção, e considerando-se seus limites para reintegrar segmentos sociais que

são inintegráveis (face às novas exigências do mercado de trabalho e às especificidades do

5 A Teoria do Capital Humano, uma das mais importantes referências teóricas da economia da educação, despontou nos anos 1950-60, tendo como pressuposto o de que o Estado, ao investir na promoção de políticas planejadas de educação e formação de mão-de-obra, estaria contribuindo, por um lado, para o aumento da renda individual (derivada do incremento do capital humano individual) e, por outro, para o aumento da riqueza social (derivada do incremento do capital humano social).

Page 27: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

27

atual regime de acumulação), tais políticas vêm perdendo o seu pretenso caráter transitório

para se tornarem permanentes.

Nesse sentido, finaliza-se este texto concordando-se com Castel (1998),

segundo o qual a inserção propiciada por políticas dessa natureza deixa de representar uma

etapa provisória, transformando-se em um Estado ou uma nova modalidade de existência

social, situada entre a completa exclusão e a integração (LIMA, 2008).

REFERÊNCIAS

ARRIGH, Giovanne. O longo século XX. Rio de Janeiro: Contraponto; São Paulo: Editora UNESP, 1996. CASTEL, Robert. As metamorfoses da questão social: uma crónica do salário. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998. CECCHINI, Simone; MARTÍNEZ, Rodrigo. Protección social inclusiva en América Latina: una mirada integral, un enfoque de derechos. Santiago de Chile: CEPAL, 2011. COMISSÃO ECONÔMICA PARA AMÉRICA LATINA E O CARIBE. Panorama social de América Latina 2011. Santiago de Chile, Nações Unidas, 2011. ______. Panorama social de América Latina 2012: documento informativo. Santiago de Chile, Nações Unidas, 2012. ______; ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Coyuntura Laboral em América Latina y el Caribe: los programas de transferencia condicionadas u el mercado laboral. Santiago de Chile, 2011.

FIORI, José Luís (Orgs.). Poder e Dinheiro: uma economia política da globalização. 6 ed., Petrópolis, RJ: Vozes, 1998, p. 87-150. GENTILI, Pablo. Educar para o desemprego: a desintegração da promessa integradora. In: FRIGOTO, Gaudêncio (Org.). Educação e crise do trabalho: perspectivas do final do século. Petrópolis, RJ: Vozes, 1998. JESSOP, Bob. Changing forms and functions of the State in na era of globalization and regionalization. [S. l.: s. n.], 1991. In: European Association for Evolutionary Political Economy, Paris, 1991. Paper… Paris, 1991. LIMA, Valéria Almada. Reforma do Estado e Controle Social: limites e possibilidades da descentralização e do terceiro setor. Revista de Políticas Públicas, São Luís, v. 6, n. 2, p. 2002.

Page 28: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

28

______, Valéria Ferreira Santos de Almada. Apresentando referências de fundamentação das experiências de pesquisas avaliativas. In: SILVA, Maria Ozanira da Silva e (Org.) Pesquisa Avaliativa: aspectos teórico-metodológicos. São Paulo: Veras Editora; São Luís: GAEPP, 2008.

POLANYI, Karl. A grande transformação. Rio de Janeiro: Campus, 1980. STEIN, Rosa Helena. Configuração recente dos programas de transferência de renda na América Latina: focalização e condicionalidade. In: BOSCHETTI, Ivanete et al. (Orgs.). Política social no capitalismo: tendências contemporâneas. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2009. WILLIAMSON, J.; KUCZYNSKI, P. P. Depois do Consenso de Washington: retomando o crescimento e a reforma na América Latina. São Paulo: Saraiva, 2004.

Page 29: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

29

LAS CONDICIONALIDADES COMO EXPRESIÓN DE LA "INVERSIÓN DE LA

DEUDA": transferencias de renta, capital humano y superación de la pobreza

intergeneracional6

Maria Laura Vecinday Garrido 7

Resumen: Las condicionalidades exigidas en los programas de transferencia de renta (PTRC), su fundamento en la "teoría" del capital humano y social como estrategia de "combate" a la pobreza, su significación sociopolítica en el campo social y los mecanismos de gestión asociados a su contralor, ha sido una de las dimensiones abordadas para el análisis de los PTRC en el marco del proyecto Estudio Comparado de los Programas de Transferência de Renda na América Latina. El trabajo presenta los debates sobre el tema con énfasis en los aspectos que constituyen un denominador común identificable en los PTRC analizados. Palabras clave: Transferencia de renta, condicionalidades, capital humano. Abstract: Conditionalities required by income transfer programs (PTRC), founded on the "theory" of human and social capital as a strategy for "combat" poverty , socio-political significance of the management mechanisms associated with its controller, has been one of the dimensions addressed in the analysis of PTRC in the project Comparative Study of Transfer Programs Renda America na America Latina. The paper presents the debates on the topic with emphasis on those aspects which constitute a common denominator in these PTRC. Keywords: Income transfer, conditionalities, human capital.

6 Esta ponencia, presentada en la VII Jornada Internacional de Políticas Públicas, São Luís, 25 a 28 de agosto de 2015, contiene resultados parciales de estudios desarrollados con apoyo de la Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) y del Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

7 Doctora. Docente e investigadora del Departamento de Trabajo Social de la Facultad de Ciencias Sociales, Universidad de la República, Uruguay. E mail: [email protected]

Page 30: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

30

1 INTRODUCCIÓN

Los programas de transferencia de renta condicionada (PTRC) vehiculizan un

discurso y una práctica apoyados en un supuesto básico: la pobreza es resultado de

carencias de capital social presentes en las familias pobres. Este supuesto define la forma

de intervención sobre estas familias proponiendo su participación en actividades orientadas

a ampliar su capital humano mediante la exigencia de condicionalidades. Las transferencias

de renta no representan una novedad en el repertorio de programas sociales. En varios

países de la región se encuentran antecedentes de programas con presencia del

mecanismo de la transferencia de renta. Lo novedoso es la dimensión que han tomado

estos programas, que representan la principal estrategia de combate de la pobreza en la

región, la exhaustividad de su presencia en América Latina y que su administración

demanda la constitución de instancias institucionales específicas.

El tema de las condicionalidades ha generado importantes debates y

controversias en los análisis sobre los PTRC. La problematización de las condicionalidades

asociadas a las transferencias de renta ha sido una de la dimensiones seleccionadas para el

Estudio Comparado de los Programas de Transferência de Renda na América Latina y es el

origen de esta presentación.

El trabajo sintetiza los contenidos centrales que fueron objeto de reflexión en el

estudio de las condicionalidades: principales posiciones en el debate, su particular expresión

en los tres programas comparados (Bolsa Família - Brasil, Asignación Universal por Hijo –

Argentina y Asignación Familiar del Plan de Equidad – Uruguay), su fundamento en la teoría

del capital humano, su significación sociopolítica en el campo social y los mecanismos de

gestión asociados a su contralor.

Las condicionalidades son parte constitutiva de los PTRC más allá de las

particularidades que asume su gestión y contralor en los distintos países. De este modo, el

análisis de las condicionalidades representa una puerta de entrada privilegiada para

comprender la orientación general que adoptan las politicas de combate o de alivio a la

pobreza desplegadas en la región en estas últimas décadas. El análisis de las

condicionalidades aporta elementos para comprender cómo los promotores de los PTRC

interpretan el fenómeno de la pobreza, a qué factores atribuyen su perpetuación, sobre qué

aspectos y hacia dónde se debe orientar la intervención, qué responsabilidades le caben al

Estado y cuáles a los individuos, etc. Además, cuando este análisis incorpora las

particularidades de los contextos nacionales permite avanzar en la comprensión del papel

específico que desarrollan las condicionalidades en cada caso y los distintos matices que

Page 31: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

31

adopta su control y seguimiento.

El trabajo avanza, sin pretensión de exhaustividad, sobre algunas derivaciones

analíticas que se desprenden del estudio de las condicionalidades presentes en los PTRC

estudiados.

2 LA EXIGENCIA DE CONDICIONALIDADES COMO FORMA DE "COMBATE" A LA

POBREZA

Las condicionalidades no refieren a las condiciones o atributos de elegibilidad

que deben satisfacer los potenciales beneficiarios de una prestación sino que son

imposiciones que deben cumplir los beneficiarios de una prestación como condición para

continuar recibiéndola. Si las operaciones de identificación y selección de la población a la

cual se focaliza la prestación nos informan sobre el perfil de los beneficiarios, las

condicionalidades nos informan sobre los comportamientos promovidos para esta población.

Del estudio comparado de la Asignación Universal por Hijo (AUH) en Argentina,

las Asignaciones Familiares del Plan de Equidad (AFAM-PE) en Uruguay y del Bolsa Familia

(BF) en Brasil se desprende que en los tres casos se exigen condicionalidades educativas y

sanitarias y que las principales diferencias se registran en los mecanismos de control,

verificación y tipo de sanción en caso de incumplimiento. El cuadro siguiente resume las

condicionalidades exigidas por cada programa:

Cuadro 1 - Condicionalidades sanitarias y educativas por programa analizado

AUH Controles sanitarios y plan de vacunación obligatorio hasta los 4 años

Asistencia a establecimientos educativos públicos (5 a 18 años)

AFAM-PE Controles obstétricos establecidos para las embarazadas

Asistencia a establecimientos educativos de niños y adolescentes

BF Embarazadas: inscripción en pre-natal y consultas médicas establecidas Responsables de niños menores de 7 años: participar de actividades educativas (amamantamiento materno y alimentación saludable). Niños de 0 a 7 años: carné de salud, vacunación vigente,

Asistencia minima de 85% en niños y de 75% en adolescentres entre 6 y 15 años a establecimientos educativos.

Asistencia Social: niños y adolescentes hasta 15 años en situación de riesgo o retirados del trabajo infantil deben participar de los Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, con actividades en el turno

Page 32: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

32

seguimiento del estado nutricional.

libre, alcanzando una frecuencia minima de 85% de la carga horaria mensual de esas actividades.

Fuente: Elaborada pela autora.

Cuadro 2 - Efectos del incumplimiento y mecanismos de control de condicionalidades

por programa analizado

AUH La falta de acreditación produce la pérdida del beneficio. Los preceptores reciben el 80% del monto total de la transferencia y el 20% restante se abona de forma anual al verificarse el cumplimiento

Acreditación: mediante registro de autoridades educativas y sanitarias en la Libreta Nacional del niño o adolescente Organismo: ANSES

AFAM-PE La falta de acreditación produce la pérdida del beneficio.

Acreditación: bases de datos con cruzamiento de información sobre asistencia a centros educativos. No se han controlado las condicionalidades sanitarias. Organismo: BPS

BF La falta de acreditación desencadena: advertencia, bloqueo, suspensión o cancelación

Acreditación: bases de datos con cruzamiento de información sobre asistencia a centros educativos y de salud. Organismo: Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS)

Seguimiento: municipios

Fuente: Elaborada pela autora.

De este segundo cuadro, se deduce que los criterios ante situaciones de

incumplimiento son difererentes en cada programa:

• En las AFAM-PE el beneficio se pierde;

• En la AUH se retiene una parte de la transferencia hasta que se verifica el requisito

de la condicionalidad y se pierde si esto no se constata;

• En el BF el beneficio se retira pero se acumula y reintegra una vez cumplida la

condicionalidad.

El debate sobre las condicionalidades puede ser ordenado según tres

Page 33: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

33

perspectivas:

a) Las condicionalidades entendidas como forma de acceso y ampliación de derechos

es la perspectiva oficial que acompaña la fundamentación del carácter condicionado

de la prestación. Las condicionalidades contribuirían para afirmar los derechos

sociales básicos.

b) Las condicionalidades entendidas como negación de derechos representa la

concepción opuesta a la anterior, por considerar que a un derecho no se le pueden

imponer contrapartidas, exigencias o condicionalidades como forma de mantener el

beneficio.

c) Las condicionalidades entendidas como mecanismos de control social y moral de

los pobres y sus comportamientos. Esta concepción aparece fuertemente

representada en un sentido común social que considera legítimas y deseables las

condicionalidades en tanto mecanismos de educación de los pobres, reclamando

de los gobiernos el control y el castigo ante su incumplimiento (SILVA; GUILHON;

LIMA, 2013).

Como fuera dicho, los discursos oficiales registrados en los documentos de los

casos analizados sitúan la perspectiva oficial sobre las condicionalidades entendiéndolas

como forma de efectivizar derechos sociales en el marco de programas de combate a la

pobreza.

Otro rasgo distintivo es que solo el BF prevé acciones dirigidas a identificar e

intervenir sobre los factores asociados al no cumplimiento. En estas situaciones, la primer

respuesta es incentivar a las familias para el apego a los comportamientos derivados de las

condicionalidades hasta llegar a la pérdida del beneficio como sanción. No ocurre los mismo

con las AFAM-PE y la AUH que no despliegan intervenciones asociadas al incumplimiento ni

advierten a la familia sobre la posibilidad de perder el beneficio.

Esta nueva generación de programas de combate a la pobreza promovida por

organismos internacionales y adoptada por los países del continente privilegia la

transferencia de renta como principal respuesta al problema. Las transferencias pueden

asumir distintas modalidades pero ha sido la transferencia en metálico la opción preferencial.

El problema de las distintas opciones de transferencias (en metálico, en especies

o combinadas) ha sido estudiado fundamentalmente por la teoría económica registrándose

los primeros trabajos sobre el tema en la década del 40. Esta literatura centra sus estudios

en si los Estados deben producir bienes y servicios o limitarse a transferir renta de forma

Page 34: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

34

que los individuos acudan al mercado para resolver sus demandas. Muchos argumentos en

el campo de la teoría económica, preocupados por la utilidad del receptor, apoyan esta

alternativa fundándose en que (i) habilita mayor margen de libertad a la acción individual, (ii)

podría, eventualmente, resultar menos onerosa para las arcas del Estado y (iii) que nadie

conoce mejor sus necesidades que aquel que laspadece. Estos estudios jerarquizan lo que

se ha dado en llamar la “[…] doctrina de la soberanía absoluta del consumidor.” (PIEDRA,

2004). Este parece ser el espíritu que orientó el diseño de los PTRC analizados (BENTURA;

VECINDAY, 2015).

Sin embargo, estos programas no solo transfieren renta sino que condicionan la

continuidad del beneficio al ejercicio de ciertas prácticas. En ese sentido, la doctrina de la

soberanía absoluta del consumidor se articula con exigencias comportamentales que

responden a una especial preocupación para que la transferencia cumpla con los fines

previstos, es decir constituir un estímulo para que sus beneficiarios demanden servicios

educativos y sanitarios. Tal preocupación se materializa en el establecimiento de una

vigilancia más o menos estricta sobre el cumplimiento de las condicionalidades y supone

cierta preocupación por la incompetencia moral de los pobres y su incapacidad de “[...]

gobernar el conflicto endémico entre sus deseos y sus capacidades.” (BAUMAN, 2001, p.

80-83). La transferencia en dinero sujeta a condicionalidades pretende operar directamente

como un estímulo económico para modificar determinados comportamientos de la población

beneficiaria siguiendo el supuesto de la racionalidad del homoeconomicus y fundamentado

en la idea de que la pobreza y su reproducción intergeneracional también responde a

atributos comportamentales de los pobres.

Como vimos, los promotores de los PTRC argumentan que la exigencia de

condicionalidades educativas y sanitarias constituye una estrategia de superación

intergeneracional de la pobreza. Los fundamentos para la exigencia de condicionalidades en

educación y salud se encuentran en la denominada teoría del capital humano. Esta teoría

promueve la idea de que la pobreza puede ser superada mediante el desarrollo de las

capacidades de los pobres y concluye que la inversión destinada a elevar las capacidades

de los pobres constituye una estrategia apropiada para combatir la pobreza. La perpetuación

de la pobreza, desde esa perspectiva, podría ser alterada si se superan las ausencias o

déficits de capacidades y destrezas que dificultan a los individuos superar su desempeño en

el mercado.

La teoría del capital humano es difundida en la década del 90 por el Programa

de las Naciones Unidas para el Desarrollo (PNUD) como principios orientadores y

Page 35: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

35

recomendaciones para la implementación de medidas estratégicas de lucha contra la

pobreza. Su origen data de 1959 con la obra del economista Theodore Schultz quien

destaca el papel de la educación y la formación de capacidades como instrumento para

mejorar los desempeños productivos.

Más próxima en el tiempo es la obra del también economista Amartya Sen, quien

reafirma la idea de las capacidades humanas como factor de desarrollo y superación de la

pobreza. La mayor capacidad se correspondería con un mayor poder para obtener ingresos

y, agrega que “[...] la mejora de la educación básica y de la asistencia sanitaria no sólo

aumenta la calidad de vida directamente sino también la capacidad de una persona para

ganar una renta y librarse, asimismo, de la pobreza de renta.” (SEN, 2000, p.117-118)

En igual sentido se orienta Giddens, Beck e Lash (1997, p. 233-234) en su crítica

a los Estados de Bienestar y su aparente inadecuación a los contextos tardomodernos.

Luego de afirmar que "[...] la redistribución directa de la riqueza [...] no sería más que una

solución parcial a los problemas de la pobreza.” concluye que “[...] ya no es útil concebir

algún tipo de gigantesco estado redistributivo del bienestar. Tenemos que pensar en otros

términos [...] las medidas adoptadas para contrarrestar el subprivilegio deben ser

capacitadoras.”

Estas perspectivas tienen en común el desplazar el foco del análisis sobre la

génesis y reproducción de la pobreza: los problemas de distribución y redistribución son

minimizados y, en su lugar, son jerarquizadas estrategias tales como la inversión en capital

humano y el fomento de las capacidades individuales. De este modo, el acceso a servicios

educativos y sanitarios básicos sería la estrategia fundamental para combatir la pobreza y

ha sido una estrategia promovida por los organismos internacionales de crédito en pleno

apogeo del modelo neoliberal y hasta nuestros días.

El nacimiento del siglo XXI ha sido testigo del fracaso de estas iniciativas y de la

agudización de los efectos sociales regresivos del modelo económico orientado por el

proyecto neoliberal. La desigualdad persiste pese a la disminución de la pobreza y la

indigencia y a las mejoras en otros indicadores sociales y económicos. En el caso uruguayo,

la desigualdad de ingresos se encuentra prácticamente estancada: en 2014 el 20% de

hogares más rico se apropió del 42,9% del total de ingresos del país mientras que al 20%

más pobre le correspondió el 6,9% del total de ingresos (INSTITUTO CUESTA DUARTE,

2015). Esto refuerza la idea de que es posible reducir la pobreza y la indigencia y, al mismo

tiempo, aumentar la desigualdad. Sin embargo, la teoría del capital humano ha sido una

sobreviviente que encuentra en los PTRC su reactualización bajo la forma de

Page 36: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

36

condicionalidades que acompañan a las transferencias. De este modo, los PTRC apuntan a

combatir la pobreza mediante estrategias de corto y largo plazo. La transferencia opera en el

alivio inmediato de la pobreza mientras que las condicionalidades son fundamentadas como

estrategia a largo plazo para interrumpir el ciclo de reproducción intergeneracional de la

pobreza.

La exigencia de condicionalidades tiene la pretensión de incidir en la demanda

que los preceptores puedan hacer de los servicios educativos y sanitarios relegando a un

segundo plano el problema de la oferta, es decir, la responsabilidad y las capacidades

estatales de garantizar el acceso y el tránsito de los usuarios de estos servicios. Centrar el

combate a la pobreza en propuestas de intervención ancladas en la demanda es una de las

tantas formas de individualización social al privilegiar el papel de las decisiones de los

individuos sobre sus comportamientos y estilos de vida para explicar su situación de

desventaja.

Hablar de la individualización de la protección es hablar de,

una forma específica de la orientación de la protección social que se caracteriza por atar las condiciones de vida de las personas a la situación y las prácticas, en sentido amplio, del sujeto en tanto individuo; y que, a la vez desvincula esas condiciones de vida y las consecuencias de esas prácticas de toda relación con y de toda pertenencia a grupos o agregados mayores. (DANANI, 2008, p. 45).

Individualizar la protección social es “[...] vincular el otorgamiento de una

prestación con la consideración de la situación específica y la conducta personal de los

beneficiarios.” y ha sido la orientación dominante del nuevo régimen de protección orientado

a “[...] los dejados de lado de las protecciones clásicas.” (CASTEL, 2004, p.100). Estas

estrategias se basan en la norma de interioridad, es decir, en la modificación de las

conductas individuales de los beneficiarios “[...] incitándolos a cambiar sus representaciones

y reforzar sus motivaciones para ‘salir’, como si fueran los principales responsables de la

situación en la que se encuentran.” (CASTEL, 2004: 97).

Rosanvallon (1995) observa que el ingreso mínimo de inserción (RMI) revincula

de forma inédita los derechos sociales y las obligaciones morales configurando un derecho

individualizado por un lado, y un derecho condicionado por el otro, de modo tal que la

situación particular y el comportamiento individual quedan en un mismo registro.

Seguidamente, se pregunta sobre el carácter de derecho de estas prestaciones en estas

condiciones cuando, en esencia, un derecho es de aplicación universal e incondicional. Esta

crítica es válida también para nuestros PTRC.

La idea de inversión de la deuda contribuye a pensar estas alteraciones

Page 37: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

37

filosóficas de la protección social:

La política social del siglo XX pensaba que como consecuencia de su participación en la vida social, había algunas personas víctimas de accidentes diversos. Accidentes de trabajo, desempleo, una infancia muy dura etc. La sociedad tenía una deuda con esas personas, les debía asistencia, que es lo que en Francia dio derecho, lo que se llama el derecho a la asistencia, un derecho inscripto en la ley. Toda persona tiene derecho a ser asistida. Ahora se invierten las cosas y se convence a la persona que recibe una ayuda de que está en deuda con la sociedad porque no hay ninguna razón que justifique que una persona sea ayudada. La vamos a ayudar para que pueda salir adelante y entonces, como nos debe algo (el dinero que le estamos dando), le vamos a exigir una contrapartida. (MERKLEN, 2013, p. 12).

La denominada inversión de la deuda y la contractualización e individualización

de la protección social contenida, fundamental pero no exclusivamente, en los programas de

transferencia de renta condicionada (PTRC) son parte de una transformación en la

orientación filosófica de la protección social sustentada en la retórica de la responsabilidad

individual.

En palabras de Rosanvallon (1995, 36) “[...] la aceptación de la solidaridad

comienza [ahora más que antes] a acompañarse con una exigencia de control de los

comportamientos.” En ese sentido, plantea que cuando se multiplican las informaciones

disponibles sobre los individuos se produce “[...] un movimiento de desolidarización: la

información es el alimento de la diferenciación.” (ROSANVALLON, 1995, p. 56). El registro

de los individuos y el inventario de sus diferencias pretende personalizar la asistencia social

con el objetivo de alcanzar una mayor eficiencia:

Es en esta búsqueda de mayor eficiencia donde se encuentran los mayores desafíos del futuro: «personalizar» todavía más la asistencia social […] Como Banco Mundial, nos complace haber colaborado durante los últimos años en el diseño y en las mejoras implementadas al sistema de protección social en Uruguay. (SIEGENTHALER apud BANCO MUNDIAL, 2013).

De este modo,

cuanto mayores y más específicas sean las condiciones que se impongan, cuanto más diferenciadas sean entre grupos de beneficiarios, y cuanto más se vinculen esas condiciones con el comportamiento, más se alejará del campo de los derechos y más la tensión seguridad social/asistencia traccionará hacia la segunda. (HINTZE; COSTA, 2011, p. 176).

Los sistemas de control y vigilancia construidos con el objetivo de verificar el

cumplimiento de las condicionalidades permiten introducir un sentido más concreto de la

noción de individualización, entendida como la identificación de la población beneficiaria y su

Page 38: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

38

incorporación en un registro documental (VECINDAY, 2014). La estigmatización del asistido

permanece en estos dispositivos tecnificados de identificación y control: ni las herramientas

de selección focalizada ni las de vigilancia pierden su carácter vejatorio. La tecnificación se

introduce en el hogar para observar, indagar, clasificar, examinar y, eventualmente, castigar.

Así mismo, parece que se perdiera de vista que las sanciones por

incumplimiento de las condicionalidades operan como refuerzo de la vulnerabilidad de las

familias beneficiarias, y sobre todo, de sus niños y adolescentes. La identificación de un

derecho vulnerado por inasistencias escolares o insuficientes controles sanitarios deriva en

la posible pérdida de la transferencia agregando a la situación familiar una restricción en sus

ingresos, que en los sectores cuanto más pobres son, como es sabido, se ven mayormente

afectados por el consumo de alimentos. Esta inconsistencia entre la pretensión declarada de

garantizar derechos exigiendo condicionalidades y el efecto práctico de reforzar la

vulnerabilidad al sancionar por incumplimiento, es más fuerte aún cuando se observa que

son las familias más pobres y vulnerables las que presentan mayores dificultades para

cumplir con los comportamientos demandados.

Si bien en la región se registran diferentes grados de control y de aplicación de

sanciones por incumplimiento, los PTRC se estructuran a partir de una filosofía conductista

(WACQUANT, 2011) montada sobre un sistema donde la prestación monetaria oficia como

estímulo a la acción o como sanción ante la inacción u omisión (VECINDAY, 2013).

La relevancia adjudicada en cada caso a los sistemas de control y sanción sobre

las condicionalidades revela el papel asignado a las transferencias monetarias y a la

activación de capital humano como estrategias asociadas para combatir la pobreza. En otros

términos, se puede afirmar que a la jerarquización de la transferencia monetaria le

corresponden mecanismos flexibles de control y sanción e, inversamente, al énfasis sobre la

inversión en capital humano se asocia con sistemas rígidos de control y sanción. De este

modo, mientras que las AFAM-PE y, en menor medida, la AUH privilegian las

condicionalidades como estrategia de reducción de la pobreza a largo plazo afectando,

incluso, el papel de la transferencia en el alivio inmediato de la deprivación severa

suspendiendo o reteniendo parte del beneficio, el BF se centra en el objetivo de mejorar el

acceso al consumo de las familias pobres siendo los comportamientos exigidos por las

condicionalidades un logro que no responde solo al estímulo económico sino que requiere

de mecanismos de acompañamiento familiar.

Los contextos nacionales ofrecen pistas para comprender los particulares rasgos

de los programas en general y, específicamente, respecto a significación de las acciones

Page 39: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

39

desencadenadas ante el no cumplimiento. En el caso de Brasil, la magnitud y la masividad

de la pobreza y la desigualdad han sido una constante estructural de su desarrollo capitalista

y con ese punto de partida parece una estrategia razonable jerarquizar su alivio inmediato

frente a la activación de los pobres como forma de interrumpir su reproducción

intergeneracional. La comprensión de los factores que explican los problemas de cobertura

de las políticas sanitarias y educativas dentro de los sectores de mayor pobreza ha sido

clave para promover programas de acompañamiento familiar en situaciones de

incumplimiento de las condicionalidades8. Por otro lado, Argentina y Uruguay son dos de los

países latinoamericanos con mejores indicadores sobre desarrollo humano, distribución del

ingreso y pobreza y es el deterioro de los logros educativos y sanitarios, respecto a un

pasado reciente, una de las principales preocupaciones depositadas sobre un núcleo duro

de la pobreza que persiste pese a la superación de la pobreza e indigencia medida por

ingresos. En países que, aún manteniendo problemas de oferta, se han caracterizado por

una amplia prestación de servicios, fundamentalmente, educativos y sanitarios, en menor

medida, el punto de partida parece situarse en un escalón mayor. En estos casos, las

condicionalidades en tanto comportamientos esperados, son privilegiadas al punto de

afectar o hacer caer la transferencia monetaria. Sin embargo, llama la atención que ni las

AFAM-PE ni la AUH prevén en su diseño mecanismos de apoyo ante situaciones de

incumplimiento.

3 CONCLUSIÓN

El combate a la pobreza es el objetivo central de los PTRC y si bien, han

desempeñado un papel importante en la reducción de la indigencia, menos claro es su

aporte a la disminución de la pobreza. Esta parece deber su reducción más a las mejoras

salariales, a la reducción del desempleo y al combate a la informalidad que al efecto de las

transferencias. Este conjunto de medidas ha permitido, sin duda, mejorar las condiciones de

vida de ciertos segmentos de la clase trabajadora. Sin embargo, si bien los efectos sobre la

indigencia y la pobreza medidas por ingreso son visibles, los atributos duros de la pobreza

medidos por NBI no han registrado modificaciones sustantivas. Se podría concluir, entonces,

8 Es indudable que este acompañamiento familiar responde solo a uno de los factores que explican los problemas de acceso a las prestaciones sanitarias y educativas dejando fuera, por ejemplo, el problema nada menor de la oferta y calidad de los servicios ofrecidos.

Page 40: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

40

que la reducción de la pobreza parece ser efecto de una coyuntura económica favorable

que, sumado a mecanismos regulatorios, alivió los déficits de ingresos en los hogares más

pobres que incrementaron su capacidad de consumo. Sin embargo, queda en el debe el

rebatimiento de la pobreza y la indigencia en dimensiones que, sin duda, requieren de

políticas sostenidas en el tiempo y cuyos efectos no son inmediatos (educación, salud,

vivienda, trabajo).

Las prestaciones asistenciales han crecido en calidad, cantidad y cobertura. Sin

embargo, la ayuda social tiende a permearse y/o combinarse con componentes y políticas

punitivas dirigidas a estas poblaciones. Este componente punitivo está presente en las

sanciones previstas por el incumplimiento de las condicionalidades.

Por otro lado, los PTRC operan sobre el valor de uso como mercancia de la

futura fuerza de trabajo. Los PTRC se proponen, a largo plazo, incrementar el valor de uso

de la fuerza de trabajo invirtiendo en capital humano. Al incrementar la futura productividad

de los cuerpos mediante su cuidado por parte del sistema de salud y su calificación a través

del sistema educativo su valor de uso crecerá.

Asimismo, los PTRC no se proponen afectar el valor de cambio de la fuerza de

trabajo. Es decir, no pretenden suministrar prestaciones a quienes se encuentren en

situación de convertir el beneficio en recurso que mejore sus condiciones de negociación

salarial. De este modo, las prestaciones vehiculizadas en los PTRC no tienen efecto alguno

en el arbitraje de intereses diferenciales de trabajadores y empleadores.

Quizás la principal virtud de las condicionalidades es que nos convoca a pensar

estas prestaciones dirigidas a combatir la pobreza en su relación con prestaciones de

carácter universal. Es decir, el debate sobre las condicionalidades nos reenvía al análisis de

las transferencias en el marco más amplio del repertorio de políticas sociales. En ese

sentido, se advierte que la mayor cobertura de estas políticas, posible de atribuir al efecto

producido por los PTRC sobre la demanda, no ha sido acompañada de la suficiente

ampliación de las capacidades y respuestas estatales. Persisten problemas de calidad de

los servicios públicos educativos y sanitarios que no logran ofrecer respuestas adecuadas a

la magnitud de los problemas que pretenden atender.

REFERENCIAS BANCO MUNDIAL. Hacia un Uruguay más equitativo: los desafíos del sistema de protección social. [S. L.], 2013. Disponible

Page 41: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

41

en:<http://www.worldbank.org/content/dam/Worldbank/document/LAC/hacia_un_uruguay_mas_equitativo_web.pdf>. Acceso en: 7 jun. 2015. BAUMAN, Z. La sociedad individualizada. Madrid: Ediciones Cátedra, 2001 BENTURA, J. P.; VECINDAY, L. ¿Dinero o especies? Los usos del dinero en las estrategias de combate a la pobreza. In: CONGRESO DE LA RED ESPAÑOLA DE POLÍTICA SOCIAL, 5., 2015, Barcelona. Anais... Barcelona: Red Española de Política Social, 2015. CASTEL, R. La inseguridad social: ¿qué es estar protegido? Buenos Aires: Manantial, 2004. Segunda parte. DANANI, C. América Latina luego del mito del progreso neoliberal: las políticas sociales y el problema de la desigualdad. Cièncias Sociais Unisinos, São Leopoldo, v. 44, n. 1, jan./abr. 2008. GIDDENS, A; BECK, U; LASH, S. Modernización reflexiva: política, tradición y estética en el orden social moderno. Madrid: Ed. Alianza, 1997. HINTZE, S.; COSTA, M. La reforma de las asignaciones familiares 2009: aproximación al proceso político de la transformación de la protección. In: DANANI, C.; HINTZE, S. (Coords.). Protecciones y desprotecciones: la seguridad social en la Argentina 1990-2010. Buenos Aires: Universidad Nacional de General Sarmiento, 2011. INSTITUTO CUESTA DUARTE. Informe de Coyuntura trimestral: primer trimestre de 2015. Uruguay, 2015. Disponible en:<http://cuestaduarte.org.uy/investigacion/economia/informes-de-coyuntura/item/64-informe-de-coyuntura-primer-trimestre-de-2015>. Acceso: 5 maio 2015. MERKLEN, D. Conversaciones sobre lo público. Revista Debate Público: reflexión de trabajo social, Argentina, n. 6, 2013. Entrevista realizada por la Dra. Claudia Danani. PIEDRA, L. Transferencias en especie versus transferencias en metálico: modelos empíricos. In: ENCUENTRO DE ECONOMÍA PÚBLICA, 11., 2004, Barcelona. Anais... Barcelona, 2004. ROSANVALLON, P. La nueva cuestión social: repensar el Estado providencia. Buenos Aires: Ediciones Manantial, 1995. SEN, A. Desarrollo y Libertad. Buenos Aires: Grupo Planeta, 2000. SILVA, Maria Ozanira da Silva e; GUILHON, Maria Virgínia Moreira; LIMA, Valéria Ferreira Santos de Almada. As Condicionalidades e o Índice de Gestão Descentralizada (IGD) enquanto Dimensões Centrais do Bolsa Família (BF): uma incursão na realidades do programa no Maranhão. Cadernos de Pesquisa, São Luís, ano 1, n. 1, 2013. Disponível em:<www.gaepp.ufma.br>. Acceso: 6 maio 2015. VECINDAY, L. Transformaciones institucionales y tecnológicas del esquema de protección social: el caso del Plan de Centros de Atención a la Infancia y la Familia en el Uruguay. Montevideo: Comisión Sectorial de Investigación Científica, Universidad de la República, 2014.

Page 42: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

42

______. La reconfiguración punitiva del tratamiento social de la pobreza en el Uruguay actual. Textos y Contextos, Porto Alegre, v. 12, n. 2, 2013. WACQUANT, L. Forjando el Estado neoliberal: workfare, Prisonfare e Inseguridad Social. Revista Prohistoria, Rosario, n. 16, jul./dic. 2011.

Page 43: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

DESARROLLO Y ACTUALIDAD DE LA PROTECCIÓN SOCIAL EN AMÉRICA LATINA1

Silvia Gabriela Fernández Soto2

Resumen: El presente trabajo tiene como objetivo problematizar las recientes

estrategias de protección social en América Latina, observando la expansión e institucionalización de los programas de transferencia de renta condicionada. Se basa en un estudio exploratorio, bibliográfico y documental. Es en el contexto de crisis y conflictividad social de fines de siglo XX y principios de siglo XXI, en un contexto de desocupación y extensión de las condiciones precarias de trabajo; que cobran relevancia los Programas de Transferencias de Renta Condicionadas (PTRC). Se han instalado en el repertorio de políticas sociales desarrollados por la mayoría de los países en América Latina para el contingente creciente de desocupados y pobres, configurando estrategias político- institucionales que se hacen masivas a inicios del Siglo XXI, institucionalizándose en los formatos de protección social emergentes. Estos programas se identifican por estar focalizados hacia los hogares pobres, con el objetivo de mejorar las condiciones de vida de las familias con niños y niñas en “situación de vulnerabilidad”, con una perspectiva de “capital humano”, incluyendo condicionalidades en educación y salud. Se enmarcan en el debate de la protección social centrada en un tipo de "universalismo" adjetivado como “mínimo/básico”, que pretende romper el “círculo intergeneracional de la pobreza”. Analizamos el sentido socio-histórico que adquieren estos programas en relación a transformaciones sociales más generales. Palabras claves: Protección social, crisis, transferencia de renta condicionada. Abstract: The objective of this work is to problematize the recent strategies of

social protection in Latin America, noting the expansion and institutionalization of the income transfer programs conditional. It is based on an exploratory study, bibliographic and documentary. It is in the context of crisis and social unrest of the late twentieth century and early twenty-first century, in a context of unemployment and extension of the precarious working conditions; that prominence programs of income transfers conditioned (PTRC). Have been installed in the repertoire of social policies developed by the majority of the countries in Latin America to the growing contingent of unemployed and poor, setting up political strategies- institutional that are massive at the beginning of the twenty-first century, institutionalised in the formats of emerging social protection. These programs are identified as being targeted toward poor households, with the aim of improving the living conditions of families with children in "situation of vulnerability", with a perspective of "human capital", including conditionalities in education and health. Fall under the discussion of social protection focused on a type of "universalism" adjetivado as "minimal/basic", which seeks to break the "circle of intergenerational poverty". Keywords: Social protection, crisis, Income transfer programs.

1 Esta ponencia, presentada en la VII Jornada Internacional de Políticas Públicas, São Luís, 25 a 28 de agosto de 2015, contiene resultados parciales de estudios desarrollados con apoyo de la Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) y del Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

2 Doutora em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Investigadora CONICET, Profesora Titular FCH-UNCPBA. Tandil, Buenos Aires, Argentina. E-mail: [email protected]

Page 44: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

44

1 LA PROTECCIÓN SOCIAL COMO PROCESOS HISTÓRICOS CONTRADICTORIOS: la(s)

experiencia(s) en América Latina

La construcción histórica de las formas de protección social remite a complejos

procesos relacionales en los cuales participan múltiples elementos. Por lo tanto no se puede

restringir su comprensión a identificar un único proceso evolutivo lineal, incremental,

simplificado y abstracto. Existen en América Latina diferentes experiencias en la construcción

de los sistemas de protección social, que expresan movimientos progresivos y regresivos en

función de las relaciones de poder en las que se inscriben en cada formación histórico-concreta.

Desde el punto de vista de la economía política de la configuración del Estado, la

extensión de los sistemas de protección social, y la mediación de las políticas sociales que

suponen; participan al mismo tiempo de las necesidades de acumulación capitalista, y de las

necesidades de protección y reproducción de las condiciones materiales de existencia de los

trabajadores3. En este sentido, los formatos de protección social adquieren concreción en

contextos particulares de acumulación y de procesamiento de intereses antagónicos entre las

clases sociales fundamentales. En tal sentido expresan en cada momento histórico

correlaciones de fuerza, y por ende la organización y capacidad de presión de los trabajadores.

En términos histórico-concretos la construcción de los sistemas de protección social

estatal se vincula a garantizar los procesos de acumulación y legitimación e indica la relación

histórica que se establece con los procesos de organización del trabajo. Participa en la

reproducción y manutención de la clase trabajadora (activa y parada), a través de mediaciones

político-institucionales específicas, que son resultado de la correlación de fuerzas establecida

por la lucha de clases. Desde esta perspectiva, la tesis que sostenemos es que en el contexto

de crisis que se expresa desde la década del setenta y el despliegue de la acumulación

3 Ian Gough (1978, p. 66) indica, el carácter contradictorio de la construcción de la intervención social del Estado, que atiende al mismo tiempo a los intereses de la acumulación y los procesos de protección social. “El Estado tiende a actuar con el fin de asegurar las condiciones que reproduzcan ese modelo y las relaciones de exploración dentro de él, que bajo el capitalismo significa asegurar la acumulación continua de capital [...] el Estado del Bienestar engloba una actitud racional que también se opone a la del mercado. En algún sentido actúa para ‘satisfacer las necesidades’ y extender los derechos y haciéndolo así, contradice los simples requerimientos directos del sistema de economía capitalista. [...] esta es, pues, la razón por la que nosotros caracterizamos el Estado del Bienestar como un fenómeno contradictorio.”

Page 45: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

45

flexible, en un contexto general regresivo para los intereses de las clases trabajadoras, se

alteran los formatos y sentidos de los procesos de protección social históricamente construidos

en la segunda posguerra del siglo XX, edificándose nuevas arquitecturas de protección social,

resultantes de las nuevas relaciones entre acumulación y organización del trabajo.

En las diversas naciones latinoamericanas se registran variaciones en los sistemas

de protección social; los cuales están en relación a las características de los procesos de

acumulación/legitimación y de las heterogeneidades nacionales concretas4. La concreción

particular de un conjunto de elementos históricos da como resultado la disposición de diferentes

matrices de protección social, observable en el gasto social y su distribución sectorial, en la

cobertura poblacional, en la forma y contenido de los servicios prestados, en la calidad de los

mismos, en los argumentos de legitimación que se construyen para sostenerlos, en los sentidos

que persiguen, en las pautas de selectividad que sostienen, en los intereses y sujetos a los

cuales responden.

En América Latina en la década de 19305 gana visibilidad formas de protección

social destinada centralmente a los trabajadores urbanos y asalariados insertos en relaciones

formales de trabajo. Bajo esta perspectiva la estructuración del mercado de trabajo influyó los

sistemas de protección social, marcando las lógicas de inclusión/exclusión de los mismos, así

como las diferenciaciones y fragmentaciones que se establecen. Es en la segunda posguerra

que se consolidan estas experiencias particulares6, guiados por los principios de los seguros a

los riesgos colectivos, bajo el esquema contributivo y con la fuerte participación del Estado

como garante de la protección en su gestión y financiamiento. Ahora bien, como indica Filgueira

(2007) América Latina no se configuró como las experiencias europeas en relación a sus

4 Para una definición de las dimensiones a considerar en la diferenciación de los sistemas de protección social véase, Filgueira (1997).

5 Carmelo Mesa-Lago (1991), para realizar una diferenciación de las experiencias latinoamericanas, distingue los inicios históricos y grados de maduración de los sistemas de protección social, a partir de lo cual diferencia entre países pioneros, intermedios y tardíos. Esta clasificación destaca el momento en el cual cada país empezó a ocuparse de la protección social de sus habitantes por medio de sus políticas públicas. Observa sus procesos de maduración considerando las trayectorias históricas, la cobertura alcanzada, la relación con los modelos de desarrollo predominantes. Argentina, Uruguay y Brasil integran el grupo de países pioneros en la construcción de la protección social, dado que hacia los años `20 del siglo XX, los tres países registraban formas de desarrollo de medidas de protección social para su población.

6 Por ejemplo en los gobiernos de Perón en Argentina, Batlle en Uruguay y Vargas en Brasil.

Page 46: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

46

procesos de urbanización, industrialización, con modelos familiares nucleares tradicionales y

con mercados laborales formales, presupuestos bajo los cuales se definieron las políticas

sociales latinoamericanas en el pasado, aspirando a que los grandes centros urbanos se

acerquen a dichas experiencias. No sólo esto no sucedió, sino que se despliegan un conjunto

de fenómenos que distan de esta realidad.

Así, el crecimiento de la monoparentalidad y las uniones libres, la incorporación masiva de la mujer al mercado laboral, el incremento de la divorcialidad, son realidades innegables en la mayor parte de la región. Asimismo, la creciente precariedad en el empleo, el crecimiento de la informalidad y de la flexibilidad contractual en los viejos formatos de trabajo estable, la desindustrialización y el crecimiento de las economías de servicios, acompañados de una transformación tecnológica que torna obsoletos saberes a una velocidad desconocida en la región, son también procesos de clara implantación en las últimas dos décadas. (FILGUEIRA, 2007, p. 15).

Que sin duda interpelan y complejizan los sistemas de protección social. Este

esquema implicó que no se desarrolle una cobertura total de la población, que se constituyan

altamente fragmentado y estratificado de acuerdo a la inserción ocupacional de la población;

segmentado en función de las disparidades de cobertura a nivel regional, produciéndose al

interior del sistema fuertes disparidades de acceso a los bienes y servicios públicos tanto en

calidad como en cantidad.

Otros estudios, además de considerar cuándo surgen los sistemas de protección y

los alcances que tienen en materia de cobertura y el nivel de gasto que realizan; consideran

central observar no sólo cuánto se gasta sino cómo se gasta en materia social7. En relación al

primer grupo, universalismo estratificado, cabe destacar que hacia 1970 todos protegían de

alguna u otra forma a la mayor parte de la población mediante sistemas de seguro social, de

servicios de salud al mismo tiempo habían extendido la educación primaria e inicial secundaria

a toda la población. Estos países desarrollan importantes procesos de desmercantilización y

universalización, aunque de manera estratificada y diferencial. Logran importantes impactos

sobre variables relativas al bienestar social. En relación a los regímenes duales presentaban

hasta la década de los ´70 universalización de la educación primaria, una importante cobertura

en salud aunque estratificada. En materia de seguridad social alcanza coberturas medias,

7 De aquí surgen tres formatos de protección social: Universalismo estratificado. (Uruguay, Argentina, Chile), Regímenes duales (Brasil, México), y Regímenes excluyentes. (República Dominicana, Guatemala, Honduras, El Salvador, Nicaragua, Bolivia, Ecuador).

Page 47: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

47

manteniendo también significativos niveles de estratificación. Un rasgo central refiere a la

heterogeneidad territorial, que se presenta con mayor nitidez que el primer grupo. En ciertos

estados y regiones se observa la maduración de instituciones de protección social y en cambio

en otros estados desprotección y baja incorporación de la mayor parte de la población.

En el contexto de la crisis capitalista desplegada desde la década del setenta los

formatos concretos de protección social construidos en los diferentes países sufren

transformaciones radicales en relación a sus sentidos, principios organizadores, diseños de

implementación y alcances. Estas transformaciones están en relación a las exigencias de clase

colocadas al Estado en la fase actual de acumulación capitalista bajo el predominio del capital

financiero. Acumulación y legitimación se recrean en complejos procesos en relación a la

correlación de fuerzas resultantes del desarrollo de la sociedad. Observar los cambios

generales nos permite comprender los sentidos de las reformas de la protección social en este

contexto de crisis capitalista.

2 CRISIS CAPITALISTA Y TRANSFORMACIONES DE LOS SISTEMAS DE PROTECCIÓN

SOCIAL EN EL CONTEXTO LATINOAMERICANO

La crisis capitalista que se inicia hacia fines de la década del sesenta e inicios de la

década del 70 del siglo pasado, expresa el colapso del padrón de acumulación

fordista/keynesiano; dando origen a un período en la historia del capital en donde se da en

forma exacerbada la destrucción de las fuerzas productivas, de la naturaleza y del medio

ambiente y también de la fuerza humana del trabajo8. Es en el contexto de acumulación fordista

que se desplegaron los modelos de desarrollo9 de inspiración keynesiana10 en gran parte de la

8 Sobre este proceso, ver Antunes (2009, p. 19) quien afirma: “En medio de tanta destrucción de fuerzas productivas, de la naturaleza y del medio ambiente, existe también una acción destructiva contra la fuerza humana de trabajo que tiene enormes contingentes precarizados o al margen del proceso productivo, elevando la intensidad de los niveles de desempleo estructural.”

9 Los modelos que se desarrollan se basan en la perspectiva cepalina y los aportes de Raúl Prebish.

Page 48: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

48

región latinoamericana entre 1930 y 1970-80, caracterizados por el modelo sustitutivo de

importaciones, donde el Estado asumió un rol central en el desarrollo económico y en la

construcción de los sistemas de protección social. La respuesta capitalista a la crisis de

mediados de la década del setenta implica la alteración de estos modelos de desarrollo y las

correlaciones de fuerza que los sustentan.

Desde 1970 se expresan un conjunto de cambios radicales en la organización del

capitalismo: Se produce un pasaje del modelo de acumulación de capital fordista (cadena de

montaje de producción en masa, organización política de masas, intervenciones del Estado de

Bienestar), a la acumulación flexible (búsqueda y configuración de mercados especializados,

descentralización y dispersión espacial de la producción, retracción del Estado Nación de las

políticas intervencionistas unida a la liberalización y la privatización) (HARVEY, 2007). La crisis

y reestructuración capitalista a escala global, genera una re-configuración territorial, socio-

económica y política a escala global. Estas transformaciones expresan claramente la

contestación rotunda del capital a la caída de la tasa de ganancia en las décadas del sesenta y

setenta del siglo XX. Es así que los años siguientes se caracterizaron por transformaciones

radicales en el plano tecnológico y organizacional del proceso productivo11.

Esta fase de acumulación flexible, se caracteriza por los elevados niveles de

transnacionalización de las empresas capitalistas, la mundialización de las relaciones

10

Una forma específica de política keynesiana configuró los modelos de desarrollo en América Latina entre 1930 y 1970-80, desarrollándose el modelo sustitutivo de importaciones, donde el estado asume un rol central en los procesos de planificación económico y social. El Estado financia el crecimiento de industrias orientadas a la producción para el consumo interno, a través de una política de subsidios y diversas medidas proteccionistas, sobre la base de la riqueza generada por productos primarios de exportación. Al mismo tiempo el estado incorpora mano de obra excedente, participando en la construcción de obras básicas de infraestructura económica y social.

11

Los cambios operados en las condiciones generales de producción se expresan en el incremento en volumen y cambios cualitativos en la composición de la masa trabajadora y explotada. Como tendencia general se hace observable la constitución de una masa de población sobrante para las necesidades de fuerza de trabajo del capital este movimiento tendencial de la sociedad capitalista es analizado en Marx (1986). Para un análisis contemporáneo donde se analiza la relación entre cambios tecnológicos, productividad del trabajo y tasas de ganancias, véase Mandel (1982).

Page 49: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

49

capitalistas de producción, el desarrollo y tecnificación del capital financiero (HARVEY, 2004;

2007)12.

En el marco de los denominados ajustes estructurales, bajo la influencia de los

organismos internacionales, se le otorga un nuevo perfil a los sistemas de protección social y a

las políticas diseñadas por los Estado nacionales, que termina conformando una nueva matriz

de relaciones entre el Estado y la sociedad civil.

Dentro de estas transformaciones se destaca la relevancia que las redes mínimas

de asistencia centradas en la pobreza pretenden asumir en las últimas décadas, en

contraposición a la desestructuración de la red de protección social tendida en relación al

asalariado formal desde la perspectiva del seguro social.

Las propuestas y tendencias centrales que se impone se orientaron en la

modificación de las políticas de protección social en la región, hacia una perspectiva residual-

liberal; tanto en los países que lograron desarrollos significativos bajo esquemas centralistas

con aspiraciones de universalidad, como en aquellos países que tuvieron bajo o nulo desarrollo

de los sistemas de protección social. La focalización del gasto, la

descentralización/desconcentración en la gestión y administración de los programas sociales, el

desdibujamiento de la perspectiva sectorial de las políticas sociales y el avance de la

integralidad mínima como alternativa, y la expansión de la mercantilización de ciertas funciones

sociales, constituyen los pilares de las reformas y nuevos modelos propuestos en las últimas

décadas del siglo XX.

3 EXPANSIÓN DE LA POBREZA Y DESIGUALDAD A FINES DE SIGLO XX: inflexiones y

ejes estructurales de desigualdad social a inicios del Siglo XXI

12

La acumulación flexible “[…] apela a la flexibilidad con relación a los procesos laborales, los mercados de mano de obra, los productos y las pautas del consumo. Se define por la emergencia de sectores totalmente nuevos de producción, nuevas formas de producir servicios financieros, nuevos mercados y, sobre todo, niveles sumamente intensos de innovación comercial, tecnológica y organizativa.” (HARVEY, 2004, p. 170-71), implicando una reconfiguración espacio-temporal en el mundo capitalista.

Page 50: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

50

En torno a 1999, el 43.8% de la población de la región se encontraba en situación

de pobreza, tres décimas de punto más que en 1997. Por su parte, la indigencia pasó del 19%

al 18.5% en ese período. En términos del volumen de población en situación de pobreza, éste

alcanzaba en 1999 a poco más de 211 millones de personas, de las cuales algo más de 89

millones se encontraban bajo la línea de indigencia. Con respecto a 1997 esta cifra representa

un aumento de 7.6 millones de personas pobres, en tanto que el número de indigentes tuvo un

incremento en el trienio, que abarcó a 0.6 millones de personas.

Para 1999, la desigual distribución de los ingresos continuaba siendo un rasgo

sobresaliente de la estructura económica y social de América Latina, lo que le ha valido ser

considerada la región menos equitativa del mundo, empeorando esta situación en la década del

noventa. Para fines del siglo XX, la distribución del ingreso en América Latina exhibe

importantes niveles de desigualdad; la fracción de los ingresos totales que reúne el 10% de los

hogares de mayores recursos (salvo en Costa Rica y Uruguay) asciende en todos los países de

la región a más del 30% de los ingresos, y en la mayoría de ellos ese porcentaje supera el 35%.

En contraposición, la fracción del ingreso recibida por el 40% de los hogares más pobres es

muy reducida, y se ubican en casi todos los países entre el 9% y el 15% de los ingresos totales,

con excepción de Uruguay donde el grupo mencionado recibe cerca del 22%.

En este marco de empobrecimiento e incremento de la desigualdad, América Latina

se coloca como uno de los territorios de resistencias y búsquedas de alternativas al capitalismo

neoliberal a nivel global. La lucha de clases expresaba la oposición al ajuste estructural

impuesto por los organismos internacionales, las actividades depredadoras del capital financiero

y la pérdida de derechos ocasionada por la privatización y mercantilización de los servicios

sociales. “El antimperialismo comenzó a convertirse en antagonismo contra los principales

agentes de la financierización, el FMI, y el Banco Mundial.” (HARVEY, 2007, p. 65). Este

movimiento ascendente de las luchas sociales provoca inflexiones y exige la recomposición del

consenso.

América Latina en la primera década del siglo XXI exhibe inflexiones en relación a

las situaciones socioeconómicas registradas en las décadas anteriores del 80 y 90. Pese a

estas mejoras en los indicadores permanecen enormes deudas sociales.

Se registra una disminución del porcentaje de las personas que viven en

condiciones de pobreza e indigencia. La reducción de la pobreza acumulada desde 1999

Page 51: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

51

alcanzó 12.4%, a la vez que la indigencia se ha reducido un 6.3%. Asimismo, la reducción de

ambos indicadores con respecto a 1990 totalizaba 17.0 y 10.3% (COMISIÓN ECONÓMICA

PARA AMÉRICA LATINA Y EL CARIBE, 2011). En 2010, el índice de pobreza de la región se

situó en un 31,4%, lo que incluye a un 12,3% de personas en condiciones de pobreza extrema

o indigencia. En términos absolutos, estas cifras equivalen a 177 millones de personas pobres,

de las cuales 70 millones eran indigentes (COMISIÓN ECONÓMICA PARA AMÉRICA LATINA

Y EL CARIBE, 2011). Si bien en términos relativos se registra una disminución, en términos

absolutos significa un incremento de 41 millones de pobres entre 1980 y 2010; y un incremento

de 8 millones de indigentes para el mismo período (Gráfico 1). Esto expresa que un tercio de los

habitantes de la región, no reciben ingresos suficientes para cubrir las necesidades

consideradas básicas13. Pese a las mínimas variaciones observadas en términos de tasas, las

nuevas estimaciones permiten establecer que la pobreza extrema ha alcanzado valores

similares a los de 2011, lo que representa un retroceso respecto de los logros alcanzados en

años anteriores. La tendencia a la baja de las tasas de pobreza y pobreza extrema se ha

desacelerado e incluso revertido en los primeros años de la segunda década, situación que,

asociada al crecimiento demográfico, deja como saldo un mayor número depersonas en

situación de pobreza extrema en 2013 (COMISIÓN ECONÓMICA PARA AMÉRICA LATINA Y

EL CARIBE, 2014).

Gráfico 1 - América Latina: evolución de la pobreza y de la indigencia, 1980-2014

13

Al mismo tiempo la pobreza afecta más a la niñez, las mujeres y las poblaciones indígenas en términos comparativos con otros sectores de la sociedad. Repetto (2010). Para el caso argentino véase: Fabio M. Bertranou y Damián Bonari (Coords.). Protección social en Argentina. Santiago, Oficina Internacional del Trabajo, 2005.

Page 52: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

52

El año 2010 se caracterizó por un aumento de las tasas de inflación en todos los

países de la región. El promedio simple de las variaciones se situó en un 6,5%, 2,8 puntos

porcentuales más que en 2009 (COMISIÓN ECONÓMICA PARA AMÉRICA LATINA Y EL

CARIBE, 2011). El aumento de la inflación estuvo impulsado centralmente por alzas de los

precios de alimentos y bebidas, que en promedio fue 1,8 veces mayor que las del resto de

productos, aspecto gravitante para la medición de la indigencia. Las proyecciones realizadas

Page 53: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

53

indican que se mantenga la tendencia al alza de la inflación, con lo cual la indigencia no sólo se

mantendrá en los niveles registrados sino que puede aumentar14.

Tanto en el período 2002-2008, previo a la crisis, como en el período 2008-2010, la

reducción de la pobreza ha provenido en su mayor parte de un incremento de los ingresos

laborales; aunque también han contribuido otras fuentes de ingreso, particularmente las

transferencias monetarias.

Si bien la reducción de la desigualdad es de una magnitud leve, insuficiente para

cambiar la base estructural de desigualdad de la región, resulta significativa, en un contexto de

ausencia prolongada de mejoras distributivas generalizadas15. Los datos más recientes arrojan

algunos indicios que apuntan a que la reducción de la desigualdad podría estarse

desacelerando (COMISIÓN ECONÓMICA PARA AMÉRICA LATINA Y EL CARIBE, 2014). Para

el 20111, el 40% de la población con los ingresos más bajos capta, en promedio, el 15% del

total del ingreso, mientras que el 10% de la población situado en el extremo superior de la

distribución posee un tercio del ingreso total. Asimismo, el ingreso medio del quintil más rico

supera en 18,3 veces al del quintil más pobre. América Latina continúa siendo una del las

regiones del mundo más desigual16.

América latina y el Caribe cierran el 2011 con crecimiento económico17, crecimiento

del empleo y disminución del desempleo (OIT, 2011).

14

Las líneas de indigencia, que muestran el costo de adquirir una canasta básica de alimentos, se actualizan año a año según la variación del IPC de los alimentos, mientras que el componente no alimentario de la línea de pobreza se actualiza según la variación del IPC correspondiente.

15

Tomando la distribución del ingreso de manera desagregada, se observa que el ingreso del decil más pobre en los países de la región se ubica en torno al 1%, en contraposición a los países europeos o asiáticos que es superior al 3%. En el extremo opuesto, el decil más rico se apropia en América Latina de al menos el 40% de los ingresos (con casos extremos como Colombia o Brasil, cercanos al 50%). Cifras que muestran la matriz profundamente desigual de distribución del ingreso en la región (GAITÁN, 2010).

16

Aun cuando los países latinoamericanos muestran grados distintos de concentración del ingreso, todos exhiben índices de Gini que superan al promedio de cada una de las regiones analizadas, exceptuando el África subsahariana (COMISIÓN ECONÓMICA PARA AMÉRICA LATINA Y EL CARIBE, 2011).

17

De acuerdo a las estimaciones más recientes del desempeño económico, el PIB regional crecerá en torno a 4.5% en 2011 respecto del año anterior. Encabezan esta expansión algunos países exportadores de materias primas de América del Sur más articulados con la demanda de las economías emergentes como Argentina, Chile, Paraguay, Perú y Uruguay, que crecerían alrededor de 6% en 2011 (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 2011).

Page 54: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

54

La tasa de desempleo urbano continuó bajando en 2011 y alcanzó a fines de 2011

un nivel de 6,8 %, valores similares a los registrados en la década del 90. La región entró al

Siglo XXI con tasas superiores al 10 % que llegaron incluso por encima del 13 %. Lo que vemos

ahora es un reflejo de un ciclo positivo de crecimiento económico que ha durado más de cinco

años y no se vio interrumpido por la crisis.

Si bien el desempleo ha bajado, la proporción de trabajadores por cuenta propia y

auxiliares en actividades de baja productividad sigue alta, cerca de un tercio del total del empleo

en la región. Al mismo tiempo 44 % de los trabajadores y trabajadoras aún no tienen ningún tipo

de cobertura de protección social. En 16 países con información disponible hacia fines de la

década del 2000, 93 millones de personas (50% de la población ocupada) tenían un empleo

informal. De ese total, 60 millones estaban en la economía informal propiamente dicha, 23

millones tenían un empleo informal sin protección social trabajando en el sector formal, y 10

millones un empleo informal en el servicio doméstico. En el caso de los jóvenes, 6 de cada 10

que consiguen trabajo sólo tienen acceso a empleos informales (ORGANIZAÇÃO

INTERNACIONAL DO TRABALHO, 2011).

La dinámica de la oferta y demanda de fuerza de trabajo, se pone en relación con la

dinámica del ciclo económico de los países, explica la tendencia a la disminución de la tasa de

desempleo urbano, que cae desde dos dígitos a inicios de la década a 7.3% en 2008, sube a

8.1% en 2009 y baja a 7.3% en 2010. El crecimiento económico permitió una expansión del

empleo asalariado, que en el promedio regional (y con datos de cobertura nacional) aumentó su

peso relativo en tres puntos porcentuales (de 65% a 68%). Pese a este crecimiento y a esta

expansión registrada de trabajo asalariado, al finalizar la década cerca de uno de cada tres

ocupados en la región son trabajadores por cuenta propia y auxiliares. La mayoría de estos se

desempeña en actividades del sector informal, en condiciones de precariedad laboral,

desprotección social y con baja productividad e ingresos.

La incorporación precaria de contingentes de trabajadores, es un factor

determinante de los procesos de pobreza y empobrecimiento de la clase trabajadora y de

perpetuación de las desigualdades sociales.Los datos indican la permanencia estructural de

situaciones de precariedad laboral extendidas: puestos de trabajo de baja productividad, bajas

remuneraciones y signados por la inestabilidad laboral, la desprotección social y la falta de

acceso a los sistemas de seguridad social.

Page 55: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

55

Esto nos indica que el crecimiento sostenido del PIB no significó la creación de

suficientes empleos formales para reducir significativamente el empleo precario. La reducción

no ha acompañado el crecimiento sostenido del PBI. Es decir, el alto crecimiento económico

sostenido en estos años (principalmente entre 2003-2008) no se ha traducido en la superación

de la alta informalidad de su mercado laboral. A pesar de que en 2010 la recuperación

económica influyó positivamente en el funcionamiento del mercado de trabajo, con un

incremento del índice de ocupación y una caída del desempleo, el mundo laboral continúa

siendo en América Latina uno de los principales eslabones en la reproducción de la

desigualdad. La heterogeneidad de la estructura productiva se expresa en una dispar

polarización, por una parte, un sector minoritario, con empleos de alta productividad, salarios y

protección social, y por otra, un sector donde predominan las condiciones laborales precarias,

las remuneraciones más bajas y un limitado acceso a la protección social. Además, tanto el

desempleo como la ocupación en el sector de baja productividad siguen afectando sobre todo a

los jóvenes y a las mujeres más pobres.

4 EMERGENCIA, INSTITUCIONALIZACIÓN Y CONSOLIDACIÓN DE LOS PTRC

Es en el proceso global de redimensionamiento de los Sistemas de Protección

Social por los cambios sociales generales y las nuevas exigencias colocadas al Estado, que se

inscribe la emergencia y ampliación de los PTRC alcanzando a los contingentes de trabajadores

desocupados, empobrecidos, precarios e informales que no alcanzan a reproducir sus

condiciones materiales de existencia.

Su emergencia, expansión y consolidación se relacionan en términos amplios con:

1- el desplazamiento de la Intervención Social del Estado hacia la pobreza y junto con esto la

expansión de la asistencia. 2- Al mismo tiempo y en relación a la creciente conflictividad y

cuestionamiento social a las políticas de ajuste neoliberal y las consecuencias sociales

generadas por estas, a las respuestas construidas por los gobiernos emergentes y organismos

internacionales en este contexto de crisis procurando reconstruir la legitimidad.

Page 56: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

56

En este proceso, se produce la institucionalización y consolidación de los PTRC

como uno de los ejes centrales de los sistemas de protección social. Al mismo tiempo los

propios organismos internacionales reconocen el agravamiento de la cuestión social, el

aumento de los índices de la pobreza y confirman la necesidad estratégica de afrontar medidas

que superen los acuerdos del consenso de Washington, habilitando un conjunto de

recomendaciones teóricas prácticas y políticas que favorezcan la legitimidad del orden y la

cohesión social. Las mismas apuntan a introducir reformas institucionales duraderas que

atiendan en términos de alivio la extensa desprotección social desarrollada por la erosión

estructural de las formas históricas de seguro y seguridad social de cada país. Junto con la

erosión, retracción y debilitamiento del formato del seguro, se da la ampliación de formas de

transferencia de renta de raíz no contributiva. Los PTRC se ubican en este movimiento general

de recomposición de la protección social, sus dimensiones materiales y simbólicas, en un

contexto de transformaciones radicales de la lógica de acumulación capitalista.

Se observa en la región un proceso de institucionalización de los PTRC, que implicó

en cada país dinámicas particulares que parten del desarrollo de programas puntuales y de

emergencia en contextos de crisis aguda, a programas que pretenden constituirse en

permanentes vinculados a las estrategias globales de combate a la pobreza estructural más allá

de situaciones de emergencia económica y social. Al mismo tiempo sus procesos de

institucionalización implicaron la extensión y masificación de la asistencia, desbordando los

estrechos límites de la hiper-focalización de la década del noventa. También este proceso de

extensión de la asistencia a partir de los PTRC, implicó la ampliación de los programas sociales

no contributivos, estableciéndose arreglos institucionales específicos en cada experiencia

nacional en función de sus trayectorias históricas particulares18.

El análisis situado desarrollado nos permite comprender los fundamentos históricos-

concretos de la emergencia de los PTRC y la centralidad que adquieren en los actuales

formatos de protección social.

18

Los PTC alcanzan para el 2013 a 30 millones de familias, equivalente a cerca de 127 millones de latinoamericanos y caribeños (CECCHINI, 2013). Los programas con mayor número absoluto de beneficiarios son: Bolsa Familia, en Brasil (13,8 millones de familias, 56,4 millones de personas), cobertura equivalente a 46% del total en la región; y, Oportunidades, de Mexico (6,5 millones de familias, 31,2 millones de personas), Familias en Accion, de Colombia (2,8 millones de familias, 11,7 millones de personas) y Bono de Desarrollo, en Ecuador (1,2 millones de familias, 6,4 millones de personas).

Page 57: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

57

5 CONCLUSIÓN

Los sistemas de protección social constituyen una mediación institucional político-

económica resultado al mismo tiempo de las contradicciones y reivindicaciones emanadas de

las luchas de clases y de la lógica de acumulación capitalista. Es un proceso dinámico que se

explica en el movimiento histórico de la sociedad. Esta perspectiva de totalidad nos permite

comprender el sentido político y social de la política social, en relación a los procesos de

acumulación, a los procesos de organización del trabajo y a la configuración de los sistemas de

protección social.

La protección social en América Latina, desde los años ochenta, viene evidenciando

un desplazamiento hacia la focalización de sus acciones en la pobreza y extrema pobreza;

desde acciones de emergencia hiper-focalizadas a programas institucionalizados de alcance

masivo que penetran la arquitectura de protección social definida.

Pese a las mejoras registradas durante el siglo XXI, persisten grandes deudas,

evidenciadas en la persistencia absoluta de la pobreza desde la década del ochenta y la

permanencia de la estructura de desigualdad de la sociedad.

Si bien estas políticas se colocan en relación a la ampliación del consumo mínimo

por parte de los sectores pobres de la población; ellas no afectan el origen de la pobreza y las

desigualdades, porque la perspectiva de economía política en la cual se inscriben se basa en

una concepción de desigualdad en relación a la noción de libertad para el acceso a los

beneficios del mercado; al mismo tiempo la pobreza se explica en relación a la ausencia o

insuficiencia de renta y no a las relaciones de desigualdad que la produce. Es decir prevalece el

desafío de develar las raíces estructurales económicos y políticos de la pobreza, observando la

producción de riqueza y las relaciones de poder en las cuales se asienta en la sociedad.

La creciente importancia asignada a la noción de capital humano, se centra en una

concepción individualista de la sociedad. Imputan a los pobres un comportamiento que deben

modificar para mitigar la pobreza, en tal sentido sostienen que la política social debe generar

incentivos para que esos cambios se produzcan. Se exigen condicionalidades para la recepción

de los bienes que implican la modelación de los comportamientos sociales. De esa forma los

pobres son definidos por su situación de carencia económica y también por sus carencias

actitudinales y formativas que los inhabilita para su desarrollo. En tal sentido la red de

Page 58: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

58

protección para pobres tendida, coloca esfuerzos en el desarrollo de habilidades o capacidades

a través del entrenamiento educacional.

Si bien en la dimensión argumentativa de los PTRC, se incorporan nociones de

derechos y el problema de la universalización; conviven en la práctica nociones minimalistas y

procesos clasificatorios que reactualizan el tratamiento de la pobreza en términos de

merecimineto/no merecimiento, opacando la perspectiva de derecho social. Si bien la

materialización de estos programas, contribuyen a volver menos dramáticas las condiciones de

vida de este sector de la clase trabajadora que no puede reproducir sus condiciones materiales

de existencia, y pretenden instalar una noción de derecho, de garantía y de universalización

que es diferente al tratamiento dominante de la hiper-focalización de la década anterior y

habilita potencialmente un camino de exigencia de cumplimiento de estas garantías.

El análisis de las políticas de transferencia particular en el marco de las formas

históricas de protección social definida, nos permite comprender la existencia centralmente de

un problema político: el proyecto de sociedad que se quiere construir. Se observa tanto las

disputas en relación al reconocimiento de necesidades sociales, como las maneras de definir y

organizar el trabajo. El resultado de estas disputas se materializa en las mediaciones político-

económicas que condensan esas tensiones. Si aspiramos a una sociedad que se mueva en un

sentido de la igualdad social, es necesaria una perspectiva amplia de la protección social,

basada en un enfoque de derecho universal, que tienda a la superación de la segregación y

fragmentación en las que históricamente han participado las políticas asistencialistas. El

proceso en marcha muestra que si bien hay avances en la definición de un piso de protección,

se está muy lejos de ese horizonte social.

REFERÊNCIAS ANTUNES, R. El trabajo entre la perennidad y la superfluidad. Algunos equívocos sobre la deconstrucción del trabajo. In: SOTO, Fernández; TRIPIANA, J. (Comp.). Políticas sociales, trabajo y trabajadores en el capitalismo actual. Buenos Aires: Espacio, 2009. CECCHINI, S. Aportes y limitaciones de los programas de transferencias condicionadas, Taller regional de capacitación: politicas orientadas a las familias para la reduccion de la pobreza y la conciliacion de la vida laboral y familiar en America Latina. Santiago de Chile, 2013.

Page 59: PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NA AMÉRICA LATINA ... · Latin America. The poverty is ... PTRC da América Latina disponibiliza diversas ações complementares, ... relativamente

59

COMISIÓN ECONÓMICA PARA AMÉRICA LATINA Y EL CARIBE. Panorama Social de América Latina, 2011. Santiago de Chile, 2011. COMISIÓN ECONÓMICA PARA AMÉRICA LATINA Y EL CARIBE. Panorama Social de América Latina 2014. Santiago de Chile, 2014. FILGUEIRA, Fernando. Tipos de welfare y reformas sociales en América Latina. Eficiencia, residualismo y ciudadanía estratificada. Social Science Research Council, Guadalajara, 1997. Versión revisada y modificada del documento presentado en el marco del proyecto Social Policy Citizenship in Central America. ______. Cohesión, riesgo y arquitectura de protección social en América. Santiago de Chile: CEPAL, 2007. GAITÁN, Flavio. Crecimiento, desigualdad y pobreza en el capitalismo periférico. Análisis de los países latinoamericanos. In: DI VIRGILIO, Mercedes; OTERO, María Pía; BONIOLO, Paula (Coords.). Pobreza y desigualdad en américa latina y el caribe. Buenos Aires: CLACSO Libros, 2011. (Colección CLACSO – CROP). Disponible en:<www.clacso.org.ar>. Acceso en: 7 jun. 2015. GOUGH, Ian. Economia política del Estado del bienestar. Traducción: Gerório Rodriguez Cabrero. Madrid: H.Blume Ediciones, 1978. HARVEY, David. La condición postmoderna. Buenos Aires-Madrid: Amorroutu, 2004. [1ra. Edición 1990] ______. El nuevo imperialismo. Madrid: Akal, 2007. MANDEL, E. Marx y el porvenir del trabajo humano. Cuadernos de Mientras Tanto, Buenos Aires, n. 1, 1982. MARX, K. El Capital. Buenos Aires: FCE, 1986. Tomo I. MESA-LAGO, Carmelo. Social Security in Latin America. [S. l.: s. n.], 1991. Informe Report. ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Panorama Laboral 2011: América Latina y el Caribe. Lima, 2011. Disponible en:<www.oit.org.pe>. Acceso en: 7 jun. 2015. REPETTO, Fabián. Protección Social en América Latina: la búsqueda de una integralidad con enfoque de derechos. Revista del CLAD, [S. l.], n. 47, 2010. Disponible en:<www.clad.org>. Acceso en: 7 jun. 2015.