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PROGRAMAÇÃO – II SEMINÁRIO DE PESQUISA DA FESPSP 04 de novembro (Segunda-feira) 09h – Mesa 1: Violência e disciplina – sala 65 Debatedor: Prof. Dr. Sergio Braghini (FESPSP) 1. Atenção à norma: Relações entre o Espírito Empreendedor e o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade - Felipe Ponzio (FESPSP) Resumo: O presente trabalho pretende analisar as relações entre a emergência do conceito de espírito empreendedor de Peter Druker e a descrição do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) pela psiquiatria americana. Observação participante em escola particular, em sala de aula do ensino fundamental, com alunos considerados doentes e entrevistas com professores, psicanalistas e psiquiatras compõe as ferramentas de análise metodológica. As conclusões preliminares indicam que o aumento do pequeno empreendimento nos EUA, aliado à constituição de uma nova indústria de alta tecnologia e à popularização dos conceitos da administração de empresas no início década de 1970, possibilitou o aparecimento de uma nova tecnologia do criar e de uma ética para o desejo, que compõe um discurso sobre o sucesso orientado sobre dois grandes conceitos da administração: a meta clara e específica e o planejamento estratégico e meticuloso. Neste novo cenário, a tarefa entra no quadro de metas compondo parte de uma série. O desejo, por outro lado, que sempre fora excluído do ambiente do trabalho, é agora canalizado como “combustível” para a realização de cada meta, e todo um novo campo de enunciados da motivação profissional começa a se popularizar. Neste contexto, existe um deslocamento do normal com uma superposição do espontâneo sobre a falta de disciplina como o primeiro indício do fracasso. A desatenção, impulsividade e hiperatividade compõem essa série comportamental de incidência do espontâneo e de afastamento do sucesso. A circulação dessa nova patologia da atenção, por meio do discurso bio- político, encontra solo fértil neste novo saber estadunidense sobre o sucesso. Pretende-se com este estudo demonstrar como a sociedade e a cultura influenciam na constituição do normal e como essa influência é rejeitada pela psiquiatria por meio de um determinismo biológico. Este trabalho de iniciação utilizou como referências bibliográficas a obra de Michel Foucault sobre a anormalidade, concentrando-se principalmente em “Os anormais” e a “História da Loucura”. As obras de Peter Druker sobre empreendedorismo e de Russell A. Brakley sobre o TDAH também foram estudadas. 2. Mídia e representação da violência: Análise de notícias de agressões homofóbicas na mídia hegemônica e na mídia LGBT - João Filipe Araujo Cruz; Mariana Faciulli; Carolina Mendes Soares (USP) Resumo: Nessa pesquisa pretendemos analisar como são apresentadas notícias referentes a casos de violência (física e simbólica) contra LGBTs. Acreditamos que entender como a mídia trata esses casos é de extrema importância, tendo em vista o aumento progressivo de casos noticiados e a

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PROGRAMAÇÃO – II SEMINÁRIO DE PESQUISA DA FESPSP

04 de novembro (Segunda-feira)

09h – Mesa 1: Violência e disciplina – sala 65

Debatedor: Prof. Dr. Sergio Braghini (FESPSP)

1. Atenção à norma: Relações entre o Espírito Empreendedor e o Transtorno do Déficit de Atenção e

Hiperatividade - Felipe Ponzio (FESPSP)

Resumo: O presente trabalho pretende analisar as relações entre a emergência do conceito de

espírito empreendedor de Peter Druker e a descrição do Transtorno do Déficit de Atenção e

Hiperatividade (TDAH) pela psiquiatria americana.

Observação participante em escola particular, em sala de aula do ensino fundamental, com alunos

considerados doentes e entrevistas com professores, psicanalistas e psiquiatras compõe as

ferramentas de análise metodológica.

As conclusões preliminares indicam que o aumento do pequeno empreendimento nos EUA, aliado à

constituição de uma nova indústria de alta tecnologia e à popularização dos conceitos da

administração de empresas no início década de 1970, possibilitou o aparecimento de uma nova

tecnologia do criar e de uma ética para o desejo, que compõe um discurso sobre o sucesso orientado

sobre dois grandes conceitos da administração: a meta clara e específica e o planejamento

estratégico e meticuloso. Neste novo cenário, a tarefa entra no quadro de metas compondo parte de

uma série. O desejo, por outro lado, que sempre fora excluído do ambiente do trabalho, é agora

canalizado como “combustível” para a realização de cada meta, e todo um novo campo de

enunciados da motivação profissional começa a se popularizar.

Neste contexto, existe um deslocamento do normal com uma superposição do espontâneo sobre a

falta de disciplina como o primeiro indício do fracasso. A desatenção, impulsividade e hiperatividade

compõem essa série comportamental de incidência do espontâneo e de afastamento do sucesso. A

circulação dessa nova patologia da atenção, por meio do discurso bio- político, encontra solo fértil

neste novo saber estadunidense sobre o sucesso. Pretende-se com este estudo demonstrar como a

sociedade e a cultura influenciam na constituição do normal e como essa influência é rejeitada pela

psiquiatria por meio de um determinismo biológico.

Este trabalho de iniciação utilizou como referências bibliográficas a obra de Michel Foucault sobre a

anormalidade, concentrando-se principalmente em “Os anormais” e a “História da Loucura”. As

obras de Peter Druker sobre empreendedorismo e de Russell A. Brakley sobre o TDAH também

foram estudadas.

2. Mídia e representação da violência: Análise de notícias de agressões homofóbicas na mídia

hegemônica e na mídia LGBT - João Filipe Araujo Cruz; Mariana Faciulli; Carolina Mendes Soares

(USP)

Resumo: Nessa pesquisa pretendemos analisar como são apresentadas notícias referentes a casos

de violência (física e simbólica) contra LGBTs. Acreditamos que entender como a mídia trata esses

casos é de extrema importância, tendo em vista o aumento progressivo de casos noticiados e a

relevância da mídia na constituição de uma opinião pública que tenha por alicerce o respeito à

diversidade. Temos, portanto, como objetivo, perceber as diferenças entre os tratamentos dados

aos casos de violência homofóbica nas mídias hegemônica e LGBT, que consideramos estar

relacionadas às demandas e ao ativismo político específicos destes e às maiores flexibilidade e

permissividade proporcionadas por um espaço próprio, que forneceria oportunidades ímpares de

comunicabilidade entre indivíduos LGBT.

Utilizamos como método de pesquisa a análise documental e como instrumentos as notícias de

violência homofóbica veiculadas pelas mídias hegemônica e LGBT, no ano de 2012. Utilizamos sites e

weblogs de notícias em nossas análises, porque é na internet que achamos um número maior de

publicações voltadas ao público LGBT. Primeiramente, foi realizado um levantamento quantitativo

dos casos noticiados, cujo conteúdo encaixava-se, segundo nossa operacionalização, entre agressões

homofóbicas. Uma segunda parte da pesquisa, em andamento, conta com a seleção dos casos mais

representativos entre os computados e posterior estudo qualitativo de seu teor, também por meio

da análise de conteúdo, visando obter indicações expressivas do posicionamento, possivelmente

divergente, assumido pelos sites/weblogs. A pesquisa encontra-se em fase avançada, mas ainda em

andamento. Fizemos já um levantamento quantitativo das notícias que retrataram os casos de

violência homofóbica e de seus desdobramentos nos sites assinalados anteriormente e, a partir

desses dados, estamos em fase de conclusão da análise qualitativa. A partir da análise já

encaminhada é possível perceber diferenças no perfil das vítimas retratadas nos veículos

hegemônico e LGBT: aqueles tendem a noticiar mais casos de violência contra homens gays,

enquanto estes de violência contra homens gays, mulheres transexuais e travestis e em maior

quantidade. Finalizada a pesquisa, será possível perceber que há, e quais são, diferenças entre a

abordagem da mídia hegemônica e a mídia LGBT ao retratar violência homofóbica.

3. A Ditadura Militar em São Paulo: O Caso das Ossadas dos Desaparecidos de Perus - Kassia Beatriz

Bobadilla (USP)

Resumo: A ditadura militar brasileira foi marcada por graves violações aos direitos humanos e o não-

cumprimento de tratados e convenções internacionais firmados e assinados pelo Brasil. Torturas,

mortes, desaparecimentos forçados e ocultamento de corpos encabeçaram a lista dos crimes

cometidos no regime.

Através de denúncias, a Câmara Municipal de Vereadores de São Paulo instituiu em 1990 uma

Comissão Parlamentar de Inquérito com o propósito de investigar a responsabilidade por trás das

cerca de 1.500 ossadas encontradas numa vala comum do Cemitério Dom Bosco, no bairro de Perus.

As apurações da CPI levaram os vereadores e as entidades de direitos humanos a descobrirem a

frieza e a colaboração de diversos órgãos municipais e estaduais com o aparato repressivo de São

Paulo.

Configurando-se como uma instância bastante efetiva e atuando em consonância com suas

atribuições fiscalizadoras, a CPI foi palco de depoimentos e denúncias dos mais diversos atores. As

informações e documentos coletados demonstravam as atrocidades do regime militar em São Paulo,

local de ação do Esquadrão da Morte e da famigerada OBAN.

A busca pela verdade e justiça de familiares de mortos e desaparecidos políticos estava só

começando.

4. Movimento Escoteiro: construção de atitudes de obediência e disciplina entre crianças e jovens -

Marianna Lahr Faustino (UNESP – Marília)

Resumo: O presente trabalho trata-se de um estudo a respeito da construção de atitudes de

obediência e disciplina entre crianças e jovens membros do movimento escoteiro, tendo como base

de analise teórica, a sociologia compreensiva de Max Weber, em especial seus tipos puros de

dominação legitima. Busca-se uma analise de como a hierarquia - tão presente e difundida por este

movimento voluntario de conduta e valores militares - se desenvolve entres todos os ramos do

escotismo brasileiro, tanto entre os próprios os jovens, como na relação entres estes e os adultos

voluntários. A pesquisa em questão busca compreender de forma ampla, como relações sociais

baseadas em exercícios de poder legitimados por autoridades racionais (legais) e tradicionais, bem

como lideranças carismáticas, são desenvolvidas, difundidas e reproduzidas entre os membros

juvenis do escotismo, seja nos casos de hierarquização entre iguais - estabelecida entre monitores e

seus membros de patrulha - bem como nas relações hierárquicas estabelecidas entre membros

juvenis e adultos voluntários, denominados escotistas ou chefes.

A dominação se apresenta enquanto capacidade de manter a inciativa das ações sociais em um

exercício persistente do poder, onde o direito de mando e o dever de obediência se apresentam

fundamentais para os agentes envolvidos, mando e obediência são mantidos valores de uma

conduta baseada na autoridade hierárquica na qual o escotismo se consolida. Poder, autoridade e

hierarquia são elementos que se mostram intensamente vivos e ativos no movimento escoteiro,

desde sua gênese na Inglaterra no inicio do século XX - com Baden-Powell, seu fundador - até o

escotismo desenvolvido no Brasil atualmente.

Pretende-se assim, uma analise teórica, pautada em um estudo detalhado da literatura escoteira,

buscando identificar como os valores de obediência a ordens legitimas, e disciplina e conduta para a

submissão a estas, estão presentes nos documentos, tanto no que diz respeito a sua máxima

mundial, evidenciada no livro “Escotismo Para Rapazes”, como em um estudo abrangente da

bibliografia fornecida pela União dos Escoteiros do Brasil (U.E.B.), em especial o manual de Principio,

Organização e Regras (P.O.R.) e seus guias de progressão pessoal, guias estes direcionados

especificamente aos jovens de acordo com a divisão etária do movimento brasileiro, no caso os

ramos: lobinho, escoteiro, sênior e pioneiro.

Embora se consolide como uma analise teórica baseada em apenas uma vertente sociológica – no

caso a sociologia weberiana, em especial os tipos puros de dominação legitima – o trabalho em

questão se desdobra em demais temáticas, metodologias e estudos voltados a juventude,

militarização da infância, disciplina escolar, militar e até mesmo religiosa, dentre outras a ainda

serem melhor desenvolvidas no andamento das analises, visto que se trata de um projeto ainda em

andamento

5. Função das Instituições Policiais: Uma discussão a partir da visão de policiais militares - Terine

Husek Coelho (FESPSP)

Resumo: O presente projeto de pesquisa se insere no debate sobre consolidação democrática no

Brasil, a partir de uma discussão sobre o papel das instituições policiais nessa ordem realizada com

os profissionais responsáveis diretamente pela segurança pública, os agentes policiais. Foram

realizadas dez entrevistas em profundidade com policiais que atuam na ponta, buscando levantar

como estes enxergam sua função em uma sociedade em constante transformação. O interesse em

analisar a percepção desses atores sociais se justifica pelo fato de que são justamente esses

profissionais que levam a cabo o fazer policial, razão pela qual sua maneira de enxergar a função que

executam influencia no modo como eles atuam. O objetivo central dessa pesquisa foi refletir sobre a

representação do papel da polícia na ordem democrática, por meio de dois objetivos específicos: em

um primeiro momento, por meio das percepções dos policiais, a respeito do papel da instituição

Polícia Militar e, em segunda instância, por meio do levantamento com estes mesmos policiais da

sua opinião acerca dos principais obstáculos para a realização de seu trabalho. Por fim, buscou-se

relacionar o conteúdo trazido pelos policiais com as discussões presentes na literatura específica.

19h – Mesa 2: Educação e Sociedade – sala 65

Debatedora: Profª Msª Bárbara Garcia Ribeiro (UNICAMP)

1. Entre a economia e a cidadania: o papel da educação e da escola na formação da sociedade

brasileira - Alessandra Felix de Almeida (FESPSP)

Resumo: A discussão sobre a Educação, tema deste trabalho, os objetivos da escola, o seu papel e de

seus atores sempre esteve presente na história do Brasil, sendo pauta dos principais episódios

políticos do país. O Alvará Régio, emitido em 28/07/1759, que sancionara a expulsão dos Jesuítas das

terras de Portugal e do Brasil, teve como objetivo a introdução do ensino público como forma de

modernização do país, de modo que a modernização almejada teria como meio a Educação.

(MARCÍLIO, 2005: 21). Duzentos e cinquenta e quatro anos depois, no dia 1º de maio de 2013, a

presidenta Dilma Rousseff, em seu pronunciamento em cadeia nacional por ocasião do Dia do

Trabalho, vincula a Educação ao desenvolvimento do país, a presidenta afirma que “só uma

educação de qualidade pode garantir mais avanço para o emprego e para o salário”.

Uma breve análise da história da Educação brasileira possibilitou observar a sua problemática como

parte de um processo histórico, de descontinuidades e ineficiências de políticas públicas, o que

implicaria incertezas quanto ao papel da Educação e da Escola. Sugerimos que uma das

características desta problemática, senão a principal, é a própria definição dos referidos papéis e

consequentemente de seus objetivos. A Educação, em nosso país, tem sido tratada como um meio

de acesso ao desenvolvimento econômico e à realização do capitalismo nacional. No entanto, a

Educação, estaria para além do universo econômico, de acordo com Paulo Freire (2011), Adorno

(1995) e Marshall (1967) a Educação fornece subsídios para a liberdade, emancipação,

fortalecimento dos direitos sociais e para a conquista dos direitos civis e políticos.

Considerando o referido tratamento atribuído à Educação brasileira, podemos sugerir que as

questões da liberdade e da emancipação, bem como, uma perspectiva de participação política, no

que diz respeito à possibilidade da conquista e fortalecimento da cidadania (direitos sociais, civis e

políticos) teriam sido prejudicadas, tornando a Educação opressora e tutora de indivíduos incapazes

de refletirem criticamente sobre si mesmos e portanto sobre o meio que os abriga, seja a Escola ou a

sociedade como um todo.

Este trabalho procurará apresentar um panorama do histórico da Educação no Brasil, relacionando o

papel que o Estado atribui à Educação com aquele atribuído por alguns teóricos deste tema. Nossa

hipótese é que a formação do cidadão como sujeito crítico e participativo pode ter sido ofuscada

pela formação do indivíduo como ator da economia, onde a Escola que, do nosso ponto de vista,

deveria ser tratada como o espaço legítimo da formação deste cidadão, acaba por reproduzir uma

lógica também capitalista, em busca de metas, bonificações, status, cercada pela técnica e

burocracia, deste modo, alunos, professores e diretores também poderiam incluir esta lógica aos

seus papéis sociais, o que poderia colocar em suspensão os objetivos ideais da Educação.

2. Construção de Identidades e Representações Sociais sobre o Trabalho no Programa Telecentros -

Apontamentos de um Projeto de Pesquisa - Artur Oriel Pereira (FESPSP)

Resumo: Este artigo consiste numa proposta inicial de pesquisa que visa traçar um perfil do

trabalhador que atua nos Telecentros da Prefeitura da Cidade de São Paulo, com vistas a perceber as

representações que tem de sua profissão e de sua atividade. Nossa unidade de análise empírica

serão os capacitadores, supervisores técnicos e de unidade e orientadores, homens e mulheres,

cerca de mil trabalhadores terceirizados, celetistas e ocupantes de emprego público. Buscaremos

compreender os processos socialização e construção de tipos identitários na trajetória de formação

profissional à vivência no Mundo do Trabalho. Discutiremos se a prática do Instituto de Organização

Racional do Trabalho, empresa responsável por operacionalizar, alocar, treinar e capacitar os

trabalhadores para o atendimento nos Telecentros de forma contínua e obrigatória está associado a

um determinado tipo identitário, a um perfil de trabalhador que seja especialista no que irá fazer,

bem como se esta política forja uma identidade de empresa, originando uma batalha identitária,

caracterizando estados de continuidade ou ruptura e estados de reconhecimento e não-

reconhecimento social. Nossas hipóteses são: a) embora os trabalhadores recebam

treinamento/capacitação da empresa para tal, ainda sim, poderão ser encontradas dificuldades

tanto neste processo de ensino-aprendizagem quanto nas atividades desenvolvidas no posto de

trabalho; b) as diferentes percepções e opiniões sobre esta prática da empresa estão associadas a

um determinado tipo identitário; c) poderá ser identificadas crises de identidade profissional, parte

mais ou menos central da identidade pessoal, tanto quanto uma identidade em crise, identidades

possíveis sem categorização; d) a terceirização neste tipo de serviço público poderá ser considerada

como uma das formas de degradação das condições e relações de trabalho, já que por si só, a

precarização dos direitos dos trabalhadores é deletério. Para o desenvolvimento da pesquisa

pretendemos nos apoiar no método etnográfico, com uso das técnicas de observação participante e

entrevista semiestruturada, a postura a ser adotada será de pesquisa reflexiva.

3. O facebook como extensão da sala de aula: como alunos do ensino médio compartilham

conhecimento no ciberespaço - Bruno dos Santos Joaquim (USP)

Resumo: Este trabalho tem como objetivo central compreender de que forma jovens estudantes do

ensino médio estão usando as redes sociais, em especial o facebook, como ferramenta de

compartilhamento de conhecimento. A passagem do século XX para o XXI trouxe transformações

sociais relevantes, especialmente naquilo que se refere à relação da sociedade com o saber. Hoje

essa nova relação está marcada cada vez mais pela tecnologia, pela velocidade e pelo “saber fazer”.

Baseado nas proposições de Pierre Lévy pode-se notar que o crescimento do ciberespaço e o

surgimento da cibercultura vêm marcando a sociedade contemporânea e implicam numa

significativa mutação nas relações de comunicação e educação. Alunos do ensino médio, que no

passado viam a escola como única fonte de conhecimento, agora estão inseridos na cibercultura e

em busca de novas formas de lidar com o saber. O fenômeno da expansão das redes sociais virtuais

chegou ao mundo da escola principalmente através da expansão de grupos criados entre alunos de

uma mesma escola ou turma. Esta ferramenta do facebook oferece a possibilidade de expandir as

relações da sala de aula ao ciberespaço. O objeto de análise deste trabalho é justamente esta

ferramenta e as formas como os jovens se relacionam e compartilham conhecimento por esse meio.

Adotou-se para esta investigação o método qualitativo. Alunos de uma escola em que esta

ferramenta é bastante difundida foram entrevistados. Os resultados parciais indicam que o uso

dessa ferramenta vem se espalhando rapidamente e que já se tornou, em pouco tempo, cultura

nessa escola. Os alunos, de modo geral, prezam por esse canal de comunicação por considerá-lo

mais democrático, livre de regras e do controle da instituição escolar. Poucos são os de fora da

turma que tem acesso a esses grupos. Pode-se concluir que o facebook, usado desta forma, parece

uma importante ferramenta de comunicação, que extrapola os limites da sala de aula, em que os

jovens se sentem permitidos a expressar livremente seus conhecimentos, ideias e percepções, sem

as amarras da escola. Parece interessante que a sociologia da educação se debruce mais sobre esse

fenômeno de descentralização do conhecimento e da informação.

4. Educação superior dentro dos muros: Projeto Campus Avançado Serrotão - Marcela Mangini

Cypriano (FESPSP)

Resumo: O objetivo da pesquisa que será realizada é analisar a proposta de política pública de

educação que procura incorporar cursos de ensino superior em um Campus Universitário da

Universidade Estadual da Paraíba, no presídio do Serrotão, em Campina Grande – PB.

A intenção é focar no início do projeto, de como foi concebido, articulado e financiado, suas

propostas e sua implementação inicial.

A análise será elaborada a partir de sua agenda política, para que se entenda como universidade e

prisão se unem em um projeto e dividem um espaço por determinado tempo a fim de criar uma

oportunidade de reinserção social aos apenados condenados, levando em consideração que no

Brasil a cada mês 8,000 presos entram no sistema carcerário enquanto 5000 o deixam sistema

carcerário (MP-BA, 2007) e que o índice de reincidência criminal criminal no Brasil chega a

70%(CNJ,2011).

Dentro dos presídios brasileiros encontramos diversas políticas de educação básica como forma de

ressocialização dos apenados, cenário que se transformou nos últimos anos a partir do incentivo de

programas de financiamento de projetos que estimulam a educação nos presídios, mas nenhuma

política que prevê educação superior, e a nova proposta já emerge com a construção de um campus

universitário, todo um complexo que traz pra dentro dos muros da prisão ideais próprias de uma

universidade. Então teremos duas instituições com objetivos completamente diferentes que se

unirão e dividirão o mesmo espaço com o intuito de reinserir socialmente os apenados. Entender

como será estabelecida esta relação entre as duas instituições e qual será a autonomia que a

universidade terá em relação ao sistema penitenciário e ainda como trazer o “de fora” para “dentro”

da prisão são pontos de grande relevância para a análise do projeto.

Quando duas instituições – universidade e prisão- com papeis que divergem dentro da sociedade se

unem em prol de uma política que tem como finalidade a reinserção social do apenado terão por

consequência a reconfiguração não só do espaço mas de práticas que são próprias da realidade da

prisão?

Por se tratar de um projeto que está em fase de formulação está análise se concentrará na agenda e

na formulação da política, ou seja, na existência de um momento ou clima político para que uma

busca por mudança neste âmbito chegue às atenções do governo a ponto de ser levada em

consideração? Como foi o contexto político da entrada do projeto na agenda? Em que contexto

histórico essa política faz sentido na sociedade?Quem são os autores envolvidos?Como o projeto é

financiado?

A análise dos processos iniciais de implementação dessa política, focando no ensino superior,

poderá responder essas questões.

Também será utilizada a experiência da Argentina com o programa "UBA XXII", que há 27anos leva o

ensino superior para dentro dos presídios argentinos.

5. Uma análise das contribuições do ideário helleriano para explicar o conflito entre juventude e

escola no Brasil - Mike Martins dos Santos; Tamires de Assis Lima Martins (Fundação Santo André)

Resumo: Objeto

Compreender os motivos das dificuldades de conciliação entre ser “aluno” e ser jovem pobre no

Brasil. Por que o “mundo do aluno” se encontra distante do “mundo da escola”? Por que a cultura

juvenil difere radicalmente da cultura transmitida por essa instituição? Não desconhecemos que este

fenômeno apresenta características singulares na história de cada indivíduo, em cada escola e em

cada região.

Objetivos

Neste trabalho buscamos elementos conceituais e empíricos para compreender a estruturação das

experiências juvenis no cotidiano, que são delimitadas pela lógica da estrutura social. A qual

entendemos ser, em última instância, um dos fatores responsáveis pelo “conflito entre a escola e os

jovens a quem pretende formar” que culmina na “crise da escola”, “ponto pacífico entre os

educadores”.

Metodologia empregada

Partindo da obra marxista de Agnes Heller, mais especificamente, dos trabalhos da autora a respeito

da vida cotidiana, procuramos analisar algumas das contribuições desta perspectiva (a qual

consideramos ainda não totalmente explorada pelos estudos em educação) em diálogo com a

sociologia da juventude e a sociologia da educação.

Resultados parciais

Os conceitos de François Dubet a respeito da desinstitucionalização e de Bernard Charlot de relação

social com o saber esclarecem mais as formas de manifestação do fato do que os fundamentos do

problema. A alienação da vida cotidiana, fruto da acentuação da divisão social do trabalho, das

classes sociais e da propriedade privada é uma categoria essencial para compreender as raízes da

“crise da escola” e pensar as dificuldades postas. A pobreza das experiências formativas no cotidiano

pode ser entendida como a origem dos problemas. A relativa ausência dos elementos não-cotidianos

(ciência, filosofia, arte, política etc.) na vida cotidiana. As manifestações de distanciamento para com

o conhecimento escolar e com a posição de aluno dos jovens em questão são algumas das

consequências.

Conclusões

Não se trata de maneira alguma de estigmatizar os mais pobres como “alienados” ou de construir

uma imagem de suas características a partir das “faltas”, mas sim, na verdade, de buscar respostas

para a “crise da escola” através de uma percepção de que o jovem tem o direito de estabelecer

relações (em outros espaços além da escola) com os elementos não-cotidianos em seu cotidiano

para ampliar suas possibilidades de construção como indivíduo autônomo e consciente de si e do

mundo. Sem isso, a escola parece ter poucas possibilidades de se renovar e dar conta de uma tarefa

formativa e mediadora para a qual lhe falta apoio social mais efetivo.

05 de novembro (terça-feira)

09h – Mesa 3: Políticas Sociais - sala 65 -

Debatedora: Profª Drª Sandra Inês Baraglio Granja (FUNDAP)

1. A experiência da intersetorialidade em Penápolis como estratégia de construção de um novo

modelo de gestão - Alexandre Gil de Mello; Maria Inês de Oliveira Peters (FESPSP)

Resumo: O presente trabalho versa sobre uma experiência exitosa, realizada no município de

Penápolis, Estado de São Paulo, entre os anos de 2006 a 2012, em que a constituição de uma rede

social, intersetorial, pelo desenvolvimento integral de crianças com idade de 0 a 3 anos

("primeiríssima infância"), provocou a reflexão e uma nova prática de gestão pública,

consubstanciada na integração das políticas sociais, sobretudo, educação, saúde e assistência social.

A partir da constatação de que o desenvolvimento integral das crianças passa, necessariamente, por

uma política pública, construída de maneira intersetorial, tendo em vista, a garantia dos seus direitos

à educação, saúde e assistência social, a proposta de formação da rede surgiu como um

questionamento do modelo de gestão até então vigente, com pouca resolutividade e pouco

aproveitamento dos recursos disponíveis, baseado, na fragmentação e departamentalização das

políticas pública. A adesão do Poder Público municipal à proposta e, consequentemente, o esforço

no sentido de provocar a integração dos serviços foi o determinante para o surgimento deste novo

modelo de gestão que teve início e se consolidou com a formação de um comitê intersetorial, como

espaço de decisão.

2. A Precariedade do Trabalho Docente na Rede Pública Estadual Paulista: Professores Contratados

Por Tempo Determinado Categoria O - Alexandro Biazi Guarizzo (UNICID)

Resumo: Esta pesquisa trata do projeto de lei complementar n°29, de 2009, Programa de

Valorização pelo Mérito, aprovado pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, e implantado

pela Secretaria do Estado da Educação de São Paulo. Este estudo tem como propósito analisar as

expectativas, motivações e desmotivações no que tange as políticas educacionais envolvendo a

carreira docente e a forma de contratação temporária e precária dos professores categoria O.

Para tanto, foi realizada uma pesquisa, embasada em revisão de literatura.

A utilização de bibliografia de autores nacionais e internacionais que se dedicam a questão de

políticas envolvendo, a valorização profissional, a precarização das condições de trabalho e a

equiparação salarial a outras carreiras de nível superior ampliaram a produção desta dissertação. Os

resultados demonstraram as dificuldades em evoluir na carreira pelos critérios adotados, a

discordância com a lei que demonstra e responsabiliza os professores pela aprovação ou reprovação

na prova de mérito aplicada, condecorando apenas 20% dos docentes efetivos e estáveis,

discriminando os docentes contratados dividindo a categoria, promovendo uma cultura de bônus

salarial e dedicação pessoal aos “aprovados”, e incapacidade profissional e fracasso aos

“reprovados” causando mal estar entre a categoria, gerando uma divisão entre efetivos, estáveis e

contratados.

3. O Atendimento aos Convênios nos Grandes Hospitais Públicos de São Paulo, uma questão de

Privatização ou Orçamentária? - Wagner Rodrigues Sousa (FESPSP)

Resumo: A proposta do artigo é caracterizar a relação do atendimento aos convênios e particulares

dentro dos grandes hospitais públicos de São Paulo, e perceber suas interferências em termos

orçamentários. É também avaliar se isto está provocando uma diferenciação no atendimento e uma

consequente exclusão dos pacientes provenientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Através desses

apontamentos, apresenta aos leitores a elucidação do tema em estudo, ainda muito pouco

explorado e que tem causado diversas polêmicas a cerca da questão: “O atendimento aos convênios

e particulares, dentro dos hospitais públicos, pode ou não ser considerado uma privatização de

fato?”. Por fim, pretende-se, através deste trabalho proporcionar um conhecimento relevante em

administração pública e incentivar a pesquisa cientifica no que se refere ao estudo do

desenvolvimento de políticas de administração em serviços de saúde pública.

19h – Mesa 4: Corpo e Sexualidade – sala 66

Debatedor: Ms. Vitor Grunvald (USP)

1. Uma história que revela e oculta: Uma relação amorosa que conta a prisão e enfrenta seu discurso

- Natalia Negretti (PUC-SP)

Resumo: Esta proposta de apresentação oral tem como objetivo apontar dados preliminares de uma

pesquisa de mestrado, 'Entre muros e Processos de Envelhecimento: as tias de idade e as tias de

cadeia na Penitenciária Feminina de Sant'Ana', a partir de uma história específica, como um estudo

de caso, entre um casal de mulheres, Ana e Maria, agente penitenciária e presa respectivamente na

ocasião em que se apaixonaram e que se relaciona desde então. O trabalho tem como intenção

refletir a respeito das relações entre presas e agentes penitenciárias, em caso de vínculo afetivo, e

tal caso é tratado como um exemplo da heterogeneidade existente entre esses dois grupos

primordiais de uma instituição prisional: guardas, polícias ou agentes penitenciários, bem como

carcereiros e uma porção de outros termos, cuja nomenclatura revela a existência de gerações (a

partir da diferença de crenças, comportamento e regras) destes funcionários públicos e de presas,

chamadas também de internas, reeducandas e ainda bandidas, também com uma variedade

geracional sob a perspectiva de idade, mas principalmente de crime. Quais são os discursos e as

brechas na relação desses dois grupos. A partir deste foco pretende-se apontar questões

relacionadas às problematizações existentes de gênero e sexualidade de tais mulheres ao redor do

ambiente prisional, a partir de um vínculo presente e outro localizado no passado de uma narrativa

de vida.

2. Corpo e Metal - Impactos na vida cotidiana dos usuários do metrô em São Paulo - Thiago Da Silva

Prada (PUC-SP)

Resumo: A pesquisa procura verificar no cenário atual da mobilidade urbana, para além dos olhares

sobre o planejamento urbano e teoria da cidade, um enfoque no sofrimento da população que se

utiliza dos transportes públicos na cidade de São Paulo, mais especificamente o sistema metroviário.

Sendo assim, os objetivos desta pesquisa são verificar quais os impactos que o deslocamento pela

cidade gera na vida cotidiana destes usuários, e buscar nesse cotidiano as práticas que são

impactadas, as resistências e assim compreender o cotidiano dos usuários.

Nesta pesquisa serão utilizados autores que darão um suporte teórico para compreender a realidade

e vivências desses usuários, tais como Michel Foucault, Michel de Certeau, David Le Breton e Marc

Augé, entre outros, articulando questões acerca do poder, da cidade, do corpo e dos espaços de

deslocamento.

Para isso será realizada uma etnografia junto às pessoas selecionadas para se acompanhar e

registrar suas dificuldades, bem como a realização de entrevistas e registro de imagens. Após será

realizada uma análise a partir de critérios anteriormente selecionados, para chegar à compreensão e

apreensão social do sofrimento dos usuários e os impactos nas suas atividades cotidianas.

3. Heterossexualidade Obrigatória e Violências contra LGBTs na Cidade de São Paulo - Yasmim

Nóbrega de Alencar (FESPSP)

Resumo: Esta pesquisa aconteceu durante doze meses, compreendidos entre Agosto de 2012 e

Agosto de 2013. Foi realizada como atividade de estudante graduanda financiada pela bolsa

PIBIC/FESPSP – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica da Fundação Escola de

Sociologia e Política de São Paulo, sob orientação da Profa. Dra. Marta Bergamin. Objetivou

pesquisar sobre as relações intrínsecas existentes entre Heterossexualidade Obrigatória (HO) e

LGBTfobias. O objeto de pesquisa foi a comparação entre grupos de LGBTs distintos, residentes na

cidade de São Paulo. Um grupo formado por ativistas/militantes LGBTs e outro por não

ativistas/militantes. A metodologia consistiu de levantamento e análise bibliográfica, coleta de

materiais sobre casos de LGBTfobias acontecidos em nossa sociedade, no período de 2012 à 2013.

Além de entrevistas, histórias de vida e observação participante de LGBTs em diversos espaços,

inclusive, de militância política que desenvolvem. Problematizamos a questão das sexualidades, da

violência e das identidades de gênero diversas, manifestas nas relações sociais e refletimos acerca

do cruzamento de dados colhidos. Buscamos compreender qual o nível de interdição da HO

(Heterossexualidade Obrigatória) nas vidas cotidianas de LGBTs e, sobretudo, como estes dois

grupos distintos reagem a ela. Isto nos impeliu a concluir que se trata de um quadro fortemente

marcado pela exclusão social de LGBTs, uma vez que estes são vítimas de LGBTfobias. No entanto,

esta pesquisa nos levou a perceber que esta população não só é vitimizada, mas reage às opressões,

cotidianamente, de formas diferentes. No caso de LGBTs ativistas, as reações se dão,

principalmente, no campo da política e luta por Direitos Humanos usurpados. Já com LGBTs não

ativistas, as formas de resistência são perpassadas por autoconfiança, mas são fragilizadas pela

pressão social e a invisibilidade de suas existências como maneira de resistir e se manter vivo/a.

Pensamos que é, indiscutivelmente, necessário que Políticas públicas e a população, em geral, façam

uma força-tarefa para combater LGBTfobias, bem como transformar, através da educação, o

pensamento das pessoas que se mostram intolerantes à diversidade sexual e de identidade de

gênero.

19h – Mesa 5: Gestão, organização da informação e atuação profissional I – Auditório

Debatedor: Prof. Dr. Fernando Modesto (USP)

1. Normas para Descrição Arquivística - Ana Paula de Moura Souza (FESPSP)

Resumo: Os instrumentos de pesquisa gerados a partir da Descrição Arquivística correspondem à

ligação entre a indagação e resposta; entre o pesquisador e o documento, portanto, são

fundamentais ao acesso as informações contidas nos documentos de arquivo, com sua importância

refletida tanto na gestão do acervo como em sua própria divulgação.

Mesmo após anos da publicação da Norma Brasileira de Descrição Arquivística - NOBRADE, em 2006,

ainda é escassa a literatura prática sobre este assunto, especialmente no que se refere à sua

aplicabilidade, manuais e estudos de casos.

Com base no levantamento de artigos especializados, grupos de estudos e nos mais recentes

projetos de pesquisa, pretende-se entender a concepção das principais normas para a descrição

arquivística no mundo e como a aplicação destas normas colaborou para o aumento da eficiência e

da eficácia no atendimento e na gestão de arquivos públicos e privados.

Para exemplificar a aplicabilidade das normas para descrição, serão escolhidas algumas instituições,

públicas ou privadas na cidade de São Paulo para saber como e se utilizam a norma de descrição, por

meio de entrevistas, coleta de amostras de registros e elaboração de quadros comparativos, com

informações qualitativas e quantitativas.

Com os resultados deste levantamento, espera-se realizar uma prospecção a respeito do futuro da

Descrição Arquivística no Brasil e identificar quais serão os próximos desafios, além de servir como

subsídio para estudos futuros.

2. Direito autoral: o que o bibliotecário tem a ver com isso? - Janete Costa Marques (FESPSP)

Resumo: Apresenta o direito autoral no cotidiano do bibliotecário e demais profissionais da

informação. Para tanto, tem como objetivos conceituar Direito Autoral, apresentar e contextualizar a

legislação vigente (Lei 9.610/98), as recentes discussões e propostas de alteração da lei, punições

aplicadas em caso de violação desta, bem como destacar os cuidados que o bibliotecário, como

gestor e publicador da unidade de informação, deve ter para fazer o uso correto de obras de

terceiros em suas atividades cotidianas, sem violar a lei. A metodologia utilizada foi levantamento da

legislação referente ao tema, como a Lei 9.610/98, que trata dos direitos autorais; o Art. 5º inciso

XXVIII da Constituição Federal; o Art. 184 do Código Penal (que trata da violação dos direitos

autorais) e demais artigos que remetem a esse crime e o recente Projeto de Lei nº 3.133, de 2012,

que propõe a atualização das disposições sobre os direitos autorais, com vistas a adaptá-los às

tecnologias digitais. Realizou-se revisão de literatura em livros e periódicos especializados na área de

Direito autoral. Da mesma forma foi levantada bibliografia recente da área da Biblioteconomia e

Ciência da informação que apresenta discussões sobre o objeto do trabalho. Os resultados parciais

da pesquisa demonstram o aspecto restritivo e controverso da lei vigente, fato que gera dúvidas

quanto à utilização de obras de terceiros e criminaliza práticas que privilegiam o acesso à

informação, a construção de novos conhecimentos e a preservação de obras raras ou que

apresentam fragilidade em seu estado de conservação. Assim, pode-se concluir que o conhecimento

da lei, por parte do bibliotecário, é extremamente relevante, visto que se depara com os direitos de

autor em seu cotidiano, e que a revisão desta é inadiável para regulamentação de práticas que visam

prioritariamente o acesso à informação e a preservação dos acervos.

3. A Torrente de Paiaiá: O caso da Biblioteca Comunitária Maria das Neves Prado em Nova Soure (BA)

- Ludmylla Cavalheri Sá (FESPSP)

Resumo: O presente trabalho trata-se do desfecho da pesquisa de Iniciação Cientifica dada inicio no

ano de 2012, com os objetivos de identificar o perfil dos usuários que utilizam os serviços e as

dependências da Biblioteca Comunitária Maria das Neves Prado de modo que seja possível investigar

se a mesma possui capacidade para suprir as necessidades específicas dos usuários. Desse objetivo

geral decorrem alguns objetivos específicos, tais como: a) caracterizar os processos, iniciativas e

trabalhos de ação cultural realizados da biblioteca para a comunidade e o envolvimento da

comunidade nessas iniciativas; b) especificar quais são os serviços que a biblioteca presta a

comunidade do município de Nova Soure; c) quais ações e trabalhos a comunidade realiza para a

biblioteca. Com o intuito de avaliar os possíveis impactos ocorridos a partir da implantação da

Biblioteca Comunitária Maria das Neves Prado no ano de 2004 até o momento atual e; d) Pesquisar

o significado de possíveis mudanças significativas que a biblioteca trouxe para a comunidade do

município de Nova Soure

4. Produção científica em Organização da informação em periódicos brasileiros de Ciência da

Informação (2000-2010) - Solange Alves Santana; Nair Yumiko Kobashi (USP)

Resumo: O objetivo da pesquisa foi identificar e sistematizar a produção científica brasileira em

Organização da informação publicada em periódicos nacionais no período de 2000 a 2010. O corpus

analisado foi constituído de 156 artigos, coletados na base de dados ABCDM. Os dados foram

padronizados e processados em softwares bibliométricos e estatísticos. Os resultados permitiram

obter indicadores sobre os eixos mais frequentes da produção científica em Organização da

informação.

06 de novembro – (Quarta-feira)

09h – Mesa 6: Gestão, organização da informação e atuação profissional II - sala 65

Debatedora: Profa Dra Cibele Marques Araújo (USP)

1. Catalogação de documentos musicais impressos: um estudo comparativo - Aline Cristini Cambur

(FESPSP)

Resumo: Estudo que aborda a catalogação de documentos musicais impressos. Trata da

singularidade desse tipo de documento e da complexidade de seu tratamento, bem como da

necessidade de conhecimento específico nessa área por parte dos bibliotecários. Conceitua, a partir

de um levantamento bibliográfico, os elementos pertencentes à notação musical e os diversos tipos

de partituras, com o intuito de demonstrar a importância destas como fonte de informação. Faz uma

exposição do capítulo 5 do código de catalogação Anglo-Americano, dedicado à música impressa,

explicando cada uma de suas regras, e apresenta o Répertorie Internationale des Sorces Musicales,

explicando cada um de seus campos. Aplica ambos os modelos a uma partitura, e aponta seus

campos em comum, suas diferenças, vantagens e desvantagens. apresenta os problemas

encontrados na busca por bibliografia, já que o tema é pouco abordado nos cursos de catalogação e

salienta a importância da Biblioteconomia e da Ciência da Informação interagirem com a Música.

2. Modelo de Gestão de Bibliotecas Comunitárias - Grazielli de Moraes Silva (FESPSP)

Resumo: Mesmo diante às novas tecnologias e o rápido acesso à informação, a sociedade atual

encontra-se em um patamar de desinformação muito alto principalmente no que tange às

sociedades menos favorecidas. Nesse sentido surgem às bibliotecas comunitárias, que por serem

normalmente gerenciadas por uma multidisciplinaridade de pessoas da própria comunidade e não

contar com um modelo de gestão, acabam muitas vezes por deixarem de existir.

Esse trabalho tem o propósito de servir como um modelo de gestão aos interessados em constituir

uma biblioteca nesse gênero, servindo de suporte desde sua criação, captação de recursos,

parcerias, até sua construção - o trabalho técnico mais apropriado para o usuário (comunidade),

disponibilização para o usuário e ações culturais e demais serviços que podem ser desenvolvidas

nesses espaços onde normalmente contam apenas com doação para sua existência.

Essa pesquisa é uma prévia do TCC a ser apresentado para obtenção do título de Bacharel em

Biblioteconomia e Ciência da Informação. Foi desenvolvida através de levantamento de referenciais

teóricos com o auxílio de profissionais atuantes nessa temática, levantamento do conceito de

biblioteca comunitária para melhor entendimento, além de um estudo de caso onde se buscou

analisar um caso de sucesso e um caso de insucesso, de modo a confrontar as ideias e melhor

desenvolver o modelo proposto. Como resultado final a construção de um Modelo de Gestão para

Bibliotecas Comunitárias.

3. Competência em Informação no local de trabalho: mapeando caminhos por meio da literatura -

Silvana da Silva Antonio Arduini (USP)

Resumo: A pesquisa teve o objetivo de, a partir da literatura científica, analisar os trabalhos sobre

Competência em Informação a fim de mapear as abordagens sobre o tema, especialmente quando

praticada em locais de trabalho. Para tanto, realizamos um levantamento dos estudos sobre

Competência em Informação de trabalhadores – exceto profissionais da informação -- publicados

entre 2005 e 2012 e indexados em bases nacionais e internacionais. A partir da leitura dos textos

teóricos, foi possível levantar as seguintes variáveis para análise dos relatos de experiência: tipologia

do relato; abordagens de Competência em Informação mais utilizados; perfis dos profissionais

estudados; habilidades focadas e o tipo de ambiente onde foi realizado o estudo.

A análise dos relatos de experiência permitiu verificar que grande parte das pesquisas abordam

apenas diagnósticos de Competência em Informação. Outro ponto a ser ressaltado é que tanto a

literatura nacional como a estrangeira carecem de reflexões que levem a uma prática crítica da

Competência em Informação em ambientes laborais, pois ela ainda tem sido tratada como uma

habilidade construída individualmente.

4. Trabalhos Temáticos integrados na FESPSP: O Ensino com Pesquisa na Biblioteconomia - Tais

Bushatsky Mathias (FESPSP)

Resumo: Por meio de um breve panorama histórico do ensino de Biblioteconomia no Brasil, este

relato analisa o ensino com pesquisa como prática pedagógica no curso de graduação de

Biblioteconomia e Ciência da Informação da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.

Para tanto, será considerada a base do ensino com pesquisa, o paradigma pedagógico emergente ou

da complexidade, analisando de maneira breve o paradigma tradicional ou newtoniano-cartesiano

utilizado por inúmeras gerações ao longo dos anos, que influenciaram e marcam até hoje a

sociedade. Além do entendimento sobre sua trajetória e influência na prática pedagógica, serão

considerados seus reflexos na ação docente e discente, dando ênfase à segunda, objetivando a

reflexão sobre a compreensão dos mesmos sobre a construção de uma prática pedagógica

diferenciada. Este estudo propõe verificar se os Trabalhos Temáticos Integrados, prática pedagógica

concebida no planejamento pedagógico da FaBCI de 2011,podem ser considerados instrumentos

pedagógicos que possuem características do ensino com pesquisa. Para alcançar este objetivo, além

de levantamento bibliográfico pertinente para a compreensão dos conceitos da Educação, foram

realizadas entrevistas com docentes e discentes que vivenciaram tais práticas, para refletir sobre a

relevância dos trabalhos realizados. Os resultados obtidos com a realização do levantamento

bibliográfico e das informações colhidas nas entrevistas evidenciam o reconhecimento da realização

do trabalho pelos atores envolvidos no processo de ensino-aprendizagem. As considerações finais

revelam que os Trabalhos Temáticos Integrados apresentam características do ensino com pesquisa,

mas ainda está se desenvolvendo para que atinja todos os elementos que caracterizam tal prática.

Considera também a relevância do ensino com pesquisa para a compreensão de uma prática

consciente e uma compreensão processual da formação do e pelo discente bem como do docente.

19h – Mesa 7: Mídia, Tecnologia e Política – Auditório

1. Contracultura Digital: A influência do Ciberativismo nas Políticas Sociais da Cidade de São Paulo -

Clareana Silva Dias da Cunha (FESPSP)

Resumo: O Presente trabalho consiste em avaliar a mobilização pela internet alcançou os resultados

esperados influenciando o desenvolvimento das políticas sociais na cidade de São Paulo, bem como,

os esforços necessários para o desenvolvimento do ciberativismo, possibilitando, dessa forma, a

compreensão dos seus mecanismos e de seu funcionamento. A comunicação nesse processo, não só

é o meio pelo qual, se dá a interação, mas, sobretudo, insumo necessário à organização da rede.

Além disso, o trabalho se propõe a fazer um levantamento das principais iniciativas que tiveram

lugar na cidade de São Paulo, mapeando as iniciativas de cibeativismo na cidade de São Paulo

2. Práticas de E-Democracia e suas implicações sobre a participação cidadã. Um estudo sobre o

Sistema de Petições Eletrônicas do Parlamento Escocês - Lívia de Souza Lima (FESPSP)

Resumo: As Tecnologias de informação e comunicação (TIC) tem um papel central na vida

contemporânea, levando a transformações que afetaram diversos setores da sociedade. O presente

trabalho está interessado nas mudanças que a Internet, como uma TIC, fez parte de tais

transformações, especificamente em como ela influenciou o fazer democrático. O que

convencionou-se chamar de E-Democracia, uma das bases de trabalho dessa reflexão, é a junção da

Internet às práticas democráticas, que traz consigo algumas ideias promissoras quanto ao seu uso

como possível expansor da democracia, auxiliando os indivíduos a envolverem-se e terem uma

participação mais ativa em suas comunidades e assuntos de interesse público. Este estudo objetiva

investigar como as instituições governamentais estão lidando com as possibilidades trazidas pelo

conceito de E-Democracia, transformando-a assim, em uma prática de governo. Este trabalho foi

desenvolvido e orientado pelos conceitos de técnicas de governo e governança interativa. Para

realizar a investigação proposta, foi realizado uma pesquisa sobre o Sistema de Petições Eletrônicas

do Parlamento Escocês, que pode ser entendido como um mecanismo legítimo e aberto de

participação em nível institucional. Os resultados a serem aqui apresentados dão conta de verificar

de que forma se dá essa participação, de acordo com os princípios e diretrizes democráticas.

3. A Revista VEJA na Transição Democrática: Discurso e Liderança Política - Tathiana Chicarino (PUC-

SP)

Resumo: Esta pesquisa tem como objetivo a compreensão da relação entre mídia e liderança política

durante a transição democrática brasileira, para tanto, analisaremos o discurso político-midiático

expressado pela revista Veja entre os anos de 1974 e 1985, tendo como orientação duas premissas

derivadas do estudo de Manin (1995) a primeira é a centralidade dos canais de comunicação na

relação de representação, e, a segunda, é a tendência à personalização do poder.

A revista Veja já foi objeto de análise em Iniciação Científica com a hipótese de que formulava sua

agenda em conformidade, tanto com as aspirações de setores da sociedade civil, quanto com as

medidas liberalizantes implementadas pelo governo militar. Concluímos a pesquisa com a validade

da hipótese apresentada, mas também com uma nova questão de trabalho: a revista Veja trabalhava

um enquadramento diferenciado a cada ator político (individual ou coletivo).

Desta forma, a hipótese que testaremos ao longo da pesquisa é a de que quando o discurso político-

midiático da revista Veja aborda as lideranças políticas tratam-nas de forma diferenciada com um

posicionamento intencionalmente em consonância com o seu projeto político, que além de ser um

conjunto de crenças, interesses, concepções de mundo, representações do que deve ser a vida em

sociedade, também orienta a ação política (DAGNINO, 2004, p.98). É desta forma que enxergamos o

discurso político, como uma forma de ação política, que no caso da revista Veja, se faz por uma

aparente coerência entre o enquadramento empregado a cada liderança e o seu projeto político.

O trabalho de Iniciação Científica nos trouxe evidências de que a revista Veja trabalhava um

enquadramento diferenciado a cada liderança política, portanto, uma das premissas derivadas do

estudo de Manin (1995) já se faz presente, qual seja a personalização do poder. Já a premissa da

centralidade da mídia na relação de representação, pode ser confirmada por Duarte (1987) que

constatou que o projeto de distensão idealizado por Geisel enxergava na liberalização da imprensa

uma etapa necessária, e também um meio de divulgação de seu projeto junto à opinião nacional

(DUARTE, 1987, p.68), os militares constataram que a transição para a democracia era o único

caminho para a sobrevivência do sistema, desta forma, o abrandamento da censura à imprensa era

uma concreta estratégia nessa direção enquanto elemento de integração política.

Ao conduzir tanto a liberalização quanto a sucessão presidencial, os militares procuravam alijar as

massas das decisões políticas e colocar novamente no domínio político a elite, o projeto de

distensão é, portanto, uma “revolução pelo alto”, uma solução conciliatória que prioriza a ordem,

rejeita o conflito e desta maneira mantém o status quo; é esse conceito, ou essa ação política que

Veja apoia e concorda e é por esse viés que desenvolverá seu próprio projeto político e conduzirá o

enquadramento das lideranças políticas.

4. Voto digital na Estônia: uma possibilidade de resgate da legitimidade democrática? - Thiago

Henrique Desenzi (FESPSP)

Resumo: O propósito deste projeto é entender se o voto via internet na Estônia pode ser

considerado com um passo na direção do resgate da legitimidade democrática na relação entre

Estado e sociedade. O primeiro passo consiste em uma ampla descrição do Estado Estoniano dentro

de suas perspectivas relacionadas à implantação e funcionamento dos mecanismos de governo

digital, que vieram a culminar no voto via internet, e também deste. Buscaremos ainda apresentar

um enquadramento histórico da formação deste país, com o intuito de consolidar um arcabouço

sócio-histórico para a relativização dos dados quantitativos a serem analisados em nosso trabalho,

entendendo que a compreensão da sociabilidade na Estônia é fator fundamental para o

entendimento de suas dinâmicas políticas. Posteriormente, vamos explorar aqui as conjunturas do

movimento de perda de legitimidade democrática, tanto nas democracias tidas por consolidadas

como por aquelas em processo de consolidação, tal discussão embasa a compreensão das lacunas as

quais a ferramenta digital viria a preencher, no sentido de restabelecer uma relação mais harmônica

entre Estado e sociedade, restabelecendo os laços de legitimidade entre ambos. Finalmente, serão

analisadas nossas bases de dados específicas, provenientes das eleições de 2005 a 2011, em relação

a demais fatores econômicos e sócio-políticos entendidos com pertinentes a verificação de sua

capacidade de alteração da dinâmica relacional Estado-sociedade no tocante à percepção de

confiança, e assim, serão apresentados os dados que confirmam ou não a possibilidade do

entendimento do voto via internet como um fomentador do resgate à legitimidade democrática.

07 de novembro (Quinta-feira)

09h – Mesa 8: Políticas de desenvolvimento e o debate teórico nas ciências sociais - sala 65

1. Duro de Matar, o retorno: para uma crítica ao novo desenvolvimentismo e a ideologia do

desenvolvimento - Andrei Chikhani Massa (UNIFESP)

Resumo: O início do século XXI houve uma considerável mudança nas lideranças políticas da região,

eleitas democraticamente. Após a avalanche neoliberal que varreu a região ao longo dos anos 1990,

foram eleitos governos progressistas considerados de centro-esquerda. O discurso destes governos

em geral, e dos governos Lula-Dilma (2002-2014) em particular, ressurgiu a ideia – também na

academia - de desenvolvimento que trouxe consigo variações do desenvolvimentismo elaborado,

inicialmente, nos anos 1960.

No Brasil este projeto é conhecido como novo-desenvolvimentismo que tem como marco a

publicação do livro Novo-desenvolvimentismo: um projeto nacional de crescimento com equidade

social (Sicsú et al orgs., 2005), simbolicamente prefaciado pelo falecido empresário e vice-presidente

José de Alencar. Este livro conta com uma série de artigos que para além da sua diversidade contém

uma perspectiva em comum, a de que o desenvolvimento é possível e viável para nosso país mas

carece, antes de tudo, de uma ampla aliança de classes que envolva empresários, técnicos públicos e

privados e os trabalhadores, considerados “(...) os três elementos essenciais do desenvolvimento”

(BRESSER-PEREIRA, p.143, 2005)

O novo-desenvolvimentismo, apesar do novo vocabulário, não apresenta muita diferença do antigo

desenvolvimentismo da década de 1960. Grosso modo, visa blindar a economia com um Estado forte

que estimule o crescimento do mercado interno. Para isso o Estado (ou o Governo) deve ser capaz

de realizar políticas macroeconômicas para regular o mercado – atuando como financiador do

desenvolvimento do país, em detrimento da atividade especulativa – para impedir a formação de

monopólios garantindo espaço para os capitalistas de pequeno e médio portes. Deve elaborar

políticas que diminuam a sensibilidade às crises cambiais e fomentar o pleno emprego. E também

políticas sociais que assegurem um crescimento equitativo da renda nacional, Ao afirmar que basta

uma série de medidas – internas – para o país desenvolver-se, é o mesmo que alegar que o motivo

do subdesenvolvimento é apenas interno, neste caso, a falta de vontade política.

Assim como o desenvolvimentismo de outrora, o novo-desenvolvimentismo pressupõem que o

desenvolvimento alcançado pelos países centrais pode ser revivido nas regiões dependentes do

sistema capitalista mundial. Entende-se o subdesenvolvimento como um estágio anterior ao

desenvolvimento (ARAUJO, 2002). Este debate suscita o embate dos anos 1960-70 na América

Latina entre os Partidos Comunistas, a CEPAL e a(s) teoria(s) da dependência. Contexto do qual surge

a teoria marxista da dependência (TMD) que tem em Ruy Mauro Marini seu principal expoente.

Marini se opõe à ideia do desenvolvimento como um continuum, como se bastasse reunir as

condições adequadas para alcança-lo. (MARINI, 1992). As teorias acima apresentadas incorrem em

um equívoco ao tomarem como pressuposto das análises do “desenvolvimento econômico”, as

relações capitalistas. Pois são estas que deveriam ser tomadas como problema. (ARAUJO, 2002)

Segundo Marini, o que estas teorias ignoram é que o desenvolvimento de alguns países resulta,

justamente, no subdesenvolvimento de outros. (MARINI, 1992).

Nosso objetivo no presente trabalho é expor, em linhas gerais, os principais ideais do novo-

desenvolvimentismo e, posteriormente, apresentar as recentes contribuições da teoria marxista da

dependência não só ao prognóstico novo-desenvolvimentista como também à sua, inerente,

ideologia do desenvolvimento – presente na América Latina há décadas apesar dos fatos. E neste

caso, pior para os fatos que são negligenciados nas análises de alguns intelectuais. Atílio Boron

(2007) se demonstra perplexo ao ter ainda que criticar a ideologia do desenvolvimento no

continente, pois assim como na década de 1960 alguns países da região permanecem sendo “países

do futuro”.

2. Pré-Sal, Estado e Empresas - dilemas em torno do regime de partilha - Arthur de Aquino (UNICAMP)

Resumo: O artigo consiste na discussão de resultados parciais de pesquisa que vem sendo

desenvolvida no âmbito de pós-graduação em Ciências Sociais na Unicamp, a qual investiga a

alteração do marco regulatório na área de petróleo e gás no Brasil, através da lei 12.351/10, que

introduz o regime de partilha de produção, particularmente no pré-sal. Tal modelo vem sendo

apontado por analistas como uma manifestação de maior presença do Estado no setor energético.

Tal avanço decorre do fato de que a lei acima citada exige que a Petrobrás seja operadora em todas

as jazidas, e tenha uma participação acionária de no mínimo 30%, além das participações especiais e

royalties já previstos em legislação do setor. Note-se também que a alíquota dos ‘royalties’ passa de

10% para 15%. A lei 12.351/10 altera a lei 9.478/97, a qual estabelecera o regime de concessão,

todavia mantém o entendimento de que tanto o petróleo e gás natural ‘onshore’ ou ‘offshore’ são

propriedade da União, e isso ainda de acordo com a Constituição Federal de 1988; assim como ainda

prevê a exploração privada condicionada à licitação pública na modalidade leilão – de acordo com o

que dispõe a lei 8.666/93.

Tal presença do Estado vem decorrendo da perspectiva de retornos crescentes no pré-sal, o que já

motivara o governo Lula – encontrando continuidade no governo atual – a alterar o marco

regulatório com vistas a recuperar recursos com o petróleo, e destinar tais recursos ao

financiamento de políticas sociais, e a formação de um Fundo Social.

Na literatura especializada, existe extenso debate sobre o alcance e efetividade das políticas frente

ao poder econômico. Poderíamos citar três desses paradigmas principais. Num primeiro, a chamada

tese da “mente aprisionada”, elaborada por Charles Lindblom, de acordo com o qual políticas que

contrariam o poder do capital estariam abortadas desde sua concepção, não chegando a se

concretizar. Na outra ponta, existe a tese clássica de Przeworsky, na “Social-Democracia como

fenômeno histórico”, onde o autor mostra que o advento dos partidos de esquerda ao poder

levaram a governos que sistematicamente contrariaram – e com sucesso – interesses da burguesia

industrial. Entre ambos, há ainda o entendimento de David Vogel, o qual defende que a oposição

interesses de Estado versus interesses empresariais é falsa, uma vez que a própria presença do

Estado, com suas necessidades específicas, e pelas políticas públicas, alteram e condicionam o jogo

do mercado. Nessa problemática, a questão da alteração do marco regulatório é interessante estudo

de caso, uma vez que se questiona a posição das empresas frente ao pretenso avanço estatal.

Dessa maneira, a pesquisa consiste em revisão bibliográfica, análise documental, entrevistas com

especialistas e atores sociais envolvidos, assim como no acompanhamento das questões políticas

relativas à pesquisa nos veículos de comunicação.

3. (Re)pensando o desenvolvimento: um olhar crítico sobre a construção do “desenvolvimento”

enquanto princípio orientador das práticas políticas e sociais - Brena Costa Lerbach (UFES)

Resumo: O tema “desenvolvimento” tem sido elemento presente nos discursos e práticas sociais.

Compõe tanto os princípios que ganham materialidade nos planejamentos econômicos e nas

políticas públicas, quanto os valores morais que animam as ações de homens e mulheres, que, assim

“formatados”, enquadram-se como personagens no quadro que retrata a moderna sociedade

ocidental. O desenvolvimento está por toda a parte, e motiva desde acordos entre países e ações

governamentais até as perspectivas de vida dos sujeitos mais comuns. Está presente no acordo de

cooperação internacional para melhorias tecnológicas; nas políticas públicas educacionais que, por

exemplo, fortalecem o ensino técnico; nos anseios do jovem vestibulando ou do trabalhador que

pretende se tornar empreendedor – a ideia de um “desenvolvimento” toma forma nas mais variadas

esferas da vida social, seja numa dimensão institucional ou individual. Tendo isso em vista,

pensamos que refletir sobre o tema é uma tarefa pertinente.

Assim, este trabalho coloca em questão o tema “desenvolvimento”, corrente nas áreas social,

política e econômica. O termo desenvolvimento adquire uma conotação positiva na fala cotidiana e,

por isso mesmo, merece atenção, haja vista a diversidade de significados e de interesses que pode

expressar. É importante compreender os diferentes sentidos que o termo adquire, os projetos e

interesses historicamente colocados, e como o desenvolvimento constituiu-se como discurso

fundamentador das estratégias de dominação social e cultural ocidental a partir de meados do

século XX. Com esse intuito, buscaremos aqui apresentar criticamente três abordagens acadêmicas

que problematizam o desenvolvimento, com os seguintes enfoques: do ponto de vista conceitual, no

que diz respeito à orientação adotada pelos governos brasileiros em certos contextos históricos, e

enquanto prática discursiva. Tratam-se, respectivamente, dos trabalhos de Alan Thomas, no texto

“Meanings and views of development” (2000); de Anete Ivo, no artigo “O paradigma do

desenvolvimento: do mito fundador ao novo desenvolvimento” (2012); e das ideias centrais

expressas no livro Encountering Development: The Making and Unmaking of the Third World (2012),

de Arturo Escobar. Concluímos que os discursos sobre o desenvolvimento e sobre o

subdesenvolvimento serviram historicamente aos interesses dos países desenvolvidos; impõem a

adoção do modelo de sociedade ocidental em detrimento das culturas locais; e vinculam-se à lógica

capitalista, na qual a produção é orientada para o lucro, e não para o combate à fome e à pobreza –

mazelas que o discurso desenvolvimentista promete eliminar.

4. Do PFL ao PSD: um modelo referencial para o sistema partidário brasileiro - Eduardo Alves Lazzari

(PUC-SP)

Resumo: A pesquisa teve como objetivo tomar o Partido da Frente Liberal (PFL) e seu

sucessor Democratas (DEM), assim como sua dissidência o Partido Social Democrático (PSD) como

expoentes das características mais marcantes do sistema partidário nacional e do regime político

que emergiu na nova ordem constitucional, iniciada em 1988.

Adotando o arcabouço teórico de John Aldrich, “dividimos”, com objetivos metodológicos, o partido

- a instituição, não os referenciados no título da pesquisa - em três facetas, a saber, a faceta no

parlamento, como estrutura administrativa e no eleitorado. A partir delas, poderíamos inferir

quanto ao funcionamento dos partidos brasileiros e do sistema partidário nacional.

Após essa análise, sustentamos que o PFL foi um marco político e sociológico na arena política

brasileira. Politicamente, mostrou-se como um nexo entre o antigo e o moderno na política nacional

e, sociologicamente, consagrou a erosão irreversível das relações civil-militares que sustentaram o

regime e ilustrou, por conseguinte, a derrocada para uma constituição democrática.

Em contrapartida, ao analisarmos a faceta no parlamento de PFL e DEM, que evidenciamos um novo

padrão de comportamento nos partidos como um todo. Essa transformação se deve à metamorfoses

no governo representativo, de ordem tecnológica e no Estado. Fica-se evidente que lançamos mão

aqui do extenso trabalho de Bernard Manin, extrapolando-o para o caso brasileiro.

A partir delas, partidos e sociedade se distanciaram e aproximaram o partido do Estado. Em primeiro

lugar, esse distanciamento crescente fez emergir o partido catch-all, caracterizado pelo

atenuamento da bagagem ideológica e centralização da estrutura administrativa, tratando-se aqui

do funcionamento de sua faceta no eleitorado. O partido cartel é, entretanto, uma consequência

lógica desse distanciamento, mas em sua faceta no parlamento. Com a impossibilidade de contar

com o eleitorado como principal sustentáculo da vida partidária, os partidos políticos passaram a

obter do Estado sua estabilidade.

O PFL é um exemplo brasileiro de um partido que constrangido pelo contexto histórico e objetivos

de sua burocracia, aproxima-se do partido catch-all. Já como oposição e como DEM, o partido

demonstra que ao distanciar-se do Estado, desintegra-se.

Os achados nos permitem asserir sobre ao comportamento dos partidos nacionais. Dividindo-os em

dois tipos ideais, sendo que o que os delimita é a relação, imposta pela elite partidária, para com o

Poder Legislativo. Dessa forma, temos que a indução de seus quadros através do Estado ou na

mobilização de suas bases a partir da estruturação municipal, ascendendo ao nível nacional, definem

que tipo ideal de comportamento o partido se insere.

5. Em Guarda para as Américas: Breve Estudo sobre o Pan-Americanismo para o Brasil - Mayra Coan

Lago (USP)

Resumo: O presente trabalho pretende analisar se houve uma continuidade ou uma renovação da

política externa norteamericana para a América Latina e, mais especificamente, para o Brasil quando

se trata da política da Boa Vizinhança, assim como a recepção desta política no Brasil. Esta política

lançada no governo do presidente Franklin Delano Roosevelt (1933-1945) sinaliza uma reorientação

da política externa norteamericana para a América Latina. No entanto, há autores que não a

consideram como uma renovação mas uma continuidade, sendo que a mudança estaria nas táticas

utilizadas e não no conteúdo. Nesse sentido, busca-se, por meio desta pesquisa, identificar se houve

uma continuidade ou renovação, além de apresentar os “novos instrumentos” utilizados pelo

governo norteamericano, isto é, a cultura norteamericana por alguns meios de comunicação no

Brasil, ressaltando o papel da Revista Em Guarda: Para a Defesa das Américas, como um instrumento

de poder dos Estados Unidos em suas relações com o Brasil à época da Segunda Guerra Mundial.

19h – Mesa 9: Raça e etnia: múltiplas abordagens – sala 66

Debatedora: Profª Drª Isabela Oliveira (FESPSP)

1. A Persistência das Ideias de "Raça" e "Democracia Racial": Uma análise das representações e

percepções sobre o racismo e práticas racistas na cidade de São Paulo - Evandro Finardi Sabóia

(FESPSP)

Resumo: O texto discute as representações sociais de raça e racismo buscando por meio do

problema deste artigo tentar compreender como os sujeitos entendem o racismo e de que maneira

as práticas racistas são identificadas e produzidas/reproduzidas na cidade de São Paulo. Para

identificar o racismo e as práticas racistas presentes nas interações sociais de hoje; e ainda,

investigar a questão da “democracia racial” que, apresentamos como nossa hipótese. Isto é, a

hipótese desse artigo era analisar se a “democracia racial” ainda se faz presente no imaginário dos

sujeitos, e assim saber se e como esta ideia influencia o modo como às práticas racistas se

reproduzem e perpetuam. A identificação que este artigo propõe analisar foi por meio de uma

pesquisa de campo, realizando entrevistas qualitativas e semiestruturadas.

O artigo desenvolve no referencial teórico ideias como “racismo”, “democracia racial” e “senso

comum”, pois a reflexão destas ideias é essencial para a pesquisa de campo e também para

responder ao nosso problema de pesquisa. Será nas análises das entrevistas que iremos identificar

se nossa hipótese foi validada, isto é, se ainda se faz presente no imaginário dos sujeitos a ideia

“democracia racial” e de que forma ela se perpetua.

2. Negros e Macumbas no imaginário brasileiro: A construção de uma palavra. - Marcos Paulo

Amorim (FESPSP)

Resumo: Partimos das análises do antropólogo Roger Bastide (1898-1974), a fim de reconstruir as

mudanças e movimentos nos quais a macumba se construiu e modificou no decorrer do tempo. Na

obra de Bastide, existem claras evidências a uma prática religiosa denominada macumba – o que vai

de encontro com o nosso pensamento contemporâneo acerca da palavra. Partimos então do

pressuposto que o professor francês não faria uma alusão pejorativa à uma prática religiosa afro-

brasileira – uma vez que este foi, por excelência, o campo de estudo do intelectual. Assim, nosso

interesse é discutir quando e quais seriam as razões para a mudança do discurso oficial no interior

das terminologias das religiões afro-brasileiras. Desejamos, portanto, através da palavra macumba,

refazer o discurso da mudança e da diferenciação entre religiões afro-brasileiras e, por fim,

estabelecer em qual momento um suposto aparato ideológico orienta a palavra para sua conotação

negativa, por nós conhecida nos dias atuais.

3. Pomitafro: etnias, dilemas e sentimentos - Marcos Teixeira de Souza (IUPERJ)

Resumo: A temática relações inter-étnicas no Brasil compreende parcela expressiva dos trabalhos,

na área de Ciências Sociais e Humanas. Não sem razão, a formação cultural e social do Brasil, oriunda

da interação entre as matrizes africana, europeia e indígena, enraizara todo um modus vivendu, que

perpassa memórias sociais e narrativas de estruturas do Brasil colônia. Os trabalhos de Gilberto

Freire, Florestan Fernandes, Sérgio Buarque de Holanda, Darcy Ribeiro, entre outros, tentaram, a

cada um a seu modo, com enfoques epistemológicos diversos, enveredar por um Brasil, em que raça

(ou etnia) figura como um critério relevante para entender as dinâmicas sociais, presentes em um

país marcado pela desigualdade socioeconômica, sob um espectro racial de confrontos entre etnias.

A despeito da existência de uma extensa bibliografia de trabalhos sobre a temática supracitada, todo

campo em que há um elevado ou baixo quantitativo de casos de racismos ou conflitos inter-étnicos;

ou ainda, uma solução exitosa contra estas patologias sociais, parece ser um campo, em potencial,

para se engendrar uma pesquisa acadêmica profícua.

Com cerca de nove mil habitantes, distante 276 km da capital Vitória, a cidade de vila Pavão, situada

no noroeste espírito-santense, particulariza-se por criar e manter, há mais de vinte anos, uma festa

de cunho inter-étnico demoninada Pomitafro, realizada geralmente no mês de Agosto, que se

estende por normalmente três dias, nestes incluído um fim de semana, visando à integração das

principais etnias colonizadoras do município, Pomeranos, Italianos e afrodescendentes (daí o termo

Pomitafro). O hino e a bandeira municipais retomam a Pomitafro, como ícone de uma cidade que se

orgulha por sua diversidade étnica. Assim, como problema central, tem-se: os dias de festa

engendram uma memória social – em prol da diversidade étnica - que se relaciona com a escola

pública e a sociedade pavoenses?

Foram os objetivos deste trabalho discutir qual é o papel da Pomitafro nos espaços escolar e social

pavoenses; e identificar a predisposição de alunos matriculados no nono ano, de duas escolas da

região, quanto à participação na festa. Como metodologia, empreendeu-se uma pesquisa de cunho

bibliográfico, valendo-se principalmente das contribuições teóricas de DaMatta, em A Casa e a Rua:

espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil (1997) e em Carnavais, Malandros e heróis (1997);

concatenada com uma pesquisa explicativa, com base nos dados secundários (obtidos no

Questionário da Prova Brasil 2011), no que tange às perguntas 02, 26,31 42 e 43, respondidas pelos

alunos do nono ano de duas escolas públicas e importantes de Vila Pavão. Os resultados apontam

que o município reúne condições socioculturais propícias para a realização e a manutenção da

Pomitafro na localidade.

4. Literatura e afrodescendência no Brasil dos oitocentos: uma proposta de investigação a partir da

análise interna do romance Úrsula (1859) de Maria Firmina dos Reis - Rafael Balseiro Zin (FESPSP)

Resumo: Este trabalho tem por intuito apresentar uma proposta de investigação sobre Literatura e

afrodescendência no Brasil dos oitocentos, tomando como objeto de estudo as contribuições da

escritora maranhense Maria Firmina dos Reis (1825-1917) ao pensamento social brasileiro do

período, a partir de uma análise interna do romance Úrsula, publicado, originalmente, em 1859, mas

levando em consideração, também, o conjunto de sua obra. Importa, aqui, recuperar a experiência

da autora, buscando alcançar criticamente os sentidos que deu à sua vida e à causa abolicionista em

vigência naqueles tempos. Um trabalho dessa natureza, por conseguinte, possibilita um

deslocamento da obra literária para uma pesquisa em ciências sociais, mais especificamente numa

perspectiva interdisciplinar, dialogando os estudos literários com os estudos de pensamento social

brasileiro. Dessa maneira, este trabalho pode ser enquadrado no universo de investigações da

Sociologia da Cultura, mais especificamente na linha de pesquisa sobre Cultura, simbolização e

representações sociais. Sob esse olhar, a literatura ganha relevância como um objeto privilegiado de

problematização, capaz de atravessar o tempo e oferecer ao pesquisador pistas significativas do

cotidiano vivido da autora, que sintetizam questões sociais e individuais, e que insinuam,

sobremaneira, as formas como aqueles sujeitos viviam em conjunto, e também a maneira como

experienciavam o mundo, possibilitando, inclusive, um deslocamento à realidade brasileira

contemporânea.

5. Pomeranos de Santa Maria de Jetibá: Nós entre os outros - Sandra Márcia de Melo (IUPERJ)

Resumo: Se uma das fronteiras identitárias entre o nós e os outros se dá pela língua, conforme

Orlandi (1993), é relevante observar como os sujeitos se veem em um ambiente no qual interage

com duas línguas, havendo entre estas, graus diferenciados de prestígio, de interação social, entre

outros fatores. Falada em alguns municípios do Espírito Santo, Rio Grande de Sul, Santa Catarina e

Roraima, a língua pomerana ilustra bem tal problemática, ultrapassando uma situação peculiar de

indivíduos ou famílias bilíngues para ser uma questão municipal, a exemplo da Lei nº. 1136/2009,

que versa sobre a cooficialização da língua pomerana em Santa Maria de Jetibá (ES), considerada ‘a

cidade mais pomerana do Brasil’. Ante a visível diminuição de descendentes falantes do pomerano,

parece ser crucial a implantação de políticas para recuperar esse idioma como identidade linguística

socialmente presente no cotidiano local. Neste percurso, por meio do Programa de Educação Escolar

Pomerana (PROEPO), a escola pública municipal se insere como uma tábua a um náufrago, a fim de

salvar o pomerano de uma provável extinção, trazendo para o cenário escolar esta língua que, até

bem pouco tempo, era alvo de preconceito por alguns educadores, a maioria de deles não-

pomeranos, a ponto de ridicularizar alunos falantes de pomerano recém-chegados à escola, por

estes não saberem bem o português. Em meio ao desgaste gerado no passado, provocado pelo

preconceito a quem falasse o pomerano, o desafio atual dos ativistas de origem pomerana constrói-

se em reafirmar essa língua como uma identidade local que não pode ser perdida em Santa Maria de

Jetibá além de recontar a história. A partir de entrevistas com educadores pomeranos e não

pomeranos, tenta-se entender o resgate do povo pomerano, hoje espalhado pelo mundo e que não

tem uma nação para chamar de sua. Assim, a reconstrução identitária dá-se de forma crescente

tanto a partir do projeto educacional quanto com outros eventos culturais ressaltando essa etnia e

sua importância na região serrana do Espírito Santo, através da Pomerish Fest, que está na sua 24ª.

Edição.

6. Os sentidos da Palavra e do discurso: Reflexões sobre a chefia indígena - Victor Augusto Sousa dos

Santos Magalhães (FESPSP)

Resumo: O objetivo deste artigo é realizar uma discussão sobre a Palavra, o discurso político e a

chefia indígena, tomando como ponto de partida os estudos de antropologia política de Pierre

Clastres e a obra de Helène Clastres sobre a noção de Terra sem Mal Guarani. Os trabalhos de

Renato Sztutman sobre as ideias dos Clastres, que promovem uma leitura crítica e uma atualização

dos conceitos “clássicos” dos dois autores, influenciaram fortemente este texto.

Realizamos, tendo em vista uma melhor compreensão dos possíveis sentidos da chefia indígena na

contemporaneidade, uma aproximação entre a “antropologia do político”, conceito desenvolvido

por Paula Montero, com a antropologia política clastreana. Procuramos também, dentro dos limites

de um artigo desta natureza, fazer uma leitura dos trabalhos de Bruce Albert sobre os Yanomami, e

em especial sobre seu chefe mais conhecido, Davi Kopenawa, a partir do conceito de mediação

cultural proposto por Paula Montero.

19h – Mesa 11: Políticas Públicas no Brasil Contemporâneo – sala 66

Debatedor: Prof. Ms. Paulo Silvino Ribeiro (FESPSP)

1. Uma contribuição para o monitoramento e a avaliação (M&A) de políticas públicas: por um Índice

de Adequabilidade do Saneamento das Escolas Brasileiras (IASEB) - Daniel F. B. Ribeiro (FESPSP)

Resumo: Sob a responsabilidade político-institucional do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Anísio Teixeira (INEP) e levado a termo em âmbito nacional, regularmente, desde 1995,

o Censo Escolar consiste no principal levantamento de dados e informações sobre a educação básica

brasileira.

Tomando em apreço uma parcela diminuta, conquanto relevante, do respectivo conjunto de dados e

informações coligidos sobre os estabelecimentos de ensino públicos e privados integrantes da rede

básica de ensino do país, esta pesquisa aplicada tem por objetivo criar e validar um índice e/ou

indicador sintético que permita a avaliação das condições do saneamento, bem entendido, o

consumo e o abastecimento de água, o esgotamento sanitário e a destinação do lixo, disponível para

todas e cada uma das escolas brasileiras, tendo por referência o período compreendido entre os

anos de 2007 e 2012.

Para tanto, com o fito precípuo de modestamente contribuir para o monitoramento e a avaliação

(M&A) de políticas públicas, esse esforço crítico e criativo de elaboração teórica conscienciosa

conjuminada à reflexão empiricamente orientada buscou lançar mão, por um lado, de noções

teórico-conceituais pertinentes à concepção e aplicação de indicadores de precisão estatística, com

base na literatura especializada sobre o tema, e por outro, de recursos metodológico-estatísticos

empregados para assegurar a precisão estatística de indicadores empiricamente referidos, mediante

o exame de consistência e/ou confiabilidade desses mesmos constructos técnico-científicos.

Outrossim, o Índice de Adequabilidade do Saneamento das Escolas Brasileiras (IASEB), disponível

para todas e cada uma das unidades escolares que conformam a rede de ensino da educação básica

nacional e que foram contempladas pelo Censo Escolar do INEP, com efeito, revelou-se

notadamente robusto para o período de referência em destaque conforme o resultado apurado por

meio do teste Alpha de Cronbach (α), atingindo níveis de consistência e/ou confiabilidade em

patamar que pode ser considerado forte em termos estatísticos.

2. Comissão Especial Sobre o uso de álcool e outras drogas no município de Fartura-SP - Daniela

Rodrigues Viana Diogo (FESPSP)

Resumo: O presente trabalho tem como pesquisa o quanto a população residente no município de

Fartura -SP consome bebida alcoólica e outras drogas, com o objetivo de levantar os dados e

comprovar ou não a necessidade da criação de políticas públicas para tratar o referido tema.

O trabalho deu início com a formação da comissão especial de estudos na câmara municipal, onde

foi realizado questionários com adolescentes entre dez anos a dezenove anos de idade que

frequentam o ensino fundamental II e ensino médio. Cerca de 1500 alunos responderam questões

que envolvem o tema álcool e drogas, além disto entidades envolvidas com o tema, como o

conselho tutelar, hospital municipal, coordenadoria da saúde, da educação e da assistência social ,

entre outras foram ouvidas, com o intuito de levantar mais dados estatísticos, e posteriormente,

junto com a sociedade civil e pública, a comissão levantará propostas de políticas públicas que

trabalhem a prevenção e o tratamento para o usuário de álcool e outras drogas.

Apesar do trabalho estar em fase conclusiva, percebe a importância e a urgência de ações publicas

de prevenção, já que só com relação a bebida destilada constatou-se que no município é consumido

por mês cerca de oito mil litros, sendo que a população de Fartura é cerca de quinze mil habitantes,

então podemos considerar uma média de quinhentos e cinquenta ml de destilado consumido por

mês por habitante, sendo que este número está bem mais alto do que o esperado pela Organização

Mundial da Saúde.

3. Políticas públicas de combate à fome nos governos Lula e Bachelet - Maria Fernanda Degan

Bocafoli (USP)

Resumo: Esta pesquisa, que vem sendo desenvolvida desde janeiro de 2013, busca analisar e avaliar

a efetividade das políticas públicas de combate à fome postas em prática durante os dois mandatos

de Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil, e de Michelle Bachelet no Chile. Ambos os governos se inserem

na chamada "esquerda responsável", que tomam lugar na a América Latina em geral após os

governos marcadamente neo-liberais que predominam durante toda a década de 1990. Esta "nova

esquerda" precisa lidar com um legado de pauperização, miséria e fome, reconhecido, inclusive, em

documento expedido pelo Segundo Consenso de Washington, no começo dos 2000, em que se lê

que "apesar dos esforços nesse sentido, a pobreza no continente latino-americano aumentou em

tamanho e profundidade". A estes desafios, os governos Lula e Bachelet procuram responder

gestando e levando a cabo amplos programas governamentais como o Bolsa Família (Brasil) e o Red

Protege (Chile). Este trabalho pretende analisar estes dois programas, no que tange especificamente

ao combate à fome, em ambos os países de que trataremos; em três momentos: gestação/ criação

das políticas, aplicação das mesmas e resultados quali/quantitativos obtidos.

4. Legislative Representation and Governability in Brazil: Does Brazilian Democracy Represent its

Social Plurality? - Thiago Henrique Desenzi; Lívia de Souza Lima (FESPSP)

Resumo: Democracy is, ideally, an equality fostering tool in face of different demands present in any

given society and that currently is put in practice by a representative democratic model.

Nevertheless, several modern thinkers are pointing to an unmeasured scale of interests within the

representation spheres, in which the most powerful society’s sectors overcome the less influential

social and economical groups, turning democratic representation into an uneven scheme. By having

this in mind, this reflection is aimed to make an analysis of the Brazilian democratic representation

model, specifically in relation to its majoritarian government composition, that, in this country, is

part of a unique legislative model named as “Coalition Presidentialism”. At the composition idealized

by the Brazilian National Constitution, the federal parliamentary ministers have the responsibility for

the formulation of laws as well as monitoring the executive power in consonance with the will of the

society’s sectors that has got them elected by the voting system. The conflict is established though,

when the actual governmental practices leave aside the constitutional principle of a plural

representation in consequence of economic and power interests that act independently from the

diverse interests and needs of other groups belonging to the Brazilian society. It can be argued that

the establishment of governmental practices better aligned to the concept of global justice, in the

Brazilian case, can be achieved by a better quality democracy, through adequate governance

mechanisms and plural representation practices that are capable of attending the distinct demands

of diverse society layers. Thus, this article is aimed to present how the Brazilian democratic

representation works, exploring its conflicts and deployments and mainly its divergences in relation

to the democratic morality that presupposes the existence of gradated ways to the reaching of

higher social and political equality levels, closer to the general global justice ideas.

5. Terceiro Setor e Direitos Sociais no Brasil dos anos 1990: Cidadania de quem para quem? - Vitor

Bella Lorente (FESPSP)

Resumo: O presente trabalho refere-se a uma abordagem do conceito de cidadania no Brasil a partir

da reforma gerencial do Estado brasileiro que se deu durante a década de 1990, relacionado com a

ascensão do terceiro setor e suas consequências em outras áreas da política, como democracia,

políticas públicas e direitos sociais. A hipótese aqui defendida é a de que o terceiro setor,

representado principalmente por Organizações Não Governamentais (ONGs) e Organizações da

Sociedade Civil com Interesse Público (OSCIPs), distorce o conceito de cidadania e redimensiona o

papel do cidadão dentro da sociedade, deixando de lado a busca pela consolidação de direitos

imputando à cidadania uma noção de caridade.

Para tanto, a pesquisa norteou-se por um referencial teórico a respeito de como a cidadania é

concebida em seus sentidos políticos e sociais e tem como eixo central a ideia da consolidação e luta

por direitos, tendo como autor chave T. H. Marshall e sua concepção de cidadania baseada numa

linha histórica de consolidação de diferentes tipos de direitos. Estruturada num método qualitativo,

a presente pesquisa fora realizada a partir de observações participantes e entrevistas com

profissionais do "Rotary Club" (ONG internacional) e do "ABA Holiness" (pequeno grupo de

voluntários que atuam com crianças carentes e tentam ainda consolidar-se como uma ONG).

6. Direitos Humanos e Proteção Ambiental: Ações Políticas Indígenas contra os Projetos de

Adaptação e Mitigação dos Impactos das Mudanças Climáticas - Vladimir Bertapeli (FCLAr – UNESP)

Resumo: Os impactos causados pelas mudanças climáticas têm levado governos e instituições

internacionais a discutirem medidas geradoras de ações adaptativas ou de mitigação. No entanto,

constatamos que muitas dessas decisões têm sido prejudiciais às populações indígenas. Estes, por

conseguinte, passaram a se organizar e atuar politicamente frente às medidas tomadas pelos órgãos

institucionais encarregados de pensar os impactos causados pelas mudanças do clima da Terra.

Nesse sentido, a presente comunicação tem o propósito de discutir as decisões tomadas pelos

governos e organizações internacionais para as mudanças climáticas, bem como o impacto daquelas

aos direitos humanos dos povos ameríndios.

08 de novembro (Sexta-feira)

9h – Mesa 10: A atualidade da teoria sociológica: debates em torno de experiências de pesquisa - sala 65

1. CANÇÃO CAIÇARA: A Poesia do Cotidiano - Aline Alves da Silva (Universidade Católica de Santos)

Resumo: O presente trabalho teve como objetivo verificar a constância do aparecimento do

cotidiano na poesia das canções caiçaras, bem como as causas e relevância deste fenômeno literário

no cenário de resgate cultural que tem se formado junto à população tradicional estudada. A

metodologia utilizada para abordagem do tema proposto foi a pesquisa qualitativa, com entrevistas

temáticas, que coletam dados sobre a participação do entrevistado no tema escolhido. Os

entrevistados foram subdivididos em dois grupos: tradicionais e influências. Por meio das perguntas

elaboradas, foi possível realizar um recorte de toda a pesquisa de campo, que resultou no enfoque

da questão do cotidiano, eleita por unanimidade dos entrevistados como a principal característica da

poética caiçara. A partir disso, foi possível conferir ao trabalho um aprofundamento sobre as

possíveis causas deste registro oral tão voltado para o dia-a-dia simples do homem que planta e

pesca. Poesia do cotidiano, porque este povo canta e toca todos os dias, contando de seus

antepassados aos filhos e netos, declarando seus afetos, professando sua fé e sorrindo da lida e da

vida tão somente por meio da história em versos. E poesia no cotidiano, sobretudo, porque a poesia

extralingüística, ágrafa, é produzida pelos caiçaras em cada passo, em cada gesto, em cada verso, em

cada dia de suas vidas.

2. Entre os sonhos de futuro e o pesadelo do passado: o lugar social de Lima Barreto na Primeira

República brasileira - Fernando Matias (UNICAMP)

Resumo: Em Lima Barreto (1881-1922) vida e obra estão entrelaçadas, constituindo o substrato de

sua literatura, que é considerada uma das mais importantes da história literária brasileira.

Entretanto, a formação social deste autor carece de explicações sociológicas que iluminem sua

trajetória singular. O propósito desta comunicação é explicar sociologicamente o indivíduo Lima

Barreto. Sustentamos a hipótese de que este autor, devido a sua singular formação, introjetou a

forma social da Primeira República brasileira (1889-1930). Para realizar isto, procuramos investigar

os diários e cartas de Lima Barreto problematizando a relação entre indivíduo e sociedade, tendo

como inspiração central o método dialético desenvolvido por Karl Marx. Em nossos resultados

parciais verificamos o seguinte: Lima Barreto vivenciou dois mundos, não se identificando

totalmente em nenhum deles: em sua infância e adolescência sua formação foi perpassada por

vantagens sociais provenientes de elementos econômicos, mecanismos educacionais, bem como

pelas relações de apadrinhamento; quando adulto, sua vida foi permeada por desvantagens sociais

provenientes da pobreza, do preconceito racial e da falta de relações de apadrinhamento. Em sua

própria formação como indivíduo Lima Barreto capta e expressa ambiguidades da Primeira República

brasileira, que em seu imaginário social anunciava possibilidades de modernização e progresso, mas

em sua realidade efetiva perpetuava as relações passadas, que material e simbolicamente excluía

pobres, descentes de negros e indivíduos sem proteção de apadrinhamento. O lugar de Lima Barreto

na sociedade brasileira da Primeira República está, cremos, entre os sonhos de futuro anunciadores

da modernização e progresso social, os quais, em parte, ele viveu, e a negação disto, permeada pelo

pesadelo do passado escravocrata, excludente para descentes de negros, pobres, e indivíduos sem

apadrinhamento, exclusão que permaneceu na Primeira República com outra roupagem, e que Lima

Barreto também viveu. Se nossos resultados parciais forem válidos, acreditamos que eles são a

problemática mimética que percorre toda obra de Lima Barreto, no sentido de mimesis que nos fala

Erich Auerbach: apresentar na literatura a realidade social. Assim, poderíamos pensar como

elemento central da literatura barreteana o esforço de expor, mediante a figuração, a relação entre

as possibilidades de desenvolvimento dos indivíduos e os constrangimentos que a sociedade lhes

impõe, tomando problemas apontados pelo autor como o alcoolismo, loucura, preconceito racial,

pobreza, não como ressentimento individual, mas como aspectos sociais que podem ser verificados

encarnados na tipicidade de um indivíduo concreto.

3. Conselhos antigos para problemas contemporâneos: revisitando o Tratado sobre a tolerância

(1763) de Voltaire e a Carta acerca da tolerância de John Locke - Patrício Carneiro Araújo (PUC-SP)

Resumo: Há alguns séculos não se falava tanto em tolerância e intolerância nas sociedades

modernas. Os conflitos travados entre países, estados, grupos étnicos e religiosos trouxeram ao

cenário das discussões políticas e acadêmicas um tema comum às ciências sociais: a tolerância. No

Brasil contemporâneo, uma situação bem peculiar tem impulsionado a necessidade de se retomar as

reflexões acerca da tolerância e da intolerância: o crescimento das igrejas neopentecostais. Apoiadas

em uma compreensão fundamentalista da bíblia e em uma pregação que demoniza aqueles que não

aderem à sua doutrina, essas modalidades religiosas tem despertado em algumas religiões

historicamente estigmatizadas (afrobrasileiras) a imperiosa necessidade de recorrerem ao conceito

de liberdade de crença e de consciência, o que, novamente, evoca a discussão em torno da

tolerância e da intolerância. Esse trabalho pretende, então, retomar uma discussão que começou

ainda na antiguidade, entre gregos e romanos, e que se intensificou no período medieval, quando a

Europa católica tentava impor uma religião hegemônica, como nos parece acontecer agora com as

igrejas neopentecostais no Brasil.

4. A Teoria Valor Trabalho na Contemporaneidade: Uma análise das pesquisas sobre os

trabalhadores de serviço - Rafael Ribeiro de Almeida (FESPSP)

Resumo: A teoria do valor trabalho, hoje, na nova configuração global, entrou em crise; a ideia de

trabalho abstrato também já não se sustenta mais; a mais-valia, por sua vez, já não serve de

parâmetro para pensar o processo de trabalho; vivemos em uma sociedade pós-capitalista (ou pós-

industrial) onde a luta de classes já não é mais determinante; encontramo-nos em tal

desenvolvimento do modo de produção, que o trabalho já não é mais materialmente subordinado

ao capital. Todos esses diagnósticos teóricos hoje estão em debate. A teoria do valor – enquanto

elemento referencial para se pensar o processo de trabalho – é discutida como algo a ser

ultrapassado no campo da reflexão do cenário atual.

Teria o trabalho chegado a seu fim e, por consequência, autores que se debruçaram sobre a questão

teriam seus conceitos hoje em crise?

A pretensão desse projeto é dar uma nota quanto à comparação bibliográfica de autores, cujas

pesquisas e produções recentes abordam a análise da teoria do valor trabalho situada na dinâmica

atual do trabalho.

Nos escritos de Marx, antes de tudo, há uma denúncia da exploração do trabalho no século XIX: na

indústria o homem não trabalha pelo prazer de trabalhar, para exprimir sua “essência”, mas sim

para conseguir o mínimo de mercadoria para manter sua sobrevivência.

Criador de conceitos como “trabalho concreto” e “trabalho abstrato”, “trabalho morto” e “trabalho

vivo”, Marx, semelhante a Hegel, entende o trabalho como a mediação entre homem e natureza.

Enfim. A pergunta que fazemo-nos é: com o advento da revolução cibernética e as novas tecnologias

de comunicação, do mundo digital e da era da informação, questionamo-nos se a teoria do valor

trabalho da conta de explicar o trabalho de hoje, em um capitalismo de nova personificação. Com o

emprego formal assalariado – vigente da era taylorista e fordista – se exaurindo e dando espaço para

novas formas de trabalho, dos terceirizados, subcontratos, será necessária, devido à tamanha

transformação, a criação de novas teorias e concepções para compreender e explicar o cenário atual

do mundo do trabalho? A teoria do valor trabalho dentro dessa transformação contextual, já não

serviria como referência fundamental para entender o trabalho?

Temos pretensão de mostrar que não há a necessidade de uma nova teorização, mais ainda, que a

teoria do valor trabalho – trabalhada por autores contemporâneos – é ainda capaz de apreender e

explicar o fenômeno atual do labor. Ricardo Antunes, diante dessas indagações, situa a teoria em

uma nova dimensão, em uma nova forma, configuração, uma nova morfologia do trabalho.

Rejeitando a ideia de que a classe trabalhadora está em extinção, Ricardo Antunes trabalha com

uma noção ampliada dessa classe.

Esses autores tratam da teoria do valor trabalho exatamente dentro das discussões da nova

configuração do mundo do trabalho, no dito mundo pós-industrial, da era da revolução cibernética,

mostrando a sua vigência atual.

5. Marxismo e crítica literária em Raymond Williams - Ugo Rivetti (USP)

Resumo: Durante toda a primeira metade do século XIX a cultura inglesa foi dominada por uma

corrente intelectual que se caracterizava pela interpretação do desenvolvimento social então em

curso como uma ameaça aos “valores da cultura”. Mais precisamente, prevalecia a tendência entre

os seus grandes expoentes – F. R. Leavis, I. A. Richards e T. S. Eliot – de tomar o “desenvolvimento

dos meios de comunicação de massa e o crescimento geral das organizações de grande escala” como

momentos da sujeição da alma humana à mecanização e da consolidação de uma interação social

não mais presidida por uma “coerência homogênea e espontânea”, mas por uma “harmonia

mecânica comum”.

Em contraponto a essa perspectiva conservadora, o crítico britânico Raymond Williams (1921-1988)

propunha uma abordagem alternativa, expressamente apoiada em um referencial marxista. Para

tanto, contudo, mostrava-se necessário recusar os dois modelos de incorporação da teoria marxista

que mais prosperaram no cenário inglês da década de 1930: tanto a do “materialismo mecânico”

que supunha uma “correlação arbitrária” entre a estrutura econômica e a cultura, como a da

modalidade que supunha uma separação entre a cultura e a organização social em dois níveis

distintos. Tratava-se, ao contrário, de recuperar aquela que fora, segundo Williams, uma das grandes

conquistas teóricas de Marx, qual seja: o reconhecimento de que as práticas sociais que se

convencionou reunir sob a rubrica “superestrutura” possuem complexidade e especificidade

próprias, de modo que, quando do estudo da cultura, a referência última não deve ser a estrutura

econômica, mas o “modo de vida como um todo”, o “processo social geral” que determina tanto a

cultura como a estrutura econômica e no qual ambas se inscrevem.

A presente exposição pretende examinar a relação de Williams com essas que foram as suas duas

grandes influências – a crítica literária inglesa e a teoria marxista da cultura. Para tanto,

assumiremos como objeto de análise a crítica que Williams formula a essas duas correntes em

Cultura e sociedade (1958), texto tido consensualmente pela bibliografia especializada como uma de

suas grandes obras e na qual desenham-se pela primeiras vez as linhas gerais de uma nova teoria da

cultura (não por acaso que esse texto é tido como um dos marcos fundadores dos Estudos Culturais).

E, na medida em que nos deteremos nessa obra, examinaremos a relação que Williams estabelece

com aquelas duas correntes intelectuais na forma como ela se apresenta ali, isto é: como um debate

acerca das configurações da sociedade contemporânea. Segundo nossa hipótese, a originalidade do

empreendimento de Williams reside em compreender essa sociedade (produto do acúmulo de

transformações iniciadas no século anterior) como sociedade em vias de democratização (e não

massificação), e enfatizando justamente o aspecto marginalizado pelo marxismo então dominante:

os desenvolvimentos no campo da cultura.