programaÇÃo ii seminÁrio de pesquisa da fespsp · hiperatividade (tdah) pela psiquiatria...
TRANSCRIPT
PROGRAMAÇÃO – II SEMINÁRIO DE PESQUISA DA FESPSP
04 de novembro (Segunda-feira)
09h – Mesa 1: Violência e disciplina – sala 65
Debatedor: Prof. Dr. Sergio Braghini (FESPSP)
1. Atenção à norma: Relações entre o Espírito Empreendedor e o Transtorno do Déficit de Atenção e
Hiperatividade - Felipe Ponzio (FESPSP)
Resumo: O presente trabalho pretende analisar as relações entre a emergência do conceito de
espírito empreendedor de Peter Druker e a descrição do Transtorno do Déficit de Atenção e
Hiperatividade (TDAH) pela psiquiatria americana.
Observação participante em escola particular, em sala de aula do ensino fundamental, com alunos
considerados doentes e entrevistas com professores, psicanalistas e psiquiatras compõe as
ferramentas de análise metodológica.
As conclusões preliminares indicam que o aumento do pequeno empreendimento nos EUA, aliado à
constituição de uma nova indústria de alta tecnologia e à popularização dos conceitos da
administração de empresas no início década de 1970, possibilitou o aparecimento de uma nova
tecnologia do criar e de uma ética para o desejo, que compõe um discurso sobre o sucesso orientado
sobre dois grandes conceitos da administração: a meta clara e específica e o planejamento
estratégico e meticuloso. Neste novo cenário, a tarefa entra no quadro de metas compondo parte de
uma série. O desejo, por outro lado, que sempre fora excluído do ambiente do trabalho, é agora
canalizado como “combustível” para a realização de cada meta, e todo um novo campo de
enunciados da motivação profissional começa a se popularizar.
Neste contexto, existe um deslocamento do normal com uma superposição do espontâneo sobre a
falta de disciplina como o primeiro indício do fracasso. A desatenção, impulsividade e hiperatividade
compõem essa série comportamental de incidência do espontâneo e de afastamento do sucesso. A
circulação dessa nova patologia da atenção, por meio do discurso bio- político, encontra solo fértil
neste novo saber estadunidense sobre o sucesso. Pretende-se com este estudo demonstrar como a
sociedade e a cultura influenciam na constituição do normal e como essa influência é rejeitada pela
psiquiatria por meio de um determinismo biológico.
Este trabalho de iniciação utilizou como referências bibliográficas a obra de Michel Foucault sobre a
anormalidade, concentrando-se principalmente em “Os anormais” e a “História da Loucura”. As
obras de Peter Druker sobre empreendedorismo e de Russell A. Brakley sobre o TDAH também
foram estudadas.
2. Mídia e representação da violência: Análise de notícias de agressões homofóbicas na mídia
hegemônica e na mídia LGBT - João Filipe Araujo Cruz; Mariana Faciulli; Carolina Mendes Soares
(USP)
Resumo: Nessa pesquisa pretendemos analisar como são apresentadas notícias referentes a casos
de violência (física e simbólica) contra LGBTs. Acreditamos que entender como a mídia trata esses
casos é de extrema importância, tendo em vista o aumento progressivo de casos noticiados e a
relevância da mídia na constituição de uma opinião pública que tenha por alicerce o respeito à
diversidade. Temos, portanto, como objetivo, perceber as diferenças entre os tratamentos dados
aos casos de violência homofóbica nas mídias hegemônica e LGBT, que consideramos estar
relacionadas às demandas e ao ativismo político específicos destes e às maiores flexibilidade e
permissividade proporcionadas por um espaço próprio, que forneceria oportunidades ímpares de
comunicabilidade entre indivíduos LGBT.
Utilizamos como método de pesquisa a análise documental e como instrumentos as notícias de
violência homofóbica veiculadas pelas mídias hegemônica e LGBT, no ano de 2012. Utilizamos sites e
weblogs de notícias em nossas análises, porque é na internet que achamos um número maior de
publicações voltadas ao público LGBT. Primeiramente, foi realizado um levantamento quantitativo
dos casos noticiados, cujo conteúdo encaixava-se, segundo nossa operacionalização, entre agressões
homofóbicas. Uma segunda parte da pesquisa, em andamento, conta com a seleção dos casos mais
representativos entre os computados e posterior estudo qualitativo de seu teor, também por meio
da análise de conteúdo, visando obter indicações expressivas do posicionamento, possivelmente
divergente, assumido pelos sites/weblogs. A pesquisa encontra-se em fase avançada, mas ainda em
andamento. Fizemos já um levantamento quantitativo das notícias que retrataram os casos de
violência homofóbica e de seus desdobramentos nos sites assinalados anteriormente e, a partir
desses dados, estamos em fase de conclusão da análise qualitativa. A partir da análise já
encaminhada é possível perceber diferenças no perfil das vítimas retratadas nos veículos
hegemônico e LGBT: aqueles tendem a noticiar mais casos de violência contra homens gays,
enquanto estes de violência contra homens gays, mulheres transexuais e travestis e em maior
quantidade. Finalizada a pesquisa, será possível perceber que há, e quais são, diferenças entre a
abordagem da mídia hegemônica e a mídia LGBT ao retratar violência homofóbica.
3. A Ditadura Militar em São Paulo: O Caso das Ossadas dos Desaparecidos de Perus - Kassia Beatriz
Bobadilla (USP)
Resumo: A ditadura militar brasileira foi marcada por graves violações aos direitos humanos e o não-
cumprimento de tratados e convenções internacionais firmados e assinados pelo Brasil. Torturas,
mortes, desaparecimentos forçados e ocultamento de corpos encabeçaram a lista dos crimes
cometidos no regime.
Através de denúncias, a Câmara Municipal de Vereadores de São Paulo instituiu em 1990 uma
Comissão Parlamentar de Inquérito com o propósito de investigar a responsabilidade por trás das
cerca de 1.500 ossadas encontradas numa vala comum do Cemitério Dom Bosco, no bairro de Perus.
As apurações da CPI levaram os vereadores e as entidades de direitos humanos a descobrirem a
frieza e a colaboração de diversos órgãos municipais e estaduais com o aparato repressivo de São
Paulo.
Configurando-se como uma instância bastante efetiva e atuando em consonância com suas
atribuições fiscalizadoras, a CPI foi palco de depoimentos e denúncias dos mais diversos atores. As
informações e documentos coletados demonstravam as atrocidades do regime militar em São Paulo,
local de ação do Esquadrão da Morte e da famigerada OBAN.
A busca pela verdade e justiça de familiares de mortos e desaparecidos políticos estava só
começando.
4. Movimento Escoteiro: construção de atitudes de obediência e disciplina entre crianças e jovens -
Marianna Lahr Faustino (UNESP – Marília)
Resumo: O presente trabalho trata-se de um estudo a respeito da construção de atitudes de
obediência e disciplina entre crianças e jovens membros do movimento escoteiro, tendo como base
de analise teórica, a sociologia compreensiva de Max Weber, em especial seus tipos puros de
dominação legitima. Busca-se uma analise de como a hierarquia - tão presente e difundida por este
movimento voluntario de conduta e valores militares - se desenvolve entres todos os ramos do
escotismo brasileiro, tanto entre os próprios os jovens, como na relação entres estes e os adultos
voluntários. A pesquisa em questão busca compreender de forma ampla, como relações sociais
baseadas em exercícios de poder legitimados por autoridades racionais (legais) e tradicionais, bem
como lideranças carismáticas, são desenvolvidas, difundidas e reproduzidas entre os membros
juvenis do escotismo, seja nos casos de hierarquização entre iguais - estabelecida entre monitores e
seus membros de patrulha - bem como nas relações hierárquicas estabelecidas entre membros
juvenis e adultos voluntários, denominados escotistas ou chefes.
A dominação se apresenta enquanto capacidade de manter a inciativa das ações sociais em um
exercício persistente do poder, onde o direito de mando e o dever de obediência se apresentam
fundamentais para os agentes envolvidos, mando e obediência são mantidos valores de uma
conduta baseada na autoridade hierárquica na qual o escotismo se consolida. Poder, autoridade e
hierarquia são elementos que se mostram intensamente vivos e ativos no movimento escoteiro,
desde sua gênese na Inglaterra no inicio do século XX - com Baden-Powell, seu fundador - até o
escotismo desenvolvido no Brasil atualmente.
Pretende-se assim, uma analise teórica, pautada em um estudo detalhado da literatura escoteira,
buscando identificar como os valores de obediência a ordens legitimas, e disciplina e conduta para a
submissão a estas, estão presentes nos documentos, tanto no que diz respeito a sua máxima
mundial, evidenciada no livro “Escotismo Para Rapazes”, como em um estudo abrangente da
bibliografia fornecida pela União dos Escoteiros do Brasil (U.E.B.), em especial o manual de Principio,
Organização e Regras (P.O.R.) e seus guias de progressão pessoal, guias estes direcionados
especificamente aos jovens de acordo com a divisão etária do movimento brasileiro, no caso os
ramos: lobinho, escoteiro, sênior e pioneiro.
Embora se consolide como uma analise teórica baseada em apenas uma vertente sociológica – no
caso a sociologia weberiana, em especial os tipos puros de dominação legitima – o trabalho em
questão se desdobra em demais temáticas, metodologias e estudos voltados a juventude,
militarização da infância, disciplina escolar, militar e até mesmo religiosa, dentre outras a ainda
serem melhor desenvolvidas no andamento das analises, visto que se trata de um projeto ainda em
andamento
5. Função das Instituições Policiais: Uma discussão a partir da visão de policiais militares - Terine
Husek Coelho (FESPSP)
Resumo: O presente projeto de pesquisa se insere no debate sobre consolidação democrática no
Brasil, a partir de uma discussão sobre o papel das instituições policiais nessa ordem realizada com
os profissionais responsáveis diretamente pela segurança pública, os agentes policiais. Foram
realizadas dez entrevistas em profundidade com policiais que atuam na ponta, buscando levantar
como estes enxergam sua função em uma sociedade em constante transformação. O interesse em
analisar a percepção desses atores sociais se justifica pelo fato de que são justamente esses
profissionais que levam a cabo o fazer policial, razão pela qual sua maneira de enxergar a função que
executam influencia no modo como eles atuam. O objetivo central dessa pesquisa foi refletir sobre a
representação do papel da polícia na ordem democrática, por meio de dois objetivos específicos: em
um primeiro momento, por meio das percepções dos policiais, a respeito do papel da instituição
Polícia Militar e, em segunda instância, por meio do levantamento com estes mesmos policiais da
sua opinião acerca dos principais obstáculos para a realização de seu trabalho. Por fim, buscou-se
relacionar o conteúdo trazido pelos policiais com as discussões presentes na literatura específica.
19h – Mesa 2: Educação e Sociedade – sala 65
Debatedora: Profª Msª Bárbara Garcia Ribeiro (UNICAMP)
1. Entre a economia e a cidadania: o papel da educação e da escola na formação da sociedade
brasileira - Alessandra Felix de Almeida (FESPSP)
Resumo: A discussão sobre a Educação, tema deste trabalho, os objetivos da escola, o seu papel e de
seus atores sempre esteve presente na história do Brasil, sendo pauta dos principais episódios
políticos do país. O Alvará Régio, emitido em 28/07/1759, que sancionara a expulsão dos Jesuítas das
terras de Portugal e do Brasil, teve como objetivo a introdução do ensino público como forma de
modernização do país, de modo que a modernização almejada teria como meio a Educação.
(MARCÍLIO, 2005: 21). Duzentos e cinquenta e quatro anos depois, no dia 1º de maio de 2013, a
presidenta Dilma Rousseff, em seu pronunciamento em cadeia nacional por ocasião do Dia do
Trabalho, vincula a Educação ao desenvolvimento do país, a presidenta afirma que “só uma
educação de qualidade pode garantir mais avanço para o emprego e para o salário”.
Uma breve análise da história da Educação brasileira possibilitou observar a sua problemática como
parte de um processo histórico, de descontinuidades e ineficiências de políticas públicas, o que
implicaria incertezas quanto ao papel da Educação e da Escola. Sugerimos que uma das
características desta problemática, senão a principal, é a própria definição dos referidos papéis e
consequentemente de seus objetivos. A Educação, em nosso país, tem sido tratada como um meio
de acesso ao desenvolvimento econômico e à realização do capitalismo nacional. No entanto, a
Educação, estaria para além do universo econômico, de acordo com Paulo Freire (2011), Adorno
(1995) e Marshall (1967) a Educação fornece subsídios para a liberdade, emancipação,
fortalecimento dos direitos sociais e para a conquista dos direitos civis e políticos.
Considerando o referido tratamento atribuído à Educação brasileira, podemos sugerir que as
questões da liberdade e da emancipação, bem como, uma perspectiva de participação política, no
que diz respeito à possibilidade da conquista e fortalecimento da cidadania (direitos sociais, civis e
políticos) teriam sido prejudicadas, tornando a Educação opressora e tutora de indivíduos incapazes
de refletirem criticamente sobre si mesmos e portanto sobre o meio que os abriga, seja a Escola ou a
sociedade como um todo.
Este trabalho procurará apresentar um panorama do histórico da Educação no Brasil, relacionando o
papel que o Estado atribui à Educação com aquele atribuído por alguns teóricos deste tema. Nossa
hipótese é que a formação do cidadão como sujeito crítico e participativo pode ter sido ofuscada
pela formação do indivíduo como ator da economia, onde a Escola que, do nosso ponto de vista,
deveria ser tratada como o espaço legítimo da formação deste cidadão, acaba por reproduzir uma
lógica também capitalista, em busca de metas, bonificações, status, cercada pela técnica e
burocracia, deste modo, alunos, professores e diretores também poderiam incluir esta lógica aos
seus papéis sociais, o que poderia colocar em suspensão os objetivos ideais da Educação.
2. Construção de Identidades e Representações Sociais sobre o Trabalho no Programa Telecentros -
Apontamentos de um Projeto de Pesquisa - Artur Oriel Pereira (FESPSP)
Resumo: Este artigo consiste numa proposta inicial de pesquisa que visa traçar um perfil do
trabalhador que atua nos Telecentros da Prefeitura da Cidade de São Paulo, com vistas a perceber as
representações que tem de sua profissão e de sua atividade. Nossa unidade de análise empírica
serão os capacitadores, supervisores técnicos e de unidade e orientadores, homens e mulheres,
cerca de mil trabalhadores terceirizados, celetistas e ocupantes de emprego público. Buscaremos
compreender os processos socialização e construção de tipos identitários na trajetória de formação
profissional à vivência no Mundo do Trabalho. Discutiremos se a prática do Instituto de Organização
Racional do Trabalho, empresa responsável por operacionalizar, alocar, treinar e capacitar os
trabalhadores para o atendimento nos Telecentros de forma contínua e obrigatória está associado a
um determinado tipo identitário, a um perfil de trabalhador que seja especialista no que irá fazer,
bem como se esta política forja uma identidade de empresa, originando uma batalha identitária,
caracterizando estados de continuidade ou ruptura e estados de reconhecimento e não-
reconhecimento social. Nossas hipóteses são: a) embora os trabalhadores recebam
treinamento/capacitação da empresa para tal, ainda sim, poderão ser encontradas dificuldades
tanto neste processo de ensino-aprendizagem quanto nas atividades desenvolvidas no posto de
trabalho; b) as diferentes percepções e opiniões sobre esta prática da empresa estão associadas a
um determinado tipo identitário; c) poderá ser identificadas crises de identidade profissional, parte
mais ou menos central da identidade pessoal, tanto quanto uma identidade em crise, identidades
possíveis sem categorização; d) a terceirização neste tipo de serviço público poderá ser considerada
como uma das formas de degradação das condições e relações de trabalho, já que por si só, a
precarização dos direitos dos trabalhadores é deletério. Para o desenvolvimento da pesquisa
pretendemos nos apoiar no método etnográfico, com uso das técnicas de observação participante e
entrevista semiestruturada, a postura a ser adotada será de pesquisa reflexiva.
3. O facebook como extensão da sala de aula: como alunos do ensino médio compartilham
conhecimento no ciberespaço - Bruno dos Santos Joaquim (USP)
Resumo: Este trabalho tem como objetivo central compreender de que forma jovens estudantes do
ensino médio estão usando as redes sociais, em especial o facebook, como ferramenta de
compartilhamento de conhecimento. A passagem do século XX para o XXI trouxe transformações
sociais relevantes, especialmente naquilo que se refere à relação da sociedade com o saber. Hoje
essa nova relação está marcada cada vez mais pela tecnologia, pela velocidade e pelo “saber fazer”.
Baseado nas proposições de Pierre Lévy pode-se notar que o crescimento do ciberespaço e o
surgimento da cibercultura vêm marcando a sociedade contemporânea e implicam numa
significativa mutação nas relações de comunicação e educação. Alunos do ensino médio, que no
passado viam a escola como única fonte de conhecimento, agora estão inseridos na cibercultura e
em busca de novas formas de lidar com o saber. O fenômeno da expansão das redes sociais virtuais
chegou ao mundo da escola principalmente através da expansão de grupos criados entre alunos de
uma mesma escola ou turma. Esta ferramenta do facebook oferece a possibilidade de expandir as
relações da sala de aula ao ciberespaço. O objeto de análise deste trabalho é justamente esta
ferramenta e as formas como os jovens se relacionam e compartilham conhecimento por esse meio.
Adotou-se para esta investigação o método qualitativo. Alunos de uma escola em que esta
ferramenta é bastante difundida foram entrevistados. Os resultados parciais indicam que o uso
dessa ferramenta vem se espalhando rapidamente e que já se tornou, em pouco tempo, cultura
nessa escola. Os alunos, de modo geral, prezam por esse canal de comunicação por considerá-lo
mais democrático, livre de regras e do controle da instituição escolar. Poucos são os de fora da
turma que tem acesso a esses grupos. Pode-se concluir que o facebook, usado desta forma, parece
uma importante ferramenta de comunicação, que extrapola os limites da sala de aula, em que os
jovens se sentem permitidos a expressar livremente seus conhecimentos, ideias e percepções, sem
as amarras da escola. Parece interessante que a sociologia da educação se debruce mais sobre esse
fenômeno de descentralização do conhecimento e da informação.
4. Educação superior dentro dos muros: Projeto Campus Avançado Serrotão - Marcela Mangini
Cypriano (FESPSP)
Resumo: O objetivo da pesquisa que será realizada é analisar a proposta de política pública de
educação que procura incorporar cursos de ensino superior em um Campus Universitário da
Universidade Estadual da Paraíba, no presídio do Serrotão, em Campina Grande – PB.
A intenção é focar no início do projeto, de como foi concebido, articulado e financiado, suas
propostas e sua implementação inicial.
A análise será elaborada a partir de sua agenda política, para que se entenda como universidade e
prisão se unem em um projeto e dividem um espaço por determinado tempo a fim de criar uma
oportunidade de reinserção social aos apenados condenados, levando em consideração que no
Brasil a cada mês 8,000 presos entram no sistema carcerário enquanto 5000 o deixam sistema
carcerário (MP-BA, 2007) e que o índice de reincidência criminal criminal no Brasil chega a
70%(CNJ,2011).
Dentro dos presídios brasileiros encontramos diversas políticas de educação básica como forma de
ressocialização dos apenados, cenário que se transformou nos últimos anos a partir do incentivo de
programas de financiamento de projetos que estimulam a educação nos presídios, mas nenhuma
política que prevê educação superior, e a nova proposta já emerge com a construção de um campus
universitário, todo um complexo que traz pra dentro dos muros da prisão ideais próprias de uma
universidade. Então teremos duas instituições com objetivos completamente diferentes que se
unirão e dividirão o mesmo espaço com o intuito de reinserir socialmente os apenados. Entender
como será estabelecida esta relação entre as duas instituições e qual será a autonomia que a
universidade terá em relação ao sistema penitenciário e ainda como trazer o “de fora” para “dentro”
da prisão são pontos de grande relevância para a análise do projeto.
Quando duas instituições – universidade e prisão- com papeis que divergem dentro da sociedade se
unem em prol de uma política que tem como finalidade a reinserção social do apenado terão por
consequência a reconfiguração não só do espaço mas de práticas que são próprias da realidade da
prisão?
Por se tratar de um projeto que está em fase de formulação está análise se concentrará na agenda e
na formulação da política, ou seja, na existência de um momento ou clima político para que uma
busca por mudança neste âmbito chegue às atenções do governo a ponto de ser levada em
consideração? Como foi o contexto político da entrada do projeto na agenda? Em que contexto
histórico essa política faz sentido na sociedade?Quem são os autores envolvidos?Como o projeto é
financiado?
A análise dos processos iniciais de implementação dessa política, focando no ensino superior,
poderá responder essas questões.
Também será utilizada a experiência da Argentina com o programa "UBA XXII", que há 27anos leva o
ensino superior para dentro dos presídios argentinos.
5. Uma análise das contribuições do ideário helleriano para explicar o conflito entre juventude e
escola no Brasil - Mike Martins dos Santos; Tamires de Assis Lima Martins (Fundação Santo André)
Resumo: Objeto
Compreender os motivos das dificuldades de conciliação entre ser “aluno” e ser jovem pobre no
Brasil. Por que o “mundo do aluno” se encontra distante do “mundo da escola”? Por que a cultura
juvenil difere radicalmente da cultura transmitida por essa instituição? Não desconhecemos que este
fenômeno apresenta características singulares na história de cada indivíduo, em cada escola e em
cada região.
Objetivos
Neste trabalho buscamos elementos conceituais e empíricos para compreender a estruturação das
experiências juvenis no cotidiano, que são delimitadas pela lógica da estrutura social. A qual
entendemos ser, em última instância, um dos fatores responsáveis pelo “conflito entre a escola e os
jovens a quem pretende formar” que culmina na “crise da escola”, “ponto pacífico entre os
educadores”.
Metodologia empregada
Partindo da obra marxista de Agnes Heller, mais especificamente, dos trabalhos da autora a respeito
da vida cotidiana, procuramos analisar algumas das contribuições desta perspectiva (a qual
consideramos ainda não totalmente explorada pelos estudos em educação) em diálogo com a
sociologia da juventude e a sociologia da educação.
Resultados parciais
Os conceitos de François Dubet a respeito da desinstitucionalização e de Bernard Charlot de relação
social com o saber esclarecem mais as formas de manifestação do fato do que os fundamentos do
problema. A alienação da vida cotidiana, fruto da acentuação da divisão social do trabalho, das
classes sociais e da propriedade privada é uma categoria essencial para compreender as raízes da
“crise da escola” e pensar as dificuldades postas. A pobreza das experiências formativas no cotidiano
pode ser entendida como a origem dos problemas. A relativa ausência dos elementos não-cotidianos
(ciência, filosofia, arte, política etc.) na vida cotidiana. As manifestações de distanciamento para com
o conhecimento escolar e com a posição de aluno dos jovens em questão são algumas das
consequências.
Conclusões
Não se trata de maneira alguma de estigmatizar os mais pobres como “alienados” ou de construir
uma imagem de suas características a partir das “faltas”, mas sim, na verdade, de buscar respostas
para a “crise da escola” através de uma percepção de que o jovem tem o direito de estabelecer
relações (em outros espaços além da escola) com os elementos não-cotidianos em seu cotidiano
para ampliar suas possibilidades de construção como indivíduo autônomo e consciente de si e do
mundo. Sem isso, a escola parece ter poucas possibilidades de se renovar e dar conta de uma tarefa
formativa e mediadora para a qual lhe falta apoio social mais efetivo.
05 de novembro (terça-feira)
09h – Mesa 3: Políticas Sociais - sala 65 -
Debatedora: Profª Drª Sandra Inês Baraglio Granja (FUNDAP)
1. A experiência da intersetorialidade em Penápolis como estratégia de construção de um novo
modelo de gestão - Alexandre Gil de Mello; Maria Inês de Oliveira Peters (FESPSP)
Resumo: O presente trabalho versa sobre uma experiência exitosa, realizada no município de
Penápolis, Estado de São Paulo, entre os anos de 2006 a 2012, em que a constituição de uma rede
social, intersetorial, pelo desenvolvimento integral de crianças com idade de 0 a 3 anos
("primeiríssima infância"), provocou a reflexão e uma nova prática de gestão pública,
consubstanciada na integração das políticas sociais, sobretudo, educação, saúde e assistência social.
A partir da constatação de que o desenvolvimento integral das crianças passa, necessariamente, por
uma política pública, construída de maneira intersetorial, tendo em vista, a garantia dos seus direitos
à educação, saúde e assistência social, a proposta de formação da rede surgiu como um
questionamento do modelo de gestão até então vigente, com pouca resolutividade e pouco
aproveitamento dos recursos disponíveis, baseado, na fragmentação e departamentalização das
políticas pública. A adesão do Poder Público municipal à proposta e, consequentemente, o esforço
no sentido de provocar a integração dos serviços foi o determinante para o surgimento deste novo
modelo de gestão que teve início e se consolidou com a formação de um comitê intersetorial, como
espaço de decisão.
2. A Precariedade do Trabalho Docente na Rede Pública Estadual Paulista: Professores Contratados
Por Tempo Determinado Categoria O - Alexandro Biazi Guarizzo (UNICID)
Resumo: Esta pesquisa trata do projeto de lei complementar n°29, de 2009, Programa de
Valorização pelo Mérito, aprovado pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, e implantado
pela Secretaria do Estado da Educação de São Paulo. Este estudo tem como propósito analisar as
expectativas, motivações e desmotivações no que tange as políticas educacionais envolvendo a
carreira docente e a forma de contratação temporária e precária dos professores categoria O.
Para tanto, foi realizada uma pesquisa, embasada em revisão de literatura.
A utilização de bibliografia de autores nacionais e internacionais que se dedicam a questão de
políticas envolvendo, a valorização profissional, a precarização das condições de trabalho e a
equiparação salarial a outras carreiras de nível superior ampliaram a produção desta dissertação. Os
resultados demonstraram as dificuldades em evoluir na carreira pelos critérios adotados, a
discordância com a lei que demonstra e responsabiliza os professores pela aprovação ou reprovação
na prova de mérito aplicada, condecorando apenas 20% dos docentes efetivos e estáveis,
discriminando os docentes contratados dividindo a categoria, promovendo uma cultura de bônus
salarial e dedicação pessoal aos “aprovados”, e incapacidade profissional e fracasso aos
“reprovados” causando mal estar entre a categoria, gerando uma divisão entre efetivos, estáveis e
contratados.
3. O Atendimento aos Convênios nos Grandes Hospitais Públicos de São Paulo, uma questão de
Privatização ou Orçamentária? - Wagner Rodrigues Sousa (FESPSP)
Resumo: A proposta do artigo é caracterizar a relação do atendimento aos convênios e particulares
dentro dos grandes hospitais públicos de São Paulo, e perceber suas interferências em termos
orçamentários. É também avaliar se isto está provocando uma diferenciação no atendimento e uma
consequente exclusão dos pacientes provenientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Através desses
apontamentos, apresenta aos leitores a elucidação do tema em estudo, ainda muito pouco
explorado e que tem causado diversas polêmicas a cerca da questão: “O atendimento aos convênios
e particulares, dentro dos hospitais públicos, pode ou não ser considerado uma privatização de
fato?”. Por fim, pretende-se, através deste trabalho proporcionar um conhecimento relevante em
administração pública e incentivar a pesquisa cientifica no que se refere ao estudo do
desenvolvimento de políticas de administração em serviços de saúde pública.
19h – Mesa 4: Corpo e Sexualidade – sala 66
Debatedor: Ms. Vitor Grunvald (USP)
1. Uma história que revela e oculta: Uma relação amorosa que conta a prisão e enfrenta seu discurso
- Natalia Negretti (PUC-SP)
Resumo: Esta proposta de apresentação oral tem como objetivo apontar dados preliminares de uma
pesquisa de mestrado, 'Entre muros e Processos de Envelhecimento: as tias de idade e as tias de
cadeia na Penitenciária Feminina de Sant'Ana', a partir de uma história específica, como um estudo
de caso, entre um casal de mulheres, Ana e Maria, agente penitenciária e presa respectivamente na
ocasião em que se apaixonaram e que se relaciona desde então. O trabalho tem como intenção
refletir a respeito das relações entre presas e agentes penitenciárias, em caso de vínculo afetivo, e
tal caso é tratado como um exemplo da heterogeneidade existente entre esses dois grupos
primordiais de uma instituição prisional: guardas, polícias ou agentes penitenciários, bem como
carcereiros e uma porção de outros termos, cuja nomenclatura revela a existência de gerações (a
partir da diferença de crenças, comportamento e regras) destes funcionários públicos e de presas,
chamadas também de internas, reeducandas e ainda bandidas, também com uma variedade
geracional sob a perspectiva de idade, mas principalmente de crime. Quais são os discursos e as
brechas na relação desses dois grupos. A partir deste foco pretende-se apontar questões
relacionadas às problematizações existentes de gênero e sexualidade de tais mulheres ao redor do
ambiente prisional, a partir de um vínculo presente e outro localizado no passado de uma narrativa
de vida.
2. Corpo e Metal - Impactos na vida cotidiana dos usuários do metrô em São Paulo - Thiago Da Silva
Prada (PUC-SP)
Resumo: A pesquisa procura verificar no cenário atual da mobilidade urbana, para além dos olhares
sobre o planejamento urbano e teoria da cidade, um enfoque no sofrimento da população que se
utiliza dos transportes públicos na cidade de São Paulo, mais especificamente o sistema metroviário.
Sendo assim, os objetivos desta pesquisa são verificar quais os impactos que o deslocamento pela
cidade gera na vida cotidiana destes usuários, e buscar nesse cotidiano as práticas que são
impactadas, as resistências e assim compreender o cotidiano dos usuários.
Nesta pesquisa serão utilizados autores que darão um suporte teórico para compreender a realidade
e vivências desses usuários, tais como Michel Foucault, Michel de Certeau, David Le Breton e Marc
Augé, entre outros, articulando questões acerca do poder, da cidade, do corpo e dos espaços de
deslocamento.
Para isso será realizada uma etnografia junto às pessoas selecionadas para se acompanhar e
registrar suas dificuldades, bem como a realização de entrevistas e registro de imagens. Após será
realizada uma análise a partir de critérios anteriormente selecionados, para chegar à compreensão e
apreensão social do sofrimento dos usuários e os impactos nas suas atividades cotidianas.
3. Heterossexualidade Obrigatória e Violências contra LGBTs na Cidade de São Paulo - Yasmim
Nóbrega de Alencar (FESPSP)
Resumo: Esta pesquisa aconteceu durante doze meses, compreendidos entre Agosto de 2012 e
Agosto de 2013. Foi realizada como atividade de estudante graduanda financiada pela bolsa
PIBIC/FESPSP – Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica da Fundação Escola de
Sociologia e Política de São Paulo, sob orientação da Profa. Dra. Marta Bergamin. Objetivou
pesquisar sobre as relações intrínsecas existentes entre Heterossexualidade Obrigatória (HO) e
LGBTfobias. O objeto de pesquisa foi a comparação entre grupos de LGBTs distintos, residentes na
cidade de São Paulo. Um grupo formado por ativistas/militantes LGBTs e outro por não
ativistas/militantes. A metodologia consistiu de levantamento e análise bibliográfica, coleta de
materiais sobre casos de LGBTfobias acontecidos em nossa sociedade, no período de 2012 à 2013.
Além de entrevistas, histórias de vida e observação participante de LGBTs em diversos espaços,
inclusive, de militância política que desenvolvem. Problematizamos a questão das sexualidades, da
violência e das identidades de gênero diversas, manifestas nas relações sociais e refletimos acerca
do cruzamento de dados colhidos. Buscamos compreender qual o nível de interdição da HO
(Heterossexualidade Obrigatória) nas vidas cotidianas de LGBTs e, sobretudo, como estes dois
grupos distintos reagem a ela. Isto nos impeliu a concluir que se trata de um quadro fortemente
marcado pela exclusão social de LGBTs, uma vez que estes são vítimas de LGBTfobias. No entanto,
esta pesquisa nos levou a perceber que esta população não só é vitimizada, mas reage às opressões,
cotidianamente, de formas diferentes. No caso de LGBTs ativistas, as reações se dão,
principalmente, no campo da política e luta por Direitos Humanos usurpados. Já com LGBTs não
ativistas, as formas de resistência são perpassadas por autoconfiança, mas são fragilizadas pela
pressão social e a invisibilidade de suas existências como maneira de resistir e se manter vivo/a.
Pensamos que é, indiscutivelmente, necessário que Políticas públicas e a população, em geral, façam
uma força-tarefa para combater LGBTfobias, bem como transformar, através da educação, o
pensamento das pessoas que se mostram intolerantes à diversidade sexual e de identidade de
gênero.
19h – Mesa 5: Gestão, organização da informação e atuação profissional I – Auditório
Debatedor: Prof. Dr. Fernando Modesto (USP)
1. Normas para Descrição Arquivística - Ana Paula de Moura Souza (FESPSP)
Resumo: Os instrumentos de pesquisa gerados a partir da Descrição Arquivística correspondem à
ligação entre a indagação e resposta; entre o pesquisador e o documento, portanto, são
fundamentais ao acesso as informações contidas nos documentos de arquivo, com sua importância
refletida tanto na gestão do acervo como em sua própria divulgação.
Mesmo após anos da publicação da Norma Brasileira de Descrição Arquivística - NOBRADE, em 2006,
ainda é escassa a literatura prática sobre este assunto, especialmente no que se refere à sua
aplicabilidade, manuais e estudos de casos.
Com base no levantamento de artigos especializados, grupos de estudos e nos mais recentes
projetos de pesquisa, pretende-se entender a concepção das principais normas para a descrição
arquivística no mundo e como a aplicação destas normas colaborou para o aumento da eficiência e
da eficácia no atendimento e na gestão de arquivos públicos e privados.
Para exemplificar a aplicabilidade das normas para descrição, serão escolhidas algumas instituições,
públicas ou privadas na cidade de São Paulo para saber como e se utilizam a norma de descrição, por
meio de entrevistas, coleta de amostras de registros e elaboração de quadros comparativos, com
informações qualitativas e quantitativas.
Com os resultados deste levantamento, espera-se realizar uma prospecção a respeito do futuro da
Descrição Arquivística no Brasil e identificar quais serão os próximos desafios, além de servir como
subsídio para estudos futuros.
2. Direito autoral: o que o bibliotecário tem a ver com isso? - Janete Costa Marques (FESPSP)
Resumo: Apresenta o direito autoral no cotidiano do bibliotecário e demais profissionais da
informação. Para tanto, tem como objetivos conceituar Direito Autoral, apresentar e contextualizar a
legislação vigente (Lei 9.610/98), as recentes discussões e propostas de alteração da lei, punições
aplicadas em caso de violação desta, bem como destacar os cuidados que o bibliotecário, como
gestor e publicador da unidade de informação, deve ter para fazer o uso correto de obras de
terceiros em suas atividades cotidianas, sem violar a lei. A metodologia utilizada foi levantamento da
legislação referente ao tema, como a Lei 9.610/98, que trata dos direitos autorais; o Art. 5º inciso
XXVIII da Constituição Federal; o Art. 184 do Código Penal (que trata da violação dos direitos
autorais) e demais artigos que remetem a esse crime e o recente Projeto de Lei nº 3.133, de 2012,
que propõe a atualização das disposições sobre os direitos autorais, com vistas a adaptá-los às
tecnologias digitais. Realizou-se revisão de literatura em livros e periódicos especializados na área de
Direito autoral. Da mesma forma foi levantada bibliografia recente da área da Biblioteconomia e
Ciência da informação que apresenta discussões sobre o objeto do trabalho. Os resultados parciais
da pesquisa demonstram o aspecto restritivo e controverso da lei vigente, fato que gera dúvidas
quanto à utilização de obras de terceiros e criminaliza práticas que privilegiam o acesso à
informação, a construção de novos conhecimentos e a preservação de obras raras ou que
apresentam fragilidade em seu estado de conservação. Assim, pode-se concluir que o conhecimento
da lei, por parte do bibliotecário, é extremamente relevante, visto que se depara com os direitos de
autor em seu cotidiano, e que a revisão desta é inadiável para regulamentação de práticas que visam
prioritariamente o acesso à informação e a preservação dos acervos.
3. A Torrente de Paiaiá: O caso da Biblioteca Comunitária Maria das Neves Prado em Nova Soure (BA)
- Ludmylla Cavalheri Sá (FESPSP)
Resumo: O presente trabalho trata-se do desfecho da pesquisa de Iniciação Cientifica dada inicio no
ano de 2012, com os objetivos de identificar o perfil dos usuários que utilizam os serviços e as
dependências da Biblioteca Comunitária Maria das Neves Prado de modo que seja possível investigar
se a mesma possui capacidade para suprir as necessidades específicas dos usuários. Desse objetivo
geral decorrem alguns objetivos específicos, tais como: a) caracterizar os processos, iniciativas e
trabalhos de ação cultural realizados da biblioteca para a comunidade e o envolvimento da
comunidade nessas iniciativas; b) especificar quais são os serviços que a biblioteca presta a
comunidade do município de Nova Soure; c) quais ações e trabalhos a comunidade realiza para a
biblioteca. Com o intuito de avaliar os possíveis impactos ocorridos a partir da implantação da
Biblioteca Comunitária Maria das Neves Prado no ano de 2004 até o momento atual e; d) Pesquisar
o significado de possíveis mudanças significativas que a biblioteca trouxe para a comunidade do
município de Nova Soure
4. Produção científica em Organização da informação em periódicos brasileiros de Ciência da
Informação (2000-2010) - Solange Alves Santana; Nair Yumiko Kobashi (USP)
Resumo: O objetivo da pesquisa foi identificar e sistematizar a produção científica brasileira em
Organização da informação publicada em periódicos nacionais no período de 2000 a 2010. O corpus
analisado foi constituído de 156 artigos, coletados na base de dados ABCDM. Os dados foram
padronizados e processados em softwares bibliométricos e estatísticos. Os resultados permitiram
obter indicadores sobre os eixos mais frequentes da produção científica em Organização da
informação.
06 de novembro – (Quarta-feira)
09h – Mesa 6: Gestão, organização da informação e atuação profissional II - sala 65
Debatedora: Profa Dra Cibele Marques Araújo (USP)
1. Catalogação de documentos musicais impressos: um estudo comparativo - Aline Cristini Cambur
(FESPSP)
Resumo: Estudo que aborda a catalogação de documentos musicais impressos. Trata da
singularidade desse tipo de documento e da complexidade de seu tratamento, bem como da
necessidade de conhecimento específico nessa área por parte dos bibliotecários. Conceitua, a partir
de um levantamento bibliográfico, os elementos pertencentes à notação musical e os diversos tipos
de partituras, com o intuito de demonstrar a importância destas como fonte de informação. Faz uma
exposição do capítulo 5 do código de catalogação Anglo-Americano, dedicado à música impressa,
explicando cada uma de suas regras, e apresenta o Répertorie Internationale des Sorces Musicales,
explicando cada um de seus campos. Aplica ambos os modelos a uma partitura, e aponta seus
campos em comum, suas diferenças, vantagens e desvantagens. apresenta os problemas
encontrados na busca por bibliografia, já que o tema é pouco abordado nos cursos de catalogação e
salienta a importância da Biblioteconomia e da Ciência da Informação interagirem com a Música.
2. Modelo de Gestão de Bibliotecas Comunitárias - Grazielli de Moraes Silva (FESPSP)
Resumo: Mesmo diante às novas tecnologias e o rápido acesso à informação, a sociedade atual
encontra-se em um patamar de desinformação muito alto principalmente no que tange às
sociedades menos favorecidas. Nesse sentido surgem às bibliotecas comunitárias, que por serem
normalmente gerenciadas por uma multidisciplinaridade de pessoas da própria comunidade e não
contar com um modelo de gestão, acabam muitas vezes por deixarem de existir.
Esse trabalho tem o propósito de servir como um modelo de gestão aos interessados em constituir
uma biblioteca nesse gênero, servindo de suporte desde sua criação, captação de recursos,
parcerias, até sua construção - o trabalho técnico mais apropriado para o usuário (comunidade),
disponibilização para o usuário e ações culturais e demais serviços que podem ser desenvolvidas
nesses espaços onde normalmente contam apenas com doação para sua existência.
Essa pesquisa é uma prévia do TCC a ser apresentado para obtenção do título de Bacharel em
Biblioteconomia e Ciência da Informação. Foi desenvolvida através de levantamento de referenciais
teóricos com o auxílio de profissionais atuantes nessa temática, levantamento do conceito de
biblioteca comunitária para melhor entendimento, além de um estudo de caso onde se buscou
analisar um caso de sucesso e um caso de insucesso, de modo a confrontar as ideias e melhor
desenvolver o modelo proposto. Como resultado final a construção de um Modelo de Gestão para
Bibliotecas Comunitárias.
3. Competência em Informação no local de trabalho: mapeando caminhos por meio da literatura -
Silvana da Silva Antonio Arduini (USP)
Resumo: A pesquisa teve o objetivo de, a partir da literatura científica, analisar os trabalhos sobre
Competência em Informação a fim de mapear as abordagens sobre o tema, especialmente quando
praticada em locais de trabalho. Para tanto, realizamos um levantamento dos estudos sobre
Competência em Informação de trabalhadores – exceto profissionais da informação -- publicados
entre 2005 e 2012 e indexados em bases nacionais e internacionais. A partir da leitura dos textos
teóricos, foi possível levantar as seguintes variáveis para análise dos relatos de experiência: tipologia
do relato; abordagens de Competência em Informação mais utilizados; perfis dos profissionais
estudados; habilidades focadas e o tipo de ambiente onde foi realizado o estudo.
A análise dos relatos de experiência permitiu verificar que grande parte das pesquisas abordam
apenas diagnósticos de Competência em Informação. Outro ponto a ser ressaltado é que tanto a
literatura nacional como a estrangeira carecem de reflexões que levem a uma prática crítica da
Competência em Informação em ambientes laborais, pois ela ainda tem sido tratada como uma
habilidade construída individualmente.
4. Trabalhos Temáticos integrados na FESPSP: O Ensino com Pesquisa na Biblioteconomia - Tais
Bushatsky Mathias (FESPSP)
Resumo: Por meio de um breve panorama histórico do ensino de Biblioteconomia no Brasil, este
relato analisa o ensino com pesquisa como prática pedagógica no curso de graduação de
Biblioteconomia e Ciência da Informação da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
Para tanto, será considerada a base do ensino com pesquisa, o paradigma pedagógico emergente ou
da complexidade, analisando de maneira breve o paradigma tradicional ou newtoniano-cartesiano
utilizado por inúmeras gerações ao longo dos anos, que influenciaram e marcam até hoje a
sociedade. Além do entendimento sobre sua trajetória e influência na prática pedagógica, serão
considerados seus reflexos na ação docente e discente, dando ênfase à segunda, objetivando a
reflexão sobre a compreensão dos mesmos sobre a construção de uma prática pedagógica
diferenciada. Este estudo propõe verificar se os Trabalhos Temáticos Integrados, prática pedagógica
concebida no planejamento pedagógico da FaBCI de 2011,podem ser considerados instrumentos
pedagógicos que possuem características do ensino com pesquisa. Para alcançar este objetivo, além
de levantamento bibliográfico pertinente para a compreensão dos conceitos da Educação, foram
realizadas entrevistas com docentes e discentes que vivenciaram tais práticas, para refletir sobre a
relevância dos trabalhos realizados. Os resultados obtidos com a realização do levantamento
bibliográfico e das informações colhidas nas entrevistas evidenciam o reconhecimento da realização
do trabalho pelos atores envolvidos no processo de ensino-aprendizagem. As considerações finais
revelam que os Trabalhos Temáticos Integrados apresentam características do ensino com pesquisa,
mas ainda está se desenvolvendo para que atinja todos os elementos que caracterizam tal prática.
Considera também a relevância do ensino com pesquisa para a compreensão de uma prática
consciente e uma compreensão processual da formação do e pelo discente bem como do docente.
19h – Mesa 7: Mídia, Tecnologia e Política – Auditório
1. Contracultura Digital: A influência do Ciberativismo nas Políticas Sociais da Cidade de São Paulo -
Clareana Silva Dias da Cunha (FESPSP)
Resumo: O Presente trabalho consiste em avaliar a mobilização pela internet alcançou os resultados
esperados influenciando o desenvolvimento das políticas sociais na cidade de São Paulo, bem como,
os esforços necessários para o desenvolvimento do ciberativismo, possibilitando, dessa forma, a
compreensão dos seus mecanismos e de seu funcionamento. A comunicação nesse processo, não só
é o meio pelo qual, se dá a interação, mas, sobretudo, insumo necessário à organização da rede.
Além disso, o trabalho se propõe a fazer um levantamento das principais iniciativas que tiveram
lugar na cidade de São Paulo, mapeando as iniciativas de cibeativismo na cidade de São Paulo
2. Práticas de E-Democracia e suas implicações sobre a participação cidadã. Um estudo sobre o
Sistema de Petições Eletrônicas do Parlamento Escocês - Lívia de Souza Lima (FESPSP)
Resumo: As Tecnologias de informação e comunicação (TIC) tem um papel central na vida
contemporânea, levando a transformações que afetaram diversos setores da sociedade. O presente
trabalho está interessado nas mudanças que a Internet, como uma TIC, fez parte de tais
transformações, especificamente em como ela influenciou o fazer democrático. O que
convencionou-se chamar de E-Democracia, uma das bases de trabalho dessa reflexão, é a junção da
Internet às práticas democráticas, que traz consigo algumas ideias promissoras quanto ao seu uso
como possível expansor da democracia, auxiliando os indivíduos a envolverem-se e terem uma
participação mais ativa em suas comunidades e assuntos de interesse público. Este estudo objetiva
investigar como as instituições governamentais estão lidando com as possibilidades trazidas pelo
conceito de E-Democracia, transformando-a assim, em uma prática de governo. Este trabalho foi
desenvolvido e orientado pelos conceitos de técnicas de governo e governança interativa. Para
realizar a investigação proposta, foi realizado uma pesquisa sobre o Sistema de Petições Eletrônicas
do Parlamento Escocês, que pode ser entendido como um mecanismo legítimo e aberto de
participação em nível institucional. Os resultados a serem aqui apresentados dão conta de verificar
de que forma se dá essa participação, de acordo com os princípios e diretrizes democráticas.
3. A Revista VEJA na Transição Democrática: Discurso e Liderança Política - Tathiana Chicarino (PUC-
SP)
Resumo: Esta pesquisa tem como objetivo a compreensão da relação entre mídia e liderança política
durante a transição democrática brasileira, para tanto, analisaremos o discurso político-midiático
expressado pela revista Veja entre os anos de 1974 e 1985, tendo como orientação duas premissas
derivadas do estudo de Manin (1995) a primeira é a centralidade dos canais de comunicação na
relação de representação, e, a segunda, é a tendência à personalização do poder.
A revista Veja já foi objeto de análise em Iniciação Científica com a hipótese de que formulava sua
agenda em conformidade, tanto com as aspirações de setores da sociedade civil, quanto com as
medidas liberalizantes implementadas pelo governo militar. Concluímos a pesquisa com a validade
da hipótese apresentada, mas também com uma nova questão de trabalho: a revista Veja trabalhava
um enquadramento diferenciado a cada ator político (individual ou coletivo).
Desta forma, a hipótese que testaremos ao longo da pesquisa é a de que quando o discurso político-
midiático da revista Veja aborda as lideranças políticas tratam-nas de forma diferenciada com um
posicionamento intencionalmente em consonância com o seu projeto político, que além de ser um
conjunto de crenças, interesses, concepções de mundo, representações do que deve ser a vida em
sociedade, também orienta a ação política (DAGNINO, 2004, p.98). É desta forma que enxergamos o
discurso político, como uma forma de ação política, que no caso da revista Veja, se faz por uma
aparente coerência entre o enquadramento empregado a cada liderança e o seu projeto político.
O trabalho de Iniciação Científica nos trouxe evidências de que a revista Veja trabalhava um
enquadramento diferenciado a cada liderança política, portanto, uma das premissas derivadas do
estudo de Manin (1995) já se faz presente, qual seja a personalização do poder. Já a premissa da
centralidade da mídia na relação de representação, pode ser confirmada por Duarte (1987) que
constatou que o projeto de distensão idealizado por Geisel enxergava na liberalização da imprensa
uma etapa necessária, e também um meio de divulgação de seu projeto junto à opinião nacional
(DUARTE, 1987, p.68), os militares constataram que a transição para a democracia era o único
caminho para a sobrevivência do sistema, desta forma, o abrandamento da censura à imprensa era
uma concreta estratégia nessa direção enquanto elemento de integração política.
Ao conduzir tanto a liberalização quanto a sucessão presidencial, os militares procuravam alijar as
massas das decisões políticas e colocar novamente no domínio político a elite, o projeto de
distensão é, portanto, uma “revolução pelo alto”, uma solução conciliatória que prioriza a ordem,
rejeita o conflito e desta maneira mantém o status quo; é esse conceito, ou essa ação política que
Veja apoia e concorda e é por esse viés que desenvolverá seu próprio projeto político e conduzirá o
enquadramento das lideranças políticas.
4. Voto digital na Estônia: uma possibilidade de resgate da legitimidade democrática? - Thiago
Henrique Desenzi (FESPSP)
Resumo: O propósito deste projeto é entender se o voto via internet na Estônia pode ser
considerado com um passo na direção do resgate da legitimidade democrática na relação entre
Estado e sociedade. O primeiro passo consiste em uma ampla descrição do Estado Estoniano dentro
de suas perspectivas relacionadas à implantação e funcionamento dos mecanismos de governo
digital, que vieram a culminar no voto via internet, e também deste. Buscaremos ainda apresentar
um enquadramento histórico da formação deste país, com o intuito de consolidar um arcabouço
sócio-histórico para a relativização dos dados quantitativos a serem analisados em nosso trabalho,
entendendo que a compreensão da sociabilidade na Estônia é fator fundamental para o
entendimento de suas dinâmicas políticas. Posteriormente, vamos explorar aqui as conjunturas do
movimento de perda de legitimidade democrática, tanto nas democracias tidas por consolidadas
como por aquelas em processo de consolidação, tal discussão embasa a compreensão das lacunas as
quais a ferramenta digital viria a preencher, no sentido de restabelecer uma relação mais harmônica
entre Estado e sociedade, restabelecendo os laços de legitimidade entre ambos. Finalmente, serão
analisadas nossas bases de dados específicas, provenientes das eleições de 2005 a 2011, em relação
a demais fatores econômicos e sócio-políticos entendidos com pertinentes a verificação de sua
capacidade de alteração da dinâmica relacional Estado-sociedade no tocante à percepção de
confiança, e assim, serão apresentados os dados que confirmam ou não a possibilidade do
entendimento do voto via internet como um fomentador do resgate à legitimidade democrática.
07 de novembro (Quinta-feira)
09h – Mesa 8: Políticas de desenvolvimento e o debate teórico nas ciências sociais - sala 65
1. Duro de Matar, o retorno: para uma crítica ao novo desenvolvimentismo e a ideologia do
desenvolvimento - Andrei Chikhani Massa (UNIFESP)
Resumo: O início do século XXI houve uma considerável mudança nas lideranças políticas da região,
eleitas democraticamente. Após a avalanche neoliberal que varreu a região ao longo dos anos 1990,
foram eleitos governos progressistas considerados de centro-esquerda. O discurso destes governos
em geral, e dos governos Lula-Dilma (2002-2014) em particular, ressurgiu a ideia – também na
academia - de desenvolvimento que trouxe consigo variações do desenvolvimentismo elaborado,
inicialmente, nos anos 1960.
No Brasil este projeto é conhecido como novo-desenvolvimentismo que tem como marco a
publicação do livro Novo-desenvolvimentismo: um projeto nacional de crescimento com equidade
social (Sicsú et al orgs., 2005), simbolicamente prefaciado pelo falecido empresário e vice-presidente
José de Alencar. Este livro conta com uma série de artigos que para além da sua diversidade contém
uma perspectiva em comum, a de que o desenvolvimento é possível e viável para nosso país mas
carece, antes de tudo, de uma ampla aliança de classes que envolva empresários, técnicos públicos e
privados e os trabalhadores, considerados “(...) os três elementos essenciais do desenvolvimento”
(BRESSER-PEREIRA, p.143, 2005)
O novo-desenvolvimentismo, apesar do novo vocabulário, não apresenta muita diferença do antigo
desenvolvimentismo da década de 1960. Grosso modo, visa blindar a economia com um Estado forte
que estimule o crescimento do mercado interno. Para isso o Estado (ou o Governo) deve ser capaz
de realizar políticas macroeconômicas para regular o mercado – atuando como financiador do
desenvolvimento do país, em detrimento da atividade especulativa – para impedir a formação de
monopólios garantindo espaço para os capitalistas de pequeno e médio portes. Deve elaborar
políticas que diminuam a sensibilidade às crises cambiais e fomentar o pleno emprego. E também
políticas sociais que assegurem um crescimento equitativo da renda nacional, Ao afirmar que basta
uma série de medidas – internas – para o país desenvolver-se, é o mesmo que alegar que o motivo
do subdesenvolvimento é apenas interno, neste caso, a falta de vontade política.
Assim como o desenvolvimentismo de outrora, o novo-desenvolvimentismo pressupõem que o
desenvolvimento alcançado pelos países centrais pode ser revivido nas regiões dependentes do
sistema capitalista mundial. Entende-se o subdesenvolvimento como um estágio anterior ao
desenvolvimento (ARAUJO, 2002). Este debate suscita o embate dos anos 1960-70 na América
Latina entre os Partidos Comunistas, a CEPAL e a(s) teoria(s) da dependência. Contexto do qual surge
a teoria marxista da dependência (TMD) que tem em Ruy Mauro Marini seu principal expoente.
Marini se opõe à ideia do desenvolvimento como um continuum, como se bastasse reunir as
condições adequadas para alcança-lo. (MARINI, 1992). As teorias acima apresentadas incorrem em
um equívoco ao tomarem como pressuposto das análises do “desenvolvimento econômico”, as
relações capitalistas. Pois são estas que deveriam ser tomadas como problema. (ARAUJO, 2002)
Segundo Marini, o que estas teorias ignoram é que o desenvolvimento de alguns países resulta,
justamente, no subdesenvolvimento de outros. (MARINI, 1992).
Nosso objetivo no presente trabalho é expor, em linhas gerais, os principais ideais do novo-
desenvolvimentismo e, posteriormente, apresentar as recentes contribuições da teoria marxista da
dependência não só ao prognóstico novo-desenvolvimentista como também à sua, inerente,
ideologia do desenvolvimento – presente na América Latina há décadas apesar dos fatos. E neste
caso, pior para os fatos que são negligenciados nas análises de alguns intelectuais. Atílio Boron
(2007) se demonstra perplexo ao ter ainda que criticar a ideologia do desenvolvimento no
continente, pois assim como na década de 1960 alguns países da região permanecem sendo “países
do futuro”.
2. Pré-Sal, Estado e Empresas - dilemas em torno do regime de partilha - Arthur de Aquino (UNICAMP)
Resumo: O artigo consiste na discussão de resultados parciais de pesquisa que vem sendo
desenvolvida no âmbito de pós-graduação em Ciências Sociais na Unicamp, a qual investiga a
alteração do marco regulatório na área de petróleo e gás no Brasil, através da lei 12.351/10, que
introduz o regime de partilha de produção, particularmente no pré-sal. Tal modelo vem sendo
apontado por analistas como uma manifestação de maior presença do Estado no setor energético.
Tal avanço decorre do fato de que a lei acima citada exige que a Petrobrás seja operadora em todas
as jazidas, e tenha uma participação acionária de no mínimo 30%, além das participações especiais e
royalties já previstos em legislação do setor. Note-se também que a alíquota dos ‘royalties’ passa de
10% para 15%. A lei 12.351/10 altera a lei 9.478/97, a qual estabelecera o regime de concessão,
todavia mantém o entendimento de que tanto o petróleo e gás natural ‘onshore’ ou ‘offshore’ são
propriedade da União, e isso ainda de acordo com a Constituição Federal de 1988; assim como ainda
prevê a exploração privada condicionada à licitação pública na modalidade leilão – de acordo com o
que dispõe a lei 8.666/93.
Tal presença do Estado vem decorrendo da perspectiva de retornos crescentes no pré-sal, o que já
motivara o governo Lula – encontrando continuidade no governo atual – a alterar o marco
regulatório com vistas a recuperar recursos com o petróleo, e destinar tais recursos ao
financiamento de políticas sociais, e a formação de um Fundo Social.
Na literatura especializada, existe extenso debate sobre o alcance e efetividade das políticas frente
ao poder econômico. Poderíamos citar três desses paradigmas principais. Num primeiro, a chamada
tese da “mente aprisionada”, elaborada por Charles Lindblom, de acordo com o qual políticas que
contrariam o poder do capital estariam abortadas desde sua concepção, não chegando a se
concretizar. Na outra ponta, existe a tese clássica de Przeworsky, na “Social-Democracia como
fenômeno histórico”, onde o autor mostra que o advento dos partidos de esquerda ao poder
levaram a governos que sistematicamente contrariaram – e com sucesso – interesses da burguesia
industrial. Entre ambos, há ainda o entendimento de David Vogel, o qual defende que a oposição
interesses de Estado versus interesses empresariais é falsa, uma vez que a própria presença do
Estado, com suas necessidades específicas, e pelas políticas públicas, alteram e condicionam o jogo
do mercado. Nessa problemática, a questão da alteração do marco regulatório é interessante estudo
de caso, uma vez que se questiona a posição das empresas frente ao pretenso avanço estatal.
Dessa maneira, a pesquisa consiste em revisão bibliográfica, análise documental, entrevistas com
especialistas e atores sociais envolvidos, assim como no acompanhamento das questões políticas
relativas à pesquisa nos veículos de comunicação.
3. (Re)pensando o desenvolvimento: um olhar crítico sobre a construção do “desenvolvimento”
enquanto princípio orientador das práticas políticas e sociais - Brena Costa Lerbach (UFES)
Resumo: O tema “desenvolvimento” tem sido elemento presente nos discursos e práticas sociais.
Compõe tanto os princípios que ganham materialidade nos planejamentos econômicos e nas
políticas públicas, quanto os valores morais que animam as ações de homens e mulheres, que, assim
“formatados”, enquadram-se como personagens no quadro que retrata a moderna sociedade
ocidental. O desenvolvimento está por toda a parte, e motiva desde acordos entre países e ações
governamentais até as perspectivas de vida dos sujeitos mais comuns. Está presente no acordo de
cooperação internacional para melhorias tecnológicas; nas políticas públicas educacionais que, por
exemplo, fortalecem o ensino técnico; nos anseios do jovem vestibulando ou do trabalhador que
pretende se tornar empreendedor – a ideia de um “desenvolvimento” toma forma nas mais variadas
esferas da vida social, seja numa dimensão institucional ou individual. Tendo isso em vista,
pensamos que refletir sobre o tema é uma tarefa pertinente.
Assim, este trabalho coloca em questão o tema “desenvolvimento”, corrente nas áreas social,
política e econômica. O termo desenvolvimento adquire uma conotação positiva na fala cotidiana e,
por isso mesmo, merece atenção, haja vista a diversidade de significados e de interesses que pode
expressar. É importante compreender os diferentes sentidos que o termo adquire, os projetos e
interesses historicamente colocados, e como o desenvolvimento constituiu-se como discurso
fundamentador das estratégias de dominação social e cultural ocidental a partir de meados do
século XX. Com esse intuito, buscaremos aqui apresentar criticamente três abordagens acadêmicas
que problematizam o desenvolvimento, com os seguintes enfoques: do ponto de vista conceitual, no
que diz respeito à orientação adotada pelos governos brasileiros em certos contextos históricos, e
enquanto prática discursiva. Tratam-se, respectivamente, dos trabalhos de Alan Thomas, no texto
“Meanings and views of development” (2000); de Anete Ivo, no artigo “O paradigma do
desenvolvimento: do mito fundador ao novo desenvolvimento” (2012); e das ideias centrais
expressas no livro Encountering Development: The Making and Unmaking of the Third World (2012),
de Arturo Escobar. Concluímos que os discursos sobre o desenvolvimento e sobre o
subdesenvolvimento serviram historicamente aos interesses dos países desenvolvidos; impõem a
adoção do modelo de sociedade ocidental em detrimento das culturas locais; e vinculam-se à lógica
capitalista, na qual a produção é orientada para o lucro, e não para o combate à fome e à pobreza –
mazelas que o discurso desenvolvimentista promete eliminar.
4. Do PFL ao PSD: um modelo referencial para o sistema partidário brasileiro - Eduardo Alves Lazzari
(PUC-SP)
Resumo: A pesquisa teve como objetivo tomar o Partido da Frente Liberal (PFL) e seu
sucessor Democratas (DEM), assim como sua dissidência o Partido Social Democrático (PSD) como
expoentes das características mais marcantes do sistema partidário nacional e do regime político
que emergiu na nova ordem constitucional, iniciada em 1988.
Adotando o arcabouço teórico de John Aldrich, “dividimos”, com objetivos metodológicos, o partido
- a instituição, não os referenciados no título da pesquisa - em três facetas, a saber, a faceta no
parlamento, como estrutura administrativa e no eleitorado. A partir delas, poderíamos inferir
quanto ao funcionamento dos partidos brasileiros e do sistema partidário nacional.
Após essa análise, sustentamos que o PFL foi um marco político e sociológico na arena política
brasileira. Politicamente, mostrou-se como um nexo entre o antigo e o moderno na política nacional
e, sociologicamente, consagrou a erosão irreversível das relações civil-militares que sustentaram o
regime e ilustrou, por conseguinte, a derrocada para uma constituição democrática.
Em contrapartida, ao analisarmos a faceta no parlamento de PFL e DEM, que evidenciamos um novo
padrão de comportamento nos partidos como um todo. Essa transformação se deve à metamorfoses
no governo representativo, de ordem tecnológica e no Estado. Fica-se evidente que lançamos mão
aqui do extenso trabalho de Bernard Manin, extrapolando-o para o caso brasileiro.
A partir delas, partidos e sociedade se distanciaram e aproximaram o partido do Estado. Em primeiro
lugar, esse distanciamento crescente fez emergir o partido catch-all, caracterizado pelo
atenuamento da bagagem ideológica e centralização da estrutura administrativa, tratando-se aqui
do funcionamento de sua faceta no eleitorado. O partido cartel é, entretanto, uma consequência
lógica desse distanciamento, mas em sua faceta no parlamento. Com a impossibilidade de contar
com o eleitorado como principal sustentáculo da vida partidária, os partidos políticos passaram a
obter do Estado sua estabilidade.
O PFL é um exemplo brasileiro de um partido que constrangido pelo contexto histórico e objetivos
de sua burocracia, aproxima-se do partido catch-all. Já como oposição e como DEM, o partido
demonstra que ao distanciar-se do Estado, desintegra-se.
Os achados nos permitem asserir sobre ao comportamento dos partidos nacionais. Dividindo-os em
dois tipos ideais, sendo que o que os delimita é a relação, imposta pela elite partidária, para com o
Poder Legislativo. Dessa forma, temos que a indução de seus quadros através do Estado ou na
mobilização de suas bases a partir da estruturação municipal, ascendendo ao nível nacional, definem
que tipo ideal de comportamento o partido se insere.
5. Em Guarda para as Américas: Breve Estudo sobre o Pan-Americanismo para o Brasil - Mayra Coan
Lago (USP)
Resumo: O presente trabalho pretende analisar se houve uma continuidade ou uma renovação da
política externa norteamericana para a América Latina e, mais especificamente, para o Brasil quando
se trata da política da Boa Vizinhança, assim como a recepção desta política no Brasil. Esta política
lançada no governo do presidente Franklin Delano Roosevelt (1933-1945) sinaliza uma reorientação
da política externa norteamericana para a América Latina. No entanto, há autores que não a
consideram como uma renovação mas uma continuidade, sendo que a mudança estaria nas táticas
utilizadas e não no conteúdo. Nesse sentido, busca-se, por meio desta pesquisa, identificar se houve
uma continuidade ou renovação, além de apresentar os “novos instrumentos” utilizados pelo
governo norteamericano, isto é, a cultura norteamericana por alguns meios de comunicação no
Brasil, ressaltando o papel da Revista Em Guarda: Para a Defesa das Américas, como um instrumento
de poder dos Estados Unidos em suas relações com o Brasil à época da Segunda Guerra Mundial.
19h – Mesa 9: Raça e etnia: múltiplas abordagens – sala 66
Debatedora: Profª Drª Isabela Oliveira (FESPSP)
1. A Persistência das Ideias de "Raça" e "Democracia Racial": Uma análise das representações e
percepções sobre o racismo e práticas racistas na cidade de São Paulo - Evandro Finardi Sabóia
(FESPSP)
Resumo: O texto discute as representações sociais de raça e racismo buscando por meio do
problema deste artigo tentar compreender como os sujeitos entendem o racismo e de que maneira
as práticas racistas são identificadas e produzidas/reproduzidas na cidade de São Paulo. Para
identificar o racismo e as práticas racistas presentes nas interações sociais de hoje; e ainda,
investigar a questão da “democracia racial” que, apresentamos como nossa hipótese. Isto é, a
hipótese desse artigo era analisar se a “democracia racial” ainda se faz presente no imaginário dos
sujeitos, e assim saber se e como esta ideia influencia o modo como às práticas racistas se
reproduzem e perpetuam. A identificação que este artigo propõe analisar foi por meio de uma
pesquisa de campo, realizando entrevistas qualitativas e semiestruturadas.
O artigo desenvolve no referencial teórico ideias como “racismo”, “democracia racial” e “senso
comum”, pois a reflexão destas ideias é essencial para a pesquisa de campo e também para
responder ao nosso problema de pesquisa. Será nas análises das entrevistas que iremos identificar
se nossa hipótese foi validada, isto é, se ainda se faz presente no imaginário dos sujeitos a ideia
“democracia racial” e de que forma ela se perpetua.
2. Negros e Macumbas no imaginário brasileiro: A construção de uma palavra. - Marcos Paulo
Amorim (FESPSP)
Resumo: Partimos das análises do antropólogo Roger Bastide (1898-1974), a fim de reconstruir as
mudanças e movimentos nos quais a macumba se construiu e modificou no decorrer do tempo. Na
obra de Bastide, existem claras evidências a uma prática religiosa denominada macumba – o que vai
de encontro com o nosso pensamento contemporâneo acerca da palavra. Partimos então do
pressuposto que o professor francês não faria uma alusão pejorativa à uma prática religiosa afro-
brasileira – uma vez que este foi, por excelência, o campo de estudo do intelectual. Assim, nosso
interesse é discutir quando e quais seriam as razões para a mudança do discurso oficial no interior
das terminologias das religiões afro-brasileiras. Desejamos, portanto, através da palavra macumba,
refazer o discurso da mudança e da diferenciação entre religiões afro-brasileiras e, por fim,
estabelecer em qual momento um suposto aparato ideológico orienta a palavra para sua conotação
negativa, por nós conhecida nos dias atuais.
3. Pomitafro: etnias, dilemas e sentimentos - Marcos Teixeira de Souza (IUPERJ)
Resumo: A temática relações inter-étnicas no Brasil compreende parcela expressiva dos trabalhos,
na área de Ciências Sociais e Humanas. Não sem razão, a formação cultural e social do Brasil, oriunda
da interação entre as matrizes africana, europeia e indígena, enraizara todo um modus vivendu, que
perpassa memórias sociais e narrativas de estruturas do Brasil colônia. Os trabalhos de Gilberto
Freire, Florestan Fernandes, Sérgio Buarque de Holanda, Darcy Ribeiro, entre outros, tentaram, a
cada um a seu modo, com enfoques epistemológicos diversos, enveredar por um Brasil, em que raça
(ou etnia) figura como um critério relevante para entender as dinâmicas sociais, presentes em um
país marcado pela desigualdade socioeconômica, sob um espectro racial de confrontos entre etnias.
A despeito da existência de uma extensa bibliografia de trabalhos sobre a temática supracitada, todo
campo em que há um elevado ou baixo quantitativo de casos de racismos ou conflitos inter-étnicos;
ou ainda, uma solução exitosa contra estas patologias sociais, parece ser um campo, em potencial,
para se engendrar uma pesquisa acadêmica profícua.
Com cerca de nove mil habitantes, distante 276 km da capital Vitória, a cidade de vila Pavão, situada
no noroeste espírito-santense, particulariza-se por criar e manter, há mais de vinte anos, uma festa
de cunho inter-étnico demoninada Pomitafro, realizada geralmente no mês de Agosto, que se
estende por normalmente três dias, nestes incluído um fim de semana, visando à integração das
principais etnias colonizadoras do município, Pomeranos, Italianos e afrodescendentes (daí o termo
Pomitafro). O hino e a bandeira municipais retomam a Pomitafro, como ícone de uma cidade que se
orgulha por sua diversidade étnica. Assim, como problema central, tem-se: os dias de festa
engendram uma memória social – em prol da diversidade étnica - que se relaciona com a escola
pública e a sociedade pavoenses?
Foram os objetivos deste trabalho discutir qual é o papel da Pomitafro nos espaços escolar e social
pavoenses; e identificar a predisposição de alunos matriculados no nono ano, de duas escolas da
região, quanto à participação na festa. Como metodologia, empreendeu-se uma pesquisa de cunho
bibliográfico, valendo-se principalmente das contribuições teóricas de DaMatta, em A Casa e a Rua:
espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil (1997) e em Carnavais, Malandros e heróis (1997);
concatenada com uma pesquisa explicativa, com base nos dados secundários (obtidos no
Questionário da Prova Brasil 2011), no que tange às perguntas 02, 26,31 42 e 43, respondidas pelos
alunos do nono ano de duas escolas públicas e importantes de Vila Pavão. Os resultados apontam
que o município reúne condições socioculturais propícias para a realização e a manutenção da
Pomitafro na localidade.
4. Literatura e afrodescendência no Brasil dos oitocentos: uma proposta de investigação a partir da
análise interna do romance Úrsula (1859) de Maria Firmina dos Reis - Rafael Balseiro Zin (FESPSP)
Resumo: Este trabalho tem por intuito apresentar uma proposta de investigação sobre Literatura e
afrodescendência no Brasil dos oitocentos, tomando como objeto de estudo as contribuições da
escritora maranhense Maria Firmina dos Reis (1825-1917) ao pensamento social brasileiro do
período, a partir de uma análise interna do romance Úrsula, publicado, originalmente, em 1859, mas
levando em consideração, também, o conjunto de sua obra. Importa, aqui, recuperar a experiência
da autora, buscando alcançar criticamente os sentidos que deu à sua vida e à causa abolicionista em
vigência naqueles tempos. Um trabalho dessa natureza, por conseguinte, possibilita um
deslocamento da obra literária para uma pesquisa em ciências sociais, mais especificamente numa
perspectiva interdisciplinar, dialogando os estudos literários com os estudos de pensamento social
brasileiro. Dessa maneira, este trabalho pode ser enquadrado no universo de investigações da
Sociologia da Cultura, mais especificamente na linha de pesquisa sobre Cultura, simbolização e
representações sociais. Sob esse olhar, a literatura ganha relevância como um objeto privilegiado de
problematização, capaz de atravessar o tempo e oferecer ao pesquisador pistas significativas do
cotidiano vivido da autora, que sintetizam questões sociais e individuais, e que insinuam,
sobremaneira, as formas como aqueles sujeitos viviam em conjunto, e também a maneira como
experienciavam o mundo, possibilitando, inclusive, um deslocamento à realidade brasileira
contemporânea.
5. Pomeranos de Santa Maria de Jetibá: Nós entre os outros - Sandra Márcia de Melo (IUPERJ)
Resumo: Se uma das fronteiras identitárias entre o nós e os outros se dá pela língua, conforme
Orlandi (1993), é relevante observar como os sujeitos se veem em um ambiente no qual interage
com duas línguas, havendo entre estas, graus diferenciados de prestígio, de interação social, entre
outros fatores. Falada em alguns municípios do Espírito Santo, Rio Grande de Sul, Santa Catarina e
Roraima, a língua pomerana ilustra bem tal problemática, ultrapassando uma situação peculiar de
indivíduos ou famílias bilíngues para ser uma questão municipal, a exemplo da Lei nº. 1136/2009,
que versa sobre a cooficialização da língua pomerana em Santa Maria de Jetibá (ES), considerada ‘a
cidade mais pomerana do Brasil’. Ante a visível diminuição de descendentes falantes do pomerano,
parece ser crucial a implantação de políticas para recuperar esse idioma como identidade linguística
socialmente presente no cotidiano local. Neste percurso, por meio do Programa de Educação Escolar
Pomerana (PROEPO), a escola pública municipal se insere como uma tábua a um náufrago, a fim de
salvar o pomerano de uma provável extinção, trazendo para o cenário escolar esta língua que, até
bem pouco tempo, era alvo de preconceito por alguns educadores, a maioria de deles não-
pomeranos, a ponto de ridicularizar alunos falantes de pomerano recém-chegados à escola, por
estes não saberem bem o português. Em meio ao desgaste gerado no passado, provocado pelo
preconceito a quem falasse o pomerano, o desafio atual dos ativistas de origem pomerana constrói-
se em reafirmar essa língua como uma identidade local que não pode ser perdida em Santa Maria de
Jetibá além de recontar a história. A partir de entrevistas com educadores pomeranos e não
pomeranos, tenta-se entender o resgate do povo pomerano, hoje espalhado pelo mundo e que não
tem uma nação para chamar de sua. Assim, a reconstrução identitária dá-se de forma crescente
tanto a partir do projeto educacional quanto com outros eventos culturais ressaltando essa etnia e
sua importância na região serrana do Espírito Santo, através da Pomerish Fest, que está na sua 24ª.
Edição.
6. Os sentidos da Palavra e do discurso: Reflexões sobre a chefia indígena - Victor Augusto Sousa dos
Santos Magalhães (FESPSP)
Resumo: O objetivo deste artigo é realizar uma discussão sobre a Palavra, o discurso político e a
chefia indígena, tomando como ponto de partida os estudos de antropologia política de Pierre
Clastres e a obra de Helène Clastres sobre a noção de Terra sem Mal Guarani. Os trabalhos de
Renato Sztutman sobre as ideias dos Clastres, que promovem uma leitura crítica e uma atualização
dos conceitos “clássicos” dos dois autores, influenciaram fortemente este texto.
Realizamos, tendo em vista uma melhor compreensão dos possíveis sentidos da chefia indígena na
contemporaneidade, uma aproximação entre a “antropologia do político”, conceito desenvolvido
por Paula Montero, com a antropologia política clastreana. Procuramos também, dentro dos limites
de um artigo desta natureza, fazer uma leitura dos trabalhos de Bruce Albert sobre os Yanomami, e
em especial sobre seu chefe mais conhecido, Davi Kopenawa, a partir do conceito de mediação
cultural proposto por Paula Montero.
19h – Mesa 11: Políticas Públicas no Brasil Contemporâneo – sala 66
Debatedor: Prof. Ms. Paulo Silvino Ribeiro (FESPSP)
1. Uma contribuição para o monitoramento e a avaliação (M&A) de políticas públicas: por um Índice
de Adequabilidade do Saneamento das Escolas Brasileiras (IASEB) - Daniel F. B. Ribeiro (FESPSP)
Resumo: Sob a responsabilidade político-institucional do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (INEP) e levado a termo em âmbito nacional, regularmente, desde 1995,
o Censo Escolar consiste no principal levantamento de dados e informações sobre a educação básica
brasileira.
Tomando em apreço uma parcela diminuta, conquanto relevante, do respectivo conjunto de dados e
informações coligidos sobre os estabelecimentos de ensino públicos e privados integrantes da rede
básica de ensino do país, esta pesquisa aplicada tem por objetivo criar e validar um índice e/ou
indicador sintético que permita a avaliação das condições do saneamento, bem entendido, o
consumo e o abastecimento de água, o esgotamento sanitário e a destinação do lixo, disponível para
todas e cada uma das escolas brasileiras, tendo por referência o período compreendido entre os
anos de 2007 e 2012.
Para tanto, com o fito precípuo de modestamente contribuir para o monitoramento e a avaliação
(M&A) de políticas públicas, esse esforço crítico e criativo de elaboração teórica conscienciosa
conjuminada à reflexão empiricamente orientada buscou lançar mão, por um lado, de noções
teórico-conceituais pertinentes à concepção e aplicação de indicadores de precisão estatística, com
base na literatura especializada sobre o tema, e por outro, de recursos metodológico-estatísticos
empregados para assegurar a precisão estatística de indicadores empiricamente referidos, mediante
o exame de consistência e/ou confiabilidade desses mesmos constructos técnico-científicos.
Outrossim, o Índice de Adequabilidade do Saneamento das Escolas Brasileiras (IASEB), disponível
para todas e cada uma das unidades escolares que conformam a rede de ensino da educação básica
nacional e que foram contempladas pelo Censo Escolar do INEP, com efeito, revelou-se
notadamente robusto para o período de referência em destaque conforme o resultado apurado por
meio do teste Alpha de Cronbach (α), atingindo níveis de consistência e/ou confiabilidade em
patamar que pode ser considerado forte em termos estatísticos.
2. Comissão Especial Sobre o uso de álcool e outras drogas no município de Fartura-SP - Daniela
Rodrigues Viana Diogo (FESPSP)
Resumo: O presente trabalho tem como pesquisa o quanto a população residente no município de
Fartura -SP consome bebida alcoólica e outras drogas, com o objetivo de levantar os dados e
comprovar ou não a necessidade da criação de políticas públicas para tratar o referido tema.
O trabalho deu início com a formação da comissão especial de estudos na câmara municipal, onde
foi realizado questionários com adolescentes entre dez anos a dezenove anos de idade que
frequentam o ensino fundamental II e ensino médio. Cerca de 1500 alunos responderam questões
que envolvem o tema álcool e drogas, além disto entidades envolvidas com o tema, como o
conselho tutelar, hospital municipal, coordenadoria da saúde, da educação e da assistência social ,
entre outras foram ouvidas, com o intuito de levantar mais dados estatísticos, e posteriormente,
junto com a sociedade civil e pública, a comissão levantará propostas de políticas públicas que
trabalhem a prevenção e o tratamento para o usuário de álcool e outras drogas.
Apesar do trabalho estar em fase conclusiva, percebe a importância e a urgência de ações publicas
de prevenção, já que só com relação a bebida destilada constatou-se que no município é consumido
por mês cerca de oito mil litros, sendo que a população de Fartura é cerca de quinze mil habitantes,
então podemos considerar uma média de quinhentos e cinquenta ml de destilado consumido por
mês por habitante, sendo que este número está bem mais alto do que o esperado pela Organização
Mundial da Saúde.
3. Políticas públicas de combate à fome nos governos Lula e Bachelet - Maria Fernanda Degan
Bocafoli (USP)
Resumo: Esta pesquisa, que vem sendo desenvolvida desde janeiro de 2013, busca analisar e avaliar
a efetividade das políticas públicas de combate à fome postas em prática durante os dois mandatos
de Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil, e de Michelle Bachelet no Chile. Ambos os governos se inserem
na chamada "esquerda responsável", que tomam lugar na a América Latina em geral após os
governos marcadamente neo-liberais que predominam durante toda a década de 1990. Esta "nova
esquerda" precisa lidar com um legado de pauperização, miséria e fome, reconhecido, inclusive, em
documento expedido pelo Segundo Consenso de Washington, no começo dos 2000, em que se lê
que "apesar dos esforços nesse sentido, a pobreza no continente latino-americano aumentou em
tamanho e profundidade". A estes desafios, os governos Lula e Bachelet procuram responder
gestando e levando a cabo amplos programas governamentais como o Bolsa Família (Brasil) e o Red
Protege (Chile). Este trabalho pretende analisar estes dois programas, no que tange especificamente
ao combate à fome, em ambos os países de que trataremos; em três momentos: gestação/ criação
das políticas, aplicação das mesmas e resultados quali/quantitativos obtidos.
4. Legislative Representation and Governability in Brazil: Does Brazilian Democracy Represent its
Social Plurality? - Thiago Henrique Desenzi; Lívia de Souza Lima (FESPSP)
Resumo: Democracy is, ideally, an equality fostering tool in face of different demands present in any
given society and that currently is put in practice by a representative democratic model.
Nevertheless, several modern thinkers are pointing to an unmeasured scale of interests within the
representation spheres, in which the most powerful society’s sectors overcome the less influential
social and economical groups, turning democratic representation into an uneven scheme. By having
this in mind, this reflection is aimed to make an analysis of the Brazilian democratic representation
model, specifically in relation to its majoritarian government composition, that, in this country, is
part of a unique legislative model named as “Coalition Presidentialism”. At the composition idealized
by the Brazilian National Constitution, the federal parliamentary ministers have the responsibility for
the formulation of laws as well as monitoring the executive power in consonance with the will of the
society’s sectors that has got them elected by the voting system. The conflict is established though,
when the actual governmental practices leave aside the constitutional principle of a plural
representation in consequence of economic and power interests that act independently from the
diverse interests and needs of other groups belonging to the Brazilian society. It can be argued that
the establishment of governmental practices better aligned to the concept of global justice, in the
Brazilian case, can be achieved by a better quality democracy, through adequate governance
mechanisms and plural representation practices that are capable of attending the distinct demands
of diverse society layers. Thus, this article is aimed to present how the Brazilian democratic
representation works, exploring its conflicts and deployments and mainly its divergences in relation
to the democratic morality that presupposes the existence of gradated ways to the reaching of
higher social and political equality levels, closer to the general global justice ideas.
5. Terceiro Setor e Direitos Sociais no Brasil dos anos 1990: Cidadania de quem para quem? - Vitor
Bella Lorente (FESPSP)
Resumo: O presente trabalho refere-se a uma abordagem do conceito de cidadania no Brasil a partir
da reforma gerencial do Estado brasileiro que se deu durante a década de 1990, relacionado com a
ascensão do terceiro setor e suas consequências em outras áreas da política, como democracia,
políticas públicas e direitos sociais. A hipótese aqui defendida é a de que o terceiro setor,
representado principalmente por Organizações Não Governamentais (ONGs) e Organizações da
Sociedade Civil com Interesse Público (OSCIPs), distorce o conceito de cidadania e redimensiona o
papel do cidadão dentro da sociedade, deixando de lado a busca pela consolidação de direitos
imputando à cidadania uma noção de caridade.
Para tanto, a pesquisa norteou-se por um referencial teórico a respeito de como a cidadania é
concebida em seus sentidos políticos e sociais e tem como eixo central a ideia da consolidação e luta
por direitos, tendo como autor chave T. H. Marshall e sua concepção de cidadania baseada numa
linha histórica de consolidação de diferentes tipos de direitos. Estruturada num método qualitativo,
a presente pesquisa fora realizada a partir de observações participantes e entrevistas com
profissionais do "Rotary Club" (ONG internacional) e do "ABA Holiness" (pequeno grupo de
voluntários que atuam com crianças carentes e tentam ainda consolidar-se como uma ONG).
6. Direitos Humanos e Proteção Ambiental: Ações Políticas Indígenas contra os Projetos de
Adaptação e Mitigação dos Impactos das Mudanças Climáticas - Vladimir Bertapeli (FCLAr – UNESP)
Resumo: Os impactos causados pelas mudanças climáticas têm levado governos e instituições
internacionais a discutirem medidas geradoras de ações adaptativas ou de mitigação. No entanto,
constatamos que muitas dessas decisões têm sido prejudiciais às populações indígenas. Estes, por
conseguinte, passaram a se organizar e atuar politicamente frente às medidas tomadas pelos órgãos
institucionais encarregados de pensar os impactos causados pelas mudanças do clima da Terra.
Nesse sentido, a presente comunicação tem o propósito de discutir as decisões tomadas pelos
governos e organizações internacionais para as mudanças climáticas, bem como o impacto daquelas
aos direitos humanos dos povos ameríndios.
08 de novembro (Sexta-feira)
9h – Mesa 10: A atualidade da teoria sociológica: debates em torno de experiências de pesquisa - sala 65
1. CANÇÃO CAIÇARA: A Poesia do Cotidiano - Aline Alves da Silva (Universidade Católica de Santos)
Resumo: O presente trabalho teve como objetivo verificar a constância do aparecimento do
cotidiano na poesia das canções caiçaras, bem como as causas e relevância deste fenômeno literário
no cenário de resgate cultural que tem se formado junto à população tradicional estudada. A
metodologia utilizada para abordagem do tema proposto foi a pesquisa qualitativa, com entrevistas
temáticas, que coletam dados sobre a participação do entrevistado no tema escolhido. Os
entrevistados foram subdivididos em dois grupos: tradicionais e influências. Por meio das perguntas
elaboradas, foi possível realizar um recorte de toda a pesquisa de campo, que resultou no enfoque
da questão do cotidiano, eleita por unanimidade dos entrevistados como a principal característica da
poética caiçara. A partir disso, foi possível conferir ao trabalho um aprofundamento sobre as
possíveis causas deste registro oral tão voltado para o dia-a-dia simples do homem que planta e
pesca. Poesia do cotidiano, porque este povo canta e toca todos os dias, contando de seus
antepassados aos filhos e netos, declarando seus afetos, professando sua fé e sorrindo da lida e da
vida tão somente por meio da história em versos. E poesia no cotidiano, sobretudo, porque a poesia
extralingüística, ágrafa, é produzida pelos caiçaras em cada passo, em cada gesto, em cada verso, em
cada dia de suas vidas.
2. Entre os sonhos de futuro e o pesadelo do passado: o lugar social de Lima Barreto na Primeira
República brasileira - Fernando Matias (UNICAMP)
Resumo: Em Lima Barreto (1881-1922) vida e obra estão entrelaçadas, constituindo o substrato de
sua literatura, que é considerada uma das mais importantes da história literária brasileira.
Entretanto, a formação social deste autor carece de explicações sociológicas que iluminem sua
trajetória singular. O propósito desta comunicação é explicar sociologicamente o indivíduo Lima
Barreto. Sustentamos a hipótese de que este autor, devido a sua singular formação, introjetou a
forma social da Primeira República brasileira (1889-1930). Para realizar isto, procuramos investigar
os diários e cartas de Lima Barreto problematizando a relação entre indivíduo e sociedade, tendo
como inspiração central o método dialético desenvolvido por Karl Marx. Em nossos resultados
parciais verificamos o seguinte: Lima Barreto vivenciou dois mundos, não se identificando
totalmente em nenhum deles: em sua infância e adolescência sua formação foi perpassada por
vantagens sociais provenientes de elementos econômicos, mecanismos educacionais, bem como
pelas relações de apadrinhamento; quando adulto, sua vida foi permeada por desvantagens sociais
provenientes da pobreza, do preconceito racial e da falta de relações de apadrinhamento. Em sua
própria formação como indivíduo Lima Barreto capta e expressa ambiguidades da Primeira República
brasileira, que em seu imaginário social anunciava possibilidades de modernização e progresso, mas
em sua realidade efetiva perpetuava as relações passadas, que material e simbolicamente excluía
pobres, descentes de negros e indivíduos sem proteção de apadrinhamento. O lugar de Lima Barreto
na sociedade brasileira da Primeira República está, cremos, entre os sonhos de futuro anunciadores
da modernização e progresso social, os quais, em parte, ele viveu, e a negação disto, permeada pelo
pesadelo do passado escravocrata, excludente para descentes de negros, pobres, e indivíduos sem
apadrinhamento, exclusão que permaneceu na Primeira República com outra roupagem, e que Lima
Barreto também viveu. Se nossos resultados parciais forem válidos, acreditamos que eles são a
problemática mimética que percorre toda obra de Lima Barreto, no sentido de mimesis que nos fala
Erich Auerbach: apresentar na literatura a realidade social. Assim, poderíamos pensar como
elemento central da literatura barreteana o esforço de expor, mediante a figuração, a relação entre
as possibilidades de desenvolvimento dos indivíduos e os constrangimentos que a sociedade lhes
impõe, tomando problemas apontados pelo autor como o alcoolismo, loucura, preconceito racial,
pobreza, não como ressentimento individual, mas como aspectos sociais que podem ser verificados
encarnados na tipicidade de um indivíduo concreto.
3. Conselhos antigos para problemas contemporâneos: revisitando o Tratado sobre a tolerância
(1763) de Voltaire e a Carta acerca da tolerância de John Locke - Patrício Carneiro Araújo (PUC-SP)
Resumo: Há alguns séculos não se falava tanto em tolerância e intolerância nas sociedades
modernas. Os conflitos travados entre países, estados, grupos étnicos e religiosos trouxeram ao
cenário das discussões políticas e acadêmicas um tema comum às ciências sociais: a tolerância. No
Brasil contemporâneo, uma situação bem peculiar tem impulsionado a necessidade de se retomar as
reflexões acerca da tolerância e da intolerância: o crescimento das igrejas neopentecostais. Apoiadas
em uma compreensão fundamentalista da bíblia e em uma pregação que demoniza aqueles que não
aderem à sua doutrina, essas modalidades religiosas tem despertado em algumas religiões
historicamente estigmatizadas (afrobrasileiras) a imperiosa necessidade de recorrerem ao conceito
de liberdade de crença e de consciência, o que, novamente, evoca a discussão em torno da
tolerância e da intolerância. Esse trabalho pretende, então, retomar uma discussão que começou
ainda na antiguidade, entre gregos e romanos, e que se intensificou no período medieval, quando a
Europa católica tentava impor uma religião hegemônica, como nos parece acontecer agora com as
igrejas neopentecostais no Brasil.
4. A Teoria Valor Trabalho na Contemporaneidade: Uma análise das pesquisas sobre os
trabalhadores de serviço - Rafael Ribeiro de Almeida (FESPSP)
Resumo: A teoria do valor trabalho, hoje, na nova configuração global, entrou em crise; a ideia de
trabalho abstrato também já não se sustenta mais; a mais-valia, por sua vez, já não serve de
parâmetro para pensar o processo de trabalho; vivemos em uma sociedade pós-capitalista (ou pós-
industrial) onde a luta de classes já não é mais determinante; encontramo-nos em tal
desenvolvimento do modo de produção, que o trabalho já não é mais materialmente subordinado
ao capital. Todos esses diagnósticos teóricos hoje estão em debate. A teoria do valor – enquanto
elemento referencial para se pensar o processo de trabalho – é discutida como algo a ser
ultrapassado no campo da reflexão do cenário atual.
Teria o trabalho chegado a seu fim e, por consequência, autores que se debruçaram sobre a questão
teriam seus conceitos hoje em crise?
A pretensão desse projeto é dar uma nota quanto à comparação bibliográfica de autores, cujas
pesquisas e produções recentes abordam a análise da teoria do valor trabalho situada na dinâmica
atual do trabalho.
Nos escritos de Marx, antes de tudo, há uma denúncia da exploração do trabalho no século XIX: na
indústria o homem não trabalha pelo prazer de trabalhar, para exprimir sua “essência”, mas sim
para conseguir o mínimo de mercadoria para manter sua sobrevivência.
Criador de conceitos como “trabalho concreto” e “trabalho abstrato”, “trabalho morto” e “trabalho
vivo”, Marx, semelhante a Hegel, entende o trabalho como a mediação entre homem e natureza.
Enfim. A pergunta que fazemo-nos é: com o advento da revolução cibernética e as novas tecnologias
de comunicação, do mundo digital e da era da informação, questionamo-nos se a teoria do valor
trabalho da conta de explicar o trabalho de hoje, em um capitalismo de nova personificação. Com o
emprego formal assalariado – vigente da era taylorista e fordista – se exaurindo e dando espaço para
novas formas de trabalho, dos terceirizados, subcontratos, será necessária, devido à tamanha
transformação, a criação de novas teorias e concepções para compreender e explicar o cenário atual
do mundo do trabalho? A teoria do valor trabalho dentro dessa transformação contextual, já não
serviria como referência fundamental para entender o trabalho?
Temos pretensão de mostrar que não há a necessidade de uma nova teorização, mais ainda, que a
teoria do valor trabalho – trabalhada por autores contemporâneos – é ainda capaz de apreender e
explicar o fenômeno atual do labor. Ricardo Antunes, diante dessas indagações, situa a teoria em
uma nova dimensão, em uma nova forma, configuração, uma nova morfologia do trabalho.
Rejeitando a ideia de que a classe trabalhadora está em extinção, Ricardo Antunes trabalha com
uma noção ampliada dessa classe.
Esses autores tratam da teoria do valor trabalho exatamente dentro das discussões da nova
configuração do mundo do trabalho, no dito mundo pós-industrial, da era da revolução cibernética,
mostrando a sua vigência atual.
5. Marxismo e crítica literária em Raymond Williams - Ugo Rivetti (USP)
Resumo: Durante toda a primeira metade do século XIX a cultura inglesa foi dominada por uma
corrente intelectual que se caracterizava pela interpretação do desenvolvimento social então em
curso como uma ameaça aos “valores da cultura”. Mais precisamente, prevalecia a tendência entre
os seus grandes expoentes – F. R. Leavis, I. A. Richards e T. S. Eliot – de tomar o “desenvolvimento
dos meios de comunicação de massa e o crescimento geral das organizações de grande escala” como
momentos da sujeição da alma humana à mecanização e da consolidação de uma interação social
não mais presidida por uma “coerência homogênea e espontânea”, mas por uma “harmonia
mecânica comum”.
Em contraponto a essa perspectiva conservadora, o crítico britânico Raymond Williams (1921-1988)
propunha uma abordagem alternativa, expressamente apoiada em um referencial marxista. Para
tanto, contudo, mostrava-se necessário recusar os dois modelos de incorporação da teoria marxista
que mais prosperaram no cenário inglês da década de 1930: tanto a do “materialismo mecânico”
que supunha uma “correlação arbitrária” entre a estrutura econômica e a cultura, como a da
modalidade que supunha uma separação entre a cultura e a organização social em dois níveis
distintos. Tratava-se, ao contrário, de recuperar aquela que fora, segundo Williams, uma das grandes
conquistas teóricas de Marx, qual seja: o reconhecimento de que as práticas sociais que se
convencionou reunir sob a rubrica “superestrutura” possuem complexidade e especificidade
próprias, de modo que, quando do estudo da cultura, a referência última não deve ser a estrutura
econômica, mas o “modo de vida como um todo”, o “processo social geral” que determina tanto a
cultura como a estrutura econômica e no qual ambas se inscrevem.
A presente exposição pretende examinar a relação de Williams com essas que foram as suas duas
grandes influências – a crítica literária inglesa e a teoria marxista da cultura. Para tanto,
assumiremos como objeto de análise a crítica que Williams formula a essas duas correntes em
Cultura e sociedade (1958), texto tido consensualmente pela bibliografia especializada como uma de
suas grandes obras e na qual desenham-se pela primeiras vez as linhas gerais de uma nova teoria da
cultura (não por acaso que esse texto é tido como um dos marcos fundadores dos Estudos Culturais).
E, na medida em que nos deteremos nessa obra, examinaremos a relação que Williams estabelece
com aquelas duas correntes intelectuais na forma como ela se apresenta ali, isto é: como um debate
acerca das configurações da sociedade contemporânea. Segundo nossa hipótese, a originalidade do
empreendimento de Williams reside em compreender essa sociedade (produto do acúmulo de
transformações iniciadas no século anterior) como sociedade em vias de democratização (e não