programa de visitas ao campus da unesp-ourinhos...
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PROGRAMA DE VISITAS AO CAMPUS DA UNESP-OURINHOS:
CONHECENDO A GEOGRAFIA E SUA DIVERSIDADE i
Lucas Labigalini FUINI; Ângela Peres CRESPO; Patrícia INAGUEIFSP-campus de S. João da Boa Vista (ex-docente da UNESP-Ourinhos); UNESP-campus de
Ourinhos; UNESP-campus de OurinhosEixo temático 02: Formação continuada e desenvolvimento profissional de Professores da
Educação BásicaPROEX-Unesp
[email protected]@ourinhos.unesp.br
1. Introdução
Diante do histórico afastamento da escola em relação às universidades (vice-
versa) e dado o desconhecimento de alunos de ensino fundamental e médio sobre o que
é universidade pública e os trabalhos que nela se realizam, iniciou-se no ano de 2014,
ainda como projeto piloto, atividades de recepção de alunos no campus de Ourinhos da
UNESP.
Tal projeto, desenvolvido em 2015 com cadastro na Proex/Unesp e apoio da
coordenadoria executiva do campus de Ourinhos, teve por objetivo aperfeiçoar o trabalho
de divulgação do curso de Geografia (licenciatura e bacharelado) junto à comunidade
externa e educandos e buscar aproximar os conteúdos científicos dos escolares por meio
de palestras, oficinas e atividades práticas ambientadas nos laboratórios e salas de aula
da universidade, explorando tanto conhecimentos da Geografia humana quanto da
Geografia física, considerando a característica de interdisciplinaridade da ciência
geográfica (SANTOS, 1978, 1985, 1994, 1996).
Além da divulgação regular do vestibular da Unesp, por meio de parceria com a
Vunesp, esse projeto logrou auxiliar na divulgação do curso de Geografia da Unesp-
Ourinhos fundado em 2003, mas que tem sentido fortemente o declínio do interesse por
licenciaturas em todo o país e, por isso, há uma queda na relação de alunos candidatos
por vaga no vestibular, chegando, no vestibular Unesp/2016, a 1,3 no período diurno e
1,7 no período noturno. O curso de Geografia oferece, desde 2008, 45 vagas para o
período noturno (iniciou oferecendo vagas apenas nesse período) e 45 vagas no período
diurno, com formação e titulação em bacharelado e licenciatura.
Portanto, o presente artigo segue o método descritivo-analítico, buscando
evidenciar por meio da análise de um projeto de extensão educativo voltado às escolas
públicas, um duplo despertar de consciência: quanto à importância da formação em nível
superior e do contato com a universidade pública, desmitificando o desapreço
historicamente construído junto às licenciaturas; e quanto à construção do raciocínio
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geográfico e da consciência espacial para entendimento de diversos processos e eventos
a ocorrer nos âmbitos local, regional, nacional e global.
2. O programa de visitas ao campus
As universidades públicas e privadas têm crescentemente organizado programas
de visita aos seus campi e estruturas de cursos com interesses diversos. As particulares,
em geral, oferecem meios de transporte, lanche e materiais promocionais, além de
palestras e outras atividades, como forma de buscar convencer os estudantes à participar
de seus processos seletivos sequenciais e, ao ser aprovado, realizar matrícula em um de
seus cursos. Trazem também uma função educativa de orientação e auxílio à escolha
profissional dos jovens. Geralmente esses programas ficam concentrados no segundo
semestre. As públicas, apesar de também interessadas na divulgação de seus
vestibulares e na comunicação de seus aspectos positivos, executam também uma
atividade de extensão educativa ao se mostrarem ao público externo e ampliarem o
conhecimento sobre cursos e áreas dos conhecimentos com contato direto com
laboratórios, salas de aulas e materiais diversos dos cursos existentes.
A Unicamp realiza há mais de dez anos o UPA, “Unicamp de Portas Abertas”, no
mês de setembro. A UFSCar também realiza sua “Feira de profissões” no mês de
outubro. Há também feiras de profissões que são organizadas por editoras e reúnem
informações e materiais de uma série de universidades. A Unesp não possui um sistema
de visitas centralizado, este acaba ficando à cargo de seus cursos e unidades
universitárias. É possível também que cada parte interessada (escolas, professores,
coordenadores pedagógicos) solicite visitas específicas à laboratórios, centros e grupos
de pesquisa, mas, nesses casos, o contato ocorre de modo mais individualizado e
fragmentado, não apresentando uma visão da totalidade da área do conhecimento e da
abrangência da profissão.
A visita in loco organizada para toda a unidade universitária e o curso (estruturado
em departamentos, coordenadorias ou institutos) serve como uma espécie de choque de
realidade para alunos de ensino médio (e mesmo de fundamental) que apresentam um
horizonte de perspectivas restrito sobre a continuidade de estudos no nível superior
(sobretudo em instituições públicas, tidas como difíceis de alcançar e se manter),
contribuindo com uma visão mais sistemática da universidade e entendimento de sua
dinâmica ao buscar a formação de um raciocínio mais complexo sobre os ramos da cada
ciência e a relação entre estes.
No campus de Ourinhos as visitas ocorriam de formas esporádicas, atreladas à
projetos de extensão vinculados à laboratórios específicos, com o projeto de extensão
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“Semana de Geografia nas escolas” organizada pela prof.a Márcia de Oliveira Mello com
alunos dos estágios supervisionados. No passado tentou-se promover eventos de
visitação, como no ano de 2013 com a “Feira de profissões”, mas restritos à uma data
específica e com poucas escolas participantes por conta da capacidade de recepção. Em
experiência anterior realizou-se também uma exposição do curso na Praça Mello Peixoto,
no centro de Ourinhos, mas não foi dada continuidade a essa ação.
Em 2014, através de uma demanda captada junto às escolas e instituições onde o
coordenador do projeto realizava ações de extensão, foram organizadas visitas (ainda
que, de certo modo, improvisadas) para contato com os trabalhos dos grupos e projetos
de pesquisa e extensão os quais coordenava (GEMUG: Grupo de Estudos de Música em
Geografia e, GEDET: Grupo de Estudos sobre Dinâmicas Econômicas e Territoriais),
articulados em um grupo de pesquisa maior cadastrado no CNPq denominado DITER
(Processos e Dinâmicas Territoriais) e ao Laboratório de Geografia Humana (LAGHU).
Nessas atividades, no entanto, houve preocupação em se transmitir uma visão mais
ampla da universidade e do curso de Geografia aos alunos, com palestras de abertura
orientando sobre a Unesp, seus cursos e o vestibular, visitas panorâmicas ao campus,
contato com outros projetos e grupos, como o Cursinho e, realização de dinâmicas e
atividades didáticas com diferentes áreas da Geografia.
Outro vínculo criado foi através da participação do coordenador do projeto como
docente na divulgação do Vestibular Unesp (2014, 2015 e 2016), tendo abertura para
divulgar também o curso de Geografia e o campus de Ourinhos em escolas da região,
identificando o interesse de diversas delas em conhecer o campus.
Nesse primeiro momento, em 2014, recebemos a visita de três instituições
educativas de Ourinhos. A primeira, no mês de agosto, com o CRAS (Centro de
Referência em Assistência Social) e suas unidades I e III (da Vila S. Luiz e Vila Mano).
Trata-se de instituição parte do Sinaes (Sistema Nacional de Assistência Social) e que
atua em áreas e bairros tidos como de vulnerabilidade social e baixa renda. Esses jovens
(geralmente adolescentes, na faixa de 14 a 17 anos, um grupo de cerca de 30 atendidos),
participam de projetos educativos no período contrário ao da escola e a visita se inseriu
em uma dessas atividades de complementação da formação.
A segunda visita ocorreu no mês de novembro com a Escola Estadual Orlando
Quagliato, localizada junto à Usina de Açucar e Alcool São Luis, na zona rural de
Ourinhos. Tratou-se de um grupo de cerca de 25 alunos de ensino médio noturno, a
maioria empregados da própria usina. A terceira ocorreu no início do mês de dezembro
em parceria com a unidade de Ourinhos do Centro Paula Souza (ETEC “Jacinto Ferreira
e Sá”), um grupo de alunos dos 2º.s anos do ensino médio integrado ao ensino técnico
(ETIM, período vespertino). A visita ocorreu com um grupo de 35 alunos.
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Essas experiências iniciais foram fundamentais para o teste da rotina de
atividades de visitação, recepção do público-alvo à proposta e estreitamento de parcerias
com laboratórios, grupos de pesquisa-extensão, docentes, servidores e alunos,
fundamentando o projeto de visitação que fora desenvolvido em 2015, cadastrado junto à
Proex. Foram realizadas algumas reuniões com o núcleo coordenador, formado pelo
docente coordenador Lucas Fuini e as servidoras (assistentes de suporte acadêmico)
Ângela e Patrícia. Foram enviados convites para reuniões abertas com os demais
parceiros, mas não houve manifestações de outras partes para compor esse núcleo.
Nessas reuniões foram definidas datas semanais de visitas (às terças-feiras), quantidade
(2 visitas ao mês), forma de divulgação (por contato telefônico e site institucional),
cadastro (via formulário online conforme disponibilidade) e formato/roteiro da visita. Após
cada visita era realizada uma reunião de avaliação e aperfeiçoamento do projeto.
A disponibilidade do ônibus da Unesp sempre foi de interesse manifesto das
escolas para a visita, mas só foi possível contar com o veículo na primeira visita
realizada, em 2015, já que posteriormente uma resolução do conselho de curso e do
conselho diretor da unidade, conforme normatização da Unesp, recomendou que os
veículos oficiais fossem utilizados apenas por servidores e alunos matriculados. Nesse
sentido, a partir da segunda visita, as próprias escolas providenciaram o transporte dos
alunos junto às prefeituras ou através de fretamento, inviabilizando para outras a
realização de visitas que já haviam sido agendadas.
3. Um desafio: a baixa procura pelo curso de Geografia
A Unesp é uma instituição de ensino superior estadual, pública e gratuita com 40
anos de existência (oficialmente formada em 1976) e que traz em sua essência uma
territorialidade peculiar: ser desconcentrada espacialmente em 24 cidades, 28 campus e
34 unidades universitárias. A universidade foi formada pela unificação de diversos
institutos de ensino superior espalhados pelo Estado. Sua expansão mais recente
ocorreu a partir de 2002, com a abertura de sete unidades diferenciadas (posteriormente
transformadas em campus experimentais) em cidades de menor porte, como Ourinhos,
Tupã, Dracena e Itapeva). Essa geografia peculiar tornou a Unesp uma instituição mais
diretamente vinculada aos problemas do desenvolvimento regional e local em relação à
outras instituições do Estado e do país mais centralizadas.
Segundo dados do anuário estatístico da Unesp/2015, a universidade oferece
cerca de 134 opções de cursos de graduação (articulados em cerca de 60 profissões nas
áreas de humanidades, exatas e biológicas), 141 programas de pós-graduação
(mestrados acadêmicos e profissionais e doutorados). Possui um total de mais de 50.590
alunos, sendo cerca de 37.400 estudantes de graduação e 13.200 de pós-graduação,
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contando também com mais de 3.880 professores e 7.000 técnicos. Tem uma ampla
infraestrutura com mais de 942 mil m2 de área construída, com mais de 30 bibliotecas e
1.900 laboratórios (UNESP, 2015).
Ocupa posição entre as cinco melhores universidades do país e entre as cem
melhores do mundo (rankings internacionais) e seus cursos tem grande procura devido à
qualidade do corpo docente e às altas notas em avaliações externas (Enade e Guia do
estudante da Abril). Para ingresso nas vagas dos cursos de graduação o aluno participa
do programa Vestibular, organizado por uma fundação universitária, a Vunesp. No
vestibular Unesp/2016 foram inscritos mais de 100 mil estudantes, sendo os cursos mais
procurados os de Medicina (Botucatu) e Direito (Franca), e os de menor procura os de
Arquivologia (Marília) e Geografia (Ourinhos) (http://www.vunesp.com.br ).
Desde 2014 vigora um programa de ingresso dos alunos do ensino público
(SRVEBP) que no último vestibular destinou 35% das vagas de qualquer curso para
disputa entre estudantes que cursaram o ensino médio em escolas da rede pública ou do
Centro Paula Souza (ETECs), sendo que, desse total, 35% são destinadas às cotas
étnico-raciais (PPIs: Pretos, Pardos e Indígenas), conforme comprovação posterior à
adesão.
A esses alunos é também concedido desconto de 75% na inscrição no vestibular
mediante senha individual por aluno enviada às escolas. Trata-se de uma tentativa de
corrigir uma distorção histórica gravíssima que destina as vagas dos cursos do ensino
público superior, os mais qualificados, para alunos de classes média e alta que
conseguem custear o ensino privado de nível médio e obtém vantagens no vestibular,
tornando-o um filtro injusto e excludente a tratar como iguais um conjunto formado por
desiguais.
No entanto, mesmo com essas mudanças, ainda se coloca um cenário desafiador,
sobretudo na relação entre Unesp e alunos de escolas públicas e que somente a
divulgação do Vestibular não tem obtido êxito momentâneo: a atração e permanência de
alunos de renda inferior oriundos do ensino público em seus cursos e a baixa demanda
por alguns cursos, sobretudo as licenciaturas. No primeiro caso, há o desafio de informar
e convencer alunos para uma realidade (a universidade pública) que muitos viam como
distante e impossível, além de muitos estarem impossibilitados de se desligarem do
emprego (mesmo que pelo período de graduação). Hoje também outro desafio que se
acrescenta por conta da concorrência com outras universidades públicas federais, pelo
sistema do Enem/Sisu e pelas bolsas concedidas pelo Prouni em IES privadas.
Há a questão da permanência estudantil para alunos migrantes oriundos de
outros municípios, regiões e estados do país que parcialmente é resolvido pelo programa
de bolsas de extensão e de ensino e iniciação científica. No entanto, a evasão ainda
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ocorre por razões econômicas e extraeconômicas (inadequação com o curso, evasão por
baixo rendimento, problemas familiares) e, com o aumento do alunado formado por
estudantes do ensino público, o desafio torna-se maior pelas defasagens de
aprendizagem que muitos carregam desde o ensino fundamental.
O curso de Geografia de Ourinhos, antes mesmo da implantação do sistema de
reserva de vagas, já apresentava uma realidade de mais de 60% de seus alunos
oriundos do sistema público. No vestibular 2015, 67,8% dos alunos matriculados
ingressantes eram oriundos da educação pública. No entanto, nem todas as vagas
destinadas a esse público são mantidas preenchidas com o passar do primeiro ano. Na
cidades-posto de Ourinhos e Piraju (regiões de abrangência da divulgação do vestibular
pelo campus de Ourinhos), dos 479 alunos de escolas públicas inscritos no vestibular,
apenas 16 realizaram matricula, ou seja, 3,3%. O restante, a ampla maioria, ou não
obteve nota suficiente nas provas para aprovação ou, mesmo sendo aprovado, não fez
matrícula.
No segundo caso, no qual também o curso de Geografia de Ourinhos se coloca,
há o problema da histórica desvalorização social do professor que afeta as licenciaturas,
problema que pode ser acentuado pela localização do curso em região já servida por
outros cursos de geografia (raio máximo de 300 km de distância), como é o caso de
Ourinhos que concorre com as “geografias” de Presidente Prudente (Unesp), Bauru
(USC), UENP (Cornélio Procópio), UEPG (Ponta Grossa), UEL (Londrina), e na própria
Ourinhos com o curso de licenciatura em Geografia oferecido por uma faculdade
particular local (FIO).
Nesse cenário problemático, um grupo do campus de Ourinhos, vinculado aos
Laboratório de Geografia Humana e de Ensino, mediante experiências realizadas no ano
de 2014 vinculadas à projetos de extensão, resolveu organizar um Programa institucional
de visitas ao campus, com divulgação entre escolas públicas da região, mediante contato
com a Diretoria Regional de Ensino de Ourinhos (DERO) e diretamente com as escolas
do município. Buscou-se auxiliar, através de um trabalho de médio e longo prazo, para
um maior conhecimento e compreensão mais qualificada sobre as possibilidades (e
vantagens) de se estudar em uma universidade pública de qualidade e as
potencialidades (e oportunidades) que a formação do geógrafo oferece.
A ideia foi de contribuir para o aumento da quantidade de candidatos/vaga do
curso, atraindo alunos de escolas públicas para a Unesp e fortalecendo o contato da
instituição com a comunidade local e regional, em um processo de crescente valorização
de seu papel na sociedade como ferramenta de desenvolvimento econômico e social.
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4. As ações do projeto e parcerias
Em 2015, já como projeto de extensão e contando com o apoio institucional, o
“Programa de visitas da Unesp, campus de Ourinhos” articulou-se, inicialmente, por meio
de uma equipe de trabalho formada pelo docente coordenador (Prof. Lucas Fuini), duas
assistentes de suporte acadêmico (Ângela e Patrícia) e um bolsista de extensão
(Gabriel), realizando reuniões de planejamento, preparação e avaliação no Laboratório de
Geografia Humana (Laghu). Foi construído um site
(http://www.ourinhos.unesp.br/#!/visite-o-campus/) pela servidora Ângela para orientação
dos coordenadores de escolas interessadas, podendo-se realizar o agendamento online,
além de sido enviado um convite direto para as escolas e diretoria de ensino através de
contato telefônico e por email.
As visitas foram iniciadas com uma palestra, realizadas no auditório ou ao ar livre,
com o professor coordenador, com explicações sobre a universidade pública, a Unesp, o
Vestibular e o curso de Geografia de Ourinhos. Essas palestras foram proferidas pelo
Prof. Lucas Fuini com auxílio de vídeosiiiii e materiais de divulgação sobre a Unesp, sua
história, cursos e campus existentes e sobre o campus de Ourinhos e seu curso de
Geografia. Nesse momento inicial de palestras e orientações gerais foram também
destinados espaços ao Cursinho alternativo da Unesp-Ourinhos (Cacuo), de caráter pré-
vestibular, para apresentarem o projeto aos jovens e explicar suas concepções de
universidade pública e educação crítica e libertária.
Em seguida os alunos fizeram visitas aos Laboratórios onde ocorreu contato com
conceitos e conteúdos referentes às áreas específicas e de fronteira da Geografia
(Climatologia, Geologia, Pedologia, Cartografia, Ensino de Geografia, Problemas
ambientais e Ecologia etc) em intervenções didáticas preparadas por docentes, técnicos
de laboratório e grupos de pesquisa/extensão. Essas atividades propiciaram uma
aproximação com instrumentos de trabalho do geógrafo nas áreas de climatologia,
meteorologia, geologia, pedologia e geomorfologia e cartografia, ensino de geografia e
educação inclusiva, além de serem introduzidos a conhecimentos na área de educação
ambiental.
No Laboratório de Climatologia, sob orientação do prof. Jonas Nery e auxílio de
estagiários, os alunos compreenderam melhor a dinâmica do clima e do tempo
atmosférico e se familiarizaram com uma estação meteorológica e seus instrumentos de
medição de chuvas (pluviômetro), temperatura (termômetro de bulbo seco e úmido e de
mercúrio), do vento (anemógrafo) e da pressão do ar (barômetro). Nesse laboratório e
estação ocorreram duas visitas.
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No Laboratório de Pedologia e Geologia, sob orientação do servidor técnico
Jakson Ferreira, foram realizadas duas visitas e palestras sobre o ciclo das rochas e
introduzidos conceitos sobre tipos de rochas e mineralogia, utilidade econômica dos
minerais e rochas, além de atividades com produção de pigmentos de terra com o grupo
Colóide e seus bolsistas, sob coordenação da Prof.a Maria Cristina Perusi.
No Laboratório de Ensino foi realizada, em uma das visitas, uma apresentação
didática sobre maquetes produzidas para portadores de necessidades especiais (com
baixa visão), na área de cartografia tátil (com a delimitação da altimetria do relevo),
ministrada por alunos bolsistas sob coordenação da prof.a Carla Gimenes de Sena.
Houve também a participação, em três ocasiões, dos alunos estagiários do
Cenpea (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação Ambiental), coordenado pela
prof.a Luciene Risso, realizando palestra sobre a importância de se preservar os recursos
naturais, a formação de uma consciência sobre a sustentabilidade ambiental e o
consumo e noções de reciclagem e reuso de produtos. Ao final da atividade, os alunos
participaram de uma trilha ecológica educativa pelo campus que orienta sobre o uso
racional da água e correta destinação de resíduos sólidos.
Em último momento os alunos tiveram contato com a Biblioteca universitária e seu
acervo, atividade realizada com todas as escolas, com visitas guiadas orientadas pelos
servidores responsáveis (Marcos, o bibliotecário, Laryssa e Rafael), com explicações
sobre a importância de uma biblioteca e da leitura na formação do aluno e, ao final,
distribuição de materiais de divulgação do vestibular e dos cursos da Unesp.
O quadro abaixo, com fotos, explicita o passo a passo das visitas realizadas:
Figuras 1 e 2: palestras de recepção e boas vindas com docente coordenador e alunos doCacuo
Fonte: Ângela Peres Crespo e Patrícia Inague. Acervo do projeto.
Fotos 3 e 4: visitas monitoradas ao Laboratório e estação de Climatologia/Meteorologia eLaboratório de Geologia e Pedologia
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Fonte: Ângela Peres Crespo e Patrícia Inague. Acervo do projeto.
Figuras 5 e 6: palestras com grupos de extensão/pesquisa Cenpea e Cartografia Tátil
Fonte: Ângela Peres Crespo e Patrícia Inague. Acervo do projeto.
Figuras 7 e 8: visitação à Biblioteca universitária e deslocamento dos alunos no roteiro devisita guiada pelo campus
Fonte: Ângela Peres Crespo e Patrícia Inague. Acervo do projeto.
5. Alguns resultados
Em 2015 recebemos a visita de cinco escolas públicas estaduais e municipais nos
meses de maio, julho, agosto, setembro e outubro, em um total de 171 alunos visitantes
oriundos de 9º. Ensino Fundamental e do 1º., 2º. e 3º. do Ensino médio. Apenas uma das
escolas visitantes não foi de Ourinhos, mas da cidade vizinha de Ribeirão do Sul.
Vejamos no quadro (Quadro 1), exibindo informações coletadas durante a visita e via
questionárioiii respondido pelos docentes e coordenadores que acompanharam os alunos:
Quadro 1: Informações sobre as escolas visitantes no Programa de Visitas da Unesp-Ourinhos no ano de 2015 Data Escola Alunos Ano Idade Parcerias A visita ao campus da
Unesp e o contato com o curso de Geografia atendeu às expectativas da escola, dos coordenadores/professores e alunos
Quais atividades realizadas mais chamaram a atenção dos alunos
Em sua escola é comum realizarem atividades como esta?
07/05/15 E.E. Virgínia Ramalho
37 9 EF 14 Laboratórios de Geologia/Clima
Totalmente Visita aos laboratórios
Raramente
30/07/15 E.M.E.F. Prof. José Alves Martins
39 9 EF 14 Laboratórios de Geologia/Clima
Totalmente Visita aos laboratórios
Regularmente
18/08/15 E.M.E.F. Prof. José Alves Martins
41 9 EF 14 Cartografia Tátil Totalmente Visita aos laboratórios
Regularmente
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22/09/15 E.E. Nicola Martins Romeira
28 1 EM 15 Cenpea Totalmente Todas Regularmente
27/10/15 E.E. Profa. Josepha Cubas da Silva
29 2 e 3 EM
16/17 Cenpea Totalmente Palestra e Visita aos laboratórios
Regularmente
Fonte: da coordenação do projeto. Org.: Ângela Peres Crespo.
Deste modo, a experiência acumulada (cinco visitas em 2015 e três no ano
anterior) pode ser considerada exitosa em avaliações com os professores responsáveis e
alunos no sentido de demonstrarem interesse e passaram a ter compreensão mais sólida
sobre a universidade pública e seu papel na sociedade. Todos os responsáveis pelas
escolas visitantes responderam que as expectativas quanto ao contato com um campus
da Unesp e obtenção de conhecimento sobre o curso de Geografia foram totalmente
atendidas com a visita, a maioria captando um maior interesse dos alunos com a
visitação aos laboratórios universitários.
A maioria dos coordenadores e docentes respondeu realizar visitas e saídas
regulares para atividades de campo, mas alguns docentes, em conversas informais,
admitiram a dificuldade de se planejar tais ações em um calendário curricular anual
extenso. Soma-se a isso o fato de que no ano de 2015 ocorreram alguns eventos
imprevistos: durante os meses de abril, maio e junho muitos docentes das escolas
estaduais aderiram à greve da categoria, uma das mais longas já vistas. Outro episódio,
ocorrido no final do ano (segunda metade de novembro e início de dezembro), foi a
ocupação de algumas escolas estaduais por alunos contrários à reorganização escolar.
Além disso, há o período de recesso, feriados e semanas de provas e avaliações
externas (Saresp: Sistema de avaliação do rendimento escolar do estado de São Paulo)
que inviabilizam atividades extra-classe.
Além disso, surgiram dificuldades quanto ao tempo exíguo das visitas que muitas
escolas dispunham (geralmente foi de 2 horas por conta do horário do ônibus) e
dificuldades de se organizar saídas e dispor de meios de transporte aos alunos. Uma das
escolas visitadas sugeriu também que fosse feito um intervalo durante a visita para
lanche dos alunos, já que estes acabam perdendo o horário da merenda escolar. Em
alguns casos a euforia dos alunos também tardou em dissipar, com a necessidade do
palestrante interromper a explicação para angariar a concentração dos alunos. A maioria
deles estava visitando um campus de universidade pública pela primeira vez.
As escolas visitantes, exceto a de Ribeirão do Sul, ocupam áreas de periferia no
município de Ourinhos ou atendem a alunos dessas áreas, conforme evidencia o mapa
abaixo (Figura 9). São geralmente alunos mais carentes de acesso à bens culturais e
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científicos e, portanto, a visita pode funcionar como “porta de entrada” em um universo
desconhecido, o do ensino superior público e o da pesquisa científica em alto nível.
Figura 9: Mapa de localização das escolas visitante do “Programa de visitas da Unesp-Ourinhos” em 2014 e 2015.
Fonte: QGIS, Googlemaps e pesquisa da coordenação. Org.: Ângela Peres Crespo.
Há também o desafio interno referente ao conhecimento geográfico quando
buscamos explorar suas diferentes áreas em perspectiva sintética, em se tratando de um
saber muito antigo e epistemologicamente complexo (MORAES, 2002). Recorreu-se ao
trabalho já desenvolvido por grupos de pesquisa e extensão do próprio campus e
materiais disponíveis, a fim de dar aos alunos uma visão da Geografia como a ciência a
estudar o espaço, uma totalidade resultante da ação do homem em sociedade
transformando a natureza, o espaço como morada do homem (LACOSTE, 1988;
CORRÊA, 1995).
6. Considerações finais
O objetivo do “Programa de visitas à Unesp-Ourinhos”, realizado durante o ano de
2015, foi o de demonstrar o caráter de ciência interdisciplinar da Geografia e suas
dimensões educativas, da licenciatura, e técnicas, associadas ao bacharelado, além de
trabalhar com a ideia de educação para transformação e emancipação por meio do
acesso e permanência no ensino público superior e gratuito.
Através das ações desse projeto de extensão educativo foi possível constatar que
ainda existem barreiras que separam e afastam o universo acadêmico, e o conhecimento
que dele emana, do universo escolar e os diversos formatos de apropriação de saber que
ele permite. Sendo a Geografia uma ciência ao mesmo tempo acadêmica e escolar,
buscamos desenvolver roteiros de visitação que permitissem considerar a diversidade e
função social da Unesp e a totalidade interdisciplinar do conhecimento geográfico, com
estratégias de mediação pedagógica por meio do contato in loco com instrumentos,
materiais e conceitos de uso comum do profissional geógrafo.
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Ao final, foi possível constatar que há um longo caminho a percorrer para
aproximar universidade e comunidade local/regional, sobretudo aquela mais sensível e
interessada nos cursos e na formação oferecidos em nível superior, que é a população de
alunos das escolas de educação básica. Esse projeto constituiu em um primeiro passo
para reverter uma situação de declínio da procura por cursos de licenciatura, em especial
o de geografia, e buscar oferecer maiores esclarecimentos à alunos do ensino público
sobre as oportunidades cada vez maiores de acesso ao ensino superior público gratuito.
Pois, como destaca Moreira (1994), a geografia deve buscar explicar a dinâmica da
sociedade no espaço para além das aparências, falando de homens concretos travando
relações concretas.
7. Referências CORRÊA, Roberto L. Espaço, um conceito-chave da Geografia. In: CASTRO, Iná. E., et al.,Geografia: conceitos e temas. RJ: Bertrand, 1995, p. 309-352.LACOSTE, Yves. A geografia: isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. Campinas: Papirus, 1988. MELLO, Guiomar. N. Transposição didática, interdisciplinaridade e contextualização. Consultado
em <http.://namodemello.com.br>, 2013. Acesso em: 19 nov. 2013.MORAES, Antonio C. R. Geografia: pequena história crítica. SP: AnnaBlume, 2003. MOREIRA, Ruy. O que é geografia. 14ª. Ed. SP: Brasiliense, 1994.SANTOS, Milton. Por uma Geografia nova: Da crítica da Geografia a uma Geografia crítica. SP:
Edusp, 1978. SANTOS, Milton. Espaço e método. SP: Nobel, 1985.
____________. Técnica, espaço e tempo: globalização e meio técnico-científico informacional. SP:Hucitec, 1994.
______________. A natureza do espaço: Técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec,1996.
UNESP. Guia de Profissões: formação em todas as áreas do conhecimento. SP: Edunesp, 2013. UNESP. Anuário Estatístico 2015. SP: Fundação Editora da Unesp, 2015. 344 p. Disponível em: <https://ape.unesp.br/anuario/pdf/Anuario_2015.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2016. UNESP. Você sabia? (Did you know?). SP: Edunesp, 2013.VUNESP. Vestibular 2016: divulgação. CD-ROM. SP: Vunesp, 2015.
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i Este artigo corresponde a um projeto de extensão cadastrado junto à Pró-reitoria de extensão da Unesp (Proex) edesenvolvido durante o ano de 2015.
ii Esses materiais estão disponíveis no site geral da Unesp (http://www.unesp.br/) e no site da Vunesp(http://www.vunesp.com.br). Todas vídeos foram também disponibilizados para consulta no site do programa de visitas(http://www.ourinhos.unesp.br/#!/visite-o-campus/).
iii Tentou-se implantar um questionário online mais detalhado a ser respondido por alunos e docentes no site do projeto(http://www.ourinhos.unesp.br/#!/visite-o-campus/), mas, mesmo mediante contatos e solicitações via email, nenhum dosvisitantes logrou responder ao projeto. Portanto, todas as informações obtidas foram coletadas in loco e sistematizadasposteriormente.
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