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PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO: GESTÃO, INTERNACIONALIZAÇÃO E LOGÍSTICA VINÍCIUS CASTANHO KLEINERT Itajaí 2019

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  • PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO: GESTÃO, INTERNACIONALIZAÇÃO E LOGÍSTICA

    VINÍCIUS CASTANHO KLEINERT

    Itajaí 2019

  • UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO:

    GESTÃO, INTERNACIONALIZAÇÃO E LOGÍSTICA

    VINÍCIUS CASTANHO KLEINERT

    ACORDO DE QUOTISTAS E A ASSIMETRIA DE INFORMAÇÕES

    ITAJAÍ 2019

  • VINÍCIUS CASTANHO KLEINERT

    ACORDO DE QUOTISTAS E A ASSIMETRIA DE INFORMAÇÕES

    Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Administração: Gestão, Internacionalização e Logística da Universidade do Vale do Itajaí, como requisito à obtenção do título de Mestre em Administração. Orientador: Prof. Dr. Jeferson Lana

    ITAJAÍ 2019

  • VINÍCIUS CASTANHO KLEINERT

    ACORDO DE QUOTISTAS E A ASSIMETRIA DE INFORMAÇÕES

    Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de Mestre em Administração e aprovada pelo Curso de Mestrado Profissional em Administração: Gestão, Internacionalização e Logística da Universidade do Vale do Itajaí,

    Área de Concentração: Gestão

    Itajaí, 21 de novembro de 2019.

    ____________________________________________________ Profa. Dra. Dinorá E. Floriani Coordenadora do Programa

    Banca Examinadora:

    ____________________________________________________ Prof. Dr. Jeferson Lana UNIVALI – Orientador

    ____________________________________________________ Prof. Dra. Rosilene Marcon

    UNIVALI

    ____________________________________________________ Prof. Dr. Rafael Guilherme Burstein Goldszmidt

    FGV

    ____________________________________________________ Sr. Daniel Zen

    CEO RODA – Notório Saber

  • Dedico este trabalho à minha família, minha base.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeço ao meu pai, meu maior incentivador no mestrado. Motivou-me a

    fazer o curso, auxiliou-me de todas as maneiras possíveis, leu meus experimentos,

    sofreu junto comigo pelas dificuldades, estando sempre ao meu lado, como fez em

    toda minha vida.

    Agradeço à minha mãe, uma guerreira que não se entrega jamais. Esteve do

    meu lado nos momentos mais difíceis da vida e não poderia ser diferente nesses

    últimos dois anos. Ao meu irmão, por ser alto e mais feio do que eu, isso ajuda muito

    na minha autoestima, obrigado, Seco!

    Ao meu amor, minha noiva, minha polaca. Muito obrigado pela compreensão

    durante esta caminhada!

    Ao Dr. Jeferson Lana, meu orientador. Além de ter proposto desafios que

    tornaram esta caminhada muito mais instigante, tornou-se um grande parceiro. Que

    sorte a minha!

    À Dra. Rosilene Marcon e à Dra. Dinorá Floriani, agradeço imensamente

    todos os ensinamentos durante esta jornada.

    Ao Programa de Pós-Graduação, Mestrado Profissional em Administração

    Gestão, Internacionalização e Logística da Universidade do Vale do Itajaí e aos

    professores, pelo seu apoio e orientação.

    A todos os integrantes do escritório Guero & Coelho Advogados, pelo auxílio

    e paciência durante o mestrado, em especial ao Msc. Wagner Coelho, grande

    incentivador e apoiador do meu trabalho.

    Aos colegas do PMPGIL, que foram meus companheiros durante os trabalhos

    e projetos.

    Às pessoas que participaram com suas estimadas contribuições, pelo total

    apoio e participação no desenvolvimento.

    Quanto à natação, ah, essa merece um pequeno destaque. O esporte me

    ensinou muita coisa nesta vida. Foram praticamente 20 anos dedicados à “causa” e,

    dentre todos os ensinamentos, o mais importante foi aprender a perder. Talvez,

    nessas duas décadas de dedicação eu tenha perdido mais de 95% das vezes –

    mesmo fazendo parte da seleção brasileira absoluta de natação – sendo possível

    demonstrar que não haveria evidências para refutar a hipótese de que o esporte

    (para mim) foi derrota (p

  • Sim, o esporte ensina muitas outras coisas, desde disciplina – retratada por

    treinos com início às 04:45 nas manhãs geladas de Porto Alegre – como coragem –

    ao ter que enfrentar semanas de 80 quilômetros de piscina mesmo com os ombros

    por um fio. Mas a lição mais marcante é a derrota. Você perde praticamente todos os

    dias, de todas as maneiras, nos mais diversos locais, pelos mais variados motivos e,

    com o tempo, percebe como isso foi bom. Pois no momento em que você aprende a

    perder, você perde o medo de tentar.

    Fatos como perder um campeonato brasileiro, sendo favorito em casa, aos 14

    anos de idade, na frente de pais e amigos, ou perder provas classificatórios por

    apenas um centésimo após anos de treino e, na próxima segunda-feira, estar de

    novo na água, treinando, acabam ensinando essa lição. Eu devo muito ao esporte e

    só me resta agradecer aquilo que ele me tornou. No mínimo, se eu errar, tento de

    novo.

  • I shall either find a way, or make one. (Hannibal)

  • RESUMO

    O presente estudo apresenta uma análise da relação entre a assimetria de informações e a composição de um Mecanismo Interno de Governança Corporativa (MIGC), o acordo entre sócios, com foco nas empresas Limitadas (LTDA). O racional por trás do acordo consiste na possibilidade de alinhar as diretrizes societárias e empresariais, reduzindo, dessa forma, as assimetrias e os conflitos existentes entre os principais de uma empresa. Para perfectibilizar o estudo desse instrumento, a pesquisa delimita-se ao universo das empresas LTDAs com Acordo de Quotistas (AQ). Para tanto, utiliza-se o método misto, a partir de um estudo de caso qualitativo e uma etapa quantitativa com o uso de survey experiment, partindo da análise de diferentes dimensões que englobam um acordo entre sócios, testadas em situações controladas, objetivando identificar a influência das assimetrias de informações na composição de um AQ. Dentre os principais resultados encontrados e, destacando a APLICABILIDADE desse estudo, afere-se a possibilidade de identificar quais cláusulas tendem a ser positivadas em um AQ quando (não) houver assimetrias entre os principais. Quanto a sua REPLICABILIDADE a pesquisa pode ser destinada, com pequenas adaptações, ao estudo de cenários de nichos empresariais, como a empresa familiar, startups, empresa com sócio estrangeiro, dentre outras, o que poderá proporcionar uma correta percepção da composição do acordo entre sócios dentro dessas firmas. Por fim, o estudo apresenta INOVATIVIDADE ao passo que realiza uma análise sobre o um MIGC para empresas LTDAs, capaz de regular as relações entre principal-principal. Palavras-chave: Acordo de Quotistas. Governança Corporativa. Assimetria de Informações. Empresas LTDAs.

  • ABSTRACT

    This study presents an analysis of the relationship between the asymmetry of information and the composition of an Internal Corporate Governance Mechanism (ICGM), the shareholder agreement, focused on Limited Companies (LTD). The rationale of the shareholder agreement is the ability to align corporate and partnership guidelines, thereby reducing the asymmetries and conflicts in the relationship among principals. In this research, the object of study is LTD companies with the Quotaholder Agreement (QA). Thus, the mixed method is used, based on a qualitative case study and a quantitative stage with the use of survey experiment, starting from the analysis of different dimensions that compose a QA, tested in controlled situations, aiming to identify the influence of asymmetries of information on the composition of a QA. Among the main results found and, highlighting the APPLICABILITY of this study, it is possible to identify which clauses tend to be positive in a QA when there are (or not) asymmetries between the principals. Regarding its REPLICABILITY, the research can be performed, with minor adaptations, to study niche scenarios such as family business, startups, companies with foreign partners, among others, which may provide a correct perception of the composition of the agreement between business partners. Finally, the study presents INOVATIVITY while analyzing the one ICGM for LTD companies, capable of regulating the principal-principal relationships. Keywords: Quotaholder Agreement. Corporate Governance. Asymmetry of Information. LTD Companies.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 – Sistema legal fraco ............................................................................. 29

    Figura 2 – Base teórica do acordo de quotistas .................................................. 41

    Figura 3 – Escala Likert proposta para o experimento ........................................ 60

    Figura 4 – Objetivos e soluções apresentadas e relevância do estudo ............... 88

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 – Mecanismos de externos de governança corporativa ...................... 26

    Quadro 2 – Índice do Acordo de Acionistas ......................................................... 37

    Quadro 3 – S/A x LTDA ....................................................................................... 42

    Quadro 4 – Adaptação das dimensões de Carvalhal (2012) ............................... 49

    Quadro 5 – Cenários do experimento de controle ............................................... 51

    Quadro 6 – Experimentos realizados com cenários negativados ........................ 53

    Quadro 7 – Experimentos realizados com cenários positivos ............................. 55

    Quadro 8 – Design de pesquisa .......................................................................... 61

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 – Matriz de correlação ................................................................................ 71

    Tabela 2 – Skewness e kurtosis ................................................................................ 73 Tabela 3 – Resultados da ANOVA para o Cenário 1 ................................................. 74

    Tabela 4 – Resultados da ANOVA para o Cenário 2 – Q2 ........................................ 76

    Tabela 5 – Resultados da ANOVA para o Cenário 2 – Q2 (competitividade) ........... 78

    Tabela 6 – Resultados da ANOVA para o Cenário 3 – Q4 ........................................ 80

    Tabela 7 – Resultados da ANOVA para o Cenário 4 – Q5 ........................................ 82

    Tabela 8 – Resultados da ANOVA para o Cenário 4 – Q6 ........................................ 83

    Tabela 9 – Resultados da ANOVA para o Cenário 5 – Q7 ........................................ 85

  • LISTA DE ABREVIATURAS

    GC Governança Corporativa

    IBGC Instituto Brasileiro de Governança Corporativa

    OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

    MPE Micro e Pequenas Empresas

    LTDA Limitada

    AQ Acordo de Quotistas

    AA Acordo de Acionistas

    S/A Sociedades Anônimas

    MIGC Mecanismos Internos de Governança Corporativa

    MEGC Mecanismos Externos de Governança Corporativa

  • SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 16

    1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMA DE PESQUISA ...................................... 16

    1.2 OBJETIVOS ......................................................................................................... 18

    1.2.1 Objetivo geral .................................................................................................. 18

    1.2.2 Objetivos específicos ..................................................................................... 18

    1.3 RELEVÂNCIA CIENTÍFICA E PRÁTICA ............................................................. 18

    1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO ............................................................................ 19

    2 A PROBLEMÁTICA E O ESTADO DA ARTE ....................................................... 20

    2.1 TEORIA DA AGÊNCIA ........................................................................................ 20

    2.2 GOVERNANÇA CORPORATIVA ........................................................................ 24

    2.2.1 Origens da GC ................................................................................................. 24

    2.3 MECANISMOS EXTERNOS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA .................... 26

    2.3.1 Características dos mecamismos externos de GC ..................................... 26

    2.3.2 Sistema legal ................................................................................................... 27

    2.4 MECANISMOS INTERNOS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA ..................... 30

    2.4.1 Conselho de Administração .......................................................................... 30

    2.4.2 Política de bônus ............................................................................................ 32

    2.4.3 Estrutura de propriedade ............................................................................... 32

    2.5 ACORDO DE ACIONISTAS – SISTEMA LEGAL BRASILEIRO ......................... 33

    2.5.1 Estudos internacionais sobre Acordo de Acionistas .................................. 35

    2.5.2 Acordo de acionistas no Brasil ..................................................................... 36

    2.6 ACORDO DE QUOTISTAS ................................................................................. 39

    2.6.1 Acordo de Quotistas – contextualização e estudos na área ...................... 40

    2.7 HIPÓTESES DE PESQUISA ............................................................................... 43

    3 METODOLOGIA ..................................................................................................... 45

    3.1 NATUREZA E TIPO DE PESQUISA ................................................................... 45

    3.1.1 Fase qualitativa ............................................................................................... 45

    3.1.1.1 Estudo de caso ..................................................................................... .........46

    3.1.2 Fase quantitativa ............................................................................................. 47

    3.1.2.1 Survey experiment ......................................................................................... 47

    3.1.2.2 Coleta dos dados ........................................................................................... 60

    3.1.2.3 Variáveis de estudo ....................................................................................... 60

    3.1.2.4 Procedimentos, instrumentos e técnicas de análise de dados ...................... 62

  • 4 DESENVOLVIMENTO TEÓRICO E PRÁTICO DA SOLUÇÃO E DA APLICAÇÃO DO ESTUDO DE CASO .................................................................................... 64

    4.1 EMPRESA SCHWADERER CORRETORA DE SEGUROS ............................... 64

    4.1.1 Os sócios ......................................................................................................... 65

    4.1.2 O problema ...................................................................................................... 66

    4.1.3 Da implementação do acordo de quotistas .................................................. 68

    4.1.4 Resultado do AQ ............................................................................................. 70

    4.2 SURVEY EXPERIMENT ...................................................................................... 70 4.2.1 Estatística descritiva ...................................................................................... 71

    4.2.2 Pressupostos da Análise de Variância ......................................................... 72

    4.3 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA SURVEY EXPERIMENT ............................. 73

    4.3.1 ANOVA – Cenário 1 ......................................................................................... 73

    4.3.2 Análise dos resultados – Cenário 1 .............................................................. 75

    4.3.3 ANOVA – Cenário 2 ......................................................................................... 76

    4.3.4 Análise dos resultados – Cenário 2 – Q2 ..................................................... 78

    4.3.5 Análise dos resultados – Cenário 2 – Q3 ..................................................... 79

    4.3.6 ANOVA – Cenário 3 ......................................................................................... 79

    4.3.7 Análise dos resultados – Cenário 3 – Q4 ..................................................... 81

    4.3.8 ANOVA – Cenário 4 ......................................................................................... 82

    4.3.9 Análise dos resultados – Cenário 4 – Q5 ..................................................... 84

    4.3.10 Análise dos resultados – Cenário 4 – Q6 ................................................... 85

    4.3.11 ANOVA – Cenário 5 ....................................................................................... 85

    4.3.12 Análise dos resultados – Cenário 5 – Q7 ................................................... 86

    4.4 SOLUÇÕES AOS OBJETIVOS DO ESTUDO E SUA RELEVÂNCIA ................. 87

    5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 89

    REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 92

    APÊNDICES .............................................................................................................. 98

    APÊNDICE A – Survey Experiment ........................................................................ 99

  • 16

    1 INTRODUÇÃO

    Este capítulo contextualiza o tema da pesquisa, o problema e os objetivos,

    sua relevância para o mundo acadêmico, bem como sua necessidade empírica para

    a gestão das empresas. Por fim, é apresentada a estrutura do trabalho.

    1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMA DE PESQUISA

    Os antecedentes teóricos da Teoria da Agência apontam a existência de

    conflitos derivados de assimetrias de interesse e de informação nas organizações.

    Nesse sentido, mecanismos de governança corporativa (GC) surgem para mitigar

    tais assimetrias. Mas qual mecanismo de GC seria o mais adequado para uma

    empresa Ltda? Ou ainda, qual mecanismo tem condições de ser implementado de

    acordo com a realidade dessas empresas? E, por fim, assimetrias existentes entre

    principais de uma empresa podem, ou não, influenciar na composição desse

    mecanismo e, consequentemente, na gestão da empresa?

    Desse modo, este estudo apresenta o Acordo de Quotistas (AQ) como um

    Mecanismo Interno de Governança Corporativa (MIGC) para empresas LTDAs,

    analisando a assimetria de informações existente entre os sócios e o seu

    consequente impacto para composição do AQ. Entretanto, para se compreender a

    relevância desta análise, é importante assimilar uma sensível mudança acontecendo

    na estrutura de propriedade das empresas, de modo geral, no último século.

    Nesse contexto, os estudos de Berle e Means (1932) constataram a alteração

    na formatação das companhias e o consequente aumento da complexidade dos

    fenômenos empresariais. Essa alteração é representada pela impossibilidade de o

    principal da empresa deter o controle sobre todos os setores desta, obrigando-o a

    delegar funções executivas a agentes.

    Observa-se a continuidade no desenvolvimento da ideia inicial proposta por

    Berle e Means (1932) – a relação entre principal e agente – no estudo de Jensen e

    Meckling (1976), os quais solidificaram a Teoria da Agência. Nesse estudo, os

    autores demonstraram que os conflitos entre principal-agente são

    preponderantemente originados da assimetria de informações e interesses

    existentes entre eles.

  • 17

    Entretanto, no trabalho de Young et al. (2008) percebe-se a quebra desse

    paradigma. Os autores demonstram a preponderância de conflitos em países

    emergentes, originados da relação principal-principal. Esse fenômeno surge a partir

    da estrutura das firmas, em que a propriedade é concentrada e os negócios têm

    características familiares, sistema legal que não resguarda os direitos dos acionistas

    minoritários. Consequentemente, cria-se um novo campo para conflitos, ainda que

    este não seja exclusivo de países emergentes (CALABRÒ; CAMPOPIANO; BASCO,

    2017).

    Dessa forma, os conflitos de agência originados da assimetria de informações

    e interesses servem de base para o estudo do fenômeno ora observado – a relação

    entre os sócios e a composição do AQ. Esse acordo representa um MIGC, destinado

    a mitigar conflitos entre sócios com o objetivo de reduzir a assimetria de informações

    entre os principais das empresas LTDA e fornecer, dessa forma, maior clareza para

    a sua gestão. A motivação para o estudo desse MIGC corresponde às necessidades

    observadas na realidade brasileira.

    Estudos demonstram que conflitos observados entre sócios ocorrem, via de

    regra, em países com sistema legal de baixa proteção aos direitos dos acionistas,

    bem como devido à concentração da estrutura de propriedade (MUTLU; PENG;

    ESSEN, 2015; PENG; SAUERWALD, 2013).

    Nesse sentido, segundo o ranking do Banco Mundial (2019), o Brasil somou

    4.1 pontos na escala de proteção dos direitos legais dos acionistas minoritários em

    2018, estando atrás de países como Azerbaijão, Nigéria e Gana. Essa pontuação

    varia de 1 a 7, sendo 1 para desprotegido e 7 para totalmente protegido. O país vem

    perdendo diversas posições no ranking desde 2007, caindo da 46ª posição para a

    62ª, em 2018.

    Por outro lado, o universo das empresas Ltda. corresponde à quase totalidade

    de companhias existentes no cenário nacional e engloba desde pequenas até

    grandes empresas. Dessa forma, estudar um MIGC capaz de ser implementado em

    empresas com essas características parece fazer sentido, tanto do ponto de vista

    acadêmico quanto no âmbito profissional.

    Desse modo, através de um estudo de caso e uma survey experiment,

    objetivou-se demonstrar a relevância do acordo de quotistas como mecanismo de

    GC, além de analisar de que forma as assimetrias de informações entre principais

  • 18

    alteram a percepção de importância da composição de cláusulas no acordo entre

    sócios.

    1.2 OBJETIVOS

    Colocado o problema de pesquisa, propõe-se o objetivo geral e os objetivos

    específicos.

    1.2.1 Objetivo geral

    Este estudo tem como objetivo geral analisar a relação entre a assimetria de

    informações e a composição de cláusulas em um Acordo de Quotistas.

    1.2.2 Objetivos específicos

    a) Demonstrar o Acordo de Quotistas como um mecanismo de Governança

    Corporativa.

    b) Identificar as principais cláusulas presentes em acordos entre sócios.

    c) Relacionar a assimetria de informações entre sócios com a percepção de

    necessidade de elaboração de cláusulas em um Acordo de Quotistas.

    1.3 RELEVÂNCIA CIENTÍFICA E PRÁTICA

    Em um país que anseia pela fomentação do desenvolvimento econômico e os

    empresários carecem da devida preparação para gerir seus negócios, realizar um

    estudo sobre GC para LTDAs torna-se instigante, ainda mais diante das relevantes

    taxas de mortalidade das empresas. Conforme o Sebrae (2016), no biênio 2012-

    2014 a taxa de sobrevida das empresas brasileiras foi de 23,4%.

    Sendo assim, neste estudo, a principal motivação do pesquisador é a busca

    por um mecanismo de GC viável e capaz de ser implementado dentro da realidade

    de qualquer empresa LTDA. Para tanto, pretende-se demonstrar, a partir de um

    estudo de caso, os efeitos de um acordo entre sócios em uma empresa LTDA. Além

    disso, realizar uma análise entre as assimetrias de informações e a percepção da

    importância na composição do AQ auxilia a compreensão do MIGC e sua utilidade,

  • 19

    que não se limita às sociedades anônimas (S/A). Nesse sentido, entende-se

    necessário explorar esse gap de pesquisa, caracterizando o AQ como uma

    ferramenta de Governança Corporativa relevante para empresas LTDAs, além de

    ser ainda pouco explorada pela academia brasileira e internacional.

    Outrossim, a partir deste estudo, empresas LTDAs e seus sócios poderão

    aplicar os resultados aferidos a fim de implementar e/ou adequar seus acordos sob a

    ótica da GC. Além disso, poderão compreender algumas das cláusulas dispostas

    nesses acordos como um risco calculado. Dessa forma, além de fornecer

    contribuições científicas, este trabalho visa a utilidade prática de seus resultados.

    1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO

    O estudo está estruturado em cinco capítulos. Após este capítulo introdutório,

    o capítulo 2 traz a fundamentação teórica, relacionando-a aos principais temas

    abordados neste trabalho: a Teoria da Agência, a Governança Corporativa, seus

    mecanismos externos e internos, o Acordo de Acionistas e o Acordo de Quotistas.

    O terceiro capítulo apresenta os procedimentos metodológicos utilizados para

    desenvolver a pesquisa, a coleta e análise de dados, que serão realizados por meio

    de um estudo de caso único e a aplicação de uma survey experiment.

    O capítulo 4 demonstra o procedimento pelo qual o estudo de caso foi

    desenvolvido. Na sequência, são apresentados os resultados do estudo de caso e

    da survey experiment.

    O quinto capítulo apresenta as conclusões, as limitações do estudo, sua

    relevância, aplicabilidade e replicabilidade e, por fim, as sugestões para pesquisas

    futuras.

  • 20

    2 A PROBLEMÁTICA E O ESTADO DA ARTE

    Neste capítulo é abordada a teoria relacionada aos temas deste estudo. De

    início, apresenta-se a Teoria de Agência, cujo foco está na relação entre principal e

    agente e nos conflitos de agência provenientes das assimetrias de informações e

    interesses.

    A seguir é abordada a Governança Corporativa, suas origens, características

    e mecanismos. Por fim, discorre-se acerca do acordo entre sócios de empresas

    LTDAs.

    2.1 TEORIA DA AGÊNCIA

    A economia moderna sustenta que os seres humanos agem de forma

    racional, buscando decisões ótimas, que resultem em benefícios próprios, os quais

    nunca serão saciados (JENSEN; MECKLING, 1976; SMITH, 1776). Na mesma

    seara, Stigler (1981, p. 48) afirma, na conclusão de seu estudo: “I have presented

    the hypothesis that we live in a world of reasonably well-informed people acting

    intelligently in pursuit of their self-interests”1.

    A compreensão dessa premissa básica, corroborada pelos estudos seminais

    brevemente expostos – reforça-se: o homem econômico é egoísta, pensa no seu

    próprio interesse e age de forma racional para maximizar seus resultados (SEN,

    1992) – é fundamental para se entender a motivação desta dissertação. Por meio

    desta pesquisa, pretende-se contribuir, em vias acadêmicas e empresariais, com a

    demonstração de um mecanismo de redução de conflitos de agência. Restando

    claro esse ponto, o caminho pela teoria deve ser realizado de forma mais conexa.

    Nesse contexto, não há como falar em conflitos sem resgatar a Teoria da Agência.

    Means e Berle (1932) explicam, em seu estudo, que a complexidade das

    atividades industriais, que estava sendo experimentada à época, já não mais

    permitia que o proprietário (principal) de uma empresa pudesse ter ingerência em

    todas as áreas da firma. Assim, percebeu-se a necessidade de delegar funções a

    terceiros, que tomariam as decisões em seu lugar.

    1 Tradução livre: “Eu apresentei a hipótese de que nós vivemos em um mundo de pessoas razoavelmente bem-

    informadas, agindo inteligentemente na busca dos seus próprios interesses”.

  • 21

    Há, então, a percepção do encontro de dois “homens econômicos”, em

    posições distintas dentro de uma mesma empresa, com objetivos dissemelhantes e

    particulares. Nessa nova configuração empresarial, os conflitos começaram a

    efervescer entre os donos das empresas e seus agentes, sendo denominados pela

    academia de conflitos de agência.

    Referida denominação surgiu de forma mais clara a partir do trabalho seminal

    de Jensen e Meckling (1976). Os autores caracterizam os relacionamentos de

    agência como “um contrato onde uma ou mais pessoas – o principal – engaja outra

    pessoa – o agente – para desempenhar alguma tarefa em seu favor, envolvendo a

    delegação de autoridade para a tomada de decisão pelo agente” (apud: JENSEN;

    MECKLING, 1976 apud SAITO; SILVEIRA, 2008, p. 2).

    Assim, o que gera os conflitos de agência são dois principais aspectos: a

    assimetria de interesses (MARTINEZ, 1998) e a assimetria de informações

    (EISENHARDT, 1989) entre principal e agente. Essas assimetrias ocorrem pela

    impossibilidade de a relação entre as partes ser gerida por um contrato perfeito,

    devido ao fato de o contexto dos negócios ser caracterizado pela atmosfera da

    incerteza (KLEIN, 1983).

    Jensen e Meckling (1976) discorrem da mesma forma sobre os custos que

    são gerados em razão da assimetria de interesses e informações entre principal e

    agente. De tal modo, o trabalho colabora com uma nova acepção da empresa,

    analisando o relacionamento entre os agentes (os tomadores de decisões) e os

    principais (os que delegam e confiam as decisões a terceiros) e o impacto desses

    conflitos na gestão da firma.

    Instituída a Teoria da Agência por Jensen e Meckling (1976), observou-se a

    necessidade de testar e contrapor, de forma prática, as consequências e custos dos

    conflitos de agência. O primeiro estudo empírico nesse sentido (MORCK;

    SHLEIFER; VISHNY, 1988) aferiu a relação entre a concentração de ações das

    empresas nos agentes e o valor de mercado dessas companhias. O trabalho foi

    baseado em duas hipóteses: convergência de interesses (JENSEN; MECKLING,

    1976) e entrincheiramento (DEMSETZ, 1983).

    A hipótese de convergência de interesses, do estudo de Jensen e Meckling

    (1976) defende que, quanto maior for o número de ações em posse dos gestores,

    maior será o valor da firma, visto os interesses estarem alinhados. O

    entrincheiramento, por sua vez, defende que, quanto maior for o número de ações

  • 22

    sob domínio de um gestor, menor será o valor de mercado da empresa, visto o

    agente estar receoso quanto às suas tomadas de decisões e buscar somente sua

    manutenção no cargo.

    Utilizando-se da amostra de mais de 350 empresas da lista da Fortune 500, o

    estudo de Jensen e Meckling (1976) identificou que diferentes níveis de percentuais

    de ações sob controle do agente representavam uma variação diferente no valor de

    mercado da firma. Com até 5% das ações sob seu controle, a relação se mostrava

    positiva, assim como quando o gestor detinha mais de 25% dos papéis da

    companhia. Todavia, a pesquisa demonstrou que, quando os gestores possuíam

    entre 5% e 25% das ações, a relação se tornava negativa.

    Morck et al. (1988) interpretaram o resultado no primeiro nível (até 5%) como

    um incentivo ao gestor para aumentar o valor da empresa a fim de conquistar maior

    participação nas ações, incorrendo na convergência de interesses. Quando o

    percentual estava entre 5% e 25%, tornava-se latente o entrincheiramento dos

    gestores, porém, ao chegar a 25%, essa hipótese perdia força, para dar lugar,

    novamente, à convergência de interesses.

    Dessa forma, a concentração de ações nos gestores da companhia

    acarretaria em menor assimetria de interesses, ocasionando um maior valor da firma

    (JENSEN; MECKLING, 1976). Por outro lado, pesquisas apontam que a solução

    para a redução dessa assimetria seria a dispersão da propriedade da empresa,

    objetivando a alienação dos papéis da companhia para acionistas externos

    (MORCK; SHLEIFER; VISHNY, 1988).

    O que a academia observa, de forma inequívoca, é o fato de que a estrutura

    de propriedade da firma se reflete nos custos de agência e nos conflitos

    experimentados por esta. Desse modo, deve-se atribuir significativa atenção aos

    custos gerados pelos conflitos de agência. Jensen e Meckling (1976) os definiram

    como a soma de:

    a) custos de criação e estruturação de contratos entre principal-agente;

    b) dispêndios relacionados à necessidade de monitorar as atividades dos

    gestores;

    c) custos derivados do próprio agente destinados a demonstrar ao principal

    que suas tomadas de decisões lhe são benéficas;

  • 23

    d) perdas inerentes às divergências entre os objetivos do principal e as

    decisões do agente, que culminam em diminuição da riqueza aferida pelo

    primeiro.

    Esses estudos auxiliam a compreender os custos de agência, em que o

    principal deve realizar o melhor controle de seus agentes, a fim de evitar maiores

    perdas. Ou seja, quanto maior for o capital destinado ao controle dos conflitos de

    agência, menores serão os prejuízos para a empresa (JENSEN; MECKLING, 1976).

    Entretanto, alguns estudos demonstram que os custos relativos aos oportunismos

    dos gestores representam, em diversas ocasiões, valores menos significativos do

    que os próprios custos de monitoramento destes (HANSMANN, 1988).

    Modular os custos de agência decorrentes dos conflitos percebidos entre

    principal-agente é uma tarefa particular de cada empresa e nesse sentido, deve ser

    observado caso a caso. Sob esse prisma, Milgron e Roberts (1992 apud

    BIALOSKORSKI NETO; BARROSO; REZENDE, 2012) demonstram que, se o

    agente apresentar características avessas à tomada de risco, contratos com

    remuneração variável substanciada no cumprimento de metas podem servir como

    ferramenta ideal para alinhar os interesse deste com os do principal.

    Entretanto, ainda que o interesse dos pesquisadores para com a análise do

    fenômeno de conflitos de agência permaneça focado na relação principal-agente

    (RENNER; SCHMEDDERS, 2015), a nova conjuntura empresarial, consubstanciada

    na pluralidade de sócios, reflete a quebra desse paradigma, inclinando os estudos

    mais recentes para o conflito entre os acionistas das empresas (PENG;

    SAUERWALD, 2013; YOUNG et al., 2008).

    Nesse sentido, a academia percebe que os conflitos entre sócios incidem em

    custos de agência e devem ser objeto de atenção dentro das companhias. A

    principal característica desses conflitos provém, principalmente, da relação entre

    acionistas minoritários e majoritários, em que estes buscam expropriar direitos

    daqueles (JOHNSON et al., 2000). Johnson et al. (2000) identificam, ainda, que as

    riquezas dos minoritários podem ser expropriadas por diversos mecanismos

    propostos pelos acionistas controladores.

    Dessa forma, em busca da redução dos conflitos de agência, intensificam-se

    estudos relacionados à GC e seus diferentes mecanismos. Estes podem ser

  • 24

    classificados como mecanismos internos – aqueles que provêm de dentro da firma –

    e externos – que a influenciam e se originam externamente a ela.

    Desse modo, nas seções subsequentes à Governança Corporativa (origem e

    aplicação) serão abordados os Mecanismos Internos e Externos e sua relação de

    interdependência, com foco no Sistema Legal.

    2.2 GOVERNANÇA CORPORATIVA

    A Governança Corporativa apresenta-se como um conjunto de mecanismos

    que objetivam profissionalizar a gestão da empresa, de maneira a dirimir os conflitos

    evidenciados pela Teoria da Agência, com foco principal na redução das assimetrias

    de informações e de interesses. Assim, nesta seção será abordada a origem da GC

    e seus mecanismos internos e externos, com foco no sistema legal.

    2.2.1 Origens da GC

    Os anos de 1970 foram decisivos para o início da GC na forma como é

    reconhecida e difundida no universo acadêmico.

    O evento que fez surgir o tema deu-se em 1972, nos Estados Unidos, quando

    veio à tona o Escândalo de Watergate, que culminou na renúncia do então

    presidente americano Richard Nixon. Nas investigações encabeçadas por jornalistas

    do Washington Post, restou comprovado, além de outros crimes, que empresas

    americanas realizaram doações ilegais à campanha de Nixon. Estes fatos resultaram

    no desenvolvimento da Lei Foreign Corrupt Practices Act (FCPA) pelo governo

    americano, no ano de 1977, com o propósito de coibir práticas similares e combater

    a corrupção.

    Ainda que a FCPA fosse efetiva em determinados aspectos, mostrou ser uma

    lei falha e com diversas brechas, que permitiram, por exemplo, que casos como o da

    Enron fossem possíveis. Entretanto, a vanguarda norte-americana reagiu e, em

    2002, a Lei Sarbanes-Oxley implementou, no ordenamento jurídico americano,

    diversas obrigações legais oriundas dos preceitos da GC.

    A referida Lei está dividida em 11 capítulos, contando com 69 artigos. Nestes,

    ela dispõe normativas destinadas a coibir práticas fraudulentas de empresas listadas

    na Securities and Exchange Comission, equivalente à Comissão de Valores

  • 25

    Mobiliários brasileira. Com isso, aumentaram as obrigações e o controle de

    informações relativas à condução dos negócios, administração financeira,

    escriturações contábeis e gestão/divulgação das informações.

    Todavia, por mais que a solidificação legislativa americana aconteça no

    século XXI, já havia diretrizes de boas práticas de GC estabelecidas por instituições

    internacionais antes disso. Nesse sentido, o primeiro código de GC oficial foi

    desenvolvido em 1999, pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento

    Econômico (OCDE), sendo consubstanciado pelo aval de grandes instituições como

    o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional.

    O referido código defendia, entre outros aspectos, os direitos dos acionistas

    minoritários, o tratamento igualitário entre estes e os majoritários, a função de cada

    uma das partes interessadas, a necessidade da divulgação e transparência dos

    balanços e as responsabilidades do conselho de administração.

    Em 2013, o Brasil tornou-se signatário da Convenção sobre o Combate da

    Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais

    Internacionais da OCDE, inspirada na FCPA, sancionando o compromisso

    internacional através da Lei 12.846/2013 (BRASIL, 2013). O texto legal dispõe sobre

    a responsabilização administrativa e civil de pessoas jurídicas, em decorrência de

    práticas de atos ilícitos contra administração pública, nacional ou estrangeira

    (SANTOS JÚNIOR; PARDINI, 2013). Esta Lei inseriu, no ordenamento jurídico

    pátrio, as primeiras obrigações e consequências legais relacionadas aos princípios

    dispostos da GC.

    No contexto acadêmico, a GC surge com o objetivo de apresentar respostas e

    proposições para os conflitos observados pela Teoria da Agência (JENSEN;

    MECKLING, 1976). Com vistas a diminuir as assimetrias de interesses e de

    informações, os estudos sobre GC começaram a apresentar diversas possibilidades

    e mecanismos à firma, com o objetivo de proporcionar um melhor alinhamento da

    empresa com a gestão profissional.

    Entretanto, ainda que os mecanismos de GC sejam amplamente

    reconhecidos, de forma positiva, como controle e gestão da empresa, resultando em

    maior eficiência, estudos já demonstraram que em situações específicas tais

    mecanismos podem resultar em maiores prejuízos às companhias que os adotam.

    Essen et al. (2013), em sua pesquisa sobre a crise econômica de 2008,

    demonstraram que empresas europeias que instituíam mecanismos de GC sofriam

  • 26

    mais com os efeitos da recessão econômica, visto que tomadas de decisão que

    deveriam ser mais ágeis enfrentavam entraves para serem aprovadas pelo Conselho

    de Administração e outros mecanismos. Isso impedia que os gestores tivessem a

    autonomia exigida em situações emergenciais.

    Com essa ressalva, apresenta-se adiante os mecanismos externos e internos

    de GC.

    2.3 MECANISMOS EXTERNOS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA

    O senso comum indica que o ensaio teórico sobre mecanismos de GC se

    inicie pelos mecanismos internos de GC (MIGC). Entretanto, para uma correta

    compreensão deste estudo, considera-se necessário iniciar pelos mecanismos

    externos de GC (MEGC).

    2.3.1 Características dos mecanismos externos de GC

    Aguilera et al. (2015) evidenciam que os MEGC são utilizados/aclamados

    quando os MIGC falham. Ou seja, quando a GC interna da empresa não

    sustenta/explica as boas práticas de GC necessárias para a gestão da empresa,

    entram em cena os MEGC.

    O estudo de Aguilera et al. (2015) identifica seis mecanismos externos de GC:

    mídia, mercado de controle (compras hostis de empresas), agências avaliadoras de

    risco, auditoria externa, ativismo dos stakeholders e sistema legal. Cada um destes

    possui seu efeito específico, conforme demonstrado no quadro 1.

    Quadro 1 – Mecanismos de externos de governança corporativa

    MECANISMO EXTERNO CARACTERÍSTICAS

    MÍDIA – atua com a função de monitoramento, agindo como um verdadeiro cão de guarda da companhia (BEDNAR, 2012); – a influência desse MEGC pode afetar a segurança no cargo dos executivos, a remuneração destes e, ainda, a composição do conselho de administração da empresa (BEDNAR, 2012); – utilizada da forma adequada, a mídia pode ser uma forte aliada no aumento de valor da empresa (DAINES; GOW; LARCKER, 2010); – coberturas negativas da mídia podem não ter influência significativa sobre os rendimentos recebidos pelos CEOs (GUAY; CORE; LARCKER, 2001);

  • 27

    MERCADO DE CONTROLE

    – entra em cena quando o valor de mercado da companhia está abaixo da sua realidade; – surge a percepção de agentes externos da empresa com a intenção de adquirir a empresa de forma hostil, alterando seu controle acionário de forma abrupta (DENIS; MCCONNELL, 2003); – trabalhos apontam que as compras hostis não são formas baratas de tomar o controle de uma empresa, bem pelo contrário, representam uma atitude que envolve altas quantias financeiras para serem concretizadas (WILLIAMSON, 1970);

    AGÊNCIAS AVALIADORAS DE RISCO

    – diminuem a assimetria de informações entre gestores e principais, sancionando atitudes ilegais e impedindo atitudes contrárias aos interesses destes (BEDNAR, 2012); – tendem a influenciar diretamente na composição do conselho de administração e na compensação do executivos, a partir de um esforço da empresa de demonstrar sua legitimidade ao mercado e suas boas práticas de gestão (AGUILERA et al., 2015);

    AUDITORIA EXTERNA – objetiva diminuir a assimetria de informações, particularmente focando nas relações entre principais; – no Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) determina o rodízio das auditorias obrigatórias das S/A de capital aberto a fim de evitar qualquer tipo de distorção nos dados, resultando na defesa dos interesses de acionistas minoritários (BUENO et al., 2018); – os resultados obtidos a partir da auditoria externa melhoram as tomadas de decisões do board, os quais possuem melhores informações dos negócios da companhia, gerando maior retorno e valor de mercado para a firma (AGUILERA et al., 2015); – age como um agente moderador das atividades dos gestores (DESENDER et al., 2013).

    ATIVISMO DOS STAKEHOLDERS

    – identificado pelas pressões realizadas por agentes externos à firma, com a finalidade de alterar políticas de gestão e finanças da empresa; – esse ativismo pode provir de acionistas minoritários, os quais utilizam-se de sua posição perante o quadro acionário da empresa para exercer pressão em busca de seus objetivos (SJÖSTRÖM, 2008).

    Fonte: Adaptado de Aguilera et al. (2015).

    O sistema legal será abordado em seção própria, em face de sua relevância

    para a compreensão deste trabalho.

    2.3.2 Sistema legal

    Como último MEGC a ser abordado, resta elencar o sistema legal. E não se

    fez isto por acaso, visto influenciar de forma direta as diretrizes de GC de uma

    empresa, bem como possuir papel fundamental para a compreensão do objeto de

    estudo.

  • 28

    Conforme Shleifer e Vishny (1997), os mecanismos de GC e sua real

    eficácia/aplicabilidade tendem a ser diretamente relacionados com o grau de

    proteção jurídica do país. Ou seja, quanto menor proteção jurídica o país oferecer,

    menor será a eficácia/validade dos mecanismos de GC.

    Para tanto, é importante demonstrar estudos que apontam, sob a ótica da GC,

    países com baixa proteção legal, assim como estudos comparativos entre países

    regidos pelo ordenamento jurídico da common law versus demais sistemas legais e

    suas principais consequências em suas respectivas companhias.

    Os estudos na área iniciaram a partir de uma perspectiva que objetivava

    analisar os custos e benefícios das legislações e as alternativas em relação aos

    direitos dos investidores (GROSSMAN; HART, 1988).

    La Porta et al. (1998) realizaram estudo comparativo entre empresas situadas

    em países regidos pelo common law, direito francês, germânico e escandinavo

    (sendo estes últimos três englobados no sistema da civil law). A análise contou com

    observações de empresas pertencentes a 49 países, fugindo da linearidade das

    pesquisas da época, que abordavam Estados Unidos, Japão e Alemanha, e vindo a

    focar na observação dos efeitos das leis governamentais de proteção aos

    investidores.

    Como conclusão, o estudo identificou que países oriundos do sistema jurídico

    da common law possuem maior proteção aos investidores do que países de civil law,

    impactando diretamente na estrutura de propriedade dessas empresas. Cabe

    ressaltar que o civil law, oriundo do direito francês – do qual o Brasil bebe da fonte –

    mostrou ser o menos eficaz na proteção dos direitos de investidores/acionistas. Esse

    fator justifica a grande diferença entre o número de empresas listadas nas bolsas de

    valores daqueles países, em comparação ao do sistema jurídico da common law.

    La Porta, Lopez-De-Silanes e Shleifer (1999) demonstraram que em países

    com sistema legal enfraquecido há maior concentração de propriedade nas

    companhias, o que resulta em conflitos entre acionistas, preponderantemente

    majoritários e minoritários. La Porta et al. (1999) ainda contrariam as conclusões de

    Means e Berle (1932), atestando que, diferentemente do proposto por estes (os

    quais tinham como objeto de pesquisa empresas norte-americanas), firmas que

    estão inseridas em países com baixa proteção legal aos acionistas tendem a

    apresentar maior concentração de propriedade.

  • 29

    No entanto, outros estudos demonstram que, em países com o sistema legal

    fraco, uma maior concentração de propriedade surge como uma resposta positiva

    para a firma, representando maior segurança aos seus negócios (PENG;

    SAUERWALD, 2013).

    Um interessante aspecto do trabalho de Peng e Sauerwald (2013) diz respeito

    ao fato de que, em países com sistema legal satisfatório, a propriedade dispersa

    acaba por vezes prejudicando o gerenciamento da empresa. Neste caso, torna-se

    desejável a presença de pelo menos um acionista que se destaque dos demais em

    relação às ações, devendo ser necessariamente ativo na fiscalização da firma.

    O sistema legal fraco está representado na figura 1.

    Figura 1 – Sistema legal fraco

    Fonte: Adaptado de La Porta et al. (1999).

    Além da constatação de que o sistema legal pode alterar a estrutura de

    propriedade da firma, suas consequências superam o previamente exposto.

    Armitage et al. (2017) pesquisam sobre os efeitos e consequências da GC em

    países emergentes. Os autores identificam que países como a Índia já determinam

    que 2% do lucro líquido de empresas de capital aberto devem ser aplicados

    diretamente em práticas ligadas à responsabilidade social da empresa. Ou seja,

    Sistema Legal Fraco

    Concentração de

    Propriedade

    Conflitos entre P-P

  • 30

    alguns países estão buscando combater o vazio institucional, a partir das

    obrigatoriedades legais, interferindo diretamente na GC. Mais especificamente,

    pode-se citar o relacionamento das firmas com stakeholders, auditorias, mídia e

    conselho fiscal.

    O sistema legal ainda tende a influenciar na composição do conselho de

    administração das empresas (AGUILERA et al., 2015), mecanismo interno a ser

    abordado em sequência. Nesse sentido, o sistema legal pode regular o número de

    conselheiros, a necessidade de conselheiros independentes e suas

    responsabilidades civis e penais. Também pode afetar os incentivos individuais e a

    capacidade de gestores de exercerem a função de monitoramento, podendo

    influenciar na substituição do próprio gestor, no caso de este deixar de cumprir seus

    deveres (MARCEL; COWEN, 2014).

    O sistema legal rege as práticas e obrigações das empresas onde estão

    inseridas, ofertando as dimensões práticas tangíveis da governança da firma, como

    restrições e permissibilidades, influindo desde o conselho de administração,

    contabilidade e auditoria, responsabilidade social, dentre outros âmbitos. De tal

    sorte, o sistema legal pode gerar, além de entraves à GC da empresa, ferramentas

    que podem ser úteis, tornando-se efetivamente novos mecanismos para sua gestão.

    2.4 MECANISMOS INTERNOS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA

    Os MIGC podem ser identificados como sendo os clássicos na gestão da

    firma. Eles são identificados como conselho de administração, política de bônus,

    estrutura de propriedade e auditoria interna da empresa (AGUILERA et al., 2015;

    BUENO et al., 2018; MORCK; SHLEIFER; VISHNY, 1988), tornando-se o primeiro

    passo na instauração da GC no ambiente empresarial. Esses mecanismos

    representam objetos de estudo pela academia e serão abordados nas próximas

    subseções.

    2.4.1 Conselho de Administração

    Segundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC, 2015):

  • 31

    O Conselho de Administração (CA) representa o órgão colegiado incumbido do processo decisório de uma organização em razão de seu direcionamento estratégico. Ele exerce o papel de guardião dos princípios, valores, objeto social e sistema de governança da organização, sendo seu principal componente

    O CA, sua composição e sua relação direta com a performance da firma são

    os mais evidentes dentre os mecanismos internos abordados nos estudos de GC,

    não somente na academia brasileira, mas também em âmbito internacional

    (BEZERRA et al., 2015; LIU et al., 2015).

    Conforme o código de boas práticas do IBGC (2010), o CA deve ser

    composto por membros com vasta expertise em diversas áreas, com no mínimo

    cinco e no máximo 11 componentes, primando sempre pela composição ímpar e

    com a presença de conselheiros independentes. O mesmo instituto aponta, ainda,

    diversas funções cabíveis aos conselheiros de administração, com destaque ao

    direcionamento estratégico da empresa, o controle e fiscalização das diretorias e o

    fortalecimento contínuo das competências organizacionais.

    Conforme Brennan (2006), dentre todas as responsabilidades do CA, as que

    mais merecem destaque são as decorrentes das estratégias da companhia, como o

    monitoramento efetivo dos gestores e a representação externa da empresa frente a

    terceiros – uma espécie de prestação de contas aos stakeholders.

    Entretanto, o referido trabalho de Brennan está contextualizado em uma

    realidade diversa da evidenciada no Brasil. A Lei 6.404/76 (BRASIL, 1976), mais

    conhecida como a Lei das S/A, determina que os conselheiros de administração

    devam agir de forma independente, tomando sempre a melhor decisão para a

    companhia. Desse modo, seus atos fiscalizatórios de gestão e estratégia da

    empresa devem ser motivados pelas suas convicções pessoais, tendo, inclusive,

    responsabilidade direta sobre estes.

    Entretanto, neste país atravessa-se um ambiente de intensa insegurança

    jurídica (HAIDAR, 2019). Nesse sentido, a própria Lei das S/A, através dos §§ 8º e

    9º do art. 118 (instituídos pela Lei 10.303/2001), determina a obrigatoriedade de

    vinculação de votos do CA (BRASIL, 2001). Isto significa que os conselheiros de

    administração eleitos por um determinado grupo de sócios devem votar de acordo

    com os interesses daqueles que os elegeram.

    Dessa forma, a lei vincula o voto do conselheiro de administração a um

    determinado sócio ou grupo de sócios, fazendo-o perder sua autonomia na decisão

  • 32

    e, assim, comprometendo a tomada de decisão ideal. Ainda, caso entenda que

    determinado voto poderá prejudicar a empresa, ou até mesmo a sua pessoa física (a

    qual poderá responder judicialmente pelos atos), e, dessa forma, o conselheiro

    decida por votar de forma contrária ao grupo eleitor, este voto deverá ser anulado,

    devendo os sócios eleitores suprirem o voto contrário.

    A partir desse quadro, é possível ter uma noção da latente insegurança

    jurídica existente no Brasil. Porém, a própria Lei das S/A prevê outros mecanismos

    legais que auxiliam na diminuição desses vazios institucionais. Um destes

    mecanismos será amplamente abordado na seção 2.5, qual seja, o Acordo de

    Acionistas (AA).

    2.4.2 Política de bônus

    A política de bônus, já alvo do estudo de Jensen e Meckling (1976),

    representa a busca pela diminuição da assimetria de interesses entre principal-

    agente através de incentivos financeiros. Nesse sentido, o controlador da empresa

    determina metas e objetivos a serem alcançados e, em contrapartida, cria uma

    política de remuneração significativa para seus gestores.

    Aguiar e Pimentel (2017) analisaram dados de 333 empresas listadas na B3,

    entre 2011 e 2015. Em suas hipóteses, propuseram-se a medir o desempenho

    financeiro e valor de mercado da empresa com relação ao nível de remuneração dos

    gestores da companhia, bem como a influência de percentual de remuneração de

    curto e longo prazo na performance da firma. Na análise do percentual de

    remuneração de longo prazo os resultados se mostraram inconclusivos. Entretanto,

    os autores aferiram relação positiva quando compararam o nível e o percentual de

    remuneração de curto prazo com o desempenho financeiro e o valor de mercado da

    empresa.

    2.4.3 Estrutura de propriedade

    A estrutura da propriedade das firmas pode ser determinada a partir da

    concentração da posição acionária e pela identidade do principal. A concentração

    diz respeito ao número de ações em propriedade do acionista majoritário ou de um

    determinado grupo (CAMPOS, 2006). Means e Berle (1932) demonstraram pela

  • 33

    primeira vez as relações entre a estrutura de propriedade e o desempenho da firma.

    Os autores identificaram uma relação inversa entre a pulverização da concentração

    de propriedade empresarial e o desempenhado da firma, dentro das grandes

    corporações dos Estados Unidos.

    Trabalhos como os de Jensen e Meckling (1976) reforçaram os debates sobre

    a necessidade de se compreender a separação entre poder, gestão e,

    consequentemente, estrutura de propriedade. Enquanto alguns estudos afirmam

    haver estruturas de propriedade ideais, outras pesquisas evidenciam que não há

    estrutura de propriedade perfeita, mas sim um conjunto de esforços, estabelecidos

    pelo contexto competitivo, influência dos stakeholders, know-how dos proprietários,

    entre outros (KANG; SØRENSEN, 1999). Grande parte desses estudos foi

    devidamente abordada na seção 2.1.

    2.5 ACORDO DE ACIONISTAS – SISTEMA LEGAL BRASILEIRO

    O Acordo de Acionistas (AA) representa um instrumento firmado entre sócios

    de uma empresa, para alinhar seus interesses individuais, a fim de estabelecerem

    normas sobre a companhia da qual fazem parte, de forma a harmonizar suas

    relações ao compor os interesses societários (LIMA, 2017). Analisando-se a

    natureza jurídica do AA, este se apresenta como um pacto de natureza parassocial,

    firmado pelos principais de uma companhia. Esse pacto é autônomo e não se

    confunde com os atos constitutivos da empresa, tais como o contrato social e o

    estatuto (CARVALHOSA, 2003). Desse modo, o AA age como determinante das

    relações societárias e empresariais, englobando todos os MIGC.

    Com previsão legal no art. 118 da Lei das S/A (BRASIL,2001), o AA não

    determina grandes exigências para deter validade jurídica, devendo tão somente ser

    arquivado na sede da companhia. Caso os sócios desejem que o acordo provoque

    efeito perante terceiros, deverão averbá-lo nos livros públicos da empresa.

    Este instituto já era utilizado pelas empresas antes mesmo da edição

    legislativa. Dessa forma, ansiava-se que o legislador dispusesse preceitos legais

    para determinar sua validade, a fim de aumentar a segurança jurídica relativa ao

    instrumento.

    Cabe ressaltar que o texto legal não representa um rol taxativo das

    disposições possíveis dentro de um AA. Configura, de fato, um rol exemplificativo, o

  • 34

    que permite que a confecção de um AA represente um mecanismo capaz de

    englobar diversas diretrizes da empresa e do relacionamento entre seus sócios.

    Contudo, deve ser observada a norma geral para a validade de qualquer

    negócio jurídico, disposta no art. 104 do Código Civil brasileiro (BRASIL, 2002). O

    texto legal define que o contrato deverá cumprir três requisitos: a) agente capaz; b)

    objeto lícito, possível, determinado ou determinável; e c) forma prescrita ou não

    defesa em lei.

    Sendo assim, de nada adianta firmar um AA em que o signatário seja um

    menor impúbere, ou qualquer outro sujeito incapaz de praticar os atos da vida civil.

    Da mesma forma, determinar objetos ilícitos dentro de um AA não surtirá qualquer

    efeito jurídico. Quanto ao inciso III do art. 104 (BRASIL, 2002), salienta-se que o AA

    não possui forma prescrita em lei (somente para a validade de seus efeitos), sendo

    convencionadas às partes sua forma e redação. Respeitando as disposições legais

    prelecionadas, o AA ministra força legal quanto às disposições nele contidas.

    Em relação às características práticas dos AA, estas podem ser classificadas

    como Acordos de Gestão, Acordos de Poder de Decisão e Acordos de Defesa

    (FINKELSTEIN; PROENÇA, 2014). Os Acordos de Gestão estabelecem, entre os

    acionistas signatários, o poder de decisão sobre a escolha/destituição dos gestores

    da empresa. É uma ferramenta utilizada por acionistas/investidores que condiciona o

    aporte de capital na possibilidade de elencar os gestores da empresa, a fim de que

    estes cumpram com seus objetivos.

    Para exemplificar, utiliza-se o caso da Usiminas, em que os dois grupos

    controladores da companhia – de um lado, o grupo ítalo-argentino Ternium-Techint,

    e do outro, os japoneses da Nippon Steel & Sumitomo Metal Corporation –

    discordavam quanto à escolha do CEO e do chairman do CA da companhia desde o

    ano de 2014. No começo de 2018, os acionistas chegaram a um consenso,

    estabelecendo no AA da empresa um padrão de controle de gestão, determinando

    rodízio bienal nas escolhas do CEO da empresa e chairman do CA.

    Acordos de Poder de Decisão dizem respeito à possibilidade de um grupo ou

    acionista deter a “última palavra” em casos pré-definidos no acordo. Como é de

    conhecimento notório, o governo brasileiro possui participação acionária em diversas

    empresas listadas na B3. Uma destas é a Vale, sobre a qual o governo possui um

    importante mecanismo de controle, denominado Golden Share. Com essa ação de

    ouro, o estado brasileiro detém o poder de decisão de diversas diretrizes da

  • 35

    empresa, tendo a possibilidade de agir de forma a preservar os interesses nacionais

    nessa importante companhia, ainda que não possua a maioria das ações ordinárias

    – aquelas que dão direito ao voto.

    Acordos de Defesa possuem disposições que fornecem garantias aos

    acionistas, principalmente aos minoritários. Em muitos AA, elas estão dispostas

    através da possibilidade de voto em bloco de um grupo de minoritários, ou ainda, a

    possibilidade de determinadas matérias serem aprovadas somente com um quórum

    qualificado ou até unânime dos sócios.

    Ainda, observa-se que grande parte das empresas possui mais de um

    objetivo dentro de seus AA, sendo estes considerados como acordos gerais.

    2.5.1 Estudos internacionais sobre Acordo de Acionistas

    Nesta subseção objetiva-se contextualizar os AA no cenário internacional, a

    partir de estudos acadêmicos. Importa compreender que a permissão de utilização

    desse instrumento depende da legislação de cada país. E tal permissibilidade não é

    vista somente no Brasil.

    Baglioni (2011) realizou um estudo empírico sobre a presença dos acordos de

    acionistas em empresas italianas da primeira década dos anos 2000, a fim de

    compreender sua influência sobre o poder de voto dos sócios. O autor identificou

    que os acordos auxiliam a incrementar o poder de voto do majoritário quando seu

    poder está muito baixo, o que poderia afetar o devido controle pelos gestores da

    empresa. O autor observou ainda que os acordos servem para diminuí-lo, nos casos

    em que o poder está muito concentrado, para impedir que este sócio se aproveite

    indevidamente da empresa.

    Ainda no velho continente, estudos demonstram que 8% das empresas

    possuem AA, sendo que estes acordos aparecem de forma mais incisiva na Itália e

    Bélgica (CAPRESSE; CLERC; BECHT, 2007). É possível aferir AA em

    multinacionais de diversos países, como França, Finlândia, Grécia, Espanha, Suécia

    e Holanda, com as mais diversas cláusulas. Como exemplo, a controladora da

    empresa finlandesa Kona possui disposto em AA o direito de indicar um diretor para

    o conselho (CAPRESSE; CLERC; BECHT, 2007).

    Estudos demonstram que empresas norte-americanas também aplicam os AA

    em suas relações sociais/empresariais. Conforme Gomes e Novaes (2006), em uma

  • 36

    amostra aleatória de 115 empresas de capital aberto nos Estados Unidos, 53 delas

    dispunham de AA, representando 46% da amostra. O estudo ainda verificou que as

    cláusulas mais presentes nos acordos discorrem sobre direitos do conselho,

    disposições de poder de veto e acordo de voto.

    Barbi Filho (2001) identifica que, em diversos países da América do Sul, como

    na Argentina, Bolívia, Chile e Uruguai, o sistema legal permite a utilização do acordo

    entre sócios ainda que não haja previsão legal para tanto. O autor complementa

    que, na Inglaterra, país que, como os Estados Unidos da América, é regido pela

    common law, os acordos são amplamente aceitos e válidos, possuindo, inclusive,

    força legal maior que a dos próprios estatutos sociais.

    O AA não representa uma inovação do sistema jurídico brasileiro, sendo

    amplamente aceito e aplicado por empresas de diversos países. Entretanto, o objeto

    de pesquisa repousa sobre solo brasileiro, e o foco da próxima subseção será a

    análise de estudos dos acordos realizados entre sócios no cenário nacional.

    2.5.2 Acordo de acionistas no Brasil

    Estudos com enfoque nos AA demonstram um considerável aumento no uso

    desse instrumento por empresas brasileiras de capital aberto (CARVALHAL, 2012).

    Gorga e Gelman (2012) relatam que, além da maior presença desses acordos,

    predominam cláusulas vinculadas ao voto dos conselheiros de administração –

    comentadas na subseção anterior – que acabam por prejudicar as suas atividades,

    ao passo que as disposições esvaziam o poder decisório do CA – um dos principais

    pilares da GC.

    Silva et al. (2015) apontam que o AA pode ser utilizado de forma a aumentar

    as desigualdades em uma empresa, enquanto acionistas majoritários podem vir a

    expropriar direitos dos minoritários. Essas constatações foram reveladas a partir de

    um levantamento feito pelos autores em 551 empresas brasileiras de capital aberto,

    no período de 1999 a 2013, que buscou comparar a estrutura/concentração de

    propriedade com a presença de AA.

    Os autores concluíram que, em empresas onde havia um sócio majoritário

    (mais de 51% das ações), a presença desses acordos era mínima, justificando a

    desnecessidade de tal instrumento em razão de esse principal já possuir o controle

    da companhia. Entretanto, firmas com três grandes sócios tendem a influir

  • 37

    positivamente na presença dos AA, ao passo que estes sócios necessitam dessa

    união para controlar a firma, tornando-se os chamados pooling agreements das

    empresas norte-americanas (BARBI FILHO, 2001).

    Outro importante achado do estudo de Silva et al. (2015) diz respeito à

    complexidade desses acordos, por meio dos quais empresas com propriedade

    dispersa tendem a firmar AA mais completos. Ou seja, a dispersão exige que as

    diretrizes sejam mais especificas, para facilitar a gestão da firma.

    Carvalhal (2012) estudou os AA em empresas de capital aberto, com duas

    vertentes a serem destacadas. Num primeiro momento, o trabalho buscou aferir a

    qualidade dos AA das empresas listadas na B3. O autor desenvolveu 24 perguntas,

    a serem respondidas pelos próprios acordos, sendo que a resposta negativa

    representava 0, e a positiva 1. Estas perguntas são detalhadas no quadro 2.

    Quadro 2 – Índice do Acordo de Acionistas

    Transferência de Ações

    1. O acordo não contém o direito de preferência? 2. O contrato não contém opções de venda? 3. O contrato não contém opções de compra? 4. O contrato não contém direitos de tag-along? 5. O contrato não contém direitos de drag-along? 6. O contrato não restringe a transferência de ações?

    Dividendos 7. O contrato restringe a redução de dividendos? Investimento 8. O contrato proíbe as operações além das metas corporativas?

    9. O contrato restringe fusões e aquisições? 10. O acordo impõe limites e restrições de investimento? 11. O contrato restringe a venda de ativo de capital? 12. O acordo proíbe a concorrência com a empresa?

    Financiamento 13. O contrato restringe a dívida adicional? 14. O contrato restringe a emissão de ações a preços preferenciais? 15. O contrato proíbe a garantia de terceiros?

    Governança Corporativa

    16. O acordo estabelece política de bônus? 17. O contrato restringe transações com partes relacionadas? 18. O contrato estabelece os critérios para nomear os auditores

    independentes? 19. O acordo estabelece arbitragem para resolver disputas? 20. O contrato não restringe a liberdade dos membros do conselho

    de nomear o CEO? 21. O acordo não restringe a liberdade dos acionistas de nomear os

    membros do conselho? 22. O acordo não restringe os votos dos membros do conselho nas

    reuniões preliminares? 23. O acordo não restringe os votos dos acionistas nas reuniões

    preliminares?

  • 38

    24. O acordo estabelece outros tipos de disposições de governança positiva?

    Fonte: Traduzido de Carvalhal (2012).

    Carvalhal (2012) desenvolveu um índice para aferir a qualidade dos AA,

    denominando-o de shareholder agreement index (SAI). Essas perguntas foram

    divididas em cinco dimensões, que tratavam das transferências das ações, dos

    dividendos, investimentos, financiamento e GC.

    O objetivo da criação desse índice foi a possibilidade de identificar empresas

    que possuem AA com maior proteção e garantias, sendo constatado que firmas com

    acordos que protegem os acionistas minoritários possuem um maior valor de

    mercado. O trabalho ainda realizou a medição do valor de mercado das empresas

    logo após adotarem o AA. O autor concluiu que a presença desses acordos resultou

    em um retorno positivo anormal no valor de mercado da empresa, reforçando a tese

    de que os AA tendem a reforçar os direitos dos investidores.

    Já no trabalho de Gelman, Castro e Seidler (2015), que inclusive utiliza o

    estudo de Carvalhal (2012) como ponto de partida, os resultados apontam genuína

    divergência entre o valor de mercado e a presença de AA nas empresas. A análise

    dos autores, que selecionaram tão somente as companhias listadas nos segmentos

    especiais da B3, busca compreender os efeitos das cláusulas de vinculação de voto

    dos conselheiros de administração sobre o AA.

    Gelman, Castro e Seidler (2015) demonstram que empresas dos segmentos

    especiais (com melhores práticas de GC) e com presença de AA possuem menor

    valor de mercado diante das que não realizavam acordos, divergindo dos achados

    de Carvalhal (2012). Restou identificado que o AA que estipulava a vinculação

    genérica do voto dos conselheiros de administração, ou seja, que os obrigava a

    votar todas as matérias de acordo com o interesse dos acionistas que os elegeram,

    acentuava ainda mais o seu efeito negativo no valor de mercado da empresa.

    Entretanto, acordos com cláusula de vinculação de voto específica de matérias

    extraordinárias reduziam o efeito negativo da sua presença.

    Silva (2015) analisa o contexto do AA da mesma forma, buscando vincular o

    acordo ao valor de mercado da empresa. O autor analisou 472 companhias

    brasileiras listadas na bolsa, no período de 1999 a 2013, utilizando como variável

    dependente (VD) o market-to-book e Q de Tobin. O trabalho concluiu que o valor de

    mercado de empresas com AA é consideravelmente maior do que o daquelas

  • 39

    empresas que não o detêm, demonstrando novamente a influência desse

    mecanismo sobre as companhias.

    Porém, o estudo de Silva (2015) se amplifica e analisa o valor de mercado

    das empresas em relação ao SAI de Carvalhal (2012). Nesse exemplo, para cada

    ponto atingido no índice estabelecido por Carvalhal (2012) – isto é, quanto mais o

    acordo protege os interesses dos acionistas minoritários – tem-se um aumento de

    2% no valor de mercado da empresa.

    Sendo assim, em países em que as instituições são fracas, com baixa

    proteção legal ao direito dos acionistas minoritários, onde há tendência à

    concentração de propriedade em poucos acionistas majoritários ou grupos de

    controle, os mecanismos de GC tornam-se essenciais para garantir maior segurança

    aos investidores (CLAESSENS; DJANKOV; LANG, 2000).

    Diante dos estudos relatados, esta pesquisa assume o acordo entre sócios

    como o coração da GC das empresas, ao passo que detém a capacidade de

    colacionar praticamente todas as diretrizes da firma. O acordo representa uma

    conexão entre os mecanismos internos e externos de gestão, ao passo que sua

    permissibilidade tão somente ocorre a partir do sistema legal. Porém, a

    permissibilidade influencia todos os demais fatores, como composição e vinculação

    de voto do CA, valor de mercado da firma, escolha de gestores, defesa dos direitos

    de acionista minoritários, relacionamento com stakeholders, auditorias internas e

    externas, dentre outros (CARVALHAL, 2012; GELMAN; CASTRO; SEIDLER, 2015).

    Entretanto, o acordo entre sócios não está limitado somente às empresas

    S/A. Ele pode ser utilizado também em empresas Ltda (BEDÊ, 2016). Assim, o

    estudo passa a discorrer sobre a aplicabilidade do acordo entre sócios nessas

    configurações empresariais.

    2.6 ACORDO DE QUOTISTAS

    Esta seção propõe-se a demonstrar o Acordo de Quotistas (AQ) como um

    mecanismo interno de GC, o que ele representa e de que forma o ensaio teórico

    justifica sua importância. Será demonstrada a literatura sobre o tema e a

    contextualização do AQ sob uma ótica jurídica e de gestão empresarial. Por fim,

    restará demonstrado o panorama atual da realidade empresarial brasileira e serão

  • 40

    apresentadas hipóteses sobre a utilização desse instrumento jurídico como um

    MIGC para empresas Ltdas.

    2.6.1 Acordo de Quotistas – contextualização e estudos na área

    A fim de melhor contextualizar o tema ora proposto, é importante resgatar que

    a possibilidade de utilização do acordo entre sócios dentro de uma empresa Ltda

    provém da Lei das S/A, ou seja, o AQ é um mecanismo aplicado por analogia

    legislativa.

    Ao contrário das S/A, alvos frequentes de estudos por parte da academia

    muito por consequência do amplo acesso às informações disponibilizadas em razão

    das normativas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), as empresas Ltdas não

    são alvos de estudos frequentes no campo da GC, principalmente relacionados aos

    acordos entre sócios. Para subsidiar o exposto, far-se-á uma rápida recapitulação

    cronológica do trabalho, com a apresentação dos trabalhos sobre AQ encontrados

    por este pesquisador.

    A fundamentação teórica desta pesquisa iniciou discorrendo acerca da Teoria

    da Agência (JENSEN; MECKLING, 1976; MEANS; BERLE, 1932), em que se

    encontrou que os conflitos entre principal-agente, oriundos de assimetria de

    informações e interesses, geram custos para a empresa, bem como necessitam de

    mecanismos adequados para dirimi-los. Também foi demonstrado que, em países

    emergentes, os conflitos empresariais tendem a ser entre principal-principal

    (YOUNG et al., 2008).

    Estudos acadêmicos sobre Governança Corporativa apresentaram-se como

    uma alternativa para diminuir esses atritos e oferecer uma melhor gestão à firma,

    através de diversos mecanismos, internos e externos (AGUILERA et al., 2015;

    BEZERRA et al., 2015; LIU et al., 2015). Quanto aos MEGC, foi prestada relevante

    atenção ao sistema legal em que a firma está inserida. É este mecanismo que

    influencia diretamente a possibilidade de utilização do acordo entre sócios, ou de

    qualquer outro mecanismo.

    Por mais que haja diversos estudos acerca do tema sobre o irmão mais velho

    do AQ (o AA) (BAGLIONI, 2011; BELOT, 2010; CARVALHAL, 2012; SILVA et al.,

    2015), a produção científica voltada para o acordo de sócios em empresas Ltda é

  • 41

    muito escassa no Brasil, ainda que essas empresas representem a grande realidade

    do cenário empresarial brasileiro. A base teórica do AQ é demonstrada na figura 2.

    Figura 2 – Base teórica do acordo de quotistas

    Assente em buscas nos bancos de dados da Scielo, Scopus, Google Scholar

    e Ebsco, nos termos “Acordo de Quotistas/Cotistas” e “Quotaholders Agreement”,

    poucos trabalhos foram encontrados, sendo exclusivamente pertencentes ao campo

    jurídico. Na literatura nacional, Gomes e Oliveira (2016) realizaram estudo acerca da

    validade jurídica do acordo de quotistas no Brasil, em que concluem pela sua plena

    eficácia legal. Amaral (2017) discorre no mesmo sentido de constatar a validade

    jurídica/eficácia do acordo, concluindo de forma idêntica.

    Contudo, pouca inovatividade é percebida nesses trabalhos, ao passo que o

    próprio Enunciado nº 384 da Jornada de Direito Civil (Conselho de Justiça Federal)

    já pacificava o entendimento pela validade jurídica desses acordos em data anterior

    à publicação dos artigos: “Nas sociedades personificadas previstas no Código Civil,

    AQ

    AA

    MECANISMOS INTERNOS

    MECANISMOS EXTERNOS - SISTEMA LEGAL

    GOVERNANÇA CORPORATIVA

    CONFLITOS - PRINCIPAL-AGENTE / PRINCIPAL-PRINCIPAL

    TEORIA DA AGÊNCIA

    Fonte: O autor (2019).

  • 42

    exceto a cooperativa, é admissível o acordo de sócios, por aplicação analógica das

    normas relativas às sociedades por ações pertinentes ao acordo de acionistas.”

    Na literatura internacional, a realidade não é muito diferente. Poulter (2005)

    redigiu um estudo acerca do tema, no qual aborda o AQ sob a perspectiva de

    empresários estrangeiros com destino ao Brasil para constituir empresas Ltdas,

    especificamente tratando do tema das inovações legislativas trazidas pela Lei nº

    10.406, de 10 de janeiro de 2002 (BRASIL, 2002).

    Em razão da escassez de estudos voltados especificamente ao acordo entre

    sócios em empresas Ltdas, e a fim de contribuir na compreensão das estruturas às

    quais é aplicado esse mecanismo, apresenta-se, no quadro 3, uma comparação

    entre empresas Ltdas (AQ) e empresas S/A (AA), com o intuito de fornecer um

    primeiro prospecto sobre a diferenciação dos mecanismos dentro da configuração

    empresarial elencada. Pois, ainda que o AQ tenha uma aplicação análoga à do AA,

    deve-se, num primeiro momento, compreender a diferença entre essas modalidades

    empresariais.

    Quadro 3 – S/A x LTDA

    SETORES EMPRESA S/A EMPRESA LTDA

    Administração Há a necessidade da existência de ao menos dois diretores e um Conselho Fiscal.

    Pode ser exercida por somente uma pessoa, não havendo a necessidade de composição de conselhos

    Propriedade E´ exercida através de Ações, as quais não necessitam ter valor nominal. Pode ser negociada na bolsa de valores ou no mercado de balcão.

    Exercida através de Quotas, as quais necessariamente devem ser valoradas e não podem ser negociadas na bolsa de valores ou mercado de balcão.

    Poder de Voto Em via de regra, quanto maior o número de ações de um sócio, maior seu poder de decisão, independentemente do valor pago por estas.

    Em via de regra, as decisões empresariais representam a vontade do sócio que detiver o maior capital social da empresa.

    Publicidade dos Atos

    Salvo exceções, possui regras de divulgação obrigatórias de seus atos constitutivos, assembleias gerais e demonstrações financeiras anuais, dentre outras, necessitando realizá-las no diário oficial.

    Excluindo-se situações pontuais, a LTDA não necessita publicar seus atos societários, devendo tão somente realizar o registro frente à junta comercial.

    Acordo de Sócios

    Livre pactuação. Livre pactuação.

    Fonte: O autor (2019).

    Outra diferenciação facilmente observada entre AQ e AA é o fato de que, nas

    empresas S/A, principalmente de capital aberto, observa-se que os acordos são

  • 43

    firmados entre poucos grupos controladores, com objetivos, em sua maioria, não

    muito solidários ao dos demais sócios não pactuantes (SILVA et al., 2015). Já dentro

    de empresas Ltdas observa-se que esses acordos tendem a ser firmados com todos

    os componentes do quadro societário.

    No capítulo 3, com a utilização do estudo de caso, objetiva-se esclarecer o

    AQ como um mecanismo de GC, complementando a simples diferença da estrutura

    jurídica da empresa na qual o mecanismo está inserido.

    2.7 HIPÓTESES DE PESQUISA

    A área da gestão/administração pouco estudou até o momento sobre o AQ,

    que tende a ter sua importância proporcionalmente mais elevada em relação aos AA,

    ao passo que as empresas S/A possuem diversos mecanismos de GC que não são

    financeiramente viáveis para companhias de menor porte – como as LTDAs. Assim,

    diante dos demais mecanismos de GC existentes, como, por exemplo, a

    implementação e manutenção de um Conselho de Administração (CA), pode-se

    considerar o acordo entre sócios como o mecanismo de GC mais acessível às mais

    diversas empresas.

    Ainda, o acordo regula todo e qualquer mecanismo de GC. Ele determina de

    que forma um CA será composto, sobre quais pontos deve decidir, se os votos do

    minoritário deverão ou não estar submetidos à vontade do grupo acionário que o

    elegeu, podendo ser considerado a base da pirâmide da Governança.

    Contudo, há poucos estudos sobre a composição de um acordo entre sócios

    (CARVALHAL, 2012; FINKELSTEIN; PROENÇA, 2014), ainda mais quando

    relacionado a empresas LTDAs. Realizar a análise da influência da assimetria de

    informações entre os principais na composição desse mecanismo, o qual já revelou

    seu impacto nas empresas de capital aberto (CARVALHAL, 2012; GELMAN;

    CASTRO; SEIDLER, 2015; GORGA; GELMAN, 2012; SILVA et al., 2015), vincula

    pressupostos da Teoria da Agência (JENSEN; MECKLING, 1976) com a

    implementação e modulação de um instrumento de GC.

    Demonstrar de forma científica a relação entre a atividade

    empresarial/societária e seus reflexos na composição de um mecanismo de GC, o

    qual objetiva fornecer uma melhor gestão à empresa, é um novo fenômeno a ser

  • 44

    estudado e compreendido pela academia, com efeitos práticos no dia a dia das

    LTDAs.

    Dessa forma, tem-se as hipóteses deste estudo, voltadas à vinculação das

    assimetrias de informações nas relações societárias com a composição do AQ:

    Hipótese 1: A assimetria de informações entre principais de uma

    empresa impacta na elaboração de cláusulas de um AQ.

    Para reduzir ao máximo o viés de pesquisa, entende-se necessário que, para

    testar os efeitos da assimetria de informações, as variáveis não poderiam ser

    somente positivas e/ou negativas. Desse modo, inserindo cenários neutros, positivos

    e negativos, o estudo pôde testar se de fato a assimetria de informações por si só

    incidiria na alteração da percepção de importância da composição de cláusulas

    dentro de um AQ, ou somente se comparada à redução dessa assimetria com

    informações positivas ou negativas.

    Nesse sentido, tem-se as hipóteses 1.a e 1.b:

    Hipótese 1.a: Informações e/ou interesses relacionados positivamente

    aos principais de uma empresa tendem a alterar negativamente sua percepção

    de necessidade na elaboração de cláusulas de um AQ.

    Hipótese 1.b: Informações e/ou interesses relacionados negativamente

    aos principais de uma empresa tendem a alterar positivamente sua percepção

    de necessidade na elaboração de cláusulas de um AQ.

    Assim, este trabalho teve o objetivo de ampliar o entendimento a respeito da

    composição do AQ e identificar se as assimetrias de informações existentes entre os

    principais de uma empresa tendem a alterar a composição de um mecanismo de

    GC.

  • 45

    3 METODOLOGIA

    Este capítulo visa demonstrar os procedimentos metodológicos utilizados para

    desenvolver a pesquisa, visando atender ao objetivo geral da pesquisa, que é o de

    analisar, a partir de um experimento, a relação da assimetria de informações entre

    principais de uma empresa LTDA com a percepção da necessidade de composição

    de cláusulas por meio de um Acordo de Quotistas.

    Dessa forma, a metodologia almeja aprimorar os procedimentos utilizados em

    qualquer pesquisa, provendo preceitos para que a ciência possa retratar a realidade

    do objeto estudado, fornecendo maior capacidade de tomada de decisão (HAIR JR.

    et al., 2005).

    3.1 NATUREZA E TIPO DE PESQUISA

    Este estudo tornou-se viável por meio do método misto, em que se utilizou de

    técnicas de pesquisa qualitativas e quantitativas, de natureza hipotético-dedutiva e

    exploratória. Conforme prelecionado por Gil (2002), é através de um conjunto de

    procedimentos e técnicas que esta pesquisa pretende fornecer uma contribuição

    acadêmica ao objeto de estudo. Desse modo, o trabalho objetivou investigar o

    fenômeno de como uma variável é capaz de influenciar outra (TRIVISIOS, 1987).

    O estudo foi realizado em duas etapas. Num primeiro momento, utilizou-se de

    um estudo de caso único, através de entrevista semiestruturada com o sócio de uma

    empresa LTDA que possui o AQ.