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PROGRAMA DE ESTÁGIOS NO SETOR PÚBLICO: UM OLHAR SOBRE A GESTÃO
A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DA FUNDAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO
ADMINISTRATIVO – FUNDAP
Bruno Lopes Correia
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Painel 10/001 Conhecimento, formação e aprendizagem na administração pública.
PROGRAMA DE ESTÁGIOS NO SETOR PÚBLICO: UM OLHAR SOBRE A GESTÃO A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DA FUNDAÇÃO DO
DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO – FUNDAP
Isidro-Filho
Bruno Lopes Correia
RESUMO
O estudo discute a participação do setor público na oferta de vagas de estágios, a
partir do funcionamento de estruturas ou programas estaduais dedicados a esse fim.
Traçando um panorama histórico, reconstrói a trajetória paulista desde as primeiras
regulamentações nas faculdades, no início do século XX, até a criação de um
programa governamental específico que perdura há mais de 35 anos.
Gerenciado pela Fundação do Desenvolvimento Administrativo – Fundap, a
governança do programa demonstra o uso de instrumentos complexos às diversas
etapas de gestão (da seleção à avaliação), frutos de sua experiência acumulada e
relacionamento perene com os órgãos participantes.
Além da investigação sobre o programa paulista, também foram coletados aspectos
quanto ao funcionamento da gestão de estágios em outros 10 estados, cujos dados
apontam para alta disparidade entre os modelos operativos.
As considerações finais ressaltam a importância dos programas de estágio, enquanto
vetores de desenvolvimento de estudantes e da administração pública. Da mesma
forma, apontam para a necessidade de ampliação dos estudos, visando o
aperfeiçoamento de estruturas e instrumentos governamentais voltados a este fim.
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1. INTRODUÇÃO
De acordo com dados organizados pela Associação Brasileira de Estágios –
ABRES (2016), o Brasil possui mais de 1 milhão de estagiários, somando os alunos
de ensino superior, médio e profissionalizante, em um universo de mais 16,1 milhões
de estudantes (6,2%). Esse hiato tem múltiplas explicações que não permitem uma
determinação de causa-efeito, mas entre outras, encontram-se a menor
disponibilidade de vagas para o ensino médio e profissionalizante1, o estado da arte
da demanda e distribuição de cursos pelo território, e as dinâmicas econômicas como
alguns fatores incidentes.
Embora o setor privado concentre a maior parte das vagas disponíveis, o poder
público tem despontado, nos últimos anos, como um importante espaço de
aprendizagem - seja pela retomada de concursos públicos2, pelo crescimento da
quantidade de estudantes no ensino regular3, pela nova legislação que trata sobre
estágio, ou outros fatores. Nessa perspectiva, o aumento de estágios em
organizações públicas vem acompanhado das mais diversas tentativas de balizar seu
funcionamento (normas, criação de programas específicos, centralização
administrativa), que variam de aplicação e contexto de acordo com os níveis de
governo e a respectiva agendado mandatário.
Partindo da diversidade relatada e da ausência de estudos no campo de
públicas sobre o tema, o presente artigo lança questões inicias para o debate: Quais
são os modelos de estágio adotados pelas diferentes estruturas governamentais? Há
ganhos mútuos para os envolvidos? Quais são as lacunas? Qual é o papel dos
governos na gestão dessa política pública? Ainda que sejam necessárias diversas
pesquisas e artigos para respondê-las, o presente estudo dá um primeiro passo nesta
direção.
1 Nessas modalidades apenas 2,8% estagiam, enquanto no ensino superior esse índice é de 10,1% (ABRES, 2016). 2Ver Comunicado IPEA n.110. Ocupação no Setor Público Brasileiro: tendências recentes e questões em aberto. 2011. 3Ver Censo INEP.
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2. OBJETIVOS
O trabalho tem como objetivo principal investigar a gestão da política de estágio
no setor público, à luz do estudo de caso do estado de São Paulo. Como objetivos
adicionais, compreende-se:
a) Mapear, por meio da literatura e da legislação, o histórico da regulamentação
do estágio nos âmbitos nacional e do estado de São Paulo;
b) Identificar o lócus da gestão de estágio em outros estados brasileiros,
comparando aspectos de sua operação;
3. METODOLOGIA
Partindo dos levantamentos bibliográficos e legislações acerca do tema, o
estudo apresenta os alicerces sob os quais foram erguidos os programas de estágios
no setor público, à luz de seu estudo de caso. Dialogando com esse processo histórico
expõe a dimensão do modelo operativo paulista, por meio de documentos regulatórios
e dados gerenciais do programa.
Com a finalidade de diminuir possível viés e ampliar o horizonte da
investigação, também foram realizadas consultas aos sítios eletrônicos dos demais
26 estados brasileiros, ou em notícias regionais, visando mapear programas ou
órgãos com competência análoga. Posteriormente, por meio de sorteio aleatório entre
as 26 unidades federadas, 14 foram convidadas a prestarem informação sobre o modo
de gestão dos estágios nos órgãos do poder executivo. Quando não foram
identificados os órgãos que cuidavam especificamente do tema, as perguntas foram
direcionadas às secretarias correlatas à Secretaria de Planejamento e Gestão do
Estado de São Paulo (ex.: gestão pública, administração, planejamento, governo). Por
meio questionário eletrônico, a coleta foi realizada no período entre 25 de abril e 04
de maio de 2016, sendo as respostas apresentadas em caráter agregado.
Em posse das informações com distintas estratégias foram realizadas a análise
e considerações finais presentes no documento.
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4. BREVE HISTORICO SOBRE ESTÁGIO E ESTADO
Embora não seja estanque, é possível afirmar que o conceito de estágio tem
sido traduzido de maneira semelhante ao longo dos últimos séculos, desde que fora
associado a questões profissionais. Na idade média, por exemplo, ligou-se ao
acompanhamento prático a um mestre de ofício, enquanto na atualidade materializa-
se como atividade curricular da educação formal, também de maneira prática
(COLOMBO; BALLÃO, 2014:172).
De sua utilização mais remota4 até a mais contemporânea nota-se a presença
de dois pilares: a supervisão e o aprendizado prático de uma profissão. Ao mesmo
tempo, é preciso pontuar que, na contemporaneidade, a forma de organização do
trabalho e a institucionalização da educação tornaram o estágio uma atividade muito
mais complexa do que a exclusiva transmissão de um ofício. Para compreender suas
características atuais é preciso descerrar suas transformações, possibilitando uma
análise como instrumento do desenvolvimento de capacidades diversas, incluindo as
dimensões pessoais e cidadãs.
Neste âmbito está o papel da escola (lócus da educação formal) como pedra
angular na alteração das características do estágio. Segundo Machado (1997:47), a
partir da instalação das ideias de que um bom emprego estava relacionado ao estudo,
aproximou-se também a escola da vida prática – por conseguinte, o próprio mercado
passou a incorporar a necessidade de obter mão-de-obra qualificada. No Brasil, a
chegada da Família Real em 1808 e a implantação dos primeiros cursos superiores
podem ser considerados os primeiros marcos deste processo.
4 De acordo com Estágio (2001 apud COLOMBO; BALLÃO, 2014), o termo aparece pela primeira vez
na literatura em 1080, proveniente do latim medieval stagium – significando“residência ou local para morar”. Posteriormente, em 1630, a expressão stage surge relacionando-se ao período de treinamento de um sacerdote para o exercício de suas funções, em que este passava residindo na igreja. Tal construção demonstra a relação entre os termos residência e estágio, enquanto períodos de prática e aprendizado de funções, como utilizado para profissionalização médica.
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Em São Paulo, a primeira vez que o termo estágio aparece na legislação é em
1912, no regulamento da Escola de Pharmacia e de Odontologia de São Paulo5,
capítulo “Dos exames escolares”.
Art. 42 - Os alumnos do curso de pharmacia são obrigados a fazer um estagio de um anno em uma pharmacia civil ou hospitalar, apresentando um certificado do profissional que o guiou neste estagio.(SÃO PAULO, 1912, grifos nossos).
Portanto, desde as primeiras escolas superiores, verifica-se que o estágio é
atrelado à aplicação do conhecimento teórico, dotado de supervisão, e condição sine
qua non para aquisição do diploma profissional em alguns casos.
Em 1919, constava no regulamento da Escola Agrícola Luiz de Queiroz a
obrigatoriedade de parte dos alunos cumprir estágio em suas dependências,
apresentando ao final um relatório para cômputo na nota de trabalhos práticos.
Embora não tenham sido estabelecidos os critérios que designavam a obrigatoriedade
ou as funções a serem desempenhadas, observa-se o avanço com relação à
incorporação da própria escola, em caráter genérico, como ambiente propício ao
estágio (SÃO PAULO, 1919).
A lógica tradicional de estágios na área da saúde ou inserida no ambiente
escolar foi rompida na década de 1930, período coincidente à modernização do
Estado no período varguista. De acordo com o levantamento das legislações
paulistas, a primeira estrutura governamental a institucionalizar estagiários foi a polícia
em 1933.
Artigo 1º - Ficam creados, na Capital do Estado, tantos cargos de estagiarios de Policia quantos forem as subdelegacias do município.
Artigo 2º - Competem aos estagiarios as funções cabentes aos atuais subdelegados.
Artigo 3º - Compete ao Chefe de Policia nomear e demitir, ad nutum, os estagiarios, os quais serão escolhidos dentre os bachareis e bacharelandos em direito.
§ unico - Ninguem poderá ser estagiario por tempo maior que o de um ano.
Artigo 4º - Os estagiarios de Policia não percebem remuneração, mas gosam das vantagens dos numeros II e III do artigo 20 do Decreto n. 5179, de 1931.(SÃO PAULO, 1933, grifos nossos).
5 A escola foi posteriormente incorporada à Universidade de São Paulo, quando da sua criação em
1934.
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Com a ampliação da demanda e diversificação das áreas de conhecimento6, a
concepção de quem era estagiário também foi modificada: do estudante para o recém-
formado. Nota-se que, embora o artigo 3º do decreto acima já previsse bacharéis em
Direito, ainda continha a noção de dar oportunidade a bacharelandos, além de não
prever remuneração pelo trabalho desempenhado para ambos os casos. Mas, em
1938, a Secretaria da Agricultura caracterizou o período de estágio como aquele
voltado exclusivamente ao egresso das escolas superiores, sendo este incorporado
aos primeiros degraus das carreiras científicas do estado - junto aos Institutos
Agronômico, Biológico, entre outros. Neste modelo, algumas características se
evidenciaram: o estágio era compreendido como uma “especialização”; havia uma
remuneração ofertada em troca do trabalho; possuía um incentivo ao
aperfeiçoamento, como a possibilidade de ser enviado ao exterior para continuação
dos estudos, e uma visão romântica aos que demonstravam “capacidade, inteligência
e amor a ciência” (SÃO PAULO, 1938).
A partir da década de 40, algumas regulamentações do governo federal sobre
o ensino no país retomaram o estágio ao seu uso inicial. O Decreto-Lei n.º4.073/42,
denominado Lei Orgânica do Ensino Industrial, por exemplo, determinou em seu art.º
48: “consistirá o estágio em um período de trabalho, realizado por aluno, sob o controle
da competente autoridade docente, em estabelecimento industrial”. Com esse
‘retorno’ é possível perceber o ajuste de nomenclaturas utilizadas nas legislações de
São Paulo: em 1954, a admissão destinava-se aos “estagiários-universitários” para
execução de serviços técnicos das repartições e autarquias da Secretaria da Viação
e Obras Públicas do Estado de São Paulo7; enquanto em 1934 a contratação foi de
“estagiários engenheiros” (BRASIL, 1942; SÃO PAULO, 1934; 1954).
Todavia, conforme apontam Colombo e Ballão (2014:174), o estágio era
utilizado pela indústria para obtenção de mão-de-obra de baixo custo, já que não havia
nenhuma formalização entre a escola e a empresa. Esse cenário sofre alteração no
6 Em 1934, o recém-criado Departamento de Estradas e Rodagens (DER), subordinado à Secretaria
de Estado dos Negócios da Viação e Obras Públicas, passou a contratar estagiários engenheiros, que percebiam remuneração específica (SÃO PAULO, 1934). 7 Na mesma linha, o Decreto n.º 27.275, de 16 de janeiro de 1957, organizou a admissão de estagiários
universitários aos serviços técnicos da Secretaria de Saúde Pública e da Assistência Social.
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final da década de 60, com a Portaria n.º 1.067 do Ministério do Trabalho e Previdência
Social, que estabeleceu a obrigatoriedade de a relação ser mantida por contrato,
referenciando duração, carga horária, valor da bolsa e seguro contra acidentes
pessoais para cada estagiário.
A década de 1970 foi marcada pelos primeiros passos do estágio no setor
público, em âmbito federal. Diante de um contexto econômico expansivo, o Decreto
n.º 66.546 instituiu o Projeto Integração, que organizava um programa de estágios
práticos em órgãos públicos e privados para estudantes do ensino superior de áreas
consideradas prioritárias (engenharia, tecnologia, economia e administração) –
dialogando com a visão do governo militar. No mesmo contexto expansivo, em 1975,
o governo regulamentou8 o estágio no serviço público federal para estudantes do
ensino superior e profissionalizante de 2º grau de quaisquer áreas, até que em 1977,
a primeira lei tratando especificamente sobre estágio foi promulgada: Lei n.º 6.494, de
7 de dezembro de 1977. Regulamentada pelo Decreto n.º 87.497 em 18 de agosto de
1982, a lei vigorou sem nenhuma alteração por mais de uma década, quando em
1994, incluiu mecanismos garantidores a pessoas com deficiência nos estágios
(BRASIL 1970; 1977; 1982).
Como apresentado, embora o Estado de São Paulo já proporcionasse estágios
na administração pública9, anteriormente às leis federais10, as novas legislações
proporcionaram alguns avanços com relação ao modelo funcional adotado. Em 1979,
por exemplo, o governador Paulo Maluf instituiu o Programa de Bolsas para o
Aprimoramento Profissional (PAP), destinado a recém-graduados de cursos
superiores da área da saúde, distinguindo o programa de qualquer relação com
estágio. Para a gestão da política escalou a Fundação do Desenvolvimento
Administrativo – Fundap, que, criada em 1974, possuía a missão de
8BRASIL, 1975. 9Quanto à oferta de estágios anteriormente à regulação federal, compreendida como ação isolada, é
importante esclarecer que não se ignora a possível ocorrência em outras estruturas estatais, a exemplo do verificado em São Paulo, seja em outro estado ou governo central. 10Experiências já mencionadas: Departamento de Polícia (1933), Secretaria da Viação e Obras Públicas
(1954) e Secretaria da Saúde Pública e da Assistência Social (1957). Além destas, destacam-se o Departamento Estadual de Administração (1961), Ministério Público (1968), Procuradoria Geral do Estado (1970) e a Secretaria de Educação (1976) (SÃO PAULO, 1961; 1968; 1970; 1976).
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contribuir para a elevação dos níveis de eficiência e eficácia da administração pública estadual, desenvolvendo projetos de consultoria organizacional, formação e recursos humanos, desenvolvimento de novas tecnologias de gestão administrativa e pesquisa aplicada (FUNDAP, 2016b, grifos nossos).
Assim, na mesma vertente, criou o programa de bolsas para aprimoramento de
estudantes de cursos regulares de níveis técnico e superior, 1980, que ficou
conhecido posteriormente como Programa de Estágios do Governo do Estado de São
Paulo (PEGESP). Como aponta a exposição de motivos do decreto instituidor do
programa de estágios, a experiência da Fundap na gestão do aprimoramento
profissional, bem como nas atividades de formação de recursos humanos, contribuiu
para que assumisse a competência sobre os estágios em âmbito estadual.
Para administrar o Programa, selecionar os candidatos e conceder as Bolsas, a escolha recaiu na Fundação do Desenvolvimento Administrativo, por se tratar de órgão a quem cabe legalmente, entre outras atividades, dar treinamento ao pessoal dos vários níveis da administração estadual e contribuir para elevação de sua eficiência. Essa Fundação que, em cumprimento ao decreto baixado por Vossa Excelência, já administra de forma eficiente o Programa de Bolsas para aprimoramento de médicos e outros profissionais de nível superior que atuam na área da saúde, está em condições de administrar com êxito o Programa ora proposto e a custos operacionais bem mais baixos dos que atualmente oneram os cofres públicos (SÃO PAULO, 1980).
O Decreto n.º 15.438 de 28 de julho de 1980organizou a gestão das vagas de
estágio em toda a administração centralizada11 e autarquias, deixando apenas para
as empresas públicas a opção de caminhos alternativos à contratação de estagiários.
Além da influência do arcabouço legal do governo federal (item “c” abaixo), a
exposição de motivos para a instalação do programa pelo estado, centrou-se em:
a) dar oportunidade de aprendizado prático a todos os estudantes que se interessam pelos trabalhos da administração pública;
b) o aproveitamento futuro desses estudantes, implantando-se, no Estado, uma política única de formação profissionalizante;
c) dar uniformidade na contratação de estagiários para o serviço público, tendo-se em vista a disparidade de critérios hoje existentes;
d) reduzir o custo dessas contratações, haja vista que, pelos contratos atuais, cada Bolsa concedida - com valores diversificados - é acrescida de 13.7 a 19.6%, referente a despesas de administração(SÃO PAULO, 1980, grifos nossos).
Interessante notar que, como o instrumento do concurso foi equacionado
apenas após a Constituição Federal de 1988, o estágio era visto nessa época como
11 Considerando as características da estrutura governamental à época, depreende-se pelo termo
“administração centralizada e autarquias” a administração direta (Secretaria) e parte da indireta (Autarquias e Fundações). Do mesmo modo, as empresas públicas hoje devem ser compreendidas como sociedades de economia mista.
10
uma possibilidade de início de carreira na administração pública. Nesse sentido,
fundamental destacar as ideias contidas de “interesse pelas funções governamentais”
e “aproveitamento” que hoje se esvaíram.
Para o programa foi desenhado um órgão superior12para fixar as diretrizes
gerais (quantidade de bolsas para cada entidade, valor da bolsa a ser ofertada, entre
outros regramentos), enquanto a operacionalização ficaria a cargo da Fundap
(seleção de candidatos, a concessão das bolsas e a administração geral) – que
receberia 10% do valor das bolsas a título de remuneração pelo serviço. Considerando
que os pagamentos aos estagiários sairiam do próprio orçamento da Fundação, a
partir de 1981, sua dotação passou a incorporar os valores das bolsas a serem
repassadas13.
Em um contexto de ajuste fiscal14, o governador Mário Covas revogou em 1996
o programa de bolsas de estágio custeado pelo tesouro estadual, mas facultou aos
órgãos realizarem diretamente administração e custeio das bolsas. Entretanto, após
dois meses, reeditou o decreto original reinstituindo o programa nos moldes
estabelecidos em 1980. Cabe ressaltar que, nos anos 2000, a Medida Provisória nº
1.952-24 do governo federal permitiu o estágio para estudantes matriculados no
ensino médio não profissionalizante, mas a mudança foi absorvida apenas em 2003,
pela Deliberação CEE n.º 31(SÃO PAULO, 1996; 1997; 2003).
Então, em fevereiro de 2008, o governador José Serra reorganizou o
funcionamento dos estágios na administração pública estadual, que entre as principais
medidas: instituiu a obrigatoriedade de processos seletivos para vagas que
ofertassem remuneração; redirecionou o custo das bolsas às respectivas dotações
12 A comissão continha um representante de cada um dos órgãos: Fundação do Desenvolvimento
Administrativo, Casa Civil, Secretaria da Administração, Secretaria de Economia e Planejamento, Secretaria da Fazenda (SÃO PAULO, 1980). 13A incorporação desses valores levou a equívocos interpretativos quanto ao real gasto e faturamento da instituição. De acordo com notícia do site G1 (2016), de novembro de 2015, “por ano, R$ 80 milhões eram repassados à fundação.” Todavia, conforme o orçamento executado em 2015, o valor efetivamente enviado a fundação foi de R$ 29,1 milhões. A título de comparação em 2014 foram R$ 22,5 milhões (SEFAZ, 2016). 14 Sugere-se a leitura do sitio da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, disponível em:
http://www.fazenda.sp.gov.br/ajustes/.
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orçamentárias de cada órgão; concentrou o comando do Programa na Secretaria de
Gestão Pública (atual Secretaria de Planejamento e Gestão) (SÃO PAULO, 2008).
Ainda que algumas motivações do novo decreto se assemelhem àquelas
utilizadas na implantação em 1980, como a caracterização do estágio enquanto lócus
para o aprendizado prático e celeiro de novos talentos, destacam-se novos conceitos
que dialogam com uma visão do devir estatal de uma determinada época: primeiro,
de que o estágio em órgão público propicia ao estudante uma experiência de
cidadania; segundo, de que os estagiários são veículos de conhecimento acadêmico,
capazes de transmitir ideias e abordagens inovadoras (SÃO PAULO, 2008).
A incorporação desses elementos agrega ao estágio uma característica própria
de política pública, ampliando seu conceito para além de instrumento educacional ou
de recursos humanos, como desenhado ao longo do século XX. O tópico da
governança do PEGESP e o comparativo com outros estados, apresentados a seguir,
corroboram essa análise histórica.
5. O PROGRAMA DE ESTÁGIOS DO GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
5.1. GOVERNANÇA
A governança do PEGESP reflete a opção de assentar na Fundap o papel de
agente de integração. Por ser uma fundação governamental, sua operação segue a
legislação e os controles convencionais à administração pública, da mesma forma que
sua cultura organizacional se assemelha aos demais órgãos. Se por um lado, pode-
se ter uma visão do engessamento em determinados processos, por outros, há
perenidade de sua equipe com décadas de experiências acumuladas.
De acordo com a Resolução SGP – 20 de agosto de 2009, que regulamenta o
Decreto 52.756/2008, coube à Fundap a administração dos estágios, incluídos os
processos de seleção e contratação – mesma função executada ao longo de sua
história. À Secretaria de Planejamento e Gestão, foi conjugado ao Secretário e seu
gabinete, executar as funções gerenciais do programa, como:
12
a) coordenação, acompanhamento, orientação, execução e avaliação, em
nível central, no âmbito da administração direta e autárquica;
b) definição de procedimentos para admissão de estagiários e apuração da
demanda dos órgãos e entidades;
c) estabelecimento da quantidade de estagiários por órgão, prazos de duração
do estágio e valores das bolsas - de acordo com a carga horária e o
enquadramento do curso frequentado;
d) articulação com as demais estruturas governamentais (empresas e demais
entidades controladas) visando a ampliação da oferta de estágios e
aprimoramento da sua gestão.
Diferentemente daquele estabelecido em 1980, o atual modelo não prevê um
órgão superior misto, mas uma Comissão Consultiva, presidida pela Secretaria de
Planejamento e Gestão, secretariada pela Fundap e composta por outras Secretarias,
Autarquias e Fundações15. Entre suas competências foram determinadas a aprovação
dos editais de seleção, a proposição do reajuste de bolsas e a indicação de melhorias
na política de estágios, dado o acompanhamento permanente. Quanto à comissão,
ainda cabe destacar o peso incidente ao caráter público e representativo na sua
composição, que
“poderá ter sua composição alterada periodicamente pelo Secretário de Gestão Pública, porém deverá, obrigatoriamente, ser composta por membros de órgãos e entidades da Administração Pública Estadual direta, indireta e fundacional” (SÃO PAULO, 2009).
Além das instâncias diretivas - Secretaria, Fundap e Comissão – a operação
do programa depende da triangulação entre outros três atores diretos: órgãos
demandantes, instituições de ensino e estagiários.
15 Embora a Resolução SGP-20/2009, não tenha atualizado a composição das Secretarias extintas,
caracterizamos a comissão a partir da observância do órgão que absorveu as inoperantes. Demais órgãos participantes: Secretaria do Meio Ambiente; Secretaria do Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação; Secretaria da Agricultura e Abastecimento; Instituto de Pesos e Medidas (IPEM); Centro Educacional Paula Souza; Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU); Companhia do Metropolitano de São Paulo (METRO); Companhia do Desenvolvimento Habitacional (CDHU); Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (ITESP); Fundação para o Remédio Popular (FURP).
13
Com relação aos primeiros, à medida que cada órgão passou a prover as
bolsas da sua própria dotação orçamentária, tornou-se necessária sua
contratualização com a Fundap. Diante do caráter público da fundação e da
temporalidade da prestação do serviço, anterior à Lei n.º 8.666/1993, foi possível
enquadrá-lo nas condições de dispensa de licitação, de acordo com o artigo 24, VIII,
após manifestação favorável da Procuradoria Geral do Estado16 (SÃO PAULO, 2009).
Com base na minuta constante da Resolução SGP-20/2009, a relação
contratual expõe as seguintes obrigações para a Fundap, na condição de agente de
integração:
a) elaborar os convênios com as instituições de ensino;
b) recrutar e selecionar os estudantes por meio de seleção pública;
c) orientar os órgãos demandantes na elaboração dos planos de estágio e
realizar sua aprovação;
d) disponibilizar sistema gerenciador sobre os planos, candidatos e
estagiários;
e) efetuar a convocação e encaminhamento dos estagiários para os
respectivos órgãos;
f) proceder à contratação do estudante, por meio do Termo de Compromisso
de Estágio (TCE), respeitando os devidos prazos legais;
g) administrar as bolsas de estágio, realizando o pagamento da bolsa e do
auxílio transporte, conforme o repasse dos recursos pelos órgãos;
h) incluir os estudantes em apólice coletiva de seguro de acidentes pessoais;
i) emitir o certificado de realização de estágio;
j) auxiliar os órgãos contratantes na elaboração e aperfeiçoamento do
Programa de Estágios.
Já aos órgãos demandantes de estágios competem as obrigações de: elaborar
o plano de estágio e comunicar sobre qualquer alteração que esse venha a sofrer;
assegurar aos candidatos encaminhados a devida oportunidade; repassar à Fundap
os valores pactuados; proporcionar as condições para que o estágio cumpra seus
16 Parecer GPG/Cons. nº 047/2009, de 23/6/2009.
14
objetivos de complementação educacional, com atividades compatíveis à área de
formação do estudante e contendo supervisão adequada; além de assinar os TCEs e
fornecer informações necessárias ao funcionamento do PEGESP.
Em complemento ao contrato e ao atendimento rotineiro, a Divisão de Estágios
da Fundap convida anualmente os coordenadores e supervisores dos órgãos para
encontros avaliativos, com intuito de dar feedbacks dos estagiários que deixaram o
programa, dirimir dúvidas e reorientar práticas.
Diante das limitações dos setores de estágio das instituições de ensino, a
relação da fundação com as mesmas baseia-se em aspectos meramente formais.
Salvo os motivos de divulgação de processo seletivo, convites à realização de
exposição em feiras estudantis ou raras exceções - relacionadas a assuntos mais
graves como desvios ao plano de estágio - constata-se a inexistência de um fórum
permanente para o PEGESP e as escolas. Nesse sentido, perde-se oportunidade de
avaliações conjuntas quanto à complementariedade do estágio ao processo de
aprendizagem dos cursos – o que poderia assegurar um ganho em sua qualidade.
Apesar do contato com o estudante ter sido intensificado nos últimos anos,
como consequência do aumento do uso da tecnologia e da sua ligação com as atuais
gerações, a comunicação ainda está restrita à natureza administrativa das atribuições
da fundação.
O início desse processo é o convite à seleção pública. As principais ferramentas
utilizadas são cartazes em escolas e órgãos públicos, como também notícias
divulgadas amplamente na mídia (televisão, rádios, jornais e sites) e em redes sociais.
A inscrição ocorre totalmente em meio eletrônico e o candidato tem à sua disposição
uma central de atendimento na Fundap para esclarecer dúvidas e solicitar apoio, por
e-mail e telefone – que também permanece disponível aos estagiários, cursistas e
qualquer outro cidadão.
Durante todo processo seletivo e após este, a comunicação da fundação com
o participante ocorre ativamente por dois instrumentos: SMS (seleção) e e-mails
(todas as etapas). Da mesma forma, há um canal de comunicação passivo, por meio
do Sistema de Administração de Bolsas de Estágio (SABE), pelo qual o candidato
15
realiza a inscrição, acompanha sua posição nas seleções, realiza o aceite/declínio aos
planos de estágio aos quais foi convidado, gera o TCE para colher assinaturas e
responde a uma avaliação ao final do estágio.
Já para a comunicação reativa, em adição à central de atendimento, há
recepção pelos canais da Ouvidoria, do Serviço de Informações ao Cidadão – SIC.SP,
redes sociais e plataformas de interação cliente-consumidor.
Além das tratativas administrativas – sendo as maiores a seleção, convocação,
pagamento e o encerramento do estágio – a Fundap procura estabelecer o contato
com o estagiário mediante a oferta de palestras temáticas. Ofertadas de 4 a 6 vezes
por ano, comumente aos estudantes dos diferentes níveis, versam sobre conteúdos
advindos, por vezes, de sugestões do próprio público – inserção no mercado de
trabalho, preparação de currículo, educação financeira, políticas públicas, etc.
Embora não haja um fórum permanente com os estudantes, a diversificação
dos canais de atendimento, acrescidos da avaliação ao final, demonstram uma boa
interpenetração e sensibilidade da Fundap enquanto agente integrador - inclusive
cumprindo papel superior àquele determinado pela legislação. De acordo com a Lei
11.788/2008, cabe aos agentes de integração, enquanto auxiliares do processo de
aperfeiçoamento do estágio: cadastrar estudantes, identificar as oportunidades,
ajustar as condições de realização, fazer o acompanhamento administrativo e
encaminhar negociação de seguros contra acidentes pessoais (BRASIL, 2008).
5.2. REGRAS DE SELEÇÃO E CONVOCAÇÃO
Regida por um edital, as seleções regulares acontecem semestralmente, e em
casos excepcionais, ocorrem abertura de editais extras. Semelhante aos chamados
“vestibulinhos”, o processo seletivo está centrado na realização de uma prova objetiva,
contendo 30 questões de múltipla escolha, com os conteúdos de língua portuguesa
(12), conhecimentos matemáticos (9) e conhecimentos gerais (9). Para a elaboração
da prova, aos candidatos do ensino médio e profissional é utilizada como referência a
matriz de competências e habilidades do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem),
16
enquanto aos candidatos do ensino superior são as diretrizes do Exame Nacional de
Desempenho de Estudantes (Enade) comum a todos os cursos. Como forma de
classificação são considerados aptos os candidatos que obtiveram uma nota mínima
de 40% da média de sua respectiva prova (FUNDAP, 2016).
Com o auxílio de empresa terceirizada, a prova acontece em mais de 40
cidades17 escolhidas conforme a demanda existente por vagas. Contratada mediante
processo licitatório, a empresa é a responsável pela elaboração do banco de
questões, escolha e montagem da prova, impressão, aplicação e processamento do
certame. Por sua vez, a Fundap executa uma validação prévia de questões similares
a serem utilizadas e fiscaliza quanto à aplicação, que ocorre sob sigilo absoluto.
Apesar da seleção ser classificatória, a convocação dos candidatos acontece
pela combinação dos parâmetros para atender ao perfil de cada vaga, conforme o
esquema abaixo.
Esquema 1. Organização do banco de candidatos do Programa de Estágio do Governo do Estado de São Paulo.
Fonte: Elaboração própria.
Essas características somadas às demandas efetivas dos órgãos públicos, ou
oferta excessiva de candidatos, por vezes, acarretam em um lapso temporal entre a
realização do certame e o chamamento do estagiário para determinadas vagas. Nesse
17Considerando a média (Edital 002/2015: 49 cidades; Edital 003/2015: 47 cidades; Edital 001/2016:
37 cidades).
17
sentido, há um esforço da Divisão de Estágios em sempre esclarecer que o programa
trabalha com uma expectativa de vagas e não sua garantia de preenchimento.
Outros fatores que também podem alterar a sequência classificatória são a
suspensão ou exclusão de candidatos. Como o processo é meritocrático e os órgãos
não podem fazer outras seleções adicionais à prova realizada, o estagiário é o único
que pode se recusar a assumir a uma vaga para qual foi convocado. Conquanto não
haja limites para a recusa, o candidato precisa sempre responder às convocações
realizadas, pois caso seja convocado três vezes e não se manifeste é suspenso de
novas convocações (2ª etapa). Para retornar ao banco ativo basta demonstrar
interesse em receber convocações novamente.
Por outro lado, a exclusão acontece caso, por três vezes, o candidato manifeste
interesse em uma determinada vaga, mas não aceite o encaminhamento final a esta
(5ª etapa) ou deixe de apontar sua decisão. Da mesma forma, àqueles que foram
encaminhados e emitiram o Termo de Compromisso deixam o banco de classificados
do respectivo edital – já que cada candidato poderá realizar apenas um estágio por
certame.
Quadro 1. Resumo do processo de convocação às vagas de estágio
1ª etapa - atualização de
currículo
Todos os candidatos devem atualizar suas informações, especialmente o período, semestre e curso.
2ª etapa - convocação
A Fundap organiza em lotes a convocação para o preenchimento de diversas vagas. A partir de parâmetros específicos (curso, cidade, entre outros), notifica todos os candidatos com perfil relativo às vagas ofertadas.
3ª etapa - escolha de
planos
Os candidatos convocados acessam o plano de estágio ofertado pelo sistema e manifestam interesse ou declinam da proposta.
4ª etapa - visita
De acordo com as manifestações positivas, o sistema verifica os mais bem colocados e seleciona um candidato para cada um dos planos de estágio. Na ocasião, ao escolhido recomenda-se uma visita ao órgão para obtenção de informações adicionais (não obrigatória).¹
5ª etapa - encaminhamento
Após o período de visitas, o estudante deve confirmar o encaminhamento para o preenchimento efetivo da vaga ou declinar deste.
¹ Os não selecionados retornam ao banco ativo para novas convocações.
Fonte: Elaboração própria.
18
5.3. REMUNERAÇÃO E BENEFÍCIOS
Considerando a diversidade da política de recursos humanos e a
disponibilidade orçamentária entre as entidades concedentes, o PEGESP foi
constituído em um modelo flexível em torno de bandas remuneratórias, crescentes de
acordo com o nível instrucional e a quantidade de horas do estágio.
Quadro2. Faixas de remuneração do Programa de Estágios do Governo do Estado de São Paulo.
Carga horária
Faixa Ensino Superior Educação
Profissional de Nível Médio
Ensino Médio
4 h
/dia
ou
80h
/mê
s
1 R$ 420,00 R$ 340,00 R$ 300,00
2 R$ 460,00 R$ 380,00 R$ 340,00
3 R$ 500,00 R$ 420,00 R$ 380,00
6 h
/dia
ou
120
h/m
ês
1 R$ 630,00 R$ 510,00 R$ 450,00
2 R$ 690,00 R$ 570,00 R$ 510,00
3 R$ 750,00 R$ 630,00 R$ 570,00
Fonte: Elaboração própria com base na Resolução SGP-20.
Embora a legislação não estabeleça obrigatoriedade quanto ao pagamento de
auxílio-transporte e auxílio-alimentação, já que os estágios do PEGESP são
remunerados e de caráter não obrigatório, os auxílios variam para cada instituição
concedente – sendo entre R$94,00 e R$ 350,00 para cidades do interior, e; entre R$
108,00 e R$ 1.000,00 para cidades da Região Metropolitana de São Paulo(FUNDAP,
2016).
Ainda no tocante a este tema, cabe apontar a mudança quanto ao modelo de
remuneração da Fundap: do percentual de 10% sobre o valor das bolsas para uma
taxa fixa de R$ 53,90 por bolsa administrada. Ambos os reajustes (bolsa e
remuneração) dependem de autorização da Secretaria de Planejamento e Gestão.
5.4. DIMENSÃO
19
Além de órgãos do poder executivo estadual, outros órgãos se associaram ao
PEGESP para organizar seus estágios, como a Assembleia Legislativa do Estado de
São Paulo18, a Prefeitura Municipal de Registro19 e o Tribunal Regional Federal da 3ª
Região20. Contudo, diante da recessão econômica que vem se agravando nos últimos
meses, assim como pelo processo de extinção vivenciado pela Fundação do
Desenvolvimento Administrativo – Fundap 21 , tanto o número de vagas, órgãos
ofertantes, quanto de candidatos tem diminuído significativamente22.
Tabela 1. Dados do PEGESP entre 2014 e 2016.
Ano Candidatos inscritos Vagas ofertadas¹ Órgãos¹
2014 130.009 22.899 151
2015 58.590 19.262 136
2016 15.192 4.486 128
Total 203.791 46.647 415
Fonte: Elaboração própria, com base em dados fornecidos pela gestão do programa.
5.5. AVALIAÇÕES COM EGRESSOS
Nos últimos anos, tornou-se prática a realização regular de pesquisa com os
estagiários egressos do programa, para além das informações coletadas no momento
de seu desligamento. A ferramenta tem demonstrado ser útil tanto para os gestores
(órgãos e Fundap), que conseguem fazer uma reflexão agregada, quanto para os
próprios ex-estagiários, dado que o interstício e a aplicação simultânea podem
promover uma posição mais confortável e fidedigna à experiência obtida.
Observando os dados dos últimos 3 anos (2013 a 2015), a média anual23 de
egressos foi de 8,9 mil estagiários e de2,6 mil respondentes à pesquisa, que inclui os
18Participou do programa entre 2012 e 2014. 19 Ligado ao PEGESP desde 2013. 20Participa desde 2013, mas estipulou bolsa-auxílio e benefícios diferenciados. 21 Lei n.16.019, de 27 de novembro de 2015. 22 Ainda que não seja objeto deste artigo, a título de ilustração cabe destacar o cancelamento recente
de outros dois programas de estágio da Secretaria Estadual da Educação, gerenciados pela Fundap: Programa Acessa Escola e Programa Residência Educacional – que, juntos, em 2013 ofertaram10.048 vagas (FUNDAP, 2016). 23 O período da pesquisa não coincide com o ano fiscal.
20
estagiários de todas as modalidades de ensino em questionário único. Por se tratar
de amostra acidental, a relação entre o universo e amostra é observada e balanceada,
caso seja necessário, permitindo uma análise conjunta dos dados.
Um dos principais pontos, normalmente lamentado por supervisores, é o turn-
over dos estagiários. Os dados do programa demonstram que, aproximadamente,
20% permanecem até 4 meses no estágio e 40% saem por iniciativa própria – que
podem ser motivados por um novo estágio/emprego, insatisfação, entre outros.
Simultaneamente é possível constatar que cerca de50% são desligados devido ao
próprio encerramento do curso ou término da vigência do TCE, e 30% renovam o
estágio ficando em período superior a 12 meses. Cabe ressaltar que, no ano de 2015,
houve um alto crescimento de desligamentos por parte dos órgãos públicos.
Normalmente na casa dos 5%, o índice saltou para aproximadamente 20% devido à
forte retração econômica já mencionada.
Em uma avaliação dos pontos fortes do programa estão: crescimento
profissional, novos conhecimentos e experiências (cerca de 80% dos respondentes
concorda); a oportunidade de atuar no setor público e compreender seu
funcionamento (mais de 75% concorda); e a expansão do relacionamento interpessoal
(mais de 65% de concorda).Por outro lado, aspectos que tiveram baixa adesão,
transformando-se em pontos fracos: melhoria no desempenho escolar (por volta de
35% concorda); oportunidade de conciliar teoria e prática (cerca 50% concorda); ter
uma supervisão adequada por profissionais da área de estudo (cerca 53%concorda).
O programa atinge um bom índice de satisfação quanto aos serviços prestados
pela Fundap (seleção, convocação, etc.), acima de 90% de avaliação satisfatória;
como também em relação ao aproveitamento dos conhecimentos prévios do
estagiário, supervisão, compatibilidade das atividades com o plano ofertado e
pertinência das atividades com o curso – todos acima de 84% de avaliação positiva.
O item pior avaliado, mas que ainda assim alcança 80% de satisfação, refere-se às
condições gerais do estágio (carga horária e bolsa-auxílio).
Por fim, as avaliações (2013 a 2015) também demonstram que, na média, para
maisde 26% dos respondentes a experiência supera as expectativas iniciais epara
21
42% atinge o almejado; enquanto para 7% não atinge as expectativas e para outros
22% atinge apenas parcialmente.
6. REFERÊNCIAS COMPARATIVAS
Com o intuito de aprofundar o tema do presente estudo, os autores contataram
alguns governos estaduais, conforme detalhado na metodologia, com vistas a
conhecer estruturas e/ou programas semelhantes ao PEGESP. Os convites enviados
a 14 estados resultaram em 10 devolutivas, conforme demonstra o quadro abaixo.
Ainda que o estudo seja exploratório, sem presunção amostral, nota-se dispersão
entre as regiões geográficas e portes dos estados, dialogando com elementos
mínimos de representatividade.
Quadro 3. Estados que responderam ao estudo sobre estágios.
REGIÃO UF
Norte AC
Nordeste
BA
PE
RN
Centro-oeste DF
GO
Sudeste ES
MG
Sul PR
RS
Fonte: Elaboração própria.
No primeiro subtema da pesquisa, referente aos instrumentos legais, todos
apontaram a existência de legislações específicas para regulamentar os estágios na
máquina estadual. Com exceção de um estado, que institucionalizou via Portaria, os
demais apontaram decretos promulgados entre os anos de 2008 e 201524.
24 A menção aos instrumentos mais recentes não rejeita a existência de instrumentos anteriores para
regulaçãoda matéria.
22
No bloco com questões relacionadas à governança, um primeiro aspecto
pesquisado foi o modelo para a gestão dos estágios, se estava ou não inseridona
estrutura governamental. Nesse tema, metade dos respondentes afirmou que uma
instituição governamental é a responsável por centralizar as vagas de estágio a serem
ofertadas. Três estados apontaram que não há um órgão responsável pela
centralização - cada órgão organiza a contratação de uma forma - e em dois pode-se
dizer que há centralização relativa.
Em complementação a esse ponto, tentou-se observar a autonomia dos órgãos
estaduais em algumas etapas da contratação de seus estagiários em relação aos
níveis centrais de governo. Conforme demonstra o gráfico abaixo, as administrações
centralizam principalmente os valores de remuneração e benefícios concedidos, bem
como a determinação da quantidade de vagas –normalmente ancoradas em tetos pré-
definidos.
Gráfico 1. Autonomia dos órgãos estaduais na gestão de estágios em relação às instituições centralizadoras
Resposta única, N=10.Fonte: Elaboração própria.
23
Ainda no tocante à governança, verificaram-se para quais tipos de ensino as
administrações públicas direcionam vagas. Todos os respondentes afirmaram atender
ao ensino superior e grande parte ao ensino médio – sendo interessante notar que a
educação profissional ficou atrás dessa modalidade.
Gráfico 2. Tipos de ensino atendidos pelas vagas de estágio estaduais
Resposta múltipla, N=10. Fonte: Elaboração própria.
Os últimos dados coletados, ainda neste tópico, foram as quantidades
aproximadas de órgãos ofertantes e vagas disponibilizadas. Em apontamentos gerais,
a média de órgãos ficou em 50 (mínimo de 12 e máximo de 80) e 2.400 vagas anuais,
na média, disponibilizadas por cada unidade da federação (mínimo de 20 e máximo
de 7 mil vagas)25.
Tendo em vista o peso dado ao processo seletivo para o ingresso na
administração pública, dedicou-se um tópico exclusivo ao tema. Durante a consulta,
foi possível perceber que os processos seletivos são muitas vezes realizados em
conjunto - com etapas de triagem pelas instituições centrais, ou por agentes de
integração, e mecanismos locais em cada órgão. Entre os processos mais apontados
estão as entrevistas com o gestor da vaga e o departamento de recursos humanos,
seguido da análise de currículo.
25 A razão de vagas versus órgãos variou entre 2 e 96.
24
Gráfico 3. Mecanismos de seleção utilizados
Resposta múltipla. N=10. Fonte: Elaboração própria.
Embora sejam utilizadas em larga escala pelo setor privado, apenas quatro
estados afirmaram que alguma etapa da seleção acontece online. Ainda nesta
temática, quanto ao ingresso, somente três unidades federadas apontaram contar
com uma formação básica e unificada a todos os estagiários, após sua contratação.
Por fim, o último bloco da pesquisa visou conhecer a percepção dos
respondentes quanto à “eficácia” do estágio no setor público para ambos os lados,
contratante e contratado. Em uma escala de importância, a maioria (8 estados)
classificou como “importante ou muito importante” a contribuição do trabalho
desenvolvido por estagiários para a administração pública. Do mesmo modo, quase a
totalidade (9 estados) afirmou que a administração pública é capaz de contribuir no
desenvolvimento profissional destes.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As políticas voltadas à institucionalização de estágios profissionais, em
complemento a formação estudantil, não são novidades para o Estado moderno. No
Brasil, houve ciclos em que a política para o estágio estivesse mais ligada ao ambiente
escolar, bem como àqueles em que, pela ausência ou baixa regulamentação, foi
25
sinônima à precariedade de trabalho. Em São Paulo, por suas características
históricas quanto à educação e estrutura governamental, já na década de
30proporcionou a primeira experiência regulamentar de estágio no setor público. Mas
foi, sem dúvidas, a instalação do programa de estágios, em 1980, que transformou os
casos isolados em política específica.
Partindo-se do funcionamento atual do programa, incluindo seus últimos anos,
alguns pontos merecem destaques. Em primeiro lugar, sua dimensão, já que
apresenta o maior número 26 de vagas e órgãos participantes. Em segundo, seu
modelo de seleção, que se assemelha a um concurso público de larga escala e
congrega dinâmicas inteligentes de manifestação de interesse dos estagiários. Assim,
o estudante torna-se o protagonista com base em sua meritocracia, podendo escolher
um plano de estágio entre muitos órgãos que lhe agrada, não restando qualquer
discricionariedade para administração pública. Devido a esse ponto característico,
diversos mecanismos de acompanhamento precisaram ser desenvolvidos, o que hoje
permite alto grau de feedback para a gestão do programa e para os próprios
supervisores, incidindo em sua qualidade.
Entre os pontos negativos, por sua vez, encontram-se a inexistência de uma
formação unificada entre os estudantes - que ficam na dependência do conteúdo
perpassado pelo supervisor e pelas equipes de trabalho – pois, ainda que existam os
ciclos de palestras, seu conteúdo e abrangência são ínfimos perante a latitude do
programa. Também fraca aparece a ligação entre a gestão do programa, órgãos
públicos e as escolas que, formalmente estabelecida, não possui instrumentos
adequados para mensurar a aplicação do efetivo aprendizado e vice-versa. Focado
no modelo tentativa-erro, provavelmente apenas no futuro é que se percebamos
desvios deste descolamento.
Embora seja preciso aprofundar o levantamento quanto aos demais estados, já
é possível notar grandes diferenças entre os modelos – que vão desde a existência
de um órgão centralizador, passando pela autonomia das diversas entidades nas
etapas de gestão dos estágios, até os modelos de processo seletivos utilizados. Ao
26 Considerando a média dos 3 últimos anos.
26
mesmo tempo, nota-se ampla convergência quanto à importância da participação do
estagiário no setor público e, por sua vez, da capacidade que este ambiente tem para
desenvolver estes estudantes. Nesse sentido, chama-se a atenção que além de
aspectos pessoais e profissionais, o estágio na administração pública tem alto
potencial para desenvolver a dimensão cidadã. Como lócus próprio da gestão das
políticas públicas, o estudante tem condições de desmistificar a engrenagem
governamental, bem como conviver e debater os valores societais estabelecidos (seja
para sua garantia ou mutação).
Com todo o exposto, o estudo ratifica a necessidade de valorização do papel
do estágio no setor público, bem como, do aprofundamento dos modelos para sua
gestão, já que estes podem interferir diretamente no sentido da política pública.
27
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financeira: Despesas. Fundação do Desenvolvimento Administrativo - Fundap.
Disponível em:
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_____________________________________________________________
AUTORIA
Bruno Lopes Correia – Fundação do Desenvolvimento Administrativo