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PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL DO ESTADO DO PARANÁ

TÂNIA MARA PEREIRA

CANTIGAS DE RODA DO FOLCLORE: UMA PROPOSTA DE LEITURA E DRAMATIZAÇÃO NAS 5ª E 6ª SÉRIES.

Artigo Final apresentado à Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR/FECILCAM e à Secretaria de Estado da Educação do Paraná – SEED, como requisito para conclusão da participação no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, sob orientação do Professor Ms. Wilson Rodrigues de Moura.

CAMPO MOURÃO 2012

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CANTIGAS DE RODA DO FOLCLORE: UMA PROPOSTA DE LEITURA E DRAMATIZAÇÃO NAS 5ª E 6ª SÉRIES.

TÂNIA MARA PEREIRA

1

WILSON RODRIGUES DE MOURA2

RESUMO

A pesquisa tem como objetivo fazer um resgate das cantigas de roda folclóricas abordando as suas características lúdico-poéticas e buscando as suas ligações com o processo ensino-aprendizagem proporcionando por meio do gênero cantigas de roda o conhecimento prazeroso que permite ao educando uma aprendizagem com sentido a leitura e a escrita buscando desenvolver um trabalho resgatando e preservando um pouco mais as tradições deixadas por nossos pais e avós, e que sejam lembradas por gerações futuras. Sendo os educandos agentes sociais planos, são produtores de cultura são por ela produzidos. É importante fazer uma ressalva que todo educando está imerso em um mundo cultural, que é formado não só pela família, mas também por todo grupo social no qual ele cresce. Podendo parecer curioso para alguns falar em cantigas de roda nos dias de hoje. Em tempos que estas manifestações da cultura popular ao qual o aluno está inserido estão com espaço diminuído. Nas ruas, nas praças, nos quintais está mais raro de se ver ou ouvir das bocas infantis aquelas canções que na simplicidade de suas melodias, ritmos e palavras guarda séculos de sabedoria e riqueza condensada no imaginário popular. Porém, sem estarem em alta, também não estão extintas. E as cantigas folclóricas vêm configurando uma situação contrastante e quase contraditória e muitas vezes têm partes omitidas ou formas esquecidas e transformadas, mesmo assim, elas sobrevivem à era do computador. Talvez, como junto com elas, lembranças, imagens e emoções, preservando uma ou mais tradições deixadas por nossos pais e avós e que sejam lembradas pelas gerações futuras.

Palavras chave: leitura; cantiga; folclore; poesia; dramatização.

1 Professora do Colégio Estadual de Ourilândia, graduada em Letras pela Fafijan.

2 Professor do curso de Letras da Universidade Estadual do Paraná – Campus de Campo Mourão.

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1. INTRODUÇÃO

Este artigo está vinculado ao Programa de Desenvolvimento Educacional do

Paraná e tem o objetivo principal é “Desenvolver a leitura e a dramatização por meio

das cantigas folclóricas, com intuito de minimizar os efeitos perminiciosos os das

músicas contemporâneas”.

A língua enquanto atividade discursiva é lúdica, representando uma

possibilidade de interação social, em que o aluno não só se comunica, mas tem

acesso à informação, produz conhecimento, partilha e constrói a visão de um

mundo. Como confirmam as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná:

As etapas históricas do desenvolvimento da humanidade não são fórmulas esvaziadas das quais se exalou a vida porque a humanidade mediante a práxis, elas se vão continuamente integrando no presente. (Kosik, 2002, p. 150).

Nessa continuidade faz-se necessário a atuação pedagógica na valorização

dos conhecimentos que os alunos possuem, fazendo leituras prévias de livro de

literatura no acervo da biblioteca possibilitando a todos uma aprendizagem no que

se refere ao resgate das cantigas de roda e canções populares onde é feito um

trabalho com a poesia e a dramatização teatral em uma nova dinâmica em sala de

aula e comunidade escolar.

Este artigo trata das cantigas de roda folclóricas, abordando suas

características lúdico-poéticas e buscando as suas ligações com o processo ensino-

aprendizagem.

Desta forma o trabalho com o gênero cantigas de roda proporciona o

conhecimento prazeroso que permite ao educando uma aprendizagem com sentido

à leitura e a escrita buscando desenvolver um trabalho resgatando e preservando

um pouco mais as tradições deixadas pelos pais e avós para que sejam lembradas

pelas gerações futuras. Parte-se da perspectiva de que a prática pedagógica

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envolve a atuação do professor em sala de aula deve se alicerçar em elementos

presentes no cotidiano do aluno. A partir destes elementos busca-se a construção

do conhecimento sistematizado, dando um sentido concreto às experiências

vivenciadas pelo aluno na escola. Assim sendo, cantigas de roda que fizeram parte

do imaginário da infância, se resgatadas, podem servir como diferencial para a

eficiência do ato de ensinar e aprender. Elas servirão como base para a leitura, para

reflexões sobre as diversas realidades que representam, suas conotações históricas,

além de servir como base para produções de atividade escritas, de expressão oral e

corporal.

É importante também ressaltar que o seu resgate colabora para que as

crianças percebam que existem alternativas de brincadeiras que as colocam em

movimento e nisto se diferem das atividades com suporte tecnológico, tais como:

jogos de computador, programas de televisão, entre outras.

Trata-se de trabalhar a cantiga de roda como instrumento de aprendizagem

de influência positiva na vida escolar do aluno, levando-o a perceber que a produção

do texto está intimamente ligada a formas de expressão própria do ser humano,

além de ser aspecto fundamental no processo de comunicação entre os seres

humanos, em especial no mundo contemporâneo.

O trabalho com este instrumento em sala de aula pode se constituir, portanto,

em uma atividade prazerosa ligada à leitura e à produção de texto e estimular o

desenvolvimento de tais hábitos. Ao mesmo tempo, podem estabelecer em sala de

aula relações mais amenas, pois se aprende de modo divertido, como menor

pressão do que a exercida pelo ensino mais “formal” dos textos literários.

Deve-se perceber, no entanto que, esta não é uma atividade de rotina, mas

que se efetiva como prática pedagógica em um momento distinto em que se procura

estabelecer um vínculo entre o aluno e a leitura, ou seja, é o momento em que a

criança passa a habituar-se com uma atividade própria da disciplina de Língua

Portuguesa.

Com as cantigas de roda trabalhadas de modo pedagógico pretende-se

desenvolver a leitura por meio da dramatização das mesmas, o que exige uma

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compreensão de sua função na vida do grupo social que as desenvolveram, que as

utilizaram, bem como das formas como foram utilizadas. Elas permitem ainda o

resgate das tradições orais e culturais dos antepassados e a descoberta de uma

literatura presente na realidade cotidiana em algum momento histórico com suas

especificidades.

Desta forma, a escola atua como ponte entre o aluno, a comunidade e o

saber sistematizado, instrumentalizando o indivíduo no sentido de perceber a

construção do conhecimento nas mais diversas instâncias e, também a utilização da

língua em suas mais variadas possibilidades.

2. IMPORTÂNCIA DA LEITURA PARA A FORMAÇÃO E

EMANCIPAÇÃO DO INDIVÍDUO

Desenvolver o interesse e o hábito pela leitura é um processo constante que

começa muito cedo, em casa, aperfeiçoa-se na escola e continua pela vida inteira.

Em um mundo tão cheio de tecnologias em que se vive, onde toda a

informação, notícia, música ou filme muito utilizados pelos indivíduos, em especial

com o acesso à internet, aparecem de forma muito diluída e rápida nem sempre é

possível refletir sobre o que se vê, se ouve ou se lê.

Mas, quem conhece a importância da literatura na vida de uma pessoa, quem

sabe o poder de uma história, bem sabe o poder de uma cantiga de roda, ou de

ouvir, uma poesia, ou seja, de uma leitura com direcionamento definido, com

intencionalidade.

Com certeza haverá de dizer que não há tecnologia no mundo que substitua o

prazer de tocar as páginas de um livro e encontrar nelas um mundo repleto de

encantamento.

Mesmo enunciados separados um do outro no tempo e no espaço e que nada sabem um do outro, se confrontados no plano de sentido, compreende a palavra “dialogo” num sentido mais amplo: “não apenas como a

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comunicação em voz alta toda a comunicação verbal, de qualquer tipo que seja”. (BAKHTIN, 1992, p. 354)

Só há uma maneira de se tornar leitor: lendo. E essa atitude é cultural, ela

não nasce espontaneamente, tem que ser desenvolvida e sempre alimentada. O

entorno cultural em que a pessoa vive é determinante para que a habilidade de ler

tenha chances de crescer. Ela é fruto do exemplo e das oportunidades de contato

com a cultura letrada, em suas diversas formas. O exemplo e as oportunidades são

criados por adultos que estão próximos as crianças e aos jovens. Cabe aos

professores brasileiros uma carga muito pesada, já que a maioria das famílias não

tem chances de comprar livros, jornais diários e revistas semanais, dificultando o

acesso ao texto escrito nas casas. Para que os professores possam desempenhar

essa função, as escolas devem oferecer as condições para que eles possam agir na

maneira de cumprir essa falta, o que significa oferecer meios para uma formação

continuada, ter bibliotecas com livros novos e variados e um projeto pedagógico em

que o convívio com os livros esteja no centro dos trabalhos e dos interesses do

todos.

Segundo a revista Mundo Jovem Língua e Literatura, de junho de 2007, a

leitura no mundo moderno e a habilidade intelectual mais importante a ser

desenvolvida e cultivada por qualquer idade. Os alunos que não tiverem a

oportunidade de descobrir os encantos e os poderes da leitura terão mais

dificuldades para realizar seus projetos de vida do que aqueles que escolheram a

leitura como companhia.

Se o professor acreditar que além de informar ou ensinar a leitura do livro

pode dar alegria e prazer, encontrará meios de mostrar isso ao educando, buscando

nos livros poesias, cantigas de roda e leituras diversas. Enfim a leitura é um amplo

campo de estudo e trabalhando com o lúdico o aluno interioriza conceitos,

demonstra anseios e desejos escondidos, tendo uma visão de mundo buscando a

compreensão das crianças e adultos passando a concretizar-se quanto suas

próprias responsabilidades diante dos acontecimentos. Na cantiga folclórica o

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educando busca desenvolver seus pensamentos em relação ao que está sendo

cantado argumenta sobre o que é dito proporcionando o processo da aprendizagem.

Trabalhou-se o projeto no segundo semestre de 2011 com os alunos de 5ª e

6ª séries com o objetivo de mostrar ao educando o quanto é sadio o ato de ouvir

música, de modo que consiga enxergar com olhos críticos os significados. Nossos

alunos não cantam as cantigas de roda, por isso, demonstrou-se a importância do

resgate das cantigas folclóricas.

Iniciou-se com um estudo sobre as cantigas populares, sendo feita uma

sondagem, a maioria dos alunos conheciam e apreciam o tema a ser estudado.

Na aplicação do repertório por parte dos alunos pesquisou-se com pais, avós

e comunidade escolar sobre as cantigas que os entrevistados conheciam.

Dando sequência se propôs várias atividades de leitura e escrita identificando

as características peculiares do gênero cantigas de roda.

Durante as discussões entre os alunos, houve troca de informações sobre

músicas, maneiras e ordem para possibilitar a coletividade, incentivando a

participação de todos os alunos, com a escrita das canções como poesia e

dramatização teatral das cantigas selecionadas. Feita a revisão e reformulação

necessárias para o aprimoramento do projeto.

Finalizando com a produção de um pequeno livro com as cantigas e a

representação teatral com a participação das famílias dos alunos e comunidade

escolar.

Pretende-se incorporar o projeto nas escolas todos os anos, na semana

cultural do Colégio Estadual de Ourilândia. Trazendo o resgate em ações sensoriais

do ser humano estimulando a criação de novas cantigas e poemas por parte dos

estudantes envolvidos no projeto.

3. INFLUÊNCIAS DAS CANTIGAS DE RODA E DO FOLCLORE NA

INFÂNCIA

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De acordo com a Coletânea Cantigas de roda e musicas infantil e a

Enciclopédia Livre, relata que as cantigas de roda foram introduzidas no Brasil pelos

Portugueses, durante muito tempo as cantigas ou as brincadeiras de roda foram as

principais atividades lúdicas das crianças. Parte-se do pressuposto de que a criança

aprende melhor quando tem domínio e conhecimento do assunto com o qual a

escola busca introduzi-la no processo de alfabetização. No que se refere às cantigas

busca-se compreendê-las no universo lúdico infantil. E se recorre a elas

considerando sua contribuição para uma aprendizagem ativa, no sentido de que a

criança não se submete as imagens, mas aprende a manipulá-las e transformá-las.

Essa cultura lúdica não é composta apenas pelas brincadeiras e manipulações, mas

ela é também simbólica, suporte de representações. O fato de contar uma historia,

contar uma cantiga, dramatizar, insere-se os saberes escolares as atividades que

compõe o universo lúdico infantil e que possibilitam ao aluno imaginar e criar novos

conceitos de valores. Por isso, os alunos demonstram maior afinidade e interesse

pelo trabalho desenvolvido em sala de aula.

As cantigas de roda e canções populares são uma grande expressão

folclórica e acredita-se que pode ter origem em músicas modificadas de um autor

popular ou nascidas anonimamente na população. São melodias simples, tonais,

com âmbito geralmente de uma oitava e sem modulações, sendo que as letras das

canções podem sofrer manifestações de transmissão oral.

As canções do folclore aparentemente simples são fontes de estimulo e afeto

do ser humano, sendo também uma forma de auto-expressão, pois é natural e todo

ser humano precisa vivenciar o lado lúdico da realidade, pois a ludicidade não deve

ser vista apenas como diversão ou momentos de prazer, mas momentos de

desenvolvimento da criatividade, da socialização com o próximo, dos domínios

cognitivos e afetivos.

As cantigas de roda, comuns no cancioneiro folclórico infantil, geralmente

canções anônimas advindas da cultura espontânea dos povos dão continuidade a

elaboração emocional e estruturação da pessoa em desenvolvimento iniciado pelos

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acalentos. Devido à simplicidade musical, riqueza simbólica e ludicidade peculiar,

que por meio destes elementos lúdicos, conquistam a criança como aquilo que é

próprio do seu tempo.

As cantigas de roda projetam a essência da inserção na vivência cultural e na

socialização.

Alimentam a imaginação oferecendo ao educando desenvolver atividades e

vivenciar de maneira concreta as cantigas de roda visa como excelente meio de

transmissão de conhecimentos e revelador da cultura de nosso povo.

4. O ENCANTO DA POESIA E DA DRAMATIZAÇÃO COMO

ESTÍMULO PARA A APRENDIZAGEM

Como diz a revista Mundo Jovem, Língua Portuguesa e Literatura, da edição

de Março de 2009, fazer poesia hoje é remar contra a correnteza de um mundo

mecanicista e utilitário. É criar oásis com as mãos, pena e papel; oca de sonhos

para nos abrigarmos das tempestades da vida. A poesia é outro dizer, interposto

entre dois intervalos de tempo. É parar o tempo para instaurar um novo tempo, em

que a vida corre com plenitude. Fazer poesia é amar a humanidade e enlamear seus

tempos.

O poema surge de um momento de encantamento, diante de coisas que faz

parar e contemplar; ou de um momento de perplexidade, diante de coisas que deixa

a humanidade pasma diante da falta de lucidez. Houve um tempo em que era

possível fazer poesia falando apenas de flores e amores. Hoje ainda é tempo de

falar de flores e amores, numa tentativa de resgatar o belo da vida.

Os imperativos do tempo moderno proclama uma poesia de constatação, de

indignação face às justiças, à intolerância e a crueldade a que se pode chegar.

Assim, o poeta de hoje é bem mais exigido, deve aliar o ritmo poético universal a

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temas nada poéticos. Este é um grande desafio - trazer para a poesia, a luz da

estética, tanto a contemplação quanto a denuncia, sob pena de tornar-se um poeta

alienador.

Há certo mito que ronda a poesia, entabulando-a como matéria para loucos

ou iluminados, algo quase sobrenatural. Entretanto a "inspiração poética", hoje já

questionada por muitos, como João Cabral de Melo Neto (que afirmava ser a poesia

"5% de inspiração e 95% de transpiração"), é resultado de um complexo mecanismo

de associações psíquicas, de imagens captadas consciente ou inconscientemente.

A escola pode ser um meio de produção e disseminação do texto poético,

embora não é notada a importância desse aspecto no contexto escolar. Trabalhar a

poesia na escola é plantar semente de sensibilidade. Contrapor ao deus-mídia que

rouba os filhos, as crianças, os alunos, tecendo com eles novos horizontes que os

ajudem a enxergar mais longe e a descobrir seu papel no mundo. Fazer com que se

não haja diferença e luta por um mundo mais humano, que não se conforme com o

senso-comum esperança e força. A esperança faz nascer o brilho nos olhos e a

força, quando bem direcionada, cria as condições para a materialização do sonho.

Para a escola que ainda acredita na Utopia de que um mundo diferente pode

ser construído, a poesia surge como um dos canais dessa construção. A escola

pode proporcionar condições para desabrochá-lo do ser poético nos educandos, por

meio de momentos de fruição do texto poético, criando sempre o clima para tal.

Por ser a poesia um enigma (daí ser considerada hermética e de difícil

acesso, quando não inacessível), presta-se muito bem as atividades de

interpretação. Mesmo as poesias mais complexas contem em si a chave para o seu

deciframento. Toda poesia pressupõe um público. Não teria sentido uma poesia

indecifrável, compreender poesias, aprender a usar as chaves também é um longo

exercício de leitura e diálogo com a palavra. Aqui cabe uma ressalva: nunca usar o

texto poético como pretexto para a gramática, isso seria matar a poesia.

Mas a melhor atividade que a escola pode desenvolver são as oficinas

literárias. Podendo ser montadas pelo professor ou retiradas de livros.

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5. CANTIGAS DE RODA: UMA EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA

POSITIVA

A proposta tem como objetivo fazer o resgate das cantigas folclóricas por

meio de leitura, poesia, dramatização das cantigas com o intuito de minimizar os

efeitos perniciosos das músicas contemporâneas.

Cantar é forma de expressão do humano, diz o ditado popular “Quem canta

seus males espanta”.

O ser humano gosta de brincar, cantar, não importa a idade, as cantigas de

roda são muito importantes, pois pertencem à tradição oral sendo transmitidas de

geração em geração.

A implementação foi realizada com alunos das 5ª e 6ª séries do Ensino

Fundamental do Colégio Estadual de Ourilândia no Município de Barbosa Ferraz.

Um dos processos para iniciar esse trabalho foi à apresentação do projeto

aos alunos participantes, dando continuidade fez-se uma sondagem para descobrir

as cantigas de maior interesse dos alunos fazendo um levantamento do que os

mesmos entendiam por cantigas de roda e uma pesquisa com pais, avós e

comunidade.

Antes de iniciar as atividades das cantigas de roda relacionadas à prática da

leitura e produção de um pequeno livro, foi preparado um ambiente adequado para

que os alunos se sentissem bem à vontade.

Com pesquisa na biblioteca da escola com acervo variado para a escolha e

apreciação das cantigas de roda sempre com a presença de um fundo musical

interagindo os alunos ao trabalho proposto.

No segundo momento em que várias cantigas foram pesquisadas e

apreciadas pelos alunos, foi feita dentre as várias cantigas a etapa de percepção

iniciando com a música “Se Essa Rua Fosse Minha”. Aplicada em sala de aula em

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que os estudantes dispostos em forma bem à vontade, sentados no chão ou em

almofadas, ouviram a canção, recitaram em forma de poesia, dando sequência foi

convidado cada participante para integrar a roda para executar a dramatização

espontânea da cantiga, a primeira reação do grupo foi de riso, mas, aos poucos

todos se integraram à atividade. Posteriormente foram trabalhadas as demais

cantigas propostas, foi feita a produção com ilustração de um pequeno livro das

canções escolhidas tais como:

Se Essa Rua Fosse Minha

Alecrim Dourado

Cravo e a Rosa

Terezinha de Jesus

Escravos de Jó

Pombinha Branca

Fui ao Tororó

Eu Entrei Na Roda

E muitas outras cantigas trazidas pelos alunos.

Propondo aos alunos a produção de um pequeno livro e dramatização de

forma teatral das cantigas de roda, propor uma cerimônia especial com

apresentação de dramatização teatral das cantigas com a participação dos pais dos

alunos e comunidade escolar.

Ao reviver as cantigas de roda onde os alunos ampliaram seu repertório e se

aproximaram do gênero estudando.

Foi preciso consciência e valorizar a cultura do folclore regional e nacional,

principalmente no que se refere a cantigas de roda e poesia. O trabalho terá

continuidade na escola, com participação na semana cultural. Sugerindo a

realização de novas canções e poemas, compreendendo que são capazes de

produzir lindas cantigas que serão apreciadas e lembradas pelas gerações futuras.

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6. CONCLUSÃO

Elaborar e executar projetos depende de diversos fatores que influenciam as

atividades propostas. O trabalho com elementos diversificados em sala de aula, que

neste trabalho se refere à utilização das cantigas de roda como instrumentos de

apoio ao desenvolvimento da leitura, contou com a colaboração de diversos agentes

para a sua implementação: pais, alunos, professores, funcionários, que, direta ou

indiretamente estiveram presentes durante as fases de produção. Proporcionou,

portanto, como primeiro resultado, a integração entre os diversos setores da

comunidade escolar.

Possibilitou o resgate de cantigas de roda e a reflexão sobre a produção de

conhecimentos a nível popular e de modo sistematizado ou conhecimentos

científicos, além de envolver os alunos em atividades de comunicação escrita, oral,

corporal e cultural.

Proporcionou uma nova prática pedagógica centrada na participação efetiva

do aluno, que foi convidado a se envolver no processo de ensino-aprendizagem

como pesquisador, como proponente de textos e de atividades a partir das

pesquisas realizadas em bibliotecas, junto aos familiares e outros sujeitos da

comunidade.

Promoveu a ligação entre a leitura e outros modos de produção cultural:

música, dança, dramatização, dinamizando os processos de comunicação.

Colaborou para que se organizasse material referente às cantigas

pesquisadas, facilitando o acesso dos alunos e professores a tais produções

culturais e atividades desenvolvidas com objetivo de reutilização em sala de aula,

em especial, para preparação de apresentação para a Semana Cultural.

A partir da aplicação do projeto, mais especificamente do caderno pedagógico

os alunos passaram a ter consciência da grande importância na preservação da

cultura folclórica principalmente no projeto trabalhando sobre a cantiga de roda.

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Percebeu-se que os alunos tiveram suas emoções e seus imaginários

despertados para a violência que passaram no decorrer do projeto.

Ao concluir esse trabalho se faz necessário a consciência de que ele deverá

ter continuidade, ou seja, que não se deixe desaparecer elementos culturais como

as cantigas folclóricas que poderão ser passadas e vivenciadas por gerações

futuras, pois a música contribui para tornar a escola mais convidativa e favorável à

aprendizagem, afinal proporcionar experiências prazerosas que sejam vividas no

presente é a dimensão essencial da pedagogia e é preciso que os esforços dos

alunos sejam estimulados, compensados por atitudes que possam ser vivenciadas

no presente, a partir de referências concretas que possam pautar também a

realidade de futuras gerações.

Novas práticas pedagógicas são necessárias à construção de uma escola

democrática, que permita acesso e sucesso a todos, mas que principalmente,

promovam a identificação dos indivíduos que dela dependem para que possam se

sentir parte da construção dos saberes, agentes de transformação, sujeitos do

processo de aprendizagem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Mundo Jovem. Língua e Literatura, mar 2009 pág. 14. SOARES, Magda. Linguagem e escola, urna perspectiva social. 1986 SOUZA, Jusamara. Cotidiano e educação. Porto Alegre: Programa de pós-graduação em música, 2000. VYGOTSKY. Uma perspectiva histórico-cultural da educação. 8a Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.