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PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE COORDENADORIA DE RECURSOS HUMANOS FUNDAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO - FUNDAP SILVA, AMANDA DIAS A TERAPIA OCUPACIONAL NA ASSISTÊNCIA EM SAÚDE MENTAL COM UM PACIENTE ESQUIZOFRÊNICO NO HOSPITAL DIA - ESTUDO DE CASO RIBEIRÃO PRETO 2017

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PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL

SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE COORDENADORIA DE RECURSOS HUMANOS

FUNDAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO - FUNDAP

SILVA, AMANDA DIAS

A TERAPIA OCUPACIONAL NA ASSISTÊNCIA EM SAÚDE MENTAL COM UM PACIENTE ESQUIZOFRÊNICO NO HOSPITAL DIA − ESTUDO DE

CASO

RIBEIRÃO PRETO 2017

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PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL

SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE COORDENADORIA DE RECURSOS HUMANOS

FUNDAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO – FUNDAP

SILVA, AMANDA DIAS

A TERAPIA OCUPACIONAL NA ASSISTÊNCIA EM SAÚDE MENTAL COM UM PACIENTE ESQUIZOFRÊNICO NO HOSPITAL DIA − ESTUDO DE

CASO

Monografia apresentada ao Programa de Aprimoramento Profissional/CRH/SES-SP e FUNDAP, elaborada no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – USP/ Departamento de Neurociências e ciências do comportamento. Área: Terapia Ocupacional em Saúde Mental Orientador(a): Profª Drª Adriana Sparenberg Oliveira Supervisor(a) Titular: Profª Drª Adriana Sparenberg Oliveira

RIBEIRÃO PRETO 2017

3

RESUMO

A esquizofrenia é um transtorno mental no qual a pessoa perde total ou parcialmente o

contato com a realidade, geralmente constituído por sintomas de psicose, alucinações e

delírios. A doença pode interferir nos pensamentos, emoções, no funcionamento laboral

e social. Este estudo objetiva relatar estudo de caso vivenciado durante o período do

Programa de Aprimoramento Profissional (PAP) em Terapia Ocupacional no setor do

Hospital Dia em psiquiatria, no ano de 2016. Sendo assim realizado um estudo de caso

informal de como o olhar da Terapia Ocupacional permite a atuação perante demandas

de paciente com esquizofrenia paranóide. Para a discussão do desenvolvimento,

juntamente com os resultados obtidos, foi realizada uma pesquisa mais detalhada sobre

o diagnóstico e tratamentos. O Hospital Dia em psiquiatria abrange atenção integral ao

paciente e à família, possibilitando uma rede mais completa de tratamento, acolhimento,

troca de experiências e cuidado amplo.

Descritores: Esquizofrenia; Terapia Ocupacional; Saúde Mental; Hospital Dia

4

Sumário

Resumo.............................................................................................................. 03

1. Introdução.......................................................................................................... 05

1.1 Hospital Dia................................................................................................. 05

1.2 Esquizofrenia............................................................................................... 06

2. Objetivos............................................................................................................ 07

3. Método............................................................................................................... 07

3.1 Amostra e Tipo de Pesquisa........................................................................ 07

3.2 Sujeito........................................................................................................... 09

3.3 Critério de Inclusão...................................................................................... 09

3.4 Benefícios e Riscos...................................................................................... 09

3.5 Procedimentos para Coleta de Dados.......................................................... 10

4. Resultado e Discussão....................................................................................... 18

5. Referencias......................................................................................................... 22

5

1. INTRODUÇÃO

1.1 Hospital-Dia

O Hospital-Dia é um serviço de semi internação que apresenta como

característica a participação da família no dia a dia do tratamento, bem como objetiva a

reabilitação psicossocial, sendo um serviço composto por uma equipe multidisciplinar

que trabalha para diminuir a reincidência da doença, prevenção, controle de sintomas e

principalmente a evolução do sujeito para que esteja apropriado para receber a alta.

Contel (1991) e Junqueira (2009) relatam que o Hospital-Dia do Hospital das

Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-

USP) foi instalado pela primeira vez em 1961, no Departamento de Psicologia Médica e

Psiquiatria da FMRP-USP, sendo o primeiro ligado a uma universidade brasileira a oferecer

hospitalização parcial para doentes mentais graves, fora do contexto da internação integral da

época. Por motivos de falta de técnicos especializados, o hospital fechou em 1967. Reabrindo

após oitos anos de interrupção, em 1974, tendo os mesmo conceitos básicos e novas

experiências.

De acordo com Contel (2012) a maneira como selecionam os pacientes, a

necessidade do transporte e uma equipe bem treinada são fatores determinantes para a

eficácia do tratamento no hospital dia.

O Hospital-Dia é uma opção voluntária de tratamento psiquiátrico, indicado a pacientes com psicopatologias graves, agudas ou reagudizadas, com a característica distintiva de ser menos restritiva que a hospitalização integral e mais protetora que tratamentos ambulatoriais (JUNQUEIRA, 2009).

Contel (1991) e Junqueira (2009) citam as características atuais da proposta dos

Hospitais-Dia que se dá oferecer uma reabilitação psicossocial, promovendo um melhor

ajuste do paciente consigo mesmo, com o familiar e com a sociedade, além de

diagnosticar e tratar os sintomas atuais que acometem.

Contel (2012) cita as possíveis ações que descrevem a hospitalização parcial,

sendo essas: tratamento agudo como alternativa ao cuidado hospitalar; uma instituição

de transição para reduzir a estadia no cuidado hospitalar; serviço social e avaliação

vocacional para uma ampla gama de pacientes; apoio e manutenção (incluindo

6

medicação) para pacientes cronicamente incapacitados que, caso contrário, poderiam

necessitar de uma hospitalização prolongada;

A hospitalização parcial funciona muito bem quando

estreitamente ligada a outras instituições psiquiátricas,

incluindo unidades hospitalares e ambulatoriais, como é

demonstrado pelo Hospital Dia da Escola de Medicina de

Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Ele está

adaptado à realidade brasileira e tem tido êxito em

manter os pacientes estáveis e sem recorrer à

hospitalização integral ao longo dos anos, constituindo

um modelo a ser disseminado tanto no país como fora

dele. (CONTEL, 2012)

Ainda de acordo com Contel (1991), Junqueira (2009) e o vivenciado no

Programa de Aprimoramento Profissional, o Hospital-Dia tem a possibilidade de tratar

até 16 pacientes, com idade acima de 16 anos, de ambos os sexos, de segunda à sexta-

feira, das 07h30min às 15h30min, sendo caracterizada como assistência diária.

1.2 Esquizofrenia

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (2015) a esquizofrenia é

caracterizada por uma distorção de pensamento, percepções, emoções, língua,

autoconsciência e comportamento. Algumas das experiências mais comuns é o fato de

vozes e ilusões auditivas.

Silva (2006) relata que as causas da esquizofrenia ainda são desconhecidas,

porém, há indícios que ligam a desorganização da personalidade com aspectos culturais,

psicológicos e biológicos.

Ainda de acordo com Silva (2006) o início dos sinais e sintomas aparece mais

comumente durante a adolescência ou início da fase adulta. Podendo surgir de forma

expandida, mas a mais freqüente é de forma silenciosa. Os aspectos que caracterizam a

esquizofrenia são alucinações e delírios, transtornos de pensamento e fala, perturbação

das emoções e do afeto, déficits cognitivos e avolição.

Dados atuais revelam a presença de alterações severas ao nível de um conjunto de funções

7

especializadas no tratamento de informação social e afetiva e na representação dos estados mentais, que se designam por cognição social. (FREIRE; IGLESIAS, 2014)

Tonelli e Alvarez (2009) afirmam que o comprometimento do desempenho

social é um sintoma eminente da esquizofrenia e pode ocasionar na forma de isolamento

social e na forma de inadequação afetiva e comportamental.

Este trabalho foi realizado mediante ao interesse em relatar a atuação prática da

Terapia Ocupacional junto ao usuário diagnosticado com esquizofrenia no serviço de

saúde mental no Hospital-Dia do Hospital das Clínicas da faculdade de Medicina de

Ribeirão Preto - USP. Permitirá explorar diferentes tipos de demandas que o usuário

apresenta e qual o embasamento da Terapia Ocupacional na atuação.

2. OBJETIVOS DO ESTUDO

O presente estudo objetiva realizar um estudo de caso atendido durante o

período Programa de Aprimoramento Profissional (PAP) em Terapia Ocupacional, no

setor de saúde mental no Hospital Dia, de abril a agosto de 2016. Com o intuito de

ampliar um olhar significativo da atuação da Terapia Ocupacional com demandas

trazidas por usuário diagnosticado com esquizofrenia.

3. MÉTODO

3.1 Amostra e Tipo de pesquisa

Este é um estudo de natureza descritiva com utilização da abordagem qualitativa

para a elaboração de um estudo de caso.

De acordo com Gil (2007), a pesquisa descritiva tem como principal objetivo

descrever características de determinada população ou fenômeno. Uma de suas

características mais significativas está na utilização de técnicas padronizadas de coleta

de dados.

Os estudos de casos são investigações detalhadas de uma única entidade ou de

um pequeno número de entidades. Entidade pode ser um indivíduo, família, instituição,

comunidade ou outra unidade social. No estudo de caso, os pesquisadores obtêm uma

riqueza de informações descritivas e podem examinar relações entre fenômenos

8

diferentes ou tendências ao longo do tempo. Os pesquisadores de estudos de caso

tentam analisar e compreender questões importantes para a história, desenvolvimento ou

as circunstâncias da entidade estudada. (POLIT e BECK, 2011)

Segundo Ventura (2007), os estudos de caso têm várias aplicações. Assim, é

apropriado para pesquisadores individuais, pois dá a oportunidade para que um aspecto

de um problema seja estudado em profundidade dentro de um período de tempo

limitado. Além disso, parece ser apropriado para investigação de fenômenos quando há

uma grande variedade de fatores e relacionamentos que podem ser diretamente

observados e não existem leis básicas para determinar quais são importantes. A autora

relata ainda que dentre as vantagens dos estudos de caso estão a ênfase na

multiplicidade de dimensões de um problema e permitem uma analise em profundidade

dos processos e as relações entre eles.

Segundo Gil (1995 apud VENTURA, 2007), o estudo de caso não aceita um

roteiro rígido para a sua delimitação, mas é possível definir quatro fases que mostram o

seu delineamento: a) delimitação da unidade-caso; b) coleta de dados; c) seleção,

análise e interpretação dos dados; d) elaboração do relatório.

A primeira fase consiste em delimitar a unidade que constitui o caso, o que exige

habilidades do pesquisador para perceber quais dados são suficientes para se chegar à

compreensão do objeto como um todo. Como nem sempre os casos são selecionados

mediante critérios estatísticos, algumas recomendações devem ser seguidas: buscar

casos típicos (em função da informação prévia aparentam ser o tipo ideal da categoria);

selecionar casos extremos (para fornecer uma ideia dos limites dentro dos quais as

variáveis podem oscilar); encontrar casos atípicos (por oposição, pode-se conhecer as

pautas dos casos típicos e as possíveis causas dos desvios). (VENTURA, 2007)

A segunda fase é a coleta de dados que geralmente é feita com vários

procedimentos quantitativos e qualitativos: observação, análise de documentos,

entrevista formal ou informal, história de vida, aplicação de questionário com perguntas

fechadas, levantamentos de dados, análise de conteúdo etc. Há uma pluralidade de

procedimentos que podem ser incorporados. (VENTURA, 2007)

A terceira fase é conjunta, representada pela seleção, análise e interpretação dos

dados. A seleção dos dados deve considerar os objetivos da investigação, seus limites e

um sistema de referências para avaliar quais dados serão úteis ou não. Somente aqueles

selecionados deverão ser analisados. (VENTURA, 2007)

9

A quarta fase é representada pela elaboração dos relatórios parciais e finais. Vale

lembrar que deve ficar especificado como foram coletados os dados; que teoria embasou

a categorização dos mesmos e a demonstração da validade e da fidedignidade dos dados

obtidos. (VENTURA, 2007)

Os dados encontrados serão analisados procurando-se compreender os conteúdos

encontrados nos prontuários e relatórios de atendimentos da Terapia Ocupacional.

(GOLDENBERG 1999). Será utilizada a Análise de Conteúdo Temática, pois a

presença de determinados temas denota os valores de referência e os modelos de

comportamento presentes no discurso. (MINAYO, 2004)

3.2 Sujeito

Esse estudo será composto por um sujeito pertencente ao serviço de semi-

internação de Saúde Mental do Hospital-Dia do HCFMRP-USP. O sujeito é do sexo

masculino, tem 26 anos, é natural e procedente de Ribeirão Preto. Reside com os pais e

os irmãos. Divorciado há oito meses, sem filhos. Recentemente diagnosticado com

esquizofrenia paranóide tendo episódio depressivo maior grave como comorbidade.

Com admissão ao serviço em 14/03/2016 e alta em 05/08/2016.

3.3 Critérios de Inclusão

Os critérios de inclusão e exclusão não se aplicam, devido ao fato de ser

previamente escolhido um único caso em tratamento no Ambulatório de Saúde Mental

do Hospital-Dia, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto -

USP.

3.4 Benefícios e Riscos

Por esse ser um estudo de natureza descritiva, que busca aprofundar o

conhecimento sobre um caso especifico, não há beneficio direto ao participante da

pesquisa, somente ampliar o conhecimento e a compreensão sobre o seu caso ao termino

do estudo.

3.5 Procedimentos para Coleta de dados

10

Para alcançar os objetivos desse estudo será realizada a coleta de dados por meio

da revisão de prontuário e relatórios de atendimentos realizados no Hospital-Dia do

Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP. No período de

abril de 2016 a agosto de 2016.

O levantamento do material clínico será realizado a partir da leitura de

prontuário médico e anotações de campo. Serão feitos registros, documentação e análise

dos atendimentos clínicos do Terapeuta Ocupacional.

Estudo de Caso

Os atendimentos em terapia ocupacional aconteciam semanalmente, às quintas,

regidos apenas por um terapeuta ocupacional. Foram realizados 13 encontros sendo 3

para avaliar e identificar as demandas, 9 para as intervenções necessárias e 1 para

finalização de atendimento e alta. Tiveram duas faltas justificadas durante o processo.

O paciente, RSC, tem 26 anos, é natural e procedente de Ribeirão Preto, reside

com os pais, um irmão mais velho e uma irmã caçula, sem filhos. Atualmente encontra-

se afastado do serviço onde é auxiliar de depósito em supermercado. Tem o ensino

médio incompleto. Fez uso considerável de álcool, deixando de lado por motivos

religiosos. Aos 17 anos fez uso de maconha, no qual desencadeou alucinações visuais

que o assustou bastante. Atualmente faz uso considerável de tabaco. Encontra-se em

processo de divórcio e não aceitação desse fato.

Diante de sua história sabe-se que R. veio de uma gravidez não planejada no

qual a mãe teve depressão pós-parto e negligenciou os cuidados enquanto bebê; mãe

teve apoio psicológico para enfrentar a situação e apoio familiar. Passou por uma

internação após parto com fórceps, onde R. apresentou complicações respiratórias. De

antecedentes familiares sabe-se que a mãe tem depressão moderada, um primo por parte

de pai é diagnosticado com esquizofrenia e faz uso de drogas e sua irmã mais nova com

condições de transtorno alimentar (anorexia nervosa) e depressão moderada.

Casou-se aos 24 anos, morando em um apartamento com sua esposa há cerca de

um ano, passando por algumas necessidades financeiras, R. mantinha o relacionamento

afastado da família porque acreditava que sua família não aceitava bem o seu

casamento. Descobriu a traição por sua mãe que há um tempo investigava sua esposa.

11

R. tem grande dificuldade de aceitar o fim do relacionamento e atualmente passa pelo

processo de separação mas não como uma escolha dele. Muitos dos sintomas de

esquizofrenia e depressão afloraram após o término, sendo eles o isolamento, a tristeza,

a insegurança, as alucinações visuais (vultos negros) e auditivas.

Seu primeiro surto ocorreu quando descobriu que sua mulher estava traindo-o,

estando agressivo, impulsivo e ouvindo vozes que diziam para tirar a própria vida e

também, que todos mentiam. E assim, tentou fazer com a ingestão de veneno de rato,

mas sua família flagrou e conseguiu deter o ato. O segundo surto, que levou a uma

internação breve na Unidade de Emergência, foi em seu trabalho no qual estava vendo

vultos negros, ouvindo vozes e sentindo-se perseguido pelos colegas de profissão.

Reagindo de forma agressiva, tentou novamente contra sua vida ingerindo diversos

medicamentos. Durante sua internação, R. conta que as vozes pedem para ele tirar a

vida e que o menosprezam trazendo sentimentos de menos-valia. Com tamanha ideação

suicida, foi encaminhado para avaliação a semi-internação do Hospital Dia.

Teve sua admissão ao Hospital Dia no dia 14/03/2016 após internação na

Unidade de Emergência. R. internou apresentando delírios residuais, humor hipotímico

e afeto entristecido e assustado. Inicialmente foi diagnosticado com Esquizofrenia

Paranoide e iniciou ensaios medicamentosos com Olanzapina. No decorrer da

internação, foi diagnosticado também com episódio depressivo maior grave e introduziu

Topiramato e Fluoxetina no ensaio. Um dos maiores motivos que levou a internação de

R. foi a socialização, uma vez que essa ficou extremamente comprometida e perceptível

após as crises apresentadas. Um fator preocupante para a equipe de assistência que o

acompanhou foi sua fala inicial após admissão: “Vou aceitar o tratamento, fingir que

estou bem e assim que eu assinar o divórcio eu vou me matar” (sic do paciente) e

quando questionado sobre o motivo de estar semi-internado ele disse “porque tive um

surto em outubro e outro em janeiro” (sic do paciente).

Atendimentos de Terapia Ocupacional

Bem no início da semi-internação, a equipe optou por realizar uma reunião de

caso novo para troca de informações e observações realizadas durante a semana. Foram

discutidos os objetivos que levaram R. necessitar da assistência prestada através do

Hospital Dia, sendo esses os ensaios medicamentosos, fechamento de diagnóstico,

controle dos pensamentos suicidas, estabilização e remição dos sintomas psicóticos,

12

estimular a socialização, trabalhar a organização da rotina e oferecer um espaço maior

de escuta e acolhimento dos sentimentos que R. tentava omitir. Um mês após sua semi

internação, R. deu inicio a psicoterapia.

Apresentou-se a necessidade e a observação de que R. faria bom uso de um

acompanhamento individual de Terapia Ocupacional para auxiliar no tratamento em

geral. Ao comunicá-lo sobre a avaliação, ele apresentou confusão mas era devido à

necessidade de compreensão do que estava acontecendo, ou seja, confusão sobre seu

diagnóstico, sobre suas medicações e sobre a internação em si. Logo foi oferecido um

acolhimento e escuta para que fosse possível então iniciar esse processo.

No primeiro atendimento, foi dado início a uma avaliação semiestruturada e

adaptada quanto as necessidades de investigação. Utilizado vários círculos em uma

folha, delimitando algumas áreas ocupacionais, onde era necessário ele escrever como

era, como sentia que estava sendo e como esperava que fosse. R. demonstrou-se

disposto, interessado em saber como seria os atendimentos, não apresentou dificuldades

ao receber os comandos e nem ao expor na escrita. Durante a avaliação, ele me contava

sobre sua vida antes do surto que o levou a semi-internação. Foi observada uma tristeza

em seu tom de voz, olhar cabisbaixo e pausas durante relatos que o afligia. No aspecto

sono, há grande dificuldade em dormir, geralmente troca o dia pela noite e sempre

fumando antes de dormir (de 4 a 10 cigarros). No aspecto do lazer, saia bastante com os

amigos para jogar futebol e passava horas no computador em um jogo online onde tinha

muitas amizades, mas que atualmente evita ambos, referindo que não consegue mais ter

boas conversas e prefere ficar deitado; não demonstrou interesse em mudar. No aspecto

de atividades de vida diária, era independente e nos dias atuais depende muito da

insistência da mãe para que realize, e pretende mudar isso conforme vai restaurando sua

volição. No aspecto de atividades instrumentais de vida diária, não está conseguindo

realizar, seu desânimo o impede; não demonstra desejo de mudança. No aspecto da

educação, há desejo considerável em retomar seus estudos e que no momento está indo

atrás da Educação para Jovens e Adultos (EJA) para dar continuidade. Ao fim da sessão,

foi necessário resgatar os objetivos que o levaram ao tratamento.

No segundo atendimento, foi dada continuidade na avaliação do caso com uma

atividade de linha do tempo, onde foram expostas várias opções (escrita, recorte,

desenho) para concretizar a atividade. Optou por escrever sobre seu passado, presente e

futuro. O foco do atendimento se deu em identificar seu passado, avaliar o presente e os

anseios que R. trás sobre seu futuro. R. aparentou-se entristecido e bastante quieto.

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PASSADO

Sentimentos de felicidade e

contemplação de uma vida a dois Não cita sua infância e nem sua família

Surtos, ideações suicidas e vultos negros Trabalho

PRESENTE

Semi-internação

Angustia e tristeza Divórcio

Abstinência do cigarro e falta de sono Alucinações auditivas

FUTURO

Melhorar enquanto trabalhador Conseguir concluir os estudos

GOSTA E NÃO FAZ

Jogar futebol

Acompanhar a banda dos amigos Jogar online

NÃO GOSTA E FAZ

Sair de casa

Tomar banho Ajudar nas tarefas

domésticas

NÃO GOSTA E

NÃO FAZ

Infidelidade

GOSTA E FAZ

Jogar videogame

Ir à igreja

No terceiro atendimento, dado continuidade a última avaliação que seria feita no

qual era focada nos gostos onde R. escreveria o que gosta e faz, o que não gosta mas

faz, o que gosta mas não faz e o que não faz e não gosta.

No início da sessão, R. expôs que estava ouvindo vozes o dia inteiro e que estava

sentindo-se perturbado pois as pessoas percebiam seu comportamento. De fala

espontânea e bastante prolixa. Não apresentou nenhuma dificuldade em compreender e

em realizar. Durante a atividade era perceptível que ele estava ouvindo vozes, pois, às

vezes, olhava para a parede, encarando-a, seguido de olhares cabisbaixos. Queixou-se

de seu sobre peso e aparência física.

Um dos assuntos que foi levado em pauta de reunião foi o aumento do peso e

quanto os comportamentos do pai em oferecer diversos doces e comidas estava

atrapalhando. Sendo necessário realização de uma conversa familiar que foi realizado

pelo médico residente que acompanha o caso e a enfermeira contratada. R. aumentou 14

quilos em um mês, derivado também de um efeito colateral da Olanzapina.

14

No quarto atendimento, foi realizada uma devolutiva com o paciente e

estabelecimento de alguns objetivos junto a ele. Nesse atendimento foi oferecido escuta

e acolhimento, pois R. expôs sentimentos de menos-valia, de morte e angustia. Sendo

então, oferecido alguns materiais para que ele pudesse expressar esses sentimentos, mas

negou referindo que gostaria apenas de conversar naquele dia. De afeto muito

entristecido, R. evitava olhar e por vezes pausava suas falas como se não conseguisse

falar sobre o que sentia. Realizado um exercício de pensar nesses sentimentos, R. não

conseguiu associar com algo que tenha acontecido, referia apenas que não estava em um

dia bom e que o grupo que antecedia o atendimento individual havia mexido bastante

com seus pensamentos. Ao final do atendimento, demonstrou muita preocupação com o

que deveria ter sido feito e não fez, pedindo desculpas e sendo muito necessário pontuar

que aquele espaço era dele e que ele tinha a decisão do que seria feito, sem regras ou

exigências, dando um acolhimento maior e demonstrando que o apoio estava presente.

No grupo de Terapia Ocupacional (projeto de vida) que antecedeu esse

atendimento, foi realizado uma atividade de pensar no que seria os planos pós alta e R.

não conseguiu delimitar nenhum. Ficou em silêncio todo o tempo do grupo.

No quinto atendimento, R. apresentou-se agitado e com dificuldades em

articular suas frases. Aparamente ansioso. Quando foi pontuado isso a ele, referiu que

havia chegado a carta de convocação para a audiência de separação e estava com medo

de reencontrar sua ex-esposa. Proposta atividade gráfica em uma folha A6, com

diversos recursos (lápis, caneta, giz, tinta) onde R. optou por lápis grafite e coloridos.

Sendo solicitado que ele expusesse o que estava sentindo naquele momento e referiu

que desenharia sua cabeça, seus sentimentos e pensamentos. Desenhar o símbolo “yin-

yang” − representação do positivo e do negativo. Durante o atendimento, R. explicava

que na cabeça dele existe o bem o mal, e que viviam em conflito e acredita que as vozes

que escuta é decorrente disto. Não conseguiu dar finalização ao desenho, solicitando

continuidade no próximo atendimento.

No sexto atendimento, apresentou-se novamente agitado, mas com maior

capacidade de concentração. Dada continuidade a atividade do atendimento anterior

segue a foto abaixo.

15

(Fonte: Amanda Dias Silva - atendimento de terapia ocupacional)

As faíscas representavam o bem e o mal em conflito, a lágrima representava sua

tristeza, o ponto de exclamação representava sua família que estava apoiando-o, o ponto

de interrogação representava as dúvidas que ainda tinha sobre seu diagnóstico, o vulcão

representava a raiva que estava sentindo sobre a audiência de separação, as ondas de

mar representavam a angustia que vivia no peito dele e o coração partido a dificuldade

de acreditar em mulheres novamente. Foi pontuada sua agitação no final do

atendimento, e ele referiu que havia trocado de medicação na semana anterior.

No sétimo atendimento, foi proposta atividade de recorte e colagem. R. recortou

e colou tudo que o representava, sendo: carros, comidas, futebol, vídeo game, dinheiro e

a palavra “Europa”. Durante a sessão, referiu que não estava conseguindo dormir pela

noite e que tinha aumentado o uso do tabaco. Foi pontuado sobre ele estar escutando

vozes e ele afirmou que estava, a todo o tempo, inclusive no Hospital Dia. Quando

perguntado sobre o conteúdo das vozes, ele teve resistência em contar. Não foi possível

conversar sobre a atividade, pois havia dado o horário da sessão, sendo combinado na

próxima falar sobre.

No oitavo atendimento, foi pontuado sobre as faltas que estava tendo e as

dificuldades em acordar. R. referiu que estava muito difícil para ele. Aparentou-se

entristecido, mas estava com maior comunicação visual e fala espontânea. Resgatada a

atividade da última sessão, falou sobre as coisas que recortou e colou na folha, sobre os

desejos que haviam surgido nele − ter um carro, viajar e voltar a jogar futebol. Pontuado

16

a importância de ter uma rotina, de ter atividades extras que o estimule em sociedade e

R. referiu que estava se dando bem com o grupo de pacientes semi-internados e que

havia encontrado alguns amigos no final de semana, no qual havia se afastado.

Durante os grupos de Terapia Ocupacional oferecidos pelo Hospital Dia −

Atualidade e Cotidiano em Terapia Ocupacional, Protagonismo, Projeto de Vida e Pré

Final de semana − foi observado que a interação com os demais pacientes e equipe

ainda era raro, mas R. apresentava iniciativas.

No nono atendimento, R. chegou queixoso em relação ao sono − que nesta

semana estava difícil dormir, aumentando o uso do tabaco consideravelmente − em

seguida foi feito um exercício de pensar nos caminhos que levaram e influenciaram a

acontecer esse fato. R. apresentou grande capacidade de reflexão, referindo que estava

ansioso e estava sendo muito difícil estar semi internado. Também referiu que estava

ouvindo vozes e quando questionado sobre o conteúdo, disse que não se sentia à

vontade de falar porque as vozes o ameaçavam, mas que eram relacionadas à morte.

Proposto então que a sessão fosse uma conversa de reflexão sobre o quanto estava

difícil estar ali, o que ele percebia de mudança em sua vida e sobre seus desejos de

planejamento de vida, no qual foi perceptível uma mudança − era empobrecido e

concreto, naquele instante relatou sonhos de médio prazo e desejos de melhora.

No décimo atendimento, foi proposta uma pintura de dedo em tela com intuito

de promover a sensibilização e estímulo para o envolvimento com os sentimentos e

pensamentos pertinentes naquele momento. R. teve dificuldades em dar início,

justificando que estava muito sonolento devido troca de medicação. Inicialmente

começou pintando uma paisagem com aspectos infantilizados, mas rico em detalhes.

Pediu para que a terapeuta desenhasse o sol enquanto ele desenhava montanhas largas e

um rio correndo às margens. No decorrer do atendimento surgiram assuntos sobre

gostos musicais e R. relata que gosta de rock e havy metal, mas que fazia um tempo que

a música estava ausente de sua vida. Nesse instante ofereci que ouvíssemos juntos as

músicas de sua banda favorita, pelo celular, e R. demonstrou interesse e ouvindo,

cantarolava e fazia movimentos com a cabeça tradicionais do rock. Ao elogiar o quadro,

R. diz “você ainda não viu nada” e imediatamente escorreu os dedos em movimentos

de círculos, de maneira bruta, deixando a paisagem irreconhecível. A sessão estava

terminando e ficou combinado de conversar sobre essa atividade no próximo

atendimento. Deu finalização no mesmo dia. Em observação da terapeuta, R. apresentou

algumas dissociações após a música, aparentou-se distante.

17

No décimo primeiro atendimento, R. conta que passou o final de semana com os

amigos do futebol e que se sentiu bem e confortável por nenhum deles perguntar sobre o

tratamento. Aparentou-se disposto e bastante ativo ao atendimento. Como combinado,

levei o quadro pintado para conversássemos sobre ele e a reação ao final. R. conta que a

música estimulou ele a fazer algo diferente do que uma simples paisagem e que vendo a

tela naquele instante, ele comparou com seus pensamentos. Tentou achar formas e

percebeu que alguns círculos tomaram formatos de furacões e ondas. R. estava

tranquilo, disse que naquela semana a voz não havia o incomodado. R. pediu para que a

tela fosse colocada no corredor do Hospital Dia para que todos pudessem ver o que ele e

a terapeuta tinham feito. Pediu também para que assinassem, não com caligrafia, mas

com as digitais da palma da mão. Demonstrou satisfação enquanto colocava a tela na

parede, pois os demais pacientes e equipe elogiavam a arte abstrata que havia sido feita.

Ao final, R. conta que está pensando em conversar com seu médico para pensarem

juntos sobre sua alta.

Na reunião de equipe foi discutido o caso de R. devido sua possível alta e

preocupação da equipe quanto ao comportamento diferente que R. apresentava desde

então − agitado, impaciente porém ativo. Foi decido que sua alta seria juntamente com a

saída de seu médico residente, a pedido do paciente e com concordância do médico,

apostando então que alguns objetivos foram alcançados e que daria continuidade aos

atendimentos do ambulatório de psiquiatria.

No décimo segundo atendimento, R. apresentou-se disposto e contente,

referindo que havia conversado com seu médico e pensaram na data de sua alta, que

seria na próxima semana. R. conta que se sente preparado para seguir seu tratamento e

sua vida fora dali e em sequência pediu para que aquele atendimento servisse de

referência para procurar alguns sites de estudos de preparação para o ENEM e cursos na

cidade de Ribeirão Preto. Foi pontuada a importância de planejamentos, de organização

e vontade para alcançar os objetivos que impôs pós sua alta. Estava bastante agitado, em

observação da terapeuta.

No décimo terceiro atendimento e último atendimento, foi proposto conversar

para dar finalização aos atendimentos, falar sobre a alta e os possíveis planos pós-alta

que havia sido conversado no atendimento anterior. R. demonstrou-se afetuoso, com

fala espontânea, de comportamento tranquilo mas demonstrou receoso perante sua alta.

Contou que almejava por este momento, e que estava feliz por ter chegado. Foi feito

uma conversa de reflexão sobre seus ganhos durante esse processo de semi internação e

18

R. pontuou que estava mais ativo, saindo de casa para lazer e pensar nos estudos de

forma a concretizar no próximo ano. Ao finalizar o atendimento, R. referiu que

continuaria a cuidar de seu tratamento e agradeceu por ter um espaço que o acolheu e

permitiu que ele pensasse mais em si.

Na finalização com a equipe, foi distinguido que R. continuaria sendo

acompanhado pela psiquiatria do ambulatório. Sendo encaminhado também para o

Grupo de Convivência do ECEU.

RESULTADO E DISCUSSÃO

A partir da revisão sistemática dos prontuários e análise dos relatórios de

atendimentos da Terapia Ocupacional do caso em estudo, espera-se ampliar e

aprofundar o conhecimento e contribuir para o manejo de casos similares no Hospital

Dia do HCFMRP-USP.

Muitas dúvidas surgiram durante esse processo, tais como o significado de seu

diagnóstico e como seria sua vida pós-internação. Sendo muito necessário que a equipe

acolhesse suas dúvidas como forma de amenizar as suas angustias. No artigo

“Esquizofrenia: intervenção em instituição pública de saúde” os autores Birchwood

& Spencer (2005) citam que a paciente do caso apresentado, se apresentava de maneira

a estereotipar a esquizofrenia como algo de sua personalidade. Quando R. trás essas

angustias em forma de dúvidas, se fez necessário desmistificar e oferecer

psicoeducações de maneira a acolher.

Ainda de acordo com os autores, ensaios controlados de intervenções

psicológicas para pacientes com diagnóstico de esquizofrenia foram criados para

promover as habilidades sociais e reduzir recaída. Foi possível observar o progresso nas

habilidades sociais de R. durante a internação devido as intervenções multiprofissionais

e grupais no qual foi submetido. Se portou mais atento, pró ativo e por vezes, com

iniciativas. Citam também que as intervenções podem criar situações que propiciaram a

adequação ao modo de se relacionar com os outros e que o trabalho com essas

habilidades sociais constitui-se sobre o desempenho, na superação de déficits e

dificuldades interpessoais, favorecendo relacionamentos saudáveis com outras pessoas.

Os artigos “Fatores associados à qualidade de vida de pacientes com

esquizofrenia” e “Terapia ocupacional e saúde mental: construindo lugares de

inclusão social” trazem que o tratamento de portadores de transtornos mentais graves e

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crônicos tem experimentado grandes mudanças no Brasil, com uma crescente

valorização de tratamentos comunitários. Estes pacientes passam, a receber um

tratamento que valoriza a sua reinserção social, melhora das condições de vida, partindo

das necessidades dos usuários, valorizando sua história e sua identidade sócio-cultural

do que o tratamento que apenas extingue seus sintomas principais. O principal objetivo

da internação de R. além do ajuste medicamentoso, foi trabalhar as habilidades sociais

que haviam sido prejudicadas após seus surtos. Nessas habilidades, situa-se a reinserção

social, que mesmo com todas as dificuldades interpessoais que R. apresentou, conseguiu

valorizar cada espaço no qual foi submetido a participar.

No artigo “Inclusão ocupacional: perspectiva de pessoas com esquizofrenia”

os autores trazem um estudo que analisa três assuntos: aderência ao tratamento (onde os

participantes falam sobre a importância do diagnóstico e do tratamento

clínico/medicamentoso para a manutenção de um funcionamento saudável); estigma e

exclusão (onde os participantes apontam para as dificuldades de participar da vida social

após o diagnóstico, assim como sentimentos de inutilidade e baixa autoestima); e

ocupação e sentido da vida (onde os participantes apontam para o resgate do desejo de

desfrutar a vida e se realizar como pessoa a partir da possibilidade de exercer atividades

significativas, os sujeitos refletem sobre o impacto da atividade ocupacional nos

relacionamentos familiares e comunitários).

É possível analisar que, em quase todos os atendimentos, R. referiu alterações no

sono, devido a troca de medicações, interferências com o uso de tabaco e também

derivado de alguns sintomas depressivos e de alucinações, sendo assim, alguns fatores

que poderiam ter contribuído para não-adesão ao tratamento. Observando o processo de

tratamento no qual R. foi inserido ao ser admito no Hospital Dia, pode-se concluir que

esses três assuntos citados acima foram trabalhados em diversos espaços,

principalmente a aderência ao tratamento, pois sabe-se que sem esforço de uma rede

social e profissional envolvida na construção de estratégias de inclusão, a aderência se

torna um desafio.

Os artigos “A Terapia Ocupacional na prática de grupos e oficinas

terapêuticas com pacientes de saúde mental” - “Contribuição de grupos de

atividades de terapia ocupacional na evolução de pessoas com diagnóstico de

esquizofrenia refratária usuárias de clozapina” e “A instituição vista como um

grande grupo em progresso: o trabalho com múltiplos grupos no Hospital Dia da

FMRP-USP” se ligam através do conteúdo grupal e sua valiosa importância que trazem

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ao tratamento na saúde mental. Esses artigos contribuíram com a reflexão e análise

sobre a importância de priorizar o contexto social, nos grupos, uma vez que esse aspecto

é um disparador para outras habilidades de desempenho e áreas de ocupação. Além de

que os grupos oferecidos nos tratamentos tende a oferecer um suporte à prática das

habilidades sociais e estimulação da exploração de idéias e sentimentos, tendo em base

que pessoas com diagnóstico de transtorno mental apresentam comprometimento em

seu desempenho ocupacional. Nos estudos, confirmam que os pacientes que aderem aos

grupos oferecidos apresentaram uma melhora significativa em seu quadro clínico.

Relacionando com o tratamento de R. é possível concluir que a adesão aos

grupos, mesmo que de forma tímida, fez com que o quadro clínico tivesse uma melhora

considerável ao ponto da alta ser uma decisão em conjunto com o paciente e equipe. Os

grupos no qual foram oferecidos trabalharam aspectos de qualidade de vida, volição,

iniciativa e principalmente a participação social.

Já o artigo “A terapia ocupacional reduzindo sintomas ansiosos em uma

clínica psiquiátrica: [carta ao editor]” trás que as intervenções da terapia ocupacional

proporcionam aos pacientes oportunidades de autoconhecimento, autonomia, aliados a

reorganização do cotidiano, satisfação de sentir-se capaz novamente conduzindo a um

aumento da auto-estima e maior envolvimento com o tratamento. A partir daí, esse

artigo-carta colaborou com a pesquisa no sentido de rever, refletir e relacionar as

intervenções realizadas nesse processo de tratamento do caso apresentado. É possível

observar nesse estudo de caso que foi priorizado o autoconhecimento de R. de maneira

buscar o resgate significativo de sua vida. A autonomia não foi trabalhada pois a

questão familiar em acolher as necessidades de R. acabou interferindo.

Ainda de acordo com os autores deste artigo, as constantes queixas de angústia

e/ou ansiedade podem também, dentre outros fatores, estarem relacionadas ao fato de os

pacientes estarem em regime de internação, vendo-se destituídos de seus papéis

ocupacionais (esposo, pai, trabalhador, dentre outros), projetos de vida e atividades que

lhes são significativas, assim como do convívio de seus entes familiares. É algo que não

pode ser deixado de lado, já que um dos intuitos da semi internação é o resgate dos

desempenhos e habilidades no qual se encontram comprometidos.

No artigo “Avaliação da qualidade de vida e percepção de mudança em

pacientes com esquizofrenia” os autores visaram avaliar a qualidade de vida e a

percepção de mudanças pelo próprio paciente, com diagnóstico de esquizofrenia. Foi

importante a utilização desse artigo neste caso clínico de maneira a ter uma visão sobre

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uma avaliação de qualidade de vida e percepção de mudanças, onde constata aspectos

bem relacionados com os sintomas e problemas de incapacidades do caso de

esquizofrenia apresentado.

Um aspecto de qualidade de vida que se apresentou no caso discorrido, é a

instabilidade do sono trazida por R. durante as sessões e aos grupos. Sabemos e temos

diversos conteúdos publicados de que um dos fatores que mais acometem

negativamente os pacientes de saúde mental é o sono, por vezes, causado pela

medicação e a ansiedade. Durante seu tratamento, R. não conseguiu ter uma mudança e

nem percepção de que precisava mudar, por mais que esse fato o incomodasse.

O artigo “Estratégias de intervenção da Terapia Ocupacional em

consonância com as transformações da assistência em saúde mental no Brasil” e

“Percepções de profissionais de enfermagem sobre intervenções de Terapia

Ocupacional em Saúde Mental em hospital universitário” se relacionam e ligam

assuntos no qual se fizeram necessário para abranger o caso deste artigo. Trouxeram que

houve uma mudança de conceitos de saúde mental na prática da terapia ocupacional,

onde ocorre a ressignificação das atividades e a ampliação do setting terapêutico,

desenvolvendo ações no próprio espaço de vida dos sujeitos, tendo então, a terapia

ocupacional como favorecedora do cuidado integrado, valorizando o sujeito e sua

experiência. Contribuíram com o estudo de maneira a refletir e ter um embasamento

teórico da história da terapia ocupacional no contexto de saúde mental, ressaltando as

mudanças e estratégias que foram possíveis de analisar durante o andamento da

pesquisa.

Por fim, os artigos “Cuidado em saúde mental por meio de grupos

terapêuticos de um hospital-dia: perspectivas dos trabalhadores de saúde” e

“Inclusão de usuários de hospital-dia em saúde mental: uma revisão” serviram de

base para compreensão e maior conhecimento sobre os grupos terapêuticos e suas

importâncias, ressaltando as trocas de experiências, o cuidado pessoal e o trabalho com

o aspecto social. Sendo possível refletir e relacionar com o objeto de estudo o manejo

do vínculo, acolhimento e autonomia.

Uma vez que se vê a necessidade de estratégias terapêuticas, tais como os grupos

oferecidos, tem sido importante para a assistência em saúde mental, priorizando a

reinserção na comunidade.

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