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Prof. Otávio Verri Av. Higienópolis, 769 – Sobre Loja – Centro – Londrina – PR. – CEP: 86.020-080 Fones: 43. 3354 – 2334 / 3039 – 2234 site: www.seja-ead.com.br Pagina: 1 1º ANO – EaD – AULA 9 – 12 PRIMEIROS POVOS DA AMÉRICA Os primórdios da América pré-colombiana Os habitantes da América pré-colombiana não são naturais do continente, mas oriundos de outras regiões, isto é, são alóctones. Recentes achados arqueológicos indicam que eles chegaram ainda na época paleolítica, em pequenos grupos nômades – e isto certamente antes de 50000 a.C. O provável caminho percorrido por esses homens, originários da Ásia, em direção à América foi o que passa pelo estreito de Bering. No entanto, não se pode descartar outras possibilidades, talvez também associadas ao estreito de Bering, como a travessia do Pacifico, mas usando como escala as inúmeras ilhas existentes entre a Ásia e a América do Sul. Estas e outras ondas migratórias ao longo da pré-história podem justificar as mais de 2.500 línguas diferentes que existiam na América quando teve inicio a conquista européia do século XV. Uma primeira conclusão destes dados parece confirmar o que já disseram alguns historiadores: de que houve vários descobrimentos da América, uns advindos da inconsciência e outros, da ignorância. A “passagem” de Bering, tida como a mais antiga rota da chegada do homem à América, associa- se a vários fatores, especialmente à estreita proximidade entre os dois continentes (Ásia – América )naquele local. Acredita-se que a glaciação (fenômeno climático de longa duração, representado pela diminuição intensa das temperaturas por vários séculos e pelo aumento das massas de gelo nos continentes, com rebaixamento do nível do mar em mais de 100 metros) tenha levado a um recuo das águas no estreito, permitindo uma passagem relativamente fácil entre os dois continentes para o nômade homem paleolítico. Contudo, vestígios humanos bem antigos espalhamse por todo o continente, alguns anteriores a trinta mil anos, tanto na América do Norte quanto na América do Sul, mantendo diversas incógnitas desse primeiro período humano da América. No Brasil, existem evidências da presença humana muito antigas, algumas ainda em fase de estudo e reconhecimento internacional, como as da região do município de Central, na Bahia, e nas proximidades do município de São Raimundo Nonato, no Parque Nacional da Serra da Capivara, Toca de Pedra Furada, estado do Piauí. Somente no Piauí, mais de trezentos sítios arqueológicos foram encontrados e muitos deles estudados pela arqueóloga francesa naturalizada brasileira Niède Guidon e pelo arqueólogo italiano Fabio Parenti, os quais dataram as pinturas rupestres de mais de vinte mil anos e as pedras lascadas e restos de fogueiras deixadas por grupos pré- históricos, de mais de 56 mil anos. Apesar de polêmicos, muitos dos estudos recentes chegam a apontar vestígios humanos no Brasil e no resto da América do Sul de bem mais de setenta mil anos. Seja como for, os homens pré-históricos americanos, entre 7000 e 3000 a.C., acrescentaram à caça, pesca e coleta de alimentos para a sobrevivência o cultivo de diversas plantas (algodão, abacate, pimenta, abóbora, feijão, milho, batata, mandioca, etc.) e a domesticação de vários animais (Ihama, peru, abelhas,etc.). Isto ocorreu especialmente em algumas regiões, como no México e no Peru atuais, caracterizando a passagem para a etapa neolítica da evolução pré-histórica.

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Page 1: Prof. PRIMEIROS POVOS DA AMÉRICA · PRIMEIROS POVOS DA AMÉRICA Os primórdios da América pré-colombiana Os habitantes da América pré-colombiana não são naturais do continente,

Prof. Otávio Verri

Av. Higienópolis, 769 – Sobre Loja – Centro – Londrina – PR. – CEP: 86.020-080 Fones: 43. 3354 – 2334 / 3039 – 2234

site: www.seja-ead.com.br Pagina: 1

1º ANO – EaD – AULA 9 – 12

PRIMEIROS POVOS DA AMÉRICA

Os primórdios da América pré-colombiana Os habitantes da América pré-colombiana

não são naturais do continente, mas oriundos de outras regiões, isto é, são alóctones.

Recentes achados arqueológicos indicam que eles chegaram ainda na época paleolítica, em

pequenos grupos nômades – e isto certamente antes de 50000 a.C. O provável caminho

percorrido por esses homens, originários da Ásia, em direção à América foi o que passa pelo

estreito de Bering. No entanto, não se pode descartar outras possibilidades, talvez também

associadas ao estreito de Bering, como a travessia do Pacifico, mas usando como escala as

inúmeras ilhas existentes entre a Ásia e a América do Sul. Estas e outras ondas migratórias ao

longo da pré-história podem justificar as mais de 2.500 línguas diferentes que existiam na

América quando teve inicio a conquista européia do século XV. Uma primeira conclusão destes

dados parece confirmar o que já disseram alguns historiadores: de que houve vários

descobrimentos da América, uns advindos da inconsciência e outros, da ignorância. A

“passagem” de Bering, tida como a mais antiga rota da chegada do homem à América, associa-

se a vários fatores, especialmente à estreita proximidade entre os dois continentes (Ásia –

América )naquele local. Acredita-se que a glaciação (fenômeno climático de longa duração,

representado pela diminuição intensa das temperaturas por vários séculos e pelo aumento das

massas de gelo nos continentes, com rebaixamento do nível do mar em mais de 100 metros)

tenha levado a um recuo das águas no estreito, permitindo uma passagem relativamente fácil

entre os dois continentes para o nômade homem paleolítico.

Contudo, vestígios humanos bem antigos espalhamse por todo o continente, alguns

anteriores a trinta mil anos, tanto na América do Norte quanto na América do Sul, mantendo

diversas incógnitas desse primeiro período humano da América. No Brasil, existem evidências

da presença humana muito antigas, algumas ainda em fase de estudo e reconhecimento

internacional, como as da região do município de Central, na Bahia, e nas proximidades do

município de São Raimundo Nonato, no Parque Nacional da Serra da Capivara, Toca de Pedra

Furada, estado do Piauí.

Somente no Piauí, mais de trezentos sítios arqueológicos foram encontrados e muitos

deles estudados pela arqueóloga francesa naturalizada brasileira Niède Guidon e pelo

arqueólogo italiano Fabio Parenti, os quais dataram as pinturas rupestres de mais de vinte mil

anos e as pedras lascadas e restos de fogueiras deixadas por grupos pré- históricos, de mais de

56 mil anos. Apesar de polêmicos, muitos dos estudos recentes chegam a apontar vestígios

humanos no Brasil e no resto da América do Sul de bem mais de setenta mil anos. Seja como

for, os homens pré-históricos americanos, entre 7000 e 3000 a.C., acrescentaram à caça, pesca

e coleta de alimentos para a sobrevivência o cultivo de diversas plantas (algodão, abacate,

pimenta, abóbora, feijão, milho, batata, mandioca, etc.) e a domesticação de vários animais

(Ihama, peru, abelhas,etc.). Isto ocorreu especialmente em algumas regiões, como no México

e no Peru atuais, caracterizando a passagem para a etapa neolítica da evolução pré-histórica.

Page 2: Prof. PRIMEIROS POVOS DA AMÉRICA · PRIMEIROS POVOS DA AMÉRICA Os primórdios da América pré-colombiana Os habitantes da América pré-colombiana não são naturais do continente,

Prof. Otávio Verri

Av. Higienópolis, 769 – Sobre Loja – Centro – Londrina – PR. – CEP: 86.020-080 Fones: 43. 3354 – 2334 / 3039 – 2234

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Também ocorreram grandes avanços na tecelagem e especialmente na cerâmica, produzindo

recipientes de barro resistentes, favoráveis tanto ao armazenamento e transporte como ao

cozimento de alimentos, contribuindo para a melhoria da alimentação e ampliando as

perspectivas de vida da comunidade. Neste caso, destacam-se os objetos de cerâmica de

Valdívia, no norte do atual Equador, datados de mais de 3500 a.C., tidos como os mais antigos

da América.

As principais civilizações pré- colombianas

Na época da descoberta da América, estima-se que sua população estivesse próxima

de cem milhões de habitantes, irregularmente distribuídos pelo continente e em diferentes

estágios de desenvolvimento. “Havia de tudo entre os indígenas da América: astrônomos e

canibais, engenheiros e selvagens da Idade da Pedra. Mas nenhuma das culturas nativas

conhecia o ferro nem o arado, nem o vidro e a pólvora, nem empregava a roda, a não ser em

pequenos carrinhos.” (GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina.) Algumas tribos

tinham uma estrutura primitiva, eram nômades e viviam da caça e da pesca, como os

esquimós (América do Norte), os charruas (Uruguai), os tapuias, xavantes e timbiras (Brasil).

Outras tinham vida sedentária, vivendo em aldeias e praticando a agricultura, como os pueblos

(América do Norte), os caribes e aruaques (Antilhas e norte da América do Sul) e os

tupisguaranis (Brasil). Os ameríndios mais avançados tecnologicamente e que possuíam

sofisticada organização sociocultural formavam a maioria da população americana no século

XV. Isto porque o aumento demográfico propiciado pela agricultura neolítica permitiu que se

formassem, em certos locais, concentrações populacionais, resultando na urbanização,

processo que caracterizou séculos a até milênios da história dos povos pré- colombianos. Em

meio esta evolução, surgiram sociedades divididas em classes sociais como um Estado

estruturado e dominador, que impunha tributos, transformando a ordem tribal em civilizações

com crescente complexidade de organização e cultura, especialmente na América Central e

nos Andes. Na primeira, destacaram-se as civilizações maia e asteca e na região andina, a inca,

não sendo, porém, as únicas.

As civilizações da região andina central

As civilizações da região andina central habitaram principalmente os atuais territórios

do Peru e da Bolívia, estendendo-se também sobre o Equador, Chile e Argentina. Os primeiros

núcleos de civilização surgiram bem antes do inicio da era cristã, baseados em cidadesestados,

com centros cerimoniais que difundiram cultos, e envolvendo-se em sucessivas disputas pela

hegemonia regional. Ao que tudo indica, o sucesso na unificação andina só acabou

acontecendo depois de 600 d.C., quando emergiram os primeiros impérios controladores de

uma vasta região. Entre estes destacou-se o de Tiahuanaco, na parte boliviana da bacia do lago

Titicaca, e o Império Huari, no vala do Mantaro, no atual Peru. Após estes impérios, ainda

muito pouco conhecidos, surgiram diversos outros Estados regionais independentes, como o

Reino Chimu, com a capital em Chancham, no vale do Moche, Peru, uma cidade planificada

com aproximadamente oitenta mil habitantes. Contudo, de todas as civilizações poderosas da

região andina central, coube à inca a maior importância e grandiosidade. O seu surgimento

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remonta ao século XII, quando houve uma reunião de povos sob o comando do grupo quíchua

ou inca, na região peruana de Cuzco, assumindo e transformando a herança cultural das

civilizações anteriores. De inicio, tiveram de disputar com os vários povos o controle da região,

vivendo em permanente estado de guerra. Foi nesse processo que , aos poucos, estabeleceu-

se um poder político em que o imperador acabou investido de autoridade religiosa, sendo

visto como um semideus pelos seus súditos, passando a ser considerado o “filho do sol”, o

Deus principal do panteão inca. Entre os 13 soberanos relatados pela história oral inca,

certamente mesclada com lendas, mitos e propaganda oficial, destacava-se Manco Cápac, o

primeiro rei, o fundador da dinastia imperial. A representação do pensamento inca, ao que

parece, nunca chegou a transformar-se numa escrita, usando tão-somente pictografias e

ideogramas, sobressaindo-se a contabilidade destinada a reconhecer valores estatísticos de

uma sociedade controlada pelo Estado. A fase mais conhecida dos incas começa somente no

século XV, a partir de 1438, com sua enorme expansão imperial, e que continuou até a

chegada dos espanhóis, em 1531.Sob o governo dos imperadores Pachakuti (1438- 1471),

Tupa Yupanki (1471-1493) e Huayna Cápac (1493-1525), os domínios do império estenderam-

se do Equador as norte do Chile, por um território norte-sul de mais de 4 500 quilômetros.

Com Pachakuti, a cidade de Cuzco, que na língua quíchua quer dizer “umbigo”,transformou-se

na capital do império, chegando a atingir, no seu apogeu, perto de cem mil habitantes. Seus

suntuosos templos abrigavam estátuas, santuários, paredes e muro em ouro, como os de Qori

Kancha, onde se cultuavam o sol, a lua e as estrelas. O império ainda produziu várias outras

cidades com planejamento e arquitetura sofisticadas, a exemplo de Machu Pitchu, Tumipampa

e Cajamarca. O total da população imperial seguramente beirava os seis milhões de

habitantes. A sociedade inca, como era comum nas sociedades de servidão coletiva, tinha no

topo da escala hierárquica o soberano inca, depois vinham seus parentes, os funcionários da

administração e os sacerdotes, formando a elite que detinha o poder e a riqueza do império.

Abaixo, estavam os camponeses e escravos. Na administração, a capital Cuzco era o eixo

controlador da rede de estradas, do funcionamento do correio público, dos centros

fortificados, dos depósitos de alimentos e da contabilidade administrativa do Império. Este,

dividido em quatro grandes territórios, eram comandados, pelos apos (chefes), que

assessoravam o inca (imperador). Cada território, por sua vez subdividia-se em wamanis

(províncias) sob o comando do kuiricuk (governador) e era responsável pelos curucas

(funcionários hereditários), que recolhiam os impostos. Na base da sociedade estavam os

ayllus, as aldeias comandadas pelos curacas e seus camayocs (capatazes hereditários),

encarregados de distribuir as terras, consideradas propriedades do imperador, e de

determinar os trabalhos e tributos das famílias dos ayllus,firmando a base agrária da economia

inca.Eram os curacas o centro do poder e de riquezas nas aldeias, determinando também a

mita , o trabalho forçado dos aldeões na realização das obras públicas e outros serviços ao

governo. Foram os mitaios os responsáveis pelo incremento de terras cultiváveis do Estado, na

expansão imperial, construindo terraços agrícolas nas colinas e canais de irrigação. Também

construíram e mantinham os caminhos, pontes, edifícios públicos, templos, etc. Após a morte

do imperador Huayna Cápac, abriu-se uma vigorosa disputa pelo trono entre Huascar e

Atahualpa , seus dois filhos de esposas diferentes, que devastou o poderio inca,

correspondendo ao momento da chegada dos conquistadores espanhóis. O vitorioso

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Atahualpa acabou prisioneiro, sendo morto e seu império destruído pelos comandados de

Francisco Pizarro, em 1531.

Os meso-americanos

A região meso-americana , correspondente a boa parte dos atuais México, Guatemala,

El Salvador, Honduras, Nicarágua e Costa Rica, produziu ao longo de 25 séculos diversas

civilizações poderosas, destacando –se entre outras a dos olmecas, maias, toltecas e

principalmente a dos astecas. Das primeiras civilizações meso-americanas a dos olmecas é

considerada a fundadora da “cultura mãe” da América Central, cujo desenvolvimento situa-se

entre um pouco antes de 1000 a.C. até pouco depois do século V a.C.

DOCUMENTÁRIO: https://www.youtube.com/watch?v=f0j4O2xJQSY