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i Governo Federal Ministério do Meio Ambiente - MMA Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio Diretoria de Planejamento, Administração e Logística SHCSW/EQSW 103/104, Lote 1, Complexo Administrativo Sudoeste, Módulo “B, Brasília - DF ELABORAÇÃO DE ESTUDO DE SOCIOECONOMIA E ÁREAS CORRELATAS PARA ATENDER AS NECESSIDADES NO REFÚGIO DE VIDA SILVESTRE DO RIO DOS FRADES PRODUTO 4 Rio de Janeiro/RJ, agosto de 2013

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Governo Federal

Ministério do Meio Ambiente - MMA Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio

Diretoria de Planejamento, Administração e Logística SHCSW/EQSW 103/104, Lote 1, Complexo Administrativo Sudoeste,

Módulo “B”, Brasília - DF

ELABORAÇÃO DE ESTUDO DE SOCIOECONOMIA E ÁREAS

CORRELATAS PARA ATENDER AS NECESSIDADES NO

REFÚGIO DE VIDA SILVESTRE DO RIO DOS FRADES

PRODUTO 4

Rio de Janeiro/RJ, agosto de 2013

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Equipe Técnica

Thalassa Pesquisa e Consultoria Ambiental

Coordenação

Márcia Salustiano de Castro - Bióloga

Ana Cristina T. Bonecker - Bióloga

Consultoria

Sérgio Bonecker - Biólogo

Flavia Colacchi - Bióloga

Walison Boy dos Santos - Geógrafo

Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

Supervisão Técnica

Suiane Benevides Marinho Brasil - Chefe do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades

Tiago Leão Pereira - Analista Ambiental do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades

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Lista de Siglas

ANA - Agência Nacional de Águas APP - Área de Preservação Permanente CEPRAM - Conselho Estadual de Meio Ambiente EMBASA - Empresa Baiana de Águas e Saneamento FAZ - Fundação Amazonas Sustentável FIRJAN - Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro FUNAI - Fundação Nacional do Índio IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICMBio - Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade ICMS - Imposto sobre Circulação de Mercadorias IDE - Índice de Desenvolvimento Econômico IDH - Índice de Desenvolvimento Humano IDH-M - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IDS - Índice de Desenvolvimento Social IFDM - Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INE - Índice do Nível de Educação INF - Índice de Infraestrutura INS - Índice do Nível de Saúde IPAM - Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional IPM - Índice do Produto Municipal IQM - Índice de Qualificação da Mão-de-obra IRMCH - Índice da Renda Média dos Chefes de Família ISB - Índice dos Serviços Básicos KfW - Kreditanstalt für Wiederaufbau (Banco Alemão de Desenvolvimento Internacional)

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MDL - Mecanismos de Desenvolvimento Limpo MinC - Ministério da Cultura MMA - Ministério do Meio Ambiente MMA/SRH - Ministério do Meio Ambiente/Secretaria de Recursos Hídricos MME - Ministério de Minas e Energia MP - Ministério Público PBF - Programa Bolsa Floresta PEA - População Economicamente Ativa PEI - População Economicamente Inativa PIB - Produto Interno Bruto PN - Parque Nacional PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PROAMBIENTE - Programa de Desenvolvimento Socioambiental da Produção Familiar Rural PSA - Pagamento por Serviços Ambientais OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico ONG - Organização não-governamental ONU - Organização das Nações Unidas REDD+ - Reducing Emissions from Deforestation and Forest Degradation (REDD): An Options Assessment Report (Sistema Nacional de redução de emissões por desmatamento e degradação, conservação, manejo florestal sustentável, manutenção e aumento dos estoques de carbono florestal) RL - Reserva Legal RIMA - Relatório de Impacto Ambiental RVS - Refúgio de Vida Silvestre RVSRF - Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades SAF - Sistema Agroflorestal SAM - Serviços Ambientais Materiais SAI - Serviços Ambientais Imateriais SEMA - Secretaria Especial de Meio Ambiente SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação

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TI - Terra Indígena TR - Termo de Referência UC - Unidade de Conservação UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) ZA - Zona de Amortecimento

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SUMÁRIO

Lista de Siglas........................................................................................................................... iii

Lista de Figuras......................................................................................................................... viii

Lista de Tabelas........................................................................................................................ x

Lista de Quadro......................................................................................................................... xii

Lista de Anexos......................................................................................................................... xii

1) INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 1

2) DESCRIÇÃO DA ABRANGÊNCIA DO ESTUDO................................................................. 1

3) METODOLOGIA.................................................................................................................... 5

4) RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................................. 8

4.1) ASPECTOS HISTÓRICOS E PATRIMÔNIO CULTURAL................................................. 8

4.1.1) O processo de colonização e a ocupação do território................................................... 8

4.1.1.1) A colonização do município de Porto Seguro............................................................... 8

4.1.1.2) A colonização do Distrito de Trancoso......................................................................... 9

4.1.1.3) A colonização do Povoado de Itaporanga.................................................................... 10 4.1.2) As etnias indígenas presentes na região do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades........................................................................................................................................ 13

4.1.2.1) A infraestrutura da Terra Indígena Imbiriba.................................................................. 16

4.1.2.2) A cultura e as tradições indígenas presentes na Aldeia Imbiriba................................. 17

4.1.2.3) Relação com a Unidade de Conservação.................................................................... 18

4.1.2.4) Conflitos Sociais........................................................................................................... 19

4.1.3) Patrimônio Cultural, Histórico e Natural.......................................................................... 19

4.1.3.1) O Patrimônio Cultural no município de Porto Seguro................................................... 19

4.1.3.2) O Patrimônio Histórico de Trancoso............................................................................. 22 4.1.3.3) Patrimônio Histórico no Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades e na sua Zona de Amortecimento......................................................................................................................

22

4.1.4) Manifestações Culturais.................................................................................................. 23

4.1.4.1) As práticas místico-religiosas e as festividades em Trancoso e Itaporanga................ 23

4.1.4.2) A cultura popular.......................................................................................................... 24

4.1.4.3) Os mitos e as lendas da região.................................................................................... 25

4.1.5) Alternativas Econômicas................................................................................................. 26 4.1.5.1) Alternativas econômicas para a área do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades........................................................................................................................................ 27 4.1.5.2) Alternativas econômicas para a Zona de Amortecimento do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades....................................................................................................... 28 4.2) CARACTERÍSTICAS DAS POPULAÇÕES OCUPANTES DO REFÚGIO DE VIDA SILVESTRE DO RIO DOS FRADES, DA ZONA DE AMORTECIMENTO E REGIÃO DE INFLUÊNCIA............................................................................................................................. 30 4.2.1) Modo de vida e uso do solo das populações do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades........................................................................................................................................ 30 4.2.1.1) Estrutura familiar, tempo de residência na Unidade de Conservação e expectativa de mudança para outro local..................................................................................................... 34

4.2.2) O crescimento da população........................................................................................... 35

4.2.2.1) O crescimento da população de Porto Seguro e Trancoso.......................................... 35

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4.2.2.2) O crescimento populacional em Itaporanga................................................................ 36

4.2.3) Caracterização da população......................................................................................... 37

4.2.3.1) Caracterização da população de Porto Seguro........................................................... 37

4.2.3.2) Caracterização da população de Trancoso e Caraíva................................................. 41

4.3) USO E OCUPAÇÃO DA TERRA E PROBLEMAS AMBIENTAIS DECORRENTES..... 45

4.3.1) Uso do solo e atividades econômicas realizadas na Unidade de Conservação............. 45

4.3.1.1) Agricultura, Pecuária, Criação Animal e Pesca............................................................ 47

4.3.2) Conflitos Sociais e Atividades conflitantes...................................................................... 50

4.3.2.1) Atividades impactantes sobre os recursos naturais, fauna e flora............................... 50

4.3.2.2) Conflitos Sociais pela posse da terra........................................................................... 52

4.3.2.3) Conflitos sociais por áreas de ocupação...................................................................... 53

4.3.2.4) A introdução de bubalinos na área do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades........................................................................................................................................

53

4.3.2.5) Conflitos Sociais com a gestão do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades........ 54

4.3.2.6) Presença de macroestruturas e prestação de serviços no Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades......................................................................................................................

55

4.3.3) Atividades realizadas na Zona de Amortecimento do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades..................................................................................................................................

55

4.3.3.1) Atividades impactantes na Zona de Amortecimento do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades............................................................................................................................

57

4.3.4) Atividades realizadas na Região da Unidade de Conservação........................................ 58

4.3.4.1) Agropecuária................................................................................................................. 58

4.4) ALTERNATIVAS DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL................. 61

4.4.1) Alternativas e atividades sustentáveis realizadas na área do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades.......................................................................................................................

61

4.4.1.1) Atividades econômicas de baixo impacto realizadas na Unidade de Conservação..... 61

4.4.1.2) Atividades econômicas com alto potencial para o desenvolvimento no Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades................................................................................................

61

4.4.2 Alternativas para atividades impactantes.......................................................................... 64

4.5) ENVOLVIMENTO DOS GRUPOS SOCIAIS COM A UNIDADE DE CONSERVAÇÃO...... 65

4.5.1) Os grupos de interesse que atuam na área do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades, sua visão e relação com a Unidade de Conservação...................................................

65

4.5.2) Os grupos de interesse secundário e sua relação com a Unidade de Conservação....... 68

4.6) IDENTIFICAÇÃO E DISCUSSÃO DE SUBSÍDIOS PARA O ZONEAMENTO DA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO E REDEFINIÇÃO DE SUA ZONA DE AMORTECIMENTO...

69

4.7) FORMULAÇÃO DE RECOMENDAÇÕES DE AÇÕES DE MANEJO NECESSÁRIAS A UNIDADE DE CONSERVAÇÃO E DE PESQUISAS PRIORITÁRIAS.....................................

71

5) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................................... 72

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Lista de Figuras

Figura 1 - Localização do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades no estado da Bahia..............................................................................................................................................

2

Figura 2 - Unidades de conservação localizadas próximo ao Refúgio de Vida Silvestre Rio dos Frades............................................................................................................................................

2

Figura 3 - Localização do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades, da zona de amortecimento e da TI Imbiriba.....................................................................................................

3

Figura 4 - Bacia e microbacias do rio dos Frades e sua localização dentro do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades e da zona de amortecimento............................................................

4

Figura 5 - Mapa de acessos ao município de Porto Seguro e ao Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades com estradas, rodovias e aeroportos...................................................................

4

Figura 6 - Reunião do Conselho Consultivo do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades com a apresentação do plano de trabalho pela equipe da Thalassa (Coordenadas E 493097 N 8181163)..........................................................................................................................................

5

Figura 7 - Locais visitados durante a pesquisa de campo pela equipe da Thalassa na área do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades e na Zona de Amortecimento................................

6

Figura 8 - Equipe técnica da Thalassa em campo na aplicação do questionário com pessoas que residem no interior do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades (a) Sr. Nivaldo (Coordenadas: E 489646 N 8166720) e (b) D. Anália (Coordenadas: E 486518 N 8157680)...........................................................................................................................................

7 Figura 9 - Entrevistas com atores históricos da ocupação pataxó Gravatá (a) e da comunidade de Itaporanga (b). (Coordenadas: a - E 488621 N 8158222 e b - E 484552 N 8157665)................

7

Figura 10 - Reunião da equipe técnica da Thalassa com representantes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (Coordenadas: E 496042 N 8187901).......................

8

Figura 11 - Área de farinheira em propriedade de D. Arcanja (a) e área de expansão demográfica em Itaporanga (b) (Coordenadas: a - E 487759 N 8155233 e b – E 485226 N 8157688)..................................................................................................................... ......................

8 Figura 12 - Marco de posse localizado na Cidade Histórica de Porto Seguro na Bahia (Coordenadas E 493143 N 8182701)..............................................................................................

9

Figura 13 – Sr. João Lua, primeiro morador e fundador de Itaporanga (Coordenadas: E 484552 N 8157665)......................................................................................................................................

11

Figura 14 - Vista externa da Igreja de São Brás localizada em Itaporanga (a), em destaque a placa com a data da fundação da igreja (b) e vista do altar com a imagem de São Brás (c) (Coordenadas E 484377 N 8158058)...............................................................................................

12

Figura 15 - Escola Municipal de Itaporanga (Coordenadas E 484391 N 8158068)........................ 13

Figura 16 - Entrada da Aldeia Pataxó Imbiriba (Coordenadas: E 488621 N 8158222)................... 14

Figura 17 - Localização da Terra Indígena Imbiriba na Zona de Amortecimento do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades..................................................................................................

14

Figura 18 - Sementes para confecção de colares e vestimentas indígenas fabricadas a partir do material extraído da imbiriba (Coordenadas: E 488621 N 8158222)...............................................

15

Figura 19 - Escola Indígena Pataxó Aldeia Imbiriba (Coordenadas E 483260 N 8179184)............ 16

Figura 20 - Posto de Saúde da Aldeia Pataxó Imbiriba (Coordenadas E 484412 N 8158046)....... 17

Figura 21 - O índio Railto Braz com seu maracá (Coordenadas: E 488621 N 8158222)................. 18

Figura 22 – Participação do índio Railto Braz e da índia Crispiniana na reunião do Conselho Consultivo do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades onde foi apresentado o plano de trabalho pela equipe da Thalassa (Coordenadas E 493097 N 8181163).........................................

19 Figura 23 - Centro Histórico de Porto Seguro (a) e o Museu da Cidade (b) (Coordenadas E 493077 N 8182612)..........................................................................................................................

20

Figura 24 – Capela de São Benedito localizada no Centro Histórico de Porto Seguro (Coordenadas E 493120 N 8182544)...............................................................................................

21

Figura 25 – Matriz de Nossa Senhora da Pena localizada na Cidade Alta em Porto Seguro (Coordenadas E 493049 N 8182727)...............................................................................................

21

Figura 26 - Quadrado Histórico de Trancoso (Coordenadas E 490038 N 8165877)....................... 22

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Figura 27 - Mastros com as bandeiras de São Sebastião e São Brás em frente a Igreja de São João Batista localizada no Quadrado Histórico em Trancoso (Coordenadas E 490038 N 8165877)..........................................................................................................................................

24

Figura 28 – Loja Palmas Arte Coco Artesanato (a) e Instituto Arte Itaporanga (Coordenadas E 484355 N 8158066).........................................................................................................................

28

Figura 29 – Artesanato local vendido em Imbiriba (Coordenadas E 484143 N 8158342).............. 29

Figura 30 – Parada das vans em Imbiriba a caminho da Praia do Espelho (Coordenadas E 484143 N 8158342).........................................................................................................................

29

Figura 31 - Localização das propriedades no Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades......... 31

Figura 32 - Sítio da Paz: (a) farinheira, (b) pilão localizado em frente a farinheira e ao lado do rio dos Frades, (c) plantação de coco e (d) criação de animais domésticos (Coordenadas: E 487759 N 8155233).......................................................................................................................

32 Figura 33 – Fazenda Bela Vista: (a) D. Anália e D. Maria d’Ajuda, (b) plantação e (c) criação de animais domésticos (Coordenadas: E 486518 N 8157680)............................................................

33

Figura 34 - Entrevista com o Sr. Carlos Pinheiro no Sítio da Paz de propriedade de D. Arcanja (Coordenadas: E 487759 N 8155233).............................................................................................

33

Figura 35 – Entrevista com o Sr. Moacyr de Andrade proprietário das Fazendas Reunidas Itaquena (Coordenadas: E 493120 N 8182544).............................................................................

34

Figura 36 - Distribuição da População de Porto Seguro por Faixa Etária levantada no Censo Demográfico de 2010......................................................................................................................

38

Figura 37 - Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal e área de desenvolvimento de Porto Seguro levantado no Censo Demográfico de 2010.........................................................................

41

Figura 38 - Pirâmide Etária de Caraíva levantada no Censo Demográfico de 2010....................... 43

Figura 39 - Pirâmide Etária de Trancoso levantada no Censo Demográfico de 2010..................... 44

Figura 40 – Guaiamum no manguezal do rio dos Frades (Coordenadas E 488822 N 8154619)..... 47

Figura 41 - Mapa de uso do solo da área do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades e sua Zona de Amortecimento...................................................................................................................

48

Figura 42 – Placa de identificação da área do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades com a proibição da caça e do desmatamento (Coordenadas E 487556 N 8154845).............................

51

Figura 43 – Córrego do Chato próximo ao limite do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades (a). A seta à direita indica restos de uma fogueira usada para cozinhar algum alimento (b) (Coordenadas E 485214 N 8155612)............................................................................................

52 Figura 44 – Infraestrutura do município de Porto Seguro com destaque para a área do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades e sua Zona de Amortecimento............................................

56

Figura 45 – Fabricação de peças em madeira de alto padrão em Itaporanga (Coordenadas E 484528 N 8157958).........................................................................................................................

57

Figura 46 - Área de queimada irregular na estrada Trancoso-Caraíva e na estrada de terra de Itaporanga em direção ao Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades (Coordenadas E 484617 N 8157151)......................................................................................................................................

58

Figura 47 - Área de expansão no povoado de Itaporanga (Coordenadas E 485226 N 8157688).. 58

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Lista de Tabelas

Tabela 1 - Transporte rodoviário que atende a cidade de Porto Seguro................................. 3

Tabela 2 - Propriedades documentadas na área do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades.....................................................................................................................................

30

Tabela 3 - Áreas de ocupação na área do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades....... 31

Tabela 4 - Número de moradores por família na área do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades. .............................................................................................................................

34

Tabela 5 - Tempo de residência na área da Unidade de Conservação. ................................. 35

Tabela 6 - Crescimento Populacional de Porto Seguro nos Censos de 1991, 2000 e 2010... 35

Tabela 7 - Ocupações em atividades econômicas dos imigrantes de Itaporanga citadas pelos entrevistados no diagnóstico de socioecomonia realizado com proprietários e moradores do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades...................................................

36 Tabela 8 - Distribuição da população urbana e rural de Porto Seguro levantado no Censo Demográfico de 2010. ............................................................................................................

37

Tabela 9 – Distribuição da população de Porto Seguro por sexo levantado no Censo Demográfico de 2010..............................................................................................................

37

Tabela 10 - População Economicamente Ativa e Inativa de Porto Seguro levantado no Censo Demográfico de 2010...................................................................................................

37

Tabela 11 - Taxa de alfabetização de pessoas com 10 anos ou mais em Porto Seguro........ 38

Tabela 12 - Pessoas alfabetizadas a partir de cinco anos de idade em Porto Seguro............ 38

Tabela 13 - Tabela 13 – Índice de Desenvolvimento Econômico de Porto Seguro................. 39

Tabela 14 - Índice de Desenvolvimento Social de Porto Seguro............................................. 39

Tabela 15 - Evolução do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal de Porto Seguro dos censos demográficos de 1991 e 2000..............................................................................

39

Tabela 16 - Formas de abastecimento de água em Porto Seguro levantado no Censo Demográfico de 2010..............................................................................................................

40

Tabela 17 - Acesso e quantidade de banheiros em Porto Seguro levantado no Censo Demográfico de 2010..............................................................................................................

41

Tabela 18 - Formas de esgotamento sanitário em Porto Seguro levantado no Censo Demográfico de 2010..............................................................................................................

42

Tabela 19 - Destinação dos Resíduos Sólidos em Porto Seguro levantado no Censo Demográfico de 2010. ............................................................................................................

42

Tabela 20 - Distribuição da população de Caraíva e Trancoso em Rural e Urbana levantada no Censo Demográfico de 2010. ...........................................................................

42

Tabela 21 - Distribuição da População de Caraíva e Trancoso por Sexo levantada no Censo Demográfico de 2010. .................................................................................................

43

Tabela 22 - População Economicamente Ativa e Inativa em Caraíva levantada no Censo Demográfico de 2010. ............................................................................................................

43

Tabela 23 - População Economicamente Ativa e Inativa de Trancoso levantada no Censo Demográfico de 2010. ............................................................................................................

44

Tabela 24 - Índice de alfabetização a partir dos cinco anos de idade em Caraíva e Trancoso levantado no Censo Demográfico de 2010.............................................................

44

Tabela 25 - Taxa (%) de pessoas alfabetizadas e não alfabetizadas a partir dos 10 anos de idade em Caraíva e Trancoso levantado no Censo Demográfico de 2010.............................

45

Tabela 26 - Forma de abastecimento de água em Caraíva e Trancoso levantado no Censo Demográfico de 2010..............................................................................................................

45

Tabela 27 - Formas de esgotamento sanitário em Caraíva e Trancoso levantado no Censo Demográfico de 2010..............................................................................................................

46

Tabela 28 - Destinação dos resíduos sólidos em Caraíva e Trancoso levantado no Censo Demográfico de 2010...............................................................................................................

47

Tabela 29 - Atividades econômicas identificadas no questionário aplicado a moradores e proprietários da área do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades...................................

48

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Tabela 30 - Cultivos agrícolas e número de propriedades incluídas na área do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades que realizam aquele tipo de cultura...................................

49

Tabela 31 – Formas de manejo, métodos e práticas realizadas pelos proprietários e moradores do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades....................................................

49

Tabela 32 - Número de propriedades (parcial ou integralmente inseridas) com criação animal na zona de amortecimento ou no Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades.....................................................................................................................................

50 Tabela 33 - Rebanho estimado a partir do questionário nas propriedades parcial ou totalmente inseridas no Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades....................................

50

Tabela 34 - Tratamento de esgoto nas propriedades parcial ou totalmente inseridas do

Refúgio de Vida Silvestre Rio dos Frades...............................................................................

51

Tabela 35 - Produto Interno Bruto de Porto Seguro levantado no Censo Demográfico de 2010.........................................................................................................................................

58

Tabela 36 - Escala de alteração da estrutura fundiária de acordo com o Índice de Gini......... 59

Tabela 37 - Evolução do Índice de Gini em Porto Seguro....................................................... 59

Tabela 38 - Classificação das propriedades rurais por módulos fiscais................................... 59

Tabela 39 - Distribuição do número de imóveis e área total segundo a categoria de imóvel rural na Região Extremo Sul da Bahia em dezembro de 2005...............................................

60

Tabela 40 - Lavoura temporária em Porto Seguro nos anos de 2002, 2008 e 2011............... 60

Tabela 41 - Lavoura permanente em Porto Seguro no ano de 2011....................................... 60

Tabela 42 - Evolução dos principais rebanhos da pecuária em Porto Seguro......................... 61

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Lista de Quadro

Quadro 1 - Quadro-Resumo das variáveis componentes do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal......................................................................................................................................

40

Lista de Anexos

ANEXO 1) Relação das pessoas entrevistadas durante o trabalho de campo para o levantamento socioeconômico do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades e sua Zona de Amortecimento..............................................................................................................................

75 ANEXO 2) Declaração de uso das fotografias............................................................................ 80 ANEXO 3) Modelo do questionário aplicado com os moradores do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades e da Zona de Amortecimento.........................................................................

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1) INTRODUÇÃO O Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades (RVSRF) está localizado no município de Porto Seguro, no estado da Bahia, entre as localidades de Trancoso e Caraíva. Foi criado por meio do Decreto s/no de 21 de dezembro de 2007 (Brasil, 2007), através do Processo no 02001.006934/2005-93, que definiu os limites do Refúgio e sua Zona de Amortecimento (ZA). Esta Unidade de Conservação (UC) foi criada com o objetivo básico de “preservar ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico”. Essa área tem uma riqueza natural expressiva, com destaque para a sua inserção no Corredor Central da Mata Atlântica, integrando a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e áreas do Sítio do Descobrimento, tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). O Refúgio de Vida Silvestre (RVS) é uma das categorias de Proteção Integral, de acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), que tem por objetivo básico a proteção dos ambientes naturais onde se asseguram condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora local e da fauna residente ou migratória. Essa categoria permite a realização de atividades como a recreação, o turismo ecológico e a pesquisa. O SNUC permite também a presença de propriedades particulares no interior do RVS, desde que os usos dessas propriedades sejam compatíveis com os objetivos da UC e com a proteção dos recursos naturais. Além das propriedades privadas no interior da UC, as áreas limítrofes às unidades de conservação de proteção integral também podem resultar em conflito em relação ao seu uso e acabam por exercer uma pressão sobre os recursos naturais da UC. Para compatibilizar o interesse de particulares com a proteção da UC é fundamental que se desenvolvam, no seu interior e entorno, propostas que viabilizem o desenvolvimento de atividades produtivas sustentáveis e não atrapalhem os objetivos de criação da UC. No primeiro momento é necessária a busca de informação socioeconômica que servirá para elencar propostas de desenvolvimento para a região, para a gestão e para elaboração do plano de manejo do RVSRF. Sendo assim, foi contratada a Empresa Thalassa que realizou os estudos que irão compor o Diagnóstico de Socioeconomia e Áreas Correlatas do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades. A contratação desse estudo foi celebrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), através do Projeto de Corredores Ecológicos. O Projeto Corredores Ecológicos é um componente do Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais Brasileiras, e está vinculado ao Ministério de Meio Ambiente (MMA). Conta com recursos financeiros provenientes do governo alemão, por meio de seu agente financiador, o Kreditanstalt für Wiederaufbau (KfW), e da Comissão Europeia. 2) DESCRIÇÃO DA ABRANGÊNCIA DO ESTUDO O Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades é uma UC com aproximadamente 894 hectares localizado integralmente no município de Porto Seguro, no extremo sul do estado da Bahia (Figura 1). Situa-se próximo aos povoados de Trancoso e Itaporanga. Porto Seguro possui uma área de 2.408.325,00 hectares e 85 km de extensão de litoral, com praias, dunas, restingas e mangues. O RVSRF está situado na porção centro-leste do município, no litoral, protegendo a foz do rio dos Frades e uma grande área de restinga. Desde a praia até seu ponto mais a oeste a UC possui, em linha reta, aproximadamente, uma extensão de 2,60 km e do seu ponto mais ao norte até seu ponto mais ao sul possui 4,60 km. Entre as unidades de conservação que estão próximas ao RVSRF estão o Parque Nacional (PN) do Pau Brasil ao norte e, ao sul, estão o Parque Nacional e Histórico do Monte Pascoal e a Reserva Extrativista Marinha do Corumbau (Figura 2). O RVSRF está sobreposto à parte da Área Estadual de Proteção Ambiental Caraíva-Trancoso, a qual possui zoneamento definido na resolução no 2.532 de 24 de novembro de 2000 do Conselho Estadual de Meio Ambiente (CEPRAM) (CEPRAM, 2000).

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Figura 1 - Localização do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades no estado da Bahia.

Figura 2 - Unidades de conservação localizadas próximo ao Refúgio de Vida Silvestre Rio dos Frades.

A zona de amortecimento do RVSRF possui 2.982,06 hectares, estendendo-se predominantemente no sentido leste-oeste (Figura 3) e seus limites norte e sul são menores. Além de estar quase totalmente inserida na Área de Proteção Ambiental Estadual Caraíva-Trancoso, a ZA do RVSRF também faz parte do Minicorredor prioritário Pau-Brasil - Monte Pascoal. O RVSRF e sua ZA estão integralmente inseridos na microbacia hidrográfica do rio dos Frades.

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Figura 3 - Localização do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades, da zona de amortecimento e da terra indígena de Imbiriba.

A bacia do rio dos Frades e as microbacias vizinhas ocupam uma área de 2.251 km2 limitada pelas bacias dos rios Caraíva ao Sul, Jucuruçu a sudoeste, Buranhém ao norte e o Oceano Atlântico a leste (Figura 4). O rio dos Frades possui 115 km de extensão (MMA/SRH, 1997) e nasce com o nome de córrego do Frade no município de Guaratinga na Bahia. O córrego segue em sentido sudoeste até se encontrar com o rio Barriguda formando o rio dos Frades. Sua nascente está localizada no contraforte oriental das serras da Vista Alegre e do Pinhão em altitudes variando entre 400 e 500 m (Sarmento-Soares e Martins-Pinheiro, 2009). O acesso à sede do município de Porto Seguro pode ser feito de carro, ônibus ou avião. Não existe transporte de passageiros por trem ou navio. O trajeto por carro é feito inicialmente, pela rodovia federal BR 101, tanto para quem vem da região sul quanto para quem vem da região norte. Ao chegar ao município de Eunápolis segue-se no sentido leste para entrar na BR 367 até a cidade de Porto Seguro (Figura 5). O transporte por ônibus segue o mesmo trajeto feito pelo transporte por carro, sendo que Porto Seguro é atendido pelo serviço de três companhias de ônibus interestaduais (Tabela 1). Tabela 1 - Transporte rodoviário que atende a cidade de Porto Seguro.

Companhia Origem Destino

Viação São Geraldo

Belo Horizonte Rio de Janeiro São Paulo Goiânia

Terminal Rodoviário de Porto Seguro

Viação Águia Branca Vitória Salvador

Terminal Rodoviário de Porto Seguro

Viação Novo Horizonte Brasília Terminal Rodoviário de Porto Seguro

No que se refere ao transporte aéreo, a cidade de Porto Seguro desde 1982 possui um aeroporto. Em 1997 o aeroporto foi ampliado e reinaugurado, com novo terminal de passageiros e pátio para estacionamento de aeronaves. A pista de pouso também foi ampliada dando possibilidade para

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operação de aeronaves de grande porte. Atualmente este aeroporto é um dos que mais recebe voos charters de todas as companhias aéreas brasileiras e internacionais. Figura 4 - Bacia e microbacias do rio dos Frades e sua localização dentro do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades e da zona de amortecimento.

Figura 5 - Mapa de acessos ao município de Porto Seguro e ao Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades com estradas, rodovias e aeroportos.

A partir da cidade de Porto Seguro existem diversas estradas internas que levam até a área do RVSRF. O caminho mais utilizado segue pela rodovia estadual BA 001 até chegar ao trevo de

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acesso à estrada para Caraíva. Segue até o povoado de Itaporanga, dentro da ZA. A partir de Itaporanga pode-se ter acesso à UC utilizando-se uma das estradas de terra. 3) METODOLOGIA O diagnóstico socioeconômico do RVSRF foi realizado a partir de levantamentos bibliográficos, de dados secundários e de pesquisa de campo. Os levantamentos bibliográficos concedidos pela equipe técnica do ICMBio possibilitaram uma compreensão inicial dos processos sociais, políticos, econômicos e culturais encontrados na região do RVSRF. Em muitos desses trabalhos observou-se a realização de pesquisas acerca de temas importantes como a estrutura fundiária, a infraestrutura das comunidades locais, a realização de programas de saúde pública, entre outros. Esses dados secundários forneceram à equipe técnica de elaboração do diagnóstico a possibilidade de já ter um item como norteador do processo aqui realizado. A partir daí foi possível identificar as fontes de verificação desses dados em campo, e a definição dos dados ainda não encontrados que deveriam ser coletados em campo, para ser analisados e esquematizados na elaboração desse produto. Assim, a equipe técnica responsável pelo levantamento socioeconômico realizou as pesquisas de campo entre os dias 14 e 22 de março de 2013. Nesse período foram contatados a equipe do ICMBio responsável pela gestão do RVSRF, membros do Conselho Consultivo, onde foi apresentado o plano de trabalho para a execução do estudo (Figura 6), proprietários e moradores do interior do RVSRF e da ZA, órgãos públicos, associações locais, lideranças comunitárias, lideranças indígenas, Organizações não-governamentais (ONG), entre outros. Na figura 7 são apresentados os locais que foram visitados pela equipe da Thalassa e no Anexo 1 esta a relação das pessoas que foram entrevistadas durante as pesquisas em campo na área do RVSRF e na ZA. Durante todo o estudo foram feitos registros fotográficos (máquina fotográfica digital Sony modelo HD AVCHD), marcação de pontos com GPS (GARMIN 12 XL) conforme DATUM WGS84 – Fuso 24 k e georreferenciamento usando a projeção UTM (Universal Transverse Mercator). No anexo 2 é apresentada uma declaração de permissão de uso das fotografias realizadas durante as entrevistas. Figura 6 - Reunião do Conselho Consultivo do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades com a apresentação do plano de trabalho pela equipe da Thalassa (Coordenadas E 493097 N 8181163).

A metodologia empregada em campo foi realizada em diferentes etapas, dentre as quais se podem destacar: - Aplicação de questionário socioeconômico (Anexo 3) com os proprietários do interior do RVSRF (Figura 8) a fim de construir um produto que retrate a realidade em que essas pessoas estão

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inseridas, com considerações acerca das atividades e usos que realizam, a sua relação com o RVSRF e a equipe gestora e a atuação do poder público. Além desses aspectos que buscam levantar subsídios a análise socioeconômica aqui proposta também estiveram presentes no questionário alguns temas específicos para atender ao previsto no Termo de Referência (TR) deste trabalho, com dados acerca de população local, saneamento básico, atividades realizadas, entre outras. Figura 7 – Locais visitados durante a pesquisa de campo pela equipe da Thalassa na área do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades e na Zona de Amortecimento.

- Entrevistas com as lideranças comunitárias (Figura 9) a fim de promover um resgate histórico, cultural e social da região do RVSRF. Nessa etapa foi importante a identificação dessas lideranças para traçar um perfil de entrevista mais direcionado, a fim de ter maior sucesso na obtenção dos dados esperados. Essas entrevistas também fundamentaram a caracterização da infraestrutura local, a percepção da comunidade em relação ao RVSRF e a equipe gestora, a existência de situações conflitantes e a identificação dos grupos de interesse que atuam na área do RVSRF. - Entrevistas e reuniões com a equipe gestora do RVSRF (Figura 10) a fim de elencar os principais desafios que a gestão observa desde a criação da UC e as principais possibilidades que facilitem a gestão da unidade. Nessas reuniões também foi possível identificar a infraestrutura operacional da UC, as perspectivas para a elaboração do Plano de Manejo da Unidade, a visão dos gestores sobre as situações conflitantes e a identificação de instituições parceiras e potenciais parcerias para o RVSRF. - Reuniões e encontros com órgãos públicos, em especial a Prefeitura de Porto Seguro, onde se buscou identificar qual é a proposta de planejamento para a área do RVSRF e sua ZA. Pretendeu-se verificar a existência de projetos de infraestrutura na área realizados pela Prefeitura ou em parceria com o governo Estadual ou Federal. Nessa etapa também foram apontadas algumas demandas observadas nas entrevistas com as lideranças locais e foi analisado se há possibilidade e interesse de que a gestão municipal possa atender a essas demandas, inclusive com a parceria com a gestão da UC.

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Figura 8 – Equipe técnica da Thalassa em campo na aplicação do questionário com pessoas que residem no interior do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades (a) Sr. Nivaldo (Coordenadas: E 489646 N 8166720) e (b) D. Anália (Coordenadas: E 486518 N 8157680).

Figura 9 - Entrevistas com atores históricos da ocupação pataxó Gravatá (a) e da comunidade de Itaporanga (b). (Coordenadas: a - E 488621 N 8158222 e b - E 484552 N 8157665).

(a) (b)

- Visita técnica em pontos específicos da UC (Figura 11) para identificar, registrar, georreferenciar e fotografar itens, construções, infraestrutura, entre outros que possam contribuir para a elaboração do mapa de uso e ocupação do solo da UC e Região. A partir dos levantamentos bibliográficos, das pesquisas realizadas e do trabalho de campo pretendeu-se retratar aqui as principais atividades socioeconômicas realizadas na área do RVSRF, na zua ZA e na região de entorno.

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Figura 10 – Reunião da equipe técnica da Thalassa com representantes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (Coordenadas: E 496042 N 8187901).

Figura 11 - Área de farinheira em propriedade de D. Arcanja (a) e área de expansão demográfica em Itaporanga (b) (Coordenadas: a - E 487759 N 8155233 e b – E 485226 N 8157688). (a) (b)

4) RESULTADOS E DISCUSSÂO 4.1) ASPECTOS HISTÓRICOS E PATRIMÔNIO CULTURAL 4.1.1) O processo de colonização e a ocupação do território 4.1.1.1) A colonização do município de Porto Seguro A colonização de Porto Seguro está intimamente ligada à História do Brasil, desde o descobrimento em 22 de abril de 1500. Nessa data após 42 dias de viagem, a frota de Pedro Álvares Cabral vislumbrava terra, mais com alívio e prazer do que com surpresa ou espanto. Segundo o testemunho do escrivão Pero Vaz de Caminha “Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos: ao monte alto o capitão pôs o nome - o Monte Pascoal e à terra - a Terra da Vera Cruz” (MinC, 2013). O comandante Pedro Álvares Cabral fundeou a armada a aproximadamente 19 milhas de terra. Este local é um pouco mais ao norte do que hoje se conhece como Parque Nacional e Histórico de Monte Pascoal. Está localizado entre as pontas de Itaquena e Itapiroca, em frente à barra do rio dos Frades (Villaggio Porto Seguro, 2013). Inicialmente o Brasil foi batizado como Ilha de Vera Cruz. Cabral passou dez dias no Brasil e sua armada firmou amizade com os nativos, índios tupiniquins, uma das tribos do grupo tupi-guarani que, no início do século XVI, ocupava quase todo o nosso litoral. No município de Cabrália, na

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Coroa Vermelha, Frei Henrique de Coimbra celebrou a primeira missa em terras brasileiras (CCLBDOBRASIL, 2013). Em 1503, Gonçalo Coelho chefiou uma expedição exploradora que passou em Porto Seguro. Em 1526, a expedição guarda-costas, de Cristóvão Jacques, fundou ali uma feitoria e em 1534, com a divisão administrativa do Brasil em quinze capitanias hereditárias, Porto Seguro passou a ser sede da Capitania de Porto Seguro. O donatário foi Pero de Campos Tourinho. No mesmo local em que Cristóvão Jacques havia estabelecido a feitoria foi criada uma vila, na foz do rio Buranhém, a Vila de Porto Seguro (Brasil Azul, 2013). A cidade histórica de Porto Seguro, ainda hoje ostenta o marco de posse, provavelmente trazido pela expedição de Gonçalo Coelho em 1503. Este marco simbolizava o poder da coroa portuguesa sobre as terras recém-descobertas. O padrão em pedra de cantaria, utilizado para demarcar as terras, tem esculpido de um lado a cruz da Ordem de Avis e, do outro, o brasão de armas de Portugal (Figura 12). Figura 12 - Marco de posse localizado na Cidade Histórica de Porto Seguro na Bahia (Coordenadas E 493143 N 8182701).

É possível observar que a formação de Porto Seguro possui uma forte ligação com a História do Brasil. Durante o século XVI as áreas próximas a Vila de Porto Seguro começaram a ser exploradas e visitadas por expedições portuguesas, com destaque para as missões jesuítas. 4.1.1.2) A colonização do Distrito de Trancoso A área que hoje constitui o distrito de Trancoso era conhecida como Itapitanga, um sítio indígena habitado pelos índios aimorés (Carneiro e Agostinho, 2004). Os índios Aimorés eram altos e robustos, de pele clara, atribuído ao fato de só andarem pelo interior da selva, onde os raios solares não penetravam com tanta intensidade. Eles divagavam pela mata não somente pela coleta, mas também pelo seu espírito guerreiro (Tribo Aimoré, 2013). De acordo com Carneiro e Agostinho (2004), essa área foi visitada pela primeira vez em 1555, por um jovem viajante europeu, João Azpilcueta, que fazia parte de um grupo de missionários jesuítas. Esse grupo veio a mando de Manoel da Nóbrega para fazer um reconhecimento da

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região para avaliar se havia a presença de riquezas que justificassem a vinda de outros cristãos para povoá-la. Os índios aimorés não davam tréguas aos colonizadores, o que tornava a vida muito arriscada aos moradores brancos e aos pataxós, maxacalis, tabajaras e outros que habitavam essa região. Por isso esta área não foi povoada de início, e os jesuítas dedicaram-se a povoar e catequisar as áreas indígenas mais próximas a Vila de Porto Seguro. Em 1586 com o auxílio dos índios catequisados nessas missões eles retornaram a área de Itapitanga e fundaram ali uma nova missão jesuítica com a mudança do seu nome para Aldeia São João. A missão permaneceu na administração da Aldeia até 1759 quando os jesuítas foram expulsos do Brasil. Na Aldeia de São João esse processo ocorreu nas vésperas da Festa de São Sebastião em 19 de janeiro de 1759. Com a saída dos jesuítas a Aldeia foi elevada a categoria de Vila e mais uma vez recebeu um novo nome, passando a ser chamada de Nova Trancoso. As vilas fundadas ou administradas pelos lusitanos passaram a receber nomes das vilas portuguesas, daí vem o nome de Trancoso em homenagem a uma Vila portuguesa de mesmo nome. De acordo com Carneiro e Agostinho (2004), nessa época consta que na antiga Aldeia de São João moravam “cento e dez casais, além de viúvos, viúvas e mulheres com maridos ausentes da nação Tabajara ou Tupi”. A região teve um crescimento e recebeu pessoas de outras aldeias e em 1888 tinha 1.461 habitantes. As principais atividades econômicas dessa época eram o cultivo de mandioca e algodão comercializados em Porto Seguro, em uma época que o transporte ainda era muito difícil. Ainda de acordo com os mesmos autores a Vila foi transformada em município por breve tempo e em 1927 seu território foi anexado como distrito de Porto Seguro. Nessa época o povoado de Trancoso ficou mais e mais decadente, as atividades econômicas minguaram até a década de 1970 quando havia aproximadamente vinte casas ocupadas e, as restantes, fechadas ou em ruínas. Não havia mais do que 80 pessoas no povoado. O distrito de Trancoso permaneceu por um longo período sem ter um crescimento expressivo. A dificuldade de transporte e a distância de Porto Seguro deixaram a área isolada até a segunda metade do século XX quando o turismo gerou um grande impulso de crescimento populacional, econômico e urbano, sob influência do movimento hippie da década de 1970. Desde então Trancoso, que não havia mudado muito desde a saída dos jesuítas, passou a ter um crescimento rápido, influenciado principalmente pelo turismo, que se tornou a principal atividade econômica do distrito nesses últimos anos. O distrito começou a receber muitos imigrantes, vindos de todos os cantos do Brasil e do mundo, muitos dos quais depois de conhecer a área retornavam e passavam a constituir moradia fixa. 4.1.1.3) A colonização do Povoado de Itaporanga A expansão das atividades turísticas ao longo da década de 1970 trouxe crescimento demográfico não só para a sede do município de Porto Seguro e para seus distritos como Arraial d’Ajuda e Trancoso. Muitas áreas rurais também foram afetadas por esse processo que levou algumas a ter um adensamento populacional maior, bem como contribuiu para o surgimento de novos núcleos demográficos espalhados pela área rural do município, como o caso do povoado de Itaporanga. A história desse povoado possui uma relação direta com a história pessoal de João Lua, considerado como o primeiro morador e fundador de Itaporanga. O Sr. João Lua, hoje com 90 anos (Figura 13), é um índio que relatou em sua entrevista que para ele as terras indígenas não eram verdadeiramente suas, mas que pertenciam a União. Assim, ele buscava ter uma terra própria onde pudesse trabalhar, desenvolver e ter ganhos econômicos através do trabalho que realizasse nela. Conforme relatos do Sr. João Lua, devido a esse pensamento ele deixou a aldeia indígena e foi criado em uma fazenda onde aprendeu a leitura. Quando veio para a região que hoje é Itaporanga em 8 de setembro de 1969 ele afirmou que se deparou com uma terra bonita e desocupada, onde as poucas pessoas que tinham eram analfabetas e pobres, que não conheciam nem a escrita e

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nem o dinheiro. Ele construiu um barraco em Itaporanga e logo depois vieram mais duas famílias dando início a ocupação do vilarejo. Figura 13 - Sr. João Lua, primeiro morador e fundador de Itaporanga (Coordenadas: E 484552 N 8157665).

O Sr. João Lua escolheu o nome do povoado como Itaporanga em homenagem a uma pedra que ele havia visto em livros de História do Brasil, e tinha considerado muito bonita. A origem da palavra Itaporanga remete à língua tupi-guarani e significa “pedra (itá) bonita (porang)”. O Sr. João Lua relata que o povoado foi inaugurado no dia 3 de fevereiro de 1971 junto com a Igreja de São Brás (Figura 14). Ele convidou o padre da paróquia de Trancoso para a celebração da primeira missa. Ele descreve ainda que escolheu São Brás como padroeiro de Itaporanga porque outros santos mais conhecidos já eram padroeiros das localidades vizinhas. O Sr. João citou os exemplos da padroeira de Porto Seguro, Nossa Senhora da Pena; de Trancoso, São João Batista; de Caraíva, São Sebastião; de Arraial d’Ajuda, Nossa Senhora d’Ajuda e de Vale Verde, São Miguel. A Igreja de São Brás é usada até hoje pelos católicos da região, mas há um projeto para construção de uma igreja maior, devido ao crescimento da população local. O Sr. João Lua descreveu que no início da fundação do Povoado de Itaporanga a vida era muito difícil, pois não havia nenhuma infraestrutura e nem a realização de políticas públicas. Na sua visão, Itaporanga era uma área esquecida pelos políticos de Porto Seguro. Ele relatou que pediu a um vereador a construção de uma escola, e, como não havia professor, ele mesmo deu aulas por cinco anos e sua esposa foi a merendeira, mas sem receberem nada por este trabalho. Hoje o prédio da Escola Municipal de Itaporanga foi reformado pela prefeitura de Porto Seguro em parceria com a Veracel (Figura 15). No povoado não havia estradas pavimentadas, o que dificultava o transporte das pessoas até Trancoso ou Porto Seguro. Não existia também uma infraestrutura de saneamento básico, isto é, as casas não tinham água encanada, os moradores buscavam água em baldes no córrego do Chato, nem tratamento de esgoto e nem coleta de lixo. Além de gerar uma grande dificuldade para a população local, essa falta de infraestrutura contribuía para a poluição dos recursos naturais das áreas próximas ao povoado. Embora tenha uma história de colonização recente, o povoado de Itaporanga teve um crescimento populacional muito forte nas últimas quatro décadas. Esta expansão foi influenciada pelo turismo de alto padrão entre os distritos de Trancoso e Caraíva.

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Figura 14 – Vista externa da Igreja de São Brás localizada em Itaporanga (a), em destaque a placa com a data da fundação da igreja (b) e vista do altar com a imagem de São Brás (c) (Coordenadas E 484377 N 8158058).

(a)

(b)

(c)

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Figura 15 – Escola Municipal de Itaporanga (Coordenadas E 484391 N 8158068).

Nessa área foram criados condomínios de luxo como o Outeiro das Brisas, o Condomínio Itapororoca e o Resort Jacumã. Esses empreendimentos passaram a gerar uma oferta de emprego no setor de construção civil, que atraiu um expressivo fluxo migratório para Itaporanga, onde a maior parte desses trabalhadores passou a residir. Após o estabelecimento desses condomínios foram ofertados novos postos de trabalho no setor de comércio (vendedores autônomos) e na prestação de serviços (jardineiros, caseiros, seguranças, faxineiras, domésticas). Esse fato manteve a oferta de emprego e com isso o fluxo de imigrantes para Itaporanga tornou-se ainda mais expressivo. Com esse fluxo migratório houve um grande adensamento populacional no povoado de Itaporanga que não foi acompanhado por medidas socioambientais que contribuíssem para o seu ordenamento territorial. O resultado desse processo foi um modelo de ocupação sem planejamento e sem a criação da infraestrutura necessária, que traz resultados negativos para a qualidade social e ambiental até os dias de hoje. 4.1.2) As etnias indígenas presentes na região do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades O extremo sul da Bahia é marcado pela presença da cultura indígena com destaque para a etnia pataxó. Em entrevista realizada com o Sr. Railto Braz ele relatou que o nome pataxó está ligado às áreas costeiras, que os indígenas usavam como rota de caça, coleta e pesca. No litoral observam-se áreas com extensos bolsões arenosos, com a presença de rochas em alguns locais. Ao caminhar pela praia os viajantes escutavam o barulho que as ondas faziam ao quebrar sobre as rochas e a praia. Assim o contato de batida da onda sobre a rocha fazia o som de “pá” e o seu retorno ao mar o “xó”. A junção desses dois sons acabou por nomear a etnia indígena como pataxó. A presença pataxó no extremo sul da Bahia apresenta uma grande relação com a Aldeia de Barra Velha. De acordo com as entrevistas realizadas na terra indígena (TI) Imbiriba para esse levantamento socioeconômico, ela teria sido a primeira aldeia pataxó dessa região do Estado da Bahia e de lá os indígenas migraram e fundaram outras aldeias. De acordo com os indígenas Xohã (Adenilson) e Ielsimar, moradores da TI Imbiriba existem hoje 38 aldeias pataxó no sul da Bahia e uma em Minas Gerais onde vivem ao todo cerca de 15.000 índios pataxós. Uma dessas aldeias é a Aldeia Pataxó Imbiriba (Figura 16), localizada na ZA do RVSRF ao lado da comunidade de Itaporanga (Figura 17). Além da aldeia que está dentro da TI Imbiriba, existe uma ocupação indígena em uma área dentro do RVSRF. O Sr. Railto, em entrevista, alegou ser a primeira área indígena na região, anterior inclusive à fundação da Aldeia de Imbiriba. Atualmente essa área tem sido denominada como Aldeia Pataxó Gravatá. Entretanto, não foram encontrados documentos desta citação e nem o reconhecimento atual da Fundação Nacional do Índio (FUNAI).

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Figura 16 – Entrada da Aldeia Pataxó Imbiriba (Coordenadas: E 488621 N 8158222).

Figura 17 – Localização da Terra Indígena Imbiriba na Zona de Amortecimento do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades.

De acordo com as entrevistas realizadas e com moradores antigos da região, os indígenas ocupavam toda a área próxima ao rio dos Frades. O Príncipe originário da região alemã conhecida como Renâmia (as margens do rio Reno, oeste da Alemanha) Maximilian Alexander Philipp zu Wied-Neuwied esteve no Brasil no início do século XIX e foi autor do livro Viagem ao Brasil (Wied-Neuwied, 1940). Ele cita várias vezes sua passagem pelo rio dos Frades, como por exemplo: “O litoral do Prado ao rio dos Frades, ora até pouco tempo considerado muito perigoso por causa dos selvagens, e ninguém se aventuraria a percorrê-lo sozinho”. Este comentário evidencia a presença de indígenas na região. Há cerca de 40 anos os indígenas deixaram a área litorânea e do rio dos Frades. O motivo para essa migração não é muito claro, não existe documentação que relata o processo, e nas entrevistas foram encontradas três versões principais. A mais difundida é a de que houve uma invasão dessas terras por um grande proprietário, que ameaçou os indígenas e chegou mesmo a atear fogo em uma das ocas da tribo, e sentindo-se ameaçados os índios optaram em migrar para outras áreas. Esta migração estaria associada

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também a presença de búfalos que comiam as roças e amedrontavam pelo porte e voracidade. Além disso, estes animais ocupavam o leito do rio o que levava a escassez de peixes e a perda da qualidade das águas. Outra versão diz que esse mesmo proprietário teria comprado a terra dos índios a preços muito baixos, ou mesmo fazendo promessas de compra, sem que realmente chegasse a ser pago o valor combinado. Nesse processo esse mesmo proprietário teria oferecido a nova área para os índios que seria a Aldeia Imbiriba. A última versão menos difundida e relatada por uma moradora de 86 anos, que vive na região há 55 anos, é de que duas crianças indígenas morreram de sarampo e por isso, seu pai, um dos líderes da comunidade local decidiu mudar de lá com medo de que mais pessoas viessem a morrer. Com a saída dos indígenas das áreas próximas ao rio dos Frades, a maioria deles migrou para a área próxima de Itaporanga. A TI Imbiriba recebeu esse nome porque logo na entrada da aldeia existia uma árvore de imbiriba, muito antiga e alta, além de outras árvores da mesma espécie que eram encontradas em abundância em toda a área da aldeia pataxó. A imbiriba é usada pelos indígenas para a fabricação das suas vestimentas e adereços. Eles retiram partes da casca das árvores e cortam em pequenos “fios”, para a confecção das vestimentas e com as sementes fazem colares (Figura 18). Figura 18 – Sementes para confecção de colares e vestimentas indígenas fabricadas a partir do material extraído da imbiriba (Coordenadas: E 488621 N 8158222).

De acordo com as entrevistas na TI Imbiriba com o cacique Renivaldo, com o líder Ielsimar e com Adenilson essa aldeia é uma terra indígena demarcada e homologada, possuindo 397 hectares e hoje abriga 104 famílias indígenas com cerca de 620 índios.

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Esses entrevistados relataram que a organização hierárquica da tribo é realizada pelo cacique Renivaldo e pelo vice-cacique José Rodrigues. Existem outras nove lideranças indígenas que atuam junto ao cacique, como um conselho, onde cada um assume uma determinada responsabilidade na tribo, e se reúnem em conselho quando há um assunto de interesse geral para a tribo. 4.1.2.1) A infraestrutura da Terra Indígena Imbiriba A aldeia da TI Imbiriba é acessível através da estrada Trancoso-Caraíva. Por ser uma via sem pavimentação o acesso durante o período de chuvas é dificultado pela presença de lama nas estradas, em alguns casos inclusive pode impedir a passagem de veículos sem tração. O transporte público é escasso, com apenas dois horários diários, um pela manhã e um à tarde. De acordo com os entrevistados citados anteriormente pode acontecer de esse transporte ser suspenso quando as estradas estão com dificuldade de acesso no período das chuvas. Dentro da terra indígena há uma unidade escolar (Figura 19) que atende ao primeiro segmento do Ensino Fundamental (1º ano 5º ano). A escola apresenta uma proposta diferenciada de ensino com aulas voltadas à valorização da cultura indígena. Esse processo pode ser observado na presença das línguas portuguesa e patxohã no currículo escolar, na realização de atividades culturais com a comunidade e também no fato da unidade possuir um calendário escolar próprio que leva em consideração as datas festivas e importantes para cultura indígena e para a aldeia. Figura 19 - Escola Indígena Pataxó Aldeia Imbiriba (Coordenadas E 483260 N 8179184).

A unidade escolar funciona em dois turnos (matutino e vespertino). Quando os alunos concluem seus estudos no 5º ano passam a estudar em outras unidades que não possuem uma proposta diferenciada de ensino para atender a população indígena. A principal unidade que recebe esses alunos é a Escola Municipal de Itaporanga. Ainda em Imbiriba encontra-se também um posto de saúde (Figura 20) que possui atendimento duas vezes por semana. Em entrevista o cacique Renivaldo relatou ser comum a falta do atendimento na unidade, além de considerar necessária a ampliação da infraestrutura do posto de saúde, bem como a melhoria no atendimento, pois é comum haver a falta de medicamentos e a demora na realização dos exames, o que prejudica a saúde pública. Em relação a infraestrutura na TI Imbiriba é importante citar a sua inserção no “Programa Minha Casa Minha Vida” do Governo Federal que aprovou dois projetos de moradia na área da aldeia, um já em execução com a construção de 50 casas e outro ainda não iniciado para a construção de mais 55 unidades. Outro Programa do Governo Federal com atuação em Imbiriba é o “Luz Para Todos” (MME, 2013), principal responsável pelo acesso das moradias da aldeia à energia elétrica. No que se refere a infraestrutura de informação e comunicação na TI Imbiriba existe o acesso a aparelhos como rádio e televisão, bem como a rede de telefonia fixa e móvel, além da oferta de internet banda larga. Não há na área da aldeia a prestação de serviços de correspondência pelos Correios.

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Figura 20 - Posto de Saúde da Aldeia Pataxó Imbiriba (Coordenadas E 484412 N 8158046).

4.1.2.2) A cultura e as tradições indígenas presentes na Aldeia Imbiriba A cultura indígena é muito rica e diversificada, porém ao longo da colonização do Brasil grande parte dessa riqueza foi perdida por processos de inter-relação marcados por uma excessiva valorização da cultura branca em detrimento da indígena e da afro-brasileira. Esse processo dificultou a manutenção das raízes culturais dos povos africanos e indígenas na formação da cultura brasileira, ainda que pelo processo de “miscigenação cultural” muitos desses valores se fazem presentes em nossa cultura até os dias de hoje. Nas entrevistas realizadas na TI Imbiriba para esse levantamento socioeconômico ficou claro que na visão dos entrevistados essa miscigenação cultural também pode ser observada em Imbiriba no que se refere a aspectos culturais como religiosidade, musicalidade, alimentação, costumes, folclore, danças, entre outros. Muitas famílias perderam parte da identidade indígena, pois os pais não têm passado para seus filhos os costumes, hábitos e crenças dos seus antepassados. Quanto a religiosidade existem dentro da comunidade de Imbiriba muitos católicos e protestantes, que de acordo com o cacique são todos bem vindos, desde que haja o respeito à religião das outras pessoas e que essa diversidade religiosa não gere conflitos na aldeia. São mantidas também as tradições da cultura e da religiosidade indígena em muitas famílias que residem na TI Imbiriba. Nas entrevistas realizadas com os índios da aldeia de Imbiriba eles relataram que atualmente a principal manifestação da cultura indígena ocorre no dia do Índio (19 de abril). Nessa data todas as pessoas colocam os seus trajes indígenas e fazem pinturas corporais para participar dos eventos que envolvem a principal comemoração da aldeia. Para a festa, são preparadas comidas e bebidas indígenas como o “uauê” (peixe assado na folha de “patxoba”) e o “cauim” (bebida feita da mandioca). São servidos também outros alimentos como mandioca e caranguejo e todos se reúnem na hora da refeição. Nesse dia é comum que uma aldeia visite outra, ou ainda que haja um encontro de várias aldeias. O encontro entre aldeias é marcado também por diversas competições entre as tribos. São disputadas várias modalidades como: - Corrida de Maracá: as pessoas correm com o maracá na mão para ver quem chega primeiro; - Luta corporal: luta física entre os indígenas realizados por homens e mulheres. Essa atividade não tem sido realizada, pois causava fraturas em alguns índios e por isso foi substituída por outras competições;

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- Derrubar o Maracá: cada índio coloca o seu maracá de pé atrás de si, com a parte menor enterrada no solo e a disputa consiste em uma competição de força com os pés, onde vence o competidor que conseguir derrubar o maracá de seu oponente; - Cabo de Guerra: disputado com oito índios de cada lado e vence a equipe que conseguir “puxar” a outra até o ponto central; - Arco e flecha: disputa para ver quem acerta melhor o alvo; - Zarabatana: disputada como o arco e flecha. Outro evento marcante no encontro entre as tribos é a dança do “toré”, que é um grande “auê” em roda, realizado com músicas indígenas cantadas ao ritmo do maracá. O maracá (Figura 21) é um instrumento sagrado para os indígenas, usado para realizar rituais religiosos onde se trazem bons fluídos e se invoca os espíritos antigos. Cada índio possui o seu próprio maracá, e por ser um instrumento pessoal e de valor religioso ele não pode ser emprestado ou compartilhado com outras pessoas, assim como o índio deve ter apenas um maracá, e deve prepará-lo com pinturas e adereços que o tornem único na tribo. É um instrumento de identidade da cultura indígena. Figura 21 - O índio Railto Braz com seu maracá (Coordenadas: E 488621 N 8158222).

Outra manifestação cultural comum nas aldeias era a realização de reuniões nas noites de lua cheia, onde os indígenas faziam uma fogueira, dançavam o “auê” e convocavam os “tapatari”, que são os espíritos dos parentes mais velhos. Era nessas ocasiões que os mais velhos transmitiam os valores da cultura indígena para os mais novos através da história oral. Nas entrevistas realizadas com Adenilson e Ielsimar foi apontado que essas manifestações têm sido abandonadas, o que contribui para a perda da identidade indígena das pessoas da aldeia. Outras festividades presentes na TI Imbiriba referem-se às comemorações influenciadas pelo catolicismo como as festas de Santa Luzia e de São Sebastião.

4.1.2.3) Relação com a Unidade de Conservação A TI Imbiriba possui representação no Conselho Consultivo do RVSRF e a participação dos índios nas reuniões do Conselho é constante (Figura 22). Na entrevista realizada com o cacique Renivaldo, ele relatou que a terra indígena não tem quase relação com a equipe gestora do RVSRF. Ainda assim, ressaltou que considera o Refúgio

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importante para a região, que pode contribuir com a conservação da natureza e com o crescimento sustentável da região, que também é uma preocupação da terra indígena que precisa dos recursos naturais para a sua sobrevivência. O cacique apontou ainda na entrevista que a tribo indígena está sempre aberta para desenvolver ações conjuntas com a equipe do ICMBio, seja para a realização de oficinas de capacitação, para atividades de educação ambiental ou até mesmo para o combate a possíveis atividades ilegais realizadas na área próxima a aldeia. Outra visão da relação com o RVSRF é a do índio Adenilson, que por desenvolver um trabalho direto com o turismo considera que o Refúgio pode trazer grandes benefícios para a região, pois com a conservação dos recursos naturais poderá haver um crescimento turístico para a região. Na sua visão, a presença do RVSRF pode ser um atrativo para o turismo ecológico e isso implicaria no aumento do fluxo de turistas na Aldeia de Imbiriba. Figura 22 - Participação do índio Railto Braz e da índia Crispiniana na reunião do Conselho Consultivo do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades onde foi apresentado o plano de trabalho pela equipe da Thalassa (Coordenadas E 493097 N 8181163).

4.1.2.4) Conflitos Sociais Nas entrevistas realizadas na área do RVSRF, na comunidade de Itaporanga e na TI Imbiriba não houve nenhum relato de que existam conflitos sociais que envolvam a população indígena. Alguns entrevistados como o cacique Renivaldo e o Sr. Domingos relatam que existe um aumento do consumo de drogas tanto na aldeia indígena quanto na comunidade de Itaporanga. Esse fato tem sido ruim para a segurança pública e para as famílias da região, pois consideram que existe a possibilidade de alguns usuários passarem a praticar delitos como furtos nas casas da aldeia e de Itaporanga. 4.1.3) Patrimônio Cultural, Histórico e Natural Para a UNESCO o Patrimônio Cultural designa um monumento, conjunto de edifícios ou sítio de valor histórico, estético, arqueológico, científico, etnológico e antropológico. Quando esses elementos são de um valor universal incalculável do ponto de vista histórico, artístico, científico, estético, etnológico ou antropológico eles são tombados como Patrimônio da Humanidade (ICM, 2013). No Brasil, quando reconhecidos como Patrimônio Cultural, os sítios são administrados por instituições específicas como o IPHAN, órgão do Ministério da Cultura (MinC) que tem a missão de preservar o patrimônio cultural brasileiro (Porta do Sol, 2013). 4.1.3.1) O Patrimônio Cultural no município de Porto Seguro O município de Porto Seguro apresenta uma riqueza de atributos naturais, valores históricos e elementos culturais que representam uma parte fundamental da História do Brasil. Por tudo isso o

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município é considerado como o berço da história e da cultura do Brasil, e juntamente com a Costa do Descobrimento foi tombada como Patrimônio Natural Mundial pela UNESCO, em 1999 (CEPEMAR, 2011). Além da UNESCO o município de Porto Seguro também foi tombado como Patrimônio Histórico Nacional em 1974 pelo IPHAN por seu valor arquitetônico e paisagístico. O mesmo instituto ainda considerou o município como Monumento Nacional por seu conjunto de bens materiais e imateriais em 1973 (IPHAN, 2009). Na esfera estadual a inserção de Porto Seguro no Sítio do Descobrimento também garante ao município sua identificação como Patrimônio Estadual através de art. 216 da Constituição da Bahia (Bahia, 2013). Ainda que todo o município de Porto Seguro seja considerado como Patrimônio Histórico, algumas construções tem destaque nesse processo por seu conjunto arquitetônico e paisagístico. Essas áreas também foram tombadas e administradas pelo IPHAN e se constituíram em importantes atrativos turísticos do município. Uma dessas áreas é o Centro Histórico de Porto Seguro, tombado em 1968 (Figura 23), que representa a área conhecida como “Cidade Alta” do período colonial, pois abrigava a sede do poder político e religioso da Vila. Estão inseridos no Centro Histórico de Porto Seguro construções de grande valor arquitetônico como a Casa de Câmara e Cadeia (1756) onde funcionam hoje o Museu da Cidade e o núcleo local do IPHAN, Capela de São Benedito e a Matriz de Nossa Senhora da Pena. Figura 23 - Centro Histórico de Porto Seguro (a) e o Museu da Cidade (b) (Coordenadas E 493077 N 8182612).

(a)

(b)

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De acordo com as informações turísticas instaladas no Centro Histórico, a Capela de São Benedito (Figura 24) foi construída no século XVI e faz parte do conjunto do antigo Colégio Residência do Salvador, a primeira escola jesuítica para meninos. O colégio funcionou até 1759 quando o Marquês de Pombal expulsou os jesuítas do Brasil. Foi usada como moradia por um professor de latim até 1820. Abandonado resistiu até 1917, quando uma firma local retirou o material da sua estrutura para construir uma serraria na Cidade Baixa. Outra obra de grande valor arquitetônico é a Matriz de Nossa Senhora da Pena (Figura 25) que teve sua construção iniciada em 1730, mas arruinou-se antes de ser concluída. Foi reformulada e finalizada em 1773.

A área do Centro Histórico permanece bem preservada e o principal uso encontrado é o turismo. O acesso de automóveis é restrito e limitado para que se possa proteger e salvaguardar esse patrimônio o mais próximo possível de sua originalidade para as gerações futuras. Figura 24 - Capela de São Benedito localizada no Centro Histórico de Porto Seguro (Coordenadas E 493120 N 8182544).

Figura 25 - Matriz de Nossa Senhora da Pena localizada na Cidade Alta em Porto Seguro (Coordenadas E 493049 N 8182727).

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4.1.3.2) O Patrimônio Histórico de Trancoso O distrito de Trancoso apresenta como principal Patrimônio o Quadrado Histórico. Essa área foi tombada pelo IPHAN por seu conjunto arquitetônico único, que constitui importante patrimônio histórico com a manutenção das fachadas das casas históricas do Quadrado (Figura 26). De acordo com as placas de informações turísticas o Quadrado Histórico de Trancoso recebeu esse nome porque as moradias da antiga Praça de São João Batista foram construídas em duas retas paralelas, uma à direita e uma à esquerda da Igreja, e assim deram o contorno quadrado a antiga praça. A Igreja de São João Batista (Figura 27) construída no início do século XVIII sobre as ruínas do antigo convento jesuítico está inserida no Patrimônio Cultural do Quadrado Histórico de Trancoso. Ela conserva a simplicidade das primeiras igrejas encontradas na região do Recôncavo Baiano. O destaque arquitetônico é a sineira externa e a construção apresenta ainda itens originais do século XVIII como o púlpito, a escada de madeira e as pias de água benta em pedra. A construção da Igreja de São João foi diferente do padrão das casas da época. Estas eram construídas por mutirão e fabricadas com barro amassado. Em seu livro sobre a história de Trancoso, Carneiro e Agostinho (2004) trazem o depoimento de um velho nativo contador de histórias que afirma que: Figura 26 - Quadrado Histórico de Trancoso (Coordenadas E 490038 N 8165877).

“...a Igreja foi feita por negros escravos que carregavam as pedras na cabeça, lá de Pedra Preta, uma praia que fica depois do rio da Barra, e a água vinha de Itacipuera, um sítio que tem uma nascente das boas, e também do Córrego dos Macacos, porque eles queriam água bem limpa. Eles misturavam na massa óleo de baleia, osso, cardo e areia da praia”. O livro Nativos e Biribandos (Carneiro e Agostinho, 2004) traz algumas informações sobre a construção da Igreja de São João Batista coletadas em entrevistas realizadas com os moradores antigos de Trancoso. Duas histórias apresentadas pelas autoras contam que a igreja foi construída com a frente para o mar só que todos os dias pela manhã a imagem de São João aparecia de costas e aí viraram a igreja. Outra versão afirma que o fundo da igreja era aberto e ficava um homem com um canhão apontado para o mar. Assim como no Centro Histórico de Porto Seguro o acesso de carros é restrito no Quadrado Histórico de Trancoso. Essa medida visa minimizar possíveis impactos a esse importante patrimônio do distrito. 4.1.3.3) Patrimônio Histórico no Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades e na sua Zona de Amortecimento

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A área do RVSRF e sua ZA não apresentam construções arquitetônicas ou sítios tombados como Patrimônio Cultural pelo IPHAN. No entanto, sua importância cultural pode ser ressaltada por sua inserção no Museu Aberto do Descobrimento, no município de Porto Seguro (integralmente tombado como Patrimônio Histórico) e ainda pelo elevado grau de conservação da Mata Atlântica (Patrimônio Natural da Humanidade). A TI Imbiriba tem grande valor cultural na região pela manutenção dos costumes e hábitos indígenas (Ranauro, 2006). Não foi encontrada na área do RVSRF e de sua ZA nenhuma área e/ou construção que tenha sido tombada como patrimônio cultural. Durante a realização das entrevistas com os índios Adenilson e Ielsimar eles se referiram a uma área referente a um antigo cemitério e uma pequena igreja da Aldeia Pataxó localizado nas proximidades da “ponte do vale dos búfalos” sobre o rio dos Frades. Adenilson e Ielsimar relataram que essa área ficou fora da delimitação da TI numa área de propriedade do antigo cacique, o Sr. Toeira. Como essa área é particular e a equipe da Thalassa não conseguiu contato com o Sr. Toeira, a área não foi fotografada ou georreferenciada durante o trabalho de campo. 4.1.4) Manifestações Culturais A cultura de um povo é uma das principais formas de desenvolver a sua identidade, a sua relação com o lugar e a pertencer a determinado grupo social. Assim como em outros lugares, as manifestações culturais da região do rio dos Frades são fruto de uma mistura de heranças indígenas, africanas e europeias, que conviveram ao longo da colonização do Brasil e formou uma cultura rica e diversificada em suas mais variadas manifestações de religiosidade, música, arquitetura, culinária, lendas, mitologias, entre outros. Nas entrevistas buscou-se realizar um resgate histórico dessas manifestações e distinguir aquelas que ainda são realizadas atualmente das que perderam importância e quase não são mais praticadas. 4.1.4.1) As práticas místico-religiosas e as festividades em Trancoso e Itaporanga Como a presença dos jesuítas foi um processo importante na fundação de Trancoso, a região herdou uma profunda religiosidade católica que se expressa em diversos valores culturais. Algumas manifestações aos poucos foram esquecidas, outras adaptadas e mescladas à cultura indígena e africana, e dessas algumas ainda se encontram presentes nas comunidades da região, como as festividades dos santos padroeiros. O Sr. João Lua, a D. Arcanja e o Sr. Domingos relatam que em Trancoso e Itaporanga as festas religiosas constituem acontecimentos que envolvem toda a comunidade e que duram vários dias. Em seu livro que faz um resgate histórico de Trancoso, Carneiro e Agostinho (2004) confirmam essas informações ao apontarem que: “Em alguns dias particulares fazem grandes festas, todos se resolvem em beber, e duram dois, três dias, em os quaes não comem, mas somente bebem, e para estes beberes serem mais festejados andão alguns cantando de casa em casa, chamando e convidando quantos achão para beberem, e revesando-se continuão estes bailos e música todo o tempo dos vinhos, em qual tempo não dormem... a primeira é a fogueira de S. João”. Em Trancoso as principais festividades comemoradas são as festas de São Sebastião (20 de janeiro), São Brás (3 de fevereiro), Santo Antônio (13 de junho), Divino Espírito Santo (23 de junho), São João (24 de junho), São Pedro (29 de junho), Nossa Senhora do Rosário (7 de outubro), Santa Luzia (13 de dezembro), entre outras. Nem sempre as festividades são comemoradas em seus dias. O povo de Trancoso embaralha o calendário religioso com “santo prazer”. Assim tem santos como São Benedito de março que é comemorado em junho (Carneiro e Agostinho, 2004). Ainda de acordo com estes autores, as festividades religiosas tinham a sua parte de devoção com as orações, cantos, e procissões. Depois as festas se tornavam um grande evento social com

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muita comida, bebida e a roda de samba que virava a noite. Elas começavam na véspera do dia santo e iam até a noite seguinte, eram três dias de muita dança e comemoração. Uma manifestação cultural marcante no Distrito de Trancoso e na comunidade de Itaporanga é a Puxada do Mastro. Essa tradição histórica das festas de São Sebastião e de São Brás é realizada ainda hoje nas festas dos padroeiros. O Mastro é um pau retirado da mata antes da festa, preparado e pintado nas cores do Santo de devoção. Ele é carregado pela comunidade e passa pelas casas até a frente da Igreja, onde é estiado com a bandeira do santo (Figura 27). Outra ocasião especial nas festas dos padroeiros é a dança do pau, realizada com o pau sem o estandarte do santo. O dançarino faz sua oração ao santo, começa a dançar com o pau no centro da roda e mexe com os participantes ao passar o pau pelo chão e pelo ar ao som das palmas dos expectadores (Carneiro e Agostinho, 2004). Uma manifestação religiosa importante em Trancoso e Itaporanga são as festas juninas, comemoradas com fogueiras, quadrilhas, comidas e bebidas típicas e muita dança e forró. Figura 27 - Mastros com as bandeiras de São Sebastião e São Brás em frente a Igreja de São João Batista localizada no Quadrado Histórico em Trancoso (Coordenadas E 490038 N 8165877).

De acordo com os relatos do Sr. João Lua e do Sr. Domingos hoje em dia, as principais manifestações religiosas que permanecem são as festas dos padroeiros das comunidades, como São Sebastião, São Brás, São João e São Pedro. O Sr. João Lua e a D. Arcanja apontam que algumas tradições religiosas foram perdidas ao longo do tempo como a Folia de Reis, a quadrilha de São João e a comemoração de algumas festas como de Santa Luzia, São Benedito, entre outros santos que antigamente eram muito comemorados. 4.1.4.2) A cultura popular Muitas manifestações da cultura popular estão intimamente ligadas às festas religiosas e ocorrem inclusive nas mesmas datas. É como uma complementação, onde o religioso se une ao popular e ao social. As festas possuem a sua tradição religiosa, mas depois são conduzidas por danças, comes e bebes, manifestações populares e eventos sociais. Uma das principais ocasiões quando ocorria esse híbrido entre religioso e popular era a Folia de Reis. O Terno de Reis era conhecido em Trancoso como o Boi Duro, uma festa com vários personagens: o Boi, o Jaguará, o Paturi, o Burrinho, a Sianinha, o Almofadinha e o Vaqueiro. Tinha ainda o boneco João de Calais, um tipo trapalhão que usava o nó da gravata nas costas (Carneiro e Agostinho, 2004).

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Em Itaporanga ocorria uma festa semelhante ao “Bumba Meu Boi”, conhecida localmente como Jaguará. Em entrevista o Sr. João Lua e o Sr. Domingos relataram que nela as pessoas usavam uma cabeça de jegue, amarravam com borracha, como se ela pudesse morder os expectadores e o Jaguará saia pela roda e pela rua para assustar as pessoas. Outra manifestação da cultura popular em Itaporanga era o “Boiaiá” onde as pessoas montavam uma fantasia de boi e vestiam para correr pela rua com danças típicas do “Bumba Meu Boi”. O Sr. João Lua e o Sr. Domingos relataram que essas festas ocorriam sempre em janeiro, normalmente no dia 06 (Dia de Reis) ou no dia 20 (São Sebastião). 4.1.4.3) Os mitos e as lendas da região Os mitos e lendas são histórias passadas por gerações, que em geral possuem um juízo de valor, ou a moral da história, que possui uma importância para a cultura desse povo. Os mitos são personagens antigos da humanidade, presentes nas mais diferentes culturas, como a grega e romana. No Brasil, a pluralidade cultural contribuiu para a formação de uma cultura diversificada, com a mistura dos valores indígenas, africanos e europeus, e esse processo também se expressa nos mitos e lendas contados em nosso país. Nas entrevistas com os atores históricos das comunidades próximas ao RVSRF, buscou-se realizar um resgate cultural desses mitos, através das histórias de pescador, das lendas indígenas, dos contos dos antigos moradores da região quase esquecidos ou de mitos presentes ainda hoje em Itaporanga, TI Imbiriba e Trancoso. Alguns desses mitos e lendas possuem uma grande semelhança com grandes lendas nacionais, mas outros parecem ser bem típicos da região do RVSRF. Em Trancoso uma das lendas contadas é a presença de almas penadas na região do Quadrado Histórico. Essas almas são de negros e índios que eram torturados e mortos no pelourinho, ou de pessoas enterradas no cemitério do Mirante ou do antigo cemitério destinado às pessoas pobres. Conta-se que em noite de lua cheia essas almas andam por sobre os telhados do Quadrado Histórico de Trancoso (Carneiro e Agostinho, 2004). Outro mito presente na região de Trancoso e Itaporanga é o Boitatá, que de acordo com a lenda contada pelos senhores João Lua, Arcanja, Domingos e Railto Braz se manifesta em forma de um fogo alaranjado, na praia ou na rua. É como se fosse uma cobra em línguas de fogo com muitas faíscas, que se chocam e criam um grande barulho e logo depois não se enxerga mais nada. O Sr. Railto Braz relatou na entrevista que para evitar o Boitatá os indígenas pataxós desenhavam uma Estrela-de-Davi no caminho do fogo, e aí ele desaparecia. Tem ainda a famosa lenda do lobisomem, o homem que vira cachorro. Só que o Sr. João Lua relatou que em Itaporanga o lobisomem não ocorre só em noite de lua cheia. Ele pode aparecer em qualquer noite e alguns podem se transformar até durante o dia. Ele é visto nas farinheiras onde come os restos de farinha e de acordo com o Sr. Alício Pereira suas aparições ocorrem com maior frequência durante a quaresma, principalmente perto da Semana Santa. O Sr. Alício Pereira relatou em sua entrevista que quem sempre aparece na noite de lua cheia é a sereia que habita o Porto da Pedra, próximo a foz do rio dos Frades, onde canta durante toda a noite. Outro mito de Itaporanga relatado pelo Sr. João Lua é o cavalo invisível que sempre passava nas ruas durante a madrugada, e as pessoas escutavam o barulho, mas ninguém conseguia ver. Ele contou também sobre a lenda da “porca-espinho”, diz ele que de acordo com os antigos são as mulheres que mataram seus filhos (através de aborto) e que foram amaldiçoadas e por isso depois que morrerem passavam a viver como “porcas-espinho” no mato. Talvez essa seja a principal lenda em que se observa um valor moral e social, que no caso se apresenta contra a prática do aborto. O Sr. João Lua relatou que na sua visão “hoje já não existe

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mais porca-espinho porque virou coisa normal matar os filhos, médicos matam, mães matam”, ou seja, é a perda da simbologia de uma lenda que condenava a prática do aborto através de uma linguagem mais próxima da realidade das pessoas do lugar. Outra lenda local contada pelo Sr. João Lua e pela D. Arcanja é a do caboclinho do mar, um menino negro que ficava nas praias, e que às vezes era pego nas redes dos pescadores, mas depois sumia. Essa lenda também possui um valor moral, de evitar a pesca predatória ou em períodos de defeso, pois o caboclinho do mar pode ter sua ação como um defensor dos recursos naturais e da manutenção dos peixes. É uma forma de educar os pescadores a tirar seu sustento sem prejudicar a manutenção dos recursos naturais. O Sr. Alício Pereira relatou ainda a existência do mito do “coelho fantasma” que ficava no pé de “Jaqueirona”. Ele era grande como uma pessoa e espantava os outros animais da floresta. Esse mito pode ter forte ligação com os atributos naturais do RVSRF por assumir uma posição de defesa da floresta e dos animais de intrusos que podem desenvolver atividades impactantes sobre os recursos naturais como a caça irregular ou o extrativismo predatório. Além desses mitos e lendas existem ainda aquelas relatadas nas entrevistas realizadas na aldeia Pataxó Imbiriba. Algumas delas já foram descritas, mas se pode citar outras duas lendas. O cacique Renivaldo relatou a lenda da mula sem cabeça, que passava do sul para o norte em toda a extensão da TI Imbiriba, sempre às quintas e sextas. Os índios faziam uma Estrela-de-Davi no chão, mas não conseguiam pegá-la. Outra lenda que ele relata é a do bode preto que aparecia no início da noite, às 19h e que não deixava ninguém passar pela estrada e se alguém tentasse passar ele avançava e atacava as pessoas. Essas lendas indígenas possuem um valor social, em especial para as crianças, para que evitem estar na rua à noite. Esse fato pode protegê-las de perigos como ataque de animais de hábitos noturnos ou até mesmo da criminalidade, caso haja áreas violentas próximas da aldeia. 4.1.5) Alternativas Econômicas As áreas transformadas em Unidades de Conservação passam a ter uma regulamentação de uso do solo específica, que implica, por vezes, na alteração das atividades realizadas pelas populações locais. Esse processo traz uma série de normatizações e planejamento que nem sempre são facilmente realizados pela gestão das unidades. Para evitar possíveis conflitos que envolvam os usos das populações locais o SNUC prevê uma diversidade de categorias de UC, onde cada uma delas pode se adequar de forma mais apropriada as diferentes realidades do país. De modo amplo essas unidades estão divididas em Uso Sustentável e Proteção Integral. Nas Unidades de Uso Sustentável as alternativas de desenvolvimento econômico sustentável devem ser propostas diretamente para a área da UC, já que elas possuem populações em seu interior e que com a criação da unidade de conservação busca desenvolver nessa área atividades menos impactantes ao ambiente. No caso das Unidades de Proteção Integral, como em sua maioria elas não preveem a possibilidade de moradores em seu interior, as alternativas econômicas são propostas para a sua ZA, uma vez que o uso realizado nas áreas vizinhas pode causar impactos diretos ou indiretos sobre a UC. É imprescindível destacar ainda que é fundamental que as unidades de conservação contribuam na geração de renda e na melhoria da qualidade de vida das populações do entorno das unidades de conservação de Proteção Integral. Essa medida é necessária, pois com a proibição das atividades econômicas de uso direto pode haver uma perda econômica das populações de entorno. Se não forem oferecidas alternativas sustentáveis para a geração de renda essas populações podem vir a realizar atividades de uso direto dos recursos naturais dentro das unidades de proteção integral, o que caracteriza essas atividades como ilegais e contribui para os conflitos socioambientais (Soares, 2004).

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A categoria de RVS se apresenta como uma exceção a esse contexto geral do SNUC, pois ainda que seja uma categoria de Proteção Integral ela permite a presença de propriedades privadas e de populações em seu interior, desde que suas atividades sejam compatíveis com os objetivos de criação da UC (Brasil, 2000). No caso do RVSRF as alternativas econômicas podem ser pensadas tanto para o seu interior, já que possui populações residentes, quanto para a sua ZA. 4.1.5.1) Alternativas econômicas para a área do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades De acordo com o Diagnóstico dos Proprietários e Moradores do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades existe apenas uma propriedade escriturada totalmente inserida na área do RVSRF. Todas as outras propriedades escrituradas estão parcialmente inseridas na área do Refúgio. Existe ainda outra categoria de áreas de ocupação irregular indígena e não indígena na UC. Dentro do RVSRF uma atividade alternativa encontrada é a produção de artesanato realizada na Ocupação Pataxó Gravatá. Na entrevista realizada com os índios, entre eles o Sr. Railto Braz, foi relatado que o artesanato representa a principal fonte de subsistência da aldeia. Ele é fabricado a partir de algumas matérias-primas encontradas na região como o coco e a palha de dendê, e depois é enviado para a comercialização na TI Imbiriba. Na entrevista foi possível observar que os indígenas possuem um conhecimento tradicional que pode ser usado para ampliar e diversificar a sua produção artesanal. Dentre essas atividades pode-se citar a produção de licores a partir do jenipapo e do caju, o beneficiamento da castanha, a fabricação de cestos a partir do cipó1, a fabricação de comidas típicas, além de todo o trabalho com ervas de medicina caseira que podem ser usadas em chás. Embora o artesanato seja visto na região como uma atividade de produção de itens culturais e utensílios domésticos ou decorativos, essa atividade é bem mais ampla, e pode inserir a produção de ervas, fabricação caseira de doces e licores, produtos agrícolas beneficiados artesanalmente, entre outras atividades que também são consideradas como produção artesanal. Outra alternativa, econômica para o RVSRF é o desenvolvimento de um projeto turístico, pois é uma área que apresenta um grande potencial para o ecoturismo, o turismo rural e de aventura. Deve-se ressaltar que é importante haver um estudo técnico que aponte a possibilidade de uso do turismo de aventura na área do RVSRF para que não cause impactos sobre o ambiente natural nem conflitos sociais com os proprietários. As áreas com produção agrícola dentro do Refúgio podem ser inseridas em programas de turismo rural. Nesse contexto pode surgir ainda como alternativa de renda a agregação de valor à produção local através do beneficiamento dos produtos, como a produção artesanal de queijos, doces, farinha de mandioca, cultivo de legumes e verduras orgânicos em hortas e quintais etc. Essa produção poderia ser comercializada com os turistas que vierem a visitar as propriedades o que ampliaria a geração de renda e o lucro para os moradores do RVSRF. Nos questionários aplicados com os moradores e proprietários da área do RVSRF foi observado que é recorrente a citação das atividades turísticas como uma alternativa de desenvolvimento para as famílias dessa área. Dos 13 entrevistados, 11 pessoas identificam um elevado potencial de turismo caracterizado pelas belezas naturais, três destacam a possibilidade de turismo cultural e apenas um entrevistado não considera existir um potencial turístico na área do Refúgio. Os atrativos naturais citados pelos moradores foram a Praia da Barra (seis pessoas) e a Praia de Itaquena (uma pessoa). Embora esses locais não estejam inseridos dentro do Refúgio eles são identificados pela população local como uma riqueza do RVSRF e na visão dos entrevistados o seu uso turístico poderia constituir uma importante alternativa econômica.

1 Os índios relataram na entrevista que pararam de construir cestos, pois é proibida a retirada de cipó da

mata.

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Outras potencialidades de uso turístico citadas nos questionários pelos moradores e proprietários foram a realização de passeios de barco ao longo do rio dos Frades e a formação de trilhas ecológicas dentro da área do Refúgio. Entretanto não se observa entre os proprietários do RVSRF uma proposta clara de exploração turística em suas propriedades. Esse fato pode estar relacionado com a falta de capacitação e qualificação da mão de obra e de incentivos do poder público ou ainda por problemas de infraestrutura para atender as demandas turísticas em alguns locais de difícil acesso. 4.1.5.2) Alternativas econômicas para a Zona de Amortecimento do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades Na ZA do RVSRF foram identificadas, a partir das entrevistas realizadas como alternativas econômicas, as atividades de artesanato e turismo realizados em pequenas lojas instaladas na comunidade de Itaporanga e TI Imbiriba. No povoado de Itaporanga foram identificados três estabelecimentos que trabalham com a produção e a comercialização de produtos artesanais. Neles se observou um modelo de artesanato de alto padrão, que atende a pousadas de Trancoso e Porto Seguro e decoradores de vários lugares do Brasil. Esses estabelecimentos também têm como importante forma de comercialização da sua produção as vendas pela internet. As peças fabricadas por esses artesãos possuem um acabamento mais detalhado como observado na loja Palmas Arte Coco Artesanato (Figura 28a) ou matérias-primas de maior valor agregado, como é o caso da “madeira morta” usada pela Elma Chaves Ecodesigner (Elma Chaves, 2013). Além destas, existe ainda o Instituto Arte Itaporanga (Figura 28b). Figura 28 - Loja Palmas Arte Coco Artesanato (a) e Instituto Arte Itaporanga (Coordenadas E 484355 N 8158066).

(a) (b)

Em Imbiriba o modelo de artesanato desenvolvido responde basicamente pela produção de itens usados na decoração de casas (como luminárias), utensílios domésticos de madeira ou elementos da cultura indígena como o maracá, o arco e flecha e a zarabatana (Figura 29). De acordo com o índio Adenilson a principal matéria-prima usada no artesanato da aldeia é o coco. Diferente das iniciativas citadas de Itaporanga a produção artesanal de Imbiriba atende a um público de menor padrão aquisitivo, que busca de um modo geral comprar uma lembrança da área visitada. O turismo foi apontado como uma das atividades realizadas em Itaporanga, porém não foi identificado nenhum atrativo turístico na localidade. Essa atividade é considerada importante pela geração de emprego dos condomínios de alto padrão e por estar no caminho para a Praia do Espelho. Assim, muitas pessoas fazem uma breve parada em Imbiriba (Figura 30) ou Itaporanga, que fortalece o comércio local, inclusive através da venda do artesanato produzido na Aldeia.

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Figura 29 - Artesanato local vendido em Imbiriba (Coordenadas E 484143 N 8158342).

Figura 30 - Parada das vans em Imbiriba a caminho da Praia do Espelho (Coordenadas E 484143 N 8158342).

Na ZA do RVSRF existe como potencialidade de uso turístico a presença da TI Imbiriba, que pode ser um atrativo através das manifestações culturais, das comidas típicas e das festividades realizadas. Pode-se considerar também o uso do turismo ecológico nas praias de Itaquena e da Barra, já indicadas anteriormente para a área do RVSRF, bem como o potencial para o turismo rural nas fazendas encontradas na ZA. Essas fazendas podem oferecer atrativos como cavalgadas, caminhadas ecológicas, visitas a áreas produtivas, atividades esportivas, áreas de lazer, mas para isso é necessário que haja um investimento em infraestrutura para o desenvolvimento desse turismo. Não se observou nas entrevistas realizadas nenhuma ação concreta de realização dessa atividade e nem uma relação direta com a UC. No que se refere à agricultura, essa atividade é pouco realizada em Itaporanga e na TI Imbiriba. O cacique Renivaldo e o índio Adenilson relataram que na visão deles esse fato ocorre porque a agricultura é uma atividade pouco lucrativa, e que por isso as pessoas preferem trabalhar com o artesanato e o turismo. Como os entrevistados indicaram que o solo da região é fértil a agricultura pode ser uma alternativa de renda. Entretanto, para que isso ocorra é necessário que se realizem projetos voltados ao desenvolvimento das atividades agrícolas da ZA do RVSRF, que devem oferecer capacitação aos proprietários, assistência técnica, incentivos para a comercialização e apoio do poder público. Na entrevista o cacique Renivaldo relatou que existe interesse dos índios em desenvolver agricultura, mas que deve haver apoio técnico e incentivo financeiro do governo para

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que essa seja uma atividade econômica rentável. É fundamental então que se realize um cadastro agrícola e um diagnóstico rural participativo que possam auxiliar no planejamento das atividades agrícolas potenciais para a ZA do RVSRF, inclusive da TI de Imbiriba. Além de ser uma fonte direta de geração de renda o desenvolvimento das atividades agrícolas pode contribuir como alternativa econômica através do beneficiamento da produção que aumenta o valor agregado dos produtos e os ganhos econômicos dos agricultores e demais trabalhadores envolvidos nesse processo. Inclui-se nesse contexto iniciativas de produção orgânica e de fabricação artesanal de produtos como doces, queijos e bebidas, que geram renda para a população local, inclusive para mulheres e jovens dessa região. Para o desenvolvimento desses projetos é importante que haja uma forte mobilização da sociedade civil, a fim de que as pessoas com interesses comuns quanto à geração de renda através dessas alternativas econômicas busquem formar grupos e associações que possam representar a coletividade. 4.2) CARACTERÍSTICAS DAS POPULAÇÕES OCUPANTES DO REFÚGIO DE VIDA SILVESTRE DO RIO DOS FRADES, DA ZONA DE AMORTECIMENTO E REGIÃO DE INFLUÊNCIA 4.2.1) Modo de vida e uso do solo das populações do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades A equipe do ICMBio realizou no ano de 2012 o Diagnóstico dos Proprietários e Moradores do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades, que constitui um importante instrumento para o ordenamento territorial e a gestão ambiental da UC (MMA, 2012). Nesse diagnóstico foram levantadas 21 propriedades com áreas integralmente ou parcialmente sobrepostas ao RVSRF. Esse documento serviu de base para uma contextualização dos diversos usos do solo encontrados na área do RVSRF e a partir dele foram definidas com a equipe gestora da UC as atividades de campo como a aplicação de questionários a fim de criar subsídios para a realização desse levantamento socioeconômico. Como algumas propriedades são constituídas por mais de uma matrícula, a análise aqui realizada se baseou nas fazendas já identificadas no Diagnóstico dos Proprietários do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades (MMA, 2012) que reúne as matrículas do mesmo proprietário em uma única propriedade para facilitar a análise das atividades socioeconômicas. Outra contribuição deste diagnóstico para esse trabalho foi a distinção entre as áreas definidas como ocupação daquelas que possuem escritura. Essa análise subsidiou não só a temática das atividades realizadas, mas também contribuiu para a identificação das áreas com possíveis conflitos pela propriedade da terra. De acordo com o diagnóstico existem seis áreas documentadas no RVSRF (Tabela 2). As áreas consideradas pelo Diagnóstico como ocupação são apresentadas em seis localizações distintas, algumas com mais de um ocupante (Tabela 3). Tabela 2 – Propriedades documentadas na área do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades.

Propriedade Principal Representante Área

Sítio da Paz D. Arcanja 61ha

Fazenda Bela Vista D. Anália 60ha

Fazenda Serra Azul Sr. Carlos Pinheiro 70ha

Fazenda Mangatuba Sr. Frederico de Baíre 61ha

Fazendas Reunidas Itaquena Sr. Moacyr de Andrade 5.287ha

Fazendas Jacumã Sr. João Eugênio 430ha

Fonte: MMA, 2012

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O Diagnóstico dos Proprietários do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades apresenta ainda o conceito da área de terrenos de marinha e seus acrescidos que embora possuam sua definição na legislação, essas áreas ainda não foram delimitadas na região do RVSRF. Tabela 3 – Áreas de ocupação na área do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades.

Ocupação Principal Representante Área

Ocupação Pataxó Gravatá Sr. Railto Braz 1,5ha

Ocupação de Vardinho Sr. Osvaldo Ramos 2,7ha

Ocupação de Pita Sr. Paulo Marcos 200m²

Loteamentos da Antiga Mangatuba Sr. Alício Pereira Lima 125ha

Ocupação do Pereira Sr. Inaldo José Pereira -

Ocupação de Quinoque Sr. Jurgen Hierl -

Fonte: MMA, 2012.

Na figura 31 estão identificadas e georreferenciadas a localização de algumas das propriedades inseridas no RVSRF, realizada com subsídios do Diagnóstico realizado pela equipe do ICMBio e com os trabalhos de campo realizados pela equipe da Thalassa em janeiro e março de 2013. Figura 31 – Localização das propriedades no Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades.

A seguir é apresentada uma descrição sucinta das propriedades documentadas no RVSRF baseado no Diagnóstico dos Proprietários do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades (MMA, 2012). O Sítio da Paz é a única propriedade escriturada que está totalmente inserida na área do RVSRF e é subdividida em glebas, distribuídas entre os filhos de D. Arcanja onde se encontram 12 moradores adultos e seis crianças. As benfeitorias da propriedade localizada na área do RVSRF são quatro casas, um depósito, uma farinheira (Figura 32a), um pilão localizado na beira do rio dos Frades (Figura 32b). Na propriedade existe a plantação de mandioca e coco (Figura 32c) e a criação de animais domésticos (Figura 32d). A Fazenda Bela Vista está parcialmente inserida na área do RVSRF. Nela residem atualmente cinco adultos e uma criança (Figura 33). As benfeitorias da propriedade localizadas no interior do RVSRF são duas casas usadas como residência fixa. As principais atividades realizadas na

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propriedade referem-se à agricultura familiar com cultivo da mandioca, além de menores áreas com banana, coco e milho. Existe também a plantação de hortaliças e mandioca e criação de animais domésticos para o consumo da família. Figura 32 - Sítio da Paz: (a) farinheira, (b) pilão localizado em frente a farinheira e ao lado do rio dos Frades, (c) plantação de coco e (d) criação de animais domésticos (Coordenadas: E 487759 N 8155233). (a)

(b)

(c) (d)

A Fazenda Serra Azul está parcialmente inserida na área do RVSRF. A área de maior uso da propriedade bem como as benfeitorias está localizada fora da área do RVSRF. Além do proprietário Sr. Carlos (Figura 34) e sua família residem também um caseiro com sua esposa e três filhos. A principal atividade desenvolvida na fazenda é a pecuária leiteira, além da agricultura, com produção de coco e laranja. Na propriedade se desenvolve o beneficiamento da produção através da fabricação de queijos artesanais.

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Figura 33 – Fazenda Bela Vista: (a) D. Anália e D. Maria d’Ajuda, (b) plantação e (c) criação de animais domésticos (Coordenadas: E 486518 N 8157680). (a)

(b) (c)

Figura 34 – Entrevista com o Sr. Carlos Pinheiro no Sítio da Paz de propriedade de D. Arcanja (Coordenadas: E 487759 N 8155233).

A Fazenda Maga Tuba está parcialmente inserida na área do RVSRF e assim como a Fazenda Serra Azul a maior parte de sua área usada e suas benfeitorias estão localizadas fora da área do RVSRF. A propriedade possui duas casas onde residem os caseiros, e outras duas casas usadas ocasionalmente pelos proprietários e/ou convidados. Na fazenda se desenvolvem criações de gado, galinhas e carneiros, bem como uma agricultura familiar de subsistência, sem haver comercialização da produção agrícola ou pecuária. As Fazendas Reunidas Itaquena estão inseridas parcialmente na área do RVSRF, mas se constituem na maior propriedade com sobreposição à área do Refúgio que perfaz

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aproximadamente 73% do território total da UC. A sede da propriedade e as principais benfeitorias estão localizadas fora da área do RVSRF. Na propriedade a principal atividade econômica é a criação de bubalinos, além da criação de equinos e caprinos. Possui ainda áreas com cultivo de seringueiras e cajueiros. Em entrevista realizada com o Sr. Moacyr de Andrade (Figura 35) o proprietário citou a realização de projetos de desenvolvimento turístico, mas até o momento não foi iniciada nenhuma infraestrutura voltada ao uso turístico na propriedade. Figura 35 – Entrevista com o Sr. Moacyr de Andrade proprietário das Fazendas Reunidas Itaquena (Coordenadas: E 493120 N 8182544).

As Fazendas Jacumã estão inseridas parcialmente na área do RVSRF. As principais atividades econômicas desenvolvidas na propriedade referem-se ao cultivo de coco e a pecuária, além de uso turístico. 4.2.1.1) Estrutura familiar, tempo de residência na Unidade de Conservação e expectativa de mudança para outro local Na área do RVSRF não existe um padrão único de estrutura familiar. O número de pessoas que moram sozinhas (sete entrevistados) é representativo no RVSRF e se encontra nas áreas de ocupações próximas a foz do rio dos Frades. Outra classe representativa (dois entrevistados) refere-se a famílias com mais de cinco membros relativa à área de ocupação indígena e a propriedades com a presença de caseiros e seus familiares. Os demais entrevistados se enquadram em famílias entre dois e quatro membros (Tabela 4). Tabela 4 – Número de moradores por família na área do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades.

Números de residentes na propriedade Quantidade Percentual (%)

Uma 7 54

Duas 1 8

Três 1 8

Quatro 2 15

Mais de cinco 2 15

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A maior parte dessas famílias declarou apresentar uma grande relação de identidade com o seu local de moradia na área do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades. Esse processo está relacionado com o fato da maior parte dos entrevistados residir nessa área há mais de 20 anos, o que contribui para a formação de raízes sociais e históricas com o lugar. Os dados obtidos em relação ao tempo de residência na área da UC estão apresentados na tabela 5. Tabela 5 – Tempo de residência na área da Unidade de Conservação.

Tempo de residência na UC Quantidade Percentual (%)

De 5 a 10 anos 1 8

De 10 a 20 anos 1 8

Mais de 20 anos 11 84

Esses dados apontam que não existe um fluxo imigratório recente para a área do RVSRF, pois nenhum dos entrevistados declarou residir na área a menos de cinco anos, e a maior parte relatou estar na região a mais de 20 anos, data anterior a criação da UC. Como o tempo de residência na área do RVSRF por essas famílias é grande, esse fato contribui para que não haja entre os entrevistados o desejo de mudar para outras áreas fora da UC. De todos os entrevistados apenas uma pessoa afirmou ter o desejo de se mudar para outra área, e ainda assim fez essa consideração para quando estiver mais velho para ter melhor acesso a cuidados médicos, se esses forem necessários. Os outros 12 entrevistados afirmaram não ter desejo de sair de suas propriedades. 4.2.2) O crescimento da população 4.2.2.1) O crescimento da população de Porto Seguro e Trancoso Todo o município de Porto Seguro tem passado por um grande crescimento populacional nas últimas décadas, fato este comprovado pela contagem da população realizada nos últimos censos demográficos (Tabela 6). Tabela 6 – Crescimento Populacional de Porto Seguro nos Censos de 1991, 2000 e 2010.

População de Porto Seguro

1991 2000 2010

34.661 95.721 126.770 Fonte: CEPEMAR, 2011

O Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) realizado pela CEPEMAR para a Empresa Veracel (CEPEMAR, 2011) aponta a partir dos dados do Censo a importância da migração para o crescimento populacional observado no município de Porto Seguro durante a década de 1990, a um ritmo de aproximadamente 12% ao ano. O município recebeu 27.195 imigrantes, entre os anos de 1995 e 2000, enquanto que 9.103 pessoas deixaram o município, perfazendo um saldo migratório positivo de 18.092 pessoas. Esse processo continua no período entre 2000 e 2007 onde Porto Seguro recebeu 19.367 novos habitantes. Os principais fluxos de migrantes foram oriundos do próprio Estado da Bahia, totalizando 13.172 imigrantes intra-estaduais, o que corresponde a 68% do total. Os imigrantes provenientes de outras unidades da federação do país (interestaduais) totalizaram 5.838 pessoas (30,1% do total). Ao se tratar dos imigrantes internacionais, um conjunto de 357 estrangeiros (1,8% do total) fixou residência em Porto Seguro. Ainda que tenha arrefecido em comparação com a década de 1990, o município continuou a receber migrantes em função, sobretudo, da continuidade do desenvolvimento das atividades turísticas com destaque para os novos empreendimentos surgidos nos distritos de Arraial d’Ajuda e Trancoso (CEPEMAR, 2011). Este RIMA usou os Microdados da Contagem da População de 2007 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para apontar que o fluxo migratório de outros municípios da Bahia para Porto Seguro é predominantemente proveniente de Eunápolis (2.070 pessoas ou 15,7% do total), de Camacan (940 indivíduos ou 7,1%), Itabela (859 pessoas ou

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6,5%), Itabuna (732 pessoas ou 5,6%), Itamaraju (612 pessoas ou 4,6%) e Salvador (611 pessoas ou 4,6%). Considerando os outros estados brasileiros os fluxos migratórios são predominantemente oriundos de São Paulo (1.108 pessoas), Belo Horizonte (431 pessoas), Rio de Janeiro (382 pessoas) e Vitória (250 pessoas) (CEPEMAR, 2011). A partir do crescimento demográfico do município de Porto Seguro houve um consequente crescimento populacional observado também nos distritos como Trancoso, pela expansão das atividades turísticas ocorridas a partir da década de 1970. 4.2.2.2) O crescimento populacional em Itaporanga Com a grande oferta de emprego a partir das atividades que envolvem o turismo houve um processo de atração populacional na região da ZA do RVSRF, que levou a um crescimento expressivo dos núcleos populacionais próximos. O povoado de Itaporanga é contabilizado como área rural pelo Censo do IBGE, e apresentou crescimento populacional nas últimas décadas. Esse fato contribui para que não se possa definir a existência de um fluxo migratório de êxodo rural no município de Porto Seguro, pois tanto sua população urbana quanto a rural tem obtido grande crescimento demográfico recentemente. O estudo realizado pela CEPEMAR (2011) já indicava esse processo ao apontar que: “No caso de Porto Seguro, merece destaque a intensidade do crescimento populacional rural que foi de 3,48% ao ano entre 2000 e 2010. Durante o referido período a população campesina passou de 16.102 para 22.680 habitantes, propiciando um significativo incremento de 6.578 habitantes em dez anos. Possivelmente parte desse crescimento deve ter ocorrido nas localidades de Arraial d’Ajuda, Trancoso e Caraíva – sobretudo entre os dois primeiros, que se consolidaram como zonas de expansão residencial e intensificação das atividades turísticas durante a década de 2000. Diante dessas análises, pode-se observar que não há um processo que possa ser chamado de êxodo rural na área em estudo”. Pode-se relatar que além do crescimento entre Trancoso e Arraial d’Ajuda apontado pelo diagnóstico realizado pela empresa, a expansão do turismo influenciou ainda a área entre Trancoso e Caraíva, onde se formou a Vila de Itaporanga na década de 1970. Essa área teve um crescimento populacional expressivo desde sua fundação até os dias atuais com o recebimento de imigrantes em busca de trabalho. Nas entrevistas realizadas com os proprietários e moradores da área do RVSRF 12 pessoas disseram observar um forte crescimento populacional na região de Itaporanga, e 11 delas relacionaram esse crescimento com o fluxo migratório para Itaporanga. Os entrevistados apontam que a maior parte dessas pessoas que tem migrado para Itaporanga busca uma fonte de trabalho e renda, em sua maioria agregada as atividades de turismo. Assim, as pessoas trabalham em diversas atividades que envolvem esse setor, desde a construção civil até a prestação de serviços. Em grande parte a oferta de trabalho é de uma mão-de-obra pouco qualificada e por isso de baixa remuneração. A tabela 7 aponta as principais ocupações citadas pelos entrevistados da área do RVSRF que eles consideram como atividades desenvolvidas pelas pessoas que têm migrado recentemente para Itaporanga. Tabela 7 - Ocupações em atividades econômicas dos imigrantes de Itaporanga citadas pelos entrevistados no diagnóstico de socioecomonia realizado com proprietários e moradores do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades.

Atividade Quantidade Percentual (%)

Trabalhador braçal 3 25,0

Turismo 6 50,0

Cozinheiro 1 8,3

Hotel 1 8,3

Pesca 1 8,3

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Nos questionários e entrevistas realizados a maior parte das pessoas considera que esse fluxo migratório é perene, uma vez que as pessoas que se mudam para Itaporanga passam a constituir moradia fixa nesse local. Os entrevistados dizem que são pouco expressivas as migrações temporárias, sazonais ou pendulares, e quando essas ocorrem o seu fluxo se concentra durante os meses de verão com a realização de atividades ligadas ao turismo. Não se observa também um processo de êxodo rural, pois a localidade de Itaporanga, considerada como área rural, tem apresentado um grande crescimento populacional. Nas entrevistas realizadas os poucos casos relatados de saída da área do RVSRF são destinados a Porto Seguro, e ocorrem para a realização de estudos de nível superior, ou em alguns casos para exercer alguns trabalhos mais qualificados que não possuem oferta na área rural. 4.2.3) Caracterização da população 4.2.3.1) Caracterização da população de Porto Seguro - Distribuição da população por faixa etária, sexo e rural/urbana De acordo com o Censo Demográfico realizado pelo IBGE em 2010 (Censo, 2010) o município de Porto Seguro possui 126.929 habitantes, dos quais 104.078 residem em áreas urbanas e 22.851 em área rurais (Tabela 8). Tabela 8 - Distribuição da população urbana e rural de Porto Seguro levantado no Censo Demográfico de 2010.

População Absoluta População Relativa (%)

Urbana 104.078 82 Rural 22.851 18 Total 126.929 100

Fonte: Censo, 2010

A distribuição da população por sexo é estável, e não se observa nenhum nível de desproporção entre a população masculina e feminina (Tabela 9). Tabela 9 - Distribuição da população de Porto Seguro por sexo levantado no Censo Demográfico de 2010.

População Absoluta

Homens 63.489 Mulheres 63.440 Total 126.929

Fonte: Censo, 2010

A distribuição por faixa etária apresenta uma população predominantemente jovem. A População Economicamente Ativa (PEA) é majoritária e representa 61% do total (Tabela 10). No grupo da População Economicamente Inativa (PEI) se destaca a população jovem com 36% e a população idosa perfaz apenas 3% do total, o que aponta que o município não tende a ter problemas relativos à população economicamente ativa nos próximos anos. A distribuição da população por faixa etária está apresentada na pirâmide etária do município (Figura 36). Tabela 10 - População Economicamente Ativa e Inativa de Porto Seguro levantado no Censo Demográfico de 2010.

Faixa Etária Quantidade Percentual (%)

Menor de 18 anos 46.195 36

De 18 a 65 anos 76.314 61

Maior de 65 anos 4.420 3

Total 126.929 100

Fonte: Censo, 2010

- Caracterização da população por indicadores socioeconômicos

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38

Para caracterizar socioeconomicamente uma população é imprescindível que se analise diversos índices que envolvem a questão da educação, da saúde, da renda, entre outros. Figura 36 - Distribuição da População de Porto Seguro por Faixa Etária levantada no Censo Demográfico de 2010.

Fonte: Censo, 2010

No que se refere à educação de acordo com o Censo Demográfico do IBGE (Censo, 2010) o município de Porto Seguro apresenta uma taxa de alfabetização de 88,9% para a população a partir dos 10 anos de idade (Tabela 11). Se essa análise for prolongada para a população a partir de cinco anos de idade esse número cai para 85% e corresponde a 16.715 pessoas com mais de cinco anos não alfabetizadas no município (Tabela 12).

Tabela 11 - Taxa de alfabetização de pessoas com 10 anos ou mais em Porto Seguro. Sexo Percentual (%)

Homens 88,8 Mulheres 89,0 Total 88,9

Fonte: Censo, 2010

Tabela 12 - Pessoas alfabetizadas a partir de cinco anos de idade em Porto Seguro.

Nível de Alfabetização Quantidade

Alfabetizadas 97.385 Não alfabetizadas 16.715 Sem declaração 1 Total 114.101

Fonte: Censo, 2010

Outro importante fator de análise socioeconômica é o Índice de Desenvolvimento Econômico (IDE) que é definido como resultante dos níveis de infraestrutura, de qualificação da mão-de-obra e da renda gerada localmente. Assim, na construção desse índice estão incluídos os seguintes itens: Índice de Infraestrutura (INF) - considera um conjunto de informações quantitativas sobre a infraestrutura do município em termos de terminais telefônicos em serviço, consumo de energia elétrica e quantidade de estabelecimentos bancários, comerciais e de serviços; Índice de Qualificação da Mão-de-obra (IQM) - considera o nível de escolaridade dos trabalhadores ocupados no setor formal; e Índice do Produto Municipal (IPM) - considera o nível aproximado de geração de renda do município em todos os setores da atividade econômica (CEPEMAR, 2011).

A tabela 13 apresenta o IDE de Porto Seguro segundo os componentes utilizados para essa classificação. Pode-se observar que o município ocupa a 39ª colocação no Estado da Bahia segundo esta análise.

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39

Tabela 13 - Índice de Desenvolvimento Econômico de Porto Seguro.

IDE Classif. INF Classif. IQM Classif. IPM Classif.

5.049,34 39º 5.063,16 60º 5.057,42 41º 5.027,53 23º

Fonte: SEI, 2006 apud CEPEMAR, 2011

Outro índice importante para a análise socioeconômica é o Índice de Desenvolvimento Social (IDS) que é realizado a partir da análise do atendimento oferecido a população dos serviços de educação, saúde, água tratada e energia elétrica. Esse índice observa também a remuneração mensal dos chefes de família. Para exprimir este conceito, o IDS é construído através dos seguintes índices: Índice do Nível de Saúde (INS) - construído a partir das variáveis doenças de notificação obrigatória e óbitos por sintomas, sinais e afecções mal definidos; Índice do Nível de Educação (INE) - é expresso através de medidas quantitativas do atendimento em serviços de educação, na forma de matrículas do ensino básico regular ao nível superior; Índice dos Serviços Básicos (ISB) - é expresso através das variáveis consumo de água tratada e de energia elétrica residencial, considerados serviços essenciais; Índice da Renda Média dos Chefes de Família (IRMCH) - expressa o rendimento médio dos chefes de família, supondo toda unidade familiar com um chefe auferindo rendimento mensal (CEPEMAR, 2011). O município de Porto Seguro apresenta a 38º colocação estadual em relação ao IDS, conforme tabela 14. Tabela 14 - Índice de Desenvolvimento Social de Porto Seguro.

IDS Clas. INS Clas. INE Clas. ISB Clas. IRMCH Clas.

5.077,72 38º 4.982,94 258º 4.928,84 375º 5.112,27 43º 5.294,56 7º

Fonte: SEI, 2006 apud CEPEMAR, 2011

Além do IDE e do IDS outro fator muito usado para a caracterização socioeconômica é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) que é um índice que busca medir o nível de desenvolvimento de uma determinada unidade geográfica sob a perspectiva mais ampla do que a simples relação entre o produto interno bruto e a população, definido pelo PIB per capita. Para tanto, incorpora as dimensões de longevidade e educação na sua fórmula de análise. O que está por trás dessa combinação é a ideia de que o crescimento material de um país, refletido na renda per capita, deve vir acompanhado de um aumento na esperança de vida de seus habitantes e de uma expansão nas condições de educação, de modo a tornar efetivamente universal esse crescimento (CEPEMAR, 2011). Para efeito de análise comparativa entre países e outras unidades geográficas, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) estabeleceu três categorias de desenvolvimento em função dos valores do índice. Assim, os valores entre 0 e 0,499 são considerados como de Baixo Desenvolvimento Humano, os valores entre 0,500 e 0,799 são classificados como Médio Desenvolvimento Humano e os acima de 0,800 correspondem ao Alto Desenvolvimento Humano. Por intermédio do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) - elaborado pelo PNUD em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e a Fundação João Pinheiro, é possível avaliar a situação do desenvolvimento nos municípios (CEPEMAR, 2011). Pelo fato de demandar informações dos censos demográficos esses índices só podem ser registrados a cada 10 anos. Os dados do IDH-M relativos ao censo 2010 ainda não foram disponibilizados pelo PNUD. Na tabela 15 pode-se observar o IDH-M de Porto Seguro nos censos demográficos de 1991 e 2000, bem como a posição que o município ocupa no estado da Bahia. Tabela 15 - Evolução do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal de Porto Seguro dos censos demográficos de 1991 e 2000.

IDH-M Ranking Estadual

1991 2000 1991 2000

0,590 0,699 40º 25º

Fonte: SEI, 2006 apud CEPEMAR, 2011

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O Sistema Firjan também realiza um estudo voltado ao desenvolvimento humano dos municípios. O Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) baseia-se na análise de três áreas: Emprego e Renda, Educação e Saúde e utiliza-se exclusivamente de estatísticas públicas oficiais2. Sua leitura é simples, o índice varia de zero (0) a um (1) e quanto mais próximo de um, maior o desenvolvimento da localidade (FIRJAN, 2013). Assim, cada município pode ser classificado como Baixo Desenvolvimento (inferior a 0,4 pontos), Desenvolvimento Regular (entre 0,4 e 0,6 pontos), Desenvolvimento Moderado (0,6 a 0,8 pontos) ou Alto Desenvolvimento (superior a 0,8 pontos). As variáveis e as fontes usadas para os levantamentos do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal estão apresentadas no quadro 1. Quadro 1 - Quadro-Resumo das variáveis componentes do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal.

Fonte: FIRJAN, 2013

O IFDM de Porto Seguro divulgado em 2012 relativo ao ano de 2010 apresenta um índice moderado. O estudo aponta como moderado ainda as áreas de educação e saúde do município e regular o índice referente ao emprego e renda (Figura 37). - Caracterização domiciliar do acesso ao saneamento básico Os índices de acesso ao saneamento básico constituem uma análise importante para a caracterização socioeconômica, visto que influenciam diretamente na qualidade de vida da população. Nesse contexto é fundamental que se analise os índices de distribuição de água, tratamento de esgoto e coleta e tratamento de resíduos sólidos. Dos 38.361 domicílios de Porto Seguro 67% possuem abastecimento de água por rede geral. O abastecimento a partir de poço ou nascente responde por 31% do total, enquanto que rios, açude, lago ou igarapé perfazem 2% (Tabela 16). Tabela 16 - Formas de abastecimento de água em Porto Seguro levantado no Censo Demográfico de 2010.

Forma de abastecimento de água Número de domicílios

Percentual (%)

Rede geral 25.575 67 Poço ou nascente na propriedade 7.925 21 Poço ou nascente fora da propriedade 3.556 9 Rio, açude, lago ou igarapé 623 2 Poço ou nascente na aldeia 374 1 Poço ou nascente fora da aldeia - - Total 38.053 100

Fonte: Censo, 2010

2 As fontes primárias de dados são os Ministérios do Trabalho e Emprego, da Educação e da Saúde.

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Figura 37 - Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal e área de desenvolvimento de Porto Seguro levantado no Censo Demográfico de 2010.

a Alto desenvolvimento

(superiores a 0,8 pontos) A a

Desenvolvimento moderado (entre 0,6 e 0,8 pontos)

A a

Desenvolvimento regular (entre 0,4 e 0,6 pontos)

A a

Baixo desenvolvimento (inferiores a 0,4 pontos)

Fonte: Fonte: FIRJAN, 2013

Em relação ao sistema de esgotamento sanitário a maior parte dos domicílios do município apresenta acesso a banheiro (91%) ou sanitário (6%) enquanto ainda se observa que 3% das residências não tem acesso nem a banheiro e nem a sanitário (Tabela 17). Tabela 17 - Acesso e quantidade de banheiros em Porto Seguro levantado no Censo Demográfico de 2010.

Acesso a banheiro/Quantidade de banheiros Quantidade Percentual (%)

1 banheiro 27.198 70

2 banheiros 5.609 15

3 banheiros 1.440 4

4 banheiros ou mais 721 2

Tinham sanitário 2.376 6

Não tinham banheiro nem sanitário 1.017 3

Total 38.361 100

Fonte: Censo, 2010

A forma de esgotamento sanitário predominante no município é através da rede geral de esgoto com 57,2% do total em domicílios com banheiro ou apenas com sanitário. As fossas sépticas e rudimentares representam 38% do esgotamento sanitário, enquanto 1,6% são despejados nos cursos hídricos ou no mar e 2,7% não tem banheiro e nem sanitário na residência (Tabela 18). Quanto ao sistema de coleta de resíduos sólidos ele atende a mais de 90% dos domicílios. Nas áreas onde não há coleta domiciliar a destinação mais comum é a queima dos resíduos. Os dados sobe a coleta dos resíduos sólidos são apresentados na tabela 19. 4.2.3.2) Caracterização da população de Trancoso e Caraíva Para a análise da população das comunidades próximas a área do RVSRF foram usados os dados dos distritos de Caraíva e Trancoso, por serem os mais próximos a UC e por incluírem os dados coletados no Censo de 2010 da população residente no RVSRF e na sua ZA (Itaporanga e TI Imbiriba).

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Tabela 18 - Formas de esgotamento sanitário em Porto Seguro levantado no Censo Demográfico de 2010.

Existência de banheiro ou sanitário e esgotamento sanitário

N.º domicílios

Percentual (%)

Banheiro e rede geral de esgoto ou pluvial 21.008 54,8

Banheiro e fossa séptica 4.332 11,3

Banheiro e fossa rudimentar 9.080 23,7

Banheiro e esgoto lançado na vala 272 0,7

Banheiro e esgoto lançado no rio, lago ou mar 204 0,5

Banheiro e outra forma de esgotamento 72 0,2

Sanitário e rede geral de esgoto ou pluvial 929 2,4

Sanitário e fossa séptica 273 0,7

Sanitário e fossa rudimentar 895 2,3

Sanitário e esgoto lançado na vala 120 0,3

Sanitário e esgoto lançado no rio, lago ou mar 49 0,1

Sanitário e outro escoadouro 110 0,3

Não tinham banheiro nem sanitário 1.017 2,7

Total 38.361 100

Fonte: Censo, 2010

Tabela 19 - Destinação dos Resíduos Sólidos em Porto Seguro levantado no Censo Demográfico de 2010.

Destino do lixo N.º de

domicílios Percentual (%)

Coletado 34.726 90,6

Queimado (na propriedade) 3.097 8,0

Enterrado (na propriedade) 130 0,3

Jogado em terreno baldio ou logradouro 260 0,7

Jogado em rio, lago ou mar 46 0,1

Outro destino 102 0,3

Total 38.361 100

Fonte: Censo, 2010

- Distribuição da população por faixa etária, sexo e rural/urbana De acordo com entrevista realizada no posto do IBGE de Porto Seguro o setor censitário de Itaporanga está em sua maior parte inserido no distrito de Caraíva. Esse fato pode ser atestado através da distribuição entre a população rural e urbana, visto que o distrito apresenta apenas 5% de sua população residente no núcleo urbano da sede do distrito (Tabela 20). A maior parte da sua população está inserida em áreas do interior, consideradas como rurais pelo IBGE e que perfazem 95% do total (Tabela 20). Em Trancoso é observado o oposto e a maior parte de sua população reside na área urbana (sede do distrito) com apenas 24% em áreas rurais (interior do distrito) (Tabela 20). Tabela 20 - Distribuição da população de Caraíva e Trancoso em Rural e Urbana levantada no Censo Demográfico de 2010.

Distrito Situação do domicílio População Absoluta Percentual (%)

Caraíva

Urbana 382 5

Rural 7.511 95

Total 7.893 100

Trancoso

Urbana 8.384 76

Rural 2.622 24

Total 11.006 100

Fonte: Censo, 2010

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Na distribuição da população por gênero em Caraíva é observada uma pequena prevalência da população masculina, enquanto em Trancoso a distribuição está próxima da igualdade (Tabela 21). Tabela 21 - Distribuição da População de Caraíva e Trancoso por Sexo levantada no Censo Demográfico de 2010.

Distrito Sexo População Absoluta Percentual (%)

Caraíva

Homens 4.195 53,1

Mulheres 3.698 46,9

Total 7.893 100

Trancoso

Homens 5.604 50,9

Mulheres 5.402 49,1

Total 11.006 100

Fonte: IBGE, 2010

O distrito de Caraíva apresenta uma população predominantemente jovem. A PEA perfaz 51% do total e a PEI é majoritariamente composta pela população menor de 18 anos (46%). Isso indica que a região não tende a apresentar escassez de população em idade produtiva nas próximas décadas. A população idosa perfaz apenas 3% do total (Tabela 22). A pirâmide etária do distrito é apresentada na figura 38. Tabela 22 - População Economicamente Ativa e Inativa em Caraíva levantada no Censo Demográfico de 2010.

Faixa Etária Quantidade Percentual (%)

Menor de 18 anos 3.603 46 De 18 a 65 anos 4.033 51 Maior de 65 anos 257 3

Total 7.893 100 Fonte: Censo, 2010

Figura 38 - Pirâmide Etária de Caraíva levantada no Censo Demográfico de 2010.

Fonte: Censo, 2010

O distrito de Trancoso assim como Caraíva também apresenta uma população predominantemente jovem. A PEA representa 59% do total, enquanto a PEI representa 41% com 38% de menores de 18 anos e apenas 3% acima de 65 anos (Tabela 23). Assim como em Caraíva não existe uma tendência imediata de envelhecimento da população ou de escassez de mão-de-obra para as próximas décadas. Os dados sobre a distribuição da população de Trancoso por faixa etária são apresentados na figura 39.

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Tabela 23 - População Economicamente Ativa e Inativa de Trancoso levantada no Censo Demográfico de 2010.

Fonte: Censo, 2010

Figura 39 - Pirâmide Etária de Trancoso levantada no Censo Demográfico de 2010.

Fonte: Censo, 2010

- Caracterização da população por indicadores socioeconômicos Ao se considerar o número de pessoas alfabetizadas a partir dos cinco anos de idade observa-se uma taxa de 73% de alfabetizados em Caraíva e de 84% em Trancoso (Tabela 24). Se o campo de análise for ampliado para as pessoas a partir de 10 anos, quando os alunos já passaram da idade de alfabetização, observa-se que o distrito de Caraíva apresenta um índice de 22,8% de pessoas não alfabetizadas e em Trancoso esse valor é de 12,7% (Tabela 25).

Tabela 24 - Índice de alfabetização a partir dos cinco anos de idade em Caraíva e Trancoso levantado no Censo Demográfico de 2010.

Distrito Nível de alfabetização N.º de pessoas Percentual (%)

Caraíva

Alfabetizadas 4.959 73

Não alfabetizadas 1.871 27

Sem declaração 1 -

Total 6.831 100

Trancoso

Alfabetizadas 8.260 84

Não alfabetizadas 1.569 16

Sem declaração - -

Total 9.829 100

Fonte: IBGE, 2010

- Caracterização domiciliar do acesso ao saneamento básico O abastecimento de água no distrito de Caraíva é feito predominantemente através de poço ou nascente (85%), fato que pode ser atribuído à expressividade da população rural nesse distrito que tem apenas 7% das residências são abastecidas pela rede geral (Tabela 26). Em Trancoso a maior parte do abastecimento de água é feito pela rede geral (59%), visto ser mais urbanizado que Caraíva, enquanto 35% dos domicílios são atendidos por poços ou nascentes e 5% por rio, açude, lago ou igarapé (Tabela 26).

Faixa Etária Quantidade Percentual (%)

Menor de 18 anos 4.226 38

De 18 a 65 anos 6.551 59

Maior de 65 anos 289 3

Total 11.066 100

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Tabela 25 - Taxa (%) de pessoas alfabetizadas e não alfabetizadas a partir dos 10 anos de idade em Caraíva e Trancoso levantado no Censo Demográfico de 2010.

Distrito População Alfabetizados Não alfabetizados

Caraíva

Homens 76,3 23,7

Mulheres 78,3 21,7

Total 77,2 22,8

Trancoso

Homens 87,1 12,9

Mulheres 87,6 12,4

Total 87,3 12,7

Fonte: IBGE, 2010

Tabela 26 - Forma de abastecimento de água em Caraíva e Trancoso levantado no Censo Demográfico de 2010.

Distrito Forma de abastecimento de água N.º de

domicílios Percentual

(%)

Caraíva

Rede geral 139 7

Poço ou nascente na propriedade 633 32

Poço ou nascente fora da propriedade 879 43

Rio, açude, lago ou igarapé 114 6

Poço ou nascente na aldeia 196 10

Poço ou nascente fora da aldeia - -

Outra 37 2

Total 1.998 100

Trancoso

Rede geral 1.913 59

Poço ou nascente na propriedade 609 19

Poço ou nascente fora da propriedade 528 16

Rio, açude, lago ou igarapé 179 5

Poço ou nascente na aldeia - -

Poço ou nascente fora da aldeia - -

Outra 27 1

Total 3.256 100

Fonte: Censo, 2010

Por ser um distrito predominantemente rural Caraíva também apresenta um baixo índice de residências atendidas pela rede geral de esgoto (0,3%). A principal forma de esgotamento sanitário são as fossas sépticas ou rudimentares, que perfazem 78% do total. É notório ainda que mais de 20% dos domicílios desse distrito não apresentam nem banheiro e nem sanitário e por isso não tem nenhuma forma de tratamento de esgoto, o que contribui para a poluição do solo e dos recursos hídricos, bem como pode contribuir para a proliferação de vetores. Em Trancoso a maior parte dos domicílios apresenta como forma de esgotamento sanitário as fossas sépticas ou rudimentares (61,7%) e o atendimento pela rede geral de esgoto (32,8%). O distrito apresenta ainda 4,3% das residências sem banheiro nem sanitário sem apresentar nenhuma forma de tratamento dos efluentes (Tabela 27). Quanto ao destino dos resíduos sólidos a principal destinação realizada no distrito de Caraíva é a queima (58,8%), seguida pela coleta (38,2%) (Tabela 28). Em Trancoso destaca-se a coleta (82,4%) e a queima (16,7%). Nesses dois distritos as outras formas de destinação dos resíduos são pouco expressivas e perfazem 3% em Caraíva e 0,9% em Trancoso (Tabela 28). 4.3) USO E OCUPAÇÃO DA TERRA E PROBLEMAS AMBIENTAIS DECORRENTES 4.3.1) Uso do solo e atividades econômicas realizadas na Unidade de Conservação

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A área do RVSRF possui poucas propriedades produtivas, onde o uso é basicamente agrícola, realizado de forma extensiva, com baixo desenvolvimento tecnológico e para subsistência das próprias famílias. Tabela 27 - Formas de esgotamento sanitário em Caraíva e Trancoso levantado no Censo Demográfico de 2010.

Distrito Existência de banheiro ou sanitário e esgotamento

sanitário N.º de

domicílios Percentual

(%)

Caraíva

Banheiro e rede geral de esgoto ou pluvial 4 0,2

Banheiro e fossa séptica 422 21,1

Banheiro e fossa rudimentar 893 44,5

Banheiro e esgoto lançado na vala 2 0,1

Banheiro e esgoto lançado no rio, lago ou mar - -

Banheiro e outra forma de esgotamento 6 0,3

Sanitário e rede geral de esgoto ou pluvial 1 0,1

Sanitário e fossa séptica 121 6,0

Sanitário e fossa rudimentar 127 6,4

Sanitário e esgoto lançado na vala 4 0,2

Sanitário e esgoto lançado no rio, lago ou mar 5 0,3

Sanitário e outro escoadouro 10 0,6

Não tinham banheiro nem sanitário 403 20,2

Total 1.998 100

Trancoso

Banheiro e rede geral de esgoto ou pluvial 1.047 32,2

Banheiro e fossa séptica 333 10,2

Banheiro e fossa rudimentar 1.468 45,2

Banheiro e esgoto lançado na vala 7 0,2

Banheiro e esgoto lançado no rio, lago ou mar - -

Banheiro e outra forma de esgotamento 10 0,3

Sanitário e rede geral de esgoto ou pluvial 21 0,6

Sanitário e fossa séptica 21 0,6

Sanitário e fossa rudimentar 186 5,7

Sanitário e esgoto lançado na vala 10 0,3

Sanitário e esgoto lançado no rio, lago ou mar - -

Sanitário e outro escoadouro 12 0,4

Não tinham banheiro nem sanitário 141 4,3

Total 3.256 100%

Fonte: IBGE, 2010

A partir do questionário realizado para esse trabalho com os moradores e proprietários da área do RVSRF pode-se observar que as principais formas de extrativismo animal são a pesca e a coleta de guaiamum (Figura 40), observadas por onze e sete entrevistados, respectivamente. A pesca foi apontada como importante atividade econômica dos entrevistados, que tem na venda do pescado em Itaporanga e Trancoso a sua renda básica. A maior parte desse pescado ocorre no mar e em menor escala no rio dos Frades. Já a coleta de guaiamum foi colocada pelos entrevistados como uma atividade de subsistência, que ocorre para o próprio consumo das famílias. Não foi relatada nenhuma atividade de extrativismo mineral na área do Refúgio, nem mesmo de areia ou barro para a construção civil. O extrativismo vegetal ocorre em pequena escala com a utilização de algumas ervas para a medicina caseira, sem que se observe comercialização ou retirada predatória de espécies. Foi

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observada também uma atividade de artesanato realizada com madeira morta na comunidade de Itaporanga, que utiliza matéria-prima extraída dentro da área do RVSRF e na sua ZA para suas esculturas. Tabela 28 - Destinação dos resíduos sólidos em Caraíva e Trancoso levantado no Censo Demográfico de 2010.

Distrito Destino do lixo N.º de

domicílios Percentual

(%)

Caraíva

Coletado 764 38,2

Queimado (na propriedade) 1.177 58,8

Enterrado (na propriedade) 21 1,1

Jogado em terreno baldio ou logradouro

29 1,5

Jogado em rio, lago ou mar - -

Outro destino 7 0,4

Total 1.998 100

Trancoso

Coletado 2.681 82,4

Queimado (na propriedade) 543 16,7

Enterrado (na propriedade) 11 0,3

Jogado em terreno baldio ou logradouro

13 0,4

Jogado em rio, lago ou mar - -

Outro destino 8 0,2

Total 3.256 100

Fonte: IBGE, 2010

Figura 40 - Guaiamum no manguezal do rio dos Frades (Coordenadas E 488822 N 8154619).

Não houve nas entrevistas e nos questionários nenhum relato de expressiva visitação clandestina dentro da área do RVSRF. Dentre as atividades econômicas levantadas no questionário realizado com os moradores e proprietários observa-se a pesca, a agricultura e o artesanato (Tabela 29). Cabe ressaltar que em alguns casos uma mesma propriedade desenvolve mais de uma atividade, que respondem de forma conjunta pela renda familiar. 4.3.1.1) Agricultura, Pecuária, Criação Animal e Pesca Não se observa um amplo desenvolvimento agrícola dentro da área do RVSRF (Figura 41), fato que pode ser relacionado com a presença de um solo arenoso e pouco produtivo (Ribeiro et al., 2012).

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Tabela 29 - Atividades econômicas identificadas no questionário aplicado a moradores e proprietários da área do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades.

Principal atividade econômica Quantidade por Propriedades

Agricultura 6

Artesanato 2

Pecuária 2

Pesca 6

Figura 41 - Mapa de uso do solo da área do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades e sua Zona de Amortecimento.

O modelo de agricultura encontrado na região é extensivo, com pouco desenvolvimento tecnológico, como defensivos químicos, maquinário, irrigação, entre outros, e sem assistência técnica. Dentre os cultivos realizados no Refúgio os mais comuns são a mandioca e o coco (Tabela 30). Os cultivos levantados nos questionários realizados com os moradores e proprietários na área do RVSRF e o número de propriedades que desenvolve cada tipo de cultivo dentro do Refúgio estão listados na tabela 30. Quanto às formas de manejo, métodos e práticas adotadas o questionário ofereceu uma diversidade de opções a serem respondidas (Tabela 31). Entretanto, o que se observou foi que grande parte dos entrevistados realizam atividades de pesca. Não foram citados nos questionários utilização de tração animal, pousio, agrotóxicos, queimadas, adubação química, irrigação, suplementação mineral, inseminação artificial, tração animal, plantio em nível e controle biológico de pragas/doenças. Em alguns casos essas práticas podem ter sido omitidas pelos entrevistados por receio de que essa informação pudesse ser utilizada para atividades de fiscalização como no caso da prática de queimadas. Não foi relatada a presença de cultivos de espécies exóticas nas propriedades do RVSRF. Outra característica do modelo agrícola desenvolvido no RVSRF é o baixo índice de beneficiamento da produção. Apenas três entrevistados disserem fazer algum tipo de

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beneficiamento, como a produção de farinha de mandioca, enquanto outras nove pessoas não realizam nenhum beneficiamento em suas propriedades. Tabela 30 - Cultivos agrícolas e número de propriedades incluídas na área do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades que realizam aquele tipo de cultura.

Cultivo Número de Propriedades com a

cultura

Abacaxi 1

Acerola 1

Amêndoa 1

Banana 1

Caju 2

Coco 10

Laranja 1

Mandioca 4

Manga 1

Milho 1

Seringueira 1

Tabela 31 - Formas de manejo, métodos e práticas realizadas pelos proprietários e moradores do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades.

Manejo, método ou prática utilizada Número de Propriedades com a cultura

Tração mecânica 1

Plantio direto 5

Rotação de pastagens 1

Não utiliza nenhum método descrito 5

Não responderam 2

A falta de uma cooperativa agrícola dificulta o processo de beneficiamento da produção. Além de ampliar a produtividade e possibilitar o beneficiamento aos pequenos proprietários a organização de uma cooperativa poderia ampliar a renda familiar ao gerar valor agregado para a produção local. Como as áreas agrícolas são pequenas e basicamente voltadas para a agricultura de subsistência, sem utilização de produtos químicos para o combate de pragas ou doenças, essa atividade pode ser considerada de baixo impacto. Não foi observado durante as atividades de campo e nem relatado durante as entrevistas nenhum elevado índice de poluição ou nenhum grave dano ambiental que fosse causado pela agricultura familiar local. Esse fato não exclui a possibilidade de execução de trabalhos técnicos que indiquem potenciais impactos dessa atividade. Das 13 entrevistas realizadas com proprietários e moradores do RVSRF nenhum deles apresentou Reserva Legal averbada. Cinco proprietários relataram não ter a RL averbada e oito entrevistados não responderam a questão. Dentro das áreas sobrepostas ao RVSRF não existe uma prática ampla relativa à pecuária, essa atividade está presente na ZA e região da UC. Nos questionários aplicados com os moradores e proprietários da área do RVSRF os tipos de criação levantados estão listados na tabela 32. É importante ressaltar que essa tabela se refere a quantidade de propriedades que possuem alguma atividade pecuária, que pode ser realizada no RVSRF ou na ZA já que a maior parte das propriedades está parcialmente inserida a UC. Nas áreas inseridas dentro do Refúgio se observa a criação de animais de pequeno porte, como aves e suínos, usados para o consumo familiar. As criações de grande porte como bubalinos, bovinos e equinos foram relatadas em propriedades que estão parcialmente inseridas no

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RVSRF. As áreas de pastagens e benfeitorias para essa atividade ocorrem de modo geral na área não sobreposta ao RVSRF. Tabela 32 - Número de propriedades (parcial ou integralmente inseridas) com criação animal na zona de amortecimento ou no Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades.

Tipo de Criação Número de Propriedades

Aves 5

Bovino Leiteiro 1

Búfalo 1

Caprino 1

Equino 2

Suíno 1

A partir dos questionários realizados o rebanho estimado nas propriedades inseridas total ou parcialmente no RVSRF está apontado na tabela 33. Tabela 33 - Rebanho estimado a partir do questionário nas propriedades parcial ou totalmente inseridas no Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades.

Criação de Animais Quantidade por Propriedades

Aves 125

Bovino Leiteiro 20

Búfalo 2.800

Caprino 100

Equino 124

Suíno 5

O dado de maior destaque nessa tabela é a criação de bubalinos, que ocorre na ZA do Refúgio, mas que foi citada pelos moradores e proprietários entrevistados como atividade impactante e conflitante na área do RVSRF. As demais criações não foram citadas como atividades impactantes pelos entrevistados. Esse fato pode ser relacionado ao número relativamente baixo de cabeças criadas em cada propriedade. Ainda assim, é fundamental que haja um manejo adequado dessas criações a fim de não causar impactos sobre os recursos naturais da região ou de causar pressão antrópica sobre a área do Refúgio. Além da agricultura e da pecuária outra atividade que foi citada nos questionários realizados com os moradores e proprietários do RVSRF é a pesca. De acordo com os entrevistados a maior parte da pesca econômica é realizada no mar, e comercializada em Itaporanga ou Trancoso, onde é vendida diretamente a restaurantes ou pousadas, fato que possibilita um ganho econômico maior aos pescadores. No rio dos Frades também ocorre a pesca que atende tanto a subsistência das famílias como a comercialização da produção. Dentre as espécies pescadas no rio dos Frades estão o robalo, a tainha, a traíra, e o lambari, além da presença de espécies exóticas como a tilápia e o bagre africano. Esta espécie foi apontada pelos entrevistados como uma das causas da redução das espécies típicas da região. Essa redução também seria provocada pela introdução das criações de bubalinos e as obras de dragagem do rio dos Frades realizadas há anos atrás 4.3.2) Conflitos Sociais e Atividades conflitantes No trabalho de campo e nas entrevistas realizadas no RVSRF foram mencionadas algumas situações conflitantes que se relacionam a realização de atividades econômicas, de atividades ilegais e de conflitos sociais ou pela posse da terra, dentre outros. 4.3.2.1) Atividades impactantes sobre os recursos naturais, fauna e flora

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Uma das atividades conflitantes é a caça, proibida pela lei de crimes ambientais (Figura 42), mas que ainda é praticada em algumas áreas do Refúgio, principalmente nas áreas onde se observa uma área de Mata Atlântica mais fechada. Entre as pessoas entrevistadas cinco disseram que ainda existe caça na região enquanto quatro afirmaram não observar essa atividade na área do Refúgio. Os entrevistados apontaram como espécies de caça a paca, a capivara e o tatu, além de jacaré, onça e tartaruga. Algumas dessas caças foram confirmadas e autuadas pela equipe do RVSRF. Os entrevistados relataram que a caça atende o consumo das próprias famílias e não se observa a comercialização da carne de caça na área do RVSRF ou na sua ZA. Outra atividade que traz impactos sobre os recursos naturais citada nas entrevistas realizadas é a poluição do córrego do Chato, na altura da ponte próxima ao limite do RVSRF. Esse local é usado como área de lazer por moradores de Itaporanga que vão até o local para se banhar no córrego. Entretanto, de acordo com relatos de D. Anália e de sua filha D. Maria d’Ajuda é comum que pessoas vindas de Itaporanga usem o córrego para lavar instrumentos diversos ou para cozinhar. Além de causar a poluição pelo uso de produtos químicos as pessoas abandonam diversos tipos de resíduos como restos de madeira queimada, sacolas plásticas, restos de comida que contribuem para a poluição do córrego. Figura 42 - Placa de identificação da área do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades com a proibição da caça e do desmatamento (Coordenadas E 487556 N 8154845).

Durante o trabalho de campo a equipe responsável pelo levantamento socioeconômico registrou a área do córrego do Chato sendo usada para cozinhar algum tipo de carne, e posteriormente identificou a presença de resíduos de madeira queimada abandonados na área (Figura 43). Além desse caso pontual existe um problema ainda mais grave de poluição na área do RVSRF que se refere à falta de saneamento básico na maior parte das casas e moradias do Refúgio. Os dados levantados através do questionário realizado com os moradores e proprietários de áreas sobrepostas ao RVSRF (Tabela 34) apontam que a falta de saneamento básico é um grave problema da UC e pode causar a contaminação dos solos, dos cursos hídricos e do lençol freático, além de contribuir para a proliferação de doenças.

Tabela 34 - Tratamento de esgoto nas propriedades parcial ou totalmente inseridas do

Refúgio de Vida Silvestre Rio dos Frades.

Tipo de tratamento Quantidade

Sem tratamento 9

Fossa Comum 3

Fossa, filtro e sumidouro 1

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Figura 43 - Córrego do Chato próximo ao limite do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades (a). A seta à direita indica restos de uma fogueira usada para cozinhar algum alimento (b) (Coordenadas E 485214 N 8155612).

Os dados levantados neste diagnóstico mostram a necessidade de estudar mecanismos que venham contribuir para a melhoria e mitigação deste impacto que está consolidado nos moradores do RVSRF por costumes históricos e tradicionais. 4.3.2.2) Conflitos Sociais pela posse da terra As entrevistas e questionários mostraram que os conflitos sociais presentes na área do RVSRF referem-se à posse da terra, a introdução da criação de bubalinos e ao ordenamento das atividades realizado a partir da instituição da UC. Em relação aos conflitos sobre a posse da terra o Diagnóstico dos Proprietários e Moradores do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades (MMA, 2012) realizado pela equipe do ICMBio traz importantes contribuições para esse processo. Pode-se observar que os conflitos pela posse da terra na região estão relacionados com a sobreposição de diferentes propriedades escrituradas numa mesma área ou com áreas de ocupação sem haver título de propriedade. Os conflitos pela posse da terra estão relacionados com as Fazendas Reunidas Itaquena S. A. que possui áreas sobrepostas a outras propriedades como o Sítio da Paz, a Fazenda Bela Vista e a Fazenda Manga Tuba (ver Figura 31). A área da ocupação Pataxó Aldeia Gravatá também está inserida na área das Fazendas Itaquena. Nas entrevistas realizadas buscou-se retomar a base desses conflitos fundiários, porém a existência de diferentes versões dificulta precisar como ocorreram esses conflitos. Pode-se, no entanto, identificar os principais atores envolvidos e os argumentos usados por cada um sobre o direito de uso da propriedade. Assim, a partir das entrevistas realizadas buscou-se fazer um relato sobre essas diferentes versões com a finalidade de apresentar os conflitos identificados, sem entrar nos juízos de valor acerca da posição de cada ator envolvido nesse processo. O Sítio da Paz é uma propriedade pertencente a D. Arcanja, de 87 anos e que reside nessa área a 55 anos, antes mesmo da fundação do povoado de Itaporanga. D. Arcanja e sua filha D. Marta relataram que a aproximadamente sete anos foram procuradas pela administração das Fazendas Reunidas Itaquena que afirmava ser o dono daquela área. D. Arcanja conta que foi ameaçada por diversas vezes para que deixasse a propriedade, mas que não abandonou sua terra, pois era a dona daquela propriedade. Atualmente a família possui a escritura de sua propriedade e afirma que houve uma redução das ameaças e que não são mais procurados por nenhum representante das Fazendas Itaquena. Caso semelhante ocorreu com a área da Fazenda Bela Vista, propriedade de D. Anália que também possui uma área sobreposta as Fazendas Reunidas Itaquena. D. Anália e sua filha D. Maria d’Ajuda relatam que também foram procuradas pela administração da fazenda que afirmava ser proprietário daquela área, e que fez ameaças para que elas saíssem. Assim como o

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caso anterior a Fazenda Bela Vista possui escritura e D. Anália afirma que atualmente não tem mais sido procurada por nenhum representante das Fazendas Itaquena. As Fazendas Reunidas Itaquena também possui uma área sobreposta a Fazenda Manga Tuba, mas não foi encontrado nenhum representante dessa propriedade para relatar sobre a posse da terra. Na entrevista com o administrador das Fazendas Reunidas Itaquena, o Sr. Moacyr de Andrade afirmou que as áreas sobrepostas do Sítio da Paz, da Fazenda Bela Vista e da Fazenda Maga Tuba, consideradas por ele como áreas de posse, foram denunciadas ao Ministério Público (MP). Ele relata que por negligência essas áreas acabaram conquistando o título de sua propriedade e por isso existe a sobreposição dessas áreas com as Fazendas Reunidas Itaquena. 4.3.2.3) Conflitos sociais por áreas de ocupação Outro conflito de posse da terra refere-se a uma área de ocupação indígena na propriedade das Fazendas Reunidas Itaquena, situada dentro do RVSRF. Na entrevista realizada com os ocupantes da Aldeia Gravatá, foi relatado que essa área era tradicionalmente usada pelos índios pataxós. O uso da área possuía uma relação muito grande com o rio dos Frades, onde se realizava a pesca e a travessia de viajantes nas canoas indígenas. Os índios afirmam que nessa época o rio era largo e na época das cheias inundava toda a área das planícies. O índio Railto Braz relata que aproximadamente a 40 anos o Sr. Moacyr de Andrade comprou várias propriedades na área do rio dos Frades, constituindo a Fazendas Reunidas Itaquena S.A. Ele aponta que dentre as áreas adquiridas pelo dono da Fazendas Reunidas Itaquena está a área que eles ocupam atualmente, que já naquela época era usada pelas populações indígenas. O motivo da saída dos índios dessa área próxima ao rio dos Frades não é muito claro, pois existem diferentes histórias sobre esse processo. Nas entrevistas realizadas foi relatado que em alguns casos a Fazendas Reunidas Itaquena comprava uma área pequena, mas cercava uma área bem maior e tomava posse dela. Outros contam ainda que a introdução dos búfalos contribuiu para o aumento da área da fazenda, pois eles invadiam as roças e as propriedades vizinhas, comendo as plantações e com isso os moradores abandonavam as áreas que passavam a ser incorporadas a propriedade da Fazendas Reunidas Itaquena. No caso específico da área que os indígenas ocupavam, em entrevista com os índios da Aldeia Gravatá foi relatado que eles sofreram ameaças de que queimariam os barracos dos índios se não saíssem da área. Com isso os índios abandonaram a região e migraram para a área próxima a Itaporanga, ainda antes da fundação da TI Imbiriba. Em entrevista, os índios da Aldeia Gravatá afirmaram que mesmo ao morar fora da área, foi mantida a relação deles com aquele território que sempre era visitado pelos índios. Em 2004 os indígenas retornam a essa local e fundaram a Aldeia Gravatá com a presença de três famílias e 17 membros. Desde então, relatam ter recebido uma série de ameaças por parte do Sr. Moacyr de Andrade para que deixassem a área. O Sr. Moacyr de Andrade relatou que buscará verificar as áreas com ocupação ou com posses irregulares ou fraudulentas em sua propriedade para pedir a reintegração de posse dessas áreas. 4.3.2.4) A introdução de bubalinos na área do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades Outra atividade conflitante relativo a Fazendas Reunidas Itaquena refere-se à criação de bubalinos na região próxima ao RVSRF. Essa atividade foi considerada como a principal atividade conflitante pelas pessoas entrevistadas no questionário realizado. Os moradores relacionaram a introdução dos bubalinos a uma série de impactos ambientais que prejudicaram as atividades de subsistências realizadas pelas populações local e indígena.

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Não existe um dado claro sobre a introdução da criação de bubalinos na área do RVSRF. Nos relatos obtidos na entrevista realizada com o Sr. João Lua, com o Sr. Domingos e com o Sr. Moacyr de Andrade foi observado que provavelmente essa criação tenha sido introduzida na região por José Ribeiro em meados do século XX, mas o número de cabeças era baixo, cerca de dez cabeças. A partir da década de 70 quando o Sr. Moacyr passou a administrar a Fazendas Reunidas Itaquena a criação de bubalinos foi ampliada, e chega a mais de 2.000 cabeças. A maior parte dos moradores e proprietários reclama que o rebanho bubalino causa muitos impactos na área do rio dos Frades. Um deles é a poluição hídrica por fezes e urina dos animais que passam a maior parte do dia dentro do rio. Outro impacto é causado pelo movimento ao longo da faixa ciliar do rio que amplia o processo erosivo, o assoreamento e o nível de partículas suspensas nas águas. Os moradores e proprietários afirmam que a partir da introdução dos búfalos na bacia hidrográfica do rio dos Frades a quantidade de peixes no rio foi reduzida, fato que afetou diretamente a fonte de subsistência dos pescadores. Os entrevistados também afirmam que os búfalos invadiram várias áreas de Mata Atlântica, pois são animais que se alimentam de árvores de pequeno porte, comendo inclusive raízes de algumas plantas. Isso aumentou o desmatamento, e reduziu a quantidade de espécies de fauna nativas da região nas áreas de mata. Outra reclamação constante dos proprietários é a de que os búfalos invadiam as suas propriedades e destruíam suas áreas de lavoura, o que causava grandes prejuízos econômicos aos produtores locais. 4.3.2.5) Conflitos Sociais com a gestão do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades A gestão de uma UC introduz uma nova forma de ordenamento territorial, que implica em mudanças no uso do solo e nas atividades que as pessoas realizam em suas propriedades. Por isso é comum a existência de situações conflitantes entre a população local e a administração das unidades de conservação em diferentes regiões do Brasil. As unidades de conservação que permitem a permanência de propriedades particulares possuem uma gestão mais complexa, visto que a UC mantém populações no seu interior que devem realizar atividades compatíveis com o objetivo da unidade. É fundamental que se realize um amplo trabalho de conscientização com a população local para que se minimizem possíveis conflitos entre a gestão ambiental e a população local. Nos questionários aplicados com os moradores e proprietários da área do RVSRF os conflitos citados com a administração do RVSRF referem-se à área da ocupação da Aldeia Gravatá, a áreas de ocupação na foz do rio dos Frades e a criação de bubalinos na região. A situação conflitante identificada na área da ocupação Gravatá tem como pano de fundo a questão da posse da terra, uma vez que os índios requerem o direito a propriedade particular da área ocupada que se encontra na propriedade Fazendas Reunidas Itaquena. Os funcionários do ICMBio consideram essa ocupação como irregular, por acreditarem que as construções precárias se deram após a criação da UC, por isso houveram notificações para que os índios deixassem a área ocupada. Além disso, os funcionários do ICMBio relataram que houve autuações devido ao corte de madeira e queimada de vegetação. Esse conflito entre os fiscais do ICMBio e os ocupantes da Aldeia Gravatá foi citado nas entrevistas realizadas com os índios Railton Braz e Crispiniana que ocupam essa área e esclarecido em entrevista realizada com a chefe do RVSRF Suiane Brasil. Nas áreas de posse localizadas na foz do rio dos Frades existem também essas situações conflitantes. O principal fator, assim como na área indígena é a questão da posse da terra, visto que essas áreas não são escrituradas e em alguns casos ocupam as terras de marinha e seus acrescidos. Nos questionários foram relatadas situações conflitantes envolvendo a caça (em especial de tartarugas) e o desmatamento. Assim como a palavra “ameaça” foi usada pelos entrevistados, o que pode indicar que essas pessoas se sentem de alguma forma constrangidas pela presença do órgão ambiental como agente fiscalizador.

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Como esse termo “ameaça” foi recorrente nas entrevistas e ocorreu também em áreas em que os proprietários possuem a escritura, e a equipe do ICMBio informou que em momento algum realizou ameaças aos moradores do RVSRF esse fato aponta a necessidade de se haver um trabalho de conscientização com a população sobre as atividades permitidas e proibidas. Isto é necessário para que elas possam ter clareza do papel dos funcionários do ICMBio como fiscais ambientais que devem cumprir a legislação, em alguns casos com autuação dos moradores, e de que isso não representa ameaça. Ao se trabalhar com uma população com baixo índice de escolaridade e pouco esclarecida sobre a legislação vigente, a conscientização pode ser uma forma eficaz de reduzir esse contexto conflitivo que foi diagnosticado nas entrevistas realizadas. A mobilização dos moradores e proprietários para a elaboração do Plano de Manejo deve ser outro indicativo prioritário, já que este se constituirá em uma legislação própria da UC e que regulamentará e ordenará os usos realizados pelos moradores e proprietários. Esse processo é fundamental para que a construção do Plano de Manejo não seja um processo que agrave esse contexto. Foi relatada também como situação conflitante a criação de bubalinos na região. Na visão do responsável pelas Fazendas Reunidas Itaquena essa atividade é realizada a várias décadas na região e ele relata que o ICMBio tem buscado coibir essa atividade na região pelos impactos que ela pode causar a área próxima ao RVSRF. Nesse contexto já houve a retirada de búfalos, mas atualmente essa atividade foi liberada através de um liminar concedida pela justiça ao proprietário. 4.3.2.6) Presença de macroestruturas e prestação de serviços no Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades De acordo com os levantamentos de geoprocessamento na área do RVSRF e de sua ZA as principais próteses espaciais referentes à infraestrutura referem-se a linha de transmissão de energia elétrica, serviço telefônico e abastecimento de água (Figura 44). Existe ainda na área da ZA do RVSRF a estrada Trancoso-Caraíva que é o principal acesso da população de Itaporanga e da TI Imbiriba às localidades de Trancoso e a sede do município de Porto Seguro. No interior do Refúgio se observa também a presença de estradas vicinais, todas sem pavimentação, que dão acesso aos moradores do interior do RVSRF a localidade de Itaporanga e a rodovia Trancoso-Caraíva. 4.3.3) Atividades realizadas na Zona de Amortecimento do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades Dentre as atividades econômicas realizadas no povoado de Itaporanga as lideranças comunitárias e pessoas entrevistadas deram maior ênfase ao turismo e ao artesanato. No caso do turismo é uma atividade que se desenvolveu sob dois aspectos. Um deles refere-se à oferta de empregos gerada a partir da expansão do turismo de alto poder aquisitivo nas áreas próximas a Itaporanga como nos condomínio de Itapororoca e Outeiro das Brisas e no Resort Jacumã. Esse crescimento gerou uma oferta de empregos em diversos setores como a construção civil e a prestação de serviços como diaristas, domésticas, jardineiros, vigias, entre outros. Estas atividades relacionadas ao turismo são expressivas entre a população economicamente ativa de Itaporanga. A outra atividade referente ao turismo observada em Itaporanga refere-se ao fluxo de turistas a caminho da Praia do Espelho, onde muitos fazem uma parada e fortalecem o setor de comércio e o artesanato local. Como se observa um crescimento das atividades turísticas em todo o município de Porto Seguro essa atividade pode se expandir nos próximos anos nas áreas próximas de Itaporanga. Essa área tem menor adensamento demográfico e tende a ser usada para a expansão do turismo de alto padrão, como já observado nos condomínios de luxo construídos na ZA do RVSRF. Esse processo tem elevado à especulação imobiliária da região, que pode se tornar ainda mais expressiva nos próximos anos. Nas entrevistas realizadas em campo pode-se constatar que existe uma grande visão da população de Itaporanga e também da TI Imbiriba de se desenvolver um turismo de base local,

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que ampliaria a geração de emprego e renda para a população da área. Para isso a região possui dois grandes potenciais de uso turístico que são a presença da Aldeia Pataxó Imbiriba e as áreas de praias, em especial a praia da Barra e a praia de Itaquena. Figura 44 - Infraestrutura do município de Porto Seguro com destaque para a área do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades e sua Zona de Amortecimento.

Entretanto, para que se desenvolva um projeto de uso turístico na região é necessário promover um diálogo com os donos das propriedades privadas que dão acesso as praias. Para o desenvolvimento do turismo na área da ZA do RVSRF é fundamental que se crie uma infraestrutura básica para a realização dessa atividade. Assim, a construção de pousadas e restaurantes é essencial para a prestação de serviços aos turistas e frequentadores da área. Para que isso ocorra é necessário que se realize uma regularização da situação fundiária na comunidade para que as pessoas tenham acesso a financiamentos para a construção de empreendimentos em infraestrutura de serviços. É essencial também que o poder público esteja presente nesse processo, a fim de que tudo ocorra de maneira ordenada. É importante que não haja ocupação de áreas irregulares e que se construa uma infraestrutura adequada, com saneamento básico, melhoria nas vias de acesso e nos meios de comunicação dessa região. Outra atividade expressiva encontrada na ZA do RVSRF é o artesanato, desenvolvido tanto pelos índios da TI Imbiriba quanto pela população de Itaporanga. Essa atividade atende ao consumo de alto padrão, em iniciativas realizadas na comunidade de Itaporanga e ao turismo mais popular realizado na Aldeia Imbiriba e em alguns locais de Itaporanga. O artesanato de alto padrão compreende a fabricação de peças com madeira de boa qualidade (Figura 45) ou ainda artefatos com bom acabamento. Em Itaporanga foram visitadas duas áreas que trabalham com esse tipo de artesanato: Instituto Joana Moura e o Palmas Arte Coco Artesanato. As peças são comercializadas em Itaporanga ou através de pedidos pela internet.

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Figura 45 - Fabricação de peças em madeira de alto padrão em Itaporanga (Coordenadas E 484528 N 8157958).

Já o artesanato mais popular é realizado principalmente a partir do uso de fibra de coco e comercializado em lojas localizadas na entrada da TI Imbiriba (ver Figura 29). As atividades agrícolas são pouco expressivas no contexto da área da ZA do RVSRF. Em Itaporanga quase não se observa áreas agrícolas. Contudo, na Aldeia Pataxó Imbiriba existe uma pequena produção agrícola em especial de mandioca. Entretanto, os líderes da Aldeia dizem que a falta de assistência técnica dificulta o desenvolvimento da agricultura na aldeia. Dentre os principais cultivos realizados na área da ZA do RVSRF estão a produção de mandioca e coco. 4.3.3.1) Atividades impactantes na Zona de Amortecimento do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades Assim como na área do RVSRF a ZA também apresenta como atividade impactante a falta de saneamento básico. Nas entrevistas realizadas em Itaporanga e na TI Imbiriba os moradores relataram que muitas casas não têm tratamento de esgoto e as outras têm fossa comum, sem haver filtro e sumidouro. Esse fato pode gerar impactos sobre os recursos naturais da ZA e da UC devido à contaminação dos cursos hídricos e do lençol freático dentro do RVSRF. Outras atividades impactantes observadas foram as queimadas ao longo das vias de acesso e rodovias (Figura 46), que em alguns casos se estendem para as áreas da ZA do RVSRF. Essas queimadas causam impactos sobre a fauna e flora local, afetando também a biodiversidade, além de contribuir para a poluição atmosférica. A expansão dos loteamentos em Itaporanga em direção ao RVSRF (Figura 47) é outra atividade que pode vir a causar impactos na ZA. Esta expansão ocorre de forma “desordenada”, sem que haja planejamento dessas atividades ou a implantação de políticas públicas e de serviços básicos (como rede de água e esgoto) para atender a essas novas residências. Portanto, os problemas observados no povoado pela falta de tratamento de esgoto e pela poluição dos recursos hídricos tendem a se agravar com a expansão desordenada da comunidade e pelo alto crescimento demográfico. Essa expansão desordenada pode também causar uma pressão antrópica sobre a área do RVSRF pelo fato dessa área estar muito próxima aos limites da UC e de sua ZA. Essa pressão pode ocorrer por diversos fatores como visitação clandestina ou mesmo com a realização de atividade proibidas como a caça.

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Figura 46 - Área de queimada irregular na estrada Trancoso-Caraíva e na estrada de terra de Itaporanga em direção ao Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades (Coordenadas E 484617 N 8157151).

Figura 47 - Área de expansão no povoado de Itaporanga (Coordenadas E 485226 N 8157688).

4.3.4) Atividades realizadas na Região da Unidade de Conservação Atualmente a principal atividade econômica do município de Porto Seguro é o turismo. Esse dado pode ser observado na participação do setor de serviços no PIB do município (Tabela 35). O PIB total de Porto Seguro em 2010 foi de 961 milhões e 965 mil reais e o PIB per capita do município apresentado foi de 7.588,27 reais (IBGE, 2013). Tabela 35 - Produto Interno Bruto de Porto Seguro levantado no Censo Demográfico de 2010.

Setor Valor adicionado (mil reais) Percentual

(%)

Agropecuária 94.030 10

Indústria 115.336 12

Serviços 674.685 70

Impostos 77.914 8

Total 961.965 100 Fonte: Censo, 2010

4.3.4.1) Agropecuária De acordo com o Censo Agropecuário de 2006, o município de Porto Seguro possui 4.076 pessoas ocupadas em atividades agrícolas, onde 2.056 (50,4%) realizam atividades de agricultura familiar e 2.020 (49,6%) estão ocupadas em outras formas de agricultura não familiar. Embora esses dados apontem para uma grande importância da agricultura familiar no município, não se pode dizer que Porto Seguro possua uma estrutura fundiária bem distribuída. Ao analisar esse tema no município o RIMA da empresa Veracel (CEPEMAR, 2011) utilizou o índice de Gini,

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indicador normalmente usado com o objetivo de verificar a distribuição da posse da terra e, portanto, o seu grau de concentração fundiária. A tabela 36 mostra as diferentes intensidades que assume o Índice de Gini. Tabela 36 - Escala de alteração da estrutura fundiária de acordo com o Índice de Gini.

Índice de Gini Classificação

Até 0.100 Concentração Nula De 0.101 a 0.250 Concentração Fraca De 0.251 a 0.500 Concentração Média De 0.501 a 0.700 Concentração Forte De 0.701 a 0.900 Concentração Muito Forte Acima de 0.900 Concentração Tendendo a Absoluta

No município de Porto Seguro houve um aumento da concentração de terras expressa através do Índice de Gini entre 1996 e 2006 (Tabela 37). Tabela 37 - Evolução do Índice de Gini em Porto Seguro.

Município Índice de Gini Nível de Concentração em

2006 1996 2006 Alteração

Porto Seguro 0.7452 0.8626 Aumento Muito Forte

Fonte: IBGE – Censos Agropecuários de 1995/96 e 2006 – apud CEPEMAR, 2011.

A estrutura fundiária representa uma ferramenta essencial para se analisar as questões sobre a produção agrícola dos municípios. A sua análise utiliza as informações provenientes dos censos agropecuários do IBGE que indicam a forma pela qual os produtores (proprietários, ocupantes, arrendatários e parceiros) ocupam tal espaço. Usa-se também as estatísticas cadastrais levantadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) que permitem determinar a distribuição do espaço fundiário entre os detentores (proprietários e posseiros) (CEPEMAR, 2011). O fator de classificação da propriedade utiliza a definição do módulo fiscal, que é uma unidade de medida expressa em hectares, fixada para cada município a partir dos seguintes fatores: a) tipo de exploração predominante no município; b) renda obtida com a exploração predominante; c) outras explorações existentes no município que, embora não predominantes, sejam significativas em função da renda e da área utilizada; e, d) o conceito de propriedade familiar (CEPEMAR, 2011). Através da análise desses dados o INCRA estabelece a classificação dos imóveis rurais a partir de seu tamanho, em módulos fiscais (Tabela 38). Os módulos fiscais são individualizados por municípios e seu tamanho varia de acordo com a qualidade do solo, das condições climáticas, do tipo de produção e do acesso ao mercado consumidor. No município de Porto Seguro um módulo fiscal é de 35 ha (Landan et al., 2012). Tabela 38 - Classificação das propriedades rurais por módulos fiscais.

Classificação Tamanho

Minifúndio Menor de um Módulo Fiscal Pequena Propriedade Entre um e quatro Módulos Fiscais Média Propriedade Entre quatro e 15 Módulos Fiscais Grande Propriedade Maior que 15 Módulos Fiscais

Fonte: CEPEMAR, 2011

Esse amplo processo de concentração de terras pode ser observado também a partir da análise da área ocupada por cada tipo de propriedade. Nos dados referentes ao Extremo Sul da Bahia, região onde está inserido o município de Porto Seguro, nota-se que embora tenha importância na mão-de-obra empregada, que é superior a 50% em Porto Seguro a agricultura familiar realizada de forma geral em minifúndios e pequenas propriedades é responsável por apenas 20% da área agrícola que corresponde a 71% do total de imóveis (Tabela 39).

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Tabela 39 - Distribuição do número de imóveis e área total segundo a categoria de imóvel rural na Região Extremo Sul da Bahia em dezembro de 2005.

Classificação dos Imóveis Extremo Sul da Bahia

Total de Imóveis % Área (ha) %

Minifúndio 2.941 35,36 46.852 3,87

Pequena Propriedade 2.973 35,75 196.856 16,3

Média Propriedade 1.580 19 398.321 32,9

Grande Propriedade 597 7,18 559.592 46,2

Não classificados* 226 2,72 10.063 0,83

Total 8.317 100 1.211.683 100

* Imóveis rurais que não possuem informações de área explorável ou com informação de área divergentes entre os Formulários Dados sobre Estrutura e Dados sobre Uso

Fonte: INCRA/DF/DFC - Apuração Especial nº 00588 - SNCR - Dez/05 apud CEPEMAR, 2011.

Na lavoura temporária destaca-se a produção de abacaxi, cana-de-açúcar, mandioca e melancia no município de Porto Seguro (Tabela 40). Tabela 40 - Lavoura temporária em Porto Seguro nos anos de 2002, 2008 e 2011.

Principais Produtos

Área colhida (ha) Quantidade produzida Valor da

produção (mil reais)

2002 2008 2011 2002 2008 2011 2008 2011

Abacaxi (mil frutos) 20 60 105 440 1.320 2.100 343 1.428

Cana-de-açúcar (t) 150 213 238 6.000 8.520 9.520 298 476

Mandioca (t) 1.200 985 720 14.400 11.820 8.640 1.418 1.814

Melancia (t) 75 20 - 1.200 360 - 158 -

Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal – 2002 e 2008 apud CEPEMAR, 2011 adaptada com dados de 2011 (IBGE, 2013) Na lavoura permanente a produção de mamão, coco e borracha ocupam a maior área cultivada. Porto Seguro produz ainda banana, cacau, café, goiaba, limão, pimenta-do-reino e urucum (Tabela 41). Tabela 41 - Lavoura permanente em Porto Seguro no ano de 2011.

Principais Produtos Área colhida

(ha) Quantidade produzida

Valor da produção (mil reais)

Banana (t) 58 406 332

Borracha (látex coagulado) (t) 2.000 1.200 2.880

Cacau (em amêndoa) (t) 738 185 949

Café (em grão) (t) 585 351 1.263

Coco-da-bahia (mil frutos) 2.000 10.000 4.600

Goiaba (t) 45 1.575 1.260

Limão (t) 28 336 161

Mamão (t) 2.005 136.340 111.798

Maracujá (t) 46 690 489

Pimenta-do-reino (t) 60 240 972

Urucum (semente) (t) 80 112 145

Fonte: IBGE, 2013

A pecuária apresenta maiores valores referentes as criações de bovinos, bubalinos, suínos e aves (Tabela 42). Os dados do IBGE (2013) sobre a Produção Pecuária Municipal de 2011 indica a existência de outras criações com menor quantidade de cabeças como os equinos (570), muares (230), caprinos (290) e asininos (270).

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Nota-se que a pecuária bovina apresentou queda acentuada no período entre 2002 e 2011 no município, enquanto os outros tipos de rebanho apontam para a estabilidade. Tabela 42 - Evolução dos principais rebanhos da pecuária em Porto Seguro.

Tipo de rebanho Ano

2002 2008 2011

Bovino 65.522 50.438 40.300

Bubalino - 3.460 3.400

Suíno 1.467 1.635 1.480

Aves 21.849 18.710 19.860

Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal – 2002 e 2008 apud CEPEMAR, 2011 adaptada com dados de 2011 (IBGE, 2013)

Outra atividade econômica realizada em Porto Seguro é a silvicultura voltada à fabricação de papel e celulose. De acordo com o IBGE (2013) o estado da Bahia responde por 20,5% da produção nacional de celulose, e no estado o município de Porto Seguro perfaz 2,8% da produção, fato que o coloca na 9ª posição do ranking estadual dessa atividade. 4.4) ALTERNATIVAS DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL 4.4.1) Alternativas e atividades sustentáveis realizadas na área do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades A área do RVSRF apresenta-se com elevado grau de conservação dos recursos naturais. Não se observa dentro do Refúgio nenhuma atividade de grande impacto ambiental. Assim, a principal forma de manter esse elevado grau de conservação dos recursos naturais é ordenar as atividades realizadas e evitar a ocupação sem controle da área. 4.4.1.1) Atividades econômicas de baixo impacto realizadas na Unidade de Conservação A maior parte das atividades econômicas realizadas pelos proprietários e moradores do RVSRF é de baixo impacto e se forem ordenadas e manejadas de forma correta não oferecem riscos a conservação dos recursos naturais da unidade. Essas atividades já foram analisadas anteriormente e serão apenas identificadas como atividades de baixo impacto realizadas no RVSRF. Através dos questionários realizados, podem-se destacar três atividades: pesca, agricultura e artesanato. A pesca é uma importante atividade econômica realizada pelos moradores da UC e foi indicada por seis entrevistados como a principal fonte de renda familiar. Os entrevistados relataram que a pesca é realizada em sua maior parte no mar e em alguns casos também no rio dos Frades. A pesca é feita artesanalmente com redes e os entrevistados afirmaram respeitar os períodos de defeso. As atividades agrícolas foram indicadas por quatro entrevistados como a principal fonte de renda. Observa-se na região um modelo de agricultura familiar de subsistência, voltado ao consumo familiar com a comercialização em pequena escala dos excedentes. Os principais cultivos são o coco e a mandioca e não foi relatado o uso de insumos químicos pelos entrevistados. O artesanato foi apontado como importante atividade econômica em duas entrevistas com moradores. Essa atividade é realizada a partir do uso de coco e palha de dendê, onde eles relatam que não existe um extrativismo predatório e impactante na região. 4.4.1.2) Atividades econômicas com alto potencial para o desenvolvimento no Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades Além das atividades de baixo impacto que já são realizadas no RVSRF é importante que se planeje a introdução de novas atividades que se constituam em alternativas sustentáveis para a geração de renda das populações do interior da UC.

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Para isso é fundamental que ocorram estudos de viabilidade de quais atividades alternativas são viáveis ao RVSRF, os possíveis impactos que podem causar, as áreas mais indicadas para a sua realização a partir do Zoneamento da UC, entre outras ações. Nos questionários realizados a principal atividade citada como alternativa foi o turismo, onde o ecoturismo foi indicado por nove entrevistados e o turismo rural por três entrevistados. Dentre as principais potencialidades para o uso turístico na região do RVSRF pode-se citar: - ecoturismo: potencialidade de aproveitamento das áreas costeiras, com áreas de beleza cênica, trilhas ecológicas na área da restinga e passeio de barco no rio dos Frades; - turismo rural: desenvolvimento de hotéis-fazenda, atividades esportivas e de recreação, visita a áreas de produção agrícola, visita a áreas de criação de animais, passeios a cavalo, hortas orgânicas, realização de oficinas de compostagem, entre outras; - turismo de aventura: canoagem, passeios de bugre e moto e trilhas em áreas de difícil acesso; - turismo científico: realização de pesquisas acadêmicas, observação de espécies de fauna e levantamento da biodiversidade local. O turismo tem sido uma alternativa muito utilizada nos planos de ordenamento para unidades de conservação, visto que o uso indireto dos recursos naturais tende a contribuir para a preservação dos mesmos. No entanto, se essa atividade for desenvolvida sem um planejamento e ordenamento ambiental, pode prover impactos irreversíveis ao ambiente, através da poluição dos cursos hídricos, do descarte inadequado de resíduos, da ação antrópica sobre a fauna e flora em trilhas em área de mata fechada, entre outros. Para isso, é fundamental que o desenvolvimento de cada uma dessas atividades seja precedido de um estudo de impacto ambiental que analise se a prática dessas atividades é viável e se não causará danos aos recursos naturais da UC. Ainda nesse contexto é importante que os projetos para o uso turístico identifiquem quais são os setores responsáveis e as parcerias propostas para a manutenção da qualidade ambiental dentro da UC. Assim, é fundamental que se construa um plano de ordenamento do uso turístico que conte com a participação dos proprietários, do poder público, das empresas prestadoras de serviços, da sociedade civil organizada e do setor privado. Nesse plano devem ser indicadas as responsabilidades e o comprometimento de cada setor para o uso sustentável do turismo na UC, como a coleta de lixo, a manutenção das vias de acesso e trilhas, o tratamento de esgoto produzido, etc. É necessário também que as atividades turísticas propostas sejam compatíveis com os objetivos de criação do RVSRF e que sejam identificadas as áreas mais propícias para sua realização através do Zoneamento Ambiental elaborado no Plano de Manejo da UC. Outra atividade alternativa que tem um potencial de uso no RVSRF é a agroecologia. A maior parte das propriedades já desenvolve atividades ligadas a agricultura, que possui uma relação íntima com a agroecologia. Esta não pode ser considerada como uma prática isolada, ela é uma forma alternativa de desenvolvimento da agricultura familiar que pode ser socialmente justa, economicamente viável e ecologicamente sustentável. Esse fato reforça a viabilidade de aplicação dessa atividade em áreas destinadas a conservação ambiental. Diversas formas de manejo que envolve consórcios entre cultivos, criações e árvores são consideradas como técnicas agroflorestais e formam uma miríade de tecnologias, que incluem formação de hortas agroflorestais, sistemas de pastoreio em consórcio com árvores, manejo florestal e sistemas agroflorestais sucessionais. Comparando as práticas agroecológicas com as agroflorestais, destacam-se nas primeiras o uso de cobertura morta, diversificação de cultivos, rotação de culturas, consórcios que podem envolver ou não componentes florestais, uso de insumos e defensivos alternativos e nas outras o pousio, o uso de cercas e aceiros vivos, os quintais agroflorestais, consórcios com cultivo de café, fruteiras

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e árvores, ou ainda cacau, pimenta do reino, plantas ornamentais, entre outros sistemas de consorciamento produtivos com a manutenção das áreas florestadas. Dentro da introdução dos Sistemas Agroflorestais (SAF) podem ser considerados os sistemas extrativistas, que retiram da floresta plantas medicinais, madeiras, frutas, palmitos, entre outros. A identificação dos consórcios potenciais e do momento das espécies na sucessão natural possibilita um manejo sucessional que garante a manutenção da biodiversidade local e gera renda para as populações locais. Deste modo, o planejamento e o acompanhamento de áreas implantadas ou manejadas, assim como a estratégia de manejo definida que considere os impactos possíveis, são imprescindíveis para a implantação dos SAF. Outra atividade agroecológica potencial para a área do RVSRF é a formação de quintais agroflorestais, onde se mesclam hortícolas, fruteiras, medicinais e criações de animais, que aproveitem pequenos espaços próximos às casas. Essa atividade típica da agricultura familiar foi observada nas propriedades do interior da UC e podem ser aproveitadas como fonte alternativa de renda para as populações locais. É possível ainda através de estudos técnicos elaborar projetos de manejo sustentável dos recursos não madeireiros da floresta, que podem ser utilizados na produção e comercialização de ervas e sementes, no artesanato local, entre outros usos tradicionalmente desenvolvidos pela população local. A discussão sobre serviços ambientais é um tema atual e tem repercutido no cenário nacional e internacional como uma forma de garantir a manutenção e a conservação dos recursos naturais no Planeta. Esta agregação de valor pode ser dada pelo não uso do recurso ou pelo tipo de uso e ainda pelo tipo de sistema produtivo em que são considerados itens como qualidade, origem e manejo do produto. Podem ser adotadas várias definições para o conceito de serviços ambientais. Na visão de Daily et al. (1997) são serviços prestados pelos ecossistemas naturais e as espécies que os compõem, na sustentação e preenchimento das condições para a permanência da vida humana na Terra. Através de estudos realizados pela Organização das Nações Unidas (ONU), os Serviços Ambientais podem ser classificados em materiais e imateriais. Os Serviços Ambientais Materiais (SAM) são bens (ou serviços) ambientais que têm por finalidade “medir, prevenir, limitar, minimizar ou corrigir danos ambientais à água, ao ar e ao solo, bem como os problemas relacionados ao desperdício, poluição sonora e danos aos ecossistemas” (Daily et al., 1997). De acordo com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) fazem parte desses serviços atividades como tratamento de água e esgoto, serviços de eliminação de lixo, limpeza e manutenção de propriedades públicas e serviços sanitários, assim como outras vinculadas ao meio ambiente, como ecoturismo e serviços para aprimorar e melhorar a utilização de recursos naturais. Já os Serviços Ambientais Imateriais (SAI) são aqueles ligados de fato ao conceito mais amplamente aceito de “serviços”, ou seja, benefícios não materiais. De acordo com os estudos realizados pela ONU e publicados no levantamento Millenium Ecosystem Assessment (2005), os serviços ambientais imateriais podem ser divididos em quatro grupos. - De provisão: é aquele que prevê a capacidade de prover bens como água, frutas, raízes, castanhas, fitofármacos, mel, madeira, as fibras e a matéria prima para a geração de energia (lenha, carvão e óleos). - Reguladores: são os benefícios obtidos a partir de processos naturais que regulam as condições ambientais como a capacidade das plantas de realizar a captação do CO2 atmosférico; controle de enchentes e erosão; purificação e regulação dos ciclos da água; controle de pragas e doenças. - Culturais: são os benefícios educacionais, recreativos, estéticos e espirituais que os ecossistemas propiciam aos seres humanos.

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- De suporte: são os que contribuem com outros serviços como para a formação de solos, ciclagem de nutrientes, polinização e dispersão de sementes. Os serviços ambientais têm sido utilizados como base para a definição de políticas públicas estratégicas para a conservação dos recursos naturais e vários trabalhos técnico-científicos mostraram a tendência para sua valoração. Peixoto (2011) afirma que para muitos serviços ambientais os preços de mercado não existem e, portanto, é difícil quantificar sua importância ou estimar seu valor. O valor econômico total de um serviço ambiental pode ser estimado a partir dos diferentes tipos de uso que damos a eles: uso direto, uso indireto e o valor de se manter aberta a opção de usá-los mais tarde. O Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) é definido por Wunder (2008) como uma transação voluntária, na qual um serviço ambiental bem definido, ou um uso da terra que possa assegurar este serviço, é adquirido por, pelo menos, um comprador de no mínimo, um provedor, sob a condição de que ele garanta a provisão do serviço (condicionalidade). Os elementos para PSA são definidos em: provedor (quem conserva e por isso é recompensado) e comprador (responsável pela demanda e quem paga pelos serviços ambientais). As Modalidades de Remuneração podem ser: mercado de carbono (IPAM, 2013), Imposto sobre circulação de mercadorias (ICMS) ecológico, Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD+), projetos de proteção de recursos hídricos, Produtores de Água (ANA, 2013)3, formalização em Comitês de Bacias, desmatamento evitado, Bolsa Florestal (FAZ, 2013)4, PROAMBIENTE (MMA, 2013)5, Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL) (IPAM, 2013), Créditos de Carbono (inclusive de ecossistemas agrícolas) e Desmatamento Zero (Desmatamento, 2013)6. A introdução de Programas voltados ao PSA possibilita aos proprietários uma remuneração econômica pela preservação dos recursos naturais, o que torna essa atividade viável tanto para a qualidade ambiental quanto para a geração de renda das populações locais, fato que tem sido uma busca constante das unidades de conservação que possuem moradores em seu interior. Para a introdução desses projetos na área do RVSRF é fundamental que se desenvolva um trabalho de conscientização com os proprietários acerca dos benefícios econômicos e ambientais que o PSA trará para a UC. Há também a necessidade de se capacitar a sociedade civil organizada para auxiliar nesse processo, para escrever e desenvolver esses projetos. Existe ainda a possibilidade de o PSA ser realizado a partir de outras atividades econômicas das propriedades como a introdução de práticas agroecológicas e sistemas agroflorestais que mantenham florestas em pé, captem carbono, contribuam para a conservação dos recursos hídricos, etc. 4.4.2 Alternativas para atividades impactantes As atividades impactantes sobre a UC identificadas nesse estudo referem-se sobremaneira a atividades ilegais como a caça e a falta de políticas públicas e serviços básicos como o saneamento básico que geram a poluição dos recursos naturais.

3 O Produtor da Água é uma iniciativa da Agência Nacional das Águas (ANA) que tem como objetivo a redução da

erosão e assoreamento dos mananciais (ANA, 2013). 4 O Programa Bolsa Floresta (PBF) tem como objetivo recompensar e melhorar a qualidade de vida das populações

tradicionais pela manutenção dos serviços ambientais prestados pelas florestas tropicais, reduzindo o desmatamento e valorizando a floresta em pé (FAZ, 2013). 5 O Programa PROAMBIENTE tem como objetivo promover o equilíbrio entre a conservação dos recursos naturais e

produção família rural, por meio de gestão ambiental territorial rural, do planejamento integrado das unidades produtivas e da prestação de serviços ambientais (MMA, 2013). 6 Campanha para levar uma lei de iniciativa popular ao Congresso, para acabar com o desmatamento no Brasil

(Desmatamento, 2013).

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No que se refere às atividades produtivas realizadas na área do RVSRF como a agricultura familiar, a pesca artesanal e as iniciativas de artesanato, foram consideradas como atividades de baixo impacto e já foram consideradas no item anterior. Os dados levantados a partir dos questionários aplicados com os moradores e proprietários do RVSRF apontam como principal atividade impactante as criações comerciais (criação de bubalinos). O Plano de Manejo do RVSRF deverá realizar estudos técnicos que avaliem a viabilidade ou não desse tipo de criação na ZA do RVSRF. Deverá indicar também quais as ações de manejo necessárias para essa atividade como a proteção das áreas de mata ciliar, Áreas de Preservação Permanente (APP), áreas de mata fechada, etc. Caso o estudo técnico avalie que essa atividade não é viável para a ZA do RVSRF as alternativas econômicas deverão ser indicadas em parceria com o proprietário desse rebanho. Podem-se citar como alternativas potenciais a criação de pecuária bovina, o uso turístico (turismo rural), a implantação de sistemas agroflorestais e o PSA, de forma que o proprietário não perca sua geração de renda com a propriedade, mas possa realizá-la em compatibilidade com os objetivos de criação do RVSRF. 4.5) ENVOLVIMENTO DOS GRUPOS SOCIAIS COM A UNIDADE DE CONSERVAÇÃO 4.5.1) Os grupos de interesse que atuam na área do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades, sua visão e relação com a Unidade de Conservação No RVSRF o principal grupo de interesse primário é composto pelos moradores e proprietários das áreas sobrepostas a UC. São eles que desempenham atividades econômicas dentro da UC, como já indicado nesse diagnóstico. A população que reside ou tem propriedades no interior do RVSRF apresenta pouco ou nenhuma articulação em organizações sociais. Dos 13 entrevistados, nove pessoas afirmaram não participar de nenhuma associação e apenas quatro afirmaram participar de associações. Dentre as associações citadas estão a Associação de Moradores de Itaporanga, a Associação de Moradores da TI Imbiriba, a Associação de Pescadores de Porto Seguro, a Empresa Coco Bahia e o Rotary Clube. Nos questionamentos feitos sobre o conhecimento de alguma instituição que participa do Conselho Consultivo do RVSRF sete pessoas relataram não conhecer nenhuma instituição e apenas cinco afirmaram ter esse conhecimento. As associações que participam do conselho que são conhecidas pela população do RVSRF são a Associação de Moradores de Itaporanga (três entrevistados) e a Associação de Moradores da TI Imbiriba (um morador). Quando questionados se as associações locais possuem uma participação efetiva na gestão do RVSRF, seis pessoas responderam que sim e outras sete pessoas optaram em não responder essa pergunta. Ao serem questionados se eles se sentem representados no Conselho Consultivo da UC seis afirmaram que sim, três relataram que não e quatro optaram por não responder a questão. A organização dos moradores e proprietários de forma a representar a sociedade civil organizada é um processo essencial para a democratização do Conselho Consultivo e da gestão participativa da UC. Instituído há dois anos o Conselho Consultivo tem sido um espaço de diálogo que tem auxiliado na resolução de conflitos na UC, bem como na redução da distância entre os gestores e a população local. Sabe-se que esse é um trabalho difícil e que deve ser sempre fomentado, pois a participação da população local no Conselho Consultivo gera esclarecimentos sobre os diversos temas que envolvem a UC e facilitam as ações de gestão e planejamento da UC. Embora não se apresentem estruturados em associações próprias, através dos questionários, das entrevistas e pela identidade entre as atividades e anseios indicados pelos moradores e proprietários a consultoria buscou identificar e distinguir diferentes grupos de interesse primário no RVSRF a fim de facilitar a compreensão desse processo.

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Os grupos de interesse formados a partir dos dados de campo como entrevistas e questionários estão apresentados a seguir. Grupo A: Proprietários em que a base das atividades econômicas da propriedade é a agricultura familiar, a pecuária de pequeno porte (ex. aves e suínos) para consumo próprio ou a pesca artesanal e que possuem o título da área. Ao serem questionados sobre o significado e da importância da UC os entrevistados desse grupo relataram que o RVSRF é importante na região para a proteção dos recursos naturais e pela possibilidade de evitar problemas sociais através da normatização do uso do solo. Quando perguntados sobre a relação com a UC e seus servidores a maior parte desse grupo destacou que a relação é boa e tranquila, mas foi destacado que no passado essa relação já foi muito mais animosa na forma como os gestores do RVSRF abordavam a população local. Quanto às expectativas desse grupo em relação à UC de ganhos econômicos não existe uma coesão entre os entrevistados. Alguns entrevistados relataram que tem esperança de ter melhorias e outros indicaram que se espera muito, mas que até agora não houve nenhuma melhoria. Outros relataram que não tem muitas esperanças de ter alguma melhora de sua vida a partir da criação do RVSRF. Na pergunta que considerou se a criação do RVSRF alterou as atividades dos entrevistados observou-se que de um modo geral não houve nenhuma mudança expressiva em suas vidas. Apenas um pescador relatou que assim que iniciou a gestão do RVSRF queriam proibir que eles pudessem pescar, mas que depois isso voltou ao normal. Esse grupo apresenta interesses complementares sobre as atividades realizadas, baseadas em especial no desenvolvimento agrícola em suas propriedades. Podem-se desenvolver atividades conjuntas de turismo rural nessas propriedades, onde cada uma desenvolva um atrativo ao uso turístico, como passeio de barco pelo rio, passeio à cavalo, hortas orgânicas, alternativas de lazer, etc. Os interesses concorrentes e conflitantes identificados nos questionários relativos a esse grupo referem-se às criações comerciais de bubalinos desenvolvidas na região pelas Fazendas Reunidas Itaquena. Nas entrevistas realizadas foi relatado que os búfalos invadiam as roças desses proprietários e resultava em perdas da produção. Segundo os entrevistados a introdução dos bubalinos alterou a dinâmica fluvial e reduziu a quantidade de peixes no rio dos Frades. Algumas dessas propriedades também apresentam situações conflitantes sobre a sobreposição de áreas com as Fazendas Itaquena, tema já abordado no tópico 2.3. Grupo B: Propriedades em que a base das atividades econômicas é a pecuária comercial com o título da área. Esse grupo de interesse possui uma compreensão de que o RVSRF possui uma importância para a preservação da região, mas que deve haver uma proposta de desenvolvimento sustentável para que as atividades econômicas possam continuar a serem desenvolvidas sem que degradem os recursos naturais. Na análise sobre a relação dos entrevistados com a UC e os seus gestores foi relatado que a administração da unidade tem se fechado cada vez mais. Destacou-se ainda que não são apresentados de forma clara os recursos, orçamento e gastos com a gestão da UC. Esse grupo apresenta como principal expectativa em relação a criação da Unidade o processo de valorização das terras próximas ao RVSRF (na sua ZA e Região), o que indica o processo de especulação imobiliária, característica marcante dessa região. Esse grupo relatou que com a criação da UC a área “parou” de se desenvolver porque não tem mais a aprovação para nenhum empreendimento que possa gerar emprego e renda, e que, por conseguinte contribua para o desenvolvimento dessa região.

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Esse grupo representa um importante parceiro, pois a maior parte do RVSRF está sobreposta a propriedade dos componentes do mesmo. Dentre as atividades citadas que podem contribuir na geração de renda de forma sustentável estão os empreendimentos turísticos e o beneficiamento da produção agrícola e leiteira. Existem diversas situações de conflito que envolve esse grupo (ver item 2.3) como a criação de bubalino, a sobreposição com outras propriedades escrituradas e a presença de áreas de ocupação. Grupo C: Área de Ocupação Indígena Gravatá Na visão desse grupo a UC é importante, mas foi relatado pelos entrevistados que às vezes atrapalha as pessoas na realização de suas atividades. Na sua relação com a UC e seus gestores os índios relatam que existe pouco contato com os funcionários do ICMBio. Os entrevistados disseram que no começo os fiscais faziam muitas ameaças, mas que depois isso melhorou e hoje a relação é melhor. Cabe ressaltar que como observado anteriormente os funcionários do ICMBio negam que tenham realizado qualquer ameaça a população local (indígena ou não). Os representantes do ICMBio relataram que o que ocorreu foi a notificação de que a ocupação era irregular, bem como houve autuação por atividades como queimadas e desmatamentos. O uso da palavra “ameaça” representa que essa população ainda sente-se “acuada” frente ao papel do gestor como fiscal e sua ação referente apenas a multas. Conforme discutido anteriormente nesse estudo, esse fato indica a necessidade de um trabalho de conscientização com essas populações para que se esclareça o papel do ICMBio e dos funcionários da UC, bem como das atividades que podem ou não ser realizadas na área do RVSRF. O interesse desse grupo a partir da criação da UC é de desenvolver um ponto de apoio para o desenvolvimento do turismo ecológico na região. Na visão desses entrevistados esse ponto de apoio pode ser uma área de comercialização do artesanato indígena, de produtos básicos (água, refrigerante) e de manifestações culturais indígenas que possibilitem desenvolver também um turismo cultural nessa área. Assim, eles esperam ampliar a sua geração de renda e melhorar a sua qualidade de vida. É imprescindível destacar que esse grupo de interesse ocupa uma área da Fazendas Reunidas Itaquena e que por isso a construção do ponto de apoio ao turismo, bem como a exploração das atividades turísticas na área são irregulares. O grupo relata que a criação da UC não trouxe muitas alterações em sua vida cotidiana, pois “ainda existe pouca coisa sendo feita” na administração do RVSRF. Entretanto, como observado anteriormente, já foi realizada ação dos fiscais da UC nessa área para autuar áreas de desmatamento e queimadas. Pode-se observar que esse grupo apresenta alguns interesses complementares com a TI Imbiriba, pois parte significativa dos índios dessa ocupação reside na Terra Indígena. Porém, é importante citar que existem alguns interesses conflitantes entre os índios dessa ocupação com algumas lideranças de Imbiriba. Os representantes da ocupação Gravatá também possuem situações conflitantes com as Fazendas Reunidas Itaquena no que se refere a possa da terra. Grupo D: Áreas de ocupação com realização de pequenas atividades produtivas Na visão desse grupo a criação do RVSRF foi importante para ajudar na preservação dos recursos naturais e para que não haja um uso degradante dos mesmos em atividades como o desmatamento irregular e a caça. Foi citado ainda pelos entrevistados que com a criação da UC deverá haver em breve a volta de muitos animais silvestres que eram comuns na região e que já não são mais encontrados nessa área. Quando questionados sobre a relação com a UC e seus gestores foi descrita como conflitante. Foi relatado nos questionários que a fiscalização quer proibir atividades que sempre foram realizadas pelas pessoas, até mesmo em relação às moradias e construções. Foi citada a

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proibição de atividades agrícolas como a plantação de cana, de mandioca, de banana quando ocorre perto do brejo. Assim como no caso da ocupação indígena Gravatá essas áreas de posse não possuem escritura e por isso as atividades que realizavam podem infringir a legislação e nesses casos a fiscalização do ICMBio deve atuar e coibir tais atividades. O exemplo dado sobre a proibição de cultivos próximo do brejo indica esse processo, referente à questão das áreas de preservação permanentes. Foi relatado que os fiscais não conhecem a realidade dos moradores e que isso prejudica a gestão da UC, que tem se tornado mais distante e piorado a relação com os moradores através de “ameaças” a essas pessoas que vivem em áreas de posse. Esse grupo apresenta diferentes expectativas em relação à UC. Os entrevistados esperam que a partir do estabelecimento da UC se tenha uma melhoria na conservação dos recursos naturais (recuperação do rio dos Frades como era no passado) e na qualidade de vida ao gerar renda através de empreendimentos voltados ao uso turístico. Foi relatado ainda que os gestores do RVSRF podem buscar desenvolver projetos como “bolsa conservação” para que as pessoas que preservem as áreas tenham um ganho econômico por esse serviço ambiental prestado, que pode ser obtido através do Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). No entanto, esse processo é dificultado já que as áreas em análise são ocupações e não possuem o título de propriedade. Outra expectativa desse grupo é que a gestão seja mais aberta ao diálogo com os moradores e que permita a realização das atividades, processo esse que deverá ser obtido através da construção do Plano de Manejo e do Zoneamento Ambiental da UC que indicará quais atividades pode ser realizadas e quais as áreas mais propícias para o desenvolvimento de cada uma delas. Quando questionadas sobre as mudanças em suas atividades após a criação da UC foram citadas as seguintes modificações: redução das pessoas de fora que visitavam a área e o aumento da fiscalização que mudou diversas atividades que eram realizadas como a pesca, a agricultura, a construção civil. Algumas dessas atividades foram proibidas e outras foram ordenadas e tiveram sua forma de ser realizadas alteradas. No caso da construção civil, foi citada por pessoas que vivem em áreas de ocupação irregular e por isso não possuem situação fundiária regularizada para obter o licenciamento para a construção civil. Esse grupo apresenta alguns interesses complementares ao grupo A em relação à realização de atividades como pesca e agricultura. Possui ainda uma situação de uso da terra semelhante ao grupo C, uma vez que em ambos os casos são áreas sem documentação e registro. As situações conflitantes relatadas por esse grupo referem-se a questão da introdução de criação comercial de bubalinos pelos impactos que causa no rio, a retirada do acesso à praia pelas propriedades particulares e a própria gestão do RVSRF proíbe atividades básicas da população como a pesca. A citação da proibição da atividade pesqueira foi relatada nas entrevistas, mas na verdade refere-se a uma regulamentação da atividade, com respeito aos períodos de defeso, já que essa atividade não é proibida na área do RVSRF. 4.5.2) Os grupos de interesse secundário e sua relação com a Unidade de Conservação A identificação dos grupos de interesse secundários é mais complexa, visto que não desempenham atividades diretas dentro do RVSRF. De um modo geral pode-se identificar como grupos sociais secundários que atuam na UC: Grupo A: Prefeitura de Porto Seguro Importante grupo social pela ação que desempenha como poder público no ordenamento territorial e na elaboração de políticas públicas. As ações e interesses desse grupo social são diversificados, uma vez que existe uma grande diversidade (e até mesmo um grande divergência) na posição assumida pelas diferentes secretarias em relação ao RVSRF. Na visão da Secretaria de Meio Ambiente (SEMA) a criação do RVSRF se constitui num importante instrumento de gestão ambiental. Por outro lado, na Secretaria de Obras foi relatado que a grande quantidade de unidades de conservação tem “engessado” o crescimento de Porto Seguro. Grupo B: População de Itaporanga e Imbiriba

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Esse grupo social compreende que a criação do RVSRF é importante para a proteção dos recursos naturais que contribui inclusive para a qualidade de vida do povoado e da Terra Indígena. Em geral eles usam áreas do RVSRF para o acesso a praia e foi citado em alguns questionários que ainda se observa a prática de caça dentro do RVSRF por essas populações. Não foram relatadas situações conflitantes com a administração da UC. Nos relatos dos entrevistados a população de Itaporanga e Imbiriba tem consciência de que estão na ZA do RVSRF e que por isso não podem realizar atividades que causem impactos sobre a UC. A expectativa desse grupo em relação à criação do RVSRF é de haver um desenvolvimento turístico dentro da UC e que através desse processo amplie a geração de renda nessas localidades, bem como haja o fortalecimento do comércio e do artesanato local. Algumas situações conflitantes citadas referem-se à questão da criação de bubalinos, pois segundo os entrevistados os búfalos invadem as propriedades rurais e causam prejuízos aos produtores. Outro conflito se refere ao acesso à praia que foi dificultado desde que as propriedades particulares fecharam os caminhos que a população local utilizava. De acordo com o estudo realizado pela PAT Ecosmar (Projeto Amiga Tartaruga) “os moradores têm o livre acesso às praias da região, no entanto, encontram dificuldade para chegar até elas, principalmente na praia de Itaquena, Itapororoca e Jacumã. O acesso principalmente por estradas precárias, ausência de ponte/passarela sobre o rio dos Frades, e propriedade particulares que limitam o acesso dos usuários através de cercas e/ou porteiras fechadas” (Mendes & Thaís, 2008). Nas entrevistas realizadas e com base ainda no estudo da PAT Ecosmar pode-se constatar que o acesso à praia, que era realizado tradicionalmente pela população através da ponte do pica-pau, ficou de difícil acesso depois que a ponte caiu. Até hoje não foi construído nenhum outro acesso à área. Além disso, com a construção de condomínios de alto padrão é comum que as vias que dão acesso as praias apresentem áreas de acesso limitado com porteiras e cercas, visto que esses caminhos passam dentro de propriedades particulares. Assim, constitui-se uma situação conflitante, uma vez que a população de Itaporanga teve seu acesso as praias dificultado pela precariedade das vias e pelas construções de propriedades particulares. Grupo C: Instituições de Artesanato Grupo de interesse formado por pessoas e/ou instituições que fabricam artesanato a partir de recursos naturais extraídos na ZA e região do RVSRF. Os componentes desse grupo compreendem que o RVSRF pode contribuir para a conservação dos recursos naturais da região, bem como ampliar o uso turístico e a comercialização do artesanato local, e assim fortalecer as alternativas de renda na região. Grupo D: Condomínios de alto padrão Grupo social que privilegia a conservação dos recursos naturais. Em sua visão o RVSRF é um importante instrumento na regulamentação do uso do solo local, que pode contribuir para que não exista um crescimento desordenado que gere a desvalorização da área. 4.6) IDENTIFICAÇÃO E DISCUSSÃO DE SUBSÍDIOS PARA O ZONEAMENTO DA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO E REDEFINIÇÃO DE SUA ZONA DE AMORTECIMENTO O Plano de Manejo do RVSRF será uma regulamentação própria da UC que buscará adequar as atividades realizadas pelas populações do interior e ZA a fim de assegurar a conservação dos recursos naturais. Uma etapa essencial nesse processo é a construção do zoneamento, que definirá as diferentes áreas e os seus usos permitidos ou não. A realização desse Zoneamento é uma etapa essencial para a gestão da unidade e deve ser realizada de forma participativa, para que cada um dos atores sociais envolvidos no processo

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possa colaborar com sua experiência/vivência sobre qual categoria de zona mais se adequa a cada área da UC. Além desse processo participativo o Zoneamento deve contar com estudos específicos, como: - levantamento do meio físico onde sejam identificadas as características do relevo, solo, clima e rede hidrográfica, a fim de se definir a suscetibilidade de erosão, áreas com ocorrência de cheias na vazão do curso hídrico, aptidão agrícola do solo, relação do clima com as atividades produtivas, etc. - levantamento do meio biótico onde se possa identificar e caracterizar a fauna e a flora local sobre a existência de espécies endêmicas, raras ou ameaçadas de extinção. - geoprocessamento e sensoriamento remoto atualizado que permita realizar um mapeamento que retrate a realidade do uso do solo e cobertura vegetal da UC e de sua ZA. Esse processo é essencial para que se possa definir e delimitar as diferentes zonas. Esses critérios atuarão de forma conjunta com o levantamento socioeconômico na definição de quais zonas são adequadas ao RVSRF e a área que cada uma delas ocupará na UC. Seguem abaixo alguns itens que poderão contribuir para a construção do Zoneamento Ambiental quando da construção do Plano de Manejo do RVSRF: - Susceptibilidade a erosão: identificação das áreas onde o solo se apresenta mais suscetível ao processo erosivo pela ação de agentes do intemperismo (margem dos rios), por ser raso ou estar localizado em áreas de encosta. Nessas áreas não são indicadas a realização de atividades econômicas e nem de moradias. - Aptidão agrícola: identificação das áreas mais aptas ao desenvolvimento agrícola e as formas de manejo que podem ser utilizadas para evitar o processo erosivo nas áreas menos aptas a agricultura. - Áreas de instabilidade geomorfológica: identificação de áreas suscetíveis a possíveis movimentos de massa onde não deve ser realizada atividade de moradia. - Nível de conservação da vegetação: identificação das áreas mais conservadas de mata a fim de estabelecer nelas zonas mais restritivas que garantam a biodiversidade da UC. - Presença de espécies raras, endêmicas, vulneráveis e/ou ameaçadas de extinção: definição de zonas mais restritivas a fim de salvaguardar essas espécies que podem estar sob alguma ameaça. - Presença de habitats específicos para a sobrevivência das espécies: identificação dessas áreas e classificação em zonas mais restritivas. - Áreas sobrepostas com outras Unidades de Conservação: identificação das diferentes categorias de UC e do zoneamento previsto pela outra unidade a fim de construir de forma conjunta uma proposta integrada para o RVSRF. - Presença de áreas úmidas ou nascentes representativas e de ambientes frágeis: áreas que podem estar suscetíveis à ação antrópica e devem ter sua conservação assegurada pelo zoneamento da UC. - Presença de pontos turísticos: identificação e zoneamento que permita o uso indireto da área. - Presença de infraestrutura (estradas, linhas de transmissão, etc.): identificação e zoneamento mais permissivo uma vez que representam áreas que possuem ocupações humanas em suas proximidades.

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- Regulamentação do Uso do Solo pelo Plano Diretor de Porto Seguro: considerar as determinações da legislação municipal sobre o uso e ocupação do solo. - Definição de áreas com potencial para uso de produtos florestais não-madeireiros: identificação das áreas e zoneamento que permita o uso desses recursos através da implantação de projetos de sistemas agroflorestais. - Presença de atividades agropecuárias e de uso direto de recursos desenvolvidos pela comunidade da APA: essencial para que se estabeleça uma categoria que permita o uso e a continuidade das atividades de baixo impacto realizadas pelas populações locais. - Identificação das áreas de nascentes: importante para a preservação dos cursos hídricos e para o cadastramento em programas de PSA. - Presença de atividades de pesca: identificação das áreas de ocorrência da pesca artesanal dentro na UC para que se inclua em zonas menos restritivas. - Presença de extrativismo: identificação de áreas de ocorrência de atividades extrativas sustentáveis. 4.7) FORMULAÇÃO DE RECOMENDAÇÕES DE AÇÕES DE MANEJO NECESSÁRIAS A UNIDADE DE CONSERVAÇÃO E DE PESQUISAS PRIORITÁRIAS A partir do levantamento socioeconômico realizado através de pesquisas de campo, entrevistas e aplicação de questionários seguem algumas recomendações de ações de manejo, de gestão e de pesquisas prioritárias que podem contribuir para a elaboração do Plano de Manejo da UC e da melhor relação dos gestores com a população local. Ação I: Realizar um trabalho de educação ambiental com as populações do RVSRF que esclareça as atividades que podem ou não serem realizadas na UC. Discutir o papel dos gestores como fiscais ambientais a fim de minimizar situações conflitantes observadas entre a população e os gestores do ICMBio. Ação II: Desenvolver projetos de educação ambiental nas unidades escolares da ZA do RVSRF a fim de promover uma melhoria na conservação dos recursos naturais da região. Ação III: Fomentar parceria com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Secretaria Estadual do Meio Ambiente e outras instituições afins para desenvolver projetos de recuperação de áreas degradadas e da faixa de mata ciliar do rio dos Frades. Ação IV: Ampliar ações de conscientização e fiscalização acerca de atividades ilegais como a caça. Ação V: Promover ações de rotina de fiscalização a fim de evitar possíveis ações impactantes na área do RVSRF. Ação VI: Promover em parceria com o Parque Nacional do Pau Brasil um programa de monitoramento das queimadas irregulares ao longo das rodovias da região. Ação VII: Desenvolver em parceria com o Parque Nacional do Pau Brasil e a Prefeitura de Porto Seguro ações que reduzam a quantidade de incêndios florestais através de medidas como conscientização ambiental, adequação das rodovias (formação de aceiro) etc. Ação VIII: Fomentar parceria com a Prefeitura de Porto Seguro e a EMBASA para desenvolver projetos de tratamento de água e esgoto que atenda as famílias que residem na área do RVSRF e na sua ZA. Ação IX: Fomentar parceria com a Prefeitura de Porto Seguro para a implantação de um sistema de coleta seletiva de resíduos que atenda os núcleos populacionais na ZA do RVSRF.

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Ação X: Fomentar parcerias com a Secretaria Municipal de Agricultura e órgãos de extensão rural a fim de ampliar a produtividade da agricultura familiar local e a geração de renda das famílias. Ação XI: Estabelecer parceria com os proprietários a fim de desenvolver projetos de implantação de Sistemas Agroflorestais em consórcio com as atividades agrícolas. Ação XII: Estabelecer parceria com os proprietários a fim de desenvolver projetos de implantação de uso turístico (rural, ecoturismo, de aventura). Ação XIII: Fomentar parcerias para oferecer capacitação a população local para beneficiar a produção agrícola através da fabricação de derivados da mandioca e do coco. Ação XIV: Fomentar parcerias para oferecer capacitação a população local para o desenvolvimento de atividades turísticas. Ação XV: Realizar estudos sobre as riquezas culturais da região, inclusive aquelas com potencial para o uso turístico. Ação XVI: Fomentar parcerias para viabilizar a produção e comercialização das iniciativas de artesanato da região. Ação XVII: Realizar oficinas de capacitação com o Conselho Consultivo a fim de formar propagadores das iniciativas realizadas no RVSRF. Ação XVIII: Sensibilizar a população local para a participação efetiva na elaboração do Plano de Manejo da UC. Ação XIX: Realizar estudos técnicos que definam a viabilidade do fornecimento de energia elétrica as propriedades escrituradas que ainda não possuem a prestação desse serviço dentro do RVSRF. Ação XX: Realizar parcerias com universidades e institutos de pesquisa para realizar um levantamento das espécies de fauna e flora encontradas na UC. Ação XXI: Realizar parcerias com universidades e institutos de pesquisa para a criação de um banco de sementes de espécies encontradas na UC. Ação XXII: Realizar parcerias com universidades e institutos de pesquisa para a realização de um programa de monitoramento da qualidade dos recursos hídricos da bacia do rio dos Frades. 5) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANA. Agência Nacional das Águas. 2013. Disponível em: http://www2.ana.gov.br/Paginas/projetos/ProgramaProdutorÁgua.aspx. Acesso em 01/05/2013. Bahia, 2012. Constituição do Estado da Bahia Atualizada em 28.08.2012. Texto consolidado. Poder Executivo, Bahia. Disponível em: http://www.al.ba.gov.br. Acesso em 28/04/2013. Brasil, 2007. Decreto de 21 de dezembro de 2007. Cria o Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades. Poder Executivo. Brasília. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Resenha/12_dezembro-2007.htm. Acesso em 10/03/2013. Brasil Azul. 2013. Disponível em: http://www.brasilazul.com.br/porto-seguro-historia.asp. Acesso em 05/04/2013. Carneiro, F & Agostinho, C. 2004. Nativos e Biribandos - Memórias de Trancoso. Projeto Trancoso. 336p.

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ANEXO 1) Relação e fotos georreferenciadas das pessoas entrevistadas durante o trabalho de campo para o levantamento socioeconômico do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades e sua Zona de Amortecimento. Moradores e proprietários D. Anália Gonçalves Lima (esquerda) e D. Maria D’Ajuda Lima dos Santos (direita) -

Coordenadas: E486518 N 8157680*

Sr. Alício Pereira Lima (Chin) - Coordenadas: E 485219 N 8157684*

Sr. Carlos Walter Zeferino Pinheiro - Coordenadas: E 487759 N 8155233*

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Sr. Noberto Nascimento da Conceição e Srs. Oswaldo Ramos (Vardinho) e Iuka Pereira de Souza (mais atrás) - Coordenadas: E 488604 N 8155810*

Sr. Nivaldo - Coordenadas: E 489646 N 8166720*

Sr. Regival Souza de Jesus (Gil) a esquerda e D. Marta Pereira Santos (direita) -

Coordenadas: E 487759 N 8155233*

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Sr. Moacyr de Andrade - Coordenadas: E 493120 N 8182544*

Sr. Railto Braz da Conceição e familiares - Coordenadas: E 488621 N 8158222*

Sr. Inaldo José Assis Pereira (Pereira)

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Lideranças comunitárias entrevistadas no Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades, na comunidade de Itaporanga e na Terra Indígena de Imbiriba D. Arcanja D. Vera Sr. Adenilson Sr. Ielsimar Cacique Renivaldo - Coordenadas: E 486214 N 8157799*

Sr. Domingos (em pé) e Sr. João Lua e esposa (sentados) - Coordenadas E 484552 L

8157665*

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Pessoas entrevistadas em Porto Seguro Heber Camargo - Chefe do Gabinete do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Jonas Botelho da Silva - Supervisor de Uso e Ordenamento do Solo da Secretaria Municipal

de Obras de Porto Seguro Epaminondas Castro - Superintendente da Secretaria Municipal de Agricultura de Porto

Seguro Suiane Benevides Marinho Brasil - Chefe do Refúgio de Vida Silvestre Rio dos Frades -

Coordenadas: E 496042 L 8187901*

Francisco Oneizete Araújo - Analista Ambiental do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos

Frades Tiago Leão Pereira - Analista Ambiental do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades

* DATUM WGS84 - Fuso 24 k

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ANEXO 2) Declaração de uso das fotografias.

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ANEXO 3) Modelo do questionário aplicado com os moradores do Refúgio de Vida Silvestre do Rio dos Frades e da Zona de Amortecimento.

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ANEXO 3) Declaração de uso das fotografias.