produtividade na floresta - colheita de madeira · quando a principal ferramenta de produção era...

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SEGURANÇA E PRODUTIVIDADE NA FLORESTA Paulo H. Wedderhoff Empreendedores da colheita mecanizada de madeira sabem que só estão ganhando dinheiro quando suas máquinas estão gerando lascas de madeira. Durante as paradas de máquina, seja por que motivo for, só há custos. Apesar disso, ao observar atentamente algumas operações de abate e traçamento de árvores em reflorestamentos, identificamos algumas oportunidades de melhoria na segurança dos funcionários e na produtividade, via redução de paradas de máquinas e na produção em m3 por hora trabalhada. SEGURANÇA Um dos aspectos de segurança tem a ver com o rompimento da corrente cortante, o qual pode ter duas causas principais. A primeira causa pode ser identificada quando o rompimento ocorre pouco tempo depois da instalação de uma corrente nova. Este tipo de rompimento ocorre por quebra da emenda usada para fechar a corrente. A principal evidência de que esta é a causa, está no fato de que a emenda usada para fechar a corrente freqüentemente se perde no momento da quebra. O rompimento ocorre, porque o elo ao ser incorretamente rebitado, faz com que elo oposto receba sozinho a carga que deveria ser dividida por ambos. A sobrecarga gera fadiga do metal e o rompimento se torna uma questão de tempo. A segunda causa principal tem a ver com o desgaste da base dos elos de união e dos elos de corte. (Fig 1) Quando o desgaste ocasionado pela fricção entre os elos da corrente e os trilhos do sabre se aproxima do furo dos rebites, não há metal suficiente para resistir a força de tração e a corrente se rompe. Em ambos os casos, devido a velocidade que a corrente trabalha no harvester, se a corrente quebrar durante o corte, pode haver um chicoteamento da corrente fazendo com que um eventual pedaço de corrente seja lançado na velocidade de um tiro, com graves riscos para quem estiver por perto. CASO REAL Em 2005, após tomar conhecimento que correntes novas estavam rompendo em uma reflorestadora, nos propusemos a fazer um diagnóstico no local. O supervisor de campo nos relatou que em uma das ocasiões um pedaço de corrente, atravessou o pára brisa. (Fig 2) . Felizmente neste caso o operador nada sofreu. A empresa decidiu substituir o parabrisa de todos os harvesters por outros de maior espessura. Durante a visita, ouvimos do encarregado uma pergunta bastante freqüente: - “O Sr. acha que isto tem a ver com algum lote de corrente com defeito?” Propus analisar as amostras antes de emitir uma opinião. Após analisarmos 3 amostras de correntes rompidas durante o uso, percebemos que a emenda de fechamento havia sumido. Isto é um forte indicador de que a causa da quebra prematura era a velha e conhecida falha de montagem do elo de união feita nas oficinas de campo. Fig 2: Trajetória do elo ou pedaço de corrente. Fig 1

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SEGURANÇA E PRODUTIVIDADE NA FLORESTA Paulo H. Wedderhoff

Empreendedores da colheita mecanizada de madeira sabem que só estão ganhando dinheiro quando suas máquinas estão gerando lascas de madeira. Durante as paradas de máquina, seja por que motivo for, só há custos.

Apesar disso, ao observar atentamente algumas operações de abate e traçamento de árvores em reflorestamentos, identificamos algumas oportunidades de melhoria na segurança dos funcionários e na produtividade, via redução de paradas de máquinas e na produção em m3 por hora trabalhada.

SEGURANÇAUm dos aspectos de segurança tem a ver com o rompimento da corrente cortante, o qual pode ter duas causas principais. A primeira causa pode ser identificada quando o rompimento ocorre pouco tempo depois da instalação de uma corrente nova. Este tipo de rompimento ocorre por quebra da emenda usada para fechar a corrente. A principal evidência de que esta é a causa, está no fato de que a emenda usada para fechar a corrente freqüentemente se perde no momento da quebra. O rompimento ocorre, porque o elo ao ser incorretamente rebitado, faz com que elo oposto receba sozinho a carga que deveria ser dividida por ambos. A sobrecarga gera fadiga do metal e o rompimento se torna uma questão de tempo. A segunda causa principal tem a ver com o desgaste da base dos elos de união e dos elos de corte. (Fig 1)

Quando o desgaste ocasionado pela fricção entre os elos da corrente e os trilhos do sabre se aproxima do furo dos rebites, não há metal suficiente para resistir a força de tração e a corrente se rompe.Em ambos os casos, devido a velocidade que a corrente trabalha no harvester, se a corrente quebrar durante o corte, pode haver um chicoteamento da corrente fazendo com que um eventual pedaço de corrente seja lançado na velocidade de um tiro, com graves riscos para quem estiver por perto.

CASO REALEm 2005, após tomar conhecimento que correntes novas estavam

rompendo em uma reflorestadora, nos propusemos a fazer um diagnóstico no local. O supervisor de campo nos relatou que em uma das ocasiões um pedaço de corrente, atravessou o pára brisa. (Fig 2) . Felizmente neste caso o operador nada sofreu. A empresa decidiu substituir o parabrisa de todos os harvesters por outros de maior espessura.Durante a visita, ouvimos do encarregado uma pergunta bastante freqüente: - “O Sr. acha que isto tem a ver com algum lote de corrente com defeito?”Propus analisar as amostras antes de emitir uma opinião. Após analisarmos 3 amostras de correntes rompidas durante o uso, percebemos que a emenda de fechamento havia sumido. Isto é um forte indicador de que a causa da quebra prematura era a velha e conhecida falha de montagem do elo de união feita nas oficinas de campo.

Fig 2: Trajetória do elo ou pedaço de corrente.

Fig 1

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Rebitagem imcompleta -fig 3 Rebitagem correta – fig 4Olhando o formato do rebite em uma corrente que ainda não havia sido usada, decidimos analisar o rebitador de bancada. Ali estava a principal causa do problema. Alguém havia substituído a peça que molda a cabeça do rebite e a inverteu por engano causando assim as rebitagens incompletas.(fig 3)

Depois da correção não tivemos qualquer notícia de rompimento de correntes novas nesta empresa. Compare com a rebitagem correta na fig 4. O rompimento por desgaste pode ser minimizado de duas maneiras. A primeira é através da lubrificação com óleo específico para corrente. A segunda maneira de minimizar a quebra por desgaste é não forçar uma corrente cega (fig5) a cortar. Quando a corrente perde o fio, ela é obrigada a dar muito mais voltas em torno do sabre para obter a mesma remoção de lascas. Este aumento desnecessário da fricção acelera o desgaste e reduz a produção em metros cúbicos ao final do dia. Menos lascas, por hora, significa menor rentabilidade no empreendimento.

Fig 5 –Este elo de corte perdeu vários milímetros de cobertura do cromo industrial ao cortar madeira com terra. A parte cinza é aço sem o cromo e isso indica que esta corrente operou sem fio durante um longo período.

VELOCIDADE DE CORTEEntre os fatores que podem reduzir a produtividade da corrente, podemos mencionar: a incidência de material abrasivo na casca das árvores; a freqüência de afiação; o ângulo de afiação; a altura da guia de profundidade; o formato da guia de profundidade; a bitola da lima ou do rebolo de afiação; a retífica do rebolo de afiação, entre outros fatores menos comuns. Para maior segurança a velocidade da corrente deve igual ou inferior a 40m/s na corrente .404” e 35m/s na corrente 3/4”. CASO REALEm nossa empresa, a equipe de vendas está orientada a não aceitar passivamente pedidos de emendas sem que haja um contato com o pessoal de campo do cliente para determinar por que o cliente está comprando emendas. Como resultado de uma destas conversas, agendamos uma recente visita a uma importante reflorestadora onde detectamos as seguintes falhas:

1 – As unidades de afiação de cada frente de trabalho estavam utilizando rebolos da bitola 3/8” para afiar as correntes de harvester cujo passo é .404”. Na ausência de rebolos corretos, a retífica da pedra 3/8”precisa ser feita com um gabarito adequado.

2 – A inclinação dos rebolos estava diferente em cada local e nenhuma estava dentro da especificação de 60 graus constante no manual da fábrica. (Fig 6)

60o

Fig 6

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3 - Os encarregados da afiação não dispunham de pedras para retificar o formato dos rebolos de afiação. (Fig 7)

Como resultado da combinação dos três fatores acima, os elos de corte estavam ficando bicudos e prendiam no corte, com importante perda de produtividade. (Fig 8)

Pressionados pelas metas de produção os operadores se sentiam obrigados a forçar correntes cegas a cortar. Isso acelerava o desgaste da base, levando as correntes a romper mais cedo e aumentar o risco de acidentes.

PARADA DE MÁQUINASQuando a principal ferramenta de produção era a motosserra, a parada para afiação ou troca da corrente tinha um custo irrelevante. Hoje quando um harvester pára, o custo desta parada pode ser equivalente ao custo de 20 ou 30 motosserras paradas. Isto se deve à elevada capacidade de produção em metros cúbicos por hora dos harvesters e traçadores.

CASO REAL O setor de compras de uma grande reflorestadora nos ligou procurando por elos para emendar as correntes usadas nos seus traçadores. O tamanho do pedido nos surpreendeu por indicar que o problema era de grandes proporções. Após várias tentativas frustradas para chegar ao pessoal de campo e manutenção obtivemos uma autorização para visitá-los.Ao observar o cisalhamento dos rebites da corrente, ficou evidente a alavancagem oriunda de pinhões fora de passo. Apesar da descrença geral, uma posterior análise na fábrica, confirmou a suspeita.A empresa alegava que economizava algumas centenas de reais ao comprar pinhões feitos em uma oficina local. Por outro lado, a freqüente parada de máquinas para a substituição de correntes quebradas, causava perdas mensais na casa de milhares de reais.

DOMÍNIO DA TÉCNICAO estudo e a compreensão das dinâmicas de corte e técnicas de manutenção ideais já são do domínio da engenharia das marcas líderes na fabricação de correntes há muitos anos. Além disso, a seleção da matéria prima, a tecnologia de tempera, os testes freqüentes, o uso de técnicas de produção baseadas nos sistemas de produção modernos como o just-in-time, o controle estatístico do processo e outros, permitem a produção com qualidade assegurada. Ocorre contudo, que as mensagens sobre uso correto, e a manutenção adequada sofre traduções e distorções na passagem pelos vários níveis de comunicação e às vezes não chegam com a exatidão necessária aos encarregados da execução no campo.Assim sendo a compreensão, a documentação e aplicação das técnicas de diagnóstico e manutenção podem ser fatores de ganho de produtividade na operação do corte mecanizado. Os produtos não falam, mas escrevem. Precisamos ensinar os técnicos de campo a ler as mensagens que os produtos revelam durante e depois do uso. Quem consegue reconhecer os erros aprende, e quem aprende, não repete erros.

VISITAS TÉCNICASEm dois dos casos mencionados, as empresas demoraram muito em aceitar uma nova visita técnica, por já terem sido orientadas por pessoal supostamente experiente. Isso fez com que os riscos e os custos ocultos perdurassem por um longo período. Tal atitude dispara algumas perguntas: - Por que o pessoal experiente

Fig. 7 - Raio ideal da pedra do rebolo.

2,35 mm de raio

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não detectou os problemas? Ou, se os detectou, por que é que as empresas não aplicaram as recomendações, se estas eram do seu maior interesse? Quem sabe estejam aí mais dois casos de vítimas dos obstáculos do processo da ensinagem: - o professor, o tema e o aluno, ou seja: a experiência de quem ensina, a complexidade do tema e a prontidão de quem deve aprender. Aprendemos com a experiência que a mensagem enviada nem sempre é igual à mensagem recebida. Parte do desafio está em evitar a síndrome do - Entendeu? – Entendi! – Sabe fazer? – Não! Precisamos treinar os treinadores de modo que dominem os estágios do saber saber; saber fazer; fazer saber e fazer fazer.

PRODUTIVIDADE É A GRANDE ESTRATÉGIAÀ medida que os espaços de competição se afunilam, o caminho mais procurado é o do aumento da produtividade. Por esta razão e devido a sua importância estratégica, a corrente cortante e sua respectiva manutenção, passou a ser mais valorizada depois que algumas empresas começaram a medir o desempenho das correntes, não em metros cúbicos por corrente, mas em metros cúbicos por hora.

Paulo H. Wedderhoff trabalha no ramo de correntes cortantes desde 1977. É Administrador, Professor de Administração e Empresário. Foi Gerente de Marketing da Omark – fabricante das correntes Oregon no Brasil – posteriormente comprada pela Blount e Gerente de Produtos da Oregon nos Estados Unidos. Atualmente dirige a empresa Eloforte que importa e distribui as correntes, sabres e coroas Windsor para harvesters e motosserras. Contato: [email protected]