produção do aço em larga escala

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  • PARA ONDE VAI A CHINA?O IMPACTO DO CRESCIMENTOCHINS NA SIDERURGIABRASILEIRAPedro de Almeida CrossettiPatrcia Dias Fernandes*

    * Respectivamente, gerente e economista do Departamento de InsumosBsicos do BNDES.Os autores agradecem a colaborao da estagiria de engenharia TatianaRamos Valpassos. Agradecem tambm equipe do Instituto Brasileiro deSiderurgia (IBS), especialmente a Rudolf R. Bhler e Catia Coelho. SI

    DERURG

    IA

  • O artigo tem por objetivo traar um perfil do setorsiderrgico brasileiro nos anos recentes, com base nastransformaes no cenrio mundial causadas pelo dina-mismo sem precedentes da China. So abordadas asameaas e as oportunidades que o crescimento do pasasitico pode trazer ao setor no Brasil.

    O crescimento chins acima de 9% a.a. impulsio-nou a demanda mundial pelo ao e pelas principaismatrias-primas, como o minrio de ferro. Os ganhos au-feridos com esse dinamismo originaram projetos de ex-panso, sobretudo no mercado chins, tornando o gigan-te asitico auto-suficiente e exportador lquido de ao.

    Esse processo acirrou a competio mundial.A contrapartida dever ser a intensificao da internacio-nalizao das empresas siderrgicas e dos movimentosde consolidao. Observa-se, tambm, a migrao deestruturas produtivas bsicas de usinas integradas pararegies que ofeream vantagens comparativas (logstica,oferta de minrio, mo-de-obra barata) como ndia, Rs-sia e Brasil. So movimentos a que o Brasil deve estaratento, para no perder importantes oportunidades deinvestimentos.

    As influncias na demanda e na oferta interna-cional do produto podem afetar os destinos de exporta-es brasileiras, seja sobre os preos praticados, sejadeslocando os volumes exportados pelo Brasil. E a am-pliao e a diversificao da produo chinesa de ao abaixos custos tendem a baratear produtos baseadosnesse insumo, como os automotivos e eletroeletrnicos.Uma penetrao maior desses produtos no mercadonacional pode, a longo prazo, reduzir o potencial dassiderrgicas brasileiras.

    Para onde Vai a China? O Impacto do Crescimento Chins na Siderurgia Brasileira

    Resumo

    152

  • A siderurgia uma indstria intensiva em capital e recur-sos naturais, como minrio de ferro e carvo. Por essa razo, o altovolume de investimentos necessrios, seu longo prazo de matura-o, as economias de escala e a disponibilidade de matria-prima acustos competitivos constituem importantes barreiras entrada denovos produtores.

    Apesar do alto custo de instalao de uma siderrgica,esse setor ainda pode ser considerado fragmentado em nvel mun-dial, principalmente se comparado aos seus fornecedores (em es-pecial, as mineradoras) e aos seus clientes (com destaque para aindstria automobilstica).

    A fragmentao em termos mundiais resultou at recente-mente da caracterstica essencialmente nacional das empresas des-se setor, uma vez que diversos pases consideraram estratgico oestabelecimento de uma indstria siderrgica nacional.

    Enquanto seus principais fornecedores e consumidores jpassaram por processos de consolidao que geraram indstriasmais concentradas, o processo de fuses e aquisies que vemocorrendo no setor siderrgico recente e tende alterar, no mdioprazo, a estrutura da indstria.

    Outros fatores determinantes so o carter cclico da in-dstria siderrgica em razo dos projetos de investimento em capa-cidade produtiva no coordenados em nvel mundial e da poucaflexibilidade da tecnologia da produo siderrgica em ajustar aoferta demanda.1

    Abstradas as flutuaes normais de oferta, de demanda edos preos, observam-se algumas questes no cenrio atual queindicam as principais tendncias.

    At 2001, a produo siderrgica encontrava-se relativamen-te estagnada. O processo de fuses e aquisies havia se iniciado coma inteno de racionalizar a produo demanda estvel. Entretanto,a partir do forte crescimento da demanda siderrgica na China, o ritmodesse processo arrefeceu, por causa das grandes margens obtidaspelas empresas decorrentes do aumento dos preos em nvel mundial(apesar de relevantes fuses no perodo, como a Mittal).2

    No somente o processo de consolidao teve sua lgicaeconmica enfraquecida, como ainda a forte demanda chinesa e os

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 22, p. 151-204, set. 2005

    Introduo

    153

    1Impossibilidade de desligaro alto-forno.

    2A LNM Holdings e a IspatInternational se fundiramformando o grupo MittalSteel. Ao mesmo tempo, aMittal Steel anunciou a aqui-sio da americana Interna-tional Steel Group (ISG).

  • altos preos ainda viriam a incentivar novos projetos de expanso nasiderurgia e nos seus fornecedores de matria-prima.

    Entretanto, a continuidade do crescimento da produosiderrgica na China resultou na proximidade de sua auto-suficinciae na transformao do pas em exportador lquido de ao. Hoje, astendncias de sua demanda, produo e participao no comrciointernacional so incertas, o que se torna ainda mais relevante, con-siderando-se seu elevado peso no contexto siderrgico mundial: em2004, respondeu por cerca de 25% da produo global.

    Alm do futuro da produo siderrgica chinesa, tambmcontribuem para a intensificao da competio no mercado globalde ao:

    a) o grande nmero de projetos de expanso, na medidaem que, sem suporte no crescimento da demanda,podem gerar novo e expressivo excesso de capacida-de de produo em nvel mundial; e

    b) a concentrao dos produtores das principais mat-rias-primas do setor, praticamente consolidada no mi-nrio de ferro e em acelerado passo no carvo meta-lrgico e em ferro-ligas.

    Nesse contexto de incertezas, a indstria siderrgica voltaseus esforos para o fortalecimento de sua estrutura, evidenciando-se algumas tendncias, tais como:

    a) a migrao das estruturas produtivas bsicas de usinasintegradas para regies que ofeream vantagens com-parativas, como ndia, Brasil e Rssia; e

    b) a acelerao do processo de consolidao e interna-cionalizao do setor com a conseqente contribuiopara reduzir a volatilidade do mercado de ao.

    Tendo em vista o cenrio perspectivo de sobrecapacidadee encolhimento das margens do setor, torna-se imperiosa a anlisedas tendncias da indstria siderrgica chinesa e seus impactossobre o setor no Brasil.

    A indstria siderrgica foi, em sua origem, baseada noatendimento do mercado interno. Diversos pases consideraramestratgico o estabelecimento de uma indstria siderrgica nacionalque servisse de base para a construo de seu parque industrial.Isso porque a siderurgia desempenha papel essencial como forne-cedora de insumos para produtos industriais e para a construo civil.Dessa forma, apresenta fortes encadeamentos com amplo leque de

    Para onde Vai a China? O Impacto do Crescimento Chins na Siderurgia Brasileira

    Caracterizaoda IndstriaSiderrgica

    Nacional

    Histrico

    154

  • setores na matriz de relaes interindustriais, alm de ser intensivaem recursos naturais, energia e capital.

    O Brasil seguiu esse caminho incentivando o investimentona siderurgia para atendimento do avano da indstria nacional.Assim, a produo siderrgica acompanhou o crescimento da demandapor ao, promovendo diminuio considervel das importaes. Em1966, o Brasil tornou-se o maior produtor de ao da Amrica Latina.

    Em 1973, o governo brasileiro criou a Siderbrs, holdingestatal encarregada de controlar e coordenar a produo siderrgicanacional. Nesse momento, incumbiu-se de procurar financiamentoexterno que atendesse indstria nacional em sua necessidade deinvestimentos para o aumento da capacidade e desenvolvimentotecnolgico. Entre 1974 e 1983, a siderurgia brasileira empreendeuum vigoroso programa de inverses, em face da expanso e implan-tao de empresas siderrgicas estatais.

    Esses investimentos resultaram em significativo aumentoda capacidade instalada e da produo efetiva na dcada de 1980,partindo de 15 milhes de toneladas/ano em 1980 para 25 milhes detoneladas/ano em 1988. Em contrapartida, em decorrncia da recessoverificada na economia nacional, esse foi um perodo em que o consumoaparente interno de produtos siderrgicos foi decrescente, s retornan-do ao patamar da dcada de 1970 no incio dos anos 1990.

    A fraca demanda interna por ao decorrente do pfio cres-cimento industrial gerou um excedente na produo de ao, que foicolocado no mercado externo. Dessa maneira, ampliou-se a presen-a externa com o maior volume de exportao, apesar de o retornodessas vendas ser inferior ao do mercado interno. Por outro lado, aforma de insero no mercado externo era de concorrncia por preoe no por qualidade, em contraponto a outros pases, como o Japo,que, apesar de no possuir os recursos naturais necessrios a essaindstria, era lder em tecnologia de produo e produto.3

    Para aumentar a competitividade, faziam-se necessriosinvestimentos na modernizao do parque industrial e dos produtosofertados. Finalizado o ciclo de investimentos da siderurgia nacionalde 1974 a 1983, a crise econmica dos anos 1980 havia impossibi-litado que o principal scio, o Estado, realizasse investimentos deatualizao tecnolgica. O processo de globalizao iniciado nadcada de 1990 evidenciaria as fragilidades da indstria nacional, ouseja, o distanciamento dos padres internacionais de qualidade,produtividade e competitividade.

    Com base em um plano de saneamento financeiro no qualse alteraram as estruturas de endividamento das empresas estatais,iniciou-se o processo de privatizao, em que transferiram-se es-tatais para o setor privado.4

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 22, p. 151-204, set. 2005 155

    3Competio por preo: asvantagens competitivas sodecorrentes dos baixos cus-tos de mo-de-obra e demateriais (especialmente, ominrio de ferro) e do uso deequipamentos relativamen-te atualizados para a produ-o de aos commodities(era a forma principal de in-sero da indstria brasi-leira at a privatizao); eCompetio por qualidade:as vantagens competitivasso baseadas na intensida-de de pesquisa e desenvol-vimento, na alta capacidadede inovao tecnolgica ena fabricao de aos no-bres ex: a forma de inser-o das indstrias japonesae alem. [Coutinho (1993,p.2)]

    4As principais empresasprodutoras de aos longosj eram privadas, portanto, amaior parte do processo deprivatizao ocorreu no se-tor de aos planos.

  • O perodo ps-privatizao 1994 a 2002 foi pleno emprogramas de investimentos com objetivo de modernizao tecnol-gica, reduo de custos, melhoria de qualidade, enobrecimento daproduo, proteo ambiental e, em menor escala, aumento de ca-pacidade instalada.

    Tal ciclo foi bem-sucedido em sua proposta inicial. O parquesiderrgico foi atualizado tecnologicamente com investimentos imprescin-dveis na substituio de equipamentos, resultando em avano na produ-tividade em decorrncia de significativos ganhos de eficincia, reduono custo operacional, alm da melhoria da gesto empresarial.

    Entretanto, no houve aumento significativo da capacidadeprodutiva. Considerando-se, entre outras razes, a intensidade decapital caracterstica do setor, o elevado custo deste no Brasil e anecessidade de mobilizar recursos em grande escala para o proces-so de privatizao, os investimentos realizados nesse perodo foramextremamente seletivos. Os projetos implementados foram do tipobrownfield e visaram prioritariamente ao aumento da capacidade delaminao e ao enobrecimento dos produtos das usinas j existentes.

    Atualmente, a siderurgia brasileira reconhecida pela qua-lidade dos seus produtos e pela estabilidade de seu fornecimento,encontrando-se no estado-da-arte em termos tecnolgicos.

    Vislumbra-se o incio de uma nova etapa de desenvolvi-mento, com investimentos em expanso de capacidade, visando aoatendimento do mercado interno, com grande potencial de expanso,e ampliao da posio exportadora j conquistada. Na subseoO Estado Atual e Perspectivas ser discutida a estratgia do novociclo de investimentos de acordo com a forma de insero pretendidano mercado externo e a estrutura de complementaridade do aten-dimento do mercado externo e interno.

    Para onde Vai a China? O Impacto do Crescimento Chins na Siderurgia Brasileira156

    19401950 1960

    1970 19851990

    2000

    30,028,0

    22,0

    15,0

    5,02,0

    0,5

    35,0

    Mt/

    an

    o

    Crescimento

    Sobrevivncia

    Desenvolvimento/ AtualizaoTecnolgica

    Investimentos eAbsoro de Tecnologia

    Economia eReduo de Custos

    Privatizao

    Melhoria de Produto,Produtividade,Lucratividade

    Novos Investimentos

    BELGO MINEIRA CSNACESITAMANNESMANN

    USIMINASCOSIPA

    COSIGUA CSTMENDES JRAOMINAS

    1995

    Implantao

    19401950 1960

    1970 19851990

    2000

    30,028,0

    22,0

    15,0

    5,02,0

    0,5

    35,0

    Mt/

    an

    o

    CrescimentoCrescimento

    Sobrevivncia

    Desenvolvimento/ AtualizaoTecnolgica

    Investimentos eAbsoro de Tecnologia

    Economia eReduo de Custos

    Privatizao

    Melhoria de Produto,Produtividade,Lucratividade

    Novos Investimentos

    BELGO MINEIRA CSNACESITAMANNESMANN

    USIMINASCOSIPA

    COSIGUA CSTMENDES JRAOMINAS

    1995

    ImplantaoImplantao

    Reestruturao,

    4 Fase

    3 Fase

    2 Fase

    1 Fase

    Grfico 1

    Evoluo do Setor Siderrgico no Brasil

    Fonte: IBS.

  • O parque produtor de ao no Brasil, em 2004, era compostode 24 usinas, 11 integradas e 13 semi-integradas, administradas por11 empresas, com capacidade produtiva total de 34 milhes detoneladas/ano de ao bruto. Nesse ano, foram produzidas 32,9milhes de toneladas de ao bruto 96,5% da capacidade , volumeque correspondeu a 3,1% da produo mundial de 1.056,6 milhesde toneladas de ao bruto, colocando o Brasil como oitavo produtormundial e o quarto exportador lquido no mundo, com aproximada-mente 3,6% das exportaes mundiais de produtos siderrgicos.

    A indstria siderrgica nacional produz uma ampla gamade produtos planos e longos, acabados e semi-acabados, capaz deatender a quase toda a demanda no mercado domstico, pelos se-tores automobilstico, bens de capital, construo civil, entre outros.

    So fatores determinantes para que a produo nacionalapresente vantagens competitivas importantes:

    o baixo custo e a qualidade do minrio de ferro nacional (em razoda grande ocorrncia no territrio nacional de minrio de ferrode alto teor e reduzido ndice de impurezas);

    a eficincia da logstica e infra-estrutura para produo e comer-cializao de ao (esquema mina-ferrovia-porto);

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 22, p. 151-204, set. 2005

    PanoramaQualitativo eQuantitativo

    157

    Tabela 1

    Empresas Siderrgicas no Brasil em 2005TIPO EMPRESA (Localizao) PRODUTO GRUPO CAP. 2005

    (Unid. 1000t)

    Usinas Integradas Acesita (MG)Cosipa (SP)

    CST (ES)CSN (RJ)

    Usiminas (MG)Belgo Mineira (Monlevade/MG)Gerdau (Baro de Cocais/MG,

    Divinpolis/MG), Aominas (MG)Usiba (BA)

    V&M do Brasil (MG)

    LaminadosPlanos

    ArcelorUsiminas Cosipa

    ArcelorCSN

    Usiminas Cosipa

    8304.5005.3006.0005.000

    LaminadosLongos

    ArcelorGerdauGerdau

    3.800

    8.840

    V&M do Brasil 570

    Usinas Semi-Integradas Ao Villares (Pindamonhangaba/SPe Mogi das Cruzes/SP)

    Siderrgica Barra Mansa (BarraMansa/RJ)

    Belgo Mineira (Piracicaba/SP,Grande Vitria/ES e Juiz de

    Fora/MG)Gerdau (Aos Finos Piratini/RS)

    Aonorte (PE)Cearense (CE)Cosigua (RJ)Guara (PR)

    Riograndense (RS)Villares Metais (SP)

    LaminadosLongos

    Aos Villares 870

    Votorantim 600

    Arcelor 3.800

    GerdauGerdauGerdauGerdauGerdauGerdau

    8.840

    Villares Metais 130

    Obs: Capacidade de produo para 2005, referente ao grupo siderrgico.

  • a disponibilidade de energia eltrica;

    a disponibilidade de recursos humanos qualificados;

    o processo produtivo no estado-da-arte em termos tecnolgicosem razo de investimentos ps-privatizao;

    a escala de produo decorrente do tamanho do mercado internoe da possibilidade de acessar outros mercados por meio daestrutura porturia; e

    a existncia de frete de retorno, apor causa da necessidade deimportao de carvo mineral.

    Como desvantagens esto a dependncia de importaode carvo mineral e as escalas empresariais inadequadas.

    A conjuno desses fatores resulta em uma indstria queest entre as mais competitivas do mundo em custos operacionais,garantindo margens operacionais extremamente favorveis. Issotem possibilitado s empresas brasileiras competir com outras demaior porte no mercado internacional e ainda manter o mercadointerno protegido contra um volume mais significativo de importaes.

    Arcelor

    o segundo maior grupo siderrgico mundial, constitudocom base na fuso de trs empresas europias em 2002: Aceralia(Espanha), Arbed (Blgica) e Usinor (Frana). Conta com aproxima-damente 94.600 empregados alocados em mais de 60 pases.

    Em 2004, a produo do grupo foi de 47 milhes de tone-ladas de ao, com faturamento de aproximadamente $ 30,2 bi-lhes. Este grupo, alm de ser um importante fabricante de aosplanos e longos do mundo, est entre os lderes na produo de aoinox, sendo bastante significativa a sua participao nos segmentosde distribuio, transformao e comrcio de ao entre as empresaseuropias.

    No Brasil, a Arcelor detm participaes nas seguintesempresas: Companhia Siderrgica de Tubaro (CST); CompanhiaSiderrgica Belgo-Mineira (CSBM); Acesita; Vega do Sul; e, por meioda CSBM, controla a argentina Acindar.

    Em 2005, foi criada a Arcelor Brasil que consolida na CSBMas participaes que detm na CST e na Vega do Sul. A consolida-o da Acesita na Arcelor Brasil ficou para uma segunda fase emrazo das negociaes em curso com os demais acionistas daempresa.

    Para onde Vai a China? O Impacto do Crescimento Chins na Siderurgia Brasileira

    Principais Players

    158

  • A Arcelor Brasil ter uma capacidade de 11 milhes detoneladas/ano, incluindo a argentina Acindar. Essa capacidade superior da Usiminas, Gerdau e CSN, com quem concorrerdiretamente. O grupo pretende reunir em uma nica empresa suasoperaes na Amrica Latina.

    Nos ltimos anos, o grupo tem realizado grandes inves-timentos no Brasil, o que demonstra o seu interesse pela siderurgialocal, dadas as vantagens competitivas desta indstria em territrionacional. Alm disso, a aquisio do controle da CST e a participaono projeto da Usina Siderrgica do Maranho indicam o interesseem concentrar a produo de semi-acabados no pas para beneficia-mento nos centros consumidores dos Estados Unidos (EUA) e Europa.

    Companhia Siderrgica Nacional (CSN)

    A CSN, fundada em 1941, atua no segmento de aosplanos (laminados a quente, laminados a frio, galvanizados, folhasmetlicas e semi-acabados), tendo sido a primeira produtora de aodo Brasil. O ao produzido pela companhia viabilizou a implantaodas primeiras indstrias nacionais, que formaram o embrio do atualparque fabril brasileiro.

    Adquirida pelo Grupo Vicunha no leilo de privatizaorealizado em abril de 1993, a companhia passou por um profundoprocesso de reestruturao industrial e organizacional, sendo, atual-mente, uma empresa com presena no cenrio internacional.

    A CSN um dos maiores complexos siderrgicos da Am-rica Latina, com capacidade de produo de 5,8 milhes de toneladasanuais de ao bruto, nas suas fbricas localizadas em Volta Redonda(RJ) (Usina Presidente Vargas, a principal planta); Galvasud (gal-vanizadora localizada em Porto Real RJ); CSN em Curitiba (PR)(produtora de galvalume5 e pr-pintados); CSN LLC nos EUA; eLusosider (joint venture entre CSN e o grupo ingls Corus, emPortugal). Por meio da Inal, distribui ao em todo o territrio nacional.Os produtos da CSN destinados ao mercado externo so exportadosatravs dos Portos de Sepetiba, do Rio de Janeiro e de Angra dosReis. Alm disso, auto-suficiente em relao ao fornecimento doseu principal insumo minrio de ferro. A Mina de Casa de Pedra,localizada em Congonhas (MG), tem capacidade de produo atualde 16 milhes de toneladas/ano e abastece os altos-fornos da UsinaPresidente Vargas.

    A CSN iniciou um movimento de internacionalizao como objetivo de adquirir mercados no exterior, consumidores de produ-tos siderrgicos intermedirios produzidos no pas, em linha com aestratgia de crescimento por meio da aquisio de acesso aosmercados externos produo de semi-acabados nos pases demenor custo e laminao prxima aos pases consumidores.

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 22, p. 151-204, set. 2005 159

    5Galvanizao por proces-so eletroltico.

  • A CSN deve aproveitar a vantagem competitiva de possuiro seu prprio minrio de ferro por meio do aumento da produo deplacas e bobinas, que, por uma restrio do tamanho do mercadointerno, teria como destino o mercado externo, preferencialmenteconsumidores nos quais a empresa estivesse presente. Para isso,planeja a ampliao da produo de placas, seja com a construode uma nova usina, em Itagua (RJ), com capacidade para 5 milhesde toneladas anuais, seja com a criao do quarto alto-forno em VoltaRedonda de 2,5 milhes de toneladas anuais. Essa deciso depen-der da demanda de placas gerada por uma futura aquisio noexterior.

    Usiminas

    O Grupo Usiminas possui capacidade de produo anualde 9,0 milhes de toneladas de ao lquido, com suas principaisplantas localizadas em Ipatinga (MG) (ao longo da estrada de ferroVitria-Minas) e Cubato (SP) (planta da Cosipa, atravessada pelasvias frreas da MRS). Alm da prpria Usiminas e da Cosipa, o grupotem participao em algumas empresas da sua cadeia de valor:

    logstica: Usifast, MRS Logstica, Rios Unidos Transportes e osterminais porturios de Praia Mole (ES) e Cubato (SP);

    estamparia e bens de capital: Usiminas Mecnica e Usiparts;

    distribuio e servios: Fasal, Rio Negro, Dufer, Usial, Usiroll;

    galvanizao: Unigal; e

    participao acionria minoritria nas siderrgicas Siderar (Argen-tina) e Sidor (Venezuela).

    Em nmeros consolidados, a Usiminas produz 26% do aobruto brasileiro. Os principais clientes encontram-se nos segmentosautomobilstico, de autopeas, mquinas agrcolas e rodovirias,equipamentos eletroeletrnicos e tubos de grande dimetro, alm dosetor de distribuio. Cerca de 70% de sua produo destinadadiretamente ao mercado interno.

    A participao das vendas da Usiminas no mercado inter-nacional vem subindo desde o ano 2000, por conta, principalmente,da exportao de placas da Cosipa.

    No Brasil, a Usiminas est estudando a possibilidade deum novo alto-forno que elevaria sua capacidade atual de produo,de 9,5 milhes de toneladas/ano, em mais 1 ou 2 milhes detoneladas anuais.

    Seguindo a tendncia do setor, a Usiminas tambm buscauma expanso internacional e analisa a aquisio de uma participa-o acionria de no mnimo 10% do capital da siderrgica que o grupo

    Para onde Vai a China? O Impacto do Crescimento Chins na Siderurgia Brasileira160

  • talo-argentino Techint planeja erguer aps concluir a compra damexicana Hylsamex.

    A Techint pretende unificar suas operaes siderrgicaslatino-americanas por meio da criao de uma holding especifica-mente para essa operao. Essa nova companhia reunir as side-rrgicas mexicana Hylsamex, a argentina Siderar e a venezuelanaSidor; nas duas ltimas a Usiminas detm participaes.

    Gerdau

    O Grupo Gerdau atua na produo de aos longos comunse especiais. A estratgia de expanso da Gerdau, ao longo dadcada de 1990 e em anos recentes, contou com a aquisio decapacidade de produo no exterior. Com isso, a capacidade deproduo de 14,7 milhes de toneladas est instalada em unidadeslocalizadas no Brasil, Uruguai, Argentina, Chile, Canad e EUA.

    Os principais segmentos de mercado atendidos pela Ger-dau (mais genericamente, pelos produtores de aos longos) soconstruo civil, em que fornecedora de vergalhes e arames paraconcreto, e o setor industrial, demandante de fio-mquina, barras,perfis, arames para automveis, aparelhos para uso domstico ecomercial, mquinas e implementos agrcolas.

    Cerca de um tero das vendas da produo nacional des-tina-se exportao, sendo o restante colocado no mercado interno.Em 2003, aproximadamente 51% das exportaes foram direciona-das sia, 12% para a Europa, 11% para a Amrica Central, 11%para a frica, 9% para a Amrica do Norte e 6% para a Amricado Sul.

    A internacionalizao da sua produo deu condio de oGrupo Gerdau assumir uma posio de grande destaque mundial noseu segmento especfico de atuao. Em 2004, a Gerdau se posi-cionou como o 12 maior produtor mundial de ao.

    A indstria vem atraindo novos players, incluindo os gran-des grupos siderrgicos mundiais, que demonstram interesse emingressar ou ampliar sua produo em um pas de baixo custooperacional nesse setor.

    Atualmente, esto em estudo projetos para a implantaode empresas siderrgicas localizadas no pas destinadas produode placas. O projeto da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), emassociao com outras empresas siderrgicas, poder alcanar 24milhes de toneladas/ano em 2010, produo prevista em trs m-dulos de 7 milhes de toneladas/ano. A CVRD, que inicialmenteprevia a implantao desse projeto no Maranho, deve procurar novalocalizao dadas as dificuldades encontradas. Em Itagua (RJ),

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 22, p. 151-204, set. 2005 161

  • existe outro projeto da CVRD em associao com a ThyssenKruppStahl, que avalia a instalao de uma usina de placas para exporta-o com capacidade de 4,4 milhes de toneladas/ano, cujo incio deoperao est previsto para 2010. Os grupos, como o Dongkuk, daCoria do Sul, e Danielle, da Itlia, pretendem construir uma usinasiderrgica a gs natural no Cear. Nesse projeto, a CVRD forneceriamatria-prima, a Dongkuk compraria a produo de placas da usina,e a Danielle forneceria as mquinas e a tecnologia para a produo.

    Depois do rpido crescimento do ps-guerra at os anos1960, no perodo de 1973-2000, a produo global de ao brutosituou-se no intervalo de 700 a 800 milhes de toneladas/ano,caracterizando a siderurgia como uma atividade madura.

    Para onde Vai a China? O Impacto do Crescimento Chins na Siderurgia Brasileira

    Estado Atual ePerspectivas

    162

    Tabela 2

    Capacidade Produtiva da Indstria Brasileira de Aos Planos(Em Mil Toneladas)

    COSIPA Placas Chapas BQ BF Galvan. Folha deFlandres

    Total

    Produo 4.100 900 2.100 1.100

    Consumo interno -3.000 -1.100

    Venda ao mercado 1.100 900 1.000 1.100 4.100

    USIMINAS Placas Chapas BQ BF Galvan. Folha deFlandres

    Total

    Produo 4.500 1.000 3.500 2.500 760

    Consumo interno -4.500 -2.500 -760

    Venda ao mercado 0 1.000 1.000 1.740 760 4.500

    CSN Placas Chapas BQ BF Galvan. Folha deFlandres

    Total

    Produo 5.500 5.200 3.850 1.900 1.100

    Consumo interno -5.200 -3.850 -3.000

    Venda ao mercado 300 1.350 850 1.900 1.100 5.500

    CST/Vega do Sul Placas Chapas BQ BF Galvan. Folha deFlandres

    Total

    Produo 4.500 2.000 500 250

    Consumo interno -2.000 -500 -250

    Venda ao mercado 2.500 1.500 250 250 4.500

    Total Placas Chapas BQ BF Galvan. Folha deFlandres

    Total

    Venda ao mercado 3.900 1.900 4.850 3.940 2.910 1.100 18.600

    Mercado domstico 225 1.249 3.577 2.178 1.399 667 9.295

    Excedente exportvel 3.675 651 1.273 1.762 1.511 433 9.305

    Exportaes/Capacidade 94% 34% 26% 45% 52% 39% 50%

    Fonte: IBS, empresas e UBS.

  • Apesar da estagnao do nvel de produo, algumasmudanas bastante significativas ocorreram no setor, em relaotanto ao mix de produtos quanto distribuio geogrfica.

    No que diz respeito ao mix de produtos, verificou-se noperodo um intenso ritmo de progresso tecnolgico, resultando naintroduo de inmeras inovaes voltadas para a melhoria e eno-brecimento do material.6

    Com referncia distribuio geogrfica da produo side-rrgica no mundo, no perodo entre 1985 e 2000, a participao dospases em desenvolvimento foi crescente, inicialmente na produoe, depois, na exportao de ao.

    Alm disso, houve uma modificao notvel quanto dis-tribuio da produo siderrgica entre as regies do mundo, quese refere crescente participao dos pases voltados para o Ocea-no Pacfico. No mesmo perodo, a participao relativa dessespases avanou de 30% para 45%, fato fortemente relacionado evoluo da produo siderrgica chinesa, a maior produtora mun-dial desde 1996.

    Em relao ao comportamento dos preos praticados naindstria, pode-se dizer que apresenta uma forte oscilao e que,historicamente, havia uma tendncia de queda dos preos tempora-riamente interrompida em perodo de forte crescimento da demanda.A volatilidade e a tendncia de queda dos preos so decorrncia dapulverizao da produo em nvel mundial entre players e daimpossibilidade de parar temporariamente a produo do alto-forno,tornando inviveis esquemas eficientes de coordenao de inves-timento, que geram excesso de capacidade instalada e de produtosofertados, fato agravado pelos custos de sada elevados.

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 22, p. 151-204, set. 2005 163

    6A siderurgia um setor de-mand pull, no qual as neces-sidades dos consumidoresdeterminam as aes tecno-lgicas. Historicamente, asempresas siderrgicas vmdedicando uma parcelacada vez maior de seu ora-mento de Pesquisa e De-senvolvimento (P&D) paranovos produtos, delegandoos esforos de desenvolvi-mento de novos processospara empresas de engenha-ria e produtoras de equipa-mentos. Na siderurgia, a capacida-de de reteno financeira deuma inovao bem-sucedi-da maior quando se tratade inovaes de produto. Omaior dinamismo da deman-da nas faixas de mercadoem que possvel desenvol-ver novas especificaes, apossibilidade de estabele-cer relacionamentos privile-giados com clientes e a con-seqente possibilidade depraticar preos mais eleva-dos determinam a atrativida-de do desenvolvimento denovas variedades de ao, ouainda, de tcnicas que me-lhorem as condies de usode aos com especificaesj conhecidas [Coutinho(1993, p. 23)].

    600

    800

    1000

    1200

    1 Choque

    do Petrleo

    1 Choque

    do Petrleo

    600

    800

    1000

    1200

    1 Choque

    do Petrleo

    1 Choque

    do Petrleo

    M/t

    Grfico 2

    Evoluo da Produo Mundial de Ao Bruto (1950 2004)

    Fonte: International Iron & Steel Institute (IISI).

  • Entre 1989 e 2002, os preos do ao no mercado mundialapresentaram queda nominal. A principal razo foi a oferta adicionalde produtos siderrgicos que atingiu o mercado internacional a partirda falncia do Bloco Sovitico.

    O rpido e forte crescimento da siderurgia chinesa, a partirde 2001, mudou sensivelmente esse quadro em relao tanto am-pliao da capacidade de produo mundial quanto aos preos,como ser mostrado adiante.

    Forma de Insero no Mercado Externo DeslocamentoGeogrfico da Produo/Internacionalizao

    esperada, no mdio prazo, uma reestruturao da ofertamundial por meio de uma redistribuio geogrfica da produoglobal, caracterizada, principalmente, pelo deslocamento da partequente da produo siderrgica para pases com maior competitivi-dade nessa etapa e da parte fria para pases com amplos mercadosconsumidores desses produtos finais.

    Essa tendncia decorrncia de trs fatores fundamentais:

    a) baixa eficincia das plantas europias e norte-ameri-canas;

    b) questo ambiental, pois a parte quente da produosiderrgica forte emissora de carbono, item controla-do pelo Protocolo de Kyoto nos pases signatrios; e

    c) intensificao da competio no mercado global deao.

    Os fatores desmotivadores desse processo so os custosde fechamento (trabalhistas e passivo ambiental) das usinas.

    O processo de reestruturao abrange a produo de aosplanos e tem envolvido a reduo de capacidade na Europa e nosEUA. A demanda criada pelo fechamento desses altos-fornos seriasuprida em parte pela aquisio de semi-acabados e pela otimizaoda utilizao dos altos-fornos remanescentes.

    Na Europa, o fechamento tambm conseqncia doprocesso de consolidao dos grandes produtores. No caso norte-americano, os fechamentos resultariam dos elevados custos de pro-duo, das dificuldades financeiras das empresas e de adequao arequisitos ambientais cada vez mais restritivos.

    Para onde Vai a China? O Impacto do Crescimento Chins na Siderurgia Brasileira

    Tendncias para oSetor

    164

  • Como o Brasil se insere nesse contexto?

    a) A produo de semi-acabados no Brasil est entre asmais competitivas do mundo.

    b) O mercado externo dinmico propulsor de crescimen-to rpido da produo domstica.

    c) O ganho de escala das empresas que operam nomercado domstico e o aumento na gerao de caixa,com conseqente maior capacidade de investimentono enobrecimento do produto.

    d) Existe a possibilidade de as empresas brasileiras se-rem agentes desse processo, comprando laminadoresno exterior para entrada no mercado consumidor deprodutos mais nobres.

    Com base nos resultados do estudo de curva de custos7

    da siderurgia mundial elaborado pelo World Steel Dynamics (WSD)de abril de 2004, pode-se comprovar que o Brasil caracteriza-secomo um plo competitivo da siderurgia mundial, uma vez que seuscustos de produo esto entre os menores do mundo. A vantagemcompetitiva das siderrgicas brasileiras se estende por todo o pro-cesso de produo, desde a sinterizao at a laminao a frio edecorre principalmente da disponibilidade de minrio e da existnciade logstica integrada.

    Sendo assim, o aumento da produo siderrgica brasileiracom nfase na parte quente uma estratgia adequada para aco-modar um rpido crescimento desse setor no Brasil.

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 22, p. 151-204, set. 2005 165

    7Os valores apresentadosno texto referem-se ao custopor fator de produo medi-dos em US$ por tonelada debobina a frio produzida.

    109

    148 149 150150

    200

    250

    Dados: WSD World Cost Curve abril 2004

    Mxico EUA EUA

    Grfico 3

    Comparao de Custos Caixa da Produo de Ao Lquido(Em US$)

    Fontes: Metallica 22 de setembro de 2004, Ita Corretora.

  • Os riscos relacionados adoo dessa estratgia so:

    sobrecapacidade da siderurgia mundial, que ocasione queda sig-nificativa de preos;

    volatilidade dos preos de produtos semi-acabados, uma vez quea menor flexibilidade na tecnologia de produo da parte quenteem ajustar sua oferta demanda a torna mais vulnervel soscilaes de preos;

    restrio de acesso aos mercados consumidores, que resulte emvendas abaixo do esperado; e

    transferncia de margens entre empresas no Brasil e no exterior.

    O fator atenuante para os riscos de sobrecapacidade evolatilidade dos preos de produtos semi-acabados o baixo custooperacional da produo siderrgica brasileira. Nesse caso, as em-presas nessa condio tm maior resistncia a perodos de baixa depreo, pois apresentam margem operacional positiva enquanto em-presas de maior custo j tm resultados negativos.

    Vale lembrar que os elevados custos de sada no setorsiderrgico fazem com que as usinas operem, ainda que no prejuzopor algum perodo, espera do retorno dos preos a nveis supe-riores. Esse um dos motivos pelo qual foi recorrente o excesso decapacidade instalada e de produtos ofertados nessa indstria.

    Para o risco de restrio aos mercados consumidores etransferncia de margem, existem alguns atenuantes:

    a) a menor freqncia de barreiras comerciais para pro-dutos semi-acabados, pois estas costumam incidir so-bre produtos de maior valor adicionado;

    b) a formao de joint ventures entre empresas brasileirase estrangeiras garantindo acesso aos mercados ex-ternos, particularmente no caso em que a scia es-trangeira estiver fechando a sua linha quente de pro-duo no exterior. Alm disso, o scio nacional devermanter sua margem de lucro adequada; e

    c) os projetos de expanso para o mercado externo po-deriam ser efetuados com base em grupos nacionaisfortes, que visem maximizao de seu lucro dentrodo pas.

    Embora o mercado internacional seja potencialmente umfator dinamizador importante da siderurgia brasileira, assim comorelevante fonte de divisas para o pas, cabe observar tambm aslimitaes da estratgia de crescimento baseada no atendimentodeste com produtos semi-acabados.

    Para onde Vai a China? O Impacto do Crescimento Chins na Siderurgia Brasileira166

  • A limitao dessa estratgia para o pas resulta, basica-mente, da forma de insero do Brasil como exportador de produtossemi-acabados, de valor mais baixo em relao aos produtos side-rrgicos mais nobres. Entretanto, a escolha dos produtos semi-aca-bados como carros-chefe dos exportados fundamenta-se na lgicada indstria siderrgica mundial de produzir a parte quente nos pasesde menor custo, como o Brasil, e de fabricar a parte fria prximo aomercado consumidor. Essa distribuio geogrfica da produo nomundo reforada pela existncia de barreiras comerciais a produtosmais nobres nos pases maiores consumidores.

    Uma vez que a oportunidade aponta para investimentos naoferta de produtos de menor valor agregado para exportao, aampliao da oferta interna de produtos acabados mais nobresdepende da evoluo do mercado domstico.

    A complementaridade entre as estratgias de investimen-tos para atendimento dos mercados interno e externo ser discutidano item a seguir.

    Mercado Interno e a Estrutura de Complementaridade deAtendimento do Mercado Externo

    Conforme apresentado anteriormente, o ciclo de inves-timento ocorrido na indstria siderrgica brasileira entre 1994 e 2003no resultou em aumento significativo da capacidade produtiva total,apesar de os investimentos terem priorizado e resultado em aumentoda capacidade de laminao.

    O fato de os investimentos selecionados terem visadoprioritariamente ao aumento da capacidade de laminao e o eno-brecimento dos produtos das usinas j existentes decorre da expec-tativa de maior demanda por aos nobres (revestidos e especiais).

    Tanto na siderurgia mundial quanto na brasileira, a tendn-cia de aumento no consumo dos aos nobres a taxas superioress dos aos comuns, em face da utilizao do ao de melhor espe-cificao tcnica na produo de bens finais. Seguindo as tendnciasdo consumo, a produo crescentemente voltada para os lamina-dos planos, em particular para as chapas revestidas, como as gal-vanizadas. A produo desses produtos nos pases desenvolvidosvem aumentando de forma contnua.

    Adicionalmente, no que diz respeito ao consumo per capitade ao bruto, o Brasil tem uma grande defasagem em relao aosvalores observados nas economias desenvolvidas, indicando umpotencial de crescimento. Atualmente, o consumo per capita anual deao bruto no Brasil de 112 kg, enquanto em economias desenvolvi-das superior a 400 kg (na China, o consumo de 198 kg/habitante).Cabe considerar que esse potencial pode ser realizado tanto pelo

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 22, p. 151-204, set. 2005 167

  • aumento do consumo de produtos de ao contido por parte das famliasbrasileiras, quanto pelo crescimento das exportaes desses produtos.Entre 2004 e 2005, o consumo aparente cresceu 12% em razoprincipalmente do crescimento da exportao de automotores.

    Sendo assim, para atender perspectiva de aumento noconsumo interno de ao seriam necessrios investimentos no au-mento da capacidade instalada, uma vez que resta pouca ociosidadena indstria. De outra maneira, a demanda gerada pelo mercadointerno pode vir a concorrer com a do mercado externo pela produodas empresas siderrgicas nacionais.

    O ciclo atual de investimento da siderurgia nacional deveoperar em duas frentes:

    a) aumento da capacidade instalada em semi-acabadospara atendimento do mercado externo; e

    b) aumento da capacidade instalada em acabados paraatendimento do mercado interno.

    Essa lgica fica evidenciada na anlise da pauta de vendasde produtos siderrgicos brasileiros para o mercado interno e exter-no, conforme pode ser verificado nos Grficos 4 e 5, que mostram amaior participao de laminados nas vendas para o mercado internoe de semi-acabados nas vendas para mercado externo.

    As oportunidades apresentadas no mercado externo, comodiscutido na seo anterior, consolidam o padro da siderurgia bra-sileira como exportadora de produtos semi-acabados. Ou seja, ex-portao de produtos menos nobres e, portanto, de menor valoragregado, uma vez que esses tm insero mais fcil nos mercadosconsumidores, dada a menor incidncia de barreiras comerciais. Os

    Para onde Vai a China? O Impacto do Crescimento Chins na Siderurgia Brasileira168

    Destino das Exportaes Brasileiras de Produtos Siderrgicos(Por regio)

    0

    500.000

    1.000.000

    1.500.000

    2.000.000

    2.500.000

    3.000.000

    3.500.000

    1999

    2001

    200

    3

    199

    9

    200

    1

    2003

    1999

    2001

    2003

    1999

    2001

    2003

    1999

    2001

    2003

    Europa Amrica do Norte China

    Semi-acabadosLaminados

    QuentesLaminados

    FriosRevestidos

    AosEspeciais

    Grfico 4

    Demanda do Mercado Externo por Produto

    Fonte: IBS.Elaborao: Prpria.

  • produtores dos pases desenvolvidos procuram compensar a des-vantagem de custo em relao aos produtores de outros pases pormeio de mecanismos protecionistas.

    Dessa maneira, a ampliao da oferta de produtos acaba-dos de maior valor agregado depende da evoluo do mercado do-mstico, em consonncia com a estratgia atual da indstria siderr-gica de implantar as unidades de laminao prximas ao mercadoconsumidor.

    O consumo interno funo da demanda da indstria ajusante na produo do bem final de ao contido, seja para venda nomercado domstico, seja para exportao. Existe, igualmente, umpotencial de crescimento voltado ao mercado externo das indstriasque utilizam produtos siderrgicos como insumos, em razo dacompetitividade do Brasil na produo de ao.

    Assim, a existncia de um mercado interno dinmico podeimpulsionar a indstria siderrgica na produo e consumo internode uma ampla gama de produtos siderrgicos, seja qual for o nvel devalor agregado no produto, e as exportaes promoveriam melhoriana escala e gerariam divisas, importante recurso para o investimento.

    Dessa maneira, as siderrgicas brasileiras sero capazesde: abastecer o mercado interno; ocupar espaos no mercado inter-nacional; e ampliar sua escala empresarial. Este ltimo ponto im-portante at mesmo como barreira a possveis aquisies de empre-sas nacionais por suas concorrentes internacionais. Em um segundomomento dessa estratgia, a indstria tender a alcanar maior com-petitividade via ganho de escala. Tal ganho, adicionado s divisasgeradas nas exportaes, levar a indstria a obter maior soma derecursos que podero ser reinvestidos na produo.

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 22, p. 151-204, set. 2005 169

    Distribuio das Vendas Brasileiras de Produtos Siderrgicos

    (Por segmento)

    0

    500

    1.000

    1.500

    2.000

    2.500

    3.000

    3.50019

    99

    2001

    200

    3

    1999

    2001

    2003

    199

    9

    2001

    2003

    1999

    200

    1

    2003

    1999

    2001

    200

    3

    mil

    ton

    ela

    das

    Mercado Interno

    Semi-acabadosLaminados

    QuentesLaminados

    FriosRevestidos

    AosEspeciais

    Grfico 5

    Demanda do Mercado Interno por Produto

    Fonte: IBS.Elaborao: SPID/BNDES.

  • A estratgia apresentada para o novo ciclo de investimen-tos mostra a complementaridade no atendimento dos mercadosinterno e externo. A intensidade do processo est relacionada aoaumento da concorrncia setorial em um contexto de diminuio demargens. O maior ou menor grau desse movimento depender daevoluo da economia e do setor na China, conforme se poderobservar a seguir.

    A China representa hoje o maior desafio s economiascapitalistas desde os tempos de Marco Plo e da Rota da Seda.

    Desde 1978, quando o governo chins decidiu iniciar aabertura econmica a fim de revitalizar a economia domstica, coma inaugurao do denominado capitalismo de estado, o pas temse convertido em intenso consumidor de insumos, matrias-primase produtos agrcolas, elevando a produo e os preos de diversascommodities, entre elas o minrio de ferro, o ao e a soja.

    Esse movimento intenso de importao foi a conseqnciade duas dcadas de altos ndices de investimento, principalmentegovernamentais, e forte influxo de investimento direto externo (IDE),gerando um vigoroso parque industrial, ancorado em uma populaode 1,3 bilho de habitantes.

    Tais esforos resultaram em uma taxa mdia anual decrescimento do PIB no perodo compreendido entre 1979 e 2004 deaproximadamente 9%, e em um crescimento do PIB per capita de7% a.a. entre 1999 e 2003. Em 2004, o PIB alcanou US$ 1,6 trilho.At o segundo semestre de 2005, o PIB cresceu 9,5%.

    Atualmente, em termos globais, a China produz 75% dosbrinquedos, 58% das roupas, 29% dos telefones celulares e 25% doao (estima-se que, em 2005, esse percentual chegue a 30%). Esses

    Para onde Vai a China? O Impacto do Crescimento Chins na Siderurgia Brasileira

    China:Desempenho

    Recente ePerspectivas

    Retrato daEconomia

    Chinesa

    Crescimento do PIB

    170

    Tabela 3

    Crescimento do PIB na China

    1999 2000 2001 2002 2003

    PIB real, US$ milhes 1.037,054 1.120,018 1.201,779 1.298,310 1.416,5898,1%PIB real, paridade do poder de

    compra (PPP), US$5.190,902 5.606,174 6.015,424 6.498,600 7.090,640

    PIB real per capita, US$ milhes 827 887 942 1.011 1.0967,3%PIB real per capita com PPC, US$ 4.141 4.441 4.713 5.059 5.486

    Fonte: McKinsey, 2004.

  • nveis de produo foram alcanados com investimentos que repre-sentaram 40% do PIB em 2003, fortemente concentrados em empre-sas estatais e nas empresas semi-estatais representadas pelas joint-ventures com investidores externos.

    Os setores que aceleraram o ritmo de crescimento foramos de servios e a indstria, com destaque para a indstria de equi-pamentos eletrnicos e de telecomunicaes e servios financeirose comrcio. interessante notar que o setor de eletrnica foi o pri-meiro segmento da economia a ser exposto a um grau maior deconcorrncia com empresas estrangeiras, o que motivou um movi-mento intenso de modernizao tecnolgica, administrativa e finan-ceira. Atualmente, grandes empresas desse setor tm procuradoconquistar mercados fora da China com o intuito de preservar seu

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 22, p. 151-204, set. 2005 171

    40

    50

    60

    40

    50

    60

    Grfico 6

    Influxo de IDE na China(Em US$ Bilhes)

    Fonte: McKinsey, 2004.

    00,20,40,60,8

    11,21,41,6

    1979 1983 1987 1991 1995 1999 2003

    00,20,40,60,8

    11,21,41,6

    1979 1983 1987 1991 1995 1999 2003

    Grfico 7

    PIB China(Em US$ Trilhes)

    Fonte: McKinsey, 2004.

  • market share no prprio pas, ao ampliar as operaes para umaescala global.

    Ao se observar a balana comercial chinesa, percebe-se ainexistncia de dficits ou supervits relevantes, apesar do elevadovolume transacionado (exportaes e importaes em torno deUS$ 500 bilhes). Analisando-se os principais itens, percebe-segrande concentrao nas importaes de mquinas para o setoreltrico e para outros setores, e de insumos energticos como opetrleo, identificando as necessidades do crescimento. Por outrolado, a China tornou-se grande exportador de computadores e equi-pamentos de informtica, vesturio, equipamentos de telecomunica-es e equipamentos eltricos. A coincidncia de diversos itens emambas as pautas sugerem a importao de partes e peas e a ex-portao de produtos acabados, aproveitando o baixo custo da mo-de-obra (e altos ndices de produtividade).

    A maior parte das importaes provm do comrcio intra-regional, sobretudo de Japo, Taiwan e Coria, evidenciando a fortecorrelao entre esses pases. cada vez maior a presena de filiaisde companhias provenientes desses vizinhos asiticos.

    O principal destino das exportaes so os EUA, querepresentaram 21% do total de US$ 500 bilhes exportados em 2003.O crescente volume de exportaes tem acirrado as disputas emtorno das barreiras comerciais estabelecidas pelos pases desenvol-vidos, sobretudo para produtos intensivos em mo-de-obra, fatorpreponderante da competitividade chinesa.

    Para onde Vai a China? O Impacto do Crescimento Chins na Siderurgia Brasileira

    Comrcio Externo

    172

    ConsumoConsumoConsumodas famlias

    Investimentobruto

    Consumo dogoverno

    Exportaeslquidas

    Grfico 8

    Componentes do PIB, 2003(Em %)

    Fonte: McKinsey, 2004.

  • Deve ser lembrado que a forte correlao na cadeia produ-tiva entre a China e os pases vizinhos Coria, Taiwan e Japo tem ampliado a competitividade das exportaes destes, como vemocorrendo em diversos setores. A intensa exportao de produtosbsicos a baixos preos pela China, como as memrias de compu-tadores, tem propiciado aos vizinhos a expanso de exportaes demaior valor agregado para o Ocidente, deslocando os produtoreslocais dos pases destinatrios.

    O crescimento chins teve como elemento fundamental oinvestimento direto externo (IDE), por meio das pioneiras ZonasEconmicas Especiais (Special Economic Zones) localizadas nascidades litorneas (Shenzen, Zhuhai, Shantou, Xiamen e a provnciade Hainan). Ao longo dos anos, diversas outras cidades e provnciasforam sendo liberadas para o investimento externo, o que permitiuuma forte acumulao de divisas e a importao de tecnologiasavanadas por meio do estabelecimento de joint ventures com ocapital estrangeiro.

    Um dos mais exitosos modelos de crescimento impulsio-nado pelas exportaes, a China recebeu crescentes aportes de IDE(em etapas graduais de abertura at o estabelecimento de metas depoltica industrial com setores selecionados), principalmente dospases asiticos vizinhos (Hong Kong e Taiwan), alcanando 57bilhes de dlares em 2003 (4% do PIB), o que sustentou os 40% doPIB em investimentos ao longo da dcada de 1990 e, principalmente,a partir de 2001, com a adeso da China OMC.

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 22, p. 151-204, set. 2005

    Investimento DiretoExterno

    173

    42.4

    62.6

    52.1

    45.0

    13.0

    Total: US$ 485.1 bilhes

    42.4

    62.6

    52.1

    45.0

    13.0

    Total: US$ 485.1 bilhes

    21.0

    79.8

    26.7

    24.2

    19.5

    Total: US$ 483.8 bilhes

    21.0

    79.8

    26.7

    24.2

    19.5

    Total: US$ 483.8 bilhes

    21.0

    79.8

    26.7

    24.2

    19.5

    Total: US$ 483.8 bilhes

    Principais destinos Exportao(Em %)

    EUA 21.1 18.0

    12.0

    10.4

    8.2

    5.9

    Hong Kong 17.4

    Japo 13.6

    Coria do Sul 4.6

    Alemanha 4.0

    Principais destinos Importao(Em %)

    Japo

    Taiwan

    Coria do Sul

    EUA

    Alemanha

    Exportaes Importaes

    Mq. eltricas

    Petrleo, produtosderivados

    Mq. de escritrio,equip. de proc. dedados

    Mq. de escritrio,equipamento deproc. de dados

    Vesturio

    Mquinas paraoutras indstrias

    Equipamentos detelecom.

    Equipamentos detelecom.

    Equipamentoeltrico

    Calados

    Grfico 9

    Principais Exportaes e Importaes 2003(US$ Bilhes)

    Fonte: McKinsey, 2004.

  • O crescimento chins esteve ancorado em uma populaode 1,3 bilho de habitantes e em uma fora de trabalho de 640milhes de pessoas, o que, na ausncia de recursos naturais relevan-tes, tornou os produtos intensivos em mo-de-obra sua principal van-tagem comparativa.

    Em comparao com outros pases, desenvolvidos e emdesenvolvimento, percebe-se que a China possui um dos maisbaixos custos de mo-de-obra, sendo superada somente pela ndiae Indonsia. O custo de mo-de-obra por hora (em 2002, e em dlar) 20 vezes maior nos Estados Unidos do que na China.

    Alm disso, a produtividade chinesa tem crescido a taxassuperiores s taxas dos demais vizinhos e dos pases desenvolvidos,sobretudo no que se refere indstria, que apresentou crescimentode 12% a.a. entre 1999-2001 e de 18% a.a. no perodo 2001-2003.

    Essa expressiva vantagem competitiva tende a permane-cer no futuro prximo, uma vez que 60% da populao chinesa estono meio rural, ainda imersos em rgidas regras de movimentao.Apenas recentemente o governo central permitiu alguma flexibiliza-o nas provncias, por meio da ampliao da migrao para as ci-dades com melhores condies, que incluem educao, atendimentode sade e maior remunerao, fortalecendo o consumo e a quali-dade de vida.

    Os maiores nveis de migrao do campo para a cidaderesultaro na transformao de camponeses em trabalhadores, au-

    Para onde Vai a China? O Impacto do Crescimento Chins na Siderurgia Brasileira

    Mo-de-Obra eCompetitividade

    174

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05*

    Grfico 10

    China Fluxo de Investimentos Diretos Estrangeiros(Em US$ Bilhes)

    Fonte: Stahl-Zentrum, 2004.*Previso.

  • mentando a capacidade de consumo desses. A renda per capitaurbana correspondeu em 2002 a US$ 998 e a rural, a US$ 417, nomesmo ano, ou seja, duas vezes e meia.

    Essa movimentao populacional j provoca uma intensamodificao do padro de consumo chins. Em 1999, 11% da popu-lao possua TVs coloridas, ao passo que em 2002 essa taxa subiupara 25,2%, o mesmo podendo ser dito com relao aos celulares,que passam de 3,4% em 1999 para 16% em 2002. Percebe-se,assim, o forte potencial do mercado interno chins.

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 22, p. 151-204, set. 2005 175

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

    (10

    00

    US

    $)

    Brasil Mxico China

    Grfico 11

    Proporo Nominal de Salrios Anuais na Produo: Brasil,Mxico e China

    Fonte: Moreira, 2004.

    2000 2003 2007(previso)

    606

    1978

    4088 20%

    CAGR,

    2003-07

    2000 2003 2007(previso)

    606

    1978

    4088 20%

    CAGR,

    2003-07

    TV colorida 11.0 25.2

    Por 100 da populao 1999 2002

    Computador 1.9 6.8

    Usurios Internet 0.7 5.3

    Assinantes de celulares 3.4 16.0

    Assinan. de telefone fixo 8.6 16.7

    Automveis 0.1 0.3

    TV colorida 11.0 25.2

    Por 100 da populao 1999 2002

    Computador 1.9 6.8

    Usurios Internet 0.7 5.3

    Assinantes de celulares 3.4 16.0

    Assinan. de telefone fixo 8.6 16.7

    Automveis 0.1 0.3

    Grfico 12

    Vendas de Carros de Passeio(Em Milhes de Unidades)

    Fonte: McKinsey, 2004.

  • Por esses motivos, a China tornou-se um alvo irresistvelpara as multinacionais de diversos setores. Mesmo arriscando umafutura desestabilizao econmica ou poltica, a no presena naChina representaria uma falta de sensibilidade em relao s opor-tunidades assim como uma desvantagem frente aos concorrentes jinstalados naquele mercado.

    Conforme o processo de abertura foi evoluindo, a estruturapatrimonial da indstria chinesa foi se alterando significativamente.Em 1978, as empresas estatais respondiam por 80% do PIB, aopasso que em 2003 esse percentual caiu para 17%. Por outro lado,nesse mesmo ano, as estatais continuavam responsveis por 57%dos ativos industriais e por mais da metade da fora de trabalho.

    Pode-se, portanto, concluir que a baixa produtividade ecompetitividade dessas empresas geraro um risco inerente de crisesocial em um processo de reestruturao que envolva demisses emmassa. Um risco adicional, que ser comentado adiante, se refere forte vinculao das estatais com o sistema bancrio, amplamenteancorado em volumosos emprstimos a juros subsidiados s empre-sas do governo, o que coloca a solvncia do sistema bancriodependente da soluo dos diversos dbitos inadimplentes.

    Por outro lado, a alterao do investimento externo, am-pliando progressivamente sua presena atravs de empreendimen-tos prprios e no mais na forma de joint ventures, impe maioresdesafios s empresas chinesas, ainda lderes nos principais merca-dos abertos concorrncia.

    Para onde Vai a China? O Impacto do Crescimento Chins na Siderurgia Brasileira

    Estrutura de Capital

    176

    Empresas comInvestimento Estrangeiro

    Empresas Pblicas

    Empresas Privadas

    Empresas Coletivas

    Empresas Estatais

    4

    5

    36

    55

    18

    19

    17

    25

    21

    1990 2002

    bilhesUS$ 289

    bilhes

    4

    5

    36

    55

    18

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    21

    4

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    36

    55

    18

    19

    17

    25

    21

    1990 2002

    100% = US$ 289bilhes

    US$ 289bilhes

    Grfico 13

    Produo Industrial Chinesa por Tipo de Empresa(Em %)

    Fonte: McKinsey, 2004.

  • A conseqncia mais visvel da evoluo chinesa foi ocrescimento da renda per capita da populao. Conforme comenta-do, em 1997 a renda no meio rural era de US$ 362 por pessoa, e nomeio urbano, de US$ 627. Impulsionada pelo crescimento da inds-tria e dos servios, a renda urbana alcanou, em 2002, US$ 988 porpessoa (crescimento de 57%), ao passo que a renda rural subiu paraUS$ 417 (crescimento de 15%).

    Essa disparidade de evoluo da renda per capita tambmse reflete entre as diversas regies. Cidades de provncias costeirascomo Guangdong e Fuijan apresentam PIB per capita trs vezesmaior que provncias do interior como Hubei e Sichuan, sem citar asempobrecidas provncias do Oeste (Xinjiang e Tibet).

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 22, p. 151-204, set. 2005

    Crescimento daRenda eDesigualdade

    177

    JointVentures

    CapitalExterno

    70

    49

    51

    100%= US$ 11bilhes

    US$ 47bilhes

    30

    1992 2002

    JointVentures

    CapitalExterno

    70

    49

    51

    100%= US$ 11bilhes

    US$ 47bilhes

    30

    1992 2002

    70

    49

    51

    100%= US$ 11bilhes

    US$ 47bilhes

    30

    1992 2002

    Grfico 14

    Estrutura do IDE(Em %)

    Fonte: McKinsey, 2004.

    627

    988

    627

    988

    362

    1997

    Urbano Rural

    19972002 2002

    417

    Grfico 15

    Renda per Capita(Em US$)

    Fonte: McKinsey, 2004.

  • As migraes, entretanto, no so espontneas. O sistemahukou, criado em 1950, criou certificados que permitem ao traba-lhador chins permanecer nas cidades e ganhar acesso preferenciala servios pblicos (sade, educao e seguridade social). Em 1997,o sistema comeou a ser flexibilizado, permitindo em 2001 que otrabalhador obtivesse um hukou em mais de 20 mil cidades peque-nas, mantendo seu direito de propriedade em outras localidades.Entretanto, ainda no existem hukous para cidades maiores, e amaioria dos que requisitam o certificado no tem meios financeirosde estabelecer residncia, condio essencial para a permanncianas cidades. [Puga (2003, p.13)]

    Tendo em vista que 50% da populao economicamenteativa esto ainda no meio rural, percebe-se o longo caminho que opas ter de percorrer para absorv-la no mundo capitalista. Se, deum lado, um desafio para os administradores pblicos, de outroaponta enormes oportunidades para os empresrios nacionais e,sobretudo, para os estrangeiros.

    So evidentes as oportunidades do mercado chins; poroutro lado, os desafios e riscos tambm so contundentes, como sepode observar a seguir:

    Os problemas sociais derivados da reestruturao das empresasestatais, com a conseqente perda de empregos, aliada migra-o para as cidades, gerando, possivelmente, uma crise social dedifcil dimensionamento.

    Um sistema de penso e de previdncia social ineficiente frente populao cada vez mais idosa.

    Problemas de crescente devastao ambiental, ocasionando ris-cos ao prprio abastecimento da populao.

    Problemas de abastecimento de energia, de logstica e de alimen-to populao.

    Ausncia de regras claras de propriedade intelectual.

    Risco potencial de sobrecapacidade em diversos setores.

    A forma como a China resolver esses problemas determi-nar o montante de investimentos que afluiro do resto do mundo eo destino de seu crescimento.

    Alguns outros desafios, entretanto, j se colocam comobarreiras para a continuidade dos nveis atuais de crescimento, e tmexigido ateno especial da China, seja em funo dos acordosrealizados no momento da adeso OMC, seja em funo daspresses internacionais, sobretudo dos Estados Unidos e da UnioEuropia.

    Para onde Vai a China? O Impacto do Crescimento Chins na Siderurgia Brasileira

    Desafios aoCrescimento

    178

  • Entre 1995 e 2002, o nmero de empresas estatais dimi-nuiu, ao passo que o nmero de empresas privadas aumentou signifi-cativamente. Esse fato impulsionou o crescimento, considerando-se,tambm, a alta produtividade das empresas de capital externo.

    Entretanto, as empresas privadas e as cooperativas (em-presas coletivizadas), que representam quase 50% da produochinesa, contam com apenas 20% do valor dos emprstimos banc-rios. Esse padro de alocao do funding desencoraja as empresasprivadas, reduzindo o ritmo de crescimento e dificultando a resoluodo intricado problema de desemprego gerado pela reestruturao dasempresas estatais e pela migrao campo-cidade.

    Como ser visto adiante, a profuso de instituies finan-ceiras nas provncias tende a ampliar o crdito para tomadores poucoeficientes, com o intuito de promoo de desenvolvimento regional.Essa tendncia parece clara na siderurgia, setor em que as peque-nas aciarias ineficientes (representando um tero da produo chi-nesa) conseguem linhas de crdito facilitado das instituies banc-rias locais.

    A maioria dos bancos chineses est tecnicamente insol-vente, mantendo duas vezes mais emprstimos inadimplentes doque seu patrimnio permitiria. Por outro lado, os bancos so extre-mamente lquidos, garantidos pelos altos nveis de depsitos banc-rios corporativos (as empresas centralizam nos depsitos seu geren-ciamento financeiro), o que garante um certo nvel de segurana. Naausncia do mercado de capitais organizado e na presena de taxasde juros reguladas, os depsitos continuam sendo a melhor opopara as empresas.

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 22, p. 151-204, set. 2005

    Concentrao dosRecursos deFinanciamento

    Sistema BancrioIneficiente

    179

    MercadodeCapitais

    2

    5

    73

    15

    60

    12

    21

    1995 2003

    100%= US$ 160bilhes

    US$ 421bilhes

    7

    12

    14

    10

    21

    60

    2005(previso)

    US$ 510bilhes

    EmprstimoBancrio

    Ttulos

    Aes

    IDE

    2

    5

    73

    15

    60

    12

    21

    1995 2003

    100%= US$ 160bilhes

    US$ 421bilhes

    7

    12

    14

    10

    21

    54

    2005(previso)

    US$ 510bilhes

    EmprstimoBancrio

    Ttulos

    Aes

    IDE

    5 17

    31

    25

    30

    21

    % deempresas

    Contribuio

    100%= 7.1 milhesrenminbi

    10 trilhesrenminbi

    15

    52

    20

    65

    Participao nos

    Empresasestatais

    Empresas

    Empresasprivadaspequenas emdias

    13 trilhesrenminbi

    5 17

    31

    25

    30

    21

    % deempresas

    Contribuioao PIB

    100%= 7.1 milhesrenminbi

    10 trilhesrenminbi

    15

    52

    20

    65

    Participao nosEmprstimos

    Empresasestatais

    Empresassemiprivadas

    Empresasprivadaspequenas emdias

    13 trilhesrenminbi

    Grfico 16

    Fontes de Financiamento na China por Tipo(Em %)

    Fonte: McKinsey, 2004.

  • O grande problema dos bancos chineses a deficientemetodologia de avaliao de riscos. Nos atuais nveis de crescimen-to, essa deficincia no se revela um problema claro, mas pode vira constituir um srio risco quando os fundamentos econmicos sedeteriorarem.

    Em todo caso, por trs do sistema bancrio est o governochins, com um montante expressivo de reservas internacionais,avaliado em aproximadamente US$ 500 bilhes, apto, portanto, arecapitalizar os bancos em crise. Em 2003, o governo injetou US$ 45bilhes no Banco da China e no Banco Chins da Construo.

    Apesar de diversos bancos estarem obtendo lucros, as ins-tituies financeiras objetivam a desconcentrao nos depsitos.Atualmente, 2% de chineses controlam mais da metade dos depsi-tos, o que torna os bancos vulnerveis a crises de liquidez. Com oaumento da renda e a continuidade do crescimento, o mercado decrdito pessoal deve ser ampliado, principalmente nos emprstimostpicos de varejo, tais como emprstimos para a compra de autom-vel, cartes de crdito e hipotecas. A ampliao da rede de varejodever alterar o mix de produtos oferecidos pelos bancos, diminuindoo peso dos emprstimos corporativos.

    O grande desafio para os bancos chineses dever ser oestabelecimento de sistemas de avaliao de risco, de melhoresprocedimentos de marketing e uma ampliao da capilaridade dasagncias. Sem isso, perdero importantes fatias de mercado para osbancos internacionais, que podero captar depsitos na moeda locala partir de 2007.

    Para onde Vai a China? O Impacto do Crescimento Chins na Siderurgia Brasileira180

    Taxa anual de crescimento

    composta, 2003-13,%

    Crdito ao

    Consumidor

    Receitas, US$ milhes

    Hipotecas 1,400

    8,336 20

    Fin. Automotivo 570

    5,372 25

    Carto de Crdito 68

    5,090 54

    Outros687

    6,961 26

    Depsitos 12,031

    14,733 2

    Seguros 2872,663 25

    Fundos Mtuos29

    2,169 54

    Ativos

    Financeiros

    Pessoais

    2003

    2013 (previso)

    Taxa anual de crescimento

    composta, 2003-13,%

    Crdito ao

    Consumidor

    Receitas, US$ milhes

    Hipotecas 1,400

    8,336 20

    Fin. Automotivo 570

    5,372 25

    Carto de Crdito 68

    5,090 54

    Outros687

    6,961 26

    Depsitos 12,031

    14,733 2

    Seguros 2872,663 25

    Fundos Mtuos29

    2,169 54

    Ativos

    Financeiros

    Pessoais

    2003

    2013 (previso)

    Receitas, US$ milhes

    Hipotecas 1,400

    8,336 20

    Fin. Automotivo 570

    5,372 25

    Carto de Crdito 68

    5,090 54

    OutrosEmprstimos

    Pessoais

    687

    6,961 26

    Depsitos 12,031

    14,733 2

    Seguros 2872,663 25

    Fundos Mtuos29

    2,169 54

    Ativos

    Financeiros

    Pessoais

    2003

    2013 (previso)

    Grfico 17

    Previso de Receitas Bancrias na China por Tipo de Produto

    Fonte: McKinsey, 2004.

  • A liberalizao gradual da economia est ocorrendo, em-bora ainda no seja claro o seu ritmo. Entretanto, caso sejam toma-das iniciativas abruptas, a economia pode ser abalada pela diminui-o da confiana do investidor internacional. A seguir, mencionam-seas principais medidas que devem ser levadas a cabo nos prximosanos e os riscos associados [McKinsey (2004)].

    Desregulamentao da taxa de juros. Recentemente o governoretirou os limites mximos de juros para emprstimos comerciase para compra de automvel. Ao mesmo tempo, ampliou os prazospara alm do mximo de 15 anos. Essas medidas devero geraralguma turbulncia, uma vez que os bancos no possuem sis-temas adequados de avaliao de risco. Alm disso, a remoodos limites mximos e mnimos devero provocar uma concor-rncia irracional entre as instituies bancrias, reduzindo, portan-to, as margens de lucro.

    Abertura da conta de capitais. A conta de capitais fechada, ouseja, o iuane no conversvel. O risco da abertura da conta decapitais a ocorrncia de um fluxo de capitais para fora do pas,provocando uma crise de liquidez.

    Desvalorizao do iuane. Os bancos estatais esto realizandocontratos futuros a fim de criar hedge para os clientes corporativos,se antecipando desvalorizao. Hoje existe uma nica taxa decmbio denominada flutuao administrada, que na prtica setornou fixa ao dlar americano desde 1995. Atualmente, o dlarest cotado a RMB 8,28. A desvalorizao do yuan poder gerarpesadas perdas para os bancos.

    Ausncia de mercado de capitais. Aproximadamente 70% domercado de aes chins continua vinculado a aes no comer-cializveis. Por outro lado, a rpida venda dessas aes poderiacolapsar o mercado.

    A China vive um processo de abertura parcial de sua eco-nomia, acelerado pela sua adeso OMC. Os compromissos assu-midos impem ao gigante adaptao em sua economia no s parapoder competir com os novos atores estrangeiros, mas tambm parapoder competir fora do seu territrio, seja inundando os mercadoscom suas exportaes a preos baixos e com qualidade crescente,seja invadindo mercados no mundo por meio da compra de ativosou mesmo do investimento direto.

    Esto presentes hoje na China diversas multinacionais emsetores variados. Mesmo em setores mais restritos, como o financei-ro, os chineses j convivem com o Citibank e o HSBC, entre outros.Nos segmentos de maior concorrncia, como o eletrnico e de linha

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 22, p. 151-204, set. 2005

    LiberalizaoEconmica

    NovosMovimentos

    181

  • branca, praticamente todas as marcas lderes mundiais j esto nomercado, assim como no setor de varejo, no qual o Wal Mart amplamente conhecido.

    A partir de 1995, os IDEs foram divididos em quatro cate-gorias: investimentos encorajados (infra-estrutura, agricultura, proje-tos voltados para exportao, e em tecnologias no uso de fontesreciclveis e de controle de poluio); investimentos restringidos (emque h excesso de produo, ou monoplio do Estado); inves-timentos proibidos (ameaa segurana nacional, ao meio ambienteou sade humana); e os permitidos (todos os demais).

    Como conseqncia de um processo de atrao do capitalestrangeiro, a economia chinesa possui hoje uma gradao de inter-vencionismo estatal, que inclui desde setores considerados estrat-gicos, como a infra-estrutura em telecomunicaes e energia, correios,comunicaes (TV, rdios, jornais), setores estatais com presena pri-vada chinesa, como o siderrgico, passando por setores com interven-o mediana, dominados pelos modelos das joint ventures, como oautomotivo, at setores parcial ou totalmente liberalizados, como oatacado e o varejo, equipamentos de telecomunicaes e eletrni-cos, vesturio e txteis, eletrnica de consumo e imobilirio.

    O maior ou menor nvel de concorrncia no mercado chinsinfluenciou o desempenho de empresas locais. Em setores maisabertos, as empresas chinesas tornaram-se lderes de mercado emalguns segmentos como TVs, computadores e refrigeradores. Mar-cas pouco conhecidas como Haier, TCL e Lenovo desenvolveramcapacidades que as habilitaram a competir at mesmo fora da China,onde as margens so maiores em funo da acirrada competio nomercado local, fato que provocou uma expressiva queda de preos.

    Para onde Vai a China? O Impacto do Crescimento Chins na Siderurgia Brasileira182

    938

    292336

    259 282

    172

    TV Geladeira Telefone celular

    1996

    2003

    938

    292336

    259 282

    172

    TV Geladeira Telefone celular

    1996

    2003

    Grfico 18

    Evoluo do Nvel de Preos no Setor de Bens de Consumo(Em US$)

    Fonte: McKinsey, 2004.

  • Empresas como a Lenovo, que adquiriu recentemente alinha de montagem de computadores pessoais da IBM, busca nos se defender do avano dos competidores estrangeiros como aDell, mas tambm aprofundar seus laos com os canais de dis-tribuio, formas de marketing e divulgao da marca, itens deficien-tes nas novas multinacionais chinesas.

    Em setores menos competitivos, como o automotivo, oobjetivo de criar campees nacionais favoreceu as joint venturesentre as multinacionais e parceiros locais, ampliando margens e di-minuindo as possibilidades de reduo de preos, como ocorreu nosprodutos eletrnicos. Nesses casos, os beneficiados foram as multi-nacionais, existindo dvidas sobre a apropriao de tecnologia deproduto e processo pelas parceiras locais, principal razo das jointventures.

    O mesmo movimento observado nos setores relaciona-dos energia e insumos, sendo conhecidos os investimentos chine-ses na frica Oriental e no Oriente Mdio em busca de fontes depetrleo. Recentemente, a tentativa de compra de uma empresapetrolfera de segunda linha nos EUA causou uma batalha judicialque envolveu at o Congresso norte-americano, replicando, em certamedida, a invaso japonesa da dcada de 1980. O governo chinsfoi convencido a voltar atrs na tentativa de compra.

    Tendo em vista que pouco provvel que a economia chinesasofra uma desacelerao expressiva nos prximos anos (sobretudo em

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 22, p. 151-204, set. 2005 183

    Livre Mercado

    Imobilirio

    Manufatura de

    iluminao ind.Eletrnicos,

    Equip. telecom .

    Aberta ao investimento externo Fechados ao investimento externo

    Rdio, cinema, TV

    Agnciasgovernamentais

    Concorrncia

    Envolvimento limitado do Estado

    Bens de consumo

    Eletrnicos

    Figura 1

    Fonte: McKinsey, 2004.

  • funo da absoro da populao rural), lcito afirmar que o mundodever conhecer em breve as principais marcas lderes chinesas, pormeio de um expressivo movimento de internacionalizao.8

    O acelerado crescimento chins ps-1979 gerou necessida-des para a produo de grandes volumes de ao que dessem conta dacriao e expanso de unidades industriais e de infra-estrutura.

    A acelerada urbanizao provocou uma forte expansoimobiliria que pressionou ainda mais o crescimento da produo,tornando a China o maior consumidor e produtor em termos globais.

    Com a expanso recente da renda per capita, a ampliaoda produo de produtos eletroeletrnicos, de bens de consumodurveis (inclusive linha branca) e da indstria automotiva, em virtudedo duplo movimento de queda de preos e aumento da renda pes-soal, tornar possvel o crescimento da produo de ao em pata-mares elevados, ainda que em nveis menores que os observadosnos dois ltimos anos. Os novos nveis de produo se devem entradaem operao das novas plantas projetadas nos anos recentes.

    A produo de ao chinesa alcanou em 2004 o montantede 272,8 milhes de toneladas, sendo provvel que alcance, em2005, nmeros superiores a 300 milhes de toneladas. Nos dois l-timos anos, a China cresceu 100 milhes de toneladas, ao passo quedemorou sete anos para sair de 100 para 200 milhes de toneladas.Entre 2000 e 2004 o crescimento anual da produo de ao foi deexpressivos 20,7%, principalmente quando comparado ao cresci-mento da produo de 6,99% nos anos 1990.

    As caractersticas da indstria chinesa podem ser listadasda seguinte forma:

    Regionalmente concentrada do Norte e no Leste do pas (mais de60% da produo), sobretudo nas provncias de Hebei, Liaoninge Jiangsu, sendo as provncias do Leste mais competitivas por es-tarem mais prximas no s dos insumos importados, mas tam-bm do maior mercado consumidor (40%).

    81,6% das usinas utilizam o processo BOF (Basic Oxygen Furna-ce) de aciaria, sendo usinas integradas. Essa peculiaridade chi-nesa reflete a falta de oferta de sucata suficiente no pas e ascarncias de energia eltrica, elementos que desencorajam asaciarias eltricas (Eletric Arc Furnace).

    Para onde Vai a China? O Impacto do Crescimento Chins na Siderurgia Brasileira

    Siderurgia naChina

    184

    8No setor eletroeletrnico,marcas como Huawei (equi-pamentos de telecomunica-es), ZTE (celulares) e SVA(eletrnica de consumo DVDs), j esto presentesno Brasil.

  • A produo chinesa est amplamente vinculada aos aos longos(60%), sobretudo em funo da demanda inicial para construocivil industrial e, atualmente, residencial e em funo da menorcomplexidade da produo.

    A estrutura da indstria pouco concentrada. As dez maiores fo-ram responsveis por apenas 38% da produo em 2003. Atribu-ram-se as novas capacidades aos pequenos e mdios produtores(capacidades menores que cinco milhes de toneladas por ano).Espera-se que por meio de aquisies e fuses, os dez maioresalcancem 50% da produo em 2010.

    Aproximadamente 80% das empresas so estatais9 e contam comforte presena das provncias em seu capital.

    As provncias possuem significativa autonomia administrativa e fi-nanceira, constituindo-se em obstculos reais ao controle da pro-duo na China, principalmente por meio da limitao do crditobancrio (diversas provncias possuem bancos estatais); dessaforma opem-se freqentemente s intenes do governo centralde concentrar o setor, possibilitando uma maior coordenao depreos e poder de negociao com fornecedores.

    Conforme ressaltou-se, o acelerado crescimento da Chinaa taxas mdias de 9%a.a. resultou em aumento significativo daproduo de ao, principalmente a partir de 2001, com a adeso OMC, conforme pode ser visto no Grfico 20.

    Como mencionado, a evoluo da produo chinesa foifortemente puxada pela demanda de produtos longos destinados a

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 22, p. 151-204, set. 2005

    0

    200

    400

    600

    800

    1000

    1200

    1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

    China Demais Pases Total Mundo

    106t

    1.057

    273

    770

    66

    751

    95

    848

    127

    704656 621

    784

    209 x 106 t/a

    146 x 106 t/a

    Grfico 19

    Crescimento da Produo de Ao

    Fonte: IBS.

    ProduoSiderrgica naChina

    185

    9Em 2004, a produo deao bruto das empresas pri-vadas correspondeu a 80milhes de toneladas, signi-ficando 29% do total nacio-nal, segundo o IISI.

  • construir a base industrial e de infra-estrutura do pas, seguida doboom imobilirio de anos recentes. O Grfico 21 demonstra essaevoluo e aponta o dficit crescente entre o consumo e a produode produtos planos, base da importao corrente da China.

    A estrutura da indstria chinesa bastante pulverizada,com uma multiplicidade de pequenas empresas com altos-fornosineficientes que sobrevivem em funo do elevado crescimento dademanda. As trs maiores empresas, Shangai Baosteel, Anshan eWuhan, representam apenas 15% da produo. Em 2003, 39% dototal das aciarias (produo de 86 milhes de toneladas) eram for-mados por usinas com capacidade entre 1 e 5 milhes de toneladas.

    Para onde Vai a China? O Impacto do Crescimento Chins na Siderurgia Brasileira

    Estrutura Produtiva

    186

    0

    5.000

    10.000

    15.000

    20.000

    25.000

    30.000

    1980

    1982

    1984

    1986

    1988

    1990

    1992

    1994

    1996

    1998

    2000

    2002

    2004

    10

    mil

    ton

    0,0%

    5,0%

    10,0%

    15,0%

    20,0%

    25,0%

    Produo de ao Crescimento anual Taxa de crescimento anual

    1980-19905,82%

    1990-20006,99%

    2000-200420,71%

    Grfico 20

    Taxa de Crescimento Anual da Produo de Ao Bruto de1980-2004

    Fonte: International Iron & Steel Institute (IISI)

    0

    2000

    4000

    6000

    8000

    10000

    12000

    14000

    16000

    18000

    2000 2001 2002 2003 2004

    Consumo de Produtos Longos

    Produo de Produtos Longos

    Consumo de Produtos Planos

    Produo de Produtos Planos

    Consumo de Outros Produtos

    Produo de Outros Produtos

    0

    2000

    4000

    6000

    8000

    10000

    12000

    14000

    16000

    18000

    2000 2001 2002 2003 2004

    Produo de Produtos Longos

    Consumo de Produtos Longos

    Produo de Produtos Planos

    Consumo de Produtos Planos

    Produo de Outros Produtos

    Consumo de Outros Produtos

    Grfico 21

    Estrutura da Produo e Consumo de Produtos Siderrgicosna China

    Fonte: International Iron & Steel Institute (IISI)

  • O governo central est empenhado em promover um pro-cesso de fuso que torne a estrutura de produo de ao mais coe-rente, colaborando para diminuir os entraves ao crescimento, comoa proviso de insumos, principalmente minrio de ferro e carvo;dessa forma, aumentar a eficincia do sistema de transportes, no-tadamente as ferrovias. Na provncia de Hebei, o nmero de produ-tores deve ser reduzido de 56 para 10.

    Recentemente, foi anunciada a aquisio da Benxi (Ben-gang), quinta maior empresa do pas, pela Anshan, ampliando aparticipao da segunda maior empresa chinesa, que se aproximada lder, com 20 milhes de toneladas. Essas empresas esto loca-lizadas no Nordeste da China (Liaoning), e a deciso foi motivada

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 22, p. 151-204, set. 2005 187

    2003 capacity(Mt)

    * Cerca de 5 Mt

    30 Mt

    produtoras de ao

    para cadaempresa privadaprodutora de ao

    97*(44%)

    13 maiores prod. de aoCapacidade >5 Mt/ano

    Capacidade 1-5 Mt/ano

    Capacidade

  • pelo desenvolvimento de uma estratgia comum de compras dematrias-primas, sobretudo depois dos aumentos expressivos dominrio de ferro (71%) em 2004.

    O processo de reestruturao na China provavelmente vaiacontecer com base no aparecimento de consolidadores que, pormeio de processos de fuses e aquisies, englobaro o grandenmero de mdias aciarias. Com relao s pequenas empresas,em caso de sobrecapacidade, provavelmente no sobrevivero.

    Os critrios de seleo que podero ser utilizados pelosconsolidadores so:

    tamanho crtico e poder financeiro;

    eficiente cadeia de fornecimento;

    participao nos complexos de produo de ao da costa; e

    apoio regional e das agncias governamentais.

    Fuses intra-regionais tendem a serem favorecidas, diminuin-do as diferenas competitivas entre as empresas, para as quais aquesto fundamental a logstica que favorece as regies costeiras.

    Por outro lado, conforme mencionado, as provncias quepossuem autonomia administrativa e econmica tendem no s aampliar benefcios para as empresas instaladas localmente, comotambm a fornecer financiamento de bancos locais,10 dificultando aspossveis fuses, sobretudo se essas diminurem a gerao deriqueza local.

    Para onde Vai a China? O Impacto do Crescimento Chins na Siderurgia Brasileira188

    10A participao dos em-prstimos bancrios ao se-tor siderrgico correspondeua 0,2% dos emprstimos to-tais em 2004. Acredita-seque a expanso da siderur-gia chinesa ser pouco de-pendente de maiores apor-tes de recursos bancrios.

    19,9

    10,28,4 8,2 7,2

    6,1 6,1 6,1 5,4 5,3 5,2 5,1 5 4,6 4,2 3,3 3,2 3,1 2,9 2,6 2,6 2,4 2,4

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    1)Ba

    oste

    el

    2)An

    shan

    3)W

    uhan

    4)Sh

    ouga

    ng

    5)Be

    nxi

    6)Ta

    ngsh

    an

    7)Ma

    asha

    n

    8)Ha

    ndan

    9)Pe

    nzihu

    a

    10) B

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    11) H

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    12) J

    inan

    13) J

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    14) A

    nyan

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    anjin

    g

    17) T

    aiyua

    n

    18) T

    ianjin

    Tianti

    e

    19) S

    haog

    uan

    20) H

    angz

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    21) J

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    i Xiny

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    uang

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    23) K

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    Grfico 24

    China: Ranking dos Produtores de Ao 2003

    Fonte: International Iron & Steel Institute (IISI)

  • A distribuio de poderes entre o governo central e asprovncias tem sido a principal razo das dificuldades em conter osinvestimentos em siderurgia, conforme apontou-se anteriormente.Entre 1995 e 2000, o investimento em ativos fixos foi de US$ 26bilhes (US$ 5 bilhes/ano). No perodo de 2001 a 2003, foram in-vestidos US$ 30 bilhes (US$ 10 bilhes/ano). Para o perodo se-guinte, acredita-se que sero investidos aproximadamente US$ 12bilhes ao ano.

    O ritmo de expanso dos investimentos aps 2001 esteveassociado ao rpido crescimento da demanda domstica. Pode-sevincular esse maior ritmo tanto ao aumento dos investimentos diretosexternos, em decorrncia da entrada da China na OMC, quanto elevao de consumo de produtos chineses no resto do mundo.

    Os principais itens que impulsionaram a demanda chinesaforam a construo civil, sobretudo a construo residencial (o itemconstruo foi responsvel por 57% do total consumido) e a indstriaautomotiva (com destaque para a produo de caminhes).11

    O movimento de maior importao chinesa elevou os pre-os em nveis mundiais, gerando uma lucratividade sem precedentespara o setor e estimulando as ampliaes de capacidade. Com essenvel de crescimento, a sobredemanda de ao ocorreu principalmen-te no setor de planos, o que ensejou investimentos adicionais,princi-palmente em 2003. Esses investimentos resultaram em aumentosde capacidade e substituio de importaes em 2004.

    Por outro lado, essas novas capacidades pressionaram ademanda por matrias-primas no mundo, o que fez acelerar ospreos dos principais insumos, como o minrio de ferro e o carvo,deprimindo a margem das siderrgicas.

    Em 2004, observou-se a desacelerao do crescimento dademanda chinesa, ao passo que a produo de ao cru continuoucrescendo, sobretudo com a substituio de importaes, como podeser observado no Grfico 25.

    A conseqncia mais visvel desse movimento foi a trans-formao da China em exportador lquido pela primeira vez em suahistria, em outubro de 2004. Esse fato criou a percepo de riscode uma superproduo chinesa, que desestabilizasse o mercado in-ternacional e levasse o setor a outro momento de estagnao cclica.

    Em 2005, como conseqncia dos elevados estoques for-mados ao longo de 2004, os preos dos produtos finais inverterama tendncia de subida e vm apresentando um ligeiro declnio, quepode se acelerar caso a demanda mundial e principalmente a chinesaconfirmem tendncia de queda.

    BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 22, p. 151-204, set. 2005 189

    11Conforme as ferrovias tor-nam-se gargalos ao escoa-mento da produo para osportos e do minrio de ferroparas as usinas, o transpor-te rodovirio tem sido incen-tivado com a construo denovas vias de acesso.

  • Como no se percebem fundamentos claros de desacele-rao internacional, espera-se uma recomposio de preos aps areduo dos estoques das principais regies do mundo. Entretanto,parece claro que os preos sero estabelecidos em novo patamar,menor que os anos recentes, mas maior que no perodo anterior,quando chegaram a nveis surpreendentemente baixos.

    Afora os movimentos pendulares da oscilao de preosdo ao, importante pontuar que a demanda e produo chinesaspossuem espao para maior crescimento.

    Estimativas de mdio prazo da produo so surpreen-dentes. Alguns analistas acreditam que em 2010 a produo de aoestar entre 360 e 480 milhes de toneladas de aos laminados.Entre 1990 e 2003, o crescimento mdio da produo foi de 13,5%

    Para onde Vai a China? O Impacto do Crescimento Chins na Siderurgia Brasileira190

    27715309

    25,8%

    10,7%

    0

    5000

    10000

    15000

    20000

    25000

    30000

    35000

    2001 2002 2003 2004

    10

    mil

    ton

    0%

    5%

    10%

    15%

    20%

    25%

    30%

    Consumo de ao bruto Crescimento de ao bruto Taxa de crescimento do consumo de ao bruto

    Grfico 25

    Consumo de Ao Bruto, Crescimento e Taxa Anual deCrescimento em 2001-2004

    Fonte: International Iron & Steel Institute (IISI)

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

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    90

    2003

    q2

    2003

    q3

    2003

    q4

    2004

    q1

    2004

    q2

    2004

    q3

    2004

    q4

    2005

    q1

    Consumo aparente deprodutos finais (M/t)

    Produo de ao cru (M/t)

    Grfico 26

    Consumo e Produo de Ao 2003-2004

    Fonte: CRU.

  • a.a., alcanando 250 milhes em 2003. Conforme foi mencionado, aprincipal razo para esse crescimento foram as altas taxas deinvestimento, sobretudo o estatal em infra-estrutura e o imobilirio.A oferta per capita de ao cresceu nesse perodo a uma taxa de12,4% (crescendo 4,6 vezes). Esses dados correspondem a 198 Kgper capita, volume muito baixo em termos internacionais, permitindoum crescimento significativo no futuro [Stahl (2004)].

    Assumindo-se que, entre 2003 e 2010, a oferta cresa aum fator de 2,3 e no mais 4,6 como no perodo anterior, o pas al-canaria um nvel de 270 Kg per capita em 2010, o mesmo que a Corianos anos 1980. Com um crescimento mdio da populao de 0,8% a.a.,isso corresponderia a 480 milhes de toneladas em 2010. Mesmosupondo um crescimento do PIB menor que 9%, por exemplo, 5%,alcanariam-se 360 milhes de toneladas em 2010. Por outro lado,se a eficincia da indstria siderrgica chinesa for ampliada nesseperodo, seja por meio da racionalizao do nmero de produtores,seja por intermdio de melhorias em tecnologia e processo, pode-seesperar um crescimento menor da oferta de ao [Stahl (2004)].

    Uma comparao entre o PIB e os investimentos mostraque o desenvolvimento dessas duas variveis consistentementeascendente desde o comeo dos anos 1990. O ritmo de crescimentodos investimentos aumentou o ritmo da oferta de ao, o que nospermite concluir que h uma correlao entre os dois. Caso os inves-timentos sigam uma trajetria menos explosiva (e assim tambm oPIB), possvel sugerir taxas mais adequadas de crescimento daoferta de ao12 em 2010