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Page 1: PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA · realizada na pedagogia surda. Algumas considerações sobre as práticas de educação bilíngüe. Na seção quatro,
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PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA

Título: As práticas de educação bilíngüe para surdos: tensões entre os espaços dos centros

especializados/escola de educação de surdos e o ensino regular

Autor Rosana Ribas Machado1

Escola de Atuação Colégio Estadual Professor Becker e Silva

Município da escola Ponta Grossa

NRE Ponta Grossa

Orientador Professora Dra. Sueli Fernandes

IES UFPR

Disciplina/Área Educação Especial

Produção Didático-

pedagógica

Caderno Pedagógico

Público Alvo

Professores do ensino regular e profissionais que atuam na educação de

surdos.

Localização

Av. Visconde de Taunay, 1145 – Ponta Grossa – PR

Apresentação:

Esta pesquisa tem por objetivo geral analisar as políticas e práticas de bilingüismo na educação de surdos, nos contextos do centro especializado/escola de educação de surdos e da escola de ensino regular. A fundamentação teórica e metodológica está pautada nas teorias culturalistas em educação, com destaque no campo dos Estudos Surdos, os quais discutem as proposições educativas, culturais, lingüísticas e políticas, sobre a surdez e os surdos. O público-alvo a que se destina contempla diretor(a), pedagoga(o)s e professores, buscando instigar reflexões que ressignifiquem práticas pedagógicas envolvendo estudantes surdos. Assim, pretendemos com este estudo contribuir nas políticas e práticas de educação de surdos do Estado do Paraná.

Palavras-chave Bilinguismo; Inclusão de Surdos; Educação/Escola bilíngüe.

1 Mestre em Educação (UFSC) ], Pedagoga e Professora no Campo dos Estudos Surdos e Educação

Inclusiva

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A presença recente da Língua Brasileira de Sinais - Libras como língua

oficial em nosso país e na educação, como disciplina obrigatória nas

licenciaturas, nos cursos de fonoaudiologia e como direito de educação

bilíngüe para os surdos, aponta aos gestores públicos, profissionais e à

comunidade surda, uma série de questionamentos, inquietudes e desafios,

frente ao contexto educacional. Muitas indagações e polêmicas são

despertadas entre os profissionais, pois se introduziu um novo olhar sobre a

pedagogia, não somente a oral–auditiva, mas a pedagogia visual (ou

pedagogia visual espacial, ou pedagogia do surdo) no processo de ensino e

aprendizagem; uma ruptura de paradigmas.

Nesse contexto, profissionais em processo de formação inicial, já

atuantes na área educacional, estão trabalhando com alunos surdos, pois as

diferenças entre sujeitos é uma realidade. Alunos surdos usuários da Libras e

em processo de aquisição da mesma estão no ensino regular em diferentes

níveis de ensino. Uma realidade conflitante, uma vez que historicamente, no

contexto brasileiro, o processo educacional sempre foi organizado a partir da

lógica de ouvir e falar, um mundo sonoro.

Palavras

da Professora

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Entretanto a questão não é somente os professores ouvintes saberem

que os alunos são diferentes, no caso, alunos surdos; é sim, poder estabelecer

uma comunicação significativa e que promova relações afetivas e efetivas de

diálogos, de aquisição de conhecimentos, de reconhecimento da identidade

cultural surda; com aproximações entre os sujeitos, nas fronteiras entre as

línguas oralizadas, escritas e sinalizadas.

E essa compreensão sobre as singularidades dos sujeitos surdos, bem

como de outras singularidades dos sujeitos, tem sido motivo de debate nas

políticas de inclusão, as quais em âmbito nacional produzem a massificação, a

homogeneização das práticas educacionais, atribuindo aos sujeitos surdos,

como também educandos da educação especial. A diferença dos sujeitos

surdos é lingüística, ou seja, usa uma língua visual espacial na sua

comunicação, constituindo a cultura surda. .

Porém, neste olhar educacional, impositivo e uniforme de sujeitos, a

proposição dos gestores nacionais em educação inclusiva, é a ruptura, o

fechamento DAS escolas especiais, OBRIGANDO A todos os educandos A

FREQUENCIA NO ensino regular.

Assim o que se propõe neste texto, não é o debate de senso comum, de

ser a favor ou contra ao fechamento das escolas especiais, sobretudo algumas

que existem para educação de surdos, ou a colocação de todos os surdos no

ensino regular, com a presença de intérprete na sala de aula, “garantindo” a

inclusão educacional do surdo.

A reflexão que fazemos, é discutir a importância da educação bilíngüe

para surdos, cujos espaços educacionais sejam efetivamente de

reconhecimento lingüístico, cultural, educacional e político na formação destes

sujeitos; ao considerar as legislações que fundamentam as reivindicações

organizadas pelos movimentos surdos, pesquisadores ouvintes e surdos,

profissionais, familiares e simpatizantes a causa do Ser Surdo.

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Língua de Sinais, Marcas Culturais Surdas e Modelos Educacionais

Propostos na Educação de Surdos.

Espaços Educacionais para Surdos: Centro Especializado/ Escola de

Educação de Surdos e Ensino Regular

Escola Bilíngüe para Surdos: a voz dos surdos!

– Algumas considerações sobre as práticas de educação bilíngüe

– Propondo atividades

Algumas considerações finais

Referências

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A organização deste trabalho refere-se a uma produção didático-

pedagógica composta no formato de Caderno Pedagógico, e tem por objetivo

auxiliar os profissionais na aquisição de conhecimentos sobre a educação

bilíngüe para surdos, compartilhando saberes e desafios entre o centro

especializado/escola de educação de surdos e a escola do ensino regular,

frente ao processo de inclusão educacional destes estudantes.

Assim, esperamos alcançar nas Unidades Didáticas que

compõem este Caderno as seguintes metas:

1) Identificar as práticas pedagógicas, lingüísticas, culturais e sociais que

são desenvolvidas no centro/escola de educação de surdos no

processo de aquisição de língua de sinais dos surdos.

2) Verificar a qualidade e os impactos das orientações pedagógicas que

envolvem o centro/escola de educação de surdos e a escola do ensino

regular.

3) Identificar as variáveis envolvidas no processo de formação sobre

bilingüismo aos profissionais do ensino regular (diretor, pedagogo,

professor), em cujos estabelecimentos há alunos surdos matriculados.

4) Analisar a função e importância do centro especializado/escola de

educação de surdos para a inclusão dos alunos surdos no ensino

regular.

As unidades de estudos propostas neste material estão organizadas da

seguinte forma: as três primeiras sessões abordam as fundamentações

teóricas sobre os conceitos de língua, identidade, cultura surda, as marcas

culturais surdas e os modelos educacionais propostos a esses estudantes. Na

quarta seção, tecemos algumas conclusões, considerações sobre as práticas

educacionais bilíngües no contexto das políticas de inclusão educacional. E na

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quinta seção, propomos uma atividade na qual será construído um episódio

sobre a presença de aluno surdo no ensino regular.

Língua de Sinais, Marcas Culturais Surdas e Modelos

Educacionais Propostos na Educação de Surdos.

Nesta seção, você saberá mais sobre o que é língua de sinais, as

marcas culturais surdas, diferenciando a concepção do sujeito clínico

terapêutico da surdez e a sócio-antropológica; compreenderá, também, os

cinco modelos educacionais que permeiam as concepções de educação com

estudantes surdos.

Espaços Educacionais para Surdos: Centro Especializado/

Escola de Educação de Surdos e Ensino Regular

Na segunda seção, estudaremos a importância da qualidade do trabalho

de educação bilíngüe desenvolvido nestes espaços, nos quais as ações

educacionais passam pelam equipe pedagógica, e todos os profissionais

envolvidos nas interações com estudantes surdos. Essas práticas educacionais

têm seus pressupostos nas normativas legais.

Escola de Educação Bilíngue para Surdos: a voz dos

surdos!

Nesta seção, o foco de estudos, de reflexões, está na concepção de

bilingüismo desenvolvido pelos estudos surdos, o qual, na voz da comunidade

surda, reivindica uma escola de educação bilíngüe, cuja proposta seja

realizada na pedagogia surda.

Algumas considerações sobre as práticas de educação

bilíngüe.

Na seção quatro, apresentamos aspectos gerais sobre o significado de

ser bilíngüe e suas implicações, no contexto da educação de surdos,

considerando as políticas da inclusão..

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- Propondo atividades

Na última seção, após várias informações, conhecimentos sobre a

surdez no contexto dos estudos culturais e estudos surdos, será proposto a

construção de um episódio sobre a presença de uma aluno surdo no ensino

regular.

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LÍNGUA DE SINAIS, MARCAS CULTURAIS SURDAS E MODELOS

EDUCACIONAIS PROPOSTOS NA EDUCAÇÃO DE SURDOS.

Objetivos da Unidade:

Identificar os conceitos de língua de sinais, identidades surdas e

cultura surda.

Diferenciar a concepção de sujeito clínico-terapêutico e sócio

antropológico da surdez.

Caracterizar os modelos propostos na educação de surdos:

oralismo, comunicação total, bilingüismo, pedagogia surda e

mediação intercultural.

Leia atentamente ESTES POEMAS:

Longe Eu sentir tenho dor, fica longe mora uma mulher. Eu vou sentir saudade, guardar lembrar para sempre.

Eu sem medo e sem perder, pode quando ajuda sempre entender. Ser futuro como uma família, ser pensar difícil que paciência. Eu voltei sempre ver, quem longe, sempre encontrar, quem fiquei feliz. Si fiquei triste, eu sofre e sozinho porque sempre um tempo. Eu vontade uma quem é pessoa, meu lado é amor com quem é mulher!

Danilo Felipe Chequer Zardo

O navio O navio navegar olhar longe na montanha.

O navio navegar olhar perto na montanha. Chegar muito árvores olhar cima da arvore coco

e cair no chão pegar lavar e pegar canudo e sentar depois tomar coco e olhar no mar.

Dilson Aparecido Marques dos Santos

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OS POEMAS acima foram escritos por autores surdos, profissionais

instrutores da Libras. Quais são suas primeiras impressões? Um texto escrito

errado? O que levou estes autores escreverem uma poesia dessa forma?

Quais emoções e sensações lhes passam, ao ler um texto com esta

composição? Elas foram geradas, em outra língua, a língua visual espacial,

que é a Libras, e registradas na escrita da língua portuguesa.

Você deve estar pensando: LÍNGUA VISUAL ESPACIAL! Entrar neste

universo dos sujeitos surdos, usuários desta língua e suas implicações no

processo educacional, É O OBJETIVO A que este texto se propõe.

Aproximá-los da compreensão de que além das línguas faladas e

escritas, existem as línguas sinalizadas nas comunicações entre os seres

humanos. E que elas são produzidas nas práticas sociais cujos sujeitos

constituem suas identidades culturais, pela experiência visual em sua

comunicação.

Pelas línguas de sinais, os surdos discutem, posicionam-se, expressam

sentimentos, conhecimentos, bem como relatam as idéias mais complexas

sobre as práticas sociais as quais vivenciam, rompendo com as representações

sobre a incapacidade dos mesmos em aprender. Além dos sinais produzidos

pelas mãos, as línguas de sinais usam recursos não manuais, que, incluem

expressões faciais, movimentos da boca, direção do olhar, direção dos

movimentos das mãos, produzindo a formação lingüística.

Você Sabia?

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A língua de sinais é usada por uma minoria lingüística, e a língua oral é

usada pela maioria da sociedade, que é ouvinte; assim ela produz um

importante espaço de luta paradigmático: os surdos comunicarem-se na sua

língua natural, a língua de sinais, nas relações de poder em que são realizadas

as práticas sociais entre os sujeitos.

As línguas de sinais apresentam todos os elementos específicos das

línguas humanas. São utilizadas em espaços sociais onde os surdos estão

presentes, seja nas associações de surdos, nos terminais de transportes

coletivos nas cidades maiores,nos espaços de lazer,nos seus espaços

religiosos,nas suas situações familiares e,quando possível nas escolas do

ensino regular.

A Libras é a segunda língua oficial em nosso país, conforme Lei nº

10.436 de 24 de abril de 2002. Para as pessoas aprendê-la, é necessário estar

na interlocução com sujeitos usuários da língua de sinais. Pois é uma língua

visual espacial, desenvolvida no corpo, que é gerado uma gramática, através

dos movimentos, que emitem as vozes do pensamento surdo. Não são

mímicas, é um equívoco pensar assim. O uso das mãos, dos olhos, dos rosto,

dos braços, enfim de todo corpo, fundamentam as práticas lingüísticas da

comunidade surda,cujo grupo social a reconhece culturalmente.

Como língua, esta é composta de todos os elementos científicos que a

reconhecem como instrumental lingüístico de poder e força, de identidade,

diferenças, desde que

valorizada como processo

histórico cultural, se

comparadas a

valoração das línguas

oralizadas, por onde são

produzidas as marcas

culturais dos sujeitos.

Língua Visual Espacial – Línguas de Sinais - As línguas de sinais são línguas naturais que utilizam o canal viso-manual na comunicação, criadas por comunidades surdas através dos tempos. Não SÃO uma língua universal. Cada país possui a sua língua de sinais e variações lingüísticas. Essas línguas, sendo diferentes em cada comunidade, têm estruturas gramaticais próprias, independentes das línguas orais dos países em que são utilizadas.

SOBRE AS marcas culturais surdas, há duas concepções de sujeito surdo que se opõem: a

perspectiva clínico terapêutica e a concepção sócio antropológica.

A segunda, visão sócio antropológica, os sujeitos surdos passam a ser reconhecidos culturalmente, com traços singulares em suas práticas sociais, gerando uma forma de

A primeira, visão clinico terapêutica, compreende o surdo no discurso da deficiência, a qual historicamente desenvolveu

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Assim, compreende-se a cultura, como o modo de vida social em que os

sujeitos vão compondo, produzindo, organizando, atribuindo sentidos a sua

vida, nas diferentes relações culturais, políticas, educacionais, sociais e

lingüísticas.

Cultura, entendida na perspectiva dos Estudos Culturais2, como campo

de produção de significados no qual os diferentes grupos sociais, situados em

posições diferenciais de poder, lutam pela imposição de seus significados à

sociedade mais ampla (SILVA, 2002,p.133-134).

A cultura compreendida como produção da identidade cultural e social

dos diferentes grupos. A cultura é um jogo de poder, gerado nas práticas

sociais, onde se define não apenas a forma como o mundo deve ter, mas como

as pessoas e os grupos devem ser. Essa noção de poder aqui mencionada é

fundamentada nas bases conceituais de Foucault que concebe o poder não

como algo fixo, nem tampouco como partindo de uma centralidade, de uma

essência, mas como uma relação, como movimento e fluido, estando em toda

parte. Foucault ainda associa a noção de poder, com o saber. Não existe poder

que não se utilize do saber. O indivíduo é o produto do poder, sobretudo em

2 Estudos Culturais- concentra-se na análise da cultura, compreendida, tal como na concepção original de

Raymond Wlliams, como na forma global de vida ou como experiência vivida de um grupo social por

uma experiência oral-auditiva e não viso-espacial, em um sistema de pensamento binário.

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conexão com um saber que se expressa como conhecimento das populações e

dos indivíduos submetidos ao poder.

Procure em noticiários de jornais, reportagens de grupos sociais que

lutam por suas causas nas questões de gênero, raças e línguas e faça seus

comentários aqui

Neste sentido, para os surdos não é apenas comunicar-se em língua de

sinais, seus processos lingüísticos são constituídos a partir das interlocuções

com o outro surdo, com o outro que sabe sobre língua de sinais, com o outro

que interage com o mundo pela perspectiva visual espacial, nas relações com

o outro ouvinte, que sabe essa língua. Pela língua de sinais, os surdos

compartilham suas experiências e seus sonhos, constroem suas marcas

culturais sobre o mundo em que vivem. As imagens nesta língua não são as

narrativas, as transcrições da língua oral falada, e sim compõe-se na produção

de uma outra forma de linguagem, que transpõe a comunicação oral entre os

sujeitos, via de regra pelas línguas escritas e faladas, mas sim através da

língua sinalizada.

Exemplificando:

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Fonte: FERNANDES,S.Bons sinais. Revista Discutindo Língua Portuguesa,São Paulo: Escala Educacional,ano 1,n.4.2006.

Por esta crença, é que em 1880 houve a “ERA NEGRA PARA

EDUCAÇÂO DOS SUJEITOS SURDOS”; o Congresso de Milão. Veja neste

desenho de um surdo

O que esse processo significou na vida dos surdos?

ESSE É UM SLOGAN UTILIZADO PELA FEDERAÇÃO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E

INTEGRAÇÃO DOS SURDOS – FENEIS –PARA CONSCIENTIZAR AS PESSOAS ACERCA DA TERMINOLOGIA MAIS ADEQUADA PARA SE REFERIR AS PESSOAS QUE NÃO OUVEM. SABEMOS QUE O MODO DE DESIGNAR UM GRUPO DE PESSOAS REFLETE NA NOSSA VISÃO SOBRE ELAS E, EM ALGUNS CASOS, REVELA NOSSO PRECONCEITO E DESCONHECIMENTO ACERCA DE SUA REALIDADE.

A EXPRESSÃO “SURDO-MUDO” OU “MUDINHO”, EMBORA MUITO USADA,É PREJORATIVA E EXEMPLIFICA UMA VISÃO PRECONCEITUOSA SOBRE A SPESSOAS SURDAS.OS SURDOS NÃO SÃO MUDOS,APENAS NÃO FALAM PORQUE NÃO OUVEM,MAS TÊM O APARELHO FONOARTICULATÓRIO EM PLENAS CONDIÇÕES DE FUNCIONAMENTO PARA A PRODUÇÃO VOCAL,SE FOR O CASO.HÁ SERVIÇOS DE REABILITAÇÃO ORAL,DESENVOLVIDOS POR FONAUDIÓLOGOS,QUE TÊM COMO OBJETIVO O DESENVOLVIMENTO DA ORALIDADE,CASO AS PESSOAS SURDAS OPTEM POR APRENDER ESSA MODALIDADE DE COMUNICAÇÃO.

No dia 11 de setembro de 1880, houve uma votação por 160 votos com quatro contra, a favor de métodos orais na educação de surdos, a partir daí a língua de sinais foi proibida oficialmente alegando que a mesma destruía a habilidade da oralização dos sujeitos surdos. (...) ficou decidido no Congresso Internacional de Professores Surdos, em Milão, que o método oral deveria receber o status de ser o único método de treinamento adequado para pessoas surdas. Ao mesmo tempo, o método de sinais foi rejeitado, porque alegava que ele destruía a

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Disponível em:

http://1.bp.blogspot.com/_YMsfDiyoHo8/ScwMyYmZTHI/AAAAAAAAAEg/U_1rH4H-a8A/s1600/Calv%C3%A1rio+dos+Surdos+fig.jpg

Este posicionamento dos surdos transpõe a lógica imperativa dos

ouvintes, os quais ainda concebem a comunicação entre os sujeitos, como

processo unificado, padronizado, uniforme entre os diferentes grupos sociais. O

que as línguas de sinais produzem para a sociedade ouvinte, é a

desestabilização do pensamento uniforme sobre linguagem oral auditiva, ao

transpor, assumir, desnudar, outro olhares para uma concepção de

pensamento e linguagem visual espacial, causando um desequilíbrio de

concepções.

Talvez esses conceitos apresentados anteriormente, sejam novos para

você. É que o campo da academia tem apresentado muitas discussões

científicas, e existem tensões entre os pesquisadores. Certos grupos assumem

uma postura clínica terapêutica da surdez e outros, assumem uma postura

sócio-antropológica.

O fato é que historicamente na educação de surdos sempre os ouvintes

é que tomaram, determinaram, impuseram as decisões sobre o processo

educacional, causando-lhes marcas culturais, muitas vezes negativas,

imponde-lhes procedimentos pedagógicos próprios de ouvintes, por acreditar

que pela fala, o surdo estaria incluso na sociedade, desenvolvendo todos os

seus potenciais para aquisição do conhecimento.

Por esta crença, é que em 1880 houve a “ERA NEGRA PARA

EDUCAÇÂO DOS SUJEITOS SURDOS”; o Congresso de Milão. Veja neste

desenho de um surdo

Faça o seguinte exercício: pegue um filme, uma novela, uma reportagem

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na TV que você mais gosta. Abaixe o volume do som e veja sua programação

predileta somente com imagens. Por quanto tempo você ficaria vendo seu

programa? Quais são as sensações iniciais percebidas? Neste exercício você é

livre para fazê-lo no tempo que você suportar: 1min, 3min, 7min, etc.

Imagine você, então que todas as suas aulas, as suas vivências

educacionais, desde a educação infantil até o processo universitário, de forma

radical e impositiva na escola, lhes proibissem o uso do português oral e você

pudesse somente usar as mãos para se comunicar.Tenho certeza que você

conseguiu minimamente colocar-se no lugar do outro, neste estudo, do sujeito

surdo.

Só que o que ocorreu em 1880, não foi um exercício e sim uma

determinação. Foi elaborado um documento oficial e aprovado pelos

participantes, o qual foi seguido nos processos educacionais com surdos, em

diversos países do mundo. Os surdos durante 100 anos foram proibidos de

usar as línguas de sinais em suas práticas educativas. Decorrentes dessas

práticas educacionais, é que surgiram perspectivas educacionais para o

processo de ensino e aprendizado destes alunos e estão presentes com maior

ou menor intensidades no processo educacional.

Desta forma, para que haja esta escuta de sinais, é importante que você

compreenda o sujeito surdo na sua alteridade, na sua forma de Ser Surdo e

Modelos Propostos na Educação dos Surdos

Oralismo, comunicação total, bilingüismo, pedagogia surda e mediação

intercultural. Não são metodologias de ensino para os surdos, e sim as

concepções sobre estes sujeitos nas práticas educacionais, que permeiam

olhares ou na perspectiva da deficiência ou da diferença.

Continue usando sua

imaginação...

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aproximar conhecimentos sobre os processos educacionais que demarcam a

trajetória dos estudantes surdos.

E é neste contexto, de concepções diferenciadas sobre sujeito surdos,

que os Estudos Surdos3 tem localizado a surdez como diferença, ao se

constituir numa experiência visual e não auditiva. O importante é VER,

estabelecer as relações do OLHAR. Usar a direção do olhar para estabelecer

relações gramaticais no corpo em movimento, nas expressões faciais,

produzindo suas histórias de vida, seus conhecimentos, em diferentes marcas

culturais surdas: literatura, currículo, didática, artes, filmes, etc. A cultura é

visual, estabelecidas pelas relações dialógicas no campo da comunicação

visual espacial, por isso diferença lingüística.

Primeiramente, coloque-se em uma posição em pé. Preferencialmente

em frente ao espelho. Posicione a palma de uma das suas mãos em cima da

cabeça e fale o fonema I; repita uma ou duas vezes; sentiu a vibração? Ainda

em pé, abra seus braços e mencione o fonema A, uma ou duas vezes e

coloque a palma da sua mão na garganta, falando A, percebeu a vibração?

Agora feche os lábios e pronuncie o fonema P, com a palma da mão em frente

da boca, percebeu a vibração? Bem, esses são alguns exercícios de

consciência sonora através do corpo. Porém os surdos, não repetiam uma vez,

duas vezes, em suas aulas, eram repetidas 10, 20, 30 vezes por dia, até ele

compreender e acertar esse som.

3 Podem ser definidos como um território de investigação educativa e de proposições políticas que, por

meio de um conjunto de concepções lingüísticas, culturais, sociais, definem uma particular aproximação

do conhecimento sobre a surdez e os surdos. Nesses estudos, descreve-se a surdez nos seguintes termos:

uma experiência visual, uma identidade múltipla e multifacetada, que se constitui em uma diferença

politicamente reconhecida e localizada, na maioria das vezes, dentro do discurso das deficiências. (Skliar,

2000,p.11)

Vamos conhecer estes modelos educacionais?

Acompanhe estas vivências...

Lembre-se!!! Aprender um

som, que não faz parte da sua

condição de ouvir!

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Esses exercícios compõem uma das práticas da reabilitação oral para

os estudantes surdos, conhecida como o modelo de educação da FILOSOFIA

ORALISTA.

Essa concepção advém do olhar do adulto não acostumado a lidar com

sujeitos surdos; a imagem da surdez é associada automaticamente a imagem

da deficiência, da falta, da incompletude, da perda, que no contexto

educacional é situada como “modelo de medicalização da surdez” (SKLIAR,

1998, p.13), definindo a pessoa surda como um “deficiente” e que para a sua

humanização deveria reabilitá-lo, treiná-lo para o desenvolvimento da sua fala,

situada no campo patológico.

... um tempo de silêncio e poder! Entende a surdez como uma deficiência e a reabilitação do surdo deve ser desenvolvida através da estimulação auditiva. Essa estimulação possibilitaria a aprendizagem da língua oral e levaria a pessoa surda a integrar-se na comunidade ouvinte, ou seja, conduzi-la à normalidade, à “não surdez” ou seja, uma prática “ouvintista”.

Skliar (1998, p.13) define que esta prática ouvintista, sugere uma forma particular e específica de colonização dos ouvintes sobre os surdos. Supõe representações, práticas de significação, dispositivos pedagógicos, etc., em que os surdos são vistos como indivíduos inferiores, primitivos, incompletos e incapazes.

Para Refletir Se uma criança, adolescente surda ou

ouvinte, é impedida de participar ativamente dos ambientes comunicativos nos quais uma

língua é usada, pode-se esperar que naturalmente adquira uma primeira língua?

Page 19: PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA · realizada na pedagogia surda. Algumas considerações sobre as práticas de educação bilíngüe. Na seção quatro,

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Aqui é preciso lembrar que:

Se temos uma criança ouvinte ela vai entrar na linguagem de qualquer

modo, porque terá pessoas falando ao seu redor. Isso só não acontecerá se

ela estiver no meio de seres sem linguagem.

Se temos uma criança surda e se ela tem mãe ouvinte, uma linguagem

vai ser construída entre elas. Essa criança não vai adquirir a língua de sinais

com essa mãe, pressupondo que essa não saiba sobre essa língua. Também

não vai adquirir a língua portuguesa se não tiver interlocutores.

( ) Sim

( ) Não

Por quê?

_____________________________________________________

_________________________________________________________

_______________________________________________________

_______________________________________________________

Para a criança, adolescente surda(o) aprender e desenvolver uma língua

de sinais, ela deve estar nas interações com interlocutores usuários dessa

língua visualizada . No caso das crianças surdas brasileiras, a Libras (Língua

Brasileira de Sinais).

Neste sentido, é que ao ver as “vozes” dos surdos pelas mãos, no que

se refere às proibições do uso da língua de sinais durante anos no contexto

escolar, denunciam a cultura do silêncio imposta a eles nessas escolas. Os

alunos não sabiam como expressar suas angústias e ansiedades manifestando

um sentimento de incapacidade e inferioridade de forma silenciosa. Pode-se

refletir sobre estes relatos, essa incompletude que os alunos sentiam, a falta de

algo, a sensação de incompetência foi perpassada pelo silencio. O fato dos

Page 20: PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA · realizada na pedagogia surda. Algumas considerações sobre as práticas de educação bilíngüe. Na seção quatro,

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alunos não conseguirem, não saberem como expressar esses sentimentos

tornando-os parte de uma cultura oprimida, a cultura do silêncio (SOUZA, 2000,

p.43).

Disponível em: http://historiadesurdos.blogspot.com/2010/05/ferdinand-berthier-surdo-franca.html

PARA LEITURAS COMPLEMENTARES SUGERE-SE: SÁ, Nídia Regina Limeira de, Cultura, Poder e Educação de Surdos.Manaus: INEP,

2002.

SKLIAR, Carlos, Educação & exclusão: abordagens sócio antropológicas em educação especial. Porto Alegre: Editora Mediação,1997

.

Pegue uma gravura de pato. Em frente ao espelho imite um pato, faça

todos os movimentos que você puder parecido com esse animal. Sinta a

vibração de cada fonema que compõe a palavra p-a-t-o, veja quantas vezes

abre-se a boca para emitir os sons da palavra pato. Ande duas vezes; primeiro

com a silaba PA, depois com TO, repita 20 vezes esse ritmo somente com seu

corpo, depois repita mais 20 vezes com o corpo e com os sons da fala. Mostre

com o seu dedo, entre todas as figuras de animais, aonde está a figura do

ANTES DO CONGRESSO DE MILÃO EM 1880, OS SURDOS, EM

DIVERSOS PAISES JÁ USAVAM AS LÍNGUAS DE SINAIS. HAVIA ESCOLAS

PARA SURDOS COM PROFESSORES SURDOS. FERDINAND BERTHIER, SURDO

FRANCÊS, INTELECTUAL. FOI PROFESSOR DE SURDOS E O SEU MÉTODO DE

ENSINO TINHA POR BASE A IDENTIDADE SURDA. FOI FUNDADOR DA

PRIMEIRA ASSOCIAÇÃO DE SURDOS DA QUAL SE ORIGINARAM OUTRAS NO

MUNDO TODO. RECEBEU O PREMIO FRENCH LEGION OF HONOR.

Outro Exercício:

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pato.Esse exercício faz parte de uma das técnicas utilizadas no modelo

educacional da COMUNICAÇÂO TOTAL.

Este modelo, também faz parte de uma concepção do sujeito surdo,

como uma pessoa deficiente, e de todas as formas e meios, o objetivo é o

aprendizado do estudante surdo a falar, para se integrar na sociedade.

O desenvolvimento do modelo clínico terapêutico da surdez, como

prática educacional para os surdos, produziu “verdades”, trouxe a estes

conseqüências traumatizantes na formação da sua personalidade, frustrações

no processo de aprendizagem, negação da sua identidade cultural e social,

freqüentes distúrbios emocionais como: agressividade, nervosismo,

impulsividade, insegurança, dependência, depressão, paranóia, baixa auto

estima, entre outros. Isto em decorrência de que muitos surdos reconheciam-se

com o desejo de serem como os ouvintes. Ouvintes são felizes, trabalham,

estudam, são valorizados, conseguem interagir nas diversas situações sociais.

Por sua vez, ser surdo, é ser incapaz, ser deficiente, isolado da sociedade, ser

doente. Um processo de submissão dos surdos, em relação aos ouvintes, o

que significa trabalhar o indivíduo surdo do ponto de vista do indivíduo normal

ouvinte.

A travessia lingüística que as línguas de sinais geram, é superar os

desafios da ordem imperativa de modelos pré determinados na comunicação

oral, dos dogmas produzidos historicamente da linguagem oral, como apenas

práticas entre os sujeitos no mundo sonoro; assumir-se, aventurar-se e

aproximar-se ao mundo visual espacial, é a ruptura necessária para

compreender os sujeitos surdos.

Neste sentido, convido vocês a navegarem na internet neste link:

http://www.acessobrasil.org.br/libras/ e conheçam um dos espaços de

aprendizado de sinais, os quais fazem parte da Libras, que é uma das

... falar, falar, falar!

Utiliza-se de todos os modos lingüísticos: gestos criados pelas crianças, língua de sinais, fala,

leitura oro-facial, alfabeto manual, leitura e escrita, para desenvolver a comunicação oral do surdo.

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singularidades da cultura surda; o uso da língua de sinais.Leia sobre o objetivo

deste site e como você é uma pessoa curiosa, já busque no dicionário o sinal

da palavra bilingüismo. Esse conceito estudaremos a seguir, pois é outro

modelo educacional para os surdos.

Esse atualmente é um dos modelos educacionais que são usados nas

escolas do ensino regular ou especial para os sujeitos surdos, os quais usam a

experiência visual espacial em sua comunicação.

O Bilingüismo tem como pressuposto básico que a comunicação do

surdo deve acontecer em duas línguas, a língua de sinais (L1) que é

considerada a natural das pessoas surdas e como segunda língua, a língua

oficial do seu país. Pode ser considerada como uma oposição aos discursos e

as práticas hegemônicas dos ouvintes, e entendida como um reconhecimento

político da surdez como diferença.

Percebe-se que os movimentos culturais surdos querem e estão

rompendo com esse colonialismo dos ouvintes, e reivindicam aprender na

língua de sinais, ultrapassando apenas o direito lingüístico, a comunicação. Os

surdos estão se afirmando enquanto grupo social com base nas relações de

diferença, pois são eles que sabem sobre a língua de sinais, são eles que

sabem ensinar os surdos, são eles que são visuais – espaciais (QUADROS,

2005, p.31).

A língua de sinais, simboliza uma vitória em relação aos ouvintes que

consideravam os surdos incapazes de opinar e decidir sobre seus próprios

assuntos. Desnuda o estígma “deficiente auditivo” para “surdos”, um conceito

esteriotipado que normalmente, entre os ouvintes ainda lhes conferem, como

sendo “deficientes”, o “mudinho”, o “surdo-mudo”, estigmatizando-os ou

excluíndo-os.

Você sabia???

... visualizando diferentes olhares do “outro.

Tem como pressuposto básico o uso da língua de sinais.língua natural do surdo(no caso do

Brasil,a Língua Brasileira de Sinais) como a 1ª língua e a língua oral (no caso do Brasil, a Língua

Portuguesa) como a 2ª.

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Ao conceitualizar o bilingüismo neste contexto, se faz necessário

esclarecer que não significa que ao usar as duas línguas, e ter um intérprete no

ensino regular, estão resolvidas as questões de linguagem entre os surdos e

ouvintes e as educacionais dos surdos. Mencionou-se anteriormente, as

implicações educacionais deste grupo social.

O que o Bilingüismo desvela, é a ruptura com a concepção clínica

terapêutica da surdez, ao assumir uma concepção sócio-antropológica;

compreendida na relação da diferença entre os sujeitos e não da deficiência.

Nesta perspectiva, os surdos estão propondo e construindo o modelo

educacional denominado de pedagogia surda.

EXISTEM 4 PROPOSTAS DE BILINGUISMOS Skliar (1998,p.118)apresenta quais são: - o bilingüismo com aspecto tradicional (visão colonialista); - o bilingüismo com aspecto humanista e liberal (igualdade natural entre ouvintes e surdos); - o bilingüismo progressista (aproxima-se da noção de diferença cultural); - o bilingüismo crítico na educação de surdos (desempenho da língua e as representações na construção de significados e de identidades surdas).

... olhares sobre a pedagogia visual. Rompe com a idéia

de prática educacional clinica para os surdos e entra na modalidade da diferença. Essa

modalidade de educação surge em um momento em que os surdos, através da diferença

cultural, da sua identidade, não estão sujeitos ao ouvinte; mas produzem sua própria

aprendizagem, são autores destes conhecimentos. Este processo é fortemente desejado pela

comunidade surda, cuja trajetória nas relações de poder entre surdos e ouvintes, configura-se

em uma produção cultural do jeito surdo de ser, de viver, de interagir com o outro surdo e o

outro ouvinte.

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Campello (2008, p.14), salienta que as experiências da visualidade

produzem subjetividades marcadas pela presença da imagem e pelos

discursos viso-espaciais provocando novas formas de ação de nosso aparato

sensorial, uma vez que a imagem não é mais somente uma forma de ilustrar

um discurso oral. O que percebemos sensorialmente pelos olhos, é diferente

quando se necessita interpretar e dar sentido ao que estamos vendo. Por isso,

as formas de pensamento são complexas e necessitam a interpretação da

imagem-discurso. Essa realidade implica ressignificar a relação sujeito-

conhecimento principalmente na situação de ensinar e aprender.

Sobre esta nova perspectiva de visualizar a pedagogia, surgem algumas

reflexões referentes às dificuldades e o desconhecimento dos profissionais

ouvintes, em lidar com as intervenções pedagógicas adequadas as

necessidades dos surdos, quais sejam: o aprendizado da língua 2 por esse

alunado; a leitura e escrita, o processo de avaliação, de ensino e aprendizagem

e principalmente conhecer a estrutura e funcionamento da LIBRAS (Língua

Brasileira de Sinais) e a sua prática.(QUADROS,2004, p.3).

E VOCÊ COLEGA PROFISSIONAL!! Descreva a seguir, quais são suas

principais dificuldades encontradas no trabalho educacional com estudantes

surdos.

A partir desta realidade vivenciada por vocês, por nós profissionais

dessa área e também dos estudantes surdos, a comunidade surda tem

apresentado a sociedade ouvinte, sobretudo aos diretamente envolvidos nos

processos educacionais, que se reconheça o valor da língua de sinais na vida

destes sujeitos. Representa a liberdade de expressarem-se e sentirem-se

valorizados, no uso da sua língua natural, a língua de sinais, bem como o

processo de aprendizado e desenvolvimento desta, não apenas no aspecto

comunicação, mas a construção das suas identidades culturais.

Você sabia???

(...) quase metade dos professores eram surdos. Não existiam audiologistas, terapeutas de reabilitação,

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(...) quase metade dos professores eram surdos. Não existiam audiologistas, terapeutas de reabilitação, ou psicólogos educacionais e,para a maiori, nenhum destes eram aparentemente necessário. (...) pelo contrário a criança e o adulto surdo eram descritos em termos culturais: que a escola freqüentaram, quem eram os seus parentes e amigos surdos(caso os houvesse), quem era a sua esposa surda, onde trabalhavam, quais as equipes desportivas de surdos e organizações de surdos a que pertenciam, qual o serviço que prestavam à comunidade dos surdos? ( LANE, 1992, p.36).

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Assim, entendemos que as comunidades surdas apresentam

características singulares em suas práticas sociais, pois usam língua de sinais,

apresentam múltiplas identidades surdas, necessitam de uma pedagogia

diferenciada no processo educacional, cujas práticas rompem com a cultura de

ouvir e falar, atribuídas pelos ouvintes, como necessárias às pessoas surdas.

Para os ouvintes, suas relações com o mundo são produzidas naturalmente

pela língua oral, em diferentes espaços sociais, conectando-os com ampla

produção de conhecimentos

Neste sentido, a diferença entre surdos e ouvintes, está em perceber

que os surdos organizam-se em grupos, gerando ambientes lingüísticos na

língua de sinais, traçando lugares e marcos nos espaços sociais para suas

convivências e aprendizados, constituindo diferentes olhares sobre o(s)

outro(s).Essa posição dos sujeitos surdos, advém das experiências visuais

comum para quem percebe o mundo de outra ordem, a viso-espacial e que nas

políticas de inclusão educacional total, em sua maioria os gestores não

...práticas sociais nas diferenças. Para Fleuri (2000), o que é inovador em educação é o iniciar a focalizar momentos e processos produzidos face às diferenças culturais. Nesta direção, a perspectiva intercultural pode estimular os surdos a enfatizar os aspectos de identidade/alteridade com estímulos para desenvolver a capacidade de reflexão sobre a diferença cultural, ao lado da possibilidade solidária de interação com outros grupos culturais.

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reconhecem as especificidades da educação bilíngüe para os surdos, em

espaços efetivos de sua prática.

PERLIN, G. T. T. Histórias de vida surda: identidades em questão/ Gladis T.

T. Perlin. Porto Alegre: UFRGS/FACED, 1998. dissertação de Mestrado. Pós

Graduação em Educação. Universidade Federal do Rio Grande do Sul.Ponto

de Vista: Revista de Educação e Processos Inclusivos.Universidade Federal

de Santa Catarina.Centro de Ciências da Educação – v. 1,n 1 (1995)

Florianópolis:NUP/CED,1999.v;23cm.

SKLIAR, Carlos. La educación de los sordos – Una reconstrucción

histórica, cognitiva y pedagógica. Mendoza: EDIUNC, 1997.

SÍNTESE

Nesta seção, estudamos sobre as concepções do sujeito surdo, a língua de

sinais e sua importância, como marca cultural para a comunidade surda.

Apresentamos os modelos de educação propostos aos surdos e suas

implicações no processo educacional. Enfatizamos também, a compreensão

destes conceitos nas perspectivas dos estudos culturais e estudos surdos, um

dos campos de conhecimento por onde situam-se o campo de luta deste grupo

social.

Para Leituras complemantares sugere-se:

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ESPAÇOS EDUCACIONAIS BILÍNGUES PARA SURDOS: CENTROS

ESPECIALIZADOS/ESCOLAS DE EDUCAÇÃO DE SURDOS OU ENSINO

REGULAR?

Objetivos da Unidade:

Refletir sobre os posicionamentos dos governos federal, estadual e

municipal propostos na educação inclusiva.

Identificar aspectos da práticas pedagógicas desenvolvidas no

centro especializado/escola de educação de surdos e ensino

regular.

Conhecer algumas das legislações que tratam do direito à educação

dos sujeitos, entre eles os surdos.

Um dos discursos oficiais fortemente veiculado sobre o(s) outro(s),

refere-se às políticas de inclusão para as pessoas com deficiências, as quais

compreendem as escolas/instituições da educação especial como “guetos”,

propondo mudanças nestas práticas sociais.

No governo estadual do Paraná, tem-se um olhar diferenciado sobre

as políticas de inclusão educacional, esta é compreendida como política

responsável, as quais prevêem programas e serviços especializados

atendendo às necessidades específicas de cada aluno, seja no contexto dos

desafios contemporâneos, seja no atendimento aos alunos com necessidades

educacionais especiais, reconhecendo a importância das escolas especiais e

centro de atendimentos especializados para este alunado. Por sua vez, em

nosso governo educacional municipal, as escolas especiais são compreendidas

como “guetos”. E como conseqüência a escola municipal para surdos, criada

no ano de 2003, com proposta de educação bilíngüe para surdos, foi sendo

cessada gradativamente a partir de 2004, com a mudança de governo

municipal.

Essa prática silenciosa de imposição do gestor municipal, validada

pelo conselho municipal da educação da época, corresponde as políticas de

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inclusão educacional nacionais, as quais vem sendo geridas como inclusão

total, e no que se refere às escolas de educação especial, são reconhecidas

como espaço de segregação, sobretudo às escolas especificas para os surdos.

Não concordamos com este posicionamento de que para os surdos,

as escolas bilíngües, os centros especializados/escolas de educação de

surdos, sejam guetos. As reconhecemos como um dos lugares necessário às

crianças surdas, para aquisição da língua de sinais e aprofundamento teórico

sobre estas línguas, construção das identidades culturais surdas, aprendizado

da língua portuguesa como língua 2, acesso ao conhecimento por meio de uma

proposta bilíngüe, espaço de construção política e cultural de quem percebe o

mundo pela ótica não oral.

Temos observado, que os centros especializados/escolas de educação

de surdos, não representam apenas o lugar de sistematização do ensino, de

aquisição de conhecimentos e apropriação da língua de sinais, mas um lugar

de encontro com o(s) outro(s). Isso implica em reconhecer a escola de

surdos/centro especializado na educação de surdos, como espaço de

identificação sócio cultural, porque não significa que a convivência entre

Para Refletir

Uma realidade da comunidade surda pontagrossense Neste momento, o que os estudos na área da educação bilíngüe para surdos, têm mostrado

sobre a situação lingüística em que a maioria das crianças surdas estão postas, é que são filhas de pais ouvintes e seus familiares não usam a língua de sinais para conversar com seus filhos; necessitando de um ambiente lingüístico para esse aprendizado. Verificamos no centro especializado de educação de surdos de Ponta Grossa, que atualmente são 84 alunos surdos inclusos no contexto do ensino regular, dos quais todos são filhos de pais ouvintes. Para esta comunidade, a língua de sinais é ensinada de forma fragmentada. neste centro especializado de educação de surdos, pois os estudantes freqüentam este espaço, com dias e horas marcadas.

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pessoas por si só haja comunicação. A comunicação existe quando, eu

estabeleço trocas simbólicas de pensamento.

No contexto do ensino regular, as presenças dos alunos surdos usuários

da Libras, tem mobilizados desafios a toda comunidade escolar, para a

organização de uma escola bilíngüe aos surdos; ou seja o uso da Libras como

primeira língua e língua portuguesa como segunda língua; mesmo com a

presença dos profissionais tradutores intérpretes da Libras.

No senso comum, acredita-se que com a presença do intérprete em sala

aula, está garantida aquisição de conhecimentos dos estudantes surdos. As

implicações de uma educação bilíngüe, envolvem todas estas características

mencionadas anteriormente sobre o Ser Surdo, bem como um sistema de

ensino organizado na perspectiva da pedagogia visual, compreendida aqui,

com todos os elementos que garantam um processo de ensino e aprendizagem

para o estudante surdo e tenham como pressupostos, as reivindicações da

comunidade surda.

E VOCÊ PROFISSIONAL Compartilhe, relate como tem ocorrido,

as mediações pedagógicas entre os seus colegas profissionais do centro

especializado com sua a escola, com você, sobre a educação de surdos? Você

SAIBA MAIS!

Tradutor Intérprete da Libras: O tradutor e intérprete terá competência para realizar interpretação das 2 (duas) línguas de maneira simultânea ou consecutiva e proficiência em tradução e interpretação da Libras e da Língua Portuguesa. (LEI Nº 12.319, DE 1º DE SETEMBRO DE 2010. Instrutor de Libras: Profissional que ensina a Libras a comunidade surda e ouvinte, cuja formação atenda as prerrogativas legais vigentes nesta área. Professor Bilíngüe: Professor que possui domínio nas duas línguas, a Libras e Língua Portuguesa, através do convívio com a comunidade surda e em cursos específicos nesta língua.

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fez ou faz algum curso na área de educação bilíngüe para surdos?

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Escutá-los, compreendê-los no contexto em que estão atuando na

educação, com alunos surdos e ouvintes em salas de aulas, é necessário, para

identificarmos as conquistas e os desafios a serem superados no processo

educacional dos estudantes surdos. Entendemos que a garantia deste direito,

passa por políticas educacionais que realmente sejam inclusivas, quando se

pensa o processo educacional, a partir das especificidades do outro.

Perlin e Strobel, narram em seus estudos, que a importância da

educação de surdos foi sentida antes de 1961, um ano depois que Stokoe com

sua pesquisa defendeu a língua de sinais com status de língua. Neste ano, a

primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional já estava legislando a

respeito com dois artigos (88 e 89) referentes à educação dos excepcionais,

garantindo, desta forma, o direito à educação. Esta lei, no artigo 89, registra

que o governo vai se comprometer em ajudar as ONGS - organizações não-

governamentais a prestarem serviços educacionais aos deficientes e entre eles

os surdos. Em 1973 com a criação do CENESP - Centro Nacional de Educação

Especial o governo deu mais atenção à educação de surdos, este trabalho

antes era delegado as ONGS. No ano de 1996 com a nova LDB - Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a lei confirmava com a Constituição

Brasileira a educação de surdos. A nova LDB tem algumas inovações que

permitem indicar melhor perspectivas governamentais e legislativas para a

educação de surdos. Nesta há um capítulo dedicado à inclusão, bem como as

escolas de surdos.

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Aqui apresentamos algumas das normativas oficiais, que

fundamentam e regem o direito educacional dos estudantes com necessidades

educacionais especiais, categoria a qual incluíram os surdos. Ressalta-se a

importância de distinguir que os surdos, apresentam uma diferença lingüística,

a língua de sinais. Por onde suas expressões no mundo são construídas

culturalmente.

E o que os surdos politizados, participantes dos movimentos sociais

em defesa da causa surda, pesquisadores ouvintes e surdos, autores literários

neste campo de conhecimento tem reivindicado sobre a educação bilíngüe?

Vejamos na próxima seção.

Para ler, sugere-se:

- SACKS, Oliver. Vendo Vozes: Uma jornada pelo mundo

dos surdos.Rio de Janeiro: Imago Editora, 1990.

Para assistir, sugere-se o filme: E seu nome é Jonas.

IMPORTANTE!

Conheça as legislações que garantem o Direito à Educação de Surdos: A Constituição Brasileira de 1988 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9394/96. Brasília, 1996. Lei nº 12.095 de 11 de março de 1998 Lei N.º 10.436 de 24 de abril de 2002 Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005 Deliberação nº02 de junho de 2003 Diretrizes da Educação Especial para a construção de currículos inclusivos – Paraná – 2006 Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva – Brasília - 2008

SAIBA MAIS!

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SÌNTESE

Ressaltamos aqui, a importância dos centros especializados/escolas de

educação de surdos e do ensino regular, como direito destes sujeitos, terem

acesso efetivo a todos os níveis do ensino, respeitas suas diferenças

lingüísticas, sociais, pedagógicas, culturais.

ESCOLA DE EDUCAÇÃO BILÍNGÜE PARA SURDOS: A VOZ DOS

SURDOS!

Objetivos da Unidade:

Identificar os principais aspectos do debate sobre qual modelo de

educação os surdos querem.

Conhecer características do manifesto realizados pelos surdos, sobre a

educação bilíngüe.

Que educação nós surdos queremos?

Irene Stock. Professora de Libras da Unicentro (Universidade Estadual do Centro Oeste -

PR)

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Essa expressão tem seus princípios na trajetória de lutas da comunidade

surda brasileira, a qual fundamentada no campo dos Estudos Surdos, mais

precisamente sobre a implantação da educação bilíngüe, tem mobilizado

debates no sistema nacional de educação. Fato recente, foi o Manifesto

realizado em maio deste ano em Brasília, com a comunidade surda brasileira,

composta por surdos, familiares, profissionais de diferentes áreas,

pesquisadores e simpatizantes surdos e não-surdos, com o apoio da

comunidade surda internacional, por meio desta carta manifesta sua

insatisfação com relação à forma como está sendo conduzida a atual política

de educação dos surdos brasileiros, uma vez que essa política não atende

adequadamente as peculiaridades linguísticas e culturais, a despeito dos

esforços que, reconhecemos, aqui e ali estão sendo empreendidos. Nesta

carta, a comunidade surda, reconhece os avanços, as conquistas obtidas

nestes dois últimos mandatos do governo federal: a promulgação do decreto

5.626/2005, que regulamenta a Língua Brasileira de Sinais (Libras); a criação

do curso Letras-Libras (licenciatura e bacharelado); a criação do Exame

Nacional para Certificação de Proficiência no uso e no ensino da Libras e para

Certificação de Proficiência na tradução e interpretação da

Libras/Português/Libras, denominado PROLIBRAS.

NAVEGUE NO LINK: http://www.feneis.com.br/ E CONHEÇA A FEDERAÇÃO

NACIONAL DE INTEGRAÇÃO E EDUCAÇÃO DE SURDOS, INSTITUIÇÃO REPRESENTATIVA DA

COMUNIDADE SURDA BRASILEIRA, ENTRE OUTRAS LEITURAS, LEIA O TEXTO NA ÍNTEGRA

SOBRE O MANIFESTO EM BRASILIA.

SAIBA MAIS!

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Contra que lutamos? Os surdos narram quais são esses aspectos: Lutamos

contra o fechamento das escolas de surdos incentivado e imposto.

Pesquisas realizadas por Cappovila, entre outros, apontam a importância das

crianças surdas, estarem em espaços lingüísticos na Libras, o mais cedo

possível, o qual lhes dará condições de acesso a língua materna e

conseqüentemente, condições eficaz de aquisição de conhecimentos. Outro

ponto que merece destaque é o tratamento dispensado às nossas

propostas em espaços, a priori democráticos, de participação popular. Na

CONAE (Conferência Nacional de Educação) receberam um tratamento

indevido da comissão responsável pela elaboração do documento final.

Referimo-nos especificamente às propostas não aprovadas e apresentadas no

formato de moção, e que são objeto de discussão no decorrer desse

documento. Tais propostas foram simplesmente excluídas do documento final,

sem justificativa ou qualquer menção.

Além do episódio da CONAE, vivenciamos, recentemente, outra

ameaça: a do fechamento do Colégio de Aplicação do Instituto Nacional

de Educação de Surdos – INES, que é uma instituição centenária, localizada

no Rio de Janeiro, e que faz parte da nossa história.

Disponível em: http://www.ines.gov.br/

A “voz” dos surdos será amplamente reconhecida, quando cada vez

mais se fizerem presentes e visualizadas nas livrarias, bibliotecas, em

diferentes espaços culturais, suas produções textuais. Não como produção

estática, empilhamento de idéias, mas sim nos movimentos que atravessam

seus significados científicos, nas obras que os transformam em autores.

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Porque os textos tomados nos discursos, só se

prova num trabalho, numa produção (Barthes,

2004, p.73), criando espaço de participação

social dos surdos no meio acadêmico,

significado pelas suas necessidades lingüísticas

e identidades múltiplas. Não se trata de apagar

memórias atribuindo para os surdos a

responsabilidade de não serem produtores dos

conhecimentos.

Significa transpor as representações da cultura ouvinte, ainda marcada

pela dominância oral que determina o que deve ser dito.

Observamos que no meio acadêmico, os espaços de participação social

dos surdos está sendo gradativamente ressignificado, mesmo que ainda

procurem silenciar o ser surdo. A idéia de surdos enquanto subculturas são

representações muito internalizadas na cultura ouvinte, atribuindo a fala como

o saber acadêmico valorizado.

Essa solicitação tem como objetivo implantar uma educação bilíngüe

que se sustente sobre as bases de pesquisas científicas contundentes, com

resultados positivos e efetivos, partilhados por mais de uma instituição, com

respaldo da comunidade surda, e diferentes acordos e documentos oficiais

internacionais vigentes.

AGORA É A SUA VOZ PROFISSIONAL

Dê sua opinião de como deve ser a educação de surdos.

ASSIM A COMUNIDADE

SURDA UNIDA E

REPRESENTADA POR

SURDOS DE TODO O

BRASIL, DEFENDEM

SEU DIREITO DE

PARTICIPAÇÃO

EFETIVA NA LUTA POR

UM ENSINO DE

QUALIDADE E

RESPEITO.

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SÍNTESE

Ressaltamos nesta seção, a importância de reconhecer a “voz dos surdos”, nas

reivindicações dos seus direitos, compreendendo suas práticas sociais nas

fronteiras do mundo dos surdos e de ouvintes.

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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE PRÁTICAS BILÍNGÜES

Objetivos da Unidade:

Compreender que os surdos organizam-se em grupos sócias, pois

necessitam interagir com seus pares.

Identificar a importância da criança surda, adquirir língua de sinais, o

mais cedo possível.

Reconhecer o direito a educação bilíngüe dos surdos, com garantia

efetiva de acesso ao conhecimento historicamente construído na

sociedade.

Observamos que os anseios apresentados pela comunidade surda,

conforme parágrafos anteriores, não são discursos efêmeros; mas significam

as vozes de uma comunidade, que como os demais estudantes, acreditam e

reivindicam práticas educacionais efetivas.

É nesta leitura discursiva e vivência visual, que os surdos constituem

suas representações culturais, políticas, sociais, educacionais de uma

comunidade, que compreende o mundo pela imagem, os quais vem traçando

suas lutas e tensões com a sociedade ouvinte, que por vezes o compreende

como guetos, grupos isolados.

Os surdos organizam-se em grupos, em diferentes espaços sociais,

para sentirem-se compreendidos, respeitados, na língua que este outro surdo,

comunica-se como eu, é a identificação dos pares, é o ser surdo. Estas

práticas sociais, ocorrem entre os ouvintes, que gostam de estar nos diferentes

espaços sociais, com o outro ouvinte.

E esse processo de compreender o ser surdo, é que causa estranheza

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para o ouvinte. Nós ouvintes, nunca precisamos ir para uma educação infantil,

aprender a dizer papai,.mamãe, bola, etc. Naturalmente desde bebês, fomos

emitindo nossos sons naturais e construindo a linguagem com nossos pais, ou

responsáveis, na língua portuguesa oral, com afetividade, emoções,

significando o mundo em nossa volta.

E os surdos, que nascem aproximadamente 90% em famílias de

ouvintes? Sua relação com o mundo é visual. E se os pais, não percebem a

surdez de seus filhos, tardiamente é descoberta a surdez, e a criança já

começa a ficar em defasagem na aquisição da linguagem. E isto não significa

comprometimento cognitivo, mas a importância, a necessidade de proporcionar

o quanto antes o acesso a língua materna da criança surda, em língua de

sinais, que lhe dará condições de significar suas relações com o mundo. E

essa significação, em sua maioria não está em relação natural na mesma

língua das de seus pais, precisa ser aprendida em um espaço lingüístico, que a

ensine em toda sua dimensão de linguagem.

Neste momento no Brasil, como em outros países na Europa e Estados

Unidos, são as escolas de educação bilíngües para surdos, que apresentam

essa possibilidade mais efetiva de aprendizado na língua de sinais e

aprofundamento teórico sobre estas duas línguas, desde que desenvolvido um

trabalho bilíngüe de qualidade na pedagogia visual. É notável os avanços em

pesquisas científicas, tecnológicas que apresentam as características da

cultura surda, cujas práticas educacionais, estão sendo produzidas em uma

pedagogia surda.

O dizer dos surdos pelas mãos, pelas línguas de sinais, transpõe as

idéias de imagens neutras de uma língua não oral; a qual já comprovada como

língua.

A língua é muito mais que um conjunto de regras organizadas segundo uma lógica estrutural que se destina à comunicação, à simbolização, à representação. A língua delimita um território ideológico de enunciação saturado de valores e posicionamentos; a língua como arena de guerras discursivas constitui o sujeito social, sua subjetividade, seu lugar no mundo. (Fernandes, 2003, p.115).

IMPORTANTE!

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A escrita, o português, os surdos querem

aprender com todo o seu valor lingüístico, pois é

a língua de seu país, para estabelecer as

relações sociais e desenvolverem-se nos

processos de aquisições de conhecimentos. Mas

o diferencial é que os surdos querem viver sua

cultura, e que seja negociada nas práticas

sociais com os ouvintes, de forma que os tornam

serem atuantes na sociedade.

Os processos pelas quais a sociedade

reconhece os diferentes campos dos

conhecimentos, ainda é fortemente marcado

pelos traços do modelo oral-auditivo, nos quais

são produzidas práticas discursivas escritas,

traduzidas e compostas nas obras, com suas

diferentes linguagens textuais.

Neste processo intertextual, não

transparente de códigos e significados do texto e

obra para os ouvintes, é que os surdos, apresentam em suas discussões a

necessidade de se constituírem sujeitos autores e tradutores de seus

pensamentos, através do uso da escrita. O português, para os surdos vem

assumindo significados de legitimação da cultura surda, no mundo dos

ouvintes. Inverte-se a lógica do oralismo que por muitos anos impôs a cultura

do ouvinte sobre o surdo.

Nesta perspectiva, compreendemos a escritura dos surdos, não como

uma definição, um conceito a ser inventado, ou como uma verdade; e sim, um

deslocamento, um desdobramento das vozes inidentificáveis, que

proporcionam a descoberta, a ruptura sobre o que o texto mobiliza ao leitor

ouvinte. Morre-se o autor da imposição ouvintista definindo sobre o que é

melhor para os surdos, traça-se outros campos de linguagens não neutras,

Os “estranhos” falam de

si pela língua de sinais e

os “normais” estranham;

pois (des) constroem

suas imagens da

comunicação oral, ao

irromper sua linguagem

enquanto única

“verdade” que sempre

possibilitou reconhecer

como sujeitos do

conhecimento, da

criação, da produção de

saberes gerando

identidades científicas e

fossem valorizados no

campo das pesquisas.

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oblíquas, que são as produções culturais dos próprios surdos, na textualidade

visual espacial.

As produções culturais surdas constituem-se em práticas sociais nas

relações das diferenças, as quais inscrevem o outro como outro e não como

igual. Estas práticas são visualizadas nas participações dos surdos no cinema,

teatro, dança poesia, desenho, pintura, divulgadas na mídia principalmente

internacional. No Brasil, ainda não se observa muito envolvimento dos surdos

nestes espaços sociais, entre outros aspectos por não constituir-se apropriação

cultural da comunidade ouvinte. Faltam divulgação, e valorização das políticas

lingüísticas que reconheçam a surdez como diferença. Isto implica em transpor

a idéia de que reconhecida a LIBRAS e promover a inclusão, resolveu-se os

“problemas com os surdos”. Por este olhar de inferioridade sobre os surdos, é

que se inventam suposições de que os surdos são limitados, incapazes, não

apresentando criatividade e criticidade das idéias, em poderem escrever e

manifestar seus pensamentos em textos.

È neste jogo de interlocuções, que mesmo simbolicamente posicionados

juntos nos discursos da inclusão, de promoção humana, de “igualdade para

todos”, que os surdos assumem os significados de aprender o português como

processo de letramento, ou seja, mudança nas posições de subjetividade,

como espaço de incursão cultural, de participação social, de tomada de

decisões.

SAIBA MAIS:

Autoria: travessia de identidades! Neste processo intertextual, não transparente de códigos e

significados do texto e obra, é que todos os surdos informantes deste trabalho, apresentaram em suas discussões a necessidade de se constituírem sujeitos autores e tradutores de seus pensamentos, através do uso da escrita. O português, para os surdos vem assumindo significados de legitimação da cultura surda, no mundo dos ouvintes. Inverte-se a lógica do oralismo que por muitos anos impôs a cultura do ouvinte sobre o surdo. (Machado,UFSC,2007).

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Dissertação disponível em http://www.ppge.ufsc.br/ferramentas/ferramentas/tese_di/arquivos/173.pdf

Assim, em suas práticas discursivas, os surdos atribuem sentidos da escola

de educação bilíngüe, como espaço de rompimento com a lógica tradicional,

que pressupõe uma escola para todos homogênea. A escola que os surdos

querem é a de educação bilíngüe.

E VOCÊ: QUAIS FORAM SUAS PRIMEIRAS IMPRESSÕES A

TRABALHAR COM ALUNOS SURDOS?

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SÍNTESE

Enfatizamos nessa seção, a importância que os surdos estão atribuindo a sua

formação educacional, sendo autores do conhecimento; traçando em suas

narrativas, as suas identidades culturais surdas. Reconhecemos o valor do uso

das duas línguas, a língua portuguesa na modalidade escrita e a Libras. E

reconhecemos a importância da escola de educação bilíngüe para os surdos.

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PROPONDO ATIVIDADES

Objetivo da unidade:

Elaborar em grupo, um episódio, uma história em quadrinhos, sobre o

contexto da inclusão educacional de um aluno surdo.

Colegas Profissionais! Após leitura do texto, fundamentação teórica explicada

pela professora, debate crítico, reflexivo; sobre o contexto educacional dos

estudantes surdos, do qual vocês já fazem parte, solicito que em grupo,

apresente suas idéias, sugestões, os desafios sobre a educação de surdos,

construindo um episódio, uma história da Presença do aluno surdo no Ensino

Regular.

EPISÓDIO: UM ESTUDANTE SURDO CHEGA NA ESCOLA DO

ENSINO REGULAR

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A importância da Escola Bilíngüe para Surdos.

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ALGUMAS PALAVRAS FINAIS

“... em tempos das diferenças! Aproximando olhares, estabelecendo fronteiras, no encontro com o outro.O mesmo, a repetição, o igual,o padrão,o homogêneo,o determinado, a deficiência,a perda,a falta,produziu imagens,traduziu

significados, representou a limitação, a negação, a incapacidade do ser.A diferença inscreve-se na possibilidade, ultrapassa barreiras, multiplica

identidades, abre-se ao novo, acolhe o desconhecido, reconhece minorias. Assim, a Libras, vem (des) construindo verdades sobre o outro.

Pulsiona, desnuda, demarca, indefine, irrompe, transpõe, traduz as diversas vozes que compõem o pensamento e a linguagem, por quem interage com o

mundo, por uma outra travessia lingüística,a visual espacial ”.

Rosana Ribas Machado

O olhar que tecemos neste texto, atravessa, transpõe a compreensão da

comunicação oral, da fala, como único meio dos surdos viverem, serem aceitos

e respeitados no mundo dos ouvintes, um mundo sonoro. Olhos que não só os

das percepções sensoriais, anatômicos em enxergar as coisas do mundo, no

mundo de coisas, que pelos diferentes campos de conhecimentos são

produzidos na humanidade.

O primeiro olhar é para si mesmo. O convite, é colocar-se no lugar do

outro A possibilidade de sair do seu casulo sonoro, e descobrir e conhecer o

universo imagético da língua de sinais, ampliando outros olhares sobre o

mundo em sua volta. Olhares falados e escritos, são traços das nossas marcas

culturais, cujas representações nos constituem como ouvintes. Olhares

sinalizados, são as marcas culturais de um grupo social, os surdos, que como

nós, possuem os elementos necessários para serem considerados,

reconhecidos como seres humanos, a inteligência.

O fato é que historicamente a sociedade ouvinte, em sua maioria,

sempre buscou uma forma de modelar os comportamentos humanos, em

normal e anormal, sendo aceitos os “normais” e excluídos os “anormais”. E os

surdos por possuírem uma língua diferente da normal, da padrão, a falada,

foram colocados no modelo da educação especial, e representados

culturalmente como deficientes.

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Assim, nesta conversa pedagógica, estudamos que os sujeitos surdos

fazem parte de um grupo cultural, cujo processo educacional, está na

perspectiva de educação bilíngüe. Neste aspecto é que para os surdos, faz

diferença focalizar sua identidade em estudos culturais, ao romper com o

conceito de corpo doente, danificado, para se chegar a representação da

alteridade cultural que simplesmente vai indicar a identidade surda,

rompendo assim coma idéia da educação bilíngüe para surdos, ainda

colocada na concepção da educação especial, compreendida como

reabilitação oral.

O que a comunidade surda busca, não é que todos os ouvintes

brasileiros saibam a Libras, como imposição legal; mas sim que a Libras, seja o

meio, de expressão, de interlocução livre para os surdos desde a infância, e

que possam vivenciar essa identidade lingüística, cultural, social e pedagógica,

pela comunicação visual espacial.

Assim, as línguas de sinais transpõe “verdades” que tentaram narrar o

sujeito surdo, como o não “ser surdo”. Ser surdo vai além de uma narrativa

lingüística, ao constituir-se como sujeito que possui uma identidade cultural

própria.E que atualmente,vivencia-se as relações interculturais, as

aproximações, as singularidades, as diferenças, entre surdos e ouvintes,nas

práticas sociais.

REFERÊNCIAS:

BARTHES,R. Rumor da língua. 2ª ed.-São Paulo:Martins Fontes,2004. BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB 4.024, de 20 de dezembro de 1961. BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação

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Nacional, LDB 5.692, de 11 de agosto de 1971. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Imprensa Oficial, 1988. BRASIL. Secretaria Nacional da Educação Especial. Política Nacional da Educação especial na perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília, 2008. CAMPELLO, Ana Regina e Souza. Pedagogia visual na educação dos surdos-mudos. Florianópolis, 2008.169p. Tese (Doutorado em Educação) – Pós Graduação em Educação, Universidade Federal de Santa Catarina. DERRIDA, Jacques. Margens da filosofia. Campinas: Papirus, 1991. FERNANDES, Sueli. Educação bilíngüe para surdos: identidades, diferenças, contradições e mistérios. Curitiba, 2003.202p.Tese (Doutorado em Letras) - Pós Graduação em Letras, Universidade Federal do Paraná. FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. 19º ed. Rio de Janeiro: Graal, 2004. 295p. HALL,Stuart. Da diáspora: Identidades e mediações culturais; Belo Horizonte: Editora UFMG, Brasília: Representação da UNESCO no Brasil,2003. MACHADO JANIAKI, Rosana Ribas. Um estudo sobre o significado da língua portuguesa por surdos universitários. Florianópolis, 2007.100p.Dissertação (Mestrado em Educação) – Pós Graduação em Educação, Universidade Federal de Santa Catarina. PARANÁ.Secretaria Estadual de Educação.Diretrizes da Educação Especial para a construção de currículos inclusivos. Curitiba,2006. PERLIN, Gladis. Identidades Surdas. In: SKLIAR, Carlos (Org). A surdez: Um Olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação, 1998. QUADROS, Ronice Muller e KARNOPP, Lodenir Becker. Língua de Sinais Brasileira, estudos lingüísticos. Porto Alegre: Artemed, 2004. 221p. __________. Educação de Surdos (texto elaborado para palestra no Colégio de Aplicação – UFSC). Florianópolis, UFSC, 2004. SILVA, Tomaz Tadeu (Org). Identidade e Diferença, a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2000. 133p. _______. Teoria cultural e educação, um vocabulário crítico. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. 125p. _______. Documentos de Identidade. Uma introdução às teorias do currículo. 2º ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. 154p. SILVEIRA, Rosa Hessel. Contando Histórias sobre surdos (as) e surdez. In: COSTA, Maria Vorraber (Org). Estudos Culturais em Educação. Porto Alegre: UFRGS, 2000. 287p.

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SKLIAR, Carlos. A surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre:

Mediação, 1998. _______. A educação e a pergunta pelos Outros: diferença, alteridade, diversidade e os “outros”. Ponto de Vista: Revista de Educação e Processos Inclusivos, estudos surdos. Florianópolis, nº5, 37-50, 2003. SOUZA, Regina Maria de. Práticas alfabetizadoras e subjetividade. In: LACERDA, Cristina Broglia Feitosa e GÓES, Maria Cecília Rafael de. (Orgs). Surdez: processos educativos e subjetividade. São Paulo: Lovise, 20

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ANEXO