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1 PRODUÇÃO DE FITOCOSMÉTICOS E CULTIVO SUSTENTÁVEL DA BIODIVERSIDADE NO BRASIL BORGES, Rany Caroline Gontijo (Unitri) [email protected] GARVIL, Mariana Pacifico (UNITRI) [email protected] ROSA, Gisele Araújo Alvarenga (Unitri) [email protected] Resumo A fitocosmética se dedica ao estudo e à aplicação dos conhecimentos da ação dos princípios ativos extraídos de espécies do reino vegetal, em proveito da higiene, da estética, da correção e da manutenção de um estado normal e sadio da pele e cabelo. Com a utilização das plantas nos produtos cosméticos, foram desenvolvidos os cosméticos orgânicos, que são fabricados com ingredientes que seguem normas de qualidade e sustentabilidade, obedecendo normas rígidas de certificação. Este trabalho tem, como objetivo, unir informações sobre fitocosméticos apresentando os ativos mais utilizados e sua importância, abordando a preocupação da população e da indústria com a proteção do meio ambiente. A metodologia utilizada foi uma pesquisa realizada em livro e artigos científicos publicados em português e espanhol no período de 1988 até 2011 nos sites da BVS (Biblioteca Virtual de Saúde) e no SIELO (Scientific Eletronic Library Online). Assim, o crescimento dos cosméticos orgânicos está ganhando um espaço cada vez maior no mercado de cosméticos, por obedecer as normas que exigem a não utilização de agrotóxicos e substâncias tóxicas venenosas, e pelos seus cuidados com a conservação e a preservação do meio ambiente, buscando a sustentabilidade. Palavras-chave: Fitocosméticos, Cosméticos Naturais, Cosméticos Orgânicos.

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PRODUÇÃO DE FITOCOSMÉTICOS E CULTIVO SUSTENTÁVEL DA BIODIVERSIDADE NO BRASIL

BORGES, Rany Caroline Gontijo (Unitri) [email protected]

GARVIL, Mariana Pacifico (UNITRI) [email protected] ROSA, Gisele Araújo Alvarenga (Unitri) [email protected]

Resumo A fitocosmética se dedica ao estudo e à aplicação dos conhecimentos da ação dos princípios ativos extraídos de espécies do reino vegetal, em proveito da higiene, da estética, da correção e da manutenção de um estado normal e sadio da pele e cabelo. Com a utilização das plantas nos produtos cosméticos, foram desenvolvidos os cosméticos orgânicos, que são fabricados com ingredientes que seguem normas de qualidade e sustentabilidade, obedecendo normas rígidas de certificação. Este trabalho tem, como objetivo, unir informações sobre fitocosméticos apresentando os ativos mais utilizados e sua importância, abordando a preocupação da população e da indústria com a proteção do meio ambiente. A metodologia utilizada foi uma pesquisa realizada em livro e artigos científicos publicados em português e espanhol no período de 1988 até 2011 nos sites da BVS (Biblioteca Virtual de Saúde) e no SIELO (Scientific Eletronic Library Online). Assim, o crescimento dos cosméticos orgânicos está ganhando um espaço cada vez maior no mercado de cosméticos, por obedecer as normas que exigem a não utilização de agrotóxicos e substâncias tóxicas venenosas, e pelos seus cuidados com a conservação e a preservação do meio ambiente, buscando a sustentabilidade. Palavras-chave: Fitocosméticos, Cosméticos Naturais, Cosméticos Orgânicos.

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INTRODUÇÃO De acordo com a RDC 211/05 da ANVISA, cosméticos são preparações

constituídas por substâncias naturais ou sintéticas, e suas misturas, para uso externo em diversas partes exteriores do corpo humano, pele, sistema capilar, unhas, lábios e órgãos genitais externos, dentes e as membranas mucosas da cavidade bucal, com o exclusivo ou principal objetivo de limpar, perfumar, alterar a aparência e/ou corrigir odores corporais e/ou protege-los e mantê-los em bom estado.

Os cosméticos à base de produtos vegetais são chamados de fitocosméticos. A fitocosmética é o segmento da ciência cosmetológica que se dedica ao estudo e à aplicação dos conhecimentos da ação dos princípios ativos extraídos de espécies do reino vegetal, em proveito da higiene, da estética, da correção e da manutenção de um estado normal (eudérmico) e sadio da pele e do cabelo (ARAÚJO et al., 2010).

Atualmente, atenção especial é dada ao estudo científico dos produtos derivados de plantas, buscando-se recursos disponíveis, renováveis, permitindo uma atividade sustentável. Apenas, cerca de 14% dos recursos vegetais disponíveis são conhecidos adequadamente. Considerando as plantas superiores temos atualmente cerca de 250.000 espécies no planeta, sendo que aproximadamente 55.000 localizam-se no Brasil, que conta com maior biodiversidade do planeta e sendo apenas 2% conhecida, restando 98% para ser descoberta e pesquisada (BABY et al., 2005).

A Amazônia é a maior fonte de biodiversidade do planeta, equivalentes a 5% da superfície da Terra, encontra-se uma biodiversidade avaliada em US$ 2 trilhões, quantidade que pode parecer relativamente modesta para uma área que compreende 33% das reservas genéticas do planeta (BLOISE, 2003).

Em vista desse panorama fantástico, não é de se estranhar que a exploração dos produtos naturais amazônicos sempre chamou a atenção de pesquisadores do mundo todo (BLOISE, 2003).

Considerando-se, ainda, a expansão mundial que os mercados de produtos derivados de plantas (fitoterápicos, suplementos alimentares, cosméticos, repelentes de insetos, corantes, etc.) vêm conquistando, vê-se que os países detentores de grande biodiversidade têm a oportunidade de entrar em mercados bilionários, como o farmacêutico, que movimentam bilhões de dólares/ano (SIMÕES et al., 2004).

A expansão da indústria de cosméticos naturais ou à base de produtos naturais tem resultado em forte questionamento pelos países detentores da biodiversidade, que levam em conta a proteção ao meio ambiente (SEBRAE, 2008).

Atualmente, com a natureza mais distante e devastada, observa-se a preocupação da população em contribuir para a prevenção da fauna, flora e da biodiversidade mundial (QUENCA-GUILLEN et al., 2007).

Na onda dos cosméticos ‘‘ecologicamente corretos’’ estão os orgânicos, fabricados com ingredientes que seguem normas de qualidade e sustentabilidade estabelecidas por agências certificadoras capazes de garantir, ao consumidor final, a qualidade orgânica dos produtos adquiridos (NEVES, 2010).

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A boa aceitação dos produtos orgânicos deve-se, de um modo geral, à preocupação com a degradação ambiental, a conscientização e ao aumento da exigência dos consumidores por produtos “limpos’’ (SCHIMAICHEL E RESENDE 2006). Essa realidade, formada a partir da conscientização dos problemas ambientais e dos riscos que eles causam a manutenção da vida humana, fez com que as pessoas passassem a se preocupar não só com a saúde ambiental, mas com sua própria saúde (LYRIO et al., 2011).

Por isso os orgânicos aos poucos estão ganhando mercado, não só nos alimentos, mas agora também em cosméticos, assim como roupas feitas com algodão certificado, entre outros produtos ou serviços (CHÁVEZ, 2004).

Este trabalho tem como objetivo reunir informações sobre fitocosméticos apresentando os ativos mais utilizados e sua importância, abordando a preocupação da população e da indústria com a proteção do meio ambiente. 1. METODOLOGIA

A metodologia utilizada foi uma pesquisa realizada em livro e artigos científicos publicados em português e espanhol no período de 1988 até 2011, nos sites da BVS (Biblioteca Virtual de Saúde) e no SIELO (Scientific Eletronic Library Online). 2. FITOCOSMÉTICA

A fitocosmética é o segmento da ciência cosmetológica que se dedica ao estudo e à aplicação dos conhecimentos da ação dos princípios ativos extraídos de espécies do reino vegetal, em proveito da higiene, da estética, da correção e da manutenção de um estado normal (eudérmico) e sadio da pele e do cabelo (ARAÚJO et al., 2010).

No âmbito das múltiplas disciplinas que constituem a cosmética moderna, a fitocosmética é uma das que, atualmente, ocupam lugar de destaque graças ao aprofundamento científico e tecnológico que veio a resgatar a credibilidade e a seriedade, frequentemente arranhadas, na utilização de produtos de origem vegetal (LABS, 1990).

Conhecer novas plantas, pesquisá-las e empregá-las cosmetologicamente, tem sido um objetivo cada vez mais almejado pelos formuladores.

As empresas que se dedicam à produção de extratos e demais fitoderivados tem sido cada vez mais solicitadas no fornecimento de seus produtos. Os modernos processos tecnológicos empregados na sua obtenção têm permitido a estas empresas apresentarem a mais diversificada gama de derivados das plantas oficinais que vão desde os extratos integrais, as tinturas, os óleos essenciais, as gomas, as mucilagens, os óleos e gorduras vegetais, até os princípios ativos isolados e purificados (LABS, 1990). 3. CLASSIFICAÇÃO DOS FITODERIVADOS Em fitocosmética as plantas e seus derivados são preferencialmente classificados de acordo com seus efeitos farmacológicos. Distinguem-se em:

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adstringentes, tônicos, emolientes, umectantes, antissépticos, hipertêmicos, tintoriais, anti-inflamatórios, estimulantes, etc. (LABS, 1990). Eis alguns exemplos de fitoderivados e de sua classificação (LABS, 1990): 3.1. Adstringentes: São os que agem sobre os poros e folículos pilo-sebáceos da pele, provocando a sua constrição, reduzindo o seu diâmetro e controlando, desta forma, a sudorese e a secreção sebácea. Os seus princípios ativos básicos são: taninos, flavonoides e ácidos orgânicos. Nessa categoria encontramos: hamamelis (folha), videira(folha), erva-de-são-joão (planta integral), morango (infrutescência), maçã verde (fruto), chá verde (folha), rosa (pétalas), limão (fruto), romã (fruto). 3.2. Emolientes e umectantes: Frequentemente as duas propriedades estão unidas no mesmo vegetal, isto porque a grande maioria contêm glícides condensados como as gomas e mucilagens, e também ácidos orgânicos. Nessa categoria destacam-se: algas (planta integral), pepino (fruto), alface (planta integral), babosa (folhas), coco (endocarpo), abacate (fruto), trigo (óleo obtido do germe). 3.3. Tônico estimulantes: Assim classificados por ativarem a circulação periférica, estimulando o metabolismo cutâneo, com consequente tonificação local e eliminação das impurezas intercelulares. Seus princípios ativos pertencem a diversos grupamentos químicos, sendo os principais: terpenóides, alcaloides, ácidos graxos e saponinas. Nesta categoria podemos citar: orégano (flores), alecrim (folhas), calêndula (flores), jaborandi (folhas), urtiga (folhas), quina (casca), guaraná (fruto), bardana (raiz). 3.4. Tintoriais: São os que contêm pigmentos naturais dos mais variados grupamentos químicos, cujo uso em preparações fitocosméticas entra, via de regra, como coadjuvante de outros princípios ativos. É o caso do urucum, do açafrão e dos que contém carotenos, muito utilizados em produtos bronzeadores; da hena, da camomila, e da ameixeira, usadas em produtos capilares; da nogueira, da cúrcuma, da amora, da beterraba e da clorofila, empregados como corantes naturais. 4. MATÉRIAS-PRIMAS NATURAIS EMPREGADAS EM COSMÉTICOS

Matérias-primas amazônicas trazem em si a cultura de um povo, o apelo irresistível do exótico, conceitos tão importantes quanto à eficácia dos produtos.

As inúmeras matérias-primas, sobretudo as nativas, promovem o desenvolvimento de novos bioprodutos, especialmente nos setores de cosméticos. As plantas originárias da biodiversidade amazônica são utilizadas nos grandes mercados de cosméticos mundiais devido ao apelo de suas propriedades (BABY et al., 2005; FRANQUILINO, 2006):

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4.1. Açaí: contém vitaminas, proteínas, açúcares essenciais e sais minerais. Encontrado em todo o estuário do Rio Amazonas, mas a ‘’terra do açai’’ é a cidade de Codajás no Estado do Amazonas. Propriedades nutritivas, remineralizantes e condicionadoras. Produtos hair care e skin care. Usados em cremes nutritivos e hidratantes para a pele, shampoos e condicionadores para os cabelos, géis, mousses e emulsões. 4.2. Andiroba: é encontrada em toda a bacia Amazônica, tanto nas florestas de terra firme como nas florestas temporariamente alagadas. Suas propriedades farmacológicas são: estimular a regeneração do tecido epitelial, tem ação anti-inflamatória, antiacne e repelente natural de insetos. Usada em sabonetes, shampoos, anticelutíticos, cremes emolientes e hidratantes e repelentes naturais de insetos. 4.3. Buriti: fonte de pró-vitamina A e vitamina E, aumenta elasticidade da pele, diminui o ressecamento ocasionado pela exposição solar e ação antioxidante. É originário do Brasil, e predominantemente encontrado em terrenos pantanosos. Usado em cosméticos como produtos solares e pós-solares, cuidados para os cabelos, óleos de banho, cremes nutritivos e hidratantes para a pele, shampoo e condicionadores para os cabelos. 4.4. Castanha-do-pará: umectante, formador de filme que impede a perda de água da pele. O óleo é rico em ácidos graxos insaturados, contém vitaminas A,B, C e E, e minerais e oligoelementos. Originário do Brasil, da Região Amazônica, ocorre nos Estados do Acre, Amazonas, Pará Roraima e Rondônia. Usada em cosméticos como loções hidratantes, óleos de banho, sabonetes. Nos cabelos, auxilia na restauração de cabelos danificados e desidratados. Na pele, pode ser usado como antioxidante no combate dos radicais livres para prevenir o envelhecimento cutâneo. 4.5. Copaíba: germicida natural, fragrâncias, anti-inflamatório, cicatrizante, antiacne, fixador de perfumes e emulsionante ou co-emulsionante de sistemas O/A. É encontrado no Brasil, em especial na região Amazônica. Na porção resinosa são encontrados o ácido copaíbico, ésteres e resinoides. É usado em cremes, loções, óleos, sabonetes, desodorantes, shampoos, espuma de banho e auxilia no tratamento da caspa e da acne. 4.6. Cupuaçu: rico em ácidos esteárico, oléico e araquídico. Umectante de longa duração. Auxilia na estabilidade de emulsões, toque agradável, maciez à pele, hidratação e reduz a perda trans-epidérmica de água. É uma planta endêmica da Amazônica, isto é, só ocorre lá. O óleo de cupuaçu apresenta alta concentração de ácidos graxos de cadeia longa, tais como oléico, araquidônico e berrênico, entre outros. Usada em cremes, loções, batons, óleos para banho, condicionadores e máscaras capilares, emulsões pós-barba, sticks, desodorantes cremosos e protetores solares. 4.7. Murumuru: alto conteúdo de ácidos oléico e láurico, indicado para pele seca e cabelo seco e danificado. Originário da Amazônia, cresce espontânea

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em terrenos úmidos ou muito alagados, como Ilha do Marajó. O óleo da semente é rico em ácidos graxos. Usado em cremes para o rosto, revigorantes cutâneos, como essência em banhos relaxantes, em produtos para cabelo e pele como hidratantes. 5. TERMINOLOGIA COSMÉTICO NATURAL E COSMÉTICO ORGÂNICO

A agricultura orgânica é um sistema holístico de ordenação da produção que promove e melhora a saúde do agrossistema, com a inclusão da biodiversidade, dos ciclos biológicos e da atividade biológica do solo. Insumos agrícolas, tendo em conta que as condições regionais requerem sistemas adaptados para cada local. Isto é realizado com o uso, máximo possível, de métodos agronômicos, biológicos e mecânicos, em substituição a matérias sintéticas, para desempenhar qualquer função especifica dentro do sistema. (CODEX ALIMENTARIUS, 1997).

O processo de certificação orgânica compreende os procedimentos que verificam os insumos utilizados, os processos de produção, o armazenamento das matérias-primas, as embalagens, os rótulos, as instalações, a utilização de recursos energéticos e o tratamento de resíduos, onde esses serviços vão seguir normas estabelecidas pelas agencias certificadoras, garantindo ao consumidor final um produto mais confiável (RIBEIRO, 2009).

A certificação é um procedimento pelo qual se verifica o processo de produção de um produto segue as normas às quais está subordinado. No caso dos orgânicos, é o instrumento que garante que os produtos orgânicos portadores do selo/rótulo/certificado foram produzidos de acordo com as normas de suas práticas (NEVES, 2007).

Como ainda não há normas brasileiras para a certificação de cosméticos orgânicos, o IBD Certificações tem sua própria norma para o mercado brasileiro, que, segue normas mais avançadas do exterior para cosméticos orgânicos.

Para esclarecer sobre cosméticos naturais e cosméticos orgânicos, os termos para cada tipo de cosmético usado pela certificadora IBD (2009) são:

Cosmético natural [...] o produto tem que ter ao menos um ingrediente ‘’derivado de’’ uma substância natural, extraído diretamente de uma planta, porém não produzido por síntese. Embora, não haja definição legal do teor mínimo de ingrediente derivado de natural para se caracterizar o cosmético como natural (NEVES, 2007).

Cosmético orgânico: [...] a formulação do mesmo contiver pelo menos 95% de matérias-primas certificadas orgânicas, descontando-se a água e o sal. Os 5% restantes da formulação pode ser compostos por matérias-primas naturais, provenientes de agricultura ou extrativismo não certificadas ou permitidas para formulações

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orgânicas. Uma matéria-prima somente poderá ser classificada como orgânica e receber esta certificação se for 100% orgânica, ou seja, obedecer todos os critérios de produção, extração e processamento para um produto orgânico (BISPO, 2008). Cosmético feito como matéria prima orgânica: [...] no mínimo 70% e no máximo 95% dos componentes da formulação, descontando-se água e sal, forem certificados orgânicos. O restante da formulação pode ser composto por água, matérias-primas naturais, provenientes de agricultura ou extrativismo não certificados ou permitidos para formulações orgânicas (BISPO, 2008).

6. SUSTENTABILIDADE

A partir do início dos anos 70, o problema mundial com o meio ambiente passou a ser questionado, reformulado e repensado dentro de uma nova realidade, a partir daí Estados, Organizações Internacionais governamentais ou não, passaram a ter consciência dos problemas ambientais que o mundo todo estava a enfrentar (SCHIMAICHEL e RESENDE, 2006).

A destruição dos recursos naturais ocorre de forma inconsciente provocando o esgotamento e destruição dos ecossistemas, a busca da lucratividade com a destruição dos recursos naturais faz com que o aproveitamento no presente seja mais importante do que a preservação a longo prazo, esses procedimento tende a levar a destruição das reservas (HOMMA, 2008).

Segundo o Relatório de Brundtland(1991) Isso é muito parecido com a filosofia dos nativos dos Estados Unidos, que diziam que os seus líderes deviam sempre considerar os efeitos das suas ações nos seus dependentes após sete gerações futuras.

Na onda dos cosméticos ‘’ecologicamente corretos’’ estão os orgânicos, fabricados com ingredientes que seguem normas de qualidade e sustentabilidade estabelecidas por agências certificadoras capazes de garantir, ao consumidor final, a qualidade orgânica dos produtos adquiridos (NEVES, 2010).

A produção orgânica obedece às normas rígidas de certificação que exigem além da não utilização de agrotóxicos e drogas venenosas, os cuidados elementares como a conservação e a preservação de recursos naturais e condições adequadas de trabalho tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica. 7. MERCADO DE COSMÉTICOS ORGÂNICOS E NATURAIS As vendas globais de cosméticos orgânicos e naturais atingiram, em 2007, volume na ordem de US$ 7 bilhões. Em 2008, o Brasil ocupava o terceiro lugar no ranking do mercado mundial de cosméticos, mas estava em primeiro entre os países exportadores de matérias-primas. De 2008 até 2012, o Brasil cresceu 7,4% no segmento de cosméticos orgânicos e naturais (NEVES, 2010).

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No Brasil, o mercado ainda é pequeno, mas está em crescimento. Os países da Europa e os Estados Unidos são os grandes consumidores de produtos orgânicos, especialmente. A Alemanha consome 50% de tudo o que a Europa consome. A indústria de cosméticos investe em produtos orgânicos e naturais desde que o conceito de orgânico se firmou com os alimentos, e esse mercado se expandiu fortemente, isto é, desde o final dos anos 1990 (NEVES, 2010). As empresas de cosméticos foram rápidas e sensíveis às demandas do consumidor, incluíram insumos orgânicos ou criaram linhas exclusivas de orgânicos em seu mix de produtos. A utilização de frutas exóticas e sementes da Amazônia, como açaí, cupuaçu, extratos de Andiroba e buriti, são os grandes apelos desse mercado. Por isso o Brasil se mantém como o principal fornecedor de matéria-prima (NEVES, 2010). 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS Muitas plantas Amazônicas estão sendo incorporadas nos fitocosméticos, por suas diversas características e benefícios. Algumas empresas que se dedicam à produção de extratos e demais fitoderivados tem sido mais solicitadas no fornecimento de seus produtos. Com o aumento da demanda, as indústrias e consumidores se preocupam com a sustentabilidade e a preservação com o meio ambiente.

O artigo n° 225, da Constituição (1988) prevê o seguinte: ‘’Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. ’’ Assim, o crescimento dos cosméticos orgânicos está ganhando um espaço cada vez maior no mercado de cosméticos, por obedecer a normas que exigem a não utilização de agrotóxicos e drogas venenosas, e pelos seus cuidados com a conservação e a preservação do meio ambiente, buscando a sustentabilidade.

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9. REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS ARAUJO, A.I.F. et. al. Plantas nativas do Brasil empregadas em fitocosmética. X Jornada de Ensino, Pesquisa e Extensão: 2010. Disponível em: < http://www.sigeventos.com.br/jepex/inscricao/resumos/0001/R0037-2.PDF>. Acesso em: 21 de março de 2012. BABY, A.R. et. al. Uso de Extratos de Plantas em cosméticos. São Paulo: Cosmetics & Toiletries 17(1): 78-82, 2005, pág. 78, 80, 81. BISPO, M. (2008) Cosméticos Verdadeiramente orgânicos. São Paulo: Cosmetics&Toiletries 20:50-52. BLOISE, M.I. Óleos Vegetais e Especialidades da Floresta Amazônica. São Paulo: Cosmetics & Toiletries 15(1): 46-49,2003, pág. 46. BRASIL. ANVISA. Resolução RDC n° 211 de 14 de julho de 2005. Estabelece a definição e a classificação de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 18 jul. 2005. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/cosmeticos/legis/especifica_registro.htm>. Acesso em: 27 de março de 2012. BRASIL. Constituição Federal de 1988, Artigo n° 225. Diário Oficial da União, Brasília, 1988. BRUNDTLAND, G.H. Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Nosso futuro comum. 2a ed. Tradução de Our common future. 1a ed. 1988. Rio de Janeiro : Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1991. CHÁVEZ, M.G.G. O mais profundo é a pele: Sociedade Cosmética na era da Biodiversidade. Fortaleza: Revista Mal-estar e subjetividade, 2004, pág. 37. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1518-61482008000100003&script=sci_arttext>. Acesso em: 19 de março de 2012. CODEX ALIMENTARIUS (1997). Higiene dos alimentos. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/divulga/public/alimentos/codex_alimentarius.pdf. Acesso em: 25 de março de 2012. FRANQUILINO, E. Ativos Amazônicos. São Paulo: Cosmetics & Toiletries: 18-53, 2006, pág. 19-47. HOMMA, A.K.O. Extratismo, Biodiversidade e Biopirataria na Amazônia. Embrapa informações técnicas. Brasília: EMBRAPA, 2008. Disponível em: <http://www.embrapa.br/publicacoes/tecnico/folderTextoDiscussao/arquivos-pdf/Texto-27_20-05-08.pdf>. Acesso em: 20 de março de 2012.

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IBD (2009). Certificações: cosméticos orgânicos. Disponível em: <http://www.ibd.com.br/downloads/COSMETICOS%20ORGANICOS-%20CERTIFICAÇAO.pdf>. Acesso em: 20 de março de 2012. LABS, V.V.H. Fitocosmética. São Paulo: Cosmetics&Toiletries 2: 9-14, 1990, pág. 10. LYRIO, E.S. et.al. Recursos Vegetais em Biocosméticos: Conceito Inovador de Beleza, Saúde e Sustentabilidade. Natureza Online 9(1): 47-51, 2011, pág. 48. Disponível em: http://www.naturezaonline.com.br/natureza/conteudo/pdf/09_LyrioESetal_4751.pdf. Acesso em: 19 de março de 2012. NEVES, K. Beleza Ecologicamente Correta. São Paulo: Cosmetics & Toiletries 22(1) 22-32, 2010, pág. 22. NEVES, K. Cosméticos orgânicos e naturais: equilíbrio entre homem e meio ambiente. São Paulo: Cosmetics & Toiletries 19(4) 28-33, 2007, pág. 28, 29. QUENCA-GUILLEN, J.S. et al. O Brasil está na moda. São Paulo: Cosmetics & Toiletries 19(4): 68-72, 2007, pág. 68. RIBEIRO,C. (2009). Cosmético: orgânico, com matérias-primas orgânicas e natural. Disponível em: http://www.ibd.com.br/downloads/COS_NAT_ORG-%20NORMASIBD-CLAUDIORIB.pdf. Acesso em: 20 de março de 2012. SHIMAICHEL, G.L.e RESENDE, J.T.V. A importância da certificação de produtos orgânicos no mercado internacional. REVISTA ELETRÔNICA LATO SENSU 2: 1-16, 2006, pág. 3, 5. Disponível em: http://web03.unicentro.br/especializacao/Revista_Pos/P%C3%A1ginas/2%20Edi%C3%A7%C3%A3o/Agrarias/PDF/1-Ed2_CA-Importa.pdf. Acesso em: 24 de março de 2012. SIMÕES, C.M.O. et.al. Farmacognosia - da planta ao medicamento. 5 ed. Porto Alegre/Florianópolis: Editora da UFRGS/ Editora da UFSC, 2004, pág. 45-47.