produção de carnes secas e couros no nordeste colonial ... · vilas importantes no período...

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Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de Antigo Regime | Lisboa 18 a 21 de Maio de 2011 1 Produção de carnes secas e couros no nordeste colonial: apontamentos sobre as relações entre a elite do Siará Grande e as redes mercantis de Pernambuco, 1767-1802 Leonardo Cândido ROLIM Universidade Federal da Paraíba [email protected] Introdução São notáveis os estudos acerca das relações mercantis entre as praças de comércio ou vilas importantes no período colonial brasileiro. Desde o pioneiro trabalho de Amaral Lapa 1 as redes comerciais que foram tecidas entre as possessões ultramarinas de Portugal tornaram- se objeto de pesquisas recorrentes na historiografia colonial. Investigações diversas foram empreendidas seja no âmbito do comércio ultramarino, isto é, entre as possessões portuguesas nas diversas partes do Império, seja na formação de redes e conexões regionais que se revelavam verdadeiros enraizamentos de interesses e circuitos mercantis importantes para o funcionamento da dinâmica imperial. O comércio colonial vem, a partir de uma renovação historiográfica iniciada, no Brasil, nos anos 1980, sendo problematizado de forma não só quantitativa fortemente baseada numa história seriada, mas também de uma análise qualitativa dos dados. Influenciados por uma “nova história econômica e social” 2 autores como João Fragoso e Manolo Florentino deram às fontes conhecidas uma nova metodologia e perscrutaram fontes ainda não trabalhadas, dando, por sua fez, influência a novos trabalhos. Nosso texto é escrito com a intenção de sistematizar certos apontamentos sobre o comércio de carnes secas que constituem parte (nesse caso, do último capítulo) da nossa dissertação de mestrado ainda em fase de escrita. Nesse sentido, ele será composto pela problematização de fontes diversas. Na primeira parte do texto faremos uma contextualização rápida e objetiva da conquista dos sertões das Capitanias do Norte do Estado do Brasil, 1 José Roberto do Amaral LAPA, A Bahia e a Carreira da Índia, São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 1968. 2 Sobre as escolas de História Econômica e Social ver Josep FONTANA, A História dos Homens, Bauru, SP, EDUSC, 2004.

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Page 1: Produção de carnes secas e couros no nordeste colonial ... · vilas importantes no período colonial brasileiro. ... Barcos no Porto da Vila de Santa Cruz do Aracati (1767-1802)

Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de Antigo Regime | Lisboa 18 a 21 de Maio de 2011 1

Produção de carnes secas e couros no nordeste colonial: apontamentos

sobre as relações entre a elite do Siará Grande e as redes mercantis de

Pernambuco, 1767-1802

Leonardo Cândido ROLIM

Universidade Federal da Paraíba

[email protected]

Introdução

São notáveis os estudos acerca das relações mercantis entre as praças de comércio ou

vilas importantes no período colonial brasileiro. Desde o pioneiro trabalho de Amaral Lapa1

as redes comerciais que foram tecidas entre as possessões ultramarinas de Portugal tornaram-

se objeto de pesquisas recorrentes na historiografia colonial. Investigações diversas foram

empreendidas seja no âmbito do comércio ultramarino, isto é, entre as possessões portuguesas

nas diversas partes do Império, seja na formação de redes e conexões regionais que se

revelavam verdadeiros enraizamentos de interesses e circuitos mercantis importantes para o

funcionamento da dinâmica imperial.

O comércio colonial vem, a partir de uma renovação historiográfica iniciada, no

Brasil, nos anos 1980, sendo problematizado de forma não só quantitativa fortemente baseada

numa história seriada, mas também de uma análise qualitativa dos dados. Influenciados por

uma “nova história econômica e social” 2 autores como João Fragoso e Manolo Florentino

deram às fontes conhecidas uma nova metodologia e perscrutaram fontes ainda não

trabalhadas, dando, por sua fez, influência a novos trabalhos.

Nosso texto é escrito com a intenção de sistematizar certos apontamentos sobre o

comércio de carnes secas que constituem parte (nesse caso, do último capítulo) da nossa

dissertação de mestrado ainda em fase de escrita. Nesse sentido, ele será composto pela

problematização de fontes diversas. Na primeira parte do texto faremos uma contextualização

rápida e objetiva da conquista dos sertões das Capitanias do Norte do Estado do Brasil,

1 José Roberto do Amaral LAPA, A Bahia e a Carreira da Índia, São Paulo, Editora da Universidade de São

Paulo, 1968. 2 Sobre as escolas de História Econômica e Social ver Josep FONTANA, A História dos Homens, Bauru, SP,

EDUSC, 2004.

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Leonardo Cândido Rolim

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principalmente a porção que compreende hoje os sertões dos estados da Paraíba, Rio Grande

do Norte e Ceará, pois julgamos fundamental para o entendimento geral do texto.

O trato direto com a documentação será feito na continuação do texto. Na segunda

parte será problematizada, a partir de documentação presente no Projeto Resgate dos

Documentos Manuscritos Avulsos da Capitania do Ceará e de Pernambuco, a criação da vila

de Santa Cruz do Aracati a partir de interesses econômicos dos donos de oficinas que

envolveram, inclusive, o governador da capitania de Pernambuco e o Ouvidor do Siará

Grande, além de evidenciarmos algumas disputas internas à Vila a partir de Atas de Correição

da Câmara e a importância do comércio das carnes secas na manutenção de circuitos

mercantis que envolviam homens de negócio da praça do Recife e mercadores da vila do

Aracati. Na terceira e última parte do texto, utilizando o Livro de Registro de Entrada dos

Barcos no Porto da Vila de Santa Cruz do Aracati (1767-1802) faremos sistematizações e

apontamentos acerca do comércio de carnes sob a óptica desse documento que por ser bem

específico traz riqueza para nossa pesquisa, apesar de termos iniciado sua problematização há

pouco tempo, por fazer referência apenas a última parte de nossa dissertação.

Conquista e colonização do sertão: homens, armas e gados

A restauração portuguesa e o fim do período holandês em Pernambuco por volta da

metade do século XVII coincidiram com o início do interesse da Coroa Portuguesa nos

sertões de sua colônia na América 3. Fosse na sua parte central, isto é, a região das capitanias

de São Paulo, Minas Gerais e Goiás, fosse na porção norte, região de sertão agreste e semi-

árida onde, nessa época, noticiou-se a existência de minas de prata, como certo pretexto para

instigar a conquista.

Sem dúvida, os agentes régios logo fixaram suas atenções e preocupações na região

onde fora encontrado ouro na última década do século XVII. Tornando, assim, a região mais

próxima à capitania de Pernambuco, além de desinteressante economicamente, uma válvula

de escape para as disputas internas no “caldeirão político” que se tornou Pernambuco entre a

definitiva expulsão dos batavos (1654) e a Guerra dos Mascates (1711), como nos mostra o

historiador Evaldo Cabral de Mello 4.

3 Para a concepção de sertão utilizada aqui ver: Jacqueline HERMANN, “Sertão (Verbete)” In: Ronaldo

VAINFAS, (org.), Dicionário do Brasil Colonial. (1500-1808), Rio de Janeiro, Objetiva, 2001, pp. 528-529. 4 Para maior entendimento sobre o período em questão ver Evaldo Cabral de MELLO, A Fronda dos Mazombos

– Nobres Contra Mascates: Pernambuco, 1666-1715, São Paulo, Companhia das Letras, 1995.

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Produção de carnes secas e couros no nordeste colonial: apontamento sobre as relações entre a elite do Siará Grande e as

redes mercantis de Pernambuco, 1767-1802

Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de Antigo Regime | Lisboa 18 a 21 de Maio de 2011 3

Na conjuntura que Mello denomina de post bellum, isto é, após a guerra para a

expulsão dos holandeses da capitania de Pernambuco, o pagamento das tropas, as disputas

pelas propriedades dos antigos engenhos e a cobrança de impostos elevados foram acirrando

os ânimos entre Senhores de Engenho e Mascates, e ainda entre os primeiros e a Coroa

Portuguesa. Uma saída encontrada foi a dissipação desta tensão em direção as guerras contra

os “bárbaros dos sertões”, ou seja, o índio chamado tapuia habitante do interior do continente.

O deslocamento das tropas não foi total, pois o porto do Recife não poderia mais ficar

vulnerável, mas as tropas chamadas irregulares foram deslocadas para o sertão e ainda

algumas regulares como famoso terço paulista de Domingos Jorge Velho e também o de

Manuel Álvares de Morais Navarro, que após alguns anos de luta contra o tapuia foi

institucionalizado.

Uma por uma as ribeiras do Rio Grande e do Siará Grande foram conquistadas.

Batalhas sangrentas estão registradas como a “Guerra do Açu” e o chamado “Massacre no

Jaguaribe”. Não se pode fixar data exata para o início e nem tampouco para o fim dos

conflitos, mas Pedro Puntoni, ao tratar da retomada dos conflitos naquela região após

tentativas de acordos, afirma que “(...) a maior parte da documentação insiste em notar que a

partir dos primeiros meses de 1687 assistia-se à retomada dessas revoltas e levantes que

conduziriam, em movimento ascensional, a um estado de conflagração generalizada” 5. Nesse

sentido constatamos a ligação desses conflitos com a tentativa de posse efetiva das terras

utilizadas na atividade pastoril, predominante na colonização sertaneja.

A pecuária na historiografia clássica – Capistrano de Abreu e Caio Prado Júnior,

principalmente – aparece como motor da conquista do sertão das Capitanias do Norte. De

fato, a chamada “expulsão do gado” da região produtora da cana-de-açúcar foi um processo

encabeçado por setores comerciais envolvidos com o abastecimento de carnes, além de ter

influência direta da Coroa. O decreto de 1701 que proibia a criação de gado, ampliando o de

1688, criava a chamada “barreira” à criação de gado de 10 léguas marinhas por todo o litoral

leste da América Portuguesa. De acordo com Maria Yedda Leite Linhares,

[...] o decreto deixa transparecer uma política definida: a de delimitar em

áreas próprias e resguardar as três paisagens que passarão a configurar a economia

rural da Colônia, isto é, a grande lavoura com seus campos definidos, incluía a área

industrial; a lavoura de abastecimento, que atendia aos interesses de consumidores

urbanos e comerciantes de Salvador [e do Recife], devendo incluir a criação

controlada de animais de tiro necessários ao transporte das mercadorias ao porto e,

por fim, a pecuária extensiva na fronteira móvel, a cargo de sesmeiros e

5 Pedro PUNTONI, A Guerra dos Bárbaros – Povos Indígenas e Colonização do Sertão Nordeste do Brasil,

1650-1720, São Paulo, HUCITEC, Editora da Universidade de São Paulo, FAPESP, 2002, pp. 124.

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arrendatários, último elo fundamental de um macromodelo agrário.6 (Grifo da

autora).

Ou seja, as batalhas de conquista do sertão basearam-se também numa prerrogativa

econômica: a criação de gado. A necessidade de fixação da população nos sertões fez com

que os capitães-mores passassem a empreender uma política de doação de sesmarias ao longo

das ribeiras dos principais rios e seus afluentes. Não cabe aqui uma discussão profunda da

instituição das sesmarias desde sua política adotada no reino, mas é fundamental pontuar que

o tamanho médio das sesmarias no sertão era em média de 1x2 a 1x3 léguas, dimensão

impensada em terras portuguesas.

Outra questão que nos parece fulcral é que, nos baseando em levantamento das

sesmarias do Ceará feito por Francisco José Pinheiro 7, podemos afirmar que até o fim da

primeira década do século XVIII a maior parte dos donos das sesmarias não vivia na capitania

do Siará Grande. O sistema chamado de absenteísmo predominava na relação com a

propriedade, ou seja, o dono morava em outras capitanias e contratava administradores para

seus currais no sertão. Essa situação ocorreu principalmente na época das constantes batalhas

contra os índios tapuias e durante os últimos ataques empreendidos pelos indígenas aos gados

dos colonizadores. O curral se caracterizava como unidade produtora da pecuária, abrigando

o vaqueiro, geralmente o “gerente” e administrador, e seus “cabras” (os funcionários) e ainda

o gado, quando preso à noite.

Para fixarmo-nos na capitania do Siará Grande podemos apontar que “num período de

mais de um século e meio, 91% [das sesmarias] tinham como justificativa a necessidade de

terra para ocupá-la com a pecuária” 8. Observamos isto com grande facilidade nas datas de

sesmarias concedidas na ribeira do Jaguaribe, a mais importante do Siará Grande e a que

iremos nos concentrar neste texto, tomando, por exemplo, uma sesmaria doada a Lourenço

Alves Feitoza – o maior sesmeiro do Siará Grande – em 1720, ou seja, no final do período de

guerras contra os índios: “emsua petição diz ocomisario Lourenço Alves Feitoza cujo (sic)

theor he oSeguinte (...) morador da ribeira do Jagoaribe que elle tem seus gados vacuns

ecavalares enão tem terras bastantes para os poder criar (...)”9.

6 Maria Yedda Leite LINHARES, “A pecuária e a produção de alimentos na colônia”. IN: Tamás

SZMRECSÀNYI (Org.), História Econômica do Período Colonial, 2ª Ed. Revista, São Paulo, Editora da

Universidade de São Paulo / Imprensa Oficial, 2002, pp. 113-114. 7 Francisco José PINHEIRO, Notas sobre a formação social do Ceará (1680-1820), Fortaleza, Fundação Ana

Lima, 2008. (Principalmente o capítulo 1: Um perfil da formação social cearense). 8 F. J. PINHEIRO, Formação... cit., pp. 24.

9 REGISTRO da data de sesmaria de Lourenço Alves Feitoza, de duas légoas nos Inhamús, concedidas pelo

Capitão-mor Salvador Alves da Silva, em 7 de julho de 1720. In: Datas de Sesmarias do Ceará (CD-ROOM),

vol. 6, n. 476, pp. 181-182.

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Produção de carnes secas e couros no nordeste colonial: apontamento sobre as relações entre a elite do Siará Grande e as

redes mercantis de Pernambuco, 1767-1802

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A criação de gado, juntamente com a “guerra ao bárbaro”, era justificativa recorrente

nos pedidos de terras naquela ribeira, incluindo seus principais afluentes – Banabuiú, Salgado,

Riacho do Sangue, Quixelô, entre outros – que durante todo o século XVIII se transformaram

nos “caminhos do gado”, isto é, ligados à “estrada do Jaguaribe” ou à “estrada nova das

boiadas”, entre outras, que configuravam os passos onde homens e rezes atravessavam,

sofrendo os efeitos climáticos (secas e enchentes) e assaltos às rezes.

Passados os primeiros anos da conquista e aldeados boa parte dos índios do sertão do

Siará Grande a economia pastoril deixou de ter um viés de subsistência e passou a dar

excedentes de produção. Firmava-se a “civilização do couro” a que fez referência Capistrano

de Abreu, isto é, uma sociedade sertaneja baseada na criação de gado numa convivência diária

com o animal vivo e também seus produtos. Ocorreu a consolidação da pecuária como

atividade predominante em um território seco e com chuvas bastante irregulares, acarretando

o comércio de rezes com outras partes da América Portuguesa. A respeito disso escreveu o

jesuíta André João Antonil:

Constam às boiadas que ordinariamente vêm para a Bahia, de cem, cento e

cinqüenta, duzentos e trezentas cabeças de gados (...). As jornadas são de quatro,

cinco e seis léguas, conforme a comodidade dos pastos aonde hão de parar. Porém,

aonde há falta de água, seguem o caminho de quinze e vinte léguas, marchando de

dia e de noite, com pouco descanso, até que achem aonde possam parar.10

As chamadas “longas marchas” pelo sertão desfavoreciam os criadores do interior do

Piauí e do Siará Grande, principalmente. O gado, sempre elogiado pela sua qualidade de

transportar a si mesmo, chegava às feiras de Pernambuco e da Bahia com valor baixo. As

várias léguas que as rezes percorriam criavam bastante músculo nas carnes, além do

emagrecimento causado pela precariedade dos pastos existentes pelo caminho, mais evidente

nos períodos de estiagem. Isso prejudicava o preço do gado nas feiras do Recife e de

Salvador, puxando-o para baixo, apesar de nesse momento surgirem pequenas povoações

“especializadas” na engorda de bois enfraquecidos pelas longas jornadas pelo sertão.

Referindo-se aos sertões da capitania de Pernambuco, Antonil noticiava que “(...) os currais

desta parte hão de passar de oitocentos, e de todos estes vão boiadas para o Recife e Olinda e

suas vilas para o fornecimento das fábricas dos engenhos (...)” 11

.

Dessa maneira, já a partir do segundo quartel do século XVIII os fazendeiros das áreas

mais próximas do litoral passaram a comercializar o gado já abatido e transformado em carne

10

André João ANTONIL, Cultura e Opulência do Brasil em suas Drogas e Minas, Belo Horizonte, Itatiaia,

1997, pp. 202. 11

A. J. ANTONIL, Cultura... cit., pp. 200.

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seca e salgada. Sobre este período temos apenas fragmentos de fontes que fazem referência à

carne seca e salgada vinda do sertão. Há também referência sobre a existência de oficinas de

salga nas ribeiras do rio Assu e Mossoró, mas que foram logo fechadas pelo prejuízo no

abastecimento de sal, que era monopólio régio, no Recife e de gados para mover engenho e

prover de carnes verdes as “vilas do açúcar”.

Não há como precisar em que vila ou ainda qual o criador iniciou o processo de

fabricação das carnes secas em larga escala. Na historiografia sobre o assunto, principalmente

em Nobre12

e Girão13

, são apontadas possibilidades que chegam a remontar ao final do

período holandês, mas que não passam de especulações sobre o primeiro dono de sesmaria

(Teodósio Gracisman) na região do rio Jaguaribe que teria aperfeiçoado uma técnica de salga

e secagem de peixes aprendida nas ilhas do Caribe e aplicou em seus poucos gados no Siará

Grande, iniciando assim uma prática que teria sido aperfeiçoada no início do século XVIII.

Em resumo, a conquista e a colonização dos sertões das Capitanias do Norte do

Estado do Brasil se fez tendo a atividade pastoril como vetor econômico. A partir da

reprodução das boiadas e a redução de índios em aldeias o excedente do criatório passou a ser

comercializado vivo por trabalhadores dos currais nas feiras do litoral leste. Porém, a partir do

segundo quartel do século XVIII alguns criadores, sentindo a desvalorização do preço em

conseqüência das más condições das estradas e paragens para engorda, começaram a utilizar

uma técnica de salga de carnes. A venda de carnes em manta passou a ser a atividade

econômica mais importante da região periférica localizada no interior do continente e que até

então era tida como fronteira do Estado do Brasil com o Estado do Grão-Pará e Maranhão.

Matar, salgar e navegar: a produção e o comércio das carnes secas

A produção das carnes secas é tema de debate controverso na historiografia.

Principalmente ao se fazer confusão com as “charqueadas” no Rio Grande de São Pedro (atual

Rio Grande do Sul) no final do século XVIII e no século XIX. A técnica da salga das carnes

utilizada no Siará Grande não é ponto comum entre os historiadores. O que sabemos da

estrutura física oficinas ou fábricas de carnes da vila de Santa Cruz do Aracati é que seu

tamanho era em média maior do que 40 braças em quadra, isto é, uma área superior a 190m².

Este espaço era, geralmente, dividido em três partes: o curral, que era utilizado para a

12

Geraldo da Silva NOBRE, As oficinas de carnes do Ceará: solução local para uma pecuária em crise.

Fortaleza, Gráfica Editorial Cearense, 1979. 13

Valdelice Carneiro GIRÃO, As oficinas ou charqueadas no Ceará. Fortaleza, Secretaria de Cultura e

Desporto, 1984.

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matança dos bois e a retirada do couro, isto é, era a “frente” da oficina; o estaleiro, que se

localizava voltado para o rio Jaguaribe, onde ancoravam as embarcações e se descarregava o

sal e, ao final do processo, se carregava os barcos com as carnes, sendo os “fundos” da

estrutura; e a oficina ou fábrica propriamente dita, onde se pode inferir uma divisão e

especialização do trabalho dada a complexidade do processo. 14

Desde a retirada do couro que também era beneficiado e usado, entre outras coisas,

para amarrar as mantas até o carregamento das carnes nas embarcações, podemos deduzir que

vários processos aconteciam. Os cortes das mantas (que eram em posta ou tassalho), a salga

das carnes e o ponto de secagem eram, em nossa concepção, operações específicas que

exigiam um cuidado técnico que influía na qualidade do produto. Além de operações como a

matança do gado, secagem e o momento de espichar o couro, o corte de lenha nos mangues, a

limpeza da oficina, a vigilância no período noturno, entre outras atividades secundárias.

É importante salientar que antes da criação da vila de Santa Cruz do Aracati em 1748

já se produzia e se fazia comércio de carnes secas e salgadas naquele “porto do sertão”.

Segundo Almir Leal de Oliveira, “Juntamente com o couro salgado, a partir da década de

1710, foram sendo criadas as oficinas de preparo da carne salgada (...). Especializou-se o

Ceará nesta produção” 15

. Já na conjuntura post bellum tratada acima os comerciantes

recifenses tinham seus interesses em ampliar e diversificar seus negócios, aliando-se entre si e

fundando outras praças de comércio, inclusive em outras capitanias, que pudessem servir de

entrepostos na sua busca por um enraizamento em outros mercados. Geralmente, os homens

de negócio associavam seu grosso trato com a

(...) arrematação dos contratos de impostos; a propriedade de embarcações

de cabotagem ou destinados ao comércio com a costa da África; a exploração de

trapiches e armazéns; a operação de curtumes e de fábricas de atanados; a posse de

bens de raiz no Recife, aforados à Câmara de Olinda, ou de engenhos situados nos

seus arrabaldes, que muitas vezes lhes vieram às mãos por via de execução de

dívidas de senhores relapsas; e, desde o fim do século XVII, após a “guerra dos

bárbaros” a abertura da fronteira da pecuária no Rio Grande do Norte e no Ceará,

a obtenção de sesmarias e o estabelecimento de fazendas de gado. 16

14

Para o tamanho das oficinas e divisão interna consultamos o Livro de registro de escriptura de foros

pertencentes ao Senado [da vila do Aracati] do anno de 1756 a 1779 (disponível no Arquivo Público do Estado

do Ceará – APEC) nos foros que doavam terras para os donos erguerem suas oficinas. 15

OLIVEIRA, Almir Leal de, “A Dimensão Atlântica da Empresa Comercial do Charque: o Ceará e as

dinâmicas do mercado colonial (1767-1783)”. In: I Encontro Nordestino de História Colonial: Territorialidades,

Poder e Identidades na América Portuguesa – Séculos XVI a XVIII, 1., 2006, João Pessoa. Anais... João Pessoa:

Universidade Federal da Paraíba, 2006. p. 4. 16

MELLO, Evaldo Cabral de, A Fronda... cit., pp. 132. (Grifo nosso).

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A importância do comércio de carnes secas ganhou visibilidade aos olhos da Coroa

Portuguesa a partir de uma representação do Ouvidor Geral da capitania do Siará Grande,

Manoel José de Farias, no ano 1746 ao Conselho Ultramarino em que sugere a criação da vila

no “lugar do porto dos barcos do Aracati”, pois

é sem dúvida ser muito conveniente haver justiça naquele lugar porq alem

de haver nelle muitos moradores quando He no tempo das carnes oficinas se faz

muito populozo pela concurrencia de muitas somacas e gente q‟ dessem destes

serotens com inumeraveis gados a fazerem suas negociacoens donde naum haverem

muitas contentas muitas pendenciaz e algumas mortes” 17

.

A argumentação do ouvidor se repetia desde 1744, encontrando eco junto ao

governador da capitania de Pernambuco, deixando saltar aos olhos do pesquisador a inserção

daquele ainda “porto dos barcos” em um circuito mercantil que envolvia as principais praças

de comércio do Estado do Brasil. Nos anexos da “Consulta do Conselho Ultramarino (...)”

acima citada pode-se ler o então governador da capitania de Pernambuco – a qual a do Siará

Grande foi anexa até 1799 – Duarte Sodré Pereira argumentando pela

necessidade q‟há da dita ereção acho ser [uma palavra] percizo de fato

eregirçe porquanto vão aquelles mtos

barcos da Ba[Bahia] a‟ahi vão fazer carnes e

negócios e desta praça [Recife], donde correm todas as gentes daquelles sertoens a

venderem gado trocando por rendas e a dinheiro e nestas ocassioens se ajutam povo,

em q‟dizem há hun grande comercio e junto ser o melhor distrito q‟tem toda a

capitania do Siará. 18

A criação da vila deu-se após parecer favorável do Conselho Ultramarino no dia onze

de abril de 1747, constituindo assim um “Exemplo no Siará grande”, pois, segundo Gabriel

Nogueira, “a vila de Santa Cruz do Aracati, criada em 1748, foi o único caso de criação de

vila na capitania que teve como justificativa a busca do controle das atividades econômicas

desenvolvidas na localidade” 19

, ou seja, o comércio de carnes secas e couros no porto dos

barcos. Segundo o parecer do Conselho Ultramarino,

parece ao Concelho que V. Mag.e Se Sirva mandar fundar huma Villa em

este porto do Aracaty, e encarregar a creação della ao Ouvidor do siará Manoel Jozé

de Faria, ordenando-lhe, que passe logo ao do[dito]. porto, e escolha citio que sendo

17

AHU-CE: CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei [D. João V] sobre a necessidade de se criar uma nova

vila em Aracati de Jaguaribe, de 12 de dezembro de 1746. Anexo: cópia de cartas e provisão.

AHU_ACL_CU_017 Caixa: 05. Documento: 304. 18

Ibdem. 19

Gabriel Parente NOGUEIRA, Fazer-se nobre nas fímbrias do império [manuscrito]: práticas de nobilitação e

hierarquia social da elite camarária de Santa Cruz do Aracati (1748-1804), Dissertação defendida junto ao

Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal do Ceará, 2010, pp. 55.

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redes mercantis de Pernambuco, 1767-1802

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maes livre das inundações do Ryo, fique igualmente commodo, aSsim as

embarcaçoes e forasteiros, que vão nellas comerciar como aos moradores da

d.a[dita] Villa. 20

A partir da criação da Vila e a conseqüente cobrança de impostos sobre a entrada e

saída de cargas no porto dos barcos o preço das carnes sofreram aumento o que acarretou na

queda de vendas do produto num primeiro momento, levando os donos dos barcos a

comprarem carnes secas no porto de Camossim na ribeira do Acaraú. A recuperação da

atividade se deu em menos de dez anos. Já em maio de 1757 o governador da capitania de

Pernambuco, Luís Diogo Lobo da Silva, enviou um ofício ao então secretário do Estado do

Reino e Mercês, Sebastião José de Carvalho e Melo, sobre o requerimento dos homens de

negócio daquela praça – no caso, o Recife – em que pedem a criação de uma Companhia de

resgate de carnes secas e couros do sertão. Isto é, na trilha de fundação de Companhias de

Comércio – Pernambuco e Paraíba e Grão-Pará e Maranhão – no “período pombalino” os

comerciantes da maior praça de comércio das Capitanias do Norte buscam mais uma tentativa

de regulamentar o trato dos produtos que compunham a dinâmica ultramarina do Império,

quer no abastecimento interno ou no escambo por escravos em África.

Nesse documento, podemos observar o interesse pela produção de carnes secas e

couros no sertão, o que incluía a vila de Santa Cruz do Aracati. Pelos planos dos homens de

negócio da praça do Recife “será esta Compa

estabellecida com vinte e quatro sumacas da

proporção nessecariaz pa

aquelles porttos com que possão transportar a carne e couros e sebo

de vinte e outo athé trinta mil cabas

[cabeças] de gado e este se comprara no sertão”

21. Sem

dúvida era o comércio das carnes que interessava os negociantes, pela sua conservação e por

se tratar de objeto de consumo intermitente entre todas as camadas da sociedade, claro que

uns mais e outros menos, de acordo com possibilidades financeiras diversas. Enfim era um

produto de venda rentável. Por isso,

(...) as carnes secas que esta Compa[Companhia]

transportar daquelles

portos do sertão se vendera na Praça deste Re

[Recife] e todos os seus contornos a

setecentos e vinte a aroba, e as que se mandarem vender acede

(ilegível) na Bahia a

outocentos a Roba e as que se forem vender ao Ro

[Rio] de Jan

RO [Janeiro]

a dez

20

AHU-CE: CONSULTA do Conselho Ultramarino ao rei [D. João V] sobre a necessidade de se criar uma nova

vila em Aracati de Jaguaribe, de 12 de dezembro de 1746. Anexo: cópia de cartas e provisão.

AHU_ACL_CU_017 Caixa: 05. Documento: 304. 21

AHU-PE: OFÍCIO do [governador da capitania de Pernambuco], Luis Diogo Lobo da Silva, ao [secretário d

Estado do Reino e Mercês], Sebastião José de Carvalho e Melo, sobre o requerimento dos homes de negócios

daquela praça, em que pedem a criação de uma Companhia para resgatar as carnes secas e couros do sertão.

AHU_ACL_CU_015, Caixa: 84. Documento: 6965.

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Leonardo Cândido Rolim

10 Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de Antigo Regime | Lisboa 18 a 21 de Maio de 2011

tostoiz a Roba todoz os preços como dos que mtas

vezes em todos estez porttos se

vendem por maiz. (...) 22

O abastecimento de carnes verdes estava prejudicado desde o início do século XVIII e,

sendo a capitania do Siará Grande parte do Estado do Brasil – e, portanto, sob influência

direta da capitania de Pernambuco – as oficinas de salga iriam então suprir a falta de carne

para consumo interno e para o escambo de escravos em África. De acordo com José Alípio

Goulart,

o consumo de carne seca, no Brasil colonial, era grande e dilatado, visto

consumirem-na não só os menos favorecidos como por igual os mais abastados. (...)

Basta dizer que só Recife, em 1788, consumiu o carregamento de carne seca de

quatorze barcos, (...). Em média, cada sumaca transportava a produção de cerca de

2.000 bois, ao redor de 72.000 quilos de carne seca.23

Ou seja, tínhamos a larga utilização de carne seca na alimentação de boa parte da

população da porção norte do Estado do Brasil, principalmente no litoral leste correspondente

à capitania de Pernambuco, isto é, as chamadas “vilas do açúcar”. Além do consumo interno,

segundo Almir Leal de Oliveira:

a partir de 1757 encontramos dados referentes à inserção do charque como

produto estratégico para a manutenção do tráfico atlântico de escravos, para a

manutenção de tropas, para o abastecimento das minas e das cidades do Recife,

Bahia e Rio de Janeiro. 24

Na costa africana, onde eram comercializados escravos a fim de suprir a demanda da

América Portuguesa, Luis Antônio de Oliveira Mendes observou o momento em que se deu a

inserção das carnes secas do Siará Grande na ração dos escravos. De acordo com seu relato,

foi o comerciante pernambucano Raimundo Jamalá, à época administrador da Companhia de

Comércio de Pernambuco e Paraíba, entre 1759 e 1763, que, presenciando as péssimas

condições físicas dos negros embarcados, acarretando assim em mortes e prejuízos para a

Companhia, substituiu a savelha (peixe salgado conservado no azeite) pela carne seca na

alimentação. O comerciante então teria mandado as escravas temperar rações servidas com

carne seca e

quando pela primeira vez a escravatura provou deste gênero de comida

assim temperada, e moldada ao seu paladar, confessa fidedignamente, que lhe

22

Ibdem. 23

GOULART, José Alípio, Brasil do Boi e do Couro – 1º Volume – O Boi, Edições GRD, Rio de Janeiro – GB,

1965, pp. 94. 24

A. L. De OLIVEIRA, “A Dimensão...” cit., pp. 4.

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Produção de carnes secas e couros no nordeste colonial: apontamento sobre as relações entre a elite do Siará Grande e as

redes mercantis de Pernambuco, 1767-1802

Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de Antigo Regime | Lisboa 18 a 21 de Maio de 2011 11

bateram palmas. (...) Na prevenção da economia mandou vir por conta da mesma

Companhia de Pernambuco a carne salgada, e seca, a que lhe chamaram do sertão,

que é escaldada, e sem ossos, que ali custa de 6 a oitocentos réis a arroba.25

Isto é, a busca era por um produto de boa rentabilidade e que, a partir da criação da

Companhia de Comércio, seria um monopólio – pelo menos no papel. Isso por que o

comércio com o Recife era feito por embarcações ora fretadas e, em alguns casos, nos barcos

dos mais ricos donos de oficinas, como no caso de Pedro José da Costa Barros, um dos

maiores comerciantes da vila do Aracati.

Nesse sentido queremos chamar a atenção para as estratégias de nobilitação

arquitetadas por essas elites presentes na vila de Santa Cruz do Aracati. Segundo Gabriel

Nogueira, para a elite do Aracati “o poder e o prestígio não estão ligados apenas à esfera do

institucional. Como forma de arregimentação de maior prestígio as alianças estabelecidas

através de laços matrimoniais e de compadrio constituíam-se como traço marcante nas

estratégias de poder dessas elites” 26

. O citado Pedro José da Costa Barros chegara de Portugal

e, após enriquecer em Pernambuco atuando como negociante de grosso trato, se casou com a

filha de um importante dono de oficinas de salga na vila do Aracati, Salvador de Souza Braga,

constituindo assim uma destacada rede familiar associativa de comércio 27

.

Ao contrário do que se possa pensar, os homens bons que atuavam na instituição

camarária da vila de Santa Cruz do Aracati não eram apenas ligados à produção ou ao

comércio das carnes secas e couros. Assim como chegavam barcos carregados de sal para

prover as oficinas de um produto básico para a feitura de carnes salgadas e couros, outros

vinham carregados de mercadorias, fazendas, secos e molhados, farinha, mel, aguardente,

entre outros produtos que eram comercializados pelas “lojas de mercadores” da vila.

Ou seja, as elites eram compostas, principalmente, por comerciantes que tinham trato

de produtos diversificados. Podemos inferir inclusive o trato com vilas importantes do interior

da capitania como a vila de Nossa Senhora da Expectação do Icó, na mesma ribeira do

Jaguaribe, que possuía características de liderança e ajuntamento de criadores de gado da

região central do Siará Grande. O comércio interno da capitania do Siará Grande ainda está

25

Luis Antônio de Oliveira MENDES, “Discurso Acadêmico – Memórias econômicas da Academia Real das

Sciências de Lisboa (1793)”. In: CARREIRA, Antônio, As Companhias Pombalinas de Grão-Pará e Maranhão

e de Pernambuco e Paraíba, 2ª Ed. Lisboa, Editorial Presença, 1983, pp. 401. 26

Gabriel Parente NOGUEIRA. “Viver “à lei da nobreza”: práticas e ideais de nobilitação das elites na periferia

da América Portuguesa – Os camaristas de Santa Cruz do Aracati (1748-1824)”. In: II Encontro Internacional de

História Colonial. Mneme – Revista de Humanidades, UFRN. Caicó (RN), V. 9, N. 24, set/out 2008, pp. 6. 27

G. P. NOGUEIRA, Fazer-se... cit., pp. 226-228.

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12 Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de Antigo Regime | Lisboa 18 a 21 de Maio de 2011

para ser estudado, mas podemos encontrar na documentação certas referências ao trânsito de

mercadorias que chegavam aos portos mais importantes.

Alguns deles podiam ser considerados de grosso trato e a partir da segunda metade do

século XVIII se tornaram fortes candidatos ao “enobrecimento”. Isso vai se caracterizar “a

distinção entre os homens de negócio e os demais mercadores”, pois se tornará “importante na

estratégia de „enobrecimento‟ dos primeiros. Ser um homem de negócio significa, cada vez

mais, estar ligado à „arte mercantil‟. Logo, separado do exercício mecânico e vil do comércio

diário” 28

.

Na vila de Santa Cruz do Aracati, como na maioria das vilas coloniais brasileiras,

ocorriam disputas dentro das próprias elites. Os interesses de alguns dos membros da Câmara

Municipal iam de encontro com os dos donos de salgadeiras. Em alguns casos as disputas

eram travadas em torno de assuntos não tão comuns para o século XVIII, principalmente

numa periferia do Império Português, como a saúde pública. Podemos citar, para este caso, o

Auto da Audiência Geral de 12 de fevereiro de 1781, no qual os camarários reclamam do

lugar onde se situam

[as] Officinas por serem os ditos chãos logradouros das mesmas ao mesmo tempo

que as ditas Officinas estão tambem per si fazendo outro gravíssimo prejuizo ao Povopellas

muitas immundicies que gerao e fetidos de cauzão de que resultão muitas doensas que

todos os annos faz pereser muitos individuos; e porque este mal pestilento se deve evitar

sem demora por ter por objecto a Saude publica. 29

Nessa mesma audiência se resolve pela retirada das oficinas de dentro da vila, mesmo

contra a vontade dos donos, sendo ultimada a demolição em caso de desobediência.

Inferimos, a partir disto, o convívio imediato e diário que a população do Aracati – sendo

alguns indivíduos mais relacionados outros menos – tinha com o processo de feitura e

comércio das carnes secas.

Desse modo, percebemos que durante boa parte do ano a dinâmica interna da Vila

girava em torno da produção das carnes secas, tendo a presença de gado vivo nas ruas da Vila,

além dos restos dos já abatidos, causando assim confrontos entre a população, os donos de

oficinas e os próprios representantes religiosos, principalmente no período de abstinência de

carnes. O comércio também agitava a vila durante alguns meses do ano, gerando não só a

28

Antônio Caros Jucá de SAMPAIO, “Comércio, riqueza e nobreza: elites mercantis e hierarquização social no

Antigo Regime Português” In: João FRAGOSO; Manolo FLORENTINO; Antônio C. J. De SAMPAIO; Adriana

P. CAMPOS. (Orgs.) Nas rotas do Império: eixos mercantis, tráfico e relações sociais no mundo português,

Vitória, Edufes, Lisboa, IICT, 2006, pp. 90. 29

Auto da Audiência Geral de 12 de fevereiro de 1781 apud G. Da S. NOBRE, As oficinas... cit., pp. 80.

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Produção de carnes secas e couros no nordeste colonial: apontamento sobre as relações entre a elite do Siará Grande e as

redes mercantis de Pernambuco, 1767-1802

Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de Antigo Regime | Lisboa 18 a 21 de Maio de 2011 13

saída dos produtos da pecuária, como a chegada de mercadorias dos principais portos da

América Portuguesa e até mesmo do reino. Isto é, o “matar, salgar e navegar” fazia a

dinâmica da vila de Santa Cruz do Aracati, que se localizava numa periferia do império, mas

que estava inserida em dinâmicas econômicas e sociais através de sua produção de carnes

secas e salgadas.

Um “porto do sertão” no Siará Grande: o comércio de carnes secas a partir do

Livro de Entrada dos Barcos no Porto da Vila de Santa Cruz do Aracati

Como já foi dito no início, faremos nesta terceira parte do texto a sistematização

documental referente ao Livro (Nº 23) de notas da Câmara da Vila de Santa Cruz do Aracati

de registro dos barcos que deram entrada no porto da vila entre 1767-1802. Serão aqui

utilizadas duas tabelas para melhor recorte e compreensão dos dados apresentados.

Lembramos que estas são impressões e apontamentos iniciais sobre o manuscrito que, por

conseqüência da sua riqueza de dados, se apresenta como de difícil sistematização. Porém,

antes cabe uma breve explicação metodológica: este manuscrito possui um intervalo “em

branco” de dez anos em seu registro, ou seja, suas páginas foram cortadas ou arrancadas.

Portanto, as tabelas também serão dividas em dois intervalos de acordo com os recortes do

próprio documento: o primeiro refere-se ao período de 1767-1776 e o segundo de 1787-1802.

Assim, no primeiro momento daremos informações mais gerais sobre os registros que

se tornaram freqüentes, como já foi dito, desde a criação da vila em 1748 por ocasião da

obrigatoriedade do pagamento de impostos à Câmara pelos donos ou fretadores de barcos que

fossem carregar carnes secas, que era, segundo Raimundo Girão, de “10$000 a benefício do

Concelho” 30

, isto é, a Câmara, e só tinham autorização do Juiz da Câmara para partir.

Inclusive as anotações eram feitas, em tese, na própria residência do Juiz e, quase sempre, na

presença de um escrivão. Nas tabelas abaixo serão apresentados os números referentes à

entrada/saída de barcos, ou seja, o registro único de cada embarcação.

30

Raimundo GIRÃO, História Econômica do Ceará, Fortaleza, Editora do Instituto do Ceará, 1947, pp. 101.

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14 Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de Antigo Regime | Lisboa 18 a 21 de Maio de 2011

TABELA 1:

Barcos com entrada registrada no porto da vila de Santa Cruz do Aracati

Intervalo 1: 1767-1776

ANO JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

1767 2 3 2 3

1768 1 2 8 3 1 1 1

1769 1 1 1 2 2 1

1770 1 4 2 1

1771 1

1772

1773 2 9 4 1 1 1

1774 1

1775 1 7 2 1 1 2

1776 1

Total/

mês

5 0 1 1 16 23 10 7 3 2 3 7

Fonte: Livro Nº 23 de Registro de embarcações que deram entrada no porto de Aracati (1767- 1802)

TABELA 2

Barcos com entrada registrada no porto da vila de Santa Cruz do Aracati

Intervalo 2: 1787-1802

ANO JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

1787 1 2

1788 2 3 2 1 1

1789 1 3 4 2 5 2 1 2 3

1790 1 1 1 1 3 3 3 3 4

1791 5 4 2 6 4 2 3 2 1

1792 1 3 3 3 1 1 3 1 3

1793 1 1 1 1 4 2 4 1 2 3 3

1794 5 1 2 3 1 1 1 1

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Produção de carnes secas e couros no nordeste colonial: apontamento sobre as relações entre a elite do Siará Grande e as

redes mercantis de Pernambuco, 1767-1802

Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de Antigo Regime | Lisboa 18 a 21 de Maio de 2011 15

1795 2 2 1 1 3 1 1 3

1796 1 3 1 1 1 1 1

1797 1 2 3 1 4

1798 4 1 3 1 1 1 1

1799 2 2 2 2 2 3 2

1800 2 1 2 3 1 1 2

1801 2 2 2 2 3 2

1802 2 2 1 2

Total/

mês

21 24 15 8 13 27 25 27 11 22 18 29

Fonte: Livro Nº 23 de Registro de embarcações que deram entrada no porto de Aracati (1767- 1802)

Podemos observar a partir das tabelas acima um total de 318 barcos registrados. Nem

todos os quesitos do registro são sempre preenchidos. Por exemplo, 58,2% do total de barcos

mencionam a origem, ou seja, 185 embarcações. Destas, 163 informaram vir de Pernambuco

o que dá quase 90% dos barcos. Isto nos dá dimensão da estreita relação dos comerciantes do

porto do Aracati com os homens de negócio da praça do Recife que, de acordo com Nogueira,

“interpunha a vila entre os sertões do Jaguaribe e a praça pernambucana” tornando o Aracati

“um espaço privilegiado na região, pelo papel de destaque econômico e pela autonomia

gozada por seus agentes mercantis, que dominavam: além das relações de comercialização do

gado e do algodão produzidos na região, a produção de carnes secas e couros (...)” 31

. Isto é,

os fretadores e donos de barcos que ali aportavam trazendo produtos que já haviam chegado

de outras partes da América Lusa, ou até mesmo do outro lado do atlântico, inseriam a vila de

Santa Cruz do Aracati numa dinâmica do império Português, representando assim o

enraizamento de interesses dos agentes mercantis de Pernambuco naqueles sertões.

Ao analisarmos os destinos mencionados temos um número baixo de informações.

Apenas 100 barcos indicam o porto seguinte, mas, se continuarmos com a análise,

constataremos que 88 barcos mencionam o porto do Recife como destino, o que, logicamente,

representa 88% do total. Há também outros destinos mencionados como São Luiz, Alagoas,

Acaracu, Camossim, Assu; além de outras origens como Rio de Janeiro, Bahia, Belém do

Pará, São Luiz, Assu, etc. Chamamos atenção aqui para a importância do porto da vila de

Santa Cruz do Aracati, pois, se tomarmos como referência o litoral norte da capitania geral de

31

G. P. NOGUEIRA. Fazer-se... cit., pp. 221.

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16 Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de Antigo Regime | Lisboa 18 a 21 de Maio de 2011

Pernambuco podemos considerá-lo o mais importante economicamente. Observamos também

nesses registros do porto do Aracati que, entre a “as cargas”, temos passageiros, ou seja, o

trânsito de pessoas era também uma constante nas embarcações.

Outra questão que merece destaque é o comércio de sal. Este produto era fulcral para a

feitura de carnes secas, que também eram chamadas de salgadas, e, embora as salinas do Siará

Grande não fossem pequenas e tivessem produção regular, as grandes quantidades utilizadas

para salga de carnes e secagem do couro eram trazidas das salinas dos rios Assu e Mossoró.

Naquelas povoações chegaram a funcionar oficinas de salga que foram proibidas pelo

governo de Pernambuco tendo em vista o desabastecimento de gado vivo nas “vilas do

açúcar” 32

, estas ficavam relativamente próximas ao porto do Aracati numa zona de transição

e disputa de jurisdição entre Rio Grande e Siará Grande que só foi resolvida no avançar do

século XIX.

Nos registros temos anotados ao todo 46 barcos descarregando sal no porto da vila do

Aracati, sendo 10 barcos com origem do porto do Recife, embora alguns tenham feito escala

na Parahyba e no Assu. Podemos observar aí uma rede de comércio tecida pelos homens de

negócio da praça do Recife que, nessa situação, tinham o intuito de enraizar seus interesses

políticos e econômicos na ribeira do Jaguaribe: o barco saía do porto pernambucano, no

trajeto já era carregado de sal num porto próximo à vila do Aracati e lá já descarregava o sal,

tendo duas alternativas: carregava as carnes secas já prontas ou esperava a feitura delas

enquanto comerciava outros gênero com os negociantes locais freqüentes na documentação

como aguardente, farinha, azeite, fazendas, mel, entre outros.

Quanto ao comércio efetivo das carnes secas, há um problema documental a ser

resolvido. Do total dos barcos (318) só temos registros de saída anotados como de carnes

secas em 70 embarcações. Nossa questão é: em outros registros aparecem barcos (que já

haviam aportado para carregar carnes secas) com uma carga levada de “gêneros” ou “efeitos

da terra”. Para a ribeira do Jaguaribe, área de influência da vila de Santa Cruz do Aracati, só é

plausível outro comércio de relevância a que podemos atribuir essa nomenclatura, que seria o

algodão exportado para as potências industriais européias na conjuntura de escassez da

matéria-prima de tecidos.

Contudo, historiograficamente a região da capitania do Siará Grande que é mais

conhecida por suas plantações e pela exportação do algodão é a ribeira do rio Acaracu, na

32

AHU-PE: OFÍCIO (1ª via) do [governador da capitania de Pernambuco], D. Tomás José de Melo, ao

[secretário de estado da Marinha e Ultramar], Martinho de Melo e Castro, sobre a proibição da matança do gado

nos portos de Mossoró e Açu, deixando livre os da vila de Aracati, suficiente para o abastecimento da dita

capitania e da Bahia. 1789, maio, 11, Recife. AHU_ACL_CU_015, Cx. 169, D. 11956.

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Produção de carnes secas e couros no nordeste colonial: apontamento sobre as relações entre a elite do Siará Grande e as

redes mercantis de Pernambuco, 1767-1802

Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de Antigo Regime | Lisboa 18 a 21 de Maio de 2011 17

fronteira com o Piauhí. Colocamos esta questão, pois no momento ainda fazemos o

cruzamento de fontes, principalmente das capitanias do Siará Grande e de Pernambuco, para

que nos períodos seguidos onde se apresentam as nomenclaturas de “gêneros” ou “efeitos da

terra”, principalmente antes da “seca grande” de 1793 que teria encerrado a produção nas

salgadeiras do Siará Grande, tenhamos os registros do porto do Recife ou indicações do

consumo de carnes secas vindas dos sertões.

Outros quesitos apresentados nos registros interessam para nossa pesquisa, mas ainda

se encontram num momento de cuidadoso trabalho de sistematização. Nosso interesse em

torno do comércio das carnes secas e a inserção deste produto em circuitos mercantis que

tinham como um dos portos centrais o Recife será evidenciado no último capítulo de nossa

dissertação. Enquanto isso nos limitamos a fazer com que pesquisadores interessados nas

redes comerciais formadas no Estado do Brasil, principalmente para seu abastecimento

interno, conheçam este manuscrito rico e importante.

Considerações finais

A dinâmica comercial ultramarina à qual a produção de carnes secas da vila de Santa

Cruz do Aracati estava inserida está ainda por ser perscrutada qualitativamente. Nossa

tentativa nesse texto foi de apontar caminhos que estão se abrindo a partir do nosso trato com

a documentação disponível nesse momento. A constatação da formação de circuitos mercantis

que envolviam as Capitanias do Norte do Estado do Brasil vem sendo apresentada na

historiografia há algum tempo a partir de conexões diretas com seu principal porto, ou seja, o

Recife ou entre si, independente de uma centralidade econômica em Pernambuco. Segundo

Mozart Menezes e Yamê Paiva, as estradas pelo interior do continente

Constituíam algumas vias pelas quais circulavam produtos idos e vindos

para a Paraíba. Os mapas de exportação e importação indicam os portos de origem e

destino dessas mercadorias. Aracati, Açú, Mossoró, Paraíba, Recife, Goiana,

Itamaracá, Olinda, Lisboa e Porto compunham os pontos de embarque das

produções da capitania e/ou de recebimento dos artigos enviados da metrópole. Esta

constatação rompe o monopólio exclusivo exercido pelo porto do Recife sobre as

produções da Paraíba. 33

33

Mozart Vergetti de MENEZES; Yamê Galdino de PAIVA. “Ilustração, população e circuitos mercantis”. In:

Carla Mary S. OLIVEIRA; Mozart Vergetti MENEZES; Regina Célia GONÇALVES. (Orgs.). Ensaios sobre a

América Portuguesa, João Pessoa, Editora Universitária/UFPB, 2009, pp. 78.

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Podemos constatar isso para o Siará Grande também, embora seja inegável o grande

volume do comércio com o porto do Recife e que dali as carnes secas entravam numa rede

maior de comércio atravessando o atlântico em direção aos mercados de venda de escravos

em África e ao velho continente, sendo utilizadas na manutenção de tropas lusas nas guerras

européias.

Esta pesquisa é desenvolvida junto ao Programa de Pós-graduação em História da

Universidade Federal da Paraíba (UFPB) desde 2010, sob orientação do Prof. Dr. Mozart

Vergetti de Menezes. Agradecemos a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal

de Nível Superior) pela bolsa concedida, tornando possível esta pesquisa.