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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ – CAMPUS DE CAICÓ DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA PRODUÇÃO ARTESANAL DE SAL MARINHO NO LITORAL SETENTRIONAL DO RIO GRANDE DO NORTE Abigail Rute da Silva Caicó – RN 2015

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Page 1: PRODUÇÃO ARTESANAL DE SAL MARINHO NO LITORAL … · Produção artesanal de sal marinho no litoral setentrional do Rio Grande do Norte / Abigail Rute da Silva. - Caicó, 2016. 78f:

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ – CAMPUS DE CAICÓ

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

PRODUÇÃO ARTESANAL DE SAL MARINHO NO LITORAL SETENTRIONAL DO RIO GRANDE DO NORTE

Abigail Rute da Silva

Caicó – RN 2015

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Abigail Rute da Silva

PRODUÇÃO ARTESANAL DE SAL MARINHO NO LITORAL SETENTRIONAL DO RIO GRANDE DO NORTE

Monografia apresentada ao Curso de Geografia Bacharelado da UFRN- CERES, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Bacharel em Geografia.

Orientador: Prof. Dr. Diógenes Félix da Silva Costa

Caicó – RN 2015

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Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Silva, Abigail Rute da. Produção artesanal de sal marinho no litoral setentrional do

Rio Grande do Norte / Abigail Rute da Silva. - Caicó, 2016. 78f: il.

Orientador : Diógenes Félix da Silva Costa Dr.

Monografia (Bacharel em Geografia) Universidade Federal do

Rio Grande do Norte. Centro de Ensino Superior do Seridó - Campus Caicó.

1. Salinas artesanais. 2. Sustentabilidade. 3. Matriz SWOT. I. Costa, Diógenes Félix da Silva. II. Título.

RN/UF/BS-CAICÓ CDU 911

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Abigail Rute da Silva A monografia Produção artesanal de sal marinho no litoral setentrional do Rio

Grande do Norte, apresentada por Abigail Rute da Silva , foi

como requisito para obtenção do Grau de Bacharel em

Geografia. Aprovada em: / I

BANCA EXAMINADORA:

P f. Dr. Diógenes Félix da Silva Costa

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Depto. Geografia-GERES) Orientador - Presidente da Banca

Prof. Dr. Clístenes Teixeira Batista Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Depto. Geografia-GERES)

Membro Interno

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DEDICO

A Deus, aos melhores pais do mundo, irmão, minha amada titia e a todos familiares e amigos...

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AGRADECIMENTOS

Agradecer é um ato nobre que acalenta e renova a alma humana. A gratidão

nos dar o sentimento de dever cumprido e reconhecimento de que só ninguém chega

a lugar nenhum. Começo agradecendo ao meu Deus, que é o início e fim de todas as

coisas, o motivo e o motivador de cada fase da minha vida, ao Senhor todo o meu

amor, adoração e devoção. Quando reconheço que sem ti eu nada sou, alcanço o

impossível.

Aos pilares da minha vida e existência aqui, meus amados Francisco das

Chagas e Maria Salete, agradeço aos senhores pelo dom da vida e de me criarem no

caminho do bem, me ensinando que os estudos seriam o melhor caminho para

alcançar o sucesso profissional, quanto apoio recebi, Painho e Mainha amo vocês

infinitamente, mais que a mim mesma. A minha amada titia Arlinete Costa por ser uma

segunda mãe, amiga, conselheira e me dar todo o apoio necessário para finalizar a

minha graduação, eu te amo sem limites, prometo a vocês três que darei muitos

orgulhos durante minha existência aqui. Ao meu irmão Felipe Silva, agradeço pelo

simples fato de existir, isto já é motivo o suficiente para eu te amar. A toda família

minha eterna gratidão.

Aos amigos mais chegados que irmãos, que sempre me deram o ombro

quando precisei e estiveram comigo ao longo desses quatro anos. A todos que

intercederam por mim, muito obrigada.

Meus sinceros agradecimentos a Universidade Federal do Rio Grande do

Norte pela oportunidade ímpar de concluir a graduação em Geografia Bacharelado

pela instituição. Pelo subsídio nos trabalhos de campo e de gabinete, agradeço a

PROPESQ/UFRN (PVF10463-2014) e ao CNPq (MCTI/CNPQ/Universal

Proc.447227/2014-9), pelo apoio financeiro nesta e em outras pesquisas ao longo da

minha graduação.

Minha eterna gratidão ao meu amigo e orientador professor Dr. Diógenes

Costa, por acreditar em mim e no meu potencial quando eu mesma desacreditava.

Estendo os agradecimentos a família LAMA, os colegas e amigos do Laboratório de

Monitoramento Ambiental, amo vocês e os levarei para sempre em minha memória e

coração, obrigada a todos, destaco aqui minha gratidão a Carolzinha, Monara,

Wanderson, Alisson e Milena, sentirei saudades do convívio diário.

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As minhas meninas, companheiras de curso, seminários e agonias

acadêmicas: Alexsandra Andrade e Lúbia Santos, eu sempre levarei vocês comigo,

obrigada por todo o incentivo, e por sempre caminharem ao meu lado.

Existe um ser escolhido pelo dedo de Deus para a gente, e você foi a escolha

Dele para mim, Diego Emanoel, obrigada por todo o amor, apoio, ajuda e cuidado

incondicional que tens comigo, especialmente nesse período, me fazendo acreditar

em algo que parecia impossível, suportando comigo os momentos difíceis e de

angústia que enfrentei nesse final de graduação, a você eu devo amor e gratidão

sempre. Te amo galeguinho.

Todos que passaram pela minha vida de uma forma especial antes e durante

a graduação meus eternos e sinceros agradecimentos, Deus vos abençoe de uma

forma extraordinária.

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“É muito melhor lançar-se em busca de conquistas grandiosas, mesmo expondo-se ao fracasso, do que alinhar-se com os pobres de espírito, que nem gozam muito nem sofrem muito, porque vivem numa penumbra cinzenta, onde

não conhecem nem vitória, nem derrota.” (Theodore Roosevelt)”.

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RESUMO A utilização das salinas pelo homem é uma atividade que já existe a milênios, onde os primeiros registros sobre a extração do sal a partir da água do mar vieram da China, cerca de 2.500 a.C. Os procedimentos usados para tal prática era o de armazenar a água do mar em ‘diques de argila e esperar a precipitação do sal, tendo a predominância de NaCl e alta quantidade de sais de magnésio e cálcio (BAAS-BACKING, 1931). No que se refere à produção de sal no Brasil, em um contexto histórico, os primeiros colonizadores não tinham conhecimento da produção do mineral na colônia, então, para uso próprio e atividades como salga da carne, peixe e curtimento do couro, os portugueses instalaram pequenas salinas em foz de rios que desembocavam no Atlântico, tornando mais conhecidas as de Cunhaú no Rio Grande do Norte, Itamaracá no Pernambuco e Serigi em Sergipe (ANDRADE, 1995). Esta pesquisa foi desenvolvida nas salinas artesanais localizadas (em destaque no mapa) no litoral setentrional do Rio Grande do Norte (ARAÚJO, 2013). O objetivo dessa pesquisa consistiu na análise do perfil de sustentabilidade da produção artesanal de sal no Rio Grande do Norte, caracterizando os principais fatores para a permanência da atividade. Os procedimentos metodológicos utilizados foram realizados nas seguintes etapas: 1) levantamento bibliográfico e cartográfico da área; 2) análise da dinâmica funcional das salinas e caracterização das etapas de produção de sal artesanal in loco; 3) Uso da MATRIZ SWOT na análise integrada do sistema artesanal. De acordo com os dados obtidos em levantamentos, foram identificados dois polos de maior significância quanto a produção de sal de forma artesanal, as salinas do Córrego e Boi morto. A atividade se utiliza de técnicas tradicionais e elaboradas pelos próprios salineiros, podendo ser notado desde a estrutura das salinas até a dinâmica de funcionamento em todo o circuito de produção. Apesar da impossibilidade de competição com as grandes indústrias salineiras, as salinas artesanais representam patrimônio sócio ambiental que remonta os primórdios da atividade.

Palavras chave: Salinas artesanais; sustentabilidade; matrizSWOT

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ABSTRACT The use of salt evaporation ponds by man is an activity that already exists by millennia, where the first records of extracting salt from seawater came from China, about 2.500 BC. The procedures used to such practice was to store seawater on clay dikes and wait for the salt’s precipitation, with NaCl’s predominance and high amount of magnesium and calcium salts. (BAAS-BACKING, 1931). With regard to the salt production in Brazil, in a historical contexto, the first settlers were unaware of mineral production in the colony, so, for their own use and activities such as leather tanning and to salting meat and fish, the Portugueses settled little salt evaporation ponds in the mouth of rivers that flowed into the Atlantic Ocean, making Cunhaú in Rio Grande do Norte, Itamaracá in Pernambuco and Serigi in Sergipe (ANDRADE, 1995). This research was developed in the localized artisanal salt evaporation ponds (highlighted on the map) on the northern coast of Rio Grande do Norte (ARAUJO, 2013). The purpose of this research is the profile analysis of sustainability of artisanal salt production in Rio Grande do Norte, featuring the main factors for the permanence of this activity. The methodological procedures were performed in the following steps: 1) bibliographic and cartographic survey of the area; 2) Analysis of the functional dynamics of salt evaporation ponds and characterization of artisanal salt production steps in loco; 3) Using the SWOT matrix in the integrated analysis of the artisanal system. According to data from surveys, we identified two most significant as to handmade salt production, the Corrego’s salt evaporation pond and Boi Morto’s salt evaporation pond. The activity uses traditional techniques developed by salt evaporation ponds workers, may be noted from the structure of the salt evaporation pond until the dynamic operation of the entire production circuit.

Keywords: Artisanal salt evaporation ponds; Ssustainability; SWOTmatrix

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...53 ...54

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 01 – Salinas de maras Peru .........................................................................23

Figura 02 – Salina Fluminense – década de 1970 .................................................. 26

Figura 03 – Ambientes evaporíticos costeiros em planícies hipersalinas. .............. 28

Figura 04 – Mapa dos municípios produtores de sal do RN. .................................. 32

Figura 05 – Modelo clássico de uma típica salina artesanal do Brasil .................... 34

Figura 06 – Diagrama SWOT ................................................................................. 37

Figura 07 – Diagrama SWOT cruzada.................................................................... 42

Figura 08 – Localização da área de estudo, município de Grossos-RN. ................ 45

Figura 09 – Carta imagem georreferenciada do canal de maré e polo de salinas

artesanais do Córrego/Grossos-RN. ....................................................................... 46

Figura 10 – Mapa de distribuição dos tanques no polo de salinas artesanais do

Córrego/Grossos-RN ............................................................................................... 47

Figura 11 – Carta imagem georreferenciada do canal de maré e polo de salinas

artesanais do Boi morto/Grossos-RN. ..................................................................... 48

Figura 12 – Mapa de distribuição dos tanques no polo de salinas artesanais do Boi

morto/Grossos-RN ................................................................................................... 49

Figura 13 – Revestimento do cerco em palha de carnaúba: A - Revestimento do cerco

com rochas calcárias sedimentar: B ........................................................................ 50

Figura 14 – Válvula feita de garrafa ......................................................................... 50

Figura 15 – Tampa com haste em madeira ............................................................. 51

Figura 16 – comporta de madeira ............................................................................ 52

Figura 17 – Utilização de cata-ventos para bombeamento da água nas salinas ..... 53

Figura 18 – Carros de mão para a retirada do sal.................................................

Figura 19 – Pás usadas na retirada do sal............................................................

Figura 20 – Densídômetro para medir a concentração da salmoura ....................... 55

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Figura 21 – Circuito produtivo artesanal de extração de sal marinho ...................... 56

Figura 22 – Motor para acelerar o processo de transporte da água do mar ............ 57

Figura 23 – Passagem da salmoura ente os tanques da salina................................ 58

Figura 24 – Laje de sal pronta para retirada: A – Colheita do laje de sal: B ............ 59

Figura 25 – Sal organizado em pilhas ..................................................................... 63

Figura 26 – Polo de salinas artesanais do Boi Morto ............................................... 64

Figura 27 – Canal de maré do Córrego .................................................................... 66

Figura 28 – Salinas mecanizadas localizadas no estuário do Rio Apodi-Mossoró

(RN) .......................................................................................................................... 68

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01 – Níveis de salinidade para precipitação do sal ...................................... 58

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 – Diagrama SWOT cruzada .................................................................... 41

Quadro 02 – Matriz SWOT das salinas artesanais. ................................................... 62

Quadro 03 – Matriz SWOT cruzada das salinas artesanais. ..................................... 70

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LISTA DE SIGLAS a.C – Antes de Cristo

Bé – Baumé

CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente d.C – Depois de Cristo

DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

ENVI – Exelis Visual Information Solutions

g.L-1 – Grau por litro ha – Hectare

m - Metros

IBGE – Instituto Brasileira de Geografia Estatística

Km – Quilômetros

NaCl – Cloreto de sódio

RGB – Composição espectral (Vermelho, Verde, Azul)

SIG – Sistema de Informação Geográfica

SWOT - Strenghts Weakness Opportunities Threats

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LISTA DE SÍMBOLOS

% – Porcentagem °C – Graus Celsius

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 18

2. REVISÃO BIBLIOGRAFICA ......................................................................... 19

2.1 O SAL MARINHO COMO RECURSO NATURAL .................................. 20

2.2 O SAL NAS CIVILIZAÇÕES ................................................................... 21

2.2.1 O Sal na bíblia ......................................................................... 25

2.3 PRODUÇÃO DE SAL NO BRASIL ........................................................ 26

2.4 ZONAS SALINEIRAS DO LITORAL SETENTRIONAL .......................... 28

2.4.1 Geomorfologia ........................................................................ 27

2.4.2 Solo. ........................................................................................ 30

2.4.3 Clima ....................................................................................... 30

2.5 PRODUÇÃO DE SAL NO RIO GRANDE DO NORTE ........................... 30

2.6 CONCEITUAL SOBRE SALINAS ARTESANAIS ................................... 34

2.7 SUSTENTABILIDADE APLICADA AS SALINAS ARTESANAIS ............ 36

2.8 MATRIZ SWOT. ..................................................................................... 38

2.8.1 Forças ...................................................................................... 39

2.8.2 Fraquesas ................................................................................ 39

2.8.3 Oportunidades ....................................................................... 39

2.8.4 Ameaças ................................................................................. 40

2.8.1 Análise SWOT cruzada das salinas artesanais .................... 40

3. PROBLEMA CIENTIFICO .............................................................................. 42

4. HIPÓTESE ..................................................................................................... 42

5. OBJETIVOS .................................................................................................. 42

5.2. OBJETIVO GERAL ............................................................................ 42

5.3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................. 42

6. MATERIAIS E MÉTODOS .............................................................................. 43

6.1. EA DE ESTUDO ................................................................................. 43

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6.2. EDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................... 44

7. RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................... 45

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 72

9. REFERÊNCIAS ............................................................................................. 73

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1 INTRODUÇÃO

A utilização das salinas pelo homem é uma atividade que já existe a milênios,

onde os primeiros registros sobre a extração do sal a partir da água do mar vieram da

China, cerca de 2.500 a.C. Os procedimentos usados para tal prática era o de

armazenar a água do mar em diques de argila e esperar a precipitação do sal, tendo

a predominância de NaCl e alta quantidade de sais de magnésio e cálcio. (BAAS-

BACKING, 1931).

No que se refere à produção de sal no Brasil, em um contexto histórico, os

primeiros colonizadores não tinham conhecimento da produção do mineral na colônia,

então, para uso próprio e atividades como salga da carne, peixe e curtimento do couro,

os portugueses instalaram pequenas salinas em foz de rios que desembocavam no

Atlântico, tornando mais conhecidas as de Cunhaú no Rio Grande do Norte, Itamaracá

no Pernambuco e Serigi em Sergipe (ANDRADE, 1995).

Os primeiros registros de exportação de sal das salinas do Rio Grande do

Norte, são citadas por Cascudo (1995, p. 57) e Santos (2010, p. 295. Estes autores

comentam que, no ano de 1607, havia exportação de sal produzido no estado para o

Sul do país.

A exportação de sal produzido nas salinas localizadas no litoral setentrional

potiguar, teve início a partir de 1802 onde hoje estão localizados os municípios de

Areia Branca, Mossoró, Açu e Macau. O marco inicial para a exploração ordenada das

salinas aconteceu quando D. João IV em pessoa, não aceitou nem recebeu mais

carregamento de sal vindo de Portugal e assinou a carta régia em 1801 abolindo o

monopólio lusitano sobre o sal brasileiro e determinou a exportação de sal do litoral

do Rio Grande do Norte para a Ilha de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Rio de

Janeiro. (COSTA, 2012).

Todo esse processo histórico impulsionou a atividade salineira no litoral norte

do Rio Grande do Norte, através dessa prática desenvolveram-se outros serviços

ligados a produção de sal.

Com o crescimento da atividade, o processo de modernização do parque

salineiro do estado foi se desenvolvendo. Começaram a formar-se grandes unidades

produtoras que acabaram por abandonar e paralisar as pequenas e médias salinas,

acarretando vários problemas sociais como o desemprego (SANTOS, 2010).

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Segundo Costa (2013), as salinas são ecossistemas artificiais usados para a

extração de sal marinho, sendo composto por vários tanques rasos (10 – 100 cm) que

ficam interconectados, nesses tanques, acontecem a captação da água do

mar/estuário e feita a transferência de um para o outro, esse movimento pode ser feito

de duas formas, por gravidade ou bombeamento. No decorrer do circuito de produção,

o teor de sais vai aumentando a medida que a água vai evaporando, ao chegar em

uma saturação de 240 g.L-1 a salmoura já encontra-se em estágio final de cristalização

(DE MEDEIROS ROCHA, 2011).

No ponto de vista da sustentabilidade, a extração de sal de forma

artesanal/tradicional é considerada uma das atividades que melhor assume esse

caráter, a matéria prima é 100% renovável e além da mão de obra humana, esse

ecossistema dispõe de energia eólica proveniente do vento e a ação direta do sol para

completar as etapas de produção, onde as energias sustentáveis são utilizadas de

forma a complementar todo um sistema pensado para que o uso sustentável seja

eficaz, desde a construção dos evaporadores e cristalizadores facilitando a passagem

da salmoura apenas por bombeamento a partir dos cata-ventos ou gravidade, até a

estrutura dos tanques proporcionando o transporte da água ao longo do circuito

(ARAÚJO, 2013).

Na atualidade, resta pouco da produção salineira de forma artesanal no litoral

do Rio Grande do Norte; porém, é importante salientar sua contribuição quanto a

serviços ecossistêmicos que ainda prestam a população, visando assim um

conhecimento mais aprofundado das medidas que possam ser aplicadas para manter

existente essa atividade.

De acordo com Araújo (2013), identificam-se dois polos de grande significância

na produção de sal artesanal no estado, as salinas artesanais do Córrego/Grossos-

RN, que abrange a área atual de (426 ha) considerado o maior polo salineiro, e as

salinas do Boi Morto/Grossos-RN com área atual de (234 ha).

Com vista a esse contexto, será apresentado um acervo bibliográfico

destacando a importância do sal desde os primórdios, a influência nas civilizações e

conotações dadas ao mineral em diferentes aspectos.

O detalhamento da dinâmica funcional das salinas artesanais, irá proporcionar

o conhecimento mais aprofundado das técnicas e ferramentas utilizadas no dia a dia

da atividade.

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A caracterização das etapas de produção de sal artesanal, e o do circuito

desses ecossistemas, culminará na análise do perfil de sustentabilidade da atividade

em aspectos ambientais, sociais, econômicos e culturais influencia diretamente na

coexistência das salinas artesanais a luz da matriz SWOT. Através desses objetivos

a pesquisa desenvolveu-se de forma a esclarecer o que é e como funciona a produção

artesanal de sal do litoral do Rio Grande do Norte. 2 REVISÃO BIBLIOGRAFICA

2.1 O SAL MARINHO COMO RECURSO NATURAL

O sal marinho está caracterizado como rocha sedimentar evaporítica, onde as

mesmas são formadas por compostos minerais salinos, depositados diretamente de

salmouras marinhas sobre elevadas condições de evaporação e restrição de

precipitação nas bacias sedimentares. Essas formações rochosas são comuns em

ambientes costeiros inundados por águas do mar geralmente isolados por alguma

barreira natural ou artificial, com uma forte predominância em áreas de clima árido e

semiárido (SOUZA; BORGES, 2011, BRITTO, 2013).

As precipitações evaporíticas ocorrem de forma ordenada, com uma ordem de

afloramento de acordo com a solubilidade de cada rocha, sendo da menos solúvel

para a mais solúvel. Assim, com a evaporação da salmoura marinha surgem os

carbonatos, como a calcita (CaCO3), seguidos dos sulfatos de cálcio, o mais comum

sendo a gipsita (CaSO4.2H2O) e mais adiante, ao sofrer um processo de desidratação

formam a anidrita (CaSO4), esses são os primeiros de caráter mineral a precipitarem

(BRITTO, op. cit.; SANTOS-JUNIOR, et al., 2013).

Com a concentração da água do mar, e a ação dos fatores físicos (vento e

energia solar), a salmoura chega a atingir em um determinado momento em torno dos

27% de concentração, é onde precipita os cristais de halita (NaCl), é considerado o

mineral mais abundante, todavia que, é produzido pela água do mar rica em Cl- e Na+,

formando assim o conhecido sal marinho (HANDFORD, 1991).

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Silva e Santos (1997), realizaram estudos sobre a morfologia dos cristais de

halita nas salinas de Cabo Frio – RJ, onde classificaram os minerais encontrados na

sua área de estudos como, cristais de halita Hopper (cubos com depressão central

em uma das faces), Chevron (um lado do cristal cresce preferencialmente em uma

direção), dendríticas e Mortarboard (semelhante a um cogumelo).

O cloreto de sódio tem em sua composição química aproximadamente (60%

de cloro e 40% de sódio), a sua coloração é classificada como translúcida, mas

dependendo das impurezas encontradas no local de produção, o sal pode ter cor

branca, cinzenta ou avermelhada. O sal marinho tem em uma das suas principais

características a solubilidade, onde o mineral e totalmente solúvel em solventes

polares e insolúvel em solventes apolares (MENDES, 2012).

De acordo com o DNPM (2006), no que se refere as reservas mundiais, o

mineral é inesgotável, tendo em vista que quantidade de sal contida nos oceanos é

incalculável. Com relação ao sal marinho no Brasil, há salinas em atividade nos

estados do Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Ceará e Piauí.

2.2 O SAL NAS CIVILIZAÇÕES

Os primeiros indícios da utilização do sal, foi por volta de 6.000 a. C. Onde os

povos egípcios começaram a cultiva a terra, criações e a pesca nas margens do Rio

Nilo, logo necessitavam do sal para preservar e conservar seus alimentos, como:

carnes, peixes e vegetais. Os egípcios obtinham o sal por evaporação das águas do

Nilo, do mar mediterrâneo, além dos lagos salgados do deserto (KURLANSKY, 2003;

DAMÁSIO, 2009).

Para a civilização egípcia, o sal era uma especiaria essencial, pois com o tempo

o mineral deixa de ser apenas de caráter alimentício e conservador, passando a figurar

como um bem religioso e moeda de troca entre os povos da região (LUCAS; HARRIS,

1989).

Na China pré-histórica, foi localizada uma das primeiras salinas que tem relatos

na humanidade, na província de Shanxi, uma região semiárida e montanhosa, onde

localiza-se o lago salgado Lake Yuncheng. Historiadores chineses afirmaram que

acerca de 6.000 a. C. As águas do lago eram aquecidas pelo sol durante o verão e

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evaporavam, assim cristais de sais floravam na superfície do lago permitindo que as

pessoas os coletasse. Um fato curioso e da presença de ossos humanos ao redor do

lago, especulando que povos mais antigos possam ter realizado a extração de sal no

local (KURLANSKY, op.cit.).

A atividade de extração de sal através de salinas tem sido usada durante todo

período pré-histórico chines, os primeiros registros dessa atividade são da dinastia do

imperador Huang há 2.500 a.C. Mais adiante, aproximadamente 800 a. C. A produção

de sal se dava através da evaporação da água armazenadas em recipientes de

cerâmica. Com o passar dos anos a produção do mineral foi posto em uma escala

comercial, aproximadamente 129 a. C. Em que os recipientes de barro foram

substituídos por tachos de metais (BAAS-BACKING, 1931; ROBERTS, 2001).

Baas-Backing (op. cit.) ainda informa sobre o processo utilizado em algumas

salinas de partes da América do Sul, África e Oceania, era feito o armazenamento da

água do mar em diques de argila, e esperar todo o sal ser precipitado, a composição

tinha alto teor de NaCl, magnésio e sais de cálcio entre outras substâncias.

Outras duas civilizações importantes a utilizarem o sal, foram os gregos e

romanos. Os gregos tiveram os primeiros contatos com o mineral nas suas idas ao

mediterrâneo, o mineral chegava a Atenas e era aplicado na conservação de peixes

ou mesmo como uma simples matéria prima, além do uso como de troca por escravos

(FUNARI, 2002).

Em Roma, o sal despertou interesse dos habitantes que ocupavam a margem

do rio Tibre, na altura de sua foz. Semelhante ao início da produção do mineral pelos

chineses, os romanos produziam sal em grandes recipientes, mais com a diferença

que os tanques eram revestidos de chumbo e a água era evaporada por fervura.

Semelhantes aos gregos os romanos também usavam o sal como moeda de troca

(ALMEIDA, 1996, 2005).

Outra peculiaridade que surgiu no império romano voltada para o sal, concerne

ao pagamento de seus trabalhadores e soldados, este era feito em determinada

quantidade de sal, surgindo assim a forma de pagamento chamada “Salário”, tornando

a exploração do produto de grande valia para o império romano (RIEGER, 2012).

A próxima civilização a ter contato com o sal foram os nômades árabes, que

transportavam o sal em conserva de alimentos e como especiarias ao norte da África,

explorando até o deserto do Saara, em uma rota que ficou conhecida como “o

comércio transaariano” (HOURANI, 1994), em uma dessas rotas passavam pelas

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minas de sal de Taghaza, uma vila construída com sal na África Ocidental, logo, foi o

primeiro relato do sal em construções (RODRIGUEZ; MARNIQUE, 2012).

De acordo com Mokhtar (2010), os primeiros relatos de produção de sal na

África foram na porção subsaariana do continente, por se tratar de uma região árida,

com processos intensos de estiagem, o sal brotava nas superfícies de lagos e poços

secos do deserto.

Vários sítios primitivos de exploração de sal surgiram no deserto do Saara:

Kibiro ás margens do lago Mobutu Sese Seko e em Basanga no Zaire são alguns

desses sítios. Em Kibiro o sal passava por um sistema de ebulição e filtragem (para

retirar as impurezas mais grossas) para ser colhido, já em Basanga, localizado nos

baixos salgados, o sal foi explorado pela população local desde seus primórdios no

século V, por evaporação (MOKHTAR, op cit.).

Na porção ocidental do globo, aproximadamente 1.500 d. C. Há registros de

produção de sal pelos povos Incas, que habitavam a cordilheira dos Andes, mais

precisamente as minas de sal de Maras, as salinas estão situadas 1 km a oeste da

pequena cidade de Maras, localizada a 40 km ao norte de Cuzco no Peru. Esses

povos cultivavam o mineral de uma forma desconhecida até esse momento histórico,

foram construídos tanques no formato de escadaria nas encostas das montanhas

andinas, assim as águas que escoriam das altitudes eram armazenadas nos tanques

para evaporação (FIG. 01). O sal ali coletado era vendido no mercado de Cusco

(MÓDOLO, 2007)

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Figura 01 – Salinas de Maras Peru. Fonte: http://www.pbase.com/image/68486527.

Os portugueses também foram e são até os dias atuais produtores de sal. Na

antiguidade a extração do produto vinha sobre influência dos romanos, para

conservação do pescado e satisfazer a circulação comercia do apogeu romano. Assim

o sal tornou-se em Portugal uma mercadoria preciosa, principalmente no início das

navegações, onde constitui-se como uma forte mercadoria nas rotas comerciais com

o Oriente e a África (MICAEL, 2011). Nos séculos XII e XIII, Portugal já produzia o

mineral tanto por evaporação, quanto por extração no subsolo através das águas dos

poços, onde o cultivo se espalhou por todo o Atlântico e nas embocaduras dos rios.

No caso da cidade de Aveiro, os primeiros registros de extração de sal ocorreram na

idade média. (GOMES, 2006; BASTOS, 2009).

Com todo o processo histórico, tem-se que a atividade de exploração de halita

é em suma muito antiga, isto, assegura uma importância fundamental ao longo de

toda história. Raros são os produtos que como o sal são de fácil armazenamento,

além de ter durantes todo o processo histórico várias funções, gastronômicas,

conservante, comercial e até mesmo religiosa cultural.

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2.2.1 O SAL NA BÍBLIA

No tocante a religião, desde a antiguidade há referências sobre a importância

e o uso do sal. Na dimensão religiosa, o sal tem uma conotação de sagrado, na bíblia

é possível encontrar vários sentidos, ele pode significar algo preservado e

incorruptível, amargura e esterilidade, segundo a história bíblica, a ira divina poderia

transformar terras férteis em salinas (DIAS, 2005).

Uma das passagens bíblicas mais conhecidas sobre o sal, é a transformação

das cidades de Sodoma e Gomorra em terras infrutíferas e inabitáveis, castigo

proveniente da ira de Deus sobre os pecados cometidos na região. Alguns textos

bíblicos trazem uma pequena narrativa de como segundo o livro, tornou-se as terras

daquela região, “Toda a nação se transformará num deserto abrasador de enxofre e

sal, nada que for semeado sobre a terra germinará. Será como a destruição de

Sodoma e Gomorra (...)”. (Deuteronômio 29,23). O interessante dessa passagem, é

que essa região que atualmente seria o Sul da Palestina e abrange toda a dimensão

do mar morto, são áreas conhecidas por seu alto teor de sal-gema concentrado nas

montanhas (DIAS, 2005).

O sal conota a secura e locais com ausência de vegetação, sinalizando a ira

divina. A maldade dos seres humanos levava a punição com sal, como narra o

salmista em sua advertência (“Ele converte rios em desertos; nascentes, em terra

sedenta; a terra frutífera, em terreno saldado pela maldade dos que neles habitam”,

(Salmos. 107,3) certamente usando como referência o caso paradigmático de

Sodoma e Gomorra (Gênesis. 19; Deuteronômio. 29,22).

Porém, é possível encontrar termos ligados ao sal que conotam sacrifícios

religiosos, eficácia e estabilidade (“Na tua oferta não deixarás faltar o sal da aliança

com o teu Deus”, Levítico 2,13; Ezequiel 43,24), nos versículos bíblicos identifica-se

o mineral como um elo de ligação entre o homem e Deus.

No que concerne a alimentação do homem e a tempero para alimentos, o livro

bíblico de Jó (6, 6), ainda ligado aos sacrifícios religiosos oferecido na época, narra

que todas as oferendas deveriam ser salgadas, e nessa passagem além do sabor,

essa salga era importante devido aos graus de pureza e decomposição de maus

presságios que o sal representava.

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A premissa de polos para produção de sal, é encontrada em uma passagem do

livro cristão (“mas os seus charcos e os seus lamaceiros não sararão; serão deixados

para sal”, Ezequiel: 47, 11). Interpretando o versículo, entende-se que a terra de Israel

foi separada a “lugar santo” e este em duas partes, para os “justos” e tementes a Deus,

a parte frutífera da terra e os mares lotados de peixes, porém para os “pecadores”

seriam separados espécies de charcos ou pântanos (áreas de manguezais) que não

poderiam frutificar e produzir nada, apenas sal, nesse contexto, entende-se que locais

para produção de sal eram comuns na chamada “terra prometida”.

Além de dar gosto aos alimentos, e ser símbolo de infertilidade da terra, o sal

na bíblia também implica em sinônimo de pão. No livro de Esdras (4, 14) narra que se

alguém come o sal de outra pessoa, simboliza a ligação entre familiares e

aproximados, a chamada aliança de sal conota confiança daqueles que comem junto

a mesma mesa. 2.3 PRODUÇÃO DE SAL NO BRASIL

No Brasil, desde os naturalistas viajantes, que até então não tinham

conhecimento da capacidade de produção do mineral, já havia a atividade. O

naturalista Von Martius fez a descrição do processo de extração em 1820, segundo

seus documentos, ocorria a partir da dissolução das terras que continham um teor de

NaCl, o sistema era bastante rudimentar, o processo de filtração ocorria quando as

terras salinas passavam por gravetos e areia que eram apoiados por um couro de boi

furado. A precipitação do sal ocorria quando o sal era evaporado devido as altas

temperaturas e baixa umidade, típicas do Rio de Janeiro (VITA et al., 2007) (FIG. 02).

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Figura 02 – Salina Fluminense, década de 1970. Fonte: Arquivo pessoal do senhor Aldir Antunes apud JOÃO, 2012.

O sal deixou de ser produto natural para ser colonizado no momento em que

os humanos começaram a praticar atividade agrícolas, a busca do sal assim como

carnes, cereais e água, passou a ser questão de sobrevivência já que o mineral era

considerado um condimento essencial no preparo das comidas básicas. Em um

determinado tempo da história o ser humano deve ter copiado da natureza a forma de

armazenamento de sal, onde a água do mar acabava sendo represada naturalmente

e com a presença do sol era evaporada restando apenas o sal (KOROVESSIS;

LEKKAS, 2006).

A partir da colonização portuguesa, foi proibida a extração em terras brasileiras,

assim a colônia foi condicionada a consumir o sal vindo de Portugal. Os primeiros

relatos de proibição datam de 1665, onde o produto era vendido vinte e cinco vezes

mais caro no Brasil, o que gerou inúmeros protestos populares (JOÃO, 2012), porém,

a partir de 1801 D. João IV em pessoa, não aceitou nem recebeu mais carregamento

de sal vindo de Portugal e assinou a carta régia abolindo o monopólio lusitano sobre

o sal brasileiro e determinou a vinda do mineral do litoral do Rio Grande do Norte para

o Rio de Janeiro, ilha de Santa Catarina e Rio Grande do Sul (COSTA, 2012).

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Os estudos sobre as salinas são recorrentes em todo o mundo em grande

extensão, principalmente em países como a França, Grécia, Espanha como em outros

(OREN, 2009). Porém, no país ainda é baixo o nível de conhecimento a respeito da

dinâmica dos processos ecológicos, além das características hidrogeoquímica das

salmouras (DE MEDEIROS ROCHA e CÂMARA, 1993; SOUTO et al., 2000; COSTA

et al., 2011; DE MEDEIROS ROCHA, 2011).

Segundo Andrade (1995), apesar de expressiva, a produção de sal brasileira

ainda mostrava-se insuficiente mediante as necessidades básicas dos homens e dos

animais. Isto caracterizou-se segundo o autor, pelo povo brasileiro ser carente no que

concerne aos suprimentos básicos e com relação a pecuária se comparado aos

grandes produtores (países) pecuaristas. Porém é nítido o crescimento da produção,

apresentando algumas oscilações, tomando por base os anos de 1960 a 1990.

Na concepção de Costa (2013), a atividade salineira do país representa um

ponto estratégico no contexto mineral-industrial, porém, nessa perspectiva é de suma

importância conhecer os acontecimentos históricos que deram tal relevância a

atividade, principalmente o que causou a dinâmica socioeconômica da produção de

sal ao longo do tempo, desde a colonização da América até hoje. 2.4 ZONAS SALINEIRAS DO LITORAL SETENTRIONAL

GEOMORFOLOGIA

O litoral setentrional do Rio Grande do Norte possui uma extensão de 244 km,

correspondendo a 59% da costa potiguar. Composto por uma larga extensão de praias

arenosas, no litoral situam-se a foz dos maiores sistemas fluviais do estado (Piranhas-

Açu e Apodi-Mossoró). A área é característica por sistema flúvio marinho de

inundações sazonais, proporcionando ecossitema de manguezais, apicuns e planícies

hipersalinas (SOUTO,2009).

As planícies hipersalinas caracterizam-se por zonas de supramaré, com baixa

quantidade de sedimentos originados por deposição. A taxa de evaporação

proveniente das altas temperaturas, ocasionam a formação natural de crosta de sais

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no solo (KENDALL, 1984). Segundo Curtis et al., (1993), essas planícies foram

estudadas inicialmente a partir da descoberta de rochas evaporíticas encontradas na

Costa Trucial do Golfo da Pérsia, atual Emirados Árabes.

Na concepção de Kendall e Harwood (1996), entende-se por evaporito,

depósitos de rocha sedimentar químicas formadas por precipitação na água. A

deflação de sedimentos na superfície e acumulação de sedimentos resultante dos dois

processos tornam esses ambientes propensos a inundações periódicas e processos

evaporíticos. Predominam nessas áreas carbonatos, halitas e/ou sulfatos, ocorrendo

comumente em regiões áridas e de topografia plana (Fig.3).

Figura 03 - Ambientes evaporíticos costeiros em planícies hipersalinas (Porto do Mangue-RN). Fonte: COSTA (2013)

Se comparada as áreas de manguezais (infra e meso maré), a cota

topográfica é ligeiramente elevada, aproximadamente 2 metros em relação ao estuário

(SUGUIU, 1973). Com relação a hidrodinâmica local, os processos são caracterizados

pela energia das ondas médias em direção a costa, atingindo alturas de 10 a 80 cm

em intervalo de 4 a 8 segundos. Os ventos são provenientes de Nordeste em regime

de mesomaré semi-diurno atingindo a máxima de 3,3 m durante a maré de sizígia e

mínima de 1,2 m na maré de quadratura (CHAVES et al., 2006; ROCHA et al., 2009;

VITAL, 2009).

A rochas evaporíticas são típicas da margem dos leitos, ou em áreas interiores

em formato de ilhas. Devido ao assoreamento ocorrido nas áreas de intermaré, a

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dinâmica flúvio marinha proporciona a esses ambientes a inundação sazonal através

do transbordamento dos canais, constituindo-se por depósitos aluviais não

consolidados com sedimentos argilo-arenosos (SUGUIU, 1973; AMARO, 2004).

Devido ao alto teor de salinidade no solo dessas áreas, não é possível a

presença de vegetação de mangue. Apenas as herbáceas halófitas (IBGE, 1992) são

encontradas no ambiente (COSTA, 2010). SOLO

O solo da região é caracterizado pelo Gleissolo sálico, formado a partir de

sedimentos, sendo estratificados ou não, estes, estão propensos a excesso d’agua,

comumente localizados nas áreas de relevo plano de influência lacustre ou marinha

(EMBRAPA, 2006).

Ambientes com essa característica, são condicionantes para a economia do

Brasil desde a colonização, isto ocorre devido a presença de salinas solares (COSTA

et al., 2015) devido a alta salinidade e impermeabilidade característicos desse tipo de

solo sendo capazes de gerar diferentes compostos como: gipsita, anidrita e halita

típico de ambientes de supramaré (SILVA et al., 2000). No caso do Brasil esses

ambientes foram descritos apenas no litoral do Sergipe e Rio de Janeiro (KJERFVE

et al., 1996; SILVA et al., 2000). CLIMA

O clima típico da área é o semiárido seco, sofrendo influência da zona de

convergência intertropical. Os períodos secos ocorrem de Junho a Janeiro, e úmidos

de Fevereiro a Maio (NIMER, 1989). A precipitação anual da região atinge em média

600mm/ano, com temperatura média de 26,8°C (VITAL, 2009). Devido essas

características, na maior parte do ano durante o período de estiagem, os estuários

evoluem o nível de salinidade e tornam-se hipersalinos.

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2.5 PRODUÇÃO DE SAL NO RIO GRANDE DO NORTE

Todo o contexto do processo histórico ligado a produção de sal, impulsionou a

atividade salineira no litoral norte do Rio Grande do Norte, o descobrimento das

grandes salinas no litoral setentrional do estado, aconteceu na segunda metade do

século XVI, onde ocorreu a expansão do povoamento para o Maranhão na tentativa

de luta contra os franceses. Em sua descrição da costa setentrional brasileira, Gabriel

Soares de Souza destacava a abundância de sal já em seu estado de uso (sal feito)

(ANDRADE, 1995).

Trindade e Albuquerque (2005) mencionam que os principais impulsos da

economia do estado durante os períodos de colônia e império, estavam ligados aos

setores agropecuário e extrativo, destacando o sal, além do algodão, criação de

bovinos, caprinos e muares, ovinos, açúcar, a mandioca, cera de carnaúba, entre

outros, Andrade (1995) narra que na metade do final do século XVI, foram descobertas

as grandes salinas naturais formadas absolutamente sem nenhuma intervenção

antrópica. Essas, situavam-se na extensão da costa da capitania do Rio Grande

(atualmente estado do Rio Grande do Norte e parte do Ceará), os sistemas naturais

se formavam em grandes extensões de várzeas que represavam e cristalizavam a

água do mar de forma natural.

Na data de 20 de Agosto de 1605, o capitão-mor da Capitania do Rio Grande,

passou um pedaço de terra para seus herdeiros Antônio e Matias, nas terras, estavam

inclusas as salinas nas regiões de caiçara (atual zona salineira de Guamaré) e Macau.

As primeiras exploradas foram as de Guamaré (COSTA et al., 2013).

Guamaré e Galinhos, já eram conhecidos por “Salina pequena” ou “Guamaré”

e “Salina grande” ou “Canguaretama”. A salina que levava o nome de pequena, ficava

na porção final do rio Guamaré, onde atualmente é Cabilinho ou galinhos, banhando

a cidade de Galinhos. Nesta, foi testada a produção de sal a partir da manipulação

das águas, por meio de um rego d’agua na altura de 1,5 pé, produzindo sal no intervalo

de três meses (MOURA, 2003).

Carvalho Júnior e Felipe (1982), contam que a partir da segunda metade do

século XIX deu-se em suma o aumento da demanda do sal, onde esse fato aconteceu

devido o curtimento do couro, salga de peixes, produtos de consumo, carnes e

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comércios diversos. O aumento da produção mineral resultou na construção de

pequenas salinas em lugares estratégicos no que hoje corresponde ao Nordeste, isto

para suprir a alta demanda do sal, que apesar dessas medidas ainda mostrou-se

insuficiente para suprir a demanda crescente (COSTA, 2013).

Em 1912, durante o segundo governo do presidente Alberto Maranhão (1908-

1913), houve a criação do Sindicato dos Salineiros do Rio Grande do Norte,

participarão grandes salineiros de Areia Branca, Macau e Mossoró. O período foi

marcado por acontecimentos relevantes para a história do sal no estado como o fim

do monopólio do sal (1914) e a luta contra a forte concorrência do sal da Espanha.

Assim, com o fim do monopólio do sal, a livre concorrência e a redução da taxa de

exportação, trouxeram avanços satisfatórios como um aumento expressivo nas

exportações do mineral, este, causado pela política de livre concorrência criada no

governo de Ferreira Chaves (1913-1917), sendo de grande vantagem para a

economia potiguar (SOUZA, 2008).

Os primeiros anos da década de 1970 segundo Fernandes (1995) e Santos

(2010) foram marcados pela modernização do parque salineiro do estado, destacando

a formação de grandes unidades produtoras, que acabaram paralisando a forma de

extração em pequenas e médias salinas, acarretando em graves consequências

sociais. O desemprego passou a ser um dos grandes problemas da região advindo da

modernização das salinas, as terras que antes constituíam esses sistemas, passaram

a ser utilizadas para a prática de carcinicultura (SANTOS, 2010).

A partir da última década do século XX os pequenos sistemas produtores de

sal foram sendo adquiridos pelas grandes indústrias salineiras de grande capital

nacional. Atualmente a produção de sal é uma das atividades econômicas de maior

relevância em todo o litoral setentrional do estado, sendo responsável por 97% do sal

marinho produzido em todo o Brasil, exportando o produto para vários estados

brasileiros além dos Estados Unidos, África e Europa (COSTA et al., 2015). A região

salineira é composta por seis municípios, compreendendo em qualidades excelentes

para a produção de sal, são eles, Areia Branca, Mossoró, Grossos, Galinhos,

Guamaré e Macau (Fig. 04).

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Figura 04 – Mapa dos municípios produtores de sal do RN. Fonte: RUTE DA SILVA, A; SILVA, D.E.M (2015).

No mercado nacional, a produção do mineral é usada principalmente para o

consumo humano, pecuária e por indústrias químicas, localizados em áreas distintas,

essa diversidade de finalidades obtidas com o mineral caracteriza um circuito

comercial do sal, permitindo que o consumo transcorra desde o uso mais simples

(alimentação) até a participação em indústrias químicas.

Barbieri (1975), narrou em seu estudo intitulado “O Ritmo climático e extração

do sal em Cabo Frio/RJ” a importância da região Nordeste no tocante a produção

salineira em comparação com sua área de estudo, os municípios de Cabo Frio,

Araruana e São Pedro d’aldeia. Segundo o mesmo, além da região setentrional

nordestina apresentar situação climática favorável a produção e qualidade do mineral,

o Nordeste possui um expressivo território salineiro atingindo 233.100.000 m² o que

em comparação ao estado do Rio de Janeiro que abrange apenas 22.210.837m² é

bastante vantajoso e expressivo.

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2.6 REFERENCIAL SOBRE SALINAS ARTESANAIS

As salinas que operam de forma tradicional, são, segundo Nixon (1970)

“versões domésticas” de lagoas hipersalinas onde se desenvolvem organismos que

assumem o papel de controlar os estágios de salinidade e seus subsistemas. Nos dias

atuais as salinas são vistas como ecossistemas artificiais, sofrendo a exploração de

sal marinho e que prestam inúmeros serviços ambientais (COSTA, 2013).

Segundo Oren (2009) o sistema salineiro possui comunidades ricas e variadas

de microrganismos foto tróficos de acordo com o gradiente de salinidade do ambiente,

e que a produção primária fotossintética feita por esses organismos implica na

quantidade das propriedades das salinas.

A exploração de sal artesanal é feita de forma manual e considerada pequena,

a área é de 2-50 ha, que se dividem entre 10 e 20 tanques que tem a função de

evaporar a água cristalizando o sal, produzindo uma média de 200 a 20.000 toneladas

do mineral ao ano (DE MEDEIROS ROCHA; CAMARA, 1992; COSTA, 2013).

Segundo Costa et al., (2015), o sal produzido em salinas tradicionais

(artesanais) é considerado pelas indústrias químicas de segunda qualidade, por gerar

impurezas orgânicas e inorgânicas, e, fragilidade do grão de sal (miúdo e quebradiço)

a baixa qualidade desse sal, decorre do fato de a salmoura ser reutilizada quando

passa pelo processo de recirculação ao longo de circuito de produção.

A importância da continuidade do trabalho artesanal de produção de sal, parte

do princípio de entender como se deu o início dessa atividade e de que forma

organizaram-se as primeiras salinas. Esses sistemas se apresentavam como grandes

espaços superficiais planos e de divisões rebaixadas que inundam quando estão em

época de produção, essas, caracterizam-se por serem quadriculadas podendo variar

ou não de tamanho (ANDRADE, 1995) (FIG 5).

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Figura 05 – Modelo clássico de uma típica salina artesanal do Brasil (C.C = Canal de captação; P.E.Z. = Pré-Evaporação; E1 a E8 = Evaporadores; C = Cristalizadores; D.C. = Drenagem para o

canal. Fonte: BARBOSA et al., 2001.

O processo de produção de sal até a segunda metade do século XX,

necessitava de uma grande concentração de trabalhadores com vigor para o trabalho

de dez a doze horas em todas as etapas de produção salineira. Nesse contexto, a

grande diferença entre as salinas artesanais e as modernas é a forma que se

desenvolvem e operam-se as etapas de produção de sal, marcada principalmente

pelo contingente de mão de obra. As salinas artesanais foram marcadas pela

absorção de trabalhadores, tendo em vista que na época não existia o nível

tecnológico adequado para atuar nessa área industrial salineira do estado (COSTA,

1993).

Algo notável e peculiar nas salinas artesanais, é que nelas ainda são replicadas

técnicas primarias e naturais da produção de sal. A atividade de exploração de sal é

em suma muito antiga, isto, assegura uma importância fundamental ao longo da

história. Raros são os produtos que como o sal são de fácil armazenamento. No caso

da cidade de Aveiro, os primeiros registros de extração de sal foram na idade média,

segundo a documentação coeva sempre era utilizado o processo de evaporação

(BASTOS, 2009).

No caso do Brasil, desde os naturalistas viajantes, que até então não tinham

conhecimento da capacidade de produção do mineral, já havia a atividade. O

naturalista Von Martius fez a descrição do processo de extração em 1820, segundo

seus documentos, ocorria a partir da dissolução das terras que continham um teor de

NaCl, o sistema era bastante rudimentar, o processo de filtração ocorria quando as

terras salinas passavam por gravetos e areia que eram apoiados por um couro de boi

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furado. A precipitação do sal ocorria quando o soleto era evaporado devido as altas

temperaturas e baixa umidade, típicas do Rio de Janeiro (VITA et al., 2007).

O sal deixou de ser produto natural para ser colonizado no momento em que

os humanos começaram a praticar atividade agrícolas, a busca do sal assim como

carnes, cereais e água, passou a ser questão de sobrevivência já que o mineral era

considerado um condimento essencial no preparo das comidas básicas. Em um

determinado tempo da história o ser humano deve ter copiado da natureza a forma de

armazenamento de sal, onde a água do mar acabava sendo represada naturalmente

e com a presença do sol era evaporada restando apenas o sal (KOROVESSIS;

LEKKAS, 2006).

Segundo Costa et al; (2013) diferente da finalidade atual do cloreto de sódio

para a industrialização química, na época colonial o NaCl, era usado principalmente

para alimentação humana e de animais como cavalos e bois, não esquecendo da

importância do mineral para a Europa como matéria prima. As salinas assim como o

ecossistema apresentam uma série de serviços ambientais, esses apresentados de

forma direta ou indireta. A gestão desse ecossistema exige que haja um equilíbrio

entre a necessidade de regular o ecossistema de modo a não esquecer dos interesses

humanos (produção do sal).

Nos dias atuais, pouco resta da produção salineira artesanal no Rio Grande do

Norte, apenas algumas pequenas salinas que ainda se utilizam de pás e de carros-

de-mão para realizar a colheita do sal, restritas apenas a pequenos núcleos ao longo

do litoral setentrional do Estado do Rio Grande do Norte. Esses sistemas remontam o

processo utilizado desde os primórdios da atividade, sendo de grande importância

para a cultura além da preservação e sustentabilidade ambiental. 2.7 SUSTENTABILIDADE APLICADA AS SALINAS ARTESANAIS

A ideia de sustentabilidade surgiu na intenção de dar respaldo aos programas

de desenvolvimento sustentável, tendo em vista que era preciso desenvolver termos

que relacionados aos componentes ambientais. Sustentabilidade implica em um termo

de origem agrícola, visando a dinâmica e capacidade de reposição de um tipo de

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população, a prioridade é manter a biodiversidade sem perdas resultando no melhor

funcionamento do ecossistema (COSTA et al., 2010).

Levando em consideração que as condições ambientais influenciam na

produção de sal de forma artesanal, é importante apresentar indicadores ambientais

que explicitem as características ambientais de um determinado local levando em

consideração os fatores de sustentabilidade como indicadores diretos no ambiente de

produção salineira (DAVIS, 2000).

A salinas artesanais enquadram-se no termo sustentabilidade por utilizarem

energias renováveis e limpas (luz solar, água do mar e vento) para o seu

funcionamento (COSTA, 2013). Van Bellen (2006), em suas diversas concepções

sobre os tipos de sustentabilidade, conceitua a sustentabilidade cultural que implica

na ideia de modernização sem o desligamento dos valores culturais, adequando-se a

um contexto espacial específico. Nisto, é importante que haja o desenvolvimento

sustentável, porém partindo da premissa de compreender a fragilidade do planeta e a

importância das energias renováveis de maneira a suprir ou colaborar com as

necessidades socioeconômicas.

No que diz respeito a estrutura de produção e construção dos evaporadores e

cristalizadores já é pensada de forma sustentável, implica em dizer que a salmoura é

transferida apenas por gravidade ou através de bombeamento feito por cata-ventos,

além dos tanques serem estruturados para facilitar a passagem da água dentro dos

circuitos sem precisar de nenhuma espécie de mecanização (ARAÚJO, 2013).

Por outro lado, segundo Diegues (1994) atividade operadas de forma

tradicional no que tange a forma de funcionamento e apropriação da área visando o

uso e gestão dos recursos naturais, serve indiscutivelmente como referência. Em

escala nacional e internacional, o uso dessa ideia tem mostrado que, se a

conscientização para o uso sustentado dos recursos tornar-se de interessa da

comunidade em geral, as chances de sucesso mutuo são maiores, ou seja, a

distribuição por igual da riqueza conseguida com o sucesso do negócio, além do

aumento do fator sustentabilidade dos recursos de uso da comunidade.

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2.8 MATRIZ SWOT

A análise SWOT é um termo criado por dois professores da Harvard Business

School, Kenneth Andrews e Roland Cristensen, a SWOT (sigla de idioma inglês)

trabalha e analisa quatro fatores importantes para o ambiente, levando em

consideração quatro fatores representados pelas seguintes variáveis: Strengths

(Forças), Weaknesses (Fraquezas), Oportunities (Oportunidades) e Threats

(Ameaças). Segundo esses quatro fatores variáveis, é possível elencar as principais

forças e fraquezas de um determinado ambiente, e no meio externo, analisa-se as

oportunidades e ameaças. Quando há o alinhamento dos pontos fortes de uma

organização com os fatores críticos suscetíveis ao êxito em oportunidades para o

mercado, provavelmente a tendência é existir competitividade a longo prazo nessa

empresa/empreendimento (RODRIGUES et al., 2005).

De acordo com Chiavenato e Sapiro (2003), o objetivo da SWOT é analisar e

relacionar as oportunidades e ameaças externas da empresa/organização e comparar

com as forças e fraquezas identificadas no ambiente interno da mesma. É uma das

estratégias de planejamento e gestão mais usadas para planos de gestão que visa a

organização prévia ou controle do empreendimento, a análise é feita das formas

qualitativa e competitiva, usando sempre os quatro fatores que indicam a situação

atual do ambiente (Fig. 6)

Figura 06 – Diagrama SWOT.

Fonte: SILVA et al., 2011.

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Em contrapartida, Neto (2011) diz que o uso dessa técnica auxilia na criação

do projeto de planejamento em conjunto com estratégias para a execução, que

começou a ser elaborado e estruturado por volta dos anos de 1960 a 1970 nas escolas

americanas. O objetivo era focar na combinação entre forças e fraquezas de uma

empresa, visando analisar simultaneamente as oportunidades e ameaças que

eventualmente ocorre sem vindas do mercado. Os fatores levados em consideração

e analisados pela SWOT são quatro: 2.8.1 (Strengths)

As forças implicam na análise dos pontos fortes de uma organização, visando

principalmente a minimização dos problemas que possam ocorrer no andamento do

negócio (BRASIL et al., 2015), assim a análise dos principais fatores positivos implica

em condições satisfatórias para a empresa/negócio em relação ao ambiente. As

características positivas de uma determinada organização, influenciam diretamente

no desempenho e sucesso do que é proposto (REZENDE, 2008). 2.8.2 AS

As fraquezas são as possíveis deficiências ou pontos fracos enfrentados pela

empresa/negócio, é importante identificar tais fatores para a tomada de medidas

adequadas, evitando a ruína da organização (MATOS, ALMEIDA, 2007).

Martin (2007), reforça o conceito dizendo que é importante analisar esses

pontos negativos ligando diretamente ao produto ou serviço prestado pela

organização, assim, é possível diagnosticar onde está exatamente o problema, para

que haja o controle e um planejamento estratégico.

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2.8.3 PORTUNIDADES

As oportunidades são os fatores e tendências externas que implicam em um

sucesso futuro para o negócio, esses, podem potencializar e contribuir na conclusão

dos planejamentos estratégicos criados para a melhoria da organização (CALAES,

BÔAS, GONZALES, 2006).

Através da análise externa ao negócio é possível cria condições favoráveis a

realização de objetivos para a melhoria e crescimento do que se é proposto, porém, é

importante que haja condições e interesse para utiliza-las (REZENDE, 2008). 2.8.4 MEAÇAS

Morais (2008) defende que as ameaças são forças externas que podem

comprometer o sucesso do que é proposto ela organização. As ameaças podem levar

o ambiente a extinção de serviços, ou em casos mais críticos ao desaparecimento dos

mesmos, para prevenir, é importante conhecer e analisar os riscos que podem

acarretar nesses resultados (MARTINS, 2007). 2.8.5 ÁLISE SWOT CRUZADA DAS SALINAS ARTESANAIS

Segundo Cirino (2013), a análise SWOT cruzada, implica na interligação das

informações conseguidas a partir dos quatro quadrantes. Para se conseguir um

resultado geral das medias a serem tomadas para gerar o crescimento e ou

permanência de determinada instituição é importante primeiramente fazer a análise

clara de cada ambiente.

Após a análise detalhada de cada ponto, é importante fazer uma nova matriz,

cruzando as informações a partir da seguinte sequência (Qua. 01):

• Pontos Fortes (Forças) x Oportunidades

• Pontos Fortes (Forças) x Ameaças

• Pontos Fracos (Fraquezas) x Oportunidades

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• Pontos Fracos (Fraquesas) x Ameaças

Quadro 01 – Diagrama SWOT cruzada.

.

Fonte: adaptado de CHIAVENATO e SAPIRO (2003) .

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3 PROBLEMA CIENTÍFICO Quais fatores determinam a permanência das salinas artesanais no litoral do Rio

Grande do Norte? 4 HIPÓTESE

A atividade salineira artesanal subsiste no Rio Grande do Norte, porém não representa

a renda principal de famílias. 5 OBJETIVOS

5.1 OBJETIVO GERAL Analisar o perfil de sustentabilidade da produção artesanal de sal no Rio Grande do

Norte, caracterizando os principais fatores para a permanência da atividade. 5.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Reunir acervo bibliográfico da área de estudo;

• Conhecer a dinâmica funcional das salinas artesanais;

• Caracterizar as etapas de produção artesanal de sal;

• Analisar o perfil de sustentabilidade da área;

• Propor medidas para a permanência da atividade;

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6 MATERIAL E MÉTODOS

6.1 ÁREA DE ESTUDO

Está pesquisa foi desenvolvida nas salinas artesanais localizadas (em

destaque no mapa) no litoral setentrional do Rio Grande do Norte, mais precisamente

no município de Grossos na porção oeste do litoral, onde encontra-se o estuário do

rio Apodi-Mossoró, sendo de suma importância para a produção de sal de forma

artesanal da região (ARAÚJO, 2013). É predominante o clima tropical quente e seco

(Semiárido), a vegetação encontrada no local é a savana estépica (Caatinga), com

porte herbáceo/arbustivo. A geomorfologia local é composta por planícies e tabuleiros

costeiros (NIMER, 1989) (Fig. 07).

Figura 07 – Localização da área de estudo, município de Grossos-RN. Fonte – RUTE DA SILVA, A; SILVA, D.E.M (2015).

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Os polos caracterizam a maior produção artesanal de sal que existe no estado,

onde torna-se necessário o estudo de ambos para entender a dinâmica de

funcionamento e a importância ambiental desses ecossistemas. 6.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Os procedimentos metodológicos foram realizados nas seguintes etapas: 1)

levantamento bibliográfico e cartográfico da área; 2) análise da dinâmica funcional das

salinas e caracterização das etapas de produção de sal artesanal in loco; 3) Uso da

MATRIZ SWOT na análise integrada do sistema artesanal.

O levantamento bibliográfico foi realizado a partir de pesquisas, em artigos

científicos, trabalhos acadêmicos e livros que fundamentaram a pesquisa sobre a

temática abordada. Para a produção do material cartográfico foram coletadas imagens

do satélite Resousat 2, sensor LIS de 07/05/2015 disponibilizada gratuitamente no site

do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), seguindo os procedimentos,

realizou-se uma composição colorida no software ENVI 4.7 em falsa cor, ajustando as

bandas 342 nos canais RGB.

A imagem foi georeferrenciada no sistema de coordenas SIRGAS 2000 UTM

zona 24S Datum SIRGAS 2000 da malha do IBGE 2010. Também foram criadas

cartas imagem com auxílio do WebSIG Google Earth Pro® na disponibilização de

imagens, sendo georreferenciadas no sistema de coordenadas anterior, onde esses

procedimentos foram realizados em ambiente de Sistema de informação Geográfica,

utilizando o software ArcGIS 10.1 (versão acadêmica) (Corpyright ESRI©).

Com a utilização do software Adobe Photoshop CS6 (versão para teste), foi

confeccionado um mosaico de imagens, para análise do canal de maré vindo que

abastece as salinas.

Para a análise da dinâmica nas salinas e compreensão das etapas de

produção artesanal de sal, foram realizadas visitas in loco na área de estudo, nos

períodos de Agosto a Novembro de 2015. No local, foram coletadas informações a

respeito do funcionamento e peculiaridades desses ambientes, para isso, foi

necessária uma conversa informal com trabalhadores e proprietários nos polos

salineiros do Córrego e Boi morto, ambos localizados no município de Grossos-RN.

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Como última etapa, para a realização do reconhecimento dos perfis de

sustentabilidade das salinas e análise integrada do ecossistema, foi estudada a área

produtiva e as características do serviço, assim como os recursos que são adquiridos

durante a produção de sal. Nessa perspectiva, foi trabalhado o método de análise da

matriz SWOT (Strenghts, Weakness, Opportunities. Threats) que como proposto por

Silva et al., (2010) tem por objetivo analisar os fatores que influenciam o ambiente,

explicitando como eles podem afetar na organização do meio, levando em

consideração as quatro variáveis: Forças, fraquezas, oportunidades e ameaças.

Após a realização da análise integrada da Matriz SWOT, foi possível a

elaboração de quadros elencando os principais fatores que dinamizam a atividade

através do cruzamento das matrizes, procedimento realizado pela matriz SWOT

cruzada. 7 RESULTADOS E DICUSSÕES

As salinas artesanais localizadas no litoral do Rio Grande Norte, ocupam

áreas de transição entre planícies hipersalinas e tabuleiros costeiros, sendo

margeadas pelas grandes empresas salineiras que possuem áreas de até 500 ha

cada. A captação da água do mar é realizada apenas por canais de maré,

popularmente conhecido com Gamboa, vindos do estuário (COSTA, 2013).

De acordo com os dados obtidos em levantamentos, foram identificados dois

polos de maior significância quanto a produção de sal de forma artesanal. O primeiro

deles é o polo de salinas artesanais do Córrego (4°57’17,57” S e 37°10’18,49” W)

consideradas em termo de área o maior polo produtor com 426 hectares (Fig. 08).

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Figura 08 – Carta imagem georreferenciada do canal de maré e polo de salinas artesanais do Córrego/Grossos-RN.

Fonte: Elaborado pela autora

Este polo assume importante relevância quanto a produção de sal,

manutenção e dinâmica de funcionamento. As salinas localizam-se a

aproximadamente 7 km da zona urbana de Grossos-RN e seu canal de maré tem uma

extensão de 3 km desde as margens do estuário. No que se refere ao total de tanques

do polo, Araújo (2013) identificou o total de 1640 tanques distribuídos em uma

extensão de 2.593.215,76 m² correspondente a área total do polo salineiro, onde o

tamanho dos mesmos varia de 64,7 m² até 48.380,6 m², este último valor corresponde

a dois tanques que possuem áreas superiores à média normal (FIG.9).

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Figura 09 – Mapa de distribuição dos tanques no polo de salinas artesanais do Córrego/Grossos-RN

Fonte: Araújo, 2013.

O segundo polo de salinas artesanais é o Boi Morto (4°58’38,61” S e

37°11’43,10” W), o mesmo tem a área atual correspondente a 234 hectares, as salinas

estão localizadas a aproximadamente 3 km da zona urbana de Grossos-RN e seu

canal de maré assume uma extensão de 4 km (FIG. 10).

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Figura 10 – Carta imagem georreferenciada do canal de maré e polo de salinas artesanais do Boi morto/Grossos-RN.

Fonte: Elaborado pela autora

Como proposto anteriormente por Araújo (2013), também foi realizada a

contagem dos tanques do polo Boi morto, este contabilizou um total de 426 tanques

distribuídos na extensão de seus hectares. Por sua vez, os mesmos apresentaram

áreas de 300 – 700 m² à 20001 – 36500 m² as duas últimas medidas tratam-se de

três tanques, estes os maiores das salinas (FIG. 11)

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Figura 11 – Mapa de distribuição dos tanques no polo de salinas artesanais do Boi morto / Grossos-

RN Fonte: Araújo, 2013.

7.1 Ferramentas rústicas e manejo das salinas

De acordo com as análises realizadas em campo, notou-se que a atividade se

utiliza de técnicas tradicionais e elaboradas pelos próprios salineiros, podendo ser

notado desde a estrutura das salinas até a dinâmica de funcionamento em todo o

circuito de produção.

O revestimento usado na lateral dos tanques é feito com palha de carnaúba,

sendo utilizada devido sua resistência e impermeabilidade evitando que a água infiltre

no solo. Esse revestimento dura em torno de 15 anos, porém, alguns feitores1 visando

a melhoria, eficácia e durabilidade da estrutura, substituem por laterais em rochas

sedimentares calcárias, que proporcionam aos tanques uma durabilidade de

1 Feitor: Termo nativo dado ao gerente/dono ou quem administra as salinas.

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aproximadamente 30 anos. Apesar do processo de modernização que alguns polos

estão passando, a forma de manejo ainda é bastante rústica e característica dos

pequenos polos salineiros (FIG.12). A B

Figura 12 - Revestimento do cerco em palha de carnaúba: A - Revestimento do cerco com rochas calcárias sedimentar: B.

Fonte: RUTE DA SILVA (2015).

Com relação ao transporte da água de um compartimento a outro da salina,

técnicas nativas são desenvolvidas, uma delas é o uso de garrafas de vidro como

válvulas submersas e uma espécie de tampa feita em madeira mais resistente e com

uma haste longa para não haver contato direto com a água, além de comportas

também em madeira (FIG. 13, 14 e 15). O uso dessas técnicas facilita o controle e

acompanhamento do circuito de produção em todas as etapas.

Figura 13 – Válvula feita de garrafa

Fonte: Acervo da autora

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Figura 14 – Tampa com haste em madeira

Fonte: Acervo da autora.

Figura 15 – Comporta de madeira

Fonte: Acervo da autora

O início da extração artesanal do sal marinho nessa área ocorreu por volta do

ano 1966, contudo, o aumento no consumo mineral motivou a chegada de máquinas

para aumentar a produção nas salinas, fato que transformou o trabalho manual em

etapas mecanizadas, comprometendo a existência das salinas artesanais nos dias de

hoje (FERNANDES, 1995). Em contrapartida o desenvolvimento socioeconômico dos

municípios da Costa Branca potiguar, através da atividade salineira, contou com a

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importante contribuição dos trabalhadores das pequenas salinas, possuidores de um

elevado grau de conhecimento da dinâmica de produção, adquirido exclusivamente

pela tradição familiar, passada de pai para filho.

“Eu possuo salina desde 1990 quando herdei do meu pai,

mais desde os oito anos trabalho no ramo, tenho quarenta

e oito anos dentro de salinas (...)” (Antônio Constantino,

salineiro - feitor, salinas do Córrego).

A produção de sal é uma das atividades mais sustentáveis desenvolvidas na

região, pois utiliza matéria-prima (água do mar) e fonte de energia (calor solar)

renováveis e de reduzido impacto ao meio ambiente. Soma-se a isso a localização

estratégica dessas salinas, em áreas próximas a lagoas e lagunas em planícies

hipersalinas e áreas de manguezais, o que além de contribuir economicamente, presta

relevantes serviços ecossistêmicos (COSTA, 2013).

Em campo evidenciou-se a estrutura que remonta os primórdios da atividade,

porém na maioria ainda funcionais. Observa-se nas salinas, cata-ventos, esses

exercem a função de bombear a água do mar através da força dos ventos, outras

ferramentas rústicas usadas são carros de mão, pás e rodos para a retirada do mineral

e a limpeza dos baldes2 (Figura 16, 17 e 18).

2 Primeiros tanques evaporadores das salinas artesanais.

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Figura 16 – Utilização de cata-ventos para bombeamento da água nas salinas

Fonte: Acervo da autora

Figura 17 – Carros de mão para a retirada do sal Fonte: Acervo da autora.

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Figura 18 – Pás usadas na retirada do sal Fonte: Acerto da autora.

Há um controle quanto ao grau de salinidade em cada tanque da salina,

segundo Davis (2000), há uma salinidade definida desde o bombeamento para os

primeiros tanques das salinas, e esta é controlada até as fases finais da produção,

conforme a salmoura vai passando por todos por compartimentos até chegar aos

cristalizadores. No caso das salinas artesanais é utilizado um densitômetro3 para

medir a concentração de sais na salmoura em cada tanque (FIG. 19).

3 Ferramenta utilizada para medir o teor de sais contidos na água. Composto por um tubo em PVC de 25mm e um densímetro (aparelho que flutua na água quando seu peso é semelhante ao empuxo exercido pelo liquido) (AFONSO; MELO FILHO; OLIVEIRA, 2013).

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Figura 19 – Densítômetro para medir a concentração da salmoura. .

Fonte: Acervo da autora. 7.2 Etapas de produção de sal artesanal

Algo notável e peculiar nas salinas artesanais, é que ainda são replicadas

técnicas primárias e naturais da produção de sal. Segundo Korovessis e Lekkas

(2006), as etapas são semelhantes ao processo natural que ocorre nas lagoas salinas

ou cavidades próximas a costa, onde a água que ali represa é evaporada pela luz

solar acumulando apenas o teor de sal contido. Nesse contexto, o ser humano foi

adequando essas práticas ao seu convívio e assim produzindo o mineral. Com relação

ao circuito de produção, os donos e trabalhadores das salinas, utilizam termos nativos

para os compartimentos e etapas que compõem o polo salineiro e a produção, com

os dados de campo realizou-se o levantamento do significado de todos os termos

dispostos no decorrer da pesquisa, facilitando um eficaz entendimento das etapas

(FIG. 20).

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Figura 20 – Circuito produtivo artesanal de extração de sal marinho Fonte: RUTE DA SILVA, A.; SILVA, D. E. M. (2015)

A etapa inicial consiste no armazenamento da água vinda direto do estuário

através de um canal de maré, popularmente chamado de Gamboa, essa água adentra

na salina por uma levada4 e é depositada no maior tanque, o cerco de água fria, para

acelerar o armazenamento, é utilizado um motor movido a óleo diesel para captação.

Neste primeiro momento, o grau de sais dispostos na água encontra-se semelhante a

água do mar, marcando 3° Bé (Baumé) que corresponde a 30 gL-1 (FIG. 21).

4 Corredor que transporta a água para o maior tanque da salina.

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.

Figura 21 - Motor para acelerar o processo de transporte da água do mar. Fonte: Acervo dos autores

Seguindo o circuito, a segunda etapa é a passagem de água pelos baldes da

salina, termo nativo dado aos primeiros tanques evaporadores, nessa fase a água

atinge os primeiros níveis de saturação e estar em constante movimento. A passagem

da salmoura é feita no intervalo de 12 horas atingindo 150 gL-1, cerca de 15º Bé.

Após uma acentuada evaporação, a salmoura passa aos chocadores,

compartimentos que nas grandes salinas chamam-se concentradores, nesta etapa a

água permanece de dois a três dias, dependendo da potência solar, responsável pela

evaporação. Neste período de tempo, são atingidos os maiores níveis de salinidade,

aproximadamente 200 – 220 gL-1. Como proposto por De Medeiros Rocha et al.,

(2012) os cristais de NaCl (halita) genuínos são formados quando o teor total

concentrado de sais chega a 240 gL-1, porém nas salinas artesanais não é possível

precisar o teor de sal que as mesmas precipitam, tendo em vista que a água mãe que

no final do circuito já se caracterizando como salmoura, as vezes passa pelo processo

de recirculação entre os evaporadores, isso compromete a qualidade do sal o

tornando quebradiço e com um grau de impurezas orgânicas.

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Neste contexto e seguindo o circuito de produção, a etapa final referente a

precipitação do mineral é a passagem para os últimos tanques dos polos, os

cristalizadores, nestes, já é possível visualizar os cristais de halita, a partir desse

estágio os tanques são monitorados até atingirem em média 25 á 30° bé, em torno

de 280 gL-1 (FIG. 22) (GRÁFICO 01).

Figura 22 - Passagem da salmoura ente os tanques da salina Fonte: Acervo da autora.

Gráfico 01 – Níveis de salinidade para precipitação do sal.

Fonte: Elaborado pela autora.

Os evaporadores variam de tamanho e espessura para auxiliar na

concentração da salmoura, da mesma forma ocorre com os cristalizadores, além de

ser uma estratégia para facilitar o processo final de produção dos cristais essas

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construções ocorrem naturalmente já que são construídos pelos próprios salineiros e

trabalhadores contratados por eles de forma braçal.

A quarta etapa da produção de sal é a precipitação do Cloreto de Sódio que é

realizada nos cristalizadores, os cristais de halita (NaCl) vão se formando na planície

dos baldes. Depois, a salmoura é liberada é como dito anteriormente as vezes

reutilizada, e por se tratar de um processo cíclico, logo em seu lugar é colocada outra

para passar pelo mesmo procedimento e assim aumentar a espessura da camada de

sal que precipitará, ao final do procedimento é novamente descartada ou liberada,

assim esvaziando o cristalizador é iniciada a etapa de colheita do sal.

Para o processo de colheita do sal nos cristalizadores é observada a espessura

da laje de sal, quando atinge entre 2 a 3 cm é possível fazer sua retirada, evitando o

enrijecimento da laje o que impossibilita a retirada braçal. O processo é realizado com

pás e carros de mão, para essa etapa o feitor contrata trabalhadores temporários (FIG.

23).

A B

3 cm 3 cm

Figura 23 – Camada da laje de sal pronta para retirada: A – Colheita do laje de sal: B. Fonte: Acervo da autora.

Após a colheita, o sal é organizado em pequenas pilhas que facilitam o

transporte no carro de mão até o pátio de estocagem localizado ao lado dos tanques

(FIG:24). O circuito de produção leva em média 30 a 40 dias para começar as

primeiras colheitas do sal, a quantidade pode variar de 200 a 700 t, isto ocorre de

acordo com a dinâmica de funcionamento de cada salina. O mineral é adquirido pelas

grandes indústrias salineiras ainda em sua forma inicial, passando pelos grandes

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armazéns e beneficiamento, onde passa pelos processos de lavagem e refinamento

para finalmente ser exportado.

As pequenas salinas não possuem capital suficiente para fazer os

procedimentos adequados, mas, alguns salineiros já pensam em adquirir seus

próprios armazéns de beneficiamento. Nas salinas artesanais, o repasse do sal é

realizado de forma distinta entre cada sistema, alguns salineiros estocam o sal colhido

nos pátios e esperam a produção chegar a 1500, 2000 toneladas para ser vendido.

Ainda outras salinas optam pela venda imediata, conforme a produção.

Figura 24 – Sal organizado em pilhas. Fonte: Acervo dos autores, 2015.

Nas salinas artesanais, o repasse do sal é realizado de forma distinta entre

cada sistema, alguns salineiros estocam o sal colhido nos pátios e esperam a

produção chegar a quantidades entre 1500 a 2000 toneladas para ser vendido, outras

optam pela venda imediata, conforme a produção, este quesito depende da política

de funcionamento de cada salina.

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O preço do sal oscila de acordo com a época, segundo relato de salineiros, nos

anos de 2009 a 2011, a tonelada de sal era vendida por até cento e sessenta reais,

porém nos últimos anos o preço vem caindo bruscamente, o valor da tonelada custa

em média vinte e cinco reais. 7.3 SALINAS ARTESANAIS AVALIADAS PELA ÓTICA DA MATRIZ SWOT

Diante as características e definições levantadas a respeito das salinas

artesanais e levando em consideração as etapas de produção tradicional do sal,

percebeu-se a necessidade de analisar esses sistemas através de seus principais

pontos, e nessa perspectiva, tentar entender porque a atividade que remete a práticas

realizadas pelos primórdios da produção, subsiste e emprega muitas famílias, além

de ocupar uma área ainda significativa no município de Grossos apesar das grandes

industrias salineiras instaladas no litoral setentrional potiguar. Nessa perspectiva,

busca-se mostrar estratégia de planejamento ordenado e estratégico para

melhoramento dessas salinas através do método de análise da matriz SWOT (QUA.

02).

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Quadro 02 – Matriz SWOT das salinas artesanais

Fonte: RUTE DA SILVA, 2015.

A MATRIZ SWOT das salinas artesanais determina que:

FORÇAS

Com os levantamentos realizados in loco diagnosticou-se que as salinas

artesanais são patrimônio hereditário da maioria de seus proprietários, os donos

desses sistemas de produção de sal, herdaram os hectares de seus pais, que

ganharam de seus avós e assim consecutivamente. Isso torna o serviço nas salinas

mais prazeroso, de tal forma que eles mesmos se prontificam a realizar o trabalho de

manutenção dos tanques, além de estarem sempre presente nas salinas.

Em conversa com feitor dono de hectares do pólo do Córrego, o mesmo

revelou que estar presente diariamente, chegando as quatro horas da manhã para

acompanhar o desenvolver de cada etapa do circuito produtivo.

Ele mesmo liga o motor de captação da água estuarina e realiza trabalhos

como liberar as comportas para que água passe entre os tanques, além de

acompanhar a evaporação gradativa da água até os cristais de sal precipitarem e os

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cristalizadores ficarem no ponto de colheita do mineral. Nessa fase, são contratados

trabalhadores temporários para fazer a colheita e limpeza dos tanques.

Outra força referente as salinas artesanais estão relacionadas ao quesito

sustentabilidade. Como citado anteriormente, na salina um dos principais agentes que

auxiliam nas etapas de produção do mineral são as energias renováveis, são elas: a

água do mar como matéria prima, sol e vento, sendo elementos principais no processo

de evaporação da água e consequentemente na concentração da salmoura. Nessa

perspectiva, Costa (2013) afirma que pelo fato das salinas se localizarem ao longo

dos estuários dos principais rios no litoral setentrional do estado, há um conjunto de

condicionantes como o clima semiárido, caracterizado por altas temperaturas (>28°C),

baixo índice pluviométrico, (<800 mm/ano), com isso as taxas de evaporação

crescem.

Os ambientes salinos são compostos por rochas evaporíticas, comuns onde

a evaporação ultrapassa a razão de precipitação ou de outra entrada de água. Quando

isto ocorre, trata-se de uma planície salina, propicia a produção de sal (SILVA;

SCHREIBER; SANTOS, 2000). Todos esses fatores em conjunto, tornam esses

ambientes propícios para se formarem evaporadores naturais de água, beneficiando

as próprias salinas que já recebem a água com teor de sais elevado.

As forças mais relevantes do sistema produtor de sal artesanal analisados a

partir da SWOT, são os aspectos culturais se destacando no tocante a subsistência

das salinas até os dias de hoje. Interrogado sobre o fechamento de sua salina no polo

do Córrego, o feitor foi bastante pragmático quanto a sua afirmação:

“Não desaparece nunca, em salina pequena acontece o

seguinte, a maioria delas, cem salinas ou mais, produzem

de trezentas a quatrocentas toneladas e o próprio salineiro

vai trabalhar pra outra pessoa ou em outro canto, deixa o

cata-vento ligado e não tem custo com nada, se ele tirar o

sal e vender a quinze “contos” pra ele está bom(...)”

(Antônio Constantino, salineiro, salinas no polo do

Córrego).”

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As salinas familiares têm um crescimento acentuado, a exemplo disso, alguns

proprietários estudam a possibilidade de estender o negócio, construindo seus

próprios armazéns para beneficiamento, sendo fator relevante para a continuação da

atividade. Além da hereditariedade, as salinas ainda atenuam a economia no

mercado salineiro do estado, em campo, evidenciou-se o caso isolado de alguns

feitores, que ainda fazem sua renda mensal exclusivamente trabalhando em salinas

artesanais. FRAQUEZAS

As salinas apresentam pontos fracos que comprometem a existência das

mesmas. A princípio, as ferramentas rústicas características das salinas, não

permitem uma produção mais expressiva e os utensílios utilizados em alguns

processos limitam algumas etapas do trabalho, impedindo a expansão na quantidade

de sal produzido por hectares.

Outra percepção no tocante aos pontos fracos, está relacionada a estrutura

dos parques salineiros, alguns polos ainda mostram-se bastante simples e frágeis. No

polo do boi morto, a estrutura dos tanques mostrou-se comprometida e algumas em

estágio de abandono, isto mostra que em vezes o descaso parte dos proprietários

(Fig. 25 e 26).

No local, não foi encontrada nenhuma salina em estágio de produção, apenas

algumas pequenas pilhas de sal armazenadas nos pátios de estocagem que não

aparentavam terem sido colhidos recentemente. Apenas algumas salinas estão

funcionando, segundo informações conseguidas no local, muitos salineiros que

possuem hectares nesse polo estão vendendo seus terrenos para uma indústria

salineira que margeia os hectares.

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Figura 25 – Polo de salinas artesanais do Boi Morto Fonte: Acervo da autora.

Figura 26 – Estrutura do tanque Fonte: Acervo da autora.

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Outra característica que fragilizam a atividade artesanal é a falta de

empreendedorismo por falto dos proprietários. A falta de armazéns para

beneficiamento do mineral nos próprios polos, de certa forma paralisa o crescimento

da atividade, a maioria dos salineiros vendem o sal in natura para as refinarias das

grandes salinas, e a lavagem do sal depende apenas da água da chuva, a construção

de armazéns de beneficiamento nos próprios polos impulsionaria e

consequentemente dinamizaria a produção, qualidade e venda do mineral. OPORTUNIDADES

Uma das maiores oportunidades que esse serviço oferece é a produção de

sal com baixo custo. Este benefício permite aos salineiros produzirem o mineral com

pouquíssimas ferramentas, usando de criatividade na manutenção de seus tanques e

conseguindo colher em média 300 a 400 toneladas no intervalo de três meses

aproximadamente. Devido a hereditariedade dos donos, as salinas artesanais se

perpetuam e se fixam de geração em geração nas famílias sendo reconhecidas como

patrimônio histórico cultural, garantindo a perpetuação e expansão das salinas

artesanais.

No tocante a vegetação típica de ambientes costeiros, como proposto por

Santos (2005) áreas hipersalinas (apicuns, salinas, lagos, lagoas, lagunas) em

estados característicos de clima seco como Rio grande do Norte e Ceará ocupam

entre 15% e 25% das áreas de manguezais. A resolução do CONAMA de n° 445 da

Constituição Federal, afirma que tais ambientes são patrimônio nacional e a utilização

deve se dar de forma sustentável sendo consonante com a Lei federal de nº 7.661, de

16 de maio de 1988:

Art. 2º. Subordinando-se aos princípios e tendo em vista os objetivos genéricos da PNMA, fixados respectivamente nos arts. 2º e 4º da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, o PNGC visará especificamente a orientar a utilização nacional dos recursos na Zona Costeira, de forma a contribuir para elevar a qualidade da vida de sua população, e a proteção do seu patrimônio natural, histórico, étnico e cultural (BRASIL,2002).

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Nisto, é importante que haja a estabilidade do ecossistema desde seu canal

de abastecimento, garantindo a sustentabilidade ambiental e serviços ecossistêmicos

prestados e recebidos pelas salinas. No caso do polo Córrego, através dos

levantamentos realizados in loco, foi possível perceber que o único canal de maré que

abastece a salina passa por um momento de perda quanto a vegetação de mangue

localizada nas adjacências do estuário (FIG. 27).

Figura 27 – Canal de maré do Córrego Fonte: RUTE DA SILVA, A.; SILVA, D.E.M (2015)

É possível observar a Oeste do canal, conforme a aproximação com o

estuário, o manguezal encontra-se preservado. Porém, conforme adentra o continente

em direção a levada das salinas artesanais, as adjacências do canal estão

desmatadas, alterando a transição dos ecossistemas, no sentido a perda de espécies

típicas da vegetação de mangue e alterando o equilíbrio das salinas artesanais,

levando em consideração que este é o único canal de maré que abastece o polo.

A planície flúvio marinha, sofre impactos diretos ocasionados pelas atividades

desenvolvidas no seu entorno. A carcinicultura, construção de grandes salinas e

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outras atividades antrópicas geram o desmatamento em massa e consequentemente

alteram a hidrodinâmica do ecossistema, alterando a biodiversidade e potencial

biológico dessas áreas. O equilíbrio ambiental pode ser restaurado se proposta uma

política de recuperação das áreas degradas por parte dos salineiros do Córrego, tendo

em vista que a perda de vegetação nas margens do canal pode levar ao assoreamento

e consequentemente a perca de abastecimento no polo artesanal. Assim, além da

reestabelecimento da área de influência flúvio marinha, as salinas se perpetuariam,

haja vista que a captação de água permanece sendo realizadas através de comportas,

aproveitando o período de enchente das marés.

A biodiversidade existente nas salinas, é responsável pela dinâmica ambiental

desse ecossistema. O estoque pesqueiro é constituído principalmente por peixes,

alguns crustáceos como caranguejos e camarões. As salinas também são excelentes

habitats para aves migratórias que e refugiam nesses locais para reproduzirem e se

alimentarem.

Outro fator importante é a geração de renda que as salinas artesanais

movimentam. Desde os donos de salinas, até os trabalhadores contratados

temporariamente para a colheita do mineral. Além do produto que é vendido para as

grandes beneficiadoras do mineral. AMEAÇAS

Como último fator analítico da matriz SWOT das salinas artesanais, as

ameaças desses ecossistemas são comprometedoras para o ambiente que circunda

esse serviço. As salinas mecanizadas, são os grandes e desenvolvidos polos de

produção de diversos sais retirados da água do mar. Segundo Costa et al., (2015), as

salinas mecanizadas produzem mais de 150.000 toneladas de sal ao ano,

apresentando um dos fatores de forte ameaça as pequenas salinas tradicionais. Nas

indústrias salineiras os tanques evaporadores são bem maiores o que proporciona

maior concentração da salmoura e consequentemente uma maior precipitação de sais

(Fig. 28).

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Figura 28 – Salinas mecanizadas localizadas no estuário do Rio Apodi-Mossoró (RN).

Fonte: COSTA, 2013.

Outro fator eminente de ameaça as salinas artesanais é a vinculação e

conhecimento dessa atividade que está sendo esquecida. A falta de sinalização nas

imediações dos polos, torna o acesso difícil e precário. Une-se a isso o último fator

dessa categoria, a falta de subsídio governamental para a atividade, não há nenhum

apoio financeiro da prefeitura ou sindicatos para os salineiros do ramo artesanal.

É eminente a falta de uma atividade que traga á tona a importância e valor

sócio ambiental e cultural das salinas. Há uma ausência de educação geopatrimonial,

onde a criação de políticas públicas, poderiam criar estratégias voltadas a visitações

nos polos e inclusão dos pátios de salinas artesanais em roteiros turísticos de visitação

na região, seria uma proposta viável do ponto de vista a permanência, valoração e

reestruturação da atividade salineira artesanal do Rio Grande do Norte. 7.3.1 MATRIZ SWOT CRUZADA DAS SALINAS ARTESANAIS

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Mediante os resultados conseguidos com a matriz SWOT, faz-se necessário

montar o esquema de cruzamento das matrizes, o que determina quais as tomadas

de decisões necessárias a serem aplicadas nesses ecossistemas (QUA. 03).

Quadro 03 – Matriz SWOT cruzada das salinas artesanais.

Fonte: Adaptado de CHIAVENATO e SAPIRO (2003)

Os pontos fortes em relação as oportunidades, mostraram um conjunto de

interações que devem beneficiar o serviço prestados das salinas. A dedicação dos

salineiros juntamente com a oportunidade de produção de sal com baixo custo gera

trabalho e resultado eminentes para o sistema. A recuperação das áreas de

manguezais, colabora para a estabilidade vinda desde o canal até os polos,

implicando na sustentabilidade da atividade e consequentemente na permanência dos

polos, valorizando os aspectos culturais, devido a continuidade das salinas artesanais

entre as famílias.

É importante entender que os pontos fracos têm o seu peso na análise, é

importante pensar que as ferramentas utilizadas na colheita do sal, podem

futuramente não suprir a demanda que essas salinas podem chegar a produzir, se

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atenuarem aos pontos fortes e oportunidades da atividade. Porém, como citado, o uso

de máquinas para a colheita quando a espessura da laje de sal fica inquebrável pela

força humana, já mostra a evolução no setor artesanal.

Outro ponto negativo que pode ser melhorado, é a construção de armazéns

de beneficiamento do sal, alguns feitores de salinas utilizam desta etapa visando o

crescimento da atividade, isto despertaria o empreendedorismo, culminando na

dinâmica econômica das salinas.

Dois pontos que se chocaram em todos os quesitos foram as forças e

ameaças, o maior contraposto a presença das pequenas salinas, são as grandes

indústrias salineiras, apesar do abandono presente em algumas salinas, como no

caso de polos do Boi Morto, as tradições culturais e todo um contexto histórico mostra-

se vital na coexistência desse ecossistema, além do atenuante a renda familiar.

A junção dos pontos fracos e ameaças das salinas, mostram que a atividade

entrou em declínio pela modernização, alguns casos de abandono, além da falta de

assistência por parte das autoridades, sinalização precária e falta de políticas públicas

de inclusão das áreas em programas de ecoturismo. Os fatores podem levar o declínio

e desaparecimento das salinas artesanais. Nisto, deve-se atentar que as salinas

artesanais são patrimônio cultural que remontam os primórdios da atividade além de

oferecer serviços de cunho ambiental e socioeconômico para o Estado, é importante

que haja percepção atenta de autoridades locais, comunidade e dos próprios

salineiros para a manutenção e assistência desses ecossistemas.

A matriz SWOT mostrou-se satisfatória, na análise dos pontos fortes, fracos

concernentes ao interior da atividade, além das oportunidades e ameaças oferecidas

pelo ambiente externo as salinas artesanais, elencando os pontos a serem

melhorados, com forma a propor medidas que levem a perpetuação do parque

salineiro artesanal do Estado.

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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A revisão realizada a partir do acervo bibliográfico reunido da área de estudo,

mostrou-se esclarecedora quanto ao entendimento do contexto histórico do sal em

várias vertentes, desde sua importância nas principais civilizações e culturas em

épocas distintas, até o valor sócio ambiental atribuído ao mineral. A dinâmica funcional

das salinas propiciou o conhecimento das técnicas e utilizadas na produção artesanal,

peculiaridades e formas de manejo do ecossistema.

A partir dos resultados alcançados na pesquisa, concluiu-se que as etapas do

circuito produtivo artesanal permitem uma produção de sal em baixo custo, contendo

valores sustentáveis pelo uso de técnicas rústicas, não degradando diretamente os

ecossistemas locais. O uso da matriz SWOT foi primordial na análise integrada dos

perfis de sustentabilidade da atividade, de forma a entender que a mesma é

importante para a existência do sistema flúvio marinho e a permanência e recuperação

da vegetação de mangue disposta na extensão do canal de maré que abastece as

salinas.

Apesar da impossibilidade de competição com as grandes indústrias salineiras,

as salinas artesanais são fonte de renda indireta e em alguns casos direta de várias

famílias do município de Grossos e cidades vizinhas, além de sua relevante

importância como patrimônio histórico e cultural do litoral setentrional do estado. São

heranças deixadas hereditariamente nas famílias e que continuam subsistindo como

atividade econômica, remontando as primeiras formas de colheita do sal marinho para

uso humano.

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