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PROCURADORIA-GERAL DO TRABALHO CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO PROCESSO PGT/CCR/PP/N 11340/2014 Folha _______ ORIGEM: PRT da 6ª Região INTERESSADO 01: Coordenadoria de 1º Grau da PRT-6 – Dr. José Laízio Pinto Júnior e Dra. Lorena Pessoa Bravo ASSUNTO: Anulação dos TAC Nº 01/2014 – GAB ASSJ e TAC Nº 02/2014 – GAB ASSJ, firmados nos autos da Mediação nº 000285.2014.06.000/03. TAC CELEBRADO EM MEDIAÇÃO POR PROCURADOR REGIONAL DO TRABALHO COM ATUAÇÃO EXCLUSIVA EM COORDENADORIA DE 2º GRAU E SEM ATRIBUIÇÃO FUNCIONAL PARA PROMOVER A TUTELA DE INTERESSES COLETIVOS NO ÂMBITO DA COORDENADORIA DE 1º GRAU DA PRT DA 6ª REGIÃO. ATO ADMINISTRATIVO ILEGAL. PRINCÍPIO DA AUTOTUTELA ADMINISTRATIVA. ANULAÇÃO DO AJUSTE. 1 - O procedimento administrativo de mediação não se presta à promoção da tutela coletiva em sentido estrito. A celebração de TAC e o ajuizamento de ação civil pública são atribuições ministeriais exercidas, ordinariamente, no bojo do inquérito civil onde o membro do MPT (de primeiro grau) atua exercitando os poderes investigatórios da instituição, o que obviamente não ocorre quando a instituição é eleita como mediadora de um conflito coletivo de trabalho, cuja única finalidade é a de conduzir as partes a uma autocomposição do litígio. 2 – O Membro signatário dos TAC’s não tinha autorização do CSMPT para atuar perante a Coordenadoria de 1º Grau da PRT da 6ª Região, e funcionava com exclusividade na Coordenadoria de 2º Grau daquela unidade Regional.

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PROCURADORIA-GERAL DO TRABALHO CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

PROCESSO PGT/CCR/PP/N 11340/2014

Folha _______

ORIGEM: PRT da 6ª Região INTERESSADO 01: Coordenadoria de 1º Grau da PRT-6 – Dr. José Laízio Pinto Júnior e Dra. Lorena Pessoa Bravo ASSUNTO: Anulação dos TAC Nº 01/2014 – GAB ASSJ e TAC Nº 02/2014 – GAB ASSJ, firmados nos autos da Mediação nº 000285.2014.06.000/03.

TAC CELEBRADO EM MEDIAÇÃO POR PROCURADOR REGIONAL DO

TRABALHO COM ATUAÇÃO EXCLUSIVA EM COORDENADORIA DE 2º

GRAU E SEM ATRIBUIÇÃO FUNCIONAL PARA PROMOVER A

TUTELA DE INTERESSES COLETIVOS NO ÂMBITO DA

COORDENADORIA DE 1º GRAU DA PRT DA 6ª REGIÃO. ATO ADMINISTRATIVO ILEGAL. PRINCÍPIO DA AUTOTUTELA

ADMINISTRATIVA. ANULAÇÃO DO AJUSTE. 1 - O procedimento administrativo de mediação não se presta à promoção da tutela coletiva em sentido estrito. A celebração de TAC e o ajuizamento de ação civil pública são atribuições ministeriais exercidas, ordinariamente, no bojo do inquérito civil onde o membro do MPT (de primeiro grau) atua exercitando os poderes investigatórios da instituição, o que obviamente não ocorre quando a instituição é eleita como mediadora de um conflito coletivo de trabalho, cuja única finalidade é a de conduzir as partes a uma autocomposição do litígio. 2 – O Membro signatário dos TAC’s não tinha autorização do CSMPT para atuar perante a Coordenadoria de 1º Grau da PRT da 6ª Região, e funcionava com exclusividade na Coordenadoria de 2º Grau daquela unidade Regional.

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Portanto, ao celebrar o TAC em análise o signatário usurpou as atribuições funcionais dos membros da PRT da 6ª Região, violando o princípio do promotor natural. A falta de atribuição funcional implica na absoluta incompetência administrativa do Procurador Regional do Trabalho Aluísio Aldo da Silva Júnior para firmar os ajustes. A ausência do requisito da legalidade dos atos administrativos em exame impede, pois, a fluência dos seus efeitos jurídicos. 3 – O Ministério Público do Trabalho, na condição de administrador público, se deparando com um ato administrativo (TAC) manifestamente ilegal, tem a prerrogativa (poder-dever) de anular o ato viciado, com base no seu poder de autotutela administrativa, sem ter a necessidade de recorrer ao Poder Judiciário.

I - RELATÓRIO

Trata-se de requerimento de anulação dos Termos de Ajuste de Conduta n. 01/2014 – GAB AASJ e 02/2014 – GAB ASSJ, firmados pelo Procurador Regional do Trabalho, Dr. Aluísio Aldo da Silva Júnior, com o Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros no Estado do Pernambuco, nos autos da Mediação nº 000285.2014.06.000/3.

Referido procedimento foi instaurado a partir do pedido de mediação formulado pelo Sindicato patronal, que pretendia a exclusão do número de motoristas e cobradores da base de cálculo para se encontrar a quota efetiva de aprendizes e

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trabalhadores com deficiência, a ser observada pelas empresas integrantes da categoria econômica do setor de transporte público de passageiro urbano do Recife e de sua Região Metropolitana.

O requerimento de anulação dos instrumentos compromissórios foi formulado pelo Procurador-Chefe da 6ª Região, Dr. José Laízio Pinto Júnior, e pela Coordenadora de 1º Grau, Dra. Lorena Pessoa Bravo, ambos representando o Colegiado de Procuradores de 1º Grau da PRT-6, que solicitam a esta Câmara de Coordenação e Revisão, com fulcro no art. 14-A, caput, da Resolução nº 69/07 do CSMPT, a anulação integral dos TACs em epígrafe.

De acordo com os requerentes, além da ausência de atribuição do membro subscritor para firmar os TACs, uma vez que pactuados em procedimento de atribuição típica de procuradores com atuação em primeiro grau de jurisdição (Resolução n. 86/2009 do CSMPT), o Ajuste prevê cláusulas que vão de encontro ao previsto nos artigos 428 a 433 da CLT e no Decreto nº 5.598/2005, sobretudo em seu art. 10, na medida em que tais dispositivos e o Código Brasileiro de Ocupações não contemplam as exclusões pactuadas no TAC ora atacado.

Conforme estabelecem as cláusulas dos referidos acordos, os compromitentes assumem as seguintes obrigações:

“TAC Nº 01/2014 – GAB AASJ CLÁUSULA PRIMEIRA – Os compromitentes declaram que ficam excluídos da base de cálculo para se encontrar o número efetivo de trabalhador/aprendiz a que alude o artigo 429, da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, as funções de

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motorista e cobrador das empresas integrantes da categoria econômica do setor de transporte público de passageiro urbano do Recife e de sua Região Metropolitana. CLÁUSULA SEGUNDA – as partes, e os aqui interessados, se obrigam a não exigirem, em nenhum instrumento de negociação coletiva de trabalho (convenção ou acordo coletivo de trabalho), ou qualquer outro que seja, mesmo normativo, a inclusão do número de cobradores e/ou motoristas no cômputo da base de cálculo, em cada uma das empresas das categorias econômica e profissional ora abrangidas, a fim de se encontrar o número efetivo de trabalhadores aprendizes estipulado pelo artigo 429, Consolidação das Leis do Trabalho – CLT.”

“TAC Nº 02/2014 – GAB AASJ

CLÁUSULA PRIMEIRA - Os compromitentes declaram que ficam excluídos da base de cálculo para se encontrar e/ou calcular a quota para o efetivo de trabalhadores com deficiência física (artigo 93 da Lei nº 8.213/91), as funções de motorista e cobrador das empresas integrantes da categoria econômica do setor de transporte público de passageiro urbano do Recife e de sua Região Metropolitana. CLÁUSULA SEGUNDA - as partes, e os aqui interessados, se obrigam a não exigirem, em nenhum instrumento de negociação coletiva de trabalho (convenção ou acordo coletivo de trabalho), ou qualquer outro que seja, mesmo normativo, a inclusão do número de cobradores e/ou motoristas das categorias econômica e profissional ora abrangidas, a fim de se encontrar o número efetivo de trabalhadores deficientes físicos estipulado no artigo 93 da Lei nº 8.213 de 24 de julho de 1991.”.

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Ademais, conforme aduzido pelos Procuradores signatários, constatou-se, por meio dos Grupos Especializados da SRTE/PE (de aprendizagem e o relativo a pessoas com deficiência), que as empresas do segmento econômico vêm se recusando a cumprir as cotas, inclusive ajuizando ações de anulação de Autos de Infração, com amparo nos TACs firmados pelo Procurador Regional, e cujas anulações ora requerem.

Assim, diante da ausência de atribuição do membro subscritor para firmar os TACs, bem como da previsão de cláusulas ilegais em seus termos, sem perder de vista a possibilidade do descumprimento infindável das obrigações, pleiteia-se a anulação do compromisso.

É o relatório.

II - ADMISSIBILIDADE

Conquanto não se tenha efetivado a oitiva do órgão signatário dos Compromissos, especificamente sobre o presente procedimento de anulação, conforme a disciplina do §1º, do art. 14-A, da Resolução 69/2007, nota-se que o Membro já se manifestou em Procedimento perante a Corregedoria do MPT, no qual defendeu a legalidade dos TACs, bem como sua atribuição para firmá-los, demonstrando, assim, sua discordância com a anulação ora pleiteada. Entendo, pois, satisfeita a regra do §1º, do art. 14-A, sendo desnecessária nova oitiva do membro que celebrou o ajuste em análise.

Assim, observado o que dispõe o art. 14-A da Resolução nº 69/2007, incluído pela Resolução nº 100/2011, ambas do

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CSMPT, recebo o presente encaminhamento relativo à anulação de Termo de Ajuste de Conduta.

III – FUNDAMENTAÇÃO

1 -DA NULIDADE ABSOLUTA DO TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA E DA

AUTOTUTELA ADMINSTRATIVA

Desde a edição da Lei 7.347/85, amplos debates doutrinários se travaram em torno da natureza jurídica do termo de ajustamento de conduta, disciplinado no § 6º, do art. 5º, do referido Diploma Legal. Após calorosas discussões, a doutrina majoritária sufragou entendimento segundo o qual o TAC ostenta natureza jurídica de ato administrativo em sentido estrito. Nesse sentido é Magistério de José dos Santos Carvalho Filho1:

“A um primeiro exame, poder-se-ia considerar o compromisso de ajustamento de conduta como um acordo firmado entre o órgão público legitimado para a ação civil pública e aquele que está vulnerando o interesse difuso ou coletivo protegido pela lei. Não obstante, a figura não se compadece com os negócios bilaterais de natureza contratual, razão por que entendemos que não se configura propriamente como um acordo. Como a lei alude ao ajustamento de conduta às exigências legais, está claro que a conduta não vinha sendo tida como legal, senão nada haveria para ajustar. Por outro lado, ao empregar o termo tomar o compromisso, o legislador deu certo cunho de impositividade ao órgão público legitimado para tanto. Ora, ante esses elementos o

1 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Ação civil pública. 3. ed. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2001.

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compromisso muito mais se configura como reconhecimento implícito da ilegalidade da conduta e promessa de que esta se adequará à lei. [...] Podemos, pois, conceituar o dito compromisso como sendo o ato jurídico pelo qual a pessoa, reconhecendo implicitamente que sua conduta ofende a interesse difuso ou coletivo, assume o compromisso de eliminar a ofensa através da adequação de seu comportamento às exigências legais. [...] A natureza jurídica do instituto é, pois, a de ato jurídico unilateral quanto à manifestação volitiva, e bilateral somente quanto à formalização, eis que nele intervêm o órgão público e o promitente. (CARVALHO FILHO, 2001, p. 201).” Não existe, portanto, transação em sede de ajustamento

de conduta, uma vez que o Ministério Público não faz concessões recíprocas com o compromissário, tendo em vista os princípios da indisponibilidade da tutela coletiva e da supremacia do interesse público sobre o privado, não havendo nenhuma natureza sinalagmática no ajuste.

Sendo ato administrativo, está o termo de compromisso sujeito a todos os requisitos de validade dos atos oriundos da administração pública, a fim de que possam fluir seus efeitos jurídicos.

No caso concreto, os Termos de Ajustamento de Conduta em análise estão eivados de vícios insanáveis, e foram firmados ao arrepio das mais comezinhas regras de fixação e repartição das atribuições funcionais entre os membros do Ministério Público do Trabalho. Trata-se de atos administrativos ilegais, praticados por agente sem competência administrativa

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(atribuição funcional), com desvio de finalidade (não há conduta a ser ajustada), e sem as formalidades legais exigidas (impossibilidade de firmar TAC em mediação).

Nesse sentido, os atos estão maculados pelo desvirtuamento do instituto da mediação de conflitos coletivos de trabalho e pela violação do princípio do promotor natural, não produzindo os efeitos jurídicos pretendidos por seus agentes.

Seguindo essa linha de raciocínio, a Administração Pública se deparando com um ato administrativo manifestamente ilegal tem a prerrogativa de anular o ato viciado, como base no seu poder de autotutela administrativa, sem ter a necessidade de recorrer ao Poder Judiciário.

Com efeito, o membro do MPT, o então Procurador Regional do Trabalho Aluísio Aldo da Silva Júnior (atuante no segundo grau de Jurisdição da PRT da 6ª Região), que firmou os compromissos de ajustamento em debate, não detinha atribuição funcional para atuar no caso concreto, além de ter usurpado as

atribuições dos Procuradores do Trabalho da unidade Regional

que atuavam no primeiro grau, que conduziam inquéritos civis com evidente identidade material, muitos do quais redundaram no ajuizamento de ações civis públicas, senão vejamos:

2 - DA VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DO PROMOTOR NATURAL, DA FALTA DE

ATRIBUIÇÃO DO PROCURADOR REGIONAL DO TRABALHO QUE CELEBROU OS

AJUSTES, E DA USURPAÇÃO DAS ATRIBUIÇÕES DOS MEMBROS ATUANTES NA

COORDENADORIA DE 1ºGRAU, NA PRT DA 6ª REGIÃO.

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Os presentes termos de compromisso são fruto de uma sequência de equívocos, que culminaram com a celebração de um ajuste extremamente lesivo aos interesses transindividuais dos trabalhadores.

Para viabilizar a produção dos ajustes revisandos, o Procurador Regional do Trabalho Aluísio Aldo da Silva Júnior, atualmente exercendo o cargo de Subprocurador-Geral do Trabalho, autuou, de ofício, procedimento administrativo de mediação, designando a si mesmo para atuar como “mediador”, em atendimento a um pedido de interesse do Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros no Estado do Pernambuco, com base numa suposta conexão com outra mediação pretérita, em que atuou por designação do Procurador-Chefe.

Inicialmente, devemos observar que o procedimento

administrativo de mediação não se presta à promoção da tutela

coletiva em sentido estrito, nos termos disciplinados pela Lei de Ação Civil Pública e pelo Código de Defesa do Consumidor. A celebração de TAC e o ajuizamento de ação civil pública são atribuições ministeriais exercidas, ordinariamente, no bojo do inquérito civil, onde o Membro do MPT (de primeiro grau) atua exercitando os poderes investigatórios da instituição, o que obviamente não ocorre quando a instituição é eleita como mediadora de um conflito coletivo de trabalho, cuja única finalidade é a de conduzir as partes a uma autocomposição do litígio. Caso advenha, no curso da atividade de mediação, notícia de descumprimento da legislação laboral, que possa redundar em dano de dimensão transindividual, o membro que atua

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como mediador deve encaminhar os fatos ao Coordenador de Primeiro Grau, para que a notícia de fato seja distribuída aleatoriamente entre um dos membros da PRT, que atuam perante os Órgãos de primeiro grau de Jurisdição da Justiça do Trabalho.

Sob esse enfoque, em sede de mediação o membro do MPT não exerce atividade investigatória, pois não se discute, nem

se apura, lesão a interesse metaindividual de matriz laboral. Na mediação não são coligidos aos autos elementos de fato, não se produzindo prova. Na atividade de mediação o Órgão de

execução do MPT também não manifesta sua convicção sobre

matéria de direito, não emitindo juízo de valor acerca da conduta das partes, nem sobre a conveniência e oportunidade de celebrar TAC ajuizar ação coletiva ou arquivar o procedimento.

Uma vez encerrada a mediação, a respectiva promoção não está sujeita à atribuição revisional da CCR, justamente porque não é instrumento de tutela coletiva, nos termos da LACP. A própria Resolução 69/2007 do CSMPT, em seu art. 17, exclui a mediação do rol de remédios jurídicos colocados à disposição do MPT para a promoção da tutela coletiva:

“Art. 17. Não se sujeitam a esta Resolução os Procedimentos Administrativos para acompanhamento de ações estratégicas voltadas para o fomento de políticas públicas, para acompanhamento de ações judiciais e para mediação, conciliação e arbitragem. (Incluído pela Resolução n° 87, de 27.08.2009, do CSMPT).” Nesse sentido, cito decisão precedente desta Câmara,

exarada no processo PGT/CCR nº 11241/2014, verbis:

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“EMENTA: Pedido de mediação. Desnecessidade de submissão à CCR. Entendimento corroborado com a recente edição da Resolução 87/2009 do CSMPT. Pelo não conhecimento da remessa.”

Ressalte-se, que o Sistema do “MPT Digital” não permite a inserção de TAC em procedimento da classe Mediação, o que deixa clara a ilegalidade do ajuste.

Portanto, a celebração de TAC no bojo de procedimento de mediação é ato administrativo formalmente ilegal, o que, por si só, justificaria a anulação do ato em análise. Contudo, as irregularidades na atuação do signatário do ajuste sob exame não se esgotam apenas nesse aspecto.

Há ainda fatos da maior gravidade que viciam, ainda mais, o TAC em apreço. Nesse sentido, o então Procurador Regional do Trabalho Aluísio Aldo da Silva Júnior não tinha autorização do CSMPT para atuar perante a Coordenadoria de 1º Grau da PRT da 6ª Região, e atuava com exclusividade na Coordenadoria de 2º Grau, da PRT da 6ª Região. Portanto, ao celebrar o TAC sub examine, o signatário usurpou as atribuições funcionais dos membros da PRT da 6ª Região, violando o

princípio do promotor natural. A falta de atribuição funcional implica na absoluta incompetência administrativa do Procurador Regional do Trabalho Aluísio Aldo da Silva Júnior para firmar os ajustes. A ausência do requisito da legalidade dos atos administrativos em exame impede, portanto, a fluência dos seus efeitos jurídicos.

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E mais! A atuação errática do signatário laborou contra a atividade de Coordenação do MPT, já que ao excluir o número de motoristas e cobradores da base cálculo para aferição da cota de contratação de aprendizes e pessoas com deficiência albergou entendimento em franca distonia com a Orientação n.º 6 da Coordenadoria Nacional de Promoção da Igualdade de Oportunidades e Eliminação da Discriminação no Trabalho (Coordigualdade) do MPT, verbis:

“6 – “1. Na elaboração dos termos de compromisso de ajuste de conduta que versem sobre o cumprimento do artigo 93 da Lei nº 8.213/91, deverá ser considerado o número total de empregados da empresa, não devendo ser inserida cláusula que excepcione qualquer função ou atividade. 2. - Os casos de impossibilidade de inserção de pessoas portadoras de deficiência devem ser analisados quando da verificação do cumprimento do TAC.” (Aprovada na III Reunião Nacional da Coordigualdade, dias 26 e 27/04/04)”

Os termos inválidos, firmados por procurador sem atribuição funcional para tanto, estão prejudicando a atuação da Coordenadoria de 1º Grau da PRT da 6ª, conforme assevera a peça de ingresso (firmada com aprovação da unanimidade dos membros presentes à Reunião do Colégio de Procuradores da PRT da 6ª Região) e como revela a peça acostada na ação civil pública 0000460-71.2014.5.06.0141. (fls. ).

A referida ação coletiva ajuizada pela Coordenadoria de 1º Grau da PRT da 6ª (órgão com atribuição funcional para a tutela coletiva) revela a triste situação que redundou na negativa oferta de vagas para pessoas com deficiência e

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aprendizes (com fundamento nos TAC’s ilegais), nas empresas representadas pelo Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros no Estado do Pernambuco.

Existem, portanto, nestes autos, fartos elementos de convicção que apontam a ilegalidade dos atos administrativos em análise, vez que praticados por agente público sem competência administrativa (atribuição funcional) para tanto, sendo formal e materialmente ilegais os ajustes, o que revela a necessidade da própria administração do Ministério Público do Trabalho anular os TAC’s 01/2014 GAB AASJ e 02/2014 GAB AASJ, firmados nos autos da Mediação nº 000285.2014.06.000/3.

3 - DA REMESSA DE PEÇAS PARA A CORREGEDORIA DO MINISTÉRIO

PÚBLICO DO TRABALHO

Tendo em vista todos os aspectos que ensejaram a anulação dos Termos de Compromisso, especialmente a violação do princípio do promotor natural e a usurpação de atribuição de Membro oficiante na Coordenadoria de 1º Grau, determino a remessa de cópia integral do procedimento para a Corregedoria para aferição de falta funcional do membro que firmou os ajustes.

IV – CONCLUSÃO

Em face do exposto, acolho o pedido formulado pelo Colégio de Procuradores da 6ª Região, voto no sentido de anular os TAC’s 01/2014 GAB AASJ e 02/2014 GAB AASJ, firmados nos autos da Mediação nº 000285.2014.06.000/3. Voto ainda no

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sentido de promover a remessa de cópia integral dos autos à Corregedoria do Ministério Público do Trabalho.

Brasília, 22 de setembro de 2014.

Fábio Leal Cardoso Membro da CCR - Relator