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Procuradoria Federal Especializada FUNAI Consultoria Jurídica Janeiro – Julho 2006 Análise Jurídica da Demarcação Administrativa das Terras Indígenas no Brasil

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Procuradoria Federal Especializada FUNAI

Consultoria Jurídica Janeiro – Julho 2006

Análise Jurídica da Demarcação Administrativadas Terras Indígenas no Brasil

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Sumário

RELATÓRIO PARTE I .............................................................................. 4

A- PROTEÇÃO LEGAL DE TERRAS INDÍGENAS ................................................................ 4

1. Direito Originário dos Índios à terra ........................................................................................ 4

2. Terra Tradicional e Terra Indígena ......................................................................................... 6 2.1 Ocupação de Terra Tradicional Indígena ............................................................................... 9 2.2 Reserva Indígena ................................................................................................................. 13 2.3 Parque Indígena ................................................................................................................... 14 2.4 Terras de domínio indígena ................................................................................................. 15

3. Uso e Posse Permanente v. Propriedade ................................................................................. 15 3.1 Atividades econômicas ........................................................................................................ 19 3.2 Exploração de recursos naturais em terras indígenas .......................................................... 21 3.3 Mineração ............................................................................................................................ 26

4. Procedimento Administrativo de Demarcação de Terra Indígena ...................................... 30 4.1 Ações possessórias .............................................................................................................. 34 4.2 Ações declaratórias .............................................................................................................. 35

5. Proteção Internacional ............................................................................................................ 37 5.1 Convenção OIT No. 169 ...................................................................................................... 38 5.2 Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais ....................................... 39 5.3 Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos ................................................................ 39

6. Proteção Regional .................................................................................................................... 40 6.1 Convenção Americana sobre Direitos Humanos e Declaração Americana dos Direitos eDeveres do Homem ................................................................................................................... 42

RELATÓRIO PARTE II ........................................................................... 44

B- DECISÕES JUDICIAIS .......................................................................................................... 44

1. Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal ...................................................................... 46 1.1 Competência ........................................................................................................................ 46 1.2 Terra Indígena Tradicional .................................................................................................. 54

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1.3 Ações, Medidas Liminares e Recursos ................................................................................ 74 1.4 Demarcação de Terras Indígenas ....................................................................................... 104

2. Jurisprudência Superior Tribunal de Justiça ...................................................................... 108 2.1 Competência ...................................................................................................................... 109 2.2 Demarcação Administrativa e Ações Judiciais .................................................................. 112 2.3 Terra Indígena Tradicional ................................................................................................ 125

3. Jurisprudência dos Tribunais Regionais Federais .............................................................. 128

RELATÓRIO PARTE III ........................................................................ 167

C- ANÁLISE DE CASOS .......................................................................................................... 167

1. TI Raposa Serra do Sol - Roraima ....................................................................................... 170

2. TI Ñande Ru Marangatu - Mato Grosso do Sul ................................................................. 180

3. TI Baú - Pará ........................................................................................................................... 185

D – CONCLUSÕES .................................................................................................................... 195

ANEXO I ................................................................................................ 202

ANEXO II ............................................................................................... 203

ANEXO II ............................................................................................... 210

TRF 1ª Região ............................................................................................................................. 210

TRF 2ª Região ............................................................................................................................. 252

TRF 3ª Região ............................................................................................................................. 253

TRF 4ª Região ............................................................................................................................. 258

TRF 5ª Região ............................................................................................................................. 267

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Relatório Parte I

A- PROTEÇÃO LEGAL DE TERRAS INDÍGENAS

1. Direito Originário dos Índios à terra

Constituição Federal de 1988

Art. 231. São reconhecidos aos índios sua

organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e

os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente

ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer

respeitar todos os seus bens.

O direito coletivo dos índios à posse permanente e usufruto exclusivo de

suas terras é um direito originário previsto no artigo 231 caput da Constituição

Federal de 1988, reconhecendo que os povos indígenas foram os primeiros e

natural ocupantes do território brasileiro, de modo que não se aplica o Código

Civil aos conflitos que versem sobre reconhecimento ou posse de terras

indígenas. Firma-se portanto a figura do indigenato no Direito Brasileiro.

O indigenato é a fonte primária e congênita da posse territorial dos

índios. É o direito congênito dos índios sobre as terras que ocupam ou ocuparam,

independentemente de título ou reconhecimento formal. Nas palavras do grande

jurista João Mendes Júnior, nas famosas conferências de 1902, o indigenato é

legitimo por si, “não é um fato dependente de legitimação, ao passo que a

ocupação, como fato posterior, depende de requisitos que a legitimem”.

A posse está sujeita a legitimação, porque, “como titulo de aquisição, só

pode ter por objeto as coisas que nunca tiveram dono, ou que foram abandonadas

por seu antigo dono. A ocupação é uma apprehensio rei nullis ou rei

derelictae...; ora, as terras dos índios, congenitamente apropriadas, não podem

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ser consideradas nem como res nullius, nem como res derelictae; por outra, não

se concebe que os índios tivessem adquirido, por simples ocupação, aquilo que

lhe é congênito e primário”, de sorte que, em face do Direito Constitucional

indigenista, “relativamente aos índios com habitação permanente, não há uma

simples posse, mas um reconhecido direito originário e preliminarmente

reservado a eles”. Acrescenta ainda “que as terras do indigenato, sendo terras

congenitamente possuídas, não são devolutas, isto é, são originariamente

reservadas, na forma do Alvará de 1º de abril de 1680 e por dedução da própria

Lei de 1850 e do art. 24, § 1º, do Decreto de 1854”.

A Constituição de 1891, em seu artigo 64 determinou que as terras

devolutas pertenceriam aos respectivos Estados em que estavam territorialmente

localizadas, cabendo à União a porção indispensável para a defesa das fronteiras,

fortificações, construções militares e estradas de ferro federais. Contudo, os

Alvarás Régios de 1680 e 1758, bem como a Lei n. 601/1850 já haviam

estabelecido que estando os índios de posse de suas terras, estas não poderiam ser

consideradas devolutas, vez que reconhecidas pelo Estado por título congênito e

independente de legitimação. Assim, excluíam-se as terras indígenas da

classificação como terras devolutas e, consequentemente, nulo de pleno direito

qualquer ato de disposição de tais áreas realizado pelos estados membros.

Esclarecedor nesse ponto é o voto do então Ministro do Supremo

Tribunal Federal, Min. ILMAR GALVAR, proferido no Mandado de Segurança

nº. 21.575-5 (Relator vencido, o Ministro MARCO AURÉLIO), do qual se

extraem os seguintes trechos:

"Pedi vistas dos autos, porque, havendo bastado ao eminenterelator, para concluir pela ilegitimidade do ato governamentalimpugnado, a circunstância, estreme de dúvida, de os “Kayowás”terem estado ausentes, por mais de 50 anos, das terras hojeregistradas em nome dos impetrantes, considerei imperiosoapurar se os referidos indígenas, entre 1938 e 1940, ao seremtransferidos para a reserva “Takuapery”, não haviam sidocompelidos a deixar uma área de ocupação imemorial.

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É que, se uma resposta positiva a essa indagação obviamentelevar ao entendimento de que se tratava, no caso, de terrasdevolutas, suscetíveis de livre alienação pela unidade federada,por efeito da norma do art. 64 da Constituição de 1891, o mesmonão sucederia diante de hipótese contrária.

Com efeito, demonstrado, ao revés, que se estava, em 1938,diante de terras tradicionalmente ocupadas pelos índios, já nãose poderia aceitar, pacificamente, a solução apontada peloeminente Relator, ainda que se comungue no entendimento, porele esposado, de que a norma constitucional não teve o efeito depublicizar áreas já incorporadas ao domínio particular, nem detransferir para a União terras de domínio dos Estados.

Pela singela razão de que, nesse caso, as terras em questãonunca teriam saído do domínio da União, havendo nelepermanecido, vinculadas que se achavam à satisfação dedireitos indígenas, direitos esses reconhecidos, desde famosoAlvará de 1º de abril de 1680, como originários, resultantes deuma relação jurídica fundada no instituto do indigenato, comofonte primária e congênita da posse territorial. Não poderiam, porisso, ser confundidas com as terras devolutas atribuídas aosEstados pela Constituição de 1891, sendo irrelevante, para tanto,eventual desafetação superveniente, em especial quandooperada, como neste caso, por iniciativa não dos próprios índios,mas de outrem, como admitido na impetração.

Nessa última hipótese, forçoso é convir, careceria delegitimidade a alienação feita pela unidade federada,inaugurando a cadeia sucessória exibida pelos impetrantes, cujadesconsideração, por parte da FUNAI, estaria justificada não poreventual efeito desconstitutivo que se pudesse atribuir à normaconstitucional, mas pela circunstância - nela declarada pelopróprio legislador constituinte, tal a importância por eleemprestada a tema anteriormente relegado a segundo plano –de serem públicas e federais ditas terras, conseqüentemente resextra commercium, insuscetível de alienação pelos governosestaduais ou por particulares."

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2. Terra Tradicional e Terra Indígena

Constituição Federal de 1988

Art.231

§ 1º - São terras tradicionalmente ocupadas pelos

índios as por eles habitadas em caráter permanente, as

utilizadas para suas atividades produtivas, as

imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais

necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua

reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e

tradições.

Constituição Federal Brasileira, em seu artigo 20 alínea XI, determina

que as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios fazem parte do patrimônio

da União. A Constituição também estabelece, no artigo 231 e parágrafos, aos

índios que ocupam a terra são garantidos a posse permanente e o usufruto

exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes. Estas terras

são bens inalienáveis, indisponíveis e que os direitos sobre elas são

imprescritíveis, cabendo à União demarcá-las, protegê-las e fazer respeitar todos

os seus bens.

Compreendem terras indígenas as áreas tradicionalmente ocupadas pelos

povos indígenas; aquelas habitadas em caráter permanente; utilizadas para as

atividades produtivas; imprescindíveis para a preservação dos recursos

ambientais necessários ao seu bem-estar; e necessários à preservação física e

cultural, segundo seus usos, costumes e tradições. Significativamente, a

Constituição Brasileira de 1988 incluiu aspectos sócio-culturais na definição

legal de terra indígena e passou a proteger as áreas necessárias para a

sobrevivência e continuação dos povos indígenas e suas culturas. Este

conceito inovador na América Latina tem regulado a maior parte das recentes

demarcações de terras, especialmente na região amazônica, contribuindo assim

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para a demarcação de áreas contínuas que atendem melhor às necessidades dos

povos indígenas, ao invés do confinamento em pequenas áreas ou aldeias nos

moldes das antigas políticas de aldeamento indígena.

Referindo-se ao §1º do art. 231 da Constituição, JOSÉ AFONSO DA

SILVA registra: “O ‘tradicionalmente’ refere-se não a uma circunstância

temporal, mas ao ‘modo tradicional’ de os índios ocuparem e utilizarem as terras

e ao modo tradicional de como eles se relacionam com a terra, já que há

comunidades mais estáveis, outras menos estáveis, e as que têm espaços mais

amplos em que se deslocam etc.. Daí dizer-se que tudo se realiza segundo seus

usos, costumes e tradições.” (STF - Mandado de Segurança nº. 21.892-4/MS - Rel. Min.

Néri da Silveira - DJU de 29.08.2003, p.18)

Lei N. 6001 de 19 de dezembro de 1973 (Estatuto do

Índio)

Art. 17 Reputam-se terras indígenas:

I- as terras ocupadas ou habitadas pelos

silvícolas, a que se referem os artigos 4o, IV e

198 da Constituição;

II- as áreas reservadas de que trata o Capítulo

III deste Título; e

III- as terras de domínio das comunidades

indígenas ou de silvícolas.

Hoje a demarcação de terras indígenas tradicionais, definidas na alínea

I do art. 17 da Lei N. 6001 de 19 de dezembro de 1973, passa por um longo

processo de conhecimento, desde a “descoberta” de um grupo indígena ou a

reivindicação por uma área; a identificação da tradicionalidade, através de

estudos técnicos antropológicos; o reconhecimento formal desse direito,

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instrumentado por Portaria declaratória do Exmo. Ministro da Justiça, que

determina a demarcação da área; e, por fim, a homologação da demarcação

realizada. Estes procedimentos administrativos de demarcação de terra indígena

são regulados pelo Estatuto do Índio e pelo Decreto 1775/96.

As áreas reservadas e as terras de domínio indígenas são criações

legais que abarcam os critérios de habitação e uso da terra para a sobrevivência

da comunidade mas não necessariamente apresentam um vínculo de ocupação

imemorial ou tradicional. Não obstante, tais áreas de ocupação indígena são hoje

protegidas pelo artigo 231 da Constituição e definidas pela FUNAI como terras

indígenas. O diferencial reside, portanto, no procedimento de reconhecimento da

terra indígena para sua proteção como rege a Constituição.

As áreas reservadas compreendem: reserva indígena; parque indígena;

colônia agrícola indígena e território federal indígena. Nenhum território federal

indígena foi criado até hoje. A colônia agrícola indígena refere-se à área

destinada à exploração agropecuária (art. 27 Estatuto do Índio) e prevista para ser

administrada pela FUNAI, para o convívio entre não-índios e “tribos

aculturadas”. Revogada a distinção entre índios integrados e não integrados e,

superado o equívoco do processo de “aculturamento” dos índios com a

Constituição de 1988, a figura da colônia agrícola indígena cai em desuso. As

demais previsões de áreas reservadas – reserva e parque indígenas – adaptadas

aos preceitos constitucionais de garantia da sobrevivência dos povos indígenas e

suas culturas e, portanto excluído a presunção de transitoriedade da posse da

terra pelos índios, permanecem em vigor.

2.1 OCUPAÇÃO DE TERRA TRADICIONAL INDÍGENA

Ensina o Professor José Afonso da Silva: “A posse das terras ocupadas

tradicionalmente pelos índios não é simples posse regulada pelo direito civil; não

é a posse como simples poder de fato sobre a coisa, para a sua guarda e uso, com

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ou sem ânimo de tê-la como própria. É, em substância, aquela “possessio ab

origine” que, no início, para os romanos estava na consciência do antigo povo, e

era não a relação material de homem com a coisa, mas um poder, um senhorio.” 1

O brilhante voto de 1961, resultado de um processo que se discutia no

Supremo Tribunal Federal a constitucionalidade de uma lei do Estado do Mato

Grosso que reduzia a área tradicionalmente ocupada pelos índios Caidinéos,

mostra a sensibilidade de Victor Nunes Leal para a diferença conceitual entre o

instituto constitucional de posse das terras indígenas e a posse civilística:

“Aqui não se trata do direito de propriedade comum; o que se

reservou foi o território dos índios. Essa área foi transformada

num parque indígena, sob a guarda e administração do Serviço

de Proteção aos Índios, pois estes não têm disponibilidade de

terras.

O objetivo da Constituição Federal é que ali permanecem os

traços culturais dos antigos habitantes, não só para a

sobrevivência dessa tribo, como para estudo dos etnólogos e

para outros efeitos de natureza cultural ou intelectual.

Não está em jogo, propriamente, um conceito de posse, nem de

domínio, no sentido civilista dos vocábulos; trata-se do habitat de

um povo.

Se os índios, na data da Constituição Federal, ocupavam

determinado território, porque desse território tiravam seus

recursos alimentícios, embora sem terem construções ou obras

permanentes que testemunhassem posse de acordo com o

nosso conceito, essa área, na qual e da qual viviam, era

necessária à sua subsistência. Essa área, existente na data da

Constituição Federal, é que se mandou respeitar. Se ela foi

reduzida por lei posterior; se o Estado a diminuiu de dez mil

hectares, amanhã a reduzirá em outros dez, depois mais dez, e

poderia acabar confinando os índios a um pequeno trato, até o

1 in “Terras tradicionalmente ocupadas pelos índios”, Os Direitos Indígenas e a Constituição ,SILVA, José Afonso, pp.47, 49 e 50

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território da aldeia, porque ali é que a ‘posse’ estaria

materializada nas malocas.

Não foi isso que a Constituição quis. O que ela determinou foi

que num verdadeiro parque indígena, com todas as

características culturais primitivas, pudessem permanecer índios,

vivendo naquele território, porque a tanto equivale dizer que

continuariam na posse do mesmo.

Entendo, portanto, que, embora a demarcação desse território

resultasse, originalmente, de uma lei do Estado, a Constituição

Federal dispôs sobre o assunto e retirou ao Estado qualquer

possibilidade de reduzir a área que, na época da Constituição,

era ocupada pelos índios, ocupada no sentido de utilizada por

eles como seu ambiente ecológico”.

João Mendes Júnior lembrou que a relação do indígena com suas terras

revela um “ius possidendi”, porque é o direito que têm seus titulares de possuir a

coisa, com o caráter de relação jurídica legítima e utilização imediata. A posse da

terra indígena deve portanto ser entendida como “habitat” no sentido do mais

profundo sentimento de pertencimento da comunidade à terra, daí a idéia do

caráter essencial de “permanência”. Ainda segundo os ensinamentos do Professor

José Afonso da Silva2, a Constituição declara que as terras tradicionalmente

ocupadas pelos índios se destinam à sua posse permanente. Isso não significa um

pressuposto do passado como ocupação efetiva, mas especialmente, uma garantia

para o futuro, no sentido de que essas terras inalienáveis e indisponíveis são

destinadas, para sempre ao habitat de determinada comunidade ou povo indígena.

“Se se ‘destinam’ (destinar significa apontar para o futuro) à posse permanente é

porque um direito sobre elas preexiste à posse mesma, e é o direito originário já

mencionado”.

O reconhecimento do direito dos índios ou comunidades indígenas à

‘posse permanente’ das terras por eles ocupadas deve atentar para a situação

atual e considerar também o conselho histórico acerca dos índios e suas terras.

2 ibid

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Desse modo, a simples constatação da inexistência de posse atual de indígenas

sobre terras não retira o direito dos índios à terra muito menos converte terra

indígena em terra de particular. Pelo contrário, uma vez comprovada em estudo

antropológico que determinada área constitui terra indígena, medidas eficazes

devem ser tomadas para que a comunidade indígena detentora daquele direito

tenha sua situação restabelecida.

A análise histórica da colonização das terras indígenas, especialmente em

áreas de terras férteis e grande interesse econômico, revela os inúmeros e

reincidentes casos de expulsão dos índios de suas terras, muitas vezes até

mediante violência. Daí resulta o fato de algumas comunidades indígenas não

estarem atualmente ocupando integralmente a área pleiteada a ser protegida

como terra indígena. Ainda assim, os índios detêm direitos constitucionais sobre

tais áreas e mantém algum tipo de relação com a terra (perambulam pelos seus

arredores, cultuam crenças sobre o território, têm seus mortos ali enterrados, etc.)

e por isso devem receber proteção. Por fim, a comprovação da expulsão dos

índios de determinada área, por particulares ou autoridades estatais, juntamente

com o levantamento antropológico faz prova contundente de tratar-se de terra

indígena protegida nos moldes do art. 231 da Constituição.

Pelos motivos históricos e para efetivar à proteção da vida indígena atual

e das gerações futuras, a Constituição Federal de 1988 reconhece aos índios, em

seu artigo 231, os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente

ocupam. O direito indígena sobre suas terras é um direito dominial primário e

congênito. Esse direito é anterior e oponível a qualquer reconhecimento ou

ocupação superveniente. A posse não se legitima pela titulação, mas pela efetiva

ocupação indígena. Ademais não seria respeitoso aos costumes indígenas

subordiná-los às formalidades da legitimação jurídica do registro de terras.

Questão complexa é a definição jurídica da ocupação tradicional. Para

que a interpretação do conceito não se desvirtue, o § 1º do artigo 231 traz

condições que definem o conceito. São terras tradicionalmente ocupadas “as

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habitadas pelos índios em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades

produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários

a seu bem estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus

usos, costumes e tradições”. As condições são todas necessárias e devem ser

somadas na definição do conceito e da sua aplicação.

Não é exigida a imemoralidade da ocupação para identificar uma terra

como indígena, ou seja, deve-se descolar a visão da ligação entre o índio que

habitava as terras brasileiras no descobrimento (ou ocupação tão antiga que não

se guarda na memória) e o ocupante atual. Seria um total descalabro exigir que o

índio estivesse enraizado, negando-lhe o direito do movimento natural do ser

humano por melhores condições de vida ou mesmo de seu deslocamento para

fugir das pressões e expulsões perpetradas pela sociedade envolvente. Da mesma

forma não é possível reconhecer terras indígenas por uma ocupação imemorial,

que não se registra atualmente. Com efeito, uma relação temporal é necessária

para o reconhecimento da ocupação tradicional. Mas como definir qual a

temporalidade diante da inexegibilidade da imemorialidade?

A chave desta resposta está no conceito de tradicionalidade segundo a

cultura, os costumes e tradições indígenas, de cada povo cuja terra deva ser

identificada. Pois bem, tradicional é o modo da relação dos índios com sua terra,

do modo de sua ocupação, da produção econômica, do aproveitamento dos

recursos naturais, do tempo que o índio constrói sua relação tradicional com a

terra. E ”ocupar” é conceito jurídico diverso da posse civilista. Outra vez nos

socorremos do ilustre Ministro do Supremo Tribunal Federal Victor Nunes Leal:

“Não está em jogo, propriamente, um conceito de posse,nem de domínio, no sentido civilista dos vocábulos; trata-sedo habitat de um povo.

Se os índios, na data da Constituição Federal, ocupavamdeterminado território, porque desse território tiravam seusrecursos alimentícios, embora sem terem construções ouobras permanentes que testemunhassem posse de acordo

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com o nosso conceito, essa área, na qual e da qual viviam,era necessária à sua subsistência.”

Ocupar é relacionar-se com determinado território de acordo com os

usos, costumes e tradições de cada povo indígena. Não é exigido à comunidade

indígena fixar sua habitação nem toda terra indígena, ocupar fisicamente, mas,

conforme a Constituição Federal, ser essencial para seu bem estar e sua

reprodução física e cultural. Quer se manter sua existência e ampliar a dignidade

física e cultural de sua vida através da garantia de seu ambiente físico, seu

habitat. Completa e explica o verbo ocupar a expressão habitadas em caráter

permanente, do § 1º do artigo 231, que exclui das terras ocupadas

tradicionalmente aquelas com caráter transitório.

2.2 RESERVA INDÍGENA

Lei N. 6001 de 19 de dezembro de 1973 (Estatuto doÍndio)

Art. 26. A União poderá estabelecer, em qualquer partedo território nacional, áreas destinadas à posse e ocupaçãodos índios, onde possam viver e obter meios de subsistência,com direito ao usufruto e utilização das riquezas e dos bensnelas existentes, respeitadas as restrições legais.

Parágrafo Único. As áreas reservadas na forma desteartigo não se confundem com as de posse imemorial dastribos indígenas, podendo organizar-se sob uma dasseguintes modalidades:

a) reserva indígena

b) parque indígena;

(...)

Art. 27. Reserva Indígena é uma área destinada aservir de habitat a grupo indígena, com os meios suficientesà sua subsistência.

A criação de reserva indígena segue o procedimento de desapropriação de

terras para o patrimônio da União, Lei n. 4.132, de 10 de setembro de 1962. Em

geral, ocorre por interesse social pela desapropriação da terra para ocupação

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indígena. A figura da reserva indígena serve como instrumento para a solução de

casos em que a demarcação de terra tradicional dos índios não é possível ou

encontra grandes empecilhos, especialmente de ordem jurídica envolvendo a

presença de posseiros ou fazendeiros na área indígena.

Mudanças ou interferências no meio ambiente e na composição dos

grupos indígenas, além da delonga no tempo para a proteção de terras indígenas

também dificultam a caracterização da ocupação tradicional indígena de uma

determinada terra, quando não inviabilizam o reconhecimento de terra tradicional

indígena. Nesses casos específicos, visando atender ao artigo 231 da

Constituição, que versa sobre o reconhecimento e a proteção da organização

social, costumes, línguas, crenças e tradições de comunidades indígenas, cabe a

destinação de terras não tradicionais para a ocupação por comunidades indígenas

garantindo a territorialidade de uma determinada sociedade indígena.

2.3 PARQUE INDÍGENA

Lei N. 6001 de 19 de dezembro de 1973 (Estatuto doÍndio)

Art. 28. Parque Indígena á a área contida em terra naposse dos índios, cujo grau de integração permita assistênciaeconômica, educacional e sanitária dos órgãos da União, emque se preservem as reservas de flora, fauna e as belezasnaturais da região.

A figura do Parque Indígena prevista no Estatuto do Índio foi inspirada

no Parque Nacional do Xingu, com uma evidente preocupação com a proteção de

uma área de ocupação indígena, mas também com a preservação ambiental. Não

foi instituído nenhum outro Parque Indígena com base no Estatuto do Índio. Isso

se deve ao fato de que, especialmente depois da Constituição de 1988, as terras

de posse dos índios passaram a ser protegidas e demarcadas como terras

tradicionais indígenas.

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2.4 TERRAS DE DOMÍNIO INDÍGENA

Lei N. 6001 de 19 de dezembro de 1973 (Estatuto doÍndio)

Art. 32. São de propriedade plena do índio ou dacomunidade indígena, conforme o caso, as terras havidaspor qualquer das formas de aquisição do domínio, nostermos da legislação civil.

Excluídas as áreas tradicionalmente ocupadas pelos índios, cabe o direito

de propriedade aos índios ou coletividades das terras obtidas pelos meios

normais de aquisição como a compra e venda e o usucapião.

Este dispositivo também passa a ser redundante diante do reconhecimento

do índio como cidadão brasileiro e do direito à igualdade, aplicando-se a estes

casos as normas de Direito Civil.

3. Uso e Posse Permanente v. Propriedade

Como a propriedade das terras indígenas corresponde à União, sua

demarcação, feita pela mesma, é resultado de um procedimento administrativo

que tem por objetivo estabelecer os limites da ocupação tradicional. Aos povos

indígenas, são conferidos direitos de propriedade parciais – usufruto exclusivo,

posse permanente e participação nas tomadas de decisões que afetam suas terras

e comunidades, etc - sobre os territórios da União em que se localizam suas

terras.

Até o presente momento, o status de propriedade parcial das terras

indígenas não configura grande empecilho para as comunidades indígenas já que

suas maiores demandas ainda se restringem à seguridade sobre suas terras contra

invasores e exploradores. Em verdade, o fato de a União deter o direito de

propriedade é uma afirmação da soberania do Estado e, ao mesmo tempo, gera

grande responsabilidade em relação à demarcação, à proteção e ao respeito do

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bem público. É também muitas vezes argumentado como um modo de conferir

aplicabilidade ao direito dos povos indígenas à terra como uma proteção especial,

ou medida afirmativa a grupos vulneráveis.

O direito de propriedade na mão do Estado combinado com o usufruto

exclusivo e a ocupação permanente pelos povos indígenas além do respeito às

suas vontades e garantia de sua participação na administração da terra e dos

recursos ali encontrados respondem satisfatoriamente às demandas por

seguridade da terra. Isso porque diferentes interesses políticos e econômicos

ainda tentem a prevalecer nas relações mercantis envolvendo terras e recursos de

terras indígenas, em detrimento da proteção dos povos e suas culturas. O Estado

exerce assim seu papel de garantidor de direitos tornando as relações mais

eqüitativas. Não obstante, a demanda genuína das comunidades indígenas pela

titularidade integral do direito de propriedade é legítima e deve ser

gradativamente atendida.

Constituição Federal de 1988

Art.231

§ 2º - As terras tradicionalmente ocupadas pelosíndios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes ousufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagosnelas existentes.

(...)

§ 4º - As terras de que trata este artigo sãoinalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas,imprescritíveis.

Lei N. 6001 de 19 de dezembro de 1973 (Estatuto doÍndio)

Art. 22. Cabe aos índios ou silvícolas a possepermanente das terras que habitam e o direito ao usufrutoexclusivo das riquezas naturais e de todas as utilidadesnaquelas terras existentes.

Parágrafo Único. As terras ocupadas pelos índios,nos termos deste artigo, são bens inalienáveis da União.

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Resta irrefutável que a comunidade indígena tem o direito ao usufruto de

suas terras de uma forma ampla e irrestrita. Como legítimos senhores e

possuidores de suas terras são os próprios índios que devem escolher quem pode

ou não delas se utilizar, ou seja, qualquer uso da terra indígena deve ter o crivo e

a aprovação da comunidade indígena. Esse direito constitucionalmente

reconhecido assegura aos índios os meios necessários para a sua sobrevivência e

reprodução física e cultura, protegendo o modo de vida tradicional indígena.

Desse modo, as atividades realizadas em terra indígena, ou mesmo em

áreas de unidade de conservação, como pesca, caça e extrativismo estão

excluídas da possibilidade de aplicação da Lei N. 9.605 de 12 de fevereiro de

1998 que estabelece os crimes ambientais. As atividades chamadas de não

tradicionais, tais como a pesca comercial, e a exploração de madeiras, entre

outras se submetem à legislação ambiental.

Lei N. 9.605 de 12 de fevereiro de 1998 (Lei dos

Crimes Ambientais)

Dispõe a Lei que são crimes ambientais,

entre outras atividades, as seguintes:

Art. 30. Exportar para o exterior peles e couros deanfíbios e répteis em bruto, sem a autorização da autoridadeambiental competente (...)

Art. 35. Pescar mediante a utilização de:

I - explosivos ou substâncias que, em contatocom a água, produzam efeito semelhante;

II - substâncias tóxicas, ou outro meio proibidopela autoridade competente:

Pena - reclusão de um ano a cinco anos.

Art. 38. Destruir ou danificar florestaconsiderada de preservação permanente, mesmo que emformação, ou utilizá-la com infringência das normas deproteção:

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Pena - detenção, de um a três anos, ou multa,ou ambas as penas cumulativamente.

Art. 39. Cortar árvores em floresta consideradade preservação permanente, sem permissão da autoridadecompetente:

Pena - detenção, de um a três anos, ou multa,ou ambas as penas cumulativamente.

Art. 40. Causar dano direto ou indireto àsUnidades de Conservação e às áreas de que trata o art. 27 doDecreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990,independentemente de sua localização:

Pena - reclusão, de um a cinco anos.

§ 1o Entende-se por Unidades de Conservaçãode Proteção Integral as Estações Ecológicas, as ReservasBiológicas, os Parques Nacionais, os Monumentos Naturaise os Refúgios de Vida Silvestre. (Redação dada pela Lei nº9.985, de 18.7.2000)

(...)

Art. 41. Provocar incêndio em mata ou floresta:

Pena - reclusão, de dois a quatro anos, e multa.

(…)

Art. 45. Cortar ou transformar em carvãomadeira de lei, assim classificada por ato do Poder Público,para fins industriais, energéticos ou para qualquer outraexploração, econômica ou não, em desacordo com asdeterminações legais:

Pena - reclusão, de um a dois anos, e multa.

Art. 46. Receber ou adquirir, para finscomerciais ou industriais, madeira, lenha, carvão e outrosprodutos de origem vegetal, sem exigir a exibição de licençado vendedor, outorgada pela autoridade competente, e semmunir-se da via que deverá acompanhar o produto até finalbeneficiamento:

Pena - detenção, de seis meses a um ano, emulta.

(…)

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Art. 51. Comercializar motosserra ou utilizá-laem florestas e nas demais formas de vegetação, sem licençaou registro da autoridade competente:

Pena - detenção, de três meses a um ano, emulta.

(...)

Art. 54. Causar poluição de qualquer naturezaem níveis tais que resultem ou possam resultar em danos àsaúde humana, ou que provoquem a mortandade de animaisou a destruição significativa da flora:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

(...)

3.1 ATIVIDADES ECONÔMICAS

As terras indígenas - tradicionais, imemoriais, “reservas” e parques – são

protegidas por constituir o espaço necessário e fundamental para a reprodução

física e cultura dos povos indígenas. Tais áreas englobam as características de

territorialidade que a terra apresenta ou representa para as comunidades

indígenas. A territorialidade inclui o esforço social coletivo para ocupar, usar,

controlar, compreender e se identificar com o meio ambiente ocupado. Desse

modo, as relações econômicas, culturais e espirituais das comunidades ou grupos

indígenas com a terra definem tal territorialidade.

Tendo em vista a diversidade de etnias, culturas e grupos indígenas que

ocupam o território brasileiro, não é possível generalizar essa relação com a terra.

Em algumas áreas, as comunidades indígenas desenvolvem atividades

essencialmente para sua subsistência enquanto em outras, as atividades

tradicionais e de subsistência apresentam características distintas como a

produção de excedentes e a relação econômica com não-indígenas. Temos

exemplos de comunidades que desenvolvem agricultura, extrativismos e pecuária

na terra indígena, como atividades que passaram a fazer parte de sua cultura. .

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Faz-se aqui a imprescindível ressalva de que o conceito de cultura indígena,

assim como de qualquer cultura, não é estático. A cultura inclui o tradicional e o

novo, que muitas vezes surge do intercâmbio de culturas.

Os índios e suas coletividades não são impedidos de desenvolverem

atividades econômicas dentro de suas terras, desde que tais atividades não

coloquem em risco o direito coletivo da comunidade em questão, especialmente

sua sobrevivência física e cultural que abarca o direito das gerações futuras. Isso

porque o fundamento da garantia constitucional da terra indígena reside no

respeito e na continuidade de povos indígenas e seu modo de vida distintos.

Tratando-se a terra indígena de propriedade da União, existem restrições quanto

às atividades de exploração de recursos naturais tais como a exploração das

águas, solos, minério, madeira, entre outros.

Lei N. 6001 de 19 de dezembro de 1973 (Estatuto do

Índio)

Art. 18 As terras indígenas não poderão ser objeto de

arrendamento ou de qualquer ato ou negócio jurídico que

restrinja o pleno exercício da posse direta pela comunidade

indígena ou pelos silvícolas.

§ 1o. Nessas áreas, é vedada a qualquer pessoa

estranha aos grupos tribais ou comunidades indígenas a

prática de caça, pesca ou coleta de frutos, assim como de

atividade agropecuária ou extrativa.

A prática do arrendamento de parcelas ou totalidades de terras indígenas é

ilegal. Conforme dispõe a Constituição Federal, as terras indígenas destinam-se à

posse permanente e ao usufruto exclusivo pelos índios. O Estatuto do Índio

confirma tal dispositivo coibindo a prática do arrendamento de terras indígenas

bem como qualquer outro negócio jurídico que coloque em risco o exercício da

posse direta pela comunidade indígena.

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O direito à terra indígena é um direito coletivo garantido aos índios e seus

descendentes e que, portanto, não pode sujeitar-se à exploração para benefícios

individuais em detrimento do interesse e da vontade coletiva. Assim, o

desenvolvimento de atividades, por índios ou terceiros, que ameacem o exercício

da plena posse da terra pelas comunidades indígenas seja pela perda do domínio

das terras ou pela degradação ambiental causada é proibido.

3.2 EXPLORAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS EM TERRAS INDÍGENAS

Constituição Federal de 1988

Art.231

§ 2º - As terras tradicionalmente ocupadas pelosíndios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes ousufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagosnelas existentes.

§ 3º - O aproveitamento dos recursos hídricos,incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra dasriquezas minerais em terras indígenas só podem serefetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidasas comunidades afetadas, ficando-lhes asseguradaparticipação nos resultados da lavra, na forma da lei.

(...)

§ 6º - São nulos e extintos, não produzindo efeitosjurídicos, os atos que tenham por objeto a ocupação, odomínio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou aexploração das riquezas naturais do solo, dos rios e doslagos nelas existentes, ressalvado relevante interesse públicoda União, segundo o que dispuser lei complementar, nãogerando a nulidade e a extinção direito a indenização ou aações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto àsbenfeitorias derivadas da ocupação de boa fé.

Além da garantia da posse permanente e da impossibilidade de remoção

dos índios de suas terras, a Constituição ainda reforçou, no § 2º e 6º do art. 231, o

usufruto exclusivos das riquezas naturais e de todas utilidades presentes nas

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terras indígenas, já instituídos pelo art. 22 do Estatuto do Índio, Lei n. 6.001, de

19 de dezembro de 1973. No caso de aproveitamento de recursos naturais em

terras indígena por terceiros, a Constituição estabelece que tais atividades só

podem ser realizadas com a aprovação do Congresso Nacional e ouvidas as

comunidades afetadas, cabendo-lhes participação nos resultados, de acordo com

o direito à autodeterminação dos povos indígenas previsto na Convenção N.169

da Organização Internacional do Trabalho.

Lei N. 6001 de 19 de dezembro de 1973 (Estatuto doÍndio)

Art. 22. Cabe aos índios ou silvícolas a possepermanente das terras que habitam e o direito ao usufrutoexclusivo das riquezas naturais e de todas as utilidadesnaquelas terras existentes.

(...)

Art. 24 O usufruto assegurado aos índioscompreende o direito à posse, o uso e percepção das riquezasnaturais e de todos as utilidades existentes nas terrasocupadas, bem assim ao produto da exploração econômicade tais riquezas naturais e utilidades.

O usufruto inclui todos os recursos naturais, cuja exploração também

segue o critério de exclusividade, excetuado o relevante interesse público da

União, que deveria ser regulamentado, e ainda não o foi, mediante lei

complementar, de acordo com o § 6º do art. 231. Oportuno salientar ainda que

mesmo nos casos em que for evidenciado o interesse público as comunidades

devem ser sempre consultadas, a fim de minorar os impactos sociais e ambientais

dos empreendimentos e obras.

O direito à autodeterminação, com o reflexo imediato no direito de

usufruir suas terras de forma plena, que está garantido na Convenção 169 da

Organização Internacional do Trabalho, devidamente ratificada e incorporada em

nosso ordenamento pátrio pelo Decreto 5.051 de 2004.

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Convenção OIT N. 169

Artigo 17

2. Os povos interessados deverão ser consultadossempre que for considerada sua capacidade para alienaremsuas terras ou transmitirem de outra forma os seus direitossobre essas terras para fora de sua comunidade.

No tocante à legislação ambiental brasileira, especialmente o artigo 225

da Constituição fica estabelecido que:

Constituição Federal de 1988

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambienteecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo eessencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao PoderPúblico e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lopara as presentes e futuras gerações.

§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito,incumbe ao Poder Público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicosessenciais e prover o manejo ecológico das espécies eecossistemas;

II - preservar a diversidade e a integridade dopatrimônio genético do País e fiscalizar as entidadesdedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;

III - definir, em todas as unidades da Federação,espaços territoriais e seus componentes a seremespecialmente protegidos, sendo a alteração e a supressãopermitidas somente através de lei, vedada qualquerutilização que comprometa a integridade dos atributos quejustifiquem sua proteção;

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obraou atividade potencialmente causadora de significativadegradação do meio ambiente, estudo prévio de impactoambiental, a que se dará publicidade;

V - controlar a produção, a comercialização e oemprego de técnicas, métodos e substâncias que comportemrisco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;

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VI - promover a educação ambiental em todos osníveis de ensino e a conscientização pública para apreservação do meio ambiente;

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na formada lei, as práticas que coloquem em risco sua funçãoecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetamos animais a crueldade.”

O art. 225 da Constituição impõe ao Poder Público o dever de defender

e preservar o meio ambiente. O Poder Público tem a incumbência de tomar as

providências enumeradas nos incisos do § 1º do mesmo artigo para assegurar a

efetividade do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Poder

Público é a expressão genérica que abarca todas as entidades da repartição

política de um estado federado, ou seja, a União, os Estados e os Municípios. As

competências na proteção do meio ambiente são divididas em nível

constitucional e infraconstitucional, pelos mais diversos órgãos ambientais dos

entes da Federação, seja na Administração direta ou indireta.

A Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, que institui a Política Nacional

do Meio Ambiente, dispõe sobre as diretrizes, os objetivos, os fins, os

mecanismos, o sistema e os instrumentos da Política Nacional do Meio

Ambiente. Nessa Lei as competências na área ambiental continuam a ser

distribuídas, bem como instrumentos, como a avaliação de impacto ambiental

prevista constitucionalmente, são regulamentados.

A FUNAI deverá, nos casos em que achar necessário, conforme

previsto em nossa Constituição, exigir no Processo de Licenciamento da obra ou

atividade e no Estudo de Impacto Ambiental uma avaliação que abarque questões

sócio-ambientais, formulando quesitos e tópicos para serem pesquisados, tendo

em vista as peculiaridades da proteção do índio. Não há restrição ou limitação

para a exigência de processo de licenciamento e da avaliação de impacto

ambiental, apenas a relevância do impacto pela obra ou empreendimento. Ou

seja, todas as atividades descritas nas competentes resoluções do CONAMA,

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consideradas como ambientalmente impactantes, são passíveis de licenciamento

ambiental, como a elaboração de Estudo de Impacto Ambiental e com avaliação

do impacto sócio-ambiental nas terras indígenas.

Lei N. 6.936 de31 de agosto de 1981

Art. 4º - A Política Nacional do Meio Ambientevisará:

I - à compatibilização do desenvolvimentoeconômico social com a preservação da qualidade do meioambiente e do equilíbrio ecológico;

II - à definição de áreas prioritárias de açãogovernamental relativa à qualidade e ao equilíbrioecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados,do Distrito Federal, do Territórios e dos Municípios;

III - ao estabelecimento de critérios e padrões daqualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejode recursos ambientais;

IV - ao desenvolvimento de pesquisas e detecnologia s nacionais orientadas para o uso racional derecursos ambientais;

V - à difusão de tecnologias de manejo do meioambiente, à divulgação de dados e informações ambientais eà formação de uma consciência pública sobre a necessidadede preservação da qualidade ambiental e do equilíbrioecológico;

VI - à preservação e restauração dos recursosambientais com vistas á sua utilização racional edisponibilidade permanente, concorrendo para amanutenção do equilíbrio ecológico propício à vida;

VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, daobrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados, eao usuário, de contribuição pela utilização de recursosambientais com fins econômicos.

(…)

Art. 6º Os órgãos e entidades da União, dosEstados, do Distrito Federal, dos Territórios e dosMunicípios, bem como as fundações instituídas pelo PoderPúblico, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade

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ambiental, constituirão o Sistema Nacional do MeioAmbiente - SISNAMA, assim estruturado:

(...)

3.3 MINERAÇÃO

As atividades de mineração, por compreenderem atividades altamente

impactantes às culturas indígenas, pela ordem constitucional que visa o

desenvolvimento econômico nacional, só podem ser desenvolvidas mediante

legislação ordinária que garanta a preservação da terra indígena e sua sócio

biodiversidade. Impõem-se assim cuidados e restrições especiais, podendo até ser

vedada a realização de atividades de mineração dependendo dos valores e bens

que se coloca em risco com tal atividade.

A Constituição Federal, no seu artigo 231, garante aos índios os direitos

originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União

Federal demarcá-las e as proteger. É também garantia constitucional a posse da

terra indígena e o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos

nela existentes. Contudo, pelo artigo 176 as jazidas, em lavra ou não, e demais

recursos minerais constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de

exploração ou aproveitamento, e pertencem à União. A pesquisa e lavra dos

recursos minerais, por serem propriedade da União, somente poderão ser

efetuados mediante autorização ou concessão, na forma da lei.

É inconstitucional a possibilidade das atividades de garimpagem,

faiscação e cata de recursos minerais ser realizada com exclusividade pelos

povos indígenas em suas terras, como previsto no art. 44 da Lei n. 6.001, de 19

de dezembro de 1973, ou Estatuto do Índio.

Lei N. 6001 de 19 de dezembro de 1973 (Estatuto doÍndio)

Art. 44. As riquezas do solo, nas áreas indígenas,somente pelos silvícolas, podem ser exploradas, cabendo-

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lhes com exclusividade o exercício da garimpagem,faiscação e cata das áreas referidas.

A previsão contida no Estatuto do Índio, e repetida no Decreto n.

88.985, de 10 de novembro de 1983, que possibilita as atividades de

garimpagem, faiscação e cata de recursos minerais pelos povos indígenas nas

terras em que ocupam não foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988, o

que quer dizer que essa legislação que é anterior é contrária à atual Constituição.

Não foi recepcionado pois colide frontalmente com o § 1º do artigo 176, que traz

a exigência de lei a regulamentar qualquer atividade de pesquisa e lavra de

recursos minerais em terras indígenas, estabelecendo as condições específicas

dessa atividade.

Constituição Federal de 1988

Art. 176. As jazidas, em lavra ou não, e demaisrecursos minerais e os potenciais de energia hidráulicaconstituem propriedade distinta da do solo, para efeito deexploração ou aproveitamento, e pertencem à União,garantida ao concessionário a propriedade do produto dalavra.

§ 1º A pesquisa e a lavra de recursos minerais e oaproveitamento dos potenciais a que se refere o "caput"deste artigo somente poderão ser efetuados medianteautorização ou concessão da União, no interesse nacional,por brasileiros ou empresa constituída sob as leis brasileirase que tenha sua sede e administração no País, na forma dalei, que estabelecerá as condições específicas quando essasatividades se desenvolverem em faixa de fronteira ou terrasindígenas. (Redação do § 1º dada pela EmendaConstitucional nº 6, de 1995)

A atividade de mineração em terras indígenas apenas aos índios não é

restrita aos índios, a Constituição permite que terceiros interessados também

possam, mediante autorização governamental, exercer a pesquisa e lavra. Mas a

própria Carta Magna estabelece requisitos peculiares para a exploração dos

recursos minerais nas terras indígenas, quais sejam, a aprovação do Congresso

Nacional, que a comunidade indígena afetada seja ouvida e a sua participação

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nos resultados da lavra. Esses requisitos exigidos além da autorização do governo

federal justificam-se pela sensibilidade da exploração mineral em terras

indígenas.

Contudo, até hoje essas condicionantes às atividades de mineração em

terra indígena não foram regulamentadas por lei, conforme o § 3º do artigo 231

da Constituição. Em outras palavras, carece ainda uma lei que defina o

procedimento administrativo de autorização de pesquisa e lavra de recursos

minerais em terras indígenas, principalmente como e quando o Congresso

Nacional aprovará a exploração; como, quando e de que forma as comunidades

indígenas devem ser ouvidas; se terão poder de vetar as atividades; os critérios e

condições da exploração; quanto e de que forma deverá ser a participação das

comunidades indígenas no resultado da lavra etc.

A inexistência de tal regulamentação torna qualquer exploração dos

recursos minerais realizada por não índios ilegal, configurando-se, dependendo

da conduta, como crime previsto no Código de Mineração. O controle e a

proibição das atividades de extração de recursos minerais estão sujeitos à

fiscalização do governo federal, através do Departamento de Polícia Federal –

DPF, do Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM, do Instituto

Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA e da

Fundação Nacional do Índio – FUNAI, na medida de suas competências.

Os Estados e Municípios da Federação não têm competência para

autorizar ou regulamentar a exploração de recursos minerais, pois as jazidas, em

lavra ou não, e os demais recursos minerais pertencerem à União, e acordo com

os artigos 20 e 176 da Constituição Federal. Também compete privativamente à

União o poder de legislar sobre jazidas, minas e outros recursos minerais,

consoante o inciso XII do artigo 22 da mesma Constituição. Dessa forma,

qualquer ingerência dos Estados ou Municípios no tocante à autorização da

exploração dos recursos minerais ou regulamentação da atividade é

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inconstitucional, podendo em determinados casos serem os agentes

governamentais responsabilizados, inclusive criminalmente, pelos seus atos.

Lei N.9605 de 12 de fevereiro de 1998 (Lei deCrimes Ambientais)

Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração derecursos minerais sem a competente autorização,permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com aobtida:

Pena - detenção, de seis meses a um ano, emulta.

Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrequem deixa de recuperar a área pesquisada ou explorada,nos termos da autorização, permissão, licença, concessão oudeterminação do órgão competente.

A reivindicação dos povos indígenas por mais alternativas sustentáveis

de atividades econômicas, para melhorar a condição de vida dessas populações, é

justa e necessária. Contudo, a exploração dos recursos minerais em terras

indígenas hoje não está regulamentada, o que traz a impossibilidade dessa

atividade, seja por terceiros ou pelos próprios índios. A falta de balizas claras, e

impostas por lei, como quer a Constituição, que impossibilitam a exploração de

recursos minerais está clara na própria Carta produzida pelas lideranças

indígenas.

Alternativas de atividades econômicas devem ser pensadas pelas

comunidades indígenas e pelos governos federais, estaduais e municipais. A

extração de produtos vegetais, a comercialização de produtos essenciais, a

produção de produtos agrícolas, a criação de animais, a produção de arte e

artesanato indígena são alternativas sustentáveis e menos prejudiciais para a

organização social e para os costumes das comunidades indígenas.

A exploração mineral nas terras indígenas congrega muitos interesses

que são na maioria das vezes contraditórios. O impacto dessa atividade é

deletério para as comunidades e tem se mostrado, nas ocasiões que foram

desenvolvidas ilegalmente, desagregadora das comunidades, veículo de entrada

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sem controle de não-índios nas terras indígenas e fonte de doenças. As rendas

advindas da exploração aumentam o custo dos produtos vendidos na região e a

exploração do índio pelo dono das máquinas e instrumentos necessários para a

exploração mineral, pelo comerciante local ou pelo comprador do minério.

Ou seja, a extração, mesmo que experimental, de recursos minerais em

terras indígenas, até a realizada pelos próprios povos indígenas ocupantes das

terras indígenas em que minerais são encontrados, são por ora ilegais. O governo

federal consciente da delicadeza da questão está elaborando, com a participação

de seus mais diversos órgãos, um projeto de lei que regulamente a exploração

mineral em terras indígenas. Esse projeto deverá ser apresentado à sociedade e,

principalmente aos povos indígenas, na Conferência Nacional dos Povos

Indígenas, a ser realizada em abril de 2006. Na Conferência essa proposta deverá

ser amplamente debatida e esperamos que surja um entendimento comum entre

governo e povos indígenas.

4. Procedimento Administrativo de Demarcação de TerraIndígena

Constituição Federal de 1988

Art. 231. São reconhecidos aos índios suaorganização social, costumes, línguas, crenças e tradições, eos direitos originários sobre as terras que tradicionalmenteocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazerrespeitar todos os seus bens.

A Constituição Brasileira em seu artigo 231, reconhecendo o caráter

coletivo do direito à terra dos povos indígenas define que a União deve demarcar

e garantir proteção às terras indígenas. No Brasil, o procedimento de demarcação

não dá ou retira direito; ele não cria um espaço territorial imemorial ou um

habitat tradicional; ele apenas esclarece sobre a extensão e os limites da terra

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indígena a ser protegida dada a sua necessidade para a sobrevivência cultural

destes povos.

A demarcação de uma terra indígena corresponde a uma declaração de

valor legal sobre os limites da área protegida. Com a figura do indigenato, fica

reconhecida a nulidade dos títulos sobre terras indígenas, mesmo aqueles

conferidos antes da promulgação da Constituição. O mandamento constitucional

apenas reconhece que os índios foram desapossados de suas terras de forma

violenta e arbitrária e lhes dá o direito de terem reconhecidas as suas terras,

independentemente de qualquer direito alheio sobre elas.

Desse modo, a demarcação das terras ocupadas pelos índios não é ato

constitutivo de posse, mas meramente declaratório, de modo a precisar a real

extensão da posse e conferir plena eficácia ao mandamento constitucional. Por

esta razão, o Estatuto do Índio de 1973, em seu artigo 25, expressa que o

reconhecimento do direito dos índios à posse permanente das terras tradicionais,

independerá de sua demarcação.

Lei N. 6001 de 19 de dezembro de 1973 (Estatuto doÍndio)

Art. 25. O reconhecimento do direito dos índios egrupos tribais à posse permanente das terras por eleshabitadas, nos termos do artigo 198, a Constituição Federal,independerá de sua demarcação, e será assegurado peloórgão federal de assistência aos silvícolas, atendendo àsituação atual e ao consenso histórico sobre a antiguidadeda ocupação, sem prejuízo das medidas cabíveis que, naomissão ou erro do referido órgão, tomar qualquer dosPoderes da República.

O Estatuto do Índio, Lei 6001 de 19 de dezembro de 1973 e o Decreto

1775 de 08 de janeiro de 1996 estabelecem o atual procedimento de demarcação

administrativa das terras indígenas tradicionais; este último revogou um decreto

anterior, o decreto 22/91, instituindo o denominado “principio do contraditório”

nos processos demarcatórios. Esse procedimento contraditório permite que

terceiros interessados se manifestem a respeito da área identificada pela FUNAI,

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antes do término do ato executivo. Visa-se a que eventuais vícios ou erros do ato

sejam sanados ainda na fase administrativa evitando-se o ensejo de infindáveis

discussões frente ao Judiciário.

Contudo, em casos de conflitos entre a identificação de terra indígena

pela FUNAI e os interesses levantados por particulares, Estado e município em

que se encontra a terra, não há clareza quanto aos procedimentos de resolução da

disputa a cargo do Ministro da Justiça. De acordo com Decreto 1775/96 cabe ao

Ministro da Justiça decidir se a identificação da terra indígena, e os limites

propostos pela FUNAI atendem ao dispositivo constitucional de proteção a terras

indígenas, mas não versa sobre a competência para resolver conflitos de

interesses. Nesse ponto, os interessados recorrentemente valem-se de medidas e

ações judiciais para reclamar seu direito ou simplesmente postergar a efetiva

proteção do direito dos índios. Assim, a interface com o Judiciário torna este

procedimento administrativo ainda mais complicado, longo e sujeito a muita

pressão política. Ainda assim o Estado brasileiro reconheceu, até novembro de

2005, 12,49% de seu território como terra indígena3.

Lei N. 6001 de 19 de dezembro de 1973 (Estatuto doÍndio)

Art.19. As terras indígenas, por iniciativa e soborientação do órgão federal de assistência ao índio, serãoadministrativamente demarcadas, de acordo com o processoestabelecido em decreto do Poder Executivo.

Decreto N. 1775 de 08 de janeiro de 1996

Art. 1o. As terras indígenas de que tratam o art.17, Ida Lei no. 6001, de 19 de dezembro de 1973, e o art.231 daConstituição, serão administrativamente demarcadas poriniciativa e sob a orientação do órgão federal de assistênciaao índio, de acordo com o disposto neste Decreto.

3 Dados FUNAI, Mapa da Situação Fundiária Indígena, novembro de 2005.

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O processo demarcatório de terra indígena poder ser dividido em 6 fases:

identificação e delimitação; manifestação dos interessados; decisão do Ministro

da Justiça; demarcação física; homologação; e registro em cartório.

1) Identificação e delimitação: a iniciativa para demarcar

administrativamente as terras indígenas compete à FUNAI, que requisita,

por meio de portaria, um estudo antropológico sobre o limite das terras

que são ocupadas ancestralmente. Estes estudos são apresentados à

FUNAI por meio de um relatório. Se o relatório é aprovado, este órgão

deve publicar, em prazo determinado, o resumo do mesmo conjuntamente

com a descrição e o mapa da área no Diário Oficial da União e no Diário

Oficial da entidade federada onde se localiza a área demarcada.

2) Manifestação dos interessados: de acordo com o principio do

contraditório instituto pelo Decreto 1.775, as entidades federadas, os

municípios sobrepostos à área indígena e/ou os particulares que se sintam

afetados pelo processo demarcatório, podem manifestar-se a respeito do

mesmo com o fim de pedir indenização ou demonstrar vícios do relatório

que identifica a ocupação ancestral. As manifestações, reza o Decreto

1.775, devem ter por finalidade pedir indenizações ou demonstrar vícios

no relatório que identifica a posse ancestral. Estas manifestações podem

ser feitas, em qualquer tempo, desde o inicio do procedimento

demarcatório (baixa de portaria) até 90 dias após a publicação do

relatório pela FUNAI. No momento em que termina o prazo de

contestação, inicia-se outro prazo, de 60 dias, para que a FUNAI

encaminhe o relatório conjuntamente com as contestações recebidas, se

for o caso, ao Ministro da Justiça.

3) Decisão do Ministro da Justiça: o Ministro da Justiça tem um prazo de

30 dias, contados da recepção do procedimento, para decidir sobre a

demarcação da terra indígena, aprovando ou desaprovando o relatório

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sobre a ocupação ancestral, tomando em conta as manifestações

recebidas, quando houver. O Decreto determina que a decisão tomada

pelo Ministro deve estar circunscrita ao parágrafo 1° do artigo 231 da

Constituição, que estabelece o conceito de terras tradicionalmente

ocupadas por índios.

4) Demarcação física: após o Ministro da Justiça aprovar o relatório,

ordena que a FUNAI proceda à demarcação física das terras em questão.

5) Homologação: a demarcação efetuada pelo órgão federal deve ser

homologada. Sobre a homologação, o artigo 5º do decreto 1.775

estabelece simplesmente que “a demarcação das terras indígenas,

obedecido o procedimento administrativo deste Decreto, será homologada

mediante decreto.” Um decreto, segundo a Constituição, só pode ser

expedido, privativamente, pelo Presidente da Republica.4 Não existe

prazo previsto para a expedição do decreto homologatório.

6) Registro em cartório: depois de publicado o decreto de homologação, a

FUNAI tem um prazo de 30 dias para promover o registro da terra

demarcada e homologada no cartório imobiliário correspondente e no

Serviço de Patrimônio da União.

Participação dos povos indígenas interessados: O § 3° do artigo 2º do

Decreto estabelece que “o grupo indígena envolvido, representado segundo suas

formas próprias, participará do procedimento em todas suas fases.”

4 Artigo 84 Constituição brasileira – “Compete privativamente ao Presidente de República: (...)IV – sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentospara sua fiel execução”.

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4.1 AÇÕES POSSESSÓRIAS

Iniciado o procedimento administrativo de demarcação de terras

estabelecido pelo Decreto que regula a matéria, não cabem ações judiciais que

pleiteiam a concessão de títulos de posse ou propriedade da área identificada

como terra indígena.

Apesar do dispositivo legal ser cristalino quanto ao não cabimento de

ação possessória tendo em vista o artigo 231 da Constituição que reconhece o

direito originário dos índios sobre as terras tradicionais, terceiros interessados

nas terras seguem impetrando Ações Possessórias na Justiça Comum sobre terras

identificadas como terras indígenas, inclusive com pedidos de medidas cautelares

solicitando o despejo de comunidades indígenas de suas próprias terras (ver

Relatório de Decisões Judiciais).

Lei N. 6001 de 19 de dezembro de 1973 (Estatuto doÍndio)

Art. 19.

§ 2o. Contra a demarcação processada nos termosdeste artigo não caberá a concessão de interdito possessório,facultado aos interessados contra ela recorrer à açãopetitória ou à demarcatória.

4.2 AÇÕES DECLARATÓRIAS

O procedimento de demarcação de terra indígena pode ser contestado

durante o contraditório administrativo ou por meio de ação judicial que discute o

ato administrativo e não o título da terra reconhecida como terra indígena.

Tratando-se de terra indígena, a aplicação da norma constitucional prevalece e,

portanto, a instância competente para a análise dos pedidos é a Justiça Federal.

(ver Relatório de Decisões Judiciais)

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Até a conclusão do ato administrativo de demarcação, terceiros

interessados podem contestar administrativamente a atividade do poder público

conforme dispõe o Decreto N.1775 de 1996 ou, podem contestar judicialmente

os procedimentos de demarcação, por meio de ação declaratória. Não podem,

porém, apropriar-se da via judicial para forçar a interrupção da atividade

administrativa propondo questões que não podem ser decididas em tal instância

ou tempo como, por exemplo, discutir em juízo se determinada fazenda localiza-

se ou não dentro dos limites de uma terra indígena tradicional antes mesmo do

final do ato administrativo de estudo, reconhecimento e demarcação a terra

indígena.

Portanto, não há que se falar em nulidade do ato administrativo com base

na divergência de entendimentos dos estudos antropológicos e fundiários se estes

sequer foram concluídos.

Constituição Federal de 1988

Art.231

§ 5º - É vedada a remoção dos grupos indígenas desuas terras, salvo, "ad referendum" do Congresso Nacional,em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco suapopulação, ou no interesse da soberania do País, apósdeliberação do Congresso Nacional, garantido, em qualquerhipótese, o retorno imediato logo que cesse o risco.

§ 6º - São nulos e extintos, não produzindo efeitosjurídicos, os atos que tenham por objeto a ocupação, odomínio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou aexploração das riquezas naturais do solo, dos rios e doslagos nelas existentes, ressalvado relevante interesse públicoda União, segundo o que dispuser lei complementar, nãogerando a nulidade e a extinção direito a indenização ou aações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto àsbenfeitorias derivadas da ocupação de boa fé.

§ 7º - Não se aplica às terras indígenas o disposto noart. 174, § 3º e § 4º.

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5. Proteção Internacional

O Estado Brasileiro é parte dos principais instrumentos internacionais de

direitos humanos, dentre os quais a Convenção N. 1695 da Organização

Internacional do Trabalho; o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos; o

Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Cultuais6; e a Convenção

pela Eliminação de Todos os Tipos de Discriminação Racial7 podem ser

aplicados na proteção dos povos indígenas e suas terras. Sendo parte desses

tratados multilaterais de direitos humanos, o Estado reconhece os princípios

humanitários e compromete-se a implementar e proteger o rol de direitos

fundamentais ali dispostos.

Em alguns casos os tratados de direitos humanos prevêem a existência de

um órgão de monitoramento, a quem o Estado pode conferir competência para

ouvir reclamações de indivíduos ou grupos, fazer visitas, relatórios e

recomendações. Tal forma de jurisdição internacional obedece a critérios que

observam e resguardam a independência, autonomia e soberania dos Estados. O

poder de sanção desses órgãos de monitoramento é ainda muito tímido e, em

geral, restringe-se ao constrangimento político perante a comunidade

internacional. Ainda assim, o controle internacional em torno de questões de

direitos humanos tem demonstrado alguma eficácia no tocante à observância e

respeito de princípios de direitos humanos pelos Estados e suas instituições

nacionais, especialmente nos casos de proteções hoje consensuais como no caso

da proibição da tortura e de genocídio.

5 Convenção OIT N. 169 foi ratificada pelo Governo Brasileiro em 25 de julho de 2002 eincorporada à legislação nacional pelo Decreto 5.051/ 2004. 6 O Brasil é país membro da ONU e assinou os Pactos de Direitos Civis e Políticos e de DireitosEconômicos, Sociais e Culturais em 24 de abril de 1992.7 Brasil ratificou e reconheceu a competência do CERD – Comitê para a eliminação daDiscriminação Racial (Committee on the Elimination of Racial Discrimination) em 04 de janeirode 1969.

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Contudo, o Brasil ainda não ratificou os Protocolos Adicionais I e II do

Pacto IDCP, e por isso, ainda não declarou a competência do Comitê de Direitos

Humanos da ONU para ouvir reclamações de violações àqueles direitos. O Pacto

IDESC por sua vez não conta com um mecanismo de monitoramento, e a

Convenção pela Eliminação de Todos os Tipos de Discriminação Racial tem sua

implementação monitorada pelo Comitê para a Eliminação da Discriminação

Racial CERD.

5.1 CONVENÇÃO OIT NO. 169

No tocante ao direito à terra dos índios, a Convenção OIT N. 169 sobre

Povos Indígenas e Tribais em Estados Independentes apresenta importantes

avanços no reconhecimento do direito indígena coletiva, com significativos

aspectos de direitos econômicos, sociais e culturais. A Convenção OIT N.169 é,

atualmente, o instrumento internacional mais atualizado e abrangente em respeito

às condições de vida e trabalho dos indígenas e, sendo um tratado internacional,

uma vez ratificado pelo Estado parte, passa a ser legalmente exigível.

De acordo com a Convenção, as terras indígenas devem ser concebidas

como a integralidade do meio ambiente das áreas ocupadas ou usadas pelos

povos indígenas abarcando portanto aspectos de natureza coletiva e de direitos

econômicos, sociais e culturais além dos direitos civis. Os Artigos 15 e 14

enfatizam: o direito de participação dos povos indígenas no uso e administração

– inclusive controle de acesso aos seus territórios – e conservação; o direito de

ser consultado e participar de assuntos relativos a seus territórios; e a indenização

por sua remoção das terras tradicionais ou por danos.

A Convenção também reconhece que os povos indígenas têm uma relação

especial com a terra, base de sua sobrevivência cultural e econômica8. Nesse

8 Article 13, ILO Convention 169, establishes the concept of land in its application. It recognizesthe collective aspect of this property right and the relationship between land, culture and spiritualvalues.

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sentido, o tratado OIT prevê medidas especiais de proteção das terras indígenas,

inclusive a necessidade de proteger os povos indígenas da entrada de pessoas

sem autorização e para o uso de suas terras, e determina que os Estados-partes do

tratado protejam os povos indígenas de despejos e remoções de suas terras. De

acordo com a Convenção OIT N.169, o direito de propriedade, no caso de povos

indígenas, deve ser compatível com a compreensão de um direito à terra

composto de preocupações da ordem econômica, social e cultural.

5.2 PACTO INTERNACIONAL DE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS

O Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais não

tem dispositivos específicos que mencionem a proteção de terras indígenas.

Contudo, os direitos econômicos, sociais e culturais ali estabelecidos servem de

parâmetros para o reconhecimento de uma complexa gama de direitos, inclusive

aqueles que se referem aos direitos territoriais indígenas. O Pacto DESC não

define um mecanismo de jurisdição e alguns dos direitos lá elencados são

definidos muito genericamente. O Pacto DESC apóia às reivindicações

indígenas, mas não oferece meios satisfatórios de implementação e controle. O

órgão que monitora o Pacto DESC não é competente para receber reclamações.

5.3 PACTO INTERNACIONAL DE DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS

O Artigo 27 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos define

que:

“Nos Estados em que existam minorias étnicas,

religiosas ou lingüísticas, as pessoas pertencentes a essas

minorias não devem ser privadas do direito de ter, em comum

com os outros membros do seu grupo, a sua própria vida

cultural, de professar e de praticar a sua própria religião ou

de empregar a sua própria língua".

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O Comitê de Direitos Humanos, órgão estabelecido no Artigo 1o. do

Protocolo Adicional I ao Pacto DCP, interpreta o direito à vida cultural no seu

mais amplo sentido, como um direito da minoria ou dos povos indígenas

existirem como tal9. O Comitê observa também que a cultura se manifesta de

muitas maneiras, inclusive num modo particular de vida relacionada ao uso da

terra e dos recursos naturais. Dessarte, casos10 que versam sobre povos indígenas

e seu direito à terra têm sido levados ao Comitê, sob a proteção do artigo 27 do

Pacto DCP, visando a proteção de direitos econômicos, sociais e culturais

indígenas.

Apesar dos direitos elencados no Pacto DCP serem de titularidade

individual, o artigo 27 do mesmo tratado menciona direitos de grupos e

coletividades. Direitos culturais de povos indígenas têm sido discutidos pelo

Comitê como direitos inerentes ao direito coletivo de existir como povos

culturalmente distintos. Assim, a interpretação e aplicação do artigo 27 do Pacto

Internacional de Direitos Civis e Políticos pelo Comitê de Direitos Humanos da

ONU faz daquele instrumento o mais expressivo mecanismo legal de proteção ao

direito indígena à terra como proteção de seus direitos coletivos direitos

econômicos, sociais e culturais frente ao Sistema de Direitos Humano da ONU.

No mesmo Comentário Geral do Artigo 27, o Comitê afirma a

necessidade de medidas afirmativas dos Estados visando a proteção da identidade

de minorias e povos indígenas no gozo e desenvolvimento de sua cultura, que é

um direito de caráter coletivo.

9 “culture manifest itself in many forms, including a particular way of life associated with the useof land resources, especially in the case of indigenous peoples. That right may include suchtraditional activities as fishing or hunting and the right to live in reserves protected by law. Theenjoyment of these rights may require positive measures of protection and measures to ensure theeffective participation of members of minority communities in decisions which affect them.”UN. Human Rights Committee General Comment N.23 (50), HRI/GEN/1/Rev.1 at38, adopted in6th April 1994. 10 Kitok v. Sweden (UN Human Rights Committee 43rd session. Opinion approved on the 27th July1988, Communication No. 197/1985); Lubicon Lake Band v. Canada (UN Human RightsCommittee 45th session. Opinion approved on the 26th March 1990, Communication No.167/1984); and Ilmari Länsman vs. Finland (UN Human Rights Committee 52nd session. Opinionapproved on the 8th of November 1994, Communication No. 511/1992).

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6. Proteção Regional

Embora o reconhecimento do direito indígena à terra seja de competência

dos Estados, um discreto conjunto de leis práticas e standards internacionais que

versam sobre direitos coletivos dos povos indígenas tem surgido e está se

desenvolvendo rapidamente nos últimos tempos11. O papel fundamental das

instituições e normas internacionais é estabelecer padrões de direitos humanos

pautados pelas demandas dos grupos nacionais, com o apoio da comunidade

internacional. A Assembléia Geral da Organização dos Estados Americanos

(OEA) iniciou os trabalhos de reconhecimento dos povos indígenas como

sujeitos especiais na ordem internacional e seu sistema de direitos humanos –

Comissão Interamericana de Direitos Humanos e Corte Interamericana de

Direitos Humanos - tem sido um exemplo às práticas mais progressistas de

reconhecimento de direitos territoriais indígenas quando comparado ao Sistema

de Direitos Humanos da ONU, especialmente pela aceitação do caráter coletivo

do direito à terra.

Regionalmente, o Brasil é membro fundador da Organização dos Estados

Americanos, desde 05 de maio de 1948, e assinou a Carta da OEA12 bem como a

Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem. O Estado também é

parte no Protocolo de San Salvador13, instrumento interamericano de proteção

aos direitos econômicos, sociais e culturais, e é parte da Convenção

Interamericana de Direitos Humanos14. Em 1996, o Governo Brasileiro deu a

11 See S. James Anaya, Indigenous Peoples in International Law (1996) and International Law

and Indigenous Peoples (2003)S. Wiessner, “The rights and Status of Indigenous Peoples: A Global Comparative andInternational legal Analysis” 12 Harvard Human Rights Journal, 57 (1999). 12 UN registration: 01/16/52 No. 1609, Vol. 119 13 Brazil ratified the San Salvador Protocol on the 21st August 1996.14 UN registration: 08/27/79 No. 17955. Brazil is party to the Pacto San Jose da Costa Rica since1992.

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jurisdição à Corte Interamericana de Direitos Humanos para ouvir reclamações

sobre violações de direitos humanos no país.

Cumprindo a sua tarefa de reportar as condições dos direitos humanos em

alguns Estados da OEA, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos

freqüentemente foca na situação dos povos indígenas15 dos países vistoriados. A

Comissão também tem aceitado reclamações importantes de direitos humanos e

conduzido investigações como no caso Tingni v. Nicarágua, o primeiro caso que

foi levado à Corte Interamericana de Direitos Humanos versando sobre questões

de direito indígena coletivo, terras indígenas e recursos naturais. A decisão da

Corte reconheceu o caráter coletivo do direito à terra dos índios do povo Awas

Tingni, bem como o relacionamento entre terra, cultura e espiritualidade daquele

povo.

A Comissão de Direitos Humanos, em inúmeros relatórios, tem afirmado

que a integridade das culturas indígenas inclui aspectos de sua organização social

e produtiva, como por ex. o uso comunitário das terras ancestrais. Essa mesma

Comissão tem afirmado na necessidade dos Estados providenciarem “medidas

especiais legais de proteção” às terras indígenas para a preservação de suas

identidades culturais16.

6.1 CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS E DECLARAÇÃO

AMERICANA DOS DIREITOS E DEVERES DO HOMEM

A Convenção Americana sobre Direitos Humanos e a Declaração

Americana dos Direitos e Deveres do Homem são os instrumentos vigentes do

Sistema Interamericana dos Direitos Humanos. Embora nenhum desses

instrumentos faça menção específica aos povos indígenas e seus direitos, ambos15 See the Inter-American Commission of Human Rights Reports on the Situation of HumanRights in different countries: Equador - OEA/Ser.L./V./II.96, doc.10 rev.1 (1997); Brazil -OEA/Ser.L./V./II. 97, doc.29 rev.1 (1997); Mexico - OEA/Ser.L./V./II.106, doc.59 (2000)16 Inter-American Commission on Human Rights, Report on the Situation of Human Rights of aSegment of the Nicaraguan Population of Miskito Origin and Resolution on the FriendlySettlement Procedure, OEA/Ser.L/V/II.62, doc.26 (1983) at 76.

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incluem provisões de direitos humanos genéricas, que servem à proteção dos

povos indígenas e seu direito à terra. Por exemplo, o direito de propriedade é

protegido (artigo 21 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos e o artigo

XXIII da Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem) e

interpretado pelo sistema regional de direitos humanos como conectado aos

regimes de propriedade que derivam das tradições, costumes e sistemas

indígenas de detenção de terras.

Os direitos ao bem-estar e à integridade cultural dos povos indígenas são

interpretados como a conexão ente o direito à terra e aos recursos naturais com o

direito aos meios de subsistência, às relações sociais e familiares, às práticas

religiosas e à existência das comunidades indígenas como grupos culturalmente

distintos. Anaya e Williams Jr.17 argumentam que o Sistema Interamericano de

Direitos Humanos oferecem proteção às terras indígenas e seus recursos naturais,

estabelecendo obrigações legais aos Estados. De acordo com os autores, a

proteção do direito à terra dos índios está fundada no direito de propriedade, no

direito de bem-estar físico, e no direito à integridade cultural estendidos aos

povos indígenas dado o princípio da não-discriminação.

17 J., Anaya, and R., Williams Jr., “The protection of Indigenous Peoples’ Rights over Land andNatural Resources Under the Inter-American Human Rights System” in Harvard Human Rights

Journal, vol.14, 2001, pp 31– 96.

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Relatório Parte II

B- DECISÕES JUDICIAIS

O ato administrativo de demarcação de terras indígenas obedece aos

dispositivos legais constitucionais e infraconstitucionais, conforme acima

elencado no levantamento da legislação brasileira sobre terras indígenas. Com o

intuito de fazer respeitar o direito dos povos indígenas às suas terras para a

preservação de suas culturas e modos de vida e, ao mesmo tempo, como forma

de proteção do interesse público garantindo o justo contrapeso ao direito de

propriedade privada, a demarcação de terras indígenas é feita

administrativamente e de acordo com normas reguladoras justas. Ainda assim,

recorrentemente, o ato de demarcação, nas suas mais diversas fases, é contestado

judicialmente pelos ocupantes ou interessados não-índios que disputam a área

identificada como tradicionalmente ocupada por indígenas, sob o argumento da

impropriedade do procedimento de demarcação dada a uma alegada afronta ao

direito de ampla defesa e contraditório.

As Ações Possessórias, Ações Declaratórias, Ações Populares, Ações

Diretas de Inconstitucionalidade, os Mandados de Segurança, os pedidos de

liminares e inúmeros recursos contra os trabalhos de levantamento fundiário

realizados pela FUNAI; contra as Portarias do Ministério da Justiça que declaram

terras indígenas em território brasileiro; contra o Decreto 1775/96 que estabelece

o procedimento administrativo de demarcação de terras indígenas; e até mesmo

contra a homologação conferida pelo Presidente da República frequentemente

impedem a finalização do processo de demarcação da terra indígena, acentuando

o clima de insegurança jurídica e fática que afetam os povos indígenas. A

incongruência entre o procedimento administrativo de demarcação de terras

indígenas e os recursos e decisões judiciais - muitas vezes deveras prejudiciais às

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comunidades indígenas - revela lacunas a serem preenchidas em favor do devido

cumprimento do dispositivo 231 da Constituição.

Entendimentos como a constitucionalidade do decreto 1775/96; o

descabimento de Mandado de Segurança para discutir a posse indígena e a

propriedade privada em terra indígena; a competência dos tribunais federais para

conhecer ações de indenização por desapropriação indireta; a competência do

Supremo Tribunal Federal para conhecer lides que apresentam confronto entre

estados e União, significando uma ameaça à federação; o reconhecimento do

conceito de posse e ocupação tradicional indígena distinto da posse civilista; e

outros vêm se consolidado nos tribunais federais e superiores no sentido de evitar

a excessiva obstacularização do procedimento administrativo de demarcação de

terras indígenas. Contudo, as decisões judiciais por vezes ainda ameaçam a

segurança da terra dos povos indígenas e evidenciam a desbalanceada proteção

da propriedade privada não-indígena e o pensamento intolerante às diferenças

sociais e culturais dos índios.

A disputa pela terra em vias judiciárias se sujeita à aplicação de leis e

entendimentos jurídicos que poucas vezes são sensíveis à compreensão e respeito

aos povos indígenas, sua cultura e forma de vida. Não raro o tratamento judicial é

considerado desproporcionalmente prejudicial em relação aos índios, com base

em entendimentos legais e jurisprudenciais de caráter ocidental hegemônico e

preconceituoso. Especialmente no âmbito das decisões liminares, quando se

expõe o (des)balanceamento de valores a serem protegidos com urgência bem

como os fundamentos de perigo e de ameaça de direitos, percebe-se a

incongruência protetiva formal.

O raciocínio jurídico e ideológico predominante nos tribunais e fora deles

utiliza o processo civil para, por exemplo, proteger a propriedade e a

produtividade de fazendas clandestinas a despeito de famílias indígenas

despejadas de suas próprias terras. Nessa esteira, coloca-se de lado a boa-fé dos

povos indígenas; a relação de vida e preservação que estes detêm com o meio

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ambiente e; a histórica violação de direitos dos indígenas, para proteger

interesses estritamente econômicos individuais de fazendeiros e ocupantes das

terras indígenas. Coloca-se de lado também a ameaça e os danos irreparáveis que

podem causar a permanência de invasores em terras indígenas como se o direito

dos povos indígenas às suas terras fossem “menos constitucionais” que o direito

de um proprietário rural. Não obstante encontre respaldo na sociedade

dominante, tal posicionamento não condiz com a ética da justiça e exacerba

conflitos inter-étnicos e políticos relacionados à questão fundiária.

1. Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal

1.1 COMPETÊNCIA

Compete originariamente ao Supremo Tribunal Federal julgar as ações

diretas de inconstitucionalidade e os pedidos de medidas cautelares na ADIN; as

ações declaratórias de constitucionalidade; os conflitos entre a União e os

Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as

respectivas entidades da administração indireta; e os conflitos de competência

entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais; entre Tribunais

Superiores, ou entre estes e qualquer outro tribunal (artigo 102 da Constituição

Federal). Também compete ao STF julgar, mediante recurso extraordinário as

causas decididas em única ou última instância quando a decisão recorrida

contraria dispositivo constitucional; declara inconstitucionalidade de tratado ou

lei federal; ou julga válida lei local contestada em face de lei federal ou da

própria Constituição Federal. O Egrégio Tribunal Federal também tem

competência para apreciar a argüição de descumprimento de preceito

fundamental estabelecido na Constituição.

Assim, as questões que dizem respeito à constitucionalidade de atos e

leis, bem como o respeito aos preceitos constitucionais estabelecidos são

julgadas pelo STF, concentrando assim uma forte tendência política num âmbito

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de discussão jurídica. O tratamento constitucional destinado à proteção de terras,

culturas e vidas dos povos indígenas muitas vezes tocam em questões de

constitucionalidade e de respeito a direitos fundamentais estabelecidos na

Constituição.

Competência da Justiça Federal

A via ordinária federal é a via adequada para discutir judicialmente

questões referentes à ilegalidade do ato de demarcação e eventual indenização

por desapropriação de ocupantes de boa-fé que realizaram benfeitorias à

propriedade. Isso porque se tratando de ação civil sobre conflito de terras entre

particulares e comunidade indígena, há interesse da União que detém a

propriedade das terras indígenas. Portanto, tais ações submetem-se à apreciação

da Justiça Federal. O STF já decidiu pela incompetência da Justiça Estadual:

“O Tribunal de Justiça do Estado do Mato Grosso do Sul - nãoobstantefigurassem na relação processual tanto uma entidade autárquicafederal(FUNAI) quanto a própria União Federal, que interveio comoassistente daFundação Nacional do Índio - proclamou a competênciajurisdicional doPoder Judiciário do Estado-membro para dirimir conflito deinteressesentre particulares e uma determinada comunidade indígena.Essa decisão proferida pelo Tribunal a quo parece havertransgredido aregra de competência inscrita no art. 109, I, da Carta Política, queatribui a Justiça Federal - e a esta, exclusivamente - o poderconstitucional de julgar "as causas em que a União, entidadeautárquica ouempresa publica federal forem interessadas na condição deautoras, rés,assistentes ou oponentes...", excluídas, tão somente, ascontrovérsiasfalimentares, acidentarias, eleitorais e trabalhistas.Não custa enfatizar, neste ponto, que a jurisdição federal tem, naprópriaConstituição da Republica, a sua sedes materiae. Dai a corretaadvertênciade ARRUDA ALVIM ("Manual de Direito Processual Civil", vol.1/293, item n.103, 5a. ed., 1996, RT), cujo magistério ressalta que "A jurisdiçãoda

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Justiça Federal e de regime absoluto, sendo, portanto,improrrogável...".Esse autorizado entendimento reflete-se no magistério dadoutrina (PINTOFERREIRA, "Comentários a Constituição Brasileira", vol. 4/476,1992,Saraiva; VLADIMIR SOUZA CARVALHO, "Competência daJustiça Federal", p.178, 1990, Juruá Editora, v.g.), que também sustenta o caráterconstitucional, absoluto e improrrogável da jurisdição atribuída,pelaCarta Política, aos magistrados da União.A própria jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, por suavez,orienta-se no mesmo sentido, enfatizando, em sucessivasdecisões sobre amatéria, que a intervenção da União Federal basta para deslocara causapara o âmbito da Justiça Federal, pois que somente a esta cabe"dizer sehá na causa interesse da União, apto a deslocar o processo daJustiçacomum para sua esfera de competência" (RT 541/263).Na realidade, a legitimidade do interesse manifestado pela Uniãosó podeser verificada, em cada caso ocorrente, pela própria JustiçaFederal (RTJ101/881), pois, para esse especifico fim, e que ela foi instituída:paradizer se, na causa, há ou não há interesse jurídico da União (RTJ78/398).O ingresso da União Federal numa causa, vindicando posiçãoprocessualdefinida (RTJ 46/73 - RTJ 51/242), gera, por isso mesmo, aincompetênciaabsoluta da Justiça local (RT 505/109), pois não se inclui naesfera deatribuições jurisdicionais dos magistrados e Tribunais estaduais opoderpara aferir a legitimidade do interesse da União Federal, emdeterminadoprocesso (RTJ 93/1291 - RTJ 95/447 - RTJ 101/419).A inobservância, pelos órgãos do Poder Judiciário dos Estados-membros, daclausula constitucional de competência da Justiça Federal (CF,art. 109,I) revela-se comportamento processual eivado de insanáveldefeitojurídico, tanto que, quando ocorrente, autoriza a própriainvalidação daautoridade da coisa julgada (CPC, art. 485, II). Por isso mesmo,observaARRUDA ALVIM (op. loc. cit.), em se registrando tal hipótese,revelar-se-á

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possível "o uso da ação rescisória contra a sentença prolatadapor juiznão federal, quando se desobedeça a regra absoluta do regimejurídico dacompetência a ela pertinente..." (grifei).Impende observar, de outro lado, que, alem da intervenção adcoadjuvandum da União Federal - bastante, por si mesma, comojá destacado, para justificar o deslocamento da causa para oâmbito da Justiça Federal - , a ação de reintegração de posse,cumulada com pedido de perdas e danos, foi ajuizada, perante aJustiça local do Estado do Mato Grosso do Sul, também contra aFundação Nacional do Índio - FUNAI.A Fundação Nacional do Índio - FUNAI constitui pessoa jurídicade direitopublico interno. Trata-se de fundação de direito publico que sequalificacomo entidade governamental dotada de capacidadeadministrativa,integrante da Administração Publica descentralizada da União,subsumindo-se, no plano de sua organização institucional; aoconceito detípica autarquia fundacional, como tem sido reiteradamenteproclamado pelajurisprudência do Supremo Tribunal Federal, inclusive para oefeito dereconhecer, nas causas em que essa instituição intervém ouatua, acaracterização da competência jurisdicional da Justiça Federal(RTJ126/103 - RTJ 127/426 - RTJ 134/88 - RTJ 136/92 - RTJ139/131, v.g.).Tratando-se, pois, de entidade autárquica instituída pela UniãoFederal,torna-se evidente que, nas causas contra ela instauradas, incide,demaneira plena, a regra constitucional de competência da JustiçaFederalinscrita no art. 109, I, da Carta Política.E certo que o Pleno desta Suprema Corte, quando ainda vigenteaConstituição de 1969, deixou assente que não acarretavacompetência daJustiça Federal a intervenção da FUNAI, quando esta nãolitigasse nadefesa de direito próprio, mas atuasse, na realidade, em funçãodo regimetutelar instituído pela Lei n. 6.001/73, no exercício de merarepresentação, tutela ou assistência de silvícolas, em causaversando adiscussão sobre a posse de terras particulares (RTJ 122/944).Ocorre, no entanto, que a Constituição promulgada em 1988introduziu novaregra de competência, ampliando a esfera de atribuiçõesjurisdicionais da

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Justiça Federal, que se acha, agora, investida de poder paratambémapreciar "a disputa sobre direitos indígenas" (CF, art. 109, XI).Essa regra de competência jurisdicional - que traduz expressivainovaçãoda Carta Política de 1988 (MANOEL GONCALVES FERREIRAFILHO, "Comentários aConstituição Brasileira de 1988", vol. 3/15, 1994, Saraiva; JOSECRETELLAJUNIOR, "Comentários a Constituição de 1988", vol. VI/3.182,item n. 209,1992, Forense Universitaria) - impõe o deslocamento, para oâmbito decognicao da Justica Federal, de todas as controvérsias que,versando aquestão dos direitos indígenas, venham a ser suscitadas emfunção desituações especificas.” (STF – Pet. N.1.208-9/MS, Min Rel. Celsode Mello)

e pela competência do Juízo Federal:

EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO – Reintegração deposse – Área demarcada pela FUNAI – DemarcaçãoAdministrativa homologada pelo Presidente da República – AçãoPossessória promovida por particulares contra silvícolas dealdeia indígena e contra a FUNAI – Intervenção da União Federal– Disputa sobre direitos decisórios – incompetência da JustiçaEstadual – nulidade dos atos decisórios – Encaminhamento doprocesso à Justiça Federal – RE conhecido e provido. “Açãopossessória – intervenção da União Federal – Deslocamentonecessário da causa para a Justiça Federal”. (STF – RecursoExtraord. N. 183.188-0/MS, Rel. Min Celso de Mello, DJ de14.02.97 e semelhante acórdão Recurso Extraord. N. 197.628-4/SP, Rel. Min Maurício Corrêa, DJ de 16.05.97)

ainda:

“O ingresso da União Federal numa causa, vindicando posiçãoprocessual definida (TRJ 46/73 – RTJ 51/242), gera, por issomesmo, a incompetência absoluta da Justiça local (RTJ505/109), pois não se inclui na esfera de atribuições jurisdicionaisdos magistrados e Tribunais estaduais o poder para aferir alegitimidade do interesse da União Federal, em determinadoprocesso (RTJ 93-1291 – RTJ 101/419).” (STF – RecursoExtraord. N. 183.188-0/MS, Voto do Relator, p.16)

Com a exclusão do estado federado da denunciação da lide, porque não é

cabível o art.70, I, CPC, que elenca as hipóteses de denunciação da lide, o STF se

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proclama incompetente para processar e julgar, originariamente a ação civil de

indenização por desapropriação indireta proposta contra a União e FUNAI. Isso

porque, a ação não é de terceiro que reivindica a coisa cujo domínio foi

transferido à parte, mas de demanda de indenização por expropriação indireta. Os

autores da ação, em virtude de ato da União e da FUNAI entendem-se intitulados

a receber ressarcimento pela perda do imóvel.

O Ilustre relator Ministro Moreira Alves: “Tratando-se de ação de

indenização por desapropriação indireta, em que os autores são proprietários de

gleba que alegam desapropriadas indiretamente, não ocorre qualquer das três

hipóteses previstas no artigo 70 do CPC. Ação declaratória incidente proposta

pela União, ao contestar. Só se admite seja ela requerida quando o Juiz da ação

principal for competente para ela em razão da matéria ou das pessoas. No caso

isso não ocorre, razão por que impossível se faz o simultaneus processus,

devendo aplicar-se o disposto no artigo 295, I, do CPC o que pode fazer-se a

qualquer tempo. (RE 102.239, RTJ 110/1274). Questão de ordem que se acolheu

para excluir do processo todos os denunciados à lide, inclusive o Estado de Mato

Grosso, bem como para indeferir a inicial da ação declaratória incidente, dando

em decorrência disso, pela incompetência desta Corte para processar e julgar

originariamente a presente ação. Determinação da remessa dos autos à Justiça

Federal de 1o. grau” (DJ de 01.07.1988, p. 16.896).

EMENTA: - Denunciação da lide. Competência. Açãoindenizatória (desapropriação indireta) movida contra a União e aFUNAI, com denunciação da lide, pelos autores, a seuantecessor não imediato (Estado de Mato Grosso).Descabimento. Exclusão deste do processo. Cessação dacompetência originária do STF. Remessa dos autos ao juízofederal de origem (1º. grau).A denunciação da lide, com base no inciso I do art. 70 do CPC,só é possível ao alienante imediato, não “per saltum”, como jádecidiu o STF em vários precedentes.Se, com o descabimento da denunciação, cessa o litígioesboçado entre o Estado e a União, cessa também acompetência originária da Corte. (STF – Ação Cível OrigináriaQuestão de Ordem N. 301/MT, Rel. Min Sydney Sanches, DJ de

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10.03.89 e semelhante em: ACO N.280-0/MT, Rel. Min MaurícioCorrea, DJ de 31.10.96; ACOrd N. 443-8/MT, Rel. Min CarlosVelloso, DJ 26.02.99)

A jurisprudência do STF tem decidido que, excluído o Estado membro da

lide, as ações civis de indenização por desapropriação de particulares em terras

indígenas devem ser levadas ao juízo da primeira instância da Justiça Federal.

Competência do STF

A questão é geralmente deslocada ao Supremo Tribunal Federal com base

na alegação inconstitucionalidade do ato administrativo ou do decreto que

estabelece o procedimento da demarcação de terras indígenas; ou ainda no caso

de conflito entre estado e União, conforme competência originária estabelecida

no artigo 102 da Constituição Federal de 1988.

As impugnações judiciais contra a demarcação de terras indígenas e suas

etapas subseqüentes são muitas vezes realizadas pelos estados membros da

federação, ou agentes relacionados a estes, contra a União revelando assim essa

disputa de caráter eminentemente político. Há jurisprudência do STF que entende

que tal deslocamento ao grau de jurisdição superior só pode ser acolhido quando

indispensável ao exercício do direito de evicção ou da ação regressiva; caso

contrário, quando não há prejuízo ao exercício de tais direitos, podem ser eles

exercidos após a decisão da lide e em ação própria, pois da denunciação da lide

decorreria supressão de instâncias julgadoras, com prejuízo ao princípio do juiz

natural, dos direitos do réu e do denunciado. Porém é mais corrente o

entendimento que estabelecido o conflito federativo acerca da demarcação de

terras indígenas, dada a presença de oposição de substrato político que ameaçam

o equilíbrio federativo, é competente o Supremo Tribunal Federal conforme

dispor o art. 102, inciso I , alínea f da Constituição Federal de 1988:

“(...)5. A competência do Supremo Tribunal Federal apenas seconfigura em relação a conflitos federativos que possam afetar oequilíbrio da própria Federação Brasileira. Precedentes.6. A hipótese dos autos versa sobre questão estritamentepatrimonial, sem qualquer fundamento político.

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7. Incompetência do Supremo Tribunal Federal (...)”(STF – QO na ACO n.379/PB, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJ de05.09.03)

O Egrégio Tribunal tem entendimento de que o conflito federativo pode

se dar não apenas quando o estado membro ajuíza ação contra a União e seus

órgãos e representantes, mas também quando o particular, visando defender

interesses do estado, ajuíza ação, como por exemplo no caso das Ações

Populares. Assim decidiu o STF:

AÇÃO POPULAR: NATUREZA DE LEGITIMAÇÃO DOCIDADÃO EM NOME PRÓPRIO MAS NA DEFESA DOPATRIMÔNIO PÚBLICO: CASO SINGULAR DE SUBSTITUIÇÃOPROCESSUAL.(...)2. STF: Competência: conflito entre a União e o Estado:caracterização na ação popular em que os autores, pretendendoagir no interesse de um Estado-membro, postulam a anulação dedecreto do Presidente da República e, pois, de ato imputável àUnião.(STF – Reclamação 424/RJ, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de06.09.96)

Existindo litígio federativo grave, o Supremo Tribunal Federal atrai os

casos para sua competência. Assim ocorreu com a Ação Popular - que buscando

proteger o patrimônio roraimense atacou a validade da Portaria e demarcação da

terra indígena expedida pelo Ministério da Justiça – e, consequentemente, com as

Ações Possessórias, Agravos de Instrumento, Agravos Regimental e liminares

entorno do caso da Terra Indígena Raposa Serra do Sol em Roraima que

passaram para a competência do Supremo Tribunal Federal por tratar-se de

conflito federativo:

EMENTA: Reclamação. Usurpação da Competência. ProcessosJudiciais que impugnam a Portaria N.820/98, do Ministério daJustiça. Ato Normativo que demarcou a reserva indígenadenominada Raposa Serra do Sol no Estado de Roraima.Caso em que resta evidenciada a existência de litígio federativoem gravidade suficiente para atrair a competência desta Corte deJustiça (alínea “f” do inciso I do art.102 da Lei Maior).Cabe ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar açãopopular em que os respectivos autores, com pretensão deresguardar o patrimônio público roraimense, postulam a

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declaração da invalidade da Portaria N.820/98, do Ministro daJustiça. Também incumbe a esta Casa de Justiça apreciar todosos feitos processuais intimamente relacionados com ademarcação da referida reserva indígena.Reclamação procedente. (STF – Reclamação 2.833-0/RR, RelMin. Carlos Britto, DJ 05.08.05)

O conflito federativo na lide que trata da demarcação de terras indígenas

afasta a competência dos juízos estaduais e federais. Ainda que os interessados

na paralisação ou obstacularização da demarcação de determinada terra indígena

ajuízem ações na Justiça Estadual, na primeira instância da Justiça Federal, ou

ações populares e mandados de segurança, de caráter estritamente protelatório,

contra a competência do STF, o julgamento das causas que carregam conflito

federativo permanece sendo de competência da corte constitucional.

O recente julgamento em 28.06.2006 das Reclamações N. 3.313/RR e

3.813/RR levadas ao Supremo Tribunal Federal, reafirma a competência do

Egrégio Tribunal para conhecer de todas as ações referentes à demarcação da

terra indígena Raposa Serra do Sol, dado o grave conflito federativo, como

decidido na anterior Reclamação N. 2.833/RR.

Semelhante ao caso da demarcação da terra indígena Raposa Serra do

Sol, objeto da citada reclamação N.2.833-0/RR e das subseqüentes e semelhantes

reclamações N. 3.313/RR e 3.813/RR no STF - que contou com inúmeras ações

e decisões na Justiça Estadual e na primeira instância da Justiça Federal, não

obstante o reconhecimento do conflito federativo e portanto a transferência de

competência ao STF - mencionamos o caso dos índios Pataxó Hã Hã Hãe na luta

pela demarcação da Terra Indígena Caramuru Paraguassu na Bahia. Este povo,

enquanto aguarda há 26 anos decisão do STF sobre ação originária para declarar

nulos os títulos de propriedade sobre os imóveis rurais compreendidos na terra

indígena Caramuru Paraguassu, sofre infindáveis impugnações na justiça

estadual e federal de primeira instância que correntemente concedem liminares

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para que os ocupantes da terra indígena continuem ali como se legítima fosse a

posse.18

1.2 TERRA INDÍGENA TRADICIONAL

Terra indígena tradicional é, de acordo com o artigo 231 da Constituição

Federal, o espaço territorial tradicionalmente ocupado pelos índios, utilizado para

a realização de atividades produtivas, imprescindível para a preservação dos

recursos naturais para o seu bem-estar, e necessário para a reprodução física e

cultural segundo os usos, costumes e tradições indígenas. A tradicionalidade da

terra indígena é determinada pelo estudo antropológico da ocupação da área

identificada como indígena e independe de ocupação atual ou imemorial. Isso

porque o processo histórico colonizador legou aos índios a expulsão de suas

terras frente à expansão das atividades de mineração, agricultura, pecuária e

instalações de projetos de desenvolvimento como estradas, hidrelétricas, etc..

Determina a carta magna que tais terras devem ser protegidas pela União e

destinam-se à posse permanente dos índios porque constituem direito originário

dos povos indígenas.

No entanto, o ato administrativo de demarcação de terras indígenas, que

estabelece os limites territoriais da área a ser protegida como terra indígena,

quando contestada no Judiciário, tem acarretado patente violação de direitos

fundamentais individuais e coletivos dos índios culminando, inclusive, com a

expulsão dos índios de suas próprias terras por medidas judiciais.

Posse Indígena

A identificação de terras indígenas atende aos dispositivos legais e é

realizada por mandamento constitucional na esfera administrativa, trata-se de

18 Ver casos TI Raposa Serra do Sol, TI Caramuru Paraguassu e outros no capítulo III do presenteRelatório sobre Terras Indígenas.

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reconhecimento de direito originário. O indigenato, direito originário dos índios

às suas terras tradicionais, presente no Direito Brasileiro desde a Constituição de

1891, impede a existência de direitos adquiridos de particulares sobre as terras

indígenas. Portanto, define o legislador constituinte de 1988, no §6º. do artigo

231 da Constituição, que são nulos e extintos os atos que tenham por objeto a

ocupação, o domínio e a posse das terras indígenas.

É certo que há colisão de interesses entre a proteção do direito à vida e à

cultura dos povos indígenas e, do outro lado, do direito à posse ou propriedade

privada das terras que passaram a ser ocupadas ou invadidas por pequenos ou

grandes colonizadores. Nesse ponto há que se buscar o verdadeiro interesse

público, os fins almejados pela proteção constitucional, além da proteção do

interesse coletivo. A proteção constitucional das terras indígenas reveste-se de

especialidade frente à previsão geral de proteção à propriedade privada e

portanto prevalece, observado o princípio da proporcionalidade. Isso porque o

constituinte de 1988 reconhece que a questão territorial é indissociável da

proteção dos povos indígenas e suas realidades sociais diferenciadas, porquanto a

terra tradicional faz-se essencial para a sobrevivência física e cultural dos índios.

A demarcação de terras tradicionais indígenas contribui assim para a preservação

da diversidade cultural do povo brasileiro, um interesse público de maior

relevância do que o simples direito de propriedade privada individual.

Desse modo, não há que se questionar a constitucionalidade da proteção

das terras indígenas, muito menos a relevância do interesse público

constitucionalmente protegido pela demarcação territorial. Eventuais

contestações na esfera judicial devem restringir-se à contestação da legalidade do

ato administrativo e à devida indenização por benfeitorias aos ocupantes de boa-

fé, quando for o caso. O questionamento sobre a posse indígena deve portanto

surgir apenas nesse âmbito de discussão e observará os conceitos de posse e

ocupação indígena estabelecidos pela doutrina e jurisprudência pátria.

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Importante ressaltar que o conflito de interesses levados à via judicial não retira a

eficácia do ato administrativo de demarcação de terras indígenas. Nesse sentido a

jurisprudência do STF anota:

“A via adequada à solução de conflito de interesses porventuraconseqüente à demarcação das terras há de ser, tão-só, ajudicial, na medida em que se instaure confronto entre oparticular e o poder público, este no desempenho do múnus deproteger os indígenas. Não é possível, entretanto, de outra parte,deixar de conferir, ao ato administrativo de demarcação, eficáciaque decorre da sua origem e o torna, enquanto meio declaratórioda caracterização das terras, nos termos do §1º do art. 231 daConstituição, título a ser confrontado com outros, de particulares,referentes a domínio ou posse das terras. É, em razão disso, queo §2º do art. 19, da Lei 6.001, de 1973 (Estatuto do Índio)estabelece que: ‘Contra a demarcação processada nostermos deste artigo não caberá a concessão de interditopossessório, facultado aos interessados contra ela recorrerà ação petitória ou à demarcatória.’” (grifei) (STF - Mandadode Segurança nº. 21.892-4/MS - Rel. Min. Néri da Silveira - DJUde 29.08.2003, p.20)

Ademais, como podemos observar, a ‘posse indígena’ não se iguala à

‘posse civil’. Já em 1961 observando o intuito constitucional do art. 216 sobre a

proteção das terras indígenas, que não se equipara ao instituto da posse ou

propriedade civilista, observava o Ministro Victor Nunes Leal:

“Aqui não se trata do direito de propriedade comum; o que sereservou foi o território dos índios. (...)Não está em jogo, propriamente, um conceito de posse, nemde domínio, no sentido civilista dos vocábulos; trata-se deum habitat de um povo.Se os índios, na data da Constituição Federal ocupavamdeterminado território, porque desse território tiravam seusrecursos alimentícios, embora sem terem construções ou obraspermanentes que testemunhassem posse de acordo com onosso conceito, essa área, na qual e da qual viviam, eranecessária à sua subsistência. Essa área (...) é que se mandourespeitar. Se ela foi reduzida por lei posterior, se o Estado adiminuiu de dez mil hectares, amanhã a reduziria em outros dez,depois, mais dez, e poderia acabar confiando os índios a umpequeno trato, até ao território da aldeia, porque ale é que a“posse” estaria materializada nas malocas.(...)Entendo, portanto que, embora a demarcação desse territórioresultasse, originariamente, de uma lei do Estado, a ConstituiçãoFederal dispôs sobre o assunto e retirou ao estado qualquer

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possibilidade de reduzir a área que, na época da Constituição,era ocupada pelos índios, ocupada no sentido de utilizada poreles como seu ambiente ecológico.” (grifei) (STF – RecursoExtraordinário nº. 44.585/MT - Rel. Min. Ribeiro da Costa, DJ de11.10.61, e MS 16.443-DF, Rel. Min Raphael de Barros Monteiro,DJ 27.03.68)

O art. 231 da Constituição de 1988 incorporou o conceito de terra

indígena como habitat de um povo, além de reafirmar seu caráter de direito

originário - isto é, anterior à própria formação do estado Brasileiro e portanto

precedente a qualquer Constituição - reforçando assim a ilegalidade do ato do

Estado federado que pretende realizar negócios jurídicos com terras indígenas.

Além do indigenato, tratando-se de terras ocupadas por indígenas, estamos

diante de área protegida como terra indígena e não pode o Estado federado

alienar tais áreas, já pertencentes à União por força de dispositivo constitucional.

Nesse sentido:

“Não podia o Estado, assim, dar as terras a terceiros e promoverregistro disso (...) o poder público estadual não tinha basejurídica para invocar condição resolutiva – em gesto unilateral – edisseminar títulos de propriedade a partir de então, porque desde1934 as constituições vinham dizendo do domínio da União sobreas terras em que verificada – como aqui atesta o acervo pericial –a posse indígena. (voto do Relator) (STF – Ação Cível OrigináriaNº 323-7/MG - Rel. Min. Francisco Rezek - DJU de 08.04.94)

e

O SENHOR MINISTRO NÉRI DA SILVEIRA: - Sr. Presidente.Estou de acordo com o eminente Ministro Relator. Registro,particularmente, a circunstância de, à época em que o Estadoexpediu os títulos de domínio, ora objeto da ação, essas terras jáeram, sem dúvida alguma, pertencentes ao domínio da União,por força do art. 4º., inciso IV da Constituição de 1967. Tratava-se de terras ocupadas por índios ao longo do tempo e se houveremoção, como ficou demonstrado nos autos, de forma violenta,isso não as descaracterizou como terras de índios. Não estava oEstado, de forma alguma, habilitado a proceder à alienaçãode terras que já pertenciam, por força de dispositivoconstitucional, à União Federal. (...)” (grifei) (STF – Ação CívelOriginária Nº 323-7/MG - Rel. Min. Francisco Rezek - DJU de08.04.94)

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A prova da ocupação indígena dá-se principalmente por meio de laudo

antropológico que verifica a tradicionalidade da terra, ainda que a ocupação não

seja imemorial ou até mesmo atual. Na verdade, a remoção, especialmente a

remoção com violência, dos índios de suas terras faz prova da ocupação

tradicional indígena consagrando o direito à referida área. Como ressaltado

anteriormente, a posse tradicional indígena não exige e nem se restringe à

simples ocupação física de determinada área, como determina a posse atual

civilista. Citamos o famoso voto do Ministro Gilmar Mendes:

“O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Sr. Presidente, trata—se de um caso interessante, que fala um pouco dessanossa experiência neste tema, que já se arrasta, acredito, desde a Constituição de 1891.Creio ser pacifico, mesmo entre os estudiosos do tema, que o art.64 da Constituição de 1891, ao deferir aos Estados as chamadas“terras devolutas”, pelo menos isso resulta dos estudos docélebre João Mendes, não teria repassado aquelas terrasdestinadas ao indigenato. Depois o texto de 1934, mais especificamente o texto de 46,depois 67, 69, e, finalnente, o texto de 1988, todos elesenfatizaram o valor da posse indígena, inclusive os últimosenfatizando a propriedade da União e o usufruto em favor dosindígenas.É certo, também, isto é algo pacífico, que eventual afastamentoou expulsão dos índios das terras a eles destinadas, ou por elesocupadas, não constituía modus operandi ou faciendi para aeliminação da propriedade — isso, parece-me, implícito,inclusive, na discussão. De modo que a União continuava a serproprietária dessas terras. Também não me parece suficiente,para afastar a discussão que aqui se enceta e se coloca, ainvocação daquelas famosas certidões da FUNAI sobre a não-ocupação dessas terras pelos índios. Invoca-se, no memorial,uma certidão negativa de 1971, os termos até são extremamentesugestivos: “Em atendimento ao que solicita a firma AGROPECUÁRIA SUIÁ-MISSU SOCIEDADE ANÔNIMA (lê fis. 2.190)... CERTIFICO nãohaver conhecimento da existência de aldeamento indígena nasterras de interesse da peticionária. Era uma certidão negativa, em termos, porque, ao mesmo tempoem que atendia aos desígnios dos projetos de desenvolvimento,não se comprometia, integralmente, com a tese, ao dizer que nãohavia conhecimento da existência de aldeamento indígena nasterras referidas. Mas essas considerações são apenas paracolocar o tema no devido contexto. No caso, como bem demonstrado pela eminente Relatora, não é

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disso que se cuida. Em 1998 houve a definição quanto àdemarcação dessas terras e, desde então, arrastam-se asdiscussões com sucessivas medidas de efeito suspensivo. Issotrata um pouco, também, da nossa história e, inclusive, sobre oJudiciário e a própria Administração, que parecem trabalhar umpouco com o paradigma da eternidade. Tema como este acabapor ficar indefinido, (STF - RE nº. 416.144-3/MT, voto Min. GilmarMendes, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ. de 01.10.04)

Dessarte, não pode, em tese, o autor reclamar melhor posse em ação

petitória ou demarcatória. O fundamento jurídico da causa de pedir não poderia

prosseguir exatamente porque a posse indígena é diferente da posse civil e deve

ser analisada à luz do indigenato. O STF já decidiu pela legitimidade do processo

de interdição de áreas objetos de Decreto de demarcação em favor das

comunidades indígenas e com base no conceito de posse indígena estabelecido

no Estatuto do Índio:

“(...) O acórdão ora recorrido — conforme ficou explicitado noaresto prolatado em embargos de declaração — considerou que,no caso, havia impossibilidade jurídica do interdito proibitório,uma vez que, sendo indubitável a presença, na regiãointerditada, do grupo Nainbikwara, o decreto de interdição eranecessário para garantir e proteger a integridade patrimonial dacomunidade indígena, e se baseava no próprio conceito de posseínsito na Lei 6.001/73; utilizou, ainda, do artigo 19 da citada Lei,“como reforço à argumentação da legitimidade do processo deinterdição”; e afastou a aplicação à hipótese dos artigos 505, 524e 527 do Código Civil e dos artigos 153, § 22, e 161, ambos daConstituição Federal, por dizerem eles respeito a direito depropriedade, “cuja análise perdeu consistência ante a disciplinaespedfica da Lei n. 6.001, de 1973, editada com apoio empreceitos da Lei Maior (art. 4 inciso IV e art. 198), citados nasentença de primeiro grau” (fls. 179). Alega a recorrente que, assim decidindo, o aresto recorrido violouo § 2 do artigo 19 da Lei 6001/73, os parágrafos 4º., 15 e 22 doartigo 153 da Constituição Federal, bem como os artigos 267, I eVI, e 932 do Código de Processo Civil. (...)No tocante ao parágrafo 22 desse mesmo artigo 153 da Carta Magna, não há como- pretendê-lo ofendido, umavez que a questão em debate não diz respeito a direito de propriedade,mas, sim, à possibilidade jurídida de remédio possessório, noqual se discute ato que se pretende ameaçador da posse da orarecorrente.

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Por outro lado, e desde que o aresto recorrido afirma a existênciade posse de silvícola na área interditada - o que é questão defato, insusceptível de reexame em recurso extraordinário - não sepode pretender tenha havido violação do artigo 198 da CartaMagna.Quanto à alegada violação do. artigo 19, § 2º. da Lei 6001/73, ainterpretação a ele dada, e pela qual ele alcançaria, também, osatos preparatórios da demarcação administrativa, atos esses aela indispensáveis — até porque, no caso, é mister concentrar ogrupo Nambikwara então disperso, e a interdição visa a evitarconflitos comuns em casos como o da espécie — é, pelo menos,razoável, motivo por que é de se lhe aplicar a súmula 400.Ademais, como se vê do acórdão prolatado nos embargos dedeclaração, a referência ao artigo 19 se fez a título de reforço àargumentação da legitimidade do processo de interdição, e issoporque essa interdição se justifica pelo simples fato — que oaresto recorrido tem por certo — da existência de posse desilvídola na área, considerado o conceito de posse naquelediploma legal. Considerado legítimo o processo de interdição, e inexistindonegativa de vigência ao § 2º. do artigo 19 da Lei 6001/73, não há,também, por via de conseqüência, violação dos artigos 932 e267, I e VI do C.P.C. Em face do exposto, não conheço do presente recurso. “ (grifei)(STF – Recurso Extraordinário Nº 97867/MT - Rel. Min. MoreiraAlves - DJU de 12. 08.83)

A decisão de primeiro grau confirmada pelo STF dispunha:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO N. 97 8 67-4/MTRELATOR O SR. MINISTRO MOREIRA ALVES RECORRENTE AGROPECUÁRIA FLORÊNCIO. BONITO S .ARECORRIDA FUNDAÇÂO NACIONAL DO ÍNDIO - FUNAI

R E L A T Ó R I O O SR. MINISTRO MOREIRA ALVES - É este o teor do acórdãorecorrido (fls. 154/158): “A matéria foi resolvida nestes termos pelo MM. Juiz a quo:“(...)A priori verificamos que há impossibilidade jurídica de prosperar-se a via eleita pela Autora em face da sua impropriedade para o fimcolimado. De fato, ainda que se admita que as terras questionadasencontram-se na área delimitada pelo Decreto n. 74.515; que osíndios NAMBIKWARAS não mais percorrem aquela região poisteriam sido transferidos para outra área, anteriomente interditada peloDecreto n. 62.995; ou que o imóvel não fora destinado “a qualquertipo de reserva,porque, colônia agrícola ou território indígena”, ouque, finalmente, não constitui o prédio “terras de domínio decomunidade indígena”, ainda assim o interdito proposto teria vidaefêmera ante as disposições do art. 19, parágrafo segundo, da Lei n

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6.001, de 19 de dzembro de 1973. Por força da regra inserida nocitado êdito, que reputamos constitucional, ex vi do art. 49, inciso IV e198, da Carta Maior, contra a demarcação pro movida pela FUNAInão cabe interdito possessório mas tão somente, conforme o caso,ação petitória ou demarcatória. A intenção do legislador aqui foiexatamente impossibilitar medidas judiciais, de caráter urgente,capaz de obstacular a ação administrativa do Estado naexecução dos serviços de demarcação sob a forma estabelecidaem decreto do Poder Executivo. Quis com isso dizer aquele queo ato de demarcar-se áreas consideradas terras indígenas ou asdestinadas à posse e ocupação pelos índios não constitui atoturbativo de posse, embora se faculte ao proprietário o uso dasações petitória ou demarcatória, após concluída a demarcaçãoadministrativa, como forma de proteção ao seu direitopropriedade.(...)Que ali é o habitat do grupo Nambikwara não se pode por emdúvida quer seja da definição dos Decretos n. 74515 e 63368 querseja da própria exposição feita pela requerente. Destarte configura-seque o Decreto incriminado teve motivação segura para a expedição.Aliás, a outorga de decretos dessa natureza é ato descricionário doPoder Executivo não podendo opor-se a ele se não pelo meiopermitido e explícito no parágrafo segundo do art. 19, da Lei n.6.001/73. Os objetivos que ressaltam do ato impugnado são, sem sombra dedüvi da, complementar o preceituado no Decreto n. 63.368, de 1968,para fins de demarcação das terras dos silvícolas da região,concentrando o grupo Nambikwara, disperso, em função mesmo dadescontinuidade do seu habitat. or outro lado, a simples presença dacomunidade indígena já exige do Poder Público, em sua atribuiçaotutelar, promover as providências necessárias para preservar o grupo, quer através da aproximação, quer, e principalemnte peladelimitação da área.A interdição decretada já, agora, se apresenta perfeitamentejustificada, consoante se extrái dos termos das contrarazõesoferecidas pela FUNAI, verbis: “É de se ressaltar que a expediçao do referido Decreto deINTERDIÇÃO decorreu da necessidade urgente de garantir, deproteger a integridade patrimonial daquela gente, com repercussão àintegridade física do silvícola contra a presença do não índio, fonteinibidora da posse sobre as terras que habitam e que sãoconstitucionalmente reconhecidas conforme dispositivo trazido àcolação. Ora, em sendo referidas terras bens da União,inquestionavelmente cabível o Decreto que as INTERDITOU, porquanto a embasar o exercício do poder de polícia inerente ao próprioEstado, numa homenagem mesmo a princípios estabelecidosconcernentes à protção e defesa das terras de minorias étnicasíndicas sob sua tutela.(...)A posse dos índios Nambikwara sobre as terras ora questionadasé incontestável, conforme bem definiu a Lei n. 6.001, de 19.12.73, noseu artigo 23: Oportuno dizer que as terras habitadas pelos silvicolas compreendemnão apenas aquelas áreas em que se acham instaladas as suasaldeias mas, ainda, aquelas áreas de perambulação, de caça eoutras por eles destinadas à realização de cerimoniais.

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(...)

E também nas instâncias inferiores, decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª.

Região:

EMENTA: ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL.INTERDITO PROIBITÓRIO.DEMARCAÇÃO DE TERRAS PELAFUNAI. LITISCONSÓRCIO DA UNIÃO. CERCEAMENTO DEDEFESA.1. O art. 19, §2º, da Lei 6001/73 (Estatuto do Índio), veda autilização de interditos possessórios contra a demarcaçãodasterras indígenas. No caso, as portarias mencionadas pelosautoresdispõem sobre o estudo da área, que antecede uma futurademarcação.O rito adequado a ser seguido, em qualquer dos casos, é oda açãopetitória ou demarcatória, como ressalva o mencionadodispositivolegal. Processo extinto pela inadequação da via eleita, quanto aopedido referente à demarcação.2. A União é litisconsorte necessária da FUNAI nas causas emque sediscute a posse (art. 36, parágrafo único, da Lei 6001/73) deterras, quando presente o interesse dos índios.3. Nulidade da sentença que declara a perda superveniente doobjetosem que haja provas nos autos de que os atos de turbaçãotenhamcessado. Devolução dos autos à origem, para reabertura dainstruçãoe posterior julgamento do pedido remanescente, referente àproteçãopossessória demandada em face dos atos de turbação dosindígenas.4. Apelação provida em parte. (grifei) (TRF 4ª. Região –Apelação Cível processo 2000.04.01.095120-9, Relatora JuizaTaís Schilling Ferraz, DJU de 12.02.2002)

E do Tribunal Regional Federal da 3ª. Região:

CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DEINSTRUMENTO. MEDIDA CAUTELAR. DEMARCAÇÃOADMINISTRATIVA DE AREA INDIGENA. FALTA DEINTIMAÇÃO DO MINISTERIO PUBLICO. INTERDITOPOSSESSORIO. IMPOSSIBILIDADE.

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I - O FATO DE O MPF TER ENTRE SUAS MULTIPLASFUNÇÕES A DE PROTEGER DIREITOS INDIGENAS NÃO OTORNA EXCLUSIVO NESSE MISTER, QUE EXERCE EMCONCORRENCIA COM A FUNAI. OUVIDA ESTA ULTIMA,CONSIDERA-SE ATENDIDO O DISPOSTO NO ART. 63 DOESTATUTO DO INDIO. II - INTERDITO POSSESSORIO E A DENOMINAÇÃOGENERICA QUE O LEGISLADOR DO ESTATUTO DO INDIOATRIBUIU PARA DESIGNAR AÇÕES DE MANUTENÇÃO,REINTEGRAÇÃO E INTERDITO POSSESSORIO, PREVISTOSNOS ARTIGOS 926 E SEGUINTES DO CPC. III - INEXISTE, EM DECORRENCIA DE REGRACONSTITUCIONAL (ART. 1 - CF/88), REMEDIOPOSSESSORIO CONTRA O PODER PUBLICO QUE, PELOPRINCIPIO DA SOBERANIA, POSSUI DOMINIMO EMINENTESOBRE TODAS COISAS EM SEU TERRITORIO. IV - NENHUMA INCONSTITUCIONALIDADE MACULA O PAR.2, DO ART. 19, DA LEI N. 6.001/73, VEZ QUE NÃO VEDA ODIREITO DE AÇÃO, APENAS, IMPEDE QUE O DOMINIO E APOSSE DO INDIVIDUO SE SOBREPONHAM A SOBERANIAESTATAL. V - AGRAVO PROVIDO. (TRF 3ª. Região – Agravo deInstrumento, processo 93.03.039008-3, Relator Juiz Fauzi Achoa,DJU de 03.05.1994)

Contudo, é corrente o entendimento nos Tribunais Regionais Federais de

que a Lei 6.001/73 veda a utilização de ações possessórias apenas contra as

demarcações administrativas de terras indígenas já homologadas, ficando

portanto ressalvada a possibilidade jurídica do conflito possessório até a

homologação, bem como a possibilidade do ingresso de outras ações pelos

interessados em atacar a demarcação.

“Também não me parece relevante a alegação de que o art. 19, §2o, da Lei 6.001/73 impediria o cabimento da ação possessória.Isso porque a área em disputa ainda não foi declarada, por meiodo necessário decreto homologatório da demarcação, terraindígena. As próprias Agravantes reconhecem que o procedimentode demarcação ainda não foi concluído. Por outro lado, nodocumento de fl. 46, a FUNAI declara que nunca autorizou os atosdos índios, os quais desconhece, e que “não se responsabiliza poratos isolados praticados por indígenas”. Nota-se, portanto, que aliminar nada mais fez do que preservar a situação dos fatos anteriorao desapossamento praticado pelos índios. Não se discute que, casose comprove que a terra em questão está compreendida no conceitode área tradicionalmente ocupada pelos índios, ela lhes seráentregue, direito este já reconhecido pelo Judiciário no caso de outrasáreas, em precedentes citados no agravo. Mas enquanto não secompleta a instrução probatória, tudo aconselha que seja mantido o

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estado das coisas anterior ao desapossamento.” (grifei) (TRF 1ªRegião – Agravo de Instrumento N. 2004.01.00.038151-6/BA,Relatora Desembargadora Federal Maria Isabel Gallotti Rodrigues)

Ou até mesmo o entendimento de que a proibição de concessão de

interdito possessório, estabelecida pela Lei 6001/73, não constituiria óbice ao

processamento de ação com o objetivo de ver declarada a ineficácia de

procedimento administrativo de demarcação de terras indígenas.

Usufruto exclusivo

De acordo com o §2º do art. 231 da Constituição Federal, os índios detêm

o direito de posse permanente das terras tradicionalmente ocupadas e usufruto

exclusivo das riquezas dos solos, rios e lagos.

Quanto ao aproveitamento dos recursos hídricos, bem como a pesquisa e

lavra de minerais em terras indígenas, a Constituição estabelece que tais

atividades só podem ser realizadas com a aprovação do Congresso Nacional e

ouvidas as comunidades afetadas, cabendo-lhes participação nos resultados, de

acordo com o direito à autodeterminação dos povos indígenas previsto na

Convenção N.169 da Organização Internacional do Trabalho. A consulta prévia

às comunidades indígenas garante aos índios a participação política nas decisões

das obras que têm impacto social, econômico e ambiental sobre suas terras. No

entanto, o entendimento do dispositivo constitucional que exige a consulta às

comunidades ainda encontra ressalvas quanto à sua aplicabilidade e quanto ao

momento da consulta e ainda não foi enfrentado pelo STF.

No caso das comunidades do Parque do Xingu e da construção da

hidrelétrica Belo Monte, o STF decidiu pela incompetência do Egrégio Tribunal

para julgar Ação Direta de Inconstitucionalidade interposta pela Procuradoria

Geral da República questionando a constitucionalidade do Decreto Legislativo n.

788/05. Julgou processualmente que a ADIn não era instrumento adequado, sem

adentrar à questão da autorização do Congresso Nacional para a implantação da

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Usina Hidrelétrica de Belo Monte sem consulta às comunidades indígenas

afetadas. No âmbito da Justiça Federal, decidiu liminarmente o Juiz Federal da

Vara de Altamira que o processo de licenciamento não pode ser iniciado sem

consulta prévia às comunidades atingidas:

“5.3 O relevante fundamento da demanda reside nanecessidade de prévia consulta às comunidades indígenas, antesda edição de decreto legislativo autorizativo de exploração derecursos hídricos em áreas indígenas.

5.4. Com efeito, o art. 231, § 3.º, da Carta Magna de 1988,leciona que o aproveitamento de recursos hídricos, incluídos ospotenciais energéticos, a pesquisa e a lavra em terras indígenassomente podem ser efetivados com autorização do CongressoNacional, ouvidas as comunidades interessadas. Assim, parece-me razoável a interpretação de que a oitiva das comunidadesindígenas interessadas deve ser anterior à autorização do PoderLegislativo. A intenção do constituinte foi a de que, quandohouvesse possibilidade de exercício de atividadespotencialmente prejudiciais ao meio ambiente em áreasocupadas por índios – porquanto as terras tradicionalmenteocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente,cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos riose dos lagos nelas existentes (art. 231, § 2.º, CF) – somentepoderia ser autorizado, pelo Congresso Nacional, apósprévia oitiva das comunidades indígenas.

5.5. A simples menção, no decreto legislativo, que os estudospara implantação da UHE Belo Monte abrangerão estudo denatureza antropológica, atinentes às comunidades indígenaslocalizadas na área sob influência do empreendimento, nãosatisfaz à exigência constitucional prevista no art. 231, § 6.º, daCF. Para que servirá o estudo de natureza antropológica dascomunidades indígenas se a instalação de empreendimento dealto custo ambiental, notadamente às comunidades indígenas, jáfoi autorizado às pressas – conforme expressa manifestação dosSenadores Luiz Otávio e Heloísa Helena em notas taquigráficas– pelo Congresso Nacional? O Senador Luiz Otávio, inclusive,registra que malsinado projeto, aprovado em tão-somente quatrodias, mereceria inserção no Guinness Book, o livros dosrecordes. (...)” (TRF1a Região - Vara única de Altamira – AçãoCivil Pública, Processo n. 2006.39.03.000711-8, decisão liminarproferida em 28 de março de 2006 e derrubada em 21 de maiode 2006)

Nulidade de títulos dominiais

Atendendo ao direito originário dos índios às suas erras tradicionalmente

ocupadas, o Supremo Tribunal Federal decidiu pela presunção relativa de

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validade de titulação dominial, aplicável aos incidentes sobre terras de ocupação

tradicional indígena:

EMENTA: O REGISTRO PÚBLICO DE TÍTULO AQUISITIVO DEPROPRIEDADE NÃO REPRESENTA DIREITO LÍQUIDO,CERTO E INQUESTIONÁVEL, UMA VEZ QUE ESTÁ SUJEITOA IMPUGNAÇÃO. OS INSTRUMENTOS DE AQUISIÇÃO E OREGISTRO PÚBLICO CORRESPONDENTE CONSTITUEMUMA PRESUNÇÃO JURIS TANTUM E NÃO JURIS ET DEJURE. DENEGAÇÃO DO WRITE, RESSALVADAS AS VIASORDINÁRIAS. (STF - Mandado de Segurança nº. 20.723-0/DF -Rel. Min. Djaci Falcão - DJU de 18/03.88, p. 22)

A Jurisprudência do STF vem, desde a Constituição anterior, ressaltando

que os títulos dominiais existentes sobre áreas habitadas por indígenas são nulos

e que o procedimento de demarcação de terras está de acordo com o

cumprimento da lei:

“Vê-se pois que o constituinte não se limitou a estatuir a nulidadedos títulos imobiliários porventura incidentes sobre as áreas deocupação indígena, deferindo expressamente ao legisladorordinário a faculdade de definir os procedimentos que deveriamser adotados na delimitação das referidas terras. Portanto, olegislador ateve-se estritamente ao preceituado no dispositivoconstitucional, ao determinar que tal delimitação fosse levada aefeito mediante a realização de demarcação administrativa” (STF- Mandado de Segurança n. 20.575-0/DF - Rel. Min. AldirPassarinho, DJ. 21.11.86)

e, portanto,

“não se há de invocar, com arrimo nos aludidos documentos(CF e Estatuto do Índio), a proteção constitucional aos direitosadquiridos e ao direito de propriedade para legitimar aimpetração de mandado de segurança. À evidência, não pode haver direito adquirido à propriedadede terras habitadas por indígenas, em face da regra expressado art. 198, da Lei Maior”, e muito menos constitui a demarcaçãode terras indígenas ato abusivo ou de confisco da propriedadeprivada.“ (grifei) (STF – Mandado de Segurança n. 20.515-6/DF,Rel. Min. Djaci Falcão, DJU 22.08.86, pp.36 e 43)

E mais recentemente:

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EMENTA: AÇÃO CIVIL ORIGINÁRIA. TÍTULOS DEPROPRIEDADE INCIDENTES SOBRE ÁREA INDÍGENA.NULIDADE. Ação declaratória de nulidade de títulos depropriedade de imóveis rurais, concedidos pelo governo doEstado de Minas Gerais e incidentes sobre área indígenaimemorialmente ocupada pelos índios Krenak e outros grupos.Procedência do pedido. (STF – Ação Cível Originária N. 323-7/MG - Rel. Min. Francisco Rezek - DJU de 08.04.94)

Ainda sobre a transferência de títulos pelos estados-membros:

“MANDADO DE SEGURANÇA. Decreto homologatório dademarcação administrativa da área indígena denominada‘Guasuti’, no estado de Mato Grosso do Sul. Alegada ilegalidade,por tratar-se de terras particulares, detidas por produtores rurais,com base em títulos de domínio que remontam a 1920.Controvérsia cuja dilucidação implica a necessidade de apurarse, conquanto desocupadas pelos índios há cerca de 50 anos,como alegado, as terras em questão, em alguma época, teriamsaído do domínio da União, circunstância sem a qual não sepoderia reconhecer legitimidade a alienação que, segundo sealega, delas fez o estado-membro, iniciando a cadeia dominialora exibida pelos impetrantes. Questão insuscetível de serdilucidada sem ampla instrução probatória, que o rito domandado de segurança não comporta. Carência da ação.” (MS21575, Rel. p/ acórdão Min. Ilmar Galvão, DJ 17.06.94)

O Ministro Celso de Mello, em decisão sobre o conflito de competências

para julgar querela entre particulares e a comunidade indígena de Jaguapiré,

esclarece a finalidade institucional das terras indígenas, como terras de

propriedade da União, reservadas às comunidades indígenas, para a proteção dos

direitos indígenas e reconhece a validade do procedimento de demarcação de

terras indígenas:

“Cumpre destacar, dentro desse contexto, que a área territorialdisputada nesta causa compõe-se de terras, que, além dedeclaradas como de pose permanente indígena, já foramdemarcadas administrativamente. Mais do que isso, oPresidente da República formalmente homologou, para osefeitos do art.231 da Constituição, a demarcação administrativapromovida pela FUNAI e concernente à Área Indígena Jaguapiré(...) e em cujo âmbito se situa o bem litigioso.Tratando-se – consoante expresso reconhecimento oficial (quese reveste de presunção juris tantum de legitimidade e deveracidade) – de área tradicionalmente ocupada pelos índios, asterras nela abrangidas “são inalienáveis e indisponíveis, e osdireitos sobre elas, imprescritíveis” (CF, art.231, §4º.)

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A importância jurídica desse reconhecimento oficial – que setraduz no decreto presidencial de homologação administrativa daárea em questão – reside na circunstância de que as terrastradicionalmente ocupadas pelos índios, embora pertencentes aopatrimônio da União (CF, art.20, XI), acham-se afetadas, porefeito de destinação constitucional, a fins específicos voltados,unicamente, à proteção jurídica, social, antropológica, econômicae cultural dos índios, dos grupos indígenas e das comunidadestribais. A Carta política, na realidade, criou, em seu art. 231 §1º, umapropriedade vinculada ou reservada, destinada, de um lado, aassegurar aos índios os exercícios dos direitos que lhes foramoutorgados constitucionalmente (CF, art.231, §§ 2º, 3º e 7º) e, deoutro, a proporcionar às comunidades indígenas bem-estar econdições necessárias à sua reprodução física e cultural,segundo seus usos, costumes e tradições.(...)É por essa razão – salienta JOSÉ AFONSO DA SILVA (Curso deDireito Constitucional Positivo, p. 780, item n. 3, 12ª ed., 1996,Malheiros) – que o tema concernente aos direitos sobre as terrasindígenas transformou-se no ‘ponto central dos direitosconstitucionais dos índios” eis que, para eles, a terra “tem umvalor de sobrevivência física e cultural”. É que – prossegue esseeminente constitucionalista – não se ampararão os direitos dosíndios, “ se não se lhes assegurar a posse permanente e ariqueza das terras por eles tradicionalmente ocupadas, pois adisputa dessas terras e de sua riqueza (...) constitui o núcleoda questão indígena hoje no Brasil” (grifei)A intensidade dessa proteção constitucional revela-se tãonecessária que o próprio legislador constituinte pré-excluiu docomércio jurídico as terras indígenas, proclamando a nulidade edeclarando a extinção de atos que tenham por objeto aocupação, o domínio e a posse de tais áreas, considerando,ainda, ineficazes as pactuações negociais que visem aexploração das riquezas naturais nelas existentes (...)”(RTJ 93-1291 – RTJ 101/419).” (STF – RE 183.188-0/MS, Voto do RelatorMin. Celso de Mello, p.19-22)

Ao decidir em medida liminar sobre a suspensão e sobrestamento dos

recursos extraordinários até o final do julgamento dos mesmos, derrubando a

decisão de primeiro grau que determinava a imediata expulsão dos índios guarani

das terras demarcadas que ocupavam, O Ministro Celso Mello discorre sobre a

proteção constitucional da terra indígena:

DESPACHO: Trata-se de medida cautelar inominada, denatureza incidental,requerida pela Fundação Nacional do Índio - FUNAI e pelaComunidade

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Indígena de Jaguapiré (Índios Guarani do subgrupo Kaiowa), emque sepostula a outorga de efeito suspensivo, ate seu final julgamento,aosrecursos extraordinários interpostos pelos ora requerentes (fls.04).Pretende-se, ainda, que se determine "a manutenção daComunidade Indígenade Jaguapiré na área que ocupa - a Área Indígena de Jaguapire -ate que serealize o julgamento dos mencionados Recursos Extraordináriospelo SupremoTribunal Federal" (fls. 04)."Emerge claramente do texto constitucional que a questão daterrarepresenta o aspecto fundamental dos direitos e dasprerrogativasconstitucionais assegurados aos índios, pois estes, sem apossibilidade deacesso as terras indígenas, expõem-se ao risco gravíssimo dadesintegraçãocultural, da perda de sua identidade étnica, da dissolução deseusvínculos históricos, sociais e antropológicos e da erosão de suaprópriapercepção e consciência como povo e como nação quereverenciam os locaismísticos de sua adoração espiritual e que celebram, neles, osmistériosinsondáveis do universo em que vivem. E por essa razão - salienta JOSE AFONSO DA SILVA ("Curso deDireitoConstitucional Positivo", p. 780, item n. 3, 12a. ed., 1996,Malheiros) -que o tema concernente aos direitos sobre as terras indígenastransformou-se "no ponto central dos direitos constitucionais dosíndios",eis que, para eles, a terra "tem um valor de sobrevivência física ecultural". E que - prossegue esse eminente constitucionalista -não seampararão os direitos dos índios, "se não se lhes assegurar apossepermanente e a riqueza das terras por eles tradicionalmenteocupadas, poisa disputa dessas terras e de sua riqueza (...) constitui o núcleo daquestão indígena hoje no Brasil". “ (STF – Pet. N.1.208-9/MS,Min. Rel. Celso de Mello)

E ainda sobre os efeitos do recurso extraordinário e os requisitos para a

propositura de medidas cautelares de natureza incidental junto ao STF:

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“O recurso extraordinário - que configura instrumento jurídico-processualdestinado a preservar a intangibilidade do ordenamentoconstitucional,assegurando, nas situações concretas e individuais emergentes,o respeitoa autoridade, a eficácia, a validade e a integridade ou inteirezapositivada Carta Política (PONTES DE MIRANDA, "Comentários aConstituição de1946", vol. III/58, 2a. ed., 1953, Max Limonad; ALFREDOBUZAID, "Estudosde Direito", vol. 1/152, item n. 21, 1972, Saraiva) - reveste-se, noqueconcerne aos efeitos que lhe são inerentes, de meradevolutividade.Isso significa que o apelo extremo não dispõe de efeitosuspensivo (CPC,art. 542, parágrafo 2o., com a redação dada pela Lei n.8.950/94),circunstancia esta que legitima, ate mesmo, a própria execuçãoprovisóriado julgado recorrido (CPC, art. 497, c/c art. 587, segunda parte).(...)O Supremo Tribunal Federal, no entanto, tem admitido quecircunstanciasexcepcionais poderão autorizar a concessão de efeito suspensivoao recursoextraordinário interposto, desde que utilizada, pelo interessado,providencia processual juridicamente idônea. Vale dizer, estaSupremaCorte, em situações de absoluta excepcional idade, tem deferidoeficáciasuspensiva ao apelo extremo, desde que requerida, nos termosdo queprescrevem os arts. 8o., I, 21, IV, e 304, todos do seu RegimentoInterno,a competente medida cautelar inominada (RTJ 110/458 - RTJ -112/957).Impõe-se destacar, na linha da jurisprudência do STF, que aoutorga deefeito suspensivo, em sede cautelar incidental - alem dacumulativasatisfação dos requisitos concernentes ao fumus boni juris e aopericulumin mora - depende da existência de juízo positivo deadmissibilidade, que,emanado da Presidência do Tribunal a quo, haja incidido sobre orecursoextraordinário interposto pela parte interessada (Pet n. 721 - SP(AgRg),Rel. Min. CELSO DE MELLO - Pet n. 748-RJ, Rel. Min. CELSODE MELLO - Petn. 196-6 (Medida Liminar), Rel. Min. OCTAVIO GALLOTTI - RTJ

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116/428, Rel.Min. FRANCISCO REZEK, v.g.).Esse especifico pressuposto acha-se satisfeito na espécie, eisque oeminente Presidente do Tribunal a quo admitiu os recursosextraordináriosinterpostos pelos ora requerentes (fls. 40).Cabe analisar, portanto, a plausibilidade jurídica da pretensãorecursalmanifestada pela FUNAI e pela Comunidade Indígena deJaguapiré.A controvérsia constitucional suscitada na causa principalassume, porefeito de sua própria natureza, indiscutível relevo jurídico.(...)Cumpre destacar, dentro desse contexto, que a área territorialdisputadana causa principal compõe-se de terras que já foram demarcadasadministrativamente. Mais do que isso, o Presidente daRepublicaformalmente homologou, para os efeitos do art. 231 daConstituição, ademarcação administrativa promovida pela FUNAI e concernentea ÁreaIndígena Jaguapiré, localizada no município de Tacuru/MS (fls.54/55) e emcujo âmbito se situa o bem litigioso.Tratando-se - consoante expresso reconhecimento oficial (que sereveste dapresunção juris tantum de legitimidade e de veracidade) - de áreatradicionalmente ocupada pelos índios, as terras nela abrangidas"sãoinalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas,imprescritíveis"(CF, art. 231, parágrafo 4o.).A importância jurídica desse reconhecimento oficial - que setraduz nodecreto presidencial de homologação administrativa da área emquestão -reside na circunstancia de que as terras tradicionalmenteocupadas pelosíndios, embora pertencentes ao patrimônio da União (CF, art. 20,XI),acham-se afetadas, por efeito de destinação constitucional, a finsespecíficos voltados, unicamente, a proteção jurídica, social,antropológica, econômica e cultural dos índios, dos gruposindígenas e dascomunidades tribais.A Carta Política, na realidade, criou, em seu art. 231, parágrafo1o., umapropriedade vinculada ou reservada, destinada, de um lado, aassegurar aosíndios o exercício dos direitos que lhes foram outorgadosconstitucionalmente (CF, art. 231, parágrafos 2o., 3o. e 7o.) e, de

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outro,a proporcionar as comunidades indígenas bem-estar e condiçõesnecessáriasa sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumesetradições (CF, art. 231, caput e seu parágrafo 1o.).Dai a advertência de LUIZ FELIPE BRUNO LOBO ("DireitoIndigenistaBrasileiro" p. 53, 1996, LTr), para quem "A propriedade das terrasindígenas outorgada a União nasce com objetivo de mantê-lasreservadas aseus legítimos possuidores. Há um vinculo indissolúvel entre areserva aque se destina e a natureza desta propriedade. Por esta razãosão terrasinalienáveis, indisponíveis, inusucapíveis e os direitos sobre elassãoimprescritíveis." (grifei).(...)A intensidade dessa proteção institucional revela-se tãonecessária que opróprio legislador constituinte pré-excluiu do comerciojurídico as terrasindígenas, proclamando a nulidade e declarando a extinçãode atos quetenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse de taisáreas,considerando, ainda, ineficazes as pactuações negociais quevisem aexploração das riquezas naturais nelas existentes, sempossibilidade de quaisquer conseqüências de ordemjurídica, inclusive aquelas concernentes a recusaconstitucional do direito a indenização ou do próprio acessoa ações judiciais contra a União Federal, ressalvadas,unicamente, as benfeitorias derivadas da ocupação de boa-fé (CF, art. 231, parágrafo 6o.). Cumpre ter presente, por issomesmo, a correta advertência feita por DALMO DE ABREUDALLARI ("O que são Direitos das Pessoas", p. 54/55, 1984,Brasiliense):"(...) ninguém pode tornar-se dono de uma terra ocupada poríndios. Todasas terras ocupadas por indígenas pertencem a União, mas osíndios temdireito a posse permanente dessas terras e a usar e consumircomexclusividade todas as riquezas que existem nelas. Quem tiveradquirido, aqualquer tempo, mediante compra, herança, doação ou algumoutro titulo,uma terra ocupada por índios, na realidade não adquiriu coisaalguma, poisestas terras pertencem a União e não podem ser negociadas. Ostítulosantigos perderam todo o valor, dispondo a Constituição que os

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antigostitulares ou seus sucessores não terão direito a qualquerindenização."(grifei)E por tal razão que já se decidiu, no regime constitucionalanterior - emque havia norma semelhante (CF/69, art. 198, parágrafo 1o.) aque hoje seacha consubstanciada no art. 231, parágrafo 6o. da CartaFederal de 1988 -que a existência de eventual registro imobiliário de terrasindígenas emnome de particular qualifica-se como situação juridicamenteirrelevante eabsolutamente ineficaz, pois, em tal ocorrendo, prevalece ocomando danorma constitucional referida, "que declara nulos e sem nenhumefeitojurídico atos que tenham por objeto ou domínio, a posse ou aocupação deterras habitadas por silvícolas" (Revista do TFR, vol. 104/237).Tenho para mim, portanto, presentes estas razoes, que sereveste deplausibilidade jurídica a pretensão de ordem cautelar deduzidapelos orarequerentes, especialmente se se considerar o parecer doMinistérioPublico Federal, que, proferido na causa principal, manifestou-sepelointegral conhecimento e provimento dos recursos extraordináriosinterpostos.Concorre, por igual, o requisito concernente ao periculum inmora. Os orarequerentes assim justificaram essa situação de grave e iminentedano acomunidade indígena interessada (fls. 03/04):"Em 30 de setembro próximo passado, o Juízo da Comarca Estadual deIguatemi concedeu liminar aos requeridos (Doc. 5), antecipando a tutelacautelar para determinar a expedição de mandado com vistas a retiradadaComunidade Indígena de Jaguapiré das terras que ocupa, as quais já seencontram, inclusive, demarcadas e homologadas por decreto doPresidenteda Republica (Doc. 6).Referida decisão, em razão de pedido feito pelo representante doMinistério Publico Federal no Estado do Mato Grosso do Sul (Doc. 7),tevea sua execução adiada pelo período de 30 dias.Porem, em que pese o mencionado adiamento, o clima deintranqüilidade quese instalou no seio da Comunidade Indígena de Jaguapiré não foiextinto,tendo em vista a possibilidade de que, findo o prazo de 30 dias, a ordemde retirada dos índios de suas terras seja imediatamente executada,semque lhes seja ofertada qualquer outra alternativa de sobrevivência.

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Ressalte-se o fato de que, neste momento, a Comunidade Indígenarealiza ostrabalho de preparação da terra para a semeadura. Caso sejaminterrompidos, mesmo na hipótese de um retorno posterior daComunidade aterra, os prejuízos já serão irreparáveis, podendo expor os índios afome,doenças e mais sofrimento.Alem disso, e de se ponderar que uma medida propiciadora de taisdanos auma coletividade não deveria ser adotada por um Juízo cujacompetência ealvo de contestação, mormente porque se trata, uma vez mais, dedisputasobre direitos indígenas. Justamente quando essa colenda Corte seavizinhado momento de proferir o seu julgamento sobre os RecursosExtraordinários,seria prudente evitar que a Comunidade Indígena de Jaguapiré sofra osefeitos dramáticos da decisão proferida pelo Juízo estadual, que poderáamanha não ter mais nenhum efeito no plano formal, mas terácertamentecausado danos profundos, que poderiam ter sido evitados." Sendo assim, e considerando as razoes expostas, defiro amedida cautelarincidental ora postulada e outorgo efeito suspensivo aos recursosextraordinários interpostos pela Fundação Nacional do Índio -FUNAI e pelaComunidade Indígena de Jaguapiré (RE n. 183.188 - MS)”. (STF– Pet. N.1.208-9/MS, Min. Rel. Celso de Mello)

Pontes de Miranda, citado em voto do Min. Néri da Silveira (STF – Ação

Cível Originária 278-8/MT, Rel. Min. Soares Muñoz, DJ de 10.08.83) ensina:

“São nenhuns quaisquer títulos, mesmo registrados, contra a posse dos silvícolas,

ainda que anteriores à Constituição de 1934, se à data da promulgação havia tal

posse. O registro anterior de propriedade é título de propriedade sem uso e sem

fruição.” (in Comentários à Constituição de 1967, Tomo VI, páginas 435 e 436)

1.3 AÇÕES, MEDIDAS LIMINARES E RECURSOS

As demandas judiciais relativas à demarcação de terras indígenas

direcionadas ao Supremo Tribunal Federal em geral alegam nulidades no

procedimento administrativo de demarcação de terras através de Mandados de

Segurança, seja pela perempção do prazo disposto nas Disposições

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Constitucionais Transitórias para a conclusão das demarcações; seja pela alegada

inconstitucionalidade do decreto que estabelece o procedimento (atualmente

Decreto 1775/96); seja contra as Portarias do Ministro da Justiça que determinam

a demarcação de determinada área indígena; contra a homologação do ato pelo

Presidente da República; ou contra a desapropriação determinada pelo ato

administrativo. Há também ações civis originárias para declarar nulidade de

títulos de propriedade concedidos por governos estaduais sobre terras indígenas.

O STF decidiu que o prazo de cinco anos previsto no artigo 67 do Ato

das Disposições Constitucionais Transitórias para a conclusão da demarcação

das terras indígenas pela União não é peremptório. Trata-se apenas de

dispositivo programático e uma visão prognóstica sobre os términos dos

trabalhos de demarcação, a fim de que estes fossem concluídos em tempo

razoável:

EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA - DILAÇÃOPROBATÓRIA. Estando a causa de pedir do mandado desegurança direcionada à definição de fatos considerada dilaçãoprobatória, forçoso é concluir pela impropriedade da medida.TERRAS INDÍGENAS - DEMARCAÇÃO. O prazo previsto noartigo 67 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias nãoé peremptório. Sinalizou simplesmente visão prognóstica sobre otérmino dos trabalhos de demarcação e, portanto, a realizaçãodestes em tempo razoável. (STF - MS 24.566-2/DF Rel. Min.Marco Aurélio, DJU de 28.05.04)

Ação Direta de Inconstitucionalidade

Em decisão monocrática sobre o questionamento da constitucionalidade

de Portaria do Ministro da Justiça que demarca área como terra indígena, e inclui

parcela de território designado como unidade de conservação ambiental, a

Ministra Ellen Gracie esclarece que a referida portaria constitui ato

administrativo e que o controle abstrato de normas não é a via adequada para

questionamentos, estes devem se dar na esfera da legalidade:

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DESPACHO1 - O Procurador-Geral da República propôs ação direta deinconstitucionalidade em face da Portaria nº. 359, de 20.04.01, doMinistério da Justiça, que possui o seguinte teor: (fl. 04) "OMINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA, no uso de suasatribuições e tendo em vista o disposto no Decreto nº. 1.775, de 8de janeiro de 1996, e diante da proposta apresentada pelaFundação Nacional do Índio - FUNAI, objetivando a definição delimites da Terra Indígena INÃWÉBOHONA, constante doprocesso FUNAI/BSB/3622/81; CONSIDERANDO que a TerraIndígena localizada nos Municípios de Pium e Lagoa daConfusão, Estado do Tocantins, ficou identificada nos termos do§ 1º do art. 231 da Constituição Federal e inciso I do art. 17 daLei nº. 6.001, de 19 de dezembro de 1973, como sendotradicionalmente ocupada pelos grupos indígenas Javaé, Karajáe Ava-Canoeiro; CONSIDERANDO os termos do Despacho nº.72, de 26 de novembro de 1999, do Presidente da FUNAI,publicado no Diário Oficial da União de 3 de dezembro de 1999 eDiário Oficial do Estado do Tocantins no dia 31 de dezembro de1999; CONSIDERANDO os termos dos pareceres da FUNAI,julgando improcedente a contestação oposta à identificação edelimitação da terra indígena, resolve: Art. 1º Declarar de possepermanente dos grupos indígenas Javaé, Karajá e Ava-Canoeiroa Terra Indígena INÃWÉBOHONA, com superfície aproximadade 376.545 ha (trezentos e setenta e seis mil, quinhentos equarenta e cinco hectares) e perímetro também aproximado de400 km (quatrocentos quilômetros), assim delimitada: (omissis)Art. 2º Para fins do disposto no art. 57 da Lei nº. 9.985, de 18 dejulho de 2000, a FUNAI apresentará ao IBAMA um Plano deGestão Sócioambiental com vistas à preservação dos recursosnaturais da terra ora declarada e respeito aos direitos indígenasdos grupos que nela habitam. Art. 3º A FUNAI promoverá ademarcação administrativa da Terra Indígena ora declarada, paraposterior homologação pelo Presidente da República, nos termosdo art. 19, § 1º, da Lei nº. 6.001/73 e do art. 5º do Decreto nº.1.775/96. Art. 4º Esta Portaria entra em vigor na data de suapublicação." (Destaquei) Para a propositura da presente ação, orequerente se baseou em solicitação enviada ao MinistérioPúblico Federal pela Vice-Presidente da FUNATURA - FundaçãoPró-Natureza (fl. 7/8), na qual se afirma que a edição da PortariaMinisterial impugnada implicou na diminuição da área total doParque Nacional do Araguaia (que já teria sido de dois milhõesde hectares) para apenas cem mil hectares. Alega o autor que aimposição de uma redução do território da referida unidade deconservação ambiental mediante a edição de uma portaria, aoinvés da elaboração de uma lei, com a entrega da possepermanente da área suprimida aos grupos indígenas acimacitados desobedeceu ao comando inscrito no art. 225, § 1º, III daConstituição Federal . Requer, assim, a procedência do pedidoformulado, consubstanciado na declaração deinconstitucionalidade da Portaria contestada. 2 - A Portaria emexame, editada pelo Ministro da Justiça no ano de 2001,delimitou, especificadas as coordenadas geográficas, oreferido território situado no Estado de Tocantins e declarou

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esta mesma área de posse permanente de três gruposindígenas, nomeando-a Terra Indígena INÃWÉBOHONA.Trata-se, portanto, de ato materialmente administrativo, deefeitos concretos, destituído de abstração e generalidade, talqual um decreto que declara certo imóvel rural de interessesocial para fins de reforma agrária ou uma portaria queconcede aposentadoria a servidor público. Segundo areiterada jurisprudência desta Corte, atos desta natureza,exatamente por carecerem de qualquer grau denormatividade, não se sujeitam ao controle concentrado deconstitucionalidade. Neste sentido, os precedentes firmadosnas ADIs 643 (DJ 03.04.92), 769 (DJ 08.04.94) e 842 (DJ14.05.93), todas de relatoria do eminente Ministro Celso deMello. O acórdão daquele primeiro julgado possui a seguinteementa: "(...) - Objeto do controle normativo abstrato, perante aSuprema Corte, são, em nosso sistema de direito positivo,exclusivamente, os atos normativos federais ou estaduais.Refogem a essa jurisdição excepcional de controle os atosmaterialmente administrativos, ainda que incorporados ao textode lei formal. - Os atos estatais de efeitos concretos - porquedespojados de qualquer coeficiente de normatividade ou degeneralidade abstrata - não são passíveis de fiscalizaçãojurisdicional, em tese, quanto à sua compatibilidade vertical como texto da Constituição. (...)" 3 - É relevante destacar que nasADIs 710 e 977, rel. Min. Marco Aurélio, no que se refere aoDecreto Presidencial nº. 22/91 e à Portaria do Ministério daJustiça nº. 580/91, e na ADI 1.429, rel. Min. Carlos Velloso, notocante ao Decreto Federal nº. 1.775/96, impugnou-se a fixaçãode procedimento administrativo para a demarcação das terrasindígenas. Em todas estas ações diretas o Supremo TribunalFederal considerou inadequada a via do controle abstrato denormas, por se tratarem de atos do Poder Público que nãoeram normativos, mas simplesmente administrativos. Nasduas primeiras ações citadas, o eminente Ministro Marco Aurélioressaltou em seu voto que a impugnação veiculada tinha comomóvel, na hipótese, "a extensão da área declarada como deposse permanente indígena", tendo lavrado, assim, asrespectivas ementas nestes termos, verbis: "AÇÃO DIRETA DEINCONSTITUCIONALIDADE - ATOS MATERIALMENTEADMINISTRATIVOS. A ação direta de inconstitucionalidade émeio impróprio ao ataque de atos meramenteadministrativos. Isto ocorre quando se impugna Decreto doChefe do Poder Executivo e Portaria de Ministro de Estadoque disciplinam a demarcação de terras indígenas, traçandoparâmetros para a atividade administrativa a serdesenvolvida. Possível extravasamento de área contida naPortaria resolve-se no âmbito da ilegalidade." No presentecaso, o não cabimento da via eleita se revela de forma maisveemente, uma vez que a Portaria hostilizada, longe de estipularregras e procedimentos, teve como finalidade única aespecificação territorial de uma área cuja posse permanente foiatribuída aos grupos indígenas referidos. Definir, com precisão,se o espaço físico apontado na Portaria sobrepõe-se, ainda queparcialmente, ao território do Parque Nacional do Araguaia

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demandaria farta produção de prova, inclusive pericial, tambémincompatível com o controle abstrato de normas. 4 - Ressalte-se,por último, que a ação direta de inconstitucionalidade não ésucedâneo de ação popular constitucional, "destinada, esta sim,a preservar, em função de seu amplo espectro de atuaçãojurídico-processual, a intangibilidade do patrimônio público e aintegridade do princípio da moralidade administrativa (CF, art. 5º,LXXIII)" (ADI 842, rel. Min. Celso de Mello, DJ 14.05.93), bemcomo a incolumidade do meio ambiente. 5 - Por todas estasrazões, em sintonia com a jurisprudência desta Corte, negoseguimento a esta ação direta de inconstitucionalidade (RISTF,art. 21, § 1º). Publique-se. Brasília, 10 de novembro de 2004. MinRelatora Ellen Gracie (grifei) (STF – ADI 3335/DF Rel Min Ellen Gracie, DJ de22.11.2004)

Mandado de Segurança

No tocante à discussão sobre a posse de terra indígena ou o registro

público de título aquisitivo de propriedade, desapropriação e pagamentos de

benfeitorias, entende o Egrégio Tribunal que tais questões, em via de mandado

de segurança, exigem prova de direito líquido e certo. Assim, boa parte dos

mandados de segurança impetrados contra a demarcação de terras indígenas é

denegada pelo Supremo Tribunal Federal visto que o mandado de a discussão

sobre terras indígenas requer conteúdo probatório não compatível com o

mandado de segurança.

Ainda assim o mandado de segurança, por seu caráter cautelar, exige

decisões mais céleres e, por essa razão, ainda é escolhido como via judicial para

sobrestar a demarcação administrativa de terras indígenas. A disputa em ação

própria, como é o caso da ação civil ordinária e dos processos levados à primeira

instância dos tribunais regionais federais, prolonga-se no tempo, chegando a

ficar décadas sem uma decisão judicial final. Fato este que, por si só, ameaça o

direito dos índios às suas terras, vez que na maioria dos casos são as

comunidades indígenas que têm de permanecer fora de suas terras, quando não

são desalojadas por medidas judiciais.

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Até o presente momento, os acórdãos do Supremo Tribunal Federal que

versam sobre terras indígenas são majoritariamente19 decisões em ações de

mandados de segurança. A jurisprudência do STF aponta que o Mandado de

Segurança não pode ser via para declarar a nulidade do ato demarcatório (estudo

FUNAI, portaria declaratória do Ministro da Justiça e homologação pelo

Presidente da República) de terras indígenas posto que qualquer decisão nesse

sentido exige matéria de fato a ser discutida e provada em ação própria. De

acordo com as regras do Código de Processo Civil, a comprovação de direito

líquido e certo é exigida para a admissão do mandado de segurança.

EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA: TEMPESTIVIDADE.TERRAS INDÍGENAS. DECRETO N.92.015/85, QUE DECLARADE OCUPAÇÃO DOS INDÍGENAS ÁREA DE TERRAS QUEMENCIONA. ILIQUIDEZ DOS FATOS. Embora tempestivo omandado de segurança, posto que ajuizado no 120º dia, contadoo prazo da publicação do ato atacado, é ele de ser indeferido seos fatos são incertos. Não é possível, no âmbito estreito do“writ”, onde a prova há de ser pré-constituída, espancarem-se as dúvidas quanto a serem as terras objeto do decretoatacado ocupadas ou não por indígenas. Da incerteza quantoaos fatos resulta a iliquidez do direito.” (grifei) (STF - Mandadode Segurança n. 20.575-0/DF - Rel. Min. Aldir Passarinho, DJ.21.11.86; e pretensões semelhantes em: Agravo de Instrumento88.682-6/MT, Rel. Min. Moreira Alves, DJ de 10.09.82; MS20.234/MT, DJU de 11.04.80; MS 20.548-2/DF, Rel. Min. OscarCorrêa, DJ de 18.04.86; MS 20.556 -3/DF, Rel. Min Célio Borja,DJU de 20.08.86; MS 20.515-6/DF, Rel. Min. Djaci Falcão, DJUde 22.08.86; MS 20.723-0/DF, Rel. Min. Djaci Falcão, DJ de18.03.88; e em seguida tendo a atual carta magna vigor: MS21.649 Rel. Min. Moreira Alves, DJU de 15.12.00; RE 187.163-6/DF, Min. Rel. Ilmar Galvão, DJU de 29.10.99; MS 21.892, Rel.Min Néri da Silveira, DJU de 29.08.03)

também:

“MANDADO DE SEGURANÇA. Decreto 94603, DE 14.7.87, quehomologou a demarcação da área indígena Pankararu. Saber seas áreas ocupadas pelos impetrantes são, ou não, terrasindígenas para efeito de sua inclusão no decreto que homologoua demarcação da área indígena Pankararu é questão de fatoque, por ser controvertida, não pode ser deslindada em mandadode segurança. Ausência de direito líquido e certo. Observânciadas normas estabelecidas no artigo 2º. Do Decreto 88118, de

19 Na pesquisa de jursiprudência do STF, numa mostra de 36 acórdãos entre os anos 1990 e 2006,14 decidiam sobre mandado de segurança.

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23.02.83, sob cuja disciplina se realizou efetivamente oprocedimento administrativo de demarcação. Mandado desegurança indeferido, ressalvada as vias ordinárias.” (MS 20751,Rel. Min.Moreira Alves, DJ 19.08.88)

e mais recentemente:

EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DESEGURANÇA. Acórdão do Superior Tribunal de Justiça. Portariado Ministro da Justiça a declarar os limites das terras indígenas ea demarcação de áreas indígenas (Área Indígena Rio Negro).Alegação de que a área discutida pertence ao Estado doAmazonas, por serem terras devolutas. Satisfação dos requisitosde admissibilidade do mandado de segurança – direito líquido ecerto -, independentemente de comprovação de ser devoluta aárea demarcada. Impossibilidade de discussão acerca dadominialidade de terras no âmbito do mandado de segurança.Recurso desprovido. (STF – Recurso Ord. Em MS N. 22.913-0/AM, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJ de 23.04.04)

e

EMENTA: ÁREA INDÍGENA. DECRETO PRESIDENCIALHOMOLOGATÓRIO DE DEMARCAÇÃO INDÍGENA. MANDADODE SEGURANÇA. VIA INADEQUADA PARA A DISCUSSÃOSOBRE A EXISTÊNCIA OU NÃO DE POSSE IMEMORIAL DOSÍNDIOS. MS INDEFERIDO. (STF - Mandado de Segurança n.21.891-6/DF - Rel. Min. Ellen Grace - DJU de 06.02.04; esemelhantes considerações em: MS 23.862-3/GO, Rel. Min. EllenGracie, DJ 26.03.04)

e

EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DESEGURANÇA. DESAPROPRIAÇÃO DESTINADA Á RESERVAINDÍGENA. DEMARCAÇÃO. EXIGÊNCIA DE DILAÇÃOPROBATÓRIA. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA.PRECEDENTES. RECURSO DESPROVIDO. (STF – RecursoOrdinário em Mandado de Segurança n. 24.531-3/DF, em05.04.05)

Demarcação sub judice

O STF já decidiu pela pertinência e/ou continuação da suspensão dos

efeitos da Portaria de Demarcação de terras paralisando o ato administrativo de

demarcação de terras sob o argumento de “evitar uma mudança radical e de

difícil restabelecimento no atual estado de fato da região envolvida, num

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momento em que o ato administrativo passa por um legítimo controle

jurisdicional de legalidade, podendo estar presentes outros interesses igualmente

resguardáveis pela ordem constitucional brasileira.”. (STF – Ag. Reg. na

Suspensão liminar 38-1/RR, Min. Relatora Ellen Gracie - DJU de 17.09.2004)

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL. Suspensão de liminarrequerida pelo Ministério Público Federal. Terra indígena RaposaSerra do Sol, Portaria 820/98, do Ministério da Justiça. AçãoPopular. Liminares concedidas em ambas as instâncias daJustiça Federal. Ausência de demonstração inequívoca de gravelesão à ordem, à saúde, à economia. Pedido de Suspensãoindeferido. (STF – Ag. Reg. Na Suspensão liminar 38-1/RR - Min.Relatora Ellen Gracie , DJU de 17.09.2004)

A pendência judicial no âmbito da Justiça Federal (demarcação sub

judice) tem sido entendida, ainda que em caráter liminar, como causa para a

suspensão dos efeitos do ato administrativo de demarcação da terra indígena,

mesmo que em fase de homologação pelo Presidente da República, ou até

mesmo na fase posterior de registro em cartório. Contudo, não há precedente

firmado sobre o cabimento da suspensão dos efeitos da demarcação ou do

Decreto de homologação da terra indígena enquanto perdurar o litígio judicial. O

Supremo Tribunal Federal tem, atualmente, em sua pauta de julgamento o caso

da Terra Indígena Jacaré de São Domingos – PB, no qual se discute o peso das

ações judiciais nos processos de demarcação, ou seja, se pode o simples

ajuizamento de ação paralisar e ou anular o ato administrativo:

“O Tribunal iniciou julgamento de mandado de segurançaimpetrado contra ato do Presidente da República quehomologara, por meio do Decreto s/nº, de 1º.10.93, e para osefeitos do art. 231 da CF, a demarcação administrativapromovida pela Fundação Nacional do Índio - FUNAI da ÁreaIndígena Jacaré de São Domingos, localizada no Estado daParaíba. As impetrantes alegam que são senhoras e possuidorasde cerca de 3.500 hectares das terras incluídas na demarcação,com justo título, boa-fé e posse mansa e pacífica e que o decretoimpugnado desobedeceu à Portaria s/nº, de 1º.6.92, do Ministroda Justiça, gerando diversidade entre as áreas demarcanda edemarcada. Sustentam ainda: a) ter sido a área em questãoreivindicada anteriormente pela FUNAI, o que dera ensejo àimpetração de outro mandado de segurança perante o STJ, cujopedido fora deferido parcialmente; b) terem ajuizado, antes do

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decreto homologatório ora impugnado e após a decisão do STJ,ação de nulidade de demarcatória cumulada com açãoreivindicatória perante a Justiça Federal da Paraíba. O Min.Carlos Velloso, relator, concedeu, em parte, a segurançapara suspender a eficácia do decreto homologatório até quedecidida a ação ajuizada no Juízo Federal da Paraíba.Esclareceu, inicialmente, que o mandado de segurançaimpetrado perante o STJ, que impugnara a referida Portaria, foradeferido, em parte, para anular o seu item III, que proibia "oingresso, o trânsito e a permanência de pessoas ou grupos denão índios dentro do perímetro ora especificado, ressalvada apresença e a ação de autoridades federais bem como a departiculares especialmente autorizados, desde que sua atividadenão seja nociva, inconveniente ou danosa à vida, aos bens e aoprocesso de assistência aos indígenas", ressalvando-se àsimpetrantes as vias ordinárias, o que ocasionara o ajuizamentoda mencionada ação de nulidade de demarcatória cumulada comação reivindicatória. Observou, ainda, que o decreto presidencialdivergiu da portaria ministerial, uma vez que incide sobre áreaque a desta. Com base nisso, e em razão de o ajuizamento daação na Justiça Federal ser anterior ao decreto homologatório,concluiu que permitir a vigência deste implicaria ofensa aoprincípio da inafastabilidade do controle judicial sobre qualquerato que cause lesão ou ameaça a direito (CF, art. 5º, XXXV). OMin. Eros Grau acompanhou o relator. Após, o Min. JoaquimBarbosa pediu vista dos autos. (grifei) (MS 21896/PB, Rel. Min.Carlos Velloso, DJU de 03.11.2004) Informativo STF 368/ 2005.

Em decisões liminares, o entendimento de que a demarcação sub judice

deve aguardar o provimento jurisdicional, com fundamento na garantia do

controle judicial sobre o ato, tem impossibilitado ad infinitum a seguridade da

terra aos povos indígenas e acentuado conflitos agrários e violação de direitos

fundamentais, como recentemente evidenciou-se no caso dos índios Guarani-

Kaiowá da terra indígena Ñande Ru Marangatu no Mato Grosso do Sul:

DESPACHO: Precedente citado: caso Jacaré de São Domingos“(...) no caso em análise existe uma ação na Justiça Federalanterior ao Decreto Presidencial em que se discute odomínio das terras e a nulidade do processo administrativode demarcação.Ademais, presente o perigo de demora consubstanciado napossibilidade dos índios começarem a ocupar as terrasobjeto do Decreto como já ocorreu nas invasões relatadasnos boletins de ocorrência juntados aos autos.Ante o exposto, defiro liminar nos termos em que requerida.(grifei) (STF – Med. Caut. Em Mandado de Segurança 25.463-7,Decisão do Min. Presidente Nelson Jobim, em 21.07.2005)

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Os recursos judiciais, especialmente as medidas cautelares, não podem

ser instrumentos de protelação de justiça e muito menos de ameaça aos direitos

indígenas. Nesse sentido já decidiu o STF:

“(...) estando a permanência dos posseiros no local garantida poranterior decisão do Tribunal Regional Federal que não é objetodo presente recurso, a questão devolvida a esta Corte cinge-se àpossibilidade da convivência provisória destes com os índios aserem introduzidos na área em litígio. A alusão a iminenteconflito não se presta a suspender a decisão que autoriza aentrada dos silvícolas nas terras indígenas cuja posse lhes éassegurada pelo texto constitucional, sob pena de inversãoda presunção da legitimidade do processo de demarcação.Recurso provido para estabelecer a decisão proferida pelo Juízode origem, autorizando o retorno da Comunidade IndígenaXavante à Terra Indígena Marãiwatséde, sem prejuízo, porenquanto, da permanência dos posseiros no local onde estão.”(grifei) (STF - RE nº 416.144-3/MT, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ. De01.10.04)

A lei n.8.437/92 que dispõe sobre a concessão de medidas cautelares

contra atos do Poder Público proíbe a concessão de medida liminar que esgote no

todo ou em parte o objeto da ação:

Art. 1° Não será cabível medida liminar contra atos do PoderPúblico, no procedimento cautelar ou em quaisquer outras açõesde natureza cautelar ou preventiva, toda vez que providênciasemelhante não puder ser concedida em ações de mandado desegurança, em virtude de vedação legal.§ 1° Não será cabível, no juízo de primeiro grau, medida cautelarinominada ou a sua liminar, quando impugnado ato de autoridadesujeita, na via de mandado segurança, à competência origináriade tribunal.§ 2° O disposto no parágrafo anterior não se aplica aosprocessos de ação popular e de ação civil pública.§ 3° Não será cabível medida liminar que esgote, no todo ouem qualquer parte, o objeto da ação.

Dessarte, as medidas liminares que rogam a anulação de portaria

ministerial de demarcação de terras indígenas ou, de homologação presidencial

não devem proceder porque tais pedidos pretendem a antecipação do provimento

jurisdicional que esgotaria o objeto da ação. Ademais, a Portaria de demarcação

de terra indígena, conforme regulado pelo Decreto 1775/96, é de competência do

Ministro de Estado da Justiça e, portanto, sujeito à competência originária do

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Superior Tribunal de Justiça, definida no art. 105, inciso I, alínea b da

Constituição Federal. A homologação da demarcação de terras indígenas é, por

sua vez e conforme dispõe o art. 19 do Estatuto do Índio, de competência do

Presidente da República, sujeito na via de mandado de segurança à competência

originária do Supremo Tribunal Federal, definida no art. 102, inciso I, alínea d da

Constituição Federal. De modo que torna-se incabível a concessão de medida

liminar em primeiro grau quando impugnadas a portaria ministerial ou a

homologação presidencial, exceto na ação popular e na ação civil pública.

Medidas Liminares

Enquanto o processo principal visa à composição definitiva da lide, uma

medida cautelar tem como objetivo a “tutela do processo”20, ou seja, fazer

possível a atuação posterior e eventual da tutela definitiva. As medidas cautelares

não são alternativas de substituição do processo principal, mas constituem apenas

medidas subsidiárias e auxiliares ao processo principal, a fim de garantir o

interesse geral e público e evitar a perda ou desvalorização do bem jurídico em

questão. Portanto, a tutela cautelar funda-se na necessidade de estabelecer ou

garantir o equilíbrio na situação de fato entre as partes diante de uma situação de

ameaça quanto à eficiência do processo principal em razão de prováveis

mutações durante o processo.

O Direito pátrio determina que são requisitos especiais da ação cautelar o

perigo de dano fundado, plausível e provável contra a composição justa do

litígio, ou seja, da alteração na situação de fato existente ao tempo do

estabelecimento da controvérsia (periculum in mora); e a provável existência de

um direito a ser tutelado no processo principal (fumus boni juris). Quando a

medida liminar é pleiteada como antecipação de tutela, o requisito do fumus boni

juris torna-se ainda mais rigoroso, exigindo o art.273 do CPC a existência de

prova inequívoca que convença ao julgador da verossimilhança da alegação.

20 Francesco Carnelutti – Sistema di Diritto Processuale Civile págs. 353 e ss. in HumbertoTheodoro Jr., Processo Cautelar, 1994, 15a. Edição, EUD.

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As decisões liminares são medidas de exceção previstas no ordenamento

jurídico. Ocorre que muitas vezes a própria concessão de medida liminar é que

altera o status quo da ocupação tradicional indígena da terra e coloca em risco o

direito, a segurança e até mesmo sobrevivência dos povos indígenas. Nas

demarcações de terras indígenas com pendências judiciais, inclusive quando o

ato administrativo já tenha sido concluído pela homologação presidencial, as

decisões liminares podem gerar novas situações de fato ultrapassando seu caráter

de exceção. A concessão de liminares em favor de terceiros particulares que

reivindicam direito individual sobre terras indígenas, além de causar lesão ao

interesse público porque viola o princípio constitucional de proteção física e

cultural dos povos indígenas, consolida o chamado periculum in mora inverso.

Periculum in mora inverso é entendido como a modificação de uma

situação de fato perigosa para uma parte, mas tranqüila para a outra, por uma

nova situação que invertesse a equação original. Nesse caso, os interesses de uma

das partes são especialmente salvaguardados em detrimento dos interesses da

outra parte, impondo-se assim prejuízos muitas vezes irreparáveis ou

insuportáveis. Vejamos por exemplo o caso da Terra Indígena Ñande Ru

Marangatu: trata-se de terra indígena reconhecida, declarada, demarcada e

homologada tem os efeitos de seu Decreto Presidencial de homologação

suspenso por medida liminar do STF sob o argumento de que a pendência de

ação na Justiça Federal em que se discute o domínio das terras e a nulidade do

processo administrativo de demarcação e a ameaça de ocupação das terras pelos

índios satisfazem os requisitos para a concessão da cautelar. O precedente citado

ainda não foi julgado e as decisões têm apresentado significativas divergências

de entendimento sobre a suspensão dos efeitos do decreto de homologação de

terras indígenas por força de pendências judiciais.

DESPACHO: “(...)Decido.

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Em exame prévio, verifico a relevância dos fundamentos dopresente pedido. No julgamento do MS 21.986 foi examinadocaso semelhante e o Relator concedeu a ordem (...)Como no precedente, no caso em análise existe uma ação naJustiça Federal anterior ao Decreto Presidencial em que sediscute o domínio de terras e a nulidade do processoadministrativo de demarcação.Ademais, presente o perigo da demora consubstanciado napossibilidade dos índios começarem a ocupar as terras objeto doDecreto como já ocorreu nas invasões relatadas nos boletins deocorrência juntados aos autos.Ante o exposto, defiro a liminar nos termos em que requerida.”(STF – Medida Cautelar em Mandado de Segurança 25.463-7/DFMin. Relator Cezar Peluso – Decisão proferida pelo PresidenteNelson Jobim em 21 de julho de 2005)

A medida liminar expedida pelo STF resultou na reconsideração da

suspensão do pedido de reintegração de posse levado ao Tribunal Federal

Regional da 3ª. região por fazendeiros que alegam ser proprietários da área.

Assim, o juízo federal determinou a expulsão da comunidade indígena de parcela

da terra tradicional já administrativamente demarcada. A referida medida liminar

condenou uma comunidade inteira a viver em condições precárias, à beira da

estrada; deu causa à morte de crianças; à perda dos roçados já cultivados; e até

mesmo à destruição de pertences indígenas e do meio ambiente da terra indígena

pelos ocupantes ilegítimos.

Os efeitos das concessões liminares no âmbito judicial têm impacto

desproporcional no procedimento administrativo de demarcação de terras

indígenas e, conseqüentemente, nas condições de vida a que se submetem os

povos indígenas, se comparadas aos efeitos gerados para o particular interessado

na ocupação da terra. Parece-nos evidente o desbalanceamento e

desproporcionalidade de tais decisões liminares, que protegem a propriedade

privada, o direito individual e a dita produtividade das propriedades com muito

mais afinco que o interesse público, e a despeito de vidas humanas.

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, ainda não consolidada,

indica diferentes entendimentos sobre a concessão de liminares em processos que

envolvem demarcação de terra indígena. No âmbito administrativo, confirma

determinação em segunda instância da Justiça Federal e manda seguir a

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homologação presidencial de terra indígena anterior ao registro imobiliário em

cartório, ainda que subsista medida cautelar de primeiro grau para manutenção de

posse dos alegados proprietários e impedimento:

“Autorizada pela liminar do TRF – 3ª Região a demarcação daárea indígena, não tenho como procedente afirmar que ahomologação presidencial não se pudesse dar, em face do quesubsistira da cautelar de primeiro grau. A homologação pordecreto conclui o procedimento da demarcação, que é dessaforma aprovada pelo Chefe do Poder Executivo.EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO DELIMINAR, CONTRA ATO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA,CONSUBSTANCIADO EM DECRETO DE 1º. DE OUTUBRO DE1993, PELO QUAL FOI HOMOLOGADA A DEMARCAÇÃOADMINISTRATIVA DA ÁREA INDÍGENA SETE CERROS,LOCALIZADA NO ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL.LIMINAR CONCEDIDA, TÃO-SÓ PARA IMPEDIR O REGISTRODA HOMOLOGAÇÃO DA DEMARCAÇÃO ADMINISTRATIVANO CARTÓRIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS DA COMARCA DEAMAMBAÍ – MS. (...) INCIDENTE DEINCONSTITUCIONALIDADE PREJUDICADO, CONFORMEDECISÃO DO PLENÁRIO NO MANDADO DE SEGURANÇAN.21.649-2MS (...) MANDADO DE SEGURANÇAPREJUDICADO, RESSALVADAS AS VIAS ADEQUADASCONTRA A DECISÃO COM BASE NO DECRETO 1775/1996,ART.9” (STF - Mandado de Segurança n. 21.892-4/MS - Rel. Min.Néri da Silveira - DJU de 29.08.2003)

Há também decisões que indeferem o pedido de liminar para anular

os efeitos da Portaria ministerial que declara a terra indígena pela falta dos

pressupostos do periculum in mora e do fumus boni juris:

DECISÃO: - Vistos. Trata-se de mandado de segurança, compedido de liminar, impetrado por JOSÉ CARLOS DA SILVA,contra ato do PRESIDENTE DA REPÚBLICA, que homologou,por meio de Decreto presidencial de 12.09.2000, a demarcaçãoadministrativa da terra indígena Carajá de Aruanã I. Sustenta oimpetrante, em síntese, o seguinte: a) ausência de notificaçãopor parte da FUNAI a fim de chamar o impetrante a participar doprocesso demarcatório; b) violação dos arts. 2º, § 7º, e 3º, doDecreto 1.775/96, e 2º, § 10, IV, do Decreto 22/91, tendo emvista a falta de publicidade dos processos administrativos; c) nãocumprimento do preceito de demarcação das terras indígenasocupadas e habitadas, objeto do art. 2º do Decreto 94.945/87; d)inocorrência de interesse indígena sobre a área demarcada einaplicabilidade do art. 63 da Lei 6.001/73, dado que não houve a

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anuência e participação da população indígena para comprovarinteresse na posse permanente da mencionada área; e)presença do fumus boni iuris e do periculum in mora, porquanto oprocesso administrativo realizado afronta princípiosconstitucionais, além de o impetrante correr o risco de ter suapropriedade apossada pela FUNAI. Ao final, o impetranterequer, liminarmente, "que se suspendam os efeitos doDecreto Presidencial de 12 de setembro de 2000, publicadona seção I do DOU de 13/09/2000, (...) e que o Autor não sofrarestrições ao sagrado direito de propriedade" (fl. 11). À fl. 46,determinei que fossem solicitadas informações à autoridadeimpetrada, Excelentíssimo Senhor Presidente da República, queas prestou, reportando-se a pronunciamentos da Advocacia-Geral da União, do Ministério da Justiça e da FUNAI (fls. 50/98),nos quais se sustenta, em síntese, o seguinte: a) o processoadministrativo percorrido pela FUNAI foi realizado "emconsonância com os princípios constitucionais ínsitos no art. 37,caput, da Constituição da República vigente" (fl. 55); b)legalidade da demarcação em apreço, pois o processo realizadopela FUNAI não contraria os arts. 231 e 232 da ConstituiçãoFederal; arts. 2º, 17, 19, 21, 22, 23, 25, 26, 31, 62, 63 e 66 da Lei6.001/73; a Convenção 101/57 da O.I.T., os arts. 82, 86, 130,145, III, IV e V, 147, 152, 158, 159 e 1.541, do Código Civil; arts.1º/4º do Decreto 94.945/87; arts. 1º e 4º do Decreto 94.946/87;Regimento Interno da FUNAI; art. 1º do Decreto 99.971/91; arts.1º, 2º, 3º, 4º, 9º, 10, 13 e 16, do Decreto 22/91; Portaria FUNAI239/91; Portaria MJ 548/91; Decreto 564/92; Decreto 608/92;Decreto 1.775/96; Portaria MJ 14/96; e arts. 1º, 2º, 3º, 18, 26, 28e 69 da Lei 9.784/99; c) presença de matéria tipicamente de fato,não suscetível de apreciação em mandado de segurança, poiseste depende das provas dos fatos alegados como já decidiu oSupremo Tribunal Federal no MS 20.234-3-MT, Relator Min.Cunha Peixoto, "DJ" 01.07.1980. Autos conclusos em30.01.2001. Decido. Não vejo configurados os pressupostosque autorizam a concessão da liminar (Lei 1.533/51, art. 7º, II),convindo salientar que, se deferida a segurança, não restará estainócua pela não concessão da liminar. Indefiro-a, pois. Àdistribuição. Publique-se. Brasília, 31 de janeiro de 2001. MinistroCARLOS VELLOSO – Presidente.

Recursos

No âmbito judiciário determina o Supremo Tribunal Federal que o

Tribunal Regional Federal dê prosseguimento ao processamento dos recursos

extraordinários, para que subam ou não à apreciação pelo STF, evitando a

retenção dos recursos, que é usualmente prejudicial às comunidades indígenas,

até a decisão final das ações de reintegração de posse, especialmente quando já

deferida liminar na reintegração de posse que se confunde com o mérito:

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EMENTA: 1. Medida cautelar em recurso extraordinário:competência do STF para julgamento de medidas cautelares deRE, quando nela se oponha o recorrente à aplicação do art. 542,§3º, do CPC: incidência do disposto no parágrafo único do art.800 do CPC: hipótese diversa do problema do início da jurisdiçãocautelar do Supremo para conceder efeito suspensivo ao RE:precedente (Pet. 2222, ª T., 09.12.03, Pertence, DJ 12.03.04)2. Recurso extraordinário: temperamentos impostos à incidênciado art. . 542, §3º, do CPC, entre outras hipóteses, na dedeferimento de liminar que possa tornar ineficaz o eventualprovimento dos recursos extraordinário ou especial.3. Medida Cautelar: deferimento: caso que – dados ostermos da liminar de reintegração de posse em propriedadesrurais ocupadas por indígenas, que irá alterarsubstancialmente a situação de fato, de modo a modificartambém a situação jurídica processual e a debilitar – noplano da eficácia – a eventual decisão favorável à tese darecorrente – é daqueles que efetivamente não admitem aretenção do recurso extraordinário. (grifei) (STF – Quest. Ord.Em Petição 3.515-1/MS, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de21.10.05)

Apontamos também a jurisprudência do STF que reconhece o perigo de

inversão da presunção de legitimidade do processo de demarcação:

EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. AÇÃO CIVILPÚBLICA. TERRAS INDÍGENAS. ACÓRDÃO RECORRIDO QUEDEU PROVIMENTO A AGRAVO DE INSTRUMENTO PARAREFORMAR DECISÃO QUE HAVIA AUTORIZADO A FUNAI AINTRODUZIR OS SILVÍCOLAS EM RESERVA INDÍGENADEMARCADA, SEM PREJUÍZO DA PERMANÊNCIA DEPOSSEIROS NO LOCAL.1. Estando a permanência dos posseiros no local garantida poranterior decisão do Tribunal Regional Federal que não é objetodo presente recurso, a questão devolvida a esta Corte cinge-se àpossibilidade da convivência provisória destes com os índios aserem introduzidos na área em litígio.2. A alusão a iminente conflito não se presta a suspender adecisão que autoriza a entrada dos silvícolas nas terrasindígenas cuja posse lhes é assegurada pelo textoconstitucional, sob pena de inversão da presunção dalegitimidade do processo de demarcação. Ofensa ao art. 231,§§2º e 6º da CF. 3. Recurso provido para restabelecer a decisão proferida peloJuízo de origem, autorizando o retorno da Comunidade IndígenaXavante à Terra Indígena Marãiwatséde, sem prejuízo, porenquanto, da permanência dos posseiros no local onde estão.(grifei) (STF - RE nº 416.144-3/MT, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ. De01.10.04)

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E também o Voto do Min. Gilmar Mendes que alerta para as

conseqüências danosas às comunidades indígenas e ao interesse público

provocadas pela excessiva demora na solução dos litígios:

“(...) Em 1998 houve a definição quanto à demarcação dessasterras e, desde então, arrastam-se as discussões comsucessivas medidas de efeito suspensivo. Isso trata um pouco,também, da nossa história e, inclusive, sobre o Judiciário e aprópria Administração, que parecem trabalhar um pouco com oparadigma da eternidade. Tema como este acaba por ficarindefinido, com essa gravidade. Certamente relevante a definiçãopara os posseiros. Também para os índios e muito relevante parao interesse público em geral. Nós não conseguimos produzir umadefinição clara sobre esse tema; já se passaram, portanto, maisde seis anos sem que houvesse uma definição.Diante dos levantamentos administrativos realizados e dascautelas adotadas pelo douto magistrado de primeiro grau, queestão sendo referendados pela eminente Relatora, não vejocomo afastar dessa conclusão (...) e negar-lhes (aos índios) apossibilidade de retorno.” (STF - RE nº. 416.144-3/MT, Rel. Min.Ellen Gracie, DJ. De 01.10.04)

ainda, a decisão monocrática proferida pelo Ministro Carlos Velloso no caso da

Terra Indígena Porto Lindo (Yvy-Katu), que ilustra os argumentos recorrentes

contra a demarcação de terras indígenas:

“DECISÃO: - Vistos. Trata-se de mandado de segurançapreventivo, com pedido de liminar, fundado nos arts. 1º eseguintes da Lei 1.533/51 e 5º, LXIX, da Constituição Federal,impetrado por AGROPECUÁRIA PEDRA BRANCA LTDA, contraiminente ato do PRESIDENTE DA REPÚBLICA, consubstanciadona possibilidade de edição de ato homologatório da demarcaçãoda área identificada no Processo Administrativo de Demarcaçãoe Delimitação de Terras Indígenas FUNAI/BSB/0807-82, objetoda Portaria nº. 1.289, de 30.6.2005, do Ministro da Justiça, e seuconseqüente registro no Cartório de Registro de Imóveiscompetente. Diz a impetrante que o Processo AdministrativoFUNAI/BSB/0807-82 dispõe sobre a regularização fundiária esobre estudos de identificação e delimitação da Terra IndígenaPorto Lindo (YVY-KATU), de ocupação do grupo tribal GuaraniÑandéva, localizado no Município de Japorã, Estado de MatoGrosso do Sul. Em 02.3.2004, foi publicada a Portaria nº. 21 (fls.737-738), expedida pelo Presidente da FUNAI, relativa aoreferido processo administrativo, que aprovou o Resumo doRelatório de Identificação da Terra Indígena YVY-KATU. Todavia,o ato expedido pelo Presidente da Funai acabou por delimitar

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como área indígena a Fazenda Agrolak Lakshmi, de propriedadeda Agrolak Lakshmi Agropecuária Ltda, que jamais foicientificada da existência do processo de demarcação, sendocerto que, em 17.12.2002, a referida propriedade foi adquiridapela Agropecuária Pedra Branca Ltda, ora impetrante, que, porsua vez, também não sofreu nenhum tipo de cientificação acercada existência do processo demarcatório. Nesse contexto,sustenta a impetrante que somente teve ciência do ProcessoAdministrativo FUNAI/BSB/0807-82 quando suas terras foraminvadidas pelos índios Guarani Ñandéva, ocasião em queapresentou defesa administrativa, nos termos do art. 2º, § 8º, doDecreto 1.775/96, com requerimento de juntada de documentos eprodução de provas, provas essas que foram totalmentedesconsideradas pela autoridade administrativa competente.Irresignada, a impetrante, diante do provável ato a ser praticadopelo Ministro da Justiça, impetrou mandado de segurançapreventivo perante o Superior Tribunal de Justiça. Em 30.6.2005("DOU" de 04.7.2005), o Ministro da Justiça expediu a Portarianº. 1.289/2005 (fls. 1.150-1.151), que declarou de possepermanente do grupo indígena Guarani Ñandéva a TerraIndígena YVY-KATU. Ato contínuo, a impetrante ajuizou medidacautelar perante o Superior Tribunal de Justiça com o objetivo deatribuir efeito suspensivo ao mandado de segurança impetradonaquela Corte, o que foi deferido (fls. 1.153-1.155). Entretanto,com a denegação da segurança em 14.9.2005 (fls. 1.146-1.148),os autos do processo administrativo demarcatório voltaram atramitar, sendo certo que o mesmo será encaminhado aoPresidente da República para homologação. Sustenta, mais, emsíntese, o seguinte: a) impossibilidade jurídica da demarcaçãodas terras indígenas, nos termos da ressalva contida no § 6º doart. 231 da Constituição Federal, eis que a área onde se situa apropriedade rural da impetrante é resultante de trêsdesapropriações (fls. 1.157-1.166): a primeira ocorrida em 1930(Estado de Mato Grosso), a segunda em 1967 (INCRA) e aterceira em 1970 (INCRA); b) existência de depoimento docacique da Reserva de Porto Lindo (YVY-KATU), colhido emjuízo, nos autos de ação de reintegração de posse, no sentido deque "desde 1928 não há a presença de índios na região e mais,que os índios saíram da região de maneira pacífica, OU SEJA, AÁREA É UM ALDEAMENTO EXTINTO" (fl. 09), o que tornaimpossível a demarcação da área. Além disso, cita a Súmula650-STF, que exclui do patrimônio da União as terras dealdeamentos extintos, ainda que ocupadas por indígenas empassado remoto; c) nulidade do processo administrativo,porquanto não foram observados o devido processo legal, ocontraditório e a ampla defesa por parte da autoridadeadministrativa, que deixou de cientificar os proprietários rurais daexistência do processo demarcatório desde o seu início. Nessecontexto, aduz que "o processo administrativo foi conduzidounilateralmente pela FUNAI, pois é certo que no curso doprocesso foram produzidas várias provas tendentes a identificar averdadeira área tradicionalmente ocupada pela tribo indígena,provas estas que não poderiam ter sido feitas à revelia daimpetrante ou da antiga proprietária do imóvel" (fl. 30); d)

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nulidade da intimação feita por meio da Portaria nº. 21, doPresidente da FUNAI, dado que a mesma se deu em nome depessoa jurídica diversa da impetrante, bem como pelo fato de amesma não ter sido realizada pessoalmente, sendo certo que aintimação por edital só pode ser utilizada quando existireminteressados indeterminados, desconhecidos ou com domicílioindefinido. Assim, alega a impetrante que "só apresentou defesaporque sua propriedade foi invadida pelos silvícolas, defesa estaque foi apresentada sem que fosse fornecida a cópia doprocesso administrativo e de forma apressada e superficial" (fl.38); e) nulidade do processo em razão da desconsideração dasprovas requeridas pela impetrante, que foram indeferidas semqualquer apontamento ou motivação, bem como em razão danão-observância do duplo grau de cognição na via administrativa,da forma como previsto no art. 56, § 1º, da Lei 9.784/99; f)escoamento do prazo decadencial de 05 (cinco) anos previsto noart. 67 do ADCT e no art. 65 da Lei 6.001/73 (Estatuto do Índio),dado que o Processo Administrativo FUNAI/BSB/0807-82 tramitadesde o ano de 1982. Ademais, "o prazo do trâmite do processoadministrativo, qual seja, de 23 anos, não se demonstra nem aomenos razoável, razão pela qual se impõe a nulidade doprocesso administrativo" (fl. 46); g) existência do fumus boni jurise do periculum in mora, pois, embora a propriedade daimpetrante não possa ser tida como terra tradicionalmenteocupada em razão das desapropriações efetivadas, dasirregularidades do processo administrativo e da aplicação daSúmula 650-STF, o Processo Administrativo FUNAI/BSB/0807-82encontra-se prestes a ser homologado pelo Presidente daRepública. Além disso, se invadida a área pelos silvícolas, "bensserão destruídos e prejuízos serão arcados pela impetrante,conforme já ocorrido em passado recente" (fl. 63). Ao final,requer a impetrante seja concedida medida liminar parasuspender a tramitação do Processo AdministrativoFUNAI/BSB/0807-82, "impossibilitando a demarcação a serefetivada pela FUNAI, a homologação presidencial e,posteriormente, o registro da suposta área indígena nosCartórios de Registro de Imóveis" (fl. 67). Requisitadasinformações (fl. 1.306), o Presidente da República as prestou (fls.1.313-1.424), sustentando, em síntese, o seguinte: a) ausênciado interesse de agir da impetrante, dado que a causa de pedir eo objeto do presente mandamus são idênticos aos do MS10.269/DF e da Ação Cautelar 10.284/DF, em trâmite no SuperiorTribunal de Justiça; b) ausência de direito líquido e certo, eis quea impetrante se fundamenta exclusivamente em dados quereclamam dilação probatória. Nesse contexto, aduz que os fatosapresentados pela impetrante "são demasiadamentecontrovertidos e imprestáveis para a utilização da viamandamental e dependentes de prova, pois, do que aqui secuida é de saber se a terra requerida, objeto do presente feito,são ou não de ocupação tradicional indígena, matéria tipicamentede fato, não suscetível de apreciação através de mandado desegurança. Além do mais, trata-se de matéria em apreciação nasvias ordinárias como demonstrado na inicial" (fl. 1.322); c)legalidade do procedimento administrativo demarcatório

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instaurado pela FUNAI, que observou todas as normas doDecreto 1.775/96 e todos os princípios constitucionaispertinentes. Nesse contexto, ressalta que "não há nenhumanorma explícita no Decreto nº. 1.775/96 que obrigue a FUNAIcitar pessoalmente todos os interessados naquele procedimento,mas, apenas, a publicação do resumo do relatório deidentificação e delimitação dos limites daquela área no DiárioOficial da União, do Estado e afixação na sede da PrefeituraMunicipal, além de farta comunicação nos jornais da localidadevisando a divulgação ampla a todos os interessados" (fl. 1.324),sendo certo que a impetrante apresentou sua defesaadministrativa e impugnou judicialmente o procedimentodemarcatório dentro do prazo legal; d) inexistência doescoamento do prazo decadencial previsto no art. 67 do ADCT eno art. 65 da Lei 6.001/73, dado que o referido prazo não éperemptório, ou seja, seu eventual descumprimento jamais teriao condão de impossibilitar o reconhecimento, ainda que tardio, denovas áreas indígenas; e) inexistência de violação do direito aoduplo grau de cognição administrativa, porquanto a Lei 9.784/99,em seu art. 69, determina que os processos administrativosespecíficos continuarão a reger-se por lei própria, aplicando-lhes,apenas, subsidiariamente, os preceitos nela contidos. Logo, nocaso de demarcação de terras indígenas, devem ser observadasas normas contidas no Decreto 1.775/96, que prevêem o direitode petição ao Presidente da República; f) inaplicabilidade daSúmula 650-STF ao presente caso, mormente porque "não setrata a Terra Indígena Yvy Katu de 'posse imemorial de antigoaldeamento extinto', mas, sim, de direitos originários sobre terrasde ocupação tradicional do grupo indígena Guarani Ñandeva deYvy Katu, face aos comandos insertos no art. 231 e seusparágrafos da Constituição Federal de 1988, devidamentecomprovados no laudo técnico antropológico" (fl. 1.330); g) não-configuração dos requisitos para a concessão da liminar, ante aausência de plausibilidade jurídica das alegações da impetrante.Autos conclusos em 13.10.2005. Decido. As informações fazemruir o alegado fumus boni juris que autorizaria a concessãoda medida liminar. É que, além de reproduzir segurançaproposta junto ao STJ, conforme esclarecem asinformações, a questão não prescindiria de dilaçãoprobatória. É o que me parece, pelo menos ao primeiroexame. Indefiro a medida liminar. Ao parecer da PGR.Publique-se. Brasília, 08 de novembro de 2005.

(STF – Mandado de Segurança N.25550/DF, Rel. Min. CarlosVelloso, DJ de 17.11.2005)

Contudo, não são raras as decisões do Supremo Tribunal Federal,

Superior Tribunal de Justiça e dos Tribunais Regionais Federais que determinam

a suspensão dos efeitos da portaria ministerial de demarcação das terras

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indígenas e até mesmo do decreto presidencial de homologação, como no citado

caso da Terra Indígena Ñande Ru Marangatu alegando-se a prevenção de

maiores conflitos e de violações de difícil contorno.

DESPACHO: PIO SILVA E OUTROS impetram MANDADO DESEGURANÇA, com pedido de liminar, contra Decreto doPresidente da República de 28.3.2005, publicado no Diário Oficialda União de 29.3.2005, que homologou a demarcaçãoadministrativa promovida pela FUNAI da terra destinada à possepermanente ao grupo indígena Guarani-Kaiowá, localizada noMunicípio de Antonio João, no Estado de Mato Grosso do Sul. Osimpetrantes alegam que adquiriram as terras de que trata oDecreto que forma legítima, além de possuírem títulos depropriedade. Relatam na inicial que: Em 21.12.1998, ocorreraminvasões arbitrárias de pequenas áreas por indígenas(BOLETINS DE OCORRÊNCIAS, fls. 170-356). Em 9.4.1999, foiinstaurado processo administrativo de demarcação pela FUNAI(Portaria 199/99). Em 19.9.2001, ajuizaram ação declaratóriapositiva de domínio n.º 2001.60.02.001924-8 perante a VaraFederal de Ponta Porã-MS, ainda em trâmite (fl. 138). Em28.3.2005, o Presidente da República homologou a demarcaçãorealizada pela FUNAI (fl. 40). Alegam que o Presidente daRepública não tem legitimidade para demarcar e homologar áreaindígena localizada no limite do território nacional (art. 48, V c/c22, § 2º, da CF), que essa competência é do Congresso Nacional(fl. 5). Que as terras em questão não se caracterizam comoterras tradicionalmente ocupadas por índios (art. 231, § 1º daCF), já que seus imóveis rurais foram constituídos por aquisiçõesao longo de 142 (cento e quarenta e dois) anos, e que ainda quejá houvessem sido ocupadas por índios, seria o caso dealdeamento extinto (Súmula 650). Sustentam, ainda, que oDecreto Presidencial violou os princípios da inafastabilidade docontrole judicial por ser anterior à conclusão da ação declaratóriade domínio; do devido processo legal em razão da falta deciência dos impetrantes durante o processo administrativo dedemarcação; e que ofende seus títulos de propriedade. Citam emseu favor o MS 21896, VELLOSO, que teve seu julgamentosuspenso em 3.11.2004 pelo pedido de vista do MinistroJOAQUIM BARBOSA (INFORMATIVO STF n.º 368). Aduzempresentes os requisitos para a concessão da liminar em razãodos fundamentos da inicial e do perigo da demora presente nodano irreparável decorrente da insegurança e da tensão socialexistente na região, além da medida não provocar dano àAdministração. Requerem liminar para a suspensão dos efeitosdo Decreto de 28.3.2005 e do seu registro no Cartório de Imóveisda Comarca de Ponta Porá-MS, ou anotação à sua margem casojá registrado, até o julgamento final do writ. Decido. Em exameprévio, verifico a relevância dos fundamentos do presente pedido.No julgamento do MS 21.986 foi examinado caso semelhante e oRelator concedeu a ordem nestes termos: "............................. O

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Min. Carlos Velloso, relator, concedeu, em parte, a segurançapara suspender a eficácia do decreto homologatório até quedecidida a ação ajuizada no Juízo Federal da Paraíba.Esclareceu, inicialmente, que o mandado de segurançaimpetrado perante o STJ, que impugnara a referida Portaria, foradeferido, em parte, para anular o seu item III, que proibia "oingresso, o trânsito e a permanência de pessoas ou grupos denão índios dentro do perímetro ora especificado, ressalvada apresença e a ação de autoridades federais bem como a departiculares especialmente autorizados, desde que sua atividadenão seja nociva, inconveniente ou danosa à vida, aos bens e aoprocesso de assistência aos indígenas", ressalvando-se àsimpetrantes as vias ordinárias, o que ocasionara o ajuizamentoda mencionada ação de nulidade de demarcatória cumulada comação reivindicatória. Observou, ainda, que o decreto presidencialdivergiu da portaria ministerial, uma vez que incide sobre áreaque a desta. Com base nisso, e em razão de o ajuizamento daação na Justiça Federal ser anterior ao decreto homologatório,concluiu que permitir a vigência deste implicaria ofensa aoprincípio da inafastabilidade do controle judicial sobre qualquerato que cause lesão ou ameaça a direito (CF, art. 5º, XXXV).............................." (INFORMATIVO STF n.º 368) Como noprecedente, no caso em análise existe uma ação na JustiçaFederal anterior ao Decreto Presidencial em que se discute odomínio das terras e a nulidade do processo administrativo dedemarcação. Ademais, presente o perigo da demoraconsubstanciado na possibilidade dos índios começarem aocupar as terras objeto do Decreto como já ocorreu nas invasõesrelatadas nos boletins de ocorrências juntados aos autos. Ante oexposto, defiro a liminar nos termos em que requerida. Solicitem-se informações. Comunique-se e publique-se. Brasília, 21 dejulho de 2005. Ministro NELSON JOBIM Presidente

(STF – Medida Cautelar em Mandado de Segurança 25.463-7/DFMin. Relator Cezar Peluso – Decisão proferida pelo PresidenteNelson Jobim em 21 de julho de 2005)

Ou ainda decisão, proferida pelo Superior Tribunal de Justiça e

confirmada pelo Supremo Tribunal Federal, que excluiu a possibilidade da

ameaça ao direito dos índios constituir grave lesão à ordem e segurança públicas

ao indeferir o pedido de suspensão de liminar que atacara a Portaria Ministerial

de demarcação da terra indígena Baú:

DECISÃO: - Vistos. A UNIÃO, com fundamento no art. 4º da Lei4.348/64, requer a suspensão da execução dos acórdãosproferidos nos autos dos MMSS 6.279 e 6.280, e da liminardeferida no MS 7.129, o primeiro e o terceiro impetrados peloMUNICÍPIO DE NOVO PROGRESSO, e o segundo por JOSÉLUIZ SCHUISTAK E OUTROS, perante o Eg. Superior Tribunal

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de Justiça, que, nos MMSS 6.279 e 6.280, em 22.9.99 e06.12.99, respectivamente, decidiu pela nulidade da PortariaMJ- 826/98 e dos atos administrativos praticados a partir doDespacho Ministerial 18/96, portaria essa que declararacomo de posse permanente indígena a área de terrasintitulada "Baú", porque, além de não estar suficientementefundamentada, não teria atendido aos requisitos do art. 231, § 1º,da Constituição Federal, por não assegurar os princípios docontraditório e da ampla defesa (fls. 40/64 e 175/186). Oeminente Ministro José Delgado deferiu, em 22.8.2000, a liminarrequerida no MS 7.129 (fl. 68), suspendendo os efeitos doDespacho Ministerial 60/2000, o qual, tendo em vista adeclaração de nulidade da Portaria MJ-826/98 e dos atosadministrativos praticados a partir do Despacho Ministerial 18/96,determinara, nos termos da Portaria MJ-645/91, a demarcaçãode 1.850.000 hectares de terras indígenas envolvendo os limitesdo território do Município de Novo Progresso. Diz a requerenteque o Ministro de Estado da Justiça, por meio da Portaria 645/91(fls. 19/22), em 21.12.91, declarou de posse permanenteindígena, para efeito de demarcação, a Área Indígena Baú, e, em08.4.97, exarou o Despacho 18/96 (fls. 30/31), determinando àFUNAI o refazimento da linha divisória oeste da referida área,tendo reafirmado os limites da Reserva, em 11.12.98, por meioda Portaria 826/98 (fl. 32) e tornado insubsistente, em 03.8.2000,através do Despacho 60/2000 (fls. 33/34), o contido na letra c eno último parágrafo do item 5 do Despacho 18/96 o refazimentoda linha divisória, nos termos da Súmula 473/S.T.F., "por serevelar contrário aos comandos constitucionais que asseguramaos índios os direitos às suas terras de ocupação tradicional" (fl.5). Sustenta, mais, em síntese, o seguinte: a) competência doPresidente do Supremo Tribunal Federal, dado que a matériadeduzida no mandado de segurança em apreço é de índoleconstitucional, mormente porque envolve tema relativo àdemarcação de terras indígenas (art. 231 da ConstituiçãoFederal); b) ofensa ao art. 231, caput, e §§ 1º, 4º, 5º e 6º, daConstituição Federal, porquanto a Terra Indígena Baú, em sualinha divisória oeste, insere-se, também, em território deocupação tradicional indígena, "sendo vedada a sua exclusãoadministrativa ou judicialmente" (fl. 5); c) ocorrência de lesão àordem jurídica, ao negar-se os "direitos constitucionais einfraconstitucionais dos índios Kayapó à sua posse permanente eao usufruto exclusivo, quanto ao limite oeste da sua TerraIndígena Baú" (fl. 7), ante os arts. 20, XI, e 231 da ConstituiçãoFederal, sendo certo que a demarcação de terrastradicionalmente ocupadas pelos índios "não configura atoconstitutivo de posse, mas meramente ato declaratório, de modoa precisar a real extensão da posse assegurada por mandamentoconstitucional (fl. 8). Ademais, "o direito dos índios à possepermanente de suas terras de ocupação tradicional independe dedemarcação" (fl. 9), conforme se infere do art. 25 da Lei 6.001/73- Estatuto do Índio, recepcionado pela Constituição Federal; d)ilegitimidade ativa dos impetrantes, tendo em vista que a áreacontida na linha divisória oeste pertence ao Município deAltamira-PA, estando fora dos limites territoriais do Município de

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Novo Progresso, conforme atestam os mapas e documentos defls. 10, 32, 35 e 113/115; e) inexistência de direito líquido e certodos impetrantes, porquanto "os pontos controvertidos anotados,fincados em aspectos factuais inseridos nas manifestaçõestécnicas, pertinentes à definição de limites e à tradicionalidade daocupação indígena na região, dependem de dilação probatória,incompatível com a via estreita do Mandado de Segurança,algemado à liquidez e certeza do direito vindicado" (fl. 11), nostermos da jurisprudência (MS 20.723-DF, Plenário, Djaci Falcão,"DJ" de 18.3.88); f) ameaça de grave lesão à ordem e àsegurança públicas, dado que as decisões impugnadas implicama exclusão de 446.000 hectares do limite oeste da Terra IndígenaBaú, conforme mapas de fls. 12 e 114, e os índios Kayapó, com"pouco grau de interação com os nacionais" e forte vinculação aessas terras, justificadamente, resistirão à exclusão dessa partede seu território, tendo a imprensa noticiado a "iminência deconflitos entre índios e não- índios" (fl. 13); g) existência depericulum in mora, dada a possibilidade de ocorrência dedanos irreversíveis à sociedade indígena, mormente porquea execução das decisões impugnadas levará à ocupaçãoindevida e precipitada das referidas terras pelo Município enão-índios, decisões essas desprovidas da autoridade decoisa julgada, sujeitas à reforma através de recursosextraordinários. Determinei, à fl. 131, a juntada da inicial doMandado de Segurança 6.279 e do acórdão proferido noMandado de Segurança 6.280, o que foi parcialmente cumpridoàs fls. 136/157, em 20.11.2000, quando se protestou "pelaulterior juntada do acórdão proferido nos autos do MS nº. 6280,por não ter sido, ainda, publicado". O eminente Vice-Procurador-Geral da República, no exercício do cargo de Procurador-Geralda República, Dr. Haroldo Ferraz da Nóbrega, opina pelodeferimento do pedido (fls. 161/166). Determinei, à fl. 168, ajuntada do inteiro teor do acórdão proferido no Mandado deSegurança 6.280, o que foi cumprido às fls. 174/186. Autosconclusos em 21.02.2001. Decido. O pedido não é de serdeferido, data venia do parecer da Procuradoria-Geral daRepública. Com efeito. A uma, porque o eminente MinistroPeçanha Martins dá notícia, no seu voto, que a área de terraobjeto da segurança é a mesma que foi objeto do MS 6.279,deferido pelo Superior Tribunal de Justiça, Relator o MinistroJosé Delgado. Assim o voto do Ministro Peçanha Martins: "Sr.Presidente, trata-se de questão de terras indígenas situadas nasáreas de expansão de Municípios. Tenho manifestado simpatia àdefesa dos índios, mas os considero integrados à sociedadebrasileira. Não posso, protegendo-os, desmerecer as outrasetnias que convivem sob o guarda-chuva da nacionalidade queforjamos a partir da diversidade das raças. E a proteção aosíndios não pode ser levada ao ponto de prejudicar a própriasociedade no que diz respeito, por exemplo, à limitação daampliação das cidades, das sedes municipais. Assim pensando,tenho sempre procurado assegurar o direito de defesa a essesMunicípios, razão por que, neste caso, repito o voto que proferi,acompanhando o Sr. Ministro José Delgado, no Mandado deSegurança nº. 6.279, no qual S. Exa. acentua seria de assegurar-

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se ao Município a contrariedade no âmbito administrativo. Leio aconclusão do voto de S. Exa. Mandado de Segurança impetradoem face da Portaria nº. 826 do Ministro da Justiça, que declaroucomo de posse permanente indígena a área de terra denominadaBaú. Neste Mandado de Segurança a área de terra em questão éa mesma. No Mandado de Segurança nº. 6.279, o Ministro JoséDelgado concedeu a segurança para determinar a nulidade daPortaria e dos atos administrativos praticados a partir doDespacho Ministerial nº. 18/96, nos termos em que formulado opedido inicial. Reitero o meu ponto de vista neste caso,divergindo e pedindo vênia ao eminente Ministro Relator para,acompanhando essa orientação, determinar a nulidade daPortaria. Concedo a ordem. (...)" (fl. 183) A duas, porque aRequerente não conseguiu demonstrar a ocorrência, nocaso, dos pressupostos autorizadores da suspensão (Lei4.348/64, art. 4º). Na verdade, não há falar, aqui, que aexecução do acórdão implica ameaça de grave lesão àordem e à segurança públicas. Se o mesmo não for mantido,volta-se ao estado anterior. Onde estaria, então, apossibilidade de lesão à ordem e à segurança públicas?Indefiro o pedido. Publique-se. Brasília, 20 de março de 2001.Ministro CARLOS VELLOSO.(grifei) (STF – Suspensão de Segurança 1881/ DF Rel Min CarlosVelloso, DJ de 27.03.2001)

Isso ilustra a afirmativa de que nem sempre os interesses e direitos dos

povos indígenas recebem o mesmo tratamento protetivo que o dedicado às

propriedades privadas, às ditas produções ou produtividades das terras como no

caso visto. Nesse sentido, percebemos decisões de caráter ainda discriminatório e

contra os índios e suas culturas. O tratamento desigual parece partir da afirmativa

de que os índios merecem menos proteção do que os não-índios e seus

patrimônios e produtos, ou ainda, da afirmativa de que a presença dos índios

constitui uma ameaça e violência à propriedade em disputa.

Assim, a primeira Portaria que declarou a Terra Indígena Raposa Serra do

Sol teve seus efeitos suspensos:

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL. SUSPENSÃO DE LIMINARREQUERIDA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. TERRAINDÍGENA RAPOSA SERRA DO SOL. PORTARIA Nº 820/98,DO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. AÇÃO POPULAR. LIMINARES

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CONCEDIDAS EM AMBAS AS INSTÂNCIAS DA JUSTIÇAFEDERAL. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO INEQUÍVOCA DEGRAVE LESÃO À ORDEM, À SAÚDE, À SEGURANÇA OU ÀECONOMIA. PEDIDO DE SUSPENSÃO INDEFERIDO. 1 - Ficouressaltado na decisão agravada que as liminares impugnadasavaliaram, com base na ordem jurídica legal e constitucional, anecessidade da parcial e cautelar suspensão dos efeitos daPortaria nº. 820/98 até a decisão final a ser proferida nosautos da ação popular ajuizada perante a Justiça Federal noEstado de Roraima. 2 - Ao contrário do que afirma oagravante, as liminares proferidas na primeira e na segundainstância da Justiça Federal não negaram vigência ao art.231 da CF, porquanto tomadas com o propósito de evitaruma mudança radical e de difícil restabelecimento no atualestado de fato da região envolvida, num momento em que oato administrativo em exame passa por um legítimo controlejurisdicional de legalidade, podendo estar presentes outrosinteresses igualmente resguardáveis pela ordemconstitucional brasileira. Agravo regimental improvido. (grifei) (STF Agravo Regimental na Suspensão de Liminar 38/RR– Rel. Min. Ellen Gracie, DJ de 17.09.2004)

Posteriormente, mediante publicação de nova Portaria MJ 534 de 2005, a

terra indígena Raposa Serra do Sol foi devidamente homologada e registrada em

cartório. Ainda assim o juízo Federal de Roraima prosseguiu expedindo

liminares contra a demarcação da terra indígena, sendo necessário o

pronunciamento do STF:

DECISÃO: Vistos, etc. Trata-se de reclamação, manejada pelaUnião, a fim de preservar a competência deste Supremo TribunalFederal. Competência que estaria sendo usurpada pelo Juízo da1a Vara Federal da Seção Judiciária do Estado de Roraima. 2. Oreclamante sustenta que João Batista da Silva Fagundes e outroajuizaram a Ação Popular nº. 2005.42.00.000724-2-RR, na qualpugnam pela nulidade do Decreto Presidencial de 15 de abril de2005. Ato homologatório da Portaria nº. 534, do Ministério daJustiça, órgão responsável pela demarcação da área indígenadenominada "Raposa Serra do Sol". Aduz que as Ações deReintegração de Posse nºs 2005.41.00.001095-3 e2005.42.00.001094-0 foram distribuídas por dependência aoProcesso nº. 2005.42.00.00139-2, feito, esse, que teve o seuandamento suspenso por força de liminar concedida nos autosda Rcl 3.331. 3. Prossigo neste breve relatório para anotar que,após declinar os fundamentos jurídicos da sua pretensão de verjulgada procedente esta reclamação, a acionante formula o seupedido. Em primeiro lugar, a reclamante deduz a sua pretensãoacautelatória, na qual pugna pela suspensão do andamento da

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Ação Popular nº. 2005.42.00.000724-2-RR, bem como das Açõesde Reintegração de Posse nºs 2005.41.00.001.095-3 e2005.42.00.001094-0. Já no tocante ao mérito da causa, arequerente postula o reconhecimento da usurpação dacompetência originária deste Supremo Tribunal Federal e aremessa desses processos para esta egrégia Corte de Justiça. 4.A seu turno, a autoridade reclamada não prestou as informaçõessolicitadas (fls. 87). 5. Pois bem, apresentada a matéria que secontém nesta reclamatória, passo a enfrentar o pedido de medidaliminar. E, ao fazê-lo, convenço-me de que essa pretensãoatende aos requisitos autorizadores da concessão do provimentopreambular. Isso porque, no julgamento da Rcl 2.833, estacolenda Corte reconheceu a sua competência para processar ejulgar a Ação Popular nº. 9994200000014-7 (1ª Vara Federal deRoraima), dado que o litígio se reveste de gravidade suficientepara justificar a incidência da norma constitucional inscrita naalínea "f" do inciso I do artigo 102 da Carta-cidadã. Mas não é só.O Supremo Tribunal Federal também reconheceu ser dele acompetência para processar e julgar os demais processosarrolados pelo então reclamante, porquanto guardavam íntimarelação com a mencionada ação popular. 6. Em boa verdade,neste juízo prévio e sumário, próprio das liminares, parece-meconsistente a alegação de que o processamento das açõesapontadas neste petitório por outro órgão jurisdicional acarretausurpação da competência deste excelso Tribunal. Esse, aliás, oentendimento perfilhado no julgamento da multicitada Rcl 2.833.7. Nessa contextura, defiro a medida liminar postulada parasuspender, até o julgamento de mérito desta reclamatória, oandamento da Ação Popular nº. 2005.42.00.000724-2-RR, bemcomo das Ações de Reintegração de Posse nºs2005.41.00.001.095-3 e 2005.42.00.001094-0. Determino,também, a suspensão, até o julgamento de mérito desteprocesso, da eficácia de quaisquer provimentos liminareseventualmente concedidos no bojo das mencionadas ações.Comunique-se com urgência. Publique-se. Brasília, 17 deoutubro de 2005. Ministro CARLOS AYRES BRITTO (STF – Recl 3818/RR – Rel. Min. Carlos Britto, DJ de 27.10.2005)

Súmula STF 650 – Aldeamento Extinto

A súmula 650 STF advém do entendimento do Min. MARCO AURÉLIO,

no julgamento de recursos na ação de Usucapião de imóveis dentro do perímetro

urbano da cidade de São Paulo e Grande São Paulo, alegados serem terras da

União por força de antiga ocupação indígena que não subsiste. Assim, entende o

STF que: "a regra definidora do domínio dos incisos I e XI do artigo 20 da

Constituição de 1988, considerada a regência seqüencial da matéria sob o

prisma constitucional, não alberga situações como as dos autos, em que, em

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tempos memoráveis, as terras foram ocupadas por indígenas. Conclusão diversa

implicaria, por exemplo, asseverar que a totalidade do Rio de Janeiro

consubstancia terras da União, o que seria um verdadeiro despropósito.".

Entendemos tal cautela, pois não é razoável defender que todas as áreas

onde encontravam-se silvícolas em "tempos imemoriais" deve ser destinada à

reserva indígena. Contudo, a mencionada jurisprudência refere-se a pedido de

USUCAPIÃO de imóvel, pelo qual alegava a União terem sido um dia

aldeamentos extintos e, dessa forma, terras da União. Observe-se que a

preocupação naquele julgado era de que áreas onde há muitos séculos já não

existem aldeamentos ou populações nativas, sejam excluídas da possibilidade de

serem usucapidas, por serem terras da União. A discussão do cabimento ou não

do usucapião não tem relação com a demarcação de terras indígenas e, portanto o

uso da referida súmula do STF deve atentar-se para tal. Editou-se nesse contexto,

o enunciado n.º650, DJ de 09.10.03, do Pretório Excelso que estabelece: "os

incisos I e XI do art. 20 da Constituição Federal não alcançam terras de

aldeamentos extintos, ainda que ocupadas por indígenas em passado remoto".

Recente confirmação da aplicação da Súmula 650 STF, com exigência da

“posse atual” do índios nas terras :

EMENTA: 1. É pacífica a orientação desta Corte, consolidada pormeio da Súmula STF N.650, no sentido de que os incisos I e XIdo art. 20 da Constituição Federal não alcançam terras que foramocupadas por indígenas no passado remoto, donde ailegitimidade da União Federal para figurar como parte em açãode Usucapião de imóvel compreendido no perímetro do antigoaldeamento indígena.

2. Agravo regimental improvido. (STF – Ag. Reg. No Agravo deInstrumento 437.294-1/SP, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ de24.03.06)

e

EMENTA: - RECURSO. Extraordinário. Inadmissibilidade.Usucapião. Antigos aldeamentos indígenas. Falta de interesse daUnião. Incompetência da Justiça Federal. Agravo regimental nãoprovido. Aplicação da súmula 650.

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As regras definidoras de domínio da União, insertas no art. 20 daConstituição Federal de 1988, não abrangem as terras ocupadas,em passado remoto, por antigos aldeamentos indígenas. (STF –Ag. Reg. No Agravo de Instrumento 307.401-9/SP, Rel. Min.Cezar Peluso, DJ de 29.04.05, confirmando as decisõesmonocráticas: RE 223.032, Sepúlveda Pertence; RE 23.545Carlos Veloso; RE 232.428 Marco Aurélio, e precedentes dasúmula: RE N.219.983-3/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ de17.09.99, RE N.249.705-3/SP, Rel. Min. Moreira Alves, DJ de01.10.99)

O STF entende, em alguns dos seus julgados, pela necessidade da

verificação da “posse atual”, que conforme jurisprudência acima citada não se

confunde com a posse civilista, para a proteção da terra como terra indígena,

consequentemente propriedade da União. O argumento da titularidade de

particular sobre terras devolutas que foram alegadamente transferidas ao estado

membro, apesar de recorrente, tem sido combatido com o respaldo das normas

constitucionais (nulidade dos atos sobre terras indígenas, reconhecimento do

direito originário dos índios às terras e proteção dos povos indígenas) e históricos

(por exemplo a expulsão dos índios Guarani-Kaiowá de suas terras e permanente

tentativa de retomada de suas terras de maneira pacífica). Tratando-se de terras

ocupadas por indígenas - ainda que tenha subsistido remoção e, especialmente,

tratando-se de remoção forçada dos índios - não pode o Estado federado alienar

tais áreas, já pertencentes à União por força de dispositivo constitucional que

reconhece o direito originário dos índios às terras que tradicionalmente ocupam.

A prova da ocupação indígena dá-se por meio de laudo antropológico.

A exclusão das terras indígenas do conceito de terras devolutas e a

automática transferência à propriedade da União por força do artigo 231 da

Constituição exigem uma conexão da área territorial com os interesses e o modo

de vida dos indígenas no tempo presente com vistas à proteção e preservação da

vida e da cultura indígenas. Assim, as terras tradicionais indígenas não podem ser

consideradas terras devolutas.

Nesse sentido:

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“Não podia o Estado, assim, dar as terras a terceiros e promoverregistro disso (...) o poder público estadual não tinha basejurídica para invocar condição resolutiva – em gesto unilateral – edisseminar títulos de propriedade a partir de então, porque desde1934 as constituições vinham dizendo do domínio da União sobreas terras em que verificada – como aqui atesta o acervo pericial –a posse indígena. (voto do Relator)

e

O SENHOR MINISTRO NÉRI DA SILVEIRA: - Sr. Presidente.Estou de acordo com o eminente Ministro Relator. Registro,particularmente, a circunstância de, à época em que o Estadoexpediu os títulos de domínio, ora objeto da ação, essas terras jáeram, sem dúvida alguma, pertencentes ao domínio da União,por força do art. 4º., inciso IV da Constituição de 1967. Tratava-se de terras ocupadas por índios ao longo do tempo e se houveremoção, como ficou demonstrado nos autos, de forma violenta,isso não as descaracterizou como terras de índios. Não estava oEstado, de forma alguma, habilitado a proceder à alienaçãode terras que já pertenciam, por força de dispositivoconstitucional, à União Federal. (...)” (STF – Ação CívelOriginária Nº 323-7/MG - Rel. Min. Francisco Rezek - DJU de08.04.94)

Desse modo, a súmula 650, que versa sobre usucapião de terras não

tradicionalmente ocupadas por indígenas, não pode ser aplicada a casos de

demarcação de terras indígenas, com o comprovado interesse das comunidades

indígenas pela proteção do seu direito pela ocupação de modo tradicional e seu

vínculo permanente com a terra reclamada, ainda que submetidos à expulsão que

os impediu de permanecer, e ocupar de fato toda a área nos moldes do

entendimento da posse no Direito Civil. As hipóteses em que se devem aplicar a

referida súmula restringem-se à questão de usucapião de terras mencionadas no

art. 1º., alínea “h”, do Decreto N.9.760/1946, sob pena de, não observada a

restrição, atentar contra o disposto no art. 231 da Constituição de 1988 e no art.

14 da Convenção N.169 da OIT.

Os indígenas da etnia Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul, por

exemplo, nunca abandonaram suas terras hoje subdivididas e cercadas por

propriedades privadas, algumas alegadamente transferidas pelo governo estadual

a particulares. Os indígenas sempre habitaram as cercanias das áreas demandadas

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ou reservas indígenas próximas, para as quais foram transferidos arbitrariamente

e, destarte, não se enquadram na figura do aldeamento extinto. Tampouco se

encaixa na figura do aldeamento extinto ou de terras devolutas a situação da terra

indígena Marãiwatséde, invadida por posseiros que passaram a ameaçar a

comunidade Xavante daquele local. Nesse sentido, esclarece o Ministro Gilmar

Mendes em seu voto no Recurso Extraordinário N.416.144-3, que o artigo 64 da

Constituição de 1891 não incluiu as terras destinadas ao indigenato na categoria

de “terras devolutas” e que os conseguintes textos constitucionais enfatizaram o

valor da posse indígena, determinando a propriedade da União e usufruto dos

indígenas. Acrescenta:

“É certo, também, isto é algo pacífico, que eventual afastamentoou expulsão dos índios das terras a eles destinadas, ou por elesocupadas, não constituía modus operandi ou faciendi para aeliminação da propriedade – isso, parece-me, implícito, inclusive,na discussão. De modo que a União continuava a ser proprietáriadessas terras. (...)” (Voto Min. Gilmar Mendes, STF – RecursoExtraordinário N. 416.144-3/ MT - Rel. Min. Ellen Gracie - DJU de01.10.04)

Por outro lado, o Egrégio tribunal também já decidiu em desfavor dos

índios, exigindo a posse atual de caráter civilista com o alegado fim de garantir a

proteção jurídica, desconsiderando a particularidade da posse indígena

constitucionalmente protegida. Em alguns de seus acórdãos, o entendimento do

§1º. do artigo 231 da Constituição de 1988 é desvirtuado e restringe-se ao

conceito civilista de posse, que desvirtua o conceito de posse tradicional

indígena, exigindo a ocupação atual de área determinada, em afronta ao respeito

à organização social, costumes e tradições indígenas estabelecidos no caput do

mesmo artigo constitucional. Por exemplo manifestou-se o ex Ministro Nelson

Jobim:

EMENTA: BENS DA UNIÃO - TERRAS - ALDEAMENTOSINDÍGENAS - ARTIGO 20, INCISOS I E XI, DA CARTA DAREPÚBLICA - ALCANCE. As regras definidoras do domínio dosincisos I e XI do artigo 20 da Constituição Federal de 1988 nãoalbergam terras que, em passado remoto, foram ocupadas porindígenas.

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“A terra indígena no Brasil, por força da definição do art. 231, secompõe de quatro elementos distintos. O primeiro deles:Art. 231 ...............§1º. São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as poreles habitadas em caráter permanente,...Há um dado fático necessário: estarem os índios na posse daárea. É um dado efetivo em que se leva em conta o conceitoobjetivo de haver a posse. (...) Agora, a terra indígena não é só aárea possuída de forma tradicional pelos índios.Há um segundo elemento relevante:... as utilizadas para suas atividades produtivas, ...Aqui, além do elemento objetivo de estar a aldeia localizada emdeterminado ponto, há necessidade de verificar-se a forma pelaqual essa comunidade indígena sobrevive.O terceiro elemento que compõe esse conceito de terra indígena:... as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientaisnecessários a seu bem-estar ...E, por último... e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundoseus usos, costumes e tradições.”

(Voto Min. Nelson Jobim, STF – Recurso Extraordinário N.219.983-3/ SP - Votação: unânime. Resultado: não conhecido.Acórdão citado: RE-183188. Rel. Min. Marco Aurélio - DJU de09.12.98) (Acórdãos no mesmo sentido: Min Moreira Alves,RE 249705, DJ 01-10-1999; RE 254294, DJ 10-12-1999; RE 259701, DJ 07-04-2000; RE 260308, DJ 07-04-2000; RE 261144, DJ 07-04-2000; RE 262804, DJ 12-05-2000; RE 263414, DJ 12-05-2000; RE 263670, DJ 12-05-2000; RE 263799, DJ 12-05-2000; RE 265071, DJ 12-05-2000; RE 262978, DJ 28-04-2000; RE 226468, DJ 09-06-2000;RE 264997, DJ 09-06-2000; RE 265033, DJ 10-08-2000;RE 269033, DJ 10-08-2000; RE 291377, DJ 20-04-2001)

No entanto, os últimos dois elementos que, complementarmente,

caracterizam a terra indígena como área contínua, de extensão necessária para a

sobrevivência e reprodução dos povos indígenas, de acordo com os princípios da

carta magna, são deixados de lado pela análise do Ministro. Restringe-se assim o

conceito de terra indígena à aldeia pontual e, relacionando os componentes da

terra indígena para efeitos de demarcação, defende o ex Ministro Nelson Jobim a

tese de que as terras indígenas poderiam estar sob o domínio dos estados

federados, reconhecido seu caráter de terras devolutas. E prossegue:

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“A partir da composição desses quatro elementos surgem então,os dados objetivos e históricos para a demarcação da terraindígena. Historicamente, no início do descobrimento – éevidente que todo o território nacional estava sob a posseindígena – por força do direito da conquista, esse patrimônio todopassou às mãos da Coroa Portuguesa e depois evoluiu,chegando-se ao ponto, até mesmo, na Lei de Terras de 1850, LeiN.610, de estabelecer como terras devolutas, que pertenciam àCoroa. Com a Constituição de 1891, as terras devolutas todaspassaram para os Estados, e as terras ocupadas pelos índioseram tratadas como tal. Depois foram desocupadas, algumasforam usucapidas, enfim, no processo de ocupação do territórionacional, que foi mais agravado na década de 40, pela políticaestabelecida pelo Presidente Getúlio Vargas da ocupação dooeste brasileiro.”(Voto Min. Nelson Jobim, STF – Recurso Extraordinário N.219.983-3/ SP - Rel. Min. Marco Aurélio - DJU de 09.12.98)

1.4 DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS

Presunção de veracidade e legitimidade do ato administrativo de

demarcação

Todo ato administrativo tem presunção de veracidade e legitimidade bem

como inerente características de executoriedade, imperatividade e exigibilidade.

A presunção de veracidade do ato administrativo de demarcação de terras

indígenas reside nos fatos alegados pela Administração, com base em estudos

antropológicos e laudos de delimitação territorial, que comprovam a

tradicionalidade da terra e justificam a demarcação. A presunção de veracidade

inverte o ônus da prova, cabendo à parte insatisfeita com o ato administrativo

provar, em eventual discussão probatória no âmbito judicial, que a demarcação

das terras indígenas não respeitou os limites territoriais protegidos por lei, no

caso a definição de terra indígena estabelecida no artigo 231 da Constituição.

A presunção de legitimidade do ato administrativo de demarcação

confere outro importante efeito para a demarcação de terras indígenas, conforme

entende a Professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro21: ainda que eivados de21 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella, Direito Administrativo, 14ª. Ed, São Paul, 2004.

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vícios prejudiciais à sua validade, até a decretação judicial ou administrativa de

sua invalidade, os atos administrativos produzirão efeitos como se válidos

fossem. Isso significa que o procedimento de demarcação deve seguir e surtir

todos os seus efeitos até que o Judiciário ou a própria administração manifestem-

se acerca de alguma ilegalidade.

Assim, a partir da identificação da área como terra indígena o ato

administrativo de demarcação de terra indígena passa a produzir efeitos e a

proteção constitucional da terra indígena passa a ser executável e exigível. A lei

6001/73 em seu artigo 19 não admite interdito possessório contra a demarcação

de áreas homologadas pelo Presidente da República, apenas contestações

judiciais em ação petitória ou demarcatória. Nesses casos, é incabível a

concessão de medidas liminares que suspendam ou anulem os efeitos do decreto

presidencial de homologação da terra indígena, ou da portaria ministerial que

demarca a área, exceto em situações de verdadeira ameaça ou dano irreparável, e

diante da provável existência do bom direito. Entendemos que o questionamento

às demarcações de terras indígenas homologadas, ainda que não registradas em

cartório de imóveis, ameaça a presunção de veracidade e legitimidade dos atos

praticados pela FUNAI, pelo Ministro da Justiça e pelo Presidente da República.

A demarcação tem caráter declaratório e a homologação presidencial apenas

reconhece a legalidade dos atos praticados durante o procedimento de

demarcação.

Devido Processo Legal Administrativo

O procedimento administrativo de demarcação de terras indígenas, como

estabelecido no artigo 19 da Lei N. 6001/73 encontra fundamento no artigo 231

da Constituição Federal que reconhece o direito à terra como direito originário e

imprescindível à continuação dos povos indígenas e suas culturas. A

jurisprudência do STF já em 1986, antes mesmo da promulgação da vigente carta

magna, reconheceu a legalidade de tal procedimento no sentido de que:

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“Como restou assente, o procedimento de demarcaçãodisciplinado a Lei N.6001/73 (art.19) encontra seu fundamento naregra constitucional que assegura a inalienabilidade das terrasocupadas pelos silvícolas. A par disso, vale observar que o art.19 do Estatuto do índio constitui preceito que disciplina a condutados órgãos administrativos no que diz respeito à demarcação dasterras de domínio público ocupadas pelos silvícolas. Trata-se denorma que tem por escopo assegurar a legalidade docomportamento da administração, não podendo afetar senãoindireta ou reflexivamente os interesses dos particulares. A suaaplicação não enseja, a rigor, lesão a direito subjetivo, nãocontendo as referidas normas qualquer garantia de utilidadesubstancial e direta para o particular. E, nessas condições,parece evidente que a realização da demarcaçãoadministrativa prevista na Lei N. 6001/73 (art.19) não podecausar qualquer lesão de direito de propriedade, uma vezque as áreas ocupadas pelos silvícolas, e que são objeto dequestionado procedimento demarcatório, integram odomínio público.” (grifei) (MS 20.515-6/DF, Rel. Min. DjaciFalcão, DJU 22.08.86, p.45 e 46)

Um argumento recorrente contra o procedimento administrativo de

demarcação de terras indígenas reside na contestação da constitucionalidade do

Decreto que estabelece tal procedimento, alegando-se a falta do devido processo

legal, direito do contraditório e da ampla defesa. Com a substituição do Decreto

22/91 pelo Decreto 1775/96, atualmente em vigor, as alegações de cerceamento

de defesa e inconstitucionalidade do procedimento de demarcação de terras

indígenas ficaram prejudicadas, inclusive nos casos de demarcação incompleta

no momento da superveniência do novo decreto. A jurisprudência do Supremo

Tribunal Federal aponta que:

“ Tendo sido editado o Decreto n. 1775/96, que garantiu ocontraditório e a ampla defesa também aos proprietários quejá estavam com seus imóveis demarcados como terrasindígenas desde que o decreto homologatório não tenhasido objeto de registro em cartório imobiliário (...) e,portanto, estando ainda em curso a demarcação, ficaramprejudicados o incidente de inconstitucionalidaderelativamente ao Decreto 22/91 e a alegação de cerceamentode defesa. (...)” (grifei) ( STF – MS 21.649, Rel. Min. MoreiraAlves, DJU de 15.12.00)

e

“Como bem ficou ressaltado na ementa do MS 21.649, oDecreto 1.775 não viola o princípio da ampla defesa”

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EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. DEMARCAÇÃO DETERRAS INDÍGENAS. RESPEITO AO CONTRADITÓRIO E ÀAMPLA DEFESA. SEGURANÇA INDEFERIDA. Ao estabelecerum procedimento diferenciado para a contestação de processosdemarcatórios que se iniciaram antes de sua vigência, o Decreto1775/1996 não fere o direito ao contraditório e à ampla defesa.Proporcionalidade das normas impugnadas. Precedentes.Segurança Indeferida (grifei) (STF – MANDADO DESEGURANÇA 24.045-8 – Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJU de28.04.05)

Constitucionalidade do Decreto 1775/96

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal orienta-se no sentido de

que os atos de efeitos concretos não se sujeitam ao controle de

constitucionalidade em abstrato e assim tem decidido ser impróprio o ataque aos

Decretos Administrativos de Demarcação de terras indígenas por meio de ação

direta de inconstitucionalidade por tratar-se de ato meramente administrativo.

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE –ATOS MATERIALMENTE ADMINISTRATIVOS. A ação direta deinconstitucionalidade é meio impróprio ao ataque de atosmeramente administrativos. Isto ocorre quando se impugnadecreto do Chefe do Poder Executivo com o qual se disciplina ademarcação de terras indígenas e se traçam parâmetros para aatividade administrativa a ser desenvolvida. Possívelextravasamento resolve-se no âmbito da ilegalidade. (STF –ADIn 977 – PA, Rel. Min Marco Aurélio, DJU de 17.12.93 e casoigual em: ADIn Medida Liminar 710 -6 – RR, Rel. Min MarcoAurélio, DJU de 06.05.92; ADIn Medida Liminar 1429-3 – DF,Rel. Min. Carlos Velloso; ADIn 3335-2 – DF, Rel. Min. EllenGracie)

O Decreto 1775/96, ao instituir o procedimento contraditório na

demarcação administrativa de terras indígenas, garantindo a ampla defesa na

esfera administrativa, sana o eventual incidente de inconstitucionalidade do

decreto anterior, Dec. 22/91.

EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. Tendo sido editado oDecreto 1775/96, que garantiu o contraditório e a ampla defesatambém aos proprietários que já estavam com seus imóveisdemarcados como terras indígenas, desde que o decretohomologatório não tenha sido objeto de registro em cartórioimobiliário ou na Secretaria do Patrimônio da União do Ministério

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da Fazenda, e, portanto, estando ainda em curso a demarcação,ficaram prejudicados o incidente de inconstitucionalidaderelativamente ao Decreto N.22/91 e a alegação de cerceamentode defesa.De há muito (assim, a título de exemplo nos MS 20.751, 20.723,20.215, 20.234, 20.453 e 21.575), esta Corte vem acentuando acomprovação, quando contestada como no caso o foi, dainexistência da posse indígena não se faz de plano, mas aocontrário, necessita da produção de provas, inclusive pericial,sendo assim, questão de fato controvertida, insusceptível de serapreciada em mandado de segurança que exige a certeza eliquidez do direito.Mandado de Segurança que se julga prejudicado em parte e naoutra parte é ele indeferido, ressalvadas, porém, ao impetranteas vias ordinárias. (STF – Mandado de Segurança 21.649-2/MS,Rel. Min. Moreira Alves, DJU de 15.12.00)

Em ação direta de inconstitucionalidade interposta contra o Decreto n.

1775/96, o Ministro Carlos Veloso, em decisão monocrática e com fundamento

em jurisprudência consolidada do STF decidiu:

“A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal orienta-se nosentido de que os atos de efeitos concretos não se sujeitam aocontrole de constitucionalidade, em abstrato (ADIn 643-SP,Relator Min. Celso de Mello, DJ de 03.04.92), e bem assim nãosão passíveis de fiscalização jurisdicional, no controleconcentrado, os atos meramente administrativos (ADIn 1544 –DF, Rel. Min S. Sanches). Também o regulamento não está, deregra, sujeito ao controle de constitucionalidade. É que, se odecreto regulamentar vai além do conteúdo da lei, ou nega algoque a lei concedera, pratica ilegalidade. A questão, nestahipótese, comporta-se no contencioso de direito comum, nãointegrando o contencioso constitucional. Tem-se no caso, atomeramente administrativo. (...) Assim posta a questão, negoseguimento à ação e determino seu arquivamento.” (STF – ADIn. 1429/DF – Medida Cautelar na Ação Direta deInconstitucionalidade. Rel. Min. Carlos Velloso. Decisãomonocrática 10/05/1999)

2. Jurisprudência Superior Tribunal de Justiça

A Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) referente a

processos sobre terras indígenas, respeitadas suas diferentes competências, em

geral pouco difere da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) em

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questões processuais e de direito. Igualmente, entende-se que o Mandado de

Segurança não é a via eleita para discutir posse e propriedade de terras indígenas

por exigir direito líquido e certo, e prova pré-constituída para a concessão do

mandamus. O STJ também consolida o entendimento do STF sobre a inadequada

alegação de aldeamentos extintos em ação de usucapião de imóveis em regiões

metropolitanas em prol da propriedade de terras da União. Contudo, na análise

dos fatos as decisões do STJ transparecem um entendimento mais conservador

no sentido de proteger a propriedade privada contra a demarcação de terras

indígenas. São inúmeros os julgados do STJ que partem exclusivamente da

lógica ocidental de tradição colonialista para defender a propriedade privada,

individual e produtiva com mais afinco do que para defender terras indígenas de

caráter coletivo e fundamentais para a preservação cultural, como determina a

Constituição Federal.

2.1 COMPETÊNCIA

A Jurisprudência do STJ confirma a competência da Justiça Federal para

julgar disputas sobre direitos indígenas, em atendimento ao dispositivo do artigo

109 da Constituição Federal. (STJ – Conflito de Competência N.41.241-SP,

Relator Min. José Delgado, DJ 17.12.2004; Conflito de Competência N. 1273-

MS, Relator Min. Bueno de Souza, DJ 23.09,1991; Conflito de Competência N.

1349-MS, Relator Min. Bueno de Souza, DJ 02.12,1991):

EMENTA: CONFLITO DE COMPETÊNCIA POSITIVO. AÇÕESPOSSESSÓRIAS. EVENTUAL DIREITO INDÍGENA EMDISCUSSÃO. INTERESSE DA UNIÃO E DA FUNAI NOFEITO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO FEDERAL SUSCITADO.1. Examina-se conflito de competência positivo suscitado peloJuízo de Direito da Primeira Vara Cível do Foro Regional daLapa – São Paulo em face do Juízo Federal da Oitava VaraCível da Seção Judiciária de São Paulo. Proposta ação dereintegração de posse por Manoel Fernando Rodrigues e Bentada Conceição da Silva Rodrigues em face de ocupação de áreapor índios da Tribo Guarani, no Bairro Jaraguá, na Cidade deSão Paulo. O Ministério Público Federal, a FUNAI e aAdvocacia-Geral da União, todos alegando interesse no feito,

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pugnaram pela incompetência absoluta da Justiça Estadualpara processar e julgar a demanda. Rejeitada a alegação deincompetência de juízo, o Magistrado Estadual entendeuinexistir, ante as informações carreadas aos autos, qualquerdireito indígena em debate, mantendo os efeitos da decisãoque concedeu a liminar de reintegração de posse. A FUNAIajuizou, na Oitava Vara Cível da Seção Judiciária de SãoPaulo, ação de manutenção de posse, com pedido liminar, emdesfavor dos particulares. O Juízo Federal concedeu a liminarpleiteada pela FUNAI, solicitando o envio dos autos à JustiçaFederal, por conexão, da Ação de Reintegração de Posse nº.004.02.030695-8, que corre perante o Juízo de Direito da 1ªVara Cível do Foro Regional da Lapa - São Paulo ou,entendendo de forma diversa, que este suscitasse eventualconflito de competência. 2. Da análise do processado revela-se patente o interessetanto da União quanto da FUNAI em integrar a lide, visto queestá caracterizada a existência de eventual direito indígena, oque, de fato, atrai a competência da Justiça Federal para dirimiro pleito, em obediência ao comando constitucional inserto noart. 109 da Carta Magna.3. Conflito conhecido para declarar competente para julgar alide o Juízo Federal da 8ª Vara Cível da Seção Judiciária doEstado de São Paulo, suscitado, determinando-se a reuniãodas causas conexas (reintegração e manutenção).(STJ – CC 41241/SP, Relator Min. José Delgado, DJ17.12.2004)

Também nos casos que trata como aldeamento extinto os pedidos de usucapião

sobre áreas indígenas, matéria que não deve se confundir com a demarcação de

terras indígenas, declara a competência da Justiça Federal:

EMENTA: PROCESSUAL CIVIL - USUCAPIÃO -COMPETENCIA - INTERESSE DA UNIÃO FEDERAL.I - ASSENTADO NA JURISPRUDENCIA DO STJ OENTENDIMENTO NO SENTIDO DE QUE, TRATANDO-SE DEAÇÃO DE USUCAPIÃO RELATIVA A IMOVEL, SITUADO EMAREA DE EXTINTO ALDEAMENTO INDIGENA, ACOMPETENCIA PARA PROCESSAR E JULGAR O FEITO EDA JUSTIÇA FEDERAL, FACE AO MANIFESTO INTERESSEDA UNIÃO FEDERAL.II - RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.(STJ - RESP 35930, Rel. Min Waldemar Zveiter, DJ24.04.1995, e também RESP 330033, Min Humberto Gomesde Barros, DJ 17.05.2004; RESP 49162, Min WaldemarZveiter, DJ 14.11.1994; RESP 51963, Min Paulo Costa Leite,DJ 14.08.1995; RESP 47434, Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ29.05.1995)

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e a competência do Supremo Tribunal Federal para julgar lides que envolvam o

decreto presidencial de homologação de terra indígena:

EMENTA: PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO -RECLAMAÇÃO - DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS -MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA E PRESIDENTE DAREPÚBLICA - DESCUMPRIMENTO DE ORDEMDETERMINADA EM MANDADO DE SEGURANÇA -ILEGITIMIDADE DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO -INCOMPETÊNCIA DESTE SUPERIOR TRIBUNAL DEJUSTIÇA PARA CASSAR DECRETO PRESIDENCIAL -AUTORIDADE QUE NÃO FOI PARTE NO MANDAMUS -REGULARIDADE DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO -ANÁLISE DO MÉRITO DA CONTESTAÇÃO APRESENTADAPELO RECLAMANTE - AFRONTA À DECISÃO DESTETRIBUNAL - NÃO-OCORRÊNCIA - INDEFERIMENTO DOPEDIDO.1 - Nos termos da competência instituída pela CartaMagna, este Superior Tribunal de Justiça não estáautorizado a promover a cassação de Decreto Presidencial.2 - Na linha de orientação desta Corte Superior, é inviável oajuizamento de reclamação contra autoridade que não foi partena demanda cuja decisão se pretende garantir o cumprimento.3 - A decisão proferida por este Sodalício no MS 6.045-DFvinculou apenas a autoridade impetrada - Ministro deEstado da Justiça – a oportunizar a defesa do orareclamante em procedimento administrativo dedemarcação de terras indígenas. Desse modo, o Chefe doPoder Executivo, ao homologar, por meio de DecretoPresidencial, a demarcação administrativa da TerraIndígena Limão Verde, não estava adstrito à decisão cujaeficácia se pretende assegurar.4 - Em relação ao Excelentíssimo Senhor Ministro de Estadoda Justiça, não houve afronta à decisão deste Tribunal. Issoporque não ocorreram irregularidades no procedimentoadministrativo, pois a defesa apresentada pelo ora reclamantefoi devidamente apreciada, com análise do mérito.5 - A reclamação visa a preservar a competência desta CorteSuperior e/ou a garantir a autoridade das suas decisões, nãoservindo como alternativa recursal nem como substitutivo daação rescisória.6 - Indeferimento da reclamação, com a revogação da liminarinicialmente concedida, prejudicado o exame dos agravosregimentais interpostos pela União e pelo Ministério PúblicoFederal.(grifei) (STJ – Recl. 1410/DF, Relatora Min. Denise Arruda. DJ08.06.2005)

Estabelece o artigo 105, inciso I da Constituição Federal, que compete ao

STJ processar e julgar originariamente os mandados de segurança e os habeas

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data contra ato de Ministro de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército

e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal, inclui-se portanto os mandados de

segurança contra Portaria do MJ que declara terra indígena; os conflitos de

competência entre quaisquer tribunais, ressalvado o disposto no art. 102, I, (o),

bem como entre tribunal e juízes a ele não vinculados e entre juízes vinculados a

tribunais diversos; os conflitos de atribuições entre autoridades administrativas e

judiciárias da União, ou entre autoridades judiciárias de um Estado e

administrativas de outro ou do Distrito Federal, ou entre as deste e da União;

entre outros. Em recurso ordinário o STJ é competente para julgar os mandados

de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais Federais ou

pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória

a decisão; e em recurso especial compete ao STJ o julgamento das causas

decididas em única ou última instância pelos TRFs, quando a decisão recorrida

contrariar tratado ou lei federal; ou quando julgar válido ato de governo local

contestado em face de lei federal, hipótese comum nas ações possessórias contra

a demarcação de terras indígenas que abrangem glebas que foram transferidas a

particulares pelo estado membro da federação.

2.2 DEMARCAÇÃO ADMINISTRATIVA E AÇÕES JUDICIAIS

Também no âmbito do Superior Tribunal de Justiça são inúmeros os

mandados de segurança e recursos contra a demarcação de terras indígenas pela

administração. A jurisprudência do STJ revela que apesar de reconhecer a letra

constitucional que prevê a proteção das terras indígenas como habitat de um

povo culturalmente distinto, o processamento e julgamento das ações no âmbito

do Judiciário ainda encontram barreiras formais e divergências ideológicas

quanto ao resguardo de direitos indígenas e do multiculturalismo. A discussão

acerca de questões processuais, a prevalência da aplicação do conceito de posse e

propriedade do direito civil, e o posicionamento etnocentrista dos operadores do

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direito têm favorecido particulares na defesa de seus interesses sobre terras

indígenas.

Decreto 1775/96 - Devido Processo Legal Administrativo

No tocante à demarcação das terras indígenas, a jurisprudência do STJ,

reconhecendo o devido processo legal administrativo do Decreto 1775/96 afasta

o argumento de que há cerceamento de defesa no procedimento administrativo

de demarcação de terra indígena:

ADMINISTRATIVO. DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDIGENAS.PROCEDIMENTO. PRECEDENTE DO STJ. SEGURANÇACONCEDIDA.I – Ainda que o procedimento administrativo tenha iniciado sob aégide do Decreto N. 22/91, devem ser cumpridas as regrasinsertas no Decreto N. 1.775/96, que prestigiam os princípiosda ampla defesa e do contraditório.II - Precedente do STJ: MS N. 4.693/DF.III – Segurança concedida para o fim de anular os atos praticadosem desconformidade com o Decreto N. 1.775/96. (grifei) (STJ -Mandado de Segurança N. 5013 - DJ:25/05/1998, Relator MinAdhemar Maciel)

e

“Por fim, no que concerne ao processo administrativo que deuorigem à portaria ministerial ora atacada, impende mencionarque, ao contrário do que alegam os impetrantes, não houvecerceamento de defesa, pois a parte teve ampla oportunidadepara oferecer contestação, a qual foi apresentada eadministrativamente julgada improcedente pelo Senhor Ministrode Estado da Justiça, com fundamento nos dados fáticosconstantes do processo demarcatório, colhidos e analisados deacordo com as exigências preconizadas pelo Decreto No.1775/96.” (grifei) (STJ – Mandado de Segurança N. 8.878-DFp.08 Voto da Relatora Min. Denise Arruda)

Seguindo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o Superior

Tribunal de Justiça manifesta semelhante interpretação do artigo 67 do Ato das

Disposições Transitórias sobre o prazo para a conclusão da demarcação das

terras indígenas:

ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA.DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS. ESGOTAMENTO DOLAPSO ASSINALADO NO ART. 67 DO ADCT. PRAZOASSINALADO EM FAVOR DA DEMARCAÇÃO E DOS

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INTERESSES DOS INDÍGENAS. INEXISTÊNCIA DE GARANTIACONSTITUCIONAL AO DUPLO GRAU ADMINISTRATIVO.PRECEDENTES DO STJ E DO STF. NULIDADE DOPROCESSO ADMINISTRATIVO. OFENSA ÀS GARANTIAS DOCONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. INOCORRÊNCIA.1. O art. 67 do ADCT não estipula prazo decadencial para arealização da providência ali determinada. Trata-se de prazodestinado a impulsionar o cumprimento pela União do deverconstitucionalmente imposto de delimitar e proteger asáreas tradicionalmente ocupadas pelos índios, as quais são"inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas,imprescritíveis" (art. 231). Não tem o decurso do prazo,assim, evidentemente, o efeito de desincumbir o PoderPúblico desse encargo. O prazo foi fixado em benefício dademarcação e dos interesses dos indígenas, e não contraeles.2. Esta Corte, na esteira da orientação firmada pelo SupremoTribunal Federal, assentou o entendimento segundo o qual nãohá, na Constituição de 1988, garantia de duplo grau de jurisdiçãoadministrativa.3. A disciplina específica do procedimento administrativo dedemarcação de áreas indígenas consta do Decreto 1.775/96, noqual não há previsão de recurso hierárquico, mas apenas demanifestação de interessados, desde o início do procedimentoaté 90 dias após a publicação do relatório de identificação edelimitação da terra indígena, mediante apresentação "ao órgãofederal de assistência ao índio [de] razões instruídas com todasas provas pertinentes, tais como títulos dominiais, laudospericiais, pareceres, declarações de testemunhas, fotografias emapas, para o fim de pleitear indenização ou para demonstrarvícios, totais ou parciais, do relatório (...)" (art. 2º, § 8º), as quaisserão apreciadas pelo próprio órgão, nos 60 dias subseqüentesao encerramento do prazo para manifestações (§ 9º), eencaminhadas, juntamente com o restante do procedimento, aoMinistro de Estado da Justiça, para decisão.4. No caso concreto, foi oportunizada à impetrante aapresentação de razões, tendo sido os argumentos e elementosprobatórios por ela trazidos aos autos do processo administrativotomados em consideração pela FUNAI na formulação de seuparecer, ainda que para serem tidos por irrelevantes àdelimitação das terras indígenas, ou mesmo para seremrefutados por considerações de ordem técnica. Restadescaracterizada, com isso, a alegada ofensa às garantias docontraditório e da ampla defesa.5. Mandado de segurança denegado. (grifei) (STJ – Mandado deSegurança 10269/DF, Min Rel José Delgado, DJ de 17.10.2005)

Mandado de Segurança

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A Jurisprudência do STJ também confirma a impropriedade da via

mandamental, quando o litígio diz respeito à demarcação de terras indígenas.

Aponta a falta de interesse, no sentido de adequação da ação, que

consequentemente justifica a extinção do processo sem julgamento de mérito. O

título de propriedade de terras de particulares não representa por si só direito

líquido e certo inquestionável contra o direito dos índios à demarcação de suas

terras.

Constitucionalidade. Terras. Domínio originário do Estado ou daUnião. Decreto nº. 84.337, que fixa os limites da ReservaIndígena denominada "Parabubure". Reclamação de titulares dedomínio glebas que estariam alcançadas pela referida fixação.Mandado de Segurança contra o Presidente da República,expedidor do Decreto. Inviabilidade do pedido, por exigir o exameda matéria de fato controvertida. Mandado de SegurançaIndeferido. (STJ – MS 20234/MT, Rel. Min. Cunha Peixoto, DJ01.07.1980)

eAGRAVO REGIMENTAL. MANDADO DE SEGURANÇA.TERRAS INDÍGENAS. DEMARCAÇÃO. DILAÇÃOPROBATÓRIA. INADMISSIBILIDADE. 1. A via estreita domandado de segurança não comporta discussão derredor deposse indígena sobre terras a demandar realização de períciatécnica, investigação histórica e demais provas necessárias.2. Agravo regimental improvido." (STJ - AGRMS 7117/DF, Rel.Min. Peçanha Martins, DJ 09.05.2001)

Nesse sentido:

MANDADO DE SEGURANÇA. DEMARCAÇÃO DE TERRASINDÍGENAS. ART. 231 DA CF/88. DILAÇÃO PROBATÓRIA.INADMISSIBILIDADE. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITAI – Nos termos do art. 231, § 6º, da Constituição Federal, osatos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a possedas terras tradicionalmente ocupadas pelos índios nãoproduzem efeitos jurídicos.II – O mandado de segurança pressupõe a existência dedireito líquido e certo, apoiado em fatos incontroversos, enão em fatos complexos dependentes de dilação probatória.III – A via mandamental é inadequada à discussão da possesobre área de terras, se ocupada pelos silvícolas ou porparticulares, o que não restou demonstrado extreme dedúvida.IV – Processo extinto sem julgamento do mérito, ressalvando asvias ordinárias aos impetrantes. (STJ – Mandado de SegurançaN. 8.878-DF Relatora Min. Denise Arruda)

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“Sobre o tema cumpre ressaltar que este Superior Tribunal deJustiça já se manifestou inúmeras vezes acerca daimpropriedade da via mandamental, quando o litígio diz respeitoà demarcação de terras indígenas (MS 1984/DF, Primeira Seção,Rel. p/ o acórdão Min. Peçanha Martins, MS 4810/DF, PrimeiraSeção, Rel. Min. Demócrito Reinaldo, MS 4816/DF, PrimeiraSeção, Rel. Min. Laurita Vaz, MS 8032/DF, Primeira Seção, Rel.Min. Eliana Calmon)A título ilustrativo, o seguinte precedente, proferido pelo PretórioExcelso:“MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA DECRETO DOSENHOR PRESIDENTE DA REPÚBLICA, QUE DECLAROU DEOCUPAÇÃO INDÍGENAS, ÁREAS DE TERRAS SITUADAS NOMUNICÍPIO DE ARIPUANA, NO ESTADO DE MATO GROSSO,ONDE A IMPETRANTE É PROPRIETÁRIA DE GLEBA.O mandado de segurança pressupõe a existência de direitolíquido e certo, apoiado em fatos incontroversos, e não em fatoscomplexos que reclamam produção e cotejo de provas. Ora, acomprovação da inexistência de posse indígena não pode serfeita de plano, exigindo a produção de provas técnica e pessoal,como perícias e investigações que não se compatibilizam com orito do mandado de segurança. Além disso, o registro público detítulo aquisitivo de propriedade não representa por si direitolíquido, certo e inquestionável, uma vez que está sujeito aimpugnação. Os instrumentos de aquisição e o registro públicocorrespondente constituem uma presunção “júris tantum” e não“júris et de jure”. Denegação do ´writ´, ressalvadas as viasordinárias.” (grifei) (STF - MS 20.723/DF, Rel. Min. Djalci Falcão,RTJ 124/948).”

e também:

EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA.DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS. ART. 231 DA CF/88.SITUAÇÃO FÁTICA COMPLEXA NÃO DEMONSTRADA.DILAÇÃO PROBATÓRIA. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA.1. Nos termos do art. 231 da Constituição Federal, compete àUnião a demarcação das terras tradicionalmente ocupadas pelosíndios, em caráter originário e permanente.2. Não se afigura possível discutir, nos augustos limites domandado de segurança, matéria fática sobre se as terras sãoou não de posse indígena, o que, de plano, não ficoudemonstrado extreme de dúvida. Precedentes dos STJ.3. A pretensão do Estado federado de se insurgir contra aportaria ministerial em causa somente subsistiria se houvesseprova documental e pré-constituída que comprovasse, de plano,a existência de liquidez e certeza de direito subjetivo a elepertencente, não evidenciando o alegado cerceamento de defesanem eivas de ilegalidade susceptíveis de anularem o despachoministerial questionado.

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4. Processo extinto sem julgamento do mérito, ressalvando asvias ordinárias ao Impetrante. (grifei) (STJ – Mandado deSegurança 6210/DF, Min Laurita Vaz, DJ 27.11.2002)

Acórdãos semelhantes no MS 6.210/DF, Rel. Min. Laurita Vaz,

DJU de 06/10/2003, AgRg no MS 7.119/DF, Rel. Min. Peçanha Martins,

DJU de 11/02/2002, MS 7126/DF, Rel. Min. Franciulli Netto, DJU de

25/06/2001.

E mais recentemente:

EMENTA: PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO -MANDADO DE SEGURANÇA PREVENTIVO - LIMINARINDEFERIDA - AGRAVO REGIMENTAL - TERRAS INDÍGENAS- DEMARCAÇÃO - PROCESSO ADMINISTRATIVO - RECURSOHIERÁRQUICO - AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL -DECRETO 1775/96 - PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DAAMPLA DEFESA - VIOLAÇÃO NÃO CONFIGURADA -AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO -DESPROVIMENTO.- A Constituição Federal de 1988 não garante o duplo grau dejurisdição no contencioso administrativo.- O processo administrativo de demarcação das áreas indígenasé disciplinado pelo Decreto n. 1775/96 que não prevê ainterposição do recurso hierárquico mas, tão-só, a manifestaçãodos interessados, no prazo legal, posteriormente apreciada peloMinistério da Justiça.- Na hipótese, a contestação do impetrante contra o laudo deidentificação da área indígena apresentado pela FUNAI, sequerfoi analisada pelo Ministério da Justiça, não se configurando,portanto, qualquer desrespeito aos princípios da ampla defesa edo contraditório, não se configurando o direito líquido e certo,autorizador da concessão da ordem requerida.- Inexistente o ato abusivo a direito do impetrante, supostamentecometido pelo Ministro de Estado da Justiça, incabível omandado de segurança preventivo.- Agravo regimental desprovido. (STJ - AgRg no MS 10821/DF,Rel. Min. Peçanha Martins, DJ 15.05.2006)

As decisões proferidas no Superior Tribunal de Justiça contra o

procedimento administrativo de demarcação de terras indígenas dirigem-se

exclusivamente ao sujeito impetrado e ao ato administrativo de sua

competência, normalmente o Ministro da Justiça, e não tem poderes para

cassar Decretos que emanam do Presidente da República. Compete

exclusivamente ao Supremo Tribunal Federal julgar as ações contra atos do

chefe do Poder Executivo. Portanto, as decisões do STJ, que eventualmente

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suspendam o procedimento administrativo de demarcação de terras

indígenas, vinculam apenas as autoridades impetradas, e não impedem a

homologação por Decreto presidencial.

EMENTA: PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO -RECLAMAÇÃO - DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS -MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA E PRESIDENTE DAREPÚBLICA - DESCUMPRIMENTO DE ORDEMDETERMINADA EM MANDADO DE SEGURANÇA -ILEGITIMIDADE DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO -INCOMPETÊNCIA DESTE SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇAPARA CASSAR DECRETO PRESIDENCIAL - AUTORIDADEQUE NÃO FOI PARTE NO MANDAMUS - REGULARIDADE DOPROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO - ANÁLISE DO MÉRITODA CONTESTAÇÃO APRESENTADA PELO RECLAMANTE -AFRONTA À DECISÃO DESTE TRIBUNAL - NÃO-OCORRÊNCIA - INDEFERIMENTO DO PEDIDO.1 - Nos termos da competência instituída pela Carta Magna,este Superior Tribunal de Justiça não está autorizado apromover a cassação de Decreto Presidencial.2 - Na linha de orientação desta Corte Superior, é inviável oajuizamento de reclamação contra autoridade que não foi partena demanda cuja decisão se pretende garantir o cumprimento.3 - A decisão proferida por este Sodalício no MS 6.045-DFvinculou apenas a autoridade impetrada - Ministro de Estadoda Justiça – a oportunizar a defesa do ora reclamante emprocedimento administrativo de demarcação de terrasindígenas. Desse modo, o Chefe do Poder Executivo, aohomologar, por meio de Decreto Presidencial, a demarcaçãoadministrativa da Terra Indígena Limão Verde, não estavaadstrito à decisão cuja eficácia se pretende assegurar.4 - Em relação ao Excelentíssimo Senhor Ministro de Estado daJustiça, não houve afronta à decisão deste Tribunal. Isso porquenão ocorreram irregularidades no procedimento administrativo,pois a defesa apresentada pelo ora reclamante foi devidamenteapreciada, com análise do mérito.5 - A reclamação visa a preservar a competência desta CorteSuperior e/ou a garantir a autoridade das suas decisões, nãoservindo como alternativa recursal nem como substitutivo daação rescisória.6 - Indeferimento da reclamação, com a revogação da liminarinicialmente concedida, prejudicado o exame dos agravosregimentais interpostos pela União e pelo Ministério PúblicoFederal.(grifei) (STJ – Reclamação N.1.410-DF, Relatora Min. DeniseArruda, DJ 01.08.2005)

Contudo, já decidiu o STJ reafirmando o cabimento de mandado de

segurança, com o objetivo de decretar a nulidade de Portaria Ministerial de

demarcação de terra indígena por alegada falta de observância ao parágrafo

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primeiro do artigo 231 da Constituição Federal, ainda que sem

questionamento sobre a posse permanente indígena e com os infundados

argumentos da falta do contraditório e da ampla defesa:

PROCESSO CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO.PORTARIA MINISTERIAL 826/98. ÁREA DE BAÚ.CONTRADIÇÃO E OMISSÃO. INOCORRÊNCIA. 1.Inadmissíveis os embargos declaratórios quando o acórdãoembargado não contém contradição e omissão, refletindo, alémdisso, o entendimento de precedente da Eg. 1ª. Seção sobre anulidade da Portaria MJ-826/98. 2. Embargos declaratóriosrejeitados. “(...)Cumpre observar que o mandado de segurança objetivava,exclusivamente, a decretação da nulidade da Portaria MJ-826/98,que não se encontrava devidamente fundamentada nem atendiaaos pressupostos do art. 231, parág. 1º., da CF, por isso quedeferida a ordem sem questionamento sobre se a área de“Baú” era, ou não, de posse permanente indígena. Destarte,não havia por que a FUNAI integrar a lide como litisconsortenecessária.” Grifei. (STJ – Edcl no MS 6280/DF, Rel. Min.Francisco Peçanha Martins, DJ 03.09.01).

O MS 6280/DF impugnado apresentava a seguinte ementa:

ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. TERRASINDÍGENAS. ÁREA DE "BAÚ". PORTARIA MJ-826/98.NULIDADE. PRECEDENTE DA 1ª SEÇÃO. CONCESSÃO DAORDEM.1. A Portaria Ministerial nº. 826/98, que declarou como de possepermanente indígena a área de terras denominada "Baú", situadanos Municípios de Novo Progresso e Altamira, no Estado doPará, e Matupá e Peixoto de Azevedo, em Mato Grosso, nãopode subsistir por sua flagrante nulidade.2. Além de não estar suficientemente fundamentada, amencionada portaria não atende aos requisitos do art. 231, § 1º,da C.F. por não assegurar os princípios do contraditório e daampla defesa.3. Ação mandamental julgada procedente, para declarar anulidade da Portaria MJ-826/98 e dos atos administrativospraticados a partir do Despacho Ministerial nº. 18/96 e, via deconseqüência, conceder a segurança.(STJ – MS 6280/DF, Rel. Min. Francisco Peçanha Martins, DJ11.12.00).

Demarcação sub judice

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A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) aponta que esta

corte referenda o entendimento de que a pendência judicial afeta o ato

administrativo mas nem sempre impede seu seguimento. Assim, ao decidir

agravo regimental no mandado de segurança que concedera liminar suspendendo

a demarcação da terra indígena Kayabi posiciona-se:

EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA IMPETRADO PELOMUNICÍPIO DE APIACÁS/MT CONTRA ATO DO MINISTRO DAJUSTIÇA REFERENTE À DEMARCAÇÃO DE TERRASINDÍGENAS.1. Ausência de prova pericial que consubstanciaria o necessáriodireito líquido e certo quanto à alegada inexistência de culturaindígena em confronto com as informações prestadas pela DoutaAutoridade apontada como coatora.2. Elementos coligidos pela impetrada que revelam ocumprimento do devido processo legal na etapa antecedente àdemarcação, bem como, minuciosa descrição da cultura indígenalocal.3. Agravo regimental provido para cassar a liminaranteriormente concedida e permitir a continuidade doprocesso de demarcação das terras indígenas situadas noMunicípio de Apiacás/MT.(STJ - AgRg no MS 8882 / DF, DJ 26.05.2003 Rel. Min Luiz Fux)

Significativamente:

EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA.DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDIGENAS. ART. 231 DACF/1988 E DEC 1.775/1996.Em face de preceito constitucional expresso (ART. 231), competeà União demarcar as terras tradicionalmente ocupadas pelosíndios em caráter permanente, no intuito de preservar suaorganização social, costumes, línguas, crenças e tradiçõesatravés de procedimento administrativo consignado em lei.Na demarcação das terras indígenas hão de ser respeitadosa posse e o domínio dos particulares, este, se o título estiverdevidamente registrado remontando a data anterior à CartaPolítica de 1934, e aquela (posse) para efeito de indenização,em procedimento judicial adequado (ou, amigavelmentepelas vias administrativas). O simples ajuizamento dedemanda judicial objetivando a defesa da posse ou do domíniode área de terra encravada no perímetro demarcado não importana suspensão do procedimento administrativo instaurado paraefeito da demarcação desde que, o registro das terras como deocupação indígena só se dará, em caráter definitivo, apósdecisão judicial, em processo contencioso. Ainda que concluído o

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procedimento administrativo (da demarcação) arrimado empreceito constitucional e com a presunção de legalidade, nãoinvalidaria a sentença que, de futuro, vier a ser proferida emprocesso judicial adequado, em que o particular postular oreconhecimento de seu domínio sobre parte das eirasdemarcadas. O mandado de segurança, a que se não podeconvolar em interdito possessório ou em ação de domínio,não se erige em procedimento próprio a impedir ademarcação de terras indígenas, na forma do disposto empreceito constitucional (ART. 231). Segurança denegada(grifei) (STJ – Mandado de Segurança 4810/DF, Rel. MinDemócrito Reinaldo, DJ 04.08.1997)

Também, decidiu em caráter liminar pelo prosseguimento do

procedimento administrativo de demarcação de terras indígenas, desde que não

turbe a posse dos ocupantes não-indígenas, especialmente tratando-se de colonos

assentados pelo Estado.

EMENTA: PROCESSUAL – MANDADO DE SEGURANÇA –TERRAS INDÍGENAS – POSSES OUTORGADAS PELO INCRA– CANCELAMENTO POR LAUDOS ANTROPOLÓGICOS –APARÊNCIA DE BOM DIREITO – LIMINAR – MANUTENÇÃO.É de se deferir liminar, para que colonos assentados pelo INCRAnão sejam sumariamente afastados de suas posses, aofundamento de que laudos antropológicos atestam a posseindígena sobre as glebas.“Não me parece razoável a tese de que o Estado pode afastar,sem indenização prévia, lavradores por ele mesmo assentadosem determinado local.Em nosso sistema constitucional, os títulos dominicais emitidospelo Estado merecem acatamento, até serem desconstituídosatravés de procedimento contencioso.(...)Por outro lado, a liminar não impede os trabalhosdemarcatórios. Simplesmente determina que eles sedesenvolvam sem a agressão às posses concedidas peloINCRA.” (grifei) (STJ – Ag. Reg. No Mandado de Segurança N.4821/DF, voto Exmo. Sr. Relator Min. Humberto Gomes deBarrosa - DJ de 01.03.1999)

e:

EMENTA: PROCESSUAL - MANDADO DE SEGURANÇA -TERRAS INDÍGENAS – POSSES OUTORGADAS PELO INCRA- CANCELAMENTO POR LAUDOS ANTROPOLÓGICOS -APARÊNCIA DE BOM DIREITO - LIMINAR - MANUTENÇÃO.- É de se deferir liminar, para que colonos assentados peloINCRA não sejam sumariamente afastados de suas posses, ao

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fundamento de que laudos antropológicos atestam a posseindígena sobre as glebas.(STJ - AgRg no MS 4821/DF, Rel. Ministro Humberto Gomes deBarros, DJ de 01.03.1999)

Contudo, assim como alguns precedentes minoritários da jurisprudência

do STF, no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, a pendência judicial

referente ao procedimento administrativo de demarcação de terras indígenas

(demarcação sub judice) tem sido entendida, ainda que em caráter liminar, como

causa para a suspensão dos efeitos do ato administrativo.

No julgamento de lide possessória, o STJ julgou improcedente a medida

cautelar com pedido de liminar proposta pela União Federal para suspender os

efeitos do recurso especial que autorizava a reintegração de posse do particular

na terra indígena Caramuru- Paraguassu. Percebe-se aqui o peso maior da prova

de títulos frente à comprovação antropológica da ocupação de indígenas na área:

EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. MEDIDA CAUTELAR. AÇÃODE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. AUSÊNCIA DO "FUMUSBONI JURIS".1. Questões probatórias não podem ser enfrentadas nopatamar do recurso especial por óbice regimental insculpido noenunciado nº. 07 da Súmula desta Corte. In casu, requer aUnião providência que só pode ser convenientemente tomadaà vista de elementos fáticos colhidos na dilação probatória.2. Se por um lado a Constituição Federal confere proteçãoàs terras "tradicionalmente" ocupadas pelos índios (art.231), por outro, também confere proteção ao direito depropriedade (art. 5º, inc. XXII). A eventual colisão dedireitos com sede constitucional há de ser resolvida comlastro na prova produzida nos autos sobre as respectivastitulações.3. Na espécie, vista a controvérsia sob a perspectivasumaríssima da tutela de urgência, ressai com mais nitidez aprodução, até este momento, de prova no sentido da possecom utilização econômica, desautorizando provimentocautelar fundado na simples alegação de posse imemorial.4. Medida cautelar improcedente.

VOTOO SR. MINISTRO JOSÉ DELGADO (Relator): O pedidocautelar em exame não merece ser deferido.Os autos demonstram que os acontecimentos processuais sãoos que estão relatados na decisão de fls. 843/844:

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'Ocorre que os documentos juntados dizem com a instrução dacausa no primeiro grau e não preenchem a lacuna anotada nadecisão agravada. Ademais, insiste a União em requerer, emtutela de urgência, providência de natureza possessória, quesó pode ser convenientemente tomada à vista de elementosfáticos colhidos na dilação probatória. No patamar do recursoespecial (ao qual se pretende agregar efeito suspensivo comesta cautelar), tais questões probatórias não podem serenfrentadas por óbice regimental insculpido no enunciado nº. 7da súmula desta Corte.No particular, colhe-se da sentença (fl. 42) significativo trechoque elucida bem a formação do convencimento que restoumantido com o desprovimento do agravo, verbis:'Os requeridos, em suas contestações, em momento algumnegam a condição do autor, ou seja, a condição de ser detentordo poder de fato sobre a coisa dando-lhe utilização econômica.No entanto, imputam fato impeditivo ao exercício desse direito,argumentando a existência de posse imemorial sobre a áreaem litígio, por tratar-se de imóvel que se encontra inserido nareserva Caramuru-Paraguaçu, destinada à preservação étnicada tribo dos Pataxó, originários do sul da Bahia, nos termos doart. 231 da CF/88.Conquanto entenda relevante as alegações de defesa, o certoé que na oportunidade de especificação de provas, as partes eo MPF se confortaram com os elementos probatórios jáproduzidos na audiência de justificação prévia e nosdocumentos acostados aos autos.Em verdade, no decorrer da instrução, não houve qualqueralteração na situação fática ou jurídica que pudesse mudar oentendimento esposado por ocasião da apreciação do pedidoliminar reintegratório' (fl. 42).E, adiante, assinala:'Ora, se o próprio STF, no julgamento da ação que tem objeto anulidade dos títulos de propriedade, por inclusive já instruídacom perícia antropológica, topográfica, agronômica e sanitária,tem dúvida a respeito do domínio ou da caracterização da áreacomo indígena, outra não pode ser a decisão neste juízo,senão a de resguardar aos atuais possuidores a posse da terra'(fl. 49).Diante desse quadro probatório a ementa do acórdão recorridoregistra:'2- Incensurável a decisão que defere liminar em ação dereintegração de posse, resguardando o direito de quem exerciapacificamente a posse e a teve turbada ou esbulhada de ummomento para outro. Medida que se impõe, inclusive, paragarantir a continuidade das atividades de economia ruralexercidas no imóvel de domínio privado, restabelecendo-se,assim, o status quo ante' (fl. 38).Não se afigura, assim, patente a presença do fumus boni jurisde modo a autorizar, em tutela de urgência, a concessão deliminar. É fato que se reconhece a garantia constitucional aodireito indígena sobre as terras "tradicionalmente" por elesocupadas (art. 231, CF/88). Contudo também é certa a garantiaconstitucional ao direito de propriedade (art. 5º, inciso XXII) e

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aos instrumentos assecuratórios desse direito. A eventualcolisão de direitos com sede constitucional há de ser resolvidacom lastro na prova produzida nos autos sobre as respectivastitulações.Na espécie, vista a controvérsia sob a perspectiva sumaríssimada tutela de urgência, ressai com mais nitidez, a produção, atéeste momento, de prova no sentido da posse com utilizaçãoeconômica, desautorizando provimento cautelar fundado nasimples alegação de posse imemorial.Assim sendo, à luz desses fundamentos, não vejo como possaexercer o requerido juízo de retratação".Ausentes, portanto, os pressupostos específicos para aconcessão da medida.Julgo, em conseqüência, improcedente o pedido. É como voto.(STJ – MC 6480/BA, Rel. Min. José Delgado, DJ de17.05.2004)

O Superior Tribunal de Justiça também tem confirmado decisões dos

Tribunais Regionais Federais que impedem a transferência do domínio da terra e

o registro do imóvel como patrimônio da União, até que seja decidida a lide.

Para tanto, equipara a proteção constitucional das terras indígenas à proteção da

propriedade privada. Por exemplo, no julgamento do Recurso Especial

n.259.404/CE, Relator Min. Garcia Vieira, DJ de 11.09.2000:

EMENTA: ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL - AÇÃOCAUTELAR - DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS -REGISTRO.A proibição de registro das terras indígenas demarcadas éprovidência típica de medida cautelar porque este só pode serlevado a efeito após o julgamento definitivo da ação principal,onde a questão de fundo seria dirimida. O artigo 19, parágrafo 2oda Lei nº. 6.001/73 não impede o uso de medida cautelar.Recursos improvidos.

VOTO O EXMO SR. MENISTRO (RELATOR): - A União (fis. 987) e aFUNAI (fis. 1005), em seus recursos especiais, apontam comoviolados o parágrafo primeiro do artigo 1º. da Lei n° 8.437/92 eartigo 9°, § 1º e 2° da Lei 6001/73, versando sobre questõesdevidamente prequestionadas. Conheço do recurso pela letra “a”. Pede o requerente nestaMedida Cautelar para ser deferida a liminar determinando às résque se abstenham de dar prosseguimento a qualquer ato quevise a obter a demarcação da área indígena TAPEBA emCaucaia—CE, enquanto não for julgada definitivamente apresente ação e seja sobrestado qualquer ato tendente amolestar o domínio e a posse do recorrido, até julgamento finaldesta Cautelar (lis. 17).

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A MM. Juíza Federal da 3 Vara da Seção Judiciária do Estado doCeará autorizou as recorrentes a prosseguirem na demarcaçãodas terras dos índios TABEBAS e concedeu a liminar para que aUnião e a FUNAI se abstivessem de providenciar o registro dedemarcação das terras em disputa, na forma do parágrafoprimeiro do artigo 19 da Lei 6001/73 (fis. 842). Assim agiu porentender presentes os requisitos da aparência do bom direito edo perigo na demora, que, de fato, estão presentes no casoconcreto. A proibição de registro das terras indígenasdemarcadas é providência típica de Medida Cautelar porque estesó pode ser levada à efeito após o julgamento definitivo da açãoprincipal, onde a questão de fundo seria dirimida. A proibiçãocontida no artigo 1°, § 1° da Lei n°8.347/92 e § 2° do artigo 19 daLei n° 6001/73, não se aplica ao caso concreto. A vedaçãocontida na própria norma legal não alcança os processos nosquais seja necessária a produção de provas complexas, sendoinviável o mandado de segurança para dirimi-los. O artigo 19, §2° da Lei n°6001/73 não impede o uso de Medida Cautelar. Nestesentido, o Recurso Especial n° 49.856-2-MS, DJ de 20/02/95,relator Ministro Gomes de Barros, de cuja ementa se extrai que: ‘I - Os preceitos legais que limitam o acesso ao poder judiciário erestringem o poder cautelar do juiz merecem interpretaçãoestrita; II - A proibição de que se conceda liminar, contida no art. 1ºparágrafo 2° da lei 8.43 7/92 não alcança processos em que - porse fazer necessária a produção de provas complexas - mostra-seimpossível o mandado de segurança; III - O art. 19, parágrafro 2° da lei 6.001/73, ao tempo em queadmite se utilize ação petitória ou demarcatória, não impede osocorro as medidas cautelares’ Entendo estar correto o posicionamento do v. acórdão recorrido(fis. 978/984), quando sustenta que:‘É de se observar, primeiramente, que o ato atacado,procedimento administrativo de demarcação de terras indígena.,foi praticado pela FUNAI, ainda que dependente de posterioraprovação do Ministério da Justiça. Desse modo, penso que nãohá que se falar em ofensa à regra inserta no art. 1°, § 1°. da Lein°8.437/92. que dispõe que não será cabível. no juízo deprimeiro grau, medida cautelar inominada ou a sua liminar,quando impugnado ato de autoridade sujeita, na via de mandadode segurança, à competência originária de tribunal. Tratando-sede processo cautelar, cinge-se o juiz a perquirir acerca daexistência do fumus boni juris e do periculum in mora, requisitosindispensáveis à concessão da tutela. Nesta via processual, aparte objetiva tão só a conservação do status quo, até quedefinitivamente dirimida a lide no julgamento da ação principal.Demonstrado, de plano, que o direito é bom e que a demora nojulgamento da ação principal poderá tornar inócua a decisão demérito que vier a ver proferida, impõe-se a concessão da medidacautelar, que se torna direito subjetivo da parte. É ato judicial,pois, que a um só tempo declara interesses (não direitos) e ossatisfaz provisoriamente (in Código de Processo CivilInterpretado. António Cláudio da Costa Machado, Ed. Saraiva, 2ed.). A medida cautelar encontra guarida no poder geral de

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cautela conferido ao juiz de modo que a ela não se podeopor a vedação do art. 19, parágrafo 2°, da Lei 600 1/73, queproibe interdito possessório contra demarcação de terrasindígena, até mesmo em respeito ao princípio dainafastabilidade do controle jurisdicional como já bemdecidiu o col. TRF 3ª Região (AI 10702-MS, in Boletim n.66/67). Na hipótese, a sentença apelada, diante de doisinteresses contrapostos de um lado, o direito de propriedadedo autor e, de outro, o direito do indígenas à terra que forasua orignalmente -- ambos de igual relevância, portantodevendo igualmente serem preservados, autorizou oprosseguimento da demarcação, porém mantendo intacto odireito do apelado, visto que impediu o registro, queimplicaria na transferência do domínio. Entendo que restoualcançada. assim, a finalidade do pleito cautelar.’ Nego provimento aos recurso da União e da FUNAI. (grifei) (STJ- Recurso Especial N.259.404/CE, Relator Min Garcia Vieira, DJde 11.09.2000)

2.3 TERRA INDÍGENA TRADICIONAL

Posse e propriedade de terras

Algumas decisões proferidas pelo Superior Tribunal de Justiça revelam

um posicionamento ainda muito conservador em relação às questões indígenas.

O desbalanceamento do valor da posse indígena, ainda que constitucionalmente

protegida, e da posse civilista é evidente em favor da segunda. Ao denegar o

pedido de recurso especial feito pela União e FUNAI transparece o ministro

relator, aqui também com o trunfo do cerceamento de defesa à avessas, o desdém

pela proteção constitucional dos índios, suas terras, tradições e culturas:

EMENTA: REINTEGRAÇÃO DE POSSE. ALEGAÇÃO DEPOSSE IMEMORIAL PELOS INDÍGENAS. PROVAINDEFERIDA. CERCEAMENTO DE DEFESA.1. Afirmando as instâncias ordinárias que é inútil a provaantropológica, diante dos elementos já disponíveis, não há falarem cerceamento de defesa.2. Comprovada a posse, presente a Súmula n° 07 da Corte, nãotem passagem o especial, impróprio o dissídio.3. Recursos especiais não conhecidos.

“Os recursos basicamente, propugnam pela realização de provapericial, com alegação de cerceamento de defesa. Mas não creioque mereça prestígio a impugnação. A sentença, com muitaclaridade, asseverou que houve esbulho e que ´os esbulhadores

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invocam em seu favor um suposto direito de posse indígena, emrazão de terem habitado na região desde tempos imemoriais,sendo tal circunstância irrelevante para o que se discute nessademanda, uma vez que a posse mansa e pacífica é dos autores,sem sombra de dúvida, devendo por esse motivo ser preservadaneste juízo´. De igual modo, o Acórdão recorrido asseriu queexiste laudo fundiário da FUNAI indicando os limites da reservaindígena e que há prova documental e testemunhal, robusta,assinala a ementa, no sentido da posse mansa e pacífica doautor.Havendo prova em tal direção e sendo ela clara, desnecessáriamesmo a prova antropológica para a demonstração da posseimemorial dos indígenas. Nessas cirscunstâncias, não existerazão para apontar-se cerceamento de defesa, se indeferidaprova pericial ´reputada inútil diante dos elementos já constantesdos autos´ (REsp n. 223.281/PR, da minha relatoria, DJ de27.03.00)”. (STJ – R Esp 264654/AL, Relator Min CarlosAlberto Menezes Direito, DJ de 18.02.02)

Contudo, julgamento recente aponta o reconhecimento do direito

constitucional dos índios à proteção de suas terras:

EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. MANDADO DESEGURANÇA. DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS. ATODO MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA. PORTARIA1.289/2005, QUE DECLAROU DE POSSE PERMANENTE DOGRUPO INDÍGENA GUARANI ÑANDEVA A TERRA INDÍGENAYVY-KATU. TERRITÓRIO DEMARCADO QUE ENGLOBAFAZENDAS DE PROPRIEDADE DOS IMPETRANTES.AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA AMPLADEFESA, CONTRADITÓRIO E DEVIDO PROCESSO LEGAL.ANÁLISE SUFICIENTE DAS CONTESTAÇÕESAPRESENTADAS PELOS IMPETRANTES. LEGALIDADE ECONSTITUCIONALIDADE DO PROCESSO ADMINISTRATIVOQUE CULMINOU COM O ATO IMPETRADO. AUSÊNCIA DEDIREITO LÍQUIDO E CERTO A SER PROTEGIDO PELA VIAELEITA. DENEGAÇÃO DA ORDEM.1. Esta Primeira Seção, quando do julgamento do MS 10.269/DF,Relator para acórdão o Ministro Teori Albino Zavascki (DJ de17.10.2005), reconheceu a ausência de nulidades no processoadministrativo que culminou com a edição do ato ora impetrado,ou seja, a Portaria 1.289/2005, que declarou de possepermanente do grupo indígena Guarani Ñandeva a TerraIndígena Yvy-Katu.2. No caso dos autos, não houve cerceamento de defesa,tampouco ocorreu violação dos princípios do contraditório e dodevido processo legal, pois o processo administrativo foiregularmente instaurado e processado, nos termos da legislaçãoespecial (Decreto 1.775/96), oportunizando-se o acesso aosautos e o oferecimento de defesa pelos impetrantes, cujascontestações foram exaustivamente analisadas pela Fundação

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Nacional do Índio - FUNAI, pela Procuradoria FederalEspecializada e pela Consultoria Jurídica do Ministério daJustiça.3. A demarcação das terras pertencentes tradicionalmenteaos índios não representa violação de direitos fundamentaisdos atuais proprietários particulares dos imóveis. Pelocontrário, significa o devido cumprimento de disposiçõesconstitucionais e legais em favor dos antigos ocupantes dasterras (CF/88, art. 231 e seguintes; Lei 6.001/73 e Decreto1.775/96).4. Conforme parecer apresentado pela FUNAI, "o fato da cadeiadominial do imóvel não apresentar vícios significa apenas queseus atuais titulares não agiram de má-fé. Isto, porém, nãoelimina o fato de que os índios foram crescentemente usurpadosdas terras de ocupação tradicional, sendo forçados a recorrer aoemprego nas fazendas para não deixar romper o vínculo social,histórico e afetivo com os lugares que tinham como referência desua vida e de sua unidade como grupo diferenciado".5. Segurança denegada. (STJ – Mandado de Segurança10994/DF, Rel Min Denise Arruda, DJ de 27.03.2006)

Desapropriação

O STJ, no julgamento do recurso em mandado de segurança n.13.621-

RS (2001/0101567-8), decidiu pelo reconhecimento da competência estadual em

desapropriar terras, com fundamento na hipótese de utilidade pública, para

assentar comunidade indígena Guarani-Mbyá que se encontrava à beira de

estrada. Menciona ainda o dever de todos os entes da federação a proteção das

comunidades indígena e seus direitos.

EMENTA: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. RECURSOORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. Desapropriaçãode imóvel rural pelo estado do Rio Grande do Sul paraassentamento de comunidade indígena. Não caracterização dedesapropriação para fins de reforma agrária (de competência daUnião, cuja indenização é paga com títulos da dívida pública –CF art.184), nem de procedimento de demarcação de terrasindígenas (também competência da União – CF art. 231).Expropriação mediante prévio e justo pagamento de indenizaçãoem dinheiro, que visa a solucionar grave problema social,consistente na falta de local para assentar comunidade indígenaque atualmente vive à beira de rodovia, em situação demiserabilidade. Atribuição de todos os entes federados, nostermos do art 2º. Do Estatuto do Índio (Lei 6001/73).Enquadramento entre as hipóteses de utilidade pública, listadasno Decreto-Lei 3365/41, nomeadamente em seu art. 5º., letra e(criação e melhoramento de centros de população) e g

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(assistência pública). RECURSO ORDINÁRIO IMPROVIDO.(STJ – ReMS N. 13.621-RS Relator Min Francisco Falcão)

O referido acórdão do STJ confirma decisão do Tribunal de Justiça do

Rio Grande do Sul (MS 70002045896) que reconhecia a desapropriação de

imóveis rurais para assentamento da comunidade indígena de acordo com

protocolo de intenções firmado com a FUNAI. Aqui não se trata de

reconhecimento de terra indígena tradicional, mas de alternativa administrativa

chancelada pelo poder judiciário para atender determinado grupo indígena que se

encontrava em situação extrema de risco.

O assentamento de comunidades indígenas não atende ao princípio

constitucional de proteção das terras indígenas tradicionais (art. 231 CF), mas

pode ser considerado como alternativa provisória até que se resolva a questão

fundiária sobre a terra tradicional ou, permanente para aqueles grupos indígenas

que não podem retomar seu modo de vida tradicional nas terras de onde foram

expulsos. Nesse caso, o assentamento em área diversa pode minimizar as

situações de risco e melhorar as condições de vida da comunidade indígena

assentada, alcançando a esfera dos direitos sociais e econômicos, mas nem

sempre restabelecendo integralmente os direitos culturais que o grupo tem em

relação à terra.

3. Jurisprudência dos Tribunais Regionais Federais

As decisões dos Tribunais Regionais Federais revelam o tratamento

dispensado aos indígenas pelos órgãos do Judiciário no âmbito local; a aplicação

de conceitos de direito civil no tocante à posse indígena e sua titulação; bem

como a presunção de que os índios constituem ameaça de turbação e esbulho e; a

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concessão de liminares contra o processo de demarcação de terras indígenas e

contra as ocupações indígenas.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DEREINTEGRAÇÃO DE POSSE. INVASÃO DEFAZENDA TURBADA POR INDÍGENAS.POSSE JUSTIFICADA. REINTEGRAÇÃODEVIDA.1. Estando comprovada a posse anterior dosagravados (audiência de justificação), nãohavendo sido desconstituídos os títulos depropriedade expedidos pelo Estado da Bahia(porque a questão pende de decisão peloSupremo Tribunal Federal), é ilegal o esbulhopraticado pela Comunidade Indígena Pataxó,o que autoriza a expedição do mandadoliminar de reintegração (C.P.C., arts. 928 e929). Precedentes desta Corte.2. Agravo de instrumento a que se negaprovimento.(grifei) (TRF 1, AGRAVO DEINSTRUMENTO, Processo n.2004.01.00.003711-4/BA, SEXTA TURMA,Relatora DESEMBARGADORA MARIAISABEL GALLOTTI RODRIGUES, publicadoem 15/05/2006)

Quando não trata a ocupação indígena como simples esbulho:

EMENTA: ADMINISTRATIVO. ESBULHOPRATICADO POR INDÍGENAS. AÇÃO DEREINTEGRAÇÃO DE POSSE. PEDIDOINDENIZATÓRIO. - A realidade da causa nãoaponta conflito jurídico sobre posse,propriedade ou qualquer outro instituto dedireito civil, administrativo ou constitucional.Indica, tão-somente, o fato de um esbulho, oude uma invasão de terras possuídas poroutrem. Nessa dimensão, a ordem jurídica nãopode tolerar, no plano fático, a conduta de quemesbulha ou invade, seja ele índio ou não-índio,sem reagir, ou permitir a reação do esbulhado ouinvadido, que são, justamente, os interditospossessórios previstos nas legislações civil e

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processual civil. (grifei) (TRF4, AC, processo2000.71.04.002217-5, Quarta Turma, relatorValdemar Capeletti, publicado em 17/08/2005)

Ainda que:

EMENTA: ADMINISTRATIVO.REINTEGRAÇÃO DE POSSE. TERRASOCUPADAS PELOS ÍNDIOS. ESBULHO. 1.A ação de reintegração exige prova da posse. Aprova dos autos é no sentido de que a áreapertence a União em razão de estar ocupadapelos índios guaranis. Demarcada a reservaindígena não há esbulho por parte dossilvícolas. 2. Nos termos do artigo 231 daConstituição são terras tradicionalmenteocupadas por índios não só as habitadas emcaráter permanente mas também as utilizadaspara suas atividades produtivas, asimprescindíveis à preservação dos recursosambientais necessários a seu bem estar e asnecessárias a sua reprodução física e cultural.(grifei) (TRF4, AC, processo2002.04.01.045836-8, Terceira Turma, relatorMaria de Fátima Freitas Labarrère, publicadoem 09/07/2003)

E

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DEREINTEGRAÇÃO DE POSSE. ÍNDIOS QUESE ENCONTRAM NA MARGEM DERODOVIA. ALEGAÇÃO DE QUE,DESCUMPRINDO LIMINAR JUDICIAL, OSÍNDIOS INVADIRAM A FAZENDA DOAUTOR. DECISÃO QUE DETERMINA AOCACIQUE QUE SE ABSTENHA DEINCENTIVAR A INVASÃO E QUEORDENA À FUNAI A REMOÇÃO DOSÍNDIOS "PARA LOCAL DISTANTE".AGRAVO CONHECIDO EM PARTE EPROVIDO PARCIALMENTE. 1. O agravo é recurso destinado à revisão dasdecisões interlocutórias proferidas em primeirograu, não servindo à argüição de matérias

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novas, não submetidas ao juízo singular e que,segundo a lei, encontram lugar na contestação. 2. Não merece censura a decisão que, visando aassegurar o cumprimento de medida liminarpossessória anteriormente deferida, determina aintimação do líder indígena para que seabstenha de incentivar ou autorizar novaturbação ou esbulho. 3. Os conflitos possessórios entre fazendeirose indígenas não podem ser resolvidosunicamente com os olhos voltados para alegislação civil comum, como se o problemafosse eminentemente patrimonial. A lei civilsabidamente não foi concebida para resolvera questão indígena, que abrange aspectossociais, históricos e culturais bastanteimportantes e, exatamente por isso,tutelados pela Constituição Federal. 4. Não se mostra razoável a determinação,dirigida à FUNAI, para que promova, em dezdias, a remoção de índios instalados à margemde rodovia, levando-os para "local distante" enão definido. 5. Agravo parcialmente conhecido e providoem parte. (grifei) (TRF3 AG 202940 processo2004.03.00.015611-8/MS, Relator Juiz Neltondos Santos, Segunda Turma, DJU 10/06/2005)

Não raro as decisões dos Tribnuais Regionais Federais privilegiam a

posse privada de “mais de quinze anos” frente à ocupação tradicional indígena:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DEINTERDITO PROIBITÓRIO. AUSÊNCIA DEAUDIÊNCIA PRÉVIA. INOCORRÊNCIA.MANIFESTAÇÃO DA UNIÃO FEDERAL EDA FUNAI PREVIAMENTE À APRECIAÇÃODO PEDIDO DE LIMINAR. ÁREA RURALEXPLORADA PELOS AGRAVADOS HÁMAIS DE 15 (QUINZE) ANOS. AUSÊNCIADE COMPROVAÇÃO DE DIREITOINDÍGENA SOBRE A ÁREA. 1. O artigo 63 da Lei 6.001/73 e o parágrafoúnico do artigo 928 do CPC não exigem adesignação de audiência de justificação prévia,bastando a intimação dos requeridos para que se

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manifestem previamente à apreciação do pedidode liminar.2. A parte que detém a posse do imóvel há maisde 15 (quinze) anos, a qual somada às possesanteriores perfaz mais de 40 (quarenta) anos deocupação das áreas dos imóveis rurais, merece aproteção possessória.3. Essa situação recomenda, em princípio, aexpedição de mandado proibitório a fim deimpedir a ameaça de esbulho ou turbação daposse dos imóveis rurais pelos índios daComunidade Indígena Pataxó Aldeia Nova,pois se a terra é devidamente explorada emtodo esse período não se deve impedir que osautores possam produzir seu sustento sob opretexto de que as terras seriam indígenas.4. Em uma cognição sumária, própria do agravode instrumento, não se pode concluir que osimóveis em comento se encontram dentro deáreas de terras indígenas, ante a ausência delaudo pericial antropológico, elaborado comobservância do contraditório, que indique a posseimemorial dos índios naquelas terras.5. Agravo de instrumento da FUNAI e da UniãoFederal improvido. (TRF 1, AGRAVO DEINSTRUMENTO, Processo n.2003.01.00.001163-9-4/BA, QUINTA TURMA,Relatora DESEMBARGADORA Selene Mariade Almeida, publicado em 11/11/2004)

Apesar da demora da conclusão dos processos judiciais para restabelecer

a posse indígena sobre os territórios que tradicionalmente ocupavam, até serem

desapossados e expulsos, a retomada de terras ou ocupação indígena é deveras

condenada, especialmente porque o ordenamento jurídico brasileiro não prevê a

autotutela:

ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE ATENTADO.OCUPAÇÃO IMEMORIAL POR INDÍGENAS.REINTEGRAÇÃO DA UNIÃO NA POSSE.AUTOTUTELA. VEDAÇÃO. INDENIZAÇÃOPOR DANOS A BENFEITORIAS. PROVAPERICIAL. LEGITIMIDADE PASSIVA DAUNIÃO. SILVÍCOLAS NÃOACULTURADOS. ÔNUS SUCUMBENCIAIS.

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1. Foi reconhecida a ocupação imemorial doimóvel em questão, por indígenas, o queinviabiliza a sua restituição aos autores, aindaque disponham de título aquisitivo dapropriedade do mesmo.2. No entanto, o ordenamento jurídico pátrionão admite a autotutela, impondo-se aindenização pelos prejuízos provocados pelossilvícolas Xocós, ao ingressarem nas terras,sem dispor de mandado de imissão na posse. 3. Restou produzida prova pericial, onde foiapurado o montante da indenização devida. Nãoforam demonstrados, nos autos, a criação depeixes e de gado e os danos alegados à casa-sede,ao curral e a plantas forrageiras.4. A UNIÃO FEDERAL deve figurar, no pólopassivo da relação processual, considerando quese cuida de interesses de indígenas e tendo emvista a representação judicial da FUNDAÇÃONACIONAL DO ÍNDIO – FUNAI, autarquiafederal.5. Como os Xocós ainda estão em processo deassimilação, não gozando da consciência plenados atos por eles praticados e das suasconseqüências, que permita a suaresponsabilização pelos mesmos, o pagamento dareferida indenização deve ser atribuído aosreferidos entes públicos.6. Ficando patente a sucumbência recíproca, osrespectivos ônus deverão ser rateados entre aspartes.7. Apelações e remessa oficial improvidas. (TRF5ª. Região, APELAÇÃO CÍVEL Nº 289088-SE,Relator: DES. FEDERAL ÉLIO SIQUEIRA,Primeira Turma, DJ 20.05.2005)

E

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DEREINTEGRAÇÃO DE POSSE. PARQUENACIONAL DO MONTE PASCOAL.INVASÃO POR ÍNDIOS PATAXÓS.

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LIMINAR CONCEDIDA. AGRAVOIMPROVIDO.1. Tendo sido comprovados os requisitos legais(arts. 927 e 928, CPC; art. 507, CC/16), deve serconcedida a medida liminar de reintegração deposse visando a afastar o esbulho praticados poríndios.2. O fato de se tratar de um Parque Nacionalimpõe maior cautela na sua preservação,notadamente porque a área invadida ainda nãofoi demarcada pela União como terra indígena,tendo o próprio agravante informado que os"conflitos conduziram ... à formação de grupotécnico constituído pela Portaria nº. 618 de18/08/99, subscrita pelo Presidente da FUNAI,cuja principal incumbência é ... delimitar eoperar a revisão dos limites da antiga terraindígena de Barra Velha".3. O ordenamento jurídico pátrio não conferemecanismos de autotutela aos índios parareaverem a posse perdida há décadas sobre asterras que tradicionalmente ocupavam.4. Agravo improvido. (grifei) (TRF 1, AGRAVO DEINSTRUMENTO, Processo n.2000.01.00.003103-3/BA, QUINTA TURMA,Relator DESEMBARGADOR FEDERAL JOÃOBATISTA MOREIRA, publicado em20/03/2006)

Ou ainda

PROCESSO CIVIL. EMBARGOSDECLARATÓRIOS. OMISSÃO.PREQUESTIONAMENTO. 1. O acórdãoembargado, ao confirmar a decisão deprimeiro grau, que ordenou a expedição demandado proibitório em favor da Agravada, afim de que os índios se abstivessem de turbarou esbulhar determinada área, não violou oart. 231, §§ 2o e 6o, da CF. Isso porque não foinegado o direito dos índios às terras por elestradicionalmente ocupadas, mas apenasdecidido que, enquanto não for comprovadotal pressuposto de fato, não devem os índiosturbar ou esbulhar a referida posse.

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2. Embargos de declaração aos quais se dáprovimento, sem efeitos modificativos. (grifei) (TRF 1, EMBARGOS DEDECLARAÇÃO EM AGRAVO DEINSTRUMENTO, Processo n.2003.01.00.017111/BA, SEXTA TURMA,Relatora DESEMBARGADORA FEDERALMARIA ISABEL GALLOTTI RODRIGUES,Publicado em 06/03/2006)

Porém é inegável que a ocupação de terras pelos indígenas, ou a retomada

de suas terras tradicionais tem efeito imediato sobre para a conclusão da

demarcação administrativa das áreas bem como para a celeridade judicial.

Ademais, a resistência dos índios na ocupação física das terras, ainda que para

tanto tenham que se submeter às condições miseráveis de vida, responde de certa

forma à alegada necessidade de ocupação atual da terra que vez por outra

procede nos tribunais a despeito disposto no artigo 231 CF e portanto continua

sendo estratégica para os movimentos indígenas.

Ocupação Indígena

Ainda que por vezes reconheça, conforme se apreende do texto

constitucional do artigo 231, que a posse indígena não exige a presença física dos

índios e seus aldeamentos:

CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL.POSSE IMEMORIAL INDÍGENA. PERDAS EDANOS. INDEFERIMENTO.1. A posse imemorial indígena foi protegidapor todas as Constituições do Brasil, a partirde 1934, e está definida na atual não apenasem razão da presença física ou não desilvícolas ou de seus aldeamentos mas,também, em razão de suas necessidades vitaise culturais.2. Não tendo sido indicadas nem comprovadas asperdas e danos no decorrer da ação, improcede opedido. Jurisprudência.3. Agravo retido e apelação improvidos.

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(grifei) (TRF 1, APELAÇão CIVEL, Processo n.89.01.15263-0/MT, QUARTA TURMA, RelatorJUIZ EUSTÁQUIO SILVEIRA, Publicado em05/02/1998)

e

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DEINSTRUMENTO CONTRA DECISÃO QUEDEFERIU PARCIALMENTE PRESTAÇÃOLIMINAR. NULIDADES AFASTADAS.SOBREPOSIÇÃO DOS DIREITOSPOSSESSÓRIOS DOS ÍNDIOS SOBRE ASTERRAS POR ELES OCUPADASTRADICIONALMENTE.I. Não há nulidade, sob a pecha de parcialidade,na intervenção do Ministério Público Federal emfavor da tutela dos direitos e interesses indígenas.II. Não há nulidade na oitiva de testemunha,como mero informante, pelo fato de a mesmademonstrar interesse na solução do litígio emfavor dos posseiros da área sob litígio.III. A posse indígena sobre as terrastradicionalmente por eles ocupadas, a despeitode terem sido, no passado, os índios expulsosdas mesmas, sobrepõe-se aos direitospossessórios e dominiais constituídosposteriormente sobre elas.IV. Agravo improvido. (TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO,Processo n. 96.01.36455-2/MT, RelatorDESEMBARGADOR FEDERAL HILTONQUEIROZ, Publicado em 07/11/2003)

já decidiu o TRF da 5ª. Região:

EMENTA: CONSTITUCIONAL. AÇÃO DEINTERDITO PROIBITÓRIO. TERRAS DITASINDÍGENAS. POSSE POR NÃO ÍNDIO.- CARACTERIZA-SE A POSSE INDÍGENAPELA OCUPAÇÃO EFETIVA DA TERRAPELOS SILVÍCOLAS, NELA HABITANDO EEXERCENDO ATIVIDADESINDISPENSÁVEIS À SUA SOBREVIVÊNCIA.- AUSÊNCIA DE PROCESSODEMARCATÓRIO QUE CONFIRA AOS

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ÍNDIOS O DOMÍNIO DO IMÓVEL.- AGRAVO IMPROVIDO.(TRF 5ª. Região, AGTR 4895/AL, Relator:Desembargador Federal JOSE MARIALUCENA, Primeira Turma, DJ 25.08.2004)

A justificativa da produtividade e da utilização socioeconômica dos

imóveis com atividades agropecuárias, aliada aos empecilhos contra o

reconhecimento da terra como indígena, inclusive com a exigência de ocupação

recente, não prevista em lei, continuam garantido liminares em desfavor da posse

indígena de terras.

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. INTERDITOPROIBITÓRIO. IMÓVEL RURAL.IMINÊNCIA DE INVASÃO POR ÍNDIOSDA COMUNIDADE PATAXÓ. LIMINAR.AGRAVO DE INSTRUMENTO. POSSEINDÍGENA.1. Comprovados documentalmente a posse ea utilização socioeconômica dos imóveis,com atividades ligadas à agropecuária, e aiminente ameaça de turbação ou esbulho,tem-se por acertado o deferimento daliminar.2. Em exame perfunctório, como o exercitadoem sede de agravo, impossível é concluir pelaposse indígena sobre as terras em litígio, semperícia antropológica que indique, sem margema dúvida, a influência indígena demonstrativade que, não há muitos anos, os índios tinhamali o seu habitat.3. Agravo improvido.(grifei) (TRF 1, AGRAVO DEINSTRUMENTO, Processo n.2003.01.00.003514-8/BA, SEXTA TURMA,Relator DESEMBARGADOR DANIEL PAESRIBEIRO, publicado em 26/06/2006) esemelhante em: TRF 1, AGRAVO DEINSTRUMENTO, Processo n. 2002.01.00.041806-9/BA, SEXTA TURMA, Relator DESEMBARGADORFEDERAL DANIEL PAES RIBEIRO, Publicado em06/03/2006; TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO,Processo n. 2004.01.00.028988-5/BA, SEXTA

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TURMA, Relator DESEMBARGADOR FEDERALDANIEL PAES RIBEIRO, Publicado em14/11/2005; TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO,Processo n. 2004.01.00.051438-3/BA, SEXTATURMA, Relator DESEMBARGADOR FEDERALDANIEL PAES RIBEIRO, Publicado em22/08/2005; TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO,Processo n. 2002.01.00.030940-0/BA, SEXTATURMA, Relator DESEMBARGADOR FEDERALDANIEL PAES RIBEIRO, Publicado em02/08/2004; TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO,Processo n. 2003.01.00.006722-0/BA, SEXTATURMA, Relator DESEMBARGADOR FEDERALDANIEL PAES RIBEIRO, Publicado em 18/06/2004

Semelhante acórdão da 4ª. Região Federal:

EMENTA: ADMINISTRATIVO. IMÓVEL RURAL.INCERTEZA QUANTO A SUA CARACTERIZAÇÃOCOMO TERRA INDÍGENA. PROVÁVEL ESBULHO.CONCESSÃO DE INTERDITO PROIBITÓRIO.MULTA POR DESCUMPRIMENTO DA DECISÃOJUDICIAL. PREVISÃO LEGAL. - Pairando dúvidasquanto à qualificação de imóvel rural como terraindígena, e estando ele a sofrer esbulho, turbaçãoou ameaça contra a posse do autor, se revelaacautelatória em prol do próprio procedimentojudicial instaurado a providência do juiz ao deferiro interdito proibitório. - Há expressa previsãolegal (art. 461, § 4º, do CPC) quanto à fixação demulta pelo descumprimento de decisão judicial.(TRF4, AG, processo 2004.04.01.030075-7,Quarta Turma, relator Edgard Antônio LippmannJúnior, publicado em 19/01/2005)

Fica assim evidente o desbalanceamento do tratamento protetivo entre

direitos particulares e coletivos indígenas:

PROCESSO CIVIL. AGRAVO DEINSTRUMENTO. REINTEGRAÇÃO DEPOSSE. LIMINAR. Apesar de a posse dosíndios ser imemorial, é de ser deferidaliminar àqueles (fazendeiros, agricultores)que estão na labuta diária com a terra, paraque dela não sejam sumariamente afastados,por ser altamente injusto. Há de esperar-se asentença. (TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO,Processo n. 2004.01.00.046718-9/BA,TERCEIRA TURMA, RelatorDESEMBARGADOR FEDERAL

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TOURINHO NETO, Publicado em13/05/2005)

Nesse mesmo sentido decide o TRF da 4ª. Região:

EMENTA: REINTEGRAÇÃO DE POSSE.TERRA PARTICULAR INVADIDA PORINDÍGENAS. POSSE CONTÍNUA HÁ MAISDE 40 ANOS. NECESSIDADE DE PRÉVIADESCONSTITUIÇÃO DO TÍTULO DEPROPRIEDADE. - Não evidenciado tratar-sede terra tradicionalmente ocupada porindígenas, não pode ser considerada, como tal,área ocupada há mais de 40 anos pelosproprietários, que conseguiram demonstrarsatisfatoriamente a posse direta do imóveldurante todo o período, sendo certo que,mesmo ocorrendo a delimitação da indigitadaárea como indígena, o título de propriedadedeverá ser previamente desconstituído. (TRF4,AG, processo 2004.04.01.056527-3, QuartaTurma, relator Valdemar Capeletti, publicado em17/08/2005)

EEMENTA: PROCESSUAL CIVIL. INTERDITOPROIBITÓRIO. MANUTENÇÃO EREINTEGRAÇÃODE POSSE. ART-920 DO CPC-73.OCUPAÇÃO DA ÁREA DE CONFLITO PORINDÍGENAS. LIMINAR MANTIDA.1. Presentes os requisitos da tutela judicial, porcomprovada a posse e a propriedade das terrasem conflito por mais de vinte anos, o interditopossessório, acertadamente ajuizado pelosagravados, transformou-se em ação visando àmanutenção e à reintegração na posse, eis queconcretizada a ameaça de invasão pelacomunidade indígena. 2. Decisão amparada no ART-920 do CPC-73.3. A comprovada posse mansa e pacífica pormais de vinte anos deve continuar sendoobjeto de proteção até o final da açãopossessória, eis que as atividadesadministrativas visando a demarcação da áreada terra indígena VENTARRA não são

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eficazes para solucionar o conflito que, dadasas suas dimensões, já exigiu intervençãojudicial, inclusive, policial.4. Agravo improvido. (TRF4, AG, processo95.04.27415-3, Quarta Turma, relator SilviaMaria Gonçalves Goraieb, publicado em17/12/1997)

Conceito de Posse Indígena

E os julgados que moldam o conceito de domínio e posse, desvirtuando

inclusive o objetivo da Súmula 650 do STF:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUALCIVIL. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA.TERRAS OCUPADASTRADICIONALMENTE POR INDÍGENAS.COMPETÊNCIA TERRITORIAL FEDERAL.JULGAMENTO SEM AUDIÊNCIA DEINSTRUÇÃO E JULGAMENTO.(...)3. Tendo a sentença, cumpridamentefundamentada, fixado a indenização, emdesapropriação indireta, em sintonia com olaudo pericial, produzido por profissional daconfiança do juízo, distante dos interesses daspartes, não procedem as objeções genéricas quelhe opõem as apelações, de que, por tratar-seprofissional sem qualificação técnica adequada,não estaria habilitado a afirmar que o imóvelnão fora objeto de ocupação por aldeamentosindígenas.4. As regras definidoras do domínio dosincisos I e XI - este dizendo que são bens daUnião as terras tradicionalmente ocupadaspelos índios - do art. 20 da Constituição de1988 não alcançam as terras que, empassado remoto, foram ocupadas porindígenas, mas somente em terrasdemarcadas e habitadas por indígenas (STF- RE nº. 219.983 - 3/ SP, DJ de 17/09/1999)."Os incisos I e IX do art. 20 da CF nãoalcançam terras de aldeamentos extintos,

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ainda que ocupadas por indígenas empassado remoto." (Súmula nº. 650 - STF).(...)6. Precedentes da Turma. Improvimento dasapelações e provimento parcial da remessa. (TRF 1, APELAÇÃO CIVEL, Processo n.92.01.28092-0/DF, TERCEIRA TURMA,Relator DESEMBARGADOR FEDERALOLINDO MENEZES, Publicado em01/10/2004)

Por outro lado, reconhece o direito originário dos índios à terra que

tradicionalmente ocupam quando decide a Sexta Turma do TRF 1ª. Região:

ADMINISTRATIVO. TERRAS INDÍGENAS.IDENTIFICAÇÃO E DELIMITAÇÃO PELAFUNAI. PRETENSÃO DE EXPLORAÇÃODE MADEIRA E FORMAÇÃO DEPASTAGENS. IMPOSSIBILIDADE.1. Delimitada a área da propriedade doimpetrante como integrante da TerraIndígena Kayabi, compete à FUNAI zelarpela sua integridade, apesar de não ter sidoainda demarcada, eis que "a demarcaçãonão é constitutiva. Aquilo que constitui odireito indígena sobre as suas terras é aprópria presença indígena e a vinculaçãodos índios à terra, cujo reconhecimento foiefetuado pela Constituição Brasileira".2. Inexistência, pois, de ilegalidade do atoadministrativo impugnado, que apenasinformou ao órgão ambiental do Estado acercada localização do imóvel rural dentro de áreaidentificada como indígena.3. Sentença que se confirma. 4. Apelação desprovida. (TRF 1, APELAÇÃO EM MANDADO DESEGURANÇA, Processo n.2001.36.00.008004-3/MT, SEXTA TURMA,Relator DESEMBARGADOR FEDERALDANIEL PAES RIBEIRO, Publicado em19/04/2004)

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ADMINISTRATIVO. MANUTENÇÃO DEPOSSE. ÁREA INDÍGENA(FUNIL).INEXISTÊNCIA DE DIREITO. OCUPAÇÃODE BOA-FÉ. INDENIZAÇÃO.BENFEITORIAS. INSUFICIÊNCIA DEPROVAS. IMPOSSIBILIDADE.1. As terras indígenas são originariamentereservadas e não se sujeitam a qualquer tipode aquisição, sejam decorrentes de atonegocial ou de usucapião (Alvará de1º.04.1680. Lei de 1850, Decreto de 1854, art.24, § 1º, Constituições Federais de 1891, 1934,1946,1967, 1969 e de 1988).2. Conquanto indenizáveis as benfeitoriasdecorrentes de ocupação de boa-fé, as provasdocumentais e depoimentos dos autos revelam-se insuficientes para tal finalidade.(TRF 1, AC 1999.01.00.023028-6/TO, Rel.Juiz Mário César Ribeiro, Quarta Turma, DJ de26/01/2001)

Trata-se da proteção do interesse social a partir da proteção dos direitos

indígenas, e portanto está legitimado o Ministério Público:

EMENTA: AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ÁREAINDÍGENA. PAGAMENTO DEBENFEITORIAS. VIA PROCESSUAL.LEGITIMIDADE. - A ação civil pública é avia adequada para discutir direito sobre áreaindígena, com base nos arts. 81, parágrafoúnico, e 82, parágrafo primeiro, ambos da Leinº. 8.078/90. - O Ministério Público Federalestá legitimado para propor ação civilpública, quando a matéria tratar de direitoindígena, por se caracterizar como deinteresse social. (TRF4, AG, processo2004.04.01.011999-6, Quarta Turma, relatorEdgard Antônio Lippmann Júnior, publicadoem 03/08/2005)

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EMENTA: ADMINISTRATIVO. TERRASINDÍGENAS. PLEITO PARADEMARCAÇÃO. DIANTE DE DOIS INTERESSESCONTRAPOSTOS, IMPÕE-SE SEJAAUTORIZADA VISTORIA DAS TERRASINDÍGENAS, EM FACE DAPREVALÊNCIA DO INTERESSE PÚBLICOAMPARADO NO DOMÍNIO DA UNIÃO. ACONTINUIDADE DOS TRABALHOS DEDEMARCAÇÃO DAS TERRAS,RESPEITADA A POSSE DE QUE SEAPRESENTA COM O TÍTULO DEDOMÍNIO, NA PREJUDICA DIREITO.AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO.(TRF 5ª. Região, AGTR45611/AL, Relator:Desembargador Federal LAZAROGUIMARÃES, Quarta Turma, DJ 15.09.2004)

Demarcação de Terras Indígenas

Alguns acórdãos inovam no reconhecimento da proteção constitucional

dos povos indígenas, suas culturas e terras ao tentar balancear os direitos e

valores em jogo na disputa de terras entre grupos indígenas e proprietários

particulares de terras.

CONSTITUCIONAL, CIVIL EPROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DEREINTEGRAÇÃO DE POSSE. LITÍGIOENTRE PROPRIETÁRIO RURAL EINDÍGENAS. INSUFICIÊNCIA DODIREITO CIVIL. TUTELACONSTITUCIONAL DE DIREITOS.PONDERAÇÃO ENTRE OS BENSJURÍDICOS CONFRONTADOS.MANUTENÇÃO DO STATUS QUOATUAL. EXPRESSÕES INJURIOSAS ÀJUSTIÇA. RISCAMENTO. 1. Os conflitos possessórios entre fazendeiros eindígenas não podem ser resolvidosunicamente com os olhos voltados para alegislação civil comum, como se o problemafosse eminentemente patrimonial. A lei civilsabidamente não foi concebida para resolver

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a questão indígena, que abrange aspectossociais, históricos e culturais bastanteimportantes e, exatamente por isso,tutelados pela Constituição Federal. 2. No confronto entre dois bens jurídicostutelados pela Constituição Federal, cumpreao Poder Judiciário proteger o mais valioso. 3. Não são convenientes e comprometem asegurança jurídica as constantes alterações doestado de coisas, promovidas em caráterprovisório pelo Poder Judiciário. 4. Constatando-se nos autos que um dossujeitos do contraditório valeu-se de linguagemofensiva à Justiça, afirmando que ela serádesonesta caso não decida em determinadosentido, cumpre ordenar o riscamento dasexpressões injuriosas, nos termos do art. 15,caput, do Código de Processo Civil. 5. Agravo provido. (TRF3 AG – AGTR 22489,processo 2004.03.00.071885-6/MS, SegundaTurma, Relator Juiz Nelton dos Santos, DJ07/02/2006)

Contudo, essas decisões minoritárias em geral dizem respeito a terras ou

grupos indígenas que detém respaldo da sociedade civil, ou com algum apelo nos

meios de comunicação. Desse modo, o mesmo Tribunal Regional Federal da 1ª.

Região reconhece:

ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃOINDIRETA. PARQUE INDÍGENA DOXINGU. POSSE IMEMORIAL. ESTUDOSINICIADOS EM 1952. AMPLIAÇÃO DOPARQUE PARA ABRANGER TERRASINDIGENAS.1. A Constituição da República de 1934, peloart. 129, já assegurava aos silvícolas a posse detodas as terras em que permanentementeviviam. Sentença fundamentada na provapericial histórico-antropológica e na períciatopográfica.2. As nossas Constituições Federais têmgarantido o direito de propriedade, mas têm

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dito que será respeitada a posse dos silvícolas.E não há direito contra a Constituição.3. O Parque Nacional do Xingu, depoisParque Indígena do Xingu, foi umainiciativa dos três irmãos Villas-Boas,Cláudio, Orlando e Leonardo, em 1952, eveio a ser oficializado em 1961, pelo Decreto50.455, de 14 de abril de 1961, quando JânioQuadros era Presidente da República. Mas,ali, naquele local, os índios já tinham suaposse imemorial. A ampliação dos limites doParque Indígena do Xingu em 1968, peloDecreto n. 63.082, deu-se para poder incluirterritórios indígenas.4. O Parque Indígena do Xingu, conhecido pelasigla PIX, localizado ao norte, maisprecisamente no nordeste, do Mato Grosso,numa área com cerca de 30 mil quilômetrosquadrados, segundo perícia antropológica, eraocupado imemorialmente por dezenas deetnias. Como realidade antropogeográfica, oParque já existia antes do decreto que oinstituiu. O decreto apenas reconheceu umasituação de fato.5. O conceito de posse civil não pode seraplicado aos índios. A posse deles éimemorial, dentro de uma visão sociológica eantropológica. Não se pode interpretar aposse indígena com roupagem civil.6. Sendo as terras dos povos indígenas, e,portanto, da União, não haveria razão paradesapropriá-las para formação do ParqueIndígena do Xingu, ou de pagar indenizaçãopelas terras. Indenizáveis são, somente, asbenfeitorias. O Estado de Mato Grosso alienouterras que não eram suas. (grifei) (TRF 1, APELAÇÃO CIVEL, Processon. AC 2003.01.00.004939-0/MT, TERCEIRATURMA, Relator DESEMBARGADORFEDERAL TOURINHO NETO, Publicaçãoem 10/03/2006)

Tribunal Regional da Primeira Região reafirma a presunção de veracidade

e legitimidade do Decreto Presidencial de demarcação de terra indígena:

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AÇÃO DE DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA.TERRAS OCUPADAS PELOS INDÍGENAS.DECRETO PRESIDENCIALDEMARCATÓRIO DA ÁREARESPECTIVA. INDENIZAÇÃO.POSSIBILIDADE APENAS COM RELAÇÃOÀS BENFEITORIAS DERIVADAS DAOCUPAÇÃO DE BOA-FÉ (CARTA MAGNAATUAL, ART. 231, § 6º).1. Não tendo sido cumprida a determinaçãojudicial em questão (juntada dos documentosindispensáveis à propositura da ação - CPC,art. 283), impõe-se o indeferimento da petiçãoinicial (CPC, art. 284, parágrafo único), com aextinção do processo, sem julgamento domérito (CPC, art. 267, I). Precedentes destaCorte.2. O decreto emitido pelo Poder ExecutivoFederal, que declara determinada área deterras de ocupação imemorial dos silvícolas,constitui ato administrativo que goza daspresunções de veracidade e de legitimidade,somente afastadas mediante prova emcontrário a cargo de quem aproveite (CPC,arts. 332 e 333, I), não existente, no caso.3. A parte final do § 6º do artigo 231 daConstituição, ao contrário do § 2º do artigo 198da Emenda Constitucional nº. 1/69 (que não aadmitia em hipótese alguma), admite aindenização das "benfeitorias derivadas daocupação de boa-fé". Precedentes desta Corte.4. No caso, no entanto, os autores nãorequereram a indenização das benfeitorias, masapenas da terra nua, o que conduz àimprocedência do pedido.5. Apelação não provida.(grifei) (TRF 1, AC 1997.01.00.029639-7/MT,Rel. Juiz Leão Aparecido Alves (conv),Segunda Turma Suplementar, DJ de12/12/2002)

E o TRF da 3ª. Região:

PROCESSUAL CIVIL- AGRAVO DEINSTRUMENTO - DEMARCAÇÃO DE

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TERRAS INDÍGENAS - MEDIDA LIMINAR- MANUTENÇÃO DE POSSE - VÍCIOS DOPROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO-AGRAVO DE INSTRUMENTOIMPROVIDO E AGRAVO REGIMENTALPREJUDICADO. 1- A apreciação do mérito do agravo deinstrumento interposto, torna prejudicado oagravo regimental interposto com os mesmosfundamentos. 2- A proibição de concessão de interditopossessório, estabelecida pela Lei 6.001/73,não constitui óbice ao processamento deação com o objetivo de ver declarada aineficácia de procedimento administrativode demarcação de terras indígenas. 3- Procedimento anterior de demarcação,embora possa ser objeto de consideração pelaFUNAI, não constitui impedimento para arealização de nova demarcação. Éprecisamente o que dispõe o Decreto 1.775/96. 4- O procedimento demarcatório não faz"coisa julgada administrativa", porque,desde que comprovados os direitosoriginários dos índios, a questão poderá, aqualquer tempo, ser reaberta. 5- A existência de procedimento dedemarcação anterior que deixou de reconheceros direitos indígenas sobre a TERRA nãoconstitui, por si só, qualquer indício de bomdireito da parte autora, para fins de, em fase decognição superficial, ser declarada a ineficáciado procedimento atualmente em curso. 6- O efetivo risco de perda da posse do imóvelsomente se caracterizará com a homologaçãoda demarcação por Decreto do SenhorPresidente da República, ato que conferirátítulo de domínio a ser registrado no cartórioimobiliário e que se sobreporá àquelepertencente ao agravante. 7- Antes que se configure tal situação fática,parece precipitada qualquer decisãodeterminando a suspensão do curso doprocedimento administrativo, da qualdecorreria a proteção possessória aqui buscada,

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até porque não se vislumbra atualmentequalquer vício manifesto no curso doprocedimento administrativo de demarcação. 8- Recurso desprovido. (TRF 3 AG114398/MS processo 2000.03.00.040816-3,Relator Juiz Mauricio Kato, SEGUNDATURMA, DJU 18/06/2002.)

O TRF da 5ª. Região:

ADMINISTRATIVO. FUNAI. AÇÃOANULATÓRIA DE DEMARCAÇÃO DETERRAS INDÍGENAS. CERCEAMENTODE DEFESA. ONUS DA PROVA. 1. É NULA A SENTENÇA PROFERIDAANTES QUE REALIZADA SEJA APERÍCIA REQUERIDA PELOS RÉUS EDEFERIDA PELO JUÍZO, QUE TAMBÉMFORMULA QUESITOS E ASSIMDEMONSTRA A SUAINDECLINABILIDADE. O FATOCONSTITUI VIOLAÇÃO DE DIREITO DEDEFESA DA PARTE E DE ELEMENTOESSENCIAL AO DUE PROCESS. 2. OS ATOS DA ADMINISTRAÇÃOGOZAM DA PRESUNÇÃO DELEGITIMIDADE. PORTANTO,COMPETE A QUEM OS CONTESTAPROVAR QUE SÃO ILEGÍTIMOS E NÃOÀ ADMINISTRAÇÃO, QUE TEM POR SIA PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDADE.TAMBÉM NULA A SENTENÇA QUEESTATUI SEMELHANTE INVERSÃO DOÔNUS DA PROVA. 3. AGRAVO RETIDO A QUE SE DÁPROVIMENTO PARA ANULAR ASENTENÇA, DEVOLVENDO-SÉ OSAUTOS AO JUIZO DE ORIGEM A FIM DEQUE SEJA REALIZADA PERÍCIA E SE DÊSEGUIMENTO REGULAR AO PROCESSO.APELAÇÕES PREJUDICADAS. (TRF 5ª.Região, AC 113201/CE, Relator:Desembargador Federal CASTRO MEIRA,Primeira Turma, DJ 23.04.1999)

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Ainda sobre o ato administrativo de demarcação de terra indígena em

contraposição a eventual ofensa ao direito de propriedade, proclamou o TRF da

1ª. Região:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DEINSTRUMENTO. DEMARCAÇÃO DETERRAS INDÍGENAS. ESTUDOSPRÉVIOS. OFENSA AO DIREITO DEPROPRIEDADE. INEXISTÊNCIA.1. A demarcação de terras indígenas constituiprocedimento amparado pelo ordenamentojurídico, que tem por escopo a definitivadelimitação das terras imemorialmenteocupadas pelos índios, o que contribuidecisivamente para evitar futuros confrontosentre as diferentes etnias. Sendo assim, évedada qualquer oposição à presença detécnicos da FUNAI, na área sob estudo, como objetivo de verificar se as terras são, defato, indígenas.2. Os trabalhos destinados a eventualdemarcação das terras não causam óbice aoexercício da posse plena e pacífica e, bemassim, dos demais direitos inerentes àpropriedade, tais como uso, gozo e fruição dacoisa. No entanto, se do trabalho técnicoresultar real ofensa a direito dos Agravantes,terão estes a oportunidade de se defenderempor meio da eventual ação cabível na espécie.3. Agravo de Instrumento a que se negaprovimento. (grifei) (TRF 1, AGRAVO DEINSTRUMENTO, Processo n.2002.01.00.008343-0/MT, QUINTA TURMA,Relator DESEMBARGADOR FEDERALFAGUNDES DE DEUS, Publicado em25/10/2002)

E complementa acórdão do TRF da 4ª. Região:

EMENTA: ADMINISTRATIVO EPROCESSUAL CIVIL. INTERDITOPROIBITÓRIO. DEMARCAÇÃO DETERRAS PELA FUNAI. LITISCONSÓRCIO

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DA UNIÃO. CERCEAMENTO DE DEFESA.1. O art. 19, §2º, da Lei 6001/73 (Estatuto doÍndio), veda a utilização de interditospossessórios contra a demarcação das terrasindígenas. No caso, as portarias mencionadaspelos autores dispõem sobre o estudo da área,que antecede uma futura demarcação. O ritoadequado a ser seguido, em qualquer dos casos,é o da ação petitória ou demarcatória, comoressalva o mencionado dispositivo legal.Processo extinto pela inadequação da via eleita,quanto ao pedido referente à demarcação. (...)(grifei) (TRF4, AC, processo2000.04.01.095120-9, Terceira Turma, relatorTaís Schilling Ferraz, publicado em12/06/2002)

Também:

PROCESSUAL CIVIL. LIMINAR EM AÇÃOCAUTELAR QUE SUSPENDEPROCEDIMENTO ADMINISTRATIVOVISANDO DEMARCAÇÃO DE TERRASINDÍGENAS. CONTROLE DE ATO PRIVATIVO DOMINISTRO DA JUSTIÇA QUE, EM SEDEDE MANDADO DE SEGURANÇA,COMPETE AO SUPERIOR TRIBUNAL DEJUSTIÇA.VIOLAÇÃO DA REGRA DO PARÁGRAFO1º A LEI 8.437/92. DESCABIMENTO DEINTERDITO POSSESSÓRIO, AINDAQUE MASCARADO EM MEDIDACAUTELAR, NOS TERMOS DOPARÁGRAFO 2º DO ART. 19 DA LEI6.001/73. (grifei) (TRF 5ª. Região, MSPL37125/CE, Relator: Desembargador FederalLAZARO GUIMARÃES, Pleno, DJ23.09.1994)

Contudo, o mesmo Tribunal já decidiu:

EMENTA

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AGRAVO DE INSTRUMENTO. MEDIDACAUTELAR. LIMINAR. DEMARCAÇÃOADMINISTRATIVA EM TERRAS DITASOCUPADAS POR INDIGENAS. CONFLITOCOM PROPRIETARIOS DAS REFERIDASTERRAS, QUE AFIRMAM POSSUIRLEGITIMO TITULO COM FILIAÇÃOCENTENARIA.1 - Não há a proibição presente no art.Primeiro, da lei 8437, de 30/06/92, quando, aose ajuizar a ação cautelar, se registra que ação aser proposta e de natureza desconstitutiva deprocesso administrativo, cumulada comdeclaração de validade de títulos de domínio deterras, cuja competência originaria e,exclusivamente, de juiz de primeiro grau. Nãose impugna ato individual de autoridadesujeita, na via de mandado de segurança, acompetência de tribunal. O que se pretende e aeliminação dos efeitos de um processoadministrativo, cujo êxito depende de analiseaprofundada de provas.2 - Há fumaça do bom direito em pretensãoapoiada em títulos de domínio, sobre imóvel,cuja filiação se apresenta como centenária ese quer demarcar-lo sob a alegação de serterra ocupada por indígenas.3 - Será de difícil reparação o dano provocadopor demarcação administrativa de terras, ondesão desenvolvidos projetos agrícolas ‘comfinanciamentos da SUDENE e do Banco doBrasil S/A.4 - a suspensão da atividade demarcatória a serpraticada pela FUNAI e medida que encontraressonância no art. 798, do CPC.5 - AGRAVO DESPROVIDO. (grifei) (TRF5ª. Região, AGTR 3155/CE, Relator:Desembargador Federal JOSE DELGADO, DJ24.06.1994)

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A Jurisprudência dos Tribunais Regionais Federais têm reconhecido o

conceito de território indígena com características de ordem econômica, social e

cultural:

CONSTITUCIONAL. DESAPROPRIAÇÃOINDIRETA. GLEBAS DE TERRAS. TÍTULODE PROPRIEDADE EXPEDIDO PELOESTADO DE MATO GROSSO. REGISTROIMOBILIÁRIO. NULIDADE.DENUNCIAÇÃO À LIDE PER SALTUM.ÁREA INDÍGENA. POSSE IMEMORIAL.ÁREA DE PERAMBULAÇÃO.INDENIZAÇÃO.1. Não tendo os Autores adquirido as terras doEstado do Mato Grosso, incabível é a suadenunciação à lide per saltum, razão pela qualfoi excluído da relação processual. É que o realintento dos autores foi o de convocar o Estadocomo alienante, nos termos do inciso I doartigo 70 do Código de Processo Civil, e nãodo seu inciso III, pois a indenização quepretendem não é outra se não a que advém daalienação a non domino. É incontroverso que oEstado do Mato Grosso não é o causam danusda aquisição do imóvel pelos Autores, é outro otransmitente do bem que, todavia, não foichamado, e somente a partir dele é que sepoderia cogitar de convocação sucessiva deresponsáveis perante o litisdenunciado (STF-ACO Nº 329/6). Daí a impossibilidade de serexaminada a questão de nulidade dos títulos dealienação.2. O território indígena é constituído não sópela área efetivamente ocupada pelo grupotribal, isto é, a que circunda a aldeia e asroças, mas também as imprescindíveis àconservação de sua identidade étnico-cultural.3. A área de residência dos Cinta Larga "mudaperiodicamente, com intervalo aproximado decinco (05) anos, em entendimento a fatoresecológicos e religiosos, sem entretanto sair doslimites da terra definida como pertencente àpatrilinhagem. Por serem caçadores e coletores

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os Cinta Larga têm grande mobilidade, mas emnenhuma hipótese o território por onde sedeslocam pode ser classificado ´área deperambulação´. Trata-se de ocupação efetiva."(CARMEM JUNQUEIRA - Antropóloga).4. Tendo a FUNAI, conforme a provaproduzida nos autos, deliminatado a áreaindígena sobre uma parte maior do habitatimemorial e permanete dos índios, não édevida a indenização.5. Recurso de apelação improvido. (TRF 1, APELAÇÃO CIVEL, Processo n.90.01.14365-2/MT, QUARTA TURMA,Relator JUIZ MÁRIO CÉSAR RIBEIRO,Publicado em 17/08/1998)

E também o TRF da 3ª. Região:

CONSTITUCIONAL E PROCESSUALCIVIL - FUNAI - AÇÃO DE INTERDITOPROIBITÓRIO - LIMINAR - ACEITAÇÃOTÁCITA DA DECISÃO AGRAVADA -AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL - ELITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ -INOCORRÊNCIA - MATÉRIAPRELIMINAR DEDUZIDA EMCONTRAMINUTA REJEITADA – TERRASTRADICIONALMENTE OCUPADASPELOS ÍNDIOS - PROTEÇÃOCONSTITUCIONAL DA COMUNIDADEINDÍGENA - ARTIGO 231 E PARÁGRAFOSDA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 -POSSE REGULADA PELAS DISPOSIÇÕESCONSTITUCIONAIS -INAPLICABILIDADE DA POSSEREGULADA PELO CÓDIGO CIVIL -LAUDO ANTROPÓLÓGICO CONCLUÍDO -PLAUSIBILIDADE DO DIREITOINVOCADO PELA FUNAI E RISCO DEGRAVE LESÃO AO DIREITO COLETIVODE SOBREVIVÊNCIA ÉTNICA ECULTURAL DOS INDÍGENAS - AGRAVOREGIMENTAL PREJUDICADO - AGRAVODE INSTRUMENTO PROVIDO. 1. Resta prejudicado o agravo regimental, onde

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se discute os efeitos em que o recurso foirecebido, em face do julgamento do agravo deinstrumento. 2. Não se constitui em aceitação tácita dadecisão agravada e/ou ausência de interesse emrecorrer, o fato de a FUNAI ter requerido eobtido junto ao juízo de origem um prazomaior para que seus tutelados desocupassempacificamente o imóvel objeto da ação,porquanto,tal medida objetivou,tão-somente,viabilizar o cumprimento da decisãojudicial. 3. O fato de a agravante valer-se de seu direitode recorrer, garantido constitucionalmente, nãoa qualifica como litigante de má-fé. 4. Inexiste, nos autos, elementos que possamconcluir que a agravante tenha praticadoqualquer conduta a configurar ato atentatório adignidade da justiça, consoante disposto noartigo 17 do Código de Processo Civil,porquanto não houve ocultação do acordofirmado anteriormente com os indígenas, nosentido de que estes se comprometeram adesocupar e a não invadir a área in litis.Matéria deduzida em preliminar pelosagravados em contraminuta rejeitada. 5. A posse indígena não é regulada peloCódigo Civil, mas sim pelas disposiçõescontidas na Constituição Federal. 6. A Constituição Federal,em seu artigo 231 eparágrafos, objetivou garantir aos indígenas aposse das terras tradicionalmente por elesocupadas, com a finalidade de preservar suaspopulações, como aliás, já asseguravam, desde1934, as constituições anteriores. 7. A Lei nº. 6001 de 19.12.73,(Estatuto doÍndio) que foi recepcionada pela atualConstituição Federal, reconhece o direitodos índios ou à comunidade indígena a possepermanente da terras por eles habitadas,independentemente de demarcação, cabendoser assegurada pelo órgão federalcompetente, atendendo à situação atual econsenso histórico.

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8. Demonstrada, nos autos, a plausibilidade dodireito invocado pela agravante, vez que, noâmbito do Procedimento Administrativo deDemarcação de Terra Indígena Guyraroká, jáfoi publicado no Diário Oficial da União, oResumo do Relatório Antropológico deIdentificação e Delimitação, o qual, nãoobstante, depender ainda de impugnações,concluiu que área ocupada é de possepermanente dos indígenas. 9. Os atos que tenham por objeto aocupação, o domínio e a posse das terrastradicionalmente ocupadas pelos índios nãoproduzem efeitos jurídicos, consoanteparágrafo 6º do artigo 231 da ConstituiçãoFederal. 10. Os documentos acostados aos autosrevelam as condições desumanas desobrevivência dos silvícolas, a ocorrência defreqüentes suicídios, crianças morrendo dedesnutrição, e os constantes conflitos travadoscom os fazendeiros da região, demonstrandoque a controvérsia não se limita apenas a umdebate jurídico, mas também abarca umaquestão de relevância social indiscutível, vezque se trata da dignidade da vida humana. 11. Restando evidenciada a ocorrência de riscode grave lesão ao direito coletivo desobrevivência étnica e cultural dos indígenas,esta deve prevalecer sobre o direito individualde propriedade. 12. Liminar concedida em Primeiro Graurevogada para que os tutelados da agravantepermaneçam na área ocupada até o julgamentofinal da lide, evitando, assim, o surgimento denovas desavenças entre os envolvidos. 13. Agravo de instrumento provido. AgravoRegimental prejudicado. (TRF3 AG 223330processo 2004.03.00.066491-4/MS RelatoraJuíza Ramza Tartuce, Quinta Turma, DJ de13/09/2005)

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Contudo, há casos em que o Tribunal Federal suspende a demarcação de

terras indígenas:

PROCESSUAL CIVIL. PRODUÇÃOANTECIPADA DE PROVAS. AÇÃOCAUTELAR. SUSPENSÃO DEDEMARCAÇAÕ DE RESERVAINDÍGENA. PROVIDÊNCIAJUSTIFICADA.1. Estando em andamento ação cautelar deprodução antecipada das provas, com oobjetivo de demonstrar não estardeterminado imóvel compreendido emterras indígenas, correta se revela a decisãoque ordena a suspensão provisória dademarcação administrativa da mesma área,encetada pela FUNAI - sob color de queintegra o polígono de reserva indígena(Parque Nacional do Xingu) -, até que seultimem os trabalhos periciais.2. A falta de audiência prévia do órgão deproteção do índio não invalida a decisão, postoque proferida em situação informada pelaurgência, para evitar a consumação de umasituação de fato irreversível.3. Agravo de instrumento improvido. Agravoregimental prejudicado.(TRF 1, AG 1998.01.00.017964-0/MT, Rel.Juiz Olindo Menezes, Terceira Turma, DJ de12/02/1999)

No pendente caso dos índios Pataxó Hã Hã Hãe, a ilustre

Desembargadora Federal Selene Maria de Almeida indefere a reintegração de

posse de particular que reclama posse de terra tradicional indígena pendente de

decisão judicial no STF:

ADMINISTRATIVO E CIVIL.REINTEGRAÇÃO DE POSSE. MUNICÍPIODE PAU BRASIL/BA. RESERVAINDÍGENA. LIMINAR DEFERIDA PARADETERMINAR A DESOCUPAÇÃO DAÁREA E A REINTEGRAÇÃO DOAGRAVADO NA POSSE DO IMÓVEL.

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IMPOSSIBILIDADE. DIFERENÇA DETERRAS INDÍGENAS E TERRASDEVOLUTAS. PROTEÇÃO POSSESSÓRIAE DESTINAÇÃO DAS TERRASHABITADAS POR INDÍGENAS NASCONSTITUIÇÕES DE 1934, 1937, 1967, EC1/69 E CF/88. DESTINO DAS TERRASINDÍGENAS DA UNIÃO POR GENOCÍDIOOU EXPULSÃO DOS ÍNDIOS.ARRENDAMENTO DE TERRAS.EXPEDIÇÃO ILÍCITA DE TÍTULOS PARAPOSSEIROS E INVASORES. DIREITOSASSEGURADOS PELA CONSTITUIÇÃO:MANIFESTAÇÃO DE PROPRIEDADE EDIREITO À SUBSISTÊNCIA E À VIDA.PREVALÊNCIA DO ÚLTIMO. AUSÊNCIADE RAZOABILIDADE DA APLICAÇÃODAS REGRAS DO DIREITO PRIVADO,RELATIVAS À POSSE EM QUESTÃOINDÍGENA. CABIMENTO DE DISCUSSÃOACERCA DO DOMÍNIO NA AÇÃOPOSSESSÓRIA QUANDO AMBAS ASPARTES ALEGAM PROPRIEDADE.MANUTENÇÃO DOS ÍNDIOS NARESERVA. 1.A proteção dada à posse das terras habitadaspelos silvícolas passou a ser norma constante ereiterada, a partir da Constituição de 1934. AsConstituições de 1934 (art. 129); a de 1937(art. 154) e a de 1946 (art. 216), todas elasconsignavam como pressuposto fundamental aproteção possessória das terras dos índios a sualocalização permanente.2. É de se ter como devolutas as terras que nãose encontram "ocupadas", nem pertençam aparticulares, com base em título legítimo,tirando-se daí a conclusão de que os terrenosindígenas não são terras devolutas, havendo deser considerada a colocação de Tourinho Netode que "se os índios eram donos das terras, deacordo com o Alvará Régio de 1680 - nãorevogado -, as terras que não foram dadas porsesmarias nem as perdidas por força de guerrajusta não poderiam ser consideradas devolutas.Achavam-se elas no domínio particular dos

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índios, por título congênito, independente delegitimação. Assim, não se lhes podia aplicar oart. 5° da Lei nº. 601, de 18 de setembro de1850, no sentido de que seriam "legitimadas asposses mansas e pacíficas, adquiridas porocupação primária, ou havidas do primeiroocupante, que se acharem cultivadas, ou comprincípio de cultura e morada habitual dorespectivo posseiro ou de quem o represente(...)". Com efeito, não eram os índios posseirose sim os donos, pois, como firmado pelomencionado autor, "tinham o domínio do títulolegítimo - "indigenato", que não é o direitoadquirido, mas congênito, primeiro: logo, assuas posses não estavam sujeitas àlegitimação". O indigenato é a fonte primária econgênita da posse territorial; é um direitocongênito, enquanto a ocupação é títuloadquirido. O indigenato é legítimo por si, "nãoé um fato dependente de legitimação, ao passoque a ocupação, ao fato posterior, dependem derequisitos que a legitimem.3. Se uma das características das terrasdevolutas é a alienabilidade, resta seguro queos terrenos indígenas não se incluem entreaquelas, eis que já previa o art. 198 daConstituição Federal de 1967, com a EmendaConstitucional n 1/69, que "As terras habitadaspelos silvícolas são inalienáveis nos termos quea lei federal determinar, a eles cabendo a suaposse permanente e ficando reconhecido o seudireito ao usufruto exclusivo das riquezasnaturais e de todas as utilidades nelasexistentes". (AC 1999.01.00.022890-0/MT,DJII 16/02/2001, pg. 03) 4. A desafetação de território não émodalidade de extinção do domínio públicono Direito brasileiro.O genocídio e/ou a expulsão dos índios desua área, portanto, não implica natransferência das terras antes ocupadaspelos silvícolas para o Estado-federado nemtem como conseqüência jurídica aconvalidação de títulos dominiais nulos. Élógico que se as terras de posse indígenas

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integram o domínio da União, uma vezexpulsos ou mortos os índios, a posse reverteráà União. O índio não é dominus das terras queocupa e é por isso que com seu extermínio ouexpulsão a posse retorna ao dominus, isto é, àUnião.5. Havendo dois direitos em conflito, umprecisa ser sacrificado. Logo, se há doisdireitos assegurados pela Constituição, umdeles a manifestação da propriedade e outroo direito à subsistência, direito à vida, nãohá como dar prevalência a direito deconteúdo econômico.6. Não é, portanto, razoável que ao caso sejamaplicadas as regras do direito privado relativasà posse em questão indigenato.7. Na ação possessória se discute somente aposse. Todavia, se as partes, autor e réu,vierem in judicium, discutindo a posse, combase no domínio, pode-se adentrar na questãodominial. Se ambas as partes litigantesdisputam a posse alegando propriedade écabível a discussão sobre o domínio.8. O Novo Código Civil em seu artigo 1.210, §2º dispõe que: "não obsta à manutenção oureintegração na posse a alegação depropriedade, ou de outro direito sobre a coisa",mantendo o mesmo comando constante nomencionado artigo 505 do Código Civil de1916.9. O agravado busca fundamentar sua possena alegação de possuir o domínio das terras,com base em títulos fraudulentos de domínioemitidos pelo Estado da Bahia. Entretanto,há possibilidade de que as terrasefetivamente sejam de ocupação indígena,constituindo patrimônio da União, o queserá resolvido na ACO 312-1/BA 10. Agravode instrumento do Ministério PúblicoFederal provido para revogar a decisãorecorrida, indeferindo a pretendidareintegração de posse por parte de detentorde título nulo. (grifei) (TRF 1, AGRAVO DEINSTRUMENTO, Processo n.

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2003.01.00.016533-1/BA, QUINTA TURMA,Relatora DESEMBARGADORA FEDERALSELENE MARIA DE ALMEIDA, Publicadoem 25/10/2004)

e também:

AÇÃO POSSESSÓRIA - COMUNIDADEINDÍGENA PATAXÓ HÃHÃHÃE - PROVADE OCUPAÇÃO IMEMORIAL - ARTIGO231, PARÁGRAFO 2º, DA CARTAPOLÍTICA - REINTEGRAÇÃO.1. O artigo 231, parágrafo 2º, da ConstituiçãoFederal, consagrou a posse permanente aossilvícolas das terras tradicionalmente ocupadas,mantendo-se sua perenidade para sempre aoprojetar o verbo "destinam-se".2. Por isso, ainda que tenham os índiosperdido a posse por longos anos, porconfigurar direito indisponível, podempostular sua restituição, desde que ela,obviamente, decorra de tradicional(imemorial, antiga) ocupação, equivalente averdadeiro pedido reivindicatório da coisa.3. Comprovado que os silvícolas ostentavamposse imemorial, é procedente a reintegração.4. Apelação desprovida. (grifei) (TRF 1, APELAÇÃO CIVEL, Processon. 1999.01.00.030341-8/BA, TERCEIRATURMA SUPLEMENTAR, Relator JUIZEVANDRO REIMÃO DOS REIS (CONV.),Publicado em 29/05/2002)

Nulidade de títulos

Contudo contradiz-se a Jurisprudência do Tribunal Regional Federal da 1ª

Região no tocante à nulidade dos títulos de terras em área indígena, ofertados

pelo Estado membro, quando decide:

ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃOINDIRETA. TERRAS DEVOLUTAS.ALIENAÇÃO PELOS ESTADOS. TERRASOCUPADAS TRADICIONALMENTEPELOS INDIOS. DEMARCAÇÃO.1. Tendo a parte legitimamente havido oimóvel do transmitente que, por sua vez, o

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adquirira de Estado membro, como titulardas terras devolutas, não é lícito negar-lhe acorrespondente indenização, emdesapropriação indireta, em função deocupação pelo Estado (União - FUNAI), àconta do fato de tratar-se de terras ocupadas(supostamente) tradicionalmente pelosindígenas. "O possuidor legitimado portítulos recebidos do Estado, em priscas eras,não pode ser espoliado do fruto do seutrabalho sem indenização." (STF - MS nº.20.234 - 3/MT).2. A nulidade de atos jurídicos que tenham porobjeto o domínio, a posse e a ocupação deterras indígenas, sem direito a indenização,prevista na Constituição de 1967 (art. 198, §§1º e 2º) e na Constituição de 1988 (art. 231, §4º), além de não poder abarcar os atos jurídicospraticados anteriormente, segundo as normasconstitucionais a eles contemporâneas - ospreceitos constitucionais, inclusive os quegarantem o direito de propriedade, não podemsimplesmente ser considerados como letramorta -, somente se aplica às terras indígenasdemarcadas e efetivamente ocupadas pelosíndios. "Os incisos I e XI do art. 20 da CF nãoalcançam terras de aldeamentos indígenasextintos, ainda que ocupadas por indígenas empassado remoto." (Súmula nº. 650 - STF).3. O cidadão que acreditou na potestadepública, que atua com presunção de verdade,não pode ser confiscado nos seus direitoslegalmente adquiridos, menos ainda estando deboa-fé, sem que tenha contribuído com algumaparcela de culpa nos eventuais defeitos legaisdos atos praticados. O Estado tem o dever dedemarcar as reservas indígenas, com relaçãoaos quais a questão da terra tem um valor desobrevivência física e cultural, mas não deforma ilegal e sem pagamento, espoliando odireito de propriedade de terceiros, pois, porpreceito constitucional, ninguém será privadodos seus bens sem o devido processo legal.4. Provimento da apelação.

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(grifei) (TRF 1, APELAÇÃO CIVEL, Processon. 2001.01.00.046471-3/MT, TERCEIRATURMA, Relator DESEMBARGADORFEDERAL OLINDO MENEZES, Publicadoem 08/07/2005)

Ou ainda:

CIVIL E ADMINISTRATIVO. ESBULHOPOSSESSÓRIO. REINTEGRAÇÃO DEPOSSE. TERRAS CONSIDERADASINDÍGENAS. TÍTULOS DE DOMÍNIOLEGITIMAMENTE EXPEDIDOS E NÃODESCONSTIUÍDOS.1. As terras reivindicadas pela comunidadeindígena Pataxó, no sul do Estado da Bahia,não podem ser ocupadas unilateralmentepelos reivindicantes, violentando os direitosdos proprietários rurais atuais ocupantes,sem que antes sejam desconstituídos ostítulos de domínio que sobre elas detêm,expedidos legitimamente pelo Estado daBahia, como titular do domínio das terrasdevolutas no seu território.2. Tramitando no Supremo Tribunal Federalação anulatória dessa titulação, não é dado àspartes, os proprietários rurais ou ascomunidades indígenas, alterar o estado de fatoda demanda, menos ainda sob os auspícios daviolência, que sempre gera violência eintranqüilidade social.3. Ressalvada a negociação administrativa,sempre mais aconselhável, é de esperar-se apalavra final da Corte Maior a respeito davalidade dos títulos de domínio dos atuaisproprietários, devendo seu cumprida a ordemjudicial de reintegração de posse.4. Provimento do agravo regimental.(grifei) (TRF 1, AGRMC 2003.01.00.000066-7/BA, Rel. Desembargador Federal OlindoMenezes, Rel.Acor. Desembargador FederalOlindo Menezes, Corte Especial, DJ de16/09/2003)

A nulidade de títulos de terras indígenas consideradas devolutas,

expedidos pelo Estado-membro, é confirmada pela Jurisprudência do TRF1:

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CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA.ALIENAÇÃO DE GLEBA SITUADA EMÁREA ÍNDIGENA. RESERVA PARECI.DECRETO Nº 63.368/68. NULIDADE.POSSE IMEMORIAL CARACTERIZADAPOR LAUDO ETNICO-ANTROPOLÓGICO.DIREITO ADQUIRIDO. NÃOCONFIGURAÇÃO. INDENIZAÇÃO.DESCABIMENTO.1. Após a Constituição de 1934 as terrasocupadas imemorialmente por naçãoindígena são de domínio da União, razãopela qual são nulos os títulos de domínioexpedidos após o advento da Carta Política.Precedentes da Corte.2. Hipótese em que o laudo da períciaantropológica é taxativo ao afirmar que a áreaem questão foi ocupada imemorialmente poríndios que continuaram a habitá-la, razão pelaqual foi criada a Reserva Indígena.3. O território indígena é constituído não sópela área que circunda a aldeia e as roças, mastambém as imprescindíveis à conservação desua identidade étnico-cultural.4. Diante da posse imemorial indígena da áreasub judice e da proteção constitucional a eladeferida desde a Carta Política de 1934, nãopoderia o Estado do Mato Grosso outorgartítulos dominiais, não havendo que se falar,perante aquela Carta e nem mesmo perante aatual Constituição, em direito adquirido quejustifique pedido de indenização.5. Ademais, além da outorga do título dominialpor parte do Estado do Mato Grosso ter sidoirregular, a aquisição da gleba ocorreu em 1973quando o Decreto nº. 63.368/68, que demarcoua reserva dos índios Parecis, já se encontravaem pleno vigor. 6. Apelação desprovida. (grifei) (TRF 1, APELAÇÃO CIVEL, Processon. 1997.01.00.023962-6/MT, TERCEIRATURMA SUPLEMENTAR , Relator JUIZFEDERAL WILSON ALVES DE SOUZA(CONV.), Publicado em 16/12/2004)

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CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO.DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. TERRAOCUPADA POR NAÇÃO INDÍGENA.SENTENÇA QUE CONSIDEROU O LAUDOHISTÓRICO-ANTROPOLÓGICO. ÍNDIOSENAWENÊ-NAWÊ. TÍTULO DEPROPRIEDADE EXPEDIDO PELO ESTADODE MATO GROSSO. CONSTITUIÇÃOFEDERAL DE 1891, ART. 64. ART. 129 DACONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1934.CF/88, ART. 231 e §§ 4º a 7º. REPETIÇÃODE ITR. RECURSO ADESIVO. REMESSA.1. Ainda que o Estado de Mato Grosso tenharecebido terras indígenas entre as devolutasque lhe foram atribuídas pelo art. 64 daConstituição de 1891, não poderia o referidoEstado aliená-las, à vista do disposto no art.129 da Constituição Federal de 1934,segundo o qual "será respeitada a posse desilvícolas que nelas se achempermanentemente localizados, sendo-lhes,no entanto, vedado aliená-las".(grifei) (TRF 1, APELAÇÃO CIVEL, Processon. 2000.01.00.109594-2/MT, QUARTATURMA, Relator DESEMBARGADORFEDERAL HILTON QUEIROZ, Publicado em31/05/2005) semelhante em: TRF 1, AC1997.39.00.010636-7/PA, Rel. DesembargadorFederal Carlos Olavo, Quarta Turma, DJ de31/05/2005; TRF 1, APELAÇÃO CIVEL,Processo n. 1997.01.00.064151-0/MT,QUARTA TURMA, RelatorDESEMBARGADOR FEDERAL ÍTALOFIORAVANTI SABO MENDES, Publicadoem 15/09/2005; TRF 1, APELAÇÃO CIVEL,Processo n. 1999.01.00.022890-0/MT, QUARTATURMA, Realtor JUIZ ÍTALO MENDES, Publicadoem 16/02/2001

E também:

ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃOINDIRETA. RESERVA INDÍGENA.

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INDENIZAÇÃO. INEXISTÊNCIA DEDIREITO ADQUIRIDO. BENFEITORIAS. I -Embora a causa de pedir e o pedido sejam osmesmos (indenização por desapropriação),outras são as partes, daí não se poder falar emidentidade entre a ação versada nestes autos eaquela em que o Supremo Tribunal Federalproferiu a decisão noticiada pelos apelantes.II - Se alguns dos apelantes permanecem naárea contemplada pelo Decreto que ampliou areserva indígena dos Kayabi, não há interesseprocessual para estar em juízo almejandoindenização por desapropriação indireta.III - Não há que se falar em direito adquiridodos autores-apelantes relativamente à área subjudice, haja vista que o direito dos silvícolas jápré-existia àquele de propriedade invocadopelos autores.IV - As terras de ocupação imemorial etradicional dos índios não são passíveis dealienação, sendo nula a outorga de títulosdominiais em terras indígenas após aConstituição de 1934 (Precedentes destaCorte).V - As benfeitorias efetuadas nos imóveis sópodem ser indenizadas pelo Estado do MatoGrosso, pois a União não deu causa à posseilegítima dos autores.VI - Apelação desprovida.(grifei) (TRF 1, APELAÇÂO CIVEL, Processon. 2001.01.00.046275-4/MT, TERCEIRATURMA, Relator DESEMBARGADORFEDERAL CÂNDIDO RIBEIRO, Publicadoem 12/08/2005)

PROCESSO CIVIL. CONSTITUCIONAL.INTERDITO PROIBITÓRIO. TERRAINDÍGENA. POSSE DE BOA FÉ. JUSTOTÍTULO MAS INEFICAZ.I- A Constituição Federal de 1988, em seu art.231, é clara e precisa, quando estabelece quesão reconhecidos aos índios "os direitosoriginários sobre as terras que tradicionalmenteocupam".

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II- Não importa como o não-índio adquiriuas terras indígenas, se de boa ou má-fé. Aboa-fé só interessa para o fim de discutirindenização.III- A posse de boa-fé não significa posse justa.O título pode ser até justo - justo título - masnão ter eficácia, por exemplo, porque otransmitente não tem o direito de propriedade,não é dono (a domino). E, assim, na verdade, odomínio não se transmite.(grifei) (TRF 1, AC 1997.01.00.023916-8/MT,Rel. Juiz Tourinho Neto, Terceira Turma, DJde 30/09/1999)

Também no TRF da 4ª. Região:

EMENTA: DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA.TERRAS TRADICIONALMENTEOCUPADAS POR INDÍGENAS. NULIDADEDOS TÍTULOS. ARTIGOS 20, INC. XI, E231 - CAPUT, § 1º E § 6º DA CF.PROVIMENTO DO RECURSO. 1. AConstituição Federal estabelece serem bens daUnião as terras tradicionalmente ocupadaspelos índios (art. 20, inc. XI). 2. Comoconseqüência, o artigo 231 reconhece que osíndios têm direito sobre as terras quetradicionalmente ocupam (caput), cujo conceitoé dado pelo § 1º do mesmo artigo. 3. Comocomplementação da defesa dos direitosindígenas o § 6º do já citado comandoconstitucional determina serem nulos eextintos, não produção de efeitos jurídicos, osatos que tenham por objeto a ocupação, odomínio e a posse dessas terras, sem direito aindenização, salvo em relação às benfeitoriasderivadas da ocupação de boa-fé. 4. Comoleciona o constitucionalista José Afonso daSilva - "O reconhecimento do direito dosíndios ou comunidades indígenas à possepermanente das terras por eles ocupadas, nostermos do art. 231, § 2º, independe de suademarcação, e cabe ser assegurado pelo órgãofederal competente, atendendo à situação atuale ao consenso histórico." (Curso de DireitoConstitucional Positivo, 19ª ed. São Paulo:

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Malheiros Editores, 2001, pg. 833/4). 5. Háprovas nos autos a comprovar que a área doapelado era terra tradicionalmente ocupadapelos índios Paresi, tanto que foi incluída dareserva indígena dos Parecis. 6. AsConstituições de 1934, 1946, 1967/69 e 1988atribuíram à União o domínio das terrashabitadas pelos silvícolas. 7. Recurso deapelação da União e remessa oficial providos.(TRF4, AC, processo 2001.04.01.068108-9,Quarta Turma, relator Joel Ilan Paciornik,publicado em 29/01/2003) Semelhante em:TRF4, AC, processo 1999.04.01.003676-0,Terceira Turma, relator Sérgio Renato TejadaGarcia, publicado em 02/08/2000;

E:

EMENTA: ADMINISTRATIVO.REINTEGRAÇÃO DE POSSE. ÁREATRADICIONALMENTE OCUPADA PORÍNDIOS. INDIGEATO. TÍTULO DEPROPRIEDADE SOBRE TERRASOCUPADAS POR ÍNDIOS. NULIDADE.ÁREA DO TOLDO DE NONOAI. ART. 231,§ 1º E 20, XI, DA CONSTITUIÇÃOFEDERAL. - São nulos os títulos depropriedade sobre terras declaradas comotradicionalmente ocupadas pelos índios.Incidência do art. 231, § 1º e 20, XI, daConstituição Federal. A posse da recorrente éposterior à demarcação da área do Toldo deNonoai. Impossibilidade de deferimento dareintegração de posse pela violação aodireito de propriedade, anteriormenteoutorgado aos silvícolas. Posse melhor e maisantiga que a da agravante. (grifei) (TRF4, AG,processo 2002.04.01.001476-4, TerceiraTurma, relator Maria de Fátima FreitasLabarrère, publicado em 19/02/2003)

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Relatório Parte III

C- ANÁLISE DE CASOS

A ameaça ao direito coletivo dos índios à terra consiste também na

ameaça a uma extensa gama de direitos22 das populações indígenas. A ameaça às

terras indígenas tem raízes no processo histórico de colonização predatória de

terras brasileiras23; na transferência de terras pelos Estados24 para particulares; na

indevida titulação estadual de tais terras25, e nos assentamentos de colonos em

terras indígenas26 desde o final do século XIX; passando pela desvalorização da

cultura indígena; pelo crescimento das atividades de “desenvolvimento” ou

“modernização” do agronegócio no século XX e XXI; e também nas deficiências

do sistema de fiscalização e proteção das terras indígenas. Foram séculos de

abusos e subjulgamento da cultura indígena, que culminaram na expulsão dos

índios de suas terras tradicionais e no confinamento dos índios em pequenas

22 Direito à vida e à integridade física; direito à saúde e à alimentação; direito à educação e àmanutenção de suas culturas distintas; direito à moradia e ao lazer; direito às crenças ereligiões; direito à autonomia de gestão de seu patrimônio material e imaterial bem como àrealização de atividades econômicas tradicionais; direito à participação política; direito àliberdade e à permanência dos índios em suas terras tradicionais; entre outros. 23 Desde a chegada dos colonizadores europeus, no século XVI, os índios que aqui viviamtiveram que adotar medidas que garantissem minimamente sua sobrevivência. Isso explica oprocesso de migração de índios da costa para o interior do Brasil, como no caso dos índiosGuarani no sul e sudeste brasileiros. Também evidente é o impacto da dinâmica de fluxo,refluxo e imposição de expansão da sociedade nacional sobre as terras indígenas na regiãonordeste.24 O artigo 64 da Constituição de 1891 transferia ao patrimônio dos estados as terras devolutassituadas em seus territórios, desvinculando a propriedade de terras exclusiva do poder central.Apesar das faixas de fronteira serem excepcionadas deste dispositivo, o estado do Mato Grossodo Sul expediu indevidamente inúmeros títulos que atingiram diretamente as terras dos índiosGuarani-Kaiowá, submetendo-os à política de confinamento daquele povo em favor daocupação da terra por terceiros.25 Um exemplo da apropriação indevida de terras pelo estado para a titulação de terceiros é a daTI Panambi (ver notícias).26 Em 1943, o Presidente Getúlio Vargas sancionou a Lei 5942 que cria a Colônia AgrícolaNacional de Dourados, conferindo títulos aos assentados da reforma agrária sobre terrasindígenas afetando a região das TIs Dourados e Panambizinho.

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aldeias ou nas periferias de centros urbanos; no esgotamento da convivência

pacífica entre índios e não-índios na disputa por terras; na exploração do trabalho

escravo; na fome e miséria entre os índios e; em algumas regiões, no alto índice

de mortes de crianças e suicídios de adultos. O denominador comum foi e ainda é

a questão agrária, ou seja, a segurança do direito à terra dos povos indígenas.

Com o advento da Constituição Federal de 1988, o Estado Brasileiro

reconhece o direito à diversidade cultural, abolindo a política de integração

forçada dos índios. Reforça-se assim a idéia de que é preciso garantir os direitos

territoriais indígenas a fim de assegurar a continuação daqueles como povos

distintos. Ainda assim, a situação dos índios no Brasil hoje está longe de ser

ideal. A falta de segurança ou a ameaça territorial ainda persiste, a despeito das

políticas públicas de reconhecimento e proteção de terras indígenas, e um dos

pilares desse quadro é o sistema legal e judiciário brasileiro.

Apesar de o ato de homologação ser um ato formal27, que em teoria não

alteraria a situação de fato ou de direito dos povos indígenas em relação às suas

terras, a prática não corresponde. A falta de homologação presidencial significa,

ou na prática serve de justificativa para o não-reconhecimento da terra como terra

indígena. Por outro lado, os ataques na esfera judicial contra a homologação e a

demarcação em geral têm demonstrado que mesmo na prática, a conclusão do ato

administrativo pelo Presidente da República nem sempre tem poder de

prevalência. Na legislação brasileira, não existe previsão legal de aquisição de

terras indígenas pelos povos indígenas que ali habitam, a não ser a partir do

procedimento administrativo de demarcação de terras28. Mais grave ainda é a

ausência de mecanismos judiciais de proteção ao direito dos índios às terras, que

27 Dec. 1775/96 Art.5o. “A demarcação de terras indígenas, obedecido o procedimentoadministrativo deste Decreto, será homologada mediante decreto.”28 Se para os não-índios é claro o mecanismo de aquisição, reconhecimento e proteção dapropriedade e posse (Código Civil, Código de Processo Civil); no caso dos índios, suas terrassão bens da União (CF art.20 XI) e detêm uma pseudo-proteção constitucional que é, naprática, mais frágil do que as normas infra-constitucionais.

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compromete a sobrevivência desses povos dada a incontrolável obstacularização

do Judiciário na demarcação administrativa de terras indígenas.

A inexistência de um mecanismo jurídico eficaz de proteção aos direitos

indígenas relacionados à terra aliada ao crescimento da violência e intolerância

contra os povos indígenas justificaram, no caso da Raposa Serra do Sol, o

acionamento do Sistema Inter-Americano de Direitos Humanos29 contra a

chamada inércia do Estado Brasileiro. A petição inicial foi embasada no fato de

não existirem recursos judiciais domésticos adequados para demandar a

conclusão do procedimento demarcatório da Raposa Serra do Sol. Tal carência

violaria o direito ao devido processo legal dos povos indígenas, tornando a

demanda admissível frente a CIDH30. A Corte recomendou medidas cautelares ao

Estado brasileiro em prol dos índios da Raposa, no dia 06 de dezembro de 2004.

Entendeu-se que a demora da homologação presidencial - na maior parte

das vezes devido às pendências judiciais impetradas em favor de interesses

privados - estava ferindo os direitos dos índios às suas terras bem como

ameaçando sua integridade e permanência na terra Raposa. Conclusões

semelhantes podem ser extraídas da análise do caso Pataxó Hã Hã Hãe, com ação

judicial pendente no STF há mais de 20 anos e com sua demarcação

administrativa não concluída. O caso Ñande Ru Marangatu mostra que, ainda

que a terra indígena tenha sido homologada - portanto concluído o ato

29 No dia 29 de março de 2004 os peticionários, Conselho Indígena de Roraima e a RainforestFoundation, apresentaram denuncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (P.250-04) pedindo que esta recomendasse ao Estado a adoção de medidas cautelares. Na denúncia ospeticionários alegaram que, ao não finalizar o processo de demarcação da Terra IndígenaRaposa Serra do Sol, o Estado violou os artigos 21 (direito à propriedade privada); 24(igualdade perante a lei); 4 (direito à vida); 5 (direito à integridade pessoal); 12 (liberdade deconsciência e de religião), 22 (direito de circulação e residência) e 25 (direito à proteçãojudicial) da Convenção Americana sobre Direitos Humanos e os direitos I (direito à vida e àintegridade da pessoa), II (direito de igualdade perante a lei), III (direito à liberdade religiosa ede culto), VIII (direito de residência e de trânsito), IX (direito à inviolabilidade de seudomicílio), XVIII (direito à justiça) e XXIII (direito de propriedade) da Declaração Americanados Direitos e Deveres do Homem. 30 A não existência do devido processo legal na proteção efetiva aos direitos territoriais dospovos indígenas constitui exceção ao requisito de esgotamento dos recursos internos previstono Artigo 46 (2) (a) da Convenção Americana de Direitos Humanos.

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administrativo - as pendências judiciais e o impedimento dos índios Guaranis

habitarem suas terras colocam o Estado Brasileiro em débito em relação à

proteção de direitos indígenas. Ou ainda citamos o caso da Terra indígena Baú

que há 10 anos aguarda sua homologação, tendo sofrido vários tipos de

enfrentamento judicial, inclusive para contestar os limites propostos e para

mandar que a FUNAI concluísse a demarcação em tempo determinado.

A demarcação administrativa de terras indígenas não é suficiente sozinha,

e ainda assim sofre diretamente com os entraves postos pela Justiça brasileira em

todos os níveis. Os casos a seguir selecionados ilustram o papel do Judiciário na

efetivação, ou obstacularização, do direito dos índios às suas terras, cultura e

modo de vida no processo de reconhecimento, demarcação e proteção de terras

indígenas. A intrínseca relação do Judiciário com o Executivo na proteção dos

índios e suas terras deve, a todo momento, pautar a análise dos casos.

1. TI Raposa Serra do Sol - Roraima

O procedimento demarcatório da Terra Indígena Raposa Serra do Sol teve

inicio em 1977 e passou por um longo período de batalha judicial e política,

dados os interesses divergentes sobre a área31. Foi somente em 1993 que um

31 A expressão de insatisfação dos fazendeiros e do Estado de Roraima a respeito dademarcação da terra indígena Raposa Serra do Sol chegou até o Senado Federal. O senador deRoraima, Mozarildo Cavalcanti, apresentou um projeto de lei (PDL n° 106) onde propôs arevogação da Portaria n° 820 do Ministro de Justiça. Seu argumento estava baseado no fato deque a terra indígena impede o progresso do Estado e das inúmeras fazendas produtivas deposse de não-indígenas na área. Esta proposta foi rejeitada dentro da Comissão de AssuntosSociais do Senado, em razão da ilegitimidade do procedimento proposto e do reconhecimentoque a Constituição faz às terras indígenas. Ao lado do projeto de lei, o mesmo senador apresentou em 1999 um Projeto de EmendaConstitucional – PEC n° 38/99 que propõe a modificação dos artigos 52, 225 e 231 daConstituição Federal. Em sua proposta, passaria a ser de competência privativa do SenadoFederal a aprovação dos processos demarcatórios das terras indígenas. Este senador tambémpropõe que a soma das áreas de terras indígenas e de unidades de conservação não ultrapasse50% da superfície de cada Estado Federado. Caso seja aprovada, além de violar o principio daprogressividade na proteção dos direitos humanos, esta emenda impossibilitaría a demarcaçãoda terra indígena Raposa Serra do Sol nos limites que foram identificados como de ocupaçãoancestral dos povos peticionários, pois ela, somada às terras já demarcadas, ultrapassaria os

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grupo de técnicos da FUNAI, apresentou uma proposta de limite territorial da

terra, um laudo antropológico e um levantamento fundiário da área em questão.

Este procedimento32 reconheceu cerca de 1.678.800 hectares como sendo as

terras dos povos indígenas Macuxi, Patamona, Tauperang e Wapichana da

Raposa Serra do Sol. Ainda em 1993, após a aprovação e publicação do estudo

de demarcação da terra indígena, a FUNAI encaminhou o relatório ao Ministério

de Justiça, seguindo os trâmites estabelecidos no Decreto 22/91 que estabelecia

os procedimentos administrativos para a demarcação de terras indígenas.

Em 1996 o Decreto 22/91 foi revogado pelo Decreto 1.775/96, que

instituiu o principio do contraditório nos processos demarcatórios, permitindo

que terceiros interessados se manifestem a respeito da área identificada pela

FUNAI. A vigência do Decreto 1.775 fomentou contestações na esfera

administrativa quanto aos limites da terra Raposa Serra do Sol identificados pela

FUNAI. Estas contestações foram apresentadas por particulares e também pelo

estado de Roraima. Em dezembro de 1996 o então Ministro da Justiça Nelson

Jobim exarou o Despacho n° 80, julgando improcedentes as contestações

administrativas apresentadas por terceiros, mas, ao mesmo tempo, excluindo a

sede do município de Uiramutã33 e outras vilas, além de certas propriedades de

limites “permitidos” ao Estado de Roraima.Ao lado das iniciativas do Senado Federal, o Exército também demonstrou sua oposiçãoexpressa à demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, nos seguintes termos: “(...) levo ao conhecimento de Vossa Excelência (Ministro de Justiça) ser o Estado-Maior dasForças Armadas de parecer totalmente contrário à demarcação da denominada área indígenaRaposa Serra do Sol (...) A política brasileira para os índios e as comunidades indígenas tem o“propósito de preservar a sua cultura e integrá-los, progressiva e harmoniosamente, àcomunhão nacional.” (Art. 1° da Lei n° 6001/73 – Estatuto do Índio). Do exposto nalegislação, depreende-se que o melhor a fazer em prol dos índios e das comunidades indígenasé manter o contato mais próximo possível com as demais partes da comunidade brasileira. Ademarcação de grandes áreas dificulta a penetração e a circulação de pessoas, diminuindo oconvívio e o contato com a sociedade local. Entendemos que uma área contígua muito grandedificulta e aumenta o tempo para que haja a integração desejada das comunidades indígenas.(..) O isolamento dessa área vai retardar o seu desenvolvimento”.32 Parecer n° 36/DID/DAF/9333 Em 1995, o governador do estado de Roraima, ignorando o relatório publicado pela FUNAIem 1993 que apresentou a proposta de demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol,sancionou duas leis estaduais que criaram os municípios de Pacaraima e Uiramutã (leisestaduais n° 96 e 98, respectivamente). A sede administrativa do município de Uiramutã foisobreposta às terras da comunidade de Uiramutã, reconhecidas pela FUNAI como áreas de

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particulares e bem como excluiu a possibilidade de fruição indígena exclusiva

sobre espaços considerados vias públicas e faixas de domínio.

O Ministro da Justiça Nelson Jobim determinou então que os autos do

procedimento demarcatório voltassem à FUNAI para que os limites da terra

indígena fossem refeitos. Tal decisão feriu o Decreto 1.775/96 e o art.231 da

Constituição Federal pois ao julgar improcedentes as contestações apresentadas

não lhe sobrou razão nem competência para determinar áreas de exclusão. Por

esta razão, o procedimento permaneceu paralisado por mais dois anos, quando o

presidente da FUNAI, Sulivan Silvestre Oliveira, reenviou o procedimento ao

Ministério da Justiça para reconsideração do Despacho n° 80. Organizações

indígenas e de direitos humanos nacionais e internacionais passaram a denunciar

as graves violações e violências a que se submetiam os povos indígenas da

região34 e aumentaram a pressão sobre os órgãos da administração para que os

povos indígenas da Raposa Serra do Sol tivessem seu direito à terra garantido em

conformidade com a definição de terra indígena do artigo 231 da Constituição

Federal.

Em 11 de dezembro de 1998 o novo Ministro da Justiça, Renan

Calheiros, considerando improcedente as manifestações opostas à identificação e

delimitação da área apresentada, declarou ser de posse permanente dos povos

peticionários a totalidade da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, identificada

com superfície aproximada de 1.678.800 ha, mantendo assim a delimitação

ocupação tradicional indígena. A sede administrativa do Município de Pacaraima estálocalizada dentro da terra indígena de São Marcos, que faz limites com TI Raposa Serra do Sol.A criação destes municípios e a instalação de suas sedes ocasionaram graves tensões dentro daterra indígena em questão. O explícito apoio e fomento por parte do governo do estado deRoraima a um processo de colonização dentro da área já declarada como de posse indígenaconfigura um processo de violação sistemática de direitos que não só afetam os direitos dedomínio dos povos indígenas Ingaricó, Macuxi, Patamona, Taurepang e Wapichana sobre suasterras, mas também atentam contra sua integridade individual, coletiva e sua cultura.34 A Comissão Interamericana já conhecia do fato de que “existem dentro da área identificadacomo terra Macuxi cerca de 1.500 garimpeiros e 100 fazendeiros, alguns destes últimos láestabelecidos desde o começo do século. Em geral, os conflitos têm sua origem em disputasentre índios e não-índios, pelo uso de recursos naturais (rios, pastagens, igarapés, buritizais eoutros)”.Relatório sobre a situação dos direitos humanos no Brasil, 1997. Parágrafo 57.

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aprovada pela FUNAI em 1993. O instrumento legal desta declaração é a

Portaria MJ n° 820, que afastou o despacho n° 80 do Ministro Nelson Jobim. Em

1999, a demarcação física da Terra Raposa Serra do Sol foi efetuada restando

apenas a homologação presidencial do ato administrativo.

Porém, ocupantes ilegais, fazendeiros invasores e o próprio governo do

Estado de Roraima insurgiram-se contra tal Portaria Ministerial. Ingressaram

com ações judiciais na Justiça Estadual (Ações Possessórias), Federal (Ações

Possessórias na 1ª Vara Federal da Seção Judiciária de Roraima Nº

2004.42.00.001403-5, 2004.42.00.001459-0 e 2004.42.00.001462-8, Ações

Possessórias na 2ª Vara Federal da Seção Judiciária de Roraima Nº

2004.42.00.1591-4 E 2004.42.00.001590-0) e no STF (Ação Cautelar 582, 734-

8, 788, e 823/RR; Ação Popular; Ação Civil Originária 772, 804, e 808/RR;

Ação Direta de Inconstitucionalidade 1512/RR; Mandado de Segurança 25483)

contra a demarcação da terra indígena; e com manifestações públicas contra os

índios da região. Instaurou-se o clima de instabilidade e violência contra as

comunidades indígenas e o ato administrativo de demarcação da terra indígena

foi paralisado com a concessão de liminares judiciais (por exemplo como ocorreu

na Ações Possessórias da 1ª Vara Federal da Seção Judiciária de Roraima Nº

2004.42.00.001403-5 e 2004.42.00.001462-8, e ) que suspendiam os efeitos da

demarcação.

As inúmeras ações possessórias, a Ação Popular, os Mandados de

Segurança e os pedidos de liminares contra a demarcação da área contínua da

terra Raposa-Serra do Sol impediram por diversas vezes o Estado brasileiro de

finalizar o processo de demarcação da terra indígena, acentuando o clima de

insegurança jurídica. Ainda assim, foram considerados, pelo Governo brasileiro,

como recursos judiciais cabíveis e suficientes35 para a garantia do direito à terra.

35 Resposta do Governo Brasileiro ao caso frente a Comissão Interamericana de DireitosHumanos, , A parágrafos 5-15. (CIR e RFF em nome dos povos indígenas Ingarikó, Macuxi,Patamona, Tauperang e Wapichana v. Estado Brasileiro : Petição N. 250-04)

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A Ação Popular, instrumento jurídico utlizado para anular ou declarar

nulos os atos lesivos ao patrimônio público, foi impetrada em 1999 contra a

demarcação da TI Raposa Serra do Sol36. Os impetrantes da ação popular

alegaram que tal Portaria lesava o patrimônio público e que, portanto, tal medida

administrativa deveria ser impugnada. Do outro lado, argumentaram os

defensores dos interesses indígenas que era inadequado o uso a Ação Popular

para defender interesses obviamente patrimoniais individuais dos que exerciam

posse de terras dentro da área indígena e, que a Portaria N. 820/MJ que define os

limites da TI não era lesiva ao patrimônio público.

Antes de apreciar a lide principal, a 1a. Vara Federal de Roraima

concedeu liminar37 em processo cautelar, com o objetivo de anular os efeitos da

Portaria MJ liberando assim o ingresso, trânsito e permanência de não-indígenas

em terras indígenas; e excluindo os centros urbanos e rurais já constituídos, bem

como equipamentos, instalações e vias públicas federais, estaduais e municipais

da área identificada como terra indígena. Contra a medida liminar, o Ministério

Público Federal, FUNAI e a Comunidade Indígena Maturuca interpuseram

recursos de agravo ao TRF/1a. Região. O Tribunal Regional Federal da 1a.

Região não só manteve a liminar como ampliou os efeitos da mesma e excluiu da

área reconhecida como terra indígena uma faixa de fronteira de 150km e a área

36 CF/88 Art.5 LXXIII “qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise aanular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidadeadministrativa, ao meio ambiente, ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvocomprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência.”Lei 4.717/65 Ação Popular, Art. 1º “Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear aanulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio da União, do DistritoFederal, dos Estados, dos Municípios, (...)”

37 A decisão da 1a. Vara Federal de Roraima considerou que o artigo 5o. da Portaria MJ No.820 era lesivo aos residentes não-índios da área, e poderia precipitar a extinção dos núcleos ecomunidades dentro da terra indígena.O artigo 5° da Portaria N. 820 proíbe “o ingresso, o trânsito e a permanência de pessoas ougrupos de não-índios dentro do perímetro ora especificado, ressalvadas a presença e a ação deautoridades federais, bem como a de particulares especialmente autorizados, desde que suaatividade não seja nociva, inconveniente ou danosa à vida, aos bens e processo de assistênciaindígena”.

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de conservação ambiental (Parque Nacional Monte Roraima), reduzindo ainda

mais a área identificada como terra indígena.

Enquanto o processo principal visa à composição definitiva da lide, uma

medida cautelar tem como objetivo a tutela do processo, ou seja, fazer possível a

atuação posterior e eventual da tutela definitiva. As medidas cautelares não são

alternativas de substituição do processo principal, mas são subsidiárias e

auxiliares ao processo principal, a fim de garantir o interesse geral e público e

evitar a perda ou desvalorização do bem jurídico em questão. Portanto, a tutela

cautelar funda-se na necessidade de estabelecer ou garantir o equilíbrio na

situação de fato entre as partes diante de uma situação de ameaça quanto à

eficiência do processo principal em razão de prováveis mutações durante o

processo. O Direito determina que são requisitos especiais da ação cautelar o

perigo de dano fundado, plausível e provável contra a composição justa do

litígio, ou seja, da alteração na situação de fato existente ao tempo do

estabelecimento da controvérsia (periculum in mora); e a provável existência de

um direito a ser tutelado no processo principal (fumus boni juris).

No caso Raposa, a medida cautelar concedida pela 1a. Vara Federal da

Seção Judiciária de Roraima e confirmada pelo TRF da 1a. Região (TRF1,

Agravo de Instrumento, processo N. 2004.01.00.010111-0/RR, Relatora

Desembargadora Selene Maria de Almeida) não comprovou a ameaça de perigo

ao patrimônio público, nem a alteração da situação de fato em disputa pela

instituição da Portaria MJ N.820. Na verdade, a concessão das liminares é que

alterou a situação atual da ocupação tradicional da terra e colocou em risco a

segurança e tranquilidade dos povos indígenas que habitam a área. O uso da

medida cautelar atentou, portanto, contra a função jursidicional na medida em

que tratou de questões do processo principal; modificou o direito dos povos

indígenas anteriormente reconhecidos; deixou de lado seu caráter subsidiário e

auxiliar; e alterou o equilíbrio inicial das partes38. Ao invés de analisar a38 Como o pedido de suspensão da portaria não era claro quanto aos limites das áreas excluídas,quando a liminar do TRF/1a. Região passou a ter efeitos, todo o processo de demarcação da

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pertinência ou não da ação cautelar pelos requisitos do periculum in mora e do

fumus boni juris, a decisão do TRF, repetindo a postura da 1a. Vara Federal da

Seção Judiciária de Roraima, extrapolou suas competências e tratou da matéria

principal definindo o que seria ou não terra indígena. Além disso, as referidas

decisões nos processos cautelares apresentaram forte conteúdo discriminatório

que atenta contra os povos indígenas e contra a Constituição Federal Brasileira.

Outro exemplo é o Mandado de Segurança impetrado em 1999 contra a

Portaria MJ N.820, que de fato paralisou a demarcação da terra indígena, sendo

extinto sem julgamento do mérito em 27 de novembro de 2002. Esta decisão foi

baseada no entendimento do Superior Tribunal de Justiça de que o mandado de

segurança não é a via apropriada para discutir o tema vez que: “não se afigura

possível discutir, nos augustos limites do mandado de segurança, matéria fática

sobre se as terras são ou não de posse indígena, o que, de plano, não ficou

demonstrado extreme de dúvida”39.

Em dezembro de 2003 o atual Ministro de Justiça, Marcio Thomaz

Bastos, anunciou a vontade do Executivo de finalizar a demarcação da terra

Raposa Serra do Sol no início de 2004. Este anúncio em favor da proteção dos

índios e suas terras por um lado trouxe esperança de conclusão da demarcação da

terra indígena, mas por outro acentuou o clima de tensão e os ataques violentos

contra os índios na região. No dia 04 de março de 2004, o juiz da 1ª Vara Federal

área foi suspenso. A terra indígena Raposa-Serra do Sol passou então a ser tratada como ‘terrabaldia’, aumentaram-se assim as expectativas de direitos sobre a terra por parte de ocupantesilegais e, além por isso mais invasões tomaram lugar.39 Mandado de Segurança N° 6.210, sentença: (…) 1. Nos termos do art. 231 da ConstituiçãoFederal, compete à União a demarcação das terras tradicionalmente ocupadas pelos índios,emcaráter originário e permanente. 2. Não se afigura possível discutir, nos augustos limites domandado de segurança, matéria fática sobre se as terras são ou não de posse indígena, o que, deplano, não ficou demonstrado extreme de dúvida. 3. A pretensão do Estado federado de seinsurgir contra a portaria ministerial em causa somente subsistiria de houvesse provadocumental e pré-constituída que comprovasse, de plano, a existência de liquidez e certeza dedireito subjetivo a ele pertencente, não evidenciando o alegado cerceamento de defesa nemeivas de ilegalidade susceptíveis de anularem o despacho ministerial questionado. 4. Processoextinto sem julgamento do mérito, ressalvando as vias ordinárias ao Impetrante.

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da Seção Judiciária de Roraima deferiu uma liminar em na ação popular40 que

suspendeu novamente, ainda que de forma parcial, os efeitos da Portaria n° 820.

A concessão de medida liminar foi fundamentada na alegada interferência

de fatos novos: a extinção do Mandado de Segurança supra citado, o anúncio

feito pelo Ministro da Justiça da iminente homologação da chamada Terra

Indígena Raposa Serra do Sol, e a reação de índios e não-índios contrários ao

prenúncio da concretização da forma de demarcação contínua contida na portaria

n° 820. A suspensão parcial dos efeitos da Portaria n° 820, que na prática

suspendeu todos os efeitos da medida administrativa, ofereceu aos invasores

novas oportunidades para legitimarem suas pretensões possessórias.

Tal suspensão da Portaria MJ não impedia a União de homologar o

procedimento, como não impediu outrora o extinto Mandado de Segurança.

Porém, constituiu mais um dos argumentos políticos utilizado para protelar a

finalização do processo demarcatório. Estas ações judiciais, ainda que não

estivessem baseadas em argumentos jurídicos válidos, tinham como objetivo

ganhar tempo para acelerar as ocupações por não-índios, o que responderia aos

interesses dos colonizadores da área, pois na medida em que a finalização do

procedimento se retardava, os municípios constituídos ilegalmente reforçavam

seu poder político, aumentando cada vez mais a tensão e o clima de violência,

intolerância e racismo no interior da terra indígena. Em julho de 2004 o juiz da

1ª. Vara Federal da Seção Judiciária de Roraima ordenou a saída dos índios da TI

Raposa Serra do Sol, reintegrando os fazendeiros na posse da terra demarcada.

A FUNAI, então, apresentou uma petição ao Supremo Tribunal Federal

no âmbito da Reclamação apresentada pelo Ministério Público Federal, e pediu o

sobrestamento das ações possessórias e a suspensão das medidas cautelares

proferidas na Ação Popular. O Tribunal acatou o pedido da FUNAI e em outubro

de 2004, afastou as liminares que suspendiam os efeitos da mesma e determinou

40 Ação Popular impetrada em 1999 por advogados roraimenses e litisconsortes os deputadosLuciano Castro (PL-RR) e Suely Campos (PP-RR), o senador Mozarildo Cavalcanti (PPS-RR)e o índio Caetano Raposo.

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a suspensão das ações possessórias. Ainda assim, o Juiz da 1ª. Vara Federal da

Seção Judiciária de Roraima seguiu insistentemente deferindo medidas liminares

que se opõem à demarcação da terra indígena, inclusive mantendo a ordem de

despejo da Comunidade Brilho do Sol da TI Raposa Serra do Sol.

Ficara então evidente o conflito político entre os entes federativos. Não

podia continuar sob a competência da Justiça Federal de Roraima o julgamento

das ações e a concessão de liminares contra a demarcação da terra indígena em

questão. A decisão do STF, que atrai para sua competência todas as ações que

dizem respeito à demarcação da TI Raposa Serra do Sol frente ao grave conflito

federativo, foi confirmada no julgamento da Reclamação 2833, 3331 e 3813 em

junho de 2006.

Paralelamente, corria uma reclamação frente à Comissão de Direitos

Humanos da Organização dos Estados Americanos - uma instância política e

diplomática de relevância regional e internacional – apresentada pelo Conselho

Indígena de Roraima e Rainforest Foundation, pedindo celeridade na demarcação

da terra indígena Raposa Serra do Sol como área contínua conforme identificada

no estudo de demarcação de 1993. A reclamação foi admitida, dando maior

visibilidade ao caso, e a Comissão de Direitos Humanos da OEA fez

recomendações41 ao Estado Brasileiro em 2004. Acredita-se que o desfecho

positivo do caso Raposa, por seu caráter fundamentalmente político, teve

influências das recomendações internacionais de direitos humanos. Apesar do

resultado positivo para os povos indígenas em questão, o ato político não conta

com a mesma força vinculante e exigível de uma lei. Portanto, não consolida um

sistema de proteção aos direitos indígenas em geral. Casos semelhantes vão

continuar dependendo de esforços políticos enquanto não for estabelecido um

41 1. Proteger a vida e a integridade pessoal dos membros dos Povos Indígenas Ingaricó,Macuxi, Patamona, Taurepang e Wapichana, respeitando sua identidade cultural e sua especialrelação com o território ancestral. 2. Assegurar que os beneficiários possam continuar a habitarsuas comunidades, sem nenhum tipo de agressão, coação ou ameaça. 3. Abster-se de restringirilegalmente o direito de livre circulação dos membros dos Povos Indígenas Ingaricõ, Macuxi,Patamona, Taurepang e Wapichana. 4. Investigar séria e exaustivamente os fatos quemotivaram o pedido de medidas cautelares.

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mecanismo jurídico-legal eficiente frente ao Judiciário e ao Executivo em favor

dos direitos dos índios a suas terras.

A demarcação da terra indígena Raposa Serra do Sol foi finalmente

concluída com sua homologação através do Decreto de 15 de abril de 2005, após

edição de uma nova Portaria do Ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos42. A

substituição administrativa da Portaria N.820/1998 pela Portaria N.534/2005

abriu ensejo para um posicionamento mais firme do STF em favor do

reconhecimento da terra Raposa-Serra do Sol como terra indígena. Com a

entrada em vigor da nova Portaria MJ N. 534/2005 e sua homologação em 15 de

abril de 2005, o STF finalmente apreciou as Reclamações do Ministério Público

Federal. O Órgão Supremo então decidiu pela extinção de todos os processos

concernentes à terra indígena Raposa Serra do Sol dada a perda de objeto, ou

seja, porque a Portaria No. 820 - fundamento da ação popular, das liminares e

das ações possessórias – deixava de existir.

No Decreto 1775/96 vigente, que regula o procedimento de demarcação

de terras indígenas, não há previsão para que o Ministro da Justiça ou o

Presidente da República altere a extensão da área identificada pelo estudo da

FUNAI como terra indígena. Ainda assim, no caso Raposa o peso político e o

desequilíbrio de amparo legal, no processo de demarcação da terra, modificou os

limites da Raposa Serra do Sol porque contou com uma nova Portaria Ministerial

que tentou conciliar alguns dos interesses em conflito sobre a área. Mesmo

existindo procedimento administrativo-legal de demarcação de terra, com

oportunidade de contraditório, a decisão política prevaleceu no caso Raposa.

Assim, a Portaria MJ N. 820 foi substituída pela Portaria No.534 a fim de

viabilizar a conclusão do processo de demarcação.

Cumpre destacar que a decisão política, apesar de efetiva para o caso

concreto, não devem substituir o devido processo legal. Especialmente no tocante

ao reconhecimento de terras indígenas, a situação é agravada porque os sistemas

42 Portaria MJ No. 534 de 13 de abril de 2005.

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administrativo, judiciário e legislativo brasileiros não garantem a participação

dos povos indígenas na defesa de seus direitos. Além disso, não existem

mecanismos eficazes de reclamação no âmbito interno contra discricionariedades

tais como: a demora da homologação: conteúdo da homologação presidencial; e

os efeitos constitutivos e não declaratórios definidos em processo político.

A homologação da terra indígena foi imprescindível para a garantia do

território para os povos indígenas da Raposa Serra do Sol. Contudo, devido ao

conflito social que se instaurou entre índios e fazendeiros e as inúmeras

ocupações de não-índios na área reconhecida como terra indígena, a segurança

territorial indígena ainda requer medidas administrativas de proteção. O

levantamento fundiário da região; a desocupação das terras por colonos e o

pagamento da indenização das benfeitorias de boa-fé; a desintrusão das terras,

especialmente o despejo das grandes fazendas de arroz que ameaçam a segurança

indígena; a garantia de ocupação exclusiva indígena das áreas demarcadas; o

desenvolvimento de políticas de fiscalização e utilização da terra e seus recursos;

entre outros, são medidas necessárias e urgentes para que de fato a proteção da

terra indígena possa ser verificada. Administrativamente o processo de

levantamento e pagamento de benfeitorias para a desintrusão da terra está prestes

a ser concluído, contudo pendem ações na Justiça Federal de Roraima (ex. Ação

de Reintegração de Posse, processo N. 2004.42.00.002115-0, liminar deferida em

29.12.1005 para reintegrar a empresa Itikawa na Fazenda Viseu), com liminares

que impedem a União de retirar todos os ocupantes ilegais da terra indígena,

notadamente os grandes plantadores de arroz, que exercem grande influência

política no estado. Uma eventual delonga na tomada de tais medidas pode

colocar em risco a segurança territorial dos povos indígenas da Raposa Serra do

Sol, mesmo após a demarcação presidencial.

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2. TI Ñande Ru Marangatu - Mato Grosso do Sul

A Terra Indígena Ñande Ru Marangatu é ocupada tradicionalmente por

grupos de índios Guarani Kaiowá do sul do Mato Grosso do Sul, área

extremamente visada pelos especuladores imobiliários para a expansão do

agronegócio, especialmente para a plantação de soja e criação de gado. O avanço

de fronteira agrícola na região foi demasiado impactante para as comunidades

indígenas que ali habitavam. Tanto que já em 1976 o Município de Antônio João

criava lei que doava lotes de terras para a Fundação Nacional do Índio instalar

um Posto Indígena. Tais lotes foram incorporados na demarcação da terra

indígena, a partir dos estudos de identificação e delimitação da terra que se

iniciaram em 1999 pela FUNAI.

O procedimento administrativo de identificação e delimitação da Terra

Indígena Ñande Ru Marangatu iniciou-se em 09 de abril de 1999, obedecendo

fielmente aos comandos constitucionais e infraconstitucionais, tendo inclusive os

particulares interessados na área em questão participado do procedimento

administrativo de demarcação de terras indígenas, indicando técnicos para

acompanhar os trabalhos da FUNAI e apresentando suas contestações no

processo administrativo N. 08620.001861/2000-28, como previsto no Decreto nº.

1.775, de 08 de janeiro de 1996.

Em 30 de outubro de 2002 o então Ministro da Justiça Paulo de Tarso

Ramos Ribeiro declarou a área de cerca de 9300 hectares como sendo de posse

permanente do grupo indígena Guarani Kaiowá da TI Ñande Ru Marangatu. Em

agosto de 2004 a FUNAI contratou empresa para realizar a demarcação física da

terra, atividade esta que se conclui em janeiro de 2005. O Presidente da

República Luiz Inácio Lula da Silva, em 28 de março de 2005, homologou a

demarcação administrativa da terra indígena, concluindo assim o ato

administrativo de demarcação.

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No entanto, foi ajuizada na 1ª. Instância da Justiça Federal em Ponta Porã

– MS, ação declaratória positiva de domínio (N. 2001.60.02.001924-8), com

pedido de anulação da demarcação havida em janeiro de 2005. Contudo, não

houve ordem jurisdicional que apeasse o procedimento administrativo

demarcatório. Assim, em observância aos princípios da oficialidade e da auto-

executoriedade dos atos administrativos, o órgão administrativo responsável

rematou o procedimento, sem, contudo, ofender o princípio da inafastabilidade

do controle judicial.

Contudo, contra o Decreto Presidencial que homologou a demarcação

administrativa da terra indígena Ñande Ru Marangatu, localizada no Município

de Antônio João no Mato Grosso do Sul, foi impetrado Mandado de Segurança

(STF – MS 25463/DF) por Pio Silva e outros com pedido de liminar para

suspender os efeitos do Decreto de Homologação da terra indígena, fundado no

perigo da demora e no dano irreparável dada a situação de insegurança e tensão

social na região, além de afirmarem que a medida não traria dano à

Administração. Os impetrantes alegam que as terras em questão não se

caracterizarem como indígenas; apontam invasões de terras por indígenas;

justificam aquisição legítima da terra reclamada; e exibem títulos de propriedade

conferidos pelo Estado membro. Com base no Voto do Ministro Carlos Velloso,

no MS 21896, ainda não julgado pelo STF sobre a Terra Indígena Jacaré de São

Domingos na Paraíba, sustentam os impetrantes que o Decreto do Presidente da

República violou os princípios da inafastabilidade do controle judicial por ser

anterior à conclusão da citada ação declaratória de domínio; do devido processo

legal durante o processo administrativo de demarcação; e que ofende seus títulos

de propriedade.

O então Presidente do STF, Ministro Nelson Jobim, analisando a ação

remetida àquele Tribunal, concedeu a medida cautelar fundamentando:

(STF – MS 25463/DF, Relator Min. CézarPeluso)

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Decido. Em exame prévio, verifico a relevância dosfundamentos do presente pedido. No julgamento do MS 21.986 foi examinado casosemelhante e o Relator concedeu a ordem nestestermos: ............................. O Min. Carlos Velloso, relator, concedeu, em parte, a

segurança para suspender a eficácia do decreto

homologatório até que decidida a ação ajuizada no Juízo

Federal da Paraíba. Esclareceu, inicialmente, que o

mandado de segurança impetrado perante o STJ, que

impugnara a referida Portaria, fora deferido, em parte, para

anular o seu item III, que proibia "o ingresso, o trânsito e a

permanência de pessoas ou grupos de não índios dentro do

perímetro ora especificado, ressalvada a presença e a ação

de autoridades federais bem como a de particulares

especialmente autorizados (...) O Min. Carlos Velloso,

relator, concedeu, em parte, a segurança para suspender a

eficácia do decreto homologatório até que decidida a ação

ajuizada no Juízo Federal da Paraíba. Esclareceu,

inicialmente, que o mandado de segurança impetrado

perante o STJ, que impugnara a referida Portaria, fora

deferido, em parte, para anular o seu item III, que proibia "o

ingresso, o trânsito e a permanência de pessoas ou grupos

de não índios dentro do perímetro ora especificado,

ressalvada a presença e a ação de autoridades federais bem

como a de particulares especialmente autorizados, desde que

sua atividade não seja nociva, inconveniente ou danosa à

vida, aos bens e ao processo de assistência aos indígenas",

ressalvando-se às impetrantes as vias ordinárias, o que

ocasionara o ajuizamento da mencionada ação de nulidade

de demarcatória cumulada com ação reivindicatória.

Observou, ainda, que o decreto presidencial divergiu da

portaria ministerial, uma vez que incide sobre área que a

desta. Com base nisso, e em razão de o ajuizamento da ação

na Justiça Federal ser anterior ao decreto homologatório,

concluiu que permitir a vigência deste implicaria ofensa ao

princípio da inafastabilidade do controle judicial sobre

qualquer ato que cause lesão ou ameaça a direito (CF, art.

5º, XXXV). ............................. (INFORMATIVO STF n.º 368) Como no precedente, no caso em análise existe umaação na Justiça Federal anterior ao DecretoPresidencial em que se discute o domínio das terras ea nulidade do processo administrativo de demarcação. Ademais, presente o perigo da demoraconsubstanciado na possibilidade dos índioscomeçarem a ocupar as terras objeto do Decreto comojá ocorreu nas invasões relatadas nos boletins deocorrências juntados aos autos.

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Ante o exposto, defiro a liminar nos termos em querequerida.

Brasília, 21 de julho de 2005.

Ministro NELSON JOBIM Presidente

O entendimento esposado pelo Min. CARLOS VELLOSO - de que

enquanto em análise ação na Justiça Federal que discute o domínio de terras e a

nulidade do processo administrativo de demarcação, o decreto homologatório

implicaria em ofensa ao princípio da inafastabilidade do controle judicial - apesar

de amplamente usado como fundamentação da impetração e da liminar expedida

deste processo, está por ora sendo derrotado no julgamento do Mandado de

Segurança n. 21.896/PB e não deve prevalecer porque desconstituiria o

mandamento constitucional do artigo 231 que define o dever do Estado de

demarcar administrativamente as terras indígenas.

Note-se ainda que os requisitos para a concessão da medida cautelar

mostram-se frágeis já que em verdade, os autores pretendiam com o mandamus

procurar no Supremo Tribunal Federal ordem judicial contrária ao

reconhecimento da Terra Indígena Ñande Ru Marangatu não obtida no Juízo

Federal de Ponta Porã, no Tribunal Regional Federal da 3ª Região e no Superior

Tribunal de Justiça. Isso porque a homologação da demarcação da terra indígena,

sem o registro em cartório, não atentaria contra o direito de propriedade em

discussão em ação na primeira instância.

Ainda menos plausível seria o alegado perigo da demora da prestação

jurisdicional e no dano irreparável para os ocupantes não indígenas. Isso porque

os índios Guarani-Kaiowá, instalados desde tempos imemoriais nas

proximidades da terra indígena demarcada, não constituíam ameaça aos

particulares das grandes propriedades insertas na terra indígena. Quanto à

situação de insegurança e tensão social na região, essa existia e ainda persiste,

porém contra os indígenas da região que são constantemente ameaçados e

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expostos a situações de violência43. Por fim, a justificativa de que a concessão da

medida liminar não traria dano à Administração é inverídica e insuficiente. A

atual situação dos índios, centenas de mulheres e crianças que hoje acampam na

beira de estrada próxima à TI, expulsos de suas terras reconhecidas e demarcadas

é vexatória para o Estado brasileiro e um atentado ao interesse público.

A concessão da medida cautelar no presente MS 25.463/ MS deferida

pelo Exmo. Presidente do Supremo Tribunal Federal, baseada no resultado

parcial do julgamento do MS 21.896/PB, provocou a retirada de cerca de 700

pessoas de suas terras no dia 15 de dezembro de 2005, a partir da revisão da

suspensão de segurança da ordem de reintegração de posse pelo TRF 3ª. Região.

A decisão judicial no âmbito superior, na prática, antecipou os efeitos almejados

pelos impetrantes na ação postulada na 1ª. Instância da Justiça Federal. A

concessão da liminar modificou o objeto da ação declaratória positiva de

domínio (N. 2001.60.02.001924-8), antes de seu julgamento. Tal medida gerou

grande repercussão social dada à situação de insegurança e vulnerabilidade que

se colocaram centenas de famílias indígenas, e trouxe clima de revolta contra o

Poder Judiciário, agravando a situação fundiária relacionada aos povos indígenas

na região.

Numa região como a do Mato Grosso do Sul, onde já é tão difícil fazer-se

reconhecer o direito coletivo indígena à sua terra tradicional dada às

características históricas de ocupação colonizadora da terra e de discriminação

43 Os Guranis-Kaiowá no Mato Grosso do Sul são constantemente expulsos de seu território;impedidos de circular além da estrada que ocupam, de colher sua plantação ainda que lhes faltecomida, e de receber seus parentes vindos de outras terras; são ameaçados e mortos. DorvalinoRocha, indígena, morto pelo segurança das fazendas insertas na TI Ñande Ru Marangatu, JoãoCarlos Jimenes Brites, no dia 24 de dezembro de 2005 quando voltava da colheita da mandiocaplantada meses antes do despejo (o inquérito da Polícia Federal indiciou o segurança,contratado pelos ora impetrantes, por homicídio doloso). No dia 22 de janeiro de 2005 foiregistrado Boletim de Ocorrência denunciando novo atentado contra a integridade física dasfamílias desalojadas da terra Ñande Ru Marangatu, tratava-se de carro identificado pelasvítimas como de propriedade da família dos impetrantes do MS 25463, que rondou pelaacampamento durante a madrugada, acentuando o clima de insegurança e terminando poratropelar e destruir pertences dos indígenas e uma caixa d’água instalada pela FUNAI para oabastecimento de água potável.

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contra as comunidades indígenas, uma decisão como a do Ministro Nelson Jobim

em favor de interesses privados – contrariando o interesse público e o

reconhecimento daquele direito indígena pelo Poder Executivo - coloca em risco

a legitimidade do sistema jurídico brasileiro, sua imparcialidade e justiça.

O referido Mandado de Segurança 25.463 aguarda julgamento pelo STF e

encontra-se sob a relatoria do Ministro Cezar Peluso. A celeridade da prestação

judicial nesse caso faz-se urgente sob o risco do caso ver dizimada a comunidade

indígena em questão e enfraquecido o direito dos índios às suas terras

tradicionais. As famílias Guarani Kaiowá permanecem na estrada.

3. TI Baú - Pará

A Terra Indígena Baú, situada ao sul do Pará, foi demarcada em

22.06.2004 pela FUNAI, atendendo à Portaria MJ 1487/2003 que declarou uma

área de cerca de 1.543.460 hectares como sendo de ocupação tradicional dos

índios Kayapó. Essa última identificação, feita a partir de um termo de

conciliação e ajuste de conduta, suprimiu uma área de cerca de 300.000 hectares

a oeste do rio Cururá. Essa porção territorial agora excluída, em 1991, havia sido

reconhecida como parte integrante da terra indígena Baú pelo estudo

antropológico da FUNAI. A controvérsia acerca dos limites da terra indígena

ensejou reclamações administrativas e judiciais propostas pelo Município de

Novo Progresso e outros (Ação Civil Pública n. 2003.39.02.001056-7 da 1ª. Vara

Federal de Santarém/PA; Ação Civil Pública n. 2004.34.00.00.011776-6 da 22ª.

Vara Federal do DF), e também uma ação civil pública proposta pelo Ministério

Público Federal contra a União e a FUNAI, na Justiça Federal em razão da

última Portaria que demarca a terra indígena; também foram impetrados

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mandados de segurança no STJ e pedidos de liminares contra o ato do Ministro

de Estado da Justiça. No âmbito administrativo, a alteração dos limites

territoriais e as divergências de entendimento dos diversos Ministros da Justiça

que passaram pelo governo nos últimos 15 anos provocaram a edição de três

portarias ministeriais e dois despachos acerca do mesmo assunto, sem contudo

finalizar a demarcação da terra. Esse impasse permanece em aberto visto que a

Terra Indígena Baú ainda não foi homologada pelo Presidente da República.

De acordo com a informação 053/CGID/FUNAI:

“No início do século passado, entre os anos e 1905 e

1910, ocorreu a cisão dos Kayapó que localizavam-se em Pukatôti,

considerada a aldeia ancestral do grupo. Cerca de 250 índios

migraram para a região oeste do Xingu, formando o subgrupo

Mebengôkré, que havia se juntado aos Menkrangnotí em 1936,

migrou para o norte, na região entre os rios Iriri e Curuá,

expulsando os indígenas Kuruáya e Xipáya que ali viviam e se

fixando no território hoje denominado por Terra Indígena Baú.

Entre 1952 e 1984, oito estudos foram realizados

visando a identificação e delimitação dessa terra, até que em 1990,

um novo grupo técnico definiu a superfície de 1.850.000 hectares,

que foram declarados pelo Ministro da Justiça em 1991, através da

Portaria n. 645/MJ/91, de 24/12/91.”

Em dezembro de 1991, portanto, foi publicada a Portaria 645/91 assinada

pelo então Ministro da Justiça Jarbas Passarinho, que primeiro declarou a terra

indígena Baú como abrangendo uma extensão territorial de cerca de 1.800.000

hectares. O Município de Novo Progresso, localizado próximo à terra indígena

Baú, alegou que a área declarada para demarcação pertencia à administração

daquele município e solicitou a revisão dos limites apresentados. Atendendo a tal

reclamação, em 1997, o seguinte Ministro da Justiça, Nelson Jobim, determinou

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(Despacho 19/97) o refazimento da linha divisória a oeste da terra indígena Baú,

e justificou sua decisão de mandar suprimir aquela faixa territorial no novo

procedimento administrativo de demarcação de terra indígena estabelecido no

Decreto 1775/96.

Em abril de 1998, Renan Calheiros assumiu o cargo de Ministro da

Justiça, e a FUNAI reafirmou a extensão de 1.800.000 hectares que

compreendem a terra indígena Baú, pedindo a reconsideração da decisão do

Ministro Nelson Jobim. Em 12 de dezembro desse mesmo ano o Ministro

expediu a Portaria 826/98 que tornou insubsistente o refazimento dos limites da

terra indígena Baú conforme estabelecia o Despacho Ministerial 18/97. Foi então

declarada a terra indígena Baú nos termos da Portaria 645/91. A publicação dessa

nova Portaria deu margem ao questionamento do procedimento de demarcação

por parte do Município de Novo Progresso e de particulares interessados na área,

através dos Mandados de Segurança 6.279, 6.280 e 7.129 impetrados no Colendo

STJ. Os dois primeiros mandados de segurança pediam a nulidade dos atos

administrativos praticados a partir do despacho ministerial de 18/97 e foram

concedidos com o fundamento de que a portaria 826/98 que demarcava a terra

indígena Baú não estava suficientemente fundamentada no artigo 231 da

Constituição, e que feria os princípios da ampla defesa e do contraditório.

O Ministro Garcia Vieira, relator no MS 6.280/DF, manifestou-se em

voto vencido pela impropriedade da via mandamental para reconhecer as

ocupações precárias de particulares das terras da União tradicionalmente

ocupadas por índios Kayapós:

(STJ– MS 6.280/DF, Voto Vencido do Min. Relator Garcia

Vieira)

“Os impetrantes não têm legitimidade para pedir adeclaração de nulidade da Portaria n. 826/98 quedeclarou de posse permanente a extensa área de1.850.000 hectares, situada em vários Municípios. Nãojuntaram eles nenhuma prova de posse ou propriedadena referida área. (...)

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Para constatar se os impetrantes são posseiros ouproprietários de terras em área declarada de possepermanente dos índios, seria necessária a realizaçãode prova pericial, mas no mandado de segurança nãose admite a dilação probatória. (...)Mas também no mérito não têm razão os impetrantes.Pretendem eles seja decretada a nulidade de todos osatos administrativos praticados após o DespachoMinisterial 18/97, e da Portaria 826/98. Os impetrantesnem sequer esclarecem quais seriam esses atos e nãodemonstram a nulidade de nenhum deles. Não restoucomprovada a desobediência do princípio docontraditório e da ampla defesa. (...)”

Mas prevaleceu o entendimento de que deve prevalecer a ocupação do

Minicípio ao invés da terra indígena sob o argumento de que a Portaria

Ministerial 826/98 que declarou a Terra Indígena Baú como de posse permanente

dos indígenas é nula por não atender aos requisitos do artigo 231 da constituição

e por não assegurar os princípios da ampla defesa e do contraditório:

(STJ– MS 6.280/DF, Voto-Vista do Min. Francisco Peçanha Martins)

“Presidente, trata-se de questão de terras indígenassituadas nas áreas de expansão de Municípios. Tenhomanifestado simpatia à defesa dos índios, mas osconsidero integrados à sociedade brasileira. Na posso,protegendo-os, desmerecer as outras etnias queconvivem sob o guarda-chuva da nacionalidade queforjamos a partir da diversidade das raças. E aproteção aos índios não pode ser levada ao ponto deprejudicar a própria sociedade no que diz respeito, porexemplo, à limitação da ampliação das cidades, dassedes municipais. Assim pensando, tenho sempre procurado assegurar odireito de defesa a esses Municípios, razão por que,neste caso, repito o voto que proferi, acompanhando oSr Ministro José Delgado, no Mandado de Segurançan° 6279, no qual V.Exa. acentua seria de assegurar-seao Município a contrariedade no âmbito administrativo. (...)No Mandado de Segurança n° 6279, o Ministro JoséDelgado concedeu a segurança para determinar anulidade da Portaria e dos atos administrativospraticados a partir do Despacho Ministerial n° 18/96,nos termos em que formulado o pedido inicial. Reitero o meu ponto de vista neste caso, divergindo epedindo vênia ao eminente Ministro Relator para,acompanhando essa orientação, determinar a nulidadeda Portaria. Concedo a ordem.

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Concedida a segurança e portanto determinada a nulidade da Portaria

826/98, a União apresentou Embargos de Declaração no MS 6.280, rejeitados

pelo Ministro Relator Peçanha Martins com o seguinte fundamento:

(STJ– EDcl no MS 6.280/DF, Voto Min. Francisco Peçanha

Martins)

“Os embargos declaratórios não constituem meiopróprio para solucionar eventual contradição entre oacórdão e preceito constitucional referente aomandado de segurança. (...)Cumpre observar que o mandado de segurançaobjetivava, exclusivamente, a decretação da nulidadeda Portaria MJ-826/98, que não se encontravadevidamente fundamentada nem atendia aospressupostos do art. 231, parág. 1º., da CF, por issoque deferia a ordem sem questionamento sobre se aárea “Baú” era, ou não, de posse permanente indígena.(...)Demais disso, o voto-vencedor encontra-se fundadoem precedente da Eg. 1ª. Seção no MS 6.279, da lavrado Min. José Delgado, versando a mesma área de“Baú”, no qual foi deferida a segurança declarando anulidade da portaria em questão e nos atos praticadosa partir do Despacho ministerial 18/96, não havendoassim qualquer omissão no acórdão.Por tais motivos, rejeito os embargos.”

Ocorre que o referido MS 6.279 foi impetrado pelo Município de Novo

Progresso e não por particulares ocupantes da área, ainda assim, em ambos os

casos não fora comprovado o direito líquido e certo dos impetrantes quanto à

posse e propriedade da área reclamada. A violação do princípio do contraditório

e da ampla defesa é citada como causa para o deferimento dos Mandados de

Segurança porém não resta comprovada. O Colendo STJ acolhe então a tese de

que a fração a oeste da terra indígena Baú não constituiria terra de ocupação

tradicional indígena nos termos do artigo 231 da Constituição porque o então

Ministro da Justiça Nelson Jobim havia mandado refazer a identificação e

delimitação menor da terra indígena em seu despacho Ministerial 18/97.

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O STJ por conseguinte declarou nula a portaria 826/98 mas não se

pronunciou quanto à validade da portaria anterior.

Diante da pressão dos índios Kayapó para a demarcação de suas terras44, o

Ministro José Gregori assinou o Despacho 60/2000, determinando a demarcação

da terra indígena Baú de acordo com os limites estabelecidos pela Portaria N.

645/91 (reconhecendo cerca de 1.800.000 hectares como sendo terra indígena),

considerada válida já que não havia sido expressamente revogada pelo Ministro

Renan Calheiros, nem anulada pelo STJ. O Município de Novo Progresso, sob a

alegação de que a fração territorial a oeste da terra indígena incidia sobre

perímetro municipal, impetrou o Mandado de Segurança 7.129 junto ao STJ.

Primeiramente o STJ concedeu liminar para suspender os efeitos da demarcação

da terra indígena Baú. Porém, num segundo momento, o Colendo Superior

Tribunal aceitou as alegações da AGU no sentido de que faltava legitimidade ao

município de Novo Progresso para contestar os limites da TI Baú, visto que

aquele não detinha direito de posse ou propriedade da área. O STJ cassou a

liminar e extinguiu o referido MS 7.129 sem julgamento do mérito.

Também na Justiça Federal, em Ação Civil Pública (Processo n.

2003.39.02.001056-7 Subseção Judiciária de Santarém/PA) impetrada pelo

Município de Novo Progresso, Sindicato dos Produtores Rurais de Novo

Progresso e Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Novo Progresso, com pedido

de liminar objetivando a suspensão do processo demarcatório da terra indígena

Baú conforme determinado pela Portaria 645/91 decidiu o Juiz Federal:

“(...) Pelo que consta dos autos, examinando a matérialitigiosa trazida a julgamento, verifico que o casopresente é daqueles onde a ocorrência de fatoresdiversos acabam por jurisdicionalizar questõespolíticas. Parece, pelos fundamentos da peça inicial edocumentos colacionados, que pequena dose de boa-

44 Em julho de 2000 16 pescadores entraram na terra indígena Baú e foram retidos pelos índiosKayapó. A condição para liberar os pescadores foi a demarcação da terra indígena Baú.Durante quase uma semana os pescadores permaneceram detidos até que em 4 de agosto de2000 o ministro da Justiça José Gregori assinou o despacho nº. 60, determinando a imediatademarcação da área.

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vontade e lucidez política do poder público envolvidopoderia evitar o desgaste e confronto das populaçõesameaçadas.Trazida a questão a Juízo, no entanto, passo aexaminá-la à luz do Direito aplicável.(...) Não sobeja nenhuma dúvida que as terrastradicionalmente ocupadas pelas comunidadesindígenas devem ser mantidas e protegidas, sendoinalienáveis e indisponíveis e os direitos sobre elasimprescritíveis, segundo termos da ConstituiçãoFederal (art.231).Agora, para garantir esse direito ao povo indígena nãose pode, em absoluto, de modo aleatório e semgarantia de total segurança nos procedimentosadministrativos encetados, violar outros direitos emjogo, especialmente quando também protegidos emsede constitucional.No caso presente, pelo que consta da peça inicial, olaudo que embasou a decisão administrativa nãopossui precisão objetiva, especialmente em razão daenorme proporção da área tratada. Aliás, a corroborartal assertiva, verifica-se da documentação trazida queo procedimento administrativo demarcatório tem cursotumultuado desde 1991 (...)Assim, de fato não podem prosseguir os trabalhosdemarcatórios da Reserva Indígena Baú, no ladooeste, enquanto não se proceder a novoslevantamentos antropológicos de modo objetivo,observadas as formalidades legais aplicáveis.Isto posto, decido DEFERIR o pedido de liminar nostermos em que requerido pelos peticionários, paradeterminar ao Chefe da equipe e servidoresresponsáveis pela demarcação da Reserva IndígenaBaú que se abstenham de realizar os trabalhos naparte oeste da reserva, sem prejuízo, no entanto, doprosseguimento do mister nas outras laterais da terra ademarcar.(...)”

A lide no judiciário transformou-se em obstáculo adicional para a

demarcação da terra indígena Baú que já encontrava barreiras nas contestações

administrativas. A indefinição sobre a validade da portaria ministerial que

declarava os limites da terra indígena e a disputa pela inclusão ou exclusão do

trecho oeste da referida área impediram a conclusão da demarcação.

Em 2003 foi assinado um Termo de Conciliação e Ajuste de Conduta

entre representantes indígenas, FUNAI, MPF, Município Novo Progresso e

representantes dos Sindicatos de Produtores Rurais que reclamavam pela área. A

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partir da Informação 053/CGID/FUNAI, de 01.10.2003, que aponta grave

situação de conflito fundiário e sugere a alteração dos limites da terra indígena

suprimindo a cerca de 300.000 hectares da área identificada, em 1991, como

Terra Indígena Baú para que se proceda à demarcação da terra, elaborou-se a

proposta de redução da área. Os novos limites propostos para a porção oeste da

terra identificada garantiriam a preservação da mata ciliar das duas margens do

rio Curuá e um corredor de trânsito para os índios Kayapó que necessitam desse

rio para sua sobrevivência e permanência. Mesmo sendo substancialmente menor

do que a área inicialmente identificada, a proposta de redução de terras mediante

pagamento benfeitorias aos índios, foi trazida à FUNAI pelos próprios índios.

Em 08.10.2003 o Ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos assinou a Portaria

MJ 1487/2003 declarando de posse permanente dos índios a superfície

aproximada de 1.543.460 hectares e perímetro de 699km, terra indígena Baú. Em

22.06.2004 a FUNAI demarcou a área e desde 30.06.2004 aguarda sua

homologação pelo Presidente da República.

O Ministério Público Federal impetrou Ação Civil Pública n.

2005.39.02.000859-9, na Subseção Judiciária de Santarém-PA, contra a União e

a FUNAI com pedido liminar de suspensão da Portaria MJ 1487/2003. Esta

última portaria que excluiu 347.000 hectares da área identificada como terra

indígena no laudo antropológico que embasou a primeira Portaria MJ 645/1991.

Apesar de conhecer previamente o Termo de Conciliação e Ajuste de Conduta

que excluiu a faixa territorial reclamada, o MPF alegou que tal termo fora

elaborado em razão da oposição de posseiros e fazendeiros locais ao

reconhecimento da ocupação tradicional indígena conforme determinava a

Portaria MJ 645/1991. A alteração dos limites da terra indígena Baú - supressão

dos trezentos e quarenta e sete mil hectares - sem embasamento em estudo ou

levantamento antropológico que indicasse não se tratar de área de ocupação

tradicional indígena, de acordo com o artigo 231 da Constituição, levou à

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publicação da Portaria MJ 1487/2003, que o Ministério Público Federal alegou

ser inconstitucional.

O Juízo da Subseção Judiciária de Santarém indeferiu o pedido de liminar

para suspender os efeitos da Portaria 1.487/2003 bem como o pedido de

concessão de tutela específica para obrigar a FUNAI a dar início em prazo certo

à demarcação física da terra indígena Baú. O MPF agravou da decisão (Agravo

de Instrumento n. 2006.01.00.009544-2/PA) e o Tribunal Regional Federal da 1ª.

Região decidiu pelo improvimento do agravo, mantendo a decisão de primeira

instância:

(TRF1 - Ag. Instrumento n. 2006.01.00.009544-2/PA, Relator

Desembargador Federal João Batista Moreira)

“(...)A decisão agravada está bem fundamentada em que:a) “o TAC foi celebrado pelo próprio MPF deSantarém”; b) “o MPF, na presente ação, nãodemonstra descontinuidade territorial (até porque elanão existe), não demonstra vulneração da populaçãoindígena (talvez porque a área menos grande já sejaela mesma enorme) e não demonstra em que estafaixa adicional de terra, com divisas secas, seriafundamental para este povo situado além do rio”; c)“impossível não reconhecer que há um conflito devalores nesta matéria. Populações agricultoras de umlado e povos indígenas necessitando de grandesextensões de terras de outro”; d) “esta colisão devalores juridicizados deve ser vista através das noçõesde necessidade, adequação e proporcionalidade emsentido estrito”; e) “ o Ministro não está vinculado aoparecer antropológico. Como agente políticoprincipalmente, ele deve atentar para todas asquestões envolvendo o interesse público. O laudonão é uma sentença, nem uma portaria. É uma peçainformativa. É parecer obrigatório mas nãovinculante”.Após a edição da Portaria MJ/645/91 foramapresentadas várias contestações, contra o processode demarcação da área indígena, impugnando oslimites estabelecidos. Com a elaboração do Termo deAjuste de Conduta, a própria FUNAI sugeriu aalteração dos limites da área, o que foi acolhido peloMinistro da Justiça.” (grifei)

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O processo retornou em 2006 à FUNAI, com parecer do Ministério da

Justiça, para a juntada aos autos administrativos de laudo antropológico com a

justificativa da redução da extensão territorial primeiro identificada. Isso porque

a decisão pela demarcação de terras indígenas deve ser fundamentada no artigo

231 da Constituição Federal, respaldada pelo Estatuto do Índio e em

conformidade com os procedimentos estabelecidos no Decreto 1775/96. O

dispositivo constitucional determina que as terras indígenas são de propriedade

da União e compreendem as áreas tradicionalmente ocupadas pelos povos

indígenas, necessárias e imprescindíveis para a sua sobrevivência e reprodução

física e cultural. As áreas identificadas como terras indígenas não poderiam

comportar redução de área a não ser de acordo com o artigo constitucional que

determina a tradicionalidade da terra, a ser constatada em laudo antropológico.

Ademais, é incabível a alienação de terras da União por parte das comunidades

indígenas, conforme determina o Termo de Conciliação e Ajuste de Conduta.

Ainda que com o conhecimento, consentimento e iniciativa dos índios para abrir

mão da referida faixa territorial para garantir a demarcação da parcela principal

da terra indígena Baú, a homologação presidencial requer fundamentação de

acordo com o Decreto 1775/96 que exige estudo antropológico de

fundamentação da demarcação.

A situação de conflito e tumulto, a falta de segurança na região, a pressão

do Município interessado ou dos ocupantes não indígenas, e o argumento de

“muita terra” não servem de embasamento legal para a redução dos limites da

terra indígena identificada. Dita o Decreto 1775/96 que a análise e aprovação ou

reprovação da identificação da terra indígena pelo Ministro da Justiça serão

fundamentadas e circunscritas ao atendimento ou não-atendimento,

respectivamente, do disposto no parágrafo 1º. do artigo 231 da Constituição. Isso

significa que identificada a ocupação tradicional indígena, a habitação de caráter

permanente, ou a utilização para as atividades produtivas, e imprescindíveis para

a preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e reprodução

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física e cultural segundo seus usos, costumes e tradições, a terra é indígena.

Sendo terra indígena, o usufruto é exclusivo dos povos indígenas, além de tratar-

se de área inalienável, indisponível e os direitos sobre elas imprescritíveis.

Certamente a decisão do Ministro da Justiça, na sua competência para

verificar a prevalência do interesse social, comporta análise dos argumentos

fáticos e políticos que dizem respeito à terra indígena, apesar de estar restrito aos

dispositivos legais. No caso Baú, aparentemente, a concessão de uma faixa

territorial não implicaria grandes impactos ambientais (está garantida a mata

ciliar do principal rio que abastecesse a terra indígena) nem modificaria a forma

de ocupação tradicional indígena da terra (dada a situação tensa de iminentes

conflitos os índios já não ocupam tal faixa territorial como antes), e tem sido

proposta como indicativo de que a demarcação do restante da área pudesse ser

garantida. Assim como existe a possibilidade da revisão para aumentar os limites

da terra indígena identificada, há que se considerar a possibilidade de revisar os

limites da terra indígena no tocante às áreas explicitamente declaradas pelas

comunidades indígenas como áreas de não-utilização indígena. Porém, a

demarcação pelo limite menor só poderá ser aceita mediante laudo antropológico

que indique a prevalência dos requisitos do artigo 231 da Constituição que

caracterizam a terra indígena, nesse caso, tratar-se-ia de reconhecer uma terra

indígena tradicional de menor extensão territorial e não uma terra indígena com

parcela territorial disponível. Isso porque a disponibilidade de tais áreas é vedada

pela Constituição com o intuito de proteger as comunidades indígenas das

pressões econômicas e sociais que venham eventualmente a sofrer em

decorrência da especulação imobiliária das terras indígenas por particulares.

Entendeu o constituinte pela necessidade de se proteger o território para

preservar e desenvolver as sociedades culturalmente diferentes. Dessarte também

não pode o Governo disponibilizar ou negociar terras indígenas com Estados,

Municípios e particulares. Nos casos de conflito agrário, ou de ameaça de

conflito e violência, urgem alternativas de segurança e não deixar que pressões

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exacerbadas da sociedade envolvente contra os índios sirvam de justificativa para

a restrição de gozo dos direitos indígenas.

Uma vez mais a segurança das terras indígenas é colocada em jogo pela

falta de conclusão da demarcação administrativa. Essa delonga na conclusão do

ato administrativo por sua vez resulta no impacto das decisões judiciais, ainda

que liminares, e na possibilidade de novas ações judiciais contra o ato do

Ministro da Justiça e do Presidente da República. Porém, a morosidade da

demarcação e da proteção efetiva da terra indígena não pode dar causa à privação

de gozo do direito dos índios às suas terras tradicionais. Conceder terras

declaradas indígenas a terceiros constitui atentado ao dispositivo constitucional e

portanto qualquer termo de acordo torna-se inválido perante a legislação em

vigor. Some-se tal feito ao fato de que as terras indígenas são inalienáveis e

resguardadas para o usufruto exclusivo dos povos indígenas que a habitam (§1º.

Artigo 231 CF). Os índios podem acordar entre si para absterem-se de utilizar

determinada parte da terra indígena, ou simplesmente decidir não mais ocupar

determinada área - seja para evitar conflitos, seja porque a área já foi degradada

ou qualquer outro motivo – contudo, tal opção não desqualifica a área como terra

indígena, de propriedade da União e permanece vedada a utilização por

ocupantes não-indígenas.

D – CONCLUSÕES

O presente estudo de legislação e jurisprudência sobre terras indígenas

mostra que os avanços da política indigenista brasileira em prol da defesa dos

direitos indígenas territoriais nem sempre encontra suporte nos tribunais

nacionais. Se por vezes as decisões judiciais fazem valer a garantia do direito dos

índios como previsto na Constituição e exigem a atuação da esfera

administrativa, outras vezes elas acentuam o conflito dos valores culturais que se

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coloca em jogo. A predominância do pensamento etnocentrista ocidental, que

trata os índios e suas comunidades portadores de direitos porém com

desigualdade, ainda cria obstáculos para a efetivação do dispositivo

constitucional do artigo 231 e para a própria realização das políticas públicas

indígenas. O Estado brasileiro, composto pelas três esferas de poderes, ainda não

alcançou um grau satisfatório e coerente de respeito e proteção do direito

coletivo dos índios às suas terras tradicionais.

O tocante às leis, se é certo que a lei maior define com clareza o que é

terra indígena e o dever de proteção estatal da mesma, ainda há carência de

legislação que regule e determine a fiscalização das terras indígenas e seu uso.

Cumpre mencionar ainda os projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional

para limitar a extensão de terras indígenas no país e transferir a competência de

demarcação de áreas para o legislativo. No atual contexto político tal iniciativa

constituiriam grave ameaça à segurança dos direitos indígenas já que o país

carece de representantes indígenas que possam enfretar a predominante bancada

ruralista no Congresso Nacional. Na esfera do poder judiciário encontramos

muitas decisões de caráter exclusivamente proccessual, e uma certa falta de

uniformidade das decisões. O mérito das disputas é raramente atacado pelo

julgador competente por razões políticas e técnicas, mas interfere nas ações da

administração. Isso porque, na esfera administrativa, as dificuldades de

implementar as políticas de acordo com o preceito constitucional levam o

governo à quase-inércia diante dos obstáculos jurídicos postos, ou forçam a

negociação de terras indígenas com terceiros interessados.

Os casos de sucesso de demarcação de terras indígenas sem grandes

empecilhos judiciais, que obstacularizariam a conclusão da demarcação de terras;

e sem confrontos políticos exagerados, que impediriam o reconhecimento de

terras indígensa, concentram-se nos casos da região da Amazônia Legal

brasileira. Isso porque essa região teve o seu processo maior de colonização

somente a partir da Constituição de 1988 já acompanhada por uma mobilização

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social de preservação da vida indígena e da floresta. A satisfatória garantia de

segurança e fiscalização dos limites da terra indígena encontram portanto

respaldo no reconhecimento da terra indígena, na finalização da demarcação

administrativa da área reconhecida e da isenção de infindáveis disputas judiciais

sobre as terras. Contudo, novas ameaças voltam a surgir a partir da expansão das

fronteiras agrícolas de monocultura do sudeste, centro-oeste e norte do país. Nas

regiões sul e sudeste do país, devido ao alto grau de ocupação das áreas e à

qualidade das terras para cultivo de monocultura e agricultura de larga escala, a

disputa por terras é mais intensa e os impactos nas comunidades indígenas

afetadas é imediato.

A segunda parte do presente relatório apresenta o levantamento de

Jurisprudência sobre terras indígenas no Supremo Tribunal Federal, Superior

Tribunal de Justiça e nos Tribunais Regionais Federais das cinco regiões do país.

Para tanto, coletei 290 ementas dos tribunais regionais federais, 64 acórdãos do

Supremo Tribunal Federal e 60 acórdãos do Superior Tribunal de Justiça,

organizando uma mostra significativa da jurisprudência brasileira sobre terras

indígenas que poderá ser aproveitada para divulgação no futuro site da Fundação

Nacional do Índio. Também foram consultados as Procuradorias Federais

Especializados da FUNAI que atuam nos estados brasileiros, e apenas seis delas

remeteram informações sobre as ações de terras indígenas atualmente sob sua

responsabilidade.

A publicidade da situação administrativa das terras indígenas no Brasil,

bem como a publicidade e conhecimento dos casos judiciais que envolvem as

terras indígenas têm contribuído para a mobilização e pressão política por parte

dos índigenas, suas organizações e outros setores da sociedade civil organizada, e

da comunidade internacional em prol da demarcação e fiscalização das terras

indígenas como forma de proteção dos povos indígenas e suas culturas. Tal

monitoramento serve como contra-balanço à histórica predominância dos

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interesses da sociedade dominante sobre as culturas indígenas, que

tradicionalmente conta com o respaldo dos sistemas jurídicos e políticos.

A Fundação Nacional do Índio já conta com o STI, um sistema de banco

de dados com informações sobre as terras indígenas e sua situação administrativa

no tocante à demarcação. A disponibilização de tais dados é de grande

importância para a FUNAI porque serve de balanço dos trabalhos de demarcação

de terras indígenas pelo governo brasileiro. É também fundamental para o

monitoramento das ações governamentais de demarcação de terras indígenas pela

sociedade civil. Trata-se de informação pública de fundamental relevância para a

construção mais fiel do cenário indigenista brasileiro. Divulgar quantas são as

terras indígenas, onde se encontram, qual sua extensão, quem são seus

habitantes, etc. contribui para a proteção de tais áreas á medida que esclarece os

limites territoriais especialmente protegidos à população brasileira em geral e aos

próprios índios.

Sugiro a adição de informações sobre a situação jurídica das terras

indígenas administrativamente identificadas45 no referido banco de dados sobre

demarcação de terras indígenas (STI/FUNAI). A combinação das informações é

imprescindível para a compreensão do panorama maior que se encontra inserida

a questão da demarcação das terras indígenas, de modo que as reivindicações por

segurança das terras não se restrinjam ou recaiam unilateralmete sobre o poder

executivo, ou exclusivamente sobre a FUNAI, uma vez que muitos dos

procedimentos administrativos são interrompidos por decisões judiciais e

políticas no âmbito do Ministério da Justiça e dos Tribunais Superiores. O Poder

Judiciário cumpre um papel relevante na garantia do direito dos índios às suas

terras e não deve ser colocado à parte na discussão. Os casos escolhidos para

análise mostram com propriedade a interface entre os poderes legislativo,

executivo e judiciário na questão da disputa por terras identificadas como terras

indígenas. Assim, o acompanhamento das ações judiciais sobre terras indígenas45 Modelo dede ficha para banco de dados sobre ações judiciais de terras indígenas integrado aosistema STI/FUNAI, ANEXO I.

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deve ser facilitado a partir da divulgação das situações jurídicas das terras

indígenas, a fim de que o monitoramento das terras indígenas seja feito de

maneira mais completa.

A montagem do banco de dados de ações judiciais sobre terras indígenas,

inexistente até a presente data, poderia ser elaborada pela Procuradoria Federal

Especializada da FUNAI em parceria com a Advocacia Geral da União e o

Ministério Público Federal, abarcando assim todos os representantes e partícipes

das ações que versam sobre direito indígena e terras indígenas. Caberia à

Procuradoria Jurídica da FUNAI acompanhar e atualizar os principais

andamentos e decisões nas ações, bem como disponibilizar tais informações na

internet. Tal tarefa incentivaria a atualização dos controles de processos em que

atuam as procuradorias regionais da FUNAI.46

O banco de dados permitiria a qualquer um conhecer e avaliar a atuação

dos diferentes agentes de defesa de direitos indígenas e entes da administração e

da justiça na questão territorial. O produto final servirá para análises dos

diferentes tratamentos dispensados nas diferentes regiões da federação, e

apresentará o panorama jurídico das terras indígenas, indicando assim quantas

terras indígenas ainda se encontram em situação de insegurança. A partir do

banco de dados sobre as ações judiciais de terras indígenas, novas estratégias de

defesa e proteção desse direito constitucional poderão ser elaboradas. A

publicidade dos processos judiciais e seus impactos na demarcação

administrativa e na proteção de fato das terras indígenas servirá ao interesse

público e permitirá um melhor monitoramento do Judiciário pela sociedade civil.

A combinação de um banco de dados com informações sobre a

demarcação adminsitrativa das terras indígenas com um banco de dados de

ações judiciais sobre as tais terras, apesar de sua relevância, ainda não existe no

país. Urge o retrato concreto da relação muitas vezes conflituosa e sempre

46 Durante a realização do presente levantamento foram solicitadas informações sobre as açõesjudiciais que versam sobre terras indígenas e demarcação sob a responsabilidade dos XXProcuradores da FUNAI. ANEXO II

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interdependente da demarcação administrativa das terras indígenas e a atuação do

Judiciário. A análise jurídica e política da situação das terras indígenas prescinde

de informações organizadas para embasar a formulação das políticas públicas

indígenas e agrárias no país. O tratamento judicial uniforme poderá ser exigido

com mais propriedade a partir da coleção das informações sobre ações judiciais e

demarcações. Por fim, novas propostas legislativas que atendam à necessidade de

solução dos conflitos mais frequentes por terras indígenas poderão ser

fomentadas a partir desse banco de dados.

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Anexo I

Ficha para software de Banco de dados sobre ações judiciais que

envolvam demarcação de terras indígenas.

Previsão de interface com o sistema STI/ FUNAI e diferentes ferramentas

de busca e pesquisa da situação jurídica das Terras Indígenas (ex. Por Povos

Indígenas, por Região, por Data, por Tribunal Federal, etc.)

Nome da terra indígena (lista STI)

Número do Processo Liminar ( ) favorável ( )

desfavorável

Ação Tribunais (lista) Vara Federal

de:

Ementa da Decisão Anexos

Autores Réus

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Anexo II

Informações das ações judiciais sobre terras indígenas recebidas das

Procuradorias Federais Especializada da FUNAI:

1) Procuradoria Federal Especializada FUNAI – Rio de Janeiro/RJ(03.03.2006):

2005.50.004524-1 – Vara Federal deLinhares – ESReintegração de PosseAutor: Aracruz Celulose S/ARéu: FUNAI e outros

2005.50.01.009000-3 – Vara Federal deLinhares – ESReintegração de PosseAutor: Aracruz Celulose S/ARéu: FUNAI e outros

2005;50.04.002602-9 – Vara Federal deLinhares – ESInterdito ProibitórioAutor: Aracruz Celulose S/ARéu: FUNAI e outros

2005.02.01.004787-0 –Tribunal Regional Federal 2ª.RegiãoMandado de SegurançaImpetrante: Ministério PúblicoFederalImpetrado: Juiz FederalPlantonista

2006.02.01.000556-9 –Tribunal Regional Federal 2ª.RegiãoSuspensão de LiminarImpetrante: Ministério PúblicoFederalImpetrado: Juízo Federal da 1ª.Vara de Linhares

2) Procuradoria Federal Especializada FUNAI – Maceió / AL (06.03.2006):

98.2396-8 – Seção Judiciária do Estadodo AlagoasAção de Manutenção de PosseAutor: FUNAIRéu: Usina Alegria S.A

94.0002696-0 – 8ª. Vara da SeçãoJudiciária do Estado do Alagoas

Reintegração de PosseAutor: Leopoldino VirgínioTorres e outrosRéu: Comunidade Xucuri-Kariri e outros

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2003.80.007317-4 - 8ª. Vara da SeçãoJudiciária do Estado do AlagoasReintegração de PosseAutor: Roberval Fernandes eAlbuquerqueRéu: Comunidade Xucuri-Kariri e outros

2005.80.00.000264-4 – 8ª. Vara da SeçãoJudiciária do Estado do AlagoasReintegração de PosseAutor: Rui Guimarães CostaRéu: FUNAI e Comunidade Kariri-Xocó

2004.80.00.000832-0 – 8ª. Vara da SeçãoJudiciária do Estado do AlagoasAção CautelarAutor: Associação dos ProprietáriosRurais do Agreste AlagoanoRéu: FUNAI

2002.80.006333-4 - 7ª. Vara daSeção Judiciária do Estado doAlagoasReintegração de PosseAutor: FUNAI

Réu: Ademir Campos Souza eoutros

2002.80.006716-9 - 7ª. Vara daSeção Judiciária do Estado doAlagoasAção ReivindicatóriaAutor: FUNAIRéu: José Justino dos Santos eoutros

3) Procuradoria Federal Especializada FUNAI – Passo Fundo/ RS(21.03.2006):

2003.71.04.010850-2 – 2ª.Vara Federalde Passo Fundo – RSInterdito ProibitórioAutor: Agropecuária Realta S.A e outrosRéu: FUNAI e outros

2003.71.04.011067-3 – 2ª.Vara Federalde Passo Fundo – RSAutorização para acesso em imóveisruraisAutor: Alvino Vendrusculo Réu: FUNAI e outros

2003.71.04.010205-6 – 2ª.Vara Federalde Passo Fundo – RSReintegração de Posse Autor: José Laudir Marques dos SantosRéu: FUNAI

2003.71.04.015510-3 – 1ª.VaraFederal de Passo Fundo – RSReintegração de Posse Autor: Germano AbreuRéu: FUNAI e outros

1999.71.04.005747-1 – 1ª.VaraFederal de Passo Fundo – RSReintegração de Posse Autor: Município de PlanaltoRéu: FUNAI e outros

2000.71.04.006468-0– 1ª.VaraFederal de Passo Fundo – RSReintegração de Posse Autor: Itália vitória FontanaRéu: FUNAI e outros

2000.71.04.007887-9 – 2ª.VaraFederal de Passo Fundo – RS

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Reintegração de Posse Autor: Celso Luiz RigoRéu: FUNAI

98.120.3295-9 – 1.Vara Federal de PassoFundo – RSInterdito ProibitórioAutor: Sindicato Rural de Salto do JacuíRéu: FUNAI

2003.71.04.002625-0 – 2ª.Vara Federalde Passo Fundo – RSReintegração de Posse Autor: José Maria da Silva CavalheiroRéu: FUNAI

2004.71.04.006070-4 – 1ª.Vara Federalde Passo Fundo – RSReintegração de Posse c/c perdas e danose c/c liminarAutor: Serila da Silva e outrosRéu: FUNAI

2005.71.04.001478-4 – 2ª.Vara Federalde Passo Fundo – RSReintegração de Posse c/c perdas e danose c/c liminarAutor: Irineu Réus Giacomelli e outrosRéu: FUNAI e outros

2004.71.04.012698-3 – 2ª.Vara Federalde Passo Fundo – RSReintegração de Posse c/c perdas e danose c/c liminarAutor: Rosanie GiacomelliRéu: FUNAI e outros

2004.71.04.0115487-1– 1ª.Vara Federalde Passo Fundo – RSReintegração de Posse c/c perdas e danose c/c liminarAutor: Aleri Giacomelli e outrosRéu: FUNAI e outros

2002.71.04.014772-2 – 1ª.VaraFederal de Passo Fundo – RSReintegração de PosseAutor: Município deFaxinalzinhoRéu: FUNAI e outros

2005.71.17.004217-2 – VaraFederal de Erechim – RSProdução Antecipada de ProvasAutor: Associação demoradores de FaxinalzinhoRéu: FUNAI e outros

2004.71.04.013623-0 – 1ª.VaraFederal de Passo Fundo – RSInterdito ProibitórioAutor: Clairton PasinatoRéu: FUNAI e outros

2004.71.04.001937-6 – VaraFederal Ambiental e Agrária dePoáDemarcatóriaAutor: Comunidade Indígenado Morro do OssoRéu: FUNAI e outros

2005,71.00023683-6 - VaraFederal Ambiental e Agrária dePoá Interdito ProibitórioAutor: Município de PortoAlegreRéu: Comunidade Indígena doMorro do Osso

2006.71.04.001189-1 – 2ª.Vara Federal de Passo Fundo –RSReintegração de Posse Autor: Município de MonteCaseirosRéu: FUNAI

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2006.71.04.000824-7 – 1ª. Vara Federalde Passo Fundo – RSReintegração de Posse Autor: IBAMARéu: FUNAI

4) Procuradoria Federal Especializada FUNAI –Rio Branco / AC(17.04.2006):

1998.30.002586-0 – 1ª Vara Federal daSeção Judiciária do Estado do AcreAção Civil Pública

Impetrante: Ministério PúblicoFederalRéu: IBAMA

5) Procuradoria Federal Especializada FUNAI – Fortaleza /CE (02.05.2006):

2002.81.00.0015937 – 10ª. Vara Federalde FortalezaAção Declaratória Autor: Fernando Antônio MendesFaçanhaRéu: FUNAI

2002.81.00013302-8 – 3ª. Vara Federalde FortalezaAção Declaratória Autor: Francisco de Assis de SouzaRéu: FUNAI

2003.81.00.0069641 – 5ª. Vara Federal deFortalezaAção Cautelar InominadaAutor: Antônio Ribeiro MartinsRéu: FUNAI

2003.81.00.0240937– 5ª. Vara Federal deFortalezaAção Civil Pública Autor: Ministério Público FederalRéu: Posto Adson Comércio deDerivados de Petróleo LTDA

2003.81.00.0149170 – 1ª. VaraFederal de FortalezaReintegração de PosseAutor: Maria Rozelia de AraújoCarneiroRéu: Francisca Costa dosSantosInteressado: FUNAI

2004.81.000231357 - 10ª. VaraFederal de FortalezaAção Declaratória Autor: Rita Batista FilhoRéu: FUNAI

2005.81.00.0150180 – 7ª. VaraFederal de FortalezaReintegração de Posse Autor: José Aurélio PiresRéu: FUNAI

2005.81.00.0176776 – 5ª. VaraFederal de FortalezaAção Ordinária

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Autor: Antonia Ribeiro Martins Réu: FUNAI

9600184887 – 3ª. Vara Federal deFortalezaAção Cautelar InominadaAutor: Ministério Público FederalRéu: José Gerardo de Arruda

9800204741 – 3. Vara Federal deFortalezaAção Cautelar InominadaAutor: Ministério Público FederalRéu: José Gerardo de Arruda

2003.81.00.0232760 – 7ª. Vara Federal deFortalezaManutenção de Posse Autor: Posto Adson Comércio deDerivados de Petróleo LTDARéu: FUNAI

2000.81.00.0044000 – 3ª. Vara Federal deFortalezaAção Cautelar InominadaAutor: PECEM Agroindustrial LTDARéu: União – Ministério Público Federal

2001.81.00.0028447 – 8ª. Vara Federal deFortalezaAção OrdináriaAutor: PECEM Agroindustrial LTDARéu: FUNAI

2001.81.00.0173241 – 10ª. Vara Federalde FortalezaAção Cautelar InominadaAutor: Fernando Antonio MendesFaçanhaRéu: FUNAI

2001.81.00.0189189 – 6ª. Vara Federal deFortalezaAção Cautelar InominadaAutor: Francisco de Assis de Sousa

Réu: FUNAI

2002.81.00.0028816 – 3ª. VaraFederal de FortalezaAção Cautelar InominadaAutor: Antônio Felix da SilvaRéu: FUNAI

2002.81.00.0154974 – 2ª. VaraFederal de FortalezaAção ReivindicatóriaAutor: Murilo Alves do AmaralRéu: José Augusto TeixeiraFilho

2002.81.00.0172800 – 1ª. VaraFederal de FortalezaAção Civil PúblicaAutor: Ministério PúblicoFederalRéu: Francisco Assis de Souza

2003.81.00.0132612 – 3ª. VaraFederal de FortalezaAção Cautelar InominadaAutor: Antônio Felix da Silva Réu: FUNAI

2003.81.00.0140323 – 5ª. VaraFederal de FortalezaAção Cautelar InominadaAutor: Adriano Romero BarrosRéu: FUNAI

2003.81.00.0140347 – 5ª. VaraFederal de FortalezaAção Cautelar InominadaAutor: Eduardo RodriguesRolimRéu: FUNAI

2003.81.00.0160218 – 5ª. VaraFederal de FortalezaAção Cautelar InominadaAutor: Ivan Rodrigues Bezerra

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Réu: FUNAI

2003.81.00.0227003 – 3ª. Vara Federal deFortalezaAção Cautelar InominadaAutor: Gilberto Rocha MirandaRéu: FUNAI

2003.81.00.0228731 – 5ª. Vara Federal deFortalezaAção Cautelar InominadaAutor: Sergio Vinício Barroso BragaRéu: FUNAI

2003.81.00.0228743 – 5ª. Vara Federal deFortalezaAção Cautelar InominadaAutor: Emmanuel Oliveira de ArrudaCoelhoRéu: FUNAI

2003.81.00.0228755 – 5ª. Vara Federal deFortalezaAção Cautelar InominadaAutor: Eduardo Barros da SilvaRéu: FUNAI

2003.81.00.0240263 – 5ª. Vara Federal deFortalezaAção Cautelar InominadaAutor: João Berckmans Cavalcante CostaRéu: FUNAI

2003.81.00.0246230– 5ª. Vara Federal deFortalezaAção Cautelar InominadaAutor: Maria Aila Gadelha LopesRéu: FUNAI

2003.81.00.0308623 – 3ª. Vara Federal deFortalezaAção Ordinária Autor: José Maria Xavier de OliveiraRéu: FUNAI

200481.00.0109035 – 6ª. VaraFederal de FortalezaAção Civil PúblicaAutor: Ministério PúblicoFederalRéu: Luiz Bianchi

2004.81.00.0157285– 2ª. VaraFederal de FortalezaAção Civil PúblicaAutor: Ministério PúblicoFederalRéu: Francisco Ivens de SáDias Branco

9300168592 – 3ª. Vara Federalde FortalezaAção Cautelar InominadaAutor: Ducoco Agrícola S.ARéu: FUNAI

9300219014 – 3ª. Vara Federalde FortalezaAção DeclaratóriaAutor: Ducoco Agrícola S.ARéu: FUNAI

9400008708 – 4ª. Vara Federalde FortalezaAção DeclaratóriaAutor: Esmerino OliveiraArruda CoelhoRéu: FUNAI

9400062800 – 6ª. Vara Federalde FortalezaAção Cautelar InominadaAutor: Antonio Matos deAndradeRéu: União

9500031140 – 3ª. Vara Federalde FortalezaAção Ordinária

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Autor: Ministério Público FederalRéu: José Maria Monteiro

970097900 – 3ª. Vara Federal deFortalezaAção Civil PúblicaAutor: Ministério Público FederalRéu: José Gerardo Oliveira de ArrudaFilho

9800184155 – 8ª. Vara Federalde FortalezaAção OrdináriaAutor: Ministério PúblicoFederalRéu:M Dias Branco S/AComércio e Indústria

6) Procuradoria Federal Especializada FUNAI – Belém/PA :

2006.39.03.000803-4 – SubseçãoJudiciária Federal de Altamira/PAAção Civil PúblicaAutor: FUNAIRéu: Juareci Araújo Costa e outros

2001.39.01.000722-1 – SubseçãoJudiciária de Marabá/PAReintegração de Posse Autor: FUNAIRéu: Oswaldo Muniz e outros

2001.39.01.000732-3 – SubseçãoJudiciária de Marabá/PAAção Ordinária Autor: Amauri Mendes Liberato e outrosRéu: Oswaldo Muniz e outros

2002.39.01.000216-8 – SubseçãoJudiciária de Marabá/PAAção Civil Pública Autor: Ministério Público Federal Réu: Exportadora Perachi LTDA e outros

2005.39.01.000339-7 – SubseçãoJudiciária de Marabá/PAAção Civil PúblicaAutor: FUNAIRéu:Benedito Lourenço da Silva e outros

2006.39.01.001733-3 –Subseção Judiciária deMarabá/PAAção Declaratória NegativaAutor: Associação dosAgricultores do Vale do Cedroe outrosRéu: FUNAI e União

2001.39.021.000009-8 –Subseção Judiciária deSantarém/PAAção de OposiçãoAutor: Ministério PúblicoFederal e FUNAIRéu: Manoel Cavalcante daSilva e outros

2002.39.000558-9 – SubseçãoJudiciária de Santarém/PAAção de Manutenção de Possec/c Interdito ProibitórioAutor: Antonio Mendes Neto eoutros Réu: FUNAI

2005.39.000859-9 – SubseçãoJudiciária de Santarém/PAAção Civil PúblicaAutor: Ministério PúblicoFederal

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Réu: FUNAI e União

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Anexo II

Ementas dos Tribunais Regionais Federais sobre terras indígenas:

TRF 1ª Região

Acórdãos Terras Indígenas

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. INTERDITO PROIBITÓRIO. IMÓVEL RURAL. IMINÊNCIADE INVASÃO POR ÍNDIOS DA COMUNIDADE PATAXÓ. LIMINAR. AGRAVO DEINSTRUMENTO. POSSE INDÍGENA.1. Comprovados documentalmente a posse e a utilização socioeconômica dosimóveis, com atividades ligadas à agropecuária, e a iminente ameaça de turbação ouesbulho, tem-se por acertado o deferimento da liminar.2. Em exame perfunctório, como o exercitado em sede de agravo, impossível éconcluir pela posse indígena sobre as terras em litígio, sem preícia antropológica queindique, sem margem a dúvida, a influência indígena demonstrativa de que, não hámuitos anos, os índios tinham ali o seu habitat.3. Agravo improvido.(TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO, Processo n. 2003.01.00.003514-8/BA, SEXTATURMA, Relator DESEMBARGADOR DANIEL PAES RIBEIRO, publicado em26/06/2006)

CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. INDENIZAÇÃO.TERRAS TRADICIONALMENTE OCUPADAS POR ÍNDIOS. TÍTULOS DOMINIAIS.INDENIZAÇÃO. DESCABIMENTO.1. A posse dos índios é imemorial, não importando, pois, que o não índio esteja hámuitos anos na posse efetiva da terra.2. Estudos que comprovam, detalhada e precisamente, que a área sub judice deveser reconhecida como terra tradicionalmente ocupado por índios. Presunção júristantum dos títulos de propriedade do autor.3. Apelação não provida.(TRF 1, APELAÇÃO CIVEL, Processo n. 2005.32.01.000046-5/AM, TERCEIRA TURMA,Relator DESEMBARGADOR FEDERAL TOURINHO NETO, publicado em 23/06/2006)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. INVASÃO DEFAZENDA TURBADA POR INDÍGENAS. POSSE JUSTIFICADA. REINTEGRAÇÃO DEVIDA.1. Estando comprovada a posse anterior dos agravados (audiência de justificação) ,não havendo sido desconstituídos os títulos de propriedade expedidos pelo Estado daBahia (porque a questão pende de decisão pelo Supremo Tribunal Federal), é ilegal oesbulho praticado pela Comunidade Indígena Pataxó, o que autoriza a expedição domandado liminar de reintegração (C.P.C., arts. 928 e 929). Precedentes desta Corte.2. Agravo de instrumento a que se nega provimento.(TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO, Processo n. 2004.01.00.003711-4/BA, SEXTATURMA, Relatora DESEMBARGADORA MARIA ISABEL GALLOTTI RODRIGUES,publicado em 15/05/2006)

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MEDIDA LIMINAR EM CAUSA QUEENVOLVE, INTERESSE DE SILVÍCULAS. PRÉVIA AUDIÊNCIA DA UNIÃO E DA FUNAI.DESCUMPRIMENTO. NULIDADE DA DECISÃO.

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1. É nula a decisão que concede medida liminar em causas que envolvam interessesde silvícolas ou do patrimônio indígena sem prévia audiência da União e da FUNAI(art. 63 da Lei n. 6.001/73). Precedentes.2. Agravo provido para cassar a liminar.(TRF 1, AG 2005.01.00.073742-3/AC, Rel. Juiz Federal Marcelo Albernaz (conv),Quinta Turma, DJ de 04/05/2006)

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO POSSESSÓRIA. RESPONSABILIDADE DA PESSOAJURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO INTERNO. ART. 40 DO CPP. LEGITIMIDADE PASSIVADO MUNICÍPIO. CONSTRUÇÃO ILEGAL DE ESTRADA EM RESERVA INDÍGENA.AUSÊNCIA DE REPRESENTAÇÃO DA FUNAI. DESCUMPRIMENTO DE LIMINAR. ATOPRATICADO POR PREFEITO NO USO DE SUAS ATRIBUIÇÕES.1. O prefeito, à época dos fatos, nada mais era do que o administrador do Município,eleito pelo povo, assim como é o apelante, não tendo qualquer relevância quem sejao Administrador, porquanto a responsabilidade é da pessoa jurídica de direito públicointerno. Preliminar de ilegitimidade passiva rejeitada.2. Verificada a existência de indícios quanto à prática de crime de ação pública,deverá o juiz, de ofício, proceder nos termos do art. 40 do CPP, não havendoqualquer interferência em relação ao processo em que tal situação foi verificada.Ressalte-se que os indícios de autoria podem dizer respeito, inclusive, a quem sequerseja parte no processo.3. Resta clara a ilegalidade do ato praticado, porquanto realizado sem autorizaçãoadequada, a exemplo de concordância dos Índios das comunidades indígenasinteressadas devidamente representados pela FUNAI, o que não se verifica nos autos,e em desobediência à explícita manifestação daquela Fundação, tendo construído aestrada sem observância sequer da liminar concedida, da qual foi intimada em09/07/1991, quando da sua citação.4. O ato foi praticado pelo Administrador do Município na qualidade de prefeito e nãona condição de particular.5. Preliminar de ilegitimidade passiva rejeitada, apelação do Município IMPROVIDA eremessa oficial prejudicada. (TRF 1, APELAÇÃO CIVEL, Processo n. 2000.01.00.116807-0/MT; Quinta Turma,Relatora DESEMBARGADORA FEDERAL SELENE MARIA DE ALMEIDA, publicado em20/03/2006).

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. PARQUENACIONAL DO MONTE PASCOAL. INVASÃO POR ÍNDIOS PATAXÓS. LIMINARCONCEDIDA. AGRAVO IMPROVIDO.1. Tendo sido comprovados os requisitos legais (arts. 927 e 928, CPC; art. 507,CC/16), deve ser concedida a medida liminar de reintegração de posse visando aafastar o esbulho praticados por índios.2. O fato de se tratar de um Parque Nacional impõe maior cautela na suapreservação, notadamente porque a área invadida ainda não foi demarcada pelaUnião como terra indígena, tendo o próprio agravante informado que os "conflitosconduziram ... à formação de grupo técnico constituído pela Portaria nº 618 de18/08/99, subscrita pelo Presidente da FUNAI, cuja principal incumbência é ...delimitar e operar a revisão dos limites da antiga terra indígena de Barra Velha".3. O ordenamento jurídico pátrio não confere mecanismos de autotutela aos índiospara reaverem a posse perdida há décadas sobre as terras que tradicionalmenteocupavam.4. Agravo improvido. (TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO, Processo n. 2000.01.00.003103-3/BA, QUINTATURMA, Relator DESEMBARGADOR FEDERAL JOÃO BATISTA MOREIRA, publicado em20/03/2006)

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ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. PARQUE INDÍGENA DO XINGU.POSSE IMEMORIAL. ESTUDOS INICIADOS EM 1952. AMPLIAÇÃO DO PARQUE PARAABRANGER TERRAS INDIGENAS.1. A Constituição da República de 1934, pelo art. 129, já assegurava aos silvícolas aposse de todas as terras em que permanentemente viviam. Sentença fundamentadana prova pericial histórico-antropológica e na perícia topográfica.2. As nossas Constituições Federais têm garantido o direito de propriedade, mas têmdito que será respeitada a posse dos silvícolas. E não há direito contra a Constituição.3. O Parque Nacional do Xingu, depois Parque Indígena do Xingu, foi uma iniciativados três irmãos Villas-Boas, Cláudio, Orlando e Leonardo, em 1952, e veio a seroficializado em 1961, pelo Decreto 50.455, de 14 de abril de 1961, quando JânioQuadros era Presidente da República. Mas, ali, naquele local, os índios já tinham suaposse imemorial. A ampliação dos limites do Parque Indígena do Xingu em 1968, peloDecreto n. 63.082, deu-se para poder incluir territórios indígenas.4. O Parque Indígena do Xingu, conhecido pela sigla PIX, localizado ao norte, maisprecisamente no nordeste, do Mato Grosso, numa área com cerca de 30 milquilômetros quadrados, segundo perícia antropológica, era ocupado imemorialmentepor dezenas de etnias. Como realidade antropogeográfica, o Parque já existia antesdo decreto que o instituiu. O decreto apenas reconheceu uma situação de fato.5. O conceito de posse civil não pode ser aplicado aos índios. A posse deles éimemorial, dentro de uma visão sociológica e antropológica. Não se pode interpretara posse indígena com roupagem civil.6. Sendo as terras dos povos indígenas, e, portanto, da União, não haveria razãopara desapropriá-las para formação do Parque Indígena do Xingu, ou de pagarindenização pelas terras. Indenizáveis são, somente, as benfeitorias. O Estado deMato Grosso alienou terras que não eram suas. (TRF 1, APELAÇÃO CIVEL, Processo n. AC 2003.01.00.004939-0/MT, TERCEIRATURMA, Relator DESEMBARGADOR FEDERAL TOURINHO NETO, Publicação em10/03/2006)

PROCESSO CIVIL. EMBARGOS DECLARATÓRIOS. OMISSÃO. PREQUESTIONAMENTO.1. O acórdão embargado, ao confirmar a decisão de primeiro grau, que ordenou aexpedição de mandado proibitório em favor da Agravada, a fim de que os índios seabstivessem de turbar ou esbulhar determinada área, não violou o art. 231, §§ 2o e6o, da CF. Isso porque não foi negado o direito dos índios às terras por elestradicionalmente ocupadas, mas apenas decidido que, enquanto não for comprovadotal pressuposto de fato, não devem os índios turbar ou esbulhar a referida posse.2. Embargos de declaração aos quais se dá provimento, sem efeitos modificativos. (TRF 1, EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO, Processo n.2003.01.00.017111/BA, SEXTA TURMA, Relatora DESEMBARGADORA FEDERALMARIA ISABEL GALLOTTI RODRIGUES, Publicado em 06/03/2006)

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO POSSESSÓRIA. INTERDITO PROIBITÓRIO.IMÓVEL RURAL. EXPLORAÇÃO DE ATIVIDADE AGROPECUÁRIA. IMINÊNCIA DEINVASÃO POR ÍNDIOS DA COMUNIDADE PATAXÓ HÃ HÃ HÃE. LIMINAR. AGRAVO DEINSTRUMENTO.1. Comprovadas a posse e a utilização sócioeconômica do imóvel, com atividadesligadas à agropecuária, tem-se, por acertado, o deferimento da liminar, para aimpedir turbação ou esbulho na propriedade.2. Em exame perfunctório, como o exercitado em sede de agravo, impossível éconcluir pela posse indígena sobre as terras em litígio, sem perícia antropológica queindique, sem margem a dúvida, a influência indígena demonstrativa de que, não hámuitos anos, os índios tinham ali o seu habitat.

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3. Agravo desprovido. (TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO, Processo n. 2002.01.00.041806-9/BA, SEXTATURMA, Relator DESEMBARGADOR FEDERAL DANIEL PAES RIBEIRO, Publicado em06/03/2006)

ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. SUSPENSÃO DE AUTORIZAÇÃO ELICENÇA PARA EXTRAÇÃO, COMÉRCIO E TRANSPORTE DE MOGNO. IBAMA.INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 03/98. RETIRADA DE MADEIRAS DE TERRASINDÍGENAS. FALTA DE DOCUMENTAÇÃO COMPROBATÓRIA DA REGULARIDADE DEFUNCIONAMENTO DA EMPRESA IMPETRANTE E DE AUTORIZAÇÕES. INEXISTÊNCIADE DIREITO LÍQUIDO E CERTO.1. Se inexiste documento comprobatório da regularidade de funcionamento, de umadas empresas, bem como de autorizações, de outra, para extração, comércio etransporte de madeira, não se configura a liquidez e a certeza do direito de eximir-seda suspensão, por Instrução Normativa do IBAMA, de autorização e licençaambiental.2. Remessa oficial a que se dá provimento.(TRF 1, REOMS 2000.01.00.019661-6/PA, Rel. Juiz Federal Vallisney De SouzaOliveira, Quinta Turma, DJ de 28/11/2005)

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LIMINAR DE CARÁTER SATISFATIVO.1. Confirma-se decisão que indeferiu, dado seu caráter satisfativo e irreversível, riscode conflito social e de dano ao meio ambiente, pedido liminar consistente nadestruição de 11km de canal fluvial, retirada de posseiros e recuperação das terrasindígenas do Rio Urubu (Lei nº 8.437/92, art. 1º, § 3º).2. Agravo de instrumento ao qual se nega provimento.(TRF 1, AG 2004.01.00.005059-3/AM, Rel. Desembargadora Federal Maria IsabelGallotti Rodrigues, Sexta Turma, DJ de 28/11/2005,)

PROCESSO CIVIL. AÇÃO POPULAR. DECRETO 1.775/96, QUE ESTABELECEU NORMASSOBRE PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DE DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS.AUSÊNCIA DE ATO DE EFEITO CONCRETO. 1. A ação popular não é sucedâneo de ação direta de inconstitucionalidade, não sendoa via processual adequada para a busca da declaração de inconstitucionalidade dedispositivos de decreto presidencial destinado a regular situações gerais e abstratas,sem efeitos concretos.2. A mera previsão em abstrato contida no art. 9º do Decreto 1.775/96, depossibilidade de revisão de demarcações de terras indígenas, visando a correção devícios totais ou parciais, não causa, de per si, qualquer prejuízo ao patrimôniopúblico, ainda que moral.3. Se no decorrer dos procedimentos de revisão realizados com base no citadodecreto forem praticados atos concretos que, distanciados da realidade, lesionarem opatrimônio público, e desde que demonstrada a prática do ato e o prejuízo por elecausado, 4. Apelação do MPF e remessa oficial improvidas.(TRF 1, AC 2000.01.00.116470-7/DF, Rel. Juiz Federal Moacir Ferreira Ramos (conv),Sexta Turma, DJ de 21/11/2005)

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. INTERDITO PROIBITÓRIO. IMÓVEL RURAL.EXPLORAÇÃO DE ATIVIDADE AGROPECUÁRIA. IMINÊNCIA DE INVASÃO POR ÍNDIOSDA COMUNIDADE PATAXÓ. LIMINAR. AGRAVO DE INSTRUMENTO. POSSE INDÍGENA.

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1. Comprovadas documentalmente a posse e a utilização sócioeconômica do imóvel,com atividades ligadas à agropecuária, e a iminente ameaça de turbação ou esbulho,tem-se por acertado o deferimento da liminar.2. Em exame perfunctório, como o exercitado em sede de agravo, impossível éconcluir pela posse indígena sobre as terras em litígio, sem perícia antropológica queindique, sem margem a dúvida, a influência indígena demonstrativa de que, não hámuitos anos, os índios tinham ali o seu habitat.3. Agravo desprovido. (TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO, Processo n. 2004.01.00.028988-5/BA, SEXTATURMA, Relator DESEMBARGADOR FEDERAL DANIEL PAES RIBEIRO, Publicado em14/11/2005)

CONSTITUCIONAL. ÍNDIOS. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DECISÃO A QUO QUE AOCONCEDER PARCIALMENTE A MEDIDA LIMINAR REJEITOU O PEDIDO DEDETERMINAÇÃO AOS RÉUS A SE RETIRAREM DA TERRA INDÍGENA APYTEREWA E SEABSTEREM DE PROMOVER QUAISQUER ATOS ATENTATÓRIOS À POSSE DA ÁREAPELA COMUNIDADE INDÍGENA PARAKANÃ. POSSE PERMANENTE PELOS INDÍGENASDAS TERRAS QUE TRADICIONALMENTE OCUPAM. CF, ART. 231. GARANTIAASSEGURADA DESDE A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1934. NULIDADE DOS ATOSQUE OBJETIVAM A OCUPAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS. TRABALHOS DEDEMARCAÇÃO FÍSICA INTERROMPIDOS EM VIRTUDE DE OPOSIÇÃO DE NÃO-ÍNDIOS.DEMONSTRAÇÃO DE QUE OS AGRAVADOS OCUPAM IRREGULARMENTE A ÁREAINDÍGENA. NOCIVIDADE DA OCUPAÇÃO DECORRENTE DE ATOS QUE IMPEDEM OTÉRMINO DOS TRABALHOS DE DEMARCAÇÃO. INVASÕES NA ÁREA INDÍGENA PORMADEIREIROS E GRILEIROS. EXPLORAÇÃO ILEGAL DE MOGNO. NECESSIDADE DEPRESTAÇÃO JURISDICIONAL RÁPIDA E EFICAZ. CONFLITOS ENVOLVENDO A ÁREAQUE DATAM DE 1990. RISCO DE PROGRESSIVA DETERIORAÇÃO DA COMUNIDADEINDÍGENA PARAKANÃ.1. A Constituição Federal, em seu artigo 231, caput e §§ 1º e 2º, assegura aos índiosa posse permanente e o usufruto exclusivo das riquezas naturais das terras quetradicionalmente ocupam, assim consideradas aquelas por eles habitadas em caráterpermanente, as utilizadas para sua atividade produtiva e as imprescindíveis àpreservação dos recursos naturais necessários ao seu bem-estar, observado osaspectos físico e cultural.2. A garantia da posse das terras imemorialmente ocupadas pelos índios éexplicitamente garantida desde a Constituição Federal de 1934, salientando-se que aordem constitucional vigente estabelece que são nulos, não produzindo efeitosjurídicos, os atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse de terrasindígenas (CF/88, art. 231, § 6º).3. O MM. Juízo a quo, ao deferir parcialmente a medida liminar vindicada na ação civilpública ajuizada pela Fundação Nacional do Índio - FUNAI e o Ministério PúblicoFederal, indeferiu o pedido que visava à determinação aos réus a retirarem da TerraIndígena Apyterewa e a se absterem de promover quaisquer atos restritivos da possedireta e usufruto exclusivo da área pela Comunidade Indígena Apyterewa.4. A Portaria 267/92, do Ministro da Justiça, que delimitou a Terra IndígenaApyterewa, declarou uma área de 980.000ha (novecentos e oitenta mil hectares) deposse permanente dos índios Parakanã. Após a edição do Decreto 1.775/96 foramapresentadas várias contestações contra o processo de demarcação da área indígena,impugnando os limites estabelecidos pela área indígena. Contudo, a própria FUNAIrecomendou sugeriu a alteração dos limites da parte sudeste da área indígena, o quefoi acolhido pelo Ministro da Justiça.5. O refazimento da linha divisória da parte sudeste da área resultou na edição daPortaria 1.192/01, que declarou de posse indígena dos índios Parakanã uma área de773.000ha (setecentos e setenta e três mil hectares), situada entre os Municípios deSão Félix do Xingu/PA e Altamira/PA.

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6. Tendo em vista a anulação da Portaria 1.192/01 pelo Superior Tribunal de Justiça,no julgamento do Mandado de Segurança 8.241-DF, foi reiniciado o procedimento dedelimitação da terra indígena, que culminou com a edição da Portaria 2.581/04, quedeclarou a área de 773.000ha (setecentos e setenta e três mil hectares) de possepermanente da Comunidade Indígena Parakanã, a qual constitui a Terra IndígenaApyterewa.7. Os trabalhos de demarcação física da área realizados FUNAI, com o apoio de umaempresa particular contratada para esse fim, foram interrompidos quando faltavaapenas uma área de 1.400m (um mil e quatrocentos metros) para a sua finalização,em virtude de oposição perpetrada por não-índios que ocupam o local, situado naparte sudeste da área, conhecida como Pé-de-Morro.8. A par da ilegalidade da ocupação da área pelos agravados, afigura-se igualmentenociva essa ocupação em razão dos embaraços causados ao regular desenvolvimentodas atividades de demarcação conduzidas pela FUNAI, uma vez que a documentaçãoacostada nos autos demonstram que os agravados coordenam as ações que vemimpedindo a finalização dos trabalhos de demarcação física da área.9. Há notícias de invasões na Terra Indígena Apyterewa em quase toda sua extensão,por parte de madeireiros que extraem ilegalmente madeiras nobres e outros recursosnaturais da área indígena, de grileiros que se apossam de parte da referida área e,ainda, um indevido assentamento de colonos promovido pelo Instituto Nacional deColonização e Reforma Agrária - INCRA, tudo em prejuízo dos índios Parakanã.10. Há, ainda, estudos que demonstram que grande parte do mogno comercializadona região de Tucumã, São Félix do Xingu e Marabá, no Estado do Pará, é oriundo daexploração ilegal de madeira oriunda da Terra Indígena Apyterewa, bem como daTerra Indígena Trincheira/Bacajá, dos índios Kayapó-Xikrin.11. A sucessão infindável de embaraços à ação do Estado quanto a demarcação daTerra Indígena Apyterewa exige uma prestação jurisdicional eficaz e imediata, o quenão pode ser afirmado que venha sendo prestado, porque as lides judiciaisenvolvendo conflitos nessa área datam de 1990.12. O aguardo da solução definitiva da ação civil pública significará a gradativa eprogressiva deterioração da Comunidade Indígena Parakanã e da floresta de mogno.13. Agravo de instrumento da FUNAI provido. (TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO, Processo n. 2005.01.00.028883-9/PA, QUINTATURMA, Relatora DESEMBARGADORA FEDERAL SELENE MARIA DE ALMEIDA,Publicado em 05/10/2005)

CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. TERRASINDÍGENAS. RESERVA INDÍGENA PIMENTEL BARBOSA. ALIENAÇÃO PELO ESTADO DEMATO GROSSO. NULIDADE. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1891, ART. 64.CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1934, ART. 129. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988,ART. 231, §§ .1º E 4º.1. A área sub-judice encontra-se encravada na Reserva Indígena Pimentel Barbosa,de ocupação imemorial dos índios Xavantes, conforme comprovado em laudo dasperícias topográfica e histórico-antropológica. 2. O instituto jurídico do indigenato temcomo característica essencial o fato de ser um título congênito, ou seja, ele nascecom o próprio índio, que vive em comunidade na sua terra tradicional, diferente daocupação que é um título adquirido.3. A Constituição Federal de 1988 manteve o instituto do indigenato no ordenamentojurídico brasileiro contemporâneo à medida que no art. 231 reconheceu o direito dosíndios de terem a sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, bemcomo os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam,competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. E,ainda, no § 1º deste mesmo artigo definiu o que são "terras tradicionalmenteocupadas pelos índios" e no § 4º estabeleceu que estas terras são inalienáveis eindisponíveis, 4. Embora o Estado-membro, no presente caso o Estado de Mato

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Grosso, tenha recebido terras indígenas entre as devolutas que lhe foram atribuídaspelo art. 64 da Constituição Federal de 1891, não poderia aliená-las à vista dodisposto no art. 129 da Constituição Federal de 1934 ("Será respeitada a posse desilvícolas que nelas se achem permanentemente localizados, sendo-lhes, no entanto,vedado aliená-las"), cujo preceito foi repetido por todas as outras Constituições que asucederam, fazendo-se, portanto, presente no constitucionalismo brasileiro desdeesta ocasião, há mais de setenta anos.5. Apelação não provida. (TRF 1, APELAÇÃO CIVEL, Processo n. 1997.01.00.064151-0/MT, QUARTA TURMA,Relator DESEMBARGADOR FEDERAL ÍTALO FIORAVANTI SABO MENDES, Publicado em15/09/2005)

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO ANULATÓRIA DE ATO ADMINISTRATIVO DE DEMARCAÇÃODE TERRA INDÍGENA. CERCEAMENTO DE DEFESA POR FALTA DE INTIMAÇÃO PARAAPRESENTAR MEMORIAIS. NÃO OCORRÊNCIA. ÁREA DE RESERVA INDÍGENA. BEMDA UNIÃO. APELAÇÃO DESPROVIDA.1. A ausência da parte na audiência de instrução e julgamento acarretou a perda dodireito de ser intimada para a prática dos atos processuais que se realizaram emaudiência, entre eles os debates orais, que foram substituídos por memoriais.2. A escritura pública de compra e venda é nula, uma vez que se refere a terrasinseridas em reservas indígenas já demarcadas, sendo, portanto, bem da União, nostermos do art. 20, XI, da Constituição.3. Apelação desprovida.(TRF 1, AC 96.01.51491-0/RR, Rel. Juiz Federal Glaucio Maciel Goncalves (conv),Terceira Turma Suplementar, DJ de 15/09/2005)

CONSTITUCIONAL. AÇÃO DE DESAPROPRIAÇÃO. POSSE INDÍGENA IMEMORIAL.HABITAT PERMANENTE. CARACTERIZAÇÃO. ÁREA DE PERAMBULAÇÃODESCARACTERIZADA. LAUDO PERICIAL ANTROPOLÓGICO. NULIDADE DO TÍTULO DEPROPRIEDADE. 1. É inquestionável a posse imemorial indígena na área objeto da presente açãoexpropriatória, mormente quando se constata que o estudo antropológico feito peloSr. Perito tecnicamente comprova ter sido o bem imóvel ora em comento habitatnatural dos silvícolas, apenas podendo ser desacreditado por fundamentos concretosou provas contundentes de que há equívoco em seu parecer, o que não se verificouno caso dos autos.2. Fundamentando-se a sentença no reconhecimento de que "a área litigiosa éhabitat permanentemente ocupado pelas populações indígenas ali fixadas", não hácomo cogitar-se em argumentos da defesa que buscam descaracterizar a posseimemorial sob a alegação de se tratar de área em litígio de "área de perambulação".3. Sendo o imóvel em questão de posse indígena, por força da Constituição Federalda República de 1988, encontram-se eivados de nulidade os títulos apresentadospelos apelantes, razão pela qual não há que se falar em indenização.4. Improvimento da apelação.(TRF 1, AC 2001.01.99.026275-9/MT, Rel. Juiz Federal Alexandre Vidigal De Oliveira(conv), Quarta Turma, DJ de 15/09/2005)

ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. RESERVA INDÍGENA.INDENIZAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE DIREITO ADQUIRIDO. BENFEITORIAS. I - Emboraa causa de pedir e o pedido sejam os mesmos (indenização por desapropriação),outras são as partes, daí não se poder falar em identidade entre a ação versadanestes autos e aquela em que o Supremo Tribunal Federal proferiu a decisãonoticiada pelos apelantes.

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II - Se alguns dos apelantes permanecem na área contemplada pelo Decreto queampliou a reserva indígena dos Kayabi, não há interesse processual para estar emjuízo almejando indenização por desapropriação indireta.III - Não há que se falar em direito adquirido dos autores-apelantes relativamente àárea sub judice, haja vista que o direito dos silvícolas já pré-existia àquele depropriedade invocado pelos autores.IV - As terras de ocupação imemorial e tradicional dos índios não são passíveis dealienação, sendo nula a outorga de títulos dominiais em terras indígenas após aConstituição de 1934 (Precedentes desta Corte).V - As benfeitorias efetuadas nos imóveis só podem ser indenizadas pelo Estado doMato Grosso, pois a União não deu causa à posse ilegítima dos autores.VI - Apelação desprovida.(TRF 1, APELAÇÂO CIVEL, Processo n. 2001.01.00.046275-4/MT, TERCEIRA TURMA,Relator DESEMBARGADOR FEDERAL CÂNDIDO RIBEIRO, Publicado em 12/08/2005)

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. INTERDITO PROIBITÓRIO. IMÓVEL RURAL. IMINÊNCIADE INVASÃO POR ÍNDIOS DA COMUNIDADE PATAXÓ. LIMINAR. AGRAVO DEINSTRUMENTO. POSSE INDÍGENA.1. Comprovados documentalmente a posse e a utilização sócio-econômica dosimóveis, com atividades ligadas à agropecuária, e a iminente ameaça de turbação ouesbulho, tem-se por acertado o deferimento da liminar.2. Em exame perfunctório, como o exercitado em sede de agravo, impossível éconcluir pela posse indígena sobre as terras em litígio, sem perícia antropológica queindique, sem margem a dúvida, a influência indígena demonstrativa de que, não hámuitos anos, os índios tinham ali o seu habitat.3. Agravo desprovido. (TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO, Processo n. 2004.01.00.051438-3/BA, SEXTATURMA, Relator DESEMBARGADOR FEDERAL DANIEL PAES RIBEIRO, Publicado em22/08/2005)

ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. TERRAS OCUPADAS PELOS ÍNDIOS.TÍTULOS DE DOMÍNIO CONSTITUÍDOS NA VIGÊNCIA DA CARTA DE 1946. FALTA DECOMPROVAÇÃO DA SUA EXISTÊNCIA. LIMITES DO PEDIDO.1. Não tendo a autora demonstrado, por cadeia dominial adequada, ter adquirido oimóvel na vigência da Carta de 1946, hipótese em que, a despeito da ocupaçãoindígena, existiria possibilidade de obter indenização pela ocupação pela FUNAI; ehavendo, por outro lado, demonstração, por laudo antropológico, de cuidar-se deterras ocupadas tradicionalmente pelos indígenas, não é de ser acolhido o pleitoindenizatório.2. Não poderia a sentença, ao dar pela rejeição do pedido na ação indenizatória -desapropriatória indireta -, declarar a nulidade dos títulos de domínio da autora, vistoque a matéria não estava compreendida na causa de pedir, tendo o julgador, noponto, decidido matéria estranha ao pedido, o que torna o julgado nulo no segmento.O limite válido da sentença é o pedido. (Cf. arts. 128 e 293 - CPC.) 3. Provimentoparcial da apelação. (TRF 1, APELAÇÃO CIVEL, Processo n. 1999.01.00.022887-2/MT, TERCEIRA TURMA,Relator DESEMBARGADOR FEDERAL OLINDO MENEZES, Publicado em 08/07/2005)

ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. TERRAS DEVOLUTAS. ALIENAÇÃOPELOS ESTADOS. TERRAS OCUPADAS TRADICIONALMENTE PELOS INDIOS.DEMARCAÇÃO.1. Tendo a parte legitimamente havido o imóvel do transmitente que, por sua vez, oadquirira de Estado membro, como titular das terras devolutas, não é lícito negar-lhe

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a correspondente indenização, em desapropriação indireta, em função de ocupaçãopelo Estado (União - FUNAI), à conta do fato de tratar-se de terras ocupadas(supostamente) tradicionalmente pelos indígenas. "O possuidor legitimado por títulosrecebidos do Estado, em priscas eras, não pode ser espoliado do fruto do seutrabalho sem indenização." (STF - MS nº 20.234 - 3/MT).2. A nulidade de atos jurídicos que tenham por objeto o domínio, a posse e aocupação de terras indígenas, sem direito a indenização, prevista na Constituição de1967 (art. 198, §§ 1º e 2º) e na Constituição de 1988 (art. 231, § 4º), além de nãopoder abarcar os atos jurídicos praticados anteriormente, segundo as normasconstitucionais a eles contemporâneas - os preceitos constitucionais, inclusive os quegarantem o direito de propriedade, não podem simplesmente ser considerados comoletra morta -, somente se aplica às terras indígenas demarcadas e efetivamenteocupadas pelos índios. "Os incisos I e XI do art. 20 da CF não alcançam terras dealdeamentos indígenas extintos, ainda que ocupadas por indígenas em passadoremoto." (Súmula nº 650 - STF).3. O cidadão que acreditou na potestade pública, que atua com presunção deverdade, não pode ser confiscado nos seus direitos legalmente adquiridos, menosainda estando de boa-fé, sem que tenha contribuído com alguma parcela de culpanos eventuais defeitos legais dos atos praticados. O Estado tem o dever de demarcaras reservas indígenas, com relação aos quais a questão da terra tem um valor desobrevivência física e cultural, mas não de forma ilegal e sem pagamento, espoliandoo direito de propriedade de terceiros, pois, por preceito constitucional, ninguém seráprivado dos seus bens sem o devido processo legal.4. Provimento da apelação. (TRF 1, APELAÇÃO CIVEL, Processo n. 2001.01.00.046471-3/MT, TERCEIRA TURMA,Relator DESEMBARGADOR FEDERAL OLINDO MENEZES, Publicado em 08/07/2005)

ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. FISCALIZAÇÃO DE CONSTRUÇÃO EMTERRAS INDÍGENAS POR REPRESENTANTE DE ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTALFINANCIADORA. POSSIBILIDADE. I - Assegura-se a representante de organização não-governamental, de origemalemã, responsável por angariar recursos para construção de posto de saúde emcomunidade indígena Yanomami, o direito de fiscalizar a obra, possibilitando aprestação de contas perante os entes doadores em seu país de origem, mormentequando houve anuência da autoridade impetrada com a cláusula contratual quecontempla a hipótese.II - Remessa oficial desprovida. Sentença confirmada.(TRF 1, REOMS 2002.42.00.000423-2/RR, Rel. Desembargador Federal SouzaPrudente, Sexta Turma, DJ de 13/06/2005)

CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. TERRAOCUPADA POR NAÇÃO INDÍGENA. SENTENÇA QUE CONSIDEROU O LAUDOHISTÓRICO-ANTROPOLÓGICO. ÍNDIOS ENAWENÊ-NAWÊ. TÍTULO DE PROPRIEDADEEXPEDIDO PELO ESTADO DE MATO GROSSO. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1891,ART. 64. ART. 129 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1934. CF/88, ART. 231 e §§ 4º a7º. REPETIÇÃO DE ITR. RECURSO ADESIVO. REMESSA.1. Ainda que o Estado de Mato Grosso tenha recebido terras indígenas entre asdevolutas que lhe foram atribuídas pelo art. 64 da Constituição de 1891, não poderiao referido Estado aliená-las, à vista do disposto no art. 129 da Constituição Federalde 1934, segundo o qual "será respeitada a posse de silvícolas que nelas se achempermanentemente localizados, sendo-lhes, no entanto, vedado aliená-las".2. Inexistindo benfeitorias implantadas pelos autores na área sub judice, não hátambém o dever de indenização, quanto a elas, por parte das rés.3. Os autores têm direito à repetição do que foi pago indevidamente a título de ITRpois o fato gerador é a posse. Contudo, dois documentos mostram-se imprestáveis

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para a prova do pagamento: aqueles referentes a 1991 e 1992. O primeiro foi pagopelo antecessor dos autores e o segundo diz respeito a outro imóvel.4. Apelação dos autores improvida.5. Recurso adesivo e remessa parcialmente providos. (TRF 1, APELAÇÃO CIVEL, Processo n. 2000.01.00.109594-2/MT, QUARTA TURMA,Relator DESEMBARGADOR FEDERAL HILTON QUEIROZ, Publicado em 31/05/2005)

CONSTITUICIONAL. ADMINISTRATIVO. CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. EXCLUSÃO DEESTADO MEMBRO DA LIDE. DECISÃO NÃO-RECORRIDA. PRECLUSÃO.DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. TERRAS INDÍGENAS. DOMÍNIO DA UNIÃO.INALIENABILIDADE. TERRAS DEVOLUTAS. DOMÍNIO DO ESTADO FEDERADO NACONSTITUIÇÃO DE 1891. POSSIBILIDADE DE ALIENAÇÃO APÓS AÇÃODISCRIMINATÓRIA.1. A exclusão do Estado-Membro da lide por decisão do STF, afasta novo exame daquestão nesta instância (preliminar do recorrente que se rejeita)2. Terras indígenas são aquelas por "eles habitadas em caráter permanente, asutilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dosrecursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reproduçãofísica e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições." Art. 231, § 1º, daConstituição Federal de 1988.3. O indigenato é fonte primária e congênita da posse territorial, independentementeda existência de título para legitimá-lo.4. Desde a Constituição Federal de 1934, art. 129, as terras indígenas estão sob odomínio da União, sendo invalida a alienação a qualquer título. Atualmente, art. 231,§ 6º, da Constituição Federal de 1988. 5. Os títulos das propriedades sub judice foram expedidos sob a égide da Constituiçãode 1946, sem respaldo na Carta Magna.6. Terras devolutas são aqueles de domínio de Estado Membro e aquelasreconhecidas em Ação Discriminatória (Lei nº 3081/1955).7. A perícia antropológica demonstrou, à saciedade, que se trata de terra indígena.8. Apelação improvida.(TRF 1, AC 1997.39.00.010636-7/PA, Rel. Desembargador Federal Carlos Olavo,Quarta Turma, DJ de 31/05/2005)

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE INTERDITO PROIBITÓRIO. CONCESSÃO DELIMINAR. AMEAÇA DE INVASÃO PELA COMUNIDADE INDÍGENA PATAXÓ.1. Confirma-se decisão que determinou a expedição de mandado proibitório, a fim deque os índios da Comunidade Indígena Pataxó se abstenham de turbar ou esbulharáreas comprovadamente possuídas pelos autores, onde desempenham atividadeeconômica.2. Agravo de instrumento ao qual se nega provimento. (TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO, Processo n. 2003.01.00.001164-2/BA, SEXTATURMA, Relatora DESEMBARGADORA FEDERAL MARIA ISABEL GALLOTTIRODRIGUES, Publicado em 20/06/2005)

PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. LIMINAR.Apesar de a posse dos índios ser imemorial, é de ser deferida liminar àqueles(fazendeiros, agricultores) que estão na labuta diária com a terra, para que dela nãosejam sumariamente afastados, por ser altamente injusto. Há de esperar-se asentença. (TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO, Processo n. 2004.01.00.046718-9/BA, TERCEIRATURMA, Relator DESEMBARGADOR FEDERAL TOURINHO NETO, Publicado em13/05/2005)

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CONSTITUCIONAL ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DESEGURANÇA. DEMARCAÇÃO DE TERRA INDÍGENA. NECESSIDADE DE DILAÇÃOPROBATÓRIA. INADEQUAÇÃO DA VIA MANDAMENTAL ELEITA. PRECEDENTES DOTRIBUNAL E DO STJ.1. É altamente controversa questão que envolve demarcação de terras indígenas.2. O mandado de segurança não é via própria para resolver questões controvertidas,à mingua de possibilidade de dilação probatória, visto que em tal sede a prova deveser pré-constituída. 3. Apelação desprovida.(TRF 1, AMS 1999.01.00.039064-7/DF, Rel. Juiz Federal Wilson Alves De Souza(conv), Terceira Turma Suplementar, DJ de 31/03/2005)

CONSTITUCIONAL. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. POSSIBILIDADE DE O MINISTÉRIOPÚBLICO JUNTAR DOCUMENTOS. FALTA DE VISTA À PARTE CONTRÁRIA. AUSÊNCIADE PREJUÍZO. SENTENÇA QUE CONSIDEROU O LAUDO DA ASSISTENTE TÉCNICA DAFUNAI. ÁREA INDÍGENA. TÍTULO DE PROPRIEDADE EXPEDIDO PELO ESTADO DEMATO GROSSO. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1891, ART. 64. ART. 129 DACONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1934. CF/88 ART. 231 e §§ 4º a 7º.1. Segundo o art. 83, inciso II, do CPC, está assegurada ao Ministério Público ajuntada de documentos. A falta de vista à parte contrária do teor das informações daantropóloga daquela unidade não lhe trouxe qualquer prejuízo já que a sentençabaseou-se no laudo da assistente técnica da Funai. 2. Ainda que o Estado de Mato Grosso tenha recebido terras indígenas entre asdevolutas que lhe foram atribuídas pelo art. 64 da Constituição de 1891, não poderiao referido Estado aliená-las, à vista do disposto no art. 129 da Constituição Federalde 1934, segundo o qual "será respeitada a posse de silvícolas que nelas se achempermanentemente localizados, sendo-lhes, no entanto, vedado aliená-las".3. Inexistindo benfeitorias implantadas pelos autores na área sub judice, não hátambém o dever de indenização, quanto a elas, por parte das rés.4. Apelação improvida.(TRF 1, AC 2001.36.00.002938-8/MT, Rel. Desembargador Federal Hilton Queiroz,Quarta Turma, DJ de 21/03/2005)

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. ALIENAÇÃO DEGLEBA SITUADA EM ÁREA ÍNDIGENA. RESERVA PARECI. DECRETO Nº 63.368/68.NULIDADE. POSSE IMEMORIAL CARACTERIZADA POR LAUDO ETNICO-ANTROPOLÓGICO. DIREITO ADQUIRIDO. NÃO CONFIGURAÇÃO. INDENIZAÇÃO.DESCABIMENTO.1. Após a Constituição de 1934 as terras ocupadas imemorialmente por naçãoindígena são de domínio da União, razão pela qual são nulos os títulos de domínioexpedidos após o advento da Carta Política. Precedentes da Corte.2. Hipótese em que o laudo da perícia antropológica é taxativo ao afirmar que a áreaem questão foi ocupada imemorialmente por índios que continuaram a habitá-la,razão pela qual foi criada a Reserva Indígena.3. O território indígena é constituído não só pela área que circunda a aldeia e asroças, mas também as imprescindíveis à conservação de sua identidade étnico-cultural.4. Diante da posse imemorial indígena da área sub judice e da proteção constitucionala ela deferida desde a Carta Política de 1934, não poderia o Estado do Mato Grossooutorgar títulos dominiais, não havendo que se falar, perante aquela Carta e nemmesmo perante a atual Constituição, em direito adquirido que justifique pedido deindenização.

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5. Ademais, além da outorga do título dominial por parte do Estado do Mato Grossoter sido irregular, a aquisição da gleba ocorreu em 1973 quando o Decreto nº63.368/68, que demarcou a reserva dos índios Parecis, já se encontrava em plenovigor. 6. Apelação desprovida. (TRF 1, APELAÇÃO CIVEL, Processo n. 1997.01.00.023962-6/MT, TERCEIRA TURMASUPLEMENTAR , Relator JUIZ FEDERAL WILSON ALVES DE SOUZA (CONV.), Publicadoem 16/12/2004)

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE INTERDITO PROIBITÓRIO. AUSÊNCIA DEAUDIÊNCIA PRÉVIA. INOCORRÊNCIA. MANIFESTAÇÃO DA UNIÃO FEDERAL E DAFUNAI PREVIAMENTE À APRECIAÇÃO DO PEDIDO DE LIMINAR. ÁREA RURALEXPLORADA PELOS AGRAVADOS HÁ MAIS DE 15 (QUINZE) ANOS. AUSÊNCIA DECOMPROVAÇÃO DE DIREITO INDÍGENA SOBRE A ÁREA. 1. O artigo 63 da Lei6.001/73 e o parágrafo único do artigo 928 do CPC não exigem a designação deaudiência de justificação prévia, bastando a intimação dos requeridos para que semanifestem previamente à apreciação do pedido de liminar.2. A parte que detém a posse do imóvel há mais de 15 (quinze) anos, a qual somadaàs posses anteriores perfaz mais de 40 (quarenta) anos de ocupação das áreas dosimóveis rurais, merece a proteção possessória.3. Essa situação recomenda, em princípio, a expedição de mandado proibitório a fimde impedir a ameaça de esbulho ou turbação da posse dos imóveis rurais pelos índiosda Comunidade Indígena Pataxó Aldeia Nova, pois se a terra é devidamenteexplorada em todo esse período não se deve impedir que os autores possam produzirseu sustento sob o pretexto de que as terras seriam indígenas.4. Em uma cognição sumária, própria do agravo de instrumento, não se pode concluirque os imóveis em comento se encontram dentro de áreas de terras indígenas, ante aausência de laudo pericial antropológico, elaborado com observância do contraditório,que indique a posse imemorial dos índios naquelas terras.5. Agravo de instrumento da FUNAI e da União Federal improvido. (TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO, Processo n. 2003.01.00.001163-9/BA, QUINTATURMA, Relatora DESEMBARGADORA FEDERAL SELENE MARIA DE ALMEIDA,Publicado em 11/11/2004)

ADMINISTRATIVO E CIVIL. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. MUNICÍPIO DE PAUBRASIL/BA. RESERVA INDÍGENA. LIMINAR DEFERIDA PARA DETERMINAR ADESOCUPAÇÃO DA ÁREA E A REINTEGRAÇÃO DO AGRAVADO NA POSSE DO IMÓVEL.IMPOSSIBILIDADE. DIFERENÇA DE TERRAS INDÍGENAS E TERRAS DEVOLUTAS.PROTEÇÃO POSSESSÓRIA E DESTINAÇÃO DAS TERRAS HABITADAS POR INDÍGENASNAS CONSTITUIÇÕES DE 1934, 1937, 1967, EC 1/69 E CF/88. DESTINO DAS TERRASINDÍGENAS DA UNIÃO POR GENOCÍDIO OU EXPULSÃO DOS ÍNDIOS.ARRENDAMENTO DE TERRAS. EXPEDIÇÃO ILÍCITA DE TÍTULOS PARA POSSEIROS EINVASORES. DIREITOS ASSEGURADOS PELA CONSTITUIÇÃO: MANIFESTAÇÃO DEPROPRIEDADE E DIREITO À SUBSISTÊNCIA E À VIDA. PREVALÊNCIA DO ÚLTIMO.AUSÊNCIA DE RAZOABILIDADE DA APLICAÇÃO DAS REGRAS DO DIREITO PRIVADO,RELATIVAS À POSSE EM QUESTÃO INDÍGENA. CABIMENTO DE DISCUSSÃO ACERCADO DOMÍNIO NA AÇÃO POSSESSÓRIA QUANDO AMBAS AS PARTES ALEGAMPROPRIEDADE. MANUTENÇÃO DOS ÍNDIOS NA RESERVA. 1.A proteção dada à posse das terras habitadas pelos silvícolas passou a ser normaconstante e reiterada, a partir da Constituição de 1934. As Constituições de 1934(art. 129); a de 1937 (art. 154) e a de 1946 (art. 216), todas elas consignavamcomo pressuposto fundamental a proteção possessória das terras dos índios a sualocalização permanente.2. É de se ter como devolutas as terras que não se encontram "ocupadas", nempertençam a particulares, com base em título legítimo, tirando-se daí a conclusão de

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que os terrenos indígenas não são terras devolutas, havendo de ser considerada acolocação de Tourinho Neto de que "se os índios eram donos das terras, de acordocom o Alvará Régio de 1680 - não revogado -, as terras que não foram dadas porsesmarias nem as perdidas por força de guerra justa não poderiam ser consideradasdevolutas. Achavam-se elas no domínio particular dos índios, por título congênito,independente de legitimação. Assim, não se lhes podia aplicar o art. 5° da Lei nº 601,de 18 de setembro de 1850, no sentido de que seriam "legitimadas as posses mansase pacíficas, adquiridas por ocupação primária, ou havidas do primeiro ocupante, quese acharem cultivadas, ou com princípio de cultura e morada habitual do respectivoposseiro ou de quem o represente (...)". Com efeito, não eram os índios posseiros esim os donos, pois, como firmado pelo mencionado autor, "tinham o domínio do títulolegítimo - "indigenato", que não é o direito adquirido, mas congênito, primeiro: logo,as suas posses não estavam sujeitas à legitimação". O indigenato é a fonte primária econgênita da posse territorial; é um direito congênito, enquanto a ocupação é títuloadquirido. O indigenato é legítimo por si, "não é um fato dependente de legitimação,ao passo que a ocupação, ao fato posterior, dependem de requisitos que a legitimem.3. Se uma das características das terras devolutas é a alienabilidade, resta seguroque os terrenos indígenas não se incluem entre aquelas, eis que já previa o art. 198da Constituição Federal de 1967, com a Emenda Constitucional n 1/69, que "As terrashabitadas pelos silvícolas são inalienáveis nos termos que a lei federal determinar, aeles cabendo a sua posse permanente e ficando reconhecido o seu direito ao usufrutoexclusivo das riquezas naturais e de todas as utilidades nelas existentes". (AC1999.01.00.022890-0/MT,DJ II 16/02/2001, pg. 03) 4. A desafetação de territórionão é modalidade de extinção do domínio público no Direito brasileiro.O genocídio e/ou a expulsão dos índios de sua área, portanto, não implica natransferência das terras antes ocupadas pelos silvícolas para o Estado-federado nemtem como conseqüência jurídica a convalidação de títulos dominiais nulos. É lógicoque se as terras de posse indígenas integram o domínio da União, uma vez expulsosou mortos os índios, a posse reverterá à União. O índio não é dominus das terras queocupa e é por isso que com seu extermínio ou expulsão a posse retorna ao dominus,isto é, à União.5. Havendo dois direitos em conflito, um precisa ser sacrificado. Logo, se há doisdireitos assegurados pela Constituição, um deles a manifestação da propriedade eoutro o direito à subsistência, direito à vida, não há como dar prevalência a direito deconteúdo econômico.6. Não é, portanto, razoável que ao caso sejam aplicadas as regras do direito privadorelativas à posse em questão indigenato.7. Na ação possessória se discute somente a posse. Todavia, se as partes, autor eréu, vierem in judicium, discutindo a posse, com base no domínio, pode-se adentrarna questão dominial. Se ambas as partes litigantes disputam a posse alegandopropriedade é cabível a discussão sobre o domínio.8. O Novo Código Civil em seu artigo 1.210, § 2º dispõe que: "não obsta àmanutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direitosobre a coisa", mantendo o mesmo comando constante no mencionado artigo 505 doCódigo Civil de 1916.9. O agravado busca fundamentar sua posse na alegação de possuir o domínio dasterras, com base em títulos fraudulentos de domínio emitidos pelo Estado da Bahia.Entretanto, há possibilidade de que as terras efetivamente sejam de ocupaçãoindígena, constituindo patrimônio da União, o que será resolvido na ACO 312-1/BA10. Agravo de instrumento do Ministério Público Federal provido para revogar adecisão recorrida, indeferindo a pretendida reintegração de posse por parte dedetentor de título nulo. (TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO, Processo n. 2003.01.00.016533-1/BA, QUINTATURMA, Relatora DESEMBARGADORA FEDERAL SELENE MARIA DE ALMEIDA,Publicado em 25/10/2004)

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PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. DESPACHO SANEADOR. FALTA DEMANIFESTAÇÃO ANTERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO. INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZO.ALEGAÇÃO DE QUE O PEDIDO DOS AGRAVADOS É JURIDICAMENTE IMPOSSÍVEL EDE QUE A TERRA OBJETO DA AÇÃO É DE POSSE IMEMORIAL DE ÍNDIOS.NECESSIDADE DE PROVA. IMPROVIMENTO DO RECURSO.1. Não há, no processo original, nulidade por ter faltado manifestação anterior doMinistério Público. Não houve qualquer ato anterior que tenha causado prejuízos aosinteresses públicos defendidos pelo parquet.2. A decisão agravada - despacho saneador - não teria que esgotar o tema sobre osaspectos argüidos pelo Ministério Público, em face de sua íntima relação com o méritoe por necessitar de produção de prova pericial. 3. Agravo improvido. (TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO, Processo n. 2004.01.00.009977-1/MT, QUARTATURMA, Relator DESEMBARGADOR FEDERAL HILTON QUEIROZ, Publicado em18/10/2004)

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. TERRASOCUPADAS TRADICIONALMENTE POR INDÍGENAS. COMPETÊNCIA TERRITORIALFEDERAL. JULGAMENTO SEM AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO.1. A competência territorial entre juízes federais do mesmo grau é relativa,prorrogando-se se não houver a exceção declinatória de foro (arts. 112 e 114 - CPC).Na hipótese, não tendo sido oposta a exceção, resta prorrogada a competência dojuízo sentenciante (art. 114 - CPC), não procedendo a alegação de nulidade dasentença.2.Tendo o feito tramitado perante o STF, onde se produziu a prova, a prolação dasentença, logo depois da baixa dos autos ao Juízo de origem, sem reabertura dainstrução, não traduz nulidade, à conta de falta de audiência de instrução ejulgamento, pois, além de já ter sido encerrada a instrução, não se proclama nulidadesem a demonstração de prejuízo.3. Tendo a sentença, cumpridamente fundamentada, fixado a indenização, emdesapropriação indireta, em sintonia com o laudo pericial, produzido por profissionalda confiança do juízo, distante dos interesses das partes, não procedem as objeçõesgenéricas que lhe opõem as apelações, de que, por tratar-se profissional semqualificação técnica adequada, não estaria habilitado a afirmar que o imóvel não foraobjeto de ocupação por aldeamentos indígenas.4. As regras definidoras do domínio dos incisos I e XI - este dizendo que são bens daUnião as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios - do art. 20 da Constituição de1988 não alcançam as terras que, em passado remoto, foram ocupadas porindígenas, mas somente em terras demarcadas e habitadas por indígenas (STF - REnº 219.983 - 3/ SP, DJ de 17/09/1999). "Os incisos I e IX do art. 20 da CF nãoalcançam terras de aldeamentos extintos, ainda que ocupadas por indígenas empassado remoto." (Súmula nº 650 - STF).5. Ressalvados os casos excepcionais, os honorários advocatícios, quando vencida aFazenda Pública, devem ser fixados em 5% (cinco por cento) do valor da condenação,não incidindo na espécie o limite mínimo previsto no art. 20, § 3º do Código deProcesso Civil. 6. Precedentes da Turma. Improvimento das apelações e provimentoparcial da remessa. (TRF 1, APELAÇÃO CIVEL, Processo n. 92.01.28092-0/DF, TERCEIRA TURMA, RelatorDESEMBARGADOR FEDERAL OLINDO MENEZES, Publicado em 01/10/2004)

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. ÁREA DE CONSERVAÇÃO FEDERAL.TERRAS INDÍGENAS. DECISÃO PROFERIDA NOS AUTOS DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA.AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO. DIREITOS INDISPONÍVEIS. NÃO OBRIGATORIEDADE.PROVA DOCUMENTAL. PROVA PERICIAL.

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1. Se a questão discutida nos autos versa sobre direitos indisponíveis, não está o juizobrigado a designar audiência de conciliação (art. 331, caput, do CPC).2. Sendo o Agravante - IPAAM - o órgão responsável pela concessão de licença,acompanhamento e fiscalização das atividades concernentes à degradação do meioambiente, correta a decisão que defere o pedido de fornecimento de provasdocumentais relacionadas com referidas atividades, não havendo necessidade deespecificação detalhada de cada documento. 3. Se o ato judicial de deferimento de perícia resulta da evidente necessidade paratrazer subsídios para o julgamento da causa, não se faz mister outros fundamentos.4. Agravo de Instrumento não provido.(TRF1, AG 1999.01.00.111057-8/AM, Rel. Juiz Federal Vallisney De Souza Oliveira(conv), Terceira Turma Suplementar, DJ de 30/09/2004)

AÇÃO DE DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. TERRAS OCUPADAS PELOS INDÍGENAS.DECRETO PRESIDENCIAL QUE CRIOU O PARQUE NACIONAL DO XINGU (MT).INDENIZAÇÃO. POSSIBILIDADE APENAS COM RELAÇÃO ÀS BENFEITORIASDERIVADAS DA OCUPAÇÃO DE BOA-FÉ (CARTA MAGNA ATUAL, ART. 231, § 6º).1. O decreto emitido pelo Poder Executivo Federal, que declara determinada área deterras como pertencentes aos indígenas, constitui ato administrativo que goza daspresunções de veracidade e de legitimidade, somente afastadas mediante prova emcontrário a cargo de quem aproveite (C.P.C., arts. 332 e 333, I), não existente, nocaso.2. Inexistência de direito à indenização pela terra nua, uma vez que, não havendodireito adquirido contra a Constituição, a parte final do § 6º do artigo 231 daConstituição, somente admite a indenização das "benfeitorias derivadas da ocupaçãode boa-fé". Precedentes desta Corte.3. Honorários advocatícios fixados com razoabilidade em R$ 10.000,00 (dez milreais), o que, considerando a natureza e a importância da causa (desapropriaçãoindireta de área de grande extensão - 9.999ha), o trabalho realizado pelos advogados(de grande expressão, como ressaltado pelo ilustre juiz), e o lugar da prestação doserviço, está de acordo com o § 4º do artigo 20 do Código de Processo Civil.4. Apelação a que se nega provimento.(TRF 1, AC 1998.01.00.038707-0/MT, Rel. Juiz Federal Leão Aparecido Alves (conv),Terceira Turma Suplementar, DJ de 30/09/2004)

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. TERRAS INDÍGENAS. IDENTIFICAÇÃO EDELIMITAÇÃO. PORTARIA N. 1.086/2000-FUNAI. MANDADO DE SEGURANÇA.INDEFERIMENTO DA INICIAL. MATÉRIA DE DIREITO. APELAÇÃO. JULGAMENTO DOMÉRITO PELO TRIBUNAL. CPC, ART. 515, § 3º.1. A teor do disposto no art. 515, § 3º, do CPC, extinto o processo sem julgamentodo mérito, pode o Tribunal julgá-lo desde logo, quando se tratar de matériaexclusivamente de direito, hipótese dos autos, em que o impetrante questiona atosadministrativos que inquina de ilegalidades.2. Não ocorrem as apontadas ilegalidades, todavia, na ação do Grupo Técnico criadopela Portaria n. 1.086/PRES/2000, da FUNAI, para identificação e delimitação deáreas indígenas, que, atendendo a solicitação do impetrante, procede a estudos emdocumentos por ele apresentados, concluindo que sua propriedade "confronta com aTerra Indígena Ubawawê e incide nos limites - em estudos - da Terra IndígenaParabubure".3. Sentença reformada, em parte.4. Apelação provida, denegando-se, porém, a segurança.(TRF 1, AMS 2001.34.00.014538-2/DF, Rel. Desembargador Federal Daniel PaesRibeiro, Sexta Turma, DJ de 27/09/2004)

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PROCESSO CIVIL - MANDADO DE SEGURANÇA - NULIDADE DE ATOADMINISTRATIVO QUE DETERMINOU LEVANTAMENTO FUNDIÁRIO DE TERRAINDÍGENA - AUSÊNCIA DE LIQUIDEZ E CERTEZA DO DIREITO ALEGADO - EXTINÇÃODO PROCESSO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO - SENTENÇA CONFIRMADA.1.Não há como acolher a pretensão deduzida, em virtude da necessidade de dilaçãoprobatória, incompatível com a via estreita do mandado de segurança.2. Desse modo, não se pode reconhecer ao Impetrante direito líquido e certo ànulidade de ato administrativo de levantamento de terras indígenas, se inexiste nosautos prova inequívoca, apta a comprovar o direito alegado.3. Sentença confirmada.4. Apelação desprovida.(TRF 1, AMS 2001.34.00.018165-6/DF, Rel. Desembargador Federal José AmilcarMachado, Primeira Turma, DJ de 06/09/2004)

PROCESSUAL CIVIL. POSSESSÓRIA. MANUTENÇÃO DE POSSE. TERRAS INDÍGENAS.AÇÃO RESCISÓRIA. ANTECIPAÇÃO DA TUTELA. AUSÊNCIA DOS PRESSUPOSTOSLEGAIS. AGRAVO REGIMENTAL.I - A alegação de posse violenta, precária e viciada reclama dilação probatória não semostrando, por isso, suficiente o bastante para autorizar a reintegração liminar daposse de imóvel ocupado por indígenas, descaracterizando, assim, os pressupostoslegais necessários para a concessão de antecipação da tutela em ação rescisóriaajuizada com a finalidade de desconstituição de julgado em que se reconheceu comolegítima a referida posse.II - Agravo regimental desprovido. (TRF 1, AGRAR 2004.01.00.025530-2/BA, Rel. Juiz Federal Moacir Ferreira Ramos(conv), Terceira Seção, DJ de 26/08/2004)

PROCESSUAL CIVIL, ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. AÇÃO DEMARCATÓRIA.INCLUSÃO DO IMÓVEL QUE SE QUER DEMARCAR, NO CURSO DA AÇÃO, EM ÁREADEMARCADA COMO RESERVA INDÍGENA. SUBSISTÊNCIA DA POSSIBILIDADEJURÍDICA DO PEDIDO. AUSÊNCIA DE INCERTEZA QUANTO À LINHA DIVISÓRIA.TITULAÇÃO DE TERRAS TRADICIONALMENTE OCUPADAS POR INDÍGENAS. NULIDADEDO TÍTULO (CF/88, ART. 231, § 6º).1. O fato de haver sido o imóvel que se pretende demarcar incluído em área dereserva indígena constituída após o ajuizamento da ação demarcatória não implica aimpossibilidade jurídica superveniente do pedido, posto que, a par de não ser aprovidência vedada em lei, o art. 19, § 2º, da Lei nº 6.001/73 assegura dita ação aquem sofrer prejuízo em razão da demarcação de terra indígena.2. Sendo o imóvel do autor, na extrema que pretende ele ver demarcada, limitadopor divisa natural (o Igarapé do Repartimento), não há que falar em incerteza delimites, a justificar a propositura da ação demarcatória, que, só por isso, já seriaimprocedente.3. Incluído, entretanto, o imóvel, no curso da ação, em área demarcada como reservaindígena (a Reserva Yanomami), leva-se em conta esse fato novo, com base no art.462 do CPC, e em face do disposto no art. 19, § 2º, da Lei nº 6.001/73.4. A Constituição Federal de 1988, ao conceituar, no art. 231, as terrastradicionalmente ocupadas pelos índios, não as limitou àquelas por eles habitadas emcaráter permanente, mas incluiu, também, "as utilizadas para suas atividadesprodutivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários aseu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos,costumes e tradições", declarando, no § 6º, a nulidade e a ineficácia jurídica dequaisquer atos que tenham por objeto essas terras.

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5. Não afasta essa nulidade, no caso em apreço, o equívoco cometido pela FUNAI, aodeclarar, antes da realização da perícia antropológica, que a terra descrita na inicialestava fora da área por ela pretendida, pois o erro não gera direito, menos, ainda,em face da disposição constitucional imperativa.6. Preliminar de impossibilidade jurídica superveniente do pedido, suscitada peloMinistério Público Federal, rejeitada.7. Apelação do autor improvida. (TRF 1, APELAÇÃO CIVEL, Processo n. 2001.01.00.040380-5/RR, QUINTA TURMA,Relator DESEMBARGADOR FEDERAL ANTÔNIO EZEQUIEL DA SILVA, Publicado em03/08/2004)

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. IMÓVEL RURAL.EXPLORAÇÃO DE ATIVIDADE AGROPECUÁRIA. INVASÃO POR INDIOS DACOMUNIDADE PATAXÓ HÃ HÃ HÃE. LIMINAR. AGRAVO DE INSTRUMENTO.1. Comprovadas a posse, o esbulho e a utilização sócio-econômica do imóvel, comatividades ligadas à agropecuária, tem-se por acertado o deferimento da liminar.2. Em exame perfunctório, como o exercitado em sede de agravo, impossível éconcluir pela posse indígena sobre as terras em litígio, sem perícia antropológica queindique, sem margem a dúvida, a influência indígena demonstrativa de que, não hámuitos anos, os índios tinham ali o seu habitat.3. Agravo desprovido. (TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO, Processo n. 2002.01.00.030940-0/BA, SEXTATURMA, Relator DESEMBARGADOR FEDERAL DANIEL PAES RIBEIRO, Publicado em02/08/2004)

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. INTERDITO PROIBITÓRIO. IMÓVEIS RURAIS.EXPLORAÇÃO DE ATIVIDADE AGROPECUÁRIA. IMINÊNCIA DE INVASÃO POR INDIOSDA COMUNIDADE PATAXÓ DE ALDEIA NOVA - BA. LIMINAR. AGRAVO DEINSTRUMENTO. POSSE INDÍGENA.1. Comprovados documentalmente a posse e a utilização sócio-econômica dosimóveis, com atividades ligadas à agropecuária, e a iminente ameaça de turbação ouesbulho, tem-se por acertado o deferimento da liminar.2. Em exame perfunctório, como o exercitado em sede de agravo, impossível éconcluir pela posse indígena sobre as terras em litígio, sem perícia antropológica queindique, sem margem à dúvida, a influência indígena demonstrativa de que, não hámuitos anos, os índios tinham ali o seu habitat.3. Agravo desprovido. (TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO, Processo n. 2003.01.00.006722-0/BA, SEXTATURMA, Relator DESEMBARGADOR FEDERAL DANIEL PAES RIBEIRO, Publicado em18/06/2004)

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS.DECLARAÇÃO DE EFEITO ERGA OMNES DE REGISTROS IMOBILIÁRIOS. ESTUDOSSOBRE A POSSE IMEMORIAL INDÍGENA PARA EVENTUAL DEMARCAÇÃO DA RESERVAPARABUBURE.1. Antecipação de tutela. Correta a decisão que a negou, porquanto sequerinstaurada a fase administrativa de contestação prevista no Decreto n. 1.775/96;mesmo que concluído o procedimento, aos atingidos pela delimitação e aosinteressados na definição da área em questão assegura-se a via judicial para adefesa do direito que julgam ameaçado ou violado.2. Agravo desprovido.(TRF 1, AG 2002.01.00.033501-8/MT, Rel. Desembargador Federal Daniel PaesRibeiro, Sexta Turma, DJ de 17/05/2004)

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ADMINISTRATIVO. TERRAS INDÍGENAS. IDENTIFICAÇÃO E DELIMITAÇÃO PELAFUNAI. PRETENSÃO DE EXPLORAÇÃO DE MADEIRA E FORMAÇÃO DE PASTAGENS.IMPOSSIBILIDADE.1. Delimitada a área da propriedade do impetrante como integrante da TerraIndígena Kayabi, compete à FUNAI zelar pela sua integridade, apesar de não ter sidoainda demarcada, eis que "a demarcação não é constitutiva. Aquilo que constitui odireito indígena sobre as suas terras é a própria presença indígena e a vinculação dosíndios à terra, cujo reconhecimento foi efetuado pela Constituição Brasileira".2. Inexistência, pois, de ilegalidade do ato administrativo impugnado, que apenasinformou ao órgão ambiental do Estado acerca da localização do imóvel rural dentrode área identificada como indígena.3. Sentença que se confirma. 4. Apelação desprovida. (TRF 1, APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA, Processo n. 2001.36.00.008004-3/MT, SEXTA TURMA, Relator DESEMBARGADOR FEDERAL DANIEL PAES RIBEIRO,Publicado em 19/04/2004)

CIVIL. MANUTENÇÃO DE POSSE. ÁREA RURAL EXPLORADA PELA AGRAVADA HÁ MAISDE 50 (CINQÜENTA) ANOS. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE DIREITO INDIGENASOBRE A ÁREA. POSSE MANTIDA. AGRAVO IMPROVIDO.1 - A parte que tem a posse de terreno e o explora nas lides agrícolas há mais de 50(cinqüenta) anos faz jus à proteção possessória.2 - Não havendo comprovação de que as terras em questão, pretensamentepertencentes aos índios, por ocupação histórica, estejam localizadas em local delitígio relativo a diminuição de área de reserva ou de efetiva ocupação histórica, o quedemanda tramite ordinário de ação própria para a constatação da possível ocupação.3 - Indemonstrada a existência de discussão judicial sobre as terras, deve serprotegida a posse da agravada.4 - Agravo de instrumento improvido. (TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO, Processo n. 2001.01.00.028076-8/BA, QUINTATURMA, Publicado em 29/03/2004)

PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. TERRAS INDÍGENAS. BEM IMÓVELDA UNIÃO. BENFEITORIAS CONSTRUÍDAS POR POSSUIDOR. INCOMPETÊNCIA DOJUIZADO ESPECIAL FEDERAL. ART. 3º, § 1º, II, DA LEI 10259/2001.1. Terras indígenas são bens da União. Art. 20, XI, da Constituição Federal.2. Versando o processo sobre benfeitorias de terceiros edificadas em terras indígenas,o Juizado Especial Federal é absolutamente incompetente. Art. 3º, §1º, II, da Lei10259/2001.3. Conflito conhecido. Competente o suscitado.(TRF 1, CC 2003.01.00.041004-0/TO, Rel. Desembargador Federal Carlos Olavo,Segunda Seção, DJ de 24/03/2004)

ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. CADEIA DOMINIAL. AQUISIÇÃO DEPOSSE DE IMÓVEL. ÁREA INDÍGENA.1. Se a pretensa cadeia dominial apresentada pela parte, para justificar pedido deindenização por desapropriação indireta, tem origem na aquisição de meros títulos deposse de terras públicas, que, como negócio jurídico meramente obrigacional, nãotem aptidão para originar o domínio, correta se revela a sentença que, negando atitularidade do direito de propriedade, rejeita o pedido, independentemente da

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certificação da existência (ou não), nas áreas dadas como ocupadas indevidamentepelo poder público, de posse imemorial de populações indígenas.2. Improvimento da apelação.(TRF 1, AC 2000.01.00.135191-8/RO, Rel. Desembargador Federal Olindo Menezes,Terceira Turma, DJ de 12/03/2004)

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL . RESTRIÇÃO AO DIREITO DEPROPRIEDADE.1. A Lei 6.001/73 não autoriza que se proíba o dominus de boa-fé de ir e vir na suapropriedade, enquanto se prepara o processo de demarcação de terras indígenas porato administrativo. Precedente do STJ.2. Dá-se provimento parcial ao agravo de instrumento.(TRF 1, AG 2003.01.00.017484-8/MA, Rel. Desembargadora Federal Maria IsabelGallotti Rodrigues, Sexta Turma, DJ de 09/02/2004)

CONSTITUCIONAL E CIVIL. TERRAS INDÍGENAS. POSSUIDORES DE BOA-FÉ.EXPULSÃO DAS TERRAS POR AÇÃO DE SERVIDORES DA FUNAI. INDENIZAÇÃO PORDANOS MATERIAIS. RESPONSABILIDADE OBJETIVA.1. Para a configuração da responsabilidade objetiva nos termos do artigo 37,parágrafo 6º, da Constituição Federal, é suficiente a comprovação do nexo causalentre o fato e o dano, não havendo que se falar, na espécie, em culpa ou dolo doagente. Comprovado nos autos que a destruição das benfeitorias pelas quais osautores requerem indenização se deu por ação de servidores públicos em conjuntocom a polícia, é aplicável a responsabilidade objetiva.2. A Constituição Federal, em seu artigo 231, parágrafo 6º, garante a indenização porbenfeitorias realizadas pelo possuidor de boa-fé em terras indígenas, salvoindenização por lucros cessantes pela perda da posse em terras indígenas.3. Apelações e remessa oficial parcialmente providas.(TRF 1, AC 1998.01.00.066005-5/RO, Rel. Juiz Federal Wilson Alves De Souza (conv),Terceira Turma Suplementar, DJ de 29/01/2004)

CONSTITUCIONAL. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. ÁREA INDÍGENA. TÍTULO DEPROPRIEDADE EXPEDIDO PELO ESTADO DE MATO GROSSO. CONSTITUIÇÃOFEDERAL DE 1891, ART. 64. ART. 129 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1934. CF/88,ART. 231, §§ 4º a 7º.1. Ainda que o Estado de Mato Grosso tenha recebido terras indígenas entre asdevolutas que lhe foram atribuídas pelo art. 64 da Constituição de 1891, não poderiao referido Estado aliená-las, à vista do disposto no art. 129 da Constituição Federalde 1934, segundo o qual "será respeitada a posse de silvícolas que nelas se achempermanentemente localizados, sendo-lhes, no entanto, vedado aliená-las".2. Inexistindo benfeitorias implantadas pelos autores, como afirmado pelo perito naperícia avaliatória, não há também o dever de indenização, quanto a elas, porparte das rés.3. Apelação improvida.(TRF 1, AC 1999.01.00.026084-0/MT, Rel. Juiz Jamil Rosa De Jesus (conv), QuartaTurma, DJ de 18/12/2003)

CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA COMDENUNCIAÇÃO À LIDE DO ESTADO DO MATO GROSSO. VENDA A NON DOMINO.JUROS DE MORA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.1. A denunciação da lide na forma em que apresentada pelo autor preenche osrequisitos processuais.

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2. A Justiça Federal é competente para dispor sobre a denunciação em razão dapresença da União na lide. (Precedente do STJ).3. A União comprovou que as terras alienadas eram tradicionalmente ocupadas porindígenas. A venda foi a non domino, logo deve ser indenizado o comprador de boafé.4. O autor sucumbiu na demanda contra a União, está obrigado, portanto, a arcarcom a verba de sucumbência em seu favor. 5. Os juros de mora são devidos a partir da citação.6. Apelos improvidos.(TRF 1, AC 2002.01.00.041284-2/DF, Rel. Desembargador Federal Hilton Queiroz,Quarta Turma, DJ de 28/11/2003)

CONSTITUCIONAL. CONSTRUÇÃO DE PORTO EM PRETENSA ÁREA INDÍGENA. AÇÃOCIVIL PÚBLICA. SUSPENSÃO DAS OBRAS. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.PROTEÇÃO AOS POVOS INDÍGENAS. PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE E DA EFICIÊNCIA.PRESENÇA DOS PRESSUPOSTOS NECESSÁRIOS À CONCESSÃO DA TUTELACAUTELAR EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA.1. A competência da Justiça Federal surge sempre que um dos entes previstos no art.109 da CF seja parte na ação, salvo quando a lide se enquadrar nas exclusões legais.Precedentes da Corte e do STJ.2. A proteção aos povos indígenas, bem como as suas terras, é um dever impostopela Constituição Federal.3. A construção de um porto em terra cuja propriedade é reclamada por populaçãoindígena contraria os princípios da legalidade e da eficiência, sobretudo quando opróprio Município-agravante reconhece a possibilidade de insucesso na demanda.4. Os índios têm grande ligação com o meio ambiente, ainda em sua forma original,situação que será afetada pelo porto que se pretende construir, em especial, quandoo objetivo de sua construção é dar maior suporte à pretensa exploração turística daregião.5. A tutela cautelar na ação civil pública é expressamente prevista na legislação quedisciplina a espécie, cabendo ao Juízo a aferição da existência dos pressupostosensejadores da concessão do provimento preliminar, não precisando, para isso, estarplenamente convencido do direito, mas de sua possibilidade, ou da possibilidade desucesso da pretensão formulada.6. Agravo de instrumento improvido. (TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO, Processo n. 2001.01.00.014057-3/GO, RelatoraDESEMBARGADORA FEDERAL SELENE MARIA DE ALMEIDA, Publicado em25/11/2003)

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO CONTRA DECISÃO QUE DEFERIUPARCIALMENTE PRESTAÇÃO LIMINAR. NULIDADES AFASTADAS. SOBREPOSIÇÃO DOSDIREITOS POSSESSÓRIOS DOS ÍNDIOS SOBRE AS TERRAS POR ELES OCUPADASTRADICIONALMENTE.I. Não há nulidade, sob a pecha de parcialidade, na intervenção do Ministério PúblicoFederal em favor da tutela dos direitos e interesses indígenas.II. Não há nulidade na oitiva de testemunha, como mero informante, pelo fato de amesma demonstrar interesse na solução do litígio em favor dos posseiros da área soblitígio.III. A posse indígena sobre as terras tradicionalmente por eles ocupadas, a despeitode terem sido, no passado, os índios expulsos das mesmas, sobrepõe-se aos direitospossessórios e dominiais constituídos posteriormente sobre elas.IV. Agravo improvido. (TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO, Processo n. 96.01.36455-2/MT, RelatorDESEMBARGADOR FEDERAL HILTON QUEIROZ, Publicado em 07/11/2003)

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CIVIL E ADMINISTRATIVO. ESBULHO POSSESSÓRIO. REINTEGRAÇÃO DE POSSE.TERRAS CONSIDERADAS INDÍGENAS. TÍTULOS DE DOMÍNIO LEGITIMAMENTEEXPEDIDOS E NÃO DESCONSTIUÍDOS.1. As terras reivindicadas pela comunidade indígena Pataxó, no sul do Estado daBahia, não podem ser ocupadas unilateralmente pelos reivindicantes, violentando osdireitos dos proprietários rurais atuais ocupantes, sem que antes sejamdesconstituídos os títulos dedomínio que sobre elas detêm, expedidos legitimamente pelo Estado da Bahia, comotitular do domínio das terras devolutas no seu território.2. Tramitando no Supremo Tribunal Federal ação anulatória dessa titulação, não édado às partes, os proprietários rurais ou as comunidades indígenas, alterar o estadode fato da demanda, menos ainda sob os auspícios da violência, que sempre geraviolência e intranqüilidade social.3. Ressalvada a negociação administrativa, sempre mais aconselhável, é de esperar-se a palavra final da Corte Maior a respeito da validade dos títulos de domínio dosatuais proprietários, devendo seu cumprida a ordem judicial de reintegração deposse.4. Provimento do agravo regimental.(TRF 1, AGRMC 2003.01.00.000066-7/BA, Rel. Desembargador Federal OlindoMenezes, Rel.Acor. Desembargador Federal Olindo Menezes, Corte Especial, DJ de16/09/2003)

PROCESSUAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. DESAPROPRIAÇÃO POR INTERESSESOCIAL PARA REFORMA AGRÁRIA. LEVANTAMENTO DE PARTE DO VALOR OFERTADO.CONTROVÉRSIA SOBRE A TITULARIDADE DAS TERRAS. IMPOSSIBILIDADE. ART. 6º,§ 2º, DA LEI COMPLEMENTAR Nº 76, DE 1993. AGRAVO DESPROVIDO.1 - Se, no curso da desapropriação, surge questão sobre a titularidade das terrasexpropriadas, que abrange a existência de terras públicas estaduais e terrasindígenas dentro da área expropriada e a sua delimitação, resta inquestionável quenão há como reconhecer qualquer direito sobre partes do imóvel ou ainda qualquerposse legítima dos agravantes, antes da decisão definitiva sobre o domínio das terraspor eles ocupadas, pois, no caso, a questão da titularidade das terras é prejudicial àdeterminação de levantamento de qualquer valor por parte dos expropriados, sobpena de se autorizar o levantamento de valores ofertados sobre terras que jamaispoderiam ser objeto de ação expropriatória ou que jamais possuíram, de formalegítima, os agravantes ou qualquer outro particular.2 - Precedente da Terceira Turma deste Tribunal.3 - É desnecessária a prévia manifestação judicial sobre o pedido de habilitação docontrato de prestação de serviços advocatícios, pois, nos termos do artigo 22,parágrafo 4º, da Lei nº 8.906, de 1994, a mera juntada aos autos do instrumentorespectivo antes do levantamento autoriza o pagamento de honorários,destacadamente.4 - Agravo desprovido.(TRF 1, AG 2000.01.00.139583-3/PA, Rel. Juiz Ricardo Machado Rabelo (conv),Terceira Turma, DJ de 11/07/2003)

REINTEGRAÇÃO DE POSSE. TERRAS INDÍGENAS. LAUDO ANTROPOLÓGICOATESTANDO A "MEIA" DESCENDÊNCIA INDÍGENA DA REQUERIDA. IMPROCEDÊNCIA.1. Atestando o laudo antropológico que a Ré é de "meia" descendência da etniaindígena Macuxi, configurado está o erro da FUNAI em requerer a retirada da Ré daaldeia Pium.

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2. Nenhum reparo, pois, merece a sentença monocrática que, ante taiscircunstâncias, julgou o pedido improcedente, reconhecendo o direito da Ré depermanecer no seu habitat natural e, conseqüentemente, usufruir das riquezasnaturais e de todas as utilidades ali existentes, conforme dispõe o art.231 eparágrafos da Constituição Federal.3. Remessa oficial improvida.(TRF 1, REO 1999.01.00.099054-9/RR, Rel. Juiz Wilson Alves De Souza (conv),Terceira Turma Suplementar, DJ de 08/05/2003)

PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. EMBARGOS DE RETENÇÃO PORBENFEITORIAS. ÁREA ÍNDIGENA, JULGAMENTO DE PROCEDÊNCIA COM GARANTIADE RETENÇÃO ATÉ O PAGAMENTO. ACOLHIMENTO PELO JUIZ DE OFERTAUNILATERAL DO EMBARGADO PARA IMISSÃO NA POSSE. POSSE DA FUNAI E DOSÍNDIOS HÁ QUASE 10 ANOS. ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DA COISA JULGADA.NÃO VERIFICAÇÃO. QUESTÃO SOCIAL GRAVE.1. O devedor pode ofertar os valores devidos para imitir-se na posse do imóvelretido.2. Não impede tal posse impugnação pelo credor de tais valores, de maneira que nãose caracteriza descumprimento da decisão judicial que condiciona tal imissão apagamento se tais valores se apresentam razoáveis e a causa envolve direitos sociaisrelevantes, como é o caso de posse no imóvel de comunidade indígena há quase 10anos, embora por força da decisão impugnada.3. Em caso de eventual diferença, para se manter integralmente a coisa julgada, opagamento deve ser feito em dinheiro imediatamente, e não pela via do precatório.4. Agravo improvido, com ressalvas. (TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO, Processo n. 1999.01.00.029828-6/MT,TERCEIRA TURMA SUPLEMENTAR, Relator JUIZ WILSON ALVES DE SOUZA (CONV.),Publicado em 27/02/2003)

PROCESSO CIVIL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. AGRAVO DEINSTRUMENTO. POPULAÇÃO INDÍGENA DESALOJADA DE SUA ÁREA PARACONSTRUÇÃO DE HIDROELÉTRICA. PAGAMENTO DE VERBA DE MANUTENÇÃOTEMPORÁRIA - VMT ÀS NOVAS FAMÍLIAS FORMADAS APÓS O DESALOJAMENTO.1. Legitima-se o pagamento da Verba de Manutenção Temporária - VMT às novasfamílias de indígenas desalojadas de suas terras para construção de usinahidroelétrica, constituídas após o desalojamento, sem a limitação do conceito defamília decorrente das Leis nºs 6.216/75, 8.971/94 e 9.278/96, eis que nãoinvocados tais diplomas legais no convênio que assegurou tal benefício, comatribuição à FUNAI de identificar os grupos familiares a serem por ele contemplados,devendo, porém, ser excluídas das listas apresentadas a família que já recebe talbenefício e aquelas cujos chefes exerçam emprego fixo remunerado, cabendo àagravante o ônus de comprovar esse fato.2. Agravo de instrumento parcialmente provido.(TRF 1, AG 2001.01.00.032235-0/BA, Rel. Desembargador Federal Antônio EzequielDa Silva, Quinta Turma, DJ de 21/02/2003)

AÇÃO DE DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. TERRAS OCUPADAS PELOS INDÍGENAS.DECRETO PRESIDENCIAL DEMARCATÓRIO DA ÁREA RESPECTIVA. INDENIZAÇÃO.POSSIBILIDADE APENAS COM RELAÇÃO ÀS BENFEITORIAS DERIVADAS DAOCUPAÇÃO DE BOA-FÉ (CARTA MAGNA ATUAL, ART. 231, § 6º).1. Não tendo sido cumprida a determinação judicial em questão (juntada dosdocumentos indispensáveis à propositura da ação - CPC, art. 283), impõe-se o

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indeferimento da petição inicial (CPC, art. 284, parágrafo único), com a extinção doprocesso, sem julgamento do mérito (CPC, art. 267, I). Precedentes desta Corte.2. O decreto emitido pelo Poder Executivo Federal, que declara determinada área deterras de ocupação imemorial dos silvícolas, constitui ato administrativo que goza daspresunções de veracidade e de legitimidade, somente afastadas mediante prova emcontrário a cargo de quem aproveite (CPC, arts. 332 e 333, I), não existente, nocaso.3. A parte final do § 6º do artigo 231 da Constituição, ao contrário do § 2º do artigo198 da Emenda Constitucional nº 1/69 (que não a admitia em hipótese alguma),admite a indenização das "benfeitorias derivadas da ocupação de boa-fé".Precedentes desta Corte.4. No caso, no entanto, os autores não requereram a indenização das benfeitorias,mas apenas da terra nua, o que conduz à improcedência do pedido.5. Apelação não provida.(TRF 1, AC 1997.01.00.029639-7/MT, Rel. Juiz Leão Aparecido Alves (conv), SegundaTurma Suplementar, DJ de 12/12/2002)

ADMINISTRATIVO. ANULAÇÃO DE ATO DA FUNAI QUE DEMARCOU TERRASINDÍGENAS. SUPERVENIENTE PORTARIA DO MINISTRO DA JUSTIÇA DETERMINANDOA DEMARCAÇÃO DA ÁREA. PERDA DO OBJETO DA AÇÃO. EXTINÇÃO DO PROCESSO.1. Revogado o ato da FUNAI que se pretendia anular este processo em decorrência desuperveniente Portaria Ministerial que determinou que essa Fundação promovesse ademarcação da área, decorre o perecimento do objeto desta ação, justificando, a todomodo, a extinção doprocesso, com fulcro no art. 267, VI, do CPC.2. Apelação não provida.(TRF 1, AC 96.01.23045-9/DF, Rel. Juiz Carlos Alberto Simões De Tomaz (conv),Terceira Turma Suplementar, DJ de 05/12/2002)

PROCESSUAL. MANDADO DE SEGURANÇA. TERRAS DE OCUPAÇÃO MEMORIAL DEÍNDIOS.1. Direitos dos índios à ocupação permanente da área.2. Nulidade os títulos imobiliários concernentes à área indígena.3. Necessidade de dilação probatória.4. Apelo a que se dá provimento.5. Remessa oficial prejudicada.6. sentença reformada. (TRF 1, APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA, Processo n. 89.01.25294-5/MT,PRIMEIRA TURMA SUPLEMENTAR, Relator JUIZ FRANCISCO DE ASSIS BETTI (CONV.),Publicado em 21/11/2002)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO POSSESSÓRIA. INVASÃO DE TERRAS DEDOMÍNIO PRIVADO POR ÍNDIOS. AUSÊNCIA DE ESTUDOS E PROVIDÊNCIASCONCRETAS PARA CARACTERIZAR A ÁREA COMO "TERRA TRADICIONALMENTEOCUPADA POR ÍNDIOS".1- A outorga da proteção possessória pelo juiz pressupõe,necessariamente, a comprovação da posse do autor, o esbulho ou a turbação pelo réue a data em que tal violência se tornou efetiva (CPC, art. 927). Caso em que taisrequisitos se acham demonstrados nos autos.2- Incensurável a decisão que defere liminar em ação de reintegração de posse,resguardando o direito de quem exercia pacificamente a posse e a teve turbada ouesbulhada de um momento para outro. Medida que se impõe, inclusive, para garantira continuidade das atividades de economia rural exercidas no imóvel de domínioprivado, restabelecendo-se, assim, o status quo ante.

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3- Agravo a que se nega provimento, por maioria. (TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO, Processo n. 2001.01.00.048745-7/BA, QUINTATURMA, Relatora DESEMBARGADORA FEDERAL SELENE MARIA DE ALMEIDA,Publicado em 05/11/2002)

PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. TERRAS INDÍGENAS.USUFRUTO EXCLUSIVO.1. Tem o agravante, residente em terra de usufruto exclusivo dos índios, legitimidadepassiva em ação civil pública, na qual lhe é imputada a prática de infração ambientale se postula a sua retirada da área.2. Agravo de instrumento ao qual se nega provimento. (TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO, Processo n. 2001.01.00.049830-9/TO, SEXTATURMA, Relatora DESEMBARGADORA FEDERAL MARIA ISABEL GALLOTTIRODRIGUES, Publicado em 30/10/2002)

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. DEMARCAÇÃO DE TERRASINDÍGENAS. ESTUDOS PRÉVIOS. OFENSA AO DIREITO DE PROPRIEDADE.INEXISTÊNCIA.1. A demarcação de terras indígenas constitui procedimento amparado peloordenamento jurídico, que tem por escopo a definitiva delimitação das terrasimemorialmente ocupadas pelos índios, o que contribui decisivamente para evitarfuturos confrontos entre as diferentes etnias. Sendo assim, é vedada qualqueroposição à presença de técnicos da FUNAI, na área sob estudo, com o objetivo deverificar se as terras são, de fato, indígenas.2. Os trabalhos destinados a eventual demarcação das terras não causam óbice aoexercício da posse plena e pacífica e, bem assim, dos demais direitos inerentes àpropriedade, tais como uso, gozo e fruição da coisa. No entanto, se do trabalhotécnico resultar real ofensa a direito dos Agravantes, terão estes a oportunidade dese defenderem por meio da eventual ação cabível na espécie.3. Agravo de Instrumento a que se nega provimento. (TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO, Processo n. 2002.01.00.008343-0/MT, QUINTATURMA, Relator DESEMBARGADOR FEDERAL FAGUNDES DE DEUS, Publicado em25/10/2002)

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CAUTELAR VISANDO IMPEDIR DEMARCAÇÃOADMINISTRATIVA DE TERRAS INDÍGENAS. ATO DA ADMINISTRAÇÃO REALIZADO EMESTRITA OBEDIÊNCIA À DETERMINAÇÃO JUDICIAL CONTIDA EM MEDIDA CAUTELARDEFERIDA LIMINARMENTE EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIADO PEDIDO QUE SE MANTÉM.(TRF 1, AC 1998.01.00.064598-8/MA, Rel. Juiz Moacir Ferreira Ramos (conv),Terceira Turma Suplementar, DJ de 14/10/2002)

ADMINISTRATIVO. CONSTITUCIONAL. DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS.I - O Decreto nº 1.775, que dispõe sobre o procedimento administrativo dedemarcação das Terras Indígenas e dá outras providências, entrou em vigor em 9 dejaneiro de 1996, revogando o Decreto n. 222/91.II - Consoante determinação de ordem constitucional, as terras tradicionalmenteindígenas devem ser objeto de demarcação pela União. Assim, uma vez identificadase delimitadas essas terras indígenas são demarcadas mediante ato de caráterdeclaratório, que não tem efeitos constitutivos nem desconstitutivos. Tudo isso se dápor intermédio de procedimento previamente estabelecido, no curso do qual aAdministração reúne os elementos de prova da ocupação tradicional da terra por

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índios, dimensiona esta ocupação tradicional por meio de mapas e memorialdescritivo e oficializa sua delimitação, com a emissão de declaração administrativa,consubstanciada na homologação, mediante decreto do Chefe do Poder Executivo.Culmina na colocação de marcos de limites da terra então delimitada.III - Remessa oficial não provida. (TRF 1, REMESSA EX-OFFICIO, Processo n. 96.01.49190-2/RR, Relator JUIZ CARLOSFERNANDO MATHIAS, Publicado em 10/10/2002)

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. PROCESSO DE DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS.REGISTRO DA ÁREA DEMARCADA POR FORÇA DE LIMINAR.1. Não é providência cabível no âmbito de liminar a averbação de terras em registrode imóveis, dado o seu caráter manifestamente satisfativo.2. A previsão incluída no art. 246, da Lei de Registros Públicos, pela Lei nº10.267/2001, de averbação de domínios privados existentes na área indígenademarcada objeto de registro em nome da União, não altera a natureza do ato deregistro e nem autoriza a prática de talato por força de liminar.3. Agravo de instrumento ao qual se dá provimento.(TRF 1, AG 2001.01.00.025713-0/GO, Rel. Desembargadora Federal Maria IsabelGallotti Rodrigues, Sexta Turma, DJ de 09/10/2002)

CONSTITUCIONAL. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. ÁREA INDÍGENA. TÍTULO DEPROPRIEDADE EXPEDIDO PELO ESTADO DE MATO GROSSO. CONSTITUIÇÃOFEDERAL DE 1891, ART. 64. ART. 129 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1934.1. Ainda que o Estado de Mato Grosso tenha recebido terras indígenas entre asdevolutas que lhe foram atribuídas pelo art. 64 da Constituição de 1891, não poderiao referido Estado aliená-las, à vista do disposto no art. 129 da Constituição Federalde 1934, segundo o qual "será respeitada a posse de silvícolas que nelas se achempermanentemente localizados, sendo-lhes, no entanto, vedado aliená-las".2. Apelação improvida.(TRF 1, AC 2000.01.00.064067-8/MT, Rel. Desembargador Federal Hilton Queiroz,Quarta Turma, DJ de 20/09/2002)

ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. ÁREA DE RESERVA INDÍGENA.AQUISIÇÃO DO IMÓVEL APÓS A CONSTITUIÇÃO DE 1988 E DA CRIAÇÃO DARESERVA. NULIDADE DO TÍTULO. NÃO CONFIGURAÇÃO DA OCUPAÇÃO DE BOA-FÉ.IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO.1. Após a Constituição de 1988, são considerados nulos, não produzindo efeitosjurídicos, os atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terrasindígenas (§ 6º do art.231). É nulo, portanto, o título de domínio de gleba que se encontre inserida naReserva Indígena do Alto Turiuçu, criada em 1982, se a sua aquisição e registro sederam em 1993, não ensejando, assim, o pretendido direito indenizatório pordesapossamento administrativo, inclusive porque não configurada a presença debenfeitorias introduzidas de boa-fé.2. Apelação improvida.(TRF 1, AC 1998.37.00.001571-3/MA, Rel. Juiz Saulo José Casali Bahia (conv),Terceira Turma, DJ de 30/08/2002)

CONSTITUCIONAL, CIVIL E ADMINISTRATIVO. COMUNIDADE INDÍGENA "GAVIÃO DAMONTANHA" (ÍNDIOS PARAKATEJÊS). ALIENAÇÃO DA POSSE E DE OUTROSDIREITOS DOS SILVÍCOLAS SOBRE AS TERRAS QUE OCUPAM PARA CONSTRUÇÃO DE

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OBRA PÚBLICA. EXIGÊNCIA DE ASSISTÊNCIA REGULAR DA FUNAI. TRANSFERÊNCIADE COMUNIDADE INDÍGENA PARA OUTRA ÁREA. EXIGÊNCIA DE PRÉVIAAUTORIZAÇÃO EM DECRETO PRESIDENCIAL E DE SIMILITUDE DE ÁREAS.1. É nula, e não apenas anulável, a escritura pública de alienação dos direitos sobreterra indígena, abrangendo benfeitorias, acessões e riquezas naturais, inclusiveminerais, assinada por representante de Comunidade Indígena, sem a assistênciaregular da Fundação Nacional do Índio - FUNAI, eis que, além de incidir na cominaçãode anulabilidade prevista no art. 147, I, combinado com o art. 6º, III, ambos doCódigo Civil Brasileiro e com o § 5º do art. 20 da Lei nº 6.001/73, incide, também, nacausa de nulidade prevista nos arts.198, § 1º, da Emenda Constitucional nº 01/69 à Carta de 1.967, em cuja vigência foio negócio jurídico celebrado, e 62 da Lei nº 6.001, de 19.12.1973.2. Não está regularmente representada a FUNAI, para a prática de ato dessanatureza, se a assinatura da escritura pública de alienação dá-se por seu advogadoconstituído para fim de representação judicial, ainda que munido dos poderesespeciais de que trata o art. 38 do Código de Processo Civil.3. Embora possível a transferência de uma comunidade indígena para outro local, afim de propiciar a construção de obra pública, essa transferência, nos termos do art.20, § 1º, "d", e § 2º, "c", da Lei nº 6001, de 19.12.1973, depende de préviaautorização por Decreto Presidencial, e deve fazer-se para área de extensão e decondições ecológicas semelhantes àquelas da área antes ocupada.4. Reconhecida a nulidade da escritura de alienação dos direitos sobre a terraindígena, e impossibilitado o retorno dos índios à área que antes ocupavam, impõe-sea condenação da empresa responsável pela transferência irregular a adquirir eentregar à comunidade indígena área de extensão e de condições ecológicassemelhantes às daquela de onde foram os índios forçados a afastarem-se.5. Indefere-se, porém, o pedido cumulado de "Indenização pela transferência eprejuízos da comunidade indígena que se viu privada da terra nestes anos todos", senenhum outro prejuízo foi descrito e comprovado nos autos.6. Apelações da autora e do Ministério Público Federal parcialmente providas. (TRF 1, APELAÇÃO CIVEL, Processo n. 95.01.13345-1/PA, TERCEIRA TURMA, RelatorDESEMBARGADOR FEDERAL ANTONIO EZEQUIEL, Publicado em 01/07/2002)

RESERVA INDÍGENA - REVOGAÇÃO DO DECRETO PRESIDENCIAL QUE A DECLAROUDE OCUPAÇÃO - LICITUDE, IN CASU, PORQUE DECORRENTE DE LEVANTAMENTOIRREGULAR.1. É lícita a revogação do Decreto nº 91.416/85, que declarou área de ocupaçãoindígena, ante a constatação de irregularidade da demarcação do imóvel que seafirmou ocupado pelos silvícolas.2. Remessa provida.(TRF 1, REO 1997.01.00.029360-5/DF, Rel. Juiz Evandro Reimão Dos Reis (conv),Terceira Turma Suplementar, DJ de 13/06/2002)

PROCESSUAL CIVIL. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. ARTIGO 273 DO CÓDIGO DEPROCESSO CIVIL. VISTORIA E AVALIAÇÃO DE ÁREAS LINDEIRAS A TERRASINDÍGENAS. DECRETO Nº 1.775/96. LEI Nº 6.001/73. GARANTIA AO DIREITO DEPROPRIEDADE.I - A FUNAI - órgão de assistência ao índio - nos termos do § 1º do artigo 2º doDecreto n. 1.775/96 poderá designar grupo técnico especializado para realizarestudos complementares de natureza etno-histórica, sociológica, jurídica,cartográfica, ambiental e para levantamento fundiário necessários à delimitação deterras indígenas.

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II - Verossimilhança das alegações da autora, no que diz respeito à necessidade derealização dos estudos, evidenciada pela Portaria nº 725/PRES e na própria legislaçãoque rege procedimento administrativo de demarcação de terras indígenas.III - Abuso de direito de defesa que se patenteia na imotivada resistência doproprietário aos trabalhos de campo pelos técnicos da FUNAI imprescindível aosestudos etno-históricos sociológicos e cartográficos.IV - Agravo de Instrumento dos réus-proprietários de imóvel rural desprovido,antecipação de tutela que permite o acesso dos técnicos às áreas confinantesmantidas.(TRF 1, AG 2001.01.00.050074-0/MA, Rel. Desembargador Federal Jirair AramMeguerian, Segunda Turma, DJ de 10/06/2002)

PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA. NULIDADE. CERCEAMENTO DE DEFESA.CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ART. 5º, LV. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDOAFASTADA. DISCUSSÃO SOBRE DOMINIALIDADE E POSSE DE TERRASQUALIFICADAS COMO TRADICIONALMENTE OCUPADAS POR INDÍGENAS.I. Preliminar de impossibilidade jurídica do pedido afastada sob o fundamento de queo ordenamento jurídico não proíbe o exercício do direito de ação em demanda relativaàs terras classificadas como tradicionalmente ocupadas pelos índios.II. É nula a sentença que, em litígio envolvendo elementos de fato, relativo àdominialidade de terras e posse de boa-fé (parte final do § 6º do art. 231 da CF), emterras classificadas como de ocupação tradicional indígena, é prolatada emjulgamento antecipado da lide.III. Apelação provida. (TRF 1, APELAÇÃO CIVEL, Processo n. 1999.01.00.114592-2/TO, SEGUNDA TURMASUPLEMENTAR, Relatora JUÍZA VERA CARLA NELSON DE OLIVEIRA CRUZ (CONV.),Publicado em 16/05/2002)

AÇÃO POSSESSÓRIA - COMUNIDADE INDÍGENA PATAXÓ HÃHÃHÃE - PROVA DEOCUPAÇÃO IMEMORIAL - ARTIGO 231, PARÁGRAFO 2º, DA CARTA POLÍTICA -REINTEGRAÇÃO.1. O artigo 231, parágrafo 2º, da Constituição Federal, consagrou a possepermanente aos silvícolas das terras tradicionalmente ocupadas, mantendo-se suaperenidade para sempre ao projetar o verbo "destinam-se".2. Por isso, ainda que tenham os índios perdido a posse por longos anos, porconfigurar direito indisponível, podem postular sua restituição, desde que ela,obviamente, decorra de tradicional (imemorial, antiga) ocupação, equivalente averdadeiro pedido reivindicatório da coisa.3. Comprovado que os silvícolas ostentavam posse imemorial, é procedente areintegração.4. Apelação desprovida. (TRF 1, APELAÇÃO CIVEL, Processo n. 1999.01.00.030341-8/BA, TERCEIRA TURMASUPLEMENTAR, Relator JUIZ EVANDRO REIMÃO DOS REIS (CONV.), Publicado em29/05/2002)

PROCESSUAL CIVIL. TERRA INDÍGENA. POSSE. INDENIZAÇÃO. BENFEITORIAS.1. Tratando-se de terras indígenas, a comprovação da ocupação tradicional pelosíndios deve ser feita por perícia histórico-antropológica.2. Não realizada, por culpa dos autores, não cabe a indenização do valor do imóvel,sendo, porém, devidos os valores das benfeitorias úteis e necessárias, existindo aposse de boa fé, que não foi elidida.3. Apelação e remessa oficial improvidas.

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(TRF 1, APELAÇÃO CIVEL, Processo n. 96.01.41454-1/RO, SEGUNDA TURMASUPLEMENTAR, Relator JUIZ LINDOVAL MARQUES DE BRITO (CONV.), Publicado em22/04/2002)

CONSTITUCIONAL E CIVIL. FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO. CELEBRAÇÃO DEACORDO AGROPECUÁRIO COM EMPRESA PRIVADA. ROMPIMENTO UNILATERAL DOACORDO PELA FUNAI. INEXISTÊNCIA DE DIREITO À INDENIZAÇÃO. PARÁGRAFO 6º,ART. 231, CONSTITUIÇÃO FEDERAL.- Em se tratando de terras indígenas, não produzem efeitos jurídicos os atos quetenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse destas, conforme dispõe o art.231, § 6º da Constituição Federal, não gerando, portanto, direito à indenização orompimento unilateral de projeto, o qual foi implementado em terra dos silvícolas.- Apelação improvida.(TRF 1,AC 1999.01.00.085132-5/DF, Rel. Juiz Julier Sebastião Da Silva (conv),Terceira Turma Suplementar, DJ de 01/04/2002)

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DESOCUPAÇÃO DE RESERVA INDÍGENA ASSUMIDA EMCONVÊNIO ENTRE A FUNAI E O ESTADO DO MARANHÃO. DESCUMPRIMENTO.PROCEDÊNCIA DO PEDIDO.1. Improcedência da preliminar de ilegitimidade passiva do Estado do Maranhão, umavez que assumiu a obrigação de proceder à desocupação da área da reserva indígenaem questão, dentre outras obrigações, por meio de convênio firmado com a FUNAI,mediante a entrega a ele de verba federal para tanto. Precedente específico destaCorte.2. Sendo fato incontroverso nos autos que a área em questão constitui terratradicionalmente ocupada pela comunidade indígena Guajajara (CPC, art. 334, III),são "nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por objetoa ocupação, o domínio e a posse das terras" em referência (Carta Magna, art. 231, §§1º e 6º). Precedentes desta Corte e do STF.3. Tendo a União e o Estado do Maranhão assumido a obrigação de proceder àdesocupação da área indígena em questão, além de outras obrigações daíconseqüentes, o não cumprimento delas constitui fundamento jurídico bastante paraa procedência dos pedidos formulados, tendentes à retirada do agrupamento humanonão-indígena existente no local denominado São Pedro dos Cacetes (MA) e aoreflorestamento da área. Precedente desta Corte.4. Improcedência da alegação de ilegalidade da multa imposta por descumprimentoda decisão liminar, pois tendo ela caráter intimidatório, conforme reconhecido pelopróprio apelante, não há fundamento jurídico para afastar a sua aplicação, por essarazão, uma vez que foi ela aplicada com essa natureza (intimidação), pois visava acompelir o ora apelante a cumprir a obrigação por ele assumida há mais de 21 anos(16.9.1979).5. O reflorestamento é imprescindível para a recomposição dos recursos ambientaisna reserva indígena ao estado anterior à ilícita invasão dela por terceiros, por serem(recursos ambientais) necessários ao bem-estar da comunidade indígena e àreprodução física e cultural dela, segundo seus usos, costumes e tradições (CartaMagna, art. 231, § 1º).6. Parcial provimento da remessa a fim de que a multa em questão seja fixada emUFIR, e não em salário mínimo (Carta Magna, art. 7º, IV). 7. Apelação improvida. Remessa provida em parte.(TRF 1, AC 96.01.40078-8/MA, Rel. Juiz Leão Aparecido Alves (conv), Terceira TurmaSuplementar, DJ de 11/03/2002)

ADMINISTRATIVO. CONSTITUCIONAL. DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS.

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I - O Decreto nº 1.775, que dispõe sobre o procedimento administrativo dedemarcação das Terras Indígenas e dá outras providências, entrou em vigor em 9 dejaneiro de 1996, revogando o Decreto n. 222/91.II - Consoante determinação de ordem constitucional, as terras tradicionalmenteindígenas devem ser objeto de demarcação pela União. Assim, uma vez identificadase delimitadas essas terras indígenas são demarcadas mediante ato de caráterdeclaratório, que não tem efeitos constitutivos nem desconstitutivos. Tudo isso se dápor intermédio de procedimento previamente estabelecido, no curso do qual aAdministração reúne os elementos de prova da ocupação tradicional da terra poríndios, dimensiona esta ocupação tradicional por meio de mapas e memorialdescritivo e oficializa sua delimitação, com a emissão de declaração administrativa,consubstanciada na homologação, mediante decreto do Chefe do Poder Executivo.Culmina na colocação de marcos de limites da terra então delimitada.III - Remessa oficial não provida.(TRF 1, REO 96.01.49190-2/RR, Rel. Juiz Carlos Fernando Mathias, Segunda Turma,DJ de 10/10/2001)

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. TERRASINDÍGENAS. LIMINAR. REQUISITOS: FUMUS BONI IURIS E PERICULUM IN MORA.1. A Constituição Federal reconhece aos índios os direitos sobre as terras quetradicionalmente ocupam, assim consideradas as por eles habitadas em caráterpermanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis àpreservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias asua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições (art. 231,caput e ´ 11).2. Verificado, mediante estudos técnicos, que a área objeto do litígio caracteriza-secomo tradicionalmente ocupada por silvícolas, satisfeitos estão os requisitos para odeferimento da medida liminar determinando a suspensão de obras de construção dehidrelétrica em tais terras.3. Agravo improvido. (TRF 1, AGRAVO DE INTRUMENTO, Processo n. 2000.01.00.023172-7/MT, SEXTATURMA, Relator JUIZ DANIEL PAES RIBEIRO, Publicado em 17/09/2001)

ADMINISTRATIVO E CIVIL. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. CONSTITUIÇÃO DERESERVA INDÍGENA. DOMÍNIO DO ESTADO FEDERADO SOBRE AS TERRASDEVOLUTAS NA CONSTITUIÇÃO DE 1891. DIFERENÇA ENTRE TERRAS INDÍGENAS ETERRAS DEVOLUTAS. DOMÍNIO DA UNIÃO FEDERAL SOBRE AS TERRAS INDÍGENASNA CONSTITUIÇÃO DE 1934 (ART.129). DESTINO DAS TERRAS INDÍGENAS DAUNIÃO POR GENOCÍDIO OU EXPULSÃO DOS ÍNDIOS, SEGUNDO AS CONSTITUIÇÕESDE 1934,1937,1967 E/C 1/69 E CF/88. O CONCEITO DE POSSE PERMANENTE NACONSTITUIÇÃO DE 1946. A POSSE IMEMORIAL E PERMANENTE DOS ÍNDIOSBOROROS NA ÁREA DA RESERVA INDÍGENA MERURI. AUSÊNCIA DE AÇÃODISCRIMINATÓRIA POR PARTE DO ESTADO DO MATO GROSSO PARA PROVARDOMÍNIO SOBRE TERRAS DEVOLUTAS. LEI 3.081/56. AUSÊNCIA DE PROVAS SOBREBENFEITORIAS. LUCROS CESSANTES.1. Na vigência da Constituição de 1891, era convertida a questão de se considerarcomo devolutas as terras ocupadas pelos silvícolas "porque as terras do indigenatosendo terras congenitamente possuídas, não são devolutas, isto é, sãooriginariamente reservadas, na forma do alvará de 1º de abril de 1.680 e pordedução da própria Lei de 1.850 e do art.24, §1º do Decreto nº1.850" (João MendesJunior in Os indígenas do Brasil, seus Direitos Individuais e Políticos, 1.912).2. A primeira Constituição republicana(1891), da mesma forma que a Constituição doImpério, não fez referências expressas aos silvícolas.

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3. Pela Constituição de 1891, art.64, foram transferidos aos Estados-membros odomínio e a posse das terras devolutas. Tendo os Estados federados recebido daUnião os imóveis sem qualquer restrição ao propósito das terras indígenas,transferiram os mesmos a particulares.4. A política descentralizadora que influiu na definição do federalismo de 1891 alocou,para o domínio dos estados federados, as terras devolutas e, conseqüentemente,transferiu o tratamento do problema indígena, enquanto terras indígenas, para ocontrole dos Estados.5. A Constituição de 1934 trouxe para o âmbito constitucional federal o problemaespecífico das terras silvícolas, restringindo o tratamento depredatório e negocistadas terras indígenas por parte dos Estados-membros.6. Segundo o artigo 129 da Constituição de 1934, artigo 154 da Constituição de 1937e artigo 216 da Constituição de1946, a propriedade da União sobre as terrasocupadas pelos silvícolas constitui expressão do ato-fato relativo à posse.7. Os títulos dominais concedidos antes da Constituição de 1934 foram atingidos pelanulidade superveniente da norma do seu artigo 129.8. As terras ocupadas pelos silvícolas que, sob regime da Constituição de 1891integravam o patrimônio coletivo indígena, passaram, com a Constituição de 1934, aodomínio da União.9. É nula a outorga de títulos dominiais em terras indígenas após a Constituição de1934.10. O genocídio ou expulsão de índios de suas terras não têm como conseqüênciajurídica a convalidação de títulosde domínio nulos, concedidos após a Constituição de1934.11. O extermínio e a expulsão dos índios das terras que ocuparam não acarreta odomínio dos Estados-federados sobre a terra indígena que integram o domínio daUnião desde 1934.12. As Constituições de 1934,1946,1967/69 e 1988 atribuíram à União o domínio dasterras habitadas pelos silvícolas e a desocupação dessas áreas indígenas não acarretao seu retorno ao Estado-federado.13. O artigo 216 da Constituição de 1946 reconhecia as terras dos silvícolas como dodomínio público: "Será respeitada aos silvícolas a posse das terras onde se achempermanentemente localizados, com a condição de não as transferirem".14. "... Desde que há posse e a localização permanente, a terra é do nativo, porqueassim o diz a Constituição e qualquer alienação de terras por parte de silvícolas, ouem que se achem permanentemente localizados e com posse, os silvícolas, é nula porinfração da Constituição. Aquelas mesmas que forem, em virtude do art.216,reconhecidas como de posse de tais gentes, não podem ser alienadas..." (Pontes deMiranda, in Comentários à Constituição de 1946, vol.V, a953, pp. 335/336).15. Os títulos sub judice foram expedidos sob a égide da Constituição de 1946, a qualtinha a proteção possessória indígena no pressuposto de localização permanente dossilvícolas.16. Ficou comprovado que o imóvel dos autores era, ex vi da Constituição de 1946,de localização permanente dos índios, pois ali tinham uma criação de gado.17. A perícia judicial, que também foi assinada pela assistente técnica dos autores,mostra que o grupo indígena Bororos pré-existiu ao civilizado na área sub judiceantes do contato com os brancos, senão que sua ocupação no Brasil central é anteriorao Século XVII.18. A não Bororos estendia-se desde um pouco além da divisa com a Bolívia, a oeste,até além do Araguaia, ao Sul de Goiás, alcançando o Triângulo Mineiro a leste;desdeas cabeceiras do rio Cuiabá e do rio das Mortes, ao Norte, até os rios Coximi e Nero,ao Sul.19. A área indígena Meruri integra, onde se acham as terras adquiridas pelos autores,parte do antigo território Bororos, cuja maior parte encontra-se, hoje, pela sociedadenacional. O caso não é de área reservada aos índios, mas de uma área de posseimemorial, nos termos da CF/88 e permanente, segundo a CEF/46.

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20. O domínio do Estado-membro sobre as terras devolutas está a depender deprévia ação discriminatória e transcrição no registro imobiliário. A Lei 3.081/54dispunha que a aquisição de direitos sobre terras federais estaduais e municipaisestava a depender de ação discriminatória judicial. Não tendo o Estado de MatoGrosso seguido o procedimento legalmente previsto, não adquiriu validamente odomínio e, por isso, não poderia transferi-lo.21. Os autores não trouxeram aos autos prova de existência de bens susceptíveis deserem indenizados. Os comprovantes de financiamento bancário não são suficientespara se acolher o pedido de indenização de benfeitorias.22. Lucros cessantes somente seriam devidos se a atividade fosse interrompida porato administrativo ilegal.23. Apelação dos autores provida em parte, para reduzir os honorários para 10%sobre o valor da causa. (TRF 1, APELAÇÃO CIVEL, Processo n. 1999.01.00.022890-0/MT, QUARTA TURMA,Realtor JUIZ ÍTALO MENDES, Publicado em 16/02/2001)

ADMINISTRATIVO. MANUTENÇÃO DE POSSE. ÁREA INDÍGENA(FUNIL). INEXISTÊNCIADE DIREITO. OCUPAÇÃO DE BOA-FÉ. INDENIZAÇÃO. BENFEITORIAS. INSUFICIÊNCIADE PROVAS. IMPOSSIBILIDADE.1. As terras indígenas são originariamente reservadas e não se sujeitam a qualquertipo de aquisição, sejam decorrentes de ato negocial ou de usucapião (Alvará de1º.04.1680. Lei de 1850, Decreto de 1854, art. 24, § 1º, Constituições Federais de1891, 1934, 1946,1967, 1969 e de 1988).2. Conquanto indenizáveis as benfeitorias decorrentes de ocupação de boa-fé, asprovas documentais e depoimentos dos autos revelam-se insuficientes para talfinalidade.(TRF 1, AC 1999.01.00.023028-6/TO, Rel. Juiz Mário César Ribeiro, Quarta Turma, DJde 26/01/2001)

PROCESSUAL CIVIL. DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS. SUSPENSÃO. LIMINARSEM PRÉVIA AUDIÊNCIA DA UNIÃO FEDERAL E DA FUNAI. LEI Nº6.001/73,ARTIGO63.1. É ineficaz a liminar deferida em causas que envolvam interesse de silvícolas ou doPatrimônio Indigena, sem a prévia audiência da União Federal e da entidaderesponsável pela proteção do índio (FUNAI).2. Agravo parcialmente provido.(TRF 1, AG 1997.01.00.030350-2/MA, Rel. Juiz Mário César Ribeiro, Quarta Turma,DJ de 09/06/2000)

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO ORDINÁRIA. INDENIZAÇÃO.DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. ÁREA IMEMORIALMENTE OCUPADA POR INDÍGENAS.TÍTULO NULO. INEXISTÊNCIA DE BENFEITORIAS. INCABÍVEL A INDENIZAÇÃOPRETENDIDA. APELO IMPROVIDO. SENTENÇA CONFIRMADA.1. A garantia da posse de área ocupada por indígena imemorialmente encontrarespaldo constitucional explícito desde a Constituição de 1934, sendo nulos os títulosemitidos sobre essa terras.2. São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham porobjeto a ocupação, o domínio e a pose das terras tradicionalmente ocupadas pelossilvícolas - art. 231, § 6º, da CF/88.3. Inexistindo benfeitorias produzidas pelo apelante, não há que se falar naindenização prevista no art. 231, § 6º, da CF/88, pelo que perde relevância a análisea respeito da inovação desta Carta Magna.

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4. Apelação improvida.(TRF 1, C 1999.01.00.008110-2/MT, Rel. Juiza Daniele Maranhão Costa Calixto(conv), Quarta Turma, DJ de 17/03/2000)

PROCESSUAL CIVIL. PROVAS PERICIAIS DIVERSAS REQUERIDAS DISTINTAMENTEPELAS PARTES. INTIMAÇÃO DE APENAS UM DOS LITISCONSORTES PARA PRÁTICADE ATO PROCESSUAL. NULIDADE DA SENTENÇA EXTINTIVA.I - Em ação possessória, requereram os autores produção de prova pericial paraavaliação das madeiras abatidas, enquanto a autarquia ré pediu produção de provapericial para demonstração de tratar-se a área de terras indígenas, sendo ambasdeferidas.II - Intimado apenas um dos autores para depósito dos respectivos honoráriosprofissionais, não acudindo ao chamado judicial, extinguiu o juiz o processo, nostermos do art. 267, item III, do Código de Processo Civil.III - Extinção indevida, eis que a não realização da prova pericial requerida pelosautores não determina o desinteresse na ação possessória, senão de eventualindenização, e também porque "cada litisconsorte tem o direito de promover oandamento do processo e todos devem ser intimados dos respectivos atos" (art. 49do CPC), e para o depósito dos honorários apenas um dos autores foi pessoalmenteintimado, e a omissão de um litisconsorte não prejudica o outro (art. 48, in fine, doCPC).IV - Sentença que se anula, para prosseguimento do feito como de direito.V - Apelação provida.(TRF 1, AC 92.01.24153-4/MT, Rel. Juiz Jamil Rosa De Jesus (conv), Terceira Turma,DJ de 23/02/2000)

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. COMUNIDADE INDÍGENA. DEMARCAÇÃO DETERRA. UNIÃO FEDERAL E FUNAI. RESPONSABILIDADE. INVASÃO DE ÁREAINDÍGENA.1. Por imperativo constitucional, incumbe à União Federal (FUNAI) a demarcação eproteção das terras tradicionalmente ocupadas pelas comunidades indígenas.2. Toda a região norte-oriental do Estado de Roraima apresenta vestígios deocupação imemorial indígena, pelos povos Wapixana, Makuxi e Taurepang, que alémde numerosos, mantêm estreitos laços de parentesco, áreas comuns de exploraçãodos recursos naturais e rituais comuns, conforme reiterados relatos históricos,estudos e pareceres oficiais conhecidos.3. Apesar da constatação da ocupação indígena, no início da década de 80 a FUNAI,utilizando critérios tecnicamente discutíveis ou até mesmo desconhecidos e despidosde amparo legal, retalhou a região em apreço em dezenas de áreas de dimensõesreduzidas, deixando entre elas o espaço livre para o afluxo de ocupantes não índios,intensificado pela construção de estradas com traçado sobre as próprias áreasdelimitadas e por outros incentivos oficiais ou semi-oficiais. Este fato atentou contra omodo de vida, a reprodução física e cultural das tribos mencionadas, pois dificultou amanutenção dos laços de parentesco entre as várias malocas, afastou a caça e apesca e as expôs a numerosos conflitos com posseiros não índios que, a cadaembate, acabavam estendendo mais os limites de suas atividades agropecuárias,extrativas e especulativas, não hesitando mesmo em adentrar áreas formalmentedelimitadas como indígenas, como na hipótese objeto da presente ação civil pública.4. A Portaria nº 1226/E, de 21 de maio de 1982, declarou a posse permanente dosíndios Wapixana e Macuxi sobre uma aproximada de 6.324 hectares, compreendidanos limites descritos no mesmo ato normativo, a que deu a denominação de áreaindígena Canauanim. 5. A portaria, baixada de conformidade com o Estatudo do índio(Lei 6.001, de 19.12.73), artigo 17, I, 19 23 e 25; no âmbito das atribuições daFUNAI, conforme a lei que a instituída (Lei 5.371, de 05.12.67) e o respectivo

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Estatuto, que na ocasião era o Decreto 84.638, de 16.04.80, especialmente osartigos 1º, II, b e 8º, VII; atendeu ao procedimento administrativo de demarcação deterras indígenas estabelecido pelo Decreto 76.999, de 08.01.76, artigos 2º eseguintes, que determinava o prévio reconhecimento da área demarcada (fls. 146-151).6. A União se omite e a FUNAI também por omissão de seu poder de polícia permitemque o perímetro interditado seja continuamente invadido por posseiro, com aconseqüência, além de outras, de ir apagando os vestígios da ocupação indígena.7. Doze anos se passaram desde a edição da Portaria 1226/E, sem que oprocedimento administrativo tendente à demarcação tivesse continuidade. Navigência do Dec. 76.999/76, todo o procedimento era atribuição da FUNAI,culminando com a homologação do Presidente da República. Após a substituiçãodesse diploma regulamentar pelo Decreto 88.118/83 e subseqüentemente peloDecreto 94.945, de 23.09.87, a demarcação depende de atos administrativos com aparticipação de representantes de vários órgãos da Administração Federal, cabendo aum Grupo de Trabalho Interministerial apreciar a proposta da FUNAI que, seaprovada, será encaminhada aos Ministros de Estado para declaração de ocupaçãoindígena, mediante portaria interministerial que, em seguida, será submentida àhomologaçãopresidencial.8. Apesar de o artigo 67 do ato das disposições constitucionais transitóriasestabelecer que "a União concluirá a demarcação das terras indígenas no prazo decinco anos a partir da promulgação da Constituição", nos casos com as característicasda AI Canauanim, palco de conflitos fundiários, de invasões por posseiros quepaulatinamente reduzem suas dimensões e desfiguram os vestígios de ocupaçãoimemorial, o dever de demarcar é prontamente exigível, até porque ele resulta deuma sucessão de atos a cargo de vários órgãos federais, impossíveis de seremexecutados na véspera de se completar o quinquênio. A ré vem sendo contumaz nainadimplência dessa obrigação, pois a Lei 6.001/73, art. 65, conferiu o mesmo prazo,há muito escoado, para que o Executivo demarcasse a área.9. Remessa oficial improvida.(TRF 1, REO 96.01.08732-0/DF, Rel. Juiza Selene Maria De Almeida (conv), QuartaTurma, DJ de 15/10/1999)

PROCESSO CIVIL. CONSTITUCIONAL. INTERDITO PROIBITÓRIO. TERRA INDÍGENA.POSSE DE BOA FÉ. JUSTO TÍTULO MAS INEFICAZ.I- A Constituição Federal de 1988, em seu art. 231, é clara e precisa, quandoestabelece que são reconhecidos aos índios "os direitos originários sobre as terrasque tradicionalmente ocupam".II- Não importa como o não-índio adquiriu as terras indígenas, se de boa ou má-fé. Aboa-fé só interessa para o fim de discutir indenização.III- A posse de boa-fé não significa posse justa. O título pode ser até justo - justotítulo - mas não ter eficácia, por exemplo, porque o transmitente não tem o direito depropriedade, não é dono (a domino). E, assim, na verdade, o domínio não setransmite.(TRF 1, AC 1997.01.00.023916-8/MT, Rel. Juiz Tourinho Neto, Terceira Turma, DJ de30/09/1999)

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. CONSTRUÇÃO DE ESTRADA EM ÁREAINDÍGENA PARA EXPLORAÇÃO DE JAZIDA MINERAL. VEDAÇÃO, POR AÇÃO CIVILPÚBLICA, COM ANULAÇÃO DO CONTRATO QUE A AUTORIZOU. APELAÇÕES DOSRÉUS. INCONSISTÊNCIA DAS PRELIMINARES. PERTINÊNCIA DA IRRESIGNAÇÃO,QUANTO AO MÉRITO.

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1. As preliminares agitadas no apelo da concessionária da mina não prosperam, àmíngua de afronta à lei processual.2. "Em momento algum, vedou a Constituição da República a servidão de passagemem terras da UNIÃO, cuja posse pertencesse a índios. Proibiu tão só a ocupação, aposse e o domínio sobre tais terras." (Parecer da PRR/1ª Região).3. "A própria Constituição, no capítulo referente aos direitos individuais, acolhe odireito de propriedade no ordenamento jurídico brasileiro. Ora, tal significa facultar àUNIÃO, por intermédio de sua concessionária na extração de minérios, a passagemem território ocupado por indígenas. Estabelecer o contrário, seria desnaturar odireito de propriedade da UNIÃO." 4. Apelações providas. (TRF 1, APELAÇÃO CIVEL, Processo n. 95.01.19660-7/DF, QUARTA TURMA, RelatorJUIZ HILTON QUEIROZ, Publicado em 25/06/1999)

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE MANUTENÇÃO DE POSSE. INDEFERIMENTO. LIMINAR.AUSÊNCIA DOS REQUISITOS DO ARTIGO 927 DO CPC. AGRAVO DE INSTRUMENTO.FRAGILIDADE PROBATÓRIA. IMPROVIMENTO.1. Ausentes os requisitos do artigo 927 do CPC, viabilizadores do interdito proibitório,correta é a decisão que indefere a medida liminar, até provimento judicial definitivo.2. A dilação probatória há de ser suficiente a possibilitar o convencimento do Juiz,para assegurar a manutenção da posse a favor dos Autores, a tanto não seconfigurando a prova testemunhal que, em audiência prévia, resulta divergentequanto à data da ocupação das terras pelos índios.3. Improvimento do agravo. (TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO, Processo n. 95.01.08998-3/MT, QUARTA TURMA,Relator JUIZ ALEXANDRE VIDIGAL, Publicado em 09/04/1999)

PROCESSUAL CIVIL. PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVAS. AÇÃO CAUTELAR.SUSPENSÃO DE DEMARCAÇAÕ DE RESERVA INDÍGENA. PROVIDÊNCIAJUSTIFICADA.1. Estando em andamento ação cautelar de produção antecipada das provas, como objetivo de demonstrar não estar determinado imóvel compreendido em terrasindígenas, correta se revela a decisão que ordena a suspensão provisória dademarcação administrativa da mesma área, encetada pela FUNAI - sob color de queintegra o polígono de reserva indígena (Parque Nacional do Xingu) -, até que seultimem os trabalhos periciais.2. A falta de audiência prévia do órgão de proteção do índio não invalida a decisão,posto que proferida em situação informada pela urgência, para evitar aconsumação de uma situação de fato irreversível.3. Agravo de instrumento improvido. Agravo regimental prejudicado.(TRF 1, AG 1998.01.00.017964-0/MT, Rel. Juiz Olindo Menezes, Terceira Turma, DJde 12/02/1999)

PROCESSO CIVIL. PROPRIEDADE CONTROVERTIDA. DEFERIMENTO DE PROVAPERICIAL. QUESTÃO PREJUDICIAL.1. A realização de perícia histórica-antropológica é questão prejudicial em relação aopedido dos agravantes - indenização por desapropriação indireta -, posto que, desdeque reconhecida a ocupação imemorial das terras pelos índios, a discussão acerca deseu domínio particular restaria sem efeito.2. A questão de deferimento ou não de uma determinada prova depende da avaliaçãodo juiz dentro do quadro probatório existente, pois cabe a ele a direção do processo.3. Agravo improvido. Decisão mantida. (TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO, Processo n. 96.01.46604-5/MT, TERCEIRATURMA, Relator JUIZ CÂNDIDO RIBEIRO, Publicado em 23/10/1998)

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CONSTITUCIONAL. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. GLEBAS DE TERRAS. TÍTULO DEPROPRIEDADE EXPEDIDO PELO ESTADO DE MATO GROSSO. REGISTROIMOBILIÁRIO. NULIDADE. DENUNCIAÇÃO À LIDE PER SALTUM. ÁREA INDÍGENA.POSSE IMEMORIAL. ÁREA DE PERAMBULAÇÃO. INDENIZAÇÃO.1. Não tendo os Autores adquirido as terras do Estado do Mato Grosso, incabível é asua denunciação à lide per saltum, razão pela qual foi excluído da relação processual.É que o real intento dos autores foi o de convocar o Estado como alienante, nostermos do inciso I do artigo 70 do Código de Processo Civil, e não do seu inciso III,pois a indenização que pretendem não é outra se não a que advém da alienação anon domino. É incontroverso que o Estado do Mato Grosso não é o causam danus daaquisição do imóvel pelos Autores, é outro o transmitente do bem que, todavia, nãofoi chamado, e somente a partir dele é que se poderia cogitar de convocaçãosucessiva de responsáveis perante o litisdenunciado (STF-ACO Nº 329/6). Daí aimpossibilidade de ser examinada a questão de nulidade dos títulos de alienação.2. O território indígena é constituído não só pela área efetivamente ocupada pelogrupo tribal, isto é, a que circunda a aldeia e as roças, mas também asimprescindíveis à conservação de sua identidade étnico-cultural 3. A área deresidência dos Cinta Larga "muda periodicamente, com intervalo aproximado de cinco(05) anos, em entendimento a fatores ecológicos e religiosos, sem entretanto sair doslimites da terra definida como pertencente à patrilinhagem. Por serem caçadores ecoletores os Cinta Larga têm grande mobilidade, mas em nenhuma hipótese oterritório por onde se deslocam pode ser classificado ´área de perambulação´. Trata-se de ocupação efetiva." (CARMEM JUNQUEIRA - Antropóloga).4. Tendo a FUNAI, conforme a prova produzida nos autos, deliminatado a áreaindígena sobre uma parte maior do habitat imemorial e permanete dos índios, não édevida a indenização.5. Recurso de apelação improvido. (TRF 1, APELAÇÃO CIVEL, Processo n. 90.01.14365-2/MT, QUARTA TURMA, RelatorJUIZ MÁRIO CÉSAR RIBEIRO, Publicado em 17/08/1998)

INTERDITO PROIBITÓRIO. AMEAÇA DE TURBAÇÃO OU ESBULHO POR INDÍGENAS.LOCALIDADE FORA DE ÁREA INDÍGENA DEMARCADA.1. Comprovada a ocorrência de incidentes entre índios (etnia Kaiapó) e mineradoras,reveladores de ameaça de turbação e esbulho em área cedida para exercício dedireitos de lavra, confirma-se a expedição de mandado liminar em interdidoproibitório. A tutela constitucional ao índio não se estende aos atos de ameaça deimissão possessória em localidade fora da área demarcada para a sua preservação.2. Para o interdito proibitório é suficiente a ameaça de turbação ou esbulho.O descumprimento do Decreto nº 65.202/69, no tocante à prévia celebração deacordo entre a empresa mineradora e a Funai, nas concessões de lavras, restringe-seàs áreas indígenas e, ainda que pertinente, não prejudica o direito possessório daagravada, enquanto não desconstituída a concessão da lavra.3. Agravo improvido. (TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO, Processo n. 93.01.07778-7/PA, TERCEIRATURMA, Relator JUIZ OLINDO MENEZES, Publicado em 01/07/1998)

PROCESSO CIVIL. AÇÃO DECLARATÓRIA. DELIMITAÇÃO E DEMARCAÇÃO DASTERRAS DOS ÍNDIOS TUKANO, ARUAK E MAKU. RECONHECIMENTO DO PEDIDO.EXTINÇÃO DO PROCESSO COM JULGAMENTO DO MÉRITO.Declarando a União Federal, pelas Portarias ns. 1.558 e 1.559, ambas de 13 dedezembro de 1995 ser de posse permanente dos índios as terras que menciona, talcomo pedido pelo autor, em setembro de 1993; e baixando a FUNAI a Portaria n.

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1.247, de 16 de dezembro de 1993, criando um Grupo Técnico "com a finalidade deidentificar e de delimitar a área indígena Médio Rio Negro", na verdade,reconheceram o pedido do autor. (TRF 1, APELAÇÃO CIVEL, Processo n. 1997.01.00.019801-2/DF, TERCEIRA TURMA,Relator JUIZ TOURINHO NETO, Publicado em 06/02/1998)

CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. POSSE IMEMORIAL INDÍGENA. PERDAS EDANOS. INDEFERIMENTO.1. A posse imemorial indígena foi protegida por todas as Constituições do Brasil, apartir de 1934, e está definida na atual não apenas em razão da presença física ounão de silvícolas ou de seus aldeamentos mas, também, em razão de suasnecessidades vitais e culturais.2. Não tendo sido indicadas nem comprovadas as perdas e danos no decorrer daação, improcede o pedido. Jurisprudência.3. Agravo retido e apelação improvidos. (TRF 1, APELAÇão CIVEL, Processo n. 89.01.15263-0/MT, QUARTA TURMA, RelatorJUIZ EUSTÁQUIO SILVEIRA, Publicado em 05/02/1998)

DIREITO CONSTITUCIONAL E CIVIL - TERRAS INDÍGENAS - ABANDONO PELOSPARTICULARES QUE AS OCUPAVAM - MANUTENÇÃO DA LIMINAR QUE GARANTE APOSSE INDÍGENA - PROVIMENTO DA APELAÇÃO PARA QUE SEJA JULGADO O MÉRITODA AÇÃO DE MANUTENÇÃO DE POSSE.1. A Constituição concede ampla proteção à posse indígena das terras quetradicionalmente ocupam, situação fática que deve ser comprovada.2. Demonstrado que os particulares abandonaram as terras reivindicadas pelacomunidade indígena, deve ser mantida a posse que foi deferida aos índios em açãocautelar.3. Julgada extinta a ação de manutenção de posse, devem os autos retornar à varade origem para que a posse invocada seja comprovada, julgando-se o mérito dapretensão possessória deduzida.4. Agravo regimental improvido. Apelação da União provida, anulando-se a sentença. (TRF 1, APELAÇÃO CIVEL, Processo n. 1997.01.00.013361-9/BA, TERCEIRA TURMA,Relator JUIZ OSMAR TOGNOLO, Publicado em 30/09/1997)

PROCESSUAL CIVIL. INTERDITO POSSESSÓRIO. ÁREA INDÍGENA. PROIBIÇÃO DEIMPLEMENTAÇÃO DE SEDES MUNICIPAIS.1. Os interditos possessórios têm por finalidade a proteção da posse, em casosconcretos. Não é usual, em princípio, que a implementação de medidasadministrativas por parte de Estado da Federação, destinadas à implantação denovas sedes municipais, em localidades antigas, cujas populações optaram pelaemancipação, seja vedada por mandado liminar proibitório, ao fundamento de quese trata de área indígena.2. Provimento do agravo de instrumento.(TRF 1, AG 96.01.12660-0/RR, Rel. Juiz Olindo Menezes, Terceira Turma, DJ de22/08/1997)

PROCESSO CIVIL. MEDIDA CAUTELAR ORIGINÁRIA. POSSE INDÍGENA. LIMINAR.Estando os índios na posse física das Fazendas Paraíso, São Sebastião, Bom Jesus,Nova Vida e Nova Vida II, localizadas no Município de Pau Brasil, Estado da Bahia, porforça de liminar, concedida em ação possesória, que foi julgada improcedente, delaapelando, devem continuar na posse até o julgamento definitivo da ação possessória.

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(TRF 1, AGRAVO REGIMENTAL NA MEDIDA CAUTELAR, Processo n.1997.01.00.013346-9/BA, TERCEIRA TURMA, Relator JUIZ TOURINHO NETO,Publicado em 15/08/1997)

PROCESSO CIVIL. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. APETRECHOS DE CAÇA EPESCA. JUSTIFICAÇÃO. ÍNDIOS BORORO.Inexistência de prova que confirmasse que os bens pertenciam aos índios. Prova najustificação em favor dos autores. (TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO, Processo n. 96.01.54869-6/MT, TERCEIRATURMA, Relator JUIZ TOURINHO NETO, Publicado em 16/05/1997)

CONSTITUCIONAL - TERRAS INDÍGENAS - RETENÇÃO POR BENFEITORIAS.1. Garante a CF/88 a indenização por benfeitorias leventadas pelo possuidor de boa-fé em terras indígenas (art. 231, parágrafo. 6º da CF).2. Perícia comprovando as benfeitorias erigidas antes da citação.3. Recurso provido em parte.(TRF 1, AC 96.01.40925-4/MT, Rel. Juíza Eliana Calmon, Quarta Turma, DJ de17/03/1997)

CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE MANUTENÇÃO DE POSSE. POSSEIMEMORIAL. PATAXÓ HÃ HÃ HÃE.I - A posse indígena não é regulada pelo Código Civil, e sim pela Constituição Federal.II - A posse dos índios é imemorial, não importando, pois, que o não índio esteja hámuitos anos na posse efetiva da terra. (TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO, Processon. 96.01.39172-0/BA, TERCEIRA TURMA, Relator JUIZ TOURINHO NETO, Publicadoem 17/02/1997)

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO ANULATÓRIA DE ATO ADMINISTRATIVO. INTERESSE DESILVÍCOLAS. LIMINAR SEM PRÉVIA AUDIÊNCIA DA UNIÃO E FUNAI. LEI Nº 6.001/73.Afigura-se ineficaz decisão liminar que prejudica ações necessárias à defesa deterras indígenas, quando o prolator do "decisum" não solicita, de antemão,manifestação do órgão tutelar dos índios e da União.(TRF 1, AG 89.01.20878-4/RR, Rel. Juiz Jirair Aram Meguerian, Segunda Turma, DJde 12/12/1996)

ADMINISTRATIVO PROCESSO CIVIL. AÇÃO CAUTELAR. TERRAS INDÍGENAS.DEMARCAÇÃO. PROIBIÇÃO DE INGRESSO, TRÂNSITO OU PERMANÊNCIA DE NÃOÍNDIOS NA ÁREA A SER DEMARCADA.A ação cautelar é a via adequada para impedir a extração de madeira por parte dosíndios, para permitir o ingresso no imóvel daquele que é tido como seu proprietário,uma vez que a proibição de ingresso, trânsito ou permanências de pessoas não-índiospartiu de ato administrativo um órgão do Governo, não se podendo falar, emprincípio, em esbulho ou turbação. Há, na hipótese, um ato administrativo. Ademais,por força de dispositivo legal, contra a demarcação de terras indígenas não cabe aconcessão de interdito proibitório (Lei n. 6.001, de 1973, art. 19, parágrafo 2º). (TRF 1, APELAÇÃO CIVEL, Processo n. 96.01.15545-7/DF, TERCEIRA TURMA, RelatorJUIZ TOURINHO NETO, Publicado em 14/10/1996)

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. EFEITOS DA SENTENÇA.

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1. Conquanto a sentença proferida em ação civil pública faça coisa julgada "ergaomnes" (contra todos), devem ser excluídos da imediatidade desse efeito aqueles quenão foram chamados a participar do contraditório, nos casos em queconstitucionalmente se impunha a sua observância (art. 5º, inciso LV - ConstituiçãoFederal).2. A desocupação de bem imóvel público, onde, regular ou irregularmente,encontram-se milhares de ocupantes, por longo tempo, desenvolvendo atividadeseconômicas, inclusive com permissão do poder público, deve ser feita com a tomadadas medidas judiciais cabíveis, a depender de cada caso.3. A só existência de sentença civil, oriunda de ação civil pública da qual nãoparticiparam, não é suficiente para embasar-lhes a expulsão, pura e simples. 4. Provimento parcial da remessa. (TRF 1, REMESSA EX-OFFICIO, Processo n. 94.01.37292-6/DF, TERCEIRA TURMA,Relator JUIZ OLINDO MENEZES, Publicado em 11/04/1996)

PROCESSO CIVIL. AÇÃO DE MANUTENÇÃO DE POSSE. TERRAS DITAS INDIGENAS.POSSE POR NÃO INDIO. LIMINAR.Ocupando o não-índio, por mais de trinta anos, mansa epacificamente, terras ditas indígenas, não é justo que nãose lhe conceda liminar para continuar na posse dessa terra, atéfinal julgamento da ação.(TRF 1, AG 96.01.03343-2/RR, Rel. Juiz Tourinho Neto, Terceira Turma, DJ de29/03/1996)

PROCESSO CIVIL - LIMINAR EM REINTEGRAÇÃO DE POSSE: REVOGAÇÃO.1. INDICAM OS AUTOS DESENVOLVER-SE NA AREA QUESTIONADA SERIO EVIOLENTO CONFLITO ENTRE BRANCOS E INDIOS.2. COM A REVOGAÇÃO DA LIMINAR, EM 19/09/94, ASSENHORARAM-SE OS INDIOSDA AREA, O QUE TORNA INCONVENIENTE A ALTERAÇÃO PROVISORIA, POR MEIO DENOVA LIMINAR.3. O CONFLITO E DE TAL ORDEM QUE MELHOR SERA AGUARDAR O DESFECHO DAAÇÃO PRINCIPAL EM DEFINITIVO.4. RECURSO IMPROVIDO. (TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO, Processo n. 94.01.35734-0/MT, QUARTA TURMA,Relatora JUÍZA ELIANA CALMON, Publicado em 30/03/1995)

ADMINISTRATIVO. OBRA PUBLICA. ESTADO DO TOCANTINS. RODOVIA TO-010.PASSAGEM POR TERRAS INDIGENAS. AUSENCIA DE PREJUIZO.- A CONSTRUÇÃO DE ESTRADA, OBRA PUBLICA ESTADUAL DE INTERESSE GERAL, EMEDIDA ADMINISTRATIVA DE GRANDE ALCANCE SOCIAL E ECONOMICO,PRINCIPALMENTE NAS REGIÕES EM DESENVOLVIMENTO.- A CONSTRUÇÃO DA RODOVIA TO-010, PELO GOVERNO DO ESTADO DE TOCANTINSNÃO PODE SER OBSTACULADA PELO SIMPLES FATO DE ATRAVESSAR AREA DERESERVA INDIGENA, POR NÃO SE VISLUMBRAR QUALQUER PREJUIZO A SUACULTURA NEM CAUSAR IMPACTO AMBIENTAL DE EXPRESSÃO.- AGRAVO PROVIDO.(TRF 1, AG 94.01.06666-3/TO, Rel. Juiz Vicente Leal, Rel.Acor. Juiz Vicente Leal,Terceira Turma, DJ de 19/09/1994)

CONSTITUCIONAL E PROCESSO CIVIL - AÇÃO CIVIL PUBLICA – TERRAS INDIGENAS. 1. HA PRESUNÇÃO DE QUE AS TERRAS EM CONFLITO FORAM AQUELAS HABITADASPELOS XAVANTES.

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2. INEXISTINDO AREA DEMARCADA E AINDA VALIDO O TITULO DE DOMINIO DEPARTICULAR SOBRE AS TERRAS EM CONFLITO, AFIGURA-SE PRECIPITADA AINTERVENÇÃO DA UNIÃO E DO MPF, NA BUSCA DE UM PROVIMENTO DECLARATORIOEM AÇÃO CIVIL PUBLICA. 3. RECURSO IMPROVIDO.(TRF 1, AC 93.01.34363-0/MT, Rel. Juíza Eliana Calmon, Quarta Turma, DJ de04/08/1994)

PROCESSO CIVIL. TERRAS INDIGENAS. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE.LIMINAR. NÃO CONCESSÃO. AGRAVO.1. NÃO INSTRUIDO O AGRAVO COM PEÇAS QUE POSSIBILITEM UM EXAME, AINDAQUE SUPERFICIAL, DA QUESTÃO, E IMPOSSIVEL ALTERAR O DESPACHOIMPUGNADO.2. AGRAVO IMPROVIDO.(TRF 1, AG 93.01.24781-0/RR, Rel. Juiz Tourinho Neto, Terceira Turma, DJ de16/11/1993)

CONSTITUCIONAL - AREA INDIGENA - TITULO DE DOMINIO - INDENIZAÇÃO.1. COMPROVADA SER A AREA DE POSSE IMEMORIAL DOS INDIOS, TORNA-SE DEPLENO DIREITO NULO O TITULO DOMINIAL, SEM NECESSIDADE DE DECLARAÇÃOJUDICIAL (ART. 231, PARAG. 6, DA CF/88).2. NÃO TEM DIREITO A INDENIZAÇÃO POR BENFEITORIAS O POSSUIDOR DE MA-FE.3. APELO IMPROVIDO. (TRF 1, APELAÇÃO CIVEL, Processo n. 90.01.02520-0/MT, QUARTA TURMA, RelatoraJUÍZA ELIANA CALMON, Publicado em 06/09/1993)

AGRAVO. MANDADO LIMINAR DE MANUTENÇÃO DE POSSE (ARTS. 927 E 928 DOCPC). CONCESSÃO DE LAVRA DE TUNGSTENIO E ESTANHO. AREA INDIGENA.CONFLITO.1. A TEOR DO ART. 231 DA CF/88, COMPETE A UNIÃO DEMARCAR A AREA INDIGENA,COM RESGUARDO DOS DIREITOS ORIGINARIOS SOBRE AS TERRAS PELOS INDIOSOCUPADAS.2. AS TERRAS CONCEDIDAS PARA LAVRA DE TUNGSTENIO E ESTANHO EMQUESTÃO, ACHAM-SE EXCLUIDAS DAS RESERVAS INDIGENAS DA REGIÃO.3. O MANDADO DE MANUTENÇÃO DE POSSE RESTA INATACAVEL, POIS QUEDEFERIRO COM RESPALDO NOS ARTS. 927 E 928 DO CPC.4. AS AMEAÇAS E INVASÕES DE TERRA POR PARTE DOS INDIGENAS IMPOSSIBILITAA SOLUÇÃO ADMINISTRATIVA DO CONFLITO.5. AGRAVO IMPROVIDO. (TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO, Processo n. 93.01.07650-0/PA, QUARTA TURMA,Relator JUIZ NELSON GOMES DA SILVA, Publicado em 02/08/1993)

CIVIL E ADMINISTRATIVO. CONVENIO ENTRE A FUNAI E A PETROBRAS.EXPLORAÇÃO DE PETROLEO EM TERRAS INDIGENAS. AÇÃO POPULAR. ARTIGOS 168,169 E 198, DA CF/69 E ARTIGOS 20, PARAG. 1, LETRA "F", DA LEI 6001/73 E AINDAARTIGOS 2, LETRAS A E E, DA LEI 4717/65.1. OS DIPOSITIVOS DA LEI 6001/73, (ESTATUTO DO INDIO) ART. 20, PARAG. 1,LETRA "F" E 45, QUE EMBASARAM O ATO ADMINISTRATIVO (CONVENIO FUNAI XPETROBRAS), NÃO AFRONTAVAM A CF/69.2. AS TERRAS OCUPADAS PELOS SILVICOLAS INCLUEM-SE ENTRE OS BENS DAUNIÃO E SÃO INALIENAVEIS, NOS TERMOS DA LEI, RESERVADO AOS INDIOS OUSUFRUTO EXCLUSIVO DE SUAS RIQUEZAS NATURAIS, BEM COMO DE TODAS AS

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UTILIDADES NELAS EXISTENTES, (ART. 198, DA CF/69), EXCEÇÃO FEITA APESQUISA E LAVRA DO PETROLEO A VISTA DO MONOPOLIO ESTABELECIDO EMFAVOR DA UNIÃO PELO ART. 169, DA MESMA CF/69.3. A NORMA INSCULPIDA NO ART. 198, DA CF/69 NÃO AFETA A APLICAÇÃODAQUELA INSERTA NOS ARTS. 167 E 168, DA MESMA CARTA MAGNA.4. APELO IMPROVIDO. (TRF 1, APELAÇÃO CIVEL, Processo n. 91.01.13946-0/DF, QUARTA TURMA, RelatorJUIZ NELSON GOMES DA SILVA, Publicado em 02/08/1993)

MEDIDA CAUTELAR. COMUNIDADE INDIGENA. UNIÃO FEDERAL. FUNAI. INVASÃO DETERRAS.1. POR IMPERATIVO CONSTITUCIONAL, INCUMBE A UNIÃO FEDERAL (FUNAI) ADEMARCAÇÃO E PROTEÇÃO DAS TERRAS TRADICIONALMENTE OCUPADAS PELASCOMUNIDADES INDIGENAS, SENDO A MEDIDA CAUTELAR PREPARATORIAINSTRUMENTO HABIL PARA OPERACIONALIZAR A DESINTRUSÃO DA AREA,GARANTINDO O DIREITO A SER DISCUTIDO NO PROCESSO PRINCIPAL.2. REMESSA IMPROVIDA.(TRF 1, REO 92.01.29381-0/DF, Rel. Juiz Fernando Gonçalves, Terceira Turma, DJ de07/06/1993)

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO. INEXISTENCIA.INTERDIÇÃO DE TERRAS DE INDIOS ALIENADAS. FUNAI. LEI 6001/73. DECRETO94945/87. EMBARGOS DESPROVIDOS.1. ESTA CONSIGNADO NO V. ACORDÃO HOSTILIZADO QUE O DECRETO 94945/87,EM SEU ART. 1, DA COMPETENCIA EXCLUSIVA A FUNAI PARA FAZERADMINISTRATIVAMENTE A DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDIGENAS, DE ACORDO COMO ART. 17 DA LEI 6001/73. ASSIM, A DEMARCAÇÃO DAS TERRAS INDIGENAS PELAFUNAI NÃO E FRUTO DE ´METODOS DE INTERPRETAÇÃO´, COMO SUSTENTA AEMBARGANTE, E SIM DA LEI, COMO FICOU CONSUBSTANCIADO.2. ADEMAIS, OS ORA EMBARGANTES FORAM JULGADOS CARECEDORES DE AÇÃOPOR PRETENDEREM TRANSFORMAR AÇÃO ESPECIALISSIMA EM INTERDITOPROIBITORIO.3. EMBARGOS DESPROVIDOS. (TRF 1, EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA APELAÇÃO MANDADO SEGURANÇA,Processo n. 89.01.01394-0/DF, TERCEIRA TURMA, Relator JUIZ ADHEMAR MACIEL,Publicado em 15/10/1992)

PROCESSO CIVIL. INTERDITO PROIBITORIO. LIMINAR. CONCESSÃO. AUDIENCIAPREVIA DO MUNICIPIO.1. EM CIRCUNSTANCIAS ESPECIAIS, COMO, POR EXEMPLO, PARA IMPEDIR ACONSOLIDAÇÃO DE INVASÃO EM TERRAS INDIGENAS, DADA A URGENCIA DAMEDIDA PLEITEADA E A AMEAÇA EVIDENTE DE TURBAÇÃO, PODE SER DEFERIDALIMINAR SEM PREVIA AUDIENCIA DA PESSOA JURIDICA DE DIREITO PUBLICOINTERESSADA.2. AGRAVO IMPROVIDO.(TRF 1, AG 92.01.08087-5/MA, Rel. Juiz Tourinho Neto, Terceira Turma, DJ de01/07/1992)

PROCESSUAL CIVIL _ TERRA DE OCUPAÇÃO TRADICIONAL INDIGENA _ PORTARIADE INTERDIÇÃO _ POSSE _ PERICIA _ DILAÇÃO PROBATORIA MANDADO DESEGURANÇA _ INEXISTENCIA DE DIREITO LIQUIDO E CERTO.

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I - O MANDADO DE SEGURANÇA PRESSUPÕE A EXISTENCIA DE DIREITO LIQUIDOE CERTO, APOIADO EM FATOS INCONTROVERSOS, VIA DE PROVA PRE-CONSTITUIDA. II - A COMPROVAÇÃO DA INEXISTENCIA DE TRADICIONAL POSSE INDIGENA NAAREA SUB JUDICE NÃO PODE SER FEITA DE PLANO, DEMANDANDO O ASSUNTOPERICIAS ANTROPOLOGICA E TOPOGRAFICA, INVIAVEIS NOS ESTREITOS LINDESDO WRIT. III - O REGISTRO PUBLICO DO TITULO AQUISITIVO DA PROPRIEDADE NÃOREPRESENTA, POR SI SO, DIREITO LIQUIDO, CERTO E INQUESTIONAVEL, FACE ADISPOSIÇÃO DO ARTIGO 231, PAR. 6., DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, DEVENDO OASSUNTO SER DISCUTIDO PELAS VIAS ORDINARIAS. IV - PRECEDENTES DO STF SOBRE O ASSUNTO (MS N. 0020723-DF, STF, REL.MIN. DJACI FALCÃO, IN DJU 18.03.88, PAG. 05566). V - APELAÇÃO IMPROVIDA.(TRF 1, AMS 92.01.06427-6/DF, Rel. Juíza Assusete Magalhães, Segunda Turma, DJde 25/06/1992)

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. TERRAS INDIGENAS. CARTA POLITICA DE1969, ART. 198. ALIENAÇÃO APOS DISCRIMINAÇÃO ADMINISTRATIVA PELOINTERMAT. PORTARIA DA FUNAI. INTERDIÇÃO DAS TERRAS ALIENADAS.POSSIBILIDADE (LEI N. 6.001/73. DECRETO N. 94.945/87). MANDADO DESEGURANÇA CONCEDIDO PELO JUIZ A QUO POR DOIS MOTIVOS. REFORMA.CARENCIA DA AÇÃO POR UM MOTIVO E IMPROCEDENCIA POR OUTRO. APELO EREMESSA OFICIAL PROVIDOS.I- OS APELADOS/IMPETRANTES ADQUIRIRAM DO GOVERNO DO MATO GROSSOTERRAS APOS DISCRIMINAÇÃO ADMINISTRATIVA PELO INTERMAT. A FUNAICOMPETE DEMARCAR ADMINISTRATIVAMENTE AS TERRAS SILVICOLAS (DECRETO N.94.945/87). TAIS TERRAS, MESMO ALIENADAS COM REGISTRO PUBLICO,PERTENCEM A UNIÃO FEDERAL (CARTA DE 1969,A RT. 198). A ALIENAÇÃO E NULA,POIS.II- MANDADO DE SEGURANÇA NÃO E SUCEDANEO DE AÇÃO POSSESSORIA, POISNÃO PERMITE, DILAÇÃO PROBATORIA. SEGURANÇA REFORMADA NESSE TOPICO PORCARENCIA DA AÇÃO. FALTA DE DIREITO LIQUIDO E CERTO.III- A FUNAI TEM, IMPLICITAMENTE, COMPETENCIA PARA FAZER INTERDIÇÃO DETERRAS DE INDIOS ALIENADAS (LEI N. 6.001/73). SENTENÇA REFORMADA NESSETOPICO. (TRF 1, APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA, Processo n. 89.01.01394-0/DF,TERCEIRA TURMA, Relator JUIZ ADHEMAR MACIEL, Publicado em 28/05/1992)

CIVIL. E ADMINISTRATIVO. DIREITO AGRARIO. OCUPAÇÃO SOBRE TERRASINDIGENAS. INDIOS PATAXO. DIREITO A INDENIZAÇÃO.1. - A AQUISIÇÃO (´COMPRA´) DE ARRENDAMENTOS FEITOS EM TERRA INDIGENA,DE TERCEIROS, SEM O CONTROLE DO ORGÃO DE PROTEÇÃO AO INDIO,DESCARACTERIZA A SUA FINALIDADE, AINDA QUE ORIGINARIAMENTE SE TRATE DEATO LEGITIMO.2. - EM TAIS CIRCUNSTANCIAS, NÃO CABE FALAR EM POSSE LEGITIMA (JUSTA),PARA FINS DE INDENIZAÇÃO, A LUZ DO CODIGO CIVIL, ESPECIALMENTE QUANDO ACONSTITUIÇÃO, DECLARANDO NATUREZA (DO DOMINIO, DE POSSE E DAOCUPAÇÃO), PROCLAMA NÃO SER POSSIVEL NENHUMA INDENIZAÇÃO. (CF. ART.198, PARAG. 2. - DA CARTA DE 1967.) 3. - EMBARGOS INFRINGENTES IMPROVIDOS.ACORDÃO CONFIRMADO. (TRF 1, EMBARGOS INFRINGENTES NA APELAÇÃO CIVEL, Processo n. 91.01.14298-4/DF, SEGUNDA SEÇÃO, Relator JUIZ OLINDO MENEZES, publicado em 09/03/1992)

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ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. PROCESSO CAUTELAR. PRODUÇÃOANTECIPADA DE PROVA. TERRAS INDIGENAS. TITULOS DOMINIAIS PRIVADOS. - E CABIVEL PROVISÃO CAUTELAR SEMPRE QUE HOUVER PERIGO DEIRREPARABILIDADE DE DANO ANTES DA DECISÃO A SER PROLATADA NO PROCESSOPRINCIPAL. - A JURISPRUDENCIA DESTE TRIBUNAL TEM CONSAGRADO O ENTENDIMENTO DESER LEGITIMA E ADEQUADA A MEDIDA CAUTELAR DE PRODUÇÃO ANTECIPADA DEPROVAS ANTECEDENTE A PROCESSO DE DESAPROPRIAÇÃO, DE FORMA AIDENTIFICAR O STATUS QUO RELATIVO AS BENFEITORIAS INDENIZAVEIS. - A PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVAS E MEDIDA CAUTELAR DE NATUREZA NÃOCONTENCIOSA, CUJO DEFERIMENTO, EM REGRA, CONSUBSTANCIA DECISÃOINTERLOCUTORIA, ATACAVEL POR AGRAVO DE INSTRUMENTO, POIS A PRESTAÇÃOJURISDICIONAL CIRCUNSCREVE-SE A REALIZAÇÃO DE PERICIA E A SUAHOMOLOGAÇÃO. - APELAÇÃO E REMESSA OFICIAL DESPROVIDAS.(TRF 1, AC 90.01.16159-6/DF, Rel. Juiz Vicente Leal, Terceira Turma, DJ de10/06/1991)

PROCESSO CIVIL - AÇÃO DECLARATORIA - INCERTEZA JURIDICA - TERRASINDIGENAS.1. SENDO CERTA A POSSE IMEMORIAL DOS INDIOS SOBRE AREA DETERMINADA ERECONHECIDA, NÃO TEM CABIMENTO A AÇÃO DECLARATORIA PARA AFASTAR-SEPOSSIVEL DUVIDA.2. O PEDIDO E, EM SEU AMAGO, DE NATUREZA COMINATORIA, FICANDO EMSEGUNDO PLANO QUALQUER DECLARAÇÃO.3. APELO IMPROVIDO. (TRF 1, APELAÇÃO CIVEL, Processo n. 91.01.04468-0/DF, QUARTA TURMA, RelatoraJUÍZA ELIANA CALMON, Publicado em 27/05/1991)

CIVIL. AGRARIO. POSSE. TERRAS INDIGENAS. INDIOS PATAXOS. INDENIZAÇÃO DOSBENS DESTRUIDOS PELOS INDIOS.1. OS INDIOS PATAXOS VAQUEIAVAM PELO SUL DA BAHIA, ONDE TINHAM SEUHABITAT, E SE FIXARAM, POSTERIORMENTE, EM AREA, DO ATUAL MUNICIPIO DEPAU BRASIL, QUE LHE VEIO SER RESERVADA, EM 1926, PELO GOVERNO DAQUELEESTADO-MEMBRO.2. OS PATAXOS NÃO ABANDONARAM SUAS TERRAS. FORAM, SIM, SENDO EXPULSOSPOR FAZENDEIROS, QUE DELAS SE APOSSARAM, UTILIZANDO-SE DE VARIOSMEIOS, INCLUSIVE A VIOLENCIA. A POSSE DOS INDIOS ERA PERMANENTE. A DOREU PRECARIA, CONTESTADA.3. INDENIZAÇÃO CONCEDIDA, OBSERVANDO-SE, NO ENTANTO, O PARAG. 2 DO ART.198 DA CF/69.4. APELAÇÃO DENEGADA. (TRF 1, APELAÇÃO CIVEL, Processo n. 89.01.01353-3/BA, TERCEIRA TURMA, RelatorJUIZ TOURINHO NETO, Publicado em 06/05/1991)

PROC. CIVIL. AÇÃO POSSESSORIA. TERRAS INDIGENAS. ASSISTENCIALITISCONSORCIAL DA UNIÃO A FUNAI. 1. NAS AÇÕES POSSESSORIAS PROMOVIDAS PELA FUNAI EM DEFESA DAS TERRASINDIGENAS CONTRA QUALQUER PESSOA, PUBLICA OU PRIVADA, POR TURBAÇÃO OUESBULHO, EFETIVOS OU IMINENTES, CABE A INTERVENÇÃO DA UNIÃO COMOASSISTENTE LITISCONSORCIAL.

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2. O ATO INTERVENTIVO VALE E E EFICAZ, SE, FEITO DE MODO DIVERSO DOPREVISTO NO ART. 51, DO CPC, ATINGIR SUA FINALIDADE, POIS, NÃO HÁNULIDADE COMINADA POR SE TRILHAR OUTRO CAMINHO NA PRATICA DO ATO DEINTERVENÇÃO. 3. AGRAVO IMPROVIDO.(TRF 1, AG 91.01.02872-3/AM, Rel. Juiz Nelson Gomes Da Silva, Quarta Turma, DJde 06/05/1991)

DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. TERRAS INDIGENAS. IMPOSSIBILIDADE JURIDICA DOPEDIDO. INEXISTENCIA DE BENFEITORIAS. EXTINÇÃO DO PROCESSO. RECURSONEGADO.(TRF 1, AC 90.01.06124-9/MT, Rel. Juiz Leite Soares, Quarta Turma, DJ de02/04/1991)

PROCESSUAL CIVIL. POSSESSORIA. LIMINAR. AGRAVO. ILEGITIMIDADE DE PARTE.- PARTE LEGITIMA, NO POLO PASSIVO EM AÇÃO POSSESSORIA, E QUEM ESTEJAAMEAÇANDO OU PRATICANDO ATOS TURBATIVOS OU ESBULHATIVOS, SEJA, ATOSPOSSESSORIOS, E NÃO O CHEFE RELIGIOSO QUE PRESTA ASSISTENCIA ESPIRITUALA INDIGENAS.- AGRAVO PROVIDO.(TRF 1, AG 90.01.04400-0/RR, Rel. Juiz Vicente Leal, Terceira Turma, DJ de25/02/1991)

PROCESSUAL CIVIL. TERRAS INDIGENAS. AÇÃO DE INTERDITO PROIBITORIO.JULGAMENTO. AGRAVO DE INSTRUMENTO PREJUDICADO.- TENDO SIDO JULGADA IMPROCEDENTE AÇÃO DE INTERDITO PROIBITORIO, NOSENTIDO DE SER IMPOSSIVEL A CONSTITUIÇÃO DE DIREITO DE POSSE SOBRETERRAS OCUPADAS POR INDIGENAS DESDE TEMPOS IMEMORIAIS, E TENDO AAPELAÇÃO CIVEL SEGUIDO O MESMO ENTENDIMENTO, O AGRAVO DE INSTRUMENTOINTERPOSTO CONTRA DESPACHO EM MEDIDA CAUTELAR DE ATENTADO, NO CURSODA LIDE, RESULTA PREJUDICADO, POR FALTA DE OBJETO.- AGRAVO DE INSTRUMENTO PREJUDICADO.(TRF 1, AG 90.01.06500-7/PA, Rel. Juiz Vicente Leal, Terceira Turma, DJ de29/10/1990)

PROCESSO CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. QUESTÃO DOS INDIOS YANOMAMIAÇÃO DE INTERDITO PROIBITORIO MOVIDA POR PARTICULAR CONTRA AGENTESPUBLICOS FEDERAIS, NO JUIZO DE DIREITO DA 1 CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIARIA DERORAIMA. CONCESSÃO DE LIMINAR. AGRAVO DE INSTRUMENTO.COMPETENCIA.JUSTIÇA FEDERAL. SEGURANÇA CONCEDIDA.1. EM AÇÃO CAUTELAR INOMINADA, O JUIZ FEDERAL DA 7 VARA, DA SEÇÃOJUDICIARIA DO DISTRITO FEDERAL, INTERDITOU, NOS ESTADOS DE RORAIMA E DOAMAZONAS, UMA AREA DE 9.419,108HA, PARA OS INDIOS YANOMAMI, SENDOATRIBUIDA A FUNAI A INCUMBENCIA DE PROMOVER A RETIRADA DOS GRUPOS NÃOINDIGENAS, COM O AUXILIO DA POLICIA FEDERAL.AJUIZAMENTO DE AÇÃO DE INTERDITO PROIBITORIO POR GARIMPEIRO PERANTE OJUIZO DE DIREITO DA 1 CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIARIA DE RORAIMA CONTRA OSDELEGADOS DE POLICIA FEDERAL E O FUNCIONARIO DA FUNAI, QUE CUMPRIAM AORDEM JUDICIAL. CONCESSÃO DE LIMINAR POR PARTE DO JUIZO DE DIREITO, QUEALEGOU, NAS INFORMAÇÕES, QUE A COMPETENCIA PARA CONHECER DA AÇÃOPOSSESSORIA E DA JUSTIÇA LOCAL E NÃO DA FEDERAL. AGRAVO DE INSTRUMENTOINTERPOSTO PELA UNIÃO CONTRA O DESPACHO CONCESSIVO DA LIMINAR PERANTE

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O TRF - 1 REGIÃO. COMPETENCIA INDUVIDOSA DESTA CORTE, EM RAZÃO DE AAÇÃO, NA VERDADE, TER SIDO PROPOSTA CONTRA A UNIÃO, UMA VEZ QUE OSPOLICIAIS FEDERAIS E O FUNCIONARIO DA FUNAI NÃO AGIRAM MOTU PROPRIO,MAS NO DESEMPENHO DE FUNÇÕES DOS ORGÃOS (FEDERAIS) A QUE PERTENCEM.2. EM MANDADO DE SEGURANÇA, CABE A ASSISTENCIA (CPC, ARTS. 50, A 55), EMFACE DA APLICAÇÃO SUBSIDIARIA DAS NORMAS DO CODIGO DE PROCESSO CIVIL.O ART. 19 DA LEI 1.533/51, COM A REDAÇÃO DADA PELA LEI 6.701/74, APENASEXPLICITOU, DESNECESSARIAMENTE, O CABIMENTO DO LITISCONSORCIO.3. CONFIGURAÇÃO DE ABUSO DE PODER DO JUIZ DE DIREITO DA 1CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIARIA DE RORAIMA, QUE, AO CONCEDER A LIMINAR,OFENDEU, EM PRINCIPIO, DIREITO LIQUIDO E CERTO DA UNIÃO, COMPROVADA DEPLANO, EM TER A DECISÃO PROFERIDA NA AÇÃO CAUTELAR CUMPRIDA NA SUAINTEIREZA.4. CONCESSÃO DE EFEITO SUSPENSIVO AO AGRAVO DE INSTRUMENTOINTERPOSTO PARA QUE, NUMA MAIOR EXTENSÃO, POSSA SER EXAMINADA AMATERIA. (TRF 1, MANDADO DE SEGURANÇA (TRF 1, MANDADO DE SEGURANÇA, Processo n. 90.01.03405-5/DF, SEGUNDASEÇÃO, Relator JUIZ TOURINHO NETO, Publicado em 24/09/1990)

PROCESSUAL CIVIL. CARTA DE ORDEM COM O FITO DE APURAR-SE SE INDIOSBOROROS JA HABITAVAM, DESDE TEMPOS INEMORIAIS, DETERMINADA GLEBA.PERITO EM ANTROPOLOGIA. NECESSIDADE.I - O CASO EXIGE UM EXPERT EM ANTROPOLOGIA, POIS SO UM ESPECIALISTA PODEDIZER, COM CERTEZA CIENTIFICA, SE OS INDIOS BOROROS HABITAM, DESDETEMPOS IMEMORIAIS, AS TERRAS EM QUESTÃO (CF-69, ART. 198, PARAGRAFOS 1. E2.) ACERTADA A NOMEAÇÃO, NÃO OBSTANTE SER ELA ONEROSA PARA OSAGRAVANTES (AUTORES DA AÇÃO RESCISORIA).II - AGRAVO CONHECIDO E IMPROVIDO. (TRF 1, AGRAVO DE INSTRUMENTO, Processo n. 90.01.04224-4/MT, TERCEIRATURMA, Relator JUIZ ADHEMAR MACIEL, Publicado em 06/08/1990)

CONSTITUCIONAL, CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. TERRAS INDIGENAS. POSSE.INTERDITO PROIBITORIO. CERCEAMENTO DE DEFESA.- INOCORRE CERCEAMENTO DE DEFESA QUANDO AS QUESTÕES DE FATO AGITADASNO PROCESSO SE ENCONTRAM PROVADAS POR VIA DOCUMENTAL, AUTORIZANDO OJULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE.- E IMPOSSIVEL A CONSTITUIÇÃO DO DIREITO DE POSSE POR PARTICULAR SOBREGLEBA OCUPADA POR COMUNIDADE INDIGENA DESDE TEMPOS IMEMORIAIS.- RECONHECIDA EM OUTRA AÇÃO JUDICIAL QUE A AREA EM QUE PRETENDEM TERPOSSE OS AUTORES INTEGRA RESERVA INDIGENA, CONSTATADA EMPROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO REGULAR, NEGAR-SE A PROTEÇÃOPOSSESSORIA.- APELAÇÃO DESPROVIDA.(TRF 1, AC 89.01.22141-1/PA, Rel. Juiz Vicente Leal, Terceira Turma, DJ de06/08/1990)

PROCESSUAL CIVIL. COMPETENCIA. AÇÃO DEMARCATORIA. RESERVA INDIGENA.INTERESSE DA UNIÃO. AVOCATORIA. SE A UNIÃO FEDERAL MANIFESTA INTERESSENA AÇÃO DEMARCATORIA, JULGADA PELA JUSTIÇA ESTADUAL, ALEGANDO AEXISTENCIA DE RESERVA INDIGENA, NA AREA, A COMPETENCIA PARA EXAMINAR AQUESTÃO E DA JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRO GRAU. AVOCATORIA. AGRAVOREGIMENTAL NEGADO. REMESSA OFICIAL PROVIDA.

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(TRF 1, REO 89.01.22570-0/PA, Rel. Juiz Leite Soares, Quarta Turma, DJ de11/06/1990)

PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. TERRAS INDIGENAS. LIBERDADE DELOCOMOÇÃO DE ESTRANHOS.1 - A CONSTITUIÇÃO FEDERAL ASSEGURA A LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO - ODIREITO DE IR E VIR, E DE PERMANECER - NOS LOCAIS PUBLICOS.2 - OS INDIOS TEM A POSSE PERMANENTE DAS TERRAS QUE TRADICIONALMENTEOCUPAM. TERRAS ESSAS QUE NÃO SÃO DO DOMINIO PUBLICO. LOGO, NÃO HAILEGALIDADE OU ABUSO DE PODER DO MAGISTRADO QUE, ATENDENDO PEDIDO DOMINISTERIO PUBLICO, IMPEDE O TRANSITO DE ESTRANHOS NESSAS TERRAS.3 - ORDEM DENEGADA. (TRF 1, Hábeas Corpus, processo n. 89.01.16844-8/DF,TERCEIRA TURMA, Relator JUIZ TOURINHO NETO, publicado em 26/03/1990)

ADMINISTRATIVO - TERRAS HABITADAS POR SILVICOLAS. 1 - COMPROVADO POR LAUDO TECNICO-ADMINISTRATIVO DE NATUREZAANTROPOLOGICA QUE A AREA QUESTIONADA SEMPRE FOI ´HABITAT INDIGENA´,FAR-SE-IA NECESSARIA PROVA JUDICIAL SUFICIENTES PARA ELIDIR A VERDADE DOATO ADMINISTRATIVO. 2 - AUSENCIA DE PROVA, DE INICIATIVA DOS AUTORES, PARA AFASTAR APRESUNÇÃO DE LEGALIDADE DO ATOADMINISTRATIVO. 3 - SENTENÇA CONFIRMADA.(TRF 1, AC 89.01.21303-6/RR, Rel. Juíza Eliana Calmon, Quarta Turma, DJ de05/03/1990)

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO POSSESSORIA. INTERVENÇÃO DA FUNDAÇÃO NACIONALDO INDIO. LITISCONSORCIO PASSIVO NECESSARIO DA UNIÃO FEDERAL. ART. 36,PARAG. UNICO, DA LEI 6.001/73. DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO, NOS TERMOS DOART. 475, II DO CODIGO DE PROCESSO CIVIL, E SUMULA 423 DO SUPREMOTRIBUNAL. PROVIMENTO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO.(TRF 1, AG 89.01.06643-2/RR, Rel. Juiz Leite Soares, Quarta Turma, DJ de13/11/1989)

COMPETENCIA. AÇÃO POSSESSORIA. DEFERIMENTO DE LIMINAR. AREA DELIMITADAPELA FUNAI, COMO INDIGENA. ART. 63 DA LEI 6.001/73, IMPEDITIVO DE TALMEDIDA LIMINAR, SEM PREVIA AUDIENCIA DA UNIÃO FEDERAL E DO ORGÃO DEPROTEÇÃO AO INDIO. NULIDADE DA DECISÃO JUDICIAL.MANDADO DE SEGURANÇA CONCEDIDO.(TRF 1, MS 89.01.20477-0/RR, Rel. Juiz Leite Soares, Segunda Seção, DJ de14/08/1989)

TRF 2ª Região

ADMINISTRATIVO. CONSTITUCIONAL. CONCESSÃO DE LIMINAR. ÍNDIOS.NECESSIDADE DE OITIVA DA FUNAI E DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL.- Trata-se de mandado de segurança impetrado pelo Ministério Público Federal,contra ato do Exmo. Juiz Federal Plantonista do dia 18/05/05, Dr. Gustavo Arruda

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Macedo, bem como do Exmo. Juiz Federal da 12ª Vara de Vitória, Dr. Ronaldo KrugerRodor, objetivano suspender a liminar reintegratória deferida a favor da empresaAracruz Celulose S.A. - Tratando-se de terras reivindicadas pelos índios, incabível a concessão de liminarsem que fosse previamente ouvida a Funai, órgão curador da população indígena, nostermos do artigo 928 do Código de Processo Civil. - Necessária, também, a intervenção do Ministério Público Federal, de acordo com oartigo 232 da Constituição Federal.- Concessão da ordem, para que nova decisão seja proferida, após oitiva da Funai edo Ministério Público Federal.(TRF 2, Mandado de Segurança 8612/ES, processo n. 2005.02.01.004784-0, QuintaTurma, Relator Desembargador Federal PAULO ESPÍRITO SANTO, publicado em29/05/2006)

TRF 3ª Região

Acórdãos Terras Indígenas

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO -ÍNDIOS - INVASÃO DEPROPRIEDADE RURAL SOB PROCESSO ADMINISTRATIVO - AGRAVO DEINSTRUMENTO INTERPOSTO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO - LIMINAR DEREINTEGRAÇÃO CASSADA À VISTA DO CASO CONCRETO. AGRAVO REGIMENTALIMPROVIDO. - O MPF e a FUNAI são intervenientes obrigatórios em processos que discutaminteresse sobre o chamado Patrimônio INDíGENA. - Legitimidade recursal ativa plena do MPF. - As disposições da lei processual civil sobre reintegração de posse, em sede deliminar, nesses casos devem, sempre, se sujeitar a análise jurídica combinada comdisposições legais específicas relativas aos silvícolas e com os ditames constitucionais.- Incabível, no caso, aplicação pura do artigo 926 do CPC. - Agravo a que se nega provimento. (TRF 3, Agravo de Instrumento, Processo n.2006.03.00.003212-8, Relator JUIZ HIGINO CINACCHI, Quinta Turma, DJUDATA:14/03/2006)

CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL - FUNAI - AÇÃO DE INTERDITOPROIBITÓRIO - LIMINAR - ACEITAÇÃO TÁCITA DA DECISÃO AGRAVADA - AUSÊNCIADE INTERESSE RECURSAL - E LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ - INOCORRÊNCIA - MATÉRIAPRELIMINAR DEDUZIDA EM CONTRAMINUTA REJEITADA - TERRASTRADICIONALMENTE OCUPADAS PELOS ÍNDIOS - PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DACOMUNIDADE INDÍGENA - ARTIGO 231 E PARÁGRAFOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERALDE 1988 - POSSE REGULADA PELAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS -INAPLICABILIDADE DA POSSE REGULADA PELO CÓDIGO CIVIL - LAUDOANTROPÓLÓGICO CONCLUÍDO - PLAUSIBILIDADE DO DIREITO INVOCADO PELAFUNAI E RISCO DE GRAVE LESÃO AO DIREITO COLETIVO DE SOBREVIVÊNCIAÉTNICA E CULTURAL DOS INDÍGENAS - AGRAVO REGIMENTAL PREJUDICADO -AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO. 1. Resta prejudicado o agravo regimental, onde se discute os efeitos em que orecurso foi recebido, em face do julgamento do agravo de instrumento. 2. Não se constitui em aceitação tácita da decisão agravada e/ou ausência deinteresse em recorrer, o fato de a FUNAI ter requerido e obtido junto ao juízo deorigem um prazo maior para que seus tutelados desocupassem pacificamente o

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imóvel objeto da ação, porquanto,tal medida objetivou,tão-somente,viabilizar ocumprimento da decisão judicial. 3. O fato de a agravante valer-se de seu direito de recorrer, garantidoconstitucionalmente, não a qualifica como litigante de má-fé. 4. Inexiste, nos autos, elementos que possam concluir que a agravante tenhapraticado qualquer conduta a configurar ato atentatório a dignidade da justiça,consoante disposto no artigo 17 do Código de Processo Civil, porquanto não houveocultação do acordo firmado anteriormente com os indígenas, no sentido de queestes se comprometeram a desocupar e a não invadir a área in litis. Matéria deduzidaem preliminar pelos agravados em contraminuta rejeitada. 5. A posse indígena não é regulada pelo Código Civil, mas sim pelas disposiçõescontidas na Constituição Federal. 6. A Constituição Federal,em seu artigo 231 e parágrafos, objetivou garantir aosindígenas a posse das terras tradicionalmente por eles ocupadas, com a finalidade depreservar suas populações, como aliás, já asseguravam, desde 1934, as constituiçõesanteriores. 7. A Lei nº 6001 de 19.12.73,(Estatuto do Índio) que foi recepcionada pela atualConstituição Federal, reconhece o direito dos índios ou à comunidade indígena aposse permanente da terras por eles habitadas, independentemente de demarcação,cabendo ser assegurada pelo órgão federal competente, atendendo à situação atual econsenso histórico. 8. Demonstrada, nos autos, a plausibilidade do direito invocado pela agravante, vezque, no âmbito do Procedimento Administrativo de Demarcação de Terra IndígenaGuyraroká, já foi publicado no Diário Oficial da União, o Resumo do RelatórioAntropológico de Identificação e Delimitação, o qual, não obstante, depender aindade impugnações, concluiu que área ocupada é de posse permanente dos indígenas. 9. Os atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terrastradicionalmente ocupadas pelos índios não produzem efeitos jurídicos, consoanteparágrafo 6º do artigo 231 da Constituição Federal. 10. Os documentos acostados aos autos revelam as condições desumanas desobrevivência dos silvícolas, a ocorrência de freqüentes suicídios, crianças morrendode desnutrição, e os constantes conflitos travados com os fazendeiros da região,demonstrando que a controvérsia não se limita apenas a um debate jurídico, mastambém abarca uma questão de relevância social indiscutível, vez que se trata dadignidade da vida humana. 11. Restando evidenciada a ocorrência de risco de grave lesão ao direito coletivo desobrevivência étnica e cultural dos indígenas, esta deve prevalecer sobre o direitoindividual de propriedade. 12. Liminar concedida em Primeiro Grau revogada para que os tutelados daagravante permaneçam na área ocupada até o julgamento final da lide, evitando,assim, o surgimento de novas desavenças entre os envolvidos. 13. Agravo de instrumento provido. Agravo Regimental prejudicado. (TRF 3, Agravo de Instrumento, Processo n. 2004.03.00.066491-4, Relatora JUIZARAMZA TARTUCE, Quinta Turma, DJU 13/09/2005)

TRIBUTÁRIO. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. PROPRIEDADE INCLUSA EM TERRAINDíGENA. INEXIGIBILIDADE DO ITR. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. DESISTÊNCIA.PETIÇÃO ASSINADA POR APENAS UM DOS ADVOGADOS CONSTITUÍDOS NOSAUTOS. FIXAÇÃO SOBRE O VALOR DA CAUSA. I. A exigência de ITR sobre imóvel incluído em demarcação de terras indígenas, depropriedade da União, é incabível. II. O Decreto n. 98814/90, que homologa a demarcação administrativa de áreaINDíGENA, cujos limites foram definidos no Decreto n. 63368/68, alterado peloDecreto n. 72221/73, apenas reconhece uma situação preexistente, devendo seusefeitos retroagirem até a data da fixação dos limites da TERRA INDíGENA.

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III. Não aceitação do pedido de desistência da verba honorária, uma vez querequerido por apenas um dos patronos constituídos pelo embargante. IV. Não pode a embargada alegar desconhecimento da demarcação das terrasindígenas, uma vez que a área relativa às mesmas está registrada a seu favor. V. Tratando-se de embargos à execução procedentes, a condenação da União emverba honorária deve ser fixada sobre o valor da causa e não sobre o valor do débitoem execução. (TRF3, Apelação Cível, Processo n. 1999.03.99.007685-9, Relator JUIZ BAPTISTAFERREIRA, Terceira Turma, DJU 28/05/2003)

CIVIL E CONSTITUCIONAL. DESPEJO. LOCAÇÃO DE ÁREA SITUADA EM TERRASINDÍGENAS. CONTRATO NULO. INEXISTÊNCIA DE DIREITO DE RETENÇÃO. PRAZOPARA DESOCUPAÇÃO. - O decisum recorrido não é extra petita. O pedido resume-se na desocupação doimóvel. A causa petendi é o contrato de locação, que ao juízo era facultado apreciá-losob o prisma da nulidade por força dos artigos 145 e 146 do Código Civil. Não podemser invocados os artigos 128, 458, inciso III, e 460 do CPC em questão estritamentejurídica e que deve ser conhecida de ofício. E não é infra petita. Petição inicial econtestação cuidam juridicamente do contrato de locação, no tocante à expiração doprazo de vigência, ao passo que a MMª. Juíza o desconsiderou, porque o qualificou deabsolutamente nulo quanto ao objeto. O documento juntado diz respeito à origemdas terras, doação de terras pelo Imperador D. Pedro II, tema para o qual orecorrente está extraindo conseqüências jurídicas novas, em relação à resposta queformulou na 1ª instância. Procedimento inovador do apelante e que o julgador nãopoderia ter enfrentado, porque não ventilado oportunamente. - Não ocorreu cerceamento de defesa. A lide foi decidida com fundamento nanulidade absoluta do contrato de locação por ter objeto ilícito, razão pela qualquestões referentes à existência de outro contrato restaram prejudicadas, porquantoo óbice apontado no negócio jurídico permaneceria, ainda que em outro documentoeventualmente lavrado entre as partes. - Patente a legitimidade de parte da FUNAI, em função do contrato de locaçãofirmado por ela. A representação dos índios pela fundação mencionada (art. 35 da Lei6.001/73 e art. 3º do Decreto 564/92) não foi extinta pela Constituição de 1988. Oartigo 129, inciso V, prevê a legitimidade do Ministério Público da União, mas nãodescarta a de outras entidades, uma vez que os artigos 231 e 232 dão à União e àsorganizações e comunidade indígenas poderes para a defesa de interesse dos índios. - Sentença intocável na sua fundamentação acerca da ilicitude de contrato que tenhapor objeto terras indígenas. Não importa quem as cedeu, se a FUNAI ou outraorganização ou comunidade de índios. O artigo 18 da Lei nº 6.001/73 e o artigo 231,§ 6º, da Constituição Federal proíbem-lhe a disponibilidade, nas suas diversasmodalidades. - Impertinente a insurgência contra o prazo dado para a desocupação, fundada noartigo 1.209 do Código Civil. O contrato foi declarado nulo, em contraposição aomencionado dispositivo legal, que se refere a não conveniência do locador emcontinuar a locação por prazo indeterminado. - Não há direito a retenção a ser reconhecido. O artigo 517 do Código Civil e artigo231, § 6º, da Constituição Federal o impedem. É manifesta a má fé da ocupação. Arestrição ao exercício, à posse, à propriedade dos índios é antiga (artigo 18 da Lei nº6.001/73 e artigo 231, § 6º da Carta Magna). Ademais o contrato traz cláusula comrenúncia a retenção ou indenização por benfeitorias. - A jurisprudência deste tribunal é favorável ao apelado. - Preliminares rejeitadas. Apelação não provida. (TRF3, Apelação Cível, Processo n. 92.03.038856-7, Relator JUIZ ANDRENABARRETE, Quinta Turma, DJU 22/10/2002)

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PROCESSUAL CIVIL- AGRAVO DE INSTRUMENTO - DEMARCAÇÃO DE TERRASINDÍGENAS - MEDIDA LIMINAR - MANUTENÇÃO DE POSSE - VÍCIOS DOPROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO- AGRAVO DE INSTRUMENTO IMPROVIDO EAGRAVO REGIMENTAL PREJUDICADO. 1- A apreciação do mérito do agravo de instrumento interposto, torna prejudicado oagravo regimental interposto com os mesmos fundamentos. 2- A proibição de concessão de interdito possessório, estabelecida pela Lei 6.001/73,não constitui óbice ao processamento de ação com o objetivo de ver declarada aineficácia de procedimento administrativo de demarcação de terras indígenas. 3- Procedimento anterior de demarcação, embora possa ser objeto de consideraçãopela FUNAI, não constitui impedimento para a realização de nova demarcação. Éprecisamente o que dispõe o Decreto 1.775/96. 4- O procedimento demarcatório não faz "coisa julgada administrativa", porque,desde que comprovados os direitos originários dos índios, a questão poderá, aqualquer tempo, ser reaberta. 5- A existência de procedimento de demarcação anterior que deixou de reconhecer osdireitos indígenas sobre a TERRA não constitui, por si só, qualquer indício de bomdireito da parte autora, para fins de, em fase de cognição superficial, ser declarada aineficácia do procedimento atualmente em curso. 6- O efetivo risco de perda da posse do imóvel somente se caracterizará com ahomologação da demarcação por Decreto do Senhor Presidente da República, ato queconferirá título de domínio a ser registrado no cartório imobiliário e que se sobreporáàquele pertencente ao agravante. 7- Antes que se configure tal situação fática, parece precipitada qualquer decisãodeterminando a suspensão do curso do procedimento administrativo, da qualdecorreria a proteção possessória aqui buscada, até porque não se vislumbraatualmente qualquer vício manifesto no curso do procedimento administrativo dedemarcação. 8- Recurso desprovido. (TRF3, Agravo de Instrumento, Processo n. 2000.03.00.040816-3, Relator JUIZMAURICIO KATO, Segunda Turma, DJU 09/10/2002)

PROCESSO CIVIL. CONTRATO DE LOCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS. NULIDADE.PRELIMINARES REJEITADAS. APELAÇÃO IMPROVIDA. I- NÃO HÁ JULGAMENTO ULTRA-PETITA SE O JUIZ DECLARA, DE OFÍCIO, O VÍCIO DENULIDADE DO ATO PRATICADO. II- CONTRATO CELEBRADO ENTRE PARTES ABSOLUTAMENTE NULO, NÃO PODE SERCORROBORADO POR OUTRO ACORDO ENTRE AS MESMAS PARTES, INCORRENDO,PORTANTO, O ALÇEGADO CERCEAMENTO DE DEFESA. III- PACTO DE LOCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS CELEBRADO AO ARREPIO DACONSTITUIÇÃO FEDERAL, § 6º DO ARTIGO 231, NÃO GERA DIREITO A RETENÇÃOPOR BENFEITORIAS, POR SUA ABSOLUTA NULIDADE. PRECEDENTES DESTA CORTE. IV- PRELIMINARES REJEITADAS; APELAÇÃO IMPROVIDA. (TRF3, Apelação Cível, Processo n. 93.03.039001-6, Relator JUIZ THEOTONIOCOSTA, Primeira Turma, DJU 19/10/1999)

ADMINISTATIVO. FUNAI. CONTRATO DE LOCAÇÃO. TERRAS INDÍGENAS. DESPEJO.DIREITO DE RETENÇÃO POR BENFEITORIA. SENTENÇA EXTRA PETITA.CERCEAMENTO À DEFESA DO RÉU. I- EM SEDE DE AÇÃO EM QUE SE PLEITEIA DESPEJO COM FUNDAMENTO NARESOLUÇÃO DO CONTRATO, INEXISTE IMPEDIMENTO AO RECONHECIMENTO, DEOFÍCIO PELO JUIZ, DE NULIDADE ABSOLUTA DO NEGÓCIO, POR FORÇA DAINVALIDADE DO ATO PRATICADO. PRELIMINAR DE SENTENÇA EXTRA PETITAREJEITADA. II- NULO O CONTRATO DE PLENO DIREITO - POR VERGASTAR DISPOSITIVOCONSTITUCIONAL - MOSTRA-SE DESCABIDA A PRESENTAÇÃO DE NOVO ACORDO

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CELEBRADO COM A FUNAI, COM O ASSENTIMENTO DOS SILVÍCOLAS, COMO PROVADA LEGALIDADE DO PACTO. CERCEAMENTO DEFESA DO APELANTE NÃOCARACTERIZADO. III- O CONTRATO DE LOCAÇÃO DE IMÓVEL SITUADO EM ALDEAMENTO INDíGENA ÉNULO PLENO JURE, NÃO GERANDO DIREITO À RETENÇÃO POR BENFEITORIASREALIZADAS NO LOCAL. APLICAÇÃO DO ART. 231, PAR. 6, DA CONSTITUIÇÃOFEDERAL. IV- APELAÇÃO IMPROVIDA. (TRF3, Apelação Cível, Processo n. 95.03.037020-5, Relator JUIZ THEOTONIOCOSTA, Primeira Turma, DJU 15/06/1999)

APELAÇÃO CRIMINAL - EXTRAÇÃO DE MADEIRAS - RESERVA INDíGENA -MATERIALIDADE E AUTORIA COMPROVADAS - CRIME DE ESBULHO POSSESSÓRIOABSORVIDO PELO DE FURTO - CONDENAÇÕES MANTIDAS. 1. MATERIALIDADE DO DELITO DEMONSTRADA PELO AUTO DE APRESENTAÇÃO EAPREENSÃO E PELOS LAUDOS PERICIAIS, RESTANDO EVIDENCIADO QUE AS TERRASDE ONDE FOI EXTRAÍDA A MADEIRA PERTENCEM À RESERVA INDíGENA. 2. AUTORIA COMPROVADA, NÃO ENCONTRANDO AMPARO A ALEGADA AUSÊNCIA DEDOLO POR PARTE DOS APELANTES. 3. O DELITO DE ESBULHO POSSESSÓRIO EM TERRAS DA UNIÃO É ABSORVIDO PELOCRIME DE FURTO. 4. RECURSOS IMPROVIDOS. (TRF3, Apelação Criminal, Processo n. 98.03.047234-8, Relator JUIZ OLIVEIRA LIMA,Primeira Turma, DJU 10/11/1998)

APELAÇÃO CÍVEL. DESPEJO. TERRAS INDÍGENAS. RESERVA KADWÉU. PRELIMINARESREJEITADAS. CONTRATO DE LOCAÇÃO. ASSISTÊNCIA DA FUNAI. IRRELEVÂNCIA.ART.3, DA LICC. NULIDADE ABSOLUTA. ART.18, DA LEI N.6001/73 C/C O ART.231,PAR.6, DA CF/88. INOCORRÊNCIA DA EMANCIPAÇÃO DA TRIBO (ART.11, DOESTATUTO DO ÍNDIO). DIREITO DE RETENÇÃO. INEXISTÊNCIA. POSSE DE MÁ-FÉ.PRAZO PARA DESOCUPAÇÃO. INAPLICABILIDADE DO ART.1209, DO CC. 1 - A NULIDADE ABSOLUTA PODE SER DECLARADA DE OFÍCIO PELO MAGISTRADO(ART.146, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CC), DESCABENDO FALAR-SE EM JULGAMENTOEXTRA PETITA. 2 - AS TERRAS OBJETO DA LIDE DEVEM SER CONSIDERADAS COMO "TERRASTRADICIONALMENTE OCUPADAS PELOS ÍNDIOS" (ART.231, PAR.1, DA CF), VISTOQUE AS MESMAS FORAM DOADAS POR D.PEDRO II AOS SILVÍCOLAS, POR ATOS DEBRAVURA. REJEITADA, PORTANTO A ALEGAÇÃO DE JULGAMENTO INFRA PETITA. 3 - REPELIDO O CERCEAMENTO DE DEFESA, PORQUANTO PARA A JUNTADA DOSEGUNDO CONTRATO DE LOCAÇÃO O ORA RECORRENTE DEVERIA TER SE VALIDODO MOMENTO OPORTUNO, QUAL SEJA O DA CONTESTAÇÃO. 4 - OS ÍNDIOS KADWÉU NÃO DEVEM SER TIDOS COMO EMANCIPADOS, VEZ QUETAL DECLARAÇÃO DEPENDE DE DECRETO PRESIDENCIAL (ART.11, DA LEIN.6001/73). 5 - A MENÇÃO AO FATO DE QUE O CONTRATO HAVIA SIDO "CELEBRADO COM APRÓPRIA FUNAI" NÃO SOCORRE O APELANTE, MESMO PORQUE A NINGUÉM É LÍCITOALEGAR IGNORÂNCIA DA LEI (ART.3, LICC). 6 - O CONTRATO DE LOCAÇÃO CELEBRADO É NULO DE PLENO DIREITO DESDE OSEU NASCEDOURO, POR FORÇA DAS DISPOSIÇÕES INSERTAS NOS ARTS.18, DOESTATUTO DO ÍNDIO E 231, PAR.6, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. 7 - O APELANTE É POSSUIDOR DE MÁ-FÉ, NÃO SENDO POSSÍVEL GARANTIR-LHE ODIREITO DE RETENÇÃO POR BENFEITORIAS (ART.517, 2 PARTE, DO CC). 8 - INAPLICABILIDADE DO PRAZO DE DESOCUPAÇÃO NO ARTIGO 1209, DO CÓDIGOCIVIL BRASILEIRO, QUANDO TRATA DA LOCAÇÃO DE IMÓVEL RÚSTICO, VISTO QUEO RESPECTIVO CONTRATO JÁ SE APRESENTAVA VICIADO NO MOMENTO DE SUACELEBRAÇÃO.

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(TRF3, Apelação Cível, Processo n. 93.03.054739-0, Relator JUIZ PEDRO ROTTA,Primeira Turma, DJU 16/06/1998)

PROCESSUAL CIVIL - DESPEJO - ALDEAMENTO INDíGENA - INCAPACIDADE CIVIL. 1. DESNECESSÁRIA A PRODUÇÃO DE PROVA PERICIAL, POIS QUE A EMANCIPAÇÃOINDíGENA DÁ-SE ATRAVÉS DE ATO ADMINISTRATIVO DO PRESIDENTE DAREPÚBLICA REVESTIDO DE PUBLICIDADE NECESSÁRIA AO CONHECIMENTO "ERGAOMNES". 2. SOMENTE A FUNAI PODERIA CELEBRAR CONTRATO COM O APELANTE EM NOMEDA RESERVA INDíGENA, QUE POR SEREM SILVÍCOLAS SÃO CONSIDERADOSINCAPAZES. 3. A EMANCIPAÇÃO DOS ÍNDIOS DEPENDE DE DECRETO DO PRESIDENTE DAREPÚBLICA (ART. 11 DO ESTATUTO DA TERRA), E NÃO TENDO OCORRIDO NO CASO,OS MESMOS CONTINUAM SUJEITOS AO REGIME TUTELAR, SENDO SUA ASSISTÊNCIADA FUNAI E A DEFESA JUDICIAL INCUMBIDA AO MINISTÉRIO PÚBLICO. 4. A INDENIZAÇÃO DAS BENFEITORIAS ÚTEIS E NECESSÁRIAS SOMENTE ATRAVÉSDE AÇÃO PRÓPRIA. 5. PRELIMINARES REJEITADAS E APELO IMPROVIDO. (TRF3, Apelação Cível, Processo n. 93.03.038893-3, Relator JUIZ ROBERTO HADDAD,Primeira Turma, DJU 23/12/1997)

DIREITO CIVIL. AÇÃO DE DESPEJO. LEGITIMIDADE DA FUNAI. ILEGITIMIDADE DEASSOCIAÇÕES INDÍGENAS. VENCIMENTO DO CONTRATO VÁLIDO. TUTELA.PATRIMÔNIO DA UNIÃO. I - A FUNAI É PARTE LEGÍTIMA PARA REAVER O IMÓVEL POR ELA LOCADO, HAVENDOVENCIDO O RESPECTIVO CONTRATO. II - AS ASSOCIAÇÕES INDÍGENAS, AINDA QUE LEGALIZADAS, NÃO TEMQUALIFICAÇÃO PARA CELEBRAR CONTRATOS DE LOCAÇÃO DE ÁREAS INDÍGENAS. III - A TUTELA DA FUNAI CONTINUA SENDO NECESSÁRIA AOS SILVÍCOLAS,RELATIVAMENTE INCAPAZES, NO QUE DIZ RESPEITO À SOLENIZAÇÃO DE ACORDOSSOBRE AS TERRAS TRADICIONALMENTE OCUPADAS PELOS ÍNDIOS, POR SEREMELAS, PATRIMÔNIO DA UNIÃO (TERRAS DOMINIAIS). IV - RECURSO IMPROVIDO. (TRF3, Apelação Cível, Processo n. 92.03.027692-0, Relator JUIZ NEWTON DELUCCA, Segunda Turma, DJU 23/04/1997)

TRF 4ª Região

Acórdãos Terras Indígenas

EMENTA: ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. TERRAS TITULADAS AAGRICULTORES PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL E INVADIDAS POR ÍNDIOS.AÇÃO INDENIZATÓRIA. ILEGITIMIDADE PASSIVA DA UNIÃO E DA FUNAI. - Recursodesprovido porque a responsabilidade pelas consequências do evento apontado comodanoso e, por isso, suscetível de gerar direito às reparações pretendidas, não seria daUnião nem da FUNAI, mas tão-somente do Estado, a ele vinculado, ainda queremotamente, pelo nexo de causalidade. (TRF4, AG, processo 2005.04.01.052118-3,Quarta Turma, relator Valdemar Capeletti, publicado em 22/03/2006)

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EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO CONTRA DEFERIMENTO DE ANTECIPAÇÃO DETUTELA.REQUISITOS. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. DÚVIDAS QUANTO À INTEGRIDADE

FÍSICA DAS PARTES. INTERESSE DE INDÍGENAS.- Os requisitos autorizadores da antecipação de tutela estão expressos em lei, com oquê, estando ausentes, é de se reformar o despacho que deferiu o pedido formuladopela parte.- Tratando-se de bem de interesse de indígenas, e havendo perigo quanto àintegridade física das pessoas envolvidas, não é de se deferir o pedido dereintegração de posse, até mesmo em razão da ausência de prova inequívoca aamparar a verossimilhança dasalegações. (TRF4, AG, processo 2005.04.01.041518-8, Primeira Turma, relatorEDGARD ANTÔNIO LIPPMANN JÚNIOR, publicado em 15/03/2006)

EMENTA: ALIENAÇÃO DE TERRAS. ÁREA INDÍGENA. DENUNCIAÇÃO DA LIDE. - Não-enquadramento da pretensão nas hipóteses elencadas no art. 70 do Código deProcesso Civil. (TRF4, AG, processo 2005.04.01.039182-2, Primeira Turma, relatorEDGARD ANTÔNIO LIPPMANN JÚNIOR, publicado em 15/03;2006)

EMENTA: AÇÃO CIVIL PÚBLICA. FUNAI. DEMARCAÇÃO DE TERRAS. MULTA. - Dademora em ultimar a demarcação das terras indígenas em questão, advém osinegáveis prejuízos, pois a incerteza no que diz respeito à propriedade das terrascontribui para o acirramento dos conflitos entre índios e agricultores. A aplicação demulta diária pelo descumprimento de obrigação, tem previsão expressa do § 4º doart. 461 do Código de Processo Civil. (TRF4, AG, processo 2004.04.01.013313-0,Terceira Turma, relator Vânia Hack de Almeida, publicado em 14/12/2005)

EMENTA: AÇÃO CIVIL PÚBLICA. TERRAS INDÍGENAS. DEMARCAÇÃO. PROCEDIMENTOADMINISTRATIVO. MULTA DIÁRIA NO CASO DE DESCUMPRIMENTO. - Em face depreceito constitucional expresso (art. 231), compete à União demarcar as terrastradicionalmente ocupadas pelos índios, em caráter permanente, no intuito depreservar sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, através deprocedimento administrativo consignado em lei. - Concluído o procedimentoadministrativo de demarcação arrimado no preceito constitucional acima referido ecom presunção de legalidade, compete ao Ministro de Estado da Justiça, no prazo de30 (trinta) dias, a teor do disposto no § 2º do art. 10 do Decreto 1.775/96, expedirPortaria, declarando os limites da terra indígena e determinando sua demarcação ou,em desaprovando a identificação e delimitação realizada pela FUNAI, enviar de voltaos autos do processo administrativo ao referido órgão federal de assistência ao índio.(TRF4, AG, processo 2005.04.01.012602-6, Terceira Turma, relator Vânia Hack deAlmeida, publicado em 30/11/2005)

EMENTA: RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MATERIAIS E MORAIS. INVASÃO DEPROPRIEDADE POR ÍNDIOS. PRELIMINAR. NULIDADE DA SENTENÇA. ILEGITIMIDADEDA FUNAI. NÃO ACOLHIMENTO. LEGITIMIDADE ATIVA. INDENIZAÇÃO DEVIDA.- Não há qualquer vício na sentença apontada pela apelante, uma vez que apenas fezreferência à prova testemunhal quanto a fatos alegados pelas demandantes, semqualquer impugnação das requeridas.- A FUNAI é parte legítima para responder a presente ação, porquanto érepresentante dos índios, cabendo-lhe à assistência ao índio, conforme dispõe o art.34 da Lei nº 6.001/73.

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- A responsabilidade da FUNAI pelos fatos referidos no feito exsurge da demarcaçãode terras por ela efetivada, cabendo reconhecer a sua culpa in vigilando pelasinvasões promovidas pelapopulação indígena.- O quantum indenizatório mostra-se razoável e acolhendo parcialmente o pedido dasautoras. (TRF4, AC, processo 2004.04.01.042213-9, Terceira Turma, relator VâniaHack de Almeida, publicado em 14/11/2005)

EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS.IMPOSSIBILIDADEJURÍDICA DO PEDIDO.1 - A impossibilidade jurídica do pedido somente se reconhece quandohouver negativa expressa do ordenamento jurídico quanto ao tema versado. No caso,a demarcação de terras, sabidamente, é um dos procedimentos especiais previstosem lei, não a impossibilitando, sob o fundamento de que feriria a discricionariedadeadministrativa, o fato de ser manejada contra a Administração.2 - A decisão do Relator não merece reforma, devendo ser mantidapor seus fundamentos.3 - Agravo improvido. (TRF4, AGVAG, processo 2005.04.01.028201-2, Quarta Turma,relator MÁRCIO ANTÔNIO ROCHA, publicado em 09/11/2005)

EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. TUTELA ANTECIPADA.DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS. RESERVA AMBIENTAL. LICENÇA OUAUTORIZAÇÃO AMBIENTAL. REQUISITOS LEGAIS. INDEFERIMENTO. ATO JUDICIALMANTIDO. - O âmbito do agravo de instrumento não permite o exame do mérito daação que o originou. - Ausência de ilegalidade ou abuso de poder no ato judicialimpugnado, por corresponder ao exercício do poder geral de cautela, intimamenteligado à prudência e à discricionariedade do magistrado. - Em que pese a relevânciado direito em questão, demarcação de terras indígenas, inexiste prova que comprovea verossimilhança do direito alegado a justificar o provimento liminar. - Ausente orisco de dano irreparável, pois inexiste perigo aparente de ineficácia do provimentojurisdicional após o decurso de longo prazo até o julgamento final da ação, quando,decidida a controvérsia acerca da autorização e da licença, será possível ademarcação e o estabelecimento dos índios na localidade. - Convicção do juiz a serpreservada e prestigiada para que o processo possa atingir sua finalidade, à luz dosprincípios que orientam a prestação jurisdicional. - Decisão monocrática mantida, porseus próprios fundamentos. - Prequestionamento quanto à legislação invocadaestabelecido pelas razões de decidir. - Agravo improvido. (TRF4, AG, processo2004.04.01.026396-7, Terceira Turma, relator Silvia Maria Gonçalves Goraieb,publicado em 13/10/2005)

EMENTA: ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO RELATIVA A ÁREA INDÍGENA.LEGITIMIDADE PASSIVA 'AD CAUSAM' DA FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO E DAUNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. - Tanto a FUNAI como a União detêmlegitimidade passiva 'ad causam'. A primeira, por ser a executora da políticaindigenista da União e ter demarcado as terras invadidas, antes tituladas pelo Estadodo Rio Grande do Sul; e a segunda, por dever indenizar, ainda que 'in abstracto', pelomenos as benfeitorias decorrentes de ocupação com justo título e de boa-fé. -Competência da Justiça Federal para processar e julgar a demanda. (TRF4, AG,processo 2005.04.01.021350-6, Quarta Turma, relator Valdemar Capeletti, publicadoem 21/09/2005)

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EMENTA: PROCESSO CIVIL. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. LIMINAR. PRESSUPOSTOS.- Improvimento do agravo de instrumento.(TRF4, AG, processo 2005.04.01.014126-0, Terceira Turma, relator CARLOSEDUARDO THOMPSON FLORES LENZ, publicado em 24/08/2005)

EMENTA: AÇÃO CIVIL PÚBLICA. FUNAI. PERMANÊNCIA DA COMUNIDADE INDÍGENAEM ÁREA JÁ OCUPADA. DEMARCAÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS. - Como sedepreender, as razões do agravo estão dissociadas da decisão. A decisão agravada épara que a FUNAI ultime em trinta dias as diligências requeridas e remeta o processoadministrativo ao Sr. Ministro de Estado, para a decisão a que se refere o Decreto1775/96 e não para que a decisão seja proferida. (TRF4, AGVAG, processo2005.04.01.032383-0, Terceira Turma, relator Vânia Hack de Almeida, publicado em16/11/2005)

EMENTA: ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. TERRA INDÍGENA. PROVAPERICIAL. ADMISSIBILIDADE. DECISÃO MEDIANTE EXTINÇÃO. PRETENSÃOINCABÍVEL. - Em se tratando de ação ordinária de indenização por desapropriaçãoindireta, é, em princípio, admissível a necessidade da prova pericial para formação daconvicção do julgador, não se afigurando cabível a pretensão, da recorrente, de que ofeito seja decidido mediante extinção, nos termos do disposto no art. 329 do CPC,porque as suas alegações de impossibilidade jurídica do pedido podem e devem serapreciadas juntamente com o mérito da causa, após a dilação probatória. (TRF4, AG,processo 2004.04.01.001935-7, Quarta Turma, relator Valdemar Capeletti, publicadoem 28/09/2005)

EMENTA: REINTEGRAÇÃO DE POSSE. TERRA PARTICULAR INVADIDA PORINDÍGENAS. POSSE CONTÍNUA HÁ MAIS DE 40 ANOS. NECESSIDADE DE PRÉVIADESCONSTITUIÇÃO DO TÍTULO DE PROPRIEDADE. - Não evidenciado tratar-se deterra tradicionalmente ocupada por indígenas, não pode ser considerada, como tal,área ocupada há mais de 40 anos pelos proprietários, que conseguiram demonstrarsatisfatoriamente a posse direta do imóvel durante todo o período, sendo certo que,mesmo ocorrendo a delimitação da indigitada área como indígena, o título depropriedade deverá ser previamente desconstituído. (TRF4, AG, processo2004.04.01.056527-3, Quarta Turma, relator Valdemar Capeletti, publicado em17/08/2005)

EMENTA: ADMINISTRATIVO. ESBULHO PRATICADO POR INDÍGENAS. AÇÃO DEREINTEGRAÇÃO DE POSSE. PEDIDO INDENIZATÓRIO. - A realidade da causa nãoaponta conflito jurídico sobre posse, propriedade ou qualquer outro instituto dedireito civil, administrativo ou constitucional. Indica, tão-somente, o fato de umesbulho, ou de uma invasão de terras possuídas por outrem. Nessa dimensão, aordem jurídica não pode tolerar, no plano fático, a conduta de quem esbulha ouinvade, seja ele índio ou não-índio, sem reagir, ou permitir a reação do esbulhado ouinvadido, que são, justamente, os interditos possessórios previstos nas legislaçõescivil e processual civil. (TRF4, AC, processo 2000.71.04.002217-5, Quarta Turma,relator Valdemar Capeletti, publicado em 17/08/2005)

EMENTA: ADMINISTRATIVO. IMISSÃO NA POSSE DE LOTE RURAL PROPOSTA PELAFUNAI. TERRA DECLARADA INDÍGENA EM PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO.INDENIZAÇÃO DAS BENFEITORIAS. LAUDO DO PERITO OFICIAL. FÉ PÚBLICA. I. Nãohá ilegalidade na consideração do laudo do perito oficial para fins de indenização dasbenfeitorias integrantes da terra declarada indígena em procedimento administrativo.

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II. O laudo do perito nomeado pelo Juiz reveste-se de fé pública. (TRF4, AC, processo2004.04.01.034738-5, Quarta Turma, relator Valdemar Capeletti, publicado em03/08/2005)

EMENTA: AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ÁREA INDÍGENA. PAGAMENTO DE BENFEITORIAS.VIA PROCESSUAL. LEGITIMIDADE. - A ação civil pública é a via adequada paradiscutir direito sobre área indígena, com base nos arts. 81, parágrafo único, e 82,parágrafo primeiro, ambos da Lei nº 8.078/90. - O Ministério Público Federal estálegitimado para propor ação civil pública, quando a matéria tratar de direito indígena,por se caracterizar como de interesse social. (TRF4, AG, processo2004.04.01.011999-6, Quarta Turma, relator Edgard Antônio Lippmann Júnior,publicado em 03/08/2005)

EMENTA: ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO POPULAR. LITISCONSÓRCIOPASSIVO NECESSÁRIO. AUTORIDADE PÚBLICA. BENEFÍCIÁRIOS. ART. 6º DA LEI N.4.717/65. NULIDADE. ART. 249, § 2º, DO CPC. INAPLICABILIDADE. ART. 47 DO CPC.ANULAÇÃO. 1. A autoridade pública que editou a Portaria declarando porção de terrasde posse permanente de grupo indígena, bem assim os beneficiários do atoadministrativo acusado de nulidade na Ação Popular, quais sejam os agricultores quetenham direito à indenização e a comunidade indígena, esta já representada nosautos pela FUNAI, devem necessariamente integrar o pólo passivo da ação, forte noart. 6º da Lei n. 4.717/65. 2. Inaplicável à hipótese a exceção à decretação denulidade prevista no § 2º do art. 249 do CPC, porquanto os interesses defendidos naAção Popular transcendem a figura de qualquer ente, sendo eles de titularidade detoda a sociedade. 3. Verificando o tribunal de segundo grau de jurisdição a falta decitação de litisconsortes passivos necessários, deve anular o feito e determinar que ojuiz singular cumpra o disposto no art. 47, § único, do CPC (STJ, 4ª Turma, Resp28559-1-SP, rel. Min. Torreão Braz, j. 13.12.94, deram provimento, v. u., DJU20.3.95, p. 6.120) (TRF4, AC, processo 2003.72.02.000654-4, Quarta Turma, relatorEdgard Antônio Lippmann Júnior, publicado em 10/08/2005)

EMENTA: AQUISIÇÃO DE IMÓVEL. ÁREA INDÍGENA. PÓLO PASSIVO. DENUNCIAÇÃODA LIDE À UNIÃO FEDERAL E A FUNAI. NÃO-CABIMENTO. - Ausente a pertinênciasubjetiva da ação em relação à FUNAI e à União Federal. Caso responsabilizadocivilmente o Estado do Rio Grande do Sul pelo ato de alienação de imóvel, odenunciante não trouxe aos autos comprovação acerca de lei ou contrato quejustifique a denunciação da FUNAI ou da União Federal para eventual ação deregresso. Não-enquadramento do caso nas hipóteses elencadas no art. 70 do Códigode Processo Civil. (TRF4, AG, processo 2004.04.01.041407-6, Quarta Turma, relatorEdgard Antônio Lippmann Júnior, publicado em 19/01/2005)

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. LEGITIMIDADE ATIVA. MINISTÉRIO PÚBLICOFEDERAL. INTERESSES DAS POPULAÇÕES INDÍGENAS. - Trata-se de agravo deinstrumento voltado contra decisão monocrática, proferida nos autos de ação civilpública na qual visa compelir a FUNAI e a União a concluir os pagamentos dasbenfeitorias realizadas pelos agricultores ocupantes da área indígena pertencente àcomunidade Toldo Chimbangue II, que não acolheu a preliminar de ilegitimidade ativado Ministério Público Federal. - É função institucional do Ministério Público a defesados direitos e interesses das populações indígenas (art. 129, V, da CF). (TRF4, AG,processo 2004.04.01.010724-6, Quarta Turma, relator Edgard Antônio LippmannJúnior, publicado em 19/01/2005)

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EMENTA: ADMINISTRATIVO. IMÓVEL RURAL. INCERTEZA QUANTO A SUACARACTERIZAÇÃO COMO TERRA INDÍGENA. PROVÁVEL ESBULHO. CONCESSÃO DEINTERDITO PROIBITÓRIO. MULTA POR DESCUMPRIMENTO DA DECISÃO JUDICIAL.PREVISÃO LEGAL. - Pairando dúvidas quanto à qualificação de imóvel rural comoterra indígena, e estando ele a sofrer esbulho, turbação ou ameaça contra a posse doautor, se revela acautelatória em prol do próprio procedimento judicial instaurado aprovidência do juiz ao deferir o interdito proibitório. - Há expressa previsão legal (art.461, § 4º, do CPC) quanto à fixação de multa pelo descumprimento de decisãojudicial. (TRF4, AG, processo 2004.04.01.030075-7, Quarta Turma, relator EdgardAntônio Lippmann Júnior, publicado em 19/01/2005)

EMENTA: PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. INDENIZAÇÃO PORBENFEITORIAS EM ÁREA INDÍGENA. ILEGITIMIDADE DA FUNAI. - Improvimento doagravo de instrumento. (TRF4, AG, processo 2003.04.01.054522-1, Terceira Turma,relator Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz, publicado em 14/04/2004)

EMENTA: AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IDENTIFICAÇÃO E DEMARCAÇÃO DE ÁREAS A SEREMOCUPADAS POR ÍNDIOS GUARANIS NO NORTE DO ESTADO DE SANTA CATARINA.LIMINAR CONCEDIDA. AGRAVO DE INSTRUMENTO. - Os trabalhos de levantamento,demarcação e solução temporária do problema demandam recursos humanos emateriais cuja mobilização exige prazo incompatível com a determinação judicial.(TRF4, AG, processo 2002.04.01.048848-8, Quarta Turma, relator ValdemarCapeletti, publicado em 02/04/2003)

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROVA PERICIAL. INDEFERIMENTO.BENFEITORIA. TERRAS OCUPADAS PELOS ÍNDIOS. 1. Se a controvérsia reside noentendimento a respeito da natureza jurídica da propriedade, merece reforma adecisão que deferiu a prova pericial para o fim de comprovar as benfeitoriasrealizadas e demonstrar a existência e extensão dos danos, ainda mais que aindenização pleiteada não é por benfeitorias. 2. Agravo de instrumento conhecido eprovido. (TRF4, AG, processo 2003.04.01.025597-8, Terceira Turma, relator CarlosEduardo Thompson Flores Lenz, publicado em 22/10/2003)

EMENTA: ADMINISTRATIVO. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. TERRAS OCUPADAS PELOSÍNDIOS. ESBULHO. 1. A ação de reintegração exige prova da posse. A prova dosautos é no sentido de que a área pertence a União em razão de estar ocupada pelosíndios guaranis. Demarcada a reserva indígena não há esbulho por parte dossilvícolas. 2. Nos termos do artigo 231 da Constituição são terras tradicionalmenteocupadas por índios não só as habitadas em caráter permanente mas também asutilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dosrecursos ambientais necessários a seu bem estar e as necessárias a sua reproduçãofísica e cultural. (TRF4, AC, processo 2002.04.01.045836-8, Terceira Turma, relatorMaria de Fátima Freitas Labarrère, publicado em 09/07/2003)

EMENTA: AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IDENTIFICAÇÃO E DEMARCAÇÃO DE ÁREAS A SEREMOCUPADAS POR ÍNDIOS GUARANIS NO NORTE DO ESTADO DE SANTA CATARINA.LIMINAR CONCEDIDA. AGRAVO DE INSTRUMENTO. - Os trabalhos de levantamento,demarcação e solução temporária do problema demandam recursos humanos emateriais cuja mobilização exige prazo incompatível com a determinação judicial.

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(TRF4, AG, processo 2002.04.01.048848-8, Quarta Turma, relator ValdemarCapeletti, publicado em 02/04/2003)

EMENTA: DESAPROPRIAÇÃO INDIRETA. TERRAS TRADICIONALMENTE OCUPADASPOR INDÍGENAS. NULIDADE DOS TÍTULOS. ARTIGOS 20, INC. XI, E 231 - CAPUT, §1º E § 6º DA CF. PROVIMENTO DO RECURSO. 1. A Constituição Federal estabeleceserem bens da União as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios (art. 20, inc.XI). 2. Como conseqüência, o artigo 231 reconhece que os índios têm direito sobre asterras que tradicionalmente ocupam (caput), cujo conceito é dado pelo § 1º domesmo artigo. 3. Como complementação da defesa dos direitos indígenas o § 6º dojá citado comando constitucional determina serem nulos e extintos, não produção deefeitos jurídicos, os atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a possedessas terras, sem direito a indenização, salvo em relação às benfeitorias derivadasda ocupação de boa-fé. 4. Como leciona o constitucionalista José Afonso da Silva - "Oreconhecimento do direito dos índios ou comunidades indígenas à posse permanentedas terras por eles ocupadas, nos termos do art. 231, § 2º, independe de suademarcação, e cabe ser assegurado pelo órgão federal competente, atendendo àsituação atual e ao consenso histórico." (Curso de Direito Constitucional Positivo, 19ªed. São Paulo: Malheiros Editores, 2001, pg. 833/4). 5. Há provas nos autos acomprovar que a área do apelado era terra tradicionalmente ocupada pelos índiosParesi, tanto que foi incluída da reserva indígena dos Parecis. 6. As Constituições de1934, 1946, 1967/69 e 1988 atribuíram à União o domínio das terras habitadas pelossilvícolas. 7. Recurso de apelação da União e remessa oficial providos. (TRF4, AC,processo 2001.04.01.068108-9, Quarta Turma, relator Joel Ilan Paciornik, publicadoem 29/01/2003)

EMENTA: ADMINISTRATIVO. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. ÁREA TRADICIONALMENTEOCUPADA POR ÍNDIOS. INDIGEATO. TÍTULO DE PROPRIEDADE SOBRE TERRASOCUPADAS POR ÍNDIOS. NULIDADE. ÁREA DO TOLDO DE NONOAI. ART. 231, § 1º E20, XI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. - São nulos os títulos de propriedade sobreterras declaradas como tradicionalmente ocupadas pelos índios. Incidência do art.231, § 1º e 20, XI, da Constituição Federal. A posse da recorrente é posterior àdemarcação da área do Toldo de Nonoai. Impossibilidade de deferimento dareintegração de posse pela violação ao direito de propriedade, anteriormenteoutorgado aos silvícolas. Posse melhor e mais antiga que a da agravante. (TRF4, AG,processo 2002.04.01.001476-4, Terceira Turma, relator Maria de Fátima FreitasLabarrère, publicado em 19/02/2003)

EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. TERRAS INDÍGENAS. FUNAI. AÇÃOVISANDO À ANULAÇÃO DE ESCRITURA DE COMPRA E VENDA. 1. Não estando emdisputa judicial as terras ou direitos indígenas, não há interesse da FUNAI em intervirno feito. 2. No caso, a lide trata de anulação de escritura de compra e venda, cujoregistro não foi possível dada à restrição anotada na matrícula quanto à qualidade deterras reservadas ao indigenato, de sorte que a solução da causa desinteressa àFUNAI, vez que a decisão judicial, seja qual for, não alterará a situação registral, nema situação de fato quanto à posse dos índios. 3. FUNAI excluída da lide. Sentençaanulada. Processo restituído ao Juízo de Direito de origem. Apelações prejudicadas.(TRF4, AC, processo 1999.04.01.139712-0, Quarta Turma, relator Sérgio RenatoTejada Garcia, publicado em 23/01/2002)

EMENTA: ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. INTERDITO PROIBITÓRIO.DEMARCAÇÃO DE TERRAS PELA FUNAI. LITISCONSÓRCIO DA UNIÃO. CERCEAMENTO

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DE DEFESA. 1. O art. 19, §2º, da Lei 6001/73 (Estatuto do Índio), veda a utilizaçãode interditos possessórios contra a demarcação das terras indígenas. No caso, asportarias mencionadas pelos autores dispõem sobre o estudo da área, que antecedeuma futura demarcação. O rito adequado a ser seguido, em qualquer dos casos, é oda ação petitória ou demarcatória, como ressalva o mencionado dispositivo legal.Processo extinto pela inadequação da via eleita, quanto ao pedido referente àdemarcação. 2. A União é litisconsorte necessária da FUNAI nas causas em que sediscute a posse (art. 36, parágrafo único, da Lei 6001/73) de terras, quando presenteo interesse dos índios. 3. Nulidade da sentença que declara a perda superveniente doobjeto sem que haja provas nos autos de que os atos de turbação tenham cessado.Devolução dos autos à origem, para reabertura da instrução e posterior julgamentodo pedido remanescente, referente à proteção possessória demandada em face dosatos de turbação dos indígenas. 4. Apelação provida em parte. (TRF4, AC, processo2000.04.01.095120-9, Terceira Turma, relator Taís Schilling Ferraz, publicado em12/06/2002)

EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. TERRAS INDÍGENAS. FUNAI. AÇÃOVISANDO À ANULAÇÃO DE ESCRITURA DE COMPRA E VENDA. 1. Não estando emdisputa judicial as terras ou direitos indígenas, não há interesse da FUNAI em intervirno feito. 2. No caso, a lide trata de anulação de escritura de compra e venda, cujoregistro não foi possível dada à restrição anotada na matrícula quanto à qualidade deterras reservadas ao indigenato, de sorte que a solução da causa desinteressa àFUNAI, vez que a decisão judicial, seja qual for, não alterará a situação registral, nema situação de fato quanto à posse dos índios. 3. FUNAI excluída da lide. Sentençaanulada. Processo restituído ao Juízo de Direito de origem. Apelações prejudicadas.(TRF4, AC, processo 1999.04.01.139712-0, Quarta Turma, relator Sérgio RenatoTejada Garcia, publicado em 23/01/2002)

EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. DEMARCAÇÃO ADMINISTRATIVA DETERRASINDÍGENAS PELA FUNAI. EXTRAÇÃO DE MADEIRA POR TERCEIROS NAS TERRASDEMARCANDAS. AÇÃO CAUTELAR SATISFATIVA.1. Nos termos da Lei nº 6.001/73, a FUNAI pode demarcar administrativamente asterras indígenas.2. Se necessitar coibir atos de terceiros deverá provocar a intervenção judicialatravés de processo conhecimento e não de ação cautelar porque não existirá a açãoprincipal.3. É irrelevante que a parte tenha utilizado inadequadamente o nomen iuris açãocautelar, devendo o juiz dar à ação o processamento segundo a natureza doprovimento jurisdicionalpleiteado.4. Sentença que se anula. Apelações providas. (TRF4, AC, processo1998.04.01.087319-6, Terceira Turma, relator Sérgio Renato Tejada Garcia,publicado em 06/09/2000)

EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. POSSE DE PARTICULAR SOBRE TERRASINDÍGENAS. INEXISTÊNCIA DE DIREITOS. 1. As terras tradicionalmente ocupadaspelos índios são de propriedade da União (CF, art. 20, XI), não sendo oponíveiscontra ela os títulos particulares. 2. Segundo o parágrafo 6º do artigo 231 daConstituição, são nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos quetenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse de terras indígenas, não gerandoa nulidade e a extinção direito a indenização ou ações contra a União. 3. Açãopossessória improcedente. 4. Apelação improvida. (TRF4, AC, processo

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1999.04.01.003676-0, Terceira Turma, relator Sérgio Renato Tejada Garcia,publicado em 02/08/2000)

EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. TERRAS INDÍGENAS. FUNAI. IMISSÃO DEPOSSE.DECRETO HOMOLOGATÓRIO DE DEMARCAÇÃO. PROCEDIMENTOADMINISTRATIVO.1. Não há nos autos qualquer elemento que ratifique a afirmação de que o Decretohomologatório de demarcação baseou-se em processo administrativo, no qual nãoforam possibilitados o contraditório, a ampla defesa e o devido processo legal.2. O Decreto de 14-04-98, em relação aos demais documentos analisados, nãoprovém de procedimento administrativo viciado, razão pela qual possui forçaprobante suficiente a ensejar aimissão na posse pretendida.3. Poderá haver manifestação por parte dos interessados, desde o início doprocedimento demarcatório até noventa dias após a publicação. Podendo-seapresentar razões instruídas com todas as provas pertinentes, tais como títulosdominiais, laudos periciais, pareceres e outros documentos hábeis a comprovarprováveis vícios, o que não foi feito no período indicado. (TRF4, AG, processo1999.04.01.024297-8, Terceira Turma, relatora LUIZA DIAS CASSALES, publicado em05/07/2000)

EMENTA: CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CÍVIL. TERRAS INDÍGENAS. AÇÃOREIVINDICATÓRIA PROMOVIDA PELA UNIÃO E PELA FUNAI AFORADA NO ANO DE1944. PATRIMÔNIO INDÍGENA OCUPADO DESDE O ANO DE 1940 EM RAZÃO DEAÇÃO DEMARCATÓRIA INEFICAZ CONTRA A UNIÃO E FUNAI POR VÍCIO DE CITAÇÃO.PROVA DA POSSE E DO DOMÍNIO. NULIDADE DA CITAÇÃO EDITALÍCIA. 1.Sobejamente demonstrada nos autos a posse dos índios "caingangs" sobre a áreaincluída na demarcação do Quinhão nº 15, da Fazenda Apucarana, situada, hoje, noMunicípio de Ortigueira-PR, desalojados que foram em razão de ação demarcatóriahomologada no ano de 1940. 2. Perfeitamente identificadas e localizadas, por períciatécnica, as terras reservadas aos indígenas pelo Decreto nº 591, de 17 de agosto de1915, do Presidente do Estado do Paraná. 3. A Constituição Federal de 1937, entãovigente, tal qual a Carta anterior e as que se seguiram, conferiu especial proteção àsterras indígenas. 4. Nula a citação por edital da União, em relação ao ajuizamento deação demarcatória de território indígena, na forma do Código de Processo Civil eComercial do Estado do Paraná (Lei nº 1.915/20), então vigente, porquanto havianorma especial, o Decreto-Lei nº 986/38, que exigia citação pessoal de seurepresentante legal. 5. Nula, também, a citação editalícia, por indicar erroneamente orepresentante legal do Serviço de Proteção aos Índios. 6. A citação nula, nãocomparecendo o réu espontaneamente para se defender, constitui-se em vícioinsanável, nulificando o processo desde o seu nascedouro. 7. Apelações e remessaoficial providas. (TRF4, AC, processo 96.04.42549-8, Terceira Turma, relator SérgioRenato Tejada Garcia, publicado em 08/09/1999)

EMENTA: ADMINISTRATIVO. USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIO. RESERVA INDÍGENA.PROVA. A alegação da União de que a área se encontra em reserva indígena, nãoresta provada nos autos. Para caracterizar a coisa hábil a ser usucapida, é mister quenão esteja fora do comércio e que não seja bem público. Já a caracterização de terrapública por ocupação tradicional dos índios, exige-se a posse permanente dosmesmos naquela localidade, o que não significa a ocupação imemorial, ou seja, posseem épocas remotas, e sim pela consignação do indigenato. Inexiste qualquermanifestação do Juízo, no que se refere à perícia de áreas demarcadas em 1911,

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requerida pelo Ministério Público, uma vez a possibilidade de estar a área objeto dopresente usucapião, ali encravada. Ante a possibilidade de tratar-se de terrasindígenas, não é a posse mansa e pacífica por vinte anos, provada por testemunhas,que ensejaria o usucapião, pois imprescritíveis. Hipótese de anulação do processo porcerceamento de defesa. Seja apreciada, também, as provas requeridas pela Funai àfl. 116. Remessa oficial provida. (TRF4, REO, processo 1998.04.01.043659-8,Terceira Turma, relator Maria de Fátima Freitas Labarrère, publicado em 02/06/1999)

EMENTA: CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. REINTEGRAÇÃO DE POSSE.ESBULHO PRATICADO POR ÍNDIOS. LEGITIMIDADE PASSIVA DA FUNAI E DA UNIÃO.INEXISTÊNCIA DE PROVAS DE QUE A ÁREA EM LITÍGIO CARACTERIZE-SE COMOTRADICIONALMENTE OCUPADA POR INDÍGENAS. 1. A funai e a União são substitutasprocessuais dos índios, a teor do disposto nos Art-35 e Art-36 do Estatuto do Índio( Lei-6001/73 ). 2. A posse e o domínio das terras indígenas estão garantidos pelaconstituição, nos Art-20, Inc-21 e Art-231, Par-1 e Par-4 e, ao teor do Par-6 domesmo Art-231 da CF, são nulos e extinto, sem que produzam efeitos jurídicos, osatos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terrastradicionalmente ocupadas pelos índios. 3. Entretanto, no caso dos autos, não háelementos suficientes para que se caracterize como "tradicionalmente ocupadas pelosíndios" as terras que são objeto da reintegração de posse, tampouco, para que seafirme o oposto. Assim, deve ser declarada a nulidade da sentença, para que sejareaberta a instrução. (TRF4, AC, processo 96.04.16388-4, Quarta Turma, relator JoséLuiz B. Germano da Silva, publicado em 27/01/1999)

EMENTA: CIVIL. INTERDITO PROIBITÓRIO. LIMINAR CONCEDIDA. ÁREA DECONFLITO. OCUPAÇÃO PELOS INDÍGENAS. 1. Presentes os requisitos exigidos para atutela liminar, deve ser mantida, porque a invocação de posse permanente dosíndios, cuja proteção pelo Estado tem garantia constitucional, opõe-se ao direito depropriedade igualmente assegurado pela Constituição, assentado em justo título, cujapresunção de legitimidade é juris tantum. 2. Manutenção da posse dos agricultores,que já a exerciam, sem prejuízo das medidas administrativas de demarcação, a fimde não tumultuar a situação. 3. Agravo improvido. (TRF4, AG, processo 96.04.63431-3, Quarta Turma, relator Silvia Maria Gonçalves Goraieb, publicado em 04/03/1998)

EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. INTERDITO PROIBITÓRIO. INDEFERIMENTO DEPEDIDO DE REVOGAÇÃO DE LIMINAR E AUTORIZAÇÃO PARA CULTIVO DAS TERRAS.OCUPAÇÃO DA ÁREA DE CONFLITO POR INDÍGENAS. LIMINAR MANTIDA. 1. Matériajá decidida no julgamento de outro agravo, sem que o fato novo alegado possaalterar o entendimento , pois o agravamento das condições de vida da comunidadeindígena deve ser minimizado por ação titulada pela FUNAI, a quem incumbe a tutelados direitos. 2. Indeferimento mantido, pois o provimento não resolveria o conflito,apenas inverteria a posição das partes, colocando a família dos atuais possuidores namesma situação calamitosa em que hoje se encontram os índios caigangues. 4.Agravo improvido. (TRF4, AG, processo 95.04.42562-3, Quarta Turma, relator SilviaMaria Gonçalves Goraieb, publicado em 24/12/1997)

EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. INTERDITO PROIBITÓRIO. MANUTENÇÃO EREINTEGRAÇÃODE POSSE. ART-920 DO CPC-73. OCUPAÇÃO DA ÁREA DE CONFLITO PORINDÍGENAS. LIMINAR MANTIDA.1. Presentes os requisitos da tutela judicial, por comprovada a posse e a propriedadedas terras em conflito por mais de vinte anos, o interdito possessório, acertadamente

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ajuizado pelosagravados, transformou-se em ação visando à manutenção e à reintegração naposse, eis que concretizada a ameaça de invasão pela comunidade indígena. 2. Decisão amparada no ART-920 do CPC-73.3. A comprovada posse mansa e pacífica por mais de vinte anos deve continuar sendoobjeto de proteção até o final da ação possessória, eis que as atividadesadministrativas visando a demarcação da área da terra indígena VENTARRA não sãoeficazes para solucionar oconflito que, dadas as suas dimensões, já exigiu intervenção judicial, inclusive,policial.4. Agravo improvido. (TRF4, AG, processo 95.04.27415-3, Quarta Turma, relatorSilvia Maria Gonçalves Goraieb, publicado em 17/12/1997)

EMENTA: PROCESSO CIVIL. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. TERRAS DE INDIOS.LITISCONSORCIO NECESSARIO DA UNIÃO FEDERAL. A UNIÃO FEDERAL ELITISCONSORTE NECESSARIA EM TODAS AS AÇÕES POSSESSORIAS RELATIVAS ASTERRAS HABITADAS PELOS INDIOS, E POR ISSO, DE ACORDO AO DISPOSTO NOARTIGO-928, PARAGRAFO UNICO DO CODIGO DE PROCESSO CIVIL, EINDISPENSAVEL A OUVIDA DO SEU REPRESENTANTE JUDICIAL, ANTES DACONCESSÃO DE LIMINAR EM TAIS AÇÕES. (TRF4, AG, processo 89.04.15092-2,Terceira Turma, relator Silvio Dobrowolski, publicado em 05/09/1990)

TRF 5ª Região

Acórdãos Terras Indígenas

EMENTAAÇÃO POSSESSÓRIA. INTERESSE DA UNIÃO NA DEMARCAÇÃO DA TERRA.COMUNIDADE INDÍGENA. ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL BARRA DO RIOMAMANGUAPE. INTERESSE DO IBAMA UNIÃO NA LIDE. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇAFEDERAL.I. Decisão monocrática que rejeitou a intervenção do Ministério Público Federal, doIbama e da união em ação possessória, determinando a competência da justiçaestadual para o julgamento da lide.II. Havendo controvérsia sobre a ocupação da área por indígenas, é de se observar oartigo 20, xi, que define as terras tradicionalmente ocupadas por índios como bens daUnião. Consoante artigo 109, XI, da carta magna, existindo disputa sobre direitosindígenas, a competência para o julgamento é da Justiça Federal.III. Cabe ao Ibama, no exercício de seu mister, atuar de modo a promover a proteçãodo meio ambiente contra ações perpetradas de forma nociva ao seu equilíbrio, nostermos da lei. Tratando-se de área de preservação ambiental, configura-se ointeresse do Ibama.IV. Agravo de instrumento provido. (TRF 5ª. Região, AGTR 64044/PB, Relator:Desembargador Federal IVAN LIRA DE CARVALHO, Quarta Turma, DJ 31.01.2006)

EMENTA

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CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. DESOCUPAÇÃO DA ÁREAINDÍGENA PANKARARU. LEGITIMIDADE DA FUNAI, DO INCRA E DA UNIÃO PARAFIGURAREM NO POLO PASSIVO DA AÇÃO. REASSENTAMENTO DOS POSSEIROS.RESPONSABILIDADE DO INCRA. INDENIZAÇÃO DOS POSSEIROS DE BOA-FÉ. ARTIGO231, PARÁGRAFO 6º DA CF/88.I. A RESERVA INDÍGENA PANKARARU DEVERÁ SER DESOCUPADA DOS "NÃO ÍNDIOS"PELA FUNAI E UNIÃO, CABENDO AO INCRA REASSENTAR OS POSSEIROSOBRIGADOS A SAIR DA ÁREA.II. TRATANDO-SE DE ÁREA INDÍGENA, A UNIÃO E A FUNAI SÃO SOLIDARIAMENTERESPONSÁVEIS PELA PROTEÇÃO DESTAS, CONFORME ARTIGOS 20, XI E 231 DACARTA MAGNA.III. É INCONTESTÁVEL A RESPONSABILIDADE DO INCRA EM PROMOVER OASSENTAMENTO DOS POSSEIROS QUE DEVERÃO DESOCUPAR A ÁREA INDÍGENAPOR FORÇA DA SENTENÇA. LEI 6.969/81 E DECRETO 1.775/96.IV. NÃO HÁ JULGAMENTO EXTRA-PETITA NA CONDENAÇÃO À INDENIZAÇÃO DOSPOSSEIROS DE BOA-FÉ, POIS ESTA FUNDAMENTA-SE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL,ARTIGO 231, PARÁGRAFO 6º. É DE SE APLICAR TAMBÉM AO POSSEIRO DE BOA-FÉ,POR EXTENSÃO, O DISPOSTO NA LEI CIVIL, ARTIGOS 1.201 E 1.219.V. APELAÇÕES IMPROVIDAS. TRF 5ª. Região, AC 344734/PE, Relatora:Desembargadora Federal MARGARIDA CANTARELLI, Quarta Turma, DJ 08.11,2005)

EMENTAADMINISTRATIVO. AÇÃO DE ATENTADO. OCUPAÇÃO IMEMORIAL POR INDÍGENAS.REINTEGRAÇÃO DA UNIÃO NA POSSE. AUTOTUTELA. VEDAÇÃO. INDENIZAÇÃO PORDANOS A BENFEITORIAS. PROVA PERICIAL. LEGITIMIDADE PASSIVA DA UNIÃO.SILVÍCOLAS NÃO ACULTURADOS. ÔNUS SUCUMBENCIAIS.1. Foi reconhecida a ocupação imemorial do imóvel em questão, por indígenas, o queinviabiliza a sua restituição aos autores, ainda que disponham de título aquisitivo dapropriedade do mesmo.2. No entanto, o ordenamento jurídico pátrio não admite a autotutela, impondo-se aindenização pelos prejuízos provocados pelos silvícolas Xocós, ao ingressarem nasterras, sem dispor de mandado de imissão na posse. 3. Restou produzida prova pericial, onde foi apurado o montante da indenizaçãodevida. Não foram demonstrados, nos autos, a criação de peixes e de gado e osdanos alegados à casa-sede, ao curral e a plantas forrageiras.4. A UNIÃO FEDERAL deve figurar, no pólo passivo da relação processual,considerando que se cuida de interesses de indígenas e tendo em vista arepresentação judicial da FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO – FUNAI, autarquiafederal.5. Como os Xocós ainda estão em processo de assimilação, não gozando daconsciência plena dos atos por eles praticados e das suas conseqüências, que permitaa sua responsabilização pelos mesmos, o pagamento da referida indenização deve seratribuído aos referidos entes públicos.6. Ficando patente a sucumbência recíproca, os respectivos ônus deverão serrateados entre as partes.7. Apelações e remessa oficial improvidas. (TRF 5ª. Região, APELAÇÃO CÍVEL Nº289088-SE, Relator: DES. FEDERAL ÉLIO SIQUEIRA, Primeira Turma, DJ 20.05.2005)

EMENTAPROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CAUTELAR. DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS.SUSTAÇÃO DE PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO. RECONHECIMENTO DADECADÊNCIA. PROVIDÊNCIAS DE NATUREZA SATISFATIVA. OBJETO DA DEMANDAPRINCIPAL. EXTINÇÃO DO FEITO SEM ANÁLISE DO MÉRITO.

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1. PRETENDEM OS REQUERENTES SUSTAR O PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DEDEMARCAÇÃO DE TERRAS, SUPOSTAMENTE TIDAS COMO TRADICIONALMENTEOCUPADAS POR INDÍGENAS, SOB OS ARGUMENTOS DE QUE SÃO PROPRIETÁRIOSDO IMÓVEL EM QUESTÃO E TRANSCORREU O PRAZO DE DECADÊNCIA, A QUE SEREFERE O ARTIGO 67, DO ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAISTRANSITÓRIAS DE 1988.2. FICOU EVIDENTE O CARÁTER SATISFATIVO DAS PROVIDÊNCIAS POSTULADAS,INCOMPATÍVEL COM A NATUREZA DAS CAUTELARES, CONFUNDINDO-SE O OBJETODA DEMANDA CAUTELAR COM O OBJETO DA AÇÃO PRINCIPAL A SER PROPOSTA,NÃO MERECENDO REPAROS A SENTENÇA QUE EXTINGUIU O FEITO, SEMAPRECIAÇÃO DO MÉRITO, POR CARÊNCIA DE AÇÃO.3. APELAÇÃO IMPROVIDA. (TRF 5ª. Região, AC 333056/CE, Relator: DesembargadorFederal ÉLIO WANDERLEY DE SIQUEIRA FILHO, Primeira Turma, DJ 20.05.2005)

EMENTAADMINISTRATIVO. TERRAS INDÍGENAS. SUSPENSÃO DA DEMARCAÇÃO DA ÁREAINDÍGENA. PROSSEGUIMENTO DO CURSO DO PROCESSO. AGRAVO DEINSTRUMENTO PROVIDO. (TRF 5ª. Região, AGTR 52618/CE, Relator: DesembargadorFederal LAZARO GUIMARÃES, Quarta Turma, DJ 20.10.2005)

EMENTAADMINISTRATIVO. TERRAS INDÍGENAS. PLEITO PARA DEMARCAÇÃO. DIANTE DEDOIS INTERESSES CONTRAPOSTOS, IMPÕE-SE SEJA AUTORIZADA VISTORIA DASTERRAS INDÍGENAS, EM FACE DA PREVALÊNCIA DO INTERESSE PÚBLICO AMPARADONO DOMÍNIO DA UNIÃO. A CONTINUIDADE DOS TRABALHOS DE DEMARCAÇÃO DASTERRAS, RESPEITADA A POSSE DE QUE SE APRESENTA COM O TÍTULO DE DOMÍNIO,NA PREJUDICA DIREITO. AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO. (TRF 5ª. Região,AGTR45611/AL, Relator: Desembargador Federal LAZARO GUIMARÃES, QuartaTurma, DJ 15.09.2004)

EMENTAAGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DEPOSSE. CONFLITO COM COMUNIDADE INDÍGENA. CONCESSÃO DE LIMINAR. NÃOAUDIÊNCIA PRÉVIA DA UNIÃO E DA FUNAI.– "NENHUMA MEDIDA JUDICIAL SERÁ CONCEDIDA LIMINARMENTE EM CAUSAS QUEENVOLVAM INTERESSE DE SILVÍCOLAS OU DO PATRIMÔNIO INDÍGENA, SEM PRÉVIAAUDIÊNCIA DA UNIÃO E DO ÓRGÃO DE PROTEÇÃO AO ÍNDIO". DICÇÃO DO ART. 63DO ESTATUTO DO ÍNDIO (LEI N.º 6.001/73).– O LEGISLADOR ORDINÁRIO NÃO AUTORIZOU A CONCESSÃO DE MEDIDASLIMINARES QUE DETERMINEM A REINTEGRAÇÃO NA POSSE DE TERRA OBJETO DEDISPUTA COM TRIBO INDÍGENA, SEM PRÉVIA OITIVA DA UNIÃO E DA FUNAI.AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO E AGRAVO REGIMENTAL PREJUDICADO (TRF5ª. Região, AGTR 21882/PE, Relator: Desembargador Federal JOSE MARIALUCENA,Primeira Turma, DJ 25.08.2004)

EMENTAPROCESSO CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. REFORMA DE DECISÃO DO MINISTRO DAJUSTIÇA QUE DESAPROVOU A IDENTIFICAÇÃO DE ALEGADA ÁREA INDÍGENA PELAFUNAI, EXLUINDO DA DEMARCAÇÃO ÁREA IDENTIFICADA COMO DE DOMÍNIOPARTICULAR. IMPROCEDÊNCIA.- SE O ART. 105, I, "B" E "C" DA CF/88 ATRIBUI COMPETÊNCIA EXCLUSIVA DO STJPARA APRECIAR A IMPUGNAÇÃO DOS DESPACHOS DE MINISTROS DE ESTADO

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ATRAVÉS DE MANDADO DE SEGURANÇA OU DE INJUNÇÃO, OU, AINDA, HABEASCORPUS, NÃO HAVENDO NENHUMA VEDAÇÃO A APRECIAÇÃO DE DECISÕES DESSAAUTORIDADE, INCIDENTER TANTUM, NO CURSO DE QUALQUER OUTRA AÇÃO, TEM-SE QUE HÁ COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL DO 1º GRAU, NO CASO SOB EXAME.PRELIMINAR AFASTADA.- TRATANDO-SE DE HIPÓTESE EM QUE NÃO É OBJETO DE CONTROVÉRSIA A ÁREAINDICADA COMO INDÍGENA, MAS SIM A DECISÃO DO SR. MINISTRO DA JUSTIÇAQUE A AFASTOU POR NÃO CONSIDERÁ-LA ÁREA TRADICIONALMENTE OCUPADASPELOS INDÍGENAS, VISLUMBRA-SE POSSIBILIDADE DE JULGAMENTO ANTECIPADODA LIDE. REJEIÇÃO TAMBÉM DESSA PRELIMINAR.- NÃO SE TENDO AFASTADO - QUER NA DECISÃO ANTECIPATÓRIA DOS EFEITOS DATUTELA, QUER NA SENTENÇA - OS BENS LANÇADOS FUNDAMENTOS DA DECISÃOADMINISTRATIVA IMPUGNADA, DAR-SE PROVIMENTO AOS APELOS PARA REVOGAR AANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA E PARA REFORMAR A SENTENÇA,MANTENDO, INTEGRALMENTE, O DESPACHO Nº 50, DE 14.07.1999, DO EXMº SR.MINISTRO DA JUSTIÇA. - APELOS PROVIDOS.(TRF 5ª. Região, AC 318163/PB, Relator: Desembargador Federal FRANCISCOWILDO, Primeira Turma, DJ 17.06.2004)

EMENTACONSTITUCIONAL. AÇÃO DE INTERDITO PROIBITÓRIO. TERRAS DITAS INDÍGENAS.POSSE POR NÃO ÍNDIO.- CARACTERIZA-SE A POSSE INDÍGENA PELA OCUPAÇÃO EFETIVA DA TERRA PELOSSILVÍCOLAS, NELA HABITANDO E EXERCENDO ATIVIDADES INDISPENSÁVEIS À SUASOBREVIVÊNCIA.- AUSÊNCIA DE PROCESSO DEMARCATÓRIO QUE CONFIRA AOS ÍNDIOS O DOMÍNIODO IMÓVEL.- AGRAVO IMPROVIDO.(TRF 5ª. Região, AGTR 4895/AL, Relator: Desembargador Federal JOSE MARIALUCENA, Primeira Turma, DJ 25.08.2004)

EMENTAPROCESSO CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. REFORMA DE DECISÃO DO MINISTRO DAJUSTIÇA QUE DESAPROVOU A IDENTIFICAÇÃO DE ALEGADA ÁREA INDÍGENA PELAFUNAI, EXLUINDO DA DEMARCAÇÃO ÁREA IDENTIFICADA COMO DE DOMÍNIOPARTICULAR. IMPROCEDÊNCIA.- SE O ART. 105, I, "B" E "C" DA CF/88 ATRIBUI COMPETÊNCIA EXCLUSIVA DO STJPARA APRECIAR A IMPUGNAÇÃO DOS DESPACHOS DE MINISTROS DE ESTADOATRAVÉS DE MANDADO DE SEGURANÇA OU DE INJUNÇÃO, OU, AINDA, HABEASCORPUS, NÃO HAVENDO NENHUMA VEDAÇÃO A APRECIAÇÃO DE DECISÕES DESSAAUTORIDADE, INCIDENTER TANTUM, NO CURSO DE QUALQUER OUTRA AÇÃO, TEM-SE QUE HÁ COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL DO 1º GRAU, NO CASO SOB EXAME.PRELIMINAR AFASTADA.- TRATANDO-SE DE HIPÓTESE EM QUE NÃO É OBJETO DE CONTROVÉRSIA A ÁREAINDICADA COMO INDÍGENA, MAS SIM A DECISÃO DO SR. MINISTRO DA JUSTIÇAQUE A AFASTOU POR NÃO CONSIDERÁ-LA ÁREA TRADICIONALMENTE OCUPADASPELOS INDÍGENAS, VISLUMBRA-SE POSSIBILIDADE DE JULGAMENTO ANTECIPADODA LIDE. REJEIÇÃO TAMBÉM DESSA PRELIMINAR.- NÃO SE TENDO AFASTADO - QUER NA DECISÃO ANTECIPATÓRIA DOS EFEITOS DATUTELA, QUER NA SENTENÇA - OS BENS LANÇADOS FUNDAMENTOS DA DECISÃOADMINISTRATIVA IMPUGNADA, DAR-SE PROVIMENTO AOS APELOS PARA REVOGAR AANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA E PARA REFORMAR A SENTENÇA,

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MANTENDO, INTEGRALMENTE, O DESPACHO Nº 50, DE 14.07.1999, DO EXMº SR.MINISTRO DA JUSTIÇA.- APELOS PROVIDOS. (TRF 5ª. Região AC 318163, Relator: Desembargador FederalFRANCISCO WILDO, Primeira Turma, DJ 05.05.2004)

EMENTAPROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONSTRUÇÃO DE IMÓVEIS EM TERRASINDÍGENAS. INTERDITO CONCESSÓRIO. INTERDITO PROIBITÓRIO OU A LIMINAR DEMANUTENÇÃO SE APLICAM EM POSSE NOVA, NÃO SE APLICAM À POSSE VELHA, DEMAIS DE UM ANO E DIA E SE RESOLVEM MEDIANTE PROCEDIMENTO ORDINÁRIO.NECESSIDADE DE PRODUÇÃO DE PROVAS VISANDO A DEMARCAÇÃO DE ÁREAINDÍGENA. A CONCESSÃO DE LIMINAR PODERÁ ESGOTAR O OBJETO DA LIDE,RETIRANDO TODOS OS POSSUIDORES E SEUS FAMILIARES E NÃO OS ÍNDIOS, DAÁREA ATINGIDA PELA LIMINAR. SUSPENSÃO DE QUALQUER TRANSFERÊNCIA,MOVIMENTAÇÃO DE POSSE OU PROPRIEDADE, BEM COMO QUALQUER NOVAEDIFICAÇÃO NA ÁREA. AGRAVO DE INSTRUMENTO PARCIALMENTE PROVIDO. (TRF5ª. Região, AGTR 29360/PB, Relator: Desembargador Federal LAZARO GUIMARÃES,Segunda Turma, DJ 06.08.2003

EMENTAAGRAVO REGIMENTAL. TERRAS INDÍGENAS. PLEITO PARA DEMARCAÇÃO.PROVIMENTO. DIANTE DE DOIS INTERESSES CONTRAPOSTOS, IMPÕE-SE SEJAAUTORIZADA VISTORIA DAS TERRAS INDÍGENAS, EM FACE DA PREVALÊNCIA DOINTERESSE PÚBLICO AMPARADO NO DOMÍNIO DA UNIÃO. A CONTINUIDADE DOSTRABALHOS DE DEMARCAÇÃO DAS TERRAS, RESPEITADA A POSSE DE QUEM SEAPRESENTA COM O TÍTULO DE DOMÍNIO, NÃO PREJUDICA DIREITO. AGRAVOREGIMENTAL PROVIDO. (TRF 5ª. Região, AGTR 45611/AL, Relator: DesembargadorFederal PAULO MACHADO CORDEIRO, Quarta Turma, DJ 07.10.2003)

EMENTAADMINISTRATIVO. CONSTITUCIONAL. REINTEGRAÇÃO NA POSSE. NULIDADE DASENTENÇA. PROVA PERICIAL E TESTEMUNHAL. DESNECESSIDADE. PROTEÇÃOPOSSESSÓRIA. NATUREZA DÚPLICE DA DEMANDA. UNIÃO. LEGITIMIDADE PASSIVA.IMÓVEL RURAL. INDÍGENAS. OCUPAÇÃO EM CARÁTER PERMANENTE. NÃOCARACTERIZAÇÃO. QUADRO FÁTICO-JURÍDICO IDENTIFICADO QUANDO DA EDIÇÃODA CARTA MAGNA DE 1934.1. NÃO HÁ QUE SE FALAR EM NULIDADE DA SENTENÇA, POR NÃO TER SIDODEFERIDA A PRODUÇÃO DE PROVA PERICIAL E TESTEMUNHAL, SE OS ELEMENTOSAPRESENTADOS NOS AUTOS FORAM SUFICIENTES PARA FIRMAR OCONVENCIMENTO DO JUÍZO ACERCA DO EXERCÍCIO DA POSSE SOBRE O SÍTIOCITADO NA PEÇA EXORDIAL PELOS AUTORES E SEUS ANCESTRAIS, DESDE 1895,PELO MENOS.2 .O DECISÓRIO ATACADO NÃO PRECISARIA SE PRONUNCIAR ESPECIFICAMENTESOBRE A PROTEÇÃO POSSESSÓRIA SOLICITADA PELO GRUPO INDÍGENA QUEREIVINDICA A ÁREA, PORQUE, COM O RECONHECIMENTO JUDICIAL DO DIREITODOS AUTORES À REINTEGRAÇÃO, RESTOU PREJUDICADO O PLEITO ATINENTE ÀDITA PROTEÇÃO, DECORRENTE DA NATUREZA DÚPLICE DAS AÇÕES POSSESSÓRIAS.3. CONSIDERANDO QUE A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ATRIBUI À UNIÃO ATITULARIDADE DO DOMÍNIO SOBRE AS TERRAS TRADICIONALMENTE OCUPADASPOR INDÍGENAS E A DITA ENTIDADE POLÍTICA EFETUOU A DEMARCAÇÃO DOIMÓVEL EM QUESTÃO, PARA FINS DE ENQUADRAMENTO NA PROTEÇÃOCONSTITUCIONAL, IMPÕE-SE A SUA PRESENÇA NO PÓLO PASSIVO DESTADEMANDA.

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4. CONFORME A DOUTRINA PÁTRIA, AO INTERPRETAR OS DISPOSITIVOSCONSTITUCIONAIS QUE TRATAM DA MATÉRIA, APENAS FAZEM JUS À POSSE DOSIMÓVEIS RURAIS OS SILVÍCOLAS QUE AS OCUPAVAM QUANDO DA PROMULGAÇÃODA CONSTITUIÇÃO DE 1934, O QUE NÃO OCORRE NO CASO CONCRETO, ONDE APROPRIEDADE DO BEM (OU, PELO MENOS, A SUA POSSE) PERTENCE AOSANTECESSORES DOS AUTORES DESDE O FINAL DO SÉCULO XIX.5. PRELIMINARES REJEITADAS. APELAÇÕES E REMESSA OFICIAL IMPROVIDAS.((TRF5ª. Região, AC 178199/PE, Relator: Desembargador Federal ÉLIO WANDERLEY DESIQUEIRA FILHO, Terceira Turma, DJ 29.05.2003)

EMENTAPROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONSTRUÇÃO DE IMÓVEIS EM TERRASINDÍGENAS. INTERDITO CONCESSÓRIO. INTERDITO PROIBITÓRIO OU A LIMINAR DEMANUTENÇÃO SE APLICAM EM POSSE NOVA, NÃO SE APLICAM À POSSE VELHA, DEMAIS DE UM ANO E DIA E SE RESOLVEM MEDIANTE PROCEDIMENTO ORDINÁRIO.NECESSIDADE DE PRODUÇÃO DE PROVAS VISANDO A DEMARCAÇÃO DE ÁREAINDÍGENA. A CONCESSÃO DE LIMINAR PODERÁ ESGOTAR O OBJETO DA LIDE,RETIRANDO TODOS OS POSSUIDORES E SEUS FAMILIARES E NÃO OS ÍNDIOS, DAÁREA ATINGIDA PELA LIMINAR. SUSPENSÃO DE QUALQUER TRANSFERÊNCIA,MOVIMENTAÇÃO DE POSSE OU PROPRIEDADE, BEM COMO QUALQUER NOVAEDIFICAÇÃO NA ÁREA. AGRAVO DE INSTRUMENTO PARCIALMENTE PROVIDO. (TRF5ª. Região, AGTR 29360/PB, Relator: Desembargador Federal LAZARO GUIMARÃES,Segunda Turma, DJ 18.03.2003)

EMENTACONSTITUCIONAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONSTRUÇÃODE IMÓVEIS EM TERRAS INDÍGENAS. IMEDIATA DESTINAÇÃO DA POSSE EOCUPAÇÃO DAS CASAS EM FAVOR DOS INDÍGENAS. INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZOIMINENTE. MEDIDA DE CARÁTER SATISFATIVO. IMPOSSIBILIDADE. - DESPACHO SINGULAR PROFERIDO EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA, CUJA DISCUSSÃOREFERE-SE À OCUPAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS POR NÃO-ÍNDIOS, NO SENTIDO DEDEFERIR LIMINAR PARCIAL A FIM DE DETERMINAR AOS AGRAVADOS QUE SEABSTIVESSEM DE PROMOVER EDIFICAÇÕES DE QUALQUER TIPO, ASSENTAMENTOS,ALIENAÇÕES, PERMUTAS, TRANSFERÊNCIAS DE POSSE, ENVOLVENDOPARTICULARES, ATÉ O JULGAMENTO DA AÇÃO; - PEDIDO PARA QUE SEJA DETERMINADA A IMEDIATA POSSE E OCUPAÇÃO DOSIMÓVEIS EM FAVOR DOS INTEGRANTES DA COMUNIDADE INDÍGENA; - INEXISTINDO EM CASO DANO IMINENTE, NÃO SE JUSTIFICA O ACOLHIMENTO DAPRETENSÃO EM APREÇO HAJA VISTA QUE A MESMA GOZA DE CARÁTERSATISFATIVO, PODENDO DESENCADEAR INÚMEROS PREJUÍZOS AOS NÃO-ÍNDIOSCASO JULGADA IMPROCEDENTE A AÇÃO CIVIL PÚBLICA; - AUSÊNCIA DE MOTIVOS A ENSEJAR A REFORMA DO ENTENDIMENTO SINGULAR; - AGRAVO DE INSTRUMENTO IMPROVIDO. (TRF 5ª. Região, AGTR 32994/PB, Relator:Desembargador Federal Petrucio Ferreira, Segunda Turma, DJ 15.03.2002)

EMENTAPROCESSUAL CIVIL. DISCUSSÃO DE POSSE INDÍGENA. PRETENSÃO DE RETIRADADE OCUPANTES DA ÁREA HÁ VÁRIOS ANOS E PERDA DAS BENFEITORIAS. PEDIDOCUJO ATENDIMENTO IMPORTA EM ESGOTAMENTO DO OBJETO DA AÇÃO. AGRAVOIMPROVIDO. (TRF 5ª. Região, AGTR 23521/PB, Relator: Desembargador FederalLazaro Guimarães, Segunda Turma, DJ 11.01.2002)

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EMENTAPROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. CAUTELAR. DEFERIMENTO DA LIMINAR.INTERESSE INDÍGENA. UNIÃO. FUNAI. AUSÊNCIA DE AUDIÊNCIA PRÉVIA. LEI Nº6.001/73, ART. 63. - HIPÓTESE EM QUE A FUNAI SE INSURGE CONTRA LIMINAR PROFERIDA EM AÇÃOCAUTELAR, MOVIDA CONTRA INDÍGENAS, NO SENTIDO DE DETERMINAR AOSMESMOS QUE SE ABSTENHAM DE IMPEDIR OU MANDAR IMPEDIR CORTE DE CANA-DE-AÇÚCAR NO INTERIOR DE TERRITÓRIO EM DISPUTA.- "NENHUMA MEDIDA JUDICIAL SERÁ CONCEDIDA LIMINARMENTE EM CAUSAS QUEENVOLVAM INTERESSE DE SILVÍCOLAS OU DO PATRIMÔNIO INDÍGENA, SEM APRÉVIA AUDIÊNCIA DA UNIÃO E DO ÓRGÃO DE PROTEÇÃO AO ÍNDIO" (ART. 63 DALEI Nº 6.001/73 - ESTATUTO DO ÍNDIO).- IMPOSSIBILIDADE, NOS TERMOS DO DISPOSITIVO LEGAL TRANSCRITO, DEPREVALÊNCIA DA DECISÃO VERGASTADA, PROFERIDA SEM OUVIR-SE A UNIÃO E AFUNAI - FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO.- AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO. (TRF 5ª. Região, AGTR 27436/PB, Relator:Desembargador Federal CASTRO MEIRA, Primeira Turma, DJ 01.06.2001)

EMENTAAGRAVOS DE INSTRUMENTO E REGIMENTAL. DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS.ATO MINISTERIAL. EXCLUSÃO DE PROPRIEDADES PARTICULARES DE ESTUDOSANTROPOLÓGICOS. IMPOSSIBILIDADE.- É INSUBSISTENTE A IRRESIGNAÇÃO DA UNIÃO QUANTO À DECISÃO QUE SUSTOUPARTE DO DESPACHO DO MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA DE Nº 50, DE 14 DEJULHO DE 1999, NO QUE SE REFERE À EXCLUSÃO DAS "PROPRIEDADESPARTICULARES" DE ESTUDOS ANTROPOLÓGICOS A SEREM REALIZADOS, POIS OATO MINISTERIAL APARENTA ESTAR IRREGULAR.- INOCORRÊNCIA DE VIOLAÇÃO, PELO DECISUM VERGASTADO, AO ART. 2º, IX, DALEI 6.001/73. ANTE A INÉRCIA DA UNIÃO EM DEMARCAR A ÁREA INDÍGENA DEMONTE-MOR, NÃO OBSTANTE O ARTIGO 67 DO ADCT QUE PRESCREVE ACONCLUSÃO DOS TRABALHOS DEMARCATÓRIOS DAS ÁREAS INDÍGENAS EM CINCOANOS DA PROMULGAÇÃO DA ATUAL CARTA POLÍTICA, RAZOÁVEL A INTERVENÇÃOMINISTERIAL NOS TERMOS DO ART. 6º, XI, DA L.C. Nº 75/93.- AGRAVO DE INSTRUMENTO IMPROVIDO E AGRAVO REGIMENTAL NÃO CONHECIDO.(TRF 5ª. Região, AGTR 26045/PB, Relator: Desembargador Federal CASTRO MEIRA,Primeira Turma, DJ 01.06.2001)

EMENTAPROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. CAUTELAR. DEFERIMENTO DA LIMINAR.INTERESSE INDÍGENA. UNIÃO. FUNAI. AUSÊNCIA DE AUDIÊNCIA PRÉVIA. LEI Nº6.001/73, ART. 63. - HIPÓTESE EM QUE A FUNAI SE INSURGE CONTRA LIMINAR PROFERIDA EM AÇÃOCAUTELAR, MOVIDA CONTRA INDÍGENAS, NO SENTIDO DE DETERMINAR AOSMESMOS QUE SE ABSTENHAM DE IMPEDIR OU MANDAR IMPEDIR CORTE DE CANA-DE-AÇÚCAR NO INTERIOR DE TERRITÓRIO EM DISPUTA.- "NENHUMA MEDIDA JUDICIAL SERÁ CONCEDIDA LIMINARMENTE EM CAUSAS QUEENVOLVAM INTERESSE DE SILVÍCOLAS OU DO PATRIMÔNIO INDÍGENA, SEM APRÉVIA AUDIÊNCIA DA UNIÃO E DO ÓRGÃO DE PROTEÇÃO AO ÍNDIO" (ART. 63 DALEI Nº 6.001/73 - ESTATUTO DO ÍNDIO). - IMPOSSIBILIDADE, NOS TERMOS DODISPOSITIVO LEGAL TRANSCRITO, DE PREVALÊNCIA DA DECISÃO VERGASTADA,PROFERIDA SEM OUVIR-SE A UNIÃO E A FUNAI - FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO.- AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO. (TRF 5ª. Região, AGTR 27436/PB, Relator:Desembargador Federal Castro Meira, Primeira Turma, DJ 01.06.2001)

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EMENTACONSTITUCIONAL. CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO.REINTEGRAÇÃO DE POSSE. IMÓVEL ENCRAVADO EM TERRITÓRIO DE OCUPAÇÃOTRADICIONAL INDÍGENA. INALIENABILIDADE E INDISPONIBILIDADE DO BEM EIMPRESCRITIBILIDADE DO DIREITO. ESBULHO POSSESSÓRIO DESFIGURADO. (TRF5ª. Região, AGTR 33003/PE, Relator: Desembargador Federal José Baptista deAlmeida Filho, Quarta Turma, DJ 04.05.2001)

EMENTAADMINISTRATIVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CAUTELAR. PARALISAÇÃO DECONSTRUÇÃO DE POSTO DE GASOLINA EM ÁREA OCUPADA POR COMUNIDADEINDÍGENA. DECISÃO DO EG. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. ANULATÓRIA DOPROCEDIMENTO DE DEMARCAÇÃO DAS TERRAS OCUPADAS.- A DECISÃO EMANADA DO EG. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, NOS AUTOS DEMANDADO DE SEGURANÇA, QUE SE RESTRINGIU A ANULAR O PROCEDIMENTO DEDEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS POR VÍCIO DE FORMALIDADE, NÃO ELIDE OESTUDO ANTROPOLÓGICO JÁ REALIZADO QUE COMPROVA A PRESENÇA DACOMUNIDADE INDÍGENA TAPEBA NA ÁREA ALVO DA DISCUSSÃO JUDICIAL. - IMPOSSIBILIDADE DE CONSTRUÇÃO DE ESTRADA E PONTE SOBRE A ÁREAOCUPADA PELA COMUNIDADE INDÍGENA TAPEBA ANTE O RISCO DE INEFICÁCIA DADECISÃO FINAL A SER PROFERIDA NA AÇÃO PRINCIPAL. - AGRAVO IMPROVIDO. (TRF 5ª. Região, AGTR 20984/CE, Relator: DesembargadorFederal Nereu Santos, Terceira Turma, DJ 27.11.2000)

EMENTAADMINISTRATIVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CAUTELAR. PARALISAÇÃO DECONSTRUÇÃO DE ESTRADA E PONTE POR PREFEITURA MUNICIPAL. ÁREA OCUPADAPOR COMUNIDADE INDÍGENA. DECISÃO DO EG. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇAANULATÓRIA DO PROCEDIMENTO DE DEMARCAÇÃO DAS TERRAS OCUPADAS.- A DECISÃO EMANADA DO EG. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, NOS AUTOS DEMANDADO DE SEGURANÇA, QUE SE RESTRINGIU A ANULAR O PROCEDIMENTO DEDEMARCAÇÃO DAS TERRAS INDÍGENAS POR VÍCIO DE FORMALIDADE, NÃO ELIDE OESTUDO ANTROPOLÓGICO JÁ REALIZADO QUE COMPROVA A PRESENÇA DACOMUNIDADE INDÍGENA TAPEBA NA ÁREA ALVO DA DISCUSSÃO JUDICIAL.- IMPOSSIBILIDADE DE CONSTRUÇÃO DE ESTRADA E PONTE SOBRE A ÁREAOCUPADA PELA COMUNIDADE INDÍGENA TAPEBA ANTE O RISCO DE INEFICÁCIA DADECISÃO FINAL A SER PROFERIDA NA AÇÃO PRINCIPAL.- AGRAVO IMPROVIDO. (TRF 5ª. Região, AGTR 20157/CE, Relator: DesembargadorFederal Nereu Santos, Terceira Turma, DJ 20.09.2000)

EMENTAAGRAVO DE INSTRUMENTO. INTERESSE INDÍGENA. DECISÃO LIMINAR. UNIÃO. FUNAI. AUSÊNCIA DE AUDIÊNCIA PRÉVIA. LEI Nº 6.001/73, ART. 63. "NENHUMAMEDIDA JUDICIAL SERÁ CONCEDIDA LIMINARMENTE EM CAUSAS QUE ENVOLVAMINTERESSE DE SILVÍCOLAS OU DO PATRIMÔNIO INDÍGENA, SEM A PRÉVIAAUDIÊNCIA DA UNIÃO E DO ÓRGÃO DE PROTEÇÃO AO ÍNDIO" (ART. 63 DA LEI Nº6.001/73 - ESTATUTO DO ÍNDIO).CONCESSÃO, EM PRIMEIRO GRAU, DE LIMINAR EM AÇÃO DE MANUTENÇÃO DEPOSSE MOVIDA POR FAZENDEIROS, EM DETRIMENTO DA PRETENSÃO DE ÍNDIOS DESEGUIR OCUPANDO ÁREA DE ILHA NO RIO SÃO FRANCISCO, NO MUNICÍPIO DECABROBÓ/PE.

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IMPOSSIBILIDADE, NOS TERMOS DO DISPOSITIVO LEGAL TRANSCRITO, DEPREVALÊNCIA DA DECISÃO VERGASTADA, PROFERIDA SEM OUVIR-SE A UNIÃO E AFUNAI - FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO.AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO. (TRF 5ª. Região, AGTR 21876/PE, Relator:Desembargador Federal CASTRO MEIRA, Primeira Turma, DJ 08.09.2000)

EMENTACONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. REINTEGRAÇÃO DE POSSE CUMULADA COMPERDAS E DANOS. ÁREA INDÍGENA. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO.1. CONFORME DICÇÃO DO ARTIGO 231, PARÁGRAFO 6º, DA CONSTITUIÇÃO DAREPÚBLICA, PERTINENTE ÀS TERRAS TRADICIONALMENTE OCUPADAS PELOSÍNDIOS, "SÃO NULOS E EXTINTOS, NÃO PRODUZINDO EFEITOS JURÍDICOS, OSATOS QUE TENHAM POR OBJETO A OCUPAÇÃO, DOMÍNIO E A POSSE DAS TERRAS AQUE SE REFERE ESTE ARTIGO, OU A EXPLORAÇÃO DAS RIQUEZAS NATURAIS DOSOLO, DOS RIOS E DOS LAGOS NELAS EXISTENTES, RESSALVADO RELEVANTEINTERESSE PÚBLICO DA UNIÃO, SEGUNDO O QUE DISPUSER LEI COMPLEMENTAR,NÃO GERANDO A NULIDADE E A EXTINÇÃO DIREITO A INDENIZAÇÕES E AÇÕESCONTRA A UNIÃO, SALVO, NA FORMA DA LEI, QUANTO ÀS BENFEÍTORIASDERIVADAS DA OCUPAÇÃO DE BOA-FÉ" (GRIFOS INEXISTENTES NO ORIGINAL).2. A REINTEGRAÇÃO DE POSSE, REQUESTADA PELO AUTOR DA PRESENTE AÇÃO,CONSTITUI PEDIDO JURIDICAMENTE IMPOSSÍVEL, AUTORIZANDO A EXTINÇÃO DOPROCESSO, SEMJULGAMENTO DE MÉRITO (ARTIGO 267, INCISO VI, DO CÓDIGO DEPROCESSO CIVIL).3. AS TERRAS TRADICIONALMENTE OCUPADAS PELOS ÍNDIOS NÃO SÃOSUSCETÍVEIS DE OCUPAÇÃO, DOMÍNIO OU POSSE. POR TAL RAZÃO, NÃO PODERIAO PRETENSO PROPRIETÁRIO DAS MESMAS PRETENDER EXPULSAR OS INDÍGENASQUE NAS TERRAS SE ENCONTRAREM.4. O ARTIGO 231, PARÁGRAFO 6º, DA LEI MAIOR, SOMENTE AUTORIZA OPAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO PELAS BENFEITORAS REALIZADAS DE BOA-FÉ. TALPAGAMENTO JÁ FOI ECEBIDO PELO AUTOR, DESCABENDO O PLEITO DEINDENIZAÇÕES OUTRAS, POR EXPRESSAMENTE VEDADAS NO TEXTOCONSTITUCIONAL.5. INEXISTÊNCIA DE DIREITO, DA MESMA FORMA, À INDENIZAÇÃO POR BENFEITORAS ALEGADAMENTE NÃO COMPREENDIDAS NO PAGAMENTO EFETUADO;NÃO SE ROCEDEU À AVALIAÇÃO DAS MESMAS E, NEM AO MENOS, RESTOUCOMPROVADA A SUA EXISTÊNCIA. APELAÇÃO IMPROVIDA. (TRF 5ª. Região, AC 104399/PE, Relator: DesembargadorFederal Geraldo Apoliano, Terceira Turma, DJ 30.06.2000)

EMENTAADMINISTRATIVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CAUTELAR. PARALISAÇÃO DECONSTRUÇÃO DE POSTO DE GASOLINA EM ÁREA OCUPADA POR COMUNIDADEINDÍGENA. DECISÃO DO EG. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. ANULATÓRIA DOPROCEDIMENTO DE DEMARCAÇÃO DAS TERRAS OCUPADAS. - A DECISÃO EMANADA DO EG. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, NOS AUTOS DE MANDADO DE SEGURANÇA, QUE SE RESTRINGIU A ANULAR O PROCEDIMENTO DE DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS POR VÍCIO DE FORMALIDADE, NÃO ELIDEO ESTUDO ANTROPOLÓGICO JÁ REALIZADO QUE COMPROVA A PRESENÇA DACOMUNIDADE INDÍGENA TAPEBA NA ÁREA ALVO DA DISCUSSÃO JUDICIAL. - IMPOSSIBILIDADE DE CONSTRUÇÃO DE ESTRADA E PONTE SOBRE A ÁREAOCUPADA PELA COMUNIDADE INDÍGENA TAPEBA ANTE O RISCO DE INEFICÁCIA DADECISÃO FINAL A SER PROFERIDA NA AÇÃO PRINCIPAL. - AGRAVO IMPROVIDO.

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(TRF 5ª. Região, AGTR 20984/CE, Relator: Desembargador Federal NEREU SANTOS,Terceira Turma, DJ 27.11.2000)

EMENTAADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CAUTELAR. DEMARCAÇÃO DE TERRASINDÍGENAS. ART. 19, PARÁGRAFO 2º, DA LEI 6.001/73. CONFLITO COM SUPOSTOSPROPRIETÁRIOS DAS TERRAS. REGISTRO IMOBILIÁRIO. 1. O PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DE DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENASFOI REALIZADO PELA FUNAI, AINDA QUE DEPENDENTE DE POSTERIOR APROVAÇÃODO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. CABÍVEL, ASSIM, A AÇÃO CAUTELAR PERANTE AJUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRO GRAU.2. A MEDIDA CAUTELAR ENCONTRA GUARIDA NO PODER GERAL DE CAUTELACONFERIDO AO JUIZ, DE MODO QUE A ELA NÃO SE PODE OPOR A VEDAÇÃO DOART. 19, PARÁGRAFO 2º, DA LEI 6001/73, QUE PROÍBE INTERDITO POSSESSÓRIOCONTRA DEMARCAÇÃO DE TERRA INDÍGENA, ATÉ MESMO EM RESPEITO AOPRINCÍPIO DA INAFASTABILIDADE DO CONTROLE JURISDICIONAL.3. DIANTE DE DOIS INTERESSES CONTRAPOSTOS, DE IGUAL RELEVÂNCIA,PORTANTO DEVENDO IGUALMENTE SEREM PRESERVADOS, IMPÕE-SE SEJAAUTORIZADO O PROSSEGUIMENTO DA DEMARCAÇÃO, PORÉM MANTENDO-SEINTACTO O DIREITO DO AUTOR, IMPEDINDO-SE O REGISTRO, QUE IMPLICARIA NATRANSFERÊNCIA DO DOMÍNIO. 4. APELAÇÃO DO AUTOR NÃO CONHECIDA. DEMAIS APELAÇÕES IMPROVIDAS. (TRF5ª. Região, AC 101215/CE, Relator: Desembargador Federal Luiz Alberto Gurgel deFaria, Segunda Turma, DJ 28.05.1999)

EMENTAADMINISTRATIVO. FUNAI. AÇÃO ANULATÓRIA DE DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS. CERCEAMENTO DE DEFESA. ONUS DA PROVA. 1. É NULA A SENTENÇA PROFERIDA ANTES QUE REALIZADA SEJA A PERÍCIAREQUERIDA PELOS RÉUS E DEFERIDA PELO LUÍZO, QUE TAMBÉM FORMULAQUESITOS E ASSIM DEMONSTRA A SUA INDECLINABILIDADE. O FATO CONSTITUIVIOLAÇÃO DE DIREITO DE DEFESA DA PARTE E DE ELEMENTO ESSENCIAL AO DUEPROCESS. 2. OS ATOS DA ADMINISTRAÇÃO GOZAM DA PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDADE. PORTANTO, COMPETE A QUEM OS CONTESTA PROVAR QUE SÃO ILEGÍTIMOS E NÃOÀ ADMINISTRAÇÃO, QUE TEM POR SI A PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDADE. TAMBÉMNULA A SENTENÇA QUE ESTATUI SEMELHANTE INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. 3. AGRAVO RETIDO A QUE SE DÁ PROVIMENTO PARA ANULAR A SENTENÇA, DEVOLVENDO-SÉ OS AUTOS AO JUIZO DE ORIGEM A FIM DE QUE SEJA REALIZADAPERÍCIA E SE DÊ SEGUIMENTO REGULAR AO PROCESSO. APELAÇÕESPREJUDICADAS. (TRF 5ª. Região, AC 113201/CE, Relator: Desembargador FederalCASTRO MEIRA, Primeira Turma, DJ 23.04.1999)

EMENTAPROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. IMÓVEL EM ÁREA INDÍGENA.- HÁ DÚVIDA QUANTO AO TERRITÓRIO OBJETO DO LITÍGIO ESTAR OU NÃOLOCALIZADO EM TERRA INDÍGENA.- NECESSÁRIA A REFORMA DA DECISÃO JUDICIAL VEZ QUE O JUIZ A QUODECLINOU DE SUA COMPETÊNCIA EM FACE DE OFÍCIO EXPEDIDO PELA FUNAI,SEGUNDO O QUAL AS TERRAS EM LITÍGIO ESTARIAM FORA DOS LIMITES DA ÁREAINDÍGENA, MAS QUE, POSTERIORMENTE, POR OUTRO OFÍCIO, A MESMA ENTIDADE

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PEDIU FOSSE DESCONSIDERADA A PRIMEIRA INFORMAÇÃO, ELEMENTO ESTE NÃOCONSIDERADO NA DECISÃO JUDICIAL.- AGRAVO PROVIDO EM PARTE, DETERMINANDO-SE QUE SEJAM SOLICITADOS OSAUTOS PARA QUE SE PROMOVAM AS DILIGÊNCIAS NECESSÁRIAS VISANDO ÀELUCIDAÇÃO DA DÚVIDA QUANTO À SITUAÇÃO DO IMÓVEL EM LITÍGIO.(TRF 5ª. Região, AGTR 13343/CE, Relator: Desembargador Federal CASTRO MEIRA,Primeira Turma, DJ 04.09.1998)

EMENTACIVIL. ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO. REINTEGRAÇÃO. INDENIZAÇÃO. ESTATUTO DA TERRA. 1 - A DESAPROPRIAÇÃO PROMOVIDA PELO INCRA PARA O ASSENTAMENTO DEPOPULAÇÃO INDÍGENA DEVE GARANTIR A POSSE AOS QUE A DETINHAM À ÉPOCADE SUA EFETIVAÇÃO, DE MODO MANSO E PACÍFICO, E NÃO, A QUEM, DEIXANDOPOR FORÇA DE DECISÃO JUDICIAL O IMÓVEL, DESDE 1969, SÓ POSTERIORMENTE ÀEXPROPRIAÇÃO RETORNOU AO LOCAL E SE INVESTIU, DE FORMA ILEGÍTIMA, NAQUALIDADE DE POSSUIDOR ATRAVÉS DE ESBULHO TOLERADO PELA DITA AUTARQUIA. 2 - APLICA-SE O ART. 24, DO ESTATUTO DA TERRA, PARA SE RESPEITAR AOCUPAÇÃO DAS TERRAS POR QUEM NELAS MANTÉM CULTURA EFETIVA E MORADAHABITUAL. 3 - REPUTA-SE CABÍVEL A REINTEGRAÇÃO DA POSSE DE PARTE DA ÁREAEXPROPRIADA, OBJETO DE ESBULHO, EM FAVOR DE QUEM ERA O SEU LEGÍTIMOPOSSUIDOR, HÁ QUASE 20 (VINTE) ANOS, QUANDO DA INTERVENÇÃO ESTATAL NODOMÍNIO PRIVADO, COM O CONSEQÜENTE PAGAMENTO DA CORRESPONDENTEINDENIZAÇÃO PELAS PERDAS E DANOS A SER CALCULADA POR OCASIÃO DALIQUIDAÇÃO DO JULGADO.4 - APELAÇÃO PROVIDA. (TRF 5ª. Região, AC 64472/CE, Relator: DesembargadorFederal ÉLIO WANDERLEY DE SIQUEIRA FILHO, Segunda Turma, DJ 12.09.1997)

EMENTAPROCESSO CIVIL. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. ÁREA DE RESERVAINDÍGENA. INTERESSE DA UNIÃO. INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA DA JUSTIÇAESTADUAL.- EM HAVENDO NOS AUTOS INFORMAÇÃO DA FUNAI DE QUE OS RÉUS CITADOS SÃOMORADORES DE RESERVA INDÍGENA, CONCLUI-SE QUE A ÁREA QUE SE PRETENDEREINTEGRAR ENQUADRA-SE NO ART. 20, XI, DA CF, SENDO, PORTANTO, A UNIÃOPARTE INTERESSADA NA LIDE. A COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR AMATÉRIA É DA JUSTIÇA FEDERAL. ANULADOS TODOS OS ATOS DECISÓRIOSPRATICADOS PELA JUSTIÇA ESTADUAL. REMESSA DOS AUTOS PARA DISTRIBUIÇÃOENTRE UMA DAS VARAS DA JUSTIÇA FEDERAL EM PERNAMBUCO, À EXCEÇÃO DA 8ª, CUJA JURISDIÇÃO NÃO ABRANGE A ÁREA EM QUESTÃO.- APELAÇÃO PROVIDA. (TRF 5ª. Região, AC 96249/PE, Relator: DesembargadorFederal Araken Mariz, Segunda Turma, DJ 07.03.1997)

EMENTAAÇÃO CAUTELAR. DEMARCAÇÃO ADMINISTRATIVA DE TERRAS DITAS OCUPADASPOR INDÍGENAS.1. DÚVIDAS FUNDADAS ACERCA DOS FATOS QUE AUTORIZARIAM A ATIVIDADEADMINISTRATIVA DE DEMARCAÇÃO.2. PROPRIETÁRIO QUE, ESCUDADO EM TÍTULOS DE DOMÍNIO, DE FILIAÇÃOCENTENÁRIA, EM RELAÇÃO A IMÓVEL SITUADO NA ÁREA CUJA DEMARCAÇÃO SE

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PRETENDE EMPREENDER, REQUER A PARALISAÇÃO DO PROCEDIMENTODEMARCATÓRIO.3. PRESENÇA DOS PRESSUPOSTOS AUTORIZATIVOS DA CAUTELA RECLAMADA.4. NÃO CONHECIMENTO DAS PRELIMINARES. IMPROVIMENTO DAS APELAÇÕES. (TRF5ª. Região, AC 91813/CE, Relator: Desembargador Federal GERALDO APOLIANO,Segunda Turma, DJ 26.04.1996)

EMENTAPROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL. PUBLICA. OCUPAÇÃODE TERRAS INDIGENAS. INTERESSE NACIONAL. COMPETENCIA DA JUSTIÇAFEDERAL. - AGRAVO PROVIDO.(TRF 5ª. Região, AGTR 4929/PE, Relator: Desembargador Federal FRANCISCOFALCÃO, Primeira Turma, DJ 26.10.1995)

EMENTAPROCESSUAL CIVIL E CIVIL. OCUPAÇÃO DE TERRAS EM AREA DE RESERVAINDIGENA. LEI 6969/81, ART. TERCEIRO, CAPUT. DIREITO DE PREFERENCIA PARA ASSENTAMENTO EM OUTRAS REGIÕES.- INOBSTANTE SEJAM AS RESERVAS INDIGENAS INSUSCEPTIVEIS DE USUCAPIÃOESPECIAL, O ART. TERCEIRO, CAPUT, PARTE FINAL, DA LEI 6969/81, ASSEGURA AOSENTÃO OCUPANTES DESTAS TERRAS, O DIREITO DE PREFERENCIA PARAASSENTAMENTO EM OUTRAS REGIÕES PELO ORGÃO COMPETENTE (INSTITUTONACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRARIA - INCRA).- APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA. (TRF 5ª. Região, AC 81139/PB, Relator:Desembargador Federal Francisco Falcão, Primeira Turma, DJ 06.10.1995)

EMENTAPROCESSO CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. TERRAS INDIGENAS. REINTEGRAÇÃODE POSSE. DEMARCAÇÃO. INEXISTENCIA DE ATO TERATOLOGICO.- O MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO JUDICIAL E CABIVEL APENAS PARAEMPRESTAR EFEITO SUSPENSIVO A RECURSO QUE NÃO O TENHA, QUANDO HAJAPOSSIBILIDADE DE DANO IRREPARAVEL ANTES DA APRECIAÇÃO DO RECURSO, OU,EXCEPCIONALMENTE, INDEPENDENTEMENTE DA INTERPOSIÇÃO DE RECURSO,APENAS QUANDO SEJA TERATOLOGICO O ATO ATACADO.- O PROCEDIMENTO DEMARCATORIO DAS TERRAS EM QUESTÃO NÃO FOICONCLUIDO, RESTANDO EVIDENTE INCERTEZA QUANTO AO DIREITO PRETENDIDO.- SEGURANÇA DENEGADA. (TRF 5ª. Região, MSPL 45814/AL, Relator:Desembargador Federal HUGO MACHADO, Pleno, DJ 31.08.1995)

EMENTAPROCESSUAL CIVIL. LIMINAR EM AÇÃO CAUTELAR QUE SUSPENDE PROCEDIMENTOADMINISTRATIVO VISANDO DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS. CONTROLE DE ATO PRIVATIVO DO MINISTRO DA JUSTIÇA QUE, EM SEDE DEMANDADO DE SEGURANÇA, COMPETE AO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.VIOLAÇÃO DA REGRA DO PARÁGRAFO 1º A LEI 8.437/92. DESCABIMENTO DEINTERDITO POSSESSÓRIO, AINDA QUE MASCARADO EM MEDIDA CAUTELAR, NOSTERMOS DO PARÁGRAFO 2º DO ART. 19 DA LEI 6.001/73. (TRF 5ª. Região, MSPL37125/CE, Relator: Desembargador Federal LAZARO GUIMARÃES, Pleno, DJ23.09.1994)

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EMENTAAGRAVO DE INSTRUMENTO. MEDIDA CAUTELAR. LIMINAR. DEMARCAÇÃOADMINISTRATIVA EM TERRAS DITAS OCUPADAS POR INDIGENAS. CONFLITO COMPROPRIETARIOS DAS REFERIDAS TERRAS, QUE AFIRMAM POSSUIR LEGITIMOTITULO COM FILIAÇÃO CENTENARIA.1 - Não há a proibição presente no art. Primeiro, da lei 8437, de 30/06/92, quando,ao se ajuizar a ação cautelar, se registra que ação a ser proposta e de naturezadesconstitutiva de processo administrativo, cumulada com declaração de validade detítulos de domínio de terras, cuja competência originaria e, exclusivamente, de juizde primeiro grau. Não se impugna ato individual de autoridade sujeita, na via demandado de segurança, a competência de tribunal. O que se pretende e a eliminaçãodos efeitos de um processo administrativo, cujo êxito depende de analiseaprofundada de provas.2 - Há fumaça do bom direito em pretensão apoiada em títulos de domínio, sobreimóvel, cuja filiação se apresenta como centenária e se quer demarcar-lo sob aalegação de ser terra ocupada por indígenas.3 - Será de difícil reparação o dano provocado por demarcação administrativa de terras, onde são desenvolvidos projetos agrícolas ‘comfinanciamentos da SUDENE e do Banco do Brasil S/A.4 - a suspensão da atividade demarcatória a ser praticada pela FUNAI e medida queencontra ressonância no art. 798, do CPC.5 - AGRAVO DESPROVIDO. (TRF 5ª. Região, AGTR 3155/CE, Relator: DesembargadorFederal JOSE DELGADO, DJ 24.06.1994)

EMENTADIREITO CIVIL. ADMINISTRATIVO. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. IMOVEL SITUADO EMAREA DECLARADA DE OCUPAÇÃO INDIGENA. PATRIMONIO DA UNIÃO FEDERAL.AUSENCIA DE ESBULHO. NEGOCIO JURIDICO PERFEITO REALIZADO ENTRE ASPARTE. PROTEÇÃO POSSESSORIA INCABIVEL. APELO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.1. Pressuposto factico da ação de reintegração de posse e o esbulho, a privação daposse por ato violento, clandestino ou qualquer outro ato Precário.2. Decreto federal que declarou de ocupação indígena as áreas de terra queabrangem a gleba dos autores inatacado no momento oportuno.3. Negocio jurídico perfeito sobre o qual não se alega nenhum vicio deconsentimento, em que os autores reconhecem a área como localizada em regiãoefetivamente ocupada por silvícolas, patrimônio, pois da união e receberamindenização pelas benfeitorias existentes, dando plena, geral e irrevogável quitação,para nada mais exigir, da união federal ou da fundação nacional do índio - FUNAI, bem como reconhecendo a nulidade e extinção dos efeitos jurídicosdo mencionado ato de aquisição da propriedade e seu registro imobiliário respectivo.4. Inadmissível a tutela jurisdicional pleiteada pelos autores por ausência dospressupostos indispensáveis a sua procedência.5. Apelo improvido. (TRF 5ª. Região, AC 24858/AL, Relator: Desembargador FederalJOSE DELGADO, Segunda Turma, DJ 30.09.1993)

EMENTACONSTITUCIONAL E CIVIL. POSSE IMEMORIAL INDIGENA COMPROVADA EM LAUDOPERICIAL. EXTINÇÃO DE ALDEAMENTO QUE NÃO SE EFETIVOU POR COMPLETO,PERMANECENDO A OCUPAÇÃO INDIGENA DAS TERRAS MAIS TARDE DELIMITADASPELA FUNAI. OCUPAÇÃO TRADICIONAL DA QUAL ADVEM A PROTEÇÃO DO ART. 231,CF. APELO IMPROVIDO. (TRF 5ª. Região, AC 20978/AL, Relator: DesembargadorFederal Lazaro Guimarães, Segunda Turma, DJ 02.04.1993)

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