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BOLETIM MENSAL DA AUTORIDADE NACIONAL DE PROTECÇÃO CIVIL / N.º61 / ABRIL 2013 / ISSN 1646–9542 61 Abril de 2013 Distribuição gratuita Para receber o boletim PROCIV em formato digital inscreva-se em: www.prociv.pt Leia-nos através do http://issuu.com/anpc ©Pedro Santos Incêndios Florestais Dispositivo de combate ajusta-se às características do país

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Já se encontra disponível para consulta, a edição de abril da revista PROCIV da ANPC. O DECIF 2013 - Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais é o tema em destaque neste número.

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BOLETIM MENSAL DA AUTORIDADE NACIONAL DE PROTECÇÃO C IV IL / N .º61 / ABR IL 2013 / I S SN 16 46 –9542

61Abril de 2013

Distribuição gratuitaPara receber o boletim

PROCIV em formato digital inscreva-se em:www.prociv.pt

Leia-nos através do

http://issuu.com/anpc

©Pedro Santos

Incêndios FlorestaisDispositivo de combate ajusta-se às características do país

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E D I T O R I A L

P. 2 . P RO C I V

Número 61, abril de 2013

Incêndios florestais: ajustar os recursos às características do país

O Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais (DECIF) para o corrente ano foi aprovado pela Comissão Nacional de Protecção Civil no passado dia 14 de março, e nesse mes-mo dia apresentado à comunicação social.

Preparado ao longo dos últimos meses, visa garantir uma resposta operacional perma-nente e adequada às características e condições de um país que tem sofrido profundas alte-rações no que respeita à ocupação do solo, caracterizado por um acelerado despovoamento do interior e envelhecimento da população rural, ao que corresponde um maior abandono dos terrenos agrícolas, cada vez mais substituídos por matos e pastagens com elevada carga combustível.

Estas condições favorecem o desenvolvimento de incêndios florestais e obrigam a uma contínua evolução e adaptação dos recursos humanos e técnicos do país, que – relembro – nunca serão suficientes para acudir a todas as situações.

De entre as inovações introduzidas este ano, destaco os Grupos de Reforço de Ataque Am-pliado (GRUATA), que surgem no seguimento da necessidade identificada de constituir um dispositivo permanente para intervenção estruturada em ataque ampliado; o recurso in-tensivo a máquinas de rasto, unanimemente consideradas como recurso insubstituível no combate a grandes incêndios florestais; a instalação de um sistema de videovigilância por espectrometria ótica no Parque Nacional da Peneda-Gerês; o emprego de reclusos para ações de vigilância, ao abrigo de um projeto conjunto com a Direção-Geral dos Serviços Prisionais do Ministério da Justiça; ou ainda o recurso a aviões C-295 da Força Aérea Portuguesa, para efeitos de comando e controlo.

Mas porque o combate se faz essencialmente por mulheres e homens, no terreno, estas e outras iniciativas inovadoras serão complementadas por importantes e justos incrementos no financiamento dos bombeiros que irão integrar o Dispositivo, e ainda na comparticipação do combustível consumido pelos Corpos de Bombeiros.

Durante o passado mês de março participei em diversas ações, em todo o país, algumas das quais organizadas por estudantes de cursos de proteção civil e áreas afins. Nestas ocasiões, pude testemunhar a energia que as camadas jovens colocam na sua aprendizagem, na promo-ção do conhecimento, e na divulgação junto da sociedade deste fascinante domínio da pro-teção e socorro. Ninguém ignora que o país enfrenta uma crise económica sem precedentes, que a todos preocupa, e cujos efeitos incidem com maior intensidade sobre aqueles que estão prestes a iniciar a sua vida activa. A despeito dos obstáculos económicos e sociais que todos vivemos, as novas gerações constituem de um factor de esperança para um futuro melhor.

Edição e propriedade – Autoridade Nacional de Protecção Civil Diretor – Manuel Mateus Couto Redação e paginação – Núcleo de Sensibilização, Comunicação e ProtocoloFotos: Arquivo da Autoridade Nacional de Protecção Civil, exceto quando assinaladoImpressão – Textype Tiragem – 2000 exemplares ISSN – 1646–9542

Os artigos assinados traduzem a opinião dos seus autores. Os artigos publicados poderão ser transcritos com identificação da fonte.

Autoridade Nacional de Protecção Civil Pessoa Coletiva n.º 600 082 490 Av. do Forte em Carnaxide / 2794–112 Carnaxide Telefone: 214 247 100 Fax: 214 247 180 [email protected] www.prociv.pt

P U B L I C AÇ ÃO M E N S A L

Projecto co-financiado por:

Manuel Mateus CoutoPresidente da ANPC

"estas e outras inicia-tivas inovadoras serão complementadas por im-portantes e justos incre-mentos no financiamen-to dos bombeiros que irão

integrar o Dispositivo."

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Municipios de Aveiro e Mirandela participam em projeto interna-cional sobre mitigação de riscosO projeto MiSRaR – Mitigação de Riscos Espaciais Relevantes nas Regiões e Cidades Europeias – que decorreu entre 2010 e 2013, teve como propósito promover a cooperação e o intercâmbio entre várias regiões da Europa no tema da prevenção de riscos, abordando as temáticas de identificação, análise e avaliação de riscos e implementação de medidas de mitigação e monitorização.Com envolvimento nacional asse-gurado pelos municípios de Aveiro

e Mirandela, o projecto foi desenvolvi-do ao abrigo do programa INTERREG IVC, tendo participado igualmente a Holanda (Região South-Holland South), a Bulgária (Fundação Euro Perspective), a Estónia (Município de Tallinn), a Itália (Província Forlì Cese-na) e a Grécia (Região Epirus). Como resultado deste projecto foi de-senvolvido um Manual de Mitigação de Riscos, cuja aplicação será testada no PRISMA, projecto co-financiado pelo Departamento de Ajuda Huma-nitária e Proteção Civil da Comissão Europeia, cujo objectivo é o de promo-ver a utilização da avaliação de risco e estratégias de gestão de risco por en-tidades locais e regionais. Informações adicionais poderão ser obtidas em www.prismaproject.eu.

Força Especial Bombeiros aposta na melhoria da qualificação dos Operacionais A Força Especial de Bombeiros “Ca-narinhos” (FEB), força especial de proteção civil dotada de estrutura e comando próprio e inserida no dispo-sitivo operacional da ANPC, foi criada ao abrigo do diploma que define o re-gime jurídico aplicável à constituição, organização, funcionamento e ex-tinção dos corpos de bombeiros, no território continental.Desde a sua criação, esta Força Espe-cial tem vindo a apostar no treino ope-racional dos seus próprios elementos

e também no dos demais agentes de proteção Civil. Para o corrente ano, esta atividade for-mativa integra um programa de trei-no que prevê a realização de 71 ações, num total de 1359 horas, visando um universo de aproximadamente 1200 elementos. Este investimento, susten-tado num diagnóstico de necessidades efetuado a partir das lições apreendi-das no ano anterior, assume objetivos claros na ampliação e aperfeiçoamen-to das competências dos operacio-nais que concorrem para a proteção e socorro de pessoas e bens e na salva-guarda do ambiente.

B R E V E S

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Planos de emergência internos das barragens de Santa Luzia e de Alto do Ceira IIRealizaram-se, no passado dia 12 de março, em Fajão e Pampilhosa da Ser-ra, distrito de Coimbra, duas sessões de apresentação dos planos de emer-gência internos (PEI) das barragens de Santa Luzia e de Alto do Ceira II. Os en-contros contaram com a participação de diversos autarcas, técnicos da EDP, APA (Agência Portuguesa do Ambien-te) e, naquela que foi uma ação inédita de comunicação sobre segurança de barragens e medidas de proteção. Estas sessões visaram familiari-

zar os responsáveis políticos locais com as opções preconizadas pelos técnicos daquela empresa para os pla-nos de emergência em questão, estan-do prevista a continuação do diálogo com as «forças vivas» locais, no senti-do de melhorar aqueles documentos essenciais.Com a aprovação destes planos de emergência, a população potencial-mente afetada por um incidente ou acidente numa destas duas barragens – cuja probabilidade de ocorrência é ínfima dado o cumprimento estrito dos normativos em sede de projeto, construção e operação de qualquer destes empreendimentos hidráulicos – passará a dispor de um maior nível de proteção, quer quanto à sua vida e integridade física quer em relação aos seus bens e haveres.

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©Tiago Petinga / Lusa

Incêndios Florestais'DECIF 2013' ajusta-se às características do paísOs incêndios florestais propiciam condições para o surgimento de situações difíceis, normalmente potenciadas por condições meteorológicas de muito curta previsão. Podendo originar perdas de vidas humanas e bens, exigem por isso a preparação e organização de um Dispositivo Especial de Combate adequado para os enfrentar.

De acordo com a informação preliminar do 6º Inventário Florestal Nacional (IFN), os espaços sil-vestres, floresta e matos sofreram um acréscimo

face ao anterior apuramento, representando neste momen-to, em termos de uso do solo, 67% do território continental (cerca de 6,0 milhões de hectares). Constata-se assim uma diminuição da área ocupada por floresta (4,6%) que se deve sobretudo à sua conversão para a classe de usos “matos e pastagens”. Também como conclusão preliminar deste in-ventário, verifica-se uma redução do uso agrícola do solo, que se deve essencialmente à conversão do uso para matos e pastagens, resultantes do abandono da produção agrícola.

Os apuramentos acima enunciados, associados à diversi-dade do país a nível geográfico, climático, social, cultural e infra-estrutural, ao despovoamento do interior e ao en-velhecimento da população rural, às alterações relativas ao aproveitamento e exploração da floresta, às alterações cli-máticas e à acumulação de elevada carga de combustível, reúnem condições cada vez mais favoráveis ao desenvolvi-mento de incêndios florestais complexos e violentos.

Ainda de acordo com os resultados preliminares daque-le Inventário, a ocupação dos espaços florestais nacionais continua a manter-se centrada em três espécies florestais, sendo que o eucalipto é neste momento a principal ocu-pação florestal do continente (26% ou 812 mil hectares), seguido do sobreiro com (23% ou 737 mil hectares), ultra-passando ambas as espécies a ocupação com pinheiro-bravo (23% ou 714 mil hectares) que até aqui era a espécie com maior representação. Com base neste apuramento, constata-se que a principal alteração da ocupação florestal se verifica ao nível do pinheiro-bravo, que apresenta uma

diminuição de 13% entre 1995 e 2010, sendo que a maior parte desta área (62%) se transformou em matos e pasta-gens, ao passo que a área total de eucalipto aumentou 13%, no mesmo período. Há ainda a destacar o aumento das áre-as de pinheiro-manso (46% em área total) e de castanheiro (27% em área total).

Na prossecução dos grandes objectivos estratégicos do Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios (PNDFCI), foram estabelecidas metas cuja concretização passa pelo empenho de todas as entidades com responsabi-lidades no Sistema de Defesa da Floresta Contra Incêndios (SDFCI) e que visam globalmente, para o horizonte tem-poral de 2012 e de 2018, a redução da superfície percor-rida por incêndios florestais, para valores equiparáveis à média dos países da bacia mediterrânica.

O período de maior probabilidade de ocorrência de in-cêndios florestais continua a centrar-se entre os meses de Julho e Setembro. No entanto, mesmo nos períodos pre-visíveis de menor perigo de incêndio, são cada vez mais recorrentes situações especiais, provenientes de condi-ções meteorológicas adversas ou de outras circunstâncias agravantes do perigo.

O Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais (DECIF) preparado para o corrente ano, visa assim garan-tir uma resposta operacional permanente e adequada às características e condições acima elencadas, em confor-midade com os graus de gravidade e probabilidade de ocorrência de incêndios durante os meses mais críticos. As principais alterações introduzidas este ano são as se-guintes:

> Grupos de Reforço de Ataque Ampliado (GRUATA)

A constituição destes Grupos surge no seguimento da ne-cessidade identificada de constituir um dispositivo perma-nente para intervenção estruturada em ataque ampliado a incêndios florestais. As suas capacidades modulares de comando e intervenção, associadas a conjunto de premis-sas, nas áreas da formação, características dos equipamen-tos, autonomia e capacidade de reação, serão condições exigidas para a garantia de uma qualquer intervenção de alto nível em ataque ampliado.

> Planeamento estratégico com vista à eficaz utiliza-ção de máquinas de rasto

A utilização de máquinas de rastos no apoio às ações de combate a incêndios florestais tem sido referencia-

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do, nos diversos documentos sobre a temática dos in-cêndios florestais, como uma das ferramentas de gran-de capacidade e utilidade na criação ou ampliação de faixas de contenção e no contributo que podem prestar na consolidação do perímetro dos incêndios e nas ações de rescaldo capacitando ainda o acesso a outro tipo de equipamentos de combate e/ou apoio. Se a utilização des-tes recursos tem vindo a sofrer um incremento no com-bate a incêndios florestais, esta utilização tem sido, em muitas situações, desligada da estratégia de combate. Assim, tem sido realizadas ações de formação e treino operacional na utilização destes equipamentos no âmbi-to do combate a incêndios florestais, nomeadamente nos procedimentos de segurança das equipas de bombeiros que acompanham o trabalho destas máquinas e a sua in-tegração no plano estratégico de acção a desenvolver pelo comandante das operações de socorro, criando-se em si-multâneo um processo uniforme de accionamento destes meios.

> Mobilização de aviões C-295 da Força Aérea

O avião C-295M apresenta-se como um precioso meio de avaliação de comando e controlo, tendo já sido testado em acções operacionais. Este avião integra a mais recente tecnologia existente no mundo aeronáutico e a sua capa-cidade de operar em teatros de operações está sustentada em equipamentos de comunicações “seguras”, agilidade de frequência V/UHF, permitindo um acompanhamento em tempo real das operações, nomeadamente dos incêndios florestais, pelo que a sua utilização se enquadra num supe-rior interesse de sistema de apoio à decisão operacional em teatros de operações de alguma dimensão.

> Integração de reclusos em ações de vigilância

No campo da atuação em incêndios florestais, o objetivo deste programa, que mereceu desde o primeiro momen-to o apoio da ANPC, é formar equipas, partindo de uma disponibilidade de cerca de 900 elementos, devidamente custodiadas para as ações de prevenção e pós-incêndio, in-tegradas nos serviços municipais de proteção civil, e que no quadro dos planos operacionais municipais, se envol-vam nas diferentes ações de apoio, prevenção, rescaldo e vigilância pós-rescaldo enquadrados no âmbito do 1º e 2º pilares da defesa de floresta contra incêndios.

> Instalação de um sistema de apoio à decisão e moni-torização dos incêndios florestais no Parque Nacio-nal da Peneda-Gerês.

Considerando a orografia do terreno bastante acidentada associada a uma reduzida ocupação humana e dificulda-de de circulação em algumas áreas deste Parque Nacional, o recurso a este sistema permitirá avaliar a sua capacida-de de deteção, análise e apoio à decisão de focos nascentes de incêndios florestais, permitindo adequar a resposta,

em ataque inicial, em função das características de cada ignição, sua localização, intensidade, combustível afetado e nível de acessibilidade, garantindo uma resposta pronta e adequada a cada situação.

No caso de um alarme, o sistema fornece informações adicionais, tais como a localização do fogo, fotografia da deteção e dados meteorológicos, reúne reconhecidas vanta-gens na relação custo/benefício, possibilitando uma dimi-nuição considerável do tempo de reação de combate ao in-cêndio. Trata-se de um sistema com a capacidade única de reconhecer fumo orgânico, através de uma análise química da atmosfera por espectrometria ótica distinguindo-o de outras fontes de fumo (por exemplo o proveniente de in-dústrias) e de decidir, de forma completamente autónoma, até uma distância de 15 km, se há motivo para enviar um alerta de incêndio. O sistema contém um sensor ótico re-moto de grande alcance e uma câmara óptica de elevada re-solução. Esta unidade realiza um varrimento horizontal de 360º e vertical de pelo -45º até 90º. Inclui também sensores atmosféricos que monitorizam as condições atmosféricas do local (temperatura, humidade, direção e velocidade do vento, e pluviosidade).

Estima-se que o projeto esteja instalado no início do cor-rente mês.

> Alterações às Circulares Financeiras

A par das inovações técnicas e organizacionais atrás referi-das, serão introduzidas importantes alterações à compen-sação financeira dos elementos que irão integrar o Dispo-sitivo, que passa de 41 para 45 euros, para bombeiros, e de 57,50 para 60 euros, para Comandantes de Permanência às Operações.

Haverá, ainda, um acréscimo da comparticipação por litro de combustível gasto pelos Corpos de Bombeiros, passando de 0,80 para 1,20 euros e de 1,05 para 1,37 euros, consoante se trate de gasóleo ou gasolina.

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O P I N I Ã O

Catástrofes Naturais

Atos de Deus ou omissões humanas?Infelizmente, a atitude preventiva essencial a minimizar as perdas – patrimoniais e humanas – decorrentes de um desas-tre natural, não constitui uma postura sócio-cultural dos povos latinos, lacuna que se tem revelado trágica em episódios recentes, como as derrocadas na Madeira, em fevereiro de 2010, ou o deslizamento ocorrido nos Açores, na localidade de Faial da Terra, na ilha de São Miguel, no passado mês de março.

Portugal detém uma posição paradigmática na te-mática das catástrofes naturais. O terramoto, se-guido de maremoto, que destruiu Lisboa em 1755

é considerado por muitos o primeiro desastre moderno. A célebre frase do Marquês de Pombal "Socorram os vivos e enterrem os mortos" pode servir de mote a um momento que todas as catástrofes desencadeiam recuperação, mas a tragédia de Lisboa marca sobre-tudo uma nova atitude na conceção das cidades e no aumento da segurança de técnicas de construção: au-mento de distância entre prédios e flexibilização das estruturas através do modelo da "gaiola pombalina". As catástrofes naturais, sobretudo no contexto que atravessamos, de drásticas alterações climáticas com pluviosidade mais intensa e concentrada, seca mais prolongada, furacões mais devastadores e avalanches mais frequentes, requerem uma redobrada atenção aos sinais indi-ciários. Um desastre natural dificilmente se evita mas os seus efeitos devastadores podem ser mitigados, com ade-quadas e atempadas medidas preventivas. Das Estratégias de Yokohama (1994) e de Hyogo (2005), dois documentos de síntese que resultaram de duas conferências mundiais promovidas pela ONU sobre a temática da prevenção de catástrofes naturais, decorre um conjunto de linhas ope-rativas de prevenção, das quais destacaríamos as seguin-tes:

- Planeamento territorial (zoneamento; sinalização; fisca-lização);- Sistemas de alerta precoce;- Formação de profissionais e voluntários;- Informação ao público;- Incremento da qualidade de construção;- Implementação de estruturas institucionais de resposta pronta, nacionais e internacionais;- Criação de fundos de assistência à reação e recuperação.

Estas diretrizes têm vindo a ser assimiladas pelos legis-ladores nacionais, muito particularmente na dimensão do planeamento. Por exemplo, em Portugal, o Decreto-

Lei 115/2010, de 22 de outubro, que es-tabelece um quadro para a avaliação e gestão dos riscos de inundações, com o objetivo de reduzir as suas conse-quências prejudiciais transpondo a Diretiva 2007/60/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de outu-

bro, tem como instrumentos principais as cartas de risco de inundações e os planos de gestão do risco de inundação. A plena implementação destes instrumentos enfrenta, no entanto, dois importantes obstáculos: por um lado, a resistência das pessoas em deslocar-se de locais aos quais se sentem emocional e patrimonialmente ligadas; por ou-tro, a força da inércia das autoridades, sobretudo locais, que inibe a execução destes instrumentos e/ou a adequada fiscalização do seu cumprimentos, tanto por razões socio-

o ponto de vista jurídico, porventura a questão mais relevante é a de saber

onde acaba a inevitabilidade e começa a omissão, nomeadamente por violação de

deveres de prevenção.

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lógicas, como financeiras. Já do ponto de vista humano, as catástrofes naturais convocam problemas assistenciais magnos (cuidados de emergência e assistência pós-trau-mática; alojamento e alimentação aos desalojados; recons-trução). Do ponto de vista financeiro, avultam os custos da mitigação e reparação, tendo em consideração a extensão e gravidade dos danos (o custo de recuperação dos danos provocados pelas enxurradas na Madeira foi na ordem dos mil milhões de euros). Enfim, do ponto de vista jurídico, porventura a questão mais relevante é a de saber onde aca-ba a inevitabilidade e começa a omissão, nomeadamente por violação de deveres de prevenção. Situações como as das enxurradas da ilha da Madeira, ou de Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro, em 2011, são atos de Deus ou omissões do Homem?

O planeamento territorial configura a técnica mais ade-quada a fazer face a uma atitude sistemática e eficaz de pre-venção de risco de desastre natural, no sentido de mapear zonas de risco, instalar sistemas de contenção para mini-mizar danos onde eles possam ser implementados, de colo-car em funcionamento tecnologias de alerta precoce para proporcionar evacuações rápidas ou mesmo de relocalizar habitações ou conjuntos populacionais se o risco for alto no índice de ocorrência e intenso nos efeitos prejudiciais. A elaboração destes planos/cartas/mapas deve envolver quer os técnicos da proteção civil, quer as populações a vertente da comunicação do risco é essencial para enraizar a cultura de prevenção. A aprovação do plano de risco cons-titui, todavia, apenas um primeiro passo disciplinador: a sua implementação requer uma vitalização constante através de ações comunicacionais, formativas e informati-vas dos sujeitos afetados, no sentido de uma conscienciali-zação objetiva dos riscos e da melhor reação perante a sua eventual eclosão.

Todos estes fatores devem ser tidos em consideração mormente no plano antecipatório. No entanto, o controlo da sua verificação é determinante em caso de ocorrência de danos, para diferenciar entre um facto irresistível ou mitigável, entre um dano inevitável ou antecipável. Assi-nalam-se dois exemplos práticos e reais desta abordagem. O primeiro, uma decisão do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, no caso Boudaieva contra a Rússia (2008), que determinou uma condenação do Estado russo por omissão de medidas de prevenção (de contingência; de alerta) de uma enxurrada em que faleceram vários membros de uma família. O segundo, mais próximo (e também mais discu-tível), uma decisão do Tribunal Central Administrativo – Sul (2011), que condenou a Região Autónoma da Madeira a indemnizar um automobilista pelos danos sofridos no seu veículo na sequência da queda de pedras numa zona de deslizamentos, por omissão de medidas de vigilância. Aqui não estamos seguramente perante uma “catástrofe natural”, mas o Tribunal sublinha a necessidade de ado-ção de uma atitude de prevenção do risco pelas autorida-des públicas em zonas em que tal risco se encontra perfei-tamente caracterizado, sob pena de, a ocorrerem danos, ser considerado responsável pelo seu ressarcimento com

fundamento em omissão ilícita.Prevenir o risco de catástrofe natural é uma tarefa pú-

blica, mas é também uma tarefa coletiva, partilhada, de consciencialização da comunidade para eventos extremos e suas consequências lesivas. Em face da emergência climática que vivemos, não há tempo para hesitações, nem para pensar que as tragédias só acontecem aos outros. Os riscos são reais e cumpre, se não evitá-los, antecipá-los e reduzi-los ao mínimo tecnicamente possível .

Carla Amado GomesProfessora Auxiliar da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa; Professora Convidada da Faculdade de Direito da Universidade Nova de [email protected]

A temática das catástrofes naturais e sua prevenção cons-titui o objeto do livro Direito(s) das Catástrofes Naturais, (Al-medina, 2012), que reúne textos de especialistas em várias áreas do Direito em que a ocorrência de desastres naturais interfere. O lançamento do livro foi assinalado com a rea-lização de uma conferência subordinada ao tema Catástro-fes Naturais: uma realidade multidimensional, que teve lugar na Faculdade de Direto da Universidade de Lisboa, a 20 de outubro de 2012, e cujas atas se encontram publicadas no sítio do Instituto de Ciências Jurídico-Políticas da FDUL www.icjp.pt/publicacoes.

T E M A

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6 de abr i l, Vi l a Verde, BragaS em i n á r io “M até r i a s Per igos a s – Um Mu ndo”P romov ido pe los Bombei ros Volu n-t á r ios de Vi l a Verde e pe lo núcleo loca l d a Juvebombei ro, o encont ro prete nde cont r ibu i r pa ra o con heci-mento sobre as m atér ias per igosas com tem as per t i nentes no i nt u ito de me l hora r a at u ação nest a á rea de i nter venção dos Bombei ros pa r t ici-pa ntes.I n sc r ições e i n for m ações at ravés do site: w w w.bv-v i l averde.org

A G E N D A

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. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .10 a 1 2 de abr i l, M aputo, Moça mbiqueFór u m de M i n i s t r os de Ad m i n i s -t r aç ão I nter n a d a C PL PO Fór u m dos M i n i st ros d a Ad m i n i s-t ração I nter n a d a Comu n id ade dos Pa í ses de Lí ng u a Por t ug uesa rea l i z a-se, este a no, n a capit a l moça mbica n a, s ucedendo a Lu a nd a, que acol he u o e vento em novembro de 2011.O encont ro será preced ido, por re u n iões setor ia i s e por u m a sessão plen á r ia dos chefes d as vá r ias est r ut u ras pol icia i s.

19 de abr i l ,Li sboa1º Fór u m d a Pl at a for m a N ac ion a l p a r a a Re duç ão de C at á s t r ofe s O rga n i z ado pe l a A N PC, este Fór u m, que cont a rá com a pa r t icipação d a Re present a nte Especia l do Sec ret á-r io-Gera l d as Nações Un id as pa ra a Redução de Cat ást rofes, M a rga ret a Wa l l st röm, terá luga r e m Li sboa, no aud itór io 2 d a Fu nd ação Ca lou ste Gu lben k ia n. Vi sa ndo a pa r t i l h a de e x per iê ncias com respon sávei s aut á rqu icos – a quem se d i r ige e m pr i mei ro luga r o encont ro – com v i st a ao reforço d a re-si l iência a n íve l loca l, serão, no f i n a l deste Fór u m, at r ibu ídos cer t i f icados de "cid ades resi l ie ntes" às aut a r-qu ias de Li sboa, A m adora, Fu nch a l e Casca i s.

21 a 24 de abr i l, Si nt raE x er c íc io T r it ãoÀ se me l h a nça de a nos a nter iores, a Câ m a ra Mu n icipa l de Si nt ra promove este e xercício em tor no de doi s ei x os f u nd a me nt a i s: u m re l acion ado com a pre pa ração d as est r ut u ras mu n ici-pa i s pa ra o r i sco de i ncê nd io (LI V E X) e out ro, no â mbito do r i sco sí sm ico e e nvolve ndo o Pl a no Mu n icipa l de Emergê ncia (CPX). Na i n iciat iva, pa ra a lé m d a est r ut u ra mu n icipa l est a rão t a mbé m mobi l i z ados os age ntes de proteção civ i l, i n st it u ições de saúde e de e n si no, seg u ra nça socia l, orga n i-z ações e e mpresas do conce l ho.

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17 e 18 de abr i l, A lju st re l, BejaFei r a d a s P r of i s s õe sEst a i n iciat iva pretende oferecer aos joven s d a reg ião u m cer t a me com u m a ofer t a va r iad a de opções pa ra o f ut u ro, t a nto a n íve l acadé m ico como prof i ssion a l. A A N PC est a rá prese nte com u m st a nd, onde d iv u lga rá a s u a at iv id ade.

3 a 5 de m a io, A lberga r ia-a-Ve l h a, Avei ro8 ª e d iç ão d a E x p of lor e s t a lSe ndo já a m a ior fei ra f lorest a l n acio-n a l e referê ncia no setor, pers pet iva-se neste cer t a me a prese nça de 30.000 v i sit a ntes e m a i s de 200 e x positores i n st it ucion a i s, e mpresa r ia i s, orga n i-z ações do setor f lorest a l e do a mbie n-te, escol as, cor porações de bombei-ros, e nt re out ras.I n sc r ições pa ra e x positores até ao d ia 5 de abr i l .