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Processos e diretrizes para o planejamento de canteiros de obras e sua aplicação no estudo de caso Julho/2016 1 ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 11 Vol. 01/ 2016 julho/2016 Processos e diretrizes para o planejamento de canteiros de obras e sua aplicação no estudo de caso Gabriela Pierozan [email protected] MBA Gestão de Projetos em Engenharias e Arquitetura Instituto de Pós-Graduação IPOG Porto Alegre, RS, 11 de novembro de 2015 Resumo Este artigo apresenta processos e diretrizes para o planejamento e a execução de um canteiro de obras com ênfase na tipologia de implantação restrita e a aplicação destes dados em um estudo de caso. A obra de ampliação do Hospital de Clínicas de Porto Alegre vem ao encontro do tema e da situação expostos acima e foi tomada como estudo de caso para o desenvolvimento deste artigo. Diante de uma obra de tipologia complexa, implantada em um ponto nervoso da cidade, onde a confluência de duas avenidas importantes e de tráfego intenso dificulta a logística dos acessos, somado ao fato do terreno não possuir grandes áreas livres à locação das edificações de apoio, torna o caso deste canteiro uma referência pertinente à análise dessas questões que, se não forem bem entendidas e consideradas, podem dificultar e comprometer gerenciamento da obra. O objetivo da pesquisa é demonstrar, através deste “case”, a importância do estudo e do planejamento detalhado de um canteiro, seja no momento da sua concepção, às transições necessárias nas diferentes etapas da obra, para a otimização dos seus processos e consequentemente à eficiência do seu gerenciamento. Documentos técnicos e referências bibliográficas sobre gestão de processos, da qualidade e normas de segurança axiliaram na sistematização e na consolidação da pesquisa. Concluiu-se, a partir da análise do exemplo abordado, que a aplicação das boas práticas no processo de planejamento de um canteiro é primordial à saúde do mesmo no transcorrer da obra. Decisões embasadas em análises críticas prévias e estudo detalhado do contexto do terreno, somadas ao conhecimento técnico das normas vigentes e aos processos estudados convergem a um canteiro mais eficiente e a uma obra de resultado. Palavras-chave: Gestão. Processos. Planejamento. Sistematização. Otimização. 1. Introdução A construção civil está mais complexa nos últimos tempos devido, sobretudo, às novas tecnologias desenvolvidas para facilitar os processos construtivos. Entretanto, para que a implementação destas tecnologias seja feita de forma correta e efetiva, o contexto estratégico e corporativo das empresas deve ir ao encontro das diretrizes ideais de instalação e organização, a fim de que isso resulte em eficiência. Atualmente os recursos estão mais escassos e custosos e as construtoras veem buscando reduzir ao máximo os desperdícios, seja de material ou de serviços. Neste setor, para que os empreendimentos deem resultado e assim

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Processos e diretrizes para o planejamento de canteiros de obras e sua aplicação no estudo

de caso Julho/2016 1

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 11 Vol. 01/ 2016 julho/2016

Processos e diretrizes para o planejamento de canteiros de obras e

sua aplicação no estudo de caso

Gabriela Pierozan – [email protected]

MBA Gestão de Projetos em Engenharias e

Arquitetura

Instituto de Pós-Graduação – IPOG

Porto Alegre, RS, 11 de novembro de 2015

Resumo

Este artigo apresenta processos e diretrizes para o planejamento e a execução de um canteiro

de obras com ênfase na tipologia de implantação restrita e a aplicação destes dados em um

estudo de caso. A obra de ampliação do Hospital de Clínicas de Porto Alegre vem ao

encontro do tema e da situação expostos acima e foi tomada como estudo de caso para o

desenvolvimento deste artigo. Diante de uma obra de tipologia complexa, implantada em um

ponto nervoso da cidade, onde a confluência de duas avenidas importantes e de tráfego

intenso dificulta a logística dos acessos, somado ao fato do terreno não possuir grandes

áreas livres à locação das edificações de apoio, torna o caso deste canteiro uma referência

pertinente à análise dessas questões que, se não forem bem entendidas e consideradas,

podem dificultar e comprometer gerenciamento da obra. O objetivo da pesquisa é

demonstrar, através deste “case”, a importância do estudo e do planejamento detalhado de

um canteiro, seja no momento da sua concepção, às transições necessárias nas diferentes

etapas da obra, para a otimização dos seus processos e consequentemente à eficiência do seu

gerenciamento. Documentos técnicos e referências bibliográficas sobre gestão de processos,

da qualidade e normas de segurança axiliaram na sistematização e na consolidação da

pesquisa. Concluiu-se, a partir da análise do exemplo abordado, que a aplicação das boas

práticas no processo de planejamento de um canteiro é primordial à saúde do mesmo no

transcorrer da obra. Decisões embasadas em análises críticas prévias e estudo detalhado do

contexto do terreno, somadas ao conhecimento técnico das normas vigentes e aos processos

estudados convergem a um canteiro mais eficiente e a uma obra de resultado.

Palavras-chave: Gestão. Processos. Planejamento. Sistematização. Otimização.

1. Introdução

A construção civil está mais complexa nos últimos tempos devido, sobretudo, às novas

tecnologias desenvolvidas para facilitar os processos construtivos. Entretanto, para que a

implementação destas tecnologias seja feita de forma correta e efetiva, o contexto estratégico

e corporativo das empresas deve ir ao encontro das diretrizes ideais de instalação e

organização, a fim de que isso resulte em eficiência. Atualmente os recursos estão mais

escassos e custosos e as construtoras veem buscando reduzir ao máximo os desperdícios, seja

de material ou de serviços. Neste setor, para que os empreendimentos deem resultado e assim

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se tornem mais atrativos ao investimento, a empreitada não inicia na implantação de um

canteiro de obras, mas sim, a partir do planejamento do mesmo.

O processo de planejamento e organização de um canteiro de obras é uma das etapas mais

importantes da execução de um empreendimento e comumente é negligenciado no setor da

construção. Sua implantação se dá conforme o surgimento das dificuldades de cada situação,

sem o entendimento e o mapeamento detalhado do contexto como um todo. Mesmo tendo-se

ciência de que um bom planejamento reflita diretamente na eficiência das operações,

cumprimento dos prazos, qualidade da construção e nos custos da obra, as construtoras

tendem, de um modo geral, a executar o canteiro de obras por tentativa-erro, na maioria das

vezes direcionando a atividade ao profissional mais experiente da empresa (diretriz

condicionadora do êxito da implantação do canteiro), desconsiderando a oportunidade de

estudar novas técnicas e se apropriar de ferramentas que possam resultar em maior

assertividade e segurança ao processo. A percepção de Saurin (1997) vem ao encontro do

afirmado acima:

“..., observa-se que o planejamento do canteiro deveria ser feito

antecipadamente ao início da obra, obedecendo a uma abordagem sistemática

a fim de integrar ao planejamento e programação global da construção.

Entretanto, conforme a bibliografia da área afirma e o senso comum reitera,

esta não é a prática usual, cabendo aos gerentes reconhecer a necessidade de

mudança da mentalidade atual e dedicar mais atenção ao planejamento do

caneiro.” (SAURIN, T.A., 1997:2).”

O interesse pelo tema se deu pelo desafio de entender esse processo a partir de um exemplo

pertinente e real, que é o canteiro de obras da Ampliação do Hospital de Clínicas de Porto

Alegre e a partir da análise das boas práticas e normas técnicas utilizadas, juntamente ao

estudo sobre o planejamento e a implantação, identificar aspectos positivos e potenciais

melhorias na implantação do canteiro de uma obra impactante no contexto urbano da cidade.

Este artigo foi desenvolvido a partir de pesquisa bibliográfica referente ao planejamento e

gerenciamento de canteiro de obras e da contextualização do estudo de caso, e estruturado de

forma a inter-relacionar e confrontar esses dois dados.

O canteiro analisado está situado em um terreno da zona central de Porto Alegre, no bairro

Rio Branco, especificamente na confluência de duas importantes e movimentadas avenidas da

cidade, as avenidas Protásio Alves e Ramiro Barcelos, conforme mostra a figura 1:

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Figura 1 – Planta de Situação da Obra de Ampliação do Hospital de Clínicas

Fonte: Documentos da obra (2015)

2. Conceitos e contextualização

O planejamento de um canteiro de obras pode ter como definição o planejamento do layout e

da logística das suas instalações físicas provisórias, do sistema de transporte e armazenamento

de materiais e das instalações de segurança. Para Krajewski e Ritzman (1993), o planejamento

do layout abrange decisões referentes ao arranjo físico de núcleos de atividade econômica em

uma instalação. Este núcleo pode ser qualquer coisa que compreenda um espaço, seja uma

pessoa, ou um grupo de pessoas, um maquinário, um setor, um depósito, uma escada, etc. Já

Frankenfeld (1990) define este planejamento como arranjo físico de trabalhadores, materiais,

equipamentos, áreas de trabalho e de estocagem.

De acordo com Illingworth (1993), pode-se classificar um canteiro de obras em três tipos:

restritos, amplos e longos e estreitos, conforme a tabela 1:

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Tabela 1 – Tipos de canteiro de obras

Fonte: Adaptado de Illingworth (1993)

O tipo de canteiro restrito é o mais comum nas áreas urbanas das cidades, sobretudo nas áreas

centrais. Em se tratando de edificações residenciais e comerciais, devido ao elevado custo dos

terrenos nessas áreas, essas edificações tendem a ocupar uma alta porcentagem da área

visando maximizar sua rentabilidade. Illingworth (1993) afirma, também, que os canteiros

restritos são os que exigem maior cautela no planejamento e devem seguir uma abordagem

criteriosa para esta tarefa, sempre atacando primeiro na divisa mais problemática do terreno e,

quando o subsolo ocupar quase a totalidade do terreno, criando espaços utilizáveis no nível

do térreo o mais cedo possível, os quais possam ser aproveitados à locação das instalações

provisórias e de armazenamento, como forma de facilitar o acesso de veículos e pessoas e

propiciar que essas instalações se mantenham no local a longo prazo.

O canteiro restrito configura a situação da obra de ampliação do Hospital de Clínicas (figura

2). O terreno destinado à obra tem aproximadamente 19.500m² e a área dos subsolos dos dois

anexos que estão sendo construídos abrange cerca de 70% deste terreno. Pela conformação

das edificações existentes, os acessos possíveis apenas podem ocorrer pelas avenidas Ramiro

Barcelos e Protásio Alves, sendo que o acesso pela Ramiro Barcelos mediante passagem por

uma via local que serve de saída da edificação existente do Hospital, que segue em

funcionamento.

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Figura 2 – Implantação Esquemática da Obra de Ampliação do Hospital de Clínicas

Fonte: Elaborado pela autora (2015)

3. Processos de planejamento de um canteiro de obras

O processo de planejamento de um canteiro tem por objetivo a otimização do espaço físico

disponível em uma obra, de maneira com que todos possam trabalhar com eficiência e

segurança. Tommlein (1992) dividiu os objetivos de um bom planejamento de canteiro em

objetivos de alto e baixo nível, nos quais cita a necessidade de promover operações eficientes

e seguras, manter a alta motivação dos empregados fornecendo boas condições ambientais,

tanto em termos de conforto como de segurança do trabalho. O cuidado com a limpeza e a

organização também estão dentro dos objetivos de alto nível. Já os objetivos de baixo nível

compreendem minimizar distâncias de transporte, tempo de movimentação de pessoal e

manuseio materiais e evitar obstruções ao movimento de materiais e equipamentos.

No que se refere aos canteiros de tipoligia restrita, Illingworth (1993) elenca alguns cuidados

básicos na tarefa do planejamento:

Desenvolver um estudo detalhado, avaliando a influência das divisas, edificações

adjacentes, pré-existência de redes de esgoto, água, eletricidade e telefônicas;

Avaliar as restrições acarretadas pelas condições internas do próprio canteiro, como

topografia, vegetação e interfaces com as edificações existentes;

Verificar a existência de características que possam ser exploradas no planejamento

(particularidades do terreno que possam favorecer o descarregamento ou o

armazenamento de materiais, por exemplo);

Verificar quais os fatores que afetam os acessos e os descarregamentos, como

desníveis, características do solo, intensidade de tráfego das vias de acesso ao

canteiro, etc.

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O planejamento de um canteiro de obras nada mais é que um processo gerencial comum a

qualquer outra situação, no qual se avalia o planejamento e se coleta dados. O esquema da

figura 3 mostra as etapas desse processo de planejamento sob a perspectiva e o contexto

específicos de um canteiro.

Figura 3 – Etapas do Processo de Planejamento de um Canteiro de Obras

Fonte: Elaborado pela autora (2015)

O processo de análise do layout é pertinente à identificação de problemas relacionados ao

arranjo físico propriamente dito, permitindo observar o excesso de cruzamento de fluxo numa

determinada área ou a localização equivocada de alguma instalação. Para isso, é necessário

que os croquis contemplem, conforme cada caso, os seguintes itens:

Definição aproximada do perímetro dos pavimentos, diferenciando áreas abertas e

fechadas;

Localização de pilares e outras estruturas que interfiram na circulação de materiais e

pessoas

Portões de acesso ao canteiro (acesso de pessoas e veículos) e acesso coberto para

clientes/visitantes;

Localização de árvores que restrinjam ou interfiram na circulação de materiais e

pessoas, incluindo as que se situarem na calçada;

Localização das instalações provisórias (banheiros/vestiários,

escritório/administrativo, refeitório, etc) e, nos empreendimentos

habitacionais/comerciais é importante considerar previamente onde estará locado o

plantão de vendas;

Localização da calha ou tubo para remoção de entulho;

Localização da betoneira, grua, guincho e guincheiro, indicando o lado pelo qual se

fazem as cargas no guincho;

Localização dos elevadores de passageiros;

Localização das centrais de carpintaria e aço;

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Pontos de içamento de formas e armaduras;

Localização de passarelas, rampas e escadas provisórias com indicação aproximada do

desnível;

Principais linhas de fluxo.

Para Maia et al (1994), a padronização das instalações do canteiro é fortemente justificada e

recomendada pelo critério repetição, pois qualquer obra, independente do porte ou tecnologia,

necessita de tais instalações. Para empresas que constroem obras com características

semelhantes, a repetição assume um caráter ainda mais forte, sendo recorrente ocorrer

canteiros idênticos em algumas obras, respeitadas as particularidades intrínsecas ao layout de

cada canteiro. Dentre os benefícios da padronização das instalações de um canteiro, temos:

Em decorrência do reaproveitamento e da utilização mínima de componentes nas

instalações, há uma diminuição das perdas de materiais;

Facilidade para o planejamento do layout dos novos canteiros;

Contribuição para a formação de uma imagem da empresa no mercado;

Conformidade com os requisitos da NR-18 (norma regulamentadora que estabelece

diretrizes de ordem administrativa, de planejamento e de organização, que objetivam a

implementação de medidas de controle e sistemas preventivos de segurança nos

processos, nas condições e no meio ambiente de trabalho na Indústria da Construção),

prevenindo acidentes e evitando multas;

Possibilidade de elaboração de um modelo básico de PCMAT (Programa de

Condições Meio Ambiente de Trabalho) a partir dos padrões estabelecidos que

refletirá a realidade da empresa;

O processo de padronização envolve o diagnóstico de todas as obras de uma empresa,

identificando os padrões existentes e as deficiências recorrentes como forma de justificar a

necessidade da padronização a partir destes pontos. Reuniões específicas para apresentar os

dados do diagnóstico e alinhar as definições são importantes para consolidar o processo e

formular o manual de padronização de canteiros da empresa.

O planejamento do canteiro pode ser sistematizado em cinco etapas: o desenvolvimento de

uma análise preliminar da situação e do contexto do canteiro, a definição do seu arranjo físico

geral (macro-layout) e posteriormente o seu detalhamento (micro-layout), a verificação da

infraestrutura necessária ao funcionamento das instalações e a elaboração do cronograma de

implantação do canteiro.

Análise Preliminar: esta etapa é fundamental às etapas subsequentes e envolve a coleta

e a análise de dados. Não considerar esta análise pode acarretar atrasos durante as

etapas posteriores e interrupções, pois faltarão informações indispensáveis à tomada

de decisões. As principais informações que devem ser coletadas nesta etapa são:

Programa de necessidades do canteiro onde devem ser listadas todas as

instalações a serem locadas, estimando a área necessária à cada uma delas,

conforme o modelo da tabela 2:

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Tabela 2 – Exemplo de tabela de áreas do canteiro

Fonte: Elaborado pela autora (2015)

Informações sobre o terreno e o entorno da obra, como localização de

árvores no passeio e dentro do terreno, pré-existência da rede de esgoto,

passagem de rede de alta tensão próxima à obra, desníveis do terreno, via

de trânsito menos intenso, no caso do terreno se situar numa esquina, etc;

Definições técnicas da obra: principais tecnologias construtivas adotadas

para mensurar com mais propriedade os espaços necessários à circulação,

estocagem de materiais e áreas de produção, como por exemplo os tipos de

estrutura, argamassa, alvenaria e o tipo de revestimento de fachada que

serão utilizados;

Cronogramas de mão-de-obra e físico da obra: deve ser estimado o número

de operários no canteiro para três fases básica do layout (etapa inicial ou

mobilização da obra, etapa de pico máximo de pessoal e etapa final ou

desmobilização do canteiro). O entendimento do cronograma físico é

importante, já que em algumas situações é necessário estudar atrasos ou

adiantamento de alguns serviços de maneira a viabilizar a implantação do

canteiro, como por exemplo a não execução de lajes, paredes ou rampas

para permitir um acesso fundamental ao canteiro, etc.

Arranjo Físico Geral: envolve o estabelecimento do local em que cada área do canteiro

irá situar-se, devendo ser estudado o posicionamento e as relações entre as diversas

áreas. Nesta etapa define-se aproximadamente a localização das áreas de escritório,

vivência, refeitório, vestiário, etc.

Arranjo Físico Detalhado: é o detalhamento do arranjo físico geral, estabelecendo a

localização de cada equipamento ou instalação dentro de cada área do canteiro.

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Detalhamento das Instalações: é o planejamento da infra-estrutura necessária ao

funcionamento das instalações. Devem ser estabelecidos quantidades e tipos de

mobiliário e o seu posicionamento em cada área, técnicas de armazenamento de

materiais, tipo de pavimentação das vias de circulação de materiais e pessoas, local e

forma de fixação de plataformas de proteção, etc.

Cronograma de Implantação: apresentar graficamente o sequenciamento das fases do

layout, além de explicitar os eventos da execução da obra (como concretagem de uma

laje), eventos estes que possam determinar uma possível alteração no layout. Abaixo,

na figura 4, exemplo de cronograma considerando a implantação do canteiro:

Figura 4 – Trecho do cronograma Implantação da obra de ampliação do HCPA

Fonte: Documentos da obra (2015)

O principal objetivo da etapa de planejamento é permitir que os projetos arquitetônico e

complementares possam atender às necessidades do projeto do canteiro. O intuito desta

análise prévia é evitar que o projeto do canteiro seja mera consequencia das restrições

impostas pelos projetos executivos, possibilitando uma otimização da interface entre os

mesmos e tornando, assim, o layout do canteiro mais eficiente.

É recorrente a percepção entre os profissionais da construção civil de que os canteiros de

obras são desorganizados e sujos, características por eles atribuídas pela natureza do processo

produtivo e pela baixa qualificação da mão-de-obra. O Programa 5S, metodologia japonesa

que visa desenvolver nos indivíduos os cinco sensos nos seus locais de trabalho, tem como

premissa reverter essa realidade de forma a mobilizá-los, motivá-los e conscientizá-los a uma

maior organização e disciplina, criando, assim, um ambiente propício à implantação de

programas de qualidade. A figura 5 faz uma interpretação dos cinco sensos aplicados

especificamente em um canteiro de obras.

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Figura 5 – Os cinco sensos do Programa 5S

Fonte: Adaptado pela autora (2015)

Para implementar este programa se faz necessário seguir algumas diretrizes pertinentes à

estruturação, aplicação e conferência dos resultados:

Definir critérios objetivos de avaliação devendo ser listados os itens do canteiro a

serem avaliados e estabelecidos os critérios de avaliação para cada item;

Tabela 3 – Exemplo de critérios de avaliação

Fonte: Adaptado pela autora (2015)

Estabelecer avaliadores, que podem ser o mestre de obras, os operários ou o próprio

engenheiro, e a periodicidade das avaliações (se serão semanais, quinzenais ou

mensais, etc.);

Estabelecer um sistema de premiação de maneira a motivar todos os funcionários a

aderirem ao programa;

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Demonstrar e informar, da maneira mais clara e objetiva possível, os itens, critérios de

avaliação e os resultados obtidos, de modo que todos os funcionários possam

compreender o seu significado.

Tabela 4 – Exemplo de painel demonstrativo de resultados

Fonte: Adaptado pela autora (2015)

4. Diretrizes para o planejamento do canteiro

A escolha da tipologia a ser a ser adotada para as instalações provisórias depende de vários

critérios: custos de aquisição, implantação e manutenção, reaproveitamento, durabilidade,

praticidade na montagem e desmontagem, isolamento térmico e impacto visual. A relevância

de cada critério depende das necessidades de cada obra e das condicionantes de cada empresa.

Os sistemas comumente implantados nas obras são o tradicional racionalizado e o de

containers.

No sistema racionalizado temos a utilização de uma estrutura principal de madeira e o

fechamento feito por módulos de chapa de compensado resinado. O uso desse sistema

possibilita um maior reaproveitamento de material em canteiros futuros e é de fácil montagem

e desmontagem. Para a concepção deste sistema é necessário considerar os requisitos:

Segundo a NR-18, as paredes dos banheiros devem ser protegidas contra a umidade

com chapas galvanizadas ou pintura impermeável. É recomendável, também, que o

contrapiso dos banheiros seja cimentado;

Prever módulos especiais e padronizados para portas e janelas;

Deve ser utilizado preferencialmente telhas de zinco à cobertura das instalações por

ser mais resistente a impactos;

Pintas as duas faces das paredes compensadas de forma a aumentar a sua durabilidade;

No caso de canteiros restritos, pela pouca área disponível, é interessante a opção das

instalações em dois pavimentos.

Já o sistema de containers, apesar de ser menos utilizado, ainda é uma alternativa utilizada

pelas construtoras, sobretudo para a locação de subempreiteiros. Para este sistema a NR-18

tem as seguintes exigências:

Ter ventilação natural comporta de, no mínimo, 15% da área do piso e ser composta

por, no mínimo duas aberturas;

A sua estrutura deve ser aterrada eletricamente para prevenir choques elétricos;

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Os containers que foram utilizados originalmente para o transporte ou

acondicionamento de cargas devem ter atestado de salubridade relativo a riscos

químicos, biológicos e radioativos para poderem ser adaptados.

As diretrizes para o planejamento do layout das áreas e da logística das instalações

provisórias de um canteiro de obras, são:

Refeitório: não há uma norma que estabeleça um critério de dimensionamento para um

refeitório, adota-se, então, o parâmetro de 0,8m²/pessoa. Quanto a sua localização,

pela NR-18, é proibido instalá-lo em subsolos ou porões, assim como não deve ter

ligação direta com nenhuma instalação sanitária, seja através de portas ou janelas.

Ações como a disposição de mesas e cadeiras separadas para favorecer o agrupamento

dos funcionários conforme suas afinidades, o fornecimento de refeições prontas, a

colocação de televisão, também são relevantes no planejamento deste ambiente. A

NR-18 também considera o fornecimento de água potável por meio de bebedouro,

mesas com tampos lisos e laváveis, aquecedor de refeições e lixeiras com tampa.

Área de lazer: a NR-18 exige este espaço apenas se tiver trabalhadores alojados. Em

canteiros restritos a opção mais viável é a utilização do refeitório como área de lazer,

colocando-se televisão e jogos. É visto que estas iniciativas geram bons resultados e

contribuem à satisfação dos funcionários.

Vestiário: a NR-24, que apresenta requisitos às condições sanitárias e de conforto nos

locais de trabalho, estabelece um parâmetro de 1,5m²/pessoa para o dimensionamento

deste ambiente. Deve estar locado ao lado dos banheiros e o mais próximo possível do

portão de acesso dos funcionários do canteiro, já que os EPI’s (equipamentos de

proteção individual) básicos são guardados no vestiário. Pela segurança é

recomendável uma ligação coberta entre o vestiário e o portão de acesso, já que é o

único trajeto que os funcionários fazem sem o uso dos EPI’s.

Banheiros: a NR-18 estabelece proporções e dimensões mínimas ao dimensionamento

das instalações hidrossanitárias, tais como:

1 lavatório, 1 vaso sanitário e 1 mictório para cada grupo de 20

trabalhadores ou fração;

1 chuveiro para cada grupo de 10 trabalhadores ou fração;

Box do vaso sanitário com área mínima de 1,00m²;

Área mínima destinada aos chuveiros de 0,80m²;

Os banheiros devem estar localizados próximos ao vestiário ou no mesmo

ambiente;

A distância limite para deslocamento dos postos de trabalho até as

instalações sanitárias deve ser de 150 metros, sejam deslocamentos

horizontais ou verticais.

Almoxarifado: o fator determinante a ser considerado é o porte da obra e o seu nível

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de estoque, ou seja, o volume de materiais e equipamentos que necessitam ser

estocados. No caso da estocagem de tubos de PVC, por exemplo, é necessário que ao

menos uma das dimensões da instalação tenha, no mínimo, 6 metros de comprimento.

Como este local abriga as funções de armazenamento e controle de materiais,

equipamentos e ferramentas, é ideal que esteja situado próximo ao ponto de descarga

de caminhões, elevador de carga e ao escritório, seguindo esta ordem de prioridade.

Escritório da obra: o escritório tem a função de proporcionar um espaço de trabalho

isolado para que o mestre de obras, engenheiros, arquiteto e demais profissionais que

componham o quadro efetivo administrativo da obra desemprenhem parte das suas

atividades. Uma função complementar é servir como local de arquivo da

documentação técnica da obra que necessita estar disponível no canteiro, incluindo os

projetos executivos, cronograma, licenças dos órgãos públicos, anotações de

responsabilidade técnica, etc. O dimensionamento desta instalação é em função do

número de pessoas que trabalham no local e dos tipos de equipamentos utilizados

(armários, mesas, cadeiras, computadores, etc.). Dimensões usuais de escritórios são

3,30 x 3,30m ou 3,30 x 2,20m.

Guarita do vigia e portaria: por ter a função de controlar a entrada e saída de pessoas e

veículos, é importante estar localizada junto ao portão de acesso de pessoas e, se

possível próxima ao portão de entrada de caminhões. Outro aspecto importante e

decorrente das atividades do vigia, é que a guarita tenha uma visão global do canteiro,

sobretudo das divisas e do almoxarifado.

Acessos de pessoas à obra: importante haver ao menos um portão exclusivo para

entrada e saída de pessoas. Sua localização deve ser avaliada conjuntamente ao estudo

do(s) trajeto(s) que funcionários e visitantes devem fazer ao entrar e sair da obra, além

de atender aos requisitos:

Ter uma inscrição que o identifique;

Ter a indicação do número do terreno;

Possuir fechadura ou puxador que facilite a abertura e o fechamento;

Possuir uma caixa de correio localizada próxima ao portão de acesso;

Possuir uma campainha ou porteiro eletrônico.

Acessos de veículos à obra: deve ser estudada em conjunto ao layout das instalações

relacionadas aos materiais (almoxarifado). A quantidade de portões de um canteiro

deve ser considerada conforme for a necessidade de cada situação de forma que

garanta a descarga dos materiais sem a necessidade de múltiplos manuseios dos

mesmos. A presença de árvores em frente ao terreno deve ser considerada ao

posicionamento do(s) portão(s) e, no caso do canteiro estar localizado em um terreno

de esquina, é prudente locar o portão na via de trânsito menos intenso. É também

importante considerar o seguinte:

O portão deve ser preferencialmente de correr, caso seja de abrir deve permitir

apertura para dentro e para fora do canteiro;

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Possuir altura livre mínima de 4,50 metros para permitir a passagem de

qualquer tipo de caminhão;

Deve ser de preferência metálico e construído de forma que facilite a sua

montagem e desmontagem, a fim de que possa ser utilizado futuramente em

outros canteiros

Deve estar identificado com a inscrição “Entrada de Veículos”.

Tapumes: devem ser mantidos em bom estado de conservação e limpeza. Como são

elementos aparentes à comunidade, devem causar impacto visual agradável.

Comumente são utilizados pelas construtoras como veículo de marketing e atualmente

também vem sendo explorados de forma artística, com imagens ou até mesmo com

perspectivas do contexto da edificação que naquele local está sendo implantada.

Quanto a sua materialidade, há quadro tipos mais usuais: painéis de madeira

compensada, placas de concreto pré-moldado, chapas galvanizadas e metálicos. Os

tapumes são também utilizados para a fixação de placas de identificação da obra, onde

consta suas informações gerais e seus responsáveis técnicos, assim como os

fornecedores parceiros e financiadores.

Com relação às diretrizes de movimentação e armazenamento de materiais, deve-se

considerar o dimensionamento das instalações, a definição do layout das áreas de

armazenamento, o posto de produção de argamassa e concreto, as vias de acesso, a disposição

do entulho e o armazenamento de cimento, agregados, alvenarias, aço, armaduras e tubos de

PVC. A tabela 5 é um exemplo de planilha para coleta e dimensionamento das informações

citadas:

Tabela 5 – Exemplo de tabela das instalações de movimentação e armazenamento de materiais

Fonte: Adaptado pela autora (2015)

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5. Processos e diretrizes de planejamento do canteiro aplicados no estudo de caso

A obra de ampliação do Hospital de Clínicas de Porto Alegre é composta por dois prédios,

chamados Anexos 1 e 2, os quais compreendem a área demarcada na figura 6 e tomam

praticamente 70% da área do terreno no qual estão implantados, esse fator qualifica a este

canteiro a tipologia restrita. Esta área foi totalmente escavada para a execução de dois níveis

de subsolo e a estrutura periférica de contenção foi projetada e concebida através de parede

diafragma. Pelo elevado fluxo de caminhões para a retirada do grande volume de terra (etapa

inicial da obra), optou-se por situar a rampa de acesso ao nível mais baixo do subsolo de

forma que o seu escoamento pudesse ser feito pela via secundária de acesso à avenida Ramiro

Barcelos, minimizando, assim, o impacto direto do fluxo de caminhões nessa via que tem

considerável movimento o dia inteiro. Nota-se que essa decisão foi assertiva, pois conforme

Illingworth (1993) pondera, é necessário verificar os fatores que afetam os acessos e os

descarregamentos, como desníveis, caraterísticas do solo, intensidade de tráfego das vias de

acesso ao canteiro, etc.

Outro aspecto relacionado aos acessos que é pertinente evidenciar: a adequada análise

preliminar da situação do terreno e da obra, mesmo em um canteiro restrito, permitiu

mensurar com propriedade os espaços destinados à circulação de veículos e adotar cinco

acessos, locados em pontos estratégicos do canteiro, contribuindo à fluidez do fluxo de

caminhões dentro da obra e no acesso às avenidas e tornando a logística do transporte e

recebimento de materiais no canteiro mais eficiente.

O estudo e o mapeamento das instalações no arranjo físico geral, figura 6, também permitiram

a otimização das relações entre as instalações e outros aspectos positivos, dos quais pode-se

pontuar:

A solução de duas guaritas, a principal, situada no acesso pela Ramiro Barcelos, na

qual é feito o controle de pessoas (catracas) e o controle de veículos, e a secundária

pela Protásio Alves, mais próxima ao escritório, otimizou o fluxo de pessoas,

deixando os funcionários ligados à produção no acesso pelo portão 5 e os funcionários

ligados ao apoio/escritórios, visitantes e fornecedores no acesso pelo portão 2.

Importante destacar que mesmo estes acessos também serem de veículos, os portões

são individualizados para pessoas e veículos nas duas situações, em conformidade aos

requisitos da NR-18;

Também é possível verificar que, de encontro ao que fora considerado por Tommlein

(1992), quando cita no primeiro parágrafo do capítulo 3 deste artigo os objetivos de

alto e baixo níveis de um bom planejamento, as áreas de vivência e refeitório estão

situadas nos locais onde há maior quantidade de árvores a preservar, proporcionando a

estes locais ambientes mais agradáveis e salutares, apropriados aos momentos das

refeições e lazer dos funcionários;

O posicionamento dos vestiários também foi outro ponto assertivo e em conformidade

a NR-18, já que foi situado próximo à portaria principal colaborando para que os

funcionários da produção tenham fácil acesso aos EPI’s imediatamente à entrada na

obra.

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A localização dos lava-rodas e da central de resíduos também foi adequada ao

contexto das circulações e em conformidade à NR-18.

Com relação ao posicionamento do almoxarifado, este poderia ter sido locado mais próximo à

via interna de circulação, o que diminuiria o deslocamento para armazenagem dos materiais e

contribuiria na logística de encaminhamento dos mesmos à obra.

Figura 6 – Arranjo físico geral (macro-layout) do canteiro de obras do HCPA

Fonte: Adaptado pela autora (2015)

O sistema de tapumes utilizado em todo o perímetro desta obra é o de chapas de aço

galvanizadas, fixadas em estrutura metálica. Em toda a extensão do passeio das avenidas

Protásio Alves e Ramiro Barcelos, bem como na via secundária de acesso ao hospital, esses

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tapumes foram explorados com imagens e perspectivas dos prédios em construção, o que

causa um impacto visual agradável aos transeuntes (figura 7).

Figura 7 – Foto do tapume da obra do HCPA

Fonte: Autora (2015)

As instalações provisórias do canteiro do HCPA foram concebidas a partir dos sistemas de

containers e racionalizado. As instalações destinadas aos subempreiteiros são containers

individualizados a cada empresa, locados próximos ao refeitório e ao portão 1. Já as

instalações do refeitório, banheiros, almoxarifado, guaritas, vestiário e escritórios, destinadas

aos funcionários do consórcio construtor, compõem edificações com estrutura principal de

madeira, fechamento com chapas de compensado resinado e telhado de zinco, de acordo às

premissas da NR-18.

Tanto às instalações dos escritórios, quanto do vestiário, optou-se por edificações de dois

andares, como forma de otimizar o espaço exíguo existente no canteiro, conforme pode-se

verificar nas figuras 8 e 9.

As instalações do escritório também seguem a NR-18 em todas as suas diretrizes,

conformando ambientes arejados e dimensionados de acordo ao contingente de funcionários

atuantes nestas dependências.

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Figura 8 – Detalhamento das instalações do canteiro - escritórios

Fonte: Adaptado pela autora (2015)

Os vestiários e banheiros (figura 9) estão locados próximo ao acesso dos funcionários ligados

à produção, permitindo fácil acesso à higiene, aos seus pertences e aos equipamentos de

segurança. Possuem condições sanitárias e de conforto de acordo ao que a NR-24 solicita e

quantidades e adequadas de armários, bacias sanitárias, lavatórios e chuveiros ao pico de 400

funcionários aos quais este vestiário e banheiros estão dimensionados, atendendo aos

requisitos da NR-18, listados no capítulo 4 deste artigo. Na obra deste estudo de caso não há

trabalhadores alojados no canteiro.

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Figura 9 – Detalhamento das instalações do canteiro – sanitários e vestiário

Fonte: Adaptado pela autora (2015)

O refeitório da obra, figura 10, também está em conformidade à NR-18 no que diz respeito ao

seu dimensionamento e está situado em área arborizada, ventilada e de fácil acesso, atendendo

às condições de conforto e higiene necessárias ao local. Não há ligação direta com qualquer

instalação sanitária, contempla lixeiras para separação de resíduos com tampa e mesas com

tampos de granito. A disposição das mesas favorece ao agrupamento dos funcionários

conforme suas afinidades e as refeições são elaboradas por empresa contratada para tal

finalidade.

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Figura 10 – Detalhamento das instalações do canteiro - refeitório

Fonte: Adaptado pela autora (2015)

6. Conclusão

Partindo-se do desafio de implantar um canteiro de obras e lidar com todas as interfaces

envolvidas, verificou-se, a partir do estudo abordado e da vivência em canteiros de obra,

sobretudo neste do estudo de caso especificamente, a importância de se estabelecer processos

de planejamento para a eficiência do canteiro. Assim como qualquer outro tipo de projeto que

demanda planejamento, diretrizes e metas, o canteiro também se enquadra nesta categoria

tendo em vista a sua relevância para o bom transcorrer da obra. Desconsiderar o estudo

detalhado do contexto no qual estiver inserido e a compatibilização com as interfaces do

projeto da obra a ser executada, é negligenciar o seu planejamento, e as consequências dessas

ações, na maioria dos casos, gera atrasos, inconvenientes técnicos e problemas de logística de

difícil resolução durante o processo construtivo.

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Atualmente as empresas estão mais preocupadas com esta etapa da obra, tornando o processo

de estudo e planejamento dos canteiros algo sistematizado e inserido no plano estratégico da

obra como um todo. Tendo em vista esta afirmação, verificou-se que o canteiro de obras do

HCPA seguiu esta premissa, pois foi pensado e planejado de acordo às boas práticas e

atendendo aos processos e diretrizes de planejamento abordados neste artigo, bem como está

de acordo às normas vigentes.

É importante considerar que, por se tratar de um tema amplo no que diz respeito aos diversos

assuntos que compõem um canteiro, e mesmo tendo-se explanado de maneira sucinta todas as

diretrizes consideradas no planejamento do tema, este artigo voltou-se prioritariamente à

verificação analítica e a aplicação dos processos de planejamento no que tange ao macro-

layout e ao detalhamento das instalações do canteiro tomado como estudo de caso. Uma

análise aprofundada de todos os intervenientes envolvidos, como, por exemplo, no que diz

respeito à aplicação do programa dos cinco sensos e os resultados obtidos a partir da coleta de

informações em campo, certamente enriqueceriam ainda mais a pesquisa e poderiam ser

explorados em um trabalho de maior abrangência.

Referências

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