processo nº tst-arr-9954800-71.2006.5.09.0013 …

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Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho PROCESSO Nº TST-ARR-9954800-71.2006.5.09.0013 Firmado por assinatura digital em 25/06/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. A C Ó R D Ã O (2ª Turma) GMMHM/bav I - RECURSO DE REVISTA DO RECLAMADO INTERPOSTO ANTES DA LEI 13.015/2014. DOENÇA DO TRABALHO. LER/DORT. RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA DO EMPREGADOR. CULPA, NEXO DE CAUSALIDADE E DANO. INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. PENSÃO. PAGAMENTO EM PARCELA ÚNICA. IMPOSSIBILIDADE DE LIMITAÇÃO À IDADE DE APOSENTADORIA. CUMULAÇÃO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO COM PENSÃO. O Tribunal Regional, com amparo nas provas produzidas nos autos, especialmente o laudo pericial, concluiu pela existência do nexo de causalidade entre a doença da reclamante (tendinite do músculo supra espinhoso do ombro esquerdo de evolução crônica), que ensejou sua aposentadoria por invalidez, e o trabalho desempenhado na reclamada, a qual agiu com culpa, uma vez que não adotou medidas necessárias e suficientes para prevenir e evitar a doença profissional. Nesse contexto, restam presentes todos os requisitos ensejadores da responsabilidade civil subjetiva, nexo de causalidade, culpa e dano, na forma dos artigos 186 e 927, caput¸ do Código Civil. Para se chegar à conclusão oposta e entender quaisquer dos requisitos ensejadores da responsabilidade civil, como pretende a reclamada, seria necessário o revolvimento de fatos e provas, o que é vedado pela Súmula 126 do TST. Portanto, a ofensa sofrida resultou defeito pelo qual a ofendida não pode exercer o seu ofício ou profissão, o que enseja o dever de reparação da reclamada, nos termos do art. 950 do Código Civil. No caso, o TRT registra que a reclamante teve perda parcial da capacidade de trabalho, encontra-se aposentada por invalidez, e não pode mais exercer a Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1001C1726F679F0315.

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PROCESSO Nº TST-ARR-9954800-71.2006.5.09.0013

Firmado por assinatura digital em 25/06/2018 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP

2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

A C Ó R D Ã O

(2ª Turma)

GMMHM/bav

I - RECURSO DE REVISTA DO RECLAMADO

INTERPOSTO ANTES DA LEI 13.015/2014.

DOENÇA DO TRABALHO. LER/DORT.

RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA DO

EMPREGADOR. CULPA, NEXO DE CAUSALIDADE

E DANO. INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL.

APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. PENSÃO.

PAGAMENTO EM PARCELA ÚNICA.

IMPOSSIBILIDADE DE LIMITAÇÃO À IDADE DE

APOSENTADORIA. CUMULAÇÃO DE BENEFÍCIO

PREVIDENCIÁRIO COM PENSÃO. O Tribunal

Regional, com amparo nas provas

produzidas nos autos, especialmente o

laudo pericial, concluiu pela

existência do nexo de causalidade entre

a doença da reclamante (tendinite do

músculo supra espinhoso do ombro

esquerdo de evolução crônica), que

ensejou sua aposentadoria por

invalidez, e o trabalho desempenhado na

reclamada, a qual agiu com culpa, uma

vez que não adotou medidas necessárias

e suficientes para prevenir e evitar a

doença profissional. Nesse contexto,

restam presentes todos os requisitos

ensejadores da responsabilidade civil

subjetiva, nexo de causalidade, culpa e

dano, na forma dos artigos 186 e 927,

caput¸ do Código Civil. Para se chegar

à conclusão oposta e entender quaisquer

dos requisitos ensejadores da

responsabilidade civil, como pretende a

reclamada, seria necessário o

revolvimento de fatos e provas, o que é

vedado pela Súmula 126 do TST. Portanto,

a ofensa sofrida resultou defeito pelo

qual a ofendida não pode exercer o seu

ofício ou profissão, o que enseja o

dever de reparação da reclamada, nos

termos do art. 950 do Código Civil. No

caso, o TRT registra que a reclamante

teve perda parcial da capacidade de

trabalho, encontra-se aposentada por

invalidez, e não pode mais exercer a

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2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

função antes desempenhada para o

reclamado. Assim, sem cogitar limitação

da pensão até a idade da aposentadoria

e estabelecendo a data da aposentadoria

por invalidez como termo inicial do

pagamento, o Regional concluiu que o

pensionamento deveria ser fixado em

valor mensal correspondente a 100% do

salário auferido pela autora, pelo que

majorou a condenação de R$ 50.000,00

(cinquenta mil reais) para R$

267.000,00 (duzentos e sessenta e sete

mil reais), a ser pago em parcela única,

equivalente a aproximadamente 30% do

que receberia se o pensionamento fosse

mensal. O entendimento deste Tribunal

Superior vai ao encontro ao que concluiu

o TRT, uma vez que o art. 950 do Código

Civil dispõe que a pensão mensal deve

corresponder à importância do trabalho

para o qual o empregado se inabilitou,

que, no caso, representa o percentual de

100%. Precedentes. No que diz respeito

ao pedido de limitação da pensão mensal

até os 65 anos de idade, a decisão

regional se mostra em consonância com a

jurisprudência pacífica do TST, no

sentido de que o disposto no art. 950 do

Código Civil não encontra limitação na

data da futura idade de aposentadoria.

Precedentes. Também está em consonância

com a jurisprudência pacífica do TST, o

entendimento do TRT no sentido de que o

benefício previdenciário pode ser

cumulado com a pensão mensal, uma vez

que ambos possuem naturezas e fontes

distintas. Precedentes. Óbice da Súmula

333 do TST. Recurso de revista não

conhecido.

INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. AUSÊNCIA

DE PREQUESTIONAMENTO. O TRT não se

manifestou acerca dos danos morais,

pelo que a questão carece do devido

prequestionamento, na forma da Súmula

297, I, do TST. Recurso de revista não

conhecido.

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2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. SUCUMBÊNCIA

RECÍPPROCA. Quanto aos honorários

advocatícios, nos termos do art. 3º, §

3º, da Instrução Normativa nº 27 do TST,

o princípio da sucumbência recíproca

não se aplica às lides decorrentes da

relação de emprego antes da reforma

trabalhista, pelo que a condenação não

viola literalmente o art. 21 do

CPC/1973. Assegurado o contraditório e

ampla defesa, com os meios e recursos a

ela inerentes, assim como devidamente

fundamentada a decisão regional que

condenou a reclamada ao pagamento de

honorários advocatícios, não observo

violação direta e literal aos arts. 5º,

LV e 93, IX da CRFB/1988. Por fim,

conforme entendimento pacífico do TST,

conforme Súmula 221, a admissibilidade

do recurso de revista por violação tem

como pressuposto a indicação expressa

do dispositivo de lei ou da Constituição

tido como violado, pelo que a alegação

genérica de violação às Leis 1.060/1950

e 5.584/1970 não impulsiona o

conhecimento do apelo. Recurso de

revista não conhecido.

II - AGRAVO DE INSTRUMENTO DO RECLAMANTE

EM RECURSO DE REVISTA ADESIVO. Diante do

não conhecimento do apelo principal,

fica prejudicado o exame do agravo de

instrumento em recurso de revista

adesivo interposto pela

reclamada, conforme disposto no art.

art. 500, III, do CPC/1973 (atual art.

997, § 2º, III, do CPC/2015).

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso

de Revista com Agravo n° TST-ARR-9954800-71.2006.5.09.0013, em que é

Agravante e Recorrido ANELCI TONIN LOPES e Agravado e Recorrente HSBC

BANK BRASIL S.A. - BANCO MÚLTIPLO.

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O TRT da 9ª Região negou provimento ao recurso

ordinário do reclamado e deu parcial provimento ao recurso ordinário do

reclamante.

A reclamada interpôs recurso de revista, às fls.

312/354.

A reclamante interpôs recurso de revista adesivo, às

fls. 377/386.

O juízo regional de admissibilidade, às fls. 359/362

e 388/394, admitiu o recurso de revista do reclamado e negou seguimento

ao recurso de revista adesivo da reclamante, que interpôs o agravo de

instrumento de fls. 396/402.

O reclamado apresentou contraminuta e contrarrazões,

às fls. 406/417.

É o relatório.

V O T O

II - RECURSO DE REVISTA DO RECLAMADO

1 – DOENÇA DO TRABALHO. LER/DORT. RESPONSABILIDADE

CIVIL SUBJETIVA DO EMPREGADOR. CULPA, NEXO DE CAUSALIDADE E DANO.

INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. PENSÃO.

PAGAMENTO EM PARCELA ÚNICA. IMPOSSIBILIDADE DE LIMITAÇÃO À IDADE DE

APOSENTADORIA. CUMULAÇÃO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO COM PENSÃO

1.1 – Conhecimento

O Tribunal Regional, ao julgar o recurso ordinário da

reclamada, decidiu:

“DANO MATERIAL

Não concorda o Reclamado com a decisão de origem, no aspecto em

que o condenou ao pagamento de indenização por danos materiais em razão

do reconhecimento de doença ocupacional (fls. 2376/2382). Sustenta que a

Autora não desempenhava atividades com movimentos repetitivos,

acrescentando que sempre observou as pausas previstas pelas normas de

segurança e medicina do trabalho, bem como supervisionava a prática de

ginástica laboral. Destaca que a Reclamante foi considerada apta em todos os

exames periódicos realizados, sendo que as moléstias que acometem a

Autora "somente foram alegadas após o desligamento desta do quadro

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funcional do Recorrente, na medida em que, enquanto empregada ativa,

nenhuma queixa relatou" (fl. 2428). Observa que a causa da moléstia que

acomete a Autora pode estar relacionada aos hormônios liberados durante as

gestações, uma vez que os exames juntados aos autos são posteriores aos

períodos em que a Autora estava grávida e, do mesmo modo, os primeiros

sinais da doença somente surgiram somente após a segunda gestação. Aduz

que o próprio laudo pericial produzido nos autos de RT

10995-2002-013-09-00-4 concluiu pela inexistência de nexo causal entre as

patologias da Autora e as atividades desempenhadas para o Reclamado.

Argumenta que se o labor para o Reclamado tivesse, de fato, desencadeado o

surgimento da doença da Reclamante, o longo tempo decorrido entre sua

dispensa até a presente data já teria sido suficiente para a melhoria de suas

condições de saúde. Ressalta que as conclusões da perícia produzida nos

autos de RT 10995-2002-013-09-00-4 devem prevalecer sobre o laudo

realizado sobre o Juízo Cível, "na medida em que, diante da EC nº 45, de

08/12/2004, a competência para julgar ações decorrentes de suposto

acidente de trabalho passou a ser da Justiça do Trabalho, razão esta que

enseja o acolhimento da prova técnica realizada perante este Juízo e não da

mesma prova técnica realizada em Juízo sabidamente incompetente" (fl.

2432). Afirma que não restaram configurados o dano, o nexo causal e a culpa

do Reclamado, requisitos ensejadores da responsabilidade civil. Postula,

portanto, a reforma da sentença, para excluir a condenação ao pagamento de

indenização por danos materiais. Sucessivamente, requer seja minorado o

valor fixado pelo Juízo de origem a título de indenização, não ultrapassando

R$10.000,00.

Sem razão.

A Reclamante alegou, na inicial (fls. 03/14), que em decorrência das

atividades laborais desempenhadas em benefício do Reclamado como caixa,

as quais eram repetitivas e exaustivas, passou a desenvolver fortes dores em

seu ombro e cotovelo esquerdos, o que culminou com a incapacidade laboral

e, em 2004, aposentadoria por invalidez pelo INSS. Afirmou que ajuizara

ação acidentária contra o INSS, em trâmite perante a Vara de Registros

Públicos, na qual obteve o reconhecimento do caráter acidentário de sua

enfermidade.

Em defesa (fls. 84/125), o Reclamado negou que as atividades

profissionais exercidas guardassem relação com a doença que em tese

acometeu a Reclamante, ressaltando que as mesmas não demandavam

qualquer esforço físico e que eram adotados todos os procedimentos de

segurança e recomendações do Ministério do Trabalho.

O Juízo de origem deferiu a juntada dos laudos periciais

produzidos nos autos de RT 10995-2002-0013-09-00-04 (fls. 193/213) e

no processo de medida cautelar 90/2006 (fls. 426/448 e 388/408) como

prova nestes autos, uma vez que envolvem as mesmas partes (fl. 383).

O nexo causal entre a doença da Reclamante e as atividades

desenvolvidas em benefício do Reclamado restou reconhecido no

acórdão proferido nos autos de RT 10995-2002-0013-09-00-04 e juntado

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a estes autos às fls. 473/507, no qual, inclusive, atuei como Relator, cujos

fundamentos transcrevo a seguir (fls. 489/492): Os documentos carreados aos autos demonstram o nexo causal

entre a doença e as atividades da Autora. As declarações e atestados

médicos de fls. 33/45, evidenciam que a Reclamante apresentou a

moléstia ainda enquanto estava em vigência o contrato de trabalho.

Observe-se, nesse sentido, as anotações constantes nos prontuários de

fls. 33/35. Nesses documentos, já na data de 25 de outubro de 2.001, a

Reclamante apresentou queixa de dor no ombro esquerdo, quando foi

atendida pela Drª Mariza Penkal, que a encaminhou ao Dr. Fernando

Tenius, que assim atestou acerca do estado de saúde da Reclamante,

em 22 de novembro de 2.001: "Lesão em região de ombro E

compatível com lipoma" (fl. 33), situação que se estendeu nos demais

meses, inclusive, com "piora de dor" e indicação para terminar as

sessões de fisioterapia (fl. 33, verso), conforme atesta a Drª Mariza

Penkal, em 25 de janeiro de 2.002.

O exame de ressonância magnética de fl. 36 (16 de maio de

2.002), evidencia problemas nos tendões (tendinite), assim como os

atestados de fls. 38/41 deixam claro que a Reclamante era portadora de

doença inflamatória, com acompanhamento ortopédico desde o ano de

2.001 (fl. 40), necessitando, inclusive, de atendimento fisioterápico (fl.

39). Finalmente, a declaração de fl. 45 não deixa dúvidas quanto ao

fato de que a doença, no mínimo, se agravou em decorrência do

trabalho. Ainda que mencionados documentos tenham sido elaborados

após a tentativa de dispensa ocorrida em 07.05.02, evidenciam que, em

verdade, a Reclamante estava em tratamento de saúde desde o ano de

2.001.

É comum que os movimentos repetitivos, a que são submetidos

os empregados em funções similares à da Autora, produzem efeitos

lesivos, desencadeando com freqüência moléstias assemelhadas às

adquiridas pela Reclamante. Logo, a própria atividade desenvolvida

pela Reclamante representava um importante fator de risco, do qual

não pode agora a Reclamada pretender se esquivar.

Frise-se que a função de caixa bancário (função exercida desde a

contratação ocorrida em setembro/86 até julho/98, quando passou a

trabalhar como técnico de agência), consoante Relatório Anual do

NUSAT (In OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Proteção Jurídica à

Saúde do Trabalhador. São Paulo: LTr, 2002. p. 306.), representava,

em 1996, o terceiro maior índice de acometimento da doença,

perdendo apenas para as funções de auxiliar de escritório e digitador.

Note-se que a Perita relatou a existência de doença já no ano de

2.001: 'A primeira menção de doença da autora ocorre no ano de 2001

quando autora apresenta dor no ombro esquerdo procura médico

(prontuários em folhas 33 a 35 dos autos) e, é diagnosticado um cisto

em região do bíceps esquerdo que posteriormente é retirado (agosto de

2002) e, segundo o parecer do neurologista da autora em constante no

anexo 1 tratava-se de um lipoma' (fl. 783).

(...)

É certo que o laudo pericial concluiu que a "doença da autora

não tem relação com o trabalho desempenhado" (fl. 785). Entretanto,

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tal conclusão foi justificada na premissa de que para 'se caracterizar

que uma doença foi ocasionada pelo trabalho, a execução deste

trabalho deve exigir o uso repetido de grupos musculares ou, o uso

forçado de grupos musculares ou manutenção de uma postura

inadequada. O trabalho da autora não contempla esses requisitos pois

era um trabalho diversificado e o grupo muscular no qual a autora

apresenta doença, quando lesionado profissionalmente, ocorre em

atividades que exijam manter os braços elevados acima de 90 graus

com uso de força' (fl. 784). Essa premissa, com a devida vênia, no caso,

não se sustenta, não só em face do Relatório Anual do NUSAT, acima

mencionado, o qual demonstra a potencialidade da função exercida

gerar a moléstia, como também porque os demais elementos

constantes dos autos demonstram que a moléstia foi adquirida no curso

do contrato e não há evidência de outros fatores que a geraram.

Ademais, o Juiz não está adstrito ao laudo pericial quando, como no

caso, existem outros elementos nos autos que autorizam conclusão

diversa. Nesse sentido preconiza o art. 131 do CPC."

Consoante exposto no referido acórdão, os documentos juntados aos

autos, consistentes em exames médicos, atestados e declarações, são

suficientes para afastar as conclusões do laudo pericial de fls. 193/213, uma

vez que apontam para a existência de nexo causal entre a doença da Autora e

as atividades desempenhadas, bem como para o fato de que a doença foi

adquirida durante a vigência do pacto laboral, não havendo quaisquer

indícios de outros fatores que poderiam tê-la ocasionado.

Também o laudo pericial de fls. 426/448, produzido no processo de

medida cautelar 90/2006 e adotado como prova nestes autos, após análise das

condições de trabalho e dos documentos médicos, foi conclusivo no sentido

de que a doença diagnosticada (tendinite do músculo supra espinhoso do

ombro esquerdo de evolução crônica) possui relação com as atividades

laborais realizadas pela Reclamante em benefício do Reclamado. Ao avaliar

o local de trabalho da Autora, concluiu a perícia que "as operações com o

membro superior esquerdo era numerosas e utilizadas em todos os

procedimentos de trabalho", sendo que "o trabalho com este membro era

feito sem apoio (abrir envelopes, conferência, passagem do documento pela

leitora e autenticadora) e a obrigava permanentemente a uma postura

estática, estando o membro superior esquerdo permanentemente sem apoio"

(fl. 435). Ressaltou o expert que a postura estática principalmente com o

membro superior esquerdo sem apoio "força toda a musculatura do membro

e da cintura escapular" (fl. 436). Constatou, ainda, que as atividades

laborativas eram invariáveis e monótonas (fl. 437) e que não eram instituídas

pausas (fl. 436).

Vale anotar que, diferentemente do que alega o Reclamado, o

perito esclareceu que as lesões da Reclamante surgiram

aproximadamente um ano após o parto e, ainda, respondeu

negativamente ao ser indagado se a patologia tem como causa os

hormônios produzidos pelo organismo durante a gestação (fl. 439), não

havendo nos autos quaisquer elementos de prova em sentido contrário.

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Diante disso, reputo devidamente comprovado o nexo de

causalidade entre a doença que acometeu a Reclamante e suas

atividades profissionais.

No tocante à culpa do empregador é, ao meu ver, consequência lógica

da moléstia sofrida pela Reclamante.

O empregador, que detém o poder de dirigir a força de trabalho que lhe

é colocada à disposição em face do contrato de trabalho (art. 2º, CLT) tem,

em consequência, o dever de propiciar ambiente harmônico e saudável para

os seus empregados, protegendo a sua integridade física. Por sinal,

constitui-se obrigação do empregador cumprir as normas de segurança e

medicina do trabalho, instruir os empregados "quanto às precauções a tomar

no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais", bem

como "adotar as medidas que lhes sejam determinadas pelo órgão regional

competente" (art. 157, CLT).

Portanto, se o empregado adquiriu a doença em face da prestação de

serviço, presume-se que o empregador tenha inobservado estas normas

preventivas. Logo, incumbe a este afastar esta presunção, comprovando a

adoção de todas as medidas preventivas, ou seja, que o empregado adquiriu a

doença apesar da estrita observância às medidas legais e regulamentares

preventivas.

Este entendimento encontra respaldo na jurisprudência, não só no

âmbito da Justiça do Trabalho: "TENOSSINOVITE - LER - EMISSÃO DA CAT

CONFISSÃO DO DANO - NEXO CAUSAL PRESUMIDO -

INEXISTÊNCIA DE PROVA EM CONTRÁRIO - PEDIDO DE

INDENIZAÇÃO PROCEDENTE - Em se tratando de "ler" confessado

e não impugnado, adquirido nas dependências da empregadora, onde o

empregado exercia atividade repetitiva, com emissão da CAT

informando o acidente do trabalho por tenossinovite, acarreta a

obrigação do empregador comprovar a falta ou existência de outro

nexo causal, ou que a atividade encetada pelo funcionário, por si só,

não seria apta a acarretar aquela doença ou comprovar a existência de

qualquer concausa ou mesmo que tomou todos os cuidados que

afastariam o "ler" de forma eficaz no ambiente do trabalho e na função

exercida. Não se desincumbindo a empregadora do ônus de elidir a

prova feita pelo empregado, configura-se a sua responsabilidade civil.

O valor do dano moral decorrente da incapacidade que levou à

aposentadoria precoce decorrente de acidente do trabalho pode tomar

como parâmetro, à falta de outros, o tempo de serviço na empresa e o

valor do salário, aplicando-se percentual que, apenas como norte,

poderá variar entre 8% a 40% da sua soma, considerados em alguns

diplomas legais como parâmetro para indenização na aposentadoria,

pois aí se estará considerando a capacidade econômica do ofendido e

retribuindo proporcionalmente a sua dedicação ao serviço,

observando-se nessa fixação os demais critérios que determinam a

responsabilidade civil, como o grau de culpa do empregador e a sua

capacidade econômica." (TAMG - AC 0319741-1 - 1ª C.Cív. - Relª

Juíza Vanessa Verdolim Andrade - J. 21.11.2000)

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2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

Mesmo que assim não fosse, o empregador assume os riscos da

atividade econômica que desempenha, pelo que também haveria de

responder pelos danos sofridos pelos empregados em razão dela.

Nesse sentido, vale transcrever as palavras de José Affonso Dallegrave

Neto: Dessa feita, ao invés de manifestar preocupação de vincular a

indenização ao ato ilícito, passou-se a priorizar ressarcimento ao dano:

a vítima, antes colocada num plano secundário, sendo dela, inclusive, o

ônus da prova da culpa, passa a ser vista pelo Direito como sujeito

prioritariamente tutelado. O dever de indenizar, em face da nova teoria

do risco, independe da prova ou da existência de culpa do agente. De

conseqüência, rompe-se o dogma positivista segundo o qual somente é

indenizável o dano causado pela culpa demonstrada pelo ofensor.

9. Em razão disso, a responsabilidade civil, outrora insuficiente

para atender a reparação do dano, evolui em seus fundamentos para

alcançar, em número maior, a reparação das lesões existentes. A opção

em tutelar a vítima é emblemática, a fim de demonstrar o novo

paradigma da ordem jurídica, orientada no solidarismo constitucional

(art. 3º, I CF/88) que objetiva tutelar a dignidade do trabalhador visto

como ser humano, (art. 1º,III CF/88) propugnando pela função social

da empresa e pela restauração da justiça comutativa quebrada pela

superveniência de danos contratuais (art. 5º, X, da CF/88 e art. 944 do

novo CC) (in: Responsabilidade civil no direito do trabalho: dano

moral e material, acidente e doença do trabalho, dano pré e

pós-contratual, responsabilidade subjetiva e objetiva, dano causado

pelo empregado, assédio moral e sexual. São Paulo: LTr, 2005, p. 101).

Desse modo, resta configurada a culpa do Reclamado, no âmbito

de sua responsabilidade subjetiva, eis que este não adotou medidas

necessárias e suficientes para prevenir e evitar a doença profissional que

acometeu a Reclamante.

Frise-se que não se está aqui reconhecendo a aplicação da

responsabilidade objetiva, mas sim constatando que houve, sim, culpa

da empregadora, logo no âmbito da responsabilidade subjetiva.

Assim, constatado o nexo de causalidade entre a doença que

acometeu a Reclamante e as atividades laborais por ela desempenhadas,

bem como a culpa do Reclamado, este deve indenizar eventuais danos

causados à empregada, na forma dos arts. 186, 187 e 927, do Código

Civil.

Quanto aos danos materiais, observe-se que a reparação do ato ilícito

que resulta na impossibilidade do ofício ou profissão compreende, nos

termos do art. 950 do Código Civil, além das despesas de tratamento e lucros

cessantes, pensão correspondente "à importância do trabalho para que se

inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu". Portanto, a pensão mensal

(que no caso foi fixada de uma única vez, no valor de R$50.000,00) visa a

reparar o dano material causado à Reclamante em decorrência da doença, ou

seja, tem por finalidade ressarcir, observada a perda parcial da capacidade

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laborativa que sofreu a empregada, o que esta vai deixar de ganhar em

decorrência da incapacidade parcial para o labor.

Se não bastasse isso, evidentemente que a redução da capacidade

laboral representa obstáculo não só de ordem profissional, causando

restrição de atividades passíveis de serem exercidas, como também de

natureza social, dificultando tanto a obtenção de emprego, como a

convivência social e profissional. Também, não há dúvida que impõe grande

dificuldade na progressão na carreira.

Consoante já exposto anteriormente, o laudo médico pericial de fls.

426/448 é conclusivo ao reconhecer o nexo de causalidade entre as

atividades desempenhadas para o Reclamado e a moléstia da Autora,

atestando que "existe restrição para a execução de trabalhos que exijam

movimentos repetitivos, posturas inadequadas e outras características

semelhantes ao trabalho que executava para a requerida" (fl. 438),

concluindo que, embora a incapacidade da Reclamante seja parcial (fl.

439), "a autora deve ficar afastada dos fatores de risco que produziram a

doença", não podendo exercer a função antes desempenhada para o

Reclamado (fl. 445).

Na lição de Sebastião Geraldo de OLIVEIRA, "A idéia central de

reparação resume-se na recomposição do patrimônio do acidentado ao

mesmo patamar existente antes do acidente, pela lógica da equivalência

matemática" (Proteção Jurídica à Saúde do Trabalhador. 4 ed. São Paulo:

LTr, 2002. p.255). Para Maria Helena Diniz: "(...) o dano patrimonial mede-se pela diferença entre o valor do

patrimônio da vítima e aquele que teria, no mesmo momento, se não

houvesse a lesão. O dano, portanto, estabelece-se pelo confronto entre

o patrimônio realmente existente após o prejuízo e o que

provavelmente existiria se a lesão não se tivesse produzido" (ob. cit, p.

256).

Feitas essas considerações, tendo em vista que restou comprovado o

nexo causal e a culpa do Reclamado no evento danoso e considerando

também a incapacidade parcial e o fato de que a Reclamante, atualmente,

encontra-se aposentada por invalidez, reputo razoável o valor fixado pelo

Juízo de origem (R$50.000,00 - fl. 2381) a título de indenização por danos

materiais.

Mantenho, portanto.”

O Tribunal Regional, ao julgar o recurso ordinário da

reclamante, majorou o valor da condenação por danos materiais, pelos

seguintes fundamentos:

“DANO MATERIAL

Não concorda a Reclamante com o valor arbitrado pelo Juízo de

origem a título de danos materiais. Sustenta que a decisão viola o disposto no

art. 42 da Lei 8.213/91, vez que a Reclamante se encontra aposentada por

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invalidez pelo órgão previdenciário. Assevera que o mero afastamento das

atividades consideradas de risco não implica na cura imediata das moléstias.

Afirma que a Autora está incapacitada para o exercício das atividades

anteriormente exercidas. Postula, desse modo, a reforma da decisão,

condenando o Reclamado ao pagamento de pensão mensal vitalícia

correspondente a 100% de sua remuneração. Sucessivamente, requer "a

adoção de percentual que efetivamente reflita a perda econômica,

compatível com a perda da capacidade da Autora" (fl. 2399). Pugna, ainda,

que seja fixada a data do primeiro afastamento previdenciário como marco

inicial do pensionamento.

Com parcial razão.

Consoante já exposto por ocasião da análise do recurso ordinário do

Reclamado, inegável o nexo causal entre a doença da Autora e as atividades

desempenhadas, bem como a culpa do Reclamado, a qual é consequência

lógica da moléstia sofrida pela Reclamante. Faz jus a Reclamante, portanto, à

indenização pelos danos materiais sofridos, na forma dos arts. 186 e 927, do

Código Civil.

A pensão mensal visa a reparar o dano material causado ao

trabalhador em decorrência da doença, ou seja, tem por finalidade

ressarcir, observada a perda da capacidade laborativa que sofreu o

empregado, o que este vai deixar de ganhar em decorrência

incapacidade parcial para o labor. Assim, considerando a incapacidade

total da Reclamante para o trabalho, uma vez que esta se encontra

aposentada por invalidez (fl. 423), entendo que o pensionamento deveria

ser fixado em valor mensal correspondente a 100% do salário auferido

pela Autora.

Diferentemente do que alega a Autora, entendo que o marco

inicial do pensionamento deve ser a data da aposentadoria por invalidez

(27.08.2004 - fl. 423), considerando que, nos autos de RT

10995-2002-0013-09-00-04, restou deferido à Reclamante indenização

composta pelos salários e demais vantagens devidos mensalmente até a

data da concessão da aposentadoria por invalidez (fl. 496).

Por outro lado, no que tange ao termo final do pensionamento,

considerando que a Reclamante se encontra aposentada por invalidez,

não se cogita da limitação da pensão até os 65 anos de idade, já que o

pensionamento deve ser por todo o período da incapacidade. No caso,

contudo, tendo em vista o pedido contido na inicial, no sentido de que a

pensão fosse deferida em uma única parcela, na forma do art. 950, parágrafo

único, do Código Civil, fixo que o pensionamento seja calculado até os 79

anos de idade da Autora, com base na tábua de mortalidade do IBGE.

Logo, considerando tais pressupostos, bem como a idade da

Reclamante na data da aposentadoria (41 anos), a data em que

completaria 79 anos, a última remuneração recebida (R$1.804,56 - fl.

132), bem como o pagamento em uma única vez da indenização por

danos materiais, entendo que o valor merece ser majorado para R$

267.000,00, o que equivale a aproximadamente 30% do que receberia se o

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pensionamento fosse mensal [R$ 1.804,56) x 494 (nº de meses por ano mais

13º salário)], com juros e correção monetária a partir da data deste

julgamento.

Reformo, portanto, para majorar a indenização por danos materiais

para R$ 267.000,00.”

Consta do acordão proferido no julgamento dos embargos

de declaração:

“INDENIZAÇÕES - AUSÊNCIA DE NEXO CAUSAL

Insurge-se o Embargante contra o acórdão, no que manteve a sentença

quanto ao reconhecimento do nexo de causalidade entre a moléstia da qual a

Autora é portadora e as atividades desempenhadas em benefício do

Reclamado. Sustenta que restou confirmado pela prova pericial que outras

causas podem ter contribuído para o adoecimento da Reclamante, razão pela

qual requer a transcrição da conclusão do laudo pericial produzido na RT

10995/2002 "quanto à inexistência de doença ocupacional, ou com nexo

com o trabalho, independentemente da conclusão a que chegou a C. Turma

acerca das demais circunstâncias" (fl. 2475-verso). Afirmando que "os

demais elementos de convicção que estariam a dispensar as conclusões

negativas do laudo pericial devem ser robustos" (fl. 2475-verso), pretende

que seja esclarecido se tais elementos são suficientes para o afastamento do

nexo técnico, com fundamento no art. 20, § 1º, 'c', da Lei 8.213/91.

Sem razão.

Os embargos de declaração são cabíveis para as hipóteses em que a

decisão apresenta obscuridade, contradição ou omissão, conforme preceitua

o art. 535, do CPC, vícios que, por sinal, sequer foram apontados pelo

Reclamado. Em verdade, as alegações trazidas pelo Embargante apenas

demonstram a nítida intenção de promover o reexame da matéria e a reforma

do julgado, o que é inviável nas estreitas vias deste instrumento processual.

Na hipótese, a decisão embargada expressa de forma clara os

fundamentos pelos quais se entendeu comprovado o nexo causal entre a

doença que acometeu a Reclamante e o labor prestado em favor da

Reclamada, analisando pormenorizadamente todas as provas constantes dos

autos, notadamente as provas periciais produzidas e o fato de o nexo de

causalidade já ter sido reconhecido no acórdão proferido nos autos de RT

10995-2002-0013-09-00-4 (fls. 2461-verso/2464).

Ressalte-se que a conclusão constante do laudo pericial produzido nos

autos de RT 10995-2002 foi afastada pelos demais elementos probatórios

dos autos, consistentes em exames médicos, atestados e declarações, bem

como pelas conclusões do laudo pericial produzido no processo de medida

cautelar 90/2006, consoante já fundamentado no acórdão embargado.

Cumpre ressaltar, ainda, que inexiste a obrigatoriedade de transcrição

integral da conclusão do laudo pericial produzido na RT 10995/2002, desde

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que devidamente fundamentada a decisão, como se verifica na hipótese em

tela.

Assim, reputo que a matéria foi devidamente apreciada, sendo

suficiente a motivação do julgado para fins de prequestionamento (súmula nº

297, do TST) e prescindível qualquer esclarecimento adicional.

Rejeito.

(...)

INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS

Alegando que "a parcial perda funcional de um dos membros

superiores não pode redundar em reconhecimento de incapacidade total

(100%), como definido na r. decisão" (fl. 2477), pretende o Reclamado que

seja reduzido o percentual de incapacidade para 12,5% do salário básico da

Reclamante. Sucessivamente, requer "a adoção de tese cerca da ausência de

comprovação ou indicação da percentagem de redução, e que os elementos

dos autos não indicam que que o grau dessa redução é aquele reportado, ou

de 100%, até porque isso depende de prova cujo ônus era da autora e do

qual não se desincumbiu" (fl. 2478).

Quanto ao termo final do pensionamento, sustenta o Embargante que

"a manutenção do pensionamento até quando a vítima completasse 79

(setenta e nove) anos de idade importa na assunção de que a autora não se

aposentaria e que teria capacidade para o trabalho até referida idade" (fl.

2478). Assevera que não há fundamento legal para o pensionamento de

forma vitalícia, sendo que o entendimento nesse sentido viola o disposto no

art. 944, do Código Civil. Invocando o art. 201, § 7º, inc. II, da Constituição

Federal, destaca que o pensionamento deve se estender até a aposentadoria

da Autora ou, no máximo, até que esta complete 65 anos de idade.

Aduz, por último, ser indevida a cumulação da aposentadoria por

invalidez do INSS com a indenização por danos materiais, alegando que,

como o benefício previdenciário possui caráter alimentar,

"incontroversamente supre a necessidade de auferimento de renda,

descaracterizando possível situação de cessação de lucros" (2478-verso),

razão pela qual prequestiona os arts. 402 e 403, ambos do Código Civil.

Sem razão.

Novamente, observo que o Reclamado não aponta qualquer omissão,

contradição ou obscuridade no julgado, sendo que as razões trazidas pelo

Embargante apenas demonstram a nítida intenção de promover o reexame da

matéria e a reforma do julgado, o que, conforme já dito, é inviável por meio

deste instrumento processual

A decisão embargada expressa de forma clara e fundamentada as

razões pelas quais entendeu que o pensionamento deveria corresponder

a 100% do salário auferido pela Autora, considerando, sobretudo, a

incapacidade total da Reclamante para o trabalho, uma vez que esta se

encontra aposentada por invalidez (fl. 2466).

Ademais, restou expressamente consignado no acórdão embargado

que "considerando que a Reclamante se encontra aposentada por invalidez,

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não se cogita da limitação da pensão até os 65 anos de idade, já que o

pensionamento deve ser por todo o período da incapacidade" (fl. 2466).

Frise-se, por último, que a matéria foi analisada dentro dos limites

recursais, de modo que não se justificava qualquer manifestação na decisão

embargada no que tange à tese sobre a impossibilidade de cumulação da

aposentadoria por invalidez do INSS com a indenização por danos materiais,

uma vez que não restou devidamente aventada no recurso do Reclamado.

Desse modo, não sendo apontada omissão, contradição ou obscuridade

passível de correção através de embargos e sendo suficiente a motivação do

julgado para fins de prequestionamento (Súm. 297/TST), desnecessário

esclarecimento adicional.

Rejeito, portanto.”

O reclamado insurge-se contra a decisão regional ao

argumento de que não teriam sido demonstrados os requisitos ensejadores

da responsabilidade civil subjetiva, dano, nexo de causalidade e culpa.

Sustenta que a perícia inconclusiva implica a

impossibilidade de responsabilização civil da reclamada.

Aduz que a pensão deve ser limitada até os 65 anos de

idade.

Pretende que seja reduzido o percentual de de pensão

com base em incapacidade correspondente a 12,5% do salário básico da

reclamante.

Defende a tese de impossibilidade da cumulação da

indenização por danos materiais com benefício previdenciário.

Aponta violação dos arts. 186, 403, 942 E 950 do Código

Civil, 818 da CLT, bem como transcreve arestos ao confronto de teses.

Analiso.

O Tribunal Regional, com amparo nas provas produzidas

nos autos, especialmente o laudo pericial, concluiu pela existência do

nexo de causalidade entre a doença da reclamante (tendinite do músculo

supra espinhoso do ombro esquerdo de evolução crônica), que ensejou

aposentadoria por invalidez, e o trabalho desempenhado na reclamada, a

qual agiu com culpa, uma vez que não adotou medidas necessárias e

suficientes para prevenir e evitar a doença profissional.

Nesse contexto, restam presentes todos os requisitos

ensejadores da responsabilidade civil subjetiva, nexo de causalidade,

culpa e dano, na forma dos artigos 186 e 927, caput¸ do Código Civil.

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Para se chegar à conclusão oposta e entender quaisquer

dos requisitos ensejadores da responsabilidade civil, como pretende a

reclamada, seria necessário o revolvimento de fatos e provas, o que é

vedado pela Súmula 126 do TST.

Portanto, a ofensa sofrida resultou defeito pelo qual

a ofendida não pode exercer o seu ofício ou profissão, o que enseja o

dever de reparação da reclamada, nos termos do art. 950 do Código Civil.

No caso, o TRT registra que a reclamante teve perda

parcial da capacidade de trabalho, encontra-se aposentada por invalidez,

e não pode mais exercer a função antes desempenhada para o reclamado.

Assim, sem cogitar limitação da pensão até a idade da

aposentadoria e estabelecendo a data da aposentadoria por invalidez como

termo inicial do pagamento, o Regional concluiu que o pensionamento

deveria ser fixado em valor mensal correspondente a 100% do salário

auferido pela autora, pelo que majorou a condenação de R$ 50.000,00

(cinquenta mil reais) para R$ 267.000,00 (duzentos e sessenta e sete mil

reais), a ser pago em parcela única, equivalente a aproximadamente 30%

do que receberia se o pensionamento fosse mensal.

O entendimento deste Tribunal Superior vai ao encontro

ao que concluiu o TRT, uma vez que o art. 950 do Código Civil dispõe que

a pensão mensal deve corresponder à importância do trabalho para o qual

o empregado se inabilitou, que, no caso, representa o percentual de 100%.

Nesse sentido, cito precedentes:

"RECURSO DE EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA DA

RECLAMADA. INTERPOSIÇÃO SOB A ÉGIDE DA LEI 11.496/2007.

ACIDENTE DE TRABALHO. PERFURAÇÃO DO OLHO ESQUERDO.

MARCENEIRO. INCAPACIDADE TOTAL E PERMANENTE PARA A

PROFISSÃO. INCAPACIDADE PARCIAL PARA O TRABALHO.

PENSÃO MENSAL. VALOR INTEGRAL. 1. Acerca da atividade do

reclamante e da capacidade laboral, o Tribunal regional consignou que

""Inconteste, ainda, que o reclamante exercia a função de marceneiro.

Determinada a realização de perícia médica, a fim de apurar o grau de

incapacidade, o expert nomeado concluiu pela incapacidade parcial e

permanente do autor, bem como pela incapacidade total ' para atividades que

requeiram função estereoscópica perfeita tais como trabalhos em níveis

elevados, percepção correta de distâncias de objetos em movimento,

maquinário pesado com possibilidade de trauma em decorrência de erro na

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noção de profundidade ou distância, trabalhos a uma curta distância do olho

(a aproximadamente um metro), a operação de veículos e trabalhos que

exijam vigilância visual prolongada como no uso de ferramentas elétricas, a

medição correta e o corte de materiais.' (fl. 746). (...) Extrai-se dos termos do

laudo pericial produzido pela oftalmologista (...) que a função de marceneiro,

executada pelo reclamante, exige ' função estereoscópica perfeita' , bem

como que o autor não poderá ser reabilitado nessa função, ou, em outra que

exija tal qualidade da visão". Entretanto, a Turma não conheceu do recurso

de revista, mantendo o valor da pensão considerando percentual de perda

laboral de 35% (trinta e cinco por cento) e não de 100% (cem por cento)

como pretendeu o reclamante. 2. Nesse contexto descrito no acórdão da

Turma, em que o reclamante ficou incapacitado de forma total e permanente

para o exercício da função de marceneiro, que segundo o laudo, "exige '

função estereoscópica perfeita' ", o valor a ser considerado no cálculo da

indenização por danos materiais é aquele correspondente a 100% (cem por

cento) de perda. 3. É que o grau de incapacidade - se total ou parcial - deve

ser aferido à luz da profissão exercida pela vítima, entendimento que

encontra respaldo no princípio da restitutio in integrum e nas disposições

contidas no art. 950 do CC ("Se da ofensa resultar defeito pelo qual o

ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a

capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do tratamento e

lucros cessantes até o fim da convalescença, incluirá pensão correspondente

à importância do trabalho para que se inabilitou ou da depreciação que ele

sofreu" - destaquei). 4. Tal conclusão não é alterado pelo fato de o

trabalhador poder desempenhar atividades laborais distintas daquelas

executadas em benefício da reclamada. A possibilidade de trabalho em outra

função não anula a efetiva perda da capacidade para o exercício de "seu

ofício ou profissão", pressuposto legal apto a ensejar o pagamento de pensão

mensal integral, nos moldes previstos no dispositivo transcrito e que restou

demonstrado in casu. Precedentes. Recurso de embargos conhecido e

provido". (E-ED-RR - 57685-09.2006.5.10.0015 , Relator Ministro: Hugo

Carlos Scheuermann, Data de Julgamento: 10/12/2015, Subseção I

Especializada em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT

18/12/2015)

"RECURSO DE EMBARGOS INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA

LEI Nº 11.496/2007. DANOS MATERIAIS. ACIDENTE DO

TRABALHO. PENSÃO MENSAL. ARTIGO 950 DO CÓDIGO CIVIL. 1.

Nos termos do disposto no artigo 950 do Código Civil se, do ato ilícito

praticado pelo empregador, resultar lesão ao empregado que o impeça de

'exercer o seu ofício ou profissão', a indenização por danos materiais, paga na

forma de pensionamento mensal, corresponderá 'à importância do trabalho

para que se inabilitou'. 2. Extrai-se, do referido preceito legal, que a intenção

do legislador, ao vincular o valor da indenização por danos materiais 'à

importância do trabalho para que se inabilitou, teve como objetivo tutelar as

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consequências jurídicas e fáticas decorrentes do ato ilícito praticado pela

empresa, que conduziu à incapacidade da empregada para 'exercer o seu

ofício ou profissão'. Tal conclusão revela-se consentânea com o disposto no

artigo 944 do Código Civil, por meio do qual se estatui que o valor da

indenização 'mede-se pela extensão do dano'. 3. A extensão do dano, na

hipótese de perda ou redução da capacidade para o trabalho, deve ser aferida

a partir da profissão ou ofício para o qual a empregada ficou inabilitada, não

devendo ser adotado, como parâmetro para fixação do dano, a extensão da

lesão em relação à capacidade para o trabalho considerada em sentido amplo,

porquanto inaplicável, em tais circunstâncias, a regra geral prevista no artigo

944 do Código Civil, em razão da existência de norma regendo de forma

específica tal situação (artigo 950 do Código Civil). 4. Tal raciocínio, longe

de conduzir ao enriquecimento indevido do empregado, assegura o

cumprimento da finalidade teleológica da lei, ao sancionar a conduta ilícita

do empregador que, ao deixar de observar os deveres que resultam do

contrato de emprego, deixa de propiciar a seus empregados um

meio-ambiente de trabalho sadio, desatendendo à função social da empresa e

da propriedade privada. 5. Cumpre ressaltar, ainda, que a fixação do valor da

indenização, a partir da incapacidade para todo e qualquer trabalho,

equipararia a indenização prevista no artigo 950 do Código Civil à reparação

por lucros cessantes, indenizando apenas a redução da força física de

trabalho e não a incapacidade para o desempenho de 'ofício ou profissão'.

Ressalte-se que o próprio artigo 950 do Código Civil distingue a indenização

em forma de pensão da figura dos lucros cessantes, ao prever o pagamento de

pensão 'além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da

convalescença'. 6. Na hipótese dos autos, a reclamante, em razão da conduta

ilícita do empregador, ficou totalmente incapacitada para o ofício que exercia

na empresa reclamada e para o qual se capacitara profissionalmente,

sendo-lhe devida, portanto, pensão mensal no valor de 100% de sua última

remuneração. 7. Recurso de embargos conhecido e provido." (E-RR -

147300-11.2005.5.12.0008, Redator Ministro: Lelio Bentes Corrêa,

Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, DEJT 21/08/2015)

"I - RECURSO DE REVISTA DA RECLAMADA. (...) II -

RECURSO DE REVISTA DA RECLAMANTE. 1 - INDENIZAÇÃO POR

DANOS MATERIAIS. PENSÃO MENSAL. INCAPACIDADE TOTAL

PARA O EXERCÍCIO DAS FUNÇÕES ANTERIORMENTE

EXERCIDAS. FIXAÇÃO DO VALOR DA INDENIZAÇÃO EM 100% DA

ÚLTIMA REMUNERAÇÃO. Nos termos do art. 950 do Código Civil, a

fixação da pensão devida à vítima do dano deve levar em conta o trabalho

para o qual se inabilitou, ou seja, o ofício desempenhado ao tempo da lesão,

ou a depreciação que ele sofreu, não refletindo na quantificação da

indenização o fato de o obreiro poder exercer outra atividade. A pensão

prevista no indigitado dispositivo de lei tem como objetivo ressarcir o

empregado pela depreciação da sua força de trabalho. Dessa forma,

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2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

evidenciada no acórdão recorrido a incapacidade total da obreira para o

exercício da mesma função anteriormente exercida empresa reclamada,

merece reforma a decisão do Tribunal Regional para deferir uma

pensãomensal vitalícia em 100% da última remuneração percebida.

Precedentes. Recurso de revista conhecido e parcialmente provido. (...)" (

RR - 361-91.2010.5.09.0001 , Relatora Ministra: Delaíde Miranda Arantes,

Data de Julgamento: 14/12/2016, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT

19/12/2016)

I - AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA

INTERPOSTO ANTES DA LEI N.º13.015/2014. DOENÇA DO

TRABALHO. INCAPACIDADE TOTAL PARA AS TAREFAS

ANTERIORMENTE EXERCIDAS. PENSÃO MENSAL. EXERCÍCIO DE

ATIVIDADE DIVERSA. VALOR INTEGRAL DA REMUNERAÇÃO.

Ante a possível violação ao art. 950 do Código Civil, deve ser provido o

agravo de instrumento. II - RECURSO DE REVISTA DOENÇA DO

TRABALHO. INCAPACIDADE TOTAL PARA AS TAREFAS

ANTERIORMENTE EXERCIDAS. PENSÃO MENSAL. EXERCÍCIO DE

ATIVIDADE DIVERSA. VALOR INTEGRAL. O Tribunal Regional

manteve a condenação da reclamada ao pagamento de indenização por danos

materiais, na modalidade pensão mensal vitalícia, no importe de 20% do

salário do reclamante, devido às lesões irreversíveis na sua coluna cervical

decorrentes do desempenho das suas atividades de saqueiro. Consignou o

TRT que a reclamada não tinha um programa eficiente de combate a doenças

ocupacionais, agindo com culpa no evento lesivo. Extrai-se da decisão

regional que o reclamante está total e permanentemente incapacitado para as

tarefas de saqueiro anteriormente exercidas assim como para quaisquer

atividades que demandem esforço da coluna cervical. Nesse contexto, o fato

de o reclamante poder exercer outra atividade não serve de parâmetro para a

quantificação o valor da referida indenização, uma vez que o art. 950 do

Código Civil dispõe que a pensão mensal deve corresponder à importância

do trabalho para o qual o empregado se inabilitou. Portanto, a decisão

regional que, mesmo reconhecendo a incapacidade total e permanente do

reclamante para as atividades anteriormente exercidas, limitou o valor da

pensão vitalícia em 20% do salário base do reclamante contrariou a

jurisprudência pacífica do TST, a qual entende que, em tais casos, o valor da

condenação deve ser integral, observado 100% do valor da última

remuneração do ofendido. Precedentes da SBDI-1 e desta Turma. Recurso de

revista conhecido e provido. (...) ( RR - 177700-68.2008.5.15.0024 , Relatora

Ministra: Maria Helena Mallmann, Data de Julgamento: 03/05/2017, 2ª

Turma, Data de Publicação: DEJT 12/05/2017)

No que diz respeito ao pedido de limitação da pensão

mensal até os 65 anos de idade, a decisão regional se mostra em consonância

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2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

com a jurisprudência pacífica do TST, no sentido de que o disposto no

art. 950 do Código Civil não encontra limitação na data da futura idade

de aposentadoria.

Nesse sentido, cito precedentes:

"AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.

(...) DANOS MATERIAIS. PENSÃO MENSAL. LIMITE DE IDADE.

IMPOSSIBILIDADE. Extrai-se do artigo 950 do Código Civil que a

obrigação quanto ao pagamento de pensão mensal em decorrência de dano

que diminua ou incapacite o ofendido no exercício da sua profissão não fixa

nenhuma limitação em relação ao período em que o citado auxílio deve

perdurar. Conforme o princípio da reparação integral que norteia o sistema

de responsabilidade civil, a pensão mensal, decorrente de acidente de

trabalho ou doença ocupacional, é devida de forma vitalícia. A

jurisprudência trabalhista firmou entendimento de que não é cabível

limitação temporal ao pensionamento mensal, deferido a título de

indenização por danos materiais, decorrente de acidente de trabalho. Dessa

forma, não prospera a pretensão da recorrente, de que a pensão seja limitada

à data em que o autor completar 65 anos de idade. Ocorre que, na hipótese

em comento, o Regional manteve a condenação da ré ao pagamento de

pensão mensal até o autor completar 73 anos, nos limites da inicial, em razão

da proibição da reformatio in pejus. Agravo de instrumento desprovido. (...)

(AIRR - 385-88.2010.5.15.0119 , Relator Ministro: José Roberto Freire

Pimenta, Data de Julgamento: 14/09/2016, 2ª Turma, Data de Publicação:

DEJT 16/09/2016)

(...) INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS. PENSÃO

MENSAL VITALÍCIA. LIMITAÇÃO DO PENSIONAMENTO ATÉ OS

65 ANOS DE IDADE. A Corte Regional manteve a decisão que fixou

pensão mensal vitalícia ao autor no valor equivalente à integralidade de sua

última remuneração. O art. 950 do Código Civil, que dá os parâmetros para o

valor do pensionamento, não limita o pagamento da pensão. Inclusive, vigora

o entendimento de que ela é devida até a morte do beneficiário. Não há,

portanto, nenhuma ilegalidade, em relação ao réu, na condenação à pensão

vitalícia. Precedentes. Incidência da Súmula 333/TST. Recurso de revista

não conhecido. (...) (RR - 160800-95.2007.5.15.0007 , Relator Ministro:

Alexandre de Souza Agra Belmonte, Data de Julgamento: 30/03/2016, 3ª

Turma, Data de Publicação: DEJT 01/04/2016)

RECURSO DE REVISTA. (...) PENSÃO MENSAL. REDUÇÃO

DA CAPACIDADE LABORAL PERMANENTE. LIMITAÇÃO

TEMPORAL. IMPOSSIBILIDADE. O artigo 950 do CC não fixa ou limita

o período que a pensão mensal deve perdurar, apenas estabelece que há

obrigação de seu pagamento em decorrência de dano que diminua ou

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2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

incapacite o ofendido no exercício da sua profissão. Da intelecção do

referido dispositivo também não se constata qualquer limitação ao

recebimento da pensão quer pela idade da vítima das lesões, quer pela

provável duração de sua vida. Nesse sentido, constatada a redução parcial e

permanente da capacidade laborativa, faz jus o reclamante à pensão vitalícia.

Precedentes. Recurso de revista conhecido e provido.

(RR-1140-28.2013.5.15.0016 , Relator Ministro: Aloysio Corrêa da Veiga,

Data de Julgamento: 26/10/2016, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT

28/10/2016)

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA

EM FACE DE DECISÃO PUBLICADA ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI

N.º 13.015/2014. (...) INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL. PENSÃO

MENSAL. LIMITE DE IDADE DO BENEFICIÁRIO. A jurisprudência

desta Corte Superior segue no sentido de ser incabível a limitação temporal,

quando se tratar de pensão mensal decorrente de doença laboral que reduziu

permanentemente a capacidade total ou parcial para o trabalho. Nesse caso, a

pensão mensal deve ser vitalícia. Precedentes. Agravo de instrumento a que

se nega provimento. (...) (AIRR-18300-60.2006.5.01.0482, Relator

Ministro: Cláudio Mascarenhas Brandão, Data de Julgamento: 24/08/2016,

7ª Turma, Data de Publicação: DEJT 26/08/2016)

Também está em consonância com a jurisprudência

pacífica do TST, o entendimento do TRT no sentido de que o benefício

previdenciário pode ser cumulado com a pensão mensal, uma vez que ambos

possuem naturezas e fontes distintas.

Nesse sentido, cito precedentes:

"(...) DANOS MATERIAIS. LUCROS CESSANTES. PENSÃO

MENSAL. BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. CUMULAÇÃO.

POSSIBILIDADE. A indenização por danos materiais tem caráter de

ressarcimento dos danos sofridos, abrangendo parcelas referentes aos danos

emergentes, advindos de um prejuízo imediato decorrente do acidente do

trabalho, e os danos decorrentes dos lucros cessantes, que são aqueles que

derivam de uma privação da vítima de futuros ganhos, nos termos do artigo

950 do Código Civil. Por outro lado, o benefício previdenciário tem origem

na filiação obrigatória do empregado ao Instituto Nacional do Seguro Social,

consoante a previsão da Lei nº 8.213/91, e possui natureza obrigacional e

contraprestacional, diferindo da responsabilidade civil. Nesse contexto, não

há impedimento legal para a cumulação da pensão vitalícia decorrente de

reparação por danos materiais com o valor de benefício previdenciário, por

não se tratar de parcelas que têm idêntica natureza, e diante da previsão legal

específica existente para a hipótese de pensionamento. Precedentes. Recurso

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2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

de revista não conhecido. (...)" (RR - 128-29.2011.5.12.0049 , Relator

Ministro: José Roberto Freire Pimenta, Data de Julgamento: 20/04/2016, 2ª

Turma, Data de Publicação: DEJT 29/04/2016)

"RECURSO DE REVISTA. LEI 13.015/14. DANOS

MATERIAIS. ACIDENTE DE TRABALHO. PENSÃO. CUMULAÇÃO.

BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. POSSIBILIDADE. Prevalecente nesta

Corte Superior o entendimento de que é possível a cumulação da pensão de

que trata o art. 950 do Código Civil com o benefício previdenciário, visto que

são parcelas de natureza e fontes distintas. Precedentes. Recurso de revista

conhecido por ofensa ao art. 7º, XXVIII, da CF e provido. (...)" ( RR -

748-04.2013.5.09.0195 , Relator Ministro: Alexandre de Souza Agra

Belmonte, Data de Julgamento: 15/03/2017, 3ª Turma, Data de Publicação:

DEJT 17/03/2017)

"I - RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO PELO

RECLAMADO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS. PENSÃO.

CUMULAÇÃO COM BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO.

POSSIBILIDADE. I. O art. 121 da Lei nº 8.213/91 estabelece que o

"pagamento, pela Previdência Social, das prestações por acidente de trabalho

não exclui a responsabilidade civil da empresa ou de outrem". Dessa forma,

percebe-se que a indenização por danos materiais e os benefícios

previdenciários, como é o caso da aposentadoria por invalidez, possuem

natureza jurídica distinta e podem ser cumuladas, sem que o recebimento de

uma verba implique a exclusão ou a redução da outra. II. Nesse contexto, a

decisão regional está de acordo com a jurisprudência desta Corte Superior,

no sentido de que inexiste óbice legal para a percepção simultânea de

benefício previdenciário e de indenização por danos materiais, na forma de

pensão mensal. III. Recurso de revista de que não se conhece. (...)"

(RR-709-70.2010.5.09.0014, Relatora Desembargadora Convocada: Cilene

Ferreira Amaro Santos, Data de Julgamento: 05/04/2017, 4ª Turma, Data de

Publicação: DEJT 07/04/2017)

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA

INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. (...) RECURSO

DE REVISTA. ACIDENTE DO TRABALHO. DANOS MATERIAIS.

PENSÃO MENSAL. BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. CUMULAÇÃO.

POSSIBILIDADE. I - Cinge-se a controvérsia à possiblidade de cumulação

entre o benefício previdenciário e a pensão mensal por danos materiais a

cargo do empregador. II - Importa trazer à colação o disposto no artigo 7º,

inciso XXVIII, da Constituição, que erigiu a direito social do trabalhador

"seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a

indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa". III

- Como se vê, a Carta da República contempla dupla obrigação ao

empregador no âmbito da prevenção a acidentes do trabalho, sendo a

primeira delas securitária, portanto preventiva, ao passo que a segunda é

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2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

punitiva, e por isso mesmo de incidência vinculada à comprovação da

culpabilidade. IV - É válido também o registro de que a concessão do

benefício acidentário pelo INSS não detém correlação direta com a renda

auferida pelo empregado quando do acidente, tampouco sopesará a

previdência culpabilidade e extensão do dano para a fixação do valor do

benefício. V - Ao revés, a contraprestação previdenciária toma por base

média do histórico contributivo do trabalhador, na esteira dos artigos 29, II e

61 da Lei nº 8.213/91. VI - A endossar a pretensão recursal, o artigo 121 da

Lei nº 8.213/91 dispôs expressamente que "o pagamento, pela Previdência

Social, das prestações por acidente do trabalho não exclui a responsabilidade

civil da empresa ou de outrem". VII - Quanto à responsabilização civil do

empregador por danos materiais decorrentes de acidente do trabalho, é de

aplicar-se o disposto no artigo 950 do Código Civil, no sentido de que, em

hipótese como a dos autos, o ofensor responde pelo pagamento de pensão

correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou a vítima ou

da depreciação que sofreu. O referido artigo não contempla ressalvas. VIII -

Nesse contexto, sobreleva a certeza de que o reconhecimento do direito ao

benefício previdenciário por acidente do trabalho não obsta a reparação

integral por danos materiais advindos do acidente, na hipótese do

empregador incorrer em dolo ou culpa. IX - Isto porque os direitos em voga

detêm previsão constitucional e legal específica, base de cálculo e

destinatários distintos para a obrigação, pelo que plenamente cumuláveis.

Precedentes da SBDI-I e de Turmas do TST. X - Recurso conhecido e

provido." ( ARR - 24175-41.2015.5.24.0066 , Relator Ministro: Antonio

José de Barros Levenhagen, Data de Julgamento: 29/03/2017, 5ª Turma,

Data de Publicação: DEJT 31/03/2017)

"I - RECURSO DE REVISTA. RECLAMADA. RAÍZEN

COMBUSTÍVEIS S.A. (...) PENSÃO. DANOS MATERIAIS.

CUMULAÇÃO. BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. POSSIBILIDADE. 1 -

Nos termos do art. 950, caput, do Código Civil, havendo a redução da

capacidade laborativa, total ou parcial, definitiva ou temporária, em

decorrência de dano ou lesão sofrido no exercício da profissão, a indenização

deferida pode incluir pensão correspondente à perda da capacidade. 2 - A

jurisprudência pacífica é de que a indenização por danos materiais ou de

pensão mensal e o benefício previdenciário não se confundem, pois têm

naturezas distintas: uma civil e outra previdenciária. Por conseguinte, não é

possível a compensação da indenização material com o valor pago pelo

INSS, ante a distinção entre a natureza e o objetivo de tais institutos. Há

julgados. Incidência do art. 896, § 7º, da CLT. 3 - Recurso de revista de que

não se conhece. (...)" ( ARR - 18200-73.2005.5.15.0087 , Relatora Ministra:

Kátia Magalhães Arruda, Data de Julgamento: 14/12/2016, 6ª Turma, Data

de Publicação: DEJT 19/12/2016)

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2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

Pelo exposto, não se observa as alegadas violações aos

dispositivos apontados. Incide o óbice da Súmula 333 do TST, segundo o

qual não ensejam recurso de revista decisões superadas por iterativa,

notória e atual jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho.

Não conheço.

2 – INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. AUSÊNCIA DE

PREQUESTIONAMENTO

2.1 – Conhecimento

A decisão regional foi assim exarada:

DANO MORAL COMO PRESUNÇÃO DA PATOLOGIA -

ÔNUS PROBATÓRIO

Requer o Reclamado a manifestação expressa deste Colegiado "quanto

a ter a reclamante efetivamente comprovado danos em sua esfera moral, de

molde a caracterizar o móvel ensejador da indenização, que é a ofensa ao

patrimônio juridicamente tutelado independentemente da existência ou não

de culpa" (fl. 2476), bem como "se restou caracterizado prova do dano na

esfera pessoal evidenciável ou alguma consequência psíquica relevante, de

molde a influir negativamente de forma direta e definitiva na vida pessoal da

autora, ou se, ao contrário, a configuração do dano moral, aí estaria a

decorrer de presunção como simples consequência da aquisição de doença

ocupacional" (fl. 2476).

Sem razão.

Carece de objeto a pretensão do Reclamado, uma vez que a

indenização por danos morais em decorrência de doença ocupacional sequer

foi objeto de discussão no acórdão embargado.

Nada a deferir, portanto.

A reclamada insurge-se contra a decisão regional

defendendo a tese de que a doença da reclamante, por si só, não gera um

sofrimento psíquico de modo a autorizar uma condenação por dano moral.

Transcreve arestos ao confronto de teses.

Analiso.

O TRT não se manifestou acerca dos danos morais, pelo

que a questão carece do devido prequestionamento, na forma da Súmula 297,

I, do TST.

Não conheço.

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3 – HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Consta no acordão:

“HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Requer a Reclamante a reforma da sentença, com a condenação do

Reclamado ao pagamento dos honorários advocatícios de sucumbência.

Com razão.

Prevalece nesta E. Turma o entendimento de que, nas ações em que são

postuladas indenizações por danos morais e materiais decorrentes de

acidente de trabalho/doença profissional, porque provenientes da ampliação

da competência da Justiça do Trabalho pela Emenda Constitucional n.

45/2004, são devidos honorários de sucumbência, na forma do art. 20 do

CPC.

Assim, cabível a condenação em honorários de sucumbência previstos

no artigo 20, do CPC, sobre o montante da indenização deferida.

Portanto, reformo a sentença para condenar o Reclamado ao

pagamento de honorários advocatícios de 20% sobre o valor líquido da

condenação à indenização por danos materiais decorrentes da doença

ocupacional.”

O reclamado sustenta que honorários advocatícios

devidos em caso de configuração de sucumbência recíproca devem ser pagos

pela metade.

Aponta violação dos arts. 5º, LV e 93, IX da CRFB/1988;

da Lei 1.060/1950; da Lei 5.584/1970; art. 21 do CPC/1973. Transcreve

arestos ao confronto de teses.

Analiso.

Quanto aos honorários advocatícios, nos termos do art.

3º, § 3º, da Instrução Normativa nº 27 do TST, o princípio da sucumbência

recíproca não se aplica às lides decorrentes da relação de emprego antes

da reforma trabalhista, pelo que a condenação não viola literalmente o

art. 21 do CPC/1973.

Assegurado o contraditório e ampla defesa, com os

meios e recursos a ela inerentes, assim como devidamente fundamentada

a decisão regional que condenou a reclamada ao pagamento de honorários

advocatícios, não observo violação direta e literal aos arts. 5º, LV e

93, IX da CRFB/1988.

Por fim, conforme entendimento pacífico do TST,

conforme Súmula 221, a admissibilidade do recurso de revista por violação

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2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

tem como pressuposto a indicação expressa do dispositivo de lei ou da

Constituição tido como violado, pelo que a alegação genérica de violação

às Leis 1.060/1950 e 5.584/1970 não impulsiona o conhecimento do apelo.

Pelo exposto, não conheço.

II – AGRAVO DE INSTRUMENTO DO RECLAMANTE

Diante do não conhecimento do apelo principal,

fica prejudicado o exame do agravo de instrumento em recurso de revista

adesivo interposto pela reclamada, conforme disposto no art. art. 500,

III, do CPC/1973 (atual art. 997, § 2º, III, do CPC/2015).

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Segunda Turma do Tribunal

Superior do Trabalho, por unanimidade: I – não conhecer do recurso de

revista do reclamado; II – julgar prejudicado o exame do agravo de

instrumento da reclamante em razão do não conhecimento do apelo

principal, conforme disposto no art. art. 500, III, do CPC/1973 (atual

art. 997, § 2º, III, do CPC/2015).

Brasília, 20 de junho de 2018.

Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)

MARIA HELENA MALLMANN Ministra Relatora

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