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FACULDADE DE CIÊNCIAS, EDUCAÇÃO E LETRAS
CURSO DE PEDAGOGIA
Projeto de Pesquisa
PROCESSO HISTÓRICO DE CRIAÇÃO E IMPLANTAÇÃO DAS CRE CHES EM GOVERNADOR VALADARES (1980 – 2010)
Graduanda:
Lubênia Virginia Santos de Araújo
Orientadora:
Profa.Ms.Maira Alvarenga de Souza
Governador Valadares Novembro, 2010
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LUBÊNIA VIRGINIA SANTOS DE ARAÚJO
PROCESSO HISTÓRICO DE CRIAÇÃO E IMPLANTAÇÃO DAS CRE CHES EM GOVERNADOR VALADARES (1980 – 2010)
Projeto de Pesquisa submetido à banca
examinadora do curso de Pedagogia da
Universidade Vale do Rio Doce, como
requisito parcial para obtenção da graduação
em Pedagogia Licenciatura Plena.
ORIENTADORA: MAIRA ALVARENGA DE SOUZA
GOVERNADOR VALADARES
Novembro, 2010
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SUMARIO
INTRODUCAO.............................................................................................................. 4
PROBLEMA DE PESQUISA........................................................................................ 5
OBJETIVO GERAL....................................................................................................... 5
OBJETIVOS ESPECIFICOS......................................................................................... 5
JUSTIFICATIVA........................................................................................................... 5
REVISAO BIBLIOGRAFICA INICIAL....................................................................... 6
METODOLOGIA..........................................................................................................18
CRONOGRAMA...........................................................................................................20
LEVANTAMENTO BIBLIOGRAFICO.......................................................................21
REFERENCIA BIBLIOGRAFICA...............................................................................21
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INTRODUÇÃO
As creches surgiram no século XIX, na Europa, acompanhando a estruturação do
capitalismo. Eram um local em que mulheres da classe deixavam seus filhos para poderem
trabalhar. No Brasil, apesar do reconhecimento de alguns direitos políticos dos
trabalhadores na década de 30, o poder público não se propunha, nesta época, assumir a
criação de creches, que passam a ser criadas ou assumidas pelo poder público, de modo
expressivo, a partir da década de 60.
Por muitos anos, na Europa e no Brasil, as creches foram vistas como um ambiente
somente assistencialista, onde se pensava que as crianças deveriam receber somente
alimentação e higienização. Não se tinha uma política volta para o desenvolvimento
pedagógico e educacional das crianças. Pensando nisto é quero investigar elementos que
comprovem e caracterizem a creche como um espaço educacional e pedagógico.
A implantação de creches públicas se expande nos anos 70 e 80 e estas passam a ser
compreendidas como espaço educacional e direito universal das crianças de 0 a 6 anos a
partir da Constituição 1988.
O processo de expansão das creches brasileiras, a partir da década de 80 que
referencia direitos específicos das crianças, reafirmados pela Constituição de 1988, é que
me instiga a fazer minha pesquisa voltada para o processo de criação e implantação das
creches pelo poder municipal de Governador Valadares a partir dos anos 80. Porque é a
partir desta década, segundo Campos (1995), que as creches e as pré-escolas dão um grande
passo em direção à superação do caráter assistencialista predominante nos programas
voltados para essa faixa etária, rumo a um atendimento educacional.
Pretendo pesquisar, portanto quando e como a rede de creches foi implantada em
Governador Valadares, qual a sua relação com o poder público municipal e se de fato ela
saiu do caráter assistencialista e passou a fazer um atendimento educacional.
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PROBLEMA DE PESQUISA
Como se deu o processo de criação e implantação das creches pelo poder público municipal
em Governador Valadares a partir dos anos 80?
OBJETIVO GERAL
• Compreender o processo de criação e implantação das creches pelo poder público
municipal em Governador Valadares a partir dos anos 80.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Compreender o processo de criação e implantação de creches no contexto da
política educacional de Governador Valadares, segundo sua relação com o poder
público municipal.
• Compreender como o processo de municipalização interferiu na implantação de
creches;
• Compreender as mudanças ocorridas no processo de implantação a partir aprovação
do FUNDEB
• Identificar profissionais das secretarias e conselhos municipais envolvidos com o
processo de implantação das creches no período de 1980 -2010;
JUSTIFICATIVA
O interesse por este trabalho teve início no segundo semestre de 2009 , quando
cursava a disciplina de Metodologia da Pesquisa em Educação II, no 6º período do curso de
Pedagogia. Esta disciplina possibilitou discussões sobre tendências da pesquisa educacional
bem como, orientou-nos a definir uma área de estudo para nosso TCC. Escolhi a História
da Educação por meu interesse pela investigação histórica desde o 1º semestre de 2007
quando cursei a disciplina Historia da Educação I.
Após conversar com minha orientadora sobre os assuntos que gostaria de investigar,
percebi que para eu realizar este tipo de pesquisa eu deveria definir um contexto, uma
época e um objeto de estudo de meu interesse. Então, também por meu interesse na área de
educação infantil, minha orientadora sugeriu que pesquisasse o tema “creche”.
6
Como eu ainda não sabia o que eu queria especificamente investigar, iniciamos
pesquisa bibliográfica inicial sobre o tema. Em uma destas pesquisas encontrei um artigo de
Rachel Noronha1 que discute um pouco sobre a história da pré-escola, as leis voltadas para
a educação infantil, e alguns conceitos de infância e pré-escola. A partir desta leitura, decidi
então que iria pesquisar algo que estivesse relacionado ao papel do estado na educação
infantil, o caráter social das creches, e quais as modificações que houve com relação ao
papel das creches a partir dos anos 80.
Desse modo chegamos à questão da criação e implantação de creches pelo poder
público em Governador Valadares. A creche tem toda uma trajetória histórica de luta para
garantir seu espaço como política pública e instituição educacional a ser reconhecida como
direito de todos.
A escolha deste tema também está ligada ao fato de que não há em nossa região
pesquisa volta para este tema.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA INICIAL
Segundo Haddad (1989), as creches surgiram durante o século XIX nos países
norte-americanos e europeus e no Brasil, no inicio do século XX acompanhando o
desenvolvimento do capitalismo, a crescente urbanização e a necessidade da reprodução da
força de trabalho a ser composta por seres capazes, nutridos, higiênicos e sem doenças.
O atendimento de crianças em creches, segundo Oliveira (1988), inexiste
basicamente no Brasil até o inicio do século XX. O que havia no sentido de cuidado da
criança pequena das classes populares ou recolhimento das mesmas eram as “rodas de
expostos” 2 que existiam em algumas cidades desde o inicio do século XVIII.
1 NORONHA, Rachel. O escolar da pré-escola: contribuição a sua trajetória o histórica. Revista de Educação. PUC-Campinas. n.2. 23p, Jun.1997.
2 As Rodas dos Expostos foram criadas por entidades religiosas que cuidavam e procuravam conduzir as crianças depois de grandes a um oficio (Oliveira, 1988)
7
No entanto o cuidado com a criança só veio a mudar na segunda metade do século
XIX, quando se iniciou a implantação de indústrias. Com a chegada das mesmas e a
permanência de mão de obra masculina no campo, muitas mulheres foram trabalhar nas
indústrias e não tinham onde deixar seus filhos. Este fato não foi considerado pelos
empresários, o que levava as mães a deixarem seus filhos com parentes ou com mulheres
que se propunham a cuidá-los por dinheiro.
Segundo Oliveira (1988), a urbanização e a industrialização trouxeram, portanto,
fatores que modificaram a estrutura familiar tradicional no que se referia ao cuidado dos
filhos pequenos. Então, as modificações na economia dos países foram logo sentidas pelas
mulheres da camada social mais baixa, muitas delas se viram na obrigação de assumir
trabalho remunerado para garantir o sustento da família, assumindo, muitas das vezes o
lugar de chefe de casa.
Já no inicio do século XX, a participação da mulher no setor operário decresce, por
conta da incorporação dos imigrantes no trabalho fabril aqui no Brasil vindo da Europa.
Apesar do decréscimo da participação da mulher no mercado de trabalho, neste
momento, iniciou-se atendimento à criança pequena, por pressão dos movimentos de
operários nos centros urbanos. Tais movimentos procuravam organizar os operários para
lutarem por seus direitos e a protestarem contra as condições precárias de trabalho e de vida
a que eram submetidos na época.
Segundo Oliveira (1988), no Brasil, no período da Primeira Guerra Mundial, havia
várias centenas de sindicatos em sua maioria de orientação anarco-sindicalista3, e
3 Anarco-sindicalismo é um movimento social de caráter anarquista, que se desenvolveu, principalmente, no
começo do século XX. O anarco-sindicalismo atribuiu aos movimentos sindicais, do período, um papel importante na luta pela emancipação da classe trabalhadora. Possuía um caráter apolítico e defendia a negociação direta entre trabalhadores e empresários. Os anarco-sindicalistas usavam também o instrumento da greve como mecanismo de pressionar os proprietários a atenderem suas reivindicações. No início do século XX, no Brasil, com o aumento da imigração européia, muitos anarco-sindicalistas italianos vieram viver em nosso país. Eles exerceram um papel fundamental na organização do movimento operário brasileiro e atuaram nas greves da década de 1910. (http://www.suapesquisa.com/o_que_e/anarco sindicalismo)
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principalmente, composto de imigrantes. Tais sindicatos foram fortemente combatidos por
associações comerciais e industriais.
O objetivo destes empresários era simplesmente enfraquecer os movimentos
operários e com isto modificaram sua política de repressão direta ao mesmo, concedendo
benefícios sociais como forma de disciplinar e desanimar a oposição. Assim passaram a
controlar as formas de vida dos operários dentro e fora das fábricas.
Como naquela época o desejo patronal era de impedir a construção espontânea do
proletariado enquanto classe, a prática patronal oscilava entre a repressão direta e o
“paternalismo” defendido por alguns patrões. Para atrair e reter mão de obra vão sendo
criadas vilas de operários, clubes esportivos e também algumas creches e escolas maternais
para atender os filhos dos operários, sendo as mesmas de propriedade das empresas.
Segundo Oliveira (1988), o fato de os filhos dos operários estarem freqüentando
creches era visto como vantagem para a produção das mães em seu trabalho. O que os
empresários não viam é que, com a industrialização os centros urbanos não tinham infra-
estrutura urbana adequada, e que a população sofria com um perigo constante das
epidemias.
Na década de 30 as creches eram defendidas por sanitaristas preocupados com as
condições de vida da população operária. As poucas creches que existiam fora das
indústrias, nas décadas de 20 a 50, eram de responsabilidade de entidades filantrópicas
laicas e principalmente religiosas. Em sua maioria, estas entidades foram, com o tempo,
passando a receber ajuda governamental para desenvolver seu trabalho, além de donativos
doados por famílias mais ricas (OLIVEIRA, 1988).
Nesta época as creches ofereciam às crianças um trabalho de cunho assistencialista-
custodial, ou seja, era um lugar em que se oferecia proteção e uma assistência médico
ambulatorial, a preocupação era com a alimentação, com higiene e com a segurança física.
Portanto, o trabalho com as crianças pequenas nas creches ainda não tinha uma valorização
voltada para a educação e para o desenvolvimento intelectual e afetivo das crianças.
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O reconhecimento de alguns direitos políticos dos trabalhadores só veio na década
de 30, com o governo de Getulio Vargas, que ao mesmo tempo resguardava interesses
patrimoniais, reconhecia alguns direitos políticos dos trabalhadores, criando para isso
algumas legislações especificas.
Apesar da consolidação das Leis do Trabalho de 1943 já ter alguns pontos
relacionados ao atendimento a filhos das trabalhadoras, o poder público não se propunha,
no entanto, a assumir a criação de creches e nem tão pouco cumprir com o papel de
fiscalizador da oferta de berçário pelas empresas.
Com um novo aumento da participação da mulher no mercado de trabalho na
segunda metade do século XX, explicado pelo incremento da industrialização e da
urbanização no país, creches e parques infantis em tempo integral passaram a ser cada vez
mais procurados por operárias, empregadas domésticas, trabalhadoras do comércio e
funcionarias pública.
Segundo Oliveira (1988) e Noronha (1997), novos elementos com relação ao
atendimento em creches só foram trazidos para o Brasil a partir da década de 60,
especialmente porque é nesta época que se fortificaram as organizações de trabalhadores
por melhores condições de vida e de trabalho, fazendo com que aumentasse o número de
creches e pré-escolas.
Essa grande expansão da pré-escola a partir da década de 60 também influenciou
positivamente no aparecimento de novas posições em relação à creche por parte de alguns
grupos sociais. Isso porque foram modificadas algumas representações sobre a educação
infantil valorizando o atendimento fora da família a crianças de idade cada vez menor.
Nesta época segundo ULBRA (2008), é que ocorreram à entrada de outra corrente de
pensamento nas creches, discursos pedagógicos baseados na teoria da privação cultural e
que, a solução seria uma educação compensatória Ou seja, a creche e a pré-escola deveriam
suprir além da carência orgânica e objetivamente compensar as carências culturais,
pretendendo assim a diminuição do fracasso escolar no ensino obrigatório.
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Apesar de esta visão dar uma valorização ao aspecto educacional do atendimento de
creche, esta ainda não tinham sido reconhecida como um direito para todas as crianças
pequenas. Este reconhecimento só veio no final da década de 80.
Isto porque, segundo Oliveira (1988), o número de creches aumentou na década de
70 e estas começaram a ser mantidas por entidades particulares para crianças de classe
média, em geral, filhos de profissionais liberais e que defendiam a creche como instituição
educativa voltada para o aspecto cognitivo, emocional e social da criança.
Esta autora nos relata, ainda, que as reivindicações por creches passam, da postura
de aceitação do paternalismo estatal ou empresarial, para a creche como um direito do
trabalhador e dever do estado. Os grupos populares que abraçavam estas reivindicações
frente a órgãos públicos municipais foram os grupos de mulheres que lutavam por creches
nos sindicatos e associações de classe, sendo apoiadas pelos movimentos feministas
atuantes da época.
Resultado destas reivindicações foi o aumento do numero de creches nos centros
diretamente mantidos pelo poder publico e o aumento de creches particulares conveniadas
com o governo municipal, estadual ou federal.
Até aqui podemos perceber que muitas das mudanças que houve com relação às
creches têm uma forte ligação com a entrada das mulheres no mercado de trabalho a partir
da expansão do capitalismo e da industrialização. E que muito dos avanços na educação de
crianças de zero a seis anos que tivemos até agora foram graças aos movimentos de
operários e de mulheres, que lutaram por melhorias nas creches e pré-escolas e para que as
mesmas passassem de um atendimento assistencial para o educacional.
Mas, segundo Rosemberg (1989), as conquistas conseguidas com a mobilização das
mulheres nos anos 70 e 80 não foram suficientes para romper o estigma da creche:
instituição provisória, destinada apenas a algumas mães das classes populares. Este estigma
passa a ser rompido no plano legal, no final da década de 1980. Segundo Noronha (1997)
expande-se a concepção de creches como direito universal das crianças de zero a seis anos
na Constituição de 1988.
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Mas, a pressão dos movimentos feministas e sociais e a luta pela democratização da
escola pública segundo ULBRA (2008) foi o que possibilitou a conquista, na Constituição
de 1988, do reconhecimento da educação em creches e pré-escolas como um direito da
criança e dever do Estado.
Em 1990, houve a promulgação da ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente),
que concretizou os direitos das crianças promulgados pela Constituição. Já em 1996, com a
aprovação da nova LDB (Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) se estabelece a
educação infantil como etapa inicial da educação básica e que oferece atendimento
educacional a crianças de 0 a 6 anos em creches e pré-escolas. Desse modo, as creches são
incorporadas ao sistema de educação, junto com as pré-escolas e constituem a primeira
etapa no processo de escolarização:
Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.
No entanto, as crianças têm direito a receber além de um atendimento assistencial, um
atendimento educacional de qualidade. É isto que está descrito não só na LDB como
também em outros documentos elaborados pelo MEC.
A Constituição de 1988 explicita que é dever do Estado garantir esta educação
básica, de qualidade e gratuita, nos incisos destacados:
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria;
(...)
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade;
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
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(...)
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.
§ 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
(...)
A inclusão deste artigo no texto constitucional mostra as diversas responsabilidades
do Estado quanto ao atendimento às crianças da pequena infância, mas se compararmos os
inciso I e IV veremos que os direitos das crianças de 0 a 3 anos - faixa etária atendida pela
creche - não são iguais aos das crianças maiores, pois a educação só é obrigatória e gratuita.
Para as crianças maiores de quatro anos. Ou seja, o atendimento ao direito à creche ainda
não é obrigatório para o Estado.
O Plano Nacional de Educação (PNE) reafirma que a creche e a pré-escola públicas
constituem direito universal da criança de zero a seis anos, sendo obrigação do Estado a
oferta das mesmas como uma modalidade de ensino, a um número cada vez maior de
crianças.
Ao Estado, portanto, compete formular políticas, implementar programas e viabilizar recursos que garantam à criança desenvolvimento integral e vida plena, de forma que complemente a ação da família. Em sua breve existência, a educação das crianças de 0 a 6 anos, como um direito, vem conquistando cada vez mais afirmação social, prestigio político e presença permanente no quadro educacional brasileiro.(PNE, 2006. P.5)
Segundo o Referencial Curricular para Educação Infantil (1998), no Brasil e no
mundo o atendimento institucional a crianças pequenas apresenta ao longo da historia
concepções bastante divergentes sobre sua finalidade social como vimos anteriormente: a
concepção educacional foi marcada por características assistencialistas, sem considerar as
questões de cidadania ligada aos ideais de liberdade e igualdade.
Portanto, segundo o Referencial Curricular para a Educação Infantil (1998), nas
ultimas décadas os debates em nível nacional e internacional apontam a necessidade de que
as instituições incorporem de maneira integrada as funções de educar e cuidar.
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O Ministério da Educação (MEC) coordenou a elaboração de alguns documentos
como o da Política Nacional de Educação Infantil, Referencial Curricular Nacional da
Educação Infantil, os Parâmetros Nacionais de Qualidade Para a Educação Infantil os e
Critérios para um Atendimento em creches que Respeite os Direitos Fundamentais das
Crianças, de forma que em todos estes documentos fica claro, que para a creche ser um
espaço educativo e de qualidade no atendimento, as crianças tem que ser enxergadas como
sujeito social.
Como vimos, no Brasil, a creche, durante muito tempo, serviu como uma forma de
combater a pobreza e a mortalidade infantil, mas acima de tudo com forma de libertação
das mulheres para o mercado de trabalho.
A história da creche liga-se à modificação do papel da mulher na nossa sociedade e
suas repercussões no âmbito da família e principalmente no que diz respeito à educação dos
filhos, pois a mulher deixa de ser dona de casa para ingressar no mercado de trabalho
assumindo assim outras atividades como o estudo e a participação na comunidade
necessitando, portanto, de ajuda para cuidar dos filhos e da educação dos mesmos. As
mudanças deste papel se dão a partir de fatores presentes em nossa organização social com
suas características econômicas, políticas e culturais4 (OLIVEIRA, 1988).
Certamente a LDB de 1996 e a Constituição Federal de 1988 orientaram formas de
garantir a mão-de-obra feminina, pois a partir destas legislações que começaram a fazer
valer a inclusão das creches e pré-escolas no sistema de educação. Este é direito da criança,
e os mecanismos de garantia são de responsabilidade conjunta das três esferas do poder
público.
4 Com a evolução do capitalismo nos países ocidentais, que inclui a expansão das atividades industriais e do setor de serviços dentro de uma perspectiva de urbanização cada vez maior pode-se pensar que o desenvolvimento urbano não se deu em ritmo constante e nem tão pouco sem problemas. Nele coexiste crescimento com miséria e desemprego, havendo desigualdade no uso dos bens sociais pela diferentes camadas sociais. (Oliveira, 1988).
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Segundo Fernandes (2009), o atual governo assumiu como seu compromisso
prioritário a política de inclusão social. Na área da educação básica, a substituição do
Fundef 5 pelo Fundeb6 constitui a estratégia prioritária dessa política.
Além da efetiva universalização do atendimento no ensino fundamental, o Fundeb
permitirá a inclusão progressiva de todas as crianças em creches e pré-escolas, e fará ainda
com que todos os jovens e adultos sem escolarização ou concluintes da educação
fundamental possam também concluir o Ensino Médio.
Como instrumento inclusivo, o Fundeb estenderá os benefícios do atual Fundef a
todos os alunos e professores da Educação Básica, garantindo o acesso de toda população
escolarizável a todos os níveis da Educação Básica, inclusive, portanto, a Educação Infantil.
O Fundeb deverá prover um aporte de recursos condizente com a progressiva
universalização da educação básica aliado ao incremento da qualidade da educação
ofertada.
Segundo a Constituição Federal, cabe à União a responsabilidade pelo Ensino
Superior, aos estados pelo Ensino Médio e Fundamental, e aos municípios a
responsabilidade pelo Ensino Fundamental e Educação Infantil. Para a redução das
desigualdades existentes, o País conta com mecanismos legais de transferência e
redistribuição de recursos federais, bem como de assistência técnica aos estados e
municípios.
Como parte desse aparato legal, o Fundeb, mantendo a divisão de responsabilidades
entre as entidades federais na oferta do ensino, propõe, a exemplo do que vinha ocorrendo
com o Fundef, uma ampla redistribuição de recursos, adotando como critério a definição de
um valor por aluno, a ser fixado anualmente, e o número de alunos matriculados nas redes
de ensino.
Segundo Fernandes (2009), com intenção de rever a atual engenharia de
financiamento da educação, com vistas a promover a igualdade de oportunidades
5 Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental
6 Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação.
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educacionais a todas as crianças, jovens e adultos, com qualidade e equidade, implica,
portanto, compor o Fundeb com percentual de impostos vinculados à educação no âmbito
dos estados e municípios, contar com a participação financeira da União na composição do
Fundeb, sempre que o fundo de cada estado não atingir a quantia necessária para oferta de
educação de qualidade e o pagamento justo aos professores, fixar o valor do investimento
em educação para cada aluno em âmbito estadual com variações para cada nível de ensino,
a partir de um valor base nacional também diferenciado para cada nível de ensino.
Assim, cada estado fixará o valor da educação de cada um de seus alunos, de acordo
com o nível de educação, tendo como patamar uma base a ser fixada nacionalmente, de
modo a assegurar a qualidade do ensino em todos os municípios e estados.
No âmbito de cada estado será criado um fundo composto com parcela de impostos
vinculados à educação. Os recursos desse novo fundo, o Fundeb, serão divididos entre o
próprio estado e seus municípios, de acordo com o número de alunos de cada nível
educacional, matriculados em suas respectivas redes e níveis de ensino.
Caso os recursos do Fundeb de alguns estados não atinjam a quantia base ideais
definida para garantia de condições da oferta de uma educação de qualidade para cada
aluno, o fundo será complementado com recursos da União.
Os municípios em cada estado, e os estados entre si, serão beneficiados de acordo
com o número de alunos matriculados em suas redes de ensino. Serão beneficiados os
governos que contam com reduzida capacidade de arrecadação e, portanto, de investimento,
e que possuem um elevado contingente de alunos matriculados em suas redes, situação em
que se torna imprescindível a participação da União que, zelando pelo princípio da
eqüidade inerente ao pacto federativo, vem garantir uma melhor distribuição dos recursos
no País e uma maior eqüidade no processo de universalização da educação básica com
qualidade.
A carreira e a remuneração dos profissionais da educação básica é responsabilidade
dos estados se municípios, cabendo à União estabelecer as diretrizes, em parte já definidas
no artigo 67 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação 1. A criação de referenciais e
condições concernentes à carreira, por parte da União, contribuirá para a concretização de
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medidas que assegurem a valorização do magistério, em especial no que diz respeito à
remuneração dos professores e outros profissionais da educação.
A proposta do Fundeb consiste em destinar 80% de seus recursos para a valorização
dos professores e dos demais profissionais da educação, criando condições de proporcionar
a toda a formação em nível médio e superior, uma efetiva elevação dos salários, e garantia
de um piso salarial nacional a ser regulamentado por lei específica.
O reconhecimento dos benefícios introduzidos pelo Fundef, aliado à necessidade de
aperfeiçoamento dos seus mecanismos, constituem o principal argumento para o
estabelecimento dos consensos necessários à aprovação do Fundeb.
A criação e implantação desse Fundo dependem de aprovação da Proposta de
Emenda Constitucional, e de regulamentação por meio de Legislação infraconstitucional a
ser realizada no âmbito do Congresso Nacional. Esta Emenda encontra-se em fase de
análise e conclusão por representantes do atual governo.
Segundo Fernandes, para que o Projeto de Emenda Constitucional seja aprovado é
importante que os profissionais da educação, os pais e alunos, bem como os meios de
comunicação conheçam a proposta e defendam na, criando assim a base popular de
sustentação da proposta, capaz de sensibilizar e convencer deputados e senadores de seu
mérito e importância para o futuro da educação no País.
É importante que todos, congressistas e a população em geral, pensem nos inúmeros
benefícios que o Fundeb proporcionará à sociedade, aumentando os índices de
escolarização da população, reduzindo conseqüentemente os índices de exclusão social e
violência, melhorando as condições de vida dos mais carentes, oferecendo condições dignas
de vida a todas as crianças atualmente desassistidas, e proporcionando, assim, um futuro
melhor a todos os brasileiros.
Como nos lembra Sebastiane (2003), todo o avanço é histórico, cultural e político,
portanto, é preciso ser conquistado o tempo todo, sendo assim não podemos deixar de lado
o importante papel que exercermos como cidadãos e, principalmente como educadores, em
relação às mudanças e melhoras necessárias a educação infantil e, portanto, as creches.
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METODOLOGIA
Por se tratar de um processo de investigação histórica pretendo realizar pesquisa
bibliográfica - em livros e artigos acadêmicos - e pesquisa documental – em documentos da
Secretaria Municipal de Educação de Governador Valadares e outros órgãos. Além da
pesquisa teórica, pretendo realizar pesquisa empírica, por meio da análise dos documentos e
da realização e análise de entrevistas com sujeitos deste processo histórico de implantação
de creches em Governador Valadares no período de 1980-20107.
Em um primeiro momento, pretendo fazer todo um estudo em artigos acadêmicos e livros
para levantamento de dados que mostrem a relação do Estado com as creches, para que eu
possa aprofundar o contexto histórico das creches. Investigarei também, quais as leis
municipais existentes.
Depois irei colher dados sobre o processo de criação e implantação das creches em
Governador Valadares em documentos da Secretaria Municipal de Educação e da
Secretaria de Ação Social de Governador Valadares.
Por fim, pretendo realizar entrevistas com sujeitos que estiveram ligados diretamente com
este processo de implantação de creches. A identificação dos sujeitos será feita,
posteriormente, a partir dos documentos e dos contatos realizados nas Secretarias.
7 Segundo o site da Prefeitura Municipal de Governador Valadares, a cidade está situada no Leste do Estado de Minas Gerais e localizada na região do Vale do Rio Doce. Foi fundada em 1938 e conta atualmente com uma população aproximada de 263.274 habitantes.
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CRONOGRAMA
TAREFAS
2011 - Mês
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12
Levantamento
bibliográfico
complementar
X X
Estudo das leis
municipais
X
Elaboração de
referencial teórico
X X X X X X
Contato com a
SMED e SAS
X
Análise das
entrevistas
X
Produção do
Relatório de
Pesquisa
X X X
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LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO INICIAL
ABRAMOWICZ, Anete. Educação Infantil: Creches: atividades para crianças de zero
a seis anos. 2. Ed. rev. atual. São Paulo; Moderna, 1999. 112p.
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44p.
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BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de educação básica. Política Nacional de
Educação Infantil: pelo direito das crianças de zero a seis anos a educação. Brasília:
MEC, SEC, 2006. 32p.
BUFATO, Maria Parice. No espaço da creche, com o convívio das diferenças, emerge a
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Brasília: MEC, SEB, 2009. 44p.
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HADDAD, Lenira. A creche em busca da identidade: perspectivas e conflitos na
construção de um projeto educativo. 2ed. São Paulo: Quiron; Loyola, 1993. 246p.
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