processo de trabalho em saúde definição dos componentes livro completo

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    Processo de trabalho

    em saúdeHorácio Pereira de Faria

    Marcos A. Furquim Werneck

    Max André dos Santos

    Paulo Fleury Teixeira

    2 a Edição

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    Belo HorizonteNescon UFMG

    Editora Coopmed2009

    2a Edição

    Processo de trabalhem saúde

    Horácio Pereira de Faria

    Marcos A. Furquim Werneck

    Max André dos Santos

    Paulo Fleury Teixeira

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    Faria, Horácio

    F224p Processo de trabalho em saúde / Horácio Faria, Marcos Werneck e Max André dos Santos. - 2 a ed. -Belo Horizonte: Nescon/ UFMG, Coopmed, 2009.

    68p. : il., 22x27cm.

    Público a que se destina: Profssionais da saúde ligados à estratégia da Saúde da Família. ISBN: 978-85-7825-025-4

    1.Atenção Primária a Saúde. 2. Pessoal de Saúde. 3. Equipe de Assistência ao Paciente. 4. Saúde da Família. 5. Educação

    Médica. I. Werneck Marcos. II. Santos, Max André dos. III.Núcleo de Educação em Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina/

    /UFMG (Nescon). IV. Título.

    NLM: W 84.8 CDU: 614

    A produção deste material didático recebeu apoio nanceiro do BNDES

    © 2009, Núcleo de Educação em Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina/UFMG (Nescon)

    A reprodução total ou parcial do conteúdo desta publicação é permitida desde que seja citada a fonte e a nanão seja comercial. Os créditos deverão ser atribuídos aos respectivos autores.

    Universidade Federal de Minas GeraisReitor: Ronaldo Tadêu PenaVice-Reitora: Heloisa Maria Murgel Starling

    Pró-Reitoria de Pós-GraduaçãoPró-Reitora: Elizabeth Ribeiro da Silva

    Pró-Reitoria de ExtensãoPró-Reitora: Ângela Imaculada Loureiro de Freitas DalbenPró-Reitora Adjunta: Paula Cambraia de Mendonça Vianna

    Centro de Apoio à Educação a Distância (CAED)Coordenadora: Maria do Carmo Vila

    Coordenadora da UAB na UFMG: Ione Maria Ferreira de Oliveira

    Cátedra da UNESCO de Educação a DistânciaCoordenadora: Rosilene Horta Tavares

    Escola de EnfermagemDiretora: Marília Alves

    Vice-Diretora: Andréa Gazzinelli Corrêa de Oliveira

    Faculdade de EducaçãoDiretora: Antônia Vitória Soares AranhaVice-Diretor: Orlando Gomes de Aguiar Júnior

    Faculdade de MedicinaDiretor: Francisco José PennaVice-Diretor: Tarcizo Afonso Nunes

    Faculdade de OdontologiaDiretor: Evandro Neves AbdoVice-Diretora: Andréa Maria Duarte Vargas

    Núcleo de Educação em Saúde Coletiva da Faculdadede Medicina / UFMG (Nescon)Coordenador em exercício: Edison José Corrêa

    Produção EditorialEditora Coopmed

    Diretor Editorial: Victor Hugo de Melo

    Projeto GrácoMarco Severo, Rachel Barreto e Romero Ronconi

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    Sumário

    Apresentação dos autores ....................................................................................................4

    Apresentação - Curso de Especialização em AtençãoBásica em Saúde da Família - Programa Ágora ..................................................................5

    Apresentação da Unidade Didática I ...................................................................................6

    Introdução ao módulo .........................................................................................................13

    Seção 1 | O processo de trabalho.......................................................................................19

    Parte 1 | – Componentes do processo de trabalho ........................................................... 21

    Seção 2 | O processo de trabalho em atenção básica à saúde ........................................29

    Parte 1 | Especicidades do processo de trabalho na prestação de serviços ................. 31Parte 2 | A noção de território ........................................................................................... 34Parte 3 | Os agentes e sujeitos ......................................................................................... 36Parte 4 | Os objetivos e as nalidades .............................................................................. 38Parte 5 | Os meios e as condições ................................................................................... 43Parte 6 | Os objetos e os produtos ................................................................................... 44

    Seção 3 | Modelos de determinação social da saúde e da doença .................................47

    Parte 1 | A determinação social dos indivíduos ................................................................ 49Parte 2 | O conceito de saúde ..........................................................................................52Parte 3 | Determinantes sociais da saúde ........................................................................ 55Parte 4 | Evidências da determinação social da saúde ..................................................... 58

    Referências ...........................................................................................................................66

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    Apresentação dos autores

    Horácio Pereira de Faria

    Médico pela Faculdade de Medicina daUniversidade Federal de Minas Gerais (UFMG).Especialista em Medicina Social. Mestre em SaúdeOcupacional. Professor Assistente do Departamentode Medicina Preventiva e Social da Faculdade deMedicina da UFMG. Pesquisador do Núcleo deEducação em Saúde Coletiva (Nescon). Membro doNúcleo de Estudos de Saúde e Paz - Departamento deMedicina Preventiva e Social e do Grupo de Estudosde Saúde do Trabalhador Rural (GESTRU).

    Marcos A. Furquim Werneck

    Max André dos Santos

    Paulo Fleury Teixeira

    Cirurgião-dentista pela Universidade Federalde Minas Gerais (UFMG). Especialista emOdontologia Social pela Faculdade de Odontologiada Pontifícia Universidade Católica de MinasGerais. Doutor em Odontologia Social/SaúdeColetiva pela Universidade Federal Fluminense.Professor Associado da Faculdade de Odontologia/ UFMG. Membro da Comissão de Assessoramentoà Coordenação Nacional de Saúde Bucal doMinistério da Saúde.

    Médico pela Faculdade de Medicina Universidade Federal de Minas Gerais (UFMEspecialista em Medicina Social. Pesquisador Núcleo de Educação em Saúde Coletiva (NescoMédico regulador da Central de Internação/BHorizonte. Assessor da Gerência de Planejamento Secretaria de Saúde do município de Belo Horizon

    Médico pela Faculdade de Medicina Universidade Federal de Minas Gerais (UFMEspecialista em Medicina Social. Mestre e Douem Filosoa com concentração na área sociProfessor, pesquisador e consultor nas áreas social e de saúde pública. Pesquisador do Núcleo Educação em Saúde Coletiva (Nescon).

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    Apresentação

    O Curso de Especialização em Atenção Básicaem Saúde da Família (CEABSF), na modalidade adistância, é uma realização da Universidade Federalde Minas Gerais (UFMG), por meio do Núcleo deEducação em Saúde Coletiva/Faculdade de Medicina,com a participação da Faculdade de Odontologia eEscola de Enfermagem e da Cátedra da UNESCOde Ensino a Distância/Faculdade de Educação. Essainiciativa é apoiada pelo Ministério da Saúde – Secre-taria de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde(SGTES)/ Universidade Aberta do SUS (UNA–SUS) –,pelo Ministério da Educação – Sistema UniversidadeAberta do Brasil/ Secretaria de Educação a Distância(UAB/SEED) e pelo Banco Nacional de Desenvolvi-

    mento Econômico e Social (BNDES).O curso integra o Programa Ágora, do Nescon, e,de forma interdisciplinar, interdepartamental, interu-nidades e interinstitucional articula ações de ensino– pesquisa – extensão. O Programa, além do CEABSF,atua na formação de tutores, no apoio ao desenvolvi-mento de métodos, técnicas e conteúdos correlacio-nados à educação a distância e na cooperação cominiciativas semelhantes.

    Direcionado a médicos, enfermeiros e cirurgiões-dentistas integrantes de equipes de Saúde da Família,o Curso tem seu sistema instrucional baseado naestratégia de Educação a Distância. Esse sistema écomposto por um conjunto de Cadernos de Estudoe outras mídias disponibilizadas tanto em DVD –

    Curso de Especialização em Atenção Básica em Saúde da FamíliaPrograma Ágora

    módulos e outros textos, e vídeos –, como na Internet– por meio de ferramentas de consulta e de interati-vidade, comochats e fóruns. Todos são instrumentosfacilitadores dos processos de aprendizagem e tutoria,nos momentos presenciais e a distância.

    Esse Caderno de Estudo, como os demais quecompõem o CEABSF, é o resultado do trabalhointerdisciplinar de prossionais da UFMG e deoutras universidades, e do Serviço. Os autores sãoespecialistas em suas áreas e representam tantoa experiência acadêmica, acumulada no desenvol-vimento de projetos de formação, capacitação eeducação permanente em saúde, como a vivênciaprossional. Todo o material do sistema instrucional

    do CEABSF está disponível, para acesso público,na biblioteca Virtual do Curso.A perspectiva é que esse Curso de Especia-

    lização cumpra seu importante papel na quali-cação dos prossionais de saúde, com vistas àconsolidação da estratégia da Saúde da Famíliae no desenvolvimento de um Sistema Único deSaúde, universal e com maior grau de eqüidade.

    A Coordenação do CEABSF pretende criar opor-tunidades para que alunos que concluírem o cursopossam, além dos módulos nalizados, optar pormódulos não-cursados, contribuindo, assim, para oseu processo de educação permanente em saúde.

    Para informações detalhadas consulte:www.nescon.medicina.ufmg/agora

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    Apresentação da UnidadeDidática IOrganização do processo de trabalho na AtençBásica à Saúde

    A primeira unidade didática do Curso de Especialização em AteBásica em Saúde da Família está formada por quatro módulos ou dplinas, a saber:

    Módulo 1 – Processo de trabalho em saúdeMódulo 2 – Modelo assistencial e Atenção Básica à SaúdeMódulo 3 – Planejamento e avaliação das ações de saúdeMódulo 4 – Práticas educativas em Atenção Básica à Saúde. Tecno

    gias para abordagem ao indivíduo, família e comunidade.

    O foco da discussão desta unidade é o processo de trabalho da equipde Saúde da Família (SF) no contexto da implementação do Sistema Úde Saúde (SUS) e da reorganização da atenção básica em saúde (Atendo como base a estratégia de Saúde da Família. Desta forma, o nos

    cenário é o SUS e os atores principais são os prossionais que atuamatenção básica de saúde, em especial aqueles que compõem as equipede Saúde da Família (SF) e de Saúde Bucal (SB).

    Observação: Denominamos equipe de Saúde da Família tanto a equipe básicdo Programa de Saúde da Família – enfermeiro, médico, auxiliar de enfmagem e agente comunitário – quanto a equipe de saúde bucal – cirurgiãdentista, auxiliar de saúde bucal e técnico de saúde bucal.

    Esperamos, a partir dos textos e das atividades propostas, das discussõcom os seus tutores e dos encontros presenciais, proporcionar uma reexcrítica sobre a organização do trabalho das equipes de SF e fornecer elemenpara possível aprimoramento no processo de trabalho. A expectativa é de esta unidade possa contribuir para a consolidação de uma mudança realmodelo assistencial em conformidade com os princípios e as diretrizes do S

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    Iniciamos esta reexão com a armação de que a nossa atuação se faza partir de modelos, ou seja, o nosso modo de agir é sempre orientadopor algumas concepções do que deve ser e do que não deve ser, nosdiferentes âmbitos e realidades.

    Em nossa atuação prossional não é diferente, nossa atividade, astécnicas, os recursos diagnósticos e os instrumentos que utilizamoscondizem com alguma ideia do que devemos fazer em nossa prossãoem cada situação, em cada realidade.

    Todos nós sabemos que essas concepções, tanto na vida em geralcomo no trabalho, apresentam uma marcante diversidade. No entanto, emnosso cotidiano – da vida e do trabalho – temos diculdades para reetirsobre o modo como estamos agindo. Às vezes fazemos as coisas de formamais ou menos automática, guiados pela nossa intuição ou pelo sensocomum. Assim sendo, nossas atitudes podem não ser as mais adequadas,podem não ser as mais ecazes e, consequentemente, não conduzir aosresultados que desejamos. Porém, de algum modo, a realidade semprebate à nossa porta, pedindo-nos para reetir melhor, para avaliar critica-mente o que temos feito em face dos resultados que temos obtido.

    Muitas vezes a nossa reação frente a essa situação se manifesta apenasna forma da insatisfação, da frustração, do desapontamento. Certamente,esses sentimentos aparecem porque não temos os elementos paracompreender o que é inadequado no nosso trabalho e fazer as devidascorreções de rumo. Nesse caso, podemos dizer que nos faltam os instru-mentos para realizarmos a reexão crítica e promovermos as transforma-

    ções necessárias que nos levem a melhorar a nossa atuação e, assim,obter melhores resultados.No caso do setor saúde, surgem, cotidianamente, situações de muita

    complexidade, envolvendo uma diversidade de relações e com alta pressãopor resultados. Lidar com as demandas e necessidades de indivíduos,famílias e comunidades requer, entre outras coisas, instrumentos tambémcomplexos, para que façamos intervenções e avaliações adequadas.

    Ao longo deste caderno de estudos você conhecerá a equipe de Saúdeda Família – Equipe Verde – do bairro de Vila Formosa, do Município deCurupira, denominada, a partir de agora, apenas de Equipe Verde. Trata-sede uma equipe ctícia que estamos utilizando como recurso didático parasubsidiar os estudos e compreensão dos temas abordados, aproximando-se do cotidiano do trabalho das equipes de Saúde da Família. Vamos entãoà apresentação dessa equipe e do território onde ela atua.

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    Município de CurupiraCurupira é uma cidade com cerca de 80.000habitantes, que teve um crescimento popula-

    cional importante nas duas últimas décadasem função do êxodo rural ocorrido na regiãoe da instalação de algumas indústrias (con-fecções). Como em várias cidades brasilei-ras, esse crescimento não foi acompanhadodo correspondente crescimento econômico,de infraestrutura e muito menos de desenvol-vimento social. Devido à sua situação geográ-ca estratégica, tem sido utilizada na rota dotráco de drogas (maconha) do Nordeste parao Sudeste, com todas as consequências des-se fato: violência e aumento do consumo dedrogas. A cidade vive basicamente da agricul-tura (soja), de uma incipiente indústria, de agri-cultura e pecuária de subsistência em francodeclínio e do plantio de tomate e batata, cujaprodução, em sua quase totalidade é encami-nhada para a Central de Abastecimento (CEA-SA). A atividade política partidária é polarizadaentre dois grupos políticos tradicionais que serevezam à frente da administração municipalao longo de décadas. Algumas lideranças no-vas têm aparecido e conseguido, por intermé-dio da Câmara de Vereadores, fazer um con-traponto às práticas políticas tradicionais decunho clientelista/assistencialista. A cidadesempre teve forte tradição na área cultural emovimenta a região com o seu festival de mú-sica e, ainda, preserva suas festas religiosas eseus grupos de congado. Na área de saúde, acidade é sede da microrregião, sendo referên-cia para consultas e exames de média comple-xidade, atendimento de urgência e emergên-cia e o cuidado hospitalar, embora a estruturado seu sistema de saúde deixe muito a dese-jar. Há aproximadamente cinco anos o muni-cípio adotou a estratégia de Saúde da Famí-lia para a reorganização da atenção básica econta hoje com 12 equipes na zona urbana etrês na zona rural cobrindo 70% da população.Um grande problema no desenvolvimento daestratégia da SF, em que pese a uma remu-neração superior à média do mercado, é a ro-tatividade dos prossionais de saúde, particu-larmente de médicos.

    Comunidade de Vila FormosaVila Formosa é uma comunidade de cerca de6.500 habitantes e ca na periferia de Curu-

    pira, tendo se formado principalmente a par-tir do êxodo rural ocorrido na década de 70em função do avanço do plantio de soja porgrandes empresas, com a consequente re-dução da agricultura familiar de subsistência.Hoje a população empregada vive basicamen-te do trabalho nas empresas rurais que plan-tam soja, do plantio de tomate e batata queacontece em pequenas propriedades rurais re-manescentes localizadas na periferia da cida-de, da prestação de serviços e da economiainformal. É alto o número de desempregadose subempregados. A estrutura de saneamen-to básico na comunidade deixa muito a dese-jar, principalmente no que se refere à rede deesgoto sanitário e à coleta de lixo. Parte sig-nicativa da comunidade vive em moradiasbastante precárias. O analfabetismo é elevadoprincipalmente entre os maiores de 40 anos,assim como a evasão escolar entre menoresde 14 anos. Nas últimas administrações temhavido algum investimento público na comu-nidade (escola, centro de saúde, creche, asi-lo, etc.) em função da pressão da associaçãocomunitária, que é bastante ativa. Existem vá-rias iniciativas de trabalho na comunidade porparte da igreja e ONGs. Esses trabalhos estãobastante dispersos e desintegrados e, em suamaioria, voltados para crianças, adolescentese mães. A população conserva hábitos e cos-tumes próprios da população rural brasileira egosta de comemorar as festas religiosas, emparticular as festas juninas. Em Vila Formosatrabalham duas equipes de Saúde da Família –a Equipe Verde e a Equipe Amarela.

    A unidade de saúde da Equipe VerdeA unidade de Saúde da Família de Vila Formosa 1que abriga a Equipe Verde, foi inaugurada há cercade 10 anos e está situada na rua principal do bair-ro que faz a ligação com o centro da cidade. Trata-se de uma casa alugada que foi adaptada para ser

    uma unidade de saúde.A casa é antiga, porém bem conservada. Sua áreapode ser considerada inadequada, considerando-

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    Aline F.S., 25 anos, casada, 2 lhos, agentecomunitária de saúde da microárea 3, com170 famílias cadastradas. Aline estudou até

    a 2ª série do segundo grau e interrompeuos estudos quando cou grávida de seuprimeiro lho. Trabalhou anteriormente emum restaurante como cozinheira e participaativamente da associação de moradores dacomunidade. Tem facilidade para falar empúblico e ainda não perdeu as esperançasde retomar os estudos algum dia e, talvez,se tornar uma auxiliar de enfermagem.

    Sônia Maria P.C., 20 anos, solteira, agentecomunitária de saúde da microárea 4, com150 famílias cadastradas. Sônia é proce-dente da zona rural onde morava e estudouaté a 4a série do primeiro grau, quando teveque abandonar os estudos pela diculdadede acesso à escola e para ajudar a família naroça, que ainda vive até hoje do plantio detomate e batata principalmente.

    Marco Antônio P., 45 anos, solteiro, agentecomunitário de saúde da microárea 5, com200 famílias. Marco é uma pessoa tranquilae muito conhecida na cidade e sempreparticipa das ações desenvolvidas pelacomunidade.

    Joana de S.P ., 48 anos, solteira, um lho,auxiliar de enfermagem. Joana trabalhoumais de 15 anos em hospital e há trêsanos foi aprovada na seleção e iniciou suasatividades no PSF, mantendo um plantão nohospital local no nal de semana.

    Renata C.T., 29 anos, solteira, médica.Formada há quatro anos decidiu “viver” aexperiência do PSF para depois fazer resi-dência (Ginecologia e Obstetrícia). Trabalhoupor três anos no município vizinho, de ondesaiu porque o novo prefeito desativou o PSFque havia sido implantado por seu adver-sário político. Participa da atual equipe hánove meses substituindo o médico anterior,que saiu porque o novo secretário de saúdeestava exigindo o cumprimento das oitohoras diárias de trabalho.

    se a demanda e a população coberta (3.100 pes-soas), embora o espaço físico seja muito bemaproveitado. A área destinada à recepção é pe-

    quena, razão pela qual nos horários de pico deatendimento (manhã) cria-se certo tumulto na uni-dade. Isto diculta sobremaneira o atendimento eé motivo de insatisfação de usuários e prossio-nais de saúde. Não existe espaço nem cadeiraspara todos e muitos têm que aguardar o atendi-mento em pé. Essa situação sempre é lembra-da nas discussões sobre humanização do aten-dimento. Não existe sala de reuniões, por isso aequipe utiliza o quintal, à sombra de um grandeabacateiro, o que é bastante agradável quando fazcalor, mas quando chove é um problema.As reuniões com a comunidade (os grupos opera-tivos, por exemplo) são realizadas no salão da as-sociação de moradores que ca ao lado da unida-de de saúde. Houve, porém, momentos – quandoas relações da equipe de saúde com a diretoriada associação não eram as mais amistosas – emque as reuniões aconteciam no salão da igreja,que ca um pouco distante da unidade de saúde.A população tem muito apreço pela unidade desaúde, fruto de anos de luta da associação.A unidade atualmente está bem equipada e con-ta com os recursos adequados para o trabalho daequipe, porém até o nal da última administraçãofuncionava sem mesa ginecológica, glicosímetro,nebulizador e instrumental cirúrgico para peque-nas cirurgias e curativos. A falta desses materiaisconstituiu um foco de tensão importante entre aequipe de saúde, a coordenação do PSF e o ges-tor municipal da saúde.

    Equipe VerdeA equipe verde é formada pelos prossionaisapresentados a seguir:

    Mariana L.S., 28 anos, solteira, agente comuni-tária de saúde da microárea 1, com 180 famíliascadastradas. Mariana estudou até a 8a série etrabalhava em uma pequena confecção comocostureira antes de trabalhar como ACS.

    José Antônio R., 18 anos, solteiro, estudan-te e agente comunitário de saúde da micro-área 2, com 160 famílias cadastradas. É oprimeiro trabalho de José Antônio, que pre-tende continuar os estudos e tentar o vesti-bular para serviço social.

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    Pedro Henrique S.J., 32 anos, enfermeiro,solteiro. Pedro trabalha em Saúde da Famíliahá oito anos, tendo sido coordenador da aten-

    ção básica quando da implantação da estraté-gia de Saúde da Família no município. Saiu dacoordenação na mudança da administração edesde então atua na Equipe Verde. No princí-pio teve algumas diculdades na relação como atual coordenador, que não foram totalmen-te superadas.

    Cláudia de O.C., 23 anos, cirurgiã-dentista.Cláudia é recém-formada e este é seu pri-meiro emprego após sua formatura. Decidiutrabalhar com a atenção básica após o seuestágio rural realizado em um pequeno mu-nicípio no norte de Minas Gerais. É uma pes-soa muito dinâmica e cheia de planos.

    Gilda M.S., 22 anos, técnica de saúde bucal.Gilda trabalha como TSB há três anos, tem o 2ºgrau completo e pensa em retomar os estudose tentar fazer uma faculdade.

    Maria das Dores P., 20 anos, auxiliar de saú-de bucal. Trabalha como ASB desde a im-plantação da equipe; é muito habilidosa egosta muito do seu trabalho.

    José R.S., 40 anos, educador. José temformação em educação e já trabalhou emvários setores da Secretaria Municipal deEducação, sendo responsável durante al-guns anos pelo programa de alfabetizaçãode adultos. Com a implantação do PSF nomunicípio, começou uma parceria com o se-tor saúde. Com a entrada do novo secretáriomunicipal de educação, pediu para trabalharjunto às equipes de Saúde da Família, fazen-do uma ponte entre a saúde e a educação.No momento trabalha em dois projetos deeducação e saúde. Um projeto junto à esco-la do bairro Vila Formosa e outro junto ao as-sentamento do MST.

    Funcionamento da unidade de saúdeA unidade de saúde funciona de 7:30 às 18:00horas. Para tanto, é necessário o apoio dosagentes comunitários, que se revezam duran-

    te a semana, segundo uma escala, em ativida-des relacionadas à assistência como recepçãoe arquivo, sempre e quando estão presentes

    na unidade o auxiliar de enfermagem e/ou oenfermeiro. Isso tem sido motivo de algumasdiscussões, principalmente entre o enfermei-ro da equipe e o coordenador de atenção bási-ca, que justica a necessidade de se utilizar otrabalho dos ACSs nessas atividades, pela di-culdade de contratação de outro auxiliar deenfermagem. Existe uma solicitação da comu-nidade para que o atendimento seja estendi-do até as 21:00 horas, pelo menos em algunsdias da semana. Essa demanda se justica,segundo a comunidade, entre outros motivos,pelo fato de existirem muitos trabalhadores ru-rais que retornam do trabalho no nal da tardee, por isto, têm diculdade de acesso à uni-dade de saúde. Essa questão já foi objeto devárias reuniões entre a equipe e a associação,porém até o momento não existe proposta desolução.

    O dia-a-dia da Equipe VerdeO tempo da Equipe Verde está ocupado quaseque exclusivamente com as atividades de aten-dimento à demanda espontânea (maior parte)e a alguns programas como saúde bucal, pré-natal, puericultura, “preventivo” de câncer demama e ginecológico, atendimento individuala hipertensos e diabéticos e acompanhamentoa crianças desnutridas. A equipe já tentoudesenvolver outras ações de saúde como, porexemplo, criação de uma horta comunitária,grupo de hipertensos e diabéticos, grupos decaminhada, que, com o tempo, se mostrarampouco frutíferas. No início, essas iniciativasconseguiram despertar algum interesse dacomunidade, mas logo as pessoas “sumiam”e o trabalho “morria”. Em relação aos gruposde hipertensos e diabéticos, a equipe resolveucondicionar a “troca das receitas” à partici-pação nas reuniões, fato que provocou algunsquestionamentos por parte da população e dealguns membros da própria equipe e que nãomudou qualitativamente a participação nasreuniões.A falta de um projeto e de uma avaliação maissistemática do trabalho tem sido motivo de

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    Nessa apresentação, a Equipe Verde já revelou umpouco dos problemas que ela enfrenta e tambémda forma como ela trabalha. Neste sentido, um

    dos primeiros passos desta unidade didática seráuma reexão sobre o seu processo de trabalho (ede sua equipe). Este exercício inicial deverá acom-panhar todo o desenvolvimento deste primeiromódulo, que trata especicamente do processode trabalho e que continuará nos demais módulos.Para um bom aproveitamento em seus estudos, éimportante que você faça todas as atividades, leiaos textos complementares, participe e contribuanas discussões nos fóruns e dos encontrospresenciais. Finalmente, esperamos que vocêexplore esta unidade didática com a compre-ensão de que ela é apenas mais um momento noseu processo de desenvolvimento e qualicação(e de sua equipe).

    alguns conitos entre os membros da equipe.Uma queixa geral é a falta de tempo por causada demanda de atendimento. Com o passar

    dos anos, essa situação e a falta de pers-pectivas de mudanças têm provocado muitodesgaste na equipe. O grupo cou um poucoanimado com a possibilidade da médica, doenfermeiro e da cirurgiã-dentista participaremdo curso de especialização em Saúde daFamília. A novidade foi comunicada durante aúltima reunião da equipe à sombra do abaca-teiro, num nal de tarde de sexta-feira.

    E então, o que você achou da Equipe Verde?Em que ela se assemelha e em que ela sediferencia da sua equipe?

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    Este módulo está composto de três seções cujo objetivo principalé provocar uma reexão sobre o processo de trabalho em saúde e, emparticular, sobre a Atenção Básica de Saúde, tomando como referência aprática das equipes de Saúde da Família e a discussão dos elementos doprocesso de trabalho e suas especicidades no campo da saúde. Faremos

    também uma reexão sobre a determinação social do processo de saúdee doença, preparando-nos para a discussão de modelo assistencial nomódulo II. Esperamos que este módulo possibilite uma reexão sobre oprocesso de trabalho de sua equipe, ou seja, que você perceba e analise,juntamente com sua equipe, diferentes possibilidades de se trabalhar emsaúde, considerando-se os objetivos de cada ação desenvolvida por suaequipe.

    Antes de iniciarmos a abordagem teórica do tema deste módulo,propomos a realização de algumas atividades para vericar e reetir sobrecomo anda o seu processo de trabalho.

    Introdução ao móduloProcesso de trabalho em saúde

    Foto: Peter Ilicciev - Fiocruz Multimagens

    Foto: Arquivo Secretaria Municipal de Saúdede Belo Horizonte

    Foto: Arquivo Secretaria Municipal de Saúdede Belo Horizonte

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    Atividade 1Você conheceu a equipe de Vila Formosa. Agora é a vez de você seapresentar!Você deve elaborar uma descrição do seu município, da comunidade/áreade abrangência de sua equipe, da sua unidade de saúde, da sua equipe desaúde e do seu dia-a-dia. Essa descrição será retomada no módulo III, nodiagnóstico situacional da área de abrangência de sua equipe.Guarde seu trabalho em seu portfólio. Consulte, no cronograma da discipli-na, os outros encaminhamentos solicitados para esta atividade.

    Mapa contextual

    Provavelmente você deve enfrentar muitos problemas no seu diadia de trabalho. Podemos dizer que todo trabalho em equipe constum desao porque há uma diversidade de pessoas e ideias diante de u

    processo de trabalho comum a todos. Podemos reconhecer um poucdessa situação, assistindo parte de uma reunião da Equipe Verde.

    Cena 1: Reunião da equipe verde

    Cenário: Equipe reunida no quintal do centro desaúde à sombra do abacateiro. Pessoas senta-das em bancos e cadeiras, uma pessoa sentada àfrente de uma mesa com um caderno.

    Pedro: Vamos começar a reunião? A Aline disseque chegará mais tarde. Quem faz a ata da reu-

    nião de hoje? Da última vez foi a Sônia.Mariana: Acho que é a minha vez.

    Pedro: Sônia, você pode ler a ata da última reu-nião?

    Sônia: Olha, gente, foi muito difícil fazer a ata por-que ninguém obedecia à pauta. Então, cou umaconfusão. Mas, vamos lá: “leitura da ata...”.

    Renata: É, acho que você tem razão, a última reu-nião foi realmente muito confusa. Vamos ver sehoje a gente consegue discutir respeitando a pau-

    ta. Por falar nisso, qual é a pauta?Marco Antônio: A mesma de sempre.

    Renata: Também não é assim.

    Marco Antônio: Mas é sério. A impressão queeu tenho é que a gente anda em círculos e sem-pre acabamos caindo na mesma discussão. Eu jáestou cando desanimado. Entra ano, sai ano enão estou vendo mudança nenhuma. “Se quere-

    mos resultado diferente do nosso trabalho, pre-cisamos fazer as coisas diferente”. Mas o que éesse diferente? É aí que nós estamos atolados enão saímos do lugar.

    Pedro: Pois eu vou falar pela enésima vez. Achoque o nosso problema é a falta de planejamento.

    Renata: Pois eu acho que a falta de tempo e aenorme demanda de atendimento é que nos im-pedem de planejar.

    Marco Antônio: Quem veio antes: o ovo ou a gali-nha? Nós não planejamos porque não temos tem-

    po ou não temos tempo porque não planejamos?

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    Marco Antônio: A ideia me parece interessan-te. Eu concordo. Mas o que é isso mesmo?Processo de trabalho?

    Cláudia: Olha, gente, apesar de estar aqui hápouco tempo, acho que realmente a gente pre-cisa fazer alguma coisa. Quero fazer uma pro-posta. Não sei se vocês sabem, mas eu, o Pe-dro e a Renata estamos começando um cursode especialização e a primeira tarefa dessecurso é fazer uma reexão sobre o nosso pro-cesso de trabalho, sobre o nosso de jeito detrabalhar. Quem sabe a gente não faz isso paraa equipe toda?

    Talvez você concorde que a situação apresentada na reunião da EquipeVerde seja, infelizmente, muito comum entre as milhares de equipesreais que atuam no PSF. Frequentemente, temos o sentimento de que“entra ano, sai ano...”, os avanços que conseguimos estão aquém dasnossas expectativas; parece que a demanda e a pressão por atendimento“nos engolem”. Por outro lado, felizmente, também encontramos muitasequipes que, vivendo realidades semelhantes, conseguem administrarbem a demanda, criar vínculos com a comunidade, desenvolver algunsprojetos e provocar mudanças, conseguindo atingir objetivos e metas e,com isso, mais satisfação com o seu trabalho. O que diferencia, então, otrabalho das equipes que conseguem romper com a “inércia” do trabalhode equipes que têm diculdades e não conseguem sair dessa “inércia”? Épossível que a resposta para essa pergunta esteja relacionada, entre outrascoisas, à forma como cada equipe trabalha ou, dito de outra maneira, à

    forma como as equipes organizam seu processo de trabalho.Pare e reita sobre o trabalho da sua equipe, respondendo às questõesapresentadas a seguir.

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    É possível extrair do texto anterior uma das mais importantes razõesda “inércia”, ou seja, a força da “cultura institucional”. Não estamos nosreferindo a uma instituição especíca, mas à forma de fazer em um deter-minado sistema, coletividade ou grupo prossional, em um determinadotempo histórico.

    Atividade 3Reita sobre o texto apresentado, retome as respostas dadas por você naatividade 2 e analise as relações que podem ser estabelecidas entre o textoe o resultado da atividade. Vamos discutir suas conclusões no fórum.Até este ponto do módulo, procuramos fazer com que alguns recortes darealidade – de uma equipe hipotética ou de equipes concretas, como a sua,explicitassem o cotidiano de um processo de trabalho: quem faz, como faz,

    com o que faz, por que faz e quais os resultados alcançados com o trabalho.Com o texto seguinte, pretendemos que você compreenda ou consolideos seus conhecimentos sobre os elementos que compõem um processode trabalho, tendo como referência o seu cotidiano e as possibilidades detransformá-lo, sempre que necessário.

    Web

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    A organização e a gestão dos processos de trabalho em saúde, em espcial do trabalho de uma equipe na atenção básica, constituem um dos eixcentrais da reordenação da atenção à saúde no SUS. Por isso, julgamos necsário aprofundar o nosso conhecimento sobre o processo de trabalho em gee do processo de trabalho na atenção básica em particular.

    Abordaremos nesta seção os componentes do processo de trabalho

    no nal você encontrará também uma recapitulação do assunto abordaDiante dessa organização, esperamos que o estudo desta seção posslhe oferecer subsídios para reetir criticamente sobre o processo trabalho, respondendo aos seguintes objetivos:

    • Compreender o processo de trabalho na sua totalidade e a intrelação dos seus elementos.

    • Identicar as especicidades de cada elemento do processo dtrabalho e suas implicações práticas.

    • Perceber o funcionamento do processo de trabalho numa perspectidinâmica e reiterativa.

    • Compreender a importância da avaliação constante no procesde trabalho.

    Foto: Peter Ilicciev - Fiocruz Multimagens

    Foto: Paulo Rodino - Fiocruz Multimagens

    Foto: Raul Santana - Fiocruz Multimagens

    Foto: Arquivo Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte

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    1ParteComponentes do processo detrabalho

    O modo como desenvolvemos nossas atividades prossionais, o modocomo realizamos o nosso trabalho, qualquer que seja, é chamado de processode trabalho. Dito de outra forma, pode-se dizer que o trabalho, em geral, é oconjunto de procedimentos pelos quais os homens atuam, por intermédio dos

    meios de produção, sobre algum objeto para, transformando-o, obterem deter-minado produto que pretensamente tenha alguma utilidade.

    A reexão crítica e contínua sobre o processo de trabalho e sua transfor-mação é uma característica marcante da humanidade e constitui uma partecentral do processo de desenvolvimento humano. O grau de diculdadedessa reexão aumenta com a complexidade e com a indeterminação dosprocessos de trabalho. Quanto mais complexo o processo de trabalho equanto menos sistematizado ele for, mais difícil será reetir sobre ele.

    Essas são características muito presentes na ABS e no PSF. Por isso,é fundamental que os prossionais aí inseridos desenvolvam habilidades

    para a aplicação de instrumentos que possibilitem a reexão crítica e atransformação do seu processo de trabalho.Em um processo de trabalho,as nalidades ou objetivos são proje-

    ções de resultados que visam a satisfazer necessidades e expectativas doshomens, conforme sua organização social, em dado momento histórico.

    Os objetos a serem transformados podem ser matérias-primas oumateriais já previamente elaborados ou, ainda, certos estados ou condi-ções pessoais ou sociais.

    Exemplos

    Transformar o minério de ferro e o carvão em aço; transformar a madeira emuma mesa; transformar um corpo/pessoa doente em um corpo/pessoa maissaudável; mudar o comportamento de uma pessoa a respeito de sua saúde;mudar o comportamento de uma comunidade a respeito do meio ambiente.

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    Os meios de produção ou instrumentos de trabalho podem semáquinas, ferramentas ou equipamentos em geral, mas também, em umvisão mais ampla, podem incluir conhecimentos e habilidades.

    Os homens são os agentes de todos os processos de trabalho emque se realiza a transformação de objetos ou condições para se atingir previamente estabelecidos.

    O conceito e o esquema geral dos processos de trabalho são oriundda economia e ganharam utilidade especial na análise de processos trabalho especícos na ergonomia e saúde do trabalhador, na engenhade produção e na administração.

    Vamos, a partir de agora, abordar, de forma um pouco mais detalhacada componente do processo de trabalho.

    1.1 | Objetivos ou nalidadesTodo processo de trabalho é realizado para se atingir alguma(s) nalida

    determinada(s) previamente. Pode-se dizer, portanto, que a nalidade rege to processo de trabalho e é em função dessa nalidade que se estabelecem ocritérios ou parâmetros de realização do processo de trabalho.

    O objetivo do processo de trabalho é a produção de um dado objou condição que determina o produto especíco de cada processo trabalho. Com esse produto, por sua vez, pretende-se responder a algumnecessidade ou expectativa humanas, as quais são determinadas ocondicionadas pelo desenvolvimento histórico das sociedades.

    Deve-se destacar que, como todo processo de trabalho é regido pelns estabelecidos, a escolha e o estabelecimento desses ns ou objetivosão uma atividade de crucial importância. É aí que se localizam, meque não explicitamente, as grandes questões sociais e de poder na deteminação dos processos de trabalho.

    Atualmente, em nossa sociedade, em quase todas as instituições, denição das nalidades está quase completamente alienada, fora poder de decisão dos trabalhadores que realizam as atividades produtidiretas. Quem dene as nalidades são, geralmente, grupos restritos qocupam os níveis mais elevados da hierarquia institucional. Talvez, por seja comum o fato das análises dos processos de trabalho omitirem escomponente – o objetivo – em seus esquemas analíticos, tratando-o comum dado externo ao próprio trabalho. Essa é, em nosso entendimenuma visão equivocada e viciada, que pressupõe a impossibilidade detrabalhadores deliberarem sobre o conjunto da produção social.

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    1.2 | Meios e condiçõesTodo processo de trabalho é desenvolvido com o uso de meios especí-

    cos para cada condição particular. Os meios e condições de trabalho secombinam na realização do trabalho, por meio da atividade produtiva. Elesabrangem um espectro muito amplo:

    • As ferramentas e estruturas físicas para o trabalho, como máquinas,equipamentos, instrumentos, edicações e o ambiente, que permi-tem que o trabalho se realize;

    • os conhecimentos, sistematizados ou não, e as habilidades utilizadasno processo de trabalho, comumente chamados de meios intangí-veis (ou tecnologias leve-duras e leves, na terminologia cunhada porEmerson Merhy para a análise dos processos de trabalho em saúde);

    por m, podemos considerar, também, as próprias estruturas sociais,que são determinantes, por exemplo, para as relações de poder notrabalho e para a remuneração dos diversos tipos de trabalho.

    1.3 | ObjetoTodo processo de trabalho se realiza em algum objeto, sobre o qual se

    exerce ação transformadora, com o uso de meios e em condições deter-minadas. Elementos físicos e biológicos ou mesmo elementos simbólicos,assim como subjetividades ou complexos sociais, podem ser objetos nosdiversos processos de trabalho.

    ObservaçãoO uso do termo “objeto” na análise técnica de processos de trabalho, algumasvezes, é feito no sentido do m ou da meta do processo. Aqui utilizamos otermo “objetivo” nesse sentido e reservamos ao termo “objeto” o signicadode matéria, condição ou estado sobre o qual se exerce a atividade produtiva(ação) no sentido de sua transformação.

    1.4 | Agente ou sujeito

    Todo processo de trabalho tem um sujeito – ou conjunto de sujeitos –que executa as ações, estabelece os objetivos e as relações de adequaçãodos meios e condições para a transformação dos objetos.

    Deve-se considerar o agente do trabalho na complexidade de sua exis-tência real. Nos processos de trabalho em geral, muitas vezes a atividade é

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    realizada por apenas um indivíduo, embora raramente isso ocorra em to processo de trabalho. Trata-se, então, de um sujeito individual exerceuma atividade ou um conjunto dado de atividades. Frequentemente, entanto, encontramos, nos processos de trabalho, atividades coletivaconjuntas ou complementares de vários indivíduos. Nesse caso falamnormalmente, em trabalho de grupo ou de equipe.

    A maior parte dos processos de trabalho, individuais ou de equrealiza-se dentro de organizações sociais ou instituições especialmeconstituídas para um determinado m. Além disso, deve-se consideainda, que todos esses sujeitos são formados e desenvolvem suas ativdades em uma sociedade determinada. Assim, os objetivos, bem como procedimentos analíticos e operacionais de adequação de meios, conções e ns, são estabelecidos e realizados em todos esses níveis (sociainstitucional, de equipe ou grupo e individual).

    Portanto, dependendo da perspectiva de análise, o agente do trabalpode e deve ser visto como um indivíduo, um grupo ou equipe, uma intuição ou uma sociedade.

    1.4.1 | Objetivos existenciais ou sociais nos processosde trabalho

    Até este ponto do texto, consideramos os objetivos dos processode trabalho sob um ângulo predominantemente técnico, da nalidaimediata do trabalho (produzir uma mesa, aplicar uma vacina, preparar

    comida, etc.). Porém, todo processo de trabalho realiza também objetiexistenciais e sociais dos sujeitos nele envolvidos, objetivos esses qpodem estar claros ou não para esses sujeitos.

    Em primeiro lugar, o processo de trabalho é um momento privilegiadexercício de capacidades, de manifestação ativa dos indivíduos e, por ipodemos dizer que a realização em si dessas individualidades é também objetivo de todo trabalho. Dito de outra forma, desenvolver a capacidadepossibilidade de realizar um trabalho pode ser, em si mesmo, um objetivo.

    Por exemplo: A capacidade que desenvolve um membro de uma equipe desaúde de organizar e conduzir uma reunião pode ser tão importante para esssujeito quanto os resultados alcançados com essa reunião, na medida em qurepresentou um desao pessoal que foi superado.

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    Aqui se incluem potencialidades e expectativas individuais que são sempreformadas ou desenvolvidas socialmente. Mas deve-se destacar que parte nãodesprezível dessa realização, assim como da produtividade do trabalho, deve-seàs relações interpessoais nas equipes de trabalho. Dessa inter-relação tambémemergem objetivos diversos daqueles relacionados à realização dos produtosque tecnicamente são o m do trabalho da equipe.

    Em segundo lugar, é claro que as instituições apresentam objetivosque vão muito além da simples realização dos produtos para os quais elassão designadas. Esses objetivos variam, certamente, com o caráter dasinstituições em questão. Um exemplo clássico é aquele das empresasprivadas dentro das relações sociais capitalistas. Nessas condições, asinstituições sempre têm como objetivo nal não apenas a fabricação deum produto, mas, também, produzir certo volume ou percentual de lucroou conquistar certa posição no mercado. A realização de seus produtos ouserviços é, de fato, meio para atingirem tal m. Do mesmo modo, dentrodas instituições públicas por meio das quais se realizam, por exemplo,os serviços públicos de saúde e educação no Brasil, há objetivos de inte-resse dos representantes políticos, tais como a conquista e a manutençãode posições de poder nos diversos níveis institucionais: local, municipal,regional, estadual e nacional.

    Por m, todos esses objetivos ou expectativas individuais, grupais ouinstitucionais se dão numa determinada sociedade que também produz(de uma maneira ou de outra) objetivos ou expectativas, expressos, maisou menos claramente, em padrões, valores e metas.

    Nos níveis institucional e social é que se denem, também, as retri-buições, as recompensas (salário, por exemplo) atribuídas aos diversosindivíduos, conforme suas posições na divisão do trabalho. Essas recom-pensas representam parcela signicativa das condições de trabalho e, aomesmo tempo, certamente, constituem parte dos objetivos dos agentesindividuais nos processos de trabalho.

    Pode-se concluir que todos os objetivos dos processos de trabalhosão, portanto, estabelecidos por subjetividades ou complexos de subje-tividades em diversos níveis de estruturação, que, como tal, funcionamcomo agentes, em sentido amplo, nos processos de trabalho.

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    Ao longo desse texto foram elencados e analisados os elementos do pro-cesso de trabalho em geral. Para avaliarmos a sua compreensão sobreesses conceitos, procure identicar, em cada situação relacionada noquadro a seguir, os seguintes elementos: objetivos e nalidades, agentes,objetos e meios.Guarde seu trabalho no portfólio. Consulte, no cronograma da disciplina, osoutros encaminhamentos solicitados para esta atividade.

    Atividade 4

    Situações Objetivos/nalidades

    Agentes Objetos Meios

    Realização de umgrupo operativo

    Uma campanha devacinação

    O atendimentomédico da demandaespontânea

    Programa deEducação para aSaúde dirigido aosadolescentes

    Mapa contextual

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    Vamos, agora, iniciar a discussão de um processo de trabalho comcaracterísticas particulares, que é o processo de trabalho na prestaçãode serviços. É importante atentarmos para essas características, uma vez

    que o trabalho em saúde é uma prestação de serviços também bastanteparticular. O entendimento dessas características e das particularidades dotrabalho em saúde nos ajudará, certamente, a denir as melhores alterna-tivas para enfrentarmos os problemas de saúde de nossas comunidades.

    Recapitulando ...

    peça fundamental para o desenvolvimento dequalquer processo de trabalho.

    Em geral, os componentes dos proces-sos de trabalho são, eles próprios, produtosde trabalho. A sua produção é uma criaçãohumana consciente e eles são uma adequa-ção concreta de recursos existentes aos nspostos. O funcionamento reiterativo dos pro-cessos de trabalho implica, como dito ante-riormente, algum tipo de avaliação e críticaque incide sobre os procedimentos e conhe-cimentos de cada processo de trabalho, pos-sibilitando a sua transformação consciente.

    A construção do conhecimento e de no-vas capacidades daí derivadas é elemento-chave no desenvolvimento dos processos detrabalho, em quaisquer de suas característi-cas, por exemplo, a produtividade, a satisfa-ção e a realização pessoal dos prossionaise dos usuários ou clientes, a economia demeios e otimização de recursos (o que é fun-damental para a preservação ambiental), etc.

    As condições, meios, objetos e os pró-prios agentes dos diversos processos de tra-balho são alvos de uma seleção, assim comode transformação e/ou de criação humanas, einteragem para a consecução dos objetivos,estabelecidos por indivíduos, grupos, institui-ções e/ou pela sociedade, buscando atenderàs suas necessidades e expectativas. Conse-quentemente, os processos de trabalho sãoavaliados pela adequação dos resultados a es-ses objetivos, necessidades ou expectativas.

    Os componentes do processo de traba-lho, incluindo os seus ns, a sua execuçãoe a própria avaliação, sofrem modicaçõesa partir desse processo crítico de avaliação.Isto é, os processos de trabalho são sempreavaliados em função dos seus resultados,mais ou menos intensos, consciente e siste-maticamente, conforme as condições sociaise institucionais em que eles se exercem. Aavaliação constitui, necessariamente, um mo-mento e um instrumento de crítica de todo oprocesso e sua execução. É, portanto, uma

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    Seção 2O processo de trabalho em atençãobásica à saúde

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    Esta seção tem como objetivo principal a discussão do processo de trabana Atenção Básica à Saúde (ABS). São objetivos especícos desta seção:

    • Identicar as especicidades do processo de trabalho em saúno âmbito de prestação de serviços;

    • compreender as implicações dessas especicidades no trabalhdas equipes de saúde;

    • compreender o papel do prossional de saúde nas especiciddes do processo de trabalho em saúde.

    Buscaremos identicar, articular e contextualizar os elementos processo de trabalho na realidade da prestação de serviços de saúdesuas particularidades, reetindo, ainda, sobre o conceito de território.

    Para cumprir esses objetivos, organizamos a seção em seis partes:Parte 1 – Especicidades do processo de trabalho na prestação serviçosParte 2 – A noção de territórioParte 3 – Os agentes e sujeitosParte 4 – Os objetivos e nalidadesParte 5 – Os meios e as condiçõesParte 6 – Os objetos e os produtos

    Fotos: Peter Ilicciev - Fiocruz Multimagens

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    Especificidades do processode trabalho na prestação deserviços

    1Parte

    Em uma prestação de serviços, o que se pretende como produto nãoé a modicação de matérias-primas ou de matérias pré-elaboradas queresultem em objetos úteis para o consumo individual ou coletivo. Essa é aimagem que mais imediatamente vem à nossa mente quando pensamosno processo de trabalho em geral, ligado à produção de bens de consumo.Por exemplo: transformar a madeira em uma mesa.

    Na prestação de serviços em geral, o objetivo é a criação ou produção decertas condições ou estados para os indivíduos demandantes dos serviços. Porexemplo: prestar uma informação, cortar o cabelo, passar uma roupa.

    Em alguns desses casos realizam-se, portanto, modicações nospróprios consumidores do serviço. Nessas situações, é preciso consi-derar que os consumidores do serviço são, também, sujeitos ou agentesdo processo de trabalho e são, ainda, em alguma dimensão de seu ser,objetos desse mesmo processo de trabalho. Esses são os casos, por

    exemplo, da saúde e da educação.Por m, deve-se considerar que, nos processos de trabalho em geral,também os agentes são modicados pelo exercício de sua atividadeprodutiva e pelos resultados de sua produção. Esse fato se apresentaainda mais intenso e diretamente na prestação de serviços, que se baseiaem relações interpessoais entre o prestador de serviço e o usuário oucliente e cujo objetivo é alguma modicação sobre esse usuário ou cliente.

    Exemplo: Ao prestarmos assistência a uma pessoa vítima de agressão, a nossaintervenção pretende provocar mudanças nessa pessoa no sentido de sua recupe-ração. Ao mesmo tempo, esse trabalho provoca transformações em nós mesmos.Solidarizamo-nos com a vítima; indignamo-nos com a agressão, aprendemos cadadia com cada situação que enfrentamos como prossional e cidadão.

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    Nesse caso, o processo de trabalho é, necessariamente, um momentprivilegiado e intenso na formação da subjetividade desse usuário e clieO prossional não pode estar alheio a essa dimensão de seu trabalho. Pum lado, porque ela é um de seus objetivos centrais e, por outro, porqa sua própria subjetividade também se forma e se transforma duranesse processo. A atividade produtiva é aí, então, direta e intensamenprodução de sujeitos, envolvendo os dois lados da relação: o usuário prossional. Assim é, como dissemos, na prestação de serviços eeducação e saúde. Nesses casos, podemos dizer, portanto, que o próprprossional é, também, de modo direto, objeto no processo de trabalh

    Esperamos ter cado claro que o processo de trabalho na prestação serviços se diferencia, em alguns aspectos, do processo de trabalho nprodução de bens (produtos). Agora, veremos as especicidades da prtação de serviços na saúde e particularmente na Atenção Básica à Saúd

    Vamos, agora, aplicar ao processo de trabalho em atenção à saúdeesquema geral dos processos de trabalho, com a característica especíde ser uma produção de serviços e não de bens de consumo.

    Entre as peculiaridades dos processos de trabalho na prestação dserviços, conforme exposto anteriormente, destacamos uma que é pernente ao trabalho em saúde: o usuário é o objeto no processo de trabalhmas é também um agente. Isso porque é em sua existência que as alteraçõebuscadas irão ou não ocorrer. Por isso, é evidente que ele deve estar ativmente envolvido para que elas ocorram, por exemplo, fornecendo inforções ou cumprindo recomendações que implicam, muitas vezes, mudanç

    de hábitos de vida (parar de fumar, emagrecer, etc.). Ou seja, o objeto da atambém age. Este tema será retomado na seção 4 deste módulo, quanddiscutiremos a determinação social da saúde e da doença.

    Na prática clínica, isso quer dizer que, muitas vezes, as prescriçe orientações dos prossionais de saúde sempre passarão pelo crivo usuário, que é, enm, quem decidirá o que será ou não feito. Podemdizer que este fato é:

    • Pouco menos importante ou desprezível em urgências e emegências e essencial em atenção básica;

    • menos presente nas doenças e eventos agudos, sendo determinante no acompanhamento de casos crônicos;

    • pouco relevante quando a abordagem clínica se restringe ao pecto biológico e a terapêutica se restringe à intervenção farmcológica ou cirúrgica;

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    • importante quando se consideram aspectos psicossociais (inclu-sive comportamentais) na abordagem do problema e no planoterapêutico.

    Atividade 5Considerando as especicidades da prestação de serviços em saúde assi-naladas anteriormente, responda: qual o papel da comunicação no processode trabalho em saúde?Vamos discutir essa questão no fórum.

    A atenção básica em saúde, entendida como o componente primáriode redes de serviço de saúde, é exercida atualmente em várias regiõesdo mundo, predominantemente por meio de um médico generalista,atendendo a uma população denida/vinculada. No modelo do PSFbrasileiro, a atenção é prestada por meio de uma equipe formalmenteconstituída, que traz como peculiaridade a gura dos agentes comunitá-rios de saúde, reforçando a abordagem comunitária. Outra característicaimportante do PSF é a denição de um território ou área de abrangênciade cobertura de cada equipe ou um território, que se obtém pela vincu-lação de um número de pessoas de determinada área adscrita a umaequipe de referência. Aqui vale a pena abrir um parêntese e reetir sobreo signicado da palavraterritório.

    Web

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    A noção de território

    2Parte

    Estratégia fundamental na construção do SUS, a descentralizaçvisa à melhor organização dos serviços, respeitando as característidas diferentes regiões em nosso país. Além disso, tem por objetivo, ecada local, conferir mais autonomia aos dirigentes e trabalhadoressaúde para, junto com a população, conhecer a realidade e, a partir desconhecimento, planejar, implementar e gerenciar programas de saúde qrespondam, com eciência e ecácia, aos problemas e às demandas identicados. Assim, a partir da descentralização, desencadeiam-se processos de regionalização e de municipalização da saúde.

    Com a efetivação da regionalização e, principalmente, da municização, alguns conceitos vêm sendo estudados e desenvolvidos no esforde subsidiar o planejamento e a organização dos serviços de saúde, tcomo os de território, de área de abrangência, de área homogênea, mrecentemente, com as Normas Operacionais de Assistência à Saú

    (NOAS) e o Pacto da Saúde, os conceitos de município-polo, micmacrorregião assistencial. Todos eles têm, como base, o conceito “território”, que constitui um elemento fundamental à compreensão dmodelos de atenção.

    Por território, compreendemos não apenas uma área geográca dmitada, com características de relevo, vegetação e clima próprios, mtambém, um espaço social onde vive uma população denida e ona organização da vida dessas pessoas em sociedade obedece a umprocesso historicamente construído. Cada território apresenta caracteticas próprias, conformando uma realidade que, a cada momento, lhpeculiar e única (SANTOS, 1990).

    Esse processo deniu, e vem denindo, ao longo do tempo uma socdade com classes sociais diferentes, com diferentes culturas, condiçõde vida e de acesso aos serviços, inclusive os de saúde. Essas diferençgeram menos ou mais oportunidades das pessoas estarem sadias o

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    doentes. Geram, ainda, formas diferentes de se sentirem sadias oudoentes. (DONATO,1989; SANTOS,1990; WERNECK, 1998).

    Assim, se a saúde das pessoas, em dado local e em dado momento,é determinada pelas diferenças anteriormente citadas, a organização dosserviços de saúde deverá sempre levá-las em conta, para que os diagnós-ticos (dos riscos e dos danos), a denição das prioridades e das formas deatuação sejam mais justas, ecientes e ecazes. Os serviços não podemse basear apenas nos estudos da origem biológica quando da ocorrênciade doenças. É preciso conhecer onde, em quem, com que frequência,como e por que as doenças ocorrem. É necessário conhecer as condiçõesem que vivem as pessoas acometidas, o valor por elas atribuído a essasdoenças e os prováveis fatores que determinam e condicionam o apareci-mento e a manutenção dessas enfermidades.

    Fechando o parêntese e voltando à discussão das características espe-cícas do processo de trabalho em saúde, vamos analisar os elementosdo processo de trabalho, em geral, no processo de trabalho na ABS, consi-derando a estratégia de Saúde da Família.

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    Os agentes e sujeitos

    3Parte

    Na apresentação dos elementos do processo de trabalho, começamopelos objetivos porque eles funcionam como projeções que dirigem todrealização dos processos de trabalho. No entanto, vimos que esses objetivsão formulados por pessoas, grupos, instituições ou sociedades que atuamdireta ou indiretamente, sobre os processos de trabalho e, por isso, devem sconsiderados como seus sujeitos ou agentes. Como primeiro passo, vamidenticar, no caso da estratégia de Saúde da Família, esses agentes.

    3.1 | O agente institucional: o sistema de saúdeNo caso do PSF, trata-se de uma estratégia do sistema público de saúd

    desenvolvida, portanto, dentro de um organismo estatal. O sistema púbde saúde brasileiro é estruturado nas três esferas administrativas do estanacional: união, estados e municípios. Todos os elementos instituciona

    envolvidos, nos diversos níveis, são agentes dos processos de trabalho PSF, pois estabelecem objetivos para as atividades das equipes.

    3.2 | As equipes de Saúde da FamíliaAs equipes de saúde formalmente constituídas são os agentes o

    sujeitos grupais imediatos dos processos de trabalho em Atenção Básà Saúde no SUS.

    3.3 | Os prossionais que compõem as equipes deSaúde da FamíliaSão os agentes ou sujeitos individuais imediatos dos processos

    trabalho realizados pelas Equipes de Saúde da Família (ESF).

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    3.4 | Os indivíduos adscritos às equipes de Saúde daFamília

    Cada indivíduo adscrito a uma ESF é, pelo menos potencialmente,demandante de seus serviços e, também, como comentado anterior-mente, objeto e sujeito imediato em sua atuação.

    3.5 | A sociedadePor se tratar de componente de um sistema público de saúde, a atenção

    realizada pela equipe de SF atende, de um modo ou de outro, tambéma objetivos da população brasileira em seu conjunto, na forma em queela está organizada. O estado, que foi acima considerado como agenteno nível institucional, tanto serve como mediador como é componenterelevante da organização social e certamente também tem objetivos espe-cícos que podem ser distintos dos objetivos sociais.

    Além disso, conhecimentos, técnicas, valores e padrões de compor-tamento que se desenvolvem na prática das equipes de SF são produ-zidos socialmente. Também sob esse aspecto a sociedade é agente nosprocessos de trabalho em saúde.

    Cada ESF, por seu turno, deve também atender a objetivos que porventurasejam postos pela população local e, em muitos casos, essa mesma popu-lação, ou parcelas dela, é objeto e agente imediato nas ações desenvolvidas.Comumente, chamamos a esse subconjunto populacional (a população local)

    de comunidade. Deve-se destacar que, também nesse nível, conhecimentos,valores e padrões de comportamento são formados e os membros dasequipes de SFs com eles interagem, de um modo ou de outro.

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    Os objetivos e as finalidades

    4Parte

    A pluralidade de agentes anteriormente referidos – instituiçõequipes, gestores, comunidade/sociedade – dene objetivos e nalidaddistintos e por vezes contraditórios, conforme mostraremos a seguir.

    4.1 | Objetivos dos indivíduos adscritosOs indivíduos adscritos têm como objetivo principal a resposta às s

    necessidades e expectativas que são socialmente consideradas compróprias para os serviços de saúde.

    O alívio de suas dores e sofrimentos e a recuperação de sua capcidade psicosiológica são demandas que os indivíduos mais frequenmente apresentam às equipes. A proteção e até a promoção de sua saúdsão também demandas apresentadas aos prossionais, desde que sejamsocialmente reconhecidas como apropriadas para os serviços de saúde

    Assim, a vacinação de crianças e idosos, a realização de alguns exampreventivos ou o tradicionalcheck-up , o acompanhamento de pré-nataou de hipertensos são demandas postas pelos indivíduos em algumcircunstâncias. Raramente veremos, no entanto, usuários requisitanpráticas educacionais e atividades para a mudança de comportamentou a modicação do padrão de suas relações sociais e prossionais, efunção de impactos esperados em sua saúde.

    Portanto, a maioria das expectativas e necessidades apresentadas peloindivíduos aos prossionais de saúde compõe o que tradicionalmentechama de demanda espontânea. Algumas poucas estão dentro de açõeprogramáticas ou demanda estruturada daAtenção Básica à Saúde.

    Em geral, a relação estabelecida é aquela característica da prestaçde serviços, cujo critério de ecácia é, fundamentalmente, a satisfaçdos usuários, ou seja, o nível de atendimento de suas expectativas.

    Outra característica fundamental da demanda em ABS é que pa

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    signicativa das necessidades e expectativas apresentadas pelos usuá-rios dos serviços não se limita às condições e sofrimentos biológicos, aocontrário, é diretamente derivada de condições psicossociais.

    Todos que trabalham com ABS sabem que os objetivos dos usuáriospara e em relação aos serviços de atenção básica implicam potenciaiscontradições em si mesmas (e também em relação aos objetivos institu-cionais do sistema de saúde, das equipes e dos prossionais envolvidos,como veremos adiante). Por um lado, estão relacionados à realização deconsultas e exames e à medicalização dos problemas e, por outro, ultra-passam as possibilidades de uma solução apenas biomédica. Para a reso-lução dessas contradições e a superação das tensões que elas produzem,é necessário o desenvolvimento e utilização de tecnologias próprias àAtenção Básica à Saúde. Essas tecnologias devem, necessariamente:

    • Considerar a necessidade de atenção e cuidado para com todasas demandas dos usuários;

    • ampliar a capacidade dos prossionais para lidar com as dimen-sões psíquica e social (cultural, prossional, econômica, etc.) dosindivíduos, inclusive as suas próprias, que interagem;

    • ampliar as capacidades comunicativas e gerenciais dos prossio-nais, necessárias para a atuação comunitária e para a organizaçãoda assistência.

    4.2 | Objetivos coletivos locaisA “comunidade” local, na forma real em que está estruturada, apresenta

    demandas correspondentes a necessidades e expectativas de grupos constitu-ídos, formal ou informalmente, no território da equipe. Associações comunitá-rias, grupos de correligionários políticos com inuência local, grupos religiosose de várias outras naturezas coexistem nas áreas das equipes de SF. Essescoletivos apresentam demandas grupais ou de seus representantes, comalguma capacidade de pressão junto às equipes.

    Do mesmo modo que no caso dos indivíduos adscritos, essasdemandas frequentemente têm o foco na assistência individual (acessoa consultas, exames, especialistas, etc.). Portanto, as potenciais contra-dições apresentadas na análise dos objetivos individuais também seapresentam aqui e, do mesmo modo, também aqui se apresenta a neces-sidade do desenvolvimento e da implantação de tecnologias próprias paraa atenção básica. Essas tecnologias devem permitir tanto o diagnóstico

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    quanto a abordagem das demandas e, principalmente, das necessidadedas comunidades. No nível comunitário, destaca-se o diagnóstico locaprincipalmente, a capacidade dos prossionais para identicar e lidar as inuências políticas e com as diversas redes sociais locais, ativandosuas potencialidades para ampliar a atenção às necessidades de saúde.

    4.3 | Objetivos institucionaisVárias dimensões institucionais se entrecruzam na composição

    sistemas de saúde públicos em geral e na atenção básica em particulEm primeiro lugar, vamos considerar os objetivos do sistema de saúde geral, os objetivos do SUS.

    Esses objetivos estão determinados constitucionalmente e nas leis orgnicas do SUS e se consolidam em suas normas operacionais e portartécnicas. No entanto, não cabe aqui detalhar os princípios e as diretrizesSUS, que serão objeto de texto especíco na sequência deste módulo.

    No contexto da análise do processo de trabalho em ABS, podemos armque o objetivo geral do SUS, como de todo sistema público nacional e univde saúde, deve ser a melhoria do nível de saúde da população do país, dende limites éticos e econômicos que são estabelecidos socialmente.

    Esse é o objetivo central de todo sistema nacional de saúde. Tal objetivo estáclaramente expresso em dois relatórios de Ministros da Saúde do Canadá,que são marcos fundamentais para a institucionalização da promoção dasaúde, os conhecidos relatórios (LALONDE, 1974; EPP, 1986).

    De acordo com Lalonde, o objetivo do sistema canadense seria:

    “Ampliar a liberdade de doença e incapacidade, assim como promoverum estado de bem-estar suciente para a performance em níveisadequados de atividade física mental e social, ampliando o número dedias livres de doença nas vidas.”

    Já nas palavras de Jake Epp:

    Nossa maior responsabilidade é garantir que a saúde dos canadenses sejapreservada e ampliada, um objetivo que somente pode ser atingido se acada um de nós puder ser garantido acesso equitativo à saúde.”Não é de se estranhar que esses objetivos estejam claros para os Ministrosda Saúde do Canadá, já que naquele país o sistema de saúde é comple-tamente público e de acesso universal, o que implica a responsabilizaçãoinstitucional do Ministério da Saúde com a saúde de toda a população.

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    O objetivo geral do SUS no âmbito nacional é reposto nos níveis estaduaise municipais, assim como nos distritos, áreas e microáreas das equipes deSaúde da Família, correspondendo aos diversos níveis de responsabilização dosistema com a saúde da população.

    Entre as estratégias para se atingirem esses objetivos podemos destacar:a devida gestão dos recursos disponíveis; a regionalização e hierarquização dosserviços; a estruturação das redes de serviços a partir da atenção primária, queexerce função coordenadora; a adoção de diretrizes clínicas e tecnologias maisecientes e ecazes (destacando-se as ações de prevenção e, principalmente,de promoção à saúde) em cada nível do sistema, etc.

    No entanto, não se deve esquecer, também, que o sistema público desaúde é parte do Estado nacional e, como tal, é organizado sob a lógicapolítica, respondendo, portanto, também aos objetivos políticos que seapresentam em cada nível do Estado. No caso da Atenção Básica à Saúdee da equipe de SF, em especial, dada sua forte inserção comunitária, osinteresses e objetivos políticos locais e municipais têm certamente forteinuência sobre a sua atuação.

    Também aqui é necessário ter claro que esses objetivos podem estarem contradição com os objetivos gerais do sistema de saúde. Como apon-tado na análise dos objetivos coletivos locais, a capacidade de mapear eativar as diversas inuências políticas que atuam localmente, no sentidode atender às necessidades de saúde da população, é uma das habilidadesque se requerem em Atenção Básica à Saúde.

    4.4 | Objetivos da sociedadeA sociedade, considerada um sujeito coletivo, depende das capaci-

    dades gerais dos seus indivíduos, inclusive as psicosiológicas, para sedesenvolver. A proteção e a promoção da saúde do conjunto dos indiví-duos são, portanto, necessidades de toda sociedade.

    No entanto, as demandas sociais para o sistema de saúde, muitasvezes, não correspondem a essa necessidade geral. Por um lado, issoocorre porque não se tem o conhecimento necessário sobre o que real-mente protege e promove a saúde da maioria dos indivíduos em umadeterminada sociedade ou esse conhecimento não é sucientemente

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    difundido. Por outro lado, isso ocorre porque as demandas sociais apresentadas por grupos de pressão, com interesses próprios.

    Os interesses de prossionais de saúde ou de grupos de prestadorede serviços, por exemplo, frequentemente são apresentados comdemandas de toda a sociedade. Sob esse aspecto, merece destaque ofato de que o complexo médico-industrial, desde a formação dos prosionais e ao longo de toda a sua carreira, consegue apresentar os seuinteresses como imprescindíveis para se atingirem os objetivos sociais

    Discernir o que legitimamente atende às necessidades sociais do qinteressa somente aos interesses corporativos e empresariais é tarefa difícilprópria pesquisa médica e as entidades prossionais estão, frequentemencomprometidas com esses interesses. Apesar das diculdades, esse discenimento é fundamental para a escolha das alternativas mais custo-ecazeque realmente atendam às necessidades da população. O acesso atualizade a avaliação sem preconceitos das evidências advindas da epidemiologia eclínica, da história e dos outros campos do conhecimento social são recurque podem contribuir para tal discernimento.

    4.5 | Objetivos dos prossionais e das equipesde saúde

    Como todas as pessoas e grupos de trabalho, os prossionais e aequipes de saúde têm seus objetivos prossionais e existenciais, sua

    necessidades e expectativas, de condições de trabalho e renda, drealização e desenvolvimento de suas capacidades, de reconhecimenetc. Esses objetivos têm muita importância nos processos de trabalho portanto, devem ser considerados, de modo preciso, em sua gestão. Dessforma, a constituição de uma equipe e seu funcionamento dependem interação de vários sujeitos que têm objetivos e perspectivas às vezmuito diferentes. Provavelmente, o envolvimento de um prossional “está de passagem” pelo PSF será diferente do de um outro que “veste camisa” da atenção básica.

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    Os meios e as condições

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    Os equipamentos e suplementos técnicos, as edicações das unidadesde saúde e outros equipamentos sociais utilizados na ABS são condições quepermitem ou não que alguns dos objetivos do trabalho em Atenção Básica àSaúde sejam atingidos. Por exemplo: ter ou não ter uma mesa ginecológicana unidade de saúde, ter ou não ter uma balança, ter ou não ter espaço parareunião, ter ou não ter condições para a realização de uma cirurgia ambulato-rial, ter ou não ter acesso à base de dados dos sistemas de informação emsaúde são condições que podem contribuir, pelo menos em parte, para osucesso ou não de uma atividade, de um programa ou projeto.

    Além desses meios físicos, devemos considerar, também, os conheci-mentos e habilidades dos prossionais e os meios constituídos pela inte-ração dos prossionais entre si e destes com os usuários e a comunidadecomo condições para a realização do trabalho.

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    Os objetos e os produtos

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    O objeto no processo de trabalho em saúde está constituído por processou estados sociais, psíquicos ou biológicos cuja alteração pode ter impapositivo sobre a saúde de indivíduos, grupos de pessoas ou comunidadComo indicado anteriormente, em se tratando de Atenção Básica à Saúas condições sociais e psíquicas têm muita relevância na determinação dcondições de saúde e nos resultados das intervenções dos prossionais portanto, constituem objetos fundamentais das intervenções, requerendpara isso capacidades, habilidades e tecnologias especícas.

    Podemos concluir que, apesar de não resultar em um produto de consumdeterminado, como no caso da produção industrial, nem por isso o trabanos serviços de saúde deixa de ter um produto denido, aqui entendido co“o efeito positivo de tais alterações sobre a saúde das pessoas”.

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    Diante das leituras e reexões realizadas até este ponto do módulo, pro-cure rever o quadro que você preencheu na atividade 4 e analise-o. Vocêmodicaria alguma coisa nele? O que modicaria? Guarde seu trabalho em

    seu portfólio. Consulte, no cronograma da disciplina, os outros encaminha-mentos solicitados para esta atividade.

    Atividade 6

    Um aspecto que perpassa esse esquema e que, na prática, pode fazea diferença é a reexão contínua de cada prossional e da equipe sobrseu processo de trabalho, considerando, principalmente, as nalidadesmesmo. Essa reexão é uma tendência da gestão contemporânea e, amesmo tempo, um possível instrumento de transformação das relaçõespráticas prossionais.

    Em geral, reexão implica a superação de concepções e práticas comue habituais. Na ABS, essas práticas e concepções consideradas naturaalgo que “nós temos que fazer porque todos fazem assim”, também correpondem à nossa capacitação básica, à formação que recebemos ao longo nossa vida como prossionais e cidadãos. No entanto, a insatisfação e a frtração de grande parte dos prossionais em ABS, assim como os resultadlimitados que temos obtido, nos impõem essa reexão crítica.

    Além disso, é importante frisar que os prossionais e as equipes

    saúde são os protagonistas imediatos de todos os processos de trabalhem saúde; portanto, é justamente na denição dos seus processode trabalho que se elege a quais dos diversos objetivos anteriormendescritos se procura atender. Por isso é tão importante essa reexão.

    Mapa contextual

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    Seção 3Modelos de determinação social da saúdee da doença

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    Nesta seção, vamos iniciar a discussão sobre como a saúde e a doende cada indivíduo e dos diferentes grupos sociais são “produzidas”, ou secomo sãodeterminadas a saúde e a doença. Como explicar as diferençatão marcantes no estado de saúde dos diferentes grupos sociais ou dentrde um mesmo grupo social?

    Ao tratarmos destas questões neste módulo, esperamos que ele permita

    • Repensar o nosso processo de trabalho, em particular as nali

    des no nosso trabalho;• entender a forma como organizamos os nossos sistemas d

    saúde e os modelos assistenciais que adotamos em diferentemomentos de nossa história.

    Nesse sentido, organizamos esta seção em quatro partes:

    Parte 1 - A determinação social dos indivíduosParte 2 - O conceito de saúdeParte 3 - Determinantes sociais da saúdeParte 4 - Evidências da determinação social da saúde

    Iniciamos esta discussão com uma reexão sobre nossa própria “detminação” ou, dito de outra forma, o que explica as trajetórias das pessoindividualmente e dos diferentes grupos sociais.

    Fotos: Peter Ilicciev, Raul Santana e Vinícios Marinho - Fiocruz Multimagens

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    É consenso no pensamento social contemporâneo que os indivíduossão determinados por sua posição na sociedade. Todos reconhecemosque os meios materiais e espirituais para o desenvolvimento e a reali-zação de capacidades a que os indivíduos têm acesso no curso de suasvidas, assim como a teia de relações peculiar nas quais cada indivíduorealiza a sua existência, denem as possibilidades e formam as caracte-rísticas das existências individuais.

    Essa determinação atravessa todas as dimensões da vida social.Pode-se considerá-la desde o nível mais amplo, em que encontramos asrelações econômicas e macrossociais que hoje são, certamente, denidasno plano mundial.

    Um exemplo claro e evidente dessa determinação macrossocial sobrea vida das pessoas é a acentuada diferença entre as possibilidades dedesenvolvimento e realização pessoal que estão dadas para as populações

    dos diversos países. Para comprovar isso, basta você considerar, por uminstante, o nível de proteção social que se tem nos países nórdicos comoum extremo e na África subsaariana, como outro. É razoável supor que osníveis de saúde e de violência social geral, nessas diferentes sociedades,sejam determinados por aquela diferença no nível de proteção social.

    Talvez você não se dê por satisfeito com esse exemplo. Alguns podematribuir essa diversidade nas condutas a diferenças naturais dos indivíduosque compõem as diferentes populações. A história tem comprovado ocontrário. Como exemplo, podemos citar o fato de que as populaçõesmigrantes, com o tempo, adquirem características comportamentaispróximas da cultura para onde migraram e isso é tão mais intenso quantomaior for a interação que estabelecem com essa nova cultura. No entanto,muitos podem ser reconfortados com a justicativa naturalista, porque elanos desvia da crítica social.

    A determinação socialdos indivíduos

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    Porém, o próximo exemplo é ainda mais marcante e nele a detminação social surge mais diretamente evidente. Esse exemplo esnas crises econômicas que, aqui e ali, acometem um ou vários paísNa grande crise mundial que, em 1997/98, atingiu em cheio países Sudeste asiático, a Rússia e o Brasil, a Indonésia viu a renda de mais demilhões de pessoas cair abaixo da linha da pobreza e mais de 14 milhde pessoas serem lançadas no desemprego em poucos meses. Não édifícil conceber o quanto isso representou em aumento de desespero, violência em todos os níveis, de sofrimento e morte para essa populaç

    O preço em qualidade de vida cobrado pela crise nanceira na Indonésnão foi plenamente computado nem divulgado e acredita-se que tenha sidparcialmente mitigado por pacotes de ajuda internacional, no bojo de imptantes mudanças políticas, com a deposição do presidente do país. Para mai

    informações, ver:• http://www.unctad.org/en/docs/poedmm135.en.pdf• http://www.medact.org/content/health/documents/poverty/Simms%2

    and%20Rowson%20-%20Reassessment%20of%20health%20effects%20Indonesia.pdf

    De todo modo, é mais que evidente que as grandes crises sociais cobrampreço altíssimo em qualidade e duração da vida das pessoas. Esse fato estáperfeitamente documentado nas crises que ocorreram nos vários países doLeste europeu com o m do sistema soviético. A expectativa de vida aos 1anos caiu na Rússia e na antiga União Soviética lentamente, desde a metadda década de 70, e drasticamente a partir dos anos 90 até o ano 2000. No totaforam perdidos, em média, sete anos de vida para os homens e três para as

    mulheres (MARMOT, 2004).

    As possibilidades para o desenvolvimento e a realização de capacidaindividuais, as expectativas, os valores e o próprio caráter das pessosão, de fato, profundamente marcados pela estrutura econômico-socgeral que – acentuamos mais uma vez – é progressivamente mundial. padrões éticos em geral, o nível de competitividade entre as pessoas, padrões e pers mais gerais de consumo, etc. são certamente delineadonesse nível macrossocial.

    Como então há tanta diversidade de comportamentos dentro dmesmas condições estruturais da sociedade?

    Ocorre, em primeiro lugar, que as grandes estruturas econômicas sociedade podem conviver com uma relativa diversidade e independênde padrões culturais. É possível, por exemplo, como vemos hoje, a estura capitalista desenvolver-se em culturas democráticas e com tradição

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    respeito aos direitos civis, assim como em culturas de padrão autoritárioe até mesmo patriarcal.

    Em segundo lugar, as grandes estruturas econômico-sociais vão sefazer presentes na vida das pessoas, determinando-lhes o modo de serpor uma séri