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Graduação  2014.1 PROCESSO CIVIL: PROCEDIMENTOS REVISÃO: LUIZ ROBERTO AYOUB ATUALIZAÇÃO: JULIANO OLIVEIRA BRANDIS E JOSÉ AUGUSTO GARCIA DE SOUSA

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  • Graduao 2014.1

    PROCESSO CIVIL: PROCEDIMENTOS

    REVISO: LUIZ ROBERTO AYOUBATUALIZAO: JULIANO OLIVEIRA BRANDIS E JOS AUGUSTO GARCIA DE SOUSA

  • SumrioProcesso Civil: Procedimentos

    INTRODUO ..................................................................................................................................................... 3

    AULAS 01, 02 E 03. AS TUTELAS DE URGNCIA ANTECIPADA E CAUTELAR E A TUTELA INIBITRIA ................................... 6

    AULAS 04 E 05. PETIO INICIAL (ARTS. 282 E SEGUINTES DO CPC) E SENTENA DE IMPROCEDNCIA LIMINAR (ART. 285-A DO CPC) ................................................................................... 23

    AULA 06 E 07. ATOS DE COMUNICAO PROCESSUAL: CITAO, INTIMAO E CARTAS (PRECATRIA, ROGATRIA E DE ORDEM) ... 43

    AULAS 08 E 09. RESPOSTA DO RU E REVELIA ........................................................................................................... 56

    AULAS 10, 11 E 12. INTERVENO DE TERCEIROS E LITISCONSRCIO .............................................................................. 72

    AULAS 13 E 14. PROVIDNCIAS PRELIMINARES E JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO PROCESSO ..................................... 91

    AULAS 15, 16 E 17. PROVAS: TEORIA GERAL E ESPCIES ............................................................................................ 102

    AULA 18. AUDINCIA DE INSTRUO E JULGAMENTO ............................................................................................... 131

    AULAS 19, 20 E 21. SENTENA ............................................................................................................................ 137

    AULAS 22, 23 E 24. COISA JULGADA ...................................................................................................................... 148

  • PROCESSO CIVIL: PROCEDIMENTOS

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    INTRODUO

    1 VISO GERAL DA DISCIPLINA:

    O direito processual civil um ramo da cincia jurdica e uma das reas do direto pblico que estabelece as normas que disciplinam o exerccio do poder estatal na prestao da jurisdio, que pode ser confl ituosa ou no. Esse conjunto de normas visa estabelecer a efetividade da tutela jurisdicional, discriminando as atuaes das partes e do Estado-Juiz, desde a concepo da ao e defi nindo vrios elementos que devero reger a prestao jurisdicional, visto que o exerccio da jurisdio deve obedecer a regras que viabilizem a concretizao das garantias dos indivduos prescritas na Constituio.

    O Cdigo de Processo Civil hbil a reger questes de direito privado (civil e empresarial), pblico (tributrio, internacional, militar etc.), alm do direito previdencirio e trabalhista, garantindo elementos formadores do devido processo legal.

    Destaque-se que o estabelecimento de normas disciplinadoras do proces-samento das aes decorre de tempos bem recuados. Desde o perodo colo-nial no Brasil, j havia o exerccio da jurisdio na soluo de confl itos.

    Naquela oportunidade, regiam o nosso sistema as leis processuais dos co-lonizadores. Eram as Ordenaes Filipinas, cujo processo civil era descrito no Livro V e que vigeram no Brasil at o advento do Cdigo Civil em 1916, j que este cdigo tambm cuidava de algumas questes processuais. Em 1939 foi fi nalmente editado o Cdigo Brasileiro de Processo Civil, seguido do ain-da vigente Cdigo de Ritos, introduzido na sistemtica nacional em 1973, por meio da Lei n. 5.869.

    Apesar de o nosso Cdigo em vigor ser o mesmo de 1973, muitas modi-fi caes foram inseridas no texto normativo, em especial nos ltimos anos, dando incio ao chamado ciclo de reformas.

    Feitas essas observaes introdutrias, vale declinar a sequncia do nosso curso.

    Ele ser aberto com o tema das tutelas de urgncia, um tema de grande transcendncia nos dias atuais. Juntamente com as tutelas de urgncia, discu-tiremos tambm a tutela inibitria.

    Depois, cuidaremos de outro tema de indiscutvel relevncia prtica, a petio inicial. Trata-se de instrumento que deve respeitar vrias regras na sua elaborao, sob pena de ser rejeitada. To logo proposta a demanda, o juiz observar a petio inicial e se manifestar por meio do chamado despacho liminar, que poder determinar a citao do ru, mandar o autor emendar a inicial, sanando algum vcio, ou mesmo rejeitar liminarmente a petio. Teremos ento a primeira manifestao judicial no processo, e novamente

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    depararemos com o ciclo de reformas do CPC brasileiro, visto que, nesse mo-mento, o Estado-Juiz poder prolatar a chamada sentena liminar, autorizada pelo novel art. 285-A do CPC.

    Em seguida, trataremos das comunicaes dos atos processuais, com n-fase na citao do ru. A citao um momento crucial no processo, eis que qualquer vcio na realizao da mesma acarretar a nulidade dos atos pratica-dos posteriormente.

    O ru, chamado a se manifestar no processo, poder apresentar vrias modalidades de resposta, as quais estudaremos com ateno, tambm mere-cendo anlise o importante instituto da revelia, cuja sistemtica, no processo civil brasileiro, bastante criticada.

    Acompanhando a trilha do procedimento ordinrio, aps os temas da res-posta do ru e da revelia abordaremos as providncias preliminares e o jul-gamento conforme o estado do processo, captulos igualmente importantes.

    Em sequncia, ingressaremos no direito probatrio, matria de grande interesse no s para o direito processual mas tambm para o direito consti-tucional. Oportuna ser a compreenso da inverso do nus da prova, que uma exceo regra geral do Cdigo de Processo Civil, e da teoria da carga dinmica da prova, cada vez mais prestigiada entre ns.

    Uma nova etapa processual inicia-se por meio da audincia de instruo e julgamento, a AIJ. Conheceremos os elementos que constituem a mesma, que engloba diversos atos processuais de forma quase simultnea. Nela ocor-rero a produo de prova oral e os debates, podendo at mesmo haver o proferimento da sentena.

    Exatamente a sentena o nosso prximo ponto. A sentena composta de elementos obrigatrios, como o relatrio, a fundamentao, a parte dispo-sitiva e a assinatura. Conheceremos a razo da necessidade de cada um desses elementos e as consequncias do seu no atendimento.

    Na aula seguinte, a derradeira do semestre, ser a vez da coisa julgada, oportunidade em que estudaremos a precluso e a distino entre esta e aque-la. A coisa julgada pode ser material ou formal e tem limites objetivos e sub-jetivos. Alm da dogmtica tradicional da coisa julgada, no descuidaremos da discusso sobre a possibilidade de relativizao da coisa julgada, extrema-mente acesa na processualstica contempornea.

    2 OBJETIVOS GERAIS DA DISCIPLINA

    Com o estudo dos temas supracitados, os alunos j sero capazes de com-preender a dinmica bsica do processo civil brasileiro, bem como seus prin-cpios mais relevantes.

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    Fundamentalmente, pretende-se mostrar que o processo civil, nos dias atuais, no mais um amontoado de formas e prazos, mas existe para mate-rializar direitos e valores fundamentais, sendo ntima a relao entre os direi-tos processual e constitucional.

    3 METODOLOGIA

    A metodologia do nosso curso ser a participativa, dando-se bastante n-fase discusso de casos e julgados.

    4 FORMA DE AVALIAO

    As avaliaes sero feitas por meio de provas escritas com questes discur-sivas e objetivas, a critrio do professor. Participaes do aluno em sala de aula tambm sero consideradas.

    Sero duas avaliaes e uma terceira para aqueles alunos que no tenham obtido a mdia para aprovao. O contedo das provas ser cumulativo e assim abordar qualquer matria lecionada at a data da prova, mesmo que j tenha sido tema de discusso em prova anterior.

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    AULAS 01, 02 E 03. AS TUTELAS DE URGNCIA ANTECIPADA E CAUTELAR E A TUTELA INIBITRIA

    CASO

    Maria faz uso de medicamento imprescindvel manuteno de sua vida, o qual recebe do Poder Pblico. Comparecendo ao posto de sade, como de praxe, recebe a negativa no fornecimento do medicamento, o que motivou a procura por um advogado, que props ao de obrigao de fazer com base no artigo 461 do CPC. Em suas alegaes, o advogado de Maria informa o fato de o medicamento ser indispensvel manuteno da vida da autora, um bem jurdico garantido pela Constituio. O juiz, de ofcio, concede a tutela liminar determinando o imediato bloqueio da conta bancria da Fa-zenda Pblica, sob pena de aplicao de multa diria pelo inadimplemento, ao fundamento de que o direito sade deve prevalecer sobre o princpio da impenhorabilidade dos recursos pblicos, buscando com o bloqueio das verbas a efetivao do direito mais relevante.

    Diante deste caso:

    a) Responda fundamentadamente se o juiz poderia agir de ofcio de-terminando a antecipao de tutela e a aplicao de multa sem que a parte autora tivesse requerido tal ato.

    b) Refl ita sobre a razoabilidade da fundamentao do juiz no sentido da mitigao da impenhorabilidade de verbas pblicas, diante do no-fornecimento de medicamento pelo ente pblico.

    NOTA AO ALUNO

    1 CONSIDERAES INICIAIS

    A tutela jurisdicional a resposta Estatal a uma provocao dos jurisdi-cionados por meio da propositura de uma ao. Como vimos, nem sempre a prestao buscar solucionar uma lide necessariamente, mas sempre haver um objeto da ao que, por vezes, pode no ter como se sujeitar ao trmite natural de uma demanda, pois essa demora processual pode gerar ou agravar um dano. A isto a doutrina denomina de dano marginal. Para minimizar este risco existem medidas emergenciais que visam garantir o direito tutelado.

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    Nesse sentido, para que a tutela jurisdicional seja efi caz quanto ao resulta-do esperado, imprescindvel que o titular da posio jurdica de vantagem possa se valer dos mecanismos aptos a assegurar no somente a tutela formal de seu direito, como tambm proteo real, capaz de proporcionar-lhe, na medida do possvel, a mesma situao que lhe adviria caso houvesse o adim-plemento espontneo da norma pelo devedor.

    Sob a denominao genrica de tutelas de urgncia, h que se entender aquelas medidas caracterizadas pelo periculum in mora. Em outras palavras, as que visem minimizar os danos decorrentes da excessiva demora na ob-teno da prestao jurisdicional, seja ela imputvel a fatores de natureza procedimental, ou mesmo extraprocessuais, relacionados precria estrutura do Poder Judicirio, como a insufi cincia de juzes e funcionrios, a m dis-tribuio de competncias etc.

    Nesse contexto, algumas alternativas para remediar o problema da falta de efetividade notadamente o da prolongada durao do processo podem ser apontadas em nosso sistema processual, muitas delas objeto das recentes reformas legislativas operadas.

    A adoo da medida sumria de carter provisrio, seja ela de natureza conservativa, como as cautelares stricto sensu, ou satisfativa, a exemplo da antecipao de tutela do art. 273, I, representa a opo que mais se coaduna com o nosso sistema constitucional, sobretudo em vista do embate entre duas importantes garantias: a segurana jurdica e a efetividade da jurisdio.

    Esta soluo no implica o completo afastamento do contraditrio, este apenas diferido para momento posterior, em razo das exigncias apresen-tadas pela relao de direito material.

    As tutelas de emergncia podem ser defi nidas como um mecanismo da sumarizao da atividade cognitiva, admitido naquelas hipteses em que a cognio plena e exauriente comprometa o resultado til do processo. So elas as tutelas antecipada, cautelar e inibitria. Nas prximas linhas conhe-ceremos cada uma dessas medidas como garantia de prestao jurisdicional medida do objeto em questo.

    A tutela antecipatria possui natureza satisfativa. Por meio dela, o juiz profere deciso interlocutria no curso de um processo de conhecimento cujo teor consiste na antecipao dos efeitos que s seriam alcanados com a sentena.

    A tutela cautelar apresenta natureza instrumental, no possuindo, pois, cunho satisfativo. Conforme dito, usada para assegurar provisoriamente a utilidade de uma ao principal, antes ou mesmo durante a sua pendncia, justifi cando-se apenas enquanto subsistirem as razes que a determinaram.

    J a tutela inibitria, modalidade de tutela urgncia introduzida no direito italiano em 1936 por infl uncia de Calamandrei e trazida para o direito bra-sileiro em virtude dos estudos desenvolvidos por Luiz Guilherme Marinoni,

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    tutela de natureza preventiva, que pleiteada antes da ocorrncia de um dano, solicitada ao juiz com um dos seguintes objetivos: 1) impedir a ocor-rncia de um ilcito de natureza civil; 2) impedir a repetio de um ilcito; 3) impedir a continuao de um ilcito.

    2 A TUTELA ANTECIPADA

    O art. 273 do CPC prev duas hipteses distintas de antecipao provi-sria dos efeitos do provimento fi nal. O inciso I prev a antecipao quando houver fundado receio de dano irreparvel ou de difcil reparao. Logo, a urgncia que justifi ca a antecipao, havendo assim identifi cao desta medi-da com as cautelares, que tambm exigem periculum in mora.

    J na hiptese prevista no inciso II, a antecipao justifi ca-se no em razo do perigo de dano, mas em funo do abuso do direito de defesa e do intuito protelatrio do ru. Somado forte probabilidade de existncia do direito afi rmado, entendeu o legislador agilizar o resultado do processo, a fi m de evitar dano maior para o autor com o retardamento indevido do provimento jurisdicional.

    Tratando-se da situao prevista no inciso I do art. 273, pode o juiz de-termin-la a qualquer momento, seja liminarmente (antes da citao) ou em sede recursal. Basta a demonstrao dos requisitos legais. J na hiptese do inciso II, a concesso somente pode ocorrer aps a resposta do demandado, pois pressupe abuso de defesa ou propsito protelatrio do ru.

    Exige o art. 273, caput, como requisito da tutela antecipada, em qualquer de suas modalidades, a existncia de prova inequvoca, sufi ciente para con-vencer o juiz da verossimilhana da alegao. Assim, afi rmao verossmil versa sobre fato com aparncia de verdadeiro e prova inequvoca signifi ca grau mais intenso de probabilidade do direito.

    Tambm impe o legislador, como condio ao deferimento da medida, que a antecipao dos efeitos no seja irreversvel, havendo possibilidade de retorno ao status quo (art. 273, 2). Alternativas possveis ao requisito da reversibilidade constituem a indenizao por perdas e danos e a cauo.

    No se deve confundir tutela antecipada com o julgamento antecipado da lide. Este se destina a acelerar o resultado do processo e est ligado sufi -cincia do conjunto probatrio para possibilitar o julgamento defi nitivo do litgio, quer pela desnecessidade de prova oral em audincia, quer porque a controvrsia envolve apenas matria de direito ou em razo da revelia (art. 330, CPC).

    J a hiptese regulada pelo art. 273 distinta porque no acarreta a solu-o defi nitiva e irreversvel da situao litigiosa e permite, preenchidos seus

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    1 H que se ressaltar que, a partir da nova sistemtica da execuo, inaugu-rada pela Lei n 11.232/2005, a expres-so processo de execuo foi restrin-gida, somente se aplicando execuo de ttulos executivos extrajudiciais e, em carter excepcional, execuo de alguns poucos ttulos executivos judi-ciais (CPC, art. 475-N, pargrafo nico). Assim, em regra, referida expresso tornou-se imprpria para os casos de efetivao de sentena, quando ser tecnicamente correto falar-se apenas em execuo em virtude da inexis-tncia de um processo de execuo autnomo.

    requisitos, a antecipao imediata dos efeitos da sentena, ainda que penden-te recurso dotado de efeito suspensivo.

    A reforma trazida pela lei 10.444 de 2002 procurou ainda mitigar as difi -culdades enfrentadas pelos operadores do direito no tocante correta com-preenso do instituto da tutela jurisdicional antecipada, bem como da pr-pria categoria das medidas urgentes, ao estabelecer a regra da fungibilidade.

    Assim, dispe a norma do 7 do art. 273 que: Se o autor, a ttulo de antecipao de tutela, requerer providncia de natureza cautelar, poder o juiz, quando presentes os respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar em carter incidental do processo ajuizado.

    Embora o legislador refi ra-se apenas possibilidade de substituio da tutela antecipada por cautelar, no pode haver dvida, sob pena de compro-meter a efetividade almejada pela reforma processual, de que a fungibilidade opera nas duas direes, sendo possvel conceder tutela antecipada em lugar de cautelar. Isto porque, em direito, no h fungibilidade em uma s mo de direo. Se os bens so fungveis, tanto se pode substituir um por outro, como outro por um, caracterizando o fenmeno denominado do duplo sen-tido vetorial.

    Enquanto os processo de conhecimento e execuo1 oferecem tutela juris-dicional imediata e satisfativa, atravs da qual se busca atender pretenso do autor, o processo cautelar, disciplinado no Livro III de nosso Diploma Pro-cessual, oferece uma tutela jurisdicional mediata de natureza instrumental e carter no-satisfativo.

    NOTA AO ALUNO

    Restries concesso de tutela antecipada em face da Fazenda Pblica Leis 8437/92 E 9494/97.

    a) Lei 8.437/92:

    Art. 1 No ser cabvel medida liminar contra atos do Poder Pblico, no procedimento cautelar ou em quaisquer outras aes de natureza cautelar ou preventiva, toda vez que providncia semelhante no puder ser concedida em aes de mandado de segurana, em virtude de vedao legal.

    1 No ser cabvel, no juzo de primeiro grau, medida cautelar inominada ou a sua liminar, quando impugnado ato de autoridade sujeita, na via de man-dado de segurana, competncia originria de tribunal.

    2 O disposto no pargrafo anterior no se aplica aos processos de ao popular e de ao civil pblica.

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    3 No ser cabvel medida liminar que esgote, no todo ou em qualquer parte, o objeto da ao.

    4 Nos casos em que cabvel medida liminar, sem prejuzo da comunica-o ao dirigente do rgo ou entidade, o respectivo representante judicial dela ser imediatamente intimado. (Includo pela Medida Provisria n 2,180-35, de 2001)

    5o No ser cabvel medida liminar que defi ra compensao de crditos tributrios ou previdencirios. (Includo pela Medida Provisria n 2,180-35, de 2001)

    Art. 2 No mandado de segurana coletivo e na ao civil pblica, a liminar ser concedida, quando cabvel, aps a audincia do representante judicial da pessoa jurdica de direito pblico, que dever se pronunciar no prazo de setenta e duas horas.

    Art. 3 O recurso voluntrio ou ex offi cio, interposto contra sentena em processo cautelar, proferida contra pessoa jurdica de direito pblico ou seus agentes, que importe em outorga ou adio de vencimentos ou de reclassifi cao funcional, ter efeito suspensivo.

    Art. 4 Compete ao presidente do tribunal, ao qual couber o conhecimento do respectivo recurso, suspender, em despacho fundamentado, a execuo da li-minar nas aes movidas contra o Poder Pblico ou seus agentes, a requerimento do Ministrio Pblico ou da pessoa jurdica de direito pblico interessada, em caso de manifesto interesse pblico ou de fl agrante ilegitimidade, e para evitar grave leso ordem, sade, segurana e economia pblicas.

    1 Aplica-se o disposto neste artigo sentena proferida em processo de ao cautelar inominada, no processo de ao popular e na ao civil pblica, enquanto no transitada em julgado.

    2 O presidente do tribunal poder ouvir o autor e o Ministrio Pblico, em cinco dias.

    3 Do despacho que conceder ou negar a suspenso, caber agravo, no prazo de cinco dias.

    2o O Presidente do Tribunal poder ouvir o autor e o Ministrio Pblico, em setenta e duas horas. (Redao dada pela Medida Provisria n 2,180-35, de 2001)

    3o Do despacho que conceder ou negar a suspenso, caber agravo, no prazo de cinco dias, que ser levado a julgamento na sesso seguinte a sua inter-posio. (Redao dada pela Medida Provisria n 2,180-35, de 2001)

    4o Se do julgamento do agravo de que trata o 3o resultar a manuteno ou o restabelecimento da deciso que se pretende suspender, caber novo pedido de suspenso ao Presidente do Tribunal competente para conhecer de eventual recurso especial ou extraordinrio. (Includo pela Medida Provisria n 2,180-35, de 2001)

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    2 Art. 7 2 da Lei 12.016/2009: No ser concedida medida liminar que tenha por objeto a compensao de crditos tributrios, a entrega de mer-cadorias e bens provenientes do exte-rior, a reclassifi cao ou equiparao de servidores pblicos e a concesso de aumento ou a extenso de vantagens ou pagamento de qualquer natureza.

    5o cabvel tambm o pedido de suspenso a que se refere o 4o, quando negado provimento a agravo de instrumento interposto contra a liminar a que se refere este artigo. (Includo pela Medida Provisria n 2,180-35, de 2001)

    6o A interposio do agravo de instrumento contra liminar concedida nas aes movidas contra o Poder Pblico e seus agentes no prejudica nem condi-ciona o julgamento do pedido de suspenso a que se refere este artigo. (Includo pela Medida Provisria n 2,180-35, de 2001)

    7o O Presidente do Tribunal poder conferir ao pedido efeito suspensivo liminar, se constatar, em juzo prvio, a plausibilidade do direito invocado e a urgncia na concesso da medida. (Includo pela Medida Provisria n 2,180-35, de 2001)

    8o As liminares cujo objeto seja idntico podero ser suspensas em uma nica deciso, podendo o Presidente do Tribunal estender os efeitos da suspen-so a liminares supervenientes, mediante simples aditamento do pedido original. (Includo pela Medida Provisria n 2,180-35, de 2001)

    9o A suspenso deferida pelo Presidente do Tribunal vigorar at o trnsito em julgado da deciso de mrito na ao principal. (Includo pela Medida Pro-visria n 2,180-35, de 2001)

    Art. 5 Esta lei entra em vigor na data de sua publicao.Art. 6 Revogam-se as disposies em contrrio.Braslia, 30 de junho de 1992; 171 da Independncia e 104 da Repblica.FERNANDO COLLORClio BorjaMarclio Marques Moreira.

    b) Lei 9.494/97:

    Art. 1 Aplica-se tutela antecipada prevista nos arts. 273 e 461 do Cdigo de Processo Civil o disposto nos arts. 5 e seu pargrafo nico e 7 da Lei n 4.348, de 26 de junho de 1964, no art. 1 e seu 4 da Lei n 5.021, de 9 de junho de 1966, e nos arts. 1, 3 e 4 da Lei n 8.437, de 30 de junho de 19922.

    3 A TUTELA CAUTELAR

    O processo cautelar, regulado no Captulo I, do Ttulo nico, do Livro III, do Cdigo de Processo Civil, possui uma estrutura bsica de processo sincrtico. Inicia-se com a apresentao da petio inicial nos moldes estabe-lecidos pelo artigo 801, combinado com os artigos 282, 283 e 39, I, todos do CPC.

    Tratando-se de ao cautelar preparatria, deve o demandante indicar a lide e seu fundamento a serem submetidos cognio do juiz na ao princi-

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    FGV DIREITO RIO 12

    3 Nesse sentido: STJ REsp 528525, Rel. Min. Denise Arruda, j. 06/12/2005; REsp 139587, Rel. Min. Joo Otvio de Noronha, j. 02/12/2004; Resp 641806, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 20/09/2004; REsp 88785, Rel. Min. An- selmo Santiago, j. 18/08/1998.

    pal, a qual, de acordo com o artigo 806 do CPC, dever ser proposta no pra-zo decadencial de 30 (trinta) dias contados da data da efetivao da medida cautelar, sob pena de cessar a respectiva efi ccia.

    Ajuizada a ao principal, os efeitos da medida cautelar perduraro at que a mesma mostre-se desnecessria ou injusta, o mesmo ocorrendo se a medida for concedida no curso do processo principal.

    Cessa tambm a efi ccia da medida cautelar se esta no for executada den-tro de 30 (trinta dias) ou se o juiz declarar extinto o processo principal, com ou sem resoluo do mrito (artigo 808 do CPC). Nestes casos, no poder a parte repetir o pedido, salvo por novo fundamento.

    Na petio inicial do processo cautelar preparatrio, deve o demandante expor a lide e seu fundamento, demonstrando ao juiz o carter instrumental da medida que, uma vez satisfeita, no sufi ciente para garantir a tutela, j que sua efi ccia encontra-se subordinada propositura da ao principal.

    No obstante, em situaes excepcionais de cautelar com efi ccia satisfati-va, a jurisprudncia tem afastado a incidncia da regra contida no artigo 806 do CPC3, sendo o dispositivo aplicado apenas quando a medida cautelar re-querida importar em restrio a direito do requerido, uma vez que o prprio Cdigo prev medidas cautelares com natureza de jurisdio voluntria, em relao s quais no h ao principal a ser proposta.

    Desta forma, a petio inicial submetida ao controle do rgo jurisdi-cional a que se dirige, o qual, antes de ordenar a citao do ru, poder, ao despachar a inicial ou mediante justifi cao prvia, conceder a medida em carter liminar de ofcio ou a requerimento da parte sempre que se mostrar necessria preservao do suposto direito ameaado.

    Ao decretar a liminar, pode o juiz determinar a prestao de cauo real ou fi dejussria pelo requerente, a qual responder pelo eventual ressarcimento dos danos que o ru vier a sofrer (art. 804 do CPC). Nesse caso, no se exe-cutar a medida a menos que seja prestada a cauo.

    Citado o requerido, este ter 5 (cinco) dias para contestar e indicar as provas que pretende produzir. De acordo com o artigo 802 do CPC, o prazo contar da juntada aos autos do mandado de citao devidamente cumpri-do (quando feita pelo ofi cial de justia), ou da execuo da medida cautelar quando concedida liminarmente ou aps justifi cao prvia.

    Alm da contestao, cujo no-oferecimento importar em revelia, poder tambm o ru apresentar exceo (de impedimento, suspeio ou incompe-tncia relativa) nos casos do artigo 304 do CPC, a ser processada em apenso aos autos do processo cautelar, o qual fi car suspenso at que seja defi nitiva-mente julgada. No pode, porm, o requerido apresentar reconveno, a qual dever ser oferecida, se for o caso, no processo principal.

    Contestado o pedido tempestivamente e havendo necessidade de prova oral, designar o juiz Audincia de Instruo e Julgamento. Por outro lado,

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    4 Art. 803. No sendo contestado o pedido, presumir-se-o aceitos pelo requerido, como verdadeiros, os fatos alegados pelo requerente (arts. 285 e 319); caso em que o juiz decidir dentro em 5 (cinco) dias. (Redao dada pela Lei n 5.925, de 1.10.1973)

    5 Art. 807 do CPC: As medidas cautela-res conservam a sua efi ccia no prazo do artigo antecedente e na pendncia do processo principal; mas podem, a qualquer tempo, ser revogadas ou modifi cadas.

    6 Art. 805. A medida cautelar poder ser substituda, de ofcio ou a reque-rimento de qualquer das partes, pela prestao de cauo ou outra garantia menos gravosa para o requerido, sem-pre que adequada e sufi ciente para evi-tar a leso ou repar-la integralmente. (Redao dada pela Lei n 8.952, de 13.12.1994)

    7 Art. 811. Sem prejuzo do disposto no art. 16, o requerente do procedimento cautelar responde ao requerido pelo prejuzo que Ihe causar a execuo da medida:

    I - se a sentena no processo principal Ihe for desfavorvel;

    II - se, obtida liminarmente a me-dida no caso do art. 804 deste Cdigo, no promover a citao do requerido dentro em 5 (cinco) dias;

    III - se ocorrer a cessao da efi ccia da medida, em qualquer dos casos previstos no art. 808, deste Cdigo;

    IV - se o juiz acolher, no procedimen-to cautelar, a alegao de decadncia ou de prescrio do direito do autor (art. 810).

    Pargrafo nico. A indenizao ser liquidada nos autos do procedimento cautelar.

    caso no seja oferecida contestao tempestiva ou, oferecida a contestao, seja desnecessria a realizao de audincia, a lide deduzida ser antecipada-mente julgada, devendo o juiz proferir sentena no prazo de 5 (cinco) dias, conforme artigo 803 do CPC4.

    A sentena proferida em processo cautelar, por expressa determinao le-gal (artigo 810 do CPC), no faz coisa julgada material, salvo se o juiz, no procedimento cautelar, acolher a alegao de decadncia ou prescrio do direito do autor, hiptese em que a deciso do processo cautelar infl uenciar diretamente o processo principal.

    Nessa linha de raciocnio, de acordo com o pargrafo nico do artigo 8075, a suspenso do processo principal no atinge a efi ccia da medida cau-telar, a menos que o juiz assim o decida.

    Contra esta sentena caber apelao dotada, em regra, apenas de efeito devolutivo (CPC, arts. 520, IV, e 558, pargrafo nico).

    H de se ressaltar a possibilidade prevista no artigo 805 do CPC6 de subs-tituio da medida cautelar, de ofcio ou a requerimento de qualquer das partes, pela prestao de cauo ou outra garantia menos gravosa para o re-querido quando adequada e sufi ciente para evitar a leso ou assegurar sua integral reparao. Trata-se da regra da fungibilidade.

    Alm disso, consagra o artigo 807 do CPC a possibilidade de modifi cao ou revogao da providncia cautelar, a qualquer tempo, que, se requerida por uma das partes, deve ser precedida de audincia da outra, j que, por fora do princpio do contraditrio, garantido o direito de impugnar a pre-tendida substituio, modifi cao ou revogao.

    Finalmente, conforme artigo 811, do CPC7, o requerente da medida cau-telar responder, independentemente de culpa, pelos eventuais prejuzos que a execuo da medida causar ao requerido, devendo tal indenizao ser liqui-dada nos mesmos autos do processo cautelar.

    3.1 Caractersticas do processo cautelar

    a) Instrumentalidade hipottica o provimento cautelar instrumental ao processo principal, cujo xito destina-se a garantir e proteger. Assim, o processo cautelar visa a assegurar a capacidade de o processo principal produ-zir resultados teis para o requerente da medida cautelar na hiptese de este vir a ser vitorioso no processo principal. Nesse sentido, tambm possvel afi rmar a sua independncia do processo principal, j que seus atos desenvol-vem-se em seqncia prpria e distinta da seqncia dos atos integrantes do processo principal.

    b) Provisoriedade o provimento cautelar tem uma durao limitada na medida em que poder haver a revogao da medida cautelar caso inexista o

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    direito alegado ou mesmo ter cunho satisfativo por meio do reconhecimen-to da existncia do direito.

    c) Revogabilidade surge em decorrncia da provisoriedade. Por fora desta caracterstica, no h precluso para o juiz, dentro do processo cautelar, quanto possibilidade de concesso ou revogao da medida cautelar limi-nar. Assim que, ao examinar a petio inicial, o juiz pode deferir a liminar e, posteriormente, entendo no mais ser a mesma cabvel, revog-la ou vice-versa.

    d) Fungibilidade licito ao juiz, em razo de seu poder geral de cautela, conceder medida cautelar diversa da pretendida (requerida) quando for mais adequada tutela do direito em questo. Desta forma, ajuizando o requeren-te uma ao cautelar de busca e apreenso, pode o juiz ordenar um seqestro, se julgar que este mais conveniente. Para vrios autores, no entanto, esta quarta caracterstica acaba se convertendo em uma permisso legal para o julgamento extra petita.

    4 A TUTELA INIBITRIA

    A tutela inibitria um mecanismo preventivo, idneo preveno da confi gurao de ilcito. No direito brasileiro so formas efetivas de tutela inibitria o mandado de segurana e o interdito proibitrio.

    A tutela jurisdicional pode destinar-se a evitar o ilcito sem necessariamen-te vislumbrar a reparao de um dano. Da o papel da tutela inibitria de ser uma tutela especfi ca que objetiva conservar a integridade do direito, visto que alguns direitos no podem ser ressarcidos e outros, mesmo que o sejam, no sero efetivamente satisfativos ao autor, o que vale dizer que melhor a preveno ao ressarcimento.

    A tutela inibitria destina-se garantia do direito em si, enquanto a res-sarcitria substitui o direito originrio por crdito equivalente. A primeira ser requerida por meio de uma Ao inibitria de fazer ou de no fazer de cognio exauriente, fundamentada nos artigos 461 do CPC e 84 do Cdigo de Defesa do Consumidor. Dada esta caracterstica de ao, a tutela inibitria tambm poder ser requerida liminarmente ou no curso da ao, por meio da tutela antecipatria.

    A tutela inibitria aplicvel no plano coletivo por fora dos artigos 11 e 84 da Ao Civil Pblica e do CDC, respectivamente, que autorizam e disciplinam aquele mecanismo. Um exemplo clssico a venda de produtos nocivos sade do consumidor que podem ser objeto de tutela coletiva inibitria.

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    5 DISTINO ENTRE AS MEDIDAS DE URGNCIA

    Comparando-se os requisitos necessrios concesso da tutela antecipada e da cautelar, uma leitura pouco atenta dos artigos 273 e 461 do CPC nos d a falsa impresso de que eles so idnticos, j que ambas pressupem fumus boni iuris (possibilidade ou, dependendo da corrente adotada, probabilidade de futuro provimento jurisdicional favorvel ao autor) e periculum in mora (possibilidade de dano de difcil reparao em razo da inevitvel demora do provimento jurisdicional principal).

    A diferena, no entanto, consiste no grau do fumus boni iuris necessrio tutela antecipada e tutela cautelar, sendo possvel estabelecer uma diferen-ciao entre o fumus boni iuris simples necessrio tutela cautelar e qualifi cado necessrio tutela antecipada.

    O art. 273 do CPC, que regula a tutela antecipada, exige, ao contrrio da tutela cautelar, prova inequvoca que convena o juiz da verossimilhana do direito alegado, isto , prova que comporte um s entendimento e que possua sufi ciente fora persuasiva para fazer verossmil (ou provvel) a alegao do requerente. Desta forma, para fazer valer seu direito a uma tutela antecipat-ria, necessrio que o requerente prove mais do que preciso para a obteno da tutela cautelar.

    Visto isso, podemos apontar como principais caractersticas dos provimen-tos cautelares a provisoriedade (pelo menos, a princpio), j que o processo principal reconhecer a existncia ou inexistncia do direito, satisfazendo o direito ou revogando a medida cautelar, e a instrumentalidade hipottica ao processo principal.

    O provimento cautelar pode ser requerido de forma autnoma, por meio de um processo cautelar preparatrio ou por via incidental, isto , no curso do processo principal j iniciado. Tanto numa como noutra, a cognio judi-cial no ser exauriente, mas sumria, j que a deciso ser proferida de forma mais expedita por basear-se em probabilidade favorvel ao demandante em-bora insufi ciente de convico plena.

    Assim, quanto ao momento em que a medida cautelar requerida, poder ser classifi cada em antecedente ou preparatria se requerida antes da ins-taurao do processo principal e incidente ou incidental se requerida no curso da ao principal. Tratando-se de medida cautelar preparatria, o requerente ter 30 (trinta) dias contados da efetivao da providncia para ajuizar a ao principal (art 806 do CPC), sob pena de cessar a respectiva efi ccia.

    Quanto tipicidade das medidas cautelares, classifi cam-se em tpicas ou nominadas e atpicas ou inominadas, referindo-se as primeiras quelas ex-pressamente previstas pela legislao processual e as segundas quelas que

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    podem ser requeridas ao juiz com base em seu poder geral de cautela, ao qual se refere o art. 798 do CPC.

    Isso porque, de acordo com o art. 798, poder o juiz determinar as medi-das provisrias que julgar adequadas quando houver fundado receio de que uma parte, antes do julgamento da lide, cause ao direito da outra leso grave ou de difcil reparao. Nesse sentido, com base no princpio da segurana das relaes jurdicas, possvel requerer ao juiz uma medida cautelar no prevista em lei, como, por exemplo, a suspenso do protesto de um ttulo de crdito e a suspenso dos atos praticados pelo interditando no curso do processo de interdio.

    6 DISTINO ENTRE MEDIDA LIMINAR E TUTELA CAUTELAR

    A expresso tutela liminar no se confunde com a expresso tutela caute-lar. Esta pode ser concedida em carter liminar, mas tambm pode ser conce-dida em carter fi nal, isto , aps a prolao da sentena cautelar. Por outro lado, no apenas a tutela cautelar, como tambm a tutela satisfativa pode ser concedida em carter liminar. Desta forma, o sentido das locues tutela liminar e tutela cautelar no se confundem.

    A tutela pode se denominar liminar ou fi nal, tendo em vista o momento do procedimento em que foi ela concedida. Tutela liminar a proteo con-cedida nos momentos iniciais do procedimento, normalmente, sem que se oua a parte contrria. Por outro lado, para distinguir entre tutela cautelar e tutela satisfativa, tem-se em mira a natureza da tutela concedida. Enquanto a tutela cautelar visa assegurar a efi ccia do processo principal, a tutela satisfa-tiva destina-se a proteger diretamente o direito subjetivo material.

    Em suma:1) tutela liminar a que se concede in limine litis, podendo possuir car-

    ter cautelar ou satisfativo, conforme a hiptese;2) tanto a tutela cautelar quanto a tutela satisfativa podem ser concedidas

    no incio ou no fi m do procedimento, sendo classifi cadas, no primeiro caso, como liminar, e, no ltimo, como fi nal.

    Assim que, com base no art. 804 do CPC, pode o juiz conceder liminar-mente ou aps justifi cao prvia a medida cautelar, sem ouvir o ru, quando verifi car que este, ao ser citado, poder torn-la inefi caz. Neste caso, poder o juiz condicionar a efetivao da medida cautelar liminarmente concedida prvia prestao de contra-cautela pelo requerente, isto , de cauo real ou fi dejussria, a fi m de assegurar a reparao dos danos que o requerido, even-tualmente, venha a sofrer.

    Embora o artigo aluda apenas concesso liminar quando o ru, sendo citado, possivelmente torne a providncia inefi caz, a concesso liminar se

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    legitima sempre que, nas circunstncias, se mostre necessria para preservar o suposto direito ameaado, quer parta do ru, quer no, a ameaa, confi gur-vel at em fato de natureza.

    A medida liminar pode ser concedida de ofcio pelo juiz na medida em que a lei no exige requerimento do autor. Para que a liminar seja concedida, preciso que o juiz verifi que a presena cumulativa do fumus boni iuris e do periculum in mora a serem demonstrados pelo requerente.

    Atualmente, em vista do mandamento constitucional contido no art. 5, XXXV, garantidor do acesso ordem jurdica justa, preciso que seja analisa-do o caso concreto, devendo o juiz, com base em seu poder geral de cautela, deferir liminarmente a providncia cautelar, seja ela preparatria ou inciden-tal, quando entend-la indispensvel para a garantia do direito do requerente.

    Nesse sentido, encontra-se o Estatuto da Criana e do Adolescente (Lei n 8.069/90) que, na linha da interpretao sempre mais favorvel ao menor e com base na eqidade, permite que o juiz conceda no apenas a liminar de ofcio, mas a prpria medida cautelar de ofcio, conforme se depreende do art. 153 da Lei.

    Quanto natureza jurdica dos requisitos para concesso da medida limi-nar, inicialmente tentou-se consider-los como condies da ao, em uma analogia entre a Teoria Geral do Processo cautelar e a Teoria Geral do Processo.

    Contudo, a nosso ver, no h como negar que tais requisitos representam o prprio mrito do provimento cautelar, na medida em que se confundem com a questo principal, observados os limites cognitivos desta modalidade processual.

    MATERIAL DE APOIO JURISPRUDNCIA

    EREsp 1.136.652, Arnaldo Esteves Lima, Corte Especial, julgamento unnime em 14/06/12

    ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DIVER-GNCIA EM RECURSO ESPECIAL. SERVIDOR PBLICO FEDERAL. SEGURANA CONCEDIDA PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. VANTA-GEM PECUNIRIA. EXTENSO. INCLUSO IMEDIATA EM FOLHA DE PAGAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE AGUAR-DAR O TRNSITO EM JULGADO DO TTULO JUDICIAL. ART. 2-B DA LEI 9.494/97. EMBARGOS ACOLHIDOS PARA, REFORMANDO O ACRDO EMBARGADO, JULGAR PROCEDENTE O RECURSO ES-PECIAL.

    1. A deciso proferida em desfavor da Fazenda Pblica que objetive a li-berao de recursos ou a incluso, em folha de pagamento, de aumento, de equiparao ou de extenso de vantagem a servidores da Unio, dos Estados,

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    dos Municpios e do Distrito Federal, a includas a suas autarquias ou funda-es, somente poder executada aps o defi nitivo trnsito em julgado. Prece-dentes: EREsp 1.121.578/RN, Relator Ministro Luiz Fux, Primeira Seo, DJe 3/12/2010; e AgRg no Ag 1.218.555/RJ, Relatora Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, DJe 10/5/2010 (AgRg no AgRg no Ag 1.351.281/PR, Rel. Min. BE-NEDITO GONALVES, Primeira Turma, DJe 6/9/11).

    2. Nos termos do art. 2-B da Lei n 9.494/97, a sentena que determinar a incluso em folha de pagamento, inclusive a proferida em sede de mandado de segurana, somente pode ser executada aps seu trnsito em julgado (AgRg no MS 12.215/DF, Rel. Min. MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Terceira Seo, DJe 6/9/11).

    3. Embargos de divergncia acolhidos para reformar o acrdo embargado e, dessa forma, dar provimento ao recurso especial do Estado do Rio Grande do Norte, a fi m de suspender o cumprimento do acrdo estadual recorrido at a verifi cao do trnsito em julgado do ttulo judicial, no trecho em que se deter-minou a implantao

    imediata da gratifi cao discutida nos autos.OBSERVAO: na p. 7 do acrdo (que tem 11 p.) se faz a distino (sem-

    pre considerando exegese restritiva para o art. 2-B da Lei 9.494/97): se sim-ples restabelecimento de vantagem cabe tutela antecipada, mas no quando for para ganhar vantagem pecuniria at ento no recebida.

    AgRg no AREsp 335.820, Herman Benjamin, Segunda Turma, julga-mento unnime em 15/08/13

    ADMINISTRATIVO. RESTABELECIMENTO DE VANTAGEM OU REMUNERAO DE SERVIDOR PBLICO. POSSIBILIDADE DE AN-TECIPAO DOS EFEITOS DA TUTELA. NO CONFIGURAO DE HIPTESE PREVISTA NO ART. 2-B DA LEI 9.494/97. AGRAVO REGI-MENTAL NO PROVIDO.

    1. O Tribunal local consignou que a vedao contida nos arts. 1 e 2-B da Lei 9.494/1997 no se aplica concesso de liminar que Vise restabelecer vanta-gem ou remunerao de servidor pblico.

    2. A jurisprudncia do STJ pacfi ca no sentido de que somente nas hip-teses expressamente previstas na Lei 9.494/97 vedada a concesso de tutela antecipada contra a Fazenda Pblica. No caso, no se trata de incluso em folha de pagamento, mas sim de restabelecimento de vantagem ou remunerao de servidor pblico.

    3. Observa-se que o acrdo recorrido est em sintonia com o atual enten-dimento do STJ, razo pela qual no merece prosperar a irresignao. Incide, in casu, o princpio estabelecido na Smula 83/STJ.

    4. Agravo Regimental no provido.

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    FGV DIREITO RIO 19

    REsp 556.980, Rel. Min. Aldir Passarinho Jr., Quarta Turma, julgamento unnime em 17/11/09. CIVIL E PROCESSUAL. AO CAUTELAR AN-TECIPATRIA DE AO ORDINRIA INDENIZATRIA MOVIDA POR REVENDEDORA DE AU TOMVEIS CONTRA FABRICAN-TE. LIMINAR CONCEDIDA PELO JUZO SINGULAR. ASTREINTES COBRADAS EM EXECUO PROVISRIA SEM CAUO. LIMINAR DEFERIDA EM CAUTELAR PELO STJ EM OUTRA CAUTELAR IN-CIDENTAL AO RESP, PARA SUSTAR O LEVANTAMENTO DE MAIS VALORES. AGRAVO DE INSTRUMENTO NO CONHECIDO AO FUNDAMENTO DE FALTA DE PEA. PEA, QUE, NA PARTICULAR SITUAO DOS AUTOS, ERA INEXIGVEL. CITAO E INTIMAO NULAS. NULIDADE DO PROCESSO DECRETADA DESDE O SEU IN-CIO. RESTITUIO DAS ASTREINTES. CPC, ARTS. 234, 12, VI, E 215. RISTJ, ART. 257.

    REsp 991.030, Terceira Seo, Rel. Min. Maria Th ereza de Assis Moura, julgamento em 14/05/08. PROCESSO CIVIL E PREVIDENCIRIO. VIO-LAO AO ART. 535 DO CDIGO DE PROCESSO CIVIL AFASTADA. RESTITUIO DE PARCELAS PREVIDENCIRIAS PAGAS POR FOR-A DE ANTECIPAO DE TUTELA. VERBA ALIMENTAR RECEBIDA DE BOA F PELA SEGURADA. RECURSO ESPECIAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO.

    1. A questo da possibilidade da devoluo dos valores recebidos por fora de antecipao dos efeitos da tutela foi inequivocamente decidida pela Corte Federal, o que exclui a alegada violao do artigo 535 do Cdigo de Processo Civil, eis que os embargos de declarao no se destinam ao prequestionamento explcito.

    2. O pagamento realizado a maior, que o INSS pretende ver restitudo, foi decorrente de deciso sufi cientemente motivada, anterior ao pronunciamento defi nitivo da Suprema Corte, que afastou a aplicao da lei previdenciria mais benfi ca a benefcio concedido antes da sua vigncia. Sendo indiscutvel a boa-f da autora, no razovel determinar a sua devoluo pela mudana do entendi-mento jurisprudencial por muito tempo controvertido, devendo-se privilegiar, no caso, o princpio da irrepetibilidade dos alimentos.

    3. Negado provimento ao recurso especial.

    REsp 193.298, Rel. Min. Waldemar Zveiter, Rel. para acrdo Min. Ari Pargendler, Terceira Turma, julgamento por maioria (dois votos vencidos) em 13/03/01. PROCESSO CIVIL. ANTECIPAO DA TUTELA. REVOGA-O EX OFFICIO. POSSIBILIDADE. O juiz pode revogar a antecipao da tutela, at de ofcio, sempre que, ampliada a cognio, se convencer da inveros-similhana do pedido. Recurso especial conhecido e provido.

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    FGV DIREITO RIO 20

    CONTRATO. TUTELA ANTECIPADA. ART. 273 DO CPC. DECISO INDEFERITRIA DO PEDIDO DE NO-INCLUSO DO NOME DO AGRAVANTE NOS RGOS DE PROTEO CREDITCIA E SUSPEN-SO DE CO BRANAS.

    Consoante a moderna orientao do Superior Tribunal de Justia, nas causas de reviso de contrato por abusividade de suas clusulas, a concesso de tutela antecipa-da para impedir a inscrio do nome do devedor em rgos de proteo ao crdito de ser precedida da anlise de trs requisitos, a saber: a) que haja ao proposta pelo devedor contestando a existncia integral ou parcial do dbito; b) que haja a efetiva demonstrao de que a contestao da cobrana indevida se funda na apa-rncia do bom direito e em jurisprudncia consolida do STF ou do STJ e c) que, sendo a contestao apenas de parte do dbito, deposite o valor referente parte tida por incontroversa, ou preste cauo idnea, ao prudente arbtrio do Magistrado. AUSNCIA DE VEROSSIMILHANA DO DIREITO ALEGADO. AGRAVO MANIFESTAMENTE IMPROCEDENTE. SEGUIMENTO NEGADO. (Agra-vo de Instrumento N 70020548947, Primeira Cmara Especial Cvel, Tribunal de Justia do RS, Relator: Ana Lcia Carvalho Pinto Vieira, Julgado em 12/07/2007).

    DIREITO AUTORAL. UTILIZAO, SEM PRVIA AUTORIZAO DO TITULAR DO DIREITO AUTORAL, DE TRABALHO ARTSTICO EM REPRODUO DE OBRA FONOGRFICA, DIRECIONADA AO PBLICO NAS DEPENDNCIAS DE AGNCIAS DOS CORREIOS. TU-TELA INIBITRIA QUE SE MOSTRA ADEQUADA. TUTELA PECUNI-RIA DEVIDA EM RAZO DA VIOLAO DO DIREITO. LEI 9.910/98, QUE NO REQUER, NOS TERMOS DOS SEUS ARTIGOS 29 e 68, A OBTENO DE LUCRO, PARA FINS DA PROIBIO. AGRAVO RE-TIDO INFUDADO, DADO QUE A DECISO DE PRIMEIRO GRAU RESPALDADA PELO ART. 105 DO DIPLOMA DE REGNCIA. 1. A de-ciso interlocutria, impugnada por intermdio de agravo retido, aplicou corre-tamente o disposto no art. 105 da Lei n 9.610/98 (Art. 105. A transmisso e a retransmisso, por qualquer meio ou processo, e a comunicao ao pblico de obras artsticas, literrias e cientfi cas, de interpretaes e de fonogramas, reali-zadas mediante violao aos direitos de seus titulares, devero ser imediatamente suspensas ou interrompidas pela autoridade judicial competente, sem prejuzo da multa diria pelo descumprimento e das demais indenizaes cabveis, inde-pendentemente das sanes penais aplicveis; caso se comprove que o infrator reincidente na violao aos direitos dos titulares de direitos de autor e conexos, o valor da multa poder ser aumentado at o dobro.) para, em sede de tutela inibitria, determinar, de forma provisria, que a R, ECT, se abstivesse de uti-lizar, em suas dependnciaS, de obras fonogrfi cas sem a prvia autorizao do titular do direito autoral. 2. Nos termos dos arts. 29 e 68 da Lei 9.610/98, a uti-lizao de obra artstica, mediante a reproduo ambiental de obra fonogrfi ca, requer a prvia autorizao do titular do direito autoral, ainda que sua utiliza-

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    o no seja destinada, direta ou indiretamente, obteno de lucro. 4. Agravo retido e apelo desprovidos. (TRF 2 Regio, Stima Turma Especializada, AC 200450010019110 AC APELAO CIVEL 418582 Relator(a) Desembargador Federal THEOPHILO MIGUEL Data::15/09/2009).

    PROCESSUAL CIVIL. ADJUDICAO DE IMVEL PELA CEF. IN-TEDITO PROIBITRIO. TURBAO. INEXISTNCIA. SENTENA EXTINTIVA (ARTIGO 267, I E VI, DO CPC). RECURSO IMPROVIDO. Conforme noticiam os autos em apenso n 2000.02.01.021875-7, notada-mente na sentena de fl s. 33/35, foi indeferido o pedido de antecipao de tutela formulado pelo requerente, em Ao Ordinria n 99.0016381-8, para que a CEF se abstivesse de repassar o imvel a terceiros. Dessa forma, o autor de-tinha a posse do imvel em tela, em razo da propriedade sobre o bem, sendo certo que a CEF procedeu adjudicao do imvel, por execuo extrajudicial, no havendo falar em turbao de posse por parte da exeqente. O interdito proibitrio adequado para os casos em que ainda no ocorreu a molstia posse, destinando-se este interdito a proteger o possuidor que v sua posse ameaada. Trata-se, pois, de uma demanda preventiva, de natureza inibitria. Denomina-se tutela inibitria a tutela jurisdicional, de carter preventivo, desti-nada a impedir a prtica de atos ilcitos. O que se pretende, aqui, impedir que se pratique o ato ilcito de molstia posse (turbao ou esbulho) (ALEXAN-DRE FREITAS CMARA, Lies de Direito Processual Civil, Ed, Lumen Juris, RJ, 2000, pginas 261/262). Recurso improvido. Sentena mantida. (TRF 2 Regio, Quarta Turma, AC 200002010218733 AC APELAO CIVEL 232591 Relator(a) Desembargador Federal BENEDITO GONCALVES Data::25/10/2004).

    LEITURAS OBRIGATRIAS

    BUENO, Cassio Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Civil, vol. 4, So Paulo, Saraiva, 2009, Captulos 1 (p. 9-25) e 2 (p. 26-41).

    LEITURAS COMPLEMENTARES

    BEDAQUE, Jos Roberto dos Santos. Tutela Cautelar e Tutela Antecipada: tutelas sumrias e de urgncia (tentativa de sistematizao), 3. ed. So Paulo: Malheiros, 2003, p. 11-29 (Captulo 1).

    DIDIER JR., Fredie, BRAGA, Paula Sarno, OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direi-to Processual Civil, vol. 2, 2 edio, Salvador, Podium, 2008, p. 591-683.

  • PROCESSO CIVIL: PROCEDIMENTOS

    FGV DIREITO RIO 22

    MARINONI, Luiz Guilherme, ARENHART, Srgio Cruz. Curso de Pro-cesso Civil, vol. 2, 6. ed. (em edies anteriores Manual do Processo de Conhecimento), So Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 195-231.

    MOREIRA, Jos Carlos Barbosa. A tutela de urgncia num episdio recente da histria poltica brasileira, Temas de Direito Processual: stima srie, So Paulo, Saraiva, 2001, p. 31-37.

    MOREIRA, Jos Carlos Barbosa. Tutela de urgncia e efetividade do direito, Te-mas de Direito Processual: oitava srie, So Paulo, Saraiva, 2004, p. 89-105.

    SANTOS, Ernane Fidlis dos; SILVEIRA, Ivana Fidlis. A antecipao de tutela. Interpretao doutrinria. Evoluo e prtica em quase quinze anos de vigncia, Revista de Processo, n 166, dez. 2008, p. 297-310.

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    FGV DIREITO RIO 23

    8 Importante destacar que a regra que a demanda deva ser proposta de forma escrita. Excepcionalmente, a legislao autoriza que o pleito do autor seja re-alizado de forma oral (Lei dos Juizados Especiais no. 9.099/95 e Lei dos Alimentos no. 5.478/68). Contudo, entendemos que no uma exceo. Na verdade, o pedido oral dever ser transcrito, reduzido a termo para integrar e iniciar o processo, ou seja, o direito de ao, resultando na forma escrita, a materializao da pretenso autoral.

    9 Lembramos que nem toda demanda decorre de uma lide. Observe-se a hip- tese em que o autor busca a prestao jurisdicional a fi m de tornar jurdica uma situao de fato, tal como ocorre em algumas hipteses de demandas de jurisdio voluntria.

    AULAS 04 E 05. PETIO INICIAL (ARTS. 282 E SEGUINTES DO CPC) E SENTENA DE IMPROCEDNCIA LIMINAR (ART. 285-A DO CPC)

    CASO

    Mvio ingressa em juzo com ao de indenizao em face de uma em-presa de telefonia celular alegando que seu nome foi includo no servio de proteo ao crdito sem que a empresa tenha observado o dever de notifi c-lo previamente. O autor alega que essa atitude uma prtica reiterada das empresas de telefonia e anexa sua petio inicial decises paradigmas prola-tadas em demandas propostas com semelhantes causa de pedir e pedido. Re-quer o julgamento da ao com base no artigo 285-A do CPC. Voc, como juiz, proferiria sentena liminar de procedncia do pedido? Fundamente.

    NOTA AO ALUNO

    1 A PETIO INICIAL

    Como visto anteriormente, a ao um direito constitucionalmente ga-rantido (art. 5, XXXV da Constituio Federal), que consagra o princpio do acesso Justia; a demanda, por seu turno, a postulao de uma provi-dncia jurisdicional; por fi m, a petio inicial a representao fsica do ato de demandar8.

    Se a petio inicial no possuir seus elementos essenciais partes, causa de pedir (causa petendi) e pedido (ou objeto) ou os requisitos formais elencados no art. 282, CPC, ela ser considerada inepta. Assim, embora d origem a uma relao jurdica processual, esta ter sua validade comprome-tida, o que poder conduzir, caso o vcio no seja corrigido no prazo do art. 284, CPC, ao indeferimento da petio inicial, isto , prolao de uma sentena terminativa.

    A funo da petio inicial de provocar o incio do processo e identifi car a demanda (as partes, o pedido e a causa de pedir) a fi m de evitar que deman-das idnticas sejam processadas em juzos diversos9.

    A petio inicial a transcrio dos termos da demanda em que o autor de-monstra o seu direito, expe os fatos e fundamentos jurdicos e explicita o pr-prio pedido dando-se incio ao processo e constituindo a relao processual.

    Ao demandar (instrumentalizada por meio da petio inicial), o autor expe ao julgador a sua pretenso para que ele prolate a uma sentena sobre

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    FGV DIREITO RIO 24

    10 Art. 87. Determina-se a competncia no momento em que a ao proposta. So irrelevantes as modifi caes do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando supri-mirem o rgo judicirio ou alterarem a competncia em razo da matria ou da hierarquia.

    11 Art. 219 (...) 1o A interrupo da prescrio retroagir data da proposi-tura da ao.

    determinada situao confl ituosa ou no. Assim, desenvolver-se-o as ativi-dades e o resultado jurisdicionais.

    Esta pretenso posta na petio inicial consagra o que a doutrina chama de mrito, objeto do processo ou objeto da demanda.

    Entretanto, para que esta pretenso possa ser avaliada e reconhecida, a de-manda dever ser regida por vertentes de ndole processual e material. Caso estas duas elementares no estejam agrupadas, a apreciao da pretenso res-tar prejudicada, podendo culminar na extino do processo sem resoluo do mrito (sentena terminativa); ou mesmo a demanda tramitar seguindo todas as fases processuais, entretanto culminando numa resposta jurisdicio-nal que no atenda pretenso autoral, ou seja, uma sentena de mrito de improcedncia do pedido.

    A ao considerada proposta com a distribuio da petio inicial ou quando esta despachada pelo juiz nos casos em que no h distribuidor, instaurando-se o processo mesmo que o ru ainda no tenha sido comuni-cado da propositura da demanda. Nesse momento, fi xa-se a competncia10 e interrompe-se o curso da prescrio11.

    Passando-se dos requisitos de uma petio inicial, os mesmos esto dispos-tos no artigo 282 e 283 do CPC e devem ser seguidos quando da elaborao da exordial para que se tenha a garantia do regular desenvolvimento do pro-cesso.

    Quando no atendidos estes requisitos, haver a extino do processo sem resoluo do mrito por inpcia da petio inicial. Em outras hipteses, o no-atendimento aos requisitos poder ser sanado por meio de uma emenda petio inicial.

    2 COMPETNCIA

    Competncia a diviso para a administrao da jurisdio. o critrio para distribuir as atribuies para o exerccio da jurisdio entre vrios rgos e a medida da jurisdio e o mbito dentro do qual o juiz dever exercer a jurisdio, garantindo a efetividade da prestao jurisdicional.

    A Constituio Federal defi ne as competncias das vrias justias do contexto nacional. Existem as Justias do Trabalho, Eleitoral, Militar, Fede-ral e Estadual, tambm chamada de Justia Comum. A Constituio tam-bm defi ne as atribuies do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tri-bunal de Justia.

    Assim, para demandas de cada natureza existe uma prvia competncia para a apreciao da causa. Deve-se observar primeiramente a justia com-petente para julgar conforme termos supracitados; posteriormente, a com-petncia territorial para apreciar o pleito; a seguir, a competncia do juzo;

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    FGV DIREITO RIO 25

    12 Art. 91. Regem a competncia em razo do valor e da matria as normas de organizao judiciria, ressalvados os casos expressos neste Cdigo.

    13 Art. 93. Regem a competncia dos tribunais as normas da Constituio da Repblica e de organizao judiciria. A competncia funcional dos juzes de primeiro grau disciplinada neste Cdigo.

    14 Art. 114. Prorrogar-se- a competn-cia se dela o juiz no declinar na forma do pargrafo nico do art. 112 desta Lei ou o ru no opuser exceo declinat-ria nos casos e prazos legais.

    15 Art. 116. O confl ito pode ser suscita-do por qualquer das partes, pelo Minis-trio Pblico ou pelo juiz.

    enfi m, devem ser observados critrios previamente estabelecidos em razo de fatores tais como territorialidade, matria objeto da lide, valor da causa etc., como observaremos a seguir.

    Quando propomos uma demanda, devemos conhecer o juzo competente para apreci-la, visto que, apesar de alguns critrios serem sanveis, outros podem gerar a nulidade de todos os atos praticados no processo pelo juzo incompetente, por inobservncia do juzo que detinha competncia absoluta para apreciar a ao.

    O denominado critrio objetivo decorre de dois elementos12: o valor da causa e a natureza da demanda ou critrio material. O primeiro, por exem-plo, determina se uma demanda ser processada perante o Juizado Especial ou perante o Juzo Comum; o segundo estabelece, por exemplo, se a compe-tncia para o julgamento ser da Vara de Fazenda Pblica ou Vara Criminal.

    Para defi nir a funo desempenhada pelo rgo jurisdicional no processo existe o critrio funcional. Refere-se atribuio conferida a cada magistrado, se de primeiro grau, se recursal etc13.

    Por fi m, o critrio territorial ou competncia de foro, que decorre da di-menso territorial atribuda atividade de cada rgo jurisdicional. Nestes termos, a Justia Estadual dividida em Comarca, a Justia Federal, em cir-cunscrio (artigos 94 a 100).

    Existe a diviso de competncia em absoluta e relativa. A primeira est atrelada ao interesse pblico, no admitindo que as partes convencionem de forma diferente. Deve ser argida em preliminar de contestao, mas tam-bm pode ser conhecida de ofcio pelo juiz e no est sujeita precluso, podendo, portanto, ser declarada em qualquer tempo e grau de jurisdio, sob pena de nulidade de todos os atos praticados no processo.

    A competncia relativa, por seu turno, admite ser convencionada de for-ma diversa da disposta em lei se as partes assim acordarem, por estar ligada ao interesse das partes. No pode ser conhecida de ofcio e deve ser argida por meio de exceo de incompetncia relativa, sob pena de precluso. Se no for argida ser prorrogada a competncia ao juiz inicialmente incompetente14.

    Pode ocorrer confl ito de competncia quando dois ou mais juzes se repu-tam competentes para certa causa (confl ito positivo de competncia); quan-do dois ou mais juzes reputam-se incompetentes (confl ito negativo de com-petncia); quando dois ou mais juzes controverterem acerca da reunio ou da separao de processos, instaurar-se- o confl ito de competncia, que ser examinado pelo tribunal de maior hierarquia, ainda que no esteja vinculado ao mesmo ramo do Poder Judicirio15.

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    FGV DIREITO RIO 26

    16 Novamente destaca-se o rito dos Juizados Especiais que dispensam a presena do advogado representando a parte em determinadas hipteses. Existem outras hipteses em que dera dispensada a assinatura do advogado. So elas a ao de alimentos, o habeas corpus e quando no houver advogado na comarca (art. 36 do CPC).

    17 Art. 39, I, do CPC.

    18 Art. 280 do CPC.

    19 Art. 276. Na petio inicial, o autor apresentar o rol de testemunhas e, se requerer percia, formular quesitos, podendo indicar assistente tcnico.

    3 OS REQUISITOS DA PETIO INICIAL

    A petio inicial dever ser redigida com a indicao do Juzo ou Cole-giado ao qual dirigida, os nomes e qualifi caes das partes (estado civil, profi sso, endereo, nmero da identidade, do CPF, endereo de domiclio ou residncia). A seguir, devem constar o relato dos fatos e o direito avocado, ou seja, o fundamento jurdico do pedido, tambm denominado de causa petendi ou de causa de pedir. Aps, o autor, por seu advogado, expor o seu pedido, dentre os quais dever constar o requerimento de citao do ru, as provas que pretende apresentar, o valor da causa, a data e a assinatura do ad-vogado16 e o endereo profi ssional deste para as intimaes17.

    Quando do preenchimento do cabealho da petio inicial, devem estar resguardados elementos inerentes competncia territorial e funcional para a apreciao daquela demanda, bem como tambm infl uenciaro na fi xao da competncia questes como o valor da causa e das provas indicadas.

    Exemplifi camos: observe-se que os juizados especiais no admitem prova pericial complexa, ainda que o valor da causa seja compatvel com aqueles. Outro exemplo diz respeito ao rito, objeto da demanda. Quando o rito eleito for o sumrio, no se admite a interveno de terceiros (exceto a assistncia) e a fundada em contrato de seguro, a ao declaratria incidental e o recurso de terceiro prejudicado18. Caso a demanda proposta tenha sido pelo rito su-mrio, havendo alguma dessas hipteses, haver a converso do rito. O art. 282, IV do CPC exige que o autor, em sua petio inicial, especifi que o fato e os fundamentos jurdicos do pedido, ou seja, que o autor indique a causa de pedir da demanda. Causa de pedir o conjunto de fatos que sustentam a pretenso do autor. Dever tambm indicar os fundamentos jurdicos do pedido, ou seja, a chamada moldura legal que vai adequar seu interesse ordem jurdica.

    No caso de aes propostas sob o rito sumrio, tambm integram os re-quisitos da petio inicial a indicao do rol de testemunhas e, no caso de requerimento de percia, dever formular os quesitos, podendo indicar assis-tente tcnico19.

    A causa de pedir se divide em prxima e remota; a segunda se refere aos fatos narrados, enquanto a primeira a indicao do ordenamento que em-basa o pedido decorrente dos fatos narrados.

    Nesse sentido, verifi ca-se a existncia de duas correntes: a primeira, segui-da, entre outros, por Jos Carlos Barbosa Moreira e Cndido Rangel Dina-marco, afi rma que a causa de pedir resume-se aos fatos, sendo irrelevante os fundamentos jurdicos.

    Conquanto o CPC, em seu art. 282, III, exija a exposio, na petio inicial, dos fatos e dos fundamentos jurdicos do pedido, para os autores citados apenas os primeiros so considerados para efeito de identifi cao da

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    FGV DIREITO RIO 27

    demanda. Paralelamente, segunda corrente se fi lia, entre outros autores, Humberto Th eodoro Jnior, fazendo referncia a uma causa de pedir pr-xima (que seriam os fundamentos jurdicos) e uma remota (que seriam os fatos), considerando ambas relevantes na tarefa de identifi cao da demanda.

    Nosso Cdigo de Processo Civil adotou a teoria da substanciao, segun-do a qual exige-se a descrio dos fatos e no a qualifi cao jurdica de que decorre o direito alegado pelo autor.

    H casos em que a fundamentao ftica bem simples, no gerando d-vidas, mas h outros em que a deciso do juiz depende justamente da posio ftica. Ex: em caso de acidente de trnsito h uma discusso ftica. Haver condenao ao se determinar quem infringiu as regras de trnsito.

    Uma vez citado o ru, fi ca defeso ao autor modifi car a causa de pedir ou o pedido sem o consentimento da outra parte, conforme determinao do art. 264 do CPC. o chamado princpio da estabilidade da demanda, que im-pede a alterao dos fatos narrados na petio inicial depois de citado o ru.

    Essa mesma vedao se verifi ca com relao ao juiz quando do julgamento da causa, visto que lhe vedado conhecer causa de pedir diversa daquela in-dicada na petio inicial, ele no poder considerar fatos outros que aqueles expressamente ali indicados, de acordo com o disposto no art. 128 do CPC. Assim, fundamental que a pea vestibular faa referncia a todos os fatos que o autor quer que o juiz conhea, sob pena de, uma vez olvidada a meno de algum, no poder ele ser considerado pelo juiz quando da sua deciso, ao menos naquela demanda.

    Todavia, embora exija o CPC a indicao dos fundamentos jurdicos do pedido na petio inicial (causa de pedir prxima), nada impede que o julga-dor entenda ser procedente ou improcedente a demanda com base em outro artigo de lei que no aquele indicado pelo autor, sem que com isso ocorra modifi cao da demanda.

    O que se veda ao juiz, quando do julgamento da causa, alterar os fatos narrados, mas pode ele tranqilamente dar ao caso qualifi cao jurdica di-versa daquela esposada na inicial, desde que essa nova qualifi cao decorra diretamente dos fatos narrados.

    Lembremos, assim, que h distino entre fundamentao jurdica e fun-damentao legal da demanda. O autor dever expor os fundamentos jur-dicos daquele pleito na petio inicial (causa de pedir prxima). Entretanto, o magistrado poder fundamentar sua deciso em outro dispositivo (funda-mentao legal), diverso do indicado pelo demandante. A vedao legal no sentido de impedir que o julgador altere os fatos narrados e no a qualifi cao jurdica da demanda.

    de suma importncia distinguirmos causa de pedir e pedido. Ambas guardam correlao no que diz respeito impossibilidade de modifi cao aps a citao do ru. A primeira (causa petendi) revela-se tanto como a ex-

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    FGV DIREITO RIO 28

    20 Marinoni e Arenhart exemplifi cam: Se o autor pede o pagamento da dvi-da, e o ru alega que ela foi parcelada, somente podendo ser exigida em par-te, o fato modifi cativo; se o ru alega pagamento, o fato extintivo; se o ru alega exceo de contrato no cum-prido, o fato impeditivo. MARINONI, Luiz Guilherme e ARENHART, Srgio Cruz. Manual do Processo de Conheci-mento. 5. ed, rev., atual., ampl. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006, pp. 90/1.

    21 Vide art. 460 este tema ser tratado detalhadamente na aula de sentena.

    posio dos fundamentos jurdicos do pedido, tambm chamada de causa prxima, como o prprio fato, a causa remota.

    Com isto, ao autor cabe provar os fatos constitutivos do seu direito. A este deve afi rmar o fato e apresentar o seu nexo com um efeito jurdico; ao ru, cabe falar dos fatos modifi cativos, impeditivos e extintivos do direito afi rma-do pelo autor20.

    O pedido tambm dever constar da petio inicial e traduz-se no postula-do que o autor faz ao Estado-Juiz em decorrncia das alegaes apresentadas na causa de pedir. Neste requisito da petio inicial, o autor pede determina-da providncia ao rgo judicial para que, por exemplo, declare a existncia ou inexistncia de uma relao jurdica, que seja anulado um ato jurdico, que condene o ru a pagar certa quantia ou mesmo a fazer ou deixar de fazer determinado ato.

    O pedido limita a atuao do rgo julgador, uma vez que qualquer ma-nifestao judicial que no comporte o pedido seja por estar aqum deste, alm deste ou fora do que foi pedido, ensejar vcio da deciso21.

    A isto se denomina princpio da congruncia ou da correlao, que deve haver entre o pedido e a sentena. Assim, deve o autor, na petio inicial, delimitar exatamente o que pretende alcanar na demanda.

    Destacamos que existem excees ao princpio da congruncia, tal como as hipteses previstas nos artigos 461 do CPC e 84 do Cdigo de Defesa do Consumidor (CDC), nas quais o julgador poder conceder a tutela especfi -ca, tambm denominada de resultado equivalente ao do adimplemento; a aplicao de multa pelo magistrado de ofcio.

    Ocorrem hipteses em que o texto legal impe elementos que devem constar da deciso do julgador ainda que no tenha sido pleiteado pelo de-mandante. Isto ocorrer, por exemplo, com a imposio de juros legais (art. 293), de correo monetria, dos honorrios advocatcios de sucumbncia (art. 20), prestaes peridicas (art. 290), ainda que no tenham sido pedidos expressamente pelo autor. A estes elementos a doutrina denomina de pedidos implcitos.

    O pedido se divide em mediato e imediato: pedido mediato o bem da vida que se pretende alcanar atravs da demanda. o bem da vida pretendi-do pelo autor, ou seja, o bem ou interesse que se busca assegurar por meio da prestao jurisdicional. Por outro lado, existe a possibilidade do pedido ime-diato, que a providncia jurisdicional pleiteada no sentido do provimento jurisdicional solicitado ao juiz que pode ter natureza declaratria, constituti-va, condenatria, executiva ou cautelar.

    O pedido, como regra, no CPC deve ser certo e determinado (art. 286). Entretanto, o prprio legislador admite algumas excees em hipteses nas quais, quando do incio da demanda, tal preciso no puder ser exigida do autor, segundo o princpio da razoabilidade.

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    FGV DIREITO RIO 29

    22 Art. 103. Reputam-se conexas duas ou mais aes, quando lhes for comum o objeto ou a causa de pedir.

    23 O tema valor da causa ser tratado especifi camente na prxima aula, cujo tema Aspectos econmicos e ticos do processo.

    O pedido tambm pode ser alternativo, quando em razo da natureza da obrigao, esta puder ser prestada de mais de um modo. Assim, ainda que o autor no descreva a possibilidade de cumprimento de modos diversos, ou seja, que faa pedido alternativo, ter o ru a oportunidade de escolher o modo mais conveniente de cumprir com a obrigao.

    Outra hiptese que poder ocorrer na formulao do pedido de que sejam feitos requerimentos que ensejem a cumulao de pedidos, que poder ocorrer de forma simples, objetiva, sucessiva ou alternativa.

    A cumulao simples ocorrer quando as partes forem comuns e os pedi-dos puderem ser formulados em demandas distintas, mas so conjugadas por medida de economia; a cumulao objetiva do pedido se processar quando houver vrios pedidos do mesmo autor em face do mesmo ru, ainda que no haja conexo22. Ocorrer a cumulao sucessiva de pedidos quando o segun-do pedido somente puder ser apreciado se o primeiro for julgado procedente.

    Por fi m, a cumulao alternativa ocorrer quando o magistrado puder acolher o posterior, caso no acolha o anterior, o que o difere da cumulao sucessiva em que um pedido somente ser apreciado se o anterior for proce-dente; no caso dos pedidos alternativos, somente o no acolhimento de um dos pedidos ensejar a apreciao do pleito seguinte.

    To logo formulados os pedidos, o autor dever indicar as provas que pretende produzir a fi m de demonstrar a verdade dos fatos alegados. Esta exigncia no surte muita efi ccia em termos prticos, visto que em fase pos-terior, de saneamento do processo, o juiz de ofcio abrir oportunidade para as partes produzirem provas.

    O autor dever atentar para a exigncia do artigo 283, que determina a instruo da petio inicial com documentos obrigatrios, salvo motivo de fora maior, sob pena de indeferimento da petio. Exemplifi ca-se: para a abertura do inventrio, necessria faz-se a juntada da certido de bito.

    Outro requisito da petio inicial o valor da causa. A toda demanda deve ser conferido um valor, ainda que estimado, a ser conferido em moeda nacional, sob pena de ser considerada inepta a petio inicial23.

    Este valor um dado que serve para mltiplas funes: base de clculo para as custas processuais, para as multas processuais, para defi nir competn-cia, defi nir procedimento. Existem duas espcies de valor da causa:

    1) legal: aquele calculado nos termos do art. 259 do CPC:

    Art. 259. O valor da causa constar sempre da petio inicial e ser:

    I na ao de cobrana de dvida, a soma do principal, da pena e dos juros vencidos at a propositura da ao;

    II havendo cumulao de pedidos, a quantia correspondente soma dos valores de todos eles;

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    FGV DIREITO RIO 30

    24 Art. 261. O ru poder impugnar, no prazo da contestao, o valor atribu-do causa pelo autor. A impugnao ser autuada em apenso, ouvindo-se o autor no prazo de 5 (cinco) dias. Em seguida o juiz, sem suspender o proces-so, servindo-se, quando necessrio, do auxlio de perito, determinar, no prazo de 10 (dez) dias, o valor da causa.

    Pargrafo nico. No havendo im-pugnao, presume-se aceito o valor atribudo causa na petio inicial.

    25 Art. 162. Os atos do juiz consistiro em sentenas, decises interlocutrias e despachos. 1 Sentena o ato do juiz que implica alguma das situaes previstas nos arts. 267 e 269 desta Lei.

    26 Art. 285-A. Quando a matria contro-vertida for unicamente de direito e no juzo j houver sido proferida sentena de total improcedncia em outros casos idnticos, poder ser dispensada a citao e proferida sentena, repro-duzindo-se o teor da anteriormente prolatada.

    III sendo alternativos os pedidos, o de maior valor;IV se houver tambm pedido subsidirio, o valor do pedido principal;V quando o litgio tiver por objeto a existncia, validade, cumprimento,

    modifi cao ou resciso de negcio jurdico, o valor do contrato;VI na ao de alimentos, a soma de 12 (doze) prestaes mensais, pedidas

    pelo autor;VII na ao de diviso, de demarcao e de reivindicao, a estimativa

    ofi cial para lanamento do imposto.

    2) arbitrado: quando no houver previso expressa no rol do art. 259 do CPC e o autor deve arbitrar o valor da causa. Toda vez que houver pedido ilquido, o autor dever arbitrar o valor da causa.

    A atribuio de valor a causa pode ser controlada ex offi cio pelo magistrado ou por provocao do ru. Se o ru quiser controlar o valor dever provocar a instaurao de um incidente processual chamado impugnao ao valor da causa previsto no art. 261 do CPC24 (em autos apartados), que ser resolvi-do por deciso interlocutria, impugnvel por agravo de instrumento. No confundir a impugnao ao pedido (feito na contestao) com a impugnao ao valor da causa.

    4 PROVIMENTO (DESPACHO) LIMINAR NA PETIO INICIAL

    O chamado despacho liminar aquele prolatado pelo juiz to-logo re-cebe a petio inicial, no qual determinar a citao do ru ou no. Nesta oportunidade, o juiz apreciar a pertinncia da demanda, o preenchimento dos requisitos, podendo inclusive negar seguimento ao feito manifestamente invivel.

    Neste primeiro contato com a demanda, o juiz dever exercer o controle da regularidade formal do processo e da admissibilidade da ao, iniciando-se a atividade de saneamento do feito. Em casos de invalidade, m-formao, inpcia da petio inicial, a mesma dever ser indeferida de plano sem a apre-ciao do mrito.

    Por outro lado, a legislao autoriza ao magistrado apreciar, em situaes excepcionais, o mrito da demanda e julg-la improcedente prima facie (tam-bm denominada de julgamento liminar de mrito), com resoluo de mrito antes mesmo da citao do ru, j que esta sequer chegar a ser determinada pelo juiz no despacho liminar.

    O despacho liminar, nestas hipteses, ser convertido em sentena25. So casos de improcedncia prima facie o reconhecimento da prescrio ou da decadncia, o julgamento de causa repetitivas26 e a rejeio in limine dos embargos execuo previstos no artigo 739, III, do CPC. Caso o autor

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    27 Art. 513. Da sentena caber apela- o (arts. 267 e 269).

    28 Art. 284. Verifi cando o juiz que a pe- tio inicial no preenche os requisitos exigidos nos arts. 282 e 283, ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de difi cultar o julgamento de mrito, determinar que o autor a emende, ou a complete, no prazo de 10 (dez) dias.

    29 A respeito da coisa julgada, conferir em aula 20.

    tenha requerido antecipao dos efeitos da tutela, o juiz ir se manifestar no momento do despacho liminar.

    Neste sentido, destaca Fredie: (...) no h qualquer violao garantia do contraditrio, tendo em vista que se trata de um julgamento pela impro-cedncia. O ru no precisa ser ouvido para sair vitorioso. No h qualquer prejuzo para o ru decorrente da prolao de uma deciso que lhe favorea.

    Quanto natureza do despacho vai alm de mero despacho, visto o contedo decisrio e no de mero impulso, como a natureza do despacho faz concluir. Quando o despacho liminar defere a petio inicial recebe o nome de despacho liminar de contedo positivo. Ao contrrio, quando indefere, recebe o nome de despacho liminar de contedo negativo.

    O despacho de contedo positivo torna prevento o Juzo para efeitos de fi xao da competncia e tem carter de deciso interlocutria, conquanto o de contedo negativo ser uma sentena, pondo termo ao processo, sendo atacvel por meio de recurso de apelao27.

    O despacho liminar de contedo positivo quer seja em razo da primeira apreciao do Estado-Juiz considerando estarem presentes todos os requisitos da petio inicial e em no ocorrendo qualquer das hipteses de indeferimen-to da mesma, ou ainda, em decorrncia de correo tempestiva28 de qualquer irregularidade apontada, o juiz determinar a citao do ru.

    O indeferimento, ou seja, despacho liminar de contedo negativo pode ser total ou parcial e poder decorrer da forma (exemplos: inpcia da inicial em razo do no-atendimento aos requisitos obrigatrios), em razo da ao (exemplo: falta de interesse processual) e em razo do mrito (exemplo: de-cadncia).

    Quanto aos efeitos, o despacho liminar negativo formar coisa julgada formal, exceto se for improcedncia prima facie, que constituir coisa julgada material29.

    5 POSSIBILIDADE DE EMENDA; INPCIA E INDEFERIMENTO DA PETI-O INICIAL.

    A petio inicial, conforme estudado, dever ser elaborada atendendo aos requisitos elencados nos artigo 282 e 283 do CPC, sob pena de ser rejeitada. H hipteses, porm, em que qualquer incorreo ou omisso possam ser sanadas em dez dias por meio da denominada emenda inicial.

    Esta correo da petio inicial autorizada por determinao legal (artigo 284, vide nota de rodap) e o juiz dever oferecer parte autora a possibilida-de de adequar o petitrio imposio legal. Em no sendo corrigida a petio inicial, o juiz dever indeferi-la.

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    FGV DIREITO RIO 32

    30 Art. 295. A petio inicial ser inde- ferida: I quando for inepta; II quando a parte for manifestamente ilegtima; III quando o autor carecer de interesse processual; IV quando o juiz verifi car, desde logo, a deca- dncia ou a prescrio (art. 219, 5o); V quando o tipo de procedimento, escolhido pelo autor, no corresponder natureza da causa, ou ao valor da ao; caso em que s no ser inde- ferida, se puder adaptar-se ao tipo de procedimento legal; VI quando no atendidas as prescries dos arts. 39, pargrafo nico, primeira parte, e 284.

    31 Veja-se por todos BEDAQUE, Jos Roberto dos Santos. Tutela Cautelar e Tutela Antecipada: tutelas sumrias de urgncia (tentativa de sistematizao). 2 ed. So Paulo: Malheiros, 2001.

    32 Ver sobre o tema MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela Inibitria. So Paulo: Revista dos Tribunais, 1999.

    No caso de indeferimento da petio inicial seja pela no-adequao no prazo em que o autor deveria faz-la, ou por restar a mesma inserida nas hipteses previstas no artigo 295 do CPC30. Destaque-se que mesmo aps a citao do ru, possvel a emenda da petio inicial. Mesmo que isto impli-que em alterar a causa petendi, j que o contraditrio ser resguardado pela determinao para que o ru se manifeste aps a emenda.

    6 A SENTENA LIMINAR

    A Lei n. 11.277 inseriu na sistemtica processual o art. 285-A, vulgar-mente conhecido como da sentena liminar. Convm lembrar a discusso que se seguiu na edio da reforma processual de 1994. Alguns questionavam se a deciso do juiz que concede a tutela antecipada, na verdade, no seria uma sentena, tendo em vista que examinava o mrito. Pela primeira vez cunhou-se, ainda que experimentalmente, o termo sentena liminar.

    A maioria esmagadora da doutrina entendeu no ser procedente tal con-siderao e pacifi cou o entendimento, inclusive com as bnos da jurispru-dncia, no sentido de que se tratava de deciso interlocutria31.

    Agora, curiosamente 12 anos mais tarde, o termo volta baila com a inser-o no ordenamento do art. 285-A, que assim dispe: Art. 285-A. Quando a matria controvertida for unicamente de direito e no juzo j houver sido proferida sentena de total improcedncia em outros casos idnticos, poder ser dispensada a citao e proferida sentena, reproduzindo-se o teor da ante-riormente prolatada. A partir deste (aparentemente) simples e nico dispo-sitivo, podemos levantar alguns pontos para refl exo.Partindo para a anlise do artigo, chamamos a ateno para a expresso matria controvertida unica-mente de direito. Partindo deste termo, podem ser suscitadas as mais diversas questes na inicial. Contudo, o cerne da controvrsia deve estar relacionado a uma questo apenas de direito. Se houver, ainda que acessoriamente, um fato que precise ser esclarecido, no ter aplicao a nova regra do artigo 285-A.

    Certamente pode haver aqui certa dose de subjetividade intrnseca cog-nio. Como cedio, cognio a atividade intelectual exercida pelo juiz diante das questes trazidas pelas partes. Quando o juiz examina fatos, leva em considerao, basicamente, a distribuio do nus da prova (art. 333, CPC), as regras de experincia (art. 335, CPC) e as presunes legais (art. 334, IV, CPC).

    Ao examinar matria de direito, leva em considerao as regras de inter-pretao e as regras de integrao da norma jurdica. Em ambos os casos haver atividade cognitiva, porm em dimenses diversas. Ademais, a cog-nio pode ser examinada no plano horizontal (total ou parcial) ou vertical (exauriente, sumria ou superfi cial)32.

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    FGV DIREITO RIO 33

    Assim sendo, em perspectiva de cognio horizontal, sendo apresentadas ao juiz vrias questes, ele s poder se servir do mecanismo do art. 285-A quando, entre essas vrias questes, aquela que for efetivamente controverti-da e signifi car o cerne da controvrsia for uma questo unicamente de direito.

    Prossegue o legislador: e no juzo j houver sido proferida sentena. De se perceber que o legislador no utiliza a expresso pelo juiz e sim no juzo. No poucas vezes, existem dois ou mais juzes em exerccio no mesmo rgo jurisdicional.

    Isso pode levar a alguns dilemas, como na hiptese de dois magistrados designados para a mesma Vara (supondo-se um rgo com nmero excessivo de procedimentos ou em fase de reestruturao) com posicionamentos diver-sos sobre uma mesma questo de direito. Ou mesmo quando um novo juiz titular assume o rgo aps o anterior ter sido promovido e modifi ca alguns entendimentos, at ento rotineiramente adotados.

    O que fazer se no juzo houver precedentes em sentido diametralmente oposto daqueles que se invocam como aptos a viabilizar a aplicao do novel dispositivo? Apesar da Lei nada dispor, nesta hiptese no se far presente a situao de tranqilidade jurdica exigida pelo legislador para que se aplique o novo mecanismo.

    Outro ponto a se enfocar que a regra do artigo 285-A excepcional; no pode ser aplicada indiscriminadamente, sob pena de se subverter o devido processo legal, e debitar-se a conta s expensas da necessidade, a qualquer custo, de um processo rpido. No se deve esquecer que a atuao do juiz se situa sempre entre os parmetros da segurana e da rapidez; ele nunca pode prescindir de um desses fatores integralmente.

    O dispositivo atender, principalmente, hipteses em trmite perante os Juizados Especiais Cveis (estaduais e federais), rgos sobrecarregados e que necessitam de mecanismos de tutela rpida.

    De se observar que antes mesmo da vigncia desta Lei j havia sido aprovado o Enunciado n. 01 do FONAJEF Frum Nacional dos Juizados Especiais Federais, no mesmo sentido: O julgamento de mrito de plano ou prima facie no viola o princpio do contraditrio e deve ser empregado na hiptese de decises reiteradas de improcedncia pelo juzo sobre determinada matria.

    O novo dispositivo menciona ainda a expresso improcedncia total, que deve ser interpretada literalmente, no sentido de no se permitir a apli-cao da regra em hipteses de sucumbncia recproca. Prossegue com a ex-presso em casos idnticos. Isso deve ser visto com muito cuidado, porque um critrio subjetivo, principalmente em sede de legislao federal.

    Ademais, pode causar certa perplexidade que uma deciso proferida em outro processo possa ter algum tipo de efeito vinculante sobre um processo posterior, com partes diversas.

  • PROCESSO CIVIL: PROCEDIMENTOS

    FGV DIREITO RIO 34

    33 Instituies de Direito Processual Civil. Vol. II. Editora Forense: Rio de Janeiro, 2010. p. 47.

    Nesse sentido, conforme j mencionado, a Ordem dos Advogados do Bra-sil ingressou com Ao Direta de Inconstitucionalidade no Egrgio Supremo Tribunal Federal, questionando este novo dispositivo (ADIN 3.695/06), em face dos Princpios Constitucionais do Contraditrio e da Ampla Defesa. At o momento do fechamento deste trabalho no havia deciso sobre a matria.

    De acordo com o posicionamento de Luiz Fux e de Humberto Th eodoro Jnior, por se tratar de um julgamento pela improcedncia do pedido auto-ral, bem como por no haver qualquer prejuzo a ser experimentado pelo ru visto que a deciso lhe favorvel no h violao alguma ao Princpio do Contraditrio.

    Leonardo Greco, ao contrrio, esclareceu que Embora no se possa aceitar que o amplo acesso justia venha a ser desvirtuado com a propositura de de-mandas manifestamente abusivas ou inviveis e deva ser reconhecido, como o fi z anteriormente nesta obra, que o sistema processual precisa, no plano das condies da ao, opor fi ltro a essas demandas, a sentena liminar de improcedncia no caminho adequado para esse fi m. A garantia constitucional do contraditrio, no sentido que lhe corresponde no Estado de Direito, est profundamente arranhada pela sentena liminar de improcedncia33.

    A legislao admite ao juiz o exerccio do juzo de retratao. Se o autor apela facultado ao juiz decidir, no prazo de cinco dias, se reforma sua deci-so e determina o prosseguimento da ao. uma possibilidade de juzo de retratao muito semelhante que j existia no art. 296 do CPC.

    Interessante a inovao do pargrafo segundo, fruto de questionamentos que haviam sido levantados por conta da introduo na nova redao do re-ferido artigo 296. Diz o legislador: 2 Caso seja mantida a sentena, ser ordenada a citao do ru para responder ao recurso.

    Com esta inovao, de fato o que se observar o uso de sentenas pa-dres ou jurisprudncia sumulada pelos Tribunais superiores padro, mas os princpios do devido processo legal e do acesso justia devero ser res-guardados. Para alcanar uma reduo de sobrecarga de demandas, garantin-do por outro lado as garantias constitucionais, os temas ainda havero de ser tratados de forma exaustiva pelos tribunais.

    MATERIAL DE APOIO: JURISPRUDNCIA

    ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. SERVIDOR PBLICO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CONCURSO P-BLICO. EXAME PSICOTCNICO. CRITRIOS SUBJETIVOS. ANULA-O PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. OFENSA AO ART. 535, II, DO CPC. NO OCORRNCIA. INPCIA DA INICIAL. INEXISTNCIA. AGRAVO NO PROVIDO. 1. Tendo o Tribunal de origem se pronunciado

  • PROCESSO CIVIL: PROCEDIMENTOS

    FGV DIREITO RIO 35

    de forma clara e precisa sobre as questes postas nos autos, assentando-se em fundamentos sufi cientes para embasar a deciso, como no caso concreto, no h falar em afronta ao art. 535, II, do CPC, no se devendo confundir fundamen-tao sucinta com ausncia de fundamentao (REsp 763.983/RJ, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, Terceira Turma, DJ 28/11/05). 2. O pedido aquilo que se pretende com a instaurao da demanda e se extrai a partir de uma in-terpretao lgico-sistemtica do afi rmado na petio inicial, recolhendo todos os requerimentos feitos em seu corpo, e no s aqueles constantes em captulo especial ou sob a rubrica dos pedidos (REsp 120.299/ES, Rel. Min. SL-VIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, Quarta Turma, DJ de 21/9/98). 3. Agra-vo regimental no provido. (STJ, Primeira Turma, AGRESP 201001128828 AGRESP AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL 1198331 Relator(a