problemas e dificuldades de aprendizagem na infÂncia

Upload: roger-alves

Post on 29-Oct-2015

238 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA

    INFNCIAProfessora Me. Gescielly Barbosa da Silva Tadei

    Professora Me. Mrcia Regina de Sousa Storer

    GRADUAO

    PEDAGOGIA

    MARING-PR2012

  • Reitor: Wilson de Matos SilvaVice-Reitor: Wilson de Matos Silva FilhoPr-Reitor de Administrao: Wilson de Matos Silva FilhoPresidente da Mantenedora: Cludio Ferdinandi

    NEAD - Ncleo de Educao a Distncia

    Diretoria do NEAD: Willian Victor Kendrick de Matos SilvaCoordenao Pedaggica: Gislene Miotto Catolino RaymundoCoordenao de Marketing: Bruno JorgeCoordenao Comercial: Helder MachadoCoordenao de Tecnologia: Fabrcio Ricardo LazilhaCoordenao de Curso: Mrcia Maria Previato de SouzaSupervisora do Ncleo de Produo de Materiais: Nalva Aparecida da Rosa MouraCapa e Editorao: Daniel Fuverki Hey, Fernando Henrique Mendes, Jaime de Marchi Junior, Jos Jhonny Coelho, Luiz Fernando Rokubuiti e Thayla Daiany Guimares CripaldiSuperviso de Materiais: Ndila de Almeida Toledo Reviso Textual e Normas: Cristiane de Oliveira Alves, Gabriela Fonseca Tofanelo, Janana Bicudo Kikuchi, Jaquelina Kutsunugi, Karla Regina dos Santos Morelli e Maria Fernanda Canova Vasconcelos.

    Ficha catalogrfica elaborada pela Biblioteca Central - CESUMAR

    CENTRO UNIVERSITRIO DE MARING. Ncleo de Educao a distncia:

    C397 Problemasedificuldadesdeaprendizagemnainfncia/ GesciellyBarbosadaSilvaTadei,MrciaReginadeSouza Storer.Maring-PR,2012. 224p.

    GraduaoemPedagogia-EaD. 1.Pedadogia2.Desenvolvimentocognitivo.3.Distrbiosde aprendizagem.4.EaD.I.Ttulo.

    CDD-22ed.370 CIP-NBR12899-AACR/2

    As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir dos sites PHOTOS.COM e SHUTTERSTOCK.COM.

    Av. Guedner, 1610 - Jd. Aclimao - (44) 3027-6360 - CEP 87050-390 - Maring - Paran - www.cesumar.brNEAD - Ncleo de Educao a Distncia - bl. 4 sl. 1 e 2 - (44) 3027-6363 - [email protected] - www.ead.cesumar.br

  • PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA

    Professora Me. Gescielly Barbosa da Silva Tadei

    Professora Me. Mrcia Regina de Sousa Storer

  • 5PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    APRESENTAO DO REITOR

    Viver e trabalhar em uma sociedade global um grande desafio para todos os cidados. A busca por tecnologia, informao, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderana e soluo de problemas com eficincia tornou-se uma questo de sobrevivncia no mundo do trabalho.

    Cada um de ns tem uma grande responsabilidade: as escolhas que fizermos por ns e pelos nossos far grande diferena no futuro.

    Com essa viso, o Cesumar Centro Universitrio de Maring assume o compromisso de democratizar o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros.

    No cumprimento de sua misso promover a educao de qualidade nas diferentes reas do conhecimento, formando profissionais cidados que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidria , o Cesumar busca a integrao do ensino-pesquisa-ex-tenso com as demandas institucionais e sociais; a realizao de uma prtica acadmica que contribua para o desenvolvimento da conscincia social e poltica e, por fim, a democratizao do conhecimento acadmico com a articulao e a integrao com a sociedade.

    Diante disso, o Cesumar almeja ser reconhecido como uma instituio universitria de refern-cia regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisio de compe-tncias institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidao da extenso universitria; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distncia; bem-estar e satisfao da comunidade interna; qualidade da gesto acadmica e administrativa; compromisso social de incluso; processos de cooperao e parceria com o mundo do trabalho, como tambm pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos, incentivando a educao continuada.

    Professor Wilson de Matos SilvaReitor

  • 6 PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    Caro aluno, ensinar no transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produo ou a sua construo (FREIRE, 1996, p. 25). Tenho a certeza de que no Ncleo de Educao a Distncia do Cesumar, voc ter sua disposio todas as condies para se fazer um competente profissional e, assim, colaborar efetivamente para o desenvolvimento da realidade social em que est inserido.

    Todas as atividades de estudo presentes neste material foram desenvolvidas para atender o seu processo de formao e contemplam as diretrizes curriculares dos cursos de graduao, determinadas pelo Ministrio da Educao (MEC). Desta forma, buscando atender essas necessidades, dispomos de uma equipe de profissionais multidisciplinares para que, independente da distncia geogrfica que voc esteja, possamos interagir e, assim, fazer-se presentes no seu processo de ensino-aprendizagem-conhecimento.

    Neste sentido, por meio de um modelo pedaggico interativo, possibilitamos que, efetivamente, voc construa e amplie a sua rede de conhecimentos. Essa interatividade ser vivenciada especialmente no ambiente virtual de aprendizagem AVA no qual disponibilizamos, alm do material produzido em linguagem dialgica, aulas sobre os contedos abordados, atividades de estudo, enfim, um mundo de linguagens diferenciadas e ricas de possibilidades efetivas para a sua aprendizagem. Assim sendo, todas as atividades de ensino, disponibilizadas para o seu processo de formao, tm por intuito possibilitar o desenvolvimento de novas competncias necessrias para que voc se aproprie do conhecimento de forma colaborativa.

    Portanto, recomendo que durante a realizao de seu curso, voc procure interagir com os textos, fazer anotaes, responder s atividades de autoestudo, participar ativamente dos fruns, ver as indicaes de leitura e realizar novas pesquisas sobre os assuntos tratados, pois tais atividades lhe possibilitaro organizar o seu processo educativo e, assim, superar os desafios na construo de conhecimentos. Para finalizar essa mensagem de boas-vindas, lhe estendo o convite para que caminhe conosco na Comunidade do Conhecimento e vivencie a oportunidade de constituir-se sujeito do seu processo de aprendizagem e membro de uma comunidade mais universal e igualitria.

    Um grande abrao e timos momentos de construo de aprendizagem!

    Professora Gislene Miotto Catolino Raymundo

    Coordenadora Pedaggica do NEAD- CESUMAR

  • 7PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    APRESENTAO

    Livro: PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIAProfessora Me. Gescielly Barbosa da Silva Tadei

    Professora Me. Mrcia Regina de Sousa Storer

    Prezados alunos,

    Trabalhar com o desenvolvimento humano nos aspectos motor, cognitivo, emocional e neurolgico uma das facetas mais interessantes da nossa rea de conhecimento, ou seja, a pedagogia.

    Compreender o desenrolar desse processo tendo como ponto de partida a infncia, torna nossa fonte de estudos mais intrigante e curiosa, uma vez que nos dedicamos ao estudo do referido perodo como uma maneira de tornar essa fase o mais coerente possvel para a chegada ao mundo adulto.

    Um adulto ponderado, em pleno exerccio das faculdades mentais, capaz de estudar, trabalhar e conviver em grupo mostra uma passagem pelo desenvolvimento infantil de maneira tranquila, dentro do vai e vem de ondas que compete o desenrolar do mundo humano.

    Partindo dessa perspectiva, planejamos, no atual mdulo, estudar questes referentes ao desenvolvimento infantil, e dentro desse quesito, nos ateremos, especificamente seguinte pontuao Problemas e dificuldades na infncia.

    No que diz respeito a esse eixo norteador em nosso processo de estudos, termos cinco unidades de estudos, as quais so:

    I. O desenvolvimento da criana.

    II. As principais teorias que se debruam sobre o desenvolvimento humano em busca da compreenso das dificuldades de aprendizagem.

    III. As dificuldades e os distrbios de aprendizagem: a dificuldade quanto apreenso da leitura e da escrita.

    IV. Dificuldades de aprendizagem: entendendo terminologias e conceituaes.

    V. A importncia da ateno para a apreenso do conhecimento erudito.

  • 8 PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    No que diz respeito unidade I , o desenvolvimento da criana, realizaremos um levantamento sobre a histria da infncia a fim de compreendermos melhor o processo de desenvolvimento e aprendizagem.

    Mas antes de adentrarmos nesse item, buscaremos um estudo sobre a construo da categoria infncia, pois a partir dessa categoria que temos reas de estudos como a psicologia do desenvolvimento, a psicologia da aprendizagem e a psicopedagogia, por exemplo.

    Quando pontuamos sobre alteraes no desenvolvimento, comum nos depararmos com o questionamento: a criana apresenta o comportamento de chupar chupeta aos nove anos de idade, isso normal?. Por isso, nosso primeiro passo destacar a diferenciao entre dois conceitos o normal e o patolgico. A fim de aprofundarmos um pouco essa questo, ampliamos a mesma dentro dos padres de conhecimento de senso comum e conhecimento cientfico.

    A cincia baseada no conhecimento da realidade cotidiana. Ao nos depararmos com essa realidade, enquanto pesquisadores e estudiosos buscamos um afastamento da mesma a fim de irmos para alm das aparncias dadas a priori. Essa realidade cotidiana nos d um tipo de conhecimento denominado de intuitivo, espontneo, de tentativas e erros, que entendido como senso comum (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999). Sem esse conhecimento, nossa vida seria muito complicada, e teria que ser repensada e reorientada a cada gerao que surgisse. como se tivssemos que reinventar a roda a cada instante!

    Entendemos, pautadas nas referidas autoras, que somente esse conhecimento no seria suficiente para o desenvolvimento da humanidade. Com o tempo, esse tipo de conhecimento foi sendo aperfeioado e especializado at atingir um nvel de sofisticao maior. Pensemos nos grandes avanos da humanidade na rea da sade, da tecnologia e da pesquisa laboratorial. Chegamos lua! Inventamos vacinas com vistas preveno de doenas outrora incurveis! Criamos instrumentos cirrgicos de ltima gerao para o bom andamento de intervenes hospitalares. Somos capazes de, pelas pesquisas e investimentos na rea social, organizarmos inferncias acerca de problemas referentes aprendizagem e ao desenvolvimento humano de maneira global. Isso o conhecimento cientfico!

  • 9PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    Voc sabia que o conhecimento dito senso comum tido como a base para o conhecimento cient-fico?

    Dessa maneira, cincia pode ser denominada como um conjunto de conhecimentos sobre fatos ou aspectos da realidade expressos por uma linguagem precisa e rigorosa (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999).

    Retomemos, ento, nossa discusso sobre o normal e o patolgico. Dentro do exposto sobre o conhecimento cientfico, o que normal? Segundo Bueno (1996), normal o que segue a norma, exemplar. Ao trazermos isso para o nosso contexto de estudos, h a necessidade de pontuar que ao lidarmos com seres humanos, essa normalidade necessita estar pautada no contexto social, histrico e cultural da pessoa. Por exemplo, alguns tailandeses possuem o hbito de comer grilos, baratas, enfim, insetos em geral. E fica a questo: isso normal? Bem, depende do que considerado normal para aquela cultura. Para eles normal, para voc isso pode ser anormal, estranho ou mesmo inconcebvel! Nesse sentido, depender do ponto de vista do observador.

    J a patologia, definida por Bueno (1996) como uma parte da medicina destinada ao estudo das doenas, o patolgico refere-se patologia.

    Ao lidarmos com seres humanos e melhor trabalhar a questo da normalidade e da patologia, temos dois referenciais que nos auxiliam quanto a isso, o Cdigo Internacional das Doenas (CID 10), e o Manual Diagnstico e Estatstico de Transtornos Mentais (DSM IV). Esses materiais do maior sustentabilidade e coeso aos nossos estudos e atuao profissional.

    O CID-10 e o DSM IV so os referenciais que auxiliam os estudos sobre patologia.

  • 10 PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    Nossa preocupao est em no apresentar algo patolgico presente no indivduo como um rtulo imposto sobre ele, seja qual for a questo presente no quadro apresentado. Nossa inteno est em auxiliar na identificao do quadro e no prognstico do mesmo, ou seja, se possvel fazermos algo pelo sujeito, para o seu progresso.

    Essa afirmao justificada ao observarmos que durante a fase do desenvolvimento humano possvel observar alguns conflitos relacionados ao desenrolar desse processo, os quais podem emergir nessa fase. no perodo da infncia que podem ocorrer alguns momentos de maior desordem, seja ela afetiva ou emocional, pois uma fase de constantes assimilaes e interiorizaes do meio externo. Nessa perspectiva, possvel afirmar que esse meio pode auxiliar de maneira positiva ou negativa o processo de desenvolvimento do indivduo.

    importante estarmos cientes desse conhecimento prvio para que a compreenso acerca dos problemas e das dificuldades de aprendizagem possa ser trabalhada de maneira mais completa, com a possibilidade de entendermos as possveis lacunas deixadas no processo de alfabetizao, e/ou no desenvolvimento cognitivo, e/ou na socializao, e/ou em questes referentes ao desenvolvimento emocional, e/ou ainda em casos mais especficos de origem gentica.

    Por isso, a necessidade de compreendermos algumas especificidades do Sistema Nervoso Central (SNC) imprescindvel, assim como a juno entre tais especificidades e suas ligaes com as reaes a atividades do organismo humano, em especial, na integrao de sensaes s respostas motoras.

    Por isso, para nossa unidade I, nos ateremos aos estudos acerca do desenvolvimento cognitivo da criana, das possveis alteraes nesse desenvolvimento e o desenvolvimento neurolgico e psicomotor.

    Na unidade II , abordaremos as principais teorias que trabalham com a rea de desenvolvimento humano e processo de aprendizagem. Para tanto, contaremos com a compreenso do referencial terico de alguns estudiosos que foram de suma importncia para a compreenso do desenvolvimento infantil. So eles: Jean Piaget (1896 1980); Henri Paul Hyacinthe Wallon (1879- 1962); Sigmund Freud, (1856-1939) e Lev Seminovich Vigotsky (1896-1934). Esses autores deixaram um legado de estudiosos que se sentiram encarregados pela propagao dos estudos, dos questionamentos e das pesquisas, aps a morte dos mesmos.

  • 11PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    Um estudioso que d relevantes contribuies a nossa unidade de estudos o bilogo francs JEAN PIAGET (1896 1980). Ele encontrou na psicologia do desenvolvimento a maneira de buscar compreender como o ser humano se desenvolve. A teoria piagetiana possui relevante valor, uma vez que abriu caminhos e novas perspectivas para o estudo do pensamento e da linguagem na criana (SORATO, 2009).

    Ao falarmos em Piaget, prontamente pensamos na Epistemologia Gentica. Do ano de 1920 a 1980, Piaget dedicou-se aos estudos de natureza epistemolgica, por isso a denominao Epistemologia Gentica. De acordo com Fabril (2008), a definio de conhecimento o problema central da epistemologia, sendo motivo de prestgio para Jean Piaget t-lo enfrentado e, proposto, ademais, a reformulao da questo epistemolgica clssica para indagar como se processa a mudana de nveis mais simples de conhecimento at os mais complexos, resultante da interao entre o sujeito e o objeto.

    Apenas duas obras Piagetianas relacionam-se educao!

    Para Fabril (2008, p. 11)

    Em um primeiro momento, as pesquisas piagetianas direcionaram-se Psicologia Gentica para investigar a gnese de conceitos relacionados ao meio fsico, natural e social junto a crianas e adolescentes. O conjunto dessas pesquisas, como assinala Piaget (1983b), permitiu-lhe chegar fase posterior de sua obra, denominada Epistemologia Gentica. como se por meio da investigao e compreenso do sujeito psicolgico particular e situado tivesse alcanado o sujeito epistmico - geral e universal. O sujeito epistmico representa a resposta a que o autor pode chegar at o final de sua vida questo-chave de sua obra: por meio da teoria da equilibrao, o autor reorganiza e sistematiza conceitos essenciais de sua obra [...] Jean Piaget escreveu como autor e em co-autoria, mais de sessenta livros que registram o desenvolvimento de suas pesquisas e o conseqente aprimoramento de sua teoria. Dentre seus escritos, apenas duas obras tratam de assuntos relacionados educao: Psicologia e Pedagogia e Para onde vai a Educao? [...].

    Mesmo tendo publicado poucas obras na rea da educao, esse educador tornou-se referncia para muitos pensadores que vieram a posteriri, como Marta Kohl de Oliveira, por exemplo.

  • 12 PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    Na teoria piagetiana, de acordo com Sorato (2009), a construo do conhecimento ocorre quando acontecem aes fsicas ou mentais sobre objetos que provocando, dessa maneira, o desequilbrio, resultam em assimilao ou, acomodao e assimilao dessas aes e, assim, a construo de esquemas ou conhecimento. Resumidamente, possvel entender que uma vez que a criana no consegue assimilar o estmulo, ela tenta fazer uma acomodao e aps uma assimilao e equilbrio ento alcanado.

    A partir do exposto, compreendemos que para Piaget o conhecimento cumulativo e de origem sensorial. Esse estudioso dispe o desenvolvimento humano em perodos, os quais so: 1 perodo: Sensrio-motor (0 a 2 anos); 2 perodo: Pr-operatrio (2 a 7 anos); 3 perodo: Operaes Concretas (7 a 11 ou 12 anos); e 4 perodo: Operaes formais (11 ou 12 anos em diante) (BROTHERHOOD; GALLO, 2009).

    No primeiro perodo, Sensrio-motor (0 a 2 anos), ocorre a percepo e movimentos na explorao no meio. a fase do egocentrismo, o prprio corpo do beb a referncia nica e constante, a imitao presente.

    No segundo perodo, Pr-operatrio (2 a 7 anos) anterior a representao lgica do pensamento. H o desenvolvimento de uma linguagem afetiva que s se torna comunicativa aps os 2 anos de idade, fase em que a linguagem mostra-se mais desenvolvida e fortalecida.

    O terceiro perodo, Operaes Concretas (7 a 11 ou 12 anos), a criana j busca no adulto a objetividade nas respostas, o adulto considerado a fonte de conhecimento. Nessa fase, o pensamento lgico e j pode ser percebido, ocorrendo, tambm, o incio da socializao. O que vai diferenciar esse perodo da adolescncia, que nas operaes concretas a criana estabelece todo o seu raciocnio lgico a partir de experincias vividas no mundo concreto.

    J o quarto e ltimo perodo, Operaes Formais (11 ou 12 anos em diante), o raciocnio lgico ultrapassa as experincias vividas, pois o adolescente capaz de analisar questes propostas sem que essas estejam presas ao real. Sua procura est em uma relao entre os iguais. No aspecto cognitivo h o domnio da abstrao e da generalizao, favorecendo o adolescente a capacidade de lidar com conceitos, como: liberdade e justia.

  • 13PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    Na idade adulta no surge nenhuma nova estrutura mental.

    Questionamos ento: e na idade adulta, no h um perodo esboado? Na referida fase no surge nenhuma nova estrutura mental. O indivduo caminha para ento: um aumento do desenvolvimento cognitivo e para maior compreenso dos problemas. Tais pontos influenciam os contedos emocionais, assim como a sua forma de estar no mundo.

    Piaget reconhece, porm, que apesar de ponderar faixas etrias como formas especficas de pensar e atuar sobre o mundo pode ocorrer atrasos ou avanos individuais em relao norma de determinado grupo. De acordo com Sorato (2009), essa variao pode ser devida natureza do ambiente em que as crianas vivem. possvel compreender que, para Piaget, os contextos que colocam desafios s crianas so potencialmente mais estimulantes para o desenvolvimento cognitivo.

    inegvel a importncia da teoria de Piaget para a educao. A influncia de seus estudos sobre o processo educacional foi bastante enftica, mesmo no tendo a pretenso de agir dessa maneira. Na realidade, tudo o que ele queria era compreender como ocorre o processo de desenvolvimento humano, mas estudiosos utilizam-se desses conhecimentos para buscar compreenses acerca da criana e a apreenso do conhecimento realizada pela mesma, em especial, nas dependncias da instituio escolar.

    Outro autor abordado HENRI PAUL HYACINTHE WALLON (1879- 1962). De origem francesa, sua postura cientfica buscava fundamentao no marxismo. Importava-se com a compreenso acerca do desenvolvimento humano. Formou-se em medicina e ps-se a estudar acerca de questes referentes Psicologia do Desenvolvimento.

    Henri Wallon mdico francs preocupado com o processo de desenvolvimento humano.

  • 14 PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    Henri Paul Hyacinthe WallonFonte:.

    Henri Wallon elaborou uma teoria sobre o desenvolvimento humano, pois se preocupava muito com a educao, o que o fez escrever sobre as ideias pedaggicas apontando bases para que a psicologia oferecesse atuao pedaggica um campo terico, mostrando o uso que a pedagogia pde fazer dessas bases, enriquecendo a experincia pedaggica (DOURADO; PRANDINI, 2001). Contudo, sua teoria ainda pouco divulgada e conhecida nos meios educacionais. Tambm volta-se para a compreenso da psicogentica, nesse sentido, Dourado e Prandini (2001, p. 2) ressaltam que a psicogentica de Wallon :

    [...] essencialmente sociocultural e relativista, com forte lastro orgnico, a teoria de Wallon considera o desenvolvimento da pessoa completa integrada ao meio em que est imersa, com os seus aspectos afetivo, cognitivo e motor tambm integrados [...] Assim, a nfase para a integrao entre organismo e meio e entre as dimenses: cognitiva, afetiva, e motora na constituio da pessoa. A pessoa vista como o conjunto funcional resultante da integrao de suas dimenses, cujo desenvolvimento se d na integrao de seu aparato orgnico com o meio, predominantemente o social.

    Percebemos que Wallon consegue propor a interao entre o organismo e o meio social. Segundo Basso (2010), Wallon prope estgios de desenvolvimento, assim como Piaget, porm, ele no adepto da ideia de que a criana cresce de maneira linear. O desenvolvimento humano tem momentos de crise, isto , uma criana ou um adulto no so capazes de se desenvolver sem nenhum tipo de conflito. A criana se desenvolve com seus conflitos internos e, para ele, cada estgio estabelece uma forma especfica de interao com o outro, um desenvolvimento conflituoso. A criana, para Wallon, essencialmente emocional e gradualmente vai constituindo-se em um ser sociocognitivo. O autor estudou a criana contextualizada, como uma realidade viva e total no conjunto de seus comportamentos e suas

  • 15PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    condies de existncia (BASSO, 2010).

    O estudioso dividiu a sua teoria afirmando que no incio do desenvolvimento existe uma pre-ponderncia do aspecto biolgico sobre a criana, para Galvo (2000), no primeiro ano de vida, a criana interage com o meio regida pela afetividade, isto , o estgio impulsivo--emocional. No estgio sensrio-motor ao projetivo (1 a 3 anos), predominam as atividades de investigao, explorao e conhecimento do mundo social e fsico. Nesse estgio esto presentes as relaes cognitivas da criana com o meio. Dos 3 aos 6 anos, no estgio per-sonalstico, aparece a imitao inteligente, a qual constri os significados diferenciados que a criana d para a prpria ao.

    Os estudos de Henri Wallon ainda no alcanaram notoriedade no cenrio educacional.

    A diviso do desenvolvimento por estgios realmente nos faz perceber semelhanas com a obra piagetiana. O que ressaltamos ainda a pouca veiculao da teoria de Henri Wallon no meio educacional.

    Lev Seminovich Vigotsky psiclogo russo nasceu em 5 de novembro de 1896, em Orsha. Era judeu, na poca uma condio difcil para se prosperar nos estudos, mas seus pais lhe proporcionaram um tutor particular como forma de investimento no processo educacional. Vigotsky era um estudioso empenhado em questes relacionadas psicologia, s artes, lingustica e s cincias sociais.

    Formou-se em Direito pela Universidade de Moscou, teve que conviver com a tuberculose por 14 anos. Trabalhou no Instituto de Psicologia de Moscou demonstrando muita preocupao para com a educao. Morreu aos 37 anos, na Rssia (REGO, 1995). Muitos de seus escritos encontram-se, ainda, no idioma russo.

    A partir dos estudos realizados por Vigotsky podemos constatar que o ser humano est profundamente ligado ao movimento histrico e social que o permeia. Esse autor buscou na teoria de Karl Marx as bases para a formulao da sua teoria. Isso nos indica uma preocupao para com o ser humano em sua totalidade.

  • 16 PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    A formao do psiquismo humano a partir dos pressupostos vigotskyanos tem o historicismo como grande produtor e norteador desta teoria, assim como de seus continuadores, como os soviticos Luria (que j vimos anteriormente) e Leontiev, ambos conhecidos no meio educacional do Brasil (SILVA; POSSIDNIO, 2007).

    Na educao, o pensamento de Vigotsky encontrou relativa propagao. Ao defender as zo-nas de desenvolvimento real e proximal, mostrou a importncia dos processos educacionais para a estimulao da criana. A zona de desenvolvimento real (ZDR) refere-se quilo que a criana tem condies de realizar sozinha. A zona de desenvolvimento potencial (ZDP) refere--se quilo que a criana realiza, porm, somente com o auxlio de algum mais experiente.

    A descoberta da Psicanlise considerada um marco na histria da humanidade.

    Nosso ltimo estudioso a ser mencionado nessa fase introdutria SIGMUND FREUD (1856-1939). Ele foi um mdico vienense que modificou a forma de se compreender a vida psquica, criando e sistematizando o conceito de inconsciente. Especializou-se em psiquiatria e trabalhou em um laboratrio de fisiologia, ministrou, tambm, aulas de neuropatologia. Podemos afirmar que sua teoria muito extensa e expressiva, a sua contribuio para a cincia equivale s contribuies de Karl Marx na compreenso dos processos histricos e sociais.

    Sigmund FreudFonte: .

    O pensador criou a PSICANLISE. O termo psicanlise utilizado para se referir teoria, a

  • 17PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    um mtodo de investigao e a uma prtica profissional. um conjunto de conhecimentos sistematizados sobre a vida psquica (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999).

    Contudo, para o meio educacional, o maior legado deixado por Freud foi acerca da descoberta do inconsciente e da sexualidade infantil. Nos dedicaremos mais compreenso da segunda. O pensador defendia que a funo sexual existe desde o princpio da vida, logo aps o nascimento, ressaltando que o perodo do desenvolvimento da sexualidade longo e complexo at chegar idade adulta, perodo em que as funes de reproduo e de obteno do prazer podem estar associadas, tanto no homem quanto na mulher.

    O desenvolvimento psicossexual mostra o amadurecimento sexual infantil dividido em fases oral, anal, flica e Complexo de dipo

    Segundo Bock, Furtado e Teixeira (1999), Freud destacou o processo de desenvolvimento psicossexual a funo sexual ligada sobrevivncia, o prazer encontrado no prprio corpo.

    Para o autor, as fases do desenvolvimento psicossexual so: Fase oral; Fase anal; Fase flica; Complexo de dipo. Na Fase oral: a zona de erotizao a boca. Na Fase anal: a zona de erotizao o nus. Na Fase flica: a zona de erotizao o rgo sexual. Logo aps a manifestao dessas fases, ocorre o perodo de latncia que se prolonga at a puberdade. H uma diminuio das atividades sexuais, um intervalo. Na puberdade temos a fase genital, quando o objeto de desejo no est mais no prprio corpo, mas sim em um objeto externo ao indivduo, o outro.

    Temos, ento, a manifestao do Complexo de dipo a fase de estruturao da personalidade. Ocorre entre 3 e 5 anos, durante a fase flica. Nesse complexo, a me o objeto de desejo do menino, e o pai o rival que impede seu acesso ao objeto desejado. O menino procura ser o pai para ter a me, escolhendo-o como modelo de comportamento, passando a internalizar as regras e normas sociais impostas pela autoridade paterna. Pelo medo da perda do pai, desiste da me pela riqueza do mundo social e cultural. Suas regras bsicas de comportamento foram internalizadas pela identificao com a figura paterna.

  • 18 PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    Este processo ocorre tambm com as meninas, sendo invertidas as figuras de desejo e de identificao (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1999).

    Mas preciso ressaltar que Freud no tinha a preocupao para com a instituio escolar, inclusive fica clara a ideia de que a sua teoria no possua o foco na educao e, nem mesmo na Pedagogia. Segundo Oliveira (2008, p. 246):

    [...] possvel afirmar que a Psicanlise serve ao professor como indivduo, e de modo algum Pedagogia como um todo. Ela ajuda na assimilao de uma tica, de um modo de conduzir a educao. Em cada indivduo ela pode atuar de uma forma, produzindo saberes. Alm disso, pode ser til Antropologia e Filosofia, dentre outras disciplinas. Logo, se a Psicanlise trabalha com o inconsciente, do qual no se pode prever nada, impossvel a criao de um mtodo que vincule Pedagogia e Psicanlise, pois isto implica numa imprevisibilidade.

    A Psicanlise para o professor enquanto indivduo e no para a pedagogia em si.

    A relevncia dos referidos estudiosos mostram a convergncia de algumas posturas frente ao manejo realizado com crianas. cabvel acentuar, em linhas gerais, as seguintes consideraes trazidas por Luria, Piaget, Wallon, Vigotsky e Freud:

    1) preocupao com o desenvolvimento humano de maneira ampla, ou seja, nos aspectos neurolgico; motor; emocional e psicolgico;

    2) necessidade da contextualizao histrica acerca da teoria dos mesmos;

    3) observao da criana enquanto sujeito na histria, contrariando a viso das mesmas en-quanto adultos em miniaturas, postura essa defendida por Aris;

    4) maior ou menor dedicao terica aos aspectos educacionais;

    5) preocupao manifesta quanto ao processo de desenvolvimento da criana.

  • 19PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    Vocsabiaquedificuldadedeaprendizagemedistrbiodeaprendizagemsotermosdistintos?

    A partir da postura desses pensadores, educadores e estudiosos, possvel ampliar o campo e o olhar de atuao nos dias de hoje, fundamentando o desenvolvimento da criana interligado a diversos setores, acentuando, dessa forma, o papel da famlia, da escola e dos profissionais mediante a realizao de todo ou qualquer trabalho com o pblico infantil, em especial aqueles dedicados ao aspecto neurolgico e neuromotor.

    Na unidade III planejamos estudar as dificuldades e os distrbios de aprendizagem especificando a dificuldade quanto apreenso da leitura e da escrita. Quem escreve essa unidade a professora especialista Lussuede Luciana Sousa Ferro.

    Na unidade IV trabalharemos as dificuldades de aprendizagem tentando entender as terminologias e conceituaes acerca da dificuldade e distrbio/transtorno de aprendizagem. No que diz respeito dificuldade de aprendizagem as mesmas dizem respeito a qualquer alterao no aprendizado, considerando todas as fases do desenvolvimento escolar. So consequncias extrnsecas ao indivduo, por vezes, transitrias e com devida interveno so extintas.

    J o distrbio de aprendizagem se diferencia da dificuldade de aprendizagem por se tratar de um conjunto de sintomas ou comportamentos que comprometem o processo de aprendizagem, ocasionando ao indivduo muito sofrimento e perturbao. Neste, h dois aspectos, o orgnico e o cognitivo. O aspecto orgnico diz respeito construo biolgica do sujeito, est relacionada ao corpo. O aspecto cognitivo est ligado ao funcionamento das estruturas cognitivas. Nesse caso, o problema de aprendizagem residiria nas estruturas do pensamento do sujeito.

    Existem dois distrbios de aprendizagem muito comentados na mdia, em reunies educacionais, trabalhos cientficos e conversas informais, a hiperatividade e o transtorno de dficit de ateno e hiperatividade (TDAH).

  • 20 PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    A criana hiperativa aquela que todos imaginam estar ligada na potncia de 220 volts. So os rotulados como endiabrados, no param quietos, no permanecem nas carteiras, falam sem parar, so impulsivos! A hiperatividade um sintoma, que pode, ou no, vir acompanhada de algum transtorno, dficit, sndrome ou deficincia mental.

    As crianas e adultos que manifestam o transtorno de dficit de ateno e hiperatividade, o TDAH, possuem um transtorno orgnico, ou seja, possuem uma alterao nos neurotransmissores. O diagnstico , geralmente, realizado a partir do DSM-IV.

    Na unidade V, buscaremos entender a importncia da ateno para a apropriao do conhecimento erudito, para isso, Alexander Luria ser o estudioso contemplado para nortear esse incio de unidade. A professora Especialista Amanda Mendes Amude Patez escreve essa unidade.

    Pretendemos, tambm, estudar a questo da afetividade e educao. A aprendizagem ligada aos problemas emocionais, assim como a ligao entre a afetividade e o processo de aprendizagem e os distrbios emocionais tero a nossa preocupao.

    As emoes interferem no processo de aprendizagem? De que maneira? Para Bueno (1996) afeto significa afeio, amizade, simpatia. Uma pessoa afetuosa considerada uma pessoa afvel. Ento, um professor afetuoso um professor afvel. Acreditamos que afirmar isso significa poder salientar que o olhar do professor sobre a dificuldade de aprendizagem ou sobre o distrbio de aprendizagem necessita ser diferenciado do olhar das outras pessoas que lidam com a criana. Rotulaes e opinies pautadas no senso comum no so bem acolhidas ou bem-vindas ao meio escolar, pois naquele ambiente poder ocorrer o favorecimento do desenvolvimento da criana em seu processo de ensino-aprendizagem.

    Acreditamos que o ser humano dotado de racionalidade e tambm de afeto. No h como desvincular esses dois pontos, mas possvel entender como ocorrem na rotina diria da criana. A afetividade no modifica o funcionamento da inteligncia, mas pode acelerar ou atrasar, podendo interferir no seu funcionamento. Dessa maneira, a funo de mediador precisa ser ocupada pelo professor, para que o processo de aprendizagem ocorra.

    Nesse sentido, veremos, no decorrer deste livro de estudos, o histrico sobre as dificuldades, a importncia da leitura e da escrita para a raa humana, assim como as intervenes escolares quanto s dificuldades e distrbios de aprendizagem, observando as caractersticas especficas

  • 21PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    dos mesmos e a metodologia adequada a ser utilizada pelo docente em sala de aula.

    A principal colocao que sentimos necessidade de fazer quanto informao que o professor precisa ter a respeito dos distrbios de aprendizagem. Conhecendo, de forma ampla, os distrbios e as principais caractersticas dos mesmos ocorrer maior facilidade para o encaminhamento correto aos profissionais que atuam com a rea educacional: psicopedagogos, fonoaudilogos, psiclogos e neuropsiclogos.

    Por isso, clareza quanto metodologia aplicada em sala fundamental. Ser diagnosticada com determinado tipo de distrbio de aprendizagem no significa que a criana est fadada a nunca aprender. Pelo contrrio, com uma atuao mais incisiva do professor em sala isso possvel sim. Destacamos que no estamos com o objetivo de responsabilizar em excesso o professor. Na verdade, defendemos a sustentabilidade quanto ao referencial terico para que a atuao fique mais fluida, afinal, no existe prtica sem um bom conhecimento acerca da teoria.

    As noes teraputicas quanto a cada caso a ser trabalhado com as crianas sero o destino dos nossos estudos. um processo teraputico que envolve o trabalho de profissionais de diversas reas, mediante fatores especficos da aprendizagem. Ao encaminhar para um psiclogo, ou para um psicopedagogo, por exemplo, compreendemos que a ao deste ser na tentativa de sanar as lacunas deixadas no processo de ensino e aprendizagem, independente se est trabalhando com uma criana que apresente dificuldade ou o distrbio de aprendizagem. A atividade psicoeducacional e psicopedaggica tanto preventiva quanto teraputica.

    Acesse o site: e fique atento s notcias sobre o desenvolvimentoinfantil.

    Mas, como j afirmamos, no s o psiclogo ou o psicopedagogo que lidam com a dificuldade e o distrbio de aprendizagem, profissionais da rea da sade como os mdicos e os neurologistas, alm de psiclogos, psicopedagogos, psicomotricistas, fonoaudilogos e oftalmologistas, tm, tambm, relativa contribuio.

  • 22 PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    Voc sabia que os psicopedagogos esto organizados em uma associao? a ABPp.

    Precisamos da ateno de vocs em todo o processo de estudos! Anote, questione, participe das aulas. No esquea, voc iniciou um processo de aprendizagem, dedicao fundamental!

    Gescielly e Mrcia

  • SUMRIO

    UNIDADE I

    O DESENVOLVIMENTO DA CRIANA

    DO MINIADULTO AO SER CRIANA: DISCUSSES SOBRE A INFNCIA E A CONSTITUIO DA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEM 30

    O DESENVOLVIMENTO HUMANO: O QUE NORMAL? 38

    DESENVOLVIMENTO NEUROLGICO E PSICOMOTOR 44

    UNIDADE II

    AS PRINCIPAIS TEORIAS QUE SE DEBRUAM SOBRE O DESENVOLVIMENTO HUMANO EM BUSCA DA COMPREENSO DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

    JEAN PIAGET E SUA INFLUNCIA PARA A COMPREENSO DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL E OS PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM 70

    HENRI WALLON E SUA INFLUNCIA PARA A COMPREENSO DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL E OS PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM 82

    SIGMUND FREUD E SUA INFLUNCIA PARA A COMPREENSO DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL E OS PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM 86

    LEV SEMINOVICH VIGOTSKY E SUA INFLUNCIA PARA A COMPREENSO DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL E OS PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM 95

    UNIDADE III

    AS DIFICULDADES E OS DISTRBIOS DE APRENDIZAGEM: A DIFICULDADE QUANTO APREENSO DA LEITURA E DA ESCRITA

  • ESCRITA: SUA HISTRIA NA FILOGNESE 107

    LINGUAGEM ESCRITA: SEU PAPEL NA HISTRIA HUMANA 113

    O PROCESSO DE ENSINO DA LINGUAGEM ESCRITA E O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO 120

    PARTE PRTICA: APS TANTA TEORIA, COMO APLICAR ISSO NA PRTICA? PSICOPEDAGOGIA E A LINGUAGEM ESCRITA: UM ESTUDO DE CASO 122

    PROCEDIMENTOS METODOLGICOS 122

    DESCRIO DOS INSTRUMENTOS 123

    APRESENTAO DO SUJEITO 123

    QUEIXA INICIAL 124

    RESULTADOS E ANLISES 124

    INSTRUMENTOS DE AVALIAO 125

    MEU FILHO NO SABE LER E ESCREVER! COMO SUPERAR AS DIFICULDADES DA LINGUAGEM ESCRITA? 139

    UNIDADE IV

    DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM ENTENDENDO TERMINOLOGIAS E CONCEITUAES

    PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM 155

    ENTENDENDO UM POUCO MAIS SOBRE AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM 156

    DIFERENCIANDO AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM DOS DISTRBIOS DE APRENDIZAGEM O CUIDADO AO LIDAR COM O SER HUMANO 156

    O QUE HIPERATIVIDADE? 171

  • DFICIT DE ATENO E HIPERATIVIDADE (TDAH) 172

    AO LIDARMOS COM A POPULAO ADULTA 177

    ALGUMAS PONTUAES SOBRE O TDAH 179

    UNIDADE V

    A IMPORTNCIA DA ATENO PARA A APREENSO DO CONHECIMENTO ERUDITO

    ALEXANDER ROMANOVICH LURIA (1902-1977): PARA A COMPREENSO DE DIFICULDADES LIGADAS ATENO DA CRIANA 185

    ATENO PARA LURIA PONTUAES A PARTIR DE AMDE-PATEZ (2010) 192

    DISTRBIOS EMOCIONAIS 205

    CONCLUSO 209

    REFERNCIAS 211

  • UNIDADE I

    O DESENVOLVIMENTO DA CRIANAProfessora Me. Gescielly Barbosa da Silva TadeiProfessora Me. Mrcia Regina Sousa Storer

    Objetivos de Aprendizagem

    Compreenderaconstruodacategoriainfncia.

    Entenderadiferenciaoentreodesenvolvimentonormaleopatolgico.

    Realizaradiferenciaoentredesenvolvimento/maturidadeeimaturidade.

    Identificarcaractersticasdodesenvolvimentoneurolgicoepsicomotor.

    Buscaracompreensosobreodesenvolvimentocognitivo,segundoLuria.

    Estudarsobreaateno.

    CompreendersobreasFunesExecutivas/MemriaOperacional.

    Plano de Estudo

    A seguir, apresentam-se os tpicos que voc estudar nesta unidade:

    Do miniadulto ao ser criana: discusses sobre a infncia e a constituio da psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem

    O normal e o patolgico

    Neurologia e psicomotricidade

    A cognio para Luria

    Ateno

    Funes Executivas/ Memria Operacional

  • 29PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    INTRODUO

    Na Unidade I, temos algumas metas a serem cumpridas. A primeira delas a busca pela compreenso sobre o processo histrico da construo da infncia, afinal, pela construo da categoria infncia que temos a rea da psicologia do desenvolvimento e da psicologia da aprendizagem, assim como a psicopedagogia, por essa construo que temos hoje tantas discusses e cuidados para um pblico que comea a ter nfase somente a partir do sculo XVII.

    Entenderemos a diferenciao entre o desenvolvimento humano dito normal e o desenvolvimento humano dito patolgico, a partir de um olhar biolgico, psicolgico, social e cultural.

    Categorias como o desenvolvimento; a maturidade e a imaturidade sero contempladas, assim como estudos acerca do desenvolvimento neurolgico e psicomotor do ser humano. Compreenderemos alguns pontos do desenvolvimento cognitivo, nos atendo aos estudos de Luria para a clarificao dessa questo.

    Discusses sobre a ateno estaro em pauta, assim como as funes executivas e a memria operacional ou de trabalho da mente do ser humano.

    Vamos l, o trabalho comeou!

  • 30 PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    DO MINIADULTO AO SER CRIANA: DISCUSSES SOBRE A INFNCIA E A CONSTITUIO DA PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEM

    FABIO GENARI1

    GESCIELLY BARBOSA DA SILVA TADEI

    Acreditamos em um ser humano que se constitui histrica e culturalmente. Se acreditamos em um ser humano formado da referida maneira, ento, tudo o que diz respeito a esse ser humano volta-se para essa compreenso.

    Trabalhamos com questes referentes infncia, com pontuaes voltadas para o desenvolvimento e a aprendizagem humanas. E voc acredita que, at esses termos so constitudos social e culturalmente? Convidamos voc a dar um passeio pelos entremeios da histria...

    Acreditamos que ao pontuarmos a descoberta da infncia podemos no ser bem interpretados, alm disso, ao pontuarmos a palavra descoberta temos a sensao de que o sentimento de infncia foi algo que sempre existiu, e que foi apenas achado. Por isso usamos o termo construo da infncia, o qual implica em processo, em uma razo de ser. Para Postman (1999), a infncia foi cunhada em um processo histrico, pela mentalidade vigente na sociedade. Veio como consequncia na interao dos costumes, da famlia, da economia. O contexto de uma poca to importante que a infncia outrora construda est agora, em nossa sociedade ps-moderna que traz uma mentalidade que tende a aproximar cada vez mais os mais jovens dos mais velhos.

    Sobre historicidade, podemos salientar que Arris (1978) escreve que at o sculo XV no havia um sentimento de infncia em sua concepo moderna. A criao desse sentimento alcanaria seu pice durante os sculos XVIII e XIX. Anteriormente, o mundo adulto fundia-se com o mundo das crianas, no existia uma distino. Os mais novos e os mais velhos com-1 Acadmico do segundo ano do Curso de Psicologia do Cesumar.

  • 31PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    partilhavam dos mesmos costumes, das mesmas festas, vestiam as mesmas roupas, falavam na mesma linguagem. Esta mentalidade se refletia, tambm, na arte, que representava as crianas com msculos salientes, com traos e trajes semelhantes aos dos adultos. Nesse sentido, a concepo de criana e infncia, em seu sentido moderno, foram ideias cunhadas por um longo processo scio-histrico e que tem como um dos marcos no Brasil a criao do Estatuto da Criana e do Adolescente.

    Naquela poca (datamos aqui a Idade Mdia como referncia), no existia uma distino entre adultos e crianas - viviam misturados to logo as crianas apresentassem condies fsicas para acompanhar os mais velhos. Segundo Aris (1978), era uma crena generalizada na Idade Mdia que a criana era alheia e indiferente a sexualidade. No existia um pudor em relao s crianas, era comum brincar com o seu sexo, faz-las piadas maliciosas. No havia um respeito especial s idades mais novas. Em suma, crianas e adultos eram estrelas de uma mesma constelao e vistos como iguais.

    Para Arris (1978), o despertar para a construo da infncia moderna inicia-se no sculo XV.

    Neste sentido, a proteo criana e ao adolescente era inexistente no porque os adultos no nutriam afetos por esses, mas sim por acreditarem que no havia diferena entre os de maior idade e os pequeninos. De uma perspectiva histrica, nem a criana nem o adulto havia ainda assimilado em seu contexto social a necessidade de uma separao. Alm disso, acreditava-se que tais condutas fossem incapazes de provocar qualquer dano na formao do indivduo.

    Outra razo da falta de um olhar mais especfico direcionado criana descansa no fato de

  • 32 PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    que na Idade Mdia a mortalidade infantil atingia nmeros exorbitantes e o apego aos mais novos ficava fragilizado j que a possibilidade de morte estava sempre espreita. O bito dessas crianas era visto como algo normal (MATTIOLI, 1998). A criana funcionava na poca medieval como uma espcie de bobo da corte, entretendo os adultos quando esses julgavam adequado. As crianas eram paparicadas.

    Osjovenstambmpartiamparaotrabalhomuitocedo,sendoumreexodopai,quetransmitiaseuofcioaofilho.

    ]]

    A escola era outro ambiente onde a miscigenao das idades ficava ntida: pessoas de todas as faixas etrias participavam da mesma classe e aprendiam os mesmos ensinamentos. Como disse Aris (1978), na Idade Mdia a escola misturava diferentes idades dentro de um esprito de liberdade de costumes. Alm disso, o modelo de famlia era outro, o patriarcal. Essa configurao acomodava inmeras pessoas (at 200 membros) e nela no se fazia distino de papis sexuais, no havia distino entre o que se fazia no ambiente privado e pblico - as ruas eram uma extenso das casas.

    Para Arris (1978), Gerson, estudioso que se dedicou ao estudo da infncia, olhando para esse contexto, pregava que era preciso alterar a maneira de se relacionar com as crianas, de educ-las. Fazia-se necessrio despertar nas mentes jovens um sentimento de culpa em relao ao sexo, para evitar a promiscuidade. Gerson advoga, tambm, no sentido da utilizao de uma linguagem especfica para se dirigir s crianas. No deixar que se toquem e que no habitem a cama de outras pessoas, mesmo que do mesmo sexo.

  • 33PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    No sculo XVI houve uma mudana mais clara. Alguns educadores passaram a no tolerar que as crianas tivessem acesso a livros duvidosos, dando origem ideia de fornecer aos jovens verses expurgadas dos clssicos literrios. Este para Arris (1978) o marco do respeito verdadeiro infncia.

    Ao ingressarmos no sculo XVII, a viso social da criana sofre uma mudana mais brusca, porque no falamos mais, segundo Arris (1978), de pensadores isolados, como foi Gerson, mas sim de toda uma mobilizao da sociedade. O futuro da criana passou a ser valorizado e sua educao tida como imperativa. Data dessa poca os retratos de crianas mortas, apontando que mesmo com a manuteno do alto ndice de mortalidade infantil, a criana se tornou digna de ser lembrada. Esse novo ambiente deu origem a uma dupla conscincia moral: uma que pregava a proteo da infncia, sua separao do vilanesco mundo adulto, e uma segunda, que visava o fortalecimento da juventude, educ-la para um aprimoramento moral e racional.

    No sculo XVIII a preocupao com a higiene se une aos sentimentos supracitados. Nesse momento nasce uma preocupao no s com o futuro das crianas, mas tambm com a sua existncia, tanto em mbito fsico como intelectual. Os mais novos assumem um papel central na famlia.

    Destacamos, ainda nessa discusso, que no sculo XIX so criados os jardins de infncia, para educar de forma geral as crianas de classe mais abastada. Ao mesmo tempo, tem origem, tambm, as pr-escolas, que buscavam apagar a m impresso deixada pelas creches, mas acabaram por educar as crianas do proletariado. Essa mentalidade a que vai reger a direo da educao at o sculo XX.

    Alm disso, podemos apontar [...] as transformaes scio-econmicas ocorridas na sociedade ocidental a partir do sculo XVIII, caracterizadas pelo sistema capitalista monopolista e depois concorrencial, substituindo o sistema feudal, [...] tiveram tambm seus desdobramentos em relao famlia (MATTIOLI, 1998, p 153). A estrutura familiar patriarcal sofreu uma mudana

  • 34 PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    de paradigma e passou para um modelo nuclear, constitudo de pais, mes e filhos. Essa nova configurao familiar trouxe consigo a caracterstica de se tornar privada e fortalecer os laos familiares, o que surtiu forte influncia na viso social da criana e da infncia.

    Havia agora uma necessidade de preparar os mais novos para ingressar futuramente no mercado de trabalho. Alm disso, o movimento higienista se instalava na sociedade. Era crescente a necessidade de proteger as crianas tanto no mbito fsico, promovendo um ataque contra doenas, quanto no mbito psicolgico - aqueles de menor idade precisavam ser instrudos para que se formassem como cidados de valores morais, ntegros. Era preciso retirar as crianas da vil influncia do mundo externo. Desta forma, deu-se incio ao processo de construo das escolas e creches para atendimento abrangente de pblico.

    Este mesmo movimento higienista promoveu alteraes na estrutura urbana. Lugares pblicos que outrora eram usados como playgrounds pelas crianas passaram a ser evitados devido crescente violncia e a facilidade da propagao de patologias. Neste sentido, as creches e escolas tambm se fazem presentes, pois se tornaram o palco das brincadeiras infantis.

    As primeiras creches, segundo Mattioli (1998), foram construdas no sculo XVIII, para liberar a me camponesa para o trabalho e diminuir a mortalidade infantil.

    A mulher outro ponto fundamental para o entendimento do desenvolvimento da criana e do adolescente. A noo de que a relao me-filho essencial para o desenvolvimento infantil e mesmo a crena de que a mulher mais equipada de um ponto de vista biolgico para exercer tais cuidados foram ideias cultivadas em funo de interesses econmicos e polticos (MATTIOLI, 1998).

  • 35PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    No perodo das grandes guerras mundiais, criou-se novamente uma necessidade da fora de trabalho feminina no mercado - a primeira vez que isso ocorreu foi durante a Revoluo Industrial. Findado esse perodo de guerras, os homens retornavam a seus postos originais criando uma superpopulao de trabalhadores, saturando o mercado e levando a uma consequncia bvia: o desemprego. Ento, o Estado passa a difundir uma ideologia da necessidade dos cuidados infantis serem quase que exclusivos das mes com o intuito de fazer com que estas retornassem para dentro do lar aliviando o mercado de trabalho.

    John BowlbyFonte: .

    Para atingir seus objetivos, o Estado fez uso, inclusive, da cincia como aparelho ideolgico. Encomendou uma pesquisa para o psicanalista John Bowlby com a finalidade de demonstrar os danos irreversveis da ausncia materna no desenvolvimento da criana. E surtiu efeito: as mes que at ento confiavam seus filhos s creches passaram a temer o atendimento infantil fora das fronteiras domsticas. A repercusso foi tamanha que at hoje h reflexos desse sentimento em relao ao trabalho feminino e as creches (MATTIOLI, 1998). Essa crena pode ser vista como contraditria, j que quando era de interesse poltico e econmico ter a mulher como fora de trabalho, esses danos no eram trazidos tona, quem dir serem irreversveis.

  • 36 PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    Fonte: .

    O Estado passou a assumir a responsabilidade pela preservao dos direitos das crianas. Essa tendncia se confirmou com um documento estabelecido pela Organizao das Naes Unidas (ONU) visando proteo infantil. No Brasil, a garantia dos direitos das crianas passou a ser vigiado por lei pela aprovao da Constituio Federal de 1988. E apenas em 1990 promulgado o Estatuto da Criana e do Adolescente (Lei Federal de no. 8069 de 13/07/1990). Essa lei promove a implementao dos Conselhos Estaduais e Municipais dos Direitos da Criana e do Adolescente e os Conselhos Tutelares (MATTIOLI, 1998).

    Ainda, em 1996, o Ministrio da Educao (MEC) cria a Lei de Diretrizes e Bases da Educao (LDB). Segundo a LDB, o sistema de educao destinado faixa etria de zero a seis anos passou a ser denominado educao infantil. Neste sentido, deve ser oferecida em duas frentes: as creches para crianas de at trs anos e as pr-escolas para as crianas de quatro a seis anos de idade e ambas tm por finalidade o desenvolvimento integral da criana (MATTIOLI, 1998).

    Mas at que ponto os direitos da criana e do adolescente esto de fato assegurados? evidente que a criao de um estatuto e mecanismos (conselhos estaduais e tutelares etc.) aponta para avano, mas isso no significa eficincia.

    Dados do MEC revelam que a populao de zero a seis anos tem uma mdia de 14,2% de sua totalidade atendida por creches e pr-escolas. Para Mattioli (1998, p. 167, grifos nossos):

    O pouco investimento pblico, neste tipo de instituies, um fator que se reveste de extrema gravidade, pois, como no h no pas uma cultura da educao de crianas

  • 37PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    pequenas fora de casa, esses atendimentos se caracterizam, na maior parte das vezes, como assistencialistas, sem intencionalidade educativa, funcionando em ambientes fsicos inadequados e realizados por voluntrios, com pouca ou nenhuma qualificao para a atividade que iro exercer. Nesta forma de funcionamento est diretamente oposta aos direitos da criana, medida que a educao infantil se transforma numa relao de favor que a criana e a famlia recebem. Enquanto uma relao de favor, as instituies de educao infantil impendem crticas e fiscalizao sobre a qualidade dos servios prestados.

    Entendemos que essa discusso faz-se necessria, uma vez que com o nascimento do sentimento de infncia, com a preocupao emergida para com essa faixa etria do desenvolvimento humano, precisamos de uma ateno maior da nao para com o processo educacional desde a educao infantil.

    Destacamos, ainda, que, nesse bojo histrico, com a construo da infncia e as preocupaes voltadas para esse perodo, fez-se necessrio tambm uma rea do saber para nortear as instrues a serem transmitidas. O novo paradigma social exigia uma maior compreenso do fenmeno da infncia: como educar as crianas? Por que algumas crianas no aprendem? Esse tipo de diagnstico justifica uma cincia voltada para tal. Parece correto dizer ento, que a Psicologia do Desenvolvimento, assim como a Psicologia da Aprendizagem, so uma consequncia necessria do sentimento de infncia.

    Vocs percebem o quanto o processo histrico importante? Nossa disciplina s se justifica mediante a construo da infncia, haja vista que sem essa construo, para que teramos que nos desdobrar para compreender os contedos que sero ministrados aqui, no mesmo?

    Agora que j entendemos o motivo pelo qual a nossa disciplina existe, convidamos voc a entender um pouco mais sobre o desenvolvimento infantil, em especial, o aspecto cognitivo.

  • 38 PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    O DESENVOLVIMENTO HUMANO: O QUE NORMAL?

    Definindo Normal e Patolgico...

    O que normal? Voc j parou para pensar no conceito de normalidade? De acordo com Chaplin (1981), a palavra normal possui o seguinte significado: [...] que no se afasta exageradamente do vulgar, da mdia ou da norma. Norma significa, ainda, medida, linha ou orientao. Para a psicopatologia ser normal remete sade integralmente orgnica fsica, psquica e social.

    Sendo assim, ao conceituarmos a palavra normal, precisamos considerar as questes ticas, sociais, culturais, econmicas e polticas, pois ns somos seres sociais, formados social, cultural e historicamente. Isso significa que a normalidade passa por esse crivo.

    Dessa maneira, concordamos plenamente com Dermeval Saviani (1990), autor esse que afirma que ns no nascemos humanos, ns nos tornamos humanos por meio das relaes sociais. Ento, a potencialidade do outro trabalhada e valorizada pelo o seu igual, por aquele que mais experiente em determinadas funes.

    Trouxemos esse ponto de vista pela seguinte questo: o quo perigoso pontuar que uma criana no est dentro do padro de normalidade. Ao afirmarmos isso, temos que levar em conta todas as condicionantes acima citadas, caso contrrio, faremos um trabalho patologizante, impedindo o outro, no caso a criana, de ter acesso pleno ao seu processo de humanizao.

    E o que patolgico?

    Patologia refere-se doena, uma rea da medicina que se ocupa do estudo das doenas. Sendo assim, patolgico refere-se patologia, doena.

    E o que psicopatologia?

  • 39PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    A psicopatologia ocupa-se do estudo de questes referentes esfera mental do ser humano. um ramo da medicina que estuda e busca tratamento para os transtornos mentais e manifestaes comportamentais.

    De acordo com a psicopatologia, considerado normal e patolgico tudo que se refere a questes que destoam no processo de formao da condio humana. A respeito da sade, de acordo com a Organizao Mundial da Sade, uma pessoa considerada normal quando participa de um estado de completo bem-estar fsico, mental e social, no apresentando quadros infecciosos e enfermidades.

    Mas, se estamos na disciplina de Problemas e Dificuldades de Aprendizagem na Infncia, por que precisamos dessas discusses sobre normalidade x patologia, ou normalidade e patologia?

    Vejamos, precisamos compreender que a infncia foi uma categoria construda, e que foi a partir dessa categoria que tivemos a possibilidade de entendermos que disciplinas especficas para o cuidado com a criana tiveram a chance de se sustentar terica e metodologicamente, como foi o caso da Psicologia do Desenvolvimento e da Psicologia da Aprendizagem. Inclusive, dentro da rea da Psicologia da Aprendizagem que temos a subrea de estudos referentes a Problemas e Dificuldades de Aprendizagem na Infncia. Podemos destacar, ainda, que a Psicopedagogia entra em cena a partir dessas condicionantes, rea essa que tem como um dos pilares o trato direto de crianas e adolescentes.

    Bem, dentro dessa discusso, trouxemos o conceito de normalidade e patolgico, devido ao fato que muitas so as avaliaes realizadas, na atualidade, que mostram a dificuldade apresentada pela criana em determinada rea do conhecimento. Caso no tenhamos claros os conceitos discutidos, corremos o risco de rotular a criana, de julgar a sua incapacidade em aprender. A partir do momento que entendo as determinaes scio-histricas, compreendo que muitas questes que discutiremos ao longo deste livro, necessitam ser trabalhadas luz do contexto histrico e cultural de dada situao.

  • 40 PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    um trabalho um pouco mais rduo, mas que valoriza a criana enquanto um ser capaz de aprender e lidar com questes referentes ao seu aprendizado. um caminho de profundo respeito ao outro, naquilo que tange a sua totalidade enquanto ser humano no mundo.

    O olhar do profissional, psiclogo, psicopedagogo ou neuropediatra, deve, ento, partir desse respeito ao outro, criana, respeito e tratamento esse que respaldado por lei. Esse cuidado est presente na Lei 10.216 de 6 de abril de 2001, a qual garante que a [...] criana tem direito ao melhor tratamento de sade possvel, atravs de mtodos no invasivos visando oferecer assistncia integral inclusive servios mdicos, sociais e psicolgicos.

    A nossa reflexo deve remeter-se ao comprometimento profissional em considerar o que podemos fazer para auxiliar a criana com dificuldade de aprendizagem, estabelecendo os parmetros para o incio do tratamento da mesma.

    Definindo Desenvolvimento, Maturidade e Imaturidade

    O processo de desenvolvimento humano necessita ser observado a partir de algumas vertentes, sendo elas: a biolgica, a psicolgica, a histrica, a social e a cultural. Isso significa afirmar que a criana nasce em um mundo humano, e no em um mundo natural. De acordo com Fontana e Cruz (1997) a criana [...] comea a sua vida em meio a objetos e fenmenos criados pelas geraes que a precederam e vai se apropriando deles conforme se relaciona socialmente e participa das atividades e prticas culturais.

    Ainda respaldadas nas ideias expostas pelas referidas autoras, podemos compreender que:

    [...] desde o nascimento, a criana est em constante interao com os adultos, que compartilham com ela seus modos de viver, de fazer as coisas, de dizer e de pensar, integrando-a aos significados que foram sendo produzidos e acumulados historicamente. As atividades que ela realiza, interpretadas pelos adultos, adquirem significado no sistema de comportamento social do grupo a que pertence.

  • 41PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    Ento, podemos inferir que o processo de desenvolvimento de uma criana depende diretamente de seu contexto social, histrico e cultural. Mas, significa afirmar que o biolgico no tem importncia alguma?

    No!!!! De forma alguma podemos descartar a esfera biolgica!!! O que tentamos mostrar que a cultura e as demais categorias tm uma fora sobremaneira no processo de formao e de desenvolvimento do indivduo. um processo interativo entre as reaes naturais, as quais so herdadas biologicamente (a percepo, a memria, as aes reflexas, as reaes automticas, e as associaes simples) unem-se aos processos organizados pela sociedade e expressos de maneira cultural e transformam-se em modos de ao, de relao e de representao, caractersticas essas notadamente humanas (FONTANA; CRUZ, 1997).

    No temos receio para afirmar a seguinte pontuao: o homem no se adapta ao meio, ele o internaliza, o modifica, o estrutura, o homem se desenvolve nessa relao intrnseca entre ele e a cultura, pois desde o seu nascimento a criana tem com o mundo uma relao mediada pelo outro, pela linguagem, pela internalizao de um mundo que, a priori, no tem sentido, mas que passa a ter sentido pela ao de algum mais experiente para com a criana.

    Ento, o desenvolvimento observado, segundo Fontana e Cruz (1997, p. 63) como:

    [...] um processo de internalizao de modos culturais de pensar e agir. Esse processo de internalizao inicia-se nas relaes scias, nas quais os adultos ou as crianas mais velhas, por meio da linguagem, do jogo, do fazer junto ou do fazer para, compartilham com a criana seus sistemas de pensamento e ao.

    Entendemos que desenvolver-se apropriar-se da cultura, de um mundo humano sistematizado a volta da criana. Nesse sentido, nossa concepo a de que h uma base material em desenvolvimento ao longo da vida do indivduo e da espcie humana, pensamos, pautadas em Oliveira (1997, p. 24, grifos nossos) que:

    [...] o homem transforma-se de biolgico em scio-histrico, num processo em que a cultura parte essencial da natureza humana. No podemos pensar o desenvolvimento psicolgico como um processo abstrato, descontextualizado, universal: o funcionamento psicolgico, particularmente no que se refere s funes

  • 42 PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    psicolgicas superiores, tipicamente humanas, est baseado fortemente nos modos culturalmente construdos de ordenar o real.

    Podemos chamar a sua ateno para o vocabulrio utilizado por ns durante o processo de escrita. Estamos ainda engatinhando na concepo de homem e de mundo trazida pela Teoria Histrico-Cultural, cujo principal expoente Lev Seminovich Vigotsky. Essa viso de um desenvolvimento humano imerso nas condies scio-histrica o centro das discusses realizadas por esse estudioso da psicologia. Ao falar em processo de desenvolvimento, Vigotsky destaca a importncia do processo de escolarizao na vida de uma criana. Voltaremos a essa discusso mais adiante.

    E o que maturidade?

    A maturidade conhecida no meio acadmico como maturao, ou melhor, processo de maturao. Isso significa afirmar que no rol do desenvolvimento humano existe a necessidade da maturao, que o esforo para se conseguir atingir algo, impulsionado pelo processo de mudana pelo qual passa o indivduo.

    Queremos deixar claro aqui que maturao no significa estar pronto para, mas sim uma condio pela qual passamos durante nosso desenvolvimento, a busca pela autonomia, pela independncia em: comer sozinho, amarrar o sapato sozinho, vestir-se sozinho, ser capaz de decodificar as letras do alfabeto, entrar no mundo da leitura e da escrita, conseguir resolver operaes matemticas que exigem um nvel de abstrao considervel, conseguir dirigir um automvel, quando adulto, claro!, dentre inmeros outros exemplos que exprimem a condio humana para o crescimento.

    E quando a criana no consegue realizar atividades como essas, ou quando apresenta dificuldades acentuadas na leitura e na escrita?

    Nesse caso, a literatura aponta para uma palavrinha chamada imaturidade. Na realidade, o que colocamos aqui que a criana, quando se encontra em uma situao assim, significa que

  • 43PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    ela no consegue realizar determinada atividade sozinha. Nesse caso, ela precisar do auxlio de um par mais desenvolvido para que ela consiga compreender de tal maneira que realize a atividade sem auxlio a posteriori. Falamos aqui em Zona de Desenvolvimento Proximal.

    Mas, o que significa isso?

    Vigotsky, ao trabalhar com a rea de desenvolvimento humano, denomina duas grandes reas de desenvolvimento: a Zona de Desenvolvimento Real, e a Zona de Desenvolvimento Proximal. A Zona de Desenvolvimento Real diz respeito a todas as coisas que a criana consegue realizar sozinha, sem a interveno de um par mais desenvolvido que ela (uma criana mais velha ou um adulto). A Zona de Desenvolvimento Proximal significa que existem atividades que a criana no conseguir realizar sem a mediao de um par mais experiente ou de um adulto. Essa imaturidade que a literatura traz denota as atividades que a criana ainda no desempenha sem o devido auxlio. Por isso, ns, educadores, precisaremos atuar na Zona de Desenvolvimento Proximal para que possamos auxiliar realmente o processo de desenvolvimento humano.

    A compreenso parece difcil? Ento, vamos a um exemplo.

    Ana no consegue decodificar as letras do alfabeto. O que a professora deve fazer ento? Examine as alternativas abaixo e antes de continuar a leitura faa uma opo pela letra a ou pela letra b. No vale deslizar os olhos para o pargrafo seguinte hein! Seja sincero com o seu processo de apreenso do contedo sistematizado. Vamos l?

    As alternativas da professora de Ana so as seguintes:

    (a) Colocar Ana junto aos alunos que no conseguem realizar essa atividade para que possa darauxliodemaneiramaisdiretaparaessascrianasafimdequeelasaprendamadeco-dificarasletras.

    (b) Montar grupos na sala de aula. Cada grupos a professora colocar crianas que tm muita facilidadequantoadecodificaodeletrasecrianascomdificuldade,comoocasodeAna.

    E a? Qual foi a sua escolha?

    Que tal partirmos para uma discusso?

  • 44 PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    Caso voc tenha optado pela letra b, voc compreendeu de maneira satisfatria o que atuar sobre a Zona de Desenvolvimento Proximal. Se a professora deixasse Ana em um grupo de crianas com dificuldade de aprendizagem como aquelas apresentadas pela aluna, Ana continuaria com a mesma dificuldade, ou avanaria de maneira deveras lenta. Agora, se a professora organizar um grupo misto, como o indicado pela letra b, Ana pode ter a chance de entrar em contato com pares mais desenvolvidos que ela o que, segundo Vigotsky, auxilia no processo de desenvolvimento humano e na apropriao do conhecimento cientfico sistematizado historicamente pelos seres humanos que nos antecederam.

    Lembrem-se!!!

    O desenvolvimento um processo no ser humano, e na infncia que temos o pice desse desenvolvimento. Mas, ateno! No afirmamos aqui que o processo de desenvolvimento e aprendizagem ocorre apenas na infncia, ok? Caso afirmssemos isso, voc jamais poderia tentar aprender um outro idioma, ou aprender a dirigir, ou fazer um prato culinrio diferenciado em ocasies especiais.

    Nosso conselho : muito cuidado com generalizaes!!!

    DESENVOLVIMENTO NEUROLGICO E PSICOMOTOR

    Quando mencionamos o termo neurolgico, a prpria palavra remete ao termo neurnio. Para melhor compreender como acontece o processo neurolgico da aprendizagem de incio saber o que so as clulas nervosas ou neurnios.

  • 45PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    Fonte: .

    Os neurnios so clulas estimuladoras que se comunicam entre si e/ou com as clulas efetuadoras. No corpo celular em que esto o ncleo e as organelas onde ocorre a permisso do impulso nervoso que responde s sensaes no nosso organismo. Os dentritos ampliam a captao das sensaes para avaliao no corpo celular, portanto quanto mais dendritos, mais informaes. O axnio funciona como um fio condutor para o estmulo eltrico criado pelo corpo celular. Aqui, os NT (neurotransmissores) produzidos pelo corpo celular devem atingir a sinapse, que se localizam nas terminaes do axnio. Na sinapse acontece a transformao do estmulo eltrico em estmulo qumico (pelos NT: adrenalina, serotonina, dopamina dentre outros).

    Os neurnios produzem substncias denominadas neurotransmissores clssicos, produzidas no terminal pr-sinptico, que em resposta atividade nervosa so liberados, resultando em alteraes em sua ao. Os neurotransmissores so formados a partir de substncias (glicose, aminocidos dentre outros) que passam a barreira hematoenceflica.

    Os neurnios so extremamente numerosos, aproximadamente 100 bilhes em cada crebro, capazes de aprender e fazer em torno de 60 mil conexes, podendo receber 100 mil impulsos por segundo em cada sinapse.

  • 46 PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    J na vida intrauterina d-se incio ao desenvolvimento neuropsicomotor por volta da terceira semana de gravidez ou seja, as formaes de estruturas nervosas comeam desenvolver-se no feto. A importncia do acompanhamento desde o pr-natal ao nascimento de extrema necessidade, pois auxilia na identificao de ms-formaes e possibilita a interveno necessria. Essas so medidas preventivas que o adulto pode tomar preparando a chegada da criana ao mundo material, ocupado por ns.

    Dados trazidos pela Organizao Mundial da Sade apontam para um investimento governamental e tambm de ONGs para a atuao junto populao mundial acerca da medicina preventiva no perodo pr-natal. Essa atitude tem reduzido o nmero de mortes de bebs e de gestantes, e ampliado o nmero de crianas saudveis.

    Destacamos aqui a atuao da Pastoral da Criana, criada pela saudosa Zilda Arns, que tem atuado junto a populaes carentes para a divulgao da necessidade de uma alimentao saudvel para crianas, assim como cuidados bsicos de higiene, no descuidando do aconselhamento de gestantes carentes. Posturas assim tem trazido um nmero cada vez mais elevado de crianas saudveis que tem adentrado escola para o contato com o sistema de ensino cientfico formal.

    Fonte:.

    Erguemos uma crtica aqui contra a Teoria da Carncia Cultural, ideia que teve a sua origem

  • 47PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    nos Estados Unidos da Amrica, e que foi to divulgada em nosso pas ainda na dcada de 1970, a qual pontuava, de maneira ampla, que crianas pobres teriam dificuldades mais elevadas quanto ao processo de ensino e aprendizagem (PATTO, 1998).

    Patto (2007, p. 1) auxilia nossa compreenso de maneira mais pormenorizada ao afirmar que:

    Paralelamente influncia da vertente sociolgica na pesquisa educacional, um conjunto de idias que tem sua origem nos Estados Unidos da Amrica, passa a se fazer presente enquanto explicao para a realidade educacional brasileira, a chamada teoria da carncia cultural (Patto, 1998). Fruto dos movimentos reivindicatrios das minorias negras e de imigrantes latinos que apresentavam baixo rendimento escolar, essa teoria procurava responder pergunta: por que um grande contingente de crianas negras e imigrantes no aprendia na escola pblica americana? Para responder essa questo, psiclogos e demais profissionais passaram a pesquisar as causas dos problemas de aprendizagem, buscando-as nos aspectos do desenvolvimento infantil, nas reas de nutrio, linguagem, estimulao, cognio, inteligncia, motricidade etc. Ocorre, porm que os resultados dos experimentos realizados por tais crianas eram comparados com aqueles obtidos com crianas de classes mdia e alta da sociedade americana, branca e empregada. Tais resultados eram considerados como padro de normalidade.

    Nosso cuidado, nesse trabalho, auxiliar a sua compreenso de que o respeito ao ser humano fundamental, quando olho para o meu aluno em sala de aula, verifico o que ele pode conseguir aprender, independente se trabalho na Zona Urbana ou na Zona Rural, ou se trabalho na Escola Pblica ou na Rede Privada de Ensino.

    Voltando para as nossas discusses sobre a rede neuronal, questionamos em que isso interfere no processo de desenvolvimento e no processo de aprendizagem?

    O processo de aprendizagem se d no sistema nervoso central. Quando uma informao chega ao sistema nervoso central ela pode transformar-se em memria se a informao j for conhecida, mas, quando chega uma informao nova acontece o processo de aprendizagem.

    Alm de conhecer o sistema nervoso central e sua finalidade, importante saber as funes de cada rea especfica de nosso crebro. Observe as figuras, as mesmas apresentam as divises cerebrais que sero explicadas posteriormente.

  • 48 PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    Fonte: .

    Vejamos as definies bsicas sobre cada rea e o quanto as mesmas interferem no processo de aprendizagem do ser humano.

    No Lobo Occipital acontece a integrao visual por meio da recepo dos estmulos nervosos. O responsvel pelo tato, pela interpretao e pela integrao de estmulos visuais provenientes do crtex occipital o Lobo Parietal. No Lobo Temporal, em sua parte posterior, ocorre a recepo e decodificao de estmulos auditivos, enquanto que sua parte anterior est

  • 49PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    relacionada com o olfato e a gustao e ainda com comportamentos instintivos.

    No Lobo Frontal onde ocorrem as conexes das diversas funes nervosas compactuadas ao comportamento humano. aqui que, devido a leses, pode ocorrer perda da concentra-o, diminuio da habilidade intelectual, dficit de memria e julgamento (na rea do crtex pr-frontal), e ainda, paralisia contralateral e falta de sensibilidade (na rea do crtex motor e sensitivo).

    no crtex cerebral (regio do sistema nervoso central) que acontece a transformao dos estmulos recebidos em aprendizagem. Mas, para que isso acontea, toda atividade do SNC (Sistema Nervoso Central) deve funcionar de maneira adequada, em favor das funes nervosas superiores.

    medida que os estmulos nervosos atingem o crtex, h uma comparao (ativao da memria) de experincias anteriores, interpretao, decodificao e compreenso. Se no houver nenhuma memria do que est recebendo, isso ficar registrado e to logo por meio de experimentaes posteriores se dar o aprendizado. Portanto, s aprenderei se houver uma estimulao adequada ao SNC (Sistema Nervoso Central). E isso acontece no meio social em que atuamos enquanto seres humanos.

  • 50 PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    Hemisfrios cerebrais

    Fonte: .

    O crebro possui dois hemisfrios: o hemisfrio esquerdo e o hemisfrio direito. Ambos os hemisfrios processam suas informaes de modos diferentes e de maneira inversa, ou seja, por meio de aes cruzadas. O processo de informaes acontece no lado dominante, mas, a aprendizagem acontece quando ambos os hemisfrios funcionam de maneira equilibrada, o que resultado do fortalecimento do lado no dominante do crebro. Destacamos aqui a predominncia de um ou de outro hemisfrio para dada atividade, pois o crebro atua de maneira plena em cada atividade que realiza, no h compartimentos especficos,

    mas a pluralidade de aes.

    Os movimentos do corpo humano, primeiramente, so gerados na mente: a ao dos braos, das mos, pernas, msculos, enfim, todos os movimentos. E quando se faz necessrio exercitar esses movimentos cerebrais e fsicos, uma rea chamada psicomotricidade integra

  • 51PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    tcnicas que trabalham o corpo e todo seu desenvolvimento funcional. Sendo, a evoluo psicomotora normal em uma criana, passar dos movimentos globais aos especficos e do movimento espontneo ao consciente.

    O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

    O que significa cognio?

    Significa o ato ou o processo de conhecer. A cognio inclui a ateno, a percepo, a memria, o juzo, a imaginao e o pensamento.

    Conforme j estudamos, o cognitivo est relacionado ao funcionamento cerebral, mais especificamente ao funcionamento do sistema nervoso central.

    Para que a aprendizagem acontea, no depende apenas da estrutura que acontece em toda complexidade do funcionamento dos hemisfrios cerebrais, mas tambm, do tipo de aprendizado, como a ateno, que acontece na interao entre o tronco enceflico e o crtex frontal e ainda, de acordo com estudos recentes, o cerebelo (responsvel pelo equilbrio, tnus muscular e coordenao motora) tambm recebe uma fatia participativa na mudana do foco da ateno.

    Luria e o desenvolvimento cognitivo

    Alexander Romanovich Luria (1902-1977), um neuropsiclogo russo, que teve seus estudos profundamente influenciados por Lev Semionovich Vigotsky (1896-1934). Luria estudou os processos psicolgicos humanos em interao com aspectos culturais, histricos e instrumentais, dando destaque para o papel fundamental que a linguagem exerce sobre o desenvolvimento humano. Esse estudioso estudou, ainda, a organizao funcional do crebro e o desenvolvimento humano, mostrando ser possvel verificar, em seus estudos, uma organizao conceitual intrincada e complexa que serve de referncia para a compreenso

  • 52 PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    da construo de repertrios de habilidades e de conhecimento, destacando, tambm, a relevncia do papel da aprendizagem nesse processo.

    Compreendemos que o processo scio-histrico tem um papel fundamental na alterao das funes mentais, ou seja, o ambiente interfere na formao da conscincia, onde todo o aparato do comportamento do homem maduro, no apenas o produto da evoluo biolgica, resultado do desenvolvimento infantil, , em especial, concretizado pelo seu desenvolvimento histrico, cultural e social.

    Baseado nessas colocaes e nos pautando nos estudos realizados por Luria e Vigotsky, que se referem Histria do Comportamento Humano, percebemos que os autores buscaram compreender o comportamento humano a partir do desenvolvimento ontogentico e filogentico do homem a luz da histria, pois assim, podem unir presente com passado, ou seja, as etapas superiores do desenvolvimento com as iniciais.

    Partindo disso, passaram a estudar o macaco antropoide e verificaram existir trs estgios em seu desenvolvimento: 1) Estgio das reaes hereditrias ou modos inatos (instintivos); 2) Estgio dos reflexos condicionados (associaes de reaes inatas com estmulos ambientais): provm do treinamento e da experincia individual do animal para sua adaptao ao ambiente; e 3) Estgio das reaes intelectuais prticas (utilizao de instrumentos): se estabelece aps um obstculo a um comportamento j adquirido ou inato gerando um novo comportamento a situaes anlogas (significado funcional).

    Nesse terceiro estgio pode-se perceber o vnculo entre o macaco e o homem que a utilizao rudimentar de instrumentos, que representa o pr-requisito para o desenvolvimento da atividade laboral, uma vez que o macaco somente faz uso dos instrumentos, mas no os elabora como ocorre no homem com o trabalho e a linguagem.

    Com base no exposto acima, pode-se afirmar que no comportamento do homem primitivo suas capacidades biolgicas ou inatas so imensamente superiores a do homem cultural,

  • 53PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    porm na utilizao de mediadores culturais, como os instrumentos e os signos, que ampliam de forma ilimitada as funes psicolgicas so inferiores.

    A transformao das funes psicolgicas (ateno, memria, percepo, sensao, pensamento, linguagem e volio) primitivas em superiores se deu inicialmente a partir do trabalho com a transformao da natureza para suprir as suas necessidades que em um primeiro momento eram biolgicas e posteriormente tornaram-se culturais.

    De maneira mais especfica, Luria trabalha a questo funcional do crebro da seguinte maneira: 1 Primeira Unidade Funcional ou de Viglia: Mantm em estado de alerta o crtex cerebral, controlando o ciclo de sono-viglia. A disfuno deste sistema leva distrao. 2 Segunda Unidade Funcional ou de Recepo, Anlise e Armazenamento: est localizada no crtex cerebral, parietal e occipital. 3 Terceira Unidade Funcional de Programao, Regulao e Verificao da atividade: nos lobos frontais, onde acontece a organizao da percepo ao conhecimento (MARCELLI, 1976). Mesmo trazendo essas especificaes, Luria prioriza a influncia do meio social, da cultura e do trabalho para a formao humana.

    Desta forma, pelo trabalho que o homem se torna humano, pois ao transformar a natureza o homem se transformou aprendendo a fazer uso de suas capacidades naturais com racionalidade e, com efeito, isso provocou mudanas no contedo de seu psiquismo e de seus mecanismos (meios) atravs dos signos ou instrumentos psicolgicos.

    Assim, o comportamento do homem cultural distancia em grande escala do comportamento do homem primitivo tanto no aspecto biolgico quanto no aspecto cultural, uma vez que as alteraes ocorridas se devem s transformaes histricas que envolvem: a evoluo biolgica desde os animais at os seres humanos, a evoluo histrico-cultural do homem primitivo ao homem moderno e, o desenvolvimento individual (ontognese), do recm-nascido at o homem adulto moderno.

  • 54 PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    Estudos sobre a ateno

    - Senhora, por favor, posso ter um minuto da sua ateno?

    - Ateno! Ateno! S hoje, descontos especiais nas lojas XY Ltda!!! No perca! Ateno! Ateno!

    - Hei, Pedro, sente direito na carteira e preste ateno!

    Voc j reparou o quanto a nossa ateno requisitada? E voc j parou para entender o que significa ateno? Luria (1981, p. 12) define a ateno da seguinte forma: [...] o fator responsvel pela escolha dos elementos essenciais para a atividade mental, ou o processo que mantm uma severa vigilncia sobre o curso preciso e organizado da atividade mental.

    Portanto, podemos pensar, respaldados em Filgueiras (2010, p. 1), que a ateno tem dois papis: [...] (a) selecionar e (b) organizar. O lobo parietal, regies visuais primria e secundria, hipocampo, amgdala e lobo frontal parecem ser as principais estruturas envolvidas na ateno seletiva visual.

    De acordo com Filgueiras (2010, p. 2) e Vigostky (1984), seria o responsvel por afirmar que:

    [...] a ateno no to somente a atrao por estmulos dominantes do meio ou biologicamente significativos, para o pesquisador, a ateno chamada voluntria (aquela que a gente usa conscientemente para se focar em uma determinada caracterstica do todo) seria um processo social construdo a partir do que mais importante, ou no, dentro da nossa cultura. O maior exemplo daquilo que o Vigotsky fala so os inuites ou os ndios: ambos percebem, respectivamente, branco e verde em maior ou menor grau de complexidade com base nas demandas do meio. Destarte, conseguem orientar a ateno voluntria para um determinado tom de branco ou verde, pois aprenderam dentro de sua comunidade que aquela formao de neve ou de planta circundam sua tribo, ou servem para preparar armas, por exemplo.

    Entendemos assim, que a ateno, enquanto processo mental, de extrema importncia para a organizao e filtragem das informaes do mundo externo, podendo variar entre estmulos biologicamente predisponentes e estmulos culturais que permeiam o indivduo.

  • 55PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    Luria (1981) teorizou sobre as bases biolgicas do mecanismo de ateno, estabelecendo que seriam a formao reticular, a parte superior do tronco enceflico, o crtex lmbico e a regio frontal. Para ele, as estruturas da parte superior do tronco enceflico e a formao reticular seriam as responsveis pela manuteno do tono cortical de viglia e manifestao da reao de alerta geral, enquanto o crtex lmbico e a regio frontal estariam relacionados ao reconhecimento seletivo de um determinado estmulo, inibindo respostas a estmulos irrelevantes. Deve-se considerar que, na ocasio, era considerado como crtex lmbico o giro do cngulo, para-hipocampal e do hipocampo. Nessa poca, Luria j fazia referncia aos estudos clnicos com reas cerebrais lesionadas em humanos, sendo que dela provm grande parte do conhecimento que se tem sobre a funo cognitiva ateno e sua base biolgica (GONALVES; MELO, 2009).

    De acordo com Naglieri e Rojahn (2001), a ateno um dos processos importantes que afetam muitas reas da vida diria dos indivduos como, por exemplo, o rendimento escolar.

    Para Luria (1981), o homem recebe um imenso nmero de estmulos, mas seleciona os mais importantes, ignorando os restantes. Potencialmente, ele faria um grande nmero de movimentos, mas destaca poucos movimentos racionais, que integram suas habilidades, e inibem outros. Entre o grande nmero de associaes possveis que existe, ele conserva apenas algumas essenciais para a sua atividade, e abstrai-se das outras que dificultam o processo racional de pensamento.

    A seleo da informao necessria, o asseguramento dos programas seletivos de ao e a manuteno de um controle permanente sobre ele so convencionalmente chamados de ateno. O carter seletivo da atividade consciente, que funo da ateno, manifesta-se igualmente na percepo, nos processos motores e no pensamento (LURIA, 1981).

    Ainda de acordo com o autor, existem pelo menos dois grupos de fatores que so determinantes da ateno e que asseguram o carter seletivo dos processos psquicos que determinam tanto a orientao como o volume e a estabilidade da atividade consciente. O primeiro desses

  • 56 PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NA INFNCIA | Educao a Distncia

    grupos constitudo por estmulos exteriores; o segundo grupo constitudo de fatores relacionados com o prprio sujeito e com a estrutura de sua atividade. Para o estudo dos mecanismos neurofisiolgicos da ateno fundamental o fato de que o carter seletivo da ocorrncia dos processos psquicos, caractersticos da ateno, pode ser assegurado apenas pelo estado de viglia do crtex, do qual tpico um nvel timo de excitabilidade. Esse nvel de viglia (excitabilidade) assegurado pelos mecanismos de manuteno do tnus cortical.

    De acordo com Aston-jones (2002), a ateno pode ser vista de acordo com trs aspectos distintos. O primeiro diz respeito orientao para os eventos sensoriais, que so as diferentes formas de ateno: motora, visomotora, auditiva. O segundo refere-se ao controle executivo que relaciona a ateno memria semntica e linguagem. O terceiro o estado de viglia e alerta sustentado que prepara o sistema nervoso para os a