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DIREITO MODERNO (OPUSCULOS JURIDICOS BASEADOS AO CODIGO CIVIL) POR Julio de Vilhena DOUTOR EM DIREITI 1 I I ALIMENTOS E APANA610S COTMBRA IMPRENSA DA I'NIVERSTnADF. 1873

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DIREITO MODERNO (OPUSCULOS JURIDICOS BASEADOS AO CODIGO C I V I L )

POR

Ju l io de Vilhena

DOUTOR EM DIREITI 1

I I

ALIMENTOS E APANA610S

COTMBRA IMPRENSA DA I'NIVERSTnADF.

1873

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@n~iimi~rio.- O direi to i le er istcnr ia rlefinicio pelo rotl igo c iv i l - O i l i - ie i lo íle npioprincào deriva do direito do ex i s t~ i i c i a -Como reii l isnr o t l i -

r ~ i i u de ap rop r i a~ão9 - Siiuac?io do honirni seni propriediitle em lacse do codigo c iv i l - Iiieflieacia dn nccupiicao - A6 nf ic ini is do Estado - Conde- i i i n a g o da par i i l l ia f o i p d a da propriedade part icular -- Solu$io do pro-

blenia - Orgaiiisacko da divida al imei i i ic ia e m todos os grhus de succeãs&o Icgii iniu.

Eritrc os dircitos originarios, oii que resultam da propria

i~atiirezii d o homem, encontra-stx rrconhccido e protegido

pelo cocligo civil o direito de cuistc~ncia.f Este direito com-

~ncheiidc n8o s(l a vida e inlegridadc p~ssocil do homcm,

mas tiirnhem o seu bom nome, em qiie consiste a sua di- ynidadc moral.9

Dcsde qiicl a Iri ciuil, orgão do Estado, reconhece o di-

reito á vida P iutegridade pessoal do homem, a mesma lei

tcm de coiiccd~~r-lhc o c3mprego dos meios ou condiqbes

nccessnrias pnrii tornar rffcctivo clsse direito. I)e outro

modo n \id;i c ii dignidade moral do homem, consagradas

no mi~ndamciito Icjinl, seriam iimn irrisão cruel. a, pois,

necessario, para tornar realisavel o direito a vida, qiic a lei

1 Artigo 369.0, 11.0 1.0 Urtiga 36íI.e

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ronsagre a facultliid~ que o homcm tcm tic adquirir tudo o

que for conducente á corisrrvncão da t~\istt~ric.ia, e ii mn- nutenqão e ao melhoramrirto da siia prolria c*or id i~~o. l 1)o direi to de existeiicia dimana, ronscgiiintc~merite, o direito

Mas, sendo assim, a qiicm deve ri.c.l;imar-st. este dircito :' Ao Estado nas suas oficinna! Aos porticiilarcs ria siia pro- priedade? Deverá o dircito de alJrol)iiaqUo applicar-sca so- mente 5s cousas que [ião tem dorio??

Meditemos este problema, que, sendo o primeiro da so- ciedade portugueza, L. tambcm o primeiro das sociedades modernas.

Supponka-se o homem chegado a uma cdade, em que pbde pelo seu trabalho satisfazer as suas condiqões de vida. Fiiltam-lhe, porém, os instrumentos t1 as mirterias primas. fi rcgeitado pelas officinas ; rcpellido ~jelos proprietarios. Para viver precisa de salario; para realisar o dircito, que a lei civil Itie reconhece e assegura, carece d'uma propriedade. Antes de pedir ao Estado a propriedade que lhe falta, antes de intimar os particulares a que lhe deem uma parcella dos scus bens, antes de a impctrar 5 familia em nomcb dos tiii- culos de sangue e da lei, que o proíege no seu direito de cxistencia, elle encontra no codigo civil um meio dc obter pelo seu esforço proprio a propriedade que reclama.

$ a occiipação. Estudemos a efficacia d'esse mcbio. u$ licito a qualquer, diz o codigo rivil,;) apropriar-se,

1 Codigo tivil , artigo 3 6 6 . O 2 Artigo 383.0 3 Cit. :trtigo 383.0

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E APANAGIOS 7

crplxtlia acc~ipayRo dos aiiimec3s e outras cousas, que nuncii ti- «veram dono, ou que foram abaridonadas ou perdidas.))

Ueste modo, o homem, que prrtclriclt~ grangear pela sua individualidade, applicada ao trabalho, os meios necessarios para a sira cxistcnciii, poder6 :

a) diii. cayii aos aiiimaes bravios;l ú) pescar nas agiias publicas c communs ;" c) a1)ropriíir-se dos ariimaes bravios, que, tendo tido

dono, voltariim k nat~iríil liberiiade;3 d) occiipiir livrcmeritr os ariimaes domesticos, que (Owm

lançados á margem ou abaridonados por seu dono;4 e) oc.ciil~iw os ariimaes perdidos ou extraviados;s I ] occul~ar as cousas moveis abandonadas e os cousas

moveis ~)crdidas ;" g) procurar os thcsoi~ros escondidos;7 h) nccXir(lar as substancias animaes, çreadas nas aguas

publicas oii [ias communs, que vierem arrolar-se ás margens ou ás praiiis ;8

i) usar dc quacsquer aguas publicas e pluviaes das tor- rentes e enxurros ;g

L) occupar as substancias vcgetetiles produzidas nas a g u ~ public-as, c as siibstancias vegetões produaidas nos baldios,

1 Codigo civil, itrtigos 3SC.0-394.0 Artigos 395.0-399.0

3 Artigos 400 0403 a

4 Artigo 400.0 5 Ai tigos 405.0-410.0 6 Artigos 41 1.0-421." 1 Artigos 422.0-427.0 8 Artigos 429.0 e 430.0 9 Artigos 431.0 e 453.0

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.8 ALI Y ENTOS

o11 terrenos miiniripars oii parochiaes, na cortf0mtitlade dos rcgulamcntos ad~ninis tra t iços .~

e esta a esphera de ac'yao que a lei c i ~ i l abre A actibi-

dade do homem, que se encontrou sem meios de subsis-

Considerar a orcupaçáo, no estado actrial da prnpriedadc,

como o iinico meio de realisiir o dirc.ito do i ~ ~ ~ r o p r i a q ã o , ~

seria fazer voltar o homem ~ ~ a r n o ibstndo pastoril e srliii-

grm. Miiitos dos ob.jcctos d;i occupayào siippi)cbiri, iilem d'isso,

um capital anterior, represeritirtlo ilrn iristriirnc~iitos, e esse

capital pdde não ser possuido pelo proletario. Como, pois,

resolver a questão?

I)everá pedir ao Estado que lhe torne effectivo o seu

direito de aproyriaçào, sem o que se torna impossivel a siia

rxistencia ? Pódr argumentar-se a hvor da opiiiitio affirmativa, di-

zendo que, assim como o Estado tem tima ing~ren(:ia directa

no iridi~iduo nas siias differentes mnnifesta~Ties civis, assim

o individuo phde reclamar ao Estailo as suas condições de

vida. Phde dizer-se qiie o Estado at)çorvt~ a propriedade pcla

rxpropria(.?io ;3 faz parte da familin pela siicccssào 1cgitima;k

r intervem a cada passo nas relaiões iriilividiiaes. Isto, po-

rem, n io prova qiie o individuo svni mcios d~ sul)sistc~iicia

deva pedil-os directamente ao podrr ceritral. A ingercricia

do Ilstndo phde realisar-se na qiic3stào siijcita por meio

de tima boa organisaçao familitir. 1)'oiitro modo seria ab-

1 Codigo civil, :irtigos 468.0-473.0 2 Artigo 366.0 3 Artigo 2360.8 4 Artigo 1969.", 1 1 . ~ 6.0

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surda, 1101 que o i?stac.lo, qiic prc~tendrss~~ f;,rno(*cr os mcios

de subsislencia ao proletario, deveria ter:

n) officirias nacionacs [Jiirr? il irldii~iriii miiriiifii('l~ra ;

h) propriedades nacionaes para íi iridustria iigricola; ou

entoo

c) cstahelecimcntos nacionaes dtb caridadv e l~c~rit~ficcricia.

Nos dois ~wimc.iros casos o direito de apropriayho rca-

lisar-sc-liia sobrcl o salario ; rio tcrceiro s o b r ~ ii c>smola.

Qiiiil(~iior d'r.stiis iii\titiiiqíjcls seria corid(.mi~avt~l. .\s of- ficiiias iiiic*ioniitas, fait~rido do potlci rentriil i i i ~ i rml)re\ario,

matariam n iridiistriii, tirciriilo-llit. ii lib~~rctatl(h r :i cort~or-

roiicia. O l s t a d o eiitào, em v c . ~ r i iml~rir ;i suii eic~viida

missáo juridica, converter-se-hia riiim espcculador indiis-

trial. Os estabclccim~~ntos nacioriacs de beneficencia, ali-

mentando o ocio do proletario (. roiihando-lhe todo o csti-

mulo a uma sitiiayfio melhor, matiiriam a caridade, qiie

deve ser espontaiiea e occiiltn, e atacariam gravemeritr ii

iridependencia e a dignidad(3 hiimana.

Rliis, se d'cstc modo rião fica rclsolvido o prohlcmii, de-

\erá o f1rolctario reclamar dos partiriilar~s iirn quirihnn da

siia prol)rietlade 9 A allir m;iti\a cqiiivale ;i l)roclemiir a cbxpropriacào por

t r~i l idartc pu~~icu lar . Qiial scrin a hii\e d'vsta r\i~ropri;iyào?

A nc?rrsuidiitl(l do proletario? Os vicios do titulo dk acqrii-

si@o piira o proprietario?

A ric*ccssidadc do prolrtiirio, facil de apreciar erh si, não

poderia satiafaeer-se, pela diniciildade que havtlriti na escolha

iiidivitliial do ~iroprictario que teria de ser expropriado. Os

ticios dos tittilos, rrnroritiiritlo fis primeiras c*tliirlrs da par-

tilha das terras. iião ~iotl~riarn verificaar-se hoje, cm quc o

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solo, parcellado cntrc. mil ge i i i~òrs qiie passaram, rcprc- scnta o trabalho accumula(lo de todas. são Irgitimos os proprietarios actiiaes? Nào obtiveram a propriedade pelos moios legacs de acqriisi~3o '! Keclamem os interessados ii

rci\iridic;içrio. A Ici civil protege os sciis direitos. Existcm os vicios dt. origc.m na primeira divisão diic

terras? Ncstr caso, os 1)roltbtnrios liao de prolar que são os legitimas rcprescntciritrs doc antigos Itbsados, c apresentar, ao mesmo tcmpo, o titiilo d o direitu dos scus antecessores. Adrnittindo, poiéiri, tiao ol)starite todas estas considcraçõt:~, a expropriacão por utilidutl(~ yclrtic.ul«r, nutica ella se pcíde ~erif icar sem a restiiiii~ào tlo preço.

g, portanto, vedada ao proletario. Alas o pi.oletario tem direito h csistericia ; o codigo civil

protege-o; a solidaricdad(1 social, lei jiiridica e moral, I I ~ O

tolera qiic cllc pclreça á mingua dc siibsistt~ric~ia, quando os sriis irmàos na grande commiinh80 social gorarri ttc todas as viiiitagcris da propriedade. B justa e legal a pretençao do proletario : como rcalisal-a '!

A liumanidade í. um organismo geral formado por orga- nismos tlspeciaes. r\oridc. nno chega o individiio deve chegar a familia. Aondc nno cticga a familia devc chcgar o muni- cipio. Aonde nao chega o municipio deve chegar a nayáo. Aoride, finalmente, ri30 chega n nação deve chegar a huma- nidade. Ora, no problema que discutimos, não chega a ini- ciativa do indi\iduo; se for suficiente o auxilio da familia, o miiriicipio, a n;iy;io e a humanidade não têm nada com o problema. E, com cffeito, no mesmo codigo civil encori- triimos as bascls da soliição. A successào legitima defere-se

[li) ordem seguinte :

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a) aos dcscenderitcs ; b) aos asccnderites, salto rio CasO do artigo 1236."; c) aos irmaos e seus dcscc~ndentc.4; d) ao conjugc sobreiivo ; e) aos transversiics nno comprchendidos cbntrc os irmãos

c seus dcsccndentes atb ao decimo grhu; f ) á fazcrida riiic.ionn1. A Ici corisidern os laços dc filmili,i (.orno o fiiridamcwttb

da succcssào legitima, aswiitarido atii o dirtbito á proprie- dade do fallecido. S r o codigo, ria f;ill:i dc pareritcs ati. ao dr~cimo grári, tivesse chamado R successão o muriicipio do fallecido, assim como o cliarna rio artigo 294." h obrigayãcs aiimenticiíb, a sua disposiçào scriii cornpicid l~c~so~vei1d0,

porbm, a qucstào srgiindo o dircito coristiiuido, tlcsde que o codigo gericralise a obrigaçfio alimeriticia do artigo 17 1 .O

a todos os gráus da succ.essão legitima, fixirritlo entre cllcs o principio da reciprocidiidc, rsth realisado o dircito de rsistencia do proletario e resolvida a graridv questão do socialismo contcmporaneo. O principio ubi succ~ssioois pmo-

lumentum ibi o ~ i u s alimcntorum, entrevisto por todas as legislaçòes dos povos cultos, na sua npplicaçào inteira tira o proletario da sitiiação miseravel em que se acha, dá-lhe a consciencia de iim direito, e , cm logar de o lançar nos braços da revoluyào ou no asylo de caridade, imprime-lhe pela necessidade a cohc~são de familia. A lei, que admitte sempre u existciicia de iim herdeiro Icgitimo, 4 obrigada a admittir por esse facto a existencia de uma pessoa contra quem se torrie effcctiv~ a acção alimeiiticia. Na ausericia

1 Codigo civil, artigo 1969.0

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dta ~ ) i ~ ( ' i i t t ' ~ i t t ' no decimo grhii P jiisto que a fazelida ria-

c.iorial. herdeira Icgitima dos heris, qiir o proletario vc~iiliii

u iidqi~ii.ir, syja, como todos os herdeiros, gravada com o

orius cios alimcritos.

D'cst'artc, asscgiiradn ;i existenciii do proletario, a sua

firciildade de apropriação poderá tipplicar-se a todos os mcios de ocriipaâ8o iintiiriil e de ;ic.qiiisirào civil. I'odcrií

e\clc.uli~i. livremente o seu dirc>ito do tr,ibiilhnr; rifio tcrii o \iiic~rrlo da rit~ccssitlnd~ a <ili(>rtiil-os niis contliçòes tlc lima

osliptilnyão leoriinn. Siijeitarido-sc ii lei da concorrericiii,

po~lorii 1)lcitriir o salario com os empresorios e com os pro- priclt~rios apricoliis.

Kstk sobre o parerite do proletario sempre siispenso o

onii4 ihvcntual dos alimentos? Tarnbem reside nelle a van-

tngtlm da siiccessão legitima.

Com esta organisaçao a f'arnilia ficar6 coristituindo urn

totlo solido e corisistrrite. As relaq6t.s cotre os stliis mfBm-

I~ ros iiào tt~rmiri;irào com a ernancipny;io e i1 rnaioridado

dos filho?. T,igados cbritrc si os mtarnhros dr uma faniilia

prlo jiriiiitl(* principio tlo aiixilio mutilo, sempre tio Iatlo

iiris dos oiitros, tarito ria vrritiira, como na adversidade, o grcmio familiar for marA iim niicleo podrroso de orgnnisayao

social. O Estado, em vez dc encontrar ria familin iim clo-

morito dissolvcntc, encontrark iim principio de solidez, que

será o primeiro elemerito de força e de iiiictoridode nacional.

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E APANAGIOS

Riimtnoi*io.- O que sejam alimenlos - Definicao i lo codigo civil, do an- tigo direito porluguez e dos civil islas porluguezes e exlrangeiror - Com- prehcnderá o ar l igo 1 7 1 . O os soccorroa ein caso de t loenp? - Ae deepeeita tlo funer:il do alimentado?- A obr iga~ao de pagar as divii las que o al i - ineiit;ido conlrahiuP- E sendo as (!ivitlas conlrali i i lns p i r a ali i i ienlos9- Con~preherii leri o mesrno artigo a obrigacão (11i r iolar as fillias e estabelccer os fi l l ios?- Doutrina sobre edas queal6es do direito Iiortiiguez e extran- geiro - Pundrmento legal da cl i t i i lz r l i i i ient ic ia.

Para ser devidamentcl (>ritendida a thcoria dii divida ali-

menticiii, tanto rio ciimpo tla philosophia juritlic.a, como no terrcno da legislii~no positiva, P mis(c1r principiar pela de termiriiiçào da noção de alirnc~ntos.

Por ;rlirncirtos, diz o codigo civil no artigo 17 1 .O, en- tendr-\c> ludo o gue é i~zdi.sperisn~-r1 no szu/rprto, hnhitnçbio e ues~uario, cornprehend~,rdo a ~ctuc.n~ão r iristrucção do alimat//ndo, soda esia rno~,or. Idrntica defiriiqáo apresen-

tava o primiti~o projccto do codigo civil no artigo 173.O, e depois o projecto da commissiio rc>visorii no artigo 17 1 .O

O ~ ) m s m e r i t o tlo artigo 17 1 ." do codigo 4 corroborado

pelo artigo 1831 .", que abrange no legado de alimerilos o

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4 4 ALIMENTOS

susterito, o vestuario, a habitaçâo e a educaçáo, sendo o leqatario menor. k esta a accepçtio generica da palavra alime~tlos.

Em arcepção rrstricta, designando unicamente o sus- I P I ~ ~ O tx excliiindo a significação de rrs!unrio, habitação e ediicarão, 6 a mesma palavra tomilda rios ilrtigos 1 $.O.', 2$3.", ri.') 2.O, 1257.O, (S iinico, I'LAS.", n." 1 .", e 1419.O Na thcoria da dilida alimenticia decr a palavra ser rece- bida na accepç'io do artigo 17 1 .", compreheiidido na secsçào que se iriscrcbve do.$ alimentos, e que 4 , por isso, O assento especial da matoria. ,

Antes do codigo civil jh OS alimentos comprchendiam no direito portugiirz o sustento, a Itnbitcl~ào, o vcstuario, e a eductriùo do alimentado. A 0rdrnaq;io l i \ . iv, tit. 99." pr. iml)~~ilha aos pars a obrigação tlv cronr o filho «ás suas

ccproprias dc.spesaa, e dar-lhe os cousns que llw forem ne-

«cewzriciw .\cg~rttdo seu stado c cor,/lirfio)); a ordenação liv. 111, iit. 9.", $ '1.O auctorisata o filho a ((pedir ao pae

((que Ehr mnniimettto segundo o fncttldade dr seu pairi-

«m«rrio,~; e, fiiiaimcrite, a orden;iqào liv. i, tit. 88.O, $ I E.', regulando ds obrignqíres dos j1iilc.s pnrii coin os orphàos, maridava ;ri<bilríir-lhes o que fosstl ncc.cssirrio para seu man-

timetzto, ~ s l i d o e culçado. ntio c~c~iircc'i~do ;i sua v ida e ensitto, scyrrndo a qualidade díl stras pessoas r fazenda.

Ein liarmoriia com isto estava o $ 16." tlii mesmii ordenação, preceituando que os filhos dos oftic*i;rt~s mccnnicos fossem p0.9t0$ a nproader. os oficias dr R P I I ~ par\ ov outros, para qucs mostrassrin mois proniinciatln al)licl&o.

E m fii(.,a tl'cslrs textos da Ici, ;i gt~iicr;~lidack dm nossos cirilistos nllipa~a h rio(.ào tlc nlimtlntos a sim verdadeira

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E APANAGIOS 15

signiflcaçoo. Mello Freire 1 dizia : ~Alimentoriirn nomine

((veniunt non solum cibmria, vestitus. haúitatio; verum etiam

((disciplina, ct ho,wsta ed~cratio pro modo et faciiltate pa-

arentis, et filii coriditione.))

Liz Teixeira 2 escrekia : «Alimentos, em latim alimrnla,

((termo oriundo dv alere sust(.iilar, nutrir, exprime a idba do

«cousaq nccessarina á c.ons~rcaçào <lu existencia, e nesta á

((da espccie humana ; por isso ri20 s6 o sustento, mas a ha-

((bitaçiio e ~ ( ~ s t i d o , esteiidriido-se airidii a comprehender a ((tlinheiro dcstiriado a cornpr;ir os oh.jectos que' se applicam

(caos fins jb referidos.))

E m oiitra ~ ia r t c o mesmo jtirisconsulto clc~iun dcfinitiva-

mente eluridiida ;i iritc>rprctação das orderiaçòes que citfi-

mos: «I'ontlcr:itlo qiit. os ~limc*ritos se dividem cm naturaes,

«scilicct, os rit.ct.\hai.ios piiri~ naturalmeritc vivc~r, como sâo

((casa. .su$lor/o P vesiido, vivís os tlestiriados n adquirir as

« ~ ~ n ~ ~ d t > r i i ~ O c s ~ O ~ i i i t > ~ , como despesa da educaçào, insíi-

((lulio, i / ~s~tzccç ico , i i r r i trnctamcnto correspondente aos

«l)ciis c. qiialitlad(1 tlo qucb t(\iii obrigaçào de prcbst;il-os, est8o

((os piimc8iros c~omprt~lic~iirliclos na crincâo, de que falla a

(cord. liv. i, tit. 8H.", %$, 10." e !ti.", r liv. iv, til. 99." pr., t> 11ri9 out ros no mct~itimenio, tlcb qiic fiiliii n do liv. in,

«tit. 9.", $ 'c." i11 h)).)) Esta doutrina foi acccita por Mei-

rclles.:j Correia Tttllcs c Rocha.&

Qs civilistas fraricclzes, nestc3 ponto menos rigorosos que

1 Inst. j u ~ . ciu. 111s , liv. ir, tit. 6.0. 11.0 not.

2 Curso de dir . ciu. yort., part. I:, p. 336. 3 K~perforio j/oidicrl, vb. alimentos.

4 »i!, por!., tom. 1 1 . rtrtt. 508.0 e 538.0

5 I>)&/. c2e ciir. ciij. port., 5 319.0

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os nossos, excluem sempre da definição de alimentos a edu-

çuçùo e itastruc.çào do alimentado. Assim, Merlin define

alimel~tos, dizcrido:' ((Ori cwteritl, pírr ce rnot, Ia nourri-

(dure, et les aiitrcs c.hoscs nkccssaires h Ia vie, comme l'hu- ((biiuliou, les vr7tenletts. Ori donrie lo rnkme riom aiix d o t i m

ccaccordks pour tciiir lieii de ces chos~s .» 1)cfiiiiçlo sinii-

lharite apreseiitam Ctiabroi.2 Dalloz,:) Drmolombe~ e I'icot.*'i

A razao d'islo coiisisle cm quc? a obrigoc;ào, impohta aos pacs,

dc ed~icar os fillios, estk corisignada iio artigo 203." tio co-

digo I'riiiicee, o qual artigo fica excluitlo da malcria da divida

alimeriticia, qucl os mrsrrios rscriptorcs compreheridem rios

artigos 203." a '21 1." E, por isso, qiicb M a r ~ a d é , ~ rrkrin-

do-se ao artigo 4?03.', diz: ((C'est u~iic~ri~rncrit du dcvoir

«d'6diic;iLiori quc riotrc? iiriic:lr cntc~iitl parler, et non pus de

((10 derre a l in~~r~tui l -e , yríi P S ~ UIIP çlbo.$e t o ~ ~ í e ~li/j3hrerite.»

Einbora, portaiito, a etluCoçáo c iristrucçao dos filhos náo

sejam compreliciididiis iiii doiitriira dos alimentos, a juris-

prudencia fraricczii recorit1c~c.e essa obrigaçgo como irilic-

rente ao coiitracto con,jiigal. O c:odigo harrcez, enteridcrido

por alimeiitos sirnplesmciite o sustcrito, iiabitiiçào r \.cns-

tuario, segue ;i 11 ro~ i sh do direito rornario, quc dispuriliii :;

((bilur, p i a s i t~e his ali çorpus no,& poles~.))

1 ltdpertnire ~ I I I~ I .~ I .YPI C/ TO~SOI~IM! rlc jeriãprude>~oe, vb. alivnenls. 2 IJiction~bairr c~ruel dr LI ~ ~ ) ~ ~ ~ u ~ c I I c R , vb. alimentu.

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E APANAGIOS ,I 7

Assim, o a r t i g 0 2 0 5 . ~ do mesrno codigo, definindo as obri-

gaçòes dos corrjuges, oriundas do casamento, dislbòr : nJ,cs

«Ppoux coritraclerit cnscrnble, p'ir lc fait sciil dri rniiringo,

rl'obligation de nottrrir, e/ttrere~tir e1 41:ln)er 1f~i~i.s rrií'iirits.»

A mesma disposiçuo se encoritra no codigo da Siirtl~rilia,l

dii FIollaridii,~ dii I,uisiaria,~ das Iliias Sirilias 4 e do raiitao

tlc Ví~ud. '~ Todos rstcbs cotligos reconhrccm nos fillios o (li-

rtbilo a <~tluciiçiIo, rrriis nào a abrangem iia signific.iisão dc

iilirnt*ritos. O riitasiiio [~c~risamrrito encerra o prcrjrcto tio

cotligo Iiis~~aiiliol, dispoiiilo iio artigo 6s." :«E1 piidr(. y Ia

ctmadrc esthri oi~ligutlos h criar sus hijos, e(iucnr1os e «alime~rlarlos.» O codigo itirliiino no artigo 138." emprega

as palavras rttu/ltenere, rtlucnrc ed isiruire. A tli\cbrsidadc.

dc redacçao, quc se dk cbiitrc o artigo 171.' do nosso co-

digo e os artigos citados do\ codipos clxtrangeiros, em riada

altera a riíitureza da ob i iga~ào dos paes. Quer se c*ompi.tb-

Iientlam iiriiciimcritc~ riii nogao de alimetttos o siistcnto, a

tiabitíiy8o o \estiiiirio, como prctrndr o rodigo li.iin~cz,

segundo as íirinotiiqõcs dos seus cornmrntadores, quer se

alargue ;I sigiii[ic.a~ào tln palii~ra atíb á cbdiicayão c instriicçào,

como critciitic o riosso codigo, (. certo qiie todos rccorihecem

iro filho o direito a liaver de seus pacs tarito o sustento,

Iiiil,itaç8o (' V('SIU~II .~O, como a iristrucçBo e edlicaçào.

Mas, coinprc~hcritlc~i.A o iiriigo 171 ." do codigo c i ~ i l na

noqão de alimenios os soccorros em cabo de doença?

1 Artigo 116.0 2 Artigo 1Tt9.o

3 Artigo 2 4 3 . O 4 Artigo 195.0 5 Artigo 105.0

2

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4 8 ALIMENTOS

0 direito romano era expresso a este rt>speito. A lei bti.', Dig, de usu,fructu indicava no niimc3ro dos alimentos as des-

peses da doenqa, nalriudini.~ imp~ndin .

Lara,' qiie commc~ntoii a lei s i quis a l ih~r is , 1)ig. de

agnoscendis rt alendis, diz sobre o mesmo ohjecto: «ltcm

«alimentoriim verbo contiir~ntiir impensne qiiae pro recw-

((prranda snlutr fiiirit. n E, fiilliindo c~pccialrniwte das dtls-

pesas feitas com a medicina em caso de doi>n~il, ncrresccniíi :

(tQiii iiit idem esse in niercrdr, qttar medico tlnlztr, nnm c t

ahaec nlimrntor~cm rrrho continrtwr.))

I3ntrc os nossos civilistiis não d e v ~ csqiiecer Rocha,e que

refere nos alimentos o trnctrtmento tlnx rnolrstins.

Dos i~xtrangciros mtiitos lia que sc exprimem sobre este

assumpto com a deuidti clarcza: sirvii de cxrmplo Ikmo-

lombc,:j o tractadista mais ahnlisado em niatoria d r casa-

mento. O codigo civil francez e aqiiell~~s qiii3 o tomaram

por fonte, n8o enunciam cxprcssamente ciitrc. os alimeritos

os soccorros em caso de doença. O mesmo scgrir o nosso

codigo no artigo 171 ." Parece-nos, comtritlo, fhrii de toda a duvidii qiie a obrigação dos alimentos so arnl)lia tio tracta-

mento das molestias, qiie está comprehendido no ;irligo 171 .O

Phde argiimeiitar sc contra isto, dirtmdo qiic o nrtign 1 LLI.7.",

$ iiriico, qiiando cnti1nde por mnnirnç«. «a habitiiçao, o

«alimi.nto, o vestuario, bism como o tractamento das mo-

((lestias,)) distingue entre o alimrnto t? o lrnctnmrnto tl«s

molrslias. Mas, 6 fiicil advertir qiitl n paliivra alimrttto i:

tomiida neste artigo na i i c c ~ p ~ à o rcstricta d~ sustrrilo, t1 qiie

1 De Alimentis, Hispali, 1575, fl. 170. 2 06r. cit., tj 319.0 3 OLr. cil., toiii. rv, 11.0 52.8

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E APANAGIOS 19

a mesma palavra i. tomada no artigo 17 1 .O na nccepç&o generica de mantença, virido a comprehender, por isso, o tractamento das molestias.1 Qualqiirr que schja o funda- mento da obrigaçào iilimeriticiít, s ~ r i a absiirdo concedrr ao iilimentado o susterito, a Iiahita~ào e o vostiiario, como condiçócs indispensaveis para a realisação do seu direito k exiutericia, e negar-lhe os soccorros em caso de doença, egualmcwte indisperisaveis á rcalisaçáo d'esse direito.

Comprehendera o artigo 17 1 .O as despesas do fitneral do alimentado ?

Um jurisconsiilto italiano "ntlopta ii afiirmativa, dizendo : ((Sotto il iiomc d'alimcnti si comprendono i1 cibo, te bs mande, 1c vesti, I'abitnzione, gli arredi di essa, le spese ((d'ediicazione, (li malattia, e funebri.))

Não obsrantc o silrncio do artigo 171 .O do codigo, crrmos que a obrigacão de alimnltas abrange as d~spasas do f i c -

neral do alimentado. O pensamento da 1c.i sobre alimentos k evitar qiic as pessoas, que se encontram pribíidas dos meios de subsistriicia, em vez de irem mendigar a esmola da caridade publica, procurem a q ~ i ~ l l e s e qiicrn cst;io li-

gadas pelos laços de sangue e que seriam os successores legitimos do alimeritado, se este possuisue uma ptlqiieria

1 1'Ude defender-ee tambern que a pnlxvra sustento do artigo 171.0 lia 811:~ accepção geral cornprelieride cgii:ilriiciite o tractnrnento das inolestias: .Verbo victus, diz x Iri 43:, Dig. de verborum. sig~aijica- .time, contiiieritur, quae esui, potuiqcie ciiltuique corporis, rj~iatcliic~ aad viveridiiin lioinini iiecessariti suiit. Kt caetera, accreecerits r .lei 44.", quibns tuendi, curandive corpoiis riostri gratia ntimur ea

aappellatione siguifieantur.~ 2 Richeri, Inst., fS 326.0, cit. em I3oi.da, I1 II0dir.c citilr ifrrliano

mnohto, ait. 138.0 *

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20 ALIMENTOS

propriedade. Se a lei impozesse nos successores legitirnos

a obrigaçso de acomparihiir o alimeritatlo ale ao seu leito

de morte, abaridoiiarido-o depois ii caridade dos cxtraiihos,

rsso lei perderia o seii ~liiiractrr rmiiioiitrmc!ritc~ moral, e

seria contraria aos firis da sua p i q r i a ir ist i t i i i~~o.

Comprchenderh ;i obrigaç;io dr alirnc~ntos a ohrigacao de pagar i15 d i~ idas qiir3 o alimentado contrahiii?

A negativa era prrfilliiida prlo direito roniario. A lei E;.",

$ I C>.', li>ig. de uyt~o.scentiis cí alertdis librris dispiiiiha :

«I'areris, quamlis ali i) lilio rationc riaiiiriili tIel)r!at, l«rnrj1

«aes al iet~um ejus ttotr es.v royrndum ~xsol~nerc, rcscriptiim

((est.)) Esta doiitiiiiii 6 grriilmrtite rc.cehida no dirt~ito

francc7. RlarcadC. decidc assim a qut1st;io : 1 «IA drttc d'ali-

((ments peut elltl riitralnrr, poiir rc~liii qui cn est ttbiiii,

((I'obligatiori tle p a y r Ices dtbttrs dc ccliii A qiii c.ilr 13t

((due? I1 est éuident que won; l'obliyn/iott clr nourrir cí ((entretejzir une persorirke 11'0 aucut, rcrpport aopc crlle d'ac-

((quiter les dettrs plus ou moir,.s c~or~siddraOlus dont retic ((personne peut (jlrr yravde. ))

Demolombe diz, relilrindo-se 5i dividii dc* alimrntos :e ((Klle n'emporsr d o ~ r i,íts l'ohligatior~ tle poyw les t/o/ir~s

A mesma soliiq;io rltbvt. ter estii qiicastAo iio direito c i v i l

1 Obr. cit., tom. I , n." 717."

2 0br . cit., torii. IV, n.O 5.3.' 3 Tom. r, n . O 985.0, edição <Ir Ilriixelles. 4 K$ertoi?.r, vb. maria+, i i . @ 678 o

5 Vaxeille, toni. 11, ri." 607.0; Zachaiiae. Aiit~ry e Raa. tom. IV, p. (29; MassB e Vergii, tom. I, p. 224, cit. eiii Deiiiolombe e Dalloz.

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E APANAGIOS 't 4

porlrtg~~t~a. O artigo 17 1 ." (10 ('odigo civil falla unicamente

em siislento, habitaçào, vtlstiiario c ctliicbayão do alimen-

tado. As dividas n?io e s t h comprchendidas em nenhum

d'esses objectos, e, por isso, nao potlem entender-se na de- signaçBo de alimcntos.

Mas, se as dividas forrm contrahidas para o sustento,

habitação e vestiinrio, dcvcrso jiilgar-se cornprchendidas

na obrigação nlimenticia?

Marcat16 c. 1)emolomhr ~ntc.ndrrn qiie sim; recommen-

dando, todiiciti, aos jiiixes rniiiie caiitt.la na avcrigiiay8o tfas

cirrrimalaiiciiis qlir occnii\iorinrani o coritraliimento da divida.

O segiindo d'esttbs eccril~torc*!, rcft.rr rniiitas tlecisòc~s do

tribunal de Casscrçào, em qiit. s r iitlopti~m os principios

indicados. O mt&smo pensar scyuchin I'roiidhori,f Vazeille e

P)alloz.VOdc dizer-sc. contra os que tlrfendertm esta opini8o

no direito civil portuguez :

a) que a ohr~;i;ic;ao dos itlirnriifos C. fiindodn na neces-

sidade, e qiie cstii ccbscoii dcstlc qirt. i \ divida foi coiitriihida ;

6) qiic o dirc'ito (10s iilimoritos P piiramrritr 11c.ssoa1, e

que, por isso, riao podrm os c.rc*dorcs do alirnrntatlo cxrrcrr

acção piira obrigarrm a I)rssoil, qiit: tinha 0 dever dos ali-

mentos, ao pagamento da divida;

c) q u c k riilFic*il aleriguitr stb a dicida foi, nii não, ron-

trnhida para prolcr As nrcessidadrs tlo alimtwtado;

d ) que, finalmente, o artigo 17 1 ." do codigo civil falla

unicamcritc de alirnciitos, c riào de dividas alimentiçias.

Estas mesmas dificuldades siirpclm íios olhos dos civi-

listas franccacs, c, a pezar tl'isso, niio vacillam os mais au-

1 De I'uallfn~it, tom. I, n . O 198.O 2 Hép. cit., n . O 680.0

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29 ALIMENTOS

ctorisados em siistcritiir a obrigaçao de pagar as dividas, contrahidas para os alimentos. Se admittirmos que n ne- cessidade do alimcritado seja o fundamento do direito, como parcce deduzir-sc. (10s artigos 178.", 179.", 180.' e 18 1 .' tlo codigo civil, 6 cvidentc qiic o direito apparece quando apparree a necessidade, e, portanto, desde que foi contrahida ;i divida. A obrignção não tem, pois, effeito retroactivo: existe logo qiie a necessidade impelle o sujeito do direito a pedir ao credor os meios de subsistcricia. Alimenta de- cerrruttl~ir 2 ~ 1 quis vival, nc fume ppruat.

Aleiri d'isso, os alimentou velicidos (e assim sc! devem reputar as dividas) podem ser pedidos, tanto pelo alimen- tado, como por outra pessoa, a qucm elle tivesse traiis- mittido o seu direito, e neste sentido não são puramentc pessoaes.

Quanto h difficuldade, que haver6 em muitos casos, de conhecer se a divida foi contrahida para alimCiitos, ao juiz compete apreciar essas circumstancins, e decidir se no tempo cm que a divida foi contrahida havia, ou não, verdadeiras necessidades no alimentado. KBo tS impossivel esta averi- guaçtio, assim como não 6 impossi\cl \crificar os casos, em que os alimentos taxados podem scr reduzidos,' ou em quca ccssit completamente n obrigay%o.b

Se nns expressões do artigo 1 i 1 ." nBo se rcll'erem clara- mente as dividas para alimc.rrtos, estso, comtudo, no pcnsa-

. r mtbiito do mrsmo íirtigo. Tudo o quc e' irtdisporsn cr! ao sus-

teitto, habituçào e i.r~iuario abrange as di\idas i t ) l l i s ~ ) ~ ) ~ s u i - c i ~ para os alimentos. Marcade fipiira iirn (lxcmplo, que wcm

1 ('odigo civil, nrt. 181.8 2 Artigos 17!L0, i i . q . 0 e 180."

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E APANAGIOS 2 3

confirmar pleriamente o q u ~ di~cmos. 1 Por isso, parecem-nos muito judiciosas e verdadeiras as seguintes palavras de Dc- miilombe:e ((Cette solution, d'ailleurs, est rkclam6e par ((I'kquitP, par I'humariité. I1 ne faut pus prii?or t~h.~olurnent ((de iout crddit celui qui, darts sa détresse, I I P p o ~ ~ r r a i t pae ((a l'inslur~t rnerrtr s'cidresser u ses parnlts ou ctlliés! I1 faul «au co~llruire, encourayer les tiers d ZP secourir, tlèa qu'ils «le for11 de borzf~e J'oi et duns des llrnites rai.$o,triablus.>)

Entretarito, sendo verdadeiras as razòes tios c-ivilistas francezes, que susteiitam o pagamerito de todeh as di\idas contrahidas para alimeritos, 6 rorivc~riierite atlrnittir qiir O

artigo 176." do nosso codigo (que não cxiste no (lireito francez) exige, para quca i1 ohrigaç5o s r torricb c4kctiva, que os alimentos tenham sido jutlicialrnet~te petlidos. O prin- cipio da necessidade estii, portanto, si!jcito u esta exigencia da lei, c si) ao p ~ g a m r ~ t l o díis dividas, contrahidns depois do peditlo judicial, é que, em nosso parecer, pódc scar obri- gado o devedor dos alimentos.

Cornprehendcrá a obrigaçao de alirncntos a r~spci to dos paes a de dotar as filhas e estabclocer os filhos?

No dircito romano os paes tinham esta ~ b r i g a ç á o , ~ que

1 ~Ainsi, eficrvve Marctidk, 067. cz't., tom. I, n.O 717.O, mon pbre, ~derneurant trèb 10111 de moi, se troiibe tout A coup s ~ i i s :liiciine res- Ssource, et penclaiit 1es quelques mois qui b'Bcouleiit jusqii'ti ce qii'il sreçoivr de moi le. sccours auxquels i1 a tlroií, il vit au moyen de ql'argent que lui prête un ami. J e eerait teiiii piécisBrneiit cornme de- avant des alirnciits B mon père de rembourser les einprunts qu'il a sdii faire..

2 Obr. cit., tom. IY, n.O 55.O 3 Lci I!).', Dig. de ritu nuptiarum, 1,ei 7.' Cod. de dotis pro-

mieuione.

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foi geralmente d(1fcndida p t h nossos praxistas. O mesmo foi seguido em Franqa, antes do codigo rivil, rios paizes dr dirciio cscrip~o. Todmia, os civilistas rnodcrnos ri50 consi- deram esta obr iga~ao como lima obrigaçao jiiritlica. I)iz llemolomhe:l ((Rn moralc, sans dolrr~, la (Eeile des pa- ctrerils ri'cst pas ncquile'c, lant qu'ils 11'orif point procurr (Z

c(lrur ~nf io t t un /;/lnt, unc carriirc, utlr position rrrfin sln0le ( ( c 1 / i , t ~ l i l , ~ ~ t / l n ~ , / ~ , . Mais coiivi~riiiit-il t l ' iml~rirn~r h ce devoir ala saiictioii dcs Iois positiv~s? LCS (1utc1~r.s d u Code 1%-

ccpoI/;ol~ rt(> 1'011t pa.9 cru (art. 20í.',), prciférnnt tris-3us- cttrmrtrt la ?~$ci.xirne des ptrys co~t(umirrs: Ne tlotc qui ne ccanLl.,> Siiriilliante P o parecer tle Mi1rcnd6,2 Diilloz,3 Dii- rnnton,Vicot , l i Dernantc,G Acollas,i A m t ~ 8 e todos os ~ I I C j~isttifi,.arn o arligo 205.' do codigo Sraiicez, q i ~ c 1130 concrile no filho acyão contra os pncs por (lote ou outro modo dr c~st;ibclccirncnto.

Nào obstantc riào existir no codigo portugiic&z iim ~ i l i ~ 0

idtliitico iio artigo 20i.O do cotligo francez, pensamos qiitl os sclris redactorcbs nõo ti\csrlim em vista obrigar juridicii- mcrittb os pnrs a dotar as filhas, oii cstahelccer os filhos. Os artigos 1135.', 1140.O, 1 1 52.O, 1 1 56." e l l t7.Qvi- dcriciam qritb o dote 6 faciiltativo da parte dos tlotadorcs, qiialqiier (pie scjíi a siia rcl i i~ão dc parcntvsco com os do-

I Ohr. cit . , tom. IV, n.O 10.0

2 Ohr. cit., tom. r, n . O 708.O

3 R4p. v b . mariage, 11.0 617.0 4 Obr. cit. , tom. i , 11.0 908.0 5 Code NapoYo7z exp:pliquC, art. 204.0 6 Coui-8 aricclytiq7re de c«& c i d , n.' 286.O

1 CO~L~-.\ il(~mrntaire de droit, i~r t , . 204.O 8 C'oura dc rlroit eiuil f~angais, tom. I, 1 i . O 37 1 !I

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E APANAGIOS 25

tados; e o artigo I í0.O i ins ~iiilavrii* ocrupnrno szcfliciente

refere-se unicamente á profishào do lilho.1

Fixada, d'cste modo, a extrnsào da obr i~ayào alimcnticia,

cumpre-rios iridii~iir-lht: os sriis fundamentos. O codigo civil,

cstobcleçcndo a reciprocitlade da ohrigiiçào iilinic~ntic.ia entre

ascendentes r dcsren(lcntes, e entre i r m e o ~ , ' ~ tb (1i11)tlo ao

conjuge viuvo o direito de ser alimentado pcblos rcntlimcntos

(10s bens dri\ados pelo failccido,a asscntoii i1 obriga~Ro ali- mcnticiii rias i t~iaqòc.~ de familia.

Considcratlii a obrigaqào iilimcritii~iii do? pncs para os

filhos, b mariiftxsto qiic*, lielo fi~Cto d n prorreayRo, ficam os

paes coristituidos rio d(ver dr fornrccr os mtbios de d(>seii-

volvimento phjsico e moral fiqiirlles a qiiem deram a vitla:

((L'mfant, diz acertadamcnte A c o l l a ~ , ~ vient au morde sans

(tuo~onlí, e1 l'enfont esi u11r conwi~nr .~ , i1 est unr personne;

«de là son droil colitre c e w clui I t ~ i 011t ilnpos4 10 vir.))

Para muitos escriptortls esta ohrigayào nao d t ~ , porbm,

ser ampliada aos filhos qur chegaram h maiorid,ide. Em sru

pensar, ns relaçòes de familia extingiiem-sr lo;o qiicB os fi-

1110s podem pela siia edadv dispcnsnr o aiixilio c occorrcr

ás siias proprias nc~ct~ssidiidcs.~ Esta doutrina 6 assim

cnuriciada por Acollas:6 «En prinripe il n'cxistc aiiciine

((obligation jiiridique de Ia famillc, iion pliis qritl de Ia so-

((ciéte cbnvcrq I'adiiltc. Lu proteciiori cesse norrnalement,

I Vej. Rocha, obr. cit., § 323.O not.; Cod. it:il., art. 147.0 em Borda. Artigo 172.O

3 Artigo 12:11.0 4 Ohr. cit. , :irt. 203." 5 Rouhatfnu, Co,c/~at sccirtl, c:ip. 2.0; Picot, obr. n't., srt . 203." 6 Obr c i t . , artt. 2 0 ; ~ ~ a 207.0

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46 ALIY ENTOS

«dès que par le développement de acs fatwltés, l'homrne esf

«mia on état dr se ssufirp. Crpcndonl, la mulaclie, les in- ufirmirYs, la vieillesse, donn~rhf I ~ W rciison d'rflre, lantbt mo-

«mrtiianée, tantdt parséi~e'ru~rle, d lu protection de l'adulre.)) A nossa lei positiva não segue, pois, precisamerite estes miiridamcritos, e extende a r e l a ~ ã o tle fiimilia, excepto rio que respeita á educação e instrucção, alem da maioridade das pessoas, compr~heridcrido conjiigrs, asc.cridentes, des- ceridentes, e collateriiei: iio primeiro gráu. »(&via chegar a este ponto o laço de sangue c.ritre os parc~it(~s indicados ou a relayão juridica entre os corijuges? Nuo o (luvidamos. Se o facto da gcra(.8o por si s6 ~oI10cii os paes no tlekrr de educar e alinirritar os filhos, o mesmo facto impõe aos filhos a ohrigacno de não abandonar os paes, de quem rc- ceberam a existenria e os meios de descrivolvimc~nto phy- sico e moral, e de auxiliarem os irmaos, que provieram do mesmo tronco, e que forarn educados na mesma communhào de familia. A lei furidam(.ntal da socirdade domestica 6 a solidariedade ciitre os seus membros. Estii lei ordena o seu auxilio reciproc-o. Quanto aos conjuges os alimentos p r o ~ k m da propria natureza do contracto matrimonial. A lei im- põe-lhes a obrigação dc soccorrcr-se P iijudar-se recipro- camente.? Nesta obrigaçao está comprebcndida a perisão alimenticia. O systrmii do codigo seria completo se tivesse, como indichmos em oii(ro logar, ampliuclo a divida ali- mcnticia a todos os f;rá.iih de successão legitima.

1 Marcade, ohr. cit . , tom. 11, n.O 705.0 2. Codigo civil, art. 1184.0 r1.O 3 . O

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E APANAGIOS

8uoimii . lo . -Natureza dil ob r iga90 iilin~enticia-SerA çolidaria e indi- vidivel, ou pro parte e divisivell- Syrteiiias dos civilisias Iranceze* sobre esla quesl8o - 1)iscussiio d'ella rio direito 1)ortuguez - O que seja solida- riedade d a obrigacào- Impugi iapo da soliilariedade activa e passiva da obrigacão alinientieia -Hypotbcse, extraliida de I)emoloinbe, eni que o fim d a lei e a equidade pedem a solidariedade da mesma obr iga90 - O que seja indivisiliilidade d a obrigacào -- Irnliugnacao d a indivisibilidade d a obrigas$ ulimenticia - Hyliotliese em que sc atlmille a iodivisibilidide pela natureza tla garantia h y potbcearia- Criterio para a dislribui$o d a divida do?: alimentos - Restric~Ocs d o direito successorio nesta dislribuictlo - Adrnille o direito poriuguer o benepcio de compslencia? - Adniille o mesmo direito os alimciitos provieioiiaes e ud lifom?

Discute-se entre os juris1)eritos Sraricezes sc u obrigac;ão

dos alimentos é. iridivisivel c solidaria, ou divisivel e pro parte. Uns, seguindo Toullier,l si~stcntam que a divida ali-

menticia C solidaria e indi~isivel. Estes fiinduni-se princi-

piilmcrite no antigo direito Sranccz, que prc'cclituava a soli- dnricdiide entre os filhos c os puch," asscritam a iridivi-

1 Torn. ir, n . O fl:I.o, e tom. VI, II." 77!).0 2 Pothiei, Du n l a r i a g ~ , n . O 391 .O, Noucirnu ZIrrciznrt, vb. ali-

?~ltvitt., cit. eiri Acol las , 1)eniolombe c Dnlloz; Delvincourt, torn. I,

p. 87, riot. 5.0; Pioudho i i , torn. I, p. 449; Rodihre, Traité de la soli. daritd et de l ' i , ldi~.isibili ld, II.O 11>8.., eiri Demolombe; Dal'oa, Log. eit.

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28 ALIMENTOS

sihilidndt. na proprin natrircia tlii obrigayiio 11e f u ~ c r vivcr

algiiicm.

Oiit ros, scgiiintlo Diirnntori, iml)iign;indo n solidariedade,

dt4~ntlt~rn a indivisibilitlatl~~. « Cí~lle ohligntio,,, diz o mesmo

c<cst.riptor, usl iridirisililr. ptrrcp qic'ell~ a pozcr olq'et q ~ r c f - c t y r ~ C / I O S I > í i ' i ) l d i~ i s ib l~ , I« vie, e1 411'011 ))e pcut pns c7ivr.e

((par p(/t.tie. )>

Outros, finnlmrr~tcl,~ scsriindo Dcmoloml)t.,:l \'alt.ite 4 c

%iic~liai~iiit~,:' eriteii0crn tliicl i) oh r igW~o niio C. solidaria rirm

i i i t l i \ isi~(>l. Esttls fuiid,iin-st* cbm t111t* i1 sdii!arictlndc >6 pótlr

rc~siiltiir (I'iima (lisl)osiraio o\prcbssa tl i i Ici, ou d'iimil estipii-

IiiçDo. Alcin cl'isso, a iiidi~isihilitladc clerivti dii iintiircza tla

coiisn rlcbvitla oii tlii iiitrri~no das parttls. Ora, a natureza

da cousii devida, dinheiro oii iilimentos em rspt~çich, 6 muito

divisivcl, c não pcítlc invocíir-sc aqiii n intençào diis partes.

Por oiitro Indo, o artigo 208." tlo codigo frnncex rondcmna.

ao mcsiiio tempo, a doutriiiii díi indivisilrilicladr c da solitla-

ric.tlntlc, riao permittiriclo ii coiidrmiiiição do dovrdor scnão

nii proporcão da sua fi1rtunir.6 L)isctiiamos estch ponto no direito cikil portiigucz, co-

mc.cemos por averiguar sc i,, ou iiõo, solidaria n obrigiryÀo

iilimcnticia.

A obrigação solidirria ,'ohligrrlio iu .~olidi~n? otr ohligtrtio

corrrali,~) dA-se :liiarido catlii iim dos crcdorcs tclm n tli-

1 Tom. 1.0, n.0 1012:, edição de 13ruxrll:is.

2 Acollas, artt. 20%" c 20!1.0, . iziitz, 11.0 ::7(i.O e oiitioq. 3 Obr. cit., tom. IV, 1 i . O 63.0 4 Sur Proudhon, tom. i, p. 448, iiot. A. 5 $ 552.0, iiot. 14.* 6 Acollas, loy. cit.

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E APANAGIOS 29

reito de cxigir do devedor a totalidade da divida (correalis activa), ou qiiarido cadii um dos devedores é obrigado para

i-om o crcdor pela totiilidadr tla divida (correalis passiva). No primcliro caso, a obripiiriio fira satisfi~ita, clirando o de-

vedoi paga n um dos c-oricredorrs (plzwos rci promiuerrdi ou eorrei c~.rtler~di); iio segundo ciiso, extingiit7-se a obri-

gaçào, quarido o credor rect~bc a prcstiiç8o de iim dos cori-

devedores (plures rei prorniliendi ou correi debendij. Ambas estiis hypotheses de solidaricriade podtani apparecer ria divida

dos alimentos. Assim, podem existir dois filhos, epualmerite

rit*crssitados, qiie reclamem alimeritos de iim pae; r* p6de

tbxistir urn pacA iit~cessitíido, que pela alimeritos a dois filhos,

ambos nas condiçi>tbs de os prestarrrn.

Admitte íi lei, ria primcira siippo\ição, iirtia obrigiiçii~

corrralis actica? I'oderú iim dos filhos recliiitiiir a totiili- dndc dos alimentos devidos aos dois iiercssitados, ficarido o

pw, dtlsdr: que tcriha papo a ilm a totalidade da divida,

exonerado para com o oii trol Seria absrirdo diztll-o. Sc o fuiiditmt~rito dos aliniciitos 6

a necessidade, esta, coirio piir;im~ti(e inciividiial, sh póde

legitiniar tima acçào indicidiial, c riiitica uma acçùo colltl-

ctiva. Admittida a solidarictlatle nesta hypotlicse, o liltio,

qiie nùo retv~bcu a ~~erisùo ~limenlic.iii, poderia exigir de seu irm8o ir partib qiita I I i ( b 1r~rteiit~ia ria distrihuiyiio dos

alimentos. E c.nt8o nenhirma v;iritii,ntlm liii~eria cm o mesmo filho deixíir dc revlamiir os alimentos de seu pae,

para os ir reclamar rlc scii irmùo, altcarando assim o direito

successorio, que C. o verdiidciro rritt>rio legal para a exi-

gencia dos alimentos. Alcm d'isso, a solidariedade entre

os irmaos suppoiia um viriculo tialuriil, Icgal ou civil, que

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30 FLEMENTOS

lhe servisse de fiindamento. NBo existe o vinculo natural, porque a necessidad(1 excliic prlo srii chararter pessoal todo o laço de commiiriliao. NiIo cbxistcl o viriciilo Irgnl, porque a Ici em nenhum dos sctis pr.eccitos cstahelcce a solidíirie- dade. Nào rxiste, emfim, o ~iiiciilo civil, porque nao existe contracto entre o pae e os ftllios, pelo qual o primeiro se obrigasse a dar a cada um cl'ellrs a totalidiidr dos íilimrntos que prccisassrm ambos, riem disposiçio t,cstamentaria que o mesmo determinasse. Na0 i., pois, solidaria a obrigação nctivn dos alimentos.

%rh, porbm, solidaria a obrigaqi~o pnssivu ? fi esta a hypothese a que se referem os jurisconsultos

francezes, e que já tem chamado a attenção de alguns ex- plicadores do nosso codigo na secqão dos alimentos.

Supponha-se que um pae nec.t.ssitado tem de intentaracçso contra dois filhos. Cremos qiie a solidariedade passiva 1120 existe entre elles, e que devem ser ambos demandados, rada iim pela sua parte. Nós nào temos, oomo acontece no di- reito francez,' i1 exemplo do direit? romaiio,P uma dispo- siçào que declare em termos cxprc:ssos que a solidariedade

1 Cod. civ. fr., artigo 1202.0: .La solidarité ne sc pr6siirne 'pnint; i1 fsiit qii'elle sait eãpressétnerit stipi~iée. Cette rkglc. nr cesse .que dana les cas oii Ia eolidaritb a lieu de plein droit, eu vertu .d'iirie dispositioii de la loi..

2 .Rros promittriidi, vice iniitu:r fidejiissores iion inutiliter accipi .converiit : reiis itaclue stipiilandi actionern siinni dividere si velit q(iieque eiiim dividere cogenilus eet) poterit eumdem ut principalrrn -rciiin, item qui fidyiiissor pro altero exstitit, i11 partes conreiiire: enon srciis ac si diio- prornittendi reos divisis actionibus conveiiirct.. *IA. lLa, IXg. de dt~obt68 rei8 co~~sti tuendh.

.I':iiiliis respondi t. eos qui, una seiiteiitia in unam quaiititatmn

rooiidemiiati suiit, pro portione virili ex causa judicsti coiiveiiiri,

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E APANAGIOS 3 1

não se prcsiimi.; mas comprehendc-se qiic, scndo a solida-

riedadr umii rxr~picio nas ohrigaçoes, nunca pcide admittircse

setiiio qtiaiido for dt~t(~rrninat1a cm Ici, çoiitracto, ou dis-

posiçiio tcstamt~ritaria. As4m o cntcridiam no direito antigo

Correia T ~ l l c s 1 c I~ochii."

Por oiitro lado, sc. c~xiiminarmos a doutrina do codigo

cikil, vrrt3mos que, irnporido a lei o onns do alimento ás

possoiis que têm o bc~riofic.io da successão, como os filhos niio

auccedrm ao 1)iic1 c ~ t l n iirn na totalidade tlii heranca, mas

cada iirn niima 1)iirte tia mesma herança, scgiitB-se que nBo

pcíde cada iirn (10s fillios ser obrigado 11rla totalidade da

divida, mas sim 1)clir pnrtc que lhe toca. Jiilgamos, pois,

vcrdadt4ro o I)clrisiir tlo sr. Dias Ferreira, qiinndo diz que,

estando tt ohri!jtrçcio de alitnentos na razão tlirecta do di- reiio succes.~or.io, o yue tom de pedir a cada u m dos filhos a re.rpecliaa qieota f)«rte.y

Esta jurispriidtwcia foi seguida no accortlãio da relaç8o

do Porto dc 2 1 de abril de 1870 : «.Se 6 certo, dizia um ((dos tc~ncionaiites,homo ntio póde duvidar-se, cm frente dn

«íloritririii dos $$ citados, qiie ria pcltiqão de alimtliito se

c~scgu(~, (lrn rcpra, iirn verdadeiro direito successorio, não «vejo motivo por (/?(e se ha de dar nos paes a libertlatle de ryedir dr p~.~fir(>rrcin a u m dos fil/~os os c~lirnrntos com aexclusao dos ozlrros. Se lodos succedem nos haveres, com

.et si ex sriiferitia ridversus trea dicta, Titius portior~ein s i b ~ cornpe-

.taiitein ~ x a o l ~ ~ i t : ex persorla caelerorurn ex eadpm sentcntia con- eveiiiri eiirri noti posse.. Lei 43.a, Dig. de r? judicata.

1 Dig. yo~t . , tom. I, art. 177.0 2 Obr. cit., 5 1 1 7 . O 3 íhrlfgo &uil an~lofado , artt. 172.0 e 173.0 4 Ií~wistu de leyislaçcio e de jurbprudericia, 4.0 a1i110, n . O 171.0

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*egual ruzfio hi!m t ~ d o , ~ concorrer para a o / imm,o í~o ( ( ' / 'u~~eI jp ~ua j idn d'olln corera: vpm zlir ,spr<i ljcdo i,lip,;l (("'c o""< ""8 ronl ~ ' X C Z U S ~ O (/O,$ oou1ro.q. c,,,) [ h , ,,i<,

((era ~ei 'mil t ido privar a estes da &roaCo para <.,r, (c c( o Ulro. »

((6 por consequcnçiil commiim, comqiianto ~,i.aporiioi

«IIii iildades de cada trm : e ii ninpiiem 6 licito renuiic.i,ii «;ias nlinientos Tiituros, quaes os de que aqui se tracta. « l ) 'oa l (~~ prinçipios e outros i.orrc~lutil)os ou parallelos de- <(( l t~z« e14 que os paes não tPm 11 liberdade da escolhn snhr~

«(~i/av.s dos filhos t4m de fazcr praclr uma obrigayãn, qtrc

«é cornmum a todos.»

Sc~ritlo esta a doiitrina restrictameiite legal, I5 mister re-

corilicccr que podem offcrecer-se. Iigpothcsc~s, t m qire a sua ayplicilr8o seria totalmenle impossivel, sob Ilenu de ser des- triiido o fim moral e humanitario da ohr iga~áo alimenticia. Dcrnolombr figura uniti d'estus lirpcllhcsc~~ :' «Voilà un p6re, RI):~P (*\~rnpIc, qui r(.clnme dtb~ iilimt~iiis coiitre trais fils

((O~i>liliiii~nt riclals; rlinrun d'riir rst en btat dtl fournir (isPpiisBrnrn t, et poiirrnit meme: stipportrr s i ~ ~ l rn dkfiiiitive, «s9il btnit seiil tlI5biti~tir, le montailt de Ia prnsion ; eh ! bieri ! .olor.;, pour pe t~ que lia atitrt>s rirro~istanres s'] ~)rEtilnt, usi. Ijiir rxemple, Irs ei ibnh sorit rloipiik les uiis dei ai[-

«Lrc.s, si I'un est en pnjs Ptraiigt'r, si I'aiitrr, qiioiquc t r t* «solvablc, a unc forturic. embarrasstre eí nc paje pas ma-

! Obr. oit., tom. IV, li." G3.O

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E APANAGIOS 33

uctement ses deites; alors, dis-jc, i l paralt convenabla crd'assurer au pcrc le payement total de sa pension et dc alui épargrier Ia triste nCccssit6 d'allcr en qutllqiic sortc In

amendier dc porte en portc3.s S r esta liypottiese, figurada pelo triictndista francez, se

realisasso ciitre nos, que tlrvcriii clcacidir-se? I'or urna parte, ;i doutriiia da Ici proteslii~ii coiitiii o

exigir tlcl iiin sb dos filtios ;r totalidade da divida; por outra, sclrin conlra o fim da Iri alimenticia qiicb o pae, tc*rido direito iios nlimcritos, e rqtando um tlos filhos rio caso de 111'0s picstar immcdiatamcriíc, rccehcsse sárncritr tima píir- cclln tl'cllos, vcndo-se ohrigaclo a ir mcridigar a outra h

portii tlos c\triiiihos. Como jiiiics tlccidiriamos segiindo o esj~iri(o t l n ioi, ol)rig;indo o fillio ;i ~irestnqão i,, solidum,

emhoiir scb r t~ l ic t i~s t~ o diicr dc Diimoiiliii: «Iloc azitem f i t

«oJfiri» jtitliris; rirrio, v i ipsa, ]temo ylzrriton tlebet in so- «litluni.,> R~~jcit i i i i t l~~, ~wrtnrito, em ttiesc ii solidaricdadc da obrigaçAo iilimcirticiii, F sem diivid;~ coiivenicnte qiie ria

hjpothc~c;c~ iridicntln, oii oiitra similh;inte, a siia+idade prc- tori~iiiii tlo irl)~~!ic.,idoi da Ici, coml)t~rictrada do vcrdadciro espirito tlii tlieoriii tios íilimerilos, nAo dcixr fitaar o crcldor alimeiiticio sómciite.com iimii piirccllii da alimcritnção de- vida. , i s dt~c.isòes do, tlibunncs compctcl fixar nestc sentido este poiito do dircito portiigutlz.

Vejaiiios iigorii scb n ohripic'io nlimtlnticia sc>ra divisivel, ou indivisivel.

E m o nosso codigo ri'io encontramos uma defiiiição de obrigação iridivisivel. Encontramol-;i, porem, no codigo

civil francez c em alguns dos riossos civilistas. O codigo frnncez diz 110s artigos 1217.' c 121 8." : c(L'ol)ligation est

3

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3 4 ALIMENTOS

adivisible ou indivisi1)le selon qii'clle a polir objet ou unr achose qui dans sa livraison, nu u n fait qui dans l'exP- xcution ESI OU n'est paS ~ u ~ c e p t i b l ~ tle diz~ision soit malP- «riallo, s o i r i/rirllcr/urlb. L'obligatiori csI indivisihlc, rpcoi- «qtic / ( r chose ou lr fair qi l i rn est l 'oljrt soi t (licisiblc p « r usa n~r(zwe, s i lr rnpporl so<ts leqtlrl tllc est ro~zsidPr(;e ( J O I I S

«E'obliyafio,t ?te la rend pas suscrp/ible rl'c.xCclrli«n pccr- «t ielk.» fi! fncil concluir d'iiqiii ~ I I P n obrigncao indivisivcl i: aqiic.llii q i i ~ , pela nntiirczn rciil oii legal do seu objecto, n8o 6 siisccptiçc'l de scr cxeciitada em partc.l fi este tarn- bem o pensiimciito de Corroia l'elles Q I H ~ c h a , ~ que ambos se fundn~nm nii doutrin~i do direito romano."

& fnril vrr que a ohrignyáo indivisivcal quasi se confiiridc com a solidaria. Koi.lia iiotoii milito acertadnmclnte li que a solid~rictladc c a iiidivisil)ilidade tem de comniiim :

a) verificarem-se sú no caso de concorrerem muitos crc- dores, ou muitos devedores ;

b) poder cada um dos concredorcs pedir, oii s r r cada um dos condevcdores rcsponsavcl polo total dn obr igu~ao; mas differcm :

«) crn que a solidaricdade provéni aritrs dii foi-rria dii obrigas80 ; e a indivisibilidade, da qunlidadc tlo objecto sobre que versa ; c

b) em que a indivisibilidade appwece miiis fiequcntemcritc eriire coherdeiros, e a solidariedade niio se transmitte a cllcs.

1 MarcadB, 061.. eif., tom. I, n.O 716.0 2 Dig. port., tom. I, art. 17!l.o 3 O6r. eit., 5 120.0

L e i 2.., $ I.", Lei '73.') Dig. (!r 7 ~ ~ o n t r n s Q j / ~ { f i c a t i n ~ ~ r .

5 Not. E ao 120.0

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E APANAGIOS 35

O primcliro perito da tIistiiic.~ào entre solidariedade e in- divisibilidatlc piirccc ser critrc! isto pc>lo codigo civil. Quando legisla sohrc solidariediidc, rios artigos 750." a 757.O, pa- rece rrferir-sc cspcrialmciitc ii natiireza da obrigaçfio; e h n;iturthza do ol).jccto qiiaiido cmprega o termo indivisivel, como, por cxcmplo, nos iirtigos 1290.O, 1499.O, 4566.", 1855..", 2 128." ligiialmcri(c, o scgrindo ponto da diffcrença pcrde tlcdiizir-sr do artigo 757.O, onde se estatue que, re- sporidcndo ns Iic~rdriros do dmedor solidario collcclivnmente pela tt~tnlidiitlc da tlivitln, sú pódc ser obrigado cada um d'ellcs por urna qiiola piirle proporcioniil ao numero dos lierdrliros th ií parte qiio tiver na herança, e dos artigos 20 15." e 20 16." (liir se reftbrcbm [i indivisibilidade enlre os coherdtliros.

fi fnr~oso rrconlic~cci., n pcxzor rl'rstas distincções, que serii dillicil, nit miiior p i t c dos cilsos, extremar as duas es- pccics tlc obrignq~o. Rocha assim o comprehendeu, di- zendo : l ccqiir C. tlillicil didinguir entre as divisiveis intelle- «ctualmcnto e as iridivisi\~is; e as explicações que fazem «os interpretes rc\cl;im a sua diíiiculdadc e o embaraço em ccquc ellcs sc ac.li;t\am.»

Consitlrraiitlo, porem, como indivisiveis as que náo po- dem di\ idir-sr mar~rial ou intellecluctlm~~zte, e nisto estáo coricordrs os escriptorc.~ francezes e os nossos, pergunta-se -scrú di~isivel a obrigação alimenticia?

Duraiitori, o grande defensor da indivisibilidade dos ali- mentos, sustenta-a, fundado em que a obrigacão de dar vida a alguem n8o póde dividir-se. Esta razáo tem o incon-

1 Kot. cit. *

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veniente de procurar a indivisibilidade em a natiircza da ohrigaqgo, em vez de a indagar em a natureza do objecto. Ora, sob este aspecto, nirigucm poderh contestar que os

alimentos são susceptiveis dr uma cli\isão malerinl. Diil lo~, vendo a fraquezii do argiimrrito dc I)iiriiiiton, e clucv-<~irdo admittir a todo o transe a iridivisiI~ilitl;i~l~~ dii obrigiiqiio, viii

procririir as siias origens ií~ e\prc<si)(>t> do artigo 1217." tio codigo franccz, si Ir rtrppovl s o u s Ioqvel ~ l l e esl ro)~si- rlPr(:o d ~ o ~ l'obligatiott I I C lu rcntl pus susr~ptiblr d'exY- cvrion 1)arlirlI~. O mrsmo escriptor clrclara que a relnqão, tlchaixo da quiil os alimtvitos sso c.onsidrratlos, L. ii vitin d'acliicllc qiie os rccliima, c, assim ctonio a vitlii, a sommii qiie sch julga necessaria para ii siistcntiir, 6 , qiiando sca iiltro- ximn do scii objecto, iridivisi~t~l. Aiiidn qiie csta opiriião se possa dcfeiider no direito í'riiriccv, não podrriii admittir-se eritrc riós, onde nào iipp;irece disposição de Ici idcritica du

similhantr. O artigo 20 19.' do codigo civil diz claramentc qiie o licrdeiro nào 6 obrigado a ericargos alem das forças da herania, d'onde natiiralrncnfe se inforc que a obrigiiçáo dos nlimeritos, no caso em qiie, segiiiitlo o artigo 176.", deva trimsrnitlir-sr com a hcranyn, tem de dividir-sc errlre os cohcrdeiros em proporcão da partr que houvchrem rc- ccbido. Assim como rejeithmos a solidariedade, rtbjeitamo- tambem a indivisibilidadc da obrigação alimebticitt.

Ilc outro modo deve entender-se quando a divida dos alimentos, garantida pela hypotlicca legal de quc fallam os artigos 906.", n.' S.', e 932,O, se acha drvidamentr regis- trnda, conforme o artigo 9 0 9 . W e s t e caso, como o credor por alimentos tem hypotheca legal rios beiis, cujo rendi- mriito se consignoii parli os sntisfirzer, ou em quaclsquer

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E APANAGIOS 3 7

bcns do tltvedor, quando nào haja designaqào, segue-se, f t4o o compctcirtt. registro, que, por \irtude da nnizcreza in- tlicisiecl tl(r hyporhecn, admittida no iirtigo 893.O, o credor p6de pedir ii totirlidadc da di\ida a qiialquer possuidor de todos ori dc ~fiirIc~ dos hcris lijpoltiecndos. A indivisibilidadc niio rcbiilta do o l i e c ~ o da ohripaçeo, resulta da natiireza dii grrrntilicc. Il'cste modo, se a l~gpnthcca foi rcgistrada uni- carnciifcl cri1 rclliiq30 aos bens quta foram consignados para ~~igmmc~rito dirs pensbes ;ilimeriliciiis, o alimontado pbdc nccinrinr por toda ;i ditidii o Iiercltiro dos referidos I~ens, o11 qrialquc~r dos hertlciros oritrc os qiiars foram divididos. SI. ;i Ii!po~lieca, por fiilta dc designaqiio, foi regisirada em rcblnção a todos os hens do dcvodor, todos os coht~rdciros são ol)rig;~tlos á prestação íilimeritic~ia; podendo, tia forma tlo iirli~o.21'23.", o credor dirigir-se a qiralqucr d'rlles, qiitl tcrií rclgrrsso contra os niitro.; pela pnrtc, que a cada iim d'cllcs tocar, cm ~ ~ r o p o r ~ i i o tlii siia qiiota hcrcditariii.

1)cl)ois de fixada a ri;itiirc3zii (ta ohriga~iio alimcnticia, dcvcinos cxarniiiar, scgiiiido i\ gcneralitladc das disl)osiqõcs do eodigo. (111i1l o cr i t~r i l ) pilrii a distrihiiiçào dii mesmii obr iga~ào. I'stv criterio (. o tlirrito sticccssorio. Este priri- c*ipio soílrc, totl;i\iii, algurnns rrstricyises. Assim, confi)rrnr o

iirtigo 17'i .", riti falta dos paes t b de outros asccndcntes, os fillios lcgitiriios oii Icgitirnndo4 ~lodern pedir nlirneritos a seus irmàos gcrrnitrios, utcririos oii c.onsangriiricos, mas suh- sidiariamciilc I. I I U ordem cm cluc v20 nomeados. Aqui não se realisa o direito siiccessorio. O artigo 2001.O chama conjurict~mcnte ii succcssiin os irmàos germiiiios, iitcrinos c corisaiiguineos, embora os primeiros tenham dobrada pnrtc dn herarica. Se o direito successorio servisse em toda

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38 ALIMENTOS

a siia cxtensilo para determinar a distribuição da tlivid I .

deveriam as tres classes de irmãos ser accionadas pclii pi ,-

stnçòo alimenticaia, pertencendo aos irmãos germanos tlo-

brada partc tla mesma presta@o. Tambem o principio da reciprocidade, fiindamento do tlireito siiccessorio, se iiiio

ap1)lic.a cm toda a sua amplitude. k s6 entre ascendentes, desceriderites c irmaos, e não em todos os grhus de . -

ccssào legitima ; por isso, os filhos legitimos, que se ,

rem scni piies, avós, o11 irmãos, s6 pedirão alimeiitos, c111 quanto 1130 chegarem ROS dei atirios, aos seus parentes ate no dccirno grhii.1 Aiiitl,i rics!ii 1ijl)otlicst~ n lei i. imperfeita, porque, considerando a fiirentl,~ riacional como hcrdeira,e e prcccitilarido qiie os tlircitos nhrigcipòrs do E~.t;ido, rela- tivamerite h Iiernn~a, scrùo os mrsmos que os de c1ualqut.i outro herdeiro,%xime, comtudo, o Estado do orius dos ali- mentos, emhora Ilic coriceda os brncficios da sitccessão.

Estamos longe de defender vsta ti1)ici.a cla lei, i. descia- riamos que, logo que acceitoii n rrripro(.idatlv (' o tlireito successorio como critcrio alimeritirio, nao trcpida~so dianto (Ias srins Icgitimi~s corisequcncias. Na arial!sc especial dc

cada iim dos artigos a\aliaremos o seu alciirice jiiridic.~. Antes d'isso, deveinos aindii disciitir diiiis qiit1st6es, qw

podem agitar-se no ftiro. A primeira coiisistt. em sahclr sei

eaistc no direito nctiial o chamiido em direito romano Ir?- neficio d e rottipetettritr. Rcfcrern-se a estii qiiestão os mai. emirientcs jiirisconsiiltos franc~zcs. O b~nrf i r io dr ron1l)r- tencia dava-se qriando uma pessoti, ;i qiicrn scriam devido.

1 Artigo 177.0 2 Artigos 19(;!).0, na0 G.", c 2006." 3 Artigo 2 0 0 7 . O

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E APAXAGIOS 39

alimentos, se sc oiicoritrasse em necessidade, era accionada

por aquclla que teria obrigasao de prestar-lh'os. EntBo, a cxccuç~o ritirica podia abranger senão os bens do devedor,

depois dc d(.diizitlos os que lhe fossem indispensavcis para

viver.' Assim, nil ac(:óo do pae contra o filho, ou vice versa,

na ncrào tlo irmào coritrn irmáo, c cxm geral cm todas as

aryòc>s tbiitre pílrc>ritvs, c i ~ i qiic lia ol)rigayào reciproca de

alimrntos, nào d(11 c., pelo 1)eneficio dc competencia, o credor

expropriar totlos os hcns do devcdor, mas deve deiliir-lhc

os quc fortlm suBic.iciiIcs para as suas iic~cessidad~s, ?te eycal.

NZo cxistc. no dirc.ito franccz nem em o nosso direito iima

provisào qiic si~nc.rioric tcrminantcmrnte cstc hrncficio. Por

isso, scgiindo a opiriiào dc quasi todos os civilistiis, rtào o

adrnittimos rio rodigo civil. Pioiidliori~ scptit., rio direito

fraricez, ii opiiiiúo iidkcrsa, dizendo qutk liaverio coi i~radicç~o

em perniittir ao c*rcs(lor qiie expropriasse o dcsrdor sem

Ilic dcixiir c-ciiri cjric' stihsislir, pois qiic sc veriii ohrigado a

dar-lhc corn iiinii tliis inàos lima poryào do qiir Ihcl tomoii

com ii oritrn. Eslii considrrnq%o de Yroudhori i. st~rtlad(~ira,

mas chega-sr iio riic.smo rosiiltiido, 'diir alinit3ritos iio tlcvcdor)

por oiitrii via e com mcrios tlilticuldades. I'údr díir-sr o caso

de ri50 sor o c.rc.tlor o iiiiic-o o1)rigado h prestay2o iilirncriticia;

e, por isso, rc~sporiclcri(lo clle s6mrnte pelii siia pí~rtcb, ainda

qiinritlo osto piirttl fi)ssc dediizitla na cscciiçào, ricni por isso

o dcvcdor podia com ella ser complrtamente satisfeito na

1 A l(,i 17.7:, Dig. rle rr,q117h jftri8, dizia : ,111 c ~ i ~ d e r n r i ~ ~ t i o ~ i ~ per- .sonaruii., clli:ie iii iù, c~iiod facere possunt, damiiaritiir, nori totuui,

aquod lit~l>ciit, e~torrliicridaiii cbt, sed et ipsriruin ratio hsbeiid;i. est, anc e,qea111. ('»iiip:~ic-se esta lei com a lei :10:, Dig. rle Te ,jz~dicala, c o Ij 38.0, Inst. rlc clrtionib~~s.

2 1'vailc' de Z'ubcrf, uit, toni. I , 1i.O 157.c1, em Demolornbe.

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sua necessidade. O fim do beneficio de competericia, f ie

egeflt, liso sclriii conseguido, ohqtando a isso a qualid;ld(, tlivisi~c~l (. riùo solidurin da di~it la ;ilimerlticia. Desde

I1olivess(' mniq tl'umn pessoa ol~rigada aos alimentos, s6-

m('i1tc Sr po(1(T'iii d ~ t l ~ 7 i r [ia c\propria@o a partp Do t~xlro~)rioii tc, qur poderia nBo cliegar para aswgir ir

siibsistrncin tlo dcçetlor.

l)cmais, como na distribuição da divida <tos aIim

tem (111 srr iiporosamentt' aprthrii~das a necessidade du J I I meritnrirlo P as I;iciiIt\adcs do.; aIirn~iitiiiitc~~, isso só póde

cal~iiliric~rito fn7rr-sca thm prot.cls.o st~paiiitlo tlc qualquer

c\cbt.iic,io pr~ciiliiir ;i iim d'ell~ls. A admittir-sc o beneficio

do ilireito rornario, dcvrriam cc3r cliamados A c\ecuqáo tod(1.

os clt.\cdorcs dc iilimcnto~, fi\nrido-se i1 cliiota dc cadii I I I I I .

c dri\arido c1m podrr do c~\rciitado ir quota pcrtcnrcrite iio

i ~ ~ ~ r o p r i ; l i i t c . Isto \iria complicar o proccsso da cxccuqào,

conl'iiiitliiido corn cllc ii ;~cqno iilimc*nticia.

Neriliiimii garantia tinha tam1)em o cb\cciitado cni ficar

twni os bcris, dc cu,jo rcritlimt~n!o dcbvia rcccbur a quota do

t~\propriarrtr, visto qiic a hypothrca 1c;al c10 artigo 90t;.", li." ti.", tlo t.otligo ciçil lho iisscbfiiirn totnliiiente o riiinpri-

mclrito da ol,rigiiqio.

I'or lo~!iis estas ríii6c.s r+-itnmos (>iitrt* nirs o bertefic~o dc compele~zcin.

i\ oiitra questão, a quc i~lliitlinios, consiste em sabrr &c os alimentos provisionnes c> rctl l i t rm, atlmittidos rio tlircito

aritigo, s30, oii nao, confirmados pelo codigo civil.

A no\issima reforma Jiidiciiiriii rio íirtigo 281 . ' I , c, aritrs

d'rlli~, n ordt.niiqùo liv. 111, tit. I S.", S 6.", iitlmiltcm ;I acyão

srinimaria por nlimeritoq provisionac.~ e ad litem. Conside-

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E APANAGIOS 41

ravnm-se assim riao só os alimentos provisorios d'aquelle quc intentava n acgão alimenticia, mas tamhem as despesas dn ctc*marida.

Sepirrc3mos as duas hypotheses, para melhor clareza da doutrina, e discutamos, cm primeiro logar, a qiiestâo de siibcr se o demandante poder8 exigir os meios alimenticios, siisterito, habitayào c vestuario, provisoriamente durante 41

dcrnaada. Pbde sustentar-se ii affirmativa, dizendo : ai que, sendo o fundamento dos alimentos n nec.ossid;idc,

r mniiifcstarido-se esta desde n prnposicão tln accao, fica dcsdr logo o r60 nn obrigííçfio de fornecer os aliriic~iitos;

1)) que haiive, segiirrdo o artigo 176.", o prldido jiidicial, cB que o ~~riiicipio da necc~ssidiidc atlqiiiriii forca legal ;

c) qiie o petitorio dos alimc.ntos provisionaes se devv ciiteiider comprelicndido ri;) concessào dos itlimcwtos ordi- narios, pois que i igut~ll~s iiào s8o iniiis ([ii(> LI atitecipacâo d'cstes. 1

Se por \iliitiirii o iiiic'tor 1180 podesse tltv.iiliir da de- mnnda, tl(~feiitlerinrno!: cslii opiriiâo. Jlesde, porbm, que o itiictor ~iúilc tlec.iiliii tl'rllii, julgarido-sc ([iic ;i pessoa de- mandado riTio tclm ol)r.ig;i~$o de prestar os alimentos fu- tiiros, seria tot~lmcritc al)5iirtlo deferitlcr umti doutrina, quc ;i o1)rigasse iios ;ilirnc>iitos prrtrritos. Siipporihn-se quc o credor olimc~iilicio propoz o ;ic.y$o contra uma pessoa, qiie iião ptide ser i1 fiiial c*ondemnadn a prc~star-lhe o s alimeiitos.

1 Este iiltirno nigurnento foi apieseiitxtlo lia senteitça de urn juiz,

;t jualpassou em julgado, não adinittindo os alimentos ad expr,r,zsas litis, mas ndiiiittiiido os provisionaes, ou os' meios de eusteritaç€io durante ti dernaiida. Vej. o Direito, 3.0 anuo, 24.0

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44 ALIMENTOS

Assim, iinapiiic-se, por excri~plo, qutl o iiIIio inttbritou a íicyão

coritrii o iriiifio, em \ cz de n iiiteritiir coritra o piic. Ohrigiii

ricste caso o iriiifio, qiie iiii seriteiiya firial d c ~ c scr ai)sol-

vido dii fii(iiri~ ~)rcsiiiyáo aliiiientic.ia, ;i pagar os aliineiitos

provi~ioiiacs, seria iiinn iiijustifn rc\oltantr. i\ ol)ricnyão

existe desde qiie a1)piirecc a nc~ccisidadc e o p~ditlo jiitlic.i.ll,

mas não 11cíde torriar-se cffc.c.tiva senùo deliois tlr a z(hl!i tvi i

tcr pii~síitlo ern jiilgado. Sc por acaso foi j i i I~at\; i prcl -

deiiL(1 a itryAo, coino, s~gitrido o qiir* d<~iu;imos indiciido, o

do\c\tlor tlos íilimi~ntos tlcvc ~)ogtir as tlibidiis, qiic sc vt~rificiir

csc:riil~~losarneiiIc tercrn sido conii~iihitliis ])ara alimentos,

rrn riada fica prejudicado o (.redor alimenticio, c ricrn

n siin subsistcncia corrc perigo, ~ r r ido Icgíil n sii;i prc-

tcrryão.

(luarito h segiinda Iiypotbesc~, n das clcsprsas da dtvnnntlii,

não nos resta a menor dtivida de qrie o codigo civil qiiiz

revogir a legislii~80 niitiga. Bastii repíirnr rio artigo 17 1 . O ,

que, definindo alimenios, niio comprehendc as despesas tla

demaritla; e, portanto, nao podem ellas sc.r rrpiitadas ali-

mrritos, sob pena de ser violiida n disposiyào (Ia lei. A1i.m

d'isso, os alirnrntos ad lilrna cessavam com o arbitrametito

dos ortlinnrios; e o cotligo, regulando ii cessnçào do* ali-

meritos, sí) ;i adrnitte rios casos clos artigos 179." e 180. ' T'btle arg~~rncritnr-se contra cstii doritrinn, di~crido:

a! qiitx o artigo 1'2." do codigo ciiil clrclarii (lu(! du ,

qilc rccoiihocc iim dircito, legilimíi os mrios iritlial)cns;i\ci. piirii o st3ri t>xcixicio, c ~ I I I P , por isso, 1c.i ~ I I C rilcor~hcia~k

o direito aos iilirneiilos (Iclc Icgitimnr as tlcspc~sas ptirn o

custeio tla dcmiiiida ;

h) CJIIC O artigo 17 1 .", iiiBo tlistiri~iiirido clritre iis tlrs-

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P APANAGIOS 43

pesas da demanda r os ali&critos, d6 ii ciitendor qiic ficam aque!las tboinprelicndidas tia suíi d(~fiiiisno.

O primeiro d'estes argunicntos 1)rovn de innis, porquc l)ro\a ~ I I C tam todas as ac~òos dtbvc o rbo f'oriicccr ao nu- c lor iis clt~spesas da demanda. Em todiis cllas ha .um direito, (I ii Ici I~yitíinn os mcios iridispensavcis para o seu exer- cicio. Esíii coriclii.sZo seriii iihsrirda.

O scgiirido arpiimeiito tciml-~cm ntio prova, porquc, de- \c'ritlo ii tIcfiiiic.$o iibrarigcr sórncritc o definido, crn ncrihuma diis suiis piirtrs se falla iiiis dcsl)t~sas tla demaiida.l

Se qiiizcsscmos recorrer B intcrl)retacão aiitheritica, ti- nh~irnos iis ~)iilinras do sr. Scahra sohrc o artigo 173." do scii proajcrlo, qiit. stx achii iio artigo 171.' do codigo vi- gcntr, crn rt1s1io~tii As O h s c r t ~ c ~ ò ~ s do snbio jurisconsiilto, o sr. tlr. l'iies do Silva: iilii tlec.larit o bt~ricmerito lcgislaclor qiir iiAo foi siia iritencào iitlmitlir o i alimentos provisionaes e ad litent. Os argiiincritos prlos quiies o Sr. Sciibra con- dtbmriii~a cstcs nlirnc~iitos cií'riiçarn-sc rios seguintes:

1 .O porque entendia nào s c ~ riizoiivcl coriccder alimentos ii iimii pessoa, CLIJO direito a ellcs i: disputado c controvertido itirida, tl'oridc podia rcsiiltar c-onc.t~tltbrcrn-sc cslt>s aliniciitos a qu (~r i , clccahiiido da accào, rifio titiba dircito a rt~cc~l~cl-os;

L 2. O porque iiirigucm po(lia sor o l ) r ig~do a prtlsiíir íirmas

cotilra si proprio, o qiie ocnntecin coni os i i l i r i i t ' r i l ~ s quc t i i i l in r i i por fim forrieccr no niirtor os rncbios tlc siistenter a dernaritlii ;

3." porque, decahiritlo o iiiictor, iiao podcrin o roo re-

1 Vej. li, Iirvi6lcc: de Ir,yzC\lar;cCo r , rlv is2~~.7rtle1cricr, 4.0 xniio, i ~ . ~ 15Ko, cin qiic sc drfciidc a rricsirin ouiiiilio.

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4 4 ALIMENTOS

haver os alimentos que foi indevidamentc obrigado ii I ò i -

necer-lhe ; 4.' emfim, porquc, sendo summariiis iis acgões de ali-

mentos fi~turos, e, por isso, iniiilo brclcs, toriiii\a-sc des- necessaria .a prestagão dos alimentos provisionacs.

Opinião identica segue o Sr. Dias Ferreira.'

Na0 obstante o que deixamos dicto, o projecto ( 1 0 1 . 1 ~

digo do processo Icgisla sobre os nlimeritos p r o \ i s o r i ~ ~ \ . ~

1 Cbd. civ. a ~ ~ o l , art. 1H4.0 2 Tractaiiilo n rliicstiXo dos :ilinieiitos provisioiiwcs c ar1 l i /~,iit, dis-

tiiiguirnos entre os aliineritou qiie coiiiprehcridein o susteiito, cdu- caqão c vestiiario durante :i dcmaiida e os que compretieudrin a. dcspos.14 cla tleriixiida. Jiilpáriios, tniito iins como os oiitros, roii(1i. iiiii:idos 11(,lo :ti tigo 171.0 do codigo civil. O projecto do codigo do processo 1,avecr niliiiittir os priineiios e rejeitar os segibndos. Os ar- tigos 1!)0 o e 1!)1.0 do piirniti\o projecto do sr. Alexandre de Se%- br:t; os artigos 263.''. 9i;l.": 265.0 e 266.0 do rneemo projecto, exa- minado pela cornmi8aCo reci.sorn; c, por fim, os artigos 2GG.0, 267.0, 268.0 e 269.0 do projecto d(.ti~citico, todos apresentam o processo p:wa os alinnirnto~proviaorios; e, referindo-se o primoiro e o terceiro d'esscs projectos aos ri tigos 171.'>, 1271.O o 1838.O do codigo civil, purece legislaicrn sórnciite sobre os aliriieiitos referidos alii, e, por isso, ex- cliiirido as dcspcsas tln deinnnda. Ern todos os projectos mtão os artigos obscurarriciitc redigidos. Quer, porbm, elles adbiittam só os provisioiiae.s no sentido iiidicado, quer admittam tambem os ad li- tem, poderia qiiestionar-se se, coiidemnaiido o codigo civil una e oir- tros, seria da attribiiiqiio do c o d i p do processo restaurnl-os. Sej.i. como for, a nossa opiniiio rio direito vigente eiibstantivo est l devi- Baineiite esclarecida.

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E APANAGIOS

Wuimniarlo.- A ina l ruego e educactlo ierminam com a menoridade, ou ahr;ingem a ii iaiori~ln.!~ tlo nlimeniaiIo? - OpiniZo do sr. 1)ins Frireira - Sua relulaclo -- Vcid~iileirti inlalligeiicia do iirligo 171.0, W uiiieo, do codigo civil - S e o menor ieiii direito B instruccào e e~luca.;io, queiii p6ile tornar effectivo esse direito, e como 1i;i de proeeder-se a sua realisacão prcciica7-Solucno da quesiou nas tics Iiypotlieses adniissiveis- Pessoa3 a qucrn c iiriiiont;~ a obriga-no ;iliiiieniici;l- Punles d o ;irligo 179." no d i - rei10 palrio c exlrangeiro- I)isi:ussffo [Ias duas liypotbeses iealisaveis em face do h i i g o - (iraduacào coniplela tias pesPo;ls em que pibile ineidir a ob r iga90 aliiiieiiticia - Intelligciicia d i ~ s ai ligos 153.", 171.", 1 7 i . O o 8 9 4 . O

O $ tinico do artigo 17 1 ." do codigo civil sómente com- prclii*iitlo a educação c instriic~ao iiii divida alimcnticia, sendo o czlimentado mftlor.

Qi1c.r o codigo sigiiificnr com chtas palncras que n in- strucc8o c cdricaçiio do alimentado terminam logo que ellc ch(yrut1 6 maioridade?

O sr. Dias Ferreira, invocando o artigo 1831 .O e as di- versas ol)iriiòcs dos collaboradores do codigo, tem para si qiic ;i c.cliic ;tcao s6 prhtcipiw na menoridade, mas continúa ria niiiioridiidc, se o alimentado prosegue com dedicação ria ciirreira quc não conclriiu antes da maioridade.' Exa- rniiicnio(; os htidamcntos d'cslc parecer.

1 Cod. civ. ar~n., art. 1 7 1 . O

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66 ALIMENTOS

O artigo 183 1 .' diz c~iic cco Irgado de alimentos abrange «siistento, vestuario, Iiabitaç8o ( I , s(~rido o loga~ario metlnr, aeduca~áo.a

l< no $ I ."diz (lu(' esta obr ipçno de siihsidio para edu- ca~Ao dririi ccnli o rrlimentorlo liaja crdquirido a prri- cccitr, nu a Itabilirarilo regular, rto oficio ou profissão qtte

«livor. arlopíritln. Não toiitlo adoptado algiim oficiíi ou 1 8 1 0-

«fihs;lo, ~ ~ h ~ i l r j l ('bla ol)i.igaçóo.» O \r. I ) i i l ~ Fcrrc3ii.n I):vtrndc iriterpretnr o artigo 14 1 . '

em Iiarmoriií~ com o artigo 183 1 .O, applicnrido a toda a d i ~ i d a dv iilimc~ritos, níi parte relativa á cdiicaçao c in- striirqão do tilimrntado, o disposto no $ 1 .O d'cstc ultimo artigo. Í 3 Ic\iido ;i c\ta conclusõo prlo clstudo reflectido do $ 1 ." do artigo 1831 ." 1)'c~ssc c.sliido rcsiiltil convcnc.clr-scb O distiricto aniiotiiilor de quch, serido introduzidu pelos revi- sorcs a doiitriria do citado Sj sob proposta do sr. José Julio, fica e~idrr i te ccqiie o lr~yudo dr cdiicaçdo si) diira alem da « m ~ ~ i ~ r i ( l i i ( l c , e riao cessa coni esta, sc o irlimeritiido se (ctinlia dedicado a alguma carrrira oii profissao, e airida «ri20 estava de1 idam~ntc hí~bilitíidn, comtanto qiic d l e faça (crsforyos para concluir o scu estiido 011 oi'fi~io, C 11' (10 lomc! ((a prolissùo como pretexto pilrn cor~tiriiiar a drsfriictar n c( legcrdo. ))

Tarnbem julga o mesmo distirirto aiiriotador (cqrie o p n - (csaincnto do sr. Seabra, q i i ~ p\igiii ~ I I P o l ~ g a t a r i o mos- cctriisse aproreilamotto na cnrrcira i1 qiic sc drdicara, não

ctd(1vc julgar-sc prcjridicatlo com a rcdacçiio do I .O do ar- (digo 183 1 .', alihs poderia ser complctamcwtc illudido o

(cpreccito da lei, qur de certo só torna obrigntoria a coa- ((liiiua~ao dos alimentos alem dii iiienoridadc para o ali-

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E APANAGIOS 47

(<iiicntado adquirir hiil)ilitoi.Áo regular no oficio a que se ((destiiioii.))

As conqidt~a~2ies do sr. n ias Ferrcira, quanto ao nrtigo 183 1 .", srio \erdadeiriis, ta iiinguem porá em duvida que o leyado (ir cilimc~itos dci\i~do a um mcnor sc cstende alem tla maiorid:rtlc, qiiiiirdo cllc. iiiio tenha ainda coricluido a sua pr.ofissão por circ~iimstanciii~ indep~iidrntes da sua vontade. Afns niio 4 ;i iiitcrprrtng;70 do artigo 1831 ." que se que- stiona : 6 n tlo iirtigo 17 1 .''; r , srrido assim, toda a difi- ciildadc do problema coiisisle em saber se pódc a sua dou- trina ser modificiidn pela do artigo 183 1 .", sem se violarem as rrgras dii boa licrmcnriitica juridica. Cremos que niio 1)ódc d(>fond~r-sc a aflirrnativa.

O arligo 183 1." rcfeit-sr A hyporhese do legado de ali- mcrilos, c o artigo Y 7 1 ." á regrn gcrnl dos alimentos ain-

culo sat~yuirtis. O i~rligo 183 1 . (I tem por sua propria na- tureza um cli~riiclcr de excepçáo, em quanto o artigo 17 1 ." comprelicnctc rrn sua amplitude todos os alimentos.

Se os rcbisorcs quizessem ampliar a todos os alimentos ;I disposicão esl)clcial do $ I .O do iirtigo I 83 1 .O, por certo se rião csquc~cc.i.iiim de modificar o arligo 17 1 .O E nso deve explicar-sc esta omissòo por falta dc lembrariça do qiie se iichn\ ;i disposto na secçto dos alimentos, visto que a redacçáo do 2." do artigo 1831 .%videric*ía que ellcs tinham bem prftsrrit(>q as doritriiias da indicada s t ~ (ao.

Ariirvcmos que sc nos p6de ohjcrtar ser cruel a dispo- s i c ~ o do artigo 17 1 ."assim iiiterprctnda, porque p6dc o

mtbrior, qiic está cirrsnndo uma carreira litteraria, oii apren- cIrii<lo iiiiril iirlc oii ~)rofisslo, t r r mostrado aptidao para

ellas, e ;icliiir-~~, ao tocar a miiioritladt., drsprovido de mcios

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48 ALIMENTOS

para as concluir. Se fosscmos legisladores, defenderiamo, puth

se coricedesscm ao alimentado os meios para a sli,l ir)- struclào t: educ;iyão ainda drpois cln maioridade; interprete, da lei, nào podemos deferider esta doutriria.

l'ndos 0s commcritndorcs do srtil.0 60.7.O codigo civil fi:111('('7, 01id~ SC d f ~ ~ I O S paes ii ohrigaçfio & educar fi- Ilios, pe11sar11 q i i ~ cqtn o1)rigayno ;\<aba logo que cl ic_

{I nin:orid;itl(>. Esta l i ) ) eviticritt~nic.nle a i i l t < ~ r i r a o c10 i t s c t -

Iadoi. iio artigo 171 ."c compiiriirmos, alem d'isso, cstc ;irliso com os artigos 21 05." e 2 f O'c.', mais rios coiivcn- cctrciiios da \crdatlc dii rio\sa 01)irii~o. Coiifornir o iirtigo 2 1 OS." , iis clcspesiis dc trlirnn~/«.s iifio \Prn ,i c.ollcit:30 ; c, segurido o artigo 21 0 I ." , scm /I collay;io o dispc*ridio qiitb

o fallccido houvcr feito com o pir/rirno)iio para n orrlrttaçlio, com esrudos maiores ou com acr r i~o tni l i inr: d'ondc se intenl qrir todo esse disprritlio rifio piídc sctr comprchetidido entre os alimc1ntos.i A obripy3o dos nliinc.iitos, na parte

r t ~ l a t i ~ a ii iiistrucyão e rducay30, ficii, portarito, rcstricta rios esltidos menores c ao ensirio de alguma pofiss8o; e milito poiico svrá o aproreita~tinjro do iilimentiido que OS

iião tcnhii concliiido atk aos viiitt. iim a~~i los . S e isto acori- tecc ria relacùo jiiridica dos aliint~ritos eiiirc os filhos e OS

paes, por maioria de raztío deve acontecer ria relaçào entre eiles e os irmáos.

I~rjeitamos, portanto, a opirii;io do sr. Dias Ferreira; c

cremos que! de direito constitiritlo a obrignyho de nlim~ntos,

1 T;iiribcin o art. %104.0 iutlicn o dispeiidio para o estabelcci~nei~to dos $lhos. 1)'oiitle sc conclur, comparado este art. com o art. 2105.", que o estabeleci~iieuto dos filhos n&o eutb comprehendido nos alitnen- tos. Vej. p. 24.1 d'eete vol.

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E APANAGIOS 49

rio attineiitc 6 irislrucy.50 e cducaç80, termina logo que o alimentado chegue ti maioridade. Náo assim no legado, onde o codigo civil, afastando-se do projecto do codigo hisparihol, nrtipo 69/1.', ofkrece uma provisão especial.

Agora origina-se uma oiiirn questão. S e o menor tem direito a educação e instrucsmo, quem 6 competentc para obriger as pessoas em quem reside a obrigação?

fi discutida esta qucstão no direito fr~ncez, ' e pbde agi- tar-se em o nosso fhro. Podcm dar-sc tres hypotheses:

1 . 9 x i s t e m o pae e a mae, que d c ~ e m satisfazer o di- reito do filho;

%"existe sómcnte iim d'elles, tendo fallecido o outro; 3 . h ã o existe nenhum. Na primeira hypotliesc qurm deve accionar os paes pelo

cumprimcrilo da siia obrigarao juridirtil Demolombc, furidi~irdo-sc no artigo 203.' do codigo

fraiicez, que dispi,e : ct LPS 61)oux coni~.ctclenl ensernble, par cclc fait se111 du iiiariagc, I'obligation dc norirrir, entretenir ccet élrcrr It~iirs crifarits)), alvitra que, contrahindo os esposos um yco8n com o ou/r» a ol)rigncão de educar os filhos, tem ciid;i iiln d'c)llcs o direito de accionar o outro pelo cum- primrrito d i ~ obrigayÃo. Ejiualmente o referido auctor niio excliie n accao (10s filhos, riitendendo qor as palavras les ~ ~ O I L X ~ o ~ t t r a ~ ~ l e r t / (~r~se~nble ~)otfcm significar tio mcsmo tempo e s i m u l ~ í i n e c r m e ~ t ~ , c assirn diz: «Les deiix nrcrptions sont (cpossibles; r t o11 peirl dire iivec une Bgale vbrité, que les

1 Algiiiis rseripfores, cotno Cofiiiikrcs, Encgclol~ddie du droit, VI). nl&~~r.nts. 3 I.*, 1 i . O 6.0, nio ndmittem n aeçRo. O mesmo indica Marc~dE. Outios, como Z:ichariae, Dcmoloinbe e Aooilas, admittem a acylo e investigam quem seid a pessoa competetitc para a interitar.

4

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((époux sont tout à lu fois obliyés l'un oire~*s l'auirc ri

«encers leurs enfants.1~ Poderá defender-se a opinião de Uemolomhc em o riosso

direito, no que respeita tí acção de um dos conjuges para com o outro 'l Não o duvidamos.

Sc nóo existc rim artigo ideiitico ao artigo 203." t111

tado todigo, ternos, corntudo, o artigo li.^.", q u e cc,iisi

como uma das obrigaçóes inherentes no poder patern

de darcm os paes a seus filhos os necessarios alirnc3iitc~- r occupaçiío convenierite, conforrnc as suas posses e estado. Ora, iisseritando as obrigaçaes do poder paternal rio facto da procreaçào dos filhos, púde dizer-sc com Acollas :e «IAc udroit respcctif d'action drs Bpoux existc, parce yur 101tr

«fait de procriaíiort con$ii~ue juridiguement un quasi-cwl- «Irai; tlonc, i1 elt re'sulie utle obligníiot,, et, par rot~s4- ((que~tt, une clc1ion.n Porcce-nos, ao incsmo tempo, grciii- dernerile moral qiie iim (10s conjuges v i i rceliimar o auxilio dos triburiacs, obrigarido o outro, qire esqiicccu como pae desnaturatlo a cducaçoo de seiis filhos, a cumprir o seli dever riatiiral e juriciico.

Se, por", rierihiiin dos conjiipes cumpre e siia obri- gaçAo, o c-otligo ci\ i l i.c~;;ula este caso no artigo 1 4 1 ." Em- bora o poder dos pírcs não estejii siijeito a cautela algumíi preveriticii, rio caso de abuso potlerno os paes ser punidos na coriformidade dii lei geral e ii~liihidos de reger as pessoas e bens dos filhos, a reyurrimento dos parentes ou do mi- nislerio publico. Os percritcs e o miriisterio publico sào, em face do arligo 15.1 .O, os fiscaes do eiercicio do poder

1 Tom. iv, 11.0 3.0 Obv. cit., art. 203.~

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E APANAGIOS 5 1

paternal, e a elles compete, portanto, accionar os paes pela obrigação da educaç8o.

E, sc o filho tem beris proprios, dever5 ser educado por esses bcns, ou pelos de sriis paes?

110s artigos 14 5." 1 &.", 1 56." (I 157."vv&se claramente que os filhos, núo rhrqad,)s á maioridiide, podem adquirir h n s . Estes bcns podem dividir-se em quatro c'species:

a) bcris, ruja propriedade r usufruclo pertence aos paes; 6 ) bcns, cBm que os piics s6 têm o usufr~icto; c) bens, crn que os pacs só têm a admiiiistraç80; d) bcris, em que os paes niío lSm o usiifructo nem n

administraçào. Havendo sbmente as duas primeiras especies de bens,

como os paes est io no gùio I c p l d'ellcs, devem educar os filhos pelo scu rendimento. O iirtigo 1 58.', n." 2.", o de- clara, corisitlrrnrido rorno iim tbrirargo do iisiifriicto a de- cente sustcritiição e cdiic.a~ào dos filhos, coriforme a sua condiçúo e os scus hiiveres.

Ilavrndo sbmcrite bcris da terceira e quarta cspecie, crenios que 6 por esses quc devem scr cdiicados os filhos. dcbiimos razão ii 1)c~molomhr : / I csi ef/ièciivcmeni 1r8s-ciquitable que «lrs pCre 01 tni're, rnoi~~s vic.1te.s pe~~i-Olre que lrur crifanl, «nc soi~rri pus te~ifcs t ia payer, pour lui, dus dr'p~tses azcx-

«quellrs i1 p ~ f i t 1)~~t-,~0!1)t~llcnte111 ealisfnire. » Parece-nos niío ser jusio q i ~ ( ~ o filho, que tem beris proprios, sqja alimeri- tatlo pelos bcris dc seus paes, vindo assim a prejudicar seus irmiios, que' 1)odrm riiio scr tfio ricos, e que ficam pela Iri inhibidos d r 1iiivc.r na colliiçùo as despesas que scus p a e ~ fizeram com ellc. Alcm de qutl, o filho, neste caso, niio tem

neccssidíidc, e, por isso, riin,rrircrn 1)tirlr iritentnr contrii seiis

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paes uma acção que os obrigue n despartirem-se dos bens do casal para educar seu filho.

Imagine-se ainda que o filho trrn btsris diis quatro espe- cies: por quaes deve principiar-se a tl(.spesa da cduca~fio?

A isto responde Demolombe : l «Ce quc3 jc ~ c u x dirr, c'cst ((qii'il doit toiijours y criiploger, avant tout. les rerolu, ( 1 ~ . ((bi~tts doat i1 jouií, eí que cc n'rsi qu'e11 C ~ S d'insufi i r

«de ces revenus, que l'uiurriciiier Zr'gccl peut y co~tsar t t

(trevenus propres de l ' ~ n f n ~ r t . » Tambrm nos parece I ( ' f i , ~ i

esta doiitriria em face (10s tirtigos 1 &€?.O, n.' 2.O, 2231 .O e 223.2." do nosso rodigo. A ediicação do filho 6 um en- cargo do iisufruclo. I)cstlta (pie os paes gozcm do iisufriicto, hão de sujeitar-se aos cricargos d'elle. Na0 podcm, por- tarito, cscnpiir ao onus da educayào os paes iisufructuarios. Se o usufructo iião ctiegn pnra a ediicaçsio, 6 justo qiic o

que falta seja tirado dos bens proprios do fillio. E m tjunrilo, porem, existirem beris iisufruidos pelos I)aes, podcm estes ser acc.ionados pelo artigo 158.", 11.' 2.", ;i firn dc ciim- prirem a obrigaysio.

Vejainos agora a segiindn Iiypothrse: imagine-se qiie existe sómente iim tlos paes; cliiem deve iriteiitar n acçao de educaqào ?

Dissolvido o malrinioriio por moi.le de um dos conjuges, o que sobrevivt. continiiii ;i cbxcrc.c.r o poder

Supponha-se que o so1)rrvivo 0 o rnnrido. Este tem-obri- gação dc educar os fillios, ii;io stirrioritc pela riatureza do poder paternal,:: mas aiiitla porqiic. 6 iisiifriictuario (10s bcris

1 Olj1.. cit., n." 12:) Codigo civil, art. 155."

3 Artigo 140.0

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1.: APANAGIOS 53

dos mesmos filhos.' O curador dos orpliãos c os parentes9 podvm obrigal-o a cbducar o filho.

Siipl)orilia-sc que sobrevive ir mulher. T r m a mesma obrigiiyâo c coiri os rriesnios fundamentos. S r n80 a rum- ~ W C , O c~iriidor dos orl)li;ios, o.; ~)iii.(~~itcs,' e os conselheiros nomeados pelo marido ciii testameiito 4 podem intentar a

iicqílo. A c.orid(~miioçào dii ni;icl pro~irrá que em prejuizo

dos filltos alursou do ttuctorirl«de materr~a nogaiido-lhes os alimentos, r entao o coiiscllio ( 1 ~ familia, a requerimento do clicto coiisclliciro, tlo ci~riiclor dos orph5os ou de qiiolquer pirrcntc dos filhos, ~)odcrií iiiliibil-a, se assim o entender, d c r c p r ;is pcsso;is c' bens dos mesmos fillios.Westa ma- irt.irii cstA snlvagiiardndo o direito h educaçao.

Tractcmos agora da terccira hjpothese: ri90 existem os 1)ilCS; c-onio sr torriiiri't cfibcti\o o dircaito ;:i educação?

Ao t~ i lo r perfcrrcr eductrr ou fazer educar, iilimeritar e tractar o riierior, conforrrir ir sua coridicZo, tla rnutr~ira ordrttndu p ~ l o co~isellzo de fa)~iilia.6 Se o tutor irào cuniprc este dever, a vigilancia do protutor,' n do proprio con- selho de farnilia e n do ciirador dos orl)liàos !) s80 sriffi-

cicritcs para gararitir ao merior o seu direito á educaqão. Il'est'artc, nii lei portugueza encontram-se, qiialqiier que

1 Artigo 148.0, 11.0 2.0.

2 Artigos 141.0 (: 1.58.,> 3 Cit. artt. 141.0 c 158: 4 Artigos 159.0, lC>O.'> c l t i l .u

5 Artigo lGl.0 fl Artiqo 243.0, ]li0 2.0 7 Artigo 268.0, 1 1 . ~ 2.') 6 Artigo 224.0, I I . ~ 7." h Artigos 215.0, 2W.u e 221..

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5 4 ALIMENTOS

seja n situaçao dos menores, todos os meios de torniir rf-

fectiva essa obrigapâo, que as escholas mais adiantadas di- philosophia consideram lima obrigaçao jiiridita.

Assentados estes principias, cumpre-nos indagar yuaes s q j m as pessoas n qutlm 4 imposta a obrigação nlimenticia. O codigo c i ~ i l diz, ~ i o artigo 172.", que esta ol~riga~;Bn I'

reriprorcc entre tlescciidcrites c ascendentes e entre ii i i i ; i ~ l -

Idcnticn disposiqao se iiclia no pro,jecto hispanhol, artiçc 70 ( ( 1 , ~ obligacion (/e d a r a1imc1zio.s cs recíproca: 10s II!J(I> : ~descendierires /os d o b ~ n respecticamevre á aus padres y «ascc~~diottcs.)) O mchsmo sc 10 no codigo fianccz 1 c em oiitros codipos cítriiiigeiros."

Antes do codigo c i ~ i l o ass~ii to tle 9 de abril de 1772, reconhecerido qiic E c(dc todos os dirsitos, natural, cli\iiio «c humano, que cada um se d r ~ c siistrntar e alimeiitnr n

«si mesmo)), exccptiinva d'tlsta regra em primeiro logiir ((o.

((filhos c toda a ordrln dos deso~ri(lcnies, porqiis, como o< ((pais Ihrs deram o ser c ;i vida, dicbta ;i rn73io natural clur «sejam obrigados a conservar-lli'a, contribiiirido-lhw pri- «meiro qiie todos com os alimentos necessiirios para csse c( fim.

Tamhem o nsseiito admiltia a rcciproridade cntre os ascendentes c descer:dcritcs, porque, ((tendo os fillios c ou- cctros descendentes recebido do todos elles os incstima~eis nbencficios do scr e da vida, pede n gratidão quc os me- «smos filhos e outros desccndc~iitcs lhss rtstribuam com o

1 Artigos 205.O e 207.0 2 Codigo das Duas Sicilias, nrtt. 195.0 e 196.0; da Hollanda, ttrtt.

876.'> c 378.0; da Gardcnlia, :rrtt. 118.0 e 120.'; dá Luisiana, aitt.

24'3.0 e 245.0; do cantiio de J'aud, artt. 107.. e 109.0

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((sorcorro dos alimentos, no caso r m que os dictos pais e t «mais i~scendcrites se vcljnm rediizidos a tfio extrema miseria,

«que n;io tenham de que vivam.)) E m fiicc do iisscnto dizia Mello Freirc:' «Parentes au-

((iern filios U ~ ~ U S C I ( I ~ I ~ ~ ~ C orclinis rt co~zdiiionis ulere íenen- atur.... Debtwtiir ctiam a filiis aliincviln parentihiis, cum «eos nori alvrc ticfilriiim sit, alendi e ~ t i m oficium inicr li- ((beros e / pcrrerrirs rcciprocurn rst.n

OS civilistas modernos acceitarnm o mesma doutriiia, c eiiunciaram a reciprocidade dos alimentos entre os descw- d e n t ~ s e os asct~ridcritcs."

Todos sc liind;lm rio ciliido assento, qiir 16 cJnconlrava na jurisprudcncia romari;i os seus priricipiics furidamentos. A lei j.", Dig. de a ( ~ t i o s r . ~ ~ ~ d i s e& n1endi.s libwis, impondo aos pacs o d c ~ c r alimeriticio, assemclha~ii ii recusa dos alimciitos ao assi1ssinio;:l c a lei E.", $ Ia.", 1)ig. eod. esta- 1)elecia a mesma ol)rigayTio dos filhos para com os paes.& A rc~ciprocidadv, pois, da obripçiio alimtwticia entre OS

asccnd(~iites e os d~scendcntes, consignada rio artigo 172." tlo c-odigo, tem as suas origens no direito romano, no an- tigo direito portiigiiez e na legisla~ão dos povos cultos.

Miis a rcdacçao do artigo 172." póde originar differerites cjuestõcs.

1 Obr. cit., liv. 11, tit. 6.0, 59 11: c 25: 2 Liz Teixcirn, ohr. cit., part. I.", p. 357; Correia Telles, obra

h:., tom. i r , nrtt. 516.0 e 531.11; lioclia, o b ~ . cit., Cj 3 1 8 . O 3 Nccnrc vidctur, qrii pnrtum peiforat, sed is qiii abjicit, ct qiii

afimoiiirr denegat. 4 Iiiiquissimiim cnim quis meritodixerit, patrem egere cum filius

sit in facultatibus.

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56 ALIMENTOS

I)iias liypotheses sc podem dar cm vistii do artigo: 1 :' tem os descendentes necessidade dos alimentos; 2 .VIlm os ascendentes a mesiiiii necrssidadc. Na primeira h!pothese, p6de acontecer quc o desceri-

derite (filho, supponhamos) s t ~ j m e i i o r , oii qiie o iiicamo dcscendentc seja maior.

O que dissemos ácchrca do niodo d ~ : torriar cfftbct I I 1 I

direito 6 educay~o do merior é applicavel tio modo de ter i l , i t

eílectivo o direito do.mesrno menor ao sustento, I i a b i t i i ~ , ~ ~ ~ e vthstuario. Em todos os casos, que figiirfimos, o mrrior encontra na lei as coridiqòcs prcbcisas para renlisar o seli direito. O que investigamos agorii 6 saber quaes as prssoas

"t'rlc l , l a quem os seus representantes se d o e m dirigir na exi, '

da obrigaçno. Neste ponto a Iri ,nWo separa do filho nienor o filho maior: exccpto no que toca á educaçao, ambos tem o mesmo dircito. O assento dc 9 de abril assim o cri- tendia ampliando a obrigac.30 alimenticia ~ o i i os filhos não

((tenham aitldn chegado 6 idadr d~ poderem adquirir po r ((si O rtccessnrio p a r a n sua susrenlação; oii sinz tenham ( j á d'ella passado; ma$, ou por defeito da natureza, oii por ((algum outro principio s(1jam tfio inertes que sc n30 possam ((alimentar a si mesmos.)) O filho menor póde, pois, diri- gir-se pelos seus reprcseritontrs; o fillio maior por si aos paes e seiis ascendentes.

Vejamos a ordem, pelii qual estas pessoas estão ohri- giidiis ;i alimental-os.

O artigo 172." l)ilr('Ce ~asttnhclccer o ohrigac.80 simftl/nn(+n dos alimentos critrc todo^ os íiscenderitos. Se assim fosscb, o filho podcria dirigir-ata ;i qiialqiier d'rllt1s pedirido o ciini- priincnto da obrigayk. Todavia, comparado esse artigo

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E APANAGIOS 5 7

com o artigo /73.", vA-se que scí n a falta dos paes, ou se estcs )trio liverrm maios parn prrstar os t1c1-idos alimentos, P qritb os filhos podem rccorrer aos oiitros íisccnderites. Os ascendcrites, desde o segundo griiii iriclusi~iimcnte, s6 são obrigados, quando não haja asccndentcs do primeiro gráii, ori quando n3o este,jani crn circiirnstaricins d c b prestar os iiliinciitos. Coriil,rt~hcntc-s esta doiri riria, porcliicl, seguindo, em regra, a ohrigiiçno iilirneiiticia o direito siic.t~essorio, os ascciitlcritcs tlo priinc.iro griiii são chamados 6 siiccessãio de prefercncia aos ~ I ~ I ' P I I ~ P I I I ( ~ S do ~(yirndo. '

Era cstn (ninbcm u mt~lhor doiitrina rio tliroito antigo, oritlc tliis ortlcníiyfics liv. r , tit. 88.", $$ 10." c > 1 1 .O , liv. iv, tit. 09." do iissc1rito d t b $1 clc iihril se coricliic serem na falta oii impossihilitladc (10s pacs c,liiimndos os oiitros as- ccridcrites ao cumprimcrito dii ohri;ny~o iilimcnticiii.$

Com os artigos 1 7 2 . " ~ 175." tlo codigo coritorda o ar- tigo 69." tlo projecto hispanhol, que diz : « A / d rn de padre «y rnadrr, los nscciidicntes de amhas lincns mns pr6ximos « r n grado tieiien ohligiicion dc alimontíir n siis descen- «diciitcs.» No direito ir;iricex, oridc a incidenciíi da obri- gnçno ri30 cstií fixadii corri a clarcen qiic transliiz em o nosso

1 C'odigo civil, nrtt. 19f;!):, n 2.0, c 1970:

2 hlrllo I+eircs riiteiidi:i. que $ 1 ; n:i falta ile todos os asce~ldentes pateimos B que as iriltes tinham :I obrigag20 dos alimrntos, rnafer non in subsidium alere tenektr; Lohão, Not. n Mello, liv. Ir, tit. 6.0,9 15.0, soguc a opinião coiitrnria. O mesino, Rocha, obr. m't., 324.0 not. Tamhcni ryjeitainos o pensar de Mello Freirc por contrario li orde- nn$o e tio nsscrito de $1 rlc abril. O rodigro das T)l inf i Sivilias tio ar- tigo 1!33.0 adopta a jiiiisprudericiri. que cousagrci a o11rignç:io ali- inrnticia dn m%e, depois dos ascendentes paterno?: aCette oblign- aaion se rernpbit dane cet nrdre: d'abord le père, pio I~a~eal , m i e .de bieakul paternel, et ezchsidiairernr~~t Ia rni,re..

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58 ALIMENTOS

codigo e no projecto hispanhol, ahi mesmo fi impiigiiiidii n simultaneidade da obrigííqBo alinicnticia, como coiitr;iriti Rs tradições juridicas, aos prinripios da matcria e As intcriqòcs do legislador.

Ilemolornbe, que desenvolve a materia com admiravel proficiencia, fundando-se na lei S.", Ilig. de ngnoscendis et alendis liberis, escreve: «La loi c i~i le , qui appelle les des- ((cendarits et Ics asceridants h se sricc6dcr Irs uns aux au-

(ctres, a pu justement, par une sorte de coml)cnsation, ccconsr -rer entrc eux aiissi cette ohligation r6ciproqrie; or, (cd'iirie part les devoirs d'nffectiori et de déioiiement sont apliis ou moins sarr4s suivarit Ir caraclère du lien et Ia c(proríimit6 du degré; d'aritre part, toutes 1cs personncs ~ I IP

((l'obligation alimentaire pcut alteiiidre, n'oiit pas, daiis les ((successions ab intestat, unc kocation hkrfiditairc 4gale; (cdojlc, i1 était logique e1 hquitable de ne pus Zes soumetrre (ctoules égaleme,~i à ceue obligalion, ei d'chblir enire elles ( ( ~ 1 1 0 graduation, un ordre succossif.l» De tudo isto cori- clue-se que o nosso codigo, inspirando-se dos principio5 da jurisprudencia indicada na classificaçi~o dos ascendentes, que t6m o onus alimenticio, colloca cm primeiro logiir os paes. Dever& o filho dirigir-se sempre aos paes?

1 Vejain-se tambem Duranton, ohr. cif., tom. I, ri.O!476.0; Marcdé , obr. cit., tom. I , n.O 714.0; Dalloz, vb. mariage, i1.0 622.'; Ac~l lxs , obr. rit., artt. 205.0, 206.0 e 207:; D~matitt., ohr. cit., n.O 290.0; Picot, obr. cit., art. 206.O; r nXo c.sqiieça 'i'oiillier, tom. 11, 1 i . O 612.0, quc eiitende qiic, i i % o sencto a obiig:iç$o aliineriticia littcralmonte iml~osta aos ascenclaiites superiores para com sciis iietos, eles tri- .biinctux pouriaient, siiivaiit les circonstances, rrjeter l'nction ali. ~mentriire, dirigée par les pctits-enfaiits contre lcurs a'iiwls ou nic:ii-

~llrs, sniis ciaindro la caasation d a jiigeinent: car il i1'y aurait pa8 ctlc loi vioi6e,v Este pareoer 6 geralmente ab:iridoiia.lo.

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E APANAGIOS

O filho p6de ser: a) solteiro; b) casado; c ) viuvo.

No primeiro caso, não ha duvida de que, carecendo de alimentos, deve exigil-os de seus paes. No segundo caso, como, em vista do artigo f 18i.", os corijuges devem soc- correr-se e ajudar-se reciprocamente, c, segundo os artigos 1104." 11189." pertence ao niarido a administração de todos os bcns do casal, qualquer que sqja a forma do ca- samento, nutica pdde o filho demandar os pacs cmquanto podbr ser alimentado pelos bens da mesmo casal. No ler- ceiro caso, antes de demandar os paes deve pedir os apa- nagios. Não 6 o direito successorio que o ieva a ser ali- meritado pelos ri>ndimentos dos bens deixados pclla esposa fiillecida dc prcforeiicia aos bens (10s pacs, porque si) na falta de dcsceridciites, ascendetites e irmàos c seus desreii- deritcs, é que o con.jugc so1)reviro 6 chamado á successao,l mos sim a natureza do coritracto matrimonial que, fazendo dos dois clsposos lima sú persorialidade ptiysica e moral

da sociedade donirstica uma rommunhão perpetua de existeriria, iiào pcrmittcl (IIIV, (Bm(l~ianto houver bens de iim tios conjuges, tenha o outro dc recorrcbr a differentes

pessoas.%

1 Codigo civil, art. 1969.0, n.O 4.0 2 Este pensamento dictou os artigos 1207.0, n.' 2.0, e 1210.0,

5 unico, que dão o direito de alimentos ao conjuge que d'ellcs citrecrr, tendo hnvitlo separaçso de pessoas e bens. Ainda rio caso de ter a 8eparaçiio sido motivada por ndulteiio da mulher, p6de rstn ser alimentada pclos bens do casal.

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Mas o filho pótle tcr asccriderites, filhos, c al)aiiagios:

como gradiinr neste caso a obrigiiçao iilimt~riticia? Cremos que, em primeiro l ogiir. drkc. rclcaorrcr iios apa-

iinçios; riti siia falta, ori sc ellos iitio I)astoi.cni, iios filhos;

na sua falta, oii se não podérem sntisfazcr a ohrigiiçáo, aos

paes. Collocamos em primeiro l o p r os apnnagios, cm vir- tude dos artigos 1 I X'1.', I 10$.", 1 189." c outro&, eni

que se estabelece a riatiireia tlo contraclo matrimoriiiil,

detle de l'dpoux rst certainrnient lu prcmidre de torrlos;l em segurido logar os filhos, porque, de\c*iido procctler-sc a distribrriçao segundo o dirritri siiccc~ssorio, sao os fillios cliii-

mndos á successao de prefert.nriti aos ;i\Os.2

O codigo italiano, artigo 1'12." sc3giie estes principios,

dizendo: ((L'obbligo drgli alimettli c.trde in primo luogo «sopra i1 co~~iuge , ir& srrondo h~o!yo sopra i dcscertdenli, «ht terzo luogo sopra yli asce?tdertli.»

Suppoiilia-se, l~ordm, qiie os filhos 1130 tbm apanagios,

descendentes ou paes, ou que estes não podem prestitr os

alimeritos : entáo o artigo 2 73." mirnda pedil-08 nos nscen- d~nics mais proximos rlr quctlq~rrr r1tt.s linlins, srgzottlo o

1 Dcmolombc, obr. cit., n . O 3 4 . O 2 No antigo ciireito portiiguea havia quem sustentnsse cluo a6

depois dos paes 6 que deviam ser (1rinand:idos os filhos pela obri- gaçÃo ~liineiiticia. Corrcin. 'l'cllrs, frindndo em Strykio, dizia no Dig. port., torri. 11, xrt. 532.": .Se uinii pessoa, que necessita de ali- .ineiitos, tern paes ricaos e filhos ricos, cada iim dos qcirics o posaani .nlimcntar, em primeiro lo,qnr os deur drmandnr aos pacs do que aos sf i lhos.~ Rocha defendia n mesma opinilio (obr. c i f . , § 326." iiot.), rc- aonhecendo ao mesmo tcmpo quc ,outros seguem o contrario; rcpii- qtcrrn a obrigaçfio do filho mais sagrada e conforme n regra da suc- ~ c e a s ã o . ~ A ostcs seguiu o codigo civil.

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seu direito succ~ssorio. Os avós, l ) i ~ i l ~ S ~ , e todos os oiitros grlius superiorcs de ascendencia cstào, portanto, obrigados h prcs ta~ao alimenticia. $ esta, egiialmentc, n io obstante a ossc~craçào contraria de Toiillier, a doutrina que dimana dos iirligos 205." 1. 207." do codigo civil francez. Toda a diliicril<lad(. dii qiirstào consiste cm fixi~r a graduação dos asccrictc~rites iiii siicc.c~ssùn legitima. Consegiiida esta fica de- termiiiada a iricidcrici~ silccossiva da obrigaçao alimentícia. Ora, os artigos 1969.", 11.' 2.", 1 9 7 1 .O, 1996." 1997." e 1998." mostram quc a herança se transmitte, sem respeito n qiialidiitlc das lirilias, e attendendo unicamente á proxi- midadc do grAii. Assim, se os ascendentes, seja qual for

u liulzci a ~ I I C j)(>rlP~lfarn, estiverem todos no mesmo grhu, como i1 hrranqa é repartida entrc clles por eguaes porçóes, conforme o artigo 1997.", todos devem ser obrigados, se- giirido o artigo 173.", ao pagamento dos alimentos. S e os asccndcntcs sc iião acharem no mesmo g h u , como a he- rança í. corikritla ao mais prouimo sem distincção de linha, pelo artigo 1998.", ao mais proximo compete a obrigação nlimt>nlicia. l)'cst'artt:, se um filho prccisar de alimentos, encontra ria lei civil uma hicbrarchia de pessoas, onde póde siiccedcr-sc u incidencia da ol)ripaçào. Estas pessoas sao :

u) o conjuge ; b) o; dcscendentcs, segurido o direito succcssorio; c) os asc.critlcrites, segundo o mesmo direito; d ) os irrnUos ; o) os collatrraes, sem reciprocidade, com as restricções

do artigo 177."; e contradictoriamente aos artigos 1969.", n." C.", 2006.' C 2007.'

f l O miinicipio, conforme o artigo 294."

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62 ALIMENTOS

Ate aqui temos discutido a hypothese de existir a ne- cessidade alimenticia nos descendentes. I)iscutamos agorii a segunda hypothrse -existir a necessidade nos asceii- dentes.

Os principios que teriios estabt1lec.ido servem para a so- I i i~ão d'esta hjpothese. O ascendente tem, para intentar a acçáo alimcnticia, o coiijuge; na sua falta, ou ria impos'i- bilidiid~ cle cllc prcstar os alimentos, tem os descendentt~*. rcgulniitlo-se a iticidcncia da obrigaçâo pelos artigos I085.". i 986.", 1987.O (. 1988.') do codigo civil. Assim, se os des- cendcntrs sc acham todos no primeiro grBu são obrigados A prestaqào alimenticia por cabeça, dividindo-se a prestação entre todos os herdeiros.

Mas, se Iioii~cr dcscrndentcs no primeiro gráii (filhos) e

dcscendcn~t>s rin grhiis postcriorrs (netos por exemplo)? Crcmos qrie o orics d o nliinento náo póde pesar iiriica-

mente sobrr os filhos; os netos, quc são chamados Ir herança do avd cortjiinctamcrile com seus tios, por slirpea ou for- mando ramos, rcprcscriIarido os para fallecidos segundo o artigo 1987.", dcvtbm tlo mcsmo modo ser rhrniados fi

prestaqfio dos irlimeritos. I<\emplificnndo: l'edro, que carece de a l im~ntos , tctm tlois fillios, Aiitoriio c J o h , c scis netos; d'esttbs, (111aIro S ~ O fillios de Joaquim, e dois são filhos clc Martinlio, iimbos fiillecidos. A herariqa de Pcdro será dis- tribuida rni qiiatro partcs egiiaes : a primeira pertencerli a

Aiitoriio ; a scgi~rid;i a JORO ; a terctkira aos quatro filhos tlc Joaqiiim ; e a rliinrla aos dois filhos de Martiriho. A divida alimeriticia estb sujeita h mesma distribuiçtío. Obrigar uni- camentc os dois filhos vivos, Antonio e João, ao onus ali- meriticio, exoncarando os desceridentes do segundo gráu,

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E APANAGIOS 63

ciiie no caso wjeito, siío chamados ií successão pelo direito dc rcpresentaçao dos paes fallecidos, equivale a destruir o principio, ubi emolumntum successionis ibi onus alimen- lorecln.

Na fiilta ou impossibilidade dos conjiiges, descendentes C ascend~r ; t~s , a pessoa, que carcccr de alimentos, p6de exigil-os dc seus irmãos. O artigo 174.' assim o deter- miriíi. J;í antes do codigo civil o assento de 9 de abril, se- giiilido a opinião da glosa,' consignava entre os irmãos a rt~ciprocitlnde alimenticia : «são os irmãos, dizia o assento, «obriyntl«s a alirnertiarenz os irmãos pelo clireiro do sangue, ctdc totlos e quaesquer bens que elles possuam, ou os ditos ((bens Itic proviessem de ascendentes, ou de estranhos, o11 ((fossem por elles adquiridos.)) Esta jurisprudencia foi se- guida pelos civilistas port i iguezes.Vo codigo civil francez não se acha uma disposiçao que estabeleça, como a do iiosso codigo, a reciprocidade da obrigação alimenticia entre os irmaos ; a mesma lacuna apparece no projecto do codigo hispaiihol. A este respeito o codigo italiano, no artigo 148.", collocando em primeiro logar o conjiigc~, em segundo os dcscendcntes, e em terceiro os ascendcntcs, accrescenta: «in quarto luogo sopra il genero r Ia nliora, in quinto «luogo sopra i1 suocero e Ia suocera, ir1 uliiwio sopra i ( ( frnte l l i e le sorrlle.» Chamando, romo o codigo francez, os ctlfi)r.s 6 obrigaçbo alimenticia (doutririíi re,jeitada pelo codigo pnrtugiic.~), a codigo itiiliano nilo exime os irmâos

1 Ilorgeu C'ariieiro, Uir. (+v. de Port., tom. i r , # 1(;8.c~, n . O 50.~ 2 BIello Fieire, obr. cit., liv. 1 1 , tit. (i.", 5 25.0; Lol)&o, Not. a

Mello, eod.; Liz Teixeira, obr. cit., pait. I.', p. 355; Correia Telles, obr. cit., torii. 1 1 , ait. 518.0; Roclia, $ 327:

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64 ALIMENTOS

da mcsma obrigação. Entendc, porkm, o codigo italiano, a rxc~mplo d o das Duas Sicilias,l da Sardcnhi~" de Parma," quc scí deve admittir-se nos irmaos o direito aos alimentos qiriiritlo seji~rn incapazes de. p r iha r OL; 1111>ios de vida por vicio de constitiiição physicii ou mor.iil.i

O codigo porlugucz, abandonando a 114 extrnrigrira. e

seguirirlo u jurisprudencia do assento dc 9 (Ir iibril, Iiartl- cc-nos mais razoavel em iicreitar a reciprocidade alimc~ii- ticia entre os irmfios. Comtudo, o codigo, obrigiíndo siibsi- diariamente os irmãos germaiios, utcrinos e consanguinros, afirstou-se, scm razào justificnvcl, do antigo direito, que nno estabelecia nestc porito differença eritre elles,p t1 alttlrou, como dcixamos indicado, o direito do siircc~ssáo.

Com os irmâos termina a obrigiiqGo rocil~roca, e vem ;I

obrigaciio alimenticia dos parcsritcs atE ao dccimo grhii, corisigniida no artigo 177.' Esta ohrigny80, porem, rom- prc>licnrlc* sómcnlc os iilimentos att5 ii edirde dc dez aiinos. Sc, pois, uma creanqa de onze nrinos, n qiirm a morte dcixoii orpli%o tlc nsccndentc*~ c irmaos, ou a qiicm o acaso da fortiiria fez nascer no scio d'umn familia prolotarin, precisar tle iilimc~ritos, embora tenha collntcracs ricos, não poder6 01)rignl-os a dar-lhe, pelo mcrios, o seu parco sustciito! Sc u fortuna lhe hoiivcssr dado iim irmso rico, aqiiclla

1 Artigo 197.0 2 Artigo 121.1~ 3 Artigo 114." 4 A l l : ~ s~~inrniiiistrazione degli alimenti strettamente necessari

haiino tliritto niiclie i fratelli c le sorelle, quando Der uii difctto di corpo o di inciitc, o per qualsivoglia altra causa non imputabilc a loro colp:~, iioii se li possano proccacisrc, art. 141:'

5 Liz Tcixcirs, obr. cit., part. I.*, 11. 355.

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E APANAGIOS 65

creança poderia em qualquer cdadc obter os alimentos, e, comtudo, scu irmão não teria mais direito á successão legitima do que o parente que, por n3o haver outros hcr- deiros legitimas, é chamado a dar-lhe alimentos ate aos dez annos !

k verdadeiramente cruel e deshumana a disposiçao do artigo 177.O Que educação póde receber até aos dez annoe uma creanya? Nem ao menos póde aprender a instrucç80 primaria. Se o codigo lhe ampliasse os alimentos pelo menos até a maioridade, se lhe garant,isse uma occupação, embora mesquinha, e se depois a abandonasse 6 sua propria ini- ciativa, introduziria sem duvida uma disposição, que, náo sendo absolulamente perfeita, era, todavia, mais acceitavel do que a disposição que apresenta. O orphâo que ficou s6 no miindo, sem ter ao menos um irm'io quc o ajude a vi- ver, não podendo recorrer ao municipio, porque só ria falta de parentes 6 que este o deve alimentar, fica depois dos dez annos sem educação nem alimentos, entregue unico- mente A caridade dos extranhos. O codigo civil, afastando-se do antigo direito e da juris-

prudencia geral dos povos extrangeiros, pensou que faziti um grande serviço aos desgraçados, dando-lhes os meios de existencia a14 aos dez anrios. Não se lembrou de que em qiiesthcs hiimaiiitarias a meia humanidade equivale h crueldade. A11rig;iiido 6 sombra da sua disposiçâo, como cm asjlo scgiiro, o menor de dez annos, esqueceu que, depois dc o tcr protegido iniciando a sua educaçilo, o ahândoriiivn no proprio momento (>m que comecavam a

apro\oitar-lhe os bciicficios. Alii cstá, porem, a disposição do codigo, que, nos termos

6

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6ti ALIMLNTOS

claros em que csth redigida, i120 admittc schqiier o sophisma i10 silave. de uma interpretaç'

Hesta em ultimo logiir o municipio, quo o artigo 292." chama á prestação alimentiria, tcando-o rxcliiido dn suc- cessão legitima !

E ainda no fim dc tiido o artigo 294.O, iricumbirido aos municipios a alimentayrto do menor até a p t l n d ~ pm que

possa gatihar sua ~>id(c, deixa ;i porta abertii ;i todos os

nbirsos. O municipio pútlt: despedir o meiior antes dos dez annos, desde que apparrya uma pessoa, que lhe pague os serviços mcdiiiiite o sustento. A cducação c !i instrucçáo serão antepostos os interesses municipíics. Siipporiha-se, aleni d'isso, que o nliniciitado, por defeito ~)li!sic+o oii moral, B incapaz de garihar n vidii cm qualquer f'diirlc. Então i i Ici, n'no considerando o seu cstado physico oii morirl, entrega-o ao asylo dc mendicidi~dc, ou manda-o implorar por outro modo a caridade piiblica : l «Se o filho dc pchssoa miscri i~t~l «completou os vinte c um annos, c não t~stií crn circum- «stancias de ganhar sua fortuna, podcrb ser recolhido niilguni uasylo dc meridicidadc, so estiver nesse caso, o11 imliloriir ((a raridade piiblicii por outro modo, mas riáo tem tlircito «dc continuar a v i ~ e r custa das rendas do conccllio.» A isto nccrrscc ainda que as camaras municipiics, não fiizeritlo OS regulamentos piira a exrcuyiio do codigo, roii1)am iios desgriigados o parco beneficio da Ici !

1 Sr. Dias Feri.eir:l, Cod. ann., art. 294."

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E APANAGIOS

~ b m m s r ~ e . - Direilo alimcnlicio dos filhos illegitimoi - Classifica$Xo d'es1e.s fillios - Siluaclo dos fillioa naluraes n l o porfilliadoa - Doutrina d n ilireilo palrin o exlrnngeiro sobre o seu direito nlimi~nlirio-Poder6 o lilho rintural 'n lo perfilliado accioiiar os paes por alimcnton, fuiiilnndo-se num rscripto particular, em que rlles tlcclarem n sua paiersidade?-Di- rcilo alimenlicio dos filhos perfilliados- Fontes dos artigos l29.", n.O e.", 174." e 178.0-Poderào os filhos pertilhados pedir alimentos aos avba?- Ciradiia$o da obrigaczo tendo o perfilliado conserte, descendentes e paes -Terao os paes t b r i g a ~ 8 o do alimenlar os descendenles legilimos do fillio perfillindo? - Discusslo das tres opiniões que podom originar-se em face do codigo civil - Relacao alimenticia enlre os ascendentes e os perfilliados e entre estes e ou irmaos- Dirciio ;ilimenticio dos illlios espurios.

O que dissemos rio capitulo anterior, classificarido c graduando os ascendentes e desccndentes em que pídr iii- cidir a ohr iga~ao alimcnticia, tem uriicnmentc logiir. rios rasos dc parentesco legitimo. Os aitigos 173.', 174.' c

177." fallam expressamchnte cm filhos legitimas o11 legiti- mados.

Agora devemos estudar o dircito ;ilimenticio dos filhos

illegitimos. D'estes ha uris quc podem scr pcrfilhndas 1 c a

i Codigo civil, rirt. 122:' C

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que chamamos naturaes,' c outros qiie ri30 podem ser per-

filhados e os qtiacs a lei dcnomiria cspiirios."

Os naturaes, como filhos dts duas pcssoiis entre as quaes

ri20 cxistr impedimento para o casamciito, podem n3o ocstar

~)crfilliiidos ori estar perfilhados. Os es1)urios iiiiricil podcm

sei. l~rf i lh i ido~." r 7 Irmos, ~,ortnnto, em a r io~ào geral de filhos illcgitimos:

r i ) os iititi~raes ri30 perfilliados ;

I ) ) os natiiraes perfilhados ; c ) os csp~arios.

Exnrnincmos o direito alimenticio d r cadn iimn d'cstns

clnsses. Scgiindo o codigo civil, os filhos riatnraes, qiie nào tenham

oblido n pcrfilliaç30 por vontntlc dos patbs oii por scrrtcriçn

iiidici;il, coriservam-se extranlios h iamilia n q11(l os ligcl

iinic*i~mcntc o Inço de sangiie. É riccessario qiic cxistn ii

tlcrlarnçiio dos paes em rcgistro de nnscimriito, cscriptiirn,

tcslcimrrito oii ciiito p i ib l i co ,bo que os filhos trnham nl- c~ciriyndo sc~itc ii(:n judiciill nn arç;io do irivrstipy;io dc pii-

tcriiitliitlt: ilicgitima, nos termos dos iirtigos 130.", 13 1 .",

1 Vcj. o artigo 1192.~, 11.0 4.0 2 Artigo 134.11 3 O sr. Dias F c i ~ c i r a clinma esprii ios 6 priincii:~ cspccic. dv fi-

lhos ntitiiraes, isto e, J L ~ ~ L C Z Z P S q u í , 2)od~ttdo sr l . 1>rrji/hrrtlr>s. o ,/cio

foram. Estn opinião 6 rcjeitxdx pelo :li tiqo 134 I), cliic sí,rnriitc ~~ic.1- lida espurios os que não podem ser peifill~ndos, r , port:iiito, iiiinrn pódc applicar-sc aos filhos qiie cliaiiiaiilos ii:~tici:ics, visto que cllcs, por n:io existir impedimento criti e seiis I)nt=s para o rnsnnieilto, potlcin ser perfilliados. Ficam na dcnorniiinyão de espiirios uriic:irnpiitc 0s filhos adultcrinos e inccstiiosos, segiiiitlo o ~ r t . 122 o

4 AI tigo 123.0

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E APANAGIOS fio)

132." 133.O, para gozarem do direito alimetiticio con- redido aos perfilhados no artigo 129.", n." 'L."

No nritigo direito portugucz Afcllo Frcire nBo conhecia difl'ere~iça entre os filhos para o effcito da acção alimcnticia: ((Criirn rintura difftmntiam lihcrorurn ignoret, et filii illegi- ((tirni dicti, cujuscumqiic ordinis ct conditionis, natiira tilii

O scii cxplicador dcscnvolvia o pciisamcnto do c.mirit.ntc c a i \ ilisia d'este niaricira :2 ((Coma ;i obrigiiyao de alinicritar ((liii. piwte da obrigayiío de educar, e esta tem por base ou ((~uiico rundamenlo a gerciçao, a qval se dá tatlio ttos f i - ((lhos lcgitimos como n o , ~ illegitinzos ou b«stardos, ein todas cciis especies de fillios que formam esta classe, sem excacprAo ((de iimn unica, ;i cohcrerrcia irnpfic~ pela mesma ordem aos ((piitas ii obrigar80 de alimental-OS.)) O assento de 9 do a1)ril n t l t b l i t i l \ i ~ tambcm esta jiirispriidencia, procl;iniarido os di- reitos tlos iiaturacs a screm aiimeiitndos prlíis pessoas quc

It1i.s dcbriim O ser. Seria rii~cessario para isto que clles cstivesscm hahi-

litados coni carta de perfilhayzo oii sentenyn, ou podcriani iiiiciitiir ii a c ~ a o de alimeritos indcperidt~ritc~morito d r iimii c de outra?

A ortlcnnyfío liv. iv, tit. 99.", $ 1 .O, c.orisigriava sem i.c~stric.yòos o dirclito alimenticio do fillio riattiri1l.3 Esta opi- rii:io era pcrfilliiidn por Borgcs Cariiriro e Corrcliii Tt~lles, c parece-nos mais ncccitavcl pcliis riizões, que iiidichnios em

I Obr. cit. , liv. i r , tit. 6 . 0 , kj 17." iiot. 2 I,iz Teiheir:~, obr. cit., p:irt. 1.0, p. 342. .? 1'rrjilIitryn"o dos filhos sacrilegos, 1). 2.5.

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outra parte,' c10 qiic a opini5o de Rocha, qiie exigia a per- filhaçào espontanea oii o reconhecimento judicial. D'estcl modo, o direito moderno é mais rigoroso do que o direito antigo sobre a sorte dos filhos naturaes não perfilhados.

O codigo, neste ponto, encontrou na Icgislação dos povos cultos muitas disposiçties d'ondr cxtrahiii a sua doutrina. A generalidade dos codigos extrangciros exige o reconhe- cimento dos filhos n a t ~ r r a ~ s para poderem dcmandnr os par. por alimentos.

Dalloz, referindo so A Icgisla~8o francezii, ~ ~ s c r e v e : ~ ccNous ((avens vri que I'obligation de nourrir, d'entretenir ct ccd'élever leurs enfants pèse siir les pdre et mdre naturels cicomme sur Ics pdre et mère Iégitimes. 11 en est dc mhme, «et par les mêmcs raisons, dc I'obligation de leur fournir cctles ctlitnel~is. il;otu supposons, bien entettdu, que lu p i a - «tiori dc ccs e,tfai,ís cst léyalemrni iiablir, snit par une re- c cot111ai.~snncc~, soit par un jugemerct. ))

Picot "iz: «Le mariage est Ia seiile basc tlc Ia famille ccrivilc. L'cnfnnt no dc rclations illicites est cri drhors dc ctla famille c i~i le , c t par consbquerit i1 iic jouit point de Ia «q~ii~litt:. d'hbriticr Ibgitime. Crprridant, inspirílc par i111 scn- cctimeiit d'humanitó, Ia loi donnc h I'crifaril riatiire1 lr'galr- «rnrnt recolinzl le droit de rkclamcr clcs iiliments h ses pùrc ccet mhrr, et celiii d'obtenir une certaine portion rlrs 1)irns wqu'ils orit Iaissfis.)) Esta opinião 6 scgiiida por totlo< os

outros civilistas. Nào tcrido obtido caria de perfilhayiio ou sentença, o filho

1 Yerfuhação dos fifill~os sacrilegoa, p. 27. Obr. cit., vb. nzariage, n . O 623.0

3 Obv. cit., art. 756.O

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natural, segundo o codigo civil, não podendo demandar os paes por alimeiitos, fica extranho á familia d'ondc foi oriundo, e póde considcrar-sc iim abandonado, cujos paes não são co- nhecidos aos olhos da lei. Ate aos s r t r nnnos está debaixo dn triteln e administraçáo da respectiva camara municipal, ou das pessoas qiie se houverem encarregado voluntaria, ou grntuitiimcntc, da sua creaçào.1 Depois dos scte annos E posto ri disposiçiio do consclho dc bencficencia pupillar, ou da magistratiiia c p ~ c o ciiil)stit~ir,~ qiic lhe dará o rumo dc vida ~ I I P li)r mais vantiijoso, fazendo-o entrar em algum cstabelrcim~nto, ou entregando-o par contracto a pessoas que qiieirnm encnrregíír-se da sua cducaçao r ensino.:'

Siipponha-se, porem, quc o filho, cm vez d r ter dos paes i1 c1ccl;ira~iio dii pntornidadr em registro de nascimento, c~scriptura, testamento oii aiito pul)lico, tem apenas iim do- cumento iinrticiilar para prolar a perfilhação voliiritaria que os pacs l h ~ fizeram; podcrH rieste caso demandar por ali- mentos o aiictor do cscriptn particular?

I83 evidente que, em vista do artigo l'23.", este docu- mcnto não 6 titulo sufficientr para a perfilhação voluntaria ; 6 iinicamentc iim meio de prova para a acçeo de irivcsti- g a g n ~ dc palcrnidnde illcgitiin;~, nos tcrmos do artigo 130.", n.* 1 .O, ou clc mntcrnidndc, nos termos do artigo 13 1 .", que admittc qunlquer dos mcios ordiriarios de prova. Por isso, cremos qiic o filho p6de intentar contra o niictor do (10- ciimcrito rima acçào dc pcrfilhaçso, mas riuiicn pódc ser-

1 Codigo cikil, :irt. 284." 2 Artigo 285.O 3 Artigo 286.0

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7 2 ALIMENTOS

\ir-sc rlo documerito para o obrigar a dar-lhe alimentos com o fundamento do rcconhccimento voluritario.

1'6dc dizer-se contra isto quc, se o documento 6 suffi- cicritc para a acçao de p e r f i l h a ~ ~ o , deve por maioria de rnzUo ser suficiente para a acção de alimentos. N3o prova cstc argumelito. O artigo 129.' d6 aos perfilhados cspon- tanenmente ou por sentença n direito dc serem alimeritados pclo pcrfilhante. D'onde se infere qiie este direito é uma c.oiiscquencia da perfilhação espontanea ou da pcrfilha~fio jiitlicial, c que, s6 realisando-se uma ou outra, e qiie póde cfrcctivar-se o mesmo direito. Ora, na Iiypothcse em que- st50 nno houvc ~icrfilhaçào espontanea, porque o documento pnticulnr nào 6 prova bastaritt. para ella, nem houvc pcr- filhaqao jridicial, porque o alimentarido não intentou a acqão competente. Nao póde, portanto, pedir os alimentos com fi~ridamento no cscripto particular.

No direito Srancez j B foi agitado esta qiiestão; c 1)alloz 1

apreserita iim caso julgado, em qiie se decidi11 que bas- ttivii para o dircito de alimentos um escripto particiilar: «Toiitcfois, il a étP jrig6, cn cfFt, que I'authcnticite dc I'acte ((do recnntinissnri~c tl'uri cnfant riaturel nficcssuire pour ((Ctablir sa íiliation, rir I'cst poirit Iiour lui donncr droit h

«des aliments, ce droil cst sufisamnient c'tnhli pnr un acte «SOUF sein!j prirB.)) I? com cfit~itn este piircccr phdc sus- tentiir-se em Sncc. dos artigos 762." c 335.O do codigo f ranc~z. Conforme o artigo 762." os filhos incestuosos c iidiiltcririos tem clircito aos iilimciitos, e siyiirido o iirtigo

335."cllcs riào potlcm sei. rccoiilic~citlos auto iiiitli('ii-

1 Obr. cit., vb. mariage, n." 623,

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E APANAGIOS 73

tico, d'onde se conclue qiie não 6 preciso esse auto para qiic exista o direito aos alimentos.

Esta argumentação, ainda qiie fosse verdadeira, náo po- deria ser applicada ao nosso codigo. Os espurios tem, pela artigo 136.O, o direito de demandar os paes por alimentos cm dois casos, que não podem realisar-se sem que exista iim dociimenlo authentico, a decisão judicial, que julga proccdcntc a prova da paternidade ou da maternidade d'rllrs cm processo civil ou criminal controvertido entre seris pars ou outras artes, e a decisão judicial, que julga provado o

estupro violento ou o rapto nos termos dos artigos 101.'' e 130.O, n.' 3."

Nada pcxrdc o filho natural em riao poder iritentar a ac@o ilc alimeritos fundado num documento particular, visto qiie o ai tigo 130.", n.' I .O, permitte a acyão de investigaçáo d r l)i~twi~idatle illegitima, existindo rscripto (10 par, em que expressamente rleclnre a sua paternidade, e o artigo 13 1 ." permittc ;i a c ~ a o de investigação de maternidade, devendo provar por qtíctlq~crr dos meios ordinarios que C: o proprio qiie scx diz nascido da prctclrisa mae. Se o dociimento 6

suficirntc parti a acção de investigiiyTio, o filho fica emfim com todos os direitos do artigo 12!).", c, por isso, em me- lhor sitiiaq3o do qric sea interitassc iinicamentc a acção ali- mpntici;l. Se o documento tcm algum vicio qiic Ilic illida ii

força probatoria, o pretenso filho dccahiria ria acyáo ali- menticia, como decahe na acçáo de in\cstig;ryão de pnter- riidiidc nii de maternidade. Scria sc8m diivitlii para desc,ji;i qiie o cocligo iimpliasse bonc~licio dos fillios nutiiracs a

;iccào rle iiivcstign~Fto de patcrnitlndc; mas nào p6tle dclixtir dejreconliecer-sc quc ;i itilcriçGo do Icgislador foi rcbs[i.ingir

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o mais possivel esta acçao. Sendo isto assim, ampliar n acção alimenticia dos filhos natiiraes a casos r m qrie i1 iri- vestipqão não 6 admittida seriii ir de encontro ó vontade dn lei, porque na acqáo alimenticia deviii prociiriir-scb sempre o vinculo de sangue ou a relaçào de piitc~rriitfiitlr filiação, o quc a lei pretende evitar em todas as suas pro- videncias sobre a perfilhaqão judicial.

Indaguemos agora o direito alimenticio dos filhos natiirav\ perfilhados.

Entre os direitos, que os pcrfilhados cspontaneamcntc ou por sentença adquirem, figura no artigo iYS9.", n.' 2.", o de serem alimentados pelos pars. Na falta dos paes po- dem ser alimentados pclos irmilos, conforme o disposto nos artigos 174." e 175.'' A doutrina d'este4 artigos encontra- va-se jh no primitivo projecto do Sr. Sciihra nos artigos 133.', n.' 2.O, 176.' e 177.", e no projecto da commiss8o revisora nos artigos 1 29.', n . V e O , 174.' r. 175.' A fonte do artigo 129.' C o artigo 130.' do projecto hisparihol, que dispóe: «E1 hijo, reconocido por el padre 6 Ia madre, i, ((por 10s dos de comun acuerdo, tiene derecho : I .O ;i Ilevar «e1 apellido de1 que le reconozca; 2.' ú ser nlirncntado ((por este; 3.' ú percibir la por(-ion herrditaria que sc tlo-

((termina en 10s artlculos 776 y 777.)) A fonte do artigo 175.' b o artigo 186." do codigo itiiliario, que dispõe : I1 ((genitore é tenvlo a mnnto?erc3. oltrcarc, islruirc c(! a ~ u i a ) - ~ aad vrna prnfcssiotre 0 atl t o ~ ' n r ~ c i1 figlio nnturnlc rrco- ((nosriuto, c d cr sommi)~istraryli anrhe s~iccessicnrnettle gli (cnlinze~tti i11 ca.50 ( l i bisogno, sc il tiglio riori .lia c~oiiiugc o

c~disceriilciiti iii coiidi~iorie di soinrniriistriirglicli.,~ No direito francez riào se dh c.laramcrite iios pcrfilbado\

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o dircito aos alimentos; mas, chamando-os o artigo 786." c scpi~intes ;i siit7cessUo dos paes, entende-se com todo. o fiindamcnto qiic drvern ter o direito de ser alimentados por elles. Alcm d'isso, como a lei dB alimentos aos incestuosos e adultcririos no artigo 762.", nno podia negal-os, sob pena tle coritradicç8o. aos simplesmente naturaes. Dalloz resumiu os fiiridanirritos d'estc parecer nas scguintes palavras :i «Peu ccimporte d'aillerirs que les enfants soient naturels simples, «inc.estueux ou adulterins. La loi (art. 762.') reconnajt c(positiverneiit le droit des enfants adulterins ou incestiieux, «cc yiii implique à fortiori celui des enfants naturels sim- «plcs. Comment d'ailleurs Ia loi refuserait-elle B I'erifant ((riaturcl iincl actiori pour aliments contre les père et mère ccqui l'oiit rccorinli, qiiand ellc? Ii i i nccorde, siir les bicns ((de ceux-ci, a p r h leur mort, dcs droits successoraux?))

O codigo da Sardcnha, negando os direitos dc succrssào tios perfilhados, tambem os admitiia á acçno alimenticin.9

Neste, como em muitos outros pontos, a jiirisprudenria moderria segiie o pensamento do dircito romano. O di- reito romano clirgava a imp8r aos filhos Iepitimos a obri- gação de alimeritar os seiis irmãos natiirars. A novella LXXXIX, cap. I').', $ iilt. dizia: «Si quis ... Iiabens filios ((lrgilimos, rt.liiiclriat e t natur;ilrs, pnsci nnlztrulcs a legi- ((timis scincimus, ut decet eos .secut~tlum suh.stan~ia~ mcn-

((suram a bojlo viro arbitratnm. »

O direito aos alimentos d portanto reconhecido pela jiirie-

1 Obr. cit., vb. rnariuye, 11." 623.~ 2 Artigo !150.0 Vcja-se taiiibern o codigo dc Parina, xrt. 121.~;

d:~8 Du:ls Sicilias, art. 2 6 1 . O ; de Liiisi~na, artt. 224.0; c. 183.0 r10 ço-

digo da Sardenhrr.

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76 ALIIIENTOS

priidericia antiga e modcriiii nos filhos naturat3s p~rfilhndos. O codigo civil, no artigo 174.', chama ii rciilisa~ão tl'cstc direito cm primeiro logar os pars, cm scpiindo lognr os

irmaos. Nao poderão os filhos perfilhados pedir alimentos iios

outros asceridentes, como os filhos legitimas o11 Itlgiti- inntlos ?

O codigo civil falla iinicamcritc dos paes. Goycna, com- mciitando o artigo 130.' (10 pro,jecto hispanliol, diz : «No «ctlcnnca, pucs, lu obligacion t l ~ Ios alitnen/os ti 10s ahr los : ((01 reconocimiento es un hrchn p~rsonal t lp l padrr d df la ((madre, y no puede producir obligacion~s contra un lcr-

ctccr0.u Este 6 scm duvidn o pensamerito dos artigos 174.O e 1178." do codigo civil portugiiez.

Estamos longe de defendcr t.m direito constitiicndo a disposicao do codigo. S e o reconhccirnento 6 pcssoal, como

a rmoiitos diz Gogena, para negar aos filhos perfilhados os I ' dos avtis, tarnbt.m deve ser pessoal para o cffeito de os nùo chamar tí succcss&o dos perfilhados. Ora o artigo f 999.", miindarido applicar o disposto na secq8o ii hcriiiira do filho perlilliado ou rccorrhecido, evidentcmentc mostr;~ tluc os nk6s sùo cliamados !i sticcess'io (10s perfilliados. O priricipio da corrclacão do orius alimenticio com o direito succcssorio exigia ou a rlimiiiiiçno do artigo 1999.', ou ;i. modificiiqão do artigo 175."no seritido de se ampliar n obrigaçáo ali- mcriticia nos oiitros asccndrritt.~ ;ilcm dos pacs. F: ccrto, porhrn, qiic a c.larca~a do nrligo 175." e i ) d,i sim fonte, o

;irligo 130." (lo ~)rojcclo Iiispar~liol, tii*iirii toda i1 iluvitiii sohrtb ;I siiii \ci~lii(lc~ii.a iiitcrl~rt~liiy~io.

Sc i i i i i i~~rlilliiitlo livcr, iiltam dos piics, ~,orisorlr t b t i e s

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E APANAGIOS 77

cendentes, entendemos, cm harmonia com os principias que dcixfimos eslabclecidos no capitulo antcrior, qiie em pri- m i r o logar deve ser alimeritado pelos bcns da c o r i ~ o r t ~ , depois pelos bcns dos descendentes, c s6 depois pclos bens dos pws pd lhan tes . O codigo italiano no artigo 186." emprega as palavras, se i1 figlio non ha conirige o dkcen- tlmtli in condizione d i sonimi~iisírorglieli.

O codigo italiano impõe aos pacs a obrigacão de ali- meiitar os descendentes legitimos do filho perfilhado, quando a mac oii os descendentes maternos não possam dcsem- 1)cnhar este d c ~ c r . h'o citado artigo dispõe: <cGjualr ob- ((bligazione hu i1 genifore verso i tliscendenii lrgittimi del «Fylio aalurale premorlo, yuartdo lu loro madre o gli as-

((cendcnii maierni non siano i~i . yrado d i provvederri.)) O codigo de Parma dizia, ao coritrario, no artigo 122." 1 « Q «&oit aux alimcnls ne s'ételrd pns ciux descendatztg quoique «lt!yitirnes (tas e,i/'anís ne's I~ors mariage.))

Quiil das duils disposiç6es seguiu o codigo portugucz? O iirtigo 175." rino sc refere propriamerite a esta hy-

pothcsc, porque ahi se tracta sómcrite dos alimeritos quc os pacs dcvcm aos filhos perftlhados, mas n80 aos dcscen-

a iario (I! deiitcs legitimos d'estes. A disposiçao do codig-o it I' justa, porque os cffeitos da perfilhayão, embora sejam pes- soncs, rio sentido de o perfilhantc riao trasmittir aos seus ;isc,cridc~itcs o onus alimenticio, n8o púde a mesma perfi- Iliiiyfio ser pessoal no sentido de se niio transmittircm os smis efliiitos aos descendentes do perfilhado. Se o pcrfi- Ibado p6de pedir alimentos ;i scii pae, porque riúo lia de

1 Collection Saittt- Joseph.

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7 8 ALIMENTOS

o seu filho legitimo rlo mesmo perfilhado pedir alimentos a sei1 avd Y

A hypothese, em nosso parecer, deve ser decidida pelo artigo 174." que se refere ao caso de não existirem os

paps e existirem filhos legitirnos ou legiiimados que pre- cisem alimentos, a qual é precisamente a nossa hypothese. O artigo manda pedir os alimentos aos ascendentes mais

~)roximos de qualquer das linhas, segundo o direito succes- sorio, d'onde se infere que, sc os avos forem chamados :I

succcssão dos legitimos ou legitimados, oriundos dos filhos perfilhados, devem egualmentc ser chamados ao pagamento da pensão alimenticia. Exemplificando para maior clareza dn doutrina : Antonio, filho legitimo ou legitimado d r Frari- cisco, precisa de alimentos; na falta de seus paes poderá dcmandal-os a seu avo materno, e ao avo paterno, que pcr- filliou Francisco 4

Podem offerccer-sc tres opinifirs. A rime ira, sustentando que, estando os ascendentes no mesmo gr6u e sendo cha- mados ambos 6 success3o do aliincntado, ambos tom por esse facto a obrigaçso alimenticia. A seguiida, defendendo qiic o avd paterno, sendo chamado á successão unicamente na falta dos ascendentes materno$, s6 6 obrigado rio caso sujeito na (falta do avB materno. A terceira, finalmente, sustcittanda que, não sendo em caso nenhum o referido avA pattlt.no chamado 5 sucçessào do alimentando, tamhcm em caso iienhum phdc ser demaiidirdo por alimentos. Todas as trcbs opiniões podem ericoiitrar argumentos rio codigo civil. fi cliiro que, mandando regular o artigo 173.O a obrigação alimrnticia pelo direito siiccc~ssorio dos ascendentes, é este o fundamento da questriio.

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E APANAGIOS 79

Quem examinar o codigo civil nas disposiçbes relativas 6 successão legitima dos ascendentes illegitimos, que são a respeito dos paes illegitimos os artigos 1 9 9 5." 1995.", e a respeito da siicrcssão dos ascendentes do segundo grúu e seguintes os artigos 1996.; 4997.O, 1998." e 1990.", convencer-sc-ha de que não apparece uma disposição que regule o modo d r distribuir a tierançii do iieto quando concorram a ella o avd legitimo e o a i t i illegitimo. O ar-

tigo 1909." refere-se á hypothese da siicccssão dos ascen- dentes do filho perfilhado, e na questzo que discutimos não se tracta do filho perfilhado, mas sim do filho legilimo ou le- giiimado d'cste, e por isso nào só ~ 1 s t ~ artigo riHo tem ap- pliçaçào, mas nenhum dos artigos 1996.", 1997." e i 998.O aos quaes elle se refere. E m vista d'isto, pbde dizer-se a favor da primeira opinião que, não podendo ser a questão decidida pelo texto cxpresso rla lei, deíe ser decidida pelo seu espirito, segundo o artigo 16." E cntfio pódc dizer-se ainda que, sendo o avò chamado a successao do filho per- filhado de seu filho legitimo, coriformcb o artigo 1999.', deve ser chamado egualmentr ií successão do filho legitimo do seu filho perfilhado. Pclo que, havendo dc regular-se a success~o pelo artigo 1997.", e est an d o ambos os ascen- dentes no mesmo gráu, ambos devem prrlstar a pensa0 alimetiticia, porque ambos concorrem d succcas;io.

A favor da segunda opiniao póde argumentar-se por ideritidade de razão do disposto no artigo 2002.' Este ar- tigo d i ~ qilc co~(~ {àlrci de irmãos legitimas e de dcscendcntes «seus herdarão clo mesmo inodo os irmãos perfilhados ou «reconheridos. » Il'onde pnrecc iriferir-se que a successâo legitima s6 vtii aos piircrites illcgitimos na falta dos pa-

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80 ALIMENTOS

rerites Icgitimos, e que, em a nossa hypothese, só na falta dos ascclrideriles maternos E que pGde ser chamado o asrcri- dcritc paterno.

A f a ~ o r da terceira opinião, seguida pclo codigo de Parma, púde dizer-se que, seiido a fonte do codigo porluguez o ci- tado artigo do codigo italiario, se nqucllc quizcsse perfilliar a disposi~iio d'cote, niio se csqiicccriii de cliiimnr cl,iramenlc !i 01)rigoçào alimcnticiii o ascendcitte, corno faz o codigo italiano. Alem d'isto, póde dizer-sc que o codigo chama rio nrligo 1909." o asccridentc h succ2esslo do fillio pcrfilhado: e 1120 legislando sobre a successno do ascendente rios I)ctis do filfio legitimo do perfilhado, quiz exclriil~o da mesma sucrcss8o; e que, ainda quc o cliamasse A surcess;io, não dcvia concluir-se d'alii para a obrigaç8o alirneriticia, visto qiic o aarendrnte do fillio perfilliado tem dircito 6 success;io pelo artigo 1999.O, c nAo tcm o onus alimeriticio, segundo o artigo 176."

Acliamos n quc5tn0 realmeritc embaraçosa. Por um lado a ligpotlicse estii sob o imperio do artigo 173.', porque fulullum os paes e ha rim filho legitin~o ou legitimndo qiie carece de alimentos, o qual de \e pclo mesmo ariigo de- maridal-os aos asccnde~rtes mais prozimos d c qiialyu~r das linhcls, sagurido o seu direito smccessorio. Pelo outro, a de- termiriayão do direito succcseorio, em vista da obscuridade do ( d i g o , torna-se, ria hypothcbse em questiio, dificil dc assentar.

1 No direito francez Deiiioiomlic, obr. oit., tom IV, ~ I . U , sus- tenta que a obrigaçiio :ilinieiitici:i dos :iscendeiitcs se estende aos

filhos legitimas do perfilliado: (cais le lien qui unit le pkre et Ia m8re anaturels B leur enfant, comprend aosei Ia descendrtnce Ibgitime de

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E APANAGIOS 8~1

Ahi ficam enunciadas as tres opiniões e os seus funda- mentos principaes. Ao caso julgado pertence fixar a ver- (ladeira S O ~ U C ~ O .

Verificnda a obrigacão nlimenticia dos ascendentes para com os filhos pt~rfiltiados e seris descendentes legitimas ou Iclgitimiiilns, ciimprr-nos examinar a incidencia da mesma ohrigiiqão rios fillios pcrfilhodos ti respeito dos seus ascen- ílcntcs. P(1lo principio dn rrciproc-idade os filhos perfilhados SI') podem, srgiirido o artigo 175.O, prestar alimentos u seus pites. -4 cste rcspeito diz o artigo 187.' do codigo italiano: ((11 fiqlio ,ttr/?r,.cllr devr gli írlimenti nl qenitor~, quando «qucsti iioii nl~hiii íisceiidcnti o discendenti legittimi o ron- ((iiige (*h(. si~iiio in grado (li somrninisIrarglie1i.f))

Buriiva, Ihllarido hcerca tlo projecto do codigo italiano,'? defcndia ;I mesma doutrina : « R un doeere di natura que110 «(li prrsrrtre yli nlimertíi ul genitorc. rhr rico)tobbc i1 figliz~ols, ((126 p ~ o s s i esoncrctrnp i1 figlio ycr ctltri riguardi s e h vi- alecanti. ))

I? esta a jririsprudcncia seguida pelo codigo civil, e neste ponto o codigo 4 cohcrentc, porque, iiBo chamando os as- cendentes do segundo grAu :i prestasao iilimenticia dos netosb seria absurdo em chamar os netos, que não podem sueceder

tcelui-ci.. Dalloz segue a mesma opinião dizendo, obr. cit., vb. naa- riage, 11.') 627.~1: .Eii effkt, ie iien de paretitb civiie qui uriit ies pbre .et mhrc B I'eiifant natuiel s'applique aux descendaiits Iégitimes de ace dernier. I1 ri'btnit ptis besoin ici d'unc disposition spkciale: I'rrt. r205 suffisait. *

1 Vejam-se sobre o mesmo assumpto o codigo de Parma, artt. 181.0 e 124.0. e :ia leis 5.8, Ijg 1:' e e R:, Dig. dr a,qnoaeendia et nlrvdis l ihois.

Stfrdii s11l p r o g ~ t t o rli Corlice m-vi l~ . rit em B o r d ~ , nrt. 187." t i

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ALIMENTOS

aos avós, na conformidade do artigo 1 Y89.", ao pagamento dos alimentos de que estes c a r e c e ~ s e m . ~

O codigo cstnbtlece tnmbem no artigo 176." o tlircbito alimcnticio dos filhos perfilliados a rcspchito dc sciis irmiios, dando o primeiro Iognr nn griiduaç8o aos irmãos grrmnnos, o segundo aos irmóos iitt~rinos, o terctbiro aos iim3os con- sariguineos. Sendo assim, p«dri%o os fillios illr9itimos pedh. nlimeritos a scris irn18o\ !tleifimos? Scm duvidii. Se O fillio 6 perfilhado pela m3e, os filtios Icgitimos d't3sta sao irmFtcis iiterinos d'elle. Se o filho é prrfilhatlo pclo pac, os fillios Irgitimos d'este são irnisos coiisariguiiit~os d'ellr.

Besta-nos fallar da divitlíl ;ilinienticiíi no íittinente aos fillios espurios.

O artigo 135." do cndigo civil coriccde aos cspurios o direito aos alimentos; mas, scgiiirdo o artigo 136.", « o fillin «espurio só poderii demandar seus paes para o effeito ~sobredicto, se o facto da paternidade ou matrrriidade sc

«achar provado em processo civil ou criminal, controver- ((tido entre seus paes o11 outras partes, ou no caso do n." 3." «do artigo 130.", se o kiçto t i ier sido judicialmcrite pro- «vedo.» E m dois casos pódr, portanto, o filho cspurio pedir alimentas a seus paes: I .O , quando o facto da piiterriidade o11 maternidade se achar províldo em processo controver- tido entre seus paes ou outras partes; S.", quando tiver sido judicialmente provado o cstupro violento ou n rapto

1 Tambein coiicordam os civilist:ls franceses em que, segundo o codigo n'apolcão, são os filhos l~eiíilhritlos obrigados a :tlimciitrir seiis

paes. l'odem ver-se Demolon~be, obr. oit., t ~ i i i . IY, 1 1 . ~ 18.0; I)alloz, obr. c i t . , vb. ~iaariage, 11." 624.0; Duranton, Mrrlin, Delvincoiirt, Toiillier e oiitros.

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E APANAGIOS 83

de siiii mRc, r cllc tiver iiascido passados cciito e oitenta dias c aritrs dos trezc.ntos que decorrerem desde a practica do rrInic. Este caso nóo era indicado rio primitivo projecto (10 sr. S(.;ibra, que legislava sohrc a materia tios artigos 135." i 36.", c foi introduzido pela commiss;io revisora.

A diqposi~áo do primiti~lo projecto era irispirada pelo artigo 19'3.", ri." 1 .O, do projecto italiano nas palavras se ln ynlei~rcirti o mnr(8rrrirtí I-;sul[; indir~irarnntte da sentcnzcl ci- i ~ i l c o p ( ,~ t / / e . Qiiiirito ;í coricrss8o rm geral dos i~limentos aos c>sp~ir.iou, os cocligos extrnrigeiros, abandonando o rigor do tlirrito zwinario, deixam-ii'ii corisigriada em siias provisõcs.1

Em liido o mais os espiirios são, scgiirido o nosso codigo, rxbrarihos O familia dos pacs, c iiem mcsmo podem pedir iilimi~ritos tios seus irmáos egiiiilmerite espurios.

Nas terõo os pnrs direito a serem alimentados pelos fi- I tios clslicrios ?

Algiiris cscriptores francezcs siistrritam a rieg~tiva, di- zrndo quc nenhum texto legal Ihcs concede esse direito, e que iim crime tão gravc, como o adiilterio e o incesto, riao p0de dar uma acçao jridicinl. T)emolombc e Dalloz se- gitem, comtudo, a opiniào coiitraria.

No codigo portuguez cremos que, embora nfío haja uma disposiçáo que estabcleya claramente a ohrigaçáo alime~i- ticia, ri20 deve negar-se ao pae o direito de ser alimetitado 111*los Iillios espurios : «La dette d'aliments envers ses père ttct m+re (1st pour tout crifant, que1 qu'il soit, une detti: <c~ii~ri'ib. Necí~re videlur el is qzri crlimonia t l e n ~ g a t . ~ ~ O

1 Vej. projtlcto hisrtnrihol, art. 131.c'; codigo civil francez, art. 7ii2.0; (1:) S:ii.<leiiha, rtrtt. 187." e 957.0; tlae I>u:ts Sicili:~~, art . 266.''

2 I)ciiioloiiil)e, obr. cit., toin. iv, n." I!)." *

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codigo considera como fundamental na divida alimenticia o principio da reciprocidade. Alem d'isso, o reconhecimclnto da paternidade, nos dois casos do artigo 136.: não produi sómente obrigações para os pacs ; dá-lhes tamhcm direitos, como o de nomear por acto entre vivos, ou em seu testa- mento, tutor aos espiirios, conl'ormc o artigo 2 7 9 . q n t r e esses direitos deve, pela iiaturcza c fundanierito das relações de paternidade e de Liliaçào, figurar em primeiro logar o que diz respeito aos alimentos. Sào verdadeiras as palavras de Demolombe: «Or, Ir refus d'aliments ne serait pas iIn ((moiridre scandale; pt la loi Itr doit pus tolher que l'en- (c fant, que1 qu'il soil, incestz~eus mdme oti clth~l(r'rin, qui «pcut nourrir ses pBre cr rnèrt~, 1 ~ s laiasr s«ns ctsile ~t san.9 ((pain. »

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12 APANAGIOS

CJii~iiniiirlo.- Sei5 a obriga530 alimeiiiiciii conimum aos dois coiijuges, qualqurr que seja a lornia do casamento?-Poderá o Tilho, a quem os paes oiitregarani s lulura legilirnn, nccioníll.~ por alinienlos? -120der6 a m l e pedir aliinenlos para o enibryso aoeascendcnles paternos d'elle? -Soluclo d'eelas quesiòes no direito antigo e moderno.

Existiam ainda rio antigo direito portugucz algumas questóes quc 6 convenierite examinar nestc capitulo, verifi- cando qual seja a sua soluçao em face do direito moderno.

Qiiestionava-se sc a obrigação alimenticia era, ou rino, commum n ambos os conjuges, qiialqiicr que fosse o regi- meri do casamento. Havia quem dcfcndcsse quc a obrigação commrim dos csposos sómcntc tinha logar, havendo commu- nhão dos bens, c ri?ro qiiando o casamento fosse contrahido segiirido o rcgimcn dotnl. Lohno dizia a este respeito:' «Quando os pacs são casados segundo o costume do reino «com commuriicaq5o universal dc todos os bens, nenhuma ((duvida occorrc crn ser cornrnum dr ambos os paes a obri- (cgaqao. » Emqiiarito, porem, ;io rcgirncn dotal, Loblo fazia as seguintcs distincçocs: «Ou a rniilhcr, ou nlcucm por ella

1 ATot. Q Mello, liv. 11, tit. (i.#>, 9s 1 l . O e 12.0

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86 ALIMENTOS

((aonstitiie todos os seus heriil cm dote ao marido; a erilcio

((corno r!/? prlo.5 fr t~rlos I: ohri!]«i/o « sirxln~lctr os Fllfffr!/lJ.P

(((10s fillros, Fc~rln (l,slcs ct1inirn1n~lo.s prlos fitrc.(os, qnr siio

«contnluns r climprc o marido iim dos eiiciirgos do tlotcb.

«Se por6m a inlilht*r 011 S ( ~ I I S ~)i~reiilos lhe assign;irii iini

((dote certo (. os inni.; bciis (Ia iniilh(~r ficiim píir;ifci.i)iic~s;

«e critao ou c1 mtrll~t~r~ cw~icedr 11 tr~lmini.srr«~cln P l j .~~iç(io

«d'cllrs ao ntnrirlo c Frnnlos no mrsmo; ou a rn~llkn. .sfl

«rescri.cl (L «cln~ini.strn~ão P />U;('ÜO 110s bens parafcrnac>s,

((e eníào n priniro.;(~ obrigaião Jira do rn«~*ido j á pelos

«/'ruclos dos seus bcns já pelos (10 (lote; e só a mulher fica

«subsidiariamente obrigada, qunrido não possam supprir i1

crtiido as faculdades do marido.))

O fim d'estc jiiriscorisiiIi,o era mostrar qric «s6 da com-

«miinicafúo de I~ciis ou friictos e qiic podia proceder ficar

((commum dirclcta ou iridirertameiite a obrigayúo de ambos «os I'aes.))

Mello Frcire iiúo fazia distincção entre o casamento sc-

gundo o costiimr do reino e o contrahido por dote c airhas

para o feito (Ia commiinh8o da obrigaçfio aliincnticia :I ((Et ((alendi patris, rnatrisque csptlnsis, si,-e rnntrimoniurn sim-

((pliciier, ct cltl r (yni cor~s~v/udinern ron~rnc í t~m sit, si1.e

«nd 9ui . i~ romnni formam per dotem rt «rrh«s; namqiic

((gcrieralis est dicta ordirtatio, (lib. iv, tit. 99.Oj, ct ideo

((gcneraliter, et siiie iilla distinctionc in~cl l ig~nda. »

1)isciitindo n qucstWo em faccl do codigo ci\il, sc~ii imos

ii opiniúo abrayada por Mcllo Frcirc rio tlircito iiiitipo, tb

cremos qucb ,i ohrigaf20 cilimcnticia 6 commum nos dois

1 Oõr. cit., l iv. 11, n . O Kn, 3 12.0

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corijiigos, sc:ja yiiiil li)i. o i~t~F;imeii tlo c.as;inicritv. Os i~rtigos 172.' c 173." do codigo civil irnpnem aos paes o onus ali- menticio sem distincyão de forma matrimonial. O casamento póde scr contrahido com commiirilião de bens, com scpa- rayão cle beris e de adquiridos,' com separaçgo de bens e cornmurihão dos adqiiiridos,% com o rcgimen dotal.8 A obri- gíiyzo aiirncriticia iiào p r ~ \ ( ~ i n da riatureza do contracto, ~~rovkrn do hcto tla procreaq3o. Scndo a yrocreaçào um facto cornmum dos dois cor\juges, cgi~almcrite commum clcve stlr a obrigaçUo. A rialrirczo iniilicnavel dos bens do- tacs desapparecr, dcsdc qiie cxiste a rieccssidade alimenti- cia.4 O tlireito de existcricia dii fiirnilia csth acima das csti- ~)lilaybt!s da Iri sobro as formas tlo roritracto rnatrimoriial. Isto procii c~ t i cos deveres provrnientcs da procreação cstlo ilm primeiro lusiir do qiic as c.oiivcnções sohrc os beris, e que, por isso, nrinca pcídt. iirgiimentar-se da d i~ i são dos I)eris cstabclccida no pacto conjugal para a di\isão da ohri- g a ~ h oriudda da procreaçjo.

.Jiilgarnos, pois, scmprc cornmum a ohrigarõo nlirnenti- tki, st:jíi q11a1 for a convenyào anteniipcial.

1)isciitia-se larnhern rio direito aritigo sc o fillio, qiic ti- iesst. rtbc*t~hido a sua Icgitima, podiii, tendo-a dissipado, ac- cionar os paes por alimcritos. O i~sstwto de 9 de abril re- gtili~\n ;i I ~ ~ ~ ) o t h c s r , iirnpliantlo a ol)riF;ayno ;ilirneriticiíi: «oii

((os tlic.tos filhos rião tenham iiiridíi recebido as siiiis Ivgi- ~tirniis, oii as hajam ,i;i recebido dissipado ; l,ortluta a 51

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88 ALIMENTOS

((devem os pais imputar n int~mpcstiva entrega, que dellas «lhe fizeram.))

Lobso, que glosou o assento de 9 de abril, recommeiidavir que a um filho ((assim prodipo e dissipador ngo se devem (46 assignar segunda vez alimentos tão lautos como que ((primeira vez se lhe assignariarn, mas com muita parci- «mania.»

Meirelles entendia 1 que o assciito faltava unicamente do caso, em que a legitima tinha sido entregue em vida dos paes, poisqrie s6 então 6 que devia reputar-se in/cn/lm/i i .n t i entrega. Por isso sustentava que «se por Sallecimrrito de «um dos paes lhe entregar o supervenieritc a Icgitimn do

Issa neste udefuncto, e esta sufficiente para alimentos, cc:: «caso a obrigciqao de alimentos, ainda ' I I I ( ~ o alimentario «dissipe a lcgitima recebida, porqiic nesfo caso a entrega «não foi intempestiva, foi no tempo rnarcatlo na lei, e por «isso não ha que imputar ao filho que dissipou o que de- (<via conservar. »

Segundo o codigo civil, cremos que em ambos os casos o filho tem direito aos alimentos. Deie atteritler-se, porbm, ao disposto rio artigo 1 8 0 . O , pelo qual cosca a obrigação alimenticin, se n oecrssidade dos alimentos I ~ ~ . i i l t i i do pro- cedimento reprehrnsivcl do alimenti~do, c cstc> c-rncr~darido-se os p6de tornar desnecessnrios. Se a emrntlii do alirneiitado ja n8o póde fazer com que elte deixe de curccer dos ali- mentos, como no caso de já tc3r dissipado os bens quc possuia, o ncto rel~rehcnsivel d'ellc srrh tido em conside- raçàlo só prira o eRcito de se lhe arbitrarem menores, ou

1 Rcp. vb. alimentos.

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E APANAGIOS 89

de se lhe reduzirem os j 6 arbitraílop. @ o perisamento de Lobflo, quando recommendava a parcimonia no arbitra- mento alimenticio.

Mas supponha-se que o pae demandado por alimcntos oflerecr ao filho a legitima, que lhe ha de pcrtencrlr por sua morte: poderá com a entrega da legitima esciisitr-se da pensão iilimrnticia '?

Sobre esta questão dizia L O ~ D O rio comrnrntario ao as- sento de 9 de iibril: nAirida qiie o par ofibrrya antecipa- ((damente tio fillio n siia iclgitirna, nlio se escrisn o pile de «Iht: contribuir nlinientos. Porque conforme a rncllror opi- ccnião não i. o filho obr igdo a acccitar a legitima qiie o ccpae rrn vidn lho offerecr.)) O rnesmn dcvc dizrr-se em face do codigo civil. O pnc não pode obrigar o fillio ii roceber a siin fiitiirii lrgitimii. O filho seria nt6 prrjiidicndo com ollii, porque, não çindo ii co!laçiio os alirnc~rilos, teriam dc vir os valores recebidos n titulo dc legitima.

Disciitia-se tarnl)om rio direito iiritigo se R mãe podia pedir alimentos para o filho qiie trazia no seio. A opinião geral inclinava-se ii affirm;itivn. Rorges Carneiro, adoptando o parcwr comrnum dos jurisconsultos, escrevia:l «Esta «obrigacão priricipiii destlc o rnomcnto tlo iitiscimento do ccfilho, c s c es io~~dr mesnin ao embryiio; pois dc.1-e o pac ccnlime,itnr n mãe tlrsdr n sua conceição.»

No direito frtincer veritila-sc a mesma questão ; o 1)cmo- lombe, fundiido rios artigos 393.", 725.", 906.", exprime-sc d'este modo ((LP mari meurt sans laisser d'enftirits ; mais sa ufcrnme (1st eiict~iritc! Cthttc: femme peut-elle demandcr des

1 Obr. c i t . , 5 lfi8.0, ri." 4.0 e 5 . O

2 Obr. ci t . , toin iv, nTO 26.0 bis,

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90 ALIMENTOS

(calimc*iils [i sori bcaii-pi:rt* ct B sa belle-mère:? Nous ii'ht5- ((sitons píis Ii rkporidre affirmativemeiit: infn11.s conceplus ((pro 1lu1o h«belur, quoties tle P ~ U S cottimodis agitur. Oh- ajectern-t-on qii'il nc s'agit pas de I'int4r4t de I'enfant, ((mais sriilement de I'intbrêt de Ia belle-fillc? Commeiit! ((l'erifaiit est dans le scin dc sn mèrtb: et quand Ia mèrc ((demande dcs tiliments, on rbpondrnit qu'il rie s'tigit pas

«dc son cnfarit !)I

E m face tlo codigo cremos que a m3c póde pedir ali- mcritos nos aiceridcri~cs do filho qiic traz no seio. Assim, o sogro póde ser obrigado a alimeritar a nora, embora o

codigo civil não consagre, como o codigo fraiicrz e italiano, a obrigacão alimtanticia entre os afins. Os alimentos n30 são, lia 1ijpothcse siijcita, prestados em attenq3o 6 nora, sào prestados cm attcnç3o ao neto. Embora a capacidadc jiiridici~ se atlqiiirn pelo nascimento, dos artigos 6.", 1479.' c 1776." coriçlilc-sr qiic o principio do direito romano, enun- ciado por Dcmolomhc, rm vista dos citados artigos do co- digo frnricc.7, iiisl,iroii t.giialmente os artigos clo nosso co- digo, c, por isso, a protcrqão da lei no c.mbryão deve che- gar d a r B mãe ;i acçào alimentipia contra 0 4 i ts(*( '~i(l( ' i i t~~ d'elle. Pbde nrgiimcntar-se contra esta opiniao com o pro- prio artigo 6." tc dizer-se que este artigo, dispondo pile o iridividiio, logo qiic 4 procreado, fica debaixo da protcccão da lei, stimcntc o t ~ m por nascirlo pnrn os eflfilos d~clnracios no prrlsa,tlc eodi!lo. Mas, como o codipo não falta dos iili- moiitos, e iinicnmeiitc se refere rio artigo 1$70." h doacão e no nrtipo 177 6.' ii surcessilo tpsti~mcntaria, segue-se qiic fica oxclui<lo o tlircito alimenticio.

Estc argiimcbiito não prova, visto quc seria absrirdo coii-

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ctndcr i10 c>mbi,~ao o direito d11 rc~cc~bf~r em tloaqão o11 tcs-

tamerito, iiclgnr-ltic, ao rncsnio tempo, iis coiidiy6t3s de vida iritrii-uteririii. A Ici que o prottbgc-, tornaiido-o tierdciro e

tloiiiit,irio, riào podia al~andorial-o, sob pena dth coiitradic-

yF~o, ;io ca\pcrimrntar no seio mitttbriio a ncressid~dc ali- inrnlii.ia.

{)iiom 6 competente 1);ira pt'dir os alimentos : a màe oii

o c.ii~atlor ao \cliiti.c?

O iirtigo 157:' tlo rodigo dispòcb : «St. iio tempo da

ccmortc clo rri,iiitlo ;i inii1hc.i ficsar griivida, fiirh constar

(cdcwtio (Ir vintc dias, oii logo quc coiilieça a gríi\idez, o

(cseii c~slntlo ao j u i ~ dos orphàos c o m p c t ~ ~ i t t ~ , po ro ~ U B esle

tomoir ir curador no re)iírc, qtrc. /orna provicorinmenle contu

«tios brrr$ que houverem de pertencer a o nasc.i/uro.» I) 'Ps~c i~rtigo 1);ircce roticluir-se ~ I I P O cii~.íidor ao \ c>r~ t r (~ $0 tem

por firn iomiii* coiitn (10s brtis tlo mchnor, rm c~iiarito durar

;i gestii~go. Coric~lusão similharitr tlcri,a do artigo 182$.", qne manda riomoar ctrlmi/~istrrrdor ú he,.cor~cl dri\adii ao

iiascituro. Scritlo a<sirn, parccc ficar excliiido da ;icçZo ali-

mcritic,iii o c111 atloi tio \ c1iitrc. Ein wntido contrario p6dc,

comtii(10, tli~cr-se iluc o fim da Ioi i. convrrtrr o ciirador em rcprt~srriiiiiitc~ OS dirclitos do r m h r ~ 5 0 , 11, por isso, time ser rlle o competente para interii,ir ii a c y h tlc alimrntos.

Pciisamos qiie i1 peseoa cornl)c3tontr 1,iir;i iiiteiitar a acyão

iilimt~iiticiii S a màr, e riào o ciiratlor no ~ r n t r c ~ . A màc 4 qiic

stb~it(l i i ~ i ( > ~ ( \ ~ s i d i i d ~ do rinl)r!$o, qiit. t! ao mcsino tempo n

sua prolria iicccssidadc. 1311ii P cliitl l ~ t i t l ~ nlm~ciiir o mo-

merito c.m qiie íi n ~ c ~ ~ s i d i i d i . ;ipl~arcbce tb fa701-a aprccinr

em juizo. O fim da Iri, iiistitiiiritlo ;i ciiradoria, nGo é tirar

ii m;ktb os direitos c obrigaqòcs tlo 1)otlcr piitcrriiil: 6 prin-

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92 ALLRIESTOS E APANAGIOS

çipalmeiitc siil\agu;irtlnr os dirclitos das I)c5SOilS ii quem 3

herança do marido scrií devol\iíJii, se o ernlirj3o morrer, ou nascer sem formii riem figiira humniiu. $ por isso que li lei fi111i1 iiriicameritr clm b e m que hout'ercm de pcrlenrrr ao nn.\ciluro. Nao lia recchio tlc que a ma? possa abiisnr da obrigayào de aliineritíir o filho, porque a ncccssidadc d'elle 6 tambem a iic~cessidatl~~ d'ella, c porque iiada lucra i i inntk em deixar morrer o fillio qiic traz rio seio, visto que ficará privada do iisufructo dos bcns, qiie Ihr pcrteaceriam, e qiie ser80 entregiies nos hcrtleiros do marido.

Coiitiiiunremos iio opiiscrilo terceiro a analysc cliis dis- posições do codigo civil sobre alimeritos e apariagios.

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I 'NDICE

Pag. 1 ~ r ~ o ~ u c c A o . - O direito de erislrncis definido pelo eodigo civil - O

tlircilo de apropriaeào tlrriva tlo tlircito de esisleiicia -Como realisar o direito de apropriacão ?- Siluacão do Iinmem sem propriedade em face do codigo civil - Inefficacia da orcupa$ào -As 01iicin;is do Eptado - (:ondeninac.'lo da parlillia forcada da propriedade particular -- Solueno do problema - Organisa$ío da divida alimenlicia em lodos os graus de successão legitima. li

1.-O que sejam alimentos- Definicão do codigo civil, do antigo di- reito porluguez e dos civilislas portuguezes e extrangeiros - Compreheaderá o arligo 171."~ eoccorms em caso de doenca? - As despesas do funeral do alimentado? - A obriga-o de pagar as dividas que o alimenlado conlrahiu?- E sendo as di- vidas contrahidas para alimenlost- Comprehenderii o mesmo arligo a obrigacão de dotar as GIlias o estabelecer os 61hos9- Doutrina sobre eslas questões do direito porluguez o cxtran- gciro - Fundamento legal da divida alimenticia .. . . . .. . . . . . . 13

11.- Natureza da obrigacão alimenlicia - Sera solidaria e indivisivel, ou pro parlc e divisivcll- Syslemas dos civilislas franceres sobre esla questtio - 1)iscussào d'ella no direito porluguez - O que seja solidariedade da obrigacão- Impugna90 da solida- riedade activa e passiva da obrigacão alinienticia -Hypolhose, extratiida da Demoloinbo, em que O fim da Ioi e a equidade pe- deni a solidariedade da mesma obrigacáo - O que seja indivi- sibilidade da obrigafão - Impugnacão da indivisibilitlade da obrigacãn alimeiiticia - Eypotliese em que se admilte a indi- visibilidade pela natureza da garantia hypotliccaria- Criterio para ii d i s i r i b u i ~ ~ o tla divitla doa alimentos -- Ii~stric<òes i10

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P;ig. direito successorio cesta tlidribuiclo - Adniilte o direito por- lugiiez o henrjicio de cornpclencin ? - Admiitc o niestno direito os aliriici~tos provisioriaes e ad l i lc in?.. .................... 2i

111.-A iiistruc$io e educac,io [orriiinani cnin a menoridatlo, ou abran- i e m a iiiaioridailc (!o alimenlatlo ? - Opiniio do sr. Dias Fer- reira-Sua refulneIo-Verdatleira inlelligencia do a r t i g ~ l i1.0, W unico, do codigo civil - Se o iiieiior tcni ilirciio d inslrurcPo c educay,io, quem póde torriar elfrctivo eisc direito, e conto ha cle ~irocetler-se I sua rt~aliia~:lo praclica1-Sulucáo da qiicsiào nas tres Iigpotheses ailiiii-'iveis- I'ceioas a qucm 6 inil)o>ta a obrigacio alimenlicia- Fontci: tlo :irligo 172." no direito [iatrio e exlrangeiro - Disi:uasfio ilas duas Iiypothesa realisaveis ein face do artigo -- (iraduaclo coiiiplrta das pessoas em que pbde incidir n olrigacao aliiiienticia-lutclligcncia dos artigos l'ia.", IÍl:, 177.' e 294 .0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41;

IV.-- 1)ireilo alimenticio dos filhos illegilimos - Classifica@o d'cjtes filhos - Situaoto dos filhos nrturaeli nIo pcrfilhados- Dou- trina do tlireilo patiio e extrangeiro sobre o seu direito alimen- ticio-Poder6 o filho natural n l o perlilhatlo accionar os yaes por alinienlos, fuirilatido-se num escriplo particular, em que ellcs declarem a sua paternidade ?- Direito alimenticio dos li- lhos perfilhados-Fontes dos artigos 129.0, n.O 2.", 174." e 1 7 8 . O -Poderão os filhos perfilhados pedir alimentos aos avos?- Gradua$lo d a obrigagio tendo o perfilbado conserte, descen- dentes e paes-Terao os paes ~b r igacào de alimentar os des- cetidanles Iegilimos do filho perlilliado? - Discussao das tres oyiniòes que podein originar-se em face do codigo civil- Re- lacao alimenlicia entre os ascendentes o os perfilliados e entre estes e os irmaos - Direito alimenricio dos filhos espurios .... 67

V. - SerA a obrig'a$io alimetiticia commutn aos dois conjuges, qualquer que seja a forma do casamenlo?- Poderá o filho, a quein os paes enlregaram a futura legilima, accionsl-os por alimciilo> P -Podari a m:ie pedir a l i ~ e n l o s para o embryno aos asceiidentrs paternos d'ellc?- Soluçao a'eetas questòes no rliicilo anligo e moilerno .............................................. 85

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Lin h. Erros F31n~ndn~

:I 3pert:il-os npert;d-o. 19 graví.c, gi.c,vi.c.

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Obras do mesmo auctor:

Os documentos particulares segundo o Codigo Civil. Por- tnguez. ' Coimbra, 1872, 1 vol.

As segundas nupcias no direito civil moderno (Commen- tario aos artigos 1233.O a 1239.O do Codigo Civil Por- tiiguez). Coimbra, 1872, 1 vol.

Theses selectas de direito. Coimbra, 1872, folheto.

As raças historicas, da pecinsula iberica. Coimbra, 1873, 1 vol.

Problemas do direito moderno : I - PerfilhapAo dos filhos sacrilegoe. Coimbra, 1873,

1 vol. 11- Alimentos e apanagios. Coimbra, 1578, 1 vol.

NO PRELO

Problemas do direito moderno : 111 - Alimentos e apanagios (ConcZu8Ao).

Prep de cada um doe opumuloa doa Problema8 do direito mo- demo:

Para os assignmtes 300 rhis, pelo correio 320 &E.

Avulso 360 r&, pelo correio 380 r&.