problemas de micotoxinas nos grãos e os novos limites...
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Problemas de micotoxinas nos grãos e os
novos limites toleráveis na cadeia alimentar
Vildes Maria Scussel; Beber, M.; de Souza Koerich, K.
Laboratório de Micotoxicologia e Contaminantes Alimentares – LABMICO, Departa-
mento de Ciência e Tecnologia de Alimentos, Centro de Ciências Agrárias, CP 476,
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil
e-mail:[email protected]
Micotoxinas em grãos e seus derivados
Fungos podem causar deteriorações em graus variáveis aos grãos armazenados e, se as espé-
cies forem toxigênicas, produzirão micotoxinas com consequências danosas à saúde do homem
e dos animais.
Os fungos dos gêneros Aspergillus, Penicillium e Fusarium podem ocorrer em vários estágios da
cadeia alimentar, desde a matéria-prima - os grãos - durante seu cultivo, na colheita, armazena-
gem e transporte, até os alimentos processados destinados a alimentação humana e animal (de
criação, produção ou estimação).
Devido aos diversos efeitos tóxicos aos sistemas: hepático, renal, circulatório, gastrintestinal e
nervoso e à estabilidade térmica de até 260 o
C, a presença destas toxinas em alimentos é consi-
derada um perigo em potencial para a saúde, podendo ser um sério entrave para exportação de
grãos. Os animais de criação constituem um vetor em potencial da presença dessas micotoxinas
em produtos alimentícios (leite e ovos), assim como os animais de produção com a carne (in
natura e embutidos) e vísceras (fígado e rins –patês). Patês de fígado de galinha, pato, suíno, ou
mistura deles, são preparados com fígados crus ou cozidos, a temperaturas que não degradam
as toxinas e podem ainda conter seus resíduos.
Além disso, a proliferação de fungos na armazenagem de grãos pode levar a formação de aglo-
merados de grãos infectados, juntamente com insetos contaminando todo o lote durante sua
movimentação na transilagem e/ou descarga, extensivo a cargas em navios durante o trajeto ao
país importador.
As micotoxinas mais estudadas, tóxicas, que possuem limites máximos de resíduos estabeleci-
dos em diversos paises e frequentemente encontradas em grãos são aquelas formadas durante
o seu cultivo [toxina T-2, fumonisinas - FBs: FB1
e FB2
, deoxinivalenol - DON e zearalenona –
ZON] e as formadas da colheita à armazenagem [aflatoxinas - AFLs: AFB1
, AFB2
, AFG1
e AFG2
e
ocratoxina A - OTA].
A Tabela 1 apresenta um resumo dos principais fungos, micotoxinas, seus efeitos tóxicos, além
dos principais alimentos passíveis de contaminação e os níveis máximos permitidos atualmente,
principalmente no Brasil e Europa.
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85
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Limites máximos permitidos para micotoxinas em grãos
Os limites máximos estabelecidos pela legislação internacional para uma ou mais micotoxinas
variam de acordo com o país e características do alimento que é consumido e/ou exportado/
importado. Os limites estabelecidos pelo Codex Alimentarius se apresentam como intermediári-
os entre países que não possuem legislação e os mais exigentes quanto à limites para importa-
ção.
Limites máximos permitidos na América Latina
No Brasil, os limites para micotoxinas têm sido, somente para AFLs. O Ministério da Saúde esta-
beleceu, pela Resolução N°34/76 da Comissão Nacional de Normas e Padrões para Alimentos
(CNNPA), o limite máximo aceitável de AFLs para alimentos, em 30 μg/kg (Brasil,1976). Em 2002,
esses limite passou para 20 μg/kg (Resolução N°274 de 15/10/2002, DOU 16/10/2002). O Mercosul
contempla outras micotoxinas além das AFLs e os níveis para AFLs são mais exigentes que a
legislação dos anos 70, sendo utilizados na comercialização entre os países desse Bloco e incor-
porado no Brasil pelo Ministério da Agricultura. A Tabela 2 apresenta os limites máximos de tole-
rância (LMTs) de países da América Latina.
Tabela 2 Limites máximos permitidos em paises da América Latina e do Mercosul para aflatoxinas em
alimentos.
País Limite máximo ( g/kg) Alimento
Mercosul 20 AFB1
+AFB2
+AFG1
+AFG2
Amendoim (com/sem pele)
Amendoim (torrado)
` Pasta de amendoim
20 AFB1
+AFB2
+AFG1
+AFG2
Farinha de milho (integral/sem germem)
Milho
20 AFB1
+AFB2
+AFG1
+AFG2
Farelo de milho
Argentina Zero - AFB1
Alimento infantil
20 AFB1
+AFB2
+AFG1
+AFG2
Derivados de amendoim
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+AFB2
+AFG1
+AFG2
Milho
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Farinha de Soja
Brasila,b
20 AFB1
+AFB2
+AFG1
+AFG2
Amendoim (torrado, assado) Amendoim (com/sem pele)
Pasta de amendoim
20 AFB1
+AFB2
+AFG1
+AFG2
Farinha de milho
Milho (integral/quebrado/moído)
(integral/ sem gérmen)
Colombia 20 AFB1
+AFB2
+AFG1
+AFG2
Alimentos
30 AFB1
+AFB2
+AFG1
+AFG2
Cereal (sorgo, milheto)
10 AFB1
+AFB2
+AFG1
+AFG2
Oleaginosas
20 AFB1
+AFB2
+AFG1
+AFG2
Sementes de gergelim
Peru 10 AFB1
+AFB2
+AFG1
+AFG2
Alimentos
Continua...
Sem título-14 30/9/2010, 19:1186
87
Tabela 2. Continuação.
País Limite máximo ( g/kg) Alimento
Suriname 5 AFB1
Amendoim
Produtos de amedoim
5 AFB1
Leguminosas
30 AFB1
+AFB2
+AFG1
+AFG2
Milho
Uruguai 30 AFB1
+AFB2
+AFG1
+AFG2
Amendoim
Produtos de amedoim
20 AFB1
+AFB2
+AFG1
+AFG2
Alimentos e Especiarias
30 AFB1
+AFB2
+AFG1
+AFG2
Produtos de soja
30 AFB1
+AFB2
+AFG1
+AFG2
Frutas secas
10 AFB1
+AFB2
+AFG1
+AFG2
Côco
3 AFB1
+AFB2
+AFG1
+AFG2
Alimento infantil
Micotoxinas, 2000, Naresh e Olsen, 2004, 2005, Scussel 2005, van Egmond and Jonker, 2005.
LMTs do Ministério da Saúde – Anvisa/Brasil
Atualmente uma proposta de legislação brasileira mais completa, onde várias das micotoxinas já
contempladas pelas legislações européia, americana e japonesa, foi desenvolvida pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e está em consulta pública (Tabela 3). O texto na integra
dessa Proposta de Resolução que dispõe dos limites máximos tolerados de micotoxinas em
alimentos está em anexo.
Tabela 3. Limites máximos de micotoxinas da Proposta de Resolução em Consulta Pública da ANVISA (Brasil, 2010).
Micotoxinas Alimento LMT ( g/kg)
Aflatoxina M1 Leite Fluído 0,5
Leite em pó 5
Queijos 2,5
Outros produtos lácteos 0,5
Aflatoxinas
B1+B2+G1+G2 Cereais e produtos de cereais, exceto milho e derivados, incluindo
cevada malteada. 5,0
Feijão e outras leguminosas 5,0
Castanhas exceto Castanha-do-Brasil, incluindo nozes, pistachios, avelãs e
amêndoas; frutas desidratadas e secas, grãos oleaginosos exceto amendoim
e derivados. 10,0
Castanha-do-Brasil com casca 20,0
Castanha-do-Brasil sem casca para consumo direto 10,0
Castanha-do-Brasil sem casca para consumo posterior 15,0
Alimentos a base de cereais para alimentação infantil 1,0
Fórmulas infantis plactentes e fórmulas infantis plactentes e crianças de
1a
infância 1,0
Produtos de cacau e chocolate 5,0
Condimentos e especiarias 20,0
Amendoim e derivados 20,0
Milho e derivados 20,0
Continua...
Tabela 3. Continuação.
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Micotoxinas Alimento LMT ( g/kg)
Ocratoxina A Cereais e produtos de cereais, incluindo cevada malteada 10,0
Feijão e outras leguminosas 10,0
Café torrado moído ou em grão 10,0
Café solúvel 10,0
Vinho e suco de uva 2,0
Condimento e especiarias 10,0
Alimentos a base de cereais para alimentação infantil 2,0
Produtos de cacau e chocolate 5,0
Frutas secas e desidratadas 10,0
Desoxinivalenol Trigo integral, farinha de trigo integral, farelo de trigo, farelo de arroz 2000
Farinha de trigo, cereais e produtos de cereais exceto trigo e incluindo
cevada malteada. 1250
Trigo para quibe 1500
Outros produtos derivados de trigo 750
Arroz beneficiado e derivados 750
Alimentos a base de cereais para alimentação infantil 200
Fumonisinas
(B1+B2) Milho não processado 5000
Milho pipoca, amido de milho 3000
Farinha de milho, fubá, flocos, canjica, canjiquinha 2000
Outros produtos a base de milho 1000
Alimentos a base de milho para alimentação infantil 200
Zearalenona Farinha de trigo e derivados de trigo, cereais e produtos a base de cereais
inclusive cevada malteada, arroz beneficiado e derivados. 100
Arroz integral 800
Farelo de arroz 1000
Milho não processado 400
Milho de pipoca, canjiquinha, canjica, produtos e sub-produtos a base de milho 300
Trigo integral, farinha de trigo integral, farelo de trigo. 200
Alimentos a base de cereais para alimentação infantil 20
Considerando as AFLs, todos os cereais, bem como seus derivados, incluindo cevada malteada,
são contemplados com limites (5,0 g/kg), sendo a exceção o milho e derivados com níveis mais
elevados (20,0 g/kg). Provavelmente devido à menor incidência desse grupo de toxinas nesse
grão, já que as principais toxinas do milho são OTA e as toxinas de Fusarium (tricotecenos dentre
eles o DON, FBs e ZON). Alimentos a base de cereais para crianças, muito sabiamente recomen-
dam 1,0 g/kg. Para o feijão e outras leguminosas também é exigido um limite mais restrito (5,0
g/kg). Contudo não são estabelecidos os LMTs para AFB1
(a mais tóxica do grupo) para nenhum
dos alimentos. No caso do amendoim e derivados, o limite proposto é de 20,0 g/kg. Como o
amendoim é ótimo substrato para crescimento dos fungos produtores de AFLs (A. flavus e A.
parasiticus) e com maior possibilidade de contaminação, entendemos que a legislação deveria
ser mais restrita. Já que o amendoim, assim como as paçoquinhas, correspondem a produtos
alimentícios bastante consumidos, inclusive pela população mais susceptível aos efeitos dessas
toxinas (recém nascidos, crianças e adolescentes).
Sem título-1 1/10/2010, 16:5388
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Também para a OTA, todos os cereais, cevada malteada e o café (torrado moído ou em grão e o
solúvel) são contemplados com limite de 10,0 g/kg.
Quanto às toxinas de Fusarium para (a) DON os limites variam com os alimentos. Para trigo
(integral, farinha integral, farelo) e farelo de arroz o limite é de 2000 g/kg. Já para produtos de
trigo e alimentos a base de cereais para alimentação infantil é reduzido para 200 g/kg. Por outro
lado, para cereais e produtos de cereais, exceto trigo, o LMT recomendado é de 50 g/kg. Interes-
sante, a especificação do trigo para quibe com máximo de 1500 g/kg permitido. Para o arroz
beneficiado e derivados é proposto 750 g/kg. (b) quando as FBs são citadas, o milho é o que
possui mais detalhes em LMT: o não processado com LMT mais elevado (5000 g/kg), já o milho
pipoca e amido de milho com 3000 g/kg. A farinha de milho, fubá, flocos, canjica, canjiquinha
com LMT de até 2000 g/kg; sendo os outros produtos a base de milho com LMT mais baixo, de
1000 g/kg. (c) ZON: A farinha de trigo e derivados de trigo, cereais e produtos a base de cereais
inclusive cevada malteada, com 100 g/kg. O arroz beneficiado, o integral e o farelo de arroz com
até 100, 800 e 1000 g/kg de ZON, respectivamente. Para milho: não processado (400 g/kg) e
milho de pipoca, canjiquinha, canjica, produtos e sub-produtos a base de milho (300 g/kg). Já o
trigo integral, farinha de trigo integral, farelo de trigo, com LMT mais baixo, de 200 g/kg. Como
esperado, para alimentos a base de cereais para alimentação infantil, é recomendado somente
20 g/kg de ZON. Essa toxina, como citado na Tabela 1, é hiper-estrogênica, e é importante
estabelecermos limites de seus resíduos na alimentação, principalmente para as crianças já que
tem sido registrado, nas recentes gerações, uma aceleração da puberdade com alterações
hormonais. Provavelmente devido à uma série de fatores de exposição tanto ambiental, genético
quanto pela alimentaçõa, onde a ZON pode estar também fazendo seu papel.
Portanto, a Anvisa está de parabéns pela Proposta de Resolução que dispões dos limites máxi-
mos tolerados de micotoxinas em alimentos e esperamos que esta seja aprovada em breve para
que os produtores de alimentos e a população tenham mais subsídios para exigir qualidade e
segurança dos alimentos.
Limites Internacionais
A União Européia (EU) possui a legislação mais restrita para micotoxinas em alimentos e contem-
pla o maior número de micotoxinas (Tabela 1). Todos os cereais e produtos derivados de cereais,
incluindo produtos derivados da sua transformação estão limitados a apresentar no máximo 2 e 4
μ g/kg de AFB1
e AFLs, respectivamente, abaixo dos LMTs recomendados na Proposta de Reso-
lução Brasileira.
O milho e o arroz que forem destinados a métodos de triagem ou a outro tratamento físico antes
do seu consumo humano ou da sua utilização como ingrediente em gêneros alimentícios, pode-
rão apresentar resíduos de AFLs de até 5,0 e 10,0 g/kg de AFB1
e AFLs, respectivamente. Já
alimentos transformados à base de cereais e alimentos destinados a lactentes e crianças jovens
somente 0,10 g/kg. Quando os alimentos dietéticos destinados a fins medicinais específicos,
destinados a lactentes são considerados, o máximo permitido é de 0,10 de AFB1, respectiva-
mente. As Figuras 1 e 2 apresentam o Regulamento de fevereiro de 2010 para contaminação por
AFLs.
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90
ANEXO
PROPOSTA DE RESOLUÇÃO EM CONSULTA PÚBLICA da ANVISA - ANEXO
Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº... Dispõe sobre limites máximos tolerados (LMT) de micotoxinas
em alimentos.
A Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, no uso da atribuição que lhe confe-
re o inciso IV do art. 11 do Regulamento aprovado pelo Decreto nº. 3.029, de 16 de abril de 1999, e tendo em
vista o disposto no inciso II e nos §§ 1º e 3º do art. 54 do Regimento Interno aprovado nos termos do Anexo I
da Portaria nº. 354 da Anvisa, de 11 de agosto de 2006, republicada no DOU de 21 de agosto de 2006, em
reunião realizada em ___ de _________ de 2009, adota a seguinte Resolução da Diretoria Colegiada e eu,
Diretor-Presidente, determino a sua publicação:
Art. 1º Fica aprovado o Regulamento Técnico sobre limites máximos tolerados (LMT) de micotoxinas em
alimentos, nos termos desta resolução.
CAPÍTULO I - DAS DISPOSIÇÕES INICIAIS
Seção I – Objetivo: Art. 2º Este Regulamento possui o objetivo de estabelecer os LMT das aflatoxinas
(B1+B2+G1+G2), OTA, DON, fumonisinas (B1 + B2), patulina e ZEA admissíveis em alimentos.
Seção II – Abrangência: Art. 3º O presente Regulamento se aplica às empresas de alimentos e bebidas que
importem, produzem, distribuem e comercializem as seguintes categorias de alimentos:
I – Amendoim e seus derivados; II - Alimentos a base de cereais para alimentação infantil; III - Alimentos a base
de milho para alimentação infantil; IV - Café solúvel; V - Café torrado, moído ou em grão; VI - Cereais e
produtos de cereais, incluindo massas, pães, biscoitos, cereais processados, farinhas, amidos, farelos; VII -
Especiarias, dentre elas: Pimenta (incluindo a pimenta branca, pimenta preta, malagueta, malagueta em pó,
pimenta de caiena), páprica, noz moscada, gengibre e cúrcuma; VIII - Farinha de milho; IX - Farinha de trigo e
produtos a base de trigo com 70% ou mais de farinha de trigo; X - Frutas secas e desidratadas; XI - Milho não
processado; XII – Nozes e castanhas em geral, incluindo os seus derivados; XIII - Produtos a base de milho,
exceto farinha de milho; XIV - Chocolate e produtos de cacau, incluindo massa de cacau, manteiga de cacau,
cacau em pó, cacau solúvel; XV - Suco e polpa de maçã; XVI - Trigo em grão farinha de trigo integral e farelo
de trigo; e XVII – Vinho, derivados do vinho e da uva, mosto, suco de uva, filtrado doce, mistela composta,
vinho, champagne, vinho (de mesa, moscatel espumante, gaseificado, licoroso, composto), conhaque, cooler,
sangria, vinagre. XVIII - Fórmulas infantis para lactentes e fórmulas infantis de seguimento para lactentes e
crianças de primeira infância. XIX- Leite, leite em pó, queijo e outros produtos lácteos.
CAPÍTULO II - DOS LIMITES MÁXIMOS TOLERADOS (LMT)
Art. 4º Os níveis de micotoxinas deverão ser tão baixos quanto razoavelmente possível, devendo se aplicar as
melhores práticas e tecnologias na produção, manipulação, armazenamento, processamento e embalamento,
de forma a evitar que um alimento contaminado seja comercializado ou consumido.
Art. 5º No caso de produtos não previstos no art.3 e que sejam produzidos a partir de ingredientes com limites
estabelecidos, que forem desidratados ou secos, diluídos, transformados e compostos, os conteúdos máxi-
mos permitidos devem considerar a concentração e diluição em relação aos limites estabelecidos para as
matérias-primas.
Parágrafo único: No caso de alimentos compostos, os níveis de micotoxinas no produto não poderão ultrapas-
sar o limite máximo do ingrediente predominante.
Art.6º Os produtos alimentícios que não atendam aos conteúdos máximos estabelecidos nas tabelas anexas
não deverão ser utilizados como ingredientes alimentícios.
CAPÍTULO III - DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS:
Art. 7º O descumprimento das disposições contidas nesta resolução constitui infração sanitária, nos termos
da Lei nº. 6.437, de 20 de agosto de 1977, sem prejuízo das responsabilidades civil, administrativa e penal
cabíveis.
Art. 8º. Ficam revogadas as disposições em contrário, especialmente a Resolução CNNPA nº 34, de 1976,
publicada no D.O.U. de 19/01/1977 e a Resolução RDC nº 274, de 15 de outubro de 2002.
Art. 9º As empresas têm o prazo de 1 ano , a contar da data da publicação desta Resolução para se adequa-
rem à mesma.
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REFERÊNCIAS DE LEGISLAÇÕES
Brasil, 2010. www.anvisa.gov.br/e-legs
http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/272a2c8040c2fe54b06cf2ce64477fe7/
Consulta+Publica+n+100.pdf?MOD=AJPERES
EU, 2010. http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:L:2010:050:0008:0012:PT:PDF
EU, 2010. http://eur-lex.europa.eu/smartapi/cgi/sga_doc?smartapi!celexplus!prod!DocNumber&
lg=pt&type_doc=Regulation&an_doc=2006&nu_doc=1881
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Figura 1. Regulamento da União Européia para máximo de aflatoxinas em alimentos (EU, 2010).
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