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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE/PRODEMA ESTUDO TEÓRICO-BIOCLIMÁTICO DA POTENCIALIDADE DE DESENVOLVIMENTO DO Aedes aegypti NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTER PARA A CO BRUNO CLAYTTON OLIVEIRA DA SILVA FEVEREIRO/2009 Natal – RN Brasil

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE/PRODEMA

ESTUDO TEÓRICO-BIOCLIMÁTICO DA

POTENCIALIDADE DE DESENVOLVIMENTO DO Aedes

aegypti NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA

FAMILIAR SUSTENTÁVEL

A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA

FAMILIAR SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTER PARA A CO

BRUNO CLAYTTON OLIVEIRA DA SILVA

FEVEREIRO/2009

Natal – RN

Brasil

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Bruno Claytton Oliveira da Silva

ESTUDO TEÓRICO-BIOCLIMÁTICO DA POTENCIALIDADE

DE DESENVOLVIMENTO DO Aedes aegypti NO ESTADO DO

RIO GRANDE DO NORTE A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA

FAMILIAR SUSTENTÁVEL

A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA

FAMILIAR SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTER PARA A

COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVELAAA Dissertação apresentada ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN), como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. Fernando Moreira da Silva

Co-Orientador: Prof. Dr. Pedro Vieira de Azevedo

FEVEREIRO/2009

Natal – RN

Brasil

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BRUNO CLAYTTON OLIVEIRA DA SILVA

Dissertação submetida ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN), como requisito para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

Aprovada em:

BANCA EXAMINADORA:

_______________________________________________ Prof. Dr. Fernando Moreira da Silva

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN) Presidente

______________________________________________

Prof. Dr. Francisco de Assis Mendonça Universidade Federal do Paraná (PPG/UFPR)

Membro Externo

_______________________________________________ Profª. Drª. Maria do Socorro Costa Martim

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN) Membro Interno

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Divisão de Serviços Técnicos

Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila

Mamede

Silva, Bruno Claytton Oliveira da. Estudo teórico-bioclimático da potencialidade de desenvolvimento do Aedes aegypti no estado do Rio Grande do Norte / Bruno Claytton Oliveira da Silva. – Natal, RN, 2009. 101 p. Orientador: Fernando Moreira da Silva. Co-orientador: Pedro Vieira de Azevedo. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Programa Pro - Reitoria de Pós-Graduação. Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio ambiente/PRODEMA. 1. Aedes aegypti – Dissertação. 2. Dengue – Dissertação. 3. Favorabilidade climática – Dissertação. 4. Potencialidade de desenvolvimento – Dissertação. 5. Geoestatística – Dissertação. I. Silva, Fernando Moreira da. II. Azevedo, Pedro Vieira. III. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. IV. Título. RN/UF/BCZM CDU 616-022.6

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v

À Clara Beatriz Nascimento Oliveira da Silva, minha FILHA, pessoa a quem amo

imensamente, minha fonte de energia, meu estímulo de vida.

À Cleide Oliveira da Silva, minha amorosa, estimada, companheira e motivadora MÃE,

pelo incondicional apoio nos árduos, porém gratificantes, momentos a que fui submetido

durante toda a minha vida, em especial, no decorrer desta Dissertação de Mestrado.

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AGRADECIMENTOS

À Deus, pela manifestada presença em minha vida, pelos inúmeros livramentos e

por prover-me de sabedoria, principalmente, nos momentos de tomada de decisão durante

os incontáveis dias e madrugadas onde, tão somente, Ele era meu parceiro.

Ao Prof. Dr. Fernando Moreira da Silva, homem humilde, grande e inseparável

amigo, figura essencial nesta Dissertação, ser a quem tenho grandiosa admiração por tudo

o que me proporcionou durante toda a vida acadêmica, desde os primeiros trabalhos

publicados, ainda na graduação, passando por um laureamento em Congresso Científico de

cunho Internacional, até o coroamento de todo esse trabalho com a conclusão desta

Dissertação.

À Brena Cledna Oliveira da Silva, minha irmã, pelo compartilhamento e incentivo

em momento crucial de minha vida, atravessado no ano de 2002.

À João Bosco da Silva, meu pai, pelos ensinamentos de vida transmitidos de forma,

as vezes, abrupta e/ou pouco compreensível, em determinados momentos da vida, mas que

contribuíram para nossa formação com indivíduo.

À todos os meus familiares, pelo apoio, motivação e admiração, mesmo que as

vezes exacerbada – principalmente quando advindos de Brás Henrique de Medeiros, meu

tio – durante esta jornada.

À todos os amigos, especialmente, Alison Raniere de Sousa e Diego Bezerra

Cavalcante, que, mesmo separados, contribuíram significativamente para a realização desta

conquista, seja destinando seus valiosos tempos para ouvir minhas idéias, angústias e

anseios, seja colaborando de fato para a concretização da pesquisa.

À Jussara Pereira de Lima, pelo interesse, participação, incentivo, colaboração e

paciência nos momentos de minha ausência.

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vii

Aos docentes do Programa Regional em Desenvolvimento e Meio Ambiente

(PRODEMA/UFRN), pelas contribuições durante o decorrer das disciplinas.

Ao Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da UFCG, sobretudo, a

pessoa do meu Co-Orientador, Prof. Dr. Pedro Vieira de Azevedo, pelo acolhimento e

contribuições para a pesquisa desde o momento inicial da execução do Programa Nacional

de Cooperação Acadêmica (PROCAD/CAPES).

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo

apoio financeiro e, principalmente, pela oportunidade de ampliação dos nossos horizontes

pessoais e, consequentemente, da pesquisa a partir do Programa outrora citado.

À Secretária Estadual de Saúde Pública (SESAP-RN), com destaque para os

funcionários da Subcoordenadoria de Vigilância Epidemiológica, pelo pronto atendimento

no que tange ao fornecimento dos dados e esclarecimentos gerais sobre a temática

pesquisada.

À Secretária Municipal de Saúde (SMS/Natal), com destaque para a pessoa de

Maria Cristiana da Silva Souto, chefe do Departamento de Vigilância à Saúde, pelo apoio

nesta Dissertação.

À diretoria e professores da escola “Eficácia Colégio e Curso”, por aceitarem e

colaborarem ativamente no processo de coleta de dados e execução de pesquisa

interdisciplinar, idealizada como “Piloto” na escola.

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“A essência do conhecimento consiste em aplicá-lo, uma vez possuído”.

(Confúcio, 551 a.C.- 479 a.C).

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ix

SUMÁRIO INTRODUÇÃO GERAL 01

REFERÊNCIAS 09

CAPÍTULO 1. ESTIMAÇÃO E ESPACIALIZAÇÃO DAS

VARIÁVEIS CLIMÁTICAS TEMPERATURA E UMIDADE

RELATIVA DO AR NO ESTADO DO RIO GRANDE DO

NORTE A PARTIR DE MODELAGEM ESTATÍSTICA E

GEOESTATÍSTICA

11

RESUMO 12

ABSTRACT 13

INTRODUÇÃO 13

MATERIAL E MÉTODOS 16

RESULTADOS E DISCUSSÕES 20

CONCLUSÕES 31

REFERÊNCIAS 31

FIGURA 1 16

FIGURA 2-3 21

FIGURAS 4-6 22

FIGURAS 7-9 23

FIGURAS 10-12 24

FIGURAS 13 25

FIGURA 14 26

FIGURAS 15-17 27

FIGURAS 18-20 28

FIGURAS 21-23 29

FIGURAS 24-26 30

CAPÍTULO 2. VARIAÇÕES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS:

cenário atual e futuro da potencialidade de desenvolvimento do

Aedes aegypti no estado do Rio Grande do Norte/Brasil

33

RESUMO 34 ABSTRACT 34

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INTRODUÇÃO 35 MATERIAL E MÉTODOS 39 RESULTADOS 45 DISCUSSÃO 52

REFERÊNCIAS 54 FIGURA 1 46 FIGURA 2 47 FIGURA 3 48 FIGURA 4 49 FIGURA 5 52 CAPÍTULO 3. AVALIAÇÃO BIOCLIMÁTICA E

REPRESENTAÇÃO CARTOGRÁFICA DA CONDIÇÃO

BIOFÍSICA FAVORÁVEL AO DESENVOLVIMENTO DO

Aedes aegypti NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

57

RESUMO 58 ABSTRACT 59 INTRODUÇÃO 59 MATERIAL E MÉTODOS 63 RESULTADOS 67 DISCUSSÃO 75 AGRADECIMENTOS 78

REFERÊNCIAS 79

FIGURA 1 64

FIGURAS 2 68

FIGURA 3 69

FIGURAS 4-5 70

FIGURA 6 71

FIGURAS 7-8 72

FIGURAS 9 73

FIGURAS 10-12 74

FIGURAS 13 75

CAPÍTULO 4. DEMOCRATIZAÇÃO E DISSEMINAÇÃO DO 82

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CONHECIMENTO CIENTÍFICO NAS ESCOLAS: perspectiva

interdisciplinar para mitigação da problemática da dengue na cidade

do Natal-RN

RESUMO 83

ABSTRACT 83

INTRODUÇÃO 84

MATERIAL E MÉTODOS 88

RESULTADOS E DISCUSSÕES 93 AGRADECIMENTOS 99

REFERÊNCIAS 100

FIGURA 1 89

FIGURA 2 95

FIGURA 3 97

FIGURA 4 98

FIGURA 5 98

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1

INTRODUÇÃO

A incidência da dengue, em todas as regiões do Brasil, com exceção da região

Sul, tem se mostrado, em alguns anos, como elevada resultando em impactos diretos e

significativos à saúde pública. O Programa Nacional de Controle do Dengue (PNCD,

2002) classifica as áreas com incidência de dengue em três estratos: alta incidência, para

regiões, estados ou municípios com taxa de incidência maior que 300 casos por 100.000

habitantes; média incidência, para regiões, estados ou municípios com taxa de

incidência dentro do intervalo de 100 a 300 casos por 100.000 habitantes; baixa

incidência, para regiões, estados ou municípios com incidência menor que 100 casos

por 100.000 habitantes.

Com vistas a exemplificação, no ano de 2006, todas as regiões do país, a

exceção da Sul, apresentaram de média a alta taxa de incidência de dengue. Segundo a

Secretária de Vigilância em Saúde (MS/SVS, 2006), a segunda região mais populosa do

país, a região Nordeste, nesse mesmo ano, contabilizou 30% dos casos notificados de

dengue no país. Ainda, destaca-se a posição do estado do Rio Grande do Norte, que

apresentou alta incidência, ou seja, mais de 300 casos por 100.000 habitantes, nesse

mesmo ano. Contudo, observa-se que a questão da dengue não figura como um novo

problema de saúde pública no país, mas sim, como uma emergente enfermidade que tem

acometido milhares de pessoas há pelo menos duas décadas.

Os primeiros casos notificados e confirmados laboratorialmente de dengue em

uma unidade da federação brasileira foram registrados no início da década de 80, mais

precisamente no ano de 1982, no estado de Roraima. Segundo dados do Ministério da

Saúde (M.S, 2005), nesse mesmo ano, foram notificados, somente naquele estado,

11.000 casos da doença. No período compreendido entre a notificação do primeiro caso

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de dengue (1982) e o ano de 2005, foram notificados em todo o Brasil, 3.784.333 casos

que, em sua maioria, localizaram-se na região Nordeste do país, que totalizou 1.763.956

casos, ou seja, pouco mais de 46% do total de casos.

Desde a primeira notificação (1993) até o ano de 2005, o estado do Rio Grande

do Norte contabilizou 180.603 casos da doença, estando à frente de todos os estados das

regiões Norte, Sul e Centro-Oeste, mais os estados de São Paulo (SP), Espírito Santo

(ES), Maranhão (MA), Piauí (PI), Alagoas (AL), Sergipe (SE). No entanto, o elevado

número de casos de dengue não é uma exclusividade brasileira, pois, anualmente, 80

milhões de pessoas, em todo o mundo, são infectadas pelo vetor do dengue. Desse total,

550 mil necessitam de cuidados médico-hospitalares e pelo menos 20 mil chegam ao

óbito (PNCD, 2002).

De modo geral, não há consenso entre os pesquisadores sobre a origem da

dengue, porém esses consideram como mais provável que as primeiras epidemias que se

tem informação ocorreram na ilha de Java em 1779 e, alguns anos depois, na

Filadélfia/EUA. Entretanto, a primeira pandemia de dengue só foi notificada a partir do

incremento de atividades comerciais entre o Caribe e os Estados Unidos, no ano de

1827, a partir do porto de Virgínia/EUA. A segunda pandemia ocorreu entre os anos de

1848-1850 e incluiu, principalmente, as cidades de Havana/Cuba e de Nova

Orleans/EUA. Fizeram parte da terceira pandemia, ocorrida entre os anos de 1879 a

1880, vários países do Caribe, entre eles: Bermudas, Cuba, Panamá, Porto Rico, Ilhas

Virgens e Venezuela. No momento posterior a Segunda Grande Guerra Mundial

ocorreram epidemias de dengue hemorrágica em vários países da Ásia e Sudeste

Asiático, entre eles: Filipinas (1956), Tailândia (1958), Vietnã do Sul (1960), Singapura

(1962), Sri Lanka (1963), Malásia (1963), Índia (1968), Indonésia (1969) e Birmânia

(1970). Também foram marcantes as epidemias ocorridas em vários países da Oceania

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no período compreendido entre 1960-1970 (TORRES, 1998).

Ainda em relação aos dados do histórico da dengue no mundo, esses revelam

que entre 1956 e 1980 foram notificados 1.547.760 casos, correspondendo a uma média

anual de 61.910 casos. No período que compreende os cinco anos posteriores (1981-

1985), notificou-se um total de 1.304.305 casos de dengue, passando a média anual para

260.861 casos. Continuado o ciclo de expansão da dengue, o período que compreendeu

os anos de 1986-1995, resultou em situação ainda mais preocupante. Nesse intervalo de

tempo, foram notificados 3.480.190 casos da doença em todo o mundo, que representa

uma média anual de 350.000 casos de dengue (TORRES, 1998).

A partir da observância desses recortes da evolução dos casos de dengue no

mundo, pode-se perceber a situação a que muitos países estão submetidos, sejam eles

desenvolvidos, em desenvolvimento ou subdesenvolvidos, principalmente, por algo

factual, até os dias atuais, que é o não controle clínico da dengue.

Com isso, tem-se que a dengue hoje figura como a mais importante arbovirose

(doença veicula por artrópodes) da história e constitui um grave problema de saúde

pública em áreas urbanas, periurbanas das zonas tropicais e subtropicais do mundo

(MARCONDES, 2001).

Do ponto de vista taxonômico, o vírus da dengue é um arbovírus do gênero

Flavivirus – que possui mais 60 outros tipos de vírus – sendo conhecidos quatro

sorotipos distintos do vírus do dengue: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. A fonte de

infecção é o homem, que tem a suscetibilidade de se infectar pelo vírus. A veiculação

entre os homens faz-se pela picada hematofágica do vetor infectado do Aedes aegypti,

portanto, o ciclo do dengue pode ser descrito como: homem – Aedes aegypti – homem

(MARCONDES, 2001). Com isso, tem-se que a favorabilidade de transmissão do vírus

está relacionada com a abundância de mosquitos e a presença do vírus do dengue em

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portadores humanos (TORRES, 1998).

O Aedes aegypti é o principal vetor da dengue. Tal fato teve como primeiras

evidências os estudos de Bancroft, realizados em 1906, sendo realmente confirmados

por Agramonte e colaboradores no ano de 1908. Acredita-se que suas origens são do

continente africano e que o vetor da dengue chegou a América a partir das viagens

exploradoras/colonizadoras européias (TORRES, 1998).

Atualmente, a distribuição geográfica do Aedes aegypti dá-se, geralmente,

dentro dos limites de latitude 45º norte e 30º sul, podendo esse habitar outras faixas,

porém, desde que essas estejam submetidas a períodos de calor. Sendo assim, esses

limites parecem estar ligados à temperatura do ar (MARCONDES, 2001). Dentro da

faixa citada do globo terrestre, o desenvolvimento do vetor da dengue pode ser

processado tanto em recipientes artificiais como criadouros naturais, sempre localizados

nos arredores das residências (CONSOLI; OLIVEIRA, 1998).

Em se tratando do ciclo de desenvolvimento do Aedes aegypti, o mesmo

compreende quatro fases: ovo, larva, pupa e adulto. Para que os ovos do vetor se

desenvolvam completamente e passem à fase de larva há a necessidade de dois a três

dias de elevada umidade do ar. Assim, as primeiras 48 horas do vetor são tidas como

um período crítico, onde a temperatura e a umidade são cruciais para sua sobrevivência

(TORRES, 1948). Ainda em relação ao período do desenvolvimento embrionário e

maturação dos ovos, Gillett (1974, tradução nossa), afirma que:

A evolução da taxa de maturação dos ovos do Aedes aegypti varia

diretamente com a temperatura do ar, sendo que a 23ºC os ovos levam

três dias para amadurecer. Porém, sob altas temperaturas, eles se

desenvolvem num tempo menor que três dias e que sob temperaturas

mais baixas que à citada, os ovos levam bem mais tempo para

completar seu desenvolvimento.

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5

Já em relação ao desenvolvimento larvário, à temperatura configura-se como

sendo ótima, para a maioria dos mosquitos tropicais, quando se encontra entre 24°C e

28ºC (CONSOLI; OLIVEIRA, 1998). Caso o ambiente permaneça seco não ocorrerá a

passagem da fase de ovo para a larval, porém, os ovos podem resistir por um período

que varia de vários meses à um ano. O limite para desenvolvimento da larva está dentro

do intervalo térmico que varia de 8ºC a 41ºC. Os adultos não são resistentes nem às

temperaturas baixas (inferiores a 6ºC), nem a elevadas (superiores a 42ºC) (TORRES,

1998).

Como citado, algo que se destaca em se tratando do mosquito Aedes aegypti é

sua capacidade de adaptação frente a conjunturas ambientais adversas. Tal fato gera

dificuldades principalmente no que tange a tentativa de controle vetorial da dengue. Em

fase desta situação, Fernandes et al. (2006) desenvolveram um trabalho que buscou

determinar as exigências térmicas para o desenvolvimento e estimar o número de

gerações anuais do Aedes aegypti em cinco municípios do estado da Paraíba, tendo

esses características térmicas diferentes. Entre seus resultados, destaca-se que a

temperatura favorável ao desenvolvimento do vetor da dengue encontra-se entre 21ºC e

29ºC. Para que o vetor mantenha satisfatória longevidade, a temperatura deve encontra-

se na faixa de 22ºC a 30ºC. Além disso, os autores ressaltam: não ter havido eclosão dos

ovos a temperatura a baixo de 18ºC; a faixa térmica entre 29ºC a 32ºC conjuga-se como

aquela de potencial elevado ao desenvolvimento do Aedes aegypti; e que temperaturas

abaixo de 18ºC e acima de 34ºC implicam em efeitos negativos ao desenvolvimento do

vetor. Diante destes resultados, percebe-se uma elevada relação de favorabilidade entre

a temperatura do ar e o ciclo biológico do Aedes aegypti, o que conferirá ao vetor

condições propícias ou não para seu desenvolvimento.

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Dentro da mesma linha, Beserra e Castro Jr. (2008) compararam o ciclo de vida

e estimaram os padrões de fertilidade de populações de Aedes aegypti. A pesquisa,

realizada no estado da Paraíba, constatou que as temperaturas médias das águas em que

ocorreram os desenvolvimentos de ovo à emergência dos adultos das populações de

Aedes aegypti foram de 24,95ºC, 24,88ºC, 24,85ºC e 24,99ºC, respectivamente, para as

populações analisadas nos municípios de Brejo dos Santos-PB, Boqueirão-PB,

Itaporanga-PB e Remígio-PB. Percebe-se, de antemão, que não houve praticamente

diferenças entre as condições de estudo para essas populações. Em contrapartida, no que

tange ao período de desenvolvimento embrionário e à viabilidade dos ovos, observou-se

uma significativa variabilidade, com médias variando de 3,8 a 4,4 dias e 58,4% a 84%,

respectivamente. Pode-se atribuir esta variação ao efeito direto da variável temperatura

do ar sobre o ciclo de vida do vetor.

Outra pesquisa experimental que abordou as condições da atmosfera limitantes à

sobrevivência do mosquito Aedes aegypti, em sua fase adulta, foi desenvolvida na

cidade de Buenos Aires-Argentina por Bejerán et al. (2003). A partir dessa, foram

obtidos os seguintes resultados, sendo esses limitantes à sobrevivência do Aedes

aegypti: temperatura máxima diária maior ou igual a 40ºC; temperatura mínima diária

menor ou igual a 0ºC; persistência durante 10 dias de um déficit de vapor de água médio

maior a 15 mb; constância durante 5 dias de um déficit de vapor de água médio maior a

20 mb; persistência durante 3 dias de um déficit de vapor de água médio maior a 25 mb;

constância durante 2 dias de um déficit de vapor de água médio maior a 30 mb; e

temperatura máxima diária menor que 15º C durante mais de 5 dias. A definição de tais

faixas ou zonas/limites de sobrevivência tem um valor relevante em estudos de

dinâmica vetorial do Aedes aegypti, principalmente, se utilizados com vistas a

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elaboração de prognósticos biometeorológicos do vetor, porém deve ser levado em

consideração a capacidade de adaptabilidade do mesmo a ambientes diversos.

Outro trabalho realizado em Buenos Aires-Argentina foi executado por

Schweigmann et al. (2004) que analisaram o padrão de abundância do Aedes aegypti

naquela cidade. Os resultados do trabalho apontaram que as maiores elevações de

proliferação de mosquitos ocorreram durante os meses onde foram registradas as mais

elevadas temperaturas e precipitações pluviométricas – temperaturas médias acima de

20ºC e precipitações acumuladas acima de 150 mm. Tais resultados expressão uma

favorabilidade bastante regionalizada do vetor da dengue às variáveis bioclimáticas em

estudo, dado, como já exposto, a capacidade de adaptação do Aedes aegypti a ambientes

com características diferentes.

A partir de uma contextualização de antigas e remanescentes enfermidades, com

características predominantes da zona tropical do globo, Ferreira (2003) percebeu que

elevadas temperaturas e a umidade relativa do ar e o tempo de duração da estação de

verão favorecem a proliferação de mosquitos. Ainda, conclui que os insetos vetores da

malária e da dengue urbana beneficiam-se com a elevação das temperaturas. Outro fator

favorável à proliferação é a permanência de altos índices de umidade relativa do ar,

superiores a 70%. Tais resultados são relevantes na medida em que caracterizam uma

faixa ótima de umidade relativa do ar para o desenvolvimento e disseminação do Aedes

aegypti.

Igualmente, objetivando encontrar relação entre a influência de variáveis

bioclimáticas no ciclo vital dos vetores de relevância para a vigilância entomológica,

Donalísio e Glasser (2002) concluíram que o principal habitat larvário do Aedes aegypti

corresponde a depósitos de armazenamento de água, os quais geralmente independem

da chuva para conterem coleções hídricas. Tal fato sugere que o pico de transmissão não

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esteja tão relacionado com a densidade do vetor, mas sim, com o aumento da sobrevida

dos mosquitos adultos nas condições de temperatura e umidade da estação chuvosa,

incrementando a probabilidade de fêmeas infectadas completarem o período de

replicação do vírus, tornando-se infectantes. Ainda, segundo os mesmos autores,

verificou-se, em várias regiões do estado de São Paulo, que a temperatura atuou como

fator modelador do processo de infestação por Aedes aegypti. Ao contrário do esperado,

observou-se pouca influência dos índices pluviométricos nos picos de transmissão do

vírus da dengue. A partir destes resultados, constata-se que há maior relevância da

variável temperatura do ar, em se tratando da favorabilidade de desenvolvimento do

Aedes aegypti, sobre a variável precipitação pluviométrica.

A partir dessas colocações pôde-se observar a relevância do ambiente, sobretudo

as variáveis bioclimáticas (temperatura do ar e umidade relativa do ar), no ciclo de

desenvolvimento do Aedes aegypti. Desse modo, acredita-se que novas concepções

precausionárias de combate e controle vetorial da dengue, contrárias ao vultoso uso de

inseticidas, devem ir além dos limites tradicionais, estando essas embasadas, entre

outros em: processos epidemiológicos, ecológicos e climáticos; com a construção de

indicadores de risco e vulnerabilidade para predição de eventos epidêmicos, orientando,

assim, os programas de controle das condições que estão presentes na dinâmica

ecológica do Aedes aegypti (AUGUSTO et al., 2005).

Com isso, ao final da pesquisa, pretende-se estimar a potencialidade mensal – de

acordo com a favorabilidade das variáveis bioclimáticas temperatura e umidade relativa

do ar – de desenvolvimento do Aedes aegypti no estado do Rio Grande do Norte. Ainda,

pretende-se desenvolver um trabalho de Educação Ambiental em escolas do nível

fundamental 2 (6° ano ao 9°ano), a fim de disseminar e democratizar tradicionais e

novos conhecimentos gerados no seio científico em relação à temática.

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9

Finalmente, espera-se contribuir na ampliação do arcabouço de conhecimentos a

despeito da ecologia do vetor da dengue no sentido de propiciar – sem ansiar exaurir o

campo de pesquisa desta relevante enfermidade – ao aparelho público-administrativo e a

sociedade Norte-Rio-Grandense um relevante instrumento no momento de tomada de

decisão para planos de combate e controle epidemiológico.

REFERÊNCIAS

AUGUSTO, L. G. S; CARNEIRO, R. M; MARTINS, P. H. Abordagem ecossistêmica

em saúde: ensaios para o controle de dengue. Recife-PE: Editora Universitária da

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Buenos Aires. Terra Livre, v. 1, n. 20, 2003. 9 p.

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entomolology. 2008, v. 37, n. 1, p. 81-85.

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sanitária no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1998. 228 p.

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do Dengue. Revista Brasileira Epidemiologia, vol. 5, n. 3, 2002.

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SANTOS, T. S. Biologia e exigências térmicas de Aedes aegypti (L.) (Diptera:

Culicidae) provenientes de quatro regiões bioclimáticas da Paraíba. Neotropical

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10

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v.1, n. 20. 2003. 14 p.

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12. 1974. 18 p.

MARCONDES, C. B. Entomologia médica e veterinária. São Paulo: Atheneu, 2001,

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Nacional de Controle do Dengue. Brasília: FUNASA, 2002. 34 p.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretária de Vigilância em Saúde (SVS). Boletim:

situação epidemiológica até dezembro de 2006. Brasil, 1980-2005. Brasília: SVS,

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MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretária de Vigilância em Saúde (SVS). Dengue –

distribuição dos casos notificados, por Unidade Federada. Brasil, 1980-2005.

Brasília: SVS, 2005. 1p.

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11

CAPÍTULO 1

ESTIMAÇÃO E ESPACIALIZAÇÃO DAS VARIÁVEIS

CLIMÁTICAS TEMPERATURA E UMIDADE RELATIVA DO AR

NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE A PARTIR DE

MODELAGEM ESTATÍSTICA E GEOESTATÍSTICA

Este capítulo foi submetido à “Revista Climatologia e Estudos da Paisagem” e o texto

apresentado segue a mesma estrutura exigida pela referida revista/periódico

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ESTIMAÇÃO E ESPACIALIZAÇÃO DAS VARIÁVEIS CLIMÁTICAS TEMPERATURA E UMIDADE RELATIVA DO AR NO ESTADO DO RIO

GRANDE DO NORTE A PARTIR DE MODELAGEM ESTATÍSTICA E GEOESTATÍSTICA

Bruno Claytton Oliveira da Silva. Mestrando do Programa Regional de Pós-

Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da UFRN

(PRODEMA/UFRN). Rua Planalto Matogrossense, 1311, Potengi, Natal-RN.

[email protected]

Fernando Moreira da Silva. Docente do Departamento de Geografia da UFRN.

[email protected]

Pedro Vieira de Azevedo. Docente do Departamento de Meteorologia da

UFCG. [email protected]

RESUMO No presente momento, várias são as pesquisas – de campos científicos diversos – que desprendem seus esforços para a interpretação de eventos da natureza. Para tanto, conjuga-se como de grande relevância a aquisição de dados relativos a variáveis físico-ambientais. Um exemplo desta afirmativa são os dados respectivos as variáveis climáticas temperatura do ar e umidade relativa do ar, principalmente diante da preocupação mundial com os atuais e futuros efeitos das Mudanças Climáticas Globais (MCGs). Com isso, cresce a demanda pela descrição do comportamento daquelas variáveis no espaço e no tempo. Deste modo, a partir dessa conjuntura e da observância das deficiências e insuficiências do sistema de coleta de dados no estado do Rio Grande do Norte, objetivou-se na pesquisa estimar e espacializar os dados concernentes as variáveis climáticas citadas. Para tanto, em se tratando de material e métodos empregados, fez-se uso: coletas de dados (normal climatológica e outras séries temporais), frente a instituições afins; medidas de tendência central e de dispersão; regressão polinomial; correlação de Pearson; software Estima T, versão 2.0, software sufer, versão 8.0; e estimação geoestatística. Os resultados apontaram: em relação à temperatura média do ar, que há uma tendência de sua redução entre o período de janeiro a julho. Ainda, verifica-se que a partir do mês de julho o comportamento da mesma variável modifica-se, ocasionando elevação na média térmica do estado; já para a umidade relativa do ar, verifica-se uma disposição para a elevação da umidade do ar no estado no período compreendido entre os meses de janeiro a junho. Contrariamente, observa-se que o período posterior, ou seja, entre os meses de julho a novembro, há uma tendência de redução da umidade relativa do ar no estado do RN. Palavras-Chave: Variáveis Climáticas. Temperatura do ar. Umidade relativa do ar. Estimação Geoestatística. Espacialização.

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13

ABSTRACT At the present time, the polls are several - from various scientific fields - that off their efforts for the interpretation of events of nature. For this, coupled as it is of great importance to acquire data on physical and environmental variables. An example of this statement is the data related climatic variables air temperature and relative humidity, especially in the face of worldwide concern with the current and future effects of Global Climate Change (MCGs). With this, the demand grows description of the behavior of those variables in space and time. Thus, from that situation and the observance of the deficiencies and shortcomings of the system of data collection in the state of Rio Grande do Norte (RN) aimed to estimate the search and spatializing data concerning climatic variables mentioned. For that, in the case of material and methods employed, it was made use: collections of data (Normal climatology), as opposed to similar institutions; measures of central tendency and dispersion; polynomial regression, the Pearson correlation; estimated T software, version 2.0, software sufer, version 8.0, and geostatistical estimation. The results showed: on the average temperature of the air, there is a tendency to reduce it between the period from January to July. Still, it appears that from the month of July the behavior of the same variable modifies itself, causing the average temperature rise of the state, but for the relative humidity, it appears that a trend of increase of moisture in the air RN in the period between the months of January through June. Instead, it appears that the period between the months of July to November, there is a tendency to reduce the relative humidity in the newborn. Still, there is the permanence of average temperatures and air humidity higher throughout the year, in the west and east portions of the state, respectively. Key words: Climatic variables. Air temperature. Relative humidity. Estimation Geostatistics. Spatialization.

INTRODUÇÃO

A partir de meados da segunda metade do século passado a sociedade

global e significativo grupo de pesquisadores iniciam, efetivamente, o processo

de discussão sobre um tema considerado, a partir daquele momento, como

central, a cerca da manutenção da vida humana na Terra: a questão ambiental.

Tal processo resulta da ocorrência, cada vez mais freqüente, de eventos e

catástrofes naturais originadas do elevado processo de degradação ambiental

a que diversos ecossistemas foram submetidos, especialmente, a partir

primeira Revolução Industrial.

Com vistas ao acompanhamento sistemático e contínuo desses eventos

naturais – impactantes diretos a saúde humana, economia, recursos naturais...

– conjuga-se como de grande relevância a aquisição de dados e informações

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relativas ao comportamento de variáveis físico-ambientais. Entre o distinto,

porém integrado, conjunto dessas variáveis, interessantes à questão em curso,

estão aquelas de cunho climático e/ou meteorológico. São exemplos dessas,

as variáveis temperatura média do ar e a umidade relativa do ar, pois

configuram-se como expressivas no processo de determinação dos impactos

resultantes das Mudanças Climáticas Globais (MCGs).

A temperatura pode ser entendida como a condição que determina o

fluxo de calor que passa de uma substância/corpo para outra, deslocando-se

daquele com maior temperatura para a outra com menor temperatura. A

mesma é função do balanço de radiação que chega e que sai de um corpo,

além da sua transformação em calor latente e sensível (AYOADE, 2006).

A temperatura do ar – elemento hoje mais discutido do conjunto de

variáveis atmosféricas – é uma grandeza comparativa e de estado;

comparativa por que há sempre uma relação da mesma entre dois corpos; e de

estado, pois sua variação ocorre de acordo com alterações tanto no tempo

como no espaço. Sendo assim, no sistema globo-atmosfera, a temperatura do

ar pode variar de ponto a ponto tanto num dado instante como ao longo do

tempo (SUDENE, 1975).

Em se tratando ainda da variável temperatura do ar, quando se

considera um determinado ponto da superfície da Terra, devem ser levados em

consideração dois procedimentos distintos para a determinação e/ou

monitoramento da temperatura daquele dado ponto. Um deles é a

determinação da temperatura instantânea do ar, que se refere à temperatura

do ar naquele dado momento. Outro procedimento – de grande relevante no

monitoramento ambiental – é a observação das temperaturas extremas

(máximas e mínimas) e médias, sejam estas diárias e/ou mensais. Para tanto,

são vários os procedimento, técnicas e instrumentos a serem utilizadas na

determinação da temperatura do ar, com destaque para as formas de

apresentação da distribuição da temperatura do ar para certa área.

A umidade ou vapor d’água atmosférico se origina a partir da superfície

terrestre pela evaporação e transpiração. Sendo assim, ela está concentrada,

principalmente, nas baixas camadas da atmosfera – aproximadamente 50% do

vapor d’água total da atmosfera se encontra nessa faixa (AYOADE, 2006).

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15

Embora a quantidade de vapor d’água represente apenas 2% da massa

total e 4% do volume total da atmosfera, ela é o componente mais relevante na

determinação do tempo e do clima (AYOADE, 2006).

A quantidade de vapor d’água presente na atmosfera apresenta-se como

fator/elemento meteorológico/climatológico fundamental, pois desempenha

papel importante no processo de gênese de vários fenômenos presentes na

atmosfera. Além disso, destaca-se no condicionamento de vários processos

físicos, no equilíbrio ecológico e, sobretudo, de atividades biológicas (SUDENE,

1975). Assim como a temperatura do ar, vários são os procedimentos, técnicas

e instrumentos que determinaram à umidade do ar.

Existem várias maneiras de se mensurar a quantidade de umidade da

atmosfera, entre elas: a umidade absoluta e específica, o índice de massa ou

de umidade, a temperatura do ponto de orvalho, a pressão vaporífica ou

umidade relativa. Desse conjunto de procedimentos, a forma mais utilizada é a

umidade relativa, que pode ser entendida como a razão entre o conteúdo real

de umidade de uma amostra e a quantidade de umidade que o mesmo volume

de ar pode conservar na temperatura e pressão quando saturado (AYOADE,

2006).

Apesar da importância do monitoramento contínuo dessas variáveis

climáticas, existem apenas seis Estações Climatológicas de Superfície (Ceará-

Mirim, Cruzeta, Apodi, Mossoró, Florânia e Macau) que realizam observações e

coletam dados padronizados pela OMM por um período igual ou superior a 30

anos no estado do Rio Grande do Norte.

Diante desta conjuntura e da observância das deficiências e

insuficiências do sistema de coleta de dados no estado do Rio Grande do

Norte, o trabalho objetiva estimar e espacializar, para cada município do

estado, dados concernentes as variáveis climáticas temperatura média e

umidade relativa do ar.

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16

MATERIAL E MÉTODO Área de estudo

Segundo o Instituto de Defesa do Meio Ambiente (IDEMA, 2002), o

estado do Rio Grande do Norte localiza-se totalmente no Hemisfério Sul

Ocidental, na região Nordeste do Brasil tendo como pontos extremos: 4° 49'

53”S e 6° 58' 57”S e 34° 58' 03”W e 38° 36' 12”W. Tal posição, entre outros

fatores, será decisiva em sua configuração climática. Conseqüentemente, o

estado apresenta – como mostra a figura 1 – as seguintes características

climáticas: úmido – porção sul do litoral oriental, com índices médios de

pluviosidade média acima de 1.200 mm anuais; sub-úmido – litoral oriental,

áreas serranas do interior e porção oeste, com pluviosidade média de 800 a

1.200 mm anuais; semi-árido – toda a porção central e parte do litoral norte

com pluviosidade média de 400 a 600 mm anuais.

Figura 1: Mapa climático do estado do Rio Grande do Norte. Fonte: Instituto de Defesa do Meio Ambiente (IDEMA-RN, 2002).

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17

Metodologia

Coleta de Dados

A coleta de gabinete foi realizada junto às instituições que coletam e

quantificam dados relacionados às variáveis climáticas em estudo (temperatura

média do ar e umidade relativa do ar). Durante esta etapa, obtiveram-se dados

do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), Instituto Nacional de Pesquisas

Espaciais (INPE) e Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio

Grande do Norte (EMPARN). Além destas, foram também levantados dados a

partir da Normal Climatológica referente ao período de 1961-1990, esta

organização pelo INMET. Software Estima_T O software Estima_T é um modelo de regressão múltipla aplicado à

estimação da temperatura do ar para a região Nordeste do Brasil, tendo sido

proposto pelo Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade Federal

de Campina Grande (DCA/CCET/UFCG).

O modelo foi utilizado na estimação das temperaturas máximas,

mínimas e médias para os municípios que não possuem dados relativos às

Normas Climatológicas. Ainda, em se tratando das características do Estima_T,

Cavalcanti (2005, p.2) afirma que, para elaboração do modelo:

“Foram utilizadas as médias mensais de 69 séries temporais de

estações de temperatura do ar (média diária, máxima e mínima)

do Nordeste do Brasil e, também, as séries temporais mensais

de Anomalias de Temperaturas da Superfície do Mar (ATSM)".

O modelo empírico de estimativa da temperatura do ar é uma superfície

quadrática dada por:

Tij =a0 + a1 2 3h + a42 + a5 6h² + a7 8 9 (1)

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18

Onde:

h = elevação de cada estação meteorológica analisada (em metros);

a0, a1... a9 = coeficientes de regressão;

Os índices = indicam, respectivamente, o mês e o ano para o qual se está

calculando a temperatura do ar (Tij).

Estatística Descritiva Fez-se necessário a utilização da estatística descritiva em todo o

processo, sendo esta representada tanto por medidas de tendência central

(média, moda e mediana), bem como por medidas de dispersão (desvio

padrão, coeficiente de variação e amplitude).

Séries Temporais As séries temporais consistem, sobretudo, em observações registradas

em função do tempo cronológico. Assim, essas podem ser simbolizadas pela

função genérica:

y = f(t) (2)

Assim, estudos empíricos irão depender, em demasiado, do arranjo

desses dados em forma cronológica, com vistas à análise crítica da mesma, a

fim de analisar, descrever, compreender e prever cenários a partir do

comportamento de uma dada variável em função da série em pauta.

Na pesquisa, foram levantadas séries temporais de variáveis climáticas

diversas a fim de compreender o comportamento da variável umidade relativa

do ar.

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19

Correlação de Pearson

A correlação de Pearson pode ser compreendida como uma associação

numérica entre duas variáveis, não implicando necessariamente uma relação

de causa e efeito (ANDRIOTTI, 2005).

O método foi utilizado com o objetivo de observar a correlação entre as

variáveis climáticas diversas e a variável umidade relativa do ar. O coeficiente

de correlação de Person é obtido a partir da seguinte equação:

22

yyxx

yyxxr (3)

Onde:

r = índice situado entre -1 e 1;

x e y = valores das variáveis em estudo.

Regressão As equações foram empregadas quando da necessidade de estimar a

umidade relativa do ar para os municípios onde inexistem dados relativos à

Normal Climatológica. Estes dados foram estimados a partir da variável

temperatura do ar.

² + cX³ + d (4)

Onde:

Xi = Valor da temperatura do ar;

a, b e c = Coeficientes angulares;

d = Coeficiente linear.

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20

Estimação Geoestatística

A geoestatística é um ramo científico utilizado na predição/estimação de

dados/valores inerentes a certa variável no espaço geográfico. Ela trata as

variáveis como sendo regionalizadas, porém, não faz todo o tratamento dos

dados de forma integrada e, ainda, não pode ser entendida como ferramenta

capaz de criar dados, mas sim, tratar a informação espacial (ANDRIOTTI,

2005).

Na pesquisa fez-se uso da ferramenta no processo de estimação,

interpolação e espacialização dos dados referente às variáveis temperatura

média e umidade relativa do ar; essas geradas a partir de métodos estatísticos.

Ainda, fez-se uso, na geração dos grids, dos métodos de Krigagem – para os

dados de temperatura do ar – e Mínima Curvatura – para os dados de umidade

relativa do ar.

Software Sufer O programa computacional sufer, na sua versão 8.0, foi desenvolvido

com o objetivo de criar mapas isopléticos, ou de isolinhas, tendo sido aplicado

inicialmente para dados topográficos. Na pesquisa, esse foi utilizado para

interpolar e espacializar, no espaço e no tempo, os dados referentes às

variáveis temperatura e umidade relativa do ar no estado do Rio Grande do

Norte.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Em se tratando dos dados de temperatura média do ar, esses foram

estimados e espacializados para os municípios que não dispunham de séries

temporais com mais de 30 anos para a variável em estudo.

O conjunto de mapas 1 (representando pelas figuras 2 a 12), observado

logo abaixo, mostra a variação sazonal da temperatura média do ar no estado

do Rio Grande do Norte. As figuras são resultantes do processo de estimação

pontual (municípios) e espacial das variáveis em estudo, a partir dos métodos

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já descritos. A partir dos mapas, pode-se observar que há uma tendência de

redução da temperatura média do ar entre o período relativo aos meses de

janeiro a julho. Ainda, verifica-se que a partir do mês de julho o comportamento

da mesma modifica-se, ocasionando elevação na média térmica do estado.

Constata-se também, que ocorre, durante todo o ano, uma predominância de

temperaturas médias mais elevadas nas messoregiões médio oeste e oeste do

Rio Grande do Norte. Em contrapartida, percebe-se que, as mais baixas

temperaturas médias, estão localizadas nas messoregiões leste, agreste e

central, além de áreas isoladas nas messoregiões médio e alto oeste do estado

do Rio Grande do Norte.

Figura 2: Mapa de temperatura média do ar para o mês de janeiro no Rio Grande do Norte. Fonte: SILVA, 2008.

Figura 3: Mapa de temperatura média do ar para o mês de fevereiro no Rio Grande do Norte. Fonte: SILVA, 2008.

Tmed (°C)

Tmed (°C)

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Figura 4: Mapa de temperatura média do ar para o mês de março no Rio Grande do Norte. Fonte: SILVA, 2008.

Figura 5: Mapa de temperatura média do ar para o mês de abril no Rio Grande do Norte. Fonte: SILVA, 2008.

Figura 6: Mapa de temperatura média do ar para o mês de maio no Rio Grande do Norte. Fonte: SILVA, 2008.

Tmed (°C)

Tmed (°C)

Tmed (°C)

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Figura 7: Mapa de temperatura média do ar para o mês de junho no Rio Grande do Norte. Fonte: SILVA, 2008.

Figura 8: Mapa de temperatura média do ar para o mês de julho no Rio Grande do Norte. Fonte: SILVA, 2008.

Figura 9: Mapa de temperatura média do ar para o mês de agosto no Rio Grande do Norte. Fonte: SILVA, 2008.

Tmed (°C)

Tmed (°C)

Tmed (°C)

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24

Figura 10: Mapa de temperatura média do ar para o mês de setembro no Rio Grande do Norte. Fonte: SILVA, 2008.

Figura 11: Mapa de temperatura média do ar para o mês de outubro no Rio Grande do Norte. Fonte: SILVA, 2008.

Figura 12: Mapa de temperatura média do ar para o mês de novembro no Rio Grande do Norte.

Tmed (°C)

Tmed (°C)

Tmed (°C)

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25

Fonte: SILVA, 2008.

Figura 13: Mapa de Temperatura média do ar para o mês de dezembro no Rio Grande do Norte. Fonte: SILVA, 2008.

O fato da predominância das temperaturas médias mais reduzidas em

certas porções do estado foi atrelado, além da dinâmica atmosférica local e

regional, ao perfil altimétrico do estado, que irá conferir as áreas elevadas,

temperaturas mais amenas durante todo o ano. Tal fato justifica-se devido à

temperatura do ar ser proveniente do aquecimento da superfície terrestre. Com

isso, tem-se que, de modo geral, áreas mais deprimidas estão mais propícias a

registrarem temperaturas mais elevadas.

A figura 14, localizada abaixo, representa o mapa altimétrico do RN. A

partir da sobreposição desse mapa àqueles relativos à variável temperatura

média do ar, pode-se contatar o enunciado anteriormente, ou seja, as áreas do

estado com perfis altimétricos menos elevados estão sujeitas a temperaturas

médias mais elevadas.

Tmed (°C)

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26

.

Figura 14: Mapa altimétrico do Rio Grande do Norte. Fonte: SILVA, 2008.

Em se tratando do comportamento da umidade relativa do ar no estado,

como observado logo baixo, a partir do conjunto de mapas 2 (representado

pelas figuras 15 a 26), verifica-se que há uma tendência de elevação da

umidade relativa do ar no estado no período compreendido entre os meses de

janeiro a junho. Contrariamente, observa-se que o período posterior, ou seja,

entre os meses de julho a novembro, há uma tendência de redução da

umidade relativa do ar. Percebe-se também que a messoregião leste,

principalmente na sua porção mais oriental, é a área que registra os maiores

índices de umidade no RN. Em contrapartida, verifica-se que há, durante todo o

ano, uma permanência de valores mais reduzidos, especialmente, na porção

central do estado.

O comportamento da umidade relativa do ar, tanto do ponto de vista

espacial como temporal, pode ser justificado pela influência de sistemas

atmosféricos atuantes no final do verão e durante a estação do outono, ou seja,

entre os meses de fevereiro a junho. A influência daqueles, nesse contexto,

será fundamental; conferindo, as áreas mais continentais do Rio Grande do

Norte, elevação dos índices de umidade relativa do ar, assim como, redução

desses com o cessar das de sua atuação.

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27

Figura 15: Mapa de umidade relativa do ar para o mês de janeiro no Rio Grande do Norte. Fonte: SILVA, 2008.

Figura 16: Mapa de umidade relativa do ar para o mês de fevereiro no Rio Grande do Norte. Fonte: SILVA, 2008.

Figura 17: Mapa de umidade relativa do ar para o mês de março no Rio Grande do Norte. Fonte: SILVA, 2008.

UR(%)

UR(%)

UR(%)

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Figura 18: Mapa de umidade relativa do ar para o mês de abril no Rio Grande do Norte. Fonte: SILVA, 2008.

Figura 19: Mapa de umidade relativa do ar para o mês de maio no Rio Grande do Norte. Fonte: SILVA, 2008.

Figura 20: Mapa de umidade relativa do ar para o mês de junho no Rio Grande do Norte. Fonte: SILVA, 2008.

UR(%)

UR(%)

UR(%)

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29

Figura 21: Mapa de umidade relativa do ar para o mês de julho no Rio Grande do Norte. Fonte: SILVA, 2008.

Figura 22: Mapa de umidade relativa do ar para o mês de agosto no Rio Grande do Norte. Fonte: SILVA, 2008.

UR(%)

UR(%)

UR(%)

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30

Figura 23: Mapa de umidade relativa do ar para o mês de setembro no Rio Grande do Norte. Fonte: SILVA, 2008.

Figura 24: Mapa de umidade relativa do ar para o mês de outubro no Rio Grande do Norte. Fonte: SILVA, 2008.

Figura 25: Mapa de umidade relativa do ar para o mês de novembro no Rio Grande do Norte. Fonte: SILVA, 2008.

UR(%)

UR(%)

UR(%)

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Figura 26: Mapa de umidade relativa do ar para o mês de dezembro no Rio Grande do Norte. Fonte: SILVA, 2008. CONCLUSÕES

Embasado nos resultados aqui obtidos, observou-se que tanto o

comportamento da temperatura média do ar como o da umidade relativa do ar

estão diretamente relacionados à sazonalidade da climatologia local,

acompanhando a atuação dos sistemas atmosféricos ou sinóticos mais

expressivos e influentes no Rio Grande do Norte: Zona de Convergência

Intertropical (ZCIT), que está associado à elevação da umidade relativa do ar e

redução da média térmica, principalmente, no interior do estado, no período

entre os meses de fevereiro a junho; e as Ondas de Leste (OL), responsável

pela manutenção da elevada umidade relativa do ar, durante período

significativo do ano, especialmente na porção litoral oriental do estado.

Tal conjuntura concede ao estado do Rio Grande do Norte variações

significativas tanto no espaço como no tempo das variáveis em estudo,

refletindo diretamente em questões que tangem, por exemplo, o balanço de

energia – com conseqüências no conforto térmico – e ao desenvolvimento,

proliferação e disseminação de vetores de doenças de impacto direto à saúde

humana. Ainda, deve-se destacar que à amplitude destas enfermidades e de

seus vetores pode estar atrelada ao comportamento das condicionantes

atmosféricas temperatura média e umidade relativa do ar.

REFERÊNCIAS ANDRIOTTI, L. S. J. Fundamentos de Estatística e Geoestatística. São

Leopoldo-RS: Unisinos, 2005. 165 p.

AYOADE, J. O. Introdução a Climatologia para os trópicos. 11ªed. Rio de

Janeiro: Bertrand, 2006. 332 p.

BRASIL. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. Normais Climatológicas. Brasília: Departamento Nacional de Meteorologia, 1992. 84 p.

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32

CAVALCANTI, E. N; SILVA, V. P. R; SOUSA, F. A. D. Programa computacional

para estimação da temperatura do ar para a região Nordeste do Brasil. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.10, n.1, 2006. 8 p.

INSTITUTO DE DEFESA DO MEIO AMBIENTE (IDEMA-RN). Perfil do estado do Rio Grande do Norte. Natal: IDEMA, 2002. 34 p.

SUPERINTENDÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE.

Instrumentos meteorológicos utilizados em estações de superfície. DRN:

Recife, 1975. 129 p.

VIEIRA, S. Introdução à Bioestatística. 3 ed. Rio de Janeiro: Campus, 1980.

195 p.

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33

CAPÍTULO 2

VARIAÇÕES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: cenário atual e futuro

da potencialidade de desenvolvimento do Aedes aegypti no estado do

Rio Grande do Norte/Brasil

Este capítulo foi submetido à “Revista Cadernos de Saúde Pública” e o texto

apresentado segue a mesma estrutura exigida pela referida revista/periódico

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VARIAÇÕES E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: cenário atual e futuro da

potencialidade de desenvolvimento do Aedes aegypti no estado do Rio Grande do

Norte/Brasil

Bruno Claytton Oliveira da Silva. Mestrando do Programa Regional de Pós-Graduação

em Desenvolvimento e Meio Ambiente da UFRN (PRODEMA/UFRN). Rua Planalto

Matogrossense, 1311, Potengi, Natal-RN. [email protected]

Fernando Moreira da Silva. Docente do Departamento de Geografia da UFRN.

[email protected]

Pedro Vieira de Azevedo. Docente do Departamento de Meteorologia da UFCG.

[email protected]

RESUMO O trabalho objetiva analisar a favorabilidade bioclimática na potencialidade de desenvolvimento do Aedes aegypti, tanto para o cenário atual como para aqueles relativos às Mudanças Climáticas Globais (MCGs). Ainda, pretende-se correlacionar resultados da condição Favorável ao Desenvolvimento do Aedes aegypti com os números de dengue no período de 2000 a 2005. Os dados foram coletados e estimados pelo modelo Estima T e através de regressão polinomial. Além disso, utilizou-se: estatística descritiva, inferência nebulosa, correlação de Pearson e distribuição Gaussiana. Para o cenário atual, os resultados apontaram aumento, nos meses de março a junho, da potencialidade da condição Favorável ao Desenvolvimento e baixa potencialidade da condição de Potencial Máximo de Desenvolvimento. Já para os cenários de elevação de 1°C e 2°C na temperatura média do ar, observou-se redução no potencial de desenvolvimento da condição Favorável. Em relação aos trabalhos de correlação: no primeiro, verificou-se correlação positiva média de 87,1%. No segundo, encontrou-se uma correlação positiva de 95,8%. Palavras-chave: Aedes aegypti; Favorabilidade bioclimática; Mudanças Climáticas Globais (MCGs), Potencialidade de desenvolvimento. ABSTRACT The study aims to look favorably on bioclimatic potential for the development of Aedes aegypti, both for the current scenario as for those on Global Climate Change (MCGs). Still, it is intended to correlate results of the condition conducive to the development of Aedes aegypti with the numbers of dengue in the period 2000 to 2005. The data were collected and estimated by the model T and estimated by polynomial regression. Moreover, it was used: descriptive statistics, inference fuzzy, Pearson correlation and Gaussian distribution. For the current scenario, the results showed an increase in the months from March to June, the potentiality of the condition conducive to the

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development and low potential of the condition of High Potential Development. For the scenarios for the lifting of 1 ° C and 2 ° C in the mean air temperature, we observed a reduction in the potential of developing the condition Favorable. Regarding the work of correlation: the first, there was a positive correlation average of 87,1%. In the second, there was a positive correlation of 95.8%. Keywords: Aedes aegypti; favorably bioclimatic; Global Climate Change (MCGs), potential for development.

INTRODUÇÃO

No presente momento, percebe-se a (re)emergência crescente de acentuado

número de enfermidades de impacto direto à saúde humana, principalmente a partir do

incremento e intensificação das relações comerciais entre unidades geográficas

espaciais (continentes, países e estados), além das alterações e agravamento do quadro

ambiental, provocado por uso insustentável dos recursos naturais.

Fato que exemplifica a afirmativa citada diz respeito à elevação da temperatura

do ar em âmbito global. Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA) ¹, a

década de 1990 foi a mais quente desde que as primeiras medições, no fim do século

XIX, foram efetuadas. Este aumento nas décadas recentes corresponde ao aumento no

uso de combustível fóssil durante este período. Até finais do século XX, o ano de 1998

foi o mais quente desde o início das observações meteorológicas em 1861, com

aumento de 0,54ºC acima da média histórica de 1961-90. Os últimos 11 anos, 1995-

2004 (com exceção de 1996) estão entre os mais quentes no período instrumental.

Como destaca Mendonça 2, a saúde humana é fortemente influenciada pelo

clima. O mesmo autor destaca ainda que as condições térmicas, de dispersão (ventos e

poluição) e de umidade do ar exercem relevante influência sobre a manifestação de

muitas doenças, epidemias e endemias humanas. Sendo assim, tem-se que tanto

variações como alterações/mudanças do clima podem implicar em ampliação ou

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agravamento, em dado espaço geográfico, do número de notificações de certa

enfermidade de ação direta à saúde humana.

Entre o significativo número daquelas doenças destacam-se a dengue; doença

considerada infecciosa febril aguda que provoca, entre outros efeitos, dores musculares

e nas articulações e, em alguns casos, febres hemorrágicas – responsáveis pela maioria

dos casos notificados de mortes – que se manifestam por diversificadas porções do

corpo humano.

Dados obtidos e divulgados pelo PNCD 3 revelam que, anualmente, 80 milhões

de pessoas são infectadas pelo vetor da dengue. Desse total, 550 mil necessitam de

cuidados médico-hospitalares e pelo menos 20 mil chegam a óbito.

Indo ao encontro desta realidade, segundo a Secretária Saúde Pública do estado

do Rio Grande do Norte 4, o estado apresenta elevados índices da doença. A exemplo,

somente no período de 2000 a 2005, foram totalizados 114.719 casos notificados.

Em se tratando do principal vetor da dengue – o Aedes aegypti – Torres 5 afirma

que seu principal habitat é o meio urbano, pois se prolifera com facilidade em ambiente

doméstico pela ausência de predadores e grande disponibilidade de criadouros. Portanto,

em geral, não se tem transmissão da dengue em áreas rurais.

Na atualidade é significativo o número de estudos que se desenvolvem

preocupados em observar, analisar, diagnosticar e prognosticar, no tempo e no espaço,

condições favoráveis tanto ao Aedes aegypti quanto a ocorrência de casos de dengue.

Para tanto, esses têm levando em consideração o comportamento atual de variáveis

ambientais e de cenários futuros desenvolvidos e divulgados pelo Relatório do Painel

Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). O relatório, segundo Ávila 6,

alerta para um aumento médio global das temperaturas entre 1,8ºC e 4,0ºC até 2100.

Entretanto, a estimativa mais confiável é de 3°C, dentro da perspectiva de elevação da

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temperatura média do ar. Tais resultados sinalizam para alterações significativas de

diversos aspectos inerentes a qualidade de vida e manutenção da humanidade na Terra,

que podem ser traduzidos, entre outros, na possibilidade de ampliação de doenças

impactantes ao homem.

Entre aqueles estudos, Confalonieri 7 observou os efeitos das variações

climáticas no Brasil e suas implicações na abundância e disseminação de vetores

patógenos transmissores de diversas doenças de impacto na saúde humana. O autor

concluiu que fatores tais como temperatura e umidade relativa do ar afetam a

capacidade de reprodução e sobrevivência de agentes patogênicos como o da dengue.

Os resultados desse estudo possuem limitações do ponto de vista da análise de risco

para escalas médias e grandes, face às generalizações necessárias realizadas no

momento da pesquisa. Assim, julga-se como indispensável à realização de estudos em

âmbito local e regional para o aprimoramento daquelas questões pontuadas.

Analisando a sobreposição de fatores climáticos e a distribuição das populações

de Aedes aegypti e de Aedes albopictus, dentro do contexto de expansão geográfica

destas espécies no estado de São Paulo, no período de 1985 a 1995, Glasser e Gomes 8

verificaram elevada associação entre a temperatura média de julho e o estabelecimento

de Aedes aegypti. O percentual de municípios onde a espécie se estabeleceu e a

velocidade de ocupação de novos municípios foi tanto maior quanto mais elevada à

faixa de temperatura da área em que eles se localizavam. Os resultados indicam para a

uma relação diretamente proporcional, ou uma correlação positiva, entre faixas térmicas

elevadas e a velocidade de estabelecimento do Aedes aegypti no espaço geográfico.

Em trabalho realizado em cinco municípios do estado da Paraíba (Boqueirão,

Remígio, Campina Grande, Itaporanga e Brejo dos Santos), Fernandes et al. 9

procuraram determinar as exigências térmicas, em campo, para o desenvolvimento do

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Aedes aegypti. Destaca-se, entre os resultados, a temperatura favorável ao

desenvolvimento do vetor da dengue entre 21ºC e 29ºC e a faixa térmica entre 29ºC a

32ºC como sendo máxima ao desenvolvimento. Estes resultados têm valioso valor

científico para pesquisas que pretendem analisar e diagnosticar áreas de risco de

desenvolvimento, atuação e disseminação do Aedes aegypti.

Dissertando sobre algumas doenças ditas tropicais, entre elas a dengue, no

estado do Paraná, Ferreira 10 percebeu que, as altas temperaturas do ar, a umidade

relativa do ar, o tempo de duração da estação de verão ou das condições de calor e

umidade relativa do ar favorecem a proliferação dos mosquitos. Além disso, indica que

o vetor da dengue urbana beneficia-se com a elevação das temperaturas, cujo optimum

situa-se entre 25ºC e 27ºC. Ainda, destaca entre os fatores favoráveis à proliferação a

permanência de altos índices de umidade relativa do ar, superior a 70%.

A partir do exposto, o trabalho visa diagnosticar e prognosticar – a partir da

favorabilidade das variáveis bioclimáticas temperatura média e umidade relativa do ar –

as condições biofísicas Favorável ao Desenvolvimento e Potencial Máximo ao

Desenvolvimento do Aedes aegypti no estado do Rio Grande do Norte. Além disso,

pretende-se analisar a correlação do número mensal e médio mensal de casos de dengue

com a condição biofísica Favorável ao Desenvolvimento do Aedes aegypti no estado do

RN.

Por fim, espera-se ampliar do campo de conhecimentos da dinâmica vetorial da

dengue, em território Potiguar, tanto no contexto atual quanto a partir dos cenários

propostos relativos às Mudanças Climáticas Globais (MCGs), com vistas à melhoria da

qualidade de vida da população local.

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MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O estado do Rio Grande do Norte possui grande diversidade de elementos

bióticos e abióticos, proporcionada pelas diferenciações físico-naturais presentes em seu

território. Contudo, na pesquisa, dar-se-á ênfase ao comportamento das variáveis

climáticas em território Norte-Rio-Grandense.

Segundo o Instituto de Defesa do Meio Ambiente (IDEMA) 11, o estado do Rio

Grande do Norte localiza-se totalmente no hemisfério sul ocidental, na região Nordeste

do Brasil. O estado é limitado pelos seguintes pontos extremos: 4° 49' 53’’ e 6° 58' 57”

de latitude sul e 34° 58' 03” e 38° 36' 12” de longitude oeste.

O estado do RN apresenta os seguintes tipos de climas: úmido – porção sul do

litoral oriental, com índices de pluviosidade média acima de 1.200 mm anuais; sub-

úmido – litoral oriental, áreas serranas do interior e porção oeste, com pluviosidade

média de 800 a 1.200 mm anuais; semi-árido – toda a porção central e parte do litoral

norte com pluviosidade média de 400 a 600 mm anuais.

Metodologia

Coleta de Dados

A coleta de gabinete foi realizada no segundo semestre do ano de 2007 junto às

instituições que coletam e quantificam dados relacionados às variáveis climáticas em

estudo (temperatura média do ar e umidade relativa do ar), com destaque para o

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Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). Em se tratando dos dados de saúde, estes

foram obtidos a partir da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) e da Secretária de

Estado de Saúde Pública do Rio Grande do Norte (SESAP-RN), além de Secretárias

Municipais de Saúde (SMSs).

Normal Climatológica

As Normais Climatológicas são dados relativos às médias de variáveis

climáticas observadas em um determinado espaço de tempo para uma dada localidade

da superfície da Terra, conforme normas estabelecidas pela Organização Meteorológica

Mundial (OMM). Na pesquisa, utilizaram-se as Normais do período de 1961 a 1990,

tendo sido estas editadas, no Brasil, pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET)

12 no ano de 1992. No entanto, observou-se que, no estado do Rio Grande do Norte, há

apenas seis estações climatológicas de superfície que coletam dados padronizados pela

Organização Mundial de Meteorologia (OMM) e que possuem séries temporais com

informações referentes a um período igual ou superior a 30 anos de observação, são

elas: Apodi, Ceará-Mirim, Cruzeta, Florânia, Macau, Mossoró. A partir desta realidade,

configurou-se como necessário a estimação de temperaturas mínimas, médias e

máximas, para os outros municípios que integram o estado do Rio Grande do Norte.

Software Estima_T

O software Estima_T é um modelo que tem como base a regressão múltipla,

sendo este aplicado à estimação da temperatura do ar para a região Nordeste do Brasil,

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tendo sido proposto pelo Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade

Federal de Campina Grande (DCA/CCET/UFCG).

O modelo foi utilizado na estimação das temperaturas máximas, mínimas e

médias para os municípios que não possuem dados relativos às Normas Climatológicas.

Ainda em relação ao Estima_T, Cavalcanti et al. 13 citam que no modelo:

“Foram utilizadas as médias mensais de 69

séries temporais de estações de temperatura do

ar (média diária, máxima e mínima) do

Nordeste do Brasil (Tabela 1) e, também, as

séries temporais mensais de Anomalias de

Temperaturas da Superfície do Mar (ATSM)".

O modelo empírico de estimativa da temperatura do ar é uma superfície quadrática dada

por:

Tij = a0 + a1 2 3h + a42 + a5 6h² + a7 8 9 (1)

Onde:

h = elevação de cada estação meteorológica analisada (em metros);

a0, a1... a9 = coeficientes de regressão;

Os índices i e j = mês e ano, respectivamente, para o qual se está calculando a

temperatura do ar (Tij).

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Correlação Linear de Pearson

A correlação linear de Pearson pode ser compreendida, segundo Andriotti 14,

como uma associação numérica entre duas variáveis, não implicando necessariamente

uma relação de causa e efeito ou mesmo a existência de uma estrutura com interesses

práticos. O método foi utilizado a fim de observar o grau de correlação existente entre a

probabilidade da condição biofísica Favorável ao Desenvolvimento do Aedes aegypti e

o número de casos notificados de dengue no período de 2000 a 2005 no RN. O

coeficiente de correlação de Person é obtido a partir da seguinte equação:

22

yyxx

yyxxr (2)

Onde:

r = índice situado entre -1 e 1;

x e y = valores respectivos as variáveis em estudo.

Regressão

As equações de regressão, de acordo com Andriotti 14, são úteis para predizer o

valor de uma variável, dado certo valor de outras variáveis. Estas foram empregadas

quando da necessidade de estimar a umidade relativa do ar para os municípios onde

inexistem dados relativos à Normal Climatológica. Durante o processo, geraram-se

equações de regressão polinomial de terceira ordem, dadas por:

² + cX³ + d (3)

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Onde:

Xi = Valor da temperatura do ar (ºC);

a, b e c = Coeficientes angulares;

d = Coeficiente linear.

Interpretação Nebulosa

A lógica nebulosa, também conhecida como lógica fuzzy, foi desenvolvida por

Lofti A. Zadeh em 1965. De acordo com Silva 16, a teoria é aplicada a conceitos de

natureza imprecisa, fugindo de uma descrição matemática usual. Camargos 15 afirma

que, os conjuntos nebulosos foram criados a partir da certeza de que os métodos

tradicionais de análise e sistemas não serviam para lidar com sistemas em que relações

entre variáveis não prestavam para representação em termos de diferenciação ou

equações diferenciais.

Na presente pesquisa a abordagem foi utilizada na seleção, análise, interpretação

e definição das diferentes condições biofísicas do Aedes aegypti. Estas condições são

resultantes da interação entre as variáveis bioclimáticas em estudo – temperatura do ar e

umidade relativa do ar – e o comportamento das fases que compõem a gênese do Aedes

aegypti (ovo, larva, pupa e adulto).

Tais condições formam definidas com base na revisão literária que sinalizou

para duas condições: Favorável ao Desenvolvimento e Potencial Máximo ao

Desenvolvimento. Na primeira, todas as fases de desenvolvimento do Aedes aegypti

encontrarão grande viabilidade quando a temperatura média do ar encontra-se entre

21ºC e 29ºC, concomitantemente, com a umidade relativa do ar acima de 70%. Na

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segunda condição, o tempo de desenvolvimento do vetor reduz-se significativamente

quando a temperatura do ar situa-se na faixa entre 29ºC e 32ºC, simultaneamente, com a

umidade relativa do ar acima de 70%.

Distribuição Normal Reduzida ou Gaussiana

Vieira 17 define a Distribuição Normal Gaussiana como uma função que

apresenta média zero e variância 1. Na pesquisa, a equação foi utilizada nos cálculos

mensais de probabilidade para cada condição biofísica do Aedes aegypti no estado do

Rio Grande do Norte. A distribuição é expressa pela seguinte equação:

2

²)(

5,0)2(1)(

z

ezF (4)

xxZOnde : (5)

Sendo que:

x = variável aleatória (temperatura ou umidade relativa);

z = variável aleatória normalizada (temperatura ou umidade relativa);

= desvio padrão da amostra.

Estatística Descritiva

Por fim, fez-se necessário a utilização da estatística descritiva, representada por

medidas de tendência central (média, moda e mediana), bem como medidas de

dispersão (desvio padrão, coeficiente de variação e amplitude).

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45

RESULTADOS

Em se tratando da observação das implicações das variáveis bioclimáticas

(temperatura média e umidade relativa do ar) sob o desenvolvimento do Aedes aegypti

constatou-se, a partir de revisão literária, que temperaturas médias na faixa de 21ºC a

29ºC apresentam-se como favoráveis ao desenvolvimento do vetor da dengue; e entre

29ºC e 32ºC oferece-lhe potencialidade máxima, ou seja, tempo mínimo de

desenvolvimento. No que tange a umidade relativa do ar, o Aedes aegypti encontra

grande potencialidade de desenvolvimento quando a mesma apresenta-se na faixa entre

70% e 100%. Além disso, faz-se necessário enfatizar, que essas condições/faixas ótimas

serão satisfatórias para o cumprimento de todas as fases que compreendem a gênese do

Aedes aegypti, ou seja: ovo, larva, pupa e adulto. Sendo assim, a concomitância

daquelas, repercutirá em perdas mínimas (morte) para cada representante da espécie em

desenvolvimento.

Diante de tais resultados puderam-se criar duas condições biofísicas – Favorável

ao Desenvolvimento e Potencial Máximo ao Desenvolvimento – para o Aedes aegypti

no estado, estando essas correlatas com as variáveis bioclimáticas em estudo e o

comportamento biológico (gênese) do vetor da dengue. Tais condições foram definidas

visando classificar o nível de potencialidade de desenvolvimento do Aedes aegypti, no

Rio Grande do Norte, de acordo com os condicionantes ambientais em estudo. Em

seguida, desenvolveu-se um trabalho bioestatístico de estimação da probabilidade

mensal para as duas condições biofísicas de desenvolvimento do Aedes aegypti,

baseados tanto no comportamento atual das variáveis em estudo, quanto a partir dos

prognósticos propostos pelo IPCC, relacionados às Mudanças Climáticas Globais. Para

tal, utilizaram-se os dados coletados e estimados das médias térmicas e de umidade

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relativa do ar dos 167 municípios do estado do Rio Grande do Norte. Os resultados

dessas análises são apresentados nas figuras 1, 2 e 3.

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

90,0

100,0

PRO

B (%

)

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZMESES

FAVORÁVEL AODESENVOLVIMENTO

POTENCIAL MÁX. AODESENVOLVIMENTO

Figura 1: Potencialidade atual das Condições Biofísicas do Aedes aegypti no estado do Rio Grande do Norte a partir da influência de variáveis Bioclimáticas.

Os resultados da figura acima, que tratam da potencialidade atual de

desenvolvimento do Aedes aegypti no RN, apontaram para um aumento significativo da

potencialidade da condição Favorável ao Desenvolvimento no estado do Rio Grande do

Norte no período de março a maio, 76,4% e 76,5%, respectivamente. Tal período irá

conjugar-se como aquele de maior potencialidade para o desenvolvimento do vetor da

dengue. Além disso, essa condição de desenvolvimento apresentou-se como a mais

expressiva entre as verificadas, com potencialidade máxima no mês de abril (80,9%). Já

a condição Potencial Máximo ao Desenvolvimento, apresentou-se com reduzida

potencialidade durante todo o ano, com valores máximos compreendidos no período

entre janeiro a maio, sendo esses representados, respectivamente, por 7,1%, 10,3%,

11,3%, 9,6% e 7,1%. Com isso, constata-se que o Rio Grande do Norte possui um curto

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período anual de potencialidade de desenvolvimento do Aedes aegypti, determinado

pela concomitância das condições térmicas e de umidade relativa do ar favoráveis.

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

90,0

100,0

PRO

B (%

)

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZMESES

FAVORÁVEL AODESENVOLVIMENTO

POTENCIAL MÁX. AODESENVOLVIMENTO

Figura 2: Potencialidade das Condições Biofísicas do Aedes aegypti, a partir da influência de variáveis Bioclimáticas, com a elevação de 1°C na temperatura média do ar no estado do Rio Grande do Norte.

Na figura 2 foi realizado o mesmo processo de determinação da potencialidade

de desenvolvimento do Aedes aegypti no estado, porém diante de um cenário de

elevação de 1°C na média da temperatura do ar. A partir da figura pode-se observar a

manutenção no comportamento das potencialidades tanto da condição biofísica

Favorável ao Desenvolvimento quanto da Potencial Máximo ao Desenvolvimento.

Assim, percebe-se que o período mais significativo, para a primeira condição citada,

novamente, será entre os meses de março a maio, enquanto que a segunda condição

continuará apresentando baixo potencial durante todo o ano. Além disso, os resultados

dessa análise demonstraram redução da potencialidade de desenvolvimento do Aedes

aegypti, principalmente quando observada a condição biofísica Favorável ao

Desenvolvimento. Tal fato expressa-se pela diminuição, quando comparada com o

cenário de potencialidade atual, do período de maior potencialidade, ou seja, entre os

meses de março e maio, representado pelas perdas mensais de 6,7%, 7,2% e 5,5%,

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48

respectivamente. Com isso, a partir deste cenário, ter-se-á a condição biofísica

Favorável ao Desenvolvimento do Aedes aegypti no RN com potencial elevado (maior

que 70%) apenas nos meses de abril e maio, expressos por 74,1% e 72,6%,

respectivamente.

O resultado do último cenário proposto, disposto na figura 3, está relacionado à

elevação de 2°C na temperatura média do ar no estado do Rio Grande do Norte. De

modo Geral, percebe-se inalterado o comportamento, durante o ano, das duas condições

de potencialidade de desenvolvimento do Aedes aegypti, ocorrendo assim, uma

tendência de elevação daquelas a partir do mês de janeiro até o mês de maio, quando

essa se modifica tendendo para baixas potencialidades.

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

90,0

100,0

PRO

B (%

)

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

MESES

FAVORÁVEL AODESENVOLVIMENTO

POTENCIAL MÁX. AODESENVOLVIMENTO

Figura 3: Potencialidade das Condições Biofísicas do Aedes aegypti, a partir da influência de variáveis Bioclimáticas, com a elevação de 2°C na temperatura média do ar no estado do Rio Grande do Norte.

Outro fato que desponta, analisado a mesma figura, é a redução significativa da

potencialidade da condição biofísica Favorável ao Desenvolvimento, principalmente no

seu período de maior potencialidade, ou seja, entre março e maio. Tal fato culminará na

permanência, durante todo o ano, de um potencial reduzido (abaixo de 70%) dessa

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condição. Ainda, percebe-se que, atrelado a redução da potencialidade da condição

Favorável, a condição biofísica Potencial Máximo ao Desenvolvimento eleva

substancialmente sua potencialidade, principalmente entre os meses de fevereiro a maio.

Contudo, as potencialidades registradas para essa condição permanecerão ainda

inexpressivas.

Outro aspecto de análise na pesquisa foi à correlação estatística da condição

biofísica Favorável ao Desenvolvimento do Aedes aegypti (ou seja, dentro da faixa que

compreende, concomitantemente, temperaturas médias entre 21ºC e 29ºC e umidade

relativa do ar acima de 70%,) e o número de casos notificados de dengue no período de

2000-2005. Esta apreciação realizou-se com vistas a verificar se há alguma correlação

entre a tendência mensal da condição biofísica em estudo e um recorte temporal dos

casos notificados de dengue no RN. Para tanto, buscou-se inicialmente obter os dados

do período em estudo relativo ao número de casos notificados de dengue no estado;

tendo sido esses adquiridos junto a Secretária de Saúde Pública do Rio Grande do Norte

(SESAP-RN) 4.

0

1.000

2.000

3.000

4.000

5.000

6.000

7.000

8.000

CA

SOS

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZMESES

2000 2001

2002 2003

2004 2005

Figura 4: Casos notificados do dengue no estado do Rio Grande do Norte (2000-2005). Fonte: Secretária de Estado de Saúde Pública do RN (SESAP-RN)4.

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50

O período em estudo, como demonstrado na figura 4, está relacionado a uma

grande contabilização de casos notificados de dengue no estado do Rio Grade do Norte,

que resultou em 114.719 casos da doença, ou seja, 63,52% do total de casos notificados

de dengue no estado desde a sua primeira notificação, no ano de 1994, até o ano de

2005.

A partir da figura 4, pode-se constatar que não há homogeneidade, nem mensal

nem anual, do número de casos notificados, ou seja, há um acentuado desvio da média

dos casos de dengue no estado.

Ainda em relação à mesma figura, observa-se que o maior número de

notificações no período ocorreu no ano de 2001 que, sozinho, contabilizou um total de

39.960 casos ou 34,83% dos casos notificados no período. Ainda em relação a este ano,

verificou-se que a maioria das notificações foi registrada entre os meses de fevereiro a

junho, com maior número de casos no mês de maio (6.995).

O segundo maior número de notificações deu-se no ano de 2002, onde foram

registrados 24.055 casos de dengue no estado – 20,97% dos casos no período – que se

concentraram entre os meses de fevereiro a abril, com pico no mês de março (6.070

casos).

O ano de 2003 foi notificado 22.614 casos de dengue – 19,71% dos casos no

período em estudo – com predominância entre os meses de fevereiro a junho e com

maior número de notificações no mês de maio (5.422).

No ano 2000 ocorreu o quarto maior número de notificações no período,

totalizando 17.812 casos notificados de dengue urbano – o que corresponde a 15,52%

do total de casos no período – sendo estes predominantemente assinalados entre os

meses de fevereiro a maio, com pico no mês de março (3.957 casos).

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51

Em 2004 contabilizou-se o segundo menor número de casos notificados de

dengue urbana no período (3.446 ou 3% dos casos), tendo-se concentrado entre os

meses de fevereiro a maio, com pico no mês de março (466 casos).

O ano com menor índice de notificações ocorreu em 2005. Nesse foram

quantificados 6.832 casos notificados de dengue – 5,96% dos casos no período – com

agrupamento, principalmente, entre março e junho, e com pico no mês de maio (1.039

casos).

De posse dos dados, relativos aos casos notificados de dengue, realizaram-se

duas análises de correlação entre a condição biofísica Favorável ao Desenvolvimento do

Aedes aegypti com os casos notificados de dengue no período de 2000-2005. A primeira

destinou-se a analisar a correlação entre a condição citada e o número mensal de casos

notificados de dengue no período. Os resultados desta análise culminaram em uma

elevada correlação positiva em todos os anos analisados, representados pelos seguintes

coeficientes de correlação (r): 0,86 (2000), 0,96 (2001), 0,70 (2002), 0,92 (2003), 0,84

(2004) e 0,96 (2005), em média 0,87.

A segunda análise, como mostrado na figura 5, objetivou analisar a correlação

entre a mesma condição biofísica e a média mensal de casos de dengue notificados no

período de 2000 a 2005. Em escala temporal, como pode ser verificado, o

comportamento/tendência das curvas segue praticamente o mesmo padrão, coincidindo,

assim, o intervalo de maior potencial de desenvolvimento do Aedes aegypti com o

período representado pelo maior número de casos notificados de dengue. Tal fato é

ainda mais representativo quando analisados estatisticamente, já que os dados das

curvas, quando submetidos à análise de correlação, tiveram um coeficiente “r” igual a

0,96, ou 96%.

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52

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

90,0

100,0

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

MESES

PRO

B (%

)

0

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

3.500

DIA

DO

S C

ASO

S

Prob. da Cond.Favorável aoDesenvolvimento (%)

Média mensal doscasos not ificados dodengue

Figura 5: Correlação entre a condição biofísica Favorável ao Desenvolvimento do Aedes aegypti e a média mensal de casos notificados do dengue no RN (2000-2005). A partir dos resultados pode-se atribuir significância entre o comportamento

sazonal da condição de desenvolvimento em análise com os casos notificados de

dengue, dada a representatividade amostral do período em se tratando do número de

casos notificados da doença no estado

DISCUSSÃO

Diante dos primeiros resultados, ou seja, em relação à potencialidade das duas

condições biofísicas de Desenvolvimento do Aedes aegypti no estado do Rio Grande do

Norte, o que se pôde perceber é que, no momento atual, o desenvolvimento do principal

vetor da dengue, no estado, só se processará por completo no período compreendido

entre os meses de março a maio; pois, nesse momento, ter-se-á condições adequadas a

seu desenvolvimento, proporcionado pela simultaneidade de temperaturas médias entre

21°C e 29°C e umidade relativa do ar acima de 70%.

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53

Tais resultados diferem daqueles propostos por Fernandes et. al. 9, que afirma

haver condições favoráveis, durante todo o ano, de estabelecimento de populações do

vetor no estado da Paraíba. Atribui-se a incompatibilidade dos resultados aos últimos

terem sido sugeridos tão somente embasados em dados relativos à temperatura do ar.

Assim, percebe-se que a umidade relativa do ar atua como componente relevante no

processo de desenvolvimento do Aedes aegypti. Ainda, como ressalta Confalonieri 7,

pôde-se constatar que as oscilações/variações do clima – determinado pelo

comportamento das variáveis bioclimáticas, com destaque para a umidade relativa do ar

– interferem diretamente na potencialidade de desenvolvimento e disseminação do

Aedes aegypti, resultando, como já assinalado, diferenciações na potencialidade de

desenvolvimento do vetor da dengue.

Em se tratando dos cenários de elevação da temperatura média do ar, propostos

pelo IPCC, os resultados demonstraram que o estado do Rio Grande do Norte deverá

reduzir sua favorabilidade com vistas ao potencial de desenvolvimento do Aedes

aegypti. Tal fato justifica-se pela predominância, na atualidade, de climas típicos

tropicais em seu território, o que lhe confere temperaturas médias na faixa ótima para o

desenvolvimento do Aedes aegypti em um significativo período do ano. Contrariamente,

com elevação da temperatura média, ter-se-á redução desse potencial, pois como as

médias térmicas, predominantemente no estado, já se encontram no limiar da faixa

ótima, haverá assim um salto daquela para uma condição diferente da Favorável ao

Desenvolvimento.

Ainda, observou-se que as condições de desenvolvimento do vetor,

principalmente a Favorável ao Desenvolvimento, apresentam maior potencialidade no

período de março a junho; o que coincidiu, como demonstrou o trabalho de correlação

realizado, com os picos epidêmicos da dengue notificados no estado no período de 2000

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a 2005. Com isso, acredita-se que a condição citada pode atuar como um instrumento

indicador dos períodos de maior incidência de casos de dengue no estado.

Finalmente, acredita-se que um plano de trabalho para tomada de decisão, frente

à questão da dengue, deve estar associado a modelos de previsão de tempo e clima,

sendo esses de grande relevância no momento do incremento e intensificação de

políticas voltadas à melhoria da qualidade de vida da população. Tais decisões, sem

dúvida, implicarão em redução significativa do número de casos notificados de dengue

no estado do Rio Grande do Norte.

REFERÊNCIAS

1. Ministério do Meio Ambiente (MMA). Mudanças Climáticas Globais e seus

efeitos sobre a biodiversidade: caracterização do clima atual e definição das

alterações climáticas para o território brasileiro ao longo do século XXI.

Brasília: MMA, 2007. 213 p.

2. Mendonça F. Aspectos da interação clima-ambiente-saúde humana: da relação

sociedade-natureza à (in)sustentabilidade ambiental. RA’EGA, UFPR, n. 4,

2000. p. 85-99.

3. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Programa Nacional de

Controle do Dengue. Brasília: FUNASA, jun. 2002. 34 p.

4. Secretária Estadual de Saúde Pública do RN. Sub-Coordenadoria de Vigilância

Epidemiológica. Casos notificados de dengue no RN. SUVIGE/CPS/SESAP-RN

SESAP-RN: Natal, 2007. 1 p.

5. Torres EM. Dengue y dengue hemorrágico. Buenos Aires/Argentina: Editora

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6. Ávila AMH de. Uma síntese do quarto relatório do IPCC. Revista Multiciência,

ed. 8, mai. 2007, 6 p.

7. Confalonieri UEC. Variabilidade climática, vulnerabilidade social e saúde no

Brasil. Terra Livre, v.1, n.20, jan./jul. 2003, 6 p.

8. Glasser CM, Gomes AC. Clima e sobreposição da distribuição de Aedes aegypti

e Aedes albopictaus na infestação do Estado de São Paulo. Faculdade de saúde

pública da Universidade Federal de São Paulo. Revista de saúde pública, 2006.

15 p.

9. Fernandes CRM, Beserra EB; Castro Jr. FP, Santos JW, Santos TS. Biologia e

exigências térmicas de Aedes aegypti (L.) (Diptera: Culicidae) provenientes de

quatro regiões bioclimáticas da Paraíba. Neotropical Entomology, vol. 35(6):

853-860, nov./dez. 2006. 8 p.

10. Ferreira MEMC. Doenças tropicais: o clima e a saúde coletiva. Alterações

climáticas e malária na área de influência do reservatório de Itaipu-PR. Terra

Livre,v.1, n.20, jan./jul. 2003. 7 p.

11. Instituto de Defesa do Meio Ambiente (IDEMA-RN). Perfil do estado do Rio

Grande do Norte. Natal: IDEMA, 2002. 85 p.

12. Brasil. Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). Normais Climatológicas.

Brasília: Departamento Nacional de Meteorologia, 1992. 84 p.

13. Cavalcanti EN, Silva VPR, Sousa FAD. Programa computacional para

estimação da temperatura do ar para a região Nordeste do Brasil. Revista

Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.10, n.1, 2006. 8 p.

14. Andriotti LSJ. Fundamentos de Estatística e Geoestatística. São Leopoldo-RS:

Unisinos, 2005. 165 p.

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56

15. Camargos FL. Lógica Nebulosa: uma abordagem filosófica e aplicada. Santa

Catarina: INE/UFSC, 2002. 5 p.

16. Silva FM. Modelo inferencial com previsão de tempo com lógica nebulosa.

1995, 172 p. Tese (em Engenharia Elétrica) – Departamento de Engenharia

Elétrica, UFPB. 168 p.

17. Vieira S. Introdução à Bioestatística. 3 ed. Rio de Janeiro: Campus, 1980. 195 p.

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57

CAPÍTULO 3

AVALIAÇÃO BIOCLIMÁTICA E REPRESENTAÇÃO

CARTOGRÁFICA DA CONDIÇÃO BIOFÍSICA FAVORÁVEL AO

DESENVOLVIMENTO DO Aedes aegypti NO ESTADO DO RIO

GRANDE DO NORTE

Este capítulo será submetido à “Revista Entomologia y Vetores” e o texto apresentado

segue a mesma estrutura exigida pela referida revista/periódico

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AVALIAÇÃO BIOCLIMÁTICA E REPRESENTAÇÃO CARTOGRÁFICA DA

CONDIÇÃO BIOFÍSICA FAVORÁVEL AO DESENVOLVIMENTO DO Aedes aegypti

NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

CARTOGRAPHIC REPRESENTATION AND BIOCLIMATIC EVALUATION OF

CONDITION BIOPHYSICS FAVORABLE TO THE DEVELOPMENT OF Aedes

aegypti THE STATE OF RIO GRANDE DO NORTE

Bruno Claytton Oliveira da Silva. Mestrando do Programa Regional de Pós-Graduação

em Desenvolvimento e Meio Ambiente da UFRN (PRODEMA/UFRN). Rua Planalto

Matogrossense, 1311, Potengi, Natal-RN. [email protected]

Fernando Moreira da Silva. Docente do Departamento de Geografia da UFRN.

[email protected]

Pedro Vieira de Azevedo. Docente do Departamento de Meteorologia da UFCG.

pvieiradcaufcg.edu.br

Resumo Na atual conjuntura da saúde pública mundial destaca-se a emergência da dengue urbana, doença infecciosa febril aguda que tem como principal vetor no meio urbano o Aedes aegypti. A doença, anualmente, tem acometido milhões de pessoas em todo o mundo, principalmente na faixa intertropical do globo. A partir desse contexto, o trabalho objetiva estimar e espacializar mensalmente, sob a ótima bioclimática, a potencialidade, para cada município do Rio Grande do Norte (RN), da condição biofísica Favorável ao Desenvolvimento do Aedes aegypti. Para tanto, fez uso: coleta de dados epidemiológicos e climatológicos, Normal Climatológica, estatística descritiva (medidas de tendência central e dispersão), distribuição uniforme, estimação geoestatística e o programa sufer, versão 8.0. Os resultados sinalizaram para um comportamento bastante heterogêneo, tanto no espaço como no tempo, em se tratando da potencialidade da condição biofísica Favorável ao desenvolvimento do Aedes aegypti no estado RN. Ainda, observou-se que há uma tendência de elevação da potencialidade de desenvolvimento, para todo o estado, a partir do mês de janeiro, cessando-se no mês de abril principalmente nas porções central e oeste do estado. Em contrapartida, para o mesmo período, verifica-se a permanência de aumento da potencialidade de desenvolvimento na porção leste do estado. Esta última registrará potencial máximo no mês de julho, resultando em probabilidade maior que 70% de ter-se condições favoráveis ao desenvolvimento do Aedes aegypti naquela área. No período compreendido entre os meses de agosto a dezembro, constatou-se diminuto potencial de desenvolvimento do Aedes aegypti em todas as porções do estado.

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Palavras-Chave: Aedes aegypti, Potencialidade de desenvolvimento, estimação estatística, Geoestatística.

Abstract In the current climate of global public health there is the emergence of urban dengue, a disease regarded as acute infectious fever. The disease annually, has affected millions of people worldwide, mostly in the range of the intertropical globe. The disease's main vector in urban areas, the Aedes aegypti mosquito. Recent studies indicate that the distribution of the insect vector of dengue in the geographical area is directly tied to the behavior of environmental restrictions that area, especially among those, the air temperature and relative humidity. From that context, the work aims to estimate and spatializing, monthly, for each municipality in the state of Rio Grande do Norte, the potential of biophysical conditions conducive to the development of Aedes aegypti. Yet, made use of the following methodology: collection of epidemiological data and climatological, Normal climatological, descriptive statistics (measures of central tendency and scatter), uniform distribution, estimation geostatistics and sufer program, version 8.0. The results flagged for a behavior very heterogeneous, both in space and in time, in the case of the potential of biophysical conditions conducive to the development of Aedes aegypti in the state of Rio Grande do Norte. Still, he noted that there is a tendency for lifting the potential of development for the entire state, from the month of January, ending in the month of April mainly in central and western portions of the state. By contrast, there is the permanence of increased potential for development in the eastern portion of the state. The latter record maximum potential in the month of July, resulting probability of greater than 70% have been favorable conditions for the development of Aedes aegypti in that area. In the period between the months of August to December, it is small potential for development of Aedes aegypti in all parts of the state. Key words: Aedes aegypti, development potential, statistical estimation, Geostatistics.

Introdução

O homem, desde muito cedo, procurou registrar e representar o espaço

geográfico, em formas resistentes, com vistas ao seu planejamento, ordenação e

gestão. Além disso, tal processo caracterizou-se pela necessidade do homem de

fixação de limites territoriais, do horizonte espacial e de itinerários – sejam eles

terrestres, fluviais ou marítimos – relativos a rotas de caça e de fuga, fontes de água,

segurança e de perigo. Para tanto, aqueles fizeram uso de um conjunto de métodos,

técnicas e materiais bastante diversificados que variavam tanto em função do espaço

como do tempo, pois, inicialmente, cada povo produzia sua forma de

registro/representação de modo significativamente particular, estando esse atrelado à

disponibilidade de recursos (materiais) e ao nível de conhecimento técnico produzido

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60

na época (DUARTE, 2006). Tal conjuntura só veio a ser alterada com o processo de

internacionalização do conhecimento e surgimento de organismos responsáveis pela

padronização do processo.

Vinculadas a Cartografia, surgem as primeiras formas de representação do

espaço geográfico denominadas, de modo generalista, de mapas. Essas se revelam

como resultado da demanda do homem por uma forma segura, simplificada e prática

de registro/representação da sua realidade. Um dos mapas mais antigos, que se tem

conhecimento, foi proposto pelo povo Babilônico entre 2500 e 4000 a.C (DUARTE,

2006).

No entanto, durante bastante tempo, o homem só fez uso das diferentes

formas de representação cartográfica – a saber: croquis, planas, cartas, mapas... –

com vistas à descrição do espaço. Um dos primeiros estudos que procurou utilizar

uma representação cartográfica para fins analíticos foi desenvolvido, no ano de 1854,

na cidade de Londres-Inglaterra, pelo médico John Snow que, frente a uma grave

epidemia de cólera, analisou a distribuição espacial da doença a partir da localização

geográfica dos poços de água da referida cidade. Finalmente, a partir da técnica

inovadora utilizada e dos indícios encontrados, o médico pôde concluir que havia

relação de causa-efeito entre os casos de cólera e a água contaminada dos poços

(LEMOS & LIMA, 2002). A partir desse estudo, vários foram os ramos científicos que

passaram a utilizar essa técnica procurando estabelecer relações espaciais entre

fenômenos geográficos.

As relações espaciais entre os diferentes fenômenos geográficos têm sido

bastante estudadas por áreas diversas do conhecimento, pois aqueles ao distribuírem-

se sobre a superfície da Terra estabelecem padrões (INPE, 2004). Para tanto, surge a

partir da segunda metade do século XX, as primeiras tentativas de automatização do

processo de tratamento de dados. Tais indícios fazem parte do que hoje se conhece

por Geoprocessamento.

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O Geoprocessamento constitui-se como uma área do conhecimento que utiliza

técnicas matemáticas e computacionais, que podem estar atreladas aos Sistemas de

Informação Geográfica (SIG), a fim de tratar os processos que ocorrem no espaço

geográfico, sendo compreendido pelas técnicas de coleta, armazenamento,

tratamento, análise e uso integrado de informações (D’ALGE, 2001). O

Geoprocessamento destaca-se no processo de compreensão do comportamento dos

diferentes fenômenos geográficos, pois procura determinar e esquematizar os

mecanismos de inter-relação entre eles. Sendo assim, tais padrões podem assumir

diferentes formas de correlação: espacial, temática, temporal e topológica (INPE,

2004).

Dentre as já citadas técnicas relativas ao Geoprocessamento, destacam-se

aquelas relacionadas ao tratamento e análise da informação espacial, sendo essa,

entre outras, representada pela Geoestatística. Esta última, originada a partir dos

estudos de Daniel Krige, em 1950, prestou-se, inicialmente, a avaliação de jazidas

minerais em minas de ouro do Rand/África do Sul. A forma de tratamento e análise

espacial, desenvolvida pela Geoestatística, caracteriza-se por tratar as variáveis como

sendo regionalizadas enfatizando as relações espaciais existentes entre as

observações que compõe uma amostra. Suas técnicas podem ser utilizadas para:

descrever e modelizar padrões espaciais; predizer valores em locais não amostrados;

e obter a incerteza associada a um valor estimado em local não amostrado

(ANDRIOTTI, 2003).

Na atualidade, a Geoestatística tem se mostrado de grande utilidade em

campos científicos diversos, devido, principalmente, a sua faculdade de estimação de

valores em espaços não amostrados. A análise e interpretação da relação dicotômica

saúde-doença tem se destacado com importante campo de estudos que utilizam

técnicas do Geoprocessamento ou, mais precisamente, Geoestatísticas. Tal fato

justifica-se dada a já comprovada inter-relação existente entre o (re)surgimento,

proliferação e/ou disseminação de doenças, ou vetores de doenças, e variáveis

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ambientais, tais como: precipitação pluviométrica, temperatura do ar e umidade

relativa do ar.

Hoje, do ponto de vista da saúde pública mundial, a dengue figura como uma

das doenças emergentes mais preocupantes, pois, anualmente, cerca de 80 milhões

de pessoas são infectadas pelo vetor da doença. Desse total, 550 mil necessitam de

cuidados médico-hospitalares e pelo menos 20 mil chegam a óbito (PNCD, 2002).

No Brasil, no período de 1996 a 2005, foi confirmado, a partir do somatório das

cinco regiões brasileiras, um total de 3.396.277 casos de dengue. Ainda, observou-se

a região nordeste do país como a principal em número de casos confirmados,

1.651.121, no mesmo período (MS/SVS, 2006).

Não se diferenciando desta realidade, o estado do Rio Grande do Norte (RN)

tem apresentado elevados índices de notificações da doença. A exemplo, somente no

período de 2000 a 2005, foram totalizados 114.719 casos notificados (SESAP-RN,

2007).

Na atualidade, foram vários os estudos que procuraram observar o

comportamento das fases de desenvolvimento do Aedes aegypti – principal vetor da

dengue no meio urbano – assim como sua distribuição no espaço geográfico, frente à

favorabilidade de variáveis climáticas diversas, com destacada presença, na maioria

deles, da precipitação pluviométrica, da temperatura média e da umidade relativa do ar

(CONSOLI & OLIVEIRA, 1998; MARCODES, 2001; DONALISIO & GLASSER, 2002;

BERJERAN et. al, 2003; SCHWEIGMANN et. al, 2004; SILVA & SILVA, 2005; PAULA,

2005; GLASSER & GOMES, 2006; BESERRA & CASTRO Jr, 2008).

O estudo desenvolvido por Fernandes et. al. (2006), em cinco municípios do

estado da Paraíba, concluiu que a temperatura favorável ao desenvolvimento do vetor

do principal vetor da dengue no meio urbano – Aedes aegypti – está entre 21ºC e

29ºC. Esse resultado demonstra a significativa relação de favorabilidade biotérmica e

o desenvolvimento satisfatório do Aedes aegypti em porções com configurações

bioclimáticas distintas do nordeste brasileiro.

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Estudando o comportamento do vetor da dengue no estado do Paraná, Ferreira

(2003) percebeu que, as altas temperaturas do ar, o tempo de duração da estação de

verão ou das condições de calor e umidade relativa do ar favorecem a proliferação dos

mosquitos. Ainda, destaca entre os fatores favoráveis à proliferação a permanência de

altos índices de umidade relativa do ar, superior a 70%. Destaca-se, no trabalho, a

definição de uma faixa de umidade favorável ao desenvolvimento do Aedes aegypti.

Diante desta conjuntura, o trabalho objetiva estimar e espacialisar,

mensalmente, para cada município do estado do Rio Grande do Norte, a

potencialidade da condição biofísica Favorável ao Desenvolvimento do Aedes aegypti;

sendo essa compreendida pela intersecção entre a faixa térmica média de 21°C a

29°C e a umidade relativa do ar acima de 70%. Por fim, serão gerados mapas

referentes à potencialidade de desenvolvimento do Aedes aegypti no estado do Rio

Grande do Norte.

Material e Métodos

Área de estudo

O trabalho foi desenvolvido no Estado do Rio Grande do Norte (RN) que está

subdividido em quatro messoregiões: Leste, Agreste, Central e Oeste. O RN possui

área total de 53.077,3 km² e população estimada de 2.776.782 mil habitantes, sendo

essa distribuída em 167 municípios. Em se tratando de sua localização, o Rio Grande

do Norte está totalmente no hemisfério sul ocidental, na região Nordeste do Brasil,

sendo limitado pelos seguintes pontos extremos: 4° 49' 53’’ e 6° 58' 57” de latitude sul

e 34° 58' 03” e 38° 36' 12” de longitude oeste (IDEMA, 2002).

A posição/localização geográfica do estado, entre outros fatores, será decisiva

em sua configuração climática. Assim, de acordo com a classificação climática de

Köppen (1918) apud BNB (1969), o RN apresenta os seguintes tipos de climas: Clima

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64

Tropical Chuvoso (As’), caracterizado por apresentar verão seco e temperatura média

mensal acima de 18°C em todos os meses do ano; Clima Tropical Chuvoso de Savana

(Aw), que apresenta estação seca no inverno e início das precipitações pluviométricas

no verão; Clima Seco de Estepe (BSw’h) com inverno seco, sua evapotranspiração

potencial média anual é maior que a precipitação média anual, apresenta

temperaturas elevadas durante todo o ano – média anual superior a 18°C e as

precipitações pluviais ocorrem entre a primavera e o outono; Clima Seco de Estepe

(BSs’h), com verão seco, seu período chuvoso inicia-se ao final dessa estação

estendendo-se até o outono, sua evapotranspiração potencial média anual é maior

que a precipitação média anual, apresenta temperaturas elevadas durante todo o ano

– média anual superior a 18°C. A figura 1 apresenta a distribuição dos tipos climáticos

atuantes no estado.

Figura 1: Mapa climático do estado do Rio Grande do Norte.

Fonte: BNB (1969), modificado por SILVA (2008).

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65

Metodologia

Coleta de Dados

A coleta de gabinete foi realizada no segundo semestre do ano de 2007 junto

às instituições que coletam e quantificam dados relacionados às variáveis climáticas

em estudo (temperatura média do ar e umidade relativa do ar), com destaque para o

Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). Em se tratando dos dados de saúde,

estes foram obtidos a partir da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) e da

Secretária de Estado de Saúde Pública do Rio Grande do Norte (SESAP-RN), além de

Secretárias Municipais de Saúde (SMSs).

Normal Climatológica

Na pesquisa, utilizaram-se as Normais Climatológicas do período entre 1961 e

1990, tendo sido essas editadas, no Brasil, pelo Instituto Nacional de Meteorologia

(INMET, 1992). No entanto, observou-se que, no estado do Rio Grande do Norte, há

apenas seis estações climatológicas de superfície que coletam dados padronizados

pela Organização Mundial de Meteorologia (OMM), em período igual ou superior a 30

anos de observação, são elas: Apodi, Ceará-Mirim, Cruzeta, Florânia, Macau,

Mossoró. A partir desta realidade, utilizaram-se os dados estimados por Silva & Silva

(2008) relativos às temperaturas mínimas, médias e máximas, assim como, a umidade

relativa do ar para aqueles municípios, integrantes do estado do Rio Grande do Norte,

que não dispõem de dados.

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66

Estatística Descritiva

Fez-se uso da estatística descritiva em todo o processo, sendo essa

representada tanto por medidas de tendência central (média e moda), bem como por

medidas de dispersão (desvio padrão e amplitude).

Distribuição Uniforme

Fonseca & Martins (2006, p. 34) destacam a aplicação da distribuição de

probabilidade uniforme, quando se deseja predizer a probabilidade de um dado

fenômeno estar, ao acaso, dentro de um dado intervalo. Na pesquisa, a distribuição foi

utilizada nos cálculos da potencialidade da condição biofísica Favorável ao

Desenvolvimento do Aedes aegypti no estado do Rio Grande do Norte, sendo

expressa pela seguinte equação:

. f(x) = 0 Para x fora de [a, b] (1)

f(x) = 1 / b – a Para a x (2)

Onde;

x = Probabilidade/potencialidade de cada condição biofísica do Aedes aegypti;

a = Limite inferior de uma dada condição biofísica do Aedes aegypti;

b = Limite superior de uma dada condição biofísica do Aedes aegypti.

Estimação Geoestatística

A geoestatística é um ramo científico utilizado na predição e/ou estimação de

dados/valores inerentes a certa variável no espaço geográfico. Ela trata as variáveis

como sendo regionalizadas, podendo ser entendida como ferramenta capaz de tratar a

informação espacial (ANDRIOTTI, 2003).

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67

Na pesquisa fez-se uso da ferramenta no processo de interpolação e

espacialização dos dados referentes à potencialidade mensal da condição biofísica

Favorável ao Desenvolvimento do Aedes aegypti. Ainda, foi utilizada na geração dos

grids, a partir dos métodos de Krigagem – para os dados de temperatura média do ar

– e Mínima Curvatura – para os dados de umidade relativa do ar.

Programa Sufer

O programa computacional sufer, na sua versão 8.0, foi desenvolvido no ano

de 2002 pela empresa Golden softwares. O sufer objetiva criar mapas isopléticos, ou

de isolinhas, tendo sido aplicado inicialmente para espacializar dados topográficos. Na

pesquisa, esse foi utilizado para interpolar e espacializar, no espaço e no tempo, os

dados referentes às variáveis temperatura e umidade relativa do ar no estado do Rio

Grande do Norte.

Resultados

Com descrito inicialmente, o trabalho destinou-se a estimar e espacialisar, sob

a ótica bioclimática, a potencialidade de desenvolvimento do Aedes aegypti no estado

do Rio Grande do Norte. Por conseguinte, foram gerados produtos cartográficos

(mapas) referentes à potencialidade citada. Para tanto, foram criadas seis classes de

potencialidade baseadas no 1° Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental

sobre Mudanças Climáticas (IPCC, 2007) apud ECOLATINA (2007): 0-10%,

Extremamente Improvável; 11-30%, Muito Improvável; 31-50%, Mais Provável que

Improvável; 51-70%, Provável; 71-90% Muito Provável; 91-100%, Extremamente

Provável.

Em se tratando dos resultados encontrados durante a pesquisa, observou-se

que há um comportamento significativamente heterogêneo, tanto no espaço como no

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tempo, no que tange a potencialidade da condição biofísica Favorável ao

Desenvolvimento no estado do Rio Grande do Norte.

A saber, a condição biofísica citada caracteriza-se pela intersecção das faixas

favoráveis ao desenvolvimento do Aedes aegypti, em se tratando das variáveis

bioclimáticas temperatura média do ar, compreendida na faixa entre 21°C e 29°C, e

umidade relativa do ar acima de 70%. Assim, pôde-se estimar a potencialidade de

desenvolvimento do principal vetor da dengue no estado.

No tocante ao comportamento, no mês de janeiro, figura 2, da condição

biofísica Favorável ao Desenvolvimento do Aedes aegypti, percebe-se que a mesma

se encontra: predominantemente como “mais provável que improvável (30% a 50%)”,

principalmente nas porções central e oeste do estado; “provável (50% a 70%)”,

sobretudo nas porções leste e agreste do estado, além de áreas dispersas nas áreas

central e oeste; e “muito improvável (10% a 30%)”, em áreas disjuntas do centro-sul do

estado.

Figura 2: Potencialidade em janeiro da condição Favorável ao Desenvolvimento do Aedes aegypti no RN

Fonte: SILVA, 2008.

No mês de fevereiro, figura 3, percebe-se pouca alteração da potencialidade da

condição de desenvolvimento do vetor em estudo. No geral, pode-se observar:

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redução da faixa “mais provável que improvável”, principalmente nas porções oeste e

central do RN; contrariamente, percebe-se maior abrangência da faixa “provável”, que

não mais ocupa apenas a porção leste e agreste do estado, mais sim, áreas do

sudeste, noroeste e sudoeste do estado. Além disso, na porção mais oriental do

estado, nota-se o surgimento de uma área dentro da faixa “muito provável (70% a

90%)” à condição biofísica Favorável ao Desenvolvimento do Aedes aegypti.

Figura 3: Potencialidade em fevereiro da condição Favorável ao Desenvolvimento do A. aegypti no RN

Fonte: SILVA, 2008.

O comportamento da condição Favorável ao Aedes aegypti no mês de março,

como mostra a figura 4, é bastante diferenciado dos meses anteriores. Assim, verifica-

se: redução significativa da faixa “mais provável que improvável”; predominância da

faixa “provável” por todas as porções do estado; e ampliação da faixa “muito provável”

para áreas do agreste, central e áreas pontuais no oeste do estado.

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70

Figura 4: Potencialidade em março da condição Favorável ao Desenvolvimento do A. aegypti no RN

Fonte: SILVA, 2008.

Quando analisado o mês de abril, a partir da figura 5, o que se percebe é que

há uma mudança de tendência da condição biofísica em estudo do Aedes aegypti.

Deste modo, é notório a: redução da abrangência da faixa “provável”, principalmente

nas porções oeste e central do estado; ampliação do alcance da faixa “mais provável

que improvável”, para as áreas central e oeste; e ressurgimento, na porção central do

estado, da faixa “muito improvável”.

Figura 5: Potencialidade em abril da condição Favorável ao Desenvolvimento do A. aegypti no RN

Fonte: SILVA, 2008.

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71

No que tange ao mês de maio, expresso na figura 6, o que se constata são

poucas modificações no quadro de potencialidade de desenvolvimento do Aedes

aegypti em relação ao mês imediatamente anterior, com uma pequena redução da

faixa “provável” no centro do estado e elevação da mesma faixa a noroeste do estado.

Figura 6: Potencialidade em maio da condição Favorável ao Desenvolvimento do A. aegypti no RN

Fonte: SILVA, 2008.

Na figura 7, relativa à potencialidade de desenvolvimento do Aedes aegypti

mês de junho, verifica-se um panorama diferente ao mês de maio: aumento da

abrangência, nas porções norte e sul, da faixa “muito improvável”; redução significativa

das faixas “provável”, principalmente na área agreste, e “mais que provável” na porção

central; ampliação da faixa “muito provável”, nos setores leste e agreste; e

aparecimento pontual da faixa “extremamente provável (acima de 90%)” no leste

potiguar.

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Figura 7: Potencialidade em junho da condição Favorável ao Desenvolvimento do A. aegypti no RN

Fonte: SILVA, 2008.

A partir da figura 8 nota-se que, mês de julho, continua a tendência de aumento

da abrangência da faixa “muito improvável” na área central do estado. Além disso,

percebe-se redução das faixas “mais provável que improvável”, na porção central, e da

“provável”, nas áreas agreste e oeste. Destaca-se, ainda no mês de julho, o retorno

faixa “muito provável”, abrangendo, agora, a porção agreste do estado, e a

continuação, mesmo que pouco abrangente, da faixa “extremamente provável”.

Figura 8: Potencialidade em julho da condição Favorável ao Desenvolvimento do A. aegypti no RN

Fonte: SILVA, 2008.

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73

Observando a figura 9, logo abaixo, percebe-se, no mês de agosto, que o

processo de ampliação da faixa “muito improvável” dá-se continuadamente;

abrangendo principalmente a porção oeste do estado. Em contrapartida, verifica-se

significativa redução das faixas “mais provável que improvável”, “muito improvável” e

“extremamente provável”, no que tange as áreas oeste, agreste e leste,

respectivamente. Do contrário, contata-se a ampliação da faixa “provável” na porção

leste e agreste do estado.

Figura 9: Potencialidade em agosto da condição Favorável ao Desenvolvimento do A. aegypti no RN

Fonte: SILVA, 2008.

Nos meses compreendidos entre setembro e dezembro, pode observar, a partir

das figuras 10 a 13, a continuidade na tendência de redução, estabelecida a partir de

junho, da área de abrangência de faixas de maior probabilidade, relativas à condição

biofísica Favorável ao Desenvolvimento do Aedes aegypti. Ou seja, verifica-se a

diminuição das áreas de atuação das faixas com probabilidade superiores a 70%

(provável, muito provável extremamente provável), dando lugar àquelas com

probabilidade de dentro do intervalo de 10% a 70%.

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Figura 10: Potencialidade em setembro da condição Favorável ao Desenvolvimento do A. aegypti no RN

Fonte: SILVA, 2008.

Figura 11: Potencialidade em outubro da condição Favorável ao Desenvolvimento do A. aegypti no RN

Fonte: SILVA, 2008.

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Figura 12: Potencialidade em novembro da condição Favorável ao Desenvolvimento do A. aegypti no RN

Fonte: SILVA, 2008.

Figura 13: Potencialidade em dezembro da condição Favorável ao Desenvolvimento do A. aegypti no RN

Fonte: SILVA, 2008.

De modo geral, no estado do Rio Grande do Norte, é possível de ser percebida

a predominância, durante todo o ano, de faixas de probabilidade elevadas

principalmente na porção leste do estado, ou seja, há probabilidade, acima de 70%,

que se tenham condições bioclimáticas favoráveis ao desenvolvimento do Aedes

aegypti. Ao contrário dessa, só foi observada, nas porções oeste e central do estado,

elevada probabilidade da condição biofísica Favorável ao Aedes aegypti no mês de

março. Ainda, destacam-se algumas áreas pontuais, em se tratando de

probabilidades, na porção oeste do RN entre os meses de fevereiro a maio. No que

tange a porção agreste, essa apresenta tendência de probabilidades mais elevadas,

em relação à condição biofísica em estudo, nas áreas mais próximas do litoral e,

contrariamente, menos elevadas quanto mais distantes essas estiveram daquele.

Discussão

A partir dos resultados observados, respectivos a potencialidade bioclimática

da condição biofísica Favorável ao Desenvolvimento do Aedes aegypti, pôde-se

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constatar que as variações espaço-temporais das componentes atmosféricas

temperatura média e umidade relativa do ar, conferem diferentes níveis/padrões de

potencialidade de desenvolvimento para o vetor da dengue nos variados quadrantes

do estado do Rio Grande do Norte. Além disso, tais níveis/padrões, resultantes da

interação entre as componentes, poderão ter influência, também, no padrão de

distribuição dos casos de dengue no estado, já que o Aedes aegypti é considerado um

dos elementos-chave para o entendimento da doença como resultado de um processo

interativo-dinâmico.

Ainda em se tratando do nível/padrão de potencialidade de desenvolvimento do

Aedes aegypti no RN e sua relação com as variáveis bioclimáticas em estudo,

considerou-se o comportamento desse nível regido pela atuação e predominância dos

Sistemas Sinóticos, ou de Correntes Atmosféricas, da região Nordeste do Brasil.

Conseqüentemente, dentre os Sistemas Atmosféricos mais expressivos no estado,

destacam-se: a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), as Linhas de Instabilidade

(LI) e as Ondas de Leste (OL). Os sistemas são responsáveis, diretamente, pela

diferenciação dos quatro tipos climáticos (As’, Aw, BSs’h, BSw’h) e,

conseqüentemente, pelas modulações da temperatura e da umidade relativa do ar no

estado.

O primeiro Sistema citado, a ZCIT, também denominada por Doldrum, Equador

Meteorológico (EM), Descontinuidade Tropical (DT), Zona Intertropical de

Convergência (ZIC) ou Frente Intertropical (FIT), é um sistema originado nas baixas

latitudes, formada a partir do encontro dos alísios de sudeste com aqueles originados

no nordeste, em zona denominada de calmarias (MENDONÇA & DANI-OLIVEIRA,

2007). A ZCIT, durante o ano, realiza deslocamento no sentido norte-sul, próximo as

latitudes baixas do globo terrestre, sendo responsável pela elevação dos índices de

umidade relativa do ar e rebaixamento da temperatura média do ar, principalmente,

nas porções central e oeste do estado. A presença daquela em território Potiguar é

notória em meados do verão e, mais significativamente, no outono; estando assim

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77

compreendida entre os meses de fevereiro a maio, sendo sua maior intensidade

registrada nos meses de março e abril. Ainda, destaca-se que a ZCIT é a principal

responsável pela formação e atuação da Massa Equatorial Atlântica (mEa).

A configuração climática observada mediante a atuação da Zona de

Convergência Intertropical no estado, pode ser atrelada a elevação da potencialidade

de desenvolvimento do Aedes aegypti no interior do estado. Tal fato justifica-se pelo

enquadramento da temperatura média e, sobretudo, da umidade relativa do ar na

condição biofísica Favorável ao Desenvolvimento do Aedes aegypti, estando essa

condição compreendida na faixa térmica entre 21°C a 29°C e umidade relativa do ar

acima de 70%. Desse modo, a influência da ZCIT pode ser configurada como fator

explicador da tendência da potencialidade de desenvolvimento do Aedes aegypti no

interior do estado.

As Linhas de Instabilidade (LIs) – designadas por Vianello & Alves (2000,

p.330) – ou Correntes Perturbadas de Oeste - denominadas por Nimer (1969, p.219) –

estão relacionadas, também, a oscilações no comportamento das variáveis climáticas

nas porções mais continentais do estado. Oriundas das zonas de baixa pressão, onde

predominam movimentos convectivos, a ação das LIs dão-se no final da primavera,

durante o verão e, principalmente, no outono. Além disso, devido à forte incidência,

nessa época, da radiação solar no hemisfério sul, as LIs dão origem a Massa

Equatorial Continental (mEc).

Assim como a ZCIT, as LIs, como já descrito, estão associadas a elevação da

umidade relativa do ar e precipitação abundante no estado do Rio Grande do Norte.

Conseqüentemente, pode-se conjugar seu período de atuação, como observado nas

figuras expostas, a elevação da potencialidade da condição biofísica Favorável ao

Desenvolvimento do Aedes aegypti no RN, fato que se destaca, principalmente,

quando observados os meses de março e abril.

As Ondas de Leste (OL) – descritas por Vianello & Alves (2000, p.330) – ou

Correntes Perturbadas de Leste (E) – Nimer (1969, p.220) – atuam, prioritariamente,

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na porção litoral do estado, com ênfase na messoregião leste. As OL deslocam-se

longitudinalmente (L-O), sendo formadas quando a pressão sobre a zona equatorial se

reduz. O sistema é pouco freqüente tanto na primavera como no verão, porém,

atuante no outono e, fortemente, no inverno. Além disso, as Ondas de Leste são

responsáveis pela formação da Massa Tropical Atlântica (mTa), associada ao

Anticiclone do Atlântico Sul (AAS).

Finalmente, no tocante a relação espacial entre a potencialidade da condição

biofísica Favorável ao desenvolvimento do Aedes aegypti e os condicionantes

bioclimáticos – representados pelas variáveis temperatura média e umidade relativa do

ar, Massas de Ar e Sistemas Atmosféricos – atuantes no estado, percebeu-se que,

durante o ano, o clima com maior potencialidade foi o As’, que predomina na porção

leste e agreste do estado. Em contrapartida, nas áreas dominadas pelos climas Aw’,

BSs’h e BSw’h notou-se que o nível da potencialidade de desenvolvimento do Aedes

aegypti apresenta-se como elevado, tão somente, em período bastante específico do

ano, março-abril; fato que desponta devido a sazonalidade dos Sistemas de

Circulação com características relativas a elevação da umidade relativa do ar e de

redução da elevada média térmica dessas áreas.

Agradecimentos

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)

pelo, apoio durante a pesquisa, a partir do Programa Nacional de Cooperação

Acadêmica (PROCAD/CAPES).

À Secretária Estadual de Saúde Pública (SESAP-RN), com destaque para os

funcionários da Subcoordenadoria de Vigilância Epidemiológica, pelo atendimento no

que tange ao fornecimento dos dados e esclarecimentos gerais sobre a temática

pesquisada.

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82

CAPÍTULO 4

DEMOCRATIZAÇÃO E DISSEMINAÇÃO DO CONHECIMENTO

CIENTÍFICO NAS ESCOLAS: perspectiva interdisciplinar para

mitigação da problemática da dengue na cidade do Natal-RN

Este capítulo será submetido à “Interface: comunicação, saúde, educação” e o texto

apresentado segue a mesma estrutura exigida pela referida revista/periódico

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DEMOCRATIZAÇÃO E DISSEMINAÇÃO DO CONHECIMENTO

CIENTÍFICO NAS ESCOLAS: perspectiva interdisciplinar para mitigação da

problemática da dengue na cidade do Natal-RN

Bruno Claytton Oliveira da Silva. Geógrafo. Mestrando do Programa Regional de Pós-

Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da UFRN (PRODEMA/UFRN). Rua

Planalto Matogrossense, 1311, Potengi. Natal-RN. (84) 3661-3163.

[email protected]

Fernando Moreira da Silva. Meteorologista. Doutor. Docente do Departamento de

Geografia da UFRN. Av. Campus Universitário, s/n, Potilândia, Natal-RN. (84) 3215-

3572. [email protected]

RESUMO Uma das questões mais expressivas, no contexto atual da saúde pública, trata-se dos casos notificados de dengue. Diante desse contexto, o estudo objetivou democratizar tradicionais e novos conhecimentos relativos à temática da dengue – a partir de investigação in loco – com alunos das escolas do Ensino Fundamental 2 (5º ano ao 9º ano) da cidade do Natal-RN. O estudo foi realizado, como piloto, na escola “Eficácia Colégio e Curso”. Utilizaram-se, os seguintes materiais métodos: Revisão de literatura, coleta de dados, observação participante, entrevistas não-estruturadas, questionários semi-estruturados, estatística descritiva e gráfica, palestra e material impresso. Os primeiros resultados apontaram que somente os professores das disciplinas de Geografia e Ciências já haviam, trabalhado a temática em sala de aula. A posteriori, constatou-se que os alunos não conhecem programas ou ações de prevenção da dengue em seus bairros, além de não conseguirem perceber a relação entre o meio ambiente e questão da dengue. Palavras-chave: dengue; interdisciplinaridade; democratização do conhecimento. ABSTRACT One of the most significant in the current context of public health, these are the reported cases of dengue. In this context, the study aimed to democratize traditional and new knowledge on the subject of dengue - from research in loco - the students of schools in School 2 (5 years to 9 years) from the city of Natal-RN. The study was conducted, a pilot, at school "Eficácia Colégio e Curso." It was used the following methods material: Review of literature, data collection, participant observation, interviews non-structured, semi-structured questionnaires, descriptive statistics and graphics, speech and printed material. The first results showed that only the teachers of the subjects of Geography and Science had, worked the theme into the classroom. A posteriori, it was found that students do not know programs or actions for prevention of dengue in their

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neighborhoods, and unable to understand the relationship between the environment and the question of dengue. Keywords: dengue; interdisciplinary; democratization of knowledge.

INTRODUÇÃO

A partir da segunda metade do século passado, a procura por uma nova forma de

observação, análise e interpretação do mundo, constituiu-se como um dos elementos

mais discutidos no seio da educação. Tal movimento configurado, sobretudo, a partir da

busca por novas perspectivas para o conhecimento, só pôde ser idealizado e aplicado,

mesmo com inúmeras dificuldades, a partir do ressurgimento da interdisciplinaridade

(GONZÁLEZ-GAUDIANO, 2005).

Com base no Seminário sobre Interdisciplinaridade, realizado em Nice/França

(1970), passou-se a entender o termo interdisciplinaridade como a integração recíproca

de métodos e conceitos oriundos de diversas disciplinas, distinguindo-se do conceito de

multidisciplinaridade, que está relacionado à justaposição, tão somente, de variados

campos de disciplinas.

Atualmente, a interdisciplinaridade conjuga-se como um conceito polissêmico

que, em geral, pode ser entendido como uma proposta epistemológica a fim de avançar

sobre a excessiva prática, observada nos dias atuais, da especialização disciplinar

(GONZÁLEZ-GAUDIANO, 2005).

No que tange aos problemas concernentes a especialização do conhecimento,

George Bernard Shaw, vencedor do prêmio Nobel de literatura, em 1925, afirmou em

meados da primeira metade do século passado que “O especialista é um homem que

sabe cada vez mais sobre cada vez menos, e por fim acaba sabendo tudo sobre nada”. A

frase explicita, com precisão, as implicações da questão da especialização do

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conhecimento/disciplinas e sua direta repercussão na incapacidade daquele (o

especialista) em dar resposta a temas de cunho plural.

Na verdade, a questão não está em colocar a interdisciplinaridade – que é

contrária à especialização do conhecimento – como o centro de relevância da educação,

mas sim, utilizá-la como forma de (re)organizar o conhecimento, de modo que esse

venha a dar respostas mais satisfatórias aos anseios da sociedade.

Surgida nesse contexto, a Educação Ambiental (EA), como destaca Sato e

Carvalho (2005, p.12) “nasce de uma intersecção de saberes e de pretensões que buscam

a produção de um novo modo de pensar, pesquisar e produzir conhecimento e que

supere as dicotomias entre a teoria e a prática”. Sendo assim, a EA encontra na

interdisciplinaridade sua identidade frente a outros campos do conhecimento, inclusive

o da educação. Na história, percebe-se o início da relação entre a Interdisciplinaridade e

a Educação Ambiental a partir das discussões ocorridas, em 1977, na Conferência

Intergovernamental de Tbilisi/Iugoslávia. Nessa Conferência, a Educação Ambiental foi

definida como uma dimensão que deve ser dada ao conteúdo e a prática educacional,

onde se buscam, com base na interdisciplinaridade e na cooperação entre disciplinas

tradicionais, soluções para se perceber a complexidade dos problemas do meio ambiente

(ZEPPONE, 1999; GONZÁLEZ-GAUDIANO, 2005).

Todavia, a origem da Educação Ambiental foi marcada, tanto no âmbito

internacional como nacional, por inúmeros avanços e retrocessos, durante todo o seu

processo de efetivação, que engloba desde sua formalização até a operacionalização, na

sociedade, de sua fundamentação teórico-aplicada.

A efetivação da EA dar-se-á a partir da Conferência sobre o Ambiente Humano,

realizada em 1972, em Estocolmo/Suécia, onde se reconheceu a Educação Ambiental

como elemento fundamental no combate à crise ambiental mundial (DIAS, 2004).

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A partir da Conferência de Estocolmo/Suécia, vários foram os fóruns de

discussões travados em torno da EA, que culminaram: na formulação dos seus

princípios e orientações – Encontro Internacional sobre o Meio Ambiente

(Belgrado/Iugoslávia, 1975); na criação dos seus objetivos, características e estratégias

– Conferência Internacional sobre Educação Ambiental (Tbilisi/Geórgia, 1975) e

Congresso Internacional sobre Formação e Educação Ambiental (Moscou-URSS,

1977); no aperfeiçoamento e avaliação de suas políticas – Conferência sobre o Meio

Ambiente e o Desenvolvimento (Rio de Janeiro/Brasil, 1992) (DIAS, 2004).

Como resultado dessas discussões, surgem acordos multilaterais que embasarão

políticas de âmbito local, regional e global. No Brasil os efeitos dessas, associadas a

movimentos internos, darão origem a criação: da Política Nacional do Meio Ambiente

(1981); de um capítulo voltado ao meio ambiente, quando da promulgação da

Constituição brasileira de 1988; da criação do Programa Nacional de Educação

Ambiental (PRONEA, 1999); e, finalmente, a Política Nacional de Educação

Ambiental, em 1999 (DIAS, 2004).

Paralelo à Política Nacional de Educação Ambiental são divulgados, em 1998,

os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que, entre outros, objetivam: que os

alunos percebam-se como integrantes, dependentes e agentes transformadores do

ambiente, identificando seus elementos e as interações entre eles, contribuindo, assim,

para a melhoria do meio ambiente; e que os alunos atuem, como aspecto básico para a

qualidade de vida, com responsabilidade em relação à sua saúde individual e coletiva

(PCNs, 1998).

Num contexto geral, os objetivos postos chamam a atenção para o papel dos

indivíduos como agentes responsáveis pelo equilibro do meio ambiente e pela qualidade

de vida da sociedade contemporânea. Para tanto, desponta como fundamental a

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necessidade de se promover naqueles um tipo de conhecimento fundado no

entendimento do global, do contexto, da complexidade e do multidimensional. Com

isso, poder-se-á dar respostas a problemas de interesse múltiplo e/ou coletivo, como é o

caso do meio ambiente e da saúde humana (MORIN, 2003).

Em parte expressiva do globo terrestre, principalmente na sua faixa intertropical,

uma das questões mais preocupantes, em termos de saúde pública, diz respeito ao

elevado número anual de notificações de casos de dengue. Todos os anos, no mundo, a

doença, que se configura como emergente, tem acometido cerca de 80 milhões de

pessoas. Do total infectados pelo vírus da dengue, 550 mil necessitam de cuidados

médico-hospitalares e 20 mil morrem PNCD (2002).

No estado do Rio Grande do Norte a situação referente às notificações de dengue

não se diferenciam da realidade regional e global. A fim de exemplificação, no período

de 2000 a 2005, foram notificados 114.719 casos de dengue, sendo que, sua maioria,

foram notificados no município do Natal-RN, 50.000 casos da doença (SESAP, 2007).

Após décadas de ampla utilização, constata-se, por exemplo, a partir da

exposição dos dados supracitados, o insucesso e ineficácia do modelo clássico de

erradicação e/ou controle vetorial da dengue – baseado no uso de inseticidas químicos,

compostos por diferentes classes toxicológicas. Entre as possíveis justificativas para tal,

despontam a ausência de políticas precausionárias, intersetoriais, interdisciplinares e

participativas (AUGUSTO, 2005); além, sem dúvida, da complexidade intrínseca aos

agentes envolvidos na problemática: político, social, econômico, científico, tecnológico,

cultural, ecológico e ético. Deste modo, a participação social, a partir de programas,

ações e práticas de Educação Ambiental, voltadas a conscientização e democratização

de informações concernentes a temática, configura-se como elemento fundamental no

que tange ao processo de controle da doença.

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Por conseguinte, o estudo objetiva investigar o grau de conhecimento de

professores e, sobretudo, dos alunos do Ensino Fundamental 2 (5º ano ao 9º ano), em

relação à problemática da dengue, com vista à ampliação do conhecimento desses, a

partir da disseminação e democratização de tradicionais e novos conhecimentos sobre a

temática, gerados no seio científico e fundamentados na interdisciplinaridade.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de Estudo:

O estudo foi realizado, como modelo-piloto, na escola “Eficácia Colégio e

Curso”. A escola totaliza, somente no Ensino Fundamental 2, 184 alunos, distribuídos

do 6°ano ao 9° ano. Ainda, em se tratando do total de alunos, tem-se que: 60 alunos são

do 6°ano, 42 do 7°ano, 37 do 8°ano e 21 do 9°ano. A unidade escolar localiza-se no

bairro do Bom Pastor, que está inserido, como mostra a figura 1, na Região

Administrativa Oeste da cidade do Natal-RN.

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Figura 1: Natal: bairros sua Região Metropolitana.

Fonte: Secretária de Meio Ambiente e Urbanismo (SEMURB, 2005).

O bairro do Bom Pastor foi criado no ano de 1993, tendo como limites: ao norte,

os bairros da Quintas e do Nordeste; a sul, o bairro de Felipe Camarão; a oeste, o Rio

Jundiaí; e a leste, os bairros de Dix-Sept Rosado e Nossa Senhora de Nazaré

(SEMURB, 2007).

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O Bom Pastor, atualmente, possui 18.110 habitantes tendo, ainda, densidade

demográfica de 56,22 hab./ha (SEMURB, 2007). Em se tratando da relação entre

população e espécies/tipos e de domicílios, tem-se que a população, em sua totalidade

(98,31%), reside em casas. Além disso, no que tange ao número médio de pessoas por

domicílio, verifica-se que o bairro apresenta um índice médio, 4,06 pessoas/domicílio

(SEMURB, 2007).

Revisão de literatura

Foram pesquisados e analisados publicações de ordens e linguagens diversas:

livros, revistas, artigos, dissertações e teses, além de publicações didáticas de órgãos

oficiais.

Coleta de dados e informações

Realizou-se a coleta de dados e informações junto aos seguintes órgãos:

Secretária de Saúde Pública do Rio Grande do Norte (SESAP-RN), Secretária de Saúde

da cidade do Natal (SMS-Natal), Secretária de Meio Ambiente e Urbanismo da cidade

do Natal-RN (SEMURB), e Instituto de Defesa do Meio Ambiente do Rio Grande do

Norte (IDEMA-RN).

Observação Participante

A técnica de observação participante foi utilizada a fim de: reconhecer e

delimitar a área de trabalho; estruturar os marcos teórico e conceitual; estabelecer

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aspectos da proposição do problema e dos objetivos da pesquisa; e, principalmente,

adotar estratégias com vistas à aplicação dos demais métodos (SORIANO, 2004). Fez-

se uso da mesma junto a professores, alunos e corpo técnico da escola durante a

primeira quinzena do mês de abril do corrente ano. Para tanto se utilizou guias de

observação e máquina fotográfica no reconhecimento da escola e no registro dos

momentos.

Entrevistas Não-Estruturadas

Esta técnica permitiu a realização de levantamentos no que tange a questão

central da pesquisa, além de ser útil na orientação de estratégias para aplicação de outras

técnicas. A mesma foi utilizada devido ao insipiente conhecimento do grupo estudado

(SORIANO, 2004). O processo de entrevista foi realizado, na primeira quinzena do mês

de abril de 2008, com os oito professores do ensino fundamental 2 da instituição

(Eficácia Colégio e Curso). Para tanto se utilizou uma guia de entrevista. Tal

metodologia foi aplicada visando obter informações relativas às seguintes indagações:

Como a temática está sendo trabalhada em sala de aula pelos professores? Quais as

dificuldades encontradas pelos professores na efetivação da inserção do tema em suas

disciplinas?

Questionários Semi-Estruturados

De modo geral, foram aplicados, no segundo trimestre do corrente ano, 184

questionários semi-estruturados, formados por oito indagações, de cunho

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dissertativo/argumentativo, que objetivaram examinar o grau de conhecimento dos

alunos em relação a algumas componentes da temática da dengue.

Estatística descritiva e gráfica

A estatística descritiva foi utilizada durante o processo de análise, interpretação

e tabulação dos dados, sendo representada pelas medidas de tendência central (média e

moda), bem como as medidas de dispersão (amplitude e desvio padrão). Além disso,

fez-se uso das ferramentas da estatística gráfica na exposição dos dados, quando do

momento das palestras.

Palestra

As palestras foram estruturadas a partir dos resultados obtidos dos questionários

aplicados junto aos alunos, assim como, a partir das entrevistas não-estruturadas

realizadas com os professores. As palestras consistiram em apresentação e discussão,

com alunos e professores, de assuntos pertinentes à temática da dengue.

Material impresso informativo

Após a realização do ciclo de palestras foi distribuído, tanto para alunos como

para professores, material didático impresso informativo – cedido pela Secretária

Municipal de Saúde SMS/Natal-RN – sobre as principais questões relativas à dengue e

seu principal vetor no meio urbano, o Aedes aegypti.

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RESULTADOS E DISCUSSÕES

No âmbito da pesquisa foram realizadas, inicialmente, duas análises: a primeira,

objetivando observar como os professores da instituição trabalham a temática da dengue

em sala de aula e quais as dificuldades encontradas por esses em trabalhá-las; e uma

segunda, com vistas a verificar se existem deficiências, por parte dos alunos em relação

à temática e, caso exista, quais são essas deficiências.

Para a primeira avaliação foram utlizadas entrevistas não-estruturadas, aplicadas

junto aos professores da escola Eficácia Colégio e Curso. Os resultados dessa

apontaram que, de um total de oito professores do nível de ensino em estudo, somente

dois já havia, em algum momento, trabalhado a temática com os alunos de forma a

inseri-la no contexto da disciplina. Ainda em relação a essa averiguação, quando

questionado aos professores que motivos restringem a inserção e desenvolvimento do

tema da dengue nas disciplinas, os mesmos afirmaram ter dificuldades pessoais e

metodológicas no processo de inclusão da temática no dia-a-dia da disciplina. Esses

resultados são relevantes no sentido de revelar as deficiências, ainda existentes, no

processo de aplicação de conceitos e práticas interdisciplinares no ambiente de sala de

aula, principalmente quando o tema em questão possui um cunho histórico e

categoricamente classificado como de domínio de uma dada ciência ou disciplina. Desse

modo, limita-se o campo de trabalho de temas que hoje já são consolidados como

transversais, como é o caso do meio ambiente e da saúde.

Na segunda observação, foram propostas, a partir de questionário semi-

estruturado, oito questões de âmbito descritivo-dissertativo. Os questionários foram

aplicados junto aos alunos do 6°ano ao 9°ano da escola, abrangendo todas as turmas das

séries em estudo. Ainda, os questionários foram compostos de oito questões

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envolvendo, de forma abrangente, a temática da dengue e sua relação com o meio

ambiente. A saber, o questionário era composto pelas seguintes questões: 1 – o quê é

dengue? Qual o nome do inseto transmissor da dengue? 2 – o que a dengue causa ao

homem (sintomas)? 3 – qual o habitat preferencial do Aedes aegypti? 4 – você conhece

algum tipo de dengue, cite? 5 – que tratamento deve ter uma pessoa doente de dengue?

6 – você conhece algum programa/ação de combate a dengue em seu bairro/cidade? 7 –

quais as formas de prevenção da dengue que você conhece? 8 – você acha que existe

alguma relação entre o meio ambiente e o mosquito da dengue, cite?

A posteriori, foi realizado o processo de tabulação, análise e interpretação dos

dados gerados a partir do questionário. Durante esse processo foram subdivididas as

respostas em dois grupos: acertos, relativo às questões respondidas corretamente; e um

grupo-somatório, relativo às questões respondidas erroneamente mais aquelas em que os

alunos não souberam responder.

Como demonstram as figura 2 e 3, localizadas abaixo, percebe-se que há

significativa variação tanto no comportamento interno quanto externo das séries

analisadas; sendo que o primeiro comportamento diz respeito ao nível de conhecimento

dos alunos por série, enquanto o segundo está diretamente relacionado aos índices de

acerto entre as séries.

A partir da figura 2, relativa ao score dos acertos dos alunos no questionário,

observa-se que o melhor desempenho na avaliação, levando em consideração a moda

entre as séries, correspondeu ao 9°ano, que totaliza 21 alunos. Esses tiveram melhor

resultado nas questões 1, 2, 4, 5 e 7. Ainda analisando a figura 2, pode-se verificar que,

de modo geral, essa série teve um elevado índice de acerto, superiores a 70%, para a

maioria das questões (2, 3, 4, 5, e 7).

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Figura 2: Score dos acertos relativos ao questionário aplicado junto aos alunos do 6° ao 9°ano.

Fonte: SILVA e CAVANCANTE, 2008.

Na questão 6, que diz respeito ao grau de conhecimento dos alunos em relação a

programas/ações de combate a dengue, chama a atenção o resultado do 6°ano e do

8°ano, ambos diferindo significativamente do índice de acerto das demais séries. Para

tal resultado, não se encontrou justificativa que tivesse relação diretamente explicativa

para o deficiente desempenho daquelas séries nessas questões.

O terceiro quesito, que trata do habitat preferencial do Aedes aegypti, foi aquele

em que se obteve o maior índice médio de acerto (95,3%) entre as séries. Nessa questão,

os alunos citaram pneus e garrafas como reservatórios artificiais ideais à proliferação do

principal vetor da dengue no meio urbano demonstrando terem domínio satisfatório do

assunto.

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As questões 5 – que se refere ao tratamento que deve ter uma pessoa com

dengue – e 7 – que trata das formas de prevenção da dengue – foram aquelas que

registraram índice máximo de acerto, 100%. Tal feito foi realizado pela turma do 9°ano.

Diferenciando-se das demais questões, que tratam de temas mais próximas das

áreas biológicas e de saúde, os quesitos 6 e 8 procuraram questionar, respectivamente, o

conhecimento dos alunos sobre programas locais de prevenção da dengue e a relevância

do meio ambiente no desenvolvimento do Aedes aegypti. Como pode ser percebido, a

partir da figura 2, as turmas do 7°ano, que totalizam, 42 alunos, foram as que obtiveram

melhor desempenho em ambas as questões, atingindo índice de acerto de 67% e 88%,

respectivamente.

A partir da figura 3, pode-se verificar que, levando-se em consideração o

somatório dos erros mais as questões não respondidas, o 6°ano, que totaliza 60 alunos,

foi à série que obtive, para maioria das questões, desempenho inferior em relação às

outras séries. Tal fato foi constatado a partir da moda estatística, onde se percebeu que a

série desempenhou-se de forma menos expressiva nas questões: 2, 4, 5, e 7. Tal

deficiência no rendimento desses alunos pode ser atribuída à sua imaturidade e ao

acesso, ainda limitado, desse tipo de conhecimento.

Ainda analisando a figura 3, observa-se que, mais de 50% dos alunos ou

responderam erroneamente ou não responderam as questões: 6 e 8, no 6°ano e 8°ano. O

resultado revela que esse grupo de alunos desconhece programas/ações de combate a

dengue em seu bairro. Além disso, os mesmos não conseguem perceber a estreita

relação entre o meio ambiente e a potencialidade de desenvolvimento do vetor da

doença.

No quesito sexto, da figura 3, desponta como expressivo o índice alcançado pelo

8°ano, que totaliza 37 alunos. O resultado explicita que, aproximadamente, 90% dos

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alunos não conseguem perceber a relação entre o meio e a capacidade de

desenvolvimento do Aedes aegypti.

Figura 3: Score do somatório dos erros mais as questões não respondidas relativo ao questionário

aplicado junto aos alunos do 6° ao 9°ano.

Fonte: SILVA e CAVANCANTE, 2008.

A partir desse conjunto de resultados pôde-se elaborar um plano de ação

direcionado as questões com resultados menos satisfatórios obtidos pelos alunos. O

plano supracitado consistiu em um ciclo de palestras, como observado nas figuras 4 e 5,

direcionadas tanto aos alunos das séries em estudo, como aos professores da instituição.

Além disso, após a realização do primeiro momento, foi distribuído material

impresso/informativo – fornecido pela SMS/Natal – aos participantes do ciclo de

palestras.

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Figura 4: Colégio Eficácia contra a dengue. Fonte: SILVA, 2008.

Figura 5: Ciclo de Palestras sobre a dengue. Fonte: SILVA, 2008.

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Com o término do trabalho, percebeu-se que, mesmo diante do atual momento

de difusão maciça do conhecimento, através das mais variadas formas de mídia – rádio,

televisão, livros, internet... – ainda existe pouco conhecimento dos alunos em relação às

questões que norteiam a problemática da dengue, sendo explicitadas pelo

desconhecimento dos alunos de programas ou ações de prevenção da dengue em seus

bairros e a incapacidade de percepção da relação estreita relação entre o meio ambiente

e a questão em foco.

A partir do trabalho propriamente dito, de disseminação e democratização do

conhecimento científico na escola, acredita-se ter propiciado: aos professores, um

ambiente mais favorável à prática de atividades interdisciplinares, como forma de

inserir a temática no cotidiano das disciplinas; e aos alunos, a incorporação de novos

conhecimentos, gerados no seio científico, porém repassados de modo didático,

relativos aos condicionantes sócio-ambientais da doença, além da ênfase dada ao papel

daqueles no seu combate.

Finalmente, espera-se que, principalmente o último grupo, possa atuar na

sociedade como agentes multiplicadores de tais conhecimentos, de forma a mitigar o

elevado número de casos até então notificados de dengue na cidade do Natal-RN.

AGRADECIMENTOS

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)

pelo, apoio durante a pesquisa, a partir do Programa Nacional de Cooperação

Acadêmica (PROCAD/CAPES).

À Secretária Estadual de Saúde Pública (SESAP-RN), com destaque para os

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funcionários da Subcoordenadoria de Vigilância Epidemiológica, pelo atendimento no

que tange ao fornecimento dos dados e esclarecimentos gerais sobre a temática

pesquisada.

À Secretária Municipal de Saúde da cidade do Natal-RN (SMS-NATAL),

sobretudo, à pessoa de Maria Cristiana da Silva Souto, chefe do Departamento de

Vigilância à Saúde, pelo apoio na realização desse trabalho.

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