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PRÓ-REITORIA DE ENSINO 2014

COLETÂNEA

FORMAÇÃO SOCIOCULTURA E ÉTICA Ensino Presencial (1º SEMESTRE)

Ensino a Distância (MÓDULO 51)

Primeiro Eixo Temático

Organizadoras

Cristina Herold Constantino Débora Azevedo Malentachi

Colaboradoras

Fabiana Sesmilo de Camargo Caetano

Aline Ferrari

Direção Geral

Valdecir Antônio Simão

3

SUMÁRIO

Apresentação...................................................................................................................... 04

Considerações iniciais...................................................................................................... 05

LEITURA.............................................................................................................................. 06

Ler devia ser proibido........................................................................................................... 06

Ler e prazer.......................................................................................................................... 08

Ler pouco............................................................................................................................. 10

O poder da comunicação e a preguiça de pensar............................................................... 11

A cultura do mínimo............................................................................................................. 13

Cinco dicas para ler mais e melhor...................................................................................... 14

TEXTOS SELECIONADOS.................................................................................................. 17

A ética e a produção do conhecimento hoje........................................................................ 17

Culto, inculto: cultura............................................................................................................ 20

Ética e cultura....................................................................................................................... 23

A cultura e as diferentes concepções apreendidas nas determinações históricas.............. 24

O universo das artes............................................................................................................ 26

Por uma ética da arte........................................................................................................... 30

Breve história da arte........................................................................................................... 33

Pintores mais famosos da arte moderna e suas obras........................................................ 35

Entendendo Salvador Dali................................................................................................... 39

O pintor realista que retratou fielmente a vida campestre................................................... 45

Questões ambientais são tema de exposição no Rio.......................................................... 46

E a partida começa no Brasil e no Rio Grande do Sul......................................................... 49

Civilizar pela música: a inquietação da elite intelectual....................................................... 56

Cultura e arte bem perto de você......................................................................................... 57

Frases e curiosidades.......................................................................................................... 62

Músicas................................................................................................................................ 63

Filmes................................................................................................................................... 68

Tiras do Calvin..................................................................................................................... 70

Considerações finais......................................................................................................... 72

4

APRESENTAÇÃO

A Formação Sociocultural e Ética (FSCE) compõe um dos Projetos de Ação da UniCesumar,

cujo principal objetivo é aperfeiçoar habilidades e estratégias de leitura fundamentais para seu

desempenho pessoal, acadêmico e profissional. Nesse sentido, esta disciplina corresponde à

missão institucional, a qual consiste em “Promover a educação de qualidade nas diferentes áreas

do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de

uma sociedade justa e solidária”. Conforme slogan da FSCE, “Quem faz sabe mais e faz a

diferença!”, o conhecimento adquirido por meio da leitura é a mola propulsora capaz de formar e

transformar sujeitos passivos em cidadãos ativos, preparados para fazer a diferença na sociedade

como um todo!

Na FSCE, você terá contato com vários assuntos e fatos que ocorrem na sociedade atual e que

devem fazer parte do repertório de conhecimentos de todos os que buscam compreender

criticamente seu entorno social, nacional e internacional. Em síntese, no intuito de atender ao

objetivo desta disciplina, a FSCE está dividida em cinco grandes eixos temáticos: Ética, Cultura e

Arte – Ética e Política – Ética e Sociedade – Ética e Economia – Ética e Meio Ambiente.

Este material, também chamado de Coletânea, é o principal instrumento de estudo da FSCE.

Recebe o nome de Coletânea porque reúne vários gêneros textuais criteriosamente selecionados

para estimular sua reflexão e análise pontuais. Textos retirados de diferentes fontes, com a

finalidade de abordar recortes temáticos relacionados aos conteúdos de cada eixo supracitado.

Tem como principal objetivo ser um material de apoio à sua formação geral, servindo-lhe de

estímulo à leitura, interpretação e produção textual. Uma Coletânea como esta é organizada a

cada três semanas, ou seja, o percurso ou realização de cada eixo temático da FSCE ocorre no

período de 21 dias.

Cada Coletânea apresenta-se, inicialmente, com uma introdução, seguida por aspectos

relacionados à leitura, interpretação e/ou escrita, os quais antecedem a apresentação dos

diversos textos referentes aos respectivos eixos. A sequência de textos normalmente é finalizada

com os gêneros música, poesia ou frases e charges, sendo finalmente concluída com breves

considerações finais.

Você tem em suas mãos, portanto, uma compilação por meio da qual terá acesso a um conteúdo

seleto de textos basilares para sua reflexão, aprendizagem e construção de conhecimentos

valiosos. Textos compostos por fatos, notícias, ideias, argumentos, aspectos veiculados nos

principais meios de comunicação do país, além de respaldos teóricos e práticos acerca da

linguagem que poderão servir como suporte à sua vida em todas as instâncias.

Faça deste material sua porta de entrada para a aquisição de novos conhecimentos. E lembre-se:

“Ler é pensar! Vista a camisa do conhecimento e seja MAIS!”

Organizadoras

5

Considerações Iniciais

Não quero faca, nem queijo. Eu quero a fome!

O desejo que Adélia Prado eternizou nessas

palavras, versos de um de seus poemas, instiga

a inevitável pergunta: “Eu e você temos fome de

quê?”

Nem sempre um prato exuberante diante dos

nossos olhos, repleto das delícias mais refinadas

e saborosas, é suficiente para abrir o apetite se,

definitivamente, não há o menor sinal de fome.

Porém, a partir do momento que a desejamos e

temos a consciência de que uma vida saudável

requer uma boa alimentação, a fome pode

começar pelos olhos. O mesmo se aplica a uma

estante cheia de livros. Se não há fome de

conhecimento, os livros permanecem intactos. Entretanto, a partir do momento em que temos

consciência sobre a importância da leitura e fazemos a opção pelo desejo de sentir essa fome,

esta é a motivação inicial necessária para que o primeiro passo seja dado rumo aos livros, às

leituras, ao conhecimento.

Todo material de leitura engajado em promover conhecimento é um prato cheio para saciar essa

fome. É também um convite para a ação capaz de formar, enriquecer e transformar. Não há como

mergulhar dentro de um texto e sair dele a mesma pessoa de outrora, a não ser que este

mergulho aconteça de modo extremamente raso e alienado. Principalmente, em se tratando de

Cultura e Arte não há como ficar passivo e imune ao universo de conteúdos por trás das formas,

de essências por trás de aparências, dos sentimentos que pulsam por trás da razão, de

significados por trás dos signos. Só ficará imune a tudo isso o olhar que se recusa a ler de mãos

dadas com a atitude atenta, reflexiva, observadora, questionadora.

Neste material, propomos ampliar conhecimentos sobre Arte e Cultura, e a relação destas com a

Ética, e nosso passeio não poderia começar por outro caminho a não por este: a leitura. Textos

oportunos para aprimorar conceitos, realizar reflexões pontuais e iniciar sua autoavaliação

enquanto leitor. Em seguida, vamos explorar os artigos selecionados para o eixo temático desta

Coletânea. Primeiramente, o que de fato significam ética, arte e cultura? Você terá a

oportunidade de constatar que a resposta para tal pergunta não é tão óbvia quanto parece. A

questão exige profundidade e será preciso caminhar um pouco pelas estradas da filosofia para

respondê-la adequadamente. Posteriormente, um pouco mais sobre arte. Em ano de Copa, vamos

visitar o futebol, mais que um esporte que levanta torcidas, uma das artes que mais emociona

povos de todas as nações, além de nos representar como cultura. Em seguida, o meio ambiente

em exposição, pintores famosos, música, mais cultura, filmes, frases e tiras.

Aproveite o quanto puder este passeio pelos caminhos da arte, da cultura, da ética, da expressão,

da formação humana...

Organizadoras

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LEITURA

Tudo o que preparamos para você, nesta disciplina, só terá mesmo razão de ser a partir do momento em que o sentido da leitura realmente fluir de dentro para fora, dos teus pensamentos para o papel. Os olhos não podem ver o que o pensamento não quer ou não consegue enxergar e, definitivamente, mudanças só ocorrem quando iniciadas internamente. Para isso, precisamos parar e pensar fundo em algumas questões... Uma delas diz respeito à leitura e o modo como você lê. Sim, este é o ponto crucial capaz de abrir portas para mudanças significativas, tanto na sua vida acadêmica e profissional, quanto pessoal. Então, este é o nosso convite inicial para você: avalie a leitura e se autoavalie enquanto leitor!

Ler devia ser proibido Guiomar de Grammont

A pensar fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido.

Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Dom Quixote e Madame Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tomou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos.

Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.

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Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: o conhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?

Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.

Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação,

a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos,

nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de

cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que

um punhado de pó em movimento. Que há algo a

descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há

estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais

percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o

absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades

cruas.

Não, não deem mais livros às escolas. Pais, não leiam

para os seus filhos, pode levá-los a desenvolver esse

gosto pela aventura e pela descoberta que fez do

homem um animal diferente.

Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias, pode estimular uma curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.

Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.

O mundo já vai por um bom caminho. Cada

vez mais as pessoas leem por razões

utilitárias: para compreender formulários,

contratos, bulas de remédio, projetos,

manuais etc. Observem as filas, um dos

pequenos cancros da civilização

contemporânea. Bastaria um livro para que

todos se vissem magicamente transportados

para outras dimensões, menos incômodas. E

esse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim, a

máquina do tempo. Para o homem que lê,

não há fronteiras, não há cortes, prisões

tampouco. O que é mais subversivo do que a

leitura?

A maior aventura de um ser

humano é viajar e a maior viagem

que alguém pode empreender é

para dentro de si mesmo. E o

modo mais emocionante de realizá-

la é ler um livro, pois um livro

revela que a vida é o maior de

todos os livros, mas é pouco útil

para quem não souber ler nas

entrelinhas e descobrir o que as

palavras disseram. No fundo, o

leitor é o autor da sua própria

história. (Augusto Cury)

8

É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um

privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou

manuais. Seja em filas, em metros, ou no silêncio da alcova. Ler deve ser coisa rara, não para

qualquer um.

Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos.

Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar

ordens, a palavra é inútil.

Além disso, a leitura promove a comunicação de dores e alegrias, tantos outros sentimentos. A

leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, o próprio. A

leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os

capazes de compreender e aceitar o mundo do outro. Sim, a leitura devia ser proibida.

Ler pode tornar o homem perigosamente humano.

Disponível em: http://paginaporpagina.wordpress.com/tag/ler-deveria-ser-proibido/. Acesso em: 10 fev. 2014. (Adaptado)

Ler e prazer Rubem Alves

Nietzsche estava certo: “De manhã cedo, quando o dia nasce,

quando tudo está nascendo – ler um livro é simplesmente algo

depravado...” É o que sinto ao andar pelas manhãs pelos

maravilhosos caminhos da Fazenda Santa Elisa, do Instituto

Agronômico de Campinas. Procuro esquecer-me de tudo que li

nos livros. É preciso que a cabeça esteja vazia de pensamentos

para que os olhos possam ver.

Aprendi isso lendo Alberto Caeeiro, especialista inigualável na

difícil arte de ver. Dizia ele que “pensar é estar doente dos

olhos...” Mas meus esforços são frustrados. As coisas que vejo

são como o beijo do príncipe: elas vão acordando os poemas que aprendi de cor e que agora

estão adormecidos na minha memória. Assim, ao não pensar da visão une-se o não pensar da

poesia.

E penso que o meu mundo seria muito pobre se em mim não estivessem os livros que li e amei.

Pois, se não sabem, somente as coisas amadas são guardadas na memória poética, lugar da

beleza. “Aquilo que a memória amou fica eterno”, tal como o disse a Adélia Prado, amiga querida.

Os livros que amo não me deixam. Caminham comigo. Há os livros que moram na cabeça e vão

se desgastando com o tempo. Esses, eu deixo em casa. Mas há os livros que moram no corpo.

Esses são eternamente jovens. Como no amor, uma vez não chega. De novo, de novo, de novo...

Um amigo me telefonou. Tinha uma casa em Cabo Frio. Convidou-me. Gostei. Mas meu sorriso

entortou quando ele disse: “Vão também cinco adolescentes...” Adolescentes podem ser uma

alegria. Mas podem ser também uma perturbação para o espírito. Assim, resolvi tomar minhas

providências. Comprei uma arma de amansar adolescentes. Um livro. Uma versão condensada da

Odisseia, as fantásticas viagens de Ulisses de volta à casa, por mares traiçoeiros...

9

Primeiro dia: praia; almoço; sono. Lá pelas cinco os dorminhocos acordaram, sem ter o que fazer.

E antes que tivessem ideias próprias eu tomei a iniciativa. Com voz autoritária dirigi-me a eles,

ainda sob o efeito do torpor: “Ei, vocês... Venham cá na sala. Quero lhes mostrar uma coisa...”

Não consultei as bases. Teria sido terrível. Uma decisão democrática das bases optaria por ligar a

televisão. Claro. Como poderiam decidir por uma coisa que ignoravam? Peguei o livro e comecei a

leitura. Ao espanto inicial seguiu-se silêncio e atenção. Vi, pelos seus olhos, que já estavam sob o

domínio do encantamento. Daí para frente foi uma coisa só. Não me deixavam. Por onde quer que

eu fosse, lá vinham eles com a Odisseia na mão, pedindo que eu lesse mais. Nem na praia me

deram descanso.

Essa experiência me fez pensar que deve haver algo errado na afirmação que sempre se repete

de que os adolescentes não gostam da leitura. Sei que, como regra, não gostam de ler. O que não

é a mesma coisa que não gostar da leitura. Lembro-me da escola primária que frequentei. Havia

uma aula de leitura. Era a aula que mais amávamos. A professora lia para que nós ouvíssemos.

Leu todo o Monteiro Lobato. E leu aqueles livros que se lia naqueles tempos: Heidi, Poliana, A ilha

do tesouro. Quando a aula terminava era a tristeza. Mas o bom mesmo é que não havia provas ou

avaliações. Era prazer puro. E estava certo. Porque esse é o objetivo da literatura: prazer. O que

os exames vestibulares tentam fazer é transformar a literatura em informações que podem ser

armazenadas na cabeça.

Mas o lugar da literatura não é a cabeça: é o coração. A

literatura é feita com as palavras que desejam morar no

corpo. Somente assim ela provoca as transformações

alquímicas que deseja realizar. Se não concordam, que

leiam Guimarães Rosa que dizia que literatura é

feitiçaria que se faz o sangue do coração humano.

Quando minha filha estava sendo introduzida na literatura, o professor lhe deu como dever de

casa ler e fichar um livro chatíssimo. Sofrimento dos adolescentes, sofrimento para os pais. A pura

visão do livro provocava uma preguiça imensa, aquela preguiça que Barthes declarou ser

essencial à experiência escolar. Escrevi carta delicada ao professor lembrando-lhe que Borges

havia declarado que não havia razão para se ler um livro que não dá prazer quando há milhares

de livros que dão prazer.

Sugeri-lhe começar por algo mais próximo da condição emotiva dos jovens. Ele me respondeu

com o discurso de esquerda, que sempre teve medo do prazer: “O meu objetivo é produzir a

consciência crítica...” Quando eu li isso percebi que não havia esperança. O professor não sabia o

essencial. Não sabia que literatura não é para produzir consciência crítica. O escritor não escreve

com intenções didático-pedagógicas. Ele escreve para produzir prazer. Para fazer amor. Escrever

e ler são formas de fazer amor. É por isso que os amores pobres em literatura ou são de vida

curta, ou são de vida longa e tediosa... Parodiando as palavras de Jesus “nem só de beijos e

transas viverá o amor mas de toda palavra que sai das mãos dos escritores...” E foi em meio a

essas meditações que, sem que eu o esperasse, foi-me revelado o segredo da leitura...

Disponível em: http://www.ingodoy.com.br/ler-post.aspx?id=372 Acesso em: 09 fev. 2014. (Adaptado)

Eu, por exemplo, gosto do cheiro

dos livros. Gosto de interromper a

leitura num trecho especialmente

bonito e encostá-lo contra o peito,

fechado, enquanto penso no que

foi lido. (Martha Medeiros)

10

Ler pouco Rubem Alves

Jovem, eu sonhava ter uma grande biblioteca. E fui assim pela vida,

comprando os livros que podia. Tive de desenvolver métodos para controlar minha voracidade,

porque o dinheiro e o tempo eram poucos. Entrava na livraria, separava todos os livros que

desejava comprar e, ao me aproximar do caixa, colocava-os sobre o balcão e me perguntava

diante de cada um: “Tenho necessidade imediata desse livro? Tenho outros, em casa, ainda não

lidos? Posso esperar?” E assim ia pegando cada um deles e os devolvendo às prateleiras. A

despeito desse método de controle cheguei a ter uma biblioteca significativa, mais do que

suficiente para as minhas necessidades.

Notei, à medida em que envelhecia, uma mudança nas

minhas preferências: passei a ter mais prazer na seção

dos livros de arte nas livrarias. Os livros de ciência a

gente lê uma vez, fica sabendo e não tem necessidade

de ler de novo. Com os livros de arte acontece

diferente. Cada vez que os abrimos é um

encantamento novo! Creio que meu amor pelos livros de arte tem a ver com experiências infantis.

Talvez que os psicanalistas interpretem esse amor como uma manifestação neurótica de

regressão. Não me incomodo. Pois, em oposição à psicanálise que considera a infância como um

período de imaturidade que deve ser ultrapassado para que nos tornemos adultos, eu, inspirado

por teólogos e poetas, considero a maturidade como uma doença a ser curada. Bem reza a Adélia

Prado: “Meu Deus, me dá cinco anos, me cura de ser grande…” E não pensem que isso é

maluquice de poeta. Peter Berger, um sociólogo inteligente e com senso de humor, definiu

“maturidade”, essa qualidade tão valorizada, como “um estado de mente que se acomodou,

ajustou-se ao status quo e abandonou os sonhos selvagens de aventura e realização…”

Menino de cinco anos, eu passava horas vendo um livro da minha mãe, cheio de figuras. Lembro-

me: uma delas era um prédio de dez andares com a seguinte explicação: “Nos Estados Unidos há

casas de dez andares.” E havia a figura de um caçador de jacarés, e de crianças esquimós

saudando a chegada do sol.

O fato é que comecei a mudar os meus gostos e chegou um momento em que, olhando para

aquelas estantes cheias de livros, eu me perguntei: “Já sou velho. Terei tempo de ler todos esses

livros? Eu quero ler todos esses livros?” Não, nem tenho tempo e nem quero. Então, por que

guardá-los? Resolvi dar os livros que eu não amava. Compreendi, então, que não se pode falar

em amor pelos livros, em geral. Um homem que diz amar todas as mulheres na verdade não ama

nenhuma. Nunca se apaixonará. O mesmo vale para os livros. Assim, fui aos meus livros com a

pergunta: “Você me ama?” (Acha que estou louco? É Roland Barthes que declara que o texto tem

de dar provas de que me deseja. Há muitos livros que dão provas de que me odeiam. Outros me

ignoram totalmente, nada querem de mim…). “Vou querer ler você de novo?” Se as respostas

eram negativas, o livro era separado para ser dado.

Essa coisa de “amor universal aos livros” fez-me lembrar um texto de Nietzsche sobre o filósofo

Tales de Mileto, em que ele recorda que “a palavra grega que designa o “sábio” se prende,

etimologicamente, a sapio, eu saboreio, sapiens, o degustador, sisyphos, o homem de gosto mais

apurado; um apurado degustar e distinguir, um significativo discernimento, constitui, pois, (…) a

arte peculiar do filósofo. (…) A ciência, sem essa seleção, sem esse refinamento de gosto,

É o bom leitor que faz o bom livro;

ele sempre encontra trechos que

parecem confidências ou apartes

evidentemente destinados ao seu

ouvido. (Ralph Waldo Emerson)

11

precipita-se sobre tudo o que é possível saber, na cega avidez de querer conhecer a qualquer

preço; enquanto o pensar filosófico está sempre no rastro das coisas dignas de serem sabidas…”

E depois, no Zaratustra, ele comenta com ironia: “Mastigar e digerir tudo – essa é uma maneira

suína.”

O fato é que muitos estudantes são obrigados a ler à maneira suína, mastigando e engolindo o

que não desejam. Depois, é claro, vomitam tudo… Como eu já passei dessa fase, posso me

entregar ao prazer de ler os livros à maneira canina. Nenhum cachorro abocanha a comida.

Primeiro ele cheira. Se o nariz não disser “sim” ele não come. Faço o mesmo com os livros.

Primeiro cheiro. O que procuro? O cheiro do escritor. Se não tem cheiro humano, não como.

Nietzsche também cheirava primeiro. Dizia só amar os livros escritos com sangue.

Ler é um ritual antropofágico. Sabia disso Murilo Mendes quando escreveu: “No tempo em que eu

não era antropófago, isto é, no tempo em que eu não devorava livros – e os livros não são

homens, não contém a substância, o próprio sangue do homem?” A antropofagia não se fazia por

razões alimentares. Fazia-se por razões

mágicas. Quem come a carne do sacrificado se

apropria das virtudes que moravam no seu

corpo. Como na eucaristia cristã, que é um

ritual antropofágico: “Esse pão é a minha carne,

esse vinho é o meu sangue…” Cada livro é um

sacramento. Cada leitura é um ritual mágico.

Quem lê um livro escrito com sangue corre o

risco de ficar parecido com o escritor. Já

aconteceu comigo…

Disponível em: http://redarterj.wordpress.com/2011/02/08/ler-pouco-rubem-alves/ Acesso em: 08 fev. 2014.

(Adaptado)

Uma das reclamações mais frequentes que ouvimos dos nossos alunos é: “Não entendi

nada do que li!” Você já passou por situação idêntica ou semelhante a esta alguma vez na

vida? Quando nossa mente, por diversos fatores, dentre eles a preguiça, não consegue

acompanhar nossos olhos enquanto lemos, agravam-se as dificuldades de compreensão

e interpretação de textos. Como disse Einstein, “quem lê de mais e pensa de menos

adquire a preguiça de pensar”. Portanto, enquanto leitores, precisamos cuidar da

qualidade das nossas leituras. Ler demais e pensar pouco sobre o que lemos não

contribui em nada para o desenvolvimento da criticidade, e nessa batalha entre o

pensamento e a preguiça é VOCÊ quem decide, e ninguém mais, quem será o

vencedor...

O poder da comunicação e a preguiça de pensar

12

O poder da comunicação e a preguiça de pensar

são fatores que aumentam descontroladamente

em nossa sociedade, além de periodicamente

buscarmos consciente ou inconscientemente

superficialidades e coisas supérfluas em nossas

vidas. Estamos assim, com preguiça de pensar,

afinal, o sistema já nos suga de tantas maneiras

com obrigações de trabalhar e render nossa

parcela de contribuição capitalista, ou então,

perder muito tempo fazendo trabalhos escolares

que não nos fazem pensar, só replicar, pra

alcançar a nota que já é praticamente esperada,

além do que, pensar ou discutir sobre outros

assuntos é exaustivo, mas futebol, novela e big brother todos gostam!

Essa preguiça de pensar vem desde o começo de nossas vidas, numa sociedade castradora

pelos nossos pais, amigos e pessoas de nosso convívio, porque acima de tudo, uma sociedade é

construída também em vários paradigmas, que são barreiras mentais que ninguém sabe ao certo

como e nem por que, mas o certo é que você tem que fazer. Se não fizer é doido, ou meio fora do

normal, e sendo fora do normal você vira um sujeito que ninguém acredita, afinal, o fulano ali é

sempre meio doido.

O "meio doido" é no sentido de quebrar paradigmas e barreiras mentais, mas manter-se dentro da

lei, porque existem outros tipos de preguiçosos e escravos mentais de armadilhas do sistema, que

são aqueles que usam drogas achando que com isso estão buscando alguma liberdade do

sistema, pelo contrário, estão mais imersos que um cidadão cheio de paradigmas e conceitos

conservadores.

O meio termo disso é difícil achar, mas esses sim são os

que conseguem se libertar de tudo isso que nos

consome e viver olhando do lado de fora, nem que seja

por pouco tempo, esse grande circo em que vivemos

hoje.

Você chega no trabalho, na escola, academia,

faculdade, ou numa roda de amigos em qualquer lugar e

se espanta com um desses amigos falando eufórico

sobre uma notícia que saiu na capa de uma revista

falando mal do presidente, e os outros balançando a

cabeça como se fosse realmente um absurdo. Então,

pronto! Você percebe que ali, existe um replicador de

uma única fonte que nem sabe se a notícia é realmente

verdadeira, e o pior, você tem ali os que ouviram e vão

passar isso adiante num telefone sem fio praticamente

pra outros, criando uma onda de ódio ou conceito

errôneo diante de uma notícia falsa. Isso tudo porque o poder da comunicação e a preguiça de

pensar e questionar estão dentro de nós. Já reparou?

O homem tem preguiça, em geral,

de pensar todo o pensável e

contenta-se com fragmentos de

ideias, recusa-se a uma coerência

absoluta. Não leva até ao fim o

esforço de entender. E,

exatamente porque não o faz,

toma, em relação à sua capacidade

de inteligência, uma absurda

posição de orgulho. Compara o

pouco que entendeu com o menos

que outros entenderam, jamais

com o muito que os mais raros

puderam perceber. (Agostinho da

Silva)

13

Então, a notícia chega em nossas mentes através da

TV, jornais, revistas, internet, outdoors e boca-a-boca,

só que não entendemos que a maioria das fontes de

comunicação tem ideais, objetivos, e princípios a

manter, portanto, a notícia pra deixar de ser parcial,

tem que ser buscada em várias fontes [...]

Esse é o poder da comunicação, ela nos vende pensamentos e linhas de conduta que nós

compramos e hipocritamente usamos todos os dias. [...]

Disponível em: http://www.verdefilosofia.com.br/2010/10/o-poder-da-comunicacao-e-preguica-de.html.

Acesso em: 13 fev. 2014. (Adaptado)

E ainda sobre um dos sete pecados capitais, vamos refletir um pouco mais sobre os

rumos que tomam nossos pensamentos e nossas atitudes quando são os braços da

preguiça que assumem o comando de tantas situações que fazem parte do nosso dia a

dia. É possível chegar a algum lugar quando somos eternamente embalados por braços

assim? A seguir, o texto apresenta uma breve noção sobre a cultura do mínimo, e nós a

entendemos aqui como extensão da preguiça. Vamos ler e, é claro, pensar...

A cultura do mínimo

“Eu apenas trabalho aqui, não sou o dono.”

“Não, não fiz. Ninguém me disse que era para eu fazer.”

“Se eu fizer mais, vão me dar mais trabalho para eu fazer.”

A cultura do mínimo é a atitude que habita a maioria das pessoas de fazer apenas o que lhes foi

mandado. É a busca de empregar o mínimo esforço possível para realizar somente o suficiente

para não ser chamado a atenção.

Aprendi com o Mestre dos Mestres

que a arte de pensar é o tesouro

dos sábios. (Augusto Cury)

14

Esta é uma mentalidade de pobre. Não

necessariamente pobre de dinheiro, mas pobre

de visão. Se você quer ser grande, líder,

confiado com responsabilidades significantes,

aprenda a ir além do mínimo. O fato de a

maioria fazer apenas o mínimo lhe apresenta

uma grande oportunidade de se destacar.

Imagine o que aconteceria se você começasse

a surpreender seu patrão, seus funcionários,

clientes, marido ou esposa, pais, e colegas?

Imagine surpreender a si mesmo? Imagine

começar uma cultura do máximo?

Disponível em: http://www.renatocardoso.com/blog/2013/08/26/a-cultura-do-minimo/. Acesso em: 13 fev.

2014. (Adaptado)

Pensando um pouco mais a respeito

Você trabalha de segunda a segunda. Mal tem tempo para sua família ou qualquer outra

atividade. No seu trabalho todos o veem sempre ocupado, correndo para lá e para cá. Fazer é

com você mesmo. Porém, seus fracassos e alvos

errados persistem. Onde está o problema?

Claramente você não é preguiçoso para o trabalho

físico. Mas talvez seja para o mental. É muito mais

difícil, estafante, exige concentração e às vezes pura

paciência consigo mesmo e com o mundo ao seu

redor. Por isso muitos fogem desse trabalho. É mais

fácil agir no piloto automático, fazer o que sempre foi

feito sem perguntar, não tentar entender a situação

ou problema que você tem que resolver, livrar-se

dele rápido. O trabalho braçal é o mais fácil de fazer,

por isso paga pouco. O trabalho mental é onde está o dinheiro, a riqueza e o sucesso — porque

poucos são os que o fazem. Sua preguiça de pensar, analisar, sondar e raciocinar pode lhe custar

muito, muito caro.

Disponível em: http://www.renatocardoso.com/blog/2013/03/22/o-preco-da-preguica/. Acesso em: 13 fev.

2014. (Adaptado)

Então, que o prazer da preguiça fique apenas para os momentos de descanso! Agora a

ordem (e a necessidade) é prosseguir, pensar, analisar, raciocinar... Seguem algumas

dicas que poderão servir de auxílio para a construção deste hábito tão fundamental sobre

o qual temos falado – leitura. Crie outras dicas que melhor se encaixam a você. O

importante é não perder de vista que cada leitura, para ser bem realizada, requer

objetivos bem definidos. Enquanto você lê este material, onde você pretende chegar?

Estabeleça seus objetivos!

Cinco dicas para ler mais e melhor

Aplicando a cultura do mínimo em seu

contexto, pense sobre isto: Você tem

ido “além do mínimo” nas leituras que

realiza, ou as tem limitado ao universo

de leituras acadêmicas obrigatórias? O

que mais você lê para crescer e

surpreender a si mesmo, enquanto

estudante, acadêmico e, sobretudo,

enquanto pessoa?

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Tim Challies

O assunto “leitura” tem ocupado minha mente nos últimos tempos. Eu adoro ler, mas

frequentemente recebo e-mails de pessoas que lutam para ler e para gostar de ler. Por isso achei

que poderia ser útil montar uma lista de dicas para ler mais e melhor. Espero que vocês

considerem úteis.

Leia - Começamos com o óbvio: você precisa ler. Mostre-me uma pessoa que mudou o mundo e

que gastou seu tempo assistindo televisão e eu lhe mostrarei mil que preferiram gastar seu tempo

lendo. A menos que ler seja sua paixão, você precisa ser muito criterioso em separar tempo para

ler. Você talvez precise se forçar a isso. Estabeleça um objetivo que seja razoável para

você ("Vou ler três livros este ano" ou "Vou terminar este livro antes do fim do mês") e trabalhe

para concretizá-lo. Separe tempo diariamente ou todas as semanas e tenha a certeza de que

realmente irá pegar o livro durante esses momentos. Encontre um livro que trate de algum

assunto de particular interesse para você. Você pode até achar benéfico encontrar um livro que

parece interessante – um belo livro com uma capa atraente. Ler é uma experiência e a

experiência começa com a aparência e a impressão que o livro causa. Portanto, encontre um livro

que aparentemente lhe agrade e comece a lê-lo. E, quando terminar, encontre outro e faça tudo

novamente. E mais uma vez.

Leia Amplamente – Estou convencido de que uma das razões para que as pessoas não leiam

mais do que leem é que elas não variam suficientemente a sua leitura. Qualquer assunto, não

importa quanto ele lhe interesse, pode começar a tornar-se árido se você focalizar toda sua

atenção nele. Portanto, leia amplamente. Leia ficção e não-ficção, teologia e biografia, atualidades

e história. Certamente você desejará focalizar a maior parte da sua leitura em uma área particular,

e isso é saudável e bom. Mas assegure-se de variar sua dieta. "A leitura é mais bem executada,

pelo menos ao desfrutar de livros sérios, quando você trabalha duro para entender o livro e

quando interage com os argumentos do autor."

Leia Metodicamente – Da mesma forma que lê amplamente, assegure-se de ler metodicamente.

Escolha seus livros cuidadosamente. Se você for negligente em fazer isso, corre o risco de

perceber que ignorou uma determinada categoria por meses ou anos a fio. [...] Você pode

estabelecer suas próprias categorias, mas tente assegurar-se de está lendo alguma coisa em

todas elas de forma regular. Escolha livros que se ajustem em cada uma dessas categorias e

planeje sua leitura de antemão. Assim você saberá qual livro será o próximo. Frequentemente, a

expectativa pelo próximo livro é uma força motivadora para completar o atual.

Leia Interativamente – A leitura é mais bem executada, pelo menos ao desfrutar de

livros sérios, quando você trabalha duro para entender o livro e quando interage

com os argumentos do autor. Leia com uma caneta marca-texto e um lápis na

mão. Faça perguntas ao autor e espere que ele as responda ao longo do texto. Rabisque

notas nas margens, escreva perguntas por toda a contracapa, e volte

frequentemente a elas (e, se as perguntas permanecerem sem resposta, tente até mesmo

entrar em contato com o autor!). Realce as porções mais importantes do livro, ou aquelas para as

quais você pretende retornar depois. [...] "Livros são para serem lidos e usados, não para serem

colecionados e mimados." Eu descobri que escrever críticas sobre os livros que li é uma forma

preciosa de retornar, pelo menos mais uma mais vez, ao livro para ter certeza de que eu entendi o

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que o autor estava tentando dizer e como ele disse. Portanto, interaja com esses livros de forma a

torná-los seus.

Leia com Discernimento – Apesar dos livros terem um incrível poder para fazer o bem, desafiar,

fortalecer e edificar, eles também têm grande poder para fazer o mal. Já vi vidas serem

transformadas por livros, mas também já vi vidas serem esmagadas. Por isso tenha certeza de

que lê com discernimento [...]. Se você encontrar um livro que é particularmente controverso, pode

valer à pena procurar uma análise que interaja criticamente com os argumentos, ler com uma

pessoa que entenda melhor os argumentos e suas implicações. [...]

Disponível em: http://www.bomcaminho.com/tc001.htm Acesso em: 19 fev. 2014. (Adaptado, grifos das

organizadoras)

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TEXTOS SELECIONADOS

Todos os eixos da Formação Sociocultural e Ética trazem o termo ética como palavra-

chave. A proposta a seguir é ampliar concepções acerca dessa expressão tão falada,

ouvida, usada, mas nem sempre compreendida em sua profundidade, tampouco vivida

em sua verdadeira essência. O que as nossas práticas e escolhas diárias tem a ver com

ética? Qual a influência da ética sobre todas as instâncias da existência humana? Vale a

pena conferir os argumentos de Sergio Cortella e aprofundar conhecimentos a esse

respeito. Reflita sobre o assunto e complete a palavra dele com a sua!

A ética e a produção do conhecimento hoje Mario Sergio Cortella (filósofo, escritor, educador, palestrante e professor universitário brasileiro)

Ressaltemos desde o início: a ética é uma questão

absolutamente humana! Só se pode falar em ética

quando se fala em humano, porque a ética tem um

pressuposto: a possibilidade de escolha. A ética

pressupõe a possibilidade de decisão, ética pressupõe a

possibilidade de opção.

É impossível falar em ética sem falar em liberdade.

Quem não é livre não pode, evidentemente, ser julgado

do ponto de vista da ética. Outros animais, ao menos nos

parâmetros que utilizamos, agem de forma instintiva, não deliberada, sem uma consciência intencional.

Cuidado. Há quem diga: “Eu queria ser livre como um pássaro”; lamento profundamente, pois

pássaros não são livres, pássaros não podem não voar, pássaros não podem escolher para onde

voam, pássaros são pássaros. Se você quiser ser livre, você tem de ser livre como um humano.

Pensemos em algo que pode parecer extremamente horroroso: como disse Jean-Paul Sartre, nós

somos condenados a ser livres.

Da liberdade, vêm as três grandes questões éticas que orientam (mas também atormentam, instigam,

provocam e desafiam) as nossas escolhas: Quero? Devo? Posso? Retomemos o cerne: o exercício da

ética pressupõe a noção de liberdade. Existe alguém sobre quem eu possa dizer que não tem ética? É

possível falar que tal pessoa “não tem ética”? Não, é impossível. Você pode dizer que ele não tem uma

ética como a tua, você pode dizer que ele tem uma ética com a qual você não concorda, mas é

impossível dizer que alguém não tem ética, porque ética é exatamente o modo como ele compreende

aquelas três grandes questões da vida: devo, posso, quero?

Tem coisa que eu devo, mas não quero; tem coisa que eu quero, mas não posso; tem coisa que eu

posso, mas não devo. Nessas questões, vivem os chamados dilemas éticos; todas e todos, sem

exceção, temos dilemas éticos, sempre, o tempo todo: devo, posso, quero? Tem a ver com fidelidade

na sua relação de casamento, tem a ver com a sua postura como motorista no trânsito; quando você

pensa duas vezes se atravessa um sinal vermelho ou não, se você ocupa uma vaga quando vê à

distância que alguém está dando sinal de que ele vai querer entrar; quando você vai fazer a sua

declaração de Imposto de Renda; quando você vai corrigir provas de um aluno ou de um orientando

seu; quando você vai cochilar depois do almoço, imaginando que tem uma pia de louça que talvez seja

lavada por outra pessoa, e como você sabe que ela lava mesmo, e que se você não fizer o outro faz,

você tem a grande questão ética que é: devo, posso, quero? Por exemplo, quando se fala em bioética:

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podemos lidar com clonagem? Podemos, sim. Devemos? Não sei. Queremos? Sim. Clonagem

terapêutica, reprodutiva? É uma escolha. Posso eu fazer um transplante intervivos? Posso. Devo,

quero? Tem coisa que eu devo, mas não quero; aliás, a área de Saúde, de Ciência e Medicina, é

recheada desses dilemas éticos. Tem muita coisa que você quer, mas não pode, muita coisa que você

deve, mas não quer.

Na pesquisa, já imaginou? Por que montamos comitês de pesquisa, por que a gente faz um curso

sobre ética na pesquisa? Porque isso é complicado, e se fosse uma coisa simples, a gente não

precisava fazer curso, não precisava estudar, não precisava se juntar. É complicadíssimo, porque

estamos mexendo com coisas que têm a ver com a nossa capacidade de existir. Quando se pensa

especialmente no campo da ética, a relação com a liberdade traz sempre o tema da decisão, da

escolha. Por que estou dizendo isso? Porque não dá para admitir uma mera repetição do que disseram

muitos dos generais responsáveis pelo holocausto e demais atrocidades emanadas do nazismo dos

anos de 1940. Exceto um que assumiu a responsabilidade, todos usaram o mesmo argumento em

relação à razão de terem feito o que fizeram. Qual foi? “Eu estava apenas cumprindo ordens”. “Estava

apenas cumprindo ordens”, isso me exime da responsabilidade? Estava apenas obedecendo... Essa é

uma questão séria, sabe por quê? Porque “estava apenas cumprindo ordens” implica a necessidade

de pensarmos se a liberdade tem lugar ou não.

Ética tem a ver com liberdade, conhecimento tem a ver com liberdade,

porque conhecimento tem a ver com ética. Por isso, se há algo que também é

fundamental quando se fala em ciência, ética na pesquisa e produção do conhecimento, é a noção de

integridade. A integridade é o cuidado para se manter inteiro, completo, transparente, verdadeiro, sem

máscaras cínicas ou fissuras. Nessa hora, um perigo se avizinha: assumir-se individual ou

coletivamente uma certa “esquizofrenia ética”. Ela desponta quando as pessoas se colocam não como

inteiras, mas repartidas em funções que pareceriam externas a elas. Exemplos? “Eu por mim não faria

isso, mas, como eu sou o responsável, tenho de fazê-lo”. Ora, eu não sou eu e uma função, eu sou

uma inteireza, eu não sou eu e um professor, eu e um pesquisador, eu e um diretor, eu e um

secretário, eu sou um inteiro. “Eu por mim não faria”, então eu não faço!

Cautela! Coloca-se um estilhaçamento da integridade: “Eu, por mim, não lhe reprovaria, mas como eu

sou seu professor, eu tenho que reprovar”; “Eu, por mim, não lhe mandaria embora, mas como eu sou

seu chefe...”; “Eu, por mim, não lhe suspenderia, mas como eu sou seu superior...”; “Eu, por mim, não

faria isso, mas como eu sou o contador...”; “Eu, por mim, não faria isso, mas como eu sou o

responsável pelo laboratório...” “Eu, por mim, não faria”; então, não faço; “Eu, por mim, não lhe

reprovaria”; então, não reprovo. De novo: eu não sou eu e uma função, eu não sou eu e um

pesquisador, eu e um chefe do laboratório, eu e um diretor de instituto, eu e um secretário... O

esboroamento da integridade pessoal e coletiva é a incapacidade de garantir que a “casa” fique inteira,

e para compreender melhor a ideia de “casa íntegra”, vale fazer um breve passeio pelas palavras.

Talvez as pessoas que estudaram um pouco de etimologia se lembrem que a palavra ética vem pra

nós do grego ethos, mas ethos, em grego, até o século VI a. C., significava morada do humano, no

sentido de caráter ou modo de vida habitual, ou seja, o nosso lugar. Ethos é aquilo que nos abriga,

aquilo que nos dá identidade, aquilo que nos torna o que somos, porque a sua casa é o modo como

você é, onde está a sua marca. Mais tarde, esse termo para designar também o espaço físico foi

substituído por oikos. Aliás, o conhecimento mais valorizado na sociedade grega era o que cuidava

das regras da casa, para a gente poder viver bem e para deixar a casa em ordem. Como o vocábulo

nomos significa “regra” ou “norma”, passou-se a ter a oikos nomos (a economia) como a principal

ciência. No entanto, a noção original de ethos não se perdeu, pois os latinos a traduziram pela

expressão more, ou mor, que acabou gerando pra nós também uma dupla concepção; uma delas é

“morada”, e a outra, que vai ser usada em latim, é o lugar onde você morava, o seu habitus. Olha só, a

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expressão “o hábito faz o monge” não tem a ver com a roupa dele, habitus; habitus é exatamente onde

nós vivemos, o nosso lugar, a nossa habitação.

Quando se pensa em ética e produção do conhecimento hoje, a grande questão é: como está a nossa

possibilidade de sustentar a nossa integridade; essa integridade, como se coloca? A integridade da

vida individual e coletiva, a integridade daquilo que é mais importante, porque uma casa, ethos, tal

como colocamos, é aquela que precisa ficar inteira, é aquela que precisa ser preservada. Como

está a morada do humano? Essa morada do humano desabriga alguém?

Alguém está fora da casa, alguém está sem comer dentro dessa casa?

Alguém está sem proteção à sua saúde, alguém está sem lazer dentro dessa

casa? Essa morada do humano é inclusiva ou é exclusiva? Essa morada do

humano lida com a noção de qualidade em ciência, ou lida com a noção de

privilégio? Cuidado. Duas coisas que se confundem muito em ciência são qualidade e privilégio;

qualidade tem a ver com quantidade total, qualidade é uma noção social, qualidade social só é

representada por quantidade total. Qualidade sem quantidade não é qualidade, é privilégio. São Paulo

é uma cidade em que se come muito bem, é verdade; quem come, quem come o quê? Qualidade sem

quantidade total não é qualidade, é privilégio. Todas às vezes em que se discute essa temática,

aparece a noção de uma qualidade restrita, e qualidade restrita, reforcemos, é privilégio. Nesse

sentido, a grande questão volta: será que, na morada do humano, alguém está desabrigado? Será que

essa casa está inteira, ela está em ordem nessa condição? Nessa nossa casa, quando a gente fala em

cuidado, é o mesmo que falar em saúde; aliás, quando digo: “eu te saúdo”, ou, “queria fazer aqui uma

saudação”, etimologicamente é a mesma coisa. Saudar é procurar espalhar a possibilidade de

cuidado, de atenção, de proteção. Nossa casa, que casa é essa? Há nela saúde? A ética é a morada

do humano; como essa casa é protegida? Qual é o lugar da ciência dentro dela? Qual é o papel que

ela desempenha? Qual é a nossa tarefa nisso, para pensar exatamente aquelas três questões: posso,

devo, quero?

É claro que essas questões e suas respostas não são absolutas, elas não

são fechadas, elas são históricas, sociais e culturais. A mesma pergunta não seria

feita do mesmo modo há vinte anos; a grande questão no nosso país há cento e cinquenta anos, a

grande questão ética há cento e cinquenta anos era se eu podia açoitar um escravo e depois cuidar

dele, ou só açoitá-lo e deixá-lo pra ser cuidado pelos outros; se eu poderia extrair o dente de alguém,

se é mais recomendável para o dentista que ele faça a extração ou que ele tente o tratamento. Há

alguns anos, algumas décadas, uma discussão de natureza ética era algo que nem passaria pela

cabeça de um dentista. A pessoa chegava ao seu consultório e dizia: “Eu quero que o senhor arranque

todos os meus dentes”. Ele respondia: “Tá bom”; hoje, você tem outra questão. O mesmo vale em

relação ao uso de contraceptivos ou à legalização do aborto consentido, ou ainda sobre a separação

entre princípios religiosos e conduta científica. Quando se pensa na manutenção da integridade, do

devo, posso e quero, a grande questão, junto com essa tríade, é se estamos dirigindo, como critério

último, a proteção da morada do humano, da morada coletiva do humano. Afinal de contas, não somos

humanos e humanas individualmente, pois só o somos coletivamente. Fala-se muito em vivência,

quando referimos a vida humana; no entanto, o mais correto seria sempre dizer convivência, pois ser

humano é ser junto. Desse modo, a noção de ethos, a noção de morada do humano, oferece um

critério para responder ao posso, devo e quero, que é: protejo eu a morada ou desprotejo? Incluo ou

excluo? Vitimo ou cuido?

Em um livro delicioso e de complexa leitura, Ética da Libertação, Enrique Dussel escreve sobre um

percurso da história da ética dentro do mundo. Começa exatamente mostrando o lugar que a reflexão

ética ocupa na história humana, mas conclui com algo que alguns até achariam curioso, hoje: ele não

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aceita a noção do termo exclusão, ou falar em excluídos, porque acha que a noção de excluído é muito

pequena e insuficiente. Dussel, ao pensar a Ética e os processos sociais, econômicos e culturais,

trabalha com a noção de vítimas: as vítimas do sistema, as vítimas da estrutura. Pensa ele que,

quando se fala em excluído, dá-se a impressão de que é uma coisa um pouco marginal, lateral,

enquanto vitimação é uma ideia mais robusta e incisiva. A principal virtude ética nos nossos tempos,

para poder manter a integridade e cuidar da casa, da morada do humano, é a incapacidade de desistir,

é evitar o apodrecimento da esperança, é evitar aquilo que padre Antonio Vieira apontou, no começou

de um de seus Sermões, da seguinte maneira: “O peixe apodrece pela cabeça”. Já viu um peixe

apodrecer? Tal como algumas pessoas, ele apodrece da cabeça para o resto do corpo... Um olhar

sobre a ética em ciência e na pesquisa tem uma finalidade: manter a nossa vitalidade, manter a nossa

vitalidade ética, mostrar que nós estamos preocupadas e preocupados, que a gente não se conforma

com a objetividade tacanha das coisas, que a gente não acha que as coisas são como são e não

podem ser de outro modo, que a gente não se rende ao que parece ser imbatível.

Ser humano é ser capaz de dizer não, ser humano é ser capaz de recusar o que parece não ter

alternativa, ser humano é ser capaz de afastar o que parece sem saída. Ser humano é ser capaz de

dizer não, e só quem é capaz de dizer não pode dizer sim; aí está a nossa liberdade. Tem gente que

diz assim: “Ah, a minha liberdade acaba quando começa a do outro”; cuidado, a minha liberdade acaba

quando acaba a do outro. Liberdade, como saúde, tem de ser um conceito coletivo, a minha liberdade

não acaba quando começa a do outro, a minha liberdade acaba quando acaba a do outro. Se algum

humano não for livre, ninguém é livre, se algum homem ou mulher não for livre da falta de trabalho,

ninguém é livre; se algum homem ou mulher não for livre da falta de socorro, de saúde, ninguém é

livre; se alguma criança não for livre da falta de escola, ninguém é livre; a minha liberdade não acaba

quando começa a do outro, minha liberdade acaba quando acaba a do outro. Ser humano é ser junto,

e é em relação a isso que vale pensarmos nossa capacidade de dizer não a tudo que vitima e sermos

capazes de proteger o que eleva a Vida. O vínculo da Ética com a Produção do Conhecimento está

relacionado à capacidade deste de cuidar daquela, isto é, manter a integridade digna da vida coletiva.

Ética é a possibilidade de recusar a falência da liberdade, a ética é a nossa capacidade de recusar a

ideia de que alguns cabem na nossa casa, outros não cabem; alguns comem, outros não comem;

alguns têm graça, outros têm desgraça.

A ética é o exercício do nosso modo de perceber como é que nós existimos coletivamente, e então

pensar com seriedade naquilo que François Rabelais vaticinou: “Conheço muitos que não puderam,

quando deviam, porque não quiseram, quando podiam”.

Disponível em: http://drygo-vida.blogspot.com.br/2012/10/quero-devo-posso.html. Acesso em: 13 fev. 2014.

(Adaptado, grifos das organizadoras)

A questão ética está intrínseca a questões culturais de uma comunidade, de um povo. De

uma cidade, de uma nação. De uma época que já passou e de muitas outras que ficarão

registradas nos livros de história. Você está inserido em uma sociedade que traz em seu

bojo toda uma cultura com raízes profundas e, ao mesmo tempo, em constante processo

de transformação. Nesse sentido, consideramos fundamental ultrapassar concepções

rasas, de senso comum, para a melhor compreensão acerca da multiplicidade cultural e

sua dinamicidade. Vamos, então, prosseguir este passeio literalmente cultural na

companhia de Marilena Chauí. Algumas perguntas iniciais para aquecer os neurônios:

Cultos ou incultos? Prestigiados ou socialmente excluídos? Quais os tipos de cultura? O

que a cultura tem a ver com a natureza, sobretudo, humana?

Culto, inculto: cultura

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Marilena Chauí

“Pedro é muito culto, conhece várias línguas, entende de arte e de literatura.” “Imagine! É claro

que o Luís não pode ocupar o cargo que pleiteia. Não tem cultura nenhuma. É semianalfabeto!”

“Não creio que a cultura francesa ou alemã sejam superiores à brasileira. Você acha que há

alguma coisa superior à nossa música popular?” “Ouvi uma conferência que criticava a cultura de

massa, mas me pareceu que a conferencista defendia a cultura de elite. Por isso, não concordei

inteiramente com ela.” “O livro de Silva sobre a cultura dos guaranis é bem interessante. Aprendi

que o modo como entendem a religião e a guerra é muito diferente do nosso.”

Essas frases e muitas outras que fazem parte do nosso dia a dia indicam que empregamos a

palavra cultura (ou seus derivados, como culto, inculto) em sentidos muito diferentes e, por vezes,

contraditórios. Na primeira e na segunda frase que mencionamos acima, cultura é identificada

como a posse de certos conhecimentos (línguas, arte, literatura, ser alfabetizado). Nelas, fala-se

em ter e não ter cultura, ser ou não ser culto. A posse de cultura é vista como algo positivo,

enquanto “ser inculto” é considerado algo negativo. A segunda frase deixa entrever que “ter

cultura” habilita alguém a ocupar algum posto ou cargo, pois “não ter cultura” significa não estar

preparado para uma certa posição ou função. Nessas duas primeiras frases, a palavra cultura

sugere também prestígio e respeito, como se “ter cultura” ou “ser culto” fosse o mesmo que “ser

importante”, “ser superior”.

Ora, quando passamos à terceira frase, a cultura já não parece ser uma propriedade de um

indivíduo, mas uma qualidade de uma coletividade – franceses, alemães, brasileiros. Também é

interessante observar que a coletividade aparece como um adjetivo qualificativo para distinguir

tipos de Cultura: a francesa, a alemã, a brasileira. Nessa frase, a Cultura surge como algo que

existe em si e por si mesma e que pode ser comparada (Cultura superior, Cultura inferior).

Além disso, a Cultura aparece representada por uma atividade artística, a música popular. Isso

permite estabelecer duas relações diferentes com as primeiras frases: 1. De fato, a terceira frase,

como a primeira, identifica Cultura e artes (entender de arte e literatura, na primeira frase; a

música popular brasileira, na terceira); 2. No entanto, algo curioso acontece quando passamos

das duas primeiras frases à terceira. Com efeito, nas duas primeiras, “culto” e “inculto” surgiam

como diferenças sociais. Num país como o nosso, dizer que alguém é inculto porque é

semianalfabeto deixa transparecer que Cultura é algo que pertence a certas camadas ou classes

sociais socialmente privilegiadas, enquanto a incultura está do lado dos não privilegiados

socialmente, portanto, do lado do povo e do popular. Entretanto, a terceira frase afirma que a

cultura brasileira não é inferior à francesa ou à alemã por causa de nossa música popular. Não

estaríamos diante de uma contradição? Como poderia haver cultura popular (a música), se o

popular é inculto?

Já a quarta frase (a que se refere à conferência sobre cultura de massa) introduz um novo

significado para a palavra cultura. Nela não se trata mais de pessoas cultas ou incultas, nem de

uma coletividade que possui uma atividade cultural que possa ser comparada à de outras. Agora,

estamos diante da ideia de que numa mesma coletividade ou numa mesma

sociedade pode haver dois tipos de Cultura: a de massa e a de elite. A frase

não nos diz o que é a Cultura. (Seria posse de conhecimentos? Ou seria atividade artística?)

Entretanto, a frase nos informa sobre uma oposição entre formas de cultura, dependendo de sua

origem e de sua destinação, pois “cultura de massa” tanto pode significar “originada

22

na massa” quanto “destinada à massa”, e o mesmo pode ser dito da “cultura

de elite” (originada na elite ou destinada à elite).

Finalmente, a última frase que mencionamos como exemplo apresenta um sentido totalmente

diverso dos anteriores no que toca à palavra cultura. Fala-se, agora, na cultura dos guaranis e

esta aparece em duas manifestações: a guerra e a religião (que, portanto, nada tem a ver com a

posse de conhecimentos, atividade artística, massa ou elite). Nessa última frase, a cultura

aparece como algo dos guaranis – e como alguma coisa que não se limita ao campo dos

conhecimentos e das artes, pois se refere à relação dos guaranis com o sagrado (a religião) e

com o conflito e a morte (a guerra).

Vemos, assim, que passar da naturalização dos seres humanos à Cultura não resolve nossas

dificuldades de compreensão dos humanos, uma vez que, agora, precisamos perguntar: Como é

possível a palavra cultura possuir tantos sentidos, alguns deles contraditórios com outros? [...]

Mas, afinal, o que é a Cultura?

Dois são os significados iniciais da noção de Cultura:

1. vinda do verbo latino colere, que significa cultivar, criar, tomar conta e cuidar, Cultura significava

o cuidado do homem com a Natureza. Donde: agricultura. Significava, também, cuidado dos

homens com os deuses. Donde: culto. Significava ainda, o cuidado com a alma e o corpo das

crianças, com sua educação e formação. Donde: puericultura (em latim, puer significa menino;

puera, menina). A Cultura era o cultivo ou a educação do espírito das crianças para tornarem-se

membros excelentes ou virtuosos da sociedade pelo aperfeiçoamento e refinamento das

qualidades naturais (caráter, índole, temperamento);

2. a partir do século XVIII, Cultura passa a significar os resultados daquela formação ou educação

dos seres humanos, resultados expressos em obras, feitos, ações e instituições: as artes, as

ciências, a Filosofia, os ofícios, a religião e o Estado. Torna-se sinônimo de civilização, pois os

pensadores julgavam que os resultados da formação-educação aparecem com maior clareza e

nitidez na vida social e política ou na vida civil (a palavra civil vem do latim: cives, cidadão; civitas,

a cidade-Estado).

No primeiro sentido, a Cultura é o aprimoramento da natureza humana pela educação em sentido

amplo, isto é, como formação das crianças não só pela alfabetização, mas também pela iniciação

à vida da coletividade por meio do aprendizado da música, dança, ginástica, gramática, poesia,

retórica, história, Filosofia, etc. A pessoa culta era a pessoa moralmente virtuosa, politicamente

consciente e participante, intelectualmente desenvolvida pelo conhecimento das ciências, das

artes e da Filosofia. É este sentido que leva muitos, ainda hoje, a falar em “cultos” e “incultos”.

Podemos observar que, neste primeiro sentido, Cultura e Natureza não se opõem. Os humanos

são considerados seres naturais, embora diferentes dos animais e das plantas. Sua natureza,

porém, não pode ser deixada por conta própria, porque tenderá a ser agressiva, destrutiva,

ignorante, precisando por isso ser educada, formada, cultivada de acordo com os ideais de sua

sociedade. A Cultura é uma segunda natureza, que a educação e os costumes

acrescentam à primeira natureza, isto é, uma natureza adquirida, que

melhora, aperfeiçoa e desenvolve a natureza inata de cada um.

23

No segundo sentido, isto é, naquele formulado a partir do século XVIII, tem início a separação e,

posteriormente, a oposição entre Natureza e Cultura. Os pensadores consideram, sobretudo a

partir de Kant, que há entre o homem e a Natureza uma diferença essencial: esta

opera mecanicamente de acordo com leis necessárias de causa e efeito,

mas aquele é dotado de liberdade e razão, agindo por escolha, de acordo

com valores e fins. A Natureza é o reino da necessidade causal, do determinismo cego. A

humanidade ou Cultura é o reino da finalidade livre, das escolhas racionais, dos valores, da

distinção entre bem e mal, verdadeiro e falso, justo e injusto, sagrado e profano, belo e feio.

À medida que este segundo sentido foi prevalecendo, Cultura passou a significar, em primeiro

lugar, as obras humanas que se exprimem numa civilização, mas, em segundo lugar, passou a

significar a relação que os humanos, socialmente organizados, estabelecem com o tempo e com o

espaço, com os outros humanos e com a Natureza, relações que se transformam e variam. Agora,

Cultura torna-se sinônimo de História. A Natureza é o reino da repetição; a

Cultura, o da transformação racional; portanto, é a relação dos humanos com

o tempo e no tempo.

CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. Ed. Ática, São Paulo, 2000. (Adaptado, grifos das organizadoras.)

Se você leu com bastante atenção o texto anterior, certamente se surpreendeu ao notar o

quanto as explicações da autora acerca da cultura ultrapassam definições óbvias ou

meramente lógicas. Para entender o objeto é preciso pesquisá-lo com profundidade, e

para registrar explicações, pontos de vista e explicações a seu respeito, é preciso

escrever com propriedade. Mas vamos deixar a escrita para outros momentos em que

estaremos conectados a você, tanto nos materiais de estudo, quanto virtualmente – no

AVA. Agora, importa retomar o raciocínio que estamos construindo juntos e, para isso,

vamos retomar a ideia de ética para investigar a estreita ligação que há entre ela e a

cultura. Como se dá essa relação?

Ética e Cultura Por Rachel Coelho

Falar sobre cultura e ética, inevitavelmente, causa certa confusão quanto à definição dessas duas

matérias, nesse sentido Eduardo C. B. Bittar, em seu livro Curso de ética Jurídica é categórico em

dizer que: A ética e a cultura são indissociáveis. Para compreendermos a ética, é preciso estudar

a antropologia, ou seja, a origem do homem, evolução, caracteres, etc..., pois a cultura é o

registro coletivo das práticas humanas determinadas no tempo e no espaço. No entanto mais

adiante faz algumas ressalvas e através delas fica estabelecido que ética não é sinônimo de

cultura, um pouco além afirma, ainda, que a ética pode romper com a cultura e trazer um novo

padrão cultural entre os homens.

A sociedade procura reproduzir os comportamentos sociais anteriormente cristalizados como certo

ou errado, mas, ao mesmo tempo, tem a liberdade de escolha de fazer ou não fazer, o que

contribui para que a cultura seja sempre passível de atualização.

Desta forma, podemos inferir que a ética pode, à medida que ganha importância dentro de uma

sociedade, servir de ferramenta para a mudança da própria cultura.

24

Buscando ainda discriminar ética e cultura apresentamos abaixo a definição dessas duas

terminologias, que dentre muitas encontradas, refletem de forma mais fiel o objetivo deste

trabalho.

Ética: "Ramo da Filosofia que se dedica ao estudo dos valores morais da conduta humana".

Cultura: Cultura é um sistema integrado de padrões comportamentais aprendidos, ·compartilhados

e transmitido de geração em geração, que distinguem as características de uma determinada

sociedade.

Mas como podemos definir o que é ser ético? Num primeiro momento, podemos definir como

"bom" ou "melhor". Porém, qual é o significado de "bom"? Poderíamos definir "bom" com diversos

outros adjetivos, mas, objetivamente, não chegaríamos a uma definição única, já que é um termo

muito subjetivo.

Vamos pegar como exemplo uma criança, que ainda não tem noção do que é certo ou errado.

Como iremos explicar para essa criança que algo não é "bom", se ela não sabe o que é "mau"?

Fica muito difícil, pois só quando essa criança for ficando maior é que começará a compreender o

significado do que é "bom" ou "ruim".

Só que para ter essa noção de certo e errado, o aprendizado dado a essa criança é baseado na

cultura de seus pais, e estes, por sua vez, adquiriram seus padrões de comportamento, suas

crenças, seu modo de vida, da sociedade onde vivem. A partir daí, começamos a analisar que a

ética não pode ser definida concretamente, eis que, assim como o "bom", ela é uma palavra com

significado abstrato.

Podemos dizer que ser ético é ser "socialmente aprovado". Vale dizer que em determinado país

ou determinada sociedade, um determinado fato é considerado como ético, mas em outro,

totalmente abominável. Por este motivo que a ética é incapaz de construir uma lista de deveres e

dispô-los de forma absoluta, universal, como um conjunto de hipóteses de conduta, devendo

sempre ser analisado as práticas sociais vigentes na sociedade. Podemos, então, dizer que onde

está o homem está a cultura, e consequentemente, a ética dessa sociedade. [...]

Disponível em: http://www.zemoleza.com.br/carreiras/28617-etica-e-cultura.html. Acesso em: 12 fev. 2014.

(Adaptado)

Ainda que a palavra ética não apareça nenhuma vez no artigo a seguir, observe que suas

concepções estão implícitas nas entrelinhas, sobretudo, dos trechos em destaque.

Observe também o quanto a leitura dos textos anteriores contribuirá para o entendimento

deste. Você já conhece um pouco sobre as ideias de Marilena Chauí, não é mesmo?

Então, nem tudo será novidade no texto a seguir, pois a autora Sueli faz referência às

ideias dessa filósofa, autoridade no assunto em discussão. Veja como isso é feito e

acompanhe o raciocínio...

A cultura e as diferentes concepções apreendidas nas determinações

históricas Sueli Lima de Assis Pinto (Mestre em Educação Brasileira – Faculdade de Educação / UFG, professora do curso de Pedagogia – Campus de Jataí/UFG)

25

[...] A cultura é vista por diferentes autores como uma ação humana, um processo de humanização do homem em uma relação ao outro e consigo mesmo. É nessa relação entre os homens que surgem as diferentes concepções ressaltadas pelo senso comum. A cultura nessa perspectiva é compreendida em diferentes linhas de pensamento, podendo caracterizar-se com o conhecimento erudito; como trabalho de criação ligado às artes; e significa, também, possuir um conjunto de conhecimentos e informações compreendidas no cotidiano e nos processos de socialização.

Para Chauí, as percepções de cultura no senso comum são respaldadas em

ações do cotidiano que naturalizam o comportamento humano, bem como o

seu modo de viver e agir. A cultura, neste sentido, constitui uma natureza humana que

definiria o homem culturalmente. Isto é, cultura é percebida como se a caracterização

do gênero ou etnia fosse parte desta natureza e, portanto, definisse formas

de se pensar ou agir do homem e da mulher, bem como da criança, do jovem ou do

idoso, do negro ou do branco.

O conceito de cultura, para Chauí, se delineia em três campos: o primeiro, como pôde ser visto no

parágrafo anterior, em uma perspectiva do senso comum, apresenta quais são os erros e ou

acertos mais comumente utilizados pelas pessoas no cotidiano; o segundo, em uma perspectiva

histórica, é a relação dos homens no tempo e com o tempo, podendo ser analisado em Hegel

como movimento do espírito e em Marx como produção e reprodução das relações humanas no

trabalho; e, por último, cultura como um conceito antropológico, analisada por uma perspectiva

simbólica. Aqui a natureza humana seria representada pelo homem no

desenvolvimento de suas relações no seio das diferentes sociedades,

principalmente, nas relações coercitivas, como normas, regras, e que

formam um conjunto denominado pela antropologia como cultura.

Nesta perspectiva antropológica, Chauí define cultura em três sentidos: primeiro, a criação da

ordem simbólica da lei – sistemas de interdições e obrigações estabelecidas a partir da atribuição

de valores – tanto a coisas, quanto ao humano e suas relações aos acontecimentos. Em seguida,

há a criação de uma ordem simbólica, na qual os símbolos surgem tanto para representar quanto

para interpretar a realidade, e, como terceiro sentido, o conjunto de práticas, comportamentos,

ações e instituições com quais os humanos se relacionam entre si e com a natureza.

A abordagem da cultura na perspectiva histórica irá refletir essa relação do

homem com a natureza e com outros homens na sua produção material, momento

em que seu próprio existir adquire sentido como natureza humana.

A reflexão de Chauí possibilita perceber que o desenvolvimento deste conceito se deu

historicamente e que, por isso, uma mesma sociedade, sendo temporal e histórica, passa por

transformações culturais amplas e, neste sentido, tanto o conceito antropológico quanto o histórico

são fundamentais na construção do conceito de cultura. Considerando estes dois sentidos na

análise da cultura, Chauí acrescenta um terceiro conceito, que designa a criação de obras da

sensibilidade e da imaginação, as obras da inteligência e da reflexão, mas que na realidade, é

este conceito que origina os preconceitos vinculados ao senso comum.

26

Assim, para Chauí, a cultura unida tanto nos sentidos anteriores, quanto neste último, pode ser

compreendida na relação entre os homens e, desta relação, surgem diferentes caracterizações

para o conceito de cultura, a saber, cultura de elite, cultura popular, cultura erudita, cultura de

massa. É no escopo destes diferentes conceitos que a cultura passa a ser utilizada como

instrumento de discriminação social, econômica e política. [...]

Artigo publicado na Revista de Educação do Curso de Pedagogia do Campus Avançado de Jataí da Universidade Federal de Goiás [Vol I – n.3] [Jan/Jul] [2007]. Disponível em: https://revistas.ufg.br/index.php/ritref/article/view/20411/11899. Acesso em: 13 fev. 2014. (Adaptado, grifos das organizadoras).

Vale a pena conferir!

Entrevista de Marilena Chauí concedida a Jô Soares no

Programa Jô Onze e Meia, SBT, em 1999 - 21 minutos,

por ocasião do lançamento de seu livro A nervura do

real, imanência e liberdade em Espinosa. Em uma de

suas falas, Chauí declara que o exercício da violência

não considera que outra pessoa é um ser dotado de

sensibilidade, liberdade, razão. Enquanto que a ética

pressupõe liberdade, a violência por definição elimina

qualquer possibilidade de ética.

Disponível em:

http://www.youtube.com/watch?v=299kLlpSusM. Acesso

em: 15 fev. 2014.

Nas esquinas da cultura de massa e de elite, encontram-se diversas manifestações

artísticas. Arte para todos os gostos e para todas as críticas. Como definir o que, ao

mesmo tempo, pode revelar com simplicidade um mundo tão complexo de possibilidades?

Na verdade, uma simplicidade que exige muito tempo, talento e determinação do artista

que lapida cores, palavras, ideias, formas e pedras que viram diamantes... O que dizer

dessas manifestações que nos falam de tantas coisas por intermédio de tantas formas

diferentes? O valor da Arte é imensurável. Valor que transcende o material e o monetário.

Você poderá explorar e compreender melhor o que é Arte e por que seu valor desafia a

compreensão humana. Mais uma vez, com a palavra, Marilena Chauí.

O universo das artes Alberto Caeiro, um dos heterônimos do poeta Fernando Pessoa, leva-nos ao âmago da arte quando escreve:

O meu olhar é nítido como um girassol.

Tenho o costume de andar pelas estradas

Olhando para a direita e para a esquerda,

E de vez em quando olhando para trás…

E o que vejo a cada momento

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É aquilo que nunca antes eu tinha visto,

E eu sei dar por isso muito bem…

Sei ter o pasmo essencial

Que tem uma criança se, ao nascer,

Reparasse que nascera deveras…

Sinto-me nascido a cada momento

Para a eterna novidade do Mundo.

A eterna novidade do mundo. Alberto Caeiro/Fernando Pessoa une duas palavras, que,

normalmente, estão separadas e mesmo em oposição – eterna e novidade -,

pois o eterno é o que, fora do tempo, permanece sempre idêntico a si

mesmo, enquanto o novo é pura temporalidade, o tempo como movimento e

inquietação que se diferencia de si mesmo. No entanto, essa unidade do

eterno e do novo, aparentemente impossível, realiza-se pelos e para os

humanos. Chama-se arte.

Merleau-Ponty dizia que a arte é advento – um vir a ser do que nunca antes existiu -, como

promessa infinita de acontecimentos – as obras dos artistas. No ensaio A linguagem indireta do e

as vozes silêncio, ele escreve:

O primeiro desenho nas paredes das cavernas fundava uma tradição porque recolhia uma outra: a

da percepção. A quase eternidade da arte confunde-se com a quase eternidade da existência

humana encarnada e por isso temos, no exercício de nosso corpo e de nossos sentidos, com que

compreender nossa gesticulação cultural, que nos insere no tempo.

Que dizem os desenhos nas paredes da caverna? Que o mundo é visível e para ser visto, e que o

artista dá a ver o mundo. Que mundo? Aquele eternamente novo, buscado incessantemente pelos

artistas. É assim que Monet pinta várias vezes a mesma catedral e, em cada tela, nasce uma

nova catedral. Referindo-se a essa busca do eterno novo em Monet, o filósofo Gaston Bachelard

escreve, num ensaio denominado O pintor solicitado pelos elementos:

Um dia, Claude Monet quis que a catedral fosse verdadeiramente aérea – aérea em sua

substância, aérea no próprio coração das pedras. E a catedral tomou da bruma azulada toda a

matéria azul que a própria bruma tomara do céu azul… Num outro dia, outro sonho elementar se

apodera da vontade de pintar. Claude Monet quer que a catedral se torne uma esponja de luz, que

absorva em todas as suas fileiras de pedras e em todos os seus ornamentos o ocre de um sol

poente. Então, nessa nova tela, a catedral é um astro doce, um astro ruivo, um ser adormecido no

calor do dia. As torres brincavam mais alto no céu, quando recebiam o elemento aéreo. Ei-las

agora mais perto da Terra, mais terrestres, ardendo apenas um pouco, como fogo guardado nas

pedras de uma lareira.

Que procura o artista? Responde Caeiro/Pessoa: “o pasmo essencial / que tem uma criança se,

ao nascer, / reparasse que nascera deveras”. O artista busca o mundo em estado nascente, tal

como seria não só ao ser visto por nós pela primeira vez, mas tal como teria sido no momento

originário da criação. Mas, simultaneamente, busca o mundo em sua perenidade e permanência.

É o que procura o pintor Cézanne, cujo trabalho é assim comentado por Merleau-Ponty no ensaio

A dúvida de Cézanne:

28

Vivemos em meio aos objetos construídos pelos homens, entre utensílios, casas, ruas, cidades e

na maior parte do tempo só os vemos através das ações humanas de que podem ser os pontos

de aplicação… A pintura de Cézanne suspende estes hábitos e revela o fundo de Natureza

inumana sobre a qual se instala o homem… A paisagem aparece sem vento, a água do lago sem

movimento, os objetos transidos hesitando como na origem da Terra. Um mundo sem

familiaridade… Só um humano, contudo, é justamente capaz desta visão que vai até as raízes,

aquém da humanidade constituída… O artista é aquele que fixa e torna acessível aos demais

humanos o espetáculo de que participam sem perceber.

A obra de arte dá a ver, a ouvir, a sentir, a pensar, a dizer. Nela e por ela, a realidade se revela

como se jamais a tivéssemos visto, ouvido, sentido, pensado ou dito. A experiência de nascer

todo dia para a “eterna novidade do mundo” pode ser feita por nós quando lemos o poema de

Jorge de Lima, Poema do nadador:

A água é falsa, a água é boa.

Nada, nadador!

A água é mansa, a água é doida,

Aqui é fria, ali é morna,

A água é fêmea.

Nada, nadador!

A água sobe, a água desce,

A água é mansa, a água é doida.

Nada, nadador!

A água te lambe, a água te abraça,

A água te leva, a água te mata.

Nada, nadador!

Se não, que restará de ti, nadador?

Nada, nadador.

Rigorosamente, não há nada nesse poema que desconheçamos. Nenhuma

das palavras empregadas pelo poeta nos é desconhecida. E, no entanto,

tudo aí é inteiramente novo. O poema diz o que, antes dele, jamais havia sido dito e que,

sem ele, nunca seria dito. O nada é nadar, verbo, mas é também o nada, pronome indefinido

negativo, e o jogo único e inesperado desses dois sentidos cria um terceiro, o nadador que é um

nadador, que nada no nada e por isso é um nada-dor. O poeta transfigura a linguagem para fazê-

la dizer algo, mas esse algo não existe antes, aquém, depois, além do poema, pois é o próprio

poema.

Um livro, diz Merleau-Ponty, é “uma máquina infernal de produzir

significações”. Começamos a lê-lo preguiçosamente, meio distraídos. De

repente, algumas palavras nos despertam, como que nos queimam, o livro já

não nos deixa indiferentes, passamos realmente a lê-lo. Que se passa? A

passagem da linguagem falada – aquela que possuíamos em comum com o escritor – à

linguagem falante – uma certa operação com os signos e a significação, uma certa torção nas

palavras, um ligeiro descentramento do sentido instituído e a explosão de um sentido novo que

“nos pega”.

29

A literatura, como a pintura, a música, a escultura e qualquer das artes, é a passagem do

instituído ao instituinte, transfiguração do existente numa outra realidade, que o faz renascer sob a

forma de uma obra.

O que é ler? A leitura “é um afrontamento entre os corpos gloriosos e impalpáveis de minha

palavra e a do autor”, a descoberta do poder da linguagem instituinte, “que aparece quando a

linguagem instituída é privada de seu equilíbrio costumeiro, ordenando-se novamente para

ensinar ao leitor o que este não sabia pensar ou dizer”.

Que é escrever? Para o poeta e o romancista, diz Sartre, é distanciar-se da linguagem-

instrumento e entrar na atitude poética, tratando as palavras como entes reais e não como meros

signos ou sinais estabelecidos. Apanham a linguagem em estado selvagem (como o pintor

apanha a natureza inumana), como se as palavras fossem seres como a Terra, a relva, a

montanha ou a água. O prosador faz algo diverso do poeta: quer que as palavras, além de por si e

em si significarem alguma coisa, designem o mundo, ainda que para isso o escritor tenha que

inventar novamente o mundo por meio das palavras. O prosador, escreve Sartre, “é aquele que

escolheu um modo de ação que se poderia chamar de ação por desvendamento”.

O que há de espantoso nas artes é que elas realizam o desvendamento do

mundo recriando o mundo noutra dimensão e de tal maneira que a realidade

não está aquém e nem na obra, mas é a própria obra de arte. Talvez a melhor

comprovação disso seja a música. Feita de sons, será destruída se tentarmos ouvir cada um deles

ou reproduzi-los como no toque de um corpo de cristal ou de metal. A música, pela harmonia, pela

proporção, pela combinação de sons, pelo ritmo e pela percussão, cria um mundo sonoro que só

existe por ela, nela e que é ela própria. Recolhe a sonoridade do mundo e de nossa percepção

auditiva, mas reinventa o som e a audição como se estes jamais houvessem existido, tornando o

mundo eternamente novo.

Relação entre arte e Natureza

A primeira e mais antiga relação entre arte e Natureza proposta pela Filosofia foi a da imitação: “a

arte imita a Natureza”, escreve Aristóteles. A obra de arte resulta da atividade do artista para

imitar outros seres por meio de sons, sentimentos, cores, formas, volumes, etc., e o valor da obra

decorre da habilidade do artista para encontrar materiais e formas adequados para obter o efeito

imitativo.

Evidentemente, imitar não significa reproduzir, mas representar a realidade através da

fantasia e da obediência a regras para que a obra figure algum ser (natural ou sobrenatural),

algum sentimento ou emoção, algum fato (acontecido ou inventado). Harmonia e proporção das

formas, dos ritmos, das cores, das palavras ou dos sons oferecem a finalidade a ser alcançada e

estabelecem as regras a serem seguidas pelos artistas.

A partir do Romantismo (portanto, após quase 23 séculos de definição da arte como imitação), a

Filosofia passa a definir a obra de arte como criação. Enquanto na concepção anterior o

valor era buscado na qualidade do objeto imitado (imitar um deus é mais valioso do que imitar um

30

humano; imitar um humano, mais valioso do que imitar um animal, planta ou coisa), agora o valor

é localizado na figura do artista como gênio criador e imaginação criadora.

Agora, a ideia de inspiração torna-se explicadora da atividade artística: o artista, interioridade e

subjetividade especial, recebe uma espécie de sopro sobrenatural que o impele a criar a obra.

Esta deve exprimir sentimentos e emoções, muito mais do que figurar ou representar a realidade.

A obra é a exteriorização dos sentimentos interiores do gênio excepcional.

A arte não imita nem reproduz a Natureza, mas liberta-se dela, criando uma

realidade puramente humana e espiritual: pela atividade livre do artista, a fantasia, os homens se

igualam à ação criadora de Deus. Essa concepção é contemporânea, na Filosofia, à ideia

kantiana de diferença entre o reino natural da causalidade necessária e o reino humano da

liberdade e dos fins (diferença essencial para a ética), e à ideia hegeliana do Espírito como

Cultura e História, oposto e negador da passividade e da causalidade mecânica da Natureza. Em

suma, a estética da criação corresponde ao momento em que a Filosofia separa homem e

Natureza.

A terceira concepção, nossa contemporânea, concebe a arte como expressão e

construção. A obra de arte não é pura receptividade imitativa ou reprodutiva, nem pura

criatividade espontânea e livre, mas expressão de um sentido novo, escondido no mundo, e um

processo de construção do objeto artístico, em que o artista colabora com a Natureza, luta com

ela ou contra ela, separa-se dela ou volta a ela, vence a resistência dela ou dobra-se às

exigências dela. Essa concepção corresponde ao momento da sociedade industrial, da técnica

transformada em tecnologia e da ciência como construção rigorosa da realidade. A arte é trabalho

da expressão que constrói um sentido novo (a obra) e o institui como parte da Cultura.

O artista é um ser social que busca exprimir seu modo de estar no mundo na

companhia dos outros seres humanos, reflete sobre a sociedade, volta-se

para ela, seja para criticá-la, seja para afirmá-la, seja para superá-la.

Essa terceira concepção filosófica da arte coloca o artista num embate contínuo com a Natureza e

com a sociedade, deixando de vê-lo como gênio criador solitário e excepcional.

CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. Ed. Ática, São Paulo, 2000. (Adaptado, grifos das organizadoras.)

Como vimos, são amplas as concepções acerca da arte. Vamos, agora, passá-la pelo

crivo da ética e situá-la na “sociedade do espetáculo”, onde a verdade se desdobra em

inúmeras faces, onde a arte é, também, uma resposta a essas tantas verdades. Qual a

função da arte neste turbilhão de verdades não absolutas? Como está a relação ética da

arte na sociedade contemporânea? A entrevista a seguir traz esclarecimentos.

Por uma ética da arte

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A necessidade de se repensar a ética da arte e o

papel do artista na sociedade contemporânea

levou a publicitária Priscilla Porto Nascimento a

realizar uma minuciosa pesquisa que resultou no

livro A relação ética da arte na sociedade do

espetáculo (co-edição Editora da Universidade

Federal Fluminense/ Benício Biz Editores

Associados Ltda). Consumismo, síndrome do

pânico e anorexia são alguns dos sintomas da pós-

modernidade abordados em seu livro de estreia [...]

Na entrevista abaixo, a autora, mestre em Ciência

da Arte pela UFF, fala sobre seu trabalho e,

otimista, aponta a arte como ferramenta de oposição do homem à

massificação e à velocidade estonteante de seu cotidiano.

EdUFF – O que seria uma ética da arte?

Priscilla – A ética denota uma atitude íntima, um desejo e uma sensibilidade. Para Nietzsche,

a ética está ligada a uma estética, a uma poética – daí provém a expressão

“ética da arte”. A ética nietzschiana visa liberar a existência humana do niilismo, da

depreciação, da descrença, da ausência de vontade e acredita na arte como um meio de instigar

as potencialidades e os desejos, de trazer vitalidade aos homens passivos (ou reativos) da era do

espetáculo e voltar a sensibilizá-los.

EdUFF – Em seu livro, a senhora questiona, dentre outras coisas, o processo de criação

publicitária, que se utilizaria da Psicologia para “persuadir o consumidor a participar da

lógica de mercado”. De que maneira a ética da arte pode sobreviver em meio à realidade da

sociedade de consumo?

Priscilla – De uma forma ou de outra, a arte sempre esteve inserida no mercado. Mas existem

linhas de fuga, brechas através das quais os artistas podem se manifestar. Segundo Bauman,

autor de O Mal estar da pós-modernidade, o homem pós-moderno é um colecionador de

sensações, pois busca incessantemente viver experiências novas e mais intensas. A satisfação

dos desejos deve ser imediata e sem dor. Essa condição de adaptação ao mundo

contemporâneo torna o rápido esquecimento indispensável, porque tudo

deve ser substituído velozmente. Os padrões estéticos também se encaixam

aí. Muitas doenças, como a bulimia e a anorexia, surgem em função dessa pressão social para

que os indivíduos se enquadrem num determinado modelo de beleza que será brevemente

substituído por outro. A artista italiana Vanessa Beecroft expôs trabalhos em aquarela e um diário

sobre seus hábitos alimentares para uma seleta plateia de garotas que também sofriam de

distúrbios alimentares. A obra de Vanessa se constitui numa possibilidade de reflexão e

transformação. Essa é uma ação ética da arte no sentido de afirmar a vida, de transformar a dor

em alegria, de acordo com a proposta nietzschiana.

EdUFF – Até que ponto a chamada “sociedade do espetáculo” é real ?

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Priscilla – Vivemos no contexto pós-moderno – na chamada sociedade do

espetáculo ou pós-industrial –, que é caracterizado pela ausência de uma

única verdade, pela saturação de imagens midiáticas, pela pluralização das

identidades, pelas citações e remakes, pela insegurança e instabilidade. Há

uma crescente uniformização exercida pela cultura de massa e, segundo Debord (autor de A

Sociedade do espetáculo), apesar dos meios de comunicação promoverem uma aparente união

dos espectadores (que assistem aos mesmos programas de tv), eles os mantêm efetivamente

isolados, como uma multidão de solitários. Doenças como a síndrome do pânico e a depressão

surgem como sintomas do fato de que as pessoas sofrem muita pressão a fim de gerenciarem

bem as próprias vidas e exibirem sucesso, revelando a presença de um mal-estar. A arte pode ser

um instrumento de se fazer problematizar o contexto atual, propiciando às pessoas uma melhor

digestão das múltiplas informações que recebem diariamente.

EdUFF – Em sua opinião, como o artista atua em meio a visões tão conflitantes?

Priscilla – A arte contemporânea atua de forma diferenciada da arte moderna, que se referia a um

período no qual existiam as vanguardas – aqueles grupos que estavam à frente do seu tempo e

eram seguidos pelos demais. A arte de hoje é heterogênea e comporta vários

pontos de vista simultaneamente. Cada artista apresenta sua visão singular e pode

utilizar qualquer linguagem: pintura, escultura, instalação, performance, video-arte, etc. O artista

paulistano Marcelo Cidade realizou uma performance na qual triturava o livro “Arte Moderna” para

expressar esse conceito que está contido na arte contemporânea: reciclar, fazer citações a outras

obras, ser um simulacro.

EdUFF – Um de seus questionamentos se refere à arte como produtora de “seres humanos

incapazes de digerir as imagens espetaculares difundidas velozmente pelos meios de

comunicação”. Onde tem início e em que ponto termina a influência da própria arte neste

processo?

Priscilla – Ainda hoje, a arte é vista com uma aura, como algo que representa somente o “bem”.

No entanto, esta é uma visão ultrapassada. Não existem mais o bem e o mal na arte. Ela pode ser

tudo e qualquer coisa. Sendo assim, nem tudo que é apresentado como arte pode ser recebido

sempre como algo de bom. Existem programas de TV, por exemplo, principalmente na TV aberta,

que estão lá apenas para o entretenimento e nada mais. Isso tem um lado positivo, mas é aquela

história: nem tudo que é publicado no jornal deve ser entendido como “verdade”. É esse olhar de

desconfiança que está faltando ao público em relação à arte. A maioria das pessoas quer

respostas prontas e isso – se é que um dia existiu – não existe mais. Cada um deve construir o

seu percurso, deixar suas marcas no mundo, tornar-se um criador singular.

EdUFF – As chamadas “modalidades negativas da subjetividade” – depressão, síndrome

do pânico, dentre outras – estariam com os dias contados se houvesse um movimento de

“restauração” de uma ética da arte em contraponto com a supervalorização da estética?

Priscilla – A criação artística, de acordo com a perspectiva nietzschiana, é o principal meio de

darmos sentido ao mundo, de nos tornarmos deuses. Apagar os sintomas do mal-estar, como

mostra o filme Brilho eterno de uma mente sem lembranças, é apenas um paliativo para as

questões e as doenças. A arte pode ser uma porta, uma janela, uma fresta para que haja uma

33

transformação do homem, mas ela não é uma fórmula mágica que vai resolver todos os

problemas instantaneamente. Nietzsche propõe o nascimento de uma espécie que irá superar a

condição humana, o além-homem ou super-homem, aquele que será capaz de criar seus próprios

valores, de livrar-se do ressentimento, de superar-se e transmutar a dor em vitalidade, em leveza

e alegria. O super-homem será o inverso da mediocridade.

EdUFF – É possível construir uma relação entre ética da arte e a sociedade pós-moderna?

Ou o “embotamento próprio dos sentidos do homem moderno” se consolidou e chegou ao

limite?

Priscilla – Essa foi a principal questão que me propus a investigar durante minha pesquisa de

mestrado que culminou no lançamento deste livro. E afirmo que é possível construir essa relação

ética da arte na sociedade do espetáculo. Entretanto, as transformações propiciadas pela Arte não

serão rápidas como a de um anestésico ou um remédio que age de forma similar em todas as

pessoas. Nietzsche sugere uma nova ética, um outro remédio para a sociedade atual: a arte e os

sentimentos estéticos como estimulantes do querer, transformando os homens reativos e passivos

do regime espetacular em deuses criadores, repletos de alegria e energia vital.

Disponível em: http://www.editora.uff.br/noticias/entrevistas/7-por-uma-etica-da-arte Acesso em 12 fev.

2014. (Adaptado, grifos das organizadoras)

Fitar os olhos na arte é, sobretudo, centrar-se no homem e constatar as transformações

pelas quais ele passou no decorrer dos séculos, tanto em virtude de influências externas,

de ordem religiosa, política e outros setores afins, quanto em razão de seus anseios, suas

próprias crenças e expectativas, sua interpretação e visão de mundo. Nessa perspectiva,

para conhecer e compreender melhor o homem em sua complexidade, consideramos

importante fazer esta pausa para uma retomada panorâmica, ainda que rápida, das

diversas manifestações artísticas – teatro, arquitetura, literatura, escultura, pintura e

outras – no percurso da história. Veja o homem, e por extensão a si mesmo, através da

arte!

Breve história da Arte Jucilene Balbinot (Pedagoga)

[...] a arte é um meio para se compreender o desenvolvimento individual em suas diferentes fases

e o desenvolvimento da consciência estética e criadora do indivíduo; é um modo privilegiado do

conhecimento e aproximação entre indivíduos de culturas distintas. É a arte que nos ajuda a

conhecer o que não podemos articular e que explora o pensamento divergente, mobiliza a busca

de novas soluções, de possibilidades que leva à construção de um processo de investigação da

forma de expressão e criação que caracteriza cada ser humano. A arte ensina que é possível

transformar continuamente a existência, que é preciso mudar referências a cada momento, ser

flexível.

[...] A arte é, ainda, um modo de transformar a experiência adquirida em objeto de conhecimento,

através do sentimento; é um entendimento intuitivo do mundo, tanto para o artista quanto para o

apreciador. A obra de arte revela para o artista e para o espectador uma possibilidade de

existência e comunicação, além da realidade de fatos e relações conhecidos. Ela fala por si

34

mesma, independe e vai além das intenções do artista. Cada obra é um produto cultural de uma

época e uma criação singular da imaginação humana. [...]

Em outras palavras, pode-se dizer que o ser humano e tudo o que está a sua volta são obras

inspiradoras das representações e manifestações artísticas. Para que se possa compreender a

obra de arte de nosso tempo é necessário considerar a natureza dentro do contexto em que foi

produzida e os princípios pelos quais foi estruturada. A obra de arte pode ser definida como um

objeto que possui a capacidade de expressar uma experiência, dentro de uma determinada

organização.

[...] Seguido de sucessivos avanços da humanidade, a arte chega a um dos clímax da nossa

cultura somente a partir do período clássico (VI à IV a. C.). Nesse momento da história, a

arquitetura e a escultura atingem ápices concretos inimagináveis. A literatura se concretiza e o

teatro explode numa genialidade inigualável.

As manifestações artísticas dos primeiros séculos da colonização brasileira ocorreram com a

efetivação do sistema colonial e a vinda das ordens religiosas jesuíticas, beneditinas e

franciscanas, que trouxe eram ao Brasil vestígios de sua cultura.

O modelo mais concreto da escultura e arquitetura encontra-se na arte Egípcia, representada

basicamente pelas pirâmides. [...] Numa outra perspectiva de arte, não egípcia, encontra-se a arte

bizantina. É a arte da cor, onde a forma é substituída pela decoração. Já a arte árabe era um

produto, por força, eclético, com destaque para as Artes Decorativas. Diante destas

representações e do quadro sócio econômico evolutivo, culmina, na Itália, o movimento

renascentista.

Os artistas e pensadores do Renascimento voltaram seus olhos para a cultura clássica (cultura

greco-romana), não apenas para copiá-la, mas assimilá-la à cultura clássica tanto quanto a

medieval. O poder expressivo e a beleza do corpo humano foram dois ideais que a Renascença

encontrou realizados na arte clássica, pois o Renascimento surgiu quando o homem começou a

estudar o seu passado.

A grande figura da pintura renascentista foi o pintor Leonardo da Vinci, e Michelângelo foi o maior

escultor. Os trabalhos artísticos de ambos são admirados até os dias atuais, na Arte

Contemporânea, devido à sua perfeição, e também pela correta distribuição de luzes e sombras.

Nos séculos XV e XVI surgiu uma nova visão de mundo, o antropocentrismo e a ciência moderna.

E a valorização das artes como expressão do conhecimento encontra, então, seu apogeu. Este

dá-se durante o Romantismo, quando a arte é concebida como “órgão geral da Filosofia”.

Com a fundação da academia de Belas Artes, no Rio de Janeiro, pelos artistas que compuseram a

célebre “Missão Artística Francesa de 1816”, introduziu-se o neoclassicismo no Brasil, tendo como

principal pintor brasileiro Pedro Américo de Figueiredo e Melo.

Por volta de 1908, surge uma nova tendência artística, o cubismo, que considerava a obra de arte

um fato plástico independente da imitação direta das formas naturais e que se propunha a traduzir

sua visão com a ajuda de formas geométricas. No Brasil, Tereza d’Amico (1914-1965) foi a

primeira pintora a seguir o cubismo.

35

A Semana da Arte Moderna, de 1922, veio introduzir na cultura brasileira uma concepção de

vanguarda que rompeu violentamente com a repressão ideológica dominante em todos os setores

de atividade artística. A primeira artista a se destacar é Anita Malfatti (1889-1964). Já a primeira

Bienal de São Paulo (1951) fez com que os artistas se engajassem numa linguagem despojada e

geométrica da arte concreta: o abstracionismo.

A Arte Moderna, liberando a criatividade, incorporando culturas diferentes da ocidental e utilizando

a temática como um simples pretexto, permitiu que os artistas brasileiros voltassem para os

aspectos culturais que lhes eram próprios.

O estudo da arte no Brasil a partir do modernismo inclui leituras, contextualização e análises das

produções artísticas brasileiras do século XX, que detectaram os rompimentos com as tradições e

regras acadêmicas.

Outras mudanças se fazem sentir na ocasião quando surge a Arte Conceitual que dá um passo a

mais, interessando somente a ideia, a criação mental do artista.

A arte do disgusting art (arte desagradável ou mórbida) dominou as últimas Bienais de Veneza e

São Paulo. Esta arte tem como proposta chocar as pessoas e proclamar a equivalência entre

a vida e arte. Sendo assim, seus temas são sexo e morte. A arte do século XX (Arte

Contemporânea) é diferente da arte grega ou renascentista, porque responde as questões

colocadas pelo homem e pela cultura atual. Uma das mais importantes características da arte de

nossos dias é a procura da espontaneidade, através da técnica, presente, nas fotografias e

cinema, por exemplo.

As novas tecnologias para a arte contemporânea atuam com um meio à disposição da liberdade

do artista, que se somam às técnicas e aos suportes tradicionais, para questionar o próprio visível,

alterar a percepção, propor um enigma e não mais uma visão pronta do mundo. O trabalho do

artista passa a exigir também do espectador uma determinada atenção, um olhar que pensa.

Em síntese, cada época cria uma arte que lhe é propícia e cada grupo humano

o faz a sua maneira, dentro do conhecimento de mundo que esse mesmo

grupo venha a ter. As características individuais propícias do artista são

elementos fundamentais na avaliação da obra artística.

Disponível em:

http://www.fag.edu.br/adverbio/v5/artigos/aprendendo_e_ensinando_artes_atrav_s_sua_hist_ria_e_conceitu

aliza__o.pdf. Acesso em: 13 fev. 2014. (Adaptado, grifos das organizadoras)

“Características individuais propícias do artista”. É o que nos mostra os três artigos a

seguir. Pintores famosos e suas belíssimas obras. Talentos incríveis de artistas brilhantes

sobre os quais estudamos nas carteiras escolares, talvez de modo superficial, através de

um olhar bastante ingênuo. Este é o momento de olhar com mais atenção. Mergulhar

com mais profundidade. Afinal, sua visão já não é mais a mesma. Agora você já tem mais

conhecimento. E o conhecimento muda tudo! Então, olhe, contemple, analise, perceba

novos detalhes, atribua novos sentidos...

Pintores mais Famosos da Arte Moderna e Suas Obras Principais

36

Em toda a história da arte no mundo houve muitos acontecimentos importantes que ocasionaram

o surgimento de diversos gêneros e categorias artísticas diferentes, e com isso também surgiram

novos talentosos artistas que são famosos até os dias de hoje. Hoje vamos entrar em um assunto

muito legal, que é sobre os Pintores mais Famosos da Arte Moderna mundial, fizemos um

pequeno resumo de cada um e colocamos algumas de suas obras para que você os conheça.

Edvard Munch – Nascido na cidade de Loten que fica localizada na Noruega, Edvard começou a

avançar seus conhecimentos artísticos na Escola de Artes e Ofícios de Oslojunto, suas principais

inspirações foram os artistas Courbet e Manet. A obra mais conhecida de Edvard é “O Grito”.

O Grito – Edvard Munch

37

Pablo Picasso – Nascido na cidade de Málaga que fica localizada na Andaluzia (Espanha), teve o

grande reconhecimento por todos como um dos mestres das artes, além de pintor ele também

fazia trabalhos com cerâmica e esculturas. Suas principais obras foram “A Primeira Comunhão” e

“Guérnica”.

A Primeira Comunhão – Pablo Picasso

Guérnica – Pablo Picasso

Tarsila do Amaral – Nascida em Capivari município localizado no interior do Estado de São

Paulo, Tarsila começou dar seus primeiros passos artísticos desde sua infância, onde estudou no

Colégio Sion e logo depois passou uma temporada em Barcelona na Espanha para aperfeiçoar

seus conhecimentos, assim desenvolveu seu primeiro trabalho que foi o quadro “Sagrado Coração

de Jesus”. Os principais trabalhos de Tarsila foram “Abaporu” e “Antropofagia”.

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Abaporu – Tarsila do Amaral

Antropofagia – Tarsila do Amaral

Vincent Van Gogh – Nascido na Holanda, Van Gogh foi um dos principais representantes da

pintura no mundo inteiro, começou muito cedo a caminhar no mundo artístico, com 15 anos de

idade trabalhou com um comerciante de arte, onde com quase 20 anos completos ele se mudou

para Paris devido ao grande sucesso que fazia, porém teve um certo contratempo estudando

Teologia, mas retomou suas atividades artísticas desenvolvendo desenhos a lápis para pobres

mineiros da cidade. As principais obras de arte de Van Gogh foram “Starry Night” e “Noite

Estrelada Sobre o Rhone”.

39

Starry Night – Van Gogh

Noite Estrelada sobre o Rhone – Van Gogh

Disponível em: http://www.pinturasemtela.com.br/os-pintores-mais-famosos-da-arte-moderna/ Acesso em:

18 fev. 2014.

Entendendo Salvador Dalí

Salvador Dalí pintou suas obras mais famosas na década de 1929 / 1939, usando um 'método

crítico paranoico' que ele mesmo imaginou. Este método envolvia várias formas de associações

irracionais, notadamente imagens que variam conforme a percepção do observador. Uma

característica distinta de Dalí é que, apesar das imagens serem fantásticas elas eram sempre

pintadas com uma técnica acadêmica, impecável e precisão fotográfica que a maioria dos artistas

de vanguarda contemporâneos considerava fora de moda.

A FACE DA GUERRA

1940

40

Esta obra foi pintada nos Estados Unidos onde Dalí viveu por oito anos e onde lá alcançou o auge

de sua fama e sucesso mundial. O significado da pintura foi para Dalí extraordinariamente franco

e honesto, empregando o simbolismo em vez de associações irracionais do 'método crítico

paranoico'. Uma cabeça parecendo uma caveira rodeada de longas e sibilantes serpentes, tem

todos os orifícios repletos de esqueletos; cada um contém esqueletos-dentro-de-esqueletos, de

forma que a cabeça está recheada de morte infinita, um símbolo potente da era dos Campos de

Concentração e assassinatos em massa.

A PERSISTÊNCIA DA MEMÓRIA

1931

Este quadro tão pequeno (24x33 cm) é provavelmente a obra mais conhecida de Dali. A flacidez

dos relógios dependurados e escorregando é um conceito brilhante, mais eficaz para abalar a

nossa crença em uma ordem natural das coisas, presa à regras estabelecidas, do que muitas

41

deformações mais sensacionalistas. As imagens chegam ao inconsciente evocando a

preocupação humana, aparentemente universal, com o tempo e a memória.

O próprio Dali está presente na forma da cabeça adormecida que já havia aparecido em O Jogo

lúgubre e outros quadros. Caracteristicamente ele alegou que a ideia para o quadro lhe ocorreu

enquanto meditava sobre a natureza do queijo Camenbert. O fundo do Port Lligat já estava

pintado, portando foram necessárias apenas umas duas horas para terminar a pintura.

O GRANDE PARANÓICO

1936

Uma das imagens duplas mais surpreendentes de Dalí, foi pintada depois de uma discussão do

artista com um colega, José Maria Sert, sobre o trabalho do famoso pintor milanês do século 16,

Giuseppe Arcimboldi, famoso por seus retratos cujos temas eram compostos totalmente de

objetos relacionados (frutas, por ex. ou armas). No mesmo estilo, mas com resultados mais

dinâmicos o Paranoico Sorridente de Dalí se dissolve em uma cena turbulenta em que homens e

mulheres assumem atitudes de tristeza ou desânimo.

À direita, contrastando, um grupo de figuras exaustas parece estar tentando arrastar um barco

sobre a areia, talvez representando um delírio que fervilha na mente do Grande Paranoico.

SONO

1937

42

Dalí recriou o tipo de cabeça grande e mole e o corpo inexistente que aparecia com tanta

frequência nos seus quadros por volta de 1929. Sono e sonhos são, por excelência, o domínio do

inconsciente e, portanto, de especial interesse para a psicanalistas e surrealistas.

A personificação do sono está adequadamente perturbada e é necessariamente uma quantidade

extraordinária de muletas para apoiar a cabeça e posicionar exatamente cada um dos traços.

Muletas sempre foram a marca registrada de Dalí, sugerindo a fragilidade das escoras em que a

realidade se apoia, mas aqui nada parece estável e até o cachorro precisa ser sustentado. Tudo,

nesse quadro, exceto a cabeça está banhado por uma luz pálida azulada, completamente a ideia

de alienação do mundo, da luz e da racionalidade.

IMPRESSÃO DA ÁFRICA

1938

Este quadro é notável pelo autorretrato de Dalí diante de seu cavalete, olhando fixo, num esforço

para convocar as imagens do seu inconsciente e transferi-las direto para a tela. Sua mão em

43

'escorço', estendida para o observador, lembra o pintor do séc.17 Caravaggio, um dos mestres

italianos que Dalí estudou com tanto afinco no final da década de 1930.

Imagens duplas se acumulam ao fundo, inclusive sua mulher Gala e uma imagem de um padre

que parece ter cabeça de macaco. O aspecto africano do trabalho pode ser avaliado com base na

afirmação de Dalí de que a 'África tem algum significado no meu trabalho, porque sem nunca ter

estado lá, lembro-me tão bem de tudo!'

CABEÇA AO ESTILO DE RAFAEL

1951

As formas fragmentadas que aparecem nesse quadro originam-se do estudo da física nuclear por

Dalí. Profundamente impressionado com as descobertas que levaram ao desenvolvimento da

bomba atômica, ele abraçou a 'pintura nuclear' e o 'misticismo nuclear'.

A cabeça é como de uma Madona de Rafael, classicamente pura e serena. Ao mesmo tempo

incorpora o interior do domo do Panteon em Roma, com a luz brilhando através dela. Ambas as

imagens são perfeitamente claras, apesar da explosão que destruiu toda a estrutura em pequenos

fragmentos na forma de chifres de rinocerontes.

CRISTO DE SAN JUAN DE LA CRUZ

1951

44

Um quadro famoso e popular embora tenha havido muitas controvérsias quando a Glasgow

Gallery resolveu comprá-lo em 1952. Mostra a crucificação de uma maneira bastante inusitada,

vista de cima, e, segundo Dalí, isto fundia o seu próprio 'sonho cósmico', envolvendo uma esfera

dentro de um triângulo (cabeça, braços e cruz formam um triângulo).

A crucificação ocorre no alto das rochas, à beira mar, perto da casa de Dalí.

AUTO-RETRATO

1921

45

Este quadro foi pintado quando Dalí tinha 17 anos, embora tenha se retratado um pouco mais

velho e estranhamente sério. O pescoço é ao estilo de Rafael. O ano de 1921 foi o da morte de

sua mãe e o ano em que ele saiu de casa pela primeira vez para estudar na Academia de São

Fernando, em Madri. Este retrato tem um ar sério e desafiante, um falso ar machista, para

esconder, provavelmente, a extrema timidez de Dalí.

A técnica da pintura, embora perfeita, ainda não é a original, as pinceladas e o esquema de cores

mostram a influência do Impressionismo, do Pontilhismo e de outros movimentos modernos que

Dalí logo rejeitaria preferindo um estilo acadêmico, meticulosamente preciso.

MADONA DE 'Port Lligat'

1949

De volta à Espanha, em 1948, Dalí começou a pintar a Madona, terminando em 1950 – marcando

o início de sua fase religiosa. Esta Madona foi abençoada pelo Papa Pio XII. A influência da arte

renascentista sobre as obras de Dalí estava no seu auge. A fragmentação no seu quadro reflete o

'misticismo nuclear'.

Disponível em: http://taislc.blogspot.com.br/2011/11/compreensao-das-obras-de-salvador-dali.html Acesso

em: 20 fev. 2014.

O pintor realista que retratou fielmente a vida campestre

46

Julien Dupré, nasceu na França em

17 de Março de 1851 e faleceu em 15

de Abril de 1910. Foi um pintor

naturalista que desde jovem

mostrava grande talento para as

artes. Frequentou escolas renomadas

especializando-se na pintura realista

que foi a marca maior de sua arte,

principalmente por retratar a vida

campestre, que acabou por lhe

conferir o apelido de pintor dos

camponeses. Era na verdade um

pintor muito exigente, minucioso que

exigia muito de si mesmo, levando

para suas telas o retrato fiel e

detalhado daquilo que observava,

também trabalhava de forma

excepcional com as luzes, cores e

sombras que intensificava a vida e os

movimentos em seus quadros.

Observar as pinturas de Julien Dupré é como fazer uma viagem no tempo, conhecer um mundo

distante na sua quase totalidade, pois seus quadros mostram pessoas e animais como se

realmente estivessem em movimento, realizando seus trabalhos cotidianos, cuidando de seus

muitos afazeres. Sem dúvida foi um dos maiores pintores realistas de todos os tempos, por isso

vale a pena conferir sua obra de maneira mais detalhada.

Disponível em: http://www.pinturasemtela.com.br/julien-dupre-pintor-realista-que-retratou-fielmente-a-vida-

campestre/ Acesso em: 16 fev. 2014. (Adaptado)

Nos palcos da arte, o MEIO AMBIENTE! Entretanto, lamentavelmente, não do modo como

gostaríamos de contemplá-lo... Na verdade, as imagens que seguem representam uma

minúscula parcela diante de tantas outras e não mostram apenas a natureza em si. Mais

que isso. As imagens, implicitamente, desnudam o homem, pois sugere o resultado de

suas ações. Sim, por trás das imagens que retratam a natureza eu e você também somos

os protagonistas. O quanto há de informações implícitas nestas e outras imagens que,

talvez, você encontre em uma de suas navegações pela internet? O quanto a fotografia

retrata fielmente as mazelas da natureza? Quais as imagens que nossa mente fotografa

diariamente pelas ruas? Se é que paramos em algum momento do dia para observar com

atenção os detalhes ao nosso redor... Confira, também, as informações...

Questões ambientais são tema de exposição no Rio

VÍDEO Confira algumas das obras perfeitas de Julien Dupré.

Vale a pena! http://www.youtube.com/watch?v=1NhhWSFQvtI

47

A exposição “Expo 1: Rio”, que é uma versão da mostra “Expo 1: Nova York”, porém acrescida de

trabalhos de artistas brasileiros, pode ser conferida até 23 de fevereiro no Museu de Arte

Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio).

A mostra reúne cerca de 60 obras em diferentes técnicas e suportes, como fotografia, vídeo,

instalação, desenho, de um período que vai de 1972 a 2013. São 41 trabalhos de artistas

estrangeiros de várias gerações e pesquisas diversas, como o fundamental conceitual alemão

Joseph Beuys (1921-1986) – autor do vídeo “Ausfegen” (“Varrendo”, 1972), feito originalmente em

16mm e transferido para DVD – o fotógrafo americano Ansel Adams (1902-1984), o americano

Chris Burden (1946), o inglês Steve McQueen (1969), a sueca Klara Lidén (1979), o chinês Liu

Wei (1972), a húngara Agnes Denes

(1931), a dupla portuguesa João

Maria Gusmão (1979) e Pedro Paiva

(1977), e os coletivos Das Institut –

da dupla de artistas alemãs Kerstin

Brätsch (1969) e Adele Röder (1980)

– e United Brothers – dos irmãos

japoneses Ei (1977) e Tomoo

Arakawa, que criaram um trabalho

conjunto.

Os artistas brasileiros presentes na

exposição com 13 obras são Cinthia

Marcelle (1974), Claudia

Andujar (1931), Jarbas Lopes (1964),

Jonathas de Andrade (1982), Rivane

Neuenschwander (1967), Cao

Guimarães (1965) e Thiago Rocha

Pitta (1980).

Foto: Divulgação/ Claudia Andujar

48

Concebida por Klaus Biesenbach, diretor do

MoMA PS1 e chief curator-at-large do

MoMA, juntamente com Hans Ulrich Obrist,

co-diretor da Serpentine Gallery, a “Expo 1:

Rio” pensa o museu de arte contemporânea

como espaço de reflexão para “algumas

das questões ambientais e sociopolíticas

mais urgentes do nosso tempo”. A

exposição foi organizada em colaboração

com Luiz Camillo Osorio, curador MAM Rio,

Lizzie Gorfaine, assistente de curadoria do

MoMA PS1, e Mia Locks, curadora

associada do MoMA PS1. Na elaboração

curatorial da “Expo 1”, Klaus Biesenbach diz

que “o fim dos ideais utópicos do

modernismo pode ser reconhecido, mas

deve-se manter a esperança de que a

inovação humana fortalecerá os anseios por

um futuro melhor”. Vale lembrar que o MAM

Rio recebe a primeira itinerância de “Expo

1”, que depois segue para China e

Alemanha. Consciente da

complexidade e da urgência das

questões que envolvem a crise

ambiental contemporânea e suas

reverberações simbólicas,

poéticas e políticas, a Expo 1

“pretende ser uma exposição-

debate que, sem encaminhar

soluções, busca alargar os

horizontes da discussão”, afirmam

Carlos Alberto Chateaubriand e Luiz Camillo

Osorio, presidente e curador do MAM Rio.

Disponível em: http://www.blahcultural.com/questoes-ambientais-sao-tema-de-exposicao-no-mam-rio/

Acesso em: 13 fev. 2014. (Adaptado, grifos das organizadoras)

Realmente, há fatos que entristecem... Mas existem os que alegram... E, neste caso, não

poderíamos, em ano de Copa, deixar de falar um pouco sobre futebol. Algo que, em

especial no coração dos brasileiros, é mais que um esporte. É arte! Se você já gosta de

futebol, certamente fará a leitura do texto a seguir com muito gosto. Se não é um

apaixonado por esta arte esportiva que levanta espectadores e enlouquece torcedores,

mesmo assim, o texto é bastante atraente, pois traz informações que mostram como tudo

começou no mundo futebolístico, quais rumos tomou o futebol e por quais transformações

passou. Com certeza, vale a pena conferir para ganhar conhecimento!

Foto: Divulgação/ Ansel Adams

49

E a partida começa no Brasil e no Rio Grande do Sul

No período estabelecido entre o último decênio do século XIX e os primeiros vinte anos do século

XX, constituiu-se na introdução e no estabelecimento do futebol no Brasil e no Rio Grande do Sul

(JESUS, 2003). O futebol desenvolveu-se, grandemente, tanto nos maiores centros industriais e

populacionais do país, como São Paulo e Rio de Janeiro, quanto na região mais meridional do

país.

Oficialmente, o começo das atividades futebolísticas no Brasil deu-se com a criação dos primeiros

clubes por ingleses que residiam em São Paulo e no Rio de Janeiro, a partir dos anos 1880

(PEREIRA, 2000). Nesse contexto, Charles Miller, nascido em São Paulo em 1874, mas de

ascendência inglesa por seus pais serem naturais desse país, é considerado o “pai” do futebol no

Brasil, quando trouxe da Inglaterra, vinte anos após o seu nascimento, as primeiras bolas e

bombas para enchê-las, tornando-se um incentivador da prática futebolística.

Cabe ressaltar que uma das qualidades que fez com que o futebol se tornasse um esporte de

vocação popular foi justamente “[...] a possibilidade de jogá-lo sem que seja necessário gastar

muito dinheiro. Nos primeiros anos do esporte no Brasil, porém, todo o equipamento adequado

para a prática do jogo tinha de ser importado” (GUTERMAN, 2009, p. 33-34). Outros fatores

determinantes para a disseminação dessa modalidade esportiva no país foram, por sua vez, o

regulamento simples que orienta esse jogo e a perenidade desse, fazendo com que as pessoas

que começavam a jogar futebol se acostumassem, rapidamente com as suas regras, não

precisando esperar grandes mudanças.

Embora com essa dificuldade inicial imposta pelo custo dos equipamentos necessários ao jogo e

também por ter sido logo adotado pela elite brasileira como um esporte “fino”, o futebol logo

popularizou-se por meio dos operários das companhias férreas inglesas que trabalhavam no

Brasil nesse período. Esses trabalhadores não só tinham contato com os representantes da

classe dominante brasileira, mas também com gente de origem mais simples, o que, ainda

segundo Guterman (2009), auxiliou na disseminação dessa prática esportiva, extremamente

popular

Nesse contexto, na última década do século XIX, as alterações políticas internas, como a abolição

da escravidão em 1888, a proclamação da República no Brasil ocorrida um ano depois, bem como

a forte presença econômica e simbólica das potências europeias seduziram a classe média em

formação, que tende, então, a incorporar formas e estilos de vida e de lazer mais europeizados.

De acordo com Jesus (1999, p. 29):

Foi sem dúvida muito grande a receptividade da população carioca aos esportes na virada do

século. Tal atitude se vinculava diretamente não apenas ao fato de estes representarem uma via

para a vida saudável, mas, sobretudo, ao fato de constituírem um elemento civilizador do ideário

burguês importado da Europa, numa conjuntura em que ser estrangeiro era ser moderno. [...] A

adesão maciça aos esportes respondeu a um conjunto geral de profundas transformações na vida

urbana, relacionadas ao advento da modernidade.

Embora Jesus (1999) se valha da situação ocorrida no Rio de Janeiro nesse período, também no

Rio Grande do Sul e em São Paulo o futebol pode ser entendido como um fator “civilizador” das

elites locais, já que nesse último estado brasileiro a atuação de Charles Miller para a

disseminação do jogo da bola foi significativa. Muitos clubes haviam se formado, também, no Rio

50

Grande do Sul, especialmente nas cidades de Rio Grande, Pelotas e Porto Alegre, cidades que

iniciaram o movimento de introdução no sentido litoral-interior, ensejando uma multiplicação de

equipes esportivas (JESUS, 2003). No estado, as primeiras bolas de futebol e demais

equipamentos para a prática do esporte apareceram na cidade portuária de Rio Grande e em

cidades próximas da fronteira com o Uruguai e com a Argentina, através de viajantes oriundos

desses países e de comerciantes de origem alemã, sobretudo, que estavam de passagem ou

estavam estabelecidos nessas cidades.

Essa presença decisiva dos teuto-brasileiros na introdução do futebol no estado traduziu-se, por

exemplo, na fundação do Sport Club Rio Grande, em 19 de julho de 1900. O movimento acabou

estendendo-se no interior do Estado, especialmente nas colônias italianas e alemãs e, em

especial, na já próspera economicamente localidade de Novo Hamburgo, o que cabe aqui frisar

(PRODANOV; MOSER, 2009). A prosperidade dessas cidades, com acentuada presença teuto-

brasileira na sua composição populacional, ocorreu muito em função da chegada da linha férrea a

essas localidades, o que ocorreu no último quartel do século XIX.

Todavia, o primeiro clube de futebol no Rio Grande do Sul tenha sido fundado por comerciantes

de origem teuto-brasileira em Rio Grande, que pertenciam a uma elite local, rapidamente, o

esporte, que chegou ao Estado como uma prática esportiva ligada às classes mais abastadas,

transformou-se em uma prática ligada às massas. O público consumidor ligado aos segmentos

populares, cada vez mais adepto ao jogo da bola, não formulava exigências particulares a esse

produto cultural que chegava à região sul do Brasil. Assim, mesmo estando geograficamente no

extremo sul do Brasil e não sendo o centro político e econômico do país, o Rio Grande do Sul teve

certo grau de pioneirismo nessa acelerada e apaixonante expansão do futebol. Houve uma

considerável contribuição de uruguaios e ingleses residentes nesse Estado, assim como daqueles

que trabalhavam em nossos portos e fronteiras mais meridionais e traziam consigo a prática do

chamado esporte bretão. Também foi decisiva a grande massa de imigrantes alemães, italianos e

seus descendentes, que habitavam essa região mais ao sul do Brasil, nas bordas da região

platina e povoada por imigrantes europeus de várias etnias (PRODANOV; MOSER, 2011, p. 03).

Nesse contexto de expansão da imigração e de seus descendentes no Estado, também na capital,

em 1903, foram fundados, no mesmo dia (15 de setembro), os dois primeiros clubes de futebol de

Porto Alegre: o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, Grêmio FBPA, e o Fussball Club Porto Alegre.

Assim, a inserção e o desenvolvimento do futebol no contexto sul-rio-grandense, foi marcado pela

etnicidade teuto-brasileira, no entanto esse esporte, em nível nacional, tenha sido trazido por

ingleses que trabalhavam ou possuíam negócios no Brasil (PRODANOV; MOSER, 2010).

Assim, nesse panorama de rápido desenvolvimento da atividade futebolística, tanto em nível

regional quanto nacional, o futebol, no Brasil, menos de trinta anos após o começo efetivo da

organização de seus times e primeiros campeonatos, assume a liderança de preferência como o

esporte da massa brasileira (MURRAY, 2000). O outrora “esporte bretão”, restrito às elites e aos

clubs chiques, ganhava os campos de todo o país. Com isso, a participação do Brasil nas Copas

do Mundo de Futebol – em especial nas quatro primeiras edições, constitui-se como um elemento

importante para entender como o futebol passou a ser considerado a maior paixão esportiva

brasileira.

As primeiras copas do mundo e o futebol como elemento de cultura de massa

51

O Brasil é o único país filiado à FIFA1 que disputou todos os campeonatos mundiais, desde a

primeira edição, que ocorreu em 1930, no Uruguai. A seleção brasileira, nesse primeiro

campeonato mundial, envergava o uniforme nas cores branca e azul e fez uma campanha não

muito animadora. O selecionado nacional marcou uma apagada presença, vencendo apenas uma

partida, contra a Iugoslávia, no certame vencido pelo país anfitrião. (GUTERMAN, 2009).

Um dos principais motivos apontados na época para o insucesso da seleção brasileira em

gramados uruguaios foi o fato de que os dois estados mais importantes, econômica e

futebolisticamente falando, Rio de Janeiro e São Paulo, possuíam grandes divergências e

rivalidade entre si, dificultando a escalação de um time que tivesse jogadores das duas unidades

federativas e com maior qualificação nacional (MURRAY, 2000).

Um exemplo de como essa disputa afetou o desempenho da seleção brasileira no mundial do

Uruguai foi demonstrada no momento do embarque dos jogadores brasileiros no navio que os

conduziria a Montevidéu para esse torneio. Os jogadores oriundos de São Paulo não

compareceram, boicotando, assim, a seleção que disputaria esse certame. Apenas o jogador

austríaco naturalizado brasileiro Araken, sem contrato com o time paulista do Santos, apareceu ao

embarque, e este jogador foi o único representante de São Paulo no selecionado . Com o

desentendimento ocorrido entre as federações carioca e paulista de futebol, o jogador mais

expressivo desse momento, Friedenreich, um mulato de olhos claros e cabelos alisados que

jogava então pelo São Paulo Futebol Clube, não participou do time que disputou o mundial de

1930 (PEREIRA, 2000).

Quatro anos após o torneio disputado no Uruguai, foi a vez de a Itália sediar o Mundial de Futebol

de 1934. Esse país vivia sob o regime fascista instaurado por Benito Mussolini, o Duce, em 1920.

O futebol configurava-se, também na Itália, como uma das maiores expressões esportivas

populares nacionais e o chefe supremo da nação, Mussolini, acreditava que esta Copa do Mundo

seria um momento importante de propaganda política do regime (GUTERMAN, 2009). Com efeito,

o país-sede do mundial ganhou o torneio, com uma campanha exitosa e um vistoso futebol

exibido durante todas as partidas do campeonato. É importante ressaltar que, de modo geral, o

fascismo, nos anos 1930, recebeu, na América Latina e principalmente no Brasil, atenção especial

das elites e de setores médios urbanos, que acreditavam que esse tipo de projeto de poder seria

capaz de transformar positivamente o cenário político e social do país em pouco tempo, e o

futebol foi utilizado no processo de convencimento das classes populares (SCARZANELLA, 2009)

No processo de preparação para disputar a Copa do Mundo de 1934, feita através da CBD –

Confederação Brasileira de Desportos, antecessora da atual CBF – já que esta entidade mantinha

a esperança de melhorar o sexto lugar obtido no campeonato anterior no Uruguai. Depois, na

Copa da Itália, a CBD novamente convocou jogadores paulistas para reforçar a seleção “carioca”,

a ser comandada pelo técnico Píndaro de Carvalho.

O time brasileiro somente se classificou para o mundial de 1934 em virtude da desistência do Peru

em disputar a eliminatória, abrindo uma vaga ao selecionado brasileiro sem necessidade de jogar.

Classificado, foi à Europa com apenas 17 jogadores. Assim,

Para cortar custos, a delegação decidiu viajar em cima da hora, sem tempo para treinamento e

adaptação. Como resultado da desorganização e da teimosia [já que ainda persistia a disputa

entre as federações paulista e carioca de futebol, como mencionado acima], a participação

brasileira na Copa de 1934 foi a mais rápida de sua história: durou apenas 90 minutos, tempo

52

suficiente para ser eliminada pela fortíssima seleção espanhola por 3 a 1 (GUTERMAN, 2009, p.

66).

Esse verdadeiro vexame que a seleção brasileira passou nos gramados da Itália, a sua eliminação

do certame mundial em apenas uma hora e meia, pode ser mensurado na crônica esportiva da

época, que registra que o time brasileiro “se arrastava” em campo. Entretanto, a fragorosa derrota

do time brasileiro na Itália fez com que, irreversivelmente, o amadorismo fosse abandonado como

forma de reunir atletas em clubes e no selecionado nacional. A afirmação do profissionalismo no

futebol brasileiro foi decisiva para que, no mundial seguinte, a atuação brasileira tivesse um

destaque expressivo e digno da crescente paixão brasileira por esse esporte.

O Mundial de 1938, que ocorreu na França, marcou o momento em que as federações paulista e

carioca entraram em acordo quanto à cedência de jogadores ao selecionado nacional, e o Brasil,

finalmente, teve um time competitivo para disputar essa Copa do Mundo (MURRAY, 2000). A

seleção brasileira, melhor organizada, contava com dois times, um leve e outro pesado. O time

leve foi composto para enfrentar adversários mais fracos; o pesado foi montado para as partidas

mais importantes. Como resultado do bom entendimento que houve entre os dirigentes esportivos,

bons jogadores foram escalados e a pode-se contar com presença de um dos melhores zagueiros

do mundo de então, Domingos da Guia. O Brasil, finalmente, reunia condições de disputar o título

e, de certo modo, responder aos anseios da população brasileira, que, cada vez mais, se

apaixonava pelo futebol (PEREIRA, 2000). Assim, a seleção conquistou a terceira colocação

neste campeonato, sendo a primeira colocação obtida, assim como na Copa do Mundo anterior,

pela seleção italiana.

Um elemento que também foi relevante para essa acentuada disseminação e massificação do

futebol, a partir desse campeonato mundial, foi a realização das primeiras transmissões

radiofônicas das partidas disputadas pela seleção brasileira (GUTERMAN, 2009). Essas

transmissões eram irradiadas para boa parte do território brasileiro, o que reforçava justamente a

ideia de integração nacional, proposta pelo ideário varguista do Estado Novo (1937-1945),

segundo a posição de Drummond (IN PRIORE; MELO, 2009). O rádio fez o futebol e a seleção

brasileira entrarem definitivamente na mídia de massas e na população brasileiras.

Nesse contexto de grande popularização que ocorreu com esse esporte no Brasil, o futebol possui

uma relação bastante aproximada com as premissas teóricas da cultura de massa, ou mass

media, elencadas por Umberto Eco (2004). Nesse sentido, Eco divide a Cultura de Massa em três

níveis distintos – alto, médio e baixo – partindo da classificação elaborada pelo teórico de

comunicação norte-americano Dwigth MacDonald no final da década de 1930.

Dentro dessa perspectiva, no Brasil, o futebol dialoga com essas delimitações propostas por Eco,

pois a comunicação de massa retroalimenta e sustenta o futebol como elemento dos meios de

comunicação de massa, em detrimento de outras práticas esportivas ou culturais. Desse modo, o

futebol no Brasil é legitimado pela mídia de massa em seus diferentes níveis, ainda segundo o

pensamento de Eco (2004), e o país apoia e aprova o futebol como seu principal elemento de

cultura de massa, elemento esse cuja construção remonta ao início do século XX.

Dessa forma, o futebol foi conquistando cada vez mais espaço na preferência esportiva do

brasileiro, suplantando outros esportes como atividade ligada às massas. O futebol, durante o

primeiro governo de Vargas, foi alçado à condição de um elemento de integração e disciplina das

massas, ligando-se, dessa forma, a um projeto nacional de criação de uma identidade brasileira.

53

Nesse momento histórico, o futebol já tinha deixado de estar circunscrito às elites, locais ou

nacionais, para ser praticado por pessoas de todas as classes sociais. Com isso, o futebol [...]

correspondia a um movimento cultural e político mais amplo, envolvendo tanto os interesses de

disciplina social do Estado, a dinâmica específica do futebol, quanto um clima cultural, que

perpassava toda a sociedade, de produção de uma identidade nacional forte. Com relação à

situação específica do futebol, a profissionalização correspondia à tensão que existia entre a

tradição elitista e amadora dos primórdios da prática esportiva e a necessidade de regulamentar

nos clubes - numa conjuntura de popularização do futebol - a crescente participação de jogadores

remunerados, de sua maioria de origem pobre e negra (RIBEIRO, 2003, p. 02).

Nos anos 1930, a atividade futebolística e a sua consequente profissionalização tornaram-se os

principais vetores da construção da identidade nacional brasileira, criando, segundo autores como

Gilberto Freyre (apud RIBEIRO, 2003), um estilo próprio de jogar, que caracterizava e valorizava o

jogador brasileiro nos gramados, tornando-o único em relação ao futebol praticado na Europa, por

exemplo.

Com a eclosão da II Guerra Mundial, entre 1939 a 1945, não ocorreu a edição da Copa do Mundo

no ano de 1942. Em 1946, também não houve a edição do campeonato mundial, em decorrência

do processo de reconstrução da Europa estava passando, que era o principal polo futebolístico da

época, devido à destruição que ocorrera no velho mundo com o conflito mundial (GUTERMAN,

2009).

O mundial de 1950, por sua vez, foi sediado pelo Brasil e, no país, havia a expectativa de que a

seleção brasileira venceria o campeonato, já que era tida como a grande favorita da competição,

em virtude do bom resultado obtido no último mundial ocorrido em 1938.

A impressionante campanha que o Brasil fez nesse campeonato aumentou ainda mais quando a

seleção brasileira chegou à partida final, contra o Uruguai, na então capital federal, Rio de Janeiro,

no estádio do Maracanã. O estádio era considerado o maior do mundo, possuindo na época

capacidade para acolher duzentos mil torcedores; tratava-se, sem dúvida, de um símbolo para o

futebol nacional e simbolizava a confiança que os torcedores brasileiros depositavam em sua

seleção (MURRAY, 2000).

Contudo, a “Celeste Olímpica”, apelido dado pela crônica esportiva à equipe uruguaia, venceu a

partida com escore de 2 a 1, para perplexidade nacional, tanto que, no final da partida, multidões

choravam pela derrota pelas ruas do Rio de Janeiro. O verdadeiro choque causado pela derrota

brasileira nessa copa do mundo, chamado pela imprensa esportiva uruguaia de então de

Maracanazo, pode ser explicado pelo generalizado sentimento de já ganhou que a população e

que os próprios jogadores brasileiros estavam sentindo nas vésperas da final do mundial

(GUTERMAN, 2009).

Dentro desse contexto, o Rio Grande do Sul, desde a primeira Copa do Mundo, teve participação

nas seleções nacionais, seja com jogadores atuando como titulares ou como reservas, salvo no

campeonato mundial de 1938, quando não houve nenhum jogador sul-rio-grandense convocado

para o selecionado nacional (MURRAY, 2000). No primeiro certame mundial, ocorrido em 1930, o

futebol gaúcho foi representado por Moderato Wisentainer, atacante nascido em Alegrete, que

atuava pelo Flamengo quando convocado para jogar no mundial. Esse jogador chegou a fazer

dois gols no mundial em partida contra a Bolívia (ZERO HORA, 2002). Na edição seguinte da

copa do mundo, em 1934, Luiz Luz, que então atuava como zagueiro pelo Grêmio FBPA, foi

54

convocado para o selecionado nacional, tornando-se o primeiro gaúcho a jogar em um clube do

estado a participar da seleção brasileira.

Outra relevante contribuição dada por gaúchos à seleção brasileira foi a criação do uniforme nas

cores verde e amarela, que ficou popularmente conhecida como o uniforme “canarinho” e que se

tornou a marca registrada do selecionado. Como que em uma tentativa de apagar o péssimo

resultado obtido no mundial de 1950.

A Confederação Brasileira de Desportos – CBD – promoveu, em 1953, um concurso em nível

nacional para definir o novo fardamento da seleção, em substituição ao uniforme azul e branco até

então utilizado (MURRAY, 2000). A comissão organizadora definiu como condição que o uniforme

tivesse as cores verde, amarela, azul e branca, representando as cores da bandeira brasileira. O

vencedor desse concurso, dentre os mais de 300 concorrentes, foi o desenhista, jornalista e

escritor Aldyr Schlee, gaúcho de Jaguarão. O desenhista foi convidado para ir ao Rio de Janeiro

acompanhar o lançamento do novo uniforme, que teve como modelo o jogador do Fluminense

Carlyle. A estreia da camisa canarinho em um jogo oficial deu-se em partida, contra o Chile, pelas

eliminatórias da Copa de 1954 (ZERO HORA, 2002).

Considerações finais

O futebol constituiu-se, já nas primeiras três décadas do século XX, como uma paixão lúdica

fascinante para os jogadores e espectadores; tratava-se de um esporte com regras claras, simples

e que necessitava de pouco equipamento para ser praticado e podia ser assistido por

contingentes relativamente grandes de pessoas. O surgimento dessa prática esportiva no Brasil,

por sua vez, se deu no último decênio do século XIX e evoluiu rapidamente ao longo do século

XX, transcendendo da concepção de esporte da elite, inicialmente, atingindo o status de futebol

negócio e espetáculo globalizado na atualidade. Ao longo de sua implantação e consolidação em

terras brasileiras, o esporte afirmou-se como um dos mais importantes elementos da formação da

identidade brasileira.

Com distintas fases, o seu papel alterou-se ao longo do tempo na sociedade brasileira. Iniciou

como elemento de uma pequena elite, tornou-se paixão popular integradora, profissão, caminho

de afirmação nacional e também um negócio milionário e global dentro do qual o Brasil possui um

importante papel. Nesse sentido, nas primeiras décadas do século XX, o futebol desenvolveu-se,

grandemente, também no Rio Grande do Sul, o que, em linhas gerais, ocorreu de forma

semelhante em outros estados brasileiros.

Nesse período efervescente para o esporte, vários clubes se formaram no estado, especialmente

em Rio Grande, Pelotas e Porto Alegre, cidades que iniciaram o movimento de introdução no

sentido litoral-interior, ensejando uma multiplicação de equipes de futebol nesse estado brasileiro.

Nesse contexto, a participação brasileira nas quatro primeiras edições da Copa do Mundo, em

1930, 1934, 1938 e 1950, assume uma posição interessante para compreender de que forma o

futebol consolidou-se como a grande paixão esportiva nacional. Durante a década de 1930, o país

já era guindado à condição de “país do futebol”, pelo fato de ter obtido o terceiro lugar no

campeonato mundial de 1938. Essa colocação foi fruto de um esforço articulado entre um projeto

de Estado e o crescente desenvolvimento dos meios de comunicação de massa existentes à

época – o rádio, especialmente – bem como da já grande paixão popular que já existia pelo jogo

da pelota no Brasil.

55

Tanto no âmbito nacional quanto no do Rio Grande do Sul, a Copa do Mundo teve uma grande e

decisiva influência para a consolidação e a expansão da atividade futebolística no Brasil. Já no

primeiro campeonato mundial, disputado em 1930, havia a presença de um jogador sul-rio-

grandense no selecionado nacional, que, inclusive, marcou gols na primeira participação brasileira

em campeonatos mundiais. Nesse sentido, outra contribuição relevante que o estado deu para a

seleção brasileira foi no sentido de que foi um gaúcho Aldyr Schlee o criador do uniforme da

seleção brasileira nas cores verde e amarela, no ano de 1953. A chamada camiseta “canarinho”

forjou uma marca registrada do futebol brasileiro no exterior e acabou se tornando praticamente

um sinônimo do futebol do Brasil em termos globais.

Pode-se dizer que a paixão brasileira pelo futebol foi reforçada pela participação do país nas

copas do mundo, bem como o futebol pode ser entendido como um dos primeiros elementos de

formação de uma identidade nacional brasileira mais coesa e definida. O futebol, antes restrito a

uma pequena elite e que, seja no contexto nacional ou do Rio Grande do Sul, já nos anos 1930,

popularizou-se rapidamente entre as diferentes classes sociais brasileiras, tornando-se um

elemento importante para a criação, em termos mais gerais, de um “jeito brasileiro de ser”.

Finalmente, as copas do mundo também podem ser compreendidas como um vetor importante de

análise e de reflexão acerca da própria dinâmica histórica e social brasileira desde o início do

século XX até a contemporaneidade. A partir do desastre de 1950 no Maracanã contra o Uruguai,

moldou-se um patriotismo futebolístico que faz o Brasil ser hoje um país com quase 200 milhões

de técnicos e apaixonados pela seleção.

Nota

1. Sigla em francês para Fédération Internationale de Football Association. Essa entidade foi

fundada na Suíça, em 1904, por Jules Rimet, sendo que o primeiro troféu ofertado aos

vencedores da Copa do Mundo, até o ano de 1970, levava o nome do fundador da

Federação (GUTERMAN, 2009).

Referências

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ZERO HORA. Brasil nas copas: em destaque, a participação dos gaúchos. Porto Alegre: ZH Publicações, 2002.

Música... Para respirar, relaxar, esquecer o mundo, divertir-se sozinho ou bem acompanhado, curtir a vida numa boa... Qual o seu estilo favorito? O que mais importa para você: forma ou conteúdo? Ritmo ou letra? Analise os argumentos do texto a seguir. Eles favorecem ou não a música popular? Defendem ou não a música tradicional? Qual a opinião do autor sobre a indústria cultural? E qual a sua opinião?

Civilizar pela música: a inquisição da elite intelectual Leonardo Sakamoto*

“Essa gente precisa é de Chico Buarque.”

Sinceramente acho que todo mundo precisa escutar o homem. Mas a frase, vinda da boca de um

culto amigo, irritado com um carro que jorrava tecnobrega no último, gerou aquele arrepio na

espinha. E, certamente, não foram os fantasmas de Theodor Adorno e Max Horkheimer passando

por perto. Sua crítica não se relacionava ao tratoramento da arte pela estrutura capitalista de

reprodução e distribuição de cultura, que a transforma em mercadoria a ser consumida

passivamente. Pois, ele próprio é um desses consumidores, que bebe empacotados dito eruditos,

vilamadalenizados, mas que tenta “curar'' o outro.

Tirando o lado elitista, preconceituoso e pseudo-paternalista desse tipo de declaração (já ouvi de

muito empresário e fazendeiro, que faziam falcatruas trabalhistas, e até de deputado, que

retenção de remuneração serve para evitar que o peão se afunde na cachaça com o salário), ela

também inclui uma visão um tanto quanto distorcida da realidade.

Poderíamos discutir horas a fio sobre os mecanismos da indústria cultural que levam

a um produto de massa se sobrepor e esmagar manifestações tradicionais e

as consequências disso. Contudo, a preservação do patrimônio cultural tradicional não se resolve

forçando o povão a consumir um baião tradicional a um tecnobrega, um grupo de cateretê a uma

dupla sertaneja, um samba de raiz a um funk proibidão.

57

Na opinião destes, há uma autoproclamada “cultura de qualidade”. A clivagem entre o popular e o

erudito (e a ignorância de fundir o erudito com o bom) é apenas parte dessa discussão. Esse

tipo de pensamento, com a reafirmação de símbolos para separar “nós” da

plebe, expressa mais preconceito de classe do que qualquer outra coisa. E,

em um ímpeto quase jesuítico, a necessidade de catequisar vem à tona, para

trazê-lo à nossa fé. Não que eles poderão entender tudo, mas poderão, pelo menos, deixar o

estado de barbárie em que se encontram ao respirar o mesmo ar que nós.

Nos grandes centros, o consumo da chamada cultura regional tradicional ganhou espaço entre os

mais ricos e formadores de opinião. Virou cult. É em cima dessa análise que muitos querem

resgatar, forçosamente, um passado “menos selvagem'' em que a população de determinado

lugar consumia esse tipo de arte da qual também gostamos. Sem se atentar que as coisas

mudam, ou que a indústria cultural tem seus processos, fazendo ricos empresários que,

ironicamente, bancam formadores de opinião.

Defender, propagar, incentivar as manifestações tradicionais é fundamental

porque elas fazem parte de nossa identidade e ajudam a definir o brasil

como Brasil. Mas sem desconsiderar as outras manifestações que ganharam visibilidade,

também têm o seu valor e são queridas por muita gente. Bem, a discussão é bem mais complexa

e não cabe em um post.

Ampliar o leque, dando mais possibilidades de escolha para a sociedade é uma coisa. Guiar o

consumo cultural para preservar uma imagem que uma elite intelectual dos grandes centros tem

de como deveria ser a cultura brasileira é outra.

Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política. Cobriu conflitos armados e o desrespeito aos direitos humanos em Timor Leste, Angola e no Paquistão. Professor de Jornalismo na PUC-SP, é coordenador da ONG Repórter Brasil e seu representante na Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo.

Disponível em: http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2012/03/25/civilizar-pela-musica-a-inquisicao-

da-elite-intelectual/ Acesso em: 18 fev. 2014. (Adaptado, grifos das organizadoras)

Para concluir esta seção, confira o quanto a Arte e a Cultura estão presentes na UniCesumar. Se você é aluno do Ensino Presencial - Maringá, certamente é privilegiado por poder apreciar de perto a qualidade de todo o repertório cultural e artístico que acontece nesta Instituição e que faz acontecer em toda a cidade, e também em outras. Se você é aluno do Ensino a Distância, em polos de outras cidades e estados, programe uma visita! Venha conhecer toda a qualidade dessa riqueza na Instituição da qual você faz parte. A Comunidade do Conhecimento terá o maior prazer em recebê-lo!

Cultura e Arte bem perto de você Você já conhece o Departamento de Cultura e Artes da UniCesumar? A contribuição da Unicesumar à cultura e à arte local já é bastante reconhecida. Há cerca de 14 anos nasceu o Coral e há 11 a Orquestra Filarmônica Unicesumar, que se tornou, então, pra-

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ticamente a orquestra oficial da cidade. Convidados por prefeituras ou outras entidades, os grupos se apresentam em variados locais gratuitamente, levando o nome da instituição. Foi a partir destas formações que houve a necessidade de se estruturar o setor de música da instituição. Desta forma, nasceu o Departamento de Cultura e Arte, o DCA, que administra as seguintes equipes: Orquestra Filarmônica Unicesumar, Coral Unicesumar, Quinteto de Metais e o Quarteto de Cordas Unicesumar. Dirigido pelo maestro Davi Oliveira, o DCA gerencia, também, todo o acervo de partituras pertencentes à Unicesumar, contando com cerca de 1000 obras para Orquestra e centenas de obras para Coral, além de promover concertos periodicamente para a comunidade. A equipe do DCA é formada pelos maestros Davi Oliveira (Orquestra) e Geandré Ramiro (Coral), músicos, secretários, arquivistas de partituras e montadores. O Departamento encontra-se instalado na ala externa do bloco 7 (voltada para o bloco 6). Os contatos podem ser mantidos pelo e-mail: [email protected] ou telefone 3027-6360, ramal 1373. Disponível em: http://www.cesumar.br/imprensa/informativo/2014/arquivos/Campus_214.pdf Acesso em: 17 fev. 2014. (Adaptado)

Coral UniCesumar

O Coral Unicesumar surge no ano de 2000, a partir de um ideal acalentado pelo então Diretor Geral da Instituição (hoje Reitor), Prof. Wilson de Matos Silva. Na condição de educador e empresário, homem sensível às questões relacionadas com a sociedade e sabendo detectar a importância da cultura e das artes no desenvolvimento integral do ser humano, proporcionou condições necessárias para o engrandecimento do Canto Coral na cidade de Maringá com a criação do Coral Unicesumar.

O objetivo do Coral Unicesumar, por estar ligado a uma instituição de ensino e compartilhar do ambiente acadêmico que abriga outras frentes de trabalho nos campos do ensino, da pesquisa e da extensão, tem sido – antes de mais nada – a produção de música coral amparada em procedimentos comprometidos com a formação musical de seus membros, pela pesquisa em música e pelo intercâmbio com a sociedade, partindo-se dos resultados que obtém a cada projeto que desenvolve.

Hoje, com seus 14 anos de atividade, 8 CDs e 2 DVDs gravados, inúmeras apresentações e viagens realizadas dentro e fora do Paraná e integrando juntamente com a OFUC – Orquestra

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Filarmônica Unicesumar o DCA - Departamento de Cultura e Artes da Instituição, o que mais caracteriza o trabalho do Coral Unicesumar é um profundo senso de entendimento da música como ciência e arte, tendo lugar junto à academia não apenas para cumprir seu papel de órgão representativo da Instituição, com suas incursões relacionadas ao repertório funcional mas, prioritariamente, para resgatar o repertório histórico, o conhecimento da arte na cultura ocidental e colaborar com crescimento da comunidade maringaense.

Maestro - Marcus Geandré Nakano Ramiro

Secretários e Arquivistas: Patricia Sena e Luiz Carlos Franzão Jr.

Contato: [email protected] Telefone: 44 3027-6360, ramal 1373. Disponível em: http://www.cesumar.br/dca/coral.php. Acesso em: 10 fev. 2014. (Adaptado)

Orquestra Filarmônica

A Orquestra Filarmônica Unicesumar (OFUC) foi criada em janeiro de 2003 pelo Reitor Wilson de Matos Silva, sob a coordenação do Maestro e Diretor Artístico Davi Oliveira. Mantida pelo Unicesumar - Centro Universitário Cesumar, a OFUC iniciou seus ensaios em fevereiro do mesmo ano, sendo que sua primeira apresentação ocorreu no dia 17 de março de 2003, nas dependências do Unicesumar.

A Filarmônica já gravou vários CDs e três DVDs, sendo dois deles, gravados ao vivo nos anos de 2009, 2010 no Teatro Calil Haddad de Maringá/PR e em 2012, também ao vivo, no Teatro Guairá de Curitiba/PR.

A Orquestra executa um repertório diversificado com obras eruditas, populares nacionais e internacionais, trilhas sonoras, dentre outros. Os concertos temáticos também fazem parte do conteúdo inovador e qualificado da Orquestra com apresentações didáticas, infantis, temas de filmes, operísticas e sacras. Consta na história da Filarmônica mais de 220 apresentações realizadas tanto em teatros quanto em igrejas, parques, praças e clubes das cidades do interior paranaense e paulista; estudantes de música, profissionais da área com formação superior, músicos de outras áreas do conhecimento e músicos da comunidade. Conta hoje com 60 músicos além da equipe de apoio do DCA – Departamento de Cultura e Artes.

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Em 2012 honrosamente os integrantes da OFUC receberam da Câmara de Vereadores de Maringá o Título de Mérito Comunitário pelos serviços prestados à cidade.

Regente e Diretor Artístico – Davi Oliveira

Secretários e Arquivistas - Patricia Sena e Luiz Carlos Franzão Jr.

Contato:[email protected] Telefone: 44 3027-6360, ramal 373. Disponível em: http://www.cesumar.br/dca/orquestra.php Acesso em: 17 fev. 2014. (Adaptado)

AGENDA 2014 CONFIRA! http://www.cesumar.br/dca/agenda.php

Museu UniCesumar

Modernas tecnologias para reviver a história de Maringá.

Apresentação

O Centro Universitário de Maringá entende a importância e a necessidade de se investir em projetos culturais, tornando-se assim agente promotor de educação para a sociedade. O Museu Cesumar, inaugurado em outubro de 2011, foi criado para contar e conservar a história de Maringá e de seus pioneiros. Trata-se de um museu multidinâmico que reúne a história, aliada à tecnologia, para contar o desenvolvimento da cidade desde o surgimento até os dias atuais, a partir de três unidades que se complementam.

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Museu Interativo

O Museu Interativo é uma obra moderna que agrega os recursos da tecnologia digital para contar a história de Maringá. É composto por:

Cinema em 4D Salas de Vídeo Sala dos Prefeitos Sala do piso mágico Central de computadores para pesquisas Espaço para exposições itinerantes

Casa do Pioneiro

A Casa do Pioneiro, construída originalmente em 1953, preserva as construções e hábitos dos colonizadores. Está decorada com móveis de época e agrega também mais de 180 peças antigas doadas por pioneiros. Há aparelhos de rádio, telefone, máquinas de costura, ferro de passar roupa, louças e peças de roupas, entre outros. Pertenceu à; família do pioneiro Shozo Arai e localizava-se na rua Guarani, no Maringá Velho, onde teve início a colonização da cidade. Foi restaurada e transferida para o campus do Cesumar, onde se mantém preservada.

Tulha Cafeeira

A Tulha da Cafeeira Santo Antônio é um marco da cafeicultura no passado. A edificação em madeira peroba é do ano de 1949 e se localizava na avenida Mauá, uma das mais tradicionais da cidade. Esteve sob o domínio da Companhia Melhoramentos do Norte do Paraná de 1965 a 1980, quando encerrou suas atividades. Foi transferida para a guarda do Cesumar para ser preservada no campus e possui no seu interior objetos, painéis fotográficos e cenários que relembram a época da cafeicultura.

Disponível em: http://www.unicesumar.edu.br/museu/ Acesso em: 20 fev. 2014.

62

Frases

A arte tem a finalidade de penetrar a vida, atingir a realidade, esboçar a verdade. (César das

Neves)

Todos parecemos saber perfeitamente bem o que é a arte, mas mal tentamos explicar o que ela

realmente é, enredamo-nos em contradições e implausibilidades. É isto a filosofia: faz-nos pensar

outra vez e revela perplexidades onde antes havia apenas banalidades. (Desidério Murcho)

A arte não é feita com ideias, é feita com inteligência. Ideias toda a gente tem, mas refletir nem

todos conseguem. (José Augusto França)

Curiosidade

Confira quais são as 10 cidades mais fotografadas do mundo, segundo o Google:

http://exame.abril.com.br/estilo-de-vida/album-de-fotos/as-10-cidades-mais-fotografadas-do-

mundo-segundo-o-google

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Músicas

Comida Titãs

Bebida é água! Comida é pasto!

Você tem sede de quê? Você tem fome de quê?

A gente não quer só comida A gente quer comida

Diversão e arte A gente não quer só comida

A gente quer saída Para qualquer parte

A gente não quer só comida A gente quer bebida

Diversão, balé A gente não quer só comida

A gente quer a vida Como a vida quer

Bebida é água! Comida é pasto!

Você tem sede de quê? Você tem fome de quê?

A gente não quer só comer A gente quer comer E quer fazer amor

A gente não quer só comer A gente quer prazer

Pra aliviar a dor

A gente não quer Só dinheiro

A gente quer dinheiro E felicidade

A gente não quer Só dinheiro

A gente quer inteiro E não pela metade

Bebida é água! Comida é pasto!

Você tem sede de quê? Você tem fome de quê?

A gente não quer só comida A gente quer comida

Diversão e arte A gente não quer só comida

A gente quer saída Para qualquer parte

A gente não quer só comida A gente quer bebida

Diversão, balé A gente não quer só comida

A gente quer a vida Como a vida quer

A gente não quer só comer A gente quer comer E quer fazer amor

A gente não quer só comer A gente quer prazer

Pra aliviar a dor

A gente não quer Só dinheiro

A gente quer dinheiro E felicidade

A gente não quer Só dinheiro

A gente quer inteiro E não pela metade

Diversão e arte Para qualquer parte

Diversão, balé Como a vida quer

Desejo, necessidade, vontade Necessidade, desejo, eh!

Necessidade, vontade, eh! Necessidade

Disponível em: http://letras.mus.br/titas/91453/ Acesso em: 26 fev. 2014.

64

É uma partida de futebol Skank

Bola na trave não altera o placar Bola na área sem ninguém pra cabecear

Bola na rede pra fazer o gol Quem não sonhou em ser um jogador de futebol?

A bandeira no estádio é um estandarte A flâmula pendurada na parede do quarto

O distintivo na camisa do uniforme Que coisa linda é uma partida de futebol

Posso morrer pelo meu time Se ele perder, que dor, imenso crime

Posso chorar, se ele não ganhar Mas se ele ganha, não adianta

Não há garganta que não pare de berrar

A chuteira veste o pé descalço O tapete da realeza é verde

Olhando para bola eu vejo o sol Está rolando agora, é uma partida de futebol

O meio-campo é lugar dos craques Que vão levando o time todo pro ataque

O centroavante, o mais importante Que emocionante, é uma partida de futebol

O meu goleiro é um homem de elástico Os dois zagueiros tem a chave do cadeado

Os laterais fecham a defesa Mas que beleza é uma partida de futebol

Bola na trave não altera o placar Bola na área sem ninguém pra cabecear

Bola na rede pra fazer o gol Quem não sonhou em ser um jogador de futebol?

O meio-campo é lugar dos craques Que vão levando o time todo pro ataque

O centroavante, o mais importante, Que emocionante é uma partida de futebol !

Utêrêrêrê, utêrêrêrê, utêrêrêrê, utêrêrêrê

Disponível em: http://letras.mus.br/skank/72339/ Acesso em: 26 fev. 2014.

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Metamorfose Ambulante Raul Seixas

Prefiro ser

Essa metamorfose ambulante

Eu prefiro ser

Essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha

opinião

Formada sobre tudo

Do que ter aquela velha

opinião

Formada sobre tudo

Eu quero dizer

Agora o oposto do que eu

disse antes

Eu prefiro ser

Essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha

opinião

Formada sobre tudo

Do que ter aquela velha

opinião

Formada sobre tudo

Sobre o que é o amor

Sobre o que eu nem sei quem

sou

Se hoje eu sou estrela

Amanhã já se apagou

Se hoje eu te odeio

Amanhã lhe tenho amor

Lhe tenho amor

Lhe tenho horror

Lhe faço amor

Eu sou um ator

É chato chegar

A um objetivo num instante

Eu quero viver

Nessa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião

Formada sobre tudo

Do que ter aquela velha opinião

Formada sobre tudo

Sobre o que é o amor

Sobre o que eu nem sei quem sou

Se hoje eu sou estrela

Amanhã já se apagou

Se hoje eu te odeio

Amanhã lhe tenho amor

Lhe tenho amor

Lhe tenho horror

Lhe faço amor

Eu sou um ator

Eu vou desdizer

Aquilo tudo que eu lhe disse antes

Eu prefiro ser

Essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião

Formada sobre tudo

Do que ter aquela velha opinião

Formada sobre tudo

Disponível em: http://www.vagalume.com.br/raul-seixas/metamorfose-albulante.html Acesso em: 26 fev. 2014.

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Aquarela do Brasil Ary Barroso

Brasil

Meu Brasil brasileiro

Meu mulato inzoneiro

Vou cantar-te nos meus versos

Ô Brasil, samba que dá

Bamboleio que faz gingar

Ô Brasil, do meu amor

Terra de Nosso Senhor

Brasil, Brasil

Pra mim, pra mim

Ah, abre a cortina do passado

Tira a Mãe Preta, do serrado

Bota o Rei Congo, no congado

Brasil, Brasil

Pra mim, pra mim

Deixa, cantar de novo o trovador

A merencória luz da lua

Toda canção do meu amor

Quero ver a Sa Dona, caminhando

Pelos salões arrastando

O seu vestido rendado

Brasil, Brasil

Pra mim, pra mim

Brasil

Terra boa e gostosa

Da morena sestrosa

De olhar indiscreto

Ô Brasil, samba que dá

Bamboleio, que faz gingar

Ô Brasil, do meu amor

Terra de Nosso Senhor

Brasil, Brasil

Pra mim, pra mim

Oh, esse coqueiro que dá coco

Onde eu amarro a minha rede

Nas noites claras de luar

Brasil, Brasil

Pra mim, pra mim

Ah, ouve essas fontes murmurantes

Aonde eu mato a minha sede

E onde a lua vem brincar

Ah, este Brasil lindo e trigueiro

É o meu Brasil, brasileiro

Terra de samba e pandeiro

Brasil, Brasil

Pra mim, pra mim

Disponível em: http://www.vagalume.com.br/ary-barroso/aquarela-do-brasil.html Acesso em: 16 fev. 2014.

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Filmes

5 filmes para entender a obra de Eduardo Coutinho

Morto de forma trágica, Coutinho deixa algumas das obras mais importantes da produção cinematográfica

brasileira

Eduardo Coutinho:

o cineasta é um dos principais responsáveis por definir o gênero documentário no Brasil

Nascido na cidade de São Paulo, em 1933, Eduardo Coutinho é um dos principais responsáveis

por definir o gênero documentário no Brasil. A capacidade do diretor em extrair fragmentos

simples dos entrevistados e transformar isso na matéria-prima de suas obras serviu como a base

para alguns dos registros mais autênticos da produção nacional.

Películas como Cabra Marcado Para Morrer (1984), Edifício Master (2002) e Peões (2004) que

trouxeram na observação de um grupo ou mesmo ambiente específico o princípio de condução

para as imagens do documentarista. Morto de forma trágica - o cineasta foi assassinado pelo filho

esquizofrênico -, Coutinho deixa algumas das obras mais importantes da produção

cinematográfica brasileira, algumas delas listadas (abaixo) e disponíveis na íntegra para o público:

Cabra Marcado Para Morrer (1984)

Centrado na vida do líder camponês João Pedro Teixeira, morto em 1962, o trabalho busca

remontar o universo em torno do personagem com base no depoimento de pessoas que atuaram

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ao lado de Teixeira. Iniciado em 1964, porém interrompido por conta do Golpe Militar, o registro

seria concluído somente na década de 1980.

Babilônia 2000 (2000)

Filmado na virada dos anos 2000, o documentário retrata a vida dos moradores do Morro da

Babilônia, no Rio de Janeiro, e suas expectativas para o novo ano que estava chegando. Filmado

ao longo de 12 horas, o trabalho reforça os preparativos, sonhos e desilusões dos moradores

antes do réveillon.

Edifício Master (2002)

Considerada a obra-prima do documentarista, Edifício Master usa de histórias simples dos

moradores de um edifício no Rio de Janeiro como a base para a condução das imagens. Durante

a produção do documentário - gravado ao longo de três semanas -, Coutinho e sua equipe se

mudaram para o prédio, mergulhando de vez no cotidiano dos moradores.

Peões (2004)

Complementar ao trabalho de João Moreira Salles, em Entreatos (2004), Peões observa os

líderes sindicais do ABC paulista que se mantiveram no anonimato em relação à ascensão política

de Lula. A proposta era desenvolver um plano de fundo para aquilo que Salles desenvolveu de

forma a acompanhar a campanha política do ex-líder sindical e futuro presidente da República.

Jogo de Cena (2007)

De um lado, o documentário, expresso pelas histórias e depoimentos de mulheres selecionadas

para a película. No outro oposto, a atuação, reforçado por atrizes como Marília Pêra e Fernanda

Torres, convidadas para reviver as histórias de cada uma das entrevistadas. Uma obra em que o

ficcional e a realidade se misturam no palco montado por Coutinho.

Disponível em: http://exame.abril.com.br/estilo-de-vida/noticias/5-filmes-para-entender-a-obra-de-eduardo-

coutinho Acesso em: 16 fev. 2014.

32 adaptações de livros que chegarão aos cinemas em 2014

Ao longo dos anos, é muito comum vermos livros serem adaptados. As razões para tantos livros

se tornarem filmes ou séries de sucesso, são por suas histórias atraírem o grande público ou

chamarem a atenção por sua originalidade. Depois dos lançamentos “A Menina que roubava

livros” de Marcus Zusak, “O Lobo de Wall Street” de Jordan Belfort e “Quando Eu Era Vivo”,

baseado no livro do autor nacional Lourenço Mutarelli, outras adaptações de obras literárias estão

previstas para chegarem às telonas. Como 2014 promete ser o ano das adaptações, confira

abaixo a seleção que o Livros e Citações preparou para você, com 32 filmes baseados em livros

que devem estreiar nos cinemas neste ano. Confira no site:

Disponível em: http://livrosecitacoes.com/32-adaptacoes-de-livros-que-chegaram-aos-cinemas-em-2014/ Acesso em: 17 fev. 2014.

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Tiras do Calvin

Disponível em: http://janusaureus.files.wordpress.com/2012/03/ind-cult-3.jpg Acesso em: 19 fev. 2014.

Transcrição das falas: quadrinho 1: (Calvin) A fina arte está morta, Haroldo, ninguém entende isso. Ninguém gosta disso. Ninguém vê isso. É irrelevante na nossa cultura de hoje. quadrinho 2: (Calvin) Se você quer influenciar as pessoas, a arte popular é o melhor caminho. O mercado de massa da arte comercial é o futuro. quadrinho 3: (Calvin) Além disso, é a única maneira de fazer dinheiro sério e isso é que é importante em ser artista. quadrinho 4: (Haroldo) Então que tipo de escultura você está fazendo? (Calvin) Por favor, isto não é uma “escultura”. É uma “figura de coleção”. quadrinho 5: (Calvin) Tá vendo, o problema com a fina arte é que ela deve expressar as verdades originais. quadrinho 6: (Calvin) Mas quem gosta de originalidade e verdade?! Ninguém! A vida é dura o bastante sem isso! Somente um idiota pagaria por isso! quadrinho 7: (Calvin) Mas a arte popular sabe que o cliente está sempre certo! As pessoas querem mais do que eles já sabem que gostam. Então a arte popular dá isso para eles! quadrinho 8: (Haroldo) E como estão as sequências dos filmes este verão? (Calvin) Terrível! Cara, não há nada que eu odeie mais do que pagar 5 paus e ter que negociar com alguns novos enredos.

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Disponível em: http://janusaureus.files.wordpress.com/2012/03/ind-cult.jpg Acesso em: 19 fev. 2014.

Transcrição das falas: quadrinho 1: (Calvin) Oh, poderoso da mídia de massa, obrigado por elevar a emoção, reduzir o pensamento, e aniquilar a imaginação! quadrinho 2: (Calvin) Obrigado pela artificialidade das soluções rápidas e pela manipulação traiçoeira dos desejos humanos para fins comerciais. quadrinho 3: (Calvin) Esta tigela de tapioca morna representa meu cérebro. Eu ofereço em humilde sacrifício. Mantenha sua luz oscilante para sempre. quadrinho 4: sem fala. quadrinho 5: (Calvin) Você chama isto de notícia?! Isto não é informativo! quadrinho 6: (Calvin) Isto é barulheira! Isto é entretenimento! Isto é sensacionalismo! quadrinho 7: (Calvin) Ainda bem, é só para tudo isso que eu tenho paciência.

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Considerações finais

E então? Você tem fome e sede de quê? Mais cultura, mais sonhos, mais justiça, mais oportunidades, melhores condições, qualidade de vida...? Esperamos, ao menos, ter estimulado um pouco mais dessa sede, e quem sabe saciado um pouco dessa fome... Assim, teremos cumprido com o nosso desafio, que foi de levá-lo a transpor algumas das muralhas do aqui e agora para além... Além do que se vê, do que se escreve, do que se acredita... Além da imaginação e da informação objetiva, para a arte e para a cultura em dimensões mais profundas... Esperamos, sinceramente, ter proporcionado a você esta via prazerosa que suscita a reflexão e, também, a transformação de ideias. Que nesta via você tenha olhado para além da letra, deixando-se envolver pela melodia do conhecimento. Que você tenha olhado para além das imagens, encontrando novos significados, atribuindo outros sentidos... Sentidos éticos! Que as diversas possibilidades de significação desta temática tenham lhe proporcionado algum sentido para a sua vida acadêmica, pessoal e profissional, e que a partir de então você não precise apenas de comida, mas de uma boa leitura, momentos de reflexão e de transposição que o direcionem a uma ação ética diferenciada, imprimindo, quem sabe, novidades à nossa cultura e à nossa arte!

Sucesso e até a próxima!