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DIREITO INTERNACIONAL DOS CONFLITOS ARMADOS
PRISIONEIROS DE
GUERRA E PESSOAS
DETIDAS EM PODER DA
PARTE ADVERSA
Coronel CARLOS FREDERICO CINELLI
PRINCIPAIS FONTES NO DIREITO
POSITIVO E NA DOUTRINA
GPI
GPII
GCIII
GCIV
Art. 3º Comum
www.icrc.org
ARCABOUÇO NORMATIVO
Prisioneiros de Guerra (GCIII e GPI)
Pessoas que, a qualquer momento e de qualquer
forma, estiverem, em caso de conflito ou
ocupação, em poder de uma Parte no conflito ou
de uma Potência ocupante da qual não sejam
nacionais (GC IV e GPI)
Indivíduos detidos em relação com um conflito
armado não internacional por um governo ou um
grupo armado não estatal parte desse conflito (Art,
3º Comum e GPII)
QUEM SÃO OS DESTINATÁRIOS DA
NOSSA ABORDAGEM?
TERRITÓRIO OCUPADO
TERRITÓRIOINVADIDO x
Situação
transitória, breve,
de irrupção
violenta em
território de outro
Estado.
Em consequência
da intenção do
invasor de nele
permanecer, se
encontra
colocado de fato
sob a autoridade
do exército
inimigo.
(Regulamento da Convenção da Haia Relativa às Leis e
Usos da Guerra Terrestre - H.IV.R, Art. 42)
Regra geral: COMBATENTE ↔ PG
QUALQUER MEMBRO DAS FORÇAS ARMADAS, EXCETO O
PESSOAL SANITÁRIO E RELIGIOSO (GPI, Art. 43, 2)
Também são combatentes ↔ PG:
QUEM? SE…
Milícias, corpos de voluntários e movimentos de resistência organizados
pertencentes a uma das partes no conflito, estando o território ocupado ou não
(GCIII, Art. 4º, 2)
1. tiverem um Cmt responsável2. usarem um sinal distintivo fixo
e visível a distância3. trouxerem as armas à vista4. respeitarem o DICA
“levantes em massa” num território não ocupado (GCIII, Art. 4º, 6)
1. trouxerem as armas à vista2. respeitarem o DICA
Paramilitares ou serviço armado para fins de GLO incorporados às FA (GPI, Art 43, 3)
O fato tiver sido informado ao inimigo
COMBATENTE / PRISIONEIRO DE GUERRA (PG)
Sinal distintivo fixo e visível a distância ?
CATEGORIAS PECULIARIDADES
Capelães e pessoal sanitário ► têm estatuto específico
Civis (GCIV)► não podem ser atacados► estão sob a égide da GCIV
Jornalistas (GPI, Art. 79) ► são equiparados aos civis
Correspondentes de guerra e outras pessoas que
acompanham FA (GCIII, Art. 4º, A, 4)
► assumem os riscos de danos colaterais dos ataques direcionados aos combatentes
► em caso de captura, são considerados PG
Combatentes fora de combate (hors de combat) (GPI, Art. 41)
► estão em poder da parte adversa; ou► expressam claramente querer render-se (+)… não tentam evadir-se nem são hostis
Interpreta-se extensivamente → não combatente = “civil”
CONCEITO DE NÃO COMBATENTE
Pessoa que não participa diretamente das hostilidades e,
portanto, não é objetivo militar lícito
ESQUEMA SINÓTICO DOS NÃO COMBATENTES
NÃO COMBATENTES
CORRESPONDENTES
DE GUERRA
PESSOAL
SANITÁRIO
JORNALISTAS
OUTRAS PESSOAS
QUE ACOMPANHAM
AS FORÇAS ARMADAS
HORS DE COMBAT
DESLOCADOS
INTERNOSREFUGIADOS
CAPELÃES
CIVIS
REMANESCENTES
Em resumo: qualquer pessoa afetada pelas, ou envolvida nas
hostilidades, estará enquadrada em uma destas três categorias
conceituais gerais, mutuamente excludentes:
CONFLITO ARMADO INTERNACIONAL (CAI)CONFLITO ARMADO NÃO INTERNACIONAL (CANI)
TRÊS CATEGORIAS MUTUAMENTE EXCLUDENTES
São todas as forças armadas, grupos armados organizados e demais unidades que estão sob um comando responsável
pela sua conduta.
1) relação “de fato” entre o grupo e as FA (oficial ou tácita); e2) algum grau de controle por parte daquelas FA
FORÇAS ARMADAS
COMO DETERMINAR SE UM INDIVÍDUO PERTENCE AO GRUPO
ARMADO ORGANIZADO?
Critério funcional:
FUNÇÃO DE COMBATE CONTÍNUA
Apenas “acompanhamento” e “apoio contínuos” não são suficientes para definir
o pertencimento ao grupo.
GRUPOS ARMADOS ORGANIZADOS
► São combatentes ilegais, ou seja, não têm direito ao status de PG (GPI, Art. 46, 47 e 51,3):
- MEMBRO DO Sv
RELIGIOSO
- MEMBRO DO Sv
SANITÁRIO
CIVIL- População civil
- Pessoas acompanhando as FA
- Membros de tripulações
COMBATENTE (= PG)- Forças Armadas
- Levante em massa
- Milícias e corpos de voluntários
- Movimentos de resistência
- ESPIÃO
- CIVIL ENGAJADO
NAS HOSTILIDADES
DEFINIÇÃO NÃO DUVIDOSA DE STATUS
- MERCENÁRIO
(= COMBATENTE ILEGAL)
ESTÁ PARTICIPANDO
LICITAMENTE DAS
HOSTILIDADES?(meios/métodos/distinção)
É MEMBRO DAS FA DE
UMA DAS PARTES?
S
N
S
S
S
N N
N
ESTÁ PARTICIPANDO
DIRETAMENTE DAS
HOSTILIDADES?
ESTÁ EXECUTANDO
CLANDESTINAMENTE
A BUSCA DE DADOS?
Na dúvida, é PG (GCIII, Art. 5º)
ESTATUTO DA DÚVIDA
DEFINIÇÃO DUVIDOSA DE STATUS
S
ESTÁ APARENTEMENTE PARTICIPANDO LICITAMENTE
DAS HOSTILIDADES
COMBATENTE
CONVENÇÃO DE
GENEBRA III
PRESUNÇÃO DE PG
TRIBUNAL PARA DEFINIÇÃO
DE STATUS (GCIII, Art 5º): É PG?
É MEMBRO DAS
FORÇAS ARMADAS?
S
N
N
PROTOCOLO ADICIONAL I, Art 75
N
SA CONVENÇÃO DE GENEBRA IV
É APLICÁVEL?
CONVENÇÃO DE
GENEBRA IV
PRISIONEIROS DE GUERRA
Idade
Antiga
- PG = butim de guerra
- Captor detinha poder de vida ou
morte
- PG: imensos exércitos de
escravos, trabalhadores em
grandes propriedades ou
gladiadores
IMPÉRIO ROMANO
Idade
Média
BÁRBAROS (hunos, germânicos, visigodos etc)
PG eram
inevitavelmente
massacrados de
maneira sumária
Áttila
Ataque huno
Idade
Média
- Pouco muda. Apenas aos nobres
e assemelhados (suseranos e
vassalos) era dada a oportunidade
de liberdade mediante resgate em
dinheiro.
- Massacres recrudescem com as
Cruzadas (“morte aos infiéis”).
Idade
Moderna
O ILUMINISMO
Rousseau1748
1762
Idade
Contemporânea
GUERRA CIVIL AMERICANA (1861-65)
Francis Lieber (1800-1872)
Primeiros regulamentos
sistematizados e escritos
sobre tratamento de
prisioneiros de guerra:
“Ordens Gerais Nr 100, do
Departamento de Guerra”
Idade
Contemporânea
1ª GUERRA MUNDIAL
Haia IV (1907), primeira norma internacional escrita sobre tratamento com
PG, apesar de sumária e pouco detalhada
Campo de PG alemães
Idade
Contemporânea
2ª GUERRA MUNDIAL
-Tratamento parcial, de acordo com o Estado ao qual estava vinculado o PG:
primórdios da “Teoria Voluntarista”.
- A maioria dos 3 milhões de prisioneiros russos morreu devido ao inverno.
Os poucos sobreviventes foram obrigados a trabalhos escravos.
Sd americano revista alemão da SSSd alemães revistam militar russo
Idade
Contemporânea
2ª GUERRA MUNDIAL
Tribunal ad hoc de Nuremberg
GCIII (1949): ordenamento
jurídico detalhado sobre a
situação legal e condutas
com PG
Resultado da fidalguia dos brasileiros
Idade
Contemporânea
VIETNÃ
- Empenho dos EUA na
libertação (inclusive “custos
operacionais da guerra”)
- PG americanos inicialmente
tratados como criminosos (não
houvera declaração de guerra)
- PG americanos (“pistoleiros
capitalistas”) ameaçados de ir a
julgamento por crime de guerra
Idade
Contemporânea
AFEGANISTÃO
Guantánamo (Cuba)
Idade
Contemporânea
IRAQUE
Abu Ghraib (Iraque)
TRATAMENTO x ESTATUTO
Tratamento humano
Não ser alvo de represália
Água, alimentação,
alojamento e assistência
médica
Correspondência postal
Visita do CICV
Interrogatório sumário
Não exposição
Tentar evadir-se
Proteção contra os efeitos da
guerra
Determinados trabalhos, com
remuneração
“TRATAMENTO” DE PRISIONEIRO DE GUERRA (PG)
► Suboficiais: somente vigilância.
► Oficiais: somente voluntários.
► Adm, Inst e Mnt do campo,
agricultura, Ind Prod,Trnp e Mnt,
Atv comerciais e artísticas,
serviços domésticos, serviços
públicos, tudo SEM FINALIDADE
MILITAR.
► Proibidos os insalubres, perigosos ou
humilhantes, salvo se voluntariamente
(ex: remoção de minas).
► Remuneração: ¼ de franco suíço por
dia de trabalho.
TRABALHO DOS PRISIONEIROS DE GUERRA
► Ter o status de combatente significa, em tese…… poder “participar diretamente das hostilidades”… não estar protegido dos efeitos da guerra… em caso de captura, ter direito ao estatuto do PG… como PG, ter imunidade à persecução penal e, ao término do conflito, ser repatriado “sem demora” (GCIII, Art. 118).
► O combatente capturado não terá o status de PG quando…… não se tiver distinguido dos civis no curso de um ataque
ou se preparando para desencadear um ataque (GPI, Art.44, 3, 1ª parte)… no caso de movimentos de resistência e afins [“CARS”],
quando não estiver, no mínimo, portando suas armas abertamente (GPI, Art. 44, 3, in fine).
ESTATUTO do COMBATENTE
e do PRISIONEIRO DE GUERRA (GPI)
“O presente artigo não visa a modificar a prática dos Estados,geralmente aceita, a respeito do uso de uniforme peloscombatentes afetos às unidades armadas regulares de umaParte no conflito” (GPI, Art. 44, 7)
“A pessoa que tenha tomado parte nas hostilidades e não tenha direito ao
estatuto de prisioneiro de guerra nem se beneficie de um tratamento mais
favorável, em conformidade com a GCIV, terá direito a todo instante à
proteção do artigo 75 do presente Protocolo”. (GPI, Art 45, 3)
GARANTIAS FUNDAMENTAIS
“(…) serão, em qualquer circunstância, tratadas com humanidade e se
beneficiarão, pelo menos, das proteções previstas pelo presente artigo, sem
discriminação baseada na raça, cor, sexo, língua, religião ou crença,
opiniões políticas ou outras, origem nacional ou social, fortuna,
nascimento ou outra situação, ou qualquer outro critério análogo. Todas
as Partes respeitarão a pessoa, a honra, as convicções e práticas religiosas
de todas essas pessoas”.
GPI, Artigo 75 – Garantias Fundamentais
(caráter consuetudinário)
INÍCIO E FIM DA APLICAÇÃO DA 3ª
CONVENÇÃO DE GENEBRA (GCIII)
Inicia no momento em que os combatentes caírem em poder do inimigo e finaliza quando da sua libertação e repatriamento definitivo (Art. 5º).
Os que estiverem sujeitos a procedimento penal poderão ficar detidos até o final do processo ou da pena (Art. 119).
1. INSPECIONAR
2. DESARMAR
3. PROTEGER
4. ASSISTIR
5. EVACUAR PARA CAMPOS DE PRISIONEIROS APROPRIADOS
PESSOAS EM PODER DA PARTE ADVERSA
- TÍTULO III – ESTATUTO E TRATAMENTO DAS
PESSOAS PROTEGIDAS
- Seção I – Disposições Comuns aos Territórios das
Partes em Conflito e aos Ocupados
- Seção II – Estrangeiros em Território de uma Parte
em Conflito
- Seção III – Territórios Ocupados
- Seção IV – Regras Relativas ao Tratamento dos
Internados
“As Partes no conflito poderão tomar, a respeito das
pessoas protegidas, as medidas de fiscalização ou de
segurança que sejam necessárias devido à guerra”
(Art. 27).
GCIV
“Se a Potência em poder da qual se encontram as pessoas protegidas não
considerar suficientes as medidas de fiscalização mencionadas na presente
Convenção, não poderá recorrer a outras medidas de fiscalização mais severas
do que as de residência fixada ou internamento” (Art. 41).
- TÍTULO III – ESTATUTO E TRATAMENTO DAS
PESSOAS PROTEGIDAS
- Seção I – Disposições Comuns aos Territórios das
Partes em Conflito e aos Ocupados
- Seção II – Estrangeiros em Território de uma Parte
em Conflito
- Seção III – Territórios Ocupados
- Seção IV – Regras Relativas ao Tratamento dos
Internados
GCIV
“A legislação penal do território ocupado continuará em vigor, salvo na medida
em que possa ser revogada ou suspensa pela Potência ocupante, se esta legislação
constituir uma ameaça para a segurança desta Potência ou um obstáculo à
aplicação da presente Convenção (…) A Potência ocupante poderá contudo
submeter a população do território ocupado às disposições que são indispensáveis
para lhe permitir desempenhar as suas obrigações derivadas da presente
Convenção e garantir a administração regular do território (…)” (Art. 64).
EVACUAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DE UMA
REGIÃO OCUPADA (CG IV, Art 49)
APENAS EM DUAS SITUAÇÕES:
IMPERIOSAS RAZÕES MILITARES
“São proibidas as transferências forçadas de civis, em massa ou
individuais, bem como as deportações, (…) qualquer que seja o motivo”.
“Toda pessoa detida, presa ou internada por atos relacionados
com um conflito armado será informada sem demora, em um
idioma que compreenda, das razões pelas quais tais medidas
foram tomadas. Exceto em casos de detenção ou prisão devida
a uma infração penal, será liberada tão logo que possível e em
qualquer caso, desde que tenham cessado as circunstâncias
que justificavam sua prisão, sua detenção ou sua internação”
(GPI, Art. 75, 3).
“As mulheres privadas de liberdade por motivos relacionados com o conflito armado serão
mantidas em locais separados dos locais dos homens. Serão colocadas sob vigilância direta
de mulheres. No entanto, quando ocorrer a prisão, detenção ou internação de famílias, a
unidade familiar deverá ser preservada, na medida do possível, quanto ao alojamento”
(GPI, Art. 75, 5).
- TÍTULO IV – POPULAÇÃO CIVIL
- Seção III – Tratamento das Pessoas em Poder de
uma Parte em Conflito
- Capítulo I – Âmbito de Aplicação
- Capítulo II – Mulheres e Crianças
- Capítulo III – Jornalistas
“Os jornalistas que cumprem missões profissionais perigosas em zonas de conflito armado
são considerados civis” (GPI, Art. 79, 1).
GPI
“Os internados deverão
ser alojados e
administrados
separadamente dos
prisioneiros de guerra e
das pessoas que
estiverem, por qualquer
razão, privadas de
liberdade” (GCIV, Art. 84)
IC PW