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COMISSÃO AFRICANA DOS DIREITOS HUMANOS E DOS POVOS Princípios e Diretrizes sobre Direitos Humanos e dos Povos no Combate ao Terrorismo na África

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COMISSÃO AFRICANA DOS DIREITOS HUMANOS E DOS POVOS

Princípios e Diretrizes sobre Direitos Humanos e dos Povos no Combate ao Terrorismo na África

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PRINCÍPIOS E DIRETRIZES SOBRE DIREITOS HUMANOS E DOS POVOS NO COMBATE AO TERRORISMO NA ÁFRICA

COMISSÃO AFRICANA DOS DIREITOS HUMANOS E DOS POVOS

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ÍNDICE

02 | Princípios e Diretrizes sobre Direitos Humanos e dos Povos no Combate ao Terrorismo na África

PORTUGUÊS

PREFÁCIO 5

NOTAS EXPLICATIVAS 8

PREÂMBULO 9

PARTE 1. PRINCÍPIOS GERAIS 12 A. Obrigação de Abstenção de Atos de Terrorismo 12 B. Obrigação de Prevenir o Terrorismo 12 C. Obrigação de Proteger contra o Terrorismo 13 D. Obrigação de Assegurar a Responsabilização 13 E. Obrigação de Proporcionar um Recurso Eficaz 13 F. Obrigação de Proporcionar Reparação 14 G. Proibição de Discriminação 14 H. Medidas Especiais 14 I. Liberdades Fundamentais 15 J. Independência Judicial 15 K. Princípio da Legalidade 15 L. Extraterritorialidade 15 M. Inadmissibilidade de Derrogações e Restrições

de Direitos Humanos e Liberdades 15 N. Os Princípios e Diretrizes 16

PARTE 2. PRIVAÇÃO ARBITRÁRIA DA VIDA E USO DA FORÇA 17 A. Direito à Vida 17

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PORTUGUÊS | 03Princípios e Diretrizes sobre Direitos Humanos e dos Povos no Combate ao Terrorismo na África

B. Uso de Força Letal e Não Letal 17 (i) Planejamento e Preparação 17 (ii) Obrigação de Reportar, Investigar e Processar 17 (iii) Assistência Médica 18

PARTE 3. LIBERDADE, PRISÃO E DETENÇÃO 19 A. Proibição de Detenção Arbitrária 19 B. Direitos da Pessoa Presa ou Detida 19 (i) Notificação de Direitos 19 (ii) Notificação das Razões para Prisão ou Detenção e

Notificação de Acusação 20 (iii) Direito a Representação Jurídica 20 (iv) Direito à Não Autoincriminação 20 (v) Direito a Contestar Imediatamente a Detenção 20 (vi) Assistência e Exames Médicos 21 (vii) Comunicação com o Exterior 21 C. Privação da Liberdade antes de Julgamento ou Acusação 21 D. Tratamento Humano de Indivíduos Privados da Liberdade 22 (i) Proibição de Tortura 22 (ii) Proibição de Desaparecimentos 22 (iii) Proibição de Detenção Secreta 22 (iv) Condições de Detenção e Reclusão 23

PARTE 4. DIREITO A JULGAMENTO JUSTO 24 A. Julgamento Justo 24 B. Tribunais Militares ou outros Tribunais Especiais 24 C. Prova 24 (i) Utilização de Provas 24 (ii) Provas Secretas 25 (iii) Provas Obtidas Ilegalmente 25 (iv) Responsabilização por Provas Ilegais 25 D. Proibição de Ser Julgado Duas Vezes pela Mesma Infração 25

PARTE 5. TRANSFERÊNCIAS DE PESSOAS 26 A. Transferências 26 (i) Supervisão Judicial 26 (ii) Não Repulsão 26

PARTE 6. CRIMINALIZAÇÃO E SANCIONAMENTO DO TERRORISMO 28 A. Responsabilização: 28 B. Clareza e Especificidade da Lei 28 C. Responsabilidade Criminal Indireta 28

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04 | Princípios e Diretrizes sobre Direitos Humanos e dos Povos no Combate ao Terrorismo na África

PORTUGUÊS

D. Criminalização de Organização/Associação 29 E. Assistência no Acesso aos Direitos Humanos 29 F. Proporcionalidade da Pena 29 G. Registro 29 (i) Intenção 30 (ii) Notificação 30 (iii) Recurso e Retirada do Registro 30 (iv) Reparações 30

PARTE 7. COOPERAÇÃO NO COMBATE AO TERRORISMO 31 A. Obrigação de Cooperar 31 B. Comissão de Atos Internacionalmente Ilícitos 31 C. Cooperação entre Órgãos da União Africana e a Sociedade Civil 31

PARTE 8. EMPRESAS PRIVADAS DE SEGURANÇA (EPS) 33 A. Responsabilização das Empresas Privadas de Segurança 33

PARTE 9. APATRIDIA 34 A. Proibição de Apatridia 34

PARTE 10. DEFENSORES DE DIREITOS HUMANOS DEFENSORES, VITIMAS,

TESTEMUNHAS, JORNALISTAS, INVESTIGADORES, JUÍZES, E OUTROS 35 A. Instituições Nacionais de Direitos Humanos 35 B. Proteção pelo Estado 35 C. Deveres para com as Vítimas 36 D. Definição de Vítima de Terrorismo 36

PARTE 11. DIREITO À PRIVACIDADE 37 A. Privacidade e Vigilância 37

PARTE 12. DIREITO DE ACESSO À INFORMAÇÃO E DIREITO À VERDADE 38 A. Direito de Acesso à Informação e Direito à Verdade 38

PARTE 13. SEGURANÇA HUMANA 40 A. Segurança Humana 40

PARTE 14. IMPLEMENTAÇÃO 41 A. Implementação de Medidas Revisões 41 B. Disseminação 41 C. Formação 41 D. Relatórios 41

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PORTUGUÊS | 05

Estes Princípios e Diretrizes sobre Direitos Humanos e dos Povos no Combate ao Terrorismo na África foram adotados pela Comissão Africana sobre Direitos Hu-manos e dos Povos durante sua 56ª Sessão Ordinária em Banjul, Gâmbia (realiza-da de 21 de abril a 7 de maio de 2015).

Os Princípios e Diretrizes foram desenvolvidos com base no Artigo 45(1)(b) do Estatuto Africano, que obriga a Comissão a elaborar normas, princípios e regras sobre as quais os governos africanos podem basear sua legislação. Eles são ba-seados em tratados regionais africanos, jurisprudências, normas e resoluções

desta Comissão; e em tratados internacionais de direitos humanos e resoluções do Conselho de Segu-rança da ONU. Os Princípios e Diretrizes também levam em consideração outras decisões e mecanis-mos especiais de direitos humanos regionais e internacionais, resoluções da Assembleia Geral da ONU, incluindo a Estratégia Global Contra o Terrorismo de 2006, e os pareceres do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.

Os Princípios e Diretrizes foram concebidos e elaborados após as instituições da União Africana e seus Estados Membros terem publicado resoluções e colocado em vigor diversos mecanismos para respon-der a atos graves de terrorismo e extremismo violento. Entre eles, os mais proeminentes são a Conven-ção da OUA sobre a Prevenção e Combate ao Terrorismo e seu Protocolo. Nesta mesma ocasião, a União Africana enfatizou a necessidade de os Estados Membros respeitarem os direitos do Estatuto Africano dos Direitos Humanos e dos Povos e outros instrumentos de direitos humanos regionais e internacionais.

A Comissão, por sua vez, publicou a Resolução 88/2005 sobre a Proteção dos Direitos Humanos e o Es-tado de Direito na Luta contra o Terrorismo, que reafirmou que os “Estados Africanos deverão garantir que as medidas tomadas para combater o terrorismo estejam totalmente de acordo com suas obriga-ções previstas no Estatuto Africano dos Direitos Humanos e dos Povos e outros tratados internacionais de direitos humanos, incluindo o direito à vida, a proibição de prisões e detenções arbitrárias, o direito a uma audiência justa, a proibição de tortura e outras penas e tratamentos cruéis, desumanos e degra-dantes e o direito de buscar asilo.”

As instituições da União Africana e os Estados Membros também reconheceram que as causas raiz desta violência precisam ser abordadas de maneira abrangente, inclusive através de mecanismos que res-peitem os direitos humanos e de estratégias que capacitem organizações da sociedade civil, incluindo líderes religiosos, mulheres, jovens e também grupos vulneráveis.

PREFÁCIO

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06 | Princípios e Diretrizes sobre Direitos Humanos e dos Povos no Combate ao Terrorismo na África

PORTUGUÊS

Sob o prisma destas considerações, a Comissão adotou seus Princípios e Diretrizes para auxiliar os Esta-dos a implementarem suas obrigações relativas a direitos humanos no combate ao terrorismo e outras formas de extremismo violento. Na conjuntura atual, os atos de terrorismo e suas respectivas violações de direitos humanos conseguem afetar quase todos os aspectos da vida e impactar todos os tipos de direitos, sejam civis ou políticos, econômicos, sociais e culturais; ou direitos de um determinado grupo.

Estes Princípios e Diretrizes são especiais no sentido em que, à primeira vista, contêm “Notas Expli-cativas” que mostram ao leitor a fonte de autoridade em que são baseados. Eles fornecem assim um conjunto de 14 Princípios Gerais, tais como não discriminação e obrigação de reparar danos, e orienta-ções sobre questões específicas que esta Comissão considerou como sendo particularmente relevantes para a proteção de direitos humanos no combate ao terrorismo. Desta forma, a Comissão reconhece que, embora alguns pontos possam não estar expressamente cobertos nos Princípios e Diretrizes, eles deverão estar cobertos pelos 14 Princípios Gerais e pelos instrumentos de direitos humanos que se encontram em outras partes.

De forma a fornecer aos Estados orientações que sejam mais eficazes no tocante ao respeito e garantia de suas obrigações relativas a direitos humanos no combate ao terrorismo, os Princípios e Diretrizes se propõem a cumprir quatro objetivos específicos:

• Focar nas vítimas: A Comissão reconheceu que as vítimas do terrorismo também são bastante marginalizadas das discussões mantidas pelos Estados e organizações intergovernamentais com o intuito de prevenir e combater o terrorismo. Por esta razão, os Princípios e Diretrizes dedicam um tempo considerável à necessidade de prevenir e punir atos de terrorismo e de fornecer assis-tência as suas vítimas.

• Contextualizar o fenômeno do terrorismo: Os Princípios e Diretrizes refletem a realidade que os atos de terrorismos e suas respectivas violações dos direitos humanos não existem em um con-texto isolado. Pelo contrário, uma estratégia eficaz exige que reformas institucionais e estruturais abordem suas causas raiz. Isto está de acordo com o Comunicado da 455ª assembleia do Conse-lho de Paz e Segurança sobre terrorismo e extremismo violento que foi realizada na África em 2 de setembro de 2014, onde foi acordado que os Estados precisam “abordar todas as condições propícias à disseminação do terrorismo e extremismo violento, inclusive conflitos prolongados sem resolução, ausência do estado de direito e violações de direitos humanos, discriminação, ex-clusão política, marginalização socioeconômica e governança inadequada”, e que a erradicação da pobreza, geração de empregos e desenvolvimento podem ser componentes essenciais para uma estratégia de sucesso.

• Resposta à novos problemas: Os Princípios e Diretrizes abordam um amplo conjunto de ques-tões de direitos humanos, incluindo novos problemas que lamentavelmente costumam estar re-lacionados à prevenção e ao combate ao terrorismo e extremismo violento. Para esta finalidade, os Princípios e Diretrizes contêm regras gerais e específicas que se aplicam ao direito à vida; privação de liberdade, tratamento humano e julgamentos justos; rendições e transferências; leis antiterrorismo e “listas de alerta”; cooperação interestadual; empresas de segurança privada; apatridia e cidadania; defensores dos direitos humanos; direito à privacidade e acesso à informa-ção; e segurança humana.

• Salientar a importância da cooperação e implementação destes Princípios e Diretrizes: A coo-peração entre as instituições da União Africana no sentido de respeitar os direitos humanos no combate ao terrorismo e a necessidade de implementar o conteúdo dos Princípios e Diretrizes constituem o último pilar sobre os quais estes estão apoiados. O sucesso dos Princípios e Dire-trizes em alcançar o respeito pelos direitos humanos no combate ao terrorismo, assim como o uso dos direitos humanos para reduzir sua prevalência, será mensurado até o limite em que eles sejam conhecidos e implementados pelos Estados Membros do Estatuto Africano.

A Comissão Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos apela a todas as partes interessadas para que utilizem os Princípios e Diretrizes sobre Direitos Humanos e dos Povos no Combate ao Terrorismo na

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PORTUGUÊS | 07Princípios e Diretrizes sobre Direitos Humanos e dos Povos no Combate ao Terrorismo na África

África no sentido de informar seus esforços no fortalecimento dos mecanismos de proteção aos direitos humanos e na prevenção do terrorismo e extremismo violento.

A Comissão Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos prosseguirá com o diálogo em níveis inter-nacional, continental, subregional e nacional com todos os envolvidos e compartilhará ideias sobre oportunidades de promover estratégias que respeitem e garantam os direitos humanos no combate ao terrorismo e extremismo violento.

Este documento, conforme ratificado pelos leitores e por todos aqueles que trabalham com a Comis-são, é uma contribuição embasada ao pacote de trabalhos criado para consolidar o Estatuto Africano de Direitos Humanos e dos Povos em todos os países africanos. Assim, este documento é seu e eu desejo que você faça bom uso dele no que tiver que ser realizado: de forma que a vida e a dignidade humana sejam para sempre protegidas em nosso amado continente.

Sra. Reine Alapini-GansouRelatora Especial dos Defensores dos Direitos Humanos na ÁfricaEx-Presidente da Comissão Africana de Direitos Humanos e dos Povos

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08 | Princípios e Diretrizes sobre Direitos Humanos e dos Povos no Combate ao Terrorismo na África

PORTUGUÊS

NOTAS EXPLICATIVAS

Os Princípios e Diretrizes sobre Direitos Humanos e dos Povos no Combate ao Terrorismo na África são acompanhados por Notas Explicativas de caráter informativo. Estas Notas fornecem material de suporte para os Princípios e Diretrizes e incluem fontes do direito convencional africano, da jurisprudência da Comissão Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos, das Diretrizes e Medidas para a Proibição e Prevenção da Prática de Tortura e Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes na África, das Diretrizes sobre as Condições de Detenção, Custódia Policial e Prisão Preventiva na África, dos Princípios e Diretrizes sobre o Direito a um Julgamento Justo e Assistência Jurídica na África e dos Princípios Globais sobre Segurança Nacional e o Direito à Informação (“Princípios Globais” ou “Princípios de Tshwane”), assim como do direito convencional internacional dos direitos humanos e resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Os Princípios e Diretrizes foram elaborados tendo também em consideração outros mecanismos especiais e decisões de direitos humanos internacionais e regionais, resoluções da Assembleia Geral das Nações Unidas, incluindo a Estratégia Global das Nações Unidas de Combate ao Terrorismo de 2006, e as opiniões do Gabinete do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Sempre que os materiais de apoio aos Princípios e Diretrizes forem evidentes, não são disponibilizadas Notas.

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PORTUGUÊS | 09

A Comissão Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos;

Convencida de que os atos de terrorismo são deploráveis e não podem ser justificados em circunstâncias de qualquer ordem; que o terrorismo constitui uma violação grave dos direitos humanos e uma ameaça à paz, segurança, desenvolvimento e democracia; e que é imperativo para os Estados africanos adotar to-das as medidas necessárias para proteger suas populações contra atos de terrorismo e implementar to-dos os instrumentos humanitários e de direitos humanos relevantes ao nível continental e internacional;

Nota Explicativa: Ver Protocolo da Convenção da OUA sobre a Prevenção e Combate ao Terrorismo, Preâmbulo.

Reafirmando o nosso apoio à Convenção da Organização de Unidade Africana sobre a Prevenção e Combate ao Terrorismo de julho de 1999 e o seu protocolo de 2004; e rejeitando e condenando vee-mentemente o pagamento de resgates a grupos terroristas;

Nota Explicativa: Sobre a rejeição de resgates, ver o Comunicado do Conselho de Paz e Segurança da União Africana, na sua 455.ª reunião sobre a prevenção e combate ao terrorismo e extremismo violento na África de 2 de setembro de 2014, parág. 24.

Considerando a definição de “terrorismo” contida no Artigo 28(G) do Protocolo sobre Alterações ao Protocolo sobre o Estatuto do Tribunal Africano de Justiça e Direitos do Homem, e as resoluções re-levantes do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre combate ao terrorismo, em particular a Resolução 1373 (2001);

Considerando também que as causas profundas do terrorismo são complexas e todas as situações que levam à disseminação do terrorismo e do extremismo violento têm de ser resolvidos, incluindo os conflitos prolongados não solucionados, a ausência de legalidade e as violações de direitos humanos, a discriminação, o desfavorecimento laboral e educativo, a exclusão política, a marginalização socioeco-nômica e a governança inadequada, salientando, todavia, que nenhuma destas situações pode descul-par ou justificar atos de terrorismo;

Nota Explicativa: Ver o Comunicado do Conselho de Paz e Segurança da União Africana, na sua 455.ª reunião sobre a prevenção e combate ao terrorismo e extremismo violento na África de 2 de setembro de 2014, parág. 29.

PREÂMBULO

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10 | Princípios e Diretrizes sobre Direitos Humanos e dos Povos no Combate ao Terrorismo na África

PORTUGUÊS

Salientando que estas causas raiz têm de ser resolvidas de uma forma abrangente, incluindo através de mecanismos de desradicalização e combate ao radicalismo que respeitem os direitos humanos, e através de estratégias que capacitem as organizações da sociedade civil, incluindo líderes religiosos, mulheres e jovens, assim como grupos vulneráveis;

Nota Explicativa: Ver o Comunicado do Conselho de Paz e Segurança da União Africana, na sua 455.ª reunião sobre a prevenção e combate ao terrorismo e extremismo violento na África de 2 de setembro de 2014, parág. 29.

Salientando também que, embora a disseminação do terrorismo possa, em certas circunstâncias, ser intensificada pelo uso da Internet e das redes sociais, a Internet e as redes sociais são ferramentas que podem ser usadas para combater a disseminação do terrorismo e não deverão ser vistas como uma ameaça em si mesmas;

Nota Explicativa: Ver Assembleia Geral das Nações Unidas, Resolução 60/288: Estratégia Global de Combate ao Terrorismo, Seção II, parág. 12.

Relembrando que a Convenção sobre a Prevenção e Combate ao Terrorismo estabelece que nada nessa convenção deve ser interpretado no sentido de derrogar os princípios gerais do direito internacional, em particular os princípios do direito humanitário internacional, assim como a Carta Africana dos Direi-tos do Homem e dos Povos; e que a Estratégia Global de Combate ao Terrorismo das Nações Unidas de 2006 reconhece que “desenvolvimento, paz e segurança e direitos humanos estão interligados e reforçam-se mutuamente”;

Nota Explicativa: Ver Convenção da Organização de Unidade Africana sobre a Prevenção e Combate ao Terrorismo, Artigo 22(1); e Assembleia Geral das Nações Unidas, Resolução 60/288: Estratégia Global de Combate ao Terrorismo, Preâmbulo e Seção IV.

Reafirmando a sua determinação em libertar África do flagelo do terrorismo e do extremismo violento, o terrorismo não pode e não deve ser associado a qualquer religião, nacionalidade, civilização ou gru-po e que o cerceamento dos direitos humanos pode criar maior instabilidade; que os Estados têm de prestar atenção às dimensões de gênero do terrorismo e antiterrorismo, que as mulheres e as crianças são, muitas vezes, as vítimas diretas e indiretas do terrorismo e antiterrorismo, e que os direitos humanos têm de ser respeitados e protegidos de forma permanente; que o uso de crianças como instrumentos de terrorismo tem de ser condenado; e que os Estados não podem usar o combate ao terrorismo como um pretexto para restringir, ilegal e arbitrariamente, liberdades fundamentais, em particular a liberdade de reunião, de expressão, associação, religião e deslocação, e o direito à privacidade e propriedade;

Nota Explicativa: Ver o Comunicado do Conselho de Paz e Segurança da União Africana, na sua 455.ª reunião sobre a prevenção e combate ao terrorismo e extremismo violento na África de 2 de setembro de 2014, parág. 6 e 28; Comun. 143/95-150/96, Constitutional Rights Project e Civil Liberties Organisation v. Nigéria (novembro 1999), parág. 33; CADHP, Resolução 283: Situação de Mulheres e Crianças em Conflitos Armados; Relatório do Relator Especial sobre a promoção e proteção dos direitos humanos e liberdades fundamentais durante o combate ao terrorismo, Martin Scheinin, A/64/211, 3 de agosto 2009; e Nota Explicativa do Princípio 1(I), Liberdades Fundamentais e Princípio 1(M), Não Derrogações e Restrições sobre Direitos Humanos e Liberdades.

Reconhecendo as obrigações dos Estados na promoção da justiça para as vítimas de terrorismo e na prestação de apoio no tratamento físico e psicológico e na reabilitação social destas vítimas;

Nota Explicativa: Ver Relatório do Relator Especial sobre a promoção e proteção dos direitos humanos e liberdades fundamentais durante o combate ao terrorismo, Ben Emmerson, A/HRC/20/14, 4 junho 2012, parágs. 61-62.

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PORTUGUÊS | 11Princípios e Diretrizes sobre Direitos Humanos e dos Povos no Combate ao Terrorismo na África

Relembrando que o Protocolo Relativo à Constituição do Conselho de Paz e Segurança da União Africa-na convida o Conselho de Paz e Segurança a procurar uma cooperação próxima com a Comissão Afri-cana sobre os Direitos Humanos e dos Povos em todas as matérias relevantes para os seus objetivos e mandato e que a Comissão Africana sobre os Direitos Humanos e dos Povos deverá levar à atenção do Conselho de Paz e Segurança qualquer informação relevante para os objetivos e o mandato do Conse-lho de Paz e Segurança;

Relembrando também o pedido do Conselho de Paz e Segurança, na sua 455.ª reunião, para que a Comissão Sobre Terrorismo e Extremismo Violento na África trabalhe em conjunto com a Comissão Afri-cana sobre os Direitos Humanos e dos Povos para continuar a apoiar os esforços dos Estados Membros para promover e garantir o respeito pelos direitos humanos e pelo direito humanitário internacional durante a prevenção e combate ao terrorismo;

Relembrando ainda que o mandato da Comissão, nos termos do Artigo 45(1)(b) da Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos, é “formular e elaborar, com vista a servir de base à adoção de textos legislativos pelos governos africanos, princípios e regras que permitam resolver os problemas jurídicos relativos ao gozo dos direitos do homem e dos povos e das liberdades fundamentais”;

Reconhecendo que continua a ser necessário formular e elaborar princípios e regras que reforcem ain-da mais e complementem as disposições relativas às proteções dos direitos humanos no contexto dos direitos humanos e combate ao terrorismo;

Relembrando que o Artigo 1 da Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos exige que os Esta-dos reconheçam os direitos, liberdades e deveres consagrados na Carta e que promovam a adoção de medidas legislativas ou outras medidas que as tornem eficazes; e que o Artigo 26 exige que os Estados garantam a independência dos Tribunais e permitam a criação e melhoria de instituições nacionais apropriadas responsáveis pela promoção e proteção dos direitos e liberdades garantidos pela Carta;

Reafirmando a Resolução 88 sobre a Proteção dos Direitos Humanos e o Primado do Direito na Luta contra o Terrorismo e reconhecendo que estes Princípios e Diretrizes sobre Direitos Humanos e dos Po-vos no Combate ao Terrorismo na África devem ser lidos juntamente com a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, as Diretrizes e Medidas para a Prevenção e Proibição da Tortura e Outros Trata-mentos ou Punições Cruéis, Desumanas ou Degradantes na África, as Diretrizes sobre as Condições de Detenção, Custódia Policial e Prisão Preventiva na África, os Princípios e Diretrizes sobre o Direito a um Julgamento Justo e Assistência Jurídica na África, os Princípios Globais sobre Segurança Nacional e o Direito à Informação (“Princípios Globais” ou “Princípios de Tshwane”), e quaisquer outros documentos atuais ou futuros relevantes para o terrorismo e o combate ao terrorismo; e

Solenemente proclama estes Princípios e Diretrizes sobre Direitos Humanos e dos Povos no Combate ao Terrorismo na África e insta a que sejam tomadas todas as medidas necessárias pelos Estados parte e outras partes interessadas na área dos direitos humanos e dos povos para que venham a ser do co-nhecimento geral na África; sejam promovidos pelas autoridades do Estado a todos os níveis; sejam incorporados nas legislações nacionais e respeitados; e sejam disponibilizados os recursos necessários para serem implementados com eficácia.

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PARTE 1PRINCÍPIOS GERAIS

12 | Princípios e Diretrizes sobre Direitos Humanos e dos Povos no Combate ao Terrorismo na África

PORTUGUÊS

A. Obrigação de Abstenção de Atos de Terrorismo: Os Estados devem abster-se de quaisquer atos destinados a organizar, apoiar, financiar, cometer ou incitar à prática de atos terroristas, ou fornecer refúgios para terroristas, direta ou indiretamente. A obrigação de se abster de atos de terrorismo deverá ser cumprida em conformidade com as obrigações dos Estados ao abrigo do direito interna-cional humanitário, dos direitos humanos e dos refugiados.

Nota Explicativa: Ver Convenção da Organização de Unidade Africana sobre a Prevenção e Combate ao Terrorismo, Artigo 4(1) e 22(1); Conselho de Segurança das Nações Unidas, Resolução 1373, parág. 2(a); Ato Constitutivo da União Africana, Artigo 4(o); Convenção que Regula Aspectos Específicos dos Problemas dos Refugiados na África, Artigo 3; Assembleia Geral das Nações Unidas, Declaração de Princípios de Direito Internacional Respeitantes às Relações Amigáveis e Cooperação Entre Estados em Conformidade com a Carta das Nações Unidas, 24 de outubro de 1970; Protocolo da Convenção da OUA sobre a Prevenção e Combate ao Terrorismo, Preâmbulo; Protocolo Relativo à Constituição do Conselho de Paz e Segurança da União Africana, Artigo 3(f); e Assembleia Geral das Nações Unidas Resolução 60/288: Estratégia Global de Combate ao Terrorismo das Nações Unidas, Seção IV.

B. Obrigação de Prevenir o Terrorismo: Os Estados devem desenvolver todas as ações necessárias para prevenir a prática e o financiamento de atos terroristas, incluindo o envio de alertas atempa-dos a outros Estados através da troca de informações; recusando abrigo seguro a quem financia, planeja, apoia ou comete atos terroristas, ou disponibiliza abrigos seguros; e impedindo que quem financia, planeja, facilita ou comete atos terroristas utilize os respectivos territórios para tais efeitos, contra outros Estados ou indivíduos em outros Estados. Para assegurar que os Estados cumprem a sua obrigação de prevenir o terrorismo, o Estado tem de disponibilizar às autoridades responsá-veis a necessária formação especializada e assistência técnica e material. Os Estados têm ainda de adotar, conforme o necessário, políticas e programas não punitivos de combate à radicalização e des-radicalização que envolvam o compromisso e o trabalho com os meios de comunicação social, organizações da sociedade civil, líderes da comunidade, autoridades religiosas, mulheres e vítimas do terrorismo, instituições de ensino formal e informal, assim como reformas legislativas, programas de reabilitação de cadeias e a criação de capacidades nacionais, para assegurar a implementação eficaz e a sustentabilidade destas medidas associadas. A obrigação de prevenir o terrorismo tem de ser cumprida em conformidade com as obrigações dos Estados no âmbito do direito internacional humanitário, dos direitos humanos e dos refugiados.

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PORTUGUÊS | 13Princípios e Diretrizes sobre Direitos Humanos e dos Povos no Combate ao Terrorismo na África

Nota Explicativa: Ver Conselho de Segurança das Nações Unidas, Resolução 1373, parágs. 1(a) e 2(a-d); Plano de Atuação da Reunião Intergovernamental de Alto Nível da União Africana sobre a Prevenção e Combate ao Terrorismo na África, Preâmbulo, parág. 4; Convenção da Organização de Unidade Africana sobre a Prevenção e Combate ao Terrorismo, Artigo 22(1); Protocolo da Convenção da OUA sobre a Prevenção e Combate ao Terrorismo, Preâmbulo; Protocolo Relativo à Constituição do Conselho de Paz e Segurança da União Africana, Artigo 3(f); Assembleia Geral das Nações Unidas, Resolução 60/288: Estratégia Global de Combate ao Terrorismo das Nações Unidas, Seção IV; Conselho de Paz e Segurança, Relatório do Presidente da Comissão sobre Terrorismo e Extremismo Violento na África, 455.ª Reunião ao Nível de Chefes de Estado e de Governo, Nairóbi, Quénia, 2 de setembro de 2014, parágs. 74, 80 e 83.

C. Obrigação de Proteger contra o Terrorismo: Os Estados devem, em conformidade com as suas obrigações no âmbito do direito internacional humanitário, dos direitos humanos e dos refugiados, proteger os povos no seu território ou sob a sua jurisdição contra violência ilegal, incluindo atos de terrorismo. Os Estados devem, de igual modo, proteger suspeitos de terrorismo, as suas famílias e associados contra o assédio, outros ataques e a justiça vigilante.

Nota Explicativa: Ver Comun. 245/02, Fórum das ONG de Direitos Humanos do Zimbábue v. Zimbábue (maio 2006), parág. 143; Comun. 74/92, Comissão nacional dos direitos do homem e das liberdades v. Chade (outubro 1995), parág. 20; Convenção da Organização de Unidade Africana sobre a Prevenção e Combate ao Terrorismo, Artigo 22(1); Protocolo da Convenção da OUA sobre a Prevenção e Combate ao Terrorismo, Preâmbulo; Protocolo Relativo à Constituição do Conselho de Paz e Segurança da União Africana, Artigo 3(f); e Assembleia Geral das Nações Unidas, Resolução 60/288: Estratégia Global de Combate ao Terrorismo das Nações Unidas, Seção IV(2).

D. Obrigação de Assegurar a Responsabilização: Os Estados devem investigar com eficácia e divulgar publicamente informações sobre abusos de direitos humanos, e submeter à justiça, incluindo me-diante acusação, perpetradores de violações dos direitos humanos. Uma ordem de um oficial supe-rior ou de uma autoridade pública não pode ser invocada como justificação ou desculpa legítima para um abuso de direitos humanos. Esta regra aplica-se a abusos de direitos humanos que resultam de atos de terrorismo e de antiterrorismo.

Nota Explicativa: Ver Conselho de Segurança das Nações Unidas, Resolução 1373, parág. 2(e); Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos, Artigo 1; Convenção Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, Artigo 2(2); Convenção das Nações Unidas contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Punições Cruéis, Desumanos ou Degradantes, Artigos 2(1), 2(3), e 4(1); Convenção das Nações Unidas para a Proteção de Todas as Pessoas Contra os Desaparecimentos Forçados, Artigo 4 e 6(2); Diretrizes e Medidas para a Proibição e Prevenção da Prática de Tortura e Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes na África, Diretriz 11; Código de Conduta para Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, Artigo 5; Comun. 288/2004, Gabriel Shumba v. República do Zimbábue (maio de 2012), nota 16; Comun. 245/02, Fórum das ONG de Direitos Humanos do Zimbábue v. Zimbábue (maio de 2006), parág. 143; Comun. 74/92, Comissão nacional dos direitos do homem e das liberdades v. Chade (outubro de 1995), parág. 20; e ver também Nota Explicativa do Princípio 12(A), Direito de Acesso à Informação e o Direito à Verdade.

E. Obrigação de Proporcionar um Recurso Eficaz: Quando um Estado, ou qualquer outra entidade, vio-la direitos humanos de uma pessoa, o Estado deve proporcionar um recurso eficaz que esteja dispo-nível e seja eficaz e suficiente. O recurso é considerado disponível se a pessoa puder aplicá-lo sem impedimento, é considerado eficaz se oferecer perspectivas de sucesso e é suficiente se for capaz de corrigir a queixa. Esta regra aplica-se no contexto de abusos de direitos humanos que resultam de atos de terrorismo e de antiterrorismo.

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Nota Explicativa: Ver Carta Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos, Artigos 1 e 7(1)(a); Comun. 147/95 e 149/96, Dawda Jawara v. Gâmbia (maio de 2007), parág. 32; Princípios e Diretrizes sobre o Direito a um Julgamento Justo e Assistência Jurídica na África da Comissão Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos, Seção C (“Direito a um Recurso Eficaz”); Comitê Contra Tortura, Comentário Geral 3 sobre Implementação do Artigo 14 pelos Estados Partes, parág. 5; Comun. 245/02, Fórum das ONG de Direitos Humanos do Zimbábue v. Zimbábue (maio de 2006), parág. 143; Comun. 74/92, Comissão nacional dos direitos do homem e das liberdades v. Chade (outubro 1995), parág. 20; Nota Explicativa do Princípio 12(A), Direito de Acesso à Informação e o Direito à Verdade.

F. Obrigação de Proporcionar Reparação: Os Estados devem proporcionar reparação integral e eficaz às pessoas que tenham sofrido danos físicos ou outros ou que tenham sofrido violações dos seus direitos humanos como consequência de atos de terrorismo praticados em nome da luta contra o terrorismo. A reparação integral e eficaz deverá incluir, quando aplicável e tendo em conta os danos, restituição, compensação, reabilitação, satisfação e garantias de não repetição. Para facilitar esta responsabilidade, os Estados são incentivados a, em conformidade com as normas de direitos humanos regionais e internacionais, constituir um mecanismo de financiamento para compensar as vítimas de atos terroristas. (Ver Princípio 10(D), Definição de Vítima de Terrorismo.)

Nota Explicativa: Ver Relatório do Relator Especial sobre a promoção e proteção dos direitos humanos e liberdades fundamentais durante o combate ao terrorismo (Dez áreas de boas práticas no combate ao terrorismo), Martin Scheinin A/HRC/16/51, dezembro de 2010, parág. 25; Comitê Contra a Tortura, Comentário Geral 3 sobre Implementação do Artigo 14 pelos Estados parte; Assembleia Geral das Nações Unidas, Resolução 60/147: Princípios e Diretrizes Básicos sobre o Direito a um Recurso e Reparação para Vítimas de Violações Massivas do Direito Internacional dos Direitos Humanos e Violações Graves do Direito Internacional Humanitário, Seção IX (Reparação pelos danos sofridos), parágs. 15-23; Protocolo da Convenção da OUA sobre a Prevenção e Combate ao Terrorismo, Artigo 3(1)(c); e Nota Explicativa do Princípio 12(A), Direito de Acesso à Informação e o Direito à Verdade.

G. Proibição de Discriminação: Cada indivíduo deverá ser igual perante a lei e ter direito a proteção

igual da lei. Cada indivíduo deverá ter direito ao gozo dos seus direitos humanos e liberdades sem qualquer tipo de distinção prejudicial, incluindo, entre outros, de raça, grupo étnico, cor, sexo, lín-gua, religião, opinião política ou outro tipo de opinião, origem nacional e social, fortuna, nascimento ou deficiência. Os Estados devem assegurar que as medidas antiterrorismo não atinjam indivíduos com base em critérios discriminatórios.

Nota Explicativa: Ver Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos, Artigos 2 e 3; Carta Africana dos Direitos e Bem-estar das Crianças, Artigo 3; Protocolo da Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos sobre os Direitos das Mulheres na África, Artigo 2; Convenção da União Africana para a Proteção e Assistência de Pessoas Deslocadas Internamente na África, Artigo 4(a); Convenção que Regula Aspectos Específicos dos Problemas dos Refugiados na África, Artigo 4; Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, Artigo 4(1); Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, Artigo 2; Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, Artigo 2(2); Convenção das Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contras as Mulheres, Artigo 1; e Convenção das Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, Artigo 1. Ver também CADHP, Diretrizes sobre as Condições de Detenção, Custódia Policial e Prisão Preventiva na África e Nota Explicativa do Princípio 6(D), Criminalização de Organização/Associação.

H. Medidas Especiais: Têm de ser elaboradas medidas especiais para respeitar e proteger os direitos de pessoas com necessidades especiais que sejam afetadas por atividades de terrorismo e antiter-rorismo. Essas medidas não devem ser discriminatórias ou aplicadas de uma forma que seja discri-minatória. Em particular, os Estados devem assegurar a elaboração de legislação, procedimentos, políticas e práticas destinadas a respeitar e proteger os direitos e o estatuto especial e as necessi-

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dades distintas de mulheres e crianças que sejam vítimas de terrorismo ou sujeitas a medidas an-titerrorismo, incluindo, sem a isso se limitar, buscas e investigações, todas as formas de detenção, julgamentos e determinação das penas.

Nota Explicativa: Ver, por analogia, CADHP, Diretrizes sobre as Condições de Detenção, Custódia Policial e Prisão Preventiva na África, Diretriz 30.

I. Liberdades Fundamentais: Os Estados não devem usar o combate ao terrorismo como um pretexto para restringir liberdades fundamentais, incluindo a liberdade religiosa e de consciência, expressão, associação, reunião e deslocação, e o direito à privacidade e propriedade com respeito pelo Princí-pio 1(M), Não Derrogações e Restrições sobre Direitos Humanos e Liberdades.

Nota Explicativa: Ver Comun. 266/03, Kevin Mgwanga Gunme et al v. Camarões (2009), parágs. 136 e 138; Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos, Artigos 8, 9, 10(1), 11, 12 e 14; Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, Artigo 17; e Nota Explicativa do Princípio 1(M), Não Derrogações e Restrições sobre Direitos Humanos e Liberdades.

J. Independência Judicial: Os Estados devem proteger e garantir a independência dos juízes e dos Tribunais.

Nota Explicativa: Ver Carta Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos, Artigo 26; Comun. 143/95-150/96, Constitutional Rights Project e Civil Liberties Organisation v. Nigéria (novembro 1999), parágs. 30 e 33; Tribunal de Justiça da África Oriental, James Katabazi e 21 Outros v Secretário-geral da CAO e Outro, 01/2007, novembro de 2007; e Comun. 143/95-150/96, Constitutional Rights Project e Civil Liberties Organisation v. Nigéria (novembro de 1999).

K. Princípio da Legalidade: Ninguém pode ser condenado por uma ação ou omissão que não constituía, no momento em que foi cometida, uma infração legalmente punível pela lei nacional ou internacional, tal como definida por disposições legais claras e precisas. Essas infrações têm de ser acessíveis ao público e não podem ser discriminatórias. A pena é pessoal e apenas pode atingir o delinquente relativamente à sua própria conduta. Se, após a prática da infração, entrar em vigor uma disposição legal que imponha uma pena mais leve, o infrator deverá ser beneficiado pela mesma.

Nota Explicativa: Ver Carta Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos, Artigo 7(2); ao longo da Carta Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos, os Estados apenas podem restringir os direitos e liberdades dos indivíduos quando previsto em lei, conforme se estabelece nos Artigos 6, 7, 8, 10, 11, 12 e 14; Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, Artigo 15(1); Comun. 48/90-50/91-52/91-89/93, Amnistia Internacional, Comitê Loosli Bachelard, Comitê de Advogados pelos Direitos Humanos, Associação de Membros da Conferência Episcopal de África Oriental v. Sudão (novembro de 1999), parág. 59; Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas, Comentário Geral 29, parág. 7; Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas, Comentário Geral 27, parág. 13; ECtHR, The Sunday Times v. Reino Unido, 26 de abril de 1979, Petição N.º 6538/74, parág. 49; e Nota Explicativa do Princípio 1(G), Proibição de Discriminação.

L. Extraterritorialidade: Os Estados estão vinculados pelas suas obrigações em matéria de direitos humanos na condução de operações de combate ao terrorismo no estrangeiro, incluindo em tempo de conflito armado, durante o qual o direito internacional humanitário também é aplicável.

Nota Explicativa: Ver Comun. 227/99, República Democrática do Congo v. Burundi, Ruanda, Uganda (maio 2003), parágs. 79-80.

M. Inadmissibilidade de Derrogações e Restrições de Direitos Humanos e Liberdades: A Carta Africa-na dos Direitos do Homem e dos Povos não permite derrogações. Os direitos e liberdades de cada indivíduo deverão ser exercidos com respeito pelos direitos dos outros, a segurança coletiva, a mo-

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ralidade e o interesse comum. Apenas em circunstâncias excecionais podem os Estados restringir determinadas liberdades e direitos humanos. A justificação de qualquer restrição tem de ser prescri-ta pela lei, estritamente proporcional e absolutamente necessária para satisfazer uma necessidade legítima, conforme o estabelecido na Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos e em con-formidade com o direito regional e internacional dos direitos do homem. Uma limitação não pode constranger um direito ao ponto de este, em si mesmo, se tornar uma ilusão. Tem de ser possível contestar a legitimidade de restrições de direitos perante um tribunal.

Nota Explicativa: Ver Comun. 74/92, Comissão nacional dos direitos do homem e das liberdades v. Chade (1995), parág. 21; Carta Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos, Artigos 5, 6, 10(1), 11, 14, e 27(2); Comun. 140/94, 141/94, 145/95, Constitutional Rights Project, Civil Liberties Organisation and Media Rights Agenda v. Nigéria (1999), parágs. 41-42; Comun. 276/03, Centro para o Desenvolvimento dos Direitos das Minoria (Quénia) e Grupo de Direitos das Minorias (em nome de Endorois Welfare Council) v. Quénia (novembro de 2009), parág. 214; e CADHP, Princípios e Diretrizes sobre o Direito a um Julgamento Justo e Assistência Jurídica na África, Seção R (“Cláusula de Inderrogabilidade”).

N. Os Princípios e Diretrizes: Estes Princípios e Diretrizes complementam as normas existentes, em parti-cular as Diretrizes e Medidas para a Proibição e Prevenção da Prática de Tortura e Penas ou Tratamen-tos Cruéis, Desumanos ou Degradantes na África, as Diretrizes sobre as Condições de Detenção, Cus-tódia Policial e Prisão Preventiva na África, os Princípios e Diretrizes sobre o Direito a um Julgamento Justo e Assistência Jurídica na África e os Princípios Globais sobre Segurança Nacional e o Direito à Informação (“Princípios Globais” ou “Princípios de Tshwane”). Nadas nos Princípios e Diretrizes de-verá ser interpretado no sentido de restringir ou derrogar direitos protegidos pelo direito regional e internacional humanitário, dos direitos humanos e dos refugiados. Se ocorrerem conflitos entre o disposto nos Princípios e Diretrizes e noutras normas de direitos do homem, internacionais e regio-nais, prevalece a disposição mais protetora.

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A. Direito à Vida: A vida humana é inviolável. Cada ser humano terá direito ao respeito pela sua vida e pela integridade da sua pessoa. Ninguém pode ser privado arbitrariamente deste direito. Esta regra aplica-se no contexto de abusos de direitos humanos que resultam de atos de terrorismo e antiterrorismo.

Nota Explicativa: Ver Carta Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos, Artigo 4; Ato Constitutivo da União Africana, Artigo 4(o); Comun. 245/02, Fórum das ONG de Direitos Humanos do Zimbábue v. Zimbábue (maio de 2006), parág. 143; e Comun. 74/92, Comissão nacional dos direitos do homem e das liberdades v. Chade (outubro de 1995), parág. 20.

B. Uso de Força Letal e Não Letal: O uso da força deverá ser estritamente regulado segundo o direito nacional e em conformidade com as normas internacionais. As autoridades públicas não podem usar a força além do estritamente necessário e apenas na medida do que for necessário para o cum-primento das suas funções. O uso da força letal deverá ser encarado como uma medida extrema. A força letal apenas deverá ser usada em situações de defesa própria ou defesa de outros contra a ameaça iminente de morte ou lesão grave, para impedir a perpetração de um crime particularmente grave que envolva ameaça séria à vida, para prender uma pessoa que se revele perigosa e resista à autoridade, ou para evitar a sua fuga, e apenas quando meios menos extremos sejam insuficientes para atingir estes objetivos. Em qualquer caso, o uso intencional de força letal apenas pode ser feito quando for inevitável para proteger a vida. Quando é usada força não letal, esta também tem de ser necessária e proporcional à ameaça, de modo a que a força seja usada na sua forma menos preju-dicial e nunca com fins punitivos. O direito internacional dos direitos humanos proíbe assassinatos seletivos e execuções extrajudiciais, sumárias ou arbitrárias. Relativamente ao uso de força letal e não letal, os Estados devem, em particular, ter em conta o seguinte:

(i) Planejamento e Preparação: As operações antiterrorismo devem ser rigorosamente adaptadas e estritamente proporcionadas à intenção de proteger as pessoas contra a violência e ser pla-nejadas e controladas pelas autoridades de modo a minimizar, o mais amplamente possível, o recurso à força letal ou não letal, conforme o exigido pelo referido princípio sobre Uso de Força Letal e Não Letal.

(ii) Obrigação de Reportar, Investigar e Processar: Sempre que o uso da força provocar ferimentos ou morte, os responsáveis deverão comunicar de imediato o incidente às autoridades compe-tentes. Nas situações em que o uso da força possa resultar uma violação de direitos humanos,

PARTE 2PRIVAÇÃO ARBITRÁRIA DA VIDA E USO DA FORÇA

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os Estados têm a responsabilidade de agir em conformidade com o Princípio 1(D), Obrigação de Assegurar a Responsabilização; Princípio 1(E), Obrigação de Proporcionar um Recurso Efi-caz; e Princípio 1(F), Obrigação de Proporcionar Reparação.

(iii) Assistência Médica: Os Estados deverão assegurar que seja facultada assistência e sejam pres-tados cuidados médicos com a maior brevidade possível a quaisquer pessoas feridas ou afe-tadas. Os Estados deverão assegurar ainda que os familiares ou amigos próximos das pessoas feridas ou afetadas sejam avisadas com a maior brevidade possível.

Nota Explicativa ao Uso de Força Letal e Não Letal: Ver CADHP, Diretrizes sobre as Condições de Detenção, Custódia Policial e Prisão Preventiva na África, Diretriz 3(c)(iii); Comun. 266/03, Kevin Mgwanga Gunme et al v. Camarões (2009), parágs. 136 e 138; Código de Conduta para Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, Artigo 3; Princípios Básicos das Nações Unidas sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, Artigos 5(a-b) e 9; Comun. 288/2004, Gabriel Shumba v. República do Zimbábue (maio de 2012), nota 16; Código de Conduta para Autoridades Policiais adotado pela Organização Regional dos Chefes de Polícia da África Austral (SARPCCO), Artigo 3; Relatório do Relator Especial sobre execuções extrajudiciais, sumárias ou arbitrárias (Estudo sobre assassinatos seletivos), Philip Alston, A/HRC/14/24/Add.6, 28 de maio de 2010, parágs. 10 e 32-33; CADHP, Resolução 227: sobre a prorrogação do mandato do Grupo de Trabalho sobre a Pena de Morte na África; Comun. 54/91-61/91-96/93-98/93-164/97_196/97-210/98, Malawi African Association, Amnistia Internacional, Ms Sarr Diop, Union interafricaine des droits de l’Homme e RADDHO, Collectif des veuves et ayants-Droit, Association mauritanienne des droits de l’Homme v. Mauritânia (2000), parág. 120; e Nota Explicativa do Princípio 3(D)(i), Proibição de Tortura e Princípio 3(D)(ii), Proibição de Desaparecimentos.

Nota Explicativa de Planejamento e Preparação: Ver ECtHR, McCann v Reino Unido, 27 de setembro de 1995, Petição N.º 18984/91, parág. 193; Princípios Básicos das Nações Unidas sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, Artigo 10; e Comun. 288/2004, Gabriel Shumba v. República do Zimbábue (maio de 2012), nota 16.

Nota Explicativa para Reportar, Investigar e Processar: Ver Princípios Básicos das Nações Unidas sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, Artigo 6; comentário ao Código de Conduta para Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, Artigo 3; Comun. 288/2004, Gabriel Shumba v. República do Zimbábue (maio de 2012), nota 16; e Nota Explicativa do Princípio 1(D), Obrigação de Assegurar Responsabilização, Princípio 1(E), Obrigação de Proporcionar um Recurso Eficaz, e Princípio 1(F), Obrigação de Proporcionar Reparação.

Nota Explicativa de Assistência Médica: Ver Carta Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos, Artigo 16; Comun. 250/02, Liesbeth Zegveld e Mussie Ephrem v. Eritreia (novembro 2003), parág. 55; CADHP, Diretrizes e Medidas para a Proibição e Prevenção da Prática de Tortura e Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes na África, Diretriz 31; CADHP, Princípios e Diretrizes sobre o Direito a um Julgamento Justo e Assistência Jurídica na África, Seção M(2)(e) (“Direitos Quando da Prisão”); Princípios Básicos das Nações Unidas sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, Artigo 5 (c-d); Código de Conduta para Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, Artigo 6; Comun. 288/2004, Gabriel Shumba v. República do Zimbábue (maio de 2012), nota 16; e Código de Conduta para Autoridades Policiais adotado pela Organização Regional dos Chefes de Polícia da África Austral (SARPCCO), Artigo 5.

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A. Proibição de Detenção Arbitrária: Todo o indivíduo deverá ter direito à liberdade e à segurança da sua própria pessoa. Ninguém deverá ser sujeito a prisão ou detenção arbitrária ou ilegal. A prisão e a detenção apenas deverão ocorrer em estrita conformidade com as disposições legais que sejam claras, públicas e precisas e deverão ser executadas por funcionários competentes ou pessoas autorizadas para esse efeito, em conformidade com um mandato, ou com base em suspeita com fundamentos ra-zoáveis de que uma pessoa cometeu um crime ou está prestes a cometer um crime punível com prisão.

Nota Explicativa: Ver CADHP, Princípios e Diretrizes sobre o Direito a um Julgamento Justo e Assistência Jurídica na África, Seção M(1) (”Direito à liberdade e à segurança”); Carta Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos, Artigo 6; Comun. 54/91-61/91-96/93-98/93-164/97_196/97-210/98, Malawi African Association, Amnistia Internacional, Ms Sarr Diop, Union interafricaine des droits de l’Homme e RADDHO, Collectif des veuves et ayants-Droit, Association mauritanienne des droits de l’Homme v. Mauritânia (2000), parágs. 113-114; Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, Artigo 9(1); Conjunto de Princípios das Nações Unidas para a Proteção de Todas as Pessoas sob Qualquer Forma de Detenção ou Prisão, Princípios 3 e 4; CADHP, Diretrizes sobre as Condições de Detenção, Custódia Policial e Prisão Preventiva na África, Diretriz 2 e 3; e Princípios Relativos à Privação de Liberdade de Pessoas Acusadas de Atos de Terrorismo, Grupo de Trabalho das Nações Unidas sobre Detenção Arbitrária, A/HRC/10/21, 19 de fevereiro de 2009, Princípio 53.

B. Direitos da Pessoa Presa ou Detida: Qualquer indivíduo preso ou detido deverá ser tratado em con-formidade com as normas de direitos humanos regionais e internacionais relevantes, em particular as Diretrizes sobre as Condições de Detenção, Custódia Policial e Prisão Preventiva na África. Incluem--se aqui, entre outros:

(i) Notificação de Direitos: Qualquer pessoa presa ou detida deverá ser imediatamente no-tificada dos seus direitos no momento em que a prisão ou detenção ocorrer e antes de qualquer interrogatório. A notificação deverá ser realizada pela autoridade competente numa linguagem que a pessoa consiga entender, e incluir informações detalhadas sobre os fatos essenciais de qualquer acusação apresentada contra ela.

Nota Explicativa: Ver CADHP, Princípios e Diretrizes sobre o Direito a um Julgamento Justo e Assistência Jurídica na África, Seção M(2)(b e d) (“Direitos quando da prisão”) e Seção N(2)(b) (“Direito a advogado”).

PARTE 3LIBERDADE, PRISÃO E DETENÇÃO

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(ii) Notificação das Razões para Prisão ou Detenção e Notificação de Acusação: Qualquer pessoa presa ou detida deverá ser informada, no momento da prisão ou detenção e numa língua que seja por ela compreendida, da razão da sua prisão ou detenção e deve-rá ser imediatamente informada, em pormenor, numa língua que seja por ela compreen-dida, da natureza e causa de quaisquer acusações apresentadas contra ela.

Nota Explicativa: Ver CADHP, Princípios e Diretrizes sobre o Direito a um Julgamento Justo e Assistência Jurídica na África, Seção M(2)(a) (“Direitos Quando da Prisão”) e Seção N(1)(a-b) (“Notificação de Acusação”).

(iii) Direito a Representação Jurídica: Qualquer pessoa presa ou detida, ou que não seja priva-da da liberdade, mas seja suspeita ou acusada de um crime, tem o direito de se defender através de representação jurídica à sua escolha em todas as etapas de um processo penal, administrativo ou de qualquer outra natureza. O arguido deverá ter direito a ser-lhe atribuí-da assistência jurídica em qualquer caso em que o interesse da justiça o exija, sem paga-mento pelo arguido, se este não possuir meios suficientes para efetuar o pagamento. Os direitos acima referidos aplicam-se a partir do momento da prisão ou detenção e antes e durante qualquer interrogatório. Os Estados não deverão bloquear o acesso à representa-ção jurídica, e deverão facilitar ativamente a representação jurídica escolhida pela pessoa. Os Estados deverão reconhecer e respeitar que todas as comunicações e consultas entre os advogados e os seus clientes no âmbito da sua relação profissional são confidenciais.

Nota Explicativa: Ver Carta Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos, Artigo 7(1)(c); CADHP, Princípios e Diretrizes sobre o Direito a um Julgamento Justo e Assistência Jurídica na África, Seção H(a-b) (“Apoio Judicial e Assistência Jurídica”), Seção I(b-c) (“Independência dos Advogados”), Seção N(2) (“Direito a advogado”), e Seção N(3)(a) e N(3)(e)(1-2) (“Direito a tempo e instalações adequados para a preparação de uma defesa”); Convenção da Organização de Unidade Africana sobre a Prevenção e Combate ao Terrorismo, Artigo 7(3); e CADH, Diretrizes e Medidas para a Proibição e Prevenção da Prática de Tortura e Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes na África, Diretriz 31.

(iv) Direito à Não Autoincriminação: O direito de as pessoas permanecerem em silêncio du-rante o interrogatório deverá ser respeitado em todas as ocasiões. Deverá ser proibido tirar partido indevido da situação de uma pessoa detida para obrigá-la ou induzir a confessar, incriminar-se a ela própria ou testemunhar contra outra pessoa.

Nota Explicativa: Ver CADHP, Diretrizes sobre as Condições de Detenção, Custódia Policial e Prisão Preventiva na África, Diretriz 9(b).

(v) Direito a Contestar Imediatamente a Detenção: Qualquer indivíduo que se encontre pri-vado da liberdade, em qualquer situação, por ou em nome de uma autoridade governa-mental a qualquer nível, incluindo a detenção por agentes não estatais que sejam autori-zados pela lei interna, tem o direito de recorrer a um tribunal competente, independente e imparcial na jurisdição desse Estado para contestar, sem adiamentos, a arbitrariedade e legalidade da sua privação de liberdade e de obter atempadamente medidas apropria-das e acessíveis. O tribunal deverá garantir a presença física do detido perante ele, es-pecialmente para a primeira audiência da contestação da arbitrariedade e legalidade da privação de liberdade e sempre que a pessoa privada de liberdade solicite para compa-recer fisicamente perante o tribunal. O detido tem o direito de contestar a sua detenção periodicamente. Se a autoridade judicial decidir que a detenção é ilegal, os indivíduos têm o direito de ser libertados imediatamente.

Nota Explicativa: Ver Grupo de Trabalho das Nações Unidas sobre Detenção Arbitrária, Projeto de Princípios e Diretrizes Básicos sobre recursos e processos relativos ao direito de qualquer pessoa privada da sua liberdade recorrer a um tribunal, Princípios 3, 6 e 11; e CADHP, Diretrizes sobre as Condições de Detenção, Custódia Policial e Prisão Preventiva na África, Diretriz 35.

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(vi) Assistência e Exames Médicos: Qualquer indivíduo preso ou detido deverá ter acesso a assistência e serviços médicos, e o direito a um exame médico independente. No mo-mento da prisão, uma pessoa deverá ser sujeita a uma inspeção médica, devendo as ins-peções médicas ser repetidas regularmente e ser obrigatórias quando da transferência para outro local de detenção. Os cuidados e tratamentos médicos devem ser prestados gratuitamente. Nenhuma pessoa detida deverá, mesmo com o seu consentimento, ser sujeita a qualquer experiência médica ou científica que possa ser prejudicial para a sua saúde. Todos os tratamentos e exames clínicos deverão ser realizados com respeito pela dignidade humana e com o respeito devido pela confidencialidade médica.

Nota Explicativa: Ver CADHP, Diretrizes e Medidas para a Proibição e Prevenção da Prática de Tortura e Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes na África, Diretriz 20(b); Relatório do Relator Especial sobre a questão da tortura, Theo van Boven, E/CN.4/2003/68, 17 de dezembro de 2002, parág. 26(g). Corpo de Princípios das Nações Unidas Conjunto de Princípios das Nações Unidas para a Proteção de Todas as Pessoas sob Qualquer Forma de Detenção ou Prisão, Princípio 24; e CADHP, Diretrizes sobre as Condições de Detenção, Custódia Policial e Prisão Preventiva na África, Diretriz 9(a)(iii) e 16(d).

(vii) Comunicação com o Exterior : Qualquer pessoa presa ou detida deverá ter acesso pleno à assistência jurídica escolhida por ela, aos seus familiares, aos seus representantes ou a outras pessoas que tenham um interesse legítimo e, no caso de um cidadão estrangeiro, à sua embaixada ou posto consular ou organização internacional ou regional relevante. Para cidadãos estrangeiros, o Estado que procede à detenção tem a obrigação de infor-mar imediatamente a embaixada ou o posto consular do detido sobre a sua detenção.

Nota Explicativa: Ver CADHP, Princípios e Diretrizes sobre o Direito a um Julgamento Justo e Assistência Jurídica na África, Seção M(1)(c) e (e) (“Direitos quando da Prisão”), Seção M(1)(7)(a) (“Direito a ser detido num local reconhecido por lei”) e Seção M(8) (“Supervisão de locais de detenção”); CADHP, Diretrizes e Medidas para a Proibição e Prevenção da Prática de Tortura e Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes na África, Diretriz 31; e Convenção da Organização de Unidade Africana sobre a Prevenção e Combate ao Terrorismo, Artigo 7, Seções 2-3.

C. Privação da Liberdade antes de Julgamento ou Acusação: Há uma presunção de liberdade e a detenção preventiva deverá ser uma medida excecional que será usada como último recurso, de-vendo ser usadas medidas alternativas à detenção provisória o mais precocemente possível. Salvo se existirem provas suficientes para considerá-la necessária para impedir que uma pessoa presa no âmbito de um processo-crime fuja, interfira com a administração da justiça ou represente um risco claro e grave para os outros, os Estados devem assegurar que não são privados da liberdade antes do resultado final do respectivo julgamento, ou na pendência deste. Se um tribunal conceder liber-dade provisória/sob fiança, qualquer recusa do executivo em implementar essa ordem enfraquece a independência do poder judicial. As mulheres grávidas e as mães de crianças pequenas não devem ser privadas da liberdade durante o seu julgamento.

Nota Explicativa: Ver Carta Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos, Artigo 6; Regras Mínimas das Nações Unidas para a Elaboração de Medidas não Privativas de Liberdade (as “Regras de Tóquio”), Assembleia Geral das Nações Unidas, Resolução 45/110, 14 de dezembro de 1990, Regra 6 (A prisão preventiva como medida de último recurso); CADHP, Princípios e Diretrizes sobre o Direito a um Julgamento Justo e Assistência Jurídica na África, Seção M(1)(e-f) (“Direito à Liberdade e à Segurança”); Comun. 143/95-150/96, Constitutional Rights Project e Civil Liberties Organisation v. Nigéria (novembro 1999), parág. 30; e TJAO, James Katabazi e 21 Outros v. Secretário-geral da CAO e Outro, Tribunal de Justiça da África Oriental (EACJ).

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D. Tratamento Humano de Indivíduos Privados da Liberdade: Todas as pessoas detidas ou cuja liber-dade seja limitada deverão ser tratadas em conformidade com as normas regionais e internacionais de direitos humanos. Incluem-se aqui, entre outros:

(i) Proibição de Tortura: Nenhum indivíduo deverá ser sujeito a tratamento que viole o seu direito à dignidade. São proibidos a tortura e o tratamento cruel, desumano ou degra-dante. Não poderão ser invocadas circunstâncias de qualquer natureza como justificação da violação destas proibições. Os Estados deverão adotar medidas legislativas, adminis-trativas, judiciais ou outras medidas para prevenir todos os atos de tortura e tratamento cruel, desumano ou degradante por parte dos seus agentes e todos que ocorram no seu território ou sob a sua jurisdição. Inclui-se aqui a garantia de que todos os atos de tortura, e tentativas da sua prática, constituem infrações à luz da lei penal. Nas situações em que se verifique a ocorrência de tortura ou de tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes, os Estados têm a responsabilidade de agir em conformidade com o Prin-cípio 1(D), Obrigação de Assegurar a Responsabilização; Princípio 1(E), Obrigação de Proporcionar um Recurso Eficaz; e Princípio 1(F), Obrigação de Proporcionar Reparação.

Nota Explicativa: Ver, em geral, Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos; Carta Africana dos Direitos e Bem-estar das Crianças; Convenção das Nações Unidas contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Punições Cruéis, Desumanos ou Degradantes; CADHP, Princípios e Diretrizes sobre o Direito a um Julgamento Justo e Assistência Jurídica na África; CADHP, Diretrizes e Medidas para a Proibição e Prevenção da Prática de Tortura e Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes na África; e Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos.

(ii) Proibição de Desaparecimentos: Nenhum indivíduo deverá ser sujeito a desaparecimen-to forçado. Não poderão ser invocadas circunstâncias de qualquer natureza como jus-tificação da violação desta proibição. Os Estados deverão adotar medidas legislativas, administrativas, judiciais ou outras medidas para prevenir todos os atos de desapareci-mentos por parte dos seus agentes e todos que ocorram no seu território ou sob a sua ju-risdição. Inclui-se aqui assegurar que o desaparecimento forçado constitui uma infração à luz da lei penal. Nas situações em que se verifique a ocorrência de desaparecimentos, os Estados têm a responsabilidade de agir em conformidade com o Princípio 1(D), Obri-gação de Assegurar a Responsabilização; Princípio 1(E), Obrigação de Proporcionar um Recurso Eficaz; e Princípio 1(F), Obrigação de Proporcionar Reparação.

Nota Explicativa: Ver Convenção da ONU Princípios Básicos para a Proteção de Todas as Pessoas Contra Desaparecimentos Forçados, Artigo 1, 2, 3, 4, 8(2), e 24; Comun. 204/97, Movement Burkinabé des Droits de l’Homme et des Peuples/ Burquina Faso (2001), parág. 44; e Comun. 250/02, Liesbeth Zegveld e Mussie Ephrem v. Eritreia (novembro 2003), parág. 55.

(iii) Proibição de Detenção Secreta: Não deverão ocorrer detenções secretas e qualquer indi-víduo privado de liberdade deverá ser registrado e mantido num local de detenção reco-nhecido oficialmente. Ao chegar a um centro de detenção oficial, deverão ser registradas as informações básicas do detido e disponibilizadas a familiares, aos representantes ou ao advogado do detido ou a outras pessoas que tenham um interesse legítimo nas infor-mações, com pleno respeito pelos direitos do indivíduo detido, em particular o seu di-reito à privacidade. O centro de detenção deverá ser sujeito à supervisão independente para assegurar o cumprimento das normas internacionais.

Nota Explicativa: Ver Comun. 250/02, Liesbeth Zegveld e Mussie Ephrem v. Eritreia (novembro 2003), parág. 55; Comun. 204/97, Movement Burkinabé des Droits de l’Homme et des Peuples/ Burquina Faso (2001), parág. 44; Convenção das Nações Unidas Convenção para a Proteção de Todas as Pessoas Contra o Desaparecimento Forçado, Artigo 17; Estudo conjunto sobre práticas globais relativas à detenção secreta no contexto

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da luta contra o terrorismo do Relator Especial sobre a promoção e proteção de direitos humanos e liberdades fundamentais no combate ao terrorismo, do Relator Especial sobre tortura e outros tratamentos ou punições cruéis, desumanos ou degradantes, do Grupo de Trabalho sobre Detenção Arbitrária e do Grupo de Trabalho sobre Desaparecimentos Forçados ou Involuntários, Conselho dos Direitos Humanos, A/HRC/13/42, 26 de janeiro de 2010, parág. 17; CADHP, Princípios e Diretrizes sobre o Direito a um Julgamento Justo e Assistência Jurídica na África, Seção M(1)(a-b) (“Direito a ser detido num local reconhecido por lei”); CADHP, Diretrizes e Medidas para a Proibição e Prevenção da Prática de Tortura e Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes na África, Diretrizes 40-41; e Nota Explicativa do Princípio 3(B)(vii), Comunicação com o Exterior.

(iv) Condições de Detenção e Reclusão: Os Estados deverão assegurar que todas as pessoas sujeitas a qualquer forma de detenção ou reclusão sejam tratadas de forma humanitária e com respeito pela dignidade inerente à pessoa humana. Inclui-se aqui a proteção da saúde física e mental, assim como disposições apropriadas para alojamentos, higiene pessoal, vestuário e roupa de cama, práticas religiosas, exercício e desporto e assistência médica. Os Estados deverão proibir práticas que violem a dignidade humana, como a prisão solitária, o uso de instrumento de restrição e a retenção como formas de punição, ou a privação de comida, água e outros bens necessários para o respeito da humanidade e da dignidade.

Nota Explicativa: Ver CADHP, Princípios e Diretrizes sobre o Direito a um Julgamento Justo e Assistência Jurídica na África, Seção M(7)(a) (“Direito a tratamento humano”); CADHP, Diretrizes e Medidas para a Proibição e Prevenção da Prática de Tortura e Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes na África, Diretrizes 33; Comun. 250/02, Liesbeth Zegveld e Mussie Ephrem v. Eritreia (novembro 2003), parág. 55; Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Prisioneiros, Regras 9-26 e 31-34; Carta Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos, Artigo 8; Princípios Básicos das Nações Unidas para o Tratamento de Prisioneiros, A/RES/45/111, Princípios 7 e 9; Código de Conduta para Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, Artigo 6; A Declaração de Istambul sobre o Uso e Efeitos da Prisão Solitária, A/63/175, anexo, parágs. 77 e 83; e Relatório Provisório do Relator Especial sobre Tortura e Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes, Juan E. Méndez, A/66/268, parágs. 87 e 88.

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A. Julgamento Justo: A qualquer pessoa presa ou detida deverá ser concedido o direito a um julga-mento justo em conformidade com as normas internacionais de direitos humanos relevantes, em particular os Princípios e Diretrizes sobre o Direito a um Julgamento Justo e Assistência Jurídica na África da Comissão Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos.

Nota Explicativa: Ver Carta Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos, Artigos 3 e 7(1); e, em geral, CADHP, Princípios e Diretrizes sobre o Direito a um Julgamento Justo e Assistência Jurídica na África.

B. Tribunais Militares ou outros Tribunais Especiais: Os Tribunais Militares não devem, em circunstância

alguma, ter competência de jurisdição sobre civis. A única finalidade dos Tribunais Militares deverá ser a determinação de infrações de natureza puramente militar cometidas por pessoal militar. Não deverão ser criados tribunais militares ou outros tribunais especiais que não utilizem as regras de-vidamente estabelecidas do processo legal para desviar a jurisdição pertencente a órgãos judiciais ordinários. No exercício da sua função, os Tribunais Militares estarão obrigados a respeitar as normas de julgamento justo enunciadas na Carta Africana e nos Princípios e Diretrizes sobre o Direito a um Julgamento Justo e Assistência Jurídica na África da Comissão Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos.

Nota Explicativa: Ver CADHP, Princípios e Diretrizes sobre o Direito a um Julgamento Justo e Assistência Jurídica na África, Seção A(4)(e) (“Tribunal Independente”) e Seção L (Direito dos civis não serem julgados por Tribunais Militares); e Comun. 54/91-61/91-96/93-98/93-164/97_196/97-210/98, Malawi African Association, Amnistia Internacional, Ms Sarr Diop, Union interafricaine des droits de l’Homme e RADDHO, Collectif des veuves et ayants-Droit, Association mauritanienne des droits de l’Homme v. Mauritânia (2000), parágs. 93-100.

C. Prova

(i) Utilização de Provas: Os depoimentos, confissões ou outras provas obtidas por qualquer forma de coação ou força, em particular através de tortura e tratamentos ou punições cruéis, desu-manos ou degradantes, incomunicabilidade, desaparecimento, falta de garantias processuais básicas ou outras violações graves de direitos humanos protegidos internacionalmente não deverão ser usados como prova em quaisquer processos, exceto quando usados como prova contra uma pessoa acusada da prática dos referidos abusos. Essas provas também não podem

PARTE 4DIREITO A JULGAMENTO JUSTO

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ser consideradas como elementos probatórios de qualquer fato num processo, incluindo para efeitos de determinação da pena.

Nota Explicativa: Ver Comun. 334/06, Egyptian Initiative for Personal Rights and Interights v. Egypt (2011), parágs. 2012-213 e 218; CADHP, Princípios e Diretrizes sobre o Direito a um Julgamento Justo e Assistência Jurídica na África, Seção N(6)(a) e (d)(1) (“Direitos durante um julgamento”); CADHP, Diretrizes e Medidas para a Proibição e Prevenção da Prática de Tortura e Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes na África, Diretrizes 29; e Convenção das Nações Unidas contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Punições Cruéis, Desumanos ou Degradantes, Artigo 15.

(ii) Provas Secretas: Os elementos essenciais de uma inquirição justa incluem a oportunidade ade-quada de preparar um processo, apresentar argumentos e provas e contestar ou responder a argumentos ou provas contrários. O arguido deverá ter o direito a todas as informações re-levantes que estejam na posse da entidade que promove a acusação ou outras autoridades públicas que possam ajudar o arguido a ilibar-se, ou pôr em dúvida a acusação promovida pelo Estado contra ele. Antes do julgamento ou da prolação da sentença, o arguido deverá ter o direito a conhecer e a contestar todas as provas que possam ser usadas para fundamentar a decisão. Constitui dever das autoridades competentes assegurar que os advogados tenham acesso a informações, arquivos e documentos apropriados e que permaneçam na sua posse ou controle pelo tempo suficiente para permitir que esses advogados prestem assistência jurí-dica eficaz aos seus clientes.

Nota Explicativa: Ver CADHP, Princípios e Diretrizes sobre o Direito a um Julgamento Justo e Assistência Jurídica na África, Seção A(2)(e) (“Inquirição Justa”) e Seção N(3)(e)(3, 4, 6 e 7) (“Direito a tempo e instalações adequados para a preparação da defesa”).

(iii) Provas Obtidas Ilegalmente: Quando alguém suspeito ou acusado levantar dúvidas de que a prova foi obtida ilegalmente, o ônus da prova recai sobre o Estado para demonstrar que a prova não foi obtida dessa forma.

Nota Explicativa: Ver Comun. 334/06, Egyptian Initiative for Personal Rights and Interights v. Egypt (2011), parág. 218.

(iv) Responsabilização por Provas Ilegais: Quando funcionários adquirem a posse de provas des-critas em Utilização de Provas acima, eles devem informar o órgão judicial competente e o Estado deverá tomar todas as medidas necessárias para assegurar que os responsáveis pela utilização desses métodos são submetidos à justiça.

Nota Explicativa: Ver CADHP, Princípios e Diretrizes sobre o Direito a um Julgamento Justo e Assistência Jurídica na África, Seção F(l) (“Função dos Promotores da Acusação”); e Nota Explicativa do Princípio 1(D), Obrigação de Assegurar a Responsabilização, Princípio 1(E), Obrigação de Proporcionar um Recurso Eficaz, e Princípio 1(F), Obrigação de Proporcionar uma Reparação.

D. Proibição de Ser Julgado Duas Vezes pela Mesma Infração: Ninguém deverá estar sujeito a ser jul-gado ou punido novamente por uma infração pela qual já tenha sido definitivamente condenado ou absolvido em conformidade com a lei e o processo penal de cada país.

Nota Explicativa: Ver CADHP, Princípios e Diretrizes sobre o Direito a um Julgamento Justo e Assistência Jurídica na África, Seção N(8) (“Proibição de ser julgado duas vezes pela mesma infração”).

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A. Transferências: Um Estado não pode “transferir” [por ex., deportar, expulsar, retirar, extraditar] uma pessoa para a custódia de outro Estado, salvo se tal estiver previsto legalmente ou em conformidade com o processo vigente e outras obrigações internacionais de direitos humanos. Todas as trans-ferências estão sujeitas ao princípio de não repulsão. As transferências não devem constituir uma justificação para a perda ou revogação da nacionalidade ou transformar uma pessoa em apátrida. A deportação, expulsão e retirada não podem ser usadas para contornar os processos da justiça penal, incluindo os processos de extradição. É proibida a rendição extraordinária, ou qualquer outra trans-ferência, não sujeita ao processo em vigor.

Nota Explicativa: A transferência forçada de uma pessoa da custódia de um Estado para outra entidade implica necessariamente a privação de liberdade. Por esta razão, o processo através do qual a transferência se desenrola tem de estar previsto legalmente e não ser arbitrário. Ver Princípio 3(A), Proibição de Detenção Arbitrária; Convenção da Organização de Unidade Africana sobre a Prevenção e Combate ao Terrorismo, Artigos 8(1) e 11; e Nota Explicativa do Princípio 5(A)(ii), Não Repulsão e Princípio 9(A), Proibição contra a Apatridia.

(i) Supervisão Judicial: Um Estado deve disponibilizar a todas as pessoas que pretender transferir para a custódia de outro Estado uma supervisão judicial eficaz, independente, imparcial e indi-vidualizada ou a revisão do processo antes da transferência, incluindo, entre outros, resposta às preocupações de não repulsão.

Nota Explicativa: Ver Agiza v. Suécia, Comun. 233/2003, maio de 2005, parág. 13.8; Gabinete do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Direitos Humanos, Terrorismo e Antiterrorismo (Ficha N.º 32); e Nota Explicativa do Princípio 5(A)(ii), Não Repulsão.

(ii) Não Repulsão: Nenhum Estado deve, por qualquer razão, transferir (nos termos acima defini-dos) qualquer pessoa para a custódia de outro Estado quando existam razões fundadas para crer que existe um risco real de violações graves dos direitos humanos. Os Estados não devem estabelecer quaisquer restrições a esta regra.

PARTE 5TRANSFERÊNCIAS DE PESSOAS

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Nota Explicativa: Ver Convenção das Nações Unidas contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Punições Cruéis, Desumanos ou Degradantes, Artigo 3; Convenção que Regula Aspectos Específicos dos Problemas dos Refugiados na África, Artigo 2; Convenção das Nações Unidas relativa aos Estatuto dos Refugiados, Artigo 33 (proibição de expulsão ou devolução [“repulsão”]); CADHP, Diretrizes e Medidas para a Proibição e Prevenção da Prática de Tortura e Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes na África, Diretriz 15; Modelo Africano de Lei Antiterrorismo, Artigo 61; Gabinete do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Direitos Humanos, Terrorismo e antiterrorismo (Ficha N.º 32); e Nota Explicativa do Princípio 1(M), Inadmissibilidade de Derrogações e Restrições de Direitos Humanos e Liberdades.

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PARTE 6CRIMINALIZAÇÃO E SANCIONAMENTO DO TERRORISMO

A. Responsabilização: As pessoas que se envolverem em atividades criminosas relacionadas com o terrorismo podem ser acusadas ao abrigo da legislação interna e têm de ser responsabilizas crimi-nalmente por abusos graves de direitos humanos, em particular, entre outros, de homicídio, tortura, violência sexual, rapto e tomada de reféns, recrutamento forçado, crimes de guerra e crimes contra a humanidade, ou podem ser extraditadas para serem submetidas a julgamento noutra jurisdição. A criminalização e sancionamento de atividades relacionadas com o terrorismo devem ser feitas em conformidade com o direito internacional dos direitos humanos.

Nota Explicativa: Ver Relatório do Relator Especial sobre a promoção e proteção dos direitos humanos e liberdades fundamentais durante o combate ao terrorismo, Ben Emmerson, A/HRC/20/14, 4 de Junho de 2012, parágs. 67(b).

B. Clareza e Especificidade da Lei: Qualquer criminalização, ou outra punição, de atos de terrorismo deve cumprir o Princípio 1(K), Princípio da Legalidade. Em particular, os Estados têm de assegurar que as respetivas leis que criminalizam atos de terrorismo são acessíveis ao público, estão definidas por disposições legais claras e precisas, não discriminatórias e não retroativas. Qualquer criminali-zação, ou outra punição de atos de terrorismo deve ser dirigida apenas contra atos praticados de forma consciente e intencional e em conformidade com o direito internacional, incluindo o direito relativo aos direitos humanos.

Nota Explicativa: Ver Conselho de Segurança das Nações Unidas, Resolução 64/168: Proteção dos Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais durante o Combate ao Terrorismo; e Nota Explicativa do Princípio 1(K), Princípio da Legalidade e Princípio 1(G), Proibição de Discriminação.

C. Responsabilidade Criminal Indireta: As leis que sancionem a responsabilidade criminal indireta por atos de terrorismo têm de ser acessíveis ao público, estar definidas por disposições legais claras e precisas, não discriminatórias e não retroativas, e ser direcionadas para os principais atos de terro-rismo. Tais atos têm de ser sancionados apenas quando exista a intenção e a consciência da prática, apoio, planejamento ou facilitação de um ato de terrorismo.

Nota Explicativa: Ver Nota Explicativa do Princípio 1(K), Princípio da Legalidade; Princípio 1(G), Proibição de Discriminação; e Princípio 6(B), Clareza e Especificidade da Lei.

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D. Criminalização de Organização/Associação: A responsabilidade por atos de terrorismo deve ser in-dividual e não coletiva. Os indivíduos não devem ser responsabilizados criminalmente apenas pelo fato de pertencerem a uma organização, ou por associação com um indivíduo ou organização que seja suspeito de envolvimento em atos de terrorismo, ou que por isso tenha sido banido, sanciona-do, acusado ou punido. Os Estados devem proibir a perseguição de um indivíduo com base em dis-criminação de qualquer tipo, seja por raça, grupo étnico, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou qualquer outra opinião, origem nacional ou social, fortuna, nascimento, deficiência ou qualquer outra condição.

Nota Explicativa: Ver Carta Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos, Artigos 7(2) e 10(1); Comun. 48/90-50/91-52/91-89/93, Amnistia Internacional, Comitê Loosli Bachelard, Comitê de Advogados pelos Direitos Humanos, Associação de Membros da Conferência Episcopal de África Oriental v. Sudão (novembro de 1999), parág. 59; ver, em geral, CADHP, Diretrizes sobre as Condições de Detenção, Custódia Policial e Prisão Preventiva na África; Comissão Interamericana sobre Direitos Humanos, Relatório sobre Terrorismo e Direitos Humanos, parág. 227; e Nota Explicativa do Princípio 1(G), Proibição de Discriminação.

E. Assistência no Acesso aos Direitos Humanos: Não deverá ser sancionado o ato de prestação de as-sistência, sob qualquer forma, que tenha a intenção de permitir a uma pessoa ou entidade suspeita, acusada, condenada ou, de outro modo, legalmente qualificada como terrorista, entidade terrorista, ou envolvida em atividades relacionadas com terrorismo, receber, proteger ou fazer valer os seus direitos humanos ou viver de forma digna.

Nota Explicativa: Considerando que a Carta Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos, assim como outros tratados de direitos humanos, pretendem proporcionar e proteger os direitos e liberdades de pessoas e grupos, tornar puníveis atos que permitem aos indivíduos e povos prosseguir, receber ou fazer valer esses direitos e liberdades, como a prestação de assistência jurídica, o acesso à justiça, assistência médica, educação, emprego ou qualquer outro direito ou liberdade ao abrigo do direito em matéria de direitos humanos, é contrário, de forma primordial, à razão de ser do sistema de direitos humanos africano.

F. Proporcionalidade da Pena: A pena deverá ser proporcional à gravidade do crime e à responsabi-lidade criminal do indivíduo. Os tribunais deverão ter a oportunidade de tomar em plena conside-ração as circunstâncias do crime e da pessoa, incluindo circunstâncias atenuantes. Ao determinar a aplicação de uma pena de prisão, os Tribunais deverão deduzir o tempo, se existir, já passado em situação de detenção relacionada com a conduta subjacente ao crime.

Nota Explicativa: Ver CADHP, Princípios e Diretrizes sobre o Direito a um Julgamento Justo e Assistência Jurídica na África, Seção N(7) (“Direito a beneficiar de uma sentença mais leve ou sanção administrativa”) e Seção N(9)(b) (“Sentença e castigo”); Grupo de Trabalho sobre Pena de Morte e Execuções Extrajudiciais, Sumárias ou Arbitrárias na África da Comissão Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos, Relatórios de Atividades do Vice-Presidente, 51.ª Sessão da CADHP, parágs. 16 e 18; Convenção das Nações Unidas contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Punições Cruéis, Desumanos ou Degradantes, Artigo 4(2); Convenção para a Proteção de Todas as Pessoas Contra os Desaparecimentos Forçados, Artigo 7; Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, Artigo 78(1-2) (“Determinação da Sentença”); Regras Processuais e de Provas do Tribunal Penal Internacional Criminal, Regra 145 (“Determinação da Sentença”); e Regulamentos do Gabinete do Procurador do Tribunal Penal Internacional, Regulamento 64 (“Fatores de Atenuação e de Agravamento”).

G. Registro: Os Estados deverão respeitar o princípio da legalidade, da não discriminação e as normas de proteção processual sempre que designarem e sancionarem uma pessoa ou entidade como ter-rorista. Estas normas incluem, entre outras:

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(i) Intenção: As sanções contra uma pessoa ou entidade devem basear-se em fundamentos ra-zoáveis para criar a convicção de que o indivíduo ou entidade teve conhecimento e executou, apoiou, participou ou facilitou intencionalmente um ato terrorista.

(ii) Notificação: Os Estados devem informar imediata e integralmente a pessoa ou entidade das acusações ou processos; os Estados devem comunicar à pessoa ou entidade qualquer decisão tomada e as razões para essa decisão; e os Estados devem informar à pessoa ou entidade das consequências das acusações ou pronúncias. Sendo relevante, o Estado que proceder ao registro deverá ainda informar imediata e integralmente o Estado a que a pessoa ou entidade pertence.

(iii) Recurso e Retirada do Registro: Os Estados deverão conceder à pessoa ou entidade inscrita no registro o direito a recorrer a não implementação ou retirada do registro das sanções, e o direito a que um órgão judicial independente e imparcial reveja a decisão que resultar desse requerimento, aplicando-se a essa revisão os direitos processuais em vigor, incluindo a capa-cidade de apresentar uma defesa efetiva e assegurando que as regras relativas ao ônus da prova são proporcionais à gravidade das sanções. Sendo relevante, o Estado que proceder ao registro deverá ainda informar imediata e integralmente o Estado a que a pessoa ou entidade pertence se a retirada do registro é realizada.

(iv) Reparações: Os Estados deverão proporcionar a reparação por qualquer violação dos direitos de uma pessoa associados com as leis e os procedimentos de registro.

Nota Explicativa para todo o Princípio 6(G), Registro: Ver ECtHR, Nada v. Suíça, 12 de setembro de 2012, Petição N.º 10593/08, parágr. 207; Conselho da Europa, Resolução 1597 (2008): Listas Negras do Conselho de Segurança das Nações Unidas e da União Europeia, parágs. 4-5; Conselho de Segurança das Nações Unidas, Resolução 1989 (2011) S/RES/1989 (2011); e Relatório do Relator Especial sobre a promoção e proteção dos direitos humanos e liberdades fundamentais durante o combate ao terrorismo (Dez áreas de boas práticas no combate ao terrorismo), Martin Scheinin A/HRC/16/51, dezembro de 2010, parág. 35.

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A. Obrigação de Cooperar: Os Estados devem cooperar entre eles na prevenção e combate ao terro-rismo e nas violações dos direitos humanos relacionadas com o combate ao terrorismo. Os Estados devem respeitar as suas obrigações de direitos humanos sempre que cumprindo a sua obrigação de cooperação no combate ao terrorismo. Os Estados devem interromper a cooperação que possa originar violações do direito internacional humanitário, dos direitos humanos e dos refugiados.

Nota Explicativa: Ver Convenção da Organização de Unidade Africana sobre a Prevenção e Combate ao Terrorismo, Artigo 5; Conselho de Segurança das Nações Unidas, Resolução 1373, parágr. 2(f); Comun. 245/02, Fórum das ONG de Direitos Humanos do Zimbábue v. Zimbábue (maio de 2006), parág. 143; Comun. 74/92, Comissão nacional dos direitos do homem e das liberdades v. Chade (outubro 1995), parág. 20; Declaração de Algiers, Trigésima Quinta Sessão Ordinária da OAU/Terceira Sessão Ordinária da AEC, 12-14 de julho de 1999, AHG/Decl. 1 (XXXV); Comissão de Direito Internacional, Responsabilidade dos Estados por Atos Internacionalmente Ilícitos, Artigo 16; e Aplicação da Convenção sobre a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio (Bósnia e Herzegovina v. Sérvia e Montenegro), Sentença de 26 de fevereiro de 2007, parág. 420.

B. Comissão de Atos Internacionalmente Ilícitos: Os Estados devem assegurar que os Estados estran-geiros não praticam atos internacionalmente ilícitos no seu território ou sob a sua jurisdição, incluin-do, entre outros, execuções ilegais, tortura, violência sexual, recrutamento de crianças, desapareci-mentos e outras formas de detenção arbitrária. Os Estados devem tomar todas as medidas práticas para determinar se as atividades de entidades estrangeiras no seu território, e os movimentos atra-vés deste, envolvem tais práticas. Adicionalmente, os Estados não devem assistir ou apoiar outro Estado na consecução de um ato internacionalmente ilícito.

Nota Explicativa: Ver Comissão de Direito Internacional, Responsabilidade dos Estados por Atos Internacionalmente Ilícitos, Artigos 16 e 17; e Aplicação da Convenção sobre a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio (Bósnia e Herzegovina v. Sérvia e Montenegro), Sentença de 26 de fevereiro de 2007, parág. 420; e Gabinete do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Direitos Humanos, Terrorismo e Antiterrorismo (Ficha N.º 32).

C. Cooperação entre Órgãos da União Africana e a Sociedade Civil: Reconhecendo que os órgãos da União Africana desempenham um papel na cooperação uns com os outros e nos esforços de har-monização relativos à situação dos direitos humanos, terrorismo e antiterrorismo, a sociedade civil

PARTE 7COOPERAÇÃO NO COMBATE AO TERRORISMO

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deverá poder dirigir-se à Comissão Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos sobre assuntos relacionados com a situação dos direitos humanos, terrorismo e contra-terrorismo.

Nota Explicativa: Ver Carta Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos, Artigos 45(1)(a e c) e 45(2); Protocolo Relativo à Constituição do Conselho de Paz e Segurança da União Africana, Artigo 3; e Protocolo Relativo à Constituição do Conselho de Paz e Segurança da União Africana, Artigos 19 e 20.

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A. Responsabilização das Empresas Privadas de Segurança: Os Estados devem procurar assegurar o respeito pelo direito regional e internacional humanitário, dos direitos humanos e dos refugiados por parte de empresas privadas de segurança (militares e não militares) que contratam. Em parti-cular, os Estados têm de assegurar que as empresas privadas de segurança são adequadamente controladas e reguladas; que a identificação das empresas privadas de segurança e as suas funções, poderes e imunidades são do conhecimento público; que o seu pessoal é adequadamente contro-lado e formado, incluindo em normas aplicáveis de direito internacional humanitário, dos direitos humanos e dos refugiados; que são tomadas medidas apropriadas para prevenir quaisquer viola-ções; que as empresas e o seu pessoal são obrigados a reportar imediatamente às autoridades com-petentes situações em que possa ter ocorrido violação de direitos humanos; e que os responsáveis por quaisquer violações são responsabilizados através de sanções administrativas, disciplinares ou judiciais, sempre que necessário ou apropriado.

Nota Explicativa: Ver Carta Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos, Artigo 1; Comun. 147/95 e 149/96, Dawda Jawara v. Gâmbia (maio de 2007), parág. 32; Comun. 245/02, Fórum das ONG de Direitos Humanos do Zimbábue v. Zimbábue (maio de 2006), parág. 143; Comun. 74/92, Comissão nacional dos direitos do homem e das liberdades v. Chade (outubro 1995), parág. 20; Convenção da União Africana para a Proteção e Assistência de Pessoas Deslocadas Internamente na África, Artigo 3(1)(H); Comissão de Direito Internacional, Responsabilidade dos Estados por Atos Internacionalmente Ilícitos, Artigos 8 e 9; e Documento de Montreux sobre obrigações legais e boas práticas internacionais pertinentes para Estados relativas a operações de empresas privadas de segurança e militares durante conflitos armados, Parte I(A)(3). *A disposição do Documento de Montreux sobre obrigações legais e boas práticas internacionais pertinentes para Estados relativas a operações de empresas privadas de segurança e militares durante conflitos armados reflete “obrigações legais existentes dos Estados e EPSMs e do respectivo pessoal.”

PARTE 8EMPRESAS PRIVADAS DE SEGURANÇA (EPS)

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A. Proibição de Apatridia: Os Estados devem assegurar que ninguém seja exposto a uma situação de apatridia unicamente como forma de punição, de um modo discriminatório, ou pelo fato de o indi-víduo ser suspeito, acusado ou processado, condenado ou de outro modo qualificado como terro-rista ou como envolvido em atividades relacionadas com o terrorismo. Ninguém deverá ser privado arbitrariamente do seu direito à nacionalidade. Em todas as matérias de nacionalidade, os Estados devem prestar garantias processuais, em linha com as normas internacionais de direitos humanos e os Estados devem proteger os indivíduos apátridas no seu território nacional em linha como direito internacional, incluindo o direito internacional em matéria de direitos humanos.

Nota Explicativa: Ver CDAHP, Resolução 234: sobre o direito à nacionalidade (2013); 1961 Convenção sobre a Redução de Apatridia, Preâmbulo; 1954 Convenção Relativa ao Estatuto de Pessoas Apátridas, Preâmbulo; Declaração Universal dos Direitos Humanos, Artigo 15; e Nota Explicativa do Princípio 1(G), Proibição de Discriminação.

PARTE 9APATRIDIA

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A. Instituições Nacionais de Direitos Humanos: Os Estados devem permitir a criação e reforço de instituições nacionais apropriadas encarregadas da promoção e proteção dos direitos humanos e liberdades garantidos pelo direito internacional e regional dos direitos humanos. Esta indicação aplica-se em particular a instituições nacionais que promovem e respeitam os direitos humanos no contexto do terrorismo e do combate ao terrorismo.

Nota Explicativa: Ver Carta Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos, Artigo 26.

B. Proteção pelo Estado: Os Estados devem assegurar que as testemunhas e vítimas de abusos de direitos humanos relacionados com o terrorismo e o –antiterrorismo; outras pessoas que prestam informações às autoridades; quem conduz qualquer investigação sobre abusos de direitos huma-nos; funcionários judiciais; jornalistas e profissionais da comunicação social; outros defensores dos direitos humanos; e os seus familiares, em particular mulheres e crianças, sejam protegidos de vio-lência, ameaças de violência ou qualquer outra forma de intimidação ou represália de um agente do Estado, suspeito de terrorismo ou grupo terrorista ou outra pessoa privada. Quando as vítimas de danos relacionados com o terrorismo ou antiterrorismo tiverem prestado informações às auto-ridades, ou forem chamadas para prestar testemunho durante processos judiciais, os seus direitos à vida, segurança física e privacidade têm de ser integralmente protegidos e salvaguardados para assegurar que quaisquer medidas de proteção adotadas sejam compatíveis com o direito da pessoa acusada a uma audiência justa e pública. Isto pode exigir que os Estados implementem um sistema robusto para proteção das testemunhas.

Nota Explicativa: Ver Carta Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos, Artigo 1; Comun. 272/03, Associação de Vítimas de Violência Pós Eleitoral e INTERIGHTS v. Camarões (novembro de 2009), parágs. 87-88; Comun. 245/02, Fórum das ONG de Direitos Humanos do Zimbábue v. Zimbábue (maio de 2006), parág. 143; Comun. 74/92, Comissão nacional dos direitos do homem e das liberdades v. Chade (outubro 1995), parág. 20; CADHP, Diretrizes e Medidas para a Proibição e Prevenção da Prática de Tortura e Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes na África, Diretriz 49; Princípios e Diretrizes Básicos das Nações Unidas sobre o Direito a um Recurso e Reparação para Vítimas de Violações Massivas do Direito Internacional dos Direitos Humanos e Violações Graves do Direito Internacional Humanitário, Artigo 23; CADHP, Princípios e Diretrizes sobre o Direito a um Julgamento Justo e Assistência Jurídica na África, Seção I(b), (e), e (f) (“Independência dos Advogados”); Declaração de Princípios Básicos de Justiça para

PARTE 10DEFENSORES DE DIREITOS HUMANOS DEFENSORES, VITIMAS, TESTEMUNHAS, JORNALISTAS, INVESTIGADORES, JUÍZES, E OUTROS

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Vítimas de Crime e Abuso de Poder, Anexo Artigo 4; e Relatório do Relator Especial sobre a promoção e proteção dos direitos humanos e liberdades fundamentais durante o combate ao terrorismo, Ben Emmerson, A/HRC/20/14, 4 de junho de 2012, parág. 67(g); CADH, Resolução 62: sobre a Adoção da Declaração de Princípios sobre Liberdade de Expressão na África; e Relatório do Relator Especial sobre a promoção e proteção dos direitos humanos e liberdades fundamentais durante o combate ao terrorismo, Martin Scheinin, A/64/211, 3 de agosto de 2009, parágs. 29, 31 e 40.

C. Deveres para com as Vítimas: Os Estados devem, além dos outros deveres para com as vítimas esta-belecidos nestes Princípios e Diretrizes, procurar justiça para as vítimas de terrorismo através de in-vestigações oficiais eficazes sempre que pessoas tiverem sido mortas ou feridas gravemente como consequência direta ou indireta de um ato de terrorismo, tendo em vista garantir a responsabilização e a aprendizagem através do exemplo para o futuro. Os Estados devem assegurar também que as vítimas de terrorismo tenham o direito de constituir organizações representativas cujos direitos à liberdade de associação e expressão devem ser garantidos.

Nota Explicativa: Ver Relatório do Relator Especial sobre a promoção e proteção dos direitos humanos e liberdades fundamentais durante o combate ao terrorismo, Ben Emmerson, A/HRC/20/14, 4 de junho de 2012, parágs. 67(c) e 67(j).

D. Definição de Vítima de Terrorismo: As seguintes pessoas devem ser consideradas vítimas de terroris-mo: (a) pessoas que foram mortas ou sofreram lesões físicas ou psicológicas graves devido prática de um ato de terrorismo (vítimas diretas); (b) os descendentes ou dependentes de uma vítima direta (ví-timas secundárias); (c) indivíduos inocentes que foram mortos ou sofreram lesão grave indiretamente imputável a um ato de terrorismo (vítimas indiretas); e (d) potenciais vítimas futuras de terrorismo.

Nota Explicativa: Ver Relatório do Relator Especial sobre a promoção e proteção dos direitos humanos e liberdades fundamentais durante o combate ao terrorismo, Ben Emmerson, A/HRC/20/14, 4 de junho de 2012, parág. 16.

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A. Privacidade e Vigilância: As medidas usadas para combater o terrorismo que interfiram com a pri-vacidade (em particular métodos de revista pessoal; busca domiciliária ou investigação de proprie-dade; escutas; escutas telefônicas; vigilância de correspondência e metadados; monitorização ele-trônica; uso de agentes ocultos; e recepção, recolha, acesso, uso, armazenamento, manutenção, exame, divulgação, destruição e divulgação e compartilhamento intra e interestadual de informa-ções privadas, incluindo através do uso de bancos de dados) devem ser previstas pela lei, rigorosa-mente proporcionais e absolutamente necessárias para atingir um fim legítimo, conduzidas de forma coerente com a dignidade humana e o direito à privacidade, e nos termos que forem admitidos pelo direito internacional dos direitos humanos. Ninguém deverá ser sujeito à interferência arbitrária ou ilegal com a sua privacidade, família, casa ou correspondência, nem a ataques ilegais à sua honra e reputação. O quadro legal relativo a qualquer interferência com a privacidade, assim como os seus procedimentos, deverá estar acessível ao público. As medidas tomadas devem estar sujeitas a su-pervisão judicial e deverá ser possível contestar eficazmente a legalidade destas medidas perante um tribunal.

Nota Explicativa: Ver Gabinete do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Direitos Humanos, Terrorismo e antiterrorismo (Ficha N.º 32), pág. 45-46; CADHP, Diretrizes sobre as Condições de Detenção, Custódia Policial e Prisão Preventiva na África, Diretriz 3(d). Ver também, Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, Artigo 17; Conselho da Europa, Diretrizes sobre Direitos Humanos e Luta Contra o Terrorismo, Artigo 6(1); Carta Africana dos Direitos e Bem-estar das Crianças, Artigo 10; e Princípios Globais sobre Segurança Nacional e o Direito à Informação (“Princípios Globais” ou “Princípios de Tshwane”), Princípio 10(E)(1). Os componentes do direito à privacidade estão igualmente inferidos na Carta Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos, através do conceito de não interferência do Estado, em especial nos Artigos 8, 10, 11, 12(1), 13(1), 14 e 18. *Os Princípios de Tshwane, emitidos em 12 de junho de 2013, refletem a prática do direito internacional e nacional, e foram aprovados pelos, entre outros, três relatores especiais sobre liberdade de expressão das Nações Unidas, da Comissão Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos, e da Organização dos Estados Americanos, assim como pelo Relator Especial das Nações Unidas sobre Combate ao Terrorismo e Direitos Humanos e o Representante da OSCE sobre Liberdade da Imprensa. Em 24 de junho de 2013, o Comitê dos Direitos Humanos e Assuntos Jurídicos da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa adotou por unanimidade uma resolução que manifestava o apoio aos Princípios.

PARTE 11DIREITO À PRIVACIDADE

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A. Direito de Acesso à Informação e Direito à Verdade: Todos têm a liberdade de procurar, receber, usar e transmitir informações. Incluem-se aqui as informações detidas por ou em nome de autori-dades públicas, ou a que as autoridades públicas tenham direito a acessar nos termos da lei. Cabe à autoridade requerida demonstrar que a necessidade de restringir o acesso à informação ameaça provocar danos superiores aos benefícios para o interesse público que resultam da divulgação. Os Estados não devem reter informações relativas a violações claras de direitos humanos ou violações graves do direito humanitário internacional, incluindo crimes no âmbito do direito internacional, e violações sistemáticas ou generalizadas dos direitos à vida, à liberdade pessoal e à segurança. Essas informações não podem, em quaisquer circunstâncias, ser retidas com fundamento na segurança nacional. As autoridades do Estado não devem igualmente reter informações com a intenção de im-possibilitar a responsabilização dos Estados ou indivíduos, ou impedir vítimas de garantir violações claras de direitos humanos ou violações graves do direito humanitário internacional. Qualquer re-cusa de divulgar informações deverá estar sujeita, pelo menos, a um mecanismo de revisão judicial. Ao determinar a divulgação de informações, deverá ser dada a devida atenção às regras relativas a restrições de direitos.

Nota Explicativa: Ver Carta Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos, Artigo 9; Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, Artigo 19(2); Declaração Universal dos Direitos do Homem, Artigo 19; Modelo de Lei Africana para Estados Africanos sobre o Acesso à Informação, Preâmbulo e Artigos 2(1)(e) e 36; Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, Resolução 12/12: sobre o Direito à Verdade; EACDH, Estudo sobre o Direito à Verdade (8 de fevereiro de 2006), parág. 59; ECtHR, El Masri v. Macedónia, 3 de dezembro de 2012, Petição N.º 39630/09, parágs. 191-94; Gomes Lund (Guerrilha do Araguaia) v. Brasil, IACtHR, Sentença de 24 de novembro de 2010, parágr. 201; CADHP, Princípios e Diretrizes sobre o Direito a um Julgamento Justo e Assistência Jurídica na África, Seção A(3)(a) (“Audiência pública”), Seção C(b)(3) (“Direito a um Recurso Eficaz”), e Seção D(a); Comitê Contra a Tortura, Comentário Geral 3 sobre Implementação do artigo 14 pelos Estados parte (“Satisfação e o direito à verdade”), parágs. 16-17; Princípios Globais sobre Segurança Nacional e o Direito à Informação (“Princípios Globais” ou “Princípios de Tshwane”), Princípio 27(b) (“Princípios da Supervisão Judicial Geral”); e ver também Nota Explicativa do Princípio 1(M), Inadmissibilidade de Derrogações e Restrições de Direitos Humanos e Liberdades. *Os Princípios de Tshwane, emitidos em 12 de junho de 2013, refletem a prática do direito internacional e nacional, e foram aprovados pelos, entre outros, três relatores especiais sobre liberdade de expressão das Nações Unidas, da

PARTE 12DIREITO DE ACESSO À INFORMAÇÃO E DIREITO À VERDADE

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PORTUGUÊS | 39Princípios e Diretrizes sobre Direitos Humanos e dos Povos no Combate ao Terrorismo na África

Comissão Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos, e da Organização dos Estados Americanos, assim como pelo Relator Especial das Nações Unidas sobre Combate ao Terrorismo e Direitos Humanos e o Representante da OSCE sobre Liberdade da Imprensa. Em 24 de junho de 2013, o Comitê dos Direitos Humanos e Assuntos Jurídicos da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa adotou por unanimidade uma resolução que manifestava o “apoio” aos Princípios.

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A. Segurança Humana: Os Estados têm a responsabilidade de proteger a segurança humana dos seus povos e pessoas e sanar as condições que conduzem à emergência e disseminação do terrorismo. A proteção da segurança humana e a estratégia de contra-terrorismo eficaz na África exige um com-promisso com o desenvolvimento e a promoção de direitos econômicos, sociais e culturais.

Nota Explicativa: Ver Pacto de Não Agressão e Defesa Comum da União Africana, Artigo 1(k); Relatório do Secretário-geral sobre o Painel de Alto Nível de Ameaças, Desafios e Mudanças, parágs. 145 e 148 e Relatório do Relator Especial sobre a promoção e proteção dos direitos humanos e liberdades fundamentais durante o combate ao terrorismo, Martin Scheinin, A/HRC/6/17, 21 de novembro de 2007, parág. 69.

PARTE 13SEGURANÇA HUMANA

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A. Implementação de Medidas Revisões: Em conformidade com o Artigo 1 da Carta Africana sobre Di-reitos Humanos e dos Povos, os Estados devem adotar medidas legislativas, administrativas, judiciais e outras para dar efeito a estes Princípios e Diretrizes e assegurar que os direitos e obrigações aqui contidos sejam sempre garantidos na lei e na prática, incluindo durante conflitos armados e estados de emergência. Inclui-se aqui uma revisão das disposições legislativas, administrativas e outras dis-posições existentes para avaliar a compatibilidade com os Princípios e Diretrizes. Os Estados devem ainda desenvolver esforços para enfrentar o terrorismo no cumprimento das suas obrigações em matérias de recursos humanos através de mecanismos de cooperação a serem implementados pelo Centro Africano para o Estudo e Investigação do Terrorismo.

B. Disseminação: Os Estados devem assegurar que estes Princípios e Diretrizes sejam amplamente disse-minados, incluindo pelas autoridades de combate ao terrorismo, pelos interventores do Setor da Justiça, a comunidade e as Instituições Nacionais de Direitos Humanos, Mecanismos Nacionais Preventivos, au-toridades legais de supervisão e outras instituições ou organizações com um mandato para promover a responsabilização, a supervisão ou inspeções de instituições e atividades de combate ao terrorismo.

C. Formação: Os Estados devem assegurar que todos os funcionários que estejam envolvidos em me-didas de combate ao terrorismo são devidamente formados em relação às disposições destes Princí-pios e Diretrizes. As disposições destes Princípios e Diretrizes e outras diretrizes relevantes desenvolvi-das pela Comissão Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos nos termos da Carta Africana devem ser incorporadas por inteiro nos curricula de todas as formações básicas e em serviços e, conforme o apropriado, feitas em consulta com o Centro Africano para o Estudo e Investigação do Terrorismo.

D. Relatórios: Os Estados partes da Carta Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos, em seus relató-rios para a Comissão Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos e em conformidade com as suas demais responsabilidades de relatório para órgãos regionais e internacionais relevantes, deverão fornecer informações, incluindo informações relevantes sobre a implementação de legislação, polí-ticas e decisões judiciais, na medida em que as medidas de combate ao terrorismo sejam coerentes e cumpram estes Princípios e Diretrizes.

Nota Explicativa: Esta seção sobre “Implementação” reflete uma seção similar estabelecida nas Diretrizes sobre as Condições de Detenção, Custódia Policial e Prisão Preventiva na África, Diretrizes 44-47 da CADHP, e reconhece o papel para uma relação cooperante entre a Comissão e o Centro Africano para o Estudo e a Investigação sobre Terrorismo.

PARTE 14IMPLEMENTAÇÃO