princípios norteadores da gestão democrática e participativa - monografia saronita cavalcante

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FACULDADE KURIOS FAK DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO ESCOLAR E COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA PRINCÍPIOS NORTEADORES DA GESTÃO DEMOCRÁTICA E PARTICIPATIVA SARONITA CAVALCANTE DE HOLANDA PINTO QUIXADÁ-CE 2015

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gestão democrática e participativa, autonomia escolar e família

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Page 1: Princípios Norteadores da Gestão Democrática e Participativa - Monografia Saronita Cavalcante

FACULDADE KURIOS – FAK

DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO ESCOLAR E COORDENAÇÃO

PEDAGÓGICA

PRINCÍPIOS NORTEADORES DA GESTÃO DEMOCRÁTICA E PARTICIPATIVA

SARONITA CAVALCANTE DE HOLANDA PINTO

QUIXADÁ-CE

2015

Page 2: Princípios Norteadores da Gestão Democrática e Participativa - Monografia Saronita Cavalcante

SARONITA CAVALCANTE DE HOLANDA PINTO

PRINCÍPIOS NORTEADORES DA GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA E

PARTICIPATIVA

Monografia apresentada à Banca

Examinadora do Programa de Pós-

Graduação, Especialização em Gestão

Escolar e Coordenação Pedagógica da

Faculdade Kurios – FAK, como requisito

parcial para a obtenção do título de

Especialista em Gestão Escolar e

Coordenação Pedagógica.

Orientadora Profª Stânia Nágila

Vasconcelos Carneiro.

QUIXADÁ – CE

2015

Page 3: Princípios Norteadores da Gestão Democrática e Participativa - Monografia Saronita Cavalcante

Pinto, Saronita Cavalcante de Holanda

Princípios Norteadores da Gestão Democrática e Participativa / Saronita Cavalcante de Holanda Pinto.

Quixadá, Ceará, 2015. 58 f; 30cm.

Trabalho de Conclusão de Curso (Pós-Graduação em Gestão Escolar e

Coordenação Pedagógica) – Faculdade Kurios. Quixadá-CE, 2015. Orientadora: Profª. Dra. Stânia Nágila Vasconcelos Carneiro.

Referências.

1. Gestão democrática e participativa 2. Autonomia escolar 3. Família. I. Princípios Norteadores da Gestão Democrática e Participativa. II. Faculdade Kurios.

CDD _______

Page 4: Princípios Norteadores da Gestão Democrática e Participativa - Monografia Saronita Cavalcante

TERMO DE APROVAÇÃO

SARONITA CAVALCANTE DE HOLANDA PINTO

PRINCÍPIOS NORTEADORES DA GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA E PARTICIPATIVA

Monografia apresentada à Banca Examinadora do Programa de Pós-Graduação,

Especialização em Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica da Faculdade Kurios

– FAK, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Gestão

Escolar e Coordenação Pedagógica.

Monografia aprovada em ____/____/____ Nota:______

Saronita Cavalcante de Holanda Pinto

Banca Examinadora

Profª Dra. Stânia Nágila Vasconcelos Carneiro Orientadora

Profª. Dra. Mariana Amaral Terra Coordenadora da Pós-Graduação da FAK

QUIXADÁ – CE

2015

Page 5: Princípios Norteadores da Gestão Democrática e Participativa - Monografia Saronita Cavalcante

DEDICATÓRIA

A Deus, pela sua excelência e grandeza, por ter me criado a sua imagem e

semelhança e me dado o direito da livre escolha.

Aos meus familiares, por sempre acreditarem na minha coragem e determinação

de romper com todos os obstáculos que a vida nos proporciona.

Page 6: Princípios Norteadores da Gestão Democrática e Participativa - Monografia Saronita Cavalcante

AGRADECIMENTOS

Agradeço, em especial, a Deus, por ter me concedido a maior dádiva que o ser

humano pode ter: a vida.

Aos meus pais, Adriano e Francisca, que lutaram para ter uma filha formada na

área da educação.

Aos meus dois filhos, Rebeca e Guilherme, que são minhas joias preciosas.

Ao meu esposo Marcos, pelo apoio nesta caminhada.

À minha orientadora e professora Stânia Nágila Vasconcelos, que tenho uma

enorme admiração pelo seu trabalho e apoio na realização desta monografia.

Aos professores do Curso de Especialização em Gestão Escolar e Coordenação

Pedagógica, que foram fundamentais para a minha formação.

Page 7: Princípios Norteadores da Gestão Democrática e Participativa - Monografia Saronita Cavalcante

RESUMO

O presente trabalho apresenta um breve estudo acerca dos princípios que

norteiam a gestão escolar quando esta se caracteriza como democrática e

participativa, bem como sua integração com a comunidade tendo em vista alguns

aspectos escolares. É uma abordagem crítico-reflexiva que visa incentivar e

proporcionar suporte às discussões sobre o tema. A gestão escolar não deve ser

enxergada somente como um conjunto de práticas burocráticas voltadas à escola,

mas sim, precisa ser vista com um canal de promoção do fazer democrático e da

cidadania. A escola não pode e não deve fechar-se em seus muros, deixando de

considerar toda a realidade que a norteia e que exerce influência constante no

processo de ensino-aprendizagem. A sociedade vem se transformando em ritmo

cada vez mais acelerado, logo as instituições de educação não podem manter-se

distantes do meio social, que exige uma proximidade pertinente se o êxito da

educação foi o objetivo a ser alcançado. Atualmente não há como a escola substituir

sozinha no que diz respeito às suas atribuições, se considerarmos tantos fatores

externos que existem à sua volta. Portanto nota-se que é imprescindível que a

comunidade local esteja em sintonia com o ambiente escolar para garantir a

melhoria educacional e isso pode ser promovido mais facilmente quando a escola

possui uma gestão democrática e participativa.

Palavras-chave: gestão democrática e participativa, autonomia escolar e família.

.

Page 8: Princípios Norteadores da Gestão Democrática e Participativa - Monografia Saronita Cavalcante

ABSTRACT

This actual work show a brief study of the principles that guide the school

management when this is characterized as democratic and participatory, and its

integration with the community for some school aspects. It is a critical and reflective

approach that aims to encourage and provide support to the discussions on the

subject. The school management should not be viewed only as a set of bureaucratic

practices aimed at the school, but needs to be seen with a promotional channel of

the democratic making and citizenship. The school can not and should not close on

its walls, leaving consider all reality that guides and carries constant influence in the

teaching-learning process. The society is becoming increasingly fast pace, then

educational institutions can not remain distant from the social environment, which

requires a relevant proximity to the success of education was the goal to be

achieved. Currently there is no way to replace school alone with regard to their

powers, considering so many external factors that exist around them. Therefore we

note that it is essential that the local community is in line with the school environment

to ensure educational improvement and this can be upgraded more easily when the

school has a democratic and participative management.

Keywords: democratic and participatory management, school autonomy and family.

Page 9: Princípios Norteadores da Gestão Democrática e Participativa - Monografia Saronita Cavalcante

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 10

2. GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA E PARTICIPATIVA ........................................ 13

2.1 ASPECTOS LEGAIS ......................................................................................... 14

2.2 O GESTOR ESCOLAR DEMOCRÁTICO E LIDERANÇA ................................. 20

2.3 PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NUMA GESTÃO DEMOCRÁTICA ..................... 24

2.4 FORMAÇÃO E O PAPEL DOS GESTORES ESCOLARES .............................. 26

2.5 GESTÃO ESCOLAR PARTICIPATIVA E A AUTONOMIA DA ESCOLA ............ 30

3. INSTRUMENTOS PARA UMA GESTÃO ESCOLAR PARTICIPATIVA E

DEMOCRÁTICA. ...................................................................................................................... 34

3.1 IMPLANTAÇÃO DO PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA ESCOLA (PDE). ... 34

3.2 ELABORAÇÃO DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DA ESCOLA (PPP).35

3.3 O COLEGIADO OU CONSELHO ESCOLAR. ................................................... 38

3.4 ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS DA ESCOLA. ............................................ 42

4. ANÁLISE DA GESTÃO ESCOLAR DE UMA ESCOLA PÚBLICA MUNICIAL DE

QUIXADÁ-CE. .......................................................................................................................... 45

4.1 IDENTIFICAÇÃO DA ESCOLA ......................................................................... 45

4.2 ESTRUTURA FÍSICA ........................................................................................ 48

4.3 ORGANIZAÇÃO SOCIAL DO TRABALHO ESCOLAR ...................................... 48

4.4 ENTREVISTANDO OS GESTORES DA ESCOLA ............................................ 50

4.5 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS ......................................................................... 52

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 54

6. REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 56

Page 10: Princípios Norteadores da Gestão Democrática e Participativa - Monografia Saronita Cavalcante

1. INTRODUÇÃO

A gestão é fundamental para qualquer organização e a gestão escolar constitui

uma dimensão importantíssima da educação. A capacidade de administrar a

instituição escolar é relevante para o desenvolvimento do sujeito aprendiz. O

educando não aprende apenas na sala de aula, mas na escola como um todo: pela

maneira como ela é organizada e como funciona; pelas ações globais que promove;

pelo modo como as pessoas nela se relacionam e como a escola se relaciona com a

comunidade. Ou seja, uma educação de qualidade resulta do conjunto das relações

dos fatores externos e internos existentes no espaço escolar, e da forma como

essas relações estão organizadas.

O ato de educar exige práticas próprias das relações humanas, pois no

cotidiano escolar lidamos com sujeitos de diferentes formas de agir, influenciados

por diversos fatores (habitação, crenças, classe social, ambiente familiar, entre

outros), por isso é importante que o espaço escolar seja um lugar onde predomine a

prática democrática, que em sua abrangência, acolha o respeito às diferenças, à

consciência ética, à concorrência da participação e o incentivo da mesma etc.

Pretende-se obter através deste estudo um maior entendimento acerca do que

seja a gestão democrática e participativa e de tudo o que faz parte de suas práticas

educacionais. Espera-se explicitar de forma clara e objetiva a relevância que tem o

Projeto político Pedagógico, o Plano de Desenvolvimento da Escola e o Conselho

Escolar no que se refere à gestão que molda como democrática, bem como ressaltar

a influência e importância que há na integração da comunidade com a escola,

mostrando que há possibilidades e medidas práticas que propiciem essa inter-

relação.

O trabalho foi construído através de pesquisa bibliográfica, utilizando como

suporte o saber dos teóricos, que concebe o Projeto Político Pedagógico como uma

importante ferramenta para a democratização da educação e o Conselho Escolar

como algo que assegure a efetivação do PPP. Utilizou-se também a pesquisa de

campo, buscando conhecer a realidade da gestão escolar pública municipal, a partir

de questionários, conversas e observações, com a pretensão de projetar possíveis

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estratégias de integração da escola com a comunidade, apoiando-se numa gestão

que seja democrática e participativa.

Inicialmente aborda-se a gestão democrática conceituando-a e caracterizando-

a de forma a esclarecer a sua importância para o melhoramento da educação. Toda

escola necessita de uma administração, porém quando esta se dá de forma

democrática, percebe-se o quanto se pode avançar de maneira positiva rumo a uma

educação de qualidade e significativa para a formação humana.

A participação é uma característica indispensável numa gestão democrática,

pois através dela busca-se alcançar os objetivos com uma colaboração mais ampla

e com maiores possibilidades de obter sucesso naquilo que se almeja. É

indispensável que o professor tenha consciência da importância desse tipo de

gestão, pois o docente é uma peça chave para um ensino de qualidade, logo sua

colaboração e participação são essenciais em meio a uma gestão escolar

democrática.

Destaca-se ainda a relevância que tem a comunidade na escola até mesmo

quando se fala em gestão democrática, pois sem a participação dela na escola, o

conceito de democratização de gestão fica comprometido. Logo, deve-se

constantemente buscar envolver ao máximo o espaço escolar e espaço comunitário,

tornando-os os principais atores no desenvolvimento da educação, para que esta se

efetive de forma positiva na sociedade.

Ressalta-se também a importância da autonomia e a gestão democrática da

escola, onde as relações devem ser marcadas pelos princípios de responsabilidade

partilhada e subsidiariedade, tendo sempre por finalidade a educação de qualidade,

reforçando o elo entre cidadão e escola como instituição pública e assegurando à

comunidade a transparência, o acesso à informação e o direito de avaliação.

Os instrumentos para uma gestão escolar participativa e democrática, tais

como: o Plano de Desenvolvimento da Escola; o Projeto Político Pedagógico; o

Conselho Escolar e as Organizações Associativas de uma escola, ambos são de

grande relevância para a democratização da escola.

O Projeto Político Pedagógico imprime à gestão o fazer democrático na medica

em que seja elaborado de forma participativa, tendo em vista as necessidades da

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escola e da comunidade, criando estratégias que irão guiar os trabalhos escolares

durante o período letivo, daí percebe-se que mais uma vez a importância da

participação no fazer pedagógico.

Pode-se afirmar que o Conselho Escolar, quando trabalhado de forma correta,

é uma das práticas mais democráticas que podemos encontrar numa escola. Já em

sua formação, nota-se que há uma ampla participação por meio da escola e da

comunidade local, e em sua atuação, efetiva as metas e ações propostas no Projeto

Político Pedagógico e busca manter uma maior transparência em relação às

questões da escola.

Tais fatores estão intimamente ligados à busca da democratização da escola e,

em consonância com as mudanças ocorridas no meio social, buscam garantir um

ambiente escolar favorável ao bom desempenho do processo de ensino-

aprendizagem.

Promover a integração da escola com a comunidade não é algo impossível de

se acontecer na prática, porém a gestão escolar precisa estar disposta a trabalhar

com o intuito de garantir essa inter-relação de colaboração e ajuda mútua e ela fará

isso de maneira mais coerente quando se adota os moldes de uma gestão

democrática e participativa.

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2. GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA E PARTICIPATIVA

A Gestão Escolar democrática é um dos temas mais discutidos entre os

educadores, representando um grande desafio na operalização das políticas de

educação e no dia-a-dia da escola.

Gestão Escolar Democrática tem como objetivo promover a organização, a

mobilização e a articulação de todas as condições humanas necessárias para

garantir o avanço dos processos socioeducacionais dos estabelecimentos de ensino

orientados para a promoção efetiva da aprendizagem dos alunos, de modo a torná-

los capazes de enfrentar adequadamente os desafios da sociedade globalizada e da

economia centrada no conhecimento.

Uma forma de conceituar gestão é vê-la como um processo de mobilização da competência e da energia das pessoas coletivamente organizadas para que, por sua participação ativa e competente, promovam a realização, o mais plenamente possível, dos objetivos de sua unidade de trabalho, no caso, os objetivos educacionais. O entendimento do conceito de gestão, portanto, por assentar-se sobre a maximização dos processos sociais como força e ímpeto para a promoção de mudanças, já pressupõe, em si, a ideia de participação, isto é, do trabalho associado e cooperativo de pessoa na análise de situações, na tomada de decisões sobre elas, em conjunto, a partir de objetivos organizacionais entendidos e abraçados por todos (...). (LUCK, 2009, p.21).

Assim, Gestão Escolar Democrática é o termo que passou a substituir o termo

Administração Escolar, significando não apenas uma mera mudança terminológica,

mas uma alteração conceitual ou mesmo paradigmática que tem sido alvo de muitas

controvérsias. Conforme Luck (2000), para alguns esse processo se relaciona com a

transposição do conceito de campo empresarial para o campo educacional, a fim de

submeter a administração da educação à lógica de mercado. Para outros, o novo

conceito de gestão ultrapassa o de administração, uma vez que envolve a

participação da comunidade nas decisões que são tomadas na escola. Barroso

(2000) entende que o conceito de administração é mais amplo, já que é utilizado

num sentido genérico e global que abrange a política educativa, ao passo que o

termo “gestão escolar” refere-se a uma função executiva destinada a pôr em prática

as políticas previamente definidas. Essa alteração no termo que, consequentemente,

trouxe alterações no papel da direção escolar ainda está sendo definida e estudada

pela comunidade escolar, que, embora venha realizando capacitações, ainda não

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conseguiu delinear bem o seu verdadeiro papel frente às novas definições e

políticas.

Considerando que ao assumir o conceito da gestão a escola assumiu também

o compromisso de passar a ser sinônimo de ambiente autônomo e participativo,

entende-se que esse ambiente implica trabalho em equipe e compartilhado por

todos que fazem a comunidade escolar. Para que isso aconteça é de fundamental

importância traçar bem os objetivos que se pretende alcançar e envolver todos num

só propósito que é o alcance dos objetivos trabalhados.

2.1 - ASPECTOS LEGAIS

Nos últimos anos o Brasil tem vivenciado mudanças significativas em diversas

esferas da vida econômica e social. A organização e a estrutura do sistema

educacional, como parte desse contexto mais amplo, têm passado por inúmeras

transformações expressas tanto na base legal produzida a partir do final da década

de oitenta, como nos contornos que a gestão escolar vem assumindo em período

recente.

Algumas das mudanças estruturais da educação brasileira têm origem na

Constituição Federal de 1988, pois foi um importante marco para a democratização

da educação. A Constituição cidadã reforçou o movimento de gestão democrática da

educação que teve um grande avanço nas décadas de 80 até meados da década de

90, quando foi, então, promulgada a atual lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (Lei 9394/96) – LDB, que contemplou em seus artigos. 14 e 5 os princípios

norteadores da gestão democrática, in verbis:

Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:

I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola;

II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes.

Art.15. Os sistemas de ensino assegurarão as unidades escolares públicas de educação públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público.

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O art. 15 contempla o princípio da autonomia delegada, pois esta lei decreta a

gestão democrática com seus princípios vagos, no sentido de que não estabelece

diretrizes bem definidas para delinear a gestão democrática, apenas aponta o lógico,

a participação de todos os envolvidos. Para Sousa (2007), o caráter deliberativo da

autonomia assume posição ainda articulada com o Estado. Segundo este autor:

A gestão educacional passa pela democratização da escola sob dois aspectos: a) interno que contempla os processos administrativos, a participação da comunidade escolar nos projetos pedagógicos; b) externo ligado à função social da escola, na forma como produz, divulga e socializa o conhecimento. (SOUSA, 2007)

Como visto, algumas das mudanças estruturais da educação brasileira têm

origem na Constituição Federal de 1988 (CF). Alguns anos depois, em 1996,

modificações foram introduzidas no capítulo da educação da Carta magna, através

da Emenda constitucional Nº 14/96. No mesmo ano foi promulgada uma nova Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – Lei Nº 9.394/96) e criado e

regulamentado o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental

e de valorização do Magistério (FUNDEF) – Lei Nº (9.424/96). A essas orientações

vieram somar-se um amplo conjunto de prioridades estabelecidas no Plano Nacional

de Educação (PNE), com vigência de dez anos, sancionada pela Lei N° 10.172, de

09 de janeiro de 2001.

As mudanças no aparato legal brasileiro coincidem com transformações

amplas decorrentes do processo de reordenamento mundial mais conhecido como

globalização (Castells, 1999; Vieira, 2002; e Carnoy, 2003) intensificando

extraordinariamente as demandas por educação. Ao mesmo tempo, correspondem a

um cenário de redemocratização do país, onde aumentam as reivindicações por

participação advindas de diversos atores sociais. Tais circunstâncias geram

pressões por formas de operacionalização mais abertas e eficazes das políticas

educacionais, passando gestão em seus diferentes matizes e configurar-se como

tema da ordem do dia.

O capítulo da educação na Constituição de 1988 é o mais detalhado de todos

os textos constitucionais que, de uma forma ou de outra, trataram da educação no

Brasil. A Lei de Diretrizes e Bases, por sua vez, mantém o espírito da Carta Magna,

detalhando seus princípios e avançando no sentido de encaminhar orientações

gerais para o sistema educacional. A importância de conhecer a base legal decorre

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do fato de que esta, embora por si não altere a fisionomia do real, indica um

caminho que a sociedade deseja para si e quer ver materializado.

Como visto, a Constituição Federal de 1988 já apontava para modificações

necessárias na gestão educacional, com vistas a imprimir-lhe qualidade. Do conjunto

das disposições constitucionais sobre educação, é possível inferir que essa

qualidade diz respeito ao caráter democrático, cooperativo, planejado e responsável

da gestão educacional, orientado pelos princípios arrolados em seu artigo 206, in

verbis:

Art. 2006 – O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;

III – Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;

IV – gratuidade de ensino público em estabelecimentos oficiais;

V – valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos na forma da lei, planos de carreira, como ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas;

VI – gestão democrática do ensino público, na forma da lei;

VII – garantia de padrão de qualidade;

VIII – piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal.

Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de trabalhadores considerados trabalhadores considerados profissionais da educação básica e sobre a fixação de prazo para a elaboração ou adequação de seus planos de carreira, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito federal e dos municípios.

Como vimos, a Constituição define a educação como um direito de todos e

dever do Estado e da família, a ser promovida e incentivada com a colaboração da

sociedade. Aqui se introduz uma primeira noção importante, a de que a educação é

tarefa a ser compartilhada entre o Estado e a sociedade. Na esfera do poder público

este dever é uma atribuição repartida entre as diferentes instâncias governamentais

(a União, o Distrito federal, os Estados e os municípios).

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A educação escolar é aquela disciplina pela legislação que define um vínculo

entre a escola, o mundo do trabalho e a prática social, importante inovação da LDB.

Os princípios orientados, definidos pela Constituição e explicitados na LDB, são

traduzidos no corpo da lei Nº 9.394/96, através de um conjunto de orientações

importantes para a educação. Tomados em sua essência os referidos princípios

explicitam um modo plural, aberto e inclusivo de conceber a educação e as

modalidades de gestão que a ela se articulam. Tomemos, como exemplo, o princípio

da igualdade de condições para o acesso e permanência na escola. Seu espírito

está na linha de uma sociedade e uma escola onde todos tenham as mesmas

condições para usufruir o direito à educação e aos seus benefícios.

Conforme Freitas (1998), norteiam a busca desse padrão de gestão

educacional os princípios de focalização, flexibilidade e mobilização. Na verdade,

trata-se de princípios que têm dirigido à ação do estado na área social, segundo

critérios político-econômicos posto pelo ajuste estrutural:

O princípio da focalização sinaliza a prática da seletividade na atuação do Estado e a concentração desta em determinadas áreas e problemas. Este princípio é indicativo do caráter restrito e emergencial que tem marcado a política social do Estado brasileiro. A flexibilização, como princípio, orienta a criação e garantia de uma institucionalidade dotada de mecanismos e instrumentos legais, técnicos e burocráticos que possibilitem o rompimento da rigidez formal das estruturas do sistema de ensino e de sua gestão.

O princípio de mobilização dirige a ação gestora do estado no sentido de fomentar o envolvimento ativo dos (indivíduos professores, alunos, pais e outros), das comunidades em especial a escolar, das organizações sócias e dos setores produtivos da sociedade na implementação das políticas educacionais. Este princípio norteia a gestão no sentido da busca de responsabilidade das instituições dos indivíduos e segmentos sociais pelos resultados que se têm em vista com a escolarização.

Após o advento da Constituição de 1988, a Conferência Mundial de Educação

para Todos (Jomtien – Tailândia, 1990) e a Conferência de Cúpula de Nova-Delhi

(1993) indicaram a necessidade de construção de um novo modelo de gestão

educacional capaz de assegurar, para todos, uma educação de básica de qualidade,

vista como uma das condições essenciais do desenvolvimento humano, colaborando

com o tratamento dado pela Carta Magna.

Page 18: Princípios Norteadores da Gestão Democrática e Participativa - Monografia Saronita Cavalcante

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A Constituição Federal é o eixo norteador de todo o sistema de educação no

Brasil, que é legitimado por leis específicas que tentam viabilizar políticas que

possas contribuir para o crescimento da educação pública no país. Essas leis estão

contidas na LDB (Leis de Diretrizes e Bases, 1996). Na LDB, Art. 12, inciso I a VII,

estão as principais delegações que referem à gestão escolar no que diz respeito as

suas respectivas unidades de ensino:

Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:

I – elaborar e executar sua proposta pedagógica;

II – administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros;

III – assegurar o comprimento dos dias e horas-aulas estabelecidas;

IV – velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente;

V – prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento;

VI – articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola;

VII – informar os pais e responsáveis sobre a frequência e o rendimento dos alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica.

Dentre os sete incisos, descritos acima, é interessante observar a dimensão da

gestão escolar na redação e na comunidade escolar. A relação escola-comunidade

é uma relação em que ambas requerem visibilidade e transparência da participação

tanto da escola quanto da comunidade nos processos de educação de qualidade.

Conforme Vieira (2008), para a LDB, o planejamento, a elaboração e a

execução de uma proposta pedagógica é a principal das atribuições das unidades

de ensino, devendo ela, assim, na sua gestão trilhar um caminho orientado por esta

finalidade. A proposta pedagógica é a bússola da escola. Ela define os caminhos e

trajetos que a escola vai tomar para alcançar os seus objetivos. Por isso, é muito

importante que ela seja bem formulada e estruturada pela escola e seus

representantes. É obrigação da escola a gestão das pessoas que integram a

unidade. Além da gestão dos recursos financeiros e materiais, a escola precisa gerir

o seu maior patrimônio que são as pessoas que trabalham na unidade de ensino.

Noutras palavras, cabe a ela gerir o seu patrimônio imaterial – as pessoas, as ideias,

a cultura produzida em seu interior – e material, prédios, livros, enfim, tudo aquilo

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que se traduz na parte física de uma instituição escolar. Além dessas atribuições, e

acima de qualquer outra dimensão, porém, está a incumbência de zelar pelo que

constitui a própria razão de ser da escola – p ensino e a aprendizagem.

A gestão escolar é legalmente fundamentada e a legislação pertinente

determina que a mesma seja democrática, conforme estabelecido no artigo 18 da

LDB, no qual a democratização da gestão se reduz a um ideal de orientação de

atividades de escolas e universidades e ao incentivo à participação da comunidade.

Os principais incisos do artigo são:

A gestão democrática constitui princípio fundamental da organização e da administração das instituições de ensino compreendendo:

I – A existência de mecanismos de coparticipação na gestão das instituições de ensino, com representação dos segmentos que a integram, incluídos, no caso das instituições destinadas à educação e ao ensino de crianças e adolescentes, os pais ou responsáveis;

1º - o cumprimento do disposto neste artigo dar-se-á com observância dos seguintes preceitos:

I – existência de órgãos colegiados e conselhos escolares, com competência sobre o conjunto de todas as atividades desenvolvidas pela instituição;

II - avaliação permanente da qualidade de serviços prestados e dos resultados das atividades educacionais oferecidas à sociedade;

III - utilização de métodos participativos para a escolha dos dirigentes, ressalvando o provimento de cargos por concurso público;

IV – incentivo para a criação de associações de profissionais do ensino, dos alunos, ex-alunos e pais, além das de caráter acadêmico, assegurada sua participação nos processos decisórios internos das instituições.

Todas as atividades desenvolvidas pelas instituições públicas visam o avanço

dos indicadores nos sistemas de avaliação e a contribuição da comunidade escolar

(diretores, professores, alunos, ex-alunos, pais etc.). Assim, a gestão democrática é

definida com os princípios de integração do sistema-escola com a família,

comunidade e sociedade, descentralização, participação democrática no processo

educacional, maioria dos professores em colegiados e comissões.

Neste sentido, a gestão democrática deve ser vista como uma gestão de

liderança compartilhada, que vai além do estabelecimento de ensino e se coloca

como um desafio de novas relações de poder entre a sociedade, o sistema

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educacional e os gestores deste sistema nos estabelecimentos de ensino. Nascendo

daí perspectivas de uma democratização da escola brasileira, seja como

desconstrução de desigualdades, de discriminações, de posturas autoritárias, seja

como construção de um espaço de criação de igualdade de oportunidades e de

tratamento igualitário de cidadãos entre si.

2.2 - O GESTOR ESCOLAR DEMOCRÁTICO E LIDERANÇA

No que diz respeito à liderança a palavra líder é usada não só para designar

quem comanda (chefe), como para quem guia (líder). Vários autores, dedicados ao

estudo da administração e da liderança, referem-se à existência de estilos de

gerência como um dos mais importantes aspectos dos que interferem no ato de

liderar. Assim, podemos dizer que liderança é a união entre as competências de

comunicação e transmissão de ideias. São várias as definições e, em cada uma,

esconde-se um propósito, um conjunto de valores, uma ideologia. Por exemplo, ao

definir a liderança como “o processo de obter a obediência de todo um grupo”

(MACCOBY, apud CHIAVENATO, 1985, p.73) aponta que se encontra embutida

nela uma ideia de que cabe ao líder, e só ao líder, tomar decisões; e ainda toda uma

forma de administração que supervaloriza a obediência de um liderado e nega o seu

potencial criativo, sua motivação pessoal, sua inteligência e comprometimento. Essa

é uma das mais autoritárias definições de liderança que se conhece.

Deve-se observar, segundo Chiavenato (1994), que existe diferença entre as

palavras chefe e líder, muito embora sejam ambas usadas para mostrar a autoridade

daquele que comanda. Chefe é aquele que dispõe da autoridade formal mediante a

investidura em um cargo previsto na estrutura orgânica, decorrente do estatuto da

instituição, cujas atribuições outorgam capacidade para representá-la, deliberar e

decidir dentro das limitações de sua competência. Já “líder” é aquele que é seguido,

mesmo não dispondo de qualquer chefia ou autoridade estatutária, porque consegue

ser aceito e respeito, porque é capaz de unir o grupo, de manter um bom

relacionamento e, além disso, possuir grande identificação com os seus

companheiros.

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21

Observa-se a existência de diversos estilos de liderança, quais sejam:

liderança autocrática, baseia-se na força direita ou em alguma forma de coação,

sendo o medo o principal componente que mantém o controle dos liderados.” O líder

autocrata domina pala fraqueza de seus subordinados e não pelas suas qualidades

ou pelo aparente poder de que dispõe” (CHIAVENATO, 1994, p, 151). Esse tipo de

líder está focando apenas na execução da tarefa, desconsidera a opinião dos seus

liderados, impõe sua vontade, centraliza todas as decisões.

Outro estilo de liderança é a democrática, também chamada de participativa,

uma vez que é direcionada para as pessoas e existe a participação dos liderados no

processo decisório. O grupo é orientado a executar as tarefas que ele mesmo

ajudou a definir através de sugestões. Esse tipo de líder faz com que o grupo

perceba que o sucesso depende de todos e não apenas dele. O líder democrático é

aberto a críticas positivas em relação à sua postura.

A liderança democrática está alicerçada na capacidade de representar o grupo

através de uma opção livre, em que o líder configura o direito de escolher a

confiança e as esperanças do grupo ou da equipe, como sendo o elemento mais

qualificativo para leva-lo à realização de seus objetivos.

Alguns especialistas são da opinião de que o desempenho das organizações

está diretamente relacionado com a qualidade daqueles que lideram

(LONGENECKER, 19986), e que embora a liderança compete não seja o único

ingrediente importante para o sucesso de uma operação, é um fator essencial.

Covey (2002), por sua vez, considera que a liderança deve ser distribuída por toda a

organização. Assim, ela provém menos do topo. A liderança transforma-se em

opção e não em obrigação. A liderança seria o desejo de controlar eventos, indicar

rotas a serem seguidas e fazer com que uma ação seja realizada. Para isso, usa-se

cooperativamente capacidades e habilidades de outras pessoas.

De acordo com Kotter (1997):

O único e maior erro do modelo tradicional está relacionado às suposições sobre a origem da liderança. De forma simplista, o conceito historicamente dominante eleva as aptidões de liderança a um dom divino, dádiva concedida a um seleto número de pessoas. Embora, um dia, eu também tivesse acreditado nisso, descobri que a ideia tradicional simplesmente não se adequava bem ao que observei em quase trinta anos de estudo sobre organizações e

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pessoas que as dirigiam. Particularmente, o modelo mais antigo está quase esquecido em relação à força e potencial do aprendizado vitalício. (KOTTER 1997, p. 178)

Para ele, a liderança não está apenas na cúpula da hierarquia, mas distribuída

por toda a instituição, ou seja, a liderança encontra-se em todos os níveis e deve ser

trabalhada nessa perspectiva para que melhores resultados sejam alcançados. De

acordo com Kotter (1997, p, 14) “até os novos conceitos se enraizarem nas normas

sociais e valores comuns, eles estão sempre sujeitos à deterioração tão logo as

pressões associadas ao processo de mudança sejam removidas”.

Nessa perspectiva, assegurar condições de sustentabilidade deve se colocar

como o elemento que dá coesão e assegura o êxito efetivo das instituições, ou seja,

a vida das organizações passa a se estruturar a partir de novos conceitos de

liderança, o que implica reconhecer em cada indivíduo que compõe a empresa, um

líder.

Senge (1998) faz uma análise sobre o conceito de liderança ao afirmar que:

Em sua essência, a visão tradicional de liderança baseia-se nos pressupostos de impotência das pessoas, na ausência de visão pessoal e na incapacidade de dominar as forças de mudança, déficits esses que só podem ser remediados por alguns grandes líderes. A nova visão da liderança nas organizações que aprendem é centrada nas organizações que aprendem é centrada em tarefas mais sutis e mais responsáveis por construir organizações onde as pessoas expandem continuamente suas capacidades de entender complexidades, esclarecer visões e aperfeiçoar modelos mentais compartilhados – ou seja, eles são responsáveis pela aprendizagem (SENGE, 1998, p.368).

O tema liderança democrática se coloca como assunto complexo, mas

segundo De Pree (1989) o conceito pode ser associado às palavras do Evangelista

Lucas, que diz: “aquele que serve”. Para esse mesmo autor “a arte da liderança

exige que pensemos no líder como servidor em termos de relações de bens e

herança, de impulso e eficiência, de civilidade e valores” (p. 28). Senge (1998), por

sua vez, propõe que o líder atual esteja sempre aberto para aprender mais e, em

conjunto, com os liderados, transmita confiança e nem sempre tenha a resposta

certa para os problemas. O autor fala da importância do esforço dos líderes para

desenvolver habilidades conceituais e de comunicação e faz uma distinção entre os

líderes afirmando que é a clareza e a capacidade de persuasão de suas ideias, a

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profundidade de seu compromisso e sua abertura a aprender sempre mais que os

tornam verdadeiramente líderes. Ainda relata:

(...) a capacidade de tais pessoas como líderes naturais é um subproduto de uma vida de esforços – esforços para desenvolver habilidades conceituais e de comunicação, para refletir sobre valores pessoais e para alinhar o comportamento pessoal com valores, para aprender ouvir e a apreciar outras pessoas e suas ideias. (SENGUE, 1998)

Quando a instituição possui potencial para viver e sobreviver, as crenças, os

valores e as premissas fundantes do responsável maior da instituição são

transmitidos aos modelos conceituais dos colaboradores. A personalidade dele se

incorpora para a cultura da organização. Não basta transmitir conceitos se a cultura

não for sustentada e, em algumas situações, o que torna uma organização bem

sucedida em sua juventude não é suficiente para conservá-la. Neste estágio, os

líderes devem contar com suficiente percepção pessoal para crescer com a

organização e mudar a própria perspectiva; aqueles que reconhecem as próprias

limitações precisam permitir o despertar de outras formas de liderança.

Nas palavras de Goleman (2002):

Os grandes líderes nos mobilizam inflamam nossa paixão e inspiram o melhor de nós. Quando tentamos explicar a causa de tamanha eficácia, pensamos em estratégia, visão ou ideias poderosas. Na verdade, eles atuam em um nível mais fundamental: os grandes líderes atuam por meio das emoções. (GOLEMAN, 2002, p. 5)

Krause (1999) ainda falando sobre as emoções, diz que “um líder eficaz exibe

um comportamento equilibrado, seguro, direto e controlado sob todas as

circunstâncias. Uma conduta controlada garante poderosas vantagens competitivas”

(KRAUSE, 1999, p.33), enquanto Goleman (2002) acrescentou que os líderes

podem ser desenvolvidos e entende que “o líder tem total condição de promover

mudanças significativas em seu estilo pessoal, com reflexões sobre seus comandos

e deflagrando modificações importantes em toda a organização” (GOLEMAN, 2002,

p.10).

Líderes eficazes são possuidores de uma visão capaz de enxergar as coisas

de modo diferente dos demais, têm habilidades para reunir e organizar os mesmos

dados que todos vemos, de forma diferente, conseguindo imaginar fenômenos

novos e até então não percebidos.

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24

No que concerne ao ambiente escolar o líder eficaz é aquele que procura

atender a equipe (corpo docente e administrativo), os objetivos da escola (formação

dos educandos), criando um ambiente produtivo e acolhedor. Ao exercer uma

liderança mais diretiva e estruturada, o líder escolar deixará claro o que espera do

grupo sem ser rígido e inflexível.

2.3 - PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NUMA GESTÃO DEMOCRÁTICA

É bem evidente que, atualmente, a participação da família nas ações desta

escola torna-se algo de pertinente relevância, pois a escola reflete várias dimensões

acerca do que ocorre fora de seus muros, dessa forma não há como não haver uma

relação entre as instituições educacionais e a família onde as mesmas estão

inseridas. Diferentemente do passado, onde a escola se fazia autônoma no que diz

respeito aos processos educacionais, hoje em dia fica difícil conduzir as práticas

pedagógicas sem o apoio e participação de todos os familiares.

Percebe-se que os fatores ligados aos acontecimentos extraescolares exercem

influência direta no cotidiano da escola, principalmente as ocorrências que estão

ligadas ao avanço tecnológico, a violência cada vez mais frequente e o bullying, o

qual podemos destacar como um dos fatores com maior número de ocorrências.

A partir do momento em que a escola, sobretudo a gestão adquirem a

consciência acerca desses fatos, percebe-se uma urgente relação de troca entre a

família e a escola, pois dessa maneira a busca de soluções para possíveis

problemas será mais fácil tendo em vista que haverá uma parceria entre ambas e

assim a escola poderá caminhar com mais firmeza. É fundamental que ambas sigam

os mesmos princípios e critérios, bem como a mesma direção em relação aos

objetivos que desejam atingir.

Ressalta-se que mesmo tendo objetivos em comum, cada um deve fazer sua

parte para que atinja o caminho do sucesso, que visa conduzir crianças e jovens a

um futuro promissor. O ideal é que a família e a escola tracem as mesmas metas de

forma simultânea, propiciando ao aluno uma segurança na aprendizagem de forma

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25

que venha criar cidadãos críticos, reflexivos e ativos capazes de enfrentar a

complexidade de situações que surgem na sociedade.

Portanto, a família deve inserir-se no ambiente escolar de forma a propiciar o

melhor andamento da educação. Esse envolvimento se dá de várias formas, afinal a

escola desempenha diversas funções no âmbito educacional, logo a comunidade

tem muitas oportunidades de exercer um papel atuante e transformador no processo

ensino-aprendizagem e na formação cidadã.

Percebe a relevância que tem a família na escola até mesmo quando se fala

em gestão democrática e participativa, pois sem a família na escola, o conceito de

democratização da gestão fica comprometido. Logo, deve-se buscar envolver ao

máximo o espaço escolar em espaço comunitário. Outros meios mais práticos de

fazer com que a comunidade interaja no ambiente escolar, além de sua atuação nos

conselhos, seriam no apoio e participação nos projetos desenvolvidos pela escola,

buscar saber quais as possíveis necessidades que a escola possa vir a ter e tentar

supri-las.

Podemos perceber, portanto que a família possui uma gama de meios para se

integrar na escola de forma a contribuir com a educação dos filhos e alunos, tanto

colaborando com a gestão, atuando nos conselhos e desempenhando outros papeis

que poderão surgir no decorrer das atividades escolares.

Assim, a escola não pode ser uma realidade distante da família e não deve ser

vista pelos familiares como algo obrigatório e exigido por um sistema, mas sim deve

ser concebida como o alicerce fundamental para a construção de uma sociedade

digna e justa para com todos os seus membros.

É importante ressaltar que a participação da família contribui para a educação

e a formação moral e intelectual de seus filhos e filhas.

A família, que é uma construção social e sofre influência dos valores e padrões de sua época, atualmente passa também por grandes transformações, que vão desde os novos arranjos familiares, delineando famílias monoparentais, homoafetivas, reconstituídas por novas uniões e coabitações dos filhos, frutos das diversas uniões, até mudanças nos papeis familiares. Essas mudanças são formas contemporâneas de exercício da maternidade e da paternidade, cujos papéis já não são rigidamente preestabelecidos como

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cuidadores e provedores, respectivamente. Ambos, pai e mãe, podem ocupar funções diversas. (FERREIRA, 2012; p.17)

A escola deve esta a par de tantas mudanças na família e só conseguirá fazê-

lo se houver um contato mais próximo com o ambiente familiar e conseguir atrair os

familiares até o meio escolar. Essas várias transformações podem, por

consequência, interferir negativamente nas práticas educacionais, por isso a escola

precisa obter um amplo conhecimento a respeito da realidade que compõem a

comunidade escolar.

A parceria da família com a escola sempre será fundamental para o sucesso da

educação dos seus filhos e dos seus alunos. Portanto, pais e educadores

necessitam serem grandes e fiéis companheiros nessa nobre caminhada da

formação educacional do ser humano.

2.4 - FORMAÇÃO E O PAPEL DOS GESTORES ESCOLARES

De acordo com Luck (2000), com a nova concepção de gestão, intensificaram

os debates sobre a necessidade da profissionalização das pessoas envolvidas na

administração escolar como condição para a melhoria da qualidade da educação

básica. Nesse sentido a LDB 9394/96 pouco inovou em relação ao cargo de diretor

escolar e contemplou apenas a formação dos profissionais com o curso de

pedagogia para a forma de escolha dos dirigentes. Em seu Art. 67, determinou a

exclusividade de ingresso no cargo por meio do concurso público de provas e títulos

(sem definir os seus critérios) e o pré-requisito da experiência docente para o

exercício do cargo. Sendo assim, ficou a cargo da prática administrativa escolar a

adaptação dos novos paradigmas e práticas, bem como a adequação da

comunidade escolar a essa nova concepção de administração que passa a ser

coletiva e democrática.

Segundo Cury (1997), a gestão, pensada de forma democrática, pode adquirir

uma dimensão muito diferente daquela associada à ideia de comando. Isto significa

que se pode administrar por meio do diálogo e do envolvimento do coletivo. A

participação e o exercício da cidadania no campo educacional, e mais

especificamente na gestão da escola, estão ligados a um processo mais amplo de

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extensão da cidadania social à cidadania educacional, e, portanto, ligado à sua

função social. Diante disso, o autor recomenda que a gestão democrática seja

instituída por meio da criação de conselhos deliberativos, eleição para diretores e da

necessidade de construção coletiva do projeto político-pedagógico. Em decorrência

disso, surgirá uma grande valorização da figura do gestor escolar e, ao mesmo

tempo, a preocupação com sua capacitação profissional. A finalidade é que ele

corresponda à forma de gerir o bem público uma perspectiva de descentralização,

autonomia e democratização.

A partir dos anos 90, o termo administração foi substituído pelo termo gestão.

Como foi apontado por Luck (2000), essa substituição não significa uma mera

mudança terminológica, mas uma alteração conceitual ou mesmo paradigmática,

que tem sido alvo de muitas controvérsias. Para alguns, esse processo se relaciona

com a transposição do conceito do campo empresarial para o campo educacional, a

fim de submeter à administração da educação à lógica de mercado. Para outros, o

novo conceito de gestão ultrapassa o de administração, uma vez que envolve a

participação da comunidade nas decisões que são tomadas na escola. A gestão

democrática se torna então aquilo que implica o trabalho coletivo na escola,

compartilhado por todos os membros inseridos na comunidade escolar.

O desenvolvimento de equipe é uma dimensão básica do estilo de gestão

participativa. O diretor eficaz é um líder que trabalha para desenvolver uma equipe

composta por pessoas que em conjunto são responsáveis por garantir o sucesso da

escola. Cabe destacar que a ênfase principal da liderança está no seu papel

pedagógico, isto é, de efeito transformador de práticas e desenvolvimento de

competências, pois o gestor deve ajudar a desenvolver em sua equipe de trabalho,

as habilidades necessárias para que compartilhem toda gestão do desempenho da

unidade escolar.

No que diz respeito ao papel do diretor, este deixa de ser alguém que tem a

função de fiscalizar e controlar, o que centraliza em si as decisões, para ser,

segundo Luck (2000):

[...] um gestor da dinâmica social, um imobilizador, um orquestrador de atores, um articulador da diversidade para dar unidade e consistência, na construção do ambiente educacional e promoção segura da formação de seus alunos.

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Ou ainda, segundo Libâneo (2003):

[...] o diretor coordena, mobiliza, motiva, lidera, delega aos membros da equipe escolar, conforme suas atribuições específicas, as responsabilidades decorrentes das decisões, acompanha o desenvolvimento das ações, presta conta e submete à avaliação da equipe o desenvolvimento das decisões tomadas coletivamente.

Assim, o diretor é o líder da equipe. Ele concilia o trabalho o trabalho

pedagógico com o trabalho administrativo, deve ser conhecedor das leis gerais, das

leis administrativas, das leis educacionais, das normas emanadas das diversas

esferas do poder público no tocante aos Sistemas de Ensino Brasileiro. Ele cuida da

dinâmica escolar, mantém o intercâmbio social e institucional com o propósito de

promover e tornar conhecida a instituição que gerencia.

Como agente público, é servidor da sociedade em geral e de seu público alvo.

Ele é um especialista em educação, portanto, é responsável pela condução de uma

comunidade que participa da cena educacional, dos seus indicadores educacionais

e de toda produção acadêmica.

Mais do que um administrador que cuida de orçamentos, calendários, vagas e

materiais, quem dirige a escola precisa ser um educador. E isso significa estar ligado

ao cotidiano da sala de aula, conhecer os alunos, professores, pais e todos os

membros envolvidos no processo educacional. Só assim ele se torna um líder, e não

apenas alguém com autoridade burocrática. Para Antônio Carlos Gomes da Costa,

pedagogo e consultor, existem três perfis básicos na função do diretor:

O administrador escolar - mantém a escola dentro das normas do sistema educacional, segue portarias e instruções, é exigente no cumprimento de prazos;

O pedagógico – valoriza a qualidade do ensino, o projeto pedagógico, a supervisão e a orientação pedagógica e cria oportunidades de capacitação docente;

O sociocomunitário – preocupa-se com a gestão democrática e com a participação da comunidade, está sempre rodeado de pais, alunos e lideranças do bairro, abre a escola nos finais de semana e permite trânsito livre em sua sala.

Como é muito difícil ter todas essas características, o importante é saber

equilibrá-las, com colaboradores que tenham talentos complementares. Delegar e

liderar devem ser as palavras de ordem. O bom diretor indica caminhos, é sensível

às necessidades de toda a comunidade escolar, desenvolve talentos, facilita o

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29

trabalho da equipe e, é claro, procura solucionar os problemas da melhor forma

possível.

O coordenador pedagógico é o responsável por executar as ações. Este tem a

complexa função de organizar e ligar os desejos e anseios da comunidade escolar

no tocante à aprendizagem dos alunos e ao ensino do professor.

Assim, o coordenador pedagógico tem como função primordial a formação

permanente do professor e o acompanhamento do seu desempenho em sala de

aula com vistas à melhoria do processo de ensino-aprendizagem qualitativa e

significativa do aluno. Além de atuar na ação docente em organizar eventos, orienta

os pais sobre a aprendizagem dos filhos e comunica a comunidade sobre os feitos

da escola. Esse profissional precisa ir além do conhecimento teórico, pois para

acompanhar o trabalho pedagógico e estimular os professores é preciso percepção

e sensibilidade para identificar as necessidades dos alunos e professores, tendo que

se manter sempre atualizado, buscando fontes de informação e refletindo sobre sua

prática.

O secretário escolar é o profissional com foco na materialização do fazer

pedagógico, através das ações de programas, projetos e outras práticas que

concorram para o sucesso da gestão escolar. Ele é responsável por operacionalizar

processos que se estendem desde o ingresso do educando na escola através da

matrícula e acompanha a sua trajetória acadêmica até a sua saída legal da escola. É

responsável também pelo arquivamento e manutenção dos dados alusivos ao

funcionamento da escola e, zelar pelo sucesso dos indicadores educacionais da

escola.

Para que esse profissional tenha um bom desempenho como secretário escolar

é essencial que ele tenha competência técnica, seja organizado e possua boa

comunicação e equilíbrio, adotando uma postura profissional pautada nos valores

étnicos e morais.

O Coordenador Administrativo-Financeiro é membro coordenador das ações e

rotinas administrativas, do planejamento e da gestão dos recursos organizacionais,

sejam estes: materiais, patrimoniais, financeiros, tecnológicos e/ou humanos.

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Suas ações concorrem para o sucesso da gestão escolar com foco nos

processos de ensino e aprendizagem. Ele coordena as atividades de controle,

análise e o planejamento do fluxo de atividades e processos da área. Este

profissional precisa manter estreita relação com a Secretaria Municipal ou Estadual

da Educação no acompanhamento de obras, materiais escolares, expediente,

consumo, programas, projetos e planos das ações de cunho financeiro e de gestão,

mantendo o sistema atualizado, com as prestações de contas em dias.

Vale ressaltar que a equipe gestora desempenha vários papéis dentro do

ambiente escolar, cabendo ao diretor à articulação de todos os setores educacionais

da escola. O desempenho do diretor requer comprometimento, liderança,

capacidade administrativa, sobretudo, ações permeadas pela liberdade, autonomia,

responsabilidade e atitudes democráticas.

2.5 - GESTÃO ESCOLAR PARTICIPATIVA E A AUTONOMIA DA ESCOLA

Pensar a gestão escolar democrática implica ampliar os horizontes históricos,

políticos e culturais em que se encontram as instituições educativas, objetivando

alcançar a cada dia mais autonomia. Quando falamos em autonomia, estamos

defendendo que a comunidade escolar tenha um grau de independência e liberdade

para coletivamente pensar discutir, planejar, construir e executar seu projeto político-

pedagógico, entendendo que neste está contido o projeto de educação ou de escola

que a comunidade almeja, bem como estabelecer os processos de participação no

dia-a-dia da escola.

O Conceito de autonomia, segundo Barroso (2001, p.16),

[...] está etimologicamente ligado à ideia de autogoverno, isto é, à faculdade que os indivíduos (ou organizações) têm de se regerem por regras próprias. Contudo, se a autonomia pressupõe a liberdade (e capacidade) de decidir, ela não se confunde com a independência. A autonomia é um conceito relacional (somos sempre autônomos de alguém ou de alguma coisa), pelo que a sua ação se exerce sempre num contexto de interdependência e num sistema de relações. A autonomia é também um conceito que exprime sempre um certo grau de relatividade: somos mais, ou menos, autônomos; podemos ser autônomos em relação a uma das coisas e não ser em relação às outras.

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Desse modo, é possível concluir que a autonomia precisa ser cotidianamente

construída, não sendo, portanto, resultado de atos e resoluções decretadas. A

garantia de progressivos graus de autonomia e fundamental para a efetivação de

processos de gestão democrática. Barroso (2001, p.18-23) aponta sete princípios

para a colaboração de um programa de reforço da autonomia das escolas:

1) O reforço da autonomia da escola deve ser defendido levando em conta as diferentes dimensões das políticas educativas.

2) A autonomia das escolas é sempre uma autonomia relativa, uma vez que é condicionada pelos poderes públicos e pelo contexto em que se efetiva.

3) Uma política de reforço da autonomia das escolas não se limita a dispositivos legais, mas exige a criação de condições e dispositivos que permitam as autonomias individuais e a construção do sentido coletivo.

4) A autonomia não pode ser considerada como uma obrigação para as escolas, mas sim uma possibilidade.

5) O reforço da autonomia das escolas não tem uma função em si mesmo, mas é um meio para que elas ampliem e melhorem as oportunidades educacionais que oferecem.

6) A autonomia é um investimento baseado em compromissos e implica melhoria e avanços para a escola.

7) A autonomia também se aprende.

Ou seja, entendemos a autonomia e a gestão democrática como espaços

articulados de construção diária e, portanto, resultado da mobilização e do

envolvimento de todos no partilhamento do poder e no compromisso com o

aprendizado político desse processo que se efetiva no exercício de construção

cotidiana das várias formas de participação. A construção da autonomia é

processual e se articula ao esforço mais amplo de democratização da escola.

Participação efetiva e gestão democrática são fundamentais para que a

autonomia escolar seja resultado da construção coletiva e democrática de projetos,

na instituição educativa, que venham a atender aos anseios da comunidade escolar.

A construção desses processos implica a garantia de processos participativos de

escolha dos dirigentes escolares e de outros mecanismos de participação com os

Conselhos Escolares. Por isso, a construção da autonomia escolar, requer muita luta

e dedicação daqueles que estão inseridos nos processos educativos. Sari e Luce, ao

discutir sobre a luta pela autonomia das instituições escolares, ressaltam que:

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“O movimento pela maior autonomia das escolas corresponde, em parte, a uma demanda dos professores e das comunidades para que o projeto pedagógico, a estrutura interna e as regras de funcionamento da unidade escolar possam ser construídos mais coletivamente e com maior identidade e responsabilidade institucional. Essa demanda encontra também respaldo na noção de sistema de ensino, que compreende os órgãos administrativo e normativo comuns e um conjunto de unidades escolares autônomas.” (SARI, LUCI, 2000, p. 344).

Portanto, para compreendermos melhor a importância, os limites e as

possibilidades da autonomia da escola é fundamental ressaltarmos as quatro

dimensões fundamentais da autonomia, tais como: administrativa, financeira, jurídica

e pedagógica.

Autonomia administrativa consiste na possibilidade da escola elaborar e gerir

seus planos, programas e projetos.

Vale ressaltar, no entanto, que autonomia é sinônimo de responsabilidade.

Dessa forma, ter autonomia administrativa significa também não esquecer que a

escola esta inserida num processo que envolve relações internas e externas,

sistema educativo e comunidade escolar.

Autonomia financeira refere-se à existência e a utilização de recursos

financeiros capazes de dar à instituição educativa condição de funcionamento

efetivo e possibilitar a escola de elaborar e executar seu orçamento, planejar e

executar suas atividades. Em síntese, é obrigação das instituições educacionais

publicas e compete às escolas aperfeiçoar e tornar transparente o uso dos recursos.

Autonomia jurídica diz respeito à possibilidade de a escola elaborar suas

normas e orientações escolares em consonância com as legislações educacionais,

como, por exemplo, matrícula, transparência de alunos, admissão de professores,

concessão de grau etc. a autonomia jurídica da escola possibilita que as normas de

funcionamento desta sejam discutidas coletivamente e faça parte do regimento

escolar elaborado pelos segmentos envolvidos na escola.

A autonomia pedagógica da escola, por sua vez, está estreitamente ligada à

identidade, à função social, à clientela, à organização curricular, à avaliação, bem

como os resultados e, portanto, à essência do projeto pedagógico da escola.

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Assim, autonomia é uma construção que se dá nas lutas diárias que travamos

com os nossos pares nos espaços em que atuamos. Por isso, a autonomia escolar

requer muita luta e dedicação daqueles que estão inseridos nos processos

educativos.

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3. INSTRUMENTOS PARA UMA GESTÃO ESCOLAR PARTICIPATIVA E

DEMOCRÁTICA

Atualmente existem vários mecanismos que garantem que a escola cumpra o

seu papel social, tais como: Elaboração e implantação do Projeto Político

Pedagógico da Escola; implantação do Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE);

criação do Conselho ou Colegiado Escolar e de Organizações associativas da

Escola como representantes de turma ou Grêmio Estudantil.

É importante ressaltar, que a equipe gestora solicite e promova a participação

ativa dos membros dos referidos segmentos escolares para os deixarem cientes do

que está ocorrendo na escola, e solicitando sugestões e a colaboração de todos

para alcançar a qualidade do ensino-aprendizagem.

3.1 - IMPLANTAÇÃO DO PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA ESCOLA (PDE)

O Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE) surgiu com a proposta de

melhorar os índices de aprendizagem com qualidade, aprovação e permanência na

escola, transformando-se no primeiro passo que sinaliza que a escola deixou de ser

burocrática, passando a ser dinâmica e comprometida com o desenvolvimento dos

seus estudantes, e está a serviço de toda a comunidade escolar, disposta a prestar

contas de sua atuação.

O PDE é, portanto, um processo gerencial de planejamento estratégico que a

escola desenvolve para melhoria da qualidade do ensino, elaborado de modo

participativo com a comunidade escolar (equipe escolar e pais de alunos). O PDE

define o que é a escola, o que ela pretende fazer, aonde ela pretende chegar, de

que maneira e com quais recursos. É um processo coordenado pela liderança

gestora da escola para o alcance de uma situação desejada, de uma maneira

eficiente e eficaz, com a melhor concentração de esforços e de recursos.

O plano de Desenvolvimento da Escola (PDE-Escola) é uma ferramenta gerencial que auxilia a escola a realizar melhor o seu trabalho: Focalizar sua energia, assegurar que sua equipe trabalhe para atingir os mesmos objetivos e avaliar e adequar sua direção em resposta a um ambiente em constante mudança. O PDE-Escola

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constitui um esforço disciplinado da escola para produzir decisões e ações fundamentais que moldam e guiam o que ela é, o que faz e por que assim o faz, com um foco no futuro. (BRASIL, 2011, p.01)

Dito isso, percebe-se que o sucesso do PDE depende da liderança da equipe

gestora para conduzir o processo da elaboração e implantação do mesmo

compromisso, e dando suporte necessário para atingir cada etapa estabelecida pela

comunidade escolar.

O PDE pode ser definido como documento central do trabalho da escola que

supõe um elevado grau de participação e consenso na sua elaboração e que os

seus participantes assumam compromissos para ajudar na sua implementação.

Deve ser construído em comum acordo com a comunidade, para que todos possam

refletir sobre as dificuldades que a escola passa e contribuir com ações para superá-

las. Essa participação na sua construção irá promover o sentimento de compromisso

em todos no momento de sua implantação. Assim os professores, funcionários, pais,

alunos e gestores, devem estar envolvidos no processo, participando ativamente em

todas as etapas do planejamento.

Por meio do PDE, a comunidade escolar irá analisar o desempenho da escola

no passado, suas relações internas e externas, sua missão e valores, e condições

de funcionamento para, em seguida, projetar seu futuro.

Assim, o PDE é uma ferramenta que o gestor escolar deve utilizar para planejar

de forma estratégica as atividades escolares, cuja finalidade é a garantia de um

processo de gestão mais eficaz e que busca o sucesso de todos os alunos na

aprendizagem escolar.

3.2 - ELABORAÇÃO DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DA ESCOLA (PPP)

O Projeto Político-Pedagógico (PPP) da escola deve refletir a dinâmica da

escola. Nele, devem ser explicitados os objetivos, anseios e desejos, ou seja, tudo

aquilo que a instituição pretende alcançar. Nesse sentido, o PPP constitui-se como

caminho/busca de uma nova direção e sentido, mediado por forças internas

externas, visando atingir os objetivos esperados, englobando ações explícitas e

intencionais para a compreensão das ações do passado e das análises do presente,

Page 36: Princípios Norteadores da Gestão Democrática e Participativa - Monografia Saronita Cavalcante

36

pressupondo perspectivas que podem ser de conservação ou de transformação,

congregando a articulação entre duas categorias: a política e a pedagógica.

Se compreendermos o PPP como uma forma de situar os processos

educativos em um horizonte de possibilidades na caminhada, no cotidiano escolar,

imprimindo uma direção, tendo em vista o tipo de educação que se quer e de

cidadão que se deseja formar, é necessário que haja um permanente processo de

discussão das práticas das preocupações individuais e coletivas, dos obstáculos aos

propósitos da escola e da educação e de seus pressupostos. Para que os objetivos

da educação e da escola sejam alcançados, as reflexões acerca do PPP devem ser

pautadas por dois momentos fundamentais:

a) a caracterização do cotidiano da escola tendo em vista a compreensão do que há de real na escola e no contexto em que está inserida, constituindo, portanto, o momento do desvendamento das reais condições existentes;

b) a projeção do ideal, prevendo os meios necessários para o alcance de propósitos, com base no momento anterior e mediante implementação de ações colegiadas e, portanto, participativas.

A elaboração do Projeto Político Pedagógico implica um repensar constante no

dia-a-dia da escola, seus processos culturais e a forma como ela se encontra

estruturada. Isso implica uma participação efetiva dos atores envolvidos na unidade

escolar e nos processos educativos, levando em conta que projetar envolve

fundamentalmente uma ação colegiada com base na efetivação da comunidade nos

destinos da unidade escolar, sendo também resultante dos processos de reflexão

destinados à construção de uma identidade própria e contextualizada.

Nessa perspectiva, o Projeto Político Pedagógico vai além de um simples

agrupamento de planos de ensino e de atividades diversas. O projeto não é algo que

é construído e, em seguida, arquivado ou encaminhado às autoridades educacionais

como prova do cumprimento de tarefas burocráticas. Ele é construído e vivenciado

em todos os momentos, por todos os envolvidos com o processo educativo da

escola.

Faz-se necessário, contudo, que o gestor escolar conheça a Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional – LDB (Lei nº 9394/96 de dezembro de 1996), onde

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37

delega aos membros que fazem a escola, a tarefa de elaboração do projeto

pedagógico.

Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:

I – Elaborar e executar sua proposta pedagógica.

II – Administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros;

III – Assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas;

IV – Velar pelo cumprimento do Plano de Trabalho de cada docente;

V – Prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento;

VI – Articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola;

VII – Informar os pais e responsáveis sobre a frequência e o rendimento dos alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica.

É preciso fazer surgir, dessa autonomia garantida pela lei uma outra construída

na escola que estimule e assegure a participação de gestores, professores, pais,

alunos, funcionários e representantes da comunidade local na discussão do trabalho

pedagógico.

Quando a escola é capaz de construir, implementar e avaliar o seu projeto

pedagógico, ela propicia uma educação de qualidade e exerce sua autonomia

pedagógica. Ao exercer essa autonomia, a escola, consiste de sua missão,

implementa um processo compartilhado de planejamento e responde por suas ações

e seus resultados.

Assim, o PPP deve se constituir enquanto processo democrático de decisão

buscando organizar o trabalho pedagógico de forma a problematizar os conflitos e

superar as relações de competitividade, corporativas e autoritárias.

A construção de um Projeto Político Pedagógico traz à tona questões ligadas à

gestão escolar englobando as que são pedagógicas, administrativas e financeiras.

Esse processo deve ser fruto de discussões e deliberações feitas por parte dos

diferentes membros da comunidade escolar. Portanto, para a consolidação de um

projeto interdisciplinar e globalizador, a escola necessita desenvolver formas

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democráticas de organização, gestão e funcionamento, dando atenção à melhoria

dos processos formativos, à utilização transparente dos recursos e à melhoria das

relações de trabalho em seu interior. Desse modo é necessário a implementação de

ações colegiadas articuladas a situações onde o aprender a pensar, não se dissocie

do executar e, portanto, da efetivação de um Projeto Político Pedagógico

consistente.

O Projeto Político Pedagógico da escola, enquanto diretriz basilar do projeto

educativo que a escolar quer implementar, torna-se um aliado fundamental na

autonomia financeira da escola pois, quando pensado coletivamente, contando com

a participação e aprovação do Conselho Escolar, ganha força diante da comunidade

e do sistema de ensino.

Podemos concluir que a construção coletiva do Projeto Político Pedagógico

deve ocorrer visando, antes de tudo, à instalação de uma autonomia construída e

dialogada na escola, e não meramente para cumprir um dispositivo legal. Essa

autonomia, sim, deve ser criada em torno de um projeto educativo que vise à

melhoria da qualidade do ensino e ao sucesso da aprendizagem do aluno. Essa é a

razão que torna importante a construção do Projeto Político Pedagógico.

3.3 - O COLEGIADO OU CONSELHO ESCOLAR

O Conselho Escolar é um órgão colegiado composto por representantes das

comunidades escolar e local, que tem como atribuição deliberar sobre questões

político-pedagógicas, administrativas, financeiras, no âmbito da escola. Cabe ao

Conselho, também, analisar as ações a empreender e os meios a utilizar para o

cumprimento das finalidades da escola. Ele representa a comunidade escolar e

local, atuando em conjunto e definindo caminhos para formar as deliberações que

são de sua responsabilidade. Representam, assim, um lugar de participação e

decisão, um espaço de discussão, negociação e encaminhamento das demandas

educacionais, possibilitando a participação social e promovendo a gestão

democrática.

Page 39: Princípios Norteadores da Gestão Democrática e Participativa - Monografia Saronita Cavalcante

39

O Conselho Escolar está embasado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional nº 9394/96, Art. 14, Inciso II, que estabelece os princípios da educação

democrática, dentre as quais informa da importância da participação das

comunidades escolares locais em conselhos escolares, para as decisões do

processo educativo. Legalmente ainda conta com a Lei nº 10.172/01 – Plano

Nacional de Educação – a qual tem por objetivo assegurar que toda a comunidade

seja envolvida nas decisões importantes tomadas pela escola.

É com a compreensão da natureza essencialmente político-educativa do

Conselho Escolar que este deve deliberar também sobre a gestão administrativo-

financeiro das unidades escolares, visando construir efetivamente uma educação de

qualidade social. Para o exercício dessas atividades, o Conselho tem as seguintes

funções:

a) Deliberativo: quando decidem sobre o Projeto Político Pedagógico e outros

assuntos da escola, aprovam encaminhamentos de problemas, garantem a

elaboração de normas internas e o cumprimento das normas dos sistemas de ensino

e decidem sobre a organização e o funcionamento geral das escolas, propondo à

direção as ações a serem desenvolvidas. Elaboram normas internas da escola sobre

questões referentes ao seu funcionamento nos aspectos pedagógico, administrativo,

e/ou financeiro.

b) Consultivo: quando tem um caráter de assessoramento, analisando as

questões encaminhadas pelos diversos segmentos da escola e apresentando

sugestões ou soluções que poderão ou não ser acatadas pelas direções das

unidades escolares.

c) Fiscal: quando acompanham a execução das ações pedagógicas,

administrativas e financeiras, avaliando e garantindo o cumprimento das normas das

escolas e a qualidade social do cotidiano escolar.

d) Mobilizador: quando promovem a participação, de forma integrada, dos

segmentos representativos da escola e da comunidade local em diversas atividades,

contribuindo assim para a efetivação da democracia participativa e para a melhoria

da qualidade social da educação.

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Devem fazer parte do Conselho Escolar: a direção da escola e a representação

dos estudantes, dos pais ou responsáveis pelos estudantes, dos professores,

trabalhadores em educação não-docentes e da comunidade local. Como todo órgão

colegiado, o Conselho Escolar toma decisões coletivas. Ele só existe enquanto está

reunido. Ninguém tem autoridade especial fora do colegiado só porque faz parte

dele.

Contudo, o diretor atua como coordenador na execução das deliberações do

Conselho Escolar e também como articulador das ações de todos os segmentos,

visando a efetivação do projeto pedagógico na construção do trabalho educativo. Ele

poderá ou não ser o próprio presidente do Conselho, conforme estabelecido pelo

Regimento Interno.

Recomenda-se que o Conselho Escolar seja constituído por um número ímpar

de integrantes, procurando-se observar as diretrizes do sistema de ensino e a

proporcionalidade entre os segmentos já citados, ficando os diretores das escolas

como membros natos, isto é, os diretores no exercício da função têm a sua

participação assegurada no Conselho Escolar.

A escolha dos membros do Conselho Escolar deve-se pautar pela possibilidade

de efetiva participação: o importante é a representatividade, a disponibilidade e o

compromisso; é saber ouvir e dialogar, assumindo a responsabilidade de acatar e

representar as decisões da maioria, sem nunca desistir de dar opiniões e apresentar

as suas propostas, pois o Conselho Escolar é, acima de tudo, um espaço de

participação e, portanto, de exercício de liberdade.

A seleção dos integrantes desse Conselho deve observar as diretrizes do

sistema de ensino. As experiências indicam várias possibilidades para a escolha dos

membros do Conselho Escolar. Nesse sentido, seria importante definir alguns dos

aspectos que envolvem esse processo: mandato dos conselheiros, forma de escolha

(eleição, por exemplo), existência de uma comissão, convocação de assembleias-

gerais para deliberações, existência de membros efetivos e suplentes.

Feita a escolha, deve-se agendar um prazo para a posse dos conselheiros. Se

a opção do sistema for pela eleição como forma de escolha dos conselheiros, alguns

cuidados devem ser observados, tais como: o voto deve ser único, não sendo

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possível votar mais de uma vez na mesma unidade escolar; garantir a

proporcionalidade dos segmentos; assegurar a transparência do processo eleitoral;

realizar debates e apresentar planos de trabalho, entre outros.

A principal atribuição do Conselho Escolar deverá ser a elaboração do

Regimento Interno do Conselho Escolar, que define ações importantes, como

calendário de reuniões, substituição de conselheiros, condições de participação do

suplente, processos de tomada de decisões, indicação das funções do Conselho etc.

Num segundo momento, deve-se partir para a elaboração, discussão e aprovação

do Projeto Político Pedagógico da escola. Cabe ao Conselho Escolar avalia-lo,

propor alterações, se for o caso, e implementá-lo. Em ambos os casos, o Conselho

Escolar tem um importante papel no debate sobre os principais problemas da escola

e suas possíveis soluções.

Sobre as decisões tomadas pelos membros do Conselho Escolar Werle (2003)

afirma que:

Os conselhos escolares adquirem vida e forma material nas articulações relacionais entre os atores sociais que os compõem; na forma como pais e alunos, professores, funcionários e direção aproximam-se do espaço do Conselho, enquanto o constroem, de maneira dinâmica e conflitiva. (WERLE, 2003, p.102)

O exercício dessas atribuições é, em si mesmo, um aprendizado que faz parte

do processo democrático de divisão de direitos e responsabilidades no processo de

gestão escolar. O Conselho Escolar deve chamar a si a discussão de suas

atribuições prioritárias, em conformidade com as normas do seu sistema de ensino e

da legislação em vigor. Mas, acima de tudo, deve ser considerada a autonomia da

escola e o seu empenho no processo de construção de um Projeto Político

Pedagógico coerente com seus objetivos e prioridades, definidos em função das

reais demandas das comunidades escolar e local, sem esquecer o horizonte

emancipador das atividades desenvolvidas nas escolas públicas.

Para o exercício dessas e de outras atribuições que forem definidas segundo a

autonomia da escola, é indispensável considerar que a qualidade que se pretende

atingir é a qualidade social, ou seja, a realização de um trabalho escolar que

represente, no cotidiano vivido, crescimento intelectual, afetivo, político e social dos

envolvidos.

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Sendo o Conselho Escolar, como se disse inicialmente o sustentáculo do

Projeto Político Pedagógico da escola, a sua implantação traz, entre outras, as

seguintes vantagens:

As decisões refletem a pluralidade de interesses e visões que existem entre os diversos segmentos envolvidos;

As ações têm um patamar de legitimidade mais elevado;

Há uma maior capacidade de fiscalização e controle da sociedade civil sobre a execução da política educacional;

Há uma maior transparência das decisões tomadas;

Tem-se a garantia de decisões efetivamente coletivas;

Garante-se espaço para que todos os segmentos da comunidade escolar possam expressar suas ideias e necessidades contribuindo para as discussões dos problemas e a busca de soluções.

Como se pôde ver, é grande a importância do Conselho Escolar para a busca

de transformações no cotidiano escolar, transformações essas orientadas de uma

sociedade igualitária e justa. Suas atividades são muitas e variadas, devendo

sempre ser referenciadas no imediato, pelas demandas da comunidade e pela

realidade de cada escola, que deve primar pelo exercício da sua própria autonomia

e pela qualidade social da educação ofertada para todos.

3.4 - ORGANIZAÇÕES ASSOCIATIVAS DA ESCOLA

Para o desenvolvimento de uma gestão participativa e efetiva é importante que

o corpo docente e discente da escola, além dos pais, seja estimulado a

organizarem-se para o exercício da liderança de forma responsável e consciente

com representações, tais como: Conselho de Representante de Turmas e Grêmio

Estudantil.

De acordo com a Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Salvador

(2003):

Estes segmentos têm como função básica mobilizar e organizar os atores envolvidos como representantes das organizações associativas da escola para discutirem interesses coletivos a respeito de questões de ensino e de melhoria da aprendizagem dos alunos, aliando diretor, professores, alunos e pais, de acordo com as diretrizes da escola. (SMEC, 2003, p.14).

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Assim, o Conselho de Representantes de turmas e o Grêmio Estudantil é a

entidade que representa o corpo discente da escola, principal característica é a de

ser organizada e dirigida pelos próprios estudantes, que são seus verdadeiros

protagonistas.

O Grêmio é uma organização sem fins lucrativos que representa o interesse

dos estudantes e que tem fins cívicos, culturais, educacionais, desportivos e sociais.

Os Grêmios Estudantis compõem uma das mais duradouras tradições da

nossa juventude. Pode-se afirmar que no Brasil, com o surgimento dos grandes

estabelecimentos de ensino secundário, nasceram também os Grêmios Estudantis,

que cumpriram sempre um importante papel na formação e no desenvolvimento

educacional, cultural e esportivo da juventude.

As atividades dos Grêmios Estudantis representam para muitos jovens os

primeiros passos na vida social, cultural e política. Assim, os Grêmios contribuem

decisivamente, para a formação e o enriquecimento educacional dos jovens.

O regime instaurado com o golpe militar de 1964, entretanto, perverso com a

juventude, promulgando leis que cercaram a livre organização dos estudantes e

impediram as atividades dos Grêmios. Mas a Juventude brasileira não aceitou

passivamente essas imposições.

Em muitas escolas, contrariando as leis vigentes e correndo riscos, mantiveram

as atividades dos Grêmios livres, que acabaram por se tornar importantes núcleos

democráticos de resistência à ditadura. Com a redemocratização brasileira, as

entidades estudantis voltaram a serem livres, legais, ganhando reconhecimento de

seu importante papel na formação da juventude. Em 1985, por ato do Poder

Legislativo, o funcionamento dos Grêmios Estudantis ficou assegurado pela Lei n.

7.398, de 4 de novembro de 1985, como entidades autônomas de representação

dos estudantes.

Art. 1º - Aos estudantes dos estabelecimentos de ensino de 1º e 2º graus fica assegurada a organização de estudantes como entidades autônomas representativas dos interesses dos estudantes secundaristas com finalidades educacionais, culturais, cívicas, esportivas e sociais.

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§ 1º - (VETADO) § 2º - A organização, o funcionamento e as atividades dos

Grêmios serão estabelecidos nos seus estatutos, aprovados em assembleia Geral do corpo discente de cada estabelecimento de ensino convocada para este fim.

§ 3º - A aprovação dos estatutos, e a escolha dos dirigentes e dos representantes do Grêmio Estudantil serão realizadas pelo voto direto e secreto de cada estudante observando-se no que couber, as normas da legislação eleitoral.

Assim, a organização, o funcionamento e as atividades do Grêmio serão

estabelecidas em seu estatuto, aprovado em Assembleia Geral do corpo discente do

estabelecimento de ensino, convocada para este fim, obedecendo à legislação

pertinente. A aprovação do Estatuto, a escolha dos dirigentes e dos representantes

do Grêmio serão realizadas pelo voto direto e secreto de cada aluno, observando-

se, no que couber, as normas da legislação eleitoral.

A escolha é, portanto, um local privilegiado de construção da cidadania,

formação de lideranças e da promoção da cultura cívica. Sendo um instrumento de

fortalecimento na participação dos estudantes nas decisões da escola, de forma

responsável e comprometida, não se pauta apenas, na defesa dos interesses

estudantis, mas na aproximação da comunidade escolar. O grande desafio deste

instrumento colegiado é edificar a escola como espaço público, efetivamente,

cidadão, politizado e cônscio de deveres e direitos, de modo a propiciar aos seus

representantes a participação no Projeto Político-Pedagógico, programas de cultura

e lazer, política educacional, como também, no Conselho Escolar e Associação de

Pais e Mestres e em outras organizações na perspectiva de propor alternativas de

transformação social.

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4. ANÁLISE DA GESTÃO ESCOLAR DE UMA ESCOLA PÚBLICA MUNICIAL DE

QUIXADÁ-CE

Esse capítulo analisa a relação do gestor e o corpo docente, de uma escola

pública municipal de Quixadá no Ceará, a partir do estudado sobre gestão

democrática participativa e sobre o papel do gestor nessa nova concepção de

gestão.

Para o desenvolvimento desse estudo, foi realizada uma pesquisa com

características essencialmente qualitativa utilizando o método Estudo de Caso em

que se analisa profundamente e, segundo Lucke (1986), apresenta características

como: visa à descoberta, enfatiza a interpretação em contexto, busca retratar a

realidade de forma completa e profunda, usa uma variedade de fontes de

informações, revela experiências de vida e permite generalizações naturalistas,

procura representar os diferentes e às vezes conflitantes pontos de vista presentes

numa situação social, utiliza uma linguagem e uma forma mais acessível do que os

outros relatórios de pesquisa.

Os instrumentos utilizados foram uma entrevista semiestruturada, um

questionário e a observação. A elaboração do questionário resultou das

observações na escola e dos estudos, sobre a temática, desenvolvidos no processo

de formação. O questionário foi entregue aos 26 professores da instituição, com um

retorno positivo.

Essa análise é proveniente das informações coletadas e devidamente

fundamentadas pela bibliografia sobre a temática abordada.

Inicialmente será feita a apresentação da escola, seus sujeitos e a sua

estrutura física, organização social do trabalho escolar, entrevista com gestores e

professores. Em seguida apresentaremos uma análise da observação da

observação da prática docente e das entrevistas aplicadas.

4.1 - IDENTIFICAÇÃO DA ESCOLA

A Escola de Ensino Fundamental José Jucá, localizada no centro do município

de Quixadá-CE, na Rua Epitácio Pessoa, número 1351, foi inaugurada em 25 de

janeiro de 1923, numa única sala do prédio onde funcionava a Prefeitura Municipal,

tendo à frente a primeira professora desta instituição a Sra. Maria Cavalcante Costa.

Page 46: Princípios Norteadores da Gestão Democrática e Participativa - Monografia Saronita Cavalcante

46

Somente em 1937, foram inauguradas suas próprias instalações onde funciona até

os dias atuais, tendo nesse período passado por várias reformas e adaptações para

um melhor atendimento. Sob o Decreto Governamental nº 11.493 de 17 de outubro

de 1975 foi oficializada como Instituição Educacional.

É uma instituição pertencente à rede de ensino oficial, foi mantida pelo

Governo do Estado do Ceará até abril de 2013, onde a partir desta data passou a

ser mantida pelo governo municipal de Quixadá-Ceará, ser subordinada, técnica e

administrativamente à Secretaria Municipal da Educação.

Tomando como pressuposto básico que esta Unidade Escolar é a mais antiga

deste município que há 91 anos vem educando gerações, sendo referência histórica

em nível educacional, está sempre em constante processo de mudança, buscando,

sobretudo, unificar suas ações na perspectiva de favorecer um ambiente moderno,

prazeroso e comprometido com o sucesso do educando.

Dessa forma, a escola vai delineando sua identidade, seus métodos, sem

nunca perder de vista seu objetivo fundamental, que é o de preparar novas gerações

para se integrarem na sociedade de forma crítica e produtiva. Tem como missão,

favorecer a aprendizagem aos educandos, valorizando suas potencialidades e

habilidades, oferecendo um ensino de qualidade, garantindo o acesso e a

permanência ao formar cidadãos conscientes, críticos, atuantes e preparados para

os desafios do mundo moderno, proporcionando a coparticipação e o conhecimento

de seus direitos e deveres, em busca de uma cidadania plena.

O bairro onde está situada a escola é um bairro de predominância comercial

localizado no centro da cidade, o que favorece a instituição, porém, sua atuação não

está restrita a este bairro apenas, indo muito além. Devido à qualidade de ensino

nela oferecida, a população em época de matrículas, formam enormes filas e fazem

vigília a fim de garantir vagas para seus filhos.

Essa abrangência e procura tem ficado maior a cada ano devido à melhoria

dos resultados de aprendizagem e consequente aceitação da população que sonha

em ver seus filhos fazendo parte de uma história de conquistas. Alguns alunos da

rede particular também passaram a procurar a escola por notarem a importância do

processo ensino-aprendizagem promovida por ela, bem como os resultados no IFCE

(Instituto Federal do Ceará), que no processo seletivo de 2013.1 obteve 38

aprovações entre os cursos de Química e Edificações, e neste ano de 2014 as

aprovações subiram para 55 alunos aprovados. O IDEB (índice de Desenvolvimento

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da Educação Básica) era de 4.3 e com os resultados de 2013, passou para 4.9. Isso

evidencia que a escola vem cumprindo o seu papel de educar seus alunos com

compromisso e acima de tudo com muita responsabilidade na formação do cidadão.

Muitos são os desafios educacionais, mas quando se tem clareza e certeza de

onde se quer chegar, o caminho vai sendo construído em parceria com a família e a

comunidade escolar como um todo, tendo em mente o objetivo primordial desta

instituição: oferecer uma educação de qualidade.

Nesse sentido, a escola procura construir seu caminho fortalecido em uma

gestão democrática e descentralizadora, que busca a participação de todos na

construção da aprendizagem de seus educandos. Assim , a escola busca organizar

seus tempos e espaços escolares nas formas de ensinar, aprender, avaliar,

organizar e desenvolver o currículo incorporando às atividades pedagógicas,

manifestações culturais, palestras educacionais, interclasses, feiras, jornal escolar,

web gincanas, web novela e eventos culturais, criando momentos de integração

escola-comunidade, além de buscar parcerias com outras instituições e

organizações comprometidas com a causa da educação.

Em sua concepção de ação educativa a Escola de Ensino Fundamental José

Jucá toma como referencial a proposta política-pedagógica de organização do

Ensino Fundamental de nove anos regulamentado pela Lei nº 11.274/2006,

Educação de Jovens e Adultos de alunos com necessidades especiais, Atendimento

Educacional Especializado – AEE, priorizando a inclusão na busca permanente da

democratização do saber, propondo-se a garantir a equidade de oportunidades,

considerando a pluralidade de dimensões que permeiam a formação humana. Tem

também a finalidade de desenvolver os diferentes níveis de desenvolvimento

cognitivo, afetivo e psicomotor e as capacidades intelectuais e sociais para que

possam assimilar plenamente os conhecimentos e possam praticá-los

autonomamente e com competência ao longo de sua vida no exercício da cidadania.

Dessa forma a escola pretende formar um ser social que pensa, raciocina,

deduz, abstrai, sente, deseja, se emociona e se sensibiliza. Um ser humano que

aprende a conhecer, a aprender, a fazer, a conviver e a ser, desenvolvendo

plenamente suas potencialidades ao interagir com as diversas experiências culturais

e étnicas para a construção de uma sociedade mais justa e solidária.

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4.2 - ESTRUTURA FÍSICA

A escola ocupa uma área de 3.626m², comportando dependências tais como

11 salas de aula, 01 sala de Atendimento Educacional Especializado - AEE, 01

laboratório de informática, 01 sala de leitura/biblioteca, banco de livros, 01

laboratório de ciências, 01 laboratório de matemática, 01 sala de professores com 02

banheiros coletivos sendo 01 masculino e o outro feminino, com cinco dependências

cada, 01 auditório, 01 quadra poliesportiva, 01 diretoria, 01 almoxarifado com duas

divisões: uma para arquivo morto da secretaria e outra para material de expediente;

01 secretaria, 01 sala de recepção, 01 cantina com 01 depósito para estoque de

alimentos, 01 depósito para materiais diversos e danificados, 03 pátios descobertos,

02 jardins, sendo um interno e outro externo, 02 cisternas, das quais uma encontra-

se inativa, 01 refeitório, que ainda está em construção.

A instituição possui um acervo de livros diversificados, como: livros infantis,

livros juvenis, livros para pesquisa, obras literárias e livros didáticos.

As salas de aulas são bem conservadas, iluminadas e ventiladas tanto

naturalmente, quanto por ventiladores, com lâmpadas fluorescentes. Essas salas

são compostas por cadeiras de ferro com mesinhas, em número suficiente para

todos os alunos.

Os recursos tecnológicos eletroeletrônicos disponíveis aos alunos da escola

são 01 TV de 30’, 01 aparelho de DVD, 01 aparelho de som, 01 retroprojetor, 02

datashows, 01 lousa digital, 01 notebook, 01 mesa de som com duas caixas

amplificadas e 12 computadores dos quais dez estão no laboratório de informática,

um na direção e o outro na secretaria da escola.

A escola encontra-se em bom estado de conservação, onde se percebe o

cuidado com a aparência da mesma, pois o ambiente é limpo, descontraído e

favorável, onde os alunos, professores, funcionários, família e gestores desfrutam de

um bom relacionamento compartilhado por todos da comunidade escolar.

4.3 - ORGANIZAÇÃO SOCIAL DO TRABALHO ESCOLAR

A instituição possui um diretor geral, um diretor pedagógico, um diretor de

secretaria escolar e um diretor financeiro-administrativo. Todos em conjunto com os

professores organizam o planejamento das atividades.

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49

O currículo está organizado de acordo com os PCN’s (Parâmetros Curriculares

Nacionais), Proposta do Atendimento Educacional Especializado, bem como as

diretrizes de inclusão obedecendo à organização oficial da Educação Básica.

O quadro docente é composto por profissionais habilitados e autorizados, os

quais constantemente estão participando de cursos e formações para atuarem na

sua área de conhecimento, trabalhando as necessidades e dificuldades dos

educandos, respeitando as singularidades do desenvolvimento humano, realizando

assim, um processo educativo com o foco no sucesso do aluno.

A metodologia utilizada favorece uma relação de reciprocidade, de troca, de

diálogo, de busca e aceitação do pensamento do outro, respeitando a vivência e a

realidade de sala de aula, fortalecendo a construção do conhecimento. O fazer

pedagógico esta fundamentado na metodologia de projeto que é uma proposta de

ação contextualizada e interdisciplinar, possibilitando uma articulação entre os

diversos campos do conhecimento, integrando teoria e prática na efetivação do

saber.

A instituição possui calendário das atividades e reuniões bimestralmente com

os pais. Nesse calendário constam eventos que ocorrem durante o ano e, segundo

os professores e gestores, a escola busca estar sempre em parceria com a

comunidade, participando e apoiando seus eventos.

O sistema de avaliação adotada por esta Unidade Escolar assume um caráter

diagnóstico, formativo, processual e sistemático com a finalidade de avaliar o nível

de aprendizagem que o aluno se encontra e assim, possibilitar a tomada de

decisões, intervindo de forma eficaz no processo ensino-aprendizagem de cada

aluno. Nessa perspectiva, a avaliação proporciona aos alunos, professores, gestores

e pais, uma análise reflexiva sobre os avanços e dificuldades na consolidação do

saber evitando, assim, as reprovações.

A escola, em sua linha de ação, procura envolver toda comunidade escolar no

processo educativo, na intenção de tornar possível o pleno desenvolvimento do

educando, buscando democratizar as normas de convivência entre os diversos

segmentos de forma que todos tenham seus direitos e deveres garantidos e

respeitados.

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50

4.4 - ENTREVISTANDO OS GESTORES DA ESCOLA

Foi entrevistada a diretora geral da escola, cuja formação é pós-graduada em

Língua Portuguesa e Arte Educação, trabalha na área da educação há quinze anos

com carga horária de 40 horas semanais, nos turnos matutino e vespertino, ficando

também no noturno sempre eu necessário.

Segundo informa, procura trabalhar numa linha voltada para a democracia

participativa e a descentralização de poder. Acredita na escola como um verdadeiro

espaço de transformação e busca através de um trabalho didático, pedagógico e

administrativo, conscientizar os pais, alunos e comunidade, sobre importância de

construir juntos uma escola cidadã visando à formação da criança e do adolescente,

enquanto sujeito no processo de aprendizagem, uma concepção de compreender a

sociedade e as suas mudanças nos diversos aspectos sociais e educativos.

A diretora enfatiza ainda a grande alegria vivenciada pela escola nos últimos

dias, em que a instituição educacional foi premiada com o Prêmio Professores do

Brasil 8ª Edição. Explica que o prêmio é uma iniciativa do Ministério da Educação,

através da Secretaria de Educação Básica, juntamente com instituições parceiras.

Instituído em 2005, tem como objetivo reconhecer, premiar e divulgar o mérito de

professores das redes públicas de ensino, pela contribuição dada para a melhoria da

qualidade da educação básica. Para tanto, são avaliadas as experiências

pedagógicas bem-sucedidas e inovadoras e que neste ano de 2014, foram inscritos

6.808 projetos de 824 municípios de todo o Brasil e apenas 40 projetos foram

selecionados.

O projeto vencedor da escola foi o projeto Plugando na Informação,

constituindo conhecimento. É um projeto desenvolvido e coordenado pela professora

Maria de Nazaré Sousa Freires, em parceria com o Centro de Multimeios da Escola

de Ensino Fundamental José Jucá pra fortalecer a utilização da informática

educativa na escola. Contém uma proposta de ações pedagógicas que possibilitam

aos alunos acesso as novas tecnologias da informação de forma responsável,

segura e mediadora na aquisição do conhecimento, promovendo o envolvimento dos

vários segmentos da escola num processo de interação, na busca da efetivação do

trabalho interdisciplinar e da promoção do protagonismo juvenil na escola. Tudo

isso, com a utilização das tecnologias da formação e da comunidade. Culminando

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com a produção bimestral de um periódico que será publicado no site do jornal

impresso para distribuição na comunidade escolar.

A escola José Jucá está de parabéns, não só ela como toda população

quixadaense pelo prêmio recebido, isso só mostra que quando existe objetivos e

metas traçadas, com compromisso e responsabilidade, eles serão alcançados.

Também foi entrevistada a diretora pedagógica, cuja formação é Letras pela

Universidade Estadual do Rio Grande do Norte, pós-graduada em Gestão Escolar e

é mestranda em Educação. Possui experiência nesta função há aproximadamente

três anos, com a carga horária de 40 horas semanais, distribuídas nos turnos

matutino e vespertino.

Segundo ela, a escola possui o Conselho de Classe, que funciona em reunião

com os professores onde o desempenho do aluno é analisado bimestralmente,

momento em que professores e coordenação pedagógica avaliam o desempenho da

turma ou do aluno que precisa de maior atenção e também, para que os pais

possam ser informados sobre o desempenho dos filhos por ocasião da reunião de

pais e mestres ou quando se fizer necessário.

O planejamento pedagógico é estruturado a cada ano, durante a semana

pedagógica, aplicando os conteúdos programáticos a serem trabalhados e avaliados

mensalmente visando atender o processo e a aprendizagem do educando.

Ressalta ainda que a escola tem enfrentado sérios problemas no quesito

acompanhamento de alguns, pois é visível o rendimento e o desempenho do aluno

que tem o apoio e a fortaleza da família, mostrando a importância da educação para

o seu crescimento pessoal e profissional, para que possa atuar verdadeiramente

como cidadão crítico e sujeito da sua própria história. Sendo assim, faz-se

necessário o conhecimento da realidade de cada educando para que a escola possa

ter uma ação mais eficaz, percebendo cada aluno na sua individualidade. E assim,

família e escola juntos construindo um mundo de oportunidades para todos.

A diretora pedagógica enfatiza ainda que a escola possui um bom

relacionamento com a comunidade escolar, em que há participação nas atividades

de comemorações culturais, projetos e ações solidárias.

Uma professora do ensino fundamental II, graduada em Letras pela

Universidade Estadual do Ceará – UECE também foi entrevistada. Ela possui uma

carga horária de 40 horas semanais e trabalha nesta área há seis anos. O seu turno

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de trabalho é o matutino e vespertino, ensinando a disciplina de português e arte-

educação para as turmas do 6º ano do ensino fundamental II.

Sua concepção de ensino-aprendizagem se dá pela interação entre

aluno/professor e o meio que se vive. Uma das grandes dificuldades enfrentadas é a

desestrutura familiar por parte de algumas famílias e parte do sistema educacional

que não promove uma educação de respeito, digna a qualquer cidadão.

No que se refere à organização das ações dos professores, o planejamento é

elaborado a partir do Projeto Político-Pedagógico (PPP) da escola, de forma

coletiva, e é a partir deste planejamento que são feitas orientações para professores,

partindo da gestora e da coordenadora. Assim, afirma que o planejamento escolar é

um processo de organização, racionalização e coordenação das atividades, que

articula o que acontece dentro da escola com o contexto em que ela se insere. O

planejamento é realizado semanalmente no coletivo e sempre que necessário pelo

professor aplicador.

Segundo ela a dinâmica da sala de aula inicia-se pela distribuição de tempo

das atividades, determinando entre os 55 minutos por disciplina que são flexíveis

dependendo da atividade proposta e os professores partem do conhecimento prévio

dos alunos ao abordar os assuntos de ensino, tendo uma preocupação não só na

construção do conhecimento, mas em educa-los para a vida. Os professores

possuem um bom domínio da classe e segurança na abordagem dos temas

trabalhados. Ainda enfatiza que a escola é lugar de troca de carinho e aprendizado a

que vem se desenvolvendo cada dia com o esforço do núcleo gestor, profissionais

compromissados e responsáveis. Uma escola onde todos que por aqui passam

levam consigo grandes momentos.

4.5 - ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

A observação do trabalho em sala de aula foi feito apenas com uma

professora, porém para entendermos como se dá relações do corpo docente e a

gestão da escola, distribuímos 15 questionários, dos quais recebemos 10

devidamente respondidos.

Quanto à formação todos tem nível superior e a maioria já possui

especialização. A maioria trabalha com carga horária de 40 horas semanais.

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No que se refere às relações com os gestores da instituição, os professores

responderam que confiam na formação dos mesmos e afirmam que os mesmos são

tecnicamente preparados para o cargo a eles designados. Periodicamente,

desenvolvem projetos com a participação dos professores e dos alunos.

A postura dos gestores é democrática e os professores se sentem livres para

expor suas opiniões e ideias. No entanto, eles solicitam uma maior participação dos

pais nas atividades pedagógicas por se tratar de uma escola com salas de aulas

bastante numerosas e que a família precisa dar um suporte maior na educação de

seus filhos.

Portanto, a escola como instituição precisa saber que deve formar sujeitos que

possam inserir-se na sociedade de modo a modifica-la positivamente. Se for para a

sociedade que a escola forma o indivíduo, logo se conclui que ambos, ambiente

escolar e meio social devam manter uma relação de reciprocidade para o bom

andamento da educação. Por isso tem-se a percepção de que há a necessidade de

uma mútua colaboração entre a esfera social e a dimensão escolar, principalmente

em relação ao meio externo do local a que as unidades de educação pertencem.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nas duas últimas décadas foi perceptível o crescimento dos mecanismos

atribuídos aos processos de democratização e descentralização do poder da gestão

dos sistemas de ensino, o que se evidencia na nova Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional e Legislação Complementar, no desenvolvimento de estudos

nessa área, nos meios acadêmicos do país, assim como nas medidas adotadas

pelos governos nas suas diferentes esferas.

Ficou claro, porém, que para se estabelecer novas relações entre escola e

sociedade é preciso que se promova efetivamente a democratização na gestão.

Repensar a teoria e a prática da gestão educacional no sentido de suprimir os

controles formais e priorizar os controles por avaliação de resultados, incentivar a

autonomia da escola, com a participação da comunidade escolar no controle social

da escola. Tais concepções e práticas estão associadas ao novo papel do Estado e

de suas instâncias e a uma reformulação dos cursos de formação profissional em

educação.

Não se pode negar que a qualidade do ensino passa pela gestão democrática.

Instituindo mecanismos de participação coletiva de todos os segmentos da

comunidade escolar, nas decisões administrativas e pedagógicas da escola, torna-

se possível superar as relações autoritárias de poder, o individualismo e as

desigualdades, e promover uma educação de qualidade para todos. A gestão

democrática é imprescindível para estabelecer uma cultura de participação sem a

qual não se exterminará o clientelismo, que perpetuam o sistema de dominação e o

subdesenvolvimento. A gestão democrática tem o caráter pedagógico: ela

transforma a escola num laboratório de cidadania e produção do afeto humano.

O fortalecimento da escola e a conquista de sua autonomia político-pedagógica

são condições indispensáveis para promover a qualidade da educação e

fundamentalmente constituem num instrumento de construção de uma nova

cidadania. Assim, a democratização institucional torna-se um caminho para que a

prática pedagógica seja efetivamente uma prática social e que possa contribuir para

o fortalecimento do processo democrático mais amplo.

Para que ocorram transformações na qualidade do ensino, é preciso que o

diretor vá além da intervenção indireta no trabalho dos professores. Esse deve atuar

como líder educacional e influenciar diretamente o comportamento profissional dos

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educandos. Ao mesmo tempo está em contato permanente com os docentes

fazendo com que cada profissional, aluno e pai, sintam que a escola lhe pertence.

Deve ser fonte de inspiração, incentivo e apoio técnico. Estimula a criatividade,

mas ao mesmo tempo estabelece padrões, confronta, corrige, capacita. Valoriza o

desempenho dos professores, sabendo que receber reconhecimento os motiva a

fazer cada vez melhor o seu trabalho. Por isso é capaz de extrair o máximo de sua

equipe de profissionais.

É pensando dessa forma, que as características do novo líder nos trarão

diretores capazes de obter cooperação espontânea da equipe, delegar

competências e integrar as lideranças. As atitudes de comando, capazes de gerar

obediência, são atualmente substituídas pela valorização da força humana de

trabalho, onde todos juntos e unidos são capazes de vencer qualquer barreira

colocada pela sociedade. Unidos somos mais que vencedores.

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6. REFERÊNCIAS

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