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PRINCÍPIOS DO DIREITO TRIBUTÁRIO 23 CAPÍTULO 3 PRINCÍPIOS DO DIREITO TRIBUTÁRIO 3.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE Nos preceitos do artigo 150, I, da CF, nenhum tributo será instituído ou aumen- tado, a não ser por meio de LEI! Consoante o artigo 97, § 1º, do CTN, considera-se majoração de tributo a modi- ficação da base de cálculo de forma a torná-lo mais oneroso. A mera atualização do valor monetário da respectiva base de cálculo NÃO constitui majoração de tributo, nos ditames do artigo 97, § 2º, do CTN, podendo ser realizada em decorrência de simples Decreto. Contudo, se a “atualização monetária” ocorrer com índices superiores ao oficial, não se tem uma mera atualização de valores, e sim, uma majoração da base de cál- culo disfarçada, e por isso, nesse caso o instrumento normativo necessário será a Lei. 3.1.1 Atenuação do princípio da legalidade Todos os tributos estão sujeitos ao princípio da legalidade, isto é, só podem ser instituídos ou majorados por meio de lei. Conquanto, a Lei Maior, em seu artigo 153, § 1º, prevê alguns impostos que podem ter as alíquotas alteradas, inclusive majoradas, desde que observados os limites e as condições estabelecidos em lei, em virtude de ato do Poder Executivo, o que se dá comumente por decreto presidencial. São eles: i) Imposto sobre a Importação (II); ii) Imposto sobre a Exportação (IE); iii) Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI); iv) Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros (IOF). O artigo 177, § 4º, I, “b”, da C também possibilita ao Poder Executivo reduzir e restabelecer as alíquotas da CIDE COMBUSTÍVEL, por intermédio de ato próprio, no caso, o decreto presidencial.

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Page 1: PRINCÍPIOS DO DIREITO TRIBUTÁRIO · PRINCÍPIOS DO DIREITO TRIBUTÁRIO 23 CAPÍTULO 3 PRINCÍPIOS DO DIREITO TRIBUTÁRIO 3.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE Nos preceitos do artigo 150,

PRINCÍPIOS DO DIREITO TRIBUTÁRIO

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CAPÍTULO 3

PRINCÍPIOS DO DIREITO TRIBUTÁRIO

3.1 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

Nos preceitos do artigo 150, I, da CF, nenhum tributo será instituído ou aumen-

tado, a não ser por meio de LEI!

Consoante o artigo 97, § 1º, do CTN, considera-se majoração de tributo a modi-ficação da base de cálculo de forma a torná-lo mais oneroso.

A mera atualização do valor monetário da respectiva base de cálculo NÃO constitui majoração de tributo, nos ditames do artigo 97, § 2º, do CTN, podendo ser realizada em decorrência de simples Decreto.

Contudo, se a “atualização monetária” ocorrer com índices superiores ao oficial, não se tem uma mera atualização de valores, e sim, uma majoração da base de cál-culo disfarçada, e por isso, nesse caso o instrumento normativo necessário será a Lei.

3.1.1 Atenuação do princípio da legalidade

Todos os tributos estão sujeitos ao princípio da legalidade, isto é, só podem ser instituídos ou majorados por meio de lei.

Conquanto, a Lei Maior, em seu artigo 153, § 1º, prevê alguns impostos que podem ter as alíquotas alteradas, inclusive majoradas, desde que observados os limites e as condições estabelecidos em lei, em virtude de ato do Poder Executivo, o que se dá comumente por decreto presidencial. São eles:

i) Imposto sobre a Importação (II);

ii) Imposto sobre a Exportação (IE);

iii) Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI);

iv) Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros (IOF).

O artigo 177, § 4º, I, “b”, da C também possibilita ao Poder Executivo reduzir e

restabelecer as alíquotas da CIDE COMBUSTÍVEL, por intermédio de ato próprio, no caso, o decreto presidencial.

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O artigo 155, § 4º, IV, “c”, da Carta Magna permite ao Poder Executivo reduzir e

restabelecer as alíquotas do ICMS, incidência monofásica, nas operações com com-bustíveis e lubrificantes previstos em lei complementar federal.

3.2 PRINCÍPIO DA ISONOMIA

É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios instituir trata-mento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente. Fica proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos (art. 150, II, da CF).

3.3 PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE

É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios cobrarem tributos em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado (art. 150, III, “a”, da CF).

O Código Tributário Nacional prevê três exceções ao princípio da irretroatividade, segundo se verifica nos artigos 106, I e II e 144, § 1º.

Primeira possibilidade: quando aludir à lei expressamente interpretativa e desde que não comine penalidade (art. 106, I, do CTN);

Segunda possibilidade: a lei tributária poderá retroagir se discorrer sobre ato NÃO definitivamente julgado:

a) se deixar de defini-lo como infração;

b) quando não abordá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado falta de pagamento de tributo;

c) caso lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática (art. 106, II, do CTN).

Em direito tributário considera-se penalidade como MULTA!

Terceira possibilidade: previsão no artigo 144, § 1º, do CTN: em se tratando de lançamento tributário, lei que instituir novos critérios de apuração ou fiscalização, ampliando os poderes de investigação das autoridades administrativas.

3.4 PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE

O tributo que for instituído ou majorado em determinado exercício financeiro (coincide com o ano civil, inicia no dia 1º de janeiro e se encerra no dia 31 de dezembro), somente poderá ser exigido no próximo exercício e desde que tenham transcorridos 90 dias da data da publicação da lei que houver instituído ou majorado o tributo (art. 150, III, “b” e “c”, da CF).

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PRINCÍPIOS DO DIREITO TRIBUTÁRIO

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Ocorre, todavia, que nem todos os tributos precisam respeitar o princípio da ante-rioridade, visto que existem várias exceções a ele. Elas estão elencadas nos artigos 150, § 1º, 155, § 4º, IV, “c” e 177, § 4º, I, “b” e 195, § 6º, todos da Constituição.

Tributos que

não precisam aguardar o

próximo exercício

e nem 90 dias,

quer dizer, podem ser cobrados:

IMEDIATAMENTE! São eles:

Existem tributos, entretanto,

que não precisam aguardar o

próximo exercício,

mas sim os 90 dias,

para serem exigidos.

Podemos citar:

Existem tributos que devem

respeitar o princípio

da anterioridade do exercício,

mas não precisam obedecer aos

90 dias, tais como:

• Imposto Extraordinário de Guerra (IEG);

• Empréstimo Compulsório de Guerra ou Calamidade Pública;

• Imposto sobre Importação (II);

• Imposto sobre Exportação (IE);

• Imposto sobre Operações Finan-ceiras (IOF).

• IPI;

• Casos de redução e restabele-

cimento das alíquotas da CIDE Combustível e do ICMS Combus-tível (arts. 155, § 4º, IV, “c” e 177, § 4º, I, “b”, da CF;

• Contribuição Social (art. 195, § 6º, da CF).

• IR;

• alteração de Base de cálculo do IPTU e do IPVA.

3.5 PRINCÍPIO DO NÃO CONFISCO

O princípio da vedação ao confisco, disposto no artigo 150, IV, do Texto Maior, estabelece que o tributo não pode inviabilizar o direito de propriedade.

Para saber se o tributo tem ou não efeito confiscatório deve-se analisar a soma de todos os tributos devidos pelo contribuinte e não apenas aquele isolado. Conforme o parecer do STF, as multas tributárias também devem respeitar o princípio do não confisco.

3.6 PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE TRÁFEGO

O princípio da liberdade de tráfego está previsto no artigo 150, V, da CF e veda os Entes Federativos de instituírem tributos interestaduais ou intermunicipais que visem estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, ressalvada, contudo, a exigência do pagamento de pedágio pela utilização das vias conservadas pelo Poder Público.

Com relação ao pedágio, de acordo com o artigo 150, V, da Lei Maior, o legislador constituinte o considera como tributo, quando cobrado pelo Poder Público pela utilização de vias por ele conservadas.

Atualmente, o pedágio não é cobrado apenas pelo Poder Público, como também por particulares em regime de concessão, permissão ou autorização. Nesses casos, não terá a natureza de tributo, mas sim de preço público, tarifa.

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3.7 PRINCÍPIO DA UNIFORMIDADE GEOGRÁFICA

Consoante reza o artigo 151, I, da Carta Magna, o princípio da uniformidade geo-gráfica veda a União:

Instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do País.

3.8 PRINCÍPIO DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA

O princípio da capacidade contributiva é basilar do direito tributário e está pre-ceituado no artigo 145, § 1º, da Constituição:

Art. 145. (…) § 1º Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão gra-duados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte.

Segundo o princípio da capacidade contributiva, o cidadão tem o dever de con-tribuir na exata proporção da sua capacidade econômica, ou seja, da sua eficácia para suportar o encargo fiscal.

A capacidade contributiva também poderá ser aplicada nos tributos indiretos (IPI e ICMS, por exemplo), por aplicação do princípio da seletividade.

A seletividade é a tributação conforme a essencialidade do bem, isto é, quanto mais essencial for o bem, menor será a tributação. No caso do IPI e do ICMS, verifica-se a aplicação da capacidade contributiva por decorrência do consumo. O fato de o sujeito, por exemplo, comprar um iate demonstra que terá uma boa capacidade econômica e por isso terá eficácia contributiva, assim poderá pagar mais imposto.

3.9 PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DAS ISENÇÕES HETERÔNOMAS

A União não pode conceder isenção para tributos que não estejam em sua com-petência tributária, consoante estabelece o artigo 151, III, do Texto Maior, sob pena de violar o princípio do pacto federativo.

Assim, só pode conceder isenção de determinado tributo o Ente Federativo que tem competência para a sua instituição.

Quando um Ente Federativo diferente daquele que detém a competência para instituir o tributo concede a isenção, tem-se a isenção heterônoma.

Como dito anteriormente, a isenção heterônoma é vedada no Brasil, mas há exceções:

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PRINCÍPIOS DO DIREITO TRIBUTÁRIO

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1) ISS sobre serviços prestados no exterior: o artigo 156, § 3º, II, da Lei Magna prevê a possibilidade de a União, por lei complementar, conceder isenção do ISS nas expor-tações de serviços. O artigo 2º, I, da LC nº 116/2003 versa sobre a referida isenção.

2) Tratados e Convenções Internacionais: o Supremo Tribunal Federal1 tem o posicio-namento pacífico de que os Tratados e Convenções Internacionais PODEM conceder

isenções de tributos estaduais e municipais, visto que a União, ao celebrar o tratado, não se mostra como pessoa política de Direito Público Interno, mas como pessoa política internacional.

3.10 PRINCÍPIO DA NÃO DISCRIMINAÇÃO QUANTO À PROCEDÊN-

CIA OU DESTINO

O artigo 152 caput da CF veda aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer diferença tributária entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão da procedência ou destino.

Para memorizar! No exame de ordem, os princípios que mais têm sido cobrados são: legalidade, isonomia, irretroatividade, anterioridade do exercício, anterioridade nonagesi-mal, não confisco, uniformidade geográfica e capacidade contributiva. Não há exame de ordem sem ao menos uma questão sobre princípios tributários, por isso, na hora da prova sugere-se lembrar do macete “LUCIIANA”:

L egalidade art. 150, I, da CF

U niformidade geográfica art. 151, I, da CF

C apacidade contributiva art. 145, § 1º, da CF

I sonomia art. 150, II, da CF

I rretroatividade art. 150, III, “a”, da CF

A nterioridade do exercício art. 150, III, “b”, da CF

N ão confisco art. 150, IV, da CF

A nterioridade nonagesimal art. 150, III, “c”, da CF

1. RE n/º 543943 AgR/PR, Rel. Ministro Celso de Mello, DJ de 30/11/2010.

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AÇÃO ANULATÓRIA

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CAPÍTULO 21

AÇÃO ANULATÓRIA

21.1 ASPECTOS GERAIS

É uma ação de conhecimento de rito ordinário, prevista no artigo 38 da Lei nº 6.830/80, movida com o propósito de se obter uma tutela jurisdicional que implique o desfazimento de um ato administrativo que resulte em cobrança tributária eivado de ilegalidade ou inconstitucionalidade. Também pode ser utilizada para anular ato de aplicação de penalidades, como auto de infração ou apreensão de mercadorias.

Para o cabimento desta medida, deve-se partir do pressuposto da existência de ato administrativo de cobrança, como lançamento tributário, autuação, notificação, CDA, guias de pagamento, carnê de imposto, decisão administrativa ou mesmo apre-ensão de mercadorias.

A natureza da sentença da ação anulatória é de declarar e desconstituir o ato admi-nistrativo que o autor considera indevido por ter ilegalidade ou inconstitucionalidade.

Afirma-se ter o caráter declaratório, porque o juiz só irá desconstituir o ato após declarar que ele é indevido por ter vícios de ilegalidade ou inconstitucionalidade.

Observe que a sentença em uma ação anulatória é mais ampla do que na ação declaratória, pois enquanto na primeira temos a declaração e a desconstituição do ato, na declaratória, o contribuinte só terá a declaração sobre a inexistência, modo de ser ou existência da relação jurídico-tributária.

Por esta razão, podemos afirmar que depois da existência de um ato adminis-trativo já constituído, não há mais espaço para a ação declaratória, devemos pensar então na ação anulatória, pois esta sim terá como objeto o desfazimento deste ato, o que não conseguimos por meio da declaratória.

Ressalta-se, ainda, que em muitos casos em que é possível a propositura da ação anulatória, também poderia ser resolvida a lide por impetração de mandado de segu-rança repressivo, como será visto no capítulo 23, ocorre que uma das vantagens da anulatória é que há possibilidade de dilação probatória e não existe um prazo tão exíguo como no mandado de segurança, pois, nos termos do artigo 23 da Lei nº 12.016/2009, esta medida só poderá ser impetrada dentro de 120 dias a contar da ciência do ato coator.

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Em busca de uma melhor compreensão sobre a possibilidade da ação anulatória frente a um lançamento tributário, vamos relembrar que quando o contribuinte recebe a notificação de lançamento, ele possui as quatro possibilidades:

1) pagar;

2) recorrer administrativamente;

3) ir para esfera judicial e

4) não fazer, apenas aguardar o ajuizamento da execução fiscal.

Se o contribuinte optar em primeiramente recorrer na esfera administrativa, sendo ele vencido, em razão do artigo 5º, XXXV, da CF, que define que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”, poderá então, buscar a tutela jurisdicional por meio da Ação Anulatória, pois deverá tentar a desconstituição desse ato, que não concorda, agora na esfera judicial.

Agora se o contribuinte optar em ir diretamente para a esfera judicial, o que é possível, ingressará com a ação anulatória, nos termos do artigo 38 da Lei nº 6.830/1980.

Importante ressaltar que não é possível o contribuinte ingressar com duas medidas concomitantemente na esfera administrativa e judicial, poderá ir primeiramente para a esfera administrativa, desistir deste caminho e então ingressar na esfera judicial, também mediante anulatória, ou aguardar o encerramento da esfera administrativa, sendo ele vencido ingressar perante o Poder Judiciário ou ir diretamente para esfera judicial, de modo que neste último caso ocorrerá a renúncia quanto à esfera adminis-trativa, ou seja, o contribuinte que perder na esfera judicial não poderá tentar agora a esfera administrativa. Neste sentido, veja o artigo 38 da Lei nº 6.830/80:

Art. 38. A discussão judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública só é admissível em execução, na forma desta Lei, salvo as hipóteses de mandado de segurança, ação de repetição do indébito ou ação anulatória do ato declarativo da dívida, esta precedida do depósito preparatório do valor do débito, monetariamente corrigido e acrescido dos juros e multa de mora e demais encargos.

Parágrafo único. A propositura, pelo contribuinte, da ação prevista neste artigo importa em renúncia ao poder de recorrer na esfera administrativa e desistência do recurso acaso interposto.

E para o contribuinte que recebeu a notificação de lançamento e resolveu não fazer nada, apenas aguardar a execução fiscal, tem-se que a fazenda deverá ajuizar essa demanda dentro de 5 anos, sob pena de ocorrer a prescrição.

A fazenda só poderá ajuizar a execução fiscal frente à existência de um título exe-cutivo, que é a certidão de dívida ativa (CDA), o que geralmente ocorre é a inscrição em dívida ativa do contribuinte imediatamente e o ajuizamento da execução fiscal ocorrerá com o passar do tempo, respeitado o prazo dos cinco anos.

Assim, o contribuinte que já foi inscrito em dívida ativa, mas ainda aguarda o ajuizamento da execução fiscal, poderá nesse interregno de tempo propor a ação anulatória, sem problema algum.

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AÇÃO ANULATÓRIA

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E para finalizarmos, temos que a ação anulatória poderá ser ajuizada inclusive se a fazenda já tenha proposto a execução fiscal para cobrar o crédito tributário, segundo posicionamento do STJ. Confira:

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AUSÊNCIA DOS VÍCIOS PREVISTOS NO ART. 535 DO CPC. TEMPESTIVIDADE DO RECURSO ESPECIAL. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. APLICAÇÃO DE MULTA.

1. Cuida-se de Embargos de Declaração opostos contra acórdão no qual a Segunda

Turma, de forma suficientemente motivada, concluiu que “inexiste óbice legal à

propositura de Ação Anulatória com a finalidade de questionar judicialmente a

Dívida Ativa cobrada, enquanto pendente Execução Fiscal”.

2. In casu, o embargante sustenta que o não conhecimento dos Embargos de Declaração na origem implica intempestividade do Recurso Especial.

3. A análise do inteiro teor do acórdão recorrido dá conta de que, embora o Tribunal a quo tenha aludido, no dispositivo, ao “não conhecimento” dos aclaratórios, houve exame do mérito destes, a ponto de o voto condutor asseverar que “se isso deu ensejo à má compreensão da embargante, fica o esclarecimento” (fl. 51).

4. Não se tratou, portanto, de recurso manifestamente incabível, tampouco de intempesti-vidade, hipóteses que impediriam a interrupção do prazo para interpor o Recurso Especial.

5. O embargante se vale da falta de rigor técnico do dispositivo do acórdão para tentar induzir a erro o STJ, conduta que caracteriza litigância de má-fé, nos moldes do art. 17 do CPC.

6. Embargos de Declaração rejeitados. Imposição de multa de 1% do art. 18 do CPC.

(EDcl no REsp nº 1316871/RS, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 13/11/2012, DJe de 18/12/2012)

PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. AÇÃO ANULATÓRIA. ADMISSIBILIDADE. INEXIS-TÊNCIA DE PRETENSÃO CONTRA O PROSSEGUIMENTO DO FEITO EXECUTIVO.

1. Cuida-se, na origem, de demanda proposta pela recorrente com a finalidade de anular crédito tributário cobrado mediante Execução Fiscal.

2. O Tribunal a quo confirmou sentença pela extinção do processo sem resolução de mérito, sob o fundamento de que, proposta a Execução Fiscal, não mais seria cabível o ajuizamento de Ação Anulatória.

3. In casu, o pedido inicial é pela declaração de nulidade do lançamento, não se tendo veiculado pretensão pela suspensão da exigibilidade do feito executivo.

4. Inexiste óbice legal à propositura de Ação Anulatória com a finalidade de ques-

tionar judicialmente a Dívida Ativa cobrada, enquanto pendente Execução Fiscal.

Precedentes do STJ.

5. Recurso Especial provido.

(REsp nº 1316871/RS, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 06/09/2012, DJe de 24/09/2012)

O Superior Tribunal de Justiça tem admitido a propositura da ação anulatória frente a existência de uma execução fiscal, ao considerar que muitas vezes o contribuinte

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não pode se valer dos meios de defesa próprios da execução fiscal, que seriam a pro-positura de embargos à execução e a exceção de pré-executividade.

Isso porque para apresentar embargos à execução fiscal, como será visto no capítulo 24, é necessário garantir o juízo, consoante preceitua o artigo 16 da Lei nº 6.830/1980, e para apresentar a exceção de pré-executividade somente frente às matérias de ordem pública e sem dilação probatória, segundo parecer do STJ, na Súmula nº 393 do STJ.

Se o contribuinte não tiver condições para garantir o juízo não poderá se defen-der por meio de embargos à execução, e não sendo a matéria de ordem pública sem dilação probatória, não poderá se valer da exceção de pré-executividade, logo poderá se valer da ação anulatória.

Na hipótese de o contribuinte apresentar a ação anulatória quando já ajuizada a execução fiscal, será realizada a conexão dessas demandas para evitar decisões con-flitantes, como tem compreendido o STJ:

PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. AÇÃO ANULATÓRIA DE DÉBITO FISCAL. CONEXÃO. JULGAMENTO SIMULTÂNEO. COMPETÊNCIA. Havendo conexão entre execução fiscal e ação anulatória de débito fiscal, impõe-se a reunião dos processos, de modo a evitar decisões conflitantes; espécie em que, ajuizada primeiro a execução fiscal, o respectivo juízo deve processar e julgar ambas as ações. Agravo regimental não provido.

(AgRg no AREsp nº 129.803/DF, Rel. Ministro Ari Pargendler, Primeira Turma, julgado em 06/08/2013, DJe de 15/08/2013).

A ação anulatória será movida em face de entidade pública responsável pelo ato administrativo de cobrança tributária ou de aplicação de penalidade, eivado de ilegalidade ou inconstitucionalidade.

21.2 AÇÃO ANULATÓRIA E DEPÓSITO JUDICIAL

Não é condição de admissibilidade da anulatória a realização de depósito da quan-tia exigida pelo Fisco. Nesse prisma, mencionamos a Súmula Vinculante nº 28 do STF:

Súmula Vinculante nº 28. É inconstitucional a exigência de depósito prévio como requi-sito de admissibilidade de ação judicial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de crédito tributário.

Ocorre que muitas vezes o contribuinte realiza o depósito do montante integral para conseguir suspender a exigibilidade do crédito tributário, nos termos do artigo 151, II, do CTN.

Conforme exposto anteriormente, a mera propositura de ação na esfera judicial não impede a cobrança do crédito tributário por parte da fazenda, isto é, o contri-buinte pode até ajuizar a ação anulatória, mas no dia seguinte o Fisco poderá ajuizar a execução fiscal.

O contribuinte poderá no ajuizamento da ação anulatória cumular com pedido de tutela antecipada, se o juiz conceder essa medida, após verificar o preenchimento dos

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AÇÃO ANULATÓRIA

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requisitos do artigo 273 do CPC, a exigibilidade do crédito tributário estará suspensa de acordo com o artigo 151, V, do CTN. Porém, como nem sempre é fácil conseguir a concessão de tutela antecipada, a segunda possibilidade para o contribuinte con-seguir suspender a exigibilidade é a realização do depósito do montante integral da exigência feita pelo Fisco.

Frisa-se, mais uma vez, que o depósito não é condição para admissibilidade da ação anulatória na esfera judicial, se o contribuinte não tiver condições para deposi-tar, ainda assim poderá ingressar com essa demanda, mas se realizar o depósito do montante integral terá a tranquilidade de que o Fisco não irá ajuizar a execução fiscal.

E no caso de o Fisco já ter ajuizado a execução fiscal e o contribuinte apre-

sentar ação anulatória?

O STJ tem compreendido que quando o contribuinte ajuíza ação anulatória que tenha sido deferida à concessão da tutela antecipada ou com depósito do montante integral, a execução fiscal ficará suspensa, o que é muito bom para o nosso contri-buinte. Veja:

ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO ANULATÓRIA. SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO FISCAL. ART. 265 DO CPC. INVIABILIDADE. AUSENTES OS REQUISITOS PARA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA E A GARANTIA DO JUÍZO. PREMISSAS FÁTICAS ASSENTADAS PELO ACÓRDÃO RECORRIDO. REVISÃO. IMPOSSIBILI-DADE. INCIDÊNCIA DO VERBETE SUMULAR Nº 7/STJ. AGRAVO NÃO PROVIDO.

1. “A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é firme no entendimento acerca da impossibilidade de ser deferida a suspensão do executivo fiscal apenas ante o ajuizamento de ação anulatória, sem que estejam presentes os pressupostos para o deferimento de tutela antecipada ou esteja garantido o juízo ou, ainda, ausente o depósito do montante integral do débito como preconizado pelo art. 151 do CTN. Precedentes”.

(AgRg no AREsp nº 80.987/SP, Primeira Turma, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, DJe de 21/02/2013).

2. A inversão do julgado, nos termos propostos pelo agravante, demandaria o reexame do conjunto fático-probatório, procedimento vedado em recurso especial, nos termos do enunciado Sumular nº 7/STJ.

3. Agravo regimental não provido.

(AgRg no AREsp nº 298.798/RS, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Primeira Turma, jul-gado em 04/02/2014, DJe de 11/02/2014).

PROCESSUAL CIVIL. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. INEXISTÊNCIA. DEVIDO ENFRENTA-MENTO DAS QUESTÕES RECURSAIS. CONCESSÃO DE TUTELA ANTECIPADA. SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE.

1. Inexiste violação do art. 535 do CPC quando a prestação jurisdicional é dada na medida da pretensão deduzida, com enfrentamento e resolução das questões abordadas no recurso.

2. “É possível a suspensão dos atos executivos, no processo de execução fiscal, em virtude da antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional pleiteada em ação anulatória de débito fiscal proposta durante a tramitação da execução (REsp nº 758.655/RS, Primeira Turma,

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Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, DJ de 28/05/2007)” (REsp nº 1153771/SP, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 12/04/2012, DJe de 18/04/2012).

Agravo regimental improvido.

(AgRg no REsp nº 1315730/DF, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 11/12/2012, DJe de 18/12/2012).

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO ANULATÓRIA DE DÉBITO FISCAL PROPOSTA DURANTE A TRAMI-TAÇÃO DE EXECUÇÃO FISCAL. SUSPENSÃO DE ATOS EXECUTIVOS MEDIANTE ANTECIPA-ÇÃO DE TUTELA. HIPÓTESE DE SUSPENSÃO E NÃO DE EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO FISCAL.

1. Suspensa a exigibilidade do crédito tributário, notadamente pelo depósito de seu montante integral (art. 151, II, do CTN), em ação anulatória de débito fiscal, deve ser extinta a execução fiscal ajuizada posteriormente; se a execução fiscal foi proposta antes da anulatória, aquela resta suspensa até o final desta última actio (REsp nº 789.920/MA, Primeira Turma, Rel. Ministro Francisco Falcão, DJ de 06/03/2006).

2. É possível a suspensão dos atos executivos, no processo de execução fiscal, em virtude da antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional pleiteada em ação anulatória de débito fiscal proposta durante a tramitação da execução (REsp nº 758.655/RS, Primeira Turma, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, DJ de 28/05/2007).

3. Hodiernamente, esse entendimento deve ser adaptado à regra insculpida no art. 739-A, do CPC (incluído pela Lei nº 11.382, de 2006), que exige para a suspensão da execução fiscal, além do juízo de verossimilhança e do perigo de dano irreparável ou de difícil reparação, a garantia da execução por penhora, depósito ou caução suficientes.

4. Quando a suspensão da exigibilidade do crédito tributário ocorre após o ajuizamento da execução fiscal, é incabível a extinção da execução por inexigibilidade do título execu-tivo enquanto perdurar a prefalada suspensão da exigibilidade. Nesse sentido: AgRg no REsp nº 701.729/SP, Segunda Turma, Rel. Ministro Herman Benjamin, DJe de 19/03/2009.

AgRg no REsp nº 1.057.717/RS, Primeira Turma, Rel. Ministro Francisco Falcão, DJe de 06/10/2008.

5. Recurso especial não provido.

(REsp nº 1153771/SP, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 12/04/2012, DJe de 18/04/2012)

Como dito anteriormente, o depósito da quantia exigida pelo Fisco não é uma imposição ao exercício do direito de ação, ainda que o artigo 38 da Lei nº 6.830/80 assim estabeleça, ao determinar a feitura do depósito para propositura da anulatória.

Acontece que o STF já decidiu ser inconstitucional tal exigência, justamente por ferir vários preceitos da CF, dentre eles o art. 5º, caput, que trata sobre o princípio da isonomia, inciso XXXV, prevendo que nenhuma lesão ou ameaça de lesão será afastada da análise do Poder Judiciário.

Além disso, nosso ordenamento jurídico repudia o princípio do Solve et repet, em que primeiro se paga e depois se discute o direito.

A realização do depósito, de fato, é uma faculdade do contribuinte que pretender a suspensão da exigibilidade do crédito tributário, nos termos do artigo 151, II, do

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AÇÃO ANULATÓRIA

121

CTN. Não é necessário requerer autorização ao juiz, basta a sua efetivação e devida comunicação nos autos.

21.3 AÇÃO ANULATÓRIA DO ARTIGO 169 DO CTN

Não se pode confundir a ação anulatória, mencionada no artigo 38 da Lei nº 6.830/80 que acabamos de estudar, com a anulatória prevista no artigo 169 do CTN.

A anulatória do artigo 38 da Lei nº 6.830/80 tem por objetivo anular um ato admi-nistrativo de cobrança tributária ou aplicação de penalidades eivado de ilegalidade ou inconstitucionalidade; enquanto a anulatória do artigo 169 do CTN visa anular uma decisão administrativa que denegou um pedido de restituição.

Como será estudado no capítulo 22, o sujeito passivo que pagar indevidamente ou a maior um tributo poderá pleitear a devolução desses valores, tanto em âmbito administrativo como em âmbito judicial, desde que respeitado o prazo de cinco anos contados do pagamento, nos termos do artigo 168 do CTN.

Assim, se o contribuinte pagou certo tributo em 2006, deverá ingressar com o pedido de restituição na esfera administrativa ou judicial até 2011. Vamos imaginar que esse contribuinte ingressou com seu pedido na esfera administrativa em 2010, dentro do seu prazo, porém apenas em 2014 obtém uma decisão administrativa irre-formável que denegou a restituição. Nesse caso, o artigo 169 do CTN estabelece que o contribuinte terá dois anos para anular essa decisão na esfera judicial.

21.4. SUGESTÃO DE PETIÇÃO INICIAL DE AÇÃO ANULATÓRIA

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ... VARA CÍVEL FEDERAL DA SUBSEÇÃO DO MUNICÍPIO DE ... SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DO(E) ...

OUEXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ... VARA DA FAZENDA

PÚBLICA DA COMARCA DE ... ESTADO DO(E) ...NOME DA PESSOA -CEP ..., vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, por intermédio de seu advogado AÇÃO ANULATÓRIA COM TUTELA ANTECIPADAem face da União/Fazenda Pública Federal ou Estado/Fazenda Pública Estadual ou

Distrito Federal/Fazenda Pública Distrital ou Município/Fazenda Publica Municipal, 1. Dos Fatos

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EXAME IV

245

EXAME IV

Equipamentos (partes e peças) que estavam sendo transportados para a empresa Microinformática LTDA. e que seriam utilizados em sua produção foram apreendidos, sob a alegação da Secretaria de Arrecadação Estadual de que a nota fiscal que os acompanhava não registrava uma diferença de alíquota devida ao Fisco e não teria havido, portanto, o recolhimento do imposto. Na ocasião, houve o auto de infração e foi realizado o respectivo lançamento. A empresa, que tem uma encomenda para entregar, procura você, na condição de advogado, para a defesa de seus interesses. Na qualidade de advogado da empresa Microinformática, apresente a peça processual cabível para a defesa dos interesses da empresa, empregando todos os argumentos e fundamentos jurídicos cabíveis. (Valor: 5,0)

1ª sugestão de resolução da peça

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ... VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE ... DO ESTADO DE(O) ...

Vossa Excelência, por meio de seu advogado abaixo assinado (procuração em anexo), com AÇÃO ANULATÓRIA C/C TUTELA ANTECIPADAem face do Estado/Fazenda Pública Estadual; pessoa jurídica de direito público, com I) DOS FATOS -apreendidos pela Secretaria de Arrecadação Estadual.

Então, foi lavrado auto de infração e realizado o lançamento. -menda para entregar. Assim sendo, não restou outra alternativa ao autor senão buscar a tutela jurisdicional.II) DO DIREITOII.1) Da Inconstitucionalidade de apreensão de mercadorias como forma de coagir

ao pagamento de tributo – Súmula nº 323 do STF

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JOSIANE MINARDI

246

do imposto.de não admitir a apreensão de mercadorias como meio coercitivo para o pagamento de

base nos dispositivos constitucionais já citados. O direito à propriedade é um direito funda-mental assegurado expressamente na CF e representa também autotutela do próprio direito.-pensão da exigibilidade do crédito tributário.III) DA TUTELA ANTECIPADA – art. 273, II, do CPCverossimilhança das alegações existe tendo em vista a violação do direito à propriedade

-diatamente, pois precisa desta para terminar uma encomenda.-ria apreendida irregularmente e suspender a exigibilidade do crédito tributário, à luz do artigo 151, V, do CTN.

IV) DOS PEDIDOS

-como suspender a exigibilidade do crédito tributário nos termos do artigo 151, V, do CTN;ilegalidade e liberar a mercadoria;

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EXAME IV

247

d) a produção de todos os meios de prova em direito admitidas;e) a condenação do réu ao pagamento das custas e honorários advocatícios, conforme artigo 20 do CPC.Dá-se à causa o valor de R$ ...Pede deferimento,Local e data.Advogado

Distribuição de pontos

Identificação do Juízo (0,10), da parte autora (0,10) e da parte ré (0,10).

Fundamentação da tutela antecipada (0,70), com requisitos – verossimilhança, prova ine-quívoca e existência de fundado receio de dano irreparável (0,70) – fundamentação legal: artigo 273 do CPC (0,70).

Breve exposição e caracterização dos fatos: Ênfase por ter sido lavrado o auto (0,10), / a medida ser abusiva e prejudicial à atividade econômica (0,10), / a urgência na liberação das mercadorias (0,10).

Fundamentação do direito: Súmulas do STF – nº 70 OU 323 OU 547 OU direitos constitu-cionais de propriedade e livre-iniciativa (arts. 5º, XXII OU 170 da CF) (1,0).

Pedido: anulação de auto de infração (0,35) e antecipação de tutela para liberação da mercadoria (0,35).

Citação da parte ré (0,20).

Condenação nos honorários sucumbenciais (0,20).

Valor da causa (0,20).

2ª sugestão de resolução da peça

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ... VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE ... DO ESTADO DE(O) ...

Vossa Excelência, por meio de seu advogado abaixo assinado (procuração em anexo), com

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JOSIANE MINARDI

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MANDADO DE SEGURANÇA REPRESSIVO C/C LIMINAR

fato e direito abaixo aduzidos.I) DOS FATOS -apreendidos pela Secretaria de Arrecadação Estadual.

Então, foi lavrado auto de infração e realizado o lançamento. -encomenda para entregar. Assim sendo, não restou outra alternativa ao Impetrante senão buscar a tutela jurisdicional.II) DA TEMPESTIVIDADE

III) DO DIREITOIII.1) Da inconstitucionalidade da apreensão de mercadorias como meio coercitivo

para pagamento de tributo – Súmula nº 323 do STF

do imposto.de não admitir a apreensão de mercadorias como meio coercitivo para o pagamento de

-apreensão com base nos dispositivos constitucionais já citados. O direito à propriedade é um direito fundamental assegurado expressamente na CF e representa também autotutela do próprio direito.

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EXAME IV

249

IV) CONCESSÃO DA MEDIDA LIMINIAR – art. 7º, III, da Lei nº 12.016/2009

fumus boni iuris e do periculum in mora.fumus boni

iuris, fundamento relevante, como visto anteriormente, pois houve violação ao direito de O periculum in moraterminar uma encomenda. -dade do crédito tributário, à luz do artigo 151, IV, do CTN.Caso o entendimento de Vossa Excelência seja pela realização de depósito, conforme poderá realizá-lo para ter a concessão da liminar e assim obter a liberação da mercadoria artigo 151, II, do CTN.V) DOS PEDIDOS

apreendida, bem como suspender a exigibilidade do crédito tributário, à luz do artigo 151, IV, do CTN;c) a ciência do feito ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada, d) a intimação do órgão do Ministério Público competente, nos termos do artigo 12 da -trante e assim conceder a segurança e liberar as mercadorias apreendidas;f) a condenação da Impetrada ao pagamento das custas.Dá-se à causa o valor de R$ ...

Pede deferimento,Local e data.Advogado

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JOSIANE MINARDI

250

Distribuição de pontos

Identificação do Juízo (0,10) e da parte autora (0,10).

Identificação correta da autoridade coatora (Diretor da Secretaria de Arrecadação do Estado) (0,30).

Pedido de Liminar (0,70) – fundamentação legal: artigo 7º da Lei nº 12.016/2009 (0,50).

Breve exposição e caracterização dos fatos: Ênfase por ter sido lavrado o auto (0,10), / a medida ser abusiva e prejudicial à atividade econômica (0,10), / a urgência na liberação das mercadorias (0,10).

Fundamentação do pedido: Súmulas do STF – nº 70 OU 323 OU 547 OU direitos consti-tucionais de propriedade e livre-iniciativa (art. 5º, XXII OU 170 da CF) (1,0).

Abuso de poder da autoridade fiscal: (0,50) / a apreensão, além de atingir direito funda-mental, representa autotutela do próprio direito (0,50).

Pedido: reconhecimento do direito líquido e certo do impetrante em liberar a mercadoria. (0,70).

Notificação da autoridade coatora para que preste informações (0,20).

Valor da causa (0,10).

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EXAME V

251

EXAME V

Xisto da Silva, brasileiro, administrador, solteiro, portador da carteira de identidade nº xxxx e CPF nº xxx, residente e domiciliado na Rua X, nº xxx, bairro Z, Município Y, Estado F, recebeu cobrança simultânea, por meio de uma mesma guia de documento fiscal, de dois tributos: IPTU e Taxa de Conservação das Vias e Logradouros Públicos (TCVLP). No caso da referida taxa, certo é que o contribuinte não concorda com sua cobrança, o que o levou, por meio de seu advogado, a ajuizar ação judicial a fim de declarar sua inconstitucionalidade, havendo pedido de liminar, ainda não apreciado, para afastar a obrigatoriedade do recolhi-mento da referida exação fiscal. Por outro lado, em relação à cobrança do IPTU, pretende o contribuinte efetuar o seu pagamento. No entanto, a guia de pagamento é única e contém o valor global dos referidos tributos, tendo o banco rejeitado o pagamento parcial relativo somente ao IPTU. Nesse caso, considerando que o IPTU ainda não está vencido, bem como o contribuinte não obteve êxito para solucionar seu problema na esfera administrativa, elabore a peça adequada para efetuar o pagamento do imposto municipal, com base no direito material e processual pertinente. Utilize todos os argumentos e fundamentos pertinentes à melhor resposta. (Valor: 5,0).

Sugestão de resolução da peça

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ... VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DO MUNICÍPIO Y DO ESTADO F

AÇÃO DE CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO

I) DOS FATOS -neas de tributos. A cobrança do IPTU e da Taxa de Conservação das Vias e Logradouros Públicos (TCVLP).

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PROVA IV

295

PROVA IV

? QUESTÃO 01

A empresa Nova Casa atua no ramo de venda de eletrodomésticos e como tal encontra-se sujeita ao recolhimento do ICMS e ao dever de entregar arquivos mag-néticos com as informações das vendas efetuadas em cada período de recolhimento. Em fiscalização realizada em 01/02/2009, o Fisco Estadual constatou a insuficiência do recolhimento do ICMS no período entre 01/01/2008 a 01/02/2009 e lavrou auto de infração exigindo o tributo não recolhido acrescido de multa no montante cor-respondente a 80% do tributo devido, na forma da legislação estadual. Ainda como consequência da fiscalização, foi lavrado outro auto de infração para aplicar a pena-lidade de R$ 1.000,00 por cada arquivo magnético não entregue no mesmo período. Ocorre que, no prazo para apresentação da impugnação administrativa, os sócios da empresa Nova Casa finalizaram as negociações anteriormente iniciadas com a sua concorrente Incasa e decidiram vender a empresa, a qual foi incorporada pela Incasa. Ao se deparar com as autuações em questão, a Incasa aciona o seu corpo jurídico.

Com base nesse cenário, responda aos itens a seguir, empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso.

a) Existe a possibilidade de cancelar, total ou parcialmente, o auto de infração lavrado para cobrança do tributo devido e da sua respectiva penalidade?

b) Existe a possibilidade de cancelar, total ou parcialmente, o auto de infração lavrado para exigir a penalidade por falta de entrega dos arquivos magnéticos?

Sugestão de resposta

a) Não é possível cancelar o auto de infração lavrado para cobrança do tributo devido, nem cancelar a respectiva penalidade. Nos termos do artigo 132 do CTN, a pessoa jurídica que resultar de fusão, transformação ou incorporação de outra é responsável pelos tributos devidos até a data do ato pela pessoa jurídica de direito privado incorporada, transformada ou fusionada. O STJ entende que a expressão utilizada pelo legislador na redação do referido artigo “tributos” refere-se também às multas. Neste sentido, o artigo 129 do CTN dispõe que a responsabilidade dos sucessores tratada pelo CTN compreende os créditos tributários. No presente caso, trata-se de incorporação de empresa, o que acarreta a responsabilidade da pessoa jurídica resultante sobre todos os créditos tributários devidos até então, inclusive sobre as multas, já que se deve interpretar o artigo 132 do CTN em conjunto com o artigo 129 do CTN.

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JOSIANE MINARDI

296

b) Não é possível cancelar o auto de infração lavrado para exigir a penalidade por falta de entrega dos arquivos magnéticos, pois, de acordo com o artigo 113, § 3º, do CTN, o inadimplemento da obrigação acessória, que no caso em tela era a entrega dos arquivos magnéticos, converte-se em obrigação principal, com relação ao pagamento da penalidade tributária.

Distribuição de pontos

Citação dos artigos 129 e 132 do CTN (0,1 cada um).

Identificação da figura da sucessão tributária (0,25).

Caráter confiscatório da multa (0,1). Artigo 150, IV, da CF (0,1).

A interpretação deve conjugar os artigos132 e 129, ambos do CTN, para permitir que as multas também sejam devidas pelo sucessor (0,2).

A obrigação acessória não adimplida converte-se em obrigação principal (de pagamento) – artigo 113, § 3º, do CTN (0,4).

? QUESTÃO 02

O Laboratório de Análises Clínicas Almeida Silva Ltda., cuja sociedade é constituída por 3 (três) sócios, um médico, um farmacêutico e uma empresária, explora, no ramo da medicina, serviços de análises clínicas, em caráter empresarial, mantendo, para tanto, várias filiais em funcionamento em diversas municipalidades de determinada região do país. Ocorre que, a partir de março/2011, a referida empresa, na qualidade de contribuinte do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza – ISSQN –, deixou de recolher o respectivo tributo, dando origem a diversas autuações fiscais, que geraram defesas administrativas no sentido de que o ISS deveria ser calculado e recolhido como tributo fixo, ou seja, com base em um valor fixo previsto na legislação municipal pertinente a ser calculado em relação a cada sócio, não devendo ser considerado, para fins de apuração do imposto, o valor do serviço praticado pela empresa com incidência da alíquota correspondente à sua atividade.

Esclareça se o laboratório tem ou não direito a realizar o recolhimento na forma preten-dida. Justifique, com base na legislação tributária pertinente.

Sugestão de resposta

O laboratório não tem direito a recolher o ISS como tributo fixo. No presente caso, o ISS deverá ser recolhido, conforme o artigo 7º da LC nº 116/2003, baseado no preço do serviço, e a alíquota deverá ser a prevista na legislação municipal, relativa ao serviço prestado.

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PROVA IV

297

Não é possível a aplicação do artigo 9º, §§ 1º e 3º, do Decreto-Lei nº 406/68, visto que esse dispositivo trata de casos excepcionais, serviços prestados de forma autônoma pelo contribuinte ou sob a forma de agrupamento uniprofissional, o que não é o caso. Neste sentido, o STJ entende que para a sociedade recolher o ISS como tributo fixo, não poderá ter caráter empresarial.

Distribuição de pontos

Aplicação do artigo 7º da LC nº 116/2003 (0,5).

Inaplicabilidade dos §§ 1º e 3º do artigo 9º do Decreto-Lei nº 406/68 (0,5).

Caráter empresarial da atividade desenvolvida (0,25).

? QUESTÃO 03

Caio e Tício pretendem celebrar contrato de compra e venda de bem imóvel. Contudo, para consumarem o negócio, constituem previamente a pessoa jurídica Provisória Ltda. formada por eles apenas, tendo por fito única e exclusivamente não fazer incidir o ITBI sobre a operação, com amparo no artigo 156, § 2º, I, da CF, que prevê hipótese de imunidade da referida exação sobre o imóvel utilizado na integralização do capital social. Neste aspecto, Caio, originalmente proprietário alienante do bem, integraliza suas quotas na forma do imóvel, e Tício completa o capital social da empresa deposi-tando o montante correspondente ao valor do bem objeto da alienação. Após pouco mais de duas semanas, Caio e Tício dissolvem a sociedade, e, como consequência, Caio recebe sua parcela do capital em dinheiro, ao passo que Tício recebe o seu quinhão na forma do imóvel.

Analise a conduta adotada pelos particulares e responda se, e como, poderia a Fazenda Municipal satisfazer seu crédito com relação à situação apresentada, uma vez descoberta a real intenção dos dois agentes.

Sugestão de resposta

Não é correta a conduta descrita no caso, trata-se de hipótese de elusão fiscal, uma vez que Caio e Tício constituíram a sociedade com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do ITBI, de modo a escapar da tributação. Ocorreu abuso de forma.

O Fisco, percebendo a conduta abusiva do contribuinte, poderá lançar o tributo, com base no artigo 116, parágrafo único, do CTN, que determina que a autoridade administrativa pode desconsiderar atos ou negócios jurídicos praticados com a fina-lidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo. Assim, poderá o Fisco lançar o ITBI com a aplicação dessa norma geral de antielisão.

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JOSIANE MINARDI

298

Distribuição de pontos

Hipótese de elusão fiscal (ou elisão ineficaz) (0,25).

Abuso de forma (0,2).

O Fisco municipal pode lançar o ITBI, descoberta a conduta abusiva (0,4).

Aplicação da norma geral de antielisão fiscal – artigo 116, parágrafo único, do CTN (0,4).

? QUESTÃO 04

Um Estado da Federação promulga lei ordinária que pressupõe como modalidade de extinção, total ou parcial, dos créditos tributários de sua competência inscritos em dívida ativa, a dação em pagamento de bens móveis (títulos públicos). Analise a regu-laridade dessa lei e sua compatibilidade com o sistema jurídico tributário nacional.

Sugestão de resposta

Não é possível que um Estado da Federação crie uma nova forma de extinção do crédito tributário, no caso, a dação em pagamento de bens móveis, por meio de lei ordinária. O presente caso trata da promulgação de uma lei inconstitucionalidade, porque – à luz do artigo 146, III, “b” da CF, só é possível estabelecer normas sobre cré-dito tributário mediante Lei Complementar. Nesta perspectiva, o artigo 141 do CTN prevê que somente é possível extinguir o crédito tributário nos casos previstos nesta Lei. Tem-se ainda o artigo 156 do CTN, que é taxativo com relação às hipóteses de extinção do crédito e traz no inciso XI do CTN que é possível a dação em pagamento para a extinção do crédito tributário de bem imóvel.

Distribuição de pontos

A lei seria inconstitucional, por ferir a reserva constitucional de lei complementar para a matéria (0,35).

Fundamentos (0,3 cada um): artigo 146, III, “b”, da CF; artigo 141 do CTN; artigo 156 do CTN.

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PROVA V

299

PROVA V

? QUESTÃO 01

A concessionária de veículos Carros Ltda. impetrou mandado de segurança em face da Fazenda Pública do Estado de Goiás, objetivando que fosse considerado na base de cálculo, adotada para fins de substituição tributária, o valor dos descontos promocio-nais concedidos pela empresa Ford quando da venda dos veículos a Carros Ltda. O juiz concedeu a liminar pleiteada e determinou que a Ford promovesse o recolhimento do ICMS-ST com base no valor de venda diminuído dos descontos promocionais. Quando da prolação da sentença, a liminar foi revogada e restabelecida a base de cálculo anterior, tendo sido intimada a Ford para que voltasse a proceder ao recolhimento com base no valor integral de venda. O processo atualmente encontra-se em trâmite perante o Superior Tribunal de Justiça, tendo sido mantida a sentença monocrática.

Em fiscalização realizada junto à Ford, o Fisco Estadual decidiu por exigir desta o reco-lhimento do montante que deixou de ser recolhido durante o período de vigência da medida liminar, acrescido das penalidades previstas. Na condição de advogado da Ford, quando consultado, avalie:

a) a legitimidade passiva da Ford para suportar a autuação realizada;

b) a possibilidade de tal exigência sobre o período abrangido pela medida liminar.

Sugestão de resposta

a) O artigo 150, § 7º, da CF prevê a substituição tributária, caso em que o contri-buinte substituído deixa de integrar a relação jurídico-tributária com o Fisco. Cabe ao contribuinte substituto realizar o recolhimento do tributo em nome do substituído. No caso, foi o contribuinte substituído quem impetrou o Mandado de Segurança. A Ford não tem legitimidade no caso em concreto, não era parte na ação judicial, apenas cumpriu a decisão liminar. Desta forma, a Ford não pode suportar o ônus da decisão.

b) Tendo em vista que a medida liminar foi revogada, é possível que o Fisco cons-titua e exija o tributo em face do contribuinte substituído. Neste sentido, tem-se a Súmula nº 405 do STF que dispõe que a revogação de medida liminar acarreta a recomposição do status quo anterior, cabendo à parte que requereu a medida arcar com os ônus da recomposição.

Distribuição de pontos

a1) Trata-se de substituição tributária. Relação entre contribuinte substituto e substituído (0,10). Artigo 150, § 7º, da CF/88 OU artigo 6º da Lei Kandir (0,20).

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SÚMULAS VINCULANTES DO STF

341

SÚMULAS VINCULANTES DO STF

1. Ofende a garantia constitucional do ato jurí-dico perfeito a decisão que, sem ponderar as circunstâncias do caso concreto, desconsidera a validez e a eficácia de acordo constante de termo de adesão instituído pela lei complementar nº 110/2001.

2. É inconstitucional a lei ou ato normativo esta-dual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias.

3. Nos processos perante o tribunal de contas da união asseguram-se o contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anu-lação ou revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão.

5. A falta de defesa técnica por advogado no pro-cesso administrativo disciplinar não ofende a constituição.

7. A norma do § 3º do art. 192 da Constituição, revo-gada pela emenda constitucional Nº 40/2003, que limitava a taxa de juros reais a 12% ao ano, tinha sua aplicação condicionada à edição de lei complementar.

8. São inconstitucionais o parágrafo único do artigo 5º do decreto-lei nº 1.569/1977 e os artigos 45 e 46 da lei nº 8.212/1991, que tratam de prescrição e decadência de crédito tributário.

12. a cobrança de taxa de matrícula nas universi-dades públicas viola o disposto no art. 206, IV, da Constituição Federal.

19. a taxa cobrada exclusivamente em razão dos ser-viços públicos de coleta, remoção e tratamento ou destinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis, não viola o artigo 145, II, da Consti-tuição Federal.

20. A gratificação de desempenho de atividade técnico-administrativa – data, instituída pela lei nº 10.404/2002, deve ser deferida aos inativos nos valores correspondentes a 37,5 (trinta e sete vírgula cinco) pontos no período de fevereiro a maio de 2002.5º 10.404/2002, no período de junho de 2002 até a conclusão dos efeitos do último ciclo de avaliação a que se refere o artigo 1º da medida provisória no 198/2004, a partir da qual passa a ser de 60 (sessenta) pontos.

21. É inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso administrativo.

24. Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo.

25. É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qual-quer que seja a modalidade do depósito.

28. É inconstitucional a exigência de depósito prévio como requisito de admissibilidade de ação judi-cial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de crédito tributário

29. É constitucional a adoção, no cálculo do valor de taxa, de um ou mais elementos da base de cálculo própria de determinado imposto, desde que não haja integral identidade entre uma base e outra.

31. É inconstitucional a incidência do imposto sobre serviços de qualquer natureza – ISS sobre ope-rações de locação de bens móveis.

32. O ICMS não incide sobre alienação de salvados de sinistro pelas seguradoras.

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JOSIANE MINARDI

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