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Ciência Rural, Santa Maria, Online ISSN 0103-8478 Luis Antônio Sangioni I Daniela Isabel Brayer Pereira II Fernanda Silveira Flores Vogel I Sônia de Avila Botton I* Princípios de biossegurança aplicados aos laboratórios de ensino universitário de microbiologia e parasitologia Principles of biosafety applied to microbiology and parasitology laboratories in universities Recebido para publicação 09.03.11 Aprovado em 19.07.12 Devolvido pelo autor 25.09.12 CR-4897 RESUMO Os laboratórios de ensino de microbiologia e parasitologia nas universidades brasileiras são ambientes em que as atividades integradas, envolvendo ensino, pesquisa e extensão, demandam a convivência de pessoas, agentes e amostras biológicas, equipamentos, reagentes e resíduos num mesmo espaço, sendo inevitável a exposição das pessoas aos diferentes riscos. As atividades realizadas nesses laboratórios necessitam empregar as normas de segurança; pois, uma vez que o fator humano é susceptível aos acidentes, os programas de educação em biossegurança são imprescindíveis. Entretanto, para que esses programas sejam efetivos, é necessário que os usuários estejam devidamente informados acerca dos princípios de biossegurança, bem como aptos a colocá-los em prática de maneira correta, a fim de garantir a segurança dos profissionais, acadêmicos e do meio ambiente. Esta revisão compila os principais aspectos da biossegurança relacionados aos princípios e à classificação dos riscos, dos agentes biológicos e dos níveis de contenção laboratorial, bem como aborda as boas práticas laboratoriais nos laboratórios de ensino, pesquisa e extensão em microbiologia e parasitologia. Palavras-chave: risco, segurança, educação em biossegurança. ABSTRACT The teaching laboratories of microbiology and parasitology in Brazilian universities are places where the integrated activities of teaching, research and extension are performed and require the coexistence in the same space, persons, biological agents and samples, equipment, reagents and waste, and where is inevitable the exposure of people to the different risks. The laboratorial activities practiced in Brazilian universities require the need for safety standards, since the human factor is likely the causes of accidents in laboratories, educational programs in biosafety become indispensable to the prevention of risks. However, for an education program become effective is necessary that the users are fully informed about the biosafety principles, as well as able to practice them properly to ensure the safety of all professionals, academics and the environment. This article compiles the main aspects related to the principles of biosafety, risk classification of biological agents and levels of biocontainment, and addresses the issues regarding safety equipment and good laboratory practices applied to the teaching laboratories in microbiology and parasitology. Key words: risk, safety, education in biosafety. INTRODUÇÃO A biossegurança pode ser definida como o conjunto de ações voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, visando à saúde do homem, dos animais, à preservação do meio ambiente e à qualidade dos resultados (TEIXEIRA & VALLE, 2010). No Brasil, existem duas vertentes da biossegurança: a legal e a praticada. A primeira está voltada à manipulação de organismos I Departamento de Medicina Veterinária Preventiva, Centro de Ciências Rurais (CCR), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Avenida Roraima, 1000, prédio 44, sala 5007, 97105-900, Camobi, Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: [email protected]. *Autor para correspondência. II Departamento de Microbiologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pelotas, RS, Brasil.

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1Princípios de biossegurança aplicados aos laboratórios de ensino universitário de microbiologia e parasitologia.

Ciência Rural, v.43, n.1, jan, 2013.

Ciência Rural, Santa Maria, Online

ISSN 0103-8478

Luis Antônio SangioniI Daniela Isabel Brayer PereiraII Fernanda Silveira Flores VogelI

Sônia de Avila BottonI*

Princípios de biossegurança aplicados aos laboratórios de ensino universitário demicrobiologia e parasitologia

Principles of biosafety applied to microbiology and parasitology laboratories in universities

Recebido para publicação 09.03.11 Aprovado em 19.07.12 Devolvido pelo autor 25.09.12CR-4897

RESUMO

Os laboratórios de ensino de microbiologia eparasitologia nas universidades brasileiras são ambientes emque as atividades integradas, envolvendo ensino, pesquisa eextensão, demandam a convivência de pessoas, agentes eamostras biológicas, equipamentos, reagentes e resíduos nummesmo espaço, sendo inevitável a exposição das pessoas aosdiferentes riscos. As atividades realizadas nesses laboratóriosnecessitam empregar as normas de segurança; pois, uma vezque o fator humano é susceptível aos acidentes, os programasde educação em biossegurança são imprescindíveis. Entretanto,para que esses programas sejam efetivos, é necessário que osusuários estejam devidamente informados acerca dos princípiosde biossegurança, bem como aptos a colocá-los em prática demaneira correta, a fim de garantir a segurança dosprofissionais, acadêmicos e do meio ambiente. Esta revisãocompila os principais aspectos da biossegurança relacionadosaos princípios e à classificação dos riscos, dos agentesbiológicos e dos níveis de contenção laboratorial, bem comoaborda as boas práticas laboratoriais nos laboratórios deensino, pesquisa e extensão em microbiologia e parasitologia.

Palavras-chave: risco, segurança, educação em biossegurança.

ABSTRACT

The teaching laboratories of microbiology andparasitology in Brazilian universities are places where theintegrated activities of teaching, research and extension areperformed and require the coexistence in the same space,persons, biological agents and samples, equipment, reagentsand waste, and where is inevitable the exposure of people to

the different risks. The laboratorial activities practiced inBrazilian universities require the need for safety standards,since the human factor is likely the causes of accidents inlaboratories, educational programs in biosafety becomeindispensable to the prevention of risks. However, for aneducation program become effective is necessary that the usersare fully informed about the biosafety principles, as well asable to practice them properly to ensure the safety of allprofessionals, academics and the environment. This articlecompiles the main aspects related to the principles of biosafety,risk classification of biological agents and levels ofbiocontainment, and addresses the issues regarding safetyequipment and good laboratory practices applied to theteaching laboratories in microbiology and parasitology.

Key words: risk, safety, education in biosafety.

INTRODUÇÃO

A biossegurança pode ser definida como oconjunto de ações voltadas para a prevenção,minimização ou eliminação de riscos inerentes àsatividades de pesquisa, produção, ensino,desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços,visando à saúde do homem, dos animais, à preservaçãodo meio ambiente e à qualidade dos resultados(TEIXEIRA & VALLE, 2010). No Brasil, existem duasvertentes da biossegurança: a legal e a praticada. Aprimeira está voltada à manipulação de organismos

IDepartamento de Medicina Veterinária Preventiva, Centro de Ciências Rurais (CCR), Universidade Federal de Santa Maria(UFSM), Avenida Roraima, 1000, prédio 44, sala 5007, 97105-900, Camobi, Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: [email protected].*Autor para correspondência.

IIDepartamento de Microbiologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pelotas, RS, Brasil.

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2 Sangioni et al.

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geneticamente modificados (OGMs) e de células tronco,regulamentada pela Lei no 11.105/05. A segunda, estárelacionada aos riscos químicos, físicos, biológicos,ergonômicos e de acidentes encontrados nos ambienteslaborais, amparada principalmente pelas normasregulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego(MTE), Resoluções da Agência Nacional de Vigilânciaem Saúde (ANVISA) e do Conselho Nacional do MeioAmbiente (CONAMA), entre outras (COSTA, 2005).

Os laboratórios de ensino de microbiologiae parasitologia nas universidades brasileiras sãoambientes onde geralmente se realizam atividades deensino, pesquisa e extensão de forma isolada ou emconjunto. Dessa forma, no mesmo espaço, convivempessoas, equipamentos, reagentes, soluções, agentese amostras biológicas e os resíduos gerados nessasatividades. Nesse contexto, pode haver a exposiçãodas pessoas que neles trabalham, estudam e transitampelos diferentes riscos, sejam eles: biológicos,químicos, físicos, ergonômicos e de acidentes; tambémgerando agravos para os animais e para meio ambiente(BRASIL, 2006). Sendo assim, é imprescindível oconhecimento da biossegurança a fim de preservar e/ou minimizar os riscos nas atividades desenvolvidas.Em virtude de existirem poucas publicações científicasacerca da biossegurança nos laboratórios de ensino,pesquisa e extensão em microbiologia e parasitologianas universidades brasileiras, este artigo busca informaros principais aspectos relacionados à biossegurança:os princípios, a classificação dos riscos, dos agentesbiológicos e dos níveis de contenção laboratorial, bemcomo equipamentos de segurança e as boas práticaslaboratoriais aplicadas.

Princípios de biossegurançaA biossegurança e a segurança biológica

referem-se ao emprego do conhecimento, das técnicase dos equipamentos, com a finalidade de prevenir aexposição do profissional, dos acadêmicos, doslaboratórios, da comunidade e do meio ambiente, aosagentes biológicos potencialmente patogênicos. Paraisso, estabelecem as condições seguras para amanipulação e a contenção de agentes biológicos,incluindo: os equipamentos de segurança, as técnicase práticas de laboratório, a estrutura física doslaboratórios, além da gestão administrativa (HIRATA& MANCINI FILHO, 2002; BRASIL, 2006;MASTROENI, 2005).

Equipamentos de segurança: sãoconsiderados como barreiras primárias de contençãoe, juntamente com as boas práticas em laboratório, visamà proteção dos indivíduos e dos próprios laboratórios,sendo classificados como equipamentos de proteçãoindividual (EPI) e coletiva (EPC) (HIRATA & MANCINIFILHO, 2002; BRASIL, 2006; PENNA et al., 2010).

Técnicas e práticas de laboratório: noslaboratórios, os indivíduos necessitam recebertreinamento em relação às técnicas de biossegurança.Cada unidade deve desenvolver seu próprio manualde biossegurança, identificando os riscos e osprocedimentos operacionais de trabalho, o qual deveráficar à disposição de todos os usuários do local(BRASIL, 2006; PENNA et al., 2010).

Estrutura física do laboratório (barreirassecundárias): laboratórios de ensino de microbiologia eparasitologia apresentam características diferenciadas,devido à grande variabilidade de atividades realizadasem cada unidade. As barreiras secundárias incluem tantoo projeto como a construção das instalações e dainfraestrutura do laboratório. A estrutura físicalaboratorial deve ser elaborada e/ou adaptada mediantea participação conjunta de especialistas, incluindo: ospesquisadores, técnicos do laboratório, arquitetos eengenheiros, de modo a estabelecer padrões e normas afim de garantir as condições específicas de segurançade cada laboratório (BRASIL, 2006; SIMAS &CARDOSO, 2008; PENNA et al., 2010).

Gestão administrativa: nesses locais, aspráticas gerenciais e a organização das atividades sãofocos importantes de análise no estabelecimento deum programa de biossegurança. Em cada laboratório, énecessário realizar um levantamento detalhado dosagentes biológicos manipulados, das rotinas e dastecnologias empregadas, da infraestrutura disponível.Além disso, é imprescindível identificar os principaisriscos e avaliar o nível de contenção que definirá asações de biossegurança específicas a serem adotadase que devem estar aliadas a um plano de educaçãocontinuada em biossegurança (HIRATA & MANCINIFILHO, 2002). Ressalta-se que, para manipular osagentes biológicos com potencial infeccioso, deve-seconhecer as leis, dentre elas as internacionais, federais,estaduais e municipais relativas à biossegurança(BRASIL, 2010a). A evolução dos processostecnológicos tem conduzido os profissionais ligadosàs atividades de ensino nos laboratórios à exposiçãode diversos riscos, especialmente os biológicos equímicos. De acordo com HIRATA & MANCINI FILHO(2002), a avaliação e o manejo dos riscos sãomandatórios à definição dos critérios e ações, visandoa minimizar os riscos que podem afetar a saúde dosprofessores, técnicos, alunos e do meio ambiente.

Riscos nos laboratórios de ensino de microbiologia eparasitologia

O risco denota incerteza em relação a umevento futuro, sendo definido como a probabilidade deocorrer um acidente causando algum tipo de dano, lesão

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3Princípios de biossegurança aplicados aos laboratórios de ensino universitário de microbiologia e parasitologia.

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ou enfermidade ou a probabilidade de concretização deum perigo (BRASIL, 2006). Essa probabilidade pode serclassificada como: alta: o dano poderá ocorrer sempreou quase sempre; média: o dano poderá ocorrer emalgumas ocasiões; ou baixa: o dano poderá ocorrerremotamente (SILVA, 2010). É importante ressaltar quea simples presença de um agente de risco em umlaboratório não significa que, necessariamente, ocorreráuma doença ou um acidente com os indivíduos quedesenvolvem suas atividades no ambiente laboral. Emdiferentes recintos laboratoriais, há situações de perigoe risco; portanto, é necessário sempre agir baseado noprincípio básico da biossegurança, isto é, no princípioda precaução. A prevenção de acidentes demandaprincipalmente dos EPIs e EPCs adequados,treinamentos dos recursos humanos, adoção dasnormas e procedimentos de biossegurança(MASTROENI, 2005).

De acordo com HIRATA & MANCINIFILHO (2002), os riscos estão classificados em: deacidente, ergonômicos, físicos, químicos e biológicos:a. Risco de acidente: considerado como sendo assituações de perigo que possam afetar a integridade, obem estar físico e moral dos indivíduos presentes noslaboratórios. Nos laboratórios de ensino, compreendem:infraestrutura física com problemas (pisos lisos,escorregadios e instalações elétricas com fios expostose/ou com sobrecarga elétrica); armazenamento oudescartes impróprios de substâncias químicas; dentreoutras.b. Risco ergonômico: é qualquer ocorrência quevenha a interferir nas características psicofisiológicasdo indivíduo, podendo gerar desconforto ou afetandosua saúde. São consideradas as lesões determinadaspelo esforço repetitivo (LER) e as doençasosteomusculares relacionadas com o trabalho (DORT);como exemplo, cita-se: a pipetagem, pesagens, adoçãode posturas físicas inadequadas durante a execuçãodas atividades, etc. Além disso, o levantamento e otransporte manual de peso elevado, o ritmo e a cargahorária excessivas de trabalho, a monotonia durante arealização de técnicas meticulosas que demandam maioratenção, também são considerados riscos ergonômicosrelacionados às atividades nos laboratórios de ensinode microbiologia e parasitologia. c. Risco físico: éconsiderado como sendo as diversas formas de energiaque os indivíduos estão expostos, tais como: ruído,vibrações, temperaturas extremas, radiações ionizantese não ionizantes, ultra-som, materiais cortantes epontiagudos. d. Risco químico: constitui-se em todasas substâncias, compostos ou produtos nas formas degases, vapores, poeiras, fumaças, fumos, névoas ouneblinas, as quais possam penetrar no organismo pelavia respiratória, por contato pela pele e mucosas ou

absorvidas por ingestão. e. Risco biológico: abrange amanipulação dos agentes e materiais biológicos. Sãoconsiderados agentes biológicos: vírus, bactérias,fungos, parasitas, príons, OGMs, além das amostrasbiológicas provenientes das plantas, dos animais e dosseres humanos, como, por exemplo, os tecidos, assecreções e as excreções (urina, fezes, escarros,derrames cavitários, sangue, células, matérias debiópsias e peças cirúrgicas, entre outros).

Tanto os agentes biológicos como oslaboratórios de microbiologia e parasitologia recebemuma classificação em níveis de biossegurança de acordocom os critérios de avaliação dos riscos biológicos.Esses critérios são fundamentados principalmente naanálise das seguintes características: virulência, modode transmissão, resistência, concentração, volume,dose infectante e da origem dos agentes biológicos.Também são considerados critérios de avaliação dosriscos a disponibilidade de medidas profiláticas e detratamento eficazes, caso aconteça a exposição dosindivíduos ao risco; além dos procedimentos técnicosrealizados e dos fatores inerentes aos indivíduos queatuam nos laboratórios (BRASIL, 2006). Conforme ograu de patogenicidade, os agentes biológicos sãoclassificados em:

Classe de r isco 1: inclui os agentesbiológicos que apresentam baixo risco para o indivíduoe para a coletividade, com baixa probabilidade de causardoença ao ser humano. Classe de risco 2: nessa classeestão inseridos os agentes biológicos que apresentamrisco individual moderado para o indivíduo e com baixaprobabilidade de disseminação para a coletividade.Podem causar doenças ao ser humano, entretanto,existem meios eficazes de profilaxia e/ou tratamento.Classe de risco 3: são os agentes biológicos queapresentam risco elevado para o indivíduo e comprobabilidade moderada de disseminação para acoletividade. Podem causar doenças e infecções gravesao ser humano, entretanto nem sempre existem meioseficazes de profilaxia e/ou tratamento. Classe de risco4: nesta estão incluídos os agentes biológicos queapresentam risco elevado para o indivíduo e comprobabilidade elevada de disseminação para acoletividade. Apresenta grande poder detransmissibilidade de um indivíduo a outro. Podemcausar doenças graves ao ser humano, ainda nãoexistem meios eficazes para a sua profilaxia ou seutratamento (BRASIL, 2006).

Níveis de biossegurança ou de contenção doslaboratórios de ensino em microbiologia e parasitologia

Para manipulação dos micro-organismos eparasitas pertencentes a cada uma das quatro classes

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de risco, devem ser atendidos alguns requisitos desegurança, conforme o nível de contenção necessário.Esses níveis de contenção são denominados níveis debiossegurança ou de biocontenção, sendo designadosem ordem crescente (NB-1 a NB-4), pelo grau deproteção proporcionado ao pessoal do laboratório,meio ambiente e à comunidade (BRASIL, 2010b). Nívelde biossegurança 1 (NB-1): necessário em atividadesque envolvam os agentes biológicos da classe de risco1. Representa um nível básico de contenção, que sefundamenta na aplicação das boas práticas laboratoriais(BPLs), na utilização de EPIs e EPCs e na adequaçãodas instalações. Em geral, as atividades são realizadassobre as bancadas. Nível de biossegurança 2 (NB-2):exigido para as atividades que envolvam os agentesbiológicos da classe de risco 2. O acesso ao laboratóriodeve ser restrito aos profissionais da área (professores,técnicos) e aos acadêmicos que estejam desenvolvendoatividades de ensino, pesquisa e extensão, medianteautorização do responsável técnico. Nível debiossegurança 3 (NB-3): aplicável aos locais em queforem desenvolvidas atividades com os agentesbiológicos da classe de risco 3. Nível de biossegurança4 (NB-4): exigido às atividades que manipulem osagentes biológicos da classe de risco 4. Nos laboratóriosNB-3 e NB-4, o acesso dos indivíduos deve ser restritoe utiliza-se um sistema de segurança altamenterigoroso. São designados aos laboratórios quedesenvolvam atividades de diagnóstico e pesquisa demaior complexidade e nível de biocontenção(ENSERINK, 2000). Um resumo dos requisitos básicosexigidos em cada nível de biossegurança laboratorialestá apresentado na tabela 1.

Atualmente, os laboratórios de ensino demicrobiologia e parasitologia vinculados àsinstituições de ensino superior no Brasil equivalem aosNB-1 e NB-2. Nas atividades realizadas nesseslaboratórios, há a manipulação de micro-organismos eparasitas de baixo risco biológico, estando associadas,principalmente, ao desenvolvimento das aulas práticas,das ações de extensão e de pesquisa. Em algunslaboratórios vinculados às instituições que oferecemserviços de diagnóstico e/ou pesquisa de agentespatogênicos, há maior risco biológico, sendo necessárioadotar medidas de biossegurança mais restritas. Comocitado por HIRATA & MANCINI FILHO (2002), nessesambientes, podem ser manuseados agentes biológicosclassificados em nível 3, tais como: vírus da raiva, vírusda encefalomielite equina, vírus da imunodeficiênciahumana (HIV), Mycobacterium tuberculosis,Histoplasma capsulatum e outros patógenostransmissíveis por fluídos corporais e sangue. Esseslaboratórios recebem a classificação NB-2, no entanto,

necessitam instituir procedimentos padrões e BPLspreconizados para o NB-3.

Em relação à estrutura física, deve-se ressaltarque alguns laboratórios pedagógicos estão situados emprédios mais antigos, que inicialmente não foramprojetados como estrutura laboratorial e antecederamos preceitos de biossegurança, revisados por PENNAet al. (2010). Todavia, devido à demanda das atividadesde ensino, pesquisa e extensão, as instalaçõeslaboratoriais tiveram que ser adequadas a essasexigências. Contudo, a fim de atender as exigênciasreunidas nas resoluções e instruções normativasestabelecidas pela CTNBio e, com base na Lei Nacionalde Biossegurança (BRASIL, 2005), as dependênciasdesses laboratórios deverão ser revistas e readaptadas.De acordo com os níveis de biossegurança, ascaracterísticas dos laboratórios de microbiologia eparasitologia estão sintetizadas na tabela 2.

Equipamentos de segurança: EPIs e EPCsEPI é todo o dispositivo de uso individual,

destinado a proteger a saúde e a integridade física dotrabalhador. A sua regulamentação está descrita naNorma Regulamentadora no 06 (NR-06) do Ministério doTrabalho e Emprego (MTE). EPC, por sua vez, é todo odispositivo que proporciona proteção a todos osprofissionais expostos aos riscos no ambiente laboral.

Nos laboratórios de ensino superior demicrobiologia e parasitologia, são imprescindíveis oemprego de EPIs e EPCs e o emprego das BPLs, a fimde minimizar os riscos e desempenhar um trabalho commaior segurança (HIRATA & MANCINI FILHO, 2002;MASTROENI, 2005).

Os EPIs e EPCs básicos recomendados parauso nos laboratórios de ensino de microbiologia eparasitologia devem estar em conformidade com aPortaria MTB no 3.214, (BRASIL, 1978) e consistem em:i. EPIs para proteção da cabeça: óculos de segurançapara prevenir os respingos nos olhos, os quais possamcausar infecção, principalmente os provenientes dasculturas de agentes e amostras biológicas, que possamocasionar irr itação nos olhos e outras lesõesdecorrentes da ação de soluções e reagentes usadosno laboratório; partículas que possam ferir os olhos.Devem ser usados, também, protetores faciaisdestinados à proteção dos olhos e da face contra lesõesproduzidas por diversas partículas, respingos, vaporesde produtos químicos e radiações luminosas intensas.Membros superiores: luvas e/ou mangas de proteçãodevem ser usados em trabalhos em que haja perigo deagravos provocados por: agentes biológicos oriundosdos diferentes materiais biológicos; materiais ouobjetos pérfuro-cortantes; produtos químicos

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5Princípios de biossegurança aplicados aos laboratórios de ensino universitário de microbiologia e parasitologia.

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(corrosivos, cáusticos, tóxicos, solventes orgânicos,etc.); materiais ou objetos geradores de temperaturasextremas (aquecidos ou frios). Membros inferiores:calçado de proteção impermeável, solado liso eantiderrapante, sendo resistente aos agentesbiológicos patogênicos; produtos químicos; umidade;riscos de acidentes (escorregões, tropeços e quedas).Tronco: vestimentas de proteção para atividades em

que haja perigo de danos provocados especialmentepor riscos de origem biológica, química, física, taiscomo: jalecos, aventais e macacões. Sistemarespiratório: equipamentos de proteção respiratória(EPR) são os dispositivos usados para evitar aexposição aos diferentes agentes presentes noslaboratório de microbiologia e parasitologia, emconcentrações prejudiciais à saúde dos usuários, de

Tabela 1 - Principais requisitos para os níveis de segurança laboratorial.

------------Nível de biossegurança------------Requisitos

1 2 3 4

Isolamento do laboratório N N S SSala completamente vedada para a descontaminação N N S SÁreas de escritórios designados à administração e pesquisa fora das instalações debiocontenção N N S S

Local para acondicionamento de roupas e objetos pessoais fora das áreas de biocontenção R S S SRefeitório fora da área de biocontenção S S S SSímbolo de risco biológico afixado na porta de entrada e nas áreas de manipulação deagentes biológicos N S S S

Execução das atividades laboratoriais em dupla N N R SSistema para higienização e segurança: pias para lavagem das mãos com acionamentomecânico ou automático e chuveiro e lava-olhos S S S S

------------------------------------------------------------------------------Ventilação------------------------------------------------------------------------------Adução do ar N R S SSistema de ventilação controlada N R S SExaustor com filtros de alta eficiência (High Efficiency Particulated Air - HEPA) N N S SEntrada com porta dupla N N S SSistema de portas com travamento mecânico ou automático R R S SCâmara de vácuo (pressão negativa na área de biocontenção) N N S SCâmara de vácuo com ducha N N N SAntecâmara N N S –Antecâmara com chuveiros/duchas N N S NTratamento dos efluentes R R S SIncineração dos resíduos após a esterilização N N R S------------------------------------------------------------------------------Autoclave------------------------------------------------------------------------------In loco N R S SEm área separada, nas dependências do laboratório N N R SContendo duas portas N N R S

-------------------------------------------------------------Cabines de segurança biológica (CSB) -------------------------------------------------------------Classe I R R - -Classe II R S S -Classe III - - R SCircuito interno de imagem N N R SRegistro pelas autoridades sanitárias nacionais N N S SRoupas de proteção com pressão positiva e ventilação N N N/S* SUso EPIs S S S SCumprimento das BPLs S S S SIncineração dos resíduos após a esterilização N N N S

N- Não é mandatório; S- Uso é mandatório; R- Uso é recomendável. *Se houver risco de produção de aerossóis, é exigido o uso do traje depressão positiva e ventilação associado à utilização de CSB classe II. Fonte: Adaptado de PENNA et al. (2010).

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acordo com os limites estabelecidos na NR-6 do MTB(BRASIL, 1978), incluindo: máscaras autônomas decircuito aberto ou fechado para proteção das viasrespiratórias. As máscaras do tipo cirúrgicas não são

efetivas em proteger o indivíduo contra os aerossóis(h t tp : / / www.a n vi sa . gov.br /d ivu lga /publ ic /cartilha_mascara.pdf.). ii. EPCs: também devem seguiras especificações indicadas conforme a legislação

Tabela 2 - Resumo das características dos laboratórios de microbiologia e parasitologia de acordo com os níveis de biossegurança (NB).

NB Agente biológico Procedimentos Equipamentos de segurança(Barreira primária)

Infraestrutura(Barreira secundária) Exemplos

NB-1

Menor potencialpatogênico paraadultos sadios,incluindo os não-zoonóticos.

Boas práticaslaboratoriais (BPL)básicas são requeridas.

Usar EPIs conforme aatividade a serdesenvolvida.

Bancada aberta.

Vírus da: cinomose eda hepatite canina;bactérias e fungosutilizados na indústriaalimentícia efarmacêutica; entreoutros.

NB-2

Infecções nohomem, existindo orisco de ingestão einoculaçãopercutânea e mucosaem laboratoristas.

BPLs básicas, o acessoao recinto deve serlimitado; sinalizar asáreas de riscobiológico;descontaminar o lixo eresíduos; instituirprotocolos paraprimeiros socorros.

Cabines de segurançabiológica (CSB) de classe Ie II para manipular os víruse tudo o que produziraerossóis e derramamentos;usar jalecos, luvas, proteçãofacial, dependendo daatividade.

Assim como em NB-1 e autoclave.

Vírus da:influenza, rubéola,sarampo, caxumba;Leptospirainterrogans,,Staphylococcusaureus; Candidatropicalis, etc.Em geral, os parasitassão classificadoscomo agentes NB-2.

NB-3

Exóticos ouselvagens compotencial detransmissão poraerossóis e deprovocarenfermidade severae/ou letal

Todas as BPLs adotasno NB-2, e: o acessoao recinto deve sercontrolado;descontaminar o lixo eresíduos, bem como asroupas usadas nolaboratório antes dalavagem; coletarperiodicamente o sorodos profissionais eutilizar osimunoprofiláticosdisponíveis.

CSB de classe II e III paramanipular os vírus e tudoque produzir aerossóis ederramamentos; trajarroupas específicas para usorestrito no laboratório; EPIsde acordo com a atividade aser desempenhada, assimcomo uso de proteçãorespiratória.

NB-2 e: separaçãofísica dos corredorese das áreas decirculação, portasduplas comfechamentoautomatizado, fluxode ar direcional epressão negativa nosrecintos, sistema parafiltrar ar HEPA (HighEfficiency ParticulateAir).

Herpes vírus dossímios, hantavírus,vírus da encefaliteequina venezuelana;Mycobacteriumtuberculosis,Histoplasmacapsulatum entreoutros.

NB-4

Altamente perigososou exóticos,transmitidos poraerossóis,apresentando granderisco de causarmorte. Ainda nãocompletamentecaracterizados

BPL empregadas noNB-3 e: trocar deroupas antes de entrarnas áreas de riscobiológico; banho antesda saída dolaboratório; todomaterial deve serdescontaminado antesda remoção.

Todos os equipamentos doNB-3, e: CSB III e/ouvestimentas (macacão) compressão positiva emassociação com CSB II.

NB-3 e: prédioseparado ou áreaisolada com entrada esaída de arcontrolada, sistemade filtros HEPA,pressão negativa,sistema dedescontaminaçãocontrolado,autoclaves com duplaabertura e os resíduosdepositados emcontainersespecíficos.

Vírus Ebola, vírus deMarburg, vírus sabiá,vírus da febrehemorrágica Criméia-Congo, entre outros.

Fonte: Modificado a partir da NR-32 (BRASIL, 2005) e BRASIL (2006).

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7Princípios de biossegurança aplicados aos laboratórios de ensino universitário de microbiologia e parasitologia.

Ciência Rural, v.43, n.1, jan, 2013.

vigente (BRASIL, 1978) e as instruções que constamnos manuais disponíveis (WHO, 2004; CDC, 2009) eincluem: sinalização de segurança: nos laboratórios demicrobiologia e parasitologia, servem para indicar ondehá presença dos riscos. Exemplo: símbolo de riscobiológico afixado na porta de entrada nos locais demanipulação e armazenamento de agentes biológicos(a partir do NB-2); símbolos de líquidos inflamáveis,explosivos, produto tóxico, veneno, etc., para indicarpresença de risco químico; os símbolos de elementosradioativos, apontando para risco físico; mapa de risco,sinais para as saídas de emergência, escadas, extintoresde incêndio, faixas de demarcação, etc. Extintor deincêndio: o número, o tipo e a distribuição dessesextintores devem estar adequados; sua manutenção e/ou reposição devem ser periódicas, bem como o pessoaldo laboratório deve ser treinado para o seu uso. Capelaquímica: cabine construída de forma aerodinâmica, demaneira que o fluxo de ar ambiental não ocasioneturbulências e correntes, reduzindo o perigo de inalaçãoe a contaminação do operador e do ambiente. Borrifadorde teto: sistema de segurança acionado pela elevaçãode temperatura, lançando fortes jatos de água noambiente. Luz ultravioleta (UV): lâmpadas germicidas,com comprimento de onda ativo de 240nm. Devem estarpresentes nas cabines de segurança biológica, tem açãoefetiva por 15 minutos e o tempo médio de uso éaproximadamente de 3.000 horas. Pipetadores e pipetasmecânicos e automáticos: dispositivos de sucção parapipetas e ponteiras, como: pera de borracha, pipetadorautomático, pipetas mono e multicanais, etc. Contençãopara equipamentos como: homogeneizador, agitador,ultrassom, etc. Equipamentos produtores de aerossóisdevem ser cobertos com anteparo autoclavável e,preferencialmente, abertos dentro das cabines desegurança biológica. Containers para desprezar osmateriais contaminados e pérfuro-cortantes: precisamestar disponibilizados recipientes resistentes eautoclaváveis para desprezar os materiais que irão parao descarte. Conjunto (kit) de primeiros socorros:compostos por material comumente preconizado parasocorro imediato e antídotos especiais para produtostóxicos usados nos laboratórios de ensino demicrobiologia e parasitologia. Chuveiro e lava-olhos:devem estar presentes em todos os laboratórios emperfeito estado de funcionamento e higienizado. A águapara os lava-olhos deve ser preferencialmente filtrada.Cabine de segurança biológica (CSB): classes I e II(BRASIL, 2006).

Boas práticas laboratoriais (BPLs)Conforme MASTROENI (2005) e ARAÚJO

et al. (2009), as BPLs padrões constituem um conjuntode normas, procedimentos e atitudes de segurança, as

quais visam a minimizar os acidentes que envolvem asatividades desempenhadas pelos laboratoristas, bemcomo incrementam a produtividade, asseguram amelhoria da qualidade dos serviços desenvolvidos noslaboratórios de ensino de microbiologia e parasitologiae, ainda, auxiliam a manter seguro o ambiente. Autilização das BPLs requer a aplicação do bom senso eprudência dos profissionais e acadêmicos aodesenvolver cada atividade. Cabe aos coordenadorese professores dos laboratórios de ensino demicrobiologia e parasitologia o incentivo e afiscalização da aplicação das normas e dosprocedimentos padrões e específicos, permitindo, comisso, a manutenção de um ambiente seguro e confiávela toda equipe do laboratório. As BPLs padrões noslaboratórios de ensino de microbiologia e parasitologiadevem ser conhecidas, aplicadas por todos os usuáriose compreendem:1. restringir o acesso de pessoas ao laboratório,somente os indivíduos autorizados peloscoordenadores e professores podem ingressar nosambientes laboratoriais;2. observar os princípios básicos de higiene, entreeles: manter as mãos limpas e unhas aparadas; semprelavar as mãos antes e após vários procedimentos(manuseio de materiais biológicos viáveis; uso dasluvas; antes de sair do laboratório; antes e após aingestão dos alimentos e bebidas, etc.). Se não existirempias no local, deve-se dispor de líquidos anti-sépticospara limpeza das mãos;3. proibir: a ingestão e/ou o preparo de alimentos ebebidas, fumar, mascar chicletes, manipular lentes decontato, a utilização de cosméticos e perfumes, oarmazenamento de alimentos para consumo nas áreasde manipulação de agentes biológicos e químicos. Emtodos os laboratórios deve haver uma área designadacomo refeitório;4. pipetar com a boca é expressamente proibido ejamais se deve colocar na boca objetos de uso nolaboratório (canetas, lápis, borrachas, pipetas, entreoutros);5. utilizar calçados de proteção: fechados,confortáveis, com soldado liso e antiderrapante;6. usar as luvas de procedimentos somente nasatividades laboratoriais e evitar tocar em objetos deuso comum;7. trajar roupas de proteção durante as atividadeslaboratoriais, como: jalecos, aventais, macacões, entreoutros. Essas vestimentas não devem ser usadas emoutros ambientes fora do laboratório, como: escritório,biblioteca, salas de estar e refeitórios;8. evitar o uso de qualquer tipo de acessórios/adornos durante as atividades laboratoriais;

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8 Sangioni et al.

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9. manter os artigos de uso pessoal fora das áreasdesignadas às atividades laboratoriais;10. organizar os procedimentos operacionais padrões(POP) para o manuseio dos equipamentos e técnicasempregados nos laboratórios;11. garantir que a limpeza dos laboratórios (bancadas,pisos, equipamentos, instrumentos e demaissuperfícies) seja realizada regularmente antes eimediatamente após o término das atividadeslaboratoriais. Em caso de derramamentos, dependendodo tipo e quantidade de material biológico disseminado,pode-se empregar, para a descontaminação do local:álcool a 70% ou solução de hipoclorito de sódio,preferencialmente, a 10%, deixando agir por 30 minutose após remover com papel absorvente;12. assegurar que os resíduos biológicos sejamdescontaminados antes de ser descartados;13. manusear, transportar e armazenar materiais(biológicos, químicos e vidrarias) de forma segura paraevitar qualquer tipo de acidente. O manuseio deprodutos químicos voláteis, metais, ácidos e basesfortes, entre outros, necessita ser realizado em capelade segurança química. As substâncias inflamáveisprecisam ser manipuladas com extremo cuidado,evitando-se proximidade de equipamentos e fontesgeradoras de calor;14. usar os EPIs adequados durante o manuseio deprodutos químicos;15. identificar adequadamente todos os produtosquímicos e frascos com soluções e reagentes, os quaisdevem conter a indicação do produto, condições dearmazenamento, prazo de validade, toxidade do produtoe outros;16. acondicionar os resíduos biológicos e químicosem recipientes adequados, em condições seguras eencaminhá-los ao serviço de descartes de resíduos doslaboratórios para receberem o seu destino final;17. afixar a sinalização adequada nos laboratórios, entreelas, incluir o símbolo internacional de “Risco Biológico”na entrada dos laboratórios a partir do NB-2;18. instituir um programa de controle de roedores evetores nos laboratórios;19. evitar trabalhar sozinho no laboratório e jornadasde trabalho prolongadas;20. providenciar treinamento e supervisão aosiniciantes nos laboratórios;21. disponibilizar kits de primeiros socorros epromover a capacitação dos usuários em segurança eemergência nos laboratórios.

CONCLUSÃO

As atividades de ensino, pesquisa eextensão praticadas nos laboratórios de ensino de

microbiologia e parasitologia das universidadesbrasileiras abrangem as diferentes áreas doconhecimento e no seu desenvolvimento existe apresença de riscos. Esse fato demanda a necessidadede normas de segurança destinadas à análise edesenvolvimento de estratégias para minimizá-los,sendo esta a principal função da biossegurança. Adeterminação dos níveis de contenção deve serpriorizada nos laboratórios das universidades, pois,com o surgimento de novas tecnologias, osprocedimentos operacionais para a manipulação deagentes biológicos patogênicos deverão ser adequadospara garantir a segurança dos profissionais, acadêmicose do meio ambiente.

Devido ao fator humano estar implicado àscausas de acidentes em laboratórios, o maior esforçodeve estar direcionado aos aspectos de educação embiossegurança, que devem estar presentes no cotidianodas instituições de ensino. Salienta-se que algunsindivíduos tendem somente a levar em consideração aexecução das atividades e menosprezar os riscos, sendoque esta postura não pode ser admitida em qualquerambiente laboratorial. Para que um programa deeducação em biossegurança seja efetivo, é necessárioque todos os usuários dos laboratórios estejamdevidamente informados acerca dos princípios debiossegurança, bem como aptos a colocá-los em práticade maneira correta, a fim de manter o ambiente seguro.

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