principais desenvolvimentos das polÍticas de famÍlia · 2019. 12. 18. · principais...

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PRINCIPAIS DESENVOLVIMENTOS DAS POLÍTICAS DE FAMÍLIA EM PORTUGAL UID/SOC/50013/2019 Observatório das Famílias e das Políticas de Família www.observatoriofamilias.ics.ul.pt AUTORIA MAFALDA LEITÃO RELATÓRIO 2016-2017 REVISÃO RITA CORREIA [email protected] OFAP / ICS-ULisboa VANESSA CUNHA LILIANE MOSER NISFAPS - PPGSS - UFSC OFAP / ICS-ULisboa

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  • PRINCIPAIS

    DESENVOLVIMENTOS

    DAS

    POLÍTICAS

    DE

    FAMÍLIAEM

    PORTUGAL

    UID/SOC/50013/2019

    Observatório das Famílias e das Políticas de Famíliawww.observatoriofamilias.ics.ul.pt

    AUTORIA

    MAFALDA LEITÃO

    RELATÓRIO 2016-2017

    REVISÃO

    RITA CORREIA

    [email protected]

    OFAP / ICS-ULisboa

    VANESSA CUNHA LILIANE MOSERNISFAPS - PPGSS - UFSCOFAP / ICS-ULisboa

  • Observatórios do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa

    Avenida Professor Aníbal de Bettencourt, 9

    1600-189 LISBOA

    Telefone: 21 780 47 00 – Fax: 21 794 02 74

    Observatório das Famílias e das Políticas de Família -Relatório 2018

    Leitão, Mafalda

    Lisboa: Observatórios do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa,

    2019

    ISBN 978-972-671-554-2

    Agradecimentos:

    Ao Professor Henrique Vasconcelos (ISEG-ULisboa), pela sua colaboração no

    tratamento de dados relativos ao Abono de Família. Ao Instituto de Informática e

    Estatística da Segurança Social, I.P., e em particular à Dra. Ana Cristina Duarte Veiga,

    pela disponibilização de dados relativos ao gozo das licenças parentais.

  • ÍNDICE

    Nota Introdutória

    Sumário …………………………………….……………....………………………….

    3

    1. Organismos, programas e objetivos……………….………...………….. 13

    2. Apoio económico às famílias………………………..………….…..…….. 20 2.1 Abono de família……………………………………...………..…...……. 20

    2.2 Rendimento social de inserção…………………..…………....……….. 34

    2.3 Complemento solidário para idosos……………….………….….……. 42

    2.4 Prestação social para a inclusão………………...…….…...….…...…..

    2.5 Subsídio de desemprego ………..…….……...…...….……………...…

    46

    49

    2.6 Outros apoios económicos…………...….….....…….…………............ 57

    3. Fiscalidade e família…………………………..……….……………………

    4. Regulação das relações familiares………..…………..……………….... 4.1 Procriação medicamente assistida……………..………….……………

    4.2 Adoção de crianças por casais do mesmo sexo…………...…….……

    63

    69

    69

    70

    5. Conciliação família/trabalho……………………………...…………......… 72 5.1 Equipamentos e serviços – creches……….……………..…...……….. 72

    5.2 Equipamentos e serviços – pré-escolar…………...……………….….. 76

    5.3 Atividades de enriquecimento curricular…………..…………………...

    5.4 Equipamentos e serviços – centro de dia, lares e apoio domiciliário.

    79

    81

    5.5 Regimes de licenças – licenças parentais………...…..……….……… 83

    Referências Bibliográficas…………………..………………………….………….. 94

  • Nota Introdutória

    O Observatório das Famílias e das Políticas de Família (OFAP) é um dos Observatórios do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa), que têm como missão fundamental dialogar e partilhar, com a sociedade e os seus diversos atores, o conhecimento científico produzido no âmbito das ciências sociais.

    O OFAP foi idealizado e criado por Karin Wall há praticamente uma década, com o principal objetivo de “aprofundar e divulgar o conhecimento sobre as famílias e as políticas de família na sociedade portuguesa”, como se explicita na apresentação do seu website. Desde então que assim temos feito, procurando responder a esse objetivo com trabalho rigoroso, tão regular quanto nos é possível, dirigido a um público vasto e claramente orientado para a tomada de decisão política.

    Neste âmbito destacam-se, sem dúvida, os Relatórios do OFAP, que ao longo desta segunda década do século XX têm vindo a marcar presença no panorama da divulgação do conhecimento sobre famílias e políticas de família, ao “acompanhar a evolução das formas e dinâmicas da vida familiar (…) e monitorizar e divulgar a legislação e as políticas de família - ou seja, as ações governamentais e outras iniciativas que regulam e apoiam a vida familiar em Portugal”.

    Vários foram os/as colegas que colaboraram assiduamente com a Karin Wall nesta missão, contribuindo para a produção e a redação dos Relatórios do OFAP, como a Susana Atalaia e a Sofia Marinho. Mas quero destacar aqui o contributo inestimável da Mafalda Leitão, o elo precioso de ligação entre todos os relatórios, desde o primeiro. A Mafalda Leitão não só tem sido a principal responsável pela recolha, pelo tratamento e pela análise da informação, como tem deixado a sua marca pessoal, pautada pela clareza e pelo detalhe e rigor. O presente relatório, que procura mapear as mudanças ocorridas em 2016 e 2017, mas conferindo-lhes a necessária densidade temporal para a sua cabal compreensão, é sem dúvida disso exemplo.

    Como nota final, gostaria de asseverar que os objetivos e a missão do OFAP em nada se alteraram com a mudança da coordenação em meados de 2018, na sequência da tomada de posse da Karin Wall enquanto Diretora do ICS-ULisboa, pelo que quero deixar aqui o meu agradecimento público à Karin Wall, que formou, coordenou e sempre confiou nesta equipa; e à Mafalda Leitão, que tem materializado, através dos Relatórios, o objetivo de produzir e disseminar “conhecimento sobre as famílias e as políticas de família na sociedade portuguesa”.

    Quanto ao próximo Relatório do OFAP, com os desenvolvimentos relativos a 2018, não tardará a chegar. Fica aqui o compromisso!

    Lisboa, 11 de junho de 2019

    Vanessa Cunha

    Coordenadora do OFAP

  • 3

    Sumário

    Este Relatório monitoriza o desenvolvimento das principais políticas de família entre

    2016 e 2017, de acordo com as áreas de intervenção habitualmente analisadas: apoio

    económico, regulação das relações familiares e conciliação família/trabalho

    (equipamentos, serviços e licenças parentais).

    Trata-se de um período que marca uma diferença em relação à política de austeridade

    que afetou a generalidade dos apoios sociais e das políticas de apoio à família nos cinco

    anos anteriores, entre novembro de 2010 e novembro de 2015. Esta diferença

    enquadra-se numa conjuntura económica que é comparativamente mais favorável e

    concretiza-se na política de um novo governo, do Partido Socialista (PS), saído das

    eleições legislativas realizadas em 4 de outubro de 2015. O novo governo tem António

    Costa como Primeiro-Ministro e tomou posse em novembro de 2015; não tem maioria

    absoluta, mas conta com o apoio de uma maioria parlamentar de esquerda (Partido

    Comunista Português e Bloco de Esquerda).

    É neste contexto que 2016 e 2017 são anos de reposição ou de reforço de algumas das

    medidas mais afetadas durante a política de austeridade iniciada em novembro de 2010,

    ainda durante o governo do Partido Socialista liderado por José Sócrates (2005-2009 e

    2009-2011), e que foi prosseguida e acentuada pelo governo de coligação PSD/CDS-

    PP (Partido Social Democrata e Partido do Centro Democrático Social, Partido Popular)

    liderado por Pedro Passos Coelho (2011-2015), Primeiro-Ministro durante os anos de

    implementação do Programa de Ajustamento Económico e Financeiro do FMI - Fundo

    Monetário Internacional (2011-2014). Podemos assim considerar que, após cortes

    severos nos apoios económicos e no rendimento das famílias entre 2010 e 2015, inicia-

    se, em 2016, uma fase em que se procura inverter a política anterior por via da reposição

    gradual de alguns dos apoios económicos, bem como por via do alívio da carga fiscal

    sobre o rendimento. Contudo, como veremos ao longo deste relatório, trata-se de uma

    reposição ainda tímida que, em algumas das medidas, não chega a retomar os

    montantes em vigor em 2009, i.e., no período pré-crise.

    Cerca de um mês após a tomada de posse do novo governo, são publicadas em Diário

    da República várias medidas que visam recuperar os apoios económicos mais atingidos,

  • 4

    designadamente: o Abono de Família, o Rendimento Social de Inserção e o

    Complemento Solidário para Idosos.

    O Abono de Família (2.1), sem aumento desde 2010, é alvo de atualização anual a partir de 2016 e, em 2017, os seus montantes começam a ser progressivamente

    reforçados para as crianças entre os 12 e os 36 meses de idade, à semelhança do

    reforço que, desde 2003, é atribuído durante o primeiro ano de vida. Este apoio

    reforçado até ao terceiro aniversário da criança marca uma diferença significativa em

    relação ao período pré-crise. Porém, é importante notar que no 1º e 2º escalões de

    abono, os montantes a receber até ao primeiro aniversário da criança não retomam os

    valores anteriores à crise. Por outro lado, embora se recupere parcialmente o 4º escalão

    (que é reintroduzido em 2017 apenas para as crianças menores de três anos), mantém-

    se na generalidade o corte que reduziu os escalões de abono de cinco (em vigor até

    2009) para três (a partir de novembro de 2010). Além disso, os intervalos de

    rendimentos de referência usados como critérios de elegibilidade mantêm-se

    praticamente os mesmos, excluindo desta prestação muitas crianças/jovens de

    agregados familiares de baixos e médios rendimentos; mantêm-se também

    relativamente residuais os montantes pagos por criança a partir dos 3 anos de idade,

    que continuam a ter como máximo um valor na ordem dos trinta e seis euros mensais.

    Por conseguinte, esta principal prestação de apoio económico às famílias continua com

    o seu carácter acentuadamente seletivo, o que nos leva a questionar se o Abono de

    Família é uma prestação de apoio financeiro dirigida às famílias com crianças/jovens a

    cargo ou se é, efetivamente, uma prestação que visa combater e/ou reduzir a pobreza

    das famílias de muito baixos rendimentos. Ainda assim, tal como mencionado, entre o

    universo de crianças e jovens que são seus beneficiários, a partir de 2017 os montantes

    a receber mensalmente são significativamente reforçados até aos três anos de idade,

    tendo sido anunciada a promessa de estender este reforço até aos seis anos de idade.

    Assinalamos, também, a importância da constância dos apoios introduzidos há cerca de

    dez anos: o abono pré-natal e as majorações atribuídas por família numerosa e por

    monoparentalidade (esta última igualmente aumentada, em 2016, de 20 para 35%); e

    as bolsas de estudo (2.1) para os estudantes do ensino secundário, até aos 18 anos, beneficiários do 1º e 2º escalão. Por fim, registamos também como positivo o facto de o

    Abono de Família acompanhar os seus beneficiários ao longo de uma fase importante

    do ciclo de vida - a infância e a juventude - desde o período pré-natal (Abono de Família

    Pré-Natal pago a partir da 13ª semana de gravidez até ao nascimento) até ao fim dos

    seus estudos no ensino secundário ou superior, neste caso, podendo estender-se até

    aos 24 anos (27, em caso de deficiência).

  • 5

    Paralelamente ao aumento dos montantes de Abono de Família, as famílias contam com

    mais dois apoios importantes que antes eram seletivos (dependiam da elegibilidade aos

    dois primeiros escalões do abono) e passaram a universais: a gratuitidade/descontos dos manuais escolares e os descontos nos passes sociais (2.6). Estas duas medidas visam universalizar o respetivo acesso: 1) a partir do ano letivo de 2016/2017,

    os manuais escolares passam a ser gratuitos para todas as crianças matriculadas no 1º

    ciclo do ensino básico público, tendo sido anunciado o seu alargamento aos alunos do

    2º ciclo (5º e 6º ano), para 2018/2019, e até ao 12º ano a partir de 2019/2020; 2) a partir

    do ano letivo 2017/2018, retomam-se os descontos nos passes sociais para crianças (a

    partir dos 4 anos) e jovens estudantes (até aos 23 anos de idade no ensino superior).

    Estes descontos eram de 50% para todas as crianças e jovens estudantes no período

    pré-crise, mas foram eliminados em 2012 (com exceção dos descontos sujeitos a

    condição de recurso); ou seja, o desconto regressa e passa a ser de 25% ao invés de

    50%, mas retoma o seu carácter universal ao mesmo tempo que mantém o desconto

    maior (60%) sujeito a condição de recurso (por exemplo, 1º escalão Abono de Família).

    Esta iniciativa não coloca em causa a gratuitidade de transporte, na carris e metro,

    instituída em janeiro de 2017 para as crianças entre os 4 e os 12 anos de idade que

    viagem com o cartão Lisboa Viva (Município de Lisboa).

    Além destes dois apoios, as crianças e os jovens estudantes até aos 16 anos a

    frequentar escolas públicas ou instituições particulares de solidariedade social (IPSS)

    continuam a ter acesso aos Cheques Dentista (2.6) introduzidos em 2009, medida que, a partir de março de 2016, passa a incluir mais beneficiários (alargamento aprovado

    pelo anterior governo), nomeadamente os jovens até aos 18 anos, já utilizadores deste

    programa nacional de saúde oral, e as crianças com 7, 10 e 13 anos com necessidades

    de saúde especiais.

    Ainda sobre os apoios especificamente dirigidos a crianças, a elegibilidade ao Fundo de garantia de alimentos devidos a menores (2.6) – fundo a partir do qual o Estado garante o pagamento da pensão de alimentos de crianças e jovens menores de 18 anos

    de idade quando, após um divórcio ou uma separação, o progenitor obrigado pelo

    Tribunal não cumpre aquele dever de pagamento – mantém-se dependente de condição

    de recurso e continua a ter como limite máximo de rendimento de referência do

    agregado familiar o valor do IAS, ou seja, 421,32 euros (até 2012 este limite

    correspondia a um salário mínimo).

  • 6

    No que diz respeito às medidas de combate à pobreza e exclusão social dirigidas à

    população em situação de grave carência económica - Cantinas Sociais, Rendimento

    Social de Inserção e Complemento Solidário para Idosos - também se registam

    alterações.

    As Cantinas Sociais do anterior Programa de Emergência Social (PES) são substituídas

    por um novo modelo de distribuição de Cabazes de Alimentos (1.) (POAPMC - Programa Operacional de Auxílio às Pessoas Mais Carenciadas 2014-2020); com este

    modelo, o governo entende promover uma maior autonomização e responsabilização

    dos indivíduos e das famílias, em alternativa ao modelo anterior de fornecimento de

    refeições já confecionadas.

    Relativamente ao Rendimento Social de Inserção (RSI) (2.2), uma das primeiras medidas do novo governo após tomar posse, em novembro de 2015, foi a reposição de

    alguns dos valores de referência em vigor no período pré-crise, nomeadamente os

    montantes a receber por cada criança/jovem menor de 18 anos e por cada adulto além

    do primeiro. Paralelamente, facilitam-se as condições de elegibilidade e de renovação

    anual desta prestação, medidas que se refletem numa subida ligeira do número de

    beneficiários em 2017 após descida contínua desde 2010. Embora as prestações de

    RSI ainda se situem globalmente abaixo dos valores praticados em 2009, as famílias

    mais numerosas e com crianças/jovens a cargo veem este apoio reforçado a partir de

    2016, comparativamente ao período 2012-2015.

    No caso da população idosa carenciada, o governo não só recupera de imediato os

    anteriores e mais favoráveis limites de rendimento para aceder ao Complemento Solidário para Idosos (CSI) (2.3), como os aumenta progressivamente e estende a elegibilidade desta prestação aos beneficiários da pensão social por invalidez. Ou seja,

    no que diz respeito ao Complemento Solidário para Idosos, a elegibilidade não só é

    retomada como melhorada comparativamente a 2009. Contudo, o aumento progressivo

    da idade de acesso e o facto de os rendimentos dos/as filhos/as continuarem a contar

    para o apuramento do rendimento do/a idoso/a ainda restringem e inibem o acesso a

    este complemento; em 2017 são elegíveis pessoas com mais de 66 anos e três meses

    e cujo rendimento de referência anual do agregado familiar não seja superior a 5.084,30

    Euros (pessoa só).

    Note-se que as famílias carenciadas, nomeadamente aquelas que são beneficiárias do

    Abono de Família, do Rendimento Social de Inserção e do Complemento Solidário para

  • 7

    Idosos também continuam a beneficiar de outros apoios como, por exemplo, Tarifas Sociais de Gás Natural e de Eletricidade (2.6).

    Para a população mais vulnerável, o governo cria duas novas prestações: a Prestação Social para a Inclusão (2.4) e a Medida Extraordinária de Apoio aos Desempregados de Longa Duração (2.5). A primeira tem por objetivo melhorar o apoio e a autonomia económica das pessoas com deficiência da qual resulte um grau de

    incapacidade igual ou superior a 60 %, que tenham 18 ou mais anos de idade e cuja

    certificação de incapacidade tenha sido requerida antes dos 55 anos. Vem substituir o

    subsídio mensal vitalício e a pensão social de invalidez e apresenta a inovação de poder

    ser acumulada com rendimentos próprios da pessoa com deficiência, não penalizando

    a sua participação laboral. Para além disso, pode ser ainda alvo de um complemento

    e/ou de uma majoração nas situações de maior carência económica. A segunda medida

    destina-se a apoiar os desempregados cujo subsídio social de desemprego tenha

    terminado há 360 dias; é paga durante seis meses e, tal como acontece com o subsídio

    social de desemprego, também está sujeita a condição de recurso.

    Tal como mencionado acima, comparativamente ao período 2010-2014/15, a política do

    novo governo insere-se numa conjuntura económica mais favorável; a taxa de

    desemprego desce (16,2% em 2013, 11,1% em 2016 e 8,9% em 2017) e a taxa de

    emprego sobe 1,7% entre 2016 e 2017 (INE); enquanto o Produto Interno Bruto (PIB),

    em crescimento negativo entre 2011 e 2013, regista uma taxa de crescimento real de

    0,9% em 2014, 1,8% em 2015, 1,4% em 2016 e 2,5% em 2017 (Pordata). O número de

    beneficiários do Subsídio de Desemprego (2.5) reflete a melhoria destes indicadores, embora o desemprego de longa duração continue a ser muito significativo. As

    prestações por desemprego (subsídio de desemprego e subsídio social de desemprego)

    mantêm várias das restrições e medidas introduzidas durante o período da crise: os

    prazos de garantia e os períodos de concessão continuam a variar em função da idade

    e do número de anos de descontos; no subsídio de desemprego, o teto máximo de duas

    vezes e meia o valor do IAS e o corte de 10 por cento após seis meses de concessão

    também se mantêm, se bem que o governo tenha anulado esta última medida em 2017

    nas situações em que resulte um subsídio de montante inferior ao valor do IAS (421,32

    euros em 2017).

    Em síntese, sobre os apoios económicos, o governo aumenta o apoio financeiro às

    famílias e alivia a carga fiscal sobre o rendimento do trabalho por via da redução e

    eliminação progressiva da sobretaxa de 3,5% no IRS. Contudo, em matéria de

  • 8

    fiscalidade e família, a substituição do Quociente Familiar (que só esteve em vigor em

    2015) pelo Quociente Conjugal (3.), que o novo governo retoma a partir de 2016, divide as opiniões entre os que consideram que as famílias com filhos dependentes saem

    penalizadas face às que não têm filhos a cargo, e entre os que defendem que o

    Quociente Familiar é uma medida regressiva que vem principalmente favorecer as

    famílias com (mais) filhos de rendimentos elevados; uma discussão pertinente, e ainda

    não esgotada, num país que tem uma das mais baixas taxas de natalidade do mundo

    (índice sintético de fecundidade de 1,36 em 2016 e 1,37 em 2017).

    Os indicadores analisados na rubrica da Conciliação Família/Trabalho (5.) apontam para a consolidação das Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC’s) (5.3) de oferta gratuita para as crianças matriculadas no 1º ciclo do ensino básico em escolas da rede

    pública: 99,7% oferecem estas atividades garantindo, deste modo, a permanência das

    crianças nas escolas, no mínimo, até às 17h30 e sem custos adicionais para as famílias.

    No entanto, no que diz respeito às Taxas de Cobertura das Creches (5.1), observa-se uma certa estagnação. Após uma tendência de subida moderada e constante

    (sobretudo devido à diminuição da população residente desta faixa etária por via da

    descida da natalidade), assiste-se, pela primeira vez, a uma descida da taxa de

    cobertura de 51,1%, em 2015, para 50,3%, em 2016, e para 49,1%, em 2017, descida

    que se deve ao aumento ligeiro do número de nascimentos em 2015 e 2016 e ao

    abrandamento do investimento em equipamentos de creche desde 2011. Na rede de

    ensino pré-escolar (3-5 anos) também se observa alguma estagnação. A Taxa de Pré-escolarização (5.2) manteve-se praticamente constante desde 2012, mas sobe ligeiramente em 2017 registando uma média de 90,8% (3-5 anos). No caso das crianças

    de 5 anos de idade, a média nacional situa-se em 94,8% no ano letivo 2015/2016, depois

    de já ter atingido os 97,9% em 2010/2011.Tomando como referência a meta da Europa

    2020 para a escolarização das crianças entre os 4 anos e a idade de início da

    escolaridade obrigatória (95%), Portugal regista um valor inferior em 2015 (93,6%)

    depois de ter atingido aquela meta em 2012/2013. Considerando o total de crianças

    inscritas no ensino pré-escolar, apenas 53% estão na rede pública, comparativamente

    a 75% da média da UE22 e 67% da média da OCDE. Destaca-se a este respeito o

    anúncio por parte do governo de vir a garantir a universalização do pré-escolar a partir

    dos 4 anos até 2018 (já aprovado em 2015 pelo anterior governo); e a partir dos 3 anos

    para o ano letivo 2018/2019. Assinala-se também que, embora em termos absolutos o

    número de crianças inscritas no ensino pré-escolar tenha diminuído, mantém-se uma

    procura elevada pela rede pública a par de uma oferta aquém das necessidades,

    sobretudo nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, onde a taxa de pré-escolarização

  • 9

    permanece abaixo das médias nacionais, as quais incluem a rede pública e a rede

    privada lucrativa e solidária.

    Já no que diz respeito aos Serviços e Equipamentos para a População Idosa de idade igual ou superior a 65 anos (5.4), o investimento em novos equipamentos nas respostas Lar e em Serviços de Apoio Domiciliário não consegue compensar o aumento

    da população desta faixa etária na população residente, situando-se a média nacional

    das três principais respostas sociais – Centros de Dia, Apoio Domiciliário e Lares – em

    12,9% em 2016 (Carta Social). No entanto, considerando só a resposta Lar e a

    população de idade igual ou superior a 80 anos, com base nas estimativas do INE sobre

    a população portuguesa, apontamos para uma taxa de cobertura de 16,2%; no caso do

    Apoio Domiciliário, a taxa de cobertura apurada pelo OFAP face à população com idade

    igual ou superior a 75 anos situa-se em 10,9%.

    No que concerne à legislação sobre Licenças Parentais (5.5), observamos que a elegibilidade à principal licença associada ao nascimento de uma criança – Licença Parental Inicial – abrange mais de oitenta por cento dos nascimentos, para o que também contribuem os subsídios sociais criados em 2008 (destinados a indivíduos sem

    carreira contributiva, ou insuficiente, e com rendimentos inferiores a 80% do IAS). A

    expressividade destes subsídios sociais no total dos subsídios concedidos ainda é

    relevante situando-se na ordem dos 17,8% em 2017. Relativamente à Partilha da Licença Parental Inicial em pelo menos um mês entre a mãe e o pai (5.5), é interessante notar que, mesmo em contexto de crise económica e de descida da

    natalidade (com a consequente descida do número de subsídios parentais concedidos),

    esta partilha continua a aumentar de forma constante, ainda que moderada, tanto em

    número absoluto como em termos percentuais. Em 2017, cerca de 34% das licenças

    parentais iniciais são partilhadas e a maioria dos casais opta pelo período mais longo

    de licença (180 dias). Mas esta partilha alternada que supõe e incita o pai a cuidar em

    exclusivo do bebé, após o regresso da mãe ao trabalho, ainda enfrenta resistências,

    pois as percentagens de utilização mantêm-se aquém do seu potencial. Já no que diz

    respeito às Licenças Exclusivas do Pai (5.5), as percentagens de utilização são comparativamente mais elevadas. Verificamos que há um diferencial na ordem de 10

    p.p. entre os que gozam os 15 dias úteis obrigatórios (71,2% sobre o total de

    nascimentos) e os que também gozam os 10 dias úteis opcionais (62% sobre o total dos

    nascimentos); valores que sobem para 87,2% e 74,5%, respetivamente, se fizermos o

    cálculo sob o total de licenças parentais iniciais concedidas. Portanto, a maioria dos

    homens que usa a licença parental exclusiva do pai obrigatória também utiliza a licença

  • 10

    opcional para ficar em casa (no total 25 dias úteis) enquanto a mãe também está de

    licença. Note-se que, em 2016, a licença obrigatória aumentou mais 5 dias úteis (medida

    aprovada em 2015 pelo anterior governo) passando de 10 para 15 dias úteis. O governo

    do Partido Socialista anunciou, entretanto, um aumento de mais 5 dias obrigatórios, a

    aplicar a partir de 2019, em detrimento da licença opcional do pai que poderá assim

    descer de 10 para 5 dias úteis. Outra das alterações esperadas nesta matéria remete

    para as implicações que a alteração da Lei da Procriação Medicamente Assistida (4.1) - desde 2016 acessível a todas as mulheres independentemente da sua orientação sexual e estado civil - e a alteração da Lei da Adoção de Crianças por Casais do mesmo Sexo (4.2) irão trazer do ponto de vista da elegibilidade às licenças parentais. Nos casos em que há duas mães ou dois pais, ambos passarão a ter direito às licenças

    nos mesmos moldes dos casais heterossexuais, aguardando-se a consequente

    alteração da lei nesta matéria.

    Por fim, do ponto de vista dos organismos que tutelam as políticas de família (1.), assinalamos alguma dinâmica por parte do governo pelo facto de concretizar,

    finalmente, a aguardada operacionalização do Conselho Nacional para as Políticas de Solidariedade, Voluntariado, Família, Reabilitação e Segurança Social, criado em 2011. Precisamente, uma das Comissões Temáticas deste Conselho é a Comissão

    para as Políticas Sociais e de Família, esperando-se futuros desenvolvimentos a nível

    de propostas concretas, mas também de debates participados por várias organizações

    da sociedade civil.

    A análise aqui apresentada dá conta do esforço do governo em repor o apoio económico

    às famílias, estratégia que, em 2016 e 2017, se refletiu no aumento da despesa do

    Estado em várias das políticas aqui analisadas, ao contrário do que vinha acontecendo

    durante o período mais crítico da crise entre 2010 e 2014. Não obstante, em

    percentagem do PIB, a despesa do Estado português em medidas de apoio às famílias

    – designadamente, transferências financeiras, serviços/equipamentos e benefícios

    fiscais (family benefits, segundo a OCDE) – é uma das mais baixas da OCDE, situação

    que se agravou durante a política de austeridade. Depois de já ter atingido o seu valor

    mais elevado em 2009 (1,64% do PIB), desceu para 1,43% em 2013) quando a média

    da Europa e dos países da OCDE se situava, respetivamente, em 2,76% e 2,43%

    (OCDE Family Database). Os dados de 2015 apontam para a continuidade da posição

    desfavorável de Portugal (1,50%) face à média europeia (2,70%) e média dos países da

    OCDE (2,40%). Efetivamente, se considerarmos a evolução da despesa com o Abono de Família a preços constantes (2.1), acabamos por verificar que, mesmo com a

  • 11

    despesa reforçada de 2016 e de 2017, os valores ainda se situam ao nível dos

    registados em período de crise, isto é, distantes dos registados em 2008 e 2009.

    Tal como referimos no início, esta retoma do apoio económico às famílias ainda é algo

    tímida, pois não recupera completamente o apoio de que as famílias beneficiavam em

    2009. Portanto, apesar da redução das taxas de risco de pobreza em 2016 (18,3%) e

    2017 (17,3%), comparativamente a 2014 (19,5%) e 2015 (19%) (Inquéritos às

    Condições de Vida e Rendimento do INE), Portugal continua a ser um país onde as

    pessoas sós e as famílias com crianças (nomeadamente as monoparentais e as

    numerosas) registam taxas de privação material acima da média (Observatório das

    Desigualdades). Ou seja, as Políticas de Família em Portugal continuam a ter como

    principais desafios: a taxa de risco de pobreza que, após as transferências sociais,

    continua a ser sistematicamente mais elevada nas crianças e jovens menores de 18

    anos (20,7% em 2016 e 18,9% em 2017), nas pessoas idosas (17% em 2016 e 17,7%

    em 2017), nas famílias com crianças dependentes (19,7% em 2016 e 18,1% em 2017),

    nas famílias numerosas com dois adultos e três ou mais crianças (41,4% em 2016 e

    31,6% em 2017), e nas famílias monoparentais com pelo menos uma criança

    dependente (33,1% em 2016 e 28,2% em 2017) (Dados do Inquérito do INE às

    Condições de Vida e Rendimento, realizado em 2018).

    Concluindo, verificamos que, não obstante a seletividade e o carácter ainda residual do

    apoio económico às famílias em Portugal, de um modo global , e comparativamente ao

    período 2011-2015, as políticas de família assumem em 2016 e 2017 uma dimensão

    mais explícita: deixam de estar “diluídas” nas políticas de solidariedade, promovem

    maior autonomia dos indivíduos e das famílias, por via do reforço dos seus direitos aos

    benefícios sociais, assim como recuperam uma maior visibilidade institucional dos

    organismos de tutela por via da redefinição da Comissão para as Políticas Sociais e

    Políticas de Família. Paralelamente, almejam uma maior universalidade dos apoios,

    procuram integrar e abranger maior diversidade de modelos de família e de vida

    conjugal e elegem, como desafios importantes, a promoção da natalidade e da

    igualdade de género na conciliação entre a vida familiar e a vida profissional. No que diz

    respeito aos serviços e equipamentos, o Estado mantém a sua aposta na

    subsidiarização do terceiro setor, no qual ainda delega grande parte da sua

    responsabilidade na expansão e gestão dos serviços de apoio à família. Persiste, deste

    modo, um modelo de intervenção misto que combina Estado, terceiro setor e mercado,

    o qual ainda está aquém dos recursos e das necessidades das famílias portuguesas.

  • 12

    1. Organismos e Programas Organismos

    Operacionalização do Conselho Nacional para as Políticas de Solidariedade, Voluntariado, Família, Reabilitação e Segurança Social, criado em 2011 Uma das Comissões Temáticas deste Conselho é a Comissão para as Políticas Sociais e de Família

    Sobre os organismos que tutelam as políticas públicas de família, assinala-se a aguardada operacionalização do Conselho Nacional para as Políticas de Solidariedade,

    Voluntariado, Família, Reabilitação e Segurança Social, criado em 2011, enquanto

    órgão consultivo do, então, Ministério da Solidariedade e Segurança Social (Decreto-Lei

    nº 126/2011, de 29 de dezembro e Decreto-Lei nº 167-C/2013, de 31 de dezembro).

    Este Conselho nunca chegara a ser definido na sua composição, competências e modo

    de funcionamento. Recordamos que a sua criação resultou da extinção/fusão de um

    conjunto de estruturas, entre as quais: o Conselho Nacional para a Reabilitação e

    Integração das Pessoas com Deficiência, a Comissão Nacional do Rendimento Social

    de Inserção, a Comissão para a Promoção de Políticas de Família e o Conselho

    Consultivo das Famílias.

    Na Lei Orgânica do governo atualmente em funções (Decreto-Lei nº 251-A/2015, de 17

    de dezembro), este Conselho já é mencionado, mas é em 22 de maio de 2017 que se define a composição e modo de funcionamento do Conselho Nacional para as Políticas de Solidariedade, Voluntariado, Família, Reabilitação e Segurança Social (Decreto-Lei nº 48). Este Conselho - aí abreviadamente designado por Conselho

    Nacional para as Políticas de Solidariedade e Segurança Social (CNPSSS) - “tem por

    missão promover e assegurar a participação dos parceiros sociais, do movimento

    associativo e de outras entidades do sector civil, em articulação com as entidades

    públicas legalmente competentes, na definição e acompanhamento da execução das

    políticas de segurança social, solidariedade, voluntariado, família e inclusão na

    deficiência”.1 Está sob tutela do Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social,

    que é exercida em coordenação com o Ministro-Adjunto no que diz respeito às matérias

    1 Diário da República, 1.ª série — N.º 98 — 22 de maio de 2017, p. 2479.

  • 13

    de cidadania e igualdade. É composto por Comissões Temáticas - Comissão de

    Políticas da Segurança Social; Comissão Executiva de Políticas da Segurança Social;

    Comissão de Políticas Sociais e da Família; Comissão de Políticas de Inclusão das Pessoas com Deficiência; Comissão de Políticas do Voluntariado – e por um Conselho

    Geral, onde, entre outros, estão dois representantes de cada Comissão Temática.

    No que diz respeito aos elementos que integram a Comissão Temática de Políticas Sociais e da Família, o referido decreto menciona: “a) o membro do Governo responsável pela área do trabalho, solidariedade e segurança social, que preside; b) um

    representante do membro do Governo responsável pela área das finanças; c) um

    representante do membro do Governo responsável pela área da justiça; d) um

    representante do membro do Governo responsável pela área da cidadania e da

    igualdade; e) um representante do membro do Governo responsável pela área da

    educação; f) um representante do membro do Governo responsável pela área da saúde;

    g) um representante da Direção-Geral de Segurança Social; h) um representante do

    Gabinete de Estratégia e Planeamento; i) um representante do Instituto da Segurança

    Social, I. P.; j) um representante do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social,

    I. P.; k) um representante da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa; l) um representante

    da Casa Pia de Lisboa; m) um representante da CPCJ – Comissão Nacional de Proteção

    das Crianças e Jovens em Risco; n) um representante da CNIS – Confederação

    Nacional das Instituições de Solidariedade; o) um representante da União das

    Mutualidades Portuguesas; p) um representante da UMP – União das Misericórdias

    Portuguesas; q) um representante da EAPN – Rede Europeia Anti-Pobreza/Portugal,

    Associação; r) um representante da UNICEF, Comité Português para a UNICEF; s) um

    representante da Cáritas Portuguesa; t) um representante do FNGIS – Fórum Não-

    Governamental para a Inclusão Social; u) um representante da Federação Portuguesa

    dos Bancos Alimentares Contra a Fome; v) um representante da APF – Associação para

    o Planeamento da Família; w) um representante da Associação ILGA – Portugal; x) um

    representante da APFN – Associação Portuguesa de Famílias Numerosas; y) um

    representante do Conselho Nacional da Juventude; z) um representante da Associação

    Grace; aa) um representante das Associações de Mulheres da Secção das

    Organizações Não Governamentais do Conselho Consultivo da Comissão para a

    Cidadania e Igualdade do Género; bb) duas personalidades de reconhecido mérito

    propostas pelo presidente da comissão”.2

    2 Ibidem, p. 2481.

  • 14

    Além de competências genéricas, a Comissão de Políticas Sociais e da Família tem as seguintes competências específicas: “a) propor medidas de combate à pobreza e de integração de grupos sujeitos a riscos de marginalização; b) propor medidas de

    promoção da igualdade de oportunidades para crianças e jovens, contribuindo para a

    identificação das áreas mais marcadas por situações críticas de pobreza infantil; c)

    propor medidas que visem a inclusão social da população idosa, atendendo à igualdade

    de género, promovendo o envelhecimento ativo e a solidariedade entre as gerações; d)

    propor medidas que promovam a natalidade e assegurem a mulheres e a homens as

    condições necessárias a uma parentalidade digna e responsável; e) propor medidas

    que assegurem a proteção dos agregados familiares mais vulneráveis e valorizem o

    papel das famílias e o seu contributo para a coesão social; f) contribuir para a criação

    de um sistema de indicadores de alerta de situações de precariedade social a partir do

    acompanhamento das crianças beneficiárias do abono de família, possibilitando uma

    ação mais integrada do sistema de proteção social”.3

    Este Decreto-Lei define também que o mandato dos membros do Conselho Geral e das

    Comissões Temáticas é de três anos, embora possa ser renovado; que as Comissões

    reúnem duas vezes por ano (ou sempre que forem convocadas por iniciativa da maioria

    dos seus membros ou proposta do presidente); e que os pareceres emitidos, quer pelo

    Conselho Geral quer pelas Comissões Temáticas, não têm carácter vinculativo.

    Com a definição da composição e modo de funcionamento, o governo pretende “criar

    uma estrutura verdadeiramente representativa dos vários setores representados a qual

    possa garantir uma adequada e eficiente articulação entre o governo central, regional e

    local com os parceiros sociais e demais entidades representativas das associações e

    outras entidades da sociedade civil (…) reforçar o papel dos órgãos consultivos, não só

    no âmbito do acompanhamento e monitorização do desenvolvimento das políticas

    públicas, mas também na elaboração de propostas de melhoramento e identificação de

    áreas de intervenção prioritárias nas diferentes áreas temáticas abrangidas por este

    diploma”.4

    Apesar de ter promulgado o diploma que estabelece a composição e o modo de

    funcionamento do Conselho Nacional para as Políticas de Solidariedade, Voluntariado,

    Família, Reabilitação e Segurança Social, o Presidente da República manifestou, na

    3 Ibidem, p. 2483. 4 Ibidem, p. 2479.

  • 15

    Cantinas Sociais são substituídas pela distribuição de Cabazes de Alimentos, através de nova regulamentação do Programa Operacional de Auxílio às Pessoas Mais Carenciadas

    página oficial da presidência, ter “dúvidas quando à concretização da

    representatividade”5, não especificando, todavia, as dúvidas a que se referia.

    Já a CGTP publicou na sua página oficial, em 26 de maio de 2017, que “a participação

    das associações sindicais é particularmente desvalorizada, na medida em que

    anteriormente estavam representadas na maioria dos conselhos extintos e, neste novo

    Conselho apenas têm assento nas comissões específicas de Políticas da Segurança

    Social, embora seja claro que as competências atribuídas, designadamente às

    comissões de Politicas Sociais e da Família e de Inclusão das Pessoas com Deficiência,

    se cruzam com matérias diretamente relacionadas com o trabalho e com os direitos dos

    trabalhadores”.6

    Programas

    O Programa Operacional de Auxílio às Pessoas Mais Carenciadas 2014-2020

    (POAPMC) consiste numa estrutura operacional do Fundo Europeu de Apoio a

    Carenciados (FEAC), por sua vez, instituído pelo Regulamento (UE) n.º 223/2014 do

    Parlamento Europeu e do Conselho Europeu, em 11 de março de 2014, em substituição

    do Programa Comunitário de Ajuda Alimentar a Carenciados (PCAAC). Foi objeto de

    regulamento específico pelo anterior governo em 2015 (Portaria n.º 190-B/2015, de 26

    de junho) e tinha, à data, duas medidas: 1) aquisição de géneros alimentares/bens de

    primeira necessidade por entidades públicas para a respetiva distribuição às pessoas

    mais carenciadas; 2) apoiar o fornecimento gratuito e diário de refeições às pessoas

    mais carenciadas, através da rede de cantinas dos equipamentos sociais.

    No início de 2017, pouco mais de um ano depois da tomada de posse do novo governo,

    procede-se à primeira alteração do regulamento geral do FEAC e da regulamentação

    específica do Programa Operacional de Auxílio às Pessoas Mais Carenciadas 2014-

    2020 (POAPMC), através da Portaria nº 51/2017, de 2 de fevereiro. Uma das alterações

    consiste na revogação da medida 2 acima descrita. O objetivo é “concentrar os recursos

    5 Comunicação do Presidente da República publicada no site da Presidência da República Portuguesa, disponível em: http://www.presidencia.pt/?idc=10&idi=125732 6 Retirado do site da CGTP com data de publicação em 25 de maio de 2017: http://www.cgtp.pt/sitio-dos-direitos/destaques/10684-novo-orgao-de-participacao-nas-politicas-de-seguranca-social.

    http://www.presidencia.pt/?idc=10&idi=125732

  • 16

    da União Europeia associados ao POAPMC numa única medida relativa à aquisição e

    distribuição de alimentos, retirando, desta forma, a intervenção de apoio europeu à

    medida generalizada do fornecimento de refeições confecionadas, por se considerar

    que a medida associada à aquisição e distribuição de alimentos permite incentivar a

    autonomia e a autorresponsabilização pessoal e familiar”.7

    O novo governo decide, portanto, abandonar o modelo assente na expansão de uma rede solidária de cantinas sociais e substituí-la pela distribuição de cabazes de alimentos. Esta decisão surge no âmbito das conclusões e recomendações do Relatório sobre o Programa de Emergência Alimentar que foi realizado em 2016 por um

    grupo de trabalho que o governo criou para o efeito. De acordo com este relatório, em

    novembro de 2015, dos cerca de 33 mil beneficiários das cantinas/refeitórios sociais:

    54% eram homens; 68% tinham entre 18 e 64 anos; 25% eram crianças e jovens; 6,5%

    tinham mais de 65 anos; 7% eram pessoas com deficiência; e mais de 50% dos

    agregados familiares eram constituídos por “pessoa só”. Em números absolutos, existiam

    62 cantinas/refeitórios sociais em 2011, 859 em 2014 e 852 em 2015. O número de

    refeições diárias protocoladas foi cerca de 35.000 em 2012, 49.900 em 2014 e 48.400

    em 2015.8 O relatório afirma ainda que o consumo das refeições era maioritariamente

    realizado fora das instituições (cerca de 72% dos beneficiários consumam as refeições

    fornecidas pelas cantinas sociais nas suas casas).

    Não obstante a relevância dos números do Relatório sobre o Programa de Emergência

    Alimentar, este estudo identificou: “fragilidade da distribuição territorial da rede de

    cantinas/refeições face à população com maior vulnerabilidade e carências económicas”

    (por exemplo, no distrito do Porto, afirma-se que a implementação apenas cobria 20%

    das necessidades estimadas); sobreposição de apoios (30% dos agregados que

    beneficiavam das cantinas também beneficiavam do RSI e 28% dos agregados eram

    beneficiários do Programa Comunitário de Ajuda Alimentar a Carenciados); 21

    concelhos com mais pessoas beneficiárias das cantinas do que beneficiárias do

    rendimento social de inserção; e “sobredimensionamento da oferta de refeições” (mais

    refeições protocoladas do que servidas).9

    7 Portaria nº 51/2017 de 2 de fevereiro, Diário da República, 1.ª série — N.º 24 — 2 de fevereiro de 2017, pp. 630. 8 GEP/MTSS (2017). Programa de Emergência Alimentar, Relatório do Grupo de Trabalho. Lisboa: GEP, Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, pp.74-75; disponível em: https://www.eas.pt/wp-content/uploads/2017/01/pea_ralatoriofinal.pdf. 9 Ibidem, p. 76.

    https://www.eas.pt/wp-content/uploads/2017/01/pea_ralatoriofinal.pdfhttps://www.eas.pt/wp-content/uploads/2017/01/pea_ralatoriofinal.pdf

  • 17

    O Relatório conclui que “as características dos beneficiários, identificadas no período

    analisado, não parecem justificar uma resposta de apoio alimentar centrada

    exclusivamente no fornecimento de refeições confecionadas”. Além disso, alerta para a

    “inexistência de mecanismos sólidos de controlo da execução física e financeira da

    medida” e para a “rotatividade dos beneficiários” (ao longo do período analisado, cerca

    de um terço eram beneficiários permanentes), embora reconheça que a maioria dos

    agregados familiares teria rendimentos que cumpriam “o conceito de carência

    económica usado pela Segurança Social (valor per capita igual ou inferior à pensão

    social de 201,53 euros/mês)”.

    Entre as várias recomendações, destaca-se a definição “de um prazo limite para a

    duração desta medida” propondo-se, em alternativa, um modelo de apoio alimentar para

    pessoas carenciadas que “seja promotor da autonomia dos beneficiários que não

    careçam de refeições confecionadas, não descurando uma resposta às pessoas cuja

    satisfação de necessidades alimentares só possa ser conseguida através deste tipo de

    oferta”. Portanto, o relatório recomenda que “as carências alimentares possam ser

    atenuadas maioritariamente através de mecanismos de acesso a alimentos de forma

    gratuita e residualmente através de refeições confecionadas.”10

    É neste contexto que a atual Secretária de Estado da Segurança Social afirma que o governo pretende descontinuar gradualmente a rede de cantinas e substituí-la por um modelo de distribuição de cabazes de alimentos até 2020. Segundo o governo, estes cabazes, compostos por vários alimentos, entre os quais carne, peixe e legumes

    congelados, são definidos em conjunto com a Direção-Geral da Saúde de modo a suprir

    “metade das necessidades nutricionais” diárias, prevendo-se abranger cerca de 60.000

    pessoas. O Instituto de Segurança Social recebe os alimentos diretamente dos

    fornecedores entregando-os mensalmente às associações e entidades locais que,

    repartidas por 135 territórios, fazem a mediação semanal com os destinatários

    selecionados. Paralelamente, estas associações devem apoiá-los na gestão e confeção

    das refeições, bem como na sua reinserção em articulação direta com a Segurança

    Social. O número de pessoas a apoiar em cada território é definido pelo Ministério.

    Este novo modelo tem suscitado algumas críticas, nomeadamente pela demora na sua

    concretização e pelo risco associado à logística inerente a alimentos congelados. No

    entanto, segundo o Ministro Vieira da Silva, “é o melhor modelo possível” face a

    10 Ibidem, p.79.

  • 18

    “imposições comunitárias” que não permitem a opção por um cartão de compras,

    modelo já praticado por algumas instituições em parceria com as grandes superfícies

    da área alimentar11.

    Para o presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS)

    a substituição das cantinas pela distribuição de cabazes de alimentos é uma medida

    “mais dignificante”. No entanto, considera que “as cantinas sociais continuarão a ser

    uma resposta para quem não tem condições para fazer a própria refeição”, embora

    concorde que a estratégia anterior "era um programa de emergência, situado no tempo,

    não era para se eternizar".12 Não obstante, as IPSS ressentiram-se pelo facto de não

    terem participado no Relatório sobre o Programa de Emergência Alimentar. Afirmam

    que os protocolos com a segurança social foram reduzidos “de um dia para o outro” e

    que o novo programa “tardou em chegar ao terreno”.13

    11 Notícia publicada no jornal Público, em 27 de agosto de 2017, disponível em: https://www.publico.pt/2017/08/27/sociedade/noticia/alimentos-para-carenciados-chegam-em-setembro-mas-governo-discorda-do-modelo-europeu-1783337 12 Notícia publicada no jornal Público em 24 de janeiro de 2017; disponível em: https://www.publico.pt/2017/01/24/sociedade/noticia/distribuir-cabazes-de-alimentos-em-vez-de-refeicoes-ja-feitas-e-mais-dignificante-1759469 13 De acordo com notícia publicada no jornal da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) “Solidariedade” nº 224, em dezembro de 2017, esta entidade lamenta que o Relatório sobre o Programa de Emergência Alimentar não tivesse o seu contributo (uma vez que também foram as suas IPSS que desenvolveram esse programa no terreno e em proximidade com os destinatários), afirmando ter desconhecido a sua realização e só ter ficado a par dos resultados através da comunicação social; na mesma publicação chamamos igualmente a atenção para uma outra notícia cujo título é: “Entre 2014 e 2016 aumentou muito o número de utentes de IPSS que esteve sem comer durante um dia inteiro”. Esta notícia divulga dados de um estudo realizado pelo Centro de Sondagens da Universidade Católica em parceria com o Banco Alimentar Contra a Fome e a Entreajuda, segundo os quais “o número de pessoas assistidas por instituições que esteve “uma vez ou outra” sem comer durante um dia inteiro “aumentou de forma significativa” entre 2014 e 2016, passando de 18% para 26%”; disponível em: http://www.solidariedade.pt/site/detalhe/12897.

  • 19

    2. Apoio Económico às Famílias

    2.1 Abono de Família

    Atualização anual dos montantes (sem alteração desde 2010) Reforço da majoração atribuída às famílias monoparentais Reforço dos montantes pagos entre os 12 e os 36 meses de idade Reposição do 4º escalão para crianças até aos 36 meses Ligeira subida do número de beneficiários Aumento da despesa pública com esta prestação Alguns montantes ainda estão aquém do período pré-crise (2009)

    Montantes

    Os montantes do Abono de Família, sem alteração desde 201014, voltam a ser alvo de

    aumento em 2016 e 2017. Esta iniciativa foi anunciada pelo Governo em dezembro de

    2015 logo após tomar posse no fim de novembro do mesmo ano. É apresentada como

    medida de combate à pobreza infantil e tem por objetivo não só aumentar o apoio

    económico às famílias com crianças e jovens a cargo, mas também reforçar esse apoio

    nos primeiros três anos de vida. Recordamos que as majorações introduzidas em 2007

    para as famílias numerosas (Decreto-Lei 308-A, de 5 de setembro) já incidiam nos

    montantes a receber entre os 12 e os 36 meses de idade, porém, só eram atribuídas

    em caso de nascimento/integração da segunda criança e seguintes. O objetivo desta

    medida mais recente (Portaria nº 62/2017, de 9 de fevereiro) é o de estender a proteção

    14 Recordamos que foi em 2010 que se iniciaram vários cortes nesta prestação, por via: do alargamento do conceito de agregado familiar e inclusão de novos rendimentos para o apuramento do rendimento de referência do agregado familiar; da eliminação da 13ª prestação para todos os escalões, com exceção do 1º; da eliminação do 4º e 5º escalões; e do fim da majoração de 25% para o 1º e 2º escalões. Para maior detalhe, consultar: Wall, Karin (coord.); Aboim, Sofia; Leitão, Mafalda; Marinho, Sofia (2012). Observatório das Famílias e das Políticas de Família - Relatório 2011. Lisboa: Observatórios do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

  • 20

    reforçada do primeiro ano de vida até ao terceiro aniversário de todas as crianças

    beneficiárias independentemente do número de crianças que existam no agregado

    familiar. A convergência dos montantes a receber mensalmente entre os 12 e os 36

    meses de idade, com os já auferidos até aos 12 meses, irá ocorrer gradualmente até

    2019. Portanto, os aumentos mais significativos ocorrem nas prestações pagas às crianças que têm entre 12 e 36 meses de idade. Destacamos igualmente a reposição do 4º escalão de abono para as crianças até aos 36 meses e o reforço da majoração a

    atribuir em caso de monoparentalidade.

    Veremos, em seguida, com maior detalhe, as alterações sucessivamente introduzidas

    ao longo de 2016 e 2017.

    • O primeiro aumento do Abono de Família é publicado em Diário da República

    logo no início do mês de janeiro de 2016: a majoração atribuída às crianças e aos jovens inseridos em agregados familiares monoparentais aumenta de 20 para 35% sobre o valor mensal do abono (Decreto-Lei n.º 2/2016, de 6 de janeiro);

    • No final do mês de janeiro são atualizados os montantes das prestações para os três escalões: em 3,5 % no 1.º escalão de rendimentos de referência, 2,5% no 2.º escalão e 2% no 3.º escalão (Portaria n.º 11-A/2016, de 29 de janeiro).

    Contudo, com a aprovação do Orçamento de Estado em março de 2016 (Lei 7-

    A/2016, de 30 de março), o 2º e o 3º escalões são aumentados adicionalmente

    em mais 0,5%, medida que entra em vigor a partir de abril de 2016 (Portaria nº

    161/2016, de 9 de junho);

    Quadro 1 - Montantes mensais do Abono de Família/Abono Pré-Natal* pagos por

    criança a partir do mês de abril de 2016 Escalões – rendimento referência do agregado familiar

    1º 2º 3º 4º

    12 e 36 meses 36,42€ 30,07€ 27,21€ 0,00€

    Fonte: Guia Prático do Abono de Família para Crianças e Jovens; disponível em: http://www.seg-social.pt/guias-praticos

    *O montante do abono pré-natal, pago a partir da 13ª semana de gestação e até ao nascimento da criança, é igual ao do abono de família pago após o nascimento e até a criança completar o primeiro ano de vida. Em caso de monoparentalidade, é majorado em mais 35%.

    http://www.seg-social.pt/guias-praticos

  • 21

    • Em 2017, é feita nova atualização anual dos montantes do Abono de Família e inicia-se o reforço que tem em vista a convergência entre os montantes pagos até ao primeiro ano de vida e aqueles que são pagos a partir dessa idade até ao terceiro aniversário da criança. Este reforço é feito em dois momentos do ano: até 30 de junho e a partir de 1 de julho (Portaria nº 62/2017,

    de 9 de fevereiro);

    • Também em 2017, o 4º escalão de abono é reposto, mas apenas para crianças até aos três anos de idade (Portaria nº 62/2017, de 9 de fevereiro);

    Assim, a título de exemplo, verificamos que, entre 2011 e 201515, uma criança

    até aos 12 meses de idade recebia, no 1º escalão, 140,76€ por mês de Abono

    de Família; em 2016, com a atualização anual, passa a receber 145,69€ (Quadro

    1) e, em 2017, 146,42€ (Quadro 2). No mesmo escalão, a partir dos 12 meses

    de idade e até aos três anos de idade a prestação, que era de 35,19€ entre 2011

    e 2015, aumenta para 36,42€, em 2016, com a atualização anual de 3,5%. Em

    2017, tal como referido, tem um aumento significativo de modo a aproximar-se

    progressivamente do valor pago até aos 12 meses de idade: ou seja, de 36,42€

    passa para 54,90€ até 30 de junho e para 73,21€ a partir de 1 de julho, o que

    corresponde a um aumento de cerca de 50% em relação a 2015/2016. No caso

    de pertencer ao 4º escalão (até aos três anos de idade), a criança recebe 9,46€

    por mês até 30 de junho e 18,91€ a partir de 1 de julho. A partir dos três anos de

    idade, em 2017, a criança do 1º escalão passa a receber 36,60€ mensalmente.

    No 4º escalão, as crianças de idade superior a três anos já não têm direito ao

    Abono de Família.

    15 Consultar Guias Práticos do Abono de Família para Crianças e Jovens disponíveis em: http://www.seg-social.pt/guias-praticos

    http://www.seg-social.pt/guias-praticoshttp://www.seg-social.pt/guias-praticos

  • 22

    Quadro 2 - Montantes mensais do Abono de Família/Abono Pré-Natal pagos por criança

    em 2017 Escalões (rendimento de referência da família)

    1º 2º 3º 4º

    12 e 36 meses

    36,60€

    30,22€

    27,35€

    0,00€

    Fonte: Guia Prático do Abono de Família para Crianças e Jovens; disponível em: http://www.seg-social.pt/guias-praticos

    *O montante do abono pré-natal pago a partir da 13ª semana de gestação e até ao nascimento da criança é igual ao do abono de família pago após o nascimento e até a criança completar o primeiro ano de vida. Em caso de monoparentalidade, é majorado em mais 35%.

    Não obstante este reforço global do Abono de Família, é importante mencionar que os montantes a receber por cada criança até aos 12 meses e depois dos 36 meses de idade estão ainda aquém daqueles que eram pagos em 2009 para o 1º e 2º escalão.

    Exemplo:

    No 1º escalão, um casal com uma criança até 12 meses recebia, em 2009,

    uma prestação mensal de abono no valor de 174,72€ (146,42€ em 2017); a

    partir dos 12 meses, a mesma prestação descia para 43,68€ (36,60€ em

    2017). Portanto, é o reforço dos montantes entre os 12 e os 36 meses que vem marcar a diferença em relação ao período pré-crise: ainda no 1º escalão, um casal com duas crianças de idades compreendidas entre os 12

    http://www.seg-social.pt/guias-praticos

  • 23

    e os 36 meses recebia, em 2009, 87,36€ por criança, valor que, em 2017,

    aumenta para 91,50€ até junho e para 109,81€ a partir de julho. Caso se

    situasse no 3º escalão, o mesmo casal com duas crianças neste intervalo

    etário (12-36 meses) receberia por cada criança 53,08€ em 2009; em 2017:

    65,99€ até junho e 77,28€ a partir de julho. No entanto, em 2009, caso se

    situasse no 4º escalão, recebia 45,18€ por cada criança, valor que em 2017

    se situa em 9,46€ até junho e em 18,91€ a partir de julho. Por outro lado,

    importa mencionar que, em 2009, as crianças do 4º escalão continuavam a

    ter direito ao abono após completarem os três anos de idade (prestação que,

    à exceção dos casais com uma só criança, também era, à época, mais

    elevada do que a que se recebe no 4º escalão em 2017).

    Concluímos, portanto, que os aumentos que marcam a diferença em relação ao período

    pré-crise são as majorações que em 2017 (e gradualmente até 2019) também

    começaram a ser atribuídas às crianças entre os 12 e os 36 meses de idade nos três

    primeiros escalões de abono, aumentos que são significativos face aos montantes recebidos anteriormente. Porém, a partir dos três anos de idade, não se observam diferenças significativas, pois os montantes mensais de Abono de Família a pagar por

    criança mantêm-se na ordem dos trinta e seis euros/mês.

    Elegibilidade

    Tanto em 2016 como em 2017, não se registaram alterações na condição de recurso

    que define a elegibilidade ao Abono de Família/Abono Pré-Natal, com exceção da

    reposição do 4º escalão nas condições já mencionadas. Os intervalos de rendimento de

    referência considerados para o efeito continuam a estipular cinco escalões calculados

    com base no valor do IAS (Indexante de Apoios Sociais)16. As crianças/jovens cujo

    rendimento de referência do agregado familiar17 se situe no 5º escalão continuam a não

    ser elegíveis para efeitos de atribuição desta prestação.

    16 Os pedidos feitos em 2017 tomam como referência o valor do IAS em 2016 (419,22 euros). Em 2017 o IAS foi atualizado para 421,32 euros (Portaria nº 4/2017 de 3 de janeiro). 17 No apuramento do rendimento de referência do agregado familiar são considerados os rendimentos anuais ilíquidos do trabalho dependente (incluindo duodécimo dos subsídios de férias e de Natal) e do trabalho independente (empresariais e profissionais); rendimentos de capitais; rendimentos prediais; pensões (incluindo as pensões de alimentos) e prestações sociais (Consultar o Guia Prático da Condição de Recurso da Segurança Social disponível em: http://www.seg-social.pt/documents/10152/14407031/4001_abono_familia_criancas_jovens/087fccd2-0d74-4144-9838-c30149ec871d). Para o efeito, soma-se o rendimento de todos os membros do agregado familiar e divide-se pelo número de crianças mais um. O valor obtido corresponde ao rendimento de referência e é esse que vai determinar o escalão de abono de acordo com os valores apresentados no Quadro 3.

  • 24

    Quadro 3 – Rendimento de referência do agregado familiar e escalões do abono de

    família em 2017 Escalões

    1º 2º 3º 4º 5º

    Rendimento de

    referência do

    agregado

    familiar

    Iguais ou

    inferiores a

    0,5 do valor

    do IAS x 14

    Superior a 0,5

    do IAS x 14 e

    igual ou

    inferior a 1

    IAS x 14

    Superior a 1

    IAS x 14 e

    igual ou

    inferior a 1,5

    IAS x 14

    Superior a 1,5

    IAS x 14 e

    igual ou

    inferior a 2,5

    IAS x 14

    Superior a 2,5

    IAS x 14

    Até 2.934,54€

    (inclusive)

    Mais de

    2.934,54€ até

    5.869,08€

    Mais de

    5.869,08€ até

    8.803,62€

    Mais de

    8.803,62€ até

    14.672,70€

    Acima de

    14.672,70€

    Fonte: Guia Prático do Abono de Família para Crianças e Jovens; disponível em: http://www.seg-social.pt/guias-praticos

    *O montante do abono pré-natal pago a partir da 13ª semana de gestação e até ao nascimento da criança é igual àquele que é pago após o nascimento e até a criança completar o primeiro ano de vida. Em caso de monoparentalidade, é majorado em mais 35%.

    Exemplo:

    Consideramos um casal com dois filhos menores com idade superior a três anos e cujo rendimento do agregado familiar em 2017 corresponde a dois salários mínimos (557,00 euros x 2 = 1.114,00 euros; 1114,00 euros x 14 meses = 15.596,00 euros). Ao dividirmos este rendimento anual pelo

    número de filhos +1, verificamos que para efeitos de elegibilidade ao Abono

    de Família as respetivas crianças situam-se no 2º escalão. A prestação

    mensal a receber por criança será de 30,22 euros.

    No caso de ambas as crianças serem menores de três anos (por exemplo,

    uma com seis meses de idade e a outra com 24 meses), já terão direito a

    uma prestação de valor superior: 120,86 euros pela criança de seis meses

    (até perfazer 12 meses de idade) e 60,43 euros pela criança de 24 meses

    até esta perfazer os 36 meses. Quando a criança mais nova fizer 13 meses,

    a segunda ainda terá menos de 36 meses, ou seja, ambas terão direito à

    majoração por família mais numerosa (atribuída quando, no agregado

    familiar, existem duas crianças entre os 12 e os 36 meses de idade). Nesta

    situação, a família receberá 90,65 euros de Abono de Família por cada

    criança. Quando a mais velha fizer 36 meses, passará, daí em diante, a

    receber 30,22 euros, enquanto a mais nova, agora a única criança no

    http://www.seg-social.pt/guias-praticos

  • 25

    agregado com idade entre os 12 e os 36 meses, passará a receber 60,43

    euros. Contudo, quando ambas tiverem mais de três anos de idade, cada

    uma receberá apenas 30,22 euros por mês.

    Considerando outro exemplo, neste caso, um casal com dois filhos menores de três anos de idade em que cada cônjuge tem um “ganho médio mensal” na ordem dos 1.107,90€18, verificamos que o rendimento de referência deste agregado familiar corresponderá a 10.340,40€, ou seja,

    estará integrado no 4º escalão. Neste caso em concreto, e com base nos

    rendimentos de 2016, não teriam direito a Abono de Família, no entanto,

    considerando as alterações introduzidas em 2017 (reposição do 4º escalão),

    passam a ter direito a uma prestação mensal de 9,46€ por cada criança até

    30 de junho, a qual aumenta para 18,91€ a partir de 1 de julho. No entanto,

    quando cada uma destas crianças fizer os três anos de idade termina o

    direito ao abono.

    Se considerarmos um casal com o mesmo rendimento em termos de ganho médio mensal, mas com um só filho/a, o respetivo rendimento de referência aumenta para cerca de 15.510 euros, ou seja, já não há

    elegibilidade ao Abono de Família.

    A partir destes dois exemplos, verificamos que se trata de uma prestação de apoio

    económico dirigida às famílias mais carenciadas com crianças/jovens a cargo. Por outro

    lado, dada a sua fórmula de cálculo, beneficia sempre aquelas que têm maior número

    de crianças/jovens. Contudo, devido ao critério da condição de recurso que continua a

    manter só três escalões de rendimento de referência, acaba por ainda excluir

    crianças/jovens de famílias de baixos rendimentos ou de rendimentos mais próximos da

    média nacional.

    Tal como vimos, as alterações mais recentes mostram o objetivo de estender o reforço

    dos primeiros 12 meses até aos 36 meses. No entanto, apesar do impacto que este

    apoio económico reforçado pode ter no rendimento mensal destas famílias de muito

    baixos rendimentos durante os primeiros três anos de vida das suas crianças, o que se

    18Para além da “remuneração base média” que a Pordata situa em 924,90€ para 2016, a qual aí é definida como “o montante que o empregado tem direito a receber todos os meses pelo horário normal de trabalho”; o “ganho médio mensal” inclui outras remunerações pagas pelo empregador como horas extra, subsídio de férias ou prémios base (“todos os prémios e subsídios regulares como diuturnidades, subsídios de função, de alimentação, de alojamento, de transporte, de antiguidade, de produtividade, de assiduidade, de turno, de isenção de horário, por trabalhos penosos, perigosos e sujos, etc.”). Em ambas as remunerações, trata-se de um montante ilíquido (antes da dedução de quaisquer impostos).

  • 26

    verifica é que, posteriormente, as prestações mensais de abono descem para montantes

    mais residuais: 36,60€, 30,22€ e 27,35€, respetivamente no 1º, 2º e 3º escalão (embora

    a estes valores ainda possa acrescer a majoração por família numerosa, a partir do

    nascimento/adoção da segunda criança, e a majoração por monoparentalidade).

    Não podemos deixar de mencionar que as crianças e jovens beneficiários do Abono de

    Família têm ainda direito aos seguintes apoios no âmbito do abono:

    • 13º mês para todas as crianças/jovens do 1º escalão com idade compreendida

    entre os 6 e os 16 anos de idade (abono a dobrar no mês de setembro);

    • Bolsa de Estudo (de valor igual ao do abono que esteja a receber) para os

    jovens até aos 18 anos de idade do 1º e 2º escalão, matriculados no 10º, 11º e

    12º anos e com aproveitamento escolar (abono mais bolsa de estudo perfaz,

    respetivamente, 73,20€ no 1º escalão e 60,44€ no 2º escalão).

    Número de Beneficiários

    Segundo dados da Pordata, o Abono de Família tem 1.219.453 beneficiários em 2017. Relativamente à majoração monoparental, totaliza 323.563 beneficiários em 2016 (26,7% do total de beneficiários de abono de família); a majoração por família numerosa totaliza 93.507 (a maior parte - 66.276 – refere-se ao nascimento/adoção de segunda criança), o que corresponde a 7,7% do total de beneficiários de abono de

    família. No que diz respeito ao Abono Pré-Natal (concedido a partir da 13ª semana de gravidez até ao nascimento), os dados do Relatório da Conta da Segurança Social 201619 apontam para 69.352 titulares (inclui 11.841 majorações monoparentais), número que corresponde a 5,7% do total de titulares de Abono de Família.

    Através da análise do número global de crianças e jovens que beneficiam do Abono de Família (onde se inclui o abono pré-natal), verificamos que se regista uma tendência de subida entre 2005 e 2009, ano em que atinge o seu máximo (Gráfico 1).

    Com efeito, foi ao longo deste período que esta prestação foi reforçada, tanto nas suas

    variantes (abono pré-natal, monoparentalidade, famílias numerosas e bolsas de

    estudo), como nos montantes mensais a pagar aos respetivos beneficiários (atualização

    19 Relatório da Conta da Segurança Social, Parte II, Lisboa: IGFSS, I.P., pp.334-360.

  • 27

    anual e majoração de mais 25% nos montantes a receber no 1º e 2º escalões). A partir

    de 2010 esta curva ascendente inverte-se devido às restrições e aos cortes iniciados

    em novembro desse ano (nova condição de recurso, redução de cinco para três

    escalões e eliminação da majoração de 25% no 1º e 2º escalões). É em 2011 que estas

    medidas mais restritivas se repercutem na descida brusca do número de beneficiários.

    Desde então, a tendência de descida é mais moderada, mas mantém-se até 2016 para

    o que também terá contribuído o impacto dos fluxos migratórios (diminuição da

    imigração e aumento da emigração). Em 2017 esta curva decrescente começa a

    inverter-se ligeiramente começando já a refletir a recuperação parcial dos titulares do 4º

    escalão.

    Gráfico 1 - Evolução do nº de titulares do abono de família (milhares), 2000-2017

    Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Pordata (última atualização a 27-02-2018)

    A análise por grupos etários (Relatório da Conta da Segurança Social 2016) revela que, não obstante a tendência de diminuição de beneficiários, o número de crianças

    com idade igual ou inferior a 12 meses aumenta em 2015 e em 2016, o que está em

    consonância com o aumento do número de nascimentos ocorrido nestes dois anos.

    Portanto, entre 2014 e 2016 existem mais 4.176 crianças beneficiárias com idade igual

    ou inferior a 1 ano (o seu peso relativo subiu de 6,8% em 2014 para 7,5% em 2016).

    Todavia, esta subida não compensa a perda que o mesmo escalão etário registou entre

    2012 e 2014 (menos 16.479 crianças).

    Embora a maioria das crianças/jovens beneficiários do Abono de Família tenha idade

    superior a 1 ano (92,5%), a maior parte situa-se no intervalo etário 2-16 anos (72,7%):

    cerca de 265.000 crianças entre os 2 e os 6 anos de idade; cerca de 295.000 entre os

    1 838 091 1 837 6031 730 454

    1 849 642

    1 357 5751 243 506

    1 219 453

    1 000 000

    1 200 000

    1 400 000

    1 600 000

    1 800 000

    2 000 000

    2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

  • 28

    7 e 11 anos; e aproximadamente 320.000 com 12 a 16 anos. A redução do número total

    de beneficiários, entre 2015 e 2016, atinge sobretudo os intervalos 2-6 e 12-16 anos.20

    Numa análise por escalão de abono, os dois primeiros continuam a deter a maioria dos beneficiários (cerca de 900 mil em 2016). Em termos proporcionais, o 1º e o 2º

    escalão detêm, cada um, cerca de 36% do total de beneficiários e o 3º cerca de 27%.

    Ao totalizarem aproximadamente 72% dos beneficiários (e a avaliar pelos rendimentos

    de referência a que estes dois escalões estão respetivamente associados: até 0,5 do

    valor do IAS e 1 x o valor do IAS - 421,32€ em 2017), o peso do 1º e do 2º escalão

    juntos é revelador das carências económicas das famílias com crianças e jovens em

    Portugal. No caso das majorações referentes a famílias monoparentais e a famílias

    numerosas, a prevalência é ainda mais evidente: do total de majorações monoparentais

    em 2016, cerca de 88% situam-se no 1º ou no 2º escalão; das famílias numerosas

    (nascimento/adoção de segunda criança ou seguinte no agregado com idades

    compreendidas entre os 12 e os 36 meses), aproximadamente 74% também pertencem

    ao 1º ou 2º escalão.

    No que diz respeito ao nível de abrangência/taxa de cobertura desta prestação no universo de crianças e jovens residentes, calculámos a proporção de beneficiários no total de crianças/jovens residentes em território nacional e com idade potencialmente

    elegível ao abono, isto é, até aos 24 anos de idade. Tomámos como unidade de análise

    dados disponibilizados pelo Relatório da Conta da Segurança Social referente a 2016,

    no qual o número de beneficiários está discriminado por escalões de idade, e dados

    disponibilizados pelo INE sobre estimativas da população residente em 2016 dos 0 aos

    24 anos (2.539.137 indivíduos)21. Verificamos que, em termos de cobertura, o abono de

    família (1.209.452 titulares) abrange 47,6% do total de crianças/jovens até aos 24 anos

    de idade. Ao fazer a mesma análise, desta vez circunscrita à população residente com

    idade compreendida entre os 2 e os 16 anos de idade (1.493.389 indivíduos), onde se

    situa o grosso dos beneficiários do abono (880.112, de acordo com o relatório da Conta

    da Segurança Social 2016), verificamos que aquela cobertura já é de 59%.

    20 Ibidem, pp. 334-360. 21 População residente (N.º) por Local de residência (NUTS - 2013), Sexo e Idade; Anual - INE, Estimativas anuais da população residente; última atualização dos dados em 15 de junho de 2018.

  • 29

    Despesa

    Embora a despesa com o Abono de Família tenha vindo a apresentar uma tendência

    decrescente entre 2010 e 2015, o ano de 2016 vem inverter esta tendência (Gráfico 2).

    Gráfico 2 – Abono de Família: despesa a preços correntes 2000-2017 (milhões euros)

    Fonte: Elaboração própria a partir de dados recolhidos no site Pordata (anos 2000-2016) e nos relatórios da Execução Orçamental da Segurança Social (ano 2017), disponíveis em: http://www.seg-social.pt/publicacoes?bundleId=16053070.

    O aumento da despesa em cerca de 2,5% em 2016 explica-se pela retoma da

    atualização anual dos montantes de Abono de Família/Abono Pré-Natal e, também, pelo

    aumento de 20 para 35% da majoração nos agregados familiares monoparentais. No

    entanto, segundo o Relatório da Conta da Segurança Social de 2016, para além deste

    efeito preço, há também um efeito volume pelo aumento ligeiro do número de

    beneficiários das majorações para famílias mais numerosas e do número de beneficiários da bolsa de estudo (que continua a ser atribuída aos alunos do ensino secundário até aos 18 anos de idade, desde que se situem no 1º ou no 2º escalão e que

    tenham aproveitamento no final do ano letivo). Por fim, regista-se a importância do peso relativo da despesa efetuada com o 1º escalão, a qual corresponde a cerca de 44% da despesa total. Destes 44%, a maioria (85,6%) decorre das prestações pagas a titulares

    com idade superior a 1 ano.22

    Na despesa global com o Abono de Família – que inclui Abono de Família, Abono de

    Família Pré-Natal e Bolsas de Estudo – cada uma destas componentes regista, em

    22 Ibidem, pp.356.

    456,052

    601,494663,964

    1 000,023

    674,385 659,667 628,813687,234

    200,000

    400,000

    600,000

    800,000

    1000,000

    1200,000

    2000

    2001

    2002

    2003

    2004

    2005

    2006

    2007

    2008

    2009

    2010

    2011

    2012

    2013

    2014

    2015

    2016

    2017

    http://www.seg-social.pt/publicacoes?bundleId=16053070

  • 30

    2016, respetivamente 89%, 6,2% e 4,8% desse total. Esta despesa global (três componentes) representa 2,9% da despesa corrente total da segurança social em 201623

    No que diz respeito à análise da despesa a preços constantes (índices de variação anual em termos reais tendo como base o ano 2000), o Gráfico 3 demonstra que é entre

    2016 e 2017 que a despesa com o Abono de Família inicia uma recuperação face à tendência de diminuição que se vinha observando e que, em 2014 e 2015, já a colocava perto dos valores praticados em 2000/2001. Esta retoma ocorre em paralelo

    com o aumento da despesa da segurança social com outras prestações sociais, o que

    já traduz a reposição/reforço de que têm sido alvo também outras medidas de política

    social e de família (por exemplo, rendimento social de inserção e complemento solidário

    para idosos), sobre as quais falaremos mais à frente.

    Gráfico 3 - Despesa da Segurança Social - Prestações Sociais e Abono de Família

    (índice de variação anual em termos reais, Base 2000), 2000-2017 (milhões euros)

    Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Pordata (2000-2016). O valor de 2017 foi retirado do Relatório da Execução Orçamental Mensal da Segurança Social (Dezembro, 2017), disponível em: http://www4.seg-social.pt/execucaoorcamental-mensal.

    Despesa total com Abono de Família Despesa total com Prestações Sociais

    23 Segurança Social em números 2017, disponível em: http://www.seg-social.pt/documents/10152/15443714/Fl_SegSocial_numeros_2017/afaf69e0-eb21-4923-a7f5-af8e254a4443

    40,0

    60,0

    80,0

    100,0

    120,0

    140,0

    160,0

    180,0

    200,0

    2000

    2001

    2002

    2003

    2004

    2005

    2006

    2007

    2008

    2009

    2010

    2011

    2012

    2013

    2014

    2015

    2016

    2017

  • 31

    Outra das conclusões da análise da despesa a preços constantes é que a despesa pública nesta principal prestação de apoio económico às famílias – que é o Abono de Família - ainda se situa em valores de período de crise, isto é, distante da despesa registada em 2008 e 2009.

    Não obstante, prevê-se continuidade da recuperação observada entre 2016 e 2017 devido às alterações recentes na atualização anual dos montantes de abono (sem

    alteração desde novembro de 2010), na elegibilidade (4º escalão reposto para crianças

    até aos 36 meses de idade) e no reforço progressivo (até 2019) das prestações mensais

    a receber por criança entre os 12 e os 36 meses de idade.

    No que diz respeito à análise da despesa global com o apoio económico às famílias em % do PIB - Produto Interno Bruto (neste caso, estamos só a considerar o que a OCDE designa de “family expenditure in cash benefits”)24, os dados mais

    recentes são de 2015 e apontam para um valor que, em Portugal, se situa na ordem dos

    0,74% (Gráfico 4), cerca de metade da média da União Europeia nesse mesmo ano.

    Numa perspetiva evolutiva, desde os anos oitenta até meados da primeira década do ano 2000, verifica-se uma certa estagnação neste indicador. É a partir de 2004 que se

    observa um crescimento ligeiro, mas progressivo, que atinge o seu máximo em 2009.

    Em 2011, com a entrada do FMI em Portugal, e durante os anos mais difíceis da crise

    económica, aquela tendência de subida inflete-se. As medidas de austeridade

    implementadas no âmbito do memorando assinado com a Troika traduziram-se na

    descida do apoio económico (“cash benefits”) às famílias em percentagem do PIB.

    Gráfico 4 - Despesa pública em “cash benefits” (% PIB) Portugal, 1980-2015, UE, 2015

    Fonte: elaboração própria a partir de dados da OCDE Family Data Base

    24 OCDE Family Data Base, disponível em: http://www.oecd.org/els/family/database.htm

  • 32

    Numa análise comparativa com outros países europeus (Gráfico 5), verifica-se que, em 2015, Portugal continua a ser um dos países que, em percentagem do PIB, menos

    despende em medidas de apoio económico diretamente transferidas para as famílias.

    Gráfico 5 - Despesa pública em “cash benefits” (% PIB), países europeus, 2015

    Fonte: elaboração própria a partir de dados da OCDE Family Data Base

  • 33

    2.2 Rendimento Social de Inserção

    Aumento do valor de referência do Rendimento Social de Inserção

    Reposição das majorações mais favoráveis para cálculo dos montantes a receber por criança e por cada adulto além do primeiro Consequente aumento da prestação mensal para as famílias mais numerosas e com crianças a cargo Não obstante, algumas prestações continuam abaixo dos valores do período pré-crise (2009/2010) Reposição de alguns critérios mais facilitadores de elegibilidade Mantém-se até 2016 a tendência de diminuição do total de beneficiários, mas já com ligeira recuperação em 2017 Aumento da despesa pública face aos anos anteriores (2012-2015)

    Montantes

    À semelhança do que se verificou para o Abono de Família, também o Rendimento

    Social de Inserção (RSI) foi alvo de alterações no sentido de aumentar/reforçar os montantes a receber em 2016 e 2017. Recordamos que o RSI é uma prestação que tem como principal objetivo reduzir a (intensidade da) pobreza dos indivíduos e das

    famílias.

    Após os cortes financeiros de que o RSI foi alvo entre 2010 e 2013, o Governo, em

    funções desde finais de novembro de 2015, começa por repor alguns dos montantes

    que se recebiam anteriormente por esta prestação. Na mesma data em que publica o

    reforço da majoração do Abono de Família para as famílias monoparentais publica,

    igualmente, a reposição das escalas de equivalência aplicáveis ao cálculo do montante

    a receber de RSI por cada membro do agregado familiar: o montante a atribuir por cada indivíduo maior, além do primeiro adulto, aumenta de 50% para 70% do valor

  • 34

    de referência do RSI; e o montante a atribuir por cada indivíduo menor (criança/jovem até 18 anos) aumenta de 30 para 50% do valor de referência do RSI (Decreto-Lei nº 1/2016, de 6 de janeiro). O primeiro adulto continua a receber 100% do

    valor de RSI que, por sua vez, se mantém indexado a uma percentagem (43,634% em

    2017) do valor do IAS (421,32€ em 2017).

    No entanto, comparativamente ao período 2012-2015, o valor de referência do RSI

    também aumentou porque o atual Governo aumentou aquela percentagem (era de

    42,495% em 2012-2015 e passou a ser de 43,173% em 2016 e 43,634% em 2017). Ou

    seja, o valor de referência do RSI (que corresponde ao valor a receber pelo primeiro

    adulto) sobe de 178,15€ para 180,99€ em 2016 (Decreto-Lei nº 1/2016, de 6 de janeiro)

    e 183,84€ em 2017 (Portaria nº 5/2017, de 3 de janeiro). Não obstante, recordamos que,

    no período pré-crise, até 2010, o valor de referência do RSI estava indexado ao valor

    da pensão social e não ao valor do IAS. Portanto, o valor que o primeiro adulto recebe

    em 2017 (183,84€, ou seja, 100% de 43,634% do IAS) ainda está ligeiramente abaixo

    daquele que recebia em 2010 (189,52€, ou seja, 100% do valor da pensão social à data).

    O mesmo se verifica para os demais elementos do agregado familiar que, em 2017,

    ainda recebem prestações de valor inferior àquelas a que teriam direito no período pré-

    crise.

    O Quadro 4 dá-nos informação sobre o percurso e a evolução dos montantes e das

    majorações desta prestação entre 2009 e 2017. Verificamos que, com o atual reforço, os montantes a receber, tanto em 2016 como em 2017 - pelo primeiro adulto, restantes adultos e por criança - aumentaram significativamente em relação àqueles que vigoravam entre 2012 e 2015, procurando-se uma aproximação aos que eram praticados até 2009. Estes aumentos vêm beneficiar as famílias mais numerosas

    e, principalmente, as que têm menores a cargo: em 2016, a prestação de RSI por cada menor de idade no agregado passa de 53,44€ para 90,50€; em 2017 este montante é atualizado para 91,92€ (era de 94,76€ em 2009).

    Exemplo:

    Se em 2015 um casal