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Versão 1.0: Março 2015 CAPÍTULO 2 RESPEITANDO O DIREITO DE PROPRIEDADE E DE CONSENTIMENTO LIVRE, INFORMADO E PRÉVIO DAS COMUNIDADES NA METODOLOGIA DE ALTA CONCENTRAÇÃO DE CARBONO 11 FERRAMENTAS PARA METODOLOGIA HCS A METODOLOGIA DE ALTA CONCENTRAÇÃO DE CARBONO (HCS): ‘DESMATAMENTO ZERO’ EM PRÁTICA Por Marcus Colchester, Patrick Anderson e Sophie Chao, Forest Peoples Programme Os autores do capítulo gostariam de agradecer Tint Lwin Thaung do Center for People and Forests (RECOFTC), Janis Alcorn da Rights and Resources Iniave, Eric Wakker do AidEnvironment, Bill Barclay e Brihannala Morgan da Rainforest Acon Network e os membros do Conselho Editorial das Ferramentas HCS pelos construvos comentários nas versões anteriores. Os autores são os únicos responsáveis por quaisquer erros que permaneçam. CONTEÚDO DO CAPÍTULO P12: Introdução: Respeitando os direitos e garanndo os meios de subsistência em florestas P16: Aquisição de terras e o Consenmento Livre, Informado e Prévio P19: Adaptando direitos e meios de subsistência à Metodologia de Alta Concentração de Carbono P20: Esclarecendo posse e gestão P21: Monitoramento P22: Adaptando a Metodologia HCS em negociações pré-existentes P23: Conclusões: Integrando o respeito pelos direitos das comunidades à terra e CLIP na Metodologia HCS P24: Estudo de caso: A importância do envolvimento da comunidade na Metodologia HCS: Um estudo de caso da PT KPC por Jana Nejedlá, TFT e Pi Li Lim, Golden- Agri Resource Respeitando o direito de propriedade e de Consenmento Livre, Informado e Prévio das comunidades na Metodologia de Alta Concentração de Carbono Capítulo 2

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Versão 1.0: Março 2015

CAPÍTULO 2 RESPEITANDO O DIREITO DE PROPRIEDADE E DE CONSENTIMENTO LIVRE, INFORMADO E PRÉVIO DAS COMUNIDADES NA METODOLOGIA DE ALTA CONCENTRAÇÃO DE CARBONO

11FERRAMENTAS PARA METODOLOGIA HCSA METODOLOGIA DE ALTA CONCENTRAÇÃO DE CARBONO (HCS): ‘DESMATAMENTO ZERO’ EM PRÁTICA

Por Marcus Colchester, Patrick Anderson e Sophie Chao, Forest Peoples Programme

Os autores do capítulo gostariam de agradecer Tint Lwin Thaung do Center for People and Forests (RECOFTC), Janis Alcorn da Rights and Resources Initiative, Eric Wakker do AidEnvironment, Bill Barclay e Brihannala Morgan da Rainforest Action Network e os membros do Conselho Editorial das Ferramentas HCS pelos construtivos comentários nas versões anteriores. Os autores são os únicos responsáveis por quaisquer erros que permaneçam.

CONTEÚDO DO CAPÍTULO

P12: Introdução: Respeitando os direitos e garantindo os meios de subsistência em florestas

P16: Aquisição de terras e o Consentimento Livre, Informado e Prévio

P19: Adaptando direitos e meios de subsistência à Metodologia de Alta Concentração de Carbono

P20: Esclarecendo posse e gestão

P21: Monitoramento

P22: Adaptando a Metodologia HCS em negociações pré-existentes

P23: Conclusões: Integrando o respeito pelos direitos das comunidades à terra e CLIP na Metodologia HCS

P24: Estudo de caso: A importância do envolvimento da comunidade na Metodologia HCS: Um estudo de caso da PT KPC por Jana Nejedlá, TFT e Pi Li Lim, Golden-Agri Resource

Respeitando o direito de propriedade e de Consentimento Livre, Informado e Prévio das comunidades na Metodologia de Alta Concentração de Carbono

Capítulo 2

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CAPÍTULO 2 RESPEITANDO O DIREITO DE PROPRIEDADE E DE CONSENTIMENTO LIVRE, INFORMADO E PRÉVIO DAS COMUNIDADES NA METODOLOGIA DE ALTA CONCENTRAÇÃO DE CARBONO

FERRAMENTAS PARA METODOLOGIA HCSA METODOLOGIA DE ALTA CONCENTRAÇÃO DE CARBONO (HCS): ‘DESMATAMENTO ZERO’ EM PRÁTICA

Introdução: Respeitando os direitos e garantindo os meios de subsistência em florestas

“É muito comum para as pessoas que moram em florestas mover-se dentro de seu território, deslocando sua aldeia para acessar novas áreas de caça e cultivo e, ao mesmo tempo, deixando que as áreas anteriormente usadas possam se recuperar”

Estes sistemas de uso da terra são complexos e diversos. A maioria das comunidades baseadas na floresta possuem economias mistas, que podem incluir, por exemplo: caça e coleta sobre extensas áreas de animais selvagens e uma grande diversidade de frutas, alimentos silvestres, resinas, drogas, medicamentos e matérias de construção; pesca em rios, lagos, córregos, lagoas e florestas sazonalmente inundadas; agricultura e pecuária em campos permanentes, pastagens e em encostas florestais rotativamente limpos; e cultivo de árvores para rattan, frutas, látex e madeira. Os produtos de todas essas atividades podem ser utilizados localmente, negociados com vizinhos ou trocados regionalmente e globalmente. Todas estas atividades implicam que há um sutil conhecimento ecológico local incorporado na sabedoria prática, nos sistemas de crenças e que acompanham normas sociais.

Equivalente a estes sistemas sociais de uso da terra, há os sistemas locais igualmente sutis de repartição de direitos e regulamentação de uso e acesso a ela, que são supervisionados pela comunidade, ou instituições de nível superior. É comum entre os povos da floresta descobrir que direitos a diferentes aspectos de suas terras, territórios e recursos são detidos por uma gama de instituições locais ao mesmo tempo. Por exemplo, um território pode ser propriedade coletiva de uma aldeia ou grupo de assentamentos, possivelmente supervisionado por um conselho de anciãos. Dentro dessa área, alguns caçadores ou grupo de caçadores podem ter suas próprias trilhas de caça ou armadilhas, árvores frutíferas especificas podem pertencer a determinadas pessoas, e fazendas e áreas com vegetação suprimida podem ser propriedade das famílias que as desmataram, bem como locais de pesca podem ser atribuídos a determinados grupos.

Além disso, a paisagem não é apenas importante para as pessoas do ponto de vista econômico, mas estão cheias de recordações, associações e significados ritualísticos, e fazem parte de suas próprias identidades. Locais sagrados podem ser tabu para certas pessoas ou em determinadas circunstâncias. Áreas de floresta podem ser reservadas por motivos religiosos, caça, agricultura para gerações futuras ou para permitir que a terra se recupere após o uso. É costume existirem normas bem estabelecidas e localmente aceitas através das quais disputas que venham a ocorrer podem ser julgadas e conflitos resolvidos. Estas designações de paisagem são muitas vezes invisíveis para observadores externos e até mesmo para cientistas.

Também é muito comum as pessoas que moram em florestas mover-se dentro de seu território, deslocando sua aldeia para acessar novas áreas de caça e cultivo ou oportunidades comerciais e, ao mesmo tempo, deixando que as áreas anteriormente usadas possam se recuperar. Isto não significa que as áreas estão ‘abandonadas’, mas apenas temporariamente fora de uso ou utilizada de forma menos intensiva. Estudos mostram que estes sistemas de mobilidade de assentamentos, agricultura rotativa e zoneamento do uso da terra podem ajudar a garantir a sustentabilidade a longo prazo da paisagem florestal1.

Os termos que usamos para descrever estes sistemas complexos são ‘uso consuetudinário’, ‘direitos consuetudinários’ e ‘lei consuetudinária’. Direitos humanos internacionais e as leis ambientais exigem o respeito a esses sistemas. Essas leis incluem os convênios e tratados das Nações Unidas, tais a declaração das Nações Unidas sobre os direitos dos povos indígenas e a Convenção sobre Diversidade Biológica. Estados são obrigados a proteger esses direitos e

Quase todos os ecossistemas terrestres na altura dos trópicos são habitados e proveem sustento para uma grande diversidade de grupos sociais, comumente referidos como povos indígenas e comunidades locais. Cerca de 350 milhões de indígenas vivem em florestas, enquanto 1.5 bilhões de pessoas, incluindo cerca de metade das mais pobres do mundo, dependem diretamente das florestas para sua subsistência diária (Chao, 2012). De fato, pesquisas mostram que muitos ecossistemas tropicais aparentemente ‘virgens’ foram moldados e transformados pela ocupação humana e uso a longo prazo (Balée, 1994; Leach e Mearns, 1996; Fairhead e Leach, 1998; Posey e Balick, 2006). Notavelmente, algumas práticas tradicionais melhoram o estoque de carbono na vegetação e no solo, tais como os solos ricos em húmus, a terra preta no Brasil, acumulados por séculos de cultivo indígena bem como as ilhas florestais criadas por assentamentos humanos nas savanas do Oeste Africano (Heckenberger, 2005). Portanto, quase qualquer intervenção que afete esses ecossistemas também afeta as pessoas que dele dependem e podem comprometer a ecologia, implicando na responsabilidade de respeitar seus direitos e levar em consideração impactos em seus meios de subsistência, cultura e seu papel na formação do ambiente.

1. Veja, por exemplo: http://www.agriculturesnetwork.org/magazines/global/farming-in-the-forest/intensification-of-shifting-cultivation-editorial

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CAPÍTULO 2 RESPEITANDO O DIREITO DE PROPRIEDADE E DE CONSENTIMENTO LIVRE, INFORMADO E PRÉVIO DAS COMUNIDADES NA METODOLOGIA DE ALTA CONCENTRAÇÃO DE CARBONO

FERRAMENTAS PARA METODOLOGIA HCSA METODOLOGIA DE ALTA CONCENTRAÇÃO DE CARBONO (HCS): ‘DESMATAMENTO ZERO’ EM PRÁTICA

empresas são obrigadas a respeitá-los, mesmo onde as leis ou práticas nacionais não os reconheçam. As diretrizes das Nações Unidas para Empresas e Direitos Humanos2 notam que a responsabilidade de empresas de respeitarem os direitos humanos existe independentemente da capacidade ou vontade do Estado em cumprir com estas exigências, e recai sobre o cumprimento de leis e regulamentações nacionais protegendo os direitos humanos. Estas obrigações de empresas também são especificadas em vários padrões de sustentabilidade e programas de certificação.

Porque o processo de avaliação de Florestas com Alta Concentração de Carbono foi desenvolvido como uma ferramenta prática para empresas durante o planejamento do uso da terra em concessões florestais, é importante fundamentar o processo HCS dentro das obrigações da empresa de respeitar o uso tradicional, direitos humanos e leis internacionais. Este capítulo fornece uma visão geral dessas obrigações, bem como os passos que as empresas devem seguir para integrá-las no processo HCS.

Implicações para concessões de empresas e identificação de florestas com Alta Concentração de Carbono Quando empresas buscam adquirir terras florestais através de compra ou locação (‘concessão’) de agências governamentais, elas precisam tomar as medidas necessárias para garantir que os direitos e meios de subsistência dos povos da floresta estejam assegurados. Inevitavelmente, as atividades comerciais planejadas por empresas agrícolas têm o potencial de prejudicar ou perturbar os ecossistemas locais e sistemas anteriores de uso da terra. Isto acontece porque inter alia:• A alocação de terras e recursos para plantações inevitavelmente reduz ou

coincide com terras disponíveis para comunidades locais para outros fins; • Novas infraestruturas tais como estradas, pontes e municípios abrem áreas

para uma utilização de recursos mais intensificada e passível de exploração comercial, tanto pela população local quanto por pessoas de fora;

• Novos empreendimentos atraem migração de trabalhadores e outros colonos para a área em transformação em busca de trabalho e envolvimento em outras atividades comerciais, competindo com as comunidades locais por empregos e recursos;

• Mais evidente, se as terras e florestas das comunidades são tomadas sem um planejamento adequado, sem respeitar os direitos das comunidades, ou sem o seu consentimento, as plantações estabelecidas podem destruir seus meios de subsistência, desencadear graves conflitos sociais e levar ao mau uso do meio ambiente.

“É importante consolidar o processo HCS nas obrigações de uma empresa para respeitar o uso tradicional, os direitos humanos, e as leis internacionais “

2. Disponível em: http://www.ohchr.org/Documents/Publications/GuidingPrinciplesBusinessHR_EN.pdf

Todas as fotos: Cortesia do TFT ©

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CAPÍTULO 2 RESPEITANDO O DIREITO DE PROPRIEDADE E DE CONSENTIMENTO LIVRE, INFORMADO E PRÉVIO DAS COMUNIDADES NA METODOLOGIA DE ALTA CONCENTRAÇÃO DE CARBONO

FERRAMENTAS PARA METODOLOGIA HCSA METODOLOGIA DE ALTA CONCENTRAÇÃO DE CARBONO (HCS): ‘DESMATAMENTO ZERO’ EM PRÁTICA

O objetivo de avaliações do impacto ambiental e social e ferramentas de planejamento do uso da terra, como aquelas usadas para proteger Altos Valores de Conservação ou identificar Florestas com Alta Concentração de Carbono, é o de mitigar esses impactos e garantir que valores e serviços sociais e ambientais essenciais sejam mantidos e melhorados. No entanto, se avaliações são realizadas sem uma participação genuína dos envolvidos e terras são realocadas como áreas ambientais em descanso sem o envolvimento ou respeito pelos direitos e meios de subsistência das comunidades, elas podem ser ineficazes ou pior. Isto acontece porque inter alia:

• Avaliadores e gestores de empresas não compreendem a extensão dos direitos das comunidades; como eles se apoiam visando a subsistência; e quais direitos e estatuto estão ligados a certas terras e florestas no âmbito dos sistemas consuetudinários de posse e uso da terra;

• Classificações impostas podem ultrapassar sistemas locais de uso da terra;

• Imposições de áreas para descanso e outras restrições podem violar os direitos consuetudinários, causando ressentimento ou disputas com usuários locais;

• Restrições de uso empobrecerão a população local ao deslocar o seu uso da terra para outras áreas;

• Sistemas de uso da terra interrompidos tendem a se tornar mais insustentáveis e colocar maior pressão sobre os recursos restantes, incluindo plantações e áreas em descanso.

Estas não são simplesmente dificuldades teóricas. Plantações impostas no setor de papel & celulose e óleo de dendê em áreas protegidas têm causado conflitos generalizados (Colchester, 1994 e Dowie, 2009). Na Malásia, há centenas de casos legais nos tribunais, onde comunidades estão disputando a forma como as terras foram alocadas para empresas, sem respeitar seus direitos consuetudinários (Colchester et al., 2007). Na Indonésia, onde as leis fornecem ainda menos proteção dos direitos consuetudinários, o Departamento Nacional de Gestão das Terras do governo estima que existam cerca de 4.000 conflitos de terra entre empresas de óleo de dendê e comunidades. Quando não resolvidas, essas disputas podem dar origem a protestos, repressão policial, furto de colheitas como retaliação, destruição de propriedades, mais repressão, motins, violência policial, ferimentos e mortes. Esses tipos de problemas, por vezes, paralisam plantações, causando perdas financeiras substanciais e levando ao sofrimento de comunidades locais.

Infelizmente, estudos de campo detalhados revelam também problemas reais com o HCV e planejamento do uso da terra por HCS. Em vários casos, comunidades carentes de terras e florestas, devido ao território ter sido tomado por plantações e áreas ambientais de descanso, se sentiram obrigadas a abrir sítios em matas ciliares não desmatadas para garantir os serviços ambientais sob HCV 4 ou ocupar áreas reservadas para espécies raras, ameaçadas e espécies ameaçadas sob HCV 2. Os principais problemas resultam de:

• Falha por parte das empresas em reconhecer os direitos anteriores das comunidades e respeitar seu direito de dar ou não consentimento para operações planejadas em suas terras;

• O uso de ferramentas inadequadas, sem aconselhamento claro a respeito de como deixar de lado terras como reserva para manter o meio de subsistência da comunidade;

• Avaliadores mal treinados que não entendem a complexidade dos sistemas consuetudinários de uso da terra; e

• A falta de uma real participação da comunidade na realização de avaliações e desenvolvimento de planos de gestão para manter os valores de conservação.

Problemas também surgiram do fato das comunidades não serem plenamente informadas de quanta terra as empresas iriam assumir em plantações e áreas em descanso, ou imprudentemente concordando em abrir mão de extensas áreas sem levar em consideração suas necessidades futuras ou por causa de expectativas irreais sobre a escala de benefícios que derivariam de plantações e pequenas propriedades. Onde o zoneamento HCV e HCS foi (infelizmente) realizado após as terras já terem sido renunciadas, áreas em descanso podem ser mal vistas por expulsar comunidades de terras que elas esperavam poder manter para o seu uso ou para pequenos cultivos comerciais. A orientação que se segue foi projetada para tratar de todos esses problemas.

Todas as fotos: Cortesia do TFT ©

Introdução: Respeitando os direitos e garantindo os meios de subsistência em florestas

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CAPÍTULO 2 RESPEITANDO O DIREITO DE PROPRIEDADE E DE CONSENTIMENTO LIVRE, INFORMADO E PRÉVIO DAS COMUNIDADES NA METODOLOGIA DE ALTA CONCENTRAÇÃO DE CARBONO

FERRAMENTAS PARA METODOLOGIA HCSA METODOLOGIA DE ALTA CONCENTRAÇÃO DE CARBONO (HCS): ‘DESMATAMENTO ZERO’ EM PRÁTICA

Desafios mais complicados

Também é importante reconhecer que os problemas descritos neste capítulo podem ser exacerbados por leis de posse da terra inadequadas e gestão deficiente do solo pelas agências estatais. Com demasiada frequência, leis estatutárias não reconhecem (a extensão total de) áreas com ocupação por comunidades tradicionais e nem requerem o Consentimento Livre, Informado e Prévio (CLIP) das comunidades antes de alocar tais terras para empresas. Além disso, a legislação que dispõe sobre terras, silvicultura e plantações, pode dificultar que empresas progressistas implementem sistemas de gestão consistentes com as melhores práticas. Por exemplo, na Indonésia, empresas de papel & celulose não podem, formalmente, reconhecer e reservar áreas sob direitos consuetudinários em designadas florestas estaduais que lhes foram alocadas para plantações, mesmo se quiserem. Algumas empresas de óleo de dendê operando na Indonésia que reservaram extensas áreas para HCVs constataram que essas porções de suas áreas autorizadas foram canceladas por deixar demasiadas ‘terras ociosas’ dentro de suas concessões, a despeito da exigência legal para plantação de palmeiras em tais áreas.

Mesmo onde empresas de papel & celulose chegam a acordos informais com as comunidades para reservar áreas para o uso comunitário dentro de suas concessões, apenas áreas estritamente limitadas podem ser alocadas para a agricultura ou para comunidades cultivarem plantações de sua escolha como a borracha, devido ao fato que a autorização de plantação foi concedida à empresa apenas para o cultivo das espécies de madeira especificadas. Sob a legislação da Indonésia, licenças para desenvolver o óleo de dendê só podem ser emitidas em terras do Estado e empresas têm que convencer as comunidades a renunciar a seus direitos à terra para que uma licença de óleo de dendê possa ser emitida. Muitas comunidades não são informadas que, ao renunciarem a suas terras para a produção de óleo de dendê, a área passa a pertencer ao Estado e não será devolvida no vencimento do aluguel. Na Malásia, mesmo quando uma empresa membro do RSPO quer resolver uma disputa de terra com uma comunidade local, o Estado, que muitas vezes detém uma participação na empresa, pode recusar-se a resolver e decidir por continuar em litígio contra a comunidade nos tribunais.

Em casos excepcionais, tais como a de Wilmar no Kalimantan Central, empresas foram capazes de negociar acordos ad hoc com os governos locais que lhes permite manter áreas em descanso mesmo onde a legislação nacional proíbe (Colchester et al., 2012). Mas para que os direitos da comunidade e áreas em descanso possam ser protegidos, a adoção de reformas judiciárias mais amplas será necessária.

Todas as fotos: Cortesia do TFT ©

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CAPÍTULO 2 RESPEITANDO O DIREITO DE PROPRIEDADE E DE CONSENTIMENTO LIVRE, INFORMADO E PRÉVIO DAS COMUNIDADES NA METODOLOGIA DE ALTA CONCENTRAÇÃO DE CARBONO

FERRAMENTAS PARA METODOLOGIA HCSA METODOLOGIA DE ALTA CONCENTRAÇÃO DE CARBONO (HCS): ‘DESMATAMENTO ZERO’ EM PRÁTICA

Aquisição de terras e o Consentimento Livre, Informado e Prévio

Várias ferramentas e guias já existem sobre como direitos consuetudinários e sistemas de uso da terra anteriores devem ser reconhecidos, e como terras só devem ser adquiridas para uso por terceiros com o consentimento livre, informado e prévio das comunidades. Estes documentos incluem guias desenvolvidos:

• Para esquemas de certificação, como a Mesa Redonda sobre o Azeite de Dendê Sustentável (Roundtable on Sustainable Palm Oil) , Mesa Redonda sobre Biomateriais Sustentáveis (Roundtable on Sustainable Biomaterials)4 e Conselho de Manejo Florestal (Forest Stewardship Council)5;

• Pelo PNUD para o Programa UN-REDD;6

• Pela Agência de Assistência Técnica Alemã (GIZ) e o Centre for People and Forests para uso no REDD+;7

• Pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação para uso pelos governos na governança da posse de terras, pesca e florestas8; e

• Pela Organização Internacional do Trabalho para guiar os povos indígenas nas negociações com empresas9.

Inúmeros resumos também exploraram os requisitos da lei internacional e os obstáculos práticos no caminho de uma implementação eficaz. Veja, por exemplo:

• Fergus MacKay (2004). “Indigenous Peoples’ Right to Free, Prior and Informed Consent and the World Bank’s Extractive Industries Review”. Sustainable Development Law and Policy, Volume IV (2): 43-65.

• First Peoples Worldwide, sem data. Indigenous Peoples Guidebook for Free Prior Informed Consent and Corporation Standards. Disponível em: http://firstpeoples.org/corporate-engagement/fpic-guidebook

• Marcus Colchester and Fergus MacKay (2004). In Search of Middle Ground: Indigenous Peoples, Collective Representation and the Right to Free, Prior and Informed Consent. Moreton in Marsh, UK: Forest Peoples Programme. Disponível em: http://www.forestpeoples.org/topics/legal-human-rights/publication/2010/search-middle-ground-indigenous-peoples-collective-repres

• Marcus Colchester and Maurizio Ferrari (2007). Making FPIC Work: Challenges and Prospects for Indigenous Peoples. Moreton-in-Marsh, UK: Forest Peoples Programme. Disponível em: http://www.forestpeoples.org/sites/fpp/files/publication/2010/08/fpicsynthesisjun07eng.pdf

• Marcus Colchester (2010). Free, Prior and Informed Consent: Making FPIC work for forests and peoples. New Haven, CT: The Forests Dialogue. Disponível em: http://www.forestpeoples.org/sites/fpp/files/publication/2010/10/tfdfpicresearchpapercolchesterhi-res2.pdf

• Marcus Colchester and Sophie Chao, Eds. (2013). Conflict or Consent? The palm oil sector at a crossroads. Moreton in Marsh, UK: Forest Peoples Programme. Disponível em: http://www.forestpeoples.org/topics/palm-oil-rspo/publication/2013/conflict-or-consent-oilpalm-sector-crossroads

3. Veja: http://www.rspo.org/resources/supplementary-materials 4. Veja: http://rsb.org/pdfs/guidelines/12-05-02-RSB-GUI-01-012-01-RSB-Guidelines-for-Land-Rights.pdf 5. Veja: https://ic.fsc.org/preview.fsc-fpic-guidelines-version-1.a-1243.pdf 6. Veja: http://www.un-redd.org/Launch_of_FPIC_Guidlines/tabid/105976/Default.aspx7. Veja : http://www.recoftc.org/basic-page/fpic 8. Veja : http://www.fao.org/3/a-i3496e.pdf 9. Veja Barsh (1995)

Todas as fotos: Cortesia do TFT ©

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FERRAMENTAS PARA METODOLOGIA HCSA METODOLOGIA DE ALTA CONCENTRAÇÃO DE CARBONO (HCS): ‘DESMATAMENTO ZERO’ EM PRÁTICA

A aceitação por parte de empresas de que, em conformidade com a legislação internacional, comunidades tradicionais têm direitos sobre as terras, territórios e recursos que tradicionalmente possuem, ocupem ou usem, e sobre o direito de dar ou não seu CLIP como expresso por suas próprias instituições representativas, exige algumas mudanças fundamentais na forma pela qual as terras são adquiridas. Isso implica reescrever seus procedimentos operacionais padrão, reabilitar pessoal de campo e gerentes, e desenvolver sistemas de comunicação com comunidades locais que sejam mais abertos. Acima de tudo, significa aceitar que as comunidades envolvidas terão uma voz legítima na decisão sobre a operação – se esta deve ir adiante ou não - e no estabelecimento de condições e procedimentos pelos quais consultas e negociações serão realizadas e acordos alcançados.

Todas as palavras na expressão ‘Livre’, ‘Informado’ e ‘Prévio’ ‘Consentimento’ estão carregadas de significado jurídico. Elas exigem que em qualquer processo rumo a um acordo, as comunidades se sintam livres de qualquer compulsão, coerção ou coação; que concessões não sejam concedidas e nenhuma terra seja tomada antes (prévio) da comunidade ter concordado; que comunidades sejam plenamente informadas sobre como seus direitos podem ser afetados, sobre como os impactos podem ser mitigados e os benefícios compartilhados; e que os procedimentos pelos quais os acordos são negociados e o consentimento é dado ou não devem ser acordados pelas comunidades. Todos os guias citados acima reforçam que assegurar o CLIP exige um envolvimento interativo entre os operadores e as comunidades. O CLIP não é um processo de checagem a ser realizado por um funcionário da empresa, mas um processo de envolvimento e aprendizagem nos dois sentidos. Como cada comunidade é única e todos os povos possuem diferentes culturas e normas, cada processo realizado em busca do CLIP pode ser diferente. A lista a seguir define as principais etapas em um processo de CLIP, apoiando-se no Guia RSPO, que deve ser referido para detalhes de casos. Mais detalhes sobre como lidar com reivindicações legítimas vs. ilegítimas, como representar comunidades, como resolver reivindicações conflitantes, como documentar consensus e outros fatores importantes, são descritos no RSPO e outros guias listados acima.

Preparação• Operadores informam comunidades de sua proposta de desenvolver uma

área e explicam os direitos que a comunidade tem ao CLIP e ao controle do que acontece em suas terras.

• Comunidades decidem se querem considerar a proposta da empresa, e em caso afirmativo, como desejam ser representadas no envolvimento com o operador, com discussões sobre como os interesses das mulheres, crianças, jovens, castas marginalizadas, classes e usuários da terra serão levadas em consideração.

• O processo e as etapas de um processo de engajamento em CLIP interativo entre as comunidades e o operador é mutuamente acordado, tendo em vista todas as etapas indicadas abaixo e a próprias normas e propostas da comunidade. Isso inclui esclarecer a forma como o processo será documentado e validado, e qual a forma que a informação terá para assegurar que ela seja acessível para as comunidades.

“Como cada comunidade é única e todos os povos possuem diferentes culturas e normas, cada processo buscando ao CLIP pode ser diferente”

Todas as fotos: Cortesia do TFT ©

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FERRAMENTAS PARA METODOLOGIA HCSA METODOLOGIA DE ALTA CONCENTRAÇÃO DE CARBONO (HCS): ‘DESMATAMENTO ZERO’ EM PRÁTICA

Avaliação e mapeamento• Uma avaliação de posse e uso da terra participativa é realizada para

esclarecer a forma como os direitos consuetudinários são atribuídos, e as terras são usadas pelas pessoas envolvidas.

• Um mapeamento participativo é realizado em conjunto para traçar a extensão dos direitos consuetudinários e usos, incluindo fazendas, áreas com vegetação suprimida, caça, pesca e áreas de coleta, reservas, locais sagrados e territórios coletivos.

• Avaliações participativas dos impactos socioambientais e considerando a ferramenta de Alto Valor de Conservação são realizadas, bem como a estratificação e análise da Floresta com Alta Concentração de Carbono. Juntas, essas avaliações definem quais áreas a empresa pretende adquirir para o plantio, quais áreas devem ser gerenciadas para a conservação e quais áreas não serão afetadas para que as comunidades possam manter seus meios de subsistência.

• Esta informação ajudará comunidades a avaliar os benefícios e custos de aceitar a produção do óleo de dendê e o associado zoneamento de conservação em suas áreas.

O que é mapeamento participativo?

O mapeamento participativo é uma ferramenta para identificar e mapear a posse da terra e recursos naturais de comunidades indígenas e locais, bem como o uso da terra. É um método de mapeamento baseado no conhecimento local que estabelece a população local como uma parte interessada importante no mapeamento das área dadas. Comunidades identificam as áreas para as quais possuem direitos consuetudinários e que são importantes para os meios de subsistência históricos, atuais e futuros, valores culturais, ou prestação de serviços de ecossistema. Os resultados do mapeamento podem ser usados pelas comunidades como base para negociação com empresas sobre o uso da terra. Estes resultados também podem ser úteis às comunidades além do diálogo com as empresas, como por exemplo, para apoiar o desenvolvimento da aldeia e a gestão comunitária de recursos naturais. Estas são importantes ferramentas para comunidades no planejamento do uso da terra e para acomodarr a produção do óleo de dendê e área HCS em seus territórios. .

Negociar um acordo • As comunidades escolhem quem elas querem que aja como seus assessores

jurídicos e observadores independentes. Fundos são garantidos para cobrir estes custos e assegurar que as comunidades sejam adequadamente informadas.

• Uma vez que todos os elementos estejam em seu lugar, tempo é dado para que as comunidades procurem informações sobre alternativas de desenvolvimento e o que a gestão de áreas de floresta HCS para conservação significa, para que avaliem todas as informações fornecidas, discutam as implicações entre si e com seus assessores e decidam se querem iniciar negociações.

• Se assim for, as negociações ocorrem entre representantes das comunidades e o operador para esclarecer os termos de qualquer renúncia de direitos. Tempo e espaço devem ser dados para reuniões comunitárias, onde ofertas provisórias serão avaliadas e contrapropostas desenvolvidas para novas rodadas de negociações.

• Se .um acordo de princípios for alcançado, a terra pode ser negociada levando em conta as disposições de uso da terra, conservação e gestão associadas, as áreas reservadas (tanto para o desenvolvimento quanto para conservação) para produção de alimentos, partilha de benefícios, mitigação, mecanismos de reclamação etc.

• Identificar e chegar a um acordo sobre mecanismos e ferramentas para estabelecer e gerar áreas de conservação, tais como acordos de conservação e de cogestão, bem como uma compensação justa para qualquer perda de uso de áreas de conservação.

• Legalizar ou reconhecer o acordo.

Implementação, monitoramento e atualização do acordo • Implementar o acordo: isso pode incluir uma renúncia de direitos

e aquisição de terras por detentores de direitos específicos dentro do território coletivo.

• Monitoramento participativo da implementação.

• Ativação do mecanismo de reclamações onde e quando for necessário.

• Ajustar o sistema de gestão onde o monitoramento ou sistema de reclamações identificar lacunas na implementação ou problemas inesperados.

O resultado ideal de um bom processo de CLIP não são apenas acordos que são justamente implementados, mas as relações de confiança estabelecidas entre as comunidades e o operador.

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Aquisição de terras e o Consentimento Livre, Informado e Prévio

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CAPÍTULO 2 RESPEITANDO O DIREITO DE PROPRIEDADE E DE CONSENTIMENTO LIVRE, INFORMADO E PRÉVIO DAS COMUNIDADES NA METODOLOGIA DE ALTA CONCENTRAÇÃO DE CARBONO

FERRAMENTAS PARA METODOLOGIA HCSA METODOLOGIA DE ALTA CONCENTRAÇÃO DE CARBONO (HCS): ‘DESMATAMENTO ZERO’ EM PRÁTICA

• Onde qualquer renúncia de direitos ou restrições de meios de subsistência exista, quais atenuações, compensações ou alternativas serão oferecidas?

• Como serão compartilhados os custos e benefícios, incluindo os impactos das áreas de conservação sobre os meios de subsistência atuais e benefícios não aproveitados por limitar a área disponível para pequenas propriedades e fazendas?

Para áreas sob ciclos de longo prazo de agricultura rotativa, áreas com vegetação suprimida e onde comunidades esperam poder manter seus meio de subsistência da agricultura, levantamentos de campo são necessários para estimar o comprimento das áreas com vegetação suprimida e calcular a área total de terra necessária para manter os meios de subsistência atuais. Isto pode ser levado em conta no planejamento do uso da terra comunitária.

Planejamento comunitário do uso de terras Para ajudar as comunidades a planejar meios de subsistência viáveis a longo prazo e garantir a segurança alimentar local, informações devem ser geradas a partir do mapeamento participativo e zoneamento HCV e HCS, deixando claro a localização e extensão das áreas:

• Atualmente alocadas para vários usos da comunidade

• Necessárias pela empresa para as plantações propostas

• A serem alocadas às pequenas propriedades, ou outro fim de repartição de benefícios

• A serem conservadas para HCV, e/ou quais terão restrição dos usos atuais

• Propostas a serem conservadas para florestas HCS e quais dessas áreas restringirão usos atuais

• Que permanecerão intocadas para os vários usos da comunidade, incluindo as necessidades das gerações futuras, isso se todas essas outras alocações forem respeitadas.

O planejamento comunitário do uso da terra deve ser realizado através de reuniões comunitárias interativas e inclusivas – algumas com o operador e algumas somente com os conselheiros escolhidos, algumas sem nenhuma pessoa de fora – para avaliar as necessidades da comunidade, avaliar as propostas dos operadores e assessores e onde necessário, fazer contrapropostas para alocação de terras, usos da terra, gestão da terra e posse. Estas propostas tornam-se parte da informação que alimenta as negociações CLIP (ver acima).

Considerando direitos e meios de subsistência na Metodologia de Alta Concentração de Carbono

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O principal objetivo da Metodologia de Alta Concentração de Carbono é identificar áreas viáveis de floresta que devem ser conservadas, devido ao seu valor como reservatórios de carbono, para a conservação da biodiversidade e como áreas de uso tradicional. Conforme descrito nestas ferramentas, áreas de vegetação em uma área definida como de desenvolvimento de terra comercial são selecionadas através de uma combinação de análise de imagens de satélite e parcelas de amostragem ara estimar a biomassa aérea das árvores com mais de 5cm de diâmetro, a fim de estratificar a vegetação em seis categorias: áreas abertas ou desmatadas, arbusto, floresta em estágio inicial de regeneração, floresta de baixa densidade, floresta de média densidade e floresta de alta densidade.

Em projetos-piloto, áreas de floresta HCS são aquelas enquadradas nas quatro categorias superiores – estágio inicial de regeneração, e florestas de baixa, média e alta densidade, que são então analisadas detalhadamente para identificar áreas florestais viáveis para conservação. Áreas abertas, pastagens e áreas de arbustos não são áreas HCS (Greenpeace, 2013). Todas as turfeiras e áreas HCV também são identificadas e administradas para conservação.

A fim de acomodar o uso dinâmico de terras e florestas pelas comunidades, mapas de estratificação florestal das áreas em questão precisam ser sobrepostos aos mapas participativos já desenvolvidos, para então, destacar quais dessas áreas estão sujeitas a direitos e uso consuetudinários. O objetivo deve ser o de assegurar que os processos de HCS, HCV e CLIP operem em conjunto, e não contraditoriamente. Áreas de sobreposição precisam ser verificadas com a participação dos detentores de direitos para determinar o uso atual e proposto das mesmas, seja como locais de caça, pesca e coleta, reservas florestais, locais sagrados, terras agrícolas, pastagens, culturas arbóreas, áreas agrícolas rotacionais e futuros campos. Isso permite que muitas destas áreas, especialmente culturas arbóreas e campos, deixem de ser consideradas como floresta HCS.

Em áreas de floresta HCS propostas para conservação que possam afetar os direitos das comunidades ou seu acesso e uso atual e futuro, o CLIP também é necessário. Antes disso, e para garantir o consentimento informado, discussões devem ser realizadas para esclarecer:

• Finalidade e os procedimentos da Metodologia de Alta Concentração de Carbono, apresentada de uma forma e em uma linguagem que a comunidade entenda.

• Que restrições existirão sobre os direitos e uso de recursos, incluindo quais usos serão proibidos dentro das propostas de áreas de conservação a serem gerenciadas para florestas HCS e HCV?

• Que arranjos de posse serão aplicados em todas as áreas de conservação: assegurarão ou reduzirão os direitos das comunidades?

• Quem gerenciaria e monitoraria as áreas de conservação propostas, e garantiria que elas mantenham os valores atribuídos?

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CAPÍTULO 2 RESPEITANDO O DIREITO DE PROPRIEDADE E DE CONSENTIMENTO LIVRE, INFORMADO E PRÉVIO DAS COMUNIDADES NA METODOLOGIA DE ALTA CONCENTRAÇÃO DE CARBONO

FERRAMENTAS PARA METODOLOGIA HCSA METODOLOGIA DE ALTA CONCENTRAÇÃO DE CARBONO (HCS): ‘DESMATAMENTO ZERO’ EM PRÁTICA

Esclarecendo posse e gestão

“Áreas a serem conservadas para HCV e HCS que sobreponham áreas de direitos consuetudinários devem também ser protegidas como terras comunitárias”

Esclarecendo posse

O uso criativo do direito consuetudinário e lei estatutária deve ser explorado para identificar mandatos de posse que minimizem as alocações de terra propostas que limitem ou restrinjam direitos e usos da terra. Terras não precisam ser estritamente cedidas a operadores (para plantações) somente por via de venda ou de transferência, mas podem, ao invés, ser alugadas ou arrendadas sob condições mutuamente acordadas. Terras comunitárias que não devem ser cedidas à empresa devem ser removidas de potenciais concessões, e intituladas ou registradas como terras comunitárias. Áreas a serem conservadas para HCV e HCS que sobreponham áreas de direitos consuetudinários também devem ser protegidas como terras comunitárias, em conformidade com leis e regulamentos relevantes. Da mesma forma, áreas restantes sendo mantidas por comunidades devem ser protegidas.

Gestão

Cuidados devem ser tomados para esclarecer qual entidade terá a responsabilidade de gerir determinada área de conservação, tendo em conta uma série de opções, incluindo: • Áreas geridas por empresas dentro de uma concessão

• Áreas da comunidade geridas pelas mesmas

• Áreas geridas pelo Governo fora de concessões

• Áreas cogeridas (comunidade & governo ou comunidade & empresa)

Nenhuma área de conservação proposta que sobreponha terras ou territórios das comunidades deve ser assumida e gerida ou cogerida por outras partes sem que isso seja acordado através do processo CLIP descrito acima. Uma vez que forem acordadas as entidades responsáveis pela gestão, as pessoas (ou titulares) e instituições com tais responsabilidades precisam ser autorizadas, treinadas e orçadas para desempenhar suas funções de gerenciamento. Efetivamente garantir e proteger todas as áreas de florestas HCS normalmente exigirá um mosaico de regimes de gestão e posse.

Como as leis nacionais são muito variáveis para fazer recomendações simples, serão necessários estudos jurídicos que determinem as melhores opções disponíveis nos diferentes países e localidades; estes pareceres terão de ser detalhados com as comunidades e seus assessores jurídicos antes de qualquer autorização. .

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FERRAMENTAS PARA METODOLOGIA HCSA METODOLOGIA DE ALTA CONCENTRAÇÃO DE CARBONO (HCS): ‘DESMATAMENTO ZERO’ EM PRÁTICA

Monitoramento

Não se pode esperar que o planejamento do uso da terra, zoneamento e gestão sejam capazes de prever qualquer eventualidade, pois são sempre processos dinâmicos. Garantir o funcionamento eficaz da floresta HCS e sistemas HCV exigem sistemas de monitoramento participativo integrados que combinam (a) sensoriamento remoto periódico para verificar que o desmatamento de grandes áreas só está acontecendo onde acordado; (b) patrulhas de campo em tempo real, incluindo membros das comunidades locais que possam identificar quais atores são responsáveis por qualquer desmatamento que venha a ocorrer, e que também possam muitas vezes identificar outras ameaças ou riscos a acordos e usos da terra.

Ferramentas inovadoras já foram desenvolvidas para o monitoramento participativo de HCVs e as mesmas podem ser ajustadas para monitorar também área de conservação HCS. Estas ferramentas contemplam: a criação de equipes locais que regularmente andem pelas trilhas para verificar a conformidade e identifiquem ameaças; sistemas inteligentes de comunicação georreferenciada usando um software que integre relatórios de campo em tempo quase real, com mapeamento computadorizado; e sistemas para garantir a validação dos resultados da comunidade .10

Sistemas de feedback Para garantir que mal-entendidos não resultem em disputas, mecanismos de reclamações precisam ser previamente acordados com os procedimentos correspondentes para investigar queixas e lidar com as mesmas. Procedimentos também devem existir para implementar as recomendações provenientes dos processos de monitoramento e de reclamação a fim de ajustar as práticas de gestão, alocações de terra e responsabilidades. Em casos de discordância graves, acordos podem precisar ser revisitados e revisados.

“Ferramentas inovadoras já foram desenvolvidas para o monitoramento participativo de HCVs e as mesmas podem ser ajustadas para monitorar também áreas de conservação HCS”

10. Veja, por exemplo: : http://www.forestpeoples.org/topics/palm-oil-rspo/publication/2013/monitoring-protocol-high-conservation-values-5-and-6-guideline

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ETAPAS DO CLIPETAPAS DO HCS

Empresa informa as comuni-dades e as mesmas escolhem

representação

Procedimentos CLIP mutuamente acordados

Metodologia HCS explicada

Mapeamento par�cipa�vo do território e direitos associados

Avaliação HCVpar�cipa�va, ESIA e análise de posse

da terra

Implicações da HCS sobre a posse, direitos e meios

de subsistência esclarecidos

Planejamento do uso da terra comunitária realizado

Comunidades avaliam as implicações do plano

de uso da terra

Finalizar o mapeamento e planejamento de conservação

Verificação em campo e Avaliação Rápida

de Biodiversidade de fragmentos pequenos

Priorização de fragmentos grandes, de baixo risco

e alta densidade

Analisar o tamanho e conec�vidade do

fragmento HCS

Sobrepor HCV e áreas de turfa

Sobrepor mapa de direitos com as áreas de floresta HCS

Criar mapa indica�vo de potenciais áreas de

floresta HCS

Medir terrenos e calibrar a estra�ficação

Classificar vegetação a par�r de imagens

de satélite

PARTE 1 RESUMO DOS PASSOS DO HCS INTEGRADO E METODOLOGIA CLIP SI

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FERRAMENTAS PARA METODOLOGIA HCSA METODOLOGIA DE ALTA CONCENTRAÇÃO DE CARBONO (HCS): ‘DESMATAMENTO ZERO’ EM PRÁTICA

Reajustando a Metodologia HCS em negociações pré-existentes

“Ao estabelecer novas plantações, a Metodologia HCS deve ser integrada em outros processos, tais como a proteção HCV e considerações de CLIP, desde o início”

Ao estabelecer novas plantações, a Metodologia HCS deve ser integrada a outros processos, tais como a proteção HCV e considerações de CLIP, desde o início. A principal parte deste capítulo propõe uma abordagem integrada para combinar os processos HCS e CLIP. No entanto, onde operadores já adquiriram terras e começaram a estabelecer plantações antes de adotar a Metodologia HCS, um processo participativo de revisão com conselheiros independentes precisa ser realizado para avaliar o grau de cumprimento dos princípios descritos neste capítulo. Em particular, porque a conservação de áreas de floresta HCS implica que áreas adicionais não estarão disponíveis para o desenvolvimento ou possuem restrições sobre o uso, isso pode afetar diretamente a quantidade de terras disponível para a população local, possivelmente reduzindo o número de áreas disponíveis para os meios de subsistência tradicionais, novas fazendas e gerações futuras. Isto pode reduzir substancialmente os benefícios que a população local antecipou quando concordou com a presença de um construtor e, por exemplo, área HCV em descanso. Operadores podem, portanto, ter que rever e refazer várias etapas a fim de obter conformidade, o que pode implicar na renegociação de acordos e planos de gestão com as comunidades para que novas áreas em descanso não os prive de seus benefícios, terras e meios de subsistência, ou restrinja a agricultura rotacional e outros sistemas de uso da terra em terrenos muito pequenos para serem sustentáveis. O estudo de caso apresentado no final do capítulo ilustra os desafios de reconfigurar o processo HCS para uma concessão existente, onde uma abordagem integrada e inclusiva não foi seguida desde o início. .

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Finalizar o mapeamento e planejamento de conservação

Combinar mandatos, regimes de gestão e monitoramento

Negociações com espaço para reuniões comunitárias

e conselhos

Acordo com as disposições sobre a terra, gestão,

bene�cios, etc.

Legalizar ou reconhecer o acordo juridicamente

vincula�vo

Implementar acordo sobre plantações, terra, meios de

subsistência, bene�cios, áreas em descanso

Monitoramento par�cipa�vo da implementação do acordo

A�var mecanismo de reclamação, se

necessário

Ajustar gestão, implementaçãoe planos de uso da terra,

se necessário

Verificação da implementação por terceira parte

independente

PARTE 2 RESUMO DOS PASSOS DO HCS INTEGRADO E METODOLOGIA CLIP

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Conclusões: Integrando o respeito pelos direitos das comunidades à terra e CLIP na Metodologia HCS

Já que respeitar os direitos das comunidades à terra e ao CLIP é uma exigência permanente e não um exercício único, elementos do CLIP devem ser plenamente integrados na Metodologia HCS. O Grupo de Coordenação da Metodologia HCS está liderando discussões entre profissionais a respeito da ordem ideal de cada etapa nos processos HCS e CLIP, incluindo como integrar avaliações de Alto Valor de Conservação. Uma visão inicial de uma metodologia integrada é apresentada nos diagramas à esquerda e à direita. No entanto, é importante entender que os processos de CLIP sempre vão variar de lugar para lugar e uma sequência definida pode não atender a todas as culturas, comunidades e localidades. .

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Estudo de caso

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“Como o resto do Kalimantan Ocidental, existem mudanças no uso da terra de grande porte no distrito de Kapuas Hulu devido à produção do óleo de dendê por empresas privadas”

A importância do envolvimento da comunidade na Metodologia HCS: Um estudo de caso da PT KPC Por Jana Nejedlá (TFT) e Pi Li Lim (Golden-Agri Resources)Os autores gostariam de agradecer Agung Wiyono, Guntur Tua Aritonang e Stephany Iriana Pasaribu do TFT pelas úteis informações sobre o contexto deste estudo de caso.

Introdução

Este estudo de caso centra-se na importância do envolvimento da comunidade na Metodologia HCS através de lições aprendidas em um projeto de HCS piloto na PT Kartika Prima Cipta (PT KPC), uma concessão de óleo de dendê em Kapuas Hulu, na província do Kalimantan Ocidental, Indonésia, uma subsidiária da Golden Agri-Resources Ltd (GAR). O objetivo deste projeto piloto é testar a implementação da Política de Conservação Florestal da GAR e apoiar a criação de uma estrutura para a implementação bem-sucedida da conservação pelo modelo HCS e políticas de Desmatamento Zero para indústria de óleo de dendê em geral.

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FERRAMENTAS PARA METODOLOGIA HCSA METODOLOGIA DE ALTA CONCENTRAÇÃO DE CARBONO (HCS): ‘DESMATAMENTO ZERO’ EM PRÁTICA

ContextoO distrito de Kapuas Hulu é uma área de planalto famosa por seus grandes lagos, extensas turfeiras e produtivas áreas de pesca no interior deste distrito. Em comparação com outros distritos, Kapuas Hulu já possui grandes áreas destinadas à conservação. Como o resto do Kalimantan Ocidental, existem mudanças de grande escala do uso da terra no distrito de Kapuas Hulu devido à produção do óleo de dendê por empresas privadas. Desde que a PT KPC iniciou suas operações na área em 2007, ela foi confrontada a reações mistas, tanto “a favor” quanto “contra” ao cultivo de óleo de dendê, pelas comunidades locais Dayak e Malay em alguns vilarejos. Mais recentemente, a empresa tem lidado com disputas e reclamações de comunidades que inicialmente apoiaram a produção do óleo de dendê e renderam suas terras. Essas comunidades estão argumentando que os benefícios prometidos estão se materializando muito lentamente, e que as áreas de plantio para pequenos agricultores não são tão extensas quanto o esperado.

Estas questões sociais, juntamente com a compreensão variada sobre as implicações das áreas em descanso do Alto Valor de Conservação (HCV) pelas comunidades, tornou difícil explicar e obter o comprometimento de comunidades com o novo conceito HCS. Muitas pessoas temiam que a conservação HCS resultaria em mais terras fechadas para o uso, limitando suas oportunidades de gerar meios de subsistência de produtos florestais não-madeireiros (PFNM), tais como borracha e pesca. A empresa e o TFT se esforçaram para compartilhar o conceito HCS com as principais partes interessadas em nível local no início de setembro de 2012, como parte do processo de socialização. As comunidades tinham fortes preocupações com o projeto-piloto HCS, incluindo incertezas sobre a perda de meios de subsistência caso não pudessem mais acessar áreas então identificadas para a conservação de florestas HCS; se a empresa iria desenvolver plasma (pequenas propriedades de óleo de dendê sob um regime regulamentado pelo governo) para eles; ou se a empresa iria assumir sua floresta tradicional. Em particular, as comunidades temiam que o zoneamento HCS não lhes permitiria continuar sua prática de agricultura de corte tradicional, um sistema móvel de agricultura que faz uso de áreas florestais por períodos relativamente curtos, após o qual as terras são deixadas para descansar permitindo a regeneração da floresta e regeneração da fertilidade do solo antes que o ciclo de depuração e uso comece novamente.

Obtendo o consentimento da comunidade Em resposta a estas preocupações, a PT KPC e o TFT desenvolveram um plano para melhorar o relacionamento com as comunidades e obter o seu consentimento para o projeto-piloto HCS. As primeiras medidas adotadas como parte deste plano foram um estudo de PFNMs e um processo de mapeamento participativo. Este estudo de caso centra-se no processo de mapeamento participativo dada a sua importância na Metodologia HCS. O planejamento é essencial para garantir que o processo de mapeamento participativo seja implementando de forma eficaz. As atividades que antecedem o mapeamento incluem o seguinte:

1. Capacitação para a gestão da PT KPC para que a comunidade possa fornecer orientações sobre o mapeamento participativo ao público.

Todas as fotos: Imagens de atividades de mapeamento participativo em PT KPC. Cortesia do TFT©

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Progressos até à data Para se preparar para o processo de mapeamento participativo, os empregados da PT KPC envolvidos no processo foram treinados (a partir de janeiro de 2014) no conceito de mapeamento participativo e identificação de PFNMs, CLIP e competências básicas de mapeamento. O TFT também realizou intensos debates com grupos de ONGs locais e internacionais que operam na área de Kapuas Hulu, e isso a fim de compreender melhor as comunidades locais.

Curiosamente, os processos de socialização mais demorados e desafiadores foram com os governos locais, incluindo o governo local do distrito de Kapuas Hulu, o governo do subdistrito de Suhaid e o governo do vilarejo (escritório do vilarejo e órgão representativo do vilarejo/BPD). Governos locais estavam preocupados em reservar ainda mais áreas para conservação, o que poderia afetar o desenvolvimento econômico do distrito. O projeto-piloto demonstrou que o envolvimento com os governos locais é um fator chave de sucesso para o processo de mapeamento participativo. O mapeamento participativo e a formação de consenso que segue são importantes processos de tomada de decisão.

As equipes da PT KPC e TFT enfrentaram vários desafios enquanto tentavam obter o CLIP para o processo HCS dos vilarejos e governos locais devido a::

• O fato de que HCS é um novo conceito e esta foi a primeira vez que o mapeamento participativo foi realizado nos vilarejos; havia, portanto, um baixo nível de compreensão de ambos.

• As ressalvas e o ceticismo dos aldeões, que foram abordados por várias ONGs e outros envolvidos para falar sobre seus problemas de posse de terra no passado, demonstraram que eles não estavam dispostos a acreditar que desta vez poderia trazê-los quaisquer benefícios. Além disso, a empresa continuou a abordar algumas comunidades que haviam anteriormente recusado seu consentimento para a produção de óleo de dendê.

• Comunidades estavam hesitantes em cooperar com a empresa e fornecer informações.

• Comunidades estavam hesitantes a cooperar com a empresa e fornecer informação.

Para quebrar essas barreiras, era importante para a PT KPC planejar e gerenciar as interações com as comunidades locais com cuidado e sensibilidade. A PT KPC e o TFT conduziram uma série de atividades, que incluíram o treinamento de comunidades no mapeamento participativo e processo de conservação HCS, e discussões com o governo para fornecer respostas e informações objetivas às suas perguntas ou preocupações. Essas atividades começaram com o governo do subdistrito de Suhaid, que deu sua permissão em Fevereiro de 2014 para as atividades continuarem em nível de subdistrito e com governos locais e representantes dos vilarejos. Após a socialização em nível de subdistrito, as atividades começaram nos vilarejos já visados.

2. Uma socialização abrangente com as diversas partes interessadas a fim de criar consciência e obter o apoio para o processo HCS das comunidades.

3. A capacidade técnica das comunidades envolvidas no processo de mapeamento foi construída por meio de treinamento e facilitação.

O exercício de mapeamento participativo descrito acima começou em três vilarejos, nomeadamente Desa Mensusai, Desa Kerangas e Desa Mantan, e foi implementado de Janeiro a Agosto de 2014. Todos os vilarejos na área de concessão da PT KPC foram abordados a participar do processo de mapeamento participativo, mas estes três vilarejos foram selecionados por terem os recursos e vontade de colaborar com a PT KPC e o TFT. O vilarejo de Desa Menapar também estava disposto a colaborar no processo de mapeamento participativo e foi mais tarde adicionado no escopo do projeto. Este vilarejo iniciou o processo de mapeamento participativo com o apoio da PT KPC e do TFT como uma história de sucesso precoce e exemplo para os outros vilarejos.

O chefe do vilarejo de Desa Kerangas observou o seguinte sobre o processo de mapeamento participativo:

“As coisas vão melhorar com o mapeamento participativo, porque o objetivo é proteger a próxima geração. Agora os limites do vilarejo são bastante claros para nós. Por exemplo, embora os moradores sempre tivessem tido uma compreensão dos outros vilarejos ao nosso redor, agora sabemos das fronteiras ao norte e a leste. Além disso, todos os ativos do vilarejo, tais como plantações de borracha e floresta sagrada, foram agora identificados. O impacto deste processo será o de proteger os interesses da próxima geração, para um futuro melhor.”

Todas as fotos: Imagens de atividades de mapeamento participativo em PT KPC. Cortesia do TFT©

Estudo de caso

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FERRAMENTAS PARA METODOLOGIA HCSA METODOLOGIA DE ALTA CONCENTRAÇÃO DE CARBONO (HCS): ‘DESMATAMENTO ZERO’ EM PRÁTICA

Para explicar o processo de mapeamento participativo e benefícios para as comunidades locais, idiomas locais e diferentes tipos de mídia (como fotos e apresentações) foram usados, garantindo que a informação compartilhada com as comunidades locais fossem bem recebidas e compreendidas. Em muitos casos, foi importante envolver grupos de interesses especiais nas conversas, como por exemplo grupos de mulheres, com opiniões sobre óleo de dendê e a vontade de participar no mapeamento participativo, que difere entre os vários grupos de interesse. Finalmente, foi necessário entender o processo de tomada de decisão em nível das comunidades, e levá-lo em consideração em todas as atividades consideradas.

Dispositivos como o GPS e treinamentos foram oferecidos às comunidades participantes pela PT KPC e pelo TFT; as comunidades, por sua vez, escolheram os membros que iriam participar. As equipes de cada um dos quatro vilarejos possuíam oficiais do vilarejo, membros do vilarejo com um bom conhecimento dos limites do vilarejo, representantes de grupos indígenas e representantes de vilarejos vizinhos. A equipe de mapeamento também usou notas das discussões com as comunidades e inputs de líderes comunitários que conhecem os limites físicos (ou fronteiras) do vilarejo e conhecem os acordos já firmados com os vilarejos vizinhos.

Embora a PT KPC e o TFT tenham desenvolvido um escopo abrangente para o exercício de mapeamento participativo, o resultado real da atividade de mapeamento foi derivado da participação das comunidades e priorização de informações importantes para eles. O mapeamento de campo resultou em coordenadas de GPS para os limites do vilarejo, estradas e assentamentos, bem como locais importantes para as funções socioculturais dos povos locais, tais como cemitérios, fontes de água, instalações educacionais e lugares culturais. Áreas designadas para futuro plantio e desenvolvimento da comunidade também estavam incluídas. A equipe de especialistas em mapeamento do TFT incorporou esses dados em mapas provisórios, que foram compartilhados com a equipe de mapeamento de cada vilarejo para revalidação dos dados, com fotografias fornecidas como material de referência. O mapeamento atual identificou os limites de vilarejos e algumas áreas importantes para as comunidades locais, tais como áreas de infraestrutura e recursos. O mapeamento nos quatro vilarejos foi realizado até fevereiro de 2015 para definir o planejamento de uso da terra atual e futuro das comunidades. O esboço final dos mapas será discutido com representantes dos vilarejos vizinhos e com o governo do subdistrito para assegurar que os dados fornecidos pelas comunidades coincidam com o que já é conhecido pelo subdistrito.

Depois de que todas as partes interessadas chegaram a um acordo sobre a versão final dos mapas, estes foram dados aos respectivos vilarejos para que sejam então assinados pelos governos locais e administradores do vilarejo, incluindo representantes de grupos indígenas. Os mapas finais indicarão os limites de suas terras e certos aspectos do uso da terra (por exemplo, agricultura, floresta tradicional, habitação, instalações públicas), bem como aspectos importantes para as comunidades, tais como áreas de recursos naturais e locais sagrados.

ConclusõesO caso PT KPC ilustra a importância do mapeamento participativo como um passo crítico no processo de planejamento do uso da terra e também como base para o cumprimento dos direitos de povos indígenas e locais ao CLIP. Igualmente, os direitos e meios de subsistência destas comunidades locais precisam ser incorporados na metodologia HCS para garantir que ambos sejam reconhecidos e protegidos. Isto inclui a discussão de como áreas HCS serão protegidas e gerenciadas, e o verdadeiro papel e a participação das comunidades nesse processo. Um importante resultado do projeto-piloto HCS é que o mapeamento participativo está agora incluído na Metodologia HCS.

Este estudo de caso demonstra que as relações com a comunidade e comprometimento das partes interessadas são cruciais para conservação e metodologia HCS. Todas as partes interessadas precisam entender o que deve ser alcançado e precisam ser envolvidas para ajudar a desenvolver políticas e práticas no terreno. Tal engajamento integrador só pode ser construído sobre uma base de confiança e comunicação aberta. Este processo de engajamento exige que os interessados tenham paciência e uma disposição de investir em uma comunicação aberta (e construtiva) em busca de soluções que beneficiassem todas as partes interessadas.

Referências (estudo de caso)

Forest Peoples Programme (2014). “Independent review of the social impacts of Golden Agri Resources’ Policy in Kapuas Hulu District, West Kalimantan.” Disponível em:http://www.forestpeoples.org/sites/fpp/files/publication/2014/01/pt-kpc-report-january-2014final.pdf

Golden-Agri Resources (2013). “GAR and SMART implement pilot on High Carbon Stock forest conservation.” Press Release March 13, 2013. Disponível em:http://www.smart-tbk.com/pdfs/Announcements/GAR13-03-2013-PressReleaseAndPreso-GARandSMARTimplementpilotonHCS-inEnglish%20final.pdf

Golden-Agri Resources (2014). “Response from GAR regarding FPP’s Independent Review of the Social Impacts of Golden Agri-Resources’ Forest Conservation Policy in Kapuas Hulu District, West Kalimantan.” Disponível em:http://www.goldenagri.com.sg/pdfs/News%20Releases/2014/Media%20Statement%20170114%20-%20Response%20from%20GAR%20regarding%20FPP.pdf

“Este estudo de caso demonstra que as relações com a comunidade e comprometimento das partes interessadas são cruciais para conservação pela metodologia HCS. Tal engajamento construtivo só pode ser construído sobre uma base de confiança e comunicação aberta”