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Prevenção de acidentes Os acidentes podem matar e mutilar. Afectam todos os sectores da economia, mas o problema é particularmente grave nas pequenas e médias empresas (PME). Para al ém do custo em termos de perda de vidas e de sofrimento para os trabalhadores e as suas famílias, os acidentes afectam as empresas e a sociedade em geral. Diminui ção dos acidentes significa também diminuição das ausências por doença, dos custos e das perturbações do processo produtivo. Al ém disso, permite às entidades patronais poupar despesas de recrutamento e formação de novo pessoal e reduzir os custos de reformas antecipadas e de prémios de seguro. Os escorregões, tropeções e quedas são a causa mais frequente de acidentes em todos os sectores, desde a indústria transformadora pesada ao trabalho de escritório. Entre os demais perigos, pode referir-se a queda de objectos, as queimaduras t érmicas e químicas, incêndios e explosões, substâncias perigosas e stresse. Para prevenir acidentes no local de trabalho, as entidades patronais devem instaurar um sistema de gest ão da segurança que inclua a avaliação de riscos e procedimentos de acompanhamento. Factos essenciais A cada poucos minutos, morre uma pessoa na Uni ão Europeia por causas relacionadas com o trabalho Todos os anos, centenas de milhares de trabalhadores se lesionam no trabalho Os homens têm mais acidentes do que as mulheres Os jovens trabalhadores têm uma taxa de acidentes muito superior à dos outros grupos etários; os trabalhadores mais velhos têm mais acidentes fatais A taxa de acidentes é mais elevada nas pequenas e médias empresas (PME) As taxas de acidentes são mais elevadas em alguns sectores, nomeadamente na agricultura e na construção civil Os acidentes ocorridos de noite tendem a ser mais graves do que os que ocorrem durante o dia. Os ferimentos e as lesões superficiais são os tipos de lesão mais frequentes Os trabalhadores que trabalham por turnos apresentam uma taxa de acidentes mais elevada. Integração da SST nos processos de gestão empresarial As organizações têm formas diferentes de lidar com a segurança e saúde no trabalho (SST). Algumas têm pouca experi ência neste domínio e limitam-se a reagir aos acidentes de trabalho, às doenças profissionais e ao absentismo à medida que estes vão surgindo. Outras procuram gerir a segurança e saúde no trabalho de uma forma mais sistemática, e mesmo pró-activa, integrando a SST na sua estrutura de gest ão empresarial. Este relatório tem como objectivo fornecer provas e informações sobre a integração da SST no processo global de gestão empresarial, de forma a proporcionar um ambiente de trabalho mais seguro e saudável e um melhor desempenho organizacional, em termos gerais. O presente relatório está dividido em três partes principais, cada uma delas com um enfoque específico: uma recensão bibliográfica, uma panorâmica das pol íticas conexas e exemplos de boas práticas. Recensão bibliográfica

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Prevenção de acidentes

Os acidentes podem matar e mutilar. Afectam todos os sectores da economia, mas o problema é particularmente grave nas pequenas e médias empresas (PME).

Para além do custo em termos de perda de vidas e de sofrimento para os trabalhadores e as suas famílias, os acidentes afectam as empresas e a sociedade em geral. Diminuição dos acidentes significa também diminuição das ausências por doença, dos custos e das perturbações do processo produtivo. Além disso, permite às entidades patronais poupar despesas de recrutamento e formação de novo pessoal e reduzir os custos de reformas antecipadas e de prémios de seguro.

Os escorregões, tropeções e quedas são a causa mais frequente de acidentes em todos os sectores, desde a indústria transformadora pesada ao trabalho de escritório. Entre os demais perigos, pode referir-se a queda de objectos, as queimaduras térmicas e químicas, incêndios e explosões, substâncias perigosas e stresse. Para prevenir acidentes no local de trabalho, as entidades patronais devem instaurar um sistema de gestão da segurança que inclua a avaliação de riscos e procedimentos de acompanhamento.

Factos essenciais

A cada poucos minutos, morre uma pessoa na União Europeia por causas relacionadas com o trabalho

Todos os anos, centenas de milhares de trabalhadores se lesionam no trabalho

Os homens têm mais acidentes do que as mulheres

Os jovens trabalhadores têm uma taxa de acidentes muito superior à dos outros grupos etários; os trabalhadores mais velhos têm mais acidentes fatais

A taxa de acidentes é mais elevada nas pequenas e médias empresas (PME)

As taxas de acidentes são mais elevadas em alguns sectores, nomeadamente na agricultura e na construção civil

Os acidentes ocorridos de noite tendem a ser mais graves do que os que ocorrem durante o dia.

Os ferimentos e as lesões superficiais são os tipos de lesão mais frequentes

Os trabalhadores que trabalham por turnos apresentam uma taxa de acidentes mais elevada.

Integração da SST nos processos de gestão empresarial

As organizações têm formas diferentes de lidar com a segurança e saúde no trabalho (SST). Algumas têm pouca experiência neste domínio e limitam-se a reagir aos acidentes de trabalho, às doenças profissionais e ao absentismo à medida que estes vão surgindo. Outras procuram gerir a segurança e saúde no trabalho de uma forma mais sistemática, e mesmo pró-activa, integrando a SST na sua estrutura de gestão empresarial. Este relatório tem como objectivo fornecer provas e informações sobre a integração da SST no processo global de gestão empresarial, de forma a proporcionar um ambiente de trabalho mais seguro e saudável e um melhor desempenho organizacional, em termos gerais. O presente relatório está dividido em três partes principais, cada uma delas com um enfoque específico: uma recensão bibliográfica, uma panorâmica das políticas conexas e exemplos de boas práticas.

Recensão bibliográfica

Esta recensão fornece uma panorâmica dos estudos que revelam os métodos mais eficazes de gestão da SST no seio de uma organização e até que ponto pode ser integrada na estrutura empresarial e administrativa de uma organização. Em primeiro lugar, a recensão debruça-se sobre a integração da SST no processo de gestão. São debatidas as diferenças entre gestão tradicional e os modernos sistemas de gestão da SST, bem como a aplicação e a eficácia dos sistemas de gestão de SST. É também analisada a forma como a SST pode ser associada a programas eficazes de gestão e saúde ocupacional (por exemplo, através da promoção da saúde no local de trabalho). Uma vez que as organizações podem ter implementado simultaneamente vários sistemas de gestão e/ou normas de sistemas de gestão (no que diz respeito à qualidade, ao ambiente e à SST), a integração desses mesmos sistemas poderá revelar-se necessária. Assim sendo, a recensão abarca também os «sistemas de gestão integrados» (SGI). Os estudos são unânimes em afirmar que a gestão da SST deve ser encarada como parte da estrutura global de gestão e não como um processo empresarial isolado. Acredita-se que quanto mais próxima a SST estiver do cerne das actividades de uma organização, melhor será o seu desempenho em tempos de mudança organizacional (provocada, por exemplo, por dificuldades económicas, fusões, redução de pessoal ou rápida inovação tecnológica). Contudo, um dos problemas que poderá eventualmente advir de uma integração plena será o de a SST receber menor atenção em comparação com outras questões: a prioridade é frequentemente concedida às questões consideradas urgentes e os assuntos relacionados com a produção são, em comparação, muito mais prementes. Alguns peritos salientam, por isso, a importância de encarar a SST como uma «agenda política» que deve ser promovida, pois por vezes entra em conflito com outras agendas (por exemplo, com a agenda de produção). A obtenção de resultados positivos na área da SST requer muito mais do que a implementação de um sistema de gestão da SST bem integrado com outros programas e sistemas de gestão já existentes. As organizações têm ainda de lidar com os aspectos culturais e políticos associados ao local de trabalho, tema esse que será discutido na segunda parte da recensão. Os resultados da recensão bibliográfica confirmam as afirmações a seguir apresentadas. ■ Existe muita investigação e interesse nas questões de gestão da SST e de incorporação da SST nos processos globais empresariais e administrativos. ■ A investigação sobre a eficácia da gestão da SST encontra-se ainda no início e debate-se com várias dificuldades metodológicas. ■ As descrições e os exemplos de sistemas de gestão da SST revelam que estes sistemas se centram sobretudo na segurança (prevenção de acidentes) e não na prevenção de outros efeitos negativos para a saúde relacionados com o trabalho. ■ Parecem existir poucos sistemas de gestão da SST centrados nos riscos organizacionais e nos efeitos psicossociais para a saúde (por exemplo, violência e conflitos no local de trabalho, problemas relacionados com a realização de turnos ou horas extraordinárias, etc.). ■ Em termos gerais, o emprego ocasional (temporário ou a tempo parcial, teletrabalho, etc.) e o emprego em pequenas e médias empresas podem ser considerados dois factores importantes que colocam desafios substanciais à gestão da SST. ■ Outro desafio à investigação consiste na prossecução dos estudos sobre a eficácia e qualidade das estratégias ou processos de gestão da SST e sobre a forma como estes cumprem os requisitos da Directiva-Quadro (1). (1) Directiva do Conselho de 12 de Junho de 1989 relativa à aplicação de medidas destinadas a promover a melhoria da segurança e saúde dos trabalhadores no trabalho (89/391/CEE).

Panorâmica das medidas adoptadas A formulação, implementação e promoção de uma abordagem integrada e pró-activa da gestão da SST é apoiada por políticas e práticas estabelecidas aos níveis internacional, europeu e nacional. Tais políticas e práticas destinadas a promover e a apoiar a incorporação das questões de SST nas estruturas de gestão são também apresentadas no relatório. Nele são discutidas estratégias, disposições legais, normas, orientações, programas e campanhas, iniciados e promovidos por vários intervenientes, entre os quais organizações internacionais, instituições comunitárias, governos, associações de empregadores e trabalhadores, inspecções do trabalho, seguradoras, etc. As políticas relacionadas com a gestão da SST incluem medidas de aplicação obrigatória e voluntária. O quadro legal sobre o qual assenta a gestão sistemática da SST e a implementação dos sistemas de gestão da SST foi estabelecido no seio da União Europeia através da Directiva-Quadro. A directiva define os objectivos de base da gestão da SST e as medidas necessárias para a concretização de tais objectivos. A aplicação da

legislação é adjuvada por várias iniciativas voluntárias direccionadas para a melhoria da SST. A Organização Internacional do trabalho (OIT) desempenha um papel importante na promoção da aplicação e implementação de sistemas de gestão voluntários da SST. A abordagem da OIT é apoiada por várias práticas nacionais, incluindo por orientações nacionais e programas promocionais. Os exemplos de acções implementadas com sucesso em diversos países da União Europeia e descritos no relatório confirmam que: ■ O desenvolvimento e a implementação de políticas de gestão da SST requerem a cooperação de diferentes intervenientes, incluindo governos, seguradoras, associações de empregadores e sindicatos. Esta cooperação é um factor fundamental para o sucesso das iniciativas. ■ Podem ser disponibilizados incentivos vários (incluindo seminários, ferramentas e acções de formação gratuitos) para levar as organizações a desenvolver as suas estratégias de gestão da SST. ■ A sustentabilidade, que deve ser energicamente promovida, é um dos principais factores que influenciam o impacto a longo prazo destas políticas. ■ É necessário apostar num maior desenvolvimento destas políticas e práticas para assegurar uma melhor integração de todas as questões relacionadas com a SST no seio dos processos globais empresariais e administrativos.

Estudos de caso Muitas organizações têm revelado interesse na prossecução de esforços sistemáticos e contínuos para a melhoria das condições de SST. Algumas organizações não se limitam apenas a cumprir os regulamentos. Em vez disso, promovem actividades destinadas a incorporar a cultura de SST na sua cultura global empresarial. Nestas organizações, a gestão da SST é normalmente considerada uma parte integrante da gestão no seu conjunto. Os estudos de caso apresentados no relatório fornecem exemplos e boas práticas para a incorporação da SST nos processos globais empresariais e administrativos. Para tal, apresenta uma selecção de 20 casos e um panorama da situação em 12 Estados-Membros da União Europeia. Os casos apresentados revelam que, entre outras vantagens, a melhoria da gestão da SST pode: ■ aumentar a motivação dos trabalhadores e melhorar o processo de avaliação de riscos e de avaliação da implementação da SST; ■ melhorar as condições de trabalho e o bem-estar dos trabalhadores e, consequentemente, reduzir a taxa de acidentes de trabalho, o número de dias de trabalho perdidos devido a acidentes e doenças profissionais e os custos decorrentes destas situações. Muitos dos exemplos apresentados no relatório são relativos a organizações que se esforçam por melhorar continuamente as condições de trabalho e a saúde e segurança dos seus trabalhadores. Esta sua actuação não se deve apenas a razões de ordem moral, mas também porque acreditam que a criação de um ambiente de trabalho seguro e saudável resultará na redução dos prejuízos e no aumento da produtividade e da competitividade. Considera-se que uma gestão eficiente da SST está intimamente relacionada com as actividades estratégicas destinadas a melhorar o desempenho global das organizações.

• Que devo fazer? Conselhos para as entidades patronais

Realizar uma avaliação de riscos

1. Realizar uma avaliação de riscos As entidades patronais devem tomar as medidas necessárias para garantir a saúde e a segurança dos trabalhadores Para prevenir acidentes, deve instaurar um sistema de gestão da saúde e da segurança que inclua a avaliação de riscos, a gestão dos riscos e procedimentos de acompanhamento. Os princípios orientadores que devem ser tidos em consideração no processo de avaliação de riscos podem ser divididos em cinco etapas:

• Etapa 1. Identificação dos perigos e das pessoas em risco Análise dos aspectos do trabalho que podem causar danos e identificação dos trabalhadores que podem estar expostos ao perigo.

• Etapa 2. Avaliação e prioritarização dos riscos Apreciação dos riscos existentes (sua gravidade e probabilidade …) e classificação desses riscos por ordem de importância. É essencial definir a prioridade do trabalho a realizar para eliminar ou evitar os riscos.

• Etapa 3. Decisão sobre medidas preventivas Identificação das medidas adequadas de eliminação ou controlo dos riscos.

• Etapa 4. Adopção de medidas Aplicação das medidas preventivas e de protecção, através da elaboração de um plano de prioridades (provavelmente não será possível resolver imediatamente todos os problemas) e especificando a quem compete fazer o quê e quando, prazos de execução das tarefas e meios afectados à aplicação das medidas.

• Etapa 5. Acompanhamento e revisão

A avaliação deve ser revista a intervalos regulares, para assegurar a sua permanente actualização. Deve ainda ser revista sempre que se verifiquem na organização mudanças relevantes, ou na sequência dos resultados de uma investigação sobre um acidente ou um “quase acidente”.

Perigos e riscos significativos

Todos os perigos identificados na avaliação de riscos devem ser tratados. O tipo de perigo, o grau de risco que representa e a gravidade do dano que pode causar variam de um local de trabalho para outro e de sector para sector. Abordamos em seguida apenas alguns dos aspectos a ter em atenção.

• Equipamentos e instalações de trabalho: protecções mecânicas para evitar o contacto com objectos perigosos inadequadas, falta de manutenção do equipamento e dos veículos de trabalho, cortes e lascas de lâminas, ângulos, folhas de metal, ferramentas ou extremidades, perigos eléctricos.

• Local de trabalho: desordem — arrumação, limpeza e controlo —, má visibilidade em zonas em que operam veículos e equipamento de elevação, como gruas móveis, mistura de pessoas e veículos, principalmente nas entradas e saídas de garagens, armazéns e depósitos.

• Transporte no local de trabalho: movimentos não controlados de objectos, como barris mal imobilizados e outras cargas e embalagens, no armazém ou durante o transporte, a distribuição ou a movimentação. Pessoas atingidas ou atropeladas por veículos em movimento, pessoas que caem de veículos ou são atingidas por objectos que tombam de veículos, ou veículos capotados.

• Trabalhadores: falta de informação, instrução, formação, supervisão e educação.

• Trabalho em altura: em andaimes, escadotes, escadas, pontes rolantes e rampas; existe igualmente um risco de queda de objectos sobre as pessoas que trabalham num nível inferior.

• Queimaduras: queimaduras térmicas causadas pelo trabalho com superfícies quentes, líquidos quentes, vapores, gases ou sistemas de aquecimento; queimaduras químicas causadas por substâncias corrosivas, nomeadamente por ácidos fortes e bases estremes utilizadas como produtos de limpeza.

• Incêndios e explosões causados pela conjugação de três factores — combustível, oxigénio e uma fonte de ignição.

• Substâncias perigosas: podem ser fatais quando inaladas; por exemplo, o monóxido

de carbono, "assassino silencioso", gerado pela combustão incompleta, nomeadamente nos gases de escape.

• Asfixia: certos trabalhos implicam a exposição ao risco de asfixia, ou seja, à falta de oxigénio. Tal pode ser o caso dos trabalhos realizados em espaços confinados, como cubas, tanques, reactores ou condutas.

• Factores psicossociais: o stresse pode agravar o risco de acidentes de trabalho.

Escorregões, tropeções e quedas

Os escorregões, tropeções e quedas são a causa mais frequente de acidentes em todos os sectores, desde a indústria transformadora pesada ao trabalho de escritório. Contudo, há medidas simples que podem ser tomadas para reduzir o risco de lesões. Sempre que possível, o objectivo consiste em eliminar os riscos na origem, por exemplo, nivelando pavimentos irregulares. A segunda melhor opção consiste na substituição, por exemplo, utilizando um método alternativo de limpeza dos pavimentos; a opção seguinte é a separação, por exemplo, utilizando barreiras para vedar o acesso dos trabalhadores aos pavimentos molhados. A medida final é a protecção, por exemplo, usando calçado de protecção e solas antiderrapantes. Os equipamentos de protecção individual devem ser utilizados após se terem esgotado todas as medidas técnicas e de protecção colectiva. Prevenção eficaz

• Uma boa ordem — mantenha o espaço de trabalho limpo e arrumado, com pavimentos e vias de acesso isentos de obstáculos. Remova os resíduos regularmente, de modo a que não se acumulem.

• Limpeza e manutenção — os resíduos devem ser removidos regularmente e as áreas de trabalho devem estar desobstruídas. Os métodos e os equipamentos de limpeza devem estar adaptados à superfície a tratar.

• Iluminação — assegure bons níveis de iluminação e o posicionamento das luzes para uma distribuição homogénea da iluminação em toda a superfície dos pavimentos e para que todos os potenciais perigos, obstruções e derramamentos possam ser facilmente vistos.

• A superfície dos pavimentos deve ser verificada com regularidade para detectar possíveis estragos e, sempre que necessário, deve proceder-se à sua manutenção. Constituem perigos potenciais buracos, fissuras, alcatifas e tapetes soltos, entre outros. A superfície dos pavimentos deve ser adaptada ao trabalho a executar; pode, por exemplo, ter de ser resistente aos óleos e produtos químicos utilizados nos processos de produção. O revestimento ou tratamento químico dos pavimentos pode melhorar as suas características antiderrapantes.

• Escadas — os corrimãos, os revestimentos de degraus antiderrapantes, uma visibilidade muito boa e marcações antiderrapantes das arestas dos degraus, bem como uma boa iluminação, podem ajudar a prevenir os escorregões e tropeções em escadas.

• Derramamentos — os derramamentos devem ser imediatamente limpos com um método de limpeza adequado. Sinalize perigo onde o pavimento está molhado e organize vias de circulação alternativas.

• Obstruções — sempre que possível devem ser removidas. Caso não seja possível removê-las, devem ser utilizadas barreiras adequadas e afixados avisos de perigo.

• Cabos de manobras — coloque o equipamento de modo a que os cabos não atravessem as vias de circulação pedonal. Cubra os cabos e prenda-os aos pavimentos.

• Calçado — os trabalhadores devem dispor de calçado adequado. Tome em consideração o tipo de trabalho, a superfície dos pavimentos, as condições de pavimento típicas e as propriedades antiderrapantes das solas.

• Os locais de trabalho exteriores devem ser organizados de modo a minimizar os riscos, nomeadamente através de medidas antiderrapantes em caso de gelo e da utilização de calçado adequado.

Construção — um "ponto negro" em termos de acidentes

Na UE, a construção civil é um dos sectores mais perigosos. Os principais perigos incluem o trabalho em altura, os trabalhos de escavação e a movimentação de cargas. É necessário conferir prioridade a medidas que eliminem ou reduzam os perigos na sua origem e que proporcionem uma protecção colectiva.

• Trabalho em altura — as quedas em altura constituem a causa mais comum de lesões e mortes. As causas incluem: trabalho em andaimes ou plataformas que não estão equipados com guias de segurança, ou sem que o trabalhador tenha um arnês de segurança correctamente colocado, telhados frágeis e escadas que não são adequadamente apoiadas, posicionadas e fixadas. Todo o processo de construção deverá ser planeado, desde a fase de projecto, de forma a minimizar o risco de ocorrência de quedas.

• Trabalho em escavações — antes do início de qualquer trabalho de escavação, devem ser considerados todos os perigos potenciais, incluindo aluimentos, queda de pessoas e veículos nas escavações e debilitação de estruturas próximas. Em seguida, devem ser tomadas as precauções adequadas. Devem ser localizados e marcados todos os equipamentos subterrâneos, e tomadas medidas para os evitar; verifique se todo o material de apoio à escavação se encontra no local e se existe um método seguro de colocação e remoção de material de apoio.

• Movimentação de cargas — elabore um plano destinado a minimizar a movimentação de materiais e a assegurar um manuseamento seguro dos mesmos. O equipamento tem de ser montado e utilizado por trabalhadores com formação e experiência e regularmente inspeccionado por pessoal competente.

• "Limpeza" geral e acesso seguro — verifique se existem acessos seguros (estradas, passadeiras, escadas ou andaimes) para entrada e saída em todos os locais de trabalho, se os materiais são guardados de forma segura, se as aberturas têm vedações ou estão cobertas e correctamente assinaladas, se são tomadas as medidas adequadas para recolher e eliminar os resíduos e se a iluminação é adequada.

Lista de verificação da prevenção de acidentes

• Foram claramente definidos os procedimentos e as responsabilidades em matéria de saúde e segurança e todos conhecem as responsabilidades próprias e alheias?

• Sabe o que tem de fazer para cumprir a legislação em matéria de saúde e segurança? Se não sabe, designou uma pessoa competente que o possa aconselhar?

• Identificou os principais riscos para a saúde e a segurança e tomou medidas com vista à sua eliminação ou redução?

• As suas disposições relativas à manutenção do equipamento de trabalho são adequadas?

• Forneceu aos seus trabalhadores o equipamento necessário para se protegerem contra riscos que não podem ser evitados por outros meios? Deu-lhes formação sobre a utilização desse equipamento?

• Forneceu informação aos trabalhadores sobre os riscos existentes, deu-lhes formação sobre métodos de trabalho seguros e procedimentos de emergência?

• Consulta os seus trabalhadores sobre questões de saúde e segurança, incluindo alterações a nível da política, dos métodos de trabalho e do equipamento?

• Os seus trabalhadores sabem como comunicar a falta de condições de segurança e a ocorrência de acidentes?

• Toma medidas imediatas para investigar acidentes, quase-acidentes e problemas assinalados?

• Inspecciona regularmente o local de trabalho e verifica se os trabalhadores observam os procedimentos de segurança no trabalho?

• Dispõe de algum mecanismo para rever a sua política de saúde e segurança, bem como os métodos de trabalho?

Consulta, informação e formação

As entidades patronais devem consultar os seus trabalhadores sobre medidas de saúde e segurança, e também antes da introdução de novas tecnologias ou produtos. Recorrer aos conhecimentos dos trabalhadores ajuda a assegurar a detecção dos perigos e a aplicar soluções viáveis. A consulta ajuda a garantir a participação dos trabalhadores nos procedimentos e melhoramentos no domínio da segurança e da saúde. Os trabalhadores têm o direito de receber informação sobre os riscos para a saúde e a segurança, bem como sobre medidas preventivas, primeiros socorros e procedimentos de emergência. É necessário que todos os trabalhadores saibam trabalhar de forma segura. A formação deverá ser pertinente e compreensível, inclusivamente para os trabalhadores que falam uma língua diferente. Deverá ser ministrada formação aos novos trabalhadores e aos trabalhadores antigos quando houver alterações nas práticas ou no equipamento de trabalho, mudança de funções ou introdução de novas tecnologias. A formação deve concentrar-se:

• nos princípios do sistema de gestão da segurança e nas responsabilidades dos trabalhadores

• nos perigos e riscos específicos do trabalho

• nas aptidões necessárias à realização das tarefas

• nos procedimentos a observar para evitar os riscos

• nas medidas de prevenção a tomar antes, durante e após a realização da tarefa

• nas instruções de saúde e segurança específicas para o trabalho com equipamento técnico e produtos perigosos

• na informação sobre protecção colectiva e individual

• nas fontes de informação sobre saúde e segurança acessíveis aos trabalhadores

• nas pessoas a contactar sobre novos riscos ou em caso de emergência.

Empregar trabalhadores que podem correr maior risco

Trabalhadores com deficiência Aos trabalhadores com deficiência deve ser assegurada igualdade de tratamento no trabalho. A segurança e saúde não devem servir de pretexto para não empregar ou não continuar a empregar pessoas com deficiência; por exemplo, argumentar que um trabalhador numa cadeira de rodas não pode ser evacuado de um edifício em caso de emergência ou que um trabalhador com deficiência auditiva não pode ouvir um alarme de incêndio. A entidade patronal deve demonstrar - por exemplo, após ter realizado uma avaliação de riscos adequada e procurado aconselhamento competente junto de uma organização especializada em deficiências - que existe um problema genuíno que não pode ser ultrapassado. Neste caso, devem ser tomadas medidas para integrar a pessoa com deficiência, nomeadamente a sua transferência para outro trabalho.

A avaliação de riscos e as medidas de prevenção de acidentes devem ter em conta as diferenças individuais dos trabalhadores. Poderá ser necessário prever avaliações de riscos e formação distintas para trabalhadores com deficiência. As medidas de prevenção de acidentes para pessoas com deficiência podem contribuir igualmente para reduzir os acidentes com todos os trabalhadores, como é o caso de:

• uma boa iluminação do local de trabalho

• acessos e saídas seguras do local de trabalho

• vias pedonais e de circulação em boas condições de manutenção no local de trabalho

• boa comunicação e boa sinalização dos perigos e riscos no local de trabalho.

Jovens trabalhadores Dados nacionais e europeus indicam que os trabalhadores mais jovens correm maior risco de sofrer acidentes de trabalho. No entanto, as taxas de acidentes e as suas causas variam muito entre os diferentes sectores e profissões. Os jovens trabalhadores apresentam taxas de acidentes mortais geralmente mais baixas, embora, em alguns sectores, essas taxas possam ser elevadas. A agricultura apresenta a taxa de incidência mais elevada, seguida pela construção, os transportes e comunicações e a indústria. A construção é o sector onde se registam mais mortes de trabalhadores jovens. As mortes no comércio retalhista estão também a aumentar em alguns países, constituindo uma elevada percentagem das mortes de mulheres neste sector. Trabalhadores mais velhos

Estudos indicam que, embora os trabalhadores mais velhos sofram menos acidentes, as suas lesões são muitas vezes mais graves e demoram mais tempo a sarar. Os escorregões, tropeções e quedas são a causa mais frequente de acidentes em todos os sectores, desde a indústria transformadora pesada ao trabalho de escritório. Enquanto os trabalhadores mais jovens tendem a sofrer mais lesões nos olhos ou nas mãos, os trabalhadores mais velhos sofrem mais de lesões lombares. Os trabalhadores mais velhos poderão ter mais dificuldade em ver ou focalizar a determinadas distâncias, têm menor visão periférica, vêm as coisas com menor clareza, têm maior dificuldade em percepcionar a profundidade e podem ser mais sensíveis ao encandeamento. Têm igualmente maior probabilidade de sofrer de outros males que afectam a visão, como cataratas e afecções da retina. Estas alterações da capacidade visual podem aumentar o risco de acidentes. Além disso, um défice de equilíbrio, reflexos mais lentos, problemas visuais e falta de concentração podem resultar em quedas. Mulheres Globalmente, os homens apresentam uma taxa de acidentes mais elevada, mesmo após o ajustamento ao menor número de horas de trabalho das mulheres. Contudo, as mulheres tendem a concentrar-se em determinadas profissões, pelo que enfrentam os perigos específicos a essas profissões. São necessários esforços sustentados para melhorar as condições de trabalho das mulheres e dos homens. A abordagem neutra em termos de género na avaliação dos riscos e na prevenção pode levar a que os riscos incorridos pelas mulheres sejam subestimados ou mesmo ignorados. Quando evocamos os riscos no trabalho, pensamos geralmente nos homens que trabalham em ambientes de alto risco de acidentes, como uma obra, e não nas mulheres que trabalham em serviços de saúde ou sociais, por exemplo. Uma análise cuidada das condições reais de trabalho revela que as mulheres, tal como os homens, se podem confrontar com riscos significativos no seu trabalho. Em consequência, importa ter em conta o género na avaliação

dos riscos no local de trabalho. A integração da dimensão do género na prevenção dos riscos está já consagrada como objectivo da Comunidade Europeia. Trabalhadores migrantes Apesar da crescente sensibilização para o papel crucial desempenhado pelos trabalhadores migrantes na prosperidade económica dos países, é necessário prestar maior atenção às suas condições de emprego e de trabalho. A expressão "trabalhadores migrantes" abrange uma vasta gama de pessoas, que migraram por diferentes razões e possuem os mais diversos níveis de qualificações. Nem todos os trabalhadores migrantes estão "em risco", mas há três questões preocupantes em termos de saúde e segurança no trabalho:

• Elevado índice de emprego em sectores de alto risco

• barreiras linguísticas e culturais à comunicação e à formação em matéria de saúde e segurança

• É frequente os trabalhadores migrantes fazerem muitas horas extraordinárias e/ou não estarem nas melhores condições de saúde, sendo, por isso, mais vulneráveis a lesões e a doenças profissionais.

Trabalhadores precários Os trabalhadores precários — aqueles que não têm segurança de emprego — podem ser expostos a maiores riscos para a saúde. Este tipo de emprego, que se está a tornar comum nos países desenvolvidos e é corrente nas economias em desenvolvimento, pode igualmente ser definido por algumas características típicas, como o trabalho temporário, baixo nível de controlo sobre o trabalho, ausência de benefícios e baixos rendimentos. Estudos revelaram que o emprego precário está associado a uma deterioração da saúde e da segurança no trabalho em termos de incidência de lesões, riscos de doença e exposição a perigos. Trabalhadores da manutenção Muitos acidentes, como escorregões, tropeções e quedas, acontecem devido a falta de manutenção ou em consequência de uma deficiente manutenção:

• a subcontratação múltipla dos trabalhos de manutenção dificulta a gestão da SST e a partilha de informações sobre a gestão dos riscos

• a realização da manutenção com fortes restrições de tempo pode estar na origem de acidentes.

Legislação europeia

Nos termos das directivas comunitárias, as entidades patronais são responsáveis pela saúde e pela segurança dos seus trabalhadores. A Directiva 89/391/CEE estabelece o enquadramento geral para a gestão da saúde e da segurança e para a identificação e a prevenção dos riscos. As entidades patronais têm a obrigação de avaliar os riscos e tomar medidas práticas para proteger a saúde e a segurança dos seus trabalhadores, manter registos dos acidentes, fornecer informação e ministrar formação, consultar os trabalhadores e com eles cooperar, e coordenar medidas com contratantes. Há outras directivas individuais igualmente importantes para a prevenção de acidentes.

Como defendo a minha segurança? Conselhos para os trabalhadores

Perigos e riscos enfrentados pelos trabalhadores

O tipo de perigo, o grau de risco que representa e a gravidade do dano que pode causar variam de um local de trabalho para outro e de sector para sector. Os escorregões, tropeções e quedas são a causa mais frequente de acidentes em todos os sectores, desde a indústria transformadora pesada ao trabalho de escritório. Os trabalhadores correm ainda riscos em resultado de:

• falta de informação, instrução, formação, supervisão e educação

• queda de objectos:

• queimaduras térmicas e químicas

• incêndios e explosões

• substâncias perigosas

• asfixia

• stresse.

Deve falar com a sua entidade patronal ou com o representante dos trabalhadores se uma das seguintes situações se verificar no seu local de trabalho: Equipamentos e instalações de trabalho:

• protecções mecânicas para evitar o contacto com objectos perigosos inadequadas

• falta de manutenção do equipamento e dos veículos de trabalho

• cortes e lascas de lâminas, ângulos, folhas de metal, ferramentas ou extremidades

• perigos eléctricos.

Local de trabalho:

• desordem — arrumação, limpeza e controlo

• má visibilidade em zonas em que operam veículos e equipamento de elevação, como gruas móveis

• mistura de pessoas e veículos, principalmente nas entradas e saídas de garagens, armazéns e depósitos.

Transporte no local de trabalho:

• movimentos não controlados de objectos, como barris mal imobilizados e outras cargas e embalagens, no armazém ou durante o transporte, a distribuição ou a movimentação.

Legislação europeia

Nos termos do artigo 13.º da Directiva 89/391/CEE, que estabelece o enquadramento geral para a gestão da saúde e da segurança e para a identificação e a prevenção dos riscos, os trabalhadores têm algumas obrigações. A directiva estatui que cada trabalhador deve, na medida das suas possibilidades, cuidar da sua segurança e saúde, bem como da segurança e saúde dos seus colegas, de acordo com a formação e as instruções dadas pela sua entidade patronal. Os trabalhadores devem, nomeadamente:

• utilizar correctamente as máquinas, aparelhos, instrumentos, substâncias perigosas e equipamentos de transporte

• utilizar correctamente o equipamento de protecção individual posto à sua disposição

• não desligar, mudar ou retirar arbitrariamente os dispositivos de segurança próprios, designadamente das máquinas, aparelhos, instrumentos, instalações e edifícios, e utilizar correctamente esses dispositivos de segurança

• comunicar imediatamente à entidade patronal e/ou aos trabalhadores que desempenham funções específicas de protecção da segurança e da saúde dos trabalhadores qualquer situação de trabalho que considerem, por motivos plausíveis, apresentar um perigo grave e imediato para a segurança e a saúde, bem como qualquer falha observada nos sistemas de protecção.

Há outras directivas individuais igualmente importantes para a prevenção de acidentes.

Informação e formação

Os trabalhadores têm o direito de receber informação sobre os riscos para a saúde e a segurança, bem como sobre medidas preventivas, primeiros socorros e procedimentos de emergência. A formação deverá ser pertinente e compreensível, inclusivamente para os trabalhadores que falam uma língua diferente. Deverá ser ministrada formação aos novos trabalhadores e aos trabalhadores antigos quando houver alterações nas práticas ou no equipamento de trabalho, mudança de funções ou introdução de novas tecnologias. Os trabalhadores têm o dever de cooperar activamente com a entidade patronal na aplicação das medidas de prevenção, seguindo instruções de acordo com a formação recebida e zelando pela sua segurança e saúde e pela dos seus colegas de trabalho. É necessário que todos os trabalhadores saibam trabalhar de forma segura. A formação deve concentrar-se:

• nos princípios do sistema de gestão da segurança e nas responsabilidades dos trabalhadores

• nos perigos e riscos específicos do trabalho

• nas aptidões necessárias à realização das tarefas

• nos procedimentos a observar para evitar os riscos

• nas medidas de prevenção a tomar antes, durante e após a realização da tarefa

• nas instruções de saúde e segurança específicas para o trabalho com equipamento técnico e produtos perigosos

• na informação sobre protecção colectiva e individual

• nas fontes de informação sobre saúde e segurança acessíveis aos trabalhadores

• nas pessoas a contactar sobre novos riscos ou em caso de emergência.