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PORTUGAL O FINAL DO MANDATO DE PINTO MONTEIRO TROUXE UMA DAS POUCAS NOTÍCIAS ESPERANÇOSAS DO ANO: JOANA MARQUES VIDAL, A NOVA PROCURADORA- GERAL DA REPÚBLICA, EM QUEM SE DEPOSITAM GRANDES EXPECTATIVAS. MAS ENTRE AS PEDRAS LANÇADAS NA MANIFESTAÇÃO DA CGTP, O COMBATE AO CRIME CONTINUA A SER ROTINA POBRE E QUASE 40 MULHERES MORRERAM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Protestos Polícias, pedradas e um abraço Reli o balanço que escrevi para este jornal quando 2011 chegou ao fim. Queria de- senvolver uma narrativa opti- mista, em que 2012 tivesse sido um ano de conquistas impor- tantes para os domínios da Po- lícia e da Justiça. Gostava que este texto recordatório disses- se que valeu a pena sofrer o que sofremos, porque ganhámos isto ou aquilo. Porém, con- sigo assinalar um evento signi- ficativo . Não foi medida políti - ca, nem decisão colectiva; Pin- to Monteiro chegou ao fim do mandato. O calendário deu- nos umnovoprocurador-geral da República - uma mulher, a primeira magistrada que chega ao topo da carreira do Ministé- rio Público. Joana Marques Vl- dal traz expectativas que exce- dem o esforço do ser humano. Julgo que tem qualidades fora do vulgar, mas não terá o poder de reformar tanto como dela se espera. Mas é anotícia que vale a pena registar em 2011. Talvez haja outra que mereça destaque: o concurso para a compra de mil pulseiras elec- trónicas. As prisões estão so- brelotadas. Aquelas que esta- vam para ser construídas foram remetidas para melhores dias e prevê-se que estas medidas al- ternativas de penas, nomeada- mente a prisão domiciliária, vão crescer a olhos vistos. O que não émau. A crise gera im- pulsos reintegradores ditados pela necessidade. De resto, tudo continua com este arrastar dos dias vergados pelo peso da crise e o estrangulamen- Francisco Moita Flores Cronista CRIMINALISTA do 'Correio da Manhã' to financeiro das pessoas. O combate ao crime é uma rotina pobre. As grandes notícias são sinais do tempo - quem fugiu ao Fisco, desviou capitais, quem quer escapar às Finanças. .. Este governo investiu tudo na polícia fiscal, fazendo da recolha de im - postos o bem mais precioso do País . As outras polícias vegetam . Não podem contribuir com o seu esforço para que a troika se daqui e, portanto, quando o Estado se arvora em xerife de Nottingham a única coisa que se poderia esperar seria um Robin Wood. Mas não. Ficamos pelos protestos e esperamos a notifi- cação das Finanças para pagar mais qualquer coisa. Nem as manifestações contra as políticas de austeridade produ- ziram gesto de violência digna desse nome. O maior momento de protesto, a 1 5 de Setembro, ?

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PORTUGAL

O FINAL DO MANDATO DE PINTO MONTEIRO TROUXE UMA DAS POUCASNOTÍCIAS ESPERANÇOSAS DO ANO: JOANA MARQUES VIDAL, A NOVAPROCURADORA- GERAL DA REPÚBLICA, EM QUEM SE DEPOSITAM GRANDESEXPECTATIVAS. MAS ENTRE AS PEDRAS LANÇADAS NA MANIFESTAÇÃODA CGTP, O COMBATE AO CRIME CONTINUA A SER ROTINA POBRE E QUASE40 MULHERES MORRERAM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

ProtestosPolícias, pedradas e um abraço

Relio balanço que

escrevi para este

jornal quando2011 chegou aofim. Queria de-

senvolver uma narrativa opti-mista, em que 2012 tivesse sido

um ano de conquistas impor-tantes para os domínios da Po-lícia e da Justiça. Gostava queeste texto recordatório disses-

se que valeu a pena sofrer o quesofremos, porque ganhámosisto ou aquilo. Porém, só con-

sigo assinalar um evento signi-ficativo . Não foi medida políti -ca, nem decisão colectiva; Pin-to Monteiro chegou ao fim do

mandato. O calendário deu-nos umnovoprocurador-geralda República - uma mulher, a

primeira magistrada que chegaao topo da carreira do Ministé-rio Público. Joana Marques Vl-dal traz expectativas que exce-

dem o esforço do ser humano.

Julgo que tem qualidades fora

do vulgar, mas não terá o poderde reformar tanto como dela se

espera. Mas é anotícia que vale

a pena registar em 2011.

Talvez haja outra que mereçadestaque: o concurso para a

compra de mil pulseiras elec-trónicas. As prisões estão so-brelotadas. Aquelas que esta-vam para ser construídas foram

remetidas para melhores dias e

prevê-se que estas medidas al-ternativas de penas, nomeada-mente a prisão domiciliária,vão crescer a olhos vistos. O

que não émau. A crise gera im-pulsos reintegradores ditados

pela necessidade.

De resto, tudo continua com este

arrastar dos dias vergados pelo

peso da crise e o estrangulamen-

FranciscoMoita Flores

Cronista

CRIMINALISTA

do 'Correioda Manhã'

to financeiro das pessoas. Ocombate ao crime é uma rotina

pobre. As grandes notícias são

só sinais do tempo - quem fugiuao Fisco, desviou capitais, quemquer escapar às Finanças. . . Este

governo investiu tudo na políciafiscal, fazendo da recolha de im -

postos o bem mais precioso doPaís . As outras polícias vegetam .

Não podem contribuir com o

seu esforço para que a troika se

vá daqui e, portanto, quando o

Estado se arvora em xerife de

Nottingham a única coisa que se

poderia esperar seria um Robin

Wood. Mas não. Ficamos pelos

protestos e esperamos a notifi-cação das Finanças para pagarmais qualquer coisa.

Nem as manifestações contra as

políticas de austeridade produ-ziram gesto de violência dignadesse nome. O maior momentode protesto, a 1 5 de Setembro, ?

Inspectora da RJ

mata com 13 tirosAna Saltão, inspectora da Polícia Ju-diciária, furtou uma pistola na Di -

rectoria do Porto e foi a Coimbramatar a avó do marido. Foi presa porcolegas dias depois do crime.

Vale e Azevedopreso e extraditadoTrês anos depois de fugir para Lon-dres, o ex-presidente do Benfica é

detido e extraditado para Portugal,onde terá de cumprir cinco anos

e meio de cadeia.

Caso Rui Pedrofica sem culpadosAfonso Dias, único suspeitodo desaparecimento de Rui Pedro,em Março de 1998, é absolvido

pelo Tribunal de Lousada. Estavaacusado de rapto.

? correu mundo através da foto-

grafia de uma jovem a abraçarum polícia. Sempre gostamos de

surpreender com grandes gestos

que se esgotam sem consequên-cias de maior. Mesmo quandooutra manifestação da CGTPterminou à pedradae à vergasta -da, a coisa não passou de um es-

pectáculo de uma ou duas horas.

Depois, recolheu tudo a penates,discutindo as imagens da RTP.

Os grandes processos de com-bate à corrupção arrastam -se

penosamente, sem um vislum-bre de Justiça. Fechado o casoPortucale e Freeport com umamão cheia de absolvições, o 'Face

Oculta' continua em episódios

maçudos de novela, o dos sub-

marinos vai no mesmo sentido e

atãopropalada'operação Monte

Branco,' onde se diz que foram

desviados milhõesdeeuros, con-tinua mansae sem fúnàvista. DoBPN nem vale a pena falar. Anda

por aí, enquantoa já velha e enca-necida 'operação Furacão' espera

sepultura sem que se saiba a cau-sa do tão grande alarido inicial.

O ano vai terminar com cercade 40 mulheres vítimas mortaisde violência doméstica - outras

tantas alvo de tentativa de ho-micídio - , enquanto os deciso-

res palitam os dentes e fazem de

conta que não sabem.

Afinal, não se confirmou que o

estripador de Lisboa tivesseenfim aparecido. Deu para umasemana de notícias, nada mais.

Deste 2012 ficaram as quadri-lhas comnovos métodos de ex-

plosão das caixas multibanco.Refinaram-se as técnicas de

furto, o tráfico de droga conti-nuou e os assaltos à mão arma-da cresceram. A violência au-mentou a olhos vistos.

Os polícias, abraços com difi-culdades, manifestaram-se.Fica para a história do sindica-lismo policial a primeira mani-festação da PJ. Os homens da

GNR já tinham desfilado e os da

PSP também. As condições de

combate ao crime fragilizam - se

no momento em que deveriam

"O ano vaiterminarcom cercade 40 vítimasmortaisde violênciadoméstica -os decisoresfazem deconta quenão sabem"

"Condiçõesde combateao crimefragilizam-seno momentoem quedeveriam sermelhores"

"Desconfioque acontinuareste apertardo cinto,a cordavá esticaraté partir"FranciscoMoita Flores

ser melhores. Desconfio que a

continuar este apertar do cinto,

que tira condições de trabalho,

comprime meios e exige sacrif í -

cios a quem policia e investiga , a

corda vã esticar até partir.Precipitam-se reformas que

em vez de melhorar, e devido ã

pressa, abrem caminho a novosdesastres. Quem se lembra da

grande reforma da investigaçãocriminal em 2000 e do que re-presentou para a fragmentaçãoe destruição da profissão de de-tective vive em permanentedesconfiança.

Estou em crer que o cinzentis-mo continue . Tal como aconte -

ce há trinta anos, o relatórioanual sobre segurança conclui-rá que a criminalidade baixou.Oficialmente baixa todos os

anos, o que justifica medidasmais restritivas e discursos

pomposos sobre a eficácia dos

sistemas de segurança e judi-cial. Coisa de política cínica, jávelha e manhosa, sem esperan-

ça nem audácia.

A única coisa segura é que a

justiça americana condenouRenato Seabra pelo homicídiode Carlos Castro.Talvezdaquiaum ano já se fale de esperança.Por enquanto, o futuro af igura--se cheio de nuvens negras.

Com as polícias a comerem o

pão que o diabo amassou, os la-drões a inventarem fórmulas de

escapar a quem os persegue e as

prisões sobrelotadas, ficare-mos à espera de que a políticade segurança produza mais do

que um bocejo. O

Renato SeabraHomicida de Carlos Cas-

tro é considerado culpadoe condenado em Nova lor-

que a 25 anos de prisão.

MichelChef Michel é detido emLisboa a pedido das auto

ridades francesas. É acu-sado de evasão fiscal.

Paco BandeiraCantor é condenado a três

anos e quatro meses de

pena suspensa por violên-

cia doméstica.

por João C. Rodrigues

CONFRONTOS Polícias insatis-

feitos com as próprias condiçõesde trabalho terão de enfrentar ma-

nifestações, greves e protestos queprometem ser cada vez mais vio-

lentos. Sensatez e capacidade de

decisão serão fundamentais paraevitar males maiores.

MULTIBANCOS Novos gruposcom novos métodos vão continuara atacar caixas ATM à procura de

dinheiro fácil. Medidas de preven-ção e articulação entre polícias se-

rão indispensáveis para travar fe-

nómeno crescente.

CRIME TRANSNACIONALRedes que andam de país em

país. sempre à margem da lei, vãocontinuar a atacar em Portugal.

Furtos, roubos, lavagem de dinheiro

ou extorsão são crimes que não co-

nhecem fronteiras.

BRIGADAS DAGNR A reactiva

ção da Brigada Fiscal e da Brigadade Trânsito, extintas em 2008, vai

voltar a centralizar o comando des-tas unidades, após quatro anos de

dispersão pelos vários comandosterritoriais.

ROUBOS Por esticão ou à mão

armada, roubos violentos deverão

continuar na ordem do dia. Crimes

de oportunidade e por necessidade

vão trazer insegurança às popula-ções e 'dores de cabeça

' às autori-dades. Combate passará também

pela responsabilização dos recep-tadores de objectos roubados.

JaneiroMichael Barbo-

sa, conhecidocomo o 'Rei do

Sexo' por chefiaruma rede de pros-tituição de traves-tis na zona do

Conde Redondo,

Lisboa, é condena-do a 25 anos de

cadeia por mataro pai.

Ricardo Quares-ma, jogador da se-

lecção nacional, é

assaltado por um

gang armado emCheias. Ficou sem44 mil euros, brin-

cos de diamantese outros objectosde luxo.

Fevereiro

Cinco operáriosmorrem esmaga-dos em derrocada

no Mercado do Li-

vramento, em Se-túbal. Falhas na

construção de pa-rede na origem da

tragédia.

Carlos Tei-

xeira, vence-dor do Prémioda Montanha na

Volta a Por-

tugal emBicicleta,é presoapós as-saltar 20bancos

em nove

meses

MarçoÁlvaro dos Reis,

ex-guarda-redesdo Benfica.é preso

pela Polícia Judi-

ciária de Setúbal

por abusos sexuais

sobre as duas en-teadas menores e

outras quatro ado-

lescentes.

¦: Rui Pinto, 321

anos, é assassi-

nado a tiro emLuanda etorna-se

no quartoportuguêsvítima de

homicídio

em Angoladesde o iní-

cio do ano.

Abril

; Pedro Gonçal-ves e GonçaloBaptista morrem

em queda de avião

após voo rasanteà

pista de Benavente.

¦¦¦¦ Chefe da Guarda

Prisional de Tiresé assassinada

pelo filho.

- Idosa cega é es-

pancada e violada

na Mealhada.

Maiov Jovem aluno de

escola secundáriade Oeiras lança pâ-nico com ameaçade chacina sobre

os colegas.

•?- Choque de com-boios na Linha de

Cascais provoca33 feridos. Falta de

sinalização na es-

tação de Caxias es-

teve na origem doacidente.

Professor de es-calada é preso porviolação de trêsmenores. Filha foi

uma das vítimas,durante mais de

cinco anos.

Junhov Presidente da

Junta de Freguesiade Segura, Idanha-

-a-Nova,e o mari-do são assassina-

dos por empreitei-ro da terra.

da pelo ex-namora-do após apresentar47 queixas por vio-

lência doméstica.

¦¦'•¦ Magda, grávidade sete meses, é

morta à catana-

Julho

Queda de auto-

carro em ravina,

em Boticas, provo-ca um morto

e 18 feridos.

Jorge Gaiolas

mata a mulher e

suicida-se a seguir,no dia do aniversá-

rio do filho. Estava

desesperado porpadecer de doençaterminal.

Homem de 73anos engravida so-

brinha, de 13, emPortimão, e é presopela Judiciária. Tri-

bunal liberta pre-dador por não ha-ver perigo de fuga.

Agosto

Agente da PSP

mata a tiro jovemde 18 anos na es

tacão de Campolí-de após noite de as-

saltos em Lisboa.

Macia Nieto, umtraficante colom-

biano procurado

pela InterpoleDEA.é capturadona Costa da Capa-rica com 340 qui-los de cocaína.

Setembro

Mulher de 28anos é detida em

Figueiró do Vinhos

pelo homicídio dos

três filhos recém-

-nascidos, que asfi-

xiou. Último bebéfoi encontrado no

guarda-vestidosde casa. Os outrosforam atirados

para o lixo.

Cinco homens,entre os 16 e os 50anos, morrem into-

xicados num poçode rega em Vilela

Seca, Chaves. Víti-

mas foram mor-rendo enquantotentavam ajudar os

colegas.

Outubro

Dois grupos de

assaltantes fazem

explodir cinco cai-

xas ATM em ape-nas uma hora na

área da Grande Lis-

boa e fogem commilhares de euros.

Pastor alcooliza-

do e com carro

roubado despista--se na A23 e matadois militares da

GNR.

Novembro

Angelique Ken-

dal.de 26 anos,militar da Base Aé-

rea do Montijo, dáà luz um nado-

-mortoepedeaum amigo quequeime o cadáver.

- Quatro militaresda GNR de Vila do

Conde são presos

por corrupção.Protegiam a máfia

chinesa a troco de

dinheiro.

Hugo Inácio, o

homicida do verylight,eml996,énovamente presopor distúrbios no

Estádio da Luz.

Dezembro

Padre Luís

Miguel Mendes,do Seminário do

Fundão, detido porabuso de menores.

Ferreira da Silva,

que matou o genroa tiro em Oliveira

do Bairro, é conde-nado a 20 anos.

Keli Oliveira

mata os dois filhos

emAlenquer.