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PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA PARTE GERAL PROF. CAPANEMA CEPAD 22 E 23/12/03 Aulas ministradas no CEPAD pelo Prof. Capanema em 22 e 23/12/03 1

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PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA

PARTE GERAL

PROF. CAPANEMA

CEPAD 22 E 23/12/03

Aulas ministradas no CEPAD pelo Prof. Capanema em 22 e 23/12/03 1

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PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA

Vamos começar o estudo da prescrição e da decadência, matéria absolutamente fundamental, que se reflete em todos os demais ramos do direito.

Não é um tema exclusivo do D. civil, a prescrição e decadência se aplica ao direito processual, penal, administrativo, etc. A matéria tb é pouco conhecida, e apesar disto é muitas vezes confundida.

Há mesmos profissionais do direito, que não se sentem muito seguros p/distinguir um prazo prescricional de um decadencial tb não têm muita certeza quanto ao objeto da prescrição.

Em suma: é sempre desafiador o estudo da prescrição. É muito comum como lhes falei, a confusão entre os 2 institutos, e essa dificuldade aumenta ainda mais no D. brasileiro, pq o cód. anterior foi de fato muito infeliz ao disciplinar a matéria.

Parece mesmo que o cód. Beviláqua veio p/confundir ao invés de esclarecer. Agora não, talvez uma das mais felizes inovações do cód. de 2002, tenha sido o tratamento da prescrição e da decadência que resulta muito mais técnico, muito mais claro como veremos.

Essa confusão entre os 2 institutos tem uma razão de ser. Há profundas afinidades entre os 2 institutos. Em 1º lugar tanto a prescrição quanto a decadência, constituem fatos jurídicos extintivos.

Não são aquisitivos ou modificativos, eles extinguem o direito. Em 2º lugar, tanto a prescrição quanto a decadência, decorrem ambos de uma inércia do titular do interesse do direito.

Portanto, tem o mesmo fator determinante que é a inércia. Quem age, quem se movimenta não precisa temer a prescrição ou a decadência.

Só aquele que dorme é que é atingido p/ esses institutos, e como se não bastasse, tanto a prescrição quanto a decadência tem um fator operante que é o TEMPO, é o decurso do tempo que fazem ocorrer a prescrição e a decadência. Vejam portanto como são afins esses institutos, mas a partir daí , tudo é diferente. O objeto da prescrição é completamente diferente do objeto da decadência e basta isso p/ não permitir a confusão que se faz.

Comecemos como faz o cód, pelo estudo da prescrição, para que possamos entendê-la bem, talvez devamos começar p/estudar os seus pressupostos.

Quando é que começa a se formar o fenômeno da prescrição? Em 1º lugar é preciso que haja um direito subjetivo que tenha sido violado, portanto a causa

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remota da prescrição, é a violação de um direito subjetivo fazendo nascer então, uma ação correspondente p/restaurá-lo

Todos sabemos que a cada direito corresponde uma ação que o assegura. Se temos um direito subjetivo, e o que é um d. subjetivo? É aquele poder que a lei nos confere p/exigir de outrem uma prestação, um bem da vida.

Por isso é que os romanos chamavam o d. subjetivo de faculdade de agir, FACULTAS AGENDI, o d. subjetivo nos permite exigir de outrem uma prestação.

Ora, se o nosso direito já incorporado ao nosso patrimônio, o d. subjetivo é violado não recebemos a prestação que nos é devida, nasce então p/o seu titular, uma ação correspondente p/exigí-lo ou restaurá-lo, e o que os romanos chamavam ACTIO NATA , ou seja a ação nascida da violação do d. subjetivo.

Enquanto não ocorre uma violação ao direito subjetivo, não há que se falar em prescrição, pois esta começa a apontar no horizonte, no momento em que se viola o direito subjetivo de alguém.

O 2º pressuposto da prescrição, é como lhes falei, a inércia do titular desse direito. O que faz um homem normal diante da violação de seu d. subjetivo?

Reage, protesta, esperneia, movimenta as engrenagens do Estado, p/restaurar esse direito, defende esse direito, esse é o comportamento do homem comum.

A regra geral é que as pessoas não se conformem com a violação de seus direitos. Mas ao contrário há quem permaneça inerte, seja p/covardia, comodismo, desinteresse. Isso é irrelevante o fato é que o titular desse direito ao invés de reagir, permanece inerte.

Aí está o fator determinante da prescrição, mas não basta isso, o titular desse direito pode permanecer inerte até p/um tempo bastante longo e nem assim a prescrição ocorre.

É que há um 3º pressuposto, que é o tempo durante o qual permanece o titular do direito violado, permanece inerte. A lei não exige que o titular desse direito reaja imediatamente, a lei lhe permite aguardar, esperar uma oportunidade melhor.

Ele pode portanto, numa imagem figurada “dormir” p/um certo tempo, sem que isso afete o seu direito, sem que isso o iniba de defende-lo através da ação própria.

Mas se ele ultrapassa o tempo que a lei lhe permite “dormir”, aí a prescrição se apresenta. O 3º pressuposto da prescrição é que a inércia se prolongue p/um tempo superior ao previsto em lei.

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Enquanto isso não ocorre, não há prescrição. Imaginemos que um locatário de um imóvel o abandone, sem pagar os alugueis e o locador aguarda pacientemente 4 anos e 11 meses p/finalmente ajuizar ação de cobrança.

O fato dele ter dormido 4 anos e 11 meses, não afeta em nada o seu direito. A ação produzirá o mesmo resultado como se tivesse sido proposta no dia seguinte ao abandono do imóvel.

Essa longa inércia do titular do direito não o afetou, pq? Pq não ultrapassou o prazo da lei. Mas se ele resolve entrar com a ação com 5 anos e 2 dias, já não mais logrará êxito, pq ultrapassou o prazo que lhe era permitido “dormir”.

Mas tb não basta isso, pode ter ocorrido a violação de um direito subjetivo, pode o titular desse direito ficar inerte, pode essa inércia ultrapassar o prazo previsto em lei, e ainda assim não ocorrer a prescrição.

É preciso um 4º pressuposto que é a ausência de causas preclusivas, ou seja há situações, circunstâncias supervenientes que vão influir na fluência do prazo prescricional.

Podemos suspendê-lo, interrompê-lo e até mesmo as vezes impedindo que ele comece a fluir, p/isso são chamadas causas preclusivas, que iremos estudar mais adiante.

Causas essas que podem ser impeditivas ou suspensivas ou interruptivas, p/ex: imaginemos que esse locador do exemplo anterior seja um diplomata e 3 anos após o abandono do imóvel pelo locatário sem lhe pagar, ele é transferido p/servir ao Brasil em Londres e lá permanece p/4 anos.

Só retornando ao Brasil, 4 anos depois, 3 anos já haviam decorrido antes que ele ajuizasse a ação, com mais 4 já temos 7 e como o prazo de prescrição p/ cobrança de aluguéis era de 5 anos e agora é de 3, é evidente que ele já teria perdido a pretensão.

Já não mais poderia exigir o pagamento, mas ainda poderá, pq? Pq durante esses 4 anos em que esteve em Londres, o prazo de prescrição não correu, só recomeçará a correr quando ele retornar ao Brasil.

Estão aí portanto os 4 pressupostos da prescrição. Resumindo: a violação de um direito subjetivo, fazendo nascer a pretensão que se deduzirá numa ação à que os romanos chamavam ACTIO NATA.

O 2º, que o titular desse direito permaneça inerte, o 3º que essa inércia se prolongue além do prazo previsto em lei. E finalmente, que não estejam presentes causas preclusivas que impeçam a prescrição.

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A 2ª questão importante, é saber pq se criou a prescrição, aliás criação romana do D. romano, o leigo não concorda muito com a prescrição.

Quando se diz ao leigo que após um certo tempo, o titular do direito violado não pode mais restaurá-lo, não pode mais exigir o bem da vida que lhe é devido, o leigo reage acha que isso é profundamente injusto e perigoso e que se alguém teve seu direito violado, deverá poder restaura-lo à qualquer tempo.

O leigo propõe então que se afaste a prescrição do sistema do direito positivo, mal sabe o leigo, que poucos institutos são mais importantes p/o equilíbrio social do que a prescrição.

Ai de nós, se não se tivesse criado a prescrição, a paz social depende da prescrição e vou tentar lhes demonstrar. Como disse a vcs, a prescrição se inicia quando se viola um D. subjetivo.

E a violação de um direito subjetivo é sempre um fato antijurídico, e como todo fato antijurídico é gerador de turbulência social, de insegurança, de incerteza.

Todos se sentem ameaçados, não é só o titular do direito violado todos os demais membros da sociedade, se sentem ameaçados quando se viola um direito, quando se cria uma situação antijurídica.

Por isso mesmo, o Estado se coloca ao lado do titular desse direito fornecendo-lhe todo um instrumental necessário, p/que ele restaure seus direitos.

Está lá o fórum com as portas abertas, os juízes, os promotores, toda a parafernália do judiciário à disposição do titular desse direito, para que possa restaurá-lo, e assim fechar essa situação antijurídica.

Usando uma linguagem metafórica, não muito apropriada para uma manhã pré-natalina, diríamos que a violação de um direito subjetivo é como se fosse uma ferida que se abre no tecido social e que começa a sangrar.

E como toda ferida que sangra, é preciso fechar, curar. P/curar essa ferida, existe a ação própria que poderá ser manejada pelo titular do direito.

Mas se ele não o faz, essa ferida continua sangrando, vai se agravando contaminando o resto do tecido social. Há portanto quase que um dever moral do titular desse direito, ajuizar a ação p/estancar a hemorragia social.

Se apesar de ter ele à sua disposição toda a parafernália do judiciário, e mesmo assim permanece inerte, e por um tempo absolutamente insustentável, é melhor p/o equilíbrio social fechar essa ferida, apagá-la da memória social.

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Portanto o objetivo maior da prescrição, é exatamente fechar essas situações antijurídicas em aberto. Já que o maior interessado na restauração do direito que é o seu titular e não o faz, é melhor p/a sociedade que não mais se fale no assunto.

Aliás o genial Prof. Santiago Dantas um dos grandes homens do século XX no Brasil, dizia aos seus alunos da Faculdade Nacional de Direito, que a prescrição é como se fosse a cicatriz criada pela lei, p/situações antijurídicas em aberto.

Como se não bastasse, a prescrição tem ainda uma outra finalidade, essa de caráter humanitário que é livrar o devedor inadimplente da angustia por toda a sua vida de não saber quando o credor o atacará.

Pq reparem se não houvesse a prescrição, o devedor nunca mais dormiria em paz! Ficaria sempre temendo que na manhã seguinte, o oficial de Justiça, lhe bateria às portas, seria uma angústia insuportável.

Então após um certo tempo, é como se o Estado sinalizasse ao devedor, “agora já pode dormir em paz o credor não mais poderá atingi-lo”.

Vcs sabem que o direito tem horror a essas situações indefinidamente abertas, não seria bom p/o equilíbrio social que isso permanecesse indefinidamente em aberto, como se fosse uma espada de Dâmocles pendendo pelo resto da vida, sobre a cabeça do devedor.

Mas o principal objetivo da prescrição não há a menor dúvida, é exatamente fechar essas situações jurídicas em aberto.

Uma outra questão importante e que dificulta ainda mais o estudo da prescrição é que o instituto se divide em 2 espécies. Prescrição seria portanto um gênero que admite 2 espécies, a prescrição extintiva e a aquisitiva.

A prescrição extintiva, é uma força puramente negativa, ou seja ela apenas extingue a pretensão e não faz nascer absolutamente nada em lugar dela. Por isso é que se chama extintiva, perdida a pretensão, nada mais surge p/o credor.

Já a prescrição aquisitiva, é uma força mista, negativa e positiva pq ela extingue a pretensão à proteção possessória, pela inércia do proprietário ou do possuidor que teve o seu direito violado, mas ao mesmo tempo em que extingue essa proteção, CRIA p/o posseiro que violou esse direito um direito novo que é a aquisição da propriedade.

Então na prescrição aquisitiva, não se limita ela a extinguir a pretensão, mas tb cria, faz nascer para o violador do direito, um direito novo e próprio, que é o direito de propriedade.

A dificuldade se percebe pq a prescrição extintiva é tratada na parte geral do código com o nome de prescrição, quer dizer, quando o cód. se refere a prescrição

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na parte geral, ele está falando na prescrição extintiva mas não usa o nome extintiva, só fala em prescrição.

E a prescrição aquisitiva é tratada na parte especial, no livro III, no direito das coisas e com o nome de usucapião.

Agora vai explicar ao estudante, que está dando os 1ºos passos, que aquela figura da usucapião, que aparece lá adiante como modo de adquirir a propriedade, é rigorosamente a mesma que a prescrição extintiva.

É o mesmo gênero, tanto uma quanto a outra são prescrições, só que tratadas com nomes diferentes e em lugares diferentes o que contribui para confundir o estudante.

Portanto o direito brasileiro, seguindo a tradição romano –germânica, promove uma dicotomia da prescrição. Divide em 2, ao contrário do direito francês, neste a prescrição é um instituto único, e só é prescrição a extintiva.

O que nós chamamos de prescrição aquisitiva, os franceses consideram apenas o modo de adquirir a propriedade. Então no sistema romano germânico ao qual aderimos, que divide a prescrição nessas duas espécies, ainda fica mais difícil, compreender o instituto.

Uma outra questão importante, é saber o objeto da prescrição. Isso meus amigos, há séculos se discute. Alguns sustentam que a prescrição tem por objeto o próprio direito subjetivo, extinguindo o direito subjetivo.

Os franceses assim o afirmam até hoje, no cód. de Napoleão, a prescrição atua diretamente sobre o direito subjetivo, extinguindo-o.

Sustenta os franceses, que se o credor não tem mais como compelir o devedor a lhe entregar o bem da vida a que tem direito, o próprio direito desapareceu.

Seria uma ficção dizer que esse direito subsiste se o credor não pode mais exercê-lo. Então numa visão mais pragmática os franceses dizem que a prescrição extingue o próprio direito subjetivo.

Mas a tradição romano germânica, e como vcs sabe, nós somos muito fiéis, à essa tradição não se esqueçam que o nosso direito tem 3 fontes inspiradoras: O d. romano, o d. germânico, e o d. canônico.

Então a tradição romano germânica, a qual nos inspiramos, reage violentamente contra isso e ai durante muito tempo se dizia que a prescrição, não afeta o d. subjetivo, e sim aquela ação nata que desaparece e não mais poderia ser manejada.

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Mas o direito remanesce, o direito continua vivo ainda que hibernando, e isso me parece verdadeiro, que o direito permanece vivo, pq nada impede que o devedor arrependido de não ter pago, possa fazê-lo mesmo depois da prescrição ocorrida.

Se o direito subjetivo tivesse desaparecido, o credor não mais poderia receber e dar quitação, esse pagamento seria indevido, e faria nascer o direito do devedor exigir a restituição, a repetição do indébito.

Mas isso não é verdade , o credor pode receber seu crédito mesmo depois da prescrição, dar quitação, e o devedor não poderá exigir a devolução do que pagou, pq o pagamento não é indevido já que o direito subjetivo remanesce.

Então me parece óbvio que a prescrição não tem por objeto, o próprio d. subjetivo, e p/isso durante muito tempo se dizia que o objeto da prescrição era a ação.

Aliás meus amigos, não é muito tempo não! Vou lhes fazer uma revelação constrangedora: Eu aprendi assim, há 40 anos atrás quando me formei em direito. Lembro-me que aprendi do meu velho mestre Serpa Lopes que cansava de repetir essa frase, e insistia “ que a prescrição fulmina a ação”.

Daí já se dizia “a ação está prescrita, prescreveu a ação” isso ainda é um ranço daquela época em que se afirmava que o objeto da prescrição era a ação.

Mas naquele tempo vigorava a chamada teoria civilista da ação. O que seria essa teoria? É que a ação é um caudatário do direito material, estava a serviço do direito material.

Só que essa teoria civilista foi absolutamente aposentada e substituída pela teoria nova da ação como direito subjetivo público. Com isso o direito processual ganhou independência, autonomia, tornou-se ciência própria rompeu suas algemas que o prendiam ao D. civil.

O direito processual civil hoje está liberado do direito civil, é autônomo, é uma outra ciência, e aí nasceu a teoria da ação como direito subjetivo público que é um direito da própria cidadania, ninguém pode ser impedido de ajuizar uma ação de pedir ao Estado uma prestação jurisdicional.

Aliás, se só se pudesse ajuizar a ação se tivesse o direito, nenhuma ação se concluiria pela improcedência do pedido. A ação será sempre procedente, o pedido é que pode ser improcedente, não a ação, esta sempre será possível ajuizar-se.

Aí meus amigos, mudou-se o enfoque, e se passou a dizer que o objeto da prescrição não é nem o direito subjetivo que como vimos remanesce, e muito menos a ação, que estará sempre a disposição de qualquer membro da sociedade.

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O objeto da prescrição e foram os alemães que disseram pela 1ª, é a pretensão, o que o credor perde com a prescrição é a pretensão ao crédito, o que desaparece é a coercibilidade do crédito.

O credor não tem mais como compelir o devedor a lhe pagar , a lhe entregar o bem da vida que persegue. E o NCC finalmente teve a coragem de assumir uma posição.

O NCC nos deu uma resposta, e o 1º artigo que inaugura o título da prescrição parece um livro didático, esse artigo parece inserido num livro de doutrina, pq ele começa a disciplina da prescrição dizendo: “violado o direito, nasce para o seu titular a pretensão, que se extingue, pela prescrição nos prazos previstos neste código”(205 e 206).

Nada mais didático do que isso, sob a luz do direito material, ninguém mais pode ter dúvida quanto ao objeto da prescrição. Pq o cód. anterior não dizia qual era o objeto deixava p/a doutrina.

O NCC assumiu essa responsabilidade e nos deu uma resposta, vc pode não concordar com ela, mas ela está ai. Agora os alunos poderão dizer com absoluta convicção que o objeto da prescrição é a pretensão.

“Violado o direito” é aquele direito subjetivo, é aquela causa remota, “nasce para seu titular a pretensão. Pretensão a quê? A restaurá-lo, e essa pretensão só nasce quando o direito é violado.

E essa pretensão, que se extingue pela prescrição, então esse problema pelo menos está superado pelo NCC.

Então já vimos as causas e os pressupostos da prescrição, já vimos qual a sua finalidade social que é fechar as situações antijurídicas em aberto e libertar o devedor da angustia de não saber quando será atacado, e vimos as espécies de prescrição e o seu objeto.

Já avançamos bastante, já temos um mínimo alicerce doutrinário p/entender a prescrição. Uma outra questão prévia, é saber se a prescrição é um fenômeno subjetivo ou objetivo.

O que é que eu quero dizer com isso? Há uma corrente que sustenta, que a prescrição só começa a correr quando o titular desse direito, tem ciência da sua violação.

Os que assim entendem, dizem que prescrição é um fenômeno subjetivo depende da ciência do titular do direito quanto à sua violação.

Até por uma questão lógica, se vc ainda não sabe que o seu direito foi violado, como poderia movimentar as engrenagens do Estado, vc não defende o que ainda não sabe que foi violado.

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Então, a corrente subjetiva diz que enquanto o titular do direito não toma ciência da sua violação, não estaria fluindo o prazo da prescrição.

Já outra corrente, objetiva sustenta que não. Que a prescrição começa a fluir da violação do direito subjetivo, ainda que seu titular não tenha conhecimento disto.

Alega-se inclusive, que se o titular não toma conhecimento da violação é pq já está dormindo antes mesmo que a violação ocorra, pq aqueles que estão atentos , perceberão logo a violação de seu direito.

Por outro lado, se o objetivo da prescrição é fechar essas situações antijurídicas em aberto, cicatrizando o tecido social, é melhor que a prescrição comece a correr da violação, pq a situação antijurídica ocorre da violação do direito e não da ciência do seu titular.

O direito brasileiro, nesse ponto não toma partido, e há prazos de prescrição que começam a correr da ciência da violação, e outros que começam a correr da própria violação.

Geralmente os prazos curtos, correm da ciência e os longos da violação. Uma outra questão prévia da qual se ocupa o cód. , é saber se o devedor, pq reparem a prescrição favorece o devedor, ela foi criada p/beneficiar o devedor, libertando-o da ameaça do credor.

A prescrição é o sonho dourado dos devedores, eles sonham com a prescrição que vai alforriá-los sem precisar pagar, e ameaça os credores.

A prescrição atua contra os credores, e em favor dos devedores, aliás aquele em favor de quem a prescrição corre chama-se PRESCRIDENTE.

Uma questão interessante é saber se o devedor pode renunciar ao favor da prescrição, ele poderá dizer ao credor: “não se preocupe, pode dormir sossegado, eu o autorizo a qualquer tempo acionar-me, eu renuncio ao beneficio da prescrição”.

É isso que se quer saber, se será válida a renuncia à prescrição, manifestada pelo devedor é uma questão importante sobre a qual o cód. não poderia ficar silente.

A regra então é que não é válida a prescrição, manifestada previamente, ou seja, antes que a prescrição ocorra. Portanto é nula, não é anulável a renúncia previa a prescrição.

Se num contrato de locação, se inserir uma cláusula dizendo que o locatário autoriza ao locador a cobrar os aluguéis quando bem quiser, essa cláusula já nasce morta pq traduzirá uma renuncia prévia a prescrição.

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E pq é nula a renuncia previa a prescrição? Em 1º lugar, vcs acabaram de ver que a prescrição interessa ao equilíbrio social, ela foi feita p/devolver a sociedade a tranqüilidade, fechando a situação antijurídica que estava sangrando em aberto.

Ora meus amigos, se fosse possível ao devedor renunciar previamente a prescrição, o instituto já teria desaparecido do direito, p/se transformar em letra morta.

Pq todo o credor usando da ascendência moral e econômica que tem sobre o devedor, lhe imporia essa renúncia isso é óbvio. O locador não entregaria as chaves do imóvel locado, se o locatário não renunciasse previamente a prescrição da ação cobrança de alugueres.

O médico não operaria o paciente, que está ali se esvaindo em sangue, se ele não antes assinasse um documento, autorizando ao médico a cobrar seus honorários quando bem entendesse.

O advogado não subiria à tribuna p/defender ao cliente se esse não renunciasse previamente a prescrição da ação de cobrança de honorários.

Todo credor exigiria do devedor, no momento do nascimento da obrigação, essa renuncia prévia e o instituto rapidamente se tornaria letra morta.

Agora, nada impede, que o devedor renuncie a prescrição depois que ela ocorra, aliás até isto é muito elogiável e recomendável, quer dizer, o devedor pode e deve sob o ponto de vista ético, renunciar a prescrição depois que ela ocorre.

Mesmo sabendo que nunca mais poderá ser incomodado pelo credor, nada impede que o devedor resolva pagar.

Um devedor com forte base moral, que não pagou p/uma circunstancia que o impediu naquele momento, estava desempregado, sem dinheiro em suma, lhe era inteiramente impossível pagar é a prescrição ocorreu.

Mesmo sabendo que nunca mais poderá ser incomodado pelo credor, não dorme sossegado, não se sente confortável, e de repente vem a sua mente aquela sensação desconfortável de que não pagou a prestação.

Então, se de repente consegue recursos, p/finalmente pagá-la, procura o credor e paga podendo dormir absolutamente sossegado com a sua consciência.

Seria uma violência à liberdade individual, impedir que o devedor pagasse a obrigação após a prescrição.

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O credor pode receber a prestação, não precisa ser escondido, pode dar quitação, pq está praticando um ato absolutamente legitimo recebendo o seu crédito, que como lhes falei estava hibernando, não estava morto.

Ele não podia mais exercer a pretensão mas pode receber então, é perfeitamente possível renunciar a prescrição depois que ela ocorre, nunca antes dela, previamente. Ficou bem entendido?

E durante o prazo? Seria possível ao devedor renunciar a prescrição? (boa pergunta p/prova oral principalmente.)

O prazo de prescrição já está correndo, já houve a violação do direito e aí no meio do prazo pode o devedor renunciar a prescrição?

Vamos imaginar que o prazo de prescrição fosse de 3 anos, cobrança de aluguel , já decorreram 2 anos, mas ainda não se consumou pode o devedor renunciar a prescrição?

Reparem que não pode, se esta renúncia já constar do contrato, quer dizer nem se sabe se ele vai pagar ou não os aluguéis, isso não há duvida de que não pode.

Tb já vimos que pode depois que a prescrição ocorre. Mas a pergunta maliciosa que o examinador perverso faria é essa: E durante o prazo? Essa pergunta é muito interessante, pq vai exigir do candidato um raciocínio lógico muito bom.

Durante o prazo pode, mas só quanto ao prazo que já correu. E como é que o devedor renunciaria a prescrição durante o seu curso? Interrompendo a prescrição, o que significa dizer, reconhecendo de maneira inequívoca a dívida.

Então se após 2 anos do prazo de 3, o devedor dirige ao credor uma carta dizendo: “Senhor credor reconheço que estou lhe devendo, lamento profundamente, estou impossibilitado de lhe pagar mas reconheço a dívida e pagarei assim que puder”.

Isso tem o condão de interromper a prescrição p/iniciativa do devedor, e aí sabe o que acontece? A prescrição volta ao zero. Aqueles 2 anos que já correram, desaparecem.

Portanto, o devedor está renunciando ao prazo que já correu, mas ele não pode dizer assim: “Senhor credor, lamento ainda não poder lhe pagar, assim que puder pagarei. Aproveito o ensejo p/dizer que o senhor pode me cobrar quando quiser”

Esse final já não vale nada, pq aí ele já estaria renunciando previamente, à prescrição futura. O que ele pode fazer, é interromper a prescrição p/renunciar àqueles 2 anos que já correram, fazendo com que o prazo volte ao zero e comece a correr de novo.

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É uma pergunta muito boa repito, se durante o prazo da prescrição, poderia o devedor renunciar e a resposta do aluno, é perigosa por isso pq tem que dizer que pode mas com relação apenas ao prazo que já correu e não em definitivo.

O prazo que já correu volta ao 0, mas começa a correr imediatamente. Quando o credor recebe essa carta, os 2 anos que já correram desaparece, mas no minuto seguinte o prazo de 3 anos recomeça a correr.

Essa interrupção da prescrição p/iniciativa do devedor representa uma renúncia a prescrição mas que já correu. Estão aí portanto, todas as regras sobre à renúncia a prescrição.

Tb é importante frisar que estes prazos de prescrição, eles não se extinguem pelo fato, do titular do direito falecer ou o devedor pq os prazos de prescrição que já começaram a correr, continuarão a correr em relação aos sucessores, tanto do devedor quanto do credor.

Quero lhes dizer, que esta renúncia a prescrição, que já lhes disse que pode ser manifestada após a prescrição ocorrida, ela entretanto não pode prejudicar 3ºs.

Não se pode renunciar a prescrição e com isso prejudicar direitos de 3ºs. Vou dar um exemplo, em que uma renuncia a prescrição, poderia traduzir o prejuízo de 3ºs.

A é credor de B de R$10.000,00, o patrimônio de B é de R$15.000,00, só que a pretensão de A contra B está prescrita. A prescrição já alcançou essa pretensão.

Numa outra obrigação, que não tem nada a ver com isso, C é credor de B de R$12.000,00, olha a hipótese. A é credor de B de R$10.000,00 está prescrita essa pretensão.

C é credor de B de R$12.000,00 que não está prescrita, ainda não se venceu este credito. Aí move a ação contra B cobrando os R$10.000,00, e B renuncia a prescrição e paga. (pq B poderia argüir a prescrição mas não o faz)

C pode mover ação PAULIANA contra A E B p/anular essa renúncia à prescrição, e sabem pq? Pq essa renúncia à prescrição, prejudicou C.

E por uma razão óbvia. Argüida a prescrição, B não pagará R$10.000,00 a A , pq se B pagar R$10.000,00 a A, seu patrimônio ficará reduzido a R$5.000,00 e aí já não tem como pagar a C.

Então essa renuncia a prescrição feita por B, não se admitirá pq prejudica a 3º. É anulável pq é em fraude ao credor.

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Por isso o cód. diz que a renúncia pode ser expressa ou tácita e só valerá sendo feita sem prejuízo de 3º depois que prescrição se consumar.

Vamos ver o que é uma renúncia tácita e o que é renúncia expressa da prescrição. Exemplo de renúncia expressa: o devedor depois da prescrição, se dirige ao credor e lhe entrega o bem da vida.

Ele está renunciando expressamente a prescrição, está praticando um ato incompatível com ela, pq está pagando quando não precisava fazê-lo.

Na renúncia tácita, o credor lhe move a ação depois que a prescrição ocorreu. E o réu se limita a discutir o quantum debeatur, mas nada diz quanto à prescrição.

O silêncio do réu que afrontado pelo credor não argui a prescrição, equivale à uma renúncia tácita a ela. Aliás é p/isso que o juiz não pode de ofício reconhecer a prescrição.

Pq se o juiz de ofício, reconhecesse a prescrição, ele estaria inibindo o réu de exercer o direito de renunciar à ela. Já que ele pode renunciar a prescrição expressa ou tácita.

Basta que ele não argua a prescrição em sua defesa, p/representar isso uma renúncia a ela. Ora se o juiz se antecipar ao réu e fulminar a pretensão do autor, reconhecendo a prescrição, ele estaria inibindo o devedor de exercer um direito sagrado que é o de renunciar a prescrição já ocorrida.

Sinceramente vcs estão entendendo bem? Pq quero que vcs entendam prescrição. Um dos grandes males do ensino de direito, é que os alunos as vezes querem decorar essas regras.

Quanto a renúncia da prescrição, vimos tudo, até suas espécies a expressa e a tácita. Uma outra questão importante é resolvida pelo art. 192.

Os prazos de prescrição não podem ser alterados pelas partes, ainda que de comum acordo e só podem estar previstos em lei. Só a lei pode estabelecer os prazos de prescrição.

As partes não têm liberdade de criar um prazo de prescrição em um contrato p/valer só entre elas, e nem podem alterá-los.

Num contrato de locação se se disser que a prescrição de cobrança de aluguéis, por acordo entre as partes passa p/ 10 anos ao invés de 3 como está no código, essa cláusula tb nasce morta.

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E sabem pq os prazos não podem ser alterados pelas partes? Pq é matéria de ordem pública, eu disse a vcs que a prescrição interessa a sociedade e não apenas ao devedor.

Quem é beneficiado pela prescrição não é só o devedor, é toda a sociedade. É matéria de processo, de pretensão, de dedução da pretensão.

E matéria desta relevância social, da qual depende o próprio equilíbrio da sociedade, não poderia ficar à critério das partes. Reparem que todas as regras que até agora lhes dei, são sobre a prescrição, estou tentando explicar a razão de ser.

Pode parecer estranho ao leigo que os prazos de prescrição não possam ser alterados se o credor e o devedor estiverem de acordo.

Mas a razão é essa, é matéria que interessa a sociedade, é o que chama matéria de ordem pública, que é insuscetível de modificação pela vontade das partes. Não lhes darei nenhuma regra sem explicar a ratio essendi, a razão de ser.

O art. 194, é o que diz o que acabei de explicar, o juiz não pode suprir de ofício, a argüição de prescrição, sem que réu a tenha argüido.

Só que o NCC, e prestem muita atenção, isso é óbvio que será perguntado em prova, principalmente oral, pq é uma mudança radical do NCC, rompeu-se uma tradição secular.

É que até agora, essa regra era absoluta, o juiz não pode de ofício reconhecer a prescrição. Aprendi assim e sempre ensinei assim , agora já não posso dizer isso em caráter absoluto, pois abriu-se uma exceção.

O juiz poderá agora de ofício reconhecer a prescrição, se for para FAVORECER A ABSOLUTAMENTE INCAPAZ. Vejam que coisa interessante, mais uma regra protetiva dos incapazes.

Se a parte for absolutamente incapaz e o juiz perceber que a pretensão do autor está prescrita, ainda que o representante legal do absolutamente incapaz, não argua a prescrição, o juiz poderá de ofício reconhecê-la.

Mas é a ÚNICA EXCEÇÃO, e só p/absolutamente incapaz, não se aplica a relativamente incapaz.

Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas cujos representantes legais não argüiram a prescrição, têm ação contra eles de perdas e danos.

Agora a proteção é diferente, se é absolutamente incapaz, a proteção que a lei lhes deu é permitir ao juiz de ofício reconhecer a prescrição. Como quem diz: “ O senhor é o curador do réu e não argüiu a prescrição, mas vou socorrê-lo, vou reconhecê-la de ofício”.

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Mas se é relativamente incapaz, o juiz já não pode fazer isso, e com isso o rel. incapaz ficou prejudicado, Pq o seu representante legal, não argüiu a prescrição e com isso o juiz julgou procedente o pedido.

A proteção que a lei dá aos rel. incapazes é a ação de perdas e danos contra seus representantes que deixou de argüir a prescrição.

O art. 196, tb diz o que já lhes transmiti, ou seja os prazos de prescrição não se extinguem pelo simples fato do credor ou devedor morrer, pois continuarão a correr contra os seus sucessores.

Tanto a prescrição aquisitiva quanto a extintiva, continuam a correr contra os sucessores do credor ou do devedor. Se meu pai era locador e tinha 3 anos p/cobrar os aluguéis já decorreram 2 e ele morre, eu terei mais 1 p/cobrar os aluguéis.

Da mesma maneira, se o locatário morre e já tinham 2 anos decorridos da prescrição, os herdeiros só poderão ser acionados daí há mais 1 ano.

Deixei p/o fim a pergunta mais instigante, quem pode argüir a prescrição, quem estará legitimado p/argüir a prescrição e quando se pode argüir a prescrição?

Numa visão muito simplista, o aluno diria, quem pode argüir a prescrição é o devedor, o réu. Claro isso é óbvio, o maior legitimado p/argüir a prescrição é o devedor direto, o principal.

Mas isso é uma visão muito míope, está legitimado p/argui-la quem quer que ela favoreça, ainda que indiretamente, p/isso é que se diz que há interessados diretos e indiretos.

E tanto os diretos quantos os indiretos podem argüir a prescrição vou dar alguns exemplos de interessados diretos. Em 1º lugar o devedor principal, mais os seus herdeiros se o credor os acionar.

Aquele que assumiu a dívida o assuntor da dívida e seus herdeiros, o fiador, o avalista todos os devedores garantes e seus herdeiros.

Se o credor move a ação contra o devedor direto e esse não argui a prescrição, o fiador pode ingressar na ação p/argüir a prescrição.

O fiador não precisa aguardar que o credor mova ação contra ele fiador p/só então argüir a prescrição, pode se antecipar e argüir a prescrição da pretensão da ação do credor contra o devedor principal.

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Dirão vcs: Qual seria o interesse do fiador nessa ação? É evidente, ele fulminado essa pretensão, ele já evita que depois o credor venha contra ele se o devedor não pagar.

Quando digo fiador, é qualquer 3º interessado no pagamento, avalista etc. O 3º interessado no pagamento, pode argüir a prescrição embora não seja devedor direto.

Da mesma maneira, o co-devedor de uma obrigação indivisível, e o co-devedor de uma obrigação solidária, tb podem argüir a prescrição, ainda que a ação seja dirigida a outro co-devedor.

Imaginemos que numa obrigação indivisível, ou numa obrigação solidária, com 3 devedores, então temos 3 devedores (B,C e D) o credor move ação só contra B.

Ele não aciona C e D, só que B não argui a prescrição. C ou D podem ingressar nesta ação p/arguir essa prescrição, e é interessado direto.

Pq é que há interesse direto? Pq se C fulminar essa pretensão, depois o B que não argüiu e pagou não poderá regredir contra ele. Então vejam quantos interessados diretos.

E interessados indiretos? Já dei ex: está ali no quadro, o C poderá ingressar na ação de A contra B p/argüir essa prescrição, ele tem interesse nessa prescrição.

Pq se ele fulmina no nascedouro a pretensão de A contra B, ele salva o seu crédito, ele não precisa esperar que D pague p/depois entrar com a ação pauliana.

Ele pode se antecipar e argüir essa prescrição já na ação de A contra B, então diria que o credor está legitimado p/argüir a prescrição da pretensão de outro credor, contra o devedor comum, em vias de insolvência.

Outro exemplo: Um 3º entrou com uma ação reivindicatória contra José, alegando que é o proprietário do imóvel que foi vendido a ele. (José)

Só que essa pretensão deduzida na reivindicatória, já estaria prescrita. O vendedor desse imóvel pode ingressar nesta ação p/argüir a prescrição.

Qual o interesse dele? Evitar a evicção se ele consegue fulminar no nascedouro a pretensão do reivindicante contra o adquirente, ele afasta de seus ombros o fantasma da evicção.

Um outro exemplo; imaginemos um fideicomisso, o bem está na propriedade do fiduciário, aí um 3º move uma ação contra o fiduciário, p/anular a constituição do fideicomisso.

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Só que essa pretensão está prescrita. O fideicomissário, pode entrar nesta ação p/argüir essa prescrição. Qual o interesse do fideicomissário? É salvar o fideicomisso p/depois receber o bem quando o fiduciário morrer.

Estou dando exemplos de interessados indiretos, vejam que os diretos assim como os indiretos, podem argüir a prescrição, por isso é que o art. 193 diz assim: - “a prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita”.

A única crítica que se faz a esse dispositivo, e que ele reproduz o cód. Beviláqua, que diz “pela parte a quem aproveita” e isso pode levar o leitor a pensar que é só o réu.

O que de nada adiantaria. O NCC não tem o apuro técnico do CPC, quando se fala “pela parte a quem aproveita” é quem quer que entre na relação processual, p/argüir a prescrição.

O que o NCC quis dizer é o seguinte: quando alguém entra nos autos p/argüir a prescrição, o que o juiz tem que perguntar é o seguinte: Esta prescrição tem algum proveito? O sr. tem algum interesse nesta prescrição,ainda que indireto?

Se o juiz vislumbrar interesse em quem está argüindo a prescrição, ele acolhe.

Aí a pessoa diz assim: “Não Dr. juiz eu entrei aqui p/argüir essa prescrição pq o réu é meu amigo e vizinho, mas é um homem de poucas luzes, não percebeu que está prescrito, e eu resolvi argúi-la.”

Então, o juiz vai mandá-lo tratar da própria vida, pq o interesse dele em ajudar ao amigo não é jurídico. A pergunta única que o juiz tem que fazer é a seguinte: Qual o interesse que se tem na prescrição e em que poderá beneficiar?

Em todos os exemplos que dei , vcs percebem que ainda que remotamente, a prescrição vai interessar: livrar o alienante da evicção, salvar p/ o fideicomissário o fideicomisso, preservar o crédito do outro credor.

Sempre haverá um interesse em quem está argüindo a prescrição ainda que não seja repito, direto, imediato, pode ser um interesse remoto.

A outra pergunta ainda é mais instigante: Quando é que se pode argüir a prescrição? Essa é outra questão que surpreende os alunos, já que pode ser argüida na contestação ou nos embargos de devedor se for execução.

Na contestação se se tratar de ação de rito ordinário, de cobrança, ou nos embargos de devedor se for execução.

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Muita gente pensa que não argüindo a prescrição nestes momentos, estaria preclusa a matéria e nunca mais poderia ser alegada pois se consideraria que se renunciou a prescrição.

O que não é verdade, numa exceção ao princípio geral de que o processo anda p/a frente, e não se pode voltar a temas que teriam que ser aventados antes, a prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição.

Posso argüir a prescrição, já na audiência de instrução e julgamento sem ter falado uma palavra sobre prescrição, até aquele momento, peço a palavra pela ordem quando o juiz abrir a audiência.

O juiz não pode dizer que é tarde, pq já trouxe sentença pronta. Vai ter que tomar conhecimento, vai ter que fazer outra sentença apreciando a prescrição, pode até rejeitá-la, mas vai ter que apreciar.

Posso argüir a prescrição pela 1ª vez na apelação, o cód. diz em qualquer grau de jurisdição, pq? Pq a prescrição é de interesse da sociedade, é matéria de ordem pública.

O legislador achou melhor romper essa regra clássica do processo, p/ permitir que o devedor a qualquer tempo enquanto não transitada em julgado a sentença possa argüir a prescrição.

Na execução da sentença, já não se pode pela 1ª vez, argüir a prescrição. O réu não pode na execução da sentença, argüir pela 1ª vez a prescrição.

Mas pode argüir a prescrição da própria execução da sentença, pq a execução da sentença tb prescreve. Se o credor ganha a ação mas não promove a execução, decorrido o mesmo prazo da prescrição da pretensão, tb prescreve a execução da sentença.

Então p/ex: Para cobrar aluguel 3 anos, imaginemos que o locador com 1 ano promova a ação e ganhe. Só que transitada em julgado a sentença, ele não executa e só vai iniciar a execução 4 anos depois.

Citado, p/a execução da sentença o réu pode argüir a prescrição DA EXECUÇÃO E NÃO DA AÇÃO. É no mesmo prazo, é o que se chama PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE, que é aquela que se dá no curso da ação pq o autor deixou-a parada.

Então, se paraliso a ação e fico com a ação parada por 3 anos p/minha culpa e o prazo era de 3 anos, ocorre a prescrição intercorrente. A prescrição da execução da sentença, é uma prescrição intercorrente.

Tem umas perguntas conhecidas em concurso, ex: Pode-se argüir a prescrição pela 1ª vez em recurso especial? Reparem que o NCC diz em qualquer grau de jurisdição.

Aulas ministradas no CEPAD pelo Prof. Capanema em 22 e 23/12/03 19

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Olhem que pergunta perversa? parece fácil de responder mas ao contrário, é bem difícil, pois no rec. Especial a sentença ainda está no 2º grau de jurisdição.( só há 2 graus, 1º e 2º embora muita gente pense que há um 3º).

A luz do direito civil, nada impediria que a parte pela 1º vez argüisse a prescrição, quando interpusesse o R. Especial, mas não pode pq há um óbice regimental.

Se vc argüir a prescrição pela 1ª vez no R. Especial, certamente vc não pré-questionou a matéria. De nada adiantaria argüir essa prescrição pq esta matéria não poderia ser apreciada pelo STJ pela ausência de pré-questionamento.

Além do mais, a sentença que não reconheceu a prescrição, nada mais fez senão aplicar a lei, pois se não foi argüida a prescrição como poderia o juiz proclamá-la?

Em R. Especial não se pode argüir pela 1ª vez a prescrição claro, que se pode argüir se já foi argüida antes e não acolhida pelo Juiz. E em ação rescisória?

Posso propor uma ação rescisória só p/dizer que quero rescindir a sentença, pq estava prescrita a pretensão e o juiz não reconheceu e não foi argüida, e estou argüindo agora?

Nem pensar! Se vc não argüiu a prescrição na ação anterior como poderia o juiz reconhecê-la? A sentença não estaria violando disposição de lei, ao contrário, estaria aplicando a lei.

Em resumo: Não se pode argüir pela 1ª vez a prescrição no R. Especial, pq faltaria pré-questionamento. O STJ houve por bem admitir os embargos de declaração para pré-questionar.

Então, se a parte ainda não tiver argüido a prescrição, e se houver prazo, poderá argúi-la no pré-questionamento nos Embargos de Declaração.

Tb não se pode argüir em ação rescisória como causa de rescisão da sentença, pq a sentença que não reconheceu a prescrição, pq não foi arguida, estaria cumprindo a lei e não violando a lei, portanto a rescisória não seria cabível.

Tb não se pode argüir a prescrição na execução da sentença, a não ser quando se tratar da própria prescrição da execução.

Outra observação interessante: Disse a vcs que se pode argüir a prescrição na apelação, mas vai se ter que arcar com todas as custas que o autor fez, após a contestação.

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Pq se, se tivesse argüido a prescrição logo na contestação, e o juiz acolhido, não prosseguiria a ação. A ação prosseguiu pq não foi arguida a prescrição.

Isso fez com que o autor despendesse custas. Imaginem se houve perícia, e o autor pagou os honorários do perito e só depois da apelação, o réu argüir a prescrição e ganhar?.

Nesse caso, ele vai ter que ressarcir o autor, das custas que este despendeu p/ter prosseguido a ação, sem argüir a prescrição. P/isso recomendo a vcs, que arguam logo a prescrição na 1ª vez que tiver que falar nos autos.

Uma outra questão, que me lembrei agora, e que liquida o candidato numa prova oral. Muitos advogados mal preparados, são capazes de jurar que argüição de prescrição é matéria preliminar que antecede ao mérito.

Tanto que, é muito comum ver-se a defesa com a seguinte ordem: “1º-Preliminarmente: Da prescrição, 2º Ilegitimidade passiva ou então impossibilidade jurídica do pedido, 3º-Do mérito”.

A parte não será prejudicada, o juiz vai analisar as argüições, mas fará um juízo muito pouco lisonjeiro quanto à faculdade que o advogado se formou, e por favor se vcs fizerem isso, não digam que foram meus alunos.

Meus amigos, quando o réu argui a prescrição, ele já está NO MÉRITO, PRESCRIÇÃO É MATÉRIA DE MÉRITO, está dentro do PLANO DO MÉRITO.

Como se vai argüir a prescrição antes de argüir a impossibilidade jurídica ou a ilegitimidade de parte? Isso sim antecede ao mérito.

A ordem seria: 1- Da ilegitimidade passiva ou ativa, 2- Da impossibilidade jurídica, da falta de interesse de agir, depois: MÉRITO aí sim, PRESCRIÇÃO É PRELIMINAR DO MÉRITO.

Ou seja, quando vcs adentrarem ao mérito, a 1ª matéria que deverão examinar é a prescrição, MAS JÁ NO MÉRITO.

Tanto que, quando eu era advogado, usava um sistema interessante, pq quando chegava ao mérito, dizia: “Da prescrição” e dizia assim: “ Ainda no mérito” como quem diz: Se não for arguida a preliminar de mérito de prescrição, vamos continuar no mérito.

Vou lhes dizer pq prescrição é matéria de mérito, e não é só a prescrição, a decadência tb. A prova está no CPC, está lá no art. 267: “Extingue-se o processo sem julgamento do mérito”.

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O art. 269 diz: “Extingue-se o processo, com julgamento do mérito. IV- se o juiz pronunciar a decadência ou a prescrição.” É evidente então, que prescrição e decadência estão dentro do mérito se assim diz o CPC.

Há uma razão técnica p/se incluir dentro do mérito a prescrição e a decadência, permitindo ao Juiz extinguir o processo com julgamento do mérito.

É que extinguindo com julgamento de mérito, a sentença faz coisa julgada formal e material impedindo que o autor credor renove a aventura, propondo outra ação igual.

Se ele entrar com outra ação igual, basta o réu apresentar a sentença que extinguiu o processo com julgamento do mérito e que não poderá ser apreciado.

Se fosse sem julgamento do mérito, coitado! O réu teria que fazer toda defesa de novo, argüir novamente a prescrição.

Ele não precisa argüir novamente a prescrição basta que ele prove, que já houve uma sentença extinguindo o processo pq se acolheu a argüição de prescrição, mais nada.

Vejamos agora os prazos de prescrição que são muito importantes! Como lhes falei, os prazos estão todos na lei e não podem ser alterados pela vontade das partes.

Quanto aos prazos de prescrição, houve uma mudança salutar no NCC. O cód. anterior no art. 178 enumerava vários prazos extintivos, sem distinguir os que eram de prescrição e os que eram de decadência.

O ACC dizia apenas: “prescreve em” e enumerava vários prazos

extintivos sem distinguir os que eram de prescrição e os de decadência, e mais da metade deles era prazo de decadência.

Conseqüentemente, todo aluno era capaz de jurar que todos aqueles prazos eram de prescrição, pois se dizia no caput “ prescreve em”, mais da metade era de decadência, pq este prescreve devia ser lido como “extingue-se em”.

Mas agora o NCC libertou os alunos, os advogados desse suplício de identificar no art. 178, (ACC), quais seriam os prazos de decadência e quais os de prescrição.

O NCC elenca os prazos de prescrição nos arts. 205 e 206, e todos os que estão ali são de prescrição, todos sem a menor exceção. Não tem nenhum prazo de decadência nesses artigos.

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Quanto aos prazos de prescrição, nós temos os ordinários e os extraordinários. Como o nome está dizendo, o prazo ordinário é quando a lei não estabelece um outro específico.

Não havendo prazo específico na lei, determinado na lei, aplica-se o prazo ordinário, o comum. Os outros são extraordinários, especiais.

E aí houve uma mudança enorme. Vejam quantas mudanças! No cód. Beviláqua,os prazos ordinários de prescrição eram os seguintes:

Para as ações pessoais: 20 anos, ram as ações que se referiam as relações obrigacionais. Aliás, meus amigos, era 30 anos quando o cód. surgiu em 1916, depois é que baixou p/20 anos.

E para as ações reais, as que se referem aos direitos reais, o prazo era de 10 anos entre presentes, e 15 anos entre ausentes. Concluindo: tínhamos 3 prazos ordinários.

Era uma confusão generalizada! 10 anos entre presentes, e 15 entre ausentes, e se o prazo começasse estando as partes presentes e depois ficassem ausentes ou vice e versa?

Aí se aplicava uma fórmula matemática idealizada por Câmara Leal, complicadíssima p/se calcular o prazo certo. E todo advogado se arrepia diante de matemática.

Acabou tudo isso, aposentem tudo isso, a fórmula do Câmara Leal quero apagar da minha memória, já sofri muito com ela. Agora meus amigos, o prazo ordinário é ordinário mesmo pq é um só: 10 anos.

Seja ação pessoal, seja ação real, seja entre presentes, seja entre ausentes. Isso facilitou extraordinariamente, foi uma redução drástica ! 50% de redução e deveria ser até mais na minha opinião.

Quanto mais fácil o acesso à justiça, quanto mais rápido os meios de comunicação, quanto mais facilitado o transporte em suma: Com esses milagres tecnológicos de hoje a informação maior, o nível cultural da população maior.

Não se justifica que se autorize o titular do direito subjetivo a dormir por 20 anos ! é mais que uma geração inteira, vc nasce e 18 anos depois já é capaz plenamente.

Vai se esperar mais do que o tempo necessário p/se tornar capaz, p/só então movimentar as engrenagens do Estado enquanto isso, a ferida aberta do seu direito está sangrando contaminando o tecido social, isso é um absurdo!.

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Agora em 1916 sim, o povo não tinha o nível cultural de hoje não havia informações, p/se ingressar em juízo era dificílimo. A tendência não é só do código brasileiro, é de todo direito moderno.

A gente vê nas ultimas reformas de códigos civis, que todas elas reduzem os prazos de prescrição, não podíamos fugir a essa tendência.

O artigo 206, elenca os prazos extraordinários. É auto-explicativo, ação de alimentos que era 5 passa p/ 2 anos, cobrança de aluguel que era 5 anos, passa p/3 anos, reparação civil que era de 20 anos, cai p/3 anos.

Nesse artigo estão elencadas as várias situações em cujas pretensões, se estabeleceram os prazos menores de 10 anos p/isso se chamam extraordinários, especiais.

A demonstrar o poder da classe dos advogados, e p/ tranqüilizá-los quero dizer que um dos raríssimos prazos que não foram reduzidos, foi o da ação de cobrança de honorários advocatícios que continua sendo de 5 anos.

Só que essa redução de prazos, gerou um problema gravíssimo que é o conflito inter temporal pq quando o NCC entrou em vigor p/uns no dia 11, outros dizem que foi no dia 12.

Tem gente se digladiando na doutrina p/isso, como se disso dependesse o futuro do país. Pela lei complementar 95 seria no dia 12, mas pelo próprio código seria no dia 11.

O fato é que vários prazos de prescrição já estavam correndo, já tinham se iniciado sob o império do cód. passado e foram alcançados pelo NCC que reduziu esses prazos.

É evidente que não se podia tolerar que os credores fossem surpreendidos. Sujeito foi atropelado há 16 anos, ainda teria 4 p/propor ação indenizatória aí o NCC baixa p/3 ele já foi atropelado há 16, não mais poderia reclamar indenização, o que seria intolerável.

O próprio cód. no art. 2028 nos dá uma solução. Esse artigo diz que aqueles prazos extintivos que foram reduzidos pelo NCC e isso se aplica à prescrição e a decadência.

Se o prazo extintivo foi reduzido, teremos que verificar se no dia 11de janeiro , ou 12, quando o NCC entrou em vigor, se já havia decorrido mais da metade do prazo pelo código antigo.

Olha o exemplo que dei. O sujeito foi atropelado há 16 anos, então já tinha decorrido mais da metade que era 20, nesse caso o prazo continua a correr pelo ACC sem nenhuma influencia do NCC.

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O atropelado vai ter os mesmos 4 anos que faltavam, p/propor a ação, sem nenhuma influencia do NCC. Só que o código não faz menção a situação inversa, se tinha decorrido menos da metade.

Aí meus amigos, como o NCC não dá essa resposta expressamente, ele só fala na hipótese de já ter decorrido mais da metade. Se já decorreu mais da metade, o prazo continua pela lei antiga é o art. 2028, mas se não tiver decorrido?

“Serão os da lei anterior, os prazos quando reduzidos por este código,( qualquer prazo extintivo) se na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada”

E se não tiver decorrido? O NCC foi silente, o que foi lamentável, pq já apareceram 2 correntes. Doutrina é um negocio insuportável, se o código não dá a resposta, os doutrinadores fazem a festa.

O Carpenter, que é promotor, acabou de publicar um artigo na revista última da Emerj, dizendo que se aplicaria o que faltava, p/ex: sujeito foi atropelado há 8 anos, como o NCC põe 3 , seria 8 +3=11.

O Câmara Leal, diz o seguinte que se ainda não transcorreu a metade, se aplicará integralmente o prazo da lei nova, a partir do ponto em que estava o prazo pela lei antiga.

E se isso ultrapassar o prazo da lei antiga, fica vigorando o da lei antiga. Essa é a lição de Câmara Leal.

Vamos ao exemplo prático: O sujeito foi atropelado há 6 anos, o NCC baixa para 3 anos, aí teria como diz o Carpenter, 3 anos a partir do dia 11 de janeiro.

Aplica-se o prazo integral da lei nova, a partir do ponto em que se encontrava pela lei antiga. No caso da prescrição extintiva, não tem nenhum problema pq as 2 teorias chegam ao mesmo ponto.

O problema está na prescrição aquisitiva pq isso pode alterar, falaremos na próxima aula, deixaremos p/ amanhã essa questão de conflito intertemporal pq falta pouco tempo p/acabar a aula.

O que é importante é que vcs percebam que esses prazos na sua maioria, tanto os ordinários quanto os extraordinários foram sensivelmente reduzidos no NCC.

Talvez o de maior repercussão prática seja o de reparação civil que baixou muito de 20 anos p/3 anos. Há uma chance aí, é que são 3 anos, mas há um art. no NCC que é o 200 e que diz o seguinte:

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“quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença criminal definitiva.”

P/exemplo: Se eu fui atropelado mas ainda não se sabe ao certo quem foi o motorista atropelador, se isso está sendo apurado no juízo criminal, o prazo de 3 anos da ação de reparação civil, só começará a fluir do transito em julgado da sentença criminal que definir a autoria.

Isso já melhora p/a vítima, mas isso é se, o fato que origina a reparação Civil estiver sendo apurado em sede criminal, se já não houver dúvida de quem foi o atropelador o prazo começará a correr do evento.

Vamos falar rapidamente sobre as causas preclusivas que são um fator neutralizante da prescrição. Elas vão influir na contagem do prazo.

O prazo de prescrição não corre uniformemente, inexoravelmente. Ele pode ora ser suspenso, ora ser interrompido recomeçar a correr, voltar a correr, em suma: muitas situações podem se verificar, influído na contagem do prazo.

Os leigos não sabem disso, quando se diz que o prazo p/cobrar aluguel é de 3 anos, mas pode ser 20 se estiver presente uma causa preclusiva.

Esse prazo de 3 anos pode ser triplicado, quintuplicado se tiver umas dessas causas preclusivas, então é fundamental p/nós profissionais do direito, conhecer essas causas preclusivas.

Caso contrário, correremos o risco de considerar prescrito uma pretensão que não está prescrito. Estas causas são de 3 espécies diferentes: impeditivas, suspensivas, interruptivas.

As IMPEDITIVAS, como o nome está dizendo, impedem que o prazo comece a correr, ocorre a violação do direito subjetivo, nasce a ação própria o prazo portanto, deveria se iniciar mas não se inicia, fica no 0, não decola.

Enquanto essa causa impeditiva estiver presente,o prazo não começa a correr p/mais tempo que tenha decorrido. Portanto, esse prazo pode ficar 20 anos sem se quer começar a correr.

Exemplo: O marido violou o direito subjetivo da mulher enquanto eram casados. Enquanto estiverem casados não corre a prescrição, quando o casal se separar é que começará a correr o prazo de prescrição.

Outro exemplo: Violou-se o direito subjetivo de um absolutamente incapaz, enquanto ele for absolutamente incapaz o prazo de prescrição nem começa a correr, só começará a correr quando ele deixar de ser absolutamente incapaz.

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A incapacidade absoluta, o matrimônio impedem que o prazo de prescrição comecem a correr.

Já as causas SUSPENSIVAS se distinguem das causas impeditivas pq as suspensivas já alcançam prazo correndo.

Digamos que o prazo já começou a correr o prazo é de 3 anos, e já correram 2, aí ocorre uma causa suspensiva o que acontece? Esse prazo se estanca, é como se ficasse congelado, ele não corre mais, fica paralisado.

Enquanto a causa suspensiva estiver presente, o prazo ficará hibernando, removida a causa suspensiva ele recomeça a correr do ponto em que se encontrava.

Imaginemos que o prazo era de 3 anos, já correram 2 aí ocorre uma causa suspensiva que permanece presente p/10 anos. Aí desaparece a causa suspensiva, o prazo volta a correr por mais 1 ano, pq era de 3 e já correram 2 corre mais 1.

Aqueles 2 anos se aproveitam, se computam não desaparecem. P/ex: O titular do direito foi transferido p/o exterior a serviço do país, isso suspende a prescrição. Enquanto estiver no exterior, não correrá a prescrição.

E finalmente, a causa INTERRUPTIVA que tb alcança os prazos já correndo, mas ao contrário das suspensivas ela tem outro efeito, ela não paralisa o prazo, ela extingue o prazo que já correu.

Usando uma linguagem metafórica, comparo a causa suspensiva a um cronômetro que vc aperta e paralisa o tempo e quando volta a apertar, recomeça a correr de onde parou.

E comparo a causa interruptiva, a um apagador de quadro, vc apaga o prazo que já correu, ele volta ao 0 mas começa a correr imediatamente.

A causa interruptiva faz com que o prazo volte ao 0, mas não quer dizer que vai ficar estancado no 0, no minuto seguinte ele recomeça a correr.

P/ex: O credor promoveu um protesto judicial contra o devedor, ele ainda não ajuizou a ação de cobrança mas fez o protesto do título. O protesto do título é uma causa interruptiva.

Se já passaram 2 anos, esses 2 anos desaparecem, mas no dia seguinte ao protesto, já está correndo de novo o prazo já tem 1 dia de prazo.

Em resumo: A causa suspensiva aproveita o tempo que já passara e a causa interruptiva apaga esse tempo.

Bom, meus amigos, amanhã terminaremos o tema.

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2ª aula dia 23/12/03

O art. 190 veio resolver uma questão intrincada na doutrina. Diz agora o art. 190 esclarecendo uma velha dúvida o seguinte: “ A exceção prescreve no mesmo prazo que a pretensão.”

Primeiramente temos que recordar o que é exceção. A exceção é uma espécie do gênero defesa , não é sinônimo de defesa, mas é uma espécie de defesa.

Essas exceções que representam portanto, resistências à pretensão deduzida pelo autor, podem ser SUBSTANCIAIS, como podem ser FORMAIS OU PROCESSUAIS.

As exceções SUBSTANCIAIS são: A EXCEÇÃO DE PAGAMENTO, quando o réu acionado pelo credor, diz que já pagou a divida, então isso é uma exceção. Ele diz: “já paguei, nada mais devo”.

A EXCEÇÃO DE COMPENSAÇÃO , o devedor diz: “Olha realmente lhe devo, e ainda não paguei , mas vc tb me deve e tb não pagou, então vamos compensar o que lhe devo com o que vc me deve”.

A EXCEÇÃO DE NOVAÇÃO, o réu diz: “esta obrigação não existe mais, pq foi novada agora é uma outra que existe portanto, não posso estar sendo executado pela anterior”.

A EXCEÇÃO DE PRESCRIÇÃO AQUISITIVA , muito usada nas ações possessórias em que o réu faz a exceção de usucapião. Ao se defender na ação possessória, o réu argui a usucapião como exceção de defesa.

Já as exceções FORMAIS tb chamadas PROCESSUAIS, são aquelas conhecidíssimas e disciplinadas no CPC : A EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA, EXCEÇÃO DE COISA JULGADA, EXCEÇÃO DE LITISPENDÊNCIA, EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO OU DE IMPEDIMENTO.

É evidente que o código no art. 190 está se referindo, não é preciso ser gênio p/perceber, as exceções substanciais, as de pagamento, novação compensação. Sempre se discutiu se a possibilidade de oferecer essas exceções, tb prescreve.

Nunca houve uma resposta a isso, e essa resposta está aí dada ou seja, se eu quiser opor ao credor que me ataca em juízo uma compensação, o juiz vai ver se já prescreveu essa pretensão de compensar, que prescreve no mesmo prazo, que prescreve a pretensão de cobrança.

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É isso que o art. 190 quer dizer, ou seja, vc só pode opor essas exceções substanciais, se elas tb já não tiverem sido alcançadas pela prescrição, e o prazo de prescrição dessas exceções, é o mesmo prazo da ação, da pretensão deduzida na inicial.

Acho que o art. 190 foi muito bem colocado, pq é mais uma dúvida que envolvia a questão da prescrição e que agora fica resolvida.

Vamos agora as causas preclusivas da prescrição. Na aula de ontem já vimos o que é uma causa preclusiva , e como se dividem as causas impeditivas, que não permitem que o prazo de prescrição comece a fluir.

As suspensivas que alcançam os prazos de prescrição já fluindo e eles deixam de fluir, mas aproveitando-se o tempo que já correu tanto que, desaparecida a causa suspensiva, a prescrição volta a correr do mesmo ponto em que parara.

E as interruptivas que fazem com que o prazo que já correra desapareça, começando novamente a correr o prazo.

Muita gente estranha e não consegue entender num primeiro momento, pq o cód. diz das causas que impedem ou suspendem a prescrição.

Reparem que o cód. elenca algumas causas, sem dizer exatamente se elas são suspensivas ou impeditivas. O aluno que começa a estudar direito, me pergunta: - dessas causas que estão elencadas no art. 197, 198, e 199 elas são impeditivas ou suspensivas?

Pq o cód. diz das causas que impedem ou suspendem a prescrição. O aluno quer saber quais as que são impeditivas e quais as que são suspensivas, e pq o cód. não as separa claramente.

A razão é óbvia, é pq essas causas tanto podem ser impeditivas ou suspensivas, isso vai depender do momento em que elas ocorrem , em que elas aparecem.

Se essa causa já está presente quando a violação do direito subjetivo ocorre, essa causa é impeditiva, ela já está presente, portanto violado o direito, a prescrição não começa a correr.

P/exemplo: O marido violou o direito subjetivo da mulher e já eram casados quando isso se deu, nesse caso o matrimônio será uma causa impeditiva.

Imaginemos que marido casado com separação de bens, alugue um galpão que pertence a mulher exclusivamente e não lhe paga os alugueis.

Ao deixar de pagar os aluguéis, violando o direito subjetivo da mulher, ele já era casado com ela e portanto não corre a prescrição entre cônjuges na constância do matrimônio. Nesse caso o matrimônio, foi uma causa impeditiva.

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Mas imaginemos que quando o locatário deixou de pagar os aluguéis, ele não era casado com a locadora e depois que deixou de pagar os aluguéis, é que veio a se casar com a locadora.

Aliás, num gesto transloucado da locadora, casando-se com o antigo locatário, ainda mais trambiqueiro e inadimplente, o coração tem razões que a razão desconhece.

Então imaginemos que a locadora, depois de despejar o locatário inadimplente, apaixona-se p/ele e casam-se. Aí o matrimônio é causa suspensiva pq a prescrição já estava correndo desde o momento em que o locatário deixou de pagar o aluguel.

E aí ao se casar com a locadora, agora o matrimônio funciona como uma causa suspensiva, vamos a outro exemplo: Quando José violou o d. subjetivo de João, este já era absolutamente incapaz.

Se João já era absolutamente incapaz, essa incapacidade absoluta é causa impeditiva da prescrição. A prescrição nem sequer começa a correr contra os absolutamente incapazes.

Mas imaginemos que quando José violou o D. subjetivo de João, ele não era incapaz, era perfeitamente capaz e enlouqueceu 1 ano depois, talvez até pelo não cumprimento da obrigação.

O fato é que ele enlouqueceu 1 ano depois da violação do seu direito, agora a sua incapacidade absoluta, é uma causa suspensiva.

Então é p/isso que o cód., não diz quais são as causas impeditivas e quais são as suspensivas, ele apenas enumera algumas causas que podem funcionar como impeditivas ou como suspensivas, então é essa a explicação.

Se me perguntarem p/ex: O poder familiar é uma causa impeditiva ou suspensiva da prescrição? A resposta só pode ser uma: Depende, de saber quando se estabeleceu a relação de parentesco.

Se perguntarem: A transferência do credor p/o exterior, é uma causa impeditiva ou suspensiva? Depende, do momento em que ele foi transferido.

Se ele já estava no exterior quando se violou o seu d. subjetivo, é impeditiva. Se ele foi transferido p/o exterior depois de violado o seu d. subjetivo, essa transferência é causa suspensiva.

Acho que ficou bem esclarecido, feito isso, vamos ver quais seriam essas causas impeditivas ou suspensivas. Em 1º lugar o matrimônio, a sociedade conjugal.

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Diz o cód: “não corre a prescrição entre os cônjuges na constância da sociedade conjugal”

Dissolvida a sociedade conjugal,seja pela separação judicial, pelo divórcio, a morte de um dos cônjuges a prescrição começará a correr entre os ex-conjuges.

Pq a prescrição não deve correr entre os cônjuges na constância da sociedade Conjugal? P/ não afetar a estabilidade da família. Digamos que o marido alugou o galpão da mulher, e não lhe pagou os aluguéis. A mulher tem 3 anos p/cobrar esses aluguéis sob pena de perder a pretensão.

Mas ela sabe que se entrar com a ação cobrando do marido os aluguéis, a estabilidade de seu casamento ficará extremamente fragilisada.

Será muito difícil o marido chegar em casa à noite, encontrando a mulher carente, de camisola o aguardando, chamando-o p/o leito, e ele lhe dirá:_ Vou nada sua cretina, usurária, acabei de ser citado, estou em situação difícil, vou dormir na sala, e volto amanhã p/casa da minha mãe!

Então o legislador preferiu proteger mais o casamento do que a prescrição. Agora dissolvida a soc. Conjugal, não há mais o que preservar e p/isso a prescrição começa a correr.

A soc. Conjugal impede a prescrição ou suspende, p/que um cônjuge não se veja compelido a acionar o outro, p/ não perder sua pretensão.

Da mesma maneira a 2ª causa, é o poder familiar. Não corre a prescrição entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar.

Seria um absurdo se o pai tivesse que acionar o filho menor que violou o seu d. subjetivo ou ao contrário, como o filho menor iria acionar o pai que lhe violou o d. subjetivo.

Além disso ser extremamente antiético, não seria fácil conseguir que o filho menor pudesse acionar o pai, já que dependeria dele p/ingressar em juízo.

Enquanto os filhos menores estiverem sob o poder familiar, não correrá a prescrição entre o ascendente e o descendente e p/uma razão fácil de entender.

É que nem sempre o poder familiar, é exercido pelos pais, pode ser exercido pelos avó, por um tio.

O Cód. passado falava do matrimônio, isso é uma mudança significativa do NCC. O ACC dizia: “não corre a prescrição entre cônjuges na constância do matrimônio” então se discutia , se depois da sep. Judicial, corria a prescrição.

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Uns diziam que não, pq a separação não extingue o matrimônio agora não existe mais essa discussão, pq o NCC não fala mais “durante o matrimônio”, e sim da soc. Conjugal, portanto a separação judicial, tb faz com que a prescrição, passe a correr.

Se quem estiver no exercício do poder familiar for o avô, correrá a prescrição entre pai e o filho, mas não correrá entre o avô e o neto, pq quem está no exercício do poder familiar é o avô.

O que impede a prescrição, não é o parentesco, o que impede a prescrição, é o exercício do poder familiar, aliás vcs já devem saber é o nome politicamente correto, que agora se usa p/o antigo pátrio poder.

Não é mais pátrio poder, pq que se teve que mudar a denominação do instituto? Antigamente assim se chamava , pq quem exercia o pátrio poder era o pai, não eram os pais.

A mãe só exercia o pátrio poder, quando o pai morria ou estava impedido ou ausente, agora não! Como o pátrio poder agora é exercido em conjunto pelo pai e pela mãe, pq chamar pátrio poder se ambos os genitores o exercem?

Então, substituiu-se a expressão pátrio poder por poder familiar. E finalmente tb não corre a prescrição entre tutores e tutelados, curadores e curatelados, durante a tutela ou a curatela.

A razão é a mesma, para que não obrigue o tutor a acionar o tutelado ou vice versa o que não teria nenhuma lógica, enquanto houver a tutela e a curatela não correm a prescrição entre o tutor e o pupilo, ou entre o curador e o curatelado ou interditado.

Estão aí as 3 primeiras causas impeditivas ou suspensivas da prescrição.

Respondendo ao aluno: Como sabem o NCC embora tenha abordado a união estável, não foi muito cuidadoso, pq quando o projeto foi elaborado, ainda não havia a união estável, o projeto é de 75.

O capítulo da união estável foi introduzido já nas últimas discussões. Não houve o cuidado de corrigir os artigos que se referiam ao casamento.

A doutrina e a jurisprudência é que suprirão essas lacunas, eu pessoalmente entendo, que tb não correrá a prescrição de companheiros durante a união estável.

Por uma razão óbvia, se a lei manda atribuir à união estável a mesma proteção que se dá ao casamento, e se essa regra p/proteger o casamento, tb tem que atuar na união estável.

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O único elemento complicador é que como sabemos, o casamento é de fácil prova bastando exibir a certidão, ao passo que a união estável, não é de fácil prova, pq depende de uma série de pressupostos.

Não há uma certidão de união estável, p/o juiz saber se está correndo ou não a prescrição, ele vai ter que 1º saber se existe união estável entre as partes.

Isso é um elemento complicador na prática, mas teoricamente, eu lhes asseguro que entre os companheiros tb não corre prescrição enquanto viverem em união estável. ( Obs: Opinião do Prof. Capanema).

Tb é uma causa impeditiva da prescrição ou suspensiva, a incapacidade absoluta. Não corre a prescrição, contra o absolutamente incapaz.

É uma regra de proteção do absolutamente incapaz, tb não corre a prescrição, contra os ausentes do país, à serviço da União, Estados ou Municípios, por uma razão tb compreensível.

Se vc está fora do país p/serví-lo, terá maior dificuldade p/ajuizar uma ação em defesa de seu direito, não é justo que vc estando no exterior à serviço do país, seja alcançado pela prescrição.

Então p/que vc não fique preocupado no exterior em não perder a sua pretensão, p/que não tenha que vir ao país p/ajuizar a ação, suspende-se a prescrição ou impede-se.

A única dúvida que o NCC poderia ter corrigido mas não o fez infelizmente, é que o NCC fala em serviço público da União, dos Estados e dos Municípios.

O que se discute, é se o gerente da agência do Banco do Brasil em Nova York terá a sua prescrição impedida ou suspensa.

O Banco do Brasil não é nem a União, nem o Estado nem o Município, é uma sociedade de economia mista, e o que é pior é uma pessoa jurídica de direito privado.

Duas correntes se formam, uma sustenta que como isso é uma exceção, tem que ser interpretado restritivamente e p/isso só os servidores públicos típicos que estão servindo à União, aos Estados ou aos Municípios teriam a prescrição suspensa ou impedida.

Os que trabalham p/pessoas jurídicas de direito privado não teriam. A outra corrente que me parece melhor e p/isso é dominante, entende que embora as sociedades de economia mista e as empresas públicas sejam pessoas jurídicas de direito privado, exercem indiscutivelmente tarefas e atividades de interesse público.

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E conseqüentemente por analogia, deve-se estender à eles a mesma regra, mas a matéria é divergente, e foi uma pena que o NCC não dirimisse essa dúvida.

E finalmente tb não corre a prescrição, contra os que estão servindo nas forças armadas em tempo de guerra. Essa felizmente, é uma causa que há mais de 50 anos não precisa ser invocada no Brasil.

Esperamos que nunca mais precise ser, pq esta causa só se aplica quando o país está em guerra. Os que forem convocados p/as forças armadas, terão automaticamente suspensas ou impedidas as suas prescrições ainda que não saiam do país.

Ainda que exerçam atividades em sua própria cidade, atividades p/ex: logísticas ou então, se a guerra estiver em nosso próprio território, ainda assim a prescrição fica suspensa se a pessoa está convocada p/as forças armadas.

Isso aconteceu com o meu pai que era médico, recém-formado e foi convocado na 2ª grande guerra, mas como era médico a sua tarefa era examinar no Rio de Janeiro onde morava os convocados p/irem para a Itália p/verificar se eles tinham condições físicas capazes de suportar o frio da campanha na Itália.

Os pracinhas foram p/a Itália em pleno inverno enfrentando a neve dos Alpes italianos e a função do meu pai e de outros médicos convocados era examinar isso.

Meu pai nunca dormiu uma noite fora de casa, nunca mudou o seu ritmo de vida, nunca saiu da cidade, mas a sua prescrição se estivesse correndo, qualquer prescrição que estivesse correndo contra ele, estaria suspensa.

Pq a lei não fala que ele tenha que sair do país, fala apenas convocado p/servir nas forças armadas durante a guerra. Houve uma correção interessante no NCC.

É que o ACC falava convocado p/servir a Armada ou ao exército e os militares da Aeronáutica sentiam-se ofendidos, discriminados. Um aluno uma vez na Cândido Mendes, manifestou indignado esse protesto, percebi que deveria ser um oficial reformado da Aeronáutica.

Eu o tranqüilizei dizendo que não havia nenhuma discriminação, é que o ACC era de 1916 quando nem se sonhava com a Aeronáutica no Brasil, só havia a Armada e o Exército.

Agora, o NCC evitou essas ciumeiras, entre as forças armadas, e aí botou “Nas forças Armadas” sejam elas quais forem, foi boa essa correção, vcs não imaginam com o militar é dado a essas sensibilidades.

Respondendo ao aluno: Tb várias vezes participamos de forças internacionais, o cód. é omisso, mas se entende que suspende a prescrição.

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Assim, os que foram p/Angola, os que estiveram em Suez, São Domingos, em todos esses lugares, o Exército Brasileiro mandou contingente, e todos tiveram a prescrição suspensa, embora, não fosse uma guerra declarada, era uma missão de paz ou guerra.

E finalmente, não corre prescrição pendendo condição suspensiva, ou não estando vencido o prazo. A rigor nem precisava dizer isso, considero esses dispositivos inócuos.

Pq se ainda está pendendo condição suspensiva e se ainda não venceu o prazo, o direito ainda não é exercitado, e conseqüentemente não poderia ser violado.

Não está correndo ainda a prescrição, só depois que a condição se implementa ou só depois de vencido o prazo e que começará a correr a prescrição pq até então, o titular desses direitos ainda não podia exercita-los, ainda eram direitos futuros.

Havendo direito futuro, ainda não correrá a prescrição, pois esta só correrá quando o direito se tornar exercitável, ou seja, quando se implementar a condição ou advier o termo.

E finalmente, pendendo a ação de evicção, isso quer dizer o seguinte: Enquanto estiver correndo a ação reivindicatória de um 3º contra o adquirente de uma coisa, tb não correrá a prescrição contra o alienante, ação de evicção.

Só depois que se encerra a ação reivindicatória, e o adquirente vem a perder a coisa adquirida p/o reivindicante, só no momento em que transita em julgado essa sentença é que começará fluir o prazo de prescrição contra o alienante.

Estão aí todas as causas que suspendem ou impedem a prescrição, são portanto 9. Causam muito estranheza aos alunos, a maneira como elas estão expostas.

Reparem, o art. 197 diz: “Não corre a prescrição”, o art. 198 diz: “Tb não corre a prescrição”, e o 199: “Não corre igualmente a prescrição”.

Os alunos acham isso engraçadíssimo, e a 1ª idéia é de que o legislador foi se lembrando aos poucos e aí p/não mudar a numeração, foi dizendo: “ Ah! Tb não corre”.

Elas foram agrupadas em razão de suas afinidades internas, reparem que no último art., são sempre direitos futuros, “enquanto não implementa a condição, enquanto não vem o termo, enquanto pende a reivindicatória.”

Já as 1ªs dizem respeito à relações entre o prescridente e o credor. A explicação é essa, era preciso separar esses incisos pq eles tem origem ou causas

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diferentes. Mas com isso tb se deixa claro, que todas são causas impeditivas ou suspensivas.

A seguir o cód. trata das que interrompem a prescrição, essas são separadas pq estão separadas? Pq essas só funcionam como causas interruptivas, não podem ser impeditivas ou suspensivas.

Essas causas serão sempre interruptivas, vejam que isso tem que entender, o cód. não é feito p/acaso, isso tem uma técnica. Ele colocou juntas as impeditivas e as suspensivas, pq elas podem se apresentar ora se apresentar como impeditivas, ora como suspensivas.

Agora como as interruptivas, só funcionam como interruptivas, estão separadas em outra seção.

Aqui há uma mudança extraordinária, que trará grandes turbulências ao mundo dos negócios.

Esse dispositivo tem sido criticado e há projetos de lei já apresentados p/mudar esse artigo. Rompendo uma velha tradição, o NCC pela 1ª vez estabelece que A INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO SÓ PODE SE DAR UMA ÚNICA VEZ.

Jamais houve qualquer limitação quanto ao número de vezes em que o credor poderia interromper a prescrição. O credor poderia ir fazendo p/Ex: sucessivos protestos judiciais e a cada protesto judicial que ele fizesse, o prazo de prescrição voltava ao 0.

Então, p/cobrar aluguel são 3 anos, aí o locador poderia fazer um protesto judicial com 2 anos e o prazo voltava ao 0. Mais 2 anos, fazia um 2º protesto voltava ao 0, mais 2 anos um 3º protesto e voltava ao 0.

Só que agora, não será possível, feito o 1º protesto interrompida pela 1ª vez a prescrição, não há mais como interrompê-la. Uma corrente está criticando severamente esse dispositivo dizendo que ele fragilisa as pretensões, fragilisa o credito.

Vamos imaginar que o credor interrompeu a prescrição com 2 anos, só que daí há mais 2 anos, ele sabe que o devedor continua sem ter bens ou ele vai ter que propor uma ação inútil , pq sabe que o devedor está insolvente, ou vai perder a pretensão.

Vai ter que propor a ação sabendo que botará dinheiro fora, pq sabe que o devedor ainda não tem nada que se possa penhorar.

No passado ele fazia um 2º protesto e ficava aguardando até o dia em que o devedor tivesse bens, agora vai ter que entrar com a ação, pq não terá uma 2ª chance de interromper a prescrição.

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Mas outra corrente aplaude de pé esse dispositivo considerando-o genial. Qual o objetivo da prescrição como lhes falei? É fechar uma situação antijurídica em aberto.

As lesões aos direitos subjetivos, criam situações antijurídicas que como lhes disse são perigosas p/a estabilidade social, quanto mais cedo fecharmos essas feridas melhor p/o equilíbrio social.

Ora, se o titular do direito subjetivo puder ir interrompendo a prescrição N vezes , essa situação ficará indefinidamente em aberto que é exatamente o que não se quer.

Através de sucessivas interrupções, o credor poderia manter essa situação antijurídica em aberto , até o fim de sua vida.

A razão de ser desse novo dispositivo, o art. 202, seria essa, evitar que através de sucessivas interrupções da prescrição a situação antijurídica não se fechasse, continuasse sangrando, contaminado o tecido social.

Vcs tem todo o direito de optar p/qualquer dessas correntes. Há um projeto, tentando uma solução conciliatória dizendo que pode ser interrompida 2 vezes.

Haveria uma 2ª e ultima oportunidade do credor interromper, achando que 1 é muito pouco.

Respondendo ao aluno: A 1ª causa interruptiva, é o despacho do juiz mesmo incompetente, que ordenar a citação, desde que o autor promova a citação nos prazos processuais.

Não basta o despacho do juiz ordenando a citação, isso não interrompe a prescrição, o que vai interromper não é o despacho do juiz, e sim a citação feita no prazo processual que estão no art. 219 e 220 do CPC.

É claro, que se a citação não se der nessas prazos mas p/causa inimputável ao credor, não haverá nenhum prejuízo. Se a demora na citação decorrer do próprio aparelho judiciário, aí o credor não ficará prejudicado.

Respondendo ao aluno: No caso de devedor insolvente, o credor vai ter que entrar com ação de execução, e fazer petição pedindo a suspensão em razão de não se ter encontrado bens penhoráveis, é a única solução.

A 2ª causa é o protesto judicial,essa aliás é uma das causas mais comuns de interrupção da prescrição. O credor sabendo que o devedor não dispõe de bens a serem penhorados, faz um protesto judicial p/demonstrar o seu interesse em defender seu crédito.

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E aí meus amigos , se resolve um problema sério, é que no ACC nada se falava quanto ao protesto extrajudicial, só 2 correntes se formaram.

Uma corrente entendia que o protesto extrajudicial nos cartórios de protesto de títulos, não interrompia a prescrição pq o cód. só falava no protesto judicial pq dizia : “ Nas condições do inciso anterior” que era a citação, e isso tinha que ser interpretado literalmente.

Como não se falava no protesto extrajudicial, ele não interromperia a prescrição. Muitos credores perderam a sua pretensão, pq se limitaram a fazer o protesto extrajudicial e não ajuizaram a ação.

E quando ajuizaram, os juízes entendiam que já havia a prescrição ela não fora interrompida pelo protesto. Já outra corrente sustentava, e eu defendia essa tese, de que p/analogia se estenderia ao protesto extrajudicial, o mesmo condão de interromper a prescrição. Mas agora acabou-se a discussão, o NCC incluiu expressamente no inciso III entre as causas interruptivas da prescrição, o protesto cambial.

Agora não há mais dúvida à respeito, mas só pode ser feito uma vez. A 4ª causa, é a apresentação do título no concurso de credores ou no inventário.

P/ex: eu era credor do morto, o simples fato de eu apresentar o meu crédito no inventário, habilitando-me no inventário, basta o ato de habilitar-me no inventário como credor p/interromper a prescrição.

Basta o ato de eu apresentar meu título na falência ou na concordata p/interromper a prescrição, não preciso fazer mais nada, é só dizer: “ Eu sou credor do falido, do concordatário, do insolvente civil”.

A simples apresentação do titulo de crédito, seja no concurso de credores,, falência, concordata, insolvência civil, ou seja no inventario, já interrompe a prescrição.

Aí vem o nº V: “Qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor”, daí pq a rigor a cada ato de processamento, estaria-se interrompendo a prescrição mas só a intercorrente.

Então, vc cita o réu, está interrompida a prescrição, só que ela começa a correr, no momento em que vc intima p/a audiência, está interrompida a prescrição intercorrente.

E aí vem o item VI que é o mais interessante de todos, e que surpreende os leigos, pq eles imaginam que só quem pode interromper a prescrição é o credor. E pq? Pq a interrupção da prescrição, interessa ao credor.

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Pq o credor ao interromper a prescrição, faz com que o prazo volte ao 0 e isso protege o seu crédito, muita gente pensa inclusive alguns advogados, que a prescrição só se interrompe pelo credor.

Mas aqui o item VI mostra que a prescrição pode ser interrompida p/iniciativa do devedor, quer dizer, o devedor pode interromper a prescrição, está atuando contra ele, a favor de seu credor, é como se estivesse dando um tiro no próprio pé.

E quando é que o devedor interrompe a prescrição? É quando ele de maneira inequívoca, não precisa ser um ato judicial, pode ser uma carta, um telegrama etc., e reconhece a dívida e se compromete a pagá-la.

Se ele pratica um ato seja ele qual for, ainda que extrajudicial mas que traduza um reconhecimento inequívoco da dívida, e da sua intenção de pagá-la, ele interrompe a sua intenção que volta ao 0.

Sabe pq se criou isso? P/defender a devedores que p/prurido ético não queiram se valer da prescrição.

Como lhes falei , pode haver uma pessoa, é bem verdade que hoje isso é raríssimo e chegaria a desafiar uma internação no Pinel, mas há pessoas que não se sentem confortáveis diante da prescrição.

Devedores que não querem se valer desse benefício, eles querem pagar, não querem carregar p/o resto da vida a sensação desconfortável de que não pagaram uma obrigação.

Há gente que gosta de dizer assim: “Durante toda a minha vida sempre paguei minhas obrigações”, é uma questão de orgulho.

O devedor pode dizer que quer pagar e leva ao credor a certeza disso, ele pode dizer que pagará e que reconhece que está devendo. Há até um ditado que diz: “Devo não nego pagarei quando puder”.

Respondendo ao aluno: A pretensão é exatamente o pedido que se formula uma ação, é um direito perseguido pelo autor. A minha pretensão é receber o crédito, essa é a pretensão que deduzo na ação.

A pretensão é que prescreve, o direito de ação é outra coisa, é um direito subjetivo público que não pode ser negado a qualquer membro da sociedade.

O direito de ação é o direito de levar ao judiciário, o conhecimento de uma lesão ao seu direito. É tb um direito subjetivo, só que público, enquanto que a pretensão é individual.

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P/isso os processualistas dizem não ser correto dizer: “Julgo procedente ou improcedente a ação”, pois a ação será sempre procedente pq a ação é um direito subjetivo público.

O que é procedente ou improcedente, é a pretensão. Os processualistas ortodoxos, dizem que um juiz correto diz: “ Julgo procedente o pedido”, a pretensão.

Tb aí é que surgiu a famosa mania, que o Bermudes critica de se dizer que se vai propor a ação “em face de”, pq se vc disser que vai propor “ação contra o réu”, os processualistas dizem que está errado, pq ação é sempre contra o Estado.

Se propõe a ação contra o Estado p/pedir a ele uma resposta ao seu conflito de interesse , não se pode propor ação contra o Estado e contra o réu.

O Bermudes diz que isso é bobagem, que é um preciosismo e ele escreveu um artigo dizendo: “Eu sou a favor do contra”, ou seja, de se continuar dizendo :”Propor ação contra Jose´”, como sempre se fez.

Falemos agora, da DECADÊNCIA que é muito confundida com a prescrição, e há razão p/isso, pois é tb um fato extintivo, tb se determina pela inércia e tem como fator operante, o tempo.

Só que a prescrição como já falei, atua no terreno do direito subjetivo, a PRESCRIÇÃO É PRIVATIVA DO DIREITO SUBJETIVO, pois quando ele é violado, nasce a pretensão que a prescrição vai extinguir.

Já a DECADÊNCIA, É PRIVATIVA E EXCLUSIVA DOS CHAMADOS DIREITOS POTESTATIVOS que não se confundem com os SUBJETIVOS.

DIREITO SUBJETIVO é o poder de se exigir de outrem uma prestação, um bem da vida.

DIREITO POTESTATIVO é o poder de influir na esfera jurídica de outra pessoa, fazendo nascer um direito p/outra pessoa, ou extinguindo um direito de outra pessoa, ou modificando um direito de outra pessoa.

P/isso é que se chama potestativo, pois se tem o poder que a lei confere de emitir uma vontade e com ela, alterar a esfera jurídica de outra pessoa.

P/Ex: O locador decorrido 30 meses do contrato escrito de locação residencial, tem o poder de despedir o locatário, com isso está influindo na esfera jurídica de outro, está extinguindo o direito do locatário.

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Isso é um d. potestativo que a lei confere ao locador, outro ex: O condômino tem o direito potestativo de retirar-se do condomínio a qualquer tempo, independente de alegação de motivo.

O adquirente de uma coisa defeituosa, tem o d. potestativo de devolve-la ao alienante reclamando a devolução do preço, isso é um d. potestativo do adquirente.

O contratante que foi vitima de um dolo, tem o d. potestativo de anular o contrato.

A diferença é essa , no d. subjetivo, o titular tem o poder de exigir uma prestação de outro, é o caso do credor que tem o d. subjetivo a prestação, p/isso pode mover ação contra o devedor p/compeli-lo a pagar.

O advogado foi contratado, prestou o serviço, o cliente não lhe pagou, ele tem o d. subjetivo aos honorários, e p/isso move ação de cobrança de honorários.

O d. potestativo, é esse poder que a lei confere a certas pessoas, que com manifestação unilateral de vontade, modificar a esfera jurídica de uma outra pessoa.

Vc emite a sua vontade, e ela vai extinguir um direito alheio, modificar ou mesmo criar um direito p/outra pessoa.

E é aí que a decadência atua pq, quando a lei ou o contrato estabelece um prazo p/que o titular do direito potestativo o exerça, e o titular desse direito potestativo não o exerce no prazo estabelecido, ele perde o d. potestativo.

O d. potestativo morre, ele não pode mais alterar a esfera jurídica de outrem , ele perdeu esse direito. E aí vem a 1ª grande diferença entre a prescrição e a decadência.

É que enquanto a prescrição não mata o d. subjetivo que continua vivo, o que se perde é a pretensão, o direito de credito continua vivo o que se perde é a pretensão, o direito de crédito continua vivo.

DIFERENÇA ENTRE PRESCRIÇÃO E DECADENCIA

A DECADÊNCIA, MATA O DIREITO POTESTATIVO, é o próprio direito potestativo que morre com a decadência, não há mais como exercê-lo.

Agora nem todo direito potestativo está sujeito a decadência. Há direitos potestativos que podem ser exercidos a qualquer tempo.

O direito do condômino retirar-se do condomínio pode ser exercido 80 anos depois de criado o condomínio; o direito do locador de despedir o locatário, já

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estando o contrato por tempo indeterminado, pode ser exercido a qualquer tempo, 20 ou 40 anos depois.

Quando a lei ou o contrato estabelecem um prazo, aí se o titular do direito não exercê-lo vai perdê-lo.

P/ex: o adquirente de uma coisa defeituosa tem prazo p/exercer o seu direito potestativo e de redibir o contrato e se não exerce, não mais pode redibir o contrato.

A decadência extingue o d. potestativo, mas nem todo d. potestativo está sujeito a decadência, só estão sujeitos aqueles direitos potestativos p/os quais se estabeleceram um prazo p/o seu exercício.

E aí vem uma outra diferença entre a prescrição e a decadência, é que os prazos de prescrição só podem ser estabelecidos em lei, só. Não há como se criar em um contrato, um prazo de prescrição só p/as partes contratantes.

Já os prazos de decadência , podem ser criados p/lei e há vários, como podem ser criados entre as partes em um contrato.

Nada impede que num contrato, uma parte confira a outra o d. potestativo estabelecendo no próprio contrato, o prazo p/o seu exercício. Ex: O vendedor de um imóvel se reserva ao d. potestativo de recomprá-lo, é a cláusula de retrovenda.

E estabelece no contrato que esse d. potestivo de retrovender o imóvel, terá um prazo de 2 anos p/ser exercido. Está aí um prazo de decadência criado no contrato de compra e venda p/funcionar entre as partes.

O NCC só estabelece na retrovenda, o prazo máximo de 3 anos, mas abaixo disso as partes é que fixarão em contrato. P/isso temos 2 tipos de decadência. O NCC se refere há 2 espécies.

Temos a DECADÊNCIA LEGAL que é quando o prazo está em lei, isso é uma decadência legal, e temos a DECADÊNCIA CONTRATUAL que é quando o prazo está estabelecido no contrato.

Isso é importante, pq o NCC disciplina de maneira diferente a decadência legal e a convencional. Há regras que só se aplicam a decadência legal.

Outra diferença entre a prescrição e a decadência, é que os prazos de prescrição em hipótese alguma podem ser alterados pelas partes , ainda que o credor e o devedor estejam de comum acordo.

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Já os prazos de decadência podem ser modificados, os contratuais não há duvida nenhuma posso estabelecer o prazo que quiser, e tb posso depois modificar através de um aditamento ao contrato.

Quanto aos prazos legais, aí há divergência doutrinaria. Uma corrente entendia que não podiam ser modificados, e outra que diz que podia. O NCC não esclarece isso, portanto essa duvida continuará existente.

O Câmara Leal que é o maior clássico na língua portuguesa no Brasil sobre prescrição e decadência, elenca 50 autores que dizem que podem mudar o prazo legal de decadência e 50 que dizem que não podem.

Eu entendo que pode, pq enquanto a prescrição é matéria de ordem publica, e interessa a toda a sociedade,pq a violação de um d.subjetivo ofende a toda a sociedade, a decadência diz respeito na maioria das vezes à interesse individual.

O NCC trouxe mudanças no campo da decadência. A 1ª mudança é que há um capítulo todo dedicado a decadência o que não ocorria no cód. Beviláqua que tratava os 2 institutos englobadamente.

Agora o NCC tem um capítulo p/a prescrição e outro p/a decadência. Outra mudança extraordinária, é que não há mais nenhuma confusão p/distinguir o prazo prescricional do prazo decadencial.

Os prazos prescricionais estão no art. 205 e 206, e os de decadência, vão aparecendo aos poucos na parte especial.

Toda vez que na parte especial se estabelece um prazo de decadência, o cód. expressamente o diz: “decai em”, “opera-se a decadência”, e agora vejamos as principais inovações.

Dizia-se antigamente, vejam como mudou como o advogado tem que estar atualizado, aprendi tudo diferente tive que fazer uma reciclagem, tudo que aprendi com o meu prof. Serpa Lopes, tive que apagar.

P/ex: dizia-se quando aprendi direito, que enquanto a prescrição pode ser interrompida, suspensa, ou impedida, a decadência jamais.

Serpa Lopes dizia que a prescrição é como se fosse um cronômetro que se podia parar e depois recomeçar, mas que a decadência era uma bomba relógio que iria explodir se não fosse desarmada à tempo.

E como se poderia desarmar a bomba relógio da decadência? Exercendo o direito, se não se exerce o direito, perde-se o d. potestativo.

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Não há interrupção, não há suspensão do prazo da decadência, a única maneira de se evitar a morte do d. potestativo, é exercê-lo no prazo que a lei ou o contrato lhe confere. Não adianta protesto, carta, nada interrompe a decadência.

Isso já não é verdade , já se mitigou essa regra, posso até continuar dizendo que é muito freqüente a interrupção e a suspensão da prescrição, e rara a interrupção, ou a suspensão da decadência, isso é verdade.

Pq o NCC diz que: “ poderá a lei criar causa de suspensão da decadência”. Pq diz assim, art. 207: “Salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência, as normas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição”.

Qual a regra geral? Não se aplicam a decadência as regras que impedem, suspendem, ou interrompem a prescrição.

O que se deduz daí? Não se pode interromper, nem se pode suspender a decadência, mas salvo disposição legal em contrário , isso não havia no ACC.

Já temos um exemplo conhecido, o CDC no art. 26, cria 2 causas suspensivas da decadência. Estão lá expressas, “Obstam a decadência” diz o CDC no art. 26.

P/interromper ou suspender a decadência, tem que haver cláusula expressa em lei, não no contrato, só a lei pode criar causas preclusivas da decadência, não havendo expressa referencia em lei, não se interrompe nem se suspende a decadência.

Outra mudança! Sempre aprendi que o juiz não pode de oficio, reconhecer a prescrição, mas não só pode como deve, reconhecer a decadência.

Ele não pode reconhecer de oficio a prescrição, pq como falei, o devedor pode renunciar a prescrição. O devedor pode na contestação não argüir a prescrição, significa que ele está renunciando a prescrição.

Se o juiz se antecipa, é obvio que estaria impedindo o devedor, de exercer o seu direito de renunciar a prescrição. Isso tb já mudou como vimos na aula de ontem, agora pode o juiz reconhecer de oficio a prescrição,quando é a favor de absolutamente incapaz.

Mas na decadência se dizia que o juiz pode reconhecer de ofício a decadência, pq? Pq se a decadência importa na morte do direito, qual a razão prática de prosseguir a ação se o direito já não existe?

Qual seria o resultado inexorável dessa ação? A improcedência, pq o direito invocado não existe. P/que o juiz vai perder seu precioso tempo, vai permitir que a ação prossiga se ele já sabe de antemão que o direito não existe mais?

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É p/isso que o juiz na inicial, verificando que existe a decadência, pode fulminar a ação.

Mudou, já tive que me reciclar, voltei aos bancos escolares, pq o NCC diz que : “ Quando a decadência é legal, o juiz pode de oficio reconhecê-la”.

P/ex: o adquirente de uma geladeira, entra com uma ação contra o fornecedor p/um defeito, só que o juiz verifica que ele entrou 8 meses depois , já esgotado há muito o prazo.

O Juiz não precisa mandar citar o réu, ele fulmina a pretensão, ele diz: “Indefiro a liminar tendo em vista a ocorrência da decadência”, nem manda citar p/não perder tempo, pq é prazo de decadência legal.

Mas na decadência convencional, (é importante pq é absolutamente novo) que é aquela que está prevista só no contrato p/vigorar entre as partes , esta o juiz já não pode mais reconhecer de oficio.

Ela se equipara a prescrição, pq o juiz vai ter que aguardar que a parte ré ,venha a argüir a decadência, se ela não argüir, o juiz não pode proclamá-la de oficio. Mudou tudo! É interesse puramente individual.

O art. 211diz: “ se a decadência for convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-la em qualquer grau de jurisdição, mas o juiz não pode suprir a alegação.”

O que quer dizer, não pode suprir? Ele não pode reconhecer a decadência, se não foi alegada pela parte interessada. É completamente novo.

Já o art. 210, diz: “Deve o juiz de ofício, conhecer da decadência, quando estabelecida por lei”, então fez-se a nítida distinção, quando a decadência é legal, o juiz deve reconhece-la de oficio.

Deve ler a inicial com cuidado e de oficio verificar se a decadência ocorreu ou não , se convencido que ocorreu, ele fulmina de pronto a inicial.

Na convencional, ele tem que aguardar que a parte interessada venha a argúi-la em qualquer grau de jurisdição. Ficou exatamente igual a prescrição nesse ponto.

A parte interessada, pode argüir a decadência na apelação , na audiência, enquanto não o fizer , o juiz não pode de ofício proclamá-la, isso é completamente novo!

Outro art. importante e outra mudança transcendental. Aprendi que a decadência, é um instituto muito mais democrático que a prescrição. Sabem pq? Pq a prescrição não alcança todas as pessoas.

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Acabamos de ver que há pessoas que são imunes a prescrição. Os absolutamente incapazes, os cônjuges na constância da soc. conjugal, os que estão no exterior a serviço do país, os que estão nas forças armadas em tempo de guerra.

Todas estas pessoas não sofrem o efeito da prescrição, portanto, é como se fosse uma discriminação, a prescrição não alcança a todos.

Agora, o meu Prof. dizia, a decadência não! ela não poupa ninguém! Ela não faz a menor distinção entre as pessoas, o d. potestativo pode ser do Estado, do particular, do absolutamente incapaz,do relativamente incapaz do rico, do pobre, do preto do branco etc..

Não interessa, é direito potestativo. Há prazo p/ exercê-lo, não exerceu acabou, seja o Estado, o particular, qualquer um, p/isso o Serpa Lopes dizia que nada mais democrático do que a decadência , pois ela não olha a cara das pessoas.

Acabou, já não é verdade rompeu-se essa tradição secular, p/agora se dizer que não corre a decadência, entre os absolutamente incapazes! Isso é uma mudança inacreditável, e foi surpresa, não se discutia isso não !

Não corre mais decadência, mas só contra os absolutamente incapazes, seja ela legal ou convencional mas tb é a única exceção.

Onde está dito isso? Dirão vcs. Está aqui no 208: “Aplica-se a decadência o disposto nos arts. 195 e 198, inciso I”.

Tem-se que verificar o que está escrito no 195 que diz: “Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas, tem ação de regresso contra seus representantes legais que não argüiram a prescrição”.

A mesma coisa na decadência: Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas, terão ação de perdas e danos, que não argüiram a decadência em seu favor.

E o que será o 198 I ? Esse art. diz assim: “também não corre a prescrição contra os incapazes de que trata o art. 3º.” Quem são os incapazes do art. 3? Os absolutamente incapazes.

Se isso se aplica a decadência, está claro que agora não há decadência contra os absolutamente incapazes.

Outra novidade extraordinária, está no art. 209 tudo isso é novo! Ir p/concurso de carreira jurídica sem saber isso, vai quebrar a cara! Vai se formular uma questão, e se vc responder pelos dogmas do passado, é 0 pq mudou tudo.

O art. 209 diz que: “ É nula a renúncia à decadência fixada em lei”, é nula. Decadência de lei, não há como renunciar.

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Portanto se, num contrato de venda de uma geladeira, se incluir uma cláusula dizendo que o adquirente renuncia a uma cláusula de decadência, p/reclamar dos vícios redibitórios, essa cláusula é nula.

Mas o que é que se deduz pelo argumento a CONTRARIO SENSU? Se é nula a renúncia à decadência fixada em lei e não se fala na convencional, esta se admite.

E tanto se admite que pode agora o réu, não argüir a decadência, e o juiz não pode proclamá-la de oficio. Pq? Pq agora se admite a renuncia a decadência quando ela é convencional.

A lei foi clara: É nula a renúncia a decadência legal, prevista em lei, a contratual pode pelo argumento a CONTRARIO SENSU, e há uma razão, pq a contratual há um interesse puramente individual, questão patrimonial típica.

Reparem bem, o Câmara Leal escreveu em 1934 o seu livro, nesse ano não se fazia essa distinção entre decadência legal e a convencional.

Ele então citou autores, gente nomeada, que admitia a modificação dos prazos de decadência legal. E citava o exemplo da garantia naquela época, ele dizia: “ Se o prazo é de 15 dias p/reclamar pelo CC, como não se admite que se dê uma garantia?”

Usava-se esse argumento p/demonstrar que era possível mudar tb os prazos de decadência legal, aí haviam 2 correntes. Uns diziam que era possível, mas sempre p/aumentar nunca p/diminuir e outros sustentavam que podia tanto ser p/aumentar, quanto p/diminuir.

Agora com essas novas disposições , não será surpresa se a doutrina e a jurisprudência se orientarem no sentido de que não será possível mudar o prazo legal de decadência.

Acho que tudo aponta nessa direção se, se fez a nítida distinção entre a decadência legal e a convencional se diz que não pode renunciar à decadência legal mas pode a convencional.

Se diz que o juiz deve reconhecer de oficio a legal, mas não pode a convencional, acho que p/questão de coerência prevalecerá a tese de que não pode mudar o prazo de decadência legal.

Daí tb se dizer, que esse prazo de garantia, não se mistura com o prazo legal. Pq aí seriam 2 prazos, um convencional e outro legal, que é p/não dizer que mudou o prazo legal, são 2 prazos, um convencional e outro legal.

Com isso, encerramos o estudo comparativo entre a precrição e a decadência. Vcs hão de convir que eu tinha razão, quando comecei na aula anterior

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dizendo que o capítulo da prescrição e da decadência, talvez seja a obra prima da parte geral do código.

E foi talvez a mudança mais favorável aos advogados aos profissionais do direito, pq é um tema que era extremamente hermético, fechado, de difícil compreensão, ficou agora muito mais claro.

P/ex: como não se fazia no passado a distinção nítida entre prescrição e decadência, como aqueles prazos extraordinários estavam todos inseridos no art; 178: “prescrevem em” e aí vinham dezenas de prazo, os quais mais da metade era de decadência.

Criaram-se alguns métodos p/distinguir um prazo do outro, vários métodos. O Câmara Leal dizia o seguinte: “P/ se saber que se prazo era de prescrição ou decadência, teria que se ver o seguinte: se o direito já existia quando nasceu a ação, o prazo é de prescrição.

Se ao contrário direito e ação nasceram juntos, o prazo era de decadência, e lê dizia que isso era um método prático p/distinguir. Prático p/ele que era jurista famoso, p/o aluno que está começando a sua vida é muito difícil saber se o direito e a ação nasceram juntos, ou se o direito nasceu antes da ação.

Mas vou dar um ex: O advogado foi contratado pelo cliente p/ defendê-lo e ajustou os honorários. Quando é que nasceu p/o advogado o direito a receber os honorários? No momento que ele assinou o contrato.

Aí o cliente não pagou os honorários, quando é que nasceu p/o advogado a ação de cobrança? Nesse momento em que o cliente não pagou, o direito do advogado já existia, quando nasceu a ação então, o prazo p/propor a ação de honorários é prescrição.

Ainda no tempo de C. Leal, ele dava esse ex: O marido se casa com a mulher, no mesmo momento em que ele se casa, tb nascia o direito potestativo dele anular o casamento, p/ser a mulher já deflorada.

Esse direito potestativo acabou, diga-se de passagem, o argumento é a igualdade dos direitos, esse direito só era do marido, a mulher não tinha o direito de anular o casamento, se descobrisse que o marido tivera relações sexuais anteriores.

Como era só do marido acabou, acho que não é a explicação, a verdadeira é que seria hoje um dispositivo morto, inaplicável pq todos os casamentos seriam passíveis de anulação, devido a dificuldade hoje pelos novos costumes, da mulher se casar virgem.

De qualquer maneira, não há mais esse direito. Quando o homem se casava, o prazo p/o marido anular o casamento era de 10 dias prazo de decadência.

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Repito isso para um estudante que está começando é muito difícil,o método de C. Leal que ele chamava de prático, de prático não tinha nada.

Aí veio o Santiago Dantas, que era um jurista genial, suas aulas eram maravilhosas, não era o meu prof. que era o Serpa Lopes, mas fugíamos p/assistir suas aulas.

Era um jurista extraordinário, professor brilhantismo, político, foi 1º ministro no Brasil, empresário que implantou a industria do vidro do Brasil, e tudo isso fazia magnificamente.

O Santiago tb criou um método, ele dizia o seguinte: que se o direito invocado na ação, fosse subjetivo, o prazo previsto na lei p/ajuizamento na ação é de prescrição. Se o direito fosse potestativo, o prazo é de decadência.

Só que p/o estudante, tb não é muito fácil saber se o direito é subjetivo ou se é potestativo, e nem sempre o iniciante consegue fazer isso. O direito do adquirente redibir o contrato é potestivo ou subjetivo?

Sabemos que é potestivo mas já temos muito tempo nas costas de estudo de direito,p/quem está começando não é fácil. Aí veio o último método que era o do Agnelo Amorim.

Ele era processualista o que era mais engraçado, foi um processualista quem criou um método bem mais fácil. Dizia que p/se saber se um prazo era de prescrição ou decadência teria que se ver, a natureza predominante da sentença.

Se a sentença tivesse carga predominante condenatória, o prazo era de prescrição. Portanto as ações condenatórias estavam sujeitas à prescrição.

P/ex: um advogado move uma ação p/cobrar seus honorários. O que está pedindo ao Juiz? Que condene o réu a lhe pagar, então aquele prazo é de prescrição.

Está pedindo ao juiz uma sentença condenatória. Se ao contrário se a sentença tivesse carga predominante constitutiva, o que é uma sentença predominante constitutiva.

O que é uma sentença constitutiva? É aquela que altera a relação jurídica entre as partes mas não importa numa condenação. Ela modifica a relação jurídica entre as partes.

P/ex: O comprador entra com a ação redibitória, entra na ação vinculado ao réu com um contrato de compra e venda de uma coisa e sai da ação desvinculado, pq o contrato se desfaz.

Aulas ministradas no CEPAD pelo Prof. Capanema em 22 e 23/12/03 49

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Essa sentença não é condenatória, ela é constitutiva negativa , ela dissolve o contrato é aí o prazo é de decadência. Já as sentenças meramente declaratórias não estavam sujeitas nem a prescrição nem à decadência.

Esse era o método do Agnelo Amorim, AGORA MEUS AMIGOS, APOSENTEM TUDO ISSO! GRAÇAS A DEUS! PODEM ESQUECER TUDO ISSO!

Hoje após o NCC p/saber se um prazo é de prescrição ou decadência, basta um único pressuposto: ser alfabetizado. Quem souber ler, não mais confundirá o prazo de prescrição e o de decadência.

Repito, toda vez que o NCC estabelece um prazo extintivo, ele diz expressamente se é prescrição ou decadência. No 205 e no 206, ele diz: “Prescreve em”, e tudo que está ali é prescrição, não há exceção.

E toda vez que ele cria prazo de decadência, ele diz: “Dacai em”, ou “ é de tantos anos o prazo de decadência”.

Outra distinção, os prazos de prescrição estão na parte geral, os de decadência estão na parte especial, é outra maneira de distinguir, isto em regra geral, tem exceções mas normalmente os prazos de decadência estão estabelecidos na parte geral como os prazos da redibição dos contratos etc.?????????

Só nos resta agora um tema, que é talvez o mais desafiador de todos, que é o inevitável CONFLITO INTERTEMPORAL, como falamos ontem, o NCC reduziu substancialmente, os prazos de prescrição.

A prescrição ordinária que era de 20 anos p/as ações pessoais baixa p/10. E a prescrição ordinária das ações reais, que era 10 anos entre presentes e 15 entre ausentes tb fica em 10.

Agora há um único prazo de prescrição ordinária comum p/as ações pessoais e p/as ações reais.

E os prazos extraordinários, muitos deles tb tiveram substanciais reduções, citei alguns exemplos.

Cobrança de pensão alimentícia vencida, baixou p/ 2 anos era 5. Cobrança de alugueis , encargos, taxas da locação, era 5 anos baixou p/3. Reparação civil era 5 anos baixou p/3.

Só que muitos prazos da prescrição já estavam correndo quando o NCC entrou em vigor, e aí surge a inevitável pergunta:

Esses prazos que estavam correndo quando o NCC entrou em vigor, continuarão correndo p/ACC sob cujo império, eles se iniciaram, ou ao contrário se submeterão ao NCC?

Aulas ministradas no CEPAD pelo Prof. Capanema em 22 e 23/12/03 50

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O art. 2028 nos dá uma resposta parcial, ele não esclarece inteiramente o problema, mas já foi de uma grande ajuda, aliás, ele segue a orientação de GABBA, CLOVIS BEVILACQUA E CAMARA LEAL.

Portanto ele não inovou, o que fez muito bem, estou convencido que a melhor solução, é a que Gabba, Clovis e Câmara Leal sugeriam.

Ou seja, se no dia em que o NCC entrou em vigor já tivesse decorrido mais da metade pelo ACC o prazo continuará a correr p/ACC , sem qualquer influência do NCC.

Dei exemplo do sujeito que foi atropelado há 16 anos, teria 20 pelo ACC. No dia 11/1 quando o NCC entrou em vigor, já tinha 16 anos, mais da metade que era 20, metade 10.

Essa pessoa, continuará tendo os 20 anos, terá mais 4 p/propor ação, embora pelo NCC esse prazo seja de 3 anos.

Se numa outra hipótese, ainda não tiver decorrido mais da metade do prazo,ex: Sujeito foi atropelado há 4 anos, pelo NCC teria 3 anos de prescrição, pelo ACC 20, então não decorreu mais da metade.

Diante do silêncio do NCC, a doutrina já está se consolidando, tenho lido e ouvido doutrinadores nos congressos, todos estão de acordo que deve se aplicar a solução de Gabba, Clóvis e C. Leal. Qual é ela?

Aplica-se integralmente o prazo do ncc a partir do prazo que estava correndo, ou seja da vigência do NCC. A partir de 11/1/03, aplica-se integralmente o prazo da lei nova.

Ex: O sujeito foi atropelado, e no dia 11/1/03, tinha 4 anos e 3 meses que ele foi atropelado. Qual o prazo integral do NCC p/a prescrição ? A partir de 11/1/03 , 3 anos p/ajuizar a ação.

Então a partir de 11/1/03, ele tem 3 anos p/ajuizar a ação, somando-se com os 4 anos e 3 meses, ele terá no final 7 anos e 3 meses.

Pq esta é uma boa solução? Em 1ºlugar, pq é uma aplicação imediata e geral da lei nova, por outro lado, não traz nenhum prejuízo ao titular do d. subjetivo.

Pq ele não traz prejuízo? Pq o titular do d. subjetivo poderá ajuizar a ação,e terá integralmente o prazo da lei nova.

Dirão vcs? Ah! Mas ele foi prejudicado, pq tinha 20 anos, portanto ainda tinha mais 15 anos e 8 meses pelo ACC, e só vai ter mais 3 pelo NCC.

Aulas ministradas no CEPAD pelo Prof. Capanema em 22 e 23/12/03 51

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Sim, é evidente que ele sofreu o prejuízo, mas não ficou inibido de ajuizar a ação, vai ter que ser mais célere mas é isso que a lei quer, que as pessoas sejam mais conscientes na defesa de seus direitos.

Não ficará inibido de ajuizar a ação pq terá integralmente o prazo da lei nova, mas a partir de sua vigência, dia 11/1/03. Ninguém poderá dizer, que ficou impedido de propor a ação , pq foi surpreendido pelo NCC, só se for negligente.

Pq as pessoas atentas, lendo que surgiu um código novo e percebendo que reduziram-se os prazos , quem for atento e estiver interessado no seu direito, vai propor a ação dentro desses novos prazos.

Quanto à isso a doutrina é pacifica, não ouvi nenhuma manifestação diferente, é essa a solução baseado em Câmara Leal.

Concluindo: Aplica-se integralmente o prazo do NCC à partir do dia 11/1/03, ou seja, ao prazo que já correra, somar-se á integralmente o prazo do NCC.

E com isso repito, ninguém perderá a sua pretensão, ninguém será surpreendido pelo NCC.

Então vc veja, o sujeito estava atropelado há 4, o NCC diz que é 3, mas ele não ficou prejudicado, pq vai ter esses 3 p/propor a ação. Seria intolerável se ele não pudesse mais propor a ação pq já tinha decorrido mais de 3 anos do atropelamento.

A dúvida da doutrina, está na prescrição aquisitiva, aí a doutrina está criando problema. Trouxe aqui uma revista da EMERJ , o ultimo exemplar que tem um artigo do Marco Aurélio B. de Mello que honra e dignifica o CEPAD, é nosso professor.

Quem vai fazer concurso não pode deixar de ler essa revista, o artigo chama-se “ Anotações sobre os aspectos intertemporais do direito das coisas no NCC”.

Ele faz comentários específicos sobre direito das coisas, ele fala na usucapião. Pq isso está gerando problemas? Pq o NCC tb reduziu os prazos os prazos da prescrição aquisitiva.

A usucapião extraordinária exigia 20 anos no ACC, agora baixou p/15, e em certos casos p/10, se o possuidor de má-fé instalou no imóvel a sua moradia habitual ou se o tornou produtivo, pode requerer usucapião extraordinária, com 10 anos, a metade do prazo.

E aí vem uma pergunta crucial, Ex: se o sujeito invadiu o meu terreno, e não me incomodei pq estou muito ocupado, o terreno não vale grande coisa, e não tomei nenhuma providência p/resistir a esse esbulho.

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Então, ele está lá há 12 anos e logo que invadiu o meu terreno, instalou ali a sua residência. Eu estava tranqüilo pq ele precisaria de 20 anos de posse , p/requerer a usucapião, só está há 12, estou tranqüilo!

Pois ainda teria 8 anos p/tomar as providências necessárias e retirá-lo do terreno. Aí no dia 12/1 ele entraria com uma ação de usucapião e ganharia, pq provaria que tinha 12 anos de posse produtiva, e o NCC diz que basta 10.

Isso seria intolerável, seria uma surpresa p/o proprietário, e aí o art. 2029, deu uma solução ótima. Uma outra hipótese:

O NCC diz que se um considerável nº de pessoas estiver ocupando uma extensa área tornando-a produtiva, e se isso já datar de cinco anos, tb esses posseiros podem pedir ao juiz que lhe transfira a propriedade com cinco anos.

Então imaginem que eu, tenha uma extensa área e está ocupada mais de cinco, anos por um considerável nº de pessoas , que tenham feito obras, de relevante interesse social econômico.

Eu estava tranqüilo, pq ainda podia mover, as medidas necessárias p/ tirá-los de lá, aí eles entram com ação, pedindo a Usucapião pedindo a expropriação desta área.

Eu seria surpreendido, eu perderia o meu direito de propriedade e não teria mais como defendê-lo. Então o art.2029, foi criado pra isso, p/ evitar essa surpresa.

E ele tem uma regra interessantíssima, dessa duas hipóteses, esses prazos durante os próximos dois anos, a partir da vigência do cód. serão acrescido de mais dois anos.

Sabem como é que estão interpretando isso? É que esses dispositivos, só vão entrar em vigor em 11/1/05, p/ora não estão em vigor. Pois muito bem, em 11/1/05 é que aí, o proprietário ainda terá mais 2 anos p/ajuizar as ações.

A rigor, esse direito só vai ser efetivamente exercido pelos posseiros a partir de 11/1/07, pq ele não se limita a dizer que se acrescem 2 anos, ele diz que “nos próximos 2 anos, serão acrescidos de 2 anos”.

Se o sujeito entrar com a ação digamos, não é bem assim não, em 12/04, a partir dessa data se contarão 2 anos,

Ficou uma redação estranha, o próprio Marco Aurélio tb entendeu assim e acho que está certo, o espírito do cód. é esse mesmo.

Ele não se limita a dizer os prazos do art. tal, serão acrescidos de 2 anos, ele diz assim: até 2 anos após a entrada m vigor deste cód., os prazos estabelecidos no

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§ único do art. 1.238 (é o que reduz a usucapião extraordinária) e no § art. 1.242 ( que é aquele dos 5 anos dos posseiros) serão acrescidos de 2 anos, qualquer que seja o tempo decorrido na lei anterior”

Então qualquer que seja o tempo decorrido na vigência da lei anterior, nos próximos 2 anos, esses prazos serão acrescidos de mais 2 anos.

A interpretação dominante por ora, é que esses direitos só começam a existir a partir de 11/1/05, e aí ainda haverá mais 2 anos.

Mas a dúvida que o Marco Aurélio colocou aqui, e que o prof. Luis Paulo e eu, estamos em princípio divergindo, mas ainda não consolidei a minha posição não tenho nenhum constrangimento em dizer, vou esperar e estudar um pouco mais.

A dúvida é a seguinte: imaginemos que alguém tem uma posse de má-fé, pelo ACC ele teria que esperar 8 anos p/requerer a usucapião extraordinária.

Entende o Prof. Marco Aurélio que agora não, ele só precisa esperar 3 anos, pq se ele tinha 12, pelo NCC basta 15, e só esperar 3 anos.

Se ele tinha 12, o prof. Marco Aurélio entende e eu tb que basta esperar 3 anos. Pq já havia decorrido mais da metade do prazo, precisava 20, já tinha 12, então se justifica.

Isso é complicado! Agora se ele tinha só 8 anos? Acha o Prof. Marco Aurélio que basta completar o novo prazo. Se ele tinha 8, e precisa 15, não precisa esperar 12 anos p/completar 20, basta que espere 7 anos pq 8+ 7=15.

O prof. Luiz Paulo acha que não! Diz que tem que se aplicar 15 anos da lei nova, aos 8, aí daria 23, só que isso não tem lógica pq isso aumentaria muito o prazo.

O Câmara Leal diz que quando se ultrapassa o prazo da lei antiga, fica vigorando o prazo da lei antiga.

Mas de qualquer maneira, ele teria que esperar 8, o novo prazo é 15, daria 23, mas só pode ir até os 20 que é o prazo da lei antiga. Então, teria que esperar os 12 anos de qualquer maneira.

EM RESUMO MEUS AMIGOS: ISSO ESTÁ MUITO CONFUSO! NÃO QUERO ENGANÁ-LOS!

Enquanto que no caso da prescrição extintiva não há dúvida, todas as opiniões que tenho lido concordam que tem que ser aquilo: se tiver mais da metade, continua a correr pelo ACC, se tiver menos da metade, aplica-se integralmente o prazo do NCC a partir de 11/1/03.

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Mas na prescrição aquisitiva, não tenho a menor dúvida de que a doutrina irá se dividir assim como a jurisprudência, teremos que esperar p/ver como se consolidam as posições.

Pq o art. 2029, tb não nos dá uma resposta definitiva, ele se limita a resolver o problema apenas nas 2 hipóteses especificas que é o § único do 1238, e o § do art. 1.242 só.

No resto o NCC ficou silente e ficando silente, a doutrina irá se dividir.

Estou firmemente decidido a estudar esse assunto neste mês de janeiro, talvez até se possível, escrever alguma coisa, já que não terei aulas na faculdade, p/ tentar contribuir e aclarar esse problema.

Respondendo ao aluno: O CDC estabelece um prazo prescricional único de 5 anos, p/qualquer reparação de dano causado p/produto ou serviço.

Ora, isto já está suscitando discussão, pq o NCC diz que o prazo p/ reparação civil é de 3 anos. Já tem fornecedor sustentando isso , que o prazo é de 3 anos, mas não é não !

Estou firmemente convencido ,e tb o Des. Cavalieri, que o CDC é um microsistema, e os micro sistemas , não foram abolidos pelo NCC, ao contrário o NCC mantém os micro sistemas, ele não revogou a lei do inquilinato, o CDC, a lei das S/A, o Estatuto da Criança.

Em suma: Há uma série de micro sistemas, que continuarão gravitando em torno do código.

Portanto, se há relação de consumo, o prazo prescricional p/ ação de perdas e danos é de 5 anos, continua o prazo do art. 27 do CDC, mas não tenho dúvida que haverá vozes divergentes.

Em face do Estado continua os 5 anos, pq tb tem lei especial. O NCC é a lei geral, não havendo regra especial do micro sistema, aí prevalece os 3 anos, da lei geral que é o NCC.

Bom meus amigos, com isso encerramos os comentários que queríamos lhes fazer sobre a prescrição e a decadência que ficaram faltando pelo tempo normal do módulo.

Quero lhes agradecer sinceramente a paciência e a atenção com que me receberam durante esse ano que se encerra, houve algumas dificuldades pelos meus múltiplos compromissos, algumas aulas não puderam ser ministradas, mas conseguimos graças a essas aulas extras suprir, estas deficiências.

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Quero lhes desejar um natal muito feliz, e um ano de 2004 com grandes realizações pessoais e profissionais, quero lhes dizer que continuo à disposição de todos , aqui no CEPAD e no meu gabinete na 10ª câmara, e p/mim foi uma realização pessoal tê-los como alunos durante esse ano, Sejam todos muito felizes!

FIM

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